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1 Noções preliminares

A origem etimológica da palavra Psicologia está na noção de alma. Deriva


do grego: psyché (alma) + logos (razão). O filósofo Aristóteles (384 a.C – 322
a. C.), na Grécia, na Idade Antiga, foi considerado o autor do primeiro
estudo de Psicologia intitulado "Livro da Alma".
Desse modo, a Psicologia tem suas raízes na Filosofia, pois a natureza
humana era estudada mediante a especulação, a intuição e a generalização.
Caminhando na linha do tempo, um fato histórico marcou o nascimento da
Psicologia Científica. Wilhelm Wundt (1832-1920) propôs o Primeiro
Laboratório de Psicologia Experimental em 1875, na Universidade de
Leipzig, na Alemanha.
A Psicologia Jurídica é uma área da psicologia conectada com a área do
Direito, relacionada à aplicação do seu conhecimento e prática da
Psicologia no âmbito do Poder Judiciário. Desse modo, o termo Psicologia
Forense pode ser usado para se referir à prática psicológica no sistema
jurídico.
A principal função do psicólogo jurídico é auxiliar em questões relacionadas
à saúde mental dos envolvidos em um processo judicial. Esse auxílio, por
meio de laudos, pode ocorrer em estudos sociais dos crimes praticados
pelo agente, quanto à personalidade de uma pessoa, em um caso que
envolva crianças e ou adolescentes, entre outros.

1.2 A Constituição e o histórico da área da


Psicologia Jurídica
Na Antiguidade, de acordo com Fiorelli (2010), buscavam-se respostas para
o que vem a ser o fenômeno delitivo. Na Grécia, o delinquente era expulso
do clã por ser considerado um ser anormal. No século III, o entendimento
quanto à delinquência era de que as pessoas que não cumpriam as regras
sociais estavam influenciadas pelo demônio. Mais adiante no tempo, o
homem passou a ser visto como condutor de sua vida e, nessa fase, iniciou-
se a busca pela humanização da pena (FIORELI, 2010, p. 322).
A história da Psicologia Jurídica está na atuação do psicólogo no sistema
prisional, uma forma punitiva realizada antes da introdução do que se
conhece por Estado nas sociedades. As punições eram aplicadas no século
XVIII com penas privativas de liberdade (MATTOS, 2013).
A mesma autora entende que a Psicologia Jurídica não tem início
demarcado, mas em 1868 a Psicologia surgiu auxiliando a justiça com a
publicação do livro “Psychologie Naturelle”, de autoria do médico francês
Prosper Despine (1812-1892), onde o autor apresentou estudos de casos de
criminosos daquela época. Os casos foram divididos em grupos de acordo
com o motivo do crime, observando as particularidades psicológicas.
Mattos (2013) e Jesus (2001) citam a obra de Rossi, “Psicologia Coletiva”, a
qual mostra a ideia de que o Direito surgiu a partir da consciência coletiva
dos povos. No final do século XIX, surgiram algumas reflexões sobre o
Direito e sua função na vida social, partindo-se da Psicologia e de ciências
próximas; por exemplo, a obra de Fichte (1796), “Fundamentos do Direito
Natural”, são formuladas as relações do Direito com o Estado. Em 1893,
Durkheim lança o conceito de anomia e Mead, filósofo americano (1863-
1931), publica em 1917 “The psychology of punitive justice”. No século XX,
surgiram outros trabalhos literários relacionando o Estado, a sociedade e a
legislação (MATTOS, 2013; JESUS, 2001).
Anomia é um conceito de cunhado pelo sociólogo francês Émile Durkheim. Esse conceito
significa a ausência ou desintegração das normas sociais, que descreve patologias sociais da
sociedade ocidental moderna, racionalista e individualista (DURKHEIM, 1893).

No ano de 1835, apareceu pela primeira vez o termo Psicologia Judicial na


publicação do “Manual Sistemático de Psicologia Judicial”. Nessa obra,
destacou-se a importância da Antropologia e da Psicologia auxiliando a
atividade judicial corretamente. Para Jesus (2001), a necessidade do juiz de
direito compreender os conceitos psicológicos está evidenciada com os
estudos do jurista alemão Zitelmann (1852-1923).
Percebam que filósofos, sociólogos, juristas, enfim, pensadores, foram
formando a construção da conexão do Direito com a Psicologia, e esse
fator se deu principalmente entre os crimes e as análises do
comportamento dos criminosos.
É importante ressaltar que os sujeitos cometem irregularidades desde o
início da sociedade. A forma de lidar com esses erros e os indivíduos quase
não mudou. Vivemos em uma crise de ilegalidade popular, pois o
preconceito se encarrega de rotular acontecimentos e colocá-los em
determinado espaço e tempo. (FIORELLI, 2010, p. 245).
O mesmo autor se refere ao pensador francês Michel Foucault (1926-1984),
que apontava o desequilíbrio da aplicação das penas para as diferentes
formas de infração, observando que a justiça parece, em sua aplicação,
mais eficaz no que se refere às penas para as pessoas menos favorecidas
economicamente. Essa percepção viciosa possibilita que naturalmente
sejam percebidos comportamentos indicadores de delitos que se ajustam
às crenças arraigadas quanto à pobreza (FIORELLI, 2010, p. 246).
Nesse sentido, o papel do psicólogo jurídico é muito importante nessa área
de atuação, especialmente por trazer uma visão humanizada e
multifacetada do sujeito, primando pela saúde mental, bem-estar e
recuperação do indivíduo.
Atualmente, a psicologia jurídica brasileira está presente em várias frentes:
temos psicólogos jurídicos atuantes nas delegacias, penitenciárias, fóruns,
em casos derivados de crimes ou não, tais como os casos da vara da
infância e juventude e da vara da família.
Lembrando que nesse campo temos a junção da Psicologia com o
Direito, geralmente da Psicologia Jurídica com o Direito Penal ou Cível.
Na primeira metade do século XX, o trabalho da Psicologia foi pautado sob
a ótica positivista com a aplicação de testes psicológicos. Na Alemanha e na
França, psicólogos desenvolveram trabalhos empíricos sobre o testemunho
e a participação nos processos judiciais, mais precisamente quanto aos
estudos acerca dos interrogatórios, dos delitos, da verificação de falsos
testemunhos, da simulação de amnésias e dos testemunhos de crianças.
Esses trabalhos ascenderam a Psicologia quanto ao testemunho e ao
auxílio ao Direito.
Os psicólogos iniciaram a prática da psicologia jurídica no Brasil por volta
da década de 1960 com a prestação voluntária de serviços na área criminal,
tendo em vista a avaliação de pessoas em situação prisional e de
adolescentes infratores.
A partir da promulgação da Lei de Execução Penal, Lei n° 7.210/84, o
psicólogo passou a receber reconhecimento pela instituição penitenciária.
Em 1979, essa atuação foi estendida também para a área civil, atuando
voluntariamente e de modo informal junto às famílias em vulnerabilidade
econômico-social no estado de São Paulo.
No ano 2000, a Psicologia Jurídica foi reconhecida oficialmente como
especialidade do psicólogo pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP,
através da Resolução CFP nº 014/00.
As especialidades reconhecidas nessa resolução em seu artigo 3º são as
enumeradas abaixo.
 Psicologia Escolar
 Educacional
 Psicologia Organizacional e do Trabalho
 Psicologia de Trânsito
 Psicologia Jurídica
 Psicologia do Esporte
 Psicologia Hospitalar
 Psicologia Clínica
 Psicopedagogia
 Psicomotricidade

A Psicologia Jurídica exerce uma complementaridade ao Direito, pois como


ciência autônoma, produz conhecimento relacionado ao conhecimento
produzido pelo Direito, formando uma intersecção de objetos de estudo e
conhecimento comum. Assim, há uma interação entre Psicologia e Direito e
um diálogo com outras áreas, tais como: Sociologia, Criminologia, História,
entre outros.
A Psicologia Jurídica atua também no Direito do Trabalho. O psicólogo pode
atuar como perito em processos trabalhistas com relação às condições de
trabalho e como elas reverberam na saúde mental do indivíduo. Por
exemplo: ambientes insalubres; ambientes expostos a excessivo
barulho; assédio moral no trabalho, entre outros.
Ainda, o psicólogo jurídico pode atuar quanto à vitimologia e
à psicologia do testemunho. Veja suas definições:

 Vitimologia: A vitimologia busca traçar o perfil da vítima para avaliar


seu comportamento e personalidade.
 Psicologia: A psicologia do testemunho se refere à avaliação da
veracidade dos depoimentos das partes envolvidas no processo, tais
como: vítimas, testemunhas e dos suspeitos.

2 Panorama atual da Psicologia


Jurídica
Estudamos o termo Psicologia Jurídica e o senso comum atribui o
psicólogo na atuação forense quando há crime. E isso está correto,
entretanto, não apenas para tratar de casos referentes aos crimes, como
também cíveis e outros. Aqui, adentramos o campo da Psicologia Forense,
o psicólogo jurídico que atua junto ao Poder Judiciário, que incide em todos
os tribunais e suas competências em razão da matéria.
A Psicologia Forense é uma área de saber que articula a psicologia à
atuação jurídica nos tribunais. É importante nesse segmento profissional
ter conhecimento técnico em ambas às disciplinas para elaborar laudos e
pareceres que são utilizados para tomadas de decisões judiciais.
Ao lançar um olhar sobre a análise do comportamento sobre a Psicologia
Forense, temos que a inspiração para a criação da área teve como base a
Psiquiatria Forense. Essa área adveio da Medicina Legal. No Brasil, a
sistematização da Psicologia Forense aconteceu somente em 2001, quando
uma resolução relacionada à especialização em Psicologia Jurídica foi
aprovada no Conselho Federal de Psicologia (USP, 2017).
Os psicólogos forenses são analistas do comportamento humano, porque,
ao atuarem nessa área, consideram os fatores do contexto social no qual
as pessoas envolvidas estão inseridas, tendo em vista que a Psicologia
Forense faz intersecção com qualquer área do sistema legal, e não apenas
com o Direito Penal. Interessante notar que a Psicologia Forense tem
sustentação na pesquisa e na ciência. Assim, a linguagem científica é do
cotidiano dos psicólogos forenses, os quais também utilizam a linguagem
do senso comum.
A universidade em questão, em seu artigo de 2017, também elencou as
possibilidades de atuação do psicólogo forense, as quais estão enumeradas
abaixo com relação à Psicologia.
Psicologia do crime: Psicologia do Crime se refere aos processos
comportamentais do adulto e jovem infrator, e tem o objetivo de descrever
como um comportamento é adquirido, aprendido, evocado, mantido e
modificado pelas consequências. Examina-se e avalia-se a prevenção, a
intervenção e suas estratégias direcionadas a reduzir o comportamento
criminoso e o transtorno da personalidade antissocial.

Avaliação forense: A avaliação forense é o cerne da Psicologia Forense,


porque é calcada nos maiores instrumentos da psicologia: a entrevista e a
observação. É importante que sejam identificados e descritos os padrões
comportamentais e determinada a responsabilidade do indivíduo sobre
seus atos.

Psicologia aplicada ao Sistema Correcional e a Programas de Prevenção: Os


programas de prevenção deveriam servir para solucionar os problemas da
delinquência e do crime, desde que fosse possível modificar de pronto o
ambiente no qual o sujeito está inserido. Políticas públicas tendem a
trabalhar com a identificação precoce e a prevenção de comportamentos
antissociais. Caso os psicólogos conseguissem atuar nas variáveis que estão
relacionadas à criminalidade, a prevenção seria efetiva.

Psicologia aplicada à polícia

A Psicologia Forense tem esse desdobramento, no qual é possível trabalhar


com identificação de estresse, resiliência, perfil de grupos de elite etc.
Nesse caso, compreende-se que a maioria dos policiais é honesta,
diferentemente do que é veiculado na mídia. Na verdade, as notícias
veiculadas são negativas porque saltam aos olhos apenas as ações da
polícia contra a sociedade. Nessa Psicologia, verificou-se um número
expressivo de policiais com transtorno de estresse pós-traumático,
distúrbios da ansiedade pelos atendimentos de crimes que fazem
cotidianamente e pelos baixos salários que recebem mensalmente (USP,
2017).

2.1 Local de atendimento dos psicólogos


forenses
Os psicólogos forenses atendem junto aos presídios, aos centros de
socioeducação, delegacias, comunidades terapêuticas, clínicas-escolas e
clínicas particulares, laboratórios, programas de liberdade assistida,
abrigos, organizações não governamentais. Por seu trabalho de elaborar
laudos e pareceres, é possível que o psicólogo seja chamado para
testemunhar, falar sobre o andamento da terapia da criança abrigada, por
exemplo, não podendo se negar a dar essas informações, porque o cliente
do psicólogo forense é o Poder Judiciário, mesmo que uma criança
assistida, por exemplo, seja sua paciente.
Portanto, esse psicólogo pode atuar como perito, elaborando laudos da
saúde mental de envolvidos em ações penais, bem como trabalhar como
mediador em processos de conciliação cíveis. Exemplos: elaboração de
laudo de suspeito de crime; atendimento de menores e seus pais e/ou
representantes legais para determinação de guarda por motivo de divórcio.
Atenção! As prováveis áreas que o psicólogo jurídico na área forense
irá atuar quando dos processos judiciais são:
 Violência doméstica.
 Alienação parental.
 Mediação.
 Comportamento antissocial.
 Questões de guarda.
 Adolescentes em conflito com a lei.
 Violência sexual.
 Assédio moral.
 Crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional.
 Encarcerados.
 Entre outros.
Prestem atenção, estudantes!
A elaboração de laudos e pareceres desses psicólogos é de extrema
importância, porque influência na decisão judicial que leva um indivíduo à
prisão ou a uma instituição hospitalar própria para cumprimento de
medida de segurança.
Assim, é válido ressaltar que:
1. A medida de segurança é aplicada aos que praticaram crime e, por
serem portadores de doenças mentais, não podem ser considerados
responsáveis pelos seus atos, portanto, devem ser tratados e não
punidos.
2. A medida de segurança não é pena. É um tratamento a que deve ser
submetido o autor de crime com o fim de curá-lo ou, se for o caso de
doença mental incurável, a buscar por torná-lo apto a conviver em
sociedade sem cometer crimes.
3. O tratamento é feito em hospital de custódia, nos casos em que é
necessária internação do paciente, ou ambulatorial, com a
apresentação da pessoa durante o dia em local próprio para o
atendimento. O presídio não pode ser considerado estabelecimento
adequado para tratar esse doente (MATTOS, 2013).

3 A Psicologia Jurídica e os Direitos


Humanos
Os direitos das pessoas surgiram nas sociedades de acordo com as
necessidades de cada época, assim, as pessoas lutam pela efetivação dos
seus direitos conforme a demanda social. O primeiro registro de
documento que garantia direitos às pessoas é o código de Hamurabi, do
ano de 1694. Toda sociedade clama pelos direitos que entendem
necessários, por isso, o Direito é uma construção social, haja vista cada
Estado possuir o seu direito interno (FIORELLI, 2010).
As leis e normas de uma sociedade servem para disciplinar as relações de
identidade, cidadania e o respeito às diversidades existentes. A Organização
das Nações Unidas (ONU) aprovou em 10 de dezembro de 1948 a
Declaração dos Direitos Humanos, que dispõe sobre os direitos humanos
que constituem em direitos básicos e liberdades fundamentais
pertencentes a todos os seres humanos (ONU, 1948).
As aplicações de pena receberam também a inspiração dos direitos
humanos e, em 1984, no Brasil foi publicada a Lei de Execução Penal (LEP),
que além de prever a individualização da pena dos indivíduos, previu a
readaptação desses à sociedade, reconhecendo os direitos humanos e
garantindo assistência médica, jurídica educacional, social, religiosa e
material (BRASIL, 1984).
Para esse cumprimento de pena e a progressão de regime, será necessária
a intervenção da Psicologia, por meio do atendimento desses indivíduos
pelos psicólogos forenses que serão os responsáveis pela elaboração de
laudos e pareceres que analisem o comportamento dos sentenciados.
Esses laudos e pareceres serão juntados ao processo judicial que estará
então tramitando pela Vara das Execuções Penais, para que o juiz de direito
decida pela progressão ou não do regime de cumprimento de pena.
O Conselho Federal de Psicologia (2008) entende que a proposta principal
do sistema penal de ressocializar e reintegrar, punir e intimidar apresenta-
se como uma alternativa fracassada, pois a pena é cumprida de maneira
incongruente, tendo em vista as condições existentes nos estabelecimentos
prisionais. Os principais problemas apontados são os listados abaixo.
 Superlotações carcerárias.
 Violências exercidas entre os próprios detentos.
 Abusos de autoridades que estão relacionados aos maus tratos e às
torturas.
 A soma dos problemas descritos demonstra a inexistência de
garantia aos direitos humanos dentro do cárcere (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2008).

O mesmo Conselho entende ainda que a lei também não é cumprida


quando as estatísticas demonstram que o perfil dos indivíduos apenados é
na maioria de desfavorecidos economicamente, com pouca ou nenhuma
escolaridade, e do sexo masculino.
As penitenciárias no Brasil buscam o foco na ressocialização, resgatando o
direito de cidadão dos indivíduos apenados, visando colocar a Lei de
Execuções Penais em prática. Desse modo, o trabalho do psicólogo jurídico
está voltado para o fim de ressocializar esses
indivíduos, ressignificando suas vidas.

3.1. O trabalho do psicólogo jurídico junto aos


estabelecimentos prisionais
O trabalho do psicólogo jurídico junto às penitenciárias se conecta com a
área dos Direitos Humanos ao combater as formas de exclusões existentes
no sistema prisional, contribuindo para que a sociedade reflita sobre a
violação desses direitos.
A importância do trabalho do psicólogo dentro do sistema prisional visa
resguardar a subjetividade do indivíduo e o combate às violações dos
direitos humanos. A Psicologia desenvolve um trabalho amplo dentro das
penitenciárias. O psicólogo participa das Comissões Técnicas de
Classificação e trabalha junto aos presos, suas famílias, a comunidade e os
profissionais que atuam dentro da instituição prisional.
A intervenção do psicólogo dentro do sistema prisional está ligada
à atuação que busca promover mudanças satisfatórias em relação às
pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade e no sistema
como um todo. Conforme a Resolução do CFP 012/2011, para todas as
práticas realizadas dentro do âmbito do sistema prisional, o psicólogo
deverá visar ao cumprimento dos direitos humanos das pessoas em
cumprimento de pena privativa de liberdade, procurando construir a
cidadania e a reinserção na vida social (CONSELHO FEDERAL DE
PSICOLOGIA, 2011).
A Lei de Execução Penal (LEP) fundou as Comissões Técnicas de
Classificação (CTCs), formadas por uma equipe especializada, orientada
pelo diretor e composta por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um
psicólogo e um assistente social, devendo existir em cada estabelecimento
(BRASIL, 1984).
Conforme o artigo 9º dessa lei, cada membro da comissão deve contribuir
com seu saber, visando a um plano de individualização da pena do
indivíduo que está encarcerado para que se tenha um tratamento penal
adequado, podendo entrevistar pessoas, requisitar informações a qualquer
estabelecimento privado ou repartições, além de proceder a exames ou
outras diligências que se fizerem necessárias.
O artigo 6º da mesma lei informa que a CTC poderá elaborar o exame
criminológico, com a finalidade de estabelecer um programa
individualizado da pena privativa de liberdade adequado ao indivíduo
que está no sistema prisional.
O Conselho Federal de Psicologia entende que não cabe aos psicólogos
efetuarem qualquer tipo de parecer sobre a periculosidade das pessoas em
cumprimento de pena privativa de liberdade e sua irresponsabilidade
penal. O Conselho entende ainda que “desnaturalizar, ouvir, incluir,
respeitar as diferenças, promover a liberdade” são missões do psicólogo,
mas “classificar, disciplinar, julgar, punir” não são missões para o psicólogo
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2010, p. 55).
O mesmo Conselho, na Resolução 09/2010 regulamentou no artigo 4º que,
de acordo com a Lei nº 10792/2003, é vedado ao psicólogo atuante em
prisões realizar exame criminológico e participar de ações e/ou decisões
que envolvam a prática de caráter punitivo e também disciplinar. Mediante
conflitos existentes entre Poder Judiciário e CFP, foi elaborada a Resolução
nº 12/2011, que disciplina a atuação do psicólogo no sistema prisional.
Assim, de acordo com a Resolução 12, de 2011, do Conselho Federal de
Psicologia, no que se refere à elaboração de documentos escritos por
psicólogos com finalidade de auxiliar alguma decisão judicial na execução
das penas, não poderá ser realizada por profissionais psicólogos que atuem
como profissionais de referência para “o acompanhamento da pessoa em
cumprimento da pena ou medida de segurança, em quaisquer modalidades
como atenção psicossocial, atenção à saúde integral, projetos de reinserção
social, entre outros” (art. 4º).
Quanto aos encaminhamentos prestados pelo psicólogo jurídico no
sistema prisional, seguem os critérios a seguir.
1. Se o preso é analfabeto, o mesmo é dirigido à alfabetização.
2. Caso não tenha profissão, irá para um curso profissionalizante.
3. Caso tenha transtorno mental, irá para a avaliação psiquiátrica pelo
sistema único de saúde.
4. Caso tenha alguma doença, passará por avaliação médica
especializada.
5. Caso tenha histórico de abuso de drogas, poderá ser incluído em
grupos específicos da Psicologia, entre outros.

Segundo o Conselho Federal de Psicologia, o psicólogo deve prestar


atenção nas práticas realizadas dentro das comissões, opinando nas pautas
debatidas sempre de acordo com o Código de Ética Profissional,
evidenciando os instrumentos nacionais e internacionais de direitos
humanos, incentivando debates sobre “saúde, educação e programas de
reintegração social”.
A atenção individualizada ao encarcerado se refere a todo atendimento
“psicológico, psicoterapêutico, diálogo, acolhimento, acompanhamento,
orientação, psicoterapia breve, psicoterapia de apoio e atendimento
ambulatorial, os quais podem ser acrescidos de outros atendimentos”
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009, p. 19).
Conforme o Conselho Federal de Psicologia (2009), os atendimentos
individuais podem ser solicitados não só pelo próprio apenado como
também pelos funcionários da instituição prisional ou até mesmo pelos
familiares, pois esses atendimentos objetivam compreender os
encarcerados, avaliar sua saúde mental, dar acolhimento, escutar suas
demandas, promovendo saúde e defendendo os direitos humanos. Nesse
caso, podem também ser realizados plantões psicológicos. Essas
intervenções são realizadas de forma individual, visando a atendimentos de
emergência, e objetivam o acolhimento ao indivíduo que está cumprindo
pena.
 O atendimento psicológico, em geral, é valorizado pelos presos, pois
os mesmos passam a enxergar nos atendimentos um espaço que
oferece a eles uma reflexão sobre sua atuação como indivíduo, fato
que está oculto enquanto pessoas encarceradas, como também um
momento de privacidade, impossível de ocorrer no âmbito das
prisões.
 Os trabalhos realizados em grupo são, geralmente, uma
oportunidade de oferecer aos sentenciados algum tipo
de intervenção, pelo grande número pacientes e de poucos
profissionais da área atuando, podendo possibilitar aos presos um
espaço único de convivência onde troquem experiências. Esses
grupos podem surtir efeitos internos e, com isso, pode ser
transformada a forma como eles se relacionam com a sociedade.
 Os grupos dentro das instituições prisionais podem servir para várias
finalidades, dependendo das demandas apresentadas pelas pessoas
que estão em cumprimento de pena (CONSELHO FEDERAL DE
PSICOLOGIA, 2009).
 Os psicólogos que trabalham dentro do sistema prisional podem
também atuar juntamente aos familiares dos indivíduos
encarcerados. Essa intervenção pode ser por meio de entrevistas,
que geralmente têm objetivo de se obter uma melhor compreensão
do caso de cada indivíduo atendido e do encarcerado. Os psicólogos
jurídicos oferecem, nesse caso, o trabalho de acolhimento e escuta,
pois muitas vezes os familiares não aceitam a situação, como
também podem ser realizados atendimentos para compartilhar
informações sobre o preso (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA,
2009).
 No mesmo sentido que o Conselho Federal de Psicologia, a Lei de
Execução Penal de 1984 já previa em seus artigos 25, 26 e 27 a
assistência aos egressos do sistema prisional, orientando e apoiando
na reintegração à vida social. É dever dos profissionais capacitados
colaborarem para que o egresso consiga ser empregado e são
considerados egressos todos os indivíduos liberados do sistema
prisional até um ano após esse fato, e os que são liberados
condicionais e estão no período de prova (BRASIL, 1984).

Conforme o Conselho Federal de Psicologia (2008), não se vê o


cumprimento da lei em todo o Brasil, uma vez que muitos egressos não
possuem nem a passagem de ônibus quando retornam à sociedade e
deveriam ser auxiliados com alimentação e abrigo quando deixam o
sistema prisional e, posteriormente, na busca pelo emprego. É necessário e
urgente que o Brasil viabilize a construção de um programa nacional de
apoio aos egressos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2008).
O objetivo de um programa para atender a população egressa no Brasil
deve focar em primeiro plano na promoção da reintegração do egresso à
sociedade e, posteriormente, na diminuição da reincidência. A forma
mais eficaz disso acontecer é colaborar para que o egresso gere sua própria
renda de forma legal, facilitando a reintegração dele no contexto da família
e da sociedade.
O mesmo Conselho entende que o trabalho com os egressos
apresenta desafios, pois existem preconceitos para serem vencidos, tanto
da comunidade como dos familiares, dificultando a reabilitação social, além
da grande falta de políticas públicas nessa área. Contudo, muitos são os
caminhos desenvolvidos para lidar com esse desafio da reintegração dos
egressos na sociedade, tais como os listados abaixo.
 A resolução das lacunas inerentes à baixa escolaridade.
 A falta de documentação.
 A conscientização e responsabilização da comunidade como um todo
para a ressocialização dos egressos (CONSELHO FEDERAL DE
PSICOLOGIA, 2009).

Conforme o mesmo Conselho, no Brasil não se acredita na readaptação das


pessoas que passaram pelo sistema prisional. Desse modo, o papel da
Psicologia Jurídica vai além dos atendimentos para elaboração de pareceres
e laudos sobre o comportamento dos presos, no caso do sistema prisional,
mas também uma concatenação de valores para o trabalho com os direitos
humanos.
Os psicólogos jurídicos que atuam nos tribunais, chamados psicólogos
forenses, participam de mediações e conciliações. Atualmente, há uma
nova aplicação nas conciliações judiciárias de conflitos familiares,
determinada de constelações familiares.

O termo “Direito Sistêmico”, o qual atua com as constelações familiares, é a


denominação criada pelo juiz de direito Dr. Sami Storchi para denominar a
aplicação desse método no judiciário, idealizado por Bert Hellinger.

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