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Unidade Currricular: Introdução ao Estudo do Direito II

A Aplicação da Lei no Tempo


Compreendendo os Desafios e Princípios fundamentais

Docente: Dr. Geraldo da Cruz Almeida


Discente: Lucas Veiga
Introdução

A aplicação da lei no tempo é um tema crucial no campo jurídico, pois determina como as leis
devem ser interpretadas e aplicadas em relação a eventos que ocorreram em momentos
diferentes. A compreensão adequada dos princípios que regem essa questão é essencial para
garantir a justiça e a estabilidade do sistema jurídico. A aplicação da lei no tempo envolve uma
série de questões complexas, como retroatividade, irretroatividade, eficácia temporal das normas,
efeitos das leis revogadas, entre outros, compreender como lidar com situações em que há
conflitos entre leis vigentes em diferentes momentos históricos, etc. Este trabalho tem como
objetivo explorar esses desafios e princípios fundamentais envolvidos na aplicação da lei no
tempo.
Desenvolvimento

A aplicação da lei no tempo é uma questão fundamental em qualquer sistema jurídico, uma vez
que tem o objetivo de preservar a segurança jurídica e a estabilidade das relações jurídicas. No
contexto do direito civil cabo-verdiano, o artigo 12 do Código Civil estabelece os princípios que
regem essa aplicação.
De entre essses princípios podemos destacar, o princípio da retroatividade que ocorre quando
uma lei nova é aplicada a fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor.
A retroatividade pode ser destinguida em 3 graus: _retroatividade forte/grau máximo, onde a lei
nova altera um caso julgado ao abrigo da lei velha; _retroatividade média/grau médio, na qual a
lei nova abrange os efeitos ao abarco da lei velha; _retroatividade fraca/grau mínimo, em que
estabelece que a lei nova não deve ser aplicada a eventos ocorridos antes de sua entrada em
vigor. O princípio da retroatividade fraca também é entendida como o princípio da
irretroatividade.
A aplicação na lei no tempo também engloba princípios como o princípio da ultratividade da lei
que diz respeito à continuidade da aplicação da lei anterior mesmo após sua revogação. Ele é
aplicado quando uma nova lei é promulgada, mas não possui provisões específicas sobre sua
aplicação retroativa ou quando há um lapso entre a revogação da lei anterior e a entrada em vigor
da nova legislação. Esse princípio busca evitar lacunas legais e manter a continuidade e
estabilidade do sistema jurídico.
Um dos desafios na aplicação da lei no tempo é lidar com situações em que leis diferentes se
entrelaçam em conflito em relação a um mesmo evento. Nesses casos, os tribunais utilizam
princípios de interpretação e obediência das leis para determinar qual legislação deve prevalecer.
Geralmente, é dada preferência à lei mais recente, desde que não viole direitos adquiridos ou
princípios constitucionais.
Outro princípio a ser levado em consideração na questão da aplicação da lei no tempo é em
relação aos direitos adquiridos e atos jurídicos perfeitos. Os direitos adquiridos e os atos
jurídicos perfeitos são protegidos pela garantia constitucional da segurança jurídica. Esses termos
referem-se a situações em que uma pessoa obteve um direito ou realizou um ato legalmente
válido sob a vigência de uma lei anterior. Nesses casos, a nova legislação não pode retroagir para
prejudicar esses direitos ou atos já consolidados.
Tendo em conta os princípios antes referidos, é mais simples compreender o preceito da
aplicação da lei no tempo, que como dito previamente, está salvaguardado no artigo 12 do
Código Civil Cabo-verdiano.
O referido artigo, tem como antecessor o artigo 8 do Código de Seabra “A lei não tem effeito
retroactivo. Exceptua-se a lei interpretativa, a qual é applicada retroactivamente. Salvo se dessa
applicação resulta offensa de direitos adquirido.”
Fazer a interpretação e análise desse artigo é explicar a sucessão de leis no tempo e a existência
de situações que a lei revogada ainda produz efeitos.
Alguns autores como o caso de J. Batista Machado, F.J. Bronze e J. Oliveira de Ascensão,
entendem o processo de aplicação da lei no tempo como “ apurar qual das leis que se sucedem no
tempo é, circunstancialmente, aplicável ”, mas também como “delimitar o âmbito de aplicação
temporal de cada uma das leis conflituentes.”
A regulamentação estipulada no artigo 12 visa manter a estabilidade entre as situações, e ainda,o
interesse em aplicar corretamente a divida norma nas respetivas situações. Tendo em vista a
tutela das expetativas individuais (ou seja, expetativas jurídicas, “na vida quotidiana, as pessoas
precisam de fazer previsões e assentam as suas decisões e comportamentos na antecipação
presente de acontecimentos futuros.” Prof. Valdano Afonso Jr.), em regra dá-se preferência pela
lei antiga, que exige uma maior adequação normativa, a qual basea-se em princípios como “o
interrese público geral”, “o interesse na adaptação do direito às novas realidades sociais”, “o
interesse de terceiros”, “o interesse na salvaguarda da unidade e homogeneidade do
ordenamento”, segundo a visão de J. Batista Machado, F.J Bronze, M. Teixeira de Sousa.

A primeira parte do artigo 12, aborda a questão da lei só se aplicar para o futuro, que consagra o
princípio da irretroatividade da lei. Para certos autores como M.L. Amaral, o princípio da
retroatividade “não é solução interditada dos quadros do direito hoje”.
Em casos em que o legislador atribua eficácia retroativa, sem ter explicado a situação do passado
que pretende abranger, é aplicável a segunda parte do número 1 do artigo 12 (presume-se que
ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular.), em
conjuntura com o número 1 do artigo 13 do Código Civil (1. A lei interpretativa integra-se na lei
interpretada, ficando salvos, porém, os efeitos já produzidos pelo cumprimento da obrigação, por
sentença passada em julgado, por transacção, ainda que não homolo- gada, ou por actos de
análoga natureza.), onde também ficam resgardados todos os factos gerados de todos esses
efeitos. De uma forma geral, a interpretação, feita com base nesses 2 artigos, estabelece que a lei
nova não irá prejudicar os atos jurídicos perfeitos, os direitos adquiridos e as coisas julgadas.
Isso significa que, mesmo com a entrada em vigor de uma nova lei, os direitos e as situações já
consolidadas não podem ser modificados retroativamente, preservando-se assim a segurança e a
estabilidade das relações jurídicas. Por exemplo, um negócio celebrado verbalmente durante a
vigência da lei antiga, no entanto, vem a surgir uma lei nova que estipula uma forma especial
para a celebração de contratos do gênero. O negócio celebrado anteriormente manten-se válido,
bem como os seus efeitos.
Do ponto de vista de autores como A. Marques Ferreira, M. Rebelo de Sousa e S. Galvão, o
intérprete ou o aplicador da lei, não pode atribuir eficácia retroativa a uma lei que onde o
legislador não incluiu tal “capacidade”.
Existem situações em que a retroatividade da lei é proibida por força constitucional (sobre tudo
consagrados na Constituição da República Portuguesa, CRP) situações relacionadas com direitos
liberdades e garantias (salvaguardados no número 3 do artigo 18 da CRP, “3. As leis restritivas
de direitos, liberdades e garantias têm de revestir carácter geral e abstracto e não podem ter efeito
retroactivo nem diminuir a extensão e o alcance do conteúdo essencial dos preceitos
constitucionais.”), situações no campo penal (estipulados no artigo 29 número 1 da CRP, “1.
Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude de lei anterior que declare
punível a acção ou a omissão, nem sofrer medida de segurança cujos pressupostos não estejam
fixados em lei anterior.” Esse artigo consagra o princípio do “Nullum Crimen Sine Lege/ Nulla
Poena Sine Lege”), em situações do domínio fiscal ( regido npo artigo 103 no número 3 da CRP
“3. Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos termos da
Constituição, que tenham natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos
termos da lei.”). Outra situação constada na CRP, é referente à questão da “Intangibilidade do
caso julgado”, no artigo 282 número 3 primeira parte “3. Ficam ressalvados os casos julgados,
salvo decisão em contrário do Tribunal Constitucional quando a norma respeitar a matéria
penal…”
Como referido anteriormente, o artigo 13 do Código Civil Cabo-verdiano, contribuí para o
melhor entendimento do princípio jurídico da aplicação da lei no tempo.
O dito artigo aboorda a questão das leis interpretativas, que é entendida como “a lei que vem
esclarecer o sentido e alcance de uma lei anterior.”, Segundo a visão de J. Batista Machado, I.
Galvão Telles, entre outros.
Quanto ao processo de alteração dos prazos, o devido é regulamentado no artigo 297 no número
1 do Código civil Cabo-verdiano, “1. A lei que estabelece, para qualquer efeito, um prazo mais
curto do que o fixado na lei anterior é também aplicável aos prazos que já estiverem em curso,
mas o prazo só se conta a partir da entrada em vigor da nova lei, a não ser que, segundo a lei
antiga, falte menos tempo para o prazo se completar.”
As alterações na aplicação da lei no tempo podem ocorrer de maneiras diferentes. Por exemplo,
uma nova lei pode ampliar ou reduzir o prazo para o exercício de um direito ou o cumprimento
de uma obrigação. Essa mudança nos prazos pode afetar eventos que ocorreram antes da entrada
em vigor da nova lei.
Um exemplo prático, uma lei determina que uma ação legal deve ser movida dentro de um prazo
de cinco anos a partir da ocorrência do evento. Se, posteriormente, uma nova lei for promulgada,
a reduzir esse prazo para três anos, a nova lei será aplicada imediatamente a todos os eventos que
ocorreram antes de sua entrada em vigor. Isso significa que qualquer evento que tenha ocorrido
até três anos antes da nova lei entrar em vigor estará sujeito ao novo prazo de prescrição de três
anos.
Conclusão
A aplicação da lei no tempo é um tema fundamental no campo do direito, pois lida com a
interpretação e aplicação das normas jurídicas ao longo do tempo. Ao examinar esse aspecto, fui
capaz de compreender como o direito evolui e se adapta às mudanças sociais, políticas e
culturais, garantindo a estabilidade e a segurança jurídica em uma sociedade em constante
transformação.
Durante esta pesquisa, pude observar a complexidade e os desafios que surgem ao lidar com a
aplicação da lei no tempo. Questões como retroatividade, irretroatividade, eficácia temporal das
normas e efeitos das leis revogadas são exemplos das nuances envolvidas nesse processo.
Bibliografia
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