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TEORIAS DA VERDADE
Um breve resumo1
O objeto desta seção é o de esboçar os principais tipos de teorias
da verdade que foram propostos, e indicar como eles se relacionam
uns com os outros. (As próximas seções vão discutir algumas teorias
em detalhe.)
As teorias da coerência entendem que a verdade consiste em re-
lações de coerência em um conjunto de crenças. Teorias da coerên-
cia foram propostas, por exemplo, por Bradley (1914), e também por
alguns oponentes positivistas do idealismo, como Neurath (1932).
Mais recentemente, Rescher (1973) e Dauer (1974) defenderam es-
te tipo de abordagem. As teorias da correspondência entendem que a
verdade de uma proposição consiste não em suas relações com outras
proposições, mas em sua relação com o mundo, sua correspondência
com os fatos. Teorias deste tipo foram sustentadas tanto por Russell
(1918) quanto por Wittgenstein (1922), durante o período de sua
adesão ao atomismo lógico. Austin defendeu uma versão da teoria da
1
Os proponentes das teorias que vou discutir assumem diferentes concepções sobre
que tipos de coisas são portadores de verdade. A seguir, vou falar, de modo variado
– dependendo da teoria que estarei discutindo – de ‘crenças’, ‘sentenças’, ‘propo-
sições’ etc., como verdadeiras ou falsas. Apenas quando a diferença for relevante,
vou prestar atenção a ela.
‘dizer do que é, que é’ . . . etc.
Aristóteles 128
##
coerência #
pragmatista # #
Bradley correspondência
Peirce # #
Russell
James ##
Wittgenstein semântica redundância
Dewey
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!!
& !! % $ "" (Austin)
%% $$ "
tempo
3
Rescher não trata em detalhes explicitamente o ‘necessariamente’ em sua expli-
cação do critério de garantia, mas indícios contextuais sugerem que ele tem em
mente a necessidade lógica, que é a interpretação que usei. Se testes fisicamente
necessários fossem incluídos, o parágrafo anterior e alguns a seguir teriam de ser
reescritos para admitir critérios que estão relacionados àquilo de que eles são um
teste via necessidade física, tanto quanto critérios ligados à necessidade lógica,
para serem considerados critérios de garantia. É claro que a distinção entre a ne-
cessidade lógica e a necessidade física – e, de fato, a distinção entre o necessário e
o contingente – não deixa de ser problemática.
Teorias da verdade 133
Teorias da correspondência
Tanto Russell quanto Wittgenstein, durante seus períodos de ‘ato-
mismo lógico’,4 deram definições de verdade como a correspondência
de uma proposição com um fato.
As proposições, de acordo com Wittgenstein, são complexos ver-
bais. As proposições moleculares (tais como ‘Fa ∨ Gb’) são compos-
tas funcional-veritativamente a partir de proposições atômicas (como
‘Fa’). O mundo consiste em coisas simples, ou átomos lógicos, em di-
4
Wittgenstein foi o criador do atomismo lógico, mas a versão de Russell apareceu
primeiro, em suas conferências de 1918, enquanto a de Wittgenstein foi apresen-
tada em 1922, no Tractatus.
134 Filosofia das lógicas
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O gato está à esquerda do homem (a proposição)
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(o fato correspondente)
Teorias da coerência
Uma teoria da verdade como coerência foi sustentada pelos idea-
listas (vou discutir a explicação de Bradley, mas concepções afins fo-
ram sustentadas por seus predecessores filosóficos alemães, Hegel e
Lotze) e também por alguns de seus oponentes positivistas lógicos.
Teorias da verdade 137
Teorias pragmáticas5
Peirce, James e Dewey oferecem explicações caracteristicamente
‘pragmáticas’ da verdade, que combinam elementos de coerência e
de correspondência.
De acordo com a ‘máxima pragmática’, o significado de um con-
ceito deve ser dado pela referência às conseqüências ‘práticas’ ou ‘ex-
perimentais’ de sua aplicação6 – ‘não pode haver nenhuma diferença’,
como James diz (1907, p.45), ‘que não faça diferença’. Assim, a abor-
dagem dos pragmatistas à verdade era a de perguntar que diferença
faz se uma crença é verdadeira.
De acordo com Peirce, a verdade é o fim da investigação, aquela
opinião sobre a qual aqueles que usam o método científico vão con-
cordar, ou talvez fossem, se persistissem o suficiente. A importância
dessa tese deriva da teoria da investigação de Peirce. Muito resumi-
damente: Peirce toma a crença como uma disposição para a ação,
e a dúvida como a interrupção de tal disposição por uma resistência
por parte da experiência. A investigação é impelida pela dúvida, que
é um estado desagradável que se procura substituir por uma crença
estabelecida. Peirce argumenta que alguns métodos de aquisição de
crença – o método da tenacidade, o método da autoridade, o método
a priori – são inerentemente instáveis, mas o método científico ca-
pacita a adquirir crenças (eventualmente) estáveis, crenças que não
5
Esta seção foi baseada em Haack, 1976c.
6
Peirce enfatizava a conexão de ‘pragmático’ com o uso de Kant de ‘pragmatische’
para o empiricamente condicionado; James, a conexão com o grego ‘praxis’, ação.
Teorias da verdade 141
a verdade é:
o fim da investigação ! ## ##
Peirce ! ##
correspondência com a realidade
" James !
crença (estável) satisfatória
##
coerência com a experiência –
" ## Dewey
verificabilidade
##
o que autoriza a crença a ser
denominada ‘conhecimento’
"