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Monografia Thiago Rodrigues Braga
Monografia Thiago Rodrigues Braga
BRASÍLIA
2009
THIAGO RODRIGUES BRAGA
BRASÍLIA
2009
Dedico este trabalho à minha filha Eduarda Ribeiro Braga
RESUMO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................6
2 ASPECTOS HISTÓRICOS.............................................................................................8
3 ANENCÉFALIA.............................................................................................................11
CONCLUSÃO.........................................................................................................................44
REFERÊNCIA..........................................................................................................................46
6
1-Introdução
existentes no Código Penal vigente, os novos diagnósticos médicos são parâmetros bases que
Código Penal. O presente trabalho trás consigo abordagens históricas sobre a inviabilidade
dos fetos anômalos com a vida extra-uterina, aspectos jurídicos sobre a proteção da vida nas
como crime, abordando as execuções legais do aborto por interrupção terapêutica da gestante.
consequência a procura por interrupção da gestação, que já se torna inevitável para a mãe.
Visto que se inicia um longo período de dores sacrifício, além da indagação do risco de vida
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adquirido por esta. A busca por apoio médico e jurídico demonstra a angústia e a preocupação
das mulheres que se deparam com o impedimento legal da efetiva interrupção da gravidez.
certeza da inviabilidade de vida intra-uterina, com base em dados científicos que superam as
Fundamental (ADPF n°54), abordagens constitucionais, com análises médicas sobre as novas
gravidez.
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2-Aspectos Históricos
esteve presente entre os povos, nem sempre como um ilícito criminal. Contudo, ao longo da
história das civilizações, houve, na verdade, uma grande modificação repressiva, oscilando os
2003).
físicas ao nascer eram tidos como inviáveis. Sendo à vontade da mãe sobre seu filho, muitas
vezes retirada por seus maridos ou até mesmo pela sociedade que sobrepunha aos laços
Acreditavam que era melhor pôr fim a uma vida que começara inauspiciosamente do que
tentar prolongá-la, com todos os problemas que ela poderia acarretar. (HUNGRIA, 1942, p.
233).
Sócrates, por sua vez, entendia que a verdade estava acima dos costumes, a
justiça acima da lei e a origem do dever na consciência de cada um, defendendo a liberdade
Platão que imputava as mulheres com mais de quarenta anos, que retirassem o feto sem alma,
daquele povo, onde o interesse da coletividade se sobrepunha aos laços familiares era
vexatório para família possuir um filho que não pudesse servir ao Estado, principalmente na
guerra. Em Roma, a mulher que possuísse fetos sem aparência humana, eram jogados de
sua proibição não era vista como um direito do feto sobre o da mulher, mas como garantia de
onde declara que a alma era parte do feto desde a sua concepção, transformando em pecado a
Fato este que veio a consolidar a reprovação social do aborto, que por influência da igreja,
matar um feto deixou de ser apenas lesão ao patrimônio do homem, mas sim lesão à vida
escolha da mulher. Porém, a ascensão do Nazifacismo, fez com que as leis abortivas se
tornassem severíssimas, nos países em que esses regimes se instalavam, chegando a aplicar
E foi durante a primeira guerra mundial que o termo aborto eugênico foi
utilizado pela primeira vez, referindo-se ao problema das mulheres estupradas durante este
10
conflito. O aborto eugênico seria o meio apropriado para defender a raça dos vícios e doenças
gestação quando existe o prognóstico de que o feto venha a nascer com grave anomalia física
3-Anencéfalia
fronteira que diferencia o aborto por anomalia fetal incompatível com a vida de outras
malformação congênita que, uma vez presente no feto, torna a vida inviável, já que ele se
todos os casos o feto morre, seja dentro do útero ou após o parto, em poucos minutos (ANIS,
2004, p. 118).
ausência completa ou parcial de cérebro, das meninges, do crânio e da pele. Pode ser dividida
cérebro. Cerca de aproximadamente 75% dos fetos anencefálicos morrem dentro do útero.
Dos 25% restantes, todos apresentam diagnóstico indiscutível de morte cerebral após o parto e
sobrevida de, no máximo, algumas horas após o parto. A permanência de feto anômalo no
útero da mãe mostrar-se-ia potencialmente perigosa, podendo gerar danos à saúde e à vida da
sobrevida, por não possuir a parte vital do cérebro. Nesse sentido de posse do reconhecimento
da impotência humana diante da natureza nesses casos, o mais adequado seria uma revisão do
silogismo que reconhece o status moral de pessoa aos fetos e lhe concede o direito à vida.
Uma vez revisto, o novo silogismo seria, então: Somente alguém vivo ou potencialmente vivo
é pessoa e tem direito à vida. O feto inviável não tem potencialidade de viver. Conclusão: O
feto inviável não é pessoa e não tem direito à vida (DINIZ; RIBEIRO, 2003).
biomédicos que sejam colocados à sua disposição. Uma vez diagnosticada a anencefalia, não
há nada que a ciência médica possa fazer quanto ao feto. A permanência deste anômalo no
útero da mãe é comprovadamente perigosa, podendo gerar danos a saúde da gestante levando
em alguns casos a morte, em razão do alto índice de óbito intra-útero. Além da dor
psicológica que terá durante nove meses de gravidez ao imaginar seu filho nascer e morrer em
gestante, onde, há obrigação que constrange e deprime a gestante, mas, pelo contrário, será
apenas uma faculdade que, se não desejar, a gestante não precisará, sem ademais, ficar
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submetida aos rigores próprios da violação de norma jurídica, com suas drásticas
diante da mais profunda transformação que tantas décadas possam ter produzido (TESSARO,
2002).
aborto, na medida em que se trata de feto sem vida, ou, numa linguagem médica moderna,
trata-se de um feto com morte cerebral. Examinando o Código Penal de 1940, constata-se que
o legislador de então, ao criminalizar o aborto, não foi radical, pois admitiu como lícito, ainda
(BITENCOURT, 2001).
sobre o instante em que a vida deixa de existir. A incapacidade de respiração foi, durante
anos, o único parâmetro responsável por dimensionar os indícios vitais. Com o passar do
tempo, novos fatores passaram a constituir elementos importantes em sua verificação. Seja
como for, determinar o momento da morte do ser humano é uma das tarefas mais delicadas
natimortos cerebrais, e por não possuírem o córtex, mas apenas o tronco encefálico, são
conhecida e sem qualquer possibilidade de sobrevida, por não possuir a parte vital do cérebro,
então quais são, do ponto de vista médico, as características da primeira. Tome-se como
referência um texto de caráter multidisciplinar: Uma malformação que faz parte dos defeitos
maioria das vezes, é recoberto por uma membrana espessa de estroma angiomatoso, mas
nunca por osso ou pele normal. Parece demasiado relevante a incompatibilidade entre a vida e
também não são suficientes para justificar o aborto. A doutrina é bastante enfática ao assinalar
prática abortiva.
das gestações, sendo que mais da metade ocorrem nos três primeiros meses, muitas vezes por
distúrbios de origem genética. Aborto provocado, onde ocorre a extração do feto da cavidade
A provocação do aborto acontece de várias formas, seja por ação, seja por
omissão. A ação provocadora poderá dar-se através dos seguintes meios executivos, aborto
espontâneo ou natural seria uma interrupção que o próprio organismo expulsa o feto em
como violenta emoção, intenso susto, traumatismos, como quedas. Sobre o aborto provocado,
mulheres que nunca tiveram filhos e até a décima nas que já tiveram. Normalmente não é
necessário anestesia geral, a dor e semelhante a uma contração menstrual mais forte. Insere se
1987).
dilatação feita progressivamente com velas de plástico macio e flexível, contando com todo
um aparato médico. Sendo o conteúdo do útero aspirado por uma pressão negativa, deve se,
ademais, vigiar a temperatura. Durante os dias seguintes evitam se relações sexuais vaginais,
colocação de tampões, lavagens vaginais e banho de mar. Sempre controlado por um médico.
Curetagem é utilizada até décima quarta semana, sob anestesia de preferência geral. Trata se
de uma pequena cirurgia contando com todo um aparato bem qualificado. Ocorre uma
raspagem na parede do útero, exigindo certa perícia para não haver retenções ou perfuração
solução composta de soro (ou glicose) hipertônico misturado com ocitocina; que provocará
contrações semelhantes as do parto, sendo o feto expulso. Sendo esse método bem mais
arriscado. A microcessariana, como seu próprio nome diz ,é uma cirurgia que em nada difere
diferentes provocando a expulsão do feto. Com uma substância chamada prostaglandina, que
orientação médica métodos como introdução de sondas através do colo do útero com o
infecções. Injeção no útero de soluções de sabão ou produtos químicos - água sanitária e sais
de chumbo, mercúrio, e um dos mais comercializados nos dias atuais citotec, causando na
Curetagem praticada sem anestesia nem anti-sépticos, com material não esterilizado. Casos
esse que geralmente levam essas mulheres até a morte. (VERARDO, 1987).
O aborto feito de uma forma segura com menos riscos possíveis evitaria as
estruturas clandestinas - portões fechados, linguagem em código e até circuito interno de TV-.
O aparato que envolve a clandestinidade acaba provocando uma sensação de culpa. Culpa
nem se sabe exatamente do quê. Mesmo tendo certeza de que o aborto é a melhor coisa que
milhões de abortos clandestinos, fato estes relatado em 1984 é destes abortos provocaram a
18
morte de mais de 300 mil mulheres. Muitas vezes essas mortes poderiam ser evitadas com um
para o movimento de revisão da legislação brasileira que inúmeras metáforas são utilizadas
para descrever o grau do sofrimento imposto pelo diagnóstico. (DINIZ; RIBEIRO, 2003).
destaque à vida humana. No entanto, na constituição de 1946, precisamente no art. 41, está
concernente à vida, ratificando no art. 153 da Constituição de 1969”. (CARLOS, 2006, p. 41).
pessoa humana”- artigo 1°, inciso III. E acrescenta: A vida humana se distingue das demais,
seja pela sua origem, vale dizer, pelo processo de sua constituição genética.
e 196 – direito a saúde-, todos da Carta da República e, como ato do poder público, causador
da lesão, o conjunto normativo ensejado pelos artigos 124, 126, cabeça e 128, inciso I e II, do
A lei penal proibiu o aborto, admitindo não sua legalidade, mas sua
aborto em virtude de estupro. Assunto este abordado no próximo capítulo. (MARTINS, 2008,
p. 100)
Aurélio a constitucionalidade do aborto por anomalia fetal, com base nos textos
república, com o Código Penal. Argumentando em seu ponto de vista, que o feto expulso para
permitir se quer uma intervenção cirúrgica que obtenha uma perspectiva de vida extra-uterina,
logo, que a proibição de se efetuar a antecipação terapêutica do parto nos casos de fetos
anencéfalos, não consubstancia aborto, visto que não há vida extra-uterina em potencial.
debates sobre o assunto por juristas e também pela sociedade (MOMURA, 2007, p. 489).
Porém, neste caso, não se refere o direito ou não à vida, porquanto esta, não
tem a possibilidade de ocorrer, já que não há bem jurídico a ser protegido pelo Direito Penal,
sendo este necessário para a formação do tipo penal. Sabendo que na Constituição Federal de
1988 apregoa em seu art. 5° a consagração da vida como direito fundamental e inviolável.
Ressaltando que no Código Penal prevê situações em que não se pune a interrupção da
Por derradeiro, nos termos da nossa Constituição Federal (art. 5º, § 2º), os
Tratados Internacionais de Direitos Humanos, que forem ratificados pelo Brasil, constituem
interrupção da gravidez em casos de anencefalia, pois tal feto inviável não configura crime de
aborto, uma vez que a anencefalia é uma má-formação que impede a sobrevida. (MOMURA,
2007).
terceiro que provocasse o aborto e não a gestante. Sua extensão à mulher veio a ocorrer com o
advento do Código Penal 1890, sendo também expressa a distinção entre o aborto com ou sem
expulsão do feto. Sendo autorizado apenas o aborto para salvar a vida da parturiente. Em
1940, à luz dos costumes e hábitos da década de 1930, foi publicado o novo Código Penal,
vigente até os dias atuais, que tipificou três tipos de aborto, somando ao artigo 5° e 227 da
Constituição Federal de 1988, dispondo o direito à vida como inviolável, trazendo como dever
A lei penal vigente proíbe a pratica de aborto, admitindo não sua legalidade,
mas sua impunibilidade em duas hipóteses: O aborto terapêutico, objetivando salvar a vida da
morte do feto (produto da concepção). Que no sentido etimológico, aborto quer dizer privação
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de nascimento. Advém de ab, que significa privação, e ortus, nascimento. (DAMÁSIO, 2001,
p. 119).
ou com seu consentimento, aborto provocado por terceiro, forma qualificada, aborto
produto da concepção, consiste na eliminação da vida intra-uterina. Logo, o embrião não pode
ser considerado pessoa humana. Como também não se trata de coisa, visto que o significado
da palavra aborto se traduz na expulsão do útero dos produtos da concepção, antes de o feto se
encontrar viável, ou seja, na interrupção da gravidez antes que o feto tenha razoáveis
possibilidades de sobrevivência.
ou consentir que outrem lho provoque”. Pena-detenção de um a três anos. Explanado aqui o
pratica com o consentimento dela, considerado, assim, co-autor. No artigo 125 do Código
dez anos. É o aborto praticado em mulher dissenciente. Ocorre, quer seja feito contra sua
vontade quer á sua revelia. É ela sujeito passivo do delito. No artigo 126 do Código Penal diz-
se: Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena- reclusão de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze
23
cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofra lesão corporal de natureza
grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém à morte. No primeiro
caso, as penas são aumentadas de um terço. No segundo, são duplicadas. (SILVA, 2006, p.
62).
agente que pratica o aborto na mulher, com ou sem o consentimento, pois o artigo 127 só faz
referência aos 125 e 126. No artigo 128 não há previsão de crime, mas de situações
outro meio de salvar a vida da gestante. Somente o médico deverá praticar o aborto. Ele sabe
quando praticá-lo. Nesse caso, tem por objetivo salvar a vida da gestante. Trata-se de um fato
pune o aborto médico: I – Se não há outro meio de salvar a vida da gestante. Nesse caso, tem
por objetivo salvar a vida da gestante. Estará assim amparado pela autorização da própria
Estamos diante do aborto necessário, praticado, por tanto, pelo médico que
sabe perfeitamente como praticá-lo com o fim exclusivo de salvar a vida da gestante. Trata-se
executado quando não há outro meio de salvar a vida da gestante. Não e estritamente
obrigatória à ocorrência de risco presente para a vida da mulher, bastando que se comprove
(MATIELO, 1994).
incapaz por idade o debilidade mental) devem consentir com as manobras de interrupção
(MATIELO, 1994).
essenciais, à evidência:
pois a mesma não deve estar obrigada a cuidar de um filho gerado por um ato de violência.
Tendo o legislador eximido de incluir no rol das hipóteses autorizativas do aborto, o caso de
controvérsias em diversos aspectos tanto éticos, como religiosos, jurídicos, etc. Porém, não
cabe neste momento analisar outros aspectos senão o jurídico. “Onde o legislador penal
definiu como crime de aborto a interrupção voluntaria da gestação que implique na morte do
medicina fetal. Situações antes imprevisíveis hoje podem ser diagnosticadas com alto grau de
precisão. Valendo ressaltar que o mesmo Código Penal, que incrimina a interrupção da
gestante por anomalia fetal incompatível com a vida, consagra duas excludentes de ilicitude
para o crime de aborto, independentemente das condições físicas do feto: são os casos em que
apenas a idoneidade sentimental da mulher, em nada se importando com o bem jurídico vida
fetal e nem obedecendo qualquer critério médico, sacrificando a vida em gestação, uma vez
que a única coisa que se procura resguardar é a honra subjetiva da parturiente, ou sua sanidade
também não leva em conta com o bem jurídico vida fetal que Será lesionado para que o risco
da mãe cesse.
traz pesares, que lhe afeta física e psicologicamente, que a traumatiza e desconforta, constitui
apuradas, onde detecta o nível de sobre vida do feto, e as possibilidades de morte de ambos.
Ou seja, mesmo para juízes e promotores pouco sensíveis à legalização do aborto, por
anomalia fetal e uma situação tão especial que um mero apelo aos artigos do Código Penal
que instituem a ilegalidade do aborto não basta para fundamentar o processo. E preciso sair à
procura de fundamentos que estão além da lei que se apresenta nos dias atuais. (DINIZ;
RIBEIRO, 2003).
dispositivos para disciplinar, de modo coerente com todo o ordenamento jurídico em vigor,
sobre a interrupção da gestação de fetos inviáveis, como dos fetos anencefálicos. Salientando
aos fetos que possuem anomalias incompatíveis com a vida é que a conduta de uma mulher
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que opta pela interrupção de sua gestação, nestes casos, não seja considerada antijurídica, ou
viver. Porém isto submete a entender que o feto adquiriria vida após o parto, fato este
hemisférios celebrais, levará este a uma vida de poucas horas, muitas das vezes nem chegando
a respirar.
seu ventre não tem cérebro e não lhe resta nenhuma possibilidade de vida extra-uterina, quem
poderá, afinal, nas circunstâncias, censurá-la por buscar o abortamento. Mantendo em seu
ventre um ser inanimado, que, quando a natureza resolver expeli-lo, não terá alternativa senão
Federal, segundo o qual, ninguém será submetido a tratamento desumano. Ademais, permitir
a realização de aborto anencéfalo constitui somente uma faculdade, que a gestante somente
usará se o desejar, que é muito diferente de sua proibição, imposta por norma jurídica
lhe era exigido, e, por isso, exclui-se a culpa pela inexigibilidade de comportamento diverso
daquele que, nas circunstâncias, adotou. Assim, a inexigibilidade de outra conduta exclui,
As maiorias das mães possuem a feliz expectativa de vestir seu bebê logo
após o nascimento; mas a genitora de um anencéfalo sabe que sua roupa será,
anencéfalo, que a ciência médica assegura, com segurança, a absoluta impossibilidade de vida
extra-uterina, sendo desumano exigir-se de uma gestante que suporte a gravidez até seu final,
com todas as consequências e riscos, para que, no final, ao invés de comemorar o nascimento
nascimento de um natimorto.
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personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.” No Código Civil de 2002 em seu art. 2° está explicitado:
“A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo,
Segundo Damásio:
Diante do Direito Civil o feto, de fato, não é pessoa, mas sim expectativa de
ente humano, com expectativas de direito. Entretanto, à luz das palavras de
Damásio de Jesus, mesmo não sendo vida independente, o produto da
concepção vive o que é suficiente para ser protegido. (DAMÁSIO,
2001)Mesmo o nascituro, isto é, aquele concebido, mas ainda não
nascido, apesar de ainda não ter personalidade 1, já terá, em nosso
direito positivo, resguardado seus direitos (NEGRÃO, 2008).
concepção. Em nosso código, contudo, predominou a teoria do nascimento com vida para ter
1
Ilegitimidade de parte – Ativa – Ocorrência- Investigatória de paternidade ajuizada por futura mãe de
nascituro – Inad. – Ausente a personalidade, ao nascituro falta à capacidade de ser parte e de se fazer
representar em juízo- aplicabilidade do art. 7°, do CPC-RNP. Embora a lei ponha a salvo desde a concepção os
direitos do nascituro, a personalidade civil do homem começa do nascimento com vida (art. 4° do CC).
30
criança respirou, então houve nascimento com vida. Nesse campo, o direito vale-se dos
Óvulo para formar um zigoto (óvulo fecundado). Isto se dá nas trompas de Falópio, quando o
Ser humano já concebido, mas, ainda por nascer. Por uma ficção de direito, é
considerado, provisoriamente, com certa capacidade jurídica: direito do
nascituro. A partir do momento que nasça com vida, é reputado pessoa, para
os efeitos Legais”. (Dicionário de Tecnologia Jurídica, Vol. II, p. 209, 6 ed.,
Livraria Freitas Bastos S/A, Rio de Janeiro e São Paulo, 1965).
Para elucidar: “O fato de o nascituro ter proteção legal não deve levar a
imaginar que tenha ele personalidade. Esta só advém do nascimento com vida. Trata-se de
uma expectativa de direito Nosso estatuto contentou-se, portanto, com o nascimento com
vida. Não exige que a vida seja viável, como o código Napoleônico”. (VENOSA, 2002, p.
160).
maternas, pouco importando que isso decorra de operação natural ou artificial. A prova
inequívoca de o ser ter respirado pertence à medicina. Se a criança nascer com vida e logo
depois vier a falecer, será considerado sujeito de direitos. Tal prova, portanto é importante,
mormente para o direito sucessório, pois a partir desse fato pode receber herança e transmiti-
la a seus sucessores.
que não foi ainda concebido e que poderá ser sujeito de direito no futuro, dependendo de uma
prole eventual; isso faz pensar na noção de direito eventual, isto é, um direito em mera
situação de potencialidade para que nem ainda foi concebido. É possível ser beneficiado em
tanto no Direito Civil, como no Direito Penal, entre nós. O fato de o nascimento ter proteção
legal não deve levar a imaginar que tenha ele personalidade. Esta só advém do nascimento
com vida. Trata-se de uma expectativa de direito. A liberdade de poder tentar viver
suportando a perda de um filho, sem constrangimento maior. A evolução nos cientifica, trás
Logo, importante faz-se ressaltar que diante do Direito Civil o feto, de fato,
não é pessoa, mas sim expectativa de ente humano, com expectativas de direito. Entretanto, à
luz das palavras de Damásio de Jesus, mesmo não sendo vida independente, “o produto da
intensificados pelo movimento feminista contra os pró- vida que fundamentam sua decisão
modo geral, aspectos culturais contrários ao aborto, impedindo aos avanços recentes na área
"um vegetal", expressões fortes são, até mesmo, desrespeitosa, mais que comumente são
utilizadas para representar o sofrimento das mulheres e famílias que procuram um amparo
legal para realizar o aborto apesar de haver um consenso crescente no país de que
RIBEIRO, 2003).
Uma análise dos argumentos usados nos processos que negaram o pedido de
aborto mostra o quanto e urgente à mudança da legislação no Brasil: são decisões arbitrárias,
na maior parte das vezes fundamentadas em premissas religiosas do juiz ou do promotor e que
são, equivocadamente, anunciadas como fundamentos jurídicos para negar o pedido (DINIZ;
RIBEIRO, 2003).
promotores e juízes. Nega se a autorização judicial em nome do art. 128 do código penal, que
não prevê este permissivo. Ou seja, mesmo para juízes e promotores pouco sensíveis à
legalização do aborto, o aborto por anomalia fetal e uma situação tão especial que um mero
33
apelo aos artigos do código penal que instituem a ilegalidade do aborto não basta para
fundamentar o processo: E preciso sair à procura de fundamentos morais que estão além da
dom ou um bem divino e que não deve ser objeto de intervenção humana. Acredita-se que
exista um ciclo natural da vida e que qualquer tentativa de intervir nele seria um atentado á
premissa da santidade da vida humana, pois ambas são consideradas atribuições divinas por
Uma análise dos argumentos usados nos processos que negaram o pedido de
promotor e que são, equivocadamente, anunciadas como fundamentos jurídicos para negar o
criminoso ou não.
“Quando a mãe pede para retirar esse feto e o médico pratica o ato, isto não
configura propriamente aborto, com base no art. 126 do Código Penal, pois o
feto, conceitualmente, não tem vida”[9]. E complementa Becker: “a morte
não é um evento, mas sim um processo. O conceito jurídico de morte
considera um determinado ponto desse processo biológico. Durante séculos
adotou-se a parada cardiorrespiratória como índice demarcador da vida”.
Marco Antonio Becker, Secretário do Conselho Federal de Medicina que
sustenta
34
Se a morte cerebral põe termo à vida humana seria um pleonasmo dizer que
fetos sem os hemisférios celebrais sobreviveriam. Não há porque adicionar outra excludente
ao art. 128 do Código Penal, pois pelas razões expostas o ordenamento jurídico já existente
autoriza o médico a retirar o feto de anencéfalo da gestante, a seu pedido, sem que com isso
incorra em infração penal ou ética, pois, se não há vida, não há que se falar em aborto.
constitui aborto, fato este atípico em nosso ordenamento jurídico. Valendo ressaltar da morte
do feto, pois o crime somente se consuma com a ocorrência desta, que, segundo a ciência
porque a vida do bebê não era viável e não porque a gravidez era indesejada.
terapêutico do parto em gravidez de feto anencefálico. Defende que mulher grávida de feto
anencéfalo. Defende que mulher grávida de feto anencéfalo tenha direito à assistência
governamental em relação aos cuidados protetivos à sua saúde, em especial á saúde mental.
vida humana, tendo em vista os progressos rápidos e complexos do saber e das tecnologias
Por não ser um campo disciplinar dogmático, mas sim que intervém em
Colocando as próprias crenças sob suspeitas, pois é a dúvida a única ferramenta reflexiva
uma valoração dessas diretrizes, sendo que para isso, um destes princípios terá precedência
sobre o outro.
que dão alicerce para o desempenho do papel social a ser desempenhado pelo indivíduo na
eticamente mais justa equivale aquela que considera a vida na sua plenitude, incluído neste
com a vida, pois levar a termo tal gestação, quando esta mulher fez a opção de interrompê-la,
36
significa uma forte agressão à dignidade desta gestante, comparada os efeitos de uma tortura,
2002, p. 77).
aborto, facilitando uma normatização, uma vez que o aborto pressupõe que haja vida ao
nascer, ou seja, o tipo penal objetiva resguardar a vida do nascituro, ao passo que a situação
dos fetos inviáveis é totalmente oposta, oposta que não terá vida a ser tutelada após o
Pelo motivo supracitado, os defensores dos direitos humanos estão cada vez
biotecnológico e da saúde. Assim, qualquer ato que agrida a condição humana ou viole
normatizadas, que, apesar de terem o objetivo de trazer benefícios à sociedade, essas normas
intuito de trazer benefícios ao cidadão, entretanto, devem ser observados sua dignidade,
relacionados à bioética, como por exemplo, a questão do aborto de fetos com má formação.
37
tecnológico. Por que minimizar ou não a dor psicológica dos pais que ao verem seu filho
ilegalidade do aborto, assunto que deve ser abordado sob o enfoque das seguintes premissas: a
primeira, se o aborto por anomalia fetal incompatível com a vida extra-uterina deveria ser
uma prática legal no país, já a segunda, se este, deveria ser considerado juridicamente
epígrafe, sob pena de, em nome de um pretenso direito à vida, negar outro direito não menos
geralmente são estipulados pelos meses de gravidez, tornando lícita a interrupção do embrião,
psicológicas, sociais ou econômicas, dependendo das leis vigentes naquele país, que em
relação ao aborto, pode ser menos ou mais restritiva, chegando a ser totalmente liberal
(Holanda e nos Estados Unidos, onde a suprema corte Americana já assentou o entendimento
voluntária da gravidez” ao invés de aborto, posto que esta última vem estigmatizada por um
médicas em sentido amplo - a saber, quando há saúde da mãe está em perigo , não limitando
ao risco de perder sua vida, e, algumas vezes, por risco genético ou por razões jurídicas como
quatro países com mais de 1.000 de habitantes, nos quais o aborto e permitido por razões
sociais ou médico sociais, ou seja, condições sociais adversas, representa 23% da população
gestação quanto deve ser considerados do agravo a saúde mental da mulher. Na maioria
virtualmente permitido pela simples decisão da gestante.” E finalmente as leis menos restrita
dizem respeito ao 23 países onde o aborto é permitido pela simples opção da gestante. É o
caso de algum dos países mais populosos do mundo – China, Rússia, países da antiga união
população mundial. Nos países muçulmanos, de uma maneira geral, além da áfrica e a
America Latina contam com poucas indicações de abortos legais, executados apenas os casos
autorizam à gestante interromperem a gravidez quando a risco de vida para sua saúde mental,
do feto ou lesão deste: Alemanha, África do Sul, Bélgica, Bulgária, Canadá, Dinamarca,
Espanha, (porém, condiciona a interrupção nos primeiros três meses de gestação, quando esta
40
é motivada pelo abalo a saúde mental da mulher), Gana, Reino Unido, Grécia, Holanda, Índia,
Israel, Itália, Luxemburgo, Portugal e Turquia. Contudo, na Suíça e no Peru, estas indicações
às hipóteses em que há perigo para a saúde psíquica da gestante. (RIBEIRO, 2000, p. 96).
de três dias após este aconselhamento. Esta intervenção não deverá ser realizada pelo médico
que decidiu, juntamente com a mãe, pela interrupção da gravidez. Quando a interrupção for
motivada pela malformação do feto, deverá ser realizado nas primeiras 22 semanas. Já,
quando for razão do dano a saúde física ou mental da mulher, não é condicionada a nenhuma
prazo. No entanto apesar de serem gratuitas, muitas alemãs procuram outros países para
realizar esta cirurgia, pois muitos hospitais se recusam a realiza – lá por motivos
na Dinamarca a interrupção será decidida por quatro profissionais de saúde. Se a gestante for
menor de 18 anos, exigisse o consentimento de seus pais para realização de tal procedimento.
Quando for requerida pela mulher, o prazo para a execução e de 12 semanas. Os hospitais
ficam obrigados a realizar a interrupção quando procurados nas 12 primeiras semanas, sendo
reembolsados pelo próprio Estado. Entretanto somente as residentes no país podem ser
grave risco à vida ou a saúde física ou psíquica da gestante, hipótese em que o procedimento
poderá ser realizado em qualquer momento. Se a gravidez for decorrente de estupro, sua
interrupção poderá ocorre até as 12 primeiras semanas quando se presumir que o feto nascerá
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com grave doença física ou psíquica esta operação deverá ocorre dentro das 22 primeiras
A legislação espanhola exige que a interrupção seja executada por médico distinto daquele
que fez diagnóstico. Na prática, tem prevalecido na Espanha um conceito muito abrangente de
risco a saúde psíquica da mulher e que amplia a possibilidade de aborto legal (RIBEIRO,
2000, p.97-98).
voluntaria da gravidez data de 1975, sendo que em razão da previsão de vigência por cinco
anos, foi ratificado por uma nova lei, em 1979, a qual sofreu algumas modificações em 2001.
poderá ser interrompida se lhe causar forte angústia, ou, a qualquer tempo quando haja risco à
sua vida ou saúde, ou ainda, exista grande probabilidade de que o feto venha a sofrer, após o
legislativa tornou facultativa para as gestantes adultas a consulta prévia para aconselhamento
ser realizada durante as treze primeiras semanas de gestação, independente de uma indicação,
e até a 24 semana, no caso da gestação lhe causarem forte angústia. Em ambas as hipóteses
desde que motivado por razões sociais, sociomédicas, socioeconômicas ou, ainda, no caso de
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risco de lesões severas para a vida da gestante. Quando realizada em hospital público, não
haverá custo para paciente. Outrossim, se a gestante for menor de 16 anos, a intervenção
deverá ser precedida pelo consentimento de dois médicos e da autorização dos pais
(TESSARO, 2008).
virtude de razão médicas-psicológicas, deverá ser executada nas 20 primeiras semanas. Se for
o caso motivado pela malformação do feto, deverá ocorrer nas primeiras 24 semanas. Exige-
congênita, foi alterado para 24 semanas de gestação. Quando for indicado preservar a vida ou
a saúde física ou psíquica da mãe, deverá ocorrer nas 12 primeiras semanas primeiras semanas
qualquer tempo. O médico que indicar a interrupção, por meio de prévio atestado, não deverá
conduzir a operação. O consentimento materno deverá ser obtido com antecedência mínima
interrupção for de caráter urgente, o médico decidirá, e quando possível auxiliado por parecer
indistintamente o aborto, em 1978 foi editada uma lei que regulamentou detalhadamente a
interrupção da gravidez. De acordo com o referido diploma, durante os primeiros noventa dias
da gestação, a gestante poderá solicitar a realização do aborto nas hipóteses em que sua saúde
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física ou psíquica esteja em risco; comprometimento das suas condições econômicas, sociais
CONCLUSÃO
problemas dentro do ventre materno, constatam, que uma vez identificado a anomalia fetal,
este na verdade, dará seguimento a um processo de morte, visto a inviabilidade da vida extra-
uterina do feto. Além de submeter à gravidez da mulher a consideráveis riscos de ordem física
e psicológica.
da gestação, visto que não há objeto jurídico a ser tutelado, o que dá causa a atipicidade ou
exclusão de ilicitude da conduta, em outras palavras, não se trata de um ser que possui vida.
Intenta-se, apenas, antecipar o parto e o fim de todo o sofrimento que a anomalia fetal já
trouxe à mulher.
medicina.
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