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Manual do professor | DOM CASMURRO DE MACHADO DE ASSIS 1

© Editora Nemo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

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Manual
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do
professor
A
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Dom Casmurro de
Machado de Assis
BI

Machado de Assis, Wellington Srbek


OI

I l u s t r a ç õ e s : José Ag u i ar
PR

Elaborado por Wellington Srbek


Formado em História, mestre e doutor em Educação pela UFMG.
Criador, editor, pesquisador, tradutor e professor de quadrinhos.
© Editora Nemo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução.

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Sumário

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Introdução 3
Machado, seu tempo e sua obra 3
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Algumas anotações críticas 5


Autores da versão em quadrinhos 6
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A linguagem dos quadrinhos 6


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Um romance em quadrinhos 8
Sugestões de atividades 10
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Introdução
Olá, educadora / educador!
É com alegria que o Grupo Autêntica traz a você a versão em quadrinhos de um dos maiores
clássicos da literatura brasileira. Nas páginas de Dom Casmurro de Machado de Assis, você encontrará
uma cuidadosa e apaixonada adaptação da obra machadiana para a linguagem das HQs (a popular

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abreviação de “histórias em quadrinhos”). Uma recriação da obra literária, fiel ao texto original, mas
que também explora as possibilidades oferecidas por uma forma de narrativa em que o diálogo entre
palavras e desenhos cria uma dinâmica singular e incrivelmente atrativa para os jovens leitores e leitoras.


A seguir, você encontrará um material de suporte paradidático especialmente preparado para
oferecer informações pré-leitura e apresentar opções complementares para a utilização de Dom
Casmurro de Machado de Assis na pós-leitura em sala de aula. Partindo de uma apresentação do grande
autor e de sua obra literária, bem como dos quadrinistas responsáveis pela versão em HQ, temos em

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seguida uma exposição dos elementos que constituem a linguagem dos quadrinhos e um detalha-
mento das características próprias dessa adaptação. Para concluir este guia paradidático, oferecemos
algumas sugestões de atividades que você pode desenvolver com seus alunos.
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Machado, seu tempo e sua obra
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Filho de uma lavadeira de origem lusitana e de um


pintor de paredes afrodescendente, Joaquim Maria Machado
de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 na cidade do
Rio de Janeiro, então capital do Brasil imperial. Mulato e
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de família pobre, Machado cresceu numa sociedade em


que a escravidão ainda existia e não havia garantias sociais
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para a maior parte da população.Acredita-se que era gago e


que sofria de epilepsia, mas (embora não tenha sido muito
assíduo na escola) o rapaz canhoto nascido numa periferia
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conseguiu superar as adversidades e logo se envolveu com


o universo da escrita, esforçando-se inclusive para estudar
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outras línguas, como o francês.


A inteligência, a curiosidade e o esforço de Machado
levaram-no a conseguir seu primeiro emprego como
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aprendiz de tipógrafo e revisor de textos, além de ver


publicados seus primeiros poemas. O aspirante a escritor já frequentava os ambientes culturais do
centro da capital, como a famosa Rua do Ouvidor, endereço de livrarias, jornais e cafés, pontos de
encontro de jornalistas, escritores, poetas, artistas e intelectuais. Numa sociedade cuja elite buscava
copiar as modas e jeitos de Paris (com longos vestidos, chapéus, casacos e cartolas), elegante mesmo
era participar dos bailes imperiais ou frequentar a ópera. E foi para o teatro que Machado produziu
alguns de seus trabalhos iniciais, embora começasse a ganhar destaque de fato por suas colaborações
para jornais e revistas cariocas na segunda metade da década de 1850.
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É no mesmo ambiente dos jornais e das revistas ilustradas, então os principais meios
de comunicação de massa, que um nome começaria a se destacar na década de 1860.
Nascido na região do Piemonte (da atual Itália), o caricaturista e ilustrador Angelo Agostini
começou sua carreira em São Paulo, mudando-se depois para a capital do Império. Um
dos pioneiros do desenho de humor no Brasil, ele foi também um dos precursores das

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histórias em quadrinhos no país, com sua série As aventuras de Nhô Quim, ou Impressões de
uma viagem à corte. A crítica social e política foi um traço comum nas diversas publicações
que lançou, tornando-se célebres suas caricaturas do Imperador Dom Pedro II.


Poemas, peças, crônicas, críticas e reportagens foram os primeiros textos publicados por Machado
de Assis, enquanto seguia uma carreira ascendente no Diário Oficial do Império. A maior estabilidade

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financeira e a ascensão social ao longo da década de 1860 contribuíram para suas aspirações literárias,
mas nenhum evento daquele período teve o mesmo significado e a importância de ter conhecido a
irmã de um amigo poeta. Afinal, a cativante portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais imedia-
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tamente conquistou o coração do escritor, tornando-se o amor de sua vida, com quem se casou em
novembro de 1869. Morando inicialmente no bairro do Catete, o casal depois se mudou para a rua
Cosme Velho (que, com o tempo e sua crescente notoriedade literária, renderia a Machado o famoso
apelido de “o bruxo do Cosme Velho”).
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As décadas de 1870 e 1880 viram a real ascensão literária do autor, com contos e romances que
se tornariam alguns dos mais importantes da literatura brasileira. Em obras como A mão e a luva e
também em Helena, predominavam elementos do estilo literário Romantismo. Mas, já em 1881,
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Machado publicaria um de seus principais livros, considerado o romance que inaugurou no Brasil
o estilo literário Realismo, o incomparável Memórias póstumas de Brás Cubas. No ano seguinte, outro
triunfo literário com a novela (ou conto) O alienista. Chegando aos anos 1890, já nos tempos da
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Primeira República, viriam obras importantíssimas, como Quincas Borba, de 1891, e Dom Casmurro, de
1899, que o consagraram como o maior nome da literatura nacional de sua época.
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da p. 22.
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Ainda em 1897, um grupo de escritores, com grande apoio de Machado, fundou a Academia
Brasileira de Letras, para a qual ele seria eleito presidente por unanimidade (função que ocupou pelos
dez anos seguintes). Mas a morte de sua amada esposa Carolina, em 20 de outubro de 1904, foi um
grande golpe para o bruxo das letras. Triste, doente e cada vez mais reservado, Machado continuou
se dedicando à Academia e principalmente à literatura, publicando livros como Memorial de Aires,
lançado no ano de sua morte. Licenciando-se do cargo na administração pública, ele veio a falecer
em 29 de setembro de 1908, tendo sido reconhecido em vida (apesar daqueles que o antecederam)

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como o gênio inaugural da literatura brasileira. E entre seus muitos contos, crônicas, peças de teatro,
livros de poema e romances, Dom Casmurro tem lugar de destaque, com seu reflexivo personagem-
título e a fascinante Capitu.


Algumas anotações críticas

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Costuma-se ressaltar o quanto a obra de Machado de Assis representa um retrato de sua época (a
sociedade brasileira no Segundo Império e também nos primeiros anos da República). Um tempo
anterior à eletricidade, com casas iluminadas pela luz bruxuleante das velas e lamparinas, ruas principais
ponteadas por lampiões a óleo de baleia e depois a gás. Por outro lado, críticos apontam o fato de que tal
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retrato é um tanto parcial, tendendo a enfocar a realidade das classes burguesas e oligárquicas na principal
cidade do país no século XIX. Essa ressalva é válida quando consideramos que a maioria absoluta da
população brasileira vivia no campo, e que mesmo nas maiores cidades (em processo de rápido cresci-
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mento e relativa modernização) as condições de vida para grande parte das pessoas era bastante precária.
De qualquer forma, mesmo considerando-se essas questões, a obra de Machado de Assis resiste à
passagem do tempo e (passando pelas muitas variações de grafia em nossa língua) seu texto continua
relevante, significativo e incomparável. Parte disso se deve inegavelmente à genialidade própria do
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autor, com sua capacidade de observação e representação da natureza humana através dos persona-
gens que escreveu. Criador de figuras singulares (como Brás Cubas ou Quincas Borba) e dono de
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um estilo único (com “a pena da galhofa e a tinta da melancolia”), ele soube como poucos compor
um texto com toques certeiros de humor e também revelações existenciais profundas. Isso já seria o
bastante, mas Machado oferece a suas leitoras e a seus leitores ainda mais, seja nos jogos de palavras e na
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evocação de imagens, seja na intertextualidade com obras clássicas e na sua inovadora metalinguagem.
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Reprodução da p. 13.
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Todos esses elementos são apresentados, ressaltados, sublinhados e ilustrados na versão em qua-
drinhos Dom Casmurro de Machado de Assis. Uma HQ que, além de uma adaptação do romance
original, é uma homenagem criativa a essa obra-prima de nossa literatura, que aborda de forma bela
e envolvente a temática da construção da personalidade e história pessoal.

Autores da versão em quadrinhos

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A adaptação Dom Casmurro de Machado de Assis foi produzida por dois renomados quadrinistas
brasileiros: Wellington Srbek (roteirização) e José Aguiar (desenhos).
Wellington Srbek nasceu em Belo Horizonte (MG) em 1974, é criador, editor,


pesquisador, tradutor e professor de quadrinhos. Formado em História,
mestre e doutor em Educação pela UFMG (com pesquisas sobre a dimensão
artística e formativa das HQs), é roteirista de obras autorais, edições infanto-

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juvenis e adaptações literárias. Ganhador de vários prêmios nacionais, entre
seus trabalhos mais conhecidos estão o álbum Estórias gerais e a série Solar.
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José Aguiar nasceu em Curitiba (PR) em 1975, é arte-educador formado
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pela FAP, roteirista, desenhista e editor de HQs premiado nacionalmente


com o Troféu HQMIX. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão as séries
Folheteen, Vigor Mortis Comics, Quadrinhofilia, Nada com coisa alguma e A
infância do Brasil, além dos volumes de Ernie Adams publicados na Europa.
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A linguagem dos quadrinhos


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Os quadrinhos são uma forma de narrativa visual moderna, originalmente associada aos meios
impressos. Desenvolvidos na Europa, eles são resultado de séculos de experimentação artística realizada
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por ilustradores e caricaturistas. No Brasil, os quadrinhos surgiram na segunda metade do século


XIX, ligados à caricatura, no espaço diversificado dos jornais ilustrados. A chamada “linguagem dos
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quadrinhos” apresenta duas estruturas comunicativas distintas: as “tirinhas” e as “histórias em quadri-


nhos” propriamente ditas.Vamos falar um pouco das especificidades de cada uma dessas estruturas.
Surgidas nos jornais, tradicionalmente as tirinhas seguem o padrão de uma sequência narrativa de
três ou quatro quadros dispostos na horizontal, embora existam tirinhas com apenas um ou dois quadros.
Estrutura comunicativa extremamente concisa, uma única tira (em seu restrito espaço físico) pode nos
fazer “morrer de rir” ou até “questionar o sentido da vida”. A maioria das tiras se enquadra no gênero
humorístico, embora muitas utilizem o riso para propor questões sociais, políticas e existenciais. O estilo
de desenho predominante é o cartunístico (de formas sintéticas e arredondadas, com traços marcados).
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Mas também existem tirinhas no estilo chamado acadêmico (que segue proporções mais naturalistas).
História que se conta de uma vez, no espaço de uma única tira, ironicamente muitas dessas séries tendem
a durar anos ou até décadas, enquanto público e autor mantiverem a paixão por seus personagens.
As histórias em quadrinhos, por sua vez, são estruturas comunicativas feitas na forma de uma ou
mais páginas, sendo a página a unidade básica de leitura (pois nunca percebemos cognitivamente
apenas “meia página” de uma HQ). Todos os elementos que constituem a página (número, formato
e distribuição dos quadros, estilo de desenho, imagens em cor ou em P&B, presença ou não de texto

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escrito) influenciam no processo de leitura. Uma história em quadrinhos pode ter desde poucas
páginas até dezenas de capítulos, pode vir numa única folha de papel ou em coleções com vários
volumes. Os formatos das edições (horizontais, verticais, grandes, pequenos) variam de acordo com


padrões gráficos e mercadológicos (revistas, gibizinhos, álbuns, livros). Já a temática e o estilo das
HQs variam de acordo com o gênero (faroeste, infantil, terror, super-heróis etc.) e também com a
intenção criativa dos autores.

OD
Seja nas tirinhas ou nas HQs, a linguagem dos
quadrinhos baseia-se numa sequência narrativa
visual, em que imagem e texto interagem no
espaço integrado da tira ou da página. Os estilos de
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desenho variam do mais estilizado ou sintético ao
mais rebuscado ou padronizado, do cartunístico ao
acadêmico, passando pelo caricatural e incorporan-
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do os mais diversos traços pessoais. As técnicas vão


da tradicional tinta nanquim sobre papel, passando
pelos pincéis de pintura, até as inovadoras tecnologias
de colorização e composição por computador. O
A

“texto” nos quadrinhos, além das palavras escritas


em si, inclui o enredo que é narrado, variando de
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gênero para gênero, de autor para autor, de história


para história. Os próprios textos escritos (legendas,
balões e onomatopeias) são parte do visual dos qua-
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drinhos, podendo os autores explorar esse fato como


um elemento narrativo. Basicamente, a fusão de texto
e imagem constitui a narrativa em quadrinhos, o
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elemento que torna essa arte única, e através do qual


os autores podem sugerir o “clima” (de suspense,
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Reprodução da p. 12.
ação, sátira, sedução etc.) que desejam imprimir à
leitura de sua história.
Assim, o conjunto formado pelo texto, pelo estilo de desenho, pelas técnicas empregadas e pelo
ritmo narrativo constitui a obra em quadrinhos criada pelos autores, e sempre recriada por uma leitora
ou um leitor a cada nova leitura.
A produção de uma HQ é um trabalho muito detalhado, mas bastante prazeroso. Chegou a vez
então de conhecermos alguns dos principais detalhes da apaixonada versão em quadrinhos Dom
Casmurro de Machado de Assis.
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Um romance em quadrinhos
A adaptação de um texto literário para outra linguagem (o cinema, o teatro, a TV, os quadri-
nhos etc.) é uma recriação artística que não tem o objetivo de substituir o livro, mas em geral de
homenageá-lo criando algo novo a partir das palavras escritas pelo autor original. Por questões de
extensão e formatação da nova linguagem, escolhas são feitas numa adaptação, na qual deve-se buscar
preservar os elementos e trechos mais significativos da obra original, sem se deixar de aproveitar as

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características próprias oferecidas pelo novo meio. O que define uma boa adaptação é justamente o
diálogo entre as linguagens.
Não haveria sentido, na adaptação de um romance, por exemplo, manter todas as palavras do livro


original. Afinal, muito do texto de um romance são descrições de cenários e personagens, o que na
adaptação para um meio visual (como os quadrinhos) pode ser transposto para as imagens. O mesmo
vale para algumas ações, que não precisam ser descritas em texto, podendo ser representadas através da
sequência narrativa de quadros. Além disso, as legendas de texto cumprem o papel de contextualização

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e definição, enquanto os balões de fala possibilitam a dinâmica direta nos diálogos de personagens.
Dom Casmurro é um romance narrado por seu personagem-título. Um livro que se inicia com
a explicação sobre a origem de seu título. E ele segue repleto de elementos da metalinguagem ma-
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chadiana, em que o texto nos faz cientes de que estamos lendo um livro (fazendo até referências
diretas ao “leitor”). Na verdade, é um livro sobre um livro que (ficcionalmente) é escrito enquanto
o lemos. Um elemento metalinguístico valorizado na versão em quadrinhos, como no quadro em
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que a palavra “Dom” salta das páginas de um dicionário.


Mas Dom Casmurro é, sobretudo, um “livro de memórias”, a “autobiografia” de seu personagem-
título. Um homem assombrado pelas alegrias e pelos remorsos de seu passado, que vai relembrando os
principais eventos de sua história pessoal. Uma narração que acontece a partir da perspectiva específica
A

de Casmurro-Bentinho, protagonista e narrador, que através de suas palavras nos revela (às vezes não
intencionalmente) as linhas da construção de sua personalidade (da ingenuidade do menino Bentinho
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à imaturidade do jovem Bento, até as inseguranças do adulto que se tornaria o solitário Casmurro).
Por se tratar de uma história pessoal (ainda que ficcional), a maior parte dela é dedicada aos
importantes anos de formação, na ado-
lescência e na juventude de Bentinho.
BI

Têm papel central aí sua relação com a


mãe, as conversas e aconselhamentos do
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agregado José Dias, a influência de todo


o meio familiar, bem como de seu tempo
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de estudos no seminário, onde conhece


seu amigo Escobar. Mas tem lugar ainda
mais especial sua relação com Capitu, a
também protagonista da obra (que até
poderia ter seu nome como título).

Reprodução
da p. 4.
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Uma das maiores personagens da literatura brasileira, Capitu é apresentada através das palavras
ressentidas de Casmurro, mas também pelo olhar enamorado de Bentinho. Ela é a amiga da infância
que se torna a paixão do adolescente, o amor do jovem, a esposa do homem e as saudades do velho
Bento. Ela é a menina com “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, a irresistível jovem dos “olhos
de ressaca”. Bela e inteligente, observadora e decidida, Capitu amadureceu antes de seu amigo e, em
vários momentos, demonstra ter muito mais consciência das circunstâncias do que ele próprio.

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Embora a parte que fale da vida adulta dos personagens chegue mais para o final do livro, uma
questão específica tem dominado o imaginário popular há décadas:“Capitu traiu ou não Bentinho?”.
Apesar de a narração de Casmurro, particularmente quando se refere ao filho Ezequiel, não deixar


muitas dúvidas, vale lembrar que a história é contada de sua perspectiva dos acontecimentos (e
Machado de Assis nunca escreveu um segundo livro “Capitu”, com a perspectiva dela). O fato é que
o suposto adultério ficcional continua motivando acalorados debates, mas não deveria limitar nossa

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visão dessa grande obra.
Dom Casmurro e esta versão em quadrinhos vão muito além da questão sobre um caso extra-
conjugal. A própria origem desse tema está num elemento de intertextualidade, quando a obra cita a
peça Otelo, de William Shakespeare (uma fonte de inspiração de Machado de Assis para o romance).
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Há também a intertextualidade com o contexto histórico do Brasil no Segundo Império, além da
própria geografia da cidade do Rio de Janeiro, que tem bairros e ruas citados ao longo das páginas.
Esses elementos todos se fazem presentes na versão em HQ, que utiliza o visual em P&B para reforçar
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contrastes, ao mesmo tempo em que conjuga palavras e desenhos num resultado artístico singular.
Ao final (depois de percorrermos todo o caminho que levou do ingênuo menino ao velho res-
sentido), Casmurro nos propõe a questão que talvez exponha a verdadeira temática da obra: a Capitu
A

mulher já estava presente na Capitu menina, “como a fruta dentro da casca”? (E o menino Bentinho
já apresentava traços do Casmurro?). Ou seja, o que define a construção da personalidade e a história
DA

de uma pessoa são os fatos que lhe ocorrem ao longo da vida ou seria algum traço original da per-
sonalidade? São questões que a obra nos coloca e para as quais cada um de nós tem suas respostas,
sendo tão presentes na vida dos jovens alunos que agora leem a HQ Dom Casmurro de Machado de Assis.
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Reprodução
da p. 24.
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Sugestões de atividades
Após os alunos terem lido a versão em quadrinhos Dom Casmurro de Machado de Assis, temos uma
grande variedade de atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula, explorando os elementos
do clássico adaptado, bem como as possibilidades oferecidas pela linguagem dos quadrinhos.
Seguem aqui algumas sugestões de atividades:

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1. Uma das características da versão em quadrinhos de Dom Casmurro é sua grande fidelidade ao
texto de Machado de Assis. Com as atualizações de grafia dos sucessivos Acordos Ortográficos, as
palavras nas páginas da HQ foram aquelas escritas pelo autor clássico, exceto por poucas substitui-
ções para termos mais acessíveis ao leitor de hoje. Assim, uma primeira atividade com seus alunos


pode ser lhes perguntar sobre palavras ou frases que tenham causado estranhamento ou mesmo
incompreensão durante a leitura, iniciando uma discussão com eles sobre que possíveis sentidos
teriam aqueles termos.

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2. Aprofundando a atividade de interpretação de texto, você pode escolher um trecho em específico
do texto da HQ (repleto das evocações de imagens e metáforas criadas por Machado) para discutir
com os alunos qual o sentido ou sentidos e especialmente como eles interpretam aquelas frases.
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Por exemplo, temos a famosa caracterização dos profundos “olhos de ressaca” de Capitu: o que os
alunos entendem por essa imagem? Ou ainda, nos três últimos quadros da p. 13 da HQ, quando
Bentinho e Capitu quase dão um primeiro beijo, o que os alunos entendem do texto: “Ficamos a
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olhar um para o outro. Em verdade, não falamos nada, o muro falou por nós. Padre futuro, estava
assim diante dela como de um altar. Faltava dizer a missa nova, por um latim que ninguém aprende,
e é a língua universal dos homens”: o que seria, para eles, esse “latim que ninguém aprende” e essa
“língua universal”?
A

3. Versão em quadrinhos de um livro repleto de elementos metalinguísticos, Dom Casmurro de Machado


de Assis também utiliza recursos da linguagem dos quadrinhos com efeito metalinguístico. Por
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exemplo, nos dois últimos quadros da p. 5 (em que temos primeiro a figura de Casmurro sentado
num sofá e depois o mesmo enquadramento, porém com a figura em branco), estabelece-se um
diálogo metalinguístico com o trecho de texto reproduzido:“e esta lacuna é tudo”. Como atividade,
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peça a seus alunos para apontar outros pontos em que a HQ utilizou recursos de metalinguagem,
quando texto ou imagens explicitaram para eles que estavam lendo uma criação artístico-literária.
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(Outros exemplos: as p. 34, 41, 55 e 66, em que temos apenas um quadro com a figura de Casmurro
dialogando diretamente com o “leitor”).
4. Outra proposta de atividade seria propor aos alunos a questão de como eles entendem a temática
PR

da formação da personalidade e da história pessoal, a partir dos principais personagens da HQ


(Bentinho, Capitu e Escobar), que conhecemos jovens e vamos acompanhando até a vida adulta.
Foram eventos que ocorreram em suas vidas que definiram seus destinos ou haveria algum traço
de suas personalidades que predefiniu suas escolhas desde jovens? Ou como diz o texto da obra: já
estaria desde o início “a fruta dentro da casca”?
5. A intertextualidade é um elemento presente em qualquer obra, já que toda obra cita fatos exteriores
a ela. A intertextualidade pode ser bastante clara (como na referência textual e visual à peça Otelo
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de Shakespeare) ou fazer parte da contextualização da história contada (como na representação do


Rio de Janeiro dos tempos do Segundo Império, através de roupas, veículos e objetos que vemos
na HQ). Mas há também aquela outra intertextualidade que se forma em cada leitura, quando a
leitora ou o leitor interpreta a obra segundo seus próprios pensamentos e sua visão de mundo. Uma
atividade então a ser proposta aos alunos (com inspiração na HQ que acabaram de ler, que mostra
um personagem narrando a própria história) é que cada um e cada uma produza um texto, uma
pequena redação, contando algum acontecimento importante em suas vidas, sobre sua personalidade

ÃO
ou história pessoal.


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Reprodução da p. 5.
OI
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