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Julho, 2023
II
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Julho, 2023
III
IV
Resumo
Com o passar dos seculos, o homem tem vindo a produzir mais alimentos do que aquilo que
consome ou utiliza com a justificativa do aumento demográfico e mudanças nos hábitos
alimentares. Contudo, de acordo com a organização para a alimentação e a agricultura (FAO,),
esta actividade tem gerado um impacto negativo para o meio ambiente. Os resíduos de frutas e
produtos hortícolas são os mais elevados entre todos os alimentos (cerca de 60%). Estes
resíduos ou subprodutos são constituídos principalmente por sementes, casca, bagaço, caroço
e folhas, abundantes em compostos bioativos como fibras alimentares, carotenóides, polifenóis
e óleos essenciais que podem ser dados um valor acrescentado. Vários estudos epidemiológicos,
clínicos e nutricionais têm vindo a comprovar os efeitos benéficos dos compostos bioativos
vegetais na saúde humana. Um dos mecanismos pelos quais os compostos bioativos vegetais
podem ter influência nas doenças cardiovasculares e obesidade são as propriedades
antioxidantes, antiplaquetárias e anti-inflamatórias, inibindo a oxidação do LDL, aumentando
o HDL e melhorando a função endotelial. O Relatório da Obesidade da Região Europeia da
OMS de 2022, relatou que Portugal possui uma percentagem de 57,5% da sua população com
excesso de peso (63,1% dos homens e 52% das mulheres). E, segundo o Global Burden Disease
(2019), o excesso de peso (incluindo da obesidade) contribui com cerca de 9% na taxa de
mortalidade portuguesa e 7% do total de todos os anos vividos com incapacidade. O objetivo
geral deste projeto de tese de doutoramento é contribuir para a melhoria da nutrição e bem-
estar humano através do avanço do conhecimento sobre os efeitos AO/AI/AB de extratos ricos
em bioativos de plantas endémicas e naturalizadas na Região dos Açores (Ipomoea batatas (L.)
Poir., Colocasia esculenta L. (Schott) var. antiquorum, Ananas comosus (L.) Merr. var. Caiena
e Annona cherimola Mill.), particularmente sua biodisponibilidade e potenciais aplicações em
novos hidrogéis comestíveis não lácteos. Para tanto, serão utilizadas folhas inteiras de
diferentes hortaliças com importância económica para obtenção de frações bioativas e essas
bioatividades serão avaliadas em diferentes modelos celulares, desenvolver um sistema
sustentável de entrega dessas frações e estudar a biodisponibilidade de compostos bioativos
mimetizando a digestão humana sistema para que no final se tenha, a caracterização completa
da composição química e avaliação da capacidade antioxidante das folhas extraídas; O
conhecimento dos extratos ricos em bioativos em relação às suas interações com linhagens
celulares humanas e suas bioatividades em diferentes mecanismos biológicos relevantes; Os
mecanismos dos efeitos AO, AI e AB dos extratos serão desvendados usando biologia celular
aliada a métodos de base biomolecular ; A microencapsulação de extratos ricos em bioativos
V
das folhas vegetais selecionadas e; Os dados de bioacessibilidade em diferentes partes da
digestão simulada e a bioatividade (por exemplo, AO/AI/AB), imitando o processo em
humanos.
VI
Índice
I. Estado da arte.................................................................................................................................... 1
VII
SIGLAS E ABREVIATURAS
VIII
I. Estado da arte
1.1. Quadro temático
O sobrepeso e a obesidade são fatores de risco para doenças cardiometabólicas que podem ser
parcialmente prevenidas com a adoção de estilos de vida e hábitos alimentares mais saudáveis,
como o aumento da ingestão de fibras e outros compostos bioativos, como fenólicos (PC) e
carotenoides. No entanto, 53% dos europeus estão com sobrepeso, pré-obesos (36%) e obesos
(17%) e 80% não consomem a quantidade diária recomendada de fibras. Vista como um
problema de saúde publica significante e alarmante, a obesidade é um dos problemas graves a
nível mundial que a cada dia cresce de forma avassaladora nos últimos anos (Pereira, M. S.
2023). De acordo a Organização mundial de saúde, registaram-se aumentos significativos em
quase três vezes entre os anos 1975 e 2016. Há registro no Relatório da Obesidade da Região
Europeia da OMS de 2022, que Portugal possui uma percentagem de 57,5% da sua população
com excesso de peso (63,1% dos homens e 52% das mulheres). E, segundo o Global Burden
Disease (2019), o excesso de peso (incluindo da obesidade) contribui com cerca de 9% na taxa
de mortalidade portuguesa e 7% do total de todos os anos vividos com incapacidade. Estes
valores têm um impacto negativo tanto a nível económico como a nível de saúde pública
(Organização Mundial de Saúde, 2017).
Assim, são necessários novos dados para apoiar o teste de bioatividade dos novos hidrogéis
não lácteos potencialmente funcionais com adição de extratos ricos em bioativos e fibras de
folhas vegetais em intervenções humanas para diminuir a inflamação/oxidação crônica
sustentada em indivíduos com sobrepeso/obesos.
1
1.2. Sobrepeso e obesidade
O termo "obesidade", utiliza-se para descrever o excesso de gordura corporal, de outras formas
de excesso de peso. Segundo Bagchi, D., Preuss, H. G. And Swaroop, A. (2016), a obesidade
é definida de acordo com o índice de massa corporal (IMC) - o rácio entre o peso em
quilogramas e a altura em metros quadrados. Considera-se sobrepeso quando o IMC encontra-
se entre 25,0 e 29,9 kg/m2 e obesidade quando o IMC for maior que 30 kg/m2. Assim, pela sua
gravidade, a OMS categorizou a obesidade por grau I (quando o IMC está entre 30 e 34,9
kg/m2), grau II (quando IMC está entre 35 e 39,9kg/m2) e grau III (quando o IMC ultrapassa
40kg/m2) (Pereira, M. S. 2023). O aumento do IMC em um individuo, reflete-se em aumentos
na proporção de gordura corporal e consequentemente em aumento da taxa de mortalidade.
A nível mundial, a proporção de adultos com IMC aumentou substancialmente, tanto nos países
desenvolvidos como nos países em desenvolvimento o que torna a obesidade num importante
desafio de saúde a nível mundial. Na Europa, em 2016, estimava-se que os adultos com idade
≥ 50 anos representavam quase 40% da população. Recentemente houve aumento significativo
nas medidas de monitorização das alterações na prevalência do excesso de peso em todas as
populações (Pereira; M. S. 2023; Peralta, M. et al. 2018). A monitorização da prevalência e
das tendências da obesidade e do excesso de peso é importante para avaliar as intervenções
destinadas a prevenir ou reduzir o peso da obesidade (Peralta, M. et al. 2018).
O excesso de peso e a obesidade nas crianças têm sido associados a várias doenças na vida
adulta, como as doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e a hipercolesterolemia. O
Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável destacou uma tendência
decrescente na prevalência de excesso de peso e obesidade, em crianças de 6-8 anos de idade,
de 37,9% em 2008 para 29,6% em 2019 (Moreira, S. and Gonçalves, L. 2020). No entanto,
Portugal continua a ser um dos países europeus com maior prevalência de excesso de peso e
obesidade em crianças.
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1.3. Atividade antioxidante
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DNA, proteínas e lipídios, contribuindo assim para a surgimento de muitas doenças (Afonso,
A. F., Pereira, O. R. and Cardoso, S.M. 2021).
O stress oxidativo tem sido associado a doenças cardíacas, cancro, artrite, acidente vascular
cerebral, doenças respiratórias, deficiência imunitária, enfisema, doença de Parkinson e outras
condições inflamatórias ou isquémicas. Estudos particulares mostraram que o aumento da
incidência de stress oxidativo e a produção excessiva de derivados dos adipócitos contribuem
para as doenças cardiovasculares e para a doença hepática gorda não alcoólica em doentes
obesos (Wang, Ji. et al. 2022). De acordo a Martínez-Martínez, E., and Cachofeiro, V. (2022),
a ocorrência de anormalidades vasculares podem estar associadas a obesidade e a ligação do
estresse oxidativo. Portanto, os efeitos impactantes da obesidade e comorbidades associadas
estão correlacionada a um aumento nas espécies reativas de oxigênio (ROS) e subsequente
estresse oxidativo (Tun et al. 2020). As espécies reativas de oxigênio (ROS) são as espécies
químicas formadas quando o oxigénio é reduzido de forma incompleta e incluem
principalmente o anião superóxido (O2-) (Liang et al. 2023). A fonte primaria destas espécies
químicas são essencialmente as mitocôndrias celulares, estresse do retículo endoplasmático
(ER), ativação de vias de estresse oxidativo e atividade regulada positivamente do NADPH
oxidase (NOX), que provocam um estado de desequilíbrio redox (Tun et al. 2020).
A obesidade produz stress oxidativo por vários mecanismos, incluindo a oxidação mitocondrial
e peroxissomal dos ácidos gordos ( produz espécies reactivas de oxigénio - ROS - nas reacções
de oxidação), e o consumo excessivo de oxigénio ( gera radicais livres na cadeia respiratória
mitocondrial que se encontra associada à fosforilação oxidativa nas mitocôndrias), (Wang, Ji.
et al. 2022). No nível hepático, a obesidade é um potente estimulador da peroxidação lipídica,
estresse oxidativo e comprometimento do fluxo autofágico quando associado com uma dieta
rica em gordura combinada com ou sem uma dieta rica em sacarose (Martínez-Martínez, E.
and Cachofeiro, V. 2022). Para alterar o impacto da obesidade, é imperativo reverter o seu
efeito sobre o stress oxidativo e a inflamação - uma manifestação do aumento da atividade
oxidativa, que aumenta em indivíduos com obesidade, que se relaciona com resistência à
insulina e disfunção endotelial (Wang, Ji. et al. 2022). Atuando no combate ao estado pró-
oxidante celular, melhorando a produção excessiva de ROS e o subsequente estresse oxidativo
(Tun et al. 2020). Os mecanismos redox na obesidade, podem ser eliminados ou reduzidos por
mudanças na dieta, exercícios físicos e tratamento médico.
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Os compostos polifenólicos apresentam atividades antioxidantes como efeito benéfico na
obesidade - A quercetina, a curcumina e o resveratrol possuem actividades antioxidantes e anti-
inflamatórias e podem exercer efeitos benéficos na obesidade. No entanto, os efeitos benéficos
dos anti-oxidantes em doentes obesos são ainda objeto de debate (Suresh Kumar et al. 2008;
Afonso, A. F., Pereira, O. R. and Cardoso, S.M. 2021; Wang, Ji. et al. 2022).
O sobrepeso e a obesidade representam um grande risco para outros problemas de saúde, como
dislipidemia, diabetes mellitus tipo 2, doença arterial coronariana e hipertensão - que, por sua
vez, são considerados fatores de risco para doenças cardiovasculares (Afonso, A. F., Pereira,
O. R. and Cardoso, S.M. 2021).
De acordo com a definição de Sarker et al. (2006), planta medicinal é toda planta que pela sua
composição bioquímica, possui propriedades terapêuticas ou exercem efeito farmacológico
benéfico no corpo humano ou animal. Toda a planta selvagem e/ou de cultivo, que possui nos
seus órgãos substâncias que podem ser utilizadas para fins terapêuticos ou então como
precursores na síntese de fármacos é considerada como planta medicina segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), (WHO, 2007).
Considera-se como produto natural todo produtos de origem natural incluindo (Sarker et al.
2006):
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1.5. Produtos naturais do metabolismo primário e secundário das plantas
As plantas são os organismos vivos mais eficientes na síntese de compostos orgânicos, com
excelente diversidade molecular, através da fotossíntese como a principal ferramenta de síntese
natural (Talapatra, S. K. and Talapatra B. 2015). Os seus efeitos farmacológicos dependem dos
seus constituintes fitoquímicos que estão divididos em duas categorias com base no processo
metabólico básico ou vias metabólicas: metabolitos primários e secundários (Adhikary, S. and
Dasgupta, N. 2023).
A via metabólica secundária produz metabolitos secundários que são tipicamente compostos
orgânicos e são produzidos através da modificação de metabolitos primários. Os metabolitos
secundários não estão directamente envolvidos nas funções básicas da vida; não fazem parte
da estrutura molecular básica da célula e são difíceis de serem extraídos (Alamgir, A. N. M.
2018). Apresentam uma vasta gama de efeitos sobre os sistemas biológicos e por isso são
considerados compostos bioativos; são produzidos em concentrações muito baixas nas células
vegetais e a sua produção depende muito do estádio fisiológico e de desenvolvimento da planta
(Alugoju, P., and Tencomnao, T. 2023). Assim, a definição de compostos bioativos,
provenientes de plantas como metabolitos secundários está associada aos efeitos
farmacológicos e/ou toxicológicos que exercem em humanos e/ou animais.
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1.6. Classificação dos metabolitos secundários
São compostos naturais constituídos por um ou mais anéis aromáticos em conjunto com um
ou mais grupos hidroxilas ( ver tabela 1). Estão amplamente difundidos nas frutas e hortaliças.
(Luís, Â. F. S. 2014). Algumas das classes mais comuns de compostos fenólicos nos alimentos
e que desempenham funções biológicas são os flavonóides, os ácidos fenólicos, os estilbenos
e os lignanos. estes compostos, quando incorporados na dieta afectam a saúde humana pelas
suas propriedades antioxidantes, antimicrobianas, anti-inflamatórias, vasodilatadoras e
prebióticas, conforme apresentados na tabela 1 (Bagchi, D. et al. 2016). Vários estudos
epidemiológicos têm vindo a comprovar os efeitos benéficos dos polifenóis vegetais na saúde
humana, mas seus efeitos na saúde dependem da quantidade consumida e da sua
biodisponibilidade. Nas plantas, os compostos fenólicos estão envolvidos no crescimento, na
produção na defesa contra a radiação UV e a ação de atacar patógenos, predadores e parasitas
e também desenvolve a cor da planta (Luís, Â. F. S. 2014; Adhikary, S. and Dasgupta, N. 2023).
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Os mecanismos pelos quais os polifenóis podem ter influência nas doenças cardiovasculares
são as propriedades antioxidantes, antiplaquetárias e anti-inflamatórias, inibindo a oxidação do
LDL, aumentando o HDL e melhorando a função endotelial (Bagchi, D. et al. 2016).
O mecanismo de produção dos compostos fenólicos ocorre no ácido chiquímico das plantas e
na pentose fosfato durante a metabolização dos fenilpropanóides. Isto é, aquando da sua síntese,
o processo utilizado em primeiro lugar é a via das pentoses fosfato, através da qual a
transformação da glucose-6-fosfato em ribulose-5-fosfato ocorre de forma irreversível.
1.6.1.1 Flavonoides
Os flavonoides são uma classe de compostos fenólicos com mais de 8000 compostos
conhecidos identificados nas plantas onde são responsáveis pelos tons de amarelo, laranja e
vermelho das plantas com flores. O aumento crescente de novos compostos deve-se à grande
complexisidade estrutural resultante dos vários padrões de hidroxilação, metoxilação,
glicosilação e acilação. Na sua forma estruturas, os flavonoides incluem as flavanóis
(derivados de 2-fenilcromen-4-ona), flavonas (derivadas de 3-fenilcromen-4-ona), flavan-3-óis,
flavanonas, antocianinas (derivadas de 4-fenilcromen-4-ona) e isoflavonas (derivadas de 3-
fenilcromen-4-ona ou 3-fenilcromano), (Bordenave, et al. 2014; Adhikary, S. and Dasgupta,
N. 2023). Os flavonoides têm como sua estrutura básica C6-C3-C6, ou seja, um anel cromano
(anel benzênico-A + anel heteronuclear-C) ligado a um anel benzênico (anel B), totalizando 15
átomos de carbono em seu núcleo fundamental, constituído de duas fenilas ligadas por uma
cadeia de três carbonos entre elas (Bordenave et al. 2014).
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Os flavonóides fazem parte dos constituintes da dieta para os herbívoros e omnívoros,
incluindo os seres humanos. Encontram-se principalmente em frutos, legumes e bebidas
populares, como o vinho tinto, o chá e a cerveja, e a sua ingestão pode atingir 1 g/dia. Esta
ingestão, pode influenciar a função endotelial basal pela sua ação sobre o oxido nítrico (NO*),
melhorar a saúde vascular; reduzir a disfunção endotelial, a inflamação e o stress oxidativo
(Monsalve B, et al. 2017).
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Tabela 1. Estrutura química e propriedades dos flavonoides e alguns Não flavonoides
(Almeida, 2006).
Polifenólicos Estrutura química Atividade biológica Ocorrências
Flavonois 3' Antioxidante, ação protetora Pêra, pêssego,
2' 4'
1
de radicais livres, redução do maçã, cítricos, uvas
8 1'
5' nível de lipoproteínas de baixa e vinho
7
2 6' densidade (LDL) no sangue,
6 3 redução de risco de
4
5 cardiopatia
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1.6.2 Carotenoides
Carotenoides são metabolitos secundários que incluem mais de 600 pigmentos vegetais de
ocorrência natural (Papas, A. M. 2021). São principalmente compostos pigmentados,
responsáveis pela cor ( amarela, laranja e vermelha) de várias frutas e produtos hortícolas
( Papas, A. M. 2021; Pemmaraju, et al. 2022). Têm sido caracterizados quimicamente por uma
estrutura de cadeia de 40 carbonos composta por oito moléculas ou unidades de isopreno
(Ellison, S.L. 2016 ). Com base na sua composição e/ou estrutura química os carotenoides
podem ser classificados como carotenos - carotenoides com hidrocarbonetos puros (os
principais carotenóides são provitamina A - podem ser absorvidos intactos ou clivados para
formar vitamina A antes da secreção na linfa, α-caroteno, β-caroteno e o licopeno), e xantofilas
- carotenoides derivados que contêm oxigénio nos grupos hidroxilo, metóxido, carboxilo, ceto
ou epóx como substituintes do grupo funcional (A luteína é a principal xantofila encontrada no
soro humano, mas a zeaxantina e a criptoxantina também estão presentes) ( Lohr, M. 2009;
Ellison, S.L. 2016; Papas, A. M. 2021; Pemmaraju, et al. 2022). Portanto, a biossíntese de
todos os carotenóides começa a partir do hidrocarboneto fitoeno ou 4,4'-diapofitoeno num caso
menor. Por sua vez os fitoeno e o 4,4 ' - diapofitoeno são formados a partir de duas moléculas
de difosfato de geranilgeranilo (GGPP) e difosfato de farnesilo (FPP), respetivamente. Esses
precursores de hidrocarbonetos são desidrogenados para formar ligações duplas conjugadas,
frequentemente ciclizadas e sujeitas a uma série de modificações para formar uma grande
variedade de xantofilas (Misawa, N. 2010).
Carotenóides são ubíquo nas frutas e vegetais como componente essencial de todos os
organismos fotossintéticos devido às suas eminentes propriedades fotoprotetoras e
antioxidantes ( Lohr, M. 2009). Este composto é a fonte mais importante de vitamina A e,
pelas suas propriedades antioxidantes, os carotenoides mostram um papel vital nas doenças
cardiovasculares e no manejo do câncer. Estudos epidemiológicos e clínicos relatam que o
menor risco de doença cardiovascular, lesão hepática, cancro e doença ocular está associado
ao consumo de alimentos ricos em carotenóides. Os alimentos vegetais são a única fonte de
carotenoides porque os animais e o homem são incapazes de o sintetizar ( Tanumihardjo, S. A.
2013; Pemmaraju, et al. 2022). Sua absorção depende do método de extração, gordura dietética
e outros fatores ( Papas, A. M. 2021).
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A biossíntese e o sequestro de carotenóides em plantas superiores ocorrem na organela do
plastídeo. O tipo e os números de plastídeos são fatores limitam a composição quantitativa do
acúmulo de carotenóides (Berry, H. M. et al. 2022). No organismo humano, os carotenóides
são principalmente acumulados no fígado e combinados em lipoproteínas para libertação na
circulação sanguínea (Sugiura, M. 2013). Os carotenoides presentes na circulação sanguínea,
atuam como um sistema de defesa antioxidante quando presentes em altas concentrações de
espécies de radicais livres no fígado, e essas funções fisiológicas dos carotenóides podem inibir
o desenvolvimento de disfunção hepática ( Sugiura, M. 2013).
As fibras alimentares são polímeros de hidratos de carbono com três - oligossacáridos (DP 3-
9)-, ou mais - polissacarídos (DP10) - unidade monoméricas de carbono. São derivados de
plantas e componentes associados, que não são digeridos no tracto intestinal superior/intestino
humano, tal como definido pela Organização das Nações Unidas para a alimentação e a
agricultura e pela Organização Mundial da Saúde (Liang Xie, et al. 2023; Khorasaniha, et al.
2023). De acordo ao Codex Alimentarium, a fibra dietética (DF) é quaisquer parte comestível
da planta ou hidratos de carbono análogos (extraídos/sintéticos) que sejam resistentes à
ingestão no intestino delgado e fermentados no intestino grosso. O Codex prevê uma inclusão
facultativa dos oligossacáridos como fibra dietética na sua definição, deixada ao critério das
autoridades/organismos reguladores de cada país (Stribling and Ibrahim, 2023).
As fibras dietéticas (DF) são os principais constituintes da parede celular das plantas, e
geralmente são divididas em duas categorias (Aiqi Ren, et al. 2023). Fibras insolúveis,
incluindo celulose e lignina - que reduzem o tempo de trânsito no intestino e aumentam o
volume fecal, aliviando os sintomas de constipação – e as fibras solúveis como a pectina,
arabinoxilano, intestiglucanos, frutooligossacáridos, galactooligossacáridos, inulina e
xiloglucanos – que apresentam uma variedade de efeitos no hospedeiro e podem sofrer
fermentação parcial ou total, principalmente no intestino grosso pela microbiota intestinal,
produzindo subprodutos geralmente benéficos, tais como ácidos gordos de cadeia curta
(AGCS), gases (CO2, CH4 e H2) e ácido (Khorasaniha, et al. 2023). O códex reconhece que
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existem três categorias de fibras alimentares: as que ocorrem naturalmente nos alimentos, as
obtidas a partir de matérias - primas que utilizam processos enzimáticos/químicos e as que são
sintéticas (Stribling and Ibrahim, 2023).
Alguns estudos relatam que as fibras dietéticas solúveis (SDF) apresentaram efeitos
significativamente superiores as fibras dietéticas insolúveis (IDF), incluindo a escala de
aplicação, o valor nutritivo, a função nos cuidados médicos e a prevenção de várias doenças
(Aiqi Ren, et al. 2023).
O efeito benéfico da fibra dietética está relacionada a um amplo espectro de doenças, incluindo
doenças cardiovasculares, diabetes, síndrome metabólica, doenças da inflamação intestinal
(DII), doença diverticular, obesidade e cancro (Khorasaniha, et al. 2023). Além do mais, as
fibras solúveis são associadas à redução dos níveis séricos de colesterol total e de lipoproteína
de baixa densidade (LDL), para redução do risco de doença cardiovascular. Portanto à
prevenção da reabsorção de sal biliar do intestino delgado e um dos mecanismos pelos quais
isso ocorre (Stribling and Ibrahim, 2023).
O consumo diário de fibras recomendado com base na ingestão de referência alimentar (DRI)
situa - se entre cerca de 19-38 g. estes valores diferem em função da idade e sexo
principalmente. Os valores de ingestão diária recomendada de fibra alimentar total varia de
19 g/dia para crianças entre 1 e 3 anos de idade, 25 g/dia para idades de 4 a 8 anos, 31g/dia e
38g/dia para meninos adolescentes com 9-13 e os 14-18 anos, 26 g/dia para meninas
adolescentes com 9-18 anos, 38g/dia e 25g/dia para homens e mulheres de 19 a 50 anos,
respetivamente e 31g/dia para homens com mais de 51 anos e 21g/dia para mulheres neste
período de idade. Infelizmente, o consumo médio de fibras alimentares é muito inferior na dieta
ocidental típica, refletindo cerca de 13–20g/dia (Khorasaniha, et al. 2023). Denis Bur - kitt em
1960 levantou a hipótese de que a causa fundamental das doenças ocidentais era a falta de fibra
alimentar em sua dieta. Esta hipótese foi sustentada pelo facto de ter observado uma relativa
ausência de doenças ocidentais nos povos ugandeses que consumiam cerca de 50 – 120 g/dia
(Liang Xie, et al. 2023).
13
1.7. Caracterização das plantas estudadas
1.7.1 Ananas comosus (L.)
O ananás (Ananas comosus L. ) é uma planta, perene, desmanteladas após duas ou três colheitas
para serem substituídas por novas plantas, monocotiledónea, de tronco curto e caule central
que dá originam as flores que podem ser brancas ou branco-roxas em espigas. As extremidades
do caule contem gemas reprodutivas. Folhas planas, longas, esverdeadas com extremidade de
onde crescem espinhos. As espigas dão origem a frutos pequenos (bagas), dispostos entre si ao
torno do eixo central (coração). Os frutos são cilíndricos ou cónicos, suculentos e aroma
agradável com rebentos na base e coroa de folhas no ápice. As raízes são fasciculadas com uma
profundidade aproximada de 15 cm. O Ananas comosus L. pertence à família Bromeliaceae e
é um dos frutos mais popular nas regiões tropicais e subtropicais. Originária da América
Central e do Sul, é cultivada no Havai, nas Filipinas, nas Caraíbas, na Malásia, na Tailândia,
na Austrália, no México, no Quénia, na África do Sul e na China. A América do Norte e Europa
são dos grandes interessados na importação do ananas nas forma de fruta fresca, sumo, compota,
geleia e produtos secos. A sua procura estende-se desde o seu aroma e sabor agradáveis ate a
busca pelas excelentes concentrações de polifenóis, vitaminas e outros compostos que
possivelmente exercem benefícios para a saúde numa forma de economia circular (Ajayi, A.
M., Et al 2022; Difonzo, G. et al. 2019).
O fruto é a parte mais consumida na forma de fruta fresca, fatias enlatadas, pedaços, sumo e
concentrados. Estima-se que apenas 60% das partes do fruto do ananás é comestível, pelo que
os resíduos de processamento ( A casca, a coroa e o núcleo) variam entre 45 e 65% ( Sousa,
N. et al. 2013; Difonzo, G. et al. 2019). De acordo com a Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO), estima-se que em 2019, a produção global de ananas foi de
28,18 milhões de toneladas (Cassago, A. L. L. et al. 2022). Segundo Herlinawati, H. et al.
(2022), embora as folhas do ananas sejam dos subprodutos produzidos em grande escala, e
representam alguma preocupação ambiental durante a sua produção e colheita, são ricas em
fibras constituídas por celulose (69,5 – 71,5 %), lenhina, pectina, gordura e cera, cinzas e
outras substâncias (proteínas e outros ácidos orgânicos).
De acordo com Xie, W. et al (2007) alguns estudos tem revelado que o ananas, além da sua
utilização agrícolas, como o facto de ser um fruto com valor nutricional, apresenta também
utilização medicinal. Os subprodutos do ananas que são subexplorados, estão a ser explorados
nas áreas de nutrição e farmacêuticas como fonte de compostos bioativos com ação anti-
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inflamatória antirreumático, proteolítico, hipolipidémico, moderador da sensibilidade à
insulina e propriedades imunomoduladoras e como supressor de tumor ( Cassago, A. L. L. et
al. 2022).
Colocasia esculenta(L.) Shott. é uma planta herbácea alta, anual com flores, frutos e raiz
tuberosa de propagação vegetativa que dão origem aos tubérculos e/ou cáudices pequenos e
robustos. Pertence à família Araceae e vulgarmente chamada como Taro. A planta do taro, é
cultivada em zonas húmidas ou associadas a elevados níveis de utilização de água com solos
semi-acidos (pH de 5,5-5,6), com precipitação aos níveis de 1000 mm por ano e uma
temperatura ótima de 21-27ºC. É uma cultura conhecida pelos portugueses como “Inhame dos
Açores” é vulgarmente identificada como "cultura que adora água" pelas suas limitações de
produção e expansão para áreas com disponibilidade limitada de água (Mitharwal, S. et al.
2022)
Segundo Aditika, et al. (2022), existem evidencias por revisão de literatura de que as diferentes
partes da planta apresentam compostos com importância nutricional e farmacêutica como a
tarina, os polissacáridos (TPS1 e TPS2), os alcalóides, os polifenóis e as saponinas com
propriedades anti-carcinogénicas, anti-compulsivas, anti-hiperglicémicas, anti-hipertensivas,
anti-inflamatórias, hepatoprotectoras, imunoprotectoras e neuroprotectoras. O tubérculo é
potencialmente rico em hidratos de carbono, proteína, vitamina C, tiamina, a riboflavina,
niacina e minerais ( ferro, cálcio, potássio e magnésio) (Gonçalves, R. F. G. 2012;). As folhas
apresentam elevadoteor em proteína, fibra dietética e caroteno. Contudo, vários outros
estudos tem comprovado a sua utilização na medicina tradicional , no tratamento de doenças,
como asma, artrite, diarreia, hemorragia interna, distúrbios neurológicose doenças de pele
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pelas suas propriedades medicinais. Nos Açores, tem sido usados as folhas e a seiva na
reparação de lesões cutâneas.
A Batata doce (Ipomoea batatas (L.) Lam.) é uma planta herbácea, dicotiledónea que pertence
à família Convolvulaceae, com cerca de 50 géneros e mais de 1000 espécies (Tai-Hua Mu and
Miao Zhang, 2019). Geralmente cultivada e propagada vegetativamente a partir de videiras,
estacas de raiz (rebentos) ou tubérculos em regiões tropicais e subtropicais como uma cultura
perene, enquanto é uma cultura anual em regiões temperadas. Nas regiões temperadas, o
período de colheita é de aproximadamente 4-6 meses (Loebenstein, G., 2015). É originária da
América Central e do Sul e introduzida nas ilhas do Pacífico (Polinésia) 1000 anos (d.C) (Pitrat,
M. 2012). De acordo com a FAO, (2016), a batata doce é amplamente produzida na China,
Nigéria, Tanzânia, Indonésia, Uganda, Etiópia e Vietname como uma das principais fonte
alimentar (Kennedy, G. et al. 2019). Com uma produção anual de mais de 133 milhões de
toneladas a nível mundial (Kreuze, J. and Fuentes, S., 2008). a china ocupa a primeira posição
como o maior produtor mundial com mais de 71,54 milhões de toneladas por ano, resultando
em quase 70% da produção mundial (Tai-Hua Mu and Miao Zhang, 2019). A sua alta
produtividade está relacionada com à sua capacidade de crescer em condições marginais e à
sua resiliência face às alterações climáticas (Kennedy, G. et al. 2019). Apresenta bom
desenvolvimento em solos relativamente pobres, com poucos insumos, baixa necessidade de
mão de obra e tem um período de crescimento curto (obtidas até três colheitas por ano) (Kreuze,
J. and Fuentes, S. 2008). Também podem tolerar uma série de altitudes, desde o nível do mar
até 2500 metros acima do nível do mar (Kennedy, G. et al. 2019). Por conseguinte, as viroses
podem limitar a produção por mais de 50% (Loebenstein, G. 2015).
A batata-doce pode ser utilizada como alimentação humana, alimentação animal e matéria-
prima promissora na utilizações industriais para produção de bioetanol, bebidas alcoólicas e
outros produtos. As suas raízes tuberosas grandes são consumidas na forma de tubérculos e
outros alimentos processados, enquanto que, as folhas tenras e os rebentos são consumidos
como um vegetal de folha verde. Os tubérculos, são ricas em amido, açúcares, vitamina C, pró-
vitamina A, ferro, minerais e pigmentos coloridos como o β-caroteno e a antocianina. o β-
caroteno e a antocianina atuam como antioxidantes que ajudam a combater o cancro, ajudam
na visão, retardam o envelhecimento e previnem lesões no fígado (Hall, M. R. and Phatak, SH.
C. 1993; Garg, N. 2017). Nas Filipinas, as folhas jovens e os rebentos são utilizados na
16
medicina tradicional para o tratamento da diabetes. As Ilhas Fiji, o Vietname, Brasil e o Japão,
usam as folhas secas para o mesmo fim (Gunn, J. and Che, C-T., N. 2013).
A anona é uma planta cultivada desde a época do Império Inca, que remonta a 1200 a.C.
(Albuquerque, T. G. et al. 2016). É originária da América do Sul e das Antilhas, mas
atualmente a Annona cherimola (Mill.), é cultivada em várias zonas tropicais e subtropicais de
todo o mundo incluindo a Espanha, Peru e Chile como os principais produtores, enquanto que
vai aumentado a tendência de produção em algumas áreas na Califórnia, Israel e Ilha da
Madeira, Portugal. Em Portugal, a anona foi introduzida nas ilhas da Madeira em 1897 e
atualmente existem várias cultivares de anonas, sendo as mais importantes a 'Madeira', a 'Perry
Vidal', a 'Mateus I' e a 'Funchal', com alto valor nos mercados nacional e internacional (Santos,
S. A. O. et al. 2016). Em 2000 a União Europeia concedeu à anona da Madeira (Annona
cherimola (Mill.)) a Denominação de Origem Protegida (DOP), tornando-se o primeiro fruto
regional a receber este nível de proteção internacional (Albuquerque, T. G. et al. 2016).
17
1.8. Objetivos principais
18
II. Tarefas e metodologias
O objetivo geral deste projeto é contribuir para melhorar a nutrição e o bem-estar humano por
meio do desenvolvimento de novos hidrogéis não lácteos contendo extratos encapsulados de
folhas para mitigar efeitos oxidativos e pró-inflamatórios nocivos em diferentes células. Para
o efeito, serão utilizadas plantas endémicas e naturalizadas produzidas nos Açores.
O projeto é dividido em 4 Tarefas, cada uma com diferentes subtarefas. A primeira Tarefa será
dedicada à obtenção e caracterização de extratos enriquecidos em compostos bioativos
utilizando técnicas espectrofotométricas e cromatográficas adequadas e será realizada uma
triagem completa da capacidade antioxidante in vitro. O conhecimento adquirido nesta tarefa
nos permitirá selecionar os extratos para alimentar as próximas tarefas e aqueles que serão úteis
para o desenvolvimento do hidrogel. Os extratos com maior teor de compostos bioativos e
capacidade antioxidante obtidos na Tarefa 1 serão utilizados nas Tarefas subsequentes.
A Tarefa 2 visa caracterizar a citotoxicidade dos extratos das folhas, através da determinação
dos valores de IC50 utilizando diversas linhagens celulares humanas; e também avaliar suas
potenciais bioatividades usando modelos celulares e enzimáticos.
19
III. Principais resultados esperados
- O conhecimento dos extratos ricos em bioativos em relação às suas interações com linhagens
celulares humanas e suas bioatividades em diferentes mecanismos biológicos relevantes. Os
mecanismos dos efeitos AO, AI e AB dos extratos serão desvendados usando biologia celular
aliada a métodos de base biomolecular.
IV. Conclusões
20
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