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resumos português 4ºteste
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Antero de Quental:
O texto lírico, enquanto manifestação estética e lúdica, caracteriza-se, então, por
elementos como a expressão subjetiva de emoções, a ausência de dinamismo narrativo,
subjetividade na apreensão do real…
Antero teve uma vida efémera, cuja existência foi marcada ora pela esperança
conquistada ora pela frustração adivinhada.
Nasceu em Ponta Delgada, a 18/04/1842;
Evidencia-se nele o sentido democrático da vida e a crença num mundo mais justo e
fraterno;
Em 1874, deu sinais de doença nervosa, levando-o a buscar certas respostas para
questões tão filosóficas quanto o sentido da existência, num caminho sempre marcado
pelo pessimismo;
Em 1886, é publicada a obra Sonetos Completos;
Cometeu suicídio também em Ponta Delgada, a 11/09/1891;
A morte de Antero de Quental é, no fundo, o culminar de um percurso
existencial feito de tensões, ambiguidades, de luzes e de sombras. Aliás, o
suicídio, é uma resposta aos dois princípios que sempre pautaram na sua vida: a
entrega ao Bem e a angústia existencial.
Tópicos de conteúdo:
Antero foi um poeta comprometido com o seu tempo e que projetou na sua poesia o seu
desejo (impossível) de aliar a vida ao ideal.
No entanto, a doença que sofre acaba por toldar a sua ação, levando-o a ter crises de
pessimismo e a debater-se com questões ideológicas.
Tentava conciliar o Ideal e o Real.
No polo “luz” correspondem os sentimentos marcados pelo otimismo crente e
revolucionário, nos quais o poeta é guiado pela Razão, enquanto no polo “sombra”,
correspondem os poemas marcados pelo pessimismo desencantado de quem desistiu de
perseguir o sonho.
Desta forma, os dois tópicos estruturantes de poesia de Antero de Quental acabam por
estar unidos, pois é da impossibilidade de alcançar tudo o que o seu espírito
combativo e racional tinha como Ideal que o poeta caiu no desânimo de quem não se
deixa já iludir por quimeras, por palácios, onde já só avista o vazio.
As configurações do Ideal:
O poeta aspira a um mundo ideal: com justiça social e ética: mundo perfeito.
A idealização, quando é frustrada, provada a angústia existencial.
Perante a imperfeição do real, o sujeito poético constata a impossibilidade de
viver de ideais.
Esta é a vertente otimista onde explica como se alcança o mundo ideal.
Acredita que o Ideal pode ser atingido, apesar de não poder.
Faz referência a Deus e ao Absoluto.
Quais as suas características?
A Razão orienta os ideais que permitem ao Homem ascender a um mundo melhor,
superior e ideal conduzindo à plenitude do ser.
O sujeito poético procura um sentido para a existência humana;
As configurações do Ideal na poética anteriana traduzem-se na perfeição e na plenitude
de realizações (imaginárias ou reais) do eu poético.
A busca de um ideal na poesia anteriana pode assumir várias configurações:
Procura do Bem, da perfeição, da justiça social, da liberdade;
Indagação do amor (por vezes, idealizado);
Defesa da necessidade de transformação da sociedade.
Exemplos:
«[…] busco anelante/O palácio encantado da Ventura!» (O palácio da Ventura, vv. 3-4)
«Que as penetra de amor e as alevanta…» (Acordando, v. 8)
«E enquanto eu na varanda de marfim / Me encosto, absorto num cismar sem fim, / Tu,
meu amor, divagas ao luar» (Sonho oriental, vv. 9-11)
«Um mundo novo espera só um aceno…» (A um poeta, v. 8)
Exemplos:
«Sonho que sou um cavaleiro andante […] Com grandes golpes bato à porta e brado»
(O palácio da Ventura, vv. 1 e 9)
«E eis que súbito o avisto, fulgurante / Na sua pompa e aérea formosura!» (O palácio da
Ventura, vv. 7-8)
«Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta / Este meu vão sofrer, esta agonia,»
(Acordando, vv. 1-2)
«Para o Céu a minh’alma sobe e canta.» (Acordando, v. 4)
«E, sendo a Morte, sou a Liberdade.» (Mors Liberatrix, v. 14)
Angústia existencial:
Vertente escura, soturna, o eu lírico revela desespero, desalento numa fase de
recolhimento à doença nervosa.
Os desejos que passam pela cabeça do eu são o desassossego e a morte:
percebeu que tudo o que tinha idealizado inicialmente não existe, e isso fá-lo
abater-se. Mostra-se completamente vencido.
Exemplos:
«Sobre o meu coração, que tumultua,» (Noturno, v. 7)
«Tu só entendes bem o meu tormento…» (Noturno, v. 4)
«Este meu vão sofrer, esta agonia,» (Acordando, v. 2)
«Mas dentro encontro só, cheio de dor,/ Silêncio e escuridão - e nada mais!» (O Palácio
da Ventura, vv. 13-14)
Em suma:
Antero de Quental constata a impossibilidade de concretização do seu Ideal e sente uma
enorme angústia que determina o seu modo de viver e de pensar. A desilusão decorrente
da imperfeição humana e da constatação de um mundo injusto, desperta em si
sentimentos negativos, bem visíveis na sua obra poética.
O poeta vive frequentemente imerso numa angústia existencial, manifestando, assim, o
sujeito poético, nos seus versos, uma atitude pessimista perante a sua vida. Vê, então, a
morte como uma realidade libertadora.
Discurso conceptual:
Paralelamente a sonetos de estrutura narrativa e imagens concretas, estão aqueles em
que o sujeito poético reflete, em linguagem abstrata, sobre temas como a Divindade, o
Sofrimento, o Ideal e a Angústia.
Caracteriza-se pelos conceitos abstratos, pelas noções, de maior ou menor densidade,
que apresenta.
Antero exprime um pensamento filosófico, que encontra na linguagem poética um
modo admirável de expressão.
Este tipo de discursos marca a poesia de Antero, visto que os poemas
selecionados e que serão objeto de estudo estão fundeados em conceitos, em
noções filosóficas, metafísicas, abstratas.
Recursos expressivos:
Personificação: de ideias abstratas, que são grafadas com maiúscula inicial (Deus,
Amor, Razão), ou de elementos físicos (o coração) permite ao eu dirigir-se-lhes a fim de
os questionar ou de se lamentar.
Apóstrofe: associada à interjeição e à personificação das entidades invocadas, sugere
um esboço de diálogo com Deus, o Amor ou a Justiça.
Metáfora: é usada para representar ou caracterizar conceitos e estados de alma, e
evolui, em alguns casos, para a alegoria, com contrastes vocabulares como
“dia”/”noite”, “bem”/”mal”, etc.