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RESUMO DE EPIDEMIOLOGIA (24.11.

2013)

Questões da prova de 2012.1

1) Deu um caso de morte por causa natural – perguntou quem preencheria a DO


(médico do PSF) e qual era a causa básica (câncer de esôfago).
2) Mandou escolher dois vieses de seleção e dois vieses de aferição e explica-los.
3) Mandou citar 4 critérios e explicar dois deles do que é necessário para uma
doença entrar na lista de notificação compulsória (Essa foi a questão de vigilância
e que não tem nada nesse resumo!).
Para as 2 últimas questões: Deu um caso de realização do PCR com alto valor de
sensibilidade e alto valor preditivo negativo.
4) O que significa alta sensibilidade e alto VPN neste caso, qual a importância disto.
5) O que podemos dizer sobre reprodutibilidade no caso em questão.

1. DECLARAÇÃO DE ÓBITO

O que é? é o documento-base do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da


Saúde (SIM/MS). É composta de três vias auto- copiativas, pré-numeradas sequencialmente,
fornecida pelo Ministério da Saúde e distribuída pelas Secretarias Estaduais e Municipais de
saúde conforme fluxo padronizado para todo o País.

Objetivos principais: 1. é o de ser o documento padrão para a coleta das informações sobre
mortalidade que servem de base para o cálculo das estatísticas vitais e epidemiológicas do
Brasil; 2. de caráter jurídico, é o de ser o documento hábil, conforme preceitua a Lei dos
Registros Públicos – Lei 6015/73, para lavratura, pelos Cartórios de Registro Civil, da
Certidão de Óbito, indispensável para as formalidades legais do sepultamento.

A emissão da DO é ato médico, segundo a legislação do País. Portanto, ocorrida uma morte, o
médico tem obrigação legal de constatar e atestar o óbito, usando para isto o formulário
oficial "Declaração de Óbito".

O que o médico não deve fazer? 1. Assinar DO em branco. 2. Preencher a DO sem,


pessoalmente, examinar o corpo e constatar a morte. 3. Utilizar termos vagos para o registro
das causas de morte como parada cardíaca, parada cardio-respiratória ou falência de múltiplos
órgãos. 4. Cobrar pela emissão da DO.

Nota: O ato médico de examinar e constatar o óbito poderá ser cobrado desde que se trate de
paciente particular a quem não vinha prestando assistência.

Em que situações emitir a DO? 1. Em todos os óbitos (natural ou violento). 2. Quando a


criança nascer viva e morrer logo após o nascimento, independentemente da duração da
gestação, do peso do recém-nascido e do tempo que tenha permanecido vivo. 3. No óbito

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fetal, se a gestação teve duração igual ou superior a 20 semanas, ou o feto com peso igual ou
superior a 500 gramas, ou estatura igual ou superior a 25 centímetros.

Em que situações não emitir a DO? 1. No óbito fetal, com gestação de menos de 20
semanas, ou peso menor que 500 gramas, ou estatura menor que 25 centímetros. 2. Peças
anatômicas amputadas. Nesses casos, o médico elaborará um relatório em papel timbrado do
Hospital descrevendo o procedimento realizado. Esse documento será levado ao Cemitério,
caso o destino da peça venha a ser o sepultamento.

Nota: A legislação atualmente existente permite que, na prática, a emissão da DO seja


facultativa para os casos em que a família queira realizar o sepultamento do produto de
concepção.

Como preencher os quesitos relativos à causa da morte? As causas a serem anotadas na


DO são todas as doenças, os estados mórbidos ou as lesões que produziram a morte ou
contribuíram para mesma, além das circunstâncias do acidente ou da violência que
produziram essas lesões. O médico deverá declarar as causas da morte anotando apenas um
diagnóstico por linha:
Parte I:
a. Causa imediata ou terminal
b. Causa intermediária
c. Causa intermediária
d. Causa básica da morte

Parte II: Outros estados patológicos significativos que contribuíram para a morte, não estando,
entretanto, relacionados com o estado patológico que a produziu.

Para preencher adequadamente a DO, o médico deve declarar a causa básica do óbito em
último lugar (parte I - linha d), estabelecendo uma sequência, de baixo para cima, até a causa
terminal ou imediata (parte I - linha a). Na parte II, o médico deve declarar outras condições
mórbidas pré-existentes e sem relação direta com a morte, que não entraram na sequência
causal declarada na parte I.

No óbito por causas externas? O médico legista, ou perito, deve declarar, na parte I, linha a,
como causa terminal, a natureza da lesão. Na parte I, linha b, como causa básica, a
circunstância do acidente ou da violência responsável pela lesão que causou a morte.

Tempo aproximado entre o início da doença e a morte? O médico não deve se esquecer de
preencher, junto a cada causa, a duração de tempo aproximado da doença (do diagnóstico até
a morte). Essa informação representa importante auxílio à seleção da causa básica.

Fluxo: Causa natural: 1) Médico da localidade 2) se não tiver, tem que chamar um médico
da localidade próxima 3) se não tiver, tem que acionar o Serviço de Verificação de óbito

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(SVO).

Causa não – natural: 1) Médico do IML. 2) Se a cidade não tiver IML, médico da
localidade ou uma pessoa designada como perito legista ad hoc designado pelas autoridades
jurídicas e policiais.

2. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

O que é? “um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção


de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou
coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das
doenças ou agravos”.

Objetivo: fornecer orientação técnica permanente para os profissionais de saúde, que têm a
responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos,
tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas
doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área geográfica ou
população definida. Subsidiariamente, a vigilância epidemiológica constitui-se em importante
instrumento para o planejamento, a organização e a operacionalização dos serviços de saúde.

Funções: • coleta de dados; • processamento de dados coletados; • análise e interpretação dos


dados processados; • recomendação das medidas de prevenção e controle apropriadas; •
promoção das ações de prevenção e controle indicadas; • avaliação da eficácia e efetividade
das medidas adotadas; • divulgação de informações pertinentes.

O cumprimento das funções de vigilância epidemiológica depende da disponibilidade de


dados que sirvam para subsidiar o processo de produção de INFORMAÇÃO PARA AÇÃO.
A coleta de dados ocorre em todos os níveis de atuação do sistema de saúde.

Tipos de dados:
a) Dados demográficos, ambientais e socioeconômicos - é primordial para a
caracterização da dinâmica populacional e das condições gerais de vida. Ex.: O número de
habitantes, de nascimentos e de óbitos devem ser discriminados segundo características de sua
distribuição por sexo, idade, situação do domicílio, escolaridade, ocupação, condições de
saneamento, entre outras.
b) Dados de morbidade - dados oriundos da notificação de casos e surtos, da produção
de serviços ambulatoriais e hospitalares, de investigações epidemiológicas, da busca ativa de
casos, de estudos amostrais e de inquéritos, entre outras fontes. São os mais utilizados.
c) Dados de mortalidade - Sua obtenção provém de declarações de óbitos, padronizadas
e processadas nacionalmente.
d) Notificação de emergências de saúde pública, surtos e epidemias - detecção
precoce de emergências de saúde pública, surtos e epidemias ocorre quando o sistema de
vigilância epidemiológica local está bem estruturado, com acompanhamento constante da

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situação geral de saúde e da ocorrência de casos de cada doença e agravo sujeito à notificação.
Essa prática possibilita a constatação de qualquer situação de risco ou indício de elevação do
número de casos de uma patologia, ou a introdução de outras doenças não incidentes no local
e, consequentemente, o diagnóstico de uma situação epidêmica inicial, para a adoção imediata
das medidas de controle. Em geral, esses fatos devem ser notificados aos níveis superiores do
sistema para que sejam alertadas as áreas vizinhas e/ou para solicitar colaboração,quando
necessária.

Principais fontes de dados: - notificação compulsória: é a base da vigilância


epidemiológica, é informação de autoridades sanitárias de agravo à saúde. - prontuários
médicos: principalmente para complementar informações. - atestados de óbito: geram dados
sobre mortalidade e são pertinentes caso o óbito seja causa de doenças sujeitas a controle. -
resultados de laboratório: importantes locais de confirmação diagnóstica. - bancos de
sangue. - investigação de casos e epidemias. - inquéritos comunitários

O caráter compulsório da notificação implica responsabilidades formais para todo cidadão e


uma obrigação inerente ao exercício da medicina, bem como de outras profissões na área de
saúde. Mesmo assim, sabe-se que a notificação nem sempre é realizada, o que ocorre por
desconhecimento de sua importância e, também, por descrédito nas ações que dela devem
resultar.
Investigação epidemiológica é um trabalho de campo, realizado a partir de casos notificados
(clinicamente declarados ou suspeitos) e seus contatos, que tem como principais objetivos:
identificar fonte de infecção e modo de transmissão; identificar grupos expostos a maior risco
e fatores de risco; confirmar o diagnóstico; e determinar as principais características
epidemiológicas. O seu propósito final é orientar medidas de controle para impedir a
ocorrência de novos casos. É requerida quando é necessário melhor conhecimento sobre a
situação existente. As situações que justificam a investigação são: doença prioritária, número
de casos em excesso, fonte comum de infecção (água, por exemplo), quadro clínico grave e
doença desconhecida na região.

Investigação de casos: permite determinar fonte de infecção, as vias de transmissão, os


contatos, os demais casos, medidas de controle apropriadas, os fatores de risco e
ensinamentos para futuras situações semelhantes.

Investigação de uma epidemia ou surto de determinada doença infecciosa: O principal


objetivo é identificar formas de interromper a transmissão e prevenir a ocorrência de novos
casos.

Epidemia – elevação do número de casos de uma doença ou agravo, em um determinado


lugar e período de tempo, caracterizando, de forma clara, um excesso em relação à frequência
esperada.
Surto – tipo de epidemia em que os casos se restringem a uma área geográfica pequena e bem
delimitada ou a uma população institucionalizada (creches, quartéis, escolas, etc.).

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Etapa 1 – Confirmação do diagnóstico da doença
Etapa 2 – Confirmação da existência de epidemia/surto
Etapa 3 – Caracterização da epidemia
Etapa 4 – Formulação de hipóteses preliminares
Etapa 5 – Análises parciais
Etapa 6 – Busca ativa de casos
Etapa 7 – Busca de dados adicionais
Etapa 8 – Análise final
Etapa 9 – Medidas de controle
Etapa 10 – Relatório final
Etapa 11 – Divulgação
No caso de elucidação de epidemias, o processo de investigação é norteado por um roteiro
específico de ação em que se seguem as etapas do método científico, em que se trabalha a
caracterização do problema, formulação de hipóteses e sua verificação.

Há dois tipos principais de epidemia:

1) Explosiva: originária de uma fonte comum e ocorrerá de forma brusca em pouco


tempo.
2) Progressiva: Pode ser gradual, regular ou irregular como ocorre na propagação de
agentes de pessoa para pessoa ou por intermédio de vetor, a distribuição cronológica
mostra casos dispersos, em um maior período de tempo.

3. TIPOS DE VALIDADE

Validade: é o grau de correção das conclusões alcançadas.

Validade interna: grau em que as conclusões de um estudo são corretas para a amostra
investigada. Na análise metodológica no seio da própria investigação, como a compatibilidade
dos grupos estudados, precisão técnica diagnóstica utilizada, procura-se trabalhar técnicas que
validem o estudo, como relevância dos indicadores utilizados, controle dos fatores que
possam dificultar a interpretação e a estatística, que pode precisar o erro da estimativa. Desse
modo, procuram-se falhas internas na própria investigação que possam interferir na conclusão
do trabalho.

Validade externa: É alcançada através da extrapolação das conclusões sobre as amostras para
a população de onde a amostra foi retirada. Nesse caso, a representatividade dos participantes
da amostra foi adequada, do mesmo modo que a amostragem estatística foi estabelecida com
regras corretas e bem aplicadas. Pode haver também generalização das conclusões de uma
população para outras populações que não disponham de informações semelhantes. Uma
população experimental pode ser investigada visando à extrapolação dos achados para uma
população de referência. A primeira extrapolação é baseada na teoria estatística e a segunda
extrapolação é feita com base em julgamentos de caráter subjetivo.

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Relação entre validade interna e externa: Alta validade interna e baixa externa – estudo de
caso; por ser um único indivíduo limita a generalização dos resultados. Alta externa e baixa
interna: recenseamento.

4. VIÉS METODOLÓGICO

Viés: É um erro sistemático e não intencional no qual há uma inferência desviada da realidade
ou processos inadequados que levam a tais desvios. Pode ser causado por questões conceituais
e metodológicas não adequadamente resolvidas. O erro pode ser introduzido em qualquer fase
do estudo. Existem três categorias de viés:

a) Viés de seleção (da população ou da amostra): qualquer erro na identificação da


população ou do grupo estudado, erro devido a diferenças sistemáticas entre as
características dos indivíduos no estudo e ou que não o são; distorções por perda ou
por não resposta dos incluídos. O viés pode ocorrer também pelo tamanho da amostra
insuficiente.
b) Viés de aferição (da informação ou da observação): Erro sistemático de diagnostico de
um evento, os dados obtidos com a amostra diferem dos da população e geralmente
acontece quando a qualidade dos dados é diferente nos grupos comparados. Pode
ocorrer por definição inadequada das variáveis; baixa validade dos instrumentos de
coleta de dados; uso inadequado de instrumentos apropriados; preparação deficiente
dos observadores; resposta equivocada das pessoas contatadas.
c) Viés de confudimento: Erro no qual a associação entre dois fatores podem estar
parcial ou totalmente inadequados em detrimento de um terceiro fator não atentado na
pesquisa. Pode ocorrer por analise estatística inadequada, não levar em conta fatores
de confundimento e a interação entre as variáveis.

Controle de erros metodológicos: O controle pode ser obtido de maneira preventiva na fase
de planejamento do estudo, no qual será necessário selecionar uma amostra adequada, garantir
técnicas de validação interna, utilizar instrumentos adequados para coleta de dados. Na fase
de execução é preciso garantir que a coleta de dados retratem resultados fies à realidade. Na
fase da análise de dados o controle estatístico é necessário e alguns viés não são mais
corregidos nesse estágio.

4.1 Modalidades de Viés de Seleção:

a) Viés de operações de amostragem: os erros produzidos no processo de amostragem


podem resultar numa amostra não representativa.

b) Viés de auto seleção: quando indivíduos da amostra se voluntariam para participar do


estudo e alterar a representatividade da amostra – “viés do voluntariado”.

c) Viés das perdas: quando pessoas selecionadas para a pesquisa a abandonam ou não
respondem os questionários, isso acaba por produzir diferentes características entre os que
participam da pesquisa e os que não estão participando.

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d) Viés de admissão: uma possibilidade que pode ocorrer instituições de saúde, no qual
pode a amostra diferir da população usada na comparação (ex.: investigação hospitalar x
comunitária).

e) Viés de afiliação: ocorre quando grupos específicos são utilizados como indivíduos da
amostra estudada, logo os resultados obtidos não podem ser generalizados para a população
ou a ela comparados (Ex.: uso de atletas).

f) Viés de prevalência: Ao utilizar casos prevalentes ao vez da incidência (casos novos)


na amostra estudada, a análise dos dados não refletirá adequadamente a história natural da
doença (Avaliar prognóstico entre todos que estão no início da doença e não em momentos
diferentes).

Casualidade e viés de seleção: Em uma população naturalmente existe um processo de


seleção que culmina na formação de grupos com características próprias (trabalhadores,
esportistas...). Essas diferenças entre os grupos podem ser necessárias para associações, nexo
de casualidade. O viés de seleção pode atenuar essas verdadeiras associações entre os eventos,
prejudicando o entendimento do estudo.

Amostras aleatórias: São usadas com o objetivo de determinar características de uma dada
população a partir de uma amostra. Nesse caso, as diferenças individuais tem que ser levadas
em conta. O modo de escolha pode ser amostra aleatória simples (sorteio), amostra
sistemática (escolhem-se as unidades por intervalos fixos), amostra estratificada (estratos –
sexo, idade) e amostra por conglomerados.

4.2 Tipos de Viés de Aferição:

a) Viés de observador: quando há diferenças sistemáticas nos dados obtidos e tais erros
são imputados ao individuo que coleta, processa, interpreta os dados.

b) Viés de suspeita diagnóstica: distorção que ocorre para influenciar determinados


grupos a adquirir a característica estudada (Ex.: perguntas dirigidas de modo a influenciar o
informante a responder da maneira certa/da forma que você quer).

c) Viés por uso de informante inadequado: pode culminar no efeito proxy (usa outra
pessoa próxima ao informante para obter informações), no qual o informante indireto não
possui a total veracidade dos fatos ou das informações.

d) Viés do instrumento de coleta de dados: o recurso empregado na coleta de dados


não é adequado.

e) Viés de forma de detecção: o instrumento utilizado é adequado, todavia o erro


sistemático é causado no modo de identificar e verificar os eventos nos grupos comparados
(instrumentos diferentes para grupos diferentes que serão comparados).

f) Viés de recordação: diferenças em lembrar de episódios passados. Em testes


retrospectivos, as informações não condizentes com a realidade que ocorre pelo individuo não

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saber precisar ou errar os fatos que o ligou a fatores de risco.

g) Viés de processamento da informação: deturpação nos resultados devido a erros de


codificação, transcrição, digitação ou programação.

Casualidade X Viés de aferição: Na tentativa de esclarecer a relação entre um fator e uma


doença, tem-se como intuito estabelecer se o fator tem causa contribuinte para a doença.
Entretanto pode haver aferição imprópria que possibilita deturpações que podem dificultar a
determinação casual entre eventos. Nesse caso, pode ocorrer resultados falso-positivos (falsas
associações entre dois eventos) ou falha em detectar verdadeiras associações (resultado falso-
negativo).

Erros de mensuração: O objeto de mensuração no estudo pode sofrer alterações, os erros de


mensuração, que podem influenciar na conclusão correta sobre a pesquisa. Pode ocorrer erro
na própria característica do objeto de mensuração (peso corporal, glicemia...) e também o erro
metodológico, em que as variações ocorrem por erros introduzidos no processo de
mensuração que podem mascarar o real valor do objeto estudado.

O erro metodológico tem duas classificações:

a) Erro aleatório (ou casual): ocorre quando os resultados da mensuração encontram-se


distribuídos em torno do valor real. Se este erro é de pequena amplitude, tem pouca
importância prática nos resultados finais da investigação (Ex.: Glicemia em dois exames: 102
mg% e 104mg%).

b) Erro não aleatório (viés): ocorre quando as medidas estão constantemente desviadas
do valor real o que pode alterar o valor dos resultados e implicar numa interpretação errônea
dos dados.

Etiologia dos erros de mensuração: As fontes de variação podem ser a) circunstâncias nas
quais foram feitas as mensurações b) instrumento utilizado na mensuração e c) observador
(efeito halo) ou observado (efeito hawthorne) – variação de observador nas diferenças de
mensuração (entre-observadores e intra-observador). O primeiro pode ser evitado adotando-se
normas específicas de conduta durante a aferição.

Conduta para evitar ou minimizar erros de mensuração: A prevenção pode ocorrer no


detalhamento do delineamento da coleta de dados, sendo necessário conhecer as diversas
formas nos quais os erros são introduzidos, para que possa ser levado no planejamento e
execução do estudo. A ação na etiologia dos erros de mensuração é a principal forma de evitar
os erros.

Importância da definição do evento: Na própria concepção da investigação é necessário


definir com clareza o evento a ser pesquisado, para que se possa aplicar adequadamente essa
definição na investigação. Desse modo, pode ser criar critérios de inclusão e exclusão dos
casos, aumentando a precisão do evento estudado. Os termos a serem usados e o modo de

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coleta de dados, também precisam ser avaliados e bem definidos.

4.3 Reprodutibilidade e Validade:

Reprodutibilidade – Concordância de resultados quando a mensuração ou exame se repete,


em condições idênticas.

Validade – informa se os resultados representam a “verdade” ou o quanto se afastam dela. Se


refere a quanto o resultado final reflete a situação real.

Relação entre reprodutibilidade e validade: Um teste de alta reprodutibilidade não


assegura alta validade (Ex.: todos deram o mesmo diagnóstico a partir de um raio-X, mas
todos estavam errados). Contudo, um teste de baixa reprodutibilidade forçosamente acarreta
baixa validade, o que significa pouca utilidade.

4.4 Reprodutibilidade de um teste diagnóstico

O nível de reprodutibilidade das pesquisas clínicas e epidemiológicas é menor que em


investigações laboratoriais, já que o nível de discordância diagnóstica entre os observadores
podem variar (repleto de subjetividades). Um nível baixo de reprodutibilidade tende a atenuar
as verdadeiras correlações entre os eventos.

Estimativa da Reprodutibilidade: Há diversas maneiras de verificar a concordância de


resultados entre leituras de um mesmo evento e, assim, estimar o erro na sua aferição. Sob
forma de categorias ou expressa em medidas contínuas.

 Variáveis Expressas em Categorias:

a) Taxa global de concordâncias: os resultados são expressos de acordo com a taxa de


concordância entre os observadores. Nesse taxa pode estar contabilizada a concordância ao
acaso dos observadores, o que pode alterar a veracidade dos resultados.

b) Interpretação Kappa: informa a proporção de concordâncias além da esperada pelo acaso e


varia de -1 (completo desacordo) a +1 (exato acordo), o valor zero resulta de uma distribuição
ao acaso.

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Kappa= probabilidade observada – probabilidade esperada / 1 – probabilidade esperada

Na interpretação do kappa, leva-se em conta:

- tipo de evento e outros fatores: definir bem o evento, os fatores relacionados ao observador,
ao procedimento em teste e ao ambiente das observações. Para elevar reprodutibilidade é
essencial a clara definição do evento, regras inequívocas de mensuração e esquemas de
classificação, evitando ambiguidades.

- prevalência: baixas prevalências estão associadas a baixos de níveis de reprodutibilidade, já


que o valor de k depende da concordância devida ao acaso. Desse modo, é necessário
considerar a prevalência dos resultados que informam o nível de reprodutibilidade.

- independência da avaliação: as avaliações devem ser independentes uma das outras, os


resultados prévios de um dado exame, por exemplo, não devem a influenciar o resultado por
um outro observador ou pelo mesmo.

 Variáveis expressas de forma contínua

- Desvio padrão: em medidas quantitativas, quando há repetidas mensurações de um mesmo


evento, o desvio padrão informa sobre o nível de reprodutibilidade, quanto menor o DP
melhor a reprodutibilidade.

- Coeficiente de variação: expressa o DP dividido pela média, tem vantagem em facilitar as


comparações. É expresso em porcentagens. Quanto menor o coeficiente, melhor o nível de
reprodutibilidade.

- Coeficiente de correlação intraclasse: mede a associação entre eventos, mas pode também
ser usado para expressar a concordância entre eles. Limitações: valores discordantes que se

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correlacionem não são discriminados pelos coeficientes.

4.5 Validade de um teste diagnóstico

A validade refere-se a quanto o resultado final reflete a real situação.

Tipos de validade

a) Validade lógica (consensual): trata-se de julgar uma informação, critério, indicador,


teste ou medida por sua lógica ou obviedade (ex. Variável sexo no prontuário – alta
validade).
b) Validade de conteúdo: pode ser utilizada para julgar sua utilidade. O teste será válido
se é adequado para medir as facetas que devem ser medidas. Ex.: uma escala para
medir dor teria validade de conteúdo se incluísse perguntas sobre dolorimento,
latejamento, ardência, queimação etc.
c) Validade do Constructo: se a característica a ser medida correlaciona-se com uma
outra, ou com o conhecimento disponível, o teste deve também comportar-se da
mesma maneira. Ex.: Se existe relação entre inteligência e facilidade de aprendizagem,
um novo teste destinado a medir inteligência e que meça a facilidade de aprendizagem
tem validade de construto como medida de inteligência.
d) Validade em relação a um padrão: Nessa validade comparam-se os resultados de
um teste com um padrão já estabelecido mais adequado (um referencial) para uma
determinada situação. Refere-se a quanto, em termos quantitativos, um teste é útil para
diagnosticar um evento (validade simultânea ou concorrente) ou para predizê-lo
(validade preditiva).

Estimativa da validade em relação a um padrão: É uma forma de se avaliar o nível de


validade do teste.

 Sensibilidade e especificidade do teste:


1) Sensibilidade: capacidade do teste de detectar os indivíduos verdadeiramente
positivos, ou seja, diagnosticar corretamente os doentes.

2) Especificidade: capacidade que o teste tem de detectar os verdadeiros negativos, ou


seja, diagnosticar os indivíduos sadios.
Falsos-positivos  indivíduos que não estão doentes, mas são acusados como.
Falsos-negativos  indivíduos doentes, mas que são classificados como sadios.

O fato dos resultados dos exames, na sua maioria,


serem expressos em variáveis contínuas, corrobora
para que não se tenha uma distinção clara e
inquestionável entre os resultados obtidos. Desse
modo, sensibilidade e especificidade se relacionam de
maneira inversa. O ponto de corte de um teste muitas
vezes é utilizado para se definir os grupos com o

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intuito de se delimitar resultados positivos. Ex.: Na definição do excesso de peso, aceita-se
um IMC superior a 25. Um valor de 28 ou 30 faz aumentar a sensibilidade do exame, mas
reduz sua especificidade.

Curva ROC: O uso do gráfico ROC permite expressar a relação de contrabalanço da


sensibilidade e especificidade. Plota-se a taxa de valores verdadeiros positivos (sensibilidade)
com os valores falso-positivos (especificidade) ao longo de uma faixa de pontos de corte.
Testes bons concentram-se no ponto superior esquerdo (100%) e piores quando se afasta dele.

 Valor preditivo (ou diagnóstico) do teste: É análise horizontal da tabela 2X2,


utilizado para interpretar se um determinado resultado trata-se de uma pessoa saudável
ou sadia.

a) Valor preditivo
positivo (%): proporção de
doentes entre os
considerados positivos.
Verdadeiros-positivos/
verdadeiros-positivos +
falsos-positivos.

b) Valor preditivo
negativo (%): proporção de
sadios entre os negativos.
Verdadeiro-nagativos/
verdadeiros-negativos +
falsos-negativos

Po = Prevalência (teste).

c) Valor preditivo e prevalência: Os valores preditivos positivos aumentam com a


prevalência, enquanto os negativos diminuem. Quando a doença é rara, prevalência
baixa, o VPP é muito baixo, o que acarreta numa grande detecção de falsos-positivos,
que na verdade são indivíduos sadios. No caso do VPN há uma elevação, já que os
exames considerados negativos são quase que universalmente de sadios.
d) Razão de verossimilhança positiva: É uma razão entre a probabilidade de um teste ser
positivo entre os doentes e a probabilidade de um teste ser positivo nos não-doentes.
Quanto melhor o teste, maior a RVP.
e) Razão de verossimilhança negativa: Probabilidade de que um dado resultado de teste
fosse esperado em um paciente não portador da doença, comparado com a
probabilidade de que o mesmo resultado fosse esperado em um paciente com a

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doença. Quanto melhor o teste, menor RVN.

Para correção da prevalência obtida, é necessário fazer o cálculo da prevalência real.


Pc= prevalência observada+ Especificidade -1/ Sensibilidade + Especificidade -1

Acuidade e taxa de concordância:

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