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VII

FORMALISMO E CEPTICISMO SOBRE AS REGRAS

'4 I. A textura aberta do direito


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1 Em qualquer grande gmpo, as regras gerais, os padroes e 0s


principios devem ser 0 principal instrumento dc controlo social, e
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nao as directivas paniculares dadas separadamente a cada individuo.
Se nao fosse possivel comunicar padrées gerais de conduta que
multidoes de individuos pudessem perceber, sem ulteriores directivas,
padroes esses exigindo deles certa conduta conforms as ocasioes,
nada daquilo que agora reconhecemos como direito poderia existir.
Dai resulta que 0 direito deva predominantemente, mas nao de forma
alguma exclusivamente, referir-se a caregorias de pessoas, e a cate-
gorias de actos, coisas e circunstancias, e 0 seu funcionamento com
éxito sobre vastas areas da vida social depende de uma capacidade
largamente difundida dc reconhecer actos, coisas e circunsténcias
1 particulares como casos das classificacoes gerais que 0 direito faz.
Tém-se usado dois expedientes principais, a primeira vista muilo
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diferentes um do outro, para a comunicacao de tais padrécs gerais de
conduta, com antecipaqao das ocasioes sucessivas em que devem ser
aplicados. Um deles faz um uso maximo 0 outro faz um uso minimo
de palavi as gerais a estabelecer classificacoes. O primeiro é exempli-
ficado por aquilo a que chamamos legislacao e 0 segundo -pelo
precedente. Podemos ver os aspectos que os distinguem nos exemplos
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simples de casos néo-juridicos que a seguir apresentamos. Um pai
antes dc ir a igreia diz ao filho: <<Tod0s os homens e os rapazes devem
tirar 0 chapéu a0 entrar numa igreja». Outro diz, descobrindo a
cabeca quando entra na igreja: <<Olha, eis a forma correcta de nos
A comportarmos nestas ocasiées».
A comunicaqao ou ensino dc padroes de conduta através do
exemplo po'de tomar diferentes formas, bastante mais elaboradas do
que no nosso caso simples. O nosso caso assemelhar-se-ia mais
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estrsitamsnts ao uso juridico do precedents, ss, sm vsz ds dizsr a particularss sm epigrafes classificatorias gerais e retirar uma con-
uma crianca na ocasiao concrsta qus obssrvasss o qus 0 pai fez ao clusao silogistica simples. Nao é confrontada com a alternativa de
sntrar na igrsja como um sxsmplo de coisa apropriada a fazsr-ss, 0 sscolher com risco proprio ou ds procurar outra orisntacao dotada ds
pai partisss do principio de qus a crianca o consideraria como uma autoridadel Tsm uma rsgra qus pods aplicar por si propria e a si
autoridads sobre os comportamsntos apropriados s olharia para sle mssma.
para aprendsr o modo de comportamsnto. Para nos aproximarmos Boa parts da teoria do direito deste século tem-se caracterizado
mais ainda do uso juridico do precedents, tsmos ds supor qus 0 pai ss pela tomada ds consciéncia progrsssiva (e, algumas vszss, pslo
considsrava a sls proprio e era considsrado pelos outros como sxagsro) do importante facto de que a distineao sntre as incertszas da
adsrindo a padross tradicionais ds comportamsnto s nao como comunicacao por exsmplos dotados de autoridade (precedents) s as
estando a introduzir novos padroes. certezas ds comunicacao através da linguagem geral dotada ds
A comunicacao através do sxsmplo em todas as suas formas. autoridade (lsgislacao) é de longs menos firms do qus sugsre este
smbora acompanhada por algumas dirsctivas vsrbais gerais, tais contrasts ingénuo. Mesmo quando sao usadas regras gerais formu-
como: ¢Faz como su faco», pods dsixar absrta uma ssris dc ladas vsrbalmsnts, podsm, em casos particularss concretos, surgir
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t possibilidades e, por isso, de duvidas, rslativamsms ao qus ss incsrtszas quanto a forma ds comportamento exigido por elas.
pretends, mesmo quanto a assuntos qus a pessoa qus procura Situacoes ds facto particulares néo esperam por nos ja separadas
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comunicar considsrava sla propria como claros. Ate qus ponto dew umas das outras, e com etiquetas apostas como casos ds aplicaeéo da
'1 a actuacao ser imitada? Tsm importancia ss for usada a mao rsgra geral, cuja aplicacéo esta em causa; nem a rsgraem si mssma
ssquerda, em vez da dirsita, para tirar 0 chapeu? Ous ss faca pods avancar s reclamar os ssus préprios casos de aplicacao.
lentaments ou com rapidsz? Que 0 chapéu ssia posto dsbaixo da Em todos os campos de experiéncia, e nao so no das regras, ha um
cadeira? Que nao seja colocado dc novo na cabsca dentro da igrsia? limits, inersnte a natureza da linguagem, quanto a orisntacao qus a
Estas sao todas variantss das psrguntas gerais qus a crianca podia linguagem geral pods oferecer. Havera na verdads casos simples qus
fazer a si propria: ~ De qus modos dsvs a minha conduta assemelhar-ss sstao semprs a ocorrer em contsxtos ssmelhantss, aos quais as
a dels, para sstar certa?» “Que exists prscisamsnts na sua conduta, expressoss gerais sao claraments aplicaveis (4 Se existir algo qualifi-
qus deva ser o msu modelo?» A0 comprsendsr 0 sxemplo. a crianca cavsl como um vsiculo, um automovel é-0 certamente») mas havsra
atenta em alguns dos ssus aspectos, em vsz ds outros. A0 agir assim, também casos em qus nao é claro ss ss aplicam ou nao (<<A expressao
sla é guiada pslo ssnso comum e 0 conhscimsnto da sspécie geral ds avsiculo» usada aqui inclui bicicletas, avioes e patins?»). Estes
coisas s intsncoes qus os adultos consideram importantss e pela sua ultimos sao situacéss ds facto, continuamente laneadas pela natu-
aprsciacao do caracter geral da ocasiao (ir a igrsia) s da sspscis dc reza ou pela invsneao humana, qus possuem apenas alguns dos
compottamsnto apropriado a tal. aspsctos dos casos simples, mas a qus lhss faltam outros. Os canones
Em contrasts com as indstsrminacoes dos sxsmplos, a comuni~ de uinterpretacéo» nao podem eliminar estas incertezas, embora
cacao dos padross gerais por formas gerais sxplicitas ds linguagsm possam diminui-las; porque sstes canones séo eles proprios regras
(<<Todos os homens devem tirar 0 chapéu ao sntrar numa igrsia») gerais sobre 0 uso da linguagem s utilizam termos gerais qus, eles
parses clara, ssgura s csrta. Os aspsctos qus dsvsm ser tomados préprios, sxigsm intsrpretacao. Eles, tal como outras regras, nao
como guias gerais ds conduta sao aqui identificados por palavras: podem fornscsr a sua propria interpretacao. Os casos simples, sm
libertam-se vsrbalmsnts, nao ficam amalgamados com outros. num qus os termos gerais parscem nao necessitar de interprstacéo e em
sxemplo concreto. Para saber 0 qus dsvs fazer sm outras ocasioss, a que 0 reconhscimento dos casos de aplicacao parses nao ser proble-
crianca ia nao tsm de adivinhar 0 qus se pretends, ou 0 qus ssra matico ou ser <<automatico» sao apenas os casos familiares qus sstao
l aprovado; nao tsm ds sspecular quanto ao modo por qus a sua constantemsnts a surgir em contsxtos similares, em qus ha acordo
conduta dsvs asssmslhar-ss ao sxsmplo, para ser corrscta. Em vs? geral nas dscisoss quanto a aplicabilidads dos termos classifica-
disso, tem uma dsscricao verbal qus pods usar para sslsccionar o qus térios.
dsvs fazsr no futuro s quando o dsvs fazsr. Tsm apenas de rsconhscsr Os termos gerais seriam inutsis para nos enquanto meio de
os casos ds aplicacao ds termos vsrbais claros, de usubsumir» factos comunicacao, se nao existisssm tais casos familiarss e geralmsnte

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