Você está na página 1de 5

RELATÓRIO SOCIAL

1. IDENTIFICAÇÃO
Nome: Flávio Fernandes da Silva
Data de Nascimento: 12/08/1929
CPF: 065.000.33-00
Endereço: Rua XX, n. XX – Bairro: XX - Fortaleza / CE
Telefone de contato: 85 999999999
Responsável: (Filha) Eva
E-mail: ooo@gmail.com

2. INSTRUMENTOS UTILIZADOS

Visita domiciliar, entrevista social, ligações telefônicas, reuniões.

3. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO

O Sr. Flávio tem 95 anos de idade e diagnóstico de acidente vascular


cerebral (AVC) isquêmico com sequelas leves, doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC), hipertensão arterial sistêmica (HAS) e tumor no pâncreas. É também
colonizado por bactéria (KPC) o que faz com que ele esteja em isolamento de
contato. Atualmente não deambula, está desorientado, usa fralda, é alimentado via
sonda de gastrostomia, apresenta lesões de pele e está muito debilitado. É
totalmente dependente de cuidados da vida diária. Sem vida de relação.
Paciente é atendido pela unidade de saúde desde 23/03/2012, com histórico
de internações prolongadas. Desde o início da assistência sempre tivemos
episódios e divergências frente às exigências da familiar responsável.
O Sr. Flávio Fernandes é militar aposentado (renda familiar de R$5000,00,
per capta de R$2.500,00), casado, possui dois filhos e dois netos. Reside na cidade
de Florianópolis/SC em local de fácil acesso, somente com a esposa, Sr.ª Helena.
O ambiente domiciliar é extremamente simples, de madeira (2 quartos, sala,
varanda, banheiro, cozinha) com muitos buracos e frestas em todas as peças,
provavelmente por ser antiga e não ganhar manutenção. O local é insalubre e tem a
estrutura totalmente precária. Há falta de higiene e organização. Obtivemos relatos
que, com muita frequência, circulam baratas e ratos pela casa e, até mesmo, nos
utensílios usados no paciente.
A Sr.ª Helena, esposa, tem 87 anos, é difícil de compreensão, com
constantes alterações de humor, provavelmente pela idade avançada, por não
tomar regularmente as medicações indicadas pelos médicos, mas principalmente
pelo alto nível de estresse em que vive em seu ambiente domiciliar em função da
doença do marido que se arrasta há anos. Ela e a filha, com muita frequência,
protagonizam cenas de brigas, gritos e discussões, o que acaba sempre com choro
da idosa demonstrando total fragilidade frente à situação.
Já a filha, a Sr.ª Eva, tem aproximadamente 50 anos e é aposentada do
Banco do Brasil (não foi possível identificar a renda aproximada). Tem formação
superior completa em contabilidade e incompleta em Direito. É solteira, nunca teve
relacionamentos de amizades e conjugais, não possui vida social, sem rede de
amigos e apoio. A mesma é quem tem a curatela do Sr. Flavio Fernandes e
responde inteiramente pelos seus interesses. Ela possui um apartamento no centro
de Florianópolis, mas passa a maior parte do tempo na casa dos pais, onde
comanda e coordena tudo que acontece por lá.
A Sra. Eva diariamente dificulta, interfere e impede o atendimento correto ao
seu pai, não permitindo a entrada de profissionais do Programa Melhor em Casa
(que possui desde 2018 com fisioterapia, visitas médicas, enfermagem e serviço
social), pois este não atende de acordo com suas altas exigências infundadas e
sem justificativas técnicas (cor, raça, aparências, forma de se apresentar, etc.).
Identificamos incontáveis relatos, laudos, e-mails e boletins de ocorrência
que demonstram o impedimento destes de entrarem na casa para prestar a
assistência onde, muitos inclusive, foram, até mesmo, escorraçados no meio da
madrugada e agredidos fisicamente por algo que a familiar ficou em desacordo e foi
reprovado por ela. Na grande maioria das vezes a dispensa vem acompanhada de
gritos, ameaças e total falta de respeito com os profissionais, porém as alegações
do familiar para estas dispensadas são sempre as mesmas, falta de capacitação e
despreparo de todos. Por estes motivos, o paciente recebeu alta administrativa do
atendimento domiciliar da rede pública.
A família e o paciente já são conhecidos na região onde moram por todo
contexto que apresentam. Até mesmo nas delegacias da redondeza o caso tem
notoriedade. A filha do paciente não apresenta condições psicossociais de ser a
responsável pelo paciente, pois tem um perfil totalmente instável e agressivo com
os profissionais, assim como com os pais.
O Sr. Flávio Fernandes tem mais um filho, Sr. Paulo, que mora em São
Paulo. Em 2014 ele foi chamado para uma reunião pelo CRAS da região, porém, o
mesmo, apesar de ser uma pessoa bem coerente e preocupada com a saúde do
pai, contou que os seus problemas com a irmã ocorrem desde que eram crianças,
que nunca tiverem uma boa relação, e que a Sra. Eva sempre teve uma afinidade
muito estreita e possessiva em relação ao Sr. Flávio Fernandes, o que até hoje ele
não compreende o motivo. Ele visita a família “por obrigação” (sic), geralmente uma
vez ao mês, mas que fica pouco na casa em função dos atritos com a irmã e por
não concordar com a forma com que ela age com todos, principalmente com a mãe,
a qual segundo ele, é “manipulada e humilhada o tempo todo”.
O filho, ao saber de todo o histórico ocorrido na casa, disse estar
envergonhado, que desconhecia os fatos relatados, mas disse que infelizmente não
se meteria neste assunto, pois a Sr.ª Eva já o ameaçou colocar na justiça por
abandono dos pais e ainda provocou muitos atritos entre ele e sua esposa e filhos,
que raramente vão visitar os avós por causa da tia.
A equipe já tentou abordar se ele não acharia melhor, frente a toda situação,
levar o pai para uma clínica geriátrica onde teria melhores condições de saúde,
conforto e qualidade no final da vida e o Sr. Paulo concordou, porém observou que
a irmã foi escolhida judicialmente para ser curadora dos pais (processo que ele só
teve conhecimento após a decisão firmada) e que ela cuida da parte financeira
deles e que, sendo assim, ele não teria como tomar nenhuma decisão. Ele pede
que o contato com ele seja somente em último caso, demonstrando total falta de
vínculos entre os familiares.
É salutar ressaltarmos que ao realizarmos uma rápida pesquisa nos
processos do TJSC é possível visualizarmos inúmeros processos judiciais em que
a familiar, Sr.ª Eva, abre contra todos, o que faz com que seja possível denotar
ainda mais a extrema má-fé e descontrole psíquico da mesma. Inclusive algumas
enfermeiras do hospital já tiveram que ir, algumas vezes, ao conselho de
enfermagem prestar explicações por supostas denúncias infundadas feitas pela
Sr.ª Eva quanto aos cuidados com o paciente.
4. PARECER SOCIAL

Conforme avaliação do Serviço Social e de diversos profissionais envolvidos, é


nítida a falta de capacidade da Sr.ª Eva em ser a pessoa responsável pelo paciente e
assumir os cuidados. Atualmente ela não é elegível para esse cargo, pois não
apresenta condições psicossociais para tal função.
No contexto atual há riscos em relação à integridade do paciente devido às
interferências indevidas da familiar onde esta relata descaso dos serviços de saúde
(atenção domiciliar, hospitais) com o seu pai, um idoso de 94 anos, o que
entendemos ser contraditório. A equipe já tentou mediar reuniões, prestar a
assistência conforme prescrita pelo médico assistente, o qual sabemos ser o melhor
para o Sr. Flavio Fernandes, porém isso não tem sido possível, o que coloca o
paciente em situação vulnerável, tanto no domicílio, quanto nos serviços de saúde.
Todos os profissionais encaminhados para a casa, pelo serviço de atenção
domiciliar, alegam desconforto e agressões verbais e exigência inadequadas pela
familiar, o que dificulta muito o atendimento ao paciente.
Reforçamos que atualmente está inviável a manutenção do atendimento
integral, em função da problemática existente relacionada às vulnerabilidades sociais
e agressões, humilhações, desrespeito, calúnias e injúrias contra todos os
profissionais de saúde.
Diante a situação exposta pode-se perceber que toda a família está doente
neste atendimento, vivem em situação de extrema carência de vínculos familiares,
além da estrutura domiciliar insalubre em que vive o doente.
A fim de garantirmos o melhor para o paciente e a segurança do idoso,
conforme consta no Estatuto do Idoso (Lei nº 10741), art. 9º, “É obrigação do Estado,
garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas
sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de
dignidade”, solicitamos intervenção do Ministério Público neste caso.
Sem mais, coloco-me à disposição para eventuais dúvidas.

Fortaleza, 19 de janeiro de 2024.


_____________________________
XXXXXXXXXXX
Assistente Social
CRESS XX

Você também pode gostar