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Benaia Silva
Benaia Silva
o 23 de out. de 2020
https://www.pequenosneuronios.com.br/post/autismo-em-meninas-os-altos-custos-da-
camuflagem-social
Atualmente, o autismo não é considerado uma doença, mas sim uma forma diferente
de processar as informações. Devido à essa mudança de visão alguns autores sugerem
usar o termo "Condição do Espectro Autista (CEA)". O termo "transtorno" é
considerado estigmatizante e remete à ideia de doença, já o termo "condição" engloba
melhor as dificuldades e potencialidades das pessoas dentro do espectro. Porém
transtorno ainda é o termo mais utilizado na atualidade.
As mulheres com autismo têm uma taxa mais alta de condições associadas, sendo as
principais: ansiedade, depressão, tiques, transtornos alimentares, TDAH, TOD.
Devido às muitas comorbidades, nem sempre o autismo é considerado, pois os
comportamentos são atribuídos apenas às condições associadas.
O diagnóstico, mesmo que tardio, é libertador para a maioria dos autistas, especialmente
as mulheres, pois algumas delas conseguem abandonar a camuflagem ou usar técnicas
que não geram tanto sofrimento. Algumas relatam conseguir perceber quando o
mascaramento está consumindo muita energia e fazem pausas para se recompor,
referem ir ao banheiro, ir embora mais cedo de um evento ou simplesmente não se
expor a determinadas situações que geram sobrecarga.
Citando uma amiga (A.M, 29 anos) que teve diagnóstico tardio:
"Diagnóstico é deixar de se sentir um ET, é parar de se esconder, é ouvir de todo
mundo que depois que tive o diagnóstico fiquei mais autista, diagnóstico é
pertencer a uma comunidade (não a que eu achava que pertencia), é aprender a
cuidar de mim, é ter identidade."
Tratamento
"Antes do diagnóstico, nós nos sentimos deslocadas. Parece que todos receberam
um manual de instruções sobre como relacionamentos interpessoais funcionam,
menos nós. A impressão é que você vive se esforçando para encontrar a forma
certa de agir, mas mesmo assim escuta o tempo todo que você é grossa, sem
empatia, mimada, antissocial demais, individualista. São as mesmas críticas a vida
inteira, então você se convence de que realmente é uma pessoa inadequada, ruim
de verdade. Achar um profissional para o diagnóstico infelizmente ainda é um
sacrifício, porque se você "funciona" (mesmo se não funciona bem), às vezes o
profissional não vê sentido em cogitar o diagnóstico de autismo, eles mesmo
agregam a uma carga de preconceitos. Você procura ajuda e vem outros nomes
(como transtorno bipolar ou esquizofrenia), cujos tratamentos não ajudam e isso
vai aumentando a frustração. Achar um profissional que realmente escute o que
você tem a dizer e cogite o autismo muda a sua vida. Você vê que, se tivesse tido a
oportunidade de descobrir antes, sua vida teria sido muito mais leve, teria uma
carga de sofrimento muito menor. Você aprende mais sobre seus limites, aprende
como lidar com as dificuldades impostas e aprende a se respeitar. Muitas de nós
não temos essa oportunidade, o que pode levar a uma vida de auto negação e
tentativas frequentes de suicídio. Espero que esse tema seja cada vez mais
discutido, para que o diagnóstico seja cada vez mais precoce e as meninas com
TEA tenham a possibilidade de se respeitarem e se desenvolverem plenamente, não
passando por todas as crises que uma vida de negação pode causar."
Seguem dois vídeos da Psicóloga Kmylla Borges, ela é autista, faz vídeos ótimos que
ajudam a entender os autistas.
Esse texto foi escrito por Benaia Silva, médica neurologista pediátrica. Para mais
informações sobre a autora clique na imagem abaixo.
Referências
Rynkiewicz A, Janas-Kozik M, Słopień A. Girls and women with autism. Psychiatr Pol.
2019 Aug 31;53(4):737-752. English, Polish. doi: 10.12740/PP/OnlineFirst/95098.
Epub 2019 Aug 31. PMID: 31760407.