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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II

AULAS PRÁTICAS │ DRª MARIA MANUEL VELOSO


25/03/2020

Vamos estudar a responsabilidade civil. De seguida vamos falar do cumprimento e incumprimento das
obrigações. Também dos modos de transmissão e extinção das obrigações.

Responsabilidade civil

✓ Temos um balanço entre a responsabilidade e a liberdade de atuação.


✓ Trata-se de uma fonte de obrigações legais. A obrigação legal é a obrigação de indemnização.
✓ A nossa primeira preocupação é desde logo explicar quais os tipos de responsabilidade civil.
✓ Quanto ao fundamento da responsabilidade civil sabemos que é uma ideia de compensação do dano.
o Compensação essa que em primeira linha levava a que o lesado fica-se neutro, ou seja, como
se não tivesse sofrido qualquer dano. 1
o Por vezes, o lesado em virtude do dano que sofreu não pode sofrer uma total reparação, por
exemplo, no caso da morte. Temos uma satisfação indireta do lesado.
o Essa compensação muitas vezes não é possível quando os danos são danos futuros de
compensação, por exemplo uma criança de 7 anos que é atropelada, não sabemos o que ia
fazer no futuro, só uma previsão “muito tosca”, é que poderia; é apenas uma mera
aproximação.
✓ A responsabilidade civil não se esgota na ideia de compensar o dano. Temos por um lado, a ilicitude
e ainda a ideia em que existe uma prevenção geral e uma prevenção especial.
✓ A responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva:
o Responsabilidade subjetiva: temos um agente que responde em virtude de um ato culposo;
a culpa é fundamento e qualidade essencial. Esta é a REGRA no nosso ordenamento jurídico,
art. 483º/2 CC.
o Responsabilidade objetiva: é uma responsabilidade independente da culpa do agente. Além
de ser EXCECIONAL.
▪ Os casos de responsabilidade objetiva tem de estar na lei, art. 483º/2 CC, “nos casos
especificados da lei” - danos causados por veículos de circulação terrestre; a
responsabilidade do promitente, art. 500º CC; responsabilidade do estado, art. 501º
CC; danos causados por instalações de energia elétrica ou gás, art. 509º CC; a
responsabilidade do produtor não está no CC e é na mesma uma situação de
responsabilidade- está tipificada.
▪ É uma responsabilidade circunscrita, por duas vias:
• O próprio legislador considera em alguns artigos os danos em consideração.
Exemplo: os danos nos animais, o legislador quis circunscrever; art. 503º/1 CC
“danos provenientes dos riscos próprios do veículo”
• Intervenção legislativa no sentido de criar limites: art. 508º/1 CC- a obrigação
de indemnização não pode ir para além de determinado valor.
o *Na responsabilidade subjetiva temos o ressarcimento de todos os
danos.
o *Na responsabilidade objetiva temos um limite que constituiu uma
vantagem para o lesante, seria muito oneroso para o próprio lesante,
uma indemnização sem a atender que ele está a atuar sem culpa.
▪ A figura do seguro obrigatório quer proteger não só lesado, mas também o lesante
que agiu sem culpa. Como o caso dos veículos de circulação terrestre.
✓ A responsabilidade objetiva surgiu no âmbito dos acidentes causados nas minas, nos acidentes
causados pelos veículos ferroviários- na área laboral. O que está em causa é uma situação de
responsabilidade sem culpa.
✓ Podemos ter dentro da responsabilidade objetiva, determinadas modalidades- art. 499º e ss CC:

Mariana Freitas
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o Responsabilidade pelo risco: é apenas uma modalidade da responsabilidade objetiva. O que
está em causa é a criação de um risco.
o Responsabilidade por factos lícitos: o facto é lícito, mas pode causar danos, pode dar lugar a
indemnização.
▪ Exemplo: um autor que tinha tido simpatias pelos ideias comunistas e depois tomou
outra ideologia totalmente diferente, quer que se retire do mercado os antigos livros
relativos aos seus anteriores ideais- temos aqui o direito de retirada. A questão é a
seguinte tendo ele exercido esse direito, é lícito, mas terá de indemnizar os livreiros.
o Responsabilidade pela equidade: responsabilidade dos inimputáveis (não respondem pelos
danos que causam, mas em determinadas circunstâncias podem responder), o seu
fundamento é a equidade.
o Outras por vezes tem fundamentos diversos. Como no caso dos ensaios clínicos- são 2
obrigados a responsabilidade sem culpa. Para o caso dos utentes que vão fazer os ensais
clínicos; os danos são compensados sem culpa do agente. Existe responsabilidade objetiva
pelos danos que surjam durante este, perante o promotor do ensaio, entre outros.
o Temos a responsabilidade pelo sacrifício: é o caso da expropriação.
o Danos no âmbito das relações de vizinhança
✓ Como o legislador diz no art. 499º CC: “São extensivas aos casos de responsabilidade pelo risco, na
parte aplicável e na falta de preceitos legais em contrário, as disposições que regulam a
responsabilidade por factos ilícitos”.
o Não se aplicam as normas relativas à culpa. Não tem sentido. Como um acidente de viação
onde não existe culpa, em 2012, vamos aplicar a regra do art. 498º CC, 3 anos, a não ser que
o sujeito estivesse em coma. Estamos perante a possibilidade de convocar a responsabilidade
por factos ilícitos.
✓ Temos de distinguir responsabilidade extracontratual e responsabilidade contratual
o Devíamos dizer obrigacional e extraobrigacional.
▪ O que está em causa na extraobrigacional, danos provenientes de direitos absolutos.
▪ Na obrigacionais estão em causa direitos obrigacionais; estão em causa a violação de
obrigacional contratuais ou legais. Distinguem-se pelo tipo de direito em causa.
o Utilizamos expressões contratual e extracontratual.
o Distinguimos porque correspondem a regimes diferentes, quer haja responsabilidade
extracontratual ou contratual, a consequência é a indemnização. Todavia, em PT foi sempre
tradicional distinguir-se este tipo de responsabilidade.
▪ Extracontratual: não existe uma relação prévia com os sujeitos. Pode haver
responsabilidade extracontratual objetiva.
• Encontramos a violação de direitos absolutos. Temos ilicitudes diferentes.
▪ Contratual: temos uma relação prévia com os sujeitos. É uma obrigação de
indemnização que surge com alguma ligação com a relação anterior, na prestação
inicial. Se temos uma relação prévia as partes podem definir como se vão indemnizar.
Temos uma relação prévia. Temos de destacar esta diferença estrutural. Não só a
consequência é a mesma, como no direito português, a consequência é próxima,
porque se aplicam as mesmas regras a um e outro, invocamos o art. 562º e ss CC,
aplica-se a qualquer uma das duas responsabilidade. Se houver uma clausula penal
que decorre do contrato de uma estante, convoca-se essa situação.
• Encontramos a violação de direitos relativos.
o As duas responsabilidades assentam em direitos absolutos ou relativos:
▪ Direitos absolutos: direitos de personalidade, direitos reais e os direitos de autor na
sua vertente pessoal/patrimonial. Têm eficácia absoluta podem ser invocados contra
qualquer terceiro. Os direito familiares pessoais, por exemplo, o caso de alguém ter

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uma relação extraconjugal, nessas circunstâncias podemos questionar se os terceiros
tem ou não a obrigação de indemnizar. Atualmente, a questão de saber se os direitos
familiares tem natureza absoluta, é maioritariamente negativa; Pereira Coelho refere
que são direitos de soft law.
▪ Direitos relativos: por força da atipicidade todos nós podemos criar um direito
relativo. Numa mesma situação por vezes surge a violação de direitos absolutos e
relativos.
• No caso da responsabilidade médica, temos um direito absoluto como a
integridade física e um direito relativo como o contrato.
o Qual a opção do nosso ordenamento jurídico?
▪ Esta questão só tem interesse porque depois o regime nos vai
apresentar regras diferentes. 3
▪ O curso defende a teoria da opção, o lesado por escolher o
regime mais favorável.
▪ O STJ acaba por considerar que existe com que uma absorção
do regime da responsabilidade contratual (é mais específico),
a teoria do não cúmulo, não temos opção.
▪ Almeida Costa defendeu desde sempre a teoria da absorção.
✓ Vamos destacar diferenças na responsabilidade extracontratual e contratual em termos de regime:
o Ónus da prova da culpa
▪ Regra geral: o ónus da prova recai sobre o sujeito que alega o direito, dai seria o
lesado que teria o ónus da alegação e da prova.
▪ Extracontratual: se analisarmos o art. 487º/1 CC, responsabilidade extracontratual, é
o lesado porque é ele que alega o direito, é igual à regra geral.
• Esta comporta exceções, podemos ter presunções legais de culpa, como o
art. 491º CC (exemplo uma criança com uma pedra destrói o carro do vizinho,
temos alguém que tinha obrigação de vigilância, presume-se a culpa); art.
492º CC, temos mais uma presunção legal; art 493º CC, no número 1 temos
uma presunção de culpa, relativamente aos danos a vigilância; no número 2
está em causa a existência de atividades perigosas, exemplo, a extração do
dente do siso.
▪ Contratual: art. 799º/1 CC incumbe ao devedor/lesante, tem de provar que agiu sem
culpa. Temos uma presunção de culpa do lesante ou devedor.
• Essa é afastada, quando o sujeito provar que agiu de forma adequada.
• A sua posição é de desvantagem, é ele próprio que tem de provar que tem de
provar que agiu bem. Se o lesante não conseguir afastar a presunção de culpa,
o juiz vai considerar-lhe culpa.
o Prescrição
▪ Extracontratual: art. 498º/1 CC, é de 3 anos desde o conhecimento do lesado do
direito de indemnização.
• Exemplo: o sujeito sofreu uma lesão em criança e só mais tarde efetuou o juízo
casual entre o acontecimento e a lesão, só a partir do momento em que teve
o conhecimento é que conta.
• É curto:
o Porque como as partes não tem uma relação prévia, quanto mais
tempo passar, mais difícil é lembrar
o A distância temporal mina a realização da prova.
o É de motivar estes lesados a reagirem. O facto de termos um prazo
curto faz as pessoas reagirem.

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• Este prazo não obsta a aplicação do prazo geral.
▪ Contratual: é 20 anos. As principais reformas no direito da responsabilidade civil no
direito europeu, o direito francês queria aproximar estes prazos.
o Pluralidade de responsáveis
▪ Extracontratual: art. 497º CC; é solidária, os dois lesantes respondiam solidariamente.
O lesante pode exigir de cada um deles a totalidade da indemnização. O art. 497º/2
CC fornece uma solução
▪ Contratual: a regra só haverá solidariedade se estiver prevista na lei ou de correr da
vontade das partes. Art. 513º CC, respondem conjuntamente.
o Capacidade
▪ Extracontratual:
• Capacidade negocial: só pode responder o sujeito que for imputável- art. 4
488º/1 CC.
• Capacidade delitual: o sujeito é imputável se tiver capacidade de entender os
seus atos (intelectual), se ele consegue autodeterminar-se (volitiva). O
legislador presume a inimputabilidade nos menores de 7 anos, art. 488º/2 CC.
o Antes tínhamos aqui também os interditos por anomalia psíquica.
Agora só se presume a imputabilidade dos menores de 7 anos. É um
presunção ilidível, mas será raro encontrar uma situação em que o
lesado está interessado a provar que o menor era imputável.
• NOTA: Na capacidade delitual queremos saber se o sujeito é imputável. Na
capacidade contratual, queremos saber se celebrou contrato válido e não
cumpriu.
▪ Contratual: se queremos determinar se um sujeito é responsável, temos de saber se
o contrato é válido, tem de ter capacidade de exercício.
o Responsabilidade por facto de terceiro
▪ Regime do comitente, art. 500º CC, os requisitos são diferentes; são requisitos mais
exigentes; responsabilidade extracontratual.
▪ Art. 800º CC, é uma responsabilidade mitigada apesar de objetiva; responsabilidade
contratual.
o A lei competente
o As regras de competência processual
▪ Em função das regras que cada pais determina. São as diferenças aceites.

01/04/2020

Só pode haver responsabilidade se houver imputabilidade:

✓ Temos uma salvaguarda, para casos de responsabilidade de pessoa não imputável, art. 489º CC, os
inimputáveis podem indemnizar.
o É uma responsabilidade excecional, funda-se na equidade.
o É subsidiária (só existe esta se não se conseguir a indemnização por parte dos vigilantes), esta
pode não ser uma responsabilidade por todo os danos, pode ser parcial. Não vai responder
por todos os danos, é uma forma de proteger todos os interesses.
o Temos também uma proteção do lesado no montante do quantum indemnizatório, art.
489º/2 CC, a indemnização não pode condicionar a obrigação de alimentos.

Art. 494º e 496º CC só se aplicam à responsabilidade civil extracontratual. Na responsabilidade contratual não
aplicamos esses artigos. Temos uma afinidade, estamos a falar da indemnização.

Art. 494º CC é uma norma que permite ao julgador diminuir a indemnização em caso de mera culpa.

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o Se não houver dolo (mera culpa), pode o legislador entender que o lesante não vai inde mnizar
todos o valor dos danos. Exemplo: se alguém causou o dano de 4 mil €, pode o julgador decidir
que o lesante não teve dolo, pode pagar menos.
o Está em causa a mitigação, a diminuição da indemnização se houver mera culpa, desde que
haja justificação.
o Quando temos um dano temporário, temos a possibilidade de mitigação.
o Em que medida é que ele pode ser lido como apenas aplicando-se à responsabilidade
extracontratual?
▪ Antunes Varela defende esta, considera que este artigo só se aplica a
responsabilidade extracontratual.
▪ Paulo Mota Pinto diz que se pode aplicar quer em sede de responsabilidade
extracontratual e contratual. 5
▪ Argumenta:
• Argumento da ordem sistemática: este insere-se na secção da
responsabilidade extracontratual; se o legislador tivesse desejado que fosse
uma solução genérica, tinha posto na secção de obrigação.
• Argumento de ordem substancial: não aplicamos à responsabilidade
contratual; é no fundo o seguinte, se se aplicar este artigo seria defraudar
expectativas do credor.
o Porque na responsabilidade contratual, o credor tem no fundo
expectativas de receber prestação ou em caso de incumprimento
receber um sucedâneo. Quando pode receber um valor inferior,
estamos a defraudá-lo. Nesta os sujeitos sabem quais os valores da
prestação, sabem as consequências.
o Na extracontratual não existe a hipótese de tutela.

EM SUMA: O art. 494º CC não se aplica responsabilidade contratual porque de acordo com a ordem
sistemática foi pensado para a responsabilidade extracontratual e aplicá-lo defraudaríamos as expectativas do
credor.

Art. 496º CC vamos afastarmo-nos da posição de Antunes Varela.


o No nº1 “na fixação da indemnização deve atender-se aos danos não patrimoniais que, pela
sua gravidade, mereçam a tutela do direito”:
▪ Portanto se houver violação da honra não existe dúvida de que existe sempre a
compensação de danos patrimoniais desde que se apresentem com alguma
gravidade.
▪ Este artigo aplica-se em sede de responsabilidade civil contratual:
• Exemplo 1: Uma empresa contratada para um casamento em que todos os
convidados ficaram maldispostos, aí a jurisprudência diz que houve interesses
imateriais, como a memória.
• Exemplo 2: No caso de um contrato de prestação de serviços médicos
podemos configurar a existência de interesses imateriais. O próprio contrato
protege interesses imateriais.
o Antunes Varela entendia que o art. 496º CC não podia ser invocado em sede de
responsabilidade contratual. Argumentos:
▪ 1) Aos factos ilícitos não se aplicava a responsabilidade contratual.
▪ 2) A razão substancial, uma questão de uma extensão desmedida.
• Exemplo alguém comprou um plasma, nesta situação se não lhe entregaram
o plasma e não poder ver o jogo para o qual comprou o plasma, temos aqui a

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violação do interesse imaterial. Mas será que a lei atende ao dano não
patrimonial, não porque não é grave; não é convincente.
▪ 3) Se realmente adotarmos esta solução é porque esta solução é também do BGB, o
direito alemão influenciou muito.
• O BGB foi alterado nesta matéria e alterou-se esta solução estrita relativa a
danos não patrimoniais. Daí que o argumento de Antunes Varela caiu por
terra.

Este artigo 496º CC tem aplicação genérica, aplica-se em ambas as responsabilidades. Se existir danos
corporais, temos contratos onde existe a proteção de interesses imateriais, implica o respeito pela saúde
integridade física do cliente, este artigo também se aplica a responsabilidade extracontratual.

Concurso de responsabilidades 6

Se tivermos um concurso de responsabilidades, se na mesma situação temos os pressupostos da


responsabilidade contratual e extracontratual. Exemplo: alguém através de uma bebida quente que está a
comprar e se queima com gravidade, temos a violação da integridade física e do contrato. Qual a solução?

✓ Na realidade não existe qualquer regra no CC, quanto ao concurso de responsabilidade s.


✓ O curso defende que o lesado pode optar entre o regime da responsabilidade contratual e o da
extracontratual, opta em função daquilo que for mais favorável.
o Exemplo: Se o caso ocorreu há mais 5 anos, se for pela extracontratual perde, porque o prazo
é 3 anos. Se optar pela contratual tem 20 anos. A mais favorável é a contratual.
✓ Pinto Monteiro refere que é possível o lesado escolher as normas mais favoráveis em cada regime.
✓ Temos outra teoria que refere que o regime da contratual é mais específico, absorve o da
responsabilidade extracontratual.
✓ Na teoria do non-cumul vamos aplicar o regime da responsabilidade contratual, temos a relação
entre as partes. Em PT muito tempo seguimos a posição da escolha do regime.
✓ Acórdão do STJ 22/03/2018, é um caso de responsabilidade médica e a questão que se colocava era
contra quem íamos propor a ação; temos o concurso de responsabilidade contratual e extracontratual.
o O STJ opta pelo regime da responsabilidade contratual é mais conforme ao regime da
autonomia privada e tem uma tutela dos particulares mais efetiva. De acordo com esta
decisão é claro a opção da teoria do não cumul.
✓ Almeida Costa defendeu desde sempre a teoria do non-cumul.
✓ O regime da responsabilidade contratual é mais favorável, porque não tem de provar a culpa do
lesante e o prazo é mais amplo.

NOTA: Perante um caso de responsabilidade civil, a principal preocupação é qual a modalidade em que insere.

Responsabilidade por factos ilícitos

Pressupostos: facto; ilicitude; nexo de ligação do facto ao agente; nexo de ligação por parte do facto ao dano;
dano. Artigo 483º CC e ss CC; Na objetiva não temos culpa.

➔ Facto

É o comportamento humano voluntário, que pode ser uma ação ou omissão.

✓ Exemplo: Se alguém vai passear o cão e ele morde alguém. Vamos encontrar o comportamento
humano voluntário, que pode ser uma omissão.
✓ Exemplo: No caso do suicídio se alguém se apercebe que existe a alguém a suicidar-se. Pode ter de
indemnizar? Não porque não existe qualquer dever de intervenção.
o Só existe responsabilidade por omissão se existia o dever legal de agir.

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Quais são requisitos que tem de se verificar no casos de omissão?

✓ Art 486º CC- só existe responsabilidade por omissão se o lesante tinha o dever jurídico de praticar o
ato omitido.
✓ Onde surge o dever jurídico de agir? Na lei, mas também no negócio jurídico (por exemplo, se alguém
deixa os filhos no infantário, aí existe o dever de vigiar as crianças).
o Temos de pensar ainda em deveres que resultam da prevenção geral do tráfego, que são só
deveres de cuidados, sempre que alguém pode evitar o dano; situações em que se criou o
risco e onde se pode controlar o risco.
➔ Ilicitude

É em termos gerais uma contrariedade ao direito.


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Para efeitos de responsabilidade civil, não basta esta solução geral temos de convocar as várias modalidades
de ilicitude, como:

✓ A violação de direitos absolutos:


o Personalidade: honra, imagem, …
o Reais: usufruto, propriedade, …
o Autorais
o Antunes Varela refere que também existem direitos familiares que também tem proteção
absoluta, como o dever de fidelidade; um terceiro que contribuir para a violação do dever de
fidelidade também pode ser responsável. Não é essa a posição adotada em PT, consideramos
esse dever como soft law.
✓ Violação de uma disposição legal destinada a proteger interesses alheios:
o A outra vem prevista no art. 483º CC, se estiverem em causa a violação de uma norma legal
de proteção que protege interesses particulares podemos convoca-la para efeitos de
responsabilidade.
o Temos de encontrar como base não uma relação particular, mas temos de ter norma com
carácter geral. Temos de analisar o âmbito material, pessoal da norma.
o Exemplo: o sinal de STOP é a manifestação física de uma norma legal.
o Se houver uma norma de proteção violada, pode ocorrer uma presunção judicial de culpa.
Defendida na tese de doutoramento de Pinto Monteiro.
✓ Abuso do direito:
o O abuso de direito, art. 334º CC é no fundo a obrigação de indemnização.
o Este tem 2 sanções:
▪ Paralisação do direito (tem o direito, mas não o pode exercer)
▪ Indemnização

Factos ilícitos especialmente previstos na lei:

O legislador tem casos especiais de ilicitude:

✓ Factos ofensivos do crédito ou bom nome das pessoas, art. 484º CC


✓ Conselhos, recomendações ou informações geradoras de danos, art. 485º CC
✓ Omissões, art. 486º CC

Causas de exclusão de ilicitude:

Ou seja, temos um ato ilícito, mas por força de algumas normas legais, esse ato ilícito é tido como lícito. Temos
situações em que nos deparamos com factos que excluem a ilicitude como:

✓ Ação direta (art. 336º CC)


✓ Legitima defesa (art. 337º CC)

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✓ Estado de necessidade (art. 339º CC)
✓ Assunção do risco ou consentimento do lesado (art. 340º CC): se alguém participa numa atividade
desportiva de risco não existe uma prévia aceitação de levar caneladas; o facto de participar nessa
atividade faz com que assuma o risco dessa atividade, desde que o risco surja no âmbito da atividade.

NOTA: A responsabilidade por ensaios clínicos é uma forma de responsabilidade objetiva.

15/04/2020

Caso 1

A, de oito anos, empurrou com força exagerada um baloiços (chamados cavalinhos), causando a queda de
B, de seis anos (e o choque com baloiço posterior). Os baloiços encontravam-se no logradouro de um OTL
(ocupação de tempos livres), e as crianças estavam no preciso momento a ser repreendidas por funcionária 8
por as atividades estarem já a começar.

B sofreu graves lesões físicas (passando a depender de cadeira de rodas) e foi acompanhado por psicólogos
face ao trauma causado.

Os seus pais intentam a ação em nome de B e em seu próprio nome (pelo sofrimento causado pela situação
do filho) contra A, seus pais, a funcionária e a OTL, invocando que em causa se tratava de danos causados
no exercício de uma atividade perigosa.

Quid iuris?

Qual a modalidade de responsabilidade? Extracontratual. Porque está em causa ocorrência de danos por
violação de danos absolutos, nomeadamente o direito à integridade físico-psíquica.

NOTA: Neste caso, como temos vários lesantes, quanto a cada um deles deve delimitar-se os pressupostos da
responsabilidade.

Quanto a A:

✓ Há realmente um facto.
✓ Há ilicitude (contrariedade ao direito; violação de direitos absolutos, art. 483º CC; violação de
disposição legal ou abuso de direito).
✓ Nexo de ligação do facto ao agente:
o Haverá imputabilidade? A imputabilidade significa que o sujeito tem de ter capacidade
intelectual e capacidade volitiva – art. 488º CC.
▪ São inimputáveis os menores de 7 anos. No nosso caso, a criança já tem 8 anos, logo
já seria imputável.
o Culpa:
▪ O padrão que adotamos para saber se existe culpa é a pessoa sensata, abstrata e
diligente às circunstâncias do caso – critério da apreciação da culpa em abstrato, art.
487º/2 CC “a culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela diligencia de um
bom pai de família, em face das circunstâncias de cada caso”.
▪ Será muito difícil chegar a conclusão de que uma criança da mesma idade ser sensata,
abstrata e diligente, dai se concluir que A age sem culpa.
▪ Assim, não será ele o responsável, não por inimputabilidade, mas por falta de culpa.
▪ Temos de indiciar qual a noção; qual o padrão de culpa?
• É a culpa em abstrato, a pessoa concreta, sensata e diligente. Não basta saber
o que se devia ter feito temos de saber quais as circunstâncias do caso. As
circunstâncias muitas vezes tem a ver com as características do lesante. Por
exemplo, um aluno que está a estudar medicina que está a ajudar no hospital

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devido ao covid-19, não podemos exigir o mesmo que a um profissional.
Temos de ver o circunstâncias do caso.
▪ Uma criança não é responsável. A age sem culpa, não é responsável. Não é por uma
questão de imputabilidade.
▪ O acórdão 15/11/2012, o acórdão defendeu a imputabilidade.
▪ Em relação não temos de saber se existe nexo causal ou dano, porque retiramos a
possibilidade de ele vir a responder.

NOTA: No nosso CC (art. 487º/2, por exemplo), fala do “bom pai de família”: já tínhamos referido que esta
expressão tem a ver com a bonus pater famílias. Antunes Varela defendia a manutenção desta opção, o lugar
do homem na chefia da família. Hoje, sabemos que não é o correto.

Quanto aos pais e a funcionária: 9

✓ Temos os pais e a funcionária que podem ser considerados vigilantes da criança. Quer quanto aos
pais quer quanto ao funcionário podemos ter registo, quando temos uma pessoa que é carente de
vigilância, art. 491º CC.
o Em que consiste o art. 491º CC? O que está em causa é a responsabilidade dos vigilantes.
Trata-se de uma responsabilidade por facto próprio, ou seja, o vigilante que é
responsabilizado pelos danos causados pelo vigiado, ou seja, não responde pelo facto do
vigiado, mas por o vigilante ter omitido o dever de vigiar.
✓ Temos um caso de responsabilidade subjetiva agravada, porque temos uma presunção de culpa. Não
temos responsabilidade objetiva, porque temos culpa.
o É agravada porque se ele não conseguir ilidir a presunção, o juiz vai responder contra ele. Se
não se conseguir afastar a presunção é culpado.
o Existem países que tentaram resolver a questão de criança criando a responsabilidade
objetiva, como é o caso da Holanda.
✓ Quais são as pessoas que respondem? São vigilantes que assumem o dever de vigiar. Este dever
resulta de duas fontes ou lei ou negócio jurídico.
o No nosso caso temos as duas situações, os pais (lei) e funcionaria (negócio jurídico). Sendo
assim, poderíamos dizer que o dever seria sempre legal ou negocial.
o O dever de agir também pode resultar de uma situação de monopólio, podia controlar aquela
situação, temos um dever de vigiar. É o dever de agir, no caso de responsabilidade por
omissão.
o Parece muito restritiva a base do dever jurídico. O dever de vigiar não é um dever de vigiar
por qualquer razão.
✓ Vigiar pessoas pode resultar de várias razões: presos, um hospital psiquiátrico (não resulta da
incapacidade natural). A incapacidade natural não é um problema de incapacidade de exercício; é
falta de maturidade (pode resultar da falta de experiência,). Um menor de 17 anos pode conduzir
alguns veículos estamos perante uma área de atuação autónoma que já não carece de vigilância.
Quando se fala de incapacidade natural estamos a dizer que não tem maturidade, tenha situação de
alguma dependência.
✓ Situação duvidosa:
o Alguém que deixa os seus filhos na casa dos avós da criança será que os avós estão aqui
incluídos como responsáveis de vigilância? Não existe negócio jurídico, por isso os pais
continuam a ser responsabilizados, não quer dizer que o papel dos pais fique reduzido. Tem 2
vertentes, estamos a ampliar o âmbito do dever de vigilância:
▪ Tem o dever de vigilância do controlo imediato.
▪ Mas além desse tem também o dever de formação ou educação.
• Se a criança que tem comportamento agressivo de tal ordem que até leva um
canivete, temos uma falta de vigilância por parte dos pais.

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✓ O comportamento das crianças revela que não existe controlo por parte dos pais.
✓ Se temos danos causados pela pessoa que estava a ser vigiada. O legislador pensa que se esta tivesse
vigiado corretamente teria evitado um dano. O vigilante presume-se culpado. Pode o vigilante
mostrar que cumpriu o seu dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda que o tivesse
cumprido. O que lhe acontece é poder invocar a causa virtual. O lesante pode afastar a sua
responsabilidade dizendo que temos uma causa hipotética que poderia levado ao dano.
✓ Estão reunidas todas as condições para saber se é possível responsabilizar os pais e funcionária de
acordo com o art. 491º CC?
o Temos de saber se lidar com criança que estão em acompanhamento recreativo, se é uma
atividade perigosa, art. 493º/2 CC? Temos de ter culpa, mas é culpa provada. O que o
legislador entende para saber se é uma atividade perigosa ou não?
▪ Na realidade, o julgador é que tem de decidir que se é ou não atividade perigosa. 10
▪ Em primeiro lugar, o que é uma atividade perigosa?
• O manuseamento de foguetes, a pirotecnia, tudo no seu âmbito, temos riscos
gravíssimos e frequentes que por vezes não são controlados pelo exerce a
atividade perigosa.
• Temos também a política sobre a condução de veículos pode ser ou não uma
atividade perigosa, em termos gerais conduzir um veículo não é uma
atividade perigosa. Em determinados nichos podemos determinar como
condução perigosa, como conduzir um trator na perspetiva da Drª Veloso é
uma atividade perigosa.
• A construção de uma barragem é um atividade perigosa, implica uma
complexidade de engenharia e etc, que pode levar a muitos danos
catastróficos.
• Uma atividade perigosa também é relativa a atividade médica; o STJ refere
que não podemos dizer que toda a atividade medica é uma atividade
perigosa. Isso não obsta que um ou outro tipo não possa ser qualificada como
tal, como o caso da quimioterapia; a extração de um dente do siso.
• Havendo a qualificação como atividade perigosa, o legislador diz que só pode
afastar a presunção de culpa se demonstrar que cumpriu tudo aquilo que
deveria ter feito. Não é possível invocar uma causa virtual. A presunção de
culpa é mais difícil de afastar do que aquelas que estão nos outros artigos.
o A responsabilidade pode assentar em atividade perigosas? A nossa atividade é tida como
perigosa? Não parece. Nem de cuidar crianças em si, nem vigiar crianças no parque infantil.
✓ O art. 491º CC pode ser convocado? Quanto aos pais?
o Podem ser vigilantes, mas não tinham controlo quanto a criança. Eles mantem a
responsabilidade porque são vigilantes ou afastam? Não podiam controlar a criança. A
responsabilidade dos pais seria afastada não exista presunção de culpa.

Quanto à funcionária: A funcionária teve uma omissão de vigilância. Além desta, temos ilicitude. Temos uma
presunção de culpa. Preenche os pressupostos do art. 491º CC? Vem de um negócio jurídico.

oEla consegue afastar a presunção de culpa?


▪ Se ela conseguir, não é responsável, não temos nenhum facto que possa levar aqui a
demonstrar isto.
▪ Se não consegue afastar a presunção de culpa. Estamos a presumir a mera culpa.
Neste caso ou teríamos negligencia consciente ou inconsciente.
✓ Na escola de Coimbra, sobre o âmbito de presunção de culpa:
o Alguns autores entendem que as presunções de culpa não são mera presunção de culpa,
temos a ilicitude, a culpa; como o caso de Menezes Cordeiro.

Mariana Freitas
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
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o Coimbra segue a posição de Antunes Varela, temos só a presunção de culpa; é uma mera
presunção de culpa.
✓ Temos 3 pressupostos verificados: o facto, a ilicitude e o nexo de causalidade.
o O pressuposto é o nexo de causalidade: de acordo com o art. 563º CC, o facto apresenta-se
como causa adequada do dano. Temos a teoria da causalidade adequada.
▪ O Dr. Pereira Coelho escreveu sobre a causalidade e acolheu a doutrina alemã relativa
ao nexo causal.
▪ Está consagrada no art. 563º CC.
▪ Esta apresenta-se como uma tentativa de resposta quanto à teoria da condição sine
qua non.
▪ Uma das principais dificuldades é explicar em que consiste:
• Se temos uma ligação entre o pressuposto e os danos, está verificada. Temos 11
a causa adequada do dano, se tem uma potencialidade geradora do dano em
concreto. Então pode confirmar que existe nexo de causalidade.
• Esta aptidão resulta de um juízo de probabilidade, consistente, de que uma
vez ocorrido o facto temos o dano também.
• O juiz coloca-se na posição do lesante. Depois de analisar a situação à luz do
dano parece que tudo resulta do facto. Estamos em vantagem quando
analisamos uma situação de responsabilidade civil.
• A teoria da causalidade adequada tem uma:
o Formulação positiva: é causa adequada se é idóneo a causar o dano.
o Formulação negativa: nesta o facto só não é causa se se mostrar
indiferente à produção do dano. Esta formulação negativa é bastante
mais abrangente. Qualquer facto vais ser considerado causa
adequada a não ser que seja indiferente.
o Os danos alegados são os danos resultantes da lesão corporal: Temos de mencionar as
tipologias, ou seja, os tipos das categorias e os conceitos de danos. Temos danos patrimoniais
e danos não patrimoniais.
▪ Patrimonial: é suscetível de avaliação pecuniária.
▪ Não patrimonial: não existe um valor de base. Com a compensação queremos tentar
subliminar as consequências nos seus bens materiais.
o No CC, não encontramos as expressões danos patrimoniais e não patrimoniais, vamos ter a
expressão dano pessoal (é o dano casado a pessoas) e o dano material (as coisas).
▪ Se com a colisão rebentou um pneu é um dano material.
▪ Se a pessoa se magoa é um dano pessoal com a compra de medicamento, que terá
consequências patrimoniais.
▪ Mas também temos um dano estética, um dano não patrimonial.

No nosso caso:

✓ Temos um dano pessoal.


✓ Comprar a cadeira é um dano patrimonial bem como pagar aos psiquiatras.
✓ Se o sujeito sofreu uma incapacidade tem um valor não patrimonial, que está sujeito a uma
classificação.
✓ Em termos de regras gerais como se vão compensar os danos patrimoniais ou não patrimoniais?
Temos regras gerias:
o Os danos patrimoniais bastaria invocar o art. 562º e ss CC, temos em conta 2 princípios: o
princípio da reparação integral e o princípio da prevalência da reconstituição natural ao invés
da reparação em dinheiro.

Mariana Freitas
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
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o Os danos não patrimoniais: temos que em primeiro lugar, sabemos que temos danos
insuscetíveis de avaliação pecuniária. O nosso legislador foi bastante arrojado. O legislador
quis criar soluções rigorosas e detalhadas, quanto a ressarcibilidade dos danos, art. 496º CC:
▪ Tem de ser graves (muitas vezes quanto ao valor do bem; é o julgador que tem de
qualificar o dano como grave ou não)
▪ São compensados de forma equitativa e de acordo com 3 fatores nos termos do art.
496º/4 CC- grau de culpabilidade do agente; as circunstâncias económicas do lesante
e do lesado; temos de atender as demais circunstâncias do caso. Este último acaba por
ser o mais relevante, como o tipo de bem jurídico lesado, a intensidade da lesão e a
duração da lesão.

ASSIM:
12
➔ Neste caso a criança teria direito a pedir uma compensação à funcionária, uma vez que o seu dano é
um dano patrimonial e não patrimonial.
➔ Os pais neste caso, pretendem uma indemnização porque a criança ficou com deficiências motoras e
prendem ser compensados. Temos fundamento para a compensação do filho ter tido aquelas lesões?
o O direito português protege os danos reflexos resultantes de uma lesão direta.
▪ Exemplo: alguém causa um tetraplegia a A, a mulher pode pedir a uma indemnização.
Se existe uma proteção dos danos reflexos.
o Um terceiro pode pedir uma lesão, temos uma espécie de sequência:
▪ Consoante haja morte da vítima direta- se houver morte da vítima, não é esta que vai
pedir.
• Qual o titular da indemnização e quais são os danos ressarciveis? Art. 496º/2
CC resolve a questão.
• Este elenco é bastante formal e restrito.
• O elenco tem uma grande vantagem, que foi evitar que as pessoas mais
próximas viessem a estipular o sofrimento; temos uma presunção e
sofrimento. Não basta aqui saber quem são os sujeitos legitimados.
• Os danos ressarciveis em caso de morte, são a perda da vida em si.
• A nossa decisão de compensar o dano da morte veio de um acórdão do STJ
de 1961.
• Temos o dano da morte quando: 1) a pessoa tem a consciência de que vai
morrer, ainda que por breves segundos; 2) o outro dano é o dano dos
familiares, do luto da falecimento.
• Quando existe uma situação que não seja o falecimento os familiares, os
terceiros não podiam pedir, segundo a jurisprudência.
• O legislador protege os danos reflexos, o sofrimento que se causa não
corresponde a violação de um direito. O legislador histórico diz que apenas
quis falar da morte. Em 2014, o STJ criou uma solução resultante de
uniformização de jurisprudência, 6/2014 de 16/1/2014, tem imensas vozes
discordantes.
➔ No nosso caso não temos um cônjuge temos os pais.
o A jurisprudência poderia aplicar por analogia a solução do acordo que acabamos por referir,
no art. 496º/2, mais o acórdão. Aos pais não temos uma resposta certa. Temos alguns
tribunais que continuam fiéis a uma orientação restritiva e outros mais generosos. O tribunal
da relação do Porto, é o tribunal mais generoso quanto a questão.
o No nosso caso seria possível a compensação, se se preenche-se os dois requisitos: o dano é
grave para a criança; mas temos dúvidas que o juiz aprecia-se o danos dos pais como
especialmente grave.

Mariana Freitas
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
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o As posições são bastantes divergentes no nosso caso não tínhamos morte, por isso era
discutível para a solução a adotar. Depende de saber se podemos aplicar a solução por
analogia.

22/04/2020

Continuação do caso…

Tínhamos aqui a falta de vigilância das crianças. Já sabemos que temos responsabilidade da funcionária.

Quanto à empresa ou OTL, nos termos do art. 500º CC:

A responsabilidade do comitente está no art. 500º CC, trata-se aqui de uma responsabilidade pelo risco, uma
responsabilidade objetiva. 13
✓ Comissário: é aquele que está ao serviço de outrem e atua sob direção e controlo do comitente.
✓ Comitente: que encarrega outrem de certo serviço (comissão) responde pelos danos que o comissário
causa, desde que sobre ele incida também o dever de indemnizar (desde que haja culpa do
comissário).
o O comitente que é responsável pelo ato do seu comissário, é responsável por um ato sem
culpa.
o A responsabilidade do comitente pelos atos culposos do comissário é uma responsabilidade
por facto próprio do comitente, uma vez que responde independentemente de culpa.
o Se o comitente pagou a indemnização pode reagir.
✓ O que é a responsabilidade do comitente? Surge quando temos danos do comissário, e esses danos
tem de ser suportados pelo comitente.
✓ Temos várias razões que justificam a responsabilidade do comitente (responsabilidade objetiva):
o Proteção do lesado: no fundo, o comitente é um garante impróprio da indemnização; terá um
património mais apetecível para o comissário.
▪ Exemplo: Um motorista da carris acaba por causar um acidente, o lesado não vai
reagir contra o motorista, vai reagir contra a caris. Tem uma maior solidez do
património deste. É a razão principal.
o Maior cautela por parte do comitente: o facto de com esta responsabilidade do comitente se
promover uma maior cautela do comitente quanto aos atos do seu comissário.
▪ Tem de cumprir os deveres de diretrizes corretas; porque o comitente sabe que vai
ser responsável vai tentar impedir que os danos ocorram.
o Benefício da atividade: quem beneficie da atividade do comissário é o comitente por isso
justifica-se que o comitente responda por ele.

O que esteve em causa foi a proteção do lesado e o maior controlo do comitente sob a atividade do
comissário.

Quais são os pressupostos para que haja lugar a responsabilidade do comitente: por todos os atos? Exemplo:
no caso de um funcionário bancário ofender alguém no Facebook no horário de trabalho; tem de existir uma
responsabilidade do banco, sobre este ato? A resposta é dada pelos pressupostos específicos da
responsabilidade do comitente.

✓ Existência de uma relação de comissão: uma atividade realizada por conta e sob a direção de outrem,
podendo traduzir-se num ato isolado ou numa função duradoura, ter carácter gratuito ou oneroso,
etc.
o Uma tarefa que o comitente pode entregar ao comissário indicando as diretrizes da própria
comissão.
o Esta não coincide com uma relação laboral, pode haver também nas relações familiares.

Mariana Freitas
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o No entanto, é necessário que haja uma relação de supra-infra-ordenação, alguém com poder
para decidir a tarefa, e como vai ser realizada.
o Exemplo: na responsabilidade médica discute-se se um cirurgião e um anestesista se temos
uma relação de comissão ou são relações autónomas. Não existe uma resposta unanime, não
sabemos se temos uma tarefa ou uma relação de supra-infra-ordenação.
o Art. 500º/1 CC
✓ É necessário que o ato praticado o seja no exercício das suas funções: o comissário tem de ter agido
no exercício das suas funções e por causa delas, ou seja, não basta um nexo de mera ocasionalidade
entre a relação da comissão e a prática do facto.
o Este implica que não basta um nexo meramente temporal ou espacial.
o Por vezes, a função é desempenhada fora do horário, como é o caso de um motorista privado
que foi lavar o carro fora do horário. 14
o Temos de apurar o nexo funcional.
o Art. 500º/2 CC: “a responsabilidade do comitente só existe se o facto danoso for praticado
pelo comissário, ainda que intencionalmente ou contra as instruções daquele, no exercício da
função que lhe foi confiada”.
✓ Responsabilidade do comissário: tem de se verificar os pressupostos da responsabilidade civil em
relação ao comissário (art. 500º/1, parte final CC). É necessário que haja culpa do comissário.
o Sempre é possível a ação direta contra o responsável direto do dano.
o A título de culpa porque nos outros casos de responsabilidade pelo risco não temos comissão.
o Art. 500º/3 CC: “O comitente que satisfazer a indemnização tem o direito de exigir do
comissário o reembolso de tudo quanto haja pago, exceto se houver também culpa da sua
parte, neste caso será aplicável o disposto no nº2 do art. 497º CC”.

Apesar da culpa não ser requisito da responsabilidade, pode ter influência no seu regime:

• Se houver culpa, tanto do comitente (na escolha, instruções ou vigilância) como do comissário:
o Qualquer um deles responde solidariamente perante o lesado (este pode exigir a
indemnização a qualquer um deles).
o Sendo que o encargo da indemnização será depois repartido entre eles na proporção as
respetivas culpas (art. 497º/2 CC por remissão do art. 500º/3 CC).
o Temos dois sujeitos que agiram com culpa, daí que haja solidariedade.
• Havendo culpa apenas do comitente, apenas ele será obrigado a indemnizar, nos termos da
responsabilidade por factos ilícitos.
• Havendo apenas culpa do comissário, o comitente que houver pago pode exigir dele a restituição de
tudo quanto pagou (art. 500º/3 CC).

O art. 500º/3 CC refere-se ao reembolso e não ao regresso: porque temos uma mera solidariedade imperfeita.
Não temos aqui em rigor uma responsabilidade solidária, mas sim uma garantia.

Pode haver culpa do comitente, em 3 situações clássicas:

✓ Culpa in instruendo: culpa nas instruções; se as instruções foram incorretas e, portanto, haverá a
culpa.
✓ Culpa in vigilando: culpa na supervisão ou vigilância.
✓ Culpa in eligendo: escolher uma pessoa que não tinha aptidão para realizar aquele ato. Culpa na
escolha do comissário.

Quanto ao nosso caso: temos responsabilidade OTL?

✓ Temos uma relação de comissão: sim, porque entre a empresa e a funcionária. Tem um trabalho que
foi incumbida a comissária, a funcionária.

Mariana Freitas
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✓ O ato da funcionária foi praticado no exercício das suas funções? Sim, enquadrava-se na sua
atividade. Não vigiou bem as crianças. Estamos a falar do núcleo duro da funcionária. O ato que ela
devia praticar insere-se no âmbito das funções que lhe foram adstritas.
✓ A funcionária tinha de ser responsabilizada: e vimos que foi.

EM SUMA:

✓ O comitente também responde pelos danos causados.


✓ Temos responsabilidade da funcionária, que era uma responsabilidade agravada.
✓ O que vai acontecer se o comitente pagar? Não temos culpa do comitente, por isso, o comitente pode
exigir a totalidade a funcionária.
o As ações contra os comissários existem em termos teóricos, mas não significa que tenha
necessariamente de reagir contra a comissária. 15

Quanto a um caso de um acórdão: que distingue o que é a presunção de culpa e a responsabilidade objetiva:
quando pensamos nos danos causados pela árvore, é um dano causado por um bem imóvel e poderá haver
vigilância relativamente a árvores; essa vigilância está no art. 493º CC, tem uma presunção de culpa. Era
possível ilidir esta presunção? O STJ diz que a presunção não é absoluta, pode ser ilidível. O que se exige
quando temos a obrigação de vigilância de arvores, se houver obrigação de vigiar aplica-se a presunção de
culpa. No caso concreto considerou-se ilidida a presunção de culpa. Temos aqui uma arvore que cai porque
tem ventos fortes e esta estava em condições normais, portanto, tudo indicaria para a possível resistência
dessa arvore. O vigilante não foi considerado culpado. Procura distinguir aquilo que é a responsabilidade
subjetiva agravada e a responsabilidade objetiva.

✓ Na responsabilidade subjetiva agravada presume-se a culpa do lesante, art. 491º e 493º, etc:
o Temos culpa presumida e o lesante, pode afastar a presunção de culpa.
o Ele afasta provando que não teve culpa, além desta possibilidade prova que não teve culpa
pode invocar a causa virtual.
o Quando estamos perante atividade perigosas, o lesante pode apenas provar que cumpriu tudo
o que devia ter feito. Isto não significa que ele seja responsável imediatamente.
✓ Na objetiva, o lesante responde independentemente de culpa.
o Por exemplo, um cão que causa danos nada adianta ao proprietário provar que foi diligente,
porque o detentor vai responder sem culpa, nos termos do art. 502º CC.
o É muito mais onerosa responsabilidade objetiva, porque o lesante não pode provar algo para
afastar a responsabilidade.

Responsabilidade por danos causados por veículos de circulação terrestre

NOTA 1: É diferente proprietário do veículo e detentor do mesmo.

NOTA 2: O regime apresenta-se complexo porque temos muitos conceitos indeterminados.

Este regime mostra-se apto a questão da responsabilidade dos veículos autónomos. Nem todos os veículos de
circulação terrestre tem seguro. Quem é o responsável para acionar a seguradora?

Art. 503º CC relativamente aos acidentes causados pelos veículos. Temos vários artigos que tocam vários
aspetos relativamente a esta temática.

Problema 1: O âmbito de aplicação do regime: quando estamos numa situação de caça, num jipe, com vários
caçadores dentro aplica-se o regime; e se o carro não estiver em circulação? Se houver gelo na estrada faz
sentido aplicar este regime? Art. 503º/1 CC: “Aquele que tiver a direção efetiva de qualquer veículo de
circulação terrestre e o utilizar no seu próprio interesse, ainda que por intermédio de comissário, responde
pelos danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo que este não se encontre em circulação”.

Mariana Freitas
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
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✓ O legislador diz no art. 503º CC diz que estão em causa danos provenientes de riscos próprios do
veículo. Claro que não temos dúvidas quanto aos riscos de funcionamento do veículo. Se o carro deixa
de ter travões estão a falar de riscos relacionados com o funcionamento do próprio veículo.
✓ Poderíamos pensar que apenas incluiria estes riscos, mas temos também riscos com a pessoa do
condutor.
✓ Falar ver os riscos próprios do veículo quanto ao meio, como as condições atmosféricas, o facto de
haver objetos na estrada ou até um ramo de uma arvore,
✓ Estamos aqui a falar de causa de força maior. As causas de força maior são causas que de certa forma
são imprevistas, extraordinárias e incontroláveis. Exemplo: se houver chuvas intensas, temos de ter
cautela, nesta situação já não seria uma causa de força maior.
✓ Exemplo: alguém resolve passear num porto, e que lhe cai um carro em cima porque está a ser
transportado de um lado para o outro, não é um risco próprio do veículo. Está a ser utilizado para um 16
fim diferente do esperado.

Problema 2: quem são as pessoas responsáveis pelos danos: 2 condições, art. 503º/1 CC:

✓ Tem de ter a direção efetiva do veículo: é o poder real de facto sobre o veículo, associado à obrigação
de controlar o veículo.
o Corresponde a um controlo material ou físico ou a um controlo jurídico. Temos por lado um
controlo material (controlo sobre o veículo) e por outro lado temos o controlo jurídico (é o
poder-dever de controlar o funcionamento do veículo). Não tem de haver os dois controlos,
mas podem existir os dois.
o Exemplo: a empresa que aluga o veículo tem o controlo jurídico e tem o interesse económico,
tem um interesse direto.
o Exemplo: Se alguém furta o meu veículo e causa um acidente quando está a fugir de um assalto
ao banco, eu não posso ser responsável, uma vez que não tenho interesse na condução de um
veículo nestas condições; por isso não tínhamos interesse do proprietário.
✓ Utilizar o vínculo no seu interesse: pode ser um interesse económico, recreativo ou um interesse
altruístico. Utilização no próprio interesse.
o Exemplo: Podemos ter um condutor por conta de outrem: se temos um condutor de um veículo
pesado que transporta cortiça para uma zona do Alentejo, o condutor daquele veículo pode
ser considerado detentor. Temos de saber se o condutor estava a conduzir no interesse próprio
ou no interesse da empresa. Alias, isso mesmo é dito no art. 503º/1 CC. Mesmo que tenha o
controlo efetivo ele não está a conduzir o veículo no seu próprio interesse. Ele será detentor
no momento em que conduz o veículo com interesse próprio, por exemplo, se o condutor
decidir ir a Espanha comer uma sopa, está a usar um veículo que não é seu e está a ex travasar
as suas funções. Nesta ocasião o condutor já é detentor do veículo porque utiliza em interesse
próprio.

Responsabilidade do comissário- art. 503º/3 CC: “Aquele que conduzir o veículo por conta de outrem responde
pelos danos que causar, salvo se provar que não houve culpa da sua parte; se, porém, o conduzir fora do
exercício das suas funções de comissário, responde nos termos do nº1”.

✓ Estamos perante um presunção de culpa do condutor por conta de outrem.


✓ Exemplo: O condutor que anda a distribuir a cortiça se estiver no exercício das suas funções presume-
se a sua culpa. Se já foi para Espanha já não se presume.
✓ Qual o sentido desta presunção de culpa quanto aos condutores por conta de outrem no exercício
das suas funções?
o Não é uma questão que está completamente assente, tem havido casos em que se discute a
inconstitucionalidade deste artigo, porque nem todos os condutores são tratados de forma
igual.

Mariana Freitas
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o A solução foi sempre neste sentido porque temos situações diferentes. Porquê só para estes
condutores?
▪ Prende-se com o facto deste condutores por conta de outrem serem profissionais,
sendo mais fácil afastar a presunção de culpa.
• Este argumento não é muito viável.
▪ Qual será o argumento de peso? O que o legislador quis foi que com a presunção de
culpa, permitir considerar responsável também o comitente e garantir o lesado,
assim fica com dois patrimónios. É esta a razão que justifica a responsabilidade do
condutor por conta de outrem.

Art. 503º/3 CC quando é que sabemos que se presume a culpa?

✓ A primeira questão que temos de fazer é a seguinte: está ou não no exercício dada funções? 17
o Se está presume-se a culpa, art. 503º/3, 1ª parte CC.
o Se não está não se presume a culpa. Vai responder nos termos do art. 503º CC, é detentor.
✓ A segunda questão, o sujeito age sem culpa:
o Se está no exercício das suas funções, funciona a presunção de culpa:
▪ Se tem culpa, não se consegue afastar a presunção de culpa: verificam-se os
pressupostos da responsabilidade do comitente- responde o comitente, art. 500º CC
e responde o comissário, art. 483º CC.
▪ Se não tem culpa, consegue afastar a presunção de culpa: não se verificam os
pressupostos da responsabilidade do comitente (não há culpa do comissário):
responde o detentor, que é o comitente, mas não enquanto tal, art. 503º/1 CC.
o Se está fora do exercício das suas funções:
▪ Com culpa efetiva- não se verifica, os pressupostos da responsabilidade do comitente
(não é no exercício das suas funções): responde o comissário nos termos gerais, art.
483º CC.
▪ Sem culpa- responde o detentor, que é neste caso o comissário por força do art.
503º/3 CC, parte final, nos termos do art. 503º/1 CC.

Problema 3: Quem são os beneficiários da responsabilidade? Segundo o art. 504º CC, são beneficiários da
responsabilidade não só os terceiros, mas também as pessoas transportadas.

Problema 4: Causas de exclusão da responsabilidade, art. 505º CC:

✓ Facto imputável ao lesado: quer-se abranger aqui qualquer facto do próprio lesado, culposo ou não.
✓ Facto imputável a terceiro: o terceiro tanto pode ser um peão, como o condutor de outro veículo,
como o passageiro.
✓ Causa de força maior

Exemplo: O gato estava sempre a miar e o passageiro resolve tirar o gato da caixa. O gato acaba por perturbar
a condução; posso imputar os danos ao passageiro, porque abriu a porta do gato. Sabemos que existe uma
norma de proteção que diz que estes animais devem circular dentro de caixas.

Problema 5: Uma circunstância que na prática é frequente é a colisão de veículos, art. 506º CC.

Problema 6: o caso da responsabilidade solidária, art. 507º CC.

Problema 7: os limites máximos, art. 508º CC.

Caso 2

A, condutor de uma empresa exploradora de vários lares, quando fazia a distribuição de máscaras e
produtos de desinfeção, embateu num muro ao perder o controlo do seu veículo. No muro, encontravam-se

Mariana Freitas
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dois amigos a beber cerveja, um deles (B) a violar a proibição de saída em virtude de um teste positivo de
COVID-19. Os amigos sofreram leves lesões corporais, mas estiveram hospitalizados durante cinco dias. O
proprietário do muro pretende indemnização que compreende não só o valor da reconstrução, como o valor
de afeto pela antiguidade do mesmo.

Pondere de forma autónoma as seguintes situações e diga quem é responsável pelos danos causados e em
que termos:

Estamos perante a responsabilidade por danos causados por veículos de circulação terrestre.

1) O despiste deveu-se a distração do condutor.

Aqui estamos perante uma situação de culpa do condutor. Se foi distração do condutor, o regime que vamos
aplicar, é uma atuação culposa. Não vamos aplicar o art. 503º CC. O condutor responde nos termos do art. 18
483º CC.

2) Não ficou definida a causa do despiste.

Pode não haver culpa de ninguém. Se não ficou definida a coisa do despiste temos de saber se está ou não
no exercício das funções. Neste caso estava e por isso, presume-se a culpa. Se não afasta a presunção,
responde o comitente, art. 503º CC e responde o comissário, art. 483º CC.
3) O despiste deveu-se a falha de travões, avaria que A tinha comunicado à empresa que assegurara
que a avaria deixara de existir.

Responsabilidade da própria empresa. Temos culpa da empresa, esta responde nos termos do art. 483º CC.
Não existe culpa do condutor.

4) O despiste deveu-se a falha de travões.

Parece que não tem culpa. É um risco próprio do veículo. Ele afasta a presunção, por isso atua sem culpa.
Podemos ter a responsabilidade da empresa.

5) A resolveu fazer desvio do seu trajeto para comprar queijos artesanais.

É ele que responde como detentor do veículo.

29/04/2020

Concluindo o caso:

✓ Um dos sujeitos lesado estava a violar uma norma de proibição de saída por estar infetado, não visa
proteger essa pessoa de um acidente. Visa proteger outras pessoas. A existência desta norma
irrelevante.
✓ Regra geral quando temos lesões corporais graves, apesar de ser leve, ele ficaram hospitalizados 5
dias. Assim, podemos considerar que é grave, art. 496º/1 CC. Apesar de estar aqui uma fórmula que
podia causar dúvidas, porque são leves lesões corporais, na realidade não se parece dizer que não é
grave. Aceitamos este dano.
✓ Quanto ao muro, o proprietário pede indemnização pelo dano de apego de afeto, pede indemnização,
aqui responderíamos de forma negativa de acordo com o art. 496º/1 CC. Para que haja lugar a
compensação de danos não patrimoniais é necessário que sejam graves.
✓ Apesar de a jurisprudência portuguesa ser negativa quanto ao dano de apego, nós temos hoje desde
2017, uma norma que de certa forma quis resolver a questão quanto ao dano de apego quanto aos
animais de estimação.
o Temos uma norma no CC, art. 493º/3 A, inserida de forma incorreta: o legislador quis de certa
forma tomar partido.

Mariana Freitas
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o Antes desta intervenção legislativa tínhamos jurisprudência divergente quanto a este assunto.
o O art. 493º A CC, nº3: aqui indica-se que é possível uma indemnização, mas faz-se uma
remissão para o art. 496º CC, uma questão que parecia resolvida aceitava-se o dano de apego;
mas continua a ser necessário para o tribunal dizer se é ou não.
o Na realidade, o legislador mantem no fundo a discricionariedade do juiz que vai ter de apreciar
quanto ao caso concreto se temos dano ou não.
o Só o proprietário pode pedir; não está em causa uma proteção material, é sim bastante
formal. Estão em causa danos não patrimoniais.
o O legislador optou por uma expressão antiquada, refere aqui que em vez de danos não
patrimoniais diz desgosto ou sofrimento; já ultrapassamos a ideia de que tem de haver
sofrimento moral.
o Qual a situação que leva a existência de danos não patrimoniais? Só em determinadas 19
situações tida como graves na morte, a perda de órgão ou membro ou a afetação da
locomoção.
o Esta norma não protege o animal protege sim o animal que tiver ficado com alguma lesão no
corpo.
o Dito isto, não podemos ficar com a ideia de que não existe o dano de apego. Aceita na
situação, pode haver situações em que temos dano de apego apesar do legislador não dizer
nada sobre isso. O problema é saber se se pode considerar esse dano grave ou não grave, art.
496º CC.

Temos 3 tipos de riscos: com o funcionamento do veículo, com o condutor ou com o meio.

Quem são os responsáveis? Para o art. 503º CC é o detentor; o sujeito reúne em si duas condições: tem a
direção efetiva do veículo; o interesse próprio (art. 503º/1 CC). O interesse próprio não causa grande
especificidade.

Caso 3

A, condutor da BluePharmy, dirigia-se a uma farmácia para recolher medicamentos com a validade expirada
(para testes), quando se desviou de uma abetarda a passar tranquilamente a estrada, vindo a embater em
caixotes de cerejas de vendedor ambulante (sem licença). Pode C, vendedor ambulante, pedir compensação
pelos caixotes de cereja destruídos (ou pelos caixotes que esperava vender)?

Recapitulando a matéria da aula anterior:

➔ Se alguém conduz o veículo no exercício das suas funções, presume-se a culpa.


o Se tem culpa efetiva ou presumida, a consequência é o art. 483º CC; não será ele apenas o
responsável temos também os pressupostos da responsabilidade do comitente, art. 500º CC.
o Se não tem culpa, consegue afastar a presunção de culpa, responde o detentor, art. 503º/1
CC.
➔ Se não estiver no exercício das funções:
o Mas se o sujeito agir com culpa, vai responder pelo art. 483º CC. Neste caso o comitente não
responde, porque um dos pressupostos é o facto de estar a atuar no exercício das suas
funções.
o Se agiu sem culpa, não pode responder a empresa, então é ele que é o responsável como
detentor do veículo, art. 503º/1 CC.

O problema é saber quem responde pelos danos causados. Na realidade vamos ver que este sujeito é um
condutor por conta de outrem. Temos de começar a questionar:

✓ Está ou não no exercício das suas funções? SIM. Aplicamos o art. 503º/3, 1ª parte CC presume a culpa
deste sujeito.

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✓ Temos de tentar perceber se conseguimos afastar ou não a presunção de culpa?
o Neste caso, o desvio que ele fez tem algum sentido. Na realidade podemos concluir que se
trata de uma situação em que é possível afastar a presunção de culpa. Já não estamos perante
a situação com culpa, mas sim, age sem culpa. Assim, se age sem culpa e está no exercício das
suas funções, quem responde pelos danos é o detentor do veículo. No caso, não é o detentor
do veículo, está a ser utilizado no interesse da empresa, art. 503º/1 CC.

Quanto ao dano da destruição dos caixotes, se fosse possível apurar o dano que ele conseguiria obter.

Caso 4

A, distribuidor de livros e apaixonado por leitura, resolveu tirar de um dos pacotes a nova edição de
“Debaixo do vulcão”, de Malcom Lowry, fazendo um desvio do seu trajeto para ler o livro em paisagem 20
bucólica. Apesar do entusiasmo, adormeceu, destravando involuntariamente a carrinha que embateu numa
vaca Tudela. As despesas com veterinário orçaram em 2000 euros (sendo o valor da vaca 1800). Quid iuris?

Temos um condutor por conta de outrem.

✓ Neste momento já não está no exercício das funções.


✓ Ele age ou não com culpa? Temos negligência inconsciente. Não temos dolo, não quer causar o dano.
o Distinguir negligência inconsciente de negligência consciente:
▪ Negligência inconsciente: o agente não chega a prever a possibilidade de produção
do facto ilícito, por descuido, desleixo ou imprudência.
▪ Negligencia consciente: o autor prevê o facto ilícito como possível, mas por desleixo
crê na sua não verificação, e só por isso não toma as providencias necessárias para o
evitar.
✓ Temos culpa, ainda que não seja uma culpa muito grave ou censurável. Se o sujeito está fora das
funções e se é ele que tem culpa, vai responder com base no art. 483º CC.
✓ Se concluíssemos que ele não agia com culpa, ainda assim seria responsabilizado porque seria o
detentor do veículo, estava a utilizar o veículo no seu interesse, mas no art. 503º/1 CC (para o qual
remete o art. 503º/3 CC, parte final).

Muitas vezes, o mesmo sujeito pode aparecer responsável como comitente e como detentor, existem
diferenças (caso da empresa do caso 3):

• Não é indiferente.
• Se a empresa responde como comitente pode depois exigir o reembolso de tudo o que pagou.
Responde por todos os danos.
• Se responde como detentor, aí aplicando-se os limites da indemnização nos termos do art. 508º CC.

Caso 5

A convidou três amigos para experimentar o seu novo carro. Por razões que não se apuraram, o veículo
parou subitamente, dando origem a lesões cervicais em dois dos amigos. Um deles era bailarino e ficou
impedido de dançar durante meio ano. Com a paragem súbita partiu-se um tablet desse amigo bailarino.
Quid iuris?

A vai responder nos termos do art. 503º CC; é um risco próprio do veículo.

Beneficiários da responsabilidade:

Art. 504º CC, temos 3 níveis de proteção:

• Os terceiros todos os danos estão cobertos, quer os materiais quer os pessoais.

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o Terceiro é um sujeito que se encontra fora do veículo. A doutrina inclui aqui os terceiros que
estão no interior a exercer funções (como o revisor dos bilhetes no comboio).
o Os danos que aqui são mencionados são os danos pessoais contra os danos materiais:
▪ Pessoal: é a lesão na própria pessoa. Exemplo: a necessidade de fisioterapia.
▪ Materiais: são os danos causados em coisas e aos animais.
o Temos de saber se todos os danos são ressarciveis ou apenas alguns destes.
• As pessoas que estão a ser transportadas em virtude do contrato oneroso. Art. 504º/2 CC tem a
solução para este caso. Ficam excluídos os danos materiais de coisas expedidas.
o Pode ser transportada num porão por exemplo.
o Estão excluídos os danos materiais, das coisas que foram transportadas sozinhas sem as
pessoas.
o Quando são danos que atingem a própria pessoa? 21
▪ Quis excluir os danos dos familiares.
▪ Exemplo: temos a morte de um dos ocupantes que estava a ser transportado em
virtude de contrato oneroso; se o sujeito falecer a partida não poderiam pedir
compensação, não é um dano pessoal próprio da pessoa transportada, é dos
familiares. Só se abrangem os danos do próprio lesado; se os familiares seus quiserem
pedir indemnização não o podem fazer de acordo com este regime, tem de seguir
outro. Muitas vezes, a jurisprudência não aplica esta situação.
• Uma situação de transporte gratuito, acontece sobretudo nas situações de transporte da familiares,
amigos, colegas, por força da relação não se vai cobrar um determinado correspetivo económico.
o Só abrange os danos pessoais da pessoa transportada, e temos a exclusão em relação a
qualquer dano material.
▪ Exemplo: eu dou boleia a um colega que tinha um microondas, o que acontecia nos
termos do art. 504º/3 CC, só respondo em função dos danos pessoais e não dos danos
materiais.
o Justificação: a solução que aqui consta não surgiu na versão original do CC de 1966, neste só
se podia pedir indemnização no caso de culpa do condutor.
o 2 razões que são apresentadas:
▪ Já existe uma onerosidade, o condutor já paga a indemnização sem culpa. O sujeito
não responde por todos os danos só os pessoais que são os mais importantes.
▪ Quando alguém é transportado a título gratuito não pode ser tao exigente, assume o
risco de ter dano material.

O nosso caso:

• Se convidou os amigos, são sujeitos que estão a ser transportados não por um contrato oneroso,
iriamos aplicar o art. 504º/3 CC. Só os danos pessoais. Temos lesões corporais.
• Temos para além destes danos, tínhamos uma indemnização pelo tablet partido, temos um dano
material, como estava a ser transportado a título gratuito, não tinha direito a reembolso.

a) A resposta seria diferente se ficasse provado que o amigo bailarino inadvertidamente tocara no
travão eletrónico ao demonstrar a sua flexibilidade, tendo-se libertado do cinto e mostrando
posições acrobáticas?

Causas de exclusão de responsabilidade civil, art. 505º CC: são 3.

• A causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo: como o rebentamento de pneu, não é
uma causa de forma maior.
o São causas naturais, não foram previstas, incontroláveis. Exemplo: o nevoeiro não é uma
causa. Um tornado é uma causa de força maior.

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• Facto imputável a terceiro: o terceiro tanto pode ser um peão, como o condutor de outro veículo,
como o passageiro.
• Facto imputável ao lesado: quer-se abranger aqui qualquer facto do próprio lesado, culposo ou não.
o Exemplo: alguém que vai no passeio desmaia e vai para estrada e é atropelado; existe uma
comparticipação por parte do lesado.
o Temos duas teorias relativas ao facto do lesado:
▪ Teoria tradicional de Antunes Varela: entendia que todo e qualquer facto do lesado
excluía a responsabilidade, quer seja culposo ou não.
• Tratava-se de uma problema de causalidade.
• Esta visão é muito rigorosa e pouco generosa quanto aos lesados vulneráveis,
houve tentativas de mitigar esta rigidez desta teoria.
▪ Teoria atualista de Pinto Monteiro: defende que tratando-se de um facto culposo 22
grave fica excluída a responsabilidade de detentor. Só se exclui a responsabilidade do
detentor se for um facto praticado com culpa grave. Não é assim no caso das crianças.
Nós só temos um facto do lesado que exclua a responsabilidade se for por culpa grave.
Se for sem culpa ou culpa leve mantem-se a responsabilidade.
• É interpretação atualista: só temos exclusão se houver culpa grave. Esta teoria
foi feita para atualizar o segmento do art. 505º CC.
▪ Teoria atualista de Calvão da Silva: adotada no acórdão de 4/10/2007 do STJ: só
temos um facto que exclua a responsabilidade, se esse facto poder ser tido como
causa única e exclusiva do acidente. Muitas vezes não é a única causa dos danos, uma
vez que o risco do veículo também contribui. Visa-se proteger os lesados vulneráveis.
• A interpretação atualista critica a tradicionalista; diz que não é todo e qualquer facto.
• Razões para criar esta solução:
o Proteger os idosos e crianças de tenra idade.
o Considera-se que existe legislação posterior que consagra uma situação de não automacidade.
DL 383 da responsabilidade do produtor, no art. 7º desse diploma refere isso mesmo.
o Não onera o lesante, temos o seguro de responsabilidade obrigatório.
o Da União Europeia surgiram já várias diretrizes; no sentido de uma maior proteção destes
sujeitos mais vulneráveis; se assim é não podemos ir para Antunes Varela.

Posição do curso: é a posição atualista.

No caso prático:

✓ Se adotássemos a posição de Antunes Varela: temos facto do lesado, por isso, não temos
responsabilidade do lesante.
✓ Se adotarmos a posição de Pinto Monteiro, é preciso que o ato seja grave; será que ele se apercebeu,
temos uma situação de culpa grave?
o Se houvesse culpa grave não tínhamos responsabilidade do condutor.
✓ Na perspetiva de Calvão da Silva tem de ser causa única do acidente, podemos considerar como causa
única do acidente, portanto excluir-se-ia a responsabilidade civil.

A culpa do ocupante levaria a aplicação do art. 570º CC. O que está em causa no art. 505º CC são causas de
exclusão da responsabilidade sem culpa, não responde objetivamente por surgiram estas causas de exclusão.
O lesante está a agir sem culpa, o que se está a afastar é a responsabilidade do caso.

b) A resposta seria diferente se se apurasse que os modelos da série do veículo apresentavam todos
esse problema, de súbitas paragens?

É um facto de terceiro. Era uma situação de responsabilidade do produtor.

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Caso 6

Em virtude de lama na estrada, arrastada pela chuva intensa dos dois dias anteriores, os veículos de A e B
derraparam e acabaram por colidir.

Sabendo que além dos danos causados aos veículos (600 ao de A e 2000 ao de B), C, familiar de B, sofreu de
choque psicológico (pelo que deixou de andar de carro), diga quem é o responsável pelos danos causados (e
que danos são ressarcíveis).

Art. 506º CC não temos culpa de nenhum dos detentores do veículos. Os detentores dos veículos vão suportar
uma indemnização.

✓ Se apenas um veículo causou o acidente, só paga a indemnização o detentor desse veículo, art. 506º
CC. É o critério do risco com que cada um contribuiu. 23
✓ Quando temos culpa de ambos os condutores: cada um deles responde pelos danos correspondentes
ao facto que praticou.
o Quando temos contribuição diferente; exemplo: se dois veículos se despistaram e colidem, à
partida o veículo que vai com mais velocidade causa mais riscos e mais danos.
o As jurisprudência entende que a falta de experiência ou experiência pode levar a que haja
mais risco.
o Por vezes, é difícil apurar o veículo que contribuiu mais. É difícil definir qual a percentagem de
risco de ambos de risco. Em caso de dúvida considera-se igual a contribuição, art. 506º/2 CC.
no nosso caso, tínhamos dois sujeitos sem culpa, não existe nenhuma indiciação qual deles
contribuiu com mais risco, por isso presume-se igual. Em relação aos 600€ ele só pode pedir
300€. Em relação aos 2000€ só se pode pedir 1000€.

No nosso caso, temos dois sujeitos responsáveis art. 506º/1, 1ª parte CC. Temos igual risco, art. 506º/2 CC.

Mas temos ainda os danos causados a C:

✓ O regime também se aplica aos danos pessoais ou só os danos causados ao veículo? O art. 506º CC
aplica-se a todo e qualquer dano. Como é tratamos as pessoas ocupantes do veículo? Como
ocupantes ou terceiros.
✓ C pode pedir esse dano se for um dano considerável, é um dano pessoal seria ressarcível.
✓ E se houvesse danos materiais? C tinha óculos e estes se partiam; podia pedir a compensação?
✓ Em relação aos danos pessoais: quer como terceiro quer oneroso ou gratuito tem direito aos danos
pessoais.
✓ Mas como está a circular no carro de B como ocupante: pode pedir pelos danos materiais? Na
realidade, 2 situações:
o Não pode, se não pode pedir a B não se justifica que peça a A.
o Outra posição, ele pode pedir a A, mas só na percentagem e responsabilidade de A. C é um
terceiro para A e transportado a título gratuito por B.
✓ Podíamos considerar que não pode pedir a B porque são danos materiais; está a ser transportado a
título gratuito. Mas pode pedir a A que não o conduz, mas não pede a totalidade, apenas a
percentagem que o sujeito contribui a título de risco.

No nosso caso só falava de danos pessoais, quer seja terceiro, quer seja transportado; não se coloca esta
questão; tem direito a ser ressarcido dos danos pessoais.

06/05/2020

Caso 7 (exame do ano passado)

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Amílcar, funcionário num laboratório de produtos farmacêuticos, pertencente à Sociedade “Boaventura
Saúde, Lda”, quando conduzia, em pleno interior alentejano, uma carrinha desta sociedade, atropelou
Dalila, que em virtude de politraumatismos graves foi conduzida ao hospital mais próximo. Porém, o facto
de não existir nos quadros médicos desse hospital um especialista qualificado para realizar uma intervenção
cirúrgica de urgência, determinou a necessidade de proceder ao seu transporte para um hospital de Lisboa,
onde chegou já sem vida. Dalila vivia em união de facto com Eduardo e tinha dois filhos (Filipa e G ustavo).

Diga, justificadamente, quem tem direito a ser indemnizado, por que danos e quem responde pelo
pagamento da indemnização, considerando as duas hipóteses seguintes:

a) O acidente ficou a dever-se ao excesso de velocidade a que a viatura circulava, porque Amílcar
queria chegar a casa a tempo de poder assistir, pela televisão, a um espetáculo desportivo.
24
Temos duas questões: Quem é que é o responsável? E qual o âmbito da obrigação de indemnização?

Temos na 1ª hipótese um sujeito que conduz um veículo de uma sociedade farmacêutica atropelando B. O
dano imediatamente causado é relativo a uma lesão corporal, todavia acabou por falecer porque houve
contratempos na transferência para um hospital mais sofisticado. Estamos a tentar saber se a morte pode ser
imputada ao lesante. Por outro lado, se entendermos que a morte é aqui um dano que podemos imputar à
conduta do agente, tendo falecido deixou companheiro e filhos, portanto coloca-se aqui a questão de saber
quem pode pedir a indemnização.

Quanto à questão do nexo causal: B, do acidente não falece, mas por força da transferência para um hospital
melhor acaba por falecer. O nexo de causalidade: há causalidade se o facto for em abstrato for causa
adequada a produzir o dano. Na realidade não há uma ligação direta entre facto e dano porque o que existe
é um processo causal e o facto inicial surge ligado ao dano real através de uma sequência de factos
intercalares. Não podemos esperar que o dano surja diretamente. A resposta aqui não poderia deixar de ser
positiva. Há nexo de causalidade, teríamos de referir o art. 563º CC onde se consagra a teoria da causalidade
adequada. Pela formulação negativa sabemos que estamos perante um facto que não é indiferente à
produção do dano e não houve verdadeiramente circunstâncias excecionais. Ou seja, não se diz aqui que
houve um incêndio ou um acidente enorme. Esta era uma circunstância vulgar de transferência para um
hospital. Não há qualquer questão extraordinária que justificasse a situação.

Determinado que há nexo causal, temos agora de saber quem tem direito à compensação dos danos
causados, convocar o art 496º para sabermos quem serão os beneficiários da indemnização. Temos um
companheiro de facto e os filhos. Desde 2010 os companheiros (união de facto) podem pedir a indemnização
pelos danos causados, nos termos do art. 496º/3. Os danos aqui em causa: danos não patrimoniais – morte,
luto (do companheiro e filhos) e eventualmente dano pré-morte (porque sofreu traumatismos graves e estaria
numa situação de dor extrema que se prolongou durante algum tempo, devia haver uma sensação de dor e
pânico).

Quem é o responsável pelos danos causados: nesta alínea temos um sujeito que conduzia em excesso de
velocidade para chegar a casa rápido.

✓ Tratando-se de condutor por conta de outrem, a primeira pergunta é: estava no exercício das
funções?
✓ Não há qualquer indicação de que não estaria, portanto vamos entender que está no exercício das
funções. Se estiver no exercício das funções presume-se a culpa (503º/3) relativamente ao condutor
por conta de outrem. Pode sempre afastar essa presunção.
✓ Mas aqui até podemos reforçar a presunção legal – presunção de culpa - com uma presunção judicial
uma vez que há uma norma de proteção violada: a norma que proíbe que se conduza a determinada
velocidade. A outra presunção é legal, esta é judicial. Caso não seja afastada a presunção legal, o juiz
decide contra quem tinha o ónus da prova. O excesso de velocidade não nos pode diretamente levar

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a concluir que há culpa do sujeito. Presume-se a culpa, mas ele pode provar que a situação de excesso
de velocidade se devia a uma avaria do carro.
✓ Mas será difícil afastar a presunção, portanto ele justifica-se dizer que ele age com culpa. A
consequência: responsabilização deste sujeito, o sujeito responde nos termos do art. 483º/1, a base
geral da responsabilidade civil extracontratual. Mas não basta dizer isto porque se ele age com culpa
e está no exercício das suas funções, também responde o comitente nos termos do art. 500º, porque
é um condutor por conta de outrem no exercício das funções que age com culpa.
✓ Imaginemos que ele conseguia afastar as presunções de culpa: aí não conduz o veículo no seu
interesse próprio, portanto quem responde é a detentora, a empresa – porque tem a direção efetiva
do veículo que está a ser utilizado no seu próprio interesse pois ele estava no exercício das suas
funções.
 Imaginemos ainda a hipótese em que ele não estava no exercício das funções. Poderia estar a utilizar 25
o veículo no seu próprio interesse, então temos de saber se age ou não com culpa. Já não funciona a
presunção legal (art. 503º/3) mas continua a presumir-se judicialmente a culpa porque violou a
norma de proteção. Se não afastar a presunção ele responde. E é só ele que responde nos termos do
art. 483º/1. Já não responde o comitente, porque não estava no exercício das funções. Se em
contrapartida não agisse com culpa, seria responsabilizado como detentor do veículo nos termos do
art. 503º. Nunca poderíamos responsabilizar aqui a empresa porque estava fora das suas funções,
utilizava o veículo no seu próprio interesse.

NOTA: a ideia era percebermos que o excesso de velocidade não nos podia levar imediatamente a dizer que
há culpa. Tínhamos que fazer todo o raciocínio: se está ou não no exercício das funções.

Sobre a presunção judicial: defendemos que quando há norma de proteção podemos presumir judicialmente
a culpa do sujeito porque se ele viola a norma de proteção, teve interesse em violar.

b) O acidente ficou a dever-se a uma avaria súbita do sistema de travagem do veículo, bem como ao facto
de Dalila circular pouco encostada à berma da estrada e em contramão.

O acidente deve-se a uma avaria súbita. Mais uma vez, começamos o raciocínio do início:

✓ Está no exercício das suas funções? Se ele estivesse no exercício das funções como não há culpa sua
(consegue afastar a presunção porque há a avaria), não é o condutor responsabilizado, mas sim a
detentora do veículo que é a empresa.
✓ Na hipótese em que ele está fora das funções e há o acidente resultante da avaria, não podemos
demandar a empresa porque ela não utiliza o veículo no próprio interesse, por isso o detentor é o
condutor. O sujeito vai responder nos termos do art. 503º/1.
✓ Temos que saber se não há eventualmente uma causa de exclusão: no nossa caso a lesada circulava
em contramão e muito próxima da estrada, portanto temos um facto do lesado. Em que medida é
que o facto do lesado exclui a responsabilidade do detentor: atendemos ao art. 505º. Qual é o critério
para sabermos se há exclusão quando há um ato do lesado? De acordo com a lei parece que é
sempre, mas não é assim e a esse propósito falamos de duas teorias.
→ Teoria tradicional, defendida por Antunes Varela: todo e qualquer facto do lesado daria origem à
exclusão da responsabilidade civil, acabava por ser automático. Era irrelevante o lesado atuar com
culpa ou não. Esta posição foi ultrapassada.
→ Teoria atualista: não é qualquer facto do lesado que exclui a responsabilidade. Não há automatismo,
temos de ponderar se se justifica a exclusão.
o Dentro desta teoria, de acordo com a posição de Pinto Monteiro: se o facto do lesado for
praticado com culpa grave há exclusão da responsabilidade. Na legislação relativa à
responsabilidade por danos causados por drones há uma certa afinidade com esta posição.
Falamos de legislação muito recente em que se adotou esta teoria atualista. Para o legislador
atual, até porque esta legislação é muito recente, afasta-se a responsabilidade do detentor do

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drone só se houver culpa grave do lesado. Devemos ter isso em conta, porque não há
legislação mais atual do que a legislação dos drones.
o Já na posição de Calvão da Silva: se houvesse um facto do lesado que pudesse ser qualificado
como causa única e exclusiva do acidente, haveria exclusão da responsabilidade do detentor.

Atendendo ao nosso caso, falta agora saber como vamos qualificar o facto de a senhora circular junto à estrada
em contramão, mas notar que circular junto à estrada não é NA estrada e muitas vezes nem sequer há
passeios. De acordo com a posição de Pinto Monteiro não nos parece que haveria culpa grave, portanto não
seria excluída a responsabilidade. Quanto à posição de Calvão da Silva: é causa exclusiva e única? Não, até
pode ter causado, mas não de forma exclusiva, era uma causa concorrente com o facto de o veículo ter
avariado, mantem-se a responsabilidade. Pelas duas vias não haveria exclusão. Pela posição tradicional
defendida por Antunes Varela, por haver o facto do lesado já seria excluída automaticamente a
26
responsabilidade do detentor.

A lesada apresenta-se ou como tendo culpa, mas não grave; ou tendo causado o acidente, mas não de forma
exclusiva e, portanto, a responsabilidade do condutor iria manter-se.

Responsabilidade civil do produtor


Caso 8

1. A intentou ação contra Bipharm, em virtude dos danos que sofreu por ter tomado o medicamento
anti-inflamatório (fabricado por B) de forma continuada durante seis meses, antes da sua retirada
do mercado (por suspeitas de provocar arritmias conducentes à morte). Ficou provado que A
desenvolveu arritmia e menor força nas mãos, tendo partido vários objetos de valor em casa, em
casa de amigos e em lojas. B invocou que houve retirada do medicamento e atitude diligente por
parte da farmacêutica e que A continuou a tomar o mesmo após o conhecimento da retirada do
mercado (provou-se que o fizera durante dois meses). Quid iuris?

O medicamento talvez seja defeituoso, de tal ordem que até foi retirado, quando isso acontece suspeita-se
que o medicamento causava problemas. E temos uma reação contra a farmacêutica. Queremos convocar o
regime especial da responsabilidade civil (objetiva) do produtor.

“Especial” porque qualquer produtor pode responder nos termos gerais. Há um diploma específico DL
383º/89 de 6 de novembro que consagra a responsabilidade objetiva do produtor. Resulta da transposição de
diretivas. Na prática não há muitos destes casos porque há muito aquela ideia de reagir contra o vendedor

A ideia de reação direta contra o produtor trazia duas vantagens:

✓ Não era preciso provar a culpa.


✓ Não é preciso provar a existência de uma relação contratual.

Estas duas vantagens foram desde logo assinaladas no sentido de criar um regime mais benéfico. No entanto
é necessário provar o defeito e o nexo causal.

Neste diploma, no art. 1º o legislador começa por dizer que o produtor é responsável independentemente de
culpa pelos danos causados por defeitos dos produtos que põe em circulação.

Quem é o produtor? Temos uma referência na lei e uma designação de elenco de produtores no artigo 2º

✓ É o fabricante do produto acabado, aquilo a que nós chamamos o produtor real, aquele que
transforma a matéria prima em produto acabado.
✓ É também aquele que chamamos de produtor aparente.

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✓ Mas é também produtor aquele que no exercício da sua atividade comercial, importe produtos para
venda. Ele não é fabricante nem é a marca em si, ele é um sujeito que importa do exterior da União
Europeia.
✓ Também é produtor qualquer fornecedor do produto cujo produtor ou importador não esteja
identificado. Os fornecedores serão responsáveis se não comunicarem ao lesado no prazo de 3 meses
por escrito a entidade dos fornecedores precedentes ou dos produtores comunitários ou
importadores. Os fornecedores de produtos não estão na mesma linha que os outros, só respondem
se não conseguirem identificar de quem adquiriram.

O que é o produto? Atualmente entende-se que é produto qualquer coisa móvel, incorporado em coisa móvel
ou imóvel (art. 3º). Notar que quando falamos de produto devemos incluir o sangue.

O que é um defeito? Nos termos do art. 4º, o produto é defeituoso sempre que não se apresente seguro, há 27
uma falha de segurança do produto. Não está em causa uma desconformidade no produto .

• No CC falamos de bem defeituoso no sentido de o bem ser desconforme às expetativas ou à função


que o produto iria desemprenhar.
• Mas em relação a este diploma, há defeito quando não oferece a segurança tendo em conta todas as
circunstâncias designadamente: a sua apresentação, a utilização que dele possa ser feita e o momento
da sua entrada em circulação; é preciso saber da segurança tendo em conta as expetativas
relativamente às expetativas.
• Este regime é diferente do CC.
• Exemplo entre carácter defeituoso no âmbito do CC e no âmbito do DL:
o Uma lâmina ou faca romba, que não corta. Se a lamina não corta é defeituosa para o efeito
do regime da compra e venda de bens defeituosos, sim. Se compro uma faca que não corta
é defeituosa.
o Mas para efeitos deste diploma já não, acaba por até ser mais segura. Podem coincidir estas
noções de defeito de produto do CC e do DL, mas podem também não coincidir.

O legislador não diz quais os tipos de defeito

✓ Pode resultar da colocação do produto no mercado;


✓ Pode resultar da conceção no sentido de idealização do produto;
✓ Pode resultar da fase de criação, materialização, o defeito na produção, o defeito de fabrico;
✓ Temos ainda os chamados defeitos de desenvolvimento: têm um regime particular porque no nosso
ordenamento se houver um defeito de desenvolvimento não há lugar à responsabilidade do produtor.
Trata-se de um defeito que no momento da entrada de circulação do produto não era detetável, só
mais tarde se reconhece esse defeito, em virtude da evolução da ciência, da técnica, etc. Não devemos
entender que o defeito se desenvolve; ele no momento em que é colocado em circulação já era
defeituoso, simplesmente só é reconhecido depois que há defeito, seja porque há desenvolvimento
da ciência, etc. É uma causa de exclusão, havendo um defeito de desenvolvimento, não há lugar à
responsabilidade do produtor (art. 5º al. e));
✓ Pode haver defeito de informação, pois o produto tem de ser acompanhado da informação da sua
utilização;
✓ Defeito de observação: as empresas têm de estar atentas a reações negativas por parte dos
consumidores.

O art. 5º do DL consagra as causas de exclusão da responsabilidade.

Uma vez que falamos de possíveis causas de exclusão vamos atentar neste exemplo: imaginemos que alguém
resolve combinar um piquenique e leva scones feitos com rosas selvagens e por virtude algum ingrediente
misturado, os scones provocam problemas gástricos. Podemos considerar que há aqui um produtor? Eu posso

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reagir contra a pessoa que fez os scones? Há algumas causas de exclusão ( art. 5º): mas este artigo diz-nos que
o produtor não é responsável se se provar que não fabricou o produto para venda ou qualquer outra forma
de distribuição com o objetivo económico. Neste caso a pessoa não vai ser responsabilizada porque não o
fez no âmbito de uma atividade comercial, não tem interesse económico. Claro que seria diferente se essa
posse fosse depois abrir uma loja e o piquenique tivesse ocorrido por motivos promocionais.

Quanto à situação de facto do lesado, poderá haver exclusão?

✓ Pode, nos termos do art. 7º: quando o facto do lesado tiver contribuído para o dano pode o tribunal
tendo em conta todas as circunstâncias, reduzir ou excluir a indemnização.
✓ Há aqui uma grande diferença em relação ao art. 505º: menciona-se que é um facto culposo do lesado,
não se qualifica como grave ou não, mas aí o tribunal ou reduz ou exclui a indemnização. Fica apenas
por analisar o que é que acontece se houver um facto não for culposo do lesado: mantém -se a 28
indemnização.

Um ato de terceiro pode ou não excluir a responsabilidade do produtor?

✓ Ex: tenho a bateria do meu carro avariada.


✓ Tenho duas vias possíveis de reação: contra o produtor ou contra a pessoa que me instalou a bateria.
Portanto temos o facto do produtor e o facto de terceiro.
✓ Mas o facto de terceiro exclui a responsabilidade? O artigo 505º excluiria, mas neste artigo não se
exclui a responsabilidade do produtor havendo ato de terceiro (art. 7º/2: diz que não é reduzida,
portanto nem sequer é excluída).

Outro aspeto: quais os danos ressarcíveis? Nos termos do art. 8º são ressarcíveis:

✓ Os danos resultantes de morte ou lesão pessoal: quando falamos em lesão pessoal abrange as lesões
corporais, mas o legislador pensou em não restringir ao danos corporais. Isto não é uma transcrição
literal da diretiva.
o Ex: alguém compra um veículo, vai gozar as férias e de repente o veículo para. O veículo era
defeituoso, mostrou-se pouco seguro e podem daqui decorrer lesões corporais, mas há outro
fator, será que o sujeito não pode pedir indemnização porque deixou de gozar férias? É uma
lesão pessoa, afetou-se o seu direito de não gozar as férias.
✓ Os danos (materiais) em coisa diversa do produto defeituoso: o diploma só protege os danos em
coisa diversa do produto defeituoso, e essa coisa diversa só se protege se não se destinar ao uso
profissional, tem de se destinar ao uso privado ou maioritariamente privado.
o Ex: se computador for defeituoso e causar um incêndio queimando livros, protegem -se os
livros destinados ao consumo privado, mas já não o computador.
✓ Já não são indemnizáveis os danos causados na própria coisa defeituosa.

Prescrição e caducidade:

✓ No art. 11º: o direito ao ressarcimento prescreve no prazo de 3 anos a contar da data em que o lesado
teve ou deveria ter tido conhecimento do dano, do defeito e da identidade do produtor.
✓ No art. 12º: estabelece um prazo de caducidade de dez anos.

Este regime não obsta a que se recorra a outros regimes: responsabilidade civil extracontratual ou contratual.
Não há uma via exclusiva.

Atender ainda ao artigo 9º- limite mínimo- se se tratar de um dano em coisa só vai haver lugar à indemnização
se o dano for superior a 500 euros. Os danos causados em coisas, só são indemnizáveis na medida em que
excedam o valor de 500 euros.

Quanto ao nosso caso:

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✓ Podemos responsabilizar o produtor, objetivamente? Sim.
✓ O produto é considerado defeituoso, não oferece a segurança expectável. Não sabemos em concreto
qual é o defeito, mas sabemos que até houve a retirada.
✓ É relevante haver retirada? A empresa diz que não responde porque foi diligente, por ter tirado o
produto do mercado. Isso não serve como justificação, porque não está em causa o que se faz após a
entrada em circulação porque a realidade é que colocou um produto defeituoso em circulação. Tem
vantagens ao retirar o produto de circulação porque já não haverá responsabilidade subjetiva. Se não
houvesse retirada haveria culpa das empresas. Temos uma situação em que há o acompanhamento
do produto. Não está aqui em causa a sua culpa, está em causa ter colocado um produto defeituoso
a circular no mercado.
✓ O produto é defetuoso porque não oferece a segurança que era expectável. Vamos agora analisar os
danos. 29
✓ Quais os danos:
o Há as lesões corporais, a arritmia, por isso há direito a compensação, nos termos do art. 8º.
o Mas diz-se ainda que o sujeito ficou com pouca força nas mãos, teria de haver prova do nexo
de causalidade entre o defeito do produto e o deixar de ter força nas mãos.
▪ Se houvesse prova da causalidade então podíamos aceitar esse dano, que também é
um dano pessoal. Ao aceitarmos esse dano temos depois um dano consequencial: o
dano de destruição das coisas: à partida em relação aos danos materiais, só são
compensados se destinados principalmente ao uso privado e diferentes da coisa
defeituosa, portanto à partido haveria compensação em relação a esses danos.
✓ Mas A continua a tomar o medicamento mesmo depois da retirada. Será que há aqui uma atuação
culposa? Havia culpa, o sujeito continua a tomar um medicamento retirado do mercado. Temos um
facto culposo do lesado, podemos aqui convocar o art. 7º: o juiz pode reduzir ou excluir a
indemnização.
o Tendo em consideração o tempo que ele tomou temos uma culpa que não pode lev ar à
exclusão da responsabilidade: haveria redução da indemnização (durante 6 meses o dano foi
consolidando-se e, portanto, aqueles 2 meses não seriam extremamente relevantes).
2. A obrigou-se a entregar as 50 cadeiras de esplanada que tinha na sua loja a B. No dia 15 de fevereiro,
B comunicou a A que pretendia que as cadeiras fossem entregues. B foi sempre pedindo adiamentos,
rejeitando B o terceiro pedido e em abril comunicou a A que a entrega não poderia ocorrer uma vez
que não tinha transportadora disponível em virtude do estado de emergência. A recusa-se
igualmente a entregar o valor das cadeiras pago por B em janeiro. Quid iuris?

13/05/2020

Modalidades das obrigações

1) Critério do vínculo-jurídico: obrigações naturais e obrigações civis

Não tem muita relevância. O vínculo jurídico é mais fraco nas obrigações naturais.

• Obrigações naturais: são obrigações jurídicas cujo vínculo é mais ténue, mas não deixa de ter o vínculo
de juridicidade.
o Art. 402º CC: “quando se funda num mero dever de ordem moral ou social, cujo cumprimento
não é judicialmente exigível, mas corresponde a um dever de justiça”.
o Art. 403º CC:
▪ “Não pode ser repetido o que for prestado espontaneamente em cumprimento de
obrigação natural, exceto se o devedor não tiver capacidade para efetuar a prestação”
Nº 1
▪ “A prestação considera-se espontânea, quando é livre de toda a coação” Nº 2

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Exemplos:

3. Dívida prescrita: art. 304º/2 CC


4. Dívidas provenientes de jogo ou aposta
5. Prestação de alimentos
6. Dever imposto aos pais de dar parte aos filhos nos bens produzidos através de trabalho por eles
prestados aos progenitores
• Obrigações civis: o credor tem o direito de exigir judicialmente o cumprimento das obrigações (art.
817º CC), e tudo o que for prestado com intenção de cumprir pode ser repetido (art. 476º/1 CC).
2) Critério do sujeito: obrigações de sujeito ativo indeterminado; obrigações singulares e obrigações
plurais.
Obrigações de sujeito ativo indeterminado: art. 511º CC: “A pessoa do credor pode não ficar 30
determinada no momento em que a obrigação é constituída; mas deve ser determinável, sob pena de
ser nulo o negócio jurídico do qual a obrigação resultaria”.
Obrigações plurais: são aquelas obrigações em que encontramos vários sujeitos, quer do lado ativo,
quer do lado passivo
Obrigações singulares:
3) Quanto ao objeto:
❖ Obrigações divisíveis e indivisíveis
o Divisível: a obrigação cuja prestação é suscetível de fracionamento sem prejuízo do seu valor
económico global.
o Indivisíveis: aquela cuja prestação não comporta fracionamento, ainda que sejam vários os
credores ou os devedores.
❖ Obrigações genéricas e especificas
o Genéricas: obrigação determinada quanto ao género e quantidade. No art. 539º CC temos a
noção de obrigações genéricas, mas não é uma noção certa.
▪ Concentração da obrigação: através da concentração da obrigação, esta passa de
obrigação genérica, ou seja, o obrigado passa a dever apenas a coisa determinada
dentro do género. 4 causas:
• Acordo das partes
• Extinção parcial do género
• Mora do credor
• Entrega dos transportados, expedidos ou recetor da coisa.
o Especificas: cujo objeto imediato é individual ou concretamente fixado.
❖ Obrigações alternativas: são obrigações que compreendem duas ou mais prestações, exonerando-se
o devedor mediante a realização de uma delas.
❖ Obrigações com faculdade alternativa: são aquelas obrigações que tem por objeto apenas uma
prestação, mas em que o devedor tem a faculdade de se desonerar mediante a realização de uma
outra, sem necessidade da aquiescência posterior do credor.

Obrigações alternativas Obrigações com faculdade alternativa


A prestação a realizar é identificada por escolha Não há lugar a nenhuma escolha
O efeito real do contrato só se verifica após a escolha O efeito real do contrato opera imediatamente
da prestação
O risco corre por conta do proprietário no momento O risco corre sempre por conta do adquirente
Se a prestação é impossível originariamente, o Se a prestação é impossível originariamente, o
negócio pode ser total ou parcialmente nulo negócio é totalmente nulo
Se a prestação é supervenientemente impossível, a Se a prestação é supervenientemente impossível, a
obrigação pode extinguir-se ou manter-se obrigação extingue-se.

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Caso 9

A é credor de B, C, D no montante de 90 000 euros, em virtude de danos por estes causados a uma
propriedade de A, enquanto realizavam obras em terreno contíguo.

A demanda B pedindo o valor total, mas B contesta, dizendo que:

1. Não existe solidariedade.


2. A deve a C o montante de 10 000 euros por obras feitas nessa propriedade.
3. A perdoou a D a dívida, com reserva.
Quid iuris?
Temos aqui meios de defesa.

B que foi o sujeito contra quem foi intentada a ação. Vamos começar por saber se teria ou não razão B ao 31
dizer que não há solidariedade?

• Na realidade, uma obrigação solidária do lado passivo, o que significa que existem vários devedores.
Se for obrigação solidária do lado ativo, temos vários credores.
• Neste caso é se fosse passiva, A pode exigir a qualquer um dos devedores os 90 mil €.
• A satisfação da divida libera os outros devedores.
• Art. 512º/1 CC, a obrigação é solidária quando cada um dos devedores responde pela prestação
integral e esta a todos libera, ou quando cada um dos credores tem a faculdade de exigir, por si só, a
prestação integral e esta libera o devedor para com todos eles.
• Haverá depois a possibilidade de exercer direito de regresso (mas nem sempre).
Esta obrigação era ou não solidária? Qual é a fonte de solidariedade? A resposta está muito clara na lei. Não
havendo convenção das partes, existe lei. No nosso caso não existe convenção das partes, portanto, teríamos
de saber se por força da lei esta obrigação era ou não solidária. Esta obrigação decorria de danos causados a
uma propriedade. É um responsabilidade civil extracontratual, as obrigações de indemnização em caso de
pluralidade de lesantes dá origem a obrigações solidárias, art. 497º CC. Quando o art. 513º CC quando fala da
lei, uma das normas é o art. 497º. Neste caso é evidente, nesta situação qualificamos a obrigação como
obrigações solidária porque resulta a solidariedade da lei. Os lesantes respondem solidariamente. Eles lesaram
a propriedade, isso iria gerar responsabilidade extracontratual.

NOTA: No direito civil as obrigações solidárias não são a regra; no direito comercial já são solidárias, sempre.

As obrigações solidárias são uma vantagem para o credor, porque só vai demandar um dos devedores, tem
vários patrimónios que respondem pela divida. Para os devedores é uma garantia de que tem mais fácil acesso
ao crédito. Por um lado, tem interesse para os credores e para os devedores.

O regime jurídico reflete essa proteção quer dos credores quer dos devedores. O que pode fazer o credor?

❖ Se a obrigação é solidária tem mesmo de exigir apenas a um ou a todos? Ele pode exigir a prestação
integral a qualquer um deles.
❖ Mas não será que pode demandar todos? Qual o sentido desta possibilidade? Art. 519º CC que o credor
tem o direito de exigir de qualquer dos devedores proporcional ou não à quota do interpolado. Se o
credor intentar a ação contra um dos devedores fica limitado quanto a reação face aos outros. Diz-se,
mas se exigir judicialmente a um deles a totalidade ou parte fica inibido de proceder judicialmente
contra os outros. Se a ação inicialmente é uma ação para exigir o cumprimento, todas as fases
processuais vão ter de seguir os tramites em relação aqueles sujeitos. Não sendo o caso é aquele
sujeito que vai sofrer as consequências. É o artigo que acaba por servir como artigo base quanto aos
direitos do credor.
❖ Temos de convocar o art. 516º CC e aí diz-se que “nas relações entre si, presume-se que os devedores
ou credores solidários comparticipam em partes iguais na divida ou no crédito, sempre que da relação

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jurídica entre eles existente não resulte que são diferentes as suas partes, ou que um só deles deve
suportar o encargo da divida ou obter o beneficio do crédito”.

Isto significa que se as quotas são iguais, no nosso caso seria de 30 mil €.

No âmbito das relações internas:

✓ Art. 518º CC: “Ao devedor solidário demandado não é lícito opor o benefício da divisão; e, ainda que
chame os outros devedores à demanda, nem por isso se libera da obrigação de efetuar a prestação
por inteiro”.
✓ Ao devedor solidário demandado não é lícito referir que prefere apenas pagar a sua quota.

Como se podem defender os devedores?


32
• Meios de defesa: art. 514º CC
o Comuns: são meios de defesa que podem ser invocados por qualquer um dos devedores.
Porque diz respeito a relação obrigação no seu todo.
▪ Exemplo: O credor retende o pagamento da prestação. Se um dos devedores invocar
a exceção de não cumprimento, isso é um meio de defesa comum, que todos os
devedores poderiam usar, ao afetar a relação obrigacional no seu todo.
o Pessoais: só podem ser invocados pela pessoa a que dizem respeito. São obstáculo à
pretensão do credor de forma temporária e definitiva. Temos de analisar o tipo de meio de
defesa, se só diz respeito a um dos sujeitos não podem ser invocados por outro.

No nosso caso: temos solidariedade e depois temos a situação em que A deve a C 10 mil €, C pode pedir a
compensação de créditos, neste caso só diz respeito a C. Só C poderia invocar. Aqui B não pode invocar um
meio de defesa que diga respeito outro devedor. A perdoou a divida a D, quem pode invocar é D e não B,
porque é um meio de defesa pessoal de D.

Meios de defesa pessoais

Os meios de defesa que eventualmente aproveita os outros devedores:


 Modos de satisfação do direito do credor: Art. 523º CC: “A satisfação do direito do credor, por
cumprimento, dação em cumprimento, novação, consignação em depósito ou compensação, produz
a extinção, relativamente a ele, das obrigações de todos os devedores”.
• Cumprimento
• Dação em cumprimento (art. 837º e ss CC): o devedor realiza uma prestação diferente daquela que
foi acordada. Com o acordo do credor e por essa via extingue -se a prestação. Estamos a falar de uma
causa de extinção que consiste na possibilidade do devedor, com efeitos extintivos e com acordo do
credor.
• Compensação de créditos (art. 847º e ss CC): qualquer devedor pode livrar-se da sua obrigação
invocando um crédito que tenha face ao seu credor.
o Exemplo: se eu devo a B 10 € e C me deve 10 € ficamos compensados. Se os sujeitos são devedor
e credor em 2 obrigações, qualquer um deles pode pedir a compensação.
o Requisitos do art. 847º CC.
• Remissão da divida ou perdão (art. 863º e ss CC): trata-se de um acordo, com natureza contratual,
entre credor e devedor, que permite a renúncia do direito a exigir a prestação. A ideia geral é que,
havendo uma obrigação solidária e perdoando o credor apenas a um deles, os outros beneficiam, por
a divida passa a ser menor, a parte perdoada é descontada no valor total da divida. Releva porque os
outros devedores descontam a sua parte na divida.
• Confusão (art. 868º e ss CC): ocorre sempre que na mesma pessoa se reúnem devedor e credor;
funciona de imediato, ope leges.

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o Exemplo: A devia ao seu tio 10 mil €, A não vai pagar a si próprio, porque era herdeiro .
o Qual a diferença entre a compensação e a confusão: Na compensação temos duas relações
obrigacionais onde é credor e devedor. Na confusão temos apenas uma relação, mas não vai
pagar a prestação a si próprio: ele é um devedor solidário, pode ser credor relativamente a
ele. Art. 869º CC, o que se diminui é a sua quota. B sucedia a A, sucede a A, A tinha um crédito
e B um débito, estas duas posições confundem-se, temos a questão de saber se B pode reagir
ou não contra os seus codevedores. O art. 869º CC diz que a reunião na mesma pessoa nas
qualidades de devedor solidário ficam libertados na parte da divida em relação aos outros
devedores.
o Estamos perante um meio de defesa pessoal quanto aos outros: o benefício é ficarem com
uma divida mais pequena, esse montante ficou reduzido.
33
No nosso caso:

Se C tinha um crédito, temos uma compensação. É uma meio que aproveita os outros devedores,
porque os outros deveres pagam menos, já não pedem.
Se o credor perdoa a divida a um deles, a quota dele retira-se, os 30 mil € de D, esses retiram-se, se o
credor exigir aos outros já não é um divida de 90 mil €, mas apenas de 60 mil €. É uma vantagem
nestes meios de defesa pessoais. Aproveitam porque na relação com o credor o valor global deduz-
se.

Meios de defesa que prejudicam os outros devedores: não só não libertam os outros devedores do dever de
efetuar toda a prestação, como os prejudicam no seu direito de regresso.

• Art. 526º CC- insolvência de um dos devedores:


o Exemplo: no nosso caso temos C, B e D; C esteva insolvente, neste caso para outro sujeitos que
não C, iriam ter de suportar essa quota, B e D. Prejudica porque a quotas deles iniciais eram
de 30 mil € e agora vão ter de suportar 45 mil €. Neste caso temos insolvência temos uma
situação de incapacidade. As quotas deles aumentam, dai que são prejudicados por isso.

Meios de defesa que não prejudicam os outros devedores, embora também não lhes aproveitem- neutros:
Não aproveitam, nem prejudicam.

• A prescrição, art. 521º CC, a obrigação foi constituída há 20 anos, por vezes ou porque as obrigações
foram surgindo relativamente a cada um deles ou por vezes existe a suspensão ou interrupção do
prazo para cada um deles, para B a obrigação já estaria prescrita, mas não para C e D. Só relativamente
a um sujeito existe prescrição. Se houver prescrição, como meio de defesa pessoal trata-se de um
meio de defesa que não aproveita nem prejudica os outros devedores. Pode exigir ao devedor, cuja
divida está prescrita, vai ter obrigação solidária. A prescrição é apenas na relação interna.
• Temos ainda a remissão concedida a um devedor: quando o credor reserve para si o seu direito por
inteiro contra os outros devedores.

NOTA: Os comuns podem ser invocados por todos os devedores não basta dizer porque tem de invocar. Já se
for um meio de defesa pessoal só pode ser invocado pelo sujeito à qual diz respeito.

Duas figuras que são qualificadas como meios de defesa.

• Se houve uma remissão não pura, mas a remissão com reserva, o credor perdoa a divida, mas reserva
para si a figura de poder exigir para si, o seu direito de a poder exigir por inteiro contra os outros
devedores. Está prevista no art. 864º/2 CC. A remissão com reserva é quando o credor reserva para si
a possibilidade de pedir aos outros a totalidade. É um meio de defesa que não aproveita os outros. Se
houver uma situação de remissão com reserva, os devedores conservam o direito de regresso contra
o devedor exonerado.

Mariana Freitas
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o Exemplo: O credor tem A, B, C e D. B temos o perdão da divida com reserva, refere que perdoa
a divida a B, mas pode exigir aos outros a divida pura. Se A tivesse perdoado a D, se fosse uma
remissão simples a quota de D, ficaria resolvida, mas mantinham se os outros 60 mil €. É uma
vantagem pagar menos. Se houvesse uma remissão com reserva, o credor pretende dizer que
temos um sujeito exonerado, mas ele considerou que pode reagir contra os ouros, em relação
aos outros podem pedir os 90 mil €. No fundo, esta remissão com reserva é um meio que é
igual a prescrição. É uma situação em temos meios de defesa neutros. Qual o sentido desta
reserva? B fica exonerado em relação ao credor; A não pode exigir a B os 90 mil €, então é uma
vantagem; mas se A pedir aos outros pede a totalidade, B tem de pagar a sua quota de 30 mil
€.
• Temos de falar da existência de caso julgado, imaginemos que há uma ação prévia entre o credor e
um dos devedores, art. 522º CC: 34
o O caso julgado entre o credor é uma situação favorável a este: o devedor é condenado, tendo
sido reconhecido o direito do credor em relação àquela divida.
▪ O art. 522º CC proíbe a oponibilidade deste caso julgado: o credor apenas pode
intentar uma ação de execução contra o devedor condenado, ou demandar e pedir a
condenação dos restantes devedores.
o O caso em que houve uma decisão desfavorável ao credor: os outros devedores podem
invocar o caso julgado entre o credor e um dos devedores, sim, se o caso julgado desf avorável
ao credor pode ser oposto, mas desde que não se baseie em fundamento que respeite
pessoalmente aquele devedor.
▪ O caso julgado pode ser convocado, mas apenas se se tiver baseado num meio de
defesa comum.
▪ Se se baseou num meio de defesa pessoal, não pode ser invocado.

A propósito das obrigações solidárias temos de saber:

• Noção
• Quando é que a obrigação solidária? Se houver lei ou convenção da partes nesse sentido
• Direitos do credor
• Os meios de defesa dos credores: comuns ou pessoais.
• 522º CC, havendo caso julgado anterior, os outros tem interesse a dizer que houve uma decisão contra
ele.

Mariana Freitas

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