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Entrevistadora Lenara: Descreva a sua atividade como psicóloga institucional, isto é, descreva especificamente o que faz, e como faz

como profissional nesse contexto?

Entrevistada Ana:Só isso já vai acho que umas 2 horas hein, vou tentar resumir (Lenara tá bom) risos. Eu trabalho num hospital estadual
em São Paulo na região do Morumbi, sou funcionária pública né, sou concursada estou aqui a quase 17 anos., eu trabalhei 5 anos na
oncologia pediátrica onde eu atendia as crianças hospitalizadas, os familiares faziam também, esse…essa ponte entre os familiares e os
profissionais. E há 12 anos eu migrei para SESMTque é serviço especializado em engenharia de segurança e medicina do trabalho né…,
E então popularmente a gente chama, da o nome :á eu sou psicóloga do trabalho…sou psicóloga da medicina do trabalho. Eu atendo,
exclusivamente os profissionais, tanto os profissionais do estado quanto os prestadores de serviço também que são de empresas
terceirizadas. Trabalham aqui dentro da unidade porque a gente entende. a gente entende não, é lei né, que nós temos corresponsabilidade
também.
Eles são de uma outra empresa, mas eles estão prestando o serviço aqui dentro então a gente oferece esse esse trabalho. Então aaa… acho
que daí vocês tinham mais perguntas pelo que eu li que era para descrever um pouco mais sobre como que é esse trabalho né? (inaudível)

Entrevistadora Lenara: Isso! Onde é, e como é o seu local de trabalho?

Entrevistada Ana: Isso! Então e daí isso aqui não é na nossa instituição né. Meu local de trabalho varia de acordo com o que eu estou
fazendo no momento né eu vou falar que eu atendo que que eu faço no dia a dia e daí se estiver… não tiver respondido todas as perguntas
depois você, é. Passa o resto (Lenara:tá…) então aqui é…eu trabalho eu tenho faço atendimentos individuais ,vou explicar como são:faço
atendimentos em grupo e eu participo de ações de saúde e qualidade de vida ,daí entram as palestras semanas temáticas, programas
específicos, como o programa de pré- aposentadoria , participava também de um programa de tabagismo para pessoas que queriam cessar
comportamento de do tabaco né, de fumar. Só que esse grupo agora nesse momento está parado porque a médica participava tá licenciada
né, está de licença saúde, então a gente teve que parar um pouco.aaa e é sempre acontece programas de qualidade de vida. o ano passado
teve um programa grande junto com serviços de nutrição que era sobre vida saudável né, sobre ter uma alimentação saudável ,prática de
esportes então era em parceria com a nutrição serviço de fisioterapia.Daí eu sempre participo como psicóloga dessas ações mas aí o trabalho
vai além né como a gente tinha falado inicialmente Lenara no contato que ele é psicossocial né ,então não fico nesses trabalhos em grupo
desses projetos eu não fico só como psicóloga a gente fica ali como uma agente de saúde mesmo trabalhando ajudando, orientando né é um
trabalho que extrapola a clínica.

Entrevistadora Lenara :Sim! E assim na sua opinião é…quais são as condições necessárias para a realização de seu trabalho? você... você
a tem? é você tem autonomia nas suas decisões relacionada à sua atividade?

Entrevistada Ana: Então ,era o que eu estava dizendo ,porque daí nesses trabalhos que eu faço temáticos , realmente a gente não
consegue ter tudo o que a gente gostaria de ter no trabalhando no SUS, né, por que a gente gostaria de ter é…verba para algumas coisas que
não é possível ( Lenara: entendi)não é que é mais complicado a gente, a gente até consegue,, mas é tudo mais demorado porque você tem
que justificar então né, as ações por exemplo:a gente deixa de fazer um grupo de caminhada, a gente queria dar camiseta para os
profissionais sabe, é…com o nosso logo para a gente fazer caminhada na hora do almoço eu estou no hospital. não conseguimos .né porque
a gente entende as dificuldades da saúde e a prioridade pra onde vai a verba então ,não conseguimos essa verba mas aí muitas vezes vamos
atrás de parceiros ,de voluntários ,que doam algumas coisas, brinde para a gente sortear no Dia da Mulher no dia do funcionário público
mas aí a gente gostaria de ter mais né que ter mais recursos né e também espaço físico às vezes a gente não tem espaço físico adequado a
gente tem 2 anfiteatros aqui no hospital , e às vezes a gente quer fazer uma ação e precisa de um espaço grande não tem. Os anfiteatros
estão ocupados com palestras, então a gente tem essa dificuldade que eu acho que ela é característica de uma instituição pública né, a gente
tem algumas limitações ,mas os outros atendimentos que eu faço eu faço também atendimentos em grupo,, é voltados mesmo para nossa
área da psicologia, faço atendimentos com grupo de enfermeiros ,atendimentos com grupos de médicos, esse eu consigo bem porque daí eu
tenho já algum espaço definido que é a própria enfermaria que é dentro da UTI ou dentro aqui a gente tem ( inaudível) hospitalar e a gente
tem algumas bibliotecas ,eu faço grupos dentro da biblioteca, a gente tem algumas salas de atendimento multidisciplinar, e ai eu consigo né
,aí sim aí, a resposta é sim, eu tenho e para os atendimentos individuais eu tenho sim, todos os recursos necessários, aí eu tenho meu
consultório de atendimento fechadinho, tem meu prontuário que eu consigo garantir as questões de sigilo.Lá é tudo trancado também ela
tem é.. ela não tem proteção acústica extra mas a minha sala (risos)a parede mesmo não é drawall a gente consegue também ter um espaço
adequado para atendimento individual né e aí nesse atendimento individual eu faço tanto consulta terapêutica né que aquelas consultas
mesmo baseado em winnicott que a gente começa a encerra na mesma hora ,isso acontece muito com profissional estressado no andar ,
trabalhando atendendo, ele vem aqui, a demanda dela é pontual e a gente trabalha aquele eu trabalho também é em psicoterapia geralmente
para casos mais graves de pessoas que já fazem outros tipos de acompanhamento psiquiátrico fora mas mesmo assim tem condições de
exercer a profissão aí eu faço um atendimento mais prolongado, e tem muitas pessoas que vem para um atendimento breve por
circunstâncias da vida ,que não está só relacionado ao ambiente de trabalho as vezes a pessoa passando por um processo de divórcio ou
passando por um luto né então daí isso sim eu tenho as condições necessárias aqui na unidade.

Entrevistadora Lenara:Verdade! e para aquelas atividades que você falou você tem outros profissionais que te ajuda ou é só os
psicólogos?

Entrevistada Ana:Então, eu sou a única psicóloga do serviço de medicina do trabalho né, então sou sola.(risos) trabalho só eu, mas eu
tenho outros profissionais de apoio aqui no SEEMT a gente tem também assistente social que a gente trabalha muito em parceira ,discussão
de caso ,a gente discute caso como os médicos né é a pessoal da enfermagem somos uma equipe e para os para os para os projetos mais
psicossociais e pra educativos aí a gente vai atrás das parcerias dentro da unidade mesmo pessoal do RH é a gente tem parceria com o
pessoal do RH não é para ser isso como eu falei da nutrição da fisioterapia ajuda para os médicos quando é para dar uma palestra né como a
gente teve é sobre o câncer de mama doença renal aí os médicos que atendem as crianças fazem essa palestra pra gente, não é fácil é assim
sofrido, a gente tem que atrás(risos) vai atrás do médico que é uma novela que eles estão sempre muito ocupados depois conciliar a agenda
com a agenda do fim anfiteatro fazer divulgação né então é não é fácil mas a gente consegue.

Entrevistadora Mayara: Só uma pergunta? como eu já tive experiência né na área de RH você tem contato com o pessoal da CIPA?
esse… essa parte assim mais de saúde organizacional mesmo.

Entrevistada Ana: Então, como falei eu trabalho dentro do serviço de medicina do trabalho e aqui no estado a gente não tem CIPA a gente
tem como COMSAT é comissão de saúde do trabalhador é a mesma coisa, mas tem um outro nome uma legislação um pouquinho diferente.
quem organiza a CIPA é aqui o nosso setor né é engenheira dentro da medicina do trabalho, ela trabalha comigo e a técnica de segurança do
trabalho elas que organizam acima a CIPA né, mas a gente nós do SEESMT nós participamos como apoio tem a comissão que é (inaudível)
né e aqui a minha colega engenheira né do SEESMT ela fica só nesse apoio no suporte. daí quando é necessário eu sou chamada como
psicóloga como uma consultora para COMSATE como aconteceu recentemente casos de assédio né alguma denúncia de assédio moral
dentro da unidade e aí eu fui chamada para discutir levei …consegui uma apostila do tribunal de justiça do trabalho e daí fomos ver apostila
né …tem esse projeto assim que está ainda em andamento né ,então a minha participação na COMSATE ela é pontual quanto necessária né
e acontece do pessoal da COMSATE também identificar é ali a comissão de saúde do trabalhador identificar alguma algum funcionário que
está em sofrimento, né, emocional que não chegou até mim então o pessoal da COMSATE faz esse trabalho também de busca e leva para a
psicóloga ( risos)

Entrevistadora Lenara:E atualmente você se considera satisfeita com o seu trabalho? é, você poderia explicar os motivos disso?

Entrevistada Ana: Olha é uma pergunta muito difícil né, mas vocês são estudantes, então eu me sinto na obrigação de ser muito sincera. O
trabalho em si eu amo, eu adoro o trabalho que eu faço eu vejo o resultado, eu recebo esse retorno de muitas pessoas que passam comigo,
das equipes, é ...tem demanda né as pessoas vêm me procurar então percebem a importância, Só o fato de eu existir aqui no hospital já é um
reconhecimento, porque por lei não é obrigatório ter psicóloga dentro do serviço medicina do trabalho. É obrigatório só um médico, um
engenheiro e uma pessoa da enfermagem, só. Não é obrigatório psicólogo, assistente social, dentista como a gente tem. Então só o fato de eu
estar aqui, né…eu já sinto esse reconhecimento da importância. Mas é muito difícil ser funcionária pública hoje em dia, não é assim. o
salário é muito baixo é muito abaixo do mercado, é, pra gente continuar aqui a gente tem que ter outras motivações né além dessa questão
salarial quando eu prestei né o concurso a mais de 17 anos atrás porque tem 17 anos que eu estou aqui né, o concurso tinha sido 2 anos anos
então há 19 anos atrás quando eu prestei concurso, eu sonhava com a tal da estabilidade né, você tem um emprego que é para sempre, e
hoje em dia vocês acompanham né aí as notícias e a gente vê que já não é mais assim né, então tem muitos hospitais que estão sendo
passados para uma administração privada não é seu mas o OS .daí nós funcionários públicos ficamos assim perdidos né, tem que procurar
um outro lugar para trabalhar outro lugar que ainda não terceirizou né que não virou OS esse mas que a gente vai, e daí corre o risco de ter
que sair de novo, então assim ,está …está um momento muito difícil né pra para para nós funcionários públicos no estado de São Paulo.
Entrevistadora Lenara: É, infelizmente né.
Como você se caracteriza a clientela atendida por você em relação à faixa etária geni…gênero classe social escolaridade e profissão?

Entrevistada Ana:Então especificamente aqui no hospital a maioria é grande maioria a mulher é um hospital pediátrico acho que essa é a
característica da pediatria então eu não sei estatística exatamente mas deve ser em torno de 90% feminino é a faixa etária também aqui é de
40 é mais de 40 anos não é mas isso é uma característica do nosso hospital né que é nossos profissionais são todos é a maior parte dos
profissionais estão entre é a faixa de 40 e 50 anos é são profissionais que me procuram mais são profissionais de não eu ia falar que era de
ensino médio mas não tem muitas muitos profissionais de ensino superior então a grande maioria do pessoal da enfermagem que me me
procura seguir tudo os profissionais é dos setores administrativo médico super poucos pouco super poucos procurar atendimento individual
mas eu acho que até por questões econômicas eles procuram fora né quando sentem necessidade fazendo terapia particular é mas os médicos
participam dos grupos eu tenho aqui também um grupo de meditação (inaudível) é e daí eles gostam bastante porque aquele momento de
parar realmente dá uma centrada né poder ter um tempo fazer uma pausa depois retornar o trabalho então eles participam mais desses
eventos mas é do quais né individual .

Entrevistadora Lenara: Sim! e de que maneira essas pessoas chegam até você é … é encaminhada ou o é encaminhada assim diretamente
a você, ou pela instituição?

Entrevistada Ana: É, a princípio a demanda espontânea, a maioria vem e agenda o horário, ou me encontra no corredor, pede para o
atendimento né, em alguns casos muito pontuais vem encaminhado pra chefia né, pela chefia né, mas esses casos pontuais são casos assim
por exemplo. Faz tempo que isso não acontece mas caso assim por exemplo de briga né, no andar ,2 funcionários que brigaram ou
funcionário que discutiu com uma mãe né ,então fica aqui aquela situação será que a pessoa está muito estressada ,está passando por algum
problema em casa, ou é algum problema aqui no trabalho ,e a pessoa às vezes é meio resistente a conversar né ,com a chefia ,então… e vem
encaminhado aqui para o serviço de medicina do trabalho passa numa consulta comigo ou com assistente social inicialmente, porque é que
a gente garante o sigilo né a pessoa se sente acolhida sabe o que pode falar que não vai ter esse problema exposto e a gente pode encaminhar
né ,mas é um caso social às vezes sabe. já peguei a ter perda de guarda de filho, então assistente social auxilia orienta é porque deve ser
difícil a pessoa trabalhar em tanta coisa na cabeça né ,filho usuário de drogas aí fica difícil a pessoa trabalhar filho com risco de suicídio
como é que a pessoa vai trabalhar à noite sabendo que o filho com risco de suicido está sozinho em casa né, então essas pessoas acabam
ficando mais estressadas, brigam então vem até mim chegam por demanda da chefia e daí é bem delicado porque daí eu tenho que garantir o
sigilo né então eu só garanto pro pro chefe que encaminhou eu tenho que dar uma devolutiva porque ele fez um pedido oficial né eu tenho
que dar uma devolutiva mas a devolutiva é sempre respeitando o sigilo assim por exemplo é foi atendido e encaminhado só né para quem foi
encaminhado para onde que está acontecendo a gente não fala a gente já estamos dando segmento ao acompanhamento ( Lenara:entendi) e
se é alguma questão institucional que às vezes é uma briga que envolve alguma questão é profissional mesmo escala questões de trabalho aí
a gente chama para uma mediação de conflitos, com chefe ,supervisor, aí chama para as partes aí não participa só eu como psicólogo nos
casos de mediação de partido entra também a minha diretora ou assistente social ou enfermeira né para não configurar uma questão só de
atendimento psicológico né uma questão institucional maior (Lenara:tendi) mas a maioria vem por demanda espontânea tá e boca-a boca
um fala( Lenara: e vai vai falando(risos)tá bom).

Entrevistadora Lenara: E na sua opinião qual é a imagem que a população tem do psicólogo e da psicologia?

Entrevistada Ana: Aí não só institucional né? aí geral né?

Entrevistadora Lenara: Aí geral! Isso.

Entrevistada Ana: Então eu percebo que que a gente está bem numa transição né quando eu comecei é o atendi… o consultório há 20 anos
atrás 20 anos atrás eu lembro e muitos iam e ficavam com vergonha de falar que estava indo na terapia fiquei terapia era visto como uma
coisa de doido maluco aí no seu doido eu vim uma adolescente estava morrendo de medo com os amigos soubessem né é hoje em dia a
gente vê ao contrário sabe eu atendo muita adolescente no consultório e elas adoram falar para as amigas que está indo na psicóloga né(
risos) eu já tive um adolescente que pediu no meio do atendimento para conversar com os amigos dele fazer uma sessão em campo com os
amigos eu falei gente eles vão me zoar( risos) um monte de adolescentes, só que não, eles me respeitaram super bem eles tinham perguntas
muito pertinentes é sabe só porque era terapia quando procurar como fazia até apareceu aquele tipo de de é até uma piadinha mas era
verdade o menino falou assim sabe si né acontece uma coisa assim porque o meu amigo falou( risos )que isso aí meu amigo que falou né a
gente sabe que é a gente vê que tem um respeito maior daí o que que acontece assim aqui dentro do hospital, o hospital é uma instituição
médica né a gente tem uma questão de hierarquia os diretores são médicos né os grandes gestores são médicos e a gente e são pessoas com
mais idade mas 60 e a gente eu percebo que ainda tem preconceito relação à psicologia não todos não todas as clínicas tem clínicas que que
respeitam o trabalho do psicólogo que trabalha junto mas tem médico que ainda chama quando a mãe está chorando só, pra gente acalmar a
mãe acalmar a criança para que ele possa fazer o trabalho, mas não quer saber uma troca não quer ter uma troca o que que está acontecendo
com aquela família ,como que a equipe médica pode até atender melhor aquele cliente tem alguns médicos ainda que são né eu tive que
escutar uma vez assim uma pessoa um médico falando assim ai eu não acredito em psicologia como se fosse uma crença e não uma ciência
né eu falei ,Dr, mas psicologia é uma ciência né ,não é questão de crença né aí ele me ignorou e foi embora né tive que ouvir isso ( risos)

Entrevistadora Mayara : Eu estava até conversando com a minha terapeuta ontem sobre isso, é muito interessante o que ela falou porque
hoje em dia tipo as pessoas têm um olhar menos preconceituoso eu acho que esse olhar menos preconceituoso veio depois da pandemia
porque as pessoas viram uma necessidade assim hoje em dia ainda tem muitas pessoas assim” ignorante” nesse assunto assim que não
aceitam de forma nenhuma mas que ainda tem muitas pessoas que aderiram depois da pandemia porque principalmente assim pelo menos eu
vejo desse jeito.

Entrevistada Lenara: Sim! verdade.

Entrevistada Ana: Sim Mayara, minha agenda graças a Deus(risos) deu um UP depois da pandemia. Principalmente para os atendimentos
online né, que tem sido até aqui no hospital eu esqueci de falar, mas eu faço também atendimento online pra pacientes que estão de licença,
comecei também na pandemia porque a pessoa super angustiada com COVID em casa como é que eu ia atender né, eu comecei a atender
online e daí essa prática continuou,

Entrevistadora Lenara: E as pessoas se sente mais assim seguras né online né ou você acha que que não? Que não tem nada a ver?

Entrevistada Ana: É muito pessoal, …

Entrevistadora Lenara: É pessoal?

Entrevistada Ana: É… é tem que gente prefere ainda cara a cara .mas os mais jovens adolescentes já estão super
acostumados(inaudível)eu consigo até no consultório eu consigo até evoluir melhor mas através da intermediação aí da tela sabe eles se
soltam mais se sentem mais à vontade para falar dos conflitos do que é simples a gente está pessoalmente a gente percebe também que isso é
um efeito da pandemia sabe , desses dessas crianças que viraram adolescentes na pandemia , o quanto que isso mexeu com essa questão
social essas habilidades sociais sabe mas é não é não é o tema de hoje né gente ( risos)..

Entrevistadora Lenara: E na sua opinião quais são as contribuições que a profissão de psicólogo tem dado a sociedade como um todo?

Entrevista Ana: justamente, poder ampliar esse conceito de que saúde não é só a saúde física do corpo físico ,que está tudo ligado né se a
gente não tem saúde mental isso vai refletir no corpo nos órgãos e esses órgãos vão tão bem também vai refletir na nossa vida mental no
nosso comportamento nas escolhas né, nas tomadas de decisão, eu acho que a contribuição maior é essa sabe é mostrar para o mundo que
somos integrados né é (verdade) e nesse sentido somos integrados não só enquanto pessoas somos integrados também enquanto sociedade
né(sim) e porque é temos que pensar nas questões das discussões de gênero de raça né das inclusões ,as inclusões de verdade não só naquela
inclusão que falar na lei sabe mas as inclusões de verdade né, num… eu acho que o nosso conselho federal é muito engajado né nesses
assuntos da, é da sociedade integral né, sem exclusões.

Entrevistadora Lenara: verdade! E no seu ponto de vista quais são os requisitos necessários para a para a formação do psicólogo para a
sua área de atuação? o curso de graduação no qual se formou atendeu a esses requisitos?

Entrevistada Ana: Sim… sim meu curso, eu tenho certeza de que ele foi muito completo. Nossa é uma pergunta difícil porque tanta coisa
né há eu acho que os requisitos realmente é a gente poder a entender a psicologia como profissão né não só como a conselho bate-papo
achismo ou não é ciência não é crença né eu acho que isso é uma questão importante para ser trabalhada na faculdade eu lembro aí lembro
de uma coisa que foi difícil que eu não tive na faculdade foi uma falha aprender a cobrar sabe a cobrar mesmo paciente…

Entrevistadora Lenara: sério?

Entrevista Ana:(…) gente é porque, porque a gente está lá para ouvir o sofrimento, e a gente entra né, quando a gente recém-formada a
gente quer ajudar, a gente ajudar todo mundo né aí eu atendi uma mãe que tava, era uma mulher em uma vulnerabilidade né morava numa
comunidade. Como que no final da sessão eu ia pegar o dinheirinho dela sendo que ela tinha me falado que o filho tinha chorado, porque
queria comprar bolacha recheada e ela não tinha dinheiro, para comprar a a bolacha recheada. Eu atendia por um valor social ela me
pagava 20 reais a a sessão ,terminou a sessão dela que ela tinha me contado isso das questões econômicas difíceis que ela vive ela tirou da
bolsinha dela o 20 reais e me deu quase que eu peguei de volta e falei : compra bolacha pro seu filho,( risos) mas eu não podia claro! aí
isso foi angústia levei pra minha terapeuta levei para minha supervisora e foi minha supervisora que me alertou né , como Lu! você precisa
cobrar, é seu trabalho né ,ela tá valorizando né, ela não está de pedinte( risos) né, então eu acho que isso tem a ver com esse olhar
profissional que eu falei né, somos profissionais né , a gente não vê médico atendendo de graça na Avenida Paulista né, a não ser em
campanhas só de diagnóstico. A gente não vê advogado dando orientação, mas a gente vê muito psicólogo atendendo de graça por aí.
(verdade, risos) uma vez, inclusive eu perdi um emprego, eu estava lá no processo seletivo numa empresa e eu perdi emprego porque chegou
um psicólogo voluntário, aí o RH, falou, olha sinto muito, mas agora veio esse voluntário, aí a direção… decidi ficar com ele. Eu fui ver, era
alguém que tinha se formado comigo. Falei, há, que ótimo né, alguém que não precisa de dinheiro, vai trabalhar como voluntário, eu estava
lá quase sempre contratada né, então (Meu Deus) inaudível. ,Mas os requisitos né gente eu acho que é é muito difícil porque é tanta coisa
porque tem que passar por todas as áreas como vocês estão fazendo psicologia institucional, psicologia clínica , dá uma pincelada na
psiquiatria também é importante conhecer os transtornos mentais né ,atendimento infantil, acho que é tantas áreas né a questão ética é uma
coisa que falta as vezes pra gente… é saber fazer relatório direitinho apesar que no nosso conselho tem todo o manual de como fazer
relatório, fazer declaração é uma coisa que às vezes da faculdade a gente deixa de lado , sabe como fazer um recibo como fazer uma carta
pra escola né, as questões de proteção de dados, do sigilo que a gente tem que ter eu acho que essa questão de ética tem que…, não pode ser
esquecida também né ( verdade)

Entrevistadora Lenara: E, a necessidade de formação posterior a graduação? para que as pessoas que trabalham na… na …na …na sua
área de atuação? vou refazer a pergunta eu me atrapalhei um pouco. A necessidade de formação posterior a graduação para que se possa
trabalhar na sua área de atuação?

Entrevistada Ana: Olha por lei não, não precisa, mas é recomendado né, (é recomendado) é recomendado não é obrigatório para trabalhar
em hospital basta ter o seu CRT né, você pode trabalhar, mas é bem específico né, e assim a graduação, eu fiz graduação em período integral
por 5 anos. É, e mesmo assim… aí, eu fiz meu primeiro ano eu já fiz uma residência, fiz uma especialização também em de período integral
num hospital era 8 dias… 8 horas de hospital por dia, e mesmo assim sabe eu estava lá no hospital mesmo tempo que que essa faculdade
que essa carga horária tão grande, tinha coisas ali que eu tinha muita dificuldade ainda sabe, porque nossa área realmente é muito extensa e a
gente é e vai …não dá para ver tudo em 5 anos eu acho que a gente continua estudando para sempre na verdade, estava pensando na
quantidade de cursos que eu faço todo ano né, é eu acho que a gente continua para sempre.

Entrevistadora Patrícia :Eu Acredito que assim, é posterior a formação na faculdade, é…o estudo nunca foi demais né na vida da gente né,
em todo... todos os campos, mas eu eu acho que principalmente na psicologia devido a muita mudança durante esse tempo aí,
principalmente depois pós pandemia, é um estudo constante, ele é para mim é uma medicina no meu ver, né é uma medicina que você toda
vez, todo... praticamente todo mês, todo dia, não sei você tem uma atualização para…pra …para ter no currículo na sua grade curricular, é
então eu acho assim no ao meu ver, a psicologia para mim ela é eterna de aprendizado ,eterna porque vem( inaudível) aparecendo é
situações diferentes ,casos diferentes, novos, é ,novas doenças ,novas coisas que vêm aparecendo, e você tem que estar sempre atualizado
sempre mostrando né, que que você tá ali porque você não só gosta né, você ama aquela profissão que você tem , e para você amar você
tem que estar sempre ali em cima então, eu acho que é bem mais ou menos isso né o Luciana?

Entrevistada Ana:E a gente vai vendo também ao longo dos anos é, que vai dando uma angústia, porque você vai fazendo cada vez mais
curso, mais curso, mais curso e vai ter sempre coisas que você não vai saber né, então me veio uma maturidade né profissional. Uma coisa
que eu lembro que minha professora falava lá atrás quando estava na graduação, você não precisa saber de tudo, você só precisa saber onde
pesquisar ,sabe, então você não precisa saber toda a teoria de Freud, mas você tem que ter mais ou menos uma ideia o que está falando em
cada livro né, cada conselho para você saber perguntar, é então eu vejo hoje assim tem casos que eu não aceito, porque não aceito no
consultório porque eu percebo que vai além da minha capacidade técnica no momento.,então eu vou atrás de uma colega, né, de grupo ,eu
tenho uma (inaudível) de grupos dos psicólogos que se formaram comigo no ano 2000(risos) e sempre tem alguém que tem ali uma
especialidade que vai poder prestar o melhor serviço, melhor atendimento do que eu. Né, então também a gente ter essa humildade, porque
assim a gente não saber tudo, mesmo tendo agora né, tendo a facilidade do acesso para você estudar para ir atrás da informação, você não
vai saber. E nem precisa saber tudo também né, porque também se você fica se…. é …abrindo muito leque, e você não consegue ir a fundo
ali no que você está atendendo, no seu foco principal no mercado de trabalho.

Entrevistadora Lenara: E no mercado de trabalho? qual a situação atual no mercado de trabalho na sua área, assim como você é mais
experiente, é, tem mais possibilidades? do que para recém-formado?

Entrevistada Ana :Ai não, eu acho que o mercado tá, tá aquecido para todas nós, tá assim eu eu tenho LinkedIn né ,então eu sempre fico
recebendo notificações de novas oportunidades e sempre aparece também oportunidades para Junior né ,psicólogo recém formado é ,depois
da pandemia realmente é a demanda por atendimento aumentou e a demanda pro psicólogos tanto institucionais empresa ,RH a gente vê né
como era número de contratação acho que está no momento bom para nossa área é claro que quanto mais experiência a gente tem né ,mais
chance (inaudível) mas como eu falei o salário não tá compensando muito não, então a gente ter pensar bem, infelizmente né o consultório
ainda que nos sustenta né ,então é uma pena porque nem todo mundo pode pagar, e aí ser muito bom eu tenho dificuldade para encaminhar
aqui no hospital eu estou no SUS é não posso encaminhar para a clínica particular, eu tenho que encaminhar de SUS pra SUS ou para a
clínica social , que a pessoa não vai pagar nada né ,por lei, e eu tenho muita dificuldade, quando a pessoa vem até mim, quer fazer é terapia,
só que não aqui dentro né gostaria de uma terapia fora, para tratar as questões pessoais. é eu difícil, a gente encaminha pra UBS, muitas a
UBS não tem, a gente encaminha para CAPS né, mas CAPS é uma população específica, nem todo o caso é caso de CAPS né, então é bem
complicado é essa questão né, é então tem muitas vagas, mas mal remuneradas, então psicólogo acaba indo pro consultório, e tem uma
população muito específica que pode pagar né, não é todo mundo que pode ter.

Entrevistadora Lenara: E no futuro, você acha que vai continuar assim? é, como que você como que será esse mercado no futuro?
Complicado né?

Entrevista Ana: É…a gente vive, não, é, a gente vive num mundo imediatista né, então as pessoas querem a resposta pra agora né, então a
gente está nesse momento pós pandemia todo mundo pensando na sua saúde mental, tudo mais mas eu não sei até que até que ponto, vai se
sustentar sabe, porque as pessoas querem rápido né, então acho que é aquela questão que a gente tá falando de estudar, a gente pensando
técnicas de intervenção também mais rápidas né, eu acho que a psicanálise sofre muito com isso porque a psicanálise aquele processo a
longo prazo né, que é o que acredito que funciona de fato né, e mas que a gente tem que pensar em outras técnicas outros tipos de
abordagem né, porque né o mundo muda ,o mundo está mais rápido, a gente, o nosso trabalho também né, a gente tem que se aprofundar
nisso, se não a gente vai ter problemas no futuro.

Entrevistadora Lenara:é verdade

Entrevistadora Lenara: É… Como foi a sua entrada no mercado de trabalho, como chegou à posição que ocupa hoje?

Entrevista Ana: Concurso público, antes do concurso , eu trabalhei numa, era uma instituição escolar que tinha escola de ensino infantil, e
(inaudível) do ensino fundamental né, as crianças iam para uma escola e depois ficava lá, era uma instituição vinculada a uma empresa foi
meu primeiro emprego registrado como psicóloga ,é mas foi porque eu conhecia, meu marido trabalhava na empresa minha mãe já
trabalhava na empresa ,como trabalhava ainda ,então a gente conhecia ali, tinha a creche a gente chamava de creche né, a creche da
empresa, e eles estavam com essa necessidade, tinha algumas crianças com algumas questões emocionais bem importantes, e daí era uma
empresa muito boa assim pro funcionário né prestava muito apoio pro funcionário e daí contrataram a psicóloga para cuidar das crianças né
( risos) então foi meu primeiro trabalho, fazia um trabalho junto às professoras, fazia alguns atendimentos individuais também ,mas eu já
tinha a ideia desde o hospital ,desde a faculdade né, a partir do meu quarto ano eu fiquei 2 anos fazendo estágio na HC, gostei muito pode
trabalhar em hospital né, e aí fiz 1 ano de hospital também a residência aí eu fiquei prestando concurso, desde que eu me formei, até
conseguir entrar (sim).
Entrevistadora Lenara: Sim. A gente já até conversou sobre, mas eu vou te fazer a pergunta. Em termos de remuneração, como são as
condições da sua área? você saberia citar valores médios de remuneração?

Entrevistada Ana: Olha, tá baixo, o valor tá baixo, eu tenho um pouco de vergonha de falar meu salário de verdade, mas eu vou falar né,
vcs precisam saber né, mas aqui no estado ( risos) com meu salário para 30 horas semanais é 4000 reais né ,eu acho que isso né … tenho…é
os enfermeiros técnicos de enfermagem recebe a mesma coisa sabe, é nível médio, né, eu estudei muito mais, com todo respeito aos
técnicos de enfermagem, eu sei que eles levam o hospital nas costas, são os que mais trabalham aqui, mas a gente tem a mesma carga
horária. e eles recebem mesma coisa que eu, e eles tem possibilidades de fazer plantão e (inaudível) então muitos recebem mais do que eu
,porque trabalham de duas..3 dias a mais né fazem plantões e ganham mais né, e eu acho um absurdo, é isso ,a gente não ser reconhecido ali
no nosso valor né, eu ganho metade, menos da metade do que(inaudível) deve ser a metade dos (inaudível) e é complicado né porque se a
gente vai para o consultório, foca no consultório, que onde a gente vai ter realmente a nossa renda né.(inaudível) sabe porque não era
assim, não foi sempre assim, quando eu entrei não era tão baixo assim nosso salário, o problema é que a gente não tem reajuste e não tem
aquele dissídio anual sabe, então é como se tivesse é 10 anos nosso salário congelado né assim, há 10 anos atrás eu ganhava 4000,00
continuo ganhando 4000,00 agora sabe, só isso, e a gente tem descontos, isso eu estou falando é, é , não bruto dá um pouquinho mais só,
mas é assim só… é no site da transparência vocês conseguem ver os salários de todo mundo vocês quiserem dar uma fuçada(risos).
vergonha, vergonha alheia, mas assim no LinkedIn esse para trabalhar em hospital particular e trabalhar em empresa o salário tem sido esse,
gente, muito poucas vagas têm um salário maior que esse, eu fico indignada. eu falo gente, que isso! Né, cadê nossa valorização né, talvez
seja uma briga aí do nosso conselho né. dá uma ajudinha aí pra gente aí né, briga pela gente também né? Como (inaudível) né, como os
enfermeiros né, o salário base da enfermagem, tudo mais, mas acho que a gente precisa também de uma de apoio aí, do nosso conselho.

Entrevistadora Lenara :Nossa! mas tá precisando mesmo porque hoje em dia, é…todo mundo precisa, é como a Paty falou né, pós
pandemia tá todo mundo precisando né, então tem que reconhecer mais os psicólogos.

Bom acabou as perguntas, muito obrigada, muito obrigada. quer falar alguma coisa para Paty?

Entrevistadora Patrícia: Não. só agradecer mesmo você ter doado esse tempo aí para a gente, ter aceitado fazer essa entrevista. é muito
obrigada de coração. E vamos lutar então para essa psicologia e assim ó pro topo pro topo, porque todo mundo precisa de psicólogo. (risos)

Entrevistada Ana: E a gente precisa pagar boleto também. A gente não vive só de amor a profissão, a gente precisa né, de melhores
salários né(risos)

Entrevistadora Lenara: Verdade!

Entrevistada Ana: Gente, boa sorte para vocês que a caminhada de vocês e já linda, Serena, e muitas realizações viu, e parabéns pela
escolha, escolha boa sorte.

Entrevistadoras: muito obrigado viu bom trabalho beijo tchau tchau tchau alho obrigada tchau.

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