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Legitimidade Processual
Legitimidade Processual
(!) Valem as normas relativas à representação de incapazes, incertos, ausentes e de pessoas colectivas (incluindo o Estado), e as
demais situações abrangidas pelos arts. 20 a 26. Por ex: os arts. 21, 22, 23 e 24 fixam normas de intervenção representativa do
MP.
Se a pessoa colectiva cessou para efeitos de IVA, mas ainda não foi extinta, nada muda no plano processual:
permanece com aptidão para ser parte, nos termos do art.11. Mas como uma sociedade comercial se considera
extinta pelo registo do encerramento da liquidação, se o juiz se aperceber que estava já registado o encerramento da
liquidação antes da propositura, então, houve processo sem parte, gerando falta de personalidade inicial, e levando à
extinção da lide por impossibilidade, nos termos do art. 277/e). Já apenas depois do início da causa é que sobrevém o
registo do enceramento da liquidação (com inerente extinção da pessoa colectiva), então a acção executiva continua
e a sociedade extinta considera-se substituída pela generalidade dos sócios, representados pelos liquidatários, nos
termos do 163/2/4/5 e 164/2/5 do CSC, não havendo lugar à suspensão da instância, nem sendo necessárias
habilitação.
No caso de insolvência com incidente de qualificação com carácter limitado, por insuficiência da massa insolvente,
quando o processo de insolvência seja declarado findo, quando cessar funções o administrador de insolvência,
repristinam-se os administradores da pessoa colectiva como legais representantes. As execuções que, entretanto,
estivessem suspensas podem prosseguir contra a sociedade comercial e as citações e notificações passarão a ser
feitas naqueles.
- Forma ordinária: Caso haja falta de capacidade ou personalidade, haverá lugar a despacho liminar onde o juiz deverá
avaliar a questão (art. 726);
- Forma sumária: Cabe ao agente de execução suscitar a intervenção do juiz, quando se lhe afigure provável a
ocorrência de alguma das situações previstas no art. 726/2/4, nos termos do 855/2/b).
Havendo lugar a despacho liminar, o juiz deve indeferir liminarmente o requerimento, se a falta de personalidade não
for suprível ao abrigo do 726/2/b).
Em todos os demais casos, o art. 726/4 impõe que o juiz profira despacho de convite à sanação da falta de
personalidade (art. 14), à sanação da falta de capacidade ou da irregular representação (arts. 27 e 28) ou à obtenção
de autorização ou deliberação em falta (arts. 29).
Se o vício não for sanado, deverá o juiz despachar pelo indeferimento liminar.
O art. 734 admite que o juiz possa, depois do momento inicial, e desde que ainda não se tenha pronunciado em
termos concretos sobre um dado vício, conhecer oficiosamente das questões da falta de personalidade, de
capacidade ou de representação regular. Nessa eventualidade, instará o autor.
A falta destes pressupostos configura uma excepção dilatória que pode servir de fundamento à oposição à execução,
ao abrigo do art. 729/c) e, em remissão, para os arts. 857, 730, 731.
II. INTERESSE PROCESSUAL
RUI PINTO:
Não é pressuposto processual. Não há interesse processual na acção executiva, porque a necessidade da acção executiva
decorre de a obrigação já está vencida.
A legitimidade processual assegura que conduzem o processo, os mesmos sujeitos a que se destinam os benefícios e os prejuízos
dos actos processuais.
Na acção executiva, não vigora o critério geral da legitimidade processual do art. 30.
↓
É o art. 817 CC que reflecte o critério de legitimidade processual do direito à execução.
O art. 817 CC define o direito à execução coactiva da prestação, quem tem legitimidade processual activa e passiva na execução:
Credor – aquele que tem o direito de exigir judicialmente o cumprimento;
Devedor – o titular do património responsável pela dívida.
O art. 818 CC determina que o direito de execução pode incidir sobre bens de terceiro à dívida, quando estejam vinculados à
garantia do crédito ou quando sejam objecto de acto praticado em prejuízo do credor, que este haja procedentemente
impugnado.
Excepcionalmente, no plano da legitimidade passiva pode ser parte quem não é devedor.
O que se pretende na acção executiva não é o devedor, mas é dinheiro. O art. 818 distingue duas situações:
Terceiros vinculados às garantias do crédito → bens de terceiros vinculados por garantia real ao crédito. Ex: Peço
dinheiro ao banco e a avozinha faz uma hipoteca a meu favor. Se eu não pagar, o banco vai executar a avozinha.
Acção pauliana → Imaginando que, eu, de má-fé, passo todos os bens para a minha avozinha. Para executar os bens,
instaurava uma acção pauliana contra a avozinha
Estes princípios substantivos de repartição da legitimidade têm expressão processual em critérios de aferição da legitimidade
singular constantes dos arts. 53 a 55.
CREDOR E DEVEDOR
Art. 53/1 → A execução tem de ser promovida pela pessoa que no título executivo figure como credor e deve ser instaurada
contra a pessoa que no título tenha a posição de devedor → Decorre da literalidade do título executivo
A legitimidade singular apura-se pelo confronto entre o título e a parte em causa. Essa mesma literalidade autoriza algumas
situações excepcionais de indeterminação do credor em face do título → “Legitimidade aberta”, segundo TEIXEIRA DE SOUSA
↓
Essa indeterminação do credor apenas será de admitir quando ela mesma deriva das características do próprio facto jurídico ou
título material de aquisição do direito à prestação. Assim, sucede quando:
1. O título for ao portador: será a execução promovida pelo portador do título, 53/2. Execpções à regra da
2. No contrato a favor de terceiro (443/1CC) → Há um credor que não consta do TE. literalidade na legitimidade
Debrucemo-nos, a este propósito, sobre a legitimidade passiva dos devedores que sejam garantes pessoais de
obrigação alheia: fiador, avalista e obrigado por garantia bancária autónoma.
1. Fiança:
No caso da fiança o devedor garante, com o seu património, o pagamento de divida alheia, ficando pessoalmente O fiador é definido no art. 627 CC.
obrigado perante o credor (627/1CC). A obrigação do fiador é acessória da que recai sobre o devedor principal Garante, com o seu património, p
pagamento de uma dívida alheia. Fica
(627CC). Por isso, mantém-se enquanto não se extinguir a obrigação do devedor principal, mesmo que esta já não obrigado de forma acessória.
possa ser objecto de execução singular.
A sua extensão e a sua existência
Por outro lado, o fiador está numa posição de subsidariedade perante o afiançado, pois é-lhe lícito recusar o dependem da extensão e existência da
cumprimento enquanto o credor não tiver executido todos os bens do devedor sem obter a satisfação do seu crédito obrigação garantida.
que à respectiva fiança basta que a satisfaça a forma legal mínima da obrigação principal. Normalmente, os credores podem exigir –
qd pedem fiador – que o fiador renuncie
O título executivo é o contrato de fiança, nas condições do 703/1/b), sem prejuízo dos títulos judiciais e injuntórios ao benefício da excussão prévia e o
(703/1/a) e d). fiador, em vez de devedor subsidiário,
passa a credor solidário.
2. Aval:
No caso do avalista, dita o art. 32/1 LULL que o dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele
afiançada. A sua obrigação constitui-se formalmente pelo acto de assinatura do dador do aval, acompanhada da
expressão “bom para aval” ou “fórmula equivalente”. O título executivo é normalmente o título de crédito.
(!) O avalista não é um fiador. É um garante solidário, pq tb subscreveu a letra e a livrança.
Art. 54/1 → Tendo havido sucessão no direito ou na obrigação, deve a execução correr entre os sucessores das pessoas que no
título figuram como credor ou devedor da obrigação exequenda.
Esta sucessão na obrigação tanto pode ser uma sucessão mortis causa como inter vivos, através da qual se transmite a obrigação
para outrem, nos termos dos arts. 577 CC (cessão de créditos) e 595 CC (assunção de dívida) ou do endosso (14 LULL e LUC).
O exequente terá de, no próprio requerimento da execução, deduzir os factos constitutivos da sucessão.
Por exemplo: juntará a escritura de habilitação de herdeiros ou contrato de cessão do crédito.
Querendo, o executado poderá na oposição à execução, invocar a ilegitimidade singular activa ou passiva por falta desta
sucessão, ao abrigo do 729/c).
Nota: O incidente de habilitação tb pode ser feito num tribunal superior – p.e., na acção declarativa é proferida sentença e o processo sobe para
recurso.
Art. 55 → A execução fundada em sentença condenatória pode ser promovida, não só contra o devedor ou respectivos
sucessores, mas ainda contra as pessoas em relação às quais a sentença tenha força de caso julgado.
Regra de legitimação passiva por extensão subjectiva imperativa do caso julgado.
O caso julgado/condenação só vale entre as partes que estiveram na acção (art. 619). Pese embora isto, o art. 55 dispõe que
execução fundada em sentença condenatória pode ser promovida não só contra o devedor, mas ainda contra as pessoas em
relação às quais a sentença tenha força de caso julgado.
Em que caso é que a sentença pode condenar um terceiro (que não se pôde defender)?
Para o Professor, o único caso possível o art. 263 → Neste ponto, a doutrina diverge: Lebre de Freitas e Teixeira de Sousa
admitem mais casos.
Numa situação em que o devedor é outro, mas que não chega a ser parte, pq não há sentença de condenação. Nesse caso, a
sentença condena o devedor principal, mas o efeito condenatório estende-se a terceiro.
Por força da conjugação do art. 55 com o art. 263, podemos executar quem não consta no título de sentença. Tem que se
mostrar, contudo, o contrato mediante o qual o direito foi transmitido (embora não haja habilitação).
Imaginando que eu sou credor e há vários devedores solidários e eu só intentei a acção declarativa para um e só um foi
condenado. A acção declarativa não se estende aos restantes. O CC, inclusive diz, que havendo vários devedores, a sentença
prolatada em relação a um não prejudica os outros (art. 531 CC).
Mas e no caso inverso? Se a sentença absolver o devedor, os restantes devedores podem aderir aos efeitos da sentença.
O caso julgado não prejudica terceiros, mas pode beneficiar terceiros → Extensão do caso julgado segundo o resultado da lide
Segundo o Professor, se o terceiro quiser aderir a uma sentença condenatória pode, se o direito for disponível. Não há razão
para não aderirem ao caso julgado desfavorável, se o quiserem.
Imaginando que há um devedor e vários credores. Se o devedor for condenado em relação a um credor, os restantes credores
podem aderir ao caso julgado favorável, passando a julgar dos efeitos do caso julgado, nomeadamente podendo executar a
condenação para a qual não fizeram nada. Logo, é possível haver credores exequendos que beneficiam da sentença
condenatória sem nela terem participado.
Contudo, o art. 55 não consagra esta última parte. Só prevê a extensão do lado do devedor → Rui Pinto entende que deve ser
feita uma interpretação extensiva do art. 55, dizendo que a lei abrange todas as situações em que aa força executiva da
sentença beneficia quem foi terceiro na acção. Se o direito substantivo diz que podem, o direito processual deve ir no mesmo
sentido.
Execução sub-rogatória:
1. O art. 606CC determina, com excepções, que sempre que o devedor não o faça, tem o credor a faculdade de exercer,
contra terceiro, os direitos de conteúdo patrimonial que competem àquele.
A sub-rogação só é permitida quando seja essencial à satisfação ou garantia do direito do credor.
∟ Resumindo: art. 606 CC prevê que o credor se subrogue ao devedor e execute o devedor do devedor.
A execução é colocada por quem não é credor daquela obrigação exequenda, mas é titular de um direito de crédito
do devedor.
ANSELMO DE CASTRO nota que é possível admiti-la na acção executiva quando o devedor-credor se mostre
negligente no seu exercício, embora com dúvidas. Ou seja: aquele preceito civil daria legitimidade activa secundária –
pois não há coincidência entre titularidade do crédito e o autor da acção – para o credor propor ou entrar em
execuções em nome do seu devedor. E, na verdade, apenas se o seu crédito estiver vencido é que poderá o credor
instaurar a sua própria execução e penhorar o crédito que o seu devedor tem sobre terceiro, ao abrigo do 856/1 =
773/1.
2. O art. 777/3, relativo ao procedimento executivo de penhora de créditos prevê-se que o exequente se substitua ao
executado na eecução do crédito deste sobre terceiro.
Terceiros à dívida
∟ Tem legitimidade passiva (pode ser executado), não o titular da obrigação exequenda, mas um terceiro que seja
dono de um bem dado em garantia real ou de bens sujeitos a impugnação pauliana procedente (art. 818 CC)
O crédito do exequente pode estar garantido por hipoteca ou outra garantia real sobre bens de terceiro à dívida; este não irá ser
o devedor, mas um garante do cumprimento da obrigação. Tal é admitido pelo 606/1CC.
Apesar de terceiro à dívida, o art. 818/1ª parte CC autoriza a que o direito de execução possa incidir sobre bens de terceiro
quando estejam vinculados à garantia do crédito, em articulação com o art. 735/2.
∟Há uma garantia real relativa a dívida alheia (garanto com os meus bens uma dívida que não é minha)
A instauração da execução por dívida provida de garantia real sobre bens de terceiro conhece as regras do art.54, n.º 2 e 3.
Art. 54/2 → Contém uma regra de legitimidade passiva de quem não é devedor, nos seguintes termos: a execução por dívida
provida de garantia real sobre bens de terceiro segue directamente contra este se o exequente pretender fazer valer a garantia,
sem prejuízo de poder desde logo ser também demandado o devedor – ex: é parte legítima, como executado, o terceiro, não
devedor, mas proprietário de imóvel onerado com hipoteca constituída a favor da obrigação em causa.
∟ Como o terceiro não é devedor, não cabe no art. 53, mas no art. 54/2: A execução por dívida provida de garantia real sobre
bens de terceiro segue diretamente contra este se o exequente pretender fazer valer a garantia, sem prejuízo de poder desde
logo ser também demandado o devedor. → Não se impõe nenhum litisconsórcio necessário. O terceiro é executado sozinhamente, solitariamente.
O art. 54/2 abre este caminho ao credor, mas que ele não tem necessariamente de seguir.
Na verdade, o credor tem à sua escolha várias vias possíveis de actuação, decorrentes da natureza disponível das garantias reais
e do 697 a contrario CC.
↓
Pode o credor primeiro demandar o devedor e na falta de suficiência dos bens, executar o terceiro garante?
Se o exequente não pretender fazer valer a garantia colocará a acção apenas contra o devedor, legitimado pelo 53, 54/1 ou 55.
Porém, existe um pequeno problema:
ALGUMA DOUTRINA: Considerava que não, que o credor não poderia prescindir da garantia. o art. 54, n.º 1 e 2 não preveem esta
situação e não há uma norma que o
legitime. O Professor, mais uma vez,
RUI PINTO: Discorda e considera que sim. Cabe ao credor escolher. Não há nada que o impeça.
faz uma interpretação extensiva de
Ex: Quando uma hipoteca incide sobre vários imóveis, podendo o credor executar qualquer um deles ou parte de um acordo com o direito substantivo. Não
deles, pela totalidade da dívida. Naturalmente que essa disponibilidade tem de ter expressão processual e há nenhuma razão de direito material
justamente o verbo “pretender” significa que o credor pode escolher não exercer o direito real de garantia no acto que o impeça.
processual devido. O não exercício da garantia real traduz-se em o credor não indicar o terceiro garante como Podem-se demandar os dois em
executado, no requerimento executivo (724/1/a). Perante esta ausência de indicação, o agente de execução não conjunto em litisconsórcio necessário,
no art. 54/2/2ª parte in fine.
pode penhorar o bem do terceiro onerado pela garantia real, pois a execução não foi movida contra ele (735/2). Esta
O n.º 2 prevê demandar terceiro,
não execução de terceiro garante, não constitui renúncia, ie, extinção unilateral e voluntária da garantia.
demandar os dois, mas não prevê
demandar o devedor ad initio
Uma renúncia à garantia real só pode ser feita segundo os modos previstos na lei civil para renúncia a um direito real (embora o Professor considere que
- ver art. 730 CC. Uma renúncia válida e eficaz é a que foi feita extrajudicialmente, maxime antes da execução, sim).
segundo a forma válida, ou no próprio requerimento executivo quando a forma legal consinta – assim, a hipoteca
Art. 697 CC
voluntária sobre coisa móvel (688/1/f)CC) e o penhor (677CC) – e desde que haja declaração expressa do exequente.
↓
Benefício da excussão real
Ex: Se a alienação a terceiro do bem onerado com hipoteca não consta do registo, quando o respectivo credor ↓
hipotecário propõe a acção executiva contra o devedor, esta propositura não significa que aquele credor desistiu da Determina que havendo uma
garantia real. Havendo renúncia nestas condições, naturalmente que apenas o devedor conserva a legitimidade garantia real (p.e. hipoteca),
primeiro podem ser executados
passiva, nos termos gerais.
bens que não são da hipoteca e só
depois a hipoteca.
Em qualquer outro caso, o exequente faz valer a garantia, movendo a execução contra o terceiro garante e indicando Contudo, isto só vale quando os
necessariamente o bem onerado. Mas, como o devedor não tem direito a que a penhora se inicie pelos bens do bens são do devedor.
E o terceiro garante?
terceiro garante (697 a contrario CC) caberá ao credor escolher se quer accionar somente o terceiro ou o terceiro e o
À contrario, qd a hipoteca incide
devedor, em coligação, inicial ou superveniente. sobre bens de terceiro, não se
aplica o art. 697 e o terceiro não
O 54/2/1ª permite ao exequente accionar apenas o terceiro sem sequer demandar o devedor. No plano documental, se pode defender. Por isso é que o
deve apresentar o título executivo de que decorre a constituição ou reconhecimento da dívida, e o título material de banco pode escolher querer
executar primeiro a hipoteca (que
constituição da garantia no património de terceiro. Este último assegura a legitimidade complementar do terceiro.
incide sobre bens de terceiro).
Sendo o título executivo uma sentença, deverá o terceiro garante também ter sido nela condenado, já que por força
do 635/1/1ªCC, aplicável à consignação de rendimentos (675/2CC), ao penhor (667/2CC) e à hipoteca (717/2CC), o
caso julgado entre o credor e o devedor não é oponível ao terceiro, salvo se os bens lhe tiverem sido transmitidos
pelo devedor já onerados. A execução solitária do terceiro garante permitirá que a dívida se extinga sem que o
devedor chegue sequer a ir ao processo. Deve, em todo o caso entender-se que o devedor não executado que queira
pagar voluntariamente deverá poder fazê-lo (846/1). Não podem subsistir dúvidas que qualquer pessoa pode ser o
próprio devedor, além de um terceiro, naturalmente. Deste modo, e em conclusão, o 54/2 surge como uma norma
de legitimação passiva do terceiro e não como uma previsão de litisconsórcio necessário desse terceiro como
devedor.
Se se reconhecer a insuficiência dos bens onerados com garantia real, o que só pode acontecer após a distribuição do
produto da venda, pode o exequente requerer, no mesmo processo, o prosseguimento da acção executiva contra o
devedor, que será demandado para completa satisfação do crédito exequente (54/3). Trata-se de uma intervenção
principal compondo um litisconsórcio superveniente – não uma coligação -, pois, pese embora a diferente posição
dos executados perante a dívida – um é devedor (deve cumprir) e o outro é garante real (deve responder pelo
incumprimento) -, a obrigação exequenda é uma e a mesma, não podendo permanecer extinta em face de um e não
extinta em face de outro.
Naturalmente que o exequente poderá, querendo, accionar em litisconsórcio voluntário o terceiro garante e o
devedor desde o início, conforme o 54/2/2ª. O que o exequente não pode é de início demandar apenas o devedor e
executar ao mesmo tempo a garantia: isso é ilegal em face do 735/2. Ou não exerce a garantia ou se a exerce deve
demandar o garante. Qual a consequência neste caso? Não pode ser a ilegitimidade do próprio devedor, pois que o
54/2 dá legitimidade ao terceiro, mas não a retira ao devedor. A consequência da execução do bem do garante, sem
se demandar o terceiro, é a ilegalidade subjectiva da penhora, impugnável em embargos de terceiro e em acção de
reivindicação.
Quadro diverso é o crédito do exequente estar garantido por hipoteca ou outra garantia real sobre bens do devedor. Nessa
eventualidade, importa separar se esses bens estão onerados com direito de terceiro ou se não têm esse encargo. Se sobre o em
com garantia real não incidir direito de terceiro, nada há a dizer no plano da legitimidade singular, pois apenas tem legitimidade
o devedor. No entanto, o devedor executado tem o direito a que a penhora se inicie pelos bens sobre que incida a garantia e só
pode recair noutros quando se reconheça a insuficiência deles para conseguir o fim da execução, conforme o 697CC – cujo
âmbito extravasa o da hipoteca , graças aos arts. 665, 678, 753, 758/2ª e 759/3 CC – e o 752/1. Mas se sobre o bem com garantia
real incidir direito de terceiro deve considerar-se o 54/4. Este declara que pertencendo os bens onerados ao devedor, mas
estando eles na posse de terceiro, poderá este ser desde logo demandado juntamente com o devedor. Portanto, trata-se de mais
um critério de legitimidade passiva plural.
O âmbito do preceito não é claro. Antes de mais em face do n.º 2 do mesmo artigo. Quanto a este a diferença é a seguinte: no
n.º2 o direito a penhorar (“bens”, na expressão legal) é da titularidade de terceiro; oneração e titularidade coincidem na esfera
de terceiro. No n.º 4 o direito a penhorar é da titularidade do devedor, mas está onerado por direito menos de terceiro e que lhe
confere posse; oneração e titularidade coincidem na esfera de devedor, a que acresce incidir uma posse nos termos de um
direito de terceiro. Deste modo um usufrutuário tanto pode ser citado pelo 54/2 quando o “bem” objecto de garantia – logo, da
hipoteca – seja o usufruto, como pode ser citado pelo 54/4 quando o objecto da garantia seja um direito maior (maxime, de
propriedade) e haja um usufruto a onerá-lo.
Mas qual pode então ser esse direito menor da titularidade de terceiro e que confira posse? A lei não distingue, pelo que
abrange todos os direitos oponíveis à execução (ergo direitos reais ou locação) que confiram posse sobre coisa. Assim, cabem
aqui os usufrutuários, os superficiários e os locatários, por exemplo. Mas eles não são devedores e os respectivos direitos não
estão vinculados à garantia do crédito, por que motivo a lei lhes dá a legitimidade passiva? A chave é o conceito de direito
incompatível para efeitos do 342/1 (embargo de terceiro) e a sua articulação com o 824/2CC. Assim, o terceiro possuidor tem
uma posse incompatível à penhora, para efeitos do 342/1, mas que deve caducar com a venda executiva, ex vi 824/2CC, por ser
posterior à garantia real do exequente - exemplo: o credor executa a hipoteca sobre o imóvel do devedor, mas nele reside um
inquilino ou um usufrutuário, cujo contrato foi celebrado depois da hipoteca; diversamente, estão excluídos do âmbito do 54/4
os titulares de penhor ou de direito de retenção, pois que o seu direito não é incompatível com a penhora: terão de intervir,
querendo, como credores reclamantes, nos termos do 788/1. Sucede que aquela caducidade tem como condição processual o
terceiro ter sido citado para a execução, nesta sede do 54/4. Dito de outro modo, se o credor quiser realizar a sua garantia real
na íntegra deverá executar ab initio o terceiro, ao abrigo da legitimação dada pelo n.º4. Ao contrário, se o terceiro não for citado,
a penhora e a venda executiva para serem subjectivamente válidas apenas poderão abranger a propriedade de raiz ou a
propriedade do senhorio. Se, ainda assim, for penhorada a propriedade plena o direito não caduca e o usufrutuário ou
arrendatário podem embargar de terceiro, procedentemente, sublinha LEBRE DE FREITAS. Em suma, o 54/4 assegura a
legalidade subjectiva de uma posterior extensão objectiva da penhora. Deste modo, trata-se de um litisconsórcio voluntário
conveniente, em função da extensão final do objecto da penhora que o exequente com garantia real queira alcançar.
Seja como for, ao contrário do que sucede em sede do 54/2 – na qual o terceiro garante tem legitimidade para ser executado
sem o devedor – o terceiro possuidor não pode ser executado sozinho: deve ser demandado juntamente com o devedor. Isto
sucede porque a sua legitimidade supõe a necessária penhora de um bem do devedor, onerado pelo direito ou posse do
terceiro. Por isto, se a execução se iniciar na forma ordinária (ie, em que a citação antecede a penhora) e o bem não chegar a ser
penhorado, o possuidor perderá legitimidade para continuar na causa. Ele só está na execução por causa de certo e determinado
bem. Uma vez citado como executado, o terceiro possuído terá ao seu dispor tanto a oposição à execução (728 e ss), embora de
modo restrito, como a oposição à penhora (784 e ss). Nesta poderá, por exemplo, invocar que o bem do devedor está na sua
posse como seu instrumento de trabalho (732/2 e 784/1/a) pelo que a penhora deve ser levantada. Por outro lado, se o bem
possuído for a sua casa de habitação efectiva, o terceiro possuidor ficará como depositário (756/1/a).
O art. 54/4 diz que pertencendo os bens onerados ao devedor, mas estando eles na posse de terceiro, pode este ser desde logo
demandado juntamente com o devedor.
O art. 616/1CC autoriza o credor a executar esses bens no património do executado. Trata-se de um terceiro contra quem tenha
sido obtido com sucesso sentença de impugnação pauliana, ie, por ter havido um acto praticado em prejuízo do credor –
exemplo: A vendeu metade do seu património ao amigo B, para obviar a um arresto e, eventual, penhora por parte de C;
decretada a impugnação do negócio jurídico translativo, C pode executar B, por causa dos bens de que é titular, apesar de não
ser o devedor. O título executivo é a sentença de impugnação pauliana.
LEBRE DE FREITAS entende que o adquirente surge aqui como devedor, enquanto condenado, mas AMÂNCIO FERREIRA pugna
pela aplicação analógica do art. 54/2. E, na verdade, se o devedor conserva a sua legitimidade em face do título, ie, no plano da
titularidade da obrigação exequenda, já o adquirente tem legitimidade por causa dos bens, ie, no plano da garantia da obrigação
exequenda, como sucede no art. 54/2.
Por força do efeito da sentença de impugnação pauliana, o terceiro adquirente é titular no seu património de bens vinculados à
garantia de dívidas alheias.
Outro caso:
Se o devedor tiver a garantia real do seu próprio bem, tem excussão da penhora – primeiro podem ser penhorados bens que
não a casa hipotecada.
Supondo que a minha casa foi arrendada a um inquilino, a posse passa para um terceiro. Neste caso, o terceiro pode ser
demandado com o devedor. Mas o inquilino não é garante?
O Professor entende que há litisconsórcio voluntario passivo conveniente, pq se a casa do senhorio for vendida, o art. 824 CC,
verificados certos pressupostos, o arrendamento caduca. Para o Professor, só caduca se o inquilino for ouvido no processo (tem
que ser citado).
O banco, se quiser garantir que o arrendamento se extinga, tem que citar o inquilino. Caso contrário, a casa é vendida onerada
com o usufruto (do inquilino).
Há uma especialidade do lado passivo: tem legitimidade (pode ser executado), não o titular da obrigação exequenda, mas um
terceiro que seja dono de um bem dado em garantia real ou de bens sujeitos a impugnação pauliana procedente (art. 818 CC).
Casos em que o banco executa o devedor e um terceiro que deu um bem como garantia real. Há uma garantia real relativa a
dívida alheia (garanto com os meus bens uma dívida que não é minha) - art. 818/1ª parte CC
Como o terceiro não é devedor, não cabe no art. 53, mas no art. 54/2: A execução por dívida provida de garantia real sobre bens
de terceiro segue diretamente contra este se o exequente pretender fazer valer a garantia, sem prejuízo de poder desde logo
ser também demandado o devedor.
↓
Não se impõe nenhum litisconsórcio necessário. O terceiro é executado sozinhamente, solitariamente.
Se a hipoteca real não der para pagar a dívida toda → Art. 54/3: Quando a execução tenha sido movida apenas contra o terceiro
e se reconheça a insuficiência dos bens onerados com a garantia real, pode o exequente requerer, no mesmo processo, o
prosseguimento da ação executiva contra o devedor, que é demandado para completa satisfação do crédito exequendo.
Pode o credor fazer ao contrário: primeiro demandar o devedor e na falta de suficiência dos bens, executar o terceiro garante?
O Professor considera que sim e cabe ao credor escolher. Não há nada que o impeça. Pequeno problema: o art. 54, n.º 1 e 2 não
preveem esta situação e não há uma norma que o legitime. O Professor, mais uma vez, faz uma interpretação extensiva de
acordo com o direito substantivo. Não há nenhuma razão de direito material que o impeça.
E podem-se demandar os dois em conjunto em litisconsórcio necessário, no art. 54/2/2ª parte in fine.
O n.º 2 prevê demandar terceiro, demandar os dois, mas não prevê demandar o devedor ad initio (embora o Professor
considere que sim).
Art. 697 CC que prevê o chamado benefício da excussão real, que diz que havendo uma garantia real (p.e. hipoteca), primeiro
podem ser executados bens que não são da hipoteca e só depois a hipoteca. Contudo, isto só vale quando os bens são do
devedor. E o terceiro garante? À contrario, qd a hipoteca incide sobre bens de terceiro, não se aplica o art. 697 e o terceiro não
se pode defender. Por isso é que o banco pode escolher querer executar primeiro a hipoteca (que incide sobre bens de
terceiro).
Imaginando que há um contrário de arrendamento entre A e B e o senhorio exige um fiador. O irmão de B (F) fica como fiador
de pagar as rendas (se B não pagar F paga por ela).
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Aqui há dois devedores: o fiador tb está obrigado a realizar a prestação devida, subsidiariamente (em caso de incumprimento do
devedor – benefício da excussão prévia).
O fiador está no art. 53, porque é um devedor, ainda que acessório.
Normalmente, o fiador renúncia ao benefício da excussão prévia e pode ser demandado a pagar ad initio. Um é o devedor
causal e o outro é o devedor garante.
Imaginado que a mãe de B constituía uma garantia real de penhor sobre certificados de aforro, de 10k. Em caso de
incumprimento, a mãe não paga, mas os bens são vendidos para pagar a dívida. O garante real é proprietário de um bem que
será vendido, só responde por causa do bem, mas não é devedor. Situação do art. 54/2.
O fiador tem que cumprir com a prestação. O terceiro garante não tem essa obrigação, está apenas sujeito à execução,
mediante a venda dos seus bens.
Contudo, qualquer terceiro pode pagar uma dívida de outrem. Mas paga como terceiro ao contrato, não paga como parte do
contrato. o terceiro garante não é parte do contrato.
Se o bem executado for vendido por um valor inferior ao da dívida, a execução extingue-se, mas pode ser reaberta se
aparecerem novos bens.
O art. 818 CC tem uma segunda parte, relativa á impugnação pauliana. Imaginando que passo todos os bens para a minha mãe.
Chega á hora da penhora não há bens. Quando o credor percebe que há uma dissipação dos bens, o credor pode demandar o
terceiro com base no título da dívida mais a sentença da impugnação pauliana. Aplica-se o art. 54/2 por analogia, dado que esta
situação não está prevista no CPC.
O art. 54/4 diz que pertencendo os bens onerados ao devedor, mas estando eles na posse de terceiro, pode este ser desde logo
demandado juntamente com o devedor.
Se o devedor tiver a garantia real do seu próprio bem, tem excussão da penhora – primeiro podem ser penhorados bens que
não a casa hipotecada.
Supondo que a minha casa foi arrendada a um inquilino, a posse passa para um terceiro. Neste caso, o terceiro pode ser
demandado com o devedor. Mas o inquilino não é garante?
O Professor entende que há litisconsórcio voluntario passivo conveniente, pq se a casa do senhorio for vendida, o art. 824 CC,
verificados certos pressupostos, o arrendamento caduca. Para o Professor, só caduca se o inquilino for ouvido no processo (tem
que ser citado).
O banco, se quiser garantir que o arrendamento se extinga, tem que citar o inquilino. Caso contrário, a casa é vendida onerada
com o usufruto (do inquilino).
LEGITIMIDADE PROCESSUAL PLURAL
LITISCONSÓRCIO
Exemplo de litisconsórcio voluntário: Cada parte tem a sua quota. Isto está na regra geral do art. 32 (litisconsórcio voluntário
conveniente). Se não estiverem todos os litisconsortes só se pode executar a quota-parte, caso contrário há excesso de pedido.
Se a dívida for solidária, um devedor responde por todos, e aqui é mais fácil executar. Um credor pode exigir a totalidade do
crédito a um devedor (contudo, esta situação tem por base a autonomia privada).
Na execução de direitos reais, há litisconsórcio voluntário na execução movida pelos herdeiros. O herdeiro pode sozinho pedir
os bens da herança e representará os demais. Ver esta questão no livro.
Litisconsórcio voluntário
Não havendo litisconsórcio necessário, importa distinguir, consoante o regime da obrigação exequenda seja de:
1. Créditos plurais:
A natureza solidária (artigo 512. CPC) ou parciária (artigo 512, a contrario, e 533 CC) de uma obrigação plural não obriga a que
todos, credores e/ou devedores, estejam como partes na execução. Todos têm legitimidade, em face do artigo 53 CPC, mas o
que decorre do regime comum do artigo 32 CPC é que:
c. Finalmente, se houver um devedor principal e um devedor subsidiário, máxime, um fiador – ambos legitimados ex vi artigo
53.º, n.º1 CPC – o credor pode optar entre demandar um deles ou ambos, já que a eventual alegação do benefício da excussão
prévia não respeita à legitimidade. É o que veremos em sede do artigo 745.º CPC.
Litisconsórcio necessário
Quando é que o litisconsórcio é necessário?
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O art. 33 consagra três situações:
Litisconsórcio superveniente
Fora destes exemplos, a doutrina divide-se entre aqueles que admitem, com mais ou menos restrições a
aplicabilidade do art. 311 e ss à acção executiva e aqueles que admitem a intervenção de terceiros apenas em casos
pontuais.
RUI PINTO: Por força do princípio da estabilidade da instância (art. 260, relativo à fixação do pedido e dos
intervenientes), só é permitida a modificação do pedido, da causa de pedir ou de mais sujeitos quando a lei o
permita. O art. 311 não se aplica à acção executiva, porque são incidentes próprios da acção declarativa (uma vez que
terminam com uma sentença). Esta afirmação é muito radical. RUI PINTO admite a intervenção de terceiros para
assegurar o direito de defesa do executado (na oposição à execução) e o p. da adequação formal possibilitar a
flexibilização do art. 260.
IV . PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
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Matéria regulada pelo art. 58
É obrigatório a parte estar representada por um profissional do Direito?
Depende do valor da execução
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Valores inferior a 5k (valor da primeira instância) não é necessário advogado, acima de 5k depende.