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A oposição na sociologia entre culturalismo e naturalismo pode ser representada no debate se as

ciências sociais são ciências dos fatos naturais ou ciências do espírito.


A primeira abordagem reduz todo social a simples mecanismos físicos, plenamente explicáveis com
o auxílio de outras ciências, como a biologia ou a psicologia. Essa escola de pensamento pode se
ramificar no psicologismo de Gabriel Tarde ou o biologismo de Spencer, por exemplo. O cultural
não trascende o material rude, seja a anatomia, exemplo de lombroso, ou o comportamento
psicológico, Tarde.
A segunda abordagem tem início com Durkheim e caracteriza, primeiramente, o objeto da
sociologia como algo único, muito além de uma soma de consciências ou uma analogia biológica ou
física. Durkheim caracteriza o fato social como uma síntese de consciências e fatores externos, os
fatos sociais, capazes de serem analisadas como coisas. Garante-se, assim, a autonomia da ciência
social.
Seguindo essa linha, Dilthe caracteriza as ciências em naturais e do espírito, com base na
capacidade de reviver. As ciências naturais possuem como objeto fatos incapazes de plena
compreensão – no sentido do processo de reconhecimento do sujeito, o homem, com o objeto, no
caso um fato não-humano – são apenas explicáveis, mas jamais aptas a terem um sentido. Somente
as ciências do espírito, espírito como toda a cultura, são capazes de compreensão, são capazes de ter
um sentido próprio ou atribuído. Nesse sentido, Dilthe confunde a sociologia com a história,
atribuindo, com o mecanismo de reviver os fenômenos, a ela o papel de ser a única ciência do
espírito.
Aprofundando a temática da cultura, Cóssio define o método de compreensão, que já é entendido
como o papel principal das ciências culturais, ou sociais, como empírico-dialético. Um caminho de
ida e volta entre suporte e sentido, entre o fato a ser observado e o homem que atribui sentido
aquele fato. A medida que se dão voltas nesse caminho a análise se enriquece, pois o sentido já
observado é contemplado com mais informações na próxima passada pelo suporte. Cabe uma
observação sobre as semelhanças, no campo abstrato, com o materialismo histórico-dialético de
Marx, em que a interpretação ela é sempre construída durante o processo de apreensão da realidade
(empíria) num caminho que vai do concreto para o abstrato e novamente para o concreto (dialético).
Continuando na tradição empírica, temos Recasens e sua razão raciovitalista. A razão naturalista
busca as explicações, os “por quês” dos fenômenos. A complexidade da vida humana não pode ser
alcançada simplesmente com essa razão. Recasens propõe uma sociologia que não é estática, uma
sociologia que busca compreender os motivos dos fenômenos, os “para quês”. Se o ser humano não
pode ser explicado, com razões puramente de causa e consequência, ele pode ser compreendido em
seus empreendimentos. A combinação da resposta do Por quê, na ciência social, ao Para quê é
indispensável.
O direito participa ativamente da socialização, moldando e sendo moldado pela sociedade. Como o
direito transita no campo do “ser enquanto dever ser” ele encontra paralelos com as normas sociais
que também participam da socialização, mas com elas não se confunde. Direito nasce da moral de
um povo, ou da parte politica e economicamente dominante, mas não é propriamente a moral.
Direito sanciona como uma norma de tratamento, mas com ela não se confunde. A distinguibilidade
do direito, enquanto direito objetivo, é o caráter, ao ver de Recaséns, da sua bilateralidade, o direito
é capaz de ser exigido, diferente da moral, que só pode repreender. Enquanto a moral é um dever
subjetivo o direito é um dever por parte de um e um dever de exigir o dever para o outro, há um
caráter de execução forçada da repreensão que não existe na moral. Além disso, a moral gera uma
repreensão condicionada ou difusa pela opinião pública, já o direito, uma incondicionada ou
centralizada pela autoridade competente.
O direito atua em consonância com as demais normas de socialização, os tratos sociais e a moral
comum, sendo a última barreira para a manutenção da ordem e da socialização.

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