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Universidade Federal do Ceará

Centro de Tecnologia
Departamento de Engenharia Elétrica
Controle Adaptativo ­ 2023.1
Prof. Wilkley Bezerra Correia, Dr.

Nota de Aula: Controlador PI através da sintonia automática MQR

Introdução
A técnica de estimação reursiva baseada na mnimização do somatório dos erros quadráticos das obser­
vações de um experimento foi estudado na aula anterior. Foi apresentado o algoritmo de estimação on­line
para obtenção de parâmetros, incluindo variáveis de ajuste de tamanho recursivo da amostra, ou sej, os
fatores de esquecimento.
Nesta aula, considera­se o complemento da aula anterior quando se inclui o controlador como bloco
adicional no modelo a ser identificado. Dessa forma, apenas alguns parâmetros da identificação recursiva
estão relacionados ao modelo da planta, enquanto os demais são parâmetros do controlador.
Nesse contexto, torna­se imprescindível rever alguns conceitos de controle em tempo discreto, a fim
de manter a concordância de tema com o algoritmo apresentado anteriormente.

Métodos Numéricos relacionados à integração


Uma das formas mais simples de se integrar numericamente uma função qualquer em tempo discreto
consiste na divisão sucessiva de retângulos. Neste caso, a área somada de todos os retângulos corresponde
à área sob a função, em um processo que depende do número de retângulos a serem somados, se par ou
ímpar, e com formulações intuitivas de cálculo, definidas pelas regras de Simpson.
Outra forma consiste em considerar uma série de trapézios, ao invés de retângulos, e realizar a soma da
área de todos, sucessivamente. Neste caso, tem­se um ajuste do conjunto de trapézios bem mais próximo
da curva da função que se está interessado em integrar.
Qualquer que seja o método escolhido, no contexto do controle adaptativo, torna­se relevante a inter­
pretação matemática do processo de integração nas ferramentas mais úteis para análise e projeto de sistemas
de controle. Nesse contexto, convém relembrar que cada retângulo durante o processo de discretização é
obtido a partir do circuito que “segura” o valor da amostra atual durante “T” instantes de tempo até que
uma nova amostra da função é amostrada. O circuito que realiza essa operação é chamado de segurador
de ordem zero (porque resulta em uma função constante), que é atualizado a cada período de amotragem
“T”.
No entanto essa operação pode ocorrer de duas formas distintas: “segurando” o valor antes ou depois
do valor da função, conforme ilustrado nas Figuras 1a a 1c.
Cada operação ilustrada na Figura 1 resulta em um modelo matemático que fica melhor compreendido
ao se lembrar que a função de tranferência do bloco “segurador de ordem zero” ­ zoh ­, ilustrado nas Figuras

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T 2T 3T 4T 5T 6T 7T ... T 2T 3T 4T 5T 6T 7T ... T 2T 3T 4T 5T 6T 7T ...

(a) Aproximação backward (b) Aproximação forward (c) Aproximação trapezoidal

Figura 1: Representação gráfica da integração numérica.


FONTE: adaptado de [1]

(a) Diagrama de blocos equivalente da aproxi­


mação backward (b) Diagrama de blocos equivalente da aproximação forward

Figura 2: Diagramas de blocos das aproximações


FONTE: adaptado de [1]

2a e 2b que representam os diagramas de blocos relacionados às operações de aproximação backward e


forward, respectivamente. O bloco zoh transfere o sinal x(t) ­ obtido a partir do sinal u(t) pulsado a cada
T instantes de tempo ­ da entrada do segurador para o sinal w(t) em sua saída:
W (z) 1 − z −1
= , (1)
X(z) s

sendo z = eT s .
Assim, a função de transferência de cada tipo de aproximação anteriormente mencionada, fica descrita
conforme apresentado na sequência. Para o caso da aproximação backward tem­se:

{ }
Y (z) ( ) 1
= 1 − z −1 Z
U (z) s2
T
=
z−1
T z −1
= (2)
1 − z −1
De modo análogo, e incluindo a variável z do avanço de tempo, a aproximação forward fica dada por:
{ }
Y (z) ( −1
) 1
= 1−z Z
U (z) s2
Tz
=
z−1
T
=
1 − z −1

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No caso da aproximação trapezoidal a função de transferência do bloco fica dada por [1, pág.429]:
Y (z) T z+1
=
U (z) 2 z−1
T 1 + z −1
=
2 1 − z −1

Discretização numérica
A forma mais simples de se realizar a aproximação numérica de um termo derivativo é provavelmente
a partir da própria definição de derivada:

de(t) e(kT ) − e((k − 1)T )


|t=T = (3)
dt T
em que k ∈ Z

PID em tempo discreto


O controlador PID em tempo discreto é descrito pela equação no domínio­Z que soma as parcelas
proporcional Kp , proporcional à integral I(z −1 ) e proporcional à derivada D(z −1 ) do erro do sistema em
malha fechada, ilustrado na Figura 3. Assim, a equação do controlador pode ser obtida tomando­se I(z −1 )

perturbação perturbação
de entrada de saída

referência (r) erro (e) controle (u) saída (y)


Controlador Processo

Figura 3: Diagrama de blocos de um sistema de controle genérico em malha fechada.

a partir de qualquer uma das aproximações apresentas nas Equações (2) a (3). Assim, tomando­se, por
exemplo, a Equação (2) da aproximação backward e sendo Ki a constante de proporcionalidade, o termo
integral fica dado por:
T z −1
I(z −1 ) = Ki (4)
1 − z −1
A parcela derivativa fica dada a partir da transformada­Z aplicada à Equação (3). Considerando Kd a
constante de proporcionalidade da derivada, o ermo fica descrito por:

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1 − z −1
D(z −1 ) = Kd (5)
T
Logo, uma equação do PID em tempo discreto pode ser dada considerando as Equações (5) e (4) na
equação:
T z −1 1 − z −1
C(z −1 ) = Kp + Ki +
1 − z −1 T
(Kp T + Kd ) + (Ki T − Kp T − 2Kd )z −1 + Kd z −2
2
= (6)
T (1 − z −1 )
Assim, fazendo Kd = 0 na Equação (6), tem­se a equação em tempo discreto do PI, sendo dada por:

−1 Kp − (Kp − Ki T )z −1
C(z ) = (7)
1 − z −1

Auto­sintonia
Considere a implementação do controlador da Equação (7) a uma planta que pode ser descrita por uma
função de transferência de 1a ordem do tipo
Kz −1
G(z −1 ) = .
1 − cz −1
Neste caso, a função de transferência em malha aberta é escrita na forma

L(z −1 ) = C(z −1 )G(z −1 ) (8)

Por outro lado, observe que a Equação (7) pode ser reescrita na forma
a − bz −1
C(z −1 ) = (9)
1 − z −1
sendo a = Kp e b = Kp − Ki T . Assim, a Equação (8) fica reescrita na forma

(a − bz −1 )(Kz −1 )
C(z −1 )C(z −1 ) =
(1 − z −1 )(1 − cz −1 )
Y (z −1 ) aKz −1 − bKz −2
=
E(z −1 ) 1 − (c + 1)z −1 + cz −2

Aplicando Z −1 à equação acima, obtém­se a equação a diferenças:

y(k) = aKe(k − 1) − bKe(k − 2) + (c + 1)y(k − 1) − cy(k − 2)


 
e(k − 1)
e(k − 2)
= [θ1 θ2 θ3 θ4 ] · 
y(k − 1)
 (10)
y(k − 2)

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em que θ1 = aK, θ2 = bK, θ3 = (c + 1) e θ4 = −c. Desses quatro parâmetros, apenas θ1 e θ2 estão
relacionados ao controlador, sendo os outros dois estimativas da planta. Logo, a equação do controlador
pode ser rescrita na forma

U (z −1 ) (θ1 (k) − θ2 (k)z −1 )z −1


C(z −1 ) = =
E(z −1 ) 1 − z −1

que escrita em equações a diferenças, toma a forma implementável


 
e(k − 1)
u(k) = [Kc θ1 Kc θ2 1] ·  e(k − 2)  .
u(k − 1)

Observe o surgimento do termo Kc que multiplica os parâmetros do controlador. Isso se deve para que se
possa selecionar um parâmetro de ajuste do controlador, neste caso um simples ganho. Essa consideração é
plausível e coerente com a definição de θ1 = aK e θ2 = bK já que K representa o ganho da planta apenas,
sem levar em consideração envtual ganho de controlador.
O sistema de controle em malha fechada, adaptativo, fica definido conforme ilustrado na Figura 4

a, b

Estimador
^
saída estimada (y)

Figura 4: Diagrama de blocos de um sistema de controle genérico em malha fechada.

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Referências
[1] B. C. Kuo, Digital Control Systems. New York, USA: Oxford University Press, 2nd ed., 1992.

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