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Casa de letrinhas – Metodologia ESSI de Alfabetização

Módulo Pré-alfabetização: Consciência fonológica – Aula 10

A consciência fonológica refere-se à habilidade de discriminar e manipular os


segmentos da fala (Capovilla, 2000). Esses segmentos são: frases, palavras, sílabas e
fonema, além da forma das palavras que podem ter um padrão de rimas e
aliterações. As evidências científicas e experiências internacionais comprovam que a
habilidade de estar conscientemente atento aos sons da fala se correlaciona com o
sucesso na aquisição da leitura e escrita (Stanovich et al, 1984; Wimmer et al, 1991).
As habilidades da consciência fonológica antecedem a aquisição da leitura e escrita
que de fato é a fase da alfabetização, logo a consciência fonológica refere-se a pré-
alfabetização. Ou seja, são as habilidades da consciência fonológica que melhor
preparam a criança para a alfabetização.

O trabalho nessa fase da pré-alfabetização deve ser pautado em adquirir as


habilidades da consciência fonológica. Na Figura 1 veja o exemplo de uma árvore, a
raiz que não vemos é o que sustenta todo o seu desenvolvimento e crescimento. Por
analogia a pré-alfabetização é o sustentáculo da alfabetização. Isso parece claro, mas
não é o que ocorre na educação brasileira.

Thais Melissa Lauton Honório - melissalauton@msn.com - IP: 45.180.3.121


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Atualmente no Brasil, o salto de desenvolvimento entre a educação infantil, voltada


para um universo de brincadeiras e descobertas, ocorre abruptamente e de repente a
criança se vê diante de textos para interpretar e ler palavras em um contexto, logo no
início do primeiro ano. A criança sai de um universo de representações de desenhos
para a exposição a linguagem textual repentinamente sem o apoio e definição dos
segmentos que embasam essa nova linguagem que lhes é apresentada. Por isso é
importante a exposição das crianças na pré-alfabetização de conceitos chaves como
fonemas, aqui chamados de sons das letras, sílabas, palavras e frases. Perceba que
essa apresentação não deve ocorrer com a exposição a textos escritos durante a pré-
alfabetização. O ideal é a utilização de abordagens orais com apoio de textos, poesias,
parlendas, enfim, lidos em voz alta pelo educador e representações gráficas por meio
de figuras que representam elementos a serem trabalhados, por exemplo, figuras de
brinquedos, animais, meios de transporte, etc. A consciência fonológica será
desenvolvida com o apoio da linguagem oral e figuras. Porém, isso não significa que
não será feita a apresentação das formas das letras e seus nomes. Mas essa
apresentação não é a base isolada da pré-alfabetização, a criança também é
apresentada a parte mais importante: que a letra tem som. Assim, a criança começará
a entender o princípio alfabético e saberá que a letra tem um som (fonemas), um
nome e uma forma de representação (grafemas). Será a associação grafema/fonema
que permitirá a decodificação na leitura durante a alfabetização. Ou seja, ao ver a
forma de uma letra, um grafema, a criança emitirá um som, um fonema. A
decodificação estará consolidada quando a criança apresentar fluência na leitura e
compreensão de texto, e assim, estará efetivamente alfabetizada. Um processo longo
que dura vários meses de trabalho explícito e bem instruído.

Os segmentos da fala

A Figura 2 detalha os segmentos da fala (fonemas, sílabas, palavras e frases) e as


habilidades da consciência fonológica que devem ser desenvolvidas na pré-
alfabetização. Detalharei cada uma delas a seguir.

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Na consciência de rimas e aliterações a criança será conduzida a percepção de que a


linguagem não tem apenas significado e mensagem, mas também uma forma
(Adams, 2006). Para isso é preciso apresentar primeiro um repertório de rimas e
aliterações para a criança, através da leitura em voz alta de textos como poesias,
parlendas ou canções rimadas. Ao ler um texto evidencie as palavras que rimam, por
exemplo: leia o texto em voz baixa e ao chegar na palavra rimada leia com outra
entonação. Se são textos conhecidos pergunte a criança quais palavras que elas
ouviram que rimam, outra possibilidade é: ao ler um texto procure parar a leitura
antes de falar a palavra que rima e peça para a criança completar a leitura dizendo a
palavra que ela já conhece. Incentive-a dizer novas palavras que rimam. É possível
também sugerir novas palavras, algumas rimadas e outras não, e peça para a criança
dizer quais delas faz rima. O mesmo trabalho pode ser feito com palavras que aliteram.
Ou seja, palavras que começam com o mesmo som. Atenção aqui que o importante é o
som da letra e não a letra em si. Veja o exemplo, Catarina e Karolina, são letras
diferentes mas os sons se aliteram, pois são iguais. Assim como Gelado e Jenipapo.

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Na consciência de palavras e frases o objetivo é levar a criança a pensar sobre a


estrutura da língua. É um ponto de partida para a compreensão básica de palavras e
frases que serão aprendidos nos anos seguintes da alfabetização. Nesse sentido a
criança será conduzida a compreender que a frase é uma sequência de palavras e que
transmitem um pensamento. Ou seja, são as palavras que dão sentido a frase, que se
retirada alguma palavra ou colocada outra no lugar, a frase também mudará de
sentido. Ressaltando que o propósito da consciência fonológica é desenvolver a
atenção das crianças para os sons da fala. Não há, portanto, necessidade de chamar a
atenção da criança para a escrita das palavras e frases. Dessa forma ao apresentar o
conceito de frase utilize representações visuais, como blocos de montar para cada
palavra ou cartões coloridos, disponha-os um na frente do outro, onde cada um
representa uma palavra. Adicione novas palavras, retire outras, faça comparação entre
tamanhos de frase de acordo com o número de palavras, incentive a criança a contar
as palavras.

Na consciência de sílabas a criança irá se conscientizar que a palavra é formada por


sequências de unidades menores do que as próprias palavras, e que essas unidades
são as sílabas. Embora a criança nunca tenha refletido sobre as sílabas ela tem uma
breve noção pois nós falamos em sílabas. As quais correspondem às pulsações de som
da voz, bem como aos ciclos de abertura e de fechamentos das mandíbulas (Adams,
2006). A consciência silábica é um passo importante para a consciência fonêmica, pois
os sons individuais das palavras (fonemas) são coarticulados nas sílabas, então é
essencial que a criança conheça e seja exposta a atividades orais que identifiquem as
sílabas. A atividade mais tradicional é pedir para a criança bater palmas a cada
abertura da boca, ou seja, para cada sílaba. Pode começar com o próprio nome da
criança, seguindo dos demais parentes, você pode orientar também que a criança dê
um pulo a cada sílaba emitida. O importante é que a criança já tenha tido contato com
as palavras que serão separadas em sílabas por palmas ou pulos. O contato oral prévio
com essas palavras facilita a criança a se lembrar da entonação das palavras, ou seja, a
pulsação e contribui para a percepção das sílabas.

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Importante ressaltar que os conceitos apresentados são óbvios para nós, adultos,
porém não são para as crianças. Por isso o ensino explícito e bem instruído é
importante. Se ninguém ensinar a criança não perceberá sozinha, ou levará muito
tempo para perceber o que é uma frase, palavra ou sílaba. E mesmo que saiba não
será capaz de dar os nomes corretos. Por isso é importante mostrar claramente. É
comum que após a exposição dos conceitos a criança ainda se confunda. Por exemplo,
ao pedir para ela contar as palavras da frase, ela começar a bater palmas e contar as
sílabas. Isso ocorre pois são conceitos novos, nesse caso basta retomar os conceitos e
orientará a fazer o correto. Agora chegamos no ponto alto da consciência fonológica,
que é a consciência fonêmica. Percebo muita confusão entre consciência fonológica e
fonêmica, é comum as pessoas pensarem que se tratam da mesma habilidade.
Enquanto a consciência fonológica refere-se as habilidades de manipular e identificar
os sons de todos os segmentos da fala, sendo eles, palavras, frases, sílabas e
fonemas, a consciência fonêmica é a habilidade de conscientizar a criança das
menores unidades constituintes de uma palavra, os fonemas, ou usualmente
chamado aqui de sons das letras. Dessa forma a criança é conduzida a perceber que
os fonemas têm identidades separadas em uma palavra e reconhecer e distingui-los
uns dos outros é essencial nessa etapa da consciência fonêmica. Então atenção,
consciência fonêmica não é apenas saber os sons das letras. Isso é o ponto de partida,
depois da consolidação do conhecimento dos sons das letras e a devida memorização,
a criança deve ser conduzida a identificar os sons na palavra. Inicialmente através da
identificação do fonema inicial e avançando até a análise e síntese de fonemas. Um
exemplo seria escolher objetos diversos e entre eles alguns que comecem com o
mesmo som e pedir para a criança selecioná-los a partir da identificação do som inicial.
Atividades orais também pode ser feitas, onde se retira um fone da palavra e pergunta
o que restou dela, por exemplo: com a palavra MALA, se retira o fonema M, o que
ficou? Assim como adição de fonema, por exemplo: na palavra ASA se adicionar o
fonema C, o que formou? CASA. Atenção para sempre evidenciar o som da letra, não
dizer o nome da letra, e orientar a criança a fazer o mesmo.

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Perceba que as habilidades da consciência fonológica levam a "criança a perceber


como, dentro de cada nível, as partes são desmembradas, faladas em separado e
juntadas novamente. Elas são levadas a ver que, se as partes forem excluídas,
substituídas ou reorganizadas, o todo é alterado tanto no som como no significado.
Resumindo, elas são levadas a apreciar a estrutura do sistema”. (Adams, 2006)

Por onde começar: Tem uma ordem para as atividades de consciência fonológica?
Naturalmente começamos com exposição a rimas e aliterações com o apoio de leituras
em voz alta, sabendo dessa necessidade agora voltamos a leitura mais específicas,
como parlendas, poesias, estratégias para chamar atenção as palavras rimadas. Você
percebeu que a estrutura da linguagem é composta por frases e palavras, sílabas e
fonemas. Dessa forma uma alternativa é trabalhar com a conscientização dessas
habilidades progressivamente. Mas perceba que tudo pode estar envolvido. Uma vez
que serão apresentados os conceitos de frases e palavras, as sílabas já podem ser
apresentadas também. Atividades simultâneas podem ser realizadas. Assim como a
base da consciência fonêmica, que são os sons das letras, pode começar desde
sempre. Ou seja, a organização dependerá do educador.

Por onde começar: qual habilidade a criança desenvolve primeiro? Por ser mais óbvio,
a criança desenvolve primeiro as rimas e aliterações, também por estar exposta a
esses temas mais frequentemente. Jenkins e Bowen (1994) citaram que há crianças
que a consciência de sílabas se firmará antes e outras que será a palavra. Mas o
consenso geral é que a consciência fonêmica é a última habilidade a surgir.

Nesse momento também apresento as sílabas? Não, quando fala-se sobre consciência
de sílabas é permitir que a criança perceba que as palavras são formadas pelas sílabas.
Mas não deve-se apresentar as formações das sílabas, as conhecidas famílias silábicas.
Essa apresentação é feita na alfabetização.

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Para crianças acima de 7/8 anos como fazer? Não se trata de uma questão de idade,
mas de habilidade, sempre repito essa frase. Ou seja, sabendo-se que o melhor
caminho para preparar a criança para a alfabetização é a consciência fonológica, logo
se uma criança não tem essas habilidades consolidadas é preciso identificar o que é
deficiente e reforçar. Tal como se fosse feito com uma criança em idade habitual da
pré-alfabetização, entre 4 e 5 anos.

Como avaliar se a criança já domina a consciência fonológica? A partir da avaliação


proposta e material disponível na Aula 16.

Referências

Capovilla, A. G. S.; Capovilla, F. C. 2000. Problemas de leitura: como identificar,


prevenir e remediar numa abordagem fônica. São Paulo, SP: Memnon, FAPESP.

Jenkins, R.; Bowen, L. 1994. Facilitating development of preliterate children’s


phonological abilities. Topics in Language Disorders, 14 (2), 26-39.

Montessori, M. A descoberta da criança - pedagogia científica. Campinas, SP: Kírion.

Morais, J. 1995. A arte de ler. São Paulo, SP: Editora Unesp.

Seabra e Capovilla. 2010. Alfabetização: método fônico. São Paulos, SP: Memnom,
FAPESP.

Stanovich, K. E.; Cunningham, A. E.; Cramer, B. R. 1984. Assessing phonological


awareness in kindergaten children: Issues of task comparability. Journal of
Experimental Child Psychology, 38, 175-190.

Wimmer, H.; Landerl, K.; Linortner, R.; Hummer, P. 1991. The relationship of phonemic
awareness to reading acquisition: more consequence than precondition but still
important. Cognition, 40, 219-249.

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