AMORC O Simbolismo Do Escaravelho

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O Simbolismo do Escaravelho

A palavra escaravelho vem do vocábulo latino scarabaeus, e se refere a um pequeno


inseto, um besouro, natural da região do Nilo. Plínio, historiador antigo, declara: “grande
parte do Egito adorava o escaravelho como um dos deuses do país; uma curiosa razão
para isto é apresentada por Apion, como desculpa para os ritos religiosos de sua nação (a
de que a esse inseto é atribuída alguma semelhança com as funções do
Sol).”

O fato de que as multidões do Egito adoravam o escaravelho,


em si mesmo, ou o consideravam uma deidade, não implica
em que tinha ele o mesmo significado para todas as classes de
pessoas do Egito Antigo. Os sacerdotes e os membros das escolas
de mistério constituíam a classe mais culta dessa época, aquela
que tinha mais instrução e um conhecimento especializado de
questões religiosas e místicas. Para essas pessoas, o escaravelho
exemplificava ou simbolizava certas doutrinas e crenças, não
sendo glorificado, isto é, deificado, em si mesmo.

Não havia um significado único, universal, para o escaravelho, o que indica que ele
representava coisas diferentes para as várias classes egípcias, durante toda a longa história
do Egito. Era ele, por exemplo, um símbolo do sol e, portanto, consagrado ao deus do sol.
Representa esse deus, sendo muitas vezes apresentado com asas, numa alusão à passagem
do sol pelo firmamento. Outras representações do deus do sol mostram-no segurando
um globo solar no céu. Este globo era sugerido pela bola de excremento que se podiam
ver os escaravelhos frequentemente rolando. O
escaravelho era também visto “alto no firmamento
com aquele astro”. Às vezes, algumas figuras são
representadas orando a ele, como símbolo do deus
do sol.

O escaravelho é também apresentado em


inscrições antigas, como um símbolo do mundo.
Assim como Ptah, o deus patrono dos artesãos, era
considerado o criador e a força criadora do mundo,
assim também era o escaravelho tido como o seu
emblema. Isto ocorria especialmente na cidade de
Mênfis, onde Ptah representava o deus do sol.

Diz Plutarco, renomado biógrafo e historiador:


“o escaravelho, sendo símbolo de virilidade e força
masculina, era gravado nos escudos dos soldados
egípcios”. Eles acreditavam que “não existiam

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fêmeas nesta espécie de besouros, e sim que eram todos machos”. Tanto os machos como
as fêmeas rolavam em bolas de excremento; portanto, nenhuma distinção aparente era
feita pelos egípcios antigos, quanto ao sexo desse besouro.

A verdade é que a bola de


excremento é utilizada como alimento
pelo escaravelho. A fêmea põe
somente um ovo, que é depositado
nesse excremento. Aparentemente,
ignorando estes fatos, os egípcios
pensavam que o escaravelho
era “autogerado, como o sol”.
Mesmo posteriormente, os cristãos
relacionaram ao Cristo esta suposta
autocriação. Santo Ambrósio, em
sua explanação dos Evangelhos de
São Lucas, refere-se ao Cristo como
“o bom escaravelho”, ou como “o
escaravelho de Deus”.

O fato é que aquele besourinho,


rolando na grande bola de
excremento, sugeria para o egípcio comum “a maneira como a Grande Bola do Sol era
rolada pelo céu”. Para essas mentes, ele exemplificava o poder do Sol.

De que modo era o significado do escaravelho usado pelo povo? Como o aplicava ele à
sua vida? Alguns dos primeiros egiptólogos formularam a hipótese de que o escaravelho
poderia ter sido usado como um tipo de dinheiro. Esta suposição já foi rejeitada. A grande
variedade de escaravelhos artificiais, em diferentes cores e tamanhos, indica que eles
nunca foram empregados dessa maneira. Além disso, não existe fato algum para apoiar
essa teoria.

Os escaravelhos eram apoiados, principalmente, como um tipo de joia, em colares, anéis


e outros tipos de adornos. Muitos desses emblemas autênticos datando de milhares de anos
atrás, podem ser visto no Museu Egípcio Rosacruz, no Parque Rosacruz; eles têm grande
valor histórico. Os escaravelhos eram ainda empregados para fins de funeral. Escaravelhos
alados ou peitorais, eram colocados sobre o coração do corpo embalsamado, no sarcófago
(esquife da múmia). Os maiores desses escaravelhos traziam preces ou invocações inscritas
nas costas. Os alados eram usados somente em corpos embalsamados, nos arranjos
fúnebres mais caros.

Os escaravelhos não eram venerados apenas enquanto vivos; eram eles embalsamados
após a morte. Muitos foram encontrados nas tubas de Tebas, outrora grande capital do
Egito. Como já dissemos, o escaravelho foi muito venerado em Mênfis, onde Pitah, o grande
artesão, criador do mundo, era adorado. Foi ele também reverenciado em Heliópolis, onde
reinava o deus do sol.

Interessa particularmente aos Rosacruzes e aos místicos de modo geral, o simbolismo


mais profundo, místico, atribuído ao escaravelho. Para os egípcios mais esclarecidos das
escolas de mistério, o escaravelho alado era colocado sobre o coração do morto como um

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“símbolo da vida que sempre se renova”.

Em outras palavras, o escaravelho,


parecendo renovar a sua própria
existência da bola de excremento
que rolava, sugeria a ressurreição,
a vida que sempre se renova. Aí
estava um símbolo da ideia de que o
homem nunca morre definitivamente,
mas possui em sua natureza interior
(como aparentemente ocorria com o
escaravelho) os meios para renovar
sua existência em um outro mundo.
Faziam-se preces em favor dos
mortos, com a intenção de que, “com
a ajuda do escaravelho colocado
sobre o seu coração, obtenha o
morto julgamento justo na Câmara
da Dupla Verdade, a fim de que
os poderes do mundo interior não
prevaleçam contra ele…”

Foi este simbolismo do poder de renovação da vida e da ressurreição, que se perpetuou


com o escaravelho como um emblema, para as escolas tradicionais, esotéricas, dos tempos
atuais. Todos os outros significados do escaravelho foram desprezados, como superstição.
A cruz cristã oferece um exemplo análogo. Muitos significados são atribuídos à cruz, como
um símbolo; muitas existiam séculos antes do advento do cristianismo. No entanto, o
cristianismo atribuiu a uma certa cruz o seu próprio significado, desprezando os demais,
embora alguns desses fossem igualmente dignos de serem conhecidos.

Como um rei ou faraó era considerado um ser divino, então, acreditava-se que o seu
nome tinha um certo poder, em si mesmo. Consequentemente, muitos escaravelhos que
pertenceram aos povos de diferentes épocas trazem
inscrições relativas ao faraó reinante, devido a esse poder
que, conforme se acreditava, seu nome possuía.
Há no Museu Rosacruz muitas centenas de
escaravelhos, e muitos contêm os nomes do rei da
época em que foram feitos. Embora alguns desses
escaravelhos fossem propriedades dos próprios
reis, a maioria pertencia ao povo. Hoje em dia,
analogamente, existem amuletos religiosos contendo
nomes de santos, que o povo usa por causa do poder
que acredita que eles manifestam. Isto não significa
que esses amuletos tenham jamais sido feitos pelos
santos cujos nomes trazem inscritos, ou lhes tenham
pertencido.

Quanto ao besouro em si, parece que havia três espécies. Uma se assemelha
grosseiramente com o gato e era talvez relacionada com o sol, porque “a estátua da
deidade de Heliópolis tinha forma de gato…” A segunda, consagrada à lua, tinha dois

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chifres e acreditava-se que tivera as características do touro. A terceira um só chifre “e
supõe-se que, como a Íbis, referia-se a Mercúrio”.

Os escaravelhos artificiais eram feitos de vários materiais. Muitos eram feitos de


esteatita, uma pedra mole, cinzenta, que era frequentemente escurecida. Mais ou menos
na Quinta Dinastia, quando a vitrificação se tornou popular, muitos escaravelhos foram
vitrificados. Durante o reinado de Tutmose I, a faiança também se popularizou, de modo
que se tornaram comuns os escaravelhos deste material, coloridos de verde e azul. Todavia,
embora atraentes, quebravam-se facilmente. Escaravelhos mais duradouros eram feitos de
uma pedra dura, a coralina; estes surgiram aproximadamente na Sexta Dinastia e foram
usados como sinetes. Escaravelhos mais elaborados e de maior valor intrínseco eram feitos
de ametista, com base de ouro maciço; outros eram manufaturados com materiais como
jaspe, basalto, obsidiana, ouro e electro.

Naturalmente, o uso mais comum dos escaravelhos era como amuletos. As mulheres
usavam escaravelhos que traziam preces para o parto feliz de crianças perfeitas. Os homens
os usavam por vários motivos. Alguns dos seus escaravelhos continham orações “para que
seus nomes se conciliassem no país e seus lares perdurassem”. Os piedosos peregrinos e
relicários sagrados, usavam-no como amuletos protetores e como inspiração para sua vida,
assim como os cristãos usam os seus amuletos.

Enormes escaravelhos de pedra foram erigidos como monumentos, nos Templos. No


Museu Britânico há um exemplar de um desses grandes escaravelhos de templos; é de
granito verde e tem, aproximadamente, 1,5m de comprimento, 0,85m de altura e 0,86m
de largura.

Modernamente, os Rosacruzes usam o escaravelho somente para perpetuar um símbolo


antigo, que representa uma inspirada doutrina das primeiras escolas de mistério egípcias
(a imortalidade do homem ou a renovação da vida).

* Texto extraído do Fórum Rosacruz Vol. 1 nº 05 de 1969

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