realização desconcertante do plano salvífico de Deus, pois eventos dolorosos marcam as últimas horas da existência de Jesus. Com muita vivacidade e de forma objetiva, quase esquemática, Marcos coloca em evidência uma série de contrastes para sublinhar o paradoxo da fé cristã: a cruz, escândalo e loucura, se torna sinal esplêndido do amor de Cristo pela humanidade. O relato não é crônica, mas profecia: o centurião romano, de fato, proclama: “Este homem é, realmente, o Filho de Deus!”. Meditar neste mistério, leva-nos a experimentar o grande amor de Jesus por nós. “Ele – escreve Paulo aos Gálatas – me amou e deu a sua vida por mim”. É exatamente, ao morrer como homem, em condições humilhantes, que Jesus revela a sua identidade de Filho de Deus, que veio implementar, entre os homens, novos relacionamentos humanos, reflexos das relações trinitárias. Uma vitória, com aparência de derrota, foi sua morte, na cruz, pois sua morte gerou um novo povo: justo e fraterno. João, no seu Evangelho, realça um fato singular. Jesus, por duas vezes, chama sua mãe de “mulher” e não de “mãe” como, pelo contesto, devia tê-la chamado: no início de sua vida pública, em Caná da Galileia, numa festa de casamento e no fim de sua vida terrena. Revelação esplêndida do Messias a respeito de sua Mãe, na obra da redenção: ela é aquela “mulher do Gênesis, que o protoevangelho profetiza, onde Deus prometeu, para reparar a culpa antiga, uma nova mulher, que, com sua fé viva e ardente amor, iria vencer o Maligno e seus dois aliados, o pecado e a morte. Maria é a nova Eva, que, junto com seu Filho, Jesus Cristo, o novo Adão, salva a humanidade; ela é, também, figura da Igreja, nossa mãe e mestre, que nos gera pela fé e o batismo. Jesus, em previsão de sua morte, não quis oferecer à sua Mãe, apenas, um amparo humano, confiando-a a João, seu discípulo predileto: as palavras, dirigidas a ele, manifestam que esta não era a sua intenção. Dizendo à sua Mãe: “eis o teu filho”, Jesus demonstra que Ele, em seu testamento, quis entregar à sua Mãe uma missão especial a favor de seus discípulos: uma nova maternidade. A dedicação dela a Ele, no tempo de sua vida terrena, devia ser estendida, a partir daquele momento, também, aos seus discípulos de todos os tempos e lugares. A maternidade eclesial de Maria, aqui, é explicitamente declarada. João representa a imensa multidão dos que, ao longo da História, seguirão a Cristo. Como, numa família, a presença de uma mãe é indispensável para a sua unidade, assim, a presença de Maria, na Igreja: “Não quero – afirma Jesus – que os meus discípulos sejam defraudados do afeto e dos cuidados maternos de minha Mãe, pois a minha Igreja é uma família, que precisa de uma mãe. Ela é o maior tesouro – afirma o evangelista João – que Jesus deixou aos discípulos” (Tertuliano). Maria, que gerou Cristo – a cabeça – , gera, também, o corpo dele, os cristãos.