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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
VASCONCELOS, Gabriel de Albuquerque; BRAGA NETO, Pedro (org.). (org.). O Raciocínio
Neurológico. 1. ed. Salvador, BA: Editora Sanar, 2021.
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846
Editora Sanar Ltda.
Rua Alceu Amoroso Lima, 172
Caminho das Árvores
Edf. Salvador Office e Pool, 3º andar.
CEP: 41820-770 – Salvador/BA
Telefone: 0800 337 6262
sanarsaude.com
atendimento@sanar.com
Agradecimentos
Os editores deste livro agradecem aos participantes desse trabalho, pelo seu empenho e
dedicação. Agradecemos também à Editora Sanar, que acreditou nesta obra e proporcionou
todo o suporte necessário para sua realização. Não podemos deixar também de agradecer
aos nossos mestres e professores que nos inspiraram em todos os nossos momentos de
formação médica bem como aos diversos pacientes que tanto nos ensinam.
Que este livro estimule os leitores.
Coordenadores
Gabriel de Albuquerque Vasconcelos
Graduando em Medicina pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Orientadores
Cleonisio Leite Rodrigues
Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Residência em Neurologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).
Especialização em Eletroneuromiografia pela FM-USP.
Doutor pela Neurologia da FM-USP.
Coordenador do ambulatório de Neuromuscular do HGF-CE.
Autores
Alina Maria Núñez Pinheiro
Graduanda em Medicina pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Caso 5: Preguiçoso?
Autor: Jorge Luiz de Brito de Souza
Orientador: Dr. Paulo Ribeiro Nóbrega
1. Apresentação de caso
2. Para pensar
3. Discussão
4. Considerações finais
5. Objetivos de aprendizagem
6. Dicas práticas
Referências
Caso 6: Tremor
Autor: Fábio Rolim Guimarães
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. Apresentação do caso
2. Para pensar
3. Discussão
4. Objetivos de aprendizagem
5. Dicas práticas
Referências
Capítulo 7: Síndrome Cognitiva
Caso 1: O labirinto da memória
Autora: Alina Maria Núñez Pinheiro
Orientadores: Dr. Pedro Braga Neto, Dr. Helder Gomes de Moraes Nobre
1. Apresentação de caso
2. Para pensar
3. Discussão
4. Objetivos de aprendizagem
5. Dicas práticas
Referências
Caso 4: Os 3 Ms
Autora: Alina Maria Núñez Pinheiro
Orientadores: Dr. Pedro Braga Neto, Dr. Helder Gomes de Moraes Nobre
1. Apresentação de caso
2. Para pensar
3. Discussão
4. Objetivos de aprendizagem
5. Dicas práticas
Referências
1. NEUROLOGIA E NEUROFOBIA
A Neurologia é uma especialidade singular e essencial para o manejo de pacientes com
doenças neurológicas ou relacionadas a manifestações neurológicas. A cefaleia, principal
queixa em consultas médicas, é um sintoma fortemente atrelado à neurologia e seu
manejo exige raciocínio clínico sistematizado. Outras doenças neurológicas de elevada
incidência e prevalência (por exemplo, Acidente Vascular Cerebral e Demência de
Alzheimer) são importantes causas de perda funcional, com forte impacto socioeconômico
para o doente, a família e a sociedade.
O conhecimento básico da Neurologia é imprescindível para qualquer médico ou
estudante de Medicina, tendo em vista que devem ser capazes de diagnosticar e tratar
pacientes com acometimentos neurológicos mais frequentes e menos complexos, a fim de
evitar a sobrecarga do serviço especializado, que, infelizmente, sofre com a carência de
profissionais.1 Cabe ressaltar, também, a importância desse conhecimento para outras
especialidades que envolvem doenças que cursam com acometimento neurológico ou que
lidam com pacientes neurológicos; por exemplo, medicina de família e comunidade,
medicina de emergência, clínica médica, dentre outras.1
Contudo, infelizmente, a formação de profissionais médicos é deficiente nessa área
devido a diversos fatores, dos quais dois serão realçados. Primeiro, a insuficiente carga
horária dedicada ao estudo desse campo na graduação em Medicina e nas residências
médicas de outras especialidades. Segundo, a neurofobia, isto é, o medo em estudar
Neurologia.1 Dentre as causas que estão relacionadas a este fator, cabe destacar a
carência de didática na metodologia de ensino por parte de certos docentes, além de
estigmas culturais de que a matéria a ser estudada é muito complexa e que pacientes
neurológicos têm sempre prognóstico reservado e terapêutica limitada.1
Tal prejuízo na educação médica acarreta duas principais complicações. Primeiro,
poucos profissionais escolhem a Neurologia como área de atuação, apesar da crescente
incidência de doenças neurológicas, o que tem como consequência a escassez de
profissionais e a sobrecarga dessa especialidade.1 Segundo, médicos generalistas ou
especialistas de outras áreas não têm segurança em manejar pacientes com doenças
neurológicas (ou que cursam com acometimento neurológico) de fácil diagnóstico e
tratamento.1 A deficiência de vitamina B12, por exemplo, tem quadro clínico característico e
terapia barata e simples, mas alguns pacientes acometidos são encaminhados para o
serviço de Neurologia quando poderiam ter sido manejados na Atenção Primária, evitando
maior sobrecarga do serviço especializado. Portanto, o principal prejudicado com a
formação médica deficiente em Neurologia é o paciente, cujo diagnóstico e tratamento são
atrasados ou, em certos casos, inexistentes.
Dessa forma, este livro tem por objetivo combater a neurofobia e quaisquer
preconceitos relacionados à Neurologia como especialidade construídos durante a
graduação, mostrando ao leitor, por meio de diversos exemplos de condução de casos
clínicos variados, que tal clínica pode ser simplificada com a aplicação do raciocínio
neurológico sistematizado e objetivo.
2. O RACIOCÍNIO NEUROLÓGICO
O raciocínio neurológico, ou raciocínio clínico em neurologia, é um passo a passo que
torna sistemática e prática a abordagem ao paciente neurológico e consiste, basicamente,
em 4 etapas: diagnóstico sindrômico, diagnóstico topográfico, diagnóstico nosológico e
diagnóstico etiológico. É um recurso fundamental para as fases iniciais do aprendizado e,
apesar disso, profissionais experientes podem recorrer a ele para auxílio durante a prática
clínica. Portanto, é necessário que o passo a passo descrito a seguir seja respeitado e
praticado nos casos apresentados no decorrer da leitura deste livro, a fim de consolidar o
conhecimento da abordagem de pacientes neurológicos.
a
A atrofia é tardia, pois resulta do desuso do músculo paralisado (neurônio motor inferior intacto);
b
A atrofia é precoce, pois o acometimento do neurônio motor inferior cessa o estímulo trófico ao músculo;
c
Resulta do acometimento de fibras finas, responsáveis por carrear estímulos dolorosos, térmicos e táteis grosseiros;
d
Resulta do acometimento de fibras grossas, responsáveis por carrear estímulos vibratórios, táteis finos e
proprioceptivos;
e
Perda da sensibilidade vibratória;
f
Perda da propriocepção articular, ou seja, da capacidade de perceber, sem olhar, como está a articulação;
g
Marcha em que o paciente dá passos muito altos com fortes batidas no solo e busca sempre olhar para o chão
enquanto caminha. Surge pela falta de consciência da posição dos membros inferiores em relação ao espaço;
h
Sinal caracterizado pela rápida instabilidade postural em base reduzida ao fechar os olhos, pela perda da
propriocepção;
i
Erros na avaliação da medida da distância, da velocidade e da direção dos movimentos para atingir um alvo;
j
Dificuldade em realizar movimentos rapidamente alternados;
k
Fala com excessiva separação silábica, desarticulada e com pausas grandes entre as palavras;
l
Tipo de hipertonia muscular que ocorre durante todo o movimento passivo, tornando-o travado e semelhante a uma
roda denteada;
m
Capacidade de perceber, avaliar e reconhecer estímulos (táteis, visuais, auditivos etc.);
n
Quando comprometida, chama-se apraxia, incapacidade de executar, quando solicitado, um ato motor, mesmo na
presença da força requerida para tal. Ocorre pelo acometimento das áreas motoras secundárias e terciárias do
planejamento motor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Neurologia é uma especialidade peculiar, que tem como recurso prático efetivo o
raciocínio neurológico, que sistematiza a abordagem diagnóstica de qualquer paciente
neurológico. Tal recurso é um meio para combater a neurofobia e auxiliar médicos e
estudantes de Medicina a estudar e aprender Neurologia. Tendo em vista que o
aprendizado é consequência da repetição, sugere-se que o passo a passo descrito neste
capítulo seja aplicado nos casos seguintes a fim de consolidar o conhecimento do assunto.
REFERÊNCIAS
1. Sandrone S, Berthaud JV, Chuquilin M, Cios J, Ghosh P, Gottlieb-Smith RJ, et al. Neurologic and neuroscience
education: Mitigating neurophobia to mentor health care providers. Neurology. 2019; 92(4): 174-9.
Capítulo 2
Síndrome motora
Autores: Rodrigo Montenegro Barreira, Danyela Martins Bezerra Soares, Gabriel de
Albuquerque Vasconcelos, Milena Vieira Madeira, Jorge Luiz de Brito de Souza, Franklin de
Castro Alves Neto
Orientadores: Samuel Ranieri Oliveira Veras, Danilo Nunes Oliveira, Cleonisio Leite
Rodrigues, Paulo Ribeiro Nóbrega, Gilnard Caminha M. Aguiar e Paulo Reges O. Lima
Déficit Súbito
Autor: Rodrigo Montenegro Barreira
Orientador: Samuel Ranieri Oliveira Veras
2. PARA PENSAR
a) Quais são as síndromes envolvidas no caso apresentado?
b) Quais são os 3 domínios da linguagem a serem caracterizados na classificação das
afasias?
c) Qual a provável topografia da lesão que originou os achados clínicos do paciente?
d) O que mais chama atenção para o diagnóstico nosológico do quadro clínico
descrito?
e) Qual a principal hipótese etiológica e seus diagnósticos diferenciais?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome do Neurônio Motor Superior à Direita: caracterizada pela hemiparesia
desproporcionada em dimídio direito (paralisia facial poupando andar superior da face,
disartria e fraqueza em hemicorpo direito). O termo “desproporcionada” foi utilizado
aqui pela desigualdade no acometimento da força dos membros superiores e
inferiores, observada pelo pior grau de fraqueza no MSD em comparação ao MID. Caso
o grau de fraqueza em MSD e MID fosse o mesmo, o termo a ser utilizado seria
“hemiparesia proporcionada”. Tal diferenciação será necessária posteriormente no
diagnóstico topográfico. Além disso, a utilização do termo “dimídio direito” se refere ao
acometimento de hemiface e hemicorpo direitos, outro ponto importante na definição
da topografia da lesão, haja vista que o acometimento apenas do hemicorpo direito
com hemiface poupada sugere topografia totalmente distinta. Uma observação
importante e bastante peculiar é que, nas síndromes piramidais agudas, o paciente
costuma se apresentar com hipo ou arreflexia no dimídio acometido, contrariando, de
certa forma, a síndrome do neurônio motor superior esperada, que só se apresentará
na sua forma classicamente descrita, com hiper-reflexia, hipertonia muscular e Sinal
de Babinski, semanas a meses após o episódio. Assim, o raciocínio da síndrome
piramidal é feito basicamente pela hemiparesia, acometendo, predominantemente, o
andar inferior da face e o MSD (predomínio braquiofacial).
b) Síndrome Cognitiva: caracterizada pela afasia de Broca percebida no exame
neurológico. Na anamnese, as afasias costumam aparecer como queixas de perda de
memória para nomes e dificuldade para expressar ou compreender a linguagem
previamente aprendida, sempre caracterizadas por déficits de nomeação, ou seja,
todos os pacientes afásicos apresentam dificuldades para nomear. A afasia de Broca é
caracterizada pela compreensão preservada, porém com fluência e repetição
comprometidas. Cabe aqui uma breve revisão sobre as afasias. Primeiramente,
devemos caracterizar os 3 domínios da linguagem: a fluência, a compreensão e, por
fim, a capacidade de repetição do paciente. Pacientes com afasias fluentes
conseguem se comunicar com frases longas e complexas, embora muitas vezes sem
sentido algum. A compreensão pode ser percebida por meio da resposta a comandos
evocados pelo examinador. A capacidade de repetição pode ser avaliada com palavras
ou frases, devendo-se ressaltar a dificuldade de avaliar a repetição em pacientes com
dificuldade de compreensão. O Fluxograma 1 mostra com mais detalhes a
classificação das afasias.
c) Síndrome Sensitiva à Direita: caracterizada pela hemi-hipoestesia de predomínio
braquiofacial. A hemi-hipoestesia, assim como a hemiparesia, sugere lesões no
sistema nervoso central.
Fluxograma 1. Classificação das afasias.
Fonte: Autor.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Assimilar as características peculiares da síndrome piramidal no paciente com
déficit neurológico focal súbito.
b) Entender a explicação sobre os déficits proporcionados e desproporcionados.
c) Compreender, resumidamente, as etapas para a classificação das afasias.
d) Diferenciar as síndromes vasculares da a. cerebral média e da a. cerebral anterior.
e) Compreender a definição de stroke mimics e stroke chameleon.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A hipoglicemia é um importante mimetizador do AVC e deve sempre estar nos
diagnósticos diferenciais de pacientes com déficit neurológico focal de início súbito.
b) Síncopes, vertigens e estados confusionais agudos, cenários bastante comuns no
dia a dia dos médicos, devem ser avaliados com cautela, dada a possibilidade de
serem “AVCs camuflados”.
Quadro 1. Algumas síndromes vasculares da circulação anterior.
REFERÊNCIAS
1. Anathhanam S, Hassan A. Mimics and chameleons in stroke. Clin Med J R Coll
Physicians London. 2017; 17(2): 156–60.
2. Longo et al. Medicina Interna de Harrison. 19. ed, Vol. 2. Porto Alegre: AMGH; 2017.
Caso 2
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente masculino, 58 anos, iniciou quadro de perda gradual de força
distal em membros superiores há 5 meses, iniciada em mãos e evoluindo de forma
ascendente para a direita. Paciente relata dificuldade de elevar o braço acima da
cabeça e dificuldade para carregar objetos. Há 2 meses notou alteração no tom da
fala, apresentando alguns episódios de disfagia, principalmente para líquidos.
b) Antecedentes pessoais: Diabético e hipertenso com bom controle. Nega
tabagismo e etilismo. Pai em acompanhamento por síndrome demencial e irmão por
doença de Parkinson.
c) Exame físico geral: Bom estado geral. Afebril, anictérico, acianótico, eupneico, face
atípica.
d) Exame neurológico: Funções mentais superiores sem alterações significativas à
anamnese, MEEM 30/30. Inspeção dos nervos cranianos revela discreta atrofia de
língua com fasciculações discretas. Inspeção da motricidade revela atrofia
importante da região tenar das mãos e fasciculações em diferentes grupos
musculares, notadamente em bíceps braquial, deltoide, peitoral, musculatura
paraespinhal e quadríceps da coxa, bilaterais. Tetraparesia com predomínio distal
grau 4-, mais importante à direita. Reflexos patelar e aquileu direito hipoativos com os
demais vivos com discreta assimetria, presença do sinal de Babinski e sinal de
Hoffman bilateralmente. Índex-naso sem alterações. Sensibilidade tátil e
proprioceptiva preservada. Marcha atípica, Romberg negativo.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico, nosológico e
etiológico) do caso descrito?
b) Qual síndrome é bastante característica para o diagnóstico dessa entidade clínica?
c) Somente a anamnese seria suficiente para obter o possível diagnóstico?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome do Neurônio Motor Superior ou Síndrome do Primeiro Neurônio Motor:
Pode ser caracterizada pela presença de hiper-reflexia, com presença de sinais
patológicos como Babinski e (nem sempre patológico) Hoffman. Nos quadros mais
importantes pode haver espasmos musculares e espasticidade. A atrofia geralmente
vai ocorrer de forma crônica. O protótipo do acometimento de primeiro neurônio
motor é o AVC.
b) Síndrome do Neurônio Motor Inferior ou Síndrome do Segundo Neurônio Motor:
A presença de marcada atrofia, fasciculações e hiporreflexia em algumas
localizações nos sugere síndrome do Neurônio Motor Inferior nesse paciente, sendo
incomum sua coexistência com a síndrome do Neurônio Motor Superior em outros
diagnósticos além do que vamos discutir neste capítulo, devendo-se sempre
considerá-lo nesses casos.
c) Síndrome de Nervos Cranianos: A presença de fasciculações em língua nos sugere
envolvimento da inervação do nervo hipoglosso, caracterizando acometimento de
nervo craniano. A distinção entre tremor de língua, um achado frequentemente
benigno, da fasciculação, de teor muitas vezes sombrio, é essencial e eventualmente
difícil a olhos não treinados ou em quadros mais sutis.
Fonte: Autor.
Através da história do paciente podem ser descartadas causas mais abruptas, como
vasculares ou infecciosas, afastando também causas neoplásicas, já que a especificidade
dos achados no exame físico aponta fortemente para acometimentos de neurônio motor.
B12: normais.
3.5.Considerações Finais
A Esclerose Lateral Amiotrófica é uma doença rara que ainda não possui evidências
científicas de tratamento que leve à cura da doença. Como já mencionado, afeta o sistema
nervoso, causando paralisia motora progressiva, irreversível e limitante, o que requer perícia
e destreza no diagnóstico, bem como o oferecimento de auxílio não só para o doente, mas
também para a família.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da ELA e seu diagnóstico no raciocínio
neurológico.
b) Identificar, através do exame físico, sinais de acometimento neurológico que
apontem para doenças degenerativas.
c) Diferenciar os acometimentos de neurônio motor superior e inferior de acordo com
os achados clínicos.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Considerar Doença do Neurônio Motor em pacientes com fraqueza motora superior
e/ou inferior difusa sem alterações sensoriais.
b) Suspeitar de ELA em pacientes com sinais de lesão do neurônio motor superior e
inferior associados a fasciculações de língua.
c) Fazer ressonância de crânio e região cervical, testes laboratoriais e
eletrodiagnósticos para excluir outras doenças.
d) A base do tratamento consiste em medidas de suporte (p. ex., apoio
multidisciplinar para ajudar a lidar com a deficiência; tratamento medicamentoso para
sintomas como espasmos, cólicas e afeto pseudobulbar; suporte ventilatório).
REFERÊNCIAS
1. Kuzel A R, Lodhi M, Syed I, Rahim M. Atypical Initial Presentation of Painful Muscle Cramps in a Patient with
Amyotrophic Lateral Sclerosis: A Case Report and Brief Review of the Literature. Cureus. 2017; 9(11): e1837.
2. Kasper DL, Hauser SL, Jameson JL, Fauci AS, Longo DL, Loscalzo J. Harrison Medicina Interna. 19. ed. Porto
Alegre: MCGraw-Hill Brasil; 2016.
Caso 3
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente masculino, 33 anos, previamente hígido, procurou atendimento médico com queixa de
“formigamento e fraqueza” em extremidades de MMII há 8 dias, notados pela dificuldade de manter o chinelo
calçado. Afirma ainda que há 4 dias percebeu fraqueza em extremidades de MMSS, eventualmente derrubando
copos e chaves, com parestesias nos quatro membros. Refere, nesse período, 2 episódios de incontinência
urinária e dor em queimação nas cinturas escapulares e pélvica. Relata ainda um quadro de gastroenterite há
cerca de 4 semanas. Nega história familiar de quadro semelhante.
b) Exame físico geral: Taquicardia com FC de 108, Pressão arterial 120 x 80 mmHg em decúbito e 90 x 70 mmHg
logo após, em ortostase. Ausência de febre e de outros sintomas constitucionais.
c) Exame neurológico: Funções corticais superiores sem alterações. Discreta fraqueza em musculatura orbicular
do olho bilateral e simétrica e orbicular da boca, sem alterações nos demais nervos cranianos. Trofismo
preservado com hipotonia nos quatro membros. Força grau III, distal e proximal em MMSS e grau IV em MMII, pior
distalmente. Hipoestesia tátil e dolorosa no padrão bota-e-luva, sem nível sensitivo. Reflexos tendinosos
profundos abolidos globalmente e cutâneo-plantar flexor bilateral. Provas cerebelares sem alterações. Marcha
com necessidade de apoio.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico, nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Qual síndrome é bastante característica para o diagnóstico dessa entidade clínica?
c) Existem variantes clínicas desse diagnóstico?
d) Além do tempo de evolução, que dados da história corroboram o diagnóstico nosológico?
e) O que chama a atenção na história patológica pregressa para o diagnóstico?
f) Quais importantes diagnósticos diferenciais devem ser considerados?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome do Neurônio Motor Inferior ou Síndrome do Segundo Neurônio Motor: nesse caso, caracterizada pela
tetraparesia arreflexa e hipotonia de predomínio distal. Constitui o principal achado da Síndrome de Guillain-Barré
(SGB), apesar de essa patologia apresentar variantes que podem cursar apenas com alterações de nervos
cranianos, conhecida como Síndrome de Miller-Fisher.
b) Síndrome Sensitiva (Superficial): caracterizada por hipoestesia superficial discreta nos 4 membros. Definir o
padrão bota-e-luva agrega valor diagnóstico para o acometimento periférico. Um padrão de hipoestesia de
hemicorpo nos levaria a pensar em causas centrais, como AVC ou um acometimento medular, por exemplo.
A alteração sensitiva não será mais importante que a manifestação motora na SGB. O acometimento radicular
pode levar a quadros álgicos, principalmente próximos às emergências das raízes. Sinais radiculares (Lasègue e
Kernig) frequentemente são positivos durante o exame neurológico, principalmente em paciente com quadros de
alteração de força proximal, o que denota maior acometimento radicular.
c) Síndrome Autonômica: caracterizada pela incontinência urinária e hipotensão postural revelada pelo exame
físico. As disautonomias graves representam o principal fator de gravidade da doença, mais ainda que a própria
falência respiratória, o que faz com que a mortalidade de países desenvolvidos e em desenvolvimento (com bons
sistemas de saúde) fiquem em níveis muito próximos.
d) Síndrome de Nervos Cranianos: não são incomuns alterações de nervos cranianos (p.ex.: alterações de
musculatura facial, oftalmoparesia, fraqueza bulbar) em pacientes com SGB. No quadro clínico, muitas vezes,
ocorre sobreposição de diferentes variantes da doença, como a síndrome de Miller-Fisher já citada.
• Febre no início do quadro: a presença de febre não é comum na SGB. Em crianças com alterações orofaríngeas,
pode sugerir fortemente difteria, uma condição que simula bastante a SGB.
• Reflexos tendinosos profundos presentes: reflexos tendinosos profundos ausentes, ou hipoativos, são
características marcantes da SGB. Caso estes estejam normais, deve-se questionar o diagnóstico.
• Presença de Nível Sensitivo: esse achado, até que se prove o contrário, é forte indicativo de topografia medular,
apontando outras etiologias, como mielites transversas ou outras lesões medulares.
• Disfunção esfincteriana: tal achado pode estar presente nos quadros de SGB, porém deve estimular a busca por
outros diagnósticos, principalmente aqueles que cursam com acometimento medular.
• Níveis de CPK bastante elevados: esse achado não é comum na SGB e sugere outros diagnósticos, como
miopatias inflamatórias ou tóxicas.
• Níveis de potássio alterados: os distúrbios do potássio são importantes diagnósticos diferenciais da SGB.
Hipocalemia somada a níveis elevados de hormônios tireoidianos sugere o diagnóstico de paralisia periódica
hipocalêmica tireotóxica.
• Quadro com evolução por mais de 4 semanas: A SGB tem uma história natural típica: piora até 4 semanas do
início do quadro e, a partir daí, há uma fase de platô que evolui com remissão completa ou parcial do quadro.
Caso a doença tenha uma piora progressiva por mais de 4 semanas, um diagnóstico alternativo deve ser
considerado, principalmente a PDIC.
Além destes, devemos lembrar que deficiências vitamínicas, como tiamina (B1) e cobalamina (B12), podem simular
um quadro semelhante e devem ser excluídas. Para fins didáticos, encontram-se no Quadro 1 possíveis diagnósticos
etiológicos, com sua topografia, a serem pesados.
Quadro 1. Principais Diagnósticos Diferenciais da SGB.
Compressão Acidente
Inflamação/Infecção Deficiência
Sistema de medula Vascular
de tronco encefálico vitamínica (B1 ou
Nervoso espinhal ou Cerebral de
ou medula espinhal
Central tronco tronco B12)
(doenças autoimunes)
encefálico encefálico
Neurotoxinas
Síndrome
Junção (como Toxicidade por
Miastenia Gravis miastênica de
Neuromuscular botulínica e organofosforados
Lambert-Eaton
tetânica)
Fonte: Leonhard.1
a) Exames complementares:
• Hemograma, glicemia, eletrólitos, função renal, hepática e tireoidiana, vitamina B e B , sorologias: normais.
1 12
• Exame do líquor: dissociação albuminocitológica (proteína = 80 mg/dL, sem pleocitose). Sem outra alteração
digna de nota.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da SGB e seu diagnóstico no raciocínio neurológico.
b) Saber identificar a apresentação clínica de um caso de paralisia flácida aguda.
c) Ter em mente os achados da história e do exame físico que apontem para outros diagnósticos.
d) Conhecer os principais diagnósticos diferenciais relacionados a essa condição.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A SGB é a principal causa de paralisia flácida aguda, que pode ser acompanhada de outras manifestações,
como parestesias ou dor em membros, hiporreflexia/arreflexia, disautonomia e alteração de nervos cranianos.
b) A SGB pode ser precedida por quadro infeccioso, tem início agudo ou subagudo, com o nadir da doença em 24
horas a 4 semanas. O surto costuma remitir, mas pode haver flutuações do quadro durante a instituição do
tratamento. Não é raro a remissão ser incompleta e deixar sequelas, principalmente motoras.
c) O diagnóstico é essencialmente clínico, mas exames complementares podem reforçá-lo. Lentificação da
condução nervosa que poupa o nervo sural ou dissociação albuminocitológica no líquor fortalecem a hipótese de
SGB. Eventualmente, na dúvida da existência de uma síndrome medular, exames de neuroimagem podem ser de
grande ajuda.
d) O tratamento tem o intuito de promover a aceleração da remissão e envolve o uso de Imunoglobulina e/ou
Plasmaférese.
e) Complicações como flutuações relacionadas à terapêutica, insuficiência respiratória e disautonomias podem
ocorrer, por isso o paciente pode requerer observação em Unidades de Terapia Intensiva.
REFERÊNCIAS
1. Leonhard SE, Mandarakas MR, Gondim FAA, Bateman K, Ferreira MLB, Cornblath DR, et al. Diagnosis and management of Guillain-Barré syndrome in
ten steps. Nat Rev Neurol. 2019; 15(11): 671-83.
2. Malek E, Salameh J. Guillain-Barre Syndrome. Semin Neurol. 2019; 39(5): 589-95.
3. Doets AY, Jacobs BC, van Doorn PA. Advances in management of Guillain-Barré syndrome. Curr Opin Neurol. 2018; 31(5): 541-50.
4. Dalakas MC. Guillain-Barré syndrome: The first documented COVID-19-triggered autoimmune neurologic disease: More to come with myositis in the
offing. Neurol Neuroimmunol Neuroinflamm. 2020; 7(5): e781.
Caso 4
Fraqueza Flutuante
Autora: Milena Vieira Madeira
Orientador: Dr. Cleonisio Leite Rodrigues
1. APRESENTAÇÃO DO CASO
a) Anamnese: Paciente feminino, 45 anos, previamente hígida,
relata que há um ano iniciou um quadro de ptose no olho
esquerdo e diplopia bilateral flutuante. Afirma também um
quadro de fraqueza nos membros e “sensação de cansaço no
corpo inteiro”, principalmente quando sobe escadas e quando
executa movimentos como pentear o cabelo, não conseguindo,
dessa forma, executá-lo. Refere que esses sintomas iniciavam
ao final do dia e, após algum tempo, foi percebendo que
iniciavam no período da manhã e pioravam ao longo do dia, aos
esforços. Além disso, relata ainda uma dificuldade na
mastigação dos alimentos, percebendo uma fraqueza na região
maxilar, uma “voz morrendo” e presença de tosse seca. Nega
história familiar de quadro semelhante.
b) Exame físico geral: Pressão arterial 180 x 60 mmHg em
decúbito. Ausência de febre e de outros sintomas
constitucionais.
c) Exame neurológico: Funções corticais superiores sem
alterações. Ptose de pálpebra esquerda, paresia do VI NC.
Motricidade da língua preservada, sem fasciculações.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Qual síndrome é bastante característica para o diagnóstico
dessa entidade clínica?
c) Existem variantes clínicas desse diagnóstico?
d) Além do teste positivo para AChR, que dados da história
corroboram o diagnóstico nosológico?
e) O que chama atenção na história pregressa para o
diagnóstico? (Falar sobre a presença de timoma.)
f) Quais importantes diagnósticos diferenciais devem ser
considerados?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome de Neurônio Motor Inferior ou Segundo Neurônio
Motor: Nesse caso, caracteriza-se pela fraqueza nos membros,
ou seja, pelo déficit da força nos MMII e nos MMSS, sendo uma
tetraparesia de predomínio distal, além da característica típica
de fraqueza flutuante, que é uma fadiga que aumenta ao longo
do dia. Também chama atenção a fadiga ocular que causou a
ptose no olho esquerdo. Nisso, tem-se sintomas típicos de
Miastenia Gravis, a qual é uma patologia que se manifesta
através de sintomas como fraqueza e fadiga da musculatura
bulbar, ocular e na parte proximal dos membros.
b) Síndrome dos Nervos Cranianos: São comuns alterações de
nervos cranianos (ex.: alterações de musculatura facial,
oftalmoparesia, fraqueza bulbar) em pacientes com Miastenia
Gravis, sendo importante para o diagnóstico diferencial, assim
como o subtipo de MG (ocular ou generalizada).
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da Miastenia Gravis e
seu diagnóstico no raciocínio neurológico.
b) Saber identificar a apresentação clínica de um caso de
Miastenia Gravis.
c) Ter em mente os achados da história e do exame físico que
apontem para outros diagnósticos.
d) Conhecer os principais diagnósticos diferenciais
relacionados a essa condição.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Compreender que a Miastenia Gravis é um tipo de doença
autoimune em que há alguns sintomas típicos e que em 15%
dos casos pode causar crise miastênica, uma emergência
neurológica caracterizada por insuficiência respiratória.
b) O diagnóstico topográfico pode ser confirmado por teste de
estimulação repetitiva com sensibilidade geral em torno de 80%.
Estudo de fibra única tem sensibilidade de cerca de 98%.
c) A sua fisiopatologia está relacionada com autoanticorpos
contra proteínas ACh, MuSK ou outras moléculas estruturais da
região da placa terminal neuromuscular, mostrando diferenças
no prognóstico entre os tipos.
d) Em pacientes com MG e com AChR-MG positivos, as
alterações morfológicas e funcionais (hiperplasia folicular e
timoma) do timo são patologicamente relevantes, sendo que
estudos mostram que este órgão é o principal local de
autossensibilização do anti-AChR.
e) O tratamento tem como objetivo alcançar a remissão ou
manifestações mínimas dos sintomas, com o mínimo de efeitos
colaterais dos medicamentos.
REFERÊNCIAS
1. Ciafaloni E. Myasthenia Gravis and Congenital Myasthenic Syndromes. Continuum
(Minneap Minn). 2019; 25(6): 1767-84.
2. Mantegazza R, Cavalcante P. Diagnosis and treatment of myasthenia gravis. Curr Opin
Rheumatol. 2019; 31(6): 623-33.
3. Müllges W, Stoll G. Myasthenia gravis. Nervenarzt. 2019; 90: 1055-66.
4. Hehir MK, Silvestri NJ. Generalized Myasthenia Gravis: Classification, Clinical
Presentation, Natural History, and Epidemiology. Neurol Clin. 2018;36(2):253-260.
5. Sanders DB, Arimura K, Cui L, Ertaş M, Farrugia ME, Gilchrist J, Kouyoumdjian JA,
Padua L, Pitt M, Stålberg E. Guidelines for single fiber EMG. Clin Neurophysiol. 2019
Aug;130(8):1417-1439. Epub 2019 Apr 27. PMID: 31080019.
Caso 5
Preguiçoso?
Autor: Jorge Luiz de Brito de Souza
Orientador: Dr. Paulo Ribeiro Nóbrega
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente do sexo masculino, 25 anos, procurou
atendimento médico com neurologista por queixas de “fraqueza
e fadiga” quando estava nadando no dia anterior com seus
colegas, o que quase resultou no seu afogamento. Ele relata
que, durante a infância, não conseguia acompanhar as
brincadeiras por rapidamente se sentir ‘’sem forças’’. Fora
sempre chamado de ‘’preguiçoso’’ em consequência dessas
peculiaridades. Relata que, uma vez, após tentar se esforçar
mais do que podia, sua urina ficou levemente escura, o que
levou a mãe a procurar vários médicos, que foram incapazes de
fornecer uma explicação viável para os sintomas. O indivíduo
também relata um ‘’enrijecimento’’ muscular depois de tentar
subir as escadas ou andar por tempo prolongado, mas que alivia
com o descanso. Quando questionado se havia algum fator de
melhora ou piora, ele comentou que se sentia melhor se
comesse antes de realizar qualquer atividade. Por fim, observou-
se consanguinidade nos pais (primos em primeiro grau).
b) Exame físico geral: Pressão arterial 120 x 80 mmHg em
ortostase. Não havia febre ou sintomas constitucionais. Sem
sinal de trauma externo.
c) Exame neurológico: Paresia leve (força grau 4 segundo a
escala MRC – Medical Research Council) na região proximal dos
membros inferiores. Tônus global normal. Reflexos tendinosos
profundos, assim como provas cerebelares, se encontravam
normais. Sem nível sensitivo ou parestesia digna de nota. Sem
alterações em nervos cranianos.
2. PARA PENSAR
a) Como montar o raciocínio neurológico em relação a este
caso?
b) O que é marcante no relato do paciente?
c) Quais as principais nosologias a serem consideradas e/ou
excluídas do raciocínio?
d) O que a interferência alimentar nos indica?
e) O que a urina do paciente pode revelar?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Motora: caracterizada pela paresia no exame
neurológico, assim como pelo histórico de fraqueza relacionada
ao exercício. Provavelmente advinda do neurônio motor
inferior/unidade motora, pois não há sinais claros de
acometimento do neurônio motor superior.
4. Considerações Finais
A Doença de McArdle é uma miopatia pura derivada de uma
fisiopatologia relacionada à deficiência de miofosforilase, levando a
uma sintomatologia típica com fadiga e contraturas, muitas vezes
dolorosas, associadas ao exercício. Suas crises mais agudas podem
estar relacionadas a uma posterior mioglobinúria. Algumas
características clínicas, como a melhora do exercício com uma
alimentação adequada antes dele, afunilam ainda mais nossas
suspeitas. Os exames complementares, neste caso, podem ser
essenciais para distinguir entre uma possível miopatia ou afecção
da junção neuromuscular, e estabelecer o diagnóstico etiológico da
miopatia.
5. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer a forma de apresentação clínica característica de
miopatias, assim como o raciocínio neurológico que deve ser
mantido.
b) Saber identificar suas principais manifestações clínicas,
como a fraqueza muscular proximal, a incapacidade de
manutenção contínua de exercícios pesados, assim como
contraturas.
c) Ser capaz de correlacionar a fisiopatologia com os diferentes
desdobramentos sintomatológicos, principalmente pela
deficiência da miofosforilase.
d) Entender os parâmetros gerais para sua identificação em
termos laboratoriais.
6. DICAS PRÁTICAS
a) É necessária sempre atenção a fim de averiguar outras
condições conjuntas à fraqueza muscular, como a parestesia,
algum sinal sistêmico ou redução do nível de consciência, por
exemplo, para reelaborar o raciocínio neurológico.
b) Os exames complementares podem ser fundamentais, neste
caso específico, para o correto diagnóstico da Doença de
McArdle, mas só devem ser realizados depois de uma boa
anamnese clínica, a fim de confirmar a suspeita.
c) Um quadro de Miastenia Gravis, um tipo de distúrbio da
junção neuromuscular, pode se assemelhar a miopatias, sendo
necessário recorrer aos sinais e sintomas mais típicos desta
última a fim de exaurir uma possível dificuldade diagnóstica.
d) Sua relação com o período infantil pode ser importante, pois
muitos consideram os indivíduos com esta doença como
“preguiçosos’’, o que pode auxiliar no raciocínio etiológico do
clínico.
REFERÊNCIAS
1. Lucia A, Nogales-Gadea G, Pérez M, Martín MA, Andreu AL, Arenas J. McArdle disease:
what do neurologists need to know? Nat Clin Pract Neurol. 2008; 4(10): 568-77.
2. Quinlivan R, Buckley J, James M, Twist A, Ball S, Duno M, et al. McArdle disease: a
clinical review. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2010; 81(11): 1182-8.
3. Dimaur S, Andreu AL, Bruno C, Hadjigeorgiou GM. Myophosphorylase deficiency
(glycogenosis type V; McArdle disease). Curr Mol Med. 2002; 2(2): 189-96.
4. Devlin TM. Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas. 7 ed. São Paulo: Editora
Blutcher; 2011.
5. Martínez Torre S, Gómez Molinero I, Martínez Girón R. Puesta al día en la miastenia
gravis [An update on myasthenia gravis]. Semergen. 2018 Jul-Aug; 44(5): 351-4.
6. Kasper DL. Medicina interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre: AMGH Editora; 2017.
7. Suresh E, Wimalaratna S. Proximal myopathy: diagnostic approach and initial
management. Postgrad Med J. 2013; 89(1054): 470-7.
Caso 6
Hiporreflexia e Hiper-Reflexia
Autor: Gabriel de Albuquerque Vasconcelos
Orientador: Dr. Gilnard Caminha M. Aguiar
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente feminino, 34 anos, foi atropelada por
motocicleta ao atravessar a rua. Ao exame do Atendimento Pré-
Hospitalar (APH), estava estava dispneica e pontuou 15 na Escala de
Coma de Glasgow, sendo intubada no local e transferida para um
centro especializado em trauma. Na avaliação pelo departamento de
emergência, foram observados PAS: 60 mmHg, FC: 35 bpm,
extremidades frias, pele seca. Não foram encontradas outras lesões
decorrentes de trauma pelo acidente.
b) Exame Neurológico: Tetraplegia flácida (força grau 0), com
arreflexia, mas sem atrofia muscular. Ausência bilateral de
sensibilidade tátil e dolorosa a partir do dermátomo C7, além da
ausência de contração anal voluntária, sensibilidade à pressão anal
profunda e reflexo de contração anal.
2. PARA PENSAR
a) Quais os principais diagnósticos (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) observados?
b) Há algum(ns) achado(s), na história da paciente, que sugere(m)
fortemente seu diagnóstico topográfico? Se sim, qual(is)?
c) Quais as principais síndromes neurológicas associadas ao tipo de
trauma observado no caso?
d) Qual a relação da instabilidade hemodinâmica e respiratória com
a lesão neurológica da paciente?
e) Como um paciente, como a do caso, deve ser avaliado quanto ao
exame neurológico?
f) Quais as principais medidas emergenciais a serem adotadas
diante desses casos?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome do Neurônio Motor Inferior: Tetraplegia, com hipotonia
e reflexos ausentes.
b) Síndrome do Neurônio Motor Superior: Tetraplegia, com
hipertonia, hiper-reflexia e Sinal de Babinski.
c) Síndrome Sensitiva (Superficial e Profunda): Perda da
sensibilidade térmica e dolorosa, além do tato fino, propriocepção e
palestesia, a partir de C6.
d) Síndrome Autonômica: Hipotensão, bradicardia, anidrose e
hipoperfusão periférica, na apresentação, e rubor facial e
hipertensão arterial, no acompanhamento.
e) Síndrome Álgica: Cefaleia, no acompanhamento.
Sensibilidade Sensibilidade
Topografia Motricidade
superficial profunda
Sensibilidade Sensibilidade
Topografia Motricidade
superficial profunda
Síndrome Coluna
Paralisia Espástica
Medular Anterior da Preservada Preservada
Ipsilateral/Bilateral
Anterior Medula
Síndrome Coluna
Anestesia
Medular Lateral da Preservada Preservada
Contralateral/Bilateral
Lateral Medula
Síndrome Coluna
Anestesia
Medular Posterior da Preservada Preservada
Ipsilateral/Bilateral
Posterior Medula
Síndrome de
Hemissecção
Hemiparte Paralisia Espástica Anestesia Anestesia
Medular (de
da Medula Ipsilateral Contralateral Ipsilateral
Brown-
Séquard)
Lesão Regiões
Paralisia Espástica Anestesia Suspensa
Centromedular Adjacentes
da Musculatura (nos dermátomos
Traumática ao Canal Preservada
Apendicular correspondentes à
(Síndrome de Central da
Superior lesão)
Schneider) Medula
Síndrome do Cone
Cone Medular, Medular, ou Perda do Controle Anestesia do
Anestesia do Períneo
ou da Cauda Cauda Esfincteriano Períneo
Equina Equina
Fonte: Autor.
• Manejo Pré-hospitalar:
Primeiro Passo: abordagem de acordo com os protocolos do
Suporte Básico de Vida.2
Tabela 1. Miótomos.
Miótomo Movimento/musculatura
c6 Extensão do Punho
l2 Flexão do Quadril
l3 Extensão do Joelho
l4 Dorsiflexão
l5 Extensão do Hálux
Miótomo Movimento/musculatura
s1 Flexão Plantar
Motricidade Sensibilidade
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Reconhecer, pelo exame neurológico, as principais síndromes
relacionadas ao trauma raquimedular, bem como sua base
neuroanatômica.
b) Identificar a topografia medular mais provavelmente acometida no
trauma.
c) Conhecer as principais complicações emergenciais relacionadas
ao trauma raquimedular e como manejá-las.
d) Saber avaliar corretamente um paciente com trauma raquimedular
a partir do exame neurológico direcionado.
e) Conhecer o manejo, em linhas gerais, de um paciente com trauma
raquimedular.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Sempre considerar o trauma raquimedular em paciente com
história e exame clínico compatível (trauma prévio, síndromes
motora, sensitiva ou autonômica, instabilidade hemodinâmica e
respiratória).
b) Pacientes com lesões acima de C3 costumam ir a óbito no local,
mas nas lesões entre C3 e C5 o paciente ainda pode ser salvo,
apesar do comprometimento respiratório (“C3, C4, C5 keeps men
alive”).
c) O médico deve estar atento à possibilidade do choque medular em
pacientes com paralisia flácida pós-traumática e disfunção
autonômica. Essa condição nunca deve ser confundida com o
choque neurogênico, causado pela lesão medular.
d) A motricidade deve ser avaliada pela função dos músculos-chave,
relacionada a um segmento medular específico. A sensibilidade deve
ser avaliada a partir dos dermátomos, relacionados a um segmento
medular específico. A sensibilidade deve ser sempre avaliada no
sentido caudal-cranial, já que é mais fácil para o paciente dizer
quando começa a sentir o estímulo do que quando começa a não o
sentir. As relações com os segmentos medulares podem ser
pesquisadas e memorizadas por tabelas ou imagens.
e) O reconhecimento do trauma raquimedular e seu manejo devem
ser rápidos e eficazes, devido ao caráter emergencial dessa
condição.
REFERÊNCIAS
1. Rabinstein AA. Traumatic Spinal Cord Injury. Continuum (Minneap Minn). 2018; 24(2, Spinal
Cord Disorders): 551-66.
2. Shank CD, Walters BC, Hadley MN. Current Topics in the Management of Acute Traumatic
Spinal Cord Injury. Neurocrit Care. 2019; 30(2): 261-71.
3. American College of Surgeons. ATLS – Advanced Trauma Life Support for Doctors. 10 ed.
Chicago: American College of Surgeons; 2018.
4. American Spinal Injury Association. International Standards for Neurological Classification
of Spinal Cord Injury, revised 2000. Atlanta, GA: American Spinal Injury Association;
Reprinted 2008.
5. Determinar mecanismos da dor. IepMoinhos. [Internet]. [acesso em 28/01/2021].
Caso 7
Cefaleia e fraqueza
Autor: Franklin de Castro Alves Neto
Orientador: Dr. Paulo Reges O. Lima
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: mulher, 60 anos, relata cefaleia holocraniana que
piora ao decúbito dorsal e durante o esforço para defecar,
acompanhada de náuseas e vômitos, assim como apresenta grau 7
na escala visual analógica (EVA). Além disso, cita fraqueza em
membro inferior esquerdo. Tanto a cefaleia quanto a fraqueza vêm
piorando progressivamente ao longo de 2 anos. Menciona uso
prévio de anticonceptivos orais (ACO) por 15 anos para manejo de
irregularidades menstruais. Ademais, cita obesidade e nega outras
comorbidades.
b) Exame Físico Geral: pressão arterial de 120 x 75 mmHg,
eupneica, e frequência cardíaca de 62 bpm. Apresenta obesidade
grau I (IMC = 31). Não apresenta febre ou outros sintomas
constitucionais.
c) Exame Neurológico:
2. PARA PENSAR
a) Quais síndromes neurológicas podem ser identificadas no
caso?
b) Que local do sistema nervoso seria responsável pelo quadro
clínico anterior caso fosse lesado?
c) Que nosologia condiz com o quadro apresentado?
d) Quais etiologias são capazes de desencadear o cenário clínico
em questão?
e) Quais sinais e sintomas apontam mais fortemente para o
diagnóstico?
f) Como tratar a paciente?
3. DISCUSSÃO
3.1 Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome do Neurônio Motor Superior: hiper-reflexia,
fraqueza, hipertonia e sinal de Babinski ipsilaterais denotam
uma síndrome do neurônio motor superior/1º neurônio.
b) Síndrome Álgica: relato de cefaleia por parte da paciente.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Reconhecer os principais sinais e sintomas dos
meningiomas.
b) Introduzir o raciocínio neurológico na prática clínica.
c) Ilustrar a aplicabilidade dos exames complementares na
Neurologia.
d) Mostrar a variabilidade das condutas possíveis em casos
semelhantes ao mostrado.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Cefaleias com sinais de alarme para causas secundárias
(caráter progressivo, idade ≥ 50 anos e alteração no exame
neurológico, por exemplo) sempre devem indicar neuroimagem.
Ademais, a progressão da dor juntamente com a neoplasia é
indicativa de uma relação causal entre esta e aquela;4
b) Fatores epidemiológicos relacionados aos meningiomas
podem guiar o raciocínio clínico. Dentre eles é cabível citar:
exposição à radiação ionizante (mais bem estabelecido),
neurofibromatose do tipo 2, assim como outras síndromes
genéticas,3 sexo feminino e uso prolongado de
anticoncepcionais orais;1
c) Individualizar, considerando as terapêuticas possíveis, o
tratamento de cada paciente.
REFERÊNCIAS
1. Alruwaili AA, De Jesus O. Meningioma. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island:
StatPearls Publishing; 2020.
2. Nowosielski M, Galldiks N, Iglseder S, Kickingereder P, Von Deimling A, Bendszus M, et
al. Diagnostic challenges in meningioma. Neuro Oncol. 2017; 19(12): 1588-98.
3. Buerki RA, Horbinski CM, Kruser T, Horowitz PM, James CD, Lukas RV. An overview of
meningiomas. Future Oncol. 2018; 14(21): 2161-77.
4. Olensen J, Bousser M, Diener H, Dodick D, First M, Goadsby PJ, et al. The International
Classification of Headache Disorders, 3. ed. Cephalalgia. 2018; 38(1): 1–211.
Capítulo 3
Síndrome sensitiva
Autores: Franklin de Castro Alves Neto e Fábio Rolim Guimarães
Orientadores: Paulo Ribeiro Nóbrega e Paulo Reges O. Lima
Bota e Luva
Autores: Franklin de Castro Alves Neto
Orientadores: Dr. Paulo Reges O. Lima
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: homem, 40 anos, mecânico, buscou atendimento
médico com queixas, há 1 ano e meio, de dores em queimação
que pioram ao repouso, além de formigamento em membros
superiores e inferiores. Relata que os sintomas tiveram início
nos dedos dos pés e progrediram até a altura dos joelhos.
Depois, há 6 meses, as mesmas manifestações acometeram os
dedos das mãos e se distribuíram em direção proximal até o
antebraço. Ademais, nega história de etilismo e cita história
prévia de 4 anos de diabetes mellitus do tipo II.
b) Exame Físico Geral: pressão arterial de 122 x 80 mmHg,
eupneico e frequência cardíaca de 67 bpm. Não apresenta febre
ou outros sintomas constitucionais.
c) Exame Neurológico: reflexos aquileus abolidos
bilateralmente, além de hipoestesia térmica e dolorosa,
hipopalestesia e anartrestesia em padrão de “bota e luva”, assim
como marcha talonante. Não apresenta outros achados
relevantes.
2. PARA PENSAR
a) Quais síndromes neurológicas podem ser identificadas no
caso?
b) Que local do sistema nervoso seria responsável pelo quadro
clínico acima caso fosse lesado?
c) Que nosologia condiz com o quadro acima?
d) Quais etiologias são capazes de desencadear o cenário
clínico em questão?
e) Quais sinais e sintomas apontam mais fortemente para o
diagnóstico?
f) Como tratar o paciente?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Sensitiva (Superficial e Profunda): déficits das
sensibilidades térmica, dolorosa (superficial), proprioceptiva e
vibratória (profunda);
b) Síndrome Álgica: relato de dor em queimação por parte do
paciente;
c) Síndrome do Neurônio Motor Inferior: arreflexia bilateral no
teste do reflexo aquileu.
d) Síndrome Atáxica: evidenciada pela marcha talonante.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Reconhecer os principais sinais e sintomas da forma mais
comum de neuropatia diabética (PSD);
b) Introduzir o raciocínio neurológico na prática clínica;
c) Ilustrar a aplicabilidade dos exames complementares na
Neurologia;
d) Considerar, frente à ampla variabilidade das neuropatias, os
principais diagnósticos diferenciais do quadro em questão;
e) Conhecer as maneiras de tratar os pacientes com quadro
semelhante ao enunciado.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Buscar detalhar ao máximo a progressão dos sintomas na
descrição da história clínica.
b) Sempre atentar para histórico prévio de diabetes mal
controlada e/ou síndrome metabólica em pacientes com
queixas de polineuropatia sensitiva.
c) Suspeitar de outras etiologias com quadro clínico
semelhante, as quais devem ser descartadas mediante exames
complementares.
d) Suscitar, prioritariamente, mudanças no estilo de vida do
paciente.
REFERÊNCIAS
1. Feldman EL, Callaghan BC, Pop-Busui R, Zochodne DW, Wright DE, Bennett DL, et al.
Diabetic neuropathy. Nat Rev Dis Primers. 2019; 5(1): 1-8.
2. Russel JW, Zilliox LA. Diabetic Neuropathies. Continuum. 2014; 20(5 Peripheral
Nervous System Disorders): 1226–40.
3. Nascimento OJ, Pupe CC, Cavalcanti EB. Diabetic Neuropathy. Rev Dor. 2016; 17(Suppl
1): S46-51.
4. Ardeleanu V, Toma A, Pafili K, Papanas N, Motofei I, Diaconu CC, et al. Current
Pharmacological Treatment of Painful Diabetic Neuropathy: A Narrative Review.
Medicina (Kaunas). 2020; 9; 56(1): 25.
Caso 2
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
CLÍNICO
a) Anamnese: Mulher, 26 anos, queixa-se de “fraqueza
progressiva em mãos há 2 meses”. Essa fraqueza é mais
intensa à direita e afeta substancialmente seu desempenho no
trabalho de empregada doméstica. No último mês, apresentou
também episódios recorrentes de “sensações de choque”
dolorosas que acometem o pescoço, se irradiando para membro
superior direito. Além disso, afirma que há 9 meses começou a
sentir dor no pescoço e “formigamentos” em membros
superiores. Relata, ainda, que há mais de 5 anos possui cefaleia
diária em região suboccipital que piora ao tossir e ao esforço
físico.
b) Exame físico geral: Pressão arterial 130 x 80 mmHg em
decúbito. Ausência de febre e de outros sintomas
constitucionais.
c) Exame neurológico: Atrofia de músculos intrínsecos da mão
bilateralmente. Hipotonia de MMSS de predomínio distal. Força
grau III distal em MS direito e força grau IV – distal em MS
esquerdo. Hiporreflexia (+) distal em MMSS. Hiper-reflexia (+++)
em MMII ao teste do reflexo patelar. Reflexo cutâneo-plantar
extensor (sinal de Babinski) bilateralmente. Anestesia térmico-
dolorosa em membros superiores e pescoço (dermátomos C3-
T2) com sensibilidade profunda preservada (perda sensorial
dissociada). O restante do exame neurológico encontra-se
normal.
2. PARA PENSAR
a) Quais síndromes neurológicas o paciente manifesta?
b) Qual a topografia da lesão? Quais achados do exame
neurológico são fundamentais para se pensar nessa topografia?
c) Quais os principais diagnósticos diferenciais para o caso?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome do Neurônio Motor Inferior: caracterizada pela
fraqueza, hiporreflexia, hipotonia e atrofia distal em membros
superiores.
b) Síndrome do neurônio motor superior: notada pela hiper-
reflexia em membros inferiores e pelo sinal de Babinski.
c) Síndrome Sensitiva (superficial): evidenciada pela perda da
sensibilidade térmico-dolorosa em membros superiores e
pescoço (“distribuição em capa”).
d) Síndrome Álgica: “sensações de choque”, dor no pescoço e
cefaleia.
• Espondilose cervical.
• Tumores intramedulares, como hemangioblastomas,
ependimomas e gliomas.
• Neuromielite óptica.
• Doenças do neurônio motor, como esclerose lateral
amiotrófica, diplegia braquial amiotrófica e doença de
Hirayama. A presença de sintomas sensitivos fala contra essa
possibilidade diagnóstica.
a) Exames complementares:
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Entender as principais manifestações neurológicas de uma
lesão medular central.
b) Conhecer diagnósticos diferenciais possíveis diante de uma
lesão medular central.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Perda sensorial dissociada (hipoestesia térmico-dolorosa
com sensibilidade profunda preservada) em uma “distribuição
em capa” (membros superiores, pescoço e parte superior do
tórax) incita o raciocínio topográfico de uma lesão medular
central cervicotorácica.
b) A fraqueza em mãos da siringomielia é tipicamente
assimétrica, sendo uma mão mais gravemente acometida que a
outra. Isso ocorre devido à assimetria da siringe.
c) O padrão de cefaleia associado à malformação de Chiari tipo
1 é de uma cefaleia occipital ou subocciptal que piora com a
tosse e/ou manobra de Valsalva.
d) O sinal de Lhermitte, sensações de choque na coluna cervical
e/ou torácica que se irradiam para os membros e que são
precipitadas pela movimentação do pescoço, pode estar
presente em pacientes com malformação de Chiari tipo 1. Esse
sinal é classicamente descrito em pacientes com esclerose
múltipla.
REFERÊNCIAS
1. Hart D. Syringomyelia. In: Daroff R, AminoffM. (eds.). Encyclopedia of the Neurological
Sciences. 2th ed. Philadelphia: Elsevier; 2014. P. 378-81.
2. Langridge B, Phillips E, Choi D. Chiari Malformation Type 1: A Systematic Review of
Natural History and Conservative Management. World Neurosurg. 2017; 104: 213-9.
3. Sharma M, Coppa N, Sandhu F. Syringomyelia: A Review. Seminars in Spine Surgery.
2006; 18(3): 180-4.
4. Sternberg M, Gunter M. Syringomyelia. J Emerg Med. 2017; 3(2): e31-e2.
Capítulo 4
Síndrome Autonômica
Autoras: Amanda Colaço Morais Teixeira e Milena Vieira Madeira
Orientador: Paulo Ribeiro Nóbrega
Disfunção Vesical
Autora: Amanda Colaço Morais Teixeira
Orientador: Dr. Paulo Ribeiro Nóbrega
2. PARA PENSAR
a) Quais os mais prováveis diagnósticos sindrômico, topográfico, nosológico e
etiológico?
b) Qual informação é chave na história clínica relatada pelo paciente?
c) Quais fatores externos podem ter contribuído para o quadro?
d) Quais os principais diagnósticos diferenciais?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome do Neurônio Motor Inferior: caracterizada por arreflexia.
b) Síndrome Autonômica: marcada por disfunção vesical, evacuatória e/ou erétil.
c) Síndrome Sensitiva: representada pela hipoestesia.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Compreender o papel da inervação nas fases de enchimento e micção.
b) Entender que a bexiga neurogênica é secundária a lesões que podem ocorrer nos
diversos níveis do sistema nervoso.
c) Associar o tipo de bexiga neurogênica à topografia da lesão.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A diurese é formada pelas fases de enchimento (estímulo simpático) e micção
(estímulo parassimpático).4,5
b) A bexiga neurogênica tem diversas causas: Doença de Parkinson, acidente
vascular cerebral, esclerose múltipla, injúria medular, hérnia de disco, entre outras.5
c) A bexiga neurogênica tem diversas formas de apresentação, a depender da
topografia da lesão: bexiga não inibida (acometimento suprapontino), bexiga reflexa e
dissinergia vesicoesfincteriana (acometimento na medula suprassacral), e bexiga
autônoma (acometimento sacral).5
d) O tratamento pode ser feito com cateterismo intermitente e/ou uso de fármacos
como antimuscarínicos, a depender do tipo de bexiga neurogênica e de seus
sintomas.4
REFERÊNCIAS
1. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia Funcional. 3. ed. São Paulo: Editora Atheneu; 2013. Parte 4, Anatomia
Macroscópica da Medula e seus Envoltórios; p 37.
2. Figliuzzi A, Alvarez R, Al-Dhahir MA. Achilles Reflex. In: StatPearls. Treasure Island: Stat Pearls [internet]; jul
2020.
3. Dydyk AM, Ngnitewe MR, Mesfin FB. Disc Herniation. In: StatPearls. Treasure Island: StatPearls Publishing
[internet]; nov 2020.
4. Tarulli AW. Disorders of the cauda equina. Continuum (Minneap Minn). 2015; 21(1): 146-58.
5. Cooley LF, Kielb S. A Review of Botulinum Toxin A for the Treatment of Neurogenic Bladder. PM R. 2019; 11(2):
192-200.
6. Nitrini R, Bacheschi LA. A neurologia que todo médico deve saber. 3. ed. São Paulo: Editora Atheneu; 2015.
Parte 1, Princípios Fundamentais; p. 30-3.
Caso 2
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Mulher, 28 anos, previamente hígida, chega à
consulta com um quadro de “dormência e fraqueza” nos
membros inferiores, sem fatores de melhora, iniciado há 1 mês.
Além disso, relata dificuldade para evacuar, 2 episódios de
incontinência urinária desde o início dos sintomas motores e
sensitivos. A paciente também relata amaurose em olho
esquerdo, associada a dor periorbital, que piora à
movimentação ocular. Nega história familiar de quadro
semelhante.
b) Exame físico geral: Pressão arterial 120 x 80 mmHg.
Ausência de febre e outros sintomas constitucionais.
c) Exame neurológico: Amaurose em olho esquerdo, sem
alterações na acuidade ou campimetria do olho direito. Defeito
pupilar aferente relativo (pupila de Marcus-Gunn) à esquerda.
Exame de fundoscopia revelou atrofia do nervo óptico à
esquerda. Sem alterações nos demais nervos cranianos. Força
grau III em MMII e grau V nos MMSS. Hipertonia e reflexos
exaltados em MMII, com reflexo cutâneo-plantar em extensão
(Sinal de Babinski). Hipoestesia tátil, dolorosa e proprioceptiva,
com nível sensitivo em T5.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Qual síndrome é bastante característica para o diagnóstico
dessa entidade clínica?
c) Existem variantes clínicas para esse diagnóstico?
d) Quais importantes diagnósticos diferenciais devem ser
considerados?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Autonômica: Incontinência urinária e retenção
fecal.
b) Síndrome do Neurônio Motor Superior ou Síndrome do
Primeiro Neurônio Motor: Paresia espástica em MMII, com
hiper-reflexia e com sinal de Babinski.
c) Síndrome Sensitiva: Hipoestesia superficial e profunda com
nível sensitivo em T5.
d) Síndrome de Nervos Cranianos: Amaurose, alteração do
reflexo fotomotor e atrofia do nervo óptico à esquerda.
Acometimento do nervo óptico esquerdo.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da síndrome do
distúrbio do espectro de neuromielite óptica (NMO).
b) Saber identificar a apresentação clínica.
c) Ter em mente os achados da história e do exame físico que
apontam para outros diagnósticos.
d) Conhecer os principais diagnósticos diferenciais
relacionados a essa condição.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Paraparesia com reflexos exaltados e nível sensitivo sugere
acometimento medular.
b) Mielopatias em pacientes jovens podem ser compressivas ou
inflamatórias – RM urgente é fundamental para diferenciar
essas causas.
c) Em casos de mielite transversa, sempre avaliar neuroeixo e
órbitas.
d) A Neuromielite Óptica é uma doença extremamente grave,
mas com boa resposta ao tratamento instituído precocemente.
REFERÊNCIAS
1. Flanagan EP. Neuromyelitis Optica Spectrum Disorder and Other Non-Multiple
Sclerosis Central Nervous System Inflammatory Diseases. Continuum (Minneap
Minn). 2019; 25(3): 815-44.
Capítulo 5
Síndrome atáxica
Autores:: Danyela Martins Bezerra Soares, Gabriel De Albuquerque Vasconcelos E Franklin
De Castro Alves Neto
Orientador: Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente masculino, 48 anos, iniciou quadro de
parestesias (queimação e dormência) há 10 anos, associado a
quedas frequentes. Há cerca de 5 anos, iniciou quadro de
disartria (fala lentificada e grandes pausas). Paciente relata
ainda que há 2 anos evoluiu com piora da fala maior, dificuldade
de deambular, além de piora da disfagia, relatando engasgos a
alimentos pastosos, com perda de peso importante, tendo sido
encaminhado à internação hospitalar para realização de
gastrostomia para recuperar peso.
b) Antecedentes pessoais: Hipertensão desde 2012 e
hipertireoidismo. Nega tabagismo e etilismo. Relata que o pai de
79 anos e a avó paterna, já falecida, apresentam os mesmos
sintomas, com início após os 50 anos de idade.
c) Exame físico geral: Estado geral regular, afebril, normocorado,
eupneico, emagrecido.
d) Exame neurológico: Orientado no tempo e espaço. Fala
escandida, mas com linguagem preservada. Nervos cranianos:
movimentação ocular extrínseca lentificada, particularmente
nas sacadas horizontais. Força muscular grau V global.
Sensibilidade: hipopalestesia e anartrestesia em membros
inferiores. Presença de rigidez em roda denteada e bradicinesia
2+/4+ bilateral. Reflexos: estilorradial: 3 bilateral; patelar e
aquileu: 2. Provas cerebelares: disdiadococinesia, prova índex-
naso sem coordenação. Dismetria, discinesia oromandibular e
tremor cervical. Marcha não testada por ser cadeirante.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Qual síndrome é bastante característica para o diagnóstico
dessa entidade clínica?
c) Existem variantes clínicas desse diagnóstico?
d) Além do tempo de evolução, que dados da história
corroboram o diagnóstico nosológico?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Atáxica: Caracterizada pela presença de fala
escandida, dismetria, pelos movimentos sacádicos lentos,
disdiadococinesia, podendo apresentar hiporreflexia ou
arreflexia quando testados os reflexos tendinosos profundos.
Tais manifestações apontam para um provável acometimento
no cerebelo, que tem por função promover a contração
adequada da musculatura axial e proximal dos membros,
buscando o equilíbrio e a postura normal.
b) Síndrome Extrapiramidal: Caracterizada pela presença de
bradicinesia e rigidez.
c) Síndrome Sensitiva (Superficial): Caracterizada pela queixa
de parestesia (queimação e dormência) e presença de
hipopalestesia e anartrestesia nos membros inferiores.
d) Síndrome dos Nervos Cranianos: Caracterizada pela
movimentação ocular extrínseca lentificada.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da ataxia
espinocerebelar tipo 2 e seu diagnóstico no raciocínio
neurológico.
b) Saber identificar a necessidade de uma investigação mais
profunda em certas queixas do paciente.
c) Ter em mente os achados da história e do exame físico que
apontem para causas genéticas.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A SCA2 é o segundo tipo de SCA mais recorrente no mundo,
ficando atrás da SCA3 (Doença de Machado-Joseph).
b) Nos exames de imagem, é vista uma redução do córtex
cerebral, com atrofia significativa do cerebelo, tronco cerebral,
lobo frontal e nervos cranianos. Pode ser vista também perda da
substância nigra do mesencéfalo e redução da substância
branca do cérebro e cerebelo.
c) Na SCA2, a atrofia pode não ser uniforme, mas específica em
uma região. Alguns exames de imagem no estágio pródromo
revelaram atrofia e disfunção no sistema olivopontocerebelar.
d) O profissional deve estar atento ao local de procedência e à
naturalidade do paciente, já que os casos são mais comumente
relatados em pacientes do interior, com casos de
consanguinidade na família.
REFERÊNCIAS
1. Machado A, Campos GB. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
2. Braga-Neto P, Godero Jr C, Dutra LA, Pedroso JL, Brasottini OGP. Translation and
validation into Brazilian version of the Scale of the Assessment and Rating of Ataxia
(SARA). Arq Neuro-Psiquiatr. 2010; 68(2): 228-30.
3. Velázquez-Pérez LC, Rodríguez-Labrada R, Fernandez-Ruiz J. Spinocerebellar Ataxia
Type 2: Clinicogenetic Aspects, Mechanistic Insights, and Management Approaches.
Front Neurol. 2017; 8:472.
4. Coarelli G, Brice A and Durr A. Recent advances in understanding dominant
spinocerebellar ataxias from clinical and genetic points of view. F1000Research.
2018; 7(F1000 Faculty Rev): 1781.
Caso 2
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente masculino, caucasiano, 22 anos, chega
ao ambulatório de Neurologia com história de 8 anos de
dificuldade de equilíbrio progressiva e quedas da própria altura.
Relatou que, no início, percebia apenas instabilidade de sua base
ao permanecer algum tempo em pé, bem como certa limitação à
deambulação, que, segundo seus colegas, era semelhante à de
‘’um homem bêbado’’. Com a evolução, foram observados,
também, tremor de ação e dismetria ao tentar alcançar algum
objeto. Além disso, há 3 anos, tem percebido diminuição
progressiva da força da musculatura dos MMII, com dificuldade
para subir escadas e levantar-se, por exemplo, e, há 2 anos,
apresenta dificuldade na fala. Na Figura 1, observa-se, no
heredograma, pais consanguíneos, mas sem histórico de
sintomas semelhantes a estes.
b) Exame físico geral: Ao exame do aparelho cardiovascular,
apresentou ictus cordis deslocado para sexto espaço intercostal,
na linha axilar anterior, com extensão de 3 polpas digitais.
À inspeção do tórax e dos membros, observou-se cifoescoliose
proeminente, pes cavus e atrofia de parte da musculatura
apendicular. Sem outras alterações dignas de nota.
c) Exame neurológico: Força grau 4 em MMII e grau 4+ em
MMSS. Reflexos ausentes em MMII e diminuídos em MMSS.
Sinal de Babinski presente, bilateral. Hipoestesia em MMII, com
anartrestesia e hipopalestesia distal. Avaliação do equilíbrio
estático apresentava o fenômeno da ‘’Dança dos Tendões’’ e
teste de Romberg positivo. No equilíbrio dinâmico, apresentava
marcha com base alargada e incapacidade em realizar marcha
em tandem. O paciente apresentava ainda dificuldade de fixação
do olhar, com sacadas em ‘’onda quadrada’’, além de fala
escandida. O exame da coordenação demonstrava ainda
dismetria e tremor de intenção ao exame do Índex-Nariz-Índex e
do Calcanhar-Joelho, Sinal do Rechaço positivo e
disdiadococinesia.
Figura 1. Heredograma do caso clínico.
Fonte: Autor.
2. PARA PENSAR
a) Quais os principais diagnósticos (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) observados?
b) Quais as síndromes que, combinadas, chamam atenção para
o diagnóstico?
c) Qual aspecto do caso é a chave para pensar no diagnóstico
nosológico?
d) Que outros achados, além dos neurológicos, sugerem o
diagnóstico etiológico?
e) Qual a principal alteração na imagem de pacientes com essa
doença?
f) Quais os principais diagnósticos diferenciais a serem
considerados e quais fatores falam a seu favor?
g) O que é esperado do prognóstico de pacientes com esse
diagnóstico e o que pode ser feito para melhorá-lo?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome do Neurônio Motor Superior: paresia em MMSS e
MMII, associada a reflexo cutâneo-plantar extensor.
b) Síndrome do Neurônio Motor Inferior: paresia em MMSS e
MMII, associada à hiporreflexia em MMSS e arreflexia em MMII.
c) Síndrome Sensitiva Profunda: hipoestesia tátil, vibratória e
proprioceptiva em MMII.
d) Síndrome Atáxica: perda do equilíbrio estático, com dança
dos tendões e Sinal de Romberg. Perda do equilíbrio dinâmico,
com marcha alargada e instável. Perda da coordenação da fala
(fala escandida ou arrastada) e dos movimentos oculares
(sacadas em “ondas quadradas’’). Disfunção cerebelar
apendicular evidenciada por dismetria, disdiadococinesia e Sinal
do Rechaço positivo.
Fonte: Autor.
a) Exames complementares:
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações clínicas e o padrão de
herança da Ataxia de Friedreich.
b) Saber correlacionar os achados ao exame neurológico com os
principais diagnósticos topográficos.
c) Identificar possíveis achados clínicos e radiológicos que
sugiram um diagnóstico diferencial dessa condição.
d) Conhecer o curso natural da doença e possíveis medidas que
possam beneficiar a qualidade de vida do paciente.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A Ataxia de Friedreich deve ser a primeira hipótese diagnóstica
para pacientes jovens, com ataxia de herança autossômica
recessiva, principalmente se associada a SNMS e SNMI.
b) Sempre buscar resumir as possibilidades de topografia em
uma, mas, se não for possível, considerar os principais
diagnósticos topográficos diante do quadro clínico amplo.
c) O diagnóstico é essencialmente clínico, mas exames de
neuroimagem podem ajudar, principalmente na presença de
atrofia cerebelar, que indica fortemente outro diagnóstico.
d) É necessária uma investigação minuciosa para descartar
possíveis causas reversíveis que mimetizem o quadro clínico da
Ataxia de Friedreich, como ataxia por deficiência de Vitamina E e
outras ataxias adquiridas, visto que são potencialmente
tratáveis.
e) Apesar do prognóstico reservado, é importante que o paciente
seja acompanhado por equipe multidisciplinar, além de realizar
fisioterapia, que pode melhorar a qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
1. Pandolfo M. Friedreich Ataxia. In: Rosenberg RN, Pascual JM. (eds.) Rosenberg’s
Molecular and Genetic Basis of Neurological and Psychiatric Disease. London: Elsevier
BV; 2020. p. 165–78.
2. Bidichandani SI, Delatycki MB. Friedreich Ataxia. In: Adam MP, Ardinger HH, Pagon RA,
Wallace SE, Bean LJH, Mirzaa G, Amemiya A (eds.). GeneReviews® [Internet]. Seattle
(WA): University of Washington, Seattle; 1993–2021.
3. Carroll LS, Massey TH, Wardle M, Peall KJ. Dentatorubral-pallidoluysian Atrophy:
An Update. Tremor Other Hyperkinet Mov (N Y). 2018;577.
4. Kumar R, De Jesus O. Refsum Disease. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls
Publishing; 2020.
5. Kuo SH. Ataxia. Continuum (Minneap Minn). 2019; 25(4):1036-54.
Caso 3
Fraqueza e Quedas
Autor: Franklin de Castro Alves Neto
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
CLÍNICO
a) Anamnese: Mulher, 36 anos, professora, deu entrada no
ambulatório de neurologia com queixa de “fraqueza nas pernas”
associada a quedas frequentes há 6 meses. Relata histórico
prévio de cirurgia bariátrica realizada há 4 anos devido a
questões relacionadas à obesidade. Nega quadro semelhante
na família.
b) Exame Físico Geral: pressão arterial de 120 x 75 mmHg,
eupneica, normocárdica, normocorada e afebril.
c) Exame Neurológico:
2. PARA PENSAR
a) Quais síndromes neurológicas podem ser identificadas no
caso?
b) Que local do sistema nervoso seria responsável pelo quadro
clínico acima caso fosse afetado?
c) Que nosologia condiz com o quadro apresentado?
d) Que etiologia é capaz de desencadear o cenário clínico em
questão?
e) Quais sinais e sintomas apontam mais fortemente para o
diagnóstico?
f) Como tratar a paciente?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome de Neurônio Motor Superior: fraqueza muscular,
reflexos tendinosos aumentados e reflexos cutâneo-plantares
em extensão (sinal de Babinski);
b) Síndrome Sensitiva: acometimento das sensibilidades
proprioceptiva e vibratória (palestesia) presentes nos membros
distalmente, assim como a presença do sinal de Romberg.
c) Síndrome Atáxica: marcha com padrão talonante.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Reconhecer os principais achados clínicos da degeneração
combinada subaguda;
b) Entender a aplicabilidade dos exames complementares como
subsídio do raciocínio neurológico;
c) Compreender as formas de tratar os pacientes que
manifestam quadros semelhantes ao apresentado;
d) Considerar os principais diagnósticos diferenciais da
patologia em questão.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Sempre atentar para o perfil nutricional dos pacientes para
identificar possíveis carências.
b) Dosar substratos metabólicos em conjunto com o nível sérico
de vitamina B12 pode ser útil.
c) Alguns pacientes podem ter neuropatias periféricas
associadas à mielopatia por deficiência de B12,1 demonstrando
reflexos diminuídos ou abolidos.
d) Atentar para distúrbios autoimunes (anticorpos contra fator
intrínseco ou células parietais) ou de absorção (cirurgia
bariátrica, gastrite atrófica etc.) que envolvem a cobalamina2
pela capacidade de causar sua deficiência.
REFERÊNCIAS
1. Schwendimann RN. Metabolic and Toxic Myelopathies. Continuum. 2018; 24(2): 427-
40.
2. Gwathmey KG, Grogan J. Nutritional neuropathies. Muscle & nerve. 2020; 62(1): 13-29.
3. Haddad MS, Nader SN, Adoni T. Manifestações Neurológicas nas Doenças Sistêmicas.
In: Nitrini R, Bacheschi LA. A Neurologia que Todo Médico Deve Saber. São Paulo:
Atheneu; 2015. p. 433-49.
Capítulo 6
Síndrome Extrapiramidal
Autores: Fábio Rolim Guimarães, Gabriel de Albuquerque Vasconcelos, Amanda Colaço
Morais Teixeira, Jorge Luiz de Brito de Souza e Milena Vieira Madeira
Orientador: Pedro Braga Neto
Tremor e lentidão
Autor: Fábio Rolim Guimarães
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
CLÍNICO
a) Anamnese: homem, 68 anos, buscou atendimento com
neurologista por queixa de tremor há um ano. O paciente se
queixa de tremor no membro superior direito, mais
frequentemente quando o membro está em repouso,
percebendo melhora quando ele está em movimento. Nos
últimos 2 meses, o paciente percebeu uma piora importante do
tremor em relação ao início do quadro, associada a uma
dificuldade de movimentação do membro com lentidão.
Paciente apresenta histórico de depressão há 5 anos, além de
constipação e sonolência diurna. Esposa afirma que o paciente
há 7 anos fala e realiza movimentos violentos durante o sono, o
que a incomoda bastante. Não se encontra em uso de qualquer
remédio.
b) Exame neurológico: Bradicinesia à direita evidenciada pelos
testes do finger tapping e do toe tapping. Rigidez plástica (roda
denteada) em membro superior direito. Tremor de repouso em
MSD. Presença de hipomimia e hipofonia. Marcha com passos
curtos e diminuição do balanço do MSD. Restante do exame
neurológico encontrava-se normal.
2. PARA PENSAR
a) Quais síndromes neurológicas o paciente manifesta?
b) Qual diagnóstico nosológico é mais provável para o caso?
c) Os sintomas não motores, como depressão, constipação e
distúrbios do sono, possuem alguma relação com o quadro
atual do paciente?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Extrapiramidal: evidenciada por tremor, bradicinesia
e rigidez.
• Doença simétrica.
• Ausência de resposta à levodopa.
• Progressão rápida dos sintomas.
• Quedas frequentes e instabilidade postural de início precoce:
paralisia supranuclear progressiva (PSP) pode ser
considerada um diagnóstico nessa circunstância.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as manifestações clínicas da Doença de Parkinson,
incluindo sintomas motores e não motores.
b) Entender o processo diagnóstico da Doença de Parkinson.
c) Saber identificar sinais de alarme para a suspeita de
diagnósticos alternativos para a síndrome parkinsoniana.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A velocidade de progressão da Doença de Parkinson é
variável. Indivíduos com uma sintomatologia mais ampla,
incluindo sintomas motores e não motores, e pior resposta
inicial à terapia com levodopa tendem a ter uma progressão
mais rápida da doença.
b) Apesar de o diagnóstico de DP ser clínico, exames de
imagem podem ajudar a diferenciar DP de outras doenças que
cursam com parkinsonismo. A Ressonância Magnética pode
auxiliar na diferenciação entre DP e parkinsonismo vascular e
parkinsonismos atípicos, como PSP e AMS.
c) A prática de diversas modalidades de exercício físico, como
exercício na esteira, treinamento de força, dança e outras
formas de exercício aeróbico, tem demonstrado ser benéfica
para os pacientes com DP, retardando o declínio da função
motora.
d) Com a progressão da DP, o efeito da levodopa passa a se
perder antes de ser tomada a dose seguinte (fenômeno
conhecido como wearing off), tornando-se necessárias doses
maiores, aumento da frequência de doses diárias de levodopa e
associação da levodopa a outras drogas.
e) Quando o paciente permanece manifestando sintomas
apesar da otimização do tratamento medicamentoso,
Estimulação Cerebral Profunda é um procedimento que pode ser
considerado.
f) Indivíduos com Doença de Parkinson geralmente morrem em
decorrência das mesmas causas da população idosa, mas a DP
avançada aumenta o risco de morte por pneumonia aspirativa,
pois os pacientes podem apresentar disfagia, e por
complicações de quedas, devido à instabilidade postural dos
pacientes.
REFERÊNCIAS
1. Poewe W, Seppi K, Tanner C, Halliday G, Brundin P, Volkmann J, et al. Parkinson
disease. Nat Rev Dis Primers. 2017; 3: 17013.
2. Zesiewicz T. Parkinson Disease. CONTINUUM: Lifelong Learning in Neurology. 2019;
25(4): 896-918.
3. Armstrong M, Okun M. Diagnosis and Treatment of Parkinson Disease. JAMA. 2020;
323(6): 548.
Caso 2
Movimentos Involuntários
Autor: Gabriel de Albuquerque Vasconcelos
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente masculino, 63 anos, advogado,
comparece ao ambulatório de Neurologia, acompanhado pela
esposa, com queixa de ‘’falta de controle do braço’’. Relata que,
há 2 anos, começou a apresentar contrações dolorosas do
MMSS direito, com dificuldade para movimentá-lo, além de
lentificação dos movimentos e rigidez ipsilaterais. Seis meses
depois, começou a apresentar movimentos involuntários (‘’como
se fossem choques’’) ao recrutar o mesmo membro para
alguma ação, bem como quedas espontâneas. Buscou consulta
com especialista, quando foi diagnosticado com parkinsonismo
e medicado com levodopa/carbidopa, mas sem resposta
significativa. Há 1 ano, a esposa relatou alteração
comportamental, com tendência a gastos excessivos,
vocabulário imoral e comportamentos inapropriados
socialmente. Além disso, a acompanhante comentou sobre a
dificuldade de o paciente realizar tarefas simples, quando
solicitadas, como descartar um objeto na lixeira ou lavar a louça,
anteriormente realizadas apesar do comprometimento motor.
Há 2 meses, o paciente refere movimentos involuntários do
mesmo membro, mas com a sensação de que ele não lhe
pertence, o que motivou, novamente, a busca por atendimento
médico.
b) Exame físico geral: PA ao decúbito de 120 x 80. PA, após 3
minutos em pé, de 90 x 70. Sem outras alterações dignas de
nota.
c) Exame neurológico: Bradicinesia e rigidez
predominantemente à direita, com Sinal da Roda Denteada,
fácies em máscara, marcha em pequenos passos, hipofonia,
disartria e micrografia. Postura distônica em MMSS direito.
Precisou de auxílio do examinador, para não cair, ao pull test.
Agrafestesia, astereognosia e perda da discriminação entre dois
pontos à direita. A pontuação do MEEM foi 23, com maior
comprometimento de função executiva e linguagem, com
relativa preservação da memória. O paciente não conseguiu
realizar a tarefa de dobrar o papel e colocá-lo no chão.
2. PARA PENSAR
a) Quais os principais diagnósticos (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) observados?
b) Quais as duas principais síndromes para o raciocínio
neurológico e quais as suas peculiaridades, observadas no
caso, que sugerem a principal hipótese diagnóstica?
c) Quais os principais componentes do caso que sugerem o
diagnóstico nosológico?
d) Que outras doenças podem apresentar manifestações
clínicas semelhantes às observadas no caso?
e) Que outras manifestações clínicas podem estar presentes na
doença do caso apresentado?
f) Quais as medidas a serem adotadas, pelo profissional de
saúde, para o benefício de pacientes com o diagnóstico do
caso?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Extrapiramidal (hipocinética e hipercinética):
Parkinsonismo (bradicinesia, rigidez e instabilidade postural),
sem tremor associado, mas com instabilidade postural precoce
(hipocinética). Mioclonias (movimentos involuntários
semelhantes a choques) desencadeadas por estímulo (ao
recrutar o membro para uma ação) e distonias (contrações de
musculatura agonista e antagonista).
b) Síndrome Cognitiva: Disfunção executiva e afasia (ao MEEM)
associadas a alterações comportamentais e apraxia ideatória
(incapacidade de realizar atividades solicitadas).
c) Síndrome Autonômica: Hipotensão postural ao exame físico
geral.
Fonte: Autor.
Demência de Alzheimer**
Doença de Creutzfeldt-Jacobs
Doença Cerebrovascular
Outros
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Saber diferenciar a DCB da SCB, bem como as principais
etiologias relacionadas a ambas as condições.
b) Dominar o raciocínio neurológico de pacientes com SCB, a
partir de seus achados na história e no exame físico
(parkinsonismo, distonia, mioclonia, apraxia, alterações
comportamentais, queixas cognitivas, perda sensitiva cortical,
fenômeno do membro alienígena).
c) Lembrar o principal fenótipo de pacientes com diagnóstico
nosológico degenerativo (idosos, com quadro clínico insidioso e
progressivo, com queixas cognitivas e prejuízo funcional).
d) Conhecer os principais direcionamentos a serem dados para
o paciente com DCB e seus familiares, com consciência do
prognóstico reservado.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Os sintomas, principalmente cognitivos, orientam bastante
para a região do córtex acometida, o que é importante para
pensar nesse diagnóstico. Para isso, é importante revisar a
anatomia e a fisiologia do córtex cerebral. Os achados de
disfunção cortical associados à síndrome extrapiramidal são
sugestivos de SCB.
b) O fenômeno do membro alienígena, considerado, certas
vezes, típico da SCB, é encontrado em apenas 30% dos casos,2
mas, se estiver presente, realmente sugere esse diagnóstico.
c) Diante de um paciente idoso com parkinsonismo
(bradicinesia, com rigidez, e/ou tremor), é preciso fazer o
diagnóstico diferencial com DP idiopática e com os
parkinsonismos atípicos (PSP, AMS e DCB). Para isso, a
ausência de resposta à levodopa/carbidopa pode sugerir,
fortemente, um dos parkinsonismos atípicos. A avaliação clínica
e complementar deve orientar, com maior precisão, o
diagnóstico.
d) É prudente solicitar uma RM para pacientes com suspeita de
DCB ou SCB, visto que seus achados podem corroborar ou não
o diagnóstico, apesar de não o confirmar nem excluir.
e) É fundamental lembrar que, além do paciente, como em
outras doenças neurodegenerativas, a família também precisa
ser acompanhada devido ao estresse que a doença pode gerar.2
Certas vezes, é aconselhado contratar um cuidador para
conviver com o paciente.2
REFERÊNCIAS
1. Greene P. Progressive Supranuclear Palsy, Corticobasal Degeneration, and Multiple
System Atrophy. Continuum (Minneap Minn). 2019; 25(4): 919-35.
2. Saranza GM, Whitwell JL, Kovacs GG, Lang AE. Corticobasal degeneration. Int Rev
Neurobiol. 2019; 149: 87-136.
Caso 3
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
CLÍNICO
a) Anamnese: mulher, 55 anos, relata quadro de lentidão nos
movimentos há cerca de dois anos. Foi iniciado tratamento com
levodopa em doses progressivas, sem melhora dos sintomas.
Em seu relato, conta que há um ano começou a apresentar
também sintomas como incontinência urinária e queda dos
níveis pressóricos. Há seis meses evoluiu com queixa de
“barulhos estranhos durante a respiração”, principalmente
durante a noite.
b) Exame físico geral: pressão arterial 120 x 80 mmHg deitada e
90 x 50 em pé, frequência cardíaca de 75 bpm em repouso e
temperatura de 36,2°C. Na ausculta pulmonar, foi identificado
estridor laríngeo durante a inspiração.
c) Exame neurológico: rigidez e bradicinesia bilateral +2/+4 e
simétrica. Discreta dismetria e disdiadococinesia bilateral e
simétrica.
2. PARA PENSAR
a) Quais os diagnósticos sindrômicos identificáveis?
b) Os sintomas apontam para quais topografias?
c) Quais os possíveis diagnósticos nosológico e etiológico?
d) Por que não houve melhora com levodopa?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Autonômica: identificada pelos sinais de disfunção
vesical e hipotensão ortostática.
b) Síndrome Extrapiramidal: representada pela bradicinesia
(lentidão de movimentos) e pela rigidez.
c) Síndrome Atáxica: caracterizada pela dismetria e pela
disdiadococinesia.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
a) Exames complementares:
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Compreender o papel dos núcleos da base e de suas
conexões para uma atividade motora eficiente.
b) Entender a relação entre a topografia acometida, os sintomas
apresentados e as classificações da AMS.
c) Dominar as principais diferenças entre os possíveis
diagnósticos.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Os núcleos da base controlam a atividade motora pelas vias
direta, que a estimula, e indireta, que a inibe. As fibras
nigroestriais dopaminérgicas têm atuação determinante sobre a
estimulação da via direta e a inibição da via indireta.
O acometimento dos constituintes dessas vias está na base das
doenças com manifestações extrapiramidais.1
b) A AMS é caracterizada por sintomas cerebelares,
parkinsonianos e autonômicos, sendo classificada em
predominantemente cerebelar ou predominantemente
parkinsoniana, de acordo com a natureza predominante das
manifestações.3
c) As alfa-sinucleinopatias incluem a AMS, a Doença de
Parkinson e a demência com corpos de Lewy.
Os parkinsonismos atípicos são constituídos pela AMS, pela
degeneração corticobasal e pela paralisia supranuclear
progressiva. Todas essas patologias representam possíveis
diagnósticos diferenciais para a AMS.2,8
REFERÊNCIAS
1. Berne RM, Levy MN, Koeppen BM. Berne e Levy Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2009. Parte 9, Organização da Função Motora; p. 180-190.
2. Greene P. Progressive supranuclear palsy, corticobasal degeneration, and multiple
system atrophy. Continuum (Minneap. Minn). 2019; 25(4): 919-35.
3. Lee HJ, Ricarte D, Ortiz D, Lee SJ. Models of multiple system atrophy. Exp Mol Med.
2019; 51(11): 1-10.
4. Jellinger KA. Multiple system atrophy: an oligodendroglioneural synucleinopathy.
J Alzheimer’s Dis. 2018; 62(3): 1141-79.
5. Compagnoni GM, Di Fonzo A. Understanding the pathogenesis of multiple system
atrophy: state of the art and future perspectives. Acta neuropathol commun. 2019;
7(1): 113.
6. Kuzdas D, et al. Oligodendroglial alpha-synucleinopathy and MSA-like cardiovascular
autonomic failure: experimental evidence. Exp Neurol [internet]. Set 2013 [acesso em:
11 jan 2021]; 247: p. 531-536. Disponível em: Oligodendroglial alpha-synucleinopathy
and MSA-like cardiovascular autonomic failure: Experimental evidence –
ScienceDirect
7. Armstrong MJ, OKUN MS. Diagnosis and treatment of Parkinson disease: a review.
JAMA. 2020; 323 (6): 548-60.
8. Walker Z, Possin KL, Boeve BF, Aarsland D. Lewy body dementias. Lancet Infect. 2015;
386(10004): 1683-97.
Caso 4
Quedas frequentes
Autor: Jorge Luiz de Brito de Souza
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
2. PARA PENSAR
a) Quais são os diagnósticos (sindrômico, topográfico, nosológico e etiológico)
observados?
b) O que neste quadro clínico se diferencia ou se assemelha ao esperado na Doença
de Parkinson?
c) Além do tempo de evolução, o que auxilia no diagnóstico nosológico?
d) Porque a condição é considerada ‘’supranuclear’’?
e) Que diagnósticos diferenciais podemos consid erar?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Demência Subcortical: síndrome caracterizada clinicamente por redução da
velocidade de processamento, disfunção executiva e déficit de memória
caracterizado no exame neurológico, associado a uma apatia ou depressão.
b) Síndrome de Frontalização: observada pela presença de sinais de perseveração,
como o Sinal do aplauso, além de reflexos primitivos presentes, como o
Palmomentoniano, o Glabelar patológico e o Reflexo do Focinho.
c) Síndrome Pseudobulbar: no caso do paciente, atribuída pela disfagia, disfonia e,
principalmente, pela labilidade emocional.
d) Síndrome extrapiramidal: observada pela rigidez nos quatro membros com uma
hipertonia difusa e distonia dos músculos cervicais, instabilidade postural e
bradicinesia. Observar que a simetria de membros afetados pela rigidez, a ausência
de tremor de repouso e a ausente resposta à levadopa (citada no caso) nos levam a
pensar em um possível parkinsonismo atípico.
e) Síndrome dos Nervos Cranianos: aqui descrita por diversos sinais e sintomas,
como a paralisia do olhar conjugado vertical, paralisia dos músculos faciais e
disfagia.
• Neoplásica – Esta poderia ser uma das nosologias desta condição, pois a
existência de uma neoplasia no nível do Sistema Nervoso Central (SNC) poderia
ocasionar a progressividade do quadro, levando o indivíduo a este estado. Todavia,
a RMC, juntamente com a rica clínica do paciente, descartam causas neoplásicas.
É importante se atentar para o fato de que a temporalidade de 5 anos não excluiria
prontamente a neoplasia.
Subgrupo muito
Resposta à Levadopa Raro Pequeno subgrupo
pequeno
Desequilíbrio inicial,
Comum Comum Comum
levando a quedas
Tipos/ Paralisia Supranuclear Degeneração Atrofia de Múltiplos
Característica Progressiva Corticobasal Sistemas
Em pequeno grupo
Distonia Facial Muito comum Incomum como efeito colateral
da Levadopa
Com predomínio
Voz “rosnada’’ Comum Incomum cerebelar, pode levar a
fala desarticulada
Mioclonia Cortical
Pequeno Subgrupo Comum Pequeno Subgrupo
Focal
Dentre outras
Falha de Ortostase Múltiplas falhas são
disautonomias, é O mesmo da PSP
autonômica comuns
incomum
normais
4. OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da PSP, assim como o processo de
raciocínio neurológico relacionado a ela.
b) Reconhecer a associação entre a evolução temporal do quadro, a sua progressiva
piora e a Nosologia neurodegenerativa.
c) Compreender que, apesar de uma grande parte do diagnóstico poder ser feito
clinicamente, ele é corroborado por achados dos exames complementares,
principalmente os advindos do líquor e da RMC.
d) Conhecer os principais diagnósticos diferenciais e diferenciar parkinsonismos
típicos e atípicos.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A PSP é uma condição neurodegenerativa que, dentre muitos outros sintomas,
possui a paralisia do olhar vertical usualmente presente.
b) A PSP não tem predileção por raça ou gênero, sendo seu quadro bastante
“arrastado’’, com uma progressiva piora, tal qual sugerido por seu nome.
c) A observação da evolução de um paciente com uma suposta condição
neurodegenerativa é extremamente relevante, principalmente nos casos em que se
desconfia de etiologias relacionadas a parkinsonismos atípicos. Muitas vezes, uma
clínica inicial pode levar a um erro diagnóstico se mal investigada pelo Médico, ainda
mais em quadros Demenciais com Distúrbios do Movimento.
d) Não há tratamento ou cura evidente para a PSP, sendo o acompanhamento
multiprofissional a melhor forma paliativa para intervir ativamente em alguns
sintomas, a fim de que a qualidade de vida do paciente seja melhorada.
e) Não esquecer que a PSP é uma “taupatia’’ e que, portanto, pode ser investigada
pela associação entre a RMC e o líquor do paciente para confirmação de diagnóstico.
REFERÊNCIAS
1. Greene P. Progressive Supranuclear Palsy, Corticobasal Degeneration, and Multiple System Atrophy. Continuum
(Minneap Minn). 2019; 25(4): 919-35.
2. Mulroy E, Stamelou M, Bhatia KP. How to approach a patient with parkinsonism – red flags for atypical
parkinsonism. Int Rev Neurobiol. 2019; 149: 1-34.
3. Fabbrini G, Fabbrini A, Suppa A. Progressive supranuclear palsy, multiple system atrophy and corticobasal
degeneration. Handb Clin Neurol. 2019; 165: 155-77.
4. Boxer AL, Yu JT, Golbe LI, Litvan I, Lang AE, Höglinger GU. Advances in progressive supranuclear palsy: new
diagnostic criteria, biomarkers, and therapeutic approaches. Lancet Neurol. 2017; 16(7): 552-63.
5. Vanier MT. Niemann-Pick diseases. Handb Clin Neurol. 2013; 113: 1717-21.
Caso 5
1. APRESENTAÇÃO DO CASO
a) Anamnese: Paciente do sexo feminino, 10 anos, previamente
hígida, procurou atendimento médico acompanhada de seus
pais. Relata uma história de 2 semanas de movimentos
involuntários em seu braço/ perna esquerda, em que seu pé
esquerdo começou a “girar para dentro e para fora”.
Os movimentos ficaram cada vez mais amplos e progrediram
para os 4 membros. Os pais também relataram que a criança
estaria com queixas de dificuldade em segurar a caneta na
escola. Relata ainda um quadro de amigdalofaringite há cerca
de 3 meses, ou seja, antes dos sintomas neurológicos. Os pais
negam história familiar de quadro semelhante e relatam que a
menina não toma nenhum tipo de medicamento.
b) Exame físico geral: Pressão arterial 120 por 80 mmHg.
Ausência de febre e de outros sintomas constitucionais.
c) Exame neurológico: Funções corticais superiores com déficit
na atenção. Nervos cranianos sem alterações. Disartria
moderada, força muscular preservada e simétrica (grau V),
reflexos normais, sem alterações na sensibilidade. Ausência de
sinais de irritação meníngea. Presença de movimentos coreicos
nos 4 membros associados e de movimentos mais
estereotipados parcialmente suprimidos sugestivos de tiques.
Observam-se ainda sinais de impersistência motora com
dificuldade em manter a língua protusa por alguns segundos,
além da dificuldade em manter a mão fechada com os dedos do
examinador dentro.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Qual síndrome é característica para o diagnóstico dessa
entidade clínica?
c) Existem variantes clínicas desse diagnóstico?
d) Além do tempo de evolução, que dados da história
corroboram o diagnóstico nosológico?
e) O que chama atenção na história patológica pregressa para o
diagnóstico?
f) Quais importantes diagnósticos diferenciais devem ser
considerados?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Extrapiramidal: Neste caso, há muitos sintomas e
sinais característicos que se enquadram nessa síndrome.
A presença de movimentos aleatórios e fluidos, (os
movimentos coreicos), associados à impersistência motora, são
alguns deles. Esses movimentos geralmente se enquadram em
pacientes que combinam ou incorporam a coreia em seus
movimentos normais, como se estivessem tentando escondê-
los. Além disso, a queixa da dificuldade de segurar a caneta se
enquadra como um tipo de distúrbio neurológico que afeta o
refinamento do movimento no processo das vias inibitórias dos
movimentos nas áreas subcorticais e é um achado diferencial
para o diagnóstico.
b) Síndrome Cognitiva: A diminuição na capacidade de atenção
está atrelada a um distúrbio cognitivo. No caso da Coreia de
Sydenham, tem-se uma correlação com sintomas
neuropsicológicos.
c) Síndrome Infecciosa: A presença de uma infecção, no caso
uma amigdalofaringite recente, ao quadro neurológico indica a
presença de uma síndrome autonômica.
Etiologia Patologias
Drogas Anticonvulsivantes
a) Exames complementares:
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da Coreia de
Sydenham.
b) Saber identificar a apresentação clínica de um caso.
c) Ter em mente os achados da história e do exame físico que
apontam para outros diagnósticos.
d) Conhecer os principais diagnósticos diferenciais
relacionados a essa condição.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A Coreia de Sydenham é um tipo de distúrbio do movimento
hipercinético adquirido mais comum da adolescência,
caracterizado por movimentos coreiformes involuntários, que
podem incluir caretas faciais, hipotonia, fraqueza muscular,
distúrbios de marcha e dificuldade para escrever e falar.
b) Faz parte das manifestações da febre reumática, tendo uma
relação com as infecções por estreptococos do grupo A.
c) O diagnóstico clínico é realizado com base nas
características da doença e na ausência de outras causas
diagnósticas.
d) O tratamento da CS é baseado na gravidade dos sintomas.
Dessa forma, é importante um diagnóstico cedo devido à
importância do tratamento agudo, no qual os antibióticos
profiláticos podem ajudar a melhorar os sintomas e diminuir os
danos cardíacos.
e) Os movimentos coreiformes têm amplo diagnóstico
diferencial. É importante, dessa forma, atentar-se às
manifestações clínicas subjacentes que cursam para o
diagnóstico, além de a idade do paciente ser um ponto-chave
para se associar a uma coreia do tipo Sydenham.
REFERÊNCIAS
1. Hermann A, Walker RH. Diagnosis and treatment of chorea syndromes. Curr Neurol
Neurosci Rep. 2015; 15(2): 514.
2. Risavi BL, Iszkula E, Yost B. Communications: Pediatric Sydenham’s Chorea. J Emerg
Med. 2019; 56(6): e119-e21.
3. Lubberdink AL, Sharif S, Pardhan K. You can dance if you want to: A case of
Sydenham’s chorea. Am J Emerg Med. 2019; 37(11): 2118.e5-2118.e7.
Caso 6
Tremor
Autor: Fábio Rolim Guimarães
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DO CASO
a) Anamnese: homem, 50 anos, queixa-se, em consulta com
neurologista, de tremor em braços que afeta algumas atividades
cotidianas, piorando em atividades como: escrever, segurar um
copo e utilizar talheres para se alimentar. Afirma que apresenta
tremor simétrico em membros superiores há aproximadamente
10 anos e que o tremor vem piorando em intensidade. Além
disso, nota que o tremor piora em situações de estresse e
melhora quando ingere bebida alcoólica. Relata que seu pai
possuía tremor parecido. Paciente não possui histórico de
doenças. Não se encontra em uso de qualquer medicamento.
b) Exame físico: Tremor de predomínio postural e de ação
bilateral e simétrico, mais evidente na postura de braços
estendidos e na manobra teste índex-nariz. Escrita e desenho do
espiral de Arquimedes são mal executados devido ao tremor
induzido por tais atividades. Restante do exame neurológico
encontra-se normal.
2. PARA PENSAR
a) Quais as características do tremor do paciente?
b) O histórico familiar de tremor apresenta relação com o tremor
do paciente?
c) De que forma a melhora com consumo de bebida alcoólica
ajuda no diagnóstico?
d) Quais os diagnósticos diferenciais para o caso?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Extrapiramidal: evidenciado pelo tremor.
5. DICAS PRÁTICAS
a) O tratamento de primeira linha para tremor essencial consiste
em terapia medicamentosa oral com propranolol ou primidona.
b) Aproximadamente metade dos pacientes tratados com
propranolol ou primidona abandona o tratamento por causa dos
efeitos adversos e da eficiência limitada dos medicamentos.
c) Estimulação cerebral profunda pode ser indicada para
pacientes com tremor essencial grave não responsivo a
tratamento farmacológico. O alvo costuma ser o núcleo ventral
intermédio do tálamo.
d) Denomina-se “tremor essencial plus” o tremor essencial
acompanhado de outros sinais neurológicos leves que não são
suficientes para um diagnóstico alternativo.
e) O 123I-FPCIT SPECT (DaTscan) pode ser utilizado para ajudar
no diagnóstico em casos de difícil discernimento entre tremor
essencial e tremor por síndrome parkinsoniana.
REFERÊNCIAS
1. Haubenberger D, Hallett M. Essential Tremor. N Engl J Med. 2018; 378(19): 1802-10.
2. Shanker V. Essential tremor: diagnosis and management. BMJ. 2019; 366: l4485.
Capítulo 7
Síndrome Cognitiva
Autoras: Alina Maria Núñez Pinheiro e Danyela Martins Bezerra Soares
Orientadores: Pedro Braga Neto e Helder Gomes de Moraes Nobre
O Labirinto da Memória
Autora: Alina Maria Núñez Pinheiro
Orientadores: Dr. Pedro Braga Neto e Dr. Helder Gomes de Moraes
Nobre
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente, sexo feminino, 73 anos, casada,
comerciante e com ensino médio completo, procura assistência
médica, acompanhada da filha, por queixas de memória que
comprometem sua funcionalidade. A acompanhante relata que
a mãe, há alguns anos, já se mostrava uma pessoa “esquecida”,
que perdia objetos com frequência (p. ex., as chaves de casa e
do carro), e tornou-se gradualmente uma pessoa mais apática.
Há dois anos, a paciente perdeu a quantia de 5000 reais
enquanto ia ao banco depositar esse dinheiro. Recentemente o
quadro tem se agravado: o marido percebeu que a esposa
repete as mesmas perguntas inúmeras vezes. Acompanhante
informa, também, que a mãe tem perambulado pela casa sem
qualquer objetivo. Há três dias a paciente foi ao mercado, mas
não soube como voltar para casa. Atualmente a paciente não se
recorda de acontecimentos triviais do dia a dia: não se lembra
de realizar a higiene pessoal todos os dias, esquece se já fez as
refeições e de tomar os remédios de uso habitual. Durante a
consulta, a paciente acredita estar em um ortopedista e insiste
em queixar-se sobre seu “pé quebrado”, o que, de acordo com a
acompanhante, aconteceu há 15 anos e já foi resolvido. Possui
como antecedentes patológicos: DM 2 e osteoartrite. Nega
tabagismo, etilismo, quedas recentes, uso de drogas, crises
convulsivas, febre ou cefaleia.
b) Exame físico geral: Paciente em bom estado geral, eupneica,
acianótica, anictérica, afebril. FC de 68 bpm, Pressão arterial:
123 x 84 mmHg. Saturação de oxigênio: 98%. Ausência de
alterações ao exame físico abdominal, ausculta pulmonar e
cardíaca. Ausência, também, de outros sintomas
constitucionais.
c) Exame neuropsiquiátrico: No MEEM, a paciente pontuou
21/30, perdendo pontos em orientação temporal – não sabe o
dia do mês, da semana e o ano. Perdeu pontos também em
evocação de memória recente – não lembrou nenhuma das três
palavras solicitadas –, bem como na avaliação da atenção –
errou algumas subtrações na contagem de 100 a 65, quando
deveria subtrair 7. A paciente pontuou 17 no MoCA e 4 na escala
de depressão geriátrica. Não apresentou quaisquer outros
achados significativos no exame neurológico.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Qual a importância de pedir exames gerais – pesquisa de
tireoideopatias, sorologias, perfil lipídico e glicêmico, função
renal, hepática e dosagem de eletrólitos – em quadros como
esse?
c) Em pacientes como essa, qual a importância de iniciar um
acompanhamento adequado assim que as primeiras queixas de
esquecimento aparecem?
d) O MEEM é uma boa ferramenta para rastreio inicial dessa
doença? Por quê?
e) Quais importantes diagnósticos diferenciais devem ser
considerados?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome demencial: esta síndrome, também chamada de
transtorno neurocognitivo maior, é classificada pelo DSM-V
como um declínio importante em um ou mais domínios
cognitivos (atenção complexa, função executiva, aprendizagem
e memória, linguagem, preceptomotor ou cognição social). Esse
déficit deverá ser tamanho a ponto de interferir nas atividades
de vida diária de um paciente. Além disso, as disfunções não
ocorrem exclusivamente no contexto de um delirium.
Há alterações
cognitivas Sim Frequentemente* Sim
associadas?
Alucinações Frequentemente
Frequentemente Ausentes (exceto
(considerar o ausentes (exceto
presentes em casos graves)
início do quadro) DCL)
Fonte: Autora.
a) Exames complementares:
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da DA e seu
diagnóstico no raciocínio neurológico.
b) Compreender a dinâmica da memória e o motivo pelo qual a
DA se apresenta inicialmente com queixas de memória.
c) Entender a importância de agir na fase pré-clínica da doença,
quando ainda é possível tentar retardar o seu avanço.
d) Valorizar a importância do cuidado multidisciplinar na DA e
as questões psicossociais que interferem no bem-estar tanto do
paciente quanto do cuidador.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Na presença de síndrome demencial, descartar inicialmente
uma causa reversível que explique o aparecimento dos
sintomas.
b) Em pacientes fora da faixa etária classicamente acometida –
abaixo de 65 anos –, atentar mais ainda para causas reversíveis
que justifiquem a síndrome demencial.
c) Havendo um MEEM com poucas alterações, mas com uma
história clínica condizente com DA, devem-se realizar outros
exames, como o MoCA, para refinar os resultados.
d) Suspeitar de outros tipos de demência quando a queixa de
memória não for a principal, ou vier precocemente associada a
queixas comportamentais, de disfunção visuoespacial,
disfunção executiva, entre outras.
e) Havendo déficit motor ou sensitivo associados, buscar outras
etiologias.
REFERÊNCIAS
1. Caplan GA. Delirium Superimposed Upon Dementia. J Am Med Dir Assoc. 2019;
20(11): 1382-3.
2. Sperling R, Karlawish J, Johnson., K. Preclinical Alzheimer disease—the challenges
ahead. Nat Rev Neurol. 2013; 9: 54–8.
3. Cass SP. Alzheimer’s Disease and Exercise: A Literature Review. Curr Sports Med Rep.
2017; 16(1): 19-22.
4. Geldmacher DS, Whitehouse PJ Jr. Differential diagnosis of Alzheimer’s disease.
Neurology. 1997; 48: S2–9.
5. Nowrangi MA. Neuropsychiatric Aspects of Alzheimer Dementia. Psychiatr Clin North
Am. 2020; 43(2): 383-97.
6. Liew TM. Depression, subjective cognitive decline, and the risk of neurocognitive
disorders. Alz Res Therapy. 2019; 11(1): 70.
7. Kim S, Jahng S, Yu KH, Lee BC, Kang Y. Usefulness of the Clock Drawing Test as a
Cognitive Screening Instrument for Mild Cognitive Impairment and Mild Dementia: an
Evaluation Using Three Scoring Systems. Dement Neurocogn Disord. 2018; 17(3):
100.
8. American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders. 5. ed. Washington D.C.: American Psychiatric Association; 2013.
Caso 2
Um acúmulo de achados
Autora: Alina Maria Núñez Pinheiro
Orientadores: Dr. Pedro Braga Neto e Dr. Helder Gomes de Moraes
Nobre
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente masculino, 63 anos, empresário, ensino
superior completo, casado. Dá entrada ao serviço de neurologia
acompanhado da esposa, encaminhado do serviço de
psiquiatria. Acompanhante refere que, há aproximadamente 2
anos e meio, notou que o marido começou a ter problemas na
gestão financeira da empresa; teve problemas com diversos
pagamentos, o que resultou em problemas financeiros para a
família. A acompanhante refere que houve uma mudança no
hábito alimentar do marido, que, embora antes tivesse alguma
aversão por doces, passou a consumir biscoitos, bolos e
sorvetes diariamente. Somado à mudança no hábito alimentar, o
paciente começou a demonstrar uma intensa rigidez de horários
e rotina, realizando as mesmas atividades todos os dias no
mesmo horário, num padrão ritualístico. O paciente passou,
também, a apresentar um comportamento acumulativo: se nega
a jogar fora papéis antigos sobre a empresa, recibos sem valor e
objetos sem utilidade (grampeador quebrado, pastas roídas por
cupins…). A acompanhante relata que o marido, antes uma
pessoa reservada, passou a apresentar um comportamento
mais extrovertido, fazendo comentários inapropriados na
presença de familiares ou amigos. Aproximadamente seis
meses após esses sintomas iniciais, a esposa refere que o
paciente perdeu totalmente o controle financeiro, apresentou
gastos compulsivos, o que arruinou parte do patrimônio da
empresa, resultando no afastamento completo do paciente do
controle da corporação. Há 2 meses, quando soube da morte de
um irmão, reagiu com indiferença à notícia e fez piada a respeito
da perda. O paciente também apresentou um comportamento
mais apático e recentemente tem se mostrado negligente com a
própria higiene. A esposa afirma que, atualmente, o marido se
apresenta com um discurso pobre, com dificuldade em
encontrar palavras e formar frases. Nega traumas, uso de
drogas, histórico de AVC, doença psiquiátrica prévia, histórico de
doença psiquiátrica na família, distúrbios do sono ou
movimentos involuntários.
b) Exame físico geral: Paciente pouco cooperativo, apático e
irritadiço. Afebril, hidratado. Pressão arterial: 130 x 82 mmHg,
hidratado, normocorado e eutrófico. Ausculta cardíaca e
pulmonar fisiológicas e exame abdominal sem alterações.
Frequência cardíaca de 74 bpm, constitucionais.
c) Exame neurológico: No MEEM, o paciente pontuou 19/30,
perdendo pontos em fluência verbal, nomeação, planejamento,
julgamento e na função executiva. A função visuoespacial foi
poupada. No teste da memória recente, o paciente lembrou de 2
das 3 palavras requeridas. Na Bateria de Avaliação Frontal, o
paciente pontuou 9/18. O restante do exame neurológico
apresenta sinais de Snout, Grasping e Palmomentoniano
bilateral.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Existem variantes clínicas desse diagnóstico?
c) Além do tempo de evolução, que dados da história
corroboram o diagnóstico nosológico?
d) O que diferencia essa entidade de um quadro primariamente
psiquiátrico?
e) Quais importantes diagnósticos diferenciais devem ser
considerados?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
Síndrome demencial com sinais de Frontalização
O paciente em questão apresenta uma alteração cognitiva que
trouxe impactos em suas atividades de vida diária, o que ocasionou
seu afastamento da gestão dos negócios familiares. Houve também
prejuízo social importante, além da falta de cuidados com a higiene
pessoal. Os danos à vida do paciente atendem aos critérios para
síndrome demencial. As alterações comportamentais do paciente
são notáveis. Mudanças bruscas de comportamento em um
paciente – notadamente os de idade mais avançada – podem
configurar uma síndrome comportamental secundária a algum
acometimento neurológico. A presença dos sinais de Grasping,
Snout e Palmomentoniano também sugerem sinais de Frontalização
associados ao quadro demencial.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da DFT e seu
diagnóstico no raciocínio neurológico.
b) Saber diferenciar um quadro de DFT de outros quadros
primariamente psiquiátricos.
c) Entender as diferentes manifestações clínicas da doença e as
diferenças em seu curso clínico.
d) Compreender a importância do suporte multidisciplinar ao
paciente e à família e/ou acompanhante, visto que a patologia
em questão gera muito sofrimento aos entes queridos do
indivíduo.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A DFT tem incidência equiparada à da DA em pacientes
abaixo de 64 anos; portanto, pode ser cogitada em quadros
cognitivos em pacientes jovens.
b) Diagnósticos psiquiátricos são sempre de exclusão. Deve-se
investigar perfil metabólico e cogitar causas neurológicas em
pacientes que, independentemente da idade, apresentem
queixas tipicamente psiquiátricas.
c) A doença pode se manifestar de diversas formas; portanto,
na prática clínica, o paciente pode apresentar sintomas de mais
de uma variante da doença.
d) A doença pode, também, se manifestar com sintomas
motores, principalmente afecções do trato corticoespinhal.
e) Déficits precoces da memória não são característicos da DFT.
REFERÊNCIAS
1. Bang J, Spina S, Miller BL. Frontotemporal dementia. Lancet. 2015; 386(10004): 1672–
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2. Olney NT, Spina S, Miller BL. Frontotemporal Dementia. Neurol Clin. 2017; 35(2): 339–
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3. Devenney, E. M., Ahmed, R. M., & Hodges, J. R. (2019).Frontotemporal dementia.
Handb Clin Neurol. 2019; 167: 279–99.
4. American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders. 5. ed. Washington DC: American Psychiatric Association; 2013.
5. Kojima G, Tatsuno BK, Inaba M, Velligas S, Masaki K, Liow KK. Creutzfeldt-Jakob
disease: a case report and differential diagnoses. Hawaii J Med Public Health. 2013;
72(4): 136-9.
Caso 3
Paranoia ou alucinação?
Autora: Alina Maria Núñez Pinheiro
Orientadores: Dr. Pedro Braga NETO e Dr. Helder Gomes de Moraes
Nobre
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente, sexo feminino, 86 anos, viúva,
aposentada, professora e com ensino superior completo, é
acompanhada na atenção primária por hipertensão arterial
sistêmica e episódio depressivo grave ocorrido aos 84 anos. Foi
encaminhada ao ambulatório de geriatria pelo médico da UBS
após necessidade de uso de 1mg de haloperidol para controle
de “alucinações visuais”. A paciente evoluiu, após uso da
medicação, com rigidez muscular importante, sendo necessário
buscar serviço de emergência, com resolução completa do
quadro muscular. A paciente vem acompanhada do filho, que
vive com ela, o qual informa que, apesar das queixas de humor
terem se iniciado há dois anos, a mãe já apresentou episódios
semelhantes em diversas ocasiões durante a vida, o que sugere
serem outros episódios depressivos, porém sem alucinações ou
sintomas maníacos associados. O filho informa também que,
antes desse episódio depressivo, a paciente morava só.
Entretanto, evoluiu com incapacidade de cozinhar e de gerir
seus gastos pessoais, o que a obrigaram a morar com o filho.
Além disso, o mesmo relata que, após um ano que a mãe veio
morar consigo, ela passou a falar que, em algumas ocasiões, via
o falecido marido andando pela casa ou sentado em sua cama.
Quando questionada durante a consulta, a paciente conta, de
forma natural, que também avista animais em seu quarto – uma
cobra sobre a cama, um cachorro correndo no quarto – com
frequência. O filho relata que muitas vezes a mãe está com a
atenção dispersa e sem interagir com o ambiente ao seu redor;
afirma que esses momentos de “ausência” da mãe são piores
no período noturno, porém atribui a desatenção ao “problema de
sono” que a paciente apresenta há vários anos (sono inquieto,
com episódios de gritos durante à noite). O acompanhante se
queixa também de que a paciente possuía o hábito de ir à igreja
sozinha durante a tarde, mas que ultimamente tem se perdido
no caminho, necessitando de uma companhia para fazer o
percurso que outrora fazia sem dificuldade. Além disso, há
aproximadamente um ano e meio, o filho se viu obrigado a
restringir o acesso da mãe ao automóvel da família, pois ela se
envolveu em diversos acidentes, sendo o último ainda dentro do
estacionamento de casa. O acompanhante relata, também, que
percebe que a mãe está cada vez mais lentificada em seus
movimentos e pensamentos, com piora da memória (p.ex., está
esquecendo acontecimentos recentes). A paciente não tem
história de trauma, quedas recentes, sintomas sistêmicos,
crises convulsivas ou AVC.
b) Exame físico geral: Paciente afebril, normocorada, eutrófica e
eupneica, FC: 68 bpm, pressão arterial: 144 x 82 mmHg.
Saturação de oxigênio: 98%. Ausculta cardíaca, pulmonar e
exame abdominal sem alterações. Ausência de sintomas
constitucionais.
c) Exame neuropsiquiátrico: Paciente vigil, orientada no tempo e
espaço, com hipomimia e instabilidade da marcha,
apresentando redução dos movimentos dos braços. Notou-se
uma bradicinesia bilateral moderada em membros superiores e
inferiores, leve rigidez em roda denteada em membros
superiores. Não foi observado tremor de repouso ou intencional.
Força muscular preservada globalmente, sem atrofias
musculares. Sem distúrbios de sensibilidade. Provas
cerebelares negativas.
• No MEEM, a paciente pontuou 18, perdendo pontos em
orientação de tempo e espaço, evocação de memória recente
e atenção. A paciente foi incapaz de reproduzir o desenho dos
pentágonos.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) O que nos leva a pensar que se trata de uma afecção
neurológica, não algo primariamente psiquiátrico?
c) Quais informações da história clínica apresentada são
fundamentais para considerar essa doença como principal
hipótese diagnóstica?
d) Que outros dados, não apresentados na história, poderiam
colaborar com a principal hipótese diagnóstica?
e) Quais importantes diagnósticos diferenciais devem ser
considerados?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Demencial/Síndrome Cognitiva: o principal ponto
para definir uma síndrome demencial é o impacto nas atividades
de vida diária (AVD), o que se mostra presente no caso
apresentado. Além disso, a paciente apresenta
comprometimento da função visuospacial, da atenção e da
memória. Adicionam-se a esses achados alterações
quantitativas e qualitativas no estado de consciência da
paciente, além de déficits da atenção (paciente alheia ao seu
redor), sugerindo a presença de uma síndrome cognitiva.
b) Síndrome Parkinsoniana: o quadro da paciente apresenta
sintomas parkinsonianos. A síndrome parkinsoniana tem como
sintoma cardinal a bradicinesia, podendo estar acompanhada de
rigidez, instabilidade postural e tremor. No exame neurológico,
constata-se a bradicinesia, redução da mímica facial, rigidez em
roda denteada e perda do balanço natural dos braços durante a
marcha, implicando em uma instabilidade postural, o que é
suficiente para encaixá-la nessa síndrome.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da DCL e seu
diagnóstico no raciocínio neurológico.
b) Saber quais sinais na história clínica do paciente sinalizam
para um parkinsonismo atípico.
c) Diferenciar um quadro primariamente neurológico de uma
afecção psiquiátrica de início tardio.
d) Conhecer os principais diagnósticos diferenciais dessa
entidade clínica.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Na presença de síndromes demenciais com acometimentos
motores, é importante cogitar o diagnóstico de DP ou
parkinsonismos atípicos.
b) A DCL não costuma se apresentar com comprometimento da
memória logo no início do curso da doença. Em vez disso, a
função visuoespacial e a atenção costumam ser as esferas
cognitivas mais afetadas.
c) A presença de alucinações visuais bem elaboradas, na
presença de uma síndrome demencial, sinaliza para uma
possível DCL.
d) Na suspeita de DCL, é importante ter cuidado ao prescrever
antipsicóticos e, havendo a necessidade do uso da medicação,
optar por medicações menos associadas a reações adversas
graves.
REFERÊNCIAS
1. Fujishiro H, Okuda M, Iwamoto K, Miyata S, Torii Y, Iritani S, et al. Early diagnosis of
Lewy body disease in patients with late-onset psychiatric disorders using clinical
history of rapid eye movement sleep behavior disorder and [123I]-
metaiodobenzylguanidine cardiac scintigraphy. Psychiatry Clin Neurosci. 2018; 72(6):
423–34.
2. O’Brien J, Taylor JP, Ballard C, Barker RA, Bradley C, Burns A, et al. Visual hallucinations
in neurological and ophthalmological disease: pathophysiology and management.
J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2020; 91: 512-9.
3. Mueller C, Ballard C, Corbett A, Aarsland D. The prognosis of dementia with Lewy
bodies. Lancet Neurol. 2017; 16(5): 390–8.
4. Jellinger KA. Dementia with Lewy bodies and Parkinson’s disease-dementia: current
concepts and controversies. J Neural Transm (Viena). 2017; 125(4): 615–50.
5. Fong TG, Inouye SK, Jones R. Delirium, Dementia, and Decline. JAMA Psychiatry. 2017;
74(3): 212-3.
6. Todd WD. Potential Pathways for Circadian Dysfunction and Sundowning-Related
Behavioral Aggression in Alzheimer’s Disease and Related Dementias. Front Neurosci.
2020; 14: 910.
Caso 4
Os 3 Ms
Autora: Alina Maria Núñez Pinheiro
Orientadores: Dr. Pedro Braga Neto e Dr. Helder Gomes de Moraes
Nobre
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente masculino, 69 anos, contador,
procedente de zona urbana, com boas condições
socioambientais, vem encaminhado da urologia devido a uma
urgência urinária com polaciúria de início há aproximadamente
03 meses, já tendo sido descartada a hipótese de causa
infecciosa, anatômica e prostática pela equipe da urologia.
Refere que, além dos problemas com a incontinência urinária,
tem sentido dificuldades para caminhar, de início há,
aproximadamente, 1 ano, o que resultou em 2 quedas nos
últimos 6 meses, sem grandes repercussões clínicas.
O acompanhante, que é filho do paciente e vive com ele, informa
que, nos últimos meses, o pai tem se mostrado esquecido em
relação ao seus compromissos, tem tido dificuldade para
“encontrar as palavras” e que esquece o nome de alguns
clientes de que antes se lembrava com facilidade; também está
confuso com datas e horários e que, por esses motivos, pediu
afastamento temporário do trabalho. Informa ainda que, em
alguns períodos do dia, o pai tem episódios de alienação para
os fenômenos que ocorrem ao seu redor e não consegue
administrar as próprias finanças. Além disso, vem com
progressiva alteração da marcha, em que muitas vezes “trava”,
ficando sem andar, como se estivesse preso ao chão. O
paciente é acompanhado em UBS próxima à sua residência por
hipertensão arterial e diabetes, ambas bem controladas com o
uso de metformina e losartana diariamente (sic). Nega
cefaleias, náuseas, vômitos, diplopia, síncopes, alucinações
visuais ou perda visual. Paciente nega também tabagismo e
etilismo e, em sua história patológica pregressa, não há: AVC,
crises convulsivas, cirurgias, transfusões sanguíenas ou
traumas recentes.
b) Exame físico geral: Bom estado geral, afebril, hidratado,
pressão arterial 142 x 86 mmHg, hidratado, normocorado e
eutrófico. Ausência de sintomas sistêmicos. Ausculta cardíaca e
pulmonar fisiológicas e exame abdominal sem alterações.
Frequência cardíaca de 83 bpm, constitucionais.
c) Exame neurológico: Paciente pontuou 23/30 no MEEM,
perdendo 4 pontos em cálculo, 2 pontos em memória imediata e
1 ponto em habilidade visuosconstrutiva. Não havia sinais de
liberação frontal. O exame motor não trouxe alterações de força
ou tônus em nenhum dos membros. Fundo de olho sem
papiledema. Os reflexos profundos estavam presentes, sem
reflexos patológicos. Não foram notados déficits de
sensibilidade. O exame da marcha, todavia, mostrou uma
marcha em pequenos passos, dificuldade em iniciar os
movimentos, caracterizando quadro de apraxia da marcha.
Paciente mostrou muita dificuldade em realizar rotações. Havia
instabilidade postural importante verificada ao impulsionar
levemente o paciente.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Esse paciente poderia apresentar melhora após realizar a
retirada de um pouco de líquor? Justifique.
c) Qual a importância de realizar um exame de imagem nesse
paciente?
d) Quais importantes diagnósticos diferenciais devem ser
considerados?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Cognitiva: o paciente se apresenta com algumas
dificuldades no MEEM, tais como memória recente e problemas
com cálculo, o que causa um certo estranhamento, conhecendo
a profissão exercida por ele. Configura-se, portanto, como uma
síndrome cognitiva.
b) Síndrome de Apraxia da Marcha: percebe-se, pela dificuldade
na marcha, que o paciente possui algum grau de apraxia na
marcha. A instabilidade postural somada às dificuldades de
realizar alguns movimentos caracteriza uma síndrome de
apraxia da marcha.
Fonte: Autora.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer a tríade clássica associada à HPN.
b) Aprender a importância de se organizar o raciocínio clínico,
podendo pensar o diagnóstico de forma sindrômica, topográfica
e etiológica, bem como os diagnósticos diferenciais possíveis
para, assim, solicitar exames de forma racional, evitando onerar
o serviço de saúde.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A tríade clássica aparece de forma insidiosa (três ou mais
meses), e apenas uma minoria dos casos apresenta os três
sintomas de maneira clássica.
b) Em pacientes com mais de 40 anos, com queixa de alteração
de marcha e/ou incontinência urinária, na ausência de outros
diagnósticos que expliquem os sintomas, considerar o
diagnóstico de HPN.
c) Se após a punção liquórica (Tap Test) o paciente apresentar
melhora de sintoma motor/cognitivo, há boas chances de ser
HPN, devido ao valor preditivo positivo do tap test ser alto.
REFERÊNCIAS
1. Espay AJ, Da Prat GA, Dwivedi AK, Rodriguez-Porcel F, Vaughan JE, Rosso M, et al.
Deconstructing normal pressure hydrocephalus: Ventriculomegaly as early sign of
neurodegeneration. Ann Neurol. 2017; 82(4): 503-13.
2. Engelborghs S, Niemantsverdriet E, Struyfs H, Blennow K, Brouns R, Comabella M, et
al. Consensus guidelines for lumbar puncture in patients with neurological diseases.
Alzheimers Dement (Amst). 2017; 8: 111-26.
3. Isaacs AM, Hamilton MG, Williams MA. Idiopathic Normal Pressure Hydrocephalus. In:
Limbrick Jr. D, Leonard J. (eds). Cerebrospinal Fluid Disorders. Switzerland: Springer,
Cham; 2019.
4. Stolze H, Kuhtz-Buschbeck JP, Drücke H, Jöhnk K, Illert M, Deuschl G. Comparative
analysis of the gait disorder of normal pressure hydrocephalus and Parkinson’s
disease. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2001; 70(3): 289-97.
5. Hebb AO, Cusimano MD. Idiopathic normal pressure hydrocephalus: a systematic
review of diagnosis and outcome. Neurosurgery. 2001; 49(5): 1166–86.
Caso 5
Fraqueza, Irritabilidade e
Agressividade
Autora: Danyela Martins Bezerra Soares
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente feminino, negra, 70 anos, com relato de
alteração da fala e dificuldade de controle emocional,
apresentando depressão e mudanças de humor. Familiares
relatam que a paciente vem apresentando dificuldade de
concentração e dificuldade de obedecer a comandos, estando
alheia ao que acontece ao seu redor, além de incontinência
urinária e fecal de instalação progressiva no último ano, com
acentuação dos sintomas na última semana.
b) Antecedentes pessoais: Relata dois episódios de Acidente
Vascular Cerebral Isquêmico há dois anos e Acidente Isquêmico
Transitório (AIT) há 3 meses. Diabética e hipertensa. Tabagista
há 50 anos, consumindo 1 maço/3 dias. Ex-etilista há 20 anos.
Possui dislipidemia.
c) Histórico familiar: Pai e dois irmãos diagnosticados com
Doença de Alzheimer.
d) Exame físico geral: Estado geral regular. Afebril, anictérica,
acianótica, eupneica, face atípica.
e) Exame neurológico: Desorientada no tempo e espaço.
Disartria espástica. MEEM: 22, perdendo pontos no domínio de
orientação, cálculos e atenção. Mímica facial prejudicada à
esquerda, sem demais alterações de nervos cranianos.
Apresenta hemiparesia à esquerda completa, sem alterações de
sensibilidade. Força grau 4 em MSD e MID, e força grau 1 em
MSE e MIE. Ausência de sinais meningorradiculares. Dismetria e
decomposição do movimento em membro superior esquerdo.
Marcha atáxica.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Que manifestação se apresenta como guia para o
diagnóstico?
c) Quais as complicações futuras que a paciente poderá
apresentar?
d) Quais orientações devem ser passadas aos familiares?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Cognitiva: Caracterizada pela desorientação no
tempo e espaço e pela labilidade emocional, apresentando
quadros depressivos e de mudança repentina do humor.
b) Síndrome de Neurônio Motor Superior: Caracterizada pela
hemiparesia esquerda completa
c) Síndrome Atáxica: Caracterizada pela presença de dismetria
com decomposição do movimento no membro superior
esquerdo e pela alteração na marcha, possuindo base alargada
e passos lentificados.
d) Síndrome Autonômica: Caracterizada pela presença de
déficit esfincteriano, evidenciada na queixa de incontinência
urinária e fecal.
3.2. Diagnóstico Topográfico
Encéfalo (córtico/subcortical) e cerebelo
As manifestações súbitas e abruptas de sinais piramidais,
hemiparesia e déficits neuropsicológicos evidenciam a presença de
acometimento das áreas corticais e subcorticais. Infarto cerebral
devido à oclusão das artérias responsáveis pela irrigação cerebral
também pode cursar com incontinência de esfíncteres, confusão e
desorientação espacial. Infartos lacunares nos gânglios da base, na
cápsula interna ou no tálamo causam o estado lacunar que é
caracterizado pela presença de prejuízo da memória, retardo
psicomotor, apatia, depressão e parkinsonismo. Mais detalhes
podem ser vistos no Quadro 1.
Há também lesão cerebelar à esquerda, uma vez que há
presença de dismetria e marcha atáxica. As alterações do
comportamento e cognitiva podem levar à topografia de várias
regiões corticais e subcorticais.
Quadro 1. Manifestações clínicas de acordo com a localização da
oclusão do vaso
Ramos que
Afasia, prejuízo de memória e atenção e perda
perfundem a área
motora e sensorial variáveis.
talâmica
Fonte: CRUZ, TAVARES2.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da Demência Vascular
e seu diagnóstico no raciocínio neurológico.
b) Identificar, através do exame físico, sinais de acometimento
neurológico que apontem para doenças degenerativas
vasculares.
c) Identificar os quadros demenciais e suas diferentes causas.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A demência vascular é mais comumente evidenciada em
quadros de demência mista (estando presentes tanto a
demência vascular quanto a demência de Alzheimer).
b) Existe a escala de Hachinski para avaliação da etiologia da
demência, sendo que uma pontuação maior ou igual a 7 é
consistente com demência vascular; entre 5 e 6 seria uma
demência com etiologia mista, e menor ou igual a 4, seria
compatível com demência de Alzheimer.4
REFERÊNCIAS
1. Kasper DL, Hauser SL, Jameson JL, Fauci AS, Longo DL, Loscalzo J. Harrison
Medicina Interna. 19. ed. Porto Alegre: MCGraw-Hill Brasil; 2016.
2. Cruz LCVB, Tavares A. Aspectos clínicos da demência vascular. Rev Méd Minas
Gerais. 2003; 13(2): 115.
3. Smid J, Nitrini R, Bahia VS, Caramelli P. Caracterização clínica da demência vascular:
avaliação retrospectiva de uma amostra de pacientes ambulatoriais. Arq Neuro-
Psiquiatr. 2001; 59(2B): 390-3.
4. Andre C. Demência vascular: dificuldades diagnósticas e tratamento. Arq. Neuro-
Psiquiatr. 1998; 56(3A): 498-510.
Capítulo 8
Síndrome Álgica
Autores: Franklin de Castro Alves Neto, Amanda Colaço Morais
Teixeira, Jorge Luiz de Brito de Souza, Milena Vieira Madeira,
Danyela Martins Bezerra Soares e Gabriel de Albuquerque
Vasconcelos
Orientadores: Pedro Braga Neto, Samuel Ranieri Oliveira Veras,
Ggilnard Caminha M. Aguiar e Paulo Reges O. Lima
Cabeça e Nuca
Autor: Franklin de Castro Alves Neto
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
2. PARA PENSAR
a) Quais síndromes neurológicas podem ser identificadas no caso?
b) Que local do sistema nervoso seria responsável pelo quadro clínico
acima caso fosse afetado?
c) Que nosologia condiz com o quadro apresentado?
d) Que etiologia é capaz de desencadear o cenário clínico em questão?
e) Quais sinais e sintomas apontam mais fortemente para o
diagnóstico?
f) Como tratar o paciente?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome de Irritação Meníngea: sinais de irritação meníngea
(Brudzinski, Kernig, Lasègue e rigidez de nuca) positivos;
b) Síndrome Álgica: cefaleia relatada pelo paciente.
Pressão de Normal/
abertura 5-20 Aumentada levemente Aumentada Aumentada
(cmH2O) aumentada
Purulenta,
Límpida ou Límpida ou
Aparência Límpida turva, Límpida
nebulosa nebulosa
nebulosa
Células Sem
Neutrófilos Linfócitos Linfócitos Linfócitos
predominantes predominância
Razão da
concentração Normal/levemente
50-60% Muito baixa Muito baixa Baixa
de glicose baixa
LCR/plasma
Glicose Normal/levemente
40-70 Muito baixa Muito baixa Baixa
(mg/dL) baixa
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Reconhecer os principais sinais e sintomas da meningite bacteriana
aguda.
b) Introduzir o raciocínio neurológico na prática clínica.
c) Ilustrar a utilidade dos exames complementares em neurologia.
d) Elencar os principais diagnósticos diferenciais do cenário em
questão.
e) Introduzir as principais formas de tratamento dos pacientes com
quadro semelhante ao mostrado.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Cefaleia aguda, holocraniana, juntamente com irradiação e rigidez
na nuca, são altamente sugestivas de meningite bacteriana aguda.4
b) Atentar para maior susceptibilidade com histórico recente de
viagens1 ou convívio em ambientes com muitas pessoas.1,2
c) Apenas 41% dos pacientes apresentam a tríade clássica de febre,
rigidez de nuca e alteração do estado mental.1 Portanto, a ausência de
um deles não exclui o diagnóstico de meningite.
d) Sinais de irritação meníngea nem sempre estão presentes e a sua
ausência não exclui o diagnóstico de meningite.2
e) Sempre investigar a presença de sinais que contraindiquem ou
atrasem a realização da PL para evitar maiores complicações.
Na ausência deles, realizar o procedimento o mais rápido possível.
f) Pleocitose com predomínio PMN e aspecto purulento ou turvo no
líquor são altamente indicativos de etiologia bacteriana, enquanto
outras etiologias possuem, principalmente, pleocitose com predomínio
linfocitário e aspecto turvo ou límpido.1
g) Suspeitar de infecção por Listeria monocytogenes em grupos como
idosos ou imunossuprimidos.
REFERÊNCIAS
1. Griffiths MJ, McGill F, Solomon T. Management of acute meningitis. Clin Med. 2018; 18(2): 164-
9.
2. Runde TJ, Anjum F, Hafner JW. Bacterial Meningitis. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island:
StatPearls Publishing; 2020.
3. Jane LA, Wray AA. Lumbar puncture. In: StarPearls [Internet]. Treasure Island: StatPearls
Publishing; 2020.
4. Avelino MA. Exame do Líquido Cefalorraquidiano. In: Neurologia para o clínico-geral. Barueri:
Manole; 2014. p. 55-58.
5. Campbell WW. Sinais Neurológicos Diversos. In: Campbell WW. DeJong, O Exame Neurológico.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. p. 517-20.
6. Olensen J, Bousser M, Diener H, Dodick D, First M, Goadsby PJ, et al. The International
Classification of Headache Disorders, 3. ed. Cephalalgia. 2018; 38(1): 1–211.
Caso 2
Cefaleia na madrugada
Autora: Amanda Colaço Morais Teixeira
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: mulher, 35 anos, procurou atendimento
neurológico com a queixa de que, nos últimos treze dias,
apresentou seis episódios de cefaleias muito intensas. Relatou
que o surgimento das cefaleias ocorria pela madrugada, quando
ainda estava finalizando papeladas do trabalho que trazia para
casa. O abajur que utilizava para concluir suas tarefas, segundo
ela, passava a incomodá-la intensamente, de maneira que,
quando as dores tinham início, ela se obrigava a interromper
suas atividades e ir para o quarto escuro tentar dormir, porém
sem sucesso. A paciente disse, também, que não foi a primeira
vez que experimentou esse tipo de dor, tendo vivenciado algo
bastante parecido há cerca de quinze anos, durante a época do
vestibular, mas que havia desaparecido após alguns dias.
Quando indagada sobre outras possíveis manifestações nos
recentes episódios, relatou que em dois deles, cerca de uma
hora antes da dor, começou a ver luzes estranhas no olho
direito, mas que sumiram com o surgimento da cefaleia.
Mencionou, ainda, que as dores eram unilaterais e pulsáteis,
com duração de cerca de oito horas, mas que, com o término da
cefaleia, sentia muita fadiga, tendo, por isso, faltado a vários
dias de trabalho.
b) Exame físico geral: frequência cardíaca de 87 bpm, pressão
sistólica de 120 mmHg e pressão diastólica de 80 mmHg.
Ausculta pulmonar normal e ausência de febre.
c) Exame neurológico: sem alterações.
2. PARA PENSAR
a) Quais os possíveis diagnósticos sindrômico, topográfico e
nosológico?
b) Quais sintomas precedem e acompanham as dores de
cabeça?
c) O que pode ter contribuído para o aparecimento das crises?
d) Há red flags para cefaleias secundárias?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Álgica: identificada pela presença das dores
relatadas, que, no caso, são unilaterais e pulsáteis.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer os critérios diagnósticos para a enxaqueca.
b) Compreender o conceito de aura.
c) Dominar os red flags para cefaleia secundária.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A enxaqueca tem duração de quatro a 72 horas, tem dor
unilateral e pulsátil agravada com atividades físicas e pode ser
acompanhada por sintomas premonitórios, aura, sobretudo
visual, e manifestações como náuseas, vômitos, fotofobia e
fonofobia.1,3
b) Os principais diagnósticos diferenciais para enxaqueca são a
cefaleia em salvas, cuja característica de inquietação é chave
para a diferenciação com a enxaqueca, e a cefaleia tensional,
cuja dor é bilateral, em aperto e sem piora com atividade
física.3,5
c) As red flags para cefaleias secundárias formam o mnemônico
SNOOP:4
REFERÊNCIAS
1. Speciali JG, Fleming NRP, Fortini I. Primary headaches: dysfunctional pains. Rev Dor.
2016; 17(1): 72-4.
2. Burstein R, Noseda R, Borsook D. Migraine: multiple processes, complex
pathophysiology. J Neurosci. 2015; 35(17): 6619-29.
3. Burch R. Migraine and Tension-Type Headache: Diagnosis and Treatment. Med Clin
North Am. 2019; 103(2): 215-33.
4. Tabatai RR, Swadron SP. Headache in the Emergency Department: Avoiding
Misdiagnosis of Dangerous Secondary Causes. Emerg Med Clin North Am. 2016;
34(4): 695-716.
5. Burish MJ, Rozen TD. Trigeminal Autonomic Cephalalgias. Neurol Clin. 2019; 37(4):
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6. Speciali JG, Kowacs F, Jurno ME, Bruscky IS, Carvalho JJF, Fantini FGMM, et al.
Protocolo Nacional para Diagnóstico e Manejo das Cefaleias nas Unidades de
Urgência do Brasil. Academia Brasileira de Neurologia – Departamento Científico de
Cefaleia Sociedade Brasileira de Cefaleia; 2018.
Caso 3
“Dor em Facadas”
Autor: Jorge Luiz de Brito de Souza
Orientador: Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente, homem, 42 anos, procurou atendimento
médico com Neurologista por queixas de “dor de cabeça” há 3
semanas. Estas se caracterizavam por serem em ‘’facadas’’,
com intensidade de 10/10 na escala de dor (pior dor que sentira
na vida), a qual se propagava pela região hemicraniana e frontal
direita. Sua duração média era de cerca de 90 minutos,
predominantemente à noite e de madrugada. Em associação à
dor, observou-se vermelhidão ocular, lacrimejamento e,
eventualmente, corrimento nasal e sudorese restritos ao lado
direito. Há relato de quadro semelhante há 3 anos com duração
de 4 semanas e que cessou espontaneamente. Não foram
percebidos fatores de melhora e o quadro tendia a piorar se o
indivíduo permanecesse imóvel. Durante as crises havia
extrema inquietação e, algumas vezes, foto e fonofobia estavam
presentes. Refere ainda uso de bebida alcoólica como
desencadeantes das crises. Por fim, o paciente revelou que as
dores muitas vezes atrapalhavam seus afazeres cotidianos, o
que interferia no seu bem-estar físico, financeiro e relacional.
Nega qualquer outra condição ou dor associada, assim como
nega história familiar semelhante.
b) Exame físico geral: Pressão arterial 120 x 80 mmHg em
ortostase. Com exceção da cefaleia, não há febre ou qualquer
outro sintoma constitucional. Sem sinal de trauma externo.
c) Exame neurológico: Pupilas isocóricas e fotorreagentes;
fundo de olho normal; força grau V global; reflexos normoativos
e simétricos. Provas cerebelares normais. Sem sinais de
irritação meníngea.
2. PARA PENSAR
a) Quais os diagnósticos sindrômico, topográfico, nosológico e
etiológico observados no caso?
b) O que é marcante dentre os sinais e sintomas observados?
c) Quais as principais nosologias a serem consideradas e/ou
excluídas do raciocínio?
d) Que importantes diagnósticos diferenciais devem ser
considerados?
e) Qual a relação entre a dor e a disfunção autonômica?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico:
a) Síndrome álgica: caracterizada pelas fortes dores
hemicranianas referidas pelo paciente.
b) Síndrome autonômica: caracterizada pela injeção conjuntival,
sudorese e/ou rinorreia (em alguns episódios), o que sugere
possíveis paroxismos parassimpáticos.
Pouco intensa
Forte ou de base, mas
Severidade Forte Moderada/Forte
Muito forte fortes
exacerbações
Tipos/ Cefaleia em Hemicrânia SUNCT/ Hemicrânia
Característica Salvas Paroxística SUNA Contínua
Constante > 3
Duração 15-180 min 2-30 min 1 – 600s
meses
Constante por
Ao menos 1/
Frequência 1-8 por dia > 5 por dia mais de 3
dia
meses
Disautonomia + + + +
Inquietação + + - +
Resposta à
- 100% - 100%
indometacina
Padrão
82% Raro Raro Raro
Cicardiano
Gatilho por
+ + - +
álcool
Gatilho por
+ + - Raro
nitroglicerina
Gatilho por
Movimentos - + + -
cervicais
Gatilho por
movimentos - - + -
cutâneos
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• a) Conhecer a forma de apresentação clínica característica
da Cefaleia em Salvas, assim como o raciocínio neurológico
que deve ser mantido.
5. DICAS PRÁTICAS
• a) A cefaleia em salvas geralmente é caracterizada como a
pior dor da vida de um indivíduo, estando diretamente
associada a um estado de forte inquietação por parte do
mesmo.
REFERÊNCIAS
1. Burish MJ, Rozen TD. Trigeminal Autonomic Cephalalgias. Neurol Clin. 2019; 37(4):
847-869.
2. Newman LC. Trigeminal Autonomic Cephalalgias. Continuum (Minneap Minn). 2015;
21(4 Headache): 1041-57.
3. Kasper DL. Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre: AMGH Editora; 2017.
4. Speciali JG, Kowacs F, Jurno ME, Bruscky IS, Carvalho JJF, Fantini FGMM, et al.
Protocolo nacional para diagnóstico e manejo das cefaleias nas Unidades de
Urgência do Brasil – 2018. São Paulo: Academia Brasileira de Neurologia –
Departamento Científico de Cefaleia. Sociedade Brasileira de Cefaleia; 2018.
5. Tabatabai RR, Swadron SP. Headache in the Emergency Department: Avoiding
Misdiagnosis of Dangerous Secondary Causes. Emerg Med Clin North Am. 2016;
34(4): 695-716.
Caso 4
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente feminino, 35 anos, previamente hígida,
refere quadro de cefaleia com frequência de 4 dias por semana
nos últimos 4 meses, interferindo nas atividades diárias, mas
sem interrompê-las, em aperto, bilateral e fronto-occipital. Não
se agrava com esforços físicos habituais nem com barulhos,
mas piora com estímulos luminosos. Relata também que as
cefaleias antes eram esporádicas e tornaram-se frequentes
gradualmente, chegando a ser praticamente diárias nos últimos
dois anos e agravando nos últimos meses. Não apresenta
náuseas nem vômitos nas crises. A paciente associa a piora
com o excesso de cobrança no trabalho. Toma analgésicos
combinados e anti-inflamatórios em todos os dias em que
apresenta as crises.
b) Exame físico geral: Pressão arterial 120 x 80 mmHg. Sem
sinais sistêmicos ou outro tipo de sintoma constitucional.
c) Exame neurológico: Funções corticais superiores sem
alterações. Sem alterações no exame dos nervos cranianos.
Reflexos normais, sem alteração na marcha e na sensibilidade.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico do caso descrito?
b) Qual síndrome é bastante característica para o diagnóstico
dessa entidade clínica?
c) Existem variantes clínicas desse diagnóstico?
d) Quais características do quadro são consideradas pontos-
chave para o diagnóstico?
3. Discussão
3.1 . Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Álgica: caracteriza-se pela presença de dores.
No caso da paciente, as dores são de intensidade moderada,
bilateral e em aperto, sendo recorrentes.
Número de
Pelo menos 5 Pelo menos 10
ataques
4-72h
30 min a
Duração (não tratado ou tratado sem
7 dias
sucesso)
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais características clínicas de uma
cefaleia tensional.
b) Ter em mente os achados da história clínica e do exame
físico que apontam para outros diagnósticos.
c) Conhecer os principais diagnósticos diferenciais relacionados
a essa condição.
d) Conhecer os subtipos de cefaleias tensionais de acordo com
a frequência e duração dos sintomas.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A cefaleia do tipo tensão é o tipo de cefaleia mais prevalente
em todo o mundo, especialmente a forma infrequente. Contudo,
a enxaqueca costuma ser o tipo de cefaleia que mais leva os
pacientes a procurar assistência médica devido ao seu caráter
mais incapacitante. Mesmo assim, a forma crônica da cefaleia
do tipo tensão costuma ser uma das principais causas de
procura a atendimento especializado de neurologia devido ao
grande prejuízo que ela causa à qualidade de vida dos
pacientes.
b) A cefaleia tensional é um tipo de cefaleia primária que não
possui sintomas associados subjacentes.
c) O diagnóstico é essencialmente clínico.
d) O tratamento é dividido em agudo e de prevenção.
e) Geralmente não há complicações em quadros de cefaleia
tensional, mas pode haver confusão no diagnóstico de acordo
com a sintomatologia semelhante de outro tipo de cefaleia
primária, e, nas formas crônicas, é comum a associação com
um tipo de cefaleia secundária: a cefaleia associada ao uso
excessivo de analgésico.
REFERÊNCIAS
1. Hale N, Paauw DS. Diagnosis and treatment of headache in the ambulatory care
setting: a review of classic presentations and new considerations in diagnosis and
management. Med Clin North Am. 2014; 98(3): 505-27.
2. da Cruz MC, da Cruz LC, da Cruz MCC, Camargo RP.. Cefaleia do tipo tensional: revisão
de literatura. Archives of Health Investigation, 6(2).
3. Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS). The
International Classification of Headache Disorders, 3. ed. Cephalalgia. 2018; 38(1): 1-
211.
Caso 5
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente feminino, 59 anos, negra, relata que
estava limpando sua casa há 15h quando sentiu uma cefaleia
súbita e explosiva, em aperto, em região frontal, tornando-se
rapidamente holocraniana, classificando-a como “a pior dor de
cabeça de sua vida”. Relata episódios de náuseas e vômitos
repetidos, negando perda de consciência ou déficit motor focal.
Nega febre ou outras queixas sistêmicas.
b) Antecedentes pessoais: Hipertensa. Tabagista de 20
maços/ano. Nega etilismo.
c) Exame neurológico: Paciente consciente e desorientada, com
14 pontos na escala de coma de Glasgow (Resposta ocular: 4,
Resposta verbal: 4, Resposta motora: 6), sem apresentar déficits
neurológicos focais, eufásica e eupráxica. Pupilas isocóricas e
fotorreagentes. Força muscular grau V global. Sensibilidade
preservada. Marcha não testada devido à suspeita de ruptura de
aneurisma. Apresenta rigidez de nuca com sinal de Kernig
presente.
2. PARA PENSAR
a) Qual seria o raciocínio diagnóstico (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) do caso descrito?
b) Qual população está mais sujeita a esse tipo de
acometimento?
c) Qual sua principal etiologia?
d) Quais exames complementares devem ser solicitados diante
da suspeita clínica dessa patologia?
e) Qual o manejo do paciente?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome álgica: Devido à presença de dor intensa que a
impossibilitou de deambular.
b) Síndrome Confusional Aguda: devido à desorientação da
paciente.
Fonte: Rouanet.2
Fonte: Rouanet.2
a) Exames complementares:
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer o diagnóstico e a abordagem terapêutica da HSA.
b) Lembrar que, quanto mais rápido o manejo clínico, melhor o
prognóstico.
c) Investigar e elucidar, através dos exames complementares, as
principais hipóteses diagnósticas.
d) Direcionar corretamente as perguntas da anamnese para a
queixa principal desses pacientes.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Exames de imagem como Tomografia Computadorizada,
Ressonância Magnética ou angiografia convencional podem ser
usadas como rastreio de aneurismas subjacentes.
b) Os principais fatores de risco para formação de aneurisma
são tabagismo, HAS e genética.
c) Paciente com queixa de cefaleia de início súbito, descrita
como “a pior da vida”, acompanhada ou não de déficits
neurológicos focais, merece ser submetido à TC de crânio sem
contraste.
d) A hipertensão intracraniana é uma complicação frequente,
podendo cursar de forma tardia com edema cerebral,
ressangramentos e hidrocefalia, que podem ser evitados através
de manobras como elevação da cabeceira da cama, sedação e
analgesia, ventilação normal e, em casos refratários, hipotermia,
derivação ventricular externa em casos de hidrocefalia em
pacientes graves e craniectomia descompressiva.4
REFERÊNCIAS
1. Kasper DL, Hauser SL, Jameson JL, Fauci AS, Longo DL, Loscalzo J. Harrison
Medicina Interna. 19. ed. Porto Alegre: MCGraw-Hill Brasil; 2016.
2. Rouanet C, Silva GS. Aneurysmal subarachnoid hemorrhage: current concepts and
updates. Arq Neuro-Psiquiatr. 2019; 77(11): 806-14.
3. Modi NJ, Agrawal M, Sinha VD. Post-traumatic subarachnoid hemorrhage: A review.
Neurol India. 2016; 64: 8.
4. Martins MA, Carrilho FJ, Alves VAF, Castilho EA, Cerri GG, Wen CL. Clínica Médica.
Volume 6 – USP. 2. ed. Barueri: Manole; 2015.
Caso 6
Dor Cervical
Autor: Gabriel de Albuquerque Vasconcelos
Orientador: Dr. Paulo Reges O. Lima
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Paciente masculino, 39 anos, chega ao
consultório com queixa de dor cervical direita, há 6 dias,
progressiva, em queimação, 8/10 na EVA, com irradiação para
ombro direito, que melhora à abdução dos braços e piora à
flexão do pescoço, associada a parestesias em MMSS direito
(região dorsal e central do braço, antebraço e mão). Nega
histórico de trauma, febre, sudorese noturna ou doença
reumática. Percebeu, também, fraqueza no braço direito, com
dificuldade para pentear os cabelos.
b) Exame físico geral: Fácies de dor. Sem outras alterações
dignas de nota.
c) Exame neurológico: Força 4/5 à extensão do antebraço
direito e à flexão do punho direito. Reflexo tricipital direito
ausente. Hipoestesia tátil e dolorosa na região correspondente
ao dermátomo C7. Teste de Spurling e teste de Hoffman
negativos.
2. PARA PENSAR
a) Quais os principais diagnósticos (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) observados?
b) Qual a chave do diagnóstico topográfico?
c) Quais as principais topografias acometidas pela mesma
etiologia do caso?
d) Quais exames devem ser solicitados para um paciente como
o do caso apresentado?
e) Quais os principais fenótipos clínicos das diferentes
manifestações da etiologia do caso?
f) Como deve ser o manejo de pacientes com esse diagnóstico?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Álgica: dor cervical com irradiação para o ombro.
b) Síndrome Sensitiva (superficial e profunda): hipoestesia
superficial (sensibilidade dolorosa) e profunda (tato epicrítico),
bem como parestesias no dermátomo C7.
c) Síndrome do Neurônio Motor Inferior: fraqueza da
musculatura relacionada ao miótomo de C7 (flexor radial do
carpo, flexor ulnar do carpo, palmar longo e tríceps), com reflexo
tricipital abolido.
• Tensão muscular 1
• Síndrome de Parsonage-Turner 1
• Tendinopatias do ombro 1
Fonte: Autor.
• Neuropatia diabética 2
• Herpes zóster 2
• Neurofibromatose 2
• Tensão muscular 3
• Osteófitos 3
• Espondilolistese 3
• Abscesso epidural 3
• Hematoma epidural 3
• Amiotrofia diabética 3
• Metástase 3
• Espondilite anquilosante 3
• Cisto sinovial 3
• Neurinoma 3
Fonte: Autor.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Saber reconhecer as principais síndromes apresentadas por
pacientes com hérnia discal.
b) Conhecer as topografias acometidas com maior frequência
por hérnias de disco.
c) Lembrar as principais técnicas que devem ser realizadas ao
exame físico de pacientes com história clínica de hérnia discal,
bem como os exames complementares a serem solicitados e os
diagnósticos diferenciais que precisam ser excluídos.
d) Saber manejar um paciente com hérnia discal.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Apesar da evolução benigna na maioria dos casos, é
necessário o acompanhamento do paciente após repouso e
sessões de fisioterapia, a fim de detectar possível complicação
ou necessidade de cirurgia.
b) Sempre descartar possíveis diagnósticos diferenciais de dor
cervical, torácica, abdominal ou lombar, possivelmente
causadas por hérnia de disco, a partir de anamnese (detalhar
bem as características da dor) e exame físico bem feitos,
associados à solicitação dos exames corretos.
c) A radiografia da região acometida pode fazer parte da
avaliação inicial, confirmando a hipótese de hérnia discal ou
sugerindo a solicitação de outros exames, como Tomografia
Computadorizada (TC) ou Ressonância Magnética (RM).1,3 A TC
é o exame mais sensível para alterações na coluna vertebral e a
RM, o mais sensível para degeneração e hérnia discal.1,3 Devem
ser solicitados em casos de dúvida diagnóstica.1,3 Exames
laboratoriais gerais, como marcadores inflamatórios (PCR e
VHS), podem sugerir alguma causa inflamatória relacionada.1,3 A
eletroneuromiografia pode sugerir possível causa de
radiculoneuropatia.1,3
d) Exames complementares devem ser solicitados apenas se
houver red flags que sugiram algum diagnóstico diferencial
possivelmente mais grave. Pode haver indicação de cirurgia se
houver sinal neurológico focal ou se a dor persistir mesmo
depois do período de repouso e imobilização.
e) Dor que piora com movimentação do tronco ou do pescoço
(mobilização da coluna vertebral) e/ou com manobras que
aumentem a pressão no espaço subaracnoideo, como tossir,
corrobora a hipótese diagnóstica de hérnia discal.
f) No exame da sensibilidade, é necessário seguir um sentido
(geralmente, craniocaudal), bem como sempre comparar a
simetria da sensibilidade entre os lados direito e esquerdo.
Importante ressaltar que não basta perguntar se o paciente
sente algo, mas perguntar se os estímulos dos dois lados são
iguais.
g) O padrão de acometimento dermatômico e miotômico
podem, em caso de dúvida, ser consultados em tabelas
acessíveis pelo smartphone, por exemplo. Contudo, é válido
memorizar o quadro clínico das principais raízes afetadas em
hérnias de disco lombares (L4-S1).
REFERÊNCIAS
1. Sharrak S, Al Khalili Y. Cervical Disc Herniation. In: StatPearls [Internet]. Treasure
Island: Stat Pearls Publishing; 2021.
2. Fogwe DT, Petrone B, Mesfin FB. Thoracic Discogenic Syndrome. In: StatPearls
[Internet]. Treasure Island: StatPearls Publishing; 2021.
3. Al Qaraghli MI, De Jesus O. Lumbar Disc Herniation. In: StatPearls [Internet]. Treasure
Island: StatPearls Publishing; 2021.
Capítulo 9
Caso 1. Os 3 Ds súbitos
Caso 2. “Fraqueza cruzada”
Caso 3. Face fora de controle
Caso 4. “Visão borrada”
Caso 5. A grande imitadora
Caso 6. Paroxismos de dor
Caso 7. Surdez progressiva
Caso 8. Dor de cabeça e ombro caído
Caso 9. Olhos paralisados
Caso 1
Os 3 Ds Súbitos
Autor: Jorge Luiz de Brito de Souza
Orientador: Dr. João Brainer Clares de Andrade
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
CLÍNICO
a) Anamnese: Mulher, 65 anos, tabagista desde os 15 anos de
idade, foi encaminhada para o Departamento de Emergência
com quadro súbito (início há menos de 2 horas) de vômito,
náusea e vertigem. Dentro do Departamento de Emergência,
teve piora do estado geral e evoluiu com perda de sensibilidade
térmica e dolorosa em membros inferiores e nos superiores à
esquerda, perda de sensibilidade térmica e dolorosa em
hemiface direita e incoordenação do hemicorpo direito. Havia
uma evidente dificuldade em engolir líquidos e a úvula se
encontrava desviada para a esquerda, com reflexo nauseoso
reduzido. Não articulava bem a fala. Familiares negaram uso de
ilícitos ou quaisquer medicamentos.
b) Exame Físico Geral: Pressão arterial 180 x 90 mmHg. Exame
cardiovascular, respiratório e abdominal normais. Sem sinal de
trauma externo. A frequência cardíaca era de 68 bpm.
A temperatura axilar era de 36,5°C.
c) Exame Neurológico: Conteúdo e nível de consciência
preservados.
2. PARA PENSAR
a) Quais são os diagnósticos (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) possíveis?
b) Quais são os principais Nervos Cranianos e Núcleos
possivelmente afetados?
c) Como se constrói o raciocínio topográfico a partir dos déficits
cruzados e não cruzados?
d) Qual é a conduta em relação a este tipo de caso?
e) Existe alguma relevância no não comprometimento motor?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Sensitiva: Hipoestesia de Hemicorpo esquerdo.
b) Síndrome Cerebelar: Evidenciada pela Dismetria dos testes
de coordenação e pela tendência à queda unilateralmente.
c) Síndrome de Nervos Cranianos: Disfagia, Disartria e Sinal da
Cortina à esquerda. Hipoestesia Térmica e Dolorosa da face à
direita. Reflexo nauseoso diminuído.
d) Síndrome de Horner: Ptose, Miose e Anidrose à direita.
4. OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações da Síndrome Bulbar
Lateral (de Wallenberg), assim como o processo de raciocínio
neurológico a ela relacionada.
b) Reconhecer os principais núcleos e vias associadas às
manifestações sindrômicas, a fim de topografar corretamente o
local afetado.
c) Compreender que, apesar de uma grande parte do
diagnóstico poder ser feita clinicamente, ele é bastante
corroborado com achados dos exames complementares,
principalmente os advindos do exame de imagem.
d) Conhecer os principais diagnósticos diferenciais da Síndrome
Bulbar Lateral (de Wallenberg) e diferenciá-la das outras
síndromes bulbares.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A Síndrome Bulbar Lateral é uma condição de Nosologia
Vascular, cujo tempo de início dos sintomas é um dos primeiros
fatores a serem destacados.
b) Apesar da rica sintomatologia, é sempre importante demarcar
a hipoestesia cruzada (citada no texto) conjuntamente ao que
aqui denominamos 3Ds (Disartria, Disfagia e Disfonia), que
podem levar à suspeita da lesão dos núcleos bulbares já
comentados e apontar para a possibilidade desta síndrome.
c) A tomografia de crânio é pouco sensível, sendo a IRM mais
útil para identificar essa condição, embora ela não deva se
sobrepor ao diagnóstico clínico.
d) A Síndrome de Horner, a Hipoestesia da Hemiface e a Ataxia
são IPSILATERAIS à lesão. Se presente em uma condição mais
rara, a hemiplegia também é ipsilateral (Síndrome de Opalski).
e) O manejo do caso deve ser feito o mais rápido possível,
assim como o raciocínio clínico, a fim de que a janela de uso de
trombolítico ainda seja viável; além disso, quanto mais rápida a
intervenção, melhor pode ser o prognóstico.
REFERÊNCIAS
1. Silva SP, Christoph DH, Bogousslavsky J, Freitas RG. Síndromes Vasculares
Isquêmicas In: Neto B, Pereira J, Takayanaguy OM. Tratado de neurologia da
Academia Brasileira de Neurologia. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013. p. 383.
2. Lui F, Tadi P, Anilkumar AC. Wallenberg Syndrome. In: StatPearls. Treasure Island (FL):
StatPearls Publishing; 2020 Jan.
3. Machado ABM. Neuroanatomia Funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
4. Campbell WW, Dejong R. DeJong, O Exame Neurológico. 7. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2014.
5. Saleem F, M Das J. Lateral Medullary Syndrome. In: StatPearls. Treasure Island (FL):
StatPearls Publishing; 2020 Jan.
6. Sciacca S, Lynch J, Davagnanam I, Barker R. Midbrain, Pons, and Medulla: Anatomy
and Syndromes. Radiographics. 2019; 39(4): 1110-25.
Caso 2
“Fraqueza Cruzada”
Autor: Franklin de Castro Alves Neto
Orientador: Dr. João Brainer Clares de Andrade
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
CLÍNICO
a) Anamnese: Mulher, 45 anos, advogada, casada, deu entrada
no pronto-socorro com queixa de “desvio para dentro e
afundamento do olho esquerdo”, além de dificuldade na
movimentação da face à esquerda, com fraqueza no lado direito
do corpo e dificuldade de audição no ouvido esquerdo.
Os sintomas tiveram início repentino há cerca de duas horas.
Relata história pregressa de hipertensão arterial sistêmica e
dislipidemia.
b) Exame Físico Geral: Pressão arterial de 130 x 96 mmHg,
eupneica e frequência cardíaca de 100 bpm. Não tinha febre ou
outras alterações sistêmicas.
c) Exame Neurológico:
2. PARA PENSAR
a) Quais síndromes neurológicas podem ser identificadas no
caso?
b) Que local do sistema nervoso seria responsável pelo quadro
clínico caso fosse lesado?
c) Qual nosologia é mais provável?
d) Quais as etiologias possíveis?
e) Quais sinais e sintomas sugerem a principal hipótese?
f) Como manejar a paciente?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome de Nervos Cranianos: Hipoestesia térmica e
dolorosa em hemiface esquerda (NC V), paralisia do olhar
conjugado horizontal à esquerda e esotropia do olho esquerdo
(NC VI), paralisia facial periférica à esquerda (NC VII) e déficit
neurossensorial no ouvido esquerdo (NC VIII).
b) Síndrome Autonômica: Miose com semiptose em olho
esquerdo, além de anidrose na hemiface esquerda (Síndrome de
Horner).
c) Síndrome do Neurônio Motor Superior: Hiper-reflexia
unilateral à direita.
d) Síndrome Sensitiva (Superficial e Profunda): Déficits das
sensibilidades térmica e dolorosa (superficial) na hemiface
esquerda e das sensibilidades vibratória e proprioceptiva
(profunda) no hemicorpo direito.
e) Síndrome Cerebelar: Disdiadococinesia e outras provas
cerebelares alteradas em hemicorpo esquerdo.
NC I e NC II: córtex
cerebral
NC I – NC IV 4
NC III e NC IV:
mesencéfalo
NC V – NC VIII Ponte 4
NC IX – NC XII Bulbo 4
Fonte: Autor.
Há envolvimento dos nervos cranianos V, VI, VII e VIII. Entretanto,
resta dúvida sobre se as lesões seriam nas suas porções periféricas
ou centrais (núcleos). A paralisia do olhar conjugado horizontal à
esquerda associada à esotropia no mesmo lado sugere lesão para o
núcleo abducente esquerdo, pois essa estrutura é necessária tanto
para o tônus do músculo reto lateral quanto para a manutenção do
olhar conjugado horizontal à esquerda. Além disso, o caráter
periférico da paralisia facial esquerda, o déficit neurossensorial da
audição no ouvido esquerdo e a hipoestesia térmica e dolorosa na
hemiface esquerda concomitantes sugerem a proximidade entre
todos esses nervos no local afetado. Assim, considerando as
divergências presentes nos caminhos tomados por cada nervo
craniano ao sair do tronco encefálico, percebe-se que a lesão está
localizada nos núcleos desses nervos.
Ademais, os tratos córtico-ponto-cerebelar e corticoespinal,
assim como o lemnisco medial, os quais possuem fibras que
transitam na ponte, são lesados nesse caso, causando,
respectivamente, as síndromes cerebelar, piramidal e sensitiva.
O caráter cruzado da segunda e da última se deve à decussação das
pirâmides e ao desvio contralateral do lemnisco medial presentes
apenas no bulbo, indicando que a topografia da lesão deve estar
acima dele no tronco encefálico. Ademais, é cabível destacar a
síndrome de Horner (autonômica) advinda da lesão das fibras
simpáticas descendentes, que também transitam na ponte,
causando a tríade clássica de ptose, miose e anidrose ipsilaterais.
Portanto, com o envolvimento desses nervos cranianos, as
lesões de vias ascendentes e descendentes, assim como o caráter
cruzado das síndromes motora e sensitiva em um hemicorpo, a
lesão está na porção inferomedial esquerda da ponte.
Figura 1. Anatomia da ponte.
FLM: fascículo longitudinal medial. NC: nervo craniano.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Reconhecer os principais sinais e sintomas da síndrome de
Foville.
b) Introduzir o raciocínio neurológico na prática clínica.
c) Exemplificar e ilustrar o uso de exames complementares em
Neurologia.
d) Considerar os principais diagnósticos diferenciais do quadro
em questão.
e) Conhecer as formas de tratamento para os pacientes com
cenário clínico semelhante ao mostrado.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Sempre buscar, no diagnóstico topográfico, apesar de ser um
quadro clínico bastante diverso, um local de maior proximidade
entre todas as estruturas possivelmente afetadas.
b) Atentar para fatores de risco cardiovasculares.
c) Síndromes de nervos cranianos contralaterais a síndromes
motoras e/ou sensitivas profundas em um hemicorpo indicam
topografia de tronco cerebral pelos cruzamentos do trato
piramidal e do lemnisco medial no bulbo, o que não ocorre em
grande parte dos nervos cranianos.
REFERÊNCIAS
1. Khazaal O, Marquez DL, Naqvi IA. Foville Syndrome. In: StatPearls. Treasure Island:
StatPearls Publishing; 2020 Aug.
Caso 3
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: homem, 42 anos, procurou atendimento
neurológico com queixa de dificuldade de movimentação facial
há três dias no lado direito do rosto. Segundo ele, o início do
quadro se deu repentinamente, atingindo seu pico no terceiro
dia. Além da dificuldade de fechar os olhos e movimentar a
boca, relatou, ainda, grande incômodo com sons antes inócuos,
alterações de paladar e dores ao redor da orelha. O paciente
negou histórico de trauma ou de síndromes genéticas.
b) Exame físico geral: frequência cardíaca de 90 bpm, pressão
120 x 80 mmHg. Ausculta pulmonar normal. Sem febre.
Otoscopia normal.
c) Exame neurológico: hipotonia bastante visível. Presença de
ptose. Sobrancelha e boca desviadas para baixo no repouso e
dificuldade em movimentá-las. Fechamento incompleto do olho,
com desvio ocular superior durante a tentativa. Constatação de
ressecamento ocular. Todas essas manifestações estavam
presentes apenas no lado direito.
2. PARA PENSAR
a) Quais os possíveis diagnósticos sindrômico, topográfico e
nosológico para o quadro em questão?
b) Como se deu o desenvolvimento do quadro?
c) Que partes da face foram acometidas?
d) Quais achados do exame neurológico são de especial
importância?
e) É necessária a realização de exame de imagem?
f) Qual o possível diagnóstico etiológico e seus diagnósticos
diferenciais?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Álgica: caracterizada pela manifestação de dores,
presentes ao redor da orelha no caso apresentado.
b) Síndrome de Nervos Cranianos: marcada por alterações em
funções especificamente atribuídas, neste caso, ao VII nervo
craniano (nervo facial), com paralisia dos músculos da mímica
facial, hiperacusia e hipogeusia.
Síndrome de Bell
A Síndrome de Bell é a paralisia facial mais comum por
acometimento de neurônio motor inferior e ocorre por lesão na parte
motora do nervo facial (NC VII). Ela se manifesta de maneira aguda
e unilateral, atingindo seu pico cerca de 72 horas após o início dos
sintomas. Tem incidência aproximada de 11,5 a 40,2 por 100.000
pessoas, sendo semelhante entre homens e mulheres e entre os
lados direito e esquerdo da face. O aparecimento mais típico no
público feminino ocorre abaixo dos 20 anos e no público masculino,
acima de 40 anos, sendo a faixa etária de maior incidência aquela
compreendida entre os 15 e os 45 anos.2
A raiz sensitiva (nervo intermédio) termina no núcleo do trato
solitário e no núcleo espinal do trigêmeo, enquanto as fibras
motoras (nervo facial propriamente dito) emergem do núcleo facial
no ângulo cerebelopontino. Após emergir, o NCVII entra no meato
acústico interno, onde é acompanhado pelo nervo vestibulococlear,
ou seja, o NCVIII. Dentro do osso temporal, o nervo facial dá origem
aos três primeiros ramos, o nervo petroso maior, que envia fibras
secretomotoras para a glândula lacrimal, o nervo para o músculo
estapédio e o nervo corda do tímpano, que inerva os ⅔ anteriores da
língua e as glândulas submandibular e sublingual. Depois, atravessa
o forame estilomastoideo, tornando-se extratemporal, dando origem
ao nervo auricular posterior e a fibras para os ventres posteriores
dos músculos digástrico e estilo-hioideo. Em seguida, passa através
da glândula parótida (sem inervá-la), onde se divide em ramos
frontozigomático e cervicofacial, os quais, subsequentemente,
originam os ramos frontal, zigomático, bucal, mandibular marginal e
cervical em direção aos músculos da expressão facial.2,3
Acredita-se que a etiologia da Paralisia de Bell seja decorrente da
ativação do vírus do herpes simples (HSV-1) que fica alojado nos
gânglios de nervos periféricos, como no gânglio geniculado do nervo
facial, provocando inflamação, edema, compressão e até
degeneração.2 Ademais, suspeita-se que mecanismos imunes e
isquêmicos possam contribuir para o desenvolvimento da patologia,
além de serem considerados fatores de risco a gestação, a pré-
eclâmpsia severa, a diabetes, a hipertensão, a obesidade e as
infecções do trato respiratório superior. Porém, apesar das
hipóteses, ainda não há uma etiologia clara e definida, de maneira
que a Paralisia de Bell é considerada idiopática.1,2
Por acometer o nervo facial, essa patologia tem como sintoma
predominante a dificuldade na motricidade facial, sendo
característicos os sinais de ptose, incompleto fechamento do olho e
ressecamento da córnea, epífora e queda da sobrancelha e do lábio
(com dificuldade para erguer o supercílio e para discursar e
mastigar). Vale destacar a existência do chamado “fenômeno de
Bell”, presente em 75% dos pacientes, em que se observa a rotação
superior do globo ocular na tentativa ineficaz de fechamento dos
olhos. Para determinação do grau de paralisia do paciente, são
utilizadas várias escalas, principalmente a escala de House-
Brackmann (HB).2
O tratamento de pacientes com Paralisia de Bell é feito com
corticosteroides, como a prednisona, com o objetivo de reduzir a
inflamação e o edema e facilitar a recuperação funcional do nervo.
O uso combinado desse tipo de medicamento com antivirais não
tem comprovação de eficácia e não costuma ser recomendado, a
menos que o paciente tenha valores mais elevados na escala de HB.
A cirurgia de descompressão não constitui a primeira linha de
tratamento, por seu custo, riscos e falta de evidências de eficiência e
benefício. Vale ressaltar que 85% dos pacientes apresenta alguma
recuperação após três semanas, enquanto 15%, após três a cinco
meses, havendo recuperação completa em 70% do total. É de
fundamental importância, ainda, saber que, após a recuperação,
uma parte dos pacientes apresenta a chamada sincinesia, isto é, a
movimentação involuntária de um grupo de músculos concomitante
à movimentação voluntária de um outro grupo de músculos. Por
exemplo, ao dar risada, o indivíduo pode involuntariamente fechar os
olhos. Ainda não se tem certeza da causa para esse fenômeno, mas
acredita-se que se deva a uma regeneração equivocada do nervo
lesionado. A sincinesia é tratada com fisioterapia, biofeedback e
injeções de toxina botulínica, por exemplo.2
Alguns sinais são red flags para uma investigação mais
aprofundada frente à suspeita de Paralisia de Bell e para a
realização de exames de imagem, com o objetivo de eliminar
possíveis diagnósticos diferenciais. São eles: flutuação ou
progressão lenta no desenvolvimento do quadro e manifestação
bilateral, recorrente ou prolongada (manifestação essa que pode ser
indicativa de neoplasia, por exemplo). Alguns diagnósticos
importantes para exclusão são: a Síndrome de Ramsay-Hunt,
geralmente associada a um quadro mais severo com dor facial
significativa; surgimento de vesículas auriculares e bucais e
histórico de catapora (reativação do vírus varicela-zóster);1 a
Síndrome de Guillain-Barré, paralisia flácida aguda que costuma
ocorrer com sintomas de sensibilidade e fraqueza que progridem
das pernas aos braços e músculos do crânio, os quais geralmente
atingem seu auge dentro de um período de duas semanas e ocorrem
devido a uma resposta aberrante a uma infecção, junto a alterações
como aumento de proteínas, e não de células, no líquido
cerebrospinal; Síndrome de Miller-Fisher, uma variante da Síndrome
de Guillain-Barré, caracterizada por oftalmoplegia, ataxia e
arreflexia;4 Doença de Lyme, a qual é causada por uma bactéria
transmitida por picada de carrapato e que tem como sintoma inicial
um eritema vermelho de cinco a quarenta centímetros de diâmetro e
como sintomas mais avançados a disseminação bacteriana para
outros sistemas, com o aparecimento, por exemplo, de sintomas
neurológicos como a paralisia facial;5 a sarcoidose, doença
granulomatosa que acomete vários órgãos, incluindo os do SNC,
onde pode gerar apresentações clínicas como a febre
uveoparotídea, caracterizada por uveíte, inchaço da parótida, febre e
paralisia facial; e a neuropatia craniana, que costuma afetar o nervo
facial e o nervo óptico.6 Além disso, a paralisia identificada em um
paciente pode decorrer de um trauma ou de uma mutação genética
congênita, por exemplo.1
a) Tratamento e desfecho: foi prescrito prednisona 60 mg (1
mg/kg), com melhora parcial durante a consulta de retorno 3
semanas depois, além de realização de fisioterapia e
biofeedback. Não houve total recuperação dos movimentos,
havendo manifestação de sincinesia.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Dominar a anatomia e as funções do nervo facial.
b) Ser capaz de identificar os sintomas característicos da
Paralisia de Bell.
c) Conhecer os fatores de risco para a Paralisia de Bell.
d) Diferenciar paralisia por lesão periférica e por lesão central.
e) Conhecer as red flags e os possíveis diagnósticos
diferenciais.
5. DICAS PRÁTICAS
a) O nervo facial possui uma pequena raiz sensitiva, formando o
chamado nervo intermédio, e uma grande raiz motora. Ele
emerge no ângulo cerebelopontino e atravessa o meato
acústico interno, o canal facial, o forame estilomastoideo e a
glândula parótida (que serve apenas como passagem, não
como alvo). Tem como funções a motricidade dos músculos da
expressão facial, a regulação auditiva, a sensibilidade somática
da orelha externa e a sensibilidade especial nos ⅔ anteriores da
língua.2,3
b) Os sintomas da Paralisia de Bell, que é idiopática, são
repentinos e se desenvolvem em um período de 72h, sendo
característicos: o acometimento hemifacial unilateral, ptose,
queda da sobrancelha e da boca, ressecamento ocular, epífora e
fenômeno de Bell (rotação superior ocular durante tentativa de
fechamento palpebral).2
c) Os fatores de risco para Paralisia de Bell são gravidez, pré-
eclâmpsia severa, obesidade, hipertensão, diabetes e infecções
do trato respiratório superior.2
d) A paralisia facial por causa periférica se manifesta em toda
uma hemiface, enquanto a paralisia por causa central não
acomete a fronte.1
e) As red flags para maior investigação são desenvolvimento
lento da patologia e manifestação recorrente, prolongada ou
flutuante. Os diagnósticos diferenciais podem ser do tipo
congênito, como doenças genéticas, ou adquiridos, como
trauma, neoplasia, inflamação ou infecção.1
REFERÊNCIAS
1. Eviston TJ, Croxson GR, Kennedy PG, Hadlock T, Krishnan AV. Bell’s palsy: aetiology,
clinical features and multidisciplinary care. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2015;
86(12): 1356-61.
2. Vakharia K, Vakharia K. Bell’s Palsy. Facial Plast Surg Clin North Am. 2016; 24(1): 1-10.
3. Moore KL, Dalley AF, Agur AMR. Anatomia Orientada para a Clínica. 7. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2014. Parte 9, Resumo dos Nervos Cranianos.
4. Leonhard SE, Mandarakas MR, Gondim FAA, Bateman K, Ferreira MLB, Cornblath DR, et
al. Diagnosis and management of Guillain-Barré syndrome in ten steps. Nat Rev
Neurol. 2019; 15(11): 671-83.
5. Sanchez JL. Clinical Manifestations and Treatment of Lyme Disease. Clin Lab Med.
2015; 35(4): 765-78.
6. Ibitoye RT, Wilkins A, Scolding NJ. Neurosarcoidosis: a clinical approach to diagnosis
and management. J Neuro. 2017; 264(5): 1023-8.
Caso 4
“Visão Borrada”
Autor: Fábio Rolim Guimarães
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
CLÍNICO
a) Anamnese: Mulher, 33 anos, previamente hígida, procura
serviço de neurologia devido à “visão embaçada e dor atrás do
olho esquerdo” há uma semana. Paciente relata perda
progressiva da acuidade visual na última semana,
acompanhada de dor retro-orbital. Além disso, afirma que a dor
piora com a movimentação ocular e que está com dificuldade
de diferenciar as cores, especialmente a cor vermelha. Nega
histórico de trauma, intoxicação, infecções, febre e mal-estar.
Nega história familiar semelhante.
b) Exame físico geral: Pressão arterial 130 x 80 mmHg em
decúbito. Ausência de febre e de outros sintomas
constitucionais. Inspeção ocular normal.
c) Exame neurológico: Acuidade visual de OD normal e de OE
20/80. Campo visual do olho esquerdo encontra-se reduzido
difusamente. Oftalmoscopia direta: normal. Presença de defeito
pupilar aferente relativo à esquerda com sinal de Marcus-Gunn.
2. PARA PENSAR
a) Qual a topografia da lesão? Como a presença de defeito
pupilar aferente relativo ajuda a topografar a lesão?
b) Quais os diagnósticos nosológico e etiológico?
c) Quais os diagnósticos diferenciais para o caso? Quando
suspeitar deles?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome de Nervos Cranianos: Evidenciada pela diminuição
da acuidade visual e pelo defeito pupilar aferente relativo (pupila
de Marcus-Gunn). A pupila de Marcus-Gunn é pesquisada pelo
teste da luz alternante. Neste teste, o examinador inicialmente
realiza um estímulo luminoso com a lanterna em um olho e
avalia a resposta pupilar. Em seguida, depois de esperados 3 a 5
segundos para a estabilização pupilar, o examinador
rapidamente direciona o foco da lanterna ao outro olho,
podendo, assim, avaliar o reflexo pupilar por comparação. Pode-
se repetir esse movimento para uma melhor comparação.
Quando o estímulo luminoso incide sobre o olho normal, as
pupilas de ambos os olhos contraem rapidamente por reflexo
fotomotor direto e consensual. Em pacientes com pupila de
Marcus-Gunn, quando o estímulo luminoso é incidido no lado
afetado, ocorre uma leve dilatação da pupila dos dois olhos.
A pupila de Marcus-Gunn sugere um déficit na parte aferente do
reflexo fotomotor, sendo classicamente associado a lesões do
nervo óptico (NC II); porém, o acometimento da retina e de
outras estruturas oculares envolvidas na recepção do estímulo
luminoso também pode manifestar tal sinal.1
b) Síndrome álgica: Demonstrada pela dor retro-orbital à
esquerda.
Unilateral Bilateral
Progressão de semanas a
Progressão de poucos dias a semanas
meses
Neurite óptica típica Neurite óptica atípica
Atraso ou ausência de
Melhora dos sintomas após um mês
melhora
Fonte: Abel.5
Defeito de campo
Variável Tipicamente altitudinal
visual
Fonte: Campbell.1
a) Exames complementares:
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Reconhecer achados clínicos típicos de uma neurite óptica.
b) Identificar sinais de alerta para hipóteses diagnósticas
diferentes de neurite óptica idiopática.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A neurite óptica é mais comum em mulheres adultas. Neurite
óptica em homens e em maiores de 52 anos ou menores de 18
anos são apresentações atípicas da doença.
b) O diagnóstico de neurite óptica idiopática é um diagnóstico
clínico e de exclusão.
c) Em até 10% dos casos diagnosticados com neurite óptica
idiopática, o diagnóstico é errado. Ressalte-se a importância de
uma maior atenção para casos com características atípicas.
d) O prognóstico de neurite óptica idiopática é geralmente bom,
independentemente do tratamento. O tratamento com
metilprednisolona EV seguida de prednisona oral mostrou uma
maior rapidez de recuperação da acuidade visual, mas uma
melhora visual após 6 meses não foi comprovada.
REFERÊNCIAS
1. Campbell W. O exame neurológico. 7. ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
2. Bennett J. Optic Neuritis. Continuum (Minneap Minn). 2019; 25(5): 1236-64.
3. Thompson A, Banwell B, Barkhof F, Carroll W, Coetzee T, Comi G, et al. Diagnosis of
multiple sclerosis: 2017 revisions of the McDonald criteria. Lancet Neurol. 2018;
17(2): 162-73.
4. Weerasinghe D, Lueck C. Mimics and chameleons of optic neuritis. Pract Neurol. 2016;
16(2): 96-110.
5. Abel A, McClelland C, Lee M. Critical review: Typical and atypical optic neuritis. Surv
Ophthalmol. 2019; 64(6): 770-9.
Caso 5
A grande imitadora
Autor: Rodrigo Montenegro Barreira
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
CLÍNICO
a) Anamnese: Homem, 41 anos, HIV+ diagnosticado há 3 anos,
em uso de tenofovir, lamivudina e dolutegravir (esquema TDF +
3TC + DTG), com carga viral indetectável e último CD4+ de
825/mm³, buscou atendimento em uma emergência neurológica
com queixa de cefaleia, fotofobia, turvação visual,
formigamento em hemiface esquerda e leve fraqueza no lado
esquerdo do corpo há uma semana. O paciente relatou que não
recorda o momento exato em que os sintomas iniciaram,
percebendo-os à medida que realizava suas atividades diárias.
A cefaleia era holocraniana associada com fotofobia e aliviava
com analgésicos. Quando questionado, revelou que há 7 meses
percebeu o surgimento de pequenas lesões cutâneas
eritematopapulares nas palmas das mãos e nas solas dos pés,
que foram tratadas como alergia e regrediram em menos de um
mês. Paciente negou febre, náuseas, vômitos e episódios
anteriores semelhantes.
b) Exame físico geral: Pressão arterial 120 x 70 mmHg, FC = 82
bpm, FR = 19 irpm. Temperatura axilar 37,2°C.
Micropoliadenopatia generalizada. Ausência de lesões de pele e
de mucosas oral e genital. Presença de rigidez cervical ao
exame.
c) Exame neurológico: Vigil, orientado em tempo e espaço.
Acuidade visual 20/100 olho esquerdo (OE) e 20/20 olho direito
(OD). Campos visuais sem alterações. Fundoscopia revelou
edema de papila em OE. OD sem alterações. Defeito pupilar
aferente relativo à esquerda. Movimentação ocular extrínseca
preservada. Hipoestesia tátil, térmica e álgica à esquerda, nos
territórios dos ramos trigeminais maxilar e mandibular. Paralisia
facial periférica à esquerda. Demais nervos cranianos sem
alterações. Sensibilidade preservada. Força grau 4 – em
membro superior esquerdo (MSE) e membro inferior esquerdo
(MIE), força grau 5 à direita. Reflexos tendinosos profundos
vivos à esquerda e normais à direita. Reflexo cutâneo-plantar
extensor (sinal de Babinski) à esquerda. Provas cerebelares e
marcha sem alterações.
2. PARA PENSAR
a) Quais síndromes neurológicas estão envolvidas no caso
apresentado?
b) Qual a possível topografia para os achados descritos nos
exames físico e neurológico?
c) Diante do cenário epidemiológico em que está inserido o
paciente, quais os possíveis diagnósticos nosológicos para o
caso?
d) Quais as prováveis etiologias para o caso apresentado? Quais
as principais alterações neurológicas em pacientes com
HIV/AIDS?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome do Neurônio Motor Superior à Esquerda:
caracterizada por hiper-reflexia, sinal de Babinski e hemiparesia
proporcionada em hemicorpo esquerdo.
b) Síndrome de Múltiplos Nervos Cranianos: neurite óptica,
neuropatia da raiz sensitiva do nervo trigêmeo e paralisia facial
periférica à esquerda.
c) Síndrome Álgica: cefaleia holocraniana associada à
fotofobia.
Fonte: Autor.
Leucoencefalopatia multifocal
Polineuropatia sensitiva distal
progressiva
Fonte: Autor.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Compreender as possíveis topografias acometidas diante de
pacientes com queixa de “turvação visual” e diferenciar
acuidade visual e defeito de campo visual.
b) Conhecer outras formas de apresentação das meningites que
não a meningite bacteriana aguda.
c) Assimilar o quadro clínico da neurossífilis em suas diferentes
fases.
d) Compreender os diversos acometimentos neurológicos do
HIV/AIDS, a depender do grau de resposta ao tratamento,
adesão, contagem de CD4 e carga viral.
5. DICAS PRÁTICAS
a) A neurossífilis pode ocorrer em qualquer fase da doença.
No entanto, com o crescente número de pacientes
diagnosticados e tratados corretamente, as formas terciárias se
tornaram mais raras atualmente.
b) O acometimento de múltiplos nervos cranianos deve levar à
hipótese de meningite, tendo esta diversas nosologias (virais,
neoplásicas, autoimunes).
REFERÊNCIAS
1. Ropper AH. Neurosyphilis. N Engl J Med. 2019; 381(14): 1358–63.
2. Marra CM. Neurosyphilis. Contin Lifelong Learn Neurol. 2015; 21(6): 1714–28.
Caso 6
Paroxismos de Dor
Autora: Amanda Colaço Morais Teixeira
Orientador: DR. PAULO REGES O. LIMA
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: mulher, 62 anos, buscou atendimento médico com a queixa de dores
fortes, súbitas e temporárias no lado direito do rosto, mais especificamente na
bochecha e na região do lábio superior, há duas semanas, várias vezes ao dia. Disse,
ainda, que as dores se assemelhavam a choques e que apareciam repentinamente
durante atividades cotidianas simples, como escovar os dentes ou conversar.
Questionada pelo neurologista acerca de procedimentos dentários ou traumas
recentes, negou ambas as situações. Além disso, negou lacrimejamento ou sintomas
parecidos durante os ataques de dor.
b) Exame físico geral: frequência cardíaca de 83 bpm, pressão sistólica de 120
mmHg e pressão diastólica de 80 mmHg. Ausculta pulmonar normal e ausência de
febre.
c) Exame neurológico: reflexo corneano presente (ao tocar a córnea superior com um
chumaço de algodão, foi gerado o ato de piscar). Reflexo esternutatório presente
(a estimulação da mucosa nasal com algodão causou reação de enrugamento do
nariz e expiração forçada). A dor foi desencadeada por toque leve do médico no lado
direito da face, após o qual não pôde ser desencadeada novamente. O restante do
exame apresentou-se normal.
2. PARA PENSAR
a) Quais os possíveis diagnósticos sindrômico, topográfico, nosológico e etiológico
para o caso apresentado?
b) Quais características apresentadas no relato da paciente e constatadas no exame
neurológico são importantes para a exclusão de diagnósticos diferenciais?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome de Nervos Cranianos: acometimento do território sensitivo do V nervo
craniano, ou seja, do nervo trigêmeo.
b) Síndrome Álgica: identificada pela presença de episódios de dor, caracterizada, no
caso, por ser unilateral, temporária, forte e em choque.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer a anatomia do nervo trigêmeo, incluindo sua localização central e a
distribuição de seus ramos.
b) Ser capaz de identificar as principais características da neuralgia do trigêmeo.
c) Distinguir a nevralgia trigeminal de seus principais diagnósticos diferenciais.
5. DICAS PRÁTICAS
a) O nervo trigêmeo apresenta uma pequena raiz motora e uma grande raiz sensitiva,
as quais emergem na ponte. A raiz sensitiva se divide nos nervos oftálmico, maxilar e
mandibular.
b) A neuralgia do trigêmeo clássica acomete principalmente os ramos maxilar ou
mandibular de maneira unilateral por conflito neurovascular, manifesta paroxismos de
dor súbitos e rápidos que ocorrem várias vezes ao dia, apresenta período refratário e
períodos de remissão e tem maior incidência entre mulheres a partir da quinta década
de vida.
c) Em suspeita de nevralgia trigeminal, deve ser investigada a ocorrência de traumas
e procedimentos odontológicos recentes e a possibilidade de herpes-zóster, neuralgia
glossofaríngea, SUNCT e SUNA.
d) Em suspeita de nevralgia do trigêmeo, sempre solicitar um exame de
neuroimagem, de preferência uma ressonância magnética de crânio, com o objetivo
de descartar causas secundárias e de, até mesmo, flagrar o conflito neurovascular.
REFERÊNCIAS
1. Maarbjerg S, Di Stefano G, Bendtsen L, Cruccu G. Trigeminal neuralgia – diagnosis and treatment. Cephalalgia.
2017; 37(7): 648-57.
2. Moore KL, Dalley AF, Agur AMR. Anatomia Orientada para a Clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2014.
3. Campbell WW, Dejong R. DeJong, O Exame Neurológico. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
4. Yadav YR, Nishtha Y, Sonjjay P, Vijay P, Shailendra R, Yatin K. Trigeminal Neuralgia. Asian J Neurosurg. 2017;
12(4): 585-97.
5. Cruccu G, Di Stefano G, Truini A. Trigeminal neuralgia. NEJM. 2020; 383(8): 754-62.
6. Burish MJ, Rozen TD. Trigeminal Autonomic Cephalalgias. Neurol Clin. 2019; 37(4): 847-69.
Caso 7
Surdez Progressiva
Autor: Jorge Luiz de Brito de Souza
Orientador: Dr. Pedro Braga Neto
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Mulher negra, 18 anos de idade, foi encaminhada
para avaliação neurológica com uma história de 1 ano de
redução da acuidade auditiva à direita, até progressão para
anacusia alguns dias antes da avaliação. A própria paciente
também declarou não sentir quase toda a região da face direita
ao tocá-la. Por fim, também foram alegados constantes
episódios de cefaleia à direita, de caráter moderado, com até 1
hora de duração, sem fatores de melhora e acompanhados por
vômitos desde o surgimento do quadro. Nega qualquer outra
condição ou dor associada, assim como nega história familiar
semelhante.
b) Exame Físico Geral: Paciente em estado normalizado no
geral. Pressão arterial 120 x 80 mmHg em ortostase. Com
exceção da cefaleia, não há febre ou qualquer outro sintoma
constitucional. Sem sinal de trauma externo. Exame da
membrana timpânica íntegro. Dados vitais: FC: 75 BPM,
temperatura: 36,0°.
c) Exame Neurológico:
2. PARA PENSAR
a) Quais são os diagnósticos (sindrômico, topográfico,
nosológico e etiológico) observados?
b) Qual a topografia que deve ser prontamente pensada neste
quadro clínico?
c) A análise do tempo de evolução é importante neste caso?
d) Que diagnósticos diferenciais podemos considerar?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome Atáxica: devido à alteração da marcha.
b) Síndrome dos Nervos Cranianos: caracterizada pelo
acometimento do V, VII e VIII nervos cranianos à direita.
Á
c) Síndrome Álgica: advinda da dor de cabeça relatada.
4. OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
a) Conhecer as principais manifestações do Schwannoma
Vestibular, assim como o processo de raciocínio neurológico
relacionado a essa condição.
b) Reconhecer a associação entre a sintomatologia e a
neuroanatomia clínica do APC.
c) Compreender que, apesar de uma grande parte do
diagnóstico poder ser feito clinicamente, ele é corroborado por
achados dos exames complementares, principalmente os
advindos da Ressonância Magnética com contraste.
d) Conhecer as principais nosologias a serem consideradas,
principalmente a genética, cuja etiologia causadora de SV mais
comum é a Neurofibromatose tipo 2.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Para um paciente com queixa de perda auditiva
neurossensorial unilateral progressiva, é extremamente
relevante associá-la com um possível caso de SV.
b) Outros sintomas, como perda da sensibilidade e/ou
motricidade facial, podem ocorrer, assim como náuseas, dores
de cabeça e instabilidade postural; por isso, o clínico deve ficar
atento.
c) Estando a condição relacionada a uma tumoração, espera-se
uma piora progressiva, e uma relevante associação da
neuroanatomia do APC com a clínica pode sugerir um possível
SV.
d) É necessário ter atenção para quadros que podem mimetizar
essa condição, como o Schwannoma Facial ou o Paraganglioma
Facial.1
e) Não esquecer que, geralmente, se trata de um tumor benigno
que pode ser acompanhado e possivelmente extraído. Por isso,
é relevante um bom conhecimento clínico a fim de se realizar
um adequado acompanhamento e manejo do caso.
REFERÊNCIAS
1. Kaul V, Cosetti MK. Management of Vestibular Schwannoma (Including NF2): Facial
Nerve Considerations. Otolaryngol Clin North Am. 2018; 51(6): 1193-212.
2. Machado ABM. Neuroanatomia funcional. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2014.
3. Kasper DL. Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre: AMGH; 2017.
4. Ardern-Holmes S, Fisher G, North K. Neurofibromatosis Type 2. J Child Neurol. 2017;
32(1): 9-22.
5. Bento RF, Pinna MH, Brito Neto RV. Schwannoma vestibular: 825 casos – 25 anos de
experiência. Int Arch Otorhinolaryngol. 2012; 16(4): 466-75.
Caso 8
1. APRESENTAÇÃO DE CASO
a) Anamnese: Mulher, 58 anos, dona de casa, casada, chega ao ambulatório de
neurologia com queixa de “dor de cabeça e ombro caído”. Relata que, há 1 ano,
começou a apresentar engasgos à ingestão de líquidos e sólidos, inicialmente raros,
mas progressivamente mais frequentes. Três meses depois, os familiares
perceberam que sua voz estava mais rouca e que sua capacidade de articular as
palavras piorava progressivamente. Há 2 meses, relata início de crises de cefaleia
intensa (8/10 na EVA), unilateral (sempre à esquerda), geralmente noturna, por vezes
despertando do sono, com piora ao tossir. No mesmo período, apresentou dificuldade
para elevar o membro superior esquerdo (como ao levantar um objeto acima da
cabeça), que evoluiu, 1 mês depois, para queda do ombro esquerdo.
b) História Patológica Pregressa: Há 10 anos foi diagnosticada com câncer de
mama, quando realizou mastectomia total da mama direita, seguida de quimioterapia.
Portadora de diabetes mellitus tipo 2. Nega outras comorbidades.
c) História Familiar: Mãe e avó faleceram de câncer de mama. Pai e irmão são
diabéticos. Tem 4 filhos saudáveis.
d) Exame físico geral: Bom estado geral, fácies atípica, anictérica, acianótica e afebril,
orientada em tempo e espaço. PA: 130X90; FC: 80 bpm; FR: 16 rpm. Sem alterações
dignas de nota.
e) Exame neurológico: Ao exame dos Nervos Cranianos (NC), observou-se
sensibilidade reduzida no terço posterior da língua à esquerda, reflexo nauseoso
ausente à esquerda, desvio do palato à direita ao dizer “ah” de forma sustentada
(“sinal da cortina”[1]) e paresia dos músculos esternocleidomastoideo (força grau 3) e
trapézio (força grau 2) à esquerda. Sem outras alterações em nervos cranianos,
motricidade ou sensibilidade.
2. PARA PENSAR
a) Quais os principais diagnósticos (sindrômico, topográfico, nosológico e etiológico)
observados?
b) Quais as principais síndromes observadas que podem conduzir ao diagnóstico
topográfico?
c) Qual a principal etiologia a ser considerada diante do diagnóstico topográfico mais
provável?
d) Quais outros diagnósticos diferenciais devem ser feitos para pacientes com
resultados semelhantes ao exame clínico?
e) Quais exames devem ser solicitados para essa paciente e qual deles é o mais
importante para o diagnóstico etiológico?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
a) Síndrome de Múltiplos Nervos Cranianos:
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Conhecer as estruturas que atravessam o forame jugular, bem como os sinais e
sintomas específicos de uma lesão nessa região (SFJ).
b) Conhecer os principais diagnósticos nosológicos e etiológicos possíveis para um
paciente com SFJ, bem como os achados no exame clínico que sugiram uma
etiologia específica.
c) Conhecer os exames complementares mais importantes a serem solicitados para
um paciente com SFJ, bem como os achados esperados para cada um deles.
d) Saber suspeitar de outros possíveis diagnósticos para síndromes de nervos
cranianos que podem ser confundidos com a SFJ.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Sinais de acometimento dos NC IX (anestesia do terço posterior da língua, reflexo
nauseoso ausente), X (sinal da cortina, disfagia, rouquidão) e XI (fraqueza em
músculos esternocleidomastoideo e trapézio), associados ou não à congestão
venosa cerebral por compressão da veia jugular (cefaleia, papiledema), sugerem SFJ.
b) Exames de imagem e sorologias são de especial importância nessa síndrome, já
que podem ajudar a descartar ou confirmar as principais hipóteses diagnósticas
(neoplasia primária ou metastática, doença vascular e infecção viral).
c) Existem outras causas que podem ser clinicamente semelhantes à SFJ, com
acometimento de nervos cranianos, e devem ser consideradas, a depender do caso.
d) É importante saber encaminhar o paciente, principalmente em casos cirúrgicos e
oncológicos, em caso de suspeita de SFJ, para o manejo terapêutico especializado.
REFERÊNCIAS
1. Freitas CAF, Santos LRM, Santos AN, Amaral Neto AB, Brandão LG. Estudo anatômico do forame jugular no
pescoço. Braz J Otorhinolaryngol. 2020; 86(1): 44-8.
2. Das JM, Khalili YA. Jugular Foramen Syndrome. In: StatPearls. Treasure Island: StatPearls Publishing; 2020 Jan.
3. Ciavarro G, Bozzetti F, Falcioni M. Jugular Foramen Metastasis from Lung Cancer: A Case of “A Mass without
His Syndrome”. J Int Adv Otol. 2019; 15(3): 469-71.
4. Flis DW, Shah AT, Tracy JC, Heilman CB, O’Leary MA. Metastatic breast carcinoma of the jugular foramen: a rare
case of Villaret syndrome. Head Neck. 2015; 37(11): E146-9.
[1]
Sinal da cortina ocorre quando, ao pedir para o paciente realizar a fonação de uma vogal aberta (ah), ou
seja, realizar a elevação do palato mole, essa estrutura é desviada para um lado (lado são), porque o palato
contralateral está paralisado pelo acometimento do NC X que o inerva.
Caso 9
Olhos paralisados
Autor: Rodrigo Montenegro Barreira
Orientador: Dr. Danilo Nunes Oliveira
2. PARA PENSAR
a) Qual é a síndrome envolvida no caso apresentado?
b) Qual a possível topografia para os achados descritos nos exames físico e
neurológico?
c) Quais os possíveis diagnósticos nosológicos para o caso descrito?
d) Quais as prováveis etiologias para o caso apresentado?
3. DISCUSSÃO
3.1. Diagnóstico Sindrômico
Queixas como “dormência” e “formigamento” podem representar diferentes sintomas, a
depender do pano de fundo cultural e socioeconômico do paciente. Sendo assim, algumas
perguntas podem ajudar na distinção entre uma alteração de força e uma alteração de
sensibilidade, como: “O sr. tinha alguma dificuldade em segurar um objeto? Sentia quando
alguém lhe tocava?”. No caso do nosso paciente, após maior detalhamento da queixa,
tratou-se de um provável déficit motor temporário em hemiface esquerda e MSD, o qual não
revelou alterações no exame neurológico.
Portanto, o diagnóstico sindrômico é de uma síndrome de nervos cranianos,
caracterizada pelo déficit na movimentação ocular extrínseca evidenciado no exame
neurológico.
Fonte: Autor.
Por exemplo, o olhar sacádico horizontal, ao olhar para a direita, se inicia no lobo frontal
esquerdo, de onde fibras descem e decussam em direção à formação reticular pontina
paramediana direita (FRPP), a qual envia sinal para o núcleo do nervo abducente direito (VI),
que ativa o músculo reto lateral, abduzindo o olho direito. Para que o olho esquerdo
acompanhe o movimento do olho direito (olhar conjugado), o núcleo abducente direito (VI)
envia também impulsos para o fascículo longitudinal medial (FLM) esquerdo (contralateral),
que será responsável por levar o sinal para o núcleo oculomotor esquerdo no mesencéfalo,
ativador do músculo reto medial, aduzindo o olho esquerdo.
O olhar para o lado esquerdo segue o mesmo raciocínio.
Assim, podemos concluir que nosso paciente apresenta uma lesão no FLM esquerdo, já
que, ao olhar para a direita, o impulso que sairia do núcleo abducente direito em direção ao
núcleo oculomotor esquerdo para proporcionar a adução do olho esquerdo está bloqueado
com a lesão do FLM esquerdo. Logo, ao olhar para a direita, o olho direito abduz e o olho
esquerdo não o acompanha, estando o olhar para a esquerda totalmente preservado, como
mostra a Figura 2. O olhar convergente não está alterado, pois as vias supranucleares
responsáveis são distintas e estão intactas nesse caso. Ademais, a ausência de anisocoria,
de ptose palpebral ou de exotropia em posição primária do olhar, quando somadas, falam
contra a paralisia do nervo oculomotor (III NC)
Figura 2. Oftalmoplegia internuclear esquerda.
Fonte: Autor.
Uma breve analogia: seria como se o olho que estivesse abduzindo levasse o olho
contralateral para passear através de uma “coleira” (o FLM). A “quebra” dessa “coleira” faz
com que o olho que está abduzindo fique “tentando chamar” (nistagmo) o olho contralateral,
enquanto este fica estático, incapaz de aduzir.
Além disso, a síndrome motora cruzada (déficit em hemiface esquerda e hemicorpo
direito) é típica das lesões em tronco encefálico, neste caso em ponte, devido ao
acometimento das fibras do trato corticoespinhal que ainda não decussaram nas pirâmides
bulbares.
Portanto, a topografia acometida é o Fascículo longitudinal medial (FLM) esquerdo na
topografia de ponte.
4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
a) Compreender a abordagem ao paciente com queixa de “visão borrada” e suas
diferentes vertentes neurológicas.
b) Entender como é feito o controle supranuclear do olhar sacádico e suas aplicações
clínicas.
c) Diferenciar diplopia binocular e monocular.
d) Assimilar o papel do fascículo longitudinal medial no controle do olhar conjugado.
e) Compreender a principal topografia das síndromes motoras cruzadas.
5. DICAS PRÁTICAS
a) Sempre buscar esmiuçar os sintomas que podem causar confusão nos pacientes,
como “formigamento” e “vista embaçada”.
b) Sempre diferenciar as diplopias binoculares das monoculares, haja vista que
possuem causas completamente distintas.
REFERÊNCIAS
1. Kochar PS, Kumar Y, Sharma P, Kumar V, Gupta N, Goyal P. Isolated medial longitudinal fasciculus syndrome:
Review of imaging, anatomy, pathophysiology and differential diagnosis. Neuroradiol J. 2018; 31(1): 95–9.
Table of Contents
Capa
Rosto
Créditos
Agradecimentos
Autores
Sumário
Prefácio
1. Introdução ao Raciocínio Neurológico
2. Síndrome motora
Caso 1. Déficit Súbito
Caso 2. Perda gradual de força associada à dificuldade de elevar
braços
Caso 3. Síndrome do neurônio motor inferior aguda
Caso 4. Fraqueza Flutuante
Caso 5. Preguiçoso?
Caso 6. Cefaleia e fraqueza
3. Síndrome sensitiva
Caso 1. Bota e Luva
Caso 2. Mulher jovem com fraqueza nas mãos e alterações de
sensibilidade, um diagnóstico topográfico desafiador
4. Síndrome Autonômica
Caso 1. Disfunção Vesical
Caso 2. Dormência e fraqueza nos membros inferiores associadas
a um acometimento visual e esfincteriano
5. Síndrome atáxica
Caso 1. Dificuldade de deambular e alteração da motricidade
ocular
Caso 2. Ataxia em Paciente Jovem
Caso 3. Fraqueza e Quedas
6. Síndrome Extrapiramidal
Caso 1. Tremor e lentidão
Caso 2. Movimentos Involuntários
Caso 3. Manifestações sistêmicas de doenças neurológicas
Caso 4. Quedas frequentes
Caso 5. Amigdalofaringite seguida por movimentos involuntários
Caso 6. Tremor
7. Síndrome Cognitiva
Caso 1. O Labirinto da Memória
Caso 2. Um acúmulo de achados
Caso 3. Paranoia ou alucinação?
Caso 4. Os 3 Ms
Caso 5. Fraqueza, Irritabilidade e Agressividade
8. Síndrome Álgica
Caso 1. Cabeça e Nuca
Caso 2. Cefaleia na madrugada
Caso 3. “Dor em Facadas”
Caso 4. Cefaleias recorrentes no dia a dia
Caso 5. Uma Dor Fatal
Caso 6. Dor Cervical
9. Síndrome de Nervos Cranianos
Caso 1. Os 3 Ds Súbitos
Caso 2. “Fraqueza Cruzada”
Caso 3. Face Fora de Controle
Caso 4. “Visão Borrada”
Caso 5. A grande imitadora
Caso 6. Paroxismos de Dor
Caso 7. Surdez Progressiva
Caso 8. Dor de cabeça e ombro caído
Caso 9. Olhos paralisados