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Português

Amor de perdição (Memórias de uma família)

Título: Subtítulo:
Alude à breve vida da personagem principal Sugere o relato de eventos reais do
desta “triste história”, Simão António passado da família de Camilo, que este,
Botelho, tio paterno de Camilo Castelo desde criança, ouviu contar.
Branco.
Registo de um cunho memorialista;
Preocupação em tornar verosímil a história relato de uma história familiar verifica
ficcional que construiu em torno desse caso do seu tio Simão.
amoroso trágico.

Esta obra é uma novela (Romantismo):


 Género narrativo;
 Temas passionais,
 Concentração da ação;
 Linearidade do tempo;
 Ritmo rápido;
 Entretenimento do leitor.

Sugestão biográfico (Simão e narrador)


A novela foi escrita em 15 dias, enquanto o autor estava preso na Cadeia da Relação e
Tribunal do Porto, por ter raptado Ana Plácido e ter cometido adultério com ela,
encontrando aí o registo da condenação ao degredo do tio paterno, Simão.
 O autor apoia-se num dado real, para a partir dele, reconstruir os acontecimentos
que levaram ao desfecho dramático da ação.
A realidade biográfica de Camilo e a história literária e ficcional de Simão possuem
várias semelhanças:
São tio e sobrinho, e Camilo foi educado pela tia Rita Emília, irmã mais nova de Simão,
que amiúde lhe contava esta história de amor trágico.

Camilo castelo branco Simão


 Bastardia (filho de mão incógnita) e  Expulsão de casa e afastamento da
orfandade muito precoces; família;
 Vida marcada pela boémia e excessos;  Antes de conhecer Teresa, vida boémia,
 Educação religiosa; jacobinismo e violência;
 Vivência do amor sem regras (fugas  Encontra a fé, através do amor;
 Partilham o mesmo destino: Perdição por amores não convencionais sendo
presos;
 Prisão na mesma Cadeia da Relação do Porto.

Narrador:
 Rebeldia juvenil: várias relações amorosas; temperamento
 Inconstante.
 A paixão por Ana Plácido: a calma.
 Prisão na Cadeia da Relação resultante da paixão.
 Clausura de Ana Plácido num convento e na prisão.

Simão:
 Rebeldia juvenil: relações familiares conflituosas; temperamento
 Violento.
 A paixão por Teresa: a calma.
 Prisão na Cadeia da Relação resultante do assassínio (por paixão).
 Clausura de Teresa num convento.

Heróis românticos (impulsivos Sociedade hostil aos “direitos do


rebeldes, nobres de carácter) coração”

Credibilidade/veracidade/verosimilhança:
 Camilo pretende tornar credível a história do tio, construindo a história através
de registos do cartório, transcrições de cartas, relatos de contemporâneos do tio.

O facto de o protagonista que na conclusão é identificado como o tio do autor da obra,


ter um percurso biográfico com pontos de contacto com o de Camilo Castelo Branco
virá a conferir um maior dramatismo aos eventos narrados, o que contribuirá de forma
decisiva para o enorme interesse dos leitores oitocentistas por esta obra.

O narrador tem consciência de que a narrativa poderá trazer uma perspetiva favorável
do público sobre o seu caso jurídico real (pois as historias são parecidas e a historia
do tio vai despertar a simpatia do publico)
Procura acima de tudo evidenciar a injustiça subjacente à história trágica de Simão e
Teresa, assumindo por isso uma posição subjetiva em relação às personagens,
sublinhando o carácter heroico dos protagonistas. Desta forma, Camilo procura
justificar a sua própria transgressão das normas da sociedade.

O narrador de Amor de perdição:

 Associado à figura do autor: com quem se identifica em vários momentos do


texto.
 Não participante-heterodiegético;
 Subjetivo e parcial: relata a história de forma parcial, tecendo considerações
sobre comportamentos sociais e humanos.
 Avaliador moral das situações narradas;
 Comentador do ofício de romancista;
 Dirige-se a um narratário (interpelando o leitor ou a leitora sensível) a quem
pede que acompanhe os acontecimentos e reflita sobre eles, supondo a sua
compaixão e imaginação até as suas reações, envolvendo os leitores na avaliação
do mundo e das personagens.
 Apesar do estatuto de omnisciência, também se coloca na posição de alguém
que obteve informações.

O autor parece procurar a subversão do ficcional. É tipicamente romântico porque está


envolvido na história que criou.
 Apresenta a sua opinião, tira conclusões sobre epílogos da intriga e desenvolve
reflexões e críticas sobre comportamentos sociais.

Pontos de vista do narrador/Focalização:


O narrador de forma objetiva ou desapaixonada, dá-nos acesso a :
 Atos e situações;
 Cartas;
 Espaços;
 Aspeto físico das personagens

Focalização externa
Conhecimento total dos acontecimentos e transmissão dos pensamentos, emoções e das
ideias das personagens.
Ex: “Simão ficou pensativo na sua espinhosa situação. Deviam de ocorre-lhe ideias
aflitivas”.

Focalização omnisciente

Mesmo não participando na história, o narrador emite opiniões e faz comentários


interventivos. Diálogo com o narratário (aproximação ao objeto narrado; efeito de
verosimilhança)
 Apela à sensibilidade dos leitores: ““Dezoito anos!... E degredado da pátria, do
amor e da família! […] É triste!” (Introdução).
 Acentua aspetos das personagens ou omite factos e situações: “Simão ficou
pensando na sua espinhosa situação. Deviam de ocorrer-lhe ideias aflitivas […]”
(cap. VIII).

Focalização interventiva/interna

Narrador participante (de 1ª pessoa): transição entre o passado remoto, o passado


próximo e o presente do sujeito da enunciação.
Narrador-personagem: intervenção na história com um discurso paralelo,
presentificando-se como sujeito concreto.
Narrador-comentador: diálogo com o/a leitor/a

Estrutura da obra:
A obra é composta por “Introdução”, vinte capítulos e “Conclusão” e pode resumir-se
na seguinte sentença:

“Amou, perdeu-se e morreu amando”.


Introdução:
O narrador/autor dá início ao processo narrativo. Perante o aceso ao registo da
condenação de Simão Botelho no cartório da cadeia propõem-se a narrar a história do
jovem Simão.

Vinte capítulos:
AMOU:
 Ódio entre os pais: Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque
 Amor entre Simão e Teresa

PERDEU-SE:
Simão, na sequência desta paixão arrebatadora:
 Expulso de casa;
 Mata Baltasar;
 Condenado ao degredo.
Teresa:
 Recusa o casamento com Baltasar;
 Encerrada num convento
 Contraria o pai.

MORREU AMANDO:
 Teresa morre no convento;
 Simão morre na viagem.
 Os dois apaixonados acreditam no amor eterno e, por este motivo, veem na
morte a possibilidade de uma união que não conseguiram obter em vida.

Conclusão:
Desfecho da intriga e identificação de Manuel Botelho como sendo o pai do
narrador/autor: Simão Botelho era seu tio paterno.

Tempo narrativo/concentração temporal da ação:


 Os acontecimentos desenrolam-se de forma linear e cronológica, num ritmo
rápido contribuindo para a concentração temporal da ação. Isto resulta de:
Os diálogos: que permitem criar uma coincidência do tempo de ação com o tempo do
discurso;
A valorização da ação em detrimento da reflexão: o narrador não se perde em
considerações;
O discurso epistolar (correspondência/cartas): pois o narrador evita, assim, o
aprofundamento psicológico dos seus protagonistas.

 Há um ritmo acelerado no primeiro capítulo (dá conta de momentos da história


da família ao longo de 4 décadas) e um abrandamento do mesmo nos restantes
capítulos. (cerca de 3 anos)
 Portanto, não há uma proporcionalidade entre o tempo cronológico e o
tempo da narrativa.

O tempo é cronológico e contínuo.


Os acontecimentos são datados, mas há uma delimitação imprecisa.

Inicialmente, a narração dos acontecimentos é rápida. Mais adiante, perde-se a noção de


tempo quando a narração se concentra na vivência interior desse amor, que é expressa
em cartas e reflexões das personagens. O tempo psicológico manifesta-se aqui.

Capítulo 1 (1767-1801): cerca de 35 anos


 O início da novela +e datado de 1779, mas logo é sugerida uma época anterior.
 O ritmo narrativo é rápido e a noção cronológica de tempo é nítida.
Analepse que apresenta antecedentes da ação.

Capítulos II-XX (1801-1807) - cerca de 7 anos


 1801: início da relação entre Simão e Teresa onde Simão tem 15 anos;
 1803: Teresa escreve uma carta a Simão, dizendo-lhe que o seu pai ameaça a ida
para o convento;
 1804: morte de Baltasar Coutinho e prisão de Simão com 18 anos;
 1805: transferência de Simão para a Cadeia da Relação, no Porto; *
 1807: embarque de Simão para o degredo na Índia (17/03) e morte de Teresa;
*Simão ficou 20 meses na prisão mais 6 meses antes de partir para a índia, degredado.

Conclusão (1807) - cerca de 10 dias:


 Morte de Simão (28/03) e suicídio de Mariana.

Técnicas narrativas e as suas características:


CARTAS
 Meio de comunicação/”diálogo” entre Simão e Teresa;
 Extensão moderada, simplicidade e clareza de estilo;
 Subjetivismo (tom confessional), linguagem sentimentalista;
 Abundância de recursos expressivos e de pontuação expressiva.

“REPORTAGEM DIRETA DOS ACONTECIMENTOS”


 Rapidez das peripécias e ausência de divagações filosóficas;
 Linguagem simples, diálogos concisos, potenciando o avanço da ação;
 Progressão rápida e lógica das cenas dramáticas para a catástrofe
 Escassas descrições.
DIÁLOGOS
 Criação de verosimilhança/autenticidade;
 Caracterização direta e indireta das personagens, através da linguagem
adequada ao seu estatuto social, estando por isso em muitos casos ao serviço
da crítica social;
 Espelho do estatuto social das personagens:
(1) Vivos e espontâneos: gente do povo (léxico popular);
(2) Convencionais: nobres (léxico cuidado).
Qual a sua funcionalidade?
 Esclarecer situações que envolvem as personagens;
 Transmitir informações relevantes relativas às opções e atitudes das
personagens;
 Traduzir os sentimentos das personagens;
 Estabelecer confrontos entre diferentes pontos de vista;

Características da linguagem:
 Léxico corrente
 Recurso aos pretéritos perfeito e imperfeito;
 Anteposição do verbo aos outros constituintes da frase;
 Escassez de adjetivos;
 Frases curtas;
 Metáforas e imagens (intensificação da expressão dos sentimentos);
 Ironia (forma de crítica).
 Linguagem emotiva empregue por Simão e por Tresa na expressão dos seus
sentimentos, que revela influência do Ultrarromantismo.

A obra como crónica de mudança social:


 A obra é uma novela escrita na segunda metade do século XIX (1861) em pleno
Romantismo e representa os valores do Liberalismo que vingaram em Portugal:
liberdade, igualdade, justiça, etc.
A história de Simão e Teresa decorre entre 1805 e 1807 e retrata os valores do Antigo
Regime, mas também as novas ideais do Liberalismo.
Na obra encontramos dois sistemas de valores: as noções de honra, privilégio das
classes sociais dominantes, autoridade familiar associados ao Antigo Regime e os
valores de liberdade, igualdade, justiça social, que o Liberalismo e o Romantismo vêm
reivindicar.

A novela tem marcas de uma crónica:


Representa as vivências e as convenções da sociedade absolutista do Antigo Regime,
que se encontrava em processo de mudança por pressão das ideias liberais, que
trinfaram em 1834.

 O narrador denuncia e satiriza os valores caducos da sociedade antiga e os


comportamentos sociais condenáveis.

Nesta obra retratam-se e criticam-se aspetos do Portugal do Antigo regime como:


 A sociedade é repressiva;
 A igreja enquanto instituição que age de acordo com a sociedade por interesse;
 A justiça e a sua arbitrariedade é desmascarada através da parcialidade revelada
nos julgamentos;
 A instituição militar é movida pela influência dos mais poderosos;
 Crítica ao ser vs parecer.
 As desigualdades sociais que diferenciam os nobres das figuras do povo;
 As presunções de classe e de honra, mas também as “falsas virtudes”, ilustradas
pelos comportamentos dos pais de Simão e Teresa;
 O poder patriarcal na família, visível na relação entre Teresa e o pai;
 Os casamentos aristocráticos por conveniência e o valor dado ao dinheiro e a
infelicidade da mulher;
 A aristocracia como símbolo de uma sociedade retrograda e decadente
materializada na oposição preconceituosa das famílias de Teresa e Simão ao
amor, conduzindo-os à morte.
 O tratamento diferenciado dos fidalgos perante a lei quando, por exemplo, o
meirinho encoraja Simão a fugir após ter disparado sobre Baltasar.
 A influência negativa da classe clerical: podridão da vida conventual

Sinais de mudança para o Portugal moderno:


Há um embate entre os valores do Antigo Regime e os ideais associados à Revolução
Francesa:
Defesa da liberdade individual;
O desdém pelas hierarquias sociais;
A valorização do amor e da nobreza de carácter;
A emancipação da mulher;
A luta por um mundo melhor, onde imperem a justiça e os direitos do indivíduo.

Sinais na obra que o demonstram:


 Em Coimbra, Simão defende as ideias dos teóricos da Revolução Francesa;
 O protagonista defende incondicionalmente a liberdade individual face às
convenções sociais retrógradas;
 Simão desdenha das presunções aristocráticas da família e defende os mais
fracos e pugna pela igualdade entre os homens, o que está patente no modo com
trata Mariana e João da Cruz;
 Teresa representa a mulher que quer emancipar-se e sair da alçada do poder
patriarcal;
 Teresa e Simão valorizam o amor e a nobreza de carácter e anseiam que
imperem a justiça e os direitos do indivíduo, em lugar da intolerância.
 Resistência dos protagonistas à submissão.

Teresa é rebelde na forma como não segue o caminho que o seu pai para si traçou, o que
seria expectável na época, e está confiante na sua crença de casar por amor: sinal da
mudança dos tempos e das convenções sociais da época.

Herói romântico:
Características essenciais num herói romântico:
 Individualismo;
 É uma personagem de exceção;
 Grande complexidade interior;
 Forte determinação associada à sensibilidade romântica;
 Luta por ideais como o Amor ou a construção de um mundo melhor;
 Defende os direitos do indivíduo associados ao Liberalismo e Romantismo;
 Rejeitas as normas e as convenções da comunidade a que pertence, assumindo
rebeldia;
 Vive uma crise interior, tornando-se melancólico;
 Grande insatisfação de não concretizar as suas aspirações, morrendo fisicamente
ou espiritualmente.

Criação de um herói romântico

 Crê em valores elevados


 Move-se por grandes ideias

O amor, a justiça, a liberdade

Conflito com a sociedade

Rejeição das regras e convenções sociais

Outro traço do herói romântico:


Isolamento social: conceção da existência baseada na oposição eu/mundo

Simão Botelho como herói romântico:


 Ser de exceção porque é dotado de uma nobreza de carácter e de qualidades
morais incomuns;
 Manifesta uma determinação e energia admiráveis, no modo com se bate pelos
ideais e objetivos que definiu;
 Revela-se um homem determinado que se move pelo Amor, o qual se torna um
sentimento absoluto, pois enamora-se de Teresa e ama-a incondicionalmente;
 Rege a vida por princípios e ideias elevados, como a liberdade, a justiça (não
aceita que outros determinem o caminho da sua vida nem que contrariem o seu
amor) e a igualdade (trata João da Cruz e Mariana como iguais e recusa ser
tratado com privilégios no cárcere);
 Coloca-se à margem da sociedade, cujas regras não aceita, e rebela-se contras as
injustiças sociais, as convenções de honra e as “falsas virtudes” dos pais;
 É impulsivo;
 Domínio dos sentimentos face à razão;
 É uma personagem marcada pela fatalidade, que percebe a frustração dos seus
objetivos de vida, caindo numa profunda melancolia, acabando por morrer.
 Egocentrismo: destruição física e moral que conduz à destruição dos outros.

Simão procura o amor idealizado, absoluto e sem limites

Entra em conflito com a autoridade dos pais

Neste conflito revela: coragem, determinação, honra, respeito por outros de condição
inferior.
 Há por isso uma dualidade em Simão.

Ex: “já lhe disse que não fujo…”

Simão vive no seu mundo: isolamento existencial, opondo-se às regras impostas


pela sociedade.
Eu/mundo Indivíduo/sociedade

Nota: Simão é egocêntrico, mas num bom sentido, na medida em que assume as
responsabilidades dos seus problemas, não permitindo que o façam por ele. É mais uma
característica do herói romântico.

O amor-paixão:
 O amor é o tema fulcral de Amor de Perdição. A paixão ocupa um espaço
arrebatador, febril e egoísta e conduz as personagens à morte. É motor do desejo
de vingança e de conservação da honra e responsável pela sacralização dos
amantes.
O amor pode desdobrar-se em:
 Amor sofrimento: só atinge a sua plenitude na morte, é, portanto, um amor
impossível;
 Amor sagrado: que enfrenta a barreira do social e permite a elevação espiritual.

 É louvado o carácter heroico de Teresa e Simão por parte do narrador, que estão
dispostos a abdicar da liberdade e, posteriormente, até da própria vida, em seu
nome.
O amor nesta obra é sofrimento, já que Teresa e Simão vivem um amor impossível e
proibido. Apesar disso e dos obstáculos impostos pela família, não desistem da sua
felicidade. As adversidades parecem até dar-lhes mais força para lutarem pelos seus
objetivos.
Creem no amor eterno, encarando a morte como superação das dificuldades da vida,
achando que nela encontrarão a felicidade que não conseguiram alcançar em vida. Para
ambos, só a morte permitirá a concretização do seu amor, que não se coaduna com a
mesquinhez de uma sociedade movida por valores meramente terrenos.

 No entanto, é impossível escapar ao Destino implacável que se abate sobre estas


personagens e que, simultaneamente, eleva este amor à dimensão espiritual.

Nas cartas que os dois apaixonados trocam pode encontrar-se o desenvolvimento do


conceito de amor eterno.
Funcionalidades das cartas:
 Meio de comunicação entre os amantes, “diálogo”;
 Traduzem uma transgressão em relação às normas impostas;
 Completam a caracterização das personagens, evidenciando a sua dimensão de
heróis românticos;
 Relatam acontecimentos;
 Refletem as memorias dos apaixonados;
 Comunicam decisões;
 Veiculam promessas e sentimentos;
 Revelam projetos;
 Expressam apelos e desabafos
 Constituem momentos de prosa poética

O amor-paixão é também vivido por Mariana, na medida em que apesar de ter


consciência que o seu amor não é correspondido, acabará por dedicar toda a sua vida a
Simão. Ao invés de projetar na eternidade a esperança de ser amada por Simão, tem
esperança em ser correspondida ao acompanhá-lo ao exílio.

Relações entre as personagens:

 A ação da narrativa centra-se no triângulo amoroso constituído por Simão,


Teresa e Mariana.
 Os amantes debatem-se, não contra a diferença de classe ou de riqueza, mas
contra o ódio implacável entre duas famílias de província ciosas dos seus
pergaminhos.

Simão: o herói romântico:


Jovem (16-18 anos), bem-nascido, belo, vigoroso e atraente, com “feições da mãe”,
viril.
Inteligente e talentoso
Rebelde, individualista, luta contra as normas impostas pela sociedade
Impulsivo e agressivo na defesa dos seus ideais
Nobre de carácter, com valores bem definidos.

Apresenta 3 fases distintas:

Quando desconhece o amor:


 Rebelde e marginal;
 Mau estudante;
 Jacobino (apreciador do espírito da Revolução Francesa) e violento nas suas
ações.
 Irreverente, provocador e independente (escolhe amigos e companheiros que a
família não aprova e escarnece das genealogias);
 Orgulhoso e arrogante.

Quando conhece o amor:


 Tem 17 anos;
 Convertido à orem instituída (torna-se um estudante exemplar);
 Torna-se pacífico e cumpridor;
 Sincero, fiel, amante dedicado e com veia poética (cartas);
 Pensando sempre em Teresa (“alheado”)

Quando nada espera do amor:


 Revoltado contra a sociedade;
 Age como um animal enjaulado;
 Misericordioso (critica a crueldade de João da Cruz);
 Um “homem de ferro”;
 Honrado e digno;
 Individualista e egoísta nas suas ações.

 É, portanto, uma personagem modelada.

Teresa de Albuquerque, a heroína romântica:


 Jovem (15-17 anos), bela e bem-nascida (aristocrática e rica);
 Varonil, tem força de carácter, orgulho fortalecido pelo amor, desapego das
vulgares apreensões, tratando-se de uma mulher distintíssima;
 Sensível;
 Aparentemente frágil;
 Atua de forma inflexível, rompe com a sociedade e com a família (rompe os
desígnios da sociedade), na defesa do seu amor;
 Verdadeira e honesta;
 Absolutamente leal a Simão, a quem escreve cartas profundas e apaixonadas;
 Assertiva: personalidade de carácter firme e resoluto;
 Determinada e com personalidade forte;
 Limitada pela sua condição feminina, não age diretamente como Simão;
 Mártir: prefere a clausura e a morte a ceder a um casamento forçado pelo pai.

Mariana: a mulher-anjo:
 Jovem (tem 24 anos quando conhece Simão);
 “Formas bonitas” e um rosto “belo e triste”;
 Firme, recusou propostas de casamento;
 É uma mulher nobre e pura;
 Revela-se abnegada e sofredora;
 Vive o amor como penitência;
 Nobre de sentimentos;
 Generosa, discreta e delicada, submetida à sua condição feminina;
 Personagem romântica: personificação do espírito de sacrifício, revela-se a
personagem mais complexa da obra;
 Confidente e moderadora de impulsos passionais;
 Mensageira, facilita a troca de correspondência entre Simão e Teresa, anulando-
se face ao seu próprio amor.
 Nunca abandona Simão;
É a personificação da mulher-anjo na medida em que se entrega totalmente à sua
paixão por Simão sem esperar nada em troca.

Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque:


 Conservadores: o seu ódio é motivado por um preconceito de honra social;
 Egoístas e inflexíveis no apego à honra do sobrenome e aos brasões e preferem
perder os filhos à dignidade social (fidalguia ridicularizada pelo narrador);
 Orgulhosos e preconceituosos;
 Insensíveis ao amor.
Nota: as famílias odiavam-se uma vez que num litígio, Domingos Botelho não tomara
uma decisão favorável a Tadeu de Albuquerque.

Baltasar Coutinho:
 Presunçoso;
 Vaidoso (incapaz de esquecer o seu orgulho ferido);
 Cínico;
 Perverso;
 Cobarde;
 Insensível ao verdadeiro amor;
 Orgulhoso;
 Arrogante;
 Prepotente.

João da Cruz:
 Honrado e bondoso: apresenta um conjunto de traços que esbate, aos olhos do
leitor, os crimes que comete;
 Castiço: homem do povo, com linguagem comum;
 Corajoso e até violento na defesa de Simão;
 Grato;
 Oportuno, lúcio e estratégico nos conselhos que dá a Simão;
 Adjuvante: família acolhedora.
Alternância entre gratidão e crueldade.

Nota: há uma oposição entre o afeto entre João da Cruz e Mariana com a relação que
tanto Teresa como Simão mantêm com os seus pais.
Tadeu de Albuquerque ama a filha, mas este amor é sobreposto pelo seu ódio
mesquinho à família de Simão, já este nunca teve uma relação pacífica com os pais.

Tríade amorosa:
1. Simão Botelho e Teresa de Albuquerque nutrem uma paixão recíproca,
2. Contudo as rivalidades familiares impedem a concretização do amor entre os
dois jovens;
3. Surge Mariana, filha de João da Cruz, que auxiliará Simão, apaixonando-se por
ele.
4. Não vendo o seu amor correspondido, Mariana mantém com o protagonista uma
relação baseada na amizade e no carinho.
5. Mariana é fiel a Simão e chega a ser meio de comunicação (mensageira) entre o
seu amado e Teresa.

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