Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Milton L. Torres
Ὑ ῆ ὲ ὑ ᾶ ύ , ἰ ό ἅ ά , ὅ ὁ ύ ὸ ἐ ῆ
Αἰ ύ ώ ὸ ύ ὺ ὴ ύ ἀ ώ .
Quero, pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo, uma vez por todas, que o
Senhor, tendo libertado um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu, depois, os que não
creram [ARA, que, neste caso, segue o TR].
Ὑ ῆ ὲὑ ᾶ ύ , ἰ ό ἅ ά ,ὅ Ἰη ῦ ὸ ἐ ῆ Αἰ ύ
ώ , ὸ ύ ὺ ὴ ύ ἀ ώ .
Quero, pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo, uma vez por todas, que
Jesus, tendo libertado um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu, depois, os que não
creram [ARA, alterada para refletir a leitura do TA].
De fato, embora pertencente ao TA, o papiro p72, datado entre os séculos III e IV,
abertamente declara a divindade de Cristo nesta passagem:
Ὑ ῆ ὲ ὑ ᾶ ύ , ἰ ό ἅ ά , ὅ Θ ὸ Χ ό ὸ ἐ ῆ
Αἰ ύ ώ , ὸ ύ ὺ ὴ ύ ἀ ώ .
Quero, pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo, uma vez por todas, que
Cristo Deus, tendo libertado um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu, depois, os que
72
não creram [ARA, alterada para refletir a leitura do papiro p ].
Enquanto a KJV e as Bíblias baseadas no texto bizantino geralmente nada falam sobre
as variantes textuais de Judas 5, a NVI apresenta uma nota de rodapé que menciona
essa leitura como possibilidade.
Pode-se, porém, fazer a legítima indagação: como é possível crer nas conclusões
de especialistas, se estes nem sempre são inteiramente fiéis aos princípios cristãos?
Wilkinson (1930), por exemplo, levantou vários questionamentos acerca da integridade
de B. F. Westcott (1825-1901), bispo de Durham, e F. J. A. Hort (1828-1892), professor
da Universidade de Cambridge, os dois estudiosos que comprovaram a inferioridade do
texto bizantino. De fato, Westcott e Hort foram importantes porque foram os pioneiros da
crítica textual. Contudo, sua obra está amplamente ultrapassada e nenhuma Bíblia atual
tem como base exclusiva o seu texto crítico. Estudiosos como Nestle e Aland (ALAND;
ALAND, 1995), entre muitos outros, aperfeiçoaram as ideias de Westcott e Hort, tendo
conseguido desenvolver princípios sólidos de interpretação crítico-textual. Westcott e
Hort criam na existência de um tipo neutro de texto, de origem supostamente egípcia e
representado principalmente pelo Códice Vaticano (MILLER, 1960, p. 301). Sabe-se,
hoje, que nunca houve um texto neutro. Todos os manuscritos foram suceptíveis às
vicissitudes de sua transmissão. Por isso, é preciso cotejar os diversos manuscritos,
incluindo até mesmo os do texto bizantino, a fim de decidir, caso a caso, que variante
deve ser preferível. Ou seja, embora se saiba, hoje, que o TA é geralmente superior ao
texto bizantino, não se pode garantir, sem cuidadosa comparação, que, de fato, o seja
em todos os casos.
Além disso, mesmo que as acusações levantadas contra Westcott e Hort de que
estes se envolveram em pesquisas sobre discos voadores e sessões mediúnicas sejam
verdadeiras, as conclusões a que chegaram foram verificadas por inúmeros estudiosos
cristãos que, quanto se possa humanamente afirmar, são pessoas ilibadas e dignas de
confiança. De fato, por mais importante que seja a vida devocional e espiritual de uma
pessoa, não se precisa dela para se afirmar se um pedaço de papel é mais velho ou não
do que outro. Ainda assim, o fato é que, quando eram jovens universitários, Westcott e
Hort fizeram parte de um grupo de pesquisa que procurava investigar cientificamente o
sobrenatural. Não há evidência de que eles se comunicassem com espíritos ou entidades
sobrenaturais nessas reuniões. A pesquisa consistia em ouvir o testemunho de pessoas
que supostamente haviam tido experiências sobrenaturais. Os dois jovens amigos
acabaram se desencantando com o grupo de pesquisa e, após negarem sua crença na
metodologia empregada pelo grupo, o abandonaram, conforme informação constante nas
cartas que Hort escreveu a esse respeito e foram preservadas por seu filho Arthur Hort
(HORT II, 1896). De qualquer forma, eles participaram dessa pesquisa muitos anos antes
de se tornarem especialistas nos manuscritos da Bíblia. A esse respeito, o próprio
Westcott (1893, p. 11) se manifestou da seguinte forma:
Considerações Finais
A NVI envolveu um enorme esforço acadêmico, pessoal e espiritual da parte de
estudiosos competentes e de uma editora, a Zondervan, que conta com muita
credibilidade no mercado editorial. Para produzi-la, os tradutores contaram com as
melhores edições dos textos críticos e com o acesso às principais descobertas
arqueológicas que iluminaram recentemente nossa compreensão das Sagradas
Escrituras. Trata-se, com efeito, de estudiosos com credenciais para lidar com as línguas
bíblicas e com a arqueologia. Obviamente, a tradução não é isenta de problemas. Afinal
de contas, nenhuma tradução é totalmente isenta de problemas. Apesar disso, pode-se
dizer que constitui um esforço honesto e competente para verter a Palavra de Deus da
forma como sempre foi desejada por Deus, isto é, numa linguagem capaz tanto de
comover e inspirar o leitor mais exigente quanto de transformar e enriquecer a vida do
leitor mais simples.
Referências
ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. The text of the New Testament: an introduction to the
critical editions and to the theory and practice of modern textual criticism. Grand Rapids,
MICH: Eerdmans, 1995.
ASSOCIATED PRESS. World’s most popular Bible to be revised: some gender terms
could get makeover in first update in quarter century. 2009. Disponível em:
http://www.nbcnews.com/id/3264471 9/ns/us_news-faith/#.UWGXyaLvuZs. Acesso em: 7
abr. 2013.
BARKER, Kenneth L.; PALMER, Edwin H. The NIV: the making of a contemporary
translation. Colorado Springs: International Bible Society, 1991.
BRUCE, F. F. The last thirty years. In: KENYON, Frederic (Ed.). The story of the Bible:
a popular account of how it came to us. 2. ed. Londres: John Murray, 1964. Disponível
em: http://www.world invisible.com/library/kenyon/storyofbible/2ck11.htm. Acesso em: 7
abr. 2013.
COMMITTEE on Bible Translation. New International Version: the Holy Bible containing
the Old Testament and the New Testament. Colorado Springs: International Bible Society,
1984.
EKDAHL, Elizabeth M. Versões da Bíblia: por que tantas diferenças? São Paulo: Vida
Nova, 1993.
__________. True or false? the Westcott-Hort textual theory. Grand Rapids, MICH:
International, [1973].
__________. A position paper on the versions of the Bible. Grand Rapids, MICH:
Which Bible Society, 1978?
FULLER, David O.; RAY, Jasper J. God wrote only one Bible: wherein we find that our
Sovereign God has kept his holy Word pure and free from the vicious attempts of
apostate “scholars” to defile and destroy it. Lubbock, TEX: Tabernacle Baptist Church,
1970.
HUDSON, Gary. The real eye opener. Baptist Biblical Heritage, v. 2, n. 1, p. 1-4, 1991.
HORT II, Arthur F. Life and letters of Fenton John Anthony Hort. Londres: Macmillan,
1896.
KENYON, Frederic (Ed.). The story of the Bible: a popular account of how it came to us.
2. ed. Londres: John Murray, 1964. Disponível em:
http://www.worldinvisible.com/library/kenyon/storyofbible/2cktc.htm. Acesso em: 7 abr.
2013.
__________. The background and origin of the version debate. In: BEACHAM, Roy E.;
BAUDER, Kevin T. (Eds.). One Bible only? examining exclusive claims for the King
James Bible. Grand Rapids, MICH: Kregel, 2001. p. 27-56.
MILLER, H. S. General Biblical introduction: from God to us. Houghton, NY: Word-
bearer, 1960.
PERRIN, Nicholas. Thomas: the other gospel. Louisville: Westminster/John Knox, 2007.
RAY, Jasper J. God wrote only one Bible. Junction City, OR: Eye Opener, 1955.
VEITH, Walter J. Bible versions: does it matter which Bible we use? Faith: Dare to
Stand, v. 14, n. 3, p. 7-27, 2009. Disponível em: http://pdf.amazing
discoveries.org/Newsletters/2009%20fall%20Newsletter-LQ.pdf. Acesso em: 7 abr. 2013.
VON HARNACK, Adolf. Marcion: the gospel of the alien God. Durham, NC: Labyrinth,
1990.
WISE, Michael; ABEGG JR., Martin; COOK, Edward. The Dead Sea scrolls: a new
translation. San Francisco: HarperCollins, 1996.