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Universidade do Vale do Rio dos Sinos- UNISINOS

Curso de Pedagogia

Atividade Acadêmica: Estágio de Anos Iniciais I

Professora: Regina Urmersbach

Relação professor e aluno na aprendizagem da leitura e escrita

Patrícia Pugens

São Leopoldo, Julho de 2014


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Trabalho de Pesquisa:

A observação e o trabalho de pesquisa desenvolvido foram realizados na


Escola Estadual Salvador Canellas Sobrinho, do município de Gravataí, em um
terceiro ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental. A partir das observações
identifiquei que a sala de aula era um ambiente nenhum pouco acolhedor,
letrado e alfabetizador, haviam cartazes prontos, velhos amarelados e mal
cuidados. A turma apresentava grandes dificuldades de leitura e escrita, bem
como a professora demonstrava-se muito ríspida e sem paciência na hora das
explicações de conteúdo e das atividades. Também utilizou atividades muito
mecânicas e soltas, sem conexão uma com a outra. Não demonstrava um
objetivo claro pelo qual estava trabalhando aquele tipo de atividade. Foi então
que a partir disso comecei a me questionar sobre: como o professor pode, a
partir do seu planejamento e da sua postura pedagógica, estimular e motivar a
aprendizagem da leitura e escrita dos alunos? Então, a partir deste
questionamento ressalto a importância de um tema de pesquisa voltado à
relação professor e aluno no processo de aprendizagem da leitura e da escrita,
pois é a partir dessa relação bem estabelecida que a aprendizagem acontece
de forma significativa tornando o processo de leitura e escrita mais prazeroso.
Afinal, como afirma ANDRÉ (2005, p.14) é “fundamental o estudo da atividade
humana na sua manifestação mais imediata que é o existir e o fazer
cotidianos”. É por isso que este trabalho pretende analisar e problematizar o
planejamento e a postura pedagógica do professor em relação ao processo de
ensino e aprendizagem do aluno sobre a leitura e escrita, através das
observações e das entrevistas realizadas com a professora e alunos.

Este trabalho tem como metodologia de pesquisa especificamente o estudo da


dimensão subjetiva do cotidiano escolar. Utiliza-se aqui aquilo que ANDRÉ
(2005) explica o estudo da dimensão subjetiva, como aquele que :

vai requerer um contato com os sujeitos, em situações formais


ou informais de entrevistas individuais e coletivas, de modo
quelhes permitam expressar opiniões, pontos de vista,
concepções e representações.
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A dimensão subjetiva, segundo a autora, está ligada à dois tipos de análise: a


institucional e a instrucional ou pedagógica. A análise institucional está voltada
ao contexto da prática escolar, "formas de organização do trabalho
pedagógico, estruturas de poder e de decisão, níveis de participação dos seus
agentes, disponibilidade de recursos humanos e materiais", ou seja tudo aquilo
que envolve e ocorre no interior da escola. Agora a análise instrucional ou
pedagógica, que é o tipo de análise que embasa este trabalho de pesquisa,
refere-se precisamente, conforme ANDRÉ (2005):

as situações de ensino, nas quais se da o encontro professor-


aluno-conhecimento. Nessa dimensão estão envolvidos os
objetivos e conteúdos do ensino, as atividades e o material
didático, a linguagem e outros meios de comunicação entre
professor e alunos, e as formas de avaliar o ensino e a
aprendizagem.

Deste modo, partindo do pressuposto dessa análise pedagógica, ou seja da


análise da prática pedagógica e as relações entre alunos e professor foram
realizadas duas entrevistas. Uma foi feita com a professora da turma
observada e a outra foi feita com três alunos da turma observada.

A primeira a ser entrevistada foi a professora da turma que respondeu o


seguinte:

Pergunta 1 Resposta

Bom, como eu tenho duas turmas faço


o mesmo planejamento para as duas.
faço atividades de português, de
Como tu organizas o teu planejamento escrita e leitura, porque afinal as duas
para as tuas aulas? tem alunos que não são alfabetizados.
Algumas atividades faço no
mimiografo ou utilizo o livro.
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Pergunta 2 Resposta

Poucas são as atividades que eles


tem um bom rendimento. Posso dizer
que se sentem motivados quando
estão disputando, foi então que criei a
divisão da turma em grupos, um é o
Quais atividades que tu faz és que os grupo "titãs" e o outro é o grupo "nota
alunos têm um bom rendimento? 10". Óbvio que o que tem melhor
rendimento nas atividades é o grupo
"nota 10" o outro é o que tem pior
rendimento nas atividades, não sabem
ler nem escrever

Pergunta 3 Resposta

As atividades que eles tem maior


dificuldade para realizar são as que
envolve uma interpretação maior, no
Quais atividades que tu fazes que os caso do grupo " nota 10 ". Já o grupo "
alunos tem um rendimento ruim? titãs " tem maior dificuldade nas
atividades que envolvem a leitura e a
escrita.

Pergunta 4 Resposta

Como já havia comentado antes as


dificuldades se encontram na leitura
e escrita. Eles tem uma preguiça pra
Quais as dificuldades que percebes na ler, pra pensar que é
turma? impressionante, eles estão sempre
atentos a outras coisas, tenho que
chamar a atenção muitas vezes. É
difícil.

Pergunta 5 Resposta
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No mais é uma turma calma. Pelo


menos é mais calma que a turma
Quais as qualidades que percebes na damanhã. Porque a turma da manhã é
turma? terrível.

A partir destas respostas da professora da turma é possível identificar que não


há uma intencionalidade pedagógica fundamentando as atividades realizadas,
bem como não realiza atividades diferenciadas. Parecem ser realizadas porque
precisam apenas exercitar a leitura e a escrita. Percebe-se também, através
destas respostas e da observação feita, que a professora não tem uma relação
harmoniosa com os alunos. Observei muitos momentos em que os alunos
solicitavam ajuda e a professora mandava eles procurarem na família silábica,
gritando. Outra questão que me chamou a atenção é que ela não soube dizer
uma atividades em que eles tivessem um bom rendimento, bem como o fato de
ter dividido a turma, praticamente, entre aqueles que sabem e aqueles que não
sabem.

Vejamos agora o que os alunos responderam a partir das perguntas realizadas:

Quais as atividades que você mais gosta de fazer ?

Entrevistado Resposta

Aluno A Gosto das atividades que pode usar as letras grandes.


E dos jogos, igual ao que a gente fazia no ano passado.

Aluno B Gosto das atividades que pode recortar e montar, mas


fazemos isso poucas vezes.

Aluno C A professora não faz nada interessante. Ela só faz o


que está no livro.
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Quais as atividades que você não gosta de fazer?

Entrevistado Resposta

Aluno A Não gosto das atividades do livro.

Aluno B Não gosto das atividades de pergunta e resposta.

Aluno C Tudo. Não tem nenhuma atividade diferente.

O que a professora faz ou fala que você mais gosta?

Entrevistado Resposta

Aluno A Gosto quando ela sorri pra gente.

Aluno B Gosto quando ela explica com calma.

Aluno C Nada que ela fala eu gosto. Ela só grita.

O que a professora faz ou fala que você não gosta?

Entrevistado Resposta

Aluno A Não gosto quando ela ta braba.

Aluno B Não gosto que ela grita sempre.

Aluno C Ela não explica direito, só grita. Não gosto não entendo
nada e ela fica braba.
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Você gosta da sua sala? O que você mudaria na sua sala de aula?

Entrevistado Resposta

Aluno A Eu só acho que poderia ser mais colorida.

Aluno B Eu gosto, mais ela poderia ter

cartazes coloridos.

Aluno C Eu não gosto dos cartazes das paredes.

É possível afirmar a partir destas respostas e das observações realizadas que


é de extrema importância que para uma aprendizagem prazerosa da leitura e
escrita a relação professor e aluno. É imprescindível que professor e aluno
tenham uma relação de respeito, de afeto, de troca de aprendizagem, ter uma
relação harmoniosa, uma relação que valorize as potencialidades de cada
aluno. Como pode-se observar no caso desta turma que já veio com sérias
dificuldades do ano anterior encontra em um ambiente de aprendizagem onde
a relação entre professor e alunos não é nada agradável e que possibilite
algum meio de avanço na aprendizagem. É por este motivo que esta pesquisa
trata como relevante a relação entre professor e aluno no processo de
aprendizagem. Antes disso é preciso que o professor se preocupe com esse
processo de ensino e aprendizagem e para isso, ele deve, segundo WERNECK
(2006), “aprimorar-se, buscar novas técnicas”. E a partir disso estabelecer uma
relação de construção de conhecimento e valorização das capacidades e
potencialidades de cada aluno.

Além disso, é muito importante preparar um ambiente alfabetizador e


aconchegante para propiciar um espaço de aprendizagem mais estimulador e
contagiante. De acordo com OLIVEIRA (2002) a organização do espaço é
fundamental para a organização do pensamento:
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O pensamento é, formado na vida social, à medida que os


modos de organização do ambiente presentes em determinado
contexto social fornecem aos indivíduos nele imersos os
objetos, os conhecimentos, as técnicas e os motivos
necessários ao desempenho das tarefas sociais historicamente
construídas naquela cultura.

Por fim, é possível afirmar que com um ambiente organizado e preparado para
os alunos e pelos alunos; um planejamento diferenciado, fundamentado, com
objetivos e temas claros; e uma relação mútua, entre professor e aluno, de
reconhecimento de potencialidades entre os sujeitos, de respeito e de troca de
saberes é capaz, sim de melhorar e contribuir para o aprendizado da leitura e
escrita dos alunos. Afinal aprender não é um ato mecânico mas sim um
processo humano, carregado de valores, culturas, sentimentos, capacidades,
potencialidades e dificuldades, e tudo isso deve ser levado em conta pelo
professor na hora de planejar e aplicar a prática pedagógica. Por isso que me
dedicarei no estagio II de Anos Iniciais a trabalhar com os alunos um projeto
sobre leitura e escrita de modo diferenciado, trabalhando com espaços
diferenciados dentro da sala de aula, cada lugar da sala de aula terá uma
temática diferente.
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Anexos:

Na entrevista com os alunos continham as seguintes perguntas:

a) Quais atividades que você mais gosta de fazer?

b) Quais as atividades que você não gosta de fazer?

c) O que a professora faz ou fala que você mais gosta?

d) O que a professora faz ou fala que você não gosta?

e) O que você gosta na sua sala? O que você mudaria na sua sala de
aula?

Na entrevista com a professora continham as seguintes questões:

a) Como tu organizas o teu planejamento para as tuas aulas?

b) Quais atividades que tu fazes que os alunos tem um bom


rendimento?

c) Quais atividades que tu fazes que os alunos tem um rendimento


ruim?

d) Quais as dificuldades que percebes na turma?

e) Quais as qualidades que percebes na turma?


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Referencial Bibliográfico

ANDRÉ, Marli. O cotidiano escolar, um campo de estudo. São Paulo:Edição


Loyola, 2005. p.9-19.

OLIVEIRA. Zilma ramos. Educação infantil: fundamentos e métodos. São


Paulo: Cortez, 2002. p.123-131.

WERNWCK, Vera Rudge. Sobre o processo de construção do


conhecimento: O papel do ensino e da pesquisa. Ensaio: Rio de Janeiro, v.14,
n.51, abr/jun. 2006. p. 173-196.

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