Você está na página 1de 19

O Feminicídio e a Sociedade na

perspectiva de gênero

Vitória da Conquista- Ba´


Novembro 2018.2
Elza Almeida Correia
Jackeline Duarte Gonçalves
Tailana Santos Brito

O Feminicídio e a Sociedade na
perspectiva de gênero
Trabalho interdisciplinar dirigido,
apresentado ao curso de Direito da Faculdade
de Tecnologia e Ciências- FTC, como parte dos
requisitos necessários para conclusão da
matéria TID IV.

Vitória da Conquista- Ba´


Novembro 2018.2
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher” (p. 9 Beavouir)
Sumário
1-Introdução ................................................................................................................................. 1
2-Origem da qualificadora Feminicídio........................................................................................ 1
2.1-Motivos e histórico da Lei 13.104/15 ................................................................................. 2
3- Feminicídio no Código Penal Brasileiro ................................................................................ 4
3.1 Tipos de Crimes de Feminicídio ........................................................................................ 4
4- Classificação e Descrição ...................................................................................................... 5
4.1 Qualificadora ....................................................................................................... 5
5- Definição de violência contra a mulher ............................................................................... 7
6- O feminicídio e a sociedade na perspectiva de gênero......................................................... 8
6.1 Feminicídio e sua aplicação para travestis e transexuais .......................................... 10

7- O assassinato de mulheres no Brasil .................................................................................. 11


8- Dados do Feminicídio em Vitória da Conquista Bahia ....................................................... 11
9- Considerações finais ......................................................................................................... 12
10- Referências Bibliográficas ................................................................................................ 14
1- Introdução

O presente trabalho trata-se de um modo geral sobre o Feminicídio e a


Sociedade na perspectiva de gênero. Como fenômeno social o Feminicídio
encontra-se presente em todas as sociedades, apresentando significativas
proporções da população feminina em todo o mundo.

Quando se fala em Feminicídio deve se entender que é a expressão fatal


das diversas violências que podem atingir as mulheres em sociedades
marcadas pela desigualdade de poder entre os gêneros masculino e feminino e
por construções históricas, culturais, econômicas, políticas e sociais
discriminatórias. O conceito de gênero para as ciências sociais não se
confunde com o conceito de sexo, enquanto este estabelece as diferenças
biológicas entre homens e mulheres, aquele se ocupa em determinar as
diferenças sociais e culturais que definem os papeis dos homens e das
mulheres na sociedade.

A violência contra a mulher constitui-se um conflito de gênero, existindo


uma relação de poder entre o gênero masculino representado como forte, e o
gênero feminino como fraco; características das sociedades em que as
relações entre os gêneros são desiguais e hierarquizadas, em que os padrões
sociais e institucionais legitimam a dominação masculina.

A metodologia realizada será o levantamento de fontes bibliográficas,


procedida a partir dos conceitos de violência de gênero, onde será mencionada
dados de pesquisas realizadas por órgãos que registram a violência do
Feminicídio na Sociedade.

2- Origem da qualificadora Feminicídio

Dentre diversas leituras compreende-se que o legislador busca de um


modo geral compensar a discriminação e a opressão á mulher, o que
supostamente legitimaria o acionamento do Direito Penal para conferir direitos
diferenciados de proteção ostensiva à mulher no cenário jurídico penal.
O objetivo do legislador percebe-se que foi só um, ter mais rigor na
proteção da mulher no âmbito familiar criando a lei 13.104, de 2015, que
alterou o artigo 121 do Código Penal Brasileiro, com a finalidade de prever o
Feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. Além de
qualificar o homicídio contra mulheres a lei 13.104 também alterou a lei 8.072,
de 1990, ao incluir o Feminicídio no rol dos crimes hediondos. Além disso,
tratando- se de crime doloso contra vida, a competência é do tribunal do Júri

1
(art. 5º inciso XXXVIII, alínea “d” da Constituição Federal), regra que se aplica
ao julgamento. Não há vedação à colheita de provas perante a vara de
violência contra a mulher e a redistribuição do feito após o trânsito em julgado
da pronúncia, nas comarcas em que haja varas específicas de violência contra
a mulher. (Canal de Ciências criminais acesso em 20.04.18)
Segundo Amom Albernaz Pires, a qualificadora do Feminicídio tem
natureza objetiva. Embora a disposição remeta à noção de motivação (“em
razão da condição de sexo feminino”), as definições incorporadas pela Lei
Maria da Penha sinalizam contexto de violência de gênero, ou seja, quadro
fático-objetivo não atrelado, aprioristicamente, aos motivos determinantes da
execução do ilícito. (PIRES, 2015).
Mas para entender a violência contra a mulher, é preciso compreender o
significado da conceituação de gênero. Conforme Scott (1990, p.14), gênero “é
um elemento constitutivo de relações fundadas sobre as diferenças percebidas
entre os sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações
de poder”. O conceito de gênero decorre de uma construção social, política e
cultural que molda o significado atribuído ao feminino e ao masculino numa
determinada sociedade (BRASIL, 2011).

2.1 Motivos e histórico da Lei 13.104/15


Conforme Bianchini (2016) na sociedade Grega, as mulheres não eram
consideradas cidadãs e sua função era apenas reprodutiva. A partir da 2ª
Guerra Mundial, as mulheres começam a ganhar espaço na esfera social
devido a participação nas industrias, para mover a economia na qual
encontrava-se estagnada por causa do conflito. Contudo na sociedade
moderna, ainda persiste o pensamento que as mulheres são inferiores e que
devem ser submissas aos homens. No Brasil, houve momentos nas
constituições do país que a igualdade não existia em seu sentido formal,
legitimando certas formas de discriminação das minorias sociais. Depois de um
longo período de violações dos direitos fundamentais e censura da liberdade,
finalmente, é promulgada a Constituição Federal de 1988.
Conforme explica Guilherme de Souza Nucci: a igualdade passa a ter
forma de princípio maior. Inicialmente, no Preâmbulo do texto, e em seguida, o
artigo 3º destaca a redução das desigualdades como objetivo do Estado
brasileiro, e também, o artigo 5º, I dispõe que a igualdade é também direito
fundamental, - ”Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em
direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”- e visa garantir uma vida
digna, sem privilégios odiosos e sem discriminação a todos.
Atualmente, a universalidade é o fundamento do direito à igualdade e
determina que todos os seres humanos são iguais e devem usufruir das

2
mesmas condições na prática desses direitos. O direito a igualdade consta no
artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que dispõe: “todas as
pessoas nascem livres iguais em dignidade e direito”. No entanto, avanços
nessa conquista só foram possíveis depois de um longo período de luta pela
isonomia entres os gêneros.
Nota-se que a violência praticada contra a mulher, vem de longa data,
índices alarmantes de assassinatos, onde coloca o Brasil entre os Países do
mundo, onde mais se matam mulheres pela questão da discriminação de
gênero, demonstrando o descaso e a incapacidade do poder público de
enfrentar os problemas sociais e culturais presentes na sua jurisdição.

Nos aspectos históricos e legais desde os primórdios da humanidade, as


mulheres foram subestimadas e inferiorizadas no âmbito da sociedade,
recebendo este tratamento como forma de penalização ao seu suposto
comportamento social pecador, considerado como instigante ao adultério ou
como responsável pelo pecado original no paraíso, é uma visão histórica,
porém ainda real, os anos se passaram mais existem muitas pessoas ainda
com essa cultura e pensamento. Sob esta inteligência, a mulher veio ao mundo
legitimada como um ser humano auxiliar, propensa a satisfazer as ansiedades
e referendar a supremacia masculina. Importa destacar que esta razão
acompanha as pregações religiosas, desde o surgimento da humanidade,
revelando-se ainda nos dias atuais.
Com isso, homens eram orientados para uma educação com o propósito
de assumir posições relevantes na sociedade, por outro lado, fomentava-se a
subjugação feminina, impedindo às mulheres o acesso à educação e aos
espaços públicos, “mulher nasceu para cuidar da casa, do marido e dos filhos”.

A normalidade da violência contra a mulher no horizonte cultural do


patriarcalismo justifica, e mesmo autoriza que o homem pratique essa
violência, com a finalidade de punir e corrigir comportamentos femininos que
transgridam o papel esperado de mãe, de esposa e de dona de casa.
(WAISELFISZ, 2015, p. 75). Percebe-se que a trajetória feminina esteve
marcada pela submissão, sendo as mulheres, desde sempre, treinadas para
servidão masculina, inicialmente ao pai, quando solteira e, após o matrimônio,
sua plena capacidade era subtraída, sendo reservado ao marido pleno poder e
autoridade sobre elas (PORTO, 2014, p. 19).
Segundo algumas pesquisas no site Jus.com.br, o índice da mortalidade
feminina derivada, em especial, da desigualdade de gênero, tendo sido
motivadora de reivindicações populares, protagonizadas por grupos sociais
organizados, que clamam por soluções governamentais para erradicar a
violência contra as mulheres vítimas da crueldade masculina. Diante de
inúmeros casos, é comum o recurso ao direito penal, por meio da edição de
normas que reforçam a punição, o que, nem sempre se mostra eficaz. Este é o

3
contexto em que foram promulgadas os principias diplomas normativos
referentes a esta temática, quais sejam, a lei 11.340/06, conhecida como Lei
Maria da Penha, e a lei 13. 104/15 também denominada Lei do Feminicídio.
Tais diplomas normativos buscam assegurar, a partir da consolidação de uma
política de enfrentamento a violência de gênero, maior proteção às mulheres e
também a responsabilização do agressor, visando erradicar esta forma de
violência, problema tolerado cotidianamente ao longo da história. Apesar disso,
são significativas as dificuldades que envolvem a temática, especialmente em
razão dos obstáculos que dificultam o enfrentamento das causas da violência
contra as mulheres.

3- Feminicídio no Código Penal Brasileiro

No Código Penal brasileiro, o Feminicídio está definido como um crime


hediondo, tipificado nos seguintes termos: é o assassinato de uma mulher
cometido por razões da condição de sexo feminino, quando o crime envolve
violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de
mulher. O projeto pelo qual se originou a referida lei ressaltou sua importância,
no sentido de reconhecer, na forma da lei os assassinatos motivados por
questões de gênero. Considerou ainda que a violência de gênero decorre de
uma estrutura de desigualdade de gêneros e que o Feminicídio seria uma
expressão extremada dessa violência, constituindo um crime de ódio,
“justificado socioculturalmente por uma historia de dominação da mulher pelo
homem e estimulado pela impunidade e indiferença da sociedade e do Estado”.

O Art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código


Penal, para prever o Feminicídio como circunstância qualificadora do crime de
homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o
Feminicídio no rol dos crimes hediondos.

3.1 Tipos de Crimes de Feminicídio

Para Meneghel/Portela (2017,pág 3081); existe uma relação entre a


violência estrutural de uma sociedade e o tipo de Feminicídio mais frequente,
em grande parte dos países as vítimas são jovens, negras, pobres e vivem em
espaços urbanos onde a segurança é mínima ou inexistente, isso reforça a
ideia de que o Feminicídio é um tipo de crime de poder e dominação, atingindo
os grupos mais fragilizados na sociedade.

4
Russel e Caputti diz que: “em uma sociedade racista e sexista, os fatores
individuais teriam menos influencia do que os fatores socioculturais, uma vez
que tanto as pessoas que apresentam distúrbios psicológicos quanto aquelas
consideradas normais, frequentemente tomam atitudes racistas e sexistas
legitimadas socialmente”.

São vários os crimes de Feminicídio, Aimê Fonseca Peixoto e Bárbara


Paula Resende Nobre relata em seu artigo que dentre os crimes praticados
contra a mulher, como violência psicológica, física, patrimonial, moral, a
violência contra a dignidade sexual se configura como supra-sumo da violência
de gênero, uma vez que a mulher vitima de estupro acaba sendo transformada
em participe do crime no qual ela foi vitima. Esse tipo de violência na sua
maioria não são registrados, devido ao constrangimento que o crime em sua
essência atribui a vitima, ademais a sociedade com uma ideologia machista
aufere a culpabilidade indireta à vitima, usando como argumento o
comportamento pregresso da mulher.

4- Classificação e Descrição

O íntimo é a morte de uma mulher cometida por um homem com quem a


vítima tinha, ou tenha tido, uma relação ou vínculo íntimo: marido, ex-marido,
companheiro, namorado, ex-namorado ou amante, pessoa com quem tem filho
(a)s. Inclui-se a hipótese do amigo que assassina uma mulher – amiga ou
conhecida – que se negou a ter uma relação íntima com ele (sentimental ou
sexual); já o não íntimo é a morte de uma mulher cometida por um homem
desconhecido, com quem a vítima não tinha nenhum tipo de relação. Por
exemplo, uma agressão sexual que culmina no assassinato de uma mulher por
um estranho. Considera-se, também, o caso do vizinho que mata sua vizinha
sem que existisse, entre ambos, algum tipo de relação ou vínculo; e o por
conexão é a morte de uma mulher que se encontra “na linha de fogo de um
homem que mata ou tenta matar outra mulher”. Pode ser de uma amiga, um
parente da vítima ou de uma mulher desconhecida que se encontrava no
mesmo local e tenha se interposto entre a vítima e o agressor.

Os cenários onde ocorrem os Feminicídio ajudam a compreender os


seus determinantes, sendo os mais conhecidos os cenários familiares e
domésticos, já que a família em sociedades patriarcais confere todo o poder ao
homem, e nas relações entre parceiros íntimos ás mulheres são consideradas
propriedade dos maridos, companheiros, namorados e ex-companheiros.

4.1 Qualificadora
A Lei Maria da Penha não foi capaz de reduzir, por si só, as estatísticas
dos crimes de violência contra a mulher, com isso possibilitou uma

5
compreensão mais abrangente da realidade de sofrimento e subjugação das
mulheres, o que acarretou também no desenvolvimento de outras práticas que
visassem a coibir e punir com mais severidade essas condutas delitivas, sendo
muitas dessas violências, tanto físicas quanto psicológicas, chega a fase final,
que é a morte da mulher por sua própria condição de gênero, o feminicídio. No
entanto, estes homicídios são taxados, quase sempre, como comuns e quando
qualificados, não é recorrente que se ateste violência contra a mulher, e o
agressor não paga justamente pelo que fez.
Observa-se que não é pelo simples fato do crime de homicídio ser cometido
contra a mulher, já se configura como sujeito passivo do delito tipificado no
artigo 121 do Código Penal, §2°-A, ou seja, o feminicídio qualificado, é
necessário para a configuração da qualificadora, nos termos desse artigo que o
crime deva ser praticado por razões de condição de sexo feminino na situação
de violência doméstica e ou familiar contra a mulher. Para Mello, 2015 “Não
prevalecendo somente que o sujeito passivo seja uma mulher, é imprescindível
que se averigue a agressão, e se a fundamentação foi abalizada no gênero e
tenha sucedido no âmbito doméstico, da família ou em qualquer relação íntima
de afeto”.

De acordo com essa nova Lei, os requisitos típicos da nova qualificadora


(feminicídio) são: o Homicídio qualificado
§ 2º Se o homicídio é cometido, Feminicídio - VI – contra a mulher por razões
da condição de sexo feminino: Pena: reclusão, de 12 a 30 anos.
§ 2º-A. Considera-se que a há razões de condição de sexo feminino quando o
crime envolve a violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à
condição de mulher, Causas de aumento de pena previstas na Lei 13.104/2015.
Acrescentou o feminicídio na lista de crimes hediondos na Lei 8.072/90. A
nova Lei inclui mais um parágrafo ao art. 121 do Código Penal, nos seguintes
termos:
Art. 121. Aumento de pena
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade (A
variação d1/3 à metade deve ser aplicada observando o caso concreto). Cabe ao
juiz avaliar cada situação concreta para aplicar proporcionalmente o aumento. No
caso da gestação, quanto mais próximo do parto, mais aumento; quando mais
perto do parto já feito, mais aumento (até o limite dos 3 meses); quanto menos
idade, mais aumento; quanto mais idosa a mulher, mais aumento; na deficiência,
compete ao juiz valorar o grau da deficiência etc.
Se o crime for praticado durante: A gestação, a primeira causa de aumento
prevista pela nova lei representa uma maior gravidade do fato e por conta disso
encontra-se totalmente justificada. No entanto, o agente somente responde por
ela se tinha conhecimento da situação de gestação da vítima, podendo ocorrer

6
erro de tipo caso não tivesse tal ciência ou nos 3 (três) meses posteriores ao
parto, a causa de aumento de pena está alicerçada na opinião de especialistas
no sentido de que aos três meses a criança está preparada para o desmame, já
podendo ser alimentada por meio da mamadeira (o que não significa que o
aleitamento materno não seja mais recomendável a partir desse lapso temporal),
contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, o
próprio art. 121 do Código Penal, em seu § 4º, já prevê um aumento de 1/3 nos
casos de homicídio praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos. O
aumento previsto para o feminicídio, no entanto, é mais severo, pois varia de 1/3
até metade. Prevalece, no caso, o aumento determinado no § 7º, pois se trata de
lei específica ou com deficiência que são quando as circunstâncias em que uma
pessoa é considerada portadora de deficiência podem ser encontradas no art. 4º
do Dec. 3.298/1999, que regulamentou a Lei 7.853/1989, na presença de
descendente ou de ascendente da vítima, o crime, ao ser praticado na presença
de descendente ou ascendente da vítima, adquire uma reprovação ainda maior,
pois acarretará um trauma muito intenso para o familiar que o assistiu; são
marcas que, muitas vezes, acompanharam a pessoa para toda a sua vida.
Alguns comentários sobre as causas de aumento de pena, observando-se
desde logo que o desconhecimento do agente (= ausência de dolo) em relação a
qualquer uma delas significa erro de tipo, excludente do aumento da pena.
Em nenhuma das hipóteses incidirá a agravante genérica prevista no art. 61,
do Código Penal, sob pena de bis in idem (repetição de uma sanção sobre
mesmo fato).
É impossível pensar num feminicídio, que é algo abominável, reprovável,
repugnante à dignidade da mulher, que tenha sido praticado por motivo de
relevante valor moral ou social ou logo após injusta provocação da vítima. Uma
mulher usa minissaia. Por esse motivo fático o seu marido ou namorado lhe
mata. E mata por uma motivação aberrante de achar que a mulher é de sua
posse, que a mulher é objeto, que a mulher não pode contrariar as vontades do
homem. Nessa motivação há uma ofensa à condição de sexo feminino. O sujeito
mata em razão da condição do sexo feminino, em razão disso, ou seja, por causa
disso. Seria uma qualificadora objetiva se dissesse respeito ao modo ou meio de
execução do crime. A violência de gênero não é uma forma de execução do
crime, sim, sua razão, seu motivo. Por isso que é subjetiva (BIANCHINI, 2016, p.
216-217)

5- Definição de violência contra a mulher

A violência contra a mulher não se trata somente de agressão física, existe


vários meios de agredir a integridade da figura feminina. A mulher por muitos
anos foi vista como a dona do lar, onde seu principal papel era cuidar dos filhos

7
e esposo, por muitas vezes era tratada como objeto sexual onde sua principal
função era satisfazer desejos do cônjuge. Com o passar dos anos as
começaram a questionar seu lugar na sociedade, lutar pelos seus direitos, nos
anos de 1822-1889 surgiram às primeiras manifestações com mudanças
positivas, segundo Ana C. Salvatti Fahs uma dessas mudanças foi a criação da
primeira escola para meninas, área em que seria consagrada Nísia Floresta
(pseudônimo Dionísia Gonçalves), reconhecendo o direito de educação da
mulher.

Mas apesar de todas as conquista, revoluções feministas, queima dos


sutiãs, observa-se que até hoje a violência não foi erradicada. Em 1994, o
Brasil assinou o documento da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir
e Erradicar a Violência feminina (Convenção de Belém do Pará), onde define
que violência contra a mulher é qualquer ação ou conduta, baseada no gênero,
que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à da mesma,
tanto no âmbito público como no privado.

A lei 11.340 traz as definições dessa violência, segundo art. 5º configura


violência contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que
lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral
ou patrimonial. Suas formas de violência prevista no art. 7ª da lei Maria da
Penha são: Violência física inciso I, toda e qualquer conduta que ofenda a
integridade ou saúde corporal da mulher, a violência se dar por meio de uso da
forca física do agressor que machuca a vítima de várias maneira, a violência se
também pode ser pelo uso de armas de Fogo ou perfuro cortantes. Exemplos
de agressão física são: chutar, bater, corta mutilar, queimar, entre outros;
Violência psicológica inciso II, qualquer conduta que cause danos à saúde
mental da vítima, seja ela ofensas que diminuam a seu alto estima, causando
danos emocional ou qualquer conduta que a reprima da vida social, como por
exemplo, ser proibida de estudar, trabalhar, sair, fazer amizades, falar com
amigos e parentes; Violência sexual inciso III, quando a mulher e obrigada a
manter ou participar de relação sexual indesejada. E considerado violência
sexual também quando a mulher e obrigada a se prostituir, abortar, usar
anticoncepcionais seja por intimidação ameaça ou coação; Violência
patrimonial inciso IV, dar-se quando o agressor retrai, subtrai, ou destrói parcial
ou completamente bens como documentos pessoais, notebooks, celular,
valores e direitos de recursos econômicos , instrumentos de trabalho, bens de
valores afetivos pertencentes a mulher entre outros; Violência moral inciso V,
ocorre quando a difamação ou calunia em face da mulher; difamar e quando o
agressor atribui a mulher fatos que ofendam a sua reputação e dignidade;
caluniar e atribuir a mulher falsos crimes .

6- O feminicídio e a sociedade na perspectiva de gênero

8
Feminicídio, (Lei n° 13.104/15), uma palavra que passou a fazer parte das
leis brasileiras há pouco tempo, que nada mais é, do que o assassinato
intencional e violento de mulheres, praticado tanto pelo mesmo sexo, quanto
pelo sexo oposto.

Não é preciso que vítima e assassino, tenham vinculo afetivo ou familiar


eles podem ser ate desconhecidos.
Segundo Organização Mundial da Saúde (OMS), o numero de
assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres. O mapa da violência de
2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106,093 pessoas morreram por suas
condições de ser mulher. As mulheres negras são ainda mais violentadas.
Conforme o Ipea. O desejo sexual é uma das principais causas da violência
contra a mulher, 70% dos estupros são realizados por conhecidos da vitima ou
com quem mantém algum tipo de relacionamento, dentro de namoros,
casamentos e relações sociais. Os atos englobam quaisquer tipo de relação
sexual ate, por exemplo, proibir a mulher de usar anticoncepcionais, não utilizar
contraceptivos contra a vontade dela, obrigá-la ou impedi-la de abortar.

Segundo o código penal brasileiro, o Feminicídio é uma qualificadora do


homicídio comum e por isso prever penas maiores para quem o pratica.

Em 2 de novembro de 2017, Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, Juíza de


direito do tribunal de justiça de Minas Gerais. (MG), aponta que, a subjugação
máxima da mulher por meio de seu extermínio, tem raízes históricas na
desigualdade de gêneros e sempre foi inviabilizada e, por consequência,
tolerada pela sociedade. A mulher sempre foi tratada como uma coisa que o
homem podia usar gozar e dispor.

Aparecida Gonçalves, foi secretaria nacional de enfrentamento a violência


contra as mulheres da secretaria de políticas para as mulheres entre 2003 e
2015, é ativista do movimento de mulheres especialistas em gênero e violência
contra as mulheres.
Segundo Aparecida Gonçalves, a expressão da motivação do gênero de
um crime pode aparecer em situações que são mais conhecidas, pela
viabilidade que as lutas feministas conseguiram, e também pelo acumulo
proporcionado pela lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), para conhecer
melhor a violência domestica e familiar. Mas outros contextos têm chamado
atenção. Temos percebidos fenômenos como assassinatos e abandono do
corpo da mulher, muitas vezes com marcas de violência sexual e lesões em
regiões do corpo que denotam feminilidade ou com conotação sexual, como
rosto, seios, ventre e genitais, por exemplo, e indícios que os crimes são
praticados com crueldade e uso de tortura. Há ainda outras situações que
podem ocultar razões de gêneros e que comumente cai na vala comum, por
exemplo, crimes relacionados à violência urbana.

9
Assim, como tais autores acredita-se que esse luta feminina, não pode
parar, muitas vezes homens e mulheres se perguntam, por que existe uma
proteção especifica para a mulher, se todos são iguais perante a lei?

Com base no Princípio Constitucional da Igualdade, que diz: A igualdade


consiste, em tratar igualmente os iguais, e desigualmente os desiguais, na
medida da sua desigualdade. È uma ilusão pensar que uma mesma lei deve
ser aplicada á todos, quando existem algumas camadas da população, que
precisam de uma proteção especial.

6.1- Feminicídio e sua aplicação para travestis e


transexuais
Segundo, Cristiano Chaves de Fonhearias e Nelson Rosenvald, “o
transexual não pode ser confundido com o homossexual, bissexual, intersexual
(também conhecido como hermafrodita) ou mesmo com o travesti. O transexual
é aquele que sofre uma dicotomia físico-psíquica, possuindo um sexo físico,
distinto de sua conformação sexual psicológica. Nesse quadro, a cirurgia de
mudança de sexo pode se apresentar como um modo necessário para a
conformação do seu estado físico e psíquico”.
Referente ao entendimento de Genival Veloso de França aduz ser o
transexualismo uma “inversão psicossocial, uma aversão e uma negação ao
sexo de origem, o que leva esses indivíduos transexuais a protestarem e
insistirem numa forma de cura por meio da cirurgia de reversão genital,
assumindo, assim, a identidade do seu desejado gênero”.
Neste pensamento Rogério Sanches Cunha, simpático a esta
contemporânea corrente, diz que “a mulher de que trata a qualificadora é
aquela assim reconhecida juridicamente. No caso de transexual que
formalmente obtém o direito de ser identificado civilmente como mulher, não há
como negar a incidência da lei penal porque, para todos os demais efeitos, esta
pessoa será considerada mulher”. Seguindo essa mesma linha de raciocínio,
Celso Delmanto, afirma que o transexual que mantém o psiquismo voltado para
o gênero feminino e que tenha realizado tanto a cirurgia de mudança de órgãos
genitais, quanto a alteração em seu registro civil para fazer constar mulher,
poderá ser abrangido pela proteção especial do Feminicídio.
Rogério Greco, sintetizando a temática, explica que “aquele que for
portador de um registro oficial (certidão de nascimento, documento de
identidade) onde figure, expressamente, o seu sexo feminino, poderá ser
considerado sujeito passivo do Feminicídio”.
Assim, como tais autores acredita-se que essa luta feminina, não pode
parar, muitas vezes homens e mulheres se perguntam, porque existe uma
proteção especifica para a mulher, se todos são iguais perante a Lei? Com
base no Principio Constitucional da Igualdade, que diz: A igualdade consiste,
em tratar igualmente os iguais, e desigualmente os desiguais, na medida da
sua desigualdade. É uma ilusão pensar que uma mesma lei deve ser aplicada

10
á todos, quando existem algumas camadas da população, que precisam de
uma proteção especial.

7- O assassinato de mulheres no Brasil


Estudos apontam a desigualdade de gênero em diferentes ciclos
percorridos como sendo o fator determinante de agressões pelas mulheres.
Percebe-se então que a violência contra a mulher acontecia de forma mais
intensa devido a submissão e dependência financeira, no que o tempo foi
passando houve uma mudança grandiosa (evolução) na forma de agir e de
pensar da mulher, propiciando insegurança e inquietação no comportamento
masculino, motivando conflitos, tornando o espaço marcado por crueldades,
violências e mortes de muitas mulheres.
Conforme o G1, doze mulheres são assassinadas todos os dias em média
no Brasil, é o que mostra um levantamento considerando os dados oficiais dos
Estados relativos a 2017. São 4.473 homicídios dolosos, sendo 946
feminicídios, ou seja, casos de mulheres mortas por crimes de ódio motivados
pela condição de gênero.

Uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil, taxa de 4,3


mortes para cada grupo de 100 mil pessoas do sexo feminino. Se for
considerado o último relatório da Organização Mundial de Saúde o Brasil
ocuparia a 7ª posição entre as nações mais violentas para as mulheres de um
total de 83 Países.

Durante a pesquisa e leituras podemos notar que houve uma lenta


evolução dos registros de Feminicídios. Em 2015 ano que foi sancionada a Lei,
16 Estados registraram 492 casos, um ano depois em 2016, 20 Estados
tiveram 812 casos e em 2017, 24 Estados tiveram 946 Feminicídios. Os dados
são preocupantes pois expõe uma patente subnotificação nos casos de
Feminicídio.

8- Dados do Feminicídio em Vitória da Conquista Bahia


Foi feita uma pesquisa no dia 31 de agosto de 2018 no DISEP – DISTRITO
INTEGRADO DE SEGURANÇA PÚBLICA de Vitória da Conquista na
Delegacia da Mulher – DEAM, quando houve uma abordagem por uma
atendente e foi explicado que os Homicídios que se encaixam na definição de
Feminicídio os levantamento de dados não seria na delegacia e sim no setor de
Estatísticas.
No setor indicado houve um bate papo e foi esclarecido que o número de
Homicídios envolvendo mulheres na cidade é grande, porém é minoria até
sendo insignificantes os Homicídios que são caracterizados como feminicídios,
que no ano de 2015 ano que a Lei entrou em vigor não houve na cidade

11
nenhum registro, em 2016 houve 02 registros, já em 2017 somente 04 registros
e em 2018 até a presente data não houve nenhum registro.

Também foi ressaltado que têm ocorrido mais casos de homicídios


envolvendo mulheres por envolvimento com o Tráfico de Drogas que os
números desses casos são alarmantes, e que percebe de uma maneira geral
que na maioria dos casos os profissionais da área não sabem quando a morte
de uma mulher é vista analisada, encaixada como Feminicídio, ainda sentem
muita dificuldade, relatando que não é um processo só técnico mais também
cultural, que infelizmente não estão enquadrando os casos de Feminicídio aos
parâmetros estabelecidos na Legislação.

No mesmo dia, porém em outro setor um Policial Civil foi entrevistado e


preferiu não ser identificado, e respondeu a pergunta: Sobre o Feminicídio
como que é identificado? E em qual momento da investigação? E ele
respondeu que não é fácil até mesmo por ser uma Lei nova, e que apesar de
o número do Feminicídio ser quase zero na cidade eles levam em conta a vida
pregressa da vitima para saber o que fazia, se trabalhava, se sim onde, suas
amizades e sua rotina do dia a dia, depois dessas informações a causa da
morte são delineada e, consequentemente, sabem se foi Homicídio ou
Feminicídio e que na sua maioria costuma ser o fim de um longo ciclo de
violência sofrido pela mulher, o mesmo informou no final que devido a sua
convivência com tais situações mesmo após a sanção da Lei que muitos dos
casos envolvendo o Feminicídio não eram e ainda não são registrados como
tal.

9- Considerações finais
No decorrer de várias leituras e pesquisas foram analisadas que as
conquistas femininas foram poucas, sendo assim o gênero feminino continua
sendo esquecido não havendo igualdade muito menos respeito. Quando o
Feminicídio foi criado os legisladores teve em vista o aumento da pena
tornando a Lei mais grave concedendo maior notoriedade e atenção a esse tipo
de crime, mesmo assim percebe-se que foi apenas mais uma Lei, pois os
números de homicídios não diminuíram no combate a violência de gênero.

Mesmo com muitos estudos, pesquisas bibliográficas, livros, artigos e


notícias sobre o Feminicídio, ainda é pouco, pois os assuntos são sempre os
mesmos não tendo nada novo a não serem números a cada dia mais
assustador referente à quantidade de mulheres mortas definidas como crime
de Feminicídio. A tipificação veio devido à necessidade de melhores condições
de vida as mulheres, sendo que a qualificadora representa mais que uma
punição.

12
A violência de gênero é uma realidade emergencial sob qual o Estado
Democrático de Direito não pode omitir fazendo-se que não se sabe
principalmente pela necessidade de proteção e garantias fundamentais, a Lei
trata de importante instrumento de defesa e proteção no combate de gênero na
sociedade.

Na pesquisa de campo realizada junto ao DISEP na cidade de Vitória da


Conquista apesar de muitos Homicídios envolvendo mulheres, de 100
mulheres 98 é por envolvimento ao tráfico e 2 mulheres é caracterizado o
Feminicídio, no qual acreditamos que os órgãos responsáveis não estão ainda
sabendo diagnosticar e investigar sobre o Feminicídio.

13
10- Referências Bibliográficas

BIANCHINI, Alice. Revista EMERJ. n. 72, v. 19, 2016. 203-219.


Constitucionalidade da Lei Maria da Penha: STF, ADC 19 e ADI 4.424.
Disponível em: Acesso em: 27 mai. 2016. BITTENCOURT, Cezar Roberto.
Homicídio discriminatório por razões de gênero. Disponível em: . Acesso em:
05 abril. 2018.

PIRES, Amom Albernaz. A natureza objetiva da qualificadora do feminicídio e


sua quesitação no Tribunal do Júri. 2015

WAISELFISZ, Júlio Jacobo. Mapa da violência 2015. Disponível em: Acesso


em: 20 Abril 2018: www.mapadaviolencia.org.br
PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e domiciliar contra a
mulher. Lei 11.340/2006: análise crítica e sistêmica. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2014.

atualidadesdodireito. Com. Br. Autora do livro Lei Maria da Penha, 2. Ed.


Saraiva.

LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil


(membrodo MCCE). Estou no luizflaviogomes.
NUCCI, Guilherme De Souza. Código penal comentado. 17º ed. – Rio de Janeiro:
Editora Forence, 2017.p.455

http://www.direitopenalvirtual.com.br/
http://www.xn--contedojurdio-5ib3q.com.br/

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13104.htm

https://www.en.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_
feminicidio_leilagarcia.pdf
https://scholar.google.com.br/scholar?lr=lang_pt&q=feminic%C3%ADdio+
qualificadoras&hl=pt-BR&as_sdt=0,5

https://canalcienciascriminais.com.br/a-natureza-da-qualificadora-do-
feminicidio/<http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/173139525/feminicidio-
entenda-as-questoes-controvertidas-da-lei-13104-2015?ref=news_feed

https://araretamaumamulher.blogs.sapo.pt/16871.html

http://www.observe.ufba.br/violencia

http://www.politize.com.br/movimento-feminista-historia-no-brasil/

14
www.huffpostbrasil.com.br
www.politize.com.br
https://jus.com.br/artigos/61798/feminicidio-violencia-domestica-e-familiar

http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossies/feminicidio/capitulos/o-que-e-
feminicidio/

https://canalcienciascriminais.com.br/a-natureza-da-qualificadora-do-
feminicidio/
https://mahcarvalho.jusbrasil.com.br/artigos/322265458/transsexuais-a-luta-
pela-visibilidade?ref=serp

15

Você também pode gostar