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AGENTES PÚBLICOS

Sumário: 1) Conceito de agente público. 2) Classificação dos agentes públicos: agentes políticos,
servidores públicos, agentes particulares colaboradores. 3) Os agentes de fato. 4) Regimes
jurídicos dos servidores públicos: estatutários, trabalhistas e temporários. 5) Organização
funcional: cargos, empregos e funções públicas. 6) Normas gerais aplicáveis a todos os servidores
públicos. 7) As peculiaridades do regime estatutário dos servidores públicos civis da união,
autarquias e fundações públicas federais (Lei 8112/90). Provimento original e provimento derivado.
Formas de provimento e vacância de cargos, vantagens, direitos e deveres. Efetividade,
estabilidade e vitaliciedade. Noções sobre a previdência do servidor público. Responsabilidade dos
servidores estatutários: civil, administrativa e penal. Processo administrativo disciplinar.
Comunicabilidade de instâncias. 8) Noções sobre o regime estatutário militar.

1) CONCEITO DE AGENTE PÚBLICO.

Os entes estatais e os órgãos que o integram são categorias ideais, fictícias, cuja vontade e
autoridade são exteriorizadas por pessoas naturais genericamente denominadas de agentes
públicos, que atuam como verdadeiros “braços” do Poder Público.

“Então, para que tais atribuições (do Estado) se concretizem e ingressem no mundo natural é
necessário o concurso de seres físicos, prepostos à condição de agentes. O querer e o agir
destes sujeitos é que são, pelo Direito, diretamente imputados ao Estado (manifestando-se por
seus órgãos), de tal sorte que, enquanto atuam nesta qualidade de agentes, seu querer e seu
agir são recebidos como o querer e o agir dos órgãos componentes do Estado; logo, do próprio
Estado. Em suma, a vontade e a ação do Estado (manifestada por seus órgãos, repita-se) são
constituídas na e pela vontade e ação dos agentes; ou seja: Estado e órgãos que o compõem se
exprimem através dos agentes, na medida em que ditas pessoas físicas atuam nesta posição de
veículos de expressão do Estado”.1

Os entes estatais e os órgãos superiores que os integram estão, em regra, previstos na


Constituição Federal (União, Estados, Distrito Federal, Municípios, Congresso Nacional, Senado
Federal, Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal, Tribunal de Contas da União, Juízes
Federais, Juízes do Trabalho etc.) ou em leis de organização administrativa (empresas públicas,
autarquias, fundações estatais, Ministério da Fazenda, etc.).

Além das pessoas vinculadas diretamente ao Estado, existem outras que, apesar de não terem
ligação direta com qualquer órgão ou ente integrante do aparelho estatal, também
desempenham atividades afetadas ao Poder Público, isto é, funções estatais, e, portanto,
também são agentes públicos. Todas essas pessoas que exprimem manifestação estatal,
integrando ou não os quadros do Estado, recebem a denominação genérica de agentes públicos,
conforme a lição do mestre Celso Antônio Bandeira de Mello:

“Esta expressão - agentes públicos – é a mais ampla que se pode conceber para designar
genérica e indistintamente os sujeitos que servem ao Poder Público como instrumentos
expressivos de sua vontade ou ação, ainda quando o façam apenas ocasional ou
episodicamente. Quem quer que desempenhe funções estatais, enquanto as exercita, é um
agente público. (...) alguns integram o aparelho estatal, seja em sua estrutura direta, seja em
sua organização indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e
fundações governamentais). Outros não integram a constelação de pessoas estatais, isto é, são
alheios ao aparelho estatal, permanecem exteriores a ele (concessionários, permissionários,
delegados de função ou ofício público, alguns requisitados, gestores de negócios públicos e
contratados por locação civil de serviços). Todos eles, entretanto, estão sob um denominador
comum que os radicaliza: são, ainda que alguns deles apenas episodicamente, agentes que
exprimem manifestação estatal, munidos de uma qualidade que só podem possuir porque o
Estado lhes emprestou sua força jurídica e os habilitou a assim agirem ou, quando menos, tem
que reconhecer como estatal o uso que hajam feito de certos poderes”.2

1
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p.136.
2
Idem, p.230-239.

1
No dizer de Maria Sylvia Di Pietro, “agente público é toda pessoa física que presta serviços ao
Estado e às pessoas jurídicas da Administração Indireta”.3

Para o saudoso professor Diógenes Gasparini, são “todas as pessoas físicas que sob qualquer
liame jurídico e algumas vezes sem ele prestam serviços à Administração Pública ou realizam
atividades que estão sob sua responsabilidade”.4

Assim, são exemplos de agentes públicos: o Presidente da República, os seus Ministros, os


Deputados, Vereadores, Juízes e demais ocupantes de cargo público, assim como os
concessionários, permissionários de serviço público, as pessoas às quais são delegadas funções
públicas, tais como os tabeliães, diretores de faculdades, os mesários e até mesmo os
contratados em regime de locação civil.

Em suma, “a noção abarca todos os que desempenhem função pública e, por certo, enquanto a
desempenham, independentemente da existência de vínculo, e se este existir são irrelevantes a
forma de investidura e a natureza da vinculação que os prende à Administração Pública”.5

Daí porque dispõe o art.2o da Lei 8429/1992 (que trata da ação por improbidade
administrativa): “Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função
nas entidades mencionadas no artigo anterior” (qualquer dos poderes da União, Estados,
Distrito Federal e Municípios).

Esta noção do que seja agente público também se revela importante na prática, pois tem
estreita ligação com a figura da “autoridade” para fins de sujeição passiva ao mandado de
segurança:

“Bem por isto, é natural que seja impetrável segurança contra diretor de Faculdade particular
reconhecida com relação a atos que digam respeito à sua atividade ordenadora ou decisória de
ensino. De igual modo, os titulares de serviços notariais ou de registro, conquanto conservem
sua qualidade de particulares (art.236 da Constituição), estranhos, pois, ao conceito de
funcionário ou de servidor público, podem ser sujeitos passivos de mandado de segurança,
posto que agem como delegados de função pública. O dirigente de empresa pública ou
sociedade de economia mista (pessoas qualificadas como de Direito Privado), ainda quando
sejam elas meramente exploradoras de atividade econômica, também pode ser enquadrado
como ‘autoridade’ no que concerne a atos expedidos para cumprimento de normas de Direito
Público a que tais entidades estejam obrigadas, como, exempli gratia, os relativos às licitações
públicas que promovam”.6

2) CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS.

A classificação dos agentes públicos pode ser feita segundo variados aspectos. Levando em
conta a pessoa política ao qual está vinculado, o agente público poderá ser federal, estadual,
distrital ou municipal. Considerando ainda algumas peculiaridades específicas do regime
disciplinar, o agente público poderá ser civil ou militar.

Todavia, no que concerne a aspectos substanciais da sua vinculação ao Poder Público, a


classificação dos agentes públicos costuma ser feita pela doutrina segundo três categorias: i)
agentes políticos; ii) servidores estatais e iii) particulares em colaboração com a Administração.

Agentes Políticos são aqueles que ocupam os mais altos cargos da estrutura organizacional do
Estado, dispostos na Constituição Federal como instrumentos de exercício do poder político,
manifestado na vontade superior do Poder Público. São exemplo, o Presidente da República e
seus Ministros, os Governadores, Prefeitos e seus Secretários, os Senadores, Deputados etc.
3
DI PIETRO, Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p.422.
4
GASPARINI, Direito Administrativo, 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2202, p.128.
5
Idem, p.128-129.
6
Ib idem, p.231.

2
Existe controvérsia entre os juristas acerca de quais seriam os agentes políticos, sobretudo no
que tange à inclusão dos juízes e membros do MP nesta categoria. Hely Lopes Meirelles
considera os membros do Judiciário e do Ministério Público como agentes políticos, haja vista a
independência funcional que lhes é garantida no exercício das suas funções institucionais:

“Nesta categoria encontram-se os Chefes de Executivo (Presidente da República, Governadores


e Prefeitos) e seus auxiliares imediatos (Ministros e Secretários de Estado e de Município); os
membros das Corporações Legislativas (Senadores, Deputados e Vereadores); os membros do
Poder Judiciário (Magistrados em geral); os membros do Ministério Público (Procuradores da
República e da Justiça, Promotores e Curadores Públicos), os membros dos Tribunais de Contas
(Ministros e Conselheiros); os representantes diplomáticos e demais autoridades que atuem
com independência funcional no desempenho de atribuições governamentais, judiciais ou quase-
judiciais, estranhas ao quadro do serviço público”.7

Celso Antônio Bandeira de Mello tem uma concepção mais restrita acerca dos agentes públicos
classificados como agentes políticos, considerando como tais somente aqueles que mantêm
vínculo de natureza política com o Estado (e não vínculo de natureza profissional), daí porque
não inclui nesta categoria os membros do Poder Judiciário e do Ministério Público. Convém
conferir as suas palavras:

“Agentes Políticos são os titulares dos cargos estruturais à organização política do País, ou seja,
ocupantes dos que integram o arcabouço constitucional do Estado, o esquema fundamental do
Poder. Daí que se constituem nos formadores da vontade superior do Estado. São agentes
políticos apenas o Presidente da República, os Governadores, Prefeitos e respectivos vices, os
auxiliares imediatos do Chefe de Executivo, isto é Ministros e Secretários das diversas Pastas,
bem como os Senadores, Deputados federais e estaduais e os Vereadores”.8

Comentando tal divergência existente na doutrina, Maria Sylvia Di Pietro prefere a concepção
mais restrita, porquanto “a idéia de agente político liga-se, indissociavelmente, à de governo e à
de função política, a primeira dando idéia de órgão (aspecto subjetivo) e, a segunda, de
atividade (aspecto objetivo)”, sendo que, “no Brasil, a participação do Judiciário em decisões
políticas praticamente inexiste, pois a sua função se restringe, quase exclusivamente, à
atividade jurisdicional sem grande poder de influência na atuação política do Governo, a não ser
pelo controle a posteriori”.9

“O mesmo se diga com relação aos membros do Ministério Público e do Tribunal de Contas, o
primeiro exercendo uma das funções essenciais à justiça, ao lado da Advocacia Geral da União,
da Defensoria Pública e da Advocacia, e o segundo a função de auxiliar do Legislativo no
controle sobre a Administração. Em suas atribuições constitucionais, nada se encontra que
justifique a sua inclusão entre as funções de governo; não participam, direta ou indiretamente,
das decisões governamentais. Não basta o exercício de atribuições constitucionais para que se
considere como agente político aquele que as exerce. São, portanto, agentes políticos, no direito
brasileiro, apenas os Chefes dos Poderes Executivos federal, estadual e municipal, os Ministros e
Secretários de Estado, além de Senadores, Deputados e Vereadores”.10

Daí porque a doutrina majoritária prefere entender que “a categoria dos magistrados e a dos
membros do Ministério Público fica bem mais alocada entre os servidores estatutários
vitalícios”.11 Em tópico posterior veremos em que consiste tal categoria.

Servidores Estatais são “todos aqueles que entretêm com o Estado e suas entidades da
Administração indireta, independentemente de sua natureza pública ou privada (autarquias,

7
MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro. 23. ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p.77.
8
Op. cit., p.232.
9
Op. cit., p.423.
10
Idem.
11
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 420.

3
fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista) relação de trabalho de natureza
profissional e caráter não eventual sob vínculo de dependência”.12

Na doutrina de Celso Antônio, os servidores estatais subdividem-se em duas categorias: 1)


servidores públicos, isto é, das pessoas de Direito Público (União, Estados, Distrito Federal,
Municípios, suas autarquias e fundações estatais de Direito Público); 2) servidores das pessoas
governamentais de Direito Privado (empresas públicas, sociedades de economia mista e
fundações estatais de Direito Privado).

Nesse prisma, servidores públicos são “todos aqueles que mantêm vínculo de trabalho
profissional com as entidades governamentais, integrados em cargos ou empregos da União,
Estados, Distrito Federal, Municípios, respectivas autarquias e fundações de Direito Público. Em
suma: são os que entretêm com o Estado e com as pessoas de Direito Público da Administração
indireta relação de trabalho de natureza profissional e caráter não eventual sob vínculo de
dependência”.13

Como se vê, a expressão servidor público, em seu sentido lato, abrange tanto os titulares de
cargos públicos quanto os ocupantes de empregos públicos, alcançando ainda os que exercem
função pública, como será visto mais adiante em tópico específico.

Segundo Maria Sylvia Di Pietro, os servidores públicos compreendem:

“1. os servidores estatutários, sujeitos ao regime estatutário e ocupantes de cargos públicos;


2. os empregados públicos, contratados sob regime da legislação trabalhista e ocupantes de
empregos públicos; 3. os servidores temporários, contratados por tempo determinado para
atender à necessidade temporária de excepcional interesse público (art.37, IX, da Constituição);
eles exercem função, sem estarem vinculados a cargo ou emprego público”.14

Na vigência da Constituição anterior, os servidores estatutários eram chamados de funcionários


públicos. A atual Carta ora utiliza termo amplo servidor público, ora faz alusão aos servidores
ocupantes de cargos públicos (vide arts.37 a 41).

É preciso fazer uma ressalva em relação aos servidores contratados em regime de emprego
público.

Se prestarem serviços para entes de Direito Público (Administração direta, autarquias e


fundações), serão, na esfera federal, regidos pela Lei 9962/2000 naquilo que esta modificar a
legislação trabalhista geral. Há, portanto, aí, um regime misto de emprego.

Se prestarem serviços para entes de direito privado (empresas públicas, sociedades de


economia mista e fundações de direito privado instituídas pelo Poder Público), estarão
integralmente submetidos ao regime trabalhista geral. Para diferenciá-los, alguns doutrinadores
os denominam servidores governamentais.

Quanto aos servidores temporários, como dito, são agentes contratados por prazo determinado
para que a Administração Pública possa atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público (CF, art.37, IX). No âmbito federal, tal contratação é regulamentada pela Lei
8745/93, com alterações dadas pela Lei 9849/99.

Diógenes Gasparini qualifica necessidade temporária aquela “qualificada por sua


transitoriedade; a que não é permanente; aquele que se sabe ter um fim próximo. Em suma, a
que é passageira. São exemplos de necessidade temporária cujo atendimento pode ser
conseguido com esses contratos: a restauração do sistema viário e dos serviços de
comunicações destruídos por uma inundação; a continuidade dos serviços de magistério em
razão do afastamento súbito e prolongado do professor titular; a vacinação emergencial da

12
BANDEIRA DE MELLO, op. cit, p.242.
13
Idem, p.242-243.
14
Op. cit., p.424.

4
população em razão de um surto epidêmico imprevisível; o recenseamento e outros
levantamentos estatísticos; a melhoria do serviço público tornado de baixa qualidade pela falta
de servidores e a sua continuidade em razão de greve. A necessidade a ser atendida, além de
temporária, há de ser de excepcional interesse público”.15

Particulares em colaboração com a Administração são aqueles agentes que, apesar de não
terem vínculo direto com o aparelho estatal, exercem função pública, ainda que em caráter
provisório, tal como acontece com os leiloeiros, tradutores, peritos, concessionários etc.

Celso Antônio Bandeira de Mello aponta as seguintes espécies de agentes por colaboração:

“a) requisitados para prestação de atividade pública, quais os jurados, membros de Mesa
receptora ou apuradora de votos quando das eleições, recrutados para o serviço militar
obrigatório etc. Estes agentes exercem um múnus público; b) ao que sponte própria assumem a
gestão da coisa pública como ‘gestores de negócios públicos’, perante situações anômalas, para
acudir a necessidades públicas prementes; c) contratados por locação civil de serviços (como,
por exemplo, um advogado ilustre contratado para sustentação oral perante Tribunais); d)
concessionários e permissionários de serviços públicos, bem como os delegados de função ou
ofício público, quais os titulares de serventias da Justiça não oficializadas, como é o caso dos
notários, ex vi do art.236 da Constituição, e bem assim outros sujeitos que praticam, com o
reconhecimento do Poder Público, certos atos dotados de força jurídica oficial, como ocorre com
os diretores de Faculdades particulares reconhecidas”.16

No mesmo sentido a lição de Maria Sylvia Di Pietro:

“Nesta categoria entram as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado, sem vínculo
empregatício, com ou sem remuneração. Podem fazê-lo sob diversos títulos, que compreendem:
1. delegação do Poder Público, como se dá com os empregados das empresas
concessionárias e permissionárias de serviços públicos, os que exercem serviços notariais e de
registro (art.236 da Constituição), os leiloeiros, tradutores e intérpretes públicos; eles exercem
função pública, em seu próprio nome, sem vínculo empregatício, porém sob fiscalização do
Poder Público. A remuneração que recebem não é paga pelos cofres públicos mas pelos terceiros
usuários do serviço; 2. mediante requisição, nomeação ou designação para o exercício de
funções públicas relevantes; é o que se dá com os jurados, os convocados para prestação de
serviço militar ou eleitoral, os comissários de menores, os integrantes de comissões, grupos de
trabalho etc.; também não têm vínculo empregatício e, em geral, não recebem remuneração; 3.
como gestores de negócio que, espontaneamente, assumem determinada função pública em
momento de emergência, como epidemia, incêndio, enchente etc.”17
Saliente-se que os titulares de serviço notarial e de registro (cartórios) são particulares em
colaboração, que agem por delegação do Poder Público, ainda que sejam selecionados por
concurso público por força de norma constitucional expressa (art.236, §3º). Conforme já decidiu
o STF, esses agentes não estão investidos em cargos, pois exercem suas atribuições em caráter
privado (ADI 2.602/MG, DJ de 31/03/2006).

Outra situação sui generis é a dos recrutados para o serviço militar. Eles não estão inseridos
no quadro funcional da instituição militar, nem exercem cargos. Apenas são convocados
mediante recrutamento para o treinamento militar. Por isso são também considerados
particulares em colaboração com a Administração, apesar de manterem certo vínculo funcional
com o aparelho estatal durante o período do serviço militar.
Para melhor visualizar o panorama dos agentes públicos no ordenamento jurídico brasileiro,
elaboramos o seguinte quadro sinótico:

15
Op. cit., p.149-150.
16
Op. cit., p.235-236.
17
Op. cit., p.427.

5
AGENTES PÚBLICOS

I) AGENTES POLÍTICOS:
- Titulares de cargos estruturais à organização política do país.
- Integram o arcabouço constitucional e formam a vontade superior do Estado nos destinos da sociedade.
- Não há vínculo profissional duradouro, mas, sim, vínculo eventual (circunstâncias históricas) de natureza política.
- Exercem cargos eletivos (Presidente, Governador, Prefeito, Senador, Deputado, Vereador) ou cargos superiores de confiança
(Ministros, Secretários).
- São denominados “membros de poder”, porque suas prerrogativas funcionais decorrem diretamente da Constituição.

OBS: A doutrina diverge sobre a inclusão, nesta categoria, dos membros do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Tribunais de
Contas, por serem também “membros de poder”. Alguns preferem inserir estes na categoria dos servidores estatais, dado o seu
vínculo profissional e não eventual. Sob essa ótica, seriam servidores especiais, eis que vitalícios.

II.1.1) SERVIDORES ESTATUTÁRIOS:


- Titulares de cargos públicos
- Regime estatutário
- Cada ente político edita a sua legislação
- No âmbito federal há a Lei 8112/90
- Em regra, ingressam por concurso público,
salvo os detentores de cargo de confiança.

II.1.2) EMPREGADOS PÚBLICOS:


- Titulares de empregos públicos
II) SERVIDORES ESTATAIS: - Regime contratual
- Vínculo de natureza profissional e II.1) SERVIDORES PÚBLICOS: - Regidos pela CLT e algumas disposições de
caráter não eventual. - Ocupam cargos ou empregos nos entes de Direito Público.
Direito Público (União, Estados, DF, - No âmbito federal, além da CLT, aplica-se a
Municípios, autarquias e fundações de Lei 9962/2000. Não pode haver leis estaduais
Direito Público). ou municipais tratando de legislação
trabalhista.
- Normalmente exercem funções materiais
subalternas.
- Em regra, ingressam por concurso público,
salvo os que exercem funções superiores de
confiança.

II.1.3) CONTRATADOS TEMPORÁRIOS


- Atendem a necessidade temporária de
excepcional interesse público (CF/88, art.37,
IX).
- Regime de contrato administrativo especial.
- Cada ente político editará legislação sobre a
matéria.
- No âmbito federal há a Lei 8745/93.
- Não ingressam por concurso público, mas há
casos de processo seletivo simplificado.

II.2) EMPREGADOS GOVERNAMENTAIS:


- Servidores de pessoas governamentais de
Direito Privado (empresas estatais e
fundações estatais de Direito Privado)
-Regime trabalhista comum (CLT), com
algumas peculiaridades previstas na CF/88.

III.1) REQUISITADOS, NOMEADOS OU DESIGNADOS:


III) PARTICULARES EM COLABORAÇÃO - jurados, mesários eleitorais, comissários de menores, recrutados etc.
- Não integram o aparelho estatal
- Exercem munus público. III.2) GESTORES DE NEGÓCIOS PÚBLICOS:
- Vinculam-se por contratos, atos ou fatos - situações de urgência em que se torne imprescindível a atuação estatal.
administrativos, a depender do caso.
III.3) CONCESSIONÁRIOS, PERMISSIONÁRIOS OU DELEGADOS DE
FUNÇÕES OU OFÍCIOS PÚBLICOS:
- prestação de serviços públicos ou atividades delegadas pelo Poder Público (ex:
diretores de faculdades privadas, notários titulares de cartórios).

6
3) OS AGENTES DE FATO.

A eventual investidura irregular de agente público constitui tema interessante tratado na


doutrina, sob o título de teoria do “funcionário de fato”, ou do agente de fato, sustentando-
se a validade dos atos por ele praticados, em nome dos princípios da aparência, da boa-fé, da
segurança jurídica e da legalidade:

“De passagem, anote-se que o defeito invalidante da investidura de um agente não acarreta, só
por só, a invalidade dos atos que este praticou. É a conhecida teoria do ‘funcionário de fato’ (ou
‘agente público de fato’). ‘Funcionário de fato’ é aquele cuja investidura foi irregular, mas cuja
situação tem a aparência de legalidade. Em nome do princípio da aparência, da boa-fé dos
administrados, da segurança jurídica e do princípio da presunção de legalidade dos atos
administrativos reputam-se válidos os atos por ele praticados, se por outra razão não forem
viciados. Por outro lado, uma vez invalidada a investidura do funcionário de fato, nem por isto
ficará ele obrigado a repor aos cofres públicos aquilo que percebeu até então. Isto porque,
havendo trabalhado para o Poder Público, se lhe fosse exigida a devolução dos vencimentos
auferidos haveria um enriquecimento sem causa do Estado, o qual, dessarte, se locupletaria
com trabalho gratuito”.18

Portanto, os agentes de fato são aqueles que, apesar de não terem sido regularmente
investidos em função pública, vieram a praticar atos em nome do Estado. Tal pode ocorrer
em duas hipóteses:

I) excepcionalmente, por urgência em situações emergenciais (ex: epidemias, incêndio,


enchentes, guerra, rebeliões etc.), sendo nesses casos chamados de agentes necessários;

II) em situações comuns de interesse público, nas quais o agente, por erro, exerce uma função
estatal (quando tudo realmente leva a crer que possa fazê-lo) ou ainda quando tenha sido
investido na função de forma inválida. Nesses casos têm-se os chamados agentes putativos.

“Os servidores que desempenha funções públicas para as quais foram regularmente investidos,
seja por um regime estatutário, seja sob regime contratual, são servidores (ou agentes, quando
atuam decisoriamente) de direito. Existem, todavia, servidores que desempenham funções
públicas sem regular investidura, caracterizando-se como servidores (ou agentes) de fato.
Desde logo, não se deve confundir a figura do servidor de fato com a do usurpador, que se
apodera da função pública pela fraude e pela violência para a satisfação de interesse privado. O
agente de fato, distintamente, exerce a função pública tal como se esperaria do agente de
direito, ou seja, para atender ao interesse público. Assim, alguém pode ser considerado como
um servidor de fato, levado tanto por erro, como pelas contingências de necessidade pública,
jamais por dolo ou malícia. Ao atuar decisoriamente e no suposto de desempenhar uma função
pública, distinguem-se, destarte, duas categorias de agentes de fato: o agente putativo e o
agente necessário”.19

Quanto aos agentes necessários, a doutrina reconhece a validade dos atos praticados,
tratando-os como gestores de negócios públicos e, portanto, como agentes particulares a
colaboradores.

“São os que assumem validamente (RDA, 123:170) a gestão dos negócios públicos em
momentos de emergência, de forma instantânea (prisão de um criminoso) ou duradoura (casos
de guerra, em que as autoridades constituídas ou os agentes regulares abandonaram suas
funções ou foram mortos ou presos pelo inimigo), para a salvaguarda dos interesses coletivos.
São chamados pela doutrina de funcionários de fato. A assunção diz-se sponte propria. Os
serviços de distribuição de água domiciliar, os de saúde pública e os de segurança, por exemplo,
são essenciais e, como tal, não podem sofrer solução de continuidade. Podem, pois, render, em
casos de guerra, calamidade pública ou rebelião, ensejo a que alguém os assuma e os
administre em prol da comunidade, em razão da ausência da autoridade competente. Tais

18
BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p.230.
19
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.277.

7
agentes normalmente nada recebem pela colaboração que prestam. Entre esses agentes e a
Administração Pública não há qualquer vínculo formal. Por essas razões tem-se entendido que o
tempo de prestação desse serviço não é computado para qualquer efeito (RDA 130:294).
Respondem pelos seus atos, e, para fins penais, são considerados funcionários públicos”.20

“Como regra, pode dizer-se que os atos de agentes necessários são confirmados pelo Poder
Público, entendendo-se que a excepcionalidade da situação e o interesse público a que se dirigiu
o agente têm idoneidade para suprir os requisitos de direito”.21

“Se, em estado de necessidade público, um indivíduo assumir o encargo de desempenhar


funções públicas, que de outra forma não seriam executadas, agindo como faria o servidor
regularmente provido, temos o agente necessário. (...) deverão ser tidos como válidos os atos
praticados pelo agente necessário, se satisfizerem os requisitos legais relativamente aos demais
elementos do ato, de modo que a emergência convalida a competência, tanto para os efeitos
externos como para efeitos internos”.22

No que se refere aos agentes putativos, com investidura irregular, sustenta-se a validade dos
atos por ele praticados, em nome dos princípios da aparência, da boa-fé, da segurança jurídica
e da legalidade. Por praticarem atos da Administração, levando terceiros de boa-fé a acreditar
serem eles agentes públicos regularmente investidos em suas funções, aplica-se a teoria da
aparência.

Confiram-se os ensinamentos dos nossos ilustres doutrinadores:

“De passagem, anote-se que o defeito invalidante da investidura de um agente não acarreta, só
por só, a invalidade dos atos que este praticou. É a conhecida teoria do ‘funcionário de fato’ (ou
‘agente público de fato’). ‘Funcionário de fato’ é aquele cuja investidura foi irregular, mas cuja
situação tem a aparência de legalidade. Em nome do princípio da aparência, da boa-fé dos
administrados, da segurança jurídica e do princípio da presunção de legalidade dos atos
administrativos reputam-se válidos os atos por ele praticados, se por outra razão não forem
viciados. Por outro lado, uma vez invalidada a investidura do funcionário de fato, nem por isto
ficará ele obrigado a repor aos cofres públicos aquilo que percebeu até então. Isto porque,
havendo trabalhado para o Poder Público, se lhe fosse exigida a devolução dos vencimentos
auferidos haveria um enriquecimento sem causa do Estado, o qual, dessarte, se locupletaria
com trabalho gratuito”.23

“Em relação aos agentes putativos, podem ser questionados alguns atos praticados
internamente na Administração, mas externamente devem ser convalidados, para evitar que
terceiros de boa-fé sejam prejudicados pela falta de investidura legítima. Fala-se aqui na
aplicação da teoria da aparência, significando que para o terceiro há uma fundada suposição de
que o agente é de direito. (...) Como exemplo, cite-se a hipótese de um servidor que, sem
investidura legítima, tenha recebido valores de tributos pagos por contribuintes e tenha firmado
sua quitação. Os contribuintes são terceiros de boa-fé e fizeram os pagamentos a alguém que
tinha efetivamente a aparência de servidor legitimamente investido. Sendo assim, são válidas
as quitações e convalidados os atos do agente putativo”.24

“O problema do agente putativo é mais complexo, pois, internamente, os atos padecem de vício
de competência e, assim, não produzem efeitos enquanto não vierem a ser objeto de sanatória.
Fica ressalvada, porém, a percepção da remuneração do agente, que não é devolvida, se houver
ocorrido efetivo exercício de função, pois o Estado não pode locupletar-se do trabalho alheio
prestado de boa-fé. Externamente, porém, em atenção à presumida boa-fé dos administrados,
como se expôs, produzem-se todos os efeitos regulares. Observe-se, contudo, que essas
presunções são apenas juris tantum, cedendo ante a prova de conluio ou de pré-conhecimento,

20
GASPARINI, op. cit., p.155.
21
CARVALHO FILHO, op. cit., p.473.
22
MOREIRA NETO, op. cit., p.277.
23
BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p.220-221.
24
CARVALHO FILHO, op. cit., p.473.

8
por parte do administrado, eventualmente beneficiado da irregularidade da investidura ou de
seus atos”.25

4) REGIMES JURÍDICOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS.

Conforme já se disse, os servidores públicos (em sentido amplo) são todos aqueles que mantêm
vínculo de trabalho profissional com as entidades governamentais da Administração direta e
indireta.

Esse vínculo de trabalho profissional, por sua vez, variará conforme o regime jurídico adotado
para cada servidor.

Entende-se por regime jurídico o conjunto das regras de direito que ordenam determinada
atividade ou relação jurídica.

Sob este aspecto do regime jurídico, existem três categorias de servidores: a) servidores
públicos estatutários; b) servidores públicos trabalhistas; c) servidores públicos temporários.

Atualmente não mais prevalece a regra do regime jurídico único, anteriormente previsto no
art.39 da Carta Política de 1988, em sua redação original, que tentava, sem sucesso,
estabelecer uma isonomia entre os servidores da Administração direta e autárquica. Com o
advento da Emenda Constitucional 19/98 (Reforma Administrativa), a norma constitucional
passou a admitir que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotassem mais de
um regime jurídico para seus servidores, com a instituição de conselhos de política de
administração e remuneração de pessoal.

A doutrina destaca bem essa modificação ocorrida no serviço público brasileiro:

“O efeito da alteração é de simples inteligência: com a extinção desse regime, a Constituição


passou a permitir que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios possam recrutar
servidores sob mais de um regime jurídico. Desse modo, será possível, por exemplo, que um
Estado tenha grupo de servidores estatutários e outro de servidores trabalhistas, desde que, é
claro, seja a organização funcional estabelecida em lei. O mesmo será permitido para as demais
pessoas federativas. Aliás, a própria União Federal, como já vimos, já tem a previsão de
servidores estatutários (Lei 8112/90) e de servidores trabalhistas (Lei 9962/2000 e legislação
trabalhista). Nada impedirá, é claro, que a entidade política adote apenas um regime funcional
em seu quadro, mas, se o fizer, não será por imposição constitucional, e sim por opção
administrativa, feita em decorrência de avaliação de conveniência, para melhor atender a suas
peculiaridades. A qualquer momento, no entanto, poderá modificar a estratégia inicial e instituir
regime funcional paralelo, desde que, logicamente, o novo sistema seja previsto em lei.”26

“A Emenda Constitucional n.19, de 4-6-98, trouxe algumas modificações nessa sistemática, pois
excluiu a exigência de regime jurídico único, contida no caput do artigo 39, bem como a regra
da isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo
Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que constava no §1º
do mesmo dispositivo. Com a exclusão da norma constitucional do regime jurídico, ficará cada
esfera de governo com a liberdade para adotar regimes jurídicos diversificados, seja o
estatutário, seja o contratual, ressalvadas aquelas carreiras institucionalizadas em que a própria
Constituição impõe, implicitamente, o regime estatutário, uma vez que exige que seus
integrantes ocupem cargos organizados em carreira (Magistratura, Ministério Público, Tribunal
de Contas, Advocacia Pública, Defensoria Pública e Polícia), além de outros cargos efetivos,
cujos ocupantes exerçam atribuições que o legislador venha a definir como “atividades
exclusivas de Estado”, conforme previsto no artigo 247 da Constituição, acrescido pelo artigo
32 da Emenda Constitucional n.19/98”.27

25
MOREIRA NETO, op. cit., p.277.
26
CARVALHO FILHO, op. cit., p.484.
27
DI PIETRO, op. cit., p.430-431.

9
Registre-se que, recentemente, o STF, em decisão liminar na ADIN 2135-4 proferida em
agosto/2007, posicionou-se pela inconstitucionalidade formal da EC 19/98 no que concerne à
nova redação atribuída ao caput do art.39 da CF/88. Com isso, voltou a prevalecer a aludida
redação original que impõe o regime jurídico único.

O fato de haver previsão de um regime jurídico único, segundo entende Celso Antônio Bandeira
de Mello, não significa que cada ente político só possa adotar o regime de cargos para seus
servidores. Com efeito, a própria Constituição, em outros dispositivos originais, fala também na
existência de empregos públicos, admitindo, então, regimes diversificados em certas hipóteses.
Para o autor, portanto, o tema comporta uma interpretação sistemática da Carta Magna:

“A Constituição, antes do advento da Emenda Constitucional n. 19, de 4 de junho de 1998,


dispunha no art.39, caput, o seguinte: ‘A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os
servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas’. A partir
disto prosperou, com irrefragável força, a intelecção, que sempre sustentamos ser errônea, de
que as pessoas jurídicas de direito público só poderiam adotar um regime, que veio a ser o de
cargo público, banido então o regime de emprego. Sobrevindo a Emenda 19, o caput do art.39
foi alterado e não se fez mais qualquer menção a regime único. Desde então surgiu o
entendimento de que a lei poderia, se lhe parecesse bem, adotar o regime de emprego para as
mais diversas atividades da Administração direta, autárquica e fundacional. Ocorre que,
consoante dito, em 2 de agosto do corrente, o Supremo Tribunal Federal, em decisão publicada
no dia 14 do mesmo mês, apreciando pedido liminar na ADIn 2.135-4 proposta pelo PT, PDT,
PCdoB e PSB houve por bem suspender, até decisão final da ação, a eficácia da nova redação do
caput do art.39 introduzida pela referida Emenda, por vício de tramitação, restaurando, então, o
art.39 original, embora com efeitos ex nunc, como é próprio das medidas cautelares. (...) Uma
vez que se afirmou que podem existir cargos e empregos nas pessoas jurídicas de direito
público, mesmo existindo a previsão de regime jurídico único, agora restaurada, cumpre
responder a duas questões. A primeira delas é: como se pode promover a convivência do
art.39, que prevê regime jurídico único, com disposto nos precitados arts.51, IV, 52, XIII, 61,
§1º, II, ‘a’, e 114, que contemplam a existência também de empregos nas pessoas de direito
público? A conciliação destes dispositivos é possível desde que se entenda que o pretendido pelo
art.39 não foi estabelecer obrigatoriamente um único regime para todos os servidores da
Administração direta, autárquicas e fundações públicas, mas impor que a União e suas
entidades da Administração indireta, Estados e suas entidades da Administração indireta e
Municípios e suas entidades da Administração indireta tenham, nas respectivas esferas, uma
uniformidade de regime para seus servidores. Ou seja: inadmite-se que quaisquer destas
pessoas adotem para si um dado regime e atribuam à autarquia tal, à autarquia qual ou a
fundação tal, diferentes regimes, criando uma pluralidade deles como ocorria antes da
Constituição de 1988. Deve haver, isto sim, um ‘regime jurídico único’ na intimidade das
diversas ordens de governo. Em outras palavras: é possível (embora afigure-se-nos
inconveniente) que as atividades básicas estejam sujeitas ao regime de cargo, isto é,
estatutário, enquanto algumas remanescentes, de menor importância, sejam exercidas sob
regime de emprego. Inversamente, não é possível haver diversidade de regimes entre
Administração direta e as distintas pessoas das respectivas Administrações indiretas. (...) para
os servidores da Administração direta, autarquias e fundações de Direito Público (ou seja:
servidores das pessoas jurídicas de Direito Público), indubitavelmente, o regime normal,
corrente, terá de ser o de cargo público, admitindo-se, entretanto, como ao diante se explicará,
casos em que é cabível a adoção do regime de emprego para certas atividades subalternas”.28

Têm-se, assim, três regimes jurídicos, que podem ser concomitantemente adotados pela
Administração Pública direta e autárquica.

4.1) REGIME ESTATUTÁRIO.

O regime estatutário é aquele adotado em relação aos servidores detentores de cargos públicos.
As suas disposições decorrem diretamente da lei, o que significa dizer que o vínculo que une o

28
BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p.250-252.

10
servidor ao Poder Público não tem natureza contratual. As suas regras estão previstas na
Constituição, nas leis e em regulamentos administrativos.

“Regime estatutário é o conjunto de regras que regulam a relação jurídica funcional entre
servidor público estatutário e o Estado. Esse conjunto normativo, como vimos acima, se
encontra no estatuto funcional da pessoa federativa. As regras estatutárias básicas devem estar
contidas na lei; há outras regras, todavia, mais de caráter organizacional, que podem estar
previstas em atos administrativos, como decretos, portarias, circulares etc. As regras básicas,
entretanto, devem ser de natureza legal. A lei estatutária, como não poderia deixar de ser, deve
obedecer aos mandamentos constitucionais sobre servidores. Pode, inclusive, afirmar-se que,
para o regime estatutário, há um regime constitucional superior, um regime legal contendo a
disciplina básica sobre a matéria e um regime administrativo de caráter organizacional”.29

Além de não ter natureza contratual, como já ressaltado, o regime estatutário apresenta como
característica a sua pluralidade normativa, o que significa dizer que pode haver mais de um
regimento funcional, conforme o ente político e a categoria do servidor.

De fato, cada ente político autônomo (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) deverá
elaborar o seu estatuto funcional, respeitados, é claro, os ditames constitucionais acerca do
tema.

No caso da União, o Estatuto dos Servidores Públicos Federais é a Lei 8112/90.

Outrossim, ao lado do regime estatutário geral direcionado à grande massa dos servidores de
cada ente político, poderão ainda existir regimes estatutários especiais direcionados a
determinados servidores que exerçam função cuja peculiaridade demande tratamento
diferenciado.

É o caso, por exemplo, dos advogados e defensores públicos, além de professores, policiais,
auditores fiscais que em algumas unidades federativas têm estatuto próprio, diverso do geral.30
Sujeitos a regimes estatutários especiais estão também os juízes, os membros do Ministério
Público e dos Tribunais de Contas, valendo lembrar que alguns autores os incluem dentre os
servidores públicos em sentido amplo, enquanto outros os incluem na categoria dos agentes
políticos.

“Servidores públicos estatutários são aqueles cuja relação jurídica de trabalho é disciplinada
por diplomas legais específicos denominados estatutos. Nos estatutos estão inscritas todas as
regras que incidem sobre a relação jurídica, razão por que nelas se enumeram os direitos e
deveres dos servidores e do Estado. Essa categoria ainda admite uma subdivisão: a dos
servidores públicos sujeitos ao estatuto geral da pessoa federativa correspondente, e a dos
servidores públicos sujeitos a estatutos especiais. De fato, como regra, ao lado do estatuto
geral dos servidores públicos, que disciplina os quadros funcionais em geral, com suas classes e
carreiras, vicejam estatutos especiais, que regulam a relação jurídica de trabalho de certas
categorias específicas de servidores (...) Cada pessoa da federação, desde que adote o regime
estatutário para seus servidores, precisa ter a sua lei estatutária para que possa identificar a
disciplina da relação jurídica funcional entre as partes. Há, pois, estatutos funcionais federal,
estaduais, distrital e municipais, cada um deles autônomo em relação aos demais, porquanto a
autonomia dessas pessoas federativas implica, necessariamente, o poder de organizar seus
serviços e seus servidores. Em alguns casos, certos Municípios adotam as regras do estatuto do
respectivo Estado. Se assim for, no entanto, a adoção do regime deve ter sido autorizada em lei
municipal, considerando-se que esta, em última instância, repetiu todas as normas da lei
estatutária do correspondente Estado”.31

O fato de o regime estatutário não ter natureza contratual é de suma importância, pois esta
característica implica que possa haver modificação do regime pela simples mudança da lei, a

29
CARVALHO FILHO, op. cit., p.477.
30
Idem, nota de rodapé, p.476.
31
Ib idem, p.476-478.

11
critério do Poder Público, justamente por não haver acordo bilateral de vontades no
estabelecimento das normas de regência.

Contra isso os servidores estatutários não podem se insurgir, o que significa dizer que não há
direito adquirido a regime jurídico, entendimento esse já consolidado por inúmeros
precedentes jurisprudenciais (v.g. STF, AI-ED 567.722/MG, DJ de 28/09/2007).

José dos Santos Carvalho Filho nos fornece lição esclarecedora sobre o tema:

“O servidor, quando ingressa no serviço público sob regime estatutário, recebe o influxo das
normas que compõem o respectivo estatuto. Essas normas, logicamente, não são imutáveis; o
Poder Público pode introduzir alterações com vistas à melhoria dos serviços, à concessão ou
extinção de vantagens, à melhor organização dos quadros funcionais etc. Como as normas
estatutárias são contempladas em lei, segue-se que têm caráter genérico e abstrato, podendo
sofrer alterações como ocorre, normalmente, em relação aos demais atos legislativos. O
servidor, desse modo, não tem direito adquirido à imutabilidade do estatuto, até porque,
se o tivesse, seria ele um obstáculo à própria mutação legislativa. Citemos um exemplo:
suponha-se que o estatuto do servidor, quando este foi nomeado para o cargo, contemplasse
uma licença para estudar no exterior. Nada impede que o Poder Público extinga a licença
posteriormente, por entendê-la inconveniente à Administração. O servidor não tem direito
adquirido à manutenção da referida licença no estatuto funcional. Esse é um ponto de grande
relevância, não se podendo perder de vista que as leis que traduzem normas gerais e abstratas,
como é o caso dos estatutos, são normalmente alteráveis”.32

Deveras, quando se fala em direitos subjetivos tem-se em mira vantagens concretas


usufruídas por determinado servidor e não propriamente a permanência da lei abstrata que as
contempla.

Nesse prisma, o servidor público somente terá direito adquirido se já houver reunido os
requisitos necessários ao exercício de determinado direito previsto na lei revogada, pelo que a
lei revogadora não poderá retroagir. Nesses casos, a mudança do Estatuto não afetará o direito
do servidor, se já adquirido ao tempo da lei anterior.

Vale dizer: o Estatuto muda (não há direito adquirido a sua permanência); mas a vantagem que
nele era prevista permanece em relação aquele determinado servidor na medida em que reuniu
os requisitos para usufruí-la (direito adquirido ao benefício).

“A lei estatutária contempla vários direitos individuais para o servidor. A aquisição desses
direitos, porém, depende sempre de um suporte fático ou, se se preferir, de um fato gerador
que a lei expressamente estabelece. Se se consuma o suporte fático previsto na lei e se
são preenchidos os requisitos para o seu exercício, o servidor passa a ter direito
adquirido ao benefício ou vantagem que o favorece. Aqui, portanto, não se trata do
problema da mutabilidade das leis, como antes, mas sim da imutabilidade do direito em virtude
da ocorrência do fato que o gerou. Cuida-se nesse caso de direito adquirido do servidor, o qual
se configura como intangível mesmo se a norma vier a ser alterada. É que, como sabido, a lei
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, como proclama o
art.5o, XXXVI, da Constituição Federal. Vejamos um exemplo: suponha-se que o estatuto
funcional do servidor, quando de seu ingresso no serviço público, admitisse adicional por tempo
de serviço, conferindo o percentual de cinco por cento dos vencimentos para cada período de
cinco anos de efetivo exercício (qüinqüenios). Não tem o servidor direito adquirido à
permanência do adicional; em outras palavras, a Administração pode extingui-lo. Se a extinção
se der, para exemplificar, quando servidor já tiver onze anos de serviço, a norma terá sofrido
alteração, mas terá ele direito adquirido ao percentual de dez por cento, porque a essa altura se
terá completado o fato gerador do direito à percepção desse percentual: o exercício das funções
pelo período de dois qüinqüenios. Caso a extinção ocorra quando o servidor conte apenas com
dois anos de efetivo exercício, nenhum direito terá, porquanto não se terá consumado nem o
fato gerador do primeiro percentual, qual seja, o exercício da função por cinco anos. A situação

32
Op. cit., p.495.

12
aqui é de mera expectativa, diferente da anterior, em que o fato realmente se consumou,
originando a aquisição do direito”.33

Saliente-se, porém, que o direito adquirido somente prevalece em relação às normas


infraconstitucionais e às emendas constitucionais (poder constituinte derivado). Não se pode
invocar direito adquirido contra a Constituição originária, que consubstancia o próprio
nascedouro da ordem jurídica.

Daí porque o art.17 do ADCT estabeleceu expressamente que os vencimentos, a remuneração,


as vantagens e os adicionais, bem como os proventos de aposentadoria que estejam sendo
percebidos em desacordo com a Constituição serão imediatamente reduzidos aos limites dela
decorrentes, não se admitindo, neste caso, invocação de direito adquirido ou percepção de
excesso a qualquer título.

Pela importância de que se reveste o regime estatutário, predominante no âmbito da


Administração Pública direta, autárquica e fundacional, estudaremos posteriormente as suas
peculiaridades em tópico separado.

4.2) REGIME TRABALHISTA.

Para o exercício de determinadas atividades, a Administração poderá optar em contratar


agentes públicos sob regime de emprego (trabalhista), ao invés de cargo (regime estatutário).

Nesses casos, a natureza do vínculo que unirá o servidor ao Estado será contratual (negócio
jurídico bilateral, submetido a regras e princípios do Direito Público).

Tratando-se, portanto, de empregado público, deverão ser aplicadas as normas referentes à


legislação trabalhista (Constituição, CLT e leis esparsas). “É claro que, sendo, empregador o
Estado, incidem algumas normas de direito público na relação trabalhista. Tais normas, porém,
não podem desfigurar o regime básico da CLT, que é aquele que deve ser observado e que tem
natureza contratual”.34

No âmbito da União Federal, foi editada a Lei 9962/2000, que trata do regime de emprego
público na Administração direta, autarquias e fundações públicas, adaptando, desta forma, o
regime trabalhista geral às peculiaridades do Direito Público. O seu artigo 1o estabelece que aos
empregados públicos federais será aplicada a legislação trabalhista, em tudo aquilo que não
dispuser em contrário. Significa dizer que o regime de emprego público federal obedece às
disposições da legislação trabalhista geral, ressalvadas eventuais normas em sentido contrário
contidas na Constituição e na Lei 9962/2000. Assim, por exemplo, o art.3o da Lei 9962/2000
estabelece que a rescisão do contrato de emprego público deverá ser motivada em uma das
hipóteses nele contidas (ato vinculado), não se admitindo, portanto, a simples dispensa sem
justa causa prevista na CLT.

“Essas regras indicam não só que ficou excluída a hipótese de resilição unilateral do contrato por
parte do Estado-empregador, não sendo assim aplicável nesse aspecto o art.479 da CLT, mas
também que é vinculada à atividade da União no que tange às hipóteses de desfazimento do
vínculo: em nenhuma hipótese a rescisão contratual poderá dar-se ao mero alvedrio da
Administração Federal, decorrente da valoração de conveniência e oportunidade. A lei excluiu da
observância de tais exigências a extinção de contratos de servidores firmados com base na
regra de autonomia de gestão, de que trata o art.37, §8º, da CF. Significa dizer que é mais
frágil o vínculo trabalhista nessa hipótese e que, em relação a tais contratações, será viável o
exercício do direito à resilição unilateral do contrato pela União, ainda quando o motivo tenha
fundamento em razões de natureza discricionária”.35

33
CARVALHO FILHO, op. cit., p.495-496.
34
Idem, nota de rodapé, p.479.
35
Ib idem, p.481.

13
No âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, os empregados públicos são
regidos exclusivamente por regras da legislação trabalhista geral. Isto porque a Lei 9962/2000 é
uma lei federal (e não uma lei nacional), além do que tais entes políticos não poderão editar
suas leis específicas, porquanto é da competência privativa da União legislar sobre direito do
trabalho (CF/88, art.22, I). Não obstante, deverão necessariamente observar as regras
constitucionais relativas aos empregos públicos (por exemplo, a necessidade de admissão por
concurso público – art.37, II), bem como respeitar os princípios que regem o Direito Público
(moralidade, impessoalidade, supremacia do interesse público etc.). Sobre o tema escreve
Odete Medauar:

“No regime celetista os servidores têm seus direitos e deveres norteados, nuclearmente, pela
Consolidação das Leis do Trabalho. Por isso, recebem a denominação de ‘empregados públicos’,
numa analogia com o setor privado, em que se usam os termos empregado-empregador. Assim,
emprego público é posto de trabalho de quem é contratado pela CLT. Esse é o regime de todos
os que trabalham nas empresas públicas e sociedades de economia mista, conforme determina
o art.173, §1º, II, da Constituição Federal. Nos Estados e Municípios que não adotaram regime
único estatutário, há servidores contratados pela CLT na Administração direta, nas Autarquias e
fundações públicas. No âmbito federal, não mais vigorando o regime jurídico único, abolido pela
EC 19/98, a Lei 9962, de 22.02.2000, disciplina o regime de emprego público do pessoal da
Administração direta, das autarquias e fundações, sob o regime da CLT e legislação trabalhista
correlata. Tendo em vista que o empregador é o ente estatal, alguns preceitos do regime
jurídico estatutário estendem-se aos celetistas; por exemplo: limite de remuneração
(Constituição Federal, art.37, XI), proibição de acumulação remunerada de outro emprego,
função ou cargo (Constituição Federal, art.37, XVII), possibilidade de sofrer sanções por
improbidade administrativa (CF, art.37, §4º e Lei 8429/92, art.1o)”.36

Ressalte-se que a mera faculdade de se adotar o regime trabalhista na Administração direta,


nas autarquias e fundações públicas, não se estende às sociedades de economia mista,
empresas públicas e fundações privadas. Deveras, por se tratarem de pessoas jurídicas de
direito privado, estes entes estatais deverão obrigatoriamente adotar o regime trabalhista de
emprego (não se aplica a eles a Lei 9962/2000), razão pela qual alguns autores diferenciam os
seus empregados aplicando-lhe a nomenclatura específica de servidores governamentais,
para distingui-los dos demais empregados públicos. Confira-se, nesse particular, o escólio de
Diógenes Gasparini:

“As pessoas que, sob um regime de dependência, ligam-se contratualmente às sociedades de


economia mista, empresas públicas e fundações privadas, prestadoras ou não de serviços
públicos, mediante uma relação de trabalho de natureza profissional e não eventual, constituem
a espécie dos agentes públicos chamados servidores governamentais. São caracterizados pela
profissionalidade, pela dependência do relacionamento, pela perenidade e pela natureza
celetista do vínculo que mantêm com essas entidades. Com tais características podem existir
servidores na Administração direta, autárquica e fundacional, sem que possam ser considerados
servidores governamentais, dado não se vincularem a qualquer das citadas entidades. Esses são
chamados de empregados públicos. Os servidores governamentais são, em suma, os
empregados das empresas privadas criadas pela Administração Pública direta de qualquer nível
de governo”.37

É importante registrar, ainda, que, mesmo na Administração direta, autarquias e fundações


públicas, não é qualquer atividade pública que pode ser submetida a regime de
emprego público. Há determinadas atividades típicas de Estado que, por sua natureza,
somente poderão ser regidas por normas estatutárias, jamais por normas contratuais, conforme
salienta a doutrina, apesar de algumas divergências sobre qual deveria ser o regime
predominante na Administração:

“Não há qualquer dúvida de que algumas carreiras realmente não comportam, por sua natureza
particular, a incidência do regime de emprego público e devem continuar sujeitas ao regime

36
Op. cit., p.322.
37
Op. cit., p.156-157.

14
estatutário, sejam ou não consideradas as respectivas função como ‘atividades exclusivas de
Estado’. Citem-se, para exemplificar, as carreiras de diplomacia, fiscalização, polícia, advocacia
pública e a carreira militar em geral. Por conseguinte, o regime de emprego público será o
adequado para os servidores que executem as funções normais de apoio técnico e
administrativo em geral, os quais, verdade seja dita, formam a maioria esmagadora dentro da
categoria dos servidores públicos”.38

“O regime normal dos servidores públicos teriam mesmo de ser o estatutário, pois este (ao
contrário do regime trabalhista) é o concebido para atender a peculiaridades de um vínculo no
qual não estão em causa tão-só interesses empregatícios, mas onde avultam interesses públicos
básicos, visto que os servidores públicos são os próprios instrumentos da atuação do Estado. Tal
regime, atributivo de proteções peculiares aos providos em cargo público, almeja, para benefício
de uma ação impessoal do Estado – o que é uma garantia para todos os administrados -,
ensejar aos servidores condições propícias a um desempenho técnico isento, imparcial e
obediente tão-só a diretrizes político-administrativas inspiradas no interesse público,
embargando, destarte, o perigo de que, por falta de segurança, os agentes administrativos
possam ser manejados pelos transitórios governantes em proveito de objetivos pessoais,
sectários ou político-partidários – que é, notoriamente, a inclinação habitual dos que ocupam a
direção superior do País”.39

4.3) REGIME ESPECIAL TEMPORÁRIO.

Além dos servidores estatutários e dos servidores trabalhistas, a Administração Pública poderá
ainda contar com a atuação dos servidores temporários a que alude o art.37, IX, da Carta
Magna de 1988, que assim dispõe: “a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público”.

Trata-se de modalidade de contratação excepcional, submetida a três pressupostos inafastáveis:

a) a determinabilidade temporal da contratação, “ou seja, os contratos firmados com esses


servidores devem ter sempre prazo determinado, contrariamente, aliás, do que ocorre nos
regimes estatutário e trabalhista, em que a regra consiste na indeterminação do prazo da
relação de trabalho”.40

b) a temporariedade da função, isto é, “a necessidade desses serviços deve ser sempre


temporária. Se a necessidade é permanente, o Estado deve processar o recrutamento através
dos demais regimes”.41

c) a excepcionalidade do interesse público, eis que “a Constituição deixou claro que


situações administrativas comuns não podem ensejar o chamamento desses servidores.
Portanto, pode dizer-se que a excepcionalidade do interesse público corresponde à
excepcionalidade do próprio regime especial”.42

A princípio, o regime dos servidores temporários deve seguir as normas referentes à legislação
trabalhista geral (CLT e leis esparsas), até porque a mesma contém regra específica que trata
do contrato de trabalho por prazo determinado (art.479 da CLT). Poderá ainda haver outras
disposições previstas na lei que regulamentar a contratação dos servidores temporários.

No âmbito da União Federal, a Lei 8745/93 (com alguns acréscimos trazidos pela Lei 9849/99)
regulamenta a contratação de servidores temporários, estabelecendo hipóteses de necessidade
temporária de excepcional interesse público, dentre as quais os casos de calamidade pública,
surtos endêmicos, atividades de recenseamentos a cargo do IBGE, admissão de professor
substituto, visitante ou estrangeiro, algumas atividades a cargo da FUNAI do INPI, algumas

38
CARVALHO FILHO, op. cit., p.481.
39
BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p.231-232.
40
CARVALHO FILHO, op. cit., p.482.
41
Idem.
42
Ib idem, p.483.

15
atividades finalísticas no Hospital das Forças Armadas, atividade desenvolvidas no âmbito do
SIVAM etc.

O rol previsto na lei deve ser tido como meramente exemplificativo, sendo que muitas das
hipóteses nele contempladas são de duvidosa constitucionalidade, pois em alguns casos chegam
a prever contratação prorrogável por até oito anos, o que não é razoável em se tratando de
contratação temporária. Além disso, a Lei 8745/93 prevê a realização de processo seletivo
simplificado em alguns casos, o que também tem sido alvo de críticas pela doutrina, já que a
excepcionalidade do interesse público e a temporariedade da função seriam incompatíveis com a
realização de concurso.

Diógenes Gasparini entende por necessidade temporária, aquela “qualificada por sua
transitoriedade; a que não é permanente; aquela que se sabe ter um fim próximo. Em suma, a
que é passageira. São exemplos de necessidades temporárias cujo atendimento pode ser
conseguido com esses contratados: a restauração do sistema viário e dos serviços de
comunicação destruídos por uma inundação; a continuidade dos serviços de magistério em
razão do afastamento súbito e prolongado do professor titular; a vacinação emergencial da
população em razão de um surto epidêmico imprevisível; o recenseamento e outros
levantamentos estatísticos; a melhoria do serviço público tornado de baixa qualidade pela falta
de servidores e a sua continuidade em razão de greve”.43 E acrescenta:

“Os agentes temporários, contratados pelo regime celetista, nas condições do inciso IX do art.37
da Constituição Federal, salvo o que lhes for atribuído por lei específica, cumprem seus
contratos junto à Administração Pública, em termos de direitos e obrigações, consoante dispuser
a Consolidação das Leis do Trabalho, e, no que respeita aos direitos previdenciários, o que
dispuserem as leis pertinentes. A contratação desses agentes temporários, nas condições e para
os fins assinalados no mencionado inciso IX do art.37 da Constituição Federal, não exige
concurso. A contratação temporária e essa modalidade de seleção de interessados em ingressar
na Administração Pública para prestar seus serviços são absolutamente incompatíveis. Por isso,
Celso Antônio Bandeira de Mello (Regime Constitucional, cit., p.61) afirmar ‘tratar-se de
hipótese em que a contratação se faz sem concurso, dada a anomalia da situação’ Embora seja
assim em termos lógicos e práticos, algumas leis vêm exigindo, como é o caso da referida Lei
federal n.8.745, de 9 de dezembro de 1993 (com suas ulteriores alterações), que dispõe sobre a
contratação de pessoal por tempo determinado para atender a necessidade temporária de
excepcional interesse público, a realização de processo seletivo simplificado. Salvam-se desse
processo seletivo e, obviamente do concurso público, os casos em que a contratação for
destinada a atender necessidades decorrentes de calamidade pública (art.3o, §1º) e a
contratação de pessoal enquadrável nos incisos IV, V e VI, alíneas a, c, d e e g, do art.2o,
formalizada à vista de notória capacidade técnica ou científica do profissional e análise do
curriculum vitae (art.3o, §2º)”.44

Sobre o tema, escreve também o mestre Celso Antônio Bandeira de Mello:

“A Constituição prevê que a lei (entende-se: federal, estadual, distrital ou municipal, conforme o
caso) estabelecerá os casos de contratação para o atendimento de necessidade temporária de
excepcional interesse público (art.37, IX). Trata-se, aí, de ensejar suprimento de pessoal
perante contingências que desgarrem da normalidade das situações e presumam admissões
apenas provisórias, demandadas em circunstâncias incomuns, cujo atendimento reclama
satisfação imediata e temporária (incompatível, portanto, com o regime normal de concursos).
A razão do dispositivo constitucional em apreço, obviamente, é contemplar situações nas quais
ou a própria atividade a ser desempenhada, requerida por razões muitíssimos importantes, é
temporária, eventual (não se justificando a criação de cargo ou emprego, pelo quê não haveria
cogitar do concurso público), ou a atividade não é temporária, mas o excepcional interesse
público demanda que se faça imediato suprimento temporário de uma necessidade (nesse

43
Op. cit., p.149.
44
Idem, p.152.

16
sentido ‘necessidade temporária’), por não haver tempo hábil para realizar concurso, sem que
suas delongas deixem insuprido o interesse incomum que se tem de acobertar”.45

5) ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL.

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, como entes políticos que são gozam de
autonomia que lhes garante dispor sobre a sua organização administrativa, no tocante aos seus
serviços e atividades.

Assim, observadas as normas constitucionais, cabe a cada ente federativo optar pela
organização funcional que considere mais adequada à boa prestação dos serviços públicos de
que são titulares.

Conforme já se estudou, não mais há a exigência de regime jurídico único para os servidores
públicos. Assim, os entes federativos poderão adotar mais de um regime (estatutário ou
trabalhista), organizando a sua estrutura de pessoal por meio de cargos, empregos e funções
públicas, os quais integram o seu quadro funcional.

“O quadro funcional é o verdadeiro espelho do quantitativo de servidores públicos da


Administração. Se houvesse efetiva organização funcional, o quadro seria o elemento pelo qual
o órgão ou a pessoa poderiam nortear-se para inúmeros fins, como a eliminação de excessos, o
remanejamento de servidores, o recrutamento de outros, a adequação remuneratória etc., pois
que nele se teria o real espectro das carências e demasias observadas nos setores
administrativos. Lamentavelmente, porém, reina o caos nesse controle funcional e
freqüentemente se tem tido conhecimento do malogro das Administrações em identificar os
componentes de seu quadro”.46

Portanto, o quadro funcional é o conjunto dos cargos, empregos e funções públicas existentes
em determinada Administração Pública. Como visto, os servidores ocupantes de cargos estão
submetidos ao regime estatutário, enquanto os servidores empregados submetem-se às normas
trabalhistas.

Já o conceito de função pública segue outro referencial, pois se relaciona apenas à atividade
desempenhada pelo servidor, seja ele estatutário ou empregado público. Na verdade, se utiliza
separadamente a expressão função pública porque existem determinadas atribuições que não
são próprias dos cargos ou empregos públicos existentes no quadro funcional e, por isso, são
desempenhadas por servidores de forma adicional às suas tarefas comuns, mediante
remuneração suplementar (funções de confiança). Ou seja, a função nesse caso nada mais é do
que um acréscimo de atribuições.

Cargos Públicos, como ensina Celso Antônio Bandeira de Mello, “são as mais simples e
indivisíveis unidades de competência a serem expressadas por um agente, previstas em número
certo, com denominação própria, retribuídas por pessoas jurídicas de Direito Público e criadas
por lei, salvo quando concernentes aos serviços auxiliares do Legislativo, caso em se criam por
resolução, da Câmara ou do Senado, conforme se trate de serviços de uma ou de outra destas
Casas. Os servidores titulares de cargos públicos submetem-se a um regime especificamente
concebido para reger esta categoria de agentes. Tal regime é estatutário ou institucional; logo
de índole não-contratual”.47

Quanto à sua vocação para retenção dos ocupantes, os cargos públicos podem ser: efetivos,
quando “predispostos a receberem ocupantes em caráter definitivo, isto é, com fixidez”48; em
comissão, quando “vocacionados para serem ocupados em caráter transitório por pessoa de
confiança de autoridade competente para preenchê-los, a qual também pode exonerar ad
nutum, isto é, livremente, que os esteja titularizando”49; vitalícios, quando “predispostos à

45
Op. cit., p.253-254.
46
CARVALHO FILHO, op. cit., p.485.
47
Op. cit., p.226-227.
48
Idem, p.270.
49
Ib idem, p.269.

17
retenção dos ocupantes, mas sua vocação para retê-los é ainda maior. Os que neles hajam sido
prepostos, uma vez vitaliciados, só podem ser desligados mediante processo judicial”.50

“Cargos vitalícios são aqueles que oferecem a maior garantia de permanência a seus
ocupantes. Somente através de processo judicial, como regra, podem os titulares perder seus
cargos (art.95, I, CF). Desse modo, torna-se inviável a extinção do vínculo por exclusivo
processo administrativo (salvo no período inicial de até dois anos até a aquisição da
prerrogativa). A vitaliciedade configura-se como verdadeira prerrogativa para os titulares dos
cargos dessa natureza e se justifica pela circunstância de que é necessária para tornar
independente a atuação desses agentes, sem que sejam sujeitos a pressões eventuais impostas
por determinados grupos de pessoas. A vitaliciedade tem previsão constitucional. Atualmente
são cargos vitalícios os dos magistrados (art.95, I,CF), os dos membros do Ministério Público
(art.128, §5º, I, a, CF) e os dos membros dos Tribunais de Contas (art.73, §3º, CF). Cargos
efetivos são aqueles que se revestem de caráter de permanência, constituindo a maioria
absoluta dos cargos integrantes dos diversos quadros funcionais. Com efeito, se o cargo não é
vitalício ou em comissão, terá que ser necessariamente efetivo. Embora em menor grau que nos
cargos vitalícios, os cargos efetivos também proporcionam segurança a seus titulares: a perda
do cargo, segundo emana do art.41, §1º, da CF, só poderá ocorrer , depois que adquirirem a
estabilidade, se houver sentença judicial ou processo administrativo em que se lhes faculte
ampla defesa, e agora também em virtude de avaliação negativa de desempenho, como
introduzido pela EC 19/98. Os cargos em comissão, ao contrário dos tipos anteriores, são de
ocupação transitória. Seus titulares são nomeados em função da relação de confiança que existe
entre eles e a autoridade nomeante. Por isso é que na prática alguns os denominam de cargos
de confiança. A natureza desses cargos impede que os titulares adquiram estabilidade. Por
outro lado, assim como a nomeação para ocupá-los dispensa a aprovação prévia em concurso
público, a exoneração do titular é despida de qualquer formalidade especial e fica a exclusivo
critério da autoridade nomeante. Por essa razão é que são considerados de livre nomeação e
exoneração (art.37, II, CF)”.51

Os cargos de comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração não dependem de


concurso público para seu preenchimento (CF/88, art.37, II). Eles são destinados apenas às
atribuições de direção, chefia e assessoramento, podendo ser preenchidos por pessoas
estranhas ao quadro do ente público, desde que observado um número percentual mínimo
previsto em lei para preenchimento por servidores de carreira (CF/88, art.37, V).

Quanto à sua posição no quadro do ente público, os cargos públicos podem ser: de carreira,
“quando encartados em uma série de classes escalonada em função do grau de responsabilidade
e nível de complexidade das atribuições”52; isolados, “quando previstos sem inserção em
carreiras”.53

“(...) leva em consideração a situação dos cargos diante do quadro funcional. Sob esse aspecto,
dividem-se em cargos de carreira e cargos isolados. Os primeiros permitem a progressão
funcional dos servidores através de diversas classes até chegar à classe mais elevada. Os cargos
isolados, ao contrário, têm natureza estanque e inviabilizam a progressão”.54

Empregos Públicos “são núcleos de encargos de trabalho permanentes a serem preenchidos


por agentes contratados para desempenhá-los, sob relação trabalhista. Quando se trate de
empregos permanentes na Administração direta ou em autarquia só podem ser criados por lei,
como resulta do art.61, §1º, II, ‘a’. Sujeitam-se a uma disciplina jurídica que, embora sofra
inevitáveis influências advindas da natureza governamental da contratante, basicamente, é a
que se aplica aos contratos trabalhistas em geral; portanto, a prevista na Consolidação das Leis
do Trabalho”.55

50
Ib idem, p.271.
51
CARVALHO FILHO, op. cit, p.487-488.
52
BANDEIRA DE MELLO, p.269.
53
Idem.
54
CARVALHO FILHO, op. cit., p.486-487.
55
BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p.227.

18
Observa-se, assim, que a distinção básica entre cargo público e emprego público reside no
regime jurídico aplicável aos respectivos titulares, isto é, à natureza do vínculo que os une ao
Poder Público. No caso do ocupante de cargo público, a vinculação é de natureza estatutária, ou
seja, submete-se a normas previstas em lei. Para os servidores federais, o regime estatutário é
o previsto na Lei 8112/90. No caso do ocupante de emprego público, a vinculação é de natureza
contratual, ou seja, submetido às normas gerais trabalhistas. No âmbito federal, como já visto,
a Lei 9962/2000 disciplina o regime de emprego público do pessoal da Administração direta,
autárquica e fundacional, aplicando-se a CLT naquilo em tal legislação específica não dispuser
em contrário.

Em relação aos empregados públicos dos entes da Administração indireta, com personalidade
jurídica de direito privado (empresas públicas e sociedades de economia mista), aplicam-se,
sem exceção, as regras gerais do regime trabalhista. Por isso, já se mencionou que são
denominados servidores governamentais.

Destacando as noções de cargo e emprego público, comenta Maria Sylvia Di Pietro:

“Quando se passou a aceitar a possibilidade de contratação de servidores sob o regime da


legislação trabalhista, a expressão emprego público passou a ser utilizada, paralelamente a
cargo público, também para designar uma unidade de atribuições, distinguindo-se uma da
outra pelo tipo de vínculo que liga o servidor ao Estado; o ocupante de emprego público tem um
vínculo contratual, sob regência da CLT, enquanto o ocupante do cargo público tem um vínculo
estatutário, regido pelo Estatuto dos Funcionários Públicos que, na União, está contido na lei
que instituiu o regime jurídico único (Lei n.8112/90)”.56

No tocante às funções públicas, a ilustre autora comenta que “ao lado do cargo e do emprego,
que têm uma individualidade própria, definida em lei, existem atribuições também exercidas por
servidores públicos, mas sem que lhes corresponda um cargo ou emprego. Fala-se, então, em
função dando-se um conceito residual: é o conjunto de atribuições às quais não corresponde um
cargo ou emprego”.57

São as funções de confiança aludidas pelo art.37, V, da Lei Maior, as quais, ao lado dos cargos
em comissão, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento. Para tais
atribuições, o ente federativo poderá optar entre criar um cargo em comissão ou uma simples
função de confiança a ser desempenhada em caráter adicional por servidores do seu quadro
funcional ou até mesmo servidores de outro quadro que venham a ser requisitados.

Portanto, na Administração Pública, os encargos de direção, chefia ou assessoramento poderão


ser exercidos por ocupantes de cargos em comissão (observado um percentual mínimo para os
servidores de carreira) ou por titulares de cargos efetivos que passem a exercer função de
confiança.

Convém não confundir a função de confiança, a que alude o art.37, V, da Carta, com o que a
doutrina chama de função temporária exercida na forma do art.37, IX, também da Constituição,
nos casos de contratação de servidores por tempo determinado para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público. Tais servidores temporários, como já dito, exercem
função, sem estarem vinculados a cargo ou emprego público. Maria Sylvia aponta bem essa
distinção:

“Portanto, perante a Constituição atual, quando se fala em função, tem-se que ter em vista
dois tipos de situações: 1. a função exercida por servidores contratados temporariamente com
base no art.37, IX, para os quais não se exige, necessariamente, concurso público, porque, às
vezes, a própria urgência da contratação é incompatível com a demora do procedimento; (...) 2.
as funções de natureza permanente, correspondentes a chefia, direção, assessoramento ou
outro tipo de atividade para a qual o legislador não crie o cargo respectivo; em geral, são
funções de confiança, de livre provimento e exoneração; a elas se refere o art.37, V (...). Com

56
Op. cit., p.427.
57
Idem, p.428.

19
isso, fica explicada a razão de ter o constituinte, no art.37, II, exigido concurso público só para
a investidura em cargo ou emprego. Nos casos de função, a exigência não existe porque os que
a exercem ou são contratados temporariamente para atender às necessidades emergentes da
Administração, ou são ocupantes de funções de confiança, para as quais não se exige concurso
público. A discussão quanto aos dois tipos de função atualmente existentes é de fundamental
importância, porque há uma série de normas constitucionais que, ao fazerem referência a cargo,
emprego ou função, estão-se referindo às funções de confiança e não à função temporária
exercida com base no art.37, IX”.58

6) NORMAS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS A TODOS OS SERVIDORES PÚBLICOS.

Ao tratar da Administração Pública, a Constituição Federal contém normas direcionadas a todos


os servidores públicos, sejam eles estatutários ou trabalhistas.

De logo, a Carta Magna prevê criação, transformação e extinção de cargos, empregos e


funções públicas será da competência do Congresso Nacional, por meio de lei submetida à
sanção do Presidente da República (art.48, X). A regra, então, é a existência de lei tratando do
tema.

Ocorre que esta regra comporta exceções previstas na própria Carta.

O artigo 84, VI, b (com a redação dada pela EC 32/2001) confere ao Presidente da República a
competência privativa para dispor, mediante decreto, sobre extinção das funções ou cargos
públicos, quando vagos. Trata-se de uma espécie de regulamento autônomo excepcionalmente
admitido no ordenamento brasileiro.

Os artigos 51, IV e 52, XIII (com as redações dadas pela EC 19/1998), conferem à Câmara dos
Deputados e ao Senado Federal a competência privativa para dispor sobre a criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus respectivos serviços, e a
iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. Portanto, a organização funcional da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal não depende de lei, dando-se através de resolução. Já a
fixação de vencimentos para tais cargos, empregos e funções depende de lei, conforme adverte
Celso Antônio Bandeira de Mello, com vistas à referida Emenda 19:

“A criação de cargos auxiliares do Legislativo, a teor dos arts.51, IV, e 52, XIII, é de
competência privativa da Câmara ou do Senado, conforme o caso; isto é, independente de
participação do Executivo. Faz-se por resolução, e não por lei, já que na elaboração desta há
necessariamente interferência do Executivo, através da ‘sanção’ ou do ‘veto’, conquanto este
último seja superável por votação da maioria qualificada do Legislativo. A razão dos dispositivos
em questão, pois, seria e era, até o advento do “Emendão”, assegurar a independência do
Legislativo, propiciando-lhe que se instrumentasse, conforme lhe parecesse adequado, ao
cumprimento de suas funções, já que, a toda evidência, o bom desempenho delas está
relacionado com o apoio de seus serviços auxiliares. Pretendia-se, então, evitar interferências
do Executivo na matéria, para que este não tivesse forma de tentar amesquinhar os recursos
humanos necessários ao Legislativo ou meios de impor ‘barganhas’ quanto a isto. Desde o
“Emendão”, contudo, com a mudança da redação dos preceptivos mencionados, estes se
tornaram puramente rituais. É que a fixação dos vencimentos de tais cargos, condição para que
possam de fato existir e ser preenchidos, depende de lei. Assim, os autores do ‘Emendão’ e os
congressistas que docilmente votaram a alteração do art.51, IV e 52, XIII, eliminaram o único
sentido dos versículos referidos, em detrimento da autonomia do Poder Legislativo e em favor
de sua notória e crescente submissão ao Executivo”.59

Importante destacar, ainda, que a lei que dispuser sobre a criação e a extinção de cargos e a
remuneração dos serviços auxiliares no Poder Judiciário, bem como a fixação do subsídio de
seus membros e dos juizes, será de iniciativa dos respectivos Tribunais (Supremo Tribunal

58
Ib idem.
59
Op. cit., nota de rodapé, p.227.

20
Federal, Tribunais Superiores e Tribunais de Justiça), conforme previsto no art.96, II, b, da Lei
Maior. Essa autonomia na iniciativa das leis também é conferida ao Ministério Público, no
tocante à criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares (CF, art.127, §2º).

Outra determinação constitucional refere-se à acessibilidade aos cargos e empregos


públicos e à investidura por concurso público. Assim, os cargos, empregos e funções
públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
como aos estrangeiros, na forma da lei (art.37, I). E a investidura em cargo ou emprego público
depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo
com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas
as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração
(art.37, II).

“O que a Lei Magna visou com os princípios da acessibilidade e do concurso público foi, de um
lado, ensejar a todos iguais oportunidades de disputar cargos ou empregos na Administração
direta, indireta ou fundacional. De outro lado, propôs-se a impedir tanto o ingresso sem
concurso, ressalvadas as exceções previstas na Constituição, quanto obstar a que o servidor
habilitado por concurso para cargo ou emprego de determinada natureza viesse depois a ser
agraciado com cargo ou emprego permanente de outra natureza, pois esta seria uma forma de
fraudar a razão de ser do concurso público. Nas regras do concurso não podem ser feitas
discriminações entre brasileiros natos ou naturalizados, salvo em relação aos cargos arrolados
no art.12, §3º, da Lei Maior, quando então serão obrigatórias, pois nele arrolam-se os que são
privativos de brasileiro nato, como exceção à regra geral fixada no §2º deste mesmo artigo,
segundo a qual são vedadas distinções entre uns e outros. Em decorrência do disposto no
art.7o, XXX, ao qual o art.39, §3º, faz remissão, em princípio não seriam admissíveis restrições
discriminatórias por motivo de idade ou sexo para admissão em cargos ou empregos; contudo,
a parte final deste último preceptivo ressalva a possibilidade de se instituírem requisitos
diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. Assim, tal possibilidade existe,
mas apenas em relação a cargos. Isto não apenas pela dicção da regra, mas também e
sobretudo pelo fato de que os que se candidatem a emprego (na organização central do Estado
ou em pessoa de sua Administração indireta) sujeitar-se-ão basicamente às normas – inclusive
as constitucionais – relativas ao Direito do Trabalho. Ora, o art.7o, onde estão arrolados os
direitos trabalhistas fundamentais, em seu inciso XXX, não incluiu ressalva alguma em sua
dicção”.60

A regulamentação da regra constitucional do concurso público poderá ser feita pela legislação
infraconstitucional. Conforme veremos em tópico posterior, muitos aspectos já foram tratados
no texto da Lei 8.112/90, que dispõe sobre o regime dos servidores públicos civis federais,
existindo ainda outras leis específicas, inclusive em âmbito estadual e municipal. Mas essas
normas infraconstitucionais servem apenas para reforçar a regra geral da obrigatoriedade do
concurso público, já prevista no art.37, II, da CF/88, que é auto-aplicável. Vale dizer, mesmo
que não houvesse lei dispondo sobre a matéria, o prévio concurso seria obrigatório.

Segundo previsto nos arts. 11 e 12 da Lei 8.112/90, o concurso público poderá ser realizado em
duas etapas, conforme dispuserem a lei e o regulamento do respectivo plano de carreira,
condicionada a inscrição do candidato ao pagamento do valor fixado no edital, quando
indispensável ao seu custeio, e ressalvadas as hipóteses de isenção nele expressamente
previstas.

O prazo de validade do concurso e as condições de sua realização serão fixados em edital, que
será publicado no Diário Oficial da União e em jornal diário de grande circulação. Tal prazo
poderá ser de até 2 (dois) anos, prorrogável uma única vez por igual período. Ou seja, o edital
poderá fixar um prazo igual ou menor do que esse, de modo que eventual prorrogação poderá
inclusive superar os dois anos. Extrai-se dessa regra que, em havendo prorrogação, o prazo
máximo de validade de um concurso será de 4 (quatro) anos. Registre-se que esse prazo de
validade é contado a partir da data de homologação do concurso, que só ocorre após o anúncio
dos aprovados.

60
BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p.249-250.

21
A norma legal diz ainda que não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato aprovado
em concurso anterior com prazo de validade não expirado. Na verdade, a melhor interpretação
é a de que pode até ser aberto um novo concurso, desde que os já aprovados no concurso
anterior tenham prioridade em relação aos novos concursados, como se extrai do art. 37, IV, da
CF/88.

O art.37, §8, da CF/88, prevê que a lei reservará percentual de vagas para portadores de
deficiência, definindo os critérios de sua admissão. Ou seja, certo número de vagas somente
serão disputadas por deficientes. No âmbito federal, a Lei 8.112/90 e o Decreto 3.298/99
estabelecem percentual mínimo de 5% e máximo de 20%.

Isso não significa que todo e qualquer concurso deverá ter vagas para deficientes.

Primeiro há de ser verificado se o cargo objeto do concurso é compatível com a deficiência,


conforme ressalva o art.5º, §2º, da Lei 8.112/90. Além disso, dependendo do número de vagas,
pode não ser possível fazer reserva para deficientes.

“Em geral, se, com a incidência do percentual legal, o resultado não for um número inteiro,
deverá haver aplicação do primeiro número interior subseqüente, obedecido o limite máximo
fixado (Decreto 3.298/1999). Assim, segundo já decidiu o STF, em havendo tão somente duas
vagas, descabida a pretensão de reserva, vez que violaria o princípio da isonomia, a reserva de
50% das vagas para os candidatos portadores de deficiência (MS 26.310/DF, DJ
31/20/2007)”.61

Logo, “se o edital anunciar menos de cinco vagas a serem preenchidas, fica vedada a reserva de
vagas aos portadores de deficiência. Isso porque, havendo somente uma, duas, três ou quatro
vagas, a aplicação do percentual de 20% resultará em fração inferior a uma vaga”.62

Para além do que já disposto expressamente na Constituição e na lei, há muitas peculiaridades


que vieram sendo enfrentadas pela jurisprudência acerca do concurso público.

Assim, por exemplo, a Súmula 683 do STF orienta que “o limite de idade para a inscrição em
concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXV, da Constituição, quando possa ser
justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”. Saliente-se que o edital do
concurso somente pode estabelecer limite de idade para determinado cargo se houver lei
prevendo isso. Essa restrição não pode estar prevista apenas em atos normativos da
Administração, conforme também já decidido pelo STF (AI-AgR 589.906/DF, DJ de
23/05/2008).

Da mesma forma, “só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato
a cargo público” (Súmula 686 do STF).

“É inconstitucional o veto não motivado à participação de candidato a concurso público”,


consoante reza a Súmula 684 do STF.

E conforme a Súmula 266 do STJ, “o diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo
deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso público”.

Questão polêmica ainda diz respeito à situação jurídica do candidato aprovado em concurso
público, se ele teria direito à nomeação ou uma mera expectativa de direito.

A Súmula 15 do STF há muito considerava que o candidato aprovado somente teria direito à
nomeação em caso de preterição da ordem de classificação no concurso, ou seja, se outro
candidato pior classificado fosse convocado na sua frente. Fora daí, entendia-se haver apenas

61
PRADO; TEIXEIRA, op. cit., p.145.
62
MAZZA, Alexandre. Op. cit., p.431.

22
expectativa de direito. Essa orientação jurisprudencial, todavia, veio mudando ao longo do
tempo, instaurando-se controvérsias sobre o tema.

Com efeito, “a jurisprudência do STF sempre foi no sentido de que ‘a aprovação em concurso
público não gera, em princípio, direito à nomeação, constituindo mera expectativa de direito.
Esse direito surgirá se houver o preenchimento de vaga sem observância de ordem
classificatória’ (STF, RE-AgR 306.938/RS, DJ 11/10/2007). No entanto, há julgado em sentido
contrário, proferido pela 1ª Turma, por 3 votos a 2, no bojo do RE 227.480/RJ, DJ 21/08/2009:
‘Os candidatos aprovados em concurso público têm direito subjetivo à nomeação para a posse
que vier a ser dada nos cargos vagos existentes ou nos que vierem a vagar no prazo de
validade do concurso’. Assim, noutro Recurso Extraordinário, o STF reconheceu a existência de
repercussão geral na controvérsia sobre a existência ou não de obrigação da administração
pública nomear candidatos aprovados dentro do número de vagas oferecidas no edital do
concurso público (RE 598.099/MS, DJ 05/03/2010). De seu turno, no âmbito do STJ, há várias
decisões no sentido de existir direito subjetivo do candidato (STJ, RMS 27.311/AM, DJ
08/09/2009). Assim, de pacífico, ainda nada existe”.63

Há concursos em que se exige certa prática profissional. Nos concursos para a magistratura e
Ministério Público, por exemplo, a própria Constituição condiciona que haja três anos de
atividade jurídica.

“Os três anos de atividade jurídica contam-se da data da conclusão do curso de Direito e o
fraseado ‘atividade jurídica’ é significante de atividade para cujo desempenho se faz
imprescindível a conclusão de curso de bacharelado em Direito. O momento da comprovação
desses requisitos deve ocorrer na data da inscrição no concurso, de molde a promover maior
segurança jurídica tanto da sociedade quanto dos candidatos. Vale ressaltar também que,
segundo o art. 90 da Resolução 75, de 12/05/2009, do CNJ, não mais se incluem tempo de
curso de pós-graduação na área jurídica iniciados após a publicação de tal Resolução”.64

Somente é possível haver contratação sem concurso quando se tratar de cargo em comissão
ou, ainda, para o atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público
(art.37, IX).

Porém, em respeito aos princípios da moralidade, da eficiência e da impessoalidade, a indicação


para os cargos em comissão deve obedecer a critérios que evitem a ocorrência de nepotismo.
Para tanto o STF editou a Súmula Vinculante n. 13, segundo a qual “a nomeação de cônjuge,
companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive,
da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de
direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou,
ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a Constituição Federal”. Essa proibição estendida a “designações
recíprocas” busca evitar o chamado nepotismo cruzado.

Por outro lado, o STF ressalvou que a proibição referida na Súmula Vinculante n. 13 não se
aplica às nomeações para cargos de natureza política tais como os de Ministro de Estado e
Secretário de Governo, seja em âmbito federal, estadual ou municipal.

Saliente-se que essa proibição de nepotismo, não obstante já seja uma decorrência direta do
princípio da moralidade, é reforçada pelo Decreto 7.203/2010 (aplicado à Administração
Federal) e pela Resolução 7/2005 do CNJ (aplicada no âmbito do Poder Judiciário).

63
PRADO; TEIXEIRA, op. cit., p.154.
64
Idem, p. 134.

23
Outra norma constitucional relativa a todos os servidores públicos refere-se aos direitos de
sindicalização e de greve.

É garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical (art.37, VI), tratando-se
de norma constitucional de eficácia plena. Já o direito de greve será exercido nos termos e nos
limites definidos em lei específica (art.37, VII).

Com vistas a esse dispositivo constitucional, o STF veio inicialmente adotando o entendimento
de que, por se tratar de norma de eficácia limitada, o direito de greve no serviço público não
poderia ser exercido pelo servidor enquanto não fosse editada uma lei específica o
regulamentando. Ocorre que passados mais de vinte anos desde o advento da Constituição, até
hoje não há lei regulamentando o direito de greve. Não obstante, inúmeras greves de servidores
já ocorreram e muitas certamente ainda irão ocorrer. A necessidade de lei específica relaciona-
se às peculiaridades do serviço público, haja vista o princípio da continuidade, além de
obstáculos referentes à obtenção de vantagem pela via da negociação coletiva.

“Na realidade, não devem ser poucas as dificuldades que o legislador federal enfrentará para
regulamentar a greve do servidor público; não é especialmente por se tratar de serviço público,
cuja continuidade fica rompida com a paralisação; se fosse essa a dificuldade, poderia ser
contornada da mesma forma por que o foi nos artigos 10 a 13 da Lei 7783/89, que cuida dos
serviços considerados essenciais (a maior parte deles sendo serviços públicos) e estabelece
normas que asseguram a sua continuidade em períodos de greve. A dificuldade está no fato de
que, tanto o direito de sindicalização como o direito de greve, cuja importância para os
trabalhadores em geral diz respeito a assuntos relacionados com pretensões salariais, não
poderão ter esse alcance em relação aos servidores públicos, ressalva feita aos das empresas
estatais. Com esse objetivo, o exercício do direito de greve poderá, quando muito, atuar como
pressão sobre o Poder Público, mas não poderá levar os servidores a negociações coletivas, com
ou sem participação dos sindicatos, com o fim de obter aumento de remuneração. (...) Não
poderia o servidor de uma categoria participar de negociação coletiva que lhe assegurasse
vencimentos superiores aos definidos em lei e que ainda contrariasse as normas do art.37. Quer
dizer que o direito de greve, com a possibilidade de participar de negociação coletiva, por meio
de sindicato, dificilmente poderá alterar a remuneração ou qualquer direito do servidor público
que seja definido em lei. Mesmo que a União, Estados e Municípios optem pelo regime da CLT
para seus servidores, ele terá que ser adotado com todas as derrogações previstas no artigo 37
e seguintes da Constituição. O STF, na ADIN n. 492-1, do Distrito Federal, julgou
inconstitucionais as alíneas d e e do art.240 da Lei 8112/90 (que instituiu o regime único dos
servidores da União), que versam sobre o direito dos servidores à negociação coletiva e ao
ajuizamento, na Justiça do Trabalho, de dissídios individuais e coletivos que envolvam as
relações por ela regidas”.65

Ocorre que recentemente, “por meio de mandato de injunção, o STF removeu o obstáculo
decorrente da omissão legislativa e, supletivamente, tornou viável o exercício do direito
consagrado no artigo 37, VII, da CF, admitindo a aplicação aos servidores públicos da Lei
7.783/1989, que disciplina a matéria para os empregados privados”66. De fato, conforme
discutido no julgamento do MI 670/ES (DJ de 31/10/2008), o Pretório Excelso avançou no seu
entendimento anterior, passando a admitir que, enquanto não sobrevier lei específica cuidando

da greve no serviço público, a aplicabilidade do art.37, VII, há de ser garantida aplicando-se


analogicamente a lei de greve da iniciativa privada.

Outra disposição constitucional refere-se à proibição de acumulação remunerada, norma


igualmente aplicável aos servidores estatutários e empregados, alcançando inclusive os
chamados servidores governamentais das empresas estatais e até mesmo de outras empresas
controladas indiretamente pelo Estado. De fato, reza o art.37, XVI, da Lei Maior que é vedada a
acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, a de dois cargos de professor, a de um

65
DI PIETRO, op. cit., p.449-450.
66
PRADO; TEIXEIRA, op. cit., p.135.

24
cargo de professor com outro técnico ou científico, ou, ainda, a de dois cargos ou empregos
privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas, desde que haja
compatibilidade de horários.

Em seguida, no art.37, XVII, a Carta Magna estabelece que esta proibição de acumular estende-
se a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de
economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo
Poder Público.

“A EC n. 19/98, de reforma administrativa do Estado, alterando o art.37, XVII, da CF, que trata
desses outros casos de inviabilidade de acumulação, ampliou as vedações ali contidas, para
alcançar também as subsidiárias das referidas entidades, bem como as sociedades controladas,
direta ou indiretamente, pelo Poder Público. Significa dizer que, mesmo que a entidade não
integre a Administração Indireta, mas desde que seja subsidiária ou que sofra controle direto ou
indireto do Poder Público, vedada estará a acumulação remunerada de funções ou empregos
públicos. A vedação atinge, por conseguinte, a acumulação remunerada de cargos, empregos e
funções na Administração Direta e Indireta, seja dentro de cada uma, seja entre os dois setores
da Administração entre si. O fundamento da proibição é impedir que o acúmulo de funções
públicas faça com que o servidor não execute qualquer delas com a necessária eficiência. Além
disso, porém, pode-se observar que o Constituinte quis também impedir a cumulação de ganhos
em detrimento da boa execução das tarefas públicas. Tantos são os casos de acumulação
indevida que a regra constitucional parece letra morta; quando se sabe que o caos que reina
nas Administrações sequer permite a identificação correta de seus servidores, afigura-se como
grotesca a proibição constitucional, pois que será praticamente impossível respeitar o que se
estabelece a respeito. Note-se que a vedação se refere à acumulação remunerada. Em
conseqüência, se a acumulação só encerra a percepção de vencimentos por uma das fontes, não
incide a regra constitucional proibitiva”.67

Saliente-se que, conforme se posicionou o STF, tal proibição de cumulação ocorre mesmo que
se trate de proventos de inatividade, alcançando, portanto, os servidores aposentados. Esse
entendimento do Pretório Excelso resultou no advento da EC n.20/98, acrescentando o §10 ao
art.37, tornando expressa a proibição de percepção simultânea de proventos de aposentadoria
pública com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos
acumuláveis na forma da Constituição, resguardados os direitos dos aposentados que
eventualmente já vinham acumulando proventos com vencimentos de outro cargo efetivo.

Fala-se ainda em um teto salarial com base no subsídio mensal fixado para os Ministros do STF
(CF, art.37, XI), para os servidores públicos detentores de cargos, empregos, funções públicas e
agentes políticos membros de Poder. Esse teto salarial aplica-se a todos os agentes públicos,
inclusive os empregados das empresas públicas, sociedades de economia mista, e suas
subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral (CF, art.37, §9º).

O teto alcança as percepções cumulativas autorizadas na Carta Magna, “ou seja, os casos em
que o agente acumula legalmente cargos, funções ou empregos públicos, aplicando-se o limite à
soma das retribuições”68 (CF, art.37, inciso XVI, que remete ao inciso XI). O valor do subsídio
dos Ministros do STF (pagamento em parcela única) é fixado por lei (art.48, XV). Tal lei antes

dependia da iniciativa conjunta dos Presidentes da República, da Câmara dos Deputados, do


Senado e do Supremo Tribunal Federal, o que dificilmente viria a ocorrer. Todavia, a recente
Emenda n.41/2003 alterou o dispositivo constitucional, de forma a não mais exigir tal iniciativa
conjunta. A iniciativa, então, passou a seguir a regra geral do art.96, II, b, da Carta, ou seja,
cabendo ao Supremo Tribunal Federal a iniciativa da lei de subsídios de seus ministros, o que já
foi feito.

67
CARVALHO FILHO, op. cit., p.518-519.
68
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. São Paulo: RT, p.327.

25
Outra regra constitucional aplicável aos servidores públicos em geral diz respeito às sanções
por improbidade administrativa. Segundo o art.37, § 4º, da Lei Maior, os atos de
improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. E o §5º do mesmo artigo considera imprescritíveis
as ações de ressarcimento contra os agentes públicos que tenham praticado ato ilícito em
prejuízo ao erário.

Por derradeiro, no tocante ao exame jurisdicional de litígios envolvendo a relação entre os


agentes públicos e o Estado, a competência judicial dependerá do tipo de regime a que
estejam submetidos. Se a lide decorrer de contrato de trabalho nos moldes da CLT (detentores
de emprego público, empregados governamentais e empregados temporários), a competência
será da Justiça do Trabalho, na forma do art.114 da CF/88. Já se o regime for o estatutário
ou de contrato administrativo (detentores de cargos efetivos, cargos em comissão ou cargos
temporários), a competência será da Justiça Comum, Estadual ou Federal a depender do caso.
Justiça Federal se for servidor federal. Justiça Estadual se for servidor estadual ou
municipal.

“Os litígios referentes à greve de servidores estatutários devem ser resolvidos pela Justiça
Comum (estadual ou federal). Segundo o STF, se a paralisação for de âmbito nacional ou
abranger mais de uma região da Justiça Federal, ou ainda, compreender mais de uma unidade
da federação, a competência para o dissídio de greve será do Superior Tribunal de Justiça. Ainda
no âmbito federal, se a controvérsia estiver adstrita a uma única região da Justiça Federal, a
competência será dos Tribunais Regionais Federais. Para o caso da jurisdição no contexto
estadual ou municipal, se a controvérsia estiver adstrita a uma unidade da federação, a
competência será do respectivo Tribunal de Justiça. As greves de âmbito local ou municipal
serão dirimidas pelo Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal com jurisdição sobre o
local da paralisação, conforme se trate de greve de servidores municipais, estaduais ou federais
(MI 670/ES e MI 708/DF, DJ 31/12/2008)”.69

Existem outras normas constitucionais tratando dos servidores públicos, mas que somente se
aplicam aos estatutários. Estas serão vistas no tópico a seguir.

7) AS PECULIARIDADES DO REGIME ESTATUTÁRIO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS


DA UNIÃO, AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES PÚBLICAS FEDERAIS (LEI 8112/90).

A Lei 8112/90 dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das
Autarquias, inclusive as de regime especial, e das fundações públicas federais.

Como já se mencionou, o servidor público estatutário está legalmente investido em um cargo


público (art.2o).

Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura


organizacional que devem ser cometidas a um servidor (art.3o). Os cargos públicos, acessíveis a
todos os brasileiros, são criados por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos
cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão (p.único).

É proibida a prestação de serviços gratuitos, salvo os casos previstos em lei (art.4o).

Dentre as peculiaridades do regime estatutário dos servidores públicos, previstas na


Constituição Federal e na referida legislação, destacam-se as formas de provimento dos cargos,
a estabilidade dos servidores, além de outras vantagens, e as formas de desprovimento e
vacância dos cargos.

Investidura é o ato jurídico, em virtude do qual se dá posse à pessoa para desempenho de


cargo ou função para o qual foi nomeado.

69
PRADO; TEIXEIRA, op. cit., p. 148.

26
A investidura, portanto, consubstancia um procedimento complexo que envolve o provimento
e, se tal se der por nomeação, a posse no cargo público.

Veremos mais à frente que o provimento pode ocorrer por sete formas: nomeação, promoção,
readaptação, reversão, aproveitamento, reintegração e recondução.

Mas “só haverá posse nos casos de provimento de cargo por nomeação” (art.13, §4º).

Significa dizer, que o servidor que vem a ser nomeado para um cargo, só estará nele
completamente investido após tomar posse (art.7o). A posse deverá ocorrer no prazo de 30
(trinta) dias contados da publicação do ato de provimento (nomeação), caso contrário será
tornado sem efeito (art.13, §§1º e 6º).

Além de tomar posse, o servidor deve entrar em exercício, iniciando o efetivo desempenho das
atribuições do cargo público ou da função de confiança (art.15), no prazo de 15 (quinze) dias
após a data da posse, caso contrário será exonerado do cargo ou será tornado sem efeito o ato
de sua designação para função de confiança (art.15, §§1º e 2º).

7.1) O PROVIMENTO EM CARGO PÚBLICO.

Provimento “é o fato administrativo que traduz o preenchimento de um cargo público”,


“consubstanciado através de um ato administrativo de caráter funcional: são os atos de
provimento”.70 É através do provimento que um servidor vem a ocupar um cargo público; a lei
cria o “lugar” e o servidor o “preenche”.

O provimento poderá ser originário ou derivado.

No provimento originário, também chamado de autônomo, “o preenchimento do cargo dá início


a uma relação estatutária nova, seja porque o titular não pertencia ao serviço público
anteriormente, seja porque pertencia a quadro funcional regido por estatuto diverso do que rege
o cargo agora provido.

Exemplo: é provimento originário aquele em que o servidor, vindo de empresa da iniciativa


privada, é nomeado para cargo público após aprovação em concurso. Também é provimento
originário a hipótese em que um detetive, sujeito a estatuto dos policiais, é nomeado, após
concurso, para o cargo de Defensor Público, sujeito a estatuto diverso”.71

No provimento derivado, “o cargo é preenchido por alguém que já tenha vínculo anterior com
outro cargo, sujeito ao mesmo estatuto. Se, por exemplo, o servidor é titular do cargo de
Assistente nível A e, por promoção, passa a ocupar o cargo de Assistente nível B, o provimento
é derivado”.72

Atualmente são formas de provimento de cargo público, segundo o art.8o da Lei 8112/90 (já
alterado pela Lei 9527/97)73, a nomeação, a promoção, a readaptação, a reversão, o
aproveitamento, a reintegração e a recondução. Destas, somente a nomeação é forma de
provimento originário. As demais são formas de provimento derivado.

A Lei 9527/97 revogou os incisos III e IV do art.8º, acabando com os antigos institutos da
ascensão e da transferência, eis que o STF somente as admitia se o servidor fosse aprovado em
concurso público74, situação que, portanto, se caracterizaria sempre como nomeação
(provimento originário).

70
CARVALHO FILHO, op. cit., p.489.
71
Idem, p.490.
72
Ib idem.
73
A Lei 9527/97 extinguiu as figuras da “transferência” e da “ascensão”.
74
Vide ADI 231, Relator: Ministro Moreira Alves e MS 22148, Relator Ministro Carlos Veloso.

27
“ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ASCENSAO OU ACESSO, TRANSFERENCIA E APROVEITAMENTO NO
TOCANTE A CARGOS OU EMPREGOS PUBLICOS. - O CRITERIO DO MERITO AFERIVEL POR CONCURSO PUBLICO DE
PROVAS OU DE PROVAS E TITULOS E, NO ATUAL SISTEMA CONSTITUCIONAL, RESSALVADOS OS CARGOS EM
COMISSAO DECLARADOS EM LEI DE LIVRE NOMEACAO E EXONERACAO, INDISPENSAVEL PARA CARGO OU EMPREGO
PUBLICO ISOLADO OU EM CARREIRA. PARA O ISOLADO, EM QUALQUER HIPOTESE; PARA O EM CARREIRA, PARA O
INGRESSO NELA, QUE SO SE FARA NA CLASSE INICIAL E PELO CONCURSO PUBLICO DE PROVAS OU DE PROVAS
TITULOS, NAO O SENDO, POREM, PARA OS CARGOS SUBSEQUENTES QUE NELA SE ESCALONAM ATE O FINAL DELA,
POIS, PARA ESTES, A INVESTIDURA SE FARA PELA FORMA DE PROVIMENTO QUE E A "PROMOCAO". ESTAO, POIS,
BANIDAS DAS FORMAS DE INVESTIDURA ADMITIDAS PELA CONSTITUICAO A ASCENSAO E A TRANSFERENCIA, QUE
SAO FORMAS DE INGRESSO EM CARREIRA DIVERSA DAQUELA PARA A QUAL O SERVIDOR PUBLICO INGRESSOU POR
CONCURSO, E QUE NAO SAO, POR ISSO MESMO, INSITAS AO SISTEMA DE PROVIMENTO EM CARREIRA, AO
CONTRARIO DO QUE SUCEDE COM A PROMOCAO, SEM A QUAL OBVIAMENTE NAO HAVERA CARREIRA, MAS, SIM, UMA
SUCESSAO ASCENDENTE DE CARGOS ISOLADOS. - O INCISO II DO ARTIGO 37 DA CONSTITUICAO FEDERAL TAMBEM
NAO PERMITE O "APROVEITAMENTO", UMA VEZ QUE, NESSE CASO, HA IGUALMENTE O INGRESSO EM OUTRA
CARREIRA SEM O CONCURSO EXIGIDO PELO MENCIONADO DISPOSITIVO. ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
QUE SE JULGA PROCEDENTE PARA DECLARAR INCONSTITUCIONAIS OS ARTIGOS 77 E 80 DO ATO DAS DISPOSICOES
CONSTITUCIONAIS TRANSITORIAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO”.75

Vejamos cada uma destas formas de provimento, segundo a melhor doutrina:

Nomeação “é o ato administrativo que materializa o provimento originário. Em se tratando de


cargo vitalício ou efetivo, a nomeação deve ser precedida de aprovação prévia em concurso
público. Se se tratar de cargo em comissão, é dispensável o concurso”.76

“O provimento autônomo ou originário é aquele em que alguém é preposto no cargo


independentemente do fato de ter, não ter, haver ou não tido algum vínculo com cargo público.
Vale dizer, o provimento não guarda qualquer relação com a anterior situação do provido. Por
isto se diz autônomo ou, então, originário. A única forma de provimento originário é a
nomeação, a qual se define, pois, como o provimento autônomo de um servidor em cargo
público. O provimento por nomeação é de alçada do Chefe do Poder Executivo, para os cargos
da Administração Central, e se faz por decreto (art.84, XXV, da Constituição Federal).
Entretanto, tal competência é delegável aos Ministros (parágrafo único do mesmo artigo). Nesta
hipótese será por eles efetuada mediante portaria. Há alguns cargos estranhos ao Executivo
que, por expressa previsão constitucional, também são providos pelo Chefe do Executivo. Isto
sucede com cargos de Magistrados de Tribunais e de Ministros (Conselheiros) do Tribunal de
Contas. Já, os cargos de juiz singular e dos serviços auxiliares do Judiciário são providos pelos
Presidentes dos Tribunais a cuja órbita estejam afetos (art.96, I, ‘c’ e ‘e’). Os cargos dos
serviços auxiliares da Câmara ou do Senado são providos pelos Presidentes da Câmara ou do
Senado, conforme se liguem a uma ou outra destas Casas (arts.51, IV, e 52, XIII).77

Por se tratar de forma originária de provimento, a nomeação por si só não instaura a relação
funcional do Estado com o servidor nomeado. Para que a investidura se complete, como dito, é
preciso que o servidor nomeado tome posse, no prazo de trinta dias. Em seguida, deverá entrar
em exercício no prazo de quinze dias.

Ao tomar posse, o servidor nomeado declara aceitar o cargo e se compromete a bem


desempenhá-lo, assinando o respectivo termo, no qual deverão constar as atribuições, os
deveres, as responsabilidades e os direitos inerentes ao cargo ocupado, que não poderão ser
alterados unilateralmente, por qualquer das partes, ressalvados os atos de ofício previstos em
lei (art.13). A posse poderá dar-se mediante procuração específica (§3º). No ato da posse, o
servidor apresentará declaração de bens e valores que constituem seu patrimônio e declaração
quanto ao exercício ou não de outro cargo, emprego ou função pública (§5º).

O servidor entra em exercício quando dá início ao efetivo desempenho das atividades inerentes
ao cargo provido.

Portanto, o regular provimento originário de um cargo público pressupõe um procedimento


complexo de investidura (nomeação + posse), seguido da entrada em exercício pelo servidor
nomeado e empossado.

75
ADI 231 / RJ, Relator: Min. MOREIRA ALVES, Julgamento: 05/08/1992, Publicação: DJ DATA-13-11-92.
76
Idem.
77
BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p.272-273.

28
“Não basta a nomeação para que se aperfeiçoe a relação entre o Estado e o nomeado. Cumpre
que este tome posse, que é o ato de aceitação do cargo e um compromisso de bem-servir e
deve ser precedida por inspeção médica. Com a posse ocorre a chamada ‘investidura’ do
servidor, que é o travamento da relação funcional. O servidor deve tomar posse em 30 dias
contados da publicação do ato de provimento, sob pena de sua nomeação caducar, isto é,
perder o efeito (art.13 e §6º da Lei 8112). Depois da posse, dispõe de 15 dias para entrar em
exercício, isto é, para colocar-se à disposição da repartição em que vai desempenhar suas
funções, findos os quais, se omitir-se em fazê-lo, será exonerado (art.15 e parágrafos da lei
citada)”.78

Promoção é a forma de provimento derivado “pela qual o servidor sai de seu cargo e ingressa
em outro situado em classe mais elevada. É a forma mais comum de progressão funcional”.79 A
promoção poderá ser por antigüidade ou por merecimento, conforme dispuser a lei.

“O provimento derivado diz-se por promoção quando ocorre a mudança do servidor público de
um para outro cargo da mesma natureza de trabalho com elevação de função e de vencimento.
Conforme a legislação, essa espécie de provimento pode-se dar alternadamente, por
merecimento ou por antigüidade, a cada período de tempo, desde que haja vaga. Com a
promoção as atividades do servidor passam a ser de maior complexidade e responsabilidade e
ensejam maior remuneração”.80

Necessário salientar que a promoção pressupõe a sucessão de classes de cargos dentro da


mesma carreira (derivação horizontal). A Lei 9527/97 acabou com a figura da ascensão ou
acesso na esfera federal, que era uma espécie de promoção em que a progressão se dava entre
carreiras diversas (derivação vertical), o que foi considerado inconstitucional pelo STF81. Sobre
o tema escreve Lúcia Valle Figueiredo:

“A promoção pode se dar por derivação horizontal ou vertical. Na derivação vertical tem-se a
figura da ascensão, assim definida por Celso Antônio: ‘Ascensão (...) é a forma de provimento
derivado consistente na elevação do titular de cargo alocado na classe final de uma dada
carreira (série de classes) para cargo da classe inicial de outra carreira, predefinida legalmente
como complementar da anterior’. Segue-se que a ascensão, disposta no art.8o da Lei 8112/90,
era o antigo acesso, também chamado de progressão vertical (ocorre que o inciso
correspondente foi revogado pela Lei 9527, de 10.12.1997), após a declaração de
inconstitucionalidade pela Suprema Corte”.82

Readaptação é a forma de provimento derivado “pela qual o servidor passa a ocupar cargo
diverso do que ocupava, tendo em vista a necessidade de compatibilizar o exercício da função
pública com a limitação sofrida em sua capacidade física ou psíquica”.83 Conforme o art.24 da
Lei 8112/90, a investidura do servidor por readaptação deve ocorrer em cargo de atribuições e
responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou
mental verificada em inspeção médica. Se julgado incapaz para o serviço público, o readaptando
será aposentado (§1º). A readaptação será efetivada em cargo de atribuições afins, respeitada a
habilitação exigida, nível de escolaridade e equivalência de vencimentos e, na hipótese de
inexistência de cargo vago, o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a
ocorrência de vaga (§2º).

“A readaptação pode ocorrer quando o servidor for acometido de determinada doença que não o
inabilita para o serviço público, mas que o impede de continuar exercendo as funções de seu
cargo. Constatando-se esse fato, o servidor deve ser posicionado em outro cargo do mesmo
nível de escolaridade no qual a sua deficiência não lhe impeça exercer as respectivas funções. A
avaliação, nesse caso, é de competência do serviço médico oficial. Esse órgão é que indica que

78
Idem, p.273.
79
CARVALHO FILHO, op. cit., p.490.
80
GASPARINI, op. cit., p.248.
81
Vide ADIN 245, Relator: Ministro Moreira Alves, DJ de 13/08/1992.
82
Op. cit., p.579.
83
CARVALHO FILHO, op. cit., p.490-491.

29
tipo de função o servidor pode desempenhar sem sacrifício de sua saúde. Essa modalidade de
investidura ocorre muito entre os professores. Estes profissionais, com o tempo, em razão da
atividade em sala de aulas, podem ter as cordas vocais danificadas, chegando, em alguns casos,
à rouquidão ou à perda da voz. A readaptação depende de lei específica reguladora do
procedimento. O servidor, quando for o caso, será readaptado para cargo de mesmo grau de
escolaridade. Laudo médico oficial é indispensável à readaptação”.84

“Diz-se provimento por readaptação quando o servidor é provido em outro cargo cujo exercício
é mais compatível com sua superveniente limitação física (provimento do cargo de vigilante
escolar com servidor ocupante de cargo de motorista, que perdeu um dos braços em acidente),
conforme já decidiu o STF (RDA, 128:145). É provimento horizontal, pois o servidor não
ascende nem é rebaixado. Faz-se essa espécie de provimento sem concurso, dada a finalidade
do provimento. Se assim não for entendido e for obrigatório o concurso público, essa finalidade
poderá não ser alcançada, pois a vaga, eventualmente, será ocupada por alguém que não o
readaptando, aprovado no concurso público”.85

Reversão é o provimento derivado decorrente de reingresso do servidor inativo no serviço


público, o que, conforme o art.25 da Lei 8112/9086, pode ocorrer em duas hipóteses:
I) restabelecimento do servidor aposentado por invalidez, quando junta médica oficial declarar
insubsistentes os motivos da aposentadoria; II) no interesse da administração, desde que o
servidor tenha solicitado a reversão, a aposentadoria tenha sido voluntária, o servidor tenha
sido estável quando na atividade, a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores à
solicitação e haja cargo vago. A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo resultante de
sua transformação (§1º). O tempo em que o servidor estiver em exercício será considerado
para concessão da aposentadoria (§2º). No caso de restabelecimento de servidor aposentado
por invalidez, encontrando-se provido o cargo, o servidor exercerá suas atribuições como
excedente, até a ocorrência de vaga (§3º). O servidor que retornar à atividade por interesse da
administração perceberá, em substituição aos proventos da aposentadoria, a remuneração do
cargo que voltar a exercer, inclusive com as vantagens de natureza pessoal que percebia
anteriormente à aposentadoria (§4º). Não poderá reverter o aposentado que já tiver
completado 70 (setenta) anos de idade (Lei 8112/90, art.27).

“Reversão é o reingresso do aposentado no serviço ativo, ex officio ou ‘a pedido’, por não mais
subsistirem, ou não mais subsistirem, as razões que lhe determinaram a aposentação; ou seja,
por ter sido erroneamente decidida ou porque, em inspeção médica, apurou-se a ulterior
superação das razões de saúde que a estribavam. Na legislação federal é admitida a reversão,
seja quando junta médica oficial declarou insubsistentes os motivos da aposentadoria por
invalidez, seja no interesse da Administração, desde (a) o aposentado tenha solicitado a
reversão, (b) sua aposentadoria haja sido voluntária, (c) se trate de servidor que era estável,
(e) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores ao pedido de reversão”.87

“O servidor público aposentado pode voltar ao serviço público quando assim o solicitar, ou
quando determinado o retorno pela entidade a que se ligava, dado que insubsistentes (decisão
viciada) os motivos da aposentação ou por não mais subsistirem (os motivos desapareceram) os
motivos determinantes de sua aposentadoria. É a reversão. Na primeira hipótese, ou seja,
mediante solicitação, costuma-se dizer que a reversão é a pedido. Enquanto não atingir a idade-
limite da aposentadoria compulsória, o servidor pode solicitar a reversão, cabendo à entidade
requerida, tomadas as cautelas de estilo (exame médico, existência de vaga), deferir ou não o
pedido. Na segunda hipótese, isto é, quando determinada pela Administração Pública, diz-se ex
officio. As razões dessa manifestação da entidade que aposentara o servidor são a
insubsistência dos motivos da aposentação e a ilegalidade da concessão. Os Estatutos regulam a
reversão, e alguns só a permitem até uma certa idade, se houver laudo médico favorável. A
reversão, em princípio, far-se-á no mesmo cargo, mas, se for impossível, em outro de
atribuições e vencimentos semelhantes. Conforme já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo
(RDA, 121:228), a reversão é ato discricionário da entidade pública a que se vinculava o
84
FARIA, op. cit., p.135.
85
GASPARINI, op. cit, p.248-249.
86
Com redação dada pela MP 2225-45/2001 e posteriores.
87
BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p.275.

30
servidor. Embora decidido dessa forma, não cremos que a Administração Pública possa optar ou
não pela reversão quando presentes os motivos que lhe dão ensejo. A reversão é sempre
obrigatória em tais casos, sob pena de responsabilidade, já que não seria jurídico, nem justo e
lógico, que alguém desfrutasse de uma situação a que não tem direito (o aposentado está
curado, a aposentadoria foi concedida ilegalmente). Por essas razões não se pode submeter o
servidor sujeito à reversão, a concurso público, pois outro candidato poderá vencer esse
certame, salvo nos casos de reversão a pedido. Nessa hipótese, se o servidor interessado na
reversão não for aprovado e classificado no concurso, continuará na situação de aposentado.
Não cabe reversão quando a aposentadoria deveu-se ao tempo de serviço ou à idade”.88

Aproveitamento é o provimento derivado decorrente de reingresso do servidor que estava em


disponibilidade remunerada.

“Disponibilidade é procedimento jurídico-administrativo adotado pela Administração Pública


por ocasião de reforma ou reorganização estrutural de órgão ou entidade pública que implica a
redução de cargos e, conseqüentemente, de servidores. Nesses casos, os servidores excedentes
são, por ato da autoridade competente, postos em disponibilidade com direito a vencimentos
proporcionais ao tempo de serviço (EC n.19/98). A qualquer tempo, no interesse do serviço, o
servidor em disponibilidade pode ser convocado para retornar às atividades próprias do cargo de
que era detentor antes do afastamento”.89

Assim, o art.41, §3º, da Carta Magna estabelece que, uma vez extinto o cargo ou declarada a
sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração proporcional
ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro cargo.

Da mesma forma, dispõe o art.30 da Lei 8112/90 que o retorno à atividade de servidor em
disponibilidade far-se-á mediante aproveitamento obrigatório em cargo de atribuições e
vencimentos compatíveis com o anteriormente ocupado. Será tornado sem efeito o
aproveitamento e cassada a disponibilidade se o servidor não entrar em exercício no prazo legal,
salvo doença comprovada por junta médica oficial (art.32).

Ou seja, o aproveitamento “significa o retorno do servidor a determinado cargo, tendo em vista


que o cargo que ocupava foi extinto ou declarado desnecessário. Enquanto não se dá o
aproveitamento, o servidor permanece em situação transitória denominada de disponibilidade
remunerada. A disponibilidade reclama que a Administração providencie o adequado
aproveitamento do servidor, evitando-se que fique indefinidamente percebendo remuneração
sem exercer qualquer função pública. A exigência emana do art.41, §3º, da CF”.90

“O servidor público estável, e somente ele, pode ser colocado em disponibilidade, nos termos
dos §§2º e 3º do art.41 da Constituição Federal. Finda a disponibilidade, o servidor público
estável retorna ao serviço na entidade que o colocara nessa situação de inatividade. É o
aproveitamento. Os Estatutos regulam essa forma de provimento derivado. O aproveitamento ,
sempre que se apresentar essa oportunidade, é obrigatório. Não é, pois, faculdade para a
Administração Pública nem pode ser contestado pelo aproveitando, que deve tomar posse e
entrar no exercício do cargo nos prazos legais, sob pena de ser tornado sem efeito o
aproveitamento e cassada a disponibilidade (art.38, §5º, do Estatuto paulista). O
aproveitamento dar-se-á, quando possível, no mesmo cargo; caso contrário, em outro que lhe
corresponda em termos de atribuições e vencimentos. À falta de lei disciplinando essa forma de
provimento, não pode o servidor em disponibilidade exigir seu aproveitamento, conforme
Súmula 39 do STF”.91

Reintegração é o provimento derivado por reingresso de servidor que tenha sido


indevidamente demitido do serviço público. Reza o art.41, §2º, da Lei Maior que, invalidada por
sentença judicial a demissão do servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da
vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, aproveitado em
88
GASPARINI, op. cit., p.250.
89
FARIA, op. cit., p.136.
90
CARVALHO FILHO, op. cit., p.493.
91
GASPARINI, op. cit., p.249-250.

31
outro cargo ou posto em disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço. No
âmbito federal, dispõe o art.28 da Lei 8112/90 que a reintegração é a reinvestidura do servidor
estável no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo resultante de sua transformação, quando
invalidada a sua demissão por decisão administrativa ou judicial, com ressarcimento de todas as
vantagens. Observe-se que o Estatuto Federal faz referência também a decisão administrativa
de reintegração (alguns Estatutos estaduais somente prevêem a reintegração por decisão
judicial, o que, todavia, não deve obstar a reintegração pela própria Administração, haja vista o
princípio da autotutela).

Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor ficará em disponibilidade, até posterior
aproveitamento (art.28, §1º). Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual ocupante será
reconduzido ao cargo de origem, sem direito à indenização ou aproveitado em outro cargo, ou,
ainda, posto em disponibilidade (§2º).

“Reintegração é o retorno de servidor ilegalmente desligado de seu cargo ao mesmo, que


dantes ocupava, ou, não sendo possível, ao seu sucedâneo ou equivalente, com integral
reparação dos prejuízos que lhe advieram do ato jurídico que o atingira. Tal reconhecimento
tanto pode vir de decisão administrativa como judicial. No Estado de São Paulo só pode provir
de decisão judicial”.92

“Dá-se a reintegração do servidor ao cargo que antes ocupava porque fora desvinculado
ilegalmente. Nesse hipótese, o retorno faz-se com a plena restauração dos direitos violados
(volta para o mesmo cargo, com todas as vantagens) e com o integral ressarcimento dos
prejuízos sofridos (recebe todos os vencimentos, com juros e correção monetária), não obstante
decisão em contrário do STF (RDA, 127:377) no que concerne à correção. A reintegração pode
ser judicial (decorre de decisão do Poder Judiciário em ação de anulação de ato jurídico
cumulada com reintegração do servidor) ou administrativa (deriva de decisão da entidade a que
se ligava o servidor), conforme prevê o art.28 do Estatuto federal. O Estatuto paulista não
prevê a reintegração administrativa. Isso, cremos, é de nenhuma importância, visto que, pelo
princípio da autotutela, a Administração Pública direta, a autárquica e a fundacional pública
podem rever seus atos. Para essa finalidade é irrelevante argumentar em sentido contrário, com
o disposto no §2º do art.41 da Constituição Federal (...), porque aí só se prevê a invalidação da
demissão por via judicial. Essa expressa modalidade de reintegração não elimina a outra;
ambas convivem. Se o cargo foi extinto e não houver interesse no seu restabelecimento, o
servidor reintegrado será posto em disponibilidade, com proventos proporcionais, se não puder
ser aproveitado em cargo equivalente. Se o cargo foi transformado, a reintegração dar-se-á
nesse cargo. Dada a finalidade da reintegração, sua utilização é incompatível com o concurso
público. Não se pode, assim, submeter o reintegrando a concurso público, que, no caso, é
absolutamente dispensável”.93

Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente ocupado e decorrerá de


duas hipóteses: I) inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo; II) reintegração do
anterior ocupante (art.29 da Lei 8112). Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor
será aproveitado em outro de atribuições e vencimentos compatíveis com o anteriormente
ocupado.

“O servidor estável retornará ao cargo que ocupava quando foi desprovido do cargo que ocupa
devido à reintegração do seu então titular. É a recondução. Para essa espécie de provimento é
desnecessário o concurso público. Não ocorre a recondução quando o servidor é inabilitado no
estágio probatório que cumpria em razão da nomeação em outro cargo, dado que para a
investidura neste cargo teve de exonerar-se do que anteriormente ocupava, sob pena de
acumulação ilegal. Se o afastamento do cargo primitivo é decorrência de uma licença, o retorno
se dá pela extinção desta, não por força da recondução”.94

7.2) A ESTABILIDADE E A VITALICIEDADE.

92
BANDEIRA MELLO, op. cit., p.276.
93
GASPARINI, op. cit., p.249.
94
Idem, p.250-251.

32
Estabilidade “é o direito outorgado ao servidor estatutário, nomeado em virtude de concurso
público, de permanecer no serviço público após três anos de efetivo exercício, como passou a
determinar a EC n.19/98, que alterou o art.41da CF, pelo qual anteriormente era exigido o
prazo de apenas dois anos”.95

Em suma, estabilidade é a garantia de permanência no cargo efetivo, que se justifica por


assegurar ao servidor a independência no desempenho de suas funções, afastando-lhe o receio
de perseguições políticas.

“A estabilidade do servidor público, modernamente criticada por alguns seguimentos da


sociedade, principalmente pelos governos nos três níveis de Administração Pública, é de
fundamental importância para respaldar decisão de servidor que não cumprir ordem superior
em desacordo com a lei ou com a moralidade administrativa. O servidor instável pode ser
levado a praticar atos ilegais, embora em desacordo com a sua consciência, mas cumprindo
ordem superior, por medo de perder o cargo. A instabilidade do servidor pode fragilizar a
própria Administração e resultar em prejuízo para a sociedade. A estabilidade do servidor
público é garantia do cidadão e não privilégio daquele”.96

A estabilidade não se confunde com a efetividade, pois esta é atributo do cargo concursado,
enquanto a estabilidade está relacionada ao serviço público na pessoa do servidor. Vale dizer, o
servidor adquire estabilidade no exercício do cargo efetivo (não há estabilidade em cargos
comissionados ou temporários).

“Com muita freqüência têm sido confundidas as noções de estabilidade e efetividade. Trata-se,
entretanto, de figuras de perfil bem diferenciado, com natureza e finalidades próprias, embora
ambas tenham grande relevância no estudo dos servidores públicos. Estabilidade, como vimos
acima, é a garantia constitucional do servidor público estatutário de permanecer no serviço
público, após o período de três anos de efetivo exercício. Efetividade nada mais é do que a
situação jurídica que qualifica a titularização dos cargos efetivos, para distinguir-se da que é
relativa aos ocupantes de cargos em comissão. Se um servidor ocupa um cargo efetivo, tem
efetividade; se ocupa cargo em comissão, não a tem. Vejamos a aplicação prática dessa
diferença. Um servidor que, após aprovação em concurso, é investido em cargo efetivo, tem
efetividade, e esta nasce no momento em que o servidor toma posse e completa a relação
estatutária. Nos primeiros três anos, continua tendo efetividade, embora não tenha ainda
estabilidade”.97

“A estabilidade somente pode ser adquirida pelos concursados e não se confunde com a
efetividade. Esta – a efetividade – é inerente ao cargo. É dizer: o cargo postula ocupante que
permaneça, que não tenha precariedade de permanência como têm, por exemplo, os ocupantes
de cargos em comissão. A estabilidade, antes de ser garantia do funcionário, é garantia do
desempenho independente da função pública. E pontue-se: o fato de o funcionário ser estável
não tira a possibilidade de afastá-lo, caso infrinja seus deveres. A legislação infraconstitucional
traz nitidamente demarcada a possibilidade. Não é, assim, a estabilidade que pode gerar a
desídia, o locupletamento etc. Na verdade, a omissão administrativa no tocante às punições
(cuja aplicabilidade não constitui poder, mas dever do administrador) é que leva à mais variada
gama de desmandos administrativos”.98

Registre-se, todavia, que em casos excepcionais o ordenamento jurídico considerou estáveis


servidores que não ocupavam cargos efetivos, tal como previsto no art.19 do ADCT.

O período entre o início do exercício pelo servidor e a aquisição de sua estabilidade é


denominado estágio probatório, também chamado de período confirmatório. Durante esse
período, o cargo efetivo é ocupado temporariamente por servidor não estável (“dizemos

95
CARVALHO FILHO, op. cit., p.523-524.
96
FARIA, op. cit., p.138.
97
CARVALHO FILHO, op. cit., p.527-528.
98
FIGUEIREDO, Lúcia Valle, op. cit., p.550.

33
temporariamente porque, durante o período probatório, o funcionário ocupa cargo efetivo,
porém não se encontra ainda estabilizado”99).

Conforme já se posicionou o Superior Tribunal de Justiça, “a estabilidade diz respeito ao serviço


público, e não ao cargo”, razão pela qual “o servidor estável, ao ser investido em novo cargo,
não está dispensado de cumprir o estágio probatório nesse novo cargo”.100

O servidor público estável só perderá o cargo: I) em virtude de sentença judicial transitada em


julgado; II) mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; III)
mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar,
assegurada ampla defesa (art.41, §1º, da CF/88). Como condição para a aquisição da
estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para
essa finalidade (§4º).

“A avaliação desfavorável não implica exoneração automática, sumária. Há muito tempo o STF
formulou a Súmula 21, no seguinte teor: ‘Funcionário em estágio probatório não pode ser
exonerado nem demitido sem inquérito ou sem as formalidades legais de apuração de sua
capacidade’. Por sua vez, a Constituição Federal, art.5o, inc. LV, assegura o contraditório e
ampla defesa aos que têm controvérsias com a Administração e aos acusados em geral. Por
força da referida súmula e do preceito constitucional, ao servidor em estágio probatório deve ser
dada ciência prévia de apresentar alegações e documentos a respeito (contraditório e ampla
defesa), mesmo que o processo administrativo seja simplificado; tudo isso, reitere-se, antes de
se editar o ato de exoneração ou demissão”.101

Além disso, o art.169, §4º, da Carta Magna, com a redação dada pela EC 19/98, previu a
possibilidade de exoneração de servidor estável em observância ao limite de gasto orçamentário
com pessoal, quando não forem suficientes outras medidas de redução de despesas previstas no
§3º (I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e
funções de confiança; II - exoneração dos servidores não estáveis).

O servidor estável que perder o cargo por motivo de redução de despesas fará jus a indenização
correspondente a um mês de remuneração por ano de serviço (CF/88, art.169, §5º). Outrossim,
o cargo objeto da redução será considerado extinto, vedada a criação de cargo, emprego ou
função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos (§6º).

“Verifica-se, portanto, que a estabilidade tem novo perfil, porque poderá ser, como é tão a
gosto dos autores do projeto da Emenda, flexibilizada. Todavia, há necessidade, para que se
possa dar validamente tal flexibilização, do atendimento de alguns parâmetros, a seguir
enumerados: 1) que as medidas adotadas para a compatibilização, como a redução em 20%
dos cargos em comissão, a exoneração dos servidores não estáveis, não tenham sido
suficientes; 2) que lei federal disponha sobre as normas gerais a serem obedecidas diante de
tais situações; 3) que haja ato normativo motivado de cada um dos poderes especificando a
atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução. Portanto, podemos
verificar que ficou substancialmente alterado o perfil da estabilidade por força da possibilidade
de flexibilização”.102

No tocante a alguns agentes políticos (servidores em regime especial, segundo parte da


doutrina) a garantia de permanência no cargo se reveste de maior força do que a estabilidade,
denominando-se vitaliciedade (juízes de primeiro grau e membros do MP têm vitaliciedade
assegurada após dois anos de exercício do cargo, somente podendo perder o cargo por decisão
judicial transitada em julgado – CF/88, arts.95, I e 128 §5º, I, a). São vitalícios também os
membros do Tribunal de Contas (CF/88, art.73, §3º).

99
Idem, p.544.
100
STJ, RO em MS 859, 2a Turma, Relator: Ministro José Jesus Filho, RDA 191/135, 1992.
101
MEDAUAR, op. cit., p.330.
102
FIGUEIREDO, op. cit., p.546.

34
A vitaliciedade “somente é possível com relação a cargos que a Constituição federal define como
de provimento vitalício, uma vez que a vitaliciedade constitui exceção à regra geral da
estabilidade, definida no art.41. A lei ordinária não pode ampliar os cargos dessa natureza”.103

“Enquanto o provimento efetivo se dá sempre por concurso público, o vitalício nem sempre
depende dessa formalidade. Na Magistratura de primeiro grau, essa exigência consta do art.93,
I, da Constituição; nos Tribunais, o provimento se faz por promoção dos juízes de carreira ou
por nomeação, sem concurso, pelo Chefe do Poder Executivo (art.84, XIV e XVI, da
Constituição). Nesse último caso, a vitaliciedade é adquirida independentemente de estágio
probatório; este só existe para os juízes de carreira, nomeados por concurso, hipótese em que a
perda do cargo, nesse período, exige deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado
(art.95, I)”.104

7.3) OUTROS DIREITOS E VANTAGENS PREVISTOS NO ESTATUTO DOS SERVIDORES


PÚBLICOS CIVIS FEDERAIS.

Além da estabilidade, podemos destacar outros direitos e vantagens previstos no Estatuto dos
servidores públicos civis federais (Lei 8.112/90), os quais beneficiam diretamente o servidor ou
seus dependentes.

Em benefício diretamente do servidor existem os direitos e vantagens de ordem pecuniária


e os direitos de ausência ao serviço.

Os direitos e vantagens de ordem pecuniária referem-se à contraprestação salarial paga ao


servidor em razão do serviço e as verbas que possibilitam o desempenho do serviço.

Há basicamente duas modalidades de pagamento aos servidores: o sistema de remuneração e o


sistema de subsídios.

A remuneração “é o montante percebido pelo servidor público a título de vencimentos e de


vantagens pecuniárias. É, portanto, o somatório das várias parcelas pecuniárias a que faz jus,
em decorrência de sua situação funcional”.105

A remuneração compreende o vencimento (parcela fixa paga ao servidor, referente ao cargo


que ocupa), acrescida das vantagens pecuniárias (indenizações, adicionais e gratificações de
ordem pessoal ou referentes a certos fatos).

“Vencimento é a retribuição pecuniária que o servidor percebe pelo exercício de seu cargo,
conforme a correta conceituação prevista no estatuto funcional federal (art.40, Lei 8112/90).
Emprega-se, ainda, no mesmo sentido vencimento-base ou vencimento-padrão. Essa
retribuição se relaciona diretamente com o cargo ocupado pelo servidor: todo cargo tem seu
vencimento previamente estipulado. O aumento dos vencimentos dos cargos deve ter previsão
legal (art.61, §1º, II, a, CF)”.106

“Vantagens pecuniárias são as parcelas pecuniárias acrescidas ao vencimento em decorrência


de uma situação fática previamente estabelecida na norma jurídica pertinente. Toda vantagem
pecuniária reclama a consumação de certo fato, que proporciona o direito à sua percepção.

Presente a situação fática prevista na norma, fica assegurado ao servidor direito subjetivo a
receber o valor correspondente à vantagem. Esses fatos podem ser das mais diversas ordens:
desempenho das funções por certo do tempo; natureza especial da função; grau de
escolaridade; funções exercidas em gabinetes de chefia; trabalho em condições anormais de
dificuldades etc. São vantagens pecuniárias os adicionais e as gratificações”.107

103
DI PIETRO, op. cit., p.479.
104
Idem.
105
CARVALHO FILHO, op. cit., p.565.
106
Idem, p.566.
107
Ib idem, p.567.

35
Para ter direito a sua remuneração, o servidor há de cumprir regularmente a sua carga horária
de trabalho.

“Como regra geral, os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições
pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima de trabalho semanal de 40
horas e observados os limites mínimo e máximo de seis e oito horas diárias, respectivamente,
podendo haver estabelecimento de horários diferenciados em leis especiais. Já o ocupante de
cargo em comissão ou função de confiança submete-se a regime de integral dedicação ao
serviço, observada a possibilidade excepcional de acumulação, podendo ser convocado, sempre
que houver interesse da Administração (Lei 8.112/90, art.19, caput, e §1º)”.108

A Lei 8112/90 prevê indenizações, tais como as ajudas de custo (arts.53 e 54), as diárias
(art.58) e a indenização de transporte (art.60).

Também prevê gratificações, tais como a referente ao exercício de função de direção, chefia
ou assessoramento, cargo de provimento em comissão ou de natureza especial (art.62) e a
gratificação natalina (art.63).

São previstos também adicionais, tais como o referente ao exercício habitual de atividades
insalubres, penosas ou perigosas (art.68), ao desempenho de serviço extraordinário (art.73), de
trabalho noturno (art.75), a 1/3 de férias (art.76), além de outros benefícios, como por
exemplo o auxílio-natalidade (art.196) e o salário-família (art.197).

Ainda segundo o art.39, §3º, da Lei Maior, aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público
o disposto constitucionalmente no art. 7º, IV, VII (salário mínimo), VIII (décimo terceiro
salário), IX (adicional noturno), XII (salário-família), XIII (limite de jornada), XV (repouso
semanal remunerado), XVI (horas extras), XVII (férias com acréscimo de 1/3), XVIII (licença à
gestante), XIX (licença-paternidade), XX (proteção do mercado de trabalho da mulher), XXII
(redução dos riscos inerentes ao trabalho) e XXX (proibição de diferença de salários, de
exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil).

O subsídio é a modalidade de pagamento pela qual o servidor é remunerado em parcela única,


sem acréscimos de qualquer espécie, excetuadas apenas eventuais parcelas indenizatórias.

“Subsídio é a denominação atribuída à forma remuneratória de certos cargos, por força da qual
a retribuição que lhes concerne se efetua por meio de pagamentos mensais de parcelas únicas,
ou seja, indivisas e insusceptíveis de aditamentos ou acréscimos de qualquer espécie. Seu
conceito se depreende do art.39, §4º, segundo o qual “O membro de Poder, o detentor de
mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória (...)”. Assim, na vedação estabelecida só não se incluem as verbas
indenizatórias, qual, por exemplo, o pagamento de ‘ajudas de custo’ para acobertar despesas de
mudança do servidor designado para servir em local fora da sede, ou a do art.57, §7º, onde se
prevê que os senadores e deputados perceberão, quando de sessão legislativa extraordinária,
um pagamento de parcela ‘indenizatória’, não superior ao subsídio mensal que lhes
corresponde”.109

Com o advento da EC 19/98, a Constituição Federal passou a prever a remuneração por


subsídios para os membros de Poder, os detentores de mandato eletivo, os Ministros de Estado,
Secretários de Estado e Municípios. Tal sistema ainda não foi implementado, porquanto se
aguarda a definição legal de um teto remuneratório referente ao subsídio de Ministro do STF
(CF, art.48, XV)110. Outrossim, essa definição de parâmetros remuneratórios para o serviço
público se encontra pendente por conta da reforma administrativa em andamento.

108
PRADO; TEIXEIRA, op. cit., p. 151.
109
BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p.242.
110
Conforme decidiu o STF em Sessão Administrativa (de 24/06/1998) e na ADI (MC) 2648-CE, Rel. Min. Maurício Corrêa.

36
Alexandre de Moraes assinala que “além dos servidores públicos citados no §4º, do artigo 39,
obrigatoriamente, pela existência de regras constitucionais de extensão, o subsídio acaba sendo
estendido a outras carreiras do serviço público. Assim, o regime de subsídios é aplicável
também aos membros do Ministério Público (CF, artigo 128, §5º, I, c), aos integrantes da
Advocacia Geral da União, aos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal e aos Defensores
Públicos (CF, artigo 135), aos Ministros do Tribunal de Contas da União e aos servidores
públicos policiais (CF, artigo 144, §9º)”.111

Cabe registrar, ainda, que o art.39, §8º, da Carta Magna dispõe que a remuneração dos
servidores públicos organizados em carreira também poderá também ser fixada em subsídios.

Ainda no tocante às vantagens pecuniárias, existem as regras referentes à aposentadoria dos


agentes públicos. Conforme aponta Celso Antônio Bandeira de Mello, “a Constituição dispõe que
ao servidor público titular de cargo efetivo é assegurado regime de previdência de caráter
contributivo (art.40, caput, com a redação da Emenda 41, de 19.12.2003), e lhe garante
aposentadoria e proventos. (...) As disposições constantes deste art.40 também se aplicam aos
titulares de cargos vitalícios; aos magistrados, por força do art.93, VI, aos membros do
Ministério Público, ex vi do art.129, §4º, e aos Ministros e Conselheiros dos Tribunais de Contas,
em decorrência do art.73, §3º. Os demais servidores, inclusive os ocupantes exclusivamente de
cargo em comissão, cargo temporário ou emprego público, regulam-se pelo regime geral de
previdência social (art.40, §13º). O mesmo ocorrerá com os servidores das entidades da
Administração indireta com personalidade de Direito Privado”.

As regras de aposentadoria no serviço público são muito complexas e variadas, por decorrência
de recentes modificações no ordenamento constitucional (EC 20/99 e EC 41/2003, envolvendo
diversas questões, dentre as quais a constituição de fundos previdenciários de natureza
complementar. O tema não será aqui especificamente abordado, por envolver relação jurídica
de natureza previdenciária pública, distinta da relação de serviço público ativo objeto do
presente estudo. Assim, até pela extensão da matéria tendo em vista as polêmicas alterações
decorrentes da reforma previdenciária, deve o aluno examinar o conteúdo do art.40 da
Constituição Federal, bem como recorrer à literatura especializado sobre o assunto.

Além das vantagens de ordem pecuniária, os servidores públicos usufruem também dos
chamados direitos de ausência, relacionados às férias (Lei 8112/90, arts.77 a 80), licenças
(arts.81 a 92), os afastamentos (arts.93 a 99) e as concessões (arts.97 a 99).

As licenças poderão ocorrer por motivo de doença em pessoa da família (art.83); por motivo
de afastamento do cônjuge ou companheiro (art.84); para o serviço militar (art.85); para
atividade política (art.86); para capacitação (art.87); para tratar de interesses particulares
(art.91) e para desempenho de mandato classista (art.92). Existe ainda a licença para
tratamento de saúde (arts. 202 a 206); a licença à gestante, à adotante e licença-paternidade
(arts.207 a 210); a licença por acidente em serviço (arts.211 a 214). Mais recentemente, a Lei
11.907/2009, acrescentando o art.96-A na Lei 8.112, criou uma nova modalidade de
afastamento, para participação de programa de pós-graduação stricto sensu no país.

Os afastamentos poderão ser para servir a outro órgão ou entidade (art.93); para o exercício
de mandato eletivo (art.94) ou para estudo ou missão no exterior (art.95).

As concessões poderão ser de 1 (um) dia, para doação de sangue; de 2 (dois) dias, para se
alistar como eleitor; de 8 (oito) dias consecutivos em razão de casamento, falecimento do
cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou
tutela e irmãos (art.97). A lei prevê ainda horário especial ao servidor estudante e aos
portadores de deficiência (art.98).

111
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional Administrativo, São Paulo: Atlas, 2002, p.178.

37
Em benefício dos dependentes do servidor existem os direitos e vantagens de natureza
previdenciária e assistencial, quais sejam a pensão (Lei 8112/90, arts.215 a 225), o auxílio-
funeral (art.226) e o auxílio-reclusão (art.229).

7.4) O DESPROVIMENTO DE CARGOS PÚBLICOS.

Ao desprovimento de um cargo público denomina-se vacância, que é o “fato administrativo-


funcional que indica que determinado cargo público não está provido, ou em outras palavras,
está sem titular”.112

“Desprovimento é a exclusão do serviço público, tendo por objeto a destituição do servidor de


cargo, emprego ou função. O desprovimento poderá decorrer de fato ou de ato administrativo,
este, por sua vez, ou constitutivo ou declaratório. A conseqüência do desprovimento é a
vacância do cargo, emprego ou função desocupados”.113

Portanto, “ocorrida a destituição do servidor do cargo que ocupava, este resta vago, instaura-se
uma situação de vacância, ou seja, de cargo sem titular. Várias são as causas que podem
levar um cargo à situação de vacância”.114

O art. 33 da Lei 8112/90 dispõe que a vacância do cargo público decorrerá de:
exoneração; demissão; promoção; readaptação; aposentadoria; posse em outro cargo
inacumulável e falecimento.

Examinando o dispositivo legal, constata-se que a vacância pode ocorrer com extinção do
vínculo (exoneração, demissão, falecimento e aposentadoria) ou sem extinção do vínculo
(promoção, readaptação e recondução).

As formas de vacância sem extinção do vínculo já foram estudadas anteriormente, ao tratarmos


das formas de provimento derivado (o provimento derivado no cargo posterior implica o
desprovimento do cargo anterior, com a conseqüente vacância).

Vamos examinar agora as formas de vacância com extinção do vínculo, conforme apontam os
doutrinadores:

Exoneração é o desligamento de servidor, sem caráter de penalidade, de cargo em comissão,


de cargo efetivo quando ainda não haja estabilidade ou, ainda, de cargo efetivo quando haja
estabilidade nas hipóteses excepcionais previstas no ordenamento (já estudadas
anteriormente), que pode se dar a pedido ou por ato de ofício da Administração. Está prevista
nos artigos 34 e 35 da Lei 8112/90.

“Exoneração é o ato administrativo constitutivo cuja finalidade é extinguir a relação jurídico-


funcional entre o funcionário ou servidor e o Estado. A exoneração pode ser aplicada para
romper a relação jurídica dos ocupantes de cargos em comissão e dos que estejam em estágio
probatório, desde que se assegure o contraditório. Também é praticada nas hipóteses em que a
relação jurídica vai se extinguir a pedido do funcionário ou servidor”.115

“Exoneração é o desligamento do servidor do quadro de pessoal da entidade a que se vinculava,


sem caráter punitivo. Pode ser a pedido do servidor ou por deliberação (ex officio) da entidade a
que estava vinculado. A exoneração ex officio somente pode ter lugar se o servidor titularizava

cargo de provimento em comissão ou se era ocupante de cargo de provimento efetivo antes de


ocorrer a estabilidade. Nesta última hipótese, exige-se a apuração, em processo administrativo,
da inadequação do servidor na execução da atividade pública (RDA, 101:124, 126:147). Há a

112
CARVALHO FILHO, op. cit., p.494.
113
MOREIRA NETO, op. cit., p.304.
114
GASPARINI, op. cit., p.254.
115
FIGUEIREDO, op. cit., p.575.

38
extinção do vínculo existente entre o servidor e a Administração Pública, mas não a extinção do
cargo, que aguardará novo titular”.116

“A exoneração não é penalidade; ela se dá a pedido ou ex officio, neste último caso quando se
tratar de cargo em comissão ou, no caso de cargo efetivo, quando não satisfeitas as exigências
do estágio probatório ou quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em exercício no
prazo estabelecido (arts.34 e 35 da Lei 8112/90)”.117

Demissão é o desligamento de servidor do cargo, com caráter de penalidade, ou seja, com


efeito sancionador (art.127, III, da Lei 8112/90). Os casos de aplicação da penalidade de
demissão estão previstos no art.132 do Estatuto, quais sejam: I - crime contra a administração
pública; II - abandono de cargo; III - inassiduidade habitual; IV - improbidade administrativa;
V - incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição; VI - insubordinação grave em
serviço; VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa
própria ou de outrem; VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; IX - revelação de segredo
do qual se apropriou em razão do cargo; X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do
patrimônio nacional; XI - corrupção; XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções
públicas; XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117.

“Demissão, como está a palavra a dizer, é ato administrativo constitutivo cuja finalidade é o
desligamento do funcionário estável, após regular inquérito administrativo ou processo judicial,
tendo por motivo o cometimento de infrações tipificadas como graves. Ao ato de demissão,
como já enfatizamos, deverão preceder o contraditório e a ampla defesa – o ‘devido processo
legal’, como reiteradamente falado. Não prescinde, ainda, da designação de defensor ad hoc,
pois há o direito e, conseqüentemente, o dever de a Administração possibilitar a defesa técnica.
De seu turno, a demissão a bem do serviço público também é desligamento, acrescendo-se,
porém, um plus. O funcionário é desligado porque, além de ter cometido infrações graves (onde
cabem sanções), sua permanência é absolutamente indesejável ao serviço público, o que torna
impraticável sua volta”.118

“Demissão é o desligamento do servidor do quadro de pessoal da entidade a que se vinculava,


como medida punitiva. Trata-se, pois, de sanção, e assim é considerada pelo Estatuto federal
no art.127. É aplicável, segundo essa lei, nos casos de: crime contra a Administração Pública;
abandono de cargo; inassiduidade habitual; improbidade administrativa; incontinência pública e
conduta escandalosa, na repartição; insubordinação grave em serviço; ofensa física, em serviço,
a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem; aplicação irregular de
dinheiros públicos; revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo; lesão aos
cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; corrupção; acumulação ilegal de cargos,
empregos públicos ou funções públicas; transgressão dos incisos IX a XVI do art.117 do
Estatuto federal. Alguns estatutos estabelecem que a demissão pode ser simples ou agravada e
indicam quando pode ser desta última espécie e, portanto, aplicada com a nota ‘a bem do
serviço público’, como o faz o Estatuto paulista (art.257). Por ela ocorre o rompimento do
vínculo que vigorava entre a Administração e o demitido, sem, obviamente, o desaparecimento
do cargo, que deverá ser ocupado por outro titular”.119

Falecimento “é o desaparecimento (por isso o cargo fica vago) do servidor. Sua morte põe fim
ao vínculo que mantinha com a entidade a que se ligava. Ocorre, assim, a vacância. O cargo até
então ocupado aguardará novo titular”.120

Posse em outro cargo inacumulável “é espécie de vacância, na medida em que pela nova
posse acontece a vaga no cargo anteriormente ocupado, pois significa a renúncia do cargo
precedente, que, por isso, fica vago. Há rompimento do vínculo até então existente entre a

116
GASPARINI, op. cit., p.255.
117
DI PIETRO, op. cit., p.480.
118
FIGUEIREDO, op. cit., p.583-584.
119
GASPARINI, op. cit., p.255-256.
120
Idem, p.256.

39
Administração Pública e o servidor, sem a extinção do cargo. O servidor, no caso, passa a
ocupar outro cargo em razão do novo vínculo que se constitui”.121

7.5) NOÇÕES SOBRE A PREVIDÊNCIA DO SERVIDOR PÚBLICO

Entendemos que o estudo do regime previdenciário dos servidores públicos, no atual contexto
do ordenamento brasileiro, demandaria uma disciplina específica e adequada à complexidade de
questões jurídicas e as peculiaridades das normas relacionadas ao tema, a exemplo do que já
ocorreu em outros campos da administração pública. Não obstante, os manuais de Direito
Administrativo costumam fazer menção às normas previdenciárias aplicadas aos servidores
estatutários titulares de cargo efetivo, segundo os ditames do art.40 da CF/88, razão pela qual
faremos aqui uma abordagem do tema, ainda que sucinta.

A análise da matéria, como dito, é trabalhosa, sobretudo porque o ordenamento jurídico


brasileiro que trata da previdência dos servidores públicos sofreu, nos últimos anos, duas
alterações substanciais. Conforme salienta Dirley da Cunha Júnior, “o regime próprio de
previdência do servidor público titular de cargo efetivo, sob a égide da atual Constituição
Federal, já foi alterado duas vezes. Uma primeira vez, por meio da EC n. 20, de 15 de dezembro
de 1998. Na segunda, através da EC n. 41, de 19 de dezembro de 2003. O objetivo principal e
indisfarçável destas reformas foi, reduzindo os direitos sociais do servidor público, equipará-los
aos trabalhadores da iniciativa privada”.122

No Brasil, existem dois regimes de previdência pública.

O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é o aplicado aos trabalhadores em geral, inclusive
os empregados das empresas estatais. Está previsto nos artigos 201 e seguintes da Constituição
Federal de 1988. Seu estudo é objeto da disciplina jurídica denominada Direito Previdenciário.

Já os servidores estatutários, titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, estão submetidos a Regime
Próprio de Previdência Social (RPPS), que alguns autores, a exemplo de Diógenes
Gasparini123, também chamam de Regime Especial de Previdência Social (REPS). As normas
fundamentais deste regime estão escritas no art.40 da Carta Magna, sendo que cada ente
político deverá ainda editar legislação própria dispondo especificamente sobre a previdência dos
seus servidores efetivos, instituindo, e cobrando deles, contribuições a fim de custeá-lo (CF,
art.149, §1º).

Este regime próprio de previdência social (CF, art.40), em cada ente da federação, estabelecerá
os proventos de aposentadoria referentes a todos os servidores públicos titulares de cargos
efetivos, inclusive os membros vitalícios do Poder Judiciário (CF, art.93, VI), do Ministério
Público (CF, art.129, §4º) e dos Tribunais de Contas (CF, art.73, §3º). Os dependentes destes
servidores terão direito a proventos de pensão.

Observe-se que nem todos os servidores públicos submetem-se a tal regime próprio. Só os
efetivos, porque, na forma do art.40, §13, da CF/88, “aos demais servidores estatais, inclusive
os ocupantes, exclusivamente, de cargo em comissão, cargo temporário (são os servidores
temporários contratados por tempo determinado para atenderem necessidades temporárias de
excepcional interesse público, nos termos do art.37, IX, da Constituição Federal) ou emprego
público, aplica-se o regime geral de previdência social previsto no art.201”.124

Vejamos, então, quais as principais regras do regime próprio de previdência social na atual
legislação brasileira, nos moldes do art.40 da nossa Lei Maior, após as alterações
implementadas pela EC n. 41/2003.
121
Ib idem.
122
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Direito Administrativo. 3. ed. Salvador: Podium, 2004, p. 238.
123
Op. cit., p.204.
124
CUNHA JÚNIOR, op. cit., p.238.

40
De acordo com o art.40, §1º, da CF, existem três modalidades de aposentadorias a que faz jus
o servidor estatutário efetivo: I) por invalidez permanente; II) compulsória; III) voluntária. Tais
aposentadorias poderão ser com proventos integrais ou proporcionais, a depender da
modalidade e da situação do segurado.

Na aposentadoria por invalidez permanente, os proventos serão integrais se decorrente de


acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma
em lei. Nos demais casos, os proventos serão proporcionais ao tempo de contribuição.

Na aposentadoria compulsória, aos setenta anos de idade, os proventos serão proporcionais


ao tempo de contribuição.

Na aposentadoria voluntária, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo
exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria,
devem ser observadas as seguintes condições:

a) 60 anos de idade e 35 de contribuição, se homem, e 55 anos de idade e 30 de contribuição,


se mulher, com proventos integrais, sendo que tais requisitos de idade e de tempo de
contribuição serão reduzidos em cinco anos para o professor que comprove exclusivamente
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino
fundamental e médio.

b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com
proventos proporcionais ao tempo de contribuição.

Os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião de sua concessão, não poderão


exceder a remuneração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria
ou que serviu de referência para a concessão da pensão.

As referidas emendas 20 e 41 mudaram a forma de cálculo de tais proventos, bem como de sua
revisão. Anteriormente, havia uma paridade entre a situação do servidor da ativa e o
aposentado ou pensionista. O valor da aposentadoria integral correspondia exatamente ao valor
dos vencimentos mensais que o servidor recebia ao se aposentar. Os proventos de pensão, para
os dependentes, eram calculados da mesma forma, bem como os parâmetros para a revisão
periódica do seu valor seguiam as mesmas regras do pessoal da ativa.

Esta paridade foi abolida. Atualmente, de acordo com o art.40, §3º, da CF, para o cálculo dos
proventos de aposentadoria serão consideradas as remunerações utilizadas como base para
as contribuições do servidor feitas ao longo do seu tempo de serviço, na forma da lei. Fixando
os parâmetros deste cálculo, foi editada a Lei 10.887/2004. Dirley Cunha explica bem as suas
disposições:

“Com o objetivo de disciplinar a aplicação das disposições da Emenda 41/2003, foi elaborada a
Lei n.10.887, de 18 de junho de 2004, que determinou, no seu art.1º, que, no cálculo dos
proventos de aposentadoria dos servidores titulares de cargo efetivo de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e
fundações, previsto no §3º do art.40 da Constituição Federal e no art.2º do texto da EC
41/2003, fosse considerada a média aritmética simples das maiores remunerações, utilizadas
como base para as contribuições do servidor aos regimes de previdência a que esteve vinculado,
correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo desde a competência
julho de 1994 ou desde a do início da contribuição, se posterior àquela competência. As
remunerações consideradas no cálculo do valor inicial dos proventos terão os seus valores
atualizados mês a mês de acordo com a variação integral do índice fixado para a atualização dos
salários-de-contribuição considerados no cálculo dos benefícios do regime geral de previdência

social (§1º). A base de cálculo dos proventos será a remuneração do servidor no cargo efetivo
nas competências a partir de julho de 1994 em que não tenha havido contribuição para o
regime próprio (§2º). O art.15 da Lei dispõe que os proventos de aposentadoria e as pensões

41
serão reajustados na mesma data em que se der o reajuste dos benefícios do regime geral de
previdência social”.125

Em relação ao cálculo dos proventos de pensão, os critérios estão previstos no art.40, §7º,
da CF, com a redação dada pela EC 41:

“Segundo a EC 41/2003, a pensão por morte, para os futuros pensionistas, não mais
corresponderá à totalidade da remuneração ou dos proventos do servidor falecido. Ela será
igual: (I) ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art.201
(que foi fixado pelo art.5º do texto da Emenda 41/2003 em R$2.400,00), acrescido de 70%
(setenta por cento) da parcela excedente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou (II)
ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se deu o
falecimento, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência
social de que trata o art.201, acrescido de 70% (setenta por cento) da parcela excedente a este
limite, caso em atividade na data do óbito. Assim, se o servidor, na data do óbito, percebia,
como remuneração ou provento, R$5.000,00, a pensão por morte corresponderá ao limite
máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social (R$2.400,00),
acrescido de 70% da parcela excedente a este limite (R$5.000,00 – R$2.400,00 = R$2.600 x
70% = R$1.820,00 + R$2.400,00 = valor da pensão: R$4.220,00)”.126

A Constituição veda percepção de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdência dos
servidores, salvo se decorrerem dos cargos acumuláveis nela previstos (art.40, §6º). Mas
mesmo nesse caso, de acordo com o art.40, §11, há de ser observado o teto salarial do serviço
público tratado no art.37, XI (valor do subsídio de ministro do STF).

Não bastasse a complexidade de todas estas regras de regência da previdência dos servidores
públicos, mormente após as modificações feitas pelas emendas 20 e 41, outro ponto torna o
estudo do assunto ainda mais complexo. É que tais regras só são inteiramente aplicáveis aos
servidores que ingressaram em cargos públicos após o advento da EC 41. Para os servidores
que ingressaram antes da EC 20, bem como para aqueles que ingressaram no período entre a
EC 20 e a EC 41, as regras aplicáveis são diferentes, segundo regras de transição que
também foram previstas nestas emendas, bem como na posterior EC 47/2005.

Saliente-se que tal previsão não decorreu da existência de eventual direito adquirido por parte
destes servidores antigos, pois, conforme precedentes do STF, não há direito adquirido a regime
jurídico. Vale dizer, de acordo com este entendimento, somente tinham direito adquirido à
aposentadoria aqueles servidores que já haviam preenchido os requisitos de inatividade
estabelecidos nas regras em vigor antes da mudança constitucional. Se a mudança veio quando
ainda não preenchidos estes requisitos, o servidor apenas tinha uma mera expectativa de
direito. Nesse caso, visando minimizar o impacto da mudança para aqueles que já estavam a
caminho da aposentadoria, mas ainda não havia adquirido este direito (alguns, inclusive,
faltando poucos meses), foram estabelecidos critérios mais flexíveis. Buscou-se, assim,
“harmonizar a passagem do servidor de um para outro sistema”.127 Esta foi a razão política das
aludidas regras de transição.

Por fim, registre-se que outra mudança produzida pela EC 41/2003 – talvez a mais polêmica
delas – foi a previsão de cobrança de contribuição previdenciária dos servidores inativos,
tal como passou a constar no art.40, §18, da Carta. Após acirrados debates, com muitos juristas
de peso asseverando haver aí uma violação a direito adquirido e a ato jurídico perfeito, o STF,

em decisão histórica no julgamento das ADINs 3105 e 3128, colocou uma pá de cal no assunto
e considerou constitucional a cobrança.

125
Op. cit., p.244.
126
CUNHA JÚNIOR, Dirley da, op. cit., p.244-245.
127
GASPARINI, op. cit., p.206.

42
7.6) RESPONSABILIDADE DOS SERVIDORES ESTATUTÁRIOS.

Dispõe o art.121 da Lei 8112/90 que o servidor responde civil, penal e administrativamente pelo
exercício irregular de suas atribuições.

São, portanto, três esferas distintas de responsabilidade, consoante aponta a doutrina:

“O servidor público, por seus atos e omissões, responde em três níveis diferentes. O primeiro
deles é o administrativo em que vai ser apurada a possível prática de infrações disciplinares, o
segundo é o civil, no qual vai se verificar a presença do dever de indenizar prejuízos resultante
de sua atuação causados a terceiros e à própria Administração. Por último a responsabilidade
criminal na qual se apura a possível prática de crimes ou contravenções atribuídas ao servidor
em razão de sua condição funcional”.128

José dos Santos Carvalho Filho assinala que “cada responsabilidade é, em princípio,
independente da outra. Por exemplo: pode haver responsabilidade civil sem que haja
responsabilidade penal ou administrativa. Pode também haver responsabilidade administrativa
sem que siga conjuntamente a responsabilidade penal ou civil. Sucede que, em algumas
ocasiões, o fato que gera certo tipo de responsabilidade é simultaneamente gerador de outro
tipo; se isto ocorrer, as responsabilidades serão conjugadas. Essa é a razão por que a mesma
situação fática é idônea a criar, concomitantemente, as responsabilidades civil, penal e
administrativa”.129

O funcionário público que eventualmente deva ser responsabilizado por ilegalidade, omissão ou
abuso de poder será representado perante a sua autoridade superior (Lei 8112/90, art.116, XII
e parágrafo único).

A autoridade superior, por sua vez, tendo ciência dos fatos, é obrigada a tomar providências
no sentido de apurar a eventual irregularidade na atuação do seu subordinado.

O art.143 da Lei 8112/90 estabelece que a autoridade que tiver ciência de irregularidade no
serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou
processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.

A par disso, o nosso ordenamento considera crime de condescendência criminosa “deixar o


funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício
do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente” (Código Penal, art.320).

Está prevista ainda, como sendo uma contravenção penal, a omissão de comunicação de
crime, quando “deixar de comunicar à autoridade competente crime de ação pública, de que
teve conhecimento no exercício de função pública, desde que a ação penal não dependa de
representação” (Decreto-lei 3688/41, art.66, I).

Importante assinalar que as providências a serem tomadas pela autoridade administrativa


devem observar um prazo legal. Na esfera da Administração Pública Federal, nos termos do
art.142 da Lei 8112/90, a ação disciplinar prescreverá: I - em 5 (cinco) anos, quanto às
infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de
cargo em comissão; II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão; III - em 180 (cento e
oitenta) dias, quanto á advertência. O prazo de prescrição começa a correr da data em que o
fato se tornou conhecido. Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às infrações
disciplinares capituladas também como crime. A abertura de sindicância ou a instauração de

processo disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por autoridade
competente. Interrompido o curso da prescrição, o prazo começará a correr a partir do dia em

128
OLIVEIRA, Cláudio Brandão de. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Impetus, 2003, p.153.
129
CARVALHO FILHO, op. cit., p.580.

43
que cessar a interrupção. Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade julgadora
determinará o registro do fato nos assentamentos individuais do servidor (art.170).

A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte
em prejuízo ao erário ou a terceiros (art.122 da Lei 8112/90).

Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o servidor perante a Fazenda Pública, em


ação regressiva (§2º). A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores e contra eles
será executada, até o limite do valor da herança recebida (§3º). Confira-se a doutrina a
respeito:

“Se o agente, por ação ou omissão, dolosas ou culposas, causou dano à Administração, deverá
repará-lo, sendo responsabilizado civilmente. A apuração da responsabilidade civil poderá ter
início e término no âmbito administrativo ou ter início nesse âmbito e ser objeto, depois, de
ação perante o Judiciário (...) Para que o servidor possa ser responsabilizado e obrigado a pagar
o prejuízo é necessário comprovar seu dolo (teve a intenção de lesar ou assumiu esse risco) ou
sua culpa (imprudência, negligência ou imperícia). Para isso, a Administração é obrigada a
tomar as medidas legais pertinentes, não podendo, ‘a priori’, inocentar o servidor. De regra, se
efetua apuração administrativa por meio de sindicância e, se for o caso, de processo
administrativo. Se for verificado dolo ou culpa, a Administração poderá consultar o servidor a
fim de obter o pagamento, por desconto em folha ou forma diversa. Na ausência de
concordância, a Administração deve ingressar no juízo civil para obter o ressarcimento; se a
Administração visa a obter ressarcimento de indenização que pagou a particulares, em virtude
de dano causado pelo agente, trata-se de ação regressiva, como prevê a Constituição, art.37,
§6º, parte final”.130

“Deve-se distinguir duas situações especiais, no capítulo da responsabilidade civil dos servidores
públicos, conforme tenham sido os danos causados direta ou indiretamente à Fazenda Pública.
Se o servidor causa, diretamente, por culpa ou dolo, dano ao erário da pessoa de direito público
a que serve, tem o dever de repará-lo, como mera aplicação da regra geral de proteção
patrimonial, de sede civil. Se o servidor inflige, indiretamente, um prejuízo à Fazenda do ente
de direito público a que serve, em razão de Ter ele respondido objetivamente perante terceiros
por danos por ele causados, nessa qualidade, a Constituição (art.37, §6º) lhe impõe o dever de
reembolsá-la do que justamente pagou, desde que o servidor tenha agido, comprovadamente,
com culpa ou dolo. A referida norma constitucional, auto-aplicável, institui o direito de regresso
da pessoa jurídica de direito público contra o servidor responsável nos casos de culpa ou dolo,
tema a que se retornará no estudo da responsabilidade patrimonial do Estado. O servidor
responderá, de maneira especial, pelos danos que causar, em razão de abuso de autoridade, de
conformidade com a Lei 4898, de 9 de dezembro de 1965 (art.6o, caput e §2º). Existe, ainda,
garantindo a satisfação do erário em caso de responsabilidade de certos servidores, o instituto
da hipoteca legal à Fazenda Pública Federal, Estadual e Municipal, sobre os imóveis dos
tesoureiros, coletores, administradores, exatores, prepostos, rendeiros e contratadores de
renda e fiadores”.131

Importante destacar que, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal, é vedado à


Administração auto-executar a cobrança de indenização por dano causado pelo servidor.132
Logo, o desconto em folha das parcelas indenizatórias só pode ser efetuado se o
servidor concordar com esta forma de pagamento, caso contrário, restará à Administração
acionar o Judiciário. José dos Santos Carvalho Filho concorda com esse posicionamento,
ressaltando que “o Poder Público não tem crédito privilegiado em relação a seu servidor. Seu
crédito é indiscutível, mas a forma de satisfazê-lo há de ser a empregada para a cobrança dos
créditos em geral”.133

130
MEDAUAR, op. cit., p.351-352.
131
MOREIRA NETO, op. cit., p.314-315.
132
STF, MS 24182-DF, Relator: Ministro Maurício Corrêa, Informativo n.279 de ago/2002.
133
Op. cit., p.582.

44
Ainda em matéria de responsabilidade civil, a Lei 8429/92 trata dos atos de improbidade
administrativa, dentre os quais se destacam aqueles que causam prejuízo ao erário (art.10) 134
conforme será estudado mais à frente.

A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputadas ao servidor, nessa


qualidade (art.123 da Lei 8112/90).

São os chamados crimes funcionais, previstos no Código Penal e na legislação extravagante,


como, por exemplo, a Lei 4898/65 (crime de abuso de autoridade) e a Lei 8666/93 (que prevê
crimes em matéria de licitações e contratos administrativos).

Em relação aos agentes políticos, além dos crimes comuns, existem ainda tipos penais especiais
definidos como crimes de responsabilidade de natureza política, também objeto de leis
específicas, como, v.g., a Lei 1079/50 (Presidente da República, Ministros de Estado, Ministros
do STF, Procurador-Geral da República); a Lei 7106/83 (Governadores e Secretários de Estado)
e o Decreto-lei 201/67 (Prefeitos e Vereadores).

A responsabilidade criminal deve ser apurada mediante instauração de ação penal pelo
Ministério Público.

Sobre o tema assinala a doutrina:

“O servidor responde penalmente quando pratica crime ou contravenção. Existem, no ilícito


penal, os mesmos elementos caracterizadores dos demais tipos de atos ilícitos, porém com
algumas peculiaridades: 1. a ação ou omissão deve ser antijurídica e típica, ou seja,
corresponder ao tipo, ao modelo de conduta definido na lei penal como crime ou contravenção;
2. dolo ou culpa, sem possibilidade de haver hipóteses de responsabilidade objetiva; 3. relação
de causalidade; 4. dano ou perigo de dano: nem sempre é necessário que o dano se concretize;
basta haver o risco de dano, como ocorre na tentativa e em determinados tipos de crime que
põem em risco a incolumidade pública. A responsabilidade criminal do servidor é apurada pelo
Poder Judiciário. De acordo com o artigo 229 da Lei n. 8112/90, é assegurado auxílio-reclusão à
família do servidor ativo, nos seguintes valores: dois terços da remuneração, quando afastado
por motivo de prisão, em flagrante ou preventiva, determinada pela autoridade competente,
enquanto perdurar a prisão; ou metade da remuneração, durante o afastamento, em virtude de
condenação, por sentença definitiva, a pena que não determine a perda do cargo. Pelo Estatuto
de São Paulo (art.70), o funcionário perde, em qualquer hipótese, dois terços do
vencimento”.135

“A responsabilidade penal do servidor é a que decorre de conduta que a lei penal tipifica como
infração penal. A matéria da responsabilidade penal é típica das áreas do Direito Penal e
Processual Penal e exige que a solução final do litígio seja definida pelo Poder Judiciário. Nesse
caso, a responsabilidade só pode ser atribuída se a conduta for dolosa ou culposa, estando, por
conseguinte, descartada a responsabilidade objetiva. O servidor pode ser responsabilizado
apenas penalmente. Mas se o ilícito penal acarretar prejuízo à Administração, será também
civilmente responsável. Os crimes contra a Administração são, basicamente, os dos arts. 312 a
326 do CP – crimes praticados por funcionário público contra a Administração Pública. A
legislação especial, a seu turno, prevê outras condutas típicas, acarretando também a
responsabilidade penal do servidor. Diga-se, por oportuno, que a responsabilidade penal pode
ser, ou não, pertinente à função administrativa. Quando está fora de sua função pública, a
eventual prática de ilícito penal pode não causar nenhuma influência no âmbito da
Administração”.136

134
Ao lado destes, a Lei 8429/92 trata ainda dos atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito (art.9º) e dos atos de improbidade que
atentam contra os princípios da administração pública (art.11).
135
DI PIETRO, op. cit., p.486.
136
CARVALHO FILHO, op. cit., p.582.

45
A responsabilidade administrativa tem relação com a aplicação de penalidades disciplinares
ao servidor, mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada a ampla defesa e o
contraditório.

No caso dos servidores estatutários federais, as sanções disciplinares previstas na Lei 8112/90
são a advertência, a suspensão, a demissão, a cassação de aposentadoria ou disponibilidade,
a destituição de cargo em comissão e a destituição de função comissionada (art.127).

Logo, para punir o servidor, deve a Administração lançar mão de uma dessas modalidades, não
podendo inovar além delas.

Por outro lado, ao contrário do que ocorre na esfera penal, as penalidades disciplinares não
estão correlacionadas a condutas tipificadas especificamente. É a chamada atipicidade das
infrações disciplinares.

Na verdade, a aplicação de tais sanções faz-se com vistas ao elenco de deveres e proibições
previstos para o servidor público na Lei 8112/90.

Muitos dos deveres encerram situações indeterminadas tais como “manter conduta compatível
com a moralidade administrativa”, “exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo” etc
(art.116).

Já quanto às proibições, o legislador se cercou de elementos de maior objetividade: “ausentar-


se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do chefe imediato”; “valer-se do
cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função
pública”, “manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge,
companheiro ou parente até o segundo grau civil” etc (art.117).

De qualquer forma, o exercício do poder disciplinar pela Administração Pública demandará certa
margem de discricionariedade na adequação da penalidade adequada a cada caso concreto,
compatibilizando a sanção com a conduta (princípio da adequação punitiva ou da
proporcionalidade).

Assim, na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a gravidade da infração


cometida, os danos que dela provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou
atenuantes e os antecedentes funcionais (art.128).

Não obstante, a Lei 8112/90 fornece alguns critérios que devem nortear o administrador na
aplicação da penalidade adequada.

O art.129 trata dos casos em que é cabível a advertência por escrito. O art.130 trata dos casos
em que é cabível a suspensão pelo prazo máximo de noventa dias. O art.132 trata dos casos em
que é cabível a demissão. O art.134 trata dos casos em que é cabível a cassação de
aposentadoria ou a disponibilidade do inativo. O art.135 trata dos casos em que é cabível a
destituição de cargo em comissão.

Como assinala José dos Santos Carvalho Filho, “o sistema punitivo na esfera administrativa é
bem diferente do que existe no plano criminal. Neste, as condutas são tipificadas, de modo que
a lei cominará uma sanção específica para a conduta que a ela estiver vinculada. Assim, o crime
de lesões corporais simples enseja uma sanção específica: a de detenção de três meses a um
ano (art.129, CP). Na esfera administrativa, o regime é diverso, pois que as condutas não têm a
precisa definição que ocorre no campo penal”.137

Maria Sylvia Di Pietro faz ainda importante análise da matéria:

137
Idem.

46
“Não há, com relação ao ilícito administrativo, a mesma tipicidade que caracteriza o ilícito penal.
A maior parte das infrações não é definida com precisão, limitando-se a lei, em regra, a falar
em falta de cumprimento dos deveres, falta de exação no cumprimento do dever,
insubordinação grave, procedimento irregular, incontinência pública; poucas são as infrações
definidas, como o abandono de cargo ou os ilícitos que correspondem a crimes ou
contravenções. Isto significa que a Administração dispõe de discricionariedade no
enquadramento da falta dentre os ilícitos previstos na lei, o que ainda mais se amplia pelo fato
de a lei (art.128 da Lei Federal e 256 do Estatuto Paulista) determinar que na aplicação das
penas disciplinares serão consideradas a natureza e a gravidade da infração e os danos que dela
provierem para o serviço público. É precisamente essa discricionariedade que exige a precisa
motivação da penalidade imposta, para demonstrar a adequação entre a infração e a pena
escolhida e impedir o arbítrio da Administração. Normalmente essa motivação consta do
relatório da comissão ou servidor que realizou o procedimento; outras vezes, consta de
pareceres proferidos por órgãos jurídicos preopinantes aos quais se remete a autoridade
julgadora; se esta não acatar as manifestações anteriores, deverá expressamente motivar a sua
decisão”.138

No mesmo sentido os ensinamentos de Diógenes Gasparini:

“A aplicação dessas penas não está vinculada à lei, no que concerne à definição da infração e à
respectiva sanção, nem ao fato de que se tem de começar pela menos rigorosa para ir, num
crescendo, alcançar a de maior rigor punitivo, à medida que o servidor ao longo de sua carreira
pratica infrações. O comportamento da entidade é, nesse particular, discricionário, sendo
inaplicável o princípio que vigora para o Direito Penal da pena específica (não existe infração
sem prévia lei que a defina e a apene), que os romanos expressavam pelo brocardo nullum
crimen, sulla poena sine lege. A autoridade competente, em razão da gravidade do fato
determinante da punição, escolhe, dentre essas penas, a que melhor atenda ao interesse
público e que melhor puna a infração praticada. Com efeito, essa autoridade, para aplicar a
pena, deve levar em conta, conforme exigem os estatutos, a natureza e a gravidade da infração
e os danos que possa ter causado ao serviço público, as circunstâncias agravantes ou
atenuantes e os antecedentes funcionais (art.128 do Estatuto federal). Ademais, deve explicitar
os fundamentos de sua decisão, sob pena de invalidade”.139

A independência entre as instâncias de responsabilidade e as hipóteses de


comunicabilidade.

As esferas de responsabilidade civil, penal e administrativa são, a princípio, distintas e


independentes; podendo ocorrer de um mesmo ato ensejar cumulação de sanções civis,
penais, administrativas (art.125 da Lei 8112/90).

O STF já decidiu que a absolvição em processo administrativo disciplinar não impede a apuração
dos mesmos fatos em processo criminal, uma vez que as instâncias penal e administrativa são
independentes.140

Não obstante, em alguns casos poderá haver a comunicabilidade de instâncias, que ocorre,
por exemplo, com o afastamento da responsabilidade administrativa no caso de absolvição
criminal que negue a existência do fato ou sua autoria (art.126). Da mesma forma, “quando o
funcionário for condenado na esfera criminal, o juízo civil e a autoridade administrativa não
podem decidir de forma contrária”.141

Observe-se que a absolvição do servidor na esfera penal somente repercute nas esferas
civil e administrativa se restar provada a inexistência do fato ou a negativa de autoria, nos
moldes do art.386, I e V, do CPP.

138
Op. cit., p.485.
139
GASPARINI, op. cit., p.217-218.
140
HC 77784-MT, Relator: Ministro Ilmar Galvão.
141
DI PIETRO, op. cit., p.487.

47
As demais hipóteses de absolvição previstas no CPP, relacionadas à ausência de tipificação
penal e à falta de provas (art.386, II, III, IV e VI), não repercutem nas esferas civil e
administrativa.

Primeiro porque “o mesmo fato que não constitui crime pode corresponder a uma infração
disciplinar; o ilícito administrativo é menos do que o ilícito penal e não apresenta o traço da
tipicidade que caracteriza o crime”.142 Em segundo lugar, “as provas que não são suficientes
para demonstrar a prática de um crime podem ser suficientes para comprovar um ilícito
administrativo”.143

Nestes casos, portanto, ainda que tenha sido absolvido na instância criminal, o servidor poderá
ser sancionado na esfera administrativa. É a chamada falta residual a que se refere a Súmula
18 do STF: “Pela falta residual, não compreendida na absolvição pelo juízo criminal, é
admissível a punição administrativa do servidor público”. Ao revés, “se a decisão absolutória
proferida no juízo criminal não deixa resíduo a ser apreciado na instância administrativa, não há
como subsistir a pena disciplinar”.144

Convém também transcrever o teor do seguinte julgado: “Embora possa ter sido absolvido o
funcionário na ação penal a que respondeu, não importa tal ocorrência a sua volta aos quadros
do serviço público, se a absolvição se deu por insuficiência de provas, e o servidor foi
regularmente submetido a inquérito administrativo, no qual foi apurado ter ele praticado o ato
pelo qual veio a ser demitido. A absolvição criminal só importaria anulação do ato demissionário
se tivesse ficado provada, na ação penal, a inexistência do fato, ou que o acusado não fora o
autor”.145

Ainda em relação à repercussão da sentença criminal na esfera civil, confira-se o entendimento


de Diógenes Gasparini:

“A responsabilidade civil é independente das suas congêneres, de sorte que deve ser apurada,
ainda que haja sentença criminal absolutória, sempre que na esfera penal não tiver sido
categoricamente reconhecida a inexistência material do fato (art.66 do CPP). Igualmente deve
ser apurada dita responsabilidade, não obstante tenha sido determinado o arquivamento do
inquérito ou das peças de informação, julgada extinta a punibilidade, ou declarado que o fato
imputado não constitui crime (art.67 do CPP). Por outro lado, não há que se cogitar de
responsabilidade civil quando a sentença penal reconhecer ter sido o ato praticado em estado de
necessidade, em legítima defesa, no estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular
de direitos. Nessas hipóteses a sentença penal faz coisa julgada no civil (art.65 do CPP). Por
fim, não cabe, por evidente, falar nessa espécie de responsabilidade se ficar comprovado no
juízo criminal que o servidor não foi o autor dos fatos que lhe foram imputados”.146

Já a condenação na esfera penal irá repercutir automaticamente na esfera administrativa em


duas situações. São os chamados efeitos da condenação penal:

Se o servidor for condenado por crime funcional praticado com abuso de poder ou violação de
dever para com a Administração Pública, ocorrerá a perda do cargo, função pública ou mandato
eletivo sempre que a pena privativa de liberdade for superior a 1 (um) ano (Código Penal,
art.92, I, “a”).

Se o servidor for condenado por crime não funcional: “a) se a privação de liberdade for por
tempo inferior a quatro anos, o servidor ficará afastado de seu cargo ou função, prevendo o
estatuto federal nesse caso o benefício de auxílio-reclusão, pago à sua família (art.229); b) se a
privação de liberdade é superior a quatro anos, incide o art.92, I, “b”, do CP (com a redação

142
Idem.
143
Ib idem.
144
STF, RDA 123/216.
145
STF, MS 20814, Relator: Ministro Aldir Passarinho, julg. em 22/3/1991.
146
GASPARINI, op. cit., p.215.

48
dada pela Lei 9268, de 1/4/1996), pelo qual a condenação, nessa hipótese, acarreta a perda do
cargo, função pública ou mandato eletivo”.147

Sanções por ato de improbidade administrativa.

Importante salientar ainda que se o ato praticado pelo servidor se configurar como ato de
improbidade administrativa, caberá especificamente a ação de improbidade administrativa
prevista na Lei 8429/92, que, apesar de se tratar de ação de natureza civil, poderá ensejar a
aplicação de sanções similares às previstas nas esferas penal e administrativa.

Atos de improbidade são todos aqueles que importem enriquecimento ilícito (Lei 8429/92,
art.9o), que causem prejuízo ao erário (art.10) ou que atentem contra os princípios da
administração pública (art.11).

O art.37, §4º, da Constituição Federal estabelece que os atos de improbidade administrativa


importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos
bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação
penal cabível.

Realçando o caráter civil e político das sanções por improbidade administrativa, escreve Maria
Sylvia Di Pietro:

“Isso permite concluir que: (a) o ato de improbidade, em si, não constitui crime, mas pode
corresponder também a um crime definido em lei; (b) as sanções indicadas no artigo 37, §4º,
da Constituição não têm a natureza de sanções penais, porque, se tivessem, não se justificaria a
ressalva contida na parte final do dispositivo, quando admite a aplicação das medidas
sancionatórias nele indicadas ‘sem prejuízo da ação penal cabível’; (c) se o ato de improbidade
corresponder também a um crime, a apuração da improbidade pela ação cabível será
concomitante com o processo criminal. Além disso, o ato de improbidade administrativa, quando
praticado por servidor público, corresponde também a um ilícito administrativo já previsto na
legislação estatutária de cada ente da federação, o que obriga a autoridade administrativa
competente a instaurar o procedimento adequado para apuração de responsabilidade. (...) A
natureza das medidas previstas no dispositivo constitucional está a indicar que a improbidade
administrativa, embora possa ter conseqüências na esfera criminal, com a concomitante
instauração de processo criminal (se for o caso) e na esfera administrativa (com a perda da
função pública e a instauração de processo administrativo concomitante) caracteriza um ilícito
de natureza civil e política, porque pode implicar a suspensão dos direitos políticos, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento dos danos causados ao erário”.148

Impende registrar, todavia, que alguns juristas consideram as sanções de improbidade como de
natureza penal, entendimento que parece estar ganhando força na jurisprudência, sobretudo
após recentes decisões do STF apontando analogia entre as sanções de improbidade e os crimes
de responsabilidade, para efeito de fixação da competência por prerrogativa de foro. Nesse
prisma, com o advento da Lei 10628, de 24/12/2002, dando nova redação ao art.84, §2º, do
CPP, foi reconhecido que a ação de improbidade, de que trata a Lei 8429/92, será proposta
perante o tribunal competente para processar e julgar criminalmente o funcionário ou
autoridade na hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício de função pública.

O processo administrativo disciplinar.

O processo administrativo disciplinar (PAD) é o instrumento formal, instaurado pela


Administração Pública, para a apuração das infrações e aplicação das penas correspondentes
aos servidores, seus autores.149

147
CARVALHO FILHO, op. cit., p.586.
148
Op. cit., p.664-665.
149
GASPARINI, op. cit., p.807.

49
É a sucessão ordenada de atos, destinados a averiguar a realidade de falta cometida por
servidor, a ponderar as circunstâncias que nela concorreram e aplicar as sanções pertinentes.150

Costuma-se utilizar a expressão inquérito administrativo, por analogia ao inquérito existente


na via de investigação policial. Tal nomenclatura, porém, é inadequada porque, ao contrário do
procedimento policial inquisitório, o processo administrativo disciplinar demanda a observância
da ampla defesa e do contraditório. Não obstante, o art.151, II, da Lei 8112/90 utiliza esta
expressão para indicar a fase de colheita de provas, já no bojo do processo administrativo
disciplinar instaurado, a qual deverá obedecer ao princípio do contraditório, assegurada ao
acusado ampla defesa, com a utilização dos meios e recursos admitidos em direito (art.153).

Também se utiliza o vocábulo sindicância, que, na verdade, é melhor empregado para


designar uma fase investigatória anterior ao processo disciplinar propriamente dito. A
sindicância, nesse caso, tem caráter inquisitório (sem necessidade de ampla defesa e
contraditório), pois não há ainda acusação contra servidor.

Todavia, emprega-se o termo sindicância também para designar um processo administrativo de


natureza sumária para apuração de faltas consideradas leves, tais como a advertência ou
suspensão de até trinta dias (nesse caso, será necessário o contraditório e a ampla defesa).

Da sindicância poderá resultar: I) arquivamento do processo; II) aplicação de penalidade de


advertência ou suspensão de até 30 (trinta) dias; III) instauração de processo disciplinar
(art.145).

Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de penalidade de suspensão por
mais de trinta dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição
de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de processo disciplinar (art.146).

Sobre o tema escreve Odete Medauar:

“Nos estatutos, em geral, aparecem duas modalidades de sindicância: a sindicância preliminar a


processo administrativo e a sindicância como processo sumário. A primeira modalidade
caracteriza a peça preliminar e informativa do processo administrativo disciplinar, devendo ser
instaurada quando os fatos não estiverem definidos ou faltarem elementos indicativos da
autoria. Configura meio de apuração prévia, em relação ao processo administrativo disciplinar,
destinada a colher elementos informativos para instaurá-lo ou não. Nesta acepção, a sindicância
não se instaura contra um servidor; visa a apurar possíveis fatos irregulares e seu possível
autor. Inexistem, então, acusados ou litigantes a ensejar as garantias do contraditório e da
ampla defesa, previstas na Constituição Federal, art.5o, LV. Em geral observa as seguintes
fases: instauração, instrução, relatório. Desta sindicância pode resultar o seguinte: o
arquivamento do caso, por inexistência de infração, de irregularidade, ausência de autoria; ou
instauração de processo disciplinar, ante a caracterização do fato como infração e a identificação
do possível autor. A segunda modalidade é a sindicância de caráter processual, pois destina-
se a apurar a responsabilidade de servidor identificado, por falta leve, podendo resultar em
aplicação de pena. Trata-se, na verdade, de um processo administrativo sumário”.151

Observe-se que o art.143 da Lei 8112/90 distingue as duas situações, ao dispor que a
autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua
apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao
acusado ampla defesa.

Nessa linha, preferimos empregar o termo sindicância para designar a fase de investigação
prévia na qual ainda não estão reunidos elementos concretos em torno da materialidade do fato
ou de sua autoria.

150
MEDAUAR, op. cit., p.358.
151
Idem, p.360.

50
Há casos em que a abertura de processo administrativo disciplinar pode ser feito
independentemente de prévia sindicância, quando já haja prova da materialidade e indícios
suficientes para responsabilizar o servidor, de modo que a autoridade superior procede
imediatamente a instauração do PAD.152

Porém, se ainda existem dúvidas acerca da autoria ou materialidade da infração disciplinar,


deve a autoridade superior promover uma sindicância para apurar. Para tanto designará uma
comissão de sindicância. Se desta sindicância forem reunidos elementos suficientes para
apontar a responsabilidade de determinado servidor (ou seja, se o servidor responsável foi
identificado) a ensejar penalidade de suspensão por mais de trinta dias, de demissão, cassação
de aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, aí sim será
promovido o respectivo processo administrativo disciplinar contra o mesmo, com as
garantias de ampla defesa. Nesse caso, haverá uma comissão processante, também chamada
de comissão disciplinar.153

Os autos da sindicância integrarão o processo disciplinar, como peça informativa da instrução.


Na hipótese de o relatório da sindicância concluir que a infração está capitulada como ilícito
penal, a autoridade competente encaminhará cópia dos autos ao Ministério Público,
independentemente da imediata instauração do processo disciplinar (arts.154 e 171).

Ressalte-se que “as comissões não têm a função de dar a decisão final da sindicância ou do
processo administrativo disciplinar; apresentam-se, ao mesmo tempo, como órgãos de
instrução, de audiência e de assessoramento à autoridade competente para julgar”.154

A ciência da autoridade superior pode decorrer de atuação ex officio ou, ainda, de provocação
por outra autoridade ou por terceiro (denúncia). As denúncias sobre irregularidades serão
objeto de apuração, desde que contenham a identificação e o endereço do denunciante e sejam
formuladas por escrito, confirmada a autenticidade. Quando o fato narrado não configurar
evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada, por falta de objeto
(art.144).

O prazo para conclusão da sindicância não excederá 30 (trinta) dias, podendo ser
prorrogado por igual período, a critério da autoridade superior (art.145, parágrafo único).

Já o prazo para a conclusão do processo disciplinar não excederá 60 (sessenta) dias,


contados da data de publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação
por igual prazo, quando as circunstâncias o exigirem. Sempre que necessário, a comissão
dedicará tempo integral aos seus trabalhos, ficando seus membros dispensados do ponto, até a
entrega do relatório final. As reuniões da comissão serão registradas em atas que deverão
detalhar as deliberações adotadas (art.152).

Como medida cautelar e a fim de que o servidor não venha a influir na apuração da
irregularidade, a autoridade instauradora do processo disciplinar poderá determinar o seu
afastamento do exercício do cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da
remuneração. O afastamento poderá ser prorrogado por igual prazo, findo o qual cessarão os
seus efeitos, ainda que não concluído o processo (art.147).

O processo disciplinar será conduzido por comissão composta de três servidores estáveis
designados pela autoridade competente, que indicará, dentre eles, o seu presidente, que deverá
ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou
superior ao do indiciado. A Comissão terá como secretário servidor designado pelo seu
presidente, podendo a indicação recair em um de seus membros. Não poderá participar de
comissão de sindicância ou de inquérito, cônjuge, companheiro ou parente do acusado,
consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau (art.149).
152
Algo similar ao que ocorre na área criminal, porquanto o Ministério Público pode promover de logo a ação penal, independentemente de prévio
inquérito policial, quando já estejam reunidos indícios suficientes da autoria e prova da materialidade, mediante outras peças de informação.
153
Idem., p.359.
154
Ib idem, p.359-360.

51
A Comissão exercerá suas atividades com independência e imparcialidade, assegurado o
sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da administração. As reuniões e
as audiências das comissões terão caráter reservado (art.150).

Na fase de inquérito administrativo, a comissão promoverá a tomada de depoimentos,


acareações, investigações e diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova, recorrendo,
quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a permitir a completa elucidação dos fatos
(art.155). É assegurado ao servidor o direito de acompanhar o processo pessoalmente ou por
intermédio de procurador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas e contraprovas e
formular quesitos, quando se tratar de prova pericial. O presidente da comissão poderá denegar
pedidos considerados impertinentes, meramente protelatórios, ou de nenhum interesse para o
esclarecimento dos fatos. Será indeferido o pedido de prova pericial, quando a comprovação do
fato independer de conhecimento especial de perito (art.156).

As testemunhas serão intimadas a depor mediante mandado expedido pelo presidente da


comissão, devendo a segunda via, com o ciente do interessado, ser anexado aos autos. Se a
testemunha for servidor público, a expedição do mandado será imediatamente comunicada ao
chefe da repartição onde serve, com a indicação do dia e hora marcados para inquirição
(art.157). O depoimento será prestado oralmente e reduzido a termo, não sendo lícito à
testemunha trazê-lo por escrito. As testemunhas serão inquiridas separadamente. Na hipótese
de depoimentos contraditórios ou que se infirmem, proceder-se-á à acareação entre os
depoentes (art.158).

Concluída a inquirição das testemunhas, a comissão promoverá o interrogatório do


acusado. No caso de mais de um acusado, cada um deles será ouvido separadamente, e
sempre que divergirem em suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, será promovida a
acareação entre eles. O procurador do acusado poderá assistir ao interrogatório, bem como à
inquirição das testemunhas, sendo-lhe vedado interferir nas perguntas e respostas, facultando-
se-lhe, porém, reinquiri-las, por intermédio do presidente da comissão (art.159).

Quando houver dúvida sobre a sanidade mental do acusado, a comissão proporá à


autoridade competente que ele seja submetido a exame por junta médica oficial, da qual
participe pelo menos um médico psiquiatra. O incidente de sanidade mental será processado em
auto apartado e apenso ao processo principal, após a expedição do laudo pericial (art.160).

Tipificada a infração disciplinar, será formulada a indiciação do servidor, com a especificação


dos fatos a ele imputados e das respectivas provas. O indiciado será citado por mandado
expedido pelo presidente da comissão para apresentar defesa escrita, no prazo de 10 (dez)
dias, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição. Havendo dois ou mais indiciados, o
prazo será comum e de 20 (vinte) dias. O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo dobro,
para diligências reputadas indispensáveis. No caso de recusa do indiciado em apor o ciente na
cópia da citação, o prazo para defesa contar-se-á da data declarada, em termo próprio, pelo
membro da comissão que fez a citação, com a assinatura de (2) duas testemunhas (art.161).

Ponto objeto de controvérsia na doutrina diz respeito à necessidade ou não de elaboração de


defesa técnica, ou seja, de estar o administrado representado por advogado no processo
administrativo.

O art.3o, IV, da Lei 9784/99 (lei do processo administrativo federal) facultou que o administrado
se faça assistir por advogado, salvo quando obrigatória a representação, por força de lei. Logo,
a regra é a facultatividade da defesa técnica. Não obstante, há quem sustente a necessidade
da defesa técnica, “sempre que a extrema complexidade da causa impeça o administrado de
exercer sua ampla defesa”.155

No tocante aos processos sancionatórios ou disciplinares, há doutrinadores que consideram


necessária a defesa técnica, como salienta Lúcia Valle de Figueiredo:

155
MOREIRA, Egon Bockman. Processo Administrativo: princípios constitucionais e a Lei 9.784/99. São Paulo: Malheiros, 2000, p.257.

52
“O direito à defesa técnica está ínsito no direito de ampla defesa, inserida no processo penal. Se
a parte ‘acusada’ da prática de infração administrativa não se defender por advogado, deverá
lhe ser nomeado defensor. Ainda, se defesa não houver, quer por revelia, quer porque entenda
a parte de não se defender, a nomeação de defensor dativo é absolutamente necessária, do
mesmo modo que no processo penal (art.261 do Código de Processo Penal), sob pena de
nulidade. (...) Não há tergiversações maiores entre os autores arrolados sobre a necessidade da
defesa técnica nos processos sancionatórios ou disciplinares”.156

No âmbito da jurisprudência, a questão também veio desafiando controvérsias, tendo o STJ


chegado a editar a Súmula n. 343 prevendo a necessidade de advogado nos processos
disciplinares, o que, poucos dias depois, foi desconsiderado pelo STF ao reputar meramente
facultativa tal defesa técnica, nos termos da Súmula Vinculante n. 05: “A falta de defesa
técnica por advogado no processo disciplinar não ofende a Constituição”.

O indiciado que mudar de residência fica obrigado a comunicar à comissão o lugar onde
poderá ser encontrado (art.162).

Achando-se o indiciado em lugar incerto e não sabido, será citado por edital, publicado no
Diário Oficial da União e em jornal de grande circulação na localidade do último domicílio
conhecido, para apresentar defesa. Nesse caso, o prazo para defesa será de 15 (quinze) dias a
partir da última publicação do edital (art.163).

Considerar-se-á revel o indiciado que, regularmente citado, não apresentar defesa no prazo
legal. A revelia será declarada, por termo, nos autos do processo e devolverá o prazo para a
defesa. Para defender o indiciado revel, a autoridade instauradora do processo designará um
servidor como defensor dativo, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de
mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado (art.164).

Apreciada a defesa, a comissão elaborará relatório minucioso, onde resumirá as peças principais
dos autos e mencionará as provas em que se baseou para formar a sua convicção. O relatório
será sempre conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do servidor.
Reconhecida a responsabilidade do servidor, a comissão indicará o dispositivo legal ou
regulamentar transgredido, bem como as circunstâncias agravantes ou atenuantes (art.165).

O processo disciplinar, com o relatório da comissão, será remetido à autoridade que determinou
a sua instauração, para julgamento (art.166).

No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do processo, a autoridade julgadora


proferirá a sua decisão. Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da autoridade
instauradora do processo, este será encaminhado à autoridade competente, que decidirá em
igual prazo. Havendo mais de um indiciado e diversidade de sanções, o julgamento caberá à
autoridade competente para a imposição da pena mais grave. Se a penalidade prevista for a
demissão ou cassação de aposentadoria ou disponibilidade, o julgamento caberá às autoridades
de que trata o inciso I do art. 141 da Lei 8112/90 (Presidente da República, das Casas do Poder
Legislativo, dos Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral da República). Reconhecida pela
comissão a inocência do servidor, a autoridade instauradora do processo determinará o seu
arquivamento, salvo se flagrantemente contrária à prova dos autos (art.167).

Isto é, o julgamento acatará o relatório da comissão, salvo quando contrário às provas dos
autos. É o chamado efeito vinculante do relatório, que somente não ocorrerá quando o
mesmo contrariar as provas dos autos, caso em que a autoridade julgadora poderá,
motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de
responsabilidade (art.168).

Verificada a ocorrência de vício insanável, a autoridade que determinou a instauração do


processo ou outra de hierarquia superior declarará a sua nulidade, total ou parcial, e ordenará,

156
Op. cit., p. 425-427.

53
no mesmo ato, a constituição de outra comissão para instauração de novo processo. O
julgamento fora do prazo legal não implica nulidade do processo. A autoridade julgadora que der
causa à prescrição da ação disciplinar será responsabilizada (art.169)

O servidor que responder a processo disciplinar só poderá ser exonerado a pedido, ou


aposentado voluntariamente, após a conclusão do processo e o cumprimento da penalidade,
acaso aplicada. Ocorrida a exoneração quando não satisfeitas as condições do estágio
probatório, o ato será convertido em demissão, se for o caso (art.172).

O processo disciplinar poderá ser revisto (revisão do processo), a qualquer tempo, a pedido
ou de ofício, quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a
inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada. Em caso de falecimento, ausência
ou desaparecimento do servidor, qualquer pessoa da família poderá requerer a revisão do
processo. No caso de incapacidade mental do servidor, a revisão será requerida pelo respectivo
curador (art.174). No processo revisional, o ônus da prova cabe ao requerente (art.175). A
simples alegação de injustiça da penalidade não constitui fundamento para a revisão, que
requer elementos novos, ainda não apreciados no processo originário (art.176). O requerimento
de revisão do processo será dirigido ao Ministro de Estado ou autoridade equivalente, que, se
autorizar a revisão, encaminhará o pedido ao dirigente do órgão ou entidade onde se originou o
processo disciplinar (art.177). A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para a conclusão dos
trabalhos (art.179). O julgamento caberá à autoridade que aplicou a penalidade, no prazo de 20
(vinte) dias, contados do recebimento do processo, no curso do qual a autoridade julgadora
poderá determinar diligências (art.181). Julgada procedente a revisão, será declarada sem
efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os direitos do servidor, exceto em relação
à destituição do cargo em comissão, que será convertida em exoneração. Da revisão do
processo não poderá resultar agravamento de penalidade (art.182).

A “verdade sabida” e o “termo de declaração”.

Antes da Constituição Federal de 1988, costumava-se utilizar mecanismos sumários de


apuração de responsabilidade de servidores, tais como a verdade sabida e o termo de
declaração.

Pela verdade sabida, “a autoridade competente, que presenciou a infração, aplica a pena,
consignando no ato punitivo as circunstâncias em que foi cometida a presenciada falta. Também
já se considerou verdade sabida a infração pública e notória, divulgada pela imprensa e por
outros meios de comunicação em massa”.157

Pelo termo de declaração “a comprovação da falta do servidor surge com a tomada do


depoimento do acusado sobre a irregularidade que lhe é imputada. Se esta é confessada, o
termo de declaração serve de base para a aplicação da pena”.158

A jurisprudência nunca viu com bons olhos tais mecanismos, que foram definitivamente
abolidos com o advento da nossa atual Carta Magna, cujo art.5o, LV, contempla
expressamente que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes”.

Neste sentido, confira-se o teor do seguinte do nosso egrégio Tribunal Regional Federal da 1a
Região:

“ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. ATO DISCIPLINAR PUNITIVO. SUSPENSÃO INFERIOR A


30 DIAS. AMPLA DEFESA. CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1967, REDAÇÃO EMENDA N. 1/69, ART.
153, PARAGRAFO 15. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE1988, ART. 5, LV. ‘VERDADE SABIDA ‘. 1.
Mesmo na vigência da Ordem Constitucional anterior, a ampla defesa era indispensável para

157
GASPARINI, op. cit., p.823.
158
Idem.

54
aplicação de punições a servidores na esfera administrativa, por construção jurisprudencial. 2.
Ainda que de prazo inferior a 30 (trinta) dias a pena suspensiva, aplicada pela autoridade
competente, é nulo o ato se não concedida ao servidor oportunidade de, pelo menos,
esclarecimentos. 3. A "Verdade Sabida " mesmo considerada como prova suficiente não pode
dispensar a defesa do indiciado. 4. "Breve sindicância" não se equipara a apuração de infração,
se não houve oitiva ou oportunidade de oitiva do suposto "sindicado".159

A ação regressiva contra o servidor público por danos suportados pela Administração.

O tema em destaque tem relação com o chamado direito de regresso, que é “o assegurado ao
Estado no sentido de dirigir sua pretensão indenizatória contra o agente responsável pelo dano,
quanto tenha este agido com culpa ou dolo”.160 Assim, se o Estado foi obrigado a indenizar
terceiro prejudicado por ato de agente seu, deve dirigir contra esse uma pretensão regressiva.

Nessa esteira a lição de José dos Santos Carvalho Filho:

“Como a responsabilidade do agente é subjetiva, só será cabível a ação de regresso se o agente


responsável tiver agido com culpa ou dolo. A causa de pedir da ação a ser ajuizada pelo Estado,
por conseguinte, consiste na existência do fato danoso, causado por culpa do agente, e na
responsabilidade subjetiva deste. Sendo assim, cabe ao Estado, autor da ação, o ônus de provar
a culpa do agente, como estabelece o art.333, I, do CPC. Em conseqüência, se o dano tiver sido
causado por atividade estatal sem ser possível a identificação do agente (culpa anônima do
serviço), o Estado será obrigado a reparar o dano, jungido que está pela teoria da
responsabilidade objetiva, mas lhe será impossível exercer o direito de regresso contra qualquer
agente”.161

O mesmo ocorre quando o Estado buscar se ressarcir do dano que lhe foi provocado
diretamente pelo agente.

O art.37, §5º, da Constituição federal de 1988 estabelece que “a lei estabelecerá os prazos de
prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos
ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento”.

Com base na parte final desse dispositivo, alguns doutrinadores, dentre eles os mestres Celso
Antônio Bandeira de Mello162 e Diógenes Gasparini163, entendem que a ação de reparação
movida pela Administração contra o servidor que causa dano ao erário seria imprescritível.

Esse entendimento, porém, é objeto de algumas divergências, tendo em vista que a


Constituição Federal veda a perpetuação das penas (art.5o, XLVII, b), o que indiretamente
ocorreria em se admitindo a imprescritibilidade da ação de reparação. Não obstante esse
dispositivo constitucional refira-se a “penas”, tem sido interpretado extensivamente para
abranger qualquer tipo de sanção aplicada aos cidadãos pelo Estado, não apenas as de natureza
criminal.

Confira-se, a respeito, o seguinte posicionamento calcado na lei de improbidade administrativa:

“O art.37, §5º, da Constituição Federal, parece, de forma indireta, declarar que a ação de
ressarcimento de danos ao erário seria imprescritível. Todavia, esse entendimento mostra-se
insustentável perante o próprio ordenamento jurídico vigente, pois a Constituição Federal
estabelece, como direito e garantia fundamental, a vedação de penas perpétuas – art.5o, XLVII,
‘b’. Ora, no caso, a se entender imprescritível o ressarcimento, estaria se criando a
possibilidade, eterna, de se demandar, v.g., um tataraneto de um administrador ímprobo...
Criada estaria, assim, em antinomia com a própria Constituição, uma pena perpétua. (...) Tanto
é certo a prevalência do direito fundamental de vedação de penas perpétuas sobre a norma do

159
REO 91.01.17099-6 /DF, Relator: Desembargador Federal Jirair Aram Meguerian, DJ de 15/04/1996.
160
CARVALHO FILHO, op. cit., p.458.
161
Op. cit., p.459.
162
Op. cit., p.291.
163
Op. cit., p.837.

55
art.37, §5º, CF, que o art.23, I, da Lei 8429/92, prevê a prescrição qüinqüenal para a aplicação
de suas sanções – entre as quais se situa, obviamente, o perdimento de bens e a imposição de
indenizar o erário”164

No mesmo sentido já se posicionou a jurisprudência: “É de cinco anos o prazo de prescrição


para exigir-se do administrador o ressarcimento de prejuízo causado a órgão público, não sendo
correta a interpretação do art.37, §5º, CF, no sentido da imprescritibilidade”.165

8) NOÇÕES SOBRE O REGIME ESTATUTÁRIO MILITAR.

Os agentes militares são agentes públicos submetidos a um regime estatutário próprio,


distinto do regime aplicável aos demais servidores estatutários.

Segundo Diógenes Gasparini, “são todas as pessoas que, permanente ou temporariamente,


desempenham atividade militar no âmbito federal ou estadual, percebendo por esse
desempenho um subsídio. Para a Lei Maior em vigor são agentes militares os integrantes das
Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), os pertencentes às Polícias Militares e os
integrantes dos Corpos de Bombeiros Militares. Os primeiros são federais, enquanto os últimos
são estaduais, distritais e territoriais”.166

“Todos os integrantes dessas corporações são agentes militares com direitos, prerrogativas e
obrigações decorrentes diretamente da Constituição Federal, notadamente dos art. 42 e 142, e
dos respectivos estatutos. A condição de integrante das Forças Armadas ou das Polícias Militares
estadual, distrital e territorial só pode ser atribuída aos oficiais e praças que compõem os
quadros militares definidos em lei. Não são, portanto, militares os demais agentes
eventualmente lotados nas referidas instituições (Forças Armadas, Polícias Militares e Corpos de
Bombeiros Militares)”.167

Aos membros das Forças Armadas aplicam-se as diversas disposições previstas no art.142, §3º,
da Carta. Assim, as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são
conferidas pelo Presidente da República e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da
reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os
demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas.

O militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente será
transferido para a reserva, nos termos da lei. O militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar
posse em cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da
administração indireta, ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto
permanecer nessa situação, ser promovido por antigüidade, contando-se-lhe o tempo de serviço
apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos de
afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei.

Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve, assim, como, enquanto em serviço ativo, não
pode estar filiado a partidos políticos. Aplicam-se aos militares alguns dispositivos previstos na
Carta em relação aos trabalhadores em geral e aos servidores civis, quais sejam o art. 7º,
incisos VIII, (décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da
aposentadoria); XII (salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa
renda nos termos da lei); XVII (gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço
a mais do que o salário normal); XVIII (licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do
salário, com a duração de cento e vinte dias); XIX (licença-paternidade, nos termos fixados em
lei), XXV (assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até seis anos de
idade em creches e pré-escolas) e o art.37, incisos XI, (teto salarial igual ao subsídio mensal,
em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal); XIII (vedação de vinculação ou
equiparação de quaisquer espécies remuneratórias); XIV (proibição de cumulação de acréscimos
164
ANDRADE, Érico. O controle judicial da responsabilidade fiscal: ação civil pública de improbidade. RDA n.232, abril/junho/2003, pp.301/302.
165
TJMG, AC 160.191-3, Relator: Desembargador Ximenes Carneiro.
166
Op. cit., p.225.
167
Idem.

56
pecuniários); XV (irredutibilidade de subsídios, salvo nas hipóteses constitucionais). Além disso,
aplica-se aos militares e a seus pensionistas o disposto no art. 40, §§ 7º e 8º da Lei Maior.

A Constituição previu ainda lei dispondo sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de
idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade, os
direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares,
consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de
compromissos internacionais e de guerra (art.142, §3º, X).

No âmbito federal, tal lei é a Lei 6680/80 (Estatuto dos Agentes Militares Federais),
com algumas alterações legislativas posteriores.

No âmbito dos Estados e do Distrito Federal aplicam-se as disposições do art.42 da


Constituição Federal, que trata dos membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares, com um regime semelhante aos das Forças Armadas (art.142, §§2º e 3º). Incidem
também os dispositivos da Lei 6880/80, porém os Estados-membros e o Distrito Federal
poderão editar leis dispondo sobre os seus respectivos estatutos militares.

Quanto ao ingresso no quadro, os agentes militares poderão ser oriundos de recrutamento ou


de concurso público.

O recrutamento ocorre por ocasião do serviço militar obrigatório nas Forças Armadas, tal como
previsto no art.143 da Carta Magna de 1988. Às Forças Armadas compete, na forma da lei,
atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de
consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica
ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar (§1º). As mulheres
e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém,
a outros encargos que a lei lhes atribuir (§2º). Nas polícias militares e corpos de bombeiros não
há recrutamento; o ingresso nestas instituições somente ocorre por concurso.

O concurso público aplica-se ao ingresso nos cursos de formação de oficiais e praças.

Seguindo uma escala hierárquica própria, os oficiais têm patente (tenente, capitão, major,
coronel, general etc.), enquanto os praças têm graduação (soldado, cabo, sargento, subtenente
etc.) 168

O oficial tem assegurada a vitaliciedade, isto é, só perderá o posto e a patente se for julgado
indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter
permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra. O oficial
condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois anos, por
sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento acima mencionado. Já o praça
somente terá estabilidade após dez anos de serviço, conforme disposto na Lei 6.880/80.

Conforme estejam ou não no exercício do seu posto ou graduação, os agentes militares são
classificados em ativos e inativos. O militar inativo está afastado do serviço, seja
temporariamente, seja permanentemente. O estado de inatividade poderá decorrer de
agregação, reserva ou, ainda, reforma.

A agregação “é a situação do militar da ativa que deixa, temporariamente, de ocupar vaga na


corporação a que pertence por ter aceito cargo, emprego ou função pública não eletiva na
Administração Pública direta ou indireta.

168
Essas nomenclaturas de patentes e graduações citadas são aquelas empregadas no Exército Brasileiro e geralmente também utilizadas nas Polícias
Militares. Já a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira utilizam outras nomenclaturas, porém com distribuição equivalente entre os postos. Na
FAB, as nomenclaturas são similares ao Exército, porém seguidas do termo “aviador”. Assim, v.g., no Exército tem-se o major e na FAB o major
aviador. Na Marinha, que é considerada a força armada mais antiga, as nomenclaturas são bem diferentes. Por exemplo, o posto equivalente a major
chama-se capitão de corveta e o coronel chama-se capitão-de-mar-e-guerra. No tocante aos oficiais generais, as nomenclaturas também variam. No
Exército há generais (de brigada, de divisão e de exército), na FAB há brigadeiros (brigadeiro, major-brigadeiro e tenente-brigadeiro) e na Marinha há
almirantes (contra-almirante, vice-almirante e almirante de esquadra). Nas Polícias Militares não há oficial general, o último posto é o de coronel.

57
“A agregação não deverá ultrapassar dois anos. Depois desse prazo, o servidor militar será
transferido para a reserva. Enquanto durar a agregação, seu beneficiado somente poderá ser
promovido por antigüidade. A agregação não é automática, dependendo, assim, de ato da
autoridade militar competente. Inexistindo esse ato, é inadmissível a agregação. Cessada a
agregação, o servidor militar volta à ativa”.169

Reserva é a denominação genérica dada à aposentadoria do militar que preenche os requisitos


legais. Porém, o militar da reserva, mesma estando na inatividade, pode ser convocado a
qualquer tempo, retornando à ativa por necessidade do serviço militar.

Caso sobrevenha doença ou ocorra acidente que torne o militar definitivamente incapacitado
para o serviço militar, ele será reformado. O mesmo acontecerá quando o militar atingir a
idade-limite prevista no estatuto. Ou seja, a reforma “é a situação do servidor militar da ativa
que deixa, em caráter definitivo, de ocupar vaga na corporação a que pertence. O agente militar
reformado não pode, sob qualquer hipótese, retornar à ativa”.170 A reforma pode ocorrer tanto
para um militar da ativa (quando, por exemplo, venha a sofrer um acidente), ou até mesmo a
um militar que já esteja na reserva (quando venha a atingir a idade-limite). Além dessas
situações de incapacidade física ou limite de idade, existe ainda a figura da reforma disciplinar
compulsória, que decorre da aplicação de penalidade disciplinar ao militar, uma modalidade
semelhante à aposentadoria compulsória aplicada a servidores civis.

169
Idem, p.227.
170
Ib idem.

58

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