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informar

Os consumidores que valorizam a acessibilidade são fundamentais


para o futuro do turismo português. Só na Europa já ultrapassam os 127,5
milhões, e com o envelhecimento da população nos principais mercados
emissores, serão cada vez mais. Para além dos números, é também re-
levante o seu comportamento como turistas: estadias mais prolongadas,
maior número médio de acompanhantes, maior fidelidade ao destino e
melhor repartição pelas épocas altas e baixas. Como pode Portugal tornar-

Turismo Acessível em Portugal lei, oportunidades económicas, informação


-se mais competitivo neste segmento?
A adaptação dos edifícios e serviços é necessária, mas não suficiente.
É indispensável disponibilizar informação fiável, actualizada e relevante
sobre as reais condições de acessibilidade, porque estes consumidores
(e os operadores a que recorrem) planeiam com especial cuidado as
deslocações.
A partir de uma análise do enquadramento legal, do estado da arte e
do potencial de mercado do Turismo Acessível, este estudo propõe a
Turismo Acessível em Portugal
criação de um sistema que permita recolher e disponibilizar, de forma lei, oportunidades económicas,
sistemática, a informação de que os consumidores precisam para…
poder consumir. informação

colecção
informar
número 7
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Turismo Acessível em Portugal


lei, oportunidades económicas, informação
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Prefácio objectivo de recolher e divulgar informação sobre as


Nas sociedades actuais, a prestação de serviços condições de segurança, autonomia e conforto exis-
turísticos depende, em grande parte, do respeito pela tentes em locais de interesse turístico. Constitui, por
diferença – necessidades diferentes requerem a in- isso, uma mais-valia para agentes turísticos e cida-
corporação da diversidade na oferta. dãos de todas as idades que planeiam o seu tempo de
Neste contexto, o Turismo Acessível constitui lazer.
uma vantagem competitiva e por conseguinte mais Não esqueçamos que os utilizadores de um es-
sustentável, uma vez que se alarga o campo de po- paço ou serviço devem ser consumidores autónomos,
tenciais clientes. Todas as pessoas, independente- sem, com isso, perderem a qualidade da experiência
mente da idade ou do grau de capacidade, devem usufruída.
poder participar em experiências turísticas.
A Acessibilidade, enquanto capacidade de propor- Idália Moniz
cionar a todos igual oportunidade de apropriação (de Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação
espaços, serviços e informação, entre outros), repre-
senta um direito inalienável de qualquer cidadão.
Tendo estes aspectos em consideração, desde
2006, com o PAIPDI (Plano de Acção para a Integra-
ção das pessoas com Deficiências e/ou Incapacida-
des) e, mais concretamente com o Plano Nacional de
Promoção da Acessibilidade (PNPA), o Estado portu-
guês tem vindo a investir na promoção da acessibili-
dade. Fomentando a eliminação de barreiras arqui-
tectónicas, dotando de condições as praias portugue-
sas para que sejam mais acessíveis, sensibilizando
crianças e jovens para a temática da acessibilidade,
reconhecendo soluções inovadoras e provendo a inte-
ligibilidade da informação. No âmbito do Programa
Operacional do Potencial Humano (POPH), apoiámos
ainda a realização de estudos sobre esta temática,
como é o caso da presente publicação.
Baseando-se em práticas internacionais, reconhe-
cidas, este estudo aborda a questão da acessibilidade
na área do turismo de um modo muito inovador. Ope-
racionaliza um sistema, de âmbito nacional, com o
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Nota da Direcção Foi neste contexto que apresentámos uma candi-


O direito à acessibilidade e a sua promoção é cla- datura ao Programa Operacional Potencial Humano
ramente uma condição necessária para a participa- (POPH/QREN), com o objectivo de estudar e criar um
ção humana, para o desenvolvimento do nosso país e “sistema de análise e divulgação das condições de
para a construção de uma sociedade para todos. acessibilidade em locais de interesse turístico”. Qui-
Viajar, desfrutar do património, da cultura e do semos criar um guia que fosse útil aos cidadãos e às
lazer são direitos individuais da pessoa que não suas famílias, aos agentes económicos, aos operado-
podem ser limitados por falta de condições de acessi- res turísticos e às autarquias locais
bilidade nos espaços físicos, na informação ou comu- Com a publicação “Portugal: Turismo para Todos –
nicação. Aliás, a negação de condições que nos per- Sistema de Análise e Divulgação das Condições de
mitam viajar, conhecer e participar nas actividades Acessibilidade em Locais de Interesse Turístico”, e a
turísticas é uma discriminação contra as pessoas sua disponibilização no nosso site www.inr.pt, fica
com deficiências ou incapacidade. concluída esta fase do nosso trabalho, cabendo agora
É neste sentido que o Turismo Acessível é uma ao INR, I.P. e a todos os interessados divulgá-lo e
área estratégica para a promoção dos direitos funda- aplicá-lo aos nossos territórios.
mentais das pessoas com deficiência ou incapaci- Estamos certos que com este guia estamos a va-
dade e para a missão do Instituto Nacional para a lorizar a nossa oferta turística, bem como a partilhar
Reabilitação – INR, I.P., as boas práticas locais e principalmente, a construir
De facto, o INR, I.P. tem sido pioneiro neste sector um país para todos os cidadãos. Um país em que
e a partir de 1997/1998 desenvolveu várias iniciativas cada Pessoa é um Cidadão e o direito a viajar e a par-
que lançaram o turismo acessível enquanto conceito ticipar é para Todos.
base de que a oferta turística deve adequar-se às ne-
cessidades das pessoas com diferenças sensoriais, Alexandra Pimenta
intelectuais ou físicas, contribuindo progressiva- Directora do Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P.
mente para uma oferta de maior qualidade e con-
forto, que beneficia todos os membros da sociedade.
Quer no passado, quer no presente, enquanto ser-
viço público estamos vinculados ao respeito pela diver-
sidade humana e ao reconhecimento do seu contributo
para melhorarmos o modelo da sociedade em que vive-
mos. O turismo acessível é uma questão fundamental
para a realização pessoal de todos os cidadãos e para o
desenvolvimento económico de Portugal.
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edição
Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P.
www.inr.pt

execução do projecto n.º 11660


Include – Planeamento, Projecto, Consultoria e Formação, Lda.
www.include.pt

colecção
informar, n.º 7

coordenação do projecto
Pedro Homem de Gouveia

autoria dos textos


Pedro Homem de Gouveia
Diana Mendes (capítulo 1.3)
Jorge Falcato Simões com Pedro Homem de Gouveia (capítulo 3)

consultores
Helena Cardoso de Menezes
(segurança infantil e avaliação de risco)
Jorge Falcato Simões (acessibilidade)

trabalho de campo em Cascais


CNAD – Cooperativa Nacional de Apoio a Deficientes
Celeste Costa (coord.), Luísa Diogo, Carina Rosado,
Carlos Nogueira, António Costa e Olga Fidalgo

design gráfico e paginação


Ilha das Ideias, Lda.

impressão e acabamento

ISBN:

depósito legal

tiragem

Fotografia do paraquedismo acessível (capa) gentilmente


Dezembro de 2010 cedida pela Accessible Portugal.

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Resumo dos locais de interesse turístico e dos serviços aí


A Acessibilidade pode ser definida como a capaci- prestados. Sendo este investimento obrigatório, im-
dade do meio (espaços, edifícios ou serviços) de pro- porta, naturalmente, assegurar a sua rentabilização.
porcionar a todos uma igual oportunidade de uso, de Deve notar-se, neste ponto, que a adaptação de
uma forma directa, imediata, permanente e o mais espaços e serviços não basta, por si só, para aumen-
autónoma possível. tar a competitividade neste segmento. A disponibili-
Sendo uma condição indispensável para alguns dade de informação fiável, detalhada e pessoalmente
turistas (nomeadamente para aqueles que têm al- relevante sobre as condições de acessibilidade é igual-
guma limitação física, sensorial ou cognitiva, como mente fundamental para captar estes consumidores,
as pessoas com deficiência, os idosos ou as famílias que planeiam com especial cuidado as suas desloca-
com crianças pequenas), a experiência demonstra ções. A informação deve referir-se às condições reais,
que a Acessibilidade se traduz, por regra, em maior e não é necessário esperar pela realização de adapta-
segurança, conforto e funcionalidade para todos. ções para a divulgar, porque pessoas diferentes têm
A existência de condições de acessibilidade na necessidades diferentes, e o facto de ainda não haver
oferta turística constitui, por isso, não apenas um di- condições suficientes para alguns consumidores não
reito (consagrado na lei) mas também um critério ob- significa, necessariamente, que não existam já condi-
jectivo de qualidade. ções suficientes para outros.
Os consumidores que valorizam a acessibilidade na A disponibilização ao consumidor de informação
oferta turística são decisivos para a competitividade e sobre as condições de acessibilidade em locais de in-
sustentabilidade da oferta nacional. Este segmento já teresse turístico implica a criação de um sistema que,
conta com mais de 127,5 milhões de consumidores (só de forma integrada, defina e articule os procedimen-
na Europa), e vai aumentar com o envelhecimento de- tos necessários para a recolha de dados e para a sua
mográfico nos principais mercados emissores. Os es- divulgação.
tudos de mercado revelam que estes consumidores Uma análise de boas práticas internacionais revela
mobilizam importantes verbas, sublinhando as carac- que os sistemas mais avançados partilham, entre si, al-
terísticas especialmente apelativas do seu comporta- guns traços distintivos: têm um âmbito de aplicação
mento: estadias mais prolongadas, maior número mé- bem definido, não se limitam a um tipo de espaço ou
dio de acompanhantes, maior fidelidade ao destino e actividade, centram a sua análise nas condições reais,
melhor repartição pelas épocas altas e baixas. Note-se envolvem na sua gestão organizações representativas
que o rendimento disponível não é necessariamente dos sectores da Deficiência e do Turismo, consideram o
inferior (em muitos casos, bem pelo contrário). rigor e a objectividade na análise dos locais como uma
O novo enquadramento legislativo da acessibili- condição chave para a utilidade da informação e do pró-
dade em Portugal conduzirá à progressiva qualifica- prio sistema, têm em conta as necessidades de diver-
ção da oferta neste domínio, ao obrigar à adaptação sos tipos de utilizadores, lidam com informação bas-
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tante detalhada, e aproveitam o potencial da Internet


para ajudar o estabelecimento a difundir a informação,
e para ajudar o potencial consumidor a encontrá-la.
Portugal já dispõe de algumas experiências e sis-
temas em funcionamento, mas nenhum incorpora
estes factores de sucesso.
No presente estudo propõe-se, por isso, um sistema
de âmbito nacional, que terá por objectivo recolher e di-
vulgar informação fiável sobre as condições de acessi-
bilidade existentes em locais de interesse turístico, de
forma a apoiar a tomada de decisão pelo turista que
procura acessibilidade, a permitir aos diferentes opera-
dores turísticos prestar informação fiável sobre acessi-
bilidade aos turistas que a solicitem, a fomentar o
cumprimento da legislação em vigor e a aumentar a
competitividade da oferta turística portuguesa.
Propõe-se que a informação seja recolhida através
de uma análise sistemática das condições de segu-
rança, autonomia e conforto, com base nas necessida-
des de quatro tipos distintos de utilizador: pessoas
com deficiência motora, com deficiência visual, com
deficiência auditiva, e crianças pequenas (até 6 anos)
e adultos que as acompanham. Propõe-se, igual-
mente, que a recolha de informação no terreno seja
realizada por auditores com deficiência, devidamente
seleccionados, formados e supervisionados.
O presente estudo foi promovido pelo Instituto
Nacional para a Reabilitação, I.P., no âmbito de um
projecto QREN (Programa Operacional Potencial Hu-
mano) que incluiu ainda duas tarefas complementa-
res: o desenvolvimento de uma ferramenta de análise
para apoio à implementação do sistema, e o teste no
terreno da referida ferramenta, em mais de 30 alvos
do Concelho de Cascais.

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Agradecimentos > Eugénia Lima Devile (Universidade de Aveiro);


O desenvolvimento do Projecto 11660 motivou um > Fátima Alves (Apoio ao Público com Necessida-
grande esforço de investigação e diálogo, e são devi- des Especiais, Departamento Educativo e de Co-
dos vários agradecimentos. municação de Pavilhão do Conhecimento –
Em primeiro lugar, à Sra. Secretária de Estado Ad- Ciência Viva);
junta e para a Reabilitação, Dra. Idália Moniz, pelo > Guilhermino Rodrigues (Presidente do Conselho
empenho que tem vindo a colocar na promoção da de Administração da ANA Aeroportos de Portu-
acessibilidade em Portugal, e ao Instituto Nacional gal, SA) e Rui Alves (Coordenador do Serviço
para a Reabilitação, IP, nomeadamente à sua direc- MyWay, da ANA);
ção e a todos os funcionários que colaboraram neste > Helena Sanches e Ricardo Marques (directora e
projecto, pela confiança depositada na Include e por técnico superior do Gabinete de Apoio Jurídico
todo o apoio prestado. da Agência para a Segurança Alimentar e Eco-
Considerando que para a construção de propostas nómica, ASAE);
de mudança é fundamental aproveitar o saber e a ex- > João Alberto (Presidente da Associação Portu-
periência existentes no terreno, desenvolvemos um guesa de Surdos);
amplo leque de contactos com especialistas e com > José Moreira Marques (Administrador da Funda-
responsáveis de diversas entidades nacionais e inter- ção INATEL);
nacionais. As indicações colhidas através destes con- > Luís Pestana Mourão (Director do Tourism Think
tactos enriqueceram o trabalho e tornaram as pro- Tank, Associação da Hotelaria de Portugal);
postas mais certeiras. > Rodrigo Santos e Peter Colwell, (director e téc-
Assim, a nível nacional, é devido um especial agra- nico superior da Associação de Cegos e Amblío-
decimento a: pes de Portugal, ACAPO).
> Ana Blanco e Aurora Carvalho (directora e téc- A nível internacional, agradecemos a:
nica superior do Departamento de Classificação > Ellen Opsahl Mæhle, Information Supervisor,
da Oferta do Turismo de Portugal, IP); Visit Oslo (Noruega);
> Ana Garcia e Paula Reis (gerente e colaboradora > Fionnualla Rogerson, Presidente na Região 1 do
da Accessible Portugal, agência de viagens es- Working Program Architecture for All, União In-
pecializada em turismo acessível); ternacional de Arquitectos (Irlanda);
> Clara Mineiro (Instituto dos Museus e da Con- > Gregory Burke, Chairman and Chief Executive da
servação, IP); DisabledGo (Reino Unido);
> Cristina Crisóstomo (Centro de Reabilitação Pro- > Ivor Ambrose, Secretário-geral da European
fissional de Gaia); Network for Accessible Tourism, e do site Europe
> Ernesto Carvalhinho (Provedor Municipal das for All (Grécia);
Pessoas com Incapacidade, Município da Lousã);
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> Judith Bendel, Directora, Access Unlimited (Is- Falcato Simões), aos familiares que tantas vezes sa-
rael); crificaram em prol desta causa importante o tempo
> Kai Pagenkopf, Professor da Universidade de que lhes era devido (Rita, António, Madalena), aos
Muenster (Alemanha); amigos do peito, indefectíveis no encorajamento e
> Louis-Pierre Grosbois, arquitecto especialista apoio (Pedro Nave, Pedro Mendonça, Comandante do
em Acessibilidade (França); NRP Escorpião e Fernanda Flash) e a tantos outros
> Richard Skaff, Director, Designing Accessible que, mesmo não cabendo nestas páginas, também
Communities (EUA); participaram com entusiasmo e generosidade.
> Ross Calladine, Accessibility Project Manager, Este trabalho é dedicado a todos aqueles que
Visit England (Reino Unido); ontem, hoje e amanhã desejam, procuram e valori-
> Ulla Kramer, Foreningen Tilgængelighed for Alle zam a acessibilidade na oferta turística, honrando o
(Dinamarca). nosso País com a sua preferência (incluindo os que
Agradecemos também à Comissão de Acompanha- “vão para fora cá dentro”).
mento do Projecto, na pessoa do seu coordenador, É dedicado também à comunidade das pessoas
Dr. Carlos Pereira, e dos restantes membros, nomea- com deficiência em Portugal, pelas diversas palavras
damente Ana Margarida Brito, Adalberto Fernandes, e gestos de apoio e encorajamento que nos tem ende-
Fernanda Sousa, Isabel Pinheiro, João Durão, Miguel reçado, e pelo potencial que o projecto encerra para a
Ferro e Paula Reixa (representantes do INR, IP), Fer- plena concretização dos seus direitos.
nanda Palácios (representante do Turismo de Portu-
gal, IP), Frederico Costa e Suzana Andrade (represen-
tantes da Câmara Municipal de Cascais) e Ana Garcia. Pela Include
Agradecemos ainda a abertura e a hospitalidade Pedro Homem de Gouveia
manifestadas pelos responsáveis dos locais de inte- Managing Partner
resse turístico sedeados em Cascais que visitámos no
quadro deste projecto, por terem tornado possível o
trabalho de campo naquele Concelho, pelas suges-
tões e pelas palavras de encorajamento.
Por fim, um forte agradecimento a todos quantos
colaboraram no desenvolvimento dos trabalhos, no-
meadamente à CNAD – Cooperativa Nacional de
Apoio à Pessoa com Deficiência (Celeste Costa, Luísa
Diogo, Carina Rosado, Carlos Nogueira, António
Costa e Olga Fidalgo), aos consultores (Diana Men-
des, Helena Cardoso de Menezes, Lia Ferreira e Jorge

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Índice

Apresentação 15

Parte I – Introdução 17

1. Acessibilidade e Turismo Acessível 19


1.1 O Conceito 19
1.2 O Mercado 23
1.3 Enquadramento Jurídico 35
1.4 A Experiência em Portugal 43

Parte II – Análise e Divulgação 49

2. Bases para um sistema 51


2.1 Informação precisa-se 51
2.2 Questões estruturantes 55

3. Boas Práticas Internacionais 60


3.1 National Accessible Scheme (Reino Unido) 61
3.2 Disabled Go (Reino Unido, Irlanda) 63
3.3 Label Tourisme & Handicap (França) 66
3.4 Toegankelijk (Bélgica, Flandres) 68
3.5 Access Unlimited (Israel) 70
3.6 Visit Oslo (Noruega, Oslo) 72
3.7 Accessibility Labelling Scheme (Dinamarca) 74
3.8 Europe for All (Europa) 77

Parte III – Proposta de Sistema 81

4. Proposta de Linhas Orientadoras 83

Bibliografia 104
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Apresentação > Concepção de uma ferramenta para análise das


O presente relatório resulta da execução do Pro- condições de acessibilidade nos locais abrangi-
jecto n.º 11660 do QREN/POPH, que foi lançado pelo dos pelo sistema;
Instituto Nacional para a Reabilitação (INR) com o > Trabalho de campo para aplicação prática (a tí-
objectivo de conceber um sistema de análise e divul- tulo de teste) da ferramenta de análise, reali-
gação das condições de acessibilidade em locais de zado no Concelho de Cascais.
interesse turístico.
Para o consumidor, a utilidade do sistema reside Metodologia
no fornecimento de informação fiável e relevante O desenvolvimento do projecto teve por referência
para a escolha do destino e preparação da estadia. a legislação em vigor, especialmente o Decreto-Lei n.º
Para os responsáveis pela oferta, a utilidade do 163/2006, de 8 de Agosto, e a Lei n.º 46/2006, de 28 de
sistema reside no contacto que este permite estabe- Agosto, diplomas que estabelecem exigências especí-
lecer com um segmento de mercado de grande im- ficas em matéria de acessibilidade a edificações,
portância estratégica. bens e serviços.
A Acessibilidade em geral, e o Turismo Acessível Procurou-se conceber o sistema de uma forma
em particular, têm vindo a merecer cada vez mais que, por um lado, agilize o seu funcionamento e faci-
atenção dos operadores turísticos. Uma atenção que lite a sua futura generalização ao sector turístico e a
em parte se deve, certamente, às exigências legais todo o território nacional, e que, por outro lado, o
na matéria, mas que decorre, também, da consciên- torne uma fonte de informação credível para os mer-
cia de que os consumidores que procuram acessibili- cados emissores.
dade constituem um mercado que tem uma dimen- O universo de locais de interesse turístico consi-
são considerável, e que vai continuar a crescer. derados na concepção do sistema e da ferramenta de
Captar e fidelizar este mercado passa por promover análise incluiu:
a acessibilidade nos locais de interesse turístico, mas a) Estabelecimentos hoteleiros;
passa também por divulgar as condições existentes. b) Museus, palácios, igrejas e outros monumentos
Para que essa divulgação seja eficaz, a credibili- abertos ao público;
dade do sistema é um factor chave. Essa credibilidade c) Salas de espectáculos;
depende da fiabilidade da informação, e passa pela d) Restaurantes e discotecas abrangidos pelo De-
definição transparente e rigorosa de procedimentos e creto-Lei n.º 163/2006, de 8 de Agosto;
ferramentas para a sua recolha e divulgação. e) Praias acessíveis (classificadas como tal no âm-
O projecto foi desenvolvido em três vertentes: bito do Projecto “Praias Acessíveis, Praias para
> Concepção da arquitectura global do sistema Todos”);
(objectivos, princípios estruturantes, regras e f) Parques naturais;
procedimentos);
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g) Instalações desportivas de uso público e pro- 7. Afinação da ferramenta de análise na sequência


priedade pública; do teste
h) Terminais de transporte colectivo (estações fer- O desenvolvimento do projecto foi acompanhado
roviárias e centrais de camionagem); por uma comissão criada pelo INR para o efeito, com
i) Postos de informação turística. a qual foram debatidas várias questões relevantes
Atendendo ao Concelho seleccionado pelo INR para para o projecto.
a realização dos trabalhos de campo (Cascais), foram
também considerados o Casino Estoril, o Centro de Sobre o relatório
Congressos do Estoril e quatro parques urbanos. O presente relatório tem a tripla missão de apre-
A coordenação do estudo foi assegurada por um sentar publicamente os resultados do projecto, infor-
especialista em acessibilidade. Para a realização do mar os agentes do sector turístico sobre algumas
trabalho de campo recorreu-se à colaboração da Coo- questões chave para a abordagem deste mercado, e
perativa Nacional de Apoio a Pessoas com Deficiência servir de base, ou ferramenta de trabalho, para a con-
(CNAD), uma instituição sem fins lucrativos com uma cepção e implementação do sistema.
larga experiência no domínio do Turismo Acessível. Para melhor cumprir esta missão, o relatório foi re-
Foi tida em conta a experiência já existente no digido de forma a não ser exaustivo (limitando-se ao
nosso País, designadamente no que respeita a guias essencial) e a ter uma linguagem simples e acessível.
publicados e a projectos de acessibilidade com incidên- Atendendo à “agenda carregada” e aos interesses
cia no turismo, como é o caso das praias acessíveis. específicos dos diferentes leitores, os capítulos foram
Apostou-se na realização de diversos contactos, a definidos com base em temas distintos, e em cada
nível nacional e internacional, para melhor compreen- capítulo foi concentrada toda a informação relevante
der o contexto nacional, e aprender com as boas práti- sobre o respectivo tema. Isto permite ao leitor con-
cas internacionais. sultar o relatório capítulo a capítulo, de acordo com
O desenvolvimento do projecto integrou um con- os seus interesses e motivações.
junto estruturado de trabalhos, ordenados generica-
mente da seguinte forma:
1. Revisão de Literatura e contactos exploratórios
2. Contactos com entidades e especialistas
3. Identificação e análise de boas práticas interna-
cionais
4.Concepção global do sistema
5. Concepção da ferramenta de análise
6.Trabalhos de Campo em Cascais
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Parte I

Introdução
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1. Acessibilidade e Turismo Acessível Vale a pena abordar em maior detalhe, ainda que
A definição de um sistema para a análise e divul- brevemente, alguns pontos desta definição, para me-
gação das condições de acessibilidade em locais de lhor compreender o seu alcance.
interesse turístico tem de assentar numa clara com-
preensão: > “…a capacidade do meio…”
> Dos conceitos de Acessibilidade e de Turismo No âmbito do Turismo, por “meio” deve enten-
Acessível; der-se a oferta no seu conjunto, i.e., o edificado
> Do segmento de mercado (que tem tendência (edifícios e espaços exteriores) e os bens e servi-
para se tornar cada vez menos um nicho e cada ços destinados ao usufruto do turista (incluindo o
vez mais o mainstream); atendimento).
> Do enquadramento legislativo da acessibilidade Por princípio, é o meio que se deve adequar ao
a nível nacional; consumidor, indo ao encontro das suas necessida-
> Da experiência existente, no nosso País, em ma- des (através da adaptação dos espaços e da organi-
téria de turismo acessível, nomeadamente no zação dos serviços). Numa óptica de qualidade e sa-
que toca a sistemas de análise e divulgação. tisfação não é razoável esperar o inverso, i.e., que
De todas estas vertentes (conceito, mercado, lei e seja ao consumidor que cabe submeter-se às limita-
experiência acumulada) decorrem implicações im- ções impostas pelo meio, quando estas limitações
portantes para o sistema. impedem ou prejudicam a fruição da oferta turística.
É por isso que a acessibilidade é uma “capaci-
1.1 O Conceito dade do meio” (e não da pessoa), e constitui um
critério objectivo de qualidade de edificações e
“É um lugar comum referir que, na prestação serviços.
de serviços turísticos, todos os clientes são
especiais. Todos têm uma individualidade, > “…uma igual oportunidade de uso…”
todos têm gostos e exigências próprias”. A acessibilidade é uma condição para a igual-
Jorge Umbelino1 dade de oportunidades: uma barreira à acessibili-
dade pode criar desvantagens no acesso a (e no
A Acessibilidade pode ser definida como a capaci- usufruto de) espaços, bens e serviços.
dade do meio de proporcionar a todos uma igual Além disso, é importante notar que é a oportu-
oportunidade de uso, de uma forma directa, ime- nidade de usar que está em causa, e não apenas o
diata, permanente e o mais autónoma possível. uso. A utilidade futura de uma adaptação não
deve, por isso, ser avaliada com base no uso ac-
tual (ou subsequente) por pessoas com deficiên-
1 Doutorado em Geografia e Planeamento Regional (Universidade
Nova de Lisboa), in Revista Turismo & Desenvolvimento, n.º 11, 2009. cia, mas sim pelas oportunidades que a sua con-
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cretização proporcionará, tanto ao consumidor para o prestador de serviço. Quando se prejudica a


(que passa a poder visitar o local ou adquirir o ser- autonomia, gera-se uma dependência, e a depen-
viço, se quiser) como para a oferta (que agora dência gera, por sua vez, uma obrigação de prestar
pode tentar captar, satisfazer e fidelizar novos vi- apoio – essa obrigação implica, como é natural,
sitantes, alargando a sua base de clientes). custos acrescidos para o prestador de serviço.
Até porque, como é óbvio, só se criam hábitos Não será demais sublinhar a importância da relação
de consumo quando o consumo é possível… entre o meio físico e os procedimentos definidos para a
sua gestão e para a prestação dos serviços aí sedeados.
> “…uso de uma forma directa, imediata e per- Em primeiro lugar, porque não basta que a edifica-
manente…” ção cumpra normas construtivas de acessibilidade,
O uso directo dispensa intermediários. O uso se a forma como os espaços são geridos e os serviços
imediato evita tempos de espera. O uso perma- prestados não respeita as necessidades do consumi-
nente pressupõe que a acessibilidade existe em dor e o seu direito à diferença (por ex., ao nível da co-
todo o horário de funcionamento. municação), ou se não lhe transmite um claro senti-
Caso deseje utilizar, por exemplo, as instala- mento de boas vindas (por ex., ao nível da atitude e
ções sanitárias acessíveis, o consumidor não deve da preparação de quem atende), ou chega, mesmo, a
ser forçado a recorrer a terceiros (para pedir a perverter as condições criadas ao nível do espaço fí-
abertura da porta trancada), não deve obrigado a sico (por ex., pelo uso indevido de uma instalação sa-
esperar pela “chegada” da chave dessa porta, nitária acessível como espaço de arrumo).
nem deve ser sujeito a horários especiais (a insta- Em segundo lugar, porque pouco se pode “reme-
lação sanitária acessível não pode fechar mais diar” com o cuidado no atendimento se as barreiras
cedo do que as restantes, por exemplo). no meio físico se multiplicarem.
A acessibilidade de um edifício ou serviço resulta
> “…da forma mais autónoma possível.” da conjugação destes factores, sendo tão importante
A autonomia é uma questão central para a a adequação do meio edificado como a sua gestão e
acessibilidade. O consumidor de um espaço ou funcionamento. O que torna igualmente indispensá-
serviço deve poder utilizar, na maior medida do veis, para a promoção da acessibilidade, a interven-
possível, as competências de que dispõe. Por ou- ção em obra, a definição de procedimentos de gestão
tras palavras, o meio não deve obrigar o consumi- e manutenção, e a formação dos funcionários que de
dor a pedir auxílio para realizar tarefas que, em alguma forma interagem com os clientes com este
condições adequadas, este pode e quer realizar tipo de necessidades.
sozinho (higiene pessoal, por exemplo). Afinal, para a qualidade da experiência, é importante
A autonomia é um dos principais benefícios da “poder entrar”, mas é igualmente importante “ser bem
acessibilidade, tanto para o consumidor, como servido”, e sentir uma ambiência de conforto e confiança.

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Turismo Acessível limitações, a que podem corresponder necessidades e


A Visit Britain (entidade proprietária, no Reino exigências diferentes de outros segmentos da procura.3
Unido, de um sistema homólogo ao proposto no pre- O Código de Boa Conduta da Rede Europeia para o
sente estudo, vide o capítulo 3.1) define o Turismo Turismo Acessível4 sistematiza, num compromisso de
Acessível como “a facilidade com que todos podem oito pontos, boa parte das ideias expressas até aqui:
usufruir de experiências turísticas.”
Esta definição, bastante abrangente, é o culminar Código de Boa Conduta da ENAT5
da evolução de um conceito cunhado em 1980, pela Or- O nosso compromisso:
ganização Mundial do Turismo, que na sua Declaração 1. Reconhecimento de Igualdade de Direitos:
de Manila reconheceu o turismo como um direito fun- Reconhecemos que todas as pessoas têm o
damental e um veículo chave para o desenvolvimento direito de usufruir do turismo, quaisquer que
humano, recomendou aos estados membro a regula- sejam as suas condições ou capacidades, e
mentação dos serviços turísticos, e sublinhou os as- trabalhamos para promover este direito nas
pectos mais importantes da acessibilidade ao turismo. nossas actividades.
No seu início, o turismo acessível foi concebido 2. Atenção Pessoal: Acolhemos bem todos os
como aquele que garante o usufruto do turismo por clientes e fazemos da resposta às suas ne-
pessoas que apresentem algum tipo de deficiência ou cessidades a nossa prioridade.
incapacidade física, sensorial ou psíquica. 3. Eliminação e Prevenção de Barreiras ao Aces-
No final dos anos oitenta surge outro termo para so: Estamos empenhados em planear e con-
fazer referência ao turismo para pessoas com defi- cretizar melhorias nas nossas infra-estrutu-
ciência ou incapacidade, o turismo para todos, defi- ras, serviços, produtos e informação, usando
nido como o conjunto de actividades orientadas para uma abordagem de “design para todos”, de
o turismo e lazer a que podem aceder todas as pes- forma a remover ou minimizar as barreiras
soas, independentemente do seu grau de capacidade ao acesso e a contribuir para um turismo
ou incapacidade.2 sustentável e acessível para todos.
Naturalmente, determinadas características do con- 4.Aperfeiçoar os nossos conhecimentos, apti-
sumidor podem gerar algumas necessidades ou desejos dões e competências: Seguimos boas práti-
diferenciados. Ambos os conceitos reconhecem que, cas e orientações fornecidas pela ENAT para
para além de condições básicas de igualdade, pode ser o turismo acessível, e estamos empenhados
necessário, complementarmente, proporcionar uma
3 Eugénia Lima Devile (2009): “O Desenvolvimento do Turismo
oferta de serviços e actividades orientada para os gostos Acessível: dos Argumentos Sociais aos Argumentos de Mercado”, in
e preferências de pessoas que tenham um conjunto de Revista Turismo & Desenvolvimento, n.º 11
4 ENAT – European Network for Accesible Tourism
2 Trinidad Domínguez Vila, “La conceptualización y las oportunidades (www.accessibletourism.org)
del nicho de mercado del Turismo Accesible”, Universidade de Vigo. 5 Versão traduzida e adaptada
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numa formação contínua do nosso pessoal Um aspecto importante a reter para a compreensão
que se baseia no respeito pela diversidade do turismo acessível, por isso, é que não é o rendimento
humana e na tomada de consciência das que define este segmento de mercado, mas as necessi-
questões colocadas pela deficiência, assegu- dades decorrentes da relação com o meio. Como vere-
rando que todos os nossos clientes são bem mos no capítulo seguinte, o rendimento disponível não
acolhidos e servidos apropriadamente. é um problema para muitos destes consumidores.
5. Monitorização: A nossa organização asse- Em todo o caso, o presente estudo não tem por
gura que os serviços prestados ao cliente missão consolidar uma definição de turismo acessí-
são monitorizados e que o acesso é melho- vel. Como se referiu antes, o objectivo é conceber um
rado tanto quanto possível, dentro das nos- sistema de análise e divulgação das condições de
sas possibilidades financeiras. acessibilidade em locais de interesse turístico.
6.Os nossos fornecedores: Sempre que possí- O enfoque principal, por isso, será posto no uni-
vel, trabalhamos com fornecedores que tam- verso de consumidores que valorizam esta informa-
bém reconhecem e respeitam os princípios ção, e que a usam na tomada de decisão relativa-
contidos no Código de Boa Conduta da ENAT. mente à escolha do destino e à preparação da deslo-
7. Tratamento de Queixas: A nossa organização cação e da estadia.
disponibiliza aos clientes um procedimento À partida, este universo inclui os (potenciais) tu-
para apresentação de queixas, para que estes ristas que procuram acessibilidade, ou porque têm li-
possam dar conta da sua possível insatisfa- mitações pessoais (ao nível motor, sensorial ou
ção com a nossa publicidade, informação, ins- outro), ou porque acompanham pessoas (familiares
talações ou serviços. Todas as queixas são ou amigos) com essas limitações.
tratadas de forma imediata e completa. Parte destes consumidores não procura, em rigor,
8.Responsabilidade da Gerência: Consideramos uma oferta turística completamente acessível, mas
o bom acesso para todos os visitantes como sim uma oferta adequada às suas necessidades pes-
parte da nossa Responsabilidade Social mais soais e específicas.
ampla. A nossa equipa de gestão inclui uma
pessoa que é responsável pelas questões liga- Locais de interesse turístico
das à acessibilidade e que pode ser contac- O destino turístico integra, como se sabe, diver-
tada pelo nosso pessoal e pelos clientes. sas componentes. A qualidade oferecida pelo destino,
no seu conjunto, depende da qualidade dessas com-
Deve ser feita, neste ponto, uma distinção relati- ponentes. A qualidade da experiência vivida pelo tu-
vamente ao conceito de turismo social, que parte da rista depende ainda, de todos os serviços e infra-es-
limitação económica do consumidor, e não da des- truturas que tornaram essa experiência possível,
vantagem gerada pelas barreiras à acessibilidade. desde o booking à deslocação.

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O mesmo se passa em relação à acessibilidade do O turismo representa actualmente cerca de 11%


destino, que depende das condições de acessibili- do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, e emprega
dade existentes: mais de 500.000 pessoas.
> Nas diversas componentes de que é feito o des- Um dos objectivos estabelecidos para a Política Na-
tino, incluindo o alojamento e os locais visitar cional de Turismo7 é a promoção da acessibilidade às
(restaurantes, museus, parques, praias, etc.), actividades e aos empreendimentos turísticos de pes-
bem como os serviços aí disponíveis; soas com deficiência ou com mobilidade condicionada.
> Nas infra-estruturas que suportam a desloca- O destaque conferido a este objectivo, num diploma
ção até ao destino (estações de comboio, par- que estabelece as bases das políticas públicas de tu-
ques de estacionamento, etc.); rismo, concretiza uma das tarefas fundamentais do Es-
> Nos meios através dos quais é disponibilizada, tado,8 e resulta, certamente, do reconhecimento do Tu-
ao turista que pretende programar a visita, in- rismo Acessível como um segmento de mercado com
formação sobre o destino (atracções turísticas uma crescente importância estratégica para a competi-
existentes, condições de acessibilidade, trans- tividade e sustentabilidade da oferta turística nacional.
portes e horários, preços, etc.). Também a nível internacional se deu esta tomada
No âmbito do presente estudo, a expressão “lo- de consciência. Sinal disso, em vários países desen-
cais de interesse turístico” designa todos os locais volvidos, é a proliferação de estudos de mercado, o
(físicos) que serão potencialmente utilizados pelo tu- investimento na promoção da acessibilidade ao nível
rista para acesso e fruição de um destino. de destinos e serviços, e a implementação de siste-
mas de informação semelhantes ao que se propõe no
1.2 O Mercado presente estudo.

“A investigação revelou que a maioria das De onde vem esta importância?


necessidades, preferências, requisitos e Em primeiro lugar, de algo que se abordou acima:
expectativas de qualidade são semelhantes às a acessibilidade é um critério objectivo de qualidade,
da população sem deficiência. que se traduz em funcionalidade, segurança e con-
As diferenças existem apenas na duração da forto para todos os utilizadores.
viagem e nas despesas realizadas – as pessoas Em segundo lugar, da dimensão considerável (e
com deficiência ficam mais tempo e têm mais crescente), das características apetecíveis e das re-
rendimento disponível para os períodos de férias.” ceitas geradas por um segmento de mercado que pre-
OSSATE6 cisa de acessibilidade e que a sabe valorizar.

7 As bases da Política Nacional de Turismo são estabelecidas pelo


6 Citação resumida, in OSSATE, “Accessibility Market and Stakeholder Decreto-Lei n.º 191/2009, de 17 de Agosto.
Analysis”, 2005 8 Constituição da República Portuguesa, Art.º 9.º, alínea d)
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Em terceiro lugar, de uma constatação fundamental: para quem a acessibilidade, sendo necessária, será
ao nível das infra-estruturas, na esmagadora maioria um factor de preferência sempre que estiver presente.
dos casos, o que está em causa não é a criação de nova Devem incluir-se neste grupo:
oferta, mas a rentabilização da oferta existente. Estes > Os acompanhantes (familiares ou amigos com
consumidores não são um grupo alvo distinto, porque quem se passa férias) que são chamados a suprir
querem exactamente o que os restantes consumidores as dificuldades levantadas pelas barreiras exis-
querem – por outras palavras,9 “viajam porque estão de tentes, e que muitas vezes participam na escolha
férias, e não porque tenham algum problema médico”. A dos destinos e na definição dos programas, e que
questão que se coloca é, portanto, a de eliminar as bar- também geram receita (por sinal, considerável);
reiras que impedem estes consumidores… de consumir. > As crianças, para quem a acessibilidade se tra-
duz sobretudo em segurança e autonomia (espe-
“Quem” é o segmento? cialmente desde o momento em que começam a
É um erro pensar que só as pessoas com deficiên- deslocar-se sozinhas e a realizar algumas tarefas
cia beneficiam da Acessibilidade. Seria o mesmo que sem ajuda), e os familiares que as acompanham,
dizer que só os turistas em férias de Verão geram re- que têm de efectuar vigilância e apoiar a circula-
ceita para os hotéis existentes. ção, e que precisam de condições especiais para
Conforme se verá adiante, a acessibilidade é obri- algumas tarefas (por ex., um espaço recatado para
gatória por lei. O investimento na adaptação das infra- amamentar, um suporte para mudar fraldas, etc.);
estruturas e dos serviços terá de ser efectuado. Não se > As pessoas com deficiência e incapacidade, em
trata, portanto, de escolher entre investir ou não, mas geral, incluindo muitos idosos, universo no qual há
de saber rentabilizar o investimento a que a lei obriga. maior incidência de deficiências e incapacidade.
Deve evitar-se, por isso, ver a acessibilidade como Este último grupo é bastante diversificado. Impor-
um encargo justificado por poucos, mas sim como um ta evitar os lugares-comuns e vê-lo em todas as suas
investimento que será rentabilizado por uma fatia facetas:
crescente do mercado – e perguntar como, e junto de > Existem vários tipos de deficiência e incapacidade:
quem, se vai promover este factor de qualidade. ao nível motor, visual, auditivo e mental, mas não
Quem procura a oferta turística acessível? só (muitas limitações decorrem de condições de
Resposta: os turistas para quem o conforto, a se- saúde crónicas, como problemas cardíacos ou res-
gurança, a autonomia e, em termos globais, a quali- piratórios, diabetes, obesidade, alergias, etc.);
dade da experiência, dependem da acessibilidade. Por > Mesmo dentro de cada tipo de deficiência, a di-
outras palavras, os turistas para quem a acessibili- versidade persiste: diferentes graus, diferentes
dade é uma condição indispensável ao consumo, ou evoluções, diferentes necessidades;
> As limitações impostas pela deficiência variam
9 Kai Pagenkopf, intervenção na Conferência “Access and the City”,
Dublin, Novembro de 2008. de pessoa para pessoa, e as maiores são muitas

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vezes impostas pelo meio físico e social, e não diversos tipos de deficiência ou incapacidade,14 e que
pela condição fisiológica; é comprovada por vários estudos. Muitas pessoas
> Nem todas as pessoas com deficiência se “classifi- idosas podem não se ver a si mesmas como pessoas
cam” a si próprias como tal, mas todas têm a noção com deficiência, e podem até não o evidenciar (ter
das suas necessidades na interacção com o meio. uma “deficiência escondida”), mas o facto é que esta
relação dá origem a necessidades incontornáveis em
Envelhecimento, um factor chave matéria de acessibilidade.
A população idosa representa um segmento fun-
damental para o Turismo Acessível. Gráfico 1
O envelhecimento demográfico nos países desen- Pessoas com alguma deficiência (‰) – por idades
volvidos está a gerar uma população mais idosa em 200

termos relativos e em termos absolutos – há cada


vez mais idosos, que representam uma fatia cada vez 150

maior da população. Com a entrada na terceira idade


da geração baby-boom,10 que tem um nível de rendi- 100

mentos, hábitos e expectativas diferentes da geração


anterior, este segmento vai gradualmente passar de 50

nicho de mercado a mainstream.11


No Japão,12 por exemplo, o número de viajantes 0
0-2 3-5 6-15 16-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65-74 >75 Total Nac.

para o exterior com mais de 60 anos passou de mais


fonte: Inquérito Nacional às Incapacidades, Deficiências e
de 1,3 milhões em 1993 para mais de 2,3 milhões em Desvantagens, SNRIPD, 1996
2001, registando no espaço de oito anos um cresci- Deficiências Físicas Deficiências Sensoriais

mento de 180%.
O envelhecimento gera uma série de diferentes Nos EUA, por exemplo, estima-se que a deficiência
necessidades de acessibilidade, e responder a essas afecte mais de um terço da população com 55 a 64
necessidades de forma eficaz e sensível é um impera- anos de idade, atingindo quase dois terços (64%) da
tivo para os operadores turísticos.13 população com 75 anos de idade ou mais.
Essas necessidades decorrem da estreita relação
que existe entre o aumento da idade e a incidência de 14 “A percentagem de pessoas com deficiências e incapacidades cresce
de modo notório dos mais jovens para os que têm mais idade,
10 Expressão utilizada para designar a geração nascida logo após a atingindo o máximo no escalão dos que têm entre 65 e 70 anos (41%)
Segunda Guerra Mundial nos países desenvolvidos, muito numerosa. (…) os que têm idades entre 50 e 70 anos correspondem a 78,6% do
11 OSSATE cita Hompel, 2003. total [da população com deficiência e incapacidade estimada]” in CRPG
12 “Japan's ‘Silver’ Market”, U.S. Foreign Commercial Service e U.S. & ISCTE (2007): “Elementos de Caracterização das Pessoas com
Department Of State, 2005 Deficiências e Incapacidades em Portugal”, edição do Centro de
12 OSSATE, op. cit. Reabilitação Profissional de Gaia.
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Gráfico 2
Deficiência em função da Idade
9,5% 10% 14,4% 21,2% 34% 42,3% 64%

18-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65-74 75+

fonte: “US Census Bureau Report on Americans with Disabilities: 1994-95”, citado pelo Trace R&D Center, Universidade do Wisconsin (2001)

Conjugada com o envelhecimento da população, rações, porque as metodologias aplicadas na recolha de


esta tendência terá um impacto profundo, em termos dados e os conceitos utilizados para considerar que
sociais e económicos. uma pessoa tem uma deficiência não são uniformes.
Em 2050, por exemplo, e de acordo com as projec- Na Europa:
ções demográficas das Nações Unidas para o nosso > Mais de 45 milhões de pessoas com idades entre
País, mais de um terço da população portuguesa terá os 16 e os 64 anos (uma em cada seis) têm pro-
mais de 60 anos, e um em cada quatro portugueses blemas de saúde de longa duração ou qualquer
(26%) terá 80 anos ou mais. deficiência, valor que nos jovens (16 aos 25
À medida que a população tiver mais idosos, em anos) se situa perto dos 7,3%;
termos relativos e absolutos, maior será, inevitavel- > As pessoas com deficiência representam, pelo
mente, o número de pessoas com deficiência, tam- menos, 16% de toda a população laboralmente
bém em termos relativos e absolutos. activa no conjunto dos Estados Membros;
A oferta acessível será, por isso, cada vez mais ne- > Embora as taxas de emprego na população com
cessária, e cada vez mais rentável. E os operadores deficiência sejam claramente inferiores às da
que ignorarem este mercado estarão a desperdiçar população em geral, o facto é que cerca de 50%
uma oportunidade única. dos europeus com deficiência em idade activa
têm emprego (a ideia de que a generalidade da
O mercado europeu população com deficiência não tem emprego
Estima-se que no mundo existam entre 600 a 900 nem poder de compra é, por isso, enganadora).
milhões de pessoas com deficiência. O estudo realizado pelo Projecto OSSATE para de-
Os números variam entre países, tanto na percenta- terminar a dimensão do mercado europeu foca todos
gem face à totalidade da população como na sua distri- os tipos de deficiência, bem como todos os outros
buição pelos diferentes tipos de deficiência. É difícil es- grupos de pessoas que têm requisitos ao nível da
timar com exactidão este universo ou efectuar compa- acessibilidade:

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> Estima a procura geral da acessibilidade em maior tendência para viajar com familiares ou
127,5 milhões de europeus (número calculado amigos);
com base em 7 segmentos de deficiência e na > Revela que os europeus com deficiência gozam
população idosa), valor que representa mais de em média mais do que um período de férias por
27% da população europeia; ano, e viajariam ainda mais se houvesse mais
> Refere, com base num estudo da Deloitte & Tou- destinos acessíveis e mais informação disponí-
che,15 que cerca de 70% da população que pre- vel sobre acessibilidade.
cisa de acessibilidade tem meios financeiros e Com base nestes dados, estima-se que as poten-
condições de saúde para viajar; ciais receitas do mercado de viagens e turismo deve-
> Recorda que, em média, 59% das famílias euro- rão oscilar entre os 83 biliões e os 166 biliões de Euros.
peias tem um membro com deficiência, e 38% Com estas receitas, as vendas no sector turístico
dos europeus tem um amigo com deficiência;16 europeu poderiam crescer dos 249,2 biliões de Euros

Quadro 1
Potenciais Receitas do Mercado de Viagens e Turismo
Procura geral 70% com saúde Efeito Acompanhantes Total do potencial Despesa média Potenciais
da acessibilidade e meios multiplicador (familiares mercado por pessoa receitas
financeiros para familiares e amigos) de viagens e por viagem* turísticas
para viajar e amigos
0,5 44,7 milhões 134 milhões €83 biliões
127,5 milhões 89,3 milhões €620
2 178,6 milhões 267,9 milhões €166 biliões

*A despesa média por pessoa e por viagem no espaço da União Europeia foi de € 620 em 2003 (Eurostat, 2005). fonte: OSSATE

> Defende que para o cálculo das potenciais recei- (registados em 2003) para mais de 300 ou 400 biliões
tas é preciso considerar, para além da pessoa de Euros, respectivamente, e o número de chegadas
com deficiência, o valor multiplicador dos cresceria de 401,5 milhões (em 2005) para mais de
acompanhantes, que deve17 ser estabelecido em 500 milhões.
2 (uma vez que os europeus com deficiência têm Sublinha-se, por fim, que na realidade os valores
serão certamente superiores, porque para estes cál-
15 Dados publicados no estudo “Tourism for All in Europe”, citado pelo
OSSATE com base em van Horn, 2002.
culos só entraram em linha de conta as férias de eu-
16 Eurostat, 2005, citado por OSSATE ropeus na Europa, não sendo consideradas as férias
17 Este valor é estabelecido com base nos dados apurados pelo
de europeus fora da Europa, nem as férias na Europa
Projecto OSSATE, sendo consideravelmente superior a uma primeira
estimativa (de 2002) da Deloitte & Touche, de 0,5 de não-europeus.
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“Pistas” para o mercado português Relativamente aos visitantes estrangeiros, os


Em Portugal estima-se que os portugueses com dados disponíveis a nível nacional e da região de Lis-
alguma deficiência ou incapacidade representem boa, por seu lado, evidenciam a relevância para o
8,2% a 9,2% da população.18 nosso mercado dos visitantes com mais de 65 anos
Estes valores merecem uma reflexão sobre as po- de idade, um grupo que irá crescer por via do envelhe-
tencialidades do mercado interno, especialmente cimento demográfico nos mercados emissores.
atendendo ao acentuado envelhecimento da popula-
Gráfico 4
ção portuguesa, às mudanças que têm vindo a ocor-
Situação perante o Trabalho dos Estrangeiros
rer na forma como os portugueses com 65 anos ou
que visitam Portugal (reformados/activos/outros)
mais hoje ocupam os seus tempos livres e ao cresci-
País 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
mento do turismo sénior (vide o sucesso dos progra-
Espanha
mas da Fundação INATEL, por ex.).
Reino Unido
Gráfico 3 Alemanha
População com mais de 65 anos França
(Percentagem do total, 2000-2025) Holanda
País 2000 2025 EUA
Espanha* 16,7 21,3 Outros
Alemanha 16,2 23,1
fonte: Deloitte & Touche (adaptado)19
Reino Unido 15,7 21,2
reformados activos outros
França 21,4 28,4
Holanda 13,6 21,7 A análise da situação perante o trabalho dos estran-
Itália 18,1 25,4 geiros que visitam Portugal é igualmente reveladora:
Média 17 24 Mais de 40% dos norte-americanos que visitam
fonte: Turismo de Portugal, Análise dos Mercados Emissores
Portugal são reformados, grupo que representa mais
* Espanha: United Nations Population Division, World Population de um terço dos visitantes do Reino Unido, Alema-
Prospects nha, França e Holanda.
Os dados recolhidos pelo Observatório de Turismo
de Lisboa,20 para a cidade e região, apontam no mesmo
sentido:
18 Existe alguma discrepância entre os resultados dos estudos levados
a cabo nesta matéria, nomeadamente pelo SNRIPD (1996), pelo INE 19 “Guias Técnicos de Investimento em Turismo: O Plano de Negócios”,
(Censos 2001) e pelo Centro de Reabilitação Profissional de Gaia (2008). Deloitte & Touche, Auditores e Consultores, Lda., Ed. Instituto de
Estas discrepâncias são explicadas pelas diferenças ao nível das Financiamento e Apoio ao Turismo, 2002
metodologias e, no caso do Censos 2001, pela pouca fiabilidade do 20 “Inquérito ao Grau de Satisfação na Região de Lisboa: Relatório de
recurso ao self-reporting. 2008”, Observatório de Turismo de Lisboa

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29

> Um terço (33,1%) dos visitantes tem mais de 55 Relativamente à deficiência entre os visitantes
anos de idade; estrangeiros a nível nacional, não foram apurados es-
> A percentagem de visitantes com 65 ou mais tudos com dados quantitativos.
anos de idade está muito próxima da percenta- O recurso aos dados disponibilizados pela ANA
gem de visitantes com 25 a 34 anos; Aeroportos de Portugal SA, todavia, permite vislum-
> A idade média dos visitantes é superior a 46 brar esta realidade.
anos em todas as nacionalidades (com excepção Os dados referem-se ao número de assistências
da brasileira) sendo superior a 50 anos nos visi- prestadas a passageiros com incapacidade ou mobili-
tantes da Escandinávia, EUA, Áustria e Suíça. dade reduzida nos aeroportos do Continente pelo Ser-
viço MyWay, da ANA Aeroportos de Portugal, SA.
Quadro 2
Este tipo de serviço é exigido em todos os aeropor-
Lisboa: Idade dos Visitantes em 2008 (%)
tos europeus, em resultado do Regulamento do Parla-
Idade Região Cidade
mento Europeu e do Conselho sobre os direitos das
65 ou mais 18,7 17,6
pessoas com incapacidade ou mobilidade reduzida no
55 a 64 14,4 13,6
transporte aéreo,22 nos termos do qual compete às
45 a 54 25,8 26,1
entidades gestoras dos aeroportos assegurar a assis-
35 a 44 13,4 13,6
tência a estes passageiros (circulação no terminal,
25 a 34 18,0 19,3
entrada e saída dos aviões, etc.) sempre que as com-
12 a 24 9,1 9,1
panhias áreas, a pedido do passageiro, o solicitem.
fonte: Observatório de Turismo de Lisboa (2008)
Os números foram apurados no período de 1 de
Outubro de 2008 a 31 de Julho de 2009, nos aeroportos
geridos pela ANA no Continente (Lisboa, Porto e Faro).
Um inquérito aos passageiros internacionais de A análise destes dados requer alguma precaução,
cruzeiro21 que aportaram em Lisboa entre Maio e Se- uma vez que nem todos os passageiros com deficiên-
tembro de 2008 (na época alta, portanto) aponta para cia e incapacidade requerem este serviço (o número
uma idade média superior (54,3 anos) e para uma pro- de passageiros com deficiência ou incapacidade será,
porção semelhante de reformados (34,7%). por isso, certamente maior).
Revela ainda que, no seu conjunto, quase todos Os dados são reveladores:
viajam acompanhados (99,5%), que 75,2% possui pelo > Em 10 meses foram prestadas, no total, 74.437
menos um grau universitário, e que a despesa diária assistências;
individual na cidade (média por passageiro) é de > Considerando que muito poucos passageiros as-
€43,63 Euros. sistidos se deslocaram entre aeroportos do con-
21 “Inquérito a Passageiros Internacionais de Cruzeiro no Porto de
Lisboa: Relatório de 2008”, Observatório de Turismo de Lisboa 22 Regulamento (CE) n.º 1107/2006, de 5 de Julho de 2006
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tinente, e que portanto as assistências nos três Quadro 3


aeroportos foram prestadas a passageiros dife- Serviço MyWay – Assistências Efectuadas
rentes (note-se que não se incluem os números (Outubro a Julho de 2009)

referentes à Madeira e Açores), e se, prosse- Tipo de Assistência Lisboa Porto Faro
guindo o exercício, se considerar que cada pas- WCHS 17.402 7.169 10.583
sageiro representa duas assistências (chegada WCHR 10.335 2.916 7.640
e partida), pode estimar-se que foram assisti- WCHC 4.823 1.948 2.169
dos 37.218 passageiros; MAAS 2.828 1.241 354
> Não atendendo aos possíveis picos nas épocas WCMP 1.047 1.202 193
altas,23 o número médio de assistências no con- BLND 933 233 152
junto dos três aeroportos será de 3.721 por mês, DPNA 267 91 53
e de 244 por dia. DEAF 254 83 42
WCBD 252 45 35
O mercado do Reino Unido STCR 58 17 25
Dados recentemente publicados pelo Governo In- WCBW 41 4 2
glês, no âmbito da preparação dos Jogos Olímpicos de Total 38.240 14.949 21.248
2012, chamam a atenção dos operadores para os tu-
fonte: ANA Aeroportos de Portugal, SA (8SET2009)
ristas que precisam de acessibilidade. Legenda:
Embora esses dados digam respeito, sobretudo, WCHR Passageiro consegue subir e descer escadas, necessita de
cadeira de rodas de/para o terminal
ao mercado interno, atendendo à importância do WCHS Passageiro não consegue subir/descer escadas, necessita de
Reino Unido como mercado emissor para Portugal, cadeira de rodas de/para o terminal
WCHC Passageiro com imobilidade parcial ou total e necessita de
vale a pena referi-los: cadeira de cabine
> Existem mais de 11 milhões de pessoas com de- WCBD Passageiro com cadeira própria de bateria seca)
ficiência ou incapacidade em Inglaterra (quase WCMP Passageiro com cadeira própria manual)
WCHP Passageiro com imobilidade dos membros inferiores
um quinto da população); necessita de cadeira de cabine).
> Actualmente, 20 milhões de britânicos têm BLND Passageiro com deficiência visual
DEAF Passageiro com deficiência auditiva
mais de 50 anos, e estima-se que em 2025 mais DPNA Passageiro com deficiência de ordem intelectual
de um terço da população terá mais de 55 anos MAAS Passageiro necessita de apoio não especificado
STRC Passageiro em maca
de idade; WCBW Passageiro em cadeira de rodas própria de bateria de gel
> O número de viajantes com mais de 85 anos tem
vindo a aumentar, e os avós que passam férias com
os netos são um mercado em franco crescimento; > No primeiro semestre de 2009, 12% de todas as
viagens domésticas com pernoita foram feitas
23 Dados não disponíveis por pessoas com necessidades em matéria de

30
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31

Quadro 4
> As pessoas com deficiência ou incapacidade
Projecções Demográficas para a População do Reino
têm tendência a tirar holiday breaks mais longos
Unido em 2028
do que a média (4 noites, comparando com uma
2018 2028
Crescimento Crescimento estadia média de 3 noites), e por isso a gastar
ao longo dos ao longo dos mais dinheiro por viagem (£216, comparando
próximos 10 anos próximos 10 anos
com uma média de £197, uma diferença de
Maiores de 50 4,1 milhões (+ 20%) 6,7 milhões (+33%)
quase 10%);
Maiores de 65 2,6 milhões (+27%) 5,1 milhões (+53%)
> Estes turistas são frequentemente acompanha-
Maiores de 80 788.000 (+29%) 2,3 milhões (+85%)
dos por cuidadores, familiares ou amigos, mais
População total 5,3 milhões (+9%) 9,6 milhões (+16%)
de metade viaja com companhia, e 20% com
fonte: “Older People in the UK, Key facts and statistics 2008”, Age
uma criança.
Concern.
nota: as projecções de crescimento e as percentagens baseiam-se O mercado alemão
nos valores demográficos de 2006
O impulso económico do turismo acessível na Ale-
manha foi objecto de um estudo24 encomendado pelo
acessibilidade, ou por quem as acompanhava, o Ministério Federal da Economia e Tecnologia e publi-
que representa um total de 5,7 milhões de via- cado em 2004, em que se analisaram os comporta-
gens, e o contributo para a economia de quase mentos e despesas dos turistas alemães no território
mil milhões de Libras; alemão.
A recolha de novos dados em 200625 permite com-
Quadro 5
parações e revela tendências:
Viagens Domésticas em Inglaterra
> Ao contrário da população em geral (em que se
(Janeiro a Junho de 2009)
registou uma diminuição do número de via-
Número total de viagens domésticas 46,15 milhões
gens), houve mais pessoas a realizar viagens
Viagens com alguém com deficiência 12% das viagens
entre a população com limitações;
Número total de noites gastas nas viagens 133,54 milhões
> Enquanto o número médio de viagens com mais
Noites gastas em viagens com alguém
com deficiência 15% das noites de 5 dias de duração se manteve igual entre a
Despesa total em viagens domésticas £7.741,33 milhões população em geral, registou-se um aumento
Despesa total em viagens com alguém entre a população com limitações;
com deficiência £923,23 milhões

24 “Economic Impulses of Accessible Tourism for All: Summary of


fonte: UK Tourism Survey
Results”, Federal Ministry of Economics and Technology, 2004
nota: dados relativos ao primeiro semestre, apenas. Os números
25 Dados apresentados por Kai Pagenkopf, membro da equipa que
relativos ao ano completo poderão vir a duplicar estes valores.
realizou o estudo, numa intervenção realizada na Conferência “Access
and the City”, Dublin, Novembro de 2008.
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Quadro 8
> Entre as pessoas com limitações há uma per-
Destino (%)28
centagem consideravelmente maior que ali-
População Total Pessoas com
menta o mercado interno, viajando dentro do limitações
seu próprio País. na mobilidade
ou actividades
Quadro 6 Nacional 28,4 42,9
Percentagem da população que realiza viagens > 5 dias26 Estrangeiro 71,6 57,1
População Total Pessoas com Diferença -43,2 -14,2
limitações
na mobilidade
nota: percentagem calculada entre a população que realiza viagens
ou actividades
com duração superior a 5 dias.
2002 75,3 54,3
2006 74,7 58,3
Variação -0,6 +4,0
> O estrangeiro já foi destino preferencial para
17% especificamente devido às condições de
Quadro 7
acessibilidade aí existentes;
Número médio de viagens > 5 dias27 > 48% viajaria com maior frequência se houvesse
População Total Pessoas com
mais serviços acessíveis;
limitações > 60% estaria disponível para pagar mais por ins-
na mobilidade talações mais acessíveis;
ou actividades
2002 1,3 1,3
> Registam uma quebra menos acentuada fora
2006 1,3 1,4
das épocas altas;
Variação – +0,1
> São de uma lealdade aos destinos (retorno)
acima da média;
> Dão importância às férias de saúde e de natu-
Quanto ao comportamento dos turistas alemães reza acima da média.
com deficiência: Relativamente ao impacto económico, o estudo
> A falta de condições de acessibilidade no des- estima ainda o seguinte:
tino e nos meios de transporte já fez com que > As receitas geradas pelos turistas alemães com
37% decidisse não viajar; deficiência dentro da Alemanha (i.e., excluindo
as receitas geradas na Alemanha por turistas de
outras nacionalidades, e as receitas geradas
26 Neumann, P. & P. Reuber (Hrsg.) (2004): “Ökonomische Impulse
eines barrierefreien Tourismus für Alle: Langfassung einer Studie im pelos alemães noutros países) atingem, por
Auftrag des Bundesministeriums für Wirtschaft und Arbeit.” Münster. ano, 2.500 milhões de Euros;
(Münstersche Geographische Arbeiten 47).
27 Idem 28 Idem

32
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33

Quadro 9
O mercado da América do Norte
Impacto Económico (em euros)29
Os norte-americanos com deficiência deverão re-
Turnover Postos de Trabalho full-time
presentar em 2030 cerca de 24% da população dos
Impacto recente 2,5 biliões 65.000
EUA, registando um aumento de 30,9 milhões de indi-
Possível impulso
adicional 4,8 biliões 90.000 víduos relativamente a 1997.
Impacto Um estudo30 sobre o mercado norte-americano pu-
potencial total 7,3 biliões 155.000 blicado em 2005, encomendado pela Open Doors Or-
ganization (uma organização sem fins lucrativos), de-
bruçou-se sobre o comportamento em matéria de via-
> Estas receitas sustentam, directa e indirecta- gens dos adultos norte-americanos com deficiência.31
mente, ao longo da cadeia de serviços, 65.000 O estudo analisou a frequência com que viajam,
postos de trabalho em regime full-time; quanto gastam e quais as fontes de informação a que
> Com um investimento estrategicamente direccio- recorrem para tomar decisões, bem como as barreiras
nado para a promoção da acessibilidade, o im- que encontram nas infra-estruturas e nos serviços
pulso económico para a indústria alemã do tu- que usam em viagem (companhias de aviação, aero-
rismo (actualmente estimado em 2,5 biliões de portos, agências de rent-a-car, hotéis e restaurantes).
Euros) poderia crescer mais 4,8 biliões de Euros, Dos resultados, destaca-se:
até um total de 7,3 biliões de Euros, criando directa > No período de dois anos imediatamente ante-
e indirectamente, ao longo da cadeia de serviços, rior ao inquérito,32 69% dos inquiridos viajou
mais 90.000 postos de trabalho em regime full- pelo menos uma vez, sendo que 20% viajou pelo
time, até um total de 155.000 postos de trabalho. menos 6 vezes;
Estes números poderiam ser bastante maiores: os > Calcula-se33 que esta frequência se traduza em
autores do estudo referem que por motivos metodoló- 20 milhões de viagens de lazer, 3,9 milhões de
gicos não calcularam o impacto de uma série de facto- viagens de negócios e 4,4 milhões de viagens
res: os turistas que se alojam com familiares e amigos que combinam lazer e negócios;
em vez de ficar num hotel, as viagens de um dia (day > No mesmo período, o típico viajante gastou, nas
trips), as reuniões, congressos e outros eventos, as viagens internacionais, quase $1.600 (per capita),
pessoas que acompanham os viajantes com deficiên-
30 “Travelers with Disabilities: the American Market”, estudo realizado
cia (que podem duplicar os valores, porque quase nin- pela Harris Interactive para a Open Doors Organization, 2005
guém viaja sozinho), os visitantes estrangeiros (re- 31 Foi usada uma definição bastante restritiva. A deficiência foi
corde-se que o estudo debruçou-se apenas sobre o definida como “ter cegueira, surdez ou uma condição que
substancialmente limite uma ou mais actividades físicas básicas,
mercado alemão) e o restante público que também como caminhar, subir escadas, alcançar (com as mãos), levantar ou
procura acessibilidade. carregar”.
32 Fevereiro de 2003 a Fevereiro de 2005, portanto
29 Idem 33 Com base nos resultados do inquérito e do US Census 2000
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sendo que 7% dos inquiridos (classificados como > A Internet é um recurso importante para o pla-
“heavy spenders” e correspondentes a mais de 2 neamento das viagens: 51% usa-a para reservar
milhões de adultos) gastou um valor superior; viagens e 43% para verificar se existe resposta
> Estima-se que a despesa global em viagens in- para as necessidades decorrentes da sua defi-
tercontinentais realizada nestes dois anos pelos ciência (destes, 57% para procurar e/ou reservar
turistas norte-americanos com deficiência tenha hotéis acessíveis, e 47% para procurar activida-
atingido os 7 biliões de dólares (contabilizando des, excursões e atracções acessíveis no des-
apenas os turistas com acesso à Internet); tino); estes valores excedem a média registada
> Entre os inquiridos que usam a Internet, 62% já pela Travel Industry Association of America
viajou para outro continente pelo menos uma para a população em geral (40%).
vez na vida, e 44% já visitou a Europa – os qua- Outro estudo,34 realizado para o Ministério do Tu-
tro países mais visitados são a Alemanha (28%), rismo do estado canadiano de Ontário, e publicado
a Inglaterra (26%), a França (25%) e a Itália em 2007, adoptou uma abordagem distinta, definindo
(16%); Portugal (4%) fica atrás de Espanha (9%), como universo de estudo os viajantes que procuram
Irlanda (7%) e Grécia (6%), e à frente da Rússia destinos acessíveis (e não apenas os que têm defi-
(2%) e da República Checa (1%); ciência) e inquirindo canadianos e norte-americanos.
> Apesar do seu valor de mercado, muitos destes Dos resultados, destaca-se:
viajantes ainda são forçados a enfrentar vários > A importância da acessibilidade na escolha do
obstáculos (barreiras físicas ou problemas no destino, tanto para os canadianos como para os
atendimento ou na comunicação), o que acon-
tece a 82% dos que usam aeroportos, 64% dos 34 “A profile of travellers looking for accessible travel destinations: An
Overview of North American Travellers based on the 2006 Travel
que usam restaurantes e 60% dos que pernoi- Activities and Motivations Survey (TAMS)”, Ministry of Tourism, Ontario
tam em hotéis; (Canadá), 2007

Quadro 10
Importância da Acessibilidade na Escolha do Destino
Canadianos Norte-Americanos
O viajante considera a acessibilidade… % Número* % Número*
…muito importante 5,9 1,2 9,2 16,1
…algo importante 15,5 3,2 18,4 32,5
Total País 21,4 4,4 27,6 48,6

*Projecção realizada com base na percentagem (em milhões).


fonte: Ministry of Tourism, Ontário (Canadá), 2007

34
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35

norte-americanos – estima-se que, nos dois paí- 1.3 Enquadramento Jurídico


ses, um total de 53 milhões de pessoas conside-
ram a acessibilidade “muito importante” ou “Separate is not Equal”
“algo importante” nessa escolha; Supremo Tribunal dos EUA35
> Os viajantes que procuram destinos acessíveis
realizam um número médio de viagens muito A promoção da acessibilidade nos locais de inte-
próximo da média dos viajantes em geral; resse turístico constitui um imperativo legal em cada
vez mais países.
Quadro 11
Portugal não é excepção, e com a entrada em vigor
Número Médio de Viagens em 2 Anos (2004 + 2005)
de legislação anti-discriminação e de novas normas téc-
Viajantes Viajantes
em geral que procuram nicas de acessibilidade, o País deu um passo decisivo.
destinos Hoje, a acessibilidade tem de ser assegurada ao
acessíveis
nível das características do espaço físico e da presta-
Canadianos 3,7 3,3
ção do serviço. O objectivo não é o mero cumpri-
Norte-Americanos 3,6 3,2
mento de normas, mas o pleno acesso e usufruto de
fonte: Ministry of Tourism, Ontário (Canadá), 2007
espaços, bens e serviços.
É natural que o incumprimento generalizado de
exigências expressas no passado36 possa suscitar
> Os viajantes que procuram destinos acessíveis algum cepticismo relativamente à aplicabilidade das
participam numa ampla diversidade de activi- exigências actuais, bastante mais extensas.
dades quando viajam, e embora a sua participa- Neste ponto, deve notar-se que ocorreu uma mu-
ção em algumas actividades seja notoriamente dança profunda, a vários níveis, e que a evolução le-
inferior (por ex., caminhadas e ski), ela é seme- gislativa tem consequências não apenas ao nível das
lhante ou maior em metade das actividades ob- exigências, mas também da fiscalização e das possí-
jecto do inquérito – e de facto, das 25 activida- veis consequências do seu incumprimento:
des mais procuradas pelos canadianos que pro- > Existe um entendimento claramente expresso
curam destinos acessíveis, só 4 actividades não pelo legislador de que a acessibilidade é uma
constam da lista de 25 actividades mais procu-
radas pelos viajantes em geral (no caso dos 35 Decisão proferida em 17 de Maio de 1954, no caso Brown v. Board of
EUA, só 3 não constam). Education, que determinou o fim da segregação racial nas escolas
norte-americanas, ao estabelecer que a fruição de um serviço em
espaços forçosamente separados constitui uma prática
discriminatória.
36 Por exemplo, a obrigatoriedade de adaptação do meio edificado
estabelecida pelo Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio ficou
largamente por cumprir, como o próprio legislador reconhece.
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condição para a concretização de direitos cons- Do direito ao interesse público


titucionais e para a igualdade de oportunidades Como exigência legal, a Acessibilidade ainda é um
no acesso a bens e serviços; conceito relativamente recente, pelo menos em Por-
> Verifica-se, no domínio da fiscalização, uma cla- tugal.40
rificação das competências públicas, uma mul- É natural, por isso, que o volume de exigências
tiplicação dos pontos de controlo administra- aplicáveis aos locais de interesse turístico possa, por
tivo, e (o que é muito importante) uma abertura vezes, gerar alguma perplexidade junto dos agentes
inédita ao contributo fiscalizador da sociedade do sector.
civil;37 Para compreender o actual enquadramento jurí-
> O leque de possíveis sanções alargou-se e ga- dico da acessibilidade, devem destacar-se, antes de
nhou peso: houve um aumento significativo das mais, quatro princípios básicos:
coimas e abriram-se novos caminhos para a > A acessibilidade é um direito, muito antes de
aplicação de sanções, desde a privação de sub- ser uma questão de solidariedade. Aqui reside
sídios públicos à indemnização decorrente da uma diferença fundamental: a solidariedade é
prática de actos discriminatórios ou da respon- relevante mas não é vinculativa, i.e., será sem-
sabilidade civil extracontratual. pre uma opção ética, que reside em quem esco-
No cerne desta mudança estão diplomas como a lhe praticá-la (ou ignorá-la). Já o direito reside
Lei n.º 46/2006,38 que proíbe e pune a discriminação no outro, e o respeito pelos direitos do outro não
de pessoas com base na deficiência, e o Decreto-Lei é uma opção, mas uma obrigação legal.
n.º 163/2006,39 que estabelece as normas técnicas de > A acessibilidade pode – e deve – ser vista como
acessibilidade e as regras para a sua aplicação. um critério objectivo de qualidade, que é men-
Importa portanto conhecer – e esclarecer – em surável. Tal como, por exemplo, a eficiência
algum detalhe o enquadramento e o verdadeiro al- energética ou a qualidade de serviço, também
cance da legislação. Vejamos, sinteticamente, as as condições de acessibilidade podem ser aferi-
principais disposições nesta matéria. das com rigor.
> Espaços e serviços acessíveis serão sempre
mais funcionais, seguros e confortáveis para

37 Os cidadãos com deficiência ou incapacidade e as organizações não 40 A sua introdução no quadro regulamentar data da aprovação pela
governamentais que os representam dispõem actualmente de mais de Câmara Municipal de Lisboa, em 1981, de duas posturas municipais,
uma forma de buscar informação, desencadear acções de fiscalização aplicáveis à via pública e aos edifícios de habitação. A estas duas
administrativa e buscar compensação por danos patrimoniais e não- posturas seguiu-se uma alteração ao Regulamento Geral das Edificações
-patrimoniais sofridos por via da falta de acessibilidade no meio Urbanas, que de suspensão em suspensão nunca chegou a ganhar
edificado e no acesso a bens e serviços. eficácia jurídica, até à sua suspensão definitiva, em 1986. Em 1997, a
38 Lei n.º 46/2006, de 28 de Agosto entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 123/97 estabeleceu normas técnicas
39 Decreto-Lei n.º 163/2006, de 8 de Agosto de acessibilidade e um prazo para adaptação das edificações existentes.

36
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37

todos os utilizadores, e não apenas para os que reito, e à necessidade de assegurar a todos con-
têm algum tipo de deficiência. O inverso tam- dições para o seu exercício;
bém é verdade: muitas situações de perigo são > Todos têm direito à cultura43 e à fruição e cria-
criadas por barreiras à acessibilidade. ção cultural,44 competindo ao Estado, em cola-
> A falta de acessibilidade prejudica o interesse boração com os agentes culturais, promover a
público. As barreiras geram situações de depen- “democratização da cultura, incentivando e as-
dência, a qual tem sempre custos: para quem segurando o acesso de todos os cidadãos à frui-
perde a autonomia, para os familiares e amigos ção e criação cultural” nomeadamente “aos
que prestam apoio e, mais cedo ou mais tarde, meios e instrumentos de acção cultural”;
para o Estado. A persistência das barreiras exis- > Também o direito à cultura física e ao des-
tentes, conjugada com o envelhecimento da po- porto45 é enunciado como um direito de todos
pulação portuguesa, poderá vir a confrontar o os cidadãos, sendo o Estado incumbido de, em
País com um volume insustentável de pessoas colaboração com as escolas e as associações e
em situação de dependência, risco que é urgen- colectividades desportivas, “promover, estimu-
te começar a inverter. lar, orientar e apoiar” a sua prática e difusão;
> Para os consumidores46 é expresso o direito “à
Direitos Constitucionais qualidade dos bens e serviços consumidos, à
A pujança jurídica em matéria de Acessibilidade é formação e à informação, à protecção da saúde,
a consequência necessária da sua ligação aos direi- segurança e dos seus interesses económicos,
tos consagrados na Constituição da República Portu- bem como à reparação de danos”.
guesa (CRP), uma ligação que vários diplomas têm Estes direitos são enunciados para todos os cida-
vindo a tornar linear e evidente. dãos, algo que é reforçado pelo Princípio da Igual-
Em matéria de acessibilidade ao turismo em geral, dade,47 nos termos do qual “todos os cidadãos têm a
e aos locais de interesse turístico em particular, po- mesma dignidade social e são iguais perante a lei” e
demos destacar alguns direitos consagrados na CRP: “ninguém pode ser privado de qualquer direito” de-
> O direito ao lazer41 está enunciado como um di- vido à sua condição social.
reito dos trabalhadores. A tarefa, atribuída ao
Estado, de “desenvolvimento sistemático de
uma rede de centros de repouso e de férias, em
cooperação com organizações sociais”42 subli- 43 CRP, Art.º 73.º
44 CRP, Art.º 78.º
nha a importância que a CRP confere a este di- 45 CRP, Art.º 79.º
46 CRP, Art.º 60.º, onde se reconhece às associações de consumidores e
41 CRP, Art.º 59.º, n.º 1, alínea d) – mais precisamente, “ao repouso e às cooperativas de consumo a “legitimidade processual para defesa
aos lazeres” dos seus associados ou de interesses colectivos ou difusos.”
42 CRP, Art.º 59.º. n.º 2, alínea d) 47 Art.º 13.º
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Os “cidadãos portadores de deficiência física ou damente no campo económico, social, cultural,


mental” gozam plenamente destes direitos,48 e onde civil ou de qualquer outra natureza, incluindo a
as barreiras à acessibilidade impedirem ou condicio- negação de adaptações razoáveis;
narem o seu exercício, estar-se-á perante uma forma > A adaptação razoável é definida como a modifi-
de discriminação contra a qual a CRP exige protecção cação e ajustes necessários e apropriados que
legal.49 não imponham uma carga excessiva ou inde-
Facilmente se demonstra que a acessibilidade é vida, sempre que necessário num determinado
uma condição indispensável à concretização de qual- caso, para garantir que as pessoas com incapa-
quer um destes direitos. cidades poderão gozar ou exercer, em condições
E este entendimento mais reforçado ficou com a ra- de igualdade com as demais, de todos os direi-
tificação, pelo Estado Português, da Convenção sobre tos humanos e liberdades fundamentais;
os Direitos das Pessoas com Deficiência,50 na qual: > Os Estados Parte comprometem-se a tomar
> É reconhecida a importância da acessibilidade todas as medidas apropriadas para eliminar a
ao ambiente físico, social, económico e cultural, discriminação com base na deficiência por qual-
bem como à informação e comunicação, para quer pessoa, organização ou empresa privada,
permitir às pessoas com deficiência o pleno designadamente assegurando que as entidades
gozo de todos os direitos humanos e liberdades privadas que oferecem instalações e serviços
fundamentais; que estão abertos ou que são prestados ao pú-
> A discriminação com base na deficiência é defi- blico têm em conta todos os aspectos da acessi-
nida “como qualquer distinção, exclusão ou res- bilidade para pessoas com deficiência.
trição com base na deficiência que tenha como
objectivo ou efeito impedir ou anular o reconhe- Dos direitos às normas
cimento, gozo ou exercício, em condições de Para prevenir a discriminação e proceder, quando
igualdade com os outros, de todos os direitos necessário, às transformações necessárias para as-
humanos e liberdades fundamentais”, designa- segurar a igualdade de oportunidades, a CRP confia
ao Estado um conjunto de tarefas fundamentais,
48 CRP, Art.º 71.º, n.º 2; deve notar-se que a expressão que actualmente entre as quais a de promover “o bem-estar e a quali-
se considera mais adequada para designar estes cidadãos é “…com dade de vida do povo e a igualdade real entre os por-
deficiência ou incapacidade”.
49 CRP, Art.º 26.º, n.º 1, confere a todos o direito “à protecção legal tugueses, bem como a efectivação dos direitos eco-
contra quaisquer formas de discriminação.” nómicos, sociais, culturais (…) mediante a transfor-
50 Adoptada em Nova Iorque em 30 de Março de 2007, e aprovada em
Portugal pela Resolução da Assembleia da República nº 56/2009, de 30 mação e modernização das estruturas económicas e
de Julho (Convenção) e pela Resolução da Assembleia da República n.º sociais”.51
57/2009 (Protocolo Opcional à Convenção), as quais foram ratificadas,
respectivamente, pelos Decretos do Presidente da República n.º
71/2009 e n.º 72/2009, ambos de 30 de Julho. 51 CRP, Art.º 9.º, alínea d)

38
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39

É em cumprimento destas tarefas fundamentais as recomendações e adopta os conceitos da Clas-


do Estado que se tem vindo a legislar sobre acessibi- sificação Internacional de Funcionalidade,56 reco-
lidade. nhecendo a “influência do meio ambiente como
As transformações operadas no ordenamento ju- elemento facilitador ou como barreira no desen-
rídico português, no domínio da acessibilidade, as- volvimento, funcionalidade e participação”57 e su-
sentam no reconhecimento, pelo legislador, de que as blinha que “as barreiras existentes devem ser en-
barreiras à acessibilidade são um factor de discrimi- tendidas como potenciais factores de exclusão so-
nação. A produção legislativa tem vindo a assumir, a cial, que acentuam preconceitos e criam condições
clarificar e a reforçar a ligação entre a acessibilidade propícias a práticas discriminatórias”;
e os direitos constitucionais. > O Decreto-Lei n.º 163/2006, em cujo preâmbulo o
Este reforço tem sido operado por disposições legislador refere que a “promoção da acessibili-
concretas, ou pela expressão de entendimentos cla- dade [é] um meio imprescindível para o exercí-
ros por parte do legislador, que nos permitem conhe- cio dos direitos que são conferidos a qualquer
cer com clareza os seus propósitos, e que efectiva- membro de uma sociedade” e que “as pessoas
mente produzem uma convergência na interpretação com mobilidade condicionada quotidianamente
da lei, conferindo maior eficácia à sua aplicação. [têm de] confrontar-se com múltiplas barreiras
Neste ponto, devem destacar-se: impeditivas do pleno exercício dos seus direitos
> O Regime Jurídico da Prevenção, Habilitação, de cidadania”.
Reabilitação e Participação da Pessoa com Defi-
ciência,52 que veio desenvolver dois princípios A lei anti-discriminação
fundamentais para a concretização dos direitos É nesta ligação clara entre a acessibilidade e os di-
das pessoas com deficiência: o Princípio da Ci- reitos constitucionais que assentam algumas das
dadania,53 nos termos do qual a pessoa com de- principais disposições da Lei n.º 46/2006.
ficiência tem direito ao acesso a todos os bens e Este diploma, que proíbe e pune a discriminação
serviços da sociedade, e o Princípio da Não Dis- com base na deficiência, classifica como práticas dis-
criminação,54 que proíbe a discriminação di- criminatórias as “acções ou omissões, dolosas ou ne-
recta ou indirecta, por acção ou omissão, com gligentes, que, em razão da deficiência, violem o prin-
base na deficiência; cípio da igualdade”, designadamente:58
> O I Plano Nacional de Acção para a Integração das
Pessoas com Deficiência ou Incapacidade,55 segue
56 Sistema concebido pela Organização Mundial de Saúde, em que se
define a incapacidade como produto da relação entre a pessoa e o
52 Lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto meio, e já não como algo que respeita exclusivamente ao indivíduo.
53 Cfr. Art.º 5.º 57 Note-se que o desenvolvimento e a participação são direitos
54 Cfr. Art.º 6.º constitucionais.
55 Resolução do Conselho de Ministros n.º 120/2006, de 21 de Setembro 58 Cfr. Art.º 4.º, alíneas a), b), e), f), j).
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> A recusa de fornecimento ou o impedimento de questões como o atendimento e a comunicação,


fruição de bens ou serviços; entre outras, e efectivamente gera obrigações
> O impedimento ou a limitação ao acesso e exer- aplicáveis à prestação de serviços.
cício normal de uma actividade económica;
> A recusa ou a limitação de acesso ao meio edifi- Acessibilidade ao meio físico
cado ou a locais públicos ou abertos ao público; As normas técnicas de acessibilidade aplicáveis
> A recusa ou a limitação de acesso aos transpor- ao espaço físico são definidas pelo Decreto-Lei n.º
tes públicos; 163/2006.
> A adopção de prática ou medida por parte de São essencialmente normas construtivas, que es-
qualquer entidade pública que condicione ou li- pecificam a configuração exigida para os diferentes
mite a prática do exercício de qualquer direito. elementos físicos necessários para o acesso, circula-
Vale a pena sublinhar esta definição abrangente ção e uso de espaços e edifícios.
da prática discriminatória: Estão abrangidos por este diploma, entre outros,
> A discriminação pode resultar não apenas de todos os locais de interesse turístico abordados no
uma acção dolosa (por ex., recusar a admissão âmbito do presente estudo: hotéis e vários outros
num restaurante com base na deficiência), mas empreendimentos turísticos, museus, palácios, igre-
também da omissão e ou negligência no cum- jas, auditórios e salas de espectáculo, restaurantes,59
primento de deveres legais (por ex., o restau- discotecas, praias, parques e jardins, instalações
rante não poder receber um cliente com defi- desportivas, terminais de transporte colectivo e pos-
ciência motora por não terem sido criadas con- tos de informação turística.60
dições de acessibilidade); Quando comparado com o diploma que, com o
> Para além da recusa ou impedimento, também mesmo objecto,61 vigorou entre 1997 e 2007, o De-
constitui discriminação o condicionamento ou creto-Lei n.º 163/2006 constitui uma evolução assina-
limitação, i.e., a segregação ou a imposição, lável, registando aperfeiçoamentos tanto nas normas
com base na deficiência, de outras condições ou como nos mecanismos para a sua aplicação.
limites à plena concretização do direito de No seu conjunto, estes aperfeiçoamentos vieram
acesso e usufruto; conferir maior rigor e flexibilidade à aplicação das
> Constitui discriminação a recusa ou a limitação normas.
de acesso ao meio edificado em geral, e não Vejamos algumas das principais disposições:
apenas às edificações abrangidas pelo Decreto-
59 Os restaurantes, cafés e bares estão abrangidos desde que tenham
Lei n.º 163/2006; uma superfície de acesso ao público superior a 150m2, cf. Art.º 2.º, n.º 2,
> A acessibilidade não se deve limitar ao espaço alínea r)
60 Caso pertençam a entidades públicas, cf. Art.º 2.º, n.º 1
físico, alargando-se ao usufruto de bens e servi-
61 Decreto-Lei n.º 123/97, de 22 de Maio, revogado pelo Decreto-Lei
ços e ao exercício de actividades, o que inclui 163/2006

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> Aplica-se aos espaços e edifícios existentes e fu- da edificação em causa, ficando a sua aprovação
turos, sendo que para os existentes (não in- dependente de parecer favorável do IGESPAR;
cluindo os edifícios habitacionais particulares) é > A verificação da acessibilidade é parte indispen-
estabelecido um prazo para adaptação (que ter- sável no licenciamento da construção, devido a
mina, o mais tardar, em 2017), e os futuros só uma estreita articulação com o Regime Jurídico
poderão ser construídos se cumprirem, na ínte- da Urbanização e Edificação,64 existindo vários
gra, as normas aplicáveis;62 pontos de controlo em que a fiscalização pode
> No caso dos edifícios existentes, a eliminação ocorrer: na fase de apreciação do projecto, du-
de barreiras não “espera” pelo fim do prazo, de- rante a construção, e antes do início do uso
vendo ser considerada em cada obra de altera- (emissão da licença de utilização);
ção que entretanto for realizada; > A sociedade civil pode contribuir para uma fis-
> A adaptação não é exigível quando as obras ne- calização mais eficaz, uma vez que lhe são con-
cessárias à sua execução forem desproporciona- feridos o direito à informação e o direito de
damente difíceis ou dependerem de meios eco- acção, ferramentas que permitem, por ex., a or-
nómico-financeiros desproporcionados ou não ganizações não-governamentais da área da de-
disponíveis, 63 ou quando afectarem sensivel- ficiência, consultar processos abrangidos pelo
mente o património histórico edificado; diploma, e propor e intervir em quaisquer ac-
> A abertura de excepções é feita norma a norma ções (jurídicas ou outras) relativas ao cumpri-
(i.e., o incumprimento de uma norma por si só mento das normas técnicas de acessibilidade;
não justifica o incumprimento de outras) e tem > O conceito de percurso acessível permite pensar
de ser fundamentada pelo requerente e apre- na acessibilidade de uma forma mais sistemá-
ciada pela entidade fiscalizadora, ficando toda a tica, rigorosa e económica;
documentação disponível para consulta pública > As coimas aplicáveis a pessoas colectivas si-
(on-line, no caso dos particulares); tuam-se entre €500 e quase €45.000, e não pre-
> A aplicação das normas aos edifícios classifica- judicam a aplicação de sanções acessórias (por
dos ou em vias de classificação é avaliada caso a ex., encerramento de estabelecimento, suspen-
caso e adaptada às características específicas são de alvarás, privação do direito a subsídios
públicos) ou de outros tipos de punição que pos-
62 Cf. Art.º 3.º, n.º 1 (obrigação de indeferimento) e preâmbulo do
diploma, onde o legislador refere pretender “evitar a entrada de novas sam resultar da responsabilidade civil extra-
edificações não acessíveis no parque edificado português.” contratual, da responsabilidade disciplinar ou,
63 Esta indisponibilidade não deve ser entendida em sentido pontual,
mas estrutural, i.e., uma entidade que tenha receitas próprias, por ex., mesmo, da responsabilidade criminal.
poderá argumentar que não tem meios para realizar todas as
adaptações no prazo definido pelo decreto, mas deverá programar no
tempo e nos seus planos plurianuais de investimento as intervenções 64 RJUE, republicado pela Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro, que
tecnicamente exequíveis. alterou o Decreto-Lei n.º 555/99
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Empreendimentos Turísticos forma de prestar o serviço que assegure a igualdade


A preocupação com a acessibilidade tem vindo a de oportunidades.
ser vertida para diplomas publicados após a entrada
em vigor do Decreto-Lei n.º 163/2006 e da Lei n.º Contratos Públicos
46/2006. A preocupação com a acessibilidade está patente,
Encontramo-la, por exemplo, no Decreto-Lei n.º ainda, no novo Código dos Contratos Públicos (De-
39/2008, de 7 de Março, que estabelece o Regime Jurí- creto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro) que estabelece
dico da Instalação, Exploração e Funcionamento dos a disciplina aplicável à contratação pública.
Empreendimentos Turísticos. A existência de condições de acessibilidade passa
Do disposto neste regime jurídico decorre a obri- a ser um factor a considerar no processo de selecção
gatoriedade de cumprir as normas técnicas de aces- e contratação. Assim, aquando, por exemplo, da con-
sibilidade em todos os espaços comuns e em pelo tratação de um espaço para realização de um evento,
menos parte das unidades de alojamento. a entidade pública contratante deverá optar pelo
Os empreendimentos turísticos existentes terão candidato que ofereça melhores garantias de acessi-
de ser adaptados para cumprir com essas normas. E bilidade.
a fiscalização desse cumprimento poderá vir a ser Isto porque ao regular a forma de fixar especifica-
suscitada por mais de uma forma. A reconversão dos ções técnicas,65 este Código refere que “sempre que
empreendimentos existentes para o novo sistema de possível, as especificações técnicas devem ser fixa-
classificação definido por este regime jurídico, por das por forma a contemplar características dos bens
exemplo, já está a constituir uma ocasião para verifi- a adquirir ou das obras a executar que permitam a
car a existência de condições de acessibilidade. sua utilização por pessoas com deficiências ou por
Poderá, nalguns casos, abrir-se uma excepção ao qualquer utilizador.”
cumprimento de algumas normas, em função, por Vale a pena recordar que este Código resulta, es-
ex., da dificuldade técnica ou dos custos despropor- sencialmente, da transposição de directivas comuni-
cionados. tárias, e que a presença nessas directivas da preocu-
Deve todavia sublinhar-se, neste ponto, que em- pação com a acessibilidade resulta de uma tendência
bora possa haver excepções à aplicação das normas cada vez mais importante no espaço europeu.
técnicas do Decreto-Lei n.º 163/2006, a aplicação da Para além do empenho repetidamente manifes-
Lei n.º 46/2006 não admite qualquer excepção. tado pela União Europeia nas questões da acessibili-
Assim sendo, o facto de algumas barreiras físicas dade, existem leis anti-discriminação e normas técni-
poderem permanecer não dispensará o empreendi- cas de acessibilidade em cada vez mais Estados-
mento turístico de implementar procedimentos que membros.
previnam a discriminação, i.e., de encontrar uma
65 Cfr. Art.º 49.º, alínea 14).

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A acessibilidade terá, por isso, enquanto exigên- O INR é um instituto público integrado no Minis-
cia legal, uma crescente importância para o funcio- tério do Trabalho e da Solidariedade Social, que tem
namento do mercado no sector do Turismo. E por via por objectivos a garantia da igualdade de oportunida-
dos direitos de consumo, é inevitável que a exigência des, o combate à discriminação e a valorização das
nos mercados emissores venha a condicionar a selec- pessoas com deficiência, bem como o “planeamento,
ção de empreendimentos nos mercados receptores. coordenação, desenvolvimento e execução da polí-
tica nacional de prevenção, reabilitação e integração
1.4 A Experiência em Portugal das pessoas com deficiência”.
A história do Turismo Acessível em Portugal ainda Na área do Turismo Acessível o INR tem promo-
é relativamente recente. Embora seja longo o cami- vido e criado vários programas e projectos, frequen-
nho a percorrer, a fim de se criar uma sociedade mais temente através de parcerias e da cooperação com
inclusiva, que reconheça e saiba integrar a diversi- várias entidades públicas e privadas. Salientam-se:
dade, são já notórias algumas iniciativas e medidas, > A criação de «Guias de Turismo Acessível» com
sendo muito interessante a sua divulgação. informação sobre as condições de acessibili-
Procurou-se fazer o levantamento de experiências dade em edifícios e espaços de várias entidades.
que visam a inclusão da pessoa com deficiência no Publicados em 2000 e 2001, estes guias abran-
sector turístico em Portugal. geram diversas regiões do País, nomeadamente
Não se pretende aqui fazer uma análise exaustiva, o Norte (Minho, Douro, Trás-os-Montes), a Área
mas sim uma análise global, salientando as princi- Metropolitana do Porto, as Beiras, Leiria/Fátima
pais acções que têm vindo a ser desenvolvidas por e Região Oeste, o Concelho de Lisboa, a Costa do
várias entidades públicas e privadas, com ou sem Estoril, Sintra e Mafra, e a Costa Azul, Vale do
fins lucrativos. Tejo, Amadora, Loures e Odivelas. A informação
Em Portugal, o Turismo Acessível – ou Turismo fornecida era de carácter assumidamente
para Todos – começou por ser abordado em diversas “geral”, e abarcava um amplo leque de espaços
conferências e workshops, que alertaram para a im- e edifícios, como parques, equipamentos de
portância da remoção de barreiras e para o desenvol- saúde, culturais, de lazer, turísticos e desporti-
vimento de actividades turísticas acessíveis a todos vos, bem como estabelecimentos de serviços
os cidadãos. (desde estações de correios a agências de via-
Uma primeira referência deve ser feita aos diver- gens) e infra-estruturas de transporte público. A
sos esforços realizados pelo Instituto Nacional para a classificação destes espaços, efectuada com
Reabilitação, I.P. (INR) e pela entidade que o prece- base em auto-avaliação pelos seus responsá-
deu, o Secretariado Nacional de Reabilitação para a veis, centrava-se na deficiência motora e tinha
Integração de Pessoas com Deficiência (SNRIPD). dois níveis: “acessibilidade fácil” e “acessibili-
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dade condicionada”. Para informação adicional sanitários adaptados, postos de socorro de fácil
existia uma remissão para o website do SNRIPD. acesso e equipamentos que facilitem o acesso à
> A edição, em 2007, de um «Guia de Referência praia e apoiem o banho. A verificação é feita in
para Profissionais de Turismo», em parceria loco por técnicos do INAG. Em 2009, foram clas-
com a Cooperativa Nacional de Apoio ao Defi- sificadas como Praias Acessíveis 140 zonas bal-
ciente, com o objectivo de contribuir para uma neares, marítimas e fluviais (mais de metade
nova visão dos operadores de turismo, e de dar das quais com cadeiras anfíbias para apoio ao
resposta às necessidades especiais dos turistas banho). No Continente, as praias marítimas
com deficiência através da formação dos profis- acessíveis distribuem-se por toda a costa Atlân-
sionais de turismo. Elaborado com base nos re- tica, desde Caminha até Vila Real de Santo An-
sultados do projecto europeu “Disability and tónio. As fluviais, em menor número, encon-
Freedom of Movement”, de 1999, entretanto ac- tram-se sobretudo no Norte e no Centro, desde
tualizados e melhorados, integra um Guia de Macedo de Cavaleiros a Gavião, mas também
Referência e um Manual de Formação, pelo que mais a Sul, em Mértola e Alcoutim. Na Região
tanto pode servir para consulta corrente pelos Autónoma dos Açores registam-se 8, e na Re-
profissionais como para apoio a acções de for- gião Autónoma da Madeira, 6. Todas as praias
mação específicas. acessíveis estão identificadas através de ban-
> O projecto «Praia Acessível – Praia para Todos», deira branca com o símbolo da acessibilidade.
que resultou de um trabalho de parceria com o Para além destes projectos, não pode deixar de se
Turismo de Portugal, o Instituto da Água (INAG) referir o importante contributo prestado, no plano da
e o Instituto do Emprego e Formação Profissio- sensibilização e informação, pelos inúmeros artigos
nal, e que constitui uma medida do Plano de publicados e pelas intervenções públicas de respon-
Acção para a Integração das Pessoas com Defi- sáveis e de técnicos do INR em seminários e confe-
ciência ou Incapacidade66 e do Plano Nacional rências por todo o País.
para a Promoção da Acessibilidade.67 O projecto Falar de Turismo Acessível em Portugal é falar,
foi iniciado em 2004, com o objectivo de propor- também, do caso da Lousã.
cionar às pessoas com mobilidade condicionada Este Concelho é um território de elevado potencial
o maior número possível de praias com acessi- natural, paisagístico, arquitectónico e cultural, e tem
bilidade, nomeadamente ao nível do estaciona- vindo a tornar-se um destino muito requisitado pelo
mento, acesso pedonal, passadeiras no areal, Turismo de Natureza, assumindo um lugar de desta-
que na Rede das Aldeias de Xisto.
66 Resolução do Conselho de Ministros n.º 120/2006, de 21 de
Setembro, Estratégia n.º 1.3, medida de reparação «Promover mais Na Lousã têm sido desenvolvidas algumas inicia-
cultura mais desporto e melhor lazer» tivas na área do Turismo Acessível que merecem des-
67 Resolução do Conselho de Ministros n.º 9/2007, de 17 de Janeiro,
medida 2.1.b) «Acessibilidade às Praias»
taque. Assinale-se:

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> Em 2007, realizou-se o I Congresso Nacional de para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados


Turismo Acessível, organizado conjuntamente da Lousã), Santa Casa da Misericórdia, unidades
pela ESEC (Escola Superior de Educação de de Alojamento (Mélia Palácio Boutique Hotel da
Coimbra) e pela Provedoria Municipal das Pes- Lousã), unidades de Turismo em Espaço Rural
soas com Deficiência da Lousã, em parceria com (Casa do Vale do Linteiro e Quintal de Além do
outras associações e com a Câmara Municipal Ribeiro) e Pousada da Juventude, passando por
da Lousã. Este Congresso teve como objectivos algumas unidades de restauração e animação.
promover o debate sobre o turismo para todos, > Todos os locais do concelho com acessibilidade
informar os diferentes actores acerca desta possuem o «Selo Lousã Acessível». Este selo re-
questão, discutindo o seu papel na promoção de conhece condições básicas de acessibilidade,
um turismo livre de barreiras, e reflectir sobre que permitem, nomeadamente, a entrada e cir-
os desafios que se colocam. Nasceu, então, a culação no edifício, havendo o cuidado de assi-
ideia de fazer da Lousã o primeiro destino de Tu- nalar no próprio dístico que é afixado que a sua
rismo Acessível em Portugal. atribuição “não garante 100% de acessibilidade”.
> Nos últimos anos, a Lousã tem vindo a crescer Estas condições básicas são verificadas in loco
consideravelmente ao nível da oferta turística. mediante visita por pessoas com deficiência que
Sentia-se que havia uma lacuna em não dar res- usam cadeira de rodas e que colaboram com a
posta total às necessidades das pessoas, sendo Provedoria Municipal. Desde o seu lançamento,
a Lousã uma referência na área da reabilitação. em 2007, o selo já foi atribuído a mais de 100
Entendeu-se que a oferta deveria ser completa equipamentos e estabelecimentos, desde biblio-
e, neste sentido, nasceu o Projecto «Lousã, Des- tecas a restaurantes. Em Janeiro de 2008 foram
tino de Turismo Acessível». Após o I Congresso atribuídos mais 33 selos e, em Novembro do
criou-se um projecto de desenvolvimento. Ac- mesmo ano, mais 40 selos. Em 2009 estava pre-
tualmente, o Projecto é assumido pela Câmara vista a distribuição de mais 32 novos selos.
Municipal da Lousã, cabendo a responsabilidade > Em Dezembro de 2007 realizou-se, na Serra da
directa pela gestão do projecto ao Grupo Téc- Lousã, um workshop para formação de monito-
nico «Lousã Acessível», e sendo desenvolvido res, na área do Desporto e Animação Turística
trabalho em parceria com variadas instituições Adaptada.
e entidades. O INATEL, criado em 1935, é hoje em dia um dos
> Na Lousã a abordagem do Turismo Acessível é maiores prestadores de serviços, tanto no Turismo So-
reconhecida como uma preocupação no territó- cial como Sénior. Desenvolve, entre outros, o Programa
rio, e assiste-se a um esforço conjunto de todas «Abrir Portas à Diferença», que tem por objectivo pos-
as entidades que dispõem de infra-estruturas e sibilitar aos cidadãos com deficiência o direito a viajar.
equipamentos acessíveis: ARCIL (Associação Gerido pelo INATEL, o programa é uma iniciativa do Mi-
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nistério do Trabalho e da Solidariedade Social, que line é também um guia de informação sobre espaços e
conta com o apoio financeiro do Instituto de Gestão Fi- edifícios acessíveis. São referenciados equipamentos
nanceira da Segurança Social. É destinado a pessoas de saúde e estabelecimentos complementares (farmá-
portadoras de deficiência permanente, que integrem cias, venda de ajudas técnicas, etc.), estabelecimentos
uma Instituição, com idade igual ou superior a 18 anos de bebidas e restauração (restaurantes, pastelarias,
e com grau de deficiência igual ou superior a 60%. etc.), alojamento turístico, equipamentos de lazer ou
Fundada em 1982, a Cooperativa Nacional de interesse cultural (museus, bibliotecas, cinemas, ocea-
Apoio ao Deficiente (CNAD) tem já um longo historial nário, etc.), “utilidades” (bombas de gasolina, centros
de esforços na promoção e desenvolvimento do Tu- comerciais, comércio local, etc.) e praias. Esta base de
rismo Acessível em Portugal. Dedicando-se ao estudo dados esteve, inicialmente, limitada a Lisboa, mas a
e resolução de problemas que afectam a nossa socie- Associação está a efectuar um esforço de alargamento
dade, tem realizado acções de sensibilização, infor- ao resto do território continental. As condições de aces-
mação, atendimento, formação, emprego, apoio e re- sibilidade são verificadas in loco mediante visita, con-
presentação das pessoas com deficiência perante os siderando-se como acessíveis “todos os locais que per-
organismos privados e públicos que são responsáveis mitem a entrada e usufruto do serviço prestado por um
pela sua inclusão social. estabelecimento a pessoas em cadeira de rodas e, em
Na área do Turismo e Lazer, a CNAD criou a Secção geral, a pessoas com mobilidade reduzida”, sendo que
de Turismo Integrado, Turintegra, que tem como ob- o foco reside nas necessidades das pessoas em cadeira
jectivos o apoio informativo ao turista com deficiência, de rodas. É facultada “uma descrição do local (se per-
o trabalho em parceria com outras entidades de tu- mite a entrada da pessoa em cadeira de rodas)” e
rismo e reabilitação, o levantamento de alojamentos “uma descrição das condicionantes consideradas
turísticos adaptados e programas de férias acessíveis. como relevantes, que a pessoa irá encontrar”.
A Associação Salvador foi criada em 2003 por Salva- A Associação Terras Dentro (sediada em Alcáço-
dor Mendes de Almeida. Procurando ser uma referência vas) lançou em 2008, em parceria com a ESDIME
na área da Mobilidade Reduzida, nomeadamente da (Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo),
deficiência motora, tem como missão eliminar a exclu- a CEDECO (Centro de Desarrollo Comarcal de Tentú-
são social, assegurando os direitos das pessoas com dia) e a ADERCO (Asociación para el Desarrollo Rural
deficiência, a igualdade de oportunidades e o desen- de la Comarca de Olivenza), o «Projecto Rotas Sem
volvimento de projectos que promovam a melhoria das Barreiras», que tem como objectivos promover a
acessibilidades e por conseguinte a qualidade de vida. igualdade de oportunidades e a integração social
Entre as suas acções na área do Turismo Acessível, através de actividades turísticas, diversificar a oferta
destaca-se o website «Portugal Acessível» (www.por- turística dos territórios, sensibilizar e formar os
tugalacessivel.com), desenvolvido em parceria com a agentes turísticos locais e estruturar um projecto
Accessible Portugal, que para além de ser um portal on- modelo, aplicável a outra região.

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No âmbito deste projecto transnacional foi elabo- No domínio da oferta, deve ainda destacar-se o
rado um guia de turismo acessível, dividido em qua- trabalho desenvolvido pela Amieira Marina e pelas
tro volumes: Alentejo Central, Alentejo Sudoeste, Co- empresas Accessible Portugal, Desafio Sul e Mais que
marca de Olivenza e Comarca de Tentudía. Neste guia um Destino…Lda.
são referenciados locais turísticos acessíveis, nomea- A valorização turística do Grande Lago do Alqueva
damente na vertente do Património, “Sabores & Sa- é uma aposta da Região de Turismo de Évora e do Go-
beres”, alojamento e actividades de lazer, classifica- verno. A Amieira Marina, localizada em Amieira, é o
dos em um de dois níveis: “Acessibilidade Total (o via- primeiro projecto náutico no âmbito do Grande Lago.
jante sozinho pode aceder aos locais assinalados)” e Foi um projecto construído de raiz, onde a questão da
“Acessibilidade Condicionada (recomenda-se acom- acessibilidade sempre esteve presente, visando a in-
panhante na visita aos locais assinalados)”. clusão de todas as pessoas. Todo o percurso, interior
O projecto teve o seu início com um estudo diagnós- e exterior, da Marina é adaptado, existindo rampas de
tico das condições de acessibilidade em infra-estrutu- acesso, bem como um elevador que permite trans-
ras e equipamentos turísticos existentes nos quatro portar pessoas em cadeira de rodas até ao cais.
territórios, que “permitiu identificar os locais acessí- A Amieira Marina integra todos os serviços náuti-
veis (uma minoria) e os locais com necessidades e pos- cos, como aluguer, parqueamento e manutenção de
sibilidades de serem adaptados”. Relativamente a estes embarcações, e dispõe de embarcações que efectuam
últimos, foram entregues aos respectivos responsáveis cruzeiros pelo Alqueva – entre estas, destacamos a
relatórios com recomendações, indicando as alterações embarcação “Guadiana”, completamente adaptada.
a realizar com vista ao cumprimento de normas legais As embarcações dispõem também de sistema de
de acessibilidade e à sua integração no roteiro. vídeo que permite a exibição de filmes, onde subtítu-
Na fase seguinte do projecto, foram realizadas em los surgem em diferentes línguas.
vários pontos do território acções de formação dirigi- A Accessible Portugal foi criada em 2005 e está se-
das a empresários, técnicos e agentes locais ligados diada em Lisboa. É a primeira agência de viagens por-
ao sector turístico, na área da recepção e atendi- tuguesa vocacionada para o turismo acessível. Pro-
mento de pessoas com deficiência. Assinale-se que, porciona a pessoas com e sem mobilidade reduzida
segundo os responsáveis do projecto, a sua imple- uma vasta oferta de serviços que lhes permite viajar
mentação só foi possível por se ter “como estratégia com mais conforto. Disponibiliza pacotes de férias e
inicial a envolvência de um elevado número de enti- diferentes serviços específicos, como o transporte,
dades, governamentais e não governamentais, liga- alojamento, museus e restauração acessíveis, apoio
das à área da deficiência, mas também de todos os personalizado com guia ou monitor, aluguer de equi-
agentes com responsabilidade no sector turístico das pamentos adaptados, actividades de aventura adap-
regiões (…) que, com base nas suas experiências, tadas, “escapadinhas” e viagens personalizadas.
foram definindo a trajectória do projecto.” Tendo conhecimento das necessidades deste seg-
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mento da procura, a Accessible Portugal desenvolve a adaptados, contando actualmente com Roteiros, Pro-
sua actividade de modo personalizado. gramas de BTT, Programas de 4x4, Jogos Tradicionais e
Desde a sua criação, em 2005, já recebeu mais de de Pontaria adaptados e à disposição de todos.
1.000 turistas, oriundos dos Estados Unidos, Reino A empresa Mais que um Destino…Lda. nasceu em
Unido, Alemanha, Canadá e Espanha. Em 2008 foi dis- Janeiro de 2009 e está sedeada no Algarve. A sua
tinguida na quarta edição dos Prémios Turismo de marca turística é New Generation Tours. Esta em-
Portugal, na categoria de “Serviços”. presa comprou, em 2008, a única empresa turística
O Desafio Sul – Alentejo Activo, sediado em Évora, que trabalhava na área do turismo para pessoas com
é uma empresa vocacionada para eventos de Anima- mobilidade reduzida, a Wheeling Around The Algarve,
ção Turística. A trabalhar há mais de 15 anos neste mas manteve o mesmo espírito de abordar o turismo
ramo, dispõe de programas personalizados em fun- para pessoas com mobilidade reduzida.
ção das necessidades de cada cliente. Os seus servi- A Mais que um Destino…Lda. tem como objectivo
ços estão segmentados em quatro grupos: “Emoções ir ao encontro das necessidades específicas de cada
Fogo”, “Emoções Ar”, “Emoções Terra” e “Emoções cliente, através de um serviço de qualidade, durante
Água”. Dentro de cada “Emoção” distinguem-se vá- a estadia no Algarve. Actualmente, engloba serviços
rios pacotes turísticos. O grupo das “Emoções Fogo” como o aluguer de material ortopédico (cadeiras de
integra, por exemplo, os Jogos Tradicionais, a Torre de rodas, andarilhos, etc.), o transporte adaptado para
Escalada, Rappel e Slide. No grupo das “Emoções Ar” os transfers e táxi adaptado, e eventos turísticos,
salientam-se, por exemplo, os Voos Turísticos em Pla- como a organização de excursões.
nador ou Avião, o Pára-quedismo e Balonismo. Já no Perante o levantamento das Boas Práticas realiza-
grupo das “Emoções Terra” distinguem-se, por exem- das por estas instituições e entidades, salientamos o
plo, o BTT, o Todo-o-Terreno 4x4 e a Equitação; por facto de todas elas abrangerem o aspecto social,
fim, no grupo das “Emoções Água” avultam activida- onde o Turismo Acessível surge como inclusão social.
des como a Canoagem, a Vela Ligeira e as Jangadas. Perante o que se passa noutros Países, podemos
Ao longo da sua existência, esta empresa sempre se dizer que Portugal ainda está a dar os primeiros pas-
preocupou com a questão da acessibilidade e sempre sos. É importante passar das palavras às acções e con-
demonstrou isso na prática, tentando colocar ao al- sequentemente às obras. Muito há ainda para fazer.
cance de todos actividades acessíveis e adaptadas. No Promover a acessibilidade da oferta turística é ga-
âmbito do Programa “Rotas Sem Barreiras”, elaborado rantir a melhoria da qualidade de vida de todos os ci-
pela Associação Terras Dentro e financiado pelo Pro- dadãos. Garantir a autonomia é combater a discrimi-
grama Leader +, esta empresa participou activamente nação e os preconceitos e favorecer práticas inclusi-
na formação e sensibilização, adaptando-se cada vez vas para todos, principalmente para aqueles com
mais ao mercado do Turismo Acessível. Através deste mobilidade condicionada.
Programa foi possível adquirir mais equipamentos
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Parte II

Análise e Divulgação
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2. Bases para um sistema truturantes, ao nível do tipo de informação, dos pro-


Existe procura para o turismo acessível, e ao cedimentos que servem de base à sua recolha e dos
longo da próxima década essa procura irá aumentar. veículos para a sua divulgação.
Também a oferta irá crescer, em consequência do O factor chave para a tomada destas decisões
cumprimento das exigências legais (adaptação de deve ser o potencial consumidor e as suas necessida-
edificações e modos de acesso a bens e serviços), e des, sendo fundamental compreender qual a informa-
do investimento dos empresários interessados em ção de que precisa, como (e quando) irá usá-la, e
alargar a base de clientes e ganhar vantagem compe- como prefere obtê-la.
titiva neste segmento.
Neste contexto, a informação sobre as condições 2.1 Informação precisa-se
de acessibilidade nos locais de interesse turístico as-
sume especial relevância: "All travel is adventure travel when you have a
> No mercado europeu,68 a falta de informação disability."
fiável e rigorosa é apontada como um dos maio- Scott Rains70
res obstáculos à plena realização do potencial
deste mercado, a par de factores como as bar- Um estudo de 2003 revelou que em Portugal, de-
reiras físicas, a falta de atenção da indústria tu- vido à falta de acessibilidade, metade das pessoas
rística e a falta de marketing; com deficiência motora desistiu de ir ao cinema ou
> No mercado alemão,69 o fornecimento ao consu- ao teatro, e quase 40% desistiu de visitar museus e
midor de informação fiável sobre acessibilidade bibliotecas.71
é definido como um requisito estratégico. Esta desistência seguiu-se a uma ou (o que é mais
Como é natural, o consumidor precisa de conhecer provável) várias experiências negativas, em que a
a oferta. Essa necessidade reveste-se de especial im- falta de acessibilidade ou a desadequação do serviço
portância para o turista que, devido a necessidades provocaram desconforto físico e psicológico, ou
específicas em matéria de acessibilidade, tem de pla- mesmo risco para a segurança pessoal.
near com especial cuidado as suas deslocações. A adaptação destes e outros locais será sempre
Daí a importância de criar um sistema que recolha um passo fundamental. Mas para além dessa adap-
e disponibilize informação sobre as condições de tação, pode (e deve) fazer-se mais.
acessibilidade nos locais de interesse turístico.
A concepção desse sistema passa pela tomada de
70 “Toda a viagem é uma viagem de aventura quando se tem uma
decisões relativamente a uma série de questões es- deficiência.” Especialista em turismo acessível, fundador do Rolling
Rains Report (http://www.rollingrains.com)
71 DECO (2003): “Barreiras nos Edifícios Públicos: Tudo por fazer: um
68 OSSATE, op. cit. milhão de portugueses ignorados”, Pro Teste n.º 232, Janeiro; o estudo
69 Neumann, op. cit. também contém dados relativos às pessoas com deficiência visual.
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Se estas pessoas tivessem podido conhecer as con- timento emocional (na expectativa de tempo de
dições existentes com antecedência (i.e., antes da vi- qualidade para si e para os acompanhantes);
sita), teriam decidido em conformidade, fazendo-se > Para a oferta, porque o fornecimento de infor-
acompanhar por alguém que, durante a visita, as aju- mação fiável é a melhor forma de alcançar estes
dasse a transpor as barreiras existentes, ou até, em consumidores (muitos deles estrangeiros) e de
caso extremo, evitando o local. com eles estabelecer uma relação de confiança,
A informação sobre as condições de acessibili- que propicie a preferência por um destino ou es-
dade, portanto, previne dissabores, e permite às pes- tabelecimento.
soas tomar uma decisão avisada sobre a deslocação: O fornecimento de informação sobre as condições
visitar, evitar ou levar acompanhante. de acessibilidade irá, por isso, beneficiar os empreende-
Mas a informação permite mais do que isso. dores que quiserem ser competitivos neste mercado.
Devido ao confronto diário com um ambiente que E poderá beneficiar – este é um ponto fundamen-
na maior parte das vezes é hostil, muitas pessoas tal – não apenas a oferta que reunir todas as condi-
com deficiência ou incapacidade têm uma vivência ções, mas sobretudo a oferta que divulgar com rigor
parcial do mundo que as rodeia. Na falta de informa- as condições existentes.
ção, a maioria não se aventura a experimentar (por Sublinhe-se: as condições existentes, mesmo que
exemplo) novos restaurantes, limitando-se a usar estas não sejam ideais. Porque pessoas diferentes
sempre os mesmos, onde tem a certeza de poder en- têm necessidades diferentes, e o facto de não haver
trar e fruir de uma refeição em condições de conforto condições suficientes para alguns consumidores, não
semelhantes às de qualquer outro cliente. significa necessariamente que não haja condições
Nessa medida, a informação sobre as condições para outros.
de acessibilidade torna-se indispensável para propor- Veja-se, por exemplo, o caso de um restaurante
cionar novas vivências ao cliente, e para atrair novos com degraus na entrada. É importante proporcionar
clientes para o estabelecimento. ao cliente uma alternativa acessível (por rampa, pla-
No caso do Turismo, esta informação assume es- taforma elevatória ou ascensor). Todavia, se essa al-
pecial importância: ternativa não existir,72 ainda assim há várias outras
> Para o consumidor, o que está em causa não é condições que o restaurante já tem ou pode facil-
um simples gesto do quotidiano, mas (muitas mente criar. E é importante divulgar essas condições
vezes) uma deslocação para locais desconheci- – porque há pessoas que conseguem subir escadas, e
dos, afastados da rede de apoio local (familia- querem simplesmente saber se existe corrimão, ou
res, amigos, colegas, vizinhos), que pressupõe, quantos degraus irão encontrar.
além disso, um investimento financeiro (nos
72 Nos termos do DL 163/2006, pode não existir porque o prazo para
custos de deslocação e alojamento) e um inves-
adaptação ainda não acabou, ou porque a dificuldade técnica da
adaptação permite abrir uma excepção e não a realizar.

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Assim, para além de permitir a captação de novos de férias em duas semanas de pesadelo, longe de casa
clientes, o fornecimento de informação irá promover e sem escapatória possível, para a pessoa com mobili-
um melhor “encaixe” entre a procura e a oferta. Os visi- dade condicionada e respectivos acompanhantes.
tantes poderão escolher os locais mais preparados para Os turistas com mobilidade condicionada têm,
satisfazer as suas expectativas e necessidades, o que, portanto, uma necessidade acrescida de informações
complementado pelo empenho do estabelecimento, se rigorosas e relevantes sobre a acessibilidade e prepa-
traduzirá na melhoria da qualidade do serviço. ração das várias componentes do produto turístico,
já que da qualidade dessa informação depende, em
Risco, informação, decisão grande parte, o êxito das suas férias.75
O turismo envolve, em maior ou menor grau, o A própria inexistência de informação já é, em si
contacto com algo desconhecido, e a escolha de pro- mesma, tomada como indicador negativo: alguns es-
dutos turísticos envolverá sempre uma decisão rela- tudos revelam que o facto de não ser disponibilizado
tivamente a algo intangível,73 que tem um preço, este tipo de informação específica tende a ser enten-
mas que existe sobretudo como promessa de uma ex- dido por estes consumidores como demonstração de
periência desejável. falta de interesse e falta de preparação dos profissio-
O grande nível de incerteza e a intangibilidade dos nais da indústria para lidar com as suas necessida-
produtos turísticos farão com que o consumidor se en- des.
volva fortemente no processo de decisão, recorrendo à Em suma, os consumidores que procuram acessi-
pesquisa de informação intensiva como uma estraté- bilidade precisam, antes de mais, de informação
gia de redução de risco, nomeadamente do risco74 de sobre as condições de acessibilidade.
uma experiência indesejada, que prejudique o bom re-
torno do investimento financeiro e emocional feito Que informação?
pelo consumidor ao adquirir o produto turístico. A informação tem uma dupla função: ajudar a es-
Isto é particularmente válido no caso dos consumi- colher o destino e, uma vez feita a escolha, ajudar a
dores com mobilidade condicionada, que enfrentam planear a deslocação e a estadia.
um maior grau de risco. A proliferação de barreiras e a O consumidor que procura acessibilidade precisa,
falta de sensibilidade no atendimento, por exemplo, portanto, de:
podem fácil e rapidamente transformar duas semanas > Informação completa sobre cada um dos espa-
ços e serviços que pretende visitar (e que em
73 Intangível – “algo em que não é possível tocar (…) incapaz de ser muitos casos pagará para usar) – haverá, por
definido ou determinado com certeza ou precisão”, in Moderno
Dicionário da Língua Portuguesa, Michaelis, 1998.
exemplo, um lugar de estacionamento reser-
74 Eugénia Lima Devile: “Necessidades de Informação Turística para vado? As instalações sanitárias serão acessí-
Pessoas com Mobilidade Física Reduzida: o caso dos Deficientes
Físicos”, Universidade de Aveiro, Departamento de Economia, Gestão e
Engenharia Industrial, 2003. 75 Devile, op. cit.
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veis? Poderei aceder à sala de refeições sem > Informação abrangente – não apenas sobre o
ajuda? E se for preciso ajuda, haverá funcioná- alojamento, mas também sobre outros locais
rios disponíveis, ou terei de ir acompanhado por com interesse turístico no destino; não apenas
uma pessoa que a possa prestar? Se tiver de sobre o destino, mas também sobre as infra-es-
mudar a fralda ao meu bebé, haverá um local truturas que sustentam a deslocação (transpor-
adequado para o efeito? tes públicos, serviço de táxi, etc.); não apenas
> Informação fiável, rigorosa e objectiva – a des- sobre o espaço físico, mas também sobre os ser-
crição corresponde à situação existente, e re- viços nele prestados (atendimento, apoios dis-
trata o que o consumidor vai encontrar durante poníveis, etc.). Poder passear por uma cidade,
a visita. Se houver uma classificação do grau de assistir a um espectáculo ou visitar um museu é
acessibilidade, ela terá por base critérios objec- tão importante como poder comer num restau-
tivos e não uma apreciação de carácter genérico rante ou dormir num hotel. Dada a diversidade
ou subjectivo (o facto de o local ser considerado de motivações que os turistas têm para viajar
acessível por quem efectuou a visita não quer (cultura, gastronomia, prática desportiva, etc.)
dizer, necessariamente, que seja acessível para a informação disponível deverá ter um âmbito
o consumidor); alargado, de modo a corresponder às necessida-
> Informação pessoalmente relevante e deta- des e aspirações dos diversos tipos de turistas.
lhada – o consumidor quer saber em que me- Quanto mais informação existir, mais o viajante
dida serão satisfeitas as suas necessidades pes- se sentirá confiante na escolha do destino e
soais específicas. O “turista médio” não existe, mais viajantes serão atraídos a esse destino.
todos têm capacidades e necessidades diversas. > Informação com uma dimensão pessoal – sabe-
Mesmo no caso dos utilizadores de cadeira de se que os turistas preferem informação pessoal,
rodas, não há utilizadores “médios”: enquanto geralmente obtida através de familiares, ami-
alguns só a usam para percorrer maiores dis- gos, agentes de viagens e técnicos dos organis-
tâncias, outros dependem totalmente da ca- mos de informação turística. Importa, neste
deira de rodas para se deslocarem. Um sistema ponto, equacionar formas de melhorar a comu-
que não forneça informação sobre a satisfação nicação com estas fontes, e ter presentes as po-
das necessidades decorrentes desta diversidade tencialidades da Web 2.0, através da qual o pró-
não será totalmente eficaz. Ter acesso a infor- prio consumidor pode participar na produção de
mação detalhada sobre o número de degraus no informação (através do seu feedback, por exem-
acesso a um hotel ou sobre a configuração e di- plo).76
mensões de uma instalação sanitária pode ser
determinante para a escolha de um estabeleci-
mento. 76 Devile, op. cit.

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2.2 Questões estruturantes limita o volume de dados, e condiciona a sua di-


fusão à tiragem e aos canais de distribuição de-
“Há dois modos de conhecer um assunto. finidos;
Conhecê-lo nós próprios, ou saber onde se pode > A segregação da informação (i.e., a sua difusão
encontrar informação sobre ele”. através de suportes que estão separados dos ca-
Samuel Johnson (1709-1784)77 nais de informação direccionados para o público
em geral), ou o recurso a organizações do sector
A disponibilização ao consumidor de informação da Deficiência como único canal de distribuição,
sobre as condições de acessibilidade em locais de in- reduz o universo de consumidores que poderão
teresse turístico implica a criação de um sistema aceder à informação (reduzindo bastante a pro-
que, de forma integrada, defina e articule os procedi- babilidade de contacto com aqueles que não te-
mentos necessários para a recolha de dados e para a nham uma ligação directa a estas organizações);
sua divulgação. > A análise pouco detalhada e pouco sistemática,
Os consumidores que procuram esta informação muitas vezes orientada para uma classificação
são, no seu conjunto, um grupo muito heterogéneo, genérica (em “acessível” ou “praticável”, por
que está geograficamente distante, e que precisa de exemplo), pode facilmente induzir em erro o
informação detalhada que não se encontra disponível consumidor, passando a ser vista mais como
nos guias turísticos. veículo de promoção do estabelecimento do que
A experiência demonstra que algumas opções como fonte isenta e rigorosa de informação.
tendem a limitar o alcance da informação, e o im- Nenhuma destas opções responde a duas ques-
pacto da sua difusão, nomeadamente: tões fundamentais:
> A publicação de guias com informação parcelar, > Face à quantidade imensa de informação hoje
que se debruçam apenas sobre um tipo de es- disponível em vários suportes, nomeadamente
paço, ignora o facto de que o turista aborda o na Internet, o sistema tem de alcançar uma
destino como um todo, composto de vários ele- massa crítica de informação que lhe dê relevân-
mentos (precisando por isso de acesso a infor- cia (e, consequentemente, visibilidade), sob
mação sobre diversos tipos de espaço); pena de se tornar uma “agulha num palheiro”.
> A edição em suporte papel desencoraja a actua- Recorde-se que a informação tem de ser útil
lização regular (e tão frequente quanto necessá- desde o primeiro momento, ou seja, quando o
rio) da informação (reduzindo a sua fiabilidade), potencial consumidor está a escolher o destino.
> Não basta que a informação exista – para gerar
77 (1709-1784) Poeta, ensaísta, crítico literário, biógrafo e grande confiança e ter consequências positivas na deci-
erudito da Língua Inglesa, autor do “Dictionary of the English
são do consumidor, ela tem de ser fiável, e essa
Language” (ed. 1755), ainda hoje aclamado como uma obra
fundamental para a Literatura Inglesa. fiabilidade só pode ser assegurada pela utiliza-
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ção de ferramentas e procedimentos rigorosos, c) Qual é o âmbito de aplicação do sistema?


aplicados de forma transversal, num quadro de A definição do tipo de estabelecimentos abrangi-
clara responsabilização dos diversos agentes dos é determinante para a construção das ferramen-
envolvidos na sua recolha e divulgação. tas de análise e, em conjunto com o âmbito geográ-
Tudo aponta, portanto, para a importância de um fico, é indispensável para a definição de estratégias
sistema global, que constitua um recurso, tanto para de marketing do próprio sistema, quer junto dos con-
o consumidor como para o sector turístico. sumidores quer junto dos operadores do sector.
A criação de um sistema deste tipo passa pela d) Qual a relação entre o sistema e as exigências
resposta a um conjunto de questões estruturantes: legais?
a) Qual é o conceito de Acessibilidade que está A adesão ao sistema será obrigatória ou voluntária?
na base do sistema? A análise do estabelecimento será feita através de uma
O conceito escolhido e a clareza na sua definição acção de fiscalização, ou de uma auditoria sem conse-
têm consequências práticas. Primeiro, porque a inde- quências jurídicas? E a informação prestada ao consumi-
finição ou a definição vaga geram desconfiança no dor tem de respeitar exclusivamente à conformidade do
consumidor e irão, inevitavelmente, criar distorções estabelecimento com as normas legais, ou pode integrar
no sistema, nomeadamente incoerências nas ferra- questões adicionais (e excluir algumas normas legais
mentas e procedimentos, que prejudicarão sempre a que não se considerem relevantes para o consumidor)?
qualidade da informação. Em segundo lugar, porque Qualquer uma das opções tem vantagens e des-
uma definição que assente na autonomia do utiliza- vantagens. A adesão obrigatória aumentará o nú-
dor conduzirá a uma abordagem diferente de uma de- mero de estabelecimentos com informação disponí-
finição que aceite como solução natural e suficiente o vel, mas a prazo pode levar à menor qualidade e rigor
apoio sistemático de terceiros. na análise. A acção de fiscalização pode desencadear
b) Qual é o objectivo do sistema? procedimentos jurídicos que conduzam à mais rápida
A clareza do mission-statement é, como se sabe, concretização das adaptações a que a lei obriga, mas
indispensável para a confiança do consumidor e para obrigará a análise a cingir-se às exigências legais
a coordenação e empenho dos diferentes intervenien- (que não esgotam as preocupações do consumidor).
tes. É também o que assegura a coerência das diver- A auditoria sem consequências jurídicas poderá reco-
sas componentes do sistema, e determina o alcance lher mais informação (e permitirá ao sistema ajustar
dos seus efeitos: o sistema francês, por exemplo com maior facilidade e frequência os campos de aná-
(analisado no capítulo 3), para além de informar o lise), mas não poderá contar com a colaboração de
consumidor, tem como um dos seus objectivos ante- funcionários e agentes da administração pública.78
cipar o cumprimento da legislação francesa (que, tal
78 Os funcionários e agentes da Administração Pública estão
como a portuguesa, estabelece prazos para adapta-
obrigados, nos termos da lei (cf. DL 163/2006, Art.º 15.º) a participar as
ção das edificações existentes). infracções de que tomem conhecimento no exercício das suas funções.

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e) Qual a entidade que é responsável pela infor- midor deve ser informado claramente de que se trata
mação prestada, e quais os limites dessa res- de uma auto-avaliação e das suas limitações.
ponsabilidade? g) Quais as necessidades tidas em conta na aná-
A identificação da fonte é indispensável para a lise do local?
confiança na informação prestada. A delimitação da As condições de acessibilidade serão verificadas
responsabilidade por essa informação (que passa, ne- com base nas necessidades de que tipos de utilizador?
cessariamente, pelo reconhecimento das suas limita- Só das pessoas com deficiência motora, ou de outras
ções) é igualmente indispensável, não apenas para também? É fundamental estabelecer as vertentes de
salvaguarda da entidade que a presta, mas também análise. O universo de consumidores é bastante hete-
para maior rigor face ao consumidor. rogéneo, mas as necessidades a ter em conta na aná-
A definição desta responsabilidade terá de articu- lise têm de ser sistematizadas – numa fase inicial,
lar-se com a definição da propriedade do sistema, dos para se conseguir um grau adequado de equilíbrio e
procedimentos de recolha e validação de dados, e da detalhe na construção das ferramentas; numa fase de
propriedade dos próprios dados – como se verá no ca- consulta, para possibilitar ao consumidor uma busca
pítulo 3, há sistemas em que as ferramentas de análise com base nas suas necessidades pessoais (uma vez
e a base de dados pertencem a uma entidade gestora, que quem tem, por exemplo, uma deficiência motora
e os dados específicos do estabelecimento pertencem dificilmente quererá dispender tempo a verificar a ade-
ao próprio estabelecimento, que pode requerer a sua quação do local às necessidades de pessoas com defi-
retirada da base de dados a qualquer momento. ciência auditiva).
f) Como se garante a fiabilidade da informação h) Qual o grau de detalhe da informação?
disponibilizada? A acessibilidade depende de características à es-
A difusão de informação errada ou desactualizada cala macro (acessibilidade do destino como um todo,
prejudica a credibilidade do sistema, e pode frustrar existência de um percurso acessível que percorra
as expectativas de alguém que viajou centenas ou todo o estabelecimento, etc.) e à escala micro (lar-
mesmo milhares de quilómetros por ter confiado na gura livre da porta, altura dos interruptores, configu-
informação. ração das barras de apoio na sanita, existência de
A fiabilidade da informação depende das ferra- fitas contrastantes e antiderrapantes em todos os
mentas e procedimentos utilizados na sua recolha, e degraus da escada, etc.). E um erro à escala micro
das regras definidas para a sua gestão. Quem recolhe compromete a acessibilidade à escala macro.
a informação: o proprietário do estabelecimento, ou É por isso que o consumidor precisa de informa-
auditores externos devidamente preparados e cre- ção detalhada. A usabilidade do sistema, i.e., a facili-
denciados? A auto-avaliação dos equipamentos pelos dade com que o consumidor poderá consultar os
proprietários ou gestores levanta problemas de fiabi- dados, é obviamente um factor essencial a ter em
lidade da informação, pelo que nesses casos o consu- conta, porque o grau de detalhe tem consequências
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no volume da informação. Mas nesse ponto há que O grau de autonomia e conforto que o consumidor vai
distinguir entre o volume de informação no momento sentir num determinado espaço não será determi-
da recolha e no momento da consulta. nado pelo espaço isoladamente, mas pela interacção
No momento da recolha, quem tem de lidar com o desse consumidor com o espaço. Ora, a definição de
volume da informação é quem efectua a análise, e uma escala de classificação assenta na definição de
não o consumidor. Se o sistema integrar informação requisitos mínimos para o espaço, e por isso haverá
recolhida por auto-avaliação, os limites ao volume de sempre consumidores para quem a escala não é fide-
informação serão ditados pela disponibilidade de digna. Este não é um problema de somenos, porque
tempo (que geralmente não é muita) de quem preen- pode induzir em erro consumidor e proprietário, e
che o questionário, i.e., o proprietário ou o gestor do ferir a credibilidade do sistema.
estabelecimento. A classificação pode, de facto, tornar a consulta
Um grande volume de informação disponível não menos trabalhosa para alguns consumidores, mas só
é, por si só, um problema, bem pelo contrário – se assentar numa base objectiva (i.e., a atribuição de
quanto maior a quantidade e diversidade de informa- um nível de classificação pressupõe o cumprimento
ção disponível para consulta, maior será a probabili- de requisitos mínimos, verificáveis e objectivos, e
dade de satisfazer um universo de consumidores que não uma avaliação “geral” e subjectiva de quem faz a
tem necessidades muito diversas. No momento da análise) e se essa base for clara e transparente (i.e., o
consulta, não é a redução do volume global de infor- consumidor pode saber com precisão quais os requi-
mação que aumenta a usabilidade, mas sim a exis- sitos mínimos para cada nível de classificação).
tência de mecanismos que permitam ao consumidor A definição de uma escala de classificação não in-
ser ele próprio a procurar a informação que mais lhe valida a disponibilização de informação detalhada,
interessa pessoalmente, “alimentando-o” a cada como se verá nalguns exemplos de boas práticas in-
passo dessa procura com quantidades facilmente ternacionais abordados no capítulo 3. Por isso, a clas-
“digeríveis” de informação. Hoje em dia, isto conse- sificação, a existir, deve ser um complemento e não
gue-se facilmente através de bases de dados disponí- um substituto do detalhe.
veis on-line, associadas a aplicações que permitem j) O sistema integra o feedback dos consumidores?
fazer buscas por tipo de equipamento ou pelo tipo de O consumidor poderá, na sequência da sua visita,
necessidades do utilizador. contribuir para a correcção ou actualização de
i) Os dados são convertidos em classificação? dados? E poderá complementar a informação sobre o
Os espaços serão classificados como acessíveis estabelecimento com os seus comentários? E a difu-
ou inacessíveis? Ou por níveis (por exemplo numa es- são destes comentários dependerá de aprovação do
cala de 1 a 5, sendo o grau 1 “nada acessível”)? A defi- estabelecimento?
nição de uma escala de classificação tem vantagens É verdade que o comentário pode ser visto como
e desvantagens, mas antes de mais tem limitações. uma “faca de dois gumes”, mas deve ter-se presente

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que há regras para reduzir o risco (identificação obri- A disponibilização da informação pressupõe a sua
gatória de quem comenta, confirmação de estadia, validação pelo sistema, sendo necessário definir se a
etc.), que é mais fácil a expressão de apreciações po- validação é automática (i.e., quem recolhe os dados
sitivas do que negativas, e que o comentário tem pode automaticamente inseri-los no sistema) ou se
valor como informação para o potencial consumidor constitui um passo intermédio, executado por uma
que recorre ao sistema. entidade distinta da que recolheu os dados.
k) Como é disponibilizada a informação, e quem Em matéria de competências, haverá que distin-
o pode fazer? guir entre a validação da informação, e a sua difusão.
A Internet constitui hoje um suporte indispensá- Uma validação central não implica, necessariamente,
vel para este tipo de sistemas, mas é preciso, por um uma exclusividade na difusão. Pode optar-se, por
lado, saber explorar as suas potencialidades, e, por exemplo, por uma validação central, e pela difusão
outro lado, equacionar meios complementares de di- num site de referência, com o qual os diversos opera-
vulgação. dores podem estabelecer ligações, ou do qual podem
O recurso à Internet para difusão da informação extrair informação útil para os seus próprios suportes
permite dar maior visibilidade ao sistema, tanto atra- (por exemplo, elaboração de guias especiais).
vés da presença on-line (que se consegue incremen-
tar, por exemplo, pela multiplicação de ligações),
como do estabelecimento de vias de acesso à infor-
mação a partir de websites direccionados para o pú-
blico em geral. Além disso, também permite aumen-
tar a usabilidade do sistema, através de aplicações
que facilitam a busca de informação e o consumo,
passo a passo, da informação disponível.
Mas há mais outros meios que também devem ser
considerados. A informação recolhida também pode
ser difundida em guias impressos (em versão simpli-
ficada). Ou por telefone, já que a sistematização dos
dados permitirá aos diversos operadores responder
de forma mais rigorosa e satisfatória aos pedidos de
informação (um problema frequentemente apontado
pelos turistas que procuram acessibilidade é a falta
de preparação do pessoal de front desk para fornecer
às suas perguntas concretas respostas igualmente ri-
gorosas sobre as condições de acessibilidade).
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3. Boas Práticas Internacionais rio de aderir a um longo, complexo e pouco eco-


A boa prática pode ser definida como uma forma nómico processo de certificação;
especialmente eficaz e eficiente de alcançar um ob- > Consideram que o rigor e a objectividade na
jectivo. Por outras palavras, como um sistema, mé- análise dos locais são uma condição chave para
todo ou técnica que permita alcançar melhores resul- a utilidade da informação e do próprio sistema,
tados com menor esforço, que se baseia em procedi- e definem para o efeito procedimentos e ferra-
mentos que podem ser replicados. mentas de análise de grande qualidade técnica;
Ao longo da última década têm vindo a ser imple- > Têm em conta as necessidades de diversos tipos
mentados, em diversos países, sistemas de análise e de utilizadores, não se resumindo a um tipo de
divulgação das condições de acessibilidade em locais deficiência, nem considerando que a resposta às
de interesse turístico. Sendo objectivo do presente necessidades de um tipo de deficiência garante,
projecto a concepção de um sistema similar, foram por si só, a resposta adequada aos restantes;
seleccionadas e analisadas algumas boas práticas. > Lidam com informação bastante detalhada, mes-
Deve notar-se que o contexto não pode ser igno- mo quando efectuam a conversão dos dados
rado, e a replicação de uma boa prática pode, natu- para uma escala de classificação;
ralmente, implicar a modificação de parte dos proce- > Envolveram na sua concepção e procuram en-
dimentos. Isto é especialmente verdade no domínio volver na sua gestão a participação de organiza-
do turismo acessível, em que mudam bastante, de ções representativas dos sectores da Deficiên-
país para país, o mercado, as leis aplicáveis, a expe- cia e do Turismo;
riência adquirida e as dinâmicas existentes ao nível > Aproveitam, quase todos, o potencial da Inter-
das organizações representativas das pessoas com net para ajudar o estabelecimento a difundir a
deficiência e dos operadores turísticos. informação, e para ajudar o potencial consumi-
Em todo o caso (e este é o ponto que aqui inte- dor a encontrá-la.
ressa focar), o facto é que os sistemas mais avança- A procura de sistemas considerados boas práticas in-
dos partilham, entre si, alguns traços distintivos: ternacionais foi realizada com recurso à literatura especia-
> Não se resumem a um único tipo de elemento (por lizada, à informação disponível on-line, e à rede internacio-
ex., praias ou hotéis), alargando o seu âmbito de nal de contactos da Include (autora do presente estudo).
aplicação a vários tipos de recursos, que têm o tu- Foram seleccionados para análise mais aprofundada
rismo como denominador comum: alojamento tu- os sistemas que melhor concretizam os traços distinti-
rístico, restaurantes, praias, museus, etc.; vos assinalados acima: National Accessible Scheme e
> Focam-se no fornecimento de informação ao DisabledGo (Reino Unido), Label Tourisme et Handicap
consumidor, centrando a sua análise nas condi- (França), Toegankelijk (Bélgica), Access Unlimited (Is-
ções reais e actuais, e dispensando o proprietá- rael), Visit Oslo (Noruega), Accessibility Labelling Scheme
(Dinamarca) e Europe for All (Europa).

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A análise dos sistemas foi efectuada com base na 3.1 National Accessible Scheme (Reino Unido)
literatura especializada, na informação disponível on- O National Accessible Scheme foi gerido, até Abril
line e nos contactos directos (realizados por telefone e de 2009, pela Visit Britain, a agência nacional de tu-
por e-mail) com os responsáveis de cada sistema. rismo, responsável pelo marketing turístico do Reino
Focou-se a análise nas características fundamentais Unido a nível internacional. Actualmente é gerido pela
do sistema, passíveis de replicação, e não em aspectos Visit England (em Inglaterra), sendo financiado pelo
conjunturais ou demasiado específicos (como, por exem- Governo Britânico (Department for Culture, Media and
plo, o número de locais actualmente abrangidos). Sport).
Características analisadas:
> Tipo de entidade gestora;
> Objectivo;
> Locais abrangidos;
> Âmbito geográfico;
> História (nomeadamente as entidades envolvi-
das na criação, e a participação de pessoas com
deficiência ou de entidades do sector);
> O tipo de adesão ao sistema (voluntária ou obri-
gatória);
> A relação do sistema com a certificação;
> Os custos de adesão;
> O prazo de validade da informação;
> O processo de análise (possibilidade de auto-ava-
liação e características da equipa de auditoria);
> O conteúdo da análise (só edificado ou serviços O sistema tem por objectivo aumentar o acesso e a
também, relação dos pontos de verificação com qualidade na indústria turística e oferecer uma escolha
as normas legais, tipos de necessidade tidos em informada aos clientes. Abrange vários tipos de aloja-
conta); mento turístico, desde hotéis a parques de campismo.
> Tipo de informação disponibilizada ao consumidor O Visit England aplica-se a Inglaterra. Na Escócia
(dados detalhados, conversão em classificação); aplica-se o Visit Scotland (na sua versão original,
> Veículos de difusão da informação (disponibili- criada na década de 90). No País de Gales não existe
zação on-line da base de dados com funcionali- nenhum sistema.
dade de busca, impressão de guias, afixação de Foi desenvolvido após consultas com fornecedo-
placas in situ); res de alojamento, clientes e muitas organizações re-
> Integração de feedback do consumidor. presentativas de pessoas com deficiência.
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Os requisitos necessários à classificação foram sistema. Trabalham individualmente (sem equipa). A


estabelecidos com a participação de várias organiza- Visit England considera que o auditor tem de ser im-
ções ligadas à Deficiência (por ex., Royal National parcial em relação a todas as deficiências, e por isso
Institute for the Blind e Royal National Institute for não exige a integração de pessoas com deficiência
Deaf People) e várias outras entidades especializadas nas equipas de auditoria.
nas questões da acessibilidade (por ex., Access Unli- A análise abrange várias áreas para além do edifi-
mited, Chester City Council Access Service, Tourism cado, tais como a comunicação e a formação do pes-
for All, The Access Consultancy e The Center for Ac- soal. Em relação ao meio edificado, integra várias
cessible Environment). questões não previstas na legislação – as normas de
O sistema foi revisto pela última vez em 2005, construção para a acessibilidade aplicam-se apenas
também de forma participada. O feedback dos opera- às novas edificações, construídas desde 2000, e o sis-
dores turísticos foi fundamental para esta revisão. tema foi por isso concebido para ser aplicável a edifi-
A adesão ao sistema é voluntária, cabendo ao pro- cações mais antigas.
prietário do estabelecimento tomar a iniciativa. A Centra-se na adequação do estabelecimento a
classificação é encarada como uma parte adicional clientes com incapacidade ao nível da mobilidade,
do processo de certificação de qualidade (Quality As- visão ou audição. Os resultados da análise são con-
sessment), e é paga pelo proprietário do estabeleci- vertidos em classificação, havendo uma escala para
mento. Se o estabelecimento já tiver aderido ao Qua- cada tipo de incapacidade, da seguinte forma:
lity Scheme da Visit Britain, a entrada no sistema de
informação de acessibilidade é grátis. A atribuição de Mobilidade
cada uma das classificações (mobilidade, audição ou 1. Adequado a pessoas que, tendo mobilidade
visão) é feita de forma separada, e o custo varia con- suficiente para subir um lance de escadas,
soante o número de classificações: 109,5 Libras por beneficiarão de equipamentos que auxiliem o
uma, 179 por duas e 229 por três. equilíbrio.
Cada classificação tem um prazo de validade de 2. Adequado a pessoas que têm mobilidade
três anos, no caso dos estabelecimentos aderentes reduzida e precisam, por vezes, de usar ca-
ao Quality Scheme, e de um ano, no caso dos restan- deira de rodas, mas que conseguem subir um
tes (sendo paga a renovação). máximo de três degraus.
Coexistem dois tipos de análise. Numa primeira 3. Adequado a pessoas que usam cadeira de
fase é realizada uma auto-avaliação, que serve de base rodas, mas que conseguem transferir-se de e
a uma posterior análise a cargo de um auditor externo. para a cadeira sem ajuda, podendo ser via-
Os auditores externos pertencem à empresa Qua- jante independente.
lity in Tourism, contratada para o efeito, e receberam
formação para poder realizar auditorias no âmbito do

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4. Adequado a pessoas que usam cadeira de > http://www.enjoyengland.com/stay/accessible-


rodas e que precisam de ajuda pessoal ou me- accommodation/
cânica para se transferir de e para a cadeira. > http://www.visitbritain.co.uk/accommoda-
5. Acesso Excepcional – Adequado a todos os tion/national-accessibility-scheme/
tipos de pessoas com as incapacidades de A informação também consta do guia “Easy Ac-
mobilidade referidas anteriormente, de acordo cess Britain”, publicado pela Visit Britain.
com a Norma Britânica BS8300:2001. Nesta A integração do feedback dos consumidores na in-
classificação, os estabelecimentos têm de formação prestada pelo sistema (encarada como
cumprir todos os requisitos anteriores, e al- user generated content, i.e., conteúdo gerado pelos
guns critérios de boas práticas adicionais. utilizadores) é considerada uma oportunidade para
enriquecer o sistema, pelo que a Visit Britain e a Visit
Incapacidade auditiva England estão neste momento a estudar a melhor
1. Requisitos mínimos de acordo com as nor- forma de a enquadrar e aproveitar.
mas nacionais de acessibilidade para clientes Os responsáveis referem que, embora o número de
com deficiência auditiva (da pequena perda participantes (locais que aderiram ao sistema) seja
de audição à surdez profunda). baixo se comparado com o stock existente (i.e., todos
2. Recomendado (Boas Práticas): requisitos os locais que podem ser considerados potenciais ade-
adicionais de acordo com as normas nacio- rentes), o National Accessible Scheme é um dos meios
nais de acessibilidade para clientes com defi- mais usados para melhorar as condições de acessibi-
ciência auditiva (da pequena perda de audi- lidade em alojamento turístico, e aderir ao sistema é
ção à surdez profunda). uma forma de demonstrar aos consumidores e a ou-
tras entidades interessadas que se pode proporcionar
Incapacidade visual algum grau de acessibilidade, e que as necessidades
1. Requisitos mínimos de acordo com as nor- das pessoas com deficiência foram consideradas.
mas nacionais de acessibilidade para clientes
com deficiência visual. 3.2 DisabledGo (Reino Unido, Irlanda)
2. Recomendado (Boas Práticas): requisitos DisabledGo é a designação comercial da Disabled
adicionais de acordo com as normas nacio- Enabled Ltd., uma empresa com fins lucrativos que
nais de acessibilidade para clientes com defi- reinveste a maioria dos seus lucros na melhoria dos
ciência visual. seus meios, nomeadamente do seu site de Internet,
A informação é disponibilizada na Internet, nos para benefício das pessoas com deficiência.
sites da Enjoy England e da Visit Britain. Em ambos os O objectivo do sistema é fornecer informação que
sites é possível fazer buscas por tipo de incapaci- permita à pessoa avaliar por ela própria se determinado
dade, estabelecimento e zona geográfica: espaço responde às suas necessidades específicas.
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análise de necessidades, e com o desenvolvimento,


implementação e avaliação de melhoramentos.
A adesão ao sistema é voluntária, cabendo ao pro-
prietário do estabelecimento tomar a iniciativa, o
que geralmente acontece no quadro de uma campa-
nha de âmbito local.
A adesão é paga pelo proprietário do estabeleci-
mento, custando €350 para pequenos e médias insta-
lações (restaurantes, lojas, talhos, etc.) e €500 para
instalações maiores (hotéis, centros comerciais, etc.).
A informação tem o prazo de validade de um ano,
sendo necessária nova auditoria para renovação da
classificação (custa €60).
A análise não está integrada em nenhum pro-
Abrange todo o género de estabelecimentos aber- cesso de certificação de qualidade.
tos ao público (comerciais, turísticos), via pública e Não é admitida a auto-avaliação, por ser conside-
edifícios públicos. rada muito pouco fiável. A análise é conduzida pela
Dispõe de informação sobre várias localidades no DisabledGo, que já realizou mais de 70.000 visitas e
Reino Unido e na Irlanda, e no ano em curso inicia- que credencia e contrata auditores de acessibilidade
ram os trabalhos em Ljubljana, capital da Eslovénia. para esse efeito.
Trabalham com uma lógica local, i.e., abordando A metodologia de análise da DisabledGo foi conce-
uma localidade no seu conjunto. Em Dublin, por bida por peritos em trabalho de campo, e envolveu
exemplo, associaram-se à Câmara Municipal, que mais de 900 grupos ligados à deficiência. Os respon-
aproveitou o pretexto para lançar uma campanha in- sáveis da empresa consideram que a competência re-
tegrada que pretende tornar acessíveis todos os edi- side na ferramenta de análise, e não no auditor, i.e.,
fícios públicos, parques e ruas da cidade, para se tor- que o “perito” é a ferramenta, e não o auditor. O
nar um centro de excelência de acessibilidade reco- treino do auditor centra-se, por isso, no uso correcto
nhecido a nível internacional. da ferramenta.
O desenvolvimento do sistema envolveu uma pri- Pela mesma razão, não consideram indispensável
meira fase, que se prolongou por dois anos, de auscul- a integração de pessoas com deficiência entre os au-
tação de pessoas com deficiência, procurando saber ditores. Referem, aliás, que o facto de o auditor não
qual a informação de que precisavam, e qual a melhor ter deficiência aumenta o número de locais visitá-
forma de a disponibilizar. Esta estreita articulação tem veis. A questão coloca-se de forma diferente quando
prosseguido na última década, com uma contínua se trata de realizar actualizações, uma vez que,

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sendo conhecidas as condições existentes, é possível O visitante pode utilizar as instalações de


avaliar se o envio de um auditor com deficiência uma forma autónoma.
constituirá ou não um problema. Existe a possibili-
dade de treinar pessoas com deficiência da região Existem situações em que o utilizador tem de
para que realizem essas actualizações. pedir assistência (por ex., para abrir portas
O trabalho de campo pode ser realizado de forma muito pesadas).
individual ou em equipa, dependendo do tamanho e Podem existir até três degraus na entrada, e
da complexidade do local. É sempre possível o traba- sempre que exista mais de um degrau tem de
lho individual, mas considera-se que para maior rapi- haver corrimão.
dez e eficiência é preferível o trabalho em equipa. Existe um assento nas instalações, disponí-
A análise não se restringe às condições de acessi- vel em permanência ou a pedido do visitante.
bilidade do meio físico, abrangendo também áreas
como a comunicação e a formação do pessoal. Existe uma Instalação Sanitária adaptada.
Também não se restringe às normas legais. A Di-
sabledGo considera que essas normas são desconhe-
cidas pela maior parte das pessoas com deficiência, e Existe uma Instalação Sanitária corrente
que além disso “constituem mínimos que são dema- com acesso de nível.
siadas vezes usados pelos arquitectos como máxi-
mos”. Preferem por isso aferir as condições de acessi- Existem vestiários ou gabinetes de prova
bilidade com base nos seus próprios critérios. adaptados.
São consideradas as necessidades associadas às
incapacidades de mobilidade, visão e audição. (Plano horizontal, assistente e grua para transfe-
A informação recolhida durante a análise é con- rência) As Instalações Sanitárias adaptadas cor-
vertida em classificação, mas também disponibili- respondem às necessidades de todas as pessoas
zada com considerável grau de detalhe, através de com deficiência. Estas têm de ter, por exemplo,
uma base de dados on-line que permite consultar, por um banco de altura ajustável, dimensão para um
exemplo, a altura do balcão de atendimento, a lar- adulto mudar de roupa ou fralda e uma grua.
gura de portas, a altura dos interruptores, etc. Existe informação escrita em caracteres am-
A classificação consiste na “atribuição” de dife- pliados.
rentes pictogramas ao estabelecimento. Estes picto-
gramas estão associados a diferentes tipos de neces- Existe informação escrita em "Braille".
sidades, e são atribuídos consoante o estabeleci-
mento reúna diferentes tipos de condições mínimas,
da seguinte forma:
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São admitidos cães de assistência. A base de dados on-line está acessível num Portal
(www.disabledgo.info), e a pesquisa pode ser feita
acordo com as necessidades do utilizador, através de
Existe um sistema de apoio à audição em al- um interface.
gumas partes das instalações. A participação da comunidade de pessoas com de-
ficiência é integrada no processo. Em cada área em
Nas instalações existem equipamentos tele- que a DisabledGo trabalha, é criada uma comissão de
fónicos adaptados, ou é possível comunicar acompanhamento local (local disability steering group),
via fax ou e-mail. que os ajuda a crescer e a melhorar. A DisabledGo reúne
Existem quartos adaptados. com estes grupos duas vezes por ano em cada área. No
ano passado reuniram-se com 140 grupos deste tipo,
gastando mais de €400.000 nesta articulação.
Nas instalações existe um funcionário que O feedback do consumidor também é tido em conta.
aprendeu língua gestual. Referem que é muito raro haver queixas sobre o rigor
ou desactualização da informação prestada, mas que
Os funcionários tiveram formação em sensi- de qualquer forma o Portal tem um “botão” através
bilização para a deficiência. do qual se pode enviar feedback. Além disso, acaba-
ram de lançar um fórum on-line para tornar o Portal
Existe serviço de entregas ao domicílio ou é mais interactivo.
possível solicitá-lo. A informação que têm vindo a recolher através
das actualizações sugere que cerca de 10% a 15% dos
Existe estacionamento adaptado nas imedia- estabelecimentos melhoram anualmente as suas
ções. condições de acessibilidade depois de a DisabledGo
ter realizado a sua análise.
Existe estacionamento público adaptado nas
imediações. 3.3 Label Tourisme & Handicap (França)
O Label Tourisme & Handicap é uma marca per-
Existe estacionamento adaptado dentro das tencente ao Estado Francês.
instalações. É gerida pelas Delegações Regionais de Turismo (Mi-
nistério da Economia, Indústria e Emprego), cabendo à
A informação é disponibilizada ao consumidor Associação "Tourisme et Handicaps" assegurar a coe-
através de uma base de dados on-line e de um guia rência dos procedimentos a nível nacional, no quadro
em suporte papel, publicado anualmente. de uma convenção de gestão do sistema estabelecida
com a Secretaria de Estado do Consumo e do Turismo.

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A adesão ao sistema é voluntária, cabendo ao pro-


prietário do estabelecimento tomar a iniciativa.
A classificação é feita com base numa Norma (Ac-
cord) AFNOR (AC X35-501 Julho 2006), que tem a de-
signação “Label Tourisme et Handicap – Exigences”.
A classificação não é paga. É atribuída por um pe-
ríodo máximo (prazo de validade) de 5 anos. O pro-
prietário assina um contrato em que garante a pre-
servação da acessibilidade permanente das instala-
ções. A placa de sinalética (que deve ser colocada à
entrada do estabelecimento) é alugada por €150. As
receitas revertem para a Associação "Tourisme et
Handicaps".
No pedido de adesão o proprietário do estabeleci-
O sistema foi criado em 2001, pelo Ministério com mento preenche uma ficha de auto-avaliação. Esta
a tutela do Turismo, no quadro de uma política de auto-avaliação é feita com base numa lista de verifi-
acesso a férias para todos e de integração das pes- cação (checklist), e constitui a primeira etapa do pro-
soas com deficiência. Resultou de uma parceria entre cesso. Caso a auto-avaliação seja positiva, tem lugar
o Estado, profissionais da área do turismo e represen- uma auditoria de acesso.
tantes das pessoas com deficiência. A auditoria é realizada por 2 auditores credencia-
Tem dois objectivos: dos na área da acessibilidade. Um é representante da
> Desenvolver uma oferta turística adaptada, que indústria turística e o outro representante das pes-
permita às pessoas com deficiência escolher soas com deficiência.
viajar autonomamente, sozinhas, com a família O relatório da auditoria é analisado por uma Co-
ou com amigos; missão Regional de Concertação que, em caso de apre-
> Antecipar o cumprimento da legislação em ciação positiva, o envia à Associação "Tourisme et
vigor (Lei de 11 de Fevereiro de 2005), que exige a Handicaps" para apreciação final e concessão da clas-
adaptação dos estabelecimentos turísticos e de sificação pela comissão nacional. Esta comissão na-
lazer até 2015. cional é composta por um representante governamen-
Aplica-se ao alojamento turístico (hotelaria, resi- tal, um representante dos profissionais de turismo e
dências de férias, parques de campismo, pousadas um representante das pessoas com deficiência.
de juventude, etc.), restauração, espaços de lazer na- A auditoria abrange várias questões para além do
turais e turísticos, actividades de lazer, espaços de edificado, tais como o atendimento, a comunicação e
acolhimento e informação turística. a sensibilização do pessoal.
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O sistema de classificação reparte-se por quatro deficiência, e a Associação "Tourisme et Handicaps"


tipos de deficiência: motora, visual, auditiva e mental. integra organizações da área da deficiência (a par da
A classificação pode ser solicitada separadamente. indústria turística e de organismos governamentais).
Existem quatro “Labels”, que se limitam a indicar Para além da informação sobre a acessibilidade
se os requisitos mínimos estão preenchidos ou não, nos locais, a Associação tem vindo a editar diversas
assim se classificando o estabelecimento como publicações sobre esta temática, designadamente
“acessível”. estudos de mercado e manuais para apoio à forma-
Deficiência Motora ção dos profissionais do sector (atendimento, etc.).

3.4 Toegankelijk (Flandres, Bélgica)


Deficiência Auditiva O sistema é gerido pelo Turismo da Flandres, uma
entidade pública, e aplica-se a toda a Região da Flan-
dres.
Deficiência Visual

Deficiência Mental

No exterior do estabelecimento é afixada uma


placa que integra os Label atribuídos.
Além disso, existe informação on-line para busca
de estabelecimentos que estão classificados, refe-
rindo-se apenas, relativamente a cada estabeleci-
mento, quais os Label atribuídos. No website oficial
do Turismo em França (www.franceguide.com) pode
ser efectuada busca por tipo de deficiência.
O funcionamento do sistema integra de várias for-
mas a participação das pessoas com deficiência: Foi concebido e desenvolvido no âmbito de um
como já foi referido, quer na auditoria quer nas co- projecto europeu, por iniciativa do Turismo da Flan-
missões regionais e nacional participam represen- dres, que actualmente o suporta no plano financeiro
tantes das pessoas com deficiência. e dos conteúdos.
As normas técnicas também foram desenvolvidas Foram envolvidos no projecto todos os governos
com a participação de organizações de pessoas com provinciais e os gabinetes de aconselhamento para a

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acessibilidade (“bureaux-conseil pour l’accessibilité”) a dimensões precisas constitui um critério de avalia-


da Flandres. ção mais objectivo.
O sistema tem por objectivo fornecer informação A classificação define três níveis, da seguinte forma:
às pessoas com deficiência. Tem um âmbito bastante Foi feita uma auditoria de acessibilidade. A
alargado, aplicando-se ao alojamento turístico, esta- instalação não é considerada acessível mas a
belecimentos de restauração, serviços, equipamen- descrição das condições está disponível para
tos culturais, transportes, etc. consulta numa base de dados on-line, de forma
A adesão ao sistema é voluntária, e a classifica- a que o utilizador possa avaliar se o espaço é
ção é gratuita. adequado às suas necessidades.
A análise não está integrada em nenhum pro- Foi feita uma auditoria de acessibilidade, e as
cesso de certificação de qualidade. A análise do local instalações prevêem acessibilidade básica
é realizada por uma entidade externa ao estabeleci- para pessoas com mobilidade condicionada,
mento. O trabalho de campo é efectuado por técnicos como por ex. utilizadores de cadeira de rodas.
com formação específica em acessibilidade, os quais Todos os espaços importantes (entrada, re-
dependem de uma entidade especializada em acessi- cepção, quarto, instalações sanitárias, sala
bilidade validada pelo Turismo da Flandres. de refeições, salas de exposição, e os percur-
A principal informação é relativa à acessibilidade sos que ligam estes espaços) são facilmente
para pessoas com deficiência motora, havendo tam- usáveis e acessíveis, podendo, no entanto, ser
bém alguma informação com interesse para pessoas necessária assistência.
com deficiência auditiva ou visual, ou com alergias Tem as características do grau anterior, acres-
ou hipersensibilidade. cendo que neste caso, em princípio, uma pes-
A checklist utilizada nas auditorias foi elaborada soa com mobilidade condicionada poderá uti-
com a colaboração de associações representativas lizar os principais espaços autonomamente,
das pessoas com deficiência. não requerendo assistência.
A classificação parte do pressuposto que as ne- Aos diferentes espaços de cada estabelecimento é
cessidades dos utilizadores de cadeira de rodas são ainda atribuída uma classificação de (-) para espaço
mais exigentes, nomeadamente em termos de es- não acessível, (+/-) para espaço parcialmente acessí-
paço, sendo por isso a base da classificação. As exi- vel e (+) para espaço acessível.
gências associadas a outro tipo de deficiências (vi- No exterior dos estabelecimentos é afixada uma
suais, auditivas e alergias/hipersensibilidade) são re- placa com o símbolo relativo ao nível de acessibili-
feridas na informação sobre os equipamentos audita- dade atribuído.
dos, mas não são relevantes para a classificação. O Na base de dados on-line é possível ter acesso a
sistema considera que o facto de as necessidades das informação muito detalhada sobre cada um dos espa-
pessoas com deficiência motora estarem associadas ços, podendo a pesquisa ser efectuada por tipo de in-
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capacidade (esta informação só está disponível em Aplica-se a todo o território nacional, e iniciou re-
flamengo). centemente um projecto de cooperação com uma
> http://www.toevla.be/index.html companhia sedeada na Alemanha, o que poderá vir a
O guia impresso “All in” também tem in- permitir a sua aplicação naquele país.
formação detalhada acessível. O sistema foi criado em 2000, em resposta a um
Na base de dados on-line é possível problema específico: a falta de informação necessária
aos consumidores comunicarem situa- para os turistas com deficiência sobre locais de inte-
ções de desconformidade. resse turístico. Desde então tem vindo continuamente
a evoluir, designadamente alargando-se aos edifícios
3.5 Access Unlimited (Israel) públicos, melhorado o formato em que a informação é
O sistema é propriedade de uma organização não- disponibilizada, acrescentando novas questões à check-
governamental vocacionada para a promoção da list e afinando o sistema de classificação.
Acessibilidade, a Access Unlimited – The Israeli Asso- O âmbito de aplicação é bastante alargado, abran-
ciation for the Advancement of Accessibility. gendo, entre outros tipos de alvo, alojamento turís-
tico, estabelecimentos de restauração, parques, equi-
pamentos culturais, religiosos, desportivos, etc.
A adesão ao sistema é voluntária, e não está inte-
grada num sistema de certificação.
Não há um prazo de validade fixo para a informa-
ção – a informação é válida enquanto não houver al-
terações. A actualização regular não é obrigatória –
ainda assim, procuram assegurar uma actualização
anual da informação (o que depende dos meios finan-
ceiros disponíveis).
A análise é efectuada pela Access Unlimited, atra-
vés de uma auditoria de acessibilidade. A equipa de
auditoria é constituída por três elementos: um técnico
de reabilitação, uma pessoa com deficiência e um téc-
nico com formação específica na aplicação da checklist.
Tem dois objectivos: A checklist consiste num questionário exaustivo,
> Promover a acessibilidade aos equipamentos turís- baseado:
ticos e recreativos, públicos e privados, em Israel; > Nas necessidades das pessoas com deficiência,
> Disponibilizar informação às pessoas com defi- incidindo especialmente na informação de que
ciência. precisam quando estão a planear uma viagem;

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> Nas normas legais de acessibilidade. Deficiência Motora (utilizadores de cadei-


Houve uma primeira fase piloto de aplicação da ra de rodas):
checklist a vários tipos de edifícios, levada a cabo 1. Local inacessível.
pela Access Unlimited em conjunto com pessoas com 2. Local parcialmente acessível ou com ne-
deficiência motora, visual e auditiva. Desde então, a cessidade de assistência.
checklist tem sido várias vezes revista. 3. Local acessível mas que não cumpre todas
A análise centra-se fundamentalmente nas condi- as normas.
ções existentes no meio edificado. Nos locais em que 4. Local acessível que cumpre todas as normas.
são servidas refeições, é referido se a refeição é "kos- Deficiência Motora (utilizadores de cana-
her" ou não (i.e., se na sua confecção foram seguidos dianas ou andarilho):
os procedimentos estabelecidos pela religião judaica). 1. Local inacessível.
O critério chave para a análise é a relevância para 2. Local parcialmente acessível ou com ne-
o turista. Por isso, a checklist integra diversos pontos cessidade de assistência.
das normas legais vigentes em Israel para o meio 3. Local acessível mas que não cumpre todas
edificado, mas não as integra a todas (porque se con- as normas.
sidera que nem todas têm a mesma relevância), nem 4. Local acessível que cumpre todas as normas.
se restringe ao âmbito da lei, integrando diversas Deficiência Visual:
questões não previstas nas normas. 1. Local inacessível.
A checklist articula-se com uma aplicação informá- 2. Local parcialmente acessível ou com ne-
tica, que converte os dados em classificação. Esta apli- cessidade de assistência.
cação funciona com base num conjunto de equações 3. Local acessível mas que não cumpre todas
matemáticas desenvolvidas para análise dos dados, as normas.
definidas por uma equipa de peritos (incluindo um con- 4. Local acessível que cumpre todas as normas.
sultor em reabilitação e um arquitecto, ambos com de- Deficiência Auditiva:
ficiência) e discutidas com investigadores norte-ameri- 1. Local inacessível.
canos e especialistas em Turismo Acessível europeus. 2. Local parcialmente acessível ou com ne-
A classificação é indicada para quatro tipos de in- cessidade de assistência.
capacidade: deficiência visual, deficiência auditiva e 3. Local acessível mas que não cumpre todas
dois tipos de deficiência motora, sendo distinguidos as normas.
os utilizadores de cadeira de rodas dos utilizadores 4. Local acessível que cumpre todas as normas.
de canadianas ou andarilho. À entrada dos locais classificados é afixada uma
Para cada tipo de incapacidade existem 4 graus, placa com os quatro símbolos e o grau de acessibili-
indicados por números de 1 a 4, que são apresentados dade correspondente a cada um.
em conjunto com o símbolo, da seguinte forma:
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É também publicado (com o apoio


do Ministério do Turismo) um guia
impresso com informação detalhada.
O guia tem mapas para localização
dos espaços classificados e uma des-
crição detalhada das diversas áreas:
parque de estacionamento, espaços de acesso pú-
blico (quartos, salas de refeição, auditórios, salas de
exposição), instalações sanitárias, permissão de en-
trada de cães guia, etc.
Caso o consumidor aponte falhas na informação, a
Access Unlimited efectua uma visita ao local para veri-
ficar a queixa, uma vez que, segundo referem os res-
ponsáveis, nem sempre as queixas têm fundamento.
Ao longo dos anos têm vindo a receber bastante O sistema foi iniciado em 2004, com o apoio finan-
feedback positivo dos consumidores, que consideram ceiro do Ministério da Saúde e em parceria entre a
a informação fiável e só visitam os locais menciona- Visit Oslo e uma série de outras entidades: Associa-
dos no guia ou recomendados pela Access Unlimited. ção Norueguesa de Pessoas com Deficiência, Associa-
ção Norueguesa de Cegos, Associação Norueguesa de
3.6 VisitOslo (Oslo, Noruega) Surdos, Associação Norueguesa das Pessoas com
O sistema é gerido pela Visit Oslo, uma organiza- Asma e Alergias, TellusIT e Delta Centre. Num pri-
ção sem fins lucrativos, que tem por missão a promo- meiro momento foram analisados 100 locais.
ção turística da cidade de Oslo e que conta entre os Em 2006 participaram no projecto europeu OSSATE
seus accionistas com diversos operadores turísticos (One-Stop-Shop for Accessible Tourism in Europe).
e entidades proprietárias de locais de interesse turís- A adesão ao sistema é voluntária e grátis, e não faz
tico: hotéis, restaurantes, agências de guias turísti- parte de nenhum processo de certificação de qualidade.
cos, centros de convenções, etc. O prazo de validade da informação não está defi-
O sistema tem como objectivo fornecer às pes- nido, sendo indicada em cada caso a data em que os
soas com deficiência e incapacidades informação dados foram recolhidos. A informação é actualizada
sobre acessibilidade, integrada na informação turís- se entretanto ocorrerem mudanças significativas,
tica mainstream. mas necessariamente através de uma visita da Visit
Aplica-se a alojamento turístico, estabelecimen- Oslo. Os responsáveis consideram que 2 anos seria a
tos de restauração, museus e atracções turísticas em periodicidade ideal para as visitas de actualização (e
geral. O âmbito geográfico resume-se a Oslo. portanto para o prazo de validade da informação),

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mas admitem que nem sempre conseguem obter fi- > Deficiência visual;
nanciamento para o fazer. E uma vez que não lhes > Deficiência auditiva;
tem sido possível assegurar essa periodicidade em > Asma e/ou alergias.
todos os alvos, dão prioridade aos hotéis e restauran- A informação é disponibilizada on-line, no site Vi-
tes que sejam novos ou que tenham recentemente sitOslo, um site vocacionado para a informação turís-
sofrido alterações profundas. tica, de carácter geral, sobre a cidade de Oslo, (dispo-
A análise do local é efectuada por um auditor da nível em inglês, em http://www.visitoslo.com/en/).
Visit Oslo. O auditor não tem de ter, necessaria- Existem duas formas de aceder à informação es-
mente, conhecimentos aprofundados sobre acessibi- pecífica sobre acessibilidade:
lidade – o que consideram essencial é o treino e a ex- > Directamente, através de uma secção específica
periência no uso da checklist e das ferramentas a que do site (denominada “Oslo for All”), onde é pos-
se recorre para aferição de algumas condições (grau sível fazer buscas por tipo de necessidade (i.e.,
de iluminação, força para abrir portas, etc.). procurar estabelecimentos que disponham de
A checklist usada nas auditorias foi desenvolvida informação sobre acessibilidade adequada a de-
no âmbito do projecto europeu OSSATE, através de terminado tipo de incapacidade);
um processo que contou com a participação de diver- > Encontrando-a assinalada nas listagens gerais
sas organizações de pessoas com deficiência. de estabelecimentos, por um ícone específico
A análise não tem por base as normas legais no- (um símbolo que cruza o “i” de informação com
rueguesas, nem tem por fim verificar o seu cumpri- o símbolo internacional de acessibilidade) que
mento. E não se restringe às condições físicas. indica existir, para aquele estabelecimento, in-
O enfoque não é colocado na avaliação da acessi- formação adicional sobre acessibilidade (bas-
bilidade, mas na recolha de dados sobre as condições tando “clicar” no ícone para lhe aceder).
reais. Por outras palavras, a Visit Oslo não avalia se o Os dados possuem um grau de detalhe apreciável.
local está apto a receber pessoas com deficiência – o Se um consumidor se queixar de informação incor-
que se pretende é que, disponibilizando informação recta, a Visit Oslo encarrega-se de proceder à sua cor-
detalhada, as pessoas com deficiência possam ava- recção, através de uma verificação in loco realizada
liar por si próprias se as condições existentes são com a máxima rapidez possível e da subsequente cor-
adequadas às suas necessidades pessoais. recção dos dados on-line (caso ela se confirme).
Assim sendo, é disponibilizada informação detalha- Os responsáveis da Visit Oslo referem que têm
da, mas os dados não são convertidos em classificação. vindo a receber feedback positivo de visitantes e cole-
A análise é efectuada em cinco vertentes: gas, reforçando a convicção de que esta informação é
> Deficiência motora (utilizadores de cadeira de de facto necessária e útil para visitantes com diver-
rodas); sos tipos de deficiência.
> Deficiência motora (dificuldade de marcha);
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3.7 Accessibility Labelling Scheme > Atracções em edifícios (por ex., museus, igrejas,
(Dinamarca) comércio, instalações desportivas, transportes,
É gerido pela Foreningen Tilgængelighed for Alle etc.);
(FTA, associação dinamarquesa para a acessibili- > Atracções no exterior (por ex., parques de atrac-
dade), uma entidade sem fins lucrativos. ções, parques urbanos, áreas pedonais, etc.).
Tem dois objectivos: Funciona em todo o território nacional.
Foi fundado em 2001 por um conjunto de entida-
des, nomeadamente a Visit Denmark (Turismo da Di-
namarca), a HORESTA (organização da indústria de
hotelaria, catering e turismo) e o Conselho de Organi-
zações de Pessoas com Deficiência da Dinamarca.
A adesão é voluntária.
Os procedimentos de análise, o custo de inscrição
e o prazo de validade da informação diferem con-
soante a modalidade de análise e registo de dados.
Cada modalidade é assinalada com um ícone espe-
cífico, constituído por agrupamentos de letras “A”, com
duas na modalidade menos exigente e cinco na mais
exigente (nota: os responsáveis referem que neste mo-
mento estão a ponderar a alteração dos ícones). A atri-
buição dos ícones processa-se da seguinte forma:
> Permitir às pessoas com deficiência encontrar
na Internet informação fiável sobre as condi-
ções de acessibilidade em diferentes locais;
> Com base nos resultados na análise, apresentar Auto-Inscrição Empresas e consumidores podem
às entidades proprietárias recomendações para registar estabelecimentos no site godadgang.dk,
melhoria da acessibilidade nos respectivos es- preenchendo um questionário com cerca de 60 itens
paços. (bastante reduzido, quando comparado com outras
Tem um âmbito de aplicação muito vasto, organi- modalidades). A informação não recebe validação da
zado em 5 categorias de espaço: FTA. É disponibilizada para consulta, mas o consumi-
> Alojamento turístico; dor fica ciente de que os dados são da inteira respon-
> Restaurantes; sabilidade do proprietário do estabelecimento
> Espaços para Conferências e convenções; (sendo considerados pouco fiáveis).

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FTA segundo os procedimentos usados na inscri-


ção) reúne os requisitos mínimos em todas as ver-
Registo Análise efectuada por profissionais espe- tentes, oferecendo, para além disso, condições
cializados, que foram contratados para o efeito extra – por ex., formação do pessoal na área da
pelo proprietário e que não dependem da FTA. A deficiência, adopção de uma política interna em
informação não recebe validação da FTA. Fica dis- matéria de prevenção da discriminação de pes-
ponível para consulta, mas o consumidor fica soas com deficiência, ou características excepcio-
ciente de que a informação foi paga pelo proprie- nais de acessibilidade.
tário do estabelecimento. A auto-inscrição é gratuita. O registo e a inscrição
são pagas pelo proprietário do estabelecimento, de-
pendendo o preço da dimensão das instalações. Para
os estabelecimentos mais pequenos, por ex., a quota
Inscrição Análise efectuada por profissionais es- anual custa € 60 (vai até um máximo de € 2.000 para
pecializados que dependem da FTA. Representa a os maiores). A primeira análise pela FTA custa € 240,
plena adesão ao Accessibility Labelling Scheme. e a visita de actualização, obrigatória para renova-
Para além da disponibilização de toda a informa- ção, custa €200.
ção no site, o estabelecimento pode ainda, em Uma vez que a FTA é uma organização sem fins lu-
complemento, receber classificações em diferen- crativos, as receitas têm por único fim cobrir os cus-
tes vertentes (ver abaixo). Para além do relatório tos de funcionamento do sistema.
da auditoria, a FTA entrega ao proprietário um A informação tem, em geral, um prazo de validade
conjunto de recomendações e uma proposta de de 2 anos (findo o qual é necessário proceder a uma
plano de melhoramentos, a implementar num de- actualização). No caso dos estabelecimentos analisa-
terminado prazo. Quando realiza as adaptações dos pela FTA, existe ainda um compromisso de con-
programadas, o estabelecimento envia por e-mail cretização das intervenções programadas no plano
uma descrição e foto da intervenção à FTA, que ac- de melhoramentos, num prazo que pode ser de 1, 2, 3,
tualiza a informação disponível on-line (efec- 5 ou 10 anos.
tuando antes, se a complexidade da intervenção o As auditorias da FTA são realizadas por uma enti-
justificar, uma visita ao local). dade contratada para o efeito. A validação dos dados
e a supervisão das auditorias, por sua vez, são asse-
guradas por uma outra entidade, igualmente contra-
tada para o efeito pela FTA.
Extra Não é propriamente uma modalidade de Os auditores ligados à FTA recebem formação es-
análise, mas um reconhecimento de excelência. pecífica para a realização das auditorias. Embora te-
Significa que o estabelecimento (analisado pela nham uma base de conhecimentos ligada ao sector
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da construção (arquitectos, engenheiros, etc.), a FTA Conforme o espaço cumpra um conjunto de requi-
considera que o mais importante é a formação para sitos mínimos em cada uma das vertentes, o estabe-
aplicação correcta dos procedimentos e ferramentas lecimento recebe um selo específico, que consta da
de análise. informação sobre o estabelecimento em comple-
Actualmente, a análise limita-se ao meio edifi- mento com os restantes dados detalhados.
cado. Quando o sistema foi criado também eram afe- Os selos são os seguintes:
ridas as condições de atendimento, mas, segundo re-
ferem os responsáveis do FTA, a experiência demons- Utilizadores de cadeira de rodas
trou que a informação não era suficientemente fiável,
já que os funcionários mudam com frequência.
A análise é baseada em duas normas dinamar- Mobilidade reduzida
quesas:
> “Critérios mínimos de acessibilidade em edifí-
cios existentes”; Deficiência visual
> “Critérios mínimos de acessibilidade em edifí-
cios existentes abertos ao público”.
Embora as normas pertençam ao Instituto de Cer- Deficiência auditiva
tificação Dinamarquês, o sistema não pertence nem
depende, de nenhuma forma, dessa entidade, e a
análise não tem por objectivo a certificação, nem Asma e alergias
está integrada em nenhum processo desse tipo.
A lei dinamarquesa que estabelece as exigências
em matéria de acessibilidade (em vigor desde Janeiro Deficiência mental
de 2008) tem uma função sobretudo de enquadra-
mento, expressando orientações de carácter mais
geral e tendo maior detalhe apenas nalguns pontos Dificuldades de leitura
(mesmo nesses pontos, o grau de detalhe é inferior
ao das normas). A análise realizada pelo sistema, por Os requisitos mínimos para atribuição destes
isso, vai bastante além das exigências legais. selos foram desenvolvidos entre 2001 e 2003 através
São consideradas na análise as necessidades de de um processo de consensualização entre 32 organi-
sete tipos de utilizador: utilizadores de cadeiras de zações de pessoas com deficiência e representantes
rodas, com outro tipo de deficiência motora, com de- da indústria turística. Os requisitos foram revistos
ficiência visual, auditiva, mental, com asma ou aler- através de consulta pública em 2007, estando agen-
gias, ou com dificuldade de leitura. dado novo processo de revisão em 2011.

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A informação é disponibilizada ao público através 3.8 Europe for All (Europa)


da Internet, nomeadamente de dois sites, o da FTA e O site Europe for All (EfA) pertence à Eworx, uma
o da Visit Denmark. empresa com fins lucrativos sedeada na Grécia. Os
No site da FTA, (http://godadgang.dk/gb/main.asp) conteúdos são disponibilizados através de operado-
é apresentada informação muito detalhada dos equi- res locais que se associam ao sistema e seguem as
pamentos classificados, com dimensões dos vários suas regras.
elementos analisados, de acordo com o tipo de defi-
ciência. Há ainda informação das normas técnicas
aplicáveis que podem ser pesquisadas por tipo de in-
capacidade e equipamento em análise.
No site da FTA é ainda possível a busca por tipos
de necessidade, o que já não acontece no site da Visit
Denmark.
Um aspecto que os responsáveis apontam como
muito importante é a possibilidade de os estabeleci-
mentos aderentes poderem inserir nos seus próprios
sites ligações ao site da FTA, para acesso directo à in-
formação sobre acessibilidade que lhes diz especifi-
camente respeito.
Assim sendo, o consumidor pode aceder a esta in-
formação por pelo menos três vias: o site da FTA, o
site da entidade nacional de turismo, e os sites dos Actualmente integra parceiros para a Áustria (iBFT),
estabelecimentos abrangidos. Bélgica (ANLH e TGB, respectivamente para as regiões
O feedback do consumidor relativamente ao rigor da Valónia e Bruxelas, e Flandres), Dinamarca (FTA),
dos dados também é considerado: as incorrecções Grécia (Disability Now e Mintour), Noruega (Visit Oslo),
podem ser apontadas por e-mail para a FTA ou atra- Suécia (Turism for Alla) e Reino Unido (Visit Britain).
vés do preenchimento de um formulário para o efeito, O principal objectivo do EfA é ajudar os viajantes
disponível no site (embora apenas em dinamarquês). que precisam de informação sobre acessibilidade a
O sistema integra neste momento dados referen- planear mais facilmente e com confiança as suas via-
tes a cerca de 400 locais e 2.500 instalações (num gens de férias ou de negócios.
centro de conferências, por exemplo, cada sala de Abrange instalações e equipamentos importantes
conferências conta como uma “instalação”). para a indústria turística, como unidades de aloja-
mento turístico, atracções turísticas, postos de infor-
mação turística, comércio, etc.
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Como o próprio nome indica, tem uma vocação in- Existem duas modalidades para análise e recolha
ternacional, de âmbito europeu, e vai alargando o âm- de dados: a auto-avaliação (pelo proprietário) e a au-
bito geográfico da informação disponível através do ditoria por técnicos formados e acreditados pela EfA.
estabelecimento de parcerias com diferentes países. A auto-avaliação é realizada com base num ques-
A informação que consta da base de dados do EfA tionário que integra cerca de 60 perguntas.
é fornecida pelos parceiros nacionais, e os dados rela- A auditoria é realizada por uma entidade externa,
tivos a cada estabelecimento (as respostas às per- acreditada para o efeito pela EfA, e integra um nú-
guntas) são, geralmente, propriedade do próprio es- mero bastante superior de questões: os auditores
tabelecimento (que pode por isso decidir retirá-los do dispõem de um universo de 1.400 perguntas, a partir
sistema a qualquer momento). das quais constroem, segundo procedimentos bem
O EfA foi concebido e implementado no quadro de definidos, a checklist para cada alvo. Para os respon-
um projecto europeu denominado OSSATE (One-Stop- sáveis do EfA o elevado número de questões não
Shop for Accessible Tourism in Europe). Este projecto constitui, em si mesmo, um problema, pelo contrário:
envolveu, designadamente, a realização de um es- quanto mais perguntas melhor, porque a base de
tudo de mercado sobre Turismo Acessível e a produ- dados se torna mais completa e mais versátil, i.e., po-
ção de ferramentas para a análise in loco das condi- derá satisfazer um potencial universo de utilizadores
ções de acessibilidade em locais de interesse turís- bastante maior e mais diverso. A facilidade no uso da
tico (por ex., checklist e guia de medição e registo fo- base de dados não depende do número de perguntas,
tográfico para uso pelos auditores). mas do mecanismo através do qual o visitante pode
Desde a sua criação, em 2007, o site EfA tem vindo encontrar as respostas que pessoalmente lhe interes-
a sofrer várias alterações. A Eworx está a estudar a sam.
introdução de um conjunto de melhoramentos no sis- É a modalidade de análise e recolha de dados que
tema, nomeadamente ao nível da usabilidade do site determina a classificação do estabelecimento, e não
e do rigor e homogeneização dos procedimentos de o grau de acessibilidade.
recolha de dados. Existem, para o efeito, quatro níveis:
A adesão dos estabelecimentos é voluntária, e
processa-se através da adesão aos sistemas nacio-
nais parceiros do EfA.
A análise não está integrada em nenhum pro- Análise não realizada ou incompleta – É o nível
cesso de certificação. mais baixo. Indica que não existe informação
O prazo de validade da informação depende dos sobre a acessibilidade ou que estão em falta algu-
sistemas nacionais de origem (este é um dos pontos mas respostas a questões da auto-avaliação (o
que a Eworx pretende homogeneizar). proprietário poderá, por ex., não ter efectuado
todas as medições).

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sibilidade foi recolhida através de uma auditoria


conduzida por uma terceira entidade que tem um
Análise de Nível 1, local auto-analisado – In- acordo com a EfA para inserção de toda ou parte
dica que houve auto-avaliação, i.e., que as condi- da sua informação no site EfA. Estas análises
ções de acessibilidade foram analisadas pelo pró- podem ser conduzidas, por ex., por cadeias de ho-
prio proprietário (ou gerente), e que foi dada res- téis, ou sistemas de informação similares de âm-
posta a todas as perguntas constantes do questio- bito nacional ou regional. A informação disponível
nário padrão do EfA para auto-avaliação. Está es- neste nível pode ser ainda mais detalhada do que
tabelecido um número fixo de questões para cada no Nível 2, o que depende do grau de detalhe do
tipo de alvo. A maior parte das perguntas é de res- sistema associado ao EfA (para o qual existe uma
posta fechada, tendo o proprietário de escolher ligação). Nesta data existem 5 sistemas associa-
entre as respostas alternativas. É também neces- dos: Bélgica (Valónia e Fladres), Oslo (Visit Oslo),
sário efectuar algumas medições (por ex., a lar- Dinamarca (Accessibility Labelling Scheme) e
gura livre mínima de portas). Neste nível também Reino Unido (Visit Britain).
é possível inserir fotos na base de dados. Para aju- Nos níveis 2 e 3 a análise é efectuada por técnicos
dar o proprietário ou gerente a efectuar medições com formação em auditorias de acessibilidade. O au-
com rigor ou a tirar fotos adequadas, existem dois ditor tem de ser treinado, sobretudo, na aplicação de
guias (um para medições, outro para fotos) que ferramentas e procedimentos do sistema, designada-
podem ser descarregados ou consultados on-line. mente na construção da checklist para cada alvo a
partir do universo de perguntas disponíveis. Os audi-
tores actualmente acreditados pelo EfA receberam
formação específica no final do projecto OSSATE
Análise de Nível 2, local auditado – Indica que (desde então não têm sido realizadas mais forma-
as condições de acessibilidade foram analisadas ções).
in loco por um auditor de acessibilidade que de- A integração de pessoas com deficiência na
pende do EfA. Os pontos de verificação deste nível equipa que realiza a auditoria não é obrigatória.
fornecem uma análise mais detalhada das carac- A análise não se restringe às condições de acessi-
terísticas da acessibilidade física e dos serviços bilidade no meio físico, abrangendo também ques-
no local em análise. tões relativas à prestação dos serviços e à formação
do pessoal.
Uma vez que não existe uma norma legal única
que seja aplicável a toda a Europa, a checklist foi ela-
Análise de Nível 3, sistema proprietário – In- borada com base em questões compiladas a partir de
dica que a informação sobre as condições de aces- normas austríacas, dinamarquesas, norueguesas e
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britânicas e, sobretudo, com base na experiência ad-


quirida pelos sistemas em funcionamento nesses
países, a qual, segundo os responsáveis do EfA, é a
que melhor indica aquilo que é relevante para o tu-
rista conhecer.
A elaboração da checklist contou ainda com a co-
laboração de representantes de utilizadores e de pe-
ritos em acessibilidade, de forma a ter em conta vá-
rios tipos de necessidade.
E assim, a análise é efectuada com base nas ne-
cessidades de utilizadores de cadeira de rodas ou
com outro tipo mobilidade reduzida, com deficiência
visual, com deficiência auditiva, com asma e aler-
gias, com restrições de dieta, com dificuldades de
aprendizagem ou com outras necessidades (por ex.,
as de pessoas idosas ou famílias com crianças).
A informação é muito detalhada e pode ser pes-
quisada no site EfA. É possível fazer a busca com base
no tipo de necessidade. Actualmente estão a equa-
cionar a disponibilização de vídeos sobre os espaços,
para que as pessoas possam ver as condições exis-
tentes
> http://www.europeforall.com/
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Parte III

Proposta de Sistema
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4. Proposta de Linhas Orientadoras Poderá o presente capítulo – composto por um


conjunto articulado de recomendações – parecer ex-
“O que é que torna a informação útil? É evidente tenso. Deve referir-se, neste ponto, que para rentabi-
que deve ser adequada. Deve ser concisa, clara e lizar o investimento do INR neste projecto, e mais
directa; e deve responder às questões que são claramente definir os contornos da proposta, se con-
essenciais para quem a usa. Mas também é siderou indispensável cobrir todos os aspectos relati-
essencial que seja de boa qualidade.” vamente aos quais era possível, com segurança, pro-
Friedmann, Zimring e Zube79 por linhas orientadoras. Fazer o contrário seria des-
perdiçar conhecimento adquirido, prejudicar a plena
Em conclusão do presente relatório, e a título de compreensão (e futura discussão) do essencial da
recomendação, definem-se possíveis linhas orienta- proposta, e propiciar mal-entendidos.
doras para a concepção, implementação e gestão, a Algumas das linhas orientadoras são complemen-
nível nacional, de um sistema de análise e divulgação tadas por comentários, que ora as justificam ora
das condições de acessibilidade em locais de inte- acrescentam vias possíveis para um maior detalhe.
resse turístico. Evitaram-se os comentários que o óbvio tornava des-
As orientações propostas fundamentam-se nos necessário, ou relativamente aos quais não existiam
ensinamentos, conselhos e contributos colhidos nas bases sólidas.
diversas fases do projecto – nomeadamente através
da revisão de literatura, do contacto com entidades e 1. Objectivo
especialistas e da análise da experiência em Portugal
e das boas práticas internacionais. 1.1 O sistema deve ter como objectivo geral a recolha
A redacção das linhas orientadoras guiou-se por e divulgação de informação fiável sobre as condições
três princípios simples: a sustentação, a necessidade de acessibilidade existentes em locais de interesse
e a flexibilidade. Dito de outra forma, a proposta turístico.
cinge-se a orientações que são sustentadas pelos en-
sinamentos colhidos, que são necessárias para a cla- 1.2 A divulgação da informação deve ter como objecti-
reza das recomendações, e que não retiram, no seu vos específicos:
grau de detalhe, flexibilidade à definição futura de al- a) Apoiar a tomada de decisão pelo turista que
guns pormenores que nesta fase será mais prudente procura acessibilidade, nomeadamente na es-
deixar em aberto, nomeadamente em matérias rela- colha do destino turístico e na preparação da
tivas à futura implementação e gestão do sistema. estadia e da deslocação;
b) Permitir aos diferentes operadores turísticos, no-
meadamente aos proprietários dos locais, às
79 Arnold Friedmann, Craig Zimring e Ervin Zube, in “Environmental
Design Evaluation” (excerto traduzido e adaptado). agências de viagens e às entidades de informação
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e promoção turística, prestar informação fiável e sem expressa autorização das entidades proprietá-
sobre acessibilidade aos turistas que a solicitem; rias ou gestoras dos locais entretanto analisados.
c) Fomentar o cumprimento da legislação em > A classificação, a rotulagem e a certificação
vigor, nomeadamente da Lei n.º 46/2006, de 28 pressupõem a definição de requisitos mínimos,
de Agosto, que proíbe e pune a discriminação que estabeleçam um limiar para a atribuição de
com base na deficiência, e do Decreto-Lei n.º um nível, rótulo, selo ou certificado.
163/2006, de 8 de Agosto, que exige a adaptação > A definição desses requisitos tem de passar por
das edificações existentes até 2017; um processo de negociação entre a comunidade
d) Aumentar a competitividade da oferta turística de pessoas com deficiência e os agentes do sec-
portuguesa junto de um mercado de grande re- tor. Requisitos definidos unilateralmente podem
levância estratégica. prejudicar os direitos dos consumidores ou de-
sencorajar os agentes do sector.
1.3 O sistema não deve ter como objectivo proceder à > Para que esta negociação seja produtiva e o re-
fiscalização do cumprimento das exigências legais sultado seja equilibrado e útil para o consumi-
em matéria de acessibilidade. dor, importa que, durante pelo menos um a dois
> As boas práticas internacionais apontam todas no anos, o sistema se limite ao essencial da sua
sentido da adesão voluntária e da distinção entre missão, ou seja, à recolha e divulgação de dados.
recolha de informação e acções de fiscalização. > A informação assim obtida poderá, então, servir
> O Decreto-Lei n.º 163/2006 estabelece no seu ar- de base à negociação de requisitos mínimos que
tigo 15.º a obrigatoriedade de comunicação das tenham em conta os interesses (e direitos) dos
infracções àquele diploma pelos funcionários e consumidores, e o estado real da acessibilidade
agentes da administração pública que delas no conjunto dos locais de interesse turístico em
tomem conhecimento no exercício das suas fun- Portugal, nomeadamente ao permitir testar a
ções. Assim, se a análise não configurar uma aplicação dos requisitos ao universo dos locais
acção de fiscalização, não devem ser envolvidos já analisados e “afinar” a altura da “fasquia”.
no trabalho de campo funcionários e agentes da > A certificação, por sua vez, para além de levan-
administração pública. tar a mesma questão dos requisitos mínimos,
remete para processos mais complexos, demo-
1.4 O sistema não deve ter como objectivo proceder à rados e dispendiosos. Não é seguro que os pro-
classificação (segundo níveis de acessibilidade), à ro- prietários tenham, neste momento, o interesse
tulagem (atribuição de “selos” ou “rótulos” de aces- ou os meios disponíveis para iniciar esse tipo de
sibilidade) ou à certificação de espaços e serviços. A processos na área da acessibilidade. Orientar o
optar-se por esse tipo de aplicação, tal nunca deverá sistema para a certificação limitaria seriamente
suceder na fase inicial de lançamento e consolidação, os seus efeitos, comprometendo o seu sucesso.

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> Caso no futuro se proceda à definição de níveis de f) Auditórios e Centros de Congressos;


classificação ou de rótulos ou certificados, será es- g) Estabelecimentos de restauração e bebidas;
sencial assegurar: 1) que a conversão dos dados re- h) Praias abrangidas pelo Projecto “Praias Acessí-
colhidos em classificação só será feita com expressa veis, Praias para Todos”;
autorização dos proprietários; 2) que nunca se de- i) Parques urbanos e zonas para visitantes nos
signará como um “acessível” um local que não parques naturais;
cumpra, na íntegra, todas as exigências e normas j) Instalações desportivas;
técnicas de acessibilidade definidas na legislação. k) Terminais de transporte colectivo, nomeada-
mente estações fluviais, ferroviárias e de metro-
2. Âmbito politano, centrais de camionagem, aeroportos;
l) Postos de informação turística.
2.1 O sistema deve aplicar-se a todo o território nacio- > Os tipos de estabelecimento abrangidos pelo sis-
nal, incluindo Continente e Regiões Autónomas dos tema devem ser, essencialmente, os que foram
Açores e da Madeira. definidos para o presente projecto, com alguns
> Não se vislumbra nenhuma razão que justifique ajustamentos (vide pontos seguintes) que são
a exclusão de alguma parte do território nacio- possíveis porque se dispõe de ferramentas pron-
nal. Tanto o sistema como as ferramentas estão tas (e testadas) para aplicação no terreno, e por-
preparados para ser aplicados em todo o País. que os dados recolhidos constituem uma massa
> A implementação do sistema pode ser faseada crítica para o lançamento do sistema.
em termos territoriais, nomeadamente através > Deve limitar-se a análise dos edifícios classifica-
da definição de áreas piloto. dos àqueles que se encontram abertos ao pú-
blico, porque o sistema fornece informação no
2.2 Devem ser abrangidos pelo sistema os locais de pressuposto de que a visita é possível. Por “lo-
interesse turístico abertos ao público, nomeadamente cais abertos ao público” deve entender-se todos
os seguintes: os locais em que o cidadão tem direito à igual-
a) Estabelecimentos hoteleiros; dade de oportunidades no acesso, sem prejuízo
b) Estabelecimentos de hospedagem (alojamento das condições estabelecidas pela entidade pro-
local) prietária ou gestora do local (por exemplo, com-
c) Museus e Galerias de Exposição; pra de bilhete, marcação prévia, etc.).
d) Património histórico edificado aberto ao público, > Não deve ser posto de parte o alojamento local,
designadamente palácios, monumentos, igrejas mas o âmbito de aplicação do sistema deve, na
e outros templos religiosos; fase inicial, restringir-se aos estabelecimentos
e) Salas de espectáculo, designadamente teatros de hospedagem (que possuem unidades de alo-
e cinemas; jamento constituídas por quartos, cf. Portaria
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n.º 517/2008 de 25 de Junho). Estes estabeleci- > O trabalho de campo realizado em Cascais de-
mentos têm bastantes semelhanças tipológicas monstra que vale a pena alargar o sistema aos
com os hotéis, adequam-se às ferramentas de- parques urbanos, e que nos parques naturais a
senvolvidas, são numerosos, espalham-se por análise se deve restringir às zonas para visitan-
todo o País, e são relevantes para o potencial tu- tes (centro de informação ou interpretação, ins-
rista como opção de alojamento. talações sanitárias, estacionamento e, quando
> “Galerias de Exposição” serão os espaços voca- existam, trilhos acessíveis).
cionados para a realização regular de exposi- > No caso das instalações desportivas destinadas
ções. A inclusão desta expressão permite que o essencialmente à assistência (por ex., estádios
sistema abranja as galerias de arte e os espaços de futebol) a aplicação da ferramenta deve ser
de exposição situados em bibliotecas, arquivos, ajustada à utilização pelo visitante comum, i.e.,
edifícios públicos. Instalações que, para além às áreas abertas aos espectadores.
de terem óbvio interesse turístico, podem ser
analisadas pela ferramenta de análise. 2.3 O cumprimento das normas técnicas de acessibi-
> Deve ser usada a expressão “templos religiosos” lidade previstas na legislação portuguesa não deve
para abranger, por exemplo, sinagogas e mes- ser uma condição para a adesão ao sistema.
quitas. > Considerando que o sistema tem por objectivo a
> À definição de estabelecimentos de restauração recolha de informação fiável, e a análise do local
e de bebidas deve aplicar-se o disposto no De- não constitui uma acção de fiscalização nem de
creto-Lei n.º 234/2007,80 artigo 2.º certificação, o incumprimento de normas de
> No caso das praias, o presente sistema não acessibilidade não deve constituir um impedi-
deve substituir o projecto já existente, por ter mento à recolha e divulgação de informação
objectivos distintos e por não ser incompatível. sobre as condições de acessibilidade. Poderá, in-
E não deve abranger praias que não tenham a clusive, argumentar-se que a torna mais neces-
bandeira da acessibilidade por duas razões: 1) sária para o consumidor.
para reforçar os efeitos daquele projecto, valori- > Além disso, é um facto que: 1) abundam situa-
zando as condições mínimas criadas naquelas ções de desconformidade com as normas técni-
praias; 2) para não se constituir como fonte de cas de acessibilidade; 2) em muitas edificações
informação alternativa (ou “concorrência”) existentes essa desconformidade com as nor-
àquele projecto. mas não constitui, em rigor, um incumprimento
da lei, porque existe um prazo para adaptação
80 O Decreto-Lei n.º 234/2007, de 19 de Junho, estabelece o regime que ainda não expirou (e que se prolonga até
jurídico a que fica sujeita a instalação ou a modificação de
2017); 3) os procedimentos e critérios para aber-
estabelecimentos de restauração ou de bebidas, bem como o regime
aplicável à respectiva exploração e funcionamento. tura de excepções previstos no DL 163/2006 irão

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permitir a manutenção ad infinitum de algumas > O alargamento do sistema depende da disponi-


dessas desconformidades. bilidade de ferramentas de análise previamente
testadas. O desenvolvimento e afinação (com
2.4 No primeiro ano de funcionamento do sistema testes) destas ferramentas carece de tempo e
deve ser equacionado o alargamento do seu âmbito pode implicar formação específica para os audi-
de aplicação a locais para os quais a ferramenta de tores.
análise já disponha de elementos suficientes. > Considerando os alvos já definidos, a implemen-
> A estrutura da ferramenta de análise permite a tação do sistema implicará um significativo es-
conjugação de módulos, e a conjugação dos mó- forço, do ponto de vista técnico e logístico, de-
dulos já disponíveis permite o alargamento a vendo os recursos ser concentrados na imple-
um conjunto de alvos que também são de inte- mentação e não na alteração do projecto em as-
resse turístico, designadamente centros comer- pectos fundamentais.
ciais, lojas de comércio local, outros tipos de > Além disso, para se afirmar junto dos consumi-
empreendimento turístico, agências de viagens dores e dos agentes do sector turístico o sis-
(o espaço físico) e agências bancárias, lojas de tema deve ter um posicionamento claro, que
câmbios, estações de correio e farmácias. alargamentos prematuros poderiam prejudicar.
> Dada a sua importância para a composição da > Será importante considerar o alargamento do
oferta turística, também deve ser considerado sistema a serviços (excursões, actividades,
neste prazo o alargamento do sistema a apart- eventos, etc.), mas atendendo sempre à voca-
hotéis, aldeamentos turísticos e parques de ção do sistema: analisar e descrever com rigor.
campismo. Este alargamento depende da con- A análise de serviços com carácter pontual não
cepção de dois módulos adicionais (módulo da necessariamente sedeados em espaços fixos,
unidade de alojamento com cozinha para os dois ou de outro tipo de infra-estruturas, comporta
primeiros, e módulo campismo para o terceiro), especial complexidade, e nessa medida algum
a qual deve assumir um carácter prioritário. risco para a credibilidade, devendo por isso ser
> Deve ainda ser considerado o alargamento do equacionada após a estabilização do sistema.
sistema às restantes componentes da rede de > É muito importante procurar uma forma de asso-
transportes colectivos (nomeadamente ao equi- ciar ao sistema informação sobre serviços acessí-
pamento circulante: carruagens de metro e veis especificamente vocacionados para o mer-
comboio, autocarros, barcos, etc.). cado da acessibilidade (táxis adaptados ou outro
serviço de transporte adaptado, serviços de en-
2.5 O âmbito de aplicação do sistema não deve ser fermagem, aluguer de ajudas técnicas, etc.).
alargado a outros tipos de espaços e serviços numa > Será igualmente importante considerar o alar-
fase inicial de lançamento e consolidação. gamento do sistema a espaços públicos em
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zonas urbanas delimitadas (uma rua rica em co- > A apreciação subjectiva, centrada na experiência
mércio local, por exemplo, ou um percurso exte- do auditor (perguntar por ex. “o percurso é aces-
rior que assegura a ligação entre locais de inte- sível?”, ou “consegue alcançar a torneira?”) não
resse turístico e que é, ele próprio, um elemento oferece fiabilidade, porque o universo de pessoas
de interesse turístico). que consultarão os dados será necessariamente
muito diverso, e a experiência individual não es-
2.6 O alargamento do âmbito do sistema deve: gota as necessidades colectivas.
a) Depender de uma clara definição das informa- > As respostas abertas (que são necessárias para
ções a recolher e dos procedimentos para a sua a recolha de dados inesperados ou para a carac-
recolha, bem como da existência de uma ferra- terização de situações atípicas) devem ser usa-
menta previamente testada; das apenas nas situações em que sejam mani-
b) Ser objecto de uma decisão formal da entidade festamente indispensáveis (por ex., uma caixa
proprietária do sistema, ou da(s) entidade(s) em de comentários para indicar se existe alguma
quem esta delegar a gestão global do sistema. questão não prevista na checklist que prejudi-
> A clara definição do âmbito é indispensável à es- que ou beneficie a acessibilidade).
tabilidade e ao rigor do sistema – e nessa me- b) Rigorosa – a recolha de informação deve ser
dida, é um factor de credibilidade. Para garantir a efectuada com base numa ferramenta e num pro-
estabilidade do sistema e um eventual alarga- tocolo de aplicação claramente estabelecidos;
mento prudente e bem sustentado, importa defi- > Não basta uma lista de verificação a elencar per-
nir condições prévias e responsabilidades claras. guntas: é necessário que esta seja acompanhada
de um protocolo que defina as regras para aplica-
3. Tipo de Informação ção da checklist, nomeadamente ao nível das regras
gerais de condução da visita, e das regras específi-
3.1 A informação divulgada deve permitir ao turista cas para efectuar medições, observações, etc.
conhecer as reais condições de acessibilidade exis- c) Actualizada – a informação deve ter um prazo
tentes no local, nomeadamente as condições mais de validade, deve haver referência à data em
relevantes para as suas necessidades pessoais. que foi recolhida, e deve proceder-se com rapi-
dez à correcção de dados incorrectos e à actua-
3.2 De forma a ser fiável, a informação deve ser: lização de mudanças;
a) Objectiva – devem privilegiar-se as perguntas > A fidelidade da descrição das condições existentes
de resposta fechada (por ex., sim/não) ou men- é crucial para a credibilidade do sistema junto dos
surável (por ex., número de ocorrências, largura turistas e dos operadores turísticos, e deve merecer
livre, etc.), em que a resposta não depende de especial cuidado, especialmente tendo em conta
uma apreciação pessoal do auditor; que a ocorrência de mudanças nos espaços é usual.

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d) Detalhada – o grau de detalhe da informação > A Acessibilidade, como é sabido, é importante


disponibilizada deve permitir ao turista encon- para pessoas com diversas características: nem
trar informação sobre elementos relevantes para todas têm deficiência, e as que a têm podem ter
a satisfação das suas necessidades pessoais; necessidades muito diferentes, consoante o
> Diferentes pessoas terão diferentes necessida- tipo e o grau de deficiência ou incapacidade, o
des, e nessa medida só pelo volume e diversi- grau de autonomia, etc.
dade dos dados será possível prestar um grau
satisfatório de informação a todos os turistas. 3.3 A eventual definição, no âmbito do sistema, de re-
Nessa medida, quanto maior for o número e a quisitos mínimos para classificação, rotulagem ou
diversidade dos dados, melhor, porque maior certificação, não deve impedir o acesso do consumi-
será a probabilidade de uma pessoa encontrar a dor à informação detalhada. Nesse caso, o cumpri-
informação que pretende. Nestes termos, redu- mento de requisitos mínimos e a atribuição de cor-
zir a informação só reduzirá a utilidade do sis- respondentes níveis, rótulos ou certificados deve fi-
tema, e não aumentará a sua usabilidade. gurar como elemento complementar (e não alterna-
> A usabilidade para o turista não depende do vo- tivo) à informação detalhada.
lume de informação, mas dos mecanismos que > O que as boas práticas internacionais demons-
lhe permitem procurá-la. O elemento chave tram é que os consumidores querem (e preci-
para a usabilidade é a forma como a informação sam de) consultar informação detalhada, e que
é prestada ao turista, nomeadamente o inter- a classificação, rotulagem ou certificação, po-
face que lhe permite encontrar fácil e rapida- dendo atalhar a busca para algumas pessoas,
mente a informação que lhe interessa. não elimina a necessidade de detalhe para mui-
> A informação detalhada tem a vantagem acres- tas outras.
cida de fornecer ao proprietário uma lista de in- > A definição de requisitos mínimos levanta a
tervenções necessárias, que este pode facil- questão adicional da responsabilidade e da cre-
mente integrar nas suas obras correntes de ma- dibilidade do sistema: quais as consequências
nutenção ou remodelação. (jurídicas, até, do ponto de vista das expectati-
e) Abrangente – deve focar as várias componentes vas criadas) de o consumidor verificar num es-
do espaço e do serviço a usufruir pelo turista, e tabelecimento classificado como acessível (de-
ter em conta as necessidades que decorrem dos pois de ter efectuado despesa por exemplo com
diferentes tipos de deficiência e incapacidade. reservas) que devido às suas dificuldades espe-
> Deve partir-se do pressuposto (que aliás tem cíficas não consegue funcionar com a autono-
força legal) que o turista que procura acessibili- mia prometida pela classificação ou pelo ró-
dade está interessado em aceder a todas as tulo? Isto conduzirá, necessariamente, à descri-
componentes do local que visita. ção dos requisitos… com detalhe.
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3.4 A recolha de informação deve focar as condições 4.3 As vertentes de análise devem ser publicamente
de acessibilidade existentes no espaço físico e previs- descritas da seguinte forma:
tas nos procedimentos definidos para a interacção a) MOT – análise das condições existentes para
com o consumidor, nomeadamente no atendimento. pessoas com deficiência motora ou limitação
> No que toca ao atendimento, a análise deve ser equivalente, em termos de segurança, autono-
de carácter descritivo e estrutural, i.e., não deve mia e conforto no uso do local.
estar orientada para uma avaliação do atendi- b) VIS – análise das condições existentes para pes-
mento, mas para a análise dos procedimentos soas com deficiência visual ou limitação equiva-
definidos para o atendimento (inquirindo, por lente, em termos de segurança, autonomia e
exemplo, se os funcionários envolvidos no aten- conforto no uso do local.
dimento receberam formação sobre regras bási- c) AUD – análise das condições existentes para
cas de atendimento de pessoas com deficiência). pessoas com deficiência auditiva ou limitação
Por três razões: 1) como ficou expresso acima, o equivalente, em termos de segurança, autono-
objectivo do sistema não é avaliar, mas sim ana- mia e conforto no uso do local.
lisar com vista à descrição; 2) a avaliação no qua- d) INF – análise das condições existentes para
dro de uma visita pontual não seria, de todo, fiá- crianças pequenas (até 6 anos), em termos de
vel; 3) neste sector os funcionários envolvidos no segurança, autonomia e conforto no uso do
atendimento variam bastante, e a avaliação do local, e para os adultos que as acompanham. A
comportamento dos funcionários presentes no análise é efectuada no pressuposto de que
momento da visita não iria, como é natural, re- existe uma supervisão adequada e responsável
tratar com rigor o comportamento dos restantes. por parte do adulto que acompanha a criança.
> A distinção das vertentes de análise facilitará
4. Vertentes de Análise ao turista a busca da informação pertinente.
> A designação das vertentes de análise por ini-
4.1 As condições de acessibilidade devem ser aferidas ciais permite uma fácil conversão para o portu-
com base nas necessidades de quatro tipos de utiliza- guês, inglês, francês, italiano e espanhol.
dor: com deficiências ou incapacidades ao nível motor, > Não é feita distinção entre os diversos tipos (e
visual ou auditivo, ou com crianças. graus) de deficiência motora, porque grande
parte das questões colocadas se aplica de forma
4.2 Deverá ser equacionada, decorrido um ano sobre a en- transversal. Aplica-se o mesmo entendimento à
trada em funcionamento do sistema, a definição de novas deficiência visual e à deficiência auditiva.
vertentes de análise, nomeadamente com base nas ne- > No caso das crianças é importante estabelecer
cessidades de utilizadores com deficiência mental ou com uma idade de referência e clarificar o princípio
alergias ou outras limitações alimentares ou respiratórias. que preside à análise, para o consumidor poder

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ajustar as suas expectativas e comportamen- > A auto-avaliação é, de facto, prevista nalguns


tos, não esquecendo a importância da autono- sistemas analisados no capítulo das boas práti-
mia das crianças. cas internacionais – mas deve notar-se que
mesmo nesses casos a informação recolhida por
5. Análise e Recolha de Informação auto-avaliação é bastante reduzida, e o próprio
sistema confere-lhe pouca fiabilidade. Nenhum
5.1 A recolha de informação sobre as condições de sistema, de entre os analisados, usa a auto-ava-
acessibilidade deve ser feita mediante uma análise liação como metodologia base.
presencial por auditores acreditados pelo sistema, > Nos sistemas que admitem a auto-avaliação,
com base em ferramentas e procedimentos definidos esta serve sobretudo como “cartão de visita”
pelo sistema. para o sistema, ou seja, tem por objectivo sensi-
bilizar as entidades proprietárias ou gestoras
5.2 A auto-avaliação (i.e., análise pela própria enti- para o próprio sistema. O facto, todavia, é que a
dade proprietária ou gestora do local) não deve ser existência de uma opção menos onerosa (ou
aceite em nenhuma situação, nem numa primeira mesmo gratuita) e menos rigorosa poderá pre-
análise, nem em análises subsequentes (por exem- judicar a implementação do sistema (especial-
plo, para actualizações ou correcções). mente de um sistema que, como este, tem um
> É fundamental garantir ao turista que toda a in- elevado grau de detalhe e rigor) e levantar dúvi-
formação disponibilizada sobre as condições de das sobre a sua fiabilidade. Existem várias ou-
acessibilidade foi recolhida da mesma forma, tras formas (mais eficazes e com menos risco)
com base em procedimentos rigorosos. Divulgar de sensibilizar estas entidades, que não passam
através do sistema informação recolhida de pela auto-avaliação.
forma diversa gera insegurança relativamente à > Deve naturalmente, ser feita uma distinção
sua fiabilidade. entre a informação sobre as condições de aces-
> A auto-avaliação não é uma metodologia fiável, sibilidade – que só os auditores acreditados
e deve ser claramente posta de parte pelo sis- devem recolher – e outro tipo de informação útil
tema. Mesmo que a maioria das entidades fosse (contactos, horários, preços, descrições, ima-
rigorosa na sua auto-avaliação, bastaria a exis- gens, etc.) para cuja recolha há, naturalmente,
tência de erros em alguns alvos para todo o sis- toda a vantagem em recorrer às entidades visi-
tema ficar em causa. Note-se que não é a boa fé tadas.
dos gestores ou proprietários dos locais que > Deve igualmente ser considerada a utilidade de
está em causa, mas a sua preparação relativa- solicitar às entidades a visitar o envio de infor-
mente a uma questão que é complexa e exige mação preliminar sobre as condições de acessi-
conhecimentos específicos. bilidade, para que os auditores possam preparar
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a visita. O trabalho de campo realizado em Cas- e) Fomentar o aprofundamento de conhecimentos


cais demonstra que essa informação prévia na vertente de análise em que o auditor vai tra-
(bastante rudimentar) sobre as condições de balhar, numa óptica de especialização.
acesso ao local permite aos auditores com defi- > A experiência do trabalho de campo demonstra
ciência tomarem providências relativamente ao que a visita ao local pode e deve ser aproveitada
seu acompanhamento. para mais do que apenas recolha de informação.
Os gestores do local visitado aproveitam a inte-
6. Auditores racção para obter esclarecimentos ou outras in-
dicações úteis, e o auditor pode e deve (e, geral-
6.1 O sistema deverá assegurar a selecção, formação, mente, quer) partilhar conhecimentos.
acreditação e supervisão dos auditores a quem com- > Na vertente INF, por exemplo, será necessário
petirá a análise dos locais. abordar noções básicas de avaliação de risco e
desenvolvimento infantil.
6.2 A selecção, à qual devem poder candidatar-se cida-
dãos maiores de 18 anos, deve ter por objectivo esco- 6.4 Na sequência da formação, os candidatos a audi-
lher os candidatos a auditor cujo perfil melhor se en- tor devem ser sujeitos a uma prova de avaliação de
quadre nos objectivos do sistema. A área de residência conhecimentos, devendo a aprovação nessa prova
deve ser considerada um critério de selecção, de forma ser uma condição indispensável para a acreditação.
a assegurar uma boa cobertura do território nacional.
6.5 Uma análise centrada na vertente MOT, VIS ou
6.3 A formação deve ter por objectivo: AUD deve, necessariamente, ser efectuada por um
a) Transmitir os princípios e objectivos que estão auditor com deficiência, especificamente acreditado
na base do sistema (conceitos de acessibilidade para a análise dessa vertente, a quem cabe assumir a
e turismo acessível, noções gerais do potencial responsabilidade pela veracidade e rigor dos dados
do mercado e do enquadramento legislativo); recolhidos.
b) Transmitir as regras de funcionamento do sis- > Três razões sustentam esta recomendação:
tema; rigor, credibilidade e rentabilização.
c) Ensinar os futuros auditores a trabalhar com as > Quanto ao rigor, naturalmente, que a deficiên-
ferramentas do sistema; cia só por si nada garante – justamente por isso
d) Dotar os futuros auditores de competências é que deve ser dada grande importância à selec-
para o relacionamento com os responsáveis das ção, à formação e à supervisão dos auditores.
entidades proprietárias ou gestoras dos locais a Mas uma vez assegurada essa base, é razoável
visitar, para qualificar esse contacto, e poten- esperar que, pela sua experiência pessoal, as
ciar o seu contributo pedagógico; pessoas com deficiência tenham uma sensibili-

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dade particular para as questões da acessibili- cia como user-experts (utilizadores peritos),
dade, e estejam dispostas a assumir com espe- como formadores (especialmente na formação
cial empenho um compromisso com o rigor. para o atendimento ou acesso a conteúdos) ou
> Por outro lado, e sabendo-se que o consumidor va- como responsáveis e técnicos de Municípios
loriza a fonte pessoal de informação, o recurso a (vide os Access Officers, no Reino Unido).
auditores que, para além de estarem devidamente > Esta rede nacional seria útil para o sector do Tu-
preparados, são pessoas com deficiência, tornará rismo, de imediato. E poderia constituir uma boa
o sistema mais credível para quem o consulta. base para a futura concretização da Acção 6.2.a)
> O recurso a auditores com deficiência permitirá, do Plano Nacional de Promoção da Acessibilidade
ainda, aumentar o impacto do sistema junto (Delegados municipais para a Acessibilidade).
dos proprietários ou gestores dos locais visita-
dos, tanto do ponto de vista da percepção da de- 6.6 A análise centrada na vertente INF deve, necessa-
ficiência, como do ponto de vista da aquisição riamente, ser efectuada por um auditor acreditado
de informação, relativamente a necessidades (e pelo sistema para o efeito, com base em preparação
opções) de adaptação do espaço físico e dos específica sobre avaliação de risco e desenvolvi-
procedimentos de atendimento. Reside aqui a mento infantil, a quem cabe assumir a responsabili-
importância de preparar os auditores para o dade pela veracidade e rigor dos dados recolhidos.
contacto pessoal com estes responsáveis. > Não se considera que o facto de o auditor ter de-
> Vale a pena apontar, ainda, três outras vanta- ficiência constitua uma vantagem especial para
gens evidentes: 1) a geração de oportunidades a análise da vertente INF, pelo que aqui não se
de trabalho para um universo da população que justifica a sua obrigatoriedade.
tem uma taxa de desemprego superior à média > A preparação específica para a avaliação de risco
nacional, 2) o recurso a um leque mais amplo de e desenvolvimento infantil deve ser assegurada
fontes de financiamento; 3) a criação em todo o pelo sistema; os eventuais conhecimentos especí-
território nacional de uma rede de pessoas com ficos na matéria que o candidato a auditor possa
deficiência especialmente preparadas para deter devem ser valorizados na fase de candida-
prestar apoio na área da acessibilidade. tura, mas não o devem dispensar de frequentar a
> Deve sublinhar-se o importante contributo para formação e a avaliação no âmbito do sistema.
a promoção da acessibilidade que pode ser de- > No quadro da fiscalização dos espaços de jogo e
sempenhado por uma pessoa com deficiência recreio, diversos técnicos receberam formação
que detenha uma base de conhecimentos técni- em avaliação de risco (duas fases de 18 horas
cos nesta matéria. Existem diversos casos de cada, entre 2004 e 2007), mas esta formação
sucesso, nomeadamente noutros países euro- centrou-se nos espaços de jogo e recreio, e não
peus, de envolvimento de pessoas com deficiên- deve ser considerada suficiente.
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6.7 O auditor deve poder constituir uma equipa, re- > A preparação básica dos acompanhantes pode,
correndo ao apoio de um ou mais acompanhantes, obviamente, ser vantajosa para o funciona-
com ou sem deficiência, com base nos seguintes mento do sistema – desde logo, ao melhorar o
pressupostos: funcionamento da equipa no terreno.
a) O auditor assume a responsabilidade pela selec- > Não se considera, contudo, que a formação dos
ção e chefia da equipa; acompanhantes deva ser obrigatória, pois essa
b) É indispensável a presença e liderança do audi- regra poderia vir a condicionar a liberdade de
tor durante toda a visita; escolha do acompanhante pelo auditor, que é
c) No seu conjunto, a equipa deve conseguir reali- um aspecto central.
zar todas as tarefas necessárias à realização da
análise, nomeadamente observar, medir, deslo- 6.9 A acreditação do auditor deve implicar a assina-
car-se no local, dialogar com o proprietário e tura de um contrato com a entidade proprietária do
usar a ferramenta de recolha de dados; sistema, nos termos do qual:
d) A responsabilidade pela veracidade e rigor da in- a) O auditor declare conhecer e aceitar plena-
formação recolhida, que cabe ao auditor, não é mente os objectivos, regras e procedimentos do
total nem parcialmente delegável na equipa. sistema;
> Deve ser prevista a necessidade de acompanha- b) Seja prevista a anulação da acreditação por via
mento do auditor, nomeadamente para que do incumprimento das referidas regras e proce-
este consiga vencer as barreiras físicas existen- dimentos;
tes e executar as tarefas inerentes à análise. c) Fique estabelecido que cabe ao auditor a res-
> Importa, contudo, estabelecer claramente os ponsabilidade pela veracidade e rigor das infor-
pressupostos para a colaboração de acompa- mações recolhidas e divulgadas pelo sistema,
nhantes, para que não ocorra uma perversão das salvo no caso de lapsos imputáveis ao sistema
regras do sistema (por exemplo, a instrumentali- ou à entidade proprietária ou gestora do local
zação dos auditores pelos acompanhantes, ou a visitado.
“rentabilização” abusiva da acreditação pelos > O principal objectivo do contrato é vincular o
auditores). É fundamental, por isso, fazer depen- auditor ao cumprimento das regras do sistema,
der inteiramente do auditor a escolha dos acom- e estabelecer as formas de anular a acreditação,
panhantes – tanto no sentido da liberdade de es- caso tal se justifique.
colha, como da respectiva responsabilidade. > O vínculo laboral não se afigura como essencial,
neste caso, porque: 1) não é seguro, especial-
6.8 O sistema deve proporcionar, regularmente, opor- mente na fase de implementação, que o volume
tunidades de formação para acompanhantes indica- e a frequência de solicitações venham a justi-
dos pelos auditores. ficá-lo; 2) uma vez acreditado, o auditor terá a

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possibilidade de criar o seu próprio posto de tra- > A revalidação pode depender, por exemplo, cu-
balho; 3) o estabelecimento de vínculo com uma mulativamente ou em alternativa, de exigên-
terceira entidade pode ser mais vantajoso para cias no domínio do conhecimento (frequência
o sistema e para o próprio auditor. de acções de formação contínua com um carác-
ter anual, uma avaliação positiva no terreno por
6.10 Deve ser assegurada a cobertura do auditor e supervisores do sistema, avaliação positiva em
eventuais acompanhantes por seguro contra aciden- provas de avaliação) ou do volume de trabalho
tes profissionais incorridos no exercício destas fun- (cumprimento de número mínimo de alvos por
ções. semestre ou por ano).
> O custo do seguro deve ser suportado pelo sis- > A definição de um número mínimo de alvos a
tema caso haja vínculo laboral. Caso esse vín- cumprir por semestre ou por ano irá encorajar o
culo não exista, a cobertura por seguro deve ser envolvimento regular dos auditores na dinami-
condição obrigatória para a validade da acredi- zação do sistema na sua área de intervenção,
tação, e deve ser clarificado no contrato referido mas haverá que ter o cuidado de não estabele-
em 6.9 a quem cabe a responsabilidade de ad- cer metas demasiado exigentes, que compro-
quirir esse seguro. metam a qualidade do trabalho ou que subme-
tam os auditores a um ritmo incompatível com
6.11 O auditor deve poder recorrer ao enquadramento as suas limitações pessoais e ou logísticas.
por uma entidade, para fins de apoio logístico (con- > Devem aproveitar-se os momentos de revalida-
tactos com potenciais alvos, deslocações, contabili- ção periódica como oportunidades de qualifica-
dade, etc.), e esse enquadramento deve poder incluir ção dos auditores, nomeadamente através de
um vínculo laboral, na condição de o enquadramento formação contínua e de troca de experiências.
não prejudicar os direitos e deveres do auditor.
> Entre os direitos e deveres em causa destacam- 7. Adesão de Locais ao Sistema
se, respectivamente, a selecção do acompa-
nhante, e a plena responsabilidade pela veraci- 7.1 A adesão de locais ao sistema deve ter um carác-
dade e rigor da informação recolhida. ter voluntário.
> O enquadramento pode, por exemplo, ser feito
por diversas organizações não-governamentais 7.2 A adesão deve processar-se de acordo com as se-
que operam no sector da Deficiência. guintes fases:
I. Contactos prévios
6.12 O sistema deve definir critérios e procedimentos Os contactos prévios podem ser efectuados por
específicos tanto para a anulação como para a revali- iniciativa do sistema, dos auditores acreditados pelo
dação da acreditação. sistema ou das entidades que os enquadrem, ou das
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entidades proprietárias ou gestoras dos locais de in- tor incorra em despesas de deslocação e perdas
teresse turístico. Servem basicamente para troca de de tempo com eventuais mudanças de orienta-
informações sobre os conceitos, objectivos, procedi- ção dos responsáveis pelos locais a visitar.
mentos e regras do sistema. > Mesmo que esteja implícito que não decorram
II. Declaração de interesse compromissos adicionais para além daqueles
Existindo, por parte da entidade proprietária ou que são referidos na declaração, o trabalho de
gestora do local, interesse suficiente para, pelo menos, campo em Cascais, realizado no âmbito do pre-
realizar uma análise (e eventualmente suportar total sente projecto, indica-nos que esta referência
ou parcialmente os seus custos), esta entidade deve explícita tem um efeito positivo junto dos res-
subscrever uma declaração escrita, elaborada com ponsáveis.
base num modelo definido pelo sistema, na qual: > O rigor é importante não apenas na fase de re-
a) Concretize o seu interesse em agendar a visita colha dos dados mas também na sua divulga-
de um ou mais auditores do sistema, autorizar ção, devendo assegurar-se que a referência ao
a recolha de dados e imagens do local durante sistema como fonte da informação só deve ser
essa visita, e suportar os custos estabelecidos feita quando houver plena adesão às regras es-
pelo sistema para realização da análise; tabelecidas pelo sistema para divulgação da in-
b) Indique quais as vertentes de análise pretendidas; formação. Isto não implica que só o sistema
c) Salvaguarde que por via dessa declaração não as- deve poder divulgar a informação, mas sim que
sume qualquer compromisso adicional, que os a informação divulgada será sempre devida-
dados recolhidos durante a análise ser-lhe-ão co- mente divulgada (dentro do prazo de validade,
municados e que só com a sua autorização ex- sem distorções, etc.).
pressa para o efeito poderá o sistema divulgá-los; III. Análise do Local
d) Assuma o compromisso de, no caso de não con- Realização de visita ao local para recolha de dados
cretizar a sua adesão plena ao sistema e ainda e imagens, por um auditor acreditado pelo sistema
assim pretender divulgar total ou parcialmente para análise das vertentes solicitadas, com base nos
a informação recolhida pelos seus próprios ca- procedimentos e ferramentas estabelecidas pelo sis-
nais de promoção, não fazer referência ao sis- tema. O auditor deve ser acompanhado durante a vi-
tema como fonte da informação. sita por um representante da entidade proprietária
> O objectivo da declaração não é “burocratizar” o ou gestora do local.
sistema, mas assegurar que o seu funciona- > A presença do representante é duplamente con-
mento assenta em regras claras, conhecidas e veniente. Por um lado, porque tornará a visita
aceites por todos os intervenientes. mais rápida (desbloqueio de passagens, orienta-
> O agendamento da visita deve depender da for- ção no estabelecimento, selecção de percursos
malização do interesse, para prevenir que o audi- mais favoráveis, esclarecimento de questões

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sobre o local). Por outro lado, porque tornará a mação relativa ao seu local, e assuma o com-
visita mais útil para uma eventual adaptação fu- promisso de os respeitar.
tura do local (o auditor pode, em diálogo, trans- > Também aqui não se pretende “burocratizar” o
mitir bastantes indicações úteis). sistema, mas assegurar que o seu funciona-
IV. Apresentação dos resultados mento assenta em regras claras, conhecidas e
Os dados recolhidos no local devem ser compila- aceites por todos os intervenientes.
dos pelo auditor, sob a forma de relatório, e submeti- > O sistema poderá vir a integrar informação de
dos à entidade gestora do sistema, para validação. centenas ou milhares de locais. Para simplificar
Após validação, os dados devem ser apresentados a gestão do sistema e facilitar a adesão, im-
pelo auditor à entidade proprietária ou gestora do porta definir um modelo simples de documento
local visitado. Deve ser claro no relatório quais os escrito, que reduza ao essencial o compromisso
dados que serão divulgados pelo sistema. da entidade responsável pelo local – e o essen-
> O relatório deve ser elaborado com base num cial é, como se refere, a autorização para publi-
modelo definido pelo sistema, e deve ser di- cação dos dados, e o respeito pelas regras defi-
recto, objectivo e sintético. nidas para a sua divulgação e gestão.
> A informação deve ser validada por uma enti- > Com vista ao rigor e fiabilidade do sistema de-
dade central. Esta validação não deve ter por verão ser implementados procedimentos de su-
objectivo duplicar o trabalho do auditor, mas ve- pervisão do trabalho dos auditores, que impli-
rificar se a informação está pronta para introdu- quem visitas dos supervisores a uma amostra
ção no sistema, nomeadamente se as questões de locais visitados, sendo necessário assegurar
fechadas estão completas, e se as questões a futura autorização dessas visitas.
abertas (comentários complementares) estão > O mesmo se aplica a visitas motivadas pelo
devidamente preenchidas (gramática, pertinên- feedback dos utilizadores do sistema (desajuste
cia, etc.). entre a informação no sistema e a situação ac-
V. Autorização de Divulgação tual no terreno).
Havendo interesse da entidade proprietária ou VI. Divulgação dos dados sobre o local
gestora do sistema em divulgar os dados através do Uma vez recebida a autorização de divulgação, a
sistema, esta entidade deve subscrever uma declara- informação sobre as condições de acessibilidade exis-
ção escrita, elaborada com base num modelo defi- tentes no local deve ser inserida na base de dados do
nido pelo sistema, na qual: sistema, e difundida através dos canais definidos
a) Autorize a divulgação dos dados pelo sistema; pelo sistema.
b) Declare conhecer e aceitar os objectivos, regras > O sistema deve definir uma base de dados onde
e procedimentos do sistema, nomeadamente os se concentre toda a informação disponível, con-
que se aplicam à gestão e divulgação da infor- sultável através da Internet por meio de aplica-
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ções próprias, que permitam rápida e facil- a) Directamente, os custos da visita (honorários do
mente encontrar a informação pessoalmente auditor, deslocação, preparação do relatório);
relevante para o potencial turista. b) Indirectamente, o total ou parte dos custos de
> A credibilidade do sistema não depende da res- gestão do sistema.
trição dos canais de divulgação, mas da defini-
ção de uma fonte de referência e do estabeleci- 7.5 Deve haver um escalonamento dos preços de aná-
mento de regras claras para uso da informação lise, que se relacione directamente com a dimensão
(devendo ser interdito, por exemplo, usá-la do local ou estabelecimento, ou com a especial com-
como base para um sistema paralelo de classifi- plexidade da análise.
cação, ou divulgá-la de uma forma distorcida ou > A localização geográfica não deve ser um factor
que não seja compatível com os objectivos e diferenciador no preço. O sistema deve, para
princípios do sistema). esse efeito, prover para que a rede de auditores
> Deve ser encorajado, por isso, o estabeleci- proporcione uma boa cobertura geográfica –
mento de canais de divulgação, por exemplo procurando, por exemplo, acreditar auditores
através dos operadores turísticos. em cada um dos distritos e regiões autónomas.
> Enquanto essa cobertura não existir, os custos
7.3 Se as condições existentes no local constituírem acrescidos de deslocação e alojamento devem
uma desconformidade com exigências legais, a ade- ser suportados pelo sistema.
são ao sistema e a divulgação pelo sistema dessas
condições não deve poder ser entendida como, ou 7.6 Se os auditores não tiverem vínculo laboral com o
usada na fundamentação de, qualquer tipo de dis- sistema:
pensa das adaptações exigidas por lei. a) Deve ser-lhes dada a oportunidade de participar
> Como se refere em 1.3, um dos objectivos do sis- na formação do preço, em função dos custos da
tema é fomentar o cumprimento da lei. Deve as- visita;
segurar-se que a divulgação de situações des- b) O sistema deve participar na formação do preço
conformes às normas (mesmo que dentro do definindo um preço unitário (que deve ser esca-
prazo de adaptação) não poderá de nenhuma lonado, e válido para todo o território nacional)
forma ser entendida nem usada como indicação para cobrir os custos de gestão do sistema;
de tolerância das entidades oficiais relativa- c) Devem ser definidos procedimentos que agilizem
mente a essas desconformidades. o processamento dos pagamentos, envolvendo o
auditor ou a entidade que o enquadrar e dispen-
7.4 A análise do local deve ser paga, e a adesão ao sis- sando a entidade gestora do sistema de manter
tema deve ser gratuita. O preço da análise deve ser uma relação directa, para este efeito, com as en-
definido de forma a cobrir: tidades responsáveis pelos locais visitados.

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> A definição de um modelo de pagamentos cen- > Esta centralização deve respeitar à gestão de
tralizado (na entidade gestora do sistema) ou todos os aspectos do sistema relativamente aos
descentralizado (nos auditores ou entidades quais importa assegurar uma homogeneidade e
que os enquadrem) comporta vantagens e des- coerência a nível nacional.
vantagens, e deve ser equacionada com espe- > A gestão do sistema a nível nacional não impede
cial cuidado. as entidades regionais de turismo de participar na
> A centralização permite fazer a introdução na dinamização do sistema, em coerência aliás com
base de dados do sistema depender do paga- o disposto no regime jurídico das áreas regionais
mento da análise, mas gera um significativo vo- de turismo de Portugal Continental (estabelecido
lume de trabalho para a entidade gestora, obri- pelo Decreto-Lei n.º 67/2008, de 10 de Abril).
gada a criar uma estrutura própria para lidar
com múltiplos contactos (facturação, cobrança, 8.3 No âmbito da gestão global, a entidade proprietá-
etc.) com centenas de entidades espalhadas por ria do sistema deverá efectuar uma distinção entre:
todo o território nacional, e processar os paga- a) A gestão corrente do sistema, definindo, por
mentos aos auditores. exemplo, uma entidade gestora para esse efeito;
> Num modelo descentralizado, o auditor pode b) A supervisão e tomada de decisões chave, defi-
fazer a apresentação dos resultados depender nindo, por exemplo, uma comissão de acompa-
do pagamento da análise, e a entidade gestora nhamento e supervisão.
do sistema pode fazer a introdução na base de
dados depender do pagamento do valor unitário 8.4 Sendo desejável o estabelecimento de parcerias
pelo auditor. Este modelo obriga o auditor (ou para a gestão global do sistema, deve salvaguardar-
uma entidade que o enquadre) a ter a contabili- se o seguinte:
dade organizada e, eventualmente, disponibili- a) O eventual estabelecimento de parcerias para a
dade de tesouraria (para cobertura adiantada gestão corrente deve ter por principal objectivo
de custos de deslocação, por exemplo). a eficácia, dinamismo e profissionalismo na im-
plementação e gestão do sistema;
8. Propriedade e Gestão do Sistema b) O eventual estabelecimento de parcerias para a
supervisão e tomada de decisões chave deve ter
8.1 O sistema deve pertencer a uma ou mais entida- por principal objectivo estimular e promover a
des públicas, que poderão definir parcerias para a sua participação de organizações representativas
implementação e gestão. dos sectores da Deficiência, da Segurança In-
fantil e da Defesa do Consumidor, de organiza-
8.2 A gestão global do sistema deve ser centralizada ções representativas das entidades proprietá-
e assegurada a nível nacional. rias ou gestoras dos locais abrangidos, e de es-
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pecialistas com sólido currículo nas matérias tema (quando os mesmos careçam de actualiza-
tratadas pelo sistema. ção ou correcção) ou ao alargamento do sistema;
j) Prestar apoio técnico e logístico ao funciona-
8.5 Uma entidade gestora do sistema deve ter por mento da comissão de acompanhamento e su-
missão dinamizar e coordenar a implementação e o pervisão.
funcionamento do sistema a nível nacional, devendo
ser-lhe conferidas, nomeadamente, as seguintes 8.6 Uma comissão de acompanhamento e supervisão
competências: deve integrar representantes de organizações do sec-
a) Gerir a base de dados do sistema, e validar a in- tor da Deficiência, da Segurança Infantil, da Defesa
formação recolhida; do Consumidor e de organizações representativas
b) Seleccionar, formar e avaliar os candidatos a au- das entidades proprietárias ou gestoras dos locais
ditores, e propor a sua acreditação à comissão abrangidos, bem como comprovados especialistas
de acompanhamento e supervisão; nas matérias tratadas pelo sistema. Todos os mem-
c) Manter um registo actualizado dos auditores bros, incluindo o seu presidente, devem ser nomea-
acreditados pelo sistema; dos pela entidade proprietária do sistema. A entidade
d) Supervisionar o trabalho dos auditores acredita- gestora deve participar nas reuniões mas não deve
dos pelo sistema, e propor, de forma fundamen- ter direito a voto.
tada, quando se justifique, a anulação da acre-
ditação; 8.7 Uma comissão de acompanhamento e supervisão
e) Assegurar o apoio técnico aos auditores, nas deve ter por missão supervisionar e tomar decisões
questões de carácter técnico ou que se relacio- chave sobre o funcionamento do sistema a nível na-
nem com o funcionamento do sistema; cional, devendo ser-lhe conferidas, nomeadamente,
f) Assegurar a resposta em tempo útil a questões as seguintes competências:
colocadas por outras entidades sobre o sistema; a) Aprovar as directrizes estabelecidas para a ges-
g) Acompanhar e avaliar regularmente o funciona- tão da base de dados do sistema, sob proposta
mento e o impacto do sistema, designada- da entidade gestora;
mente propondo ou promovendo a realização de b) Aprovar os critérios e as metodologias de selec-
estudos ou consultas para esse efeito; ção, formação e avaliação dos candidatos a au-
h) Apresentar anualmente à comissão de acompa- ditores, sob proposta da entidade gestora;
nhamento e supervisão um relatório sobre o c) Aprovar a acreditação bem como, quando se
funcionamento do sistema, o qual deve merecer justifique, a anulação da acreditação de audito-
divulgação pública após aprovação; res, sob proposta da entidade gestora;
i) Promover os trabalhos técnicos conducentes à d) Acompanhar e avaliar regularmente o funciona-
revisão dos procedimentos e ferramentas do sis- mento e o impacto do sistema, nomeadamente

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apreciando e votando o relatório anual sobre o > A propriedade resume-se aos dados recolhidos,
funcionamento do sistema, e elaborando parece- ou seja, os procedimentos e ferramentas aplica-
res ou recomendações por sua própria iniciativa; dos na análise e constantes do relatório perma-
e) Contribuir para a resolução de questões de carác- necerão propriedade do sistema. Por outras pa-
ter mais fundamental suscitadas pelos trabalhos lavras, as “perguntas” pertencem ao sistema, e
de campo ou pela gestão corrente do sistema; as “respostas” pertencem à entidade responsá-
f) Aprovar versões revistas dos procedimentos e fer- vel pelo local visitado.
ramentas do sistema, bem como o alargamento > Este princípio não deve prejudicar um outro, es-
do sistema, sob proposta da entidade gestora. tabelecido acima: só os auditores acreditados
> As boas práticas internacionais analisadas no pelo sistema podem recolher dados.
capítulo 3 do presente estudo demonstram que > Deve ser claramente estabelecido o prazo máximo
este enquadramento – em matéria de composi- para a retirada da informação, sendo recomendá-
ção, e de funções da comissão – estimula diá- vel que esse prazo seja estabelecido num máximo
logo e fomenta o estabelecimento de laços de 4 dias úteis e num mínimo de 2 dias úteis.
entre a comunidade das pessoas com deficiên- > A presença na base de dados do sistema implica
cia e as entidades proprietárias ou gestoras dos a disponibilidade dos dados para divulgação por
locais abrangidos pelo sistema, nomeadamente todos os canais estabelecidos pelo sistema, de-
os operadores turísticos. vendo ser possível a entidade responsável pelo
local estabelecer restrições ao tipo de canais.
9. Propriedade e Gestão dos Dados
9.2 Caso ocorram alterações ao nível da propriedade
9.1 Os dados recolhidos no local e divulgados pelo sis- ou gerência do local com efeitos na configuração do
tema devem pertencer à entidade proprietária ou espaço físico ou dos procedimentos de atendimento e
gestora do local, que deve poder requerer a sua reti- serviço, a validade dos dados deve ficar sujeita à rea-
rada da base de dados do sistema. lização de nova análise para verificação.
> Uma vez que os dados se referem a característi- > Deve por isso ser solicitado às entidades ade-
cas específicas dos locais visitados, outra coisa rentes que comuniquem ao sistema essas alte-
seria dificilmente sustentável em termos jurídi- rações.
cos. Tornar este princípio explícito desde o pri-
meiro contacto encoraja a adesão ao sistema, 9.3 Deve ser definido um prazo de validade para os
porque é securizante para os responsáveis dos dados de dois a quatro anos, findo o qual, caso não
locais visitados e confere alguma tangibilidade seja efectuada nova análise para actualização, devem
imediata aos resultados (a entidade responsá- ser retirados da base de dados disponibilizada para
vel pelo local fica detentora de algo novo). consulta pública pelo sistema.
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> Segundo a Associação da Hotelaria de Portugal, 9.4 Deve ser admitida a actualização parcial de pe-
em termos gerais os empreendimentos turísticos quenas partes da informação disponível, especial-
realizam intervenções de qualificação ligeiras em mente na sequência de:
ciclos de 7 anos, e profundas em ciclos de 20 anos. a) Realização de melhoramentos pela entidade
> O Regime Jurídico da Instalação, Exploração e proprietária ou gestora do local visitado;
Funcionamento dos Empreendimentos Turísti- b) Eventual indicação, pelos utilizadores, de falhas
cos (Decreto-Lei n.º 39/2008, de 7 de Março) de- na informação divulgada (a qual deverá, por
fine um sistema de classificação para a tipologia regra, ser indicada de imediato à entidade pro-
e categoria destes empreendimentos, estabele- prietária ou gestora do local visitado, solici-
cendo um prazo máximo de quatro anos para va- tando confirmação).
lidade desta classificação (cf. artigo 38.º, n.º 1). > Para o turista, o estado que interessa é o estado
> Deve notar-se que a acessibilidade depende do em que as coisas se encontram (ou se encontra-
conjunto, mas também de cada um dos seus rão), de facto, no momento da sua visita. Toda a
componentes. Em cada um dos locais abrangi- credibilidade do sistema depende, por isso, da
dos há, por isso, muitos detalhes a ter em fidelidade da informação disponibilizada pelo
conta, passíveis de alteração. A fidelidade da in- sistema relativamente ao estado real do estabe-
formação será, por isso, inversamente propor- lecimento ou local.
cional ao prazo de validade, i.e., quanto maior o > Pequenas alterações, realizadas de forma cor-
prazo, menor a fidelidade. rente nos locais abrangidos pelo sistema,
> Deve notar-se, ainda, que o prazo de validade vai podem ter um impacto importante nas condi-
determinar, na grande maioria dos locais abran- ções de acessibilidade, pelo que importa esta-
gidos, a frequência de contacto entre os respec- belecer um prazo de validade adequado, indicar
tivos responsáveis e o sistema, e a dinâmica de sempre a data a que se referem os dados, e defi-
transformação desses locais – quanto maior for nir procedimentos claros e agilizados para a sua
o prazo de validade da informação, menos fre- actualização.
quentes serão os contactos, e tendencialmente > Sendo frequente a realização de alterações nos
menor será a dinâmica de adaptação dos locais. estabelecimentos abrangidos, um prazo supe-
> A entidade gestora deve implementar um proce- rior a dois anos afigura-se como demasiado ex-
dimento de alerta automático dos proprietários tenso, e um prazo inferior a um ano como dema-
dos dados. Este procedimento deve igualmente siado curto.
informar, em simultâneo, o auditor que efec- > Deve ser definido um procedimento simples
tuou a análise, mas daí não deve resultar uma para a actualização de pequenas partes da in-
obrigatoriedade de a actualização ser efectuada formação, especialmente se esta actualização
pelo mesmo auditor. ocorrer na sequência de melhoramentos. Esta

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actualização, que será provavelmente solicitada bilidade, uma vez que o seu único propósito deve ser
pela entidade gestora, deve ser sempre reali- indicar que o espaço foi analisado e que a informação
zada pelo auditor. está disponível na base de dados do sistema.
> As actualizações parciais, que não impliquem
uma nova análise extensa ou exaustiva, devem 9.8 A adesão ao sistema deve incluir a autorização de
ser tendencialmente gratuitas, ou de custo sig- uso, pela entidade responsável pelo local visitado,
nificativamente inferior. nos seus materiais de divulgação e promoção, do
símbolo referido no número anterior. Deve ser tor-
9.5 A responsabilidade pelo rigor da informação reco- nado claro que esta autorização cessará automatica-
lhida deve ser imputada: mente com o final da adesão ao sistema.
a) Ao auditor, quando ocorram desconformidades,
no momento da análise, entre as condições 9.9 A adesão ao sistema não deve implicar, necessa-
existentes e as condições registadas; riamente, a afixação de qualquer tipo de placa indica-
b) À entidade gestora do sistema, quando lhe for tiva no local. Se o sistema disponibilizar essa placa,
imputável falha na inserção dos dados forneci- esta deve pertencer ao sistema, que a pode alugar ou
dos pelo auditor na base de dados, ou quando ceder gratuitamente à entidade responsável pelo
não retirar do sistema informação que tenha ul- local, mas não deve abdicar do direito de exigir a sua
trapassado o prazo de validade; imediata devolução, caso termine a adesão ao sis-
c) À entidade proprietária ou gestora do local visi- tema.
tado, quando não comunique ao sistema (atra-
vés do auditor, se necessário) a alteração,
mesmo que pontual, das condições divulgadas.

9.6 A informação deve ser inserida na base de dados


do sistema na sua forma completa. Não deve ser
aceite a exclusão de qualquer parte dos dados, no-
meadamente das respostas que denotem a desade-
quação de algum elemento.

9.7 Deve ser criado um símbolo (ícone ou conjunto de


ícones) que indique a existência de informação dispo-
nível sobre o local aderente. Deve evitar-se que pela
sua configuração o símbolo possa ser interpretado
como indicando a existência de condições de acessi-
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artigo 79º Turismo”. In http://www.diariodoturismo.com.br/
Resolução da Assembleia da República n.º 56/2009, texto.asp?codid=14774
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Resolução do Conselho de Ministros n.º 9/2007, de 17 de
Janeiro, medida 2.1.b) “Acessibilidade às Praias”
Resolução do Conselho de Ministros n.º 120/2006, de
21 de Setembro, Estratégia n.º 1.3, “Promover mais
cultura, mais desporto e melhor lazer”.
Reglamento (CE) n.º 1107/2006, del Parlamento Euro-
peu y del Consejo, de 5 de Julho de 2006

Sites Consultados:
www.accessibletourism.org
www.accessible-tourism.com
www.ada.gov/5yearadarpt/ii_enforcing_pt3.htm
www.bmwi.de
www.comune.venezia.it/informahandicap
www.drc-gb.org
www.europeforall.com/
www.godadgang.dk/gb/main.asp
www.handiplage.fr
www.opendoorsnfp.org
www.toegankelijkreizen.be/index.php?id=713&L=1
www.realising-potential.org
www.tourisme-handicaps.org
www.un.org/esa/socdev/ageing/index.html
www.visitoslo.com/en/

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