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Carica Pedro Buquine

Contributo das tecnologias financeiras móveis para inclusão financeira na Vila de


Boane.
Estudo de caso: M-Pesa (2020-2022).

Licenciatura em Gestão de Comércio com Habilitação em Gestão Financeira

Universidade Pedagógica de Maputo


Maputo
2023
Carica Pedro Buquine

Contributo das tecnologias financeiras móveis para inclusão financeira na Vila de


Boane.
Estudo de caso: M-Pesa (2020-2022).

Monografia a ser apresentada no Departamento


Pedagógico na Faculdade de Economia e Gestão,
para a obtenção do grau de Licenciatura em Gestão
de Comércio com Habilitação em Gestão Financeira.

Supervisor: Dr. Paulo Parruque

Universidade Pedagógica de Maputo


Maputo
2023
II

ÍNDICE

ÍNDICE DE GRÁFICOS .............................................................................................................................. IV


LISTA DE ABREVIATURAS......................................................................................................................... V
DECLARAÇÃO ......................................................................................................................................... VI
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................................ VII
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................................. VIII
RESUMO ................................................................................................................................................. IX
ABSTRACT................................................................................................................................................ X
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
1.1. Objectivos .................................................................................................................................... 2
1.1.1. Objectivo Geral:.................................................................................................................... 2
1.1.2. Objectivos específicos: ......................................................................................................... 2
1.2. Problematização .......................................................................................................................... 2
1.3. Hipóteses ..................................................................................................................................... 3
1.4. Justificativa .................................................................................................................................. 3
1.5. Estrutura do trabalho .................................................................................................................. 4
CAPITULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................................ 5
2.1. Enquadramento conceptual ................................................................................................... 5
2.1.1. Tecnologia financeira ...................................................................................................... 5
2.1.2. Inclusão financeira .......................................................................................................... 5
2.1.3. Interoperabilidade .......................................................................................................... 6
2.1.4. Dinheiro móvel ................................................................................................................ 6
2.2. Teorias sobre a Tecnologia financeira e inclusão financeira .................................................. 6
2.2.1. Tecnologia financeira (Fintech) ....................................................................................... 7
2.2.1.1. Historial ................................................................................................................... 7
2.2.2. Inclusão financeira e alcance do dinheiro móvel ............................................................ 7
2.2.2.1. Evolução dos serviços da banca tradicional em Moçambique ............................... 8
2.2.3. Algumas teorias sobre a inclusão financeira................................................................. 12
2.2.3.1. Estudo do McKinsey Global Institute .................................................................... 12
2.2.3.2. Inquérito FinScope ................................................................................................ 12
2.2.4. Telemóvel como instrumento para a inclusão financeira............................................. 13
2.2.5. O papel do Banco de Moçambique ............................................................................... 14
2.2.6. O Retrato do Dinheiro Móvel e Interoperabilidade em Moçambique ......................... 15
CAPITULO III – METODOLOGIA ............................................................................................................. 19
3.1. Tipo de pesquisa ........................................................................................................................ 19
III

3.1.1. Quanto aos objectivos .................................................................................................. 19


3.2. Métodos..................................................................................................................................... 19
3.2.1. Quanto a abordagem ......................................................................................................... 19
3.2.2. Quanto aos de procedimentos ........................................................................................... 20
3.3. Instrumentos de Pesquisa ......................................................................................................... 21
3.3.1. Do ponto de vista de observação ....................................................................................... 21
3.3.2. Do ponto de vista de entrevista ......................................................................................... 21
3.3.3. Do ponto de vista ao questionário ..................................................................................... 21
3.4. Delimitação do universo ............................................................................................................ 21
3.4.1. População ou universo ....................................................................................................... 21
3.4.2. Amostra .............................................................................................................................. 22
3.5. Tipo de Amostragem ................................................................................................................. 22
CAPITULO IV - ESTUDO DE CASO .......................................................................................................... 23
4.1. Descrição do local do estudo ..................................................................................................... 23
4.2. Interpretação e análise de dados .............................................................................................. 24
4.2.1. Perfil dos usuários e agentes Mpesa .................................................................................. 24
4.2.1.1. Género ......................................................................................................................... 24
4.2.1.2. Idade ............................................................................................................................ 25
4.2.1.4. Grau de escolaridade ................................................................................................... 26
Secção II........................................................................................................................................ 26
4.2.2. Questões gerais .................................................................................................................. 26
4.2.2.1. Informação sobre conta bancaria ................................................................................ 27
4.2.2.2. Nível de segurança da Moeda Digital .......................................................................... 28
4.2.2.3. Informação sobre o número de contas Mpesa possuem ............................................ 29
Secção III....................................................................................................................................... 30
4.2.3. Avaliação dos serviços que são oferecidos pela plataforma Mpesa .................................. 30
4.2.3.1. Opções de usos de outras tecnologias moveis no mercado ........................................ 30
CAPITULO V - CONCLUSÃO ................................................................................................................... 32
CAPITULO VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 33
6.1. Manuais ..................................................................................................................................... 33
6.2. Sites............................................................................................................................................ 33
APÊNDICE .............................................................................................................................................. 34
IV

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Sexo dos usuários e agentes Mpesa ....................................................................... 24


Gráfico 2: Faixa etária dos usuários e agentes Mpesa ............................................................ 25
Gráfico 3: Estado civil dos usuários e agentes Mpesa ............................................................. 25
Gráfico 4: Grau de escolaridade dos usuários e agentes Mpesa ............................................. 26
Gráfico 5: Conta bancaria dos usuários e agentes Mpesa ....................................................... 27
Gráfico 6: Segurança no uso da Moeda Digital........................................................................ 28
Gráfico 7: Número de contas Mpesa dos usuários e agentes Mpesa ..................................... 29
Gráfico 8: Oportunidade de usar outras tecnologias moveis .................................................. 30
V

LISTA DE ABREVIATURAS

A2A Conta a conta (Count to count)


ATM Maquina Automatizada de Caixa (Automated Teller Machine)
B2M Conta bancaria a conta de dinheiro móvel
BIM Banco Internacional de Moçambique
FinScope Inquérito Nacional de Rendimentos e gerência financeira
Fintech Tecnologia financeira
FNB First National Bank
P2P Pessoa a pessoa (Person to Person)
POS Caixa Registradora (Point of Sale)
SIMO Sociedade Interbancária de Moçambique
SOCREMO Sociedade de Crédito de Moçambique
VI

DECLARAÇÃO

Eu, Carica Pedro Buquine, declaro por minha honra que a presente Monografia é resultado da
minha investigação pessoal e das orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e
todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na
bibliografia final.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.

(Maputo), _______de __________________de _____________

Assinatura

______________________________________________________
(Carica Pedro Buquine)
VII

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de pesquisa aos meus pais, irmãs, em especial ao meu pai (em memória)
que muito acreditou e confiou em mim e aos meus filhos que foram a minha fonte de inspiração.

Muito Obrigada.
VIII

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, o grande criador pelo Dom da vida que na sua infinita graça
e misericórdia nunca permitiu que me faltasse saúde de modo que eu chegasse a esta vitória da
minha vida académica.
Em segundo lugar, sou muito grata a minha família, nomeadamente aos meus pais por tudo que
representam em minha vida, a minha mãe Judite Camilo Pedro, em especial ao meu pai Brito
Rupia Buquine (em memória), que muito acreditou e confiou em mim que eu chegaria a esta
etapa, aos meus irmãos, as minhas irmãs Sandra Meier e Afilique Buquine que sempre me
apoiaram e em particular aos meus filhos Leonil Rupia Sulude e Nilyan Clarissa Rupia Sulude
que sempre estiveram comigo em todos os momentos difíceis da minha vida, que
compreenderam as minhas ausências nas horas em que não pude estar com eles, foram o meu
maior incentivo, o meu combustível, a minha fonte de inspiração e determinação ao longo dos
anos do curso na realização deste trabalho.
Sem me esquecer dos meus colegas que estivemos juntos durante todos anos do curso que
proporcionaram momentos prazerosos de muita experiencia e convivência.
A todos os docentes da Universidade Pedagógica-Maputo que fizeram o possível e impossível
deste o 1⁰ ano do curso transmitindo conhecimento e muitas lições deixadas para garantir o
melhor aprendizado tanto para mim, quanto para os meus colegas.
Ao Mestre Leoniltt Silverio vai a minha gratidão que tanto me incentivou na elaboração deste
trabalho para o seu término.
Agradecimentos a UP-Maputo em especial a Faculdade de Economia e Gestão pela
oportunidade de adquirir conhecimento e a todos que fizeram a instituição ser uma referência
de ensino de qualidade o meu muitíssimo obrigado.
Por fim e não menos importante agradeço incondicionalmente ao meu Supervisor o Dr. Paulo
Parruque pela sua dedicação, compreensão, disponibilidade, no esforço desenvolvido que me
orientou na elaboração e por ter confiado na minha capacidade de maneira que eu pudesse
chegar a esta fase tão importante deste trabalho de pesquisa.
Obrigada a todos, sem vocês não seria possível essa realização.
IX

RESUMO

O presente trabalho analisa o contributo dos serviços financeiros móveis no contexto de


existência de bancos tradicionais e instituições de moeda electrónica, o objectivo geral visa
avaliar a inclusão da tecnologia financeira móvel na vila de Boane, através da capacidade de
indivíduos e empresas conseguirem utilizar produtos financeiros acessíveis, adequados e
fornecidos de maneira sustentável, realizando uma análise histórica e avaliando o impacto das
acções do governo no índice de inclusão financeira do país. Da literatura analisada compreendi
que os serviços de moeda electrónica foram introduzidos como meio de expansão a inclusão
financeira para população não bancarizada e que vivem em zonas rurais onde há difícil acesso
aos serviços financeiros bancários. Entretanto, essa literatura perde de vista experiências no
quotidiano em contextos urbanos onde existem bancos tradicionais e instituições de moeda
electrónica. Primeiramente é realizada uma análise da base teórica a respeito do tema,
apresentando as diferentes visões da literatura sobre inclusão financeira, bem como os
benefícios de se ter um sistema financeiro inclusivo e abrangente. Foi elaborado um
questionário para pesquisa de campo, no qual foi aplicado aos usuários e agentes M-pesa, com
o objectivo de avaliar a abrangência da inclusão financeira no desenvolvimento das zonas
rurais. Esses serviços de moeda electrónica por um lado constituem uma inovação uma vez que
podem ser usados a partir do telemóvel, reduzem o tempo e custos para aceder aos serviços
financeiros uma vez que os agentes encontram-se localizados próximo dos clientes
comparativamente aos bancos tradicionais, o que permite falar em mudanças nos serviços
oferecidos. Por outro lado os serviços de moeda electrónica continuam a oferecer serviços
iguais aos oferecidos pelos bancos tradicionais tais como levantamentos, depósitos,
transferências e pagamento de serviços o que permite falar de continuidades. Após a análise
dos resultados foi possível concluir que, os serviços da carteira móvel M-pesa tem tornado mais
acessível à população excluída do sistema financeiro formal, mas carece de ajustes para que a
promoção do acesso seja mais conveniente para os beneficiários.

Palavras-chave: Tecnologias, Inclusão Financeira e M-Pesa.


X

ABSTRACT

The study addresses analyzes the contribution of mobile financial services in the context of the
existence of traditional banks and electronic money institutions, the general objective is to
evaluate the inclusion of mobile financial technology in the town of Boane, through the ability
of individuals and companies to be able to use financial products accessible, adequate and
sustainably provided, conducting historical analysis and assessing the impact of government
actions on the country's financial inclusion index. From the literature analyzed, I understood
that electronic money services were introduced as a means of expanding financial inclusion for
the unbanked population and who live in rural areas where there is difficult access to banking
financial services. However, this literature loses sight of everyday experiences in urban
contexts where traditional banks and electronic money institutions exist. First, an analysis of
the theoretical basis on the subject is carried out, presenting the different views of the literature
on financial inclusion, as well as the benefits of having an inclusive and comprehensive
financial system. A field research questionnaire was prepared, which was applied to M-pesa
users and agents, with the aim of assessing the scope of financial inclusion in the development
of rural areas. These electronic money services, on the one hand, constitute an innovation since
they can be used from the mobile phone, they reduce the time and costs to access financial
services since the agents are located close to the customers compared to traditional banks,
which which allows talking about changes in the services offered. On the other hand, electronic
money services continue to offer the same services as those offered by traditional banks, such
as withdrawals, deposits, transfers and payment of services, which allows us to speak of
continuity. After analyzing the results, it was possible to conclude that the services of the M-
pesa mobile portfolio have become more accessible to the population excluded from the formal
financial system, but it needs adjustments so that the promotion of access is more convenient
for the beneficiaries.

Keywords: Technologies, Financial Inclusion and M-Pesa.


1

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

O acesso aos serviços financeiros é amplamente associado ao desenvolvimento económico e a


redução das desigualdades sociais, ter a oportunidade de ser remunerado por sua poupança,
realizar um empréstimo de forma segura em uma instituição financeira, no lugar de canais de
créditos informais, ou conseguir fundos para iniciar seu pequeno negócio são exemplos de
como a inserção financeira traz um impacto positivo para o bem-estar dos novos usuários.
(CHAIAETAL, 2009).

De Acordo com o Anuário do banco de Moçambique (2016), até 2014, o país tinha 24% de
pessoas cobertas pelos serviços financeiros formais, vindo de um quadro de 6% em 2005.
Entretanto, ainda decorrem acções, no âmbito público e privado, visando expandir os serviços
financeiros para a população excluída, na sequência da implementação da Estratégia de
Inclusão Financeira 2016-22, que prevê como metas atingir 40% da população com acesso a
serviços financeiros físicos ou electrónicos até 2018 e 60% até 2022. Actualmente, cerca de
90% dos serviços estão nas zonas urbanas.

O distrito de Boane está situado na província de Maputo, em Moçambique. A sua sede é a vila
de Boane. A produção agrícola é o mais predominante naquela região do país, pois se encontra
a Estacão Agraria de Umbeluzi, uma unidade do Instituto de Investigação Agraria de
Moçambique, e conta atualmente uma fundição de alumínio na área de Beluluane, posto
administrativo de Matola-Rio.

O conceito de mobile Money, ou dinheiro móvel, é um exemplo da adaptação da tecnologia à


procura de soluções. Assim, o dinheiro móvel, em termos gerais, refere-se a serviços de
pagamentos operados sob regulação financeira e realizados através de um dispositivo móvel
como o denominado smartphone.

O objectivo desta pesquisa é de avaliar o contributo da tecnologia financeira móvel para


inclusão financeira na Vila de Boane bem como os benefícios que trazem para a comunidade.

O presente trabalho está estruturado da seguida maneira: o primeiro capítulo que compreende
a parte introdutória, seguida do desenvolvimento onde faz-se uma revisão da literatura acerca
do tema em questão, e o terceiro capítulo que detalhadamente encontramos a interpretação e
análise de dados, o quarto capítulo que traz as conclusões e sugestões por parte das discussões
2

realizadas através do inquérito aplicado aos usuários de serviço Mpesa e por fim a referência
bibliográfica e sites consultados para concepção da pesquisa.

1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral:
 Avaliar o contributo da tecnologia financeira móvel para inclusão financeira na Vila de
Boane.

1.1.2. Objectivos específicos:


 Definir tecnologia financeira móvel;
 Demonstrar o papel da inclusão financeira no desenvolvimento das zonas rurais;
 Descrever os benefícios das tecnologias financeiras móveis na Vila de Boane.

1.2. Problematização

Em Moçambique verifica-se uma tendência positiva na evolução da bancarizaçao. Constitui


um desafio até os dias de hoje da banca para as zonas rurais, isto ẻ as autoridades manifestam
a preocupação em criar condições para que haja mais agências bancarias e agentes bancários
por parte da comunidade melhorando assim a qualidade de vida das pessoas e o nível
económico do país.

Como facto comprovativo da referida preocupação, nos dias de hoje ẻ notável em zonas rurais
inseridas em distritos localizados fora da capital moçambicana uma certa escassez de agências
bancarias/ agentes bancários.

A demanda pelos serviços e produtos bancários tem estado a incrementar, chegando ao ponto
de não poder ser suficientemente atendida devido a existência de poucas agências /agentes
bancários nas zonas rurais.

Dai que como consequências, verificam-se nas agências existentes constantes


constrangimentos refletidos em reclamações e enchentes por parte da população que pretende
realizar transações bancarias no interior das referidas agências bem como em caixas
electrónicas (ATM).
3

Mediante o exposto acima, levanta-se a seguinte questão:

 Até que ponto a tecnologia financeira móvel contribui para inclusão financeira na
Vila de Boane?

1.3. Hipóteses
 Hipótese 1: As tecnologias financeiras móveis contribuem para uma inclusão
financeira na Vila de Boane.

 Hipótese 2: As tecnologias financeiras moveis não contribuem para uma inclusão


financeira na Vila de Boane.

1.4. Justificativa
A presente pesquisa torna-se relevante na medida em que poderá dar um forte contributo em
diferentes segmentos sociais, a saber:

 Para a sociedade académica:

É evidente que os resultados da presente pesquisa serão úteis para a comunidade académica na
medida em que, poderá reforçar o acervo bibliográfico já existente para os estudantes desta
área do saber, bem como para os próximos pesquisadores.

 Para a autora

A pesquisa torna-se bastante relevante, pois, poderá servir de valor acrescentado para a autora,
na medida em que irá permitir que esta, aprofunde cada vez mais o seu conhecimento nesta
área de saber, de uma forma particular na promoção do acesso ao crédito para as comunidades
sem acesso ao sistema financeiro formal.

 Para os bancos comerciais

Os resultados provenientes desta pesquisa poderão ser muito importantes para as instituições
bancarias, pois, estas poderão perceber o impacto da extensão da rede bancaria para a
maximização dos seus lucros bem como na transferência dos seus produtos para a comunidade.
4

1.5. Estrutura do trabalho

Este trabalho está dividido em 5 capítulos, sendo que:

No primeiro Capítulo, compreende a parte introdutória do trabalho, onde desenrola-se o porquê


da escolha do tema, assim como objectivos da pesquisa a serem alcançados.

No segundo Capítulo referente ao desenvolvimento do trabalho, contém a revisão da literatura,


noções, conceitos e contextualização das tecnologias financeiras móveis na inclusão financeira.

No terceiro Capítulo, apresenta-se a metodologia, ou seja, os métodos utilizados para a


concepção do trabalho de pesquisa.

No quarto Capítulo, encontra-se a interpretação e análise dos dados colectados durante o estudo
de caso e apresentação dos resultados obtidos através do inquérito aplicado aos usuários e
agentes do serviço Mpesa da Vila de Boane.

E por fim o último (quinto) Capítulo, onde apresenta-se as conclusões e respectivas sugestões
acerca dos dados obtidos durante o estudo de caso e do trabalho de pesquisa.
5

CAPITULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Enquadramento conceptual


Conceitos sobre tecnologia financeira, inclusão financeira, interoperabilidade e dinheiro
móvel.

2.1.1. Tecnologia financeira


A tecnologia financeira (Fintech) é usada para descrever novas tecnologias que buscam
melhorar e automatizar a entrega e o uso de serviços financeiros.
Para SOTIR (2015) a Tecnologia financeira é toda empresa que oferece serviços financeiros
que se diferenciam pelas facilidades proporcionadas pela tecnologia e, com efeito, pela internet.
Tecnologia financeira pode ser definida como qualquer inovação na forma como as pessoas
fazem negócios, desde a invenção do dinheiro digital ate ao uso do cartão de crédito (Sarma e
Pais, 2011).
Em sua essência, a Fintech é utilizado para ajudar empresas, empresários e consumidores a
gerenciar melhor as suas operações financeiras, processos e vidas, utilizando softwares
especializados e algoritmos que são usados em computadores.

2.1.2. Inclusão financeira


A inclusão financeira é o local onde os indivíduos e empresas tem acesso a produtos e serviços
financeiros uteis e acessíveis, que atendem as suas necessidades e são entregues de maneira
responsável e sustentável. Ou seja a disponibilidade e a igualdade de oportunidade para acessar
serviços financeiros.
Segundo Sarma e Pais (2011), inclusão financeira refere-se a um processo que assegura a
facilidade de acesso, disponibilidade e utilização do sistema financeiro formal a todos membros
de uma economia.

De acordo com o Banco de Portugal (2013) refere a inclusão financeira como sendo um
processo de promoção de acesso adequado e a custos reduzidos a um conjunto de produtos e
serviços financeiros regulados e a sua utilidade pelos diversos segmentos da população através
de medidas inovadoras e adaptadas de sensibilização e formação financeira.

O Banco de Moçambique (2013) define a inclusão financeira do lado da oferta como o acesso
e utilização generalizada dos serviços financeiros pela maioria da população e pequenas
6

empresas e do lado da procura considera como um processo de acesso e uso efectivo de serviços
e produtos financeiros formais, por toda a população, contribuindo para o aumento da sua
qualidade de vida e bem-estar social.

2.1.3. Interoperabilidade
O conceito mais importante é a interoperabilidade conta-a-conta (A2A). De acordo com a
GSMA (SOTIR 2015) significa "interoperabilidade entre contas de dinheiro móvel de
diferentes fornecedores e entre contas de dinheiro móvel e contas bancárias". E
consequentemente, inclui, a interoperabilidade pessoa-a-pessoa (P2P), ou seja, a possibilidade
de os clientes fazerem transferências de dinheiro móvel entre as suas contas, bem como fazer
transferências da conta bancária para conta de dinheiro móvel (B2M) e da conta de dinheiro
móvel para a conta bancária (M2B).

2.1.4. Dinheiro móvel


Consideramos dinheiro móvel o dinheiro mantido em contas (carteiras móveis) nas operadoras
de telefonia móvel. É uma forma específica de dinheiro eletrónico, ou seja, dinheiro detido sob
forma eletrónica. O dinheiro eletrónico inclui também contas bancárias tradicionais, que dão
acesso à cartões de débito e de crédito, poupança e crédito, e carteiras bancárias.

Embora todos os três tipos de contas possam ser acedidos através de telefones móveis,
reservamos o termo dinheiro móvel para as contas detidas pelas operadoras de telefonia móvel.

Dinheiro móvel é um termo usado para descrever serviços que permitem transacções de
dinheiro electrónico através de um telefone celular. É também designado como serviços
financeiros móvel e pagamentos móveis. Em outras palavras o dinheiro móvel é designado
como todo o serviço que inclui todos os tipos de transacções monetárias executadas a partir de
um telefone celular (Ernest and Young, 2009).

2.2. Teorias sobre a Tecnologia financeira e inclusão financeira


Nesta etapa do trabalho, pretende-se trazer teorias baseada nas diversas obras literárias
consultadas com o objectivo de tornar mais claro a sua compreensão.
7

2.2.1. Tecnologia financeira (Fintech)

2.2.1.1. Historial
Quando a Fintech surgiu no seculo 21, o termo foi inicialmente aplicado a tecnologia
empregada nos sistemas back-end de instituições financeiras estabelecidas. Desde então, no
entanto, houve uma mudança para os serviços mais orientados para o consumidor e, portanto,
uma definição mais orientada para o consumidor. A Fintech agora inclui sectores e sectores
diferentes, como a educação, banco de varejo, captação de recursos e organizações sem fins
lucrativos, alem também de gerenciamento de investimentos.

 Definição
A Financial Technology hoje mais conhecida sob o termo "Fintech", descreve um negócio que
visa fornecer serviços financeiros utilizando software e tecnologia moderna.
Atualmente, as empresas de Fintech competem diretamente com os bancos da maioria das áreas
do sector financeiro para vender serviços e soluções financeiras.

Isso tem acontecido principalmente devido razoes regulatórias e suas estruturas internas. Os
bancos ainda lutam para acompanhar as startups de Fintech em termos de velocidade de
inovação. Entretanto, as fintechs perceberam cedo que os serviços financeiros de todos os tipos,
incluindo transferência de dinheiro, investimentos e pagamentos, precisam integrar-se
perfeitamente as vidas dos clientes modernos e sofisticados de hoje. Tudo isso para
permanecerem relevantes em um mundo onde os negócios e a vida privada se torna cada vez
mais digitalizada.

2.2.2. Inclusão financeira e alcance do dinheiro móvel


Um tema comum dos vários encontros mantidos era de que um aumento abrangente da inclusão
financeira iria requerer um grande esforço da educação financeira, de forma a convencer em
particular a população rural a aceitar o dinheiro móvel e fazê-lo circular de forma electrónica,
ao invés de procurar levantá-lo imediatamente.
Naturalmente, a questão é de cultura: A economia tradicional está altamente baseada em
dinheiro vivo. Também é altamente circular: Se todos os vendedores de bens e serviços e seus
intermediários só aceitam dinheiro vivo, então, nenhum comprador verá qualquer utilidade em
manter o dinheiro móvel numa carteira móvel. Para quebrar esta circularidade, é necessário o
seguinte:
8

 Alfabetização numérica (como uma pré-condição para a literacia digital) e educação


financeira, passando pela educação escolar e pelos operadores de dinheiro móvel;
 Uso uniforme de termos e expressões para os diferentes tipos de serviços oferecidos, a
fim de reduzir a confusão do consumidor e aumentar a confiança;
 Desenvolvimento de outras usage cases para além de um simples levantamento, de
forma que manter o dinheiro móvel traga benefícios reais;
 Tentar romper o ciclo de pagamento em dinheiro vivo, ao ter intermediários retalhistas
nas grandes cidades e instituições do Estado aceitarem também o dinheiro móvel.

As razões por que é tão importante fazer com que os receptores de dinheiro mantenham o
dinheiro em formato electrónico são duas. Em primeiro lugar, da perspectiva de levantamento,
o alcance do dinheiro móvel não é primariamente limitado pela rede de telefonia móvel, mas
sim pelo alcance da rede de agentes. As redes de agentes são limitadas pela distância à agência
bancária mais próxima, porque os agentes precisam da liquidez necessária para atenderem as
solicitações de levantamento. Isto é particularmente relevante nas zonas rurais onde o dinheiro
tende a ser retirado ao invés de depositado, quer através de transferências ou pagamento de
salários.

Em segundo lugar, o aumento de pagamentos móveis reduz a necessidade de agentes e


aprofunda o alcance do dinheiro móvel para o máximo permitido pela cobertura das redes
móveis.

A interoperabilidade, particularmente entre bancos comerciais e operadores de dinheiro móvel,


pode ajudar nisto, uma vez que fortalece tanto a credibilidade como a liquidez do sistema de
dinheiro móvel. Por outro lado, a interoperabilidade entre os operadores de dinheiro móvel,
enquanto beneficiar os clientes existentes, não teria o tal efeito de longo alcance.

2.2.2.1. Evolução dos serviços da banca tradicional em Moçambique


Até 1964 a estrutura bancária moçambicana era composta por três bancos respectivamente o
Banco Nacional Ultramarino (BNU) banco emissor e comercial e as filiais dos bancos Standard
Bank e Barclays Bank com sede na África do Sul (Wuyts, 1983).

No período entre 1965 a 1974 houve um aumento de bancos comerciais e outras instituições
de crédito. Assim, três bancos em 1965 e em 1974 já existiam sete bancos a saber: Montepio
de Moçambique, Caixa de Crédito Agrícola, Banco de Crédito Comercial e Industrial, Banco
9

Pinto Soto-Mayor, Banco Standard Tota de Moçambique, Banco Comercial de Angola e Casa
Bancária da Beira (Gaspar, 2000).

Os referidos bancos tinham como objectivo constituir um fundo social para o pagamento de
pensões, segurança social aos sócios, colonos e financiavam a agricultura dos colonos (Wuyts,
1983).

Em 1975, com o advento da independência foi criado o Banco de Moçambique que substituiu
o BNU nas funções do banco emissor e comercial mantendo a estrutura herdada da época
colonial (Gaspar, 2000).
10

Para ajustar a referida estrutura a nova circunstância, em 1977 o sistema bancário foi
reestruturado e passou a comportar três bancos a saber: Banco de Moçambique, Banco Popular
de Desenvolvimento, ambas do estado e o Banco Standard Tota de Moçambique, privado
(Wuyts, 1983).

Posteriormente á criação do Banco de Moçambique foram criados outros instrumentos para


responder a nova realidade económica em 1987. Destaca-se a criação da Caixa de Crédito
Agrícola e do Desenvolvimento Rural para responder sobretudo ao fomento agrícola, a
separação das funções comerciais das centrais do Banco de Moçambique, criando o Banco
Comercial de Moçambique em 1992 (Wuyts, 1983 citado por Gaspar, 2000).

Com o fim da guerra, em 1992, o país assistiu a um aumento no número de bancos. Assim de
quatro bancos em 1992 o país passou a ter 12 bancos e seis cooperativas em 2006. Os mesmos
cobriam 28 distritos, ficando os restantes 100 distritos sem cobertura bancária. Esses bancos
serviam maioritariamente a população urbana (Jossefa, 2011).

O número de bancos continuou a aumentar de tal forma que em 2015 o país contava com um
total de 18 bancos que serviam maioritariamente a população urbana de classe média e alta,
com destaque para aquela que reside nas cidades e província de Maputo, situação que prevalece
nos dias de hoje (BM, 2013).

Como consequência a população maioritariamente concentrada nas zonas rurais onde não há
ponto de acesso aos serviços financeiros por falta de condições geográficas, falta de
infraestruturas, encontra-se excluída do serviço.

Para ultrapassar essa situação, têm criado estratégias de crescimento da banca de modo a
expandir e ampliar os serviços financeiros para as zonas desprovidas de acesso a serviços
financeiros fornecido pelas instituições bancárias (BM, 2013).

É neste contexto que o Banco de Moçambique lançou uma estratégia de bancarizaçao para
alcançar a inclusão financeira que garanta que todas as camadas sociais, incluindo as
populações que vivem nas zonas mais recônditas tenham acesso aos serviços financeiros
(Amarcy e Massingue, 2007).
11

Para o efeito a par da expansão física dos serviços está contemplado o uso das inovações das
tecnologias de comunicação e informação, designadamente através da utilização de instituições
de moeda electrónica, para expandir serviços financeiros e alcançar mais pessoas (BM, 2013).

Para esse fim, a disseminação dos serviços de telefonia móvel constitui um potencial meio para
disponibilizar o acesso aos serviços financeiros principalmente pela população sem acesso aos
serviços financeiros prestados pelos bancos tradicionais mas com acesso a telefonia móvel.

A expansão de redes de telefonia móvel das empresas que operam em Moçambique cobrem 53
dos 100 distritos sem agências bancárias implantadas e isso oferece uma oportunidade de
expansão dos serviços. Por seu turno, os dados referentes a 2013 sobre a rede fixa indicavam
que até 2013 estavam cobertos 62 distritos com os serviços de rede fixa de telecomunicações e
dos distritos sem nenhuma agência bancária, 33 já dispunham da rede fixa de telecomunicações
(BM, 2013).

Adicionalmente, com a expansão de rede de telefonia móvel, criou-se oportunidade para


entrada em funcionamento de instituições de moeda electrónica das operadoras Mcel,
Vodacom e Movitel.

Segundo Banco de Moçambique (2013), essa nova tecnologia melhora o acesso a serviços
financeiros ao garantir a sua expansão para as zonas desprovidas de agências bancárias e
principalmente pela população sem acesso aos serviços financeiros prestados pelos bancos. A
existência de subscritores dos serviços de instituições de moeda electrónica aumenta o
potencial para acelerar a inclusão financeira, por poder-se processar mais próximo do
consumidor e a preços mais acessíveis.

Os serviços de telefonia móvel podem ser um meio através do qual pode-se melhorar o acesso
á serviços financeiros não apenas devido a quantidade de pessoas com acesso a serviços de
telefonia móvel mas também pelo facto de os serviços móveis estarem disponíveis na grande
maioria dos distritos do país incluindo aqueles desprovidos de serviços bancários (BM, 2013).
A estrutura bancária em Moçambique sofreu várias transformações desde a era colonial até os
dias de hoje. No período colonial os serviços bancários serviam para fazer pagamento de
serviços tais como pensões, segurança social e financiava a agricultura dos colonos e esses
serviços serviam maioritariamente a população urbana de classe média e alta. Apesar dessas
transformações os serviços fornecidos pelos bancos continuam a ser os mesmos e a servir a
12

mesma camada social, por outro lado, nota-se transformações na disponibilidade de acesso aos
serviços financeiros.

2.2.3. Algumas teorias sobre a inclusão financeira

2.2.3.1. Estudo do McKinsey Global Institute


O estudo do Instituto Global McKinsey, Digital Finance For All, realizado por Manyika et al
(2016) procura desenvolver uma compreensão mais profunda da evolução da economia global
e tem como propósito fornecer aos líderes dos setores comercial, público e social os fatos e as
ideias sobre as quais se baseiam as decisões de gestão e as políticas subjacentes.

Este trabalho elaborado pela McKinsey (2016) abrange mais de 20 países, e focaliza-se em seis
temas: produtividade e crescimento, recursos naturais, mercados de trabalho, evolução dos
mercados financeiros globais, o impacto económico da tecnologia e a inovação e urbanização.

Este estudo tem como objetivos:

a) Ajudar a entender as forças que transformam a economia global (Ross, 2016);


b) Identificar instrumentos estratégicos de apoio à gestão das organizações e da sociedade
(Drucker, 2012);
c) Preparar as economias para a próxima onda de crescimento através da explicação de
pontos-chave relativamente às Finanças Digitais (Rifkin, 2015).

2.2.3.2. Inquérito FinScope


O inquérito FinScope é uma ferramenta de pesquisa que foi desenvolvida pela FinMark Trust
(2014). Trata-se de uma pesquisa com representatividade, focada sobre como os indivíduos
adquirem os seus rendimentos e gerem as suas vidas financeiras, dando um panorama sobre as
atitudes e perceções a respeito dos produtos e serviços financeiros.

Os inquéritos FinScope, em Moçambique (Inquérito ao Consumo de 2009 e MPME 2012), não


só permitiram a avaliação do acesso financeiro, como também forneceram um ponto de
referência para as pesquisas de seguimento que permitirão analisar o impacto das iniciativas
políticas relacionadas. As conclusões deste inquérito permitem ao Governo de Moçambique
identificar e desenvolver políticas e regulamentações baseadas em evidências que ajudam a
ampliar o alcance dos seus serviços financeiros.
13

O quadro de amostragem, o controle de qualidade e a ponderação dos dados foram realizados


pelo INE de Moçambique com o apoio do FinMark Trust. A amostra de representatividade
nacional foi baseada em indivíduos moçambicanos com idade igual ou superior a 16 anos.

A pesquisa, na sua conceção, tem a intenção de envolver uma série de partes interessadas,
enriquecendo assim os dados através de um processo de aprendizagem transversal e partilha de
informação. Os objetivos do inquérito FinScope incluem os seguintes:

a) Medir os níveis de inclusão financeira;


b) Identificar as causas e barreiras para a utilização de produtos e serviços financeiros;
c) Estimular, com base em evidências, o diálogo que leve a intervenções públicas e
privadas eficazes que irão aumentar e aprofundar a inclusão financeira;
d) Comparar os resultados do inquérito com os do primeiro inquérito do consumidor
(FinScope Moçambique 2009) e fazer uma avaliação das mudanças e as suas razões
(incluindo possíveis impactos das intervenções anteriores para melhorar o acesso).

2.2.4. Telemóvel como instrumento para a inclusão financeira


Um dos factores que potencia o crescimento exponencial do mobile advém da rápida adopção
do uso de telemóveis e outros dispositivos móveis, quer em países desenvolvidos quer nos
países emergentes. Com uma população mundial de aproximadamente 7 mil milhões de
pessoas, mais de 5 mil milhões (cerca de 70% da população mundial) dispõem de acesso a
telemóveis. No entanto, apenas cerca de 2,5 mil milhões (cerca de 35% da população mundial)
têm acesso a conta bancária.

A nível mundial, em 2013, aproximadamente 590 milhões de pessoas utilizaram o seu


telemóvel para aceder a serviços bancários, sendo expectável que este número alcance, em
2017, mil milhões de pessoas. O potencial de penetração do Mobile Banking poderá ser
facilmente compreendido com a análise dos resultados alcançados em países específicos, nos
quais foram desenvolvidos serviços desta natureza. Em 2007, o operador de telecomunicações
Safaricom, lançou no Quénia o M-Pesa – serviço que permite aos seus utilizadores depositar,
levantar e transferir dinheiro através do telemóvel. Tendo hoje o Quénia uma população de 43
milhões de pessoas, em que apenas 10,3 milhões têm acesso a conta bancária, existiam em
2013 aproximadamente 17 milhões de utilizadores do M-Pesa.
14

2.2.5. O papel do Banco de Moçambique


As partes interessadas concordaram que a interoperabilidade entre os operadores de dinheiro
móvel entre si, e entre estes e os bancos, acabará por ter de acontecer. Ainda assim, nenhuma
das partes interessadas foi a favor de uma imposição de interoperabilidade, pois no atual nível
de desenvolvimento do mercado:

 A interoperabilidade entre operadores de dinheiro móvel pode reduzir a intensidade da


concorrência em agregar clientes e cria parasitismo sobre outros investimentos;
 A regulamentação mais rigorosa, como uma imposição de interoperabilidade, tende a
ser seguida por regulamentação ainda mais rigorosa, tal como listas de preços de
transacção, a fim de controlar melhor as acções dos diferentes operadores. Este
processo sufocaria a inovação e diminuiria os incentivos de os operadores se
diferenciarem;
 Interoperabilidade entre bancos e operadores de dinheiro móvel já começou a ser
implementada através de acordos bilaterais, e espera-se que mais acordos deste tipo
aconteçam no futuro próximo;
 A obrigatoriedade de interoperabilidade poderia causar mais atrasos em vez de avançar
com o processo e;
 Considera-se que o SIMO ainda não está pronto para apoiar a interoperabilidade
universal.

Houve um consenso geral de que o Banco de Moçambique poderia desempenhar um papel


decisivo mediante a criação de segurança e regras claras, e de incentivos para participar na
interoperabilidade. Isto diz respeito, em particular, à concepção e preparação do SIMO para
acolher todas as transacções, e as regras para a fixação do preço das transacções entre os
operadores.

Como um exemplo, a proposta feita por um operador foi de que pudesse ser autorizada a
cobrança de taxas mais elevadas para as transacções ´off-us´, ou seja, entre diferentes
operadores de dinheiro móvel, a fim de aumentar os incentivos para investir em redes de
agentes.

Uma parte importante deste papel seria auscultar às diversas partes interessadas e ouvir as suas
preocupações, e tentar encontrar um denominador comum que pode ser aproveitado. Um
operador de dinheiro móvel também referiu que gostaria de ver o Banco de Moçambique a ter
15

um papel mais activo do que ser apenas um mediador. Ao ser capaz de mobilizar recursos
financeiros públicos e privados, o Banco poderia ajudar a construir uma plataforma comum
para todos os operadores. Esta plataforma seria supervisionada mais facilmente e poderia criar
relatórios financeiros padronizados.

Em conclusão, as partes interessadas gostariam de ver o Banco de Moçambique como um


mediador e fornecedor de regras claras e de transparência, para que os bancos e operadores de
dinheiro móvel possam conceber seus planos de negócios e estratégias de investimento sob a
certeza indispensável da interoperabilidade numa plataforma comum.

2.2.6. O Retrato do Dinheiro Móvel e Interoperabilidade em Moçambique


Nesta secção, vamos recolher as informações disponíveis sobre a estrutura e instituições no
mercado moçambicano de dinheiro móvel.

O acesso aos serviços financeiros formais é baixo em Moçambique. De acordo com a Pesquisa
de Consumidor de FinScope 2014, apenas 24% dos adultos em áreas urbanas tem acesso aos
serviços financeiros formais, e menos ainda nas zonas rurais (FinScope 2014). Batista e Vicente
(2013) fizeram um estudo de campo em regiões rurais de Moçambique e concluíram que existe
um claro potencial para a introdução de dinheiro móvel. Por outro lado, o uso mais típico de
dinheiro móvel nessas regiões é o levantamento imediato num agente, quer porque só o
dinheiro é aceite nas lojas, ou porque as carteiras móveis não são vistas como um meio para
manter o dinheiro guardado.

O dinheiro móvel foi lançado em Moçambique nos finais de 2011, quando a operadora móvel
MCel introduziu o seu serviço de dinheiro móvel através da Carteira Móvel, mKesh. A
Vodacom introduziu M-Pesa em Maio de 2013. Em Outubro de 2014, estas duas operadoras
juntas tinham cerca de 500.000 clientes (GIZ 2015). De acordo com informações fornecidas
pelo mKesh, em Março 2016, a sua rede tinha acima de 2 milhões de usuários activos, enquanto
o M-PESA tinha cerca de 1 milhão de usuários activos. Por outro lado, de acordo com Pitta
(2016), em Março 2016 dos 3.135.000 usuários registrados no mKesh (dos quais 475.000 com
PIN) apenas 60.000 eram activos (pelo menos uma transacção por mês). Noutras palavras,
esses números são muito pouco fiáveis ou dependem fortemente do que se entende por
“usuários activos”.

De acordo com informações fornecidas pelos agentes do mercado, enquanto mKesh tem mais
clientes, estes não mantêm dinheiro no e-wallet, mas sim tendem a levantar todo o dinheiro.
16

No M-Pesa, por outro lado, os clientes são activamente encorajados a manter dinheiro no e-
wallet. Assim, os modelos de negócio das duas operadoras de dinheiro móvel parecem diferir.
A rede de agentes de M-Pesa é também significativamente mais desenvolvida que a do mKesh
(mais de 12.000 agentes para M-Pesa, e cerca de 4.000 para mKesh, de acordo com Pitta, 2016).

Actualmente, os operadores de telefonia móvel vêem o dinheiro móvel como uma maneira de
agregar mais clientes e não estão muito interessados na interoperabilidade mesmo que a médio
prazo fosse melhor para todos os operadores (INCM). Noutras palavras, os operadores de
dinheiro móvel ainda não atingiram um estado maduro de desenvolvimento onde a
interoperabilidade se torna um factor de crescimento ao invés de uma distracção.

A terceira operadora de telefonia móvel, Movitel, entrou em 2010, concentrando-se em áreas


rurais, e pretende lançar um serviço de dinheiro móvel no início de 2017. Este serviço de
dinheiro móvel será fornecido pela sua subsidiária M-mola sob a marca E-mola.

Interbancos/ Ponto24 era uma rede de bancos e rede ATM / POS que foi fundada antes de 2004
e até recentemente era composto por 11 bancos (BCI, FNB Moçambique, Moza Banco, Banco
Único, BTM, Standard Bank, CPC, Capital Bank, Banco Oportunidade, Socremo e Tchuma,
mas não o Millennium BIM que ainda tem a rede separada). A rede Interbancos oferece acesso
aos ATMs e POS via Ponto24 e cartões Visa, internet (NET.24) e serviços bancários móveis
(MOBILE.24).

De acordo com o BFA (2012), alguns dos grandes bancos desenvolveram a suas redes próprias
de pagamento e tinham pouco interesse para gastar tempo e dinheiro em participar no
Interbancos. Portanto, o Banco de Moçambique fundou o SIMO (Sociedade Interbancária de
Moçambique) em 2011, com o objectivo de providenciar um switch nacional para o sistema
bancário formal. Os bancos investiram e aderiram a partir de 2012, mas o desenvolvimento foi
lento. Não havia unanimidade quanto aos benefícios do SIMO, uma vez que alguns bancos
viam as suas próprias infra-estruturas de pagamento como um diferenciador competitivo e o
investimento no SIMO como perturbador dos seus planos de investimento (BFA de 2012).

Uma solução para este problema foi encontrada em meados de 2015, quando o SIMO contratou
a Interbancos para providenciar infra-estrutura e serviços para o switch nacional. Até os finais
de 2016, a rede ainda não tinha a capacidade de liquidar as transacções de dinheiro móvel, nem
a capacidade de lidar com o tráfego adicional que resultaria da adesão do Millennium BIM
17

(que tem a maior rede de ATMs). Um investimento adicional ocorrerá com financiamento do
alemão KfW, mas o prazo para a conclusão do SIMO não está claro.

Tanto o MKesh como o M-Pesa têm uma ligação com o Interbancos desde 2012, o que permite
aos clientes o levantamento de dinheiro em caixas electrónicas (ATM) sem ter um cartão
bancário. Em 2014, a mCel e o Mozabanco entraram numa parceria para interligar os seus
serviços bancários e serviços de dinheiro móvel (Jornal de Negócios, 2014), mas ainda não foi
lançado até o final de 2016 (Entrevista com mKesh). Um acordo semelhante entre M-Pesa e
Standard Bank para a transferência entre contas bancárias e carteiras móveis foi fechado em
Agosto de 2016, e o M-Pesa está à procura de novos acordos com outros bancos.

Além disso, os bancos comerciais lançaram a sua própria plataforma de carteiras bancárias
“banking wallets” (infelizmente também chamado "Carteira Móvel"). Estas têm algumas
características similares às carteiras móveis, isto é, transferências de dinheiro para clientes com
uma conta no mesmo banco ou noutros bancos da rede da Carteira Móvel, ou para números de
telefones móveis ainda não associados à rede. Permitem levantamentos em caixas electrónicas,
mas não dão acesso a cartões bancários. Estas carteiras são recarregadas através de
transferências de contas bancárias e de outros clientes do serviço “Carteira Móvel”. Elas podem
ser acedidas através de redes móveis, mas os clientes não podem utilizar as redes dos agentes
das operadoras móveis para as operações.

Anderson et al (2015) afirmam que não existe qualquer regulamentação sobre a


interoperabilidade. De momento não há qualquer interoperabilidade entre os fornecedores de
dinheiro móvel, mas está a emergir a interoperabilidade parcial entre estes e os bancos
comerciais. Espera-se que mais acordos bilaterais deste tipo sejam celebrados no futuro
próximo, desde que ambos os lados vejam os benefícios mútuos.

As redes de agentes já não são exclusivas, no sentido de que cada agente pode representar
vários operadores de dinheiro móvel através de contas float separadas. De acordo com a
mKesh, esta abriu a sua rede de agentes, desistindo da exclusividade, a fim de acompanhar a
procura no mercado, enquanto o Banco Central afirma que impôs o fim da exclusividade.

Recentemente, o Banco de Moçambique flexibilizou os regulamentos KYC (conheça o seu


cliente) para tornar mais fácil a abertura de contas de serviços limitados. Os clientes podem
agora registar-se com um formulário simples na sua operadora de telefonia móvel e na rede de
dinheiro móvel correspondente, o que torna o registo muito mais simples (INCM).
18

Em Julho de 2016, Moçambique lançou a Estratégia de Inclusão Financeira, com o objectivo


de aumentar o acesso aos serviços financeiros de 24% para 60% da população até 2022 (Banco
Mundial 2016). Por outro lado, as transferências internacionais de dinheiro móvel ainda não
são possíveis. A FSD Moçambique espera que as transferências internacionais possam
aumentar significativamente a liquidez do sistema de dinheiro móvel.
19

CAPITULO III – METODOLOGIA

Conforme Cervo e Bervian (2002, p. 23) Metodologia “é a ordem que se deve impor aos
diferentes processos necessários para atingir um certo fim ou um resultado desejado. Nas
ciências, entende-se por metodologia o conjunto de processos empregados na investigação e
na demonstração da verdade”.

3.1. Tipo de pesquisa


A pesquisa é a actividade nuclear da Ciência. Ela possibilita uma aproximação e um
entendimento da realidade a investigar. A pesquisa é um processo permanentemente inacabado.
Processa-se por meio de aproximações sucessivas da realidade, fornecendo-nos subsídios para
uma intervenção no real, segundo Gerhardt e Silveira (2009, p. 31).

3.1.1. Quanto aos objectivos


O trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa descritiva, segundo Gerhardt e Silveira
(2009, p. 31), a pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que
deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os factos e fenómenos de determinada
realidade, são exemplos de pesquisa descritiva: estudos de caso e análise documental.

3.2. Métodos

3.2.1. Quanto a abordagem


O método de abordagem é o conjunto de procedimentos utilizados na investigação de
fenómenos ou no caminho para chegar-se a verdade, Gerhardt e Silveira (2009, p. 31).

Para a realização deste trabalho sob o ponto de vista da abordagem utilizar-se-á o método
hipotético-dedutivo. Pois não só se limitarei nas observações realizadas mas podendo também
através dele, chegar á construção de teorias e leis.

Usaremos este método pelo facto de a pesquisa possuir hipóteses que deverão ou não ser
validadas no decurso do trabalho.
20

3.2.2. Quanto aos de procedimentos

Sob o ponto de vista de procedimentos ou seja a confrontação teórica do problema com os


dados da realidade e delineamento da pesquisa, será bibliográfica, documental e estudo de
caso.

A pesquisa bibliográfica segundo Gil (2008, p. 50), visa o uso de material já elaborado como
livros e artigos científicos, permitindo a cobertura mais ampla dos fenómenos sem precisar
percorrer a território em busca de dados e informações.

A pesquisa documental também contribuirá para a busca de informação do problema, que


segundo Gil (2008, p. 51), a diferença desta com a bibliográfica encontra-se na natureza de
fontes, visto que valida-se de materiais que não tem um tratamento analítico, enquanto a
pesquisa bibliográfica fundamenta-se das contribuições já publicadas por autores sobre
determinado assunto. O seu contributo versará sobre informações teóricas para a melhor
compreensão da prática, como anteriormente foi dito na ligação da pesquisa bibliográfica com
o tema, usando-se documentos como relatórios do Instituto Nacional de Estatística, etc.

O estudo de caso também contribuirá na busca de informação, que segundo Gil (2008, p. 57)
é o estudo exaustivo de um ou de poucos objectos de maneira a permitir o seu conhecimento
amplo e detalhado com o propósito de explorar as situações da vida real cujos limites não estão
claramente definidos, descrição da situação do contexto em que é feita determinada
investigação e explicação das variáveis causais de determinados fenómenos em situações que
não possibilitam a utilização de levantamentos e experimento.

Pretende-se confrontar a informação teórica com a prática como forma de sustento, expansão
e generalização das proposições teóricas, apesar de conceitos apresentados, segundo Yin (1981,
p. 22) e Gil (2008, p. 58) sobre a não definição dos procedimentos metodológicos rígidos, a
fragilização para a generalização, tempo destinado a ela e a dificuldade de análise e
interpretação de dados.
21

3.3. Instrumentos de Pesquisa


Segundo Rupia (2014, p.33), a definição do instrumento de colecta de dados, dependerá dos
objectivos que se pretende alcançar com a pesquisa e do universo a ser investigado.

3.3.1. Do ponto de vista de observação


Segundo Rupia (2014, p.33), trata-se de observação quando se utilizam os sentidos na obtenção
de dados de determinados aspectos da realidade.
Sob o ponto de vista de observação a técnica de recolha de dado será assistemática, não tem
planeamento previamente elaborado, segundo Rupia (2014, p.33).

3.3.2. Do ponto de vista de entrevista


Segundo Rupia (2014, p.33), é a obtenção de informações de um entrevistado, sobre
determinado assunto ou problema.
Sob o ponto de vista de entrevista, a colecta de dados será despadronizada ou não
estruturada, que segundo Rupia (2014, p.33), o roteiro não é previamente estabelecido, pois,
pretende-se explorar de uma forma mais ampla as questões.

3.3.3. Do ponto de vista ao questionário


Segundo Gerhardt e Silveira (2009, p.69) é um instrumento de colecta de dados constituído por
uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante, sem
a presença do pesquisador. O questionário objectiva levantar opiniões, crenças, sentimentos,
interesses, expectativas, situações vivenciadas sobre o tema em questão.
Portanto, foi elaborado um questionário dirigido aos usuários e agentes M-Pesa.

3.4. Delimitação do universo


A delimitação do universo consiste em explicitar que pessoas ou coisas, fenómenos etc., serão
pesquisados, enumerando suas características comuns, como, por exemplo, sexo, faixa etária,
organização a que pertencem, comunidade onde vivem etc.

3.4.1. População ou universo

O termo população, usado no sentido vulgar, indica apenas um conjunto de pessoas que habita
determinada área geográfica. Em pesquisa o conceito é mais amplo. Designa a totalidade de
22

indivíduos que possuem as mesmas características, definidas para um determinado estudo. O


distrito de Boane tem uma população estimada em 102.457 habitantes.

Para esta pesquisa, a população corresponde aos usuários e agentes Mpesa.

3.4.2. Amostra

É uma parte da população, selecionada de acordo com uma regra ou plano, de onde
determinados procedimentos foram seguidos de modo que nos garantam ser ela a representação
adequada da população, donde foi retirada, dando-nos assim confiança de generalizar para o
universo o que nela for observado.

Correspondem para a amostra nesta pesquisa, uma parte da população de 30 usuários de


serviço Mpesa e 20 Agentes Mpesa a nível da Vila de Boane.

3.5. Tipo de Amostragem


Amostragem é o processo de determinação de uma amostra a ser pesquisada.
Para este trabalho de pesquisa, foi utilizado a amostra do tipo não probabilística onde por sua
vez, dada as características da pesquisa ser descritiva usou-se o método escolha intencional
ou por conveniência, considerando as características particulares do grupo em estudo ou ainda
o conhecimento que o pesquisador tem daquilo que está investigando.
23

CAPITULO IV - ESTUDO DE CASO

4.1. Descrição do local do estudo


O distrito de Boane esta situado na província de Maputo, em Moçambique. A sua sede é a vila
de Boane. Faz fronteira a norte com o distrito de Moamba, a oeste e sudoeste com o distrito de
Namaacha, a sul e sudeste com o distrito de Matutuine e a leste com o município da Matola.

O distrito de Boane tem uma população estimada em 102 457 habitantes. O distrito está
dividido em dois postos administrativos, (Boane e Matola-Rio), compostos pelas seguintes
localidades:

Posto Administrativo de Boane:


 Vila de Boane
 Eduardo Mondlane
 Gueguegue

Posto administrativo de Matola-Rio:


 Matola-Rio Sede.

A vila de Boane foi elevada a município em Maio de 2013.

Economia e Infra-estruturas

O distrito de Boane e predominantemente agrícola, nele se encontrando localizada a Estacão


Agraria de Umbeluzi, uma unidade do Instituto de Investigação Agraria de Moçambique,
fundada em 1909.

Contudo, recentemente foi instalada uma fundição de alumínio na área de Beluluane, posto
administrativo da Matola-Rio, e foi criado, na área adjacente, um parque industrial.
24

4.2. Interpretação e análise de dados

A pesquisa de campo, foi estipulada através de 11 perguntas do tipo mistas no período de


Setembro de 2022, com a finalidade de descrever o perfil dos agentes e usuários do Mpesa
entrevistados na Vila de Boane. Este questionário está dividido em três secções: a primeira
secção se enquadra os entrevistados por sexo, estado civil, faixa etária, grau de escolaridade, a
segunda secção, enquadra-se na informação relativa ao uso, domínio dos serviços Mpesa,
rentabilidade das operações, e seu sustento no cotidiano, e por fim a terceira e última secção
referente a avaliação dos serviços oferecidos na plataforma Mpesa.

4.2.1. Perfil dos usuários e agentes Mpesa


4.2.1.1. Género
GRÁFICO 1: SEXO DOS USUÁRIOS E AGENTES MPESA

Sexo

30%

70%

Masculino Feminino

Fonte: Elaborada pela autora, 2023

No que diz respeito ao sexo dos usuários e agentes do serviço Mpesa entrevistados, resultado
deste estudo, nota-se que os homens dominam com uma percentagem de (70%) em relação as
mulheres (30%).
25

4.2.1.2. Idade
GRÁFICO 2: FAIXA ETÁRIA DOS USUÁRIOS E AGENTES MPESA

Idade

10%

18%
44%

28%

20 - 30 anos 30 - 40 anos 40 - 50 anos 50 - e mais anos

Fonte: Elaborada pela autora, 2023.

Em relação a idade, a maioria dos usuários entrevistados é jovem (44% entre os seus 20 a 30
anos de idade), sem deixar de lado os que apresentam 28% que correspondem a faixa etária de
30 a 40 anos ainda em activo.

4.2.1.3. Estado civil

GRÁFICO 3: ESTADO CIVIL DOS USUÁRIOS E AGENTES MPESA

Estado civil

20%

10%
70%

Solteiro Casado Outro

Fonte: Elaborada pela autora, 2023.


26

Observa-se que no gráfico 3, 70% de total dos entrevistados são na sua maioria solteiros/as,
20% pertencem ao grupo referente aos viúvos/as, divorciados e apenas 10% vivem
maritalmente, ou seja, casados.

4.2.1.4. Grau de escolaridade


GRÁFICO 4: GRAU DE ESCOLARIDADE DOS USUÁRIOS E AGENTES MPESA

Grau de escolaridade

2%
20%
40%

38%

Primario Basico Medio Superior

Fonte: Elaborada pela autora, 2023.

O grau de escolaridade que predomina nos agentes Mpesa é o nível médio, sendo que do total
de 50 usuários e agentes Mpesa verifica-se que apenas 38% concluíram o ensino básico e 20%
apresentam-se com nível primário.

Secção II
4.2.2. Questões gerais

Nesta secção traremos os resultados sobre a opinião dos usuários do Serviço Mpesa em relação
as demais opções que a plataforma oferece.

Dos 30 usuários do serviço Mpesa, quando questionados sobre o quão conhece o Mpesa, 23
destes mostram ter o domínio avançado do uso da plataforma e apenas 7 conhece o básico da
plataforma.

De salientar que 100% dos usuários já ouviram falar e sabem perfeitamente para que serve este
serviço de Mpesa.
27

4.2.2.1. Informação sobre conta bancaria


GRÁFICO 5: CONTA BANCARIA DOS USUÁRIOS E AGENTES MPESA

Conta bancaria

3%

97%

Sim Nao

Fonte: Elaborada pela autora, 2023.

Através do gráfico 5, pode-se constatar que 95% dos usuários tem uma conta bancaria e o
mesmo esta associado ao serviço Mpesa.
28

4.2.2.2. Nível de segurança da Moeda Digital


GRÁFICO 6: SEGURANÇA NO USO DA MOEDA DIGITAL

Moeda digital

20%

80%

Sim Nao

Fonte: elaborada pela autora, 2023.

Dos 30 usuários do serviço Mpesa entrevistados, quando abordados sobre o grau de segurança
no uso da plataforma Mpesa, 80% responderam que é seguro e pratico usar a moeda digital do
que o físico e 20% destes acham conveniente usar a moeda física para evitar comissões e gastos
que a plataforma oferece nas suas transacções.

Questões gerais para Agentes Mpesa

Dos 20 Agentes entrevistados, quanto ao seu tempo neste ramo de actividade, 45% estão a mais
de 5 anos fazendo este negócio, e 50% dos entrevistados estão a precisamente 3 anos activos
neste ramo, e apenas 5% estão a (1) um ano como agentes de Mpesa.
29

4.2.2.3. Informação sobre o número de contas Mpesa possuem


GRÁFICO 7: NÚMERO DE CONTAS MPESA DOS USUÁRIOS E AGENTES MPESA

Contas Mpesa

5%
10%
35%

50%

Uma Duas Tres Tres e mais

Fonte: elaborada pela autora, 2023.

Dos 20 agentes Mpesa entrevistados na Vila de Boane, 50% mostraram ser proprietários de 2
contas Mpesa, e apenas 10% destes tem 3 contas Mpesa nos seus estabelecimentos.

Quando questionados sobre a rentabilidade de ser um agente, 98% dos entrevistados mostraram
que vale apena apostar neste negócio, porque lhes é rentável apesar das dificuldades que
enfrentam com a introdução de novas taxas e tarifas aplicadas pela provedora do serviço e com
as outras plataformas digitais que a concorrência também dispõe no mercado.

De referir que com essas operações mensalmente obtém um lucro que varia de 3.000,00 Mts
(três mil meticais) a 5.000,00 Mts (cinco mil meticais) para os que possuem mais de 2 contas
Mpesa, o que já ajuda em algumas despesas caseiras, embora estes valores não sejam
constantes face as demais opções que os usuários destes serviços tem na plataforma.

Embora que com o elevado custo de vida, esses valores mensais que ganham como parte de
lucro em alguns momentos chegam para suprir as necessidades pessoais dos agentes
entrevistados, como o pagamento da electricidade, agua e alguns ate conseguem pagar a sua
renda.
30

Secção III
4.2.3. Avaliação dos serviços que são oferecidos pela plataforma Mpesa

Das varias opções que a plataforma dispõe para os usuários tem usado com maior frequência a
opção de transferência, isto porque facilita na transacção do valor para pessoas que se
encontram distantes, e para os agentes usam mais as opções transferência e depósitos visto que
para este ultimo caso estas duas opções são cruciais para o sustento do negocio, um agente que
não faz estes movimentos corre o risco de ver seu negocio falhar porque é dai onde consegue
obter os seus lucros e consequentemente a sua renda mensal.

A maioria dos entrevistados, ambos os lados (usuários e agentes), quando questionados do


porque do uso desta tecnologia financeira móvel, foram todos unanimes em afirmar que
utilizam por ser seguro, de fácil manuseio e acima de tudo é mais abrangente, isto é em qualquer
canto do país podem fazer as suas operações, e com o aperfeiçoamento da plataforma já tornou-
se fácil realizar operações com usuários que se encontram no estrangeiro através do serviço
Mpesa.

4.2.3.1. Opções de usos de outras tecnologias moveis no mercado


GRÁFICO 8: OPORTUNIDADE DE USAR OUTRAS TECNOLOGIAS MOVEIS

OUTRAS TECNOLOGIA DIGITAL


Outras tecnologia digital

30 28

25

20
14
15

10 8

0
Emola Conta movel Bancos

Fonte: elaborada pela autora, 2023.

Face as várias opções de tecnologia móvel digital, conforme ilustra o gráfico 8, dos 50 agentes
e usuários entrevistados, 28 optariam por usar a plataforma conta móvel por estes não ter custos
e taxas embora que para o uso desta plataforma seja necessário que a conta esteja associada a
31

conta bancaria e em qualquer ponto de ATM, podem efectuar o levantamento do valor, e 14


optariam por utilizar o serviço Emola, embora que este seja ainda uma novidade para os
usuários tratando-se de um serviço ainda recente no mercado, e 8 preferem deslocar e confiar
seu dinheiro nas contas bancaria, efectuando transacções e depósitos via bancos, por oferecer
credibilidade e segurança nas suas operações.

Em relação a competitividade as empresas moçambicanas, especificamente com os bancos


comerciais, os entrevistados mostram que o uso desta tecnologia móvel, torna a suas rotinas
mais fácil e poupa-lhes o tempo, ora ao invés de se deslocaram aos bancos para formarem
longas filas, os usuários preferem efectuar depósitos nas suas contas Mpesa e depois transferir
os valores embora tenham alguns custos essas operações, mas vêem o seu tempo economizado
do que perderem o tempo aturando longas filas e algumas vezes sem sucesso dos seus
objectivos nos bancos.

Para as comunidades mais frágeis em termos económicos, os 50 agentes e usuários da moeda


móvel, responderam que esta plataforma pode agregar valores positivos nas suas vidas, tais
como:

 Geração de auto-emprego;
 Poupança e conservação de valores com a alguma segurança na plataforma;
 Poupança de tempo;
 Fácil e abrangente.
32

CAPITULO V - CONCLUSÃO

O presente trabalho analisou o contributo da tecnologia financeira móvel para a inclusão


financeira na perspectiva dos beneficiários dos munícipes da vila de Boane, província de
Maputo. Para isso, procurou avaliar o papel da inclusão financeira no desenvolvimento das
zonas rurais. As dimensões incluídas neste estudo foram Tecnologias Financeiras Moveis,
Inclusão financeira, carteira móvel e M-Pesa.

Por diversas vantagens, os pagamentos móveis têm sido incentivados globalmente como
instrumento de promoção da inclusão financeira e vêm obtendo sucesso em vários países,
inclusive em Moçambique. Visto que a inclusão financeira é a capacidade de indivíduos e
empresas conseguirem utilizar produtos financeiros acessíveis, adequados e fornecidos de
maneira sustentável. Contudo, a maior parte dos consumidores e pequenas empresas no mundo
actualmente não participam do que é chamado de sistema financeiro formal.

Para compreender melhor o acesso aos serviços financeiros no contexto de existência de


instituições de moeda electrónica, em contextos de zonas rurais realizei uma pesquisa
exploratória entre clientes e agentes Mpesa.

A partir dos dados analisados percebi que os serviços de moeda electrónica por um lado
constituem uma inovação uma vez que podem ser usados a partir do telemóvel, reduzem o
tempo e custos para aceder aos serviços financeiros comparativamente aos bancos tradicionais,
o que permite falar em mudanças nos serviços oferecidos. Entretanto, por outro lado os
referidos serviços continuam a oferecer serviços iguais aos oferecidos pelos bancos tradicionais
tais como levantamentos, depósitos, transferências e pagamento de serviços o que permite falar
de continuidades.

Os resultados apresentados nas pesquisas e estudo de caso deste trabalho demostram que a
pergunta problema foi respondida e a primeira hipótese confirmada, as tecnologias financeiras
móveis contribuem para uma inclusão financeira na Vila de Boane, e consequentemente
melhoram a vida dos munícipes.
33

CAPITULO VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

6.1. Manuais
 ANDRADE, Maria Margarida. Introdução a metodologia do trabalho científico. 8. ed,
São Paulo: Altlas, 1999.
 ANDRADE, Maria Margarida. Introdução a metodologia do trabalho científico. São
Paulo: Altlas, 2007.
 Banco de Moçambique. “Desafios da inclusão financeira em Moçambique: uma
abordagem do lado da oferta”. Maputo: Banco de Moçambique. Pp. 5-17, 2013.
 FONSECA, J.J.S. Metodologia de pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.
 GERHARDT, Tatiana Engel e SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de Pesquisa. Editora
da UFRGS. Porto Alegre. 2009.
 MARCONI, Maria de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia
Científica. 7. ed. São Paulo, Editora Atlas, 2010.
 MARCONI, Maria de Andrade, LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia
Científica. 6. ed. São Paulo, Editora Atlas, 2007.
 RUPIA, Bento. Manual de Metodologia e pesquisa científica. Apostila Prática.
Maputo, 2014.
 SARMA, M. e PAIS, J. Financial Inclusion and Development – Journal of International
Development. Vol. 23, No. 5, pp. 613-28, 2011.
 TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa
em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

6.2. Sites
 https://bauner.com.br/fintech/acesso em: 31/01/2023, 18h46 min
34

APÊNDICE
35

Questionário

Este inquérito visa recolher informações acerca do uso de serviço Mpesa como forma de
inclusão financeira na Vila de Boane, com vista a obtenção de grau académico de
Licenciatura em Administração de Comércio e Finanças na Faculdade de Economia e
Gestão. Toda informação aqui contida é confidencial e só será usada já tratada.

Secção I
1. Local do inquérito:
2. Dados Pessoais do Inquerido:
2.1.Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) Idade
2.2.Estado civil: Casado/a ( ) Solteiro/a ( ) Outro ( )
2.3.Grau de escolaridade: Ensino primário ( ) Básico ( ) Médio ( ) Superior (
)

Secção II
Para o Usuário do Serviço Mpesa
1. O quanto conheces sobre o Mpesa?
Básico ( ) Avançado ( ) Não usa ( )
2. Já ouviu falar do Mpesa?
Nunca ouviu ( ) Já ouviu mais não sabe o que é ( ) já ouviu e sabe o que é ( )
3. Possui uma conta bancaria?
Sim ( ) Não ( )
4. Acha seguro usar Moeda Digital?
Sim ( ) Não ( )
Para o Agente Mpesa
1. A quanto tempo está neste mercado (Tecnologia Financeira Móvel)?
1 ano ( ) 3 anos ( ) 5 anos ( ) Mais de 5 anos ( )
2. De quantas contas é proprietário?
Uma ( ) Duas ( ) Três ( ) Mais de três ( )
3. Ser Agente é Rentável?
Sim ( ) Não ( )
4. Quanto ganha mensalmente nas operações:
5. Com o que ganha consegue suprir as necessidades pessoais?
Sim ( ) Não ( )
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Secção III
Avaliação dos serviços que são oferecidos pela plataforma Mpesa
1. Das várias opções que a plataforma dispõe qual tem usado com maior frequência?

2. Porque usa esta tecnologia financeira móvel (Mpesa) ao invés de uma outra.

3. Se tivesse a oportunidade de usar uma outra tecnologia qual seria?

Porque?

4. Na sua opinião, qual importância da moeda móvel para a competitividade as empresas


moçambicanas?

5. Como a “moeda móvel” pode criar valor às comunidades mais frágeis em termos
económicos?

Muito obrigado pela sua participação neste inquérito

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