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O Mal Estar Cultural
O Mal Estar Cultural
O Mal Estar Cultural
Belo Horizonte
2023
Belo Horizonte
2023
Com esse breve resumo, entramos então na discussão sobre como Freud e a psicanálise
continuam atuais e para isso podemos iniciar com a citação de três pontos, três questões
do pensamento Freudiano, que se encontram muito presentes. A primeira, pode-se dizer, é
a obsessão pelo sexo, nunca se foi tão obcecado pelo sexo, o debate de gênero sendo
uma prova de que a histeria continua sendo uma das formas de negação da diferença
sexual, só que agora a conversão histérica está na política e na linguagem e não como na
epoca de Freud, onde se apresentava como sintomas, em pessoas que perdiam a
capacidade de enxergar, de se levantar, etc. Hoje a conversão histérica e a negação ou
horror quanto a diferença e escolha sexual está na linguagem, na política, na educação, no
debate de gênero em geral e também na negação de que exista homem e mulher na
espécie humana.
Outro ponto ou terreno, seria a discussão quanto ao mal-estar na civilização. Nunca
houve uma época em que se tomou tamanha quantidade de ansiolíticos e antidepressivos,
onde as pessoas mentiram tanto sobre a própria condição de vida, onde os jovens se
tornaram mais reprimidos do que eram, e em que o mundo não fosse tão repressivo como
relação a sexo como se vê na atualidade. O resultado é a existência de muito mal-estar.
Pode-se então citar a ideia do Freud quando no texto ( o mal-estar na civilização, 1930) ele
levanta a suposição de que a felicidade não faz parte dos planos da criação, que se mostra
atual, em um mundo em que se é tão obcecado com a felicidade, e que esta mesma
felicidade produz tantos sintomas de infelicidade
E um último ponto a ser citado é quanto a religião, o entendimento da psicanálise freudiana
de que a religião nasce de uma condição de desamparo. As pessoas buscam significado, e
com isso se vê um aumento nas crenças religiosas e em todo tipo de mágica, mas também a
tentativa de associação desta com teorias científicas. A humanidade continua sofrendo de
desamparo e continua ao mesmo tempo, tendo processos psicológicos regressivos para
tentar lidar com este desamparo.
Mesmo com o nosso conhecimento neurocientífico dos principais neurotransmissores
envolvidos na depressão são a serotonina e a noradrenalina, e que um desequilíbrio na
produção deles está associado a instalação da doença, mesmo que saibamos que a
funcionamentos alterados em régios do cérebro quando a um Transtorno de Ansiedade
(principalmente na região da Amígdala, crucial na aquisição e expressão do medo), e mesmo
que tenhamos produzido medicamentos que tratam estes distúrbios, ainda vemos uma
epidemia de depressão e ansiedade. O ser humano é moldado pelo ambiente em que vive,
sacrificamos muito de nossa felicidade e de nossos desejos para vivermos em segurança,
para vivermos em sociedade, reprimimos nossa agressividade natural, e por que não usar
um termo psicanalítico, reprimimos nossas pulsões, para nós encaixarmos, e isso trouxe o
benefício de conseguirmos viver em comunidade, mas também trouxe a consequência de
um eterno mal-estar, e como somos modulados pelo ambiente em que vivemos e como não
podemos mudar de ambiente, talvez esse mal estar se faça sempre presente.
Talvez essa seja uma das maiores contribuições da psicanálise no âmbito social e cultural,
a de nos fazer admitir que a infelicidade e o mal estar talvez seja de nossa natureza, do
reprimir de nossos instintos, pulsões e desejos que foram necessários para vivermos em
grupo, para convivermos com o outro, a sublimação da dicotomia nós e eles, que faz com
que nosso córtex insular se acenda num exame de RMF tanto quando sentimos nojo de um
inseto quanto quando sentimos nojo das ações de alguém. O entendimento de que talvez
para um bom convívio é necessário também um pouco de tristeza.
Referências: