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Electrónica:
Uma Reforma
Comprometida
Procurement, Quadro institucional,
processos, riscos, perspectivas
Lista de Abreviaturas..................................................................................................................................................3
Sumário Executivo.....................................................................................................................................................4
Introdução.................................................................................................................................................................5
1. Concessão da JUE: história de um prourement manipulado..............................................................................7
1.1 O papel dúbio da CTA e pré-acordo secreto com a SGS...................................................................................7
1.2 Consultoria estratégica e assinatura de acordo secreto...............................................................................8
1.3 Concurso à medida da SGS..............................................................................................................................9
1.4 O papel desempenhado pela Escopil.......................................................................................................10
2. Cinco anos da JUE: que ganhos e quem ganha.....................................................................................................10
2.1 Impacto na arrecadação de receitas de Estado.................................................................................................10
2.1.1 Crescimento de importações...................................................................................................................14
2.1.2 Funcionamento paralelo da TIMS compromete arrecadação de receita via JUE......................................15
2.2 Impacto da JUE no tempo de desembaraço aduaneiro...................................................................................16
2.3 Impacto da JUE na transparência e consistência de tramitação de processos aduaneiros..................................17
2.3.1 O problema da segunda inspecção e verificação física..............................................................................18
2.4 Impacto da JUE nos custos de desembaraço aduaneiro: a fixação de taxas pela prestação de serviços..............19
3. Gestão do Contrato JUE: conflito de interesses e falta de fiscalização...................................................................20
3.2 Conflito de interesses da Autoridade Tributária..............................................................................................21
3.3 Violação da Lei de Probidade Pública pelo antigo director Geral das Alfândegas.............................................21
3.4 Conta Geral do Estado não reporta execução e o desempenho da JUE...........................................................22
4. Conclusão............................................................................................................................................................23
5. Referências...........................................................................................................................................................24
6 Recomendações.....................................................................................................................................................24
Lista de Abreviaturas
O
presente estudo avalia os primeiros cinco anos de im- concedente e concessionária da JUE, pois participa na estrutu-
plementação do sistema electrónico de desembaraço ra accionista da empresa concessionária. Há violação da Lei da
aduaneiro, Janela Única Electrónica (JUE), conces- Probidade Pública pelo facto de antigos dirigentes da Direcção
sionado à Mozambique Network Community (MCNet), em Geral das Alfândegas assumirem, em menos de 12 meses, pastas
formato de PPP (parceria público-privada). Portanto, a JUE de liderança na MCNet em representação de interesses privados.
é o instrumento de colecta de receitas do Estado provenientes O ponto forte da JUE é ter reduzido o tempo do desembaraço
de impostos sobre o comércio externo, com um peso de cerca bem como a redução das oportunidades para a prática de pe-
de 27% de todas as receitas fiscais. O estudo foi realizado num quena corrupção, mas um dos aspectos de bandeira da JUE –
contexto marcado por uma grande crise económica e financeira aumento da receita do comércio externo – não aconteceu. O
que assola o país. Por isso, era de esperar uma elevada eficiência principal factor para esta situação tem que ver com o facto de a
na arrecadação de receitas fiscais por parte do Estado através da JUE estar a ser implementada de forma parcial, coexistindo com
Autoridade Tributária. a TIMS (Trade Information Management System), um sistema an-
O pressuposto subjacente à introdução da JUE é o de que um tigo e manual que era suposto ter sido substituído pela JUE. Pelo
serviço de desembaraço aduaneiro célere, eficiente e transparente é menos 30% dos processos de desembaraço aduaneiro continuam
fundamental para a melhoria do ambiente de negócios e aumento a acontecer via TIMS. O TIMS é usada para contrabando de
de receitas do Estado. Mas há vidências de que a JUE está a ser mal diversas mercadorias para além de importação de mercadorias
conduzida, desde o processo que levou à sua concessão à MCNet de grande valor como combustíveis líquidos e medicamentos, le-
até à sua implementação, desvirtuando, assim, os propósitos da sando o Estado com receitas aduaneiras sonegadas ou desviadas.
sua criação e comprometendo a arrecadação de receitas. Outro aspecto problemático é o facto de a receita e o desempe-
O estudo pretendia, entre outros objectivos, (i) documentar o nho da JUE nunca terem sido auditados nem inscritos na Conta
procurement que conduziu à concessão da JUE, tendo em conta Geral do Estado, violando, desta forma, a Lei das PPP e vedando
as boas práticas e disposições legais da contratação pública, (ii) a possibilidade de se detectar as anomalias que decorrem da im-
avaliar a implementação da JUE tendo em consideração os ob- plementação parcial da JUE.
jectivos que justificaram a sua adopção, (iii) avaliar a gestão do Na base das principais constatações expostas fazem-se as seguin-
contrato da JUE à luz dos princípios de boa governação de uma tes recomendações:
parceria público-privada e da legislação nacional sobre o sector. • Término do uso paralelo do TIMS para desembaraço
Metodologicamente, o estudo foi realizado com base em técnicas aduaneiro e implementação integral dos pacotes da
de investigação jornalística para a recolha e análise de informa- JUE em todos os pontos fronteiriços do país;
ções, incluindo observação directa. As análises económicas foram • O Ministro da Economia e Finanças deve rever em bai-
realizadas para a quantificação dos custos aos cofres do Estado. xa as taxas instituídas pelo seu antecessor a ser pagas
O estudo mostra que o procurement da concessão da JUE foi pelos utentes da JUE de modo a reduzir os custos de
feito sem transparência, com o concurso público a ser manipu- importação;
lado para favorecer o consórcio SGS/Escopil e Confederação das • O Tribunal Administrativo deve passar a realizar fiscali-
Associações Económicas (CTA). Não há muita transparência no zação da execução e desempenho da JUE com informa-
desembaraço aduaneiro. Ao invés da redução, houve aumento ção vertida na Conta Geral do Estado;
de custos de desembaraço aduaneiro com a introdução de taxas • Que a Inspecção Geral das Finanças realize auditoria ao
pagas à empresa privada MCNet, concessionária da JUE. funcionamento da JUE para assegurar a sua conforma-
Há conflito de interesse na gestão do contrato de concessão ção com os objectivos para os quais foi estabelecida e
da JUE. A Autoridade Tributária é simultaneamente entidade com a legislação nacional;
O
presente estudo avalia os primeiros cinco anos (2011- da América (USAID) através do Projecto de Desenvolvimento
2015) da implementação do sistema electrónico de Económico e Empresarial, Moçambique (SPEED). Este estudo
desembaraço aduaneiro, a Janela Única Electrónica avalia o impacto da JUE mas abrange apenas os primeiros nove
(JUE), concessionado pelo Ministério das Finanças de Moçam- meses da sua implementação (2011-2012), período em que nem
bique à sociedade de direito privado Mozambique Comunity Ne- todas os módulos da JUE estavam em funcionamento3.
twork (MCNet) sob forma de Parceria Público-Privado (PPP). A imprensa não tem, igualmente, abordado de forma profunda
A concessão do MCNet foi através de um contrato de modelo as matérias relativas à JUE, limitando-se, na maioria das vezes, à
Build, Operate, Transfer (BOT) com a duração de 15 anos; ten- publicação de artigos de reprodução de declarações dos dirigen-
do iniciado em 2001, foi já percorrido um terço do período da tes da MCNet ou de outras entidades envolvidas na implemen-
duração. tação da JUE.
O Sistema JUE é de grande importância para o Estado moçam- É, por isso, visível o desconhecimento e a consequente falta de
bicano e para os agentes económicos envolvidos no comércio debate público informado sobre o funcionamento, custos e be-
externo (importação e exportação). É, em suma, de extrema im- nefícios da JUE para o Estado e para o cidadão, revelando-se, por
portância para todos os moçambicanos, pois é através dele que isso, pertinente a realização do presente estudo.
se realiza o desembaraço aduaneiro de quase toda a mercadoria Para além disso, este estudo complementa uma análise sobre os
importada e é também usado no processamento das exportações. custos de corrupção para a economia moçambicana, publicado
Para a Administração Pública, a JUE é mais importante ainda, pelo Centro de Integridade Pública em Maio de 2016 (CIP/
pois é através dela que se efectua a cobrança de receitas fiscais na CMI/U4, 2016). Neste estudo, o Sistema JUE foi identifica-
componente de impostos externos, designadamente, os seguintes do como “pedra angular” para a melhoria da colecta de receitas
Impostos sobre Bens e Serviços: Imposto sobre o Valor Acrescen- aduaneiras para o Estado, mas apresenta constrangimentos que
tado (IVA) de mercadorias importadas; Imposto sobre Consumo custam milhões de dólares ao Estado e à economia4.
Específico (ICE) de produtos importados; Imposto sobre o Co- Tendo em conta as causas que levaram à introdução da JUE5,
mércio Externo; Taxas de Serviços Aduaneiros (TSA). o presente estudo tem como objectivos: documentar o procure-
O somatório de impostos cobrados através da JUE representa ment que conduziu à concessão da JUE tendo em conta as boas
uma importante fatia de receitas do Estado. Em 2014, as receitas práticas e disposições legais da contratação pública; avaliar a im-
cobradas via JUE representaram cerca de 27% do total das recei- plementação da JUE tendo em consideração os objectivos que
tas fiscais do ano1. justificaram a sua adopção; avaliar a gestão do contrato da JUE
Porém, a gestão da JUE é conduzida sem transparência. Não à luz dos princípios de boa governação de uma parceria público
existem relatórios de auditorias feitas pelas entidades públicas -privada e da legislação nacional sobre o sector.
competentes, do domínio público, que escrutinam as contas da Neste estudo foram aplicadas técnicas de investigação jornalística para
JUE e demonstram os benefícios (ou prejuízos) ao Estado. a recolha de informação, para além de revisão bibliográfica, observa-
Igualmente, são escassos os estudos independentes realizados ção directa e análises comparativas de factos. Vinte e duas (22) pessoas
no país sobre a JUE. Presentemente, apenas dois estudos sobre foram entrevistadas no âmbito deste estudo, entre funcionários da
a JUE são conhecidos: uma investigação realizada pelo Centro Autoridade Tributária de Moçambique (AT), Agentes das Alfândegas
de Integridade Pública (CIP) em 2011, avaliando o processo de de Moçambique, Despachantes Aduaneiros e Agentes Económicos.
procurement que culminou com a concessão da JUE à MCNet. As principais limitações do estudo são relativas à falta de acesso
Esta investigação não captou o impacto da implementação da a fontes oficiais de informação sobre a JUE, nomeadamente o
JUE, pois foi realizada antes do início da operação da JUE2. Um contrato de concessão, os relatórios de execução/implementação
segundo estudo foi realizado em 2013, encomendado pela Asso- bem como a recusa das instituições-chave na implementação da
ciação de Comércio e Indústria (ACIS), financiado pela Agên- JUE em prestar informação solicitada, nomeadamente a Autori-
cia para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos dade Tributária e a MCNet.
1 Tribunal Administrativo (2015). Relatório sobre a Conta Geral do Estado de 2014 - Capítulo V - EXECUÇÃO DO
ORÇAMENTO DA RECEITA, p. V-4; 20 Maputo
2 Machel, Milton (2011). Janela Electrónica Única: Mais um problemático procurement público (PPP); Newsletter CIP; edição
10; Maputo
3 William Claypole (2013). IMPACTOS DA JANELA ÚNICA ELECTRÓNICA EM MOÇAMBIQUE NOS MÓDULOS DA IM-
PORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO APÓS NOVE MESES DE IMPLEMENTAÇÃO; USAID/SPEED & ACIS; Maputo;
4 CIP, CMI, U4 (2016). Os Custos da Corrupção para a Economia Moçambicana – Por que é que é importante combater a cor-
rupção num clima de fragilidade fiscal; Maputo
5 https://www.mcnet.co.mz/About-MCNet.aspx [acedido a 22 de Setembro de 2016, às 03h17min]
Com os fundos recebidos da Commonwealth, as Alfândegas de outros países vizinhos que não têm acesso ao
Moçambique solicitaram em 2005 uma consultoria para mapear mar (...). Verificámos lá que as autoridades al-
os problemas que dificultam o comércio. Para realizar a consul- fandegárias e fiscais estavam satisfeitas com o
toria foram chamadas duas pessoas ligadas à CriminsonLogic, processo que tinha sido implementado, e esse
parceira da SGS. Trata-se de Chan Fook Seng da CrimsonLogic processo permitia-lhes maior transparência,
de Singapura e Chris Tan do Instituto Internacional do Comér- melhor controlo sobre as receitas, melhor es-
cio, também de Singapura. tatística e acima de tudo uma melhor celeri-
Os consultores terão estudado todos os processos e procedimen- dade no desembaraço do processo aduaneiro”
tos das Alfândegas de Moçambique para depois recomendar a – Kekobad Patel (CIP, 2011).
adopção do sistema JUE, implementado no Gana, os únicos paí-
ses do mundo onde CrimsonLogic e SGS operavam. As palavras de Patel explicam como tudo foi feito para que o mo-
“Escolheu-se [o modelo de] Gana funda- delo escolhido fosse o da SGS, sendo por isso que a realização do
mentalmente porque tem os quatro modos concurso ameaçava a concretização desta escolha. Assim, segun-
de transporte (aéreo, rodoviário, marítimo e do se apurou durante a pesquisa, em Junho de 2006, Barros dos
ferroviário) tal como nós e igualmente serve Santos, na qualidade de Director Geral das Alfândegas, Salimo
Tendo em conta o contexto em que a JUE foi adoptada, foram es- antes e o depois da JUE para se apurarem as mudanças que hou-
tabelecidos como ganhos esperados com a respectiva implementa- ve e se as mesmas foram influenciadas pela implementação da
ção: a redução significativa dos tempos de desembaraço aduaneiro; JUE ou por outros factores independentes da JUE.
a redução de custos de desembaraço aduaneiro; a transparência e O primeiro resultado avaliado, devido à sua grande relevância
consistência nas alfândegas e na tramitação de processos aduanei- para o Estado e para o cidadão, é o aumento da arrecadação de
ros; o aumento substancial na arrecadação de receitas pelo Estado receitas pelo Estado como resultado da introdução da JUE. Ava-
como resultado da transparência e práticas melhoradas17. liou-se também a redução dos tempos de desembaraço aduanei-
A avaliação dos primeiros cinco anos da implementação da JUE ro, dos custos de desembaraço aduaneiro e a transparência e con-
tem em conta os resultados esperados. No estudo analisou-se o sistência nas alfândegas e na tramitação de processos aduaneiros.
50000000
IRPC IRPS ICE Prod. Import I. Comer. Externo
45000000
40000000
50000000
IRPC IRPS ICE Prod. Import I. Comer. Externo
35000000
45000000
30000000
40000000
25000000
35000000
20000000
30000000
15000000
25000000
20000000
10000000
150000005000000
10000000 0
5000000 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
0
Fonte:
2004 CGE2006
e REO (2006-2015)
2008 2010 2012 2014 2016
80,00 73,53
72,15 56,65
60,00 54,18
52,04 50,93
60,00 56,65 54,18
40,00 36,22 52,04 38,86 50,93 39,52
35,61 37,11
31,08 29,2829,62
28,40 28,25 39,52
38,86
23,86 37,11
23,60 23,6122,74
40,00 36,22 22,60 35,61
31,0816,68 20,19
28,40
20,00 28,25 14,05 29,2829,62 16,17
23,86 13,45
23,6012,03 23,6122,74
22,60 20,19
16,68 5,50 6,45 5,47 5,71
20,00 14,05 16,17
13,4512,03 1,35
- 5,50 6,45 5,47 5,71
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 1,35
2014 2015
- -5,39 -2,75
2007 2008 2009 2010 2011 -10,46
2012 2013 2014 2015
(20,00) -5,39 -2,75 -18,31
-10,46
(20,00)
-18,31
(40,00)
IRPC IRPS ICE Prod. Import I. Comer. Externo
(40,00)
IRPC IRPS ICE Prod. Import I. Comer. Externo
Ainda assim, o aumento da receita proveniente do Imposto de Comércio Externo, cobrada via
Analisando particularmente as receitas
JUE, do nominal.
é apenas Estado cobradas
Do pontovia Comércio
de vista Externo,
real, é preciso cobradaovia
considerar JUE,daé variação
efeito apenas nominal.
cambial Do pon-
JUE, nota-se que apenas as receitas provenientes de Imposto so- to de vista real, é preciso considerar o efeito da variação cambial
que um
bre o Comércio Externo tiveram temaumento
impacto significativo
positivo sobre
apósas receitas
que temdoimpacto
comércio internacional,
positivo especificamente
sobre as receitas as interna-
do comércio
a introdução da JUE em 2011. O mesmo
receitas sobre não
benssedeverificou comdevido
importação, cional, especificamente
à apreciação asrand
do dólar, receitas sobreque
e Euro, bens de importação,
inflaciona as de-
o imposto sobre consumo específico e com o IVA, ambos de vido à apreciação do dólar, rand e euro que inflaciona as receitas
receitas extraídas de facturas emitidas nestas moedas externas. Estas são as principais moedas
incidência sobre as importações. extraídas de facturas emitidas nestas moedas externas. Estas são
de trocas
Ainda assim, o aumento da receita usadas emdo
proveniente Moçambique.
Imposto de as principais moedas de troca usadas em Moçambique.
20000000
15000000
IRPS
10000000 I.C. Externo
5000000
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015
Uma comparação entre o IRPS, cobrado via SICRE da Autoridade Tributária e Imposto sobre
Uma comparação entre o IRPS,o cobrado
Comércio viaExterno,
SICRE dacobrado através da
Autoridade noJUE, implementado
gráfico pelo
3, não obstante MCNet,
o IRPS mostra que
não beneficiar daovariação
IRPS cambial
Tributária, e o Imposto sobre ocresceu
Comércio Externo, cobrado através para o seu valor nominal, visto que a incidência
mais de 2011 para 2015 do que o Imposto de Comércio Externo, como se demonstra é sobre o rendimento
da JUE pelo MCNet, mostra que o IRPS cresceu de 2011 para 2015 na sua maioria em meticais, enquanto o Imposto sobre o Comércio
no gráfico
mais do que o Imposto de Comércio 3. Nãocomo
Externo, obstante o IRPS não beneficiar
se demonstra da variação
Externo beneficia cambialcambiais
das variações para o seu
paravalor
o seunominal
valor nominal.
visto que a incidência é sobre rendimento na sua maioria em meticais, enquanto o Imposto
sobre o Comércio Externo beneficia das variações cambiais para o seu valor nominal.
60000000
50000000
10000000
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
O gráfico 04 apresenta a evolução de dois Impostos sobre Bens e Serviços, sendo que ambos
Janela Única Electrónica: umatêm incidência
Reforma sobre produtos internos e sobre produtos importados. Na vertente sobre
Comprometida 13
produtos internos, o imposto é cobrado pela Autoridade Tributária, através do SICRE. Na
O gráfico 04 apresenta a evolução de dois Impostos sobre Bens e incidência sobre produtos importados.
Serviços, sendo que ambos têm incidência sobre produtos internos e O gráfico 4 mostra que a performance de ambos se manteve linear,
sobre produtos importados. Na vertente sobre produtos internos, o apesar do primeiro ser cobrado pela Autoridade Tributária e o segun-
imposto é cobrado pela Autoridade Tributária através do SICRE. Na do pela MCNet. O que se esperava era que a receita cobrada através
incidência sobre produtos importados, a cobrança é efectuada através da JUE tivesse mudando de tendência a partir de 2011, passando a
da JUE da MCNet. ter crescimento acentuado como resultado da eficiência da JUE. Isto
Nota-se que o Imposto sobre o Consumo Específico de Produ- não aconteceu. A variação percentual do crescimento anual da receita
tos Nacionais, cobrado via SICRE pela Autoridade Tributária, arrecadada pela cobrança do IVA mostra esta tendência de equilíbrio
manteve crescimento beneficiou
regular tal da
como sucedeudas
apreciação comprincipais
o Imposto entre
moedas de receita proveniente
troca com do IVAointerno
Moçambique, e do IVA
rand, dólar e sobre produtos
de Consumo Específico sobre Produtos Importados, cobrado importados (gráfico 5). Há ainda a considerar que o IVA que incide
Euro. A mesma leitura faz-se na relação
através da JUE pela MCNet. sobre produtos importados beneficiou da apreciação das principais
entre o IVA de incidência sobre produtos nacionais e o IVA de moedas de troca com Moçambique (o rand, o dólar e o euro).
O gráfico 5 mostra que no ano de 2011, em que foi introduzida a JUE, o IVA sobre importações
O gráfico 5 mostra que no ano de 2011, em que foi introduzida variações cambiais e não necessariamente pela eficiência da JUE.
cresceu aproximadamente
a JUE, o IVA sobre importações 13%, contra13%
cresceu aproximadamente 36% deO crescimento
equilíbrio do
na IVA sobredeprodutos
variação nacionais.
crescimento tanto do IVA interno
contra 36% de crescimento do IVA sobre(2012)
No ano subsequente produtos
o IVAnacionais. como
sobre produtos do IVA sobre
importados as importações
cresceu verifica-se
aproximadamente 10% em todos os anos
No ano subsequente (2012), o IVA sobre produtos importados da implementação da JUE. Em 2014, por exemplo, as duas com-
em ralação ao ano anterior, enquanto o IVA sobre produtos domésticos cresceu pouco acima
cresceu aproximadamente 10% em relação ao ano anterior, en- ponentes do IVA cresceram praticamente ao mesmo ritmo de
de 7%, uma
quanto o IVA sobre produtos diferença
domésticos inferior
cresceu a 3%,
pouco quedepodeaproximadamente
acima ser justificada pelas
23%variações
para IVAcambiais
Internoe não
e aproximadamente
7%, uma diferença inferior a 3% que pode ser justificada
necessariamente pela eficiência da JUE. pelas 24% para IVA sobre produtos importados.
9000
8479,5
8000 7903,1 7951,7
7576,6
7000
6000
5367,6
5000
4000
3643,4 3422,1 3512,4
3000
2648,8 2811,1
2000
1000
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
A leitura global das receitas fiscais desagregadas mostra que o ralelo com o TIMS, como veremos mais adiante na parte em que
desempenho da arrecadação de receitas externas, cobradas via se aborda a gestão do contrato da JUE.
JUE, nomeadamenteAoleituraIVA deglobal do dassobre
incidência receitas fiscais desagregadas
importações, mostraa que
o É inegável o desempenho
pertinência da arrecadação
da reforma no sistema de cobrança de
ICE, também de incidência sobre importações, não melhorou impostos do Estado, introduzindo a JUE, um sistema electrónico
de receitas externas, cobradas via JUE, nomeadamente o IVA de incidência sobre importações,
com a introdução da JUE. Houve algum crescimento das receitas mais abrangente e que teoricamente garante mais transparência.
o ICE,detambém
provenientes da cobrança Impostodesobreincidência sobre Exter-
o Comércio importações
Estanão melhorou
reforma com a introdução
é necessária não somente da nos
JUE.impostos externos
no mas este crescimento
Houvepode ser justificado
algum crescimentopordasfactores
receitascomo mas da
provenientes emcobrança
todos. Aliás, a este sobre
de Imposto propósito, a Autoridade Tributária
o Comércio
variação cambial positiva das moedas de importação (dólar, rand está a fazer a transição do SICRE para e-Tributação. O SICRE é
e euro). da geração do TIMS que foi substituído pela JUE.
No global, houve aumento das receitas do Estado no período O que se questiona é o modelo que deve ser seguido na reforma
que coincide com a introdução da JUE, mas este aumento atin- do sistema de tributação. No caso dos impostos externos, seguiu-
giu todas as receitas e não apenas aquelas arrecadadas através da se um modelo de PPP, concessionando-se à entidade privada o
JUE. Isto mostra que a causa do aumento de receitas é externa à papel de cobrar as receitas do Estado. Até aqui, quando percor-
JUE. A receita que mais cresceu neste período foi a proveniente rido um terço do tempo da concessão, nota-se que este modelo
de Imposto de Rendimento de Pessoas Colectivas, que é cobrada não resultou, pelo menos na componente de aumento da receita
directamente pela Autoridade Tributária através do Sistema Inte- e na redução de custos de desembaraço aduaneiro, conforme se
rino de Cobrança de Receita. demonstra adiante.
Assim, é visível que a JUE falhou ou ainda não conseguiu res- A reforma do TIMS para a JUE podia ter sido implementada
ponder um dos principais objectivos da sua introdução: o au- pela própria Autoridade Tributária como está a suceder com a
mento da arrecadação das receitas do Estado. e-Tributação. É que a JUE, para além de não ter feito aumentar
É, porém, necessário referir que nem todo o desembaraço a arrecadação de receitas, tem altos custos ao utente e à econo-
aduaneiro é efectuado via JUE. O desembaraço de pelo menos mia, como se demonstra a seguir. O custo decorre da prestação
cerca de 30% do volume de mercadorias importadas é realizado de serviços públicos e aquele é imputado ao agente importador/
via TIMS que devia estar extinto desde a introdução da JUE. exportador e em última instância ao consumidor final, benefi-
Este facto não permite fazer uma avaliação completa do desem- ciando os accionistas da empresa privada, a MCNet, à qual foi
penho da JUE na arrecadação de receitas, pois funciona em pa- concessionada a implementação da JUE.
Fonte: www.mcnet.co.mz
21 CLAYPOLE, William (2013) IMPACTOS DA JANELA ÚNICA ELECTRÓNICA EM MOÇAMBIQUE NOS MÓDULOS DA IMPORTAÇÃO
E EXPORTAÇÃO APÓS NOVE MESES DE IMPLEMENTAÇÃO; USAID/ACIS
22 Austral Consultoria e Projectos, Lda (2004:p 82) Pesquisa Nacional sobre Governação e Corrupção; UTRESP; Maputo
Inferior a 500 De 500 até 10.000 Superior a 10.000 até Superior a 50.000
Regime 50.000
Por decisão do Ministério das Finanças e da Autoridade Tributá- ferência de responsabilidades para um parceiro com maior ca-
ria, a JUE foi implementada no modelo de Parceria Público-Pri- pacidade de gerir aquele risco; a maior flexibilidade de financia-
vada (PPP), em oposição à contratação de empresa e ou serviço mento proporcionando; a menor custo global do projecto em
de instalação e gestão da JUE, sob direcção da Autoridade Tribu- comparação com o modelo tradicional26.
tária ou das Alfândegas de Moçambique. Uma das características essenciais de uma PPP é a chamada “ges-
O escolher o modelo de PPP para a implementação da JUE fez tão de contrato” que é um processo que permite que ambas as
com que a gestão desta fosse privada, mas com a participação de partes do contrato (pública e privada) cumpram as suas obri-
entidades públicas diversas, principalmente na fiscalização, con- gações, a fim de garantir os objectivos exigidos no contrato. A
trolo e regulação do projecto. gestão do contrato inclui ainda a combinação de papéis e res-
Uma PPP pode ser definida como uma parceria entre os sectores ponsabilidades, envolvendo a construção de uma boa relação de
público e privado para o financiamento, construção, renovação, trabalho entre as partes pública e privada. A gestão do contrato é
manutenção e gestão de uma infra-estrutura ou de um serviço permanente durante a vida do projecto27.
público. A infra-estrutura em alusão pode ser física ou de softwa- O objectivo central da gestão de contrato de uma PPP é garan-
re, como é o caso da JUE25. tir a provisão dos serviços públicos objecto da concessão e desta
Numa PPP, a parte privada normalmente traz o know-how e forma maximizar os ganhos do projecto. Isto significa optimizar
experiência que são essenciais para o desenho, financiamento, a eficiência e a eficácia do projecto, reduzir os custos e os riscos
construção, gestão, renovação e manutenção de infra-estrutura. diversos28.
A parte pública assegura a criação de condições políticas e eco- Para avaliar a gestão do contrato da JUE é importante que se
nómicas para o sucesso do projecto. tenha acesso ao respectivo contrato para apurar as responsabili-
Acredita-se que uma maior experiência e um maior conhecimen- dades das partes contraentes e verificar até que ponto cada parte
to do sector privado contribuem para a inovação e a eficiência está a cumprir as suas obrigações. Durante a realização do estudo
da infra-estrutura e melhoria de prestação de serviços públicos, solicitou-se cópia do contrato de concessão da JUE, por um lado,
num negócio em modelo de PPP. à Autoridade Tributária, na qualidade da autoridade concedente,
Uma PPP é importante ainda devido: à partilha do risco e trans- e, por outro lado, à MCNet, na qualidade de concessionária.
25 Comissão Europeia (2004), Livro verde sobre as parcerias público-privado e o direto comunitário em matéria de contratos
públicos e concessões: Bruxelas
26 United Nations (2008), Guidebook on promoting good governance in PPP: New York and Geneva.
27 Cruz, C. e Marques, R. (2012), O Estado e as Parcerias-Público-Privadas; Edições Sílabo: Lisbon
28ANAO (2012), Australian National Audit Office, Developing and Managing Contracts Better Practice Guide: Australia.
O presente estudo avalia os primeiros cinco anos de implemen- JUE estar a ser implementada de forma parcial, coexistindo com
tação do sistema electrónico de desembaraço aduaneiro, Janela o TIMS (Trade Information Management System), um sistema
Única Electrónica (JUE), concessionado à gestão da Mozambi- antigo e manual que era suposto ter sido substituído pela JUE.
que Network Community (MCNet), em formato de PPP (par- Pelo menos 30% dos processos de desembaraço aduaneiro con-
ceria público-privada). O pressuposto subjacente à introdução tinuam a acontecer via TIMS. O TIMS é usado para o con-
da JUE é o de um serviço de desembaraço aduaneiro célere, trabando de diversas mercadorias, para além de importação de
eficiente e transparente que é fundamental para a melhoria do mercadorias de grande valor como combustíveis líquidos e me-
ambiente de negócios e aumento de receitas do Estado, mas este dicamentos, lesando o Estado em receitas aduaneiras sonegadas
estudo mostrou que há evidências de que a JUE está a ser mal ou desviadas.
conduzida, desde o processo que levou à sua concessão à MCNet Outro aspecto problemático é o facto de a receita e o desem-
até à sua implementação. penho da JUE nunca terem sido auditados e nem inscritos na
O estudo mostrou que o procurement da concessão da JUE foi Conta Geral do Estado, violando, desta forma, a Lei das PPP e
feito sem transparência, com o concurso público a ser manipu- vedando a possibilidade de se detectar as anomalias que decor-
lado para favorecer o consórcio SGS/Escopil e Confederação das rem da implementação parcial da JUE.
Associações Económicas (CTA). Não há muita transparência no Na base das principais constatações expostas fazem-se as seguin-
desembaraço aduaneiro. Ao invés da redução, houve aumento tes recomendações:
dos custos de desembaraço aduaneiro com a introdução de taxas • Fim do uso paralelo do TIMS para desembaraço adua-
pagas à empresa privada MCNet, concessionária da JUE. neiro e implementação integral dos pacotes da JUE em
Há conflito de interesses na gestão do contrato de concessão todos os pontos fronteiriços do país;
da JUE. A Autoridade Tributária é simultaneamente entidade • O Ministro da Economia e Finanças deve rever em bai-
concedente e concessionária da JUE, pois participa na estrutu- xa as taxas instituídas pelo seu antecessor e pagas pelos
ra accionista da empresa concessionária. Há violação da Lei da utentes da JUE de modo a reduzir os custos de impor-
Probidade Pública por antigos dirigentes da Direcção Geral das tação;
Alfândegas ao assumirem, em menos de 12 meses, pastas de lide- • O Tribunal Administrativo deve passar a realizar fiscali-
rança na MCNet em representação de interesses privados. zação da execução e desempenho da JUE com a infor-
O ponto forte da JUE é ter reduzido o tempo do desembaraço mação vertida na Conta Geral do Estado;
bem como ter reduzido as oportunidades para a prática de pe- • Que a Inspecção Geral das Finanças realize auditoria ao
quena corrupção, mas um dos aspectos de bandeira da JUE – o funcionamento da JUE para assegurar a sua conforma-
aumento da receita do comércio externo – não aconteceu. O ção com os objectivos para os quais foi estabelecida e
principal factor para esta situação tem que ver com o facto de a com a legislação nacional.
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Legislação
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