Relatorio Entrevista - Camilla Skorek Dalberto - ABTM Cià Ncias Naturais I

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS VACARIA

CAMILLA SKOREK DALBERTO

RELATÓRIO DA ENTREVISTA
EDUCAÇÃO INFANTIL

VACARIA
2023
CAMILLA SKOREK DALBERTO

RELATÓRIO DA ENTREVISTA
EDUCAÇÃO INFANTIL

Relatório da entrevista realizada na


Educação Infantil apresentado pelo Curso
de Licenciatura em Pedagogia do Instituto
Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul –
Campus Vacaria, com o intuito de
aprovação com componente Abordagem
Teórico-Metodológico Ciências Naturais
I.

Orientadora: Profª Shana Siqueira.

VACARIA
2023
A Educação Infantil é a base da educação para o desenvolvimento integral das
crianças. Nesse contexto, a interseção entre arte e ciências desempenha um papel crucial,
promovendo a criatividade, o pensamento crítico e a compreensão do mundo que nos cerca.
Este relatório tem como objetivo analisar e explorar a experiência do docente, através de um
questionário, abordando questões que vão desde a influência de referências teóricas em seus
planejamentos até a importância das atividades práticas na formação das crianças.

Além disso, discutirei a interdisciplinaridade entre arte e ciências, o uso de materiais


variados, desafios enfrentados na sala de aula, a relevância do afeto no relacionamento
professor e aluno e na aprendizagem, a implementação da Lei 11.645/2008, que trata do
ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena, e as práticas de alfabetização científica
que capacitam os alunos a analisar e tomar decisões informadas.

A professora entrevistada tem 3 anos de experiência como professora, tendo como


formação somente o Curso Normal - Magistério e os estágios na Educação Infantil e no
Ensino Fundamental. Ela está atuando atualmente em uma instituição privada de Educação
Infantil, na turma Maternal 1B com 14 crianças da faixa etária de 2 anos e para auxiliá-la,
possui duas monitoras. Ao planejar suas aulas, se apoia principalmente no documento
norteador Base Nacional Comum Curricular.

A escola da entrevistada tinha pátio, ginásio, “vila” (com mercadinho, farmácia e pet
shop), e parquinho. O questionário foi realizado na sala de atendimento por conta deles
estarem agitados no dia mas, após as questões, visitei a sala dela. As mesas eram redondas, ou
seja, as crianças sentam em círculos. Havia um tapete, em que muitas crianças estavam
sentadas nele e outras nas cadeiras junto a mesa. Os brinquedos dos alunos estavam
organizados em um armário e, havia alguns trabalhos de autoria deles na parede.
Analisando a resposta da questão inicial da trajetória pessoal da docente com os
componentes Arte e Ciências, ela relatou que as aulas de arte eram repetitivas e mecânicas,
com várias folhinhas e sem nenhum recurso diferente. Ao responder a pergunta inicial, ela
explicita a mecanização das aulas: “Quando a professora de arte chegava, a gente sabia que
seria dado uma folhinha” (PROFESSORA). A falta de propostas que desafiam o imaginário, a
linguagem, o conhecimento de diferentes riscantes, suportes, empobrecem o ciclo de
desenvolvimento da criança.
Dessa forma, podemos pensar que: “Adestrar a mão ou deixar que as crianças
explorem livremente materiais não podem ser considerados propostas pedagógicas em arte”
(CUNHA, 2005, p. 93), criando na mente da criança, estereótipos de desenhos, como por
exemplo, um formato único de desenhar árvore e desvinculando-a da realidade.
A arte para as crianças da Educação Infantil merece receber um olhar crítico e
cuidadoso para não reproduzir modelos que limitem as crianças de ampliarem seu repertório
de conhecimento artístico e sem relação com seu cotidiano. É essencial que os docentes
analisem as crianças como sujeito de direitos ao interagir, brincar, expressar e concebê-las
como produtores ativos de cultura e de seu próprio desenvolvimento.
Portanto, “Pensar arte nas escolas infantis é pensar com as crianças, e não sobre as
crianças” (CUNHA, 2005, p. 96), proporcionando aos pequenos o protagonismo na atividade
e a devida autoria e autonomia mas, sempre com intencionalidade pedagógica elaborado pelo
docente. Diante disso, pude compreender que a professora entrevistada aprendeu com o
modelo pedagógico tradicional, em que o sujeito somente recebe o objeto e é passivo. Mas,
deixou claro que: “Tudo o que eu vi que não era legal no meu tempo, eu tento não repetir com
meus alunos [...]” (PROFESSORA)
Ao questionar sobre os referenciais teóricos que embasam seu planejamento, a
professora mencionou três autores: Paulo Freire, escritor da Pedagogia da Autonomia, Jean
Piaget, autor da Teoria da Psicogênese e Henri Wallon, autor da importância da afetividade
para o processo de ensino-aprendizagem; e mencionou também a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), documento norteador de toda a Educação Básica. De igual modo, utiliza
sites, livros e redes sociais como o Google, Pinterest e Instagram para elaborar suas aulas.
Atualmente, devido ao avanço da tecnologia e mídias digitais, existem muito mais
recursos e formas de encontrar ideias de atividades para a prática do que antigamente, que
precisava procurar na barsa e se deslocar até uma biblioteca para usufruir de tal material de
pesquisa. Ainda mais, a professora comenta: “No Instagram tem muita variedade que outras
professoras postam, pois elas estão vivendo a nossa realidade também” (PROFESSORA).
Na concepção da entrevistada, a atividade prática se define em: “é a criança
colocando a mão na massa” (PROFESSORA). A professora deve trabalhar a teoria mas
principalmente a prática com os alunos e pode desenvolvê-las com mais frequência. Pois,
segundo a docente, os alunos vão ter mais interesse em realizar a atividade e estarão sendo o
protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, no seu tempo e jeito. Esta desenvolve
também a coordenação motora e o esquema corporal da criança, que irão desafiar a criança
para evoluírem.
Ao desenvolverem atividades práticas é preciso tomar cuidado para não se desvincular
da intenção pedagógica, como diz Helguera (2011, p.7) “[...] em relação à prática, predomina
o ensino como distribuição de informação e não como gerador de consciência crítica”. A alta
disseminação de informações a todo momento causado pelas mídias, podem acarretar em
dificuldades de interpretação, por exemplo. Ademais, a prática pode ser assustadora para os
professores já que não sabem como vai acontecer, quais serão os resultados e dependem de
fatores externos à figura docente para cumprirem seus objetivos.
Na pergunta seguinte feita à educadora sobre a utilização de diferentes materiais, sua
resposta foi positiva. Ela mencionou que utiliza diferentes materiais e muito, como cotonete
para trabalhar a coordenação motora fina, esponja para trabalhar texturas, desodorante roll-on
como um riscante para pintar, gelos coloridos para pintura ao ar livre. Em Ciências, confecção
de massinha de modelar caseira utilizando como tinta beterraba, espinafre.
Contudo, ao realizar essas atividades, a docente relatou ter contato com algumas
adversidades. Por exemplo,

“Eu vou citar um exemplo que teve no dia do meio ambiente que a gente fez aqui no
pátio. Estava sem flores, eu fui lá e comprei umas flores e trouxe para plantarmos.
Teve crianças que no primeiro momento já foram colocar a mão na terra e já teve
outras que tiveram receio. Para nós é uma coisa tão normal colocar a mão na terra e
que para eles seria uma coisa normal também e o que eu vejo, é que isso parte de
casa, “não coloca a mão na terra para não se sujar”, às vezes para não terem aquele
compromisso de limpeza, mas isso faz parte da aprendizagem deles.”
(PROFESSORA)

Essa é uma questão interessante a ser analisada pois as crianças reproduzem o que os
adultos lhe apresentam e o que vivenciam em seu contexto social e familiar. Pensar nas
diferentes culturas e respeitá-las é essencial para entender o comportamento de cada aluno,
bem como o determinismo geográfico que “considera que as diferenças do ambiente físico
condicionam a diversidade cultural” (LARAIA, 1986, p.12). Por exemplo, sempre almoçamos
ao meio-dia e estamos com fome, pois este horário foi estabelecido na nossa cultura. Em
outros lugares, outros horários são estabelecidos por decorrência da própria cultura.
Portanto, ela citou que os pais e a escola gostam e apoiam quando acontece essas aulas
diferentes, mas a instituição não fornece os materiais que precisa e muita coisa ela precisa
comprar com o dinheiro do próprio bolso, e utiliza alguns materiais de sucata mas, alguma
coisa tem que comprar. Ao utilizar diferentes recursos, está promovendo aos alunos um
desenvolvimento íntegro e divertido.
Considerando o parágrafo anterior, que menciona sobre diferentes culturas, devemos
significar as culturas afro-brasileira e indígena, já que estas são a base constituinte da nossa
cultura. Ao perguntar para a professora se ela utiliza a Lei 1165/2008 (ensino de história e
cultura afro-brasileira e indígena nas escolas) em sua prática educativa, sua resposta foi um
tanto decepcionante. Somente é abordado esse assunto quando é em datas comemorativas ou
quando possui um projeto e no dia a dia da escola não é falado sobre.
Eu percebo a importância de ressignificar o 19 de abril nas escolas não indígenas.
Como cita Edson Kayapó, doutor em Educação, em uma entrevista: “Pintam o menino com
guache, fazem cocar com cartolina e vão dançar a música da Xuxa. Isso é ridículo e não pode
acontecer”. Essas caracterizações são vulgares e diminuem a importância dessa cultura para o
nosso país. Assim como, penso na ressignificação de demais datas comemorativas que não
fazem sentido para as crianças ou porque não incluem todas as culturas existentes no meio
escolar.
As interações e as brincadeiras são os eixos norteadores da Educação Infantil, no
entanto, deve acontecer a afetividade para que estes eixos sejam significativos. Segundo
Galvão,
“As emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são manifestações da vida
afetiva. Na linguagem comum costuma-se substituir emoção por afetividade,
tratando os termos como sinônimos. Todavia não o são. A afetividade é um conceito
mais abrangente no qual se inserem várias manifestações.” (1999, p.61)

Ela é importante tanto para a criança reconhecer-se como sujeito importante em seu
ambiente, quanto no seu próprio processo de aprendizagem. A docente enfatizou a
importância desse afeto com a seguinte fala: “A afetividade tem que estar sempre presente
porque ela facilita o aprendizado da criança.” (PROFESSORA) Levando em consideração a
fala dela, pode-se analisar que na Educação Infantil, o afeto é muito importante desde essa
etapa pois, “[...] a criança não desenvolve na escola somente habilidades cognitivas e
conteúdos curriculares, mas valores que irão contribuir para o seu futuro e sua construção
social.” (TAVARES E NOGUEIRA, 2013, p. 49).
A consideração da professora vai ao encontro com a teoria da afetividade, construída
por Henri Wallon, afirmando que o meio em que a criança convive não pode ser separado da
conduta que ela tem. Contudo, “O estudo da criança exigiria o estudo dos meios onde ela se
desenvolve. É impossível de outra forma determinar exatamente o que é devido a este e o que
pertence ao seu desenvolvimento espontâneo”. (WALLON, 1982, p.189)
O afeto é uma chave importante para o professor a fim de poder aproximar-se da
criança, possibilitando conhecer o pequeno, suas qualidades, seu jeito, seus medos. É por
meio desta, que a criança irá se sentir segura com o docente e com o ambiente. Ao analisar
um adulto com dificuldades de socializar, ou, ao utilizar um objeto cortante, provavelmente
não foi trabalhado essas questões na primeira etapa da Educação Básica. Um adolescente que
tem dificuldade de expressar seus sentimentos, medos, é possível que foi reprimido na sua
tenra infância. Por isso, o professor de Educação Infantil deve ter muito cuidado e atenção em
suas ações.
Além disso, a professora comentou que essa segurança tem que ser passada não
somente para as crianças mas também para os pais, para que eles confiem em nosso trabalho e
no cuidado com os seus filhos. É preciso que a instituição também esteja segura e passe essa
confiança para eles e estarem cientes de que seus filhos estão em um ótimo lugar.
A Alfabetização Científica é importante desenvolver com as crianças em atividades
como investigação, exploração, mesmo de forma sucinta, para que eles desenvolvem essa
concepção observadora. A faixa etária de 2 anos da turma em que a professora entrevistada
tem a regência, é uma fase importante de desenvolvimento da linguagem nas crianças, porém,
não é desenvolvido essa alfabetização com eles, pois o foco é a oralidade e a professora não
entendeu esse conceito.
Sabemos então, que “Somos seres de muitas linguagens. Expressamo-nos também
pelos gestos, pelas expressões faciais, pelas posturas corporais, pelas imagens fixas e em
movimento, pela música e assim por diante.’’ (FARACO, 2012, p.23). As crianças dessa idade
expressam-se ainda mais pelos gestos e pelo corpo. Por isso, é importante estar atento a cada
movimento do corpo do pequeno. A professora ressalta essa importância:

“Como é uma faixa etária de dois anos eles não estão escrevendo, tem que trabalhar
a linguagem e a oralidade. Eu vejo uma grande evolução do início do ano até agora
porque normalmente eles têm muito de apontar com o dedo o que eles querem e
normalmente quem está perto, entrega. O que eu faço é estimular, “você quer água?
então fala “água”.” (PROFESSORA)

Estimular a oralidade com práticas de letramento é um momento crucial na Educação


Infantil. É preciso dispor aos pequenos ambientes letrados, com contação de história, jogos
simbólicos para que mais tarde, já percebam a importância da oralidade para a comunicação
com os colegas e professores.
Diante disso, a entrevista forneceu diversas informações de como é a prática docente
da professora na Educação Infantil. Considerando que a base da educação é a etapa foco do
questionário, nela está explícita algumas dificuldades da ação pedagógica para com as
crianças bem pequenas, incluindo a falta de abordagens significativas sobre a Lei 11.645,
referente à cultura indígena, que somente é abordado na data comemorativa estabelecida
erroneamente no calendário.
Outro aspecto a ser levado em consideração é a formação acadêmica da professora,
que fez somente o Magistério – Curso Normal. É uma necessidade obrigatória para um
professor, a tarefa árdua de sempre estar em busca da construção de novos conhecimentos e
também da (re)construção de outros saberes já aprendidos. Um bom professor é aquele que
busca, incansavelmente, novos saberes e sabe que ao ensinar não está transferindo
conhecimento, mas sim, criando possibilidades para o aluno na construção de seu
conhecimento e sabendo disso, é na Educação Infantil que a criança vai construir saberes que
carregará para a sua vida inteira.
Referências

CUNHA, Susana Rangel Vieira da.; BORGES, Camila Bettim. A Arte para as crianças ou é
das crianças? Problematizando as questões da arte na Educação Infantil. In: FLORES, M.L.R;
ALBUQUERQUE, Simone Santos de (org.). Implementação do Proinfância no Rio
Grande do Sul : perspectivas políticas e pedagógicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015. P.
85-100.

EDUCAÇÃO INDÍGINA. Centro de Referências em Educação Integral, 28 de Março de


2023. Disponível em:<https://educacaointegral.org.br/glossario/educacao-escolar-indigena/>.
Acesso em: 16 de setembro de 2023.

FARACO, Carlos Alberto. Linguagem escrita e alfabetização. São Paulo: Contexto, 2012.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.


Petrópolis: Vozes, 1999.

HELGUERA, Pablo. O campo expandido da pedagogia. Material pedagógico – caderno


para pré-escola. 8ª Bienal do Mercosul. Porto Alegre: Fundação de Arte Visuais do
Mercosul, 2011.

TAVARES, Camila Mendes Martins; NOGUEIRA, Marlice de Oliveira. Relação família-


escola: possibilidades e desafios para a construção de uma parceria. Formação@Docente,
Belo Horizonte, v. 5, n. 1, p. 43-57, 2013.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura. Um conceito antropológico. 14ª ed. Rio de Janeiro:
Zahar,1986.

WALLON, Henri. As origens do pensamento na criança. In: Psicologia e Educação da


Infância. São Paulo: Manole, 1989.

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