Você está na página 1de 52

No 45 – março 2023

cultura do
automóvel
automóveis e motocicletas lançamentos - impressões - história

A história do
Gordini

museu henry ford o jeep no cinema e na tv


AL
E DI TOR I

Gordini ou Dauphine?
N
os anos 60, quem é
que não queria ter
um Gordini “zerinho,
zerinho!”, conforme dizia
Silvio Santos aos domingos
na TV? Nem todos. Meu
avô ganhou um (não foi no
Baú da Felicidade, foi na
rifa), e não gostou. Claro, o
carro anterior dele era um
Studebaker Champion 1952
com caça-mulata! Mas era
um carrinho bem legal, eu
gostava dele. Meu pai tinha
um e meu outro avô tinha
um Dauphine. Acho que dá
pra perceber pelas fotos que
eu preferia o Gordini.
Só não gostei daquelas
férias na praia, meu pai
levou a família com o Simca
lotado e no fim foi nos
buscar de Gordini. Tinha
travesseiro até em cima da
minha cabeça. E ele ferveu
na subida da serra.

2 Março 2023 Cultura do Automóvel


NESTA EDIÇÃO 45
No 45 - Março 2023

sumário

04 Pelo Mundo
O Renault Gordini batendo recordes, 60 anos depois

06 A história do Renault Gordini


Carro compacto e um pouco fraco, mas bem resolvido

16 O Gordini com outros sobrenomes


Os Renault Gordini e o Dauphine de outros fabricantes

20 O Gordini nas pistas


O Gordini fez bonito nas pistas. O Dauphine nem tanto

26 Museus
O Henry Ford Museum conta a história americana

44 Carros no cinema
Mais um pouco de Jeep, na telinha e na telona

Cultura do Automóvel Março 2023 3


pelo mundo

Duas estrelas cadentes

O Étoile Filante em Bonneville, batendo o recorde de velocidade em 1956

O
Renault Dauphine surgiu no Esse motor usava querosene como
mercado norte-americano em combustível e, devido à alta rotação,
1956, ocasião em que os seus não tinha vibrações. Foi só em 1956
importadores aproveitaram o fato de que o Étoile Filante foi apresentado
um automóvel da Renault ter batido oficialmente, no circuito francês de
um recorde de velocidade. Monthléry. Foi nesse ano, também,
Interessados em conseguir esse que ele foi levado ao lago salgado de
recorde para a marca francesa, os Bonneville, nos Estados Unidos,
chefes da Renault se uniram com um para mostrar sua velocidade.
fabricante de turbinas e criaram o O recorde foi estabelecido, com a
Étoile Filante, que, em francês, velocidade de 306,9 km/h para a
significa Estrela Cadente. distância de um quilômetro e de
O carro ficou pronto em 1954, 308,85 km/h após percorrer 5 km.
equipado com uma turbina de 270 O feito foi divulgado no mundo
cv a 28 mil rpm, transferindo tração todo, mas foi melhor aproveitado
por meio da transmissão Transfluide, nos Estados Unidos, para divulgar o
que, posteriormente, seria aplicada lançamento do pequeno Renault
no Renault Frégate. Dauphine naquele mercado.

O Renault Dauphine de 1956 e o Étoile Filante: um recorde do 60 anos e um atual

4 Março 2023 Cultura do Automóvel


pelo mundo

O Étoile Filante em fase de maquete e com o protótipo pronto

O Étoile Filante sendo preparado para o recorde, em Bonneville, e na apresentação, no circuito de Monthléry

Fazendo juz ao nome, o Estrela Para isso, voltaram a Bonneville


Cadente pegou fogo logo após a com um Dauphine original, com
proeza ser consumada e motor a combustão original, com a
devidamente registrada, mas a cilindrada de 845 cm3 elevada para
experiência serviu de laboratório 956 cm3, apenas um pouco aliviado
para posteriores estudos sobre o uso no peso e com uma gaiola de
de motores de alta rotação em proteção, o que atualmente é exigido
veículos terrestres. para quem quer se aventurar na pista
O Étoile Filante serviu também de sal de Bonneville.
como estudo aerodinâmico, uma vez A velocidade obtida de 123,1 km/h
que a carroceria foi projetada para não foi nenhum recorde absoluto,
mínima resistência ao ar em altas mas teve a sua marca registrada na
velocidades. categoria CGC – Classic Gas Coupé
Trinta anos depois, em 2016, a – , que é reservada para automóveis
Renault comemorou o aniversário fabricados entre 1928 e 1981 e com
desse veículo, ao mesmo tempo que motores entre 754 cm³ e 1.015 cm³.
homenageou um de seus automóveis Detalhe importante: o piloto era
mais icônicos, o Renault Dauphine. Nicolas Prost, filho de Alain Prost.l
Cultura do Automóvel Março 2023 5
história

A história do
Gordini
O carrinho tão querido dos brasileiros nos anos 60

6 Março 2023 Cultura do Automóvel


história

E
ra uma vez um carrinho
compacto, um pouco estranho,
com linhas um tanto parecidas
com as do Fusca. Até motor traseiro
esse carrinho tinha. Era o Renault
4CV, produzido pela fábrica estatal
de automóveis Renault desde 1947 e
que foi o primeiro automóvel francês
com produção e vendas acima de um
milhão de unidades.
Aqui no Brasil, o carrinho, que era
importado, tinha um pequeno motor
de apenas 760 cm3 de cilindrada com
17 cv de potência (4 cv era seu nome
e também a potência fiscal, valor
utilizado para recolhimento de O Renault 4CV, conhecido no Brasil por “Rabo-Quente”
impostos na França), agradou nas
pistas, por ser leve e ágil, fácil de ser
pilotado esportivamente. E o motor
traseiro lhe rendeu um apelido que
praticamente se tornou oficial:
Renault Rabo Quente.
O foco da nossa história, no
entanto, não é o Rabo Quente, mas
seu sucessor, o Renault Dauphine, Renault Dauphine Gordini

que foi lançado na França em 1956


(o 4CV foi produzido até 1961). O
pequeno Dauphine (golfinho, em
francês) era belo e compacto, com
linhas arredondadas porém bem
mais modernas do que as de seu
antecessor.
Para melhorar seu desempenho, o
Renault Dauphine
velho motor do 4CV teve cilindrada
aumentada para 845 cm3, resultando
na potência de 27 cv. Ainda assim, o
Dauphine era um carrinho fraco,
com velocidade máxima de apenas
115 km/h. Mesmo assim, era comum
vermos Renault Dauphine nas pistas,
mesmo depois que seu irmão mais
“forte” chegou, o Renault Gordini. ç Renault Gordini

Cultura do Automóvel Março 2023 7


história renault gordini

O Renault Dauphine tinha motor de 845 cm3 com potência de 27 cv e câmbio de três marchas

O Renault Dauphine tinha carroceria monobloco com motor traseiro refrigerado a água

8 Março 2023 Cultura do Automóvel


renault gordini história

O Renault Gordini brasileiro surgiu em 1962 e conviveu por um tempo com o Renault Dauphine

Para melhorar o desempenho do nacionalizado Volkswagen Sedan.


Renault Dauphine, o engenheiro Mesmo mais evoluído que o VW
italiano naturalizado francês Amédée em relação a algumas soluções
Gordini costumava “envenenar” seu técnicas, a exemplo da carroceria
motor, o que o tornou conhecido no monobloco, o Renault Dauphine
meio e o levou a fazer uma edição ainda era muito fraco, com potência
especial do carrinho, mais potente. de apenas 26 cv (o VW tinha 30 cv e
Em 1958, surgiu, então, o Renault o DKW, com 900 cm3, tinha 38 cv).
Dauphine Gordini. O Dauphine era fraco também em
Isso tudo aconteceu na França, a suas suspensões, uma vez que havia
terra natal dos Renault, mas os sido projetado para as vias européias
carrinhos têm, também, uma história e sofria muito com as nossas ruas e
bem bacana aqui no Brasil. Com a estradas de piso demasiadamente
indústria brasileira de automóveis irregulares. Nessa época, o VW
ainda dando os primeiros passos – os Sedan de origem alemã já havia
primeiros carros produzidos no conquistado a sua fama de
Brasil, Romi-Isetta e DKW “indestrutível”. Assim, o Renault
Universal, chegaram em 1956 –, o Dauphine ganhou a alcunha de
Renault Dauphine começou a ser “leite Glória”. Explico: o leite em pó
fabricado em 1959 sob licença pela dessa marca chegou ao mercado com
Willys-Overland do Brasil, que já o slogan “desmancha sem bater”, em
produzia o Jeep e a Rural. O Renault alusão à facilidade de se dissolver
Dauphine acabou se tornando um melhor na água do que o seu maior
respeitável rival para o então recém- concorrente, o leite Ninho. ç
Cultura do Automóvel Março 2023 9
história renault gordini

Da esquerda para a direita: Renault Gordini IV, Renault Teimoso e Renault Dauphine

A resposta a esse e muitos outros Acreditava-se que esse número se


problemas na vida do Renault referia à nova cilindrada do motor,
Dauphine foi o lançamento, em mas, na verdade era apenas um
1962, de uma versão mais potente e nome de fábrica, referindo-se ao
mais reforçada, que foi chamada nome do projeto original do modelo
aqui de Renault Gordini. O motor – o Renault Dauphine era o projeto
traseiro refrigerado a água manteve R1090, o Renault Dauphine Gordini
os 845 cm3 de cilindrada mas a tinha o código R1091 e o Renault
potência passou para 32 cv (na Gordini era o projeto R1092.
propaganda, eram “40 HP de No Renault 1093, o motor tinha a
emoção”, certamente uma medição mesma cilindrada de 845 cm3, mas
da potência bruta desse motor). tinha maior taxa de compressão –
Suspensões e freios melhoraram que aumentou de 7,7:1 para 9,2:1 –,
no Gordini, em relação ao vinha com carburador de corpo
Dauphine, mas o melhor mesmo foi duplo e seu comando de válvulas
a adoção do câmbio de quatro tinha maior duração. Com isso, a
marchas, o que deu ao novo modelo potência aumentou para 42 cv,
uma agilidade muito maior que a do obrigando o uso de gasolina de
Dauphine, que tinha câmbio de três maior octanagem. Naquela época,
marchas. esse combustível era chamado de
Em 1964 foi lançada a versão “gasolina azul”, porque tinha um
esportivada do Renault Gordini, corante para diferenciar da gasolina
chamada apenas de Renault 1093. comum, que era amarela.
10 Março 2023 Cultura do Automóvel
renault gordini história

Dourado era uma das cores disponíveis para o Renault 1093

Com uma relação de quarta também, na categoria Esporte, o


marcha um pouco mais curta (1,07:1 pequeno esportivo Willys Interlagos,
contra 1,03:1), o Renault 1093 se que tinha a mesma mecânica do
tornou o carro oficial da Equipe 1093. Complementando a maior
Willys nas pistas, em provas da esportividade do 1093, ele já vinha
categoria Turismo. A equipe usava de fábrica com um conta-giros. ç

Um dos Renault 1093 da Equipe Willys. Na foto, Expedito Marazzi, Nelson Brizzi e Carol Figueiredo

Cultura do Automóvel Março 2023 11


história renault gordini

Um Renault 1093 e um Renault Gordini IV

Um quarto modelo, com a mesma com o motor de 1.000 cm3 e 44 cv) e


carroceria do Gordini, juntou-se à chamou-a de Pracinha (em 1962 eles
família em 1965: o Renault Teimoso. fizeram a perua DKW Caiçara,
Atendendo a um programa federal similar). E a Volkswagen criou o seu
de incentivo, as quatro marcas de famoso Pé-de-boi, versão “pelada”
automóveis no Brasil lançaram do Sedan. A Renault ficou, então,
versões extremamente espartanas de com o Teimoso.
seus carros, sem qualquer O nome Teimoso foi inspirado em
equipamento ou adereço que não um teste feito pelo fabricante no
fosse considerado essencial. Foram Autódromo de Interlagos, com um
eliminados cromados, forrações, Gordini sendo pilotado pelos
tapetes, chave de seta, limpador de principais e mais famosos pilotos de
para-brisa do lado direito e até as competição da época, a maioria
lanternas traseiras, no caso do pertencente à Equipe Willys,
Renault Teimoso. capitaneada por Luiz Antônio
A Simca depenou seu Chambord Greco. Sempre presente na parte
transformando-o em Profissional técnica da equipe estava o mecânico
(em 1962 já havia sido vendida uma Nelson Brizzi, também responsável
versão parecida, o Simca Alvorada). pelo grande sucesso da equipe nas
A Vemag arrancou tudo da perua competições, assim como no acerto
DKW Vemaguet (nessa ocasião já dos modelos de produção em série.
12 Março 2023 Cultura do Automóvel
renault gordini história

O Renault Gordini em Interlagos, já tendo completado mais da metade dos 50 mil km propostos

Nesse teste em Interlagos, que era popular do modelo que viria em


mais um grande desafio à resistência seguida: Teimoso.
do carro, o Renault Gordini rodou A ideia do nome surgiu ali mesmo,
sem descanso, parando apenas para na pista, porque, mesmo bastante
abastecimento, calibragem de pneus amassado e sem para-brisa, aquele
e troca de pilotos. Nem mesmo uma Renault Gordini completou os 50
capotagem na curva Três, quando mil quilômetros propostos em 22
pilotado pelo grande Bird Clemente, dias, batendo 133 recordes oficiais
fez o carrinho parar, o que acabou de distância e tempo. Fez uma média
por determinar o nome da versão de 97 km/h, contando as paradas. ç

O Renault Gordini sendo desamassado para continuar a saga dos 50 mil quilômetros no Autódromo de Interlagos

Cultura do Automóvel Março 2023 13


história renault gordini

Um Renault Teimoso participando de um concurso de elegância

O Renault Teimoso era mesmo um Em 1966 foi lançado o Renault


assombro de simplicidade, algo Gordini II, com algumas inovações
jamais aceitável nos dias de hoje. O mecânicas no motor e na suspensão
carro vinha sem revestimentos traseira, que ganhou tensores para
internos, tampa do porta-luvas, melhor posicionamento das rodas.
marcador de nível de combustível, Em 1967, foi a vez do Renault
calotas e reforços dos para-choques, Gordini III, que tinha um item
que não eram cromados, nem opcional de altíssimo prestígio: os
pintados, assim como as molduras freios dianteiros a disco. Visto de
dos faróis. Não havia o limpador de trás, o Gordini III podia ser
para-brisa do lado direito, nem setas reconhecido pelas lanternas
e nem lanternas traseiras, apenas retangulares, o que deu ao carrinho
uma luz vermelha no centro, que uma aparência bem mais moderna.
fazia as vezes de lanterna, luz de O último ano do modelo foi 1968,
freio e luz de placa. Os bancos eram com o Renault Gordini IV. Foi
simplesmente uma armação de ferro também quando a Ford comprou a
com um tecido amarrado, como em Willys e herdou o Projeto M, que
uma cadeira de praia. Dessa forma, o seria o sucessor do Gordini. Esse
Renault Teimoso custava cerca da Renault, que originalmente seria um
metade do valor de um Renault R-12, se transformou, então, no
Gordini. Ford Corcel, lançado em 1968.
14 Março 2023 Cultura do Automóvel
renault gordini história

As fotos mostram a traseira do Gordini até 1966, o 1967, com as lanternas retangulares, e o Teimoso, sem lanternas

Os bancos do Teimoso, só armação, o painel do Gordini 1966 e a posição do estepe, que era retirado pela frente

Com a compra da Willys, o que seria um Renault R-12, com motor e tração dianteiros, acabou se tornando Ford Corcel
O Ford Corcel foi um estrondoso dois verdadeiros ícones da indústria,
sucesso de vendas, creditado à Ford, o Dauphine e o Gordini, mesmo que
e seu apelido jocoso de “Gordinão” eles fossem modelos simples e
nem deveria ser levado a sério, uma compactos e sempre tenham sido
vez que ele teve como antepassados chamados de “carrinhos”. l
Cultura do Automóvel Março 2023 15
história

Parecem mas são


O projeto R1090 com outras marcas

O
Renault Dauphine tinha, em dois anos, o que faz desse modelo
1961, na Europa, uma versão um automóvel raro e muito valioso
mais luxuosa, chamada de para os colecionadores da marca,
Renault Ondine. Além de alguns mesmo em seu país de origem.
detalhes extras no acabamento, tinha Na Inglaterra, a subsidiária local
câmbio de quatro marchas, o que só produziu um Dauphine especial,
viria depois, na versão mais potente com volante do lado direito. Na
Gordini. O Renault Ondine tinha foto, a Rainha Elizabeth recebe de
carpete mais espesso, bancos com presente um Dauphine inglês, para
encostos reclináveis e um volante incentivar as vendas naquele país.
especial. O lavador de para-brisa era Em 1959, já sem algumas taxas
um item não encontrado em carros alfandegárias, inicia-se a fase de
populares. Foi produzido por apenas importação, para atender a demanda.

A Rainha Elizabeth recebe um Renault Dauphine em 1957, para incentivar a venda do modelo na Inglaterra

16 Março 2023 Cultura do Automóvel


história

O Dauphine Alfa Romeo foi produzido na Itália de 1959 até 1966

Na Itália, especificamente, assim A maior diferença entre os carros


como a Willys-Overland produzia o italiano e francês era o sistema
Dauphine no Brasil, o carrinho era elétrico de 12 volts. O original,
montado pela Alfa Romeo. E mais: assim como brasileiro, tinha sistema
diferentemente daqui, que os carros elétrico de 6 volts.
mantinham o nome Renault, lá eles De 1960 até 1963, a Alfa Romeo
levavam consigo o icônico nome que montou também a versão mais
representava os grandes esportivos. luxuosa Ondine. Simultaneamente à
O Dauphine Alfa Romeo foi comercialização das duas versões
montado na fábrica de Milão de italianas dos Alfa Romeo, havia
1959 até 1966, com componentes também a opção dos originais
fornecidos pela Renault francesa. Renault, sendo que o Gordini era
Em troca, a Renault vendia modelos vendido exclusivamente na versão
Alfa Romeo na França. importada da França. ç

O Ondine Alfa Romeo foi produzido na Itália de 1960 até 1963. E o Renault Gordini era exclusivamente importado

Cultura do Automóvel Março 2023 17


história outros gordinis

O Renaul Ondine era uma versão mais sofisticada do Dauphine, com câmbio de quatro marchas e bateria de 12 volts

A versão elétrica do Dauphine, o Henney Kilowatt de 1959, tinha todos os espaços preenchidos com baterias

18 Março 2023 Cultura do Automóvel


outros gordinis história

Um ponto de venda do Renault Dauphine nos Estados Unidos. Até venderam bem, mas por muito pouco tempo

Na Argentina quem produzia o Renault Dauphine era a IKA - Industrias Kaiser Argentina

Na Argentina, os Renault eram de carrões. Um empresário, então,


produzidos pela IKA – Industrias comprou um lote rejeitado de
Kaiser Argentina. O Dauphine foi Renault Dauphine e os converteu
vendido a partir de 1960, o Gordini para a eletricidade, surgindo o
chegou em 1962 e o 1093 em 1969, Henney Kilowatt. O modelo levava
encerrando a parceria em 1970. baterias na frente, onde seria o
Até uma versão elétrica o Renault porta-malas, e atrás, acima do motor
Dauphine já teve, em 1959, nos elétrico. E não sobrava lugar para a
Estados Unidos. Houve uma bagagem.
tentativa de vender o compacto aos O Henney Kilowatt tinha a
ianques, mas foi abandonada ainda vantagem de poder ser abastecido
nos anos 50 por não ter conquistado em uma tomada comum, o que lhe
aquele público que gostava mesmo é permitia rodar por até 100 km. l
Cultura do Automóvel Março 2023 19
história

E o Renault Gordini
fez bonito na pista

Os Renault 1093 da Equipe Willys nos 1.600 km de Interlagos de 1965: venceram facilmente os carros mais potentes

A
ntes mesmo de o Gordini americano William Max Pearce,
conquistar aquele feito que um veterano de muitas ideias e que
pouquíssimos automóveis viu na associação da sua empresa
ousariam – ou conseguiriam –, o com a Renault, que trazia consigo a
recorde de 50 mil km sem parar em marca Alpine, uma boa estratégia de
22 dias, o valente carrinho já estava marketing.
fazendo bonito nas pistas. Mesmo Dessa forma, a equipe foi criada
que apenas participando, sem vencer, com três Willys Interlagos, versão
já que muitas vezes seus adversários brasileira do esportivo Alpine A108
eram notadamente superiores na e que havia sido recém-lançado no
questão da potência. Brasil, e três Renault Gordini, que
A famosa Equipe Willys foi criada ficaram nas mãos dos melhores
pelo departamento de competição pilotos brasileiros da época, entre
da Willys-Overland do Brasil, eles Christian Heins, o Bino, que
que, na época, era dirigida pelo também chefiava a equipe.
20 Março 2023 Cultura do Automóvel
história

O Renault 1093 número 41 com a pintura amarela e a faixa verde central, grafismo que marcou a estética da equipe
Com a morte de Bino na prova Os outros carros da equipe, três
das 24 Horas de Le Mans de Renault Gordini, eram pilotados
1963, pilotando um Alpine A110, por outros três grandes pilotos, José
assumiria a direção da equipe Willys Carlos Pace, o Moco, Chiquinho
o ex-piloto Luiz Antônio Greco, que Lameirão e Carol Figueiredo, com
contratou o melhor piloto da equipe a eventual entrada de outros pilotos,
rival, a Vemag com seus DKW, para como Eugênio Martins, Anísio
tomar o lugar vago. Assim, o piloto Campos e até Expedito Marazzi. Os
Bird Clemente completa o trio das pilotos adicionais eram necessários
Berlinetas com Luiz Pereira Bueno e em provas longas, para as quais
Wilson Fittipaldi Jr. existia o revezamento por turnos. ç

O Renault 1093 número 41 da Equipe Willys contornando a curva do S, em Interlagos

Cultura do Automóvel Março 2023 21


história gordini na pista

José Carlos Pace e Carol Figueiredo estrearam nas pistas em 1963, na prova IV Aniversário ACESP, com seus Gordini

Voltando um pouco no tempo, os com seus carros originais.


pequenos Renault já se destacavam O destaque foi a estréia dos pilotos
nas pistas antes da criação da famosa José Carlos Pace, o Moco, e Carol
equipe. Uma corrida a ser lembrada Figueiredo, ambos correndo pela
foi a comemorativa pelos quatro primeira vez e com Renault Gordini.
anos do Automóvel Clube do Estado Ambos, também, entrando, logo em
de São Paulo. seguida, para a Equipe Willys.
A prova IV Aniversário ACESP Reestreava nessa prova o jornalista
aconteceu em Interlagos nos dias Expedito Marazzi, só que com um
29 e 30 de junho de 1963, com a lento Renault Dauphine. Expedito
participação dos principais pilotos chegou a correr oficialmente pela
brasileiros. Mais interessante do que Equipe Willys, já com os Renault
a prova principal, no domingo, foi a 1093, participando de duas provas e
prova do sábado, quando houve uma fazendo a cobertura jornalística para
avalanche de novos pilotos, todos a revista Quatro Rodas.

A prova Circuito das Hortências, em 1963. No detalhe, o Gordini 19 vencedor, do estreante Luiz Fernando Andreatta

22 Março 2023 Cultura do Automóvel


gordini na pista história

O Renault 1093 número 46, que fez dobradinha com o número 47 nos 1.600 km de Interlagos de 1965
As corridas para estreantes eram do regulamento, o que permitiu usar
comuns naquele tempo. Nesse o motor do Renault R8 e aliviar a
mesmo ano, a prova Circuito Cidade carroceria, transformando os carros
das Hortências, em Canela, no Rio em carreteras.
Grande do Sul, destacava um dos Os três carros, pilotados pelas
representantes da família Andreatta, duplas Luis Pereira Bueno / José
o jovem estreante Luiz Fernando. Carlos Pace, Wilson Fittipaldi Jr. /
Ele venceu a prova de rua com um Bird Clemente e Carol Figueiredo
Renault Gordini. Nessa prova, os / Rodolfo Olival Costa, deram um
Gordini e os DKW classificavam “banho” nas potentes carreteras,
separadamente dos Dauphine e que se perderam em meio à intensa
Volkswagen, que eram mais lentos. neblina que desceu na madrugada
Não houve, no entanto, equipe tão e chegando, respectivamente, em
bem estruturada quanto à Willys, primeiro, segundo e quarto lugares.
de Luiz Antônio Greco, mesmo A partir daí, Renault Gordini e
com a forte concorrência das outras 1093 continuaram nas provas, com
grandes equipes oficiais, como a a equipe Willys se atualizando com
Vemag, de Jorge Lettry, e a Simca, automóveis mais modernos, como
de Ciro Cayres e Jayme Silva. o Renault R8 e mesmo o protótipo
Uma corrida ficou marcada para Bino, para depois continuar seu
sempre no currículo da Willys: os caminho já como uma equipe de
1.600 km de Interlagos de 1965. competição da Ford. E o Renault
Como era uma prova para carros Gordini encerra a sua participação
de turismo, com preparação livre, no automobilismo brasileiro com
Greco inscreveu três 1093 dentro uma das melhores reputações. 
Cultura do Automóvel Março 2023 23
história gordini na pista

Os 1.600 km de Interlagos vistos de dentro

Os Renault 1093 da Equipe Willys nos 1.600 km de Interlagos de 1965: venceram facilmente os carros mais potentes

Antes de falar da participação de na foto da página 11 nesta edição.


Expedito Marazzi como jornalista e Os outros dois 1093 foram tocados
piloto nos 1.600 km de Interlagos de por José Carlos Pace, no número 40,
1965, prova de grande repercussão e e Chiquinho Lameirão, no número
comentada até os dias atuais, vamos 41. Nos três Interlagos Berlineta
conhecer algumas passagens que ele estavam Luiz Pereira Bueno, Bird
me contou sobre a sua história na Clemente e Wilson Fittipaldi Jr.
Equipe Willys. Ao fim da prova, um terceiro lugar
Depois de uma boa fase correndo na categoria e um bom 11o na geral,
com seu próprio DKW, com apoio com direito a troféu e um prêmio
financeiro da Revista Quatro Rodas, em dinheiro, que era juntado pelos
para a qual trabalhava como editor seis carros da equipe e rateado por
técnico, Expedito recebeu convite todos os pilotos e o chefe de equipe.
formal de William Max Pearce, para A segunda participação na equipe
ingressar na Equipe Willys. foi nos 1.000 km de Brasília, corrida
Grande responsabilidade! A estréia de rua em maio de 1964. Dessa vez
na equipe foi na prova 100 Milhas de a prova rendeu página dupla na
Interlagos, em março de 1964. O seu edição de julho da revista, com seu
carro designado foi o Renault 1093 depoimento pessoal. Correu com
de número 42, aquele que aparece Carol Figueiredo e Luiz Felipe
24 Março 2023 Cultura do Automóvel
gordini na pista história

O Renault 1093 número 60 de Expedito e Danilo Lemos, pela Equipe Torke. Muita neblina à noite e uma manhã linda
Gama Cruz, piloto carioca. Depois dos 1.000 km de Brasília,
Mas sua melhor corrida de 1093 Expedito correu de Simca e DKW,
foram os 1.600 km de Interlagos de e esta era a sua primeira prova com
1965, correndo com um Renault um Renault 1093 depois que saiu
particular, em parceria com Danilo abruptamente da Equipe Willys, da
de Lemos. Expedito conta que se qual ele pediu demissão após uma
esforçou muito para acompanhar as discussão com o chefe por telefone.
carreteras 1093 de fábrica com um Ele havia ficado muito zangado ao
carro sem uma preparação especial, saber que não seria escalado para o
e foi justamente isso que lhe deu I Grande Prêmio da Guanabara de
essa grande satisfação, obtendo um 1964 e bateu o telefone na cara do
honroso sétimo lugar. chefe. Coisas de Expedito. l
Cultura do Automóvel Março 2023 25
museus

Museus, uma
lição de história
Além de mostrar automóveis, motocicletas, ônibus,
trens e aviões, o Museu Henry Ford retrata a história
americana e seu papel na Revolução Industrial

Alguns dos carros expostos no Museu Henry Ford. Nem todos são da marca Ford

26 Março 2023 Cultura do Automóvel


museus

N
a infância, quem é que não foi Como era um passeio obrigatório
visitar, pelo menos uma vez, o nas escolas, e para as famílias mais
Museu do Ipiranga? Falo isso tradicionais, imagino que, assim
para quem é da minha geração e, em como no meu caso, meus amigos e
parte, para quem é de São Paulo, já colegas contemporâneos torciam
que, lá pelos anos 60 e 70, o Museu um pouquinho o nariz para esse
Paulista da USP era a referência na passeio. Mas somos nós mesmos
história de nosso país. que rodamos centenas quilômetros
Quisera eu, naquela época, gostar para visitar os atuais museus de
tanto de história quanto atualmente, carros e de motos. Na maioria dos
pois assim poderia ter assimilado casos, a viagem é bem mais longa,
melhor aqueles conhecimentos já que os principais museus do
todos que residem no local. mundo estão no Exterior. 

Na foto maior, o Instituto Edison e o Museu Henry Ford, em cartão postal dos anos30

Cultura do Automóvel Março 2023 27


museus museu henry ford

Logo na entrada do prédio principal, um avião Douglas DC-3 dos anos 40

Vamos começar com o Museu No prédio principal, de 46 mil m2,


Henry Ford, situado em Dearborn, pode-se ver os veículos e objetos que
na região de Detroit, nos Estados contam a história do automóvel e
Unidos. É o maior museu com áreas dos meios de transporte. Logo na
externas do país e, se alguém para lá entrada, após monumental corredor
se dirige achando que vai ver a de acesso, repousa suspenso no teto
história dos veículos Ford, sai de lá um Douglas DC-3, talvez o mais
impressionado com a diversidade do importante avião comercial na
acervo, além da Ford, não apenas de história da aviação.
outras marcas de automóveis, mas Henry Ford era apaixonado por
também sobre a história americana e trens e há muitos deles no interior
seu papel na Revolução Industrial. do museu. O mais impressionante é
Henry Ford começou a colecionar a locomotiva Allegheny de 1941, um
objetos históricos em 1906, criando monstro de 600 toneladas movido a
uma extensa coleção pessoal que já vapor, com potência de 8 mil cv. A
contavam uma história. O museu foi fotografia pode não passar a real
criado em 1929, já com muitos itens impressão de tamanho da máquina,
de grande valor, adicionados ao seu mas, ao vivo, seu tamanho é
acervo por anos a fio. realmente assustador. 
28 Março 2023 Cultura do Automóvel
museu henry ford museus

A locomotiva a vapor Allegheny de 1941, com 603 toleladas e 8 mil cv

Interior do avião Ford Tri-Motor NX4542 de 1928, utilizado pelo Almirante Byrd em suas expedições à Antártica

Cultura do Automóvel Março 2023 29


museus museu henry ford

O ônibus GM de 1948 saiu do anonimato e foi contar a sua história no Museu Henry Ford

O interior do ônibus onde ocorreu o episódio que iniciou a luta pelos direitos civis dos cidadãos americanos

30 Março 2023 Cultura do Automóvel


museu henry ford museus

A história americana do transporte Parks, uma costureira do Alabama,


pode ser contada de várias formas, a viajando nesse ônibus a caminho de
partir dos objetos e veículos expostos sua casa, recusou-se a dar seu lugar a
no Museu Henry Ford. O que pode um passageiro branco e foi presa.
parecer apenas um simples ônibus, o No dia de seu julgamento, houve um
General Motors fabricado em 1948, protesto local e a paralização dos
foi palco de um acontecimento a transportes públicos por mais de um
princípio sem relevância na história, ano. Um dos efeitos desse episódio
mas que desencadeou um dos mais foi a criação de uma associação pelos
importantes avanços na sociedade. direitos civis que foi liderada pelo
Nos anos 50, o preconceito racial Pastor Martin Luther King. No final
era muito forte e o segregacionismo da história, Rosa ganhou a batalha
acontecia de forma explícita. Rosa judicial e o povo ganhou um líder.

O interior do ônibus onde ocorreu o episódio que iniciou a luta pelos direitos civis dos cidadãos americanos

Um “não veículo” é um dos itens


mais interessantes da museu. A
partir da união de bondes antigos,
foi montada a lanchonete Lamy’s
Diner, dentro do museu, exatamente
com aquelas que acostumamos ver
em filmes antigos americanos. Tanto
por fora quanto pode dentro, a
lanchonete é um dos locais mais
O interior do Lamy’s Diner agradáveis do museu. 
Cultura do Automóvel Março 2023 31
museus museu henry ford

Não apenas veículos e meios de circular, era considerada a moradia


transportes contam sua história no ideal, pois era de fácil montagem e
Museu Henry Ford. Há um imenso mais acessível que uma construção
espaço com objetos do cotidiano, convencional. Henry Ford tentou
móveis, utensílios e até casas inteiras viabilizar esse projeto nos anos 50,
que mostram como era a vida das mas que não teve aceitação suficiente
pessoas de outros tempos. necessária para se desenvolver como
Uma casa padronizada, de formato um bom negócio comercial.

Móveis, utensílios e até casas inteiras, de várias épocas, mostram a evolução da humanidade no Museu Henry Ford

32 Março 2023 Cultura do Automóvel


museu henry ford museus

Mas, e os carros? Certamente é o também um dos mais importantes.


que mais tem no Museu Henry O imenso motor de quatro cilindros
Ford, e não apenas da sua marca. Os e com 16 litros de cilindrada, com a
ambientes nos quais estão inseridos potência de cerca de 120 cv, levou o
os veículos, em alguns casos, fazem carro a vencer a primeira corrida
parte da própria história. internacional com um modelo
Começando pelos mais antigos, o americano, sagrando-se campeão da
Locomobile Old 16, de 1906, é Copa Vanderbilt de 1908.

O Locomobile de 1906 foi o primeiro carro americano a vencer uma corrida internacional, em 1908

Famoso corredor foi também o


carro 999, Ford Racer de 1902. Foi
o mais rápido em seu tempo, entre
1902 e 1903, e tinha também um
monstruoso motor de quatro
cilindros em linha de quase 18 litros
de cilindrada, que chegava aos 80 cv
de potência. Para pilotá-lo, Henry
Ford contratou Barney Oldfield, um
destemido ciclista que nunca havia
O Ford Racer “999” 1902 foi o mais rápido de seu tempo
dirigido um automóvel. 
Cultura do Automóvel Março 2023 33
museus museu henry ford

O Ford Modelo T totalmente desmontado e com seus componentes suspensos, como em uma vista explodida

34 Março 2023 Cultura do Automóvel


museu henry ford museus

Carros de todas as marcas e tipos, motores e componentes são objetos de exposição no Museu Henry Ford

Um dos primeiros Volkswagen Sedan e uma perua Volkswagen Typ2, a nossa Kombi, não poderiam faltar no museu

Os automóveis estão muito bem


representados no Museu Henry
Ford. Fusca? Tem. Kombi? Tem. É
claro. E o Ford T, símbolo máximo
da história Ford, está lá também, em
uma obra de arte suspensa ao teto
com todos os seus componentes em
forma de vista explodida. Há itens
de natureza técnica, como motores
antigos e modelos de competição. 
Cultura do Automóvel Março 2023 35
museus museu henry ford

O Blue Bird no 1, de 1927, foi o primeiro ônibus escolar oficial dos Estados Unidos. Hoje eles são uma instituição

O Ford X-100 de 1953, com V8 de 5,2 litros e 300 cv, tinha a missão de introduzir tecnologia nos sistemas auxiliares

36 Março 2023 Cultura do Automóvel


museu henry ford museus

Este Chrysler parece um automóvel comum, mas tinha uma turbina no lugar do motor. Apenas 50 foram fabricados

Cada automóvel, cada veículo no


Museu Henry Ford tem sua história,
nenhum deles é um modelo comum.
Nas fotos, o primeiro ônibus escolar,
o Blue Bird de 1927, o mais antigo
dos Estados Unidos, o concept-car
Ford X-100, de 1953, com motor
V8 de 5,2 litros e 300 cv, o Chrysler
a turbina de 1964, cuja produção se
limitou a apenas 50 unidades, e o
primeiro buggy, o Meyers Manx de
1966, aquele que criou o estilo de
jipinho de praia.
O Ford X-100, além de mostrar
ousadia visual em uma carroceria
tipicamente americana, tinha a
missão de apresentar 50 inovações
tecnológicas, como uma capota
O Meyers Manx, de 1966, iniciou a febre do dune buggy elétrica e um gravador de voz. 
Cultura do Automóvel Março 2023 37
museus museu henry ford

O Motor Buggy de 1908, era vendido exclusivamente pelo catálogo da Sears Roebuck, por 395 dólares

A Sears Roebuck, aquela mesma


que conhecíamos por aqui até os
anos 80, vendia um veículo com
rodas altas e pneus maciços tido
como apropriado para terrenos
rurais cheios de lama. O nome não
poderia ser mais sugestivo: Motor
Buggy. Antecipando o que acontece
atualmente com as vendas pela
internet, já naquela época, de 1908 a
1912, as vendas do Motor Buggy
eram feitas exclusivamente pelo
catálogo da loja, uma vez que a Sears
alegava que, dessa forma, o
comprador economizaria a comissão
do revendedor. O Motor Buggy da
Sears Roebuck custava 395 dólares.
Na foto ao lado, um belíssimo Ford
1939 conversível. Um belíssimo Ford 1939 conversível

38 Março 2023 Cultura do Automóvel


museu henry ford museus

Acima, o protótipo do Ford Mustang, de 1962, com motor central. Ao seu lado e abaixo, o primeiro Mustang, de 1964

Quem vê o carro da fotografia


acima não diz que se trata de um
Ford Mustang. Esse protótipo foi
feito apresentado em 1962, dois
anos antes do lançamento do carro,
que foi em 1964. Totalmente
diferente do produto final, esse
protótipo tinha motor V4 central,
montado enre os eixos (atrás do
motorista). Na foto ao lado, o
primeiro Ford Mustang, de 1964.
Nos anos 50 era muito comum
usarem automóveis para divulgação
de produtos, como é o caso desse
“hotdogmóvel” da famosa salsicha
Oscar Mayer. Esse marco da
publicidade era muito difícil de ser
dirigido, mas ficou tão famoso que
O famoso carro-salsicha da Oscar Meyer foi parar no Henry Ford Museum.
Cultura do Automóvel Março 2023 39
museus museu henry ford

Greenfield Village, uma cidade criada por Henry Ford com prédios históricos transplantados do local original

Réplica da oficina de Thomas Edison, no Greenfield Village, e os carros de Henry Ford escondidos no subterrâneo

40 Março 2023 Cultura do Automóvel


museu henry ford museus

Fair Lane, ou The Henry Ford State, é a casa onde Ford viveu até 1950. Ela tem até uma usina elétrica particular

A casa de Henry Ford tinha uma usina elétrica particular, ligada por um corredor secreto subterrâneo de 300 metros

O museu Henry Ford é apenas histórica fábrica Rouge River, onde


uma das atrações do centro de lazer é produzada atualmente a picape
e informação criado pelo fundador Ford F-150, o Instituto Thomas
da empresa nos anos 20. O nome do Edison, inaugurado em 1929 pelo
complexo é The Henry Ford, que presidente dos Estados Unidos, e a
tem o museu, cujo nome oficial é Fair Lane, que é a casa onde Henry
Henry Ford Museum of American Ford viveu com sua família até 1950
Innovation, e o Greenfield Village, – também conhecida como The
um parque de 360 mil m2 no qual Henry Ford State.
Henry Ford transplantou alguns dos A casa de três mil m2, que faz parte
edifícios mais importantes da do campus da Universidade de
história – como a primeira fábrica da Michigan, é uma super atração, pois
Ford, o laboratório de Thomas nela Henry Ford contruiu uma usina
Edison e a casa dos irmãos Wrigth. hidrelétrica particular, a Henry Ford
É como se fosse uma cidade, com Power House, e um túnel secreto de
prédios de verdade e gente 300 metros de comprimento ligava a
trabalhando nelas. usina à casa principal. Lá ele
Outras atrações nesse local são a guardava mais alguns automóveis. l
Cultura do Automóvel Março 2023 41
42 Março 2023 Cultura do Automóvel
os clássicos vão para a estrada
Campeonato Brasileiro de Regularidade Histórica começa em abril
O CBR – Campeonato Brasileiro de cidade, em direção ao Autódromo Capuava,
Regularidade Histórica –, certame que situado no município paulista de Indaiatuba.
reúne em provas de Lá, os participantes
estrada automóveis poderão dirigir os
fabricados até 1900, seus carros na pista.
retornou em 2022 Serão seis provas, o
após dois anos de Rally Quadrifoglio, o
paralização devido à Rally Vale Europeu, o
pandemia. E esta 13a Rally dos Vinhedos, o
edição do CBR Rally Brasília Histórica,
começará no dia o Rally do MG Club e o
primeiro de abril, com Rally Internacional
o Rally Quadrifoglio, Classic Car Club. A
Rally Internacional 2022
prova organizada novidade é que
pelo Alfa Romeo Clube do Brasil, de São existem duas novas categorias, uma para
Paulo, saindo de São Paulo, do Centro de carros modificados e outra de turismo,
Tradições Nordestinas, na zona oeste da para quem deseja apenas curtir a viagem.

Rally Brasília Histórica 2022 Rally dos Vinhedos 2022

Rally Vale Europeu 2022 Rally do Whisky 2022

Cultura do Automóvel Março 2023 43


carros no cinema

Jeep em ação
No cinema ou na TV, o Jeep é sempre destaque

C
omplementando o vasto assunto já abordado na edição
anterior da revista Cultura do Automóvel, vamos ver
em quais filmes e seriados o Jeep se sobressaiu. Nem
seria possível citar todos eles, uma vez que qualquer filme de
guerra invariavelmente mostra um ou mais jipes, e por esse
motivo a ideia é mostrar o Jeep como componente importante
em histórias de ficção.
Só de mencionar o Jeep no cinema, já me vêm à mente alguns
filmes inesquecíveis, como, por exemplo, Casa de Chá do Luar de
Agosto (The Teahouse of the August Moon, 1956). O pobre
Capitão Fisby (Glenn Ford) tenta dissuadir os nativos da ilha de
Okinawa – entre eles o astro Marlon Brando, interpretando
Sakini, em um papel oriental – a não pegar carona

44 Março 2023 Cultura do Automóvel


carros no cinema

em seu Jeep militar, que


pode ser um Willys MB
ou um Ford GPW.
Pela rápida aparição
do veículo em
apenas uma cena, e
ainda lotado de
bagagem, não deu
para descobrir de
qual fabricante ele era.
O valente veículo de
guerra acabou parecendo
uma daquelas Kombis de
catadores de papel (cena
atual brasileira), nas quais
o material transportado se
assemelha a um prédio de
três andares. Até uma
cabra entra na carona. ç

Cultura do Automóvel Março 2023 45


carros no cinema jeep nas telas

Sarah Connor pega a estrada com um Jeep CJ-7 Renegade 1983 no final do filme Exterminador do Futuro

Outra cena memorável está no durou até 1987, há um ou mais Jeeps


episódio piloto do seriado em cenas de perseguição.
Esquadrão Classe A (A-Team, 1983), Merece destaque a cena final de
no qual os intrépidos “mocinhos” da Exterminador do Futuro (The
história detonam dezenas de Jeeps Terminator, 1984): Sarah Connor,
CJ-5 e CJ-7. O mais engraçado depois de se livrar do exterminador
dessas cenas é que os quatro ou mau, sai para a estrada em um Jeep
cinco mercenários que viajam de pé CJ-7 Renegade 1983. No filme
nos jipes, segurando metralhadoras e sequência, de 1991 (Terminator 2:
fuzis, dão altas piruetas no ar e Judgement Day), o personagem de
nunca se machucam. Em quase Arnold Schwarzenegger se torna um
todos os episódios desse seriado, que androide do bem.

Os mercenários de pé no Jeep não se machucam em A-Team. Ao lado, um Wrangler 1987 em De Volta para o Futuro

46 Março 2023 Cultura do Automóvel


jeep nas telas carros no cinema

Um Jeep meio futurista está na


segunda parte da trilogia De Volta
para o Futuro (Back To The Future
Part II, 1989). É um Wrangler 1987
voador, por sinal já bem velhinho
para a época, que se passa em 2015.
Voltando muito no tempo, o cult
Plan 9 From Outer Space, de 1957,
mostra um Jeep Willys MB. Esse
filme ganhou notoriedade por ser Um Willys MB no filme Plan 9 From Outer Space

considerado um dos piores trabalhos


já feitos no cinema. Vale a pena
assistir para conferir e se divertir.
E tem Jeep também nas comédias
nacionais. O também bem divertido
filme Vendo ou Alugo, de 2013,
mostra um Jeep CJ-3B pintado com
motivos militares, como se fosse
uma camuflagem. ç Filme brasileiro: um CJ-3B na comédia Vendo ou Alugo

Cena do filme Casa de Chá do Luar de Agosto. Não descobri se é um Ford GPW ou um Willys MB

Cultura do Automóvel Março 2023 47


carros no cinema jeep nas telas

Os jipes são companhia constante dos jovens nos filmes Garota de Ipanema, Amante Latino e Garota Dourada
O Jeep é corriqueiro no cinema portas, que aparece em uma rápida
nacional, principalmente nos filmes cena. E em Garota de Ipanema, de
de jovens dos anos 60 a 80. O drama 1967, a patota se empolera em um
Marcelo Zona Sul, de 1970, mostra Jeep CJ-2 de 1951. No filme Garota
o jovem Stepan Nercessian furtando Dourada, de 1984, o jipe que roda
o jipe Candango de seu vizinho para na praia é um Toyota Bandeirante.
passear pelo Rio de Janeiro com sua Na mesma linha de filme de e para
namorada Françoise Forton. jovens, o Jeep Willys CJ-5 de André
Na comédia Amante Latino, de de Biase e Sérgio Mallandro é parte
1979 – com Sidney Magal, é claro –, importante da trama do belo filme
é um Jeep Willys CJ-6, de duas Menino do Rio, de 1982.

Os jovens sempre preferiram os jipes, como o Candango no filme Marcelo Zona Sul e o Willys CJ-5 em Menino do Rio

48 Março 2023 Cultura do Automóvel


jeep nas telas carros no cinema

Bonitinha Mas Ordinária: um Jeep Willys 1962 em 1963 e um Ford Jeep 1970 em 2013

A primeira versão de Bonitinha, DJ-3A Surrey Gala 1959. Lembro


Mas Ordinária, drama de Otto Lara que fui ver esse filme no cinema.
Resende, é de 1963 (há mais duas Em 1968, dois filmes, O Diamante
versões, de 1981 e 2013) e mostra Cor-de-Rosa, com Roberto Carlos e
muitos dos nosso queridos carros da Wanderléa, e o forte O Bandido da
época, atualmente considerados Luz Vermelha. No primeiro, um
clássicos e valiosos. O Jeep Willys é alegre CJ-5 1962 e, no outro, um
um CJ-5 de 1962. Na versão de CJ-5 de capota rígida de uso da
2013, o Jeep é um Ford Jeep 1970. polícia. Em Salve-se Quem Puder,
E por falar em versões, na de 1963 de 1973, a turma de jovens participa
do filme O Professor Aloprado (The de uma divertida gincana com carros
Nutty Professor), Jerry Lewis dirige muito curiosos. O Jeep nesse filme é
um jipinho bem interessante, um um CJ-5 de 1954. ç

O Jeep do professor aloprado é um Willys DJ-3 Surrey Gala de 1959. O Jeep policial é um CJ-5 com capota rígida

Jipes alegres: um CJ-5 1962 em O Diamante Cor-de-Rosa e um CJ-5 1954 no filme Salve-se Quem Puder

Cultura do Automóvel Março 2023 49


carros no cinema jeep nas telas

Columbo: CJ-6 de 1955 Arquivo Confidencial: CJ-5 de 1973 Ilha da Fantasia: CJ-7 de 1976

Duro na Queda: CJ-5 de 1976 O Incrível Hulk: CJ-5 de 1978 Vega$: CJ-5 de 1978

Miami Vice: CJ-5 de 1979 Agente da U.N.C.L.E.: CJ-6 de 1966 As Panteras: CJ-5 de 1977

O Homem de Seis Milhões de Dólares: CJ-2A O Fugitivo: CJ-3A de 1949 M*A*S*H: CJ-2A de 1949

Poderíamos relacionar centenas de em um Jipe (Four Jills in a Jeep,


filmes com interessantes aparições 1944). Filmado em plena guerra,
de Jeeps de qualquer tipo, mas mostra as histórias reais de quatro
vamos fechar com alguns deles em atrizes de Hollywood que vão para o
seriados. E explicando as duas fotos front para entreter os soldados que
no abre desta reportagem, com as estavam lutando na guerra. Elas
moças posando em um Jeep MB de passaram três meses na Inglaterra,
1942. Foi o único filme que achei Irlanda, Escócia e Norte da África,
com Jeep no título: Quatro moças apresentando shows diários. l
50 Março 2023 Cultura do Automóvel
Cultura do Automóvel Março 2023 51

Você também pode gostar