Apostila História Geral - Módulo 32

Você também pode gostar

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

32 A DESCOLONIZAÇÃO AFRO-ASIÁTICA E O HISTÓRIA I

SURGIMENTO DE NOVOS ATORES INTERNACIONAIS

DESCOLONIZAÇÃO CASOS ESPECÍFICOS


Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-45), as relações
internacionais passaram por um processo de total transformação.
A Europa perde seu tradicional papel de centro político hegemônico
INDONÉSIA
e o eixo de decisões mundiais é deslocado para Estados Unidos e A presença holandesa na Insulíndia remonta ao século XVII,
União Soviética. quando da fundação de Batávia (atual Jacarta), em 1619. No século
XX, já nas primeiras décadas, existem registros de movimentos
A decadência dos grandes “Impérios colonialistas”, isto é, Grã- nacionalistas e de resistência ao domínio holandês na Indonésia.
Bretanha e França, auxilia no processo de independência estratégica, Em 1939, oito organizações indonésias formaram uma frente,
isto é, conceder a independência para as suas colônias como forma denominada Gabusan Politik Indonesia (GAPI), exigindo liberdades
de manter laços econômicos, o que ficou sendo conhecido como democráticas, unidade e independência. Os símbolos de união
“processo pacífico”. A França procurou manter suas colônias pela nacional preteridos pelo GAPI foram o idioma bahasa indonesia e
força militar, desencadeando guerras sangrentas na Indochina, a bandeira nas cores vermelha e branca. Contudo, somente com
sobretudo Vietnã e Argélia. Os historiadores denominaram este a Segunda Guerra Mundial e a consequente invasão e ocupação
processo de “descolonização violenta”. Outros países, como alemã na Holanda (1940) e japonesa na Indonésia (1942), o
Holanda e Portugal, também mantinham colônias nos continentes colonialismo holandês perderia seu ímpeto e prestígio.
africano e asiático. No caso de Portugal, a descolonização ficou
sendo conhecida como “tardia”, devido ao fato de Angola e Em 1946, incapazes de recuperar o controle militar sobre
Moçambique só conseguirem suas independências na década a região, os holandeses firmam o Tratado de Lindggadjati, que
de 1970, quando a ditadura salazarista foi derrubada em 1974, na previa uma união da Indonésia com a Holanda, o que na prática
chamada “Revolução dos Cravos”, e a social-democracia de Mário jamais aconteceu. Em 2 de novembro de 1949, na “mesa redonda”
Soares iniciou a negociação para a libertação destas colônias. de Haia, a Holanda renuncia formalmente a qualquer pretensão
Os movimentos de guerrilha marxista nestes países, entretanto, territorial sobre a Indonésia. Entre os anos de 1954 a 1956, a
enfrentaram outras oposições armadas, levando os países a um suposta confederação entre Holanda e Indonésia deixa de existir
longo período de guerra civil. formalmente. Nos anos seguintes, ocorrem manifestações,
sobretudo em Sumatra, contra o governo centralista de Sukarno,
A descolonização foi ainda favorecida pelo princípio de que governará de maneira ditatorial, apoiado pelo Exército.
“autodeterminação dos povos” estabelecido na Carta do Atlântico
(1941), na Carta das Nações Unidas (1945) e na Conferência de Entre 18 e 25 de abril de 1955, ocorre a Conferência de
Bandung (1955); esta última, reunindo os países denominados Bandung, reunindo os chamados “países não alinhados” ou de
de não alinhados, condenou a Guerra Fria e sua consequente Terceiro Mundo, isto é, aqueles que rejeitam a liderança norte-
bipolarização, a corrida armamentista e o racismo tão presente nas americana ou soviética. Os 29 países condenam o colonialismo, a
mais variadas esferas. Novos países surgiram da descolonização. discriminação racial e o armamento atômico.
Dezenas de novas unidades políticas na África e na Ásia passaram
a participar de modo independente do mundo contemporâneo. O ARGÉLIA
número de países-membros da ONU quase quadruplicou em cerca
de 50 anos. O processo de independência da Argélia está inserido no
contexto dos grandes movimentos de libertação nacional após a
Entretanto, vale destacar que nem sempre o processo se Segunda Guerra Mundial. A descolonização afro-asiática, marco
deu de modo pacífico ou ordeiro. O sonho de Gandhi de uma da decadência do imperialismo britânico e francês, insere novos
descolonização a partir da desobediência civil, isto é, da não atores nas relações internacionais do período de Guerra Fria.
agressão, que mantivesse a unidade indiana, revelou-se uma
utopia, pois a Índia acabaria fragmentando-se em mais outros A despeito do fracasso em manter seu colonialismo na
três Estados independentes: Bangladesh, Sri Lanka e Paquistão, Indochina, especialmente na região do Vietnã, após a fragosa
este último de maioria muçulmana e enfrentando, ainda hoje, derrota de Dien Bien Phu, em 1954, a França não se mostrava
gravíssimos problemas de fronteira com a Índia hindu. disposta a ceder qualquer tipo de autonomia política para a Argélia.
A intransigência do governo francês em atender a solicitações
As fronteiras étnicas e políticas da África argelinas acerca da aceitação de um regime político autônomo, ou
mesmo de soberania limitada, levaram a uma das mais sangrentas
guerras de libertação nacional do pós-guerra.
Um dos principais problemas da questão argelina, colônia
francesa desde 1830, era a presença de mais de um milhão de
colonos franceses na região. Em 1873, iniciou-se a transferência
maciça de colonos franceses — os chamados pieds-noirs ou pés-
pretos — para a Argélia.
A resistência contra a presença francesa, durante o século
XX, organizou-se antes mesmo da Segunda Guerra Mundial. Em
1937, foi fundado o Partido do Povo Argelino (PPA). No ano de 1945,
com a comemoração da derrota nazista, uma insurreição popular
argelina foi massacrada pelos franceses, resultando, segundo
dados oficiais, em 45 mil argelinos e 108 europeus mortos. O
(Atualidades/Vestibular 2005, 1° sem., ed. Abril, p.6) episódio ficou sendo conhecido como o “bombardeio de Sétif”.

PRÉ-VESTIBULAR SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO 349


HISTÓRIA I 32 A DESCOLONIZAÇÃO AFRO-ASIÁTICA E O SURGIMENTO DE NOVOS ATORES INTERNACIONAIS

Em 1947, um estatuto de administração francesa na Argélia ORIENTE MÉDIO


prevê a concessão de autonomia limitada ao país, através de
representação parlamentar. O PPA participa das eleições nacionais A origem da atual onda de violência no Oriente Médio não se
de 1948 e 1951, organizadas pelos franceses, com o nome de encontra em um passado recente. A onda de antissemitismo no
Movimento pelo Triunfo das Liberdades Democráticas (MTLD). mundo é tão antiga quanto a própria história do povo judeu, que
Os pieds-noirs sabotam as eleições e promovem fraudes. A sofreu a Diáspora na Antiguidade Clássica durante o período do
Organisation Spéciale (OS), facção militar da MTLD, passa a Imperador Vespasiano. A história do século XX registra casos de
questionar a via eleitoral e cria o Comitê Revolucionário pela antissemitismo na Rússia e na França e intenções de criar um
Unidade e Ação (CRUA), que, posteriormente, em novembro de lar mundial para os judeus desde a Primeira Guerra Mundial,
1954, se converteria na famosa Front de Libération Nationale. quando houve a Declaração de Balfour. Foi após a Segunda Guerra
A FLN, fundada na Suíça por Ahmed Ben Bella, Krim Belkacem e Mundial, entretanto, que o movimento sionista ganhou fôlego. As
Ben Khider, seria a vanguarda armada da revolução nacionalista atrocidades cometidas pelos nazistas sensibilizaram a opinião
argelina. Ben Bella, líder do movimento nacionalista argelino, pública mundial em favor dos judeus. A Grã-Bretanha, que
ingressara em 1937 no exército francês, sendo condecorado com mantinha a região da Palestina como um protetorado, renunciou à
a Croix de Guerre e a Medaille Militaire pela suas ações em Cassino sua autoridade na região em favor da ONU, que deveria promover
(Itália). A rebelião argelina começa com uma ação dos fellaghas, um plano de partilha entre árabes e israelenses. Os árabes,
guerrilheiros argelinos, na noite de 31 de outubro para 1º de contudo, mostrariam-se mais do que hostis ao princípio de
novembro de 1954. constituição de um Estado judeu em uma região em que desde o
século VII florescia o islamismo.
O governo francês inicia a repressão contra os nacionalistas
argelinos: são enviados mais de 500 mil militares para a Argélia, Em 1945, foi fundada a Liga Árabe, constituída inicialmente
incluindo contingentes da legião estrangeira e grupamentos por um número modesto de países recém-independentes: Egito,
de paraquedistas, tropas auxiliares muçulmanas, harkis, que Líbano, Síria, Jordânia e Iraque. A Liga Árabe foi organizada com
colaboram com os ocupantes. A “guerra suja” francesa permite a um duplo objetivo declarado: promover o neonacionalismo árabe,
tortura contra presos políticos, além da destruição de cerca de oito isto é, a descolonização, e impedir a criação do Estado de Israel.
mil aldeias argelinas e morte de um milhão de civis. Uma barreira O primeiro objetivo foi um tremendo sucesso, enquanto o segundo
eletrificada, a Linha Morice, fechava a fronteira da Argélia para um estrondoso fracasso. Em 1948, em uma manobra militar mal
evitar o contrabando de armas para a FLN. coordenada, a Liga Árabe atacou Israel com o objetivo de impedir
a criação do Estado judeu. O resultado da guerra foi a vitória de
As organizações não governamentais teriam papel relevante Israel, que ocupou 75% dos territórios que deveriam ser entregues
na Guerra da Argélia. A extrema direita francesa fundou o grupo aos palestinos para a constituição da República Árabe da Palestina.
terrorista Organisation de l’Armée Secrète (OAS), que mesclava um Os outros 25% foram ocupados por egípcios (Faixa de Gaza) e
discurso autoritário e colonialista. Grupos como a Organização de jordanianos (Cisjordânia).
Resistência da Argélia Francesa, liderada pelo dr. René Kovacs, e
a União Francesa Norte-Africana, presidida por Boyer-Banse, não Em 1956, durante a chamada Crise de Suez, ocorreu a segunda
toleraram o discurso sedicioso e fizeram lobby para a manutenção guerra árabe-israelense. O canal de Suez, construído no século XIX,
do status colonial. configura-se como importante rota de petróleo, pois liga o mar
Vermelho ao mar Mediterrâneo, região sul da Europa que consome
As vitórias do neonacionalismo árabe no Irã (Mossadegh), o produto. O líder egípcio, Gamal Abdel Nasser, expoente do
Egito (Nasser), Tunísia (Salah Ben Youssef e Bourguiba) e Marrocos neonacionalismo da região, desafiou, portanto, França e Inglaterra.
(Mohammed V) estimularam a luta argelina. O presidente René Não tardou para que os governos de Londres e Paris, aliados aos
Coty e seu primeiro-ministro Guy Mollet, que tentara uma solução israelenses, desejosos de ocupar novos territórios para concretizar
de “autonomia dependente”, não conseguem contornar a crise o projeto de criação de uma zona de defesa, empreendessem uma
argelina. Em 13 de maio de 1958, unidades militares simpatizantes aventura militar contra o Cairo.
dos pieds-noirs, sob o comando dos generais Salan e Massu,
organizam o Putsch de Argel, formando um Comitê de Salvação
Pública e minando a autoridade do governo da IV República. Charles
PROEXPLICA
De Gaulle, líder da França Livre, durante a Segunda Guerra Mundial,
é convidado a integrar o governo para auxiliar na superação da Em tempos de Guerra Fria, porém, os novos atores
crise. principais das relações internacionais não poderiam
No dia 4 de junho de 1958, o general De Gaulle visita Argel e tolerar tamanha afronta intervencionista sem terem sido
faz o famoso discurso em que diz Je vous ai compris, interpretado consultados. A União Soviética do líder Nikita Kruchev,
pelos pied-noirs como um sinal de que o general manteria a Argélia desejosa de penetrar na rica região petrolífera do Oriente
sob tutela francesa. Médio, ameaçou a Inglaterra e a França de retaliação nuclear
se o Egito não fosse deixado em paz. Os Estados Unidos,
Em 1961, apesar do aparente avanço político, as ações governados pelo presidente Eisenhower, temendo uma
militares e terroristas da FLN e OAS se intensificam. O radicalismo escalada militar que pudesse conduzir à guerra, exigiram de
atinge ambos os lados: tortura como arma francesa; assassinatos seus parceiros da Otan que a agressão militar cessasse. A
de argelinos moderados em ações da FLN. Crise de Suez, após o abandono do Egito pelo consórcio anglo-
Em 18 de março de 1962, com o armistício de Evian, a franco-israelense, demonstrava que o mundo tinha novas
independência da Argélia é estabelecida, com termos de garantia superpotências, evidenciando a fragilidade e decadência
para os franceses argelinos. Um plebiscito aprova o princípio de europeia. Aos europeus nada mais restava senão tentarem
autodeterminação dos argelinos: o “sim” venceu com 75% dos organizar mecanismos de união continental na tentativa de
votos na metrópole e 69% dos votos na Argélia. contrabalançar a influência americana e soviética.
Em 3 de julho, o presidente argelino Ben Khedda proclama a
República Democrática Popular da Argélia. Em 25 de setembro,
o presidente da Assembleia Nacional, Ferhat Abbas, designa Ben
Bella como chefe de governo. Nos primeiros anos do novo regime,
1956, A CRISE DE SUEZ E A
600 mil franceses abandonam o país, enquanto meio milhão DECADÊNCIA EUROPEIA
de argelinos retornam. No campo econômico, quase todas as
Tal como sinalizado, a Crise de Suez evidenciou a fragilidade
empresas estrangeiras foram nacionalizadas.
europeia em tempos de Guerra Fria. Não parece coincidência,

350 SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO PRÉ-VESTIBULAR


32 A DESCOLONIZAÇÃO AFRO-ASIÁTICA E O SURGIMENTO DE NOVOS ATORES INTERNACIONAIS HISTÓRIA I

portanto, que um ano depois tenha surgido o mais importante A construção dos símbolos da CE representam uma metáfora
tratado que conduziria o Velho Continente ao processo de da dificuldade de agregar economias, nacionalismos e séculos
integração política que formaria a União Europeia. de História sob uma mesma unidade: a proposta da adoção da
O fim da Segunda Guerra alterou profundamente o cenário cruz-Sol como bandeira da Europa unificada foi rejeitada, pois o
político mundial: a Europa, até então centro do planisfério, foi cristianismo não seria aceito pacificamente por todos os Estados-
relegada para uma categoria de região coadjuvante nas relações membros: a pretensão da entrada da Turquia, por exemplo,
internacionais. A ascensão dos Estados Unidos da América e da tornaria-se inviável. O pavilhão europeu é neutro e discreto: doze
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ditas superpotências, estrelas “sobre o fundo azul do céu Ocidente”.
transformou o Velho Continente em pátio de manobras da Guerra O hino da Comunidade Europeia, contudo, não provocou tanta
Fria. A incapacidade da Europa em empreender projetos de polêmica: a Ode à alegria, de Schiller, musicada na Nona Sinfonia de
reconstrução e defesa ficou evidente com a aplicação do Plano Ludwig van Beethoven, é praticamente uma unanimidade europeia:
Marshall, programa de concessão de créditos americanos para os “Freude schöner Gotter funken, Tochter auf Elysium...” (“Alegre,
países ocidentais arruinados, e pela criação da Otan, bloco militar formosa centelha divina, filha do Eliseo...”).
liderado por Washington. Os Estados Unidos assumiram o papel de O dia 1º de janeiro de 2002 foi, indubitavelmente, uma das
tutor da Europa democrática contra a ameaça comunista. datas mais espetaculares da Comunidade Europeia: a nova moeda
continental passou a circular com o intuito de unificar o padrão
PROEXPLICA monetário europeu. Entretanto, o euro, que deve competir com
o dólar americano, encontra resistências dentro da própria CE: o
A decadência europeia também ficou evidente com o su- Reino Unido, agarrado ao passado neocolonial, insiste em manter
cesso dos movimentos de descolonização afro-asiáticos: o a libra esterlina, símbolo de uma época em que os britânicos
exótico pacifismo de Gandhi livrou a Índia, mesmo que sob o exerciam um poder econômico mundial incontestável.
signo da fragmentação política, da presença imperialista britâ- O desafio de constituir blocos europeus que possam fazer frente
nica; as guerrilhas da Indochina e Argélia impuseram dolorosas aos Estados Unidos que possa fazer frente aos Estados Unidos e,
e humilhantes derrotas aos franceses; em 1949, a Holanda já possivelmente, ao regime da China, será, indubitavelmente, um dos
renunciara formalmente ao seu mandato sobre a Indonésia. maiores temas de estudo do século XXI.
O modelo de descolonização da Grã-Bretanha,
denominado invariavelmente de pacífico, contrastava com
seu congênere franco-belga, alcunhado de violento, por 1967, UMA NOVA GUERRA NO
conta das guerras de libertação nacionais de vietnamitas e
argelinos contra franceses e da guerra civil do Congo belga
ORIENTE MÉDIO E A COLONIZAÇÃO
entre Patrice Lumumba e Mobuto Sese Seko. Na África ISRAELENSE
Portuguesa, a descolonização tardia viria somente na década
Em 1967, após momentos de tensão entre árabes e
de 1970, quando a ditadura de Salazar seria derrubada pela
israelenses, Tel Aviv adota a tática de que a melhor defesa é o
Revolução de 25 de abril de 1974, denominada de Revolução
ataque e desfecha uma agressão coordenada contra seus vizinhos
dos Cravos. A social-democracia portuguesa de Mário Soares
árabes, de tal modo que a vitória militar é obtida em menos de uma
assinaria os acordos de independência com o Movimento
semana. É a chamada Guerra dos Seis Dias, quando o Exército de
Popular pela Libertação de Angola, de Agostinho Neto e com
Israel concretiza a ocupação militar sobre toda a Faixa de Gaza e a
a Frente de Libertação de Moçambique, de Samora Machel.
Cisjordânia, regiões que deveriam ter sido entregues aos palestinos,
Península do Sinai, área egípcia, e as Colinas de Golã, um complexo
Em 5 de maio de 1949, ocorre a primeira tentativa formal geográfico ideal para desfechar um ataque militar contra Damasco,
de resgatar o prestígio europeu através da unidade continental: além de ser rico em recursos hídricos.
o Conselho da Europa, espécie de ensaio de Parlamento
representativo dos governos nacionais, foi criado com a função PROEXPLICA
de incentivar os princípios democráticos, abalados com a
traumática experiência do nazifascismo e colocados em risco pelo
expansionismo soviético. Gaza e Cisjordânia foram territórios negociados na
década de 1990. Pelos acordos de Olso e Camp David, Israel
Em 1951, pelo Tratado de Paris, foi criada a Comunidade Europeia deveria devolver estes territórios, enquanto a Organização
do Carvão e do Aço (Ceca), que, devido ao seu aspecto de cooperação para a Libertação da Palestina (OLP) se comprometia a
econômica, é considerada o marco zero da integração do continente. renunciar a violência e controlar os movimentos terroristas
Aos países signatários, França – Alemanha Ocidental e Itália –, se na região. A incapacidade da OLP em acabar com os ataques
juntaram Bélgica, Holanda e Luxemburgo, que já haviam promovido suicidas promovidos por grupos radicais islâmicos, tais como
uma experiência bem-sucedida de união econômica, a Benelux. o Jihad, o Hezbollah e o Hamas, que não aceitam o diálogo
No ano de 1957, os países componentes da Ceca formalizaram o com Israel, leva o Estado israelense a se recusar a cumprir
Tratado de Roma, constituindo a Comunidade Econômica Europeia. sua parte no acordo. A Península do Sinai foi a única região
Além da CEE, também foi instituída a Comunidade Europeia de devolvida aos árabes. Pelo acordo de Camp David de 1979, o
Energia Atômica (Euratom), responsável pelo desenvolvimento da presidente do Egito Anwar Al Sadat renunciava ao emprego da
indústria nuclear. Em 1965, os três organismos europeus, Ceca, CEE violência contra os judeus e reconhecia o direito de Israel de
e Euratom, foram reunidos como Comunidade Europeia (CE). existir como Estado. Sadat, entretanto, seria assassinado por
A França, governada por De Gaulle, era contra a entrada do Reino membros de sua própria guarda militar em 1981. As Colinas
Unido na CE, devido ao seu alinhamento com o governo dos EUA e de Golã constituem as únicas regiões que Israel se mostra
à insistência de manutenção da Commonwealth. Somente em 1972, intransigente em negociar.
com o Tratado de Egmont, a Grã-Bretanha, além de Dinamarca e
Irlanda, passaram a integrar a Comunidade Europeia. A Grécia, em A política israelense de promover colonização nos territórios
1979, e os países ibéricos, em 1985, também foram admitidos. ocupados complicou ainda mais a situação, pois os colonos judeus
O processo de desintegração da União Soviética, em 1989-91, que estabeleceram assentamentos em territórios árabes ocupados
favoreceu as candidaturas de países do antigo bloco socialista, não aceitam negociar com os árabes a devolução destas regiões.
como Hungria e Polônia, como possíveis Estados associados.

PRÉ-VESTIBULAR SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO 351


HISTÓRIA I 32 A DESCOLONIZAÇÃO AFRO-ASIÁTICA E O SURGIMENTO DE NOVOS ATORES INTERNACIONAIS

Em outubro de 1973, ocorreu a Guerra do Yom Kippur, na qual os


países árabes tentaram mais uma vez destruir Israel através de uma
ação militar coordenada. Novamente Israel repeliu o ataque. Após
a guerra, os países árabes exportadores de petróleo alteraram a EXERCÍCIOS
estratégia contra Israel. O petróleo passaria a ser empregado como PROPOSTOS
arma de guerra. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(Opep) reduziu a oferta de petróleo em 10% no mercado mundial, o 01. (FUVEST) Entre os fatores que permitem associar o contexto
suficiente para o preço do barril saltar de cerca de US$ 4,00 para US$ histórico de Portugal, na década de 1970, às independências de
12,00. O objetivo dos países árabes era pressionar o maior aliado do suas colônias na África, encontram-se
colonialismo israelense na região: os Estados Unidos. O resultado
deste primeiro choque do petróleo foi desastroso para as economias a) o Salazarismo, que dominou Portugal desde a década de 1930,
ocidentais, porém, pressionou de fato o governo americano a iniciar e a intensificação dos laços coloniais com Cabo Verde e Guiné-
uma postura de árbitro nos conflitos do Oriente Médio. Bissau, 40 anos depois.
Na Conferência de Rabat de 1974, no Marrocos, a OLP recebeu, b) a influência política e militar do Pacto de Varsóvia, no norte do
por parte dos países árabes, o status de governo no exílio, procurando continente africano, e o surgimento de movimentos contra o
o exercício diplomático como meio de garantir a criação da República apartheid nas colônias portuguesas.
Árabe da Palestina. Israel alternou governos e primeiros-ministros c) o não cumprimento, por Portugal, da exigência internacional
durante estas cinco décadas, entretanto, a despeito da diferença de que libertasse suas colônias africanas e sua exclusão da
nominal e ideológica de Ehud Barak, considerado um moderado Comunidade Europeia, no princípio da década de 1970.
ao lado de Benjamin Netanyahu, pouca distinção se faz presente d) a Revolução dos Cravos, de 1974, que encerrou o longo
quando a questão é o tratamento da questão da Palestina. período ditatorial português, e a ampliação dos movimentos de
libertação nacional, como os de Angola e Moçambique.
PROEXPLICA e) o imediato cessar-fogo estabelecido pelo regime democrático
português, implantado em 1974, e o fim dos conflitos internos
Em fevereiro de 1979, ocorreu a Revolução Islâmica do nas colônias portuguesas da África.
Irã, na qual a Monarquia do xá Reza Pahlevi foi destituída pelo
clero muçulmano xiita, que empreendeu uma série de reformas 02. (FUVEST) África vive (...) prisioneira de um passado inventado
sociais baseadas no estudo do Alcorão, o livro sagrado dos por outros.
muçulmanos. O Aiatolá Komeini, líder espiritual dos xiitas, Mia Couto, Um retrato sem moldura, In: HERNANDEZ, Leila, A África na sala de aula.
proclamou a República Islâmica do Irã e condenou os Estados São Paulo: Selo Negro, p.11, 2005.
Unidos como o “grande satã” do mundo. Nos oito anos
seguintes, Komeini enfrentaria o Iraque de Saddam Hussein, A frase acima se justifica porque
então aliado dos norte-americanos, em uma guerra que seria a) os movimentos de independência na África foram patrocinados
consequência direta da Revolução Islâmica e do segundo pelos países imperialistas, com o objetivo de garantir a
choque do petróleo de 1979. Em 1990, finda a guerra entre Irã exploração econômica do continente.
e Iraque, Saddam Hussein apresentaria as contas da guerra ao
b) os distintos povos da África preferem negar suas origens
governo norte-americano, o qual se recusou a financiar qualquer
étnicas e culturais, pois não há espaço, no mundo de hoje, para
projeto de reconstrução do país, levando o ditador iraquiano a
a defesa da identidade cultural africana.
invadir o pequeno Kwait como forma de tentar tornar Bagdá
uma potência petrolífera regional. Os Estados Unidos, contudo, c) a colonização britânica do litoral atlântico da África provocou
com o apoio da ONU, promoveria a Operação Tempestade a definitiva associação do continente à escravidão e sua
no Deserto, expulsando o ditador iraquiano do pequeno país submissão aos projetos de hegemonia europeia no Ocidente.
vizinho e mantendo Hussein sob vigilância até que seu regime d) os atuais conflitos dentro do continente são comandados por
foi derrubado e ele próprio preso em dezembro de 2003. potências estrangeiras, interessadas em dividir a África para
explorar mais facilmente suas riquezas.
Em 1982, Israel promoveu ainda uma nova ocupação militar, desta e) a maioria das divisões políticas da África definidas pelos
vez contra o sul do Líbano, alegando que aquela região era utilizada por colonizadores se manteve, em linhas gerais, mesmo após os
grupos terroristas para promover ataques militares contra seu próprio movimentos de independência.
território. A intervenção israelense desestabilizou o equilíbrio de forças
do Líbano, até então chamado de “Suíça do Oriente Médio”, e provocou 03. (UECE) Os movimentos nacionalistas da Argélia nasceram no
uma sangrenta guerra civil entre grupos políticos e religiosos no país. final da Primeira Guerra Mundial e apresentaram diversas soluções.
As propostas de paz de Oslo de 1993 estão longe de serem Divididos entre extremistas defensores de um país muçulmano:
concretizadas: o regime de autonomia palestina limitada em parte aqueles a favor da total colaboração com os franceses e aqueles
da Faixa de Gaza e da Cisjordânia não tem garantido a diminuição que aprovavam a ajuda da França desde que fossem reconhecidos
das tensões entre árabes e israelenses. Isso não quer dizer que plenos direitos políticos para os muçulmanos. Após anos de conflitos,
a diplomacia de trocar “terras por paz” seja um equívoco. Muito a) a Argélia é proclamada independente em 1962, tornando-se
pelo contrário: são os radicais de ambos os lados, contrários um país que nasceu sob a marca de fortes contrastes entre os
aos processos de paz, que fomentam violentas ações terroristas diferentes grupos de libertação.
e discursos inflamados. Não podemos esquecer que grupos
b) no ano de 1940, a França é derrotada pela Força de Libertação
terroristas islâmicos, tais como Hamas, Hezbollah e Jihad, e a
Nacional Argelina.
direita de Israel, consubstanciada no Likud, são obstáculos quase
que intransponíveis quanto os mais de 50 anos de hostilidades c) em 1958, De Gaulle, defensor de uma “Argélia francesa”,
entre Israel e seus vizinhos. O assassinato de Yitzhak Rabin em concedeu autonomia e independência para aquele país.
novembro de 1995, por um extremista israelense, ilustra o quanto d) a França, para defender os seus interesses econômicos,
se aproxima do improvável uma paz duradoura. sobretudo em relação ao Sahara, em 1961, fez um acordo de
Devido a este traumático processo histórico, o mais otimista colaboração mútua.
observador das relações entre árabes e israelenses pode, quando
muito, esperar uma tolerância hostil entre as duas nações.

352 SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO PRÉ-VESTIBULAR


HISTÓRIA I 32 A DESCOLONIZAÇÃO AFRO-ASIÁTICA E O SURGIMENTO DE NOVOS ATORES INTERNACIONAIS

10. (MACKENZIE)

A foto acima, onde flores aparecem saindo dos orifícios das armas,
flagrou o movimento de soldados portugueses durante a Revolução
dos Cravos, ocorrida em Portugal, em 25 de abril de 1974. Esse
momento revolucionário marcou
a) o fim do domínio colonial português sobre suas possessões na
África: Moçambique, Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde e São
Tomé e Príncipe, poder exercido desde o período das Grandes
Navegações.
b) a revolta do Exército contra o fim da ditadura militar, que
perdurou até 1974, pois desejavam reivindicar a volta dos
militares ao poder, assim como lutavam pelo prestígio das
Forças Armadas.
c) a luta armada, por parte das tropas portuguesas, a favor
da permanência do domínio “ultramar” ibérico sobre suas
colônias africanas, apesar das lutas por emancipação travadas
no continente africano.
d) o fim do regime ditatorial inaugurado por António Salazar
(1932-1968), prolongado pelo governo de Marcelo Caetano, e
o início do processo que viria a terminar com a implantação de
um regime democrático em Portugal.
e) o último momento de luta armada dentro do país, pois o
processo de descolonização das colônias africanas sob o
domínio português transcorreu de forma pacífica, apesar da
resistência do Exército.

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. D 03. A 05. A 07. A 09. E
02. E 04. E 06. A 08. A 10. D

ANOTAÇÕES

354 SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO PRÉ-VESTIBULAR

Você também pode gostar