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Por esse motivo e pesquisas também demonstram que a noção de que a linguagem
falada é composta de sequências desses pequenos sons que são representados pelos
sinais gráficos das letras não surge de forma natural, espontânea ou fácil em nós, seres
humanos. Sem a instrução direta a percepção dos sons da fala escapa completamente
a 25% dos estudantes do primeiro ano, ou sejam, a cada 100 alunos, 25 deles não
terão nenhum consciência quanto a isso (Adams, 2006). Na educação a incapacidade
ou a dificuldade em perceber e manipular esses sons da fala implicarão em
dificuldades para a aprendizagem da leitura e escrita. Pois, sabe-se que conhecer e
identificar os sons das letras significa aumentar a capacidade e a habilidade de
promover a leitura bem sucedida na alfabetização.
Morais (1995) defende que o ensino das letras pode e deve ocorrer na pré-escola,
ainda no ensino infantil. Aos três ou no máximo aos quatro anos de idade, a maioria
das crianças está cognitivamente apta para se preparar e aprender a ler e escrever e é
benéfico o ensino explicito e instruído dos sons das letras. Isso não significa que iremos
alfabetizar crianças a partir dos 3 anos, mas sim que começaremos a desenvolver
habilidades essenciais e preditoras de sucesso para a alfabetização.
Montessori (2017) também defendeu a instrução das crianças antes dos 6 anos, em
seu livro “A descoberta da criança - pedagogia científica” a autora contextualiza o
início de um trabalho estruturado na “Casa da Criança” que envolvia desde o estímulo
da autonomia das crianças com atividades de vida prática até instruções sensoriais e
diretas dos sons das letras, em suas palavras:
“[…] eu também me achava enganada pelo preconceito de que somente mais tarde é
que se deveria encetar o ensino da leitura e da escrita, aprendizado esse que deveria
ser evitado até a idade dos seis anos. Mas, no decorrer desses poucos meses, as
crianças pareciam perguntar que conclusão tirar desses exercícios que as haviam tão
surpreendentemente desenvolvido.”
Os sons das letras estão presentes na etapa da consciência fonêmica que por sua vez,
não é apenas conhecer os sons que as letras representam, mas de analisar e refletir de
forma consciente sobre a estrutura da linguagem oral. É o entendimento de que todas
as palavras são compostas por sequências de sons individuais, os fonemas. A
consciência fonêmica é um conhecimento explícito e reflexivo de que os sons da
linguagem oral podem ser separados um do outro e que é possível categorizá-los de
uma maneira que permita compreender como as palavras são escritas. Então aqui já
percebemos claramente a utilidade do domínio dessa habilidade, para avançar na
escrita que é um outro tipo de linguagem. É permitir que um ser humano passe de
uma linguagem oral, falada, para a linguagem textual, lida e tão logo, escrita. Esse é
o papel utilitário da consciência fonêmica. Um papel grandioso que permitirá que um
ser humano saia da condição de analfabeto para alfabetizado. Pois é através da
decodifição dos sons das letras que a criança fará a leitura e posteriormente a
escrita.
A consciência fonêmica então é mais ampla do que apenas conhecer os sons das letras,
é a habilidade de perceber e manipular os sons das palavras, sendo capaz de identificar
por exemplo, o primeiro e o último som de uma palavra, isolar sons, segmentar sons
individuais de uma palavra, assim como sintetizar ou aglutinar os sons e formar uma
palavra.
Diante disso, quando podemos dizer que a consciência fonêmica está desenvolvida?
Basta saber os sons das letras? Não, ainda que isso seja uma parte importante pois
ter a referência dos sons das letras facilitará o bom desenvolvimento da consciência
fonêmica.
Primeiro ponto: a apresentação dos sons das letras durante a pré-alfabetização não
depende da criança já conhecer os nomes e grafias das letras. Ainda que apresentemos
a grafia da letra, seu nome e o som que ela representa, esse não é o momento para se
dar ênfase somente aos nomes e grafias. Pois nessa fase o objetivo é fazer a criança
perceber os sons das letras na linguagem oral e não é necessário nenhum contato com
a linguagem textual. O problema está na forma com que é feita comumente a
apresentação das letras, a qual se dá pela memorização das formas das letras e pelos
nomes delas. Nesse momento comumente não há nenhuma menção aos sons das
letras e ensino explícito nesse sentido.
Importante deixar claro que a apresentação dos sons das letras pode ocorrer
conjuntamente à exposição das formas gráficas das letras. O essencial é não se
esquecer de apresentar a parte mais importante da letra: o valor sonoro que ela
representa: os fonemas.
Ou seja, mesmo que a criança já tenho sido apresentada na escola ou pela família a
letras, nomes e formatos, a partir de agora que você tem consciência da relevância
da consciência fonêmica, então sempre que aparecer as letras você poderá ressaltar
e dar ênfase aos sons. Prefira explicitar os sons das letras ao invés de chamar a letra
simplesmente pelo nome. Se a criança disser o nome da letra peça sempre para ela
emitir o som. Dessa forma a consciência dos sons das letras vai se expandindo.
Segundo ponto: Qual a ordem para apresentação dos sons das letras?
O mais importante é você saber que as letras não devem ser apresentadas por ordem
alfabética. O alfabeto existe para ordenar o sistema alfabético e para utilização, por
exemplo, do dicionário.
Mas então como definir o que é mais fácil e o que é mais difícil?
Neste artigo proponho começar pelas vogais e seguir pelas consoantes fricativas cujos
sons podem ser estendidos por mais tempo e facilitam a sua percepção, seguida das
consoantes oclusivas. Explicarei os termos citados no decorrer do texto e no final,
indicarei uma ordem de apresentação dos sons das letras.
Importante você saber também que os sons da fala resultam da ação dos nossos
órgãos sobre a corrente de ar vindo dos pulmões. Então para ter som precisa de
algumas condições, mas basicamente da corrente de ar vinda dos pulmões e do
aparelho fonador, conhecido como órgãos da fala, como pulmões, laringe - cordas
vocais, faringe, boca, língua, fossas nasais, lábios. Logo, de uma forma simplista o som
é produzido da expiração desse ar pelo aparelho fonador.
Na Figura 2 separei em duas colunas os sons das vogais orais e nasais e sugeri
dramatizações que podem ser feitas para ajudar a criança a memorizar os sons das
letras. Note que as vogais orais dividem-se entre vogais abertas ou semi-abertas e
fechadas ou semi-fechadas. Perceba que nesses casos as vogais têm variações de 7
sons (considerando que a vogal A apesar de ter as variações; aberta ou fechada, o som
não se altera). Além dos sons nasais, quando as vogais, por exemplo, antecedem as
letras M e N ou são acentuadas pelo til. É importante apresentar as variações, pois os
sons se alteram nas palavras e através desse contato prévio a criança já saberá disso.
Agora vou explicar brevemente para você sobre o ponto de articulação das
consoantes, que pode ser então:
Importante ressaltar que os sons das letras exigem treino constante até isso se tornar
natural para você e principalmente para as crianças. No começo pode soar estranho
emitir os sons isolados e ensinar também, mas como tudo, com a prática, torna-se
mais simples e fácil.
Por fim, volto ao segundo ponto que comentei anteriormente e compartilho uma
sugestão de ordem de apresentação dos sons das letras. Perceba que nessa sugestão o
ensino começa pelas vogais, depois para as consoantes constritivas (F, V, S, Z, X, J, L,
R), para as consoantes oclusivas nasais (M e N) e por fim, as orais (P, B, T, D, C, G).
Referências