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Autora:
Lúcia Caruso
Mestre em Nutrição Humana Aplicada - USP
Especialista em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo e em
Nutrição Enteral e Parenteral pela SBNPE
Docente do Centro Universitário São Camilo
Nutricionista do Hospital Universitário da USP
1- Introdução
2- Admissão Nutricional
Ao ser internado, o paciente deve ser questionado sobre possíveis aversões
alimentares para que suas refeições, a partir do “Padrão de Dietas” da unidade
hospitalar em que se encontra, possam ser adaptadas, na medida do possível, às
suas preferências. Para essa adaptação faz-se necessário considerar a presença
de doenças associadas (como diabetes, hipertensão, hipercolesterolemia,
insuficiência renal), que implicam em condutas nutricionais específicas.
Ainda é importante que a admissão inclua uma investigação referente a
alterações no peso corporal e apetite, que são fundamentais para o
estabelecimento do risco nutricional. Este risco, segundo Shills et al.1, inclui
qualquer situação onde há presença de fatores, condições ou diagnósticos, que
possam afetar o estado nutricional do indivíduo. A triagem nutricional, conforme já
abordado em outro capítulo, tem como objetivo identificar precocemente o
paciente em risco nutricional e permitir que a intervenção nutricional seja
planejada. A chave do sucesso de uma intervenção é o seu estabelecimento
precoce. Nesse sentido, a triagem nutricional é o instrumento fundamental para
que este processo ocorra.
Segundo a Resolução 63 (Anvisa)2 compete ao nutricionista, como membro da
Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional, com base em protocolo pré-
estabelecido, realizar a identificação dos pacientes em risco nutricional. Vários
questionários foram propostos na literatura para esse processo e a Unidade de
Nutrição deve estabelecer um protocolo para admissão nutricional, de acordo com
os recursos disponíveis (humanos, de materiais e financeiros).
A partir da identificação do risco nutricional, o próximo passo é a realização
da avaliação objetiva, já discutida em outro capítulo. Os parâmetros de avaliação
nutricional mais utilizados na prática clínica são o peso corporal, pregas cutâneas
e exames bioquímicos (especialmente albumina sérica). Estes parâmetros são
importantes não só para o diagnóstico nutricional, como também para o
acompanhamento da evolução do paciente.
É necessário ressaltar a relação entre avaliação nutricional e qualidade na
assistência. A partir dos anos 90, a qualidade na assistência hospitalar passou a
ser uma prioridade, com a publicação de “Manuais de Acreditação”. Os
procedimentos e processos são avaliados quanto ao alcance dos objetivos a que
se propõem. A Joint Commission for Accreditation of Health Care Organizations3 é
uma instituição que visa a acreditação de instituições de saúde, com o propósito
de garantir a qualidade. Segundo esta instituição, a triagem e a avaliação
nutricional objetiva são componentes vitais do processo de assistência nutricional.
Isso porque este é o ponto de partida para o estabelecimento racional do plano
nutricional, cuja eficiência deverá ser monitorada por meio da avaliação objetiva.
Segundo o guia para nutrição enteral no período pré e pós cirúrgico,
proposto pela ESPEN4, que é a Sociedade Européia de Nutrição Enteral e
Parenteral, pacientes com risco nutricional grave, são candidatos à nutrição
enteral por um período de 10 a 14 dias antes de cirurgia de grande porte, mesmo
que isso implique num atraso na realização da cirurgia. Essa indicação é baseada
em estudos que relacionam o estado nutricional precário com aumento da
morbidade, tempo de hospitalização e mortalidade. Preferencialmente, a terapia
nutricional deve ser programada antes da internação. No quadro 1 estão
especificados os critérios para o estabelecimento do risco nutricional grave.
OBS: * GEB: Gasto Energético Basal, FA:Fator Atividade, FI: Fator Injúria
Fonte: adaptado de BERNARD, M.A. et al.7
A partir daí, é necessário estabelecer a via de acesso nutricional, que pode ser:
oral, enteral ou parenteral. Embora a abordagem sobre nutrição enteral e
parenteral tenha sido realizada em outro capítulo, apenas para facilitar o
entendimento, no quadro 5 são apresentadas algumas considerações que pode
auxiliar na escolha da via de acesso, considerando a funcionalidade do trato
digestório e a capacidade de aceitação alimentar do paciente.
.
Quadro 5- Considerações para escolha da via de acesso para terapia
nutricional no pós-cirúrgico.
Refeição
Desjejum Café com leite Café com leite Café com leite Café com leite Café com leite
Pão Pão Pão Bolacha
Margarina Margarina Margarina salgada
Mamão Mamão Mamão Margarina
Mamão
Média
energética do 2600 kcal 2400 kcal 2100 kcal 1500 kcal 800 kcal
dia*
4.2.2- Colecistectomias
A causa mais freqüente de indicação de ressecção da vesícula biliar é a
colelítiase, isto é, a presença de cálculos. Além das cólicas que podem ocorrer
durante a contração da vesícula biliar, que são marcadas por crises de dor, o risco
de migração dos cálculos causando a inflamação e obstrução das vias biliares,
são motivos suficientes para a indicação de cirurgia a partir do estabelecimento do
diagnóstico.
A ressecção total da vesícula biliar não prejudica a absorção de lipídios,
uma vez que a produção hepática de sais biliares mantém-se normal, permitindo
esse processo. A alimentação no pós-operatório inicia-se com dieta líquida ou
leve, progredindo até geral, conforme as condições do paciente. Apenas no caso
em que a cirurgia envolve manipulação do colédoco e utilização de drenos
espoliativos (como o dreno de Kher), que pode ser visualizado na figura 1, é
recomendada a dieta hipolipídica durante a permanência do dreno. Isto porque o
dreno retira da luz intestinal a secreção biliar, impedindo a adequada digestão dos
lipídios. A partir do momento em que o dreno é fechado ou sacado, o que ocorre
em 10 a 15 dias, dependendo do caso, é restabelecida a condução da secreção
biliar para a luz duodenal e a digestão das gorduras poderá ser realizada sem
problemas.
4.2.3- Esofagectomias
Nos primeiros dias após a cirurgia o paciente permanece em jejum, até que
a identificação da presença de ruídos hidro aéreos possibilite a utilização do trato
digestório. Normalmente a via enteral, por meio de sonda introduzida durante a
cirurgia através da cavidade nasal, é a primeira opção para nutrição. Isto porque o
esôfago é muito suscetível à ocorrência de fístulas, sendo necessário diminuir sua
motilidade pelo estímulo da deglutição. Em determinadas situações pode ser
indicada a via parenteral. Comprovada a ausência de fístulas por meio do
esofagodeglutograma, a via oral pode ser introduzida. Inicia-se com a dieta
líquida, evoluindo-se progressivamente a consistência.
Geralmente, esses pacientes apresentam déficit nutricional anterior à
cirurgia. Com a estabilização no pós cirúrgico, deve ser programada a reabilitação
através da intervenção, que nesse caso deve ser o mais precoce possível, com
acompanhamento nutricional por meio de avaliação objetiva.
4.2.4- Gastrectomias
A gastroplastia, que visa em obesos mórbidos a redução na ingestão
alimentar e conseqüente perda de peso corporal, já foi discutida em outro capítulo.
A abordagem aqui refere-se às gastrectomias indicadas para o tratamento de
úlceras e neoplasias.
A gastrectomia pode ser total, com reconstrução esôfago-jejunal, ou parcial,
com reconstrução esôfago-duodenal (Billroth 1) ou esôfago-jejunal (Billroth 2),
conforme a necessidade do caso. Com a finalidade de facilitar a compreensão, na
figura 2 são apresentados os pontos onde o cirurgião poderá realizar a secção
gástrica, e nas figuras 3 e 4, estão dois tipos diferentes de reconstrução da
gastrectomia parcial. Vale considerar que existem diversos tipos de técnicas de
reconstrução, mas que não é objetivo principal dessa discussão. O leitor
interessado pode recorrer a um livro de técnica cirúrgica.
Figura 2 – Indicação (setas) dos pontos onde pode haver a ressecção gástrica.
Quadro 10 – Principais diretrizes da terapia nutricional por via oral após cirurgias
intestinais
Via oral Recomendação nutricional
Consistência Iniciar com dieta líquida, evoluindo
gradativamente conforme a tolerância até a geral.
Agradecimentos
Aos nutricionistas do SND-HU-USP, pela permissão na divulgação de material
interno, Dr. Sérgio Moryama autor dos desenhos das técnicas de gastrectomia, Dr
Murilo Alexandre Carmona, cirurgião do HU-USP, e Soraia Covelo Goulart,
nutricionista chefe do SND-HU-USP, pela atenção especialmente dispensada.
Referências Bibliográficas
1- SHILS, ME, OLSON JA, SHIKE M, ROSS AC. Tratado de nutrição na saúde e
na doença. São Paulo: Manole, 2002.
9- CARUSO, L.; FARAH, R.; SILVA, A.L.N.D. Dietas hospitalares: uma abordagem
na prática clínica. São Paulo: Atheneu, 2002.
10- PAPINI-BERTO, S.J.; MAIO, R.; MÓDOLO, A.K.; SANTOS, M.D.B.; DICHI, I.;
BURINI, R.C. Desnutrição protéico-energética no paciente gastrectomizado. Arq.
Gastroenterol., v.39, p.3-10, 2002.
11- AMERICAN SOCIETY FOR PARENTERAL AND ENTERAL NUTRITION.
Guidelines for the use of parenteral and enteral nutrition in adult and pediatric
patients. JPEN, v.26, supl., p.S1-S138, 2002.
15- ALPERS DH. Glutamine: do the data support the cause for glutamine
supplementation in humans? Gastroenterol., v. 130, supl., p.106-116, 2006.
Considerando que a história relata disfagia intensa no período pré cirúrgico, que
conseqüentemente implicou em ingestão alimentar deficiente e levando em conta
o resultado da análise do IMC e % de perda de peso, concluímos que o paciente
está em subnutrição. A intervenção no pré cirúrgico com a nutrição por via enteral
iniciou um processo de recuperação, mas que deverá estender-se no pós
cirúrgico.
b-) O suporte nutricional deve ser iniciado o mais precocemente possível, ou seja,
assim que os ruídos hidro aérios estejam presentes, considerando o déficit
nutricional do paciente. A via de escolha é a enteral, desde que o trato digestório
esteja funcionante, a fim de manter a integridade da mucosa.
c-) A estimativa de energia pode ser realizada a partir do gasto energético basal
com a fórmula de Harris & Benedict (GEB) acrescida do fator atividade (1,2) e
injúria (cirurgia eletiva: 1,0 a 1,2), portanto:
Estimativa de energia = GEB x FA x FI
A estimativa de proteínas deve considerar uma dieta hiperproteíca com 1,0 a 1,5g
de proteínas/kg/dia.
Deve-se observar que o peso a ser utilizado para a estimativa do GEB e
necessidade de proteínas é o peso habitual, uma vez que o paciente apresentou
grande perda de peso e enscontra-se subnutrido
d-) A partir do esofagodeglutograma, a via oral iniciando com dieta líquida poderá
ser introduzida e a consistência evoluída conforme a aceitação. Pode-se
programar a retirada gradativa da via enteral, supondo-se uma aceitação por via
oral que garanta a recuperação nutricional
3- a-) A dieta por via oral deverá ser pobre em fibras insolúveis e rica em solúveis
para controle da diarréia, hipolipídica com uso de TCM para facilitar a absorção de
gorduras devido o déficit na reabsorção dos sais biliares. A introdução de
alimentos com lactose deverá ser gradativa.
b-) A programação de reposição de vitamina B 12 em virtude do déficit na
absorção.