6 Completo Doencas Infecciosas Vigilancia Epidemiologica Notificacao Compulsoria at 2023

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Doenças Infecciosas

Sistema de Vigilância Epidemiológica


Notificação Compulsória, Epidemiologia Hospitalar
. Doenças infecciosas → principal causa de morte da espécie humana por milênios;
. Varíola, peste, pneumonia, meningite e tuberculose mataram provavelmente mais
pessoas do que qualquer guerra já travada por diferentes povos e nações;
. Mesmo em tempos de guerra, aqueles que sobreviviam a ferimentos traumáticos
frequentemente sucumbiam às infecções secundárias e à sepse;

Três últimos séculos → melhoria lenta, mas progressiva das condições de vida e
trabalho → diminuiu o impacto das doenças infecciosas sobre o adoecer e morrer do
ser humano, levando a um aumento progressivo da expectativa de vida;

. Nos últimos dois séculos → advento das vacinas e, posteriormente, dos antibióticos
consolidou nosso poder de enfrentamento dessas doenças, influenciando fortemente
o fenômeno da transição epidemiológica;

“The time has come to close the book on infectious diseases.


We have basically wiped out infection in the United States”.
Será?
Expectativa não se confirmou:

. Doenças antigas como tuberculose, malária, meningite, pneumonia e diarreia aguda


infecciosa continuam a ceifar a vida de milhões de pessoas anualmente,
predominantemente nos países em desenvolvimento;

. novas doenças infecciosas com extraordinária capacidade de disseminação e


letalidade surgiram nos últimos séculos, como as infecções pelos vírus HIV e Ebola,
SARS-COV-2;

Nos últimos cinco anos → vultoso aumento das doenças cardiovasculares,


respiratórias crônicas, cânceres e traumas que resultou em aumento da incidência
das infecções relacionadas à assistência à saúde → matam +/- 16 milhões de
pessoas, anualmente, em todo o mundo.
Epidemiologia das doenças infecciosas importante para a saúde coletiva.

Para estudar a dinâmica das doenças infecciosas é necessária a compreensão de


alguns conceitos básicos:

≠ entre colonização e infecção


. no processo de colonização → microrganismo e ser humano convivem em uma
relação comensal ou simbiótica, sem haver elicitação do sistema imune do
hospedeiro;
. na infecção, ocorre dano celular ou tecidual e elicitação da resposta imune inata e/ou
adaptativa do hospedeiro;

(elicitar – expulsar, fazer sair)


Do ponto de vista clínico, uma infecção pode ser assintomática, de onde vem o
conceito de portador, como portador de Neisseria meningitidis na orofaringe, ou
sintomática, como meningite meningocócica);

Quando a infecção produz sinais e sintomas clínicos, associados a dano tissular ou


alteração da fisiologia orgânica → chamada doença infecciosa;

Período de incubação → intervalo de tempo existente entre a exposição ao agente


infeccioso e o início dos sintomas;
Eventualmente, a apresentação clínica inicial de uma doença infecciosa é marcada
por sintomas inespecíficos como mal-estar, inapetência e estado subfebril, o que
caracteriza o período prodrômico da doença.
Espectro clínico de uma infecção → da cor branca à preta, passando por mais de 50
tons de cinza;

Exemplo → infecção da febre amarela


Infecção e Contaminação

Contaminação → transmissão de impurezas ou de elementos nocivos capazes


de prejudicar a ação normal de um objeto.

Infecção → invasão de tecidos corporais de um organismo hospedeiro por parte de


organismos capazes de provocar doenças.

Quando descrevemos o processo de transmissão do vírus de uma pessoa para


outra, devemos dizer que a pessoa foi infectada, por exemplo com HIV e não
contaminada.

Contaminação deve ser utilizado somente ao se referir a objetos e equipamentos.


Uma seringa usada, por exemplo, pode estar contaminada com sangue com HIV.

O recomendado para se referir a pessoas que têm o HIV é pessoa vivendo com HIV.
Reservatórios de um agente infeccioso → seres vivos ou locais inanimados
onde o microrganismo é capaz de viver e se multiplicar, podendo, a partir dali, ser
transmitido aos seres humanos suscetíveis;

Nas doenças infectocontagiosas, como a tuberculose e a hepatite B, o


reservatório principal de infecção é o próprio indivíduo infectado, podendo ele
estar doente ou não, dependendo do agente em questão;

Antropozoonoses, têm reservatório em animais domésticos ou silvestres,


afetando apenas esporadicamente os seres humanos;

Exemplos de principais reservatórios silvestres ou urbanos:


raiva → morcegos;
febre amarela → primatas não humanos;
leishmaniose visceral → cães;
esquistossomose → lagos infestados com caramujos;
Conceito de fonte de infecção está ligado ao veículo de transmissão de um agente
infeccioso;

Em doenças infectocontagiosas, muitas vezes reservatórios e fontes de infecção


são coincidentes, como é o caso da infecção pelo HIV/AIDS;

Em outras, esses papéis se separam, como no caso da paracoccidioidomicose, cujo


reservatório é o solo e a fonte de infecção é o ar contaminado pela poeira, que
leva o fungo do solo ao parênquima pulmonar.
Classificação de processos de transmissão de um agente infeccioso

. Transmissão inter-humana direta → doenças infectocontagiosas;

. Doenças com fonte de infecção na natureza → doenças infecciosas não


contagiosas;
Estas últimas podem ser transmitidas:
*pelo ar (aspergilose);
*pela água (esquistossomose);
*pelo contato com animais (toxoplasmose);
* por meios de vetores (dengue);
Doenças infectocontagiosas podem ser transmitidas por diferentes vias:

. respiratória (tuberculose);

. sexual (sífilis);

. fecal-oral (salmonelose);

. sanguínea (hepatite C);

. transplacentária (citomegalovirose);

. contato direto pele a pele (escabiose).


Período de transmissibilidade de uma doença infecciosa → aquele, no qual o
agente em questão pode ser encontrado em forma viável nos tecidos ou fluidos
biológicos do indivíduo infectado, podendo então ser transmitido diretamente a um
indivíduo suscetível ou indiretamente a um vetor ou reservatório natural;

Em algumas doenças, como as infecções virais exantemáticas (com erupções


avermelhadas - varicela, sarampo, caxumba, rubéola), esse período antecede o
início das manifestações clínicas, propiciando a transmissão do agente viral
antes mesmo que o indivíduo se perceba doente;

É o período de transmissibilidade que determina o tempo de isolamento de um


doente, na eventualidade de sua internação;
Determinantes das doenças infecciosas

Com o modelo multicausal de Leavell e Clark, podemos analisar doenças infecciosas


como o evento resultante da interação entre microrganismo, hospedeiro humano
e o meio ambiente à sua volta;

Nesse sentido, doença infecciosa → é o fracasso dessa interação, já que, em


simbiose, ou mesmo em uma infecção em forma assintomática, microrganismo e
ser humano podem conviver por tempo indefinido;

Durante a atividade de uma doença infecciosa, o ser humano pode eventualmente


se curar, levando à morte ou contenção da multiplicação do microrganismo
envolvido ou, no pior dos cenários, o ser humano morre, resultando na morte
sequencial do microrganismo causador da doença.
Interação entre microrganismo, hospedeiro humano e o meio ambiente determina
a ocorrência da doença não somente no nível do indivíduo, e no nível
populacional, influenciando seu comportamento endêmico ou epidêmico;
Fatores determinantes das doenças infecciosas
ligados ao microrganismo, hospedeiro humano e ao
meio ambiente
Determinantes relacionados aos microrganismos

No passado → vilões implacáveis da espécie humana;


Hoje considerados essenciais à manutenção da vida no planeta:
. realizam fotossíntese;
. decompõem a matéria orgânica no solo;
. desempenham papel vital no interior do ser humano;
Bebê nasce 100% humano, ao morrer um indivíduo é aproximadamente 90%
microbiano, o que quer dizer que, para cada célula humana, haverá em média 10
células microbianas compondo a sua microbiota natural, que predomina em
concentração na pele e no sistema digestório;

Microbioma humano evoluiu conjuntamente com a espécie humana ao longo de


milênios, especializando-se com o tempo em produzir substâncias relevantes ao
metabolismo humano, como as vitaminas B12 e K, e em dificultar a colonização
e invasão do organismo por germes extrínsecos mais patogênicos;
Essa relação simbiótica harmoniosa pode se tornar conflituosa, se o equilíbrio
de forças for rompido, e essa ruptura pode ser influenciada por diversos
fatores ligados aos microrganismos:

Um deles é a infectividade → capacidade de causar infecção;

O vírus Influenza, por exemplo, apresenta altíssima infectividade, tendo em conta


sua capacidade extraordinária de transmissão interpessoal, chegando inclusive a
atingir proporções globais de infecção (pandemia);

O fungo Paracoccidioides brasiliensis pode ser visto como um patógeno de baixa


infectividade, uma vez que milhões de pessoas a ele se expõem diariamente
no meio rural, mas apenas um percentual mínimo delas termina sendo
infectado pelo fungo;
Infectividade de um agente infeccioso está inversamente relacionada ao inóculo
mínimo;

No caso de M. tuberculosis, basta que um único bacilo escape ao sistema de


drenagem mucociliar do epitélio respiratório e chegue ao alvéolo pulmonar para que
a infecção inicial, chamada de complexo primário, se estabeleça;

De forma diferente, para que o vírus HIV se instale no organismo humano, é


provavelmente necessário que alguns milhões de cópias virais sejam inoculados
em suas mucosas ou tecidos subepiteliais;
Outro fator é a patogenicidade → capacidade de produzir doença no
hospedeiro;

Microrganismos como os anaeróbios do trato digestório, habitualmente inócuos, mas


que podem causar doença em situação excepcional → quando perfuram alça
intestinal → chamados de patógenos oportunistas;

Por outro lado, microrganismos como o vírus HIV, capazes de causar doença em
praticamente todos os hospedeiros em que puderem estabelecer o processo
infeccioso, são chamados de patogênicos;

A patogenicidade de um agente infeccioso → estimada pela proporção de


doentes entre todos os infectados ou colonizados;
Outro fator que influencia delicado equilíbrio é a virulência do microrganismo;

Em Epidemiologia, → variável que mede a agressividade de um patógeno,


considerada aqui como sua capacidade de invadir o hospedeiro, evadir ao
sistema imune e agredir suas células e tecidos;

Virulência de um agente infeccioso → estimada pela proporção de casos graves e


fatais entre todos os doentes;

Rinovírus →agente de baixa virulência, sendo raríssimos os casos graves e óbitos a


ele associados;
Já o vírus da raiva → expressão máxima da virulência de um agente infeccioso,
tendo em vista que sua letalidade se aproxima de 100% dos casos.
Determinantes relacionados ao hospedeiro humano

Contraponto às ações potencialmente invasivas e lesivas dos microrganismos,


há o sistema imunológico humano → constituído por vários mecanismos
engenhosos de proteção, classificados em imunidade inata e imunidade adaptativa;

Imunidade inata → formada por barreiras inespecíficas de defesa contra os


agentes infecciosos e é desprovida de memória;

Essa barreira → pele, mucosas, barreira hematoencefálica, fluxo de fluidos como


urina e bile, sistemas mucociliares do trato respiratório, pH gástrico, lisozimas,
interferons, sistema complemento e células fagocíticas;
Determinantes relacionados ao hospedeiro humano

Uma deficiência em um ou mais desses mecanismos de defesa pode aumentar a


suscetibilidade do indivíduo a doenças infecciosas;

Essas deficiências podem ser congênitas, como a deficiência de complemento, ou


adquiridas, como a alteração de pH gástrico induzida pelo uso crônico de omeprazol,
e a deficiência de quimiotaxia e fagocitose induzida pela hiperglicemia no diabetes
mellitus;
Imunidade adaptativa → é patógeno-específica e normalmente se desenvolve
após o contato do organismo com o agente infeccioso ou antígenos dele
derivados;

Possui um braço humoral representado pelos linfócitos B, produtores de


anticorpos, e um braço celular representado pelos linfócitos T e as células NK
(natural killer);

Essas células → capazes de memória imunológica de um contato com um dado


patógeno que pode, em muitos casos, prevenir uma infecção secundária pelo
mesmo agente;
Exemplos: exposição aos vírus da febre amarela, sarampo, rubéola, caxumba,
varicela, Zika e hepatite B, entre vários outros;
Deficiências elevam o risco de doença infecciosa e podem ser de origem
congênita, como a deficiência de IgA, ou adquiridas, como aquelas produzidas
pela desnutrição, AIDS e corticoterapia crônica;
Imunidade adaptativa pode ser conferida por vias ativa ou passiva, natural ou
artificial;

Imunidade adquirida após a infecção por determinado patógeno é de origem


natural e ativa;
Quando se vacina uma pessoa, estamos imunizando-a de forma também ativa, mas
artificialmente;

Imunização passiva, pode se dar por vias naturais, como na transferência de IgA
para o recém-nascido pelo leite materno, ou por via artificial, como na
administração de soro antitetânico a uma pessoa que tenha sofrido acidente de
risco para o tétano.
Em algumas situações específicas a resposta imune desbalanceada a determinado
agente infeccioso pode ser até mais danosa que a ação do microrganismo em si →
caso da sepse bacteriana, em que a produção exacerbada de citocinas pró e anti-
inflamatórias pode culminar com a perda do tônus vascular arterial e o choque
circulatório;
Imunidade de rebanho → Quando o nível de imunidade de uma população a
dado agente infectocontagioso se projeta em patamares elevados seja porque um
grande número de indivíduos foi naturalmente infectado e desenvolveu
resistência, seja pela vacinação em larga escala;

Mesmo aquele percentual pequeno de pessoas não imunes ao agente, está protegido
indiretamente pela imunidade dos demais, que impede a livre circulação do agente
naquela população;

É o caso da poliomielite no Brasil, por exemplo;


Apesar do poliovírus selvagem tipo 1 ter sido encontrado em amostra sentinela do esgoto do
aeroporto de Campinas em 2014, e de haver pessoas suscetíveis à poliomielite (crianças
imunossuprimidas, por exemplo), não houve surto da doença no país porque as coberturas
vacinais eram altíssimas para esse agente;
Determinantes relacionados ao ambiente

Complementando o modelo de Leavell e Clark, consideramos o meio ambiente


incluindo aspectos naturais, sociais e econômicos.

Aspectos naturais que influenciam o risco de adoecimento → doenças tropicais


transmitidas por vetores, como a malária, a dengue e a febre amarela;
Muito mais frequentes nas regiões tropicais e subtropicais do globo em razão da
abundância de seus vetores nesses locais, que têm dificuldades em sobreviver e se
reproduzir em regiões mais frias;

Entretanto → regiões de clima subtropical, como o estado da Flórida (EUA) e a


Austrália, não apresentam epidemias de dengue, apesar de infestados por mosquitos
Aedes spp.→ relevante papel dos determinantes sociais ligados à pobreza, como a
coleta e destino inadequado dado ao lixo urbano, mais frequentes nos países em
desenvolvimento acometidos por essa doença.
Regime pluviométrico → influencia o risco de doenças ligadas a enchentes e
alagamentos, como a leptospirose, a hepatite A e o cólera;

Participação antrópica → impermeabilização do solo nas cidades contribui para o


fenômeno enchente e a ausência de tratamento do esgoto contribui para o
lançamento dos patógenos enterais no curso dos rios;
Condições de moradia →risco de algumas doenças infecciosas;
Exemplos:
. Doença de Chagas, associada à proliferação de triatomíneos nas casas de pau a
pique;
. Tuberculose com transmissibilidade ampliada nas comunidades vivendo em favelas,
por causa da aglomeração familiar em pequenos espaços, pouco ensolarados e mal
ventilados;

Condições de trabalho → risco de infecção e adoecimento, sendo que algumas


doenças infecciosas são tipicamente ocupacionais;
Exemplos:
Seringueiros e coletores de castanhas na Amazônia, que eventualmente se infectam
pela febre amarela, e dos tratoristas do sudeste brasileiro, que contraem
paracoccidioidomicose por inalar grandes quantidades de poeira ao arar o solo nu;
Medidas de controle das doenças infecciosas em nível populacional

Conceitua-se como controle de uma doença infecciosa a aplicação de medidas


preventivas ou curativas no nível de uma comunidade ou população, com o
objetivo de reduzir a morbidade e a mortalidade a ela associadas;

Exemplo → medidas anualmente empregadas no Brasil para controle do mosquito


Aedes aegypti, visando reduzir os casos de dengue e outras arboviroses.
Historicamente, medidas de controle aplicadas a doenças infecciosas podem ter um
cunho mais direto e pragmático, como proposto pela medicina preventiva, ou
serem mais sistêmicas e abrangentes, como proposto pela medicina social →
não há antagonismo entre essas correntes e ambos os tipos de medidas
empregadas de forma complementar;

Exemplo controle de Chagas com técnica preventiva do expurgo seletivo com


inseticidas aplicados nos domicílios, proposta por Pedreira de Freitas na década de
1950 e posteriormente consolidada com a melhoria das condições habitacionais da
população brasileira ao longo da segunda metade do século XX.
No Brasil → circulação natural do sarampo e da rubéola foi eliminada há mais de 10
anos, o que não impede a eventual importação de casos e reintrodução
dessas doenças, caso as coberturas vacinais da população caiam;

Erradicação de uma doença infecciosa → situação rara, em que, além de não


ocorrerem casos novos da doença na população, sua reintrodução é considerada
impossível, uma vez que ocorre quebra irreversível da sua cadeia de transmissão;

Pressupostos biológicos necessários ao processo de erradicação:


. doença seja causada por um único agente infeccioso, ou no máximo um
pequeno grupo de agentes;
. ausência de reservatórios do agente na natureza;
. doença tenha período curto de incubação, não produza casos de infecção
assintomática;
. disponíveis tratamento ou vacina altamente efetivos;
Única doença infecciosa erradicada do mundo foi a varíola, por meio de campanha
global de vacinação e intensa vigilância epidemiológica;

Último caso natural de varíola ocorreu na Somália em 1977, mas o vírus causador da
doença continua estocado nos EUA e na Rússia, apesar da pressão mundial para sua
destruição;

Muito perto de erradicar uma segunda doença infecciosa, a poliomielite. Últimos casos
mundiais de infecção por poliovírus selvagem tipos 2 e 3 foram em 1999 e 2012;

Entretanto, o poliovírus tipo 1 ainda é endêmico no Afeganistão e no Paquistão, tendo


circulado também até 2016 na Nigéria. Em 2017, apenas 22 casos de poliomielite
foram registrados no mundo, todos eles ocorrendo nos dois países endêmicos;
Caso da poliomielite mostra que os pressupostos biológicos são necessários, porém
não suficientes para a erradicação de uma doença infecciosa → determinação
política, recursos financeiros e participação social são fundamentais para o sucesso
de uma estratégia desse tipo;

Há recursos e determinação política, porém o contexto social de pobreza e conflitos


em que vivem os dois últimos países endêmicos → dificulta o avanço das frentes de
vacinação e compromete a erradicação da doença;

Necessidade complementar das medidas preventivas e sociais.


Segundo OMS→ outros candidatos do ponto de vista biológico à erradicação, são a
dracunculíase, a bouba, o sarampo, a rubéola, mas possivelmente faltem iniciativa
política e recursos financeiros voltados à implementação desses projetos;

Nesse sentido, é útil refletir sobre o fato de que globalmente se gastou, em 2020,
cerca de 1 trilhão e 981 bilhões de dólares americanos na produção e
comercialização de armamentos, enquanto toda a campanha de erradicação da
varíola custou aproximadamente 500 milhões de dólares;

Então, é possível estimar que a um custo equivalente, 3.962 outras doenças


infecciosas potencialmente erradicáveis poderiam ser de fato erradicadas se
todo o dinheiro usado em um único ano para gasto militar fosse investido em
programas de controle dessas doenças.
Vigilância Epidemiológica
Interesse em contar o número de casos de doenças e óbitos e controlar a
disseminação de patologias contagiosas surgiu há muito tempo, em distintas
sociedades e momentos históricos;
Registro de informações de ocorrência de doenças para a tomada de ações de
controle foi se tornando cada vez mais evidente, fazendo com que medidas fossem
adotadas para a coleta de dados;

Relatos das primeiras medidas de saúde referentes a ações de vigilância estão


relacionados com a instituição da quarentena, a fim de evitar a disseminação de
pestes;
Início século XX, após teorias microbiológicas para a determinação de doenças →
primeiros conceitos científicos de vigilância na prática de saúde pública, assim
pessoas acometidas por pestes, varíola e febre amarela eram monitoradas → detectar
precocemente novos casos e iniciar o isolamento dos acometidos;
Vigilância epidemiológica → consiste na coleta sistemática e contínua e na
análise, interpretação e disseminação de dados, a fim de planejar e avaliar as
práticas em saúde;

Conjunto de atividades e procedimentos hierárquicos em nível local e internacional →


com objetivos de recomendar e adotar medidas de prevenção e controle de
problemas de saúde;

Dados de doenças infecciosas, doenças crônico-degenerativas, acidentes,


violências, fatores de risco e ambientais são coletados e estudados;
Recomendação, implementação e avaliação de ações de controle de disseminação
de doenças: vacinação, isolamento, tratamento e até mesmo com medidas
educacionais;
Retroalimentação ou feedback → contínuo processo de aperfeiçoamento, gerência e
controle da qualidade dos sistemas de vigilância epidemiológica;
A disseminação das informações para todos os setores e profissionais do sistema de
vigilância leva ao aumento da adesão ao serviço de notificação de dados;
Vigilância Epidemiológica - Revisão
Vigilância Epidemiológica - Revisão
Sistema de Vigilância Epidemiológico Nacional Brasileiro

No Brasil, em 1990, foi instituído por meio da Lei 8.080, o Sistema Único de Saúde
(SUS);
SUS definiu Vigilância Epidemiológica → conjunto de ações que proporcionariam
conhecimento, detecção e prevenção de mudanças nos fatores determinantes e
condicionantes de saúde individual ou coletiva a fim de adotar as medidas de
prevenção e controle de doenças e seus agravos;
Vigilância Epidemiológica → segmento do Sistema de Saúde que fornece dados
para desenvolvimento de estratégias de controle de doenças;

Grande parte das informações é registrada contínua e sistematicamente;

Para que essas informações sejam representativas, uma das abordagens


compreendidas é a notificação compulsória de algumas doenças;

No Brasil, a compulsoriedade da notificação é regida pela Lei Federal n. 6.259, de


1975;

A Portaria n. 204, de 17 de fevereiro de 2016, define o conjunto de doenças/eventos


de notificação compulsória;

Ministério da Saúde, periodicamente, pode refazer e atualizar a lista das doenças,


com portaria. Última atualização é de fevereiro de 2006.
Informações de interesse Epidemiológico dizem respeito a:

. Eventos vitais (nascimento e morte);

. População que deu origem a esses eventos;

. Classificações que caracterizam essa população (idade, sexo, estado civil,


migração);

. Eventos que podem ocorrer aos indivíduos e que são relacionados à saúde
(acidentes, doenças, condições ambientais);
Notificação Compulsória de Doenças

Notificação → aspectos simples a serem considerados, como a notificação da


simples suspeita de doença;

Dever haver sigilo da informação, quando a divulgação deve ser realizada apenas ao
órgão responsável, evitando a exposição dos indivíduo envolvidos, e o envio da
notificação negativo, quando não houver registro de casos;

Conjunto de atividades que inclui o processamento, análise, interpretação e


avaliação crítica dos dados → essencial para gerar informações para ações de
controle;

(Busca de informações incompletas, verificação com eliminação de duplicidade de dados);


Figura 3. Critérios para a escolha das doenças que serão incluídas na lista de notificação compulsória
Os Estados podem, conforme o contexto epidemiológico local, adicionar outras
doenças à lista, que as tornam notificação compulsória em seu território. Por exemplo,
no Estado de São Paulo, pela Resolução n. SS-20, de 22 de fevereiro de 2006,
devem também ser notificados os casos de acidentes provocados por animal
peçonhento, tétano neonatal e tracoma;

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação foi criado em 1990, concebido e


desenvolvido pelo Centro Nacional de Epidemiologia, com o apoio técnico do
Datasus. O sistema foi planejado para ser operado nas Unidades de Saúde;

Dados do Sinan, processados no âmbito federal→disponibilizados no Boletim Epidemiológico


do SUS e no Portal da Saúde do Ministério da Saúde (http://portalsinan.saude.gov.br/).
No plano internacional → importante registrar informações sobre as doenças que
migram de um país para outro, ou mesmo entre os continentes;
As primeiras regras sanitárias para fronteiras foram estabelecidas ainda no século
XIX, deram origem ao Código Sanitário Internacional de 1924;

Atualmente, estão em vigor as normas do Regulamento Sanitário Internacional de


1969, revisadas em 2005 e aprovadas pela 58ª Assembleia Mundial de Saúde;

Foco de atenção aos pontos frágeis da detecção e resposta aos surtos e epidemias
surgidos nas últimas décadas;
Dados de registros hospitalares

Cuidado com as estatísticas hospitalares como indicadoras da morbidade de uma


população→ são seletivas (produzem informações apenas para as doenças que
requeiram internação) e incompletas (nem todo paciente que necessita de
internação é internado realmente) e nem sempre há controle sobre a que população
se referem;

Mesmo assim, são de grande valor, refletindo, do ponto de vista epidemiológico, o


impacto das doenças que exigiram internações;

Cobrem 70% das internações realizadas no país e possibilitam, ainda, estudos do


tipo caso-controle e de seguimentos de coortes.

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