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Universidade Federal de Goiás

Faculdade de letras
Introdução a Linguística do Enunciado
Natalia Barbosa Vieira
202105948
11/12/2023
LIVRO O DIZER E O DITO DE OSWALD DUCROT

Quais são as propriedades deste sujeito? Primeiro ele é dotado de toda atividade psico-
fisiológica necessária à produção do enunciado. Assim dizer que um certo X é o sujeito
do enunciado "O tempo está bom': dito em um certo momento, num certo lugar, é
atribuir a X o trabalho muscular que permitiu tornar audíveis as palavras, o tempo está
bom e é atribuir-lhe também a atividade intelectual subjacente - formação de um
julgamento: escolha das palavras, utilização de regras gramaticais. Segundo atributo do
sujeito: ser o autor, a origem dos atos ilocutórios realizados na produção do enunciado
(atos do tipo da ordem, da pergunta, da asserção, etc.). O sujeito e aquele que ordena,
pergunta, afirma, etc. Para voltar ao exemplo precedente, dir-se-á que o mesmo X que
produziu as palavras o tempo está bom é também aquele que afirmou o bom tempo. Na
medida em que uma só pessoa é o produtor do enunciado, será necessário. admitir que
há uma só pessoa na origem dos atos ilocutórios realizados através dele. Vai-se, aliás,
freqüentemente mais longe nesta via e se pretende - ou sobretudo pretende-se como
evidente, que cada enunciado realiza um só ato ilocutório (donde a espécie de escândalo
que resulta na existência dos atos indiretos). Uma tal suposição não é certamente
necessária para admitir que há uma só origem para a atividade ilocutória realizada
através de um enunciado, mas ela é, em todo caso, suficiente para justificar esta tese. pág.
178
na visão de Ducrot são:
1. Atividade psico-fisiológica: O sujeito é dotado de toda a atividade psico-fisiológica
necessária para produzir o enunciado. Isso inclui o trabalho muscular necessário para tornar
audíveis as palavras e a atividade intelectual subjacente, formação de julgamento e escolha de
palavras de acordo com as regras gramaticais.

2. Autoria dos atos ilocutórios: O sujeito é considerado o autor e a origem dos atos ilocutórios
realizados na produção do enunciado, como a realização de ordens, perguntas, afirmações,
entre outros. No exemplo específico dado, o mesmo sujeito que produziu as palavras "O tempo
está bom" é também aquele que afirmou que o tempo está bom.

Essas propriedades destacam o papel ativo e central do sujeito na produção e autoria dos
enunciados. É o sujeito que realiza o trabalho físico e mental necessário para expressar sua
intenção comunicativa e desempenha o papel de autor dos atos realizados no enunciado. O
reconhecimento dessas propriedades permite uma compreensão mais completa e detalhada da
atividade comunicativa.
A ideia de que há uma só pessoa na origem dos atos ilocutórios realizados através do enunciado
é frequentemente defendida e considerada evidente. Acredita-se que cada enunciado realiza
apenas um único ato ilocutório, o que pode causar certa surpresa quando se depara com a
existência de atos indiretos. A atividade ilocutória de um enunciado tem única origem, mesmo
que um único enunciado possa realizar mais de um ato ilocutório.

Relembrei há pouco que o sentido de um enunciado, para mim, é a descrição de sua


enunciação. Em que consiste esta descrição? Tenho assinalado alguns de seus aspectos
mencionando as indicações argumentativas e ilocutórias, assim como as relativas às
causas da fala. Estas indicações, de que falei para levar a compreender o que entendo por
"descrição da enunciação", são, na verdade, secundárias em relação às indicações mais
primitivas que estão pressupostas por tudo que se pode dizer sobre os aspectos ilocutório,
argumentativo e expressivo da linguagem. Trata-se de indicações, que o enunciado
apresenta, no seu próprio sentido, sobre o (ou os) autor(es) eventual(ais) da enunciação.
Pág. 181
A descrição da enunciação consiste na análise dos aspectos relacionados à origem e intenção
do enunciado, incluindo as indicações argumentativas, ilocutórias e as causas da fala. Essas
indicações são secundárias em relação às indicações mais primárias, que estão pressupostas em
todos os aspectos da linguagem, como o ilocutório, argumentativo e expressivo. Elas revelam
informações sobre o(s) autor(es) do enunciado, tanto em relação à sua finalidade quanto à sua
identidade.

Se falo de locutores - no plural - não é para cobrir os casos


em que o enunciado · é referido a uma voz coletiva (por exemplo, quando um artigo
tem dois autores que se designam coletivamente
por um nós). Visto que, neste caso, os autores pretendem constituir
uma só pessoa moral, falante de uma única voz: sua pluralidade apresenta-se fundida
em uma personagem única, que engloba os indivíduos
diferentes. O que me motiva o plural é a existência, para certos enunciados, de uma
pluralidade de responsáveis, dados como distintos e
irredutíveis. Assim, nos fenômenos de dupla enunciação (§ XI), principalmente no
discurso relatado em estilo direto. Por definição, entendo por locutor um ser que é, no
próprio sentido do enunciado, apresentado como seu responsável, ou seja, como
alguém a quem se deve
imputar a responsabilidade deste enunciado. Pag-182

Buscando representar uma única entidade moral que fala com uma única voz, fundindo sua
pluralidade em uma única personagem que engloba os indivíduos diferentes. A motivação
para usar o plural reside na existência, em alguns enunciados, de múltiplos responsáveis que
são considerados distintos e irredutíveis. Isso ocorre especialmente em fenômenos de dupla
enunciação, como no discurso relatado em estilo direto. Por definição, entendo o locutor como
um ser que, no próprio sentido do enunciado, é apresentado como responsável por ele, ou
seja, como alguém a quem a responsabilidade deste enunciado deve ser atribuída.

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