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CRIAÇÃO DE STORYBOARD
E STORYTELLING
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de
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Tayra Carolina Nascimento Aleixo

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Giani Vendramel de Oliveira

Revisor
Renata Maria Silva Costa

Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Daniella Fernandes Haruze Manta
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Pompílio, Max Roger Franco


P789c Criação de storyboard e storytelling/ Max Roger Franco
Pompílio, Silvia Terezinha Torreglossa, Carlos Eduardo
Damian Leite, – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A. 2019.
105 p.
ISBN 978-85-522-1494-6
1. Storyboard. 2. Storytelling. I. Pompílio, Max Roger
Franco. II. Torreglossa, Silvia Terezinha. III. Carlos T
Eduardo Damian Leite. Título.

CDD 370
Thamiris Mantovani CRB: 8/9491

2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Tema 01
Storytelling, conceito, história e aplicações ....................................................... 4

Tema 02
Elementos da narrativa. A jornada do herói .................................................... 24

Tema 03
Funções da linguagem. A comunicação no processo de ensino-aprendizagem.
Práticas de storytelling na educação. ............................................................... 45

Tema 04
Brainstorming. O uso de storytelling na sua sala de aula em diferentes modelos
de ensino .......................................................................................................... 62

Tema 05
Storyboard e suas aplicações na educação .................................................... 79

Tema 06
O uso da tecnologia para storyboard e storytelling. Digital storytelling ........... 99

Tema 07
Estudo de caso e práticas sobre os temas: storyboard e storytelling ............ 115
Storytelling, conceito, história e aplicações
Autora: Max Roger Franco Pompílio

Objetivos

• Conhecer os conceitos de storytelling.

• Compreender as aplicações da metodologia storytelling em diversos


setores da sociedade.

• Tomar ciência das origens das narrativas escritas e orais.

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1. Contextualização
Olá! Seja bem-vindo a esta leitura fundamental!

Começaremos a compreender os conceitos do storytelling e as funcionalidades


dessa antiga e eficiente metodologia. Também vamos entender como é
aplicado na modernidade em várias áreas da sociedade atual: publicidade,
turismo, negócios, educação, entre outros.

Por fim, descobriremos quais são as origens da linguagem e da narrativa na


história humana. Seja como signo falado, seja representada de maneira escrita.

A grande função deste tema, é proporcionar o entendimento sobre sua história,


o que é a técnica, como funciona e, principalmente, como aplicar a storytelling
no seu cotidiano, nos âmbitos pessoais e profissionais.

Desejamos a você uma excelente leitura e muito aprendizado!

2. O que é storytelling?
No mundo atual, não basta existir, é preciso marcar presença. É fácil ser
esquecido ou até rejeitado. Para chamar a atenção, nada como um apelo
emocional, porque a emoção é o ingrediente que empresta sentido à vida
humana. É o barroco da decoração e o realce por excelência. Nessa realidade
dispersiva, na qual estamos inseridos, é tão difícil atrair a atenção das pessoas,
que o recurso do storytelling aparece como uma tecnologia poderosa para
atrair essa disputada audiência.

Os publicitários conhecem bem as utilidades do storytelling e fazem uso da


ferramenta de forma comum. Entretanto, não foi a publicidade, com suas
propagandas, por vezes engenhosas, e campanhas ousadas, que inventou o
storytelling. Apesar da sua aplicabilidade moderna, é um recurso utilizado
desde os mais antigos anos da humanidade e em diversos setores da
sociedade. Quando o ser humano começou a contra histórias?

O caçador paleolítico, de certo, relatava para a assembleia curiosa as mil


façanhas da última caçada. Sócrates, um dos mais importantes filófosos
gregos, caminhava pela Ágora contando histórias para os seguidores. Cristo
circulava pela antiga Judeia, tecendo parábolas para seus discípulos. Os

5
menestréis seguiam de cidade em cidade, cantando os atos heroicos dos
cavaleiros cruzados. Apreciar narrativas é dos traços mais antigos e profundos
do ser humano. É que não há ser humano que não aprecie uma boa história. A
pergunta que vem, depois desse preâmbulo, é: por quê? Por que histórias
fazem tanto sucesso, há tanto tempo e por tantos lugares?

Nesse mundo contemporâneo, cercado de informações por todos os lados, em


uma disputa alucinada por nossa atenção, fica cada vez mais difícil nos atrair,
provocar encantamento e surpreender. Estamos envoltos de propagandas,
anúncios e chamadas que, por vezes, são mais constituídos de (re) criação de
algo que já existe no mercado do que propriamente a inovação. Nesse
contexto, ser criativo é primordial! Nas palavras de Franco (2018):

E é, nessa hora, que o profissional diferenciado vem à tona e se


torna mais do que útil para a empresa, torna-se, na verdade, um
bem imaterial. As histórias são ferramentas fundamentais porque
geram emoção, identificação e envolvimento, elementos que
prendem mais do que qualquer outro a atenção dos expectadores.
É neste momento de exiguidade de opções que as técnicas do
storytelling aparecem como possíveis redentoras das lacunas de
criatividade. (FRANCO, 2018, [s.p.])

Muitos recorrem a storytelling, na modernidade, justamente por ser um recurso


eficaz utilizado há milhares de anos, afinal “a humanidade tem uma memória
genética desses comportamentos e uma tendência natural a apreciar
narrativas” (FRANCO, 2018, [s.p.]).

É importante ressaltar que há componentes psicológicos que explicam o apego


do homem pela narrativa, como um componente presente em nosso
inconsciente coletivo, um arquétipo.

Para Carl Jung, pai da psicologia analítica, arquétipo é o termo


usado para se referir às estruturas humanas mais primitivas e
inatas, as quais servem de base para a manifestação e
desenvolvimento da psique. Arquétipo é uma espécie de imagem
anterior tão intrinsecamente presente no inconsciente coletivo do
ser humano que se projeta nos diversos aspectos da vida. Como
ocorre nos sonhos e nas narrativas. Apreciar histórias é dos
aspectos mais comuns, antigos e profundos da alma humana.
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Todo homem, a priori, gosta de contar e de ouvir boas histórias.
Jung afirma que essas "imagens primordiais" se originam de uma
interminável repetição, através de muitas gerações, de uma
mesma experiência. Os arquétipos, então, são tendências
estruturantes e invisíveis encontradas nos símbolos e, por serem
anteriores e mais abrangentes do que a consciência ou a
racionalidade, eles criam imagens ou visões que, de certa forma,
tentam compensar ou equilibrar alguns aspectos da atitude
consciente do sujeito. Estas “compensações” acabam vindo à
tona nos sonhos e, também, nos mitos produzidos em todas as
latitudes pela humanidade. Os arquétipos, portanto, atuam quase
de forma autônoma e tendem a produzir, em cada geração, a
repetição e a elaboração dessas mesmas experiências, quase
que intuitivamente. Como, por exemplo, essa propensão coletiva
e universal pela narrativa (FRANCO, 2018, [s.p.]).

Storytelling é a arte de contar histórias; trata-se de uma ferramenta poderosa


para atrair engajamento e envolvimento emocionais. Comportamentos que são
extremamente oportunos para prender a atenção de clientes, motivar equipes,
estimular desempenhos, promover marcas, resolver problemas e, em outras
palavras, gerar conexões envolventes entre emissores e receptores.

Hoje, a metodologia do storytelling pode ser utilizada nas redes sociais, na


política, nos esportes, nas doutrinas religiosas, na publicidade e,
principalmente, no ambiente corporativo. E não há nada de imoral em se tentar
convencer alguém sobre um ponto de vista, como também conseguir
apresentar suas ideias da forma mais atraente possível. Comunicar-se bem é
um dos maiores talentos que um profissional pode ter na atualidade.

ASSIMILE

Storytelling é a utilização da narrativa para a entrega de algum valor. É um


eficiente instrumento de persuasão, utilizado desde o início da comunicação
humana em diversos setores da sociedade.

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3. A história da narrative
Figura 1 – Inscrições rupestres

Fonte: Tashka/ iStock.com

A aplicação moderna do storytelling é eficaz justamente porque não é moderna.


Histórias são contadas desde os tenros anos da humanidade.

O homo sapiens tem origem de cerca de 300 a 200 mil anos a.C. A arte, por
sua vez, deve ter começado por volta de trinta mil anos atrás. Como demonstra
a Vênus de Willendorf (28 a 25.000 a.C) e os registros de arte rupestre em
Lascaux, na França e Altamira, na Espanha (17 a 15.000 a.C). Foi somente na
antiga Mesopotâmia que a escrita foi elaborada e criada. Por volta de 4.000
a.C., os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme. Usavam placas de
barro, onde cunhavam essa escrita.

A narrativa mais antiga registrada é a Epopeia de Gilgamesh 1 , datada entre


2800 a 2500 a.C. Feita muito tempo antes da Bíblia hebraica, das mitologias
gregas e romanas, da Ilíada de Homero, dos textos budistas ou do

1
A Epopeia de Gilgamesh é uma coletânea de poemas místicos redigidos em sumério. É provável que seja
o mais antigo texto literário escrito pelo homem, por volta do fim do terceiro milênio antes de Cristo,
preservada em placas de argila. Foi encontrada numas ruínas na Mesopotâmia, em 1890.
Fonte: <https://www.infopedia.pt/$a-epopeia-de-gilgamesh>. Acesso em: 19 jul. 2019.
8
Mahabharata 2 hindu, os sumérios contaram a jornada do rei de Uruk, que
realiza diversas façanhas em busca da imortalidade. Essa história mística e
épica chegou até os tempos contemporâneos quando os arqueólogos
decifraram tabuletas de argila resgatadas no sul do atual Iraque.

É possível que, algum dia, os estudiosos e arqueólogos tenham êxito em


garimpar registros ainda mais remotos do que a Epopeia de Gilgamesh.
Mesmo assim, as histórias escritas serão muito mais recentes do que as
narrativas orais. As histórias de Aquiles, Moisés, Odisseu, Buda, Hércules,
Perseu, Davi, ou qualquer outro herói tiveram início no ambiente da oralidade
e, mediante digressões ou dispersões, seguiram por séculos como narrativas
contadas e cantadas de pai para filho, de geração em geração. Essas lendas,
mitos e relatos ancestrais, só são muito depois registrados no barro ou
pergaminho, como, por exemplo, ocorreu com os contos de fadas que depois
de séculos de narrativas orais, acabaram por serem registrados pelos irmãos
Grimm, Perrault e Hans Christian Andersen.

A teoria do historiador italiano Ginzburg (1990, p. 151) postula que a narração


deve ter se originado numa sociedade de caçadores, antes de todos os relatos
religiosos, antes das lendas dos povos e dos mitos das civilizações, antes até
que os homens se organizassem em aldeias, cidades e impérios. Ao correr
entre as savanas, fugindo de predadores ou perseguindo a caça, o homo
sapiens deve ter conseguido perceber as marcas deixadas na natureza pela
presa ou por outros sapiens. Essa possível aventura, concebida no neolítico,
serve para ilustrar o aparecimento do possível primeiro storyteller, ou seja, o
primeiro sujeito que utilizou a imaginação para elaborar e contar uma história
para seus semelhantes, como representado na imagem a seguir.

2
O Mahabharata narra a guerra entre Pandavas e Karauvas, duas famílias com laços de parentesco
muito próximos, pela posse de um reino no norte da Índia. É também o maior poema de todos os
tempos, com cerca de duzentos mil versos. Fonte: <https://www.britannica.com/topic/Mahabharata>.
Acesso em: 19 jul. 2019.
9
Figura 2 – O homo sapiens

Fonte: estt/ iStock.com

Para o caçador-coletor, desenhar o animal tinha um viés sobrenatural. Ele


acreditava que, ao desenhá-lo, agradaria aos deuses e, com isso, conseguiria
caçá-lo.

É provável que, há milhares de anos, um sujeito que estivesse perpetrando


uma caçada devesse empregar dose igual de atenção, tanto para encontrar a
sua presa, como para não virar presa de outros predadores. Um sapiens da
época era mais forte fisicamente do que a mesma espécie do século XXI, no
entanto, não seria capaz de rivalizar com outros animais do período. Restava
ao homem, portanto, antecipar ou evitar as ações dessas feras, decifrando os
sinais da natureza. É essa atitude que traz um misto de autopreservação, fome
e cogitação, que alimentará a capacidade de imaginar.

Para o pesquisador italiano Ginzburg (1990), ao perceberem os indícios


deixados na paisagem – pelos, cheiros, excrementos e pegadas deixadas para
trás na passagem de um bicho ou pessoa –, os sapiens souberam ler esses
indícios que sugeriam para os antigos rastreadores, como, quando e quem
havia passado por aquele lugar. Esse hipotético caçador deve ter dito aos seus
companheiros de aventura: “alguém passou por aqui”. Essa declaração,
10
aparentemente banal, pode ter sido a primeira narrativa feita por um homem
em todo o mundo. Ela determina a primeira vez em que um homo sapiens
cogitou algo que não estava ali materializado diante dos seus olhos e depois
transmitiu esse conhecimento aos demais. Esse fato marca o momento em que
os caçadores se transformam em narradores.

Portanto, deve ter sido a luta pela sobrevivência o estopim para o surgimento
do pensamento histórico dedutivo e, também, da fantasia. A capacidade de
pensar em coisas que não estão visíveis, logo se transforma na capacidade de
imaginar coisas que não existem.

Ginzburg (1989) deseja utilizar essa parábola do caçador neolítico para ilustrar
uma mudança radical na percepção dos homens. É um alargamento de visão
de mundo que ocorre nos sapiens. Antes era uma espécie de eterno presente,
depois dessa experiência têm uma noção de potencial passado. Um recurso de
investigação do passado ainda é utilizado por diversos ramos profissionais.
Ginzburg (1989) consegue relacionar o mito da origem do primeiro contador de
histórias com o historiador, que ainda recorre aos indícios deixados pelo tempo
para deduzir relações e produzir uma narrativa crível, praticando, assim, uma
profecia do passado, e ainda diz que “se a realidade é opaca, existem zonas
privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la”. (GINZBURG, 1989,
p. 177).

Porém, não é só ao historiador que Ginzburg (1989) associa os caçadores-


coletores da antiguidade. Para ele, o médico que alcança um diagnóstico
depois de anamneses ou exames também age da mesma forma. O detetive
que investiga as pistas de um crime, o psicanalista freudiano que busca no
passado do seu paciente os motivos para sua angústia, os críticos de arte que
analisam uma pintura renascentista. Todas essas atitudes se baseiam num
modo de inquirir e deduzir de forma indireta. É o que ele chama de paradigma
indiciário. 3

Desde aquele primeiro ato do caçador neolítico de milhares de anos atrás, o


homem, a rigor, é sempre um investigador e um contador de histórias.

3
Para um aprofundamento no conceito de paradigma indiciário, recomenda-se a leitura da
obra:GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras,
1990.
11
O historiador israelense Yuval Harari (2012) 4 batiza essa transformação com o
nome de revolução cognitiva, que teve início quando o ser humano começou a
imaginar deuses, mitos, lendas e religiões e quando, a partir dessas
concepções, homens se reúnem em grupos cada vez maiores que acreditam
nas mesmas coisas e, por isso, cooperam entre si. Para Hahari (2015), esse
fenômeno é fator determinante, o divisor de águas, da ascensão do sapiens
sobre todos os demais seres vivos. A cooperação em função da caça, logo se
torna cooperação para a guerra, para o comércio, para o culto, para as
navegações, depois para o conhecimento e daí por diante. Os pequenos
bandos de sapiens se transformam em aldeias que viram cidades, que
compõem impérios e que, por fim, formam uma grande aldeia global.

4. A aplicação do storytelling em diversos setores da


sociedade
A. Storytelling na publicidade: um dos reinos do storytelling é justamente o
da publicidade. Nada como contar uma boa história associada ao produto, à
empresa ou ao serviço promovido para conseguir maior engajamento.

4
O israelense Yuval Noah Harari é doutor em História pela Universidade de Oxford, especializado em
história mundial e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém. É autor de Sapiens, uma breve
história da humanidade, e de Homo Deus, uma breve história do amanhã.
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Figura 3 – A comunicação

Fonte: PeopleImages/ iStock.com

Não é novidade o uso da storytelling para a venda de produtos, isso é prática


da publicidade desde seu berço. Se observarmos os comerciais exibidos na
televisão, por exemplo, conseguimos mapear uma série de propagandas
fazendo uso desse recurso para se comunicar com seus clientes, criar
aproximação, emoção, e até mesmo provocar a empatia. O objetivo é evidente,
vender mais.

O problema é que não precisa ser nenhum gênio para se dar


conta de que a audiência da TV cai potencialmente durante os
intervalos comerciais. O ideal, portanto, seria se utilizar do
merchandising e incluir os produtos dentro da programação ou do
filme, por exemplo? Claro. Mas, nem todo mundo faz isso com a
sutileza com a qual deveria. James Bond não diz “uma vodka-
martini como essa não existe!” Em compensação, foram os filmes
do agente criado por Ian Fleming que popularizaram a bebida
destilada nos Estados Unidos. Hoje, o país é o segundo mercado
mundial de consumo de vodka. Poderíamos dizer que ocorre o
mesmo com todos os produtos relacionados à franquia. Ou, na
verdade, às franquias (FRANCO, 2015, p. 12)

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Como observamos na citação acima, o marketing associado a uma boa história
gera uma parceria de sucesso. As grandes sagas do cinema, como Harry
Potter ou Vingadores, por exemplo, são capazes de alavancar vendas em
escala astronômica! “São jogos eletrônicos, brinquedos, artigos escolares,
roupas. E, me diga, quem os vende? Ela, a história.” (FRANCO, 2015, p. 12)

O gosto por narrativas faz parte do ser humano, por isso, temos a tendência de
prestar muito mais atenção a uma publicidade quando está relacionada a uma
história.

São preceitos, valores, doutrinas, ditos, adágios, que, por sua vez,
podem ser transmitidos por gerações e gerações, ao redor do
mundo. É essa a promessa do storytelling: causar penetração,
engajamento, envolvimento e, também, compra de produtos,
ideias ou serviços. É lógico que o mercado sabe disso e faz uso
deste poder. Qual? A possibilidade de promover marcas,
produtos, serviços, empresas, ideias, projetos, causas e
mensagens corporativas através das histórias. Roosevelt dizia
‘Aonde chegam nossos filmes, chegam nossos produtos’. O
grande presidente dizia isso em 1940. Era, realmente, um
visionário. Imagina o quanto esse fenômeno se potencializou hoje
em dia, na era da informação? (FRANCO, 2015, p. 12)

É notável o quanto a publicidade se apropria do storytelling. Há tempos, as


narrativas são utilizadas pelos criadores de campanhas para cativar os
consumidores, que, por vezes, estão preocupados mais com a experiência do
que com o produto propriamente. Aliás, por vezes, constatamos que as
campanhas são melhores que o produto.

O grande desafio do profissional de marketing e publicidade, que nesse caso é


um roteirista, é obter êxito em aliar a história ao produto sem fugir do seu
contexto, que é tecnicamente chamado de storyplacement, e ainda continuar a
vendê-lo. A questão é que, muitas vezes, a propaganda é excelente como peça
artística, mas não consegue ser comercial. Prêmios são sempre interessantes,
porém, se o empresário não conseguir vender o que produziu, a propaganda
perde sua função.

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Nessa perspectiva, o storytelling é muito eficiente para tocar no emocional dos
consumidores, envolvendo-os e provocando, por vezes, a fixação da marca em
seu imaginário.

B. Storytelling no mundo corporativo: a cada dia que passa, mais se


compreende como o storytelling pode ser aplicado no mundo dos negócios. As
histórias nesse ambiente podem ser utilizadas para:

[...] construir um espírito de grupo, preservar e difundir a história


da empresa, criar uma identidade de marca, transmitir conceitos e
valores para uma equipe, promover a inovação, partilhar visões;
convocar para a ação, criar empatia e “quebrar o gelo”; humanizar
as relações, encantar clientes, motivar grupos e inspirar as
pessoas. (FRANCO, 2015, p. 13)

O estímulo de narrativas no mundo coorporativo, dentre diversos benefícios,


pode contribuir para o desenvolvendo de uma cultura organizacional e um
sentimento de pertença importantes nesse segmento, pois a identificação do
colaborador com a empresa é primordial para a sustentabilidade da mesma.
Nas palavras de Franco (2015, p.14), para além de marcas, maquinários e
produtos as “empresas são formadas por pessoas. O storytelling pode (e deve)
ser utilizado para facilitar algo que é fundamental entre as pessoas e para o
sucesso do trabalho de uma equipe: o relacionamento.”

Vejamos o que Gargiulo (2011), autor de O uso de histórias no ambiente de


trabalho, fala sobre o argumento:

As histórias abrem caminho para as nossas comunicações. Pense


em histórias que permitem que os comunicadores preparem o
proverbial terreno para as ideias ou as informações que querem
plantar. A história opera como a semente de uma planta,
escondendo as suas raízes nas mentes dos ouvintes, que se
associam à história ativando as suas experiências. Um
comunicador pode, então, colher os frutos destes esforços. Não é
da clareza a comunicação que dá poder a um locutor, mas a
riqueza da comunicação, e essa riqueza vem da capacidade da
história de explorar as experiências dos ouvintes. Se o locutor
usar uma história para dar poder aos ouvintes, também ganha
poder. (GARGIULO, 2011, p. 76)

15
Figura 4 – O mundo digital gera concentração e distração

Fonte: scyther5/ iStock.com

A maior vantagem do storytelling reside no seu grande poder de gerar


confiança e envolvimento emocional. Num mundo onde a confiança é um artigo
cada vez mais raro, esse elemento se torna muito precioso. Comunicar-se de
forma persuasiva e atraente é um dos maiores talentos que um profissional
pode ter na atualidade.

O publicitário Xavier (2015), autor do livro Storytelling – Histórias que deixam


marcas, desenvolve um pensamento interessante sobre o tema:

Sempre que possível, as marcas devem aproveitar elementos


factuais que reforcem a credibilidade da sua história. Em nome da
eficácia narrativa, não se pode descuidar da entidade, o que
obviamente, insisto, se aplica a todas as pessoas públicas. Ernest
Hemingway não seria o escritor tão cultuado se não tivesse se
envolvido diretamente em conflitos como a Guerra Civil
Espanhola. Charles Bukowsky teria diminuída a força de sua
escrita se não fosse o alcoólatra de vida desregrada que destilava
nos textos a sua experiência pessoal. Pense em alguém famoso,
e aí estará mais um exemplo de correspondência entre vida real e
imagem projetada, uns mais, outros menos. Quanto maior a
16
ancoragem na realidade, mais firmes, autênticas, convincentes e
envolventes serão as histórias. (XAVIER, p 63, 2015).

C. Storytelling e turismo: o maior elemento motivador de uma viagem de


turismo é sempre a história. Franco (2017) assinala que é necessidade do ser
humano o ócio e o descanso, como nos aponta a pirâmide de Maslow, no
entanto, as pessoas não nascem querendo viajar. Daí entra o papel do turismo,
aliando nossos desejos e necessidades. O autor também observa que nossos
ancestrais eram nômades, ou seja, estavam sempre em partida, migrando em
busca de caça e coleta. Devido a evolução, a raça humana passou a se fixar,
“mas, decerto, essa pulsão por se mover, por buscar novas terras, cultivar
curiosidade sobre o que há depois da montanha, depois do lago, depois do
mar, depois da lua, tudo isso ainda resiste na psique humana”. (FRANCO,
2017, s.p.)

Conforme o autor, aos primeiros sinais de tédio as pessoas já querem se


mover, e são diversas histórias que estimulam o turismo, sendo a primeira
exatamente esta: “o movimento está gravado no DNA humano. Quando
viajamos, estamos respondendo a um apelo ancestral que sussurra nos nossos
ouvidos, “Vai, parte!”, e nos impele a pôr o pé na estrada. (FRANCO, 2017,
s.p.).

Mas não para por aí, outras diversas histórias nos estimulam e influenciam ao
apreço pelo turismo, como as que ouvimos na infância, os filmes que
assistimos, os livros, os relatos de experiências de outros viajantes que nos
pomos a ouvir.

Quando um sujeito viaja para estes lugares idílicos, ele está


atendendo a um pedido do seu departamento de sonhos que,
talvez, ele nem sequer tenha consciência de onde ou quando
nasceu. Ele nasceu por causa das narrativas que, durante toda a
sua vida, ele acompanhou. Isto ocorre porque os locais turísticos
são glamurizados por mil histórias e personagens, atores e atrizes
célebres, escritores e diretores famosos. É o efeito que o
storytelling exerce sobre o turismo (FRANCO, 2017, s.p.).

17
Figura 5 – Roma antiga

Fonte: Andrea Colarieti/ iStock.com

O diretor de cinema Woody Allen e o romancista Dan Brown têm o hábito de


situar seus filmes em diversas cidades. Woody Allen filmou em Londres (Match
Point), Espanha (Vicky Cristina Barcelona), França (Meia Noite em Paris), Itália
(Para Roma com amor) e, costumeiramente, em Nova Iorque. Dan Brown
localiza seus romances em Paris e Londres (Código da Vinci, Inferno,
(Florença, entre outros). Essas ficções servem para posicionar esses lugares
como prioridade da maioria dos sonhos de viagem de muita gente.

D. Storytelling e Educação: o storytelling nasceu como uma ferramenta


pedagógica tanto quanto de entretenimento. A história nasceu com a invenção
da palavra, sem dúvidas, a maior e mais polêmica invenção humana. E, desde
o momento em que o homem foi capaz de criar sons com significado, também
criou narrativas que não tinham apenas a função de entreter a plateia ao redor
das fogueiras ancestrais, mas também de trazer ensinamentos e exemplos
para os demais. Assim, nasceram os contos de fadas, os mitos, as lendas.
Todos com um fundo moral, para não dizer pedagógico. Sócrates, Platão,
Buda, por exemplo, contavam histórias para seus seguidores. Jesus, um
excelente storyteller, ilustrava seu evangelho, sua boa nova, com inesquecíveis

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parábolas. Como poderíamos prescindir de uma ferramenta tão envolvente
logo em sala de aula? Há tarefa mais difícil, atualmente, do que atrair a
disputada atenção de crianças e jovens?

O storytelling é mais uma das eficientes tecnologias, ao lado de tantas outras,


que deveriam ser mais utilizadas nas escolas. O problema é que, da mesma
forma que o professor precisa ser treinado para fazer o uso adequado de
computadores, softwares, materiais didáticos e paradidáticos, também precisa
ser preparado para ser um eficiente storyteller.

A TV, o cinema, a publicidade, a literatura e o teatro sabem desse segredo


mais do que qualquer um e alcançaram um sucesso inimaginável utilizando
esse expediente de contar histórias. Como a escola poderia rejeitar tal
acessório?

A escola, mais do que nunca, precisa ser um ambiente de aprendizagem


acadêmica, de valores, precisa se tornar um local onde se aprende com
debates, experiências, criatividade, estudos, disciplina e, obviamente, também
com prazer. Por isso, estou convicto de que todo bom professor, além de
dominar seu assunto, também deve ser um grande contador de histórias.
Afinal, histórias, há muito tempo, em todos os lugares, são fontes inesgotáveis
de aprendizado e prazer.

TEORIA EM PRÁTICA

Caros alunos, nesta leitura, compreendemos a importância do storytelling


como um recurso de propagação de ideias e de mensagens de diversas
naturezas. O storytelling é um recurso bastante utilizado em diversos setores
da atualidade. Suponha que você pretenda fazer uso da metodologia na sua
atividade profissional ou em sala de aula, sobre qual história você contaria
para envolver seu público ou seus alunos?

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PARA SABER MAIS

Recomendamos a leitura do livro:

PALÁCIOS, Fernando; TERENZZO, Martha. O guia completo do


Storytelling. Alta Books, 2018. 2019.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. O que você NÃO pode chamar de storytelling?

a) A arte de contar histórias.

b) A descrição técnica acerca de um produto.

c) A história contada com o intuito de ressaltar uma virtude.

d) Uma história contada com o objetivo de promover um produto.

e) Uma narrativa com um viés educativo.

2. Qual a definição de inconsciente coletivo?

a) É a camada mais profunda da psiquê, onde estão constituídos os


materiais herdados e imagens virtuais que são comuns a todos os seres
humanos. É o conjunto dos arquétipos.

b) É a camada mais superficial da psiquê humana. É o conjunto das


emoções mais arraigadas e profundas do ser humano.

c) É a camada intermediária da psiquê humana. É o modelo estrutural


formado pelo ID, Superego e Ego, descritos por Freud.

20
d) É a camada mais superficial da psiquê humana, onde estão localizados os
medos e desejos mais comuns da humanidade.

e) É a camada mais profunda da psiquê humana, onde estão localizadas as


características que diferenciam os seres humanos.

3. Qual narrativa é considerada a mais antiga história escrita?

a) O Livro de Jó.

b) O Alcorão.

c) A Ilíada, de Homero.

d) A epopeia de Gilgamesh.

e) O Gênesis.

Referências Bibliográficas

FRANCO, Max. A jornada do aprendiz: storytelling e metodologias ativas na


educação. São Paulo: Unitá, 2018.

______. Storytelling e suas aplicações no mundo dos negócios. São


Paulo: Atlas, 2015.

______. Storytelling como ferramenta de promoção do turismo. Max Franco,


trinta de maio de dois mil e dezoito. Disponível em:
<http://www.maxfranco.com.br/artigos/storytelling-como-ferramenta-de-
promocao-do-turismo/>. Acesso em: 12 jul. 2019.

______. Storytelling e turismo. Max Franco, quatro de dezembro de dois mil e


dezessete. Disponível em: <http://www.maxfranco.com.br/artigos/storytelling-e-
turismo/>. Acesso em: 12 jul. 2019.

______. O Storytelling: sua utilização como método de criatividade em diversos


setores e projetos socioculturais da modernidade. In: II Intercâmbio
Internacional de experiências: cultura, comunicação, marketing e

21
comunidade. 2015. Disponível em: <http://maxfranco.com.br/wp-
content/uploads/2016/04/Ensaio-USP-2015.pdf>. Acesso em: 12 jul.2019.

GARGIULO, T. L. O uso de histórias no ambiente de trabalho. Curitiba:


IBPEX, 2011.

GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo:


Companhia das Letras, 1990.

HAHARI,I.N. Sapiens, uma breve história da humanidade. L&PM Editores,


2015.

JUNG, C.G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro, 2008.

XAVIER, A. Storytelling, histórias que deixam marcas. Rio de Janeiro: Best


business, 2015..

Gabarito

Questão 1 - Resposta B.

Resolução: a explicação técnica acerca de qualquer elemento não pode ser


encarada como uma aplicação de storytelling, a não ser que esteja ancorada a
um relato ou narrativa. Na verdade, o storytelling é usado justamente para
tornar essa abordagem mais palatável, compreensível, acessível e atraente
para o interlocutor ou público.

Questão 2 - Resposta A.

Resolução: no inconsciente coletivo estão os elementos estruturais e as


camadas mais profundas da psique, que se constitui dos materiais que foram
herdados da humanidade. Para Jung (2008), criador da psicologia analítica, o
inconsciente coletivo é o resíduo psíquico do desenvolvimento evolutivo
humano. Esse resíduo se acumula em consequência de repetidas experiências
ao longo de muitas gerações. Os arquétipos, por sua vez, são predisposições
ou potencialidades existentes na psique humana, ou seja, universais e
herdadas e que não dependem da experiência pessoal para existirem, mas que
somente são ativadas pelas experiências de vida.

22
Questão 3 - Resposta D.

Resolução: o texto narrativo mais antigo encontrado é a Epopeia de


Gilgamesh, que relata as façanhas do rei Uruk. Datada entre 2800 a 2500 a.C.,
feita muito tempo antes da Bíblia hebraica, das mitologias gregas e romanas,
da Ilíada de Homero, dos textos budistas ou do Mahabharata hindu, os
sumérios contaram a jornada do rei de Uruk, que realiza diversas aventuras em
busca da imortalidade.

23
Elementos da narrativa. A jornada do herói.
Autora: Max Roger Franco Pompílio

Objetivos

• Compreender os elementos e estrutura das narrativas.

• Apresentar o conceito de monomito, ou jornada do herói.

• Compreender como o storyteller faz uso das narrativas e Jornada do


Herói para veicular suas mensagens.

24
1. Introdução
Olá! Seja bem-vindo a esta leitura fundamental!

Compreenderemos a respeito dos elementos e a estrutura da narrativa, além


de entender como Campbell (2005), famoso mitólogo americano, cunhou o
conceito de monomito, ou Jornada do herói, uma sequência típica de narrativa
embasada nos mitos e nas lendas da humanidade, que influencia a maioria das
narrativas encontradas nas produções de cinema, nos romances e séries
televisivas da atualidade.

Também compreenderemos como o contador de histórias (storyteller) faz uso


dessas métricas para veicular suas mensagens.

A função desta leitura fundamental é proporcionar entendimento sobre como a


humanidade constrói suas narrativas, desde o princípio, e como essas
estruturas servem de fundamentos para as narrativas que consumimos e
produzimos até hoje.

Desejamos a você uma excelente leitura e muito aprendizado!

2. Os elementos da narrativa
A narração é uma modalidade de texto que relata uma história real, ficcional ou
mistura dados reais e fictícios. O texto narrativo traz personagens que atuam
em um tempo e em um espaço, apresentados em relato realizado por um
narrador. Como afirma o professor Pereira (2012):

A narração consiste em um relato centrado em fatos ou


acontecimentos, os quais ocorrem em determinado tempo e
espaço, envolvendo personagem(ens) sob a ótica de um narrador,
por cuja voz se conhece a história relatada. É um tipo textual,
portanto, caracterizado pela temporalidade e pela localização
espacial, no qual as ações se desenvolvem, normalmente, em
torno de um conflito a ser solucionado em uma situação posterior
diferente da situação inicial. (PEREIRA, 2012, p. 536).

Narrar, portanto, é imaginar, criar, concatenar acontecimentos, demonstrar


reações e relatar fatos, reais ou imaginários, em uma sequência com começo,

25
meio e fim. Na maioria das vezes, o texto narrativo é escrito em prosa, apesar
de existirem algumas narrativas em verso, como a já citada Ilíada, de Homero,
e como podemos encontrar em diversas canções de Chico Buarque (Cantigas
de roda e João e Maria) e Legião urbana (Eduardo e Mônica e Faroeste
caboclo). A literatura de cordel é também um bom exemplo de narração feita
em verso, como também o poema de um dos nossos maiores poetas, Andrade
(2007):

Quadrilha

Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que
amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi
para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo
morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e
Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na
história. (ANDRADE, 2007, p. 54)

Textos narrativos são: romance, novela, conto, crônica e fábula. Para se


produzir, então, uma narrativa, é preciso se levar em consideração as
estruturas propostas por Aristóteles, Vladimir Propp, Joseph Campbell e
Christopher Vogler:

A. Aristóteles (384 – 322 a.C)

Como pode ser definida a narrativa?

Como afirma Vieira (2001, p. 599), os estudos iniciais da narrativa começam a


partir da Poética de Aristóteles,por volta do ano de 335 a.C.,(ou Περὶ ποιητικῆς
– Peri poetikes, no título em grego) é o mais antigo dos trabalhos conhecidos
de Aristóteles e se trata de uma compilação de diversos textos que tem como
objetivo apresentar o formato e a estética dos gêneros literários gregos.

26
Figura 1 - Grécia

Fonte: Pernter iIStock.com

Conforme Vieira (2001), Aristóteles analisa com tanta profundidade a tragédia


que, até o momento atual, continua sendo uma obra de referência para o
entendimento da narrativa. Aristóteles e Platão são os mais conhecidos
filósofos gregos, porém, ao contrário de Sócrates, que não deixou nada escrito
sobre suas ideias, Aristóteles deixou uma obra extensa, mas, infelizmente, nem
todas chegaram aos dias atuais.

O termo grego Poética significa fazer, pois foi exatamente essa sua função:
servir como um manual para seus alunos do Liceu, do fazer da arte, a
composição artística e dos gêneros praticados pelos gregos, como o drama, a
comédia, a tragédia e a sátira, além da poesia lírica e épica. É bom ficar atento
ao fato de que muitos desses termos que hoje são aplicados a campos
diferentes, como a poesia, narrativa ou o teatro, tinham funcionalidade diferente
na época de Aristóteles. Tudo se misturava, como, por exemplo, na obra de
Homero, A Ilíada, que foi escrita em verso. A poesia, além de estar ligada ao
teatro, era cantada, muitas vezes, com acompanhamento instrumental. É na
Poética que Aristóteles divide a estrutura da narrativa em três atos:

Assentamos que a tragédia é a imitação duma ação acabada e


inteira, de alguma extensão, pois pode uma coisa ser inteira sem

27
ter extensão. Inteiro é o que tem começo, meio e fim.
(ARISTÓTELES, 1996, p. 37).

Em suma, a narrativa é composta pela seguinte estrutura:

Introdução:

É o trecho inicial do texto que apresenta os personagens, como também onde


se localizam em relação ao tempo e espaço.

Desenvolvimento:

Nessa parte, o autor relata as ações e reações dos personagens em relação às


dificuldades, problemáticas e aos conflitos que são apresentados. A intenção é
criar um suspense que conduzirá ao clímax da história. Como afirma Koch
(2009):

A porta de entrada para qualquer história é o conflito. Isto porque


o conflito – isto é, algum embate a ser resolvido entre as pessoas
– é a única coisa que nos faz perguntar: o que vai acontecer? O
leitor que não se interessa por isso não vai se interessas pela
leitura, e ponto final. Sem um conflito que que mantenha essa
pergunta em algum lugar da mente do leitor, a história ficará
inerte, condenada à estagnação e a não ser lida. A necessidade
de saber o que vai acontecer – de saber qual é a solução para o
conflito – não é a única fonte do poder psicológico na ficção, mas
sem ela as outras ficarão frouxas. Os leitores viram as páginas
somente quando pode, ser induzidos a juntar-se ao autor nessa
busca. O estilo por si só, a personagem por si só – nenhuma
dessas coisas, por mais esplêndida que seja sua descrição, não
se sustenta sozinha. “O gato deitou no tapete”, como diz Le Carré,
“não é o começo de uma história, mas ‘O gato deitou no tapete do
cachorro’, sim.” (KOCH, 2009, p 98).

E como coloca Franco (2016):

É mentira quem diz que odeia problemas.

Na verdade, eu poderia dizer, sem medo, a maioria das pessoas


que conheço vive em busca de problemas.

28
Veja só o que fazemos para viver: há quem seja advogado,
jornalista, agente funerário, médico, professor, dentista… Esses
só existem porque existem problemas.

Por sinal, qual profissão existe que não seja para resolver
problemas? Bombeiro? Policial? Professor? Esteticista? No way!
Resolvam os problemas do mundo e todos estaremos
sumariamente desempregados.

Mas, aí você, leitor atento, poderá me questionar (e você mesmo


me arrumar um problema): – E os artistas? Os esportistas? Que
dificuldade solucionam?

– A do tédio, é claro! – eu responderia. (...)

(FRANCO, 2016, [s.p.])

Conclusão:

É o final, o arremate da história.

Geralmente, os autores concluem encerrando a trama com um desenlace da


trama de modo positivo ou, até mesmo, desfavorável para os protagonistas.
Entretanto, há outras formas de se fazer a conclusão. Acontece também de
haver conclusões inconclusas. São aquelas narrativas que ou deixam em
aberto o final – para que o próprio leitor conceba esse fim –, ou propõem um
novo começo, com mais alguma surpresa ao final que traga uma reviravolta e
que, possivelmente, será desenvolvida em uma sequência.

B. Vladimir Propp (1895 – 1970)

O russo Vladimir Propp foi um dos precursores da narratologia e do


estruturalismo. Dedicou-se a estudar sobre os contos russos e criou uma
teoria, demonstrando que existem pontos entre todos os contos de fadas
russos. A questão da narrativa é tratada por Propp (1983, apud VIEIRA, p. 599)
que, analisando os contos de fada russos, lançou as bases da narratologia.
Propp (1983, apud VIEIRA, p. 599) se propõe a fazer uma morfologia dos
contos de fada, que denomina de contos maravilhosos. Como afirma Vieira
(2001, p. 599), o autor entende morfologia como uma “descrição dos contos
segundo as suas partes constitutivas e as relações destas partes entre si e
com o conjunto”. coloca: “No estudo do conto, a questão de saber o que fazem
29
as personagens é a única coisa que importa; quem faz qualquer coisa e como
o faz são questões acessórias”. Lafetá (2004) define:

V. Propp demonstrou que os contos populares se constituem


sempre em torno de um núcleo simples. O herói sofre um dano ou
tem uma carência, e as tentativas de recuperação do dano ou de
superação da carência constituem o corpo da narrativa. (LAFETÁ,
2004, p. 79)

Propp (1983, p. 59, apud VIEIRA, p. 599), conceitua função como “a ação de
uma personagem definida do ponto de vista de seu significado no desenrolar
da intriga”. E como afirma Vieira (2001, p. 611):

Atos idênticos podem ter significados diferentes e assumir


funções diferentes na medida em que os elementos morfológicos
da ação, sempre em relação ao contexto do conto, sejam
diferentes. (VIEIRA, 2001, p. 611)

Segundo Vieira (2001), o profícuo trabalho de Propp (2006), mesmo sendo, a


princípio, voltado para o folclore russo, tem um papel fundamental no estudo da
narrativa, não só pela sua originalidade e erudição, mas, principalmente, pela
concepção de que possa existir elementos comuns na estrutura das narrações.

Figura 2 – Contos de fadas

Fonte:piolka/ IStock.com

30
C. Carl Jung 1(1875 – 1961)

Como já citamos anteriormente, Jung (2008) exerce um papel fundamental no


estudo das narrativas, não só pelos conceitos de inconsciente coletivo e
arquétipos, mas também porque foi um dos primeiros pesquisadores a trazer à
luz a questão da existência de uma estrutura no enunciado narrativo. Como
atesta Vieira (2001), foi Jung que reparou que o sonho tende a se organizar
como um drama. E completa:

Retomando o conceito aristotélico de drama, Jung afirmou que


certos sonhos, os quais chamou de sonhos médios, apresentam
tal estrutura. Assim os sonhos apresentam uma situação inicial, a
qual Jung chamou de Exposição. Ela indica o lugar da ação, os
personagens e a situação inicial do drama. A segunda fase é o
Desenvolvimento da ação. Aqui, a situação inicial complica-se,
estabelecendo uma tensão, porque não se sabe o que vai
acontecer. Então o sonho encaminha-se para a terceira fase, a
Culminação ou Peripécia, na qual acontece alguma coisa de
decisivo, ou a situação muda completamente. A quarta e última
fase é a Lise, Solução ou Resultado. Aqui, o problema ou a falta,
apontada na dramatização onírica, resolve-se. (VIEIRA, 2001, p.
601).

Para Jung (2008), os sonhos e as narrativas se relacionam. Seria justamente


por meio da interpretação dos sonhos, que um indivíduo poderia compreender
os recados que o seu inconsciente quer lhe enviar. Além disso, os sonhos não
são somente narrativas individuais que contam apenas histórias pessoais. A
linguagem dos sonhos está presente o tempo todo em filmes, novelas, livros,
revistas, jornais e todo tipo de mídia. Esses canais se apropriam dessas
narrativas oníricas ou dos sonhos, especialmente quando fazem uso da

1
Em 1913, Jung (2008) funda a Psicologia Analítica ao publicar a obra Metamorfoses e símbolos da
libido, em que expõe abertamente suas próprias ideias em grande parte contrárias à Psicanálise (entre
alguns exemplos, acredita na importância da sexualidade na vida humana, porém, não a considera como
o único e principal motivo propulsor da vida e das causas das doenças psíquicas; discorda do método de
interpretação dos sonhos, estruturado por Freud, e formula seu próprio método; critica a visão
positivista de Freud sobre a Psicologia. Ao contrário deste, crê na importância da busca da
espiritualidade e do papel das religiões para uma vida saudável). Ramos, L. M. A. (2002). Apontamentos
sobre a psicologia analítica de Carl Gustav Jung. ETD - Educação Temática Digital, 4(1), 110-114.
31
linguagem simbólica, pois, como afirmava Jung (2008, p. 25,34,43), a maioria
dos símbolos e imagens simbólicas originam-se em nosso inconsciente,
especialmente nos sonhos. Portanto, compreender o mundo inconsciente e a
linguagem simbólica presente, em especial nos sonhos, é uma boa estratégia
para entender melhor o ser humano e a construção da nossa cultura. Afinal,
nós percebemos o mundo por meio de narrativas e nos expressamos por meio
de narrativas.

D. Joseph Campbell (1904 – 1987)

Segundo Franco (2018), Campbell foi um antropólogo e mitólogo americano


que fez um largo estudo dos mitos e da humanidade. É um dos estudiosos que
vtrará luz para um comportamento antigo da humanidade: o apreço por
histórias. Por que gostamos tanto de histórias? Para o pesquisador e mitólogo
Joseph Campbell, as histórias fazem parte de um comportamento antigo, uma
ligação profunda com uma sequência típica, que passa de geração a geração,
deixando marcas profundas na mente humana. É o que Jung (2008) apelidou
de arquétipo, uma marca que faz parte do nosso inconsciente coletivo.

O fato é que todo ser humano ama histórias e, geralmente, tem preferência por
certa estrutura de história. De acordo com Franco (2017), é o que Campbell
chamava de Jornada do Herói.

A jornada do herói, identificada por Campbell nos seus livros, foi


aplicada de forma proposital num filme que virou um clássico,
influente até nos tempos atuais: Guerra nas estrelas. Depois do
sucesso estrondoso do filme de George Lukas, muitos outros
roteiros fizeram uso desta “fórmula”, deste modelo de roteiro que
virou, praticamente, regra de tão onipresente.

Muitos livros, filmes e séries célebres são feitos, atualmente, a


partir das descobertas de Campbell. Muitos dos heróis que
amamos são facilmente identificados como herdeiros deste
modelo tão antigo quanto eficaz de erigir mitos.

Observemos, por exemplo, os mais festejados blockbusters do


cinema em 2017 (Mulher Maravilha, Logan, Homem-Aranha, Thor
Ragnarok, Liga da Justiça, Star Wars Capítulo VIII…) e me diga
qual destes não obedece fielmente o modelo de Campbell?

32
Observe as histórias de IT, a Coisa, Planeta dos macacos: a
guerra, Transformers, John Wick, A bela e a fera e Cars 3, cruze
com a estrutura do monomito e me responda: é ou não a mesma
estrutura de enredo?

– Então, gostamos ou não da mesma história? (...) (FRANCO,


2017, [s.p.])

Em virtude da aplicação massiva da sua fórmula, por meio do livro A Jornada


do Herói, em diversas produções ficcionais (romances, contos, peças de teatro,
filmes, propagandas e séries), Campbell (2005) foi um dos mais influentes
intelectuais do século XX e demonstra fôlego para continuar sendo ainda por
muito tempo, principalmente, enquanto a sequência do monomito, ou Jornada
do Herói, for tão produtiva e geradora de tantos sucessos.

Entretanto, qual é essa sequência que virou fórmula para tantos filmes de
sucesso de alcance mundial, como os da Marvel e da Disney, além de
romances como os filmes da saga Harry Potter e Código da Vinci?

Confira e perceba as coincidências que existem na história do livro Jornada do


Herói:

1. O mundo normal - É o mundo ordinário. “Um herói vindo do mundo


cotidiano” (CAMPBELL, 2005). É a abertura comum de qualquer
história. Tudo que existe antes do problema se apresentar. É
apresentação dos personagens, do tempo e do lugar do enredo.
2. O chamado à aventura - Um desafio ou problema se apresenta ao
herói, também chamado de incidente provocador ou iniciático,
catalisador e gatilho. É o convite para a aventura. Na literatura, é
comumente chamada de problemática.
3. A recusa do chamado - O herói hesita, demora ou mesmo se recusa
a aceitar o convite à aventura. Quase sempre porque tem medo ou
não se acha à altura do desafio. Vogler (2015) cita como exemplo a
hesitação de Jesus na noite do horto das oliveiras, quando ele diz: Pai,
afasta de mim este cálice. Em diversas histórias, mitos e lendas, ocorre
este mesmo sentimento de desconforto inicial antes da confirmação
da entrada na aventura, de acordo com Vogler (2015).
4. Encontro com o mentor - O herói encontra um mentor (um sábio,
pajé, mago, xamã, monge, entre outros) que o faz aceitar o chamado
33
e, geralmente, o prepara ou até treina para sua jornada. O encontro
com o mentor é o estágio da jornada em que o herói recebe os
suprimentos, o conhecimento e a confiança, itens indispensáveis para
superar o medo e dar início à aventura.
5. A travessia do primeiro limiar ou portal - É quando o herói se
compromete de todo o coração com a aventura. Abandona o mundo
comum para adentrar ao mundo especial. É equivalente ao famoso
ponto de virada, da estrutura cinematográfica convencional de três
atos (VOGLER, 2007, p. 186).

Se, no entanto, o chamado é levado em consideração, o indivíduo


é instado a engajar-se numa aventura perigosa. É sempre
perigosa porque ele sai da esfera familiar da comunidade. Nos
mitos, a representação disso é afastar-se da esfera conhecida em
direção ao grande desconhecido. A isso chamo a travessia do
limiar. (CAMPBELL, 1990, p. 138).

6. Provações, aliados e inimigos - O herói está no mundo especial.


Segundo Campbell (2005, 102), é “uma paisagem onírica povoada por
formas curiosamente fluidas e ambíguas, na qual se deve sobreviver
a uma sucessão de provas”. O protagonista é testado, supera provas,
encontra aliados e enfrenta inimigos. Nessa fase, está aprendendo a
se mover no novo mundo.
7. A aproximação - A aproximação da caverna secreta. O herói, mais
adaptado ao mundo especial, tem sucesso e começa a se aproximar
de suas metas. De acordo com Vogler (2015 p. 203), nesse momento,
“é hora de fazer as preparações finais para a provação principal da
aventura”. Nos filmes, essa fase é comumente descrita como a que
ocorre antes das grandes lutas ou da grande crise. É aquele interlúdio
que ocorre, geralmente, ao redor de uma fogueira, onde os guerreiros
discutem amenidades enquanto afiam suas espadas.
8. A grande provação - A maior crise da jornada. Um teste de vida ou
morte. Segundo Vogler (2015, p. 218), é “o simples segredo da
provação: os heróis precisam morrer para poderem renascer. O
movimento mais dramático com o qual o público se diverte é o de
morte e renascimento.”

34
9. A recompensa - Nos grandes mitos, é comum que o herói, que
enfrenta a morte, supere seu medo, depois ganhe uma recompensa.
Campbell (2005) afirma que a recompensa é uma espécie de bênção
que o herói consegue em virtude do esforço empreendido por sua
vitória. Sem a recompensa, a jornada não chega ao seu final. Como
exemplo da obtenção de recompensa, podemos citar alguns
personagens da literatura, tais como: Ulisses, que depois de todas as
façanhas da Ilíada, retorna ao seu reino e à sua família; Buda que
atinge a iluminação e Perseu que liberta os jovens de Atenas das
garras do Minotauro.
10. O caminho do retorno - É muito comum que o herói descreva um
caminho de retorno ao mundo comum. Na literatura, tanto Frodo
quanto Bilbo Bolseiro (da saga O Senhor dos Anéis) retornam ao
Condado. As crianças também retornam de Nárnia (da obra As
crônicas de Nárnia). Há muitos outros exemplos na mitologia, no
cinema e na literatura, desse comportamento comum do herói em sua
jornada.
11. A ressurreição ou depuração do herói - É natural que se apresente
ainda, nesse momento, alguma provação, a derradeira para o herói. É
seu último teste. Mais uma vez, enfrenta a morte e deve usar tudo que
aprendeu. Não obstante, o que importa é que o herói não é mais o
mesmo, superou suas fraquezas e inseguranças. Agora é outro
sujeito, mais forte e confiante. Vogler (2015), afirma que o herói
geralmente enfrenta dois dilemas, um externo, que é o problema com
o qual ele se depara; e outro, interno. Comumente é uma questão
profunda, uma insegurança ou debilidade com a qual ele convive há
tempos.

Para uma história ser completa, o público precisa vivenciar um


momento adicional de morte e renascimento, semelhante à
Provação Suprema, mas com uma diferença sutil. Esse é o clímax
(não a crise), o último e mais perigoso encontro com a morte. Os
heróis precisam passar pela purgação e purificação finais antes
de voltar ao mundo comum. Mais uma vez, devem sofrer
transformações. (VOGLER, 2015, p. 263).

35
12. O regresso com o Elixir - Para Campbell (2005), o herói não é só um
sujeito que supera desafios e realiza façanhas, mas alguém que está
disposto a se sacrificar pela coletividade. Depois de toda a jornada
cumprida, falta um estágio muito importante. O herói volta para casa
com um elixir, um presente qualquer, e o usa para ajudar a todos no
mundo comum. É o legado do herói. A herança que ele deixa para a
posteridade. É o caçador que sofre e se arrisca para trazer comida
para a tribo e que, no fim, não traz apenas o alimento, mas também as
histórias do que viu, viveu ou imaginou. A tribo também se alimenta
dessas narrativas, afinal, elas oferecem entretenimento, emoções e
exemplos de coragem e argúcia. É assim que nascem os mitos e de
acordo com Vogler (2015, p. 289), “a chave verdadeira para o estágio
final da jornada do herói é o elixir. O que o herói traz consigo do mundo
especial para compartilhar no retorno.”

Veja a seguir, um esquema que sintetiza a Jornada do Herói descrita acima:

Figura 3 – Jornada do Herói

MUNDO
COMUM
RETORNO
CHAMADO
COM ELIXIR

RESSUREIÇÃ A RECUSA DO
O CHAMADO

RETORNO O MENTOR

RECOMPENS O PRIMEIRO
A PORTAL

PROVAÇÃO ALIADOS E
SUPREMA INIMIGOS
APROXIMAÇÃO
DA CAVERNA

Fonte: elaborado pelo autor

36
3. Os elementos da narrativa

• Espaço

Espaço é o lugar no qual a narrativa acontece e é importante não só para situar


o leitor geograficamente, mas, principalmente, porque interfere na concepção
dos personagens. Afinal, o espaço pode determinar aparência, vestuário,
idioma, costumes, muito das condições culturais dos personagens.

Segundo Pereira (2016), o espaço pode ser físico (uma rua, um


estabelecimento, um bairro, uma cidade, um país) ou psicológico (as
montanhas da infância, os verdes campos da juventude, o deserto de uma
velhice).

• Tempo

É tão importante quanto o espaço para definir características dos personagens,


principalmente, as psicológicas. As pessoas são influenciadas pelo seu tempo,
no que concerne às visões de mundo, atitudes, pensamentos e costumes. O
tempo da narrativa trata da ordem dos acontecimentos e pode ser dividido em:

• Cronológico

Refere-se à passagem das horas, dos dias, meses, anos etc.

• Psicológico

É relativo às lembranças dos personagens e aos sentimentos vividos por eles.


O tempo pode ser tratado de diversas formas dentro de uma narrativa, como o
flashback (que trata de eventos ocorridos antes do Ttmpo da ação da
narrativa); o flash forward (que trata do que ocorrerá no futuro). Em uma obra
narrativa, podemos também mexer com a ordem cronológica, começando a
narrar, por exemplo, pelo desenvolvimento ou até pela conclusão, e depois
voltar no tempo para explicar o que ocorreu antes. Pereira (2016) faz referência
também ao fluxo de consciência, uma técnica que se destina a explicitar os
sentimentos e pensamentos dos personagens por meio de impressões visuais,
olfativas, auditivas, físicas, associativas, estimulando a imaginação do leitor e
sua capacidade empática de se colocar no lugar dos personagens.

37
• Tipo de Narrador

Uma história sempre é contada por alguém. O narrador é essa voz que relata a
sequência de fatos e que pode narrar os acontecimentos a partir de diversas
perspectivas:

- Narrador personagem

Participa da história ou em primeira pessoa (eu, nós).

- Narrador observador

Pode ou não participar ativamente da história. Observa os acontecimentos de


fora e relata o texto em terceira pessoa (ele, ela, eles, elas).

- Narrador onisciente

Conhece os fatos e também pode invadir os pensamentos e emoções dos


personagens, mesmo sem participar da história. A visão do narrador onisciente
costuma ir além dos fatos, quase como se tivesse um poder telepático ou
sobrenatural. Segundo Pereira (2016), pode até alertar o leitor sobre fatos
futuros e repercussões dos eventos em momentos posteriores.

• Personagens

São os seres reais ou fictícios que participam da história: pessoas ou animais,


seres fantásticos ou mitológicos, ou até objetos que ganham vida (como no
filme Toy story). Tudo que possa ser humanizado pela criatividade do autor da
história.

Os personagens podem ser:

- Protagonistas: os destaques da narrativa que ocupam o lugar principal da


história.

- Antagonistas: os adversários dos protagonistas, que vão gerar ou


potencializar conflitos.

- Secundários: são personagens com papéis menos importantes na narrativa,


mas que contribuem para a sequência de acontecimentos.

38
• Tipos de discursos (as vozes do texto)

Em narrativas, existem três maneiras do locutor colocar sua voz:

1. Discurso direto: a própria personagem fala. Transcrição da fala das


personagens, sem participação do narrador.
Ex.: Paula falou: - Trabalhei o dia inteiro.

2. Discurso indireto: o narrador interfere na fala da personagem, uma


intervenção do narrador no discurso ao utilizar suas próprias palavras
para reproduzir as falas das personagens.
Ex.: Paula falou que havia trabalhado o dia inteiro.

3. Discurso indireto livre: há intervenções do narrador e das falas dos


personagens. Funde-se o discurso direto com o indireto.
Ex.: O despertador tocou às seis da manhã. Mais um maldito dia de
trabalho! O dia estava mais quente que o normal. Uma boa desculpa
para uma cerveja gelada!

Como podemos observar acima, os elementos das narrativas são estruturas


importantes, pois fazendo uso delas podemos aprimorar nossa forma de
reconhecer, apreciar e até montar e escrever narrações.

PARA SABER MAIS

Christopher Vogler (2015), produziu um pequeno manual chamado Guia


prático do herói de mil faces, que acabou disseminando entre os roteiristas
da Disney e do trade americano. Nesse pequeno guia, Vogler resume as
principais ideias da obra de Campbell (2005) e a transforma em uma espécie
de fórmula, fundamentando que todos os mitos a seguem, estabelecendo,
então, um padrão a ser obedecido por todo roteirista que deseje produzir um
filme que alcance sucesso de público. A partir de então, é difundido o
conceito de monomito ou da saga do herói. Vogler acaba ampliando seu

39
manual e transformando em um livro que é referência para escritores e
roteiristas, chamado A jornada do escritor.

3 - O herói clássico é sempre forte e destemido

Fonte: AscentXmedia/ iStock.com.

3. Considerações finais

Como foi possível observar nesse estudo, a jornada do herói está presente na
maioria das narrativas com as quais nos deparamos durante nossa vida. Os
grandes blockbusters de Hollywood, os romances best sellers, as séries de
televisão mais assistidas, os jogos virtuais, em sua maioria, têm seus enredos
montados a partir da jornada do herói descrita por Campbell (2005) e resumida
por Vogler (2015), tendo como base a psicologia analítica de Jung.

É muito importante, portanto, conhecer o monomito, entender seu alcance e


saber usar essa estrutura a nosso favor.

40
ASSIMILE:

Nós nascemos ouvindo, lendo e acompanhando histórias. Seria simples


pensar que, depois de tanto contato, todos seríamos grandes contadores de
histórias. A verdade é que essa postulação não se confirma no nosso dia a
dia, seja profissional ou pessoal. Existem técnicas, modelos e estruturas
concebidos e estudados desde Aristóteles até a modernidade. Campbell
(2005), Jung (2008), Vogler (2015) e muitos outros realizaram estudos
profundos sobre os sonhos, narrativas, mitos e lendas que são a matéria-
prima das grandes histórias contadas e recontadas pela humanidade. Por
sorte, podemos e devemos aprender a nos tornarmos bons storytellers por
meio desse robusto repertório.

TEORIA EM PRÁTICA

Caros Então, o que você achou das estruturas das narrativas? Já saberia
aplicar na prática? Como visto nesta leitura fundamental, existem modelos,
técnicas e estruturas para construir boas narrativas. Suponha que você
pretenda fazer uso desses elementos para contar uma história, a fim de atrair
seu público ou alunos. Defina tempo, espaço, protagonista, antagonista,
personagens secundários, tipo de narrador, tipo de discurso, e conte a
sua história.

41
VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. O que NÃO é verdade tratando de narrativas?

a) A única forma de narrar é por meio da prosa.

b) Aristóteles tratou da arte de narrar em sua obra intitulada Poética.

c) A Ilíada é uma narrativa feita em verso.

d) Aristóteles dividiu a narrativa em três etapas: introdução, desenvolvimento


e conclusão.

e) Vladimir Propp é um estudioso russo que se propôs a fazer uma


morfologia dos contos de fadas.

2. Sobre a visão da narrativa para Jung (2008), podemos afirmar:

a) As narrativas não se relacionam com psicologia analítica praticada por


Jung.

b) As narrativas se relacionam com os sonhos. Para Jung, os sonhos


funcionam como dramas encenados no nosso inconsciente.

c) Jung enxerga as narrativas como emanações mais profundas do


consciente humano.

d) Carl Jung se dedicou ao estudo das narrativas encontradas no folclore


russo.

e) Não se identifica influência da psique humana nas narrativas encontradas


no mundo da ficção (filmes, séries e romances).

3. Sobre Campbell (2005), é justo dizer que:

a) Cunhou o conceito de inconsciente coletivo.

42
b) Cunhou o conceito de arquétipos.

c) Cunhou a poética.

d) Cunhou a expressão jornada do herói ou monomito.

e) Escreveu o roteiro do filme Star Wars.

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Carlos Drummond. Alguma Poesia. 8a ed.- Rio de Janeiro:


Record, 2007.

ARISTÓTELES. Aristóteles. São Paulo: Ed. Nova Cultura,1996.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. 10. ed. São Paulo: Pensamento,
2005.

______. MOYERS, B. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1990.

FRANCO, M. A jornada do aprendiz: storytelling e metodologias ativas na


educação. São Paulo: Unitá, 2018.

______. Storytelling e suas aplicações no mundo dos negócios. São


Paulo. Atlas, 2015.

______. Histórias amadas. Max Franco, vinte e sete de setembro de dois mil e
dezessete. Disponível em: < https://www.maxfranco.com.br/cronicas/historias-
amadas/ > Acesso em: 18 jul. 2019.

______. A história é a história do problema (campanha da Cornetto). Max


Franco, vinte e quatro de abril de dois mil e dezesseis. Disponível em:
<http://www.maxfranco.com.br/repertorios/dicas-de-filmes/a-historia-e-a-
historia-do-problema-campanha-da-cornetto/>. Acesso em: 18 jul. 2019.

JUNG, C.G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro, 2008.

KOCH, S. Oficina de escritores. São Paulo. Martins Fontes, 2009.

LAFETÁ, João Luís. A Dimensão da Noite e outros ensaios. Org. Antônio


Arnoni Prado. São Paulo, Duas Cidades. Ed. 34, 2004.

43
PEREIRA, D. Curso de Redação. Fortaleza. TPL, 2016.

PROPP, Vladimir. Morfologia do conto maravilhoso. Tradução de Jasna


Paravich Sarhan. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

RAMOS, L. M. A. Apontamentos sobre a psicologia analítica de Carl Gustav


Jung. ETD - Educação Temática Digital, 2002.

VIEIRA, André Guirland. Do conceito de estrutura narrativa à sua crítica.


Psicol. Reflex. Crit. Porto Alegre, v. 14, n. 3. 2001. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
79722001000300015&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 31 jul. 2019.

VOGLER, C. A jornada do escritor. São Paulo. Aleph, 2015.

Gabarito

Questão 1 - Resposta A.

Resolução: há textos narrativos feitos em verso, como: a Ilíada, de Homero;


muitas das óperas clássicas; canções de Chico Buarque e Legião Urbana;
literatura de cordel etc.

Questão 2 - Resposta B.

Resolução: as narrativas se relacionam com os sonhos. Para Jung (2008), os


sonhos funcionam como dramas encenados no nosso inconsciente, funcionam
como dramas. Além disso, também podemos encontrar elementos oníricos e
arquetípicos nas ficções.

Questão 3 - Resposta D.

Resolução: foi Campbell (2005) que identificou a sequência típica do monomito


(ou saga do herói) presente em muitas das história e lendas contadas desde os
tenros anos da humanidade e em diversas locais do planeta.

44
Funções da linguagem. A comunicação no
processo de ensino-aprendizagem. Práticas
de storytelling na educação.
Autora: Max Roger Franco Pompílio

Objetivos

• Refletir sobre o papel da comunicação no ensino e aprendizagem.

• Apresentar a jornada do aprendiz.

• Conhecer a aplicação de storytelling na educação.

45
1. Introdução
Olá! Seja bem-vindo a esta leitura fundamental!

Atualmente, está cada vez mais difícil chamar a atenção do seu público e
aplicar uma argumentação eficiente que seja capaz de gerar engajamento e
envolvimento com sua proposta. O storytelling é uma metodologia que
possibilita aumentar a capacidade de convencimento, explicação e interação
emocional com qualquer interlocutor.

Você sabia que o storylelling é uma metodologia que melhora a capacidade de


convencimento do emissor de qualquer mensagem?

Por isso, é essencial que o educador ou professor moderno domine essas


metodologias.

Vamos compreender, portanto, como fazer uso do storytelling na prática


docente e entender quais são as funções da linguagem.

Desejamos a você uma excelente leitura e muito aprendizado!

2. A comunicação no processo de ensino-


aprendizagem
Comunicar-se parece fácil, mas não é tão fácil como parece. É sempre possível
que exista algum percalço, ruído de comunicação ou desentendimento entre
emissor e receptor. No processo de comunicação e interação, ambos são
interlocutores.

Há quatro tipos de comunicação: a verbal, não verbal, mista e digital.


Atualmente, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, é muito importante
que dominemos todas as modalidades de comunicação para que sejamos bem
compreendidos e para que possamos veicular com clareza e persuasão nossas
ideias. A comunicação ocorre quando interagimos com outras pessoas,
utilizando linguagens de qualquer tipo.

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Conheça um pouco mais sobre estes tipos de comunicação resumidos no
esquema abaixo.

Figura 1 - Esquema

Fonte: adaptado de Cereja e Magalhães (2005, p. 19).

Quando as pessoas se comunicam verbalmente, de forma escrita ou oral,


utilizam um código, que é uma convenção estabelecida por um grupo de
pessoas ou por toda uma comunidade. Como afirmam Cereja e Magalhães (p.
19, 2005), “o código é um conjunto de sinais convencionados socialmente para
a construção e transmissão de mensagens”.

No Brasil, o código – que poderá ser definido como sendo a nossa língua
materna – é a Língua Portuguesa. Quanto mais você compreende nossa
linguagem (ou o nosso código), melhor você se comunica. Segundo Cereja e
Magalhães (2005, p. 25), “língua é um código formado por signos (palavras) e
leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem
entre si”.

47
Outro fator importante quando tratamos de linguagem é a questão das
variedades linguísticas. Cada pessoa tem sua forma de falar. Uma forma que
se origina não só da região na qual alguém nasceu e se criou, mas também
das condições sociais, culturais, educacionais e históricas.

Há, então, uma variedade padrão ou culta, que, geralmente, merece mais
prestígio e uma língua não padrão, que é marcada pela informalidade.

Existem também variedades provocadas por questões regionais, os dialetos, e


variedades que ocorrem de acordo com o grau de formalismo existente na
situação.

Entre os registros de fala e escrita há, geralmente, variações linguísticas. A fala


tem a tendência de ser menos planejada, mais fragmentada e pouco
elaborada. Os registros escritos exigem, quase sempre, maior planejamento e
elaboração.

2.2 Storytelling: história contada com intenção


Podemos dizer que não há discurso sem intencionalidade. Falar de
storytelling é falar de intencionalidade. Essa é uma discussão interessante a
ser encarada. Storytelling e contar histórias são coisas diferentes apesar da
tradução literal? A resposta é simples: são. O storytelling traz sempre uma
intencionalidade. O uso da metodologia serve justamente para proporcionar a
entrega de algo por meio de uma história. Uma venda, um aprendizado, o
alinhamento de uma equipe, a promoção de algum valor, com o storytelling, a
história é usada como uma estrada para que ocorra algum trânsito. A narrativa
que segue uma abordagem de storytelling tem sempre algo inserido, uma
mensagem persuasiva, a promoção de um valor, de um serviço ou produto, de
um candidato, de uma religião, de alguma adesão a ser feita. Já no simples ato
de contar uma história, a história pode ser pela história, como ocorre na
literatura clássica. A história, nesse caso, tem valor pela própria história, pela
forma com a qual é contada, pela estética proposta, pela fruição e pelo prazer
da leitura que esta propõe. Machado de Assis, Rubem Braga, Drummond e
outros autores que fazem parte do cânone literário, não produzem, a rigor,
storytelling, já que não desejam oferecer outra coisa senão a literatura pela
literatura, pelo prazer que ela pode proporcionar.

48
E no caso da História, aquela com “H maiúscula”? Essa é uma discussão
fascinante. Orwell (1903 - 1950) diz que “a história é escrita pelos vencedores”.
Afinal, geralmente, é versão desses vencedores que tendem a permanecer nos
livros de História. Portanto, é também possível perceber o relato histórico como
uma interpretação dos fatos concebida e divulgada por alguém que tinha
também suas razões para redigir a própria ideia daquela história. A história
também é escrita para denotar algo e de forma parcial. História oficial também
pode ser uma expressão de storytelling.

Poderíamos afirmar que existiria mais verdade em um livro de ficção, como um


romance, como no livro Por quem dobram os sinos (1940), por exemplo, do
escritor americano Ernest Hemingway, do que em um livro de história? Como
assim? Há uma verdade nessa obra, e em outros livros de literatura, que são
praticamente inquestionáveis, porque há uma verdade humana. Uma verdade
sobre a alma e a prática dos homens e mulheres dos nossos tempos e de
outros tempos. Já, livros de história podem trazer versões e interpretações de
fatos à luz de alguma ideologia ou crença. Livros, por exemplo, escritos por
alguém que deseje enaltecer um sistema político, geralmente, trazem uma
visão reducionista e tendenciosa sobre o sistema oposto.

Alguém pode se perguntar, depois dessas concepções, se valeria a pena


acreditar nas informações que existem nos livros de História.

Há uma técnica tão antiga quanto eficiente. Para ter ideia do que realmente se
deu na História, requer sempre cruzar informações e buscar outras fontes para
formar uma opinião sobre algum relato. O ideal seria que agíssemos assim
sobre tudo, ainda mais nesse tempo de fake news.

Fake news, portanto, são modalidades de storytelling? Claro que são. São
narrativas tendenciosas, por vezes destrutivas e intencionais. Podemos dizer
que as fake news são uma aplicação negativa de storytelling, uma corrupção
da técnica. Como afirma Franco (2019, s/p.):

A expressão fake news, ou notícia falsa, é mais antiga do que


parece. Segundo o dicionário Merriam-Webster, esse termo é
utilizado desde o final do século XIX. A diferença dos tempos
atuais está na velocidade e na escala de gente alcançada pela
disseminação das informações falsas, principalmente por causa
do advento das redes sociais.
49
O storytelling é uma metodologia que ajuda a promover, produtos,
serviços, valores, candidatos, marcas, ideologias, credos, enfim,
ideias, a partir de histórias. Como ferramenta, ele não é, a priori,
nem bom nem mau, tudo vai depender do seu uso. Pode ser
usado para os fins menos nobres? O ideal seria que não. Mas o
mundo real mora longe do ideal. A técnica do storytelling não só é
usado de forma perniciosa, como já foi – e bastante (basta ver
como o nazismo ou os sistemas totalitários fizeram uso da
propaganda e como criaram as próprias narrativas). O problema,
porém, é que não há qualquer indício que essa prática não vá se
tornar ainda mais massiva e manipuladora. (FRANCO, 2019,
[s.p.])

3. A comunicação entre professor e aprendiz

Como citamos antes, comunicar-se pode até parecer fácil, mas de fato não é.

Você já deve ter passado pela situação de achar que foi claro ao dizer algo,
mas seu interlocutor entendeu outra coisa. O contrário também já deve ter
ocorrido inúmeras vezes. Pode também já ter passado pela situação de ler
inúmeros parágrafos de um texto qualquer, sem compreender muita coisa. Por
que esses fenômenos ocorrem?

Várias podem ser as causas, dentre elas: ou quem elaborou a mensagem não
foi competente ao fazê-lo, ou seu interlocutor não teve repertório para decifrá-
la.

Nesse sentido, é fundamental que o emissor de uma mensagem consiga


alcançar a compreensão e prender a atenção de seu público.

É essencial, portanto, que alguém que esteja disposto a veicular oralmente


mensagens, para qualquer pessoa ou assembleia, prepare seu texto e suas
abordagens retóricas para, não só se fazer entender por seu público, mas
também para manter sua atenção da melhor forma possível. Não dá para se
vender nada para alguém que está desatento ao que você diz. Também não dá
para ensinar coisa alguma. Para ensinar, é preciso da concentração total do
aluno ao seu discurso.

50
Como conseguir a atenção de crianças e jovens, que, por vezes, são
naturalmente tão dispersos?

Há diversas formas, atualmente, para se lograr esse foco tão desejado. Para
isso, as metodologias ativas são essenciais. Não existe mais, ou não deveria
mais existir, aquele velho conceito de aula palestrada, expositiva, conceitual,
conservadora e interminável. As novas gerações desejam se sentir mais
participativas. Desejam ser incluídas como protagonistas do processo ensino-
aprendizagem, e não ser meros expectadores.

Portanto, todas as metodologias ativas, hoje tão debatidas como o Problem


Based Learning (PBL), a aula invertida, a gamificação, e todas as demais
metodologias, são fundamentais para romper essa tradição arcaica da
aprendizagem passiva. São todos os métodos utilizáveis para favorecer que o
aluno possa assumir o papel de protagonista no processo de ensino-
aprendizagem.

O storytelling, quando assumido com um papel de metodologia ativa, é mais


uma dessas técnicas que consegue, com muita eficácia, captar a atenção dos
aprendizes. Afinal, quem não gosta de uma boa história bem contada?

Para observar a capacidade que as narrativas possuem de atrair a atenção dos


estudantes, vejamos este relato de Franco (2016, [s.p.]):

O homem estava completamente nu! Ele estava tomando banho,


a campainha tocou e ele foi atender apenas de toalha. Foi aí que,
num desses acidentes impressionantes que ocorrem na vida dos
azarados, a toalha lhe escapou, a porta bateu e a toalha caiu
dentro do apartamento, agora, fatalmente, fechado. O pobre
homem ficou completamente nu do lado de fora. Esta é uma
famosa crônica do maravilhoso Fernando Sabino, “O homem nu”.
Crônica que me salvou mais de uma vez. A primeira fora em uma
palestra em escola pública em Fortaleza. Eu devia falar dos
cronistas modernos. Deveria, porque ninguém me escutava. Na
verdade, os alunos pareciam querer a minha morte e morte atroz.
Depois de alguns minutos tentando falar de teoria, decidi usar as
ferramentas do meu cinto de utilidades. Saquei o storytelling.

51
– O homem estava nu, completamente nu! – Em um segundo, o
silêncio desceu absoluto sobre a plateia curiosa. (Dava para
escutar cri, cri, cri…). E continuei com a narrativa até o final.
Depois puxei uma do Rubem Braga, depois Drummond, Paulo
Mendes Campos. Uma hora de histórias para os adolescentes, os
quais, ao final, me aplaudiram demoradamente. - Todos amam
histórias, não é? (FRANCO, 2016, [s.p.])

Com este depoimento, que ilustra a utilização da storytelling no ambiente


escolar, podemos reforçar a ideia sobre a necessidade do professor ter à mão
diversas ferramentas que possibilitem aumentar o engajamento dos alunos.

4. A jornada do aprendiz

A chamada jornada do herói, muito importante para a produção de narrativas,


filmes, livros e séries ou a saga do herói ou monomito, como define Campbell
(2005), está incrustrada no inconsciente coletivo. Entretanto, a grande surpresa
é saber que não está inserida apenas nas narrativas ficcionais. A
aprendizagem pode ser também interpretada como uma jornada de
descobertas. Como define Franco (2016, [s.p.]), “o processo de aprendizagem
é sempre uma jornada heroica”. Exemplifiquemos:

• O estudante, acostumado ao seu mundo comum, é convidado a


realizar uma viagem de aprendizagem. Coisa que costuma evitar, seja
Mundo por falta de engajamento ou por insegurança. Todavia, é impelido a
comum participar.

• O papel do mentor é substancial, pode facilitar ou dificultar muito a


expedição de nosso herói. Afinal, o papel do mentor é treinar o herói
para as crises e lutas que se apresentam em seu caminho de
Mentor descobertas.

• Quando o herói-aprendente, atravessa o primeiro portal, aceitando a


aventura, encontrará na estrada aliados e inimigos e superará
Primeiro dificuldades que vão prepará-lo para a grande crise que se aproxima.
portal Mas, qual é essa crise?

52
• Pode aparecer de várias formas, mas, em suma, é o momento em que o
nosso protagonista for mais testado e exigido. A hora na qual se debate
Grande para compreender algo que não sabia. O aprendizado se torna uma
crise vitória sobre a ignorância.

• Certamente essa vitória traz sempre recompensas e uma ressurreição.


O sujeito dessabedor morreu. Renasceu um que sabe. Diferente do
Recompens
as
anterior.

•É no retorno, na volta para casa, quando o herói compartilha esse novo


conhecimento com alguém ou com sua comunidade, que a jornada é concluída
com sucesso. Quem é o herói? É aquele que luta, vence e ensina para os
Retorno demais. É o destino de todo herói, portanto, se tornar mentor.

• Afinal, no mínimo, o herói deixa um exemplo, uma lição, um


aprendizado, para a coletividade. É o elixir.
Exilir

Fonte: adaptado de Franco (2016).

Podemos compreender, então, que o papel exercido pelo estudante na jornada


do aprendiz é similar ao do herói na jornada do herói, ou monomito, suscitada
por Campbell (2005). Assim, os aprendizes devem ser sempre desafiados a
superar obstáculos e a resolver problemas impostos por seus mentores.

Há, portanto, três aplicações diferentes acontecendo paralelamente no


processo de ensino-aprendizagem:

• Emprego do storytelling como um recurso de realce do discurso


empregado para atrair a atenção do aluno e trazer exemplos que
esclareçam processos.
• A jornada do aprendiz, que é feita pelo estudante.
• A jornada do mentor, que é feita pelo professor (palestrante,
consultor ou facilitador de treinamentos). Na realidade, todo professor
deve se tornar mentor.

53
ASSIMILE:

“Campbell (2005), em sua erudita obra O herói de mil faces, demonstra como
as grandes histórias, mitos e lendas da humanidade, trazem uma mesma
sequência, aquilo que ele batizou de monomito ou a célebre jornada do herói.
Esse famoso e eficiente modelo acabou sendo adotado por romancistas do
mundo inteiro e roteiristas de cinema, que o utilizam na confecção de
histórias com mais frequência do que a maioria das pessoas (desavisadas)
desconfiam.

Em Hollywood, por exemplo, é difícil de se encontrar algum filme, de grande


repercussão, que não tenha utilizado a saga do herói como modelo de
inspiração. Para Campbell (2005), a grande aceitação do monomito acontece
por uma razão simples: este modelo arquetípico está incrustado na psique
humana, fazendo parte há milhares de anos de nosso inconsciente coletivo.
O encontro com mentor é uma das fases mais decisivas da sequência da
saga do herói. É por isso que prefiro chamar o professor atual de mentor,
afinal, a necessidade de referências é um elemento comum e ancestral na
forma de pensar da humanidade.” (Franco, 2017, [s.p.])

Podemos ensinar tudo por meio de histórias? Há como ensinar Química ou


Biologia usando storytelling? Há como ensinar matemática ou física fazendo
uso de narrativas? Claro que sim. É comum grandes professores e oradores
serem sempre bons contadores de histórias. Mas há de se entender como se
faz para encaixar o conhecimento que se deseja veicular dentro de uma
narrativa bem construída e atraente para os ouvidos de seus alunos. Tahan
(2001)1 é um bom exemplo de como associar narrativas ficcionais ao ensino de
matemática.

1
Malba Tahan - Júlio César de Mello e Souza (Rio de Janeiro, 6 de maio de 1895 – Recife, 18 de
junho de 1974), mais conhecido pelo heterônimo de Malba Tahan (Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim
Hank Malba Tahan), foi um escritor e matemático brasileiro. Por meio de seus romances foi um
dos maiores divulgadores da matemática no Brasil.
54
Confira um fragmento do seu famoso best-seller O homem que calculava:

Era uma vez um rei chamado Ladava. Um jovem chamado Sessa


levou-lhe um jogo constituído por um grande tabuleiro quadrado,
dividido em sessenta e quatro quadradinhos, ou casas, iguais;
possuía 32 peças, dezesseis brancas e dezesseis pretas. Este
era o jogo de xadrez. Maravilhado, o Rei resolveu recompensar o
jovem pelo presente e solicitou-lhe que fizesse o seu pedido de
forma a recompensá-lo. O jovem respondeu-lhe: Rei poderoso!
Não desejo, pelo presente que hoje vos trouxe, outra recompensa
além da satisfação que pude proporcionar ao senhor. Após o
inconformismo com a falta de ambição do jovem e a insistência do
Rei, para que ele pedisse o que fosse, um Palácio, ouro, etc.,
Sessa por cortesia faz o pedido ao Rei: dar me-ei um grão de trigo
pela primeira casa do tabuleiro; dois pela segunda, quatro pela
terceira e assim sucessivamente até a sexagésima quarta e última
casa. Feito isto, o Rei chama seus matemáticos para calcularem o
total de grãos necessários para cumprir a promessa. Assim feito,
os calculistas após algumas horas, trouxeram-lhe a conta: era
impagável. Correspondia ao número 2 elevado a 64, e do
resultado tirado 1, o que é igual a 18446744073709551615. Este
número de grãos era enorme e equivalia a uma montanha maior
que o Everest. O Rei pela primeira vez ficava diante da
impossibilidade de cumprir a palavra dada. Sessa, como bom
súdito não quis deixar aflito o seu soberano. Depois de declarar
publicamente que abriria mão do pedido que fizera, dirigiu-se
respeitosamente ao Rei e falou:

Meditai, ó Rei, sobre a grande verdade que os brâmanes


prudentes tantas vezes repetem: os homens mais avisados
iludem-se, não só diante da aparência enganadora dos números,
mas também com a falsa modéstia dos ambiciosos. Infeliz
daquele que toma sobre os ombros o compromisso de uma dívida
cuja grandeza não pode avaliar com a tábua de cálculo de sua
própria argúcia. Mais avisado é o que muito pondera e pouco
promete! (TAHAN, 2001, p. 48)

55
A história de Malba (2001) é apenas um exemplo de possibilidade de trabalho
com storytelling em sala de aula. É necessário planejamento, reflexão e
pesquisas para a criação de repertório a serem utilizados em sala. Levando em
consideração não apenas a disciplina que o professor ministra, mas também a
intencionalidade que o docente quer atribuir à história.

PARA SABER MAIS:

Grandes cientistas e pesquisadores fizeram uso de histórias para explicar


suas descobertas, como fez Isaac Newton, no famoso caso da maçã para
explicar as leis da gravidade. Palácios (2015, p. 180), em sua obra Guia
completo do storytelling, aponta que educadores também utilizam de
narrativas para atrair a atenção de seus alunos, com tais benefícios:

- Gerar uma comunicação mais próxima com o jovem.

- Conquistar o interesse de novos alunos.

- Transmitir conhecimento de forma mais interessante.

- Garantir um aprendizado mais eficiente, por ser demonstrado na


contextualização.

- Permitir uma intertextualidade entre disciplinas, já que as histórias nunca


são sobre o mesmo assunto.

Palácios (2015) também ressalta que:

O storytelling pode resolver aquilo que chamamos de paradoxo da


compreensão, ou seja, “só se compreende um novo conhecimento quando
se presta atenção, só prestamos atenção naquilo que consideramos útil, só
julgamos como útil aquilo que somos capazes de compreender.” (PALÁCIOS,
p. 180, 2015)

56
5. Considerações finais

A grande vantagem do uso do storytelling, como estratégia de comunicação


convincente e persuasiva, é sua capacidade de atrair a atenção de qualquer
público ou interlocutor, desde que a história seja bem construída. Nesse
contexto de foco irrestrito, é muito mais fácil conseguir veicular qualquer
mensagem, conteúdo ou conhecimento.

Com o bombardeio de informações que recebemos a todo momento, nossa


capacidade de concentração vem diminuindo. Segundo Palácios (2015), por
volta dos anos dois mil, nossa capacidade de concentração era de doze
segundos, índice que caiu para oito segundos em 2013. Nas palavras do autor:

[...] temos ainda um complicador no processo de aprendizado,


que chamamos de “Retenção Seletiva”. Mesmo quando prestam
atenção, as pessoas guardam na memória apenas uma fração
pequena nas mensagens que chegam até elas (PALÁCIOS, 2015,
p. 181).

Segundo Palácios (2015, p.180), estudos realizados por Kotler (guru da área
de Marketing), apontam que em 1998, recebíamos 1600 mensagens por dia.
Dessas, cerca de 80 eram percebidas e apenas 12 provocavam reações.
Atualmente, estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Nielsen, apontam
que recebemos mais de 5000 mensagens por dia e a nossa capacidade de
absorção não melhorou. Compreende agora o valor do storytelling?

TEORIA EM PRÁTICA

Então, o que você achou das funções da linguagem? E da jornada do


aprendiz? Já saberia aplicar na prática? Você acha que se comunica bem
com seu público e/ ou com seus alunos? Suponha que você deseje construir
sua jornada do aprendiz. De qual forma contaria sua história como

57
estudante? Quem foram seus grandes mentores? Quais foram as grandes
dificuldades? Qual elixir você entrega hoje? Conte sua história.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. A respeito das funções da linguagem, assinale a alternativa correta:

a) A linguagem verbal só faz uso da oralidade.

b) A linguagem não verbal não leva em conta os sinais.

c) A linguagem mista é aquela em que várias modalidades de linguagem são


utilizadas, como nas revistas em quadrinhos.

d) Na Argentina, o código majoritário é a língua inglesa.

e) Storytelling é o uso não intencional de histórias.

2. Sobre a jornada do aprendiz, podemos afirmar:

a) Não há relação entre a jornada do herói, de Campbell (2005), e a jornada


do aprendiz.

b) Na jornada do aprendiz, o chamado pode ser lindo como a convocação


para o ato de estudar.

c) Na jornada do aprendiz, a recompensa é especificamente a nota atribuída


pelo professor.

d) Na jornada do aprendiz, o elixir é o boletim entregue aos pais.

e) Na jornada do aprendiz, os mentores são os alunos.

58
3. A respeito da aplicação do storytelling em sala de aula, assinale a
alternativa correta:

a) Possibilitar uma comunicação mais próxima ao jovem.

b) Estimular os alunos a realizarem jornadas e aventuras.

c) Motivar os estudantes a aprender algum ofício.

d) Garantir um aprendizado baseado em contos de fadas.

e) Permitir um revisionismo sobre a história escrita.

Referências Bibliográficas

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. 10. ed. São Paulo: Pensamento,
2005.

CEREJA, W.R.; MAGALHÃES, T.C. Gramática reflexiva. São Paulo. Saraiva.


2005.

FRANCO, Max. A jornada do aprendiz: storytelling e metodologias ativas na


educação. São Paulo. Unitá, 2018.

______. A força do storytelling. Max Franco, oito de abril de dois mil e


dezesseis. Disponível em: <http://www.maxfranco.com.br/storytelling/homem-
nu/>. Acesso em: 23 jul. 2019.

______. Fake news e storytelling. Max Franco, [s.l.], vinte e oito de fevereiro
de dois mil e dezenove. Disponível em:
<http://www.maxfranco.com.br/storytelling/fake-news-e-storytelling/>. Acesso
em: 18 jul. 2019.

______. A jornada do aprendiz. Max Franco, dez de julho de dois mil e


dezessete. Disponível em: <http://www.maxfranco.com.br/artigos/jornada-do-
aprendiz/>. Acesso em: 18 jul. 2019

______. A jornada do aprendiz, tutorial sem complicações. Max Franco, vinte e


nove de dezembro de dois mil e dezessete. Disponível em:
<http://www.maxfranco.com.br/artigos/a-jornada-do-aprendiz-tutorial-sem-
complicacoes/>. Acesso em: 23 de jul. de 2019.
59
PALÁCIOS, F.; TERENZZO, M. Guia completo do storytelling. São Paulo.
Alta Books Editora, 2015.

TAHAN, M. O homem que calculava. São Paulo. Saraiva, 2001.

VOGLER, C. A jornada do escritor. São Paulo. Aleph, 2015.

Gabarito

Questão 1 - Resposta C.

Resolução:

a. A linguagem verbal só faz uso da oralidade. Alternativa incorreta, pois pode


ser feita também de forma escrita.

b. A linguagem não verbal não leva em conta os sinais. Alternativa incorreta,


pois leva também em conta sinais, gestos, expressões, mímicas.

c. A linguagem mista é aquela em que várias modalidades de linguagem são


utilizadas, como nas revistas em quadrinhos. Correta, pois a linguagem mista
abriga vários tipos de linguagem na mesma mensagem.

d) Na Argentina, o código majoritário é o inglês. Alternativa incorreta, pois é o


espanhol.

e. O storytelling é o uso não intencional da narrativa. Alternativa incorreta, pois


o storytelling é bastante intencional.

Questão 2 - Resposta B.

a) Não há relação entre a jornada do herói de Campbell (2005) e a jornada do


aprendiz. Alternativa incorreta, pois as fases são similares, conforme explicado
no corpo do texto.

b) Na jornada do aprendiz, o chamado pode ser lido como a convocação para o


ato de estudar. Alternativa correta, pois é a apresentação do problema para o
aprendiz. O chamado é uma convocação para o ato de estudar, uma atividade
que exige disciplina, renúncias e superações.

60
c) Na jornada do aprendiz, a recompensa é especificamente a nota atribuída
pelo professor. Alternativa incorreta, pois não só a nota é recompensadora,
mas também a satisfação pessoal pelo aprendizado obtido.

d) Na jornada do aprendiz, o elixir é o boletim entregue aos pais. Alternativa


incorreta, pois o aprendiz que absorveu determinado conteúdo pode compor
com os demais.

e) Na jornada do aprendiz, os mentores são os alunos. Alternativa incorreta,


pois os mentores são os professores.

Questão 3 - Resposta A.

3. Marque a opção correta sobre a aplicação do storytelling em sala de aula:

a) Possibilitar uma comunicação mais próxima ao jovem. Alternativa correta,


pois o storytelling permite um discurso aproximado ao jovem, menos formal,
mais emocional e atraente.

b) Estimular os alunos a realizarem jornadas e aventuras. Alternativa incorreta,


pois a aventura da Educação é o comprometimento com o estudo.

c) Motivar os estudantes a aprender algum ofício. Alternativa incorreta, pois o


storytelling pode até servir para ensinar algum ofício, mas não é sua proposta
específica.

d) Garantir um aprendizado baseado em contos de fadas. Alternativa incorreta,


pois os contos de fadas podem até ser utilizados, mas não apenas eles.

e) Permitir um revisionismo sobre a história escrita. Alternativa incorreta, pois


não é o papel do storytelling.

61
Brainstorming. O uso de storytelling na sua
sala de aula em diferentes modelos de
ensino
Autora: Max Roger Franco Pompílio

Objetivos

• Compreender o conceito de brainstorming e sua aplicação na educação.

• Refletir sobre o uso de storytelling em sala de aula.

• Visualizar possibilidades de aplicação de storytelling em diferentes


modelos de ensino.

62
1. Introdução
Olá! Seja bem-vindo a esta leitura fundamental!

Trabalhar com metodologias ativas é propor novas formas de desenvolver


práticas educacionais. Como afirma Paulo Freire (1996, p. 25): “a teoria sem a
prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No
entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora
e modificadora da realidade”.

O brainstorming, por exemplo, é uma técnica muito comum em agências de


publicidade, mas pode ser aproveitada dentro de algumas abordagens
pedagógicas menos convencionais.

Além disso, também descobriremos como a metodologia do storytelling pode


ser usada ao lado de diversas metodologias ativas.

Desejamos a você uma excelente leitura e muito aprendizado!

2. Aplicação do brainstorming na Educação


Educar nunca foi, não é e nunca será tarefa fácil. Ainda mais em virtude das
distrações que o mundo contemporâneo oferece. Seja criança, adolescente ou
jovem, as tentações para afastar os estudantes de seus objetos de estudo
estão mais formidáveis e sedutoras do que nunca. Por isso, a Educação deve
assumir novas práticas completamente diversas daquelas que já existiram.
Precisamos de novas técnicas e metodologias. Nesse afã, portanto, de buscar
novas estratégias, cabe muita experimentação e alguma coragem para lidar
com os erros e acertos, sabendo que não há nem fórmulas nem manuais de
uso quando se fala de se comunicar com eficiência e acessar os estudantes do
século XXI.

Nóvoa (2009) afirma que a função da escola atual é:

Promover a aprendizagem, compreendendo a importância da


relação ao saber, é instaurar formas novas de pensar e de
trabalhar na escola, é construir um conhecimento que se inscreve
numa trajetória pessoal” (NÓVOA, 2009, p.182).
63
Ainda em suas palavras:

Simultaneamente, e este não é um aspeto menor, é necessário


que as escolas se libertem das estruturas físicas em que têm
vivido desde o final do século XIX. Nessa época, há quase 150
anos, os edifícios escolares foram pensados com grande ousadia
e criatividade, mobilizando projetos e saberes de professores,
arquitetos, higienistas, médicos, pedagogos e tantos outros
especialistas. Hoje, é necessário mobilizar, com o mesmo vigor,
novas energias na criação de ambientes educativos inovadores,
de espaços de aprendizagem que estejam à altura dos desafios
da contemporaneidade (NÓVOA, 2009, p. 182).

É nesse contexto que, nos últimos anos, diversas novas abordagens e


metodologias educativas surgiram com o intuito de preencher as lacunas das
velhas técnicas pedagógicas, marcadas pela onipresença da aula expositiva e
palestrada. O aluno dos tempos modernos não se satisfaz mais com a antiga
posição passiva e catedrática que determina ao estudante uma postura de
mero repetidor do que o professor expressa. As novas gerações não aceitam
mais o papel de coadjuvante, eles querem ser protagonistas e com razão.
Resta a nós, portanto, condutores do processo de ensino-aprendizagem,
planejar e promover aulas mais atraentes e participativas, como coloca
Pugliese (2018, [s.p.]):

Em resumo, essas metodologias ativas, como são conhecidas,


trazem inúmeras vantagens nos processos de ensino e
aprendizagem, como a autonomia e o protagonismo do aluno,
flexibilidade, personalização do ensino, engajamento,
aprofundamento e ampliação na abordagem de conceitos,
possibilidade de transdisciplinaridade, otimização do tempo
disponível, possibilidade de debates, colaboração, trabalho em
grupo… A lista de vantagens é grande. (PUGLIESE, 2018, [s.p.])

O brainstorming 1 é mais um excelente exemplo de técnica que pode alcançar


essa participação da qual tanto se deseja na modernidade. Essa técnica é um
método de ativação da criatividade.

1
Brainstorming é uma técnica criada pelo americano Osborn, em 1963, utilizada para auxiliar
um grupo de pessoas a criar o máximo de ideias no menor tempo possível. Geralmente, se
64
Figura 1 - Brainstorming

Fonte: Weekend Images Inc./ iStock.com

Quando se faz uso do brainstorming, o condutor do processo deve estimular


que o grupo manifeste suas ideias sem censuras. Mas como pode ser utilizado
em sala de aula?

a. Com storytelling: o professor pode trazer uma história que tenha alguma
relação com seu conteúdo. Pode ser uma história criada pelo professor
ou outra qualquer que tenha garimpado das bibliografias. Deverá então
narrar essa história para seus alunos, mas não deve finalizá-la. O
professor vai pausar o relato em um momento crucial, solicitando dos
alunos que concluam a narrativa como desejarem. As sugestões,
certamente, serão diversas e bastante criativas. O brainstorming é
utilizado quando cada aluno propõe a própria conclusão de maneira livre
e espontânea. Segundo Leal, Miranda e Nova (2017):

A técnica consiste em captar a atenção das pessoas por meio de


um relato de um acontecimento fictício ou real. A cada novo
conteúdo expositivo, uma história real deve ser contada e
debatida com os alunos. A história provoca os alunos a pensarem

traduz para o português como tempestade cerebral ou tempestade de ideias. Fonte:


MARKETING FUTURO. O que é brainstorming? Conceito e definição do termo. Disponível
em < https://marketingfuturo.com/o-que-e-brainstorming/> Acesso em: 24 jul. 2019
65
em saídas para determinadas situações reais. O storytelling tem
um papel importante: desenvolver a capacidade de interpretação
e a imaginação dos alunos. (LEAL; MIRANDA; NOVA, 2017, p.
230)

b. Com PBL (Problem Based Learning): o PBL é um método que prevê a


entrega de um problema a ser resolvido pelos alunos. O professor deve
trazer um desafio, para a sala de aula, que possa ser resolvido,
geralmente, entre dois ou mais alunos subdivididos em equipes. Como
afirma Moran (2018, [s.p.]): “as metodologias ativas estão muito em voga
na educação básica e superior, como abordagens pedagógicas que
privilegiam a aprendizagem dos estudantes por descoberta, por
investigação ou resolução de problemas.” O brainstorming, portanto, pode
ser usado para permitir que cada equipe, ou dupla, coloque sua própria
resolução da questão proposta.

c. Com gamificação: o uso de jogos, em sala de aula, é uma prática cada


vez mais comum e a razão desse fenômeno é muito simples, os alunos
adoram quando um professor consegue aliar aprendizagem à brincadeira
e competição. O mais interessante dessa metodologia é que não agrada
apenas aos mais jovens. Não importa a idade, todos amam jogos. Ainda
mais quando o professor consegue realizá-los em plataformas modernas,
como as digitais. O brainstorming, nesse caso, pode ser uma técnica
explorada, seja em um quiz ou em qualquer modalidade que proporcione
a competição entre alunos ou equipes de alunos. Como assinala Mattar
(2009):

Os jogos têm potencial para se conhecer os jogadores


individualmente, adaptar cada momento de experiência às suas
capacidades e habilidades e recompensá-los diferentemente.
Desse modo, a integração de um jogo a análise de aprendizagem
objetiva verificar e, até mesmo, contrastar o engajamento e o
aproveitamento dos alunos em determinadas atividades que
avaliam conhecimentos sobre temas específicos. (MATTAR,
2009, p. 186)

66
d. Com estudos do meio: as atividades de estudo do meio permitem que
os alunos possam manter contato real com seus objetos de estudo. A
ideia é proporcionar a observação in loco, uma oportunidade perfeita para
os educadores estimularem os estudantes a socializarem as próprias
opiniões e impressões sobre os elementos que encontraram no campo.”.

Figura 2 - Estudos do meio: o mundo é uma escola

Fonte: Weekend Images Inc./ iStock.com

O método do brainstorming permite que todos possam expressar suas


observações sobre o ambiente com o qual interagem.

Há algumas regras, no entanto, para que o brainstorming alcance melhor


desempenho, conforme segue:

67
Não criticar nem ironizar as ideias, por mais absurdas que possam
parecer.

Encorajar ideias diferentes e incomuns.

Estimular a quantidade em vez da qualidade. Quanto mais ideias,


melhor.

Não respeitar a propriedade intelectual. A ideia de um é a ideia de


todos.

O ambiente da sala de aula deve ser relaxante e estimulante à geração


de novas ideias.

Ao final, as melhores ideias devem ser selecionadas para serem


depuradas.

O brainstorming educacional deve fugir da estética tradicional da antiga sala


de aula:

Figura 3 – Sala de aula

Fonte: Rawpixel/ iStock.com

68
É importante destacar que a técnica do brainstorming deve estimular o trabalho
em equipe.

3. A aplicação do storytelling em diversos modelos de


ensino
O storytelling é um método elástico porque pode ser utilizado por diversas
metodologias pedagógicas, inclusive a tradicional aula expositiva. É o método
ideal para salvar a aula palestrada de sua natural monotonia, afinal, por meio
de narrativas bem construídas e contextualizadas, qualquer conteúdo pode
ganhar cores mais atraentes e, portanto, serem assimilados de forma mais
eficaz.

Não pretendemos listar aqui todas as aplicações do storytelling na Educação,


como também seria impossível elencar nesse espaço todas as metodologias
pedagógicas utilizáveis na escola. A nossa intenção será a de demonstrar
como é possível realizar a inserção das narrativas a outras metodologias,
compondo um blend 2 que seja atraente aos alunos e que possa ser replicado
em novas composições ao sabor dos ingredientes propostos pelos professores
em seu planejamento pedagógico.

ASSIMILE:

Blended education é a combinação do estudo off-line e o on-line. Para


muitos, a blended education, ou ensino híbrido, ainda é uma grande
novidade, no entanto, já faz anos que deixou de ser uma mera tendência e
se tornou uma prática efetiva em muitas instituições educacionais, como
escolas e faculdades, e até como treinamento de profissionais. É sempre
recomendável, para um professor que deseje se aprofundar nas técnicas

2
Ensino híbrido é a metodologia que combina aprendizado online com o offline, em modelos
que mesclam (por isso o termo blended, do inglês “misturar”) momentos em que o aluno estuda
sozinho, de maneira virtual, com outros em que a aprendizagem ocorre de forma presencial,
valorizando a interação entre pares e entre aluno e professor” .PORVIR. Ensino híbrido. São
Paulo, 18 de jul. de 2013. Disponível em < http://porvir.org/ensino-hibrido-ou-blended-learning>
Acesso em 12.04.2019
69
mais modernas de Educação, compreender com maior profundidade como
aplicar em sua prática pedagógica.

Antes de tudo, é oportuno entender do que se trata esse blend mencionado.


Como explica Franco (2018):

[...] Você pode preparar um delicioso PBL acompanhado de


gamificação. Pode aplicar aula invertida com ensino híbrido. Pode
aliar estudos do meio ao uso das narrativas. Há mil possibilidades
de composição deste blend. Tudo depende dos ingredientes que
você tenha na mão, da sua criatividade e, é claro, da sua mão.
(FRANCO, 2018, [s.p.])

O professor moderno é justamente esse profissional que, além de conhecer


seu assunto, deve ter à mão um conjunto de ferramentas, tais como as
metodologias ativas, que permita compor uma aula plural que seja não só
eficiente na função de ensinar, mas também seja eficaz no papel de envolver
emocionalmente os alunos. Afinal, não é possível fixar conhecimentos em
quem não está atento nem engajado no processo educativo. Segundo Moran
(2015), caberá ao professor a tarefa mais difícil nesse processo, que é a de
garantir uma unidade didática entre ensino e aprendizagem, exigindo certo
controle nesse processo, estimulando e instigando os alunos a se
desenvolverem.

O professor que se propõe a trabalhar com metodologias ativas deve se


entender como um maestro, como afirma Franco (2018, [s.p.]):

Não é difícil de se entender como trabalhar com as metodologias


ativas na Educação. Basta que você imagine a alegoria que lhe
trago: pense na sala de aula como uma banda de jazz. Mas,
quem faz a maioria dos solos é o aluno.

Você ensaia os números, treina as técnicas, motiva quando o


aprendiz desanima, corrige quando erra, permite que erre para
que aprenda, entusiasma quando acerta e pode até tocar junto.
Mas são eles que devem brilhar. Todos já sabem que você sabe
tocar. São eles que precisam aprender. Quem? Principalmente,
aqueles que não tocam bem. Qual é o mérito de ensinar para
70
quem já sabe ou para quem tem facilidade? O seu maior prêmio,
caro professor, é aquele garoto tímido que não quer nem sequer
pegar no instrumento ou a menina que, talvez, vá tentar quebrar o
violão na cabeça da coleguinha (ou na sua!). A maior conquista
reside no difícil de conquistar. Para isso, você terá como apoio os
melhores métodos. (FRANCO, 2018, [s.p.]).

4. Metodologias ativas e storytelling:

a. Aula invertida

Aula invertida é uma modalidade de ensino híbrido que se materializou de


forma mais expressiva em 2007, com os professores americanos Jonathan
Bergman, Karl Fisch e Aaron Sams. Essa estratégia educacional tem o objetivo
de otimizar os recursos presenciais e virtuais, facilitando a aprendizagem dos
estudantes. Chama-se sala de aula invertida porque inverte a cronologia
comum da sala de aula.

Fazendo uso da metodologia da sala de aula invertida, os alunos aprendem o


conteúdo nas próprias casas, utilizando Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs), as chamadas plataformas educacionais. A metodologia
do storytelling pode e deve ser aliada da aula invertida na composição de uma
aula diferenciada e engajadora.

O professor pode fazer uso desse blend (storytelling - aula invertida) de várias
maneiras. Confira as sugestões:

71
b. PBL (Problem Based Learning)

O PBL ou, em português, ABP (Aprendizagem Baseada em Problemas ou em


Projetos) costuma trabalhar por meio de equipes e demonstra grande
aderência à utilização do storytelling.

É importante que os educadores elaborem situações-problemas, seja para


avaliações, seja para exercícios realizados em sala de aula, e tenham uma
visão interdisciplinar ao mesmo tempo em que é contextualizada com a
realidade dos alunos. Quanto mais essas questões se relacionarem com
problemáticas reais e presentes no cotidiano das crianças e jovens, mais
compreensíveis e engajadoras se tornarão.

Há também a possibilidade de trabalhar o PBL de forma interdisciplinar, que é


chamado de POL (Project Oriented Learning), como explica Moran (2018):

No processo, eles lidam com questões interdisciplinares, tomam


decisões e agem sozinhos e em equipe. Por meio dos projetos,
são trabalhadas também suas habilidades de pensamento crítico,
criativo e a percepção de que existem várias maneiras para a
realização de uma tarefa, tidas como competências necessárias
para o século XXI. Os alunos são avaliados de acordo com o
desempenho durante e na entrega dos projetos. (MORAN, p. 74,
2018)

c. Gamificação

Aliar jogos ao storytelling é uma das estratégias mais modernas e atraentes


aos alunos que pode ser realizada em sala de aula.

72
Figura 4 - A filosofia do jogo pode se tornar uma aliada em sala de aula

Fonte: LanternWorks/ iStock.com

Quando se fala em gamificação, trata-se não só dos jogos em plataformas


virtuais, mas também dos serious games, os jogos de tabuleiros, como War ou
Banco Imobiliário. Há também como criar jogos em sala de aula.

De forma contrária à educação do passado, a escola atual precisa articular


saberes e práticas metodológicas de ensino para assegurar a aprendizagem de
seus aprendizes, segundo Bacich (2018).

Para se aplicar gamificação na escola, não há nem sequer a necessidade de


um jogo. Basta que exista a filosofia do jogo, isto é, do desafio, competição ou
a ideia de passar de fases. Resta ao professor planejar sua prática a partir
dessas abordagens.

Dessa forma, storytelling pode ser inserido exatamente nesse contexto de


concepção de jogo, como ocorre no RPG. Para tal, é importante deixar fluir a
criatividade.

73
PARA SABER MAIS:

Recomendamos a leitura do livro: Sala de aula invertida: uma metodologia


ativa de aprendizagem, de Bergman e Sams (2016). Com este livro, é
possível conhecer a história do método da sala invertida e como seus
criadores aplicaram desde o início a metodologia. Podemos, então, conferir
as dificuldades e evoluções que a técnica sofreu em seus anos de
implementação.

Sugerimos, também, o filme O garoto que descobriu o vento (2019). O


longa é um exemplo formidável de um bom casamento entre storytelling e a
metodologia PBL. Afinal, demonstra, por meio de uma história bem contada,
como o PBL pode ser aplicado de maneira adequada. O filme relata a história
de William Kamkwamba, que ficou conhecido mundialmente por sua
invenção extraordinária, e se formou engenheiro na Universidade de
Dartmouth. William era um garoto no Malawi, na África, que, em virtude da
falta de alimentos em sua pequena vila, inventou um sistema de captação de
energia eólica, possibilitando bombear água para a agricultura mesmo em
tempo de seca.

5. Considerações finais

É essencial para o professor, ou educador, que deseje fazer uso do storytelling


ao lado de outras metodologias ativas da Educação, que não conheça com
certa profundidade o conceito do storytelling, as funções da linguagem e os
elementos da narrativa, como também domine as diversas ferramentas
pedagógicas e metodologias ativas que, atualmente, são exploradas pela
Educação. Como observamos, uma prática educacional que consiga reunir
várias técnicas didáticas tem todos os predicados para lograr a realização de
aulas que sejam engajadoras, envolventes e, consequentemente, mais
atraentes para todos os estudantes.

74
TEORIA EM PRÁTICA:

Como você estudou nesta leitura fundamental, existem modelos, técnicas e


estruturas para aliar narrativas a diversos métodos de ensino. Suponha que
você pretenda fazer uso desses recursos para contar uma história e engajar
seu público ou alunos. Construa um blend, compondo uma aula que combine
duas ou mais metodologias e o storytelling.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. O que NÃO é verdade referente a brainstorming?

a) É uma técnica de tempestade de ideias exclusiva à publicidade.

b) É uma técnica criada pelo americano Osborn, em 1963, utilizada para


auxiliar um grupo de pessoas a criar o máximo de ideias no menor tempo
possível.

c) Esta técnica visa ajudar os participantes a vencer suas limitações em


termos de inovação e criatividade, a fim de produzir alguma ideia fora da
caixa.

d) O brainstorming pode ser usado em parceria com diversas metodologias,


inclusive com as narrativas.

e) A predição é uma técnica de brainstorming conjugada com o storytelling.

2. Sobre as aplicações do storytelling em diversos modelos de ensino,


assinale a opção correta:

75
a) O storytelling não funciona de modo eficaz, aliado à técnica da
gamificação.

b) O storytelling se relaciona de maneira eficiente com todas as


metodologias, desde que o professor consiga planejar e realizar suas
práticas com criatividade.

c) O PBL é um método de ensino que trabalha com estudos do meio.

d) A aula invertida é um método que propõe aulas em outros ambientes, fora


da sala de aula.

e) A gamificação trabalha com problemas a serem discutidos pelos alunos.

3. Sobre o conceito de blended education, é correto dizer que:

a) É uma técnica que se dispõe a reunir o PBL à gamificação.

b) É uma técnica que se dispõe a reunir a aula invertida ao storytelling.

c) É uma técnica que se dispõe a reunir diversas metodologias e o uso da


tecnologia.

d) É uma técnica que se dispõe a reunir o storytelling às rodas de discussão.

e) É uma técnica que se dispõe a reunir o storytelling ao PBL.

Referências Bibliográficas

BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação


inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018.

BERGMANN, Jonathan, SAMS, Aaron. Sala de Aula Invertida. Uma


Metodologia Ativa de Aprendizagem, Rio de Janeiro: LTC, 2016.

FRANCO, Max. A jornada do aprendiz: storytelling e metodologias ativas na


educação. São Paulo: Unitá, 2018.

______. Storytelling e suas aplicações no mundo dos negócios. São


Paulo. Atlas, 2015.

76
______. A trilha sonora da viagem. Max Franco, dez de abril de dois mil e
dezoito. Disponível em: <http://www.maxfranco.com.br/inovacaoemeducacao/a-
trilha-sonora-da-jornada/> Acesso em: 24 jul. 2019.

______. O blend na educação. Max Franco, nove de fevereiro de dois mil e


dezoito. Disponível em:
https://www.maxfranco.com.br/inovacaoemeducacao/o-blend-na-educacao/>

Acesso em: 24 jul. 2019.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


educativa. São Paulo. Ed.Paz e Terra (coleção leitura), 1996.

HAMZE, A. Brainstorming como exercício de criatividade, 2014. Disponível


em: .<https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-
docente/brainstorming.htm>. Acesso em: 24 jul. 2019.

LEAL, E., MIRANDA, J., CASA NOVA, S. Revolucionando a sala de aula –


como envolver o estudante aplicando as técnicas de metodologias ativas
de aprendizagem. Ed.1, Atlas: São Paulo, 2017.

MATTAR, J. Games em Educação. Pearson: São Paulo, 2009.

MORAN, José. Metodologias ativas: alguns questionamentos. Disponível em:


<http://www2.eca.usp.br/moran/wpcontent/uploads/2013/12/metodologias.pdf>.
Acesso em: 24 jul. 2019.

______. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. In:


BACICH, Lilian, MORAN, José [Orgs]. Metodologias ativas para uma
educação inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018.

NÓVOA, A. Para una formación de profesores construida dentro de la profesión


Towards a teacher training developed inside the profession. Revista de
educación, v. 350, 2009.

O GAROTO que descobriu o vento. Direção de Chiwetel Ejiofor. Produção


Netflix, 2019. (113 min.). Título do original: The boy who harnessed the wind.

PUGLIESE, Gustavo. Por que (e para quê) tantas metodologias. Porvir, São
Paulo, 05 de novembro de dois mil e dezoito. Disponível em:
<http://porvir.org/por-que-e-para-que-tantas-metodologias>. Acesso em: 24 jul.
2019.

77
TAHAN, M. O homem que calculava. São Paulo. Saraiva, 2001.

Gabarito

Questão 1 - Resposta A.

Resolução: é uma técnica de tempestade de ideias que não é exclusiva do


mundo da publicidade e do marketing, mas pode ser utilizada por profissionais
de qualquer ramo que desejem inserir elementos criativos aos seus processos.

Questão 2 - Resposta B.

Resolução: o storytelling funciona de modo eficaz, aliado à técnica do


gamification. O PBL é um método de ensino que trabalha com resolução de
problemas. A aula invertida é um método que propõe realização de aulas em
outras plataformas. A gamificação trabalha com jogos ou com a natureza dos
jogos em sala de aula.

A resposta correta é a B porque, de fato, o storytelling consegue ser utilizado


com eficiência em consonância com diversas metodologias ativas.

Questão 3 - Resposta C.

Resolução: blended education é um método que reúne diversas metodologias e


o uso da tecnologia.

78
Storyboard e suas aplicações na educação
Autora: Silvia Torreglossa

Objetivos

• Demonstrar e identificar a importância do storyboard como ferramenta


no ensino-aprendizagem.

• Organizar a execução de um storyboard e conceber a concatenação das


ideias a partir de sua sequência.

• Saber explorar o storyboard como roteiro de aprendizagem.

79
1. Introdução
Olá! Seja bem-vindo a esta leitura fundamental!

Os storyboards, de maneira geral, são organizadores gráficos que usam


desenhos ou imagens numa sequência. Para saber como é um storyboard,
verifique os materiais extras de filmes, em mídias como DVDs e blu-rays ou
assista a programas de televisão, ou pela internet, que são especializados em
fazer leituras críticas de filmes. Trata-se das sequências de desenhos que
ilustram as cenas a serem gravadas para o cinema ou televisão. Dessa forma,
a equipe de filmagem consegue ter mais informações sobre as imagens que
devem ser produzidas.

O storyboard é, por excelência, um organizador de ideias. Você pode supor


que essa ferramenta tem muita utilidade no processo educativo de ensino-
aprendizagem, tanto de forma lúdica com recortes e colagens, como na
utilização de softwares e aplicativos para a realização desses roteiros
imagéticos. De acordo com Amaral, Oliveira e Bartholo (2010, p. 20),
storyboard é um Objeto de Aprendizagem (OA), termo entendido como um tipo
de aplicação educacional que tem como característica primordial a
“possibilidade de reutilização de seus recursos em diferentes contextos,
construídos para servir como uma ferramenta de apois aos professores em
ambientes divergentes”:

O Storyboard tem grande influência no desenvolvimento do OA,


pois é dele que se originam todas as telas, gráficos e falas
utilizadas no Objeto de Aprendizagem. Há também a influência do
Storyboard no uso dos OAs na escola, pois é a partir do
Storyboard que se originam histórias que envolvem todo o
conteúdo proposto. Histórias estas que tentam condizer com a
realidade do público-alvo. (AMARAL; OLIVEIRA; BARTHOLO,
2010, p. 32)

Um ótimo aprendizado a você!

80
2. Storyboard e seu significado
Storyboard é um roteiro desenhado, um esboço sequencial, um filme contado
em quadros, uma sequência delas que discorre sistematicamente sobre algum
assunto. Remete a uma história em quadrinhos, mas sem os balões com texto.
O storyboard em si, sozinho, não é um produto final, é uma das etapas para
visualizar a construção de algo, é uma ferramenta. Isso significa que se trata de
um rascunho, muito importante, de como deve se organizar determinada
situação. Do ponto de vista da utilidade, serve para:

• Estabelecer parâmetros da história a ser proposta ou da atividade em si


no âmbito educacional.
• Organizar o projeto, ou seja, a história.
• Desvendar os melhores meios para executar o que está sendo proposto.

O storyboard é uma forma não verbal de contar uma história, vai muito além de
uma sequência de quadros que mostram o decorrer de uma ação, atua num
processo de retextualização, pois é a partir dessa dinâmica da construção do
storyboard que se exercita os diferentes pontos de vista na narração de um
fato.

O storyboard nada mais é do que a versão em desenhos do


roteiro de um filme. Contém todo o seu conceito visual como o
enquadramento, cortes, movimento de câmera etc., além de
localizar os ambientes e inserir personagens em cena. São estes
desenhos em sequência que transportam as ideias do abstrato
para o real. É a primeira oportunidade para observar se oq eu o
diretor imaginava irá funcionar, o que permite uma melhor
preparação para as filmagens. (ANIMAMUNDI, 2012, [s.p.])

Esse meio não verbal de produção de narrativa e organização gráfica de


cenas, evidencia a utilidade de outros recursos multimodais de expressão
diferentes dos usuais na transmissão e elaboração do conhecimento
construído.

Para a composição de um storyboard, é importante que haja organização,


clareza e logicidade. A criação do storyboard capacita os interlocutores a se
expressar oralmente, quando da realização do brainstorming, é preciso saber
ouvir o outro, argumentar de forma construtiva, respeitar as opiniões alheias e,

81
dessa forma, há a promoção da interação entre os interlocutores presentes no
processo.

ASSIMILE:

O storyboard, segundo o Dicionário Michaelis (2019), é uma sequência


cronológica de desenhos, seguidos de texto ou áudio, que apresentam as
principais ações, efeitos visuais e sonoros, entre outros, para um filme,
programa ou anúncio de televisão.

Figura 1 – Conceito de storyboard

Fonte: Quarta_/iStock.com

82
A palavra storyboard é inglesa e significa: story = história; board = quadro,
placa, tábua. Essa tradução tem sentido porque quando surgiu esse conceito
de storyboard, os diretores de cinema colocavam as imagens (sequência de
desenhos) do storyboard em uma placa, ou lousa, ou quadro, afixadas com
tachinhas ou coladas com fita adesiva.

PARA SABER MAIS:

O conceito de contar uma história por meio de uma série de desenhos


sequenciais, remonta aos hieróglifos egípcios, até mesmo aos desenhos dos
homens das cavernas. As tapeçarias de Bayeux (1050), tecidas em linho e
retratando com ação narrativa brutal a invasão da Inglaterra por William, o
Conquistador, também podem ser vistas como representantes dos primeiros
storyboards. (HART, 2008, p. 1)

3. A narrativa presente no storyboard


Antes de iniciar a aplicação do storyboard na educação, tratando-o como fase
no desenvolvimento colaborativo no processo educativo, é importante que você
compreenda do que se trata esse recurso e a partir de que conceitos sua
aplicabilidade permite acesso à construção do conhecimento por meio da
narrativa. Não se pode perder de vista que as imagens que compõe o
storyboard visam contar uma história em uma sequência a ser determinada
pelo emissor da mensagem, ou seja, pelo contador de histórias.

As pessoas têm como capacidade e necessidade contar histórias, desde o


simples relato de como foi seu dia até a explanação de um projeto complexo
em seu local de trabalho, o tempo todo são geradas narrativas que determinam
o movimento de construção do conhecimento. Ao observar a trajetória da
humanidade, percebe-se que, desde a antiguidade, os homens das cavernas já
contavam seu cotidiano a partir de pinturas rupestres. Essa forma de narrativa
foi evoluindo a medida em que as técnicas de preservação desse

83
conhecimento trouxeram possibilidades de registros mais detalhados como, por
exemplo, o advento da escrita.

ASSIMILE:

A narração é um relato centrado num fato ou acontecimento; há


personagem(ns) atuando e um narrador que relata a ação. Pela própria
característica da narração, predominam as frases verbais, indicando um
processo, uma ação. O enredo é a estrutura narrativa, ou seja, o desenrolar
dos acontecimentos. (NICOLA, 1997, p.99)

Para ter a concepção ideal da dimensão desse fato, basta ir a uma livraria, no
espaço de literatura infantil. Se uma mãe ou um pai começa a ler uma das
histórias contidas nos livros ali disponibilizados, é comum que outras crianças,
além de seus filhos, aninhem-se ali para desfrutar do desenrolar daquela
narrativa.

Na fase adulta, continuamos cercados por histórias que


preenchem nosso mundo, não por meio de dados, mas sim com
significados. A partir da narração de histórias, damos sentido ao
mundo. A sociedade ordena seus eventos e encontra os
significados destes, a partir da assimilação mais ou menos
familiar das narrativas. (TORREGLOSSA; LOURENÇO, 2012, p.
30)

A narração envolve a pessoa que escuta, mas, principalmente, aquela que fala,
que emite a mensagem por si só ou atua como comunicadora daquela história.
É mais que uma experiência personalizada, é uma atividade coletiva que
envolve quem constrói a narrativa, no caso desse tema específico, quem
compõe a sequência de imagens no storyboard, e quem tem o contato com o
resultado da informação construída a partir da leitura e interpretação das
imagens sequenciais.

84
Portanto, a dinâmica construtiva do storyboard está intrinsicamente relacionada
à produção de narrativas. Medina (2008) diz que todos são dotados da
“capacidade de produzir sentidos, ao narrar o mundo, a inteligência humana
organiza o caos em um cosmos”.

O que se diz da realidade constitui outra realidade, a simbólica.


Sem essa produção cultural – a narrativa – o ser humano não se
expressa, não se afirma perante a desorganização e as
inviabilidades da vida. Mais do que talento de alguns, poder narrar
é uma necessidade vital. (MEDINA, 2003, p. 48)

O narrador não é apenas um reprodutor de histórias que conhece e tem


acesso, ele ressignifica a narrativa cada vez que conta a história, com novas
observações e conceitos que não haviam sido formados antes. Essa
experiência de narrar, que envolve todo o processo comunicacional, é discutido
por Benjamin (1986. p. 205) quando diz que a narrativa é um ato de
transformação e “não está interessada em transmitir o ‘puro em si’ da coisa
narrada como uma informação ou um relatório. Ela mergulha a coisa na vida do
narrador para em seguida retirá-la dele”. Ele diz que para narrar é preciso
observar o mundo nos seus momentos mais importantes, sublimes e sensíveis
ao mesmo tempo para, assim, estabelecer a relação com os outros e consigo
mesmo.

Mediante todo esse contexto narrativo, o storyboard, como ferramenta de


comunicação e educação, se assemelha, e muito, às adaptações criativas que
foram necessárias no decorrer do tempo para aliar os meios audiovisuais,
disponíveis a partir da modernização dos equipamentos e o acesso à internet,
ao processo de construção de conhecimento no âmbito educacional.

Na prática, o storyboard pode ser usado pedagogicamente como ferramenta


para desenvolver um discurso a ser elaborado em sala de aula, com temas
variados, como, por exemplo, em uma aula de História da Arte, em que pode
ser sugerida a criação e um storyboard para apresentação de um trabalho
sobre a Grécia, onde o aluno relacionará em uma sequência lógica e
cronológica como pode se dar a contação dessa história.

Existem muitos meios audiovisuais que são agregados à educação


ultimamente, todo esse conhecimento, a partir das mídias aplicadas à
educação, é amplamente estudado a partir de vários vieses. Citelli (2006, p.
85
161) diz que “essa evidência transforma a sala de aula em um espaço cruzado
por mensagens, signos e códigos que não se ajustam ou se limitam à tradição
conteudística e enciclopédica que rege a educação formal”.

Nesse contexto que se fala de narração, a referência se dá ao educador, o


transmissor de história que gera um saber, utilizando diversos recursos e
linguagens. Entretanto, é importante enfatizar que não se trata de transformar a
sala de aula (ou local onde o fenômeno educacional acontece) em um show
tecnológico sem metodologia de uso, mas sim observar a necessidade de cada
um e preparar os estudantes para serem construtores de narrativas,
capacitados a dialogar transmidiaticamente.

4. Técnicas de ensino

O avanço da tecnologia e a produção colaborativa de conhecimento


propiciaram a criação de novos ambientes de aprendizagem.

Os ambientes multimídia podem propiciar situações que facilitam


a construção de significados na medida em que oferecem ao
aprendiz ferramentas poderosas, as quais ele pode utilizar numa
atividade individual ou colaborativa. O uso integrado de mídias,
animações, textos, áudio, oferece ao aluno um contato especial
com determinado conteúdo, onde cada uma dessas
possibilidades pedagógicas apresentará uma nuance peculiar
desse conteúdo, própria dessa forma de comunicação.
(ALAVARCE; PERES, 2012, p. 201)

Para Araújo (1991, p.11), a produção do conhecimento da realidade


educacional está revestida de “ênfases, oscilações e evoluções em torno de
conceitos-chave, ora mais, ora menos penetradas por vieses ideológicos, sem
dúvida nenhuma, determinadas pela própria dinâmica da realidade histórica
sempre em trânsito”. Por conta disso, afirma ser necessário inquirir e interpretar
a realidade permanentemente “num constante esforço de compreensão da
mesma”.

As novas Tecnologias de Comunicação (TICs), sobretudo a


televisão e o computador, movimentam a educação e provocaram
novas mediações entre a abordagem do professor, a
compreensão do aluno e o conteúdo veiculado. A imagem, o som
86
e o movimento oferecem informações mais realistas em relação
ao que está sendo ensinado. (KENSKI, 2012, p. 45)

Essa relação, entre TICs com o ensino, mostra a necessidade de se conhecer


novas técnicas e ferramentas para fazer o processo de educação, de fato,
acontecer. E, no caso do uso do storyboard aliado a todo o conceito
apresentado sobre narrativas, fica claro que se abrirão novas possibilidades de
compartilhar conhecimento e construir um saber de acordo com o tempo
presente e não fincado no tradicional passado que já tem sua estrutura
desgastada.

A narrativa que está presente na relação professor-aluno de forma


não linear pode gerar frutos promissores. A utilização da
linguagem hipertextual dos games em ambientes educativos
tradicionais responde por parte do anseio das questões atuais da
educação formal, pois, ao trazer à sala de aula elementos
interativos que gerem curiosidade e entretenimento, educador e
educando caminham lado a lado na produção do conhecimento.
(TORREGLOSSA; LOURENÇO, 2012, p. 51)

ASSIMILE:

O artigo Uma experiência para definição de storyboard em metodologia de


desenvolvimento colaborativo de objetos de aprendizagem, publicado na
revista Ciências & Cognição, em 2010, contribui muito para a compreensão
do conceito e aplicação do storyboard como objeto de aprendizagem. Nele,
pode-se observar, mais claramente, o local ocupado pela ferramenta
storyboard, de forma multidisciplinar e colaborativa, em meio a um projeto de
ensino. As autoras fizeram uma experiência e compartilham, nesse artigo,
toda metodologia e resultados obtidos.

87
Figura 2 – Apresentação de um storyboard

Fonte: turbodesign/ iStock.com

5. Storyboard na educação

O uso da ferramenta storyboard traz muitos benefícios ao processo de


construção de conhecimento, a partir da metodologia narrativa e participativa.
Pode apoiar o planejamento de um curso, seminário, aula, disciplina,
informando tudo o que é necessário para a realização do projeto em questão,
funcionando como um script detalhado.

Além disso, o storyboard também tem função de informar visualmente toda a


trajetória do projeto, do começo ao fim, e, desse modo, possibilita maior
controle sobre as etapas e aumenta a probabilidade de ter êxito num projeto,
curso, disciplina, seminário, entre outros.

Entretnato, não é só em questões complexas e trabalhosas que essa


ferramenta pode ser utilizada. Para projetos simples, os desenhos ou as
anotações do quadro podem servir como orientação e planejamento.

88
6. Criando um storyboard

Em primeiro lugar, ao pensar em criar um storyboard é preciso se ater ao fato


de ter um contexto não linear e, depois disso, dividir o projeto em partes:

1- Em primeiro lugar, é necessário fazer o brainstorming e estabelecer as


palavras-chave do storyboard, ou seja, é preciso definir qual história o
storyboard vai contar.
2- A partir da discussão sobre o tema, define-se o começo, o meio e o
fim para nortear o próximo passo.
3- Escrever um parágrafo com o direcionamento do projeto, um resumo
sobre o fundamento da criação dessa ferramenta. É o momento de
criar tópicos e definir a sequência das cenas a serem retratadas.
4- Definir, junto a equipe, qual o suporte será usado para a criação do
storyboard> Serão desenhos pintados à mão, ilustrações feitas no
computador, serão usados softwares, sites ou aplicativos para tal fim?
É importante ter clara essa decisão, pois o cronograma será feito a
partir do tempo que cada etapa tomará de tempo.
5- Caso haja mais pessoas envolvidas, faça a relação delas com seus
devidos perfis.
6- Descreva a situação ou o evento que quer relatar no storyboard.
7- Descrever o funcionamento da ferramenta e os recursos que serão
necessários para desenvolvê-la.
8- A partir do momento em que houve a descrição do que será
necessário, é o momento de observar quais equipamentos e
linguagens multimídia serão utilizadas: vídeo, fotos, áudio, gráficos,
textos, entre outras.
9- Definir também quais os planos e enquadramentos que serão usados
nas telas do storyboard:

Tabela 1 - Planos de enquadramento

Planos de enquadramento Características

Grande Plano Geral (GPG) É mais abrangente que o plano geral,


serve para orientar a pessoa na cena. O
ideal é começar com esse plano e ir
diminuindo o enquadramento até ficar
mais próximo de sua mensagem.

89
Plano Geral (PG) Mostra a pessoa inteira e o cenário ao
fundo. A cabeça fica bem perto do teto
e os pés também ficam bem perto do
fim da tela.

Plano de Conjunto (PC) Corta o corpo na altura dos joelhos, não


é considerado muito aberto a ponto de
mostrar o cenário; e nem fechado o
bastante para mostrar detalhes da
pessoa.

Plano Médio (PM) ou Plano Corta imediatamente abaixo dos


Americano (PA) cotovelos e é ótimo para introdução do
assunto, mas não se deve usá-lo o
tempo todo, é preciso alternar o uso dos
planos.

Meio Primeiro Plano (MPP) Enquadra logo abaixo dos ombros e é


fechado a ponto de mostrar detalhes do
rosto. É um padrão bem confortável e
mostra proximidade com quem vê a
cena.

Primeiro Plano (PP) ou Enquadra a tela na altura da gola da


Close-up ou Close camisa, é um enquadramento que dá
um ar intimista à cena.

Primeiríssimo Plano (PPP) A sensação de intimidade é evidente, é


ou Plano de Detalhe (PD) um recurso utilizado para causar
impacto.

Fonte: Watts (1990).

10- Definir qual será o estilo dos desenhos, ou colagens, e definir quem
faz o que na equipe.
11- Checagem para ver se a sequência está correta e se todas as
informações estão presentes no storyboard.
12- Apresentação do resultado.

Após a confecção do storyboard, é momento de apresentar o resultado.


Existem alguns recursos para a apresentação da ferramenta, pode ser em
papel, em um quadro. Há duas alternativas nessa forma de apresentação: ou
todos os quadros (telas) são mostrados em conjunto, ou são revelados pouco a
pouco, de acordo com a contação da história.

90
Também há a possibilidade de apresentar com telas, em slides, ou até em
páginas da Internet. Entretanto, não são só esses recursos para a
apresentação. Nesse momento, pode-se usar a criatividade para a
demonstração do projeto.

O exemplo de storybard, a seguir, tem como objetivo contar a história de um


aniversário, com figuras simples dispostas em quatro quadros, que
possibilitam, por meio da sequência, conseguir narrar determinado fato.

Figura 3 – Exemplo de storyboard

Fonte: elaborado pela autora.

Figura 4 – Sequência para a criação de storyboard

Ideia
Concepção
Definição do tema.
Apresentação
Sequência e estilo.
Contação de história.

Fonte: elaborado pela autora.

91
7. Contar histórias digitais

Assim como o método artesanal, com recortes e colagens, há também a


possibilidade de usar sites, softwares e aplicativos para o desenvolvimento do
storyboard.

1- StoryboardThat – Edições Storyboard That para escolas, empresas e


cineastas. Em 2019, disponibilizava mais de 9 mil templates para a
criação de storyboard.

Figura 5 – Homepage StoryboardThat

Fonte: captura de tela de StoryboardThat.

2- Canva – Editor de storyboards.

Na aba Educação, diz Modelos de material escolar e outros recursos que vão
ajudar você a obter um alto desempenho escolar e acadêmico.

92
Figura 6 – Homepage Canva

Fonte: captura de tela de Canva

3- Boords – The Online Storyboard Creator for Everyone.

Boords é um gerador colaborativo on-line de storyboard.

Figura 7 – Homepage Boords

Fonte: captura de tela de Boords.

8. Considerações finais

A criação de storyboard tem um processo muito interessante, que lida com os


sentidos e faz com que o saber se movimente e evolua. Desde a decisão de se
confeccionar um storyboard até sua apresentação acontecem várias situações

93
comunicacionais e educacionais, que podemos prever a partir do momento em
que sistematizamos todo o processo documentando o passo a passo.

Um dos principais produtos que antecedem o desenvolvimento de


Objetos de Aprendizagem é o Storyboard. (...) As cenas que
compõem o objeto são representadas em forma de desenhos,
sequencialmente, similar a uma história em quadrinhos. Sua
elaboração ajuda a visualizar o produto final, podendo reduzir
erros, frustrações e erros de produção. (...) Para a equipe de
desenvolvimento dos OAs, esse Storyboard fornece uma estrutura
e uma visualização global para a aplicação educacional (...)
(AMARAL; OLIVEIRA; BARTHOLO, 2010, p. 25)

Por fim, o storyboard é uma ferramenta muito importante no ensino-


aprendizagem nesses tempos e, cada vez mais, será utilizado para vários
momentos dentro e fora da escola, a fim de auxiliar na organização das ideais,
tornando problemas complexos em imagens sequenciais apresentadas de
forma prática e interativa.

TEORIA EM PRÁTICA:

Suponha que você ministre aulas em uma sala de ensino médio, muito
numerosa (mais ou menos uns 40 alunos) e ruidosa. Eles têm dificuldade de
trabalhar em equipe e estão sempre inquietos, mas conversam entre si
sempre sobre os lançamentos musicais daquele momento. Como você, como
educador e conhecedor da ferramenta storyboard, pode envolver a classe
num exercício agregador que tenha mais a ver com realidades deles?
Desenvolva o passo a passo da atividade de criação de um storyboard,
baseando-se no conhecimento apreendido nesse tema.

94
VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Qual é o outro nome do Plano Médio (PM) usado comumente em


televisão?

a) Close-up.

b) Plano Americano.

c) Plano de Detalhe.

d) Zoom-in.

e) Zoom-out.

2. Qual a definição que não corresponde à storyboard?

a) Storyboard é um roteiro desenhado, um esboço sequencial, um filme


contado em quadros, uma sequência delas que discorre sistematicamente
sobre algum assunto.

b) Os storyboards, de maneira geral, são organizadores gráficos que usam


desenhos ou imagens numa sequência.

c) A dinâmica da criação do storyboard é exatamente igual ao das Histórias


em Quadrinhos (HQs).

d) O storyboard é, por excelência, um organizador de ideias.

e) O storyboard também tem função de informar, visualmente, toda a


trajetória do projeto, do começo ao fim.

95
3. Leia a frase:

O narrador não é apenas um ________ de histórias que conhece e tem


acesso, ele ressignifica a narrativa cada vez que conta a história, com novas
observações e conceitos que não haviam sido formados antes.

Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna

a) Criador.

b) Desenvolvedor.

c) Transmissor.

d) Reprodutor.

e) Preparador.

Referências Bibliográficas

ALAVARCE, Débora; PERES, Heloisa Helena Ciqueto. O uso de ambientes e


objetos de aprendizagem no ensino de enfermagem: a construção de
fundamentos pedagógicos e tecnológicos. In: CURY, Lucilene. (Org.).
Tecnologias digitais nas interfaces da comunicação/educação desafios e
perspectivas. Curitiba: CRV, 2012, v. 1

AMARAL, Marília A.; OLIVEIRA, Kethure Aline; BARTHOLO, Viviane Fátima.


Uma experiência para definição de storyboard em metodologia de
desenvolvimento colaborativo de objetos de aprendizagem. Ciências &
Cognição, [s.l.], v. 15, n. 1, 2010. Disponível em:
<http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/279/158>.
Acesso em: 24 jul. 2019.

ARAÚJO, José Carlos Souza. Para uma análise das representações sobre as
técnicas de ensino. In: Técnicas de ensino: por que não? Ilma Passos
Alencastro Veiga (org.). Campinas, SP: Papirus, 1991. Coleção Magistério:
Formação e Trabalho Pedagógico.

96
BENJAMIN, Walter. O narrador. In: BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, arte
e política: ensaios sobre a literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo
Rouanet, 2. ed., Brasiliense, 1986. Obras Escolhidas. v. 1.

CITELLI, Adilson. Palavras, meios de comunicação e educação. São Paulo:


Cortez, 2006.

DICIONÁRIO Michaelis da Língua Portuguesa. Disponível em:


<https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/storyboard/>. Acesso em: 24 jul. 2019.

HART, Johh. The art of the storyboard: a filmmaker’s introduction. Burlington,


MA: Focal Press, 2008.

KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação.


Campinas, SP: Papirus, 2012. Coleção Papirus Educação.

MEDINA, Cremilda. A arte de tecer o presente narrativo e cotidiano. São


Paulo: Editora Summus, 2003.

NICOLA, José de. Língua, Literatura & Redação. São Paulo: Editora
Scipione, 1997.

ANIMAMUNDI. Storyboard: o quadro a quadro da história. Animamundi –


Mundo da Animação, 2012. Disponível em:
<https://www.animamundi.com.br/pt/storyboard-o-quadro-a-quadro-da-
historia/> Acesso em: 24 jul. 2019.

TORREGLOSSA, Silvia; LOURENÇO, Carlos Eduardo. Narrativas, linguagem e


poder na relação aluno-professor. In: CURY, Lucilene. (Org.). Tecnologias
digitais nas interfaces da comunicação/ educação desafios e
perspectivas. Curitiba: CRV, 2012, v. 1.

WATTS, Harris. On camera: o curso de produção de filme e vídeo da BBC.


São Paulo: Summus, 1990.

97
Gabarito

Questão 1 - Resposta B.

Resolução: o plano americano na TV, usado muito em telejornais, é o mesmo


que plano médio, ou seja, corta a imagem da pessoa imeditamente abaixo dos
cotovelos e é ótimo para tomada de entrevistas.

Questão 2 - Resposta C.

Resolução: o storyboard, diferentemente da HQ, não tem balões de texto, pois


o que interessa mesmo é a sequência das imagens e a história que essa
sequência narra. A HQ, por si só, é um trabalho já acabado, já traz o sentido da
história em si. O storyboard é parte de um processo de contação de história.

Questão 3 - Resposta D.

Resolução: o narrador não é apenas um reprodutor das histórias que narra,


pois acrescenta e muda o sentido a cada vez que a conta. A produção do
discurso feita a partir da narração, se modifica com o contexto do narrado, de
qual é seu lugar de fala.

98
O uso da tecnologia para storyboard e
storytelling. Digital storytelling
Autora: Silvia Torreglossa

Objetivos

• Mostrar como se dá a construção de digital storytelling num contexto


hipertextual.

• Evidenciar os usos relacionados à ferramenta storyboard e digital


storytelling.

• Propor a utilização do digital storytelling nos meios físicos ou virtuais,


como rica experiência de aprendizado.

99
1. Introdução
Olá! Seja bem-vindo!

O storyboard nasceu de forma artesanal, analógica, com papel e lápis. Eram


desenhos sequenciais que mostravam um fluxo de ideias sobre determinado
tema. Assim como sua produção era artesanal, o modo de apresentação
também estava relacionado às técnicas disponíveis no momento.

Conforme o acesso à tecnologia foi se moldando, com mais softwares e até


aplicativos em celulares e tablets, a construção e demonstração dos
storyboards foram se adaptando e usufruindo de todo aprimoramento que a
tecnologia pode oferecer atualmente.

Storyboard e storytelling juntos, no ambiente digital, com o intuito de


produzirem conhecimento, proporcionam uma experiência multimídia
interessante com amplas possibilidades de criação e leitura, pois envolvem
mais o público ao agregarem em si ferramentas do meio digital que auxiliam na
potencialização e distribuição da história.

Um ótimo aprendizado a você!

2. Storytelling: do analógico ao virtual

Storytelling é um termo em inglês que significa contar histórias. Narrar um fato


é inerente ao humano desde os primórdios da antiguidade. As manifestações
artísticas da história advêm dessa necessidade de registrar os acontecimentos
para serem lidos na posteridade.

Ao se posicionar propositadamente no gerúndio telling ou seja, contando, o


storytellling propõe um movimento, uma ação, ou melhor, uma capacidade
argumentativa que gera um encadeamento de ideias.

A história só é contada porque se trata de algo relevante. No decorrer da linha


do tempo da história, o homem vem relatando tudo o que ocorre de marcante
em sua vida, conquistas, evoluções, mudanças de comportamento,
100
descobertas, ou simplesmente algo que ocorra com frequência e que
caracteriza um tempo, uma era.

Partindo, então, do pressuposto que a contação de histórias sempre existiu e


que essa capacidade está intrinsicamente ligada a uma necessidade vital, o
digital storytelling ganha uma importância irrestrita como recurso a ser utilizado
nas mais diversas áreas do conhecimento, trata-se da virtualização de algo que
já acontecia concretamente.

Mas o que é a virtualização? Não mais o virtual como maneira de ser,


mas a virtualização como dinâmica. A virtualização pode ser definida
como o movimento inverso da atualização. Consiste em uma passagem
do atual ao virtual, em uma “elevação à potência” da entidade
considerada. A virtualização não é uma desrealização (a transformação
de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de
identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do
objeto considerado: em vez de se definir principalmente por sua
atualidade (uma “solução”), a entidade passa a encontrar sua
consistência essencial num campo problemático. (LEVY, 1996, p. 17)

PARA SABER MAIS:

O digital storytelling é muito importante no aspecto pedagógico, pois trabalha


o fluxo do pensamento baseado na escrita e na organização das ideias,
proporciona o exercício de diversas habilidades, como a capacidade
narrativa, a criatividade, a organização, a gestão do tempo, o pensamento
lógico, envolvendo todo o processo argumentativo necessário para o trabalho
em equipe.

O que difere a contação de histórias de outros tempos e o digital storytelling,


além da virtualização, é a utilização de recursos audiovisuais juntamente ao
texto. O objetivo primeiro, que é cativar a audiência a partir do desenvolvimento
da narrativa, é somada ao aparato tecnológico que vem para elevar a potência
argumentativa do enredo.
101
Antes de seguir adiante com o uso de storytelling, juntamente à ferramenta
storyboard, é necessário lembrar que todo esse processo parte de um bom
assunto a ser relatado, não há necessidade de se contar uma história se ela
não for interessante.

Para o resultado ser satisfatório é importante alinhar alguns fatores, como:


vocabulário, personagens, elementos que podem servir como suporte visual ou
sonoro, ou seja, assim como no desenvolvimento de qualquer ferramenta, é
preciso ter estratégia e método para produzir um bom material.

3. Etapas para composição de storytelling

A composição de digital storytelling parte do mesmo ponto do que seria


necessário para contar uma história tradicional, mesmo porque a tecnologia por
si só não cria a narrativa, apenas é um apoio que potencializa a criatividade,
trazendo mais possibilidades de realização e de leitura, como será tratado mais
adiante.

Então, baseando-se no conceito de construção de narrativa, de histórias, é


importante saber que a história precisa fazer sentido para quem conta e para
quem ouve. Parece óbvio, mas, muitas vezes, quando não se tem essa
preocupação, o objetivo do que está sendo contado fica bem longe de ser
alcançado.

O tema do storytelling é muito importante, pois, a partir dele, pode-se delinear


as etapas para a composição da história que são, basicamente, a resposta ao
lead ou lide utilizada no jornalismo.

ASSIMILE:

Lide é uma palavra aportuguesada do inglês lead, que significa conduzir,


liderar. O jornalismo usa o termo para resumir a função do primeiro parágrafo
num texto: introduzir o leitor e prender sua atenção. O caráter condutor do
lide se aplica para quem lê e para quem escrever e responde às questões

102
principais em torno de um fato, que são: o quê? Quem? Quando? Como?
Onde? Por quê?

Fonte: Novo Manual de Redação da Folha de S. Paulo.

As respostas dadas a essa fórmula sequencial de perguntas-chave


Q+Q+Q+O+C+PQ (o Quê, Quem, Quando, Onde, Como, Por Que) compõem
os elementos da narração. Dois desses elementos são fundamentais para se
definir o tema do storytelling, o que (fato) e quem (personagem).

O personagem principal pode ser uma pessoa ou algo personificado, como se


observa em livros infanto-juvenis, como, por exemplo, no livro Memórias de um
cabo de vassoura, da autora Lessa (1970), que começa assim:

Eu já fui cabo de vassoura, confesso. Um cabo de vassoura como


tantos outros. Seria longo contar tudo o que tenho passado nesta
longa vida, desde que me arrancaram de uma árvore em que fui
tronco e me levaram a uma oficina, onde fui cortado, torneado e
mil coisas sofri, até conhecer a nova função que me reserva o
destino. (LESSA, 1970, p. 13)

As intenções do protagonista compõem o direcionamento da história, o que dá


sentido à importância dessa história, em particular, e não a outras. Esse é o
recorte que precisa ser observado para definição do tema do storytelling.
Quem? De quem a história está falando? Por que é importante contar a história
dessa pessoa? Quais são os objetivos e motivações desse personagem? Por
que eu (como ouvinte/ receptor) me interessaria por essa narrativa?

As questões o que? e quem? bem respondidas já configuram boa parte da


história a ser contada. Daí parte-se para a construção do enredo, que é o
desenrolar dos acontecimentos na narração.

A narração é um relato centrado num fato ou acontecimento. Enquanto no


jornalismo o relatante é o jornalista, na ficção, o responsável por contar a
história chama-se narrador.

103
PARA SABER MAIS:

A palavra ficção vem do latim fictionem e significa “ato o efeito de fingir, de


simular”, resulta da criação da imaginação, da invenção. Podemos classificar
uma narrativa de ficção em verossímil ou inverossímil: se a ficção mantiver
pontos de contato com a realidade, se o evento parecer verdadeiro ou
provável, será verossímil; caso contrário, se parecer improvável, absurdo,
será inverossímil. (NICOLA, 1997, p.99)

É habitual que todos os enredos, na estrutura narrativa, envolvam um conflito


que pode ser o homem contra a natureza; o homem contra outros homens; ou
até mesmo o homem contra si próprio. Os elementos da narrativa são: enredo;
personagem; ambiente; e, é lógico, o narrador, que pode ser personagem-
narrador ou narrador onisciente, que têm conhecimento sobre todos os fatos,
porém não participa ativamente da história.

Figura 1 – Conceito de storyboard

1 - Quem é a pesssoa sobre a qual a história


será contada? Onde essa história vai acontecer?

2 - A partir de que acontecimento emocional


será criado o vínculo entre o protagonista com
o expectador/ receptor/ leitor?

3- Qual será o acontecimento improvável? O


conflito? E qual atitude inesperada levará a
história a um desfecho?

Fonte: elaborado pela autora.

104
Um exemplo prático é a lembrança dos contos de fadas que trazem bem claro
todos os elementos da narrativa. Nesse caso, pode-se citar Frozen – Uma
aventura congelante, animação da Disney, de 2013. Veja abaixo:

Quadro 1 - Elementos da narrativa de contos de fadas


Elementos da narrativa de Frozen

Quem é a pessoa sobre a qual a Elsa, princesa que tem um poder de


história será contada? congelar e criar objetos de gelo.

Onde a história se passa? No reino fictício de Arendel.

A partir de que acontecimento A princesa Elsa lida com o conflito de


emocional será criado um vínculo não conseguir controlar seus
entre a protagonista e o expectador? poderes. Decide, após o desastroso
baile de sua coroação, fugir para
longe de todos para não ferir mais
ninguém.

Qual será o acontecimento Sua irmã, Ana, descobre onde Elsa


improvável? se escondeu e decide chamá-la de
volta ao reino. Entretanto, a rainha do
gelo não aceita, expulsa Ana e, sem
perceber, a fere gravemente.

Qual atitude inesperada levará a Elsa, sabendo que a irmã corre


história a um desfecho? perigo de morte, aprende a controlar
seus poderes e salva a irmã.

Fonte: elaborado pela autora.

4. Digital storytelling

Enquanto o storytelling traz em si suas características narrativas, o storyboard


manifesta-se como local ideal para que essa história seja contada. Pelas
características inerentes ao storyboard como organizador do fluxo das ideias, o
storytelling se encaixa perfeitamente nessa ferramenta e constitui uma união
ubíqua para diversos fins, entre eles, a educação.

O digital storytelling, por permitir o uso de tecnologia para construção de


argumentos e pensamentos lógicos, pode ser um facilitador no processo de
ensino-aprendizagem, logo que, pelo dinamismo em sua construção, gera um
interesse já intrínseco da atualidade na qual pessoas lidam naturalmente com
aplicativos para telefone celular, tablets, e também pertencem a algumas das
105
principais redes sociais, como Facebook, Instagram, YouTube, Twitter,
WhatsApp, Pinterest, Snapchat.

A composição digital do storytelling, nesse ambiente tecnológico, potencializa


todas as características pedagógicas que já existiam na contação de histórias
tradicional, mas com uma nova roupagem multimidiática. Essa forma mais
interativa de composição textual pode abrir precedente para uma leitura
também hipertextual.

Pode-se dizer que um ato de leitura é uma atualização das


significações de um texto, atualização e não realização, já que a
interpretação comporta uma parte não eliminável de criação. A
hipercontextualização é o movimento inverso da leitura, no
sentido em que produz, a partir de um texto inicial, uma reserva
textual e instrumentos de composição graças aos quais um
navegador poderá projetar uma quantidade de outros textos.
(LEVY, 1996, p. 41).

ASSIMILE:

Hipertexto é um texto não-linear e, muitas vezes, criado colaborativamente


no ambiente digital, associado às tecnologias da informação. Levy (1998, p.
42) diz que o hipertexto não se deduz logicamente do texto fonte, “ele resulta
de uma série de decisões: regulagem do tamanho dos nós ou dos módulos
elementares, agenciamento das conexões, estrutura da interface de
navegação etc.”

106
Figura 2 – Texto e Hipertexto

Fonte: adaptado de Levy (1996).

Então, a partir da produção da digital storytelling vista por esse prisma da


hipertextualidade, pode-se supor que a narrativa, embora lógica, deva prever
diversas escolhas do receptor da mensagem como se o ato da leitura fosse um
jogo em que “o leitor pode começar a ler por onde quiser, que não há nem
continuidade nem ordem estabelecida, com uma cronologia à margem do texto”
(VILCHES, 2003, p. 155).

A maior parte do material produzido no ambiente digital tem tendência a ser


multimídia e multiformato, devido a capacidade criativa que o meio oferece.
Hipertexto é, basicamente, uma “livre associação de textos, um processo que
foge à apresentação linear do discurso” (RAYMUNDO, 2008, p. 114)

Um exemplo desses novos formatos hipertextuais, que são possíveis graças à


Internet, é o filme Black Mirror: Bandersnatch, lançado em dezembro de 2018,
pela Netflix. Trata-se de um longa de ficção, com abordagem interativa, que
tem como cenário o início da década de 1980. O protagonista é um
programador de jogos que propõe a criação de um produto baseado em um
livro, que já continha formas de leitura hipertextual. Ele se depara com muitas
questões pessoais, familiares (sua mãe morreu quando era criança e mora com

107
o pai). No decorrer da trama, o telespectador é convidado a fazer escolhas,
sendo que cada uma delas leva a um enredo diverso.

Desde que Theodore Nelson, durante os anos sessenta, no


caminho da inaugurado por Vannevar Bush, em 1945, talhou o
conceito de hipertexto para se referir à possibilidade de ler ou
escrever de forma não linear, a informática começou a trilhar um
caminho que, com a multimídia, parece ter encontrado suas
maiores potencialidades. (BAIRON, 1995, p. 80)

Figura 3 – Narrativa linear e não linear

Fonte: elaborado pela autora.

5. Storyboard + storytelling

Storytelling é a arte de contar histórias, Digital Storytelling trata das narrativas


nos meios digitais. Storyboard representa uma forma de apresentar esses
enredos por meio de uma sequência, ou seja, o storyboard pode ser o suporte
para o storytelling.

Os dois conceitos, juntos, formam uma parceria muito interessante, pois, a


partir dessa união, pode-se contar uma boa história utilizando uma excelente
plataforma de organização das ideias.

108
Como o storyboard prevê uma sequência com ilustrações estáticas e tem como
essência a apresentação da mensagem por meio da imagem e do movimento
sugerido, torna-se desafiador criar a narrativa com símbolos que servem para
transmitir o significado presente na mensagem.

A criação de um storyboard em si, já é contar uma história, por conta de sua


característica de organizador de ideias. A capacidade adquirida com o
conhecimento mais profundo sobre storytelling potencializa ainda mais a
ferramenta storyboard. Reunindo esses dois conceitos e utilizando da
tecnologia disponível atualmente, há a possibilidade de uma potencialização
ainda maior dos resultados.

Ao responder as questões primordiais para a definição do tema


(Q+Q+Q+C+O+PQ) já temos a espinha dorsal do storyboard. Veja o exemplo:

1- Onde a cena se passa?


2- Quem está na cena?
3- O que os personagens dizem?
4- Como os personagens reagem?
5- O que acontece depois?

Depois das cenas serem concebidas de diversas maneiras, com ou sem o


auxílio do computador, de softwares ou aplicativos, é importante que se decida
onde será a apresentação. Se a escolha for apresentar analogicamente, pode-
se imprimir as telas e organizá-las em um painel.

Entretanto, como o intuito aqui é fazer uso da tecnologia, o storyboard pode ser
concebido diretamente nos meios digitais em sites próprios que tem tutoriais
para esse fim, exemplos: StoryboardThat, Canva, Boords. Não são só essas
ferramentas específicas que podem ser utilizadas para a criação do storyboard,
o programa Power Point, da Microsoft, é uma ferramenta para apresentações
em geral, como primordialmente o arquivo preparado no PPT é formado por
uma sequência de telas, o storyboard também pode ser criado e apresentado
fazendo uso do PPT.

Qualquer tecnologia disponível em desenho e composição de telas em


sequência pode ser utilizado para a criação do storyboard. Sua apresentação
pode ser por meio da Internet, nas redes sociais que aceitam esse tipo de
mídia. O importante é que o storyboard seja, de fato, usado no ambiente digital,

109
por conta de toda potencialidade adquirida.

6. Ferramentas a serviço da Educação

A Storyboard e storytelling podem ser utilizados em vários ramos do


conhecimento, no Marketing, na Publicidade, no Jornalismo, enfim, existe um
mundo de possibilidades para essa ferramenta e essa forma de narrar.
Entretanto, uma das vertentes mais importantes, que implica diretamente na
construção do conhecimento, é o uso dentro das metodologias educacionais. A
partir da migração para o meio digital, com toda sua potencialidade, vê-se um
ganho no âmbito da aprendizagem:

Para que se conheça bem o processo de aprendizagem, portanto,


é preciso entender como o sujeito constrói e inventa o
conhecimento, e não somente como ele repete e copia (Becker,
1997), Piaget (1996, p.45) mostra que o comportamento humano
consiste em “um conjunto de escolhas e de ação sobre o meio,
que organiza de maneira ótima as trocas”. O aprendizado,
segundo ele, não escapa dessa definição. (PRIMO, 2008, p. 184)

Ao abraçarem os meios digitais, storyboard e storytelling entram num nível


significativo de facilitadores no ensino. Dessa forma, assim como outras áreas,
a tecnologia também vem de encontro às práticas, antes, analógicas, e agora
como um importante meio de comunicar.

Atualmente, já não é possível prescindir das novas tecnologias.


Fazê-lo significaria um retrocesso histórico de proporções
incalculáveis. Mas também não se trata de acolher a tecnologia tal
e como ela nos é oferecida pelo mercado, nem para os fins que
os mesmos produtores e comerciantes da tecnologia desejam.
(OROZCO-GÓMEZ, 2011, p. 160)

Ao percorrer todos os passos para se contar a história, utilizando como suporte


o storyboard inserido nos meios digitais, pode-se observar que se desenha
uma possibilidade de expandir os horizontes da mídia que, até então, poderia
ficar restrita somente aos colegas (pensando numa sala de aula) ou, no
máximo, à escola. Com a potencialização que a Internet, com seus softwares,
extensões e aplicativos, proporcionou, dependendo do grau de envolvimento
110
do narrador nas redes sociais, uma simples apresentação (simples na
narrativa, mas seguindo todos os passos) pode vir a ser conhecida por um sem
fim de pessoas, gerando um saber partilhado e colaborativo.

Uma educação – seja ela presencial ou através da mídia – capaz


de responder aos desafios formativos contemporâneos deverá
ativar as potencialidades de autoaprendizagem e coaprendizagem
que se encontram latentes em seus destinatários e estimular a
gestão autônoma dos educandos em seu aprender a aprender,
em seu próprio caminho para o conhecimento: a observação
pessoa, a confrontação e o intercâmbio, o cotejo de alternativas, o
raciocínio crítico, a elaboração criativa. (KAPLÚN, 2014, p. 67)

Essa forma de educar que vem revolucionando o ensino, tanto dentro da


escola como fora, só acontece quando há força de vontade para os
participantes do processo, a fim de se deixarem educar para receber esse
conhecimento advindo das mídias digitais.

A alfabetização midiática “digital”, ao contrário da alfabetização


tradicional concentrada na lectoescrita, é também necessária para
os já “alfabetizados” e, inclusive, para os próprios professores. (...)
Consideramos a criação multimídia com um bom ponto de partida
tanto para a alfabetização digital dos alunos no ensino obrigatório
como para a “re-alfabetização” do professorado. (MARTÍN, 2014,
p. 188)

TEORIA NA PRÁTICA:

Imagine que você foi designado para realização de um grande evento na


instituição de ensino em que trabalha, cujo foco é o preparo de projetos para
aprovação da nova diretora. É a primeira vez que você lidará com uma
situação como essa em que todos esperarão por sua voz de comando. Você
tem uma reunião agendada com a equipe de professores, coordenação e
direção, mas não conhece ainda a complexidade da circunstância, pois é a
primeira vez que apresentará um projeto à direção escolar. Você resolve,

111
então, contar uma história para a equipe, a fim de que se sintam seguros e
motivados. Em uma sequência hipertextual, você prepara seu storyboard,
mostrando as várias possibilidades de problemas e as possíveis soluções.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. O que difere a contação de histórias de outros tempos e o digital


storytelling? Escolha a alternativa correta.

a) A utilização de recursos audiovisuais.

b) O tema utilizado.

c) A narrativa linear.

d) O desfecho da trama.

e) A empatia do leitor com o personagem.

2. Quais são as perguntas que devem ser feitas para escolher um tema de
uma storytelling? Escolha a alternativa correta.

a) Para que? Qual o protagonista?

b) Por que é importante essa história ser contada? Essa personagem gera
alguma empatia?

c) O que?; quem?; quando?; onde?; como?;por quê?

d) Qual o ambiente que se passa a história? Quantos personagens estão


presentes no roteiro?

e) Quem é narrador?; quem é o personagem principal?

3. O que é hipertexto? Escolha a alternativa correta a respeito.

112
a) Hipertexto é um texto muito grande, que contém uma estrutura rígida de
começo, meio e fim.

b) Hipertexto é um texto formado a partir dos conceitos básicos da narrativa.

c) Hipertexto é uma figura de linguagem que evidencia alguns termos e os


trata como palavras-chave.

d) Hipertexto é um texto não-linear e, muitas vezes, criado colaborativamente


no ambiente digital, associado às tecnologias da informação.

e) Hipertexto é uma invenção dos meios digitais, que veio contribuir para
definição das cores usadas no layout do storytelling.

Referências Bibliográficas

BAIRON, Sérgio. Multimídia. São Paulo: Global Editora, 1995.

KAPLÚN, Mario. Uma pedagogia da comunicação. In: APARICI, Roberto.


(Org.). Educomunicação: para além do 2.0. São Paulo: Paulinas, 2014.

LESSA, Orígenes. Memórias de um cabo de vassoura. Rio de Janeiro:


Ediouro, 1970.

LÉVY, Pierre; tradução de Paulo Neves. O que é o virtual? São Paulo: Ed. 34,
1996.

MARTÍN, Afonso Gutiérrez. Criação multimídia e alfabetização na era digital. In:


APARICI, Roberto. (Org.). Educomunicação: para além do 2.0. São Paulo:
Paulinas, 2014.

NICOLA, José de. Língua, Literatura & Redação. São Paulo: Editora
Scipione, 1997.

Novo manual de Redação. São Paulo: Folha de S. Paulo, 1992.

OROZCO-GÓMEZ, Guillermo. Comunicação, educação e novas tecnologias:


tríade do século XXI. In: CITELLI, Adílson Odair; COSTA, Maria Cristina
Castilho. (Orgs.). Educomunicação: construindo uma nova área de
conhecimento. São Paulo: Paulinas, 2011.

113
PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação,
cibercultura, cognição. Porto Alegre: Edição Sulina, 2008.

RAYMUNDO, Rafael Tourinho. O hipertexto como recurso transmetodológico.


In: MALDONADO, Alberto Efendy; BONIN, Jiani Adriana; ROSÁRIO, Nísia
Martins do. (Orgs.). Perspectivas metodológicas em comunicação: desafios
na prática investigativa. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2008.

VILCHES, Lorenzo. A migração digital. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

Gabarito

Questão 1 - Resposta A.

Resolução: o que difere o storytelling analógico do digital é justamente o uso de


multimídia para o aproveitamento da potencialidade dos meios digitais.

Questão 2 - Resposta C.

Resolução: para definir o tema de storytelling, é preciso responder perguntas


básicas do lide: o que? Quem? Quando? Como? Onde? Por quê? A partir daí
já se consegue fazer um esboço da história.

Questão 3 - Resposta D.

Resolução: existem vários conceitos de hipertexto, mas este é mais básico


para a compreensão da linguagem, que possui várias ramificações dando
possibilidade ao leitor (receptor) escolher os caminhos a seguir, modificando a
narrativa. É uma linguagem muito usada em sites e jogos.

114
Estudo de caso e práticas sobre os temas:
storyboard e storytelling
Autora: Silvia Torreglossa

Objetivos

• Estudar cases de sucesso envolvendo storyboard e storytelling.

• Conhecer as tecnologias disponíveis para o desenvolvimento de


storyboard e digital storytelling.

• Criar, passo a passo, um storyboard com conceitos de storytelling.

115
1. Introdução
Olá! Seja bem-vindo!

O storytelling é um dos modos de contar histórias mais atual que existe e pode
ser utilizado em diversas áreas do conhecimento. Storytelling é um termo que
vem da língua inglesa e que significa a capacidade de contar histórias.
Traduzindo ao pé da letra, tell vem do verbo to tell, contar; e story, história. O
storyteller é aquele que conta histórias, ou melhor, um contador de histórias.

Essa forma de narrar é muito utilizada em campanhas publicitárias e nos


processos educativos por ser ricamente afetiva e contemporânea, mesmo
remontando a uma necessidade premente do ser humano, relatar fatos, falar
sobre sua forma de vida, seu mundo, suas conquistas.

PARA SABER MAIS:

No Brasil, a tradição de contar histórias é herança da Nigéria, onde os


narradores de histórias populares, os akpalôs, faziam parte de uma casta
especial, que se deslocava de tribo em tribo, recitando os seus alôs.
(GUIMARÃES, 2003, p. 86)

Para sermos justos com a história, temos que começar a falar de


narrativas a partir de um dos maiores historiadores, ou melhor,
contadores de história da antiguidade em nosso entendimento:
Heródoto. Partimos do pressuposto de que as narrativas sempre
acompanharam o homem desde os primórdios da história, mesmo
antes da escrita. Daí pra frente as narrativas se retextualizaram,
mudaram de linguagem e sua forma, mas persistiram como forma
de articular o pensamento e unir as informações.
(TORREGLOSSA; LOURENÇO, 2012, p. 30)

116
E para que essa história seja bem contada, do começo ao fim, ou de forma
hipertextual, é preciso que haja uma estratégia que dê suporte. E é aí que entra
o storyboard, ferramenta indispensável para organizar as ideias e desenvolver
o enredo.

Para ter esse contato mais próximo com esses dois conceitos e entender seus
usos, é necessário conhecer as formas de uso já consagradas e os passos
para sua concepção.

Um ótimo aprendizado a você!

2. Storytellings que emocionam e vendem ideias

Uma história bem contada, com enredo e desenrolar interessantes, chama a


atenção do público ouvinte. Para ter uma noção de como a contação de
histórias faz parte do cotidiano das pessoas, é só imaginar rapidamente
situações que podem ocorrer com qualquer um, como por exemplo, um corretor
de imóveis, chegando próximo a um potencial cliente com a chance de fazer a
abordagem. Na primeira tentativa, já chega com o material impresso em mãos
e diz: “você já conhece o lançamento no bairro tal? É lindo, maravilhoso,
espaçoso, barato, cabe no seu bolso, blá, blá, blá”. Qual a probabilidade desse
cliente parar, ouvir e vir a, de fato, se interessar?

Na segunda hipótese, mas já com o segundo cliente, porque o primeiro já foi


embora, o corretor muda a tática. Observa o público e encontra um novo alvo.
Vê um possível comprador para o imóvel que está representando. Um homem
e sua esposa, visivelmente grávida. Pensa sobre qual seria a necessidade
dessa família e aborda, gentilmente, o casal, parabenizando pelo aumento da
família e dizendo que com certeza a vida deles estava mudando e, quando um
filho chega, tudo que era suficiente acaba sendo pouco e é preciso evoluir
quando a família cresce. A partir daí, vai contando a história que o casal
poderia viver no imóvel em questão, evidenciando o local do quarto do bebê na
planta do apartamento, a área de lazer, a proximidade de escolas, farmácias,
hospitais.

117
Figura 1 – Storytelling

Fonte: IIIerlok_Xolms/ iStock.com

As histórias instigantes sempre geram curiosidade no ouvinte. Para explicitar


essa questão, basta relembrar um quadro na programação infantil da TV
Cultura, em 1990, chamado Senta Que Lá Vem História. A vinheta de abertura
mostrava um menino deitado em um sofá e, a partir da chamada acompanhada
com o som de várias cornetas, ele se sentava, via a contagem regressiva e
estava pronto para ouvir a história do dia.

A marca constante do contador é sua intenção de prender a


atenção dos ouvintes, a ponto de contagiá-los a uma participação
apreciativa, durante a própria enunciação. O narrador utiliza
inflexões de voz, modulações melódicas, expressões fisionômicas
e gestuais, buscando manter desperto o interesse dos ouvintes,
realçando os pontos altos das narrativas, sempre num diálogo
sintonizado com o auditório. (GUIMARÃES, 2003, p. 86)

Essa reflexão é importante para a compreensão da aplicabilidade do


storytelling num contexto específico. A partir dessa ideia, pode-se compor um
sem fim de propostas relacionadas a contação de histórias para o comércio, o
jornalismo, em sala de aula, tudo sempre para gerar um clima empático entre o

118
emissor (publicitário/ jornalista/ professor/ vendedor) e o receptor (ouvinte/
cliente/ aluno/ espectador).

A empatia buscada pelo storyteller é uma característica do contador de história


que sempre procura referências na memória coletiva que envolvam questões
universais e afetivas para que o interlocutor se reconheça naquele enredo,
estabelecendo uma relação de sentido, reconhecimento e empatia.

Figura 2 – Contador de histórias

Fonte: Fonte: juanorihuela/ iStock.com

Indo mais adiante na concepção de storytelling e relacionando-o com os


avanços da tecnologia da informação, percebe-se a evolução da linguagem
narrativa para a digital com ampla utilização da capacidade multimidiática do
meio.

A convergência das tecnologias de informação e comunicação


para a configuração de uma nova tecnologia, a digital, provocou
mudanças radicais. Por meio das tecnologias digitais é possível
representar e processar qualquer tipo de informação. Nos
ambientes digitais reúnem-se a computação (a informática e suas
aplicações), as comunicações (transmissão e recepção de dados,
imagens, sons etc.) e os mais diversos tipos, formas e suportes

119
em que estão disponíveis os conteúdos (livros, filmes, fotos,
músicas e textos). (KENSKI, 2012, p. 33)

A linguagem utilizada no digital storytelling está de acordo com esta


convergência, já que se aproveita de animações, sons, vídeos, grafismos,
todos os recursos disponíveis para enriquecer a narrativa.

3. Storytelling – Cases de sucesso ou fracasso

O storytelling tem duas funções inerentes, que são atrair e engajar o


interlocutor. Quando a história é bem construída, respeitando as respostas
básicas como para as questões o que?, quem?, quando?, como?, onde?, por
quê?, é possível que se alcance sucesso na disseminação da mensagem sobre
o fato retratado, essas ações, que são referência do mundo do marketing,
recebem o cunho de cases de sucesso.

PARA SABER MAIS:

A palavra case vem do inglês e significa caso, ou seja, trata-se da história


sobre um acontecimento. Cases de sucesso é um termo muito utilizado no
marketing, pois representa um trabalho empresarial que foi realizado com
perfeição e, assim, pode inspirar outras ações. A relevância dele é tamanha
que serve pedagogicamente de modelo para outras pessoas da área
resolverem questões parecidas.

A área da publicidade já descobriu a força que o storytelling tem e como


estabelecer uma conexão sentimental, visceral, com o público-alvo. Algumas
empresas buscam realizar suas campanhas publicitárias baseando-se na
contação de histórias reais ou fictícias, desde que estejam de acordo com o
contrato que estabelecem imaginariamente com quem vê. Por exemplo, se
uma história é contada para uma criança de forma ficcional, é preciso mostrar
esse viés para o espectador para que ele não se sinta ludibriado, pois isso

120
quebraria a relação empática que a história deveria construir, além de ser
crime.

Por exemplo, a história contada sobre a origem dos sorvetes da marca Diletto é
fictícia, mas isso não ficava claro para o consumidor, que realmente acreditava
que a imagem impressa nas embalagens era uma homenagem ao italiano
Vittorio Scabin, avô de Leandro Scabin, fundador da empresa. Segundo a
história, que começava com a frase La felicità è um gelato (tradução: a
felicidade é um sorvete), Vittorio era um sorveteiro da região de Vêneto e usava
frutas frescas e neve na composição das receitas, chegou em São Paulo
buscando abrigo em meio a Segunda Guerra Mundial. O nonno Vittorio havia
deixado, como legado aos seus netos, a tradição, o perfeccionismo e a paixão
que, segundo a propaganda veiculada, são fundamentais para transformar
simples picolés em raras e deliciosas porções de felicidade.

É um golaço de marketing, mas há apenas um porém: o nonno


Vittorio nunca existiu. O avô de Leandro Scabin de fato veio do
Vêneto, mas se chamava Antonio e teria chegado ao país duas
décadas antes da Segunda Guerra. Nunca fabricou sorvetes.
Antonio era paisagista e cuidava dos jardins das casas das
famílias ricas de São Paulo. As fotos dele e do carrinho de sorvete
impressas nas embalagens da Diletto são peças publicitárias.
(LEAL, 2014, [s.p.])

A história fictícia era contada como verdadeira e isso não agradou o Conselho
Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o CoNAR, que designou que a
empresa explicasse em toda a sua comunicação, inclusive em sites e redes
sociais, que o personagem não existe. Esse case mostra como storytelling é
importante e deve ser escrito com muita responsabilidade.

Em uma outra publicidade, que também utiliza a estratégia de storytelling, dos


sucos Del Valle, temos o exemplo de como uma narrativa já se evidencia como
ficção por conta do contexto da produção da mensagem. Começa com a
narração de uma mulher contando de ondem vem as frutas para a produção
dos sucos. No decorrer da fala, o telespectador consegue perceber que ela é
mãe e está contando a história para o filho, num tom de conto de fadas, de
forma lúdica. Mesmo sob aspecto ficcional, dá para perceber o cuidado em
evidenciar todas as etapas produtivas do suco, como o amadurecimento, a

121
queda e a seleção. A intenção dessa história é contar que mesmo sendo
industrializado, ou seja, de fácil acesso, existe toda uma complexidade na
produção do suco que o menino está tomando.

Mãe: - Quer saber como Del Valle consegue fazer o suco mais
gostoso de todos? Eles descobriram um grande segredo da
natureza, as árvores mágicas!

Filho: - Mágicas?

Mãe: - É, elas dão as melhoras frutas do mundo depois eles


escolhem só as mais gostosas na hora certinha!

Filho: - Caramba, mãe, dá um trabalhão fazer um suco bom, hein?

Mãe: - Ainda bem que Del Valle já faz tudo, a gente só tem que
abrir a caixinha.

Locutor: - Del Valle Mais, sempre pronto, sempre bom!

Fonte: Propaganda Del Valle. Portal Brasal - Publicado em 26 de


abril de 2010

Nesses dois exemplos, pode-se perceber que a função da narrativa, do


storytelling é proporcionar uma identificação que faz com que o consumidor,
em se tratando de uma campanha publicitária, sinta-se mais confiante em
adquirir aquele produto. Para chegar nesse objetivo, usa recursos audiovisuais
ou textuais para enriquecer a história e torná-las mais relevantes.

Outro exemplo bastante aclamado de publicidade, que utilizou storytelling como


estratégia, foi a campanha Lute como uma garota – Always, lançada em 2014.
O projeto se iniciava com a pergunta feita tanto para homens, mulheres,
meninos e meninas, de diversas idades: o que significa fazer as coisas tipo
menina? (correr, lutar, praticar esportes). O objetivo da campanha era mostrar
como o termo tipo menina sempre assumia um tom pejorativo.

Os participantes mais velhos, ao realizarem as tarefas, faziam de forma


caricatural, quase cômica, menos as meninas mais novas, que quando foram
questionadas simplesmente correram, lutaram e praticaram esportes, deram o
melhor de si. Em meio às cenas aparecem os textos: “a confiança de uma
122
menina diminui durante a puberdade – Always quer mudar isso” e “vamos
transformar #tipomenina em coisas incríveis”, finalizando com “Always –
reescreva as regras”.

4. Storytelling – na Educação

Assim como nas campanhas publicitárias, a prática do storytelling também


permeia os processos educativos, pois, como já foi dito, o ser humano tem
necessidade primordial de narrar os fatos acontecidos em sua trajetória, tanto
os cotidianos com os de efeito transformador. Como é a partir das histórias que
transmitimos valores, conceitos, cultura, intenções, enfim, conhecimento de
geração em geração, o storytelling, então, deve ser uma proposta interessante
para tornar o ensino compatível com as características da contemporaneidade.

A solução pode parecer simples demais diante de uma realidade


tão intrincada como a nossa. Mas faz todo o sentido. O século 21
é o século da narrativa, escreveu o israelense Yuval Noah Harari
no estupendo livro Sapiens, Uma Breve História da Humanidade.
A complexidade de um sistema varia de acordo com o número de
coisas conectadas umas às outras que ele possui. E o que uma
boa narrativa faz é exatamente conectar os pontos, costurar
ideias, ações, temas e personagens de um jeito atraente, unindo,
dessa forma, cérebro e coração, razão e emoção. (DINIZ, 2018,
[s.p.])

Educação, comunicação e as novas tecnologias andam juntas no século XXI,


não dá para dissociar a utilização do aparato digital na construção do saber
atual. Os desafios que aparecem com essa união não são meramente
instrumentais e nem se podem apenas partir dos benefícios da digitalização
sem o comprometimento de fazer, de fato, acontecer a transmissão, circulação
e compartilhamento de conhecimento nesse ambiente interativo.

Por uma parte, as novas tecnologias devem se articular como


suporte de uma comunicação educativa mais diversificada,
através do aproveitamento de variadas linguagens, formatações e
canais de produção e circulação de novos conhecimentos. (...)
Sobretudo, através do planejamento de estratégias de educação

123
dos usuários que tenham como objetivo formar interlocutores
capacitados para uma recepção e produção comunicativa ao
mesmo tempo múltipla, seletiva e crítica. (OROZCO-GÓMEZ,
2011, p.159)

ASSIMILE:

A maioria das tecnologias é utilizada como auxiliar no processo educativo.


Não são nem o objeto, nem a sua substância, nem a sua finalidade. Estão
presentes em todos os momentos do processo pedagógico, desde o
planejamento das disciplinas, a elaboração da proposta curricular, até a
certificação dos alunos que concluíram o curso. (KENSKI, 2012, p.44)

A técnica narrativa do storytelling é capaz de influenciar e modificar


comportamentos, orientando para valores e atitudes positivas necessárias para
o bom desempenho e evolução dos alunos. Entre outros benefícios que podem
ser alcançados, elencam-se a inspiração, o estabelecimento de meta e visão
de futuro, estímulo da criatividade, ensinamento de lições importantes, solução
de problemas e formação de culturas e valores.

Assim como na publicidade, o storytelling auxilia na conexão emocional que


pode acontecer no ambiente educativo de forma cooperativa e colaborativa.
Isso significa que a realização de um produto com base no storytelling pode
transformar a sala de aula num local de trocas de saberes, sem o precedente
de estar vinculado a uma atividade curricular que pode parecer, à primeira
vista, maçante para a classe. Todo o conhecimento construído dessa forma
dinâmica e aparentemente lúdica torna tudo mais prazeroso e estimulante.

5. Storytelling – na prática

Ao observar os cases de sucesso que usaram como estratégia o storytelling, é


possível notar que todos seguem mais ou menos o mesmo padrão,
124
independente do público-alvo ser diferente, ou da época em que foi produzida a
peça publicitária ou até mesmo do objetivo ser diverso.

Tabela 1 – A lógica do storytelling

A lógica do storytelling

Introdução A princípio, deve-se apresentar os personagens e suas características,


incluindo o contexto no qual estão envolvidos e pistas das motivações e dos
eventos que transformarão suas trajetórias no enredo.

Nesse momento, é importante estabelecer a ligação e a identificação com o


espectador para obter sua parceria empática no decorrer da história.

Para que isso ocorra de forma satisfatória, é necessário que haja uma
definição precisa sobre o público-alvo que a história visa atingir.

Problema Nesse segundo momento, acontece o surgimento da situação-problema. É


aqui, que o personagem encontra o desafio que vai motivá-lo a uma
transformação que pode ser representada por uma mudança brusca de
comportamento ou da forma de pensar.

Não é necessariamente nessa parte da trama que o personagem resolve a


questão, mas procura ferramentas e argumentos que o encaminhem para
uma resolução.

Retorno O personagem, nesse momento, já teve conhecimento das possibilidades de


solução do problema. E resolve de uma forma satisfatória a celeuma
apresentada.

O interessante dessa etapa é que o personagem sempre tem uma mudança


significativa, nunca retorna ao status quo, ou melhor, sempre se transforma.

Fonte: adaptado de Campell (1990).

A façanha convencional do herói começa com alguém a quem foi


usurpada alguma coisa, ou que sente estar faltando algo entre as
experiências normais franqueadas ou permitidas aos membros da
sociedade. Essa pessoa então parte numa série de aventuras que
ultrapassam o usual, quer para recuperar o que tinha sido
perdido, quer para descobrir algum elixir doador da vida.
Normalmente, perfaz se um círculo, com partida e retorno.
(CAMPBELL, 1990, p.138)

Para afinar a compreensão, em relação ao esquema anterior, é só buscar uma


campanha construída sob a égide do storyboard e classificar cada um desses

125
itens relatados. A campanha dos produtores de queijo das Região da Serra da
Canastra 1 demonstra claramente essa sequência.

Em primeiro lugar, há a apresentação dos personagens, ou do herói, conforme


orientação de Campbell (1990). No caso, essa figura é representada pelos
produtores de queijo. A narrativa inicia-se com o relato da história baseada na
tradição de família da região, mostrando que produzir queijo está atrelado ao
DNA dessas pessoas.

Num segundo momento, é mostrado um dilema a respeito da dificuldade se


manter a tradição de 250 anos e a qualidade, conquistada com conhecimento e
perseverança mesmo diante de todos os desafios da modernidade e da vida
cotidiana no campo. É relatado o fato dos trabalhadores rurais terem uma
jornada diária de quatorze horas por dia, desde o primeiro canto do galo até o
final da tarde.

O momento definitivo acontece quando a resiliência dos produtores é brindada


com a constatação de que vale a pena todo o esforço ao saber que o
consumidor final ficará satisfeito com o produto, mesmo sem ter real
conhecimento da trajetória completa que percorreu, desde a retirada do leite da
vaca até o estabelecimento comercial onde foi comprado ou consumido o
queijo. Após as imagens finais, pode-se verificar o resumo nas palavras: “De
cada vida, um dia. De cada dia, um sabor. De cada sabor, uma história”.

6. Storytelling e Storyboard – ferramentas constitutivas

O storyboard deve ser utilizado desde o início, juntamente com a definição do


tema do storytelling. Os esboços feitos no storyboard é que vão configurando a
sequência das imagens e criação do sentido entre elas. O storyboard
proporciona esse clareamento organizacional, onde se pode visualizar todo o
processo criativo.

1REGIÃO DO QUEIJO DA CANASTRA. Artesanal, mineiro e simples – Região do queijo da


Canastra. Região do Queijo da Canastra, quatorze de setembro de dois mil e quinze.
Disponível em: < <https://www.youtube.com/watch?v=hw0sN6WTBCs>. >. Acesso em: 24 jul.
2019.

126
Para auxiliar e enriquecer o storytelling, dispõe das potencialidades
multimidiáticas, como os efeitos especiais, a sonorização, e tantos outros
movimentos e enquadramentos que enriquecem o percurso da narrativa.

Os efeitos sonoros proporcionam uma sensação imersiva, promovendo uma


acuidade maior nos momentos mais expressivos da narrativa. A trilha sonora
também é responsável por esse direcionamento afetivo. Essa ferramenta
auxilia no desenrolar do relacionamento afetivo/ empático entre o emissor
(personagem/ herói) e o receptor (audiência /espectador).

Uma história feita com apoio multimidiático pode proporcionar sensações


potencializadas, pois orientam e mexem com os sentidos de quem recebe esse
discurso. Cada efeito especial, por exemplo, é pensado meticulosamente para
gerar esse ou aquele sentimento. Transições, animações, ou qualquer outra
contribuição de softwares de edição, podem dar um requinte a mais e
aprofundar a experiência do desfrutar da história.

Toda a capacidade criativa começa na definição do tema e do objetivo da


história. Sempre é bom lembrar que a máquina (tecnologia/ computador/
softwares/ aplicativos) sozinha não faz milagre, depende de um fundamento,
uma direção, que só será determinada a partir de um estudo das necessidades
do público que se quer atingir.

TEORIA EM PRÁTICA:

Reflita sobre a seguinte situação e sugira uma solução a partir do


conhecimento adquirido:

Os alunos do ensino médio e EJA, da escola em que você trabalha, estão


com dificuldades de se prepararem para o Enem e escolherem uma carreira
a seguir após a conclusão dessa etapa de ensino. Você foi escolhido para
pensar numa estratégia para mudar esse quadro e, de preferência invertê-lo
para algo positivo. A ideia que teve foi fomentar uma feira de profissões na
escola, possibilitando o contato dos alunos com diferentes ofícios e também

127
a elaboração de um projeto para incentivar o estudo e simulados para o
Enem. O seu papel é passar essa ideia para a equipe de professores, que
encabeçarão esse projeto, de forma a motivá-los, cada um em sua disciplina,
a atuarem em parceria para o sucesso desses projetos. Você usará o
storytelling como estratégia, baseando-se na plataforma storyboard. Haverá
uma reunião onde você precisará desse material para dar segmento ao
projeto.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. O storytelling possui uma dinâmica intrínseca, que faz com o leitor/


público/ espectador tenha empatia pelos personagens a ponto de torcer para
que a história termine bem e que a jornada envolva superação e evolução. A
partir dessa afirmação, assinale a alternativa que não corresponde a uma
etapa da lógica do storytelling.

a) A princípio, deve-se apresentar os personagens e suas características,


incluindo o contexto no qual estão envolvidos e pistas das motivações e dos
eventos que transformarão suas trajetórias no enredo.

b) É no momento que surge a situação-problema que o personagem


encontra o desafio que vai motivá-lo a uma transformação, que pode ser
representada por uma mudança brusca de comportamento ou da forma de
pensar.

c) Não é necessariamente quando surge o problema na trama que o


personagem resolve a questão, mas quando procura ferramentas e
argumentos que o encaminhem para uma resolução.

d) No momento do retorno, o personagem já teve conhecimento das


possibilidades de solução do problema e resolve de forma satisfatória a
celeuma apresentada.

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e) Embora o personagem resolva a situação, no retorno volta ao ponto de
partida da mesma forma como começou a história.

2. Para o storytelling alcançar a melhor potência, acrescenta-se as mais


diversas mídias existentes como vídeos, sons, animações etc. Pode-se
afirmar que é possível criar uma história no ambiente digital, desde que:

a) As mídias representem o máximo em tecnologia.

b) A expressividade de uma mídia não suplante a outra.

c) O tema já esteja definido e a narrativa construída previamente.

d) O storyteller tenha conhecimento de todas as mídias disponíveis.

e) Não haja dúvida em relação a qual mídia escolher para expressar a ideia.

3. É permitido usar ficção em campanhas publicitárias construídas dentro da


dinâmica do storytelling?

a) Sim, é permitido usar irrestritamente a ficção.

b) Sim, desde que o público saiba que se trata de uma história inventada, do
contrário, se sentiria enganado.

c) Não, todas as histórias devem ser a mais clara expressão da verdade.

d) Sim, contanto que seja bem construída a ponto do espectador não


suspeitar que a história não se baseia em fatos reais.

e) Não, só se permite abrir o precedente se for para salvar uma empresa da


falência, daí vale qualquer invenção embutida na história..

Referências Bibliográficas

ALWAYS BRASIL. O que significa: fazer as coisas Tipo Menina? Always


Brasil, quinze de julho de dois mil e quatorze. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?time_continue=111&v=mOdALoB7Q-0>.
Acesso em: 24 jul. 2019.

129
CAMPBELL, Joseph. Trad. MOISÉS, Carlos Felipe. O poder do mito. São
Paulo: Palas Athena, 1990.

DINIZ, Ana Maria. Storytelling na Educação: o poder de uma história bem


contada. Estadão, 2018. Disponível em:
<https://educacao.estadao.com.br/blogs/ana-maria-diniz/storytelling-na-
educacao-o-poder-de-uma-historia-bem-contada/>. Acesso em: 24 jul. 2019.

GUIMARÃES, Maria Flora. O conto popular. In: BRANDÃO, Helena Nagamine


(Coord.). Gêneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso
político, divulgação científica. São Paulo: Cortez, 2003.

KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação.


Campinas, SP: Papirus, 2012. Coleção Papirus Educação.

LEAL, Ana Luiza. Toda empresa quer ter uma boa história. Algumas são
mentira. Revista Exame, 2014. Disponível em:
<https://exame.abril.com.br/revista-exame/marketing-ou-mentira/>. Acesso em:
24 jul. 2019.

MEMÓRIA INFANTIL. Rá-Tim-Bum: Senta que lá vem a História – Versão 2.


Memória Infantil, três de junho de dois mil e dez. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Vp5EO6Cv5Xg>. Acesso em: 24 jul. 2019.

OROZCO-GÓMEZ, Guillermo. Comunicação, educação e novas tecnologias:


tríade do século XXI. In: CITELLI, Adílson Odair; COSTA, Maria Cristina
Castilho. (Orgs.). Educomunicação: construindo uma nova área de
conhecimento. São Paulo: Paulinas, 2011.

PORTAL BRASAL. Brasal – Del Valle. Portal Brasal, vinte e seis de abril de
dois mil e dez. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?time_continue=31&v=r61C150Q-3c>. Acesso
em: 24 jul. 2019.

REGIÃO DO QUEIJO DA CANASTRA. Artesanal, mineiro e simples – Região


do queijo da Canastra. Região do Queijo da Canastra, quatorze de setembro
de dois mil e quinze. Disponível em: <
<https://www.youtube.com/watch?v=hw0sN6WTBCs>. Acesso em: 24 jul. 2019.

TORREGLOSSA, Silvia; LOURENÇO, Carlos Eduardo. Narrativas, linguagem e


poder na relação aluno-professor. In: CURY, Lucilene. (Org.). Tecnologias
130
digitais nas interfaces da comunicação/ educação desafios e
perspectivas. Curitiba: CRV, 2012, v. 1..

Gabarito

Questão 1 - Resposta E.

Resolução: embora a história possa ser cíclica e sempre ter um momento em


que o personagem passe por um conflito e precise resolver uma questão
visceral, quando retorna ao ponto de partida, ele está diferente, modificado,
evoluído em algumas questões, passou por uma transformação causada pela
superação do obstáculo anterior.

Questão 2 - Resposta C.

Resolução: o mais importante é ter conhecimento e segurança do tema


escolhido, toda a questão da tecnologia disponível, o conhecimento sobre ela é
uma etapa subsequente. Isso significa que não adianta muito conhecer como
funciona essa ou aquela ferramenta sem ter o conteúdo definido.

Questão 3 - Resposta B.

Resolução: o storyteller pode criar algo e acrescentar ou modificar a história,


desde que o espectador, a partir da narrativa e do contexto, saiba que se trata
de algo não baseado em fatos. Quando a história é passada como verdade,
mas não é, isso é tido como uma enganação.

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