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Os Essênios

Os Essênios foi uma corrente judaica que havia se separado do judaísmo tradicional. Os escritos,
conhecidos como rolos do mar morto, desse povo foram descobertos nas cavernas de Qumran
perto do mar morto. Eles pareciam provar que havia uma categoria mais longa de livros que os
vinte e dois ou vinte e quatro do cânon judaico tradicional, sugerindo para alguns que o
cânon não havia sido fechado entre os judeus da Palestina. As descobertas dos rolos do mar
morto demonstram que havia muitas outras literaturas religiosas junto com os 22 livros
canônicos dos judeus. Entretanto, isto não prova que eles aprovavam um cânon mais extenso. É
certo que os essênios produziram uma considerável quantidade de escritos pseudepígrafos
apocalíptico, mas eles não consideravam esses livros inspirados. Eles foram estimados como
interpretações autorizadas dos livros canônicos, mas nunca foram tomados como Escrituras
Sagradas. A obra pseudepígrafo Jubileu cita o número exato do cânon palestinense, isto é, 22 os
mesmos atestados posteriormente por Filo, Josefo e Jerônimo. Isto prova que os essênios
tinham o mesmo cânon que os judeus tradicionais. Apesar de haver discordâncias quanto a
interpretação no judaísmo, não havia, entretanto discordância quanto ao cânon. Essênios,
Fariseus e Saduceus parecem estar de acordo quanto a isso.

Em 1947, foi descoberto 600 manuscritos em várias grutas do Mar Morto, em Qumram, na
Jordânia. Esses documentos com 2000 mil anos de idade foram escritos por várias seitas
iniciáticas antigas e principalmente pelos essênios que viveram entre 2 a.C e 2 d.C. na
Palestina. Esses textos esclarecem muito sobre a origem do cristianismo, e revelam um possível
contato de Jesus com os Essênios.
Os Essênios viviam em comunidades fechadas, (mosteiros) e eram conhecidos pela sua extrema
piedade e seu poder de cura. Eram seguidores do Velho Testamento, praticavam o batismo, e
compartilhavam seus bens materiais. Acredita-se que seriam uma ramificação da Grande
Fraternidade Branca fundada no Egito pelos ascendentes do faraó Akenaton, cerca de
1450 a.C.
Os manuscritos do Mar Morto, são considerados autênticos pela Escola Americana de
Pesquisas Orientais de Jerusalém e pela comunidade arqueológica
O que mais surpreende nestes textos, é a semelhança entre as práticas e os preceitos dos
essênios com a doutrina Cristã. No que nos leva a uma pergunta; Seria Jesus um essênio?
A origem exata dos Essênios é motivo de especulação. A princípio acredita-se que seriam
uma seita judaica e teriam surgido durante o período de confusão depois da revolta dos
Macabeus no segundo século antes de Cristo.

Os Essênios e Qumran

É preciso assinalar que em nenhum dos manuscritos até agora publicados aparece a
palavra "essênio". Este termo vem, provavelmente, do hebraico hassidim (os piedosos), em
aramaico hassayya, em grego essaioi ou essênoi, daí "essênios".

Embora a quase totalidade dos estudiosos identifique a comunidade de Qumran com os


essênios, são, às vezes, sugeridas outras possibilidades. Há a hipótese caraíta, judeu-
cristã, zelota, saducéia e farisaica[31].
Assim como os cristãos primitivos, a comunidade de Qumran se autodenomina, às vezes,
os "pobres" (=ebionim). Daí alguns acharem que ali vivem os ebionitas, seita judaico-cristã.
Só que os dados da arqueologia e da paleografia contradizem tal hipótese.

Em Massada os arqueólogos descobrem uma cópia de uma obra de Qumran, o que levanta
a possibilidade, segundo alguns, de serem zelotas os habitantes de Qumran. Entretanto, é
bem mais viável pensar que alguns essênios tenham se reunido aos zelotas que resistem
aos romanos em Massada até 73 d.C. Daí a obra ter ido parar lá.

A hipótese saducéia quase não encontra apoio, pois em relação à helenização saduceus e
qumranitas estão em posições opostas. Sem mencionar as profundas divergências
teológicas.

Por último, a hipótese farisaica é colocada a partir das muitas semelhanças da comunidade
de Qumran com o grupo dos fariseus. Mas isto se explica pela provável entrada maciça de
fariseus na comunidade por ocasião das perseguições de João Hircano I.

É Flávio Josefo quem nos diz que: "Existem, com efeito, entre os judeus, três escolas
filosóficas: os adeptos da primeira são os fariseus; os da segunda, os saduceus; os da
terceira, que apreciam justamente praticar uma vida venerável, são denominados essênios:
são judeus pela raça, mas, além disso, estão unidos entre si por uma afeição mútua maior
que a dos outros"[33].

Plínio, o Velho nos oferece precioso dado para a localização dos essênios em Qumran:
"Na parte ocidental do mar Morto os essênios se afastam das margens por toda a extensão
em que estas são perigosas. Trata-se de um povo único em seu gênero e admirável no
mundo inteiro, mais que qualquer outro: sem nenhuma mulher e tendo renunciado
inteiramente ao amor; sem dinheiro e tendo por única companhia as palmeiras. Dia após
dia esse povo renasce em igual número, graças à grande quantidade dos que chegam; com
efeito, afluem aqui em grande número aqueles que a vida leva, cansados das oscilações da
sorte, a adotar seus costumes (...) Abaixo desses ficava a cidade de Engaddi, cuja
importância só era inferior à de Jericó por sua fertilidade e seus palmeirais, mas que se
tornou hoje um montão de ruínas. Depois vem a fortaleza de Massada, situada num
rochedo, não muito distante do mar Morto"[35].

G. Lamadrid observa que "a descrição de Plínio corresponde perfeitamente às ruínas de


Qumran, que se encontram a uns dois quilômetros a ocidente do mar Morto e também
alguns quilômetros ao norte da antiga cidade de Engaddi"[36].

Solino, do séc. III d.C., que tira parte de seu material de Plínio, diz o seguinte: "O interior da
Judéia que se estende para o ocidente é ocupado pelos essênios. Estes, seguidores de
rígida disciplina, se separaram dos costumes de todos as outras nações, tendo sido
destinados a este modo de vida pela divina providência. Nenhuma mulher se encontra
entre eles e eles renunciaram ao sexo completamente. Eles desconhecem o dinheiro e
vivem entre palmeiras. Ninguém nasce entre eles, entretanto seu número não diminui. O
local é destinado à castidade. Ali reúnem-se pessoas de várias nações; entretanto,
ninguém que não tenha uma reputação de castidade e inocência é ali admitido. Aquele que
cometer a menor falta, embora faça o maior esforço para ser admitido, é mantido afastado
por ordem divina. Assim, ao longo de tantas eras (é difícil de se crer), uma raça onde não
há nascimentos vive para sempre. Logo abaixo dos essênios existia a cidade de Engaddi,
mas ela foi arrasada"[37].

Tanto Flávio Josefo quanto Fílon de Alexandria noticiam a opção celibatária e a vida
comunitária dos essênios, o que os manuscritos de Qumran confirmam - pelo menos para
uma parte da organização - como veremos adiante: "Os essênios repudiam os prazeres
como um mal e consideram como virtude a continência e a resistência às paixões. Eles
desprezam, para si mesmos, o casamento; mas adotam os filhos dos outros numa idade
ainda bastante tenra para receberem seus ensinamentos: eles os consideram como se
fossem de sua família e os moldam de acordo com os seus costumes"[38].

Fílon diz que na comunidade dos essênios "existem apenas homens de idade madura e
inclinados já para a velhice, que não são mais dominados pelo fluxo do corpo nem
arrastados pelas paixões, mas que gozam da liberdade verdadeira e realmente única"[39].

Fílon acredita que os essênios não se casam porque isto ameaçaria a sua vida comunitária,
dado, segundo sua opinião, o caráter de semeadora de discórdias que predomina nas
mulheres: "Por outro lado, prevendo com perspicácia o obstáculo que ameaçaria, seja por
si só, seja de modo mais grave, dissolver os laços da vida comunitária, eles baniram o
casamento, ao mesmo tempo em que prescreveram a prática de uma perfeita
continência"[40].

Sobre a vida comunitária dos essênios diz Flávio Josefo que os seus bens são igualmente
divididos, evitando que haja pobres e ricos, o que é confirmado pelos documentos da
comunidade: "Com efeito, trata-se de uma lei: aqueles que entram para o grupo entregam
seus bens à comunidade, de tal forma que entre eles não se vê absolutamente nem a
humilhação da pobreza nem o orgulho da riqueza, já que as posses se encontram reunidas,
não existindo para todos senão um único haver, como ocorre entre irmãos"[41].

Há ainda muitos outros testemunhos interessantes sobre os essênios, especialmente de


Flávio Josefo, que veremos oportunamente.

Se a comunidade que vive em Qumran é composta pelos essênios, é possível reconstruir a


sua história, que se situa entre os séculos II a.C. e I d.C. Além dos testemunhos antigos
contamos com os manuscritos da comunidade e os resultados das escavações de Khirbet
Qumran

Tudo indica que quando o macabeu Jônatas assume o sumo sacerdócio em Jerusalém
começa a crise. Como sabemos, os assideus lutam lado a lado com os Macabeus contra a
aristocracia filo-helênica, a partir de 167 a.C.[43].

Mas quando estes, que não são sadoquitas, se apossam do sumo sacerdócio, um
sacerdote sadoquita do Templo, conhecido nos manuscritos apenas como Mestre da
Justiça (Môreh hasedeq) rompe com os Macabeus e lidera um grupo de sacerdotes e
assideus que se afasta de Jerusalém[44].
A Doutrina do Deserto

Eles respeitavam a vida acima de tudo, escreveram os mais antigos textos


bíblicos e influenciaram o cristianismo. Com vocês, os essênios.

Por Rafael Kenski e Duda Teixeira

Em 1923, o húngaro Edmond Szekely obteve permissão para pesquisar os arquivos


secretos do Vaticano. Estava à procura de livros que teriam influenciado São Francisco de
Assis. Curioso e encantado, vagou pelos mais de 40 quilômetros de estantes com
pergaminhos e papiros milenares. Viu evangelhos nunca publicados e manuscritos originais
de muitos santos e apóstolos, condenados a permanecer escondidos para sempre. De
todas essas raridades, uma obra em especial lhe chamou a atenção. Era o Evangelho
Essênio da Paz. O livro teria sido escrito pelo apóstolo João e narrava passagens
desconhecidas da vida de Jesus Cristo, apresentado ali como o principal líder de uma seita
judaica até então pouco comentada - os essênios. Szekely não perdeu tempo. Traduziu o
texto e o publicou em quatro volumes. Sentindo-se traída pelo pesquisador, a Igreja o
excomungou.
Não foi uma punição tão grave. Considere o que aconteceu com o reverendo inglês
Gideon Ouseley. Em 1880, ele achou um manuscrito chamado O Evangelho dos Doze
Santos em um monastério budista na índia. O texto em aramaico - a língua que Jesus
falava - teria sido levado para o Oriente por essênios refugiados.

Manuscrito achado no Vaticano afirma que Jesus era essênio e vegetariano

Ouseley ficou eufórico e saiu espalhando que tinha descoberto o verdadeiro Novo
Testamento. Afirmava que a Bíblia estava incorreta, pois Cristo era um essênio que
defendia a reencarnação e o vegetarianismo. Se hoje essa tese soa estranha, dizer isso
na Inglaterra vitoriana do século XIX era blasfêmia da pior espécie. Resultado: os
conservadores atearam fogo na casa de Ouseley e o original foi destruído.
O mistério que envolve esses dois textos e o tom místico que os descobridores deram
aos seus achados acabaram manchando seu crédito diante dos historiadores. Além do
mais, teorias exóticas sobre Jesus é o que não falta. Em 1970, o pesquisador inglês John
Allegro, que já havia estudado os essênios, tentou provar que Jesus nunca havia existido e
que teria sido uma alucinação coletiva causada pela ingestão de cogumelos. Por motivos
óbvios, essa teoria não foi muito bem aceita pelos seus colegas cientistas. Segundo eles,
Allegro entendia mais de cogumelos do que de Cristo.
Para os historiadores, os essênios seriam até hoje uma note de rodapé na História se,
em 1947, dois pastores beduínos não tivessem por acidente levado a uma das maiores
descobertas arqueológicas do século. Escondidos em cavernas próximas ao Mar Morto, em
Israel, 813 manuscritos redigidos pelos essênios entre 225 a.C.

E o ano 68 da nossa era guardavam as mais antigas cópias do Antigo Testamento,


calendários e textos da Bíblia. Perto das cavernas, em Qumran, estavam as ruínas de um
monastério essênio e um cemitério com cerca de 1200 esqueletos, quase todos
masculinos.
O achado deu início a um longo e árduo esforço de tradução dos manuscritos por
teólogos e cientistas de várias universidades no mundo. Milhares deles estavam em
pedaços minúsculos, menores do que uma unha. "Hoje, 90% dos textos já foram
transcritos", diz o teólogo Geza Vermes, da Universidade de Oxford, que pesquisa os
manuscritos. O que já é suficiente para moldar uma imagem mais precisa da história, da
doutrina, da crença e dos hábitos essênios, que ficaram séculos a fio esquecidos nas
ruínas daquele monastério.
O surgimento da doutrina essênia aconteceu em tempos conturbados. Os judeus
viveram sob dominação de diversos povos estrangeiros desde 587 a.C., quando Jerusalém
foi devastada pelos babilônios, habitantes da atual região do Iraque. Por volta do século II
a.C., o domínio era exercido pelos selêucidas, um povo grego que habitava a Síria. A
cultura helenista proliferava e a tradição hebraica sofria fortes ameaças. Para recuperar o
judaísmo, os israelitas acreditavam na vinda do Messias que chegaria ao final dos tempos
para exterminar os infiéis e salvar os seguidores da Bíblia. A chegada do Salvador poderia
se dar a qualquer instante.
Os mais ortodoxos seguiam tão à risca os preceitos religiosos e buscavam a ascese e a
pureza com tal fervor que ficavam chocados com os hábitos mundanos dos gregos e a
presença de leprosos, cegos, surdos e cachorros passeando pela cidade e pelos templos.
Entre eles estavam os essênios. Um dia boa parte deles, liderados por um sacerdote,
partiu para o Deserto da Judéia (atual Israel) para orar, meditar e estudar as leis sagradas.
Longe, bem longe, de tudo o que eles consideravam impuro. Surgia assim o monastério de
Qumran, uma das primeiras comunidades monásticas do Ocidente.
A região escolhida para a construção do monastério é a de menor altitude no planeta -
400 metros abaixo do nível do mar. As chuvas são raras e o mar é tão salgado que é
impossível mergulhar nele, pois a enorme densidade da água mantém o banhista na
superfície. Para prosperar, os bens individuais e as tarefas foram divididos entre toda a
comunidade e regras de disciplina e de hierarquia foram instituídas. A presença de
mulheres em Qumran, por exemplo, era proibida. Transgressões eram duramente punidas.
A interpretação das leis e profecias cabia a mestre da justiça, o mesmo sacerdote que teria
guiado os essênios até Qumran. Ele era respeitado e cultuado por todos e logo virou uma
entidade mítica. O guardião, por sua vez, presidia as refeições e decidia as questões a
respeito da doutrina, justiça e pureza. Essa figura inspirou a formação da palavra grega
"epis copus" (aquele que olha de cima), que foi a origem de "bispo".

Os monges do deserto tinham obsessão pela pureza e pela disciplina

É possível conhecer o dia-a-dia dos essênios a partir do legado do historiador judeu


Flávio Josefo (37-100). Aos 16 anos Josefo recebeu lições de um mestre essênio, com
quem viveu durante três anos. Os membros da seita acordavam antes do nascer do sol.
Permaneciam em silencio e faziam suas preces até o momento em que um mestre dividia
as tarefas entre eles de acordo com a aptidão de cada um. Trabalhavam durante 5 horas
em atividades como o cultivo de vegetais ou o estudo das Escrituras. Terminadas as
tarefas, banhavam-se em água fria e vestiam túnicas brancas. Comiam uma refeição em
absoluto silêncio, só quebrado pelas orações recitadas pelo sacerdote no início e no fim.
Retiravam então a túnica branca, considerada sagrada, e retornavam ao trabalho até o pôr-
do-sol. Tomavam outro banho e jantavam com a mesma cerimônia.
Os essênios tinham com o solo uma relação de devoção. Josefo conta que um dos
rituais comuns deles consistia em cavar um buraco de cerca de 30 centímetros de
profundidade em um lugar isolado dentro do qual se enterravam para relaxar e meditar.
Diferentemente dos demais judeus, a comunidade usava um calendário solar de 364
dias, inspirado no egípcio. O primeiro dia do ano e de cada mês caía sempre um uma
quarta-feira, porque de acordo com o Gênesis, o Sol e a Lua foram criados no quarto dia. O
calendário diferente trouxe vários problemas para os essênios. Outros judeus poderiam
atacar o monastério no shabbath - o dia sagrado reservado ao descanso, no qual era
proibido qualquer esforço, inclusive o de se defender.
A correta observação das regras garantiria a salvação dos essênios quando chegasse o
apocalipse, que seria a vitória dos puros "filhos da luz" contra os "filhos das trevas". No
mundo essênio, aliás, tudo era dividido segundo uma visão maniqueísta que tornava
possível até mesmo determinar quantas porções de luz e de escuridão cada um
possuía. Um sectário de dedos rechonchudos, coxas grossas e cheias de pêlos teria oito
porções na casa das trevas para uma de claridade. No mesmo manuscrito, um outro
membro obteve um placar mais favorável. Por ter olhos negros e brilhantes, voz suave,
dentes alinhados, dedos longos e canelas lisas seu espírito foi condecorado com oito partes
de luz para uma de trevas. Para os essênios, a beleza do corpo também era sinal de
pureza espiritual.
Graças a essa organização toda, Qumran produzia tudo de que precisava. A dieta era
vegetariana. Os essênios tinham um enorme respeito pela natureza. Nenhum homem
poderia sujar-se comendo qualquer criatura viva. A regra permitia uma única exceção. Eles
podiam comer peixe, desde que fosse aberto vivo e tivesse seu sangue retirado. As
refeições eram frugais, com legumes, azeitonas, figos, tâmaras e, principalmente, um tipo
muito rústico de pão, que quase não levava fermento. Eles possuíam pomares e hortos
irrigados pela água da chuva, que era recolhida em enormes cisternas e servia como
bebida. Além dela, as bebidas essênias se resumiam ao suco de frutas' e "vinho novo", um
extrato de uva levemente fermentado. No shabbath, os sectários deveriam passar o dia
inteiro em jejum. Os hábitos alimentares frugais e a vida metódica dos essênios garantiam-
lhes uma vida saudável. Segundo Josefo, muitos deles teriam atingido idade
extraordinariamente avançada.

As cavernas de Qumran, em Israel, onde beduínos encontraram,em 1947, os mais antigos


textos bíblicos de que se tem notícia

A água também era canalizada para os banhos rituais, que eles tomavam duas vezes ao
dia para se redimir dos pecados e das impurezas do corpo. O ritual consistia em relatar
todas as faltas e então submergir. "Essa prática influenciou o batismo e a confissão dos
católicos", diz a historiadora Ruth Lespel, da Universidade de São Paulo. Outro ponto em
comum entre os essênios e o catolicismo seria a figura de São João Batista, o profeta que
batizou Jesus Cristo. O santo promovia batismos no Rio Jordão numa região próxima a
Qumran.
Sua postura messiânica era muito próxima à dos essênios. Há quem acredite que, quando
foi batizado, Jesus teria visitado o monastério e sido influenciado por sua doutrina.
Há outras relações entre essênios e cristãos. "Existem passagens dos Manuscritos do
Mar Morto, que soam como as do evangelho cristão", afirma James Vanderkam, da
Universidade de Notre Dame, Estados Unidos. Traços da doutrina dos primeiros seguidores
de Jesus - como o elogio de uma vida humilde, a proibição do divórcio e a invocação a
Deus como um pai - têm ressonância na fé de Qumran. "É possível que essênios e cristãos
tenham entrado em contato", diz o cônego Celso Pedro da Silva, do Mosteiro da Luz, em
São Paulo.
Quanto a Jesus Cristo, apesar das descobertas e polêmicas levantadas por Ouseley e
Szekely, não há nos manuscritos encontrados nas cavernas do Mar Morto uma única
menção a ele. É por isso que o maioria dos pesquisadores duvida da teoria de que Jesus
tenha se aproximado dos essênios. "Não existe nenhuma evidência concreta disso", diz o
historiador Nachman Falbel, da USP Para o exegeta Valmor da Silva, da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas, Jesus pode ter recebido influência das mais diversas
correntes do judaísmo, inclusive deles. "Mas não dá para garantir que ele tenha
freqüentado uma de suas comunidades".

Afirmar que Jesus se alimentava apenas de vegetais é ainda mais complicado. "Eu
duvido muito que Cristo tenha sido vegetariano, pois ele celebrou a páscoa judaica, que
envolve alimentos como ovo, patas de cordeiro e frango", diz Vanderkam. Fernando Travi,
líder da pequena igreja essênia do Brasil, tem um ponto de vista oposto ao de Vanderkam.
"Cristo pregava o amor a todos os seres vivos e não matava animais para aliviar a sua
fome", afirma. Assim como ele, os seguidores de Szekely e Ouseley duvidam da veracidade
das passagens do Novo Testamento em que Jesus se alimenta de carne. Eles acreditam
que essas histórias não passam de invenções criadas pelo apóstolo Paulo, já na segunda
metade do século I. A doutrina do vegetarianismo não seria bem recebida pelos judeus,
acostumados a fazer sacrifícios e a comer carne, e Paulo teria modificado os evangelhos
para tornar o cristianismo mais popular. Um exemplo dessas alterações estaria na
passagem do Novo Testamento em que Jesus multiplica pães e peixes para alimentar uma
multidão. O Evangelho dos Doze Santos, encontrado por Ouseley traz uma outra versão
desse milagre, na qual os peixes são substituídos por uvas.
No ano de 68 o monastério de Qumran foi aniquilado numa devastadora investida do
exército romano que arrasou a Judéia e destruiu Jerusalém. O ataque era dirigido
principalmente aos judeus zelotes, que se insurgiram contra o domínio romano. Qumran,
que não era nenhuma fortaleza, foi presa fácil para as legiões do César. Mas nem todos os
essênios morreram aí. Alguns fugiram para Massada onde, aí sim, no ano de 73,
descobriram o que é um final trágico. O esconderijo, uma fortaleza zelote ao sul de
Qumran, localizada no alto de uma colina, parecia impenetrável. Mas 15000 romanos
fizeram um cerco que durou dois anos e metodicamente construíram uma rampa de terra e
areia para alcançar o topo da fortaleza. Quando os soldados finalmente invadiram Massada
tiveram uma surpresa: todos os 1000 rebeldes estavam mortos. Em um sorteio, os zelotes
haviam escolhido um grupo de soldados para assassinar todos os habitantes da fortaleza e,
em seguida, cometer suicídio. Eles preferiram morrer entre os judeus a se tomar escravos
dos romanos. Sobraram para contar a história apenas duas mulheres e cinco crianças, que
haviam se escondido nos reservatórios de água. O episódio foi relatado por Josefo e
provou ser verdadeiro em 1965, quando arqueólogos pesquisaram a região. Eles acharam
as marcas dos oito acampamentos romanos e peaços de cerâmica com inscrições dos
nomes dos zelotes, utilizados no dramático sorteio.

Filosofia enterrada na areia um pouco antes de um ataque romano destruir o monastério


de Qumran, os essênios esconderam seus manuscritos em potes de cerâmica e os
enterraram em cavernas

Segundo Josefo, os essênios existiam em grande número em diversas cidades da


Judéia. Mas algumas variações da seita podem ter ocupado regiões ainda mais distantes.
Uma comunidade egípcia do século 1, os terapeutas, possuía um modo de vida semelhante
ao da seita de Qumran e a mesma divisão entre luz e trevas. Também é possível que
ebionitas e nazarenos, duas das primeiras seitas cristãs, sejam descendentes dos
essênios. Há quem acredite que os nazarenos formaram uma grande comunidade em
Monte Carmel, no norte da Israel atual, que seguia os ensinamentos de Qumran, mas com
algumas diferenças. As regras seriam muito próximas daquelas encontradas nos escritos
de Szekely e Ouseley. Ao contrário de Qumran, eles não praticavam o celibato e até
mesmo formavam famílias. Fanáticos pelo princípio de amar todos os seres vivos, eram
muito mais rigorosos em relação ao vegetarianismo: não comiam peixes nem matavam os
vegetais para comer (comiam folhas de alface, por exemplo, sem arrancar o pé!).

Para os essênios, as refeições devem ser uma Comunhão com Deus


"Eles viviam em tendas, que mudavam De lugar freqüentemente, pois construções
permanentes matariam a relva", afirma Fernando Travi. Ele acredita que Jesus, apesar de
ter passado por Qumran, viveu muito mais tempo em Monte Carmel. A região em que teria
existido essa comunidade está próxima ao local em que Jesus nasceu e realizou muitos de
seus milagres. Afirma também que Cristo não era conhecido como "Jesus de Nazaré", mas
sim como "Jesus, o Nazareno".
Algumas dessas comunidades essênias existem, de certa forma, até hoje.

A Filosofia Essênia

Szekely pesquisou o pensamento dos essênios durante toda a vida. Uma de suas
principais obras é a tradução de um manuscrito encontrado em 1785 pelo historiador
francês Constantine Volney em viagens pelo Egito e pela Síria. É um diálogo entre Josefo e
o mestre essênio Banus a respeito das leis da natureza. Eis alguns trechos:
Bem - Tudo aquilo que preserva ou produz coisas para o mundo, como "o cultivo dos
campos, a fecundidade de uma mulher e a sabedoria de um professor".
Mal - O que causa a morte, como a matança de animais. Por esse motivo, o sacrifício de
bichos, mesmo que para a alimentação, é condenável.
Justiça - O homem deve ser justo porque na lei da natureza as penalidades são
proporcionais às infrações. Deve ser pacífico, tolerante e caridoso com todos, "para ensinar
aos homens como se tornarem melhores e mais felizes".
Temperança - Sobriedade e moderação das paixões são virtudes, pois os vícios trazem
muitos prejuízos à saúde.
Coragem - Ela é essencial para "rejeitar a opressão, defender a vida e a liberdade".
Higiene - Uma outra virtude essencial dos essênios é a limpeza, "para renovar o ar,
refrescar o sangue e abrir a mente à alegria".
Perdão - No caso de as leis não serem cumpridas, a penitência é simples. Banus afirma
que, para se obter perdão, deve-se "fazer um bem proporcional ao mal causado".

Na região sul do Iraque e do Irã, cerca de 38000 pessoas, os mandeans, mantém uma
tradição muito semelhante à doutrina essênia. Eles afirmam ser seguidores de João Batista
e praticam o batismo. Sua origem, no entanto, ainda não é de todo compreendida.

Atitude Interior

Isso não significa, de modo algum, que é preciso ser perfeito para poder dispensar esse
tipo de tratamento. Seria muita pretensão de minha parte julgar ter resolvido todos os meus
"problemas", mas é certo que, de vida em vida, um dos meus objetivos foi sempre o de
conseguir que meus diferentes corpos estivessem suficientemente sintonizados entre si
para servirem de canal às energias de luz que sempre presidem qualquer tratamento.
O Desejo

Freqüentemente, e de forma sutil, infiltra-se em nós o desejo de aplicar um tratamento, e


está aí muitas vezes a pedra de tropeço em nosso caminho. Todos nós desejamos que a
pessoa que nos procura se cure e, mais ainda, que "nós" possamos curá-la, proporcionar-
lhe o alívio que ela veio buscar junto de "nós". Isso parece de uma lógica absolutamente
inevitável. Entretanto...
Um ser que sofre não sofre por acaso. Através da provação por que passa, ele aprende
e cresce, pois as provações são, freqüentemente, "presentes" que damos a nós mesmos,
para irmos mais longe em nós e para além de nós. O sofrimento não é uma fatalidade, e
certos mundos não o conhecem mais.

Certos doentes não querem se curar; desejam-no, é claro, superficialmente,

Não temos dados suficientes para saber o que é bom ou justo neste ou naquele caso e, se
desejarmos dar o melhor de nós mesmos a quem pede a nossa ajuda, isso nos levará a
uma grande humildade.
A luz que passa através de nós no momento dos tratamentos, a qualidade do amor que
vamos poder dar, esse é o nosso "trabalho".
O "desejo" toma muitas vezes a aparência de amor,

O Julgamento

Esse amor total não pode admitir julgamento. Neste ponto, também a fronteira é sutil
entre julgamento e opinião. Emitir uma opinião, dar um parecer sobre alguma coisa ou
sobre alguém é uma atitude neutra e está mais próximo de unia constatação. Emitir um
julgamento é implicar-se pessoalmente na opinião, tomar partido segundo a nossa
experiência, sem nos colocarmos na pele do outro.

Numa aldeia dos índios hurons, li esta frase que ficou gravada em minha mente:
"Grande Manitu, não me deixes criticar o meu vizinho por tempo muito prolongado, da
mesma forma que eu não usaria seus mocassins durante uma lua inteira. "
Isso nos leva a uma outra qualidade que devemos desenvolver como terapeutas.

A Compaixão

É a chave indispensável que abrirá todas as portas, mas é também a chave que temos
de procurar, pois a perdemos há muito tempo!
Por ocasião da minha aprendizagem, na época essênia, os Irmãos ensinaram-me como
respirar no ritmo do ser que sofre. Eu sabia que poderia, dessa forma, pouco a pouco,
identificar-me com ele e, sem adquirir o seu mal, vivê-lo interiormente. Essa etapa é
indispensável, pois vai permitir captar a fonte do mal, depois desviá-la para o nosso corpo
de luz antes de transmutá-la com toda a força do nosso coração e da nossa vontade.

A Transmutação
"Não se destrói o mal... "
Diante da doença existe uma lei universal que aprendi na época de Jesus e que ponho
sempre em prática: não se destrói o mal. É nossa alma que permite a sua existência por
causa das suas próprias fraquezas; devemos, então, não aniquilá-lo ou afastá-lo, mas
substituí-lo pela luz que, ao tomar o seu lugar, transmutará a sombra.
Lembro-me da época da guerra do Golfo. Os pensamentos de ódio disparavam na
direção de Saddam Hussein e, nessa ocasião, as pessoas com quem costumamos
trabalhar nos diziam: "Se vocês envolverem esse ser em ódio, esses pensamentos
reforçarão a ação dele no sentido da maldade. Se vocês lhe enviarem pensamentos de
paz, a ação dele será por eles enfraquecida, pois não encontrará mais o alimento que a
compõe... "
Cabe a nós, portanto, saber o que queremos; e se nem sempre podemos, num primeiro:
momento, agradecer à doença pelo caminho que nos obriga a percorrer, evitemos ao
menos alimentá-la.

Atitude Exterior

"Boa vontade não basta... "


Considero difícil estabelecer uma separação entre atitude interior e atitude exterior. As
duas estão estritamente ligadas e se sustentam, mas é necessário abordar o lado mais
técnico, ao menos para quem está começando. A técnica não é, na verdade, senão um
suporte para alguma coisa que está além de nós e que aos poucos há de instalar-se em
nós. Entretanto, vi muito freqüentemente pessoas animadas de enorme boa vontade
fazerem qualquer coisa a pretexto de ouvir o coração.

Atualmente, os habitantes da Terra, em sua grande maioria, funcionam no nível do


terceiro chakra. Isso significa que muitas vezes o nosso modo de amor é humano demais e
perpassado de emotividade

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