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Natureza Humana, Causos, Limites, Sem Ação, Sem Noção

O tolo e seu dinheiro logo se separam.

Há duas pesssoas. Um esperto e um otário. Vão se encontrar e vai dar negócio.

Uma condição de total imobilidade e inação.

Não a condição de se tornar uma barata de Kafka e sim um ser não autônomo, destruído e
desmontado.

Por mais estranho que isso soe, percebo que tais situações muito acontecem e se repetem em nosso
cotidiano.

Vai ser um texto grande, caso queira vá pulando pelos causos ou mesmo vá direto ao fechamento.

Espero que te exclareça e te enriqueça.

Participei ou assisti a todos os causos citados.

Grato por qualquer acréscimo, crítica ou alteração e mesmo procedimento de ação.

A listagem dos “causos”.

1- Passa para lá passa para cá. Ou a bolinha no dedo e no dedal. Ou jogo das tampinhas

Há uma atividade de “pegar bobo” que vi muitas vezes no começo da avenida Brigadeiro Faria Lima.

Já trabalhava como office-boy e ao voltar para casa, antes do ponto de ônibus sempre assistia a este
jogo.

Me aventurei algumas vezes e perdi todas.

Assisti a muitas perdas e muitas brigas.

Entendi o funcionamento e me desencantei com as pessoas.

Como funciona:

O palco da ação.

Sobre uma caixa de papelão (raro naquela época) ou sobre uma caixa de tomate era colocado um
tabuleiro na forma de um quadrado.

Três tampinhas, uma bolinha.

O mestre de cerimônias, os “parças”, os seguranças e os patos.

Começa o desafio.

As mãos se movem rápido.

A bolinha vai para lá, para cá.


Está sob uma das tampinhas. Qual?

Aposte, ganhe, ganhe muito.

O maestro se descontrola, olha de lado, se perde.

Um dos parças leventa a tampinha e mostra onde está a bolinha.

O pato é identificado.

Vizando ganho fácil está pego.

Aposta alto. Vi valores que correspondiam a meu salário em um lance.

Desafio aceito. O pato se move para pegar dinheiro no bolso. A tampinha é movida. O dinheiro é
perdido.

Se aparecer polícia alguns dos parças “avisa”. Tudo é desmontado, todos somem.

Após dois minutos tudo volta e mais patos são pegos.

2- Os físicos e professores e os carnês do Baú.

Me considero inteligente, perspicas. Sou o pato perfeito.

Nada mais fácil do que quebrar o que se mostra inquebrável.

Levar ao chão o arrogante. O nariz empinado.

Já era físico formado pela USP, minha namorada também.

Cito para justificar minha ESTUPIDEZ ou mesmo ARROGÃNCIA E GANÂNCIA.

Tem razão de ter perdido.

Passeávamos pelo largo da concórdia quando somos interpelados por um vendedor de carnês do
BAU.

Nunca tinha comprado. Até me atrevia a menosprezar minha irmã que muito acreditava nisso.

Quando percebemos, tínhamos comprados OITO carnês do baú.

E tinha a certeza de já ter ganho o televisor e daqui a quatro semanas iria participar do programa
Silvio Santos para concorrer a um carro ZERO.

Se não ganhasse o carro, a moto seria minha.

Contando o televisor e a moto, mesmo que prêmios de consolação, era muito mais do que ainda iria
pagar pelos carnês.

Não ganhei nada. Paguei religiosamente as mensalidades dos carnês.

Ao término poderia trocar por mais carnês ou por mercadorias.

Fomos a uma loja e retiramos uma mala e um eletrodoméstico que não me lembro qual.
Me lembro, sim que somados o valor da mala e do eletrodoméstico. Tal valor não atingia uma das
mensalidades dos oito carnês.

Observação.

Compramos “apenas” oito, porque não tínhamos mais dinheiro.

Se mais dinheiro tivesse mais chances, e mais carnês, teria.

3- O SBT e o carro ganho.

Estava num momento curto de grana. Fruto de minha excelente organização.

Não sabia como sair dessa.

Já tinha celular. Perto das 5 da manhã um telefonema.

Se identifica como um funcionário do SBT. Me informa do Prêmio que ganhei. Um carro zero.

Hoje o equivalente a uma Toyota Hilux SRV CD 4×4.

Até que um carrinho aceitável.

A condição. Apenas uma contribuição para algum tipo de serviço.

Que realmente não entendi nada, nunca soube e nem nunca conheci.

A parte boa. Valor muito pequeno.

Hoje perto de R$ 3.000,00. Fácil. Qualquer um tem este valor a qualquer hora.

Como fazer.

Não desligue o telefone.

Nos diga onde está que um de nossos colaboradores (Não. Esta palavra ainda não era tão comum)
vai te informar a qual dos caixas eletrônicos mais próximo a você deve ser feito o depósito.

Incompetentes.

Hoje temos Maps e outros Apps. Para que locomover um colaborador?

Que bom que a bateria acabou. E tive a excelente ideia de me perguntar.

Não tive contato com o SBT. No caso dos carnês não fiz nenhum registro.

Então como posso ter ganho.

Que bom que pensei.

Ao carregar a bateria mais algumas ligações.

Mas. Como sou “inteligente”, não cai nesta.

Na próxima eu caio.
4- Mil grau e o jogo fora do Brasil.

Sou Corinthiano. Isso mesmo. Vai encarar?

Conheci o Mil grau por meio de vídeos que meu filho me mostrou.

“Engraçado”? Sei lá. Não é minha praia.

Não conheço o “ser” que encarna o Mil Grau. Não sei sua condição social.

Mas sei do meu dinheiro. (piada).

Em dado momento o timão ia jogar fora do Brasil.

O Mil Grau queria ir (deve ter ido).

A condição?

Simples.

Cada colaborador, assistidor ou o raio que o parta.

Ou mesmo o pato.

É só fazer uma transferência para tal conta.

Ainda não havia PIX.

Fechei questão com meu filho que não.

Uma das brigas iniciais.

Virei sovina, mesquinho e por aí vai.

Obs. O valor era de cerca de R$ 50,00.

Irrisório para minha posição. Não me faria falta. Sou um avarento.

Porque não auxiliar nesta causa tão nobre.

Porque não contribuir com tantas socialites que muitos nos auxiliam em nosso dia a dia.

5- Cartas de um presidiário.

Adolescente roubou um relógio de uma pessoa num ônibus.

Moeu de pancada para tomar o relógio.

Não. Não era do tipo Rolex e companhia.

Tá mais para um champiom troca pulseiras.


Foi assim que me contaram o início.

Foi preso.

Ficou muito tempo preso.

Não é mais adolescente.

Saiu e como já estava graduado foi fazer suas coisas.

Foi preso de novo e de novo e de novo.

Novos períodos e novas aprendizagens.

Foi quando me deram uma das cartas.

Esta era para mim.

A descrição do dia a dia é a mais vexatória possível.

A degradação e o possível fim da existência a todo momento são lembrados.

A solução.

Me mande dinheiro.

Me mandei mais dinheiro.

Não mandei. Não fiquei bem-visto.

Em algum momento saiu. Ficou em minha casa.

Por cerca de um mês.

Contribui diariamente com o equivalente atual a R$ 50,00. Para que refizesse a vida. Para que
arrumasse emprego e outros que tais ...

Que eu, veja. EU considerava importante.

Não. Não arrumou emprego. Não “refez” a vida.

Tudo que podia ser levado e trocado foi tirado de minha casa.

Dei um basta.

Aqui não pode ficar.

Minha irmã ajoelhada a meus pés e implorando.

Uma cena nunca retirada da retina.

Uma dor nunca amenizada.


Ele foi morto em uma emboscada (me disseram).

Muitos tiros no rosto.

A mãe disse algumas vezes que agora poderia visitá-lo sempre. Pois não sairia do cemitério.

Quando ela ia visitá-lo no presídio levava duas malas jumbo.

Eu tinha dificuldades para levantar uma delas.

E ela levava duas.

Após a morte do filho a mãe ainda tinha muitas dívidas no presídio.

Também veio a falecer.

Hoje um presidiário recebe. Mesmo tendo tirado de outro.

Se queimar o colchão damos outro.

Tem visita íntima, tem saidinha, vale isso, vale aquilo.

São os direitos. Que bom.

É importante que os direitos sejam preservados.

Apenas que fossem mais humanos.

E todo o sofrimento da outra parte?

NÃO SÃO HUMANOS?

E meus carros que foram roubados?

E os relógios, celulares...

Um dia falei a um aluno.

Foi roubado.

Possivelmente poderá comprar de novo.

Se não puder fique sem.

Sou um idiota por ter dito isso.

Não é correto. O que conseguimos tem custo.

Não é questão de quota, de ressarcimento,

É questão de idoneidade.
Que tenhamos meritocracia.

Que se valorize a competência, não propina, vistas grossas.

Que as filas, as multas e os limites sejam corretamente definidos

6- Velório.

O Celso e a Célia são meus amigos.

Muito humildes.

Parecidos com o Merro, o Isael, e pessoas assim.

Adoro a Célia.

Ela é casada com o Celso.

Sempre que me via me cantava.

Ainda vou comer este branco gostoso.

A Célia desenvolveu câncer.

Emagreceu, perdeu peso, cabelo, saúde.

Faleceu esta semana.

Encontrei o Celso na quarta-feira.

Desnorteado. Claro.

Era cerca de 14 h.

O translado do corpo da Célia custaria cerca de R$ 4.000,00, que claro ele não tinha.

Ouvi coisas:

“COMO NÃO SE PROGRAMOU SABENDO QUE ELA ESTAVA ASSIM?”

“PARA QUE MANTER O TRANSLADO? SÓ POR QUE ELA PEDIU? JÁ MORREU.”

Nada falei.

Estava na garagem trabalhando.

O Celso chegou.

Não entrou. Ficou na rua por cerca de uma hora.

Ligando para este, para aquele, para aquele outro.


Nem conseguia ligar ou mesmo atender ao celular.

Cada vez mais perdido. (e não tinha como ser diferente)

Não tem como conseguir ou mesmo emprestar R$ 4.000,00 não terá como pagar.

Os endinheirados por perto desapareceram.

Entrei no assunto.

Não tenho como auxiliar em dinheiro.

Mandei mensagem para Márcia, para Mary, para o Danilo, que prontamente retornaram.

A Márcia indicou uma pessoa, mandou contato.

Repassei o contato. Fiz um breve áudio e repassei ao filho da Célia.

O Celso não conseguia concatenar.

Mais tarde recebi dois áudios do Celso.

A pessoa indicada pela Márcia ajudou de forma primorosa.

Retomei com a Márcia, a Mary e o Danilo.

Estou muito agradecido ao que foi possível.

Me pergunto.

Quem mais sofre, mais deve?

Quem mais tem dificuldades é mais expropriado.

As benesses são só para meus parças.

Ontem encontrei o Celso.

Espero que reencontre o equilíbrio.

Não merecia (ele e ninguém) ser colocado numa situação vexatória como esta.

Sabendo que ele (e todos nós) fazemos pelo nosso meio.

E quando é preciso. Nada volta.

7- Sequestro e inação.

Tenho tido dias maravilhosos.

Acordo cedo, como muito, como muito, muito, muito.

Tô cuidando de minha casa, de minhas coisas.


Tô fazendo coisas.

Ontem recebi o Raul e alguns alunos.

O carinho e o deslumbramento que demonstraram enobreceram o que tenho feito.

A certeza das escolhas.

O Raul é um lorde.

Se algum dia eu estiver com os olhos roxos é porque consegui tirá-lo do sério.

E, certamente eu terei merecido.

Neste meu tempo de 39 anos como professor, não consigo citar outro que me respeite e que eu
respeite mais.

Temos tido trabalhos de orientação com ex-alunos. É muito profissional, gratificante e respeitoso.

Chegaram por volta das 15 h e saíram por volta das 19 h.

Até fiz café.

Apliquei uma prova.

O dili disse que eles iriam me xingar.

Acertou. Eles erraram tudo. Até o Raul.

Estava muito cansado.

Fui dormir.

Sou despertado por um telefonema.

Uma voz de rapaz chorosa que se diz meu filho.

Me pede ajuda, tem medo de morrer e que está num carro sequestrado.

Não tenho tempo para pensar e o telefone é mudado de mão.

Tento ligar a meu filho. Não atende.

A pessoa começa as exigências.

“teu filho tem valor?”

“quer ele vivo?”


“se não fizer o que falo eu o mato a facadas.”

“quer ouvir o barulho das facadas?”

Subo ao quarto do Dili. Coloco no viva-voz.

Não estou raciocinando. Só sei que é meu filho que está lá.

Não tenho o que me é pedido.

O que ofereço não é aceito.

As ofensas em alto grau se iniciam.

Fico totalmente inerte.

O dili toma o telefone e se pocisiona.

Resolve. Não era meu filho.

Era golpe.

O estrago está feito.

Demoro uma hora para contatar meu filho.

Me tranco no quarto.

Praticamente não durmo.

Hoje o dili comentou sobre.

Pedi que não falasse mais disso.

Me sinto muito mal.

Se estivesse em frente a este filho da puta. O mataria com as mãos.

Não se faz isso. É preciso algum tipo de limite.

Não se pode agir com esta impunidade.

Se o dili não tivesse agido, não sei o que seria.

Você nunca tá preparado para isso.


NÃO ATENDA TELEFONE DESCONHECIDO.

NÃO EXPONHA SEUS DADOS.

NÃO ACEITE INTIMIDAÇÃO.

CONDUZA A CONVERSA.

NÃO ACEITE SER MANIPULADO.

Fechamento

O direito humano é para o humano.

Limite e Tranquilidade na Ação.

Considerações

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