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DO CONSUMIDOR
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar sobre as relações de consumo e ética.
Você vai compreender o que o ato de consumir representa, a partir do
entendimento de questões subjetivas, como valores éticos, preocupações
sociais, encenações e dissimulações em torno do tema. Você também
vai estudar o que é ética, especialmente no âmbito das organizações e
dos negócios, a partir da percepção de que a sociedade está cada vez
mais atenta ao impacto que as ações das empresas causam no mundo.
Dessa forma, refletindo sobre contextos sociais contemporâneos,
você vai poder compreender a importância da ética nas relações de
consumo. Você também vai verificar as principais normas e legislações
que amparam as boas práticas nesse sentido e, por fim, vai estudar a
metodologia de um programa de aplicação da ética ao consumo, com
base nos conteúdos expostos no capítulo.
Ética e consumo
Para estudar as relações de consumo, é preciso compreendê-las em um con-
texto maior, o da ética, relacionando-a ao que o consumo representa para os
indivíduos e para a sociedade. A partir disso, é estabelecido um caminho para
reconhecer a importância da ética nas relações de consumo.
2 Consumo e responsabilidade ética
O que é ética?
De uma forma abrangente, a ética consiste em uma forma de distinguir o
que acreditamos que seja correto daquilo que acreditamos que é errado. Para
esse entendimento, usamos o verbo “acreditar”, pois o que é certo ou errado
é circunstancial e evolui no tempo/espaço, conforme o desenvolvimento da
sociedade. Nesse caso, compreende-se sociedade como “[...] uma comunidade
estruturada de pessoas vinculadas umas às outras por tradições e costumes
similares”, conforme Ghillyer (2015, p. 4).
É importante destacar que a ética é uma questão mutante, que não deve
ser tratada como algo sem importância ou de fácil manipulação, mas, sim,
reconhecendo-se a evolução e a pluralidade que envolvem esse conceito.
Deve-se atentar para os aspectos contraditórios e, em geral, legítimos dos
diferentes pontos de vista e para a existência de dilemas éticos.
No que tange aos aspectos contraditórios, deve-se ter em mente que pensar
diferente não quer dizer pensar errado, mas compreender que a construção de
como pensamos é uma soma de todas as vivências e aprendizagens que temos
no curso de nossas vidas. Diferentes experiências resultam em diferentes for-
mas de pensar. O padrão moral do certo e errado é baseado, segundo Ghillyer
(2015, p. 5), em “[…] crenças religiosas, culturais ou filosóficas […] podendo
ser proveniente de muitas fontes: amigos, família, origem étnica, religião,
escola, mídia, modelos e mentores pessoais”. Assim, percebe-se a diversidade
desses conjuntos, bem como os resultados da equação.
Além da diversidade de origens dos padrões morais, Ghillyer (2015) aponta
ainda quatro noções distintas de ética que fazem parte do senso comum,
conforme descritas abaixo.
Regra de ouro: “faça aos outros apenas o que gostaria que fizessem a
você”. Para o autor, o problema desse conceito diz respeito à harmonia
e à expectativa da reciprocidade — ou seja, você espera que os outros
pensem e ajam como você.
Ética da virtude: vive-se de acordo com um ideal a alcançar. O problema
é que o conceito de virtude — o que é bom ou desejável — muda
conforme o contexto, podendo ser sinônimo de caridade, altruísmo,
coragem, esperteza, tenacidade.
Utilitarismo: a ação decorre do bem comum para o maior número de
pessoas. Esse conceito remete à ideia de o “bem maior” ser justificável,
mesmo se consistir em uma ação ruim, quando o dano contabilizado
é menor do que o ganho. Preocupa-se com o resultado, e não com os
Consumo e responsabilidade ética 3
Tendo como base a resolução dos dilemas éticos, Kohlberg (1984 apud
GHILLYER, 2015) esboçou um esquema do processo de raciocínio ético
(Figura 1), baseado em três níveis e seis etapas, conforme descrito a seguir.
Vantagem pessoal
Relações de consumo
O consumo representa mais do que a aquisição de produtos e serviços. Quando
adquirimos algo, escolhemos em relação a um contexto de oportunidades,
visando a suprir alguma necessidade. Nesse sentido, há variáveis em debate,
como: acesso, adesão a padrões e prioridades do ciclo de vida, além do que se
entende como correto, bom ou suficiente para atender às expectativas. Logo,
consumir é um exercício constante de reflexão entre a imagem que temos e
a que queremos produzir, além de abranger as expectativas que temos com
relação ao meio social. Por meio do consumo, estamos manipulando signos,
valores e princípios e dando visibilidade ao que acreditamos.
Assim, percebe-se que o consumo não é um comportamento simples e
óbvio, mas multidimensional, e oculta diferentes fatores. Nesse sentido, Reis
(2012) elenca algumas dimensões do consumo, descritas a seguir e esquema-
tizadas na Figura 2.
Ideologia: com o fim das grandes causas que ambientaram o século XX, como
comunismo, socialismo e capitalismo, o desenvolvimento do consumo como
forma de alavancar a sociedade se tornou uma das principais motivações para
a sociedade e para as pessoas. A trocas passaram a ser simbólicas, e sobre elas
as pessoas falam, comentam e idealizam a sua vida. Nesse contexto, produtos
e serviços corporificam as marcas, que se humanizam e convivem com os
consumidores como amigos próximos, promovendo ideais em comum.
Consumo e responsabilidade ética 7
A base da Hedonismo
sociedade Inovação do
de consumo cotidiano
A válvula de Financiamento
escape na falta do poder
de ascensão público
social
Dissimulação Culturalização
do real do natural
Ideologia Homogeneização
Organização e diferenciação
simbólica
do mundo:
Normas e legislações
Considerando o consumo como uma atividade com impacto relevante sobre
indivíduos, grupos e comunidades, ao longo do tempo foram instituídas leis
e normativas que salvaguardam e qualificam as relações de consumo. Em
março de 1991, entrou em vigor a Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990,
denominada de Código de Defesa do Consumidor (CDC). Essa Lei foi um
marco importante nas relações de consumo, visto que, até então, o consumidor
era o elo (muito) mais fraco da corrente: se comprasse algo estragado, vencido
ou diferente da expectativa anunciada pela publicidade, não havia regramento
claro, e o consumidor ficava sem voz e com o prejuízo. O que parece óbvio
hoje, como data de validade em produtos perecíveis, não era obrigatório.
É oportuno analisar o contexto da época em que o Código de Defesa do
Consumidor começou a vigorar. Não havia internet, e-mail, redes sociais,
celulares e telefones de forma abrangente como há atualmente. Era o auge
dos meios de comunicação de massa (mass media), os quais os veículos de
comunicação operavam por meio da lógica em que um “fala” e muitos (mui-
tos mesmo) “escutam”. As informações não circulavam na velocidade e na
quantidade que existem hoje.
Com o tempo, houve a aclimatação dos participantes das relações de con-
sumo — consumidores e fornecedores — ao CDC. Hoje, tais relações pare-
cem naturais; todavia, foi um longo caminho. Pode-se dizer que a trajetória
se deu conforme o processo de raciocínio ético mostrado na Figura 1 deste
capítulo: partindo dos níveis mais baixos, sendo necessária a punição para
agir conforme o que é correto, até chegar ao nível mais alto, o qual é regido
pelos princípios e valores morais. Dessa forma, desenvolveu-se uma relação
que atende ao art. 4º do CDC:
Uma das atualizações do CDC foi o Decreto nº. 8.753/2015, que “[…] permite a interlo-
cução direta entre consumidores e empresas para solução de conflitos de consumo
pela internet” (BRASIL, [2019], documento on-line). Por meio do link a seguir, você
tem acesso a vários estudos e publicações que envolvem as relações de consumo.
São materiais de educação para o consumo produzidos pelo Governo Federal, pelos
órgãos de defesa do consumidor (Procons) e pelas entidades civis de todo o país, que
compartilham informações a fim de implantar a consciência de respeito aos direitos
dos consumidores na sociedade.
https://qrgo.page.link/WnZtu
Responsa-
bilidade
filantrópica
Responsabilidade
ética
Responsabilidade legal
Responsabilidade econômica
Veja no Quadro 1 a seguir uma síntese dos conceitos de ética e RSC expostos
até o momento. Tais conceitos servem como base para o desenvolvimento de
programas de aplicação da ética nas relações de consumo.
Individualismo,
instrumentalismo
e troca
Bom menino/
boa menina
Consciência Filantrópica
baseada em
princípios
Fonte: Adaptado de Kohlberg (1984 apud GHILLYER, 2015), Ferrell, Hartline (2014) e Ghillyer (2015).
Fase 1. Diagnóstico
■ Analise os cenários interno e externo da organização: pontos fortes e
fracos da empresa e oportunidades e ameaças impostas pelo mercado.
Assim, você terá os dados para compor a matriz SWOT (dos termos
em inglês strengths, weaknesses, opportunities e threats, ou forças,
fraquezas, oportunidades e ameaças), demonstrada na Figura 4.
Empresa Mercado
Forças Oportunidades
Fraquezas Ameaças