Você está na página 1de 751

www.livrogratuitosja.

com

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Copyright © 2024 ELLIE MORGAN


EDITORA FRUTO PROIBIDO
Esta é uma obra de ficção. Quaisquer nomes, personagens, lugares e
eventos são produtos da imaginação do autor, e qualquer
semelhança com eventos, lugares ou pessoas reais, vivas ou mortas,
é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

REVISÃO:
Fruto Proibido
CAPA:
Bruna Silva
capistabrunasilva
DIAGRAMAÇÃO:
Larissa Chagas
lchagasdesign

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Avisos e Gatilhos

Importante lembrar
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Dedico este livro a 99% das minhas leitoras, que sempre apoiam
todas as obscenidades que eu escrevo. Mas, também, àquele 1%
que me manda mensagens em horários suspeitos, dizendo que
gozaram lendo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Esse livro contém:


— Sonofilia
— Drogas, bebidas e violência
— Conteúdo sexual explícito
— Gatilhos emocionais e psicológicos
— Abuso sexual
— Kink bondage
— Dub-con
— Tortura física e emocional
— Palavras de baixo calão
— Suicídio.

Este livro não é um manual de romance, tampouco um exemplo


para isso. Entenda que o conteúdo visto aqui é dark romance. Não
se baseie no casal principal para começar um relacionamento, pois
ambos são completamente problemáticos.
Separem ficção da realidade.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

16 de Março | Sábado

Eu sempre me senti deslocada em meio aos amigos da minha


irmã mais velha. Não conseguia me identificar ou até mesmo
elaborar uma conversa de que eles iriam se interessar. Mas, ainda
assim, continuava indo a encontros no meio do nada, na floresta
mais escura de Vespeau; minha cidade natal.
Aos sábados, todos eles se reuniam e faziam uma fogueira na
parte mais afastada do centro urbano, enquanto ouviam mais uma
playlist de outra banda de metal.
Eu não era careta, mas, sinceramente, quem aguentava ouvir
esses gritos o tempo inteiro?
Loren gostava de estar no meio de tudo aquilo, contudo, eu só
comecei a participar do seu ritual de saideira depois do meu
aniversário de 16 anos — ordens dos nossos religiosos pais rígidos —
desde então, já fazia mais de um ano que era arrastada para lá e
para cá.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Minha irmã sempre foi atenciosa e protetora. Acho que ela tinha
medo de que eu não soubesse ficar sozinha, mesmo que isso nunca
tenha sido um problema para mim.
No mundo dela, querer ficar sozinha era quase o mesmo que
gritar: "Eu tenho depressão e quero cortar os meus pulsos", quando,
na verdade, tudo o que eu queria era ser uma antissocial em paz. Só
que não dava para explicar isso para uma festeira de primeira igual a
ela. Então eu ia às festas, pelo bem do seu lado materno para
comigo e, também, para garantir que a minha adolescência não se
resumisse a brigar na internet, mandar memes e ler livros de
romance com protagonistas perfeitos.
Os olhos da minha irmã brilhavam toda vez que ela conseguia
me arrastar para fora do meu quarto com destino a outra de suas
"reuniões" de amigos. Porém, hoje em particular, me arrependi de
ter vindo antes mesmo de ter posto os pés aqui; tentar se adaptar à
moda não funcionava muito bem quando se estava presenciando
uma temperatura impiedosa vestida em uma minissaia jeans e uma
regata branca tão fina que mal cobria o meu sutiã.
O céu estava tomado pela cor rubro e a brisa gelada debandava
todas as partes do ambiente, indicando uma grande tempestade. Por
esta razão, tentei manter-me o mais aquecida possível e me sentei
no tronco em volta da fogueira.
Arrepios percorreram a minha pele à medida que a rajada de
vento atingia as minhas costas não cobertas pelo calor do fogo.
Havia, pelo menos, umas vinte pessoas nessa festa, e nenhuma
delas parecia estar com tanto frio quanto eu. De fato, a maioria
estava mais vestida se comparados a mim, porém, ainda assim.
Não tendo muitas opções de agasalho, joguei o meu cabelo para
trás, deixando que as longas madeixas castanhas me cobrissem e
encolhi os ombros. Ouvi passos bem próximos de mim e notei um
amigo de Loren se aproximando. Tentei não deixar óbvio o meu
olhar de desagrado e cravei os olhos na fogueira.
Não que eu o odiasse, apenas era difícil suportar a sua
inconveniência em ser sempre insistente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Quer uma cerveja, Dy? — Marcos ofereceu, encurvando o seu


corpo alto em minha direção; ele ergueu a garrafa diante dos meus
olhos com uma expressão maliciosa em seus lábios.
Me afastei discretamente, mantendo uma certa distância entre
nossos rostos, para evitar um beijo "acidental".
— Não, valeu. Não curto bebidas. — Sorri forçado, cansada de
repetir esse mesmo dilema toda vez que ele me oferecia álcool.
— Tem certeza? — insistiu, a voz mais baixa agora.
Seus olhos escuros passearam pelos meus seios e desceram pelo
meu corpo até pararem sobre as minhas coxas. Desconfortável com
a situação, tentei me cobrir com as mãos e o olhei sério, em uma
advertência que foi propositalmente ignorada por ele.
Marcos continuava tentando me embebedar para que algum dia
eu o enxergasse com outros olhos. Uma linha de raciocínio não
muito sábia, pois Loren arrancaria o seu saco antes mesmo que ele
tentasse qualquer coisa comigo.
Ele era moreno, corpo esguio e magro, tinha feições que o
faziam parecer uns quatro anos mais novo do que realmente era,
além do mais, agia como se tivesse uns 10, apesar de ter 21.
— Tenho. Já disse que não estou a fim — garanti desinteressada
e voltei a esfregar as mãos uma na outra à procura do calor,
ignorando a sua presença.
— Tudo bem então — cantarolou risonho.
Não me virei para vê-lo ir embora.
Retomei a minha atenção para o que eu estava fazendo e
percebi que já fazia alguns bons minutos que minha irmã havia saído
de perto de mim e dos seus amigos para dar uns amassos em Kaio
— seu mais novo amigo colorido — e até o momento não voltou.
Precisava me aliviar logo ou iria mijar na roupa.
Eu não era de beber álcool, porém, em troca, me abarrotava em
energéticos, o que, por consequência, me faziam mijar a cada quinze
minutos.
Rolei os olhos em volta da floresta, mas tudo o que encontrei foi
um bando de adolescentes bêbados sacudindo o corpo como se
estivessem sendo eletrocutados ao som de Psychosocial do Slipknot.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Continuei à procura de um rosto conhecido, até que finalmente


encontrei o amigável ponto ruivo sentada na traseira do seu adorável
Opala.
Levantei-me depressa e andei até Claire; que depois de dançar
horrores, por fim, decidiu observar a festança com o seu namorado
Joshua, o qual se mantinha recostado confortavelmente entre as
suas pernas.
Claire era a melhor amiga de Loren desde os seus dez anos de
idade. Aonde uma ia, a outra também. Então, se minha irmã não
estava por perto, era ela quem me socorria.
Apesar de possuir um lindo e delicado rosto salpicado de sardas,
não se podia deixar enganar por sua aparência. A ruiva adorava dar
uma de Dominic Toreto com carros, fumava como se fosse uma
chaminé ambulante e, por acaso, já a peguei com a boca em Joshua
em um lugar muito público.
Cena esta, que eu ainda tentava esquecer.
— Claire, tem algum banheiro químico por aqui perto? — gritei,
para que minha voz se sobressaísse à música alta e trancei as pernas
em urgência.
Seus olhos azuis me olharam com uma preocupação excessiva e
ela repuxou o canto dos lábios para baixo, em desânimo.
— Poxa, Dy. Não tem nada por aqui por perto — sua doce voz
estava grogue, mas, felizmente, ela ainda se mantinha consciente o
bastante para continuar acordada.
— Se estiver muito apertada, sugiro a floresta — Joshua se
pronunciou alto, em seguida levou o seu cigarro aos lábios, deixando
à vista suas tatuagens na mão.
Seu olhar era sempre duro e sério, contudo, ele era um cara
atencioso e gentil, longe do que sua aparência demonstrava.
— Floresta? — repeti desgostosa e senti um tremor percorrer
todo o meu corpo; não sei se desta vez por frio ou por medo.
Já era um pouco mais de meia-noite. Entrar na floresta agora
seria um ato: ou de desespero, ou de loucura. Ou, no meu caso, de
xixi.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Foi mal, Dytto. Realmente não há outro lugar aqui por perto
— ele confirmou pesaroso e precisei contrair as pernas novamente
quando minha bexiga implorou para ser esvaziada.
Queria poder rebocar Claire dali para me fazer companhia
enquanto procurava por algum lugar, mas não queria ser
inconveniente e nem a obrigar a cambalear pelo mato comigo. E,
muito provavelmente, seria eu a carregá-la por todo o caminho de
ida e volta. Um trabalho duplo do qual eu não estava muito afim.
— Pega, use a lanterna do meu celular. — Claire o estendeu para
mim.
— Obrigada!
Não sabia o que havia acontecido com o meu, mas desconfiava
que Loren o tivesse escondido em seu carro para que eu não tivesse
que atender as milhares de ligações de nossos pais a cada cinco
minutos para confirmar que ainda estávamos vivas. Mais tarde com
certeza estaríamos de castigo e seria, em grande parte, culpa da
minha irmã. A outra parcela de culpa eu assumiria por ter
concordado em vir.
— Eu espero não me perder. — Suspirei nervosa.
Os dois riram.
— Só não vá para muito longe — Joshua alertou, esfregando os
dedos em seu cabelo desgrenhado.
Concordei num aceno e saí com passos largos. Os pelos dos
meus braços e pernas se eriçaram e meus dedos já estavam
dormentes de tanto frio. De vez em quando eu parava em algum
canto, prendia o xixi e voltava a andar.
Eu não devia ter bebido tanto líquido sem antes não ter usado o
banheiro quando ainda podia. Odiava sentir vontade de fazer
necessidades em lugares que claramente não eram adaptados para
isso.
Afastei-me um pouco de cada vez da multidão eufórica e
barulhenta, tomando o cuidado de não esbarrar em ninguém até
finalmente estar de encontro com o mato aberto, longe de todos.
A floresta era extensa e larga. Cheia de lindas árvores robustas.
No entanto, algumas estavam mortas e com enormes galhos

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

desordenados que arranhavam meus tornozelos e, de vez em


quando, arruinavam meu cabelo, agarrando um punhado de fios.
Parei de andar somente quando já não ouvia mais sinal de
música. Apoiei o celular de Claire em um toco qualquer, me ajeitei
em um cantinho e finalmente consegui soltar o xixi que prendi por
horas.
A ideia de que alguém iria, a qualquer momento, pular do mato
com um machado na mão me obrigava a mijar mais rápido. Acho
que por estar sempre evitando festas e pessoas, passei tempo
demais vendo documentários de assassinatos.
Me assustei quando um pingo ralo de chuva atingiu meu ombro.
Assim que terminei, sacudi os quadris, empenhando-me em
fazer o melhor que podia para me secar sem papel.
A garoa voltou a cair cada vez mais rápido, em um aviso furtivo
para que eu me apressasse antes de presenciar o temporal que
estava por vir. Enquanto isso, as folhas de árvores arranhavam o
chão conforme o tempo se transformava e um estrondoso ruído
estourou no céu, fazendo-me estremecer de medo.
Meu coração acelerou e precisei lembrar-me de voltar ao que
estava fazendo, mas minha atenção foi roubada quando ouvi estalos
atrás de mim, como se algo esmagasse os gravetos avulsos no chão.
Ainda agachada, virei a cabeça sobre os ombros. Fui tomada
pelo pânico ao ver uma figura masculina coberta pela escuridão
aproximar-se em minha direção em passos pesados e curtos,
parecendo investigar-me minuciosamente.
No mesmo instante, outro trovão estrondou, coincidindo com a
tensão que acabara de se formar. Por um segundo minha visão se
turvou diante da silhueta alta e robusta parada a uma curta distância
de onde eu estava. Senti minhas pernas bambearem.
— Ai, caramba! — Soprei trêmula e desatei a levantar num pulo.
Puxei a minha saia e calcinha de uma só vez, o que acabara por
deixar o tecido todo embolado, entretanto, era melhor do que
continuar seminua.
O sujeito continuou estagnado, tão surpreso quanto eu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Meu sangue parecia ter evaporado do rosto e minhas mãos


soavam frias. Ofegante, meu peito subia e descia ligeiro, enquanto
cada fibra do meu corpo gritava: "PERIGO", embora continuasse
parada, sem conseguir mover-me do lugar.
A tensão em meus músculos doía, contudo, repentinamente,
ouvi-o rir, deixando-me ainda mais confusa.
— Mas que porra — como se falasse sozinho, ele riu, o timbre
rouco e forte.
Ele deu um único passo à frente e isso bastou para que eu me
tremesse por inteira.
— Q-quem é você? — minha voz vacilou.
Percebi que ele trocou o peso do corpo de uma perna para a
outra, nesse instante, um leve e quase inexistente vislumbre de luz,
acertou uma pequena parte do seu rosto. Eu poderia estar apenas
imaginando, mas seria capaz de jurar que em torno de seus olhos
havia linhas que mais parecem raízes escuras.
— Depende — murmurou, a entonação tão gélida que era quase
possível perfurar a minha pele.
Recuei um pouco.
— Depende? — arregalei os olhos.
O chuvisco caia continuamente, molhando de pouco em pouco o
meu corpo inteiro. Meus dentes rangeram um no outro e minha
camiseta branca, se tornava cada vez mais transparente.
Eu preciso sair logo daqui.
Em um rápido movimento, peguei o celular de Claire e apontei o
flash para o desconhecido. Mas ele agiu rápido e cobriu o rosto ao
ser atingido pelos feixes de luz diretamente em seus olhos.
— Tá tentando me cegar, sua doida?
— Está drogado? — acusei, franzindo a testa.
— É claro que não — ele reclamou, irritado — Vem cá, que
merda você está fazendo no escuro?
— Não é da sua conta. — Rebato, mais rígida do que queria e
me arrependo no segundo seguinte, com medo do que ele possa
fazer.
Entretanto, ele ri, contrariando toda a situação.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Se ia mijar, poderia ter feito em algum lugar mais escondido,


sabe? — provoca, aos risos.
Ele obviamente já havia percebido o que eu estava fazendo, mas
nem assim me deixou ter privacidade.
Aperto os dentes.
— Foi você quem apareceu aqui para me interromper, poderia só
ter desviado e ido embora — rebato, furiosa.
— Eu vi você balançando a sua bunda, achei que precisasse de
ajuda — responde risonho.
Dou outro passo para trás, olhando indignada para a sua
silhueta.
O garoto torna a rir sem controle algum e ergue as mãos.
— Qual é!? Eu não fiz nada — se defende, cínico.
— Olha só, eu não te conheço e se por algum acaso eu não
voltar agora mesmo, vai ser muito ruim para você — ameaço,
fazendo disso o meu único recurso de sobrevivência.
Mesmo com o seu corpo debaixo das sombras, consigo vê-lo
balançar os ombros.
— E-eu vou gritar, hein! — desafio, sentindo meu estômago se
revirar de medo.
— Grita.
— Tô falando sério!
— Ué, então grita.
Tombo o rosto para o lado.
— Não estou brincando, garoto!
— Tá, tá bom. Chega disso. — Ele suspira e, me ignorando por
completo, passa por mim, em passos descontraídos, como se só
passeasse pela floresta, alheio.
O FILHO DA MÃE ME ASSUSTOU SÓ PARA TIRAR UMA COM A
MINHA CARA?!
Viro-me para ele em um movimento brusco e cheio de irritação.
— Quem é você? — questiono, fria.
O garoto retorna sua direção para mim e, novamente, aponto a
lanterna do celular para ele, desta vez, não diretamente nos seus
olhos, o que me dá a possibilidade de vê-lo com mais clareza.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Reparo melhor em sua aparência; os olhos são de um verde tão


claro que se parecem mais como lentes de contato. O rosto
marcado, os olhos levemente puxados e os lábios cheios e bem
desenhados.
Já em seu corpo, noto que o pescoço é completamente tatuado
e que está vestido em uma camiseta branca, um enorme casaco
preto com capuz e uma calça jeans escura.
As suas mãos estão postas nos bolsos, como um homem de
negócios. A sua face não está pintada como imaginei, sequer há
vestígios de que estaria.
Ele não parece ser tão velho quanto pensei que seria, porém,
suas expressões são tão intensas que o fazem parecer sisudo e
arrogante. Seu olhar pesa sobre o meu e sinto-me intimidada com a
violenta seriedade em que ele me encara.
Tento desviar o olhar quando noto que estou o observando
demais, mas não consigo, me sinto presa em uma hipnótica visão de
seu rosto absurdamente lindo.
— Christopher — finalmente responde —, e você é...
— Dytto — sussurro nervosa —, Dytto Bell.
— Ok. Foi um prazer conhecê-la Dingo Bell. Agora eu tenho que
ir. — Diferentemente de sua aparência fria, ele está de bom-humor.
Mas não deixa de me incomodar o apelido que me deu.
— É Dytto, e não Dingo. D-Y-T-T-O.
— Legal, Dingo Bell — responde, já de costas e andando para
longe.
Tendo conseguido tirar a minha escassa paciência e me feito de
idiota durante todo esse tempo em que me assustou sem
necessidade, ele ganha distância em meio as árvores.
O que esse menino é? Um sem-teto? E por que diabos ele está
andando a uma hora dessas por aqui se não era para ir à festa?
No momento em que seu corpo sumiu completamente de vista,
a chuva começou a cair abruptamente e me vi correndo feito uma
doida para voltar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

20 de Março | Quarta-feira

4 dias depois…
— Chegamos — aviso a minha irmã e ergo os olhos do GPS para
o nosso destino final; a antiga mansão de madeira, onde ocorre a
maior festança da vez.
Minha irmã já havia desacelerado a sua SUV antes mesmo que
eu tivesse terminado de falar e procurou estacionar em uma das
poucas vagas livres na entrada da casa.
A mansão está localizada em um dos lugares mais solitários da
floresta de Vespeau. Sem nenhum dono para vistoriar, o imóvel se
torna a oportunidade perfeita para festas clandestinas. Eu nunca
havia vindo aqui antes, no entanto, depois de tanto Loren insistir,
acabei me rendendo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A festa está abarrotada de pessoas transitando de lá para cá, e


uma estrondosa música provém de lá de dentro. Há pelo menos três
casais se beijando, ou quase transando, em um canto mais afastado.
Sinto meu estômago se revirar com a cena.
Nota mental: não tocar em nada, pois ao que parece, esse é um
bordel adolescente.
Tudo aqui indica perigo de uma casa desmoronando. As paredes
mal se aguentam no lugar, e onde deveriam ter janelas, agora são
apenas espaços vazios. A madeira está deteriorada e a varanda está
com as escadas quebradas, mas acho que ninguém parece
realmente ligar para isso.
Me retraio no banco com todo o cenário posto à minha frente e
enrugo o nariz em uma careta.
— Tô falando sério, Loren, acho melhor você encontrar novos
amigos, esses parecem querer nos matar nos chamando para essas
festas.
Ela sorri com o seu jeito provocador e joga a cabeça para o lado,
deixando que os seus cabelos castanhos — um pouco mais escuros
que os meus — caiam sobre o seu ombro.
— Eles não são tão perturbados quando estão sóbrios.
Ergo uma sobrancelha, contrariada.
— Marcos tentou afogar você quando te conheceu. E ele estava
sóbrio.
— É o jeitinho dele. — Ela dá de ombros.
— Você definitivamente precisa de novos amigos.
— Dy, fica tranquila. Se alguma coisa te acontecer por causa de
algum deles, eles não vão nem chegar a ver o próximo amanhecer
— comenta tranquila.
— Eu estou mais preocupada com a saúde mental deles do que
comigo.
Ela desliza a língua pelos lábios, tentando engolir um sorriso.
— Vamos — Loren sai na frente e me junto logo em seguida.
Caminhamos de braços dados rumo à baderna; de vez em
quando, desviando de um maluco ou outro. Eles estão mortos de
bêbados e cambaleando sobre os próprios pés.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Loren não queria vir tão cedo à festa, mas a convenci de que o
quanto antes voltássemos para casa, menor seria a punição imposta
pelos nossos pais desta vez. Na última, fomos obrigadas a confessar
nossos pecados ao padre e rezarmos umas dez ave-marias.
Que Deus me perdoe, mas meus pecados estão acabando com
os meus joelhos.
Assim que entramos, minha irmã cumprimentou a todos por
onde passávamos, eu apenas repeti o gesto para não parecer uma
total estranha.
Uma das razões pelas quais eu sempre fico acobertada por
Loren, é que eu sempre me sinto mais confortável quando me
escondo. Ao contrário de mim, Lô parece totalmente à vontade com
a atenção que recebe.
Ao passarmos pela maior parte dos festeiros, chegamos no
centro da casa, que outrora deveria ter sido uma sala elegante e
rústica, no entanto, agora é só mais um amontoado de poeira e
móveis quebrados.
Vistoriando tudo em volta encontramos: Marcos, Claire e Joshua
sentados no velho sofá amarelo cheio de rasgos com outros
adolescentes. Estão todos obviamente bêbados, animados e postos
em um círculo no cômodo.
Há uma garrafa no meio da roda de pessoas, em cima de uma
desgastada mesa de centro de madeira. Alguém fica encarregado de
rodá-la enquanto os outros ficam na expectativa de onde ela vai
parar. Um tipo de jogo que mais recorda "verdade ou desafio",
porém não parece ser essa a brincadeira.
Me sento no braço quebrado de um dos sofás, ainda insegura de
tocar em qualquer coisa, já Loren se acomoda na parte estofada, ao
meu lado.
— Qual é a dessa brincadeira? — pergunto baixinho, para que
apenas ela me escute.
Loren se inclina um pouco em minha direção.
— É beijo ou consequência. Ou você beija alguém, ou tem que
cumprir um desafio.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E é a pessoa que escolhe quem vai beijar? — investigo, os


olhos vidrados no jogo.
— Não, quem escolhe é a garrafa. É a mesma coisa de verdade
ou desafio, mas sem a verdade.
A agitação aumenta assim que a garrafa para no lugar, o gargalo
indicando um garoto com camiseta azul de Star Wars e a outra ponta
para uma garota morena com peitões.
O escolhido de óculos fundo de garrafa ligeiramente enrubesce e
curva um sorriso tímido em seu rosto. A garota troca um sorriso
malicioso antes de tomar a atitude de se levantar. Os burburinhos de
comemoração aumentam à medida em que ela caminha confiante
em direção ao menino, que mais parece querer se mijar de
nervosismo.
— Hum... e se a pessoa não quiser ser beijada? — indago,
incomodada com a ideia de assistir alguém ser obrigado a isso.
— Bom, então ele ou ela vai ter que cumprir um desafio, mas
não acho que seja necessário. Todo mundo sempre beija.
— Menos o Yori. — O cara do sofá ao lado que, discretamente,
ouvia nossa conversa comenta de repente.
— É. Menos ele — Loren confirma baixo, parecendo estar
chateada com algo.
— “Yori”? — cochicho, intrigada.
— É só um garoto que não gosta de beijar qualquer garota, ele
meio que... tem preferência — minha irmã explica, mas em seguida
dá de ombros.
— Digamos que ele é extremamente arrogante — o xereta fala,
em seguida estende a sua mão. — Eu sou o Benjamin, mas me
chamam de Ben.
— Sou Dytto. Mas me chamam de Dy — o cumprimento.
Ele abre um lindo sorriso que ilumina todo o seu rosto meigo e
misterioso. O garoto possui cabelos encaracolados e veste roupas
escuras e largas. Não sei em que momento ele se sentou do nosso
lado, mas, pelo visto, consegue ser tanto reservado quanto
extrovertido.
— Vou chamar de Dy, então.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sorrio tímida e volto a assistir o casal escolhido aos beijos, com


a plateia de amigos eufóricos ao redor.
— Ele é um cuzão — minha irmã solta subitamente, os olhos
fixos à sua frente e os cotovelos apoiados nas pernas.
Franzo o cenho, e bem, assim como eu, olhamos para ela
curiosos.
— Do que estão falando? — Claire se aproxima, balançando os
cabelos ruivos quando desiste de observar a brincadeira.
— Do Yori — respondo.
Ela ergue as duas sobrancelhas.
— Ah, então já o conhece? — murmura.
— Não, mas acho que já não gosto dele. — Aponto o queixo
discretamente para a minha irmã, indicando a razão para não confiar
nele.
Ela ri baixo e se senta ao lado de Ben.
— Bom, ele é um idiota, mas a galera até que gosta dele.
Ergo uma sobrancelha.
— Então é para gostar dele ou não? — indago, confusa.
— Apenas não goste dele, Dytto — Loren se pronuncia.
— Ok... — pronuncio bem lentamente, desconfiada.
— Ele não é tão ruim, Lô — Claire o defende.
— Não é tão ruim? — ela retruca, indignada. — Aquele cara é
um sacana que faz da vida de todo mundo um inferno.
— Você só está dizendo isso porque ele não quis te beijar —
rebate.
Péssimo erro!
Agora minha irmã a está olhando como se quisesse arrancar o
pescoço da melhor amiga.
— Oh-oh! — murmuro.
— Nunca mais, na sua vida, defenda aquele canalha filho de
uma mãe. E não, não foi porque ele não estava a fim de mim. Ele é
um babaca e ponto final.
Ben e eu rimos, mas prendemos o riso assim que ela nos encara
sanguinária.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu só quis dizer que ele não é tão ruim. Ele é um ser


complicado, isso é óbvio, mas sempre defende a galera. E se não
fosse por ele nós já teríamos sido presas, lembra?
Loren solta um suspiro irritado e se levanta, acabando
bruscamente com a conversa.
— Eu vou pegar bebidas — pronuncia fria.
Olho confusa de uma para a outra, esperando por mais detalhes,
entretanto, as duas continuam em um silêncio mortal, mas isso se
encerra assim que Loren se afasta de nós.
— Merda! — A ruiva suspira. — Não deveria ter dito nada, isso
ainda a incomoda.
— Por quê? — questiono rapidamente.
— Ela o queria. Ele não a queria — esclarece.
Loren nunca me contou nada disso. E ela normalmente me conta
tudo sobre os seus relacionamentos. É bem esquisito o fato de ela
nunca ter mencionado esse garoto para mim antes. O que significa
que ele foi uma decepção tão grande que nem ela própria teve
coragem de me contar. Mas isso é papo para depois.
— Vem cá, que história é essa de prisão? — troco de assunto,
antes que eu esqueça de mencionar esse grande detalhe.
Ela bufa, não muito orgulhosa das lembranças desse dia.
— Organizamos uma festa na floresta nas férias passadas e uma
menina menor de idade teve uma overdose, a ambulância e a polícia
chegaram, mas o Yori deu um jeito para que não precisássemos ir
para a delegacia, ele tem conhecidos importantes por lá e livrou a
barra pra gente. Foi horrível, mas depois ela ficou bem.
Esse tipo de coisa é bem a cara dos amigos de Loren mesmo.
— Olha, eu acho que eu estava lá — Ben comenta.
— E onde eu estava? — falo.
— Provavelmente estudando — Claire responde sorrindo, já que
eu furar as saideiras é algo bem costumeiro.
Reviro os olhos.
— Eu e essa minha mania de querer um futuro.
Os dois riem, mas Claire para repentinamente e arregala os
olhos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Ai, merda!
— O que é? — sondo preocupada ao vê-la entrar em pânico.
— O Yori está aqui. A Loren vai surtar — sussurra.
— Onde? — Estico o pescoço.
— Ali. — Aponta com o queixo e sigo com o olhar.
O garoto completamente tatuado e absurdo de tão alto se
aproxima do amontoado de gente que parece o esperar para
cumprimentá-lo. Ele está totalmente à vontade, como se soubesse
que será bem recepcionado por onde quer que passe. Os olhos
verdes olham para os seus amigos com perversidade, sua boca está
curvada para o canto e a sua expressão está cheia de superioridade
de tanta arrogância que exala.
Eu teria realmente ficado encantada com a sua beleza e enojada
com o seu comportamento se o garoto já não me fosse familiar.
Merda! Merda! Merda!
— Espera aí! Ele é o Yori? — me apavoro.
— O próprio — a ruiva responde tranquilamente, não notando a
urgência em minha voz.
— Christopher é o Yori — balbucio sozinha.
O garoto que viu a minha bunda no meio da floresta é o Yori?
"Yori, o babaca"?
Mas é claro! Christopher Yori! O filho da mãe tem nome
composto.
— Oh, merda!
Tapo o meu rosto com as duas mãos, ardendo de vergonha, e
me jogo onde Loren estava sentada há poucos minutos,
escorregando a bunda no estofado até estar quase deitada.
— Já o conhece? — Ben pergunta, confuso.
— Meio que sim, e não foi em uma situação muito boa —
resmungo baixo.
Eu sinceramente esperava não o ver nunca mais em toda a
minha vida. Mas cá estamos nós. Os dois na mesma festa.
Me contorço de ansiedade e solto um suspiro irritado. Não é
muito agradável ver o maluco que me viu seminua e mijando na
floresta há quatro dias no mesmo lugar que eu. Ainda mais depois

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

de descobrir que ele é uma suposta ex-paixão-não-superada da


minha irmã.
Curiosa para saber o que está acontecendo, dou uma breve
espiada por entre os dedos, e, por azar, o encontro caminhando na
direção do nosso círculo, onde os outros ainda brincam de “Beijo ou
consequência”.
Seus olhos parecem não terem me notaram ou, pelo menos,
ainda não…

À medida que a noite ia vagarosamente se desdobrando, sentia


uma necessidade absurda de me encolher ou ser abduzida pelo sofá,
apenas para não ser notada por Christopher — que se mantinha
sentado confortavelmente no círculo de jogos desde que notou que
os demais estavam brincando, há pelo menos vinte minutos.
A todo instante me mantive no mesmo lugar; enrolada em meu
casaco e escondendo o rosto, como se eu fosse uma celebridade
fugindo de paparazzis. Sempre que ele fazia menção a olhar para cá,
eu abaixava a cabeça ou a virava. A essa altura, tinha medo de
respirar alto demais e acabar chamando a sua atenção.
Não fazia ideia de como seria quando ele me olhasse de novo
depois de toda aquela embaraçosa situação que passamos na
floresta.
Tudo isso é uma grande merda! Por que diabos ele tinha que
aparecer nessa festa? Ele nunca antes havia aparecido em qualquer
outra em que eu estivesse, e isso acontece justo dias depois de tê-lo
conhecido. É uma baita coincidência horrorosa ou uma punição?
Ele está completamente esparramado em seu assento, com os
cotovelos apoiados nas laterais da sua poltrona e as pernas
compridas esticadas, ocupando grande parte do espaço à sua frente,
como se estivesse apenas curtindo uma tarde de domingo em sua
sala de estar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Esse garoto é um absurdo de tão alto, deve ter cerca de uns 2


metros de altura, ou sei lá.
Ele ria condescendente toda vez que alguma menina se animava
com a possibilidade de a garrafa parar apontando para os dois, mas
a oportunidade não veio a calhar. Era inevitável a decepção no rosto
delas.
Tudo bem que ele é um cara atraente, mas não dava para essas
garotas serem menos óbvias? Estava tão claro que isso só enchia o
ego desse infame narcisista.
Sentado e distraído, pude perceber que ele não era só alto pra
caramba, como também passava uma vibe caótica em meio ao fato
de ter várias tatuagens espalhadas por todo o seu corpo. Algumas
no pescoço, outras nas mãos e nos braços, que, por sinal, eram
cheias de veias salientadas. Eu não sabia se havia mais por debaixo
de sua larga camiseta preta, mas quase podia ter certeza que sim.
Eu queria não o ter secado tanto com os olhos, porém, era algo
quase impossível. Toda vez que ele passava a língua sobre os lábios,
ele o fazia bem devagarinho, e sempre curvava um breve sorriso
cínico ao terminar; de modo que tivesse a certeza de que estava
sendo observado por alguém que claramente se sentia atingido ao
ver aquilo.
Christopher encarava as pessoas como se fossem livros abertos,
como se ele conhecesse cada um e suas histórias. Ninguém em
questão parecia ser do interesse dele, ou talvez, eu estivesse tão
imersa observando-o que passei a imaginar uma certa apatia de sua
parte.
As pessoas na festa ainda não haviam parado de dançar. Até o
volume do som fora aumentado quando a maioria já estava
alucinando ao som da banda Midnight.
Ouvi falar que as festas em que minha irmã ia eram sempre
pesadas e com muitas pessoas que, assustadoramente, não tinham
limites e nunca diziam não para o que quer que lhes fosse oferecido
e, por isso, sempre que chegavam ao fim da festa, estava a maioria
chapada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Claire e Joshua eram os únicos amigos de Loren que, em grande


parte das vezes, tinham mais responsabilidade. Em todas essas
festas, sempre havia um grupinho mais quieto, que preferia ficar
retido da bagunça, e era desses que eu ficava perto; bem como
agora.
Minha irmã se acomodou um pouco mais afastada de mim, em
um banquinho, estava bebendo e evitava olhar diretamente para
Christopher. Eu sabia que ela estava desconfortável, mas ela não iria
admitir isso, tampouco tocar no assunto novamente.
Os outros permaneciam brincando, ainda na mesma empolgação
de quando começaram, mas, de repente, se fez um silêncio brutal na
sala quando tudo foi tomado por um grande suspense nos últimos
giros da garrafa, antes dela parar.
— Oh, merda! — a voz de Marcos se sobressaltou animada
quando Christopher finalmente foi escolhido.
Junto dele, o objeto de vidro também apontava para uma garota
de pele negra e belíssimos olhos safiras, sentada em uma cadeira
próxima do círculo.
Estavam todos estáticos e surpresos.
Enquanto isso, Chris deslizava os olhos com malícia sobre o
corpo cheio de curvas da menina. De fato, ele não parecia querer
ninguém na festa, mas ela parecia tê-lo interessado. Já a morena o
olhava boquiaberta, parecia ainda não acreditar que iria o beijar.
Argh!
O grandalhão cheio de tatuagens a chamou com a mão sem
qualquer cerimônia. Desajeitada e com um sorriso tímido, ela se
levantou e foi até ele. Chris a pegou pela cintura e a fez sentar em
seu colo de frente para si, ele sussurrou algo em seu ouvido e então,
a puxou pelo rosto, encaixando os lábios dos dois um ao outro.
Eu prometi a mim que só olharia o suficiente, mas falhei.
Eu o assisti agarrar os quadris dela e puxar com força para ele
enquanto enfiava os dedos no cabelo cacheado da garota para
pressionar os lábios dela ainda mais nos deles. Também vi quando
ele escorregou uma de suas mãos tatuadas para debaixo do vestido
dela, mas parou na bunda e a apertou com ferocidade. Notei o

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

empenho que ele mantinha em manter um ritmo selvagem de sua


língua dentro da boca dela, como se quisesse dominá-la por inteiro.
Aquilo definitivamente havia passado de apenas um beijo de
brincadeira e havia se tornado uma cena de pré-sexo. Eu tenho
certeza.
Evitei manter os olhos na cena posta diante de mim quando
comecei a me sentir nauseada, logo virei o rosto, poupando-me do
resto. Voltei a olhar apenas quando ouvi Ben ao meu lado
murmurando enojado: "finalmente acabou".
A garota estava sem fôlego e ainda o segurava pelo pescoço;
parecia ofegante e atônita. Acho que beijá-lo deve ter sido um sonho
realizado, ou então, tão bom que a deixou bêbada.
— Terminamos por aqui — Chris a informa, novamente
entediado.
Ela ficou em choque, parecia esperar por mais, até que se tocou
que o cara à sua frente não tinha planos de pegar o seu número,
chamá-la para sair ou continuar a beijando. Foi então que ela se
levantou e voltou para onde estava, com o rosto visivelmente
constrangido.
Para ele, ela era só mais um desafio. Nada mais. E isso foi um
terrível balde de água gelada para a pobre e iludida garota.
— Dytto, você está brincando? — a voz de Marcos
instantaneamente me fez entrar em pânico.
Em pé, diante do círculo, como se administrasse o jogo, ele me
olhava sereno, enquanto eu surtava internamente ao constatar que
havia perdido minha camuflagem.
Meu rosto inteiro ardia de vergonha ao ter ganhado a atenção
de todos ali, até mesmo a de Christopher; que deixou um sorriso
irônico despontar de seus lábios ainda inchados e avermelhados
devido ao seu recém-beijo. Seus olhos verdes deslizavam de cima a
baixo sobre o meu corpo, sem o menor pudor.
Meu estômago se revirou e precisei lembrar-me de respirar.
Apenas por tê-lo me encarando, senti como se uma avalanche
tivesse recaído sobre mim de maneira abrupta e eu não soubesse o
que fazer ou como escapar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Cruzei os dedos uns nos outros e olhei para Marcos que, por sua
vez, ainda esperava uma resposta.
— Definitivamente, não. Para todos os efeitos, me vejam apenas
como um abajur de decoração e esqueçam que eu estou aqui —
disparo trêmula e todos riem, menos eu.
Marcos cruza os braços e me lança um olhar com descrença.
— Não vai mesmo brincar? — insiste.
Balanço a cabeça.
— Fora de cogitação.
— Dytto não curte essas brincadeiras — Loren reforça, com o
seu modo irmã protetora ativado, em seguida toma mais um gole de
sua cerveja.
Marcos parece contrariado, mas acaba assentindo. Sabe que
rebater a minha irmã é o mesmo que pedir por uma guerra.
— Ok. E você, Ben? — Marcos aponta, tirando o foco de mim, e
mentalmente o agradeço por isso.
Os olhares se vão para o garoto ao meu lado ou, pelo menos,
quase todos. Sinto minha pele sendo fuzilada pelo olhar maciço de
Christopher.
Meu coração está disparado no peito e minhas mãos soam frias.
Por alguma razão ele continua me encarando. E, por soslaio, percebo
seu olhar vagando por cada mísero pedaço do meu rosto, como se
não pudesse se conter.
— Vou, eu não tenho nada melhor para fazer mesmo — Ben
suspira.
— Ok, então... beijo ou consequência? — Marcos incita sorrindo.
— Espera! Você não vai girar a garrafa? — intervém, confuso.
Os dois trocam olhares. Marcos mantém um sorriso perverso no
rosto, como se planejasse algo, até que o responde:
— Que se dane a garrafa.
Ben revira os olhos.
— Beleza! Beijo, então. — Dá de ombros.
— Te desafio a beijar o Christopher — ele o provoca, aos risos.
— Ah, vá se foder! Se era o seu plano desde o início me fazer
escolher consequência, era só ter dito — Ben zomba.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Todos da roda caem na gargalhada, até mesmo Chris. O que


verdadeiramente me admira, o fato dele não querer rebater que um
menino foi desafiado a beijá-lo é bem legal.
Sem masculinidade frágil então. Ótimo!
— Tudo bem, consequência, então — se rende.
— Responda, quem daqui dessa festa você gostaria de dar uns
pegas?
Todos ficam apreensivos e curiosos. Até mesmo Loren se ajeita
em seu banco. Exceto o som da música e das pessoas à nossa volta,
ninguém mais ousou fazer barulho.
Sorrio disso. Tão curiosos.
— Não vou mentir, eu ficaria com a Dytto — revela, curvando um
breve sorriso tímido.
Ele lentamente vira o seu rosto para mim, apreensivo. E outra
vez na mesma noite, sinto minhas bochechas corarem.
Olho em volta, ainda abismada, e encontro Marcos com uma
expressão irritada e os punhos cerrados. Próximo dele, vejo
Christopher não muito diferente; o olhar sério e os lábios frisados. E
há uma curta distância, a minha irmã... visivelmente intrigada.
Ao que parece, a qualquer momento Ben vai ser estrangulado
pelos dois garotos.
Ainda não sei o que há de tão errado dele ter dito isso, mas
parece que de alguma forma conseguiu incomodá-los.
— Bom, não é como se eu fosse obrigar a Dytto a me beijar —
prossegue, em seguida baixa a voz, em tom mais sugestivo agora:
—, mas se ela quiser...
— Caramba, Dytto. — Joshua, ao lado de Claire, brinca, todo
orgulhoso.
É claro que isso iria deixar os amigos de Loren chocados.
Ninguém nunca menciona o meu nome em brincadeiras assim.
Pelo visto, estes adoram “carne nova”.
— E-eu acho melhor eu ir ao banheiro — me desespero.
Tento não surtar. Já é constrangedor demais ter que passar por
isso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Ok, vamos parar a brincadeira por aqui — Marcos determina,


com um fundo de raiva.
— Eu não vou forçar um beijo, só quero que ela saiba que eu tô
aqui para caso ela tenha interesse — Ben se defende.
— Não acho que a Dingo Bells tenha tão mal gosto assim para
ficar com você — Christopher se pronuncia, gélido.
— Que apelido é esse? — Loren se alerta.
Ah, meu Deus!
Levanto-me de supetão e ergo as mãos.
— Marcos tem razão! Já chega dessa brincadeira — intervenho,
nervosa.
Achei que finalmente íamos acabar com isso, contudo, Benjamin
decidiu que era um bom momento para debater com Christopher.
— E quem ela devia beijar? Você? — provoca irônico.
Chris se levanta com determinação e todos em volta olham para
o enorme garoto.
— O que ele vai fazer? — Ouço Claire murmurar.
Ele caminha confiante até a mim, sem nunca parar de me olhar.
Tão depressa, o seu cheiro me inunda; uma mistura de álcool e
perfume masculino. Meu corpo estremece à medida em que ele fica
mais próximo e me arrepio quando, me surpreendendo, ele toca o
meu rosto, deslizando o seu dedo suavemente sobre a minha
bochecha. Aquelas duas esmeraldas me fitam sérias. Ele se encurva
até estar com o rosto próximo do meu ouvido.
Apesar de eu ter 1,70m, isso não nos deixa em alturas mais
favoráveis, ainda assim, alcanço apenas o seu ombro.
— Vê-lo fazer cara de idiota, será quase tão mais satisfatório do
que ter visto a sua bunda, Dingo Bells.
Engulo em seco.
— Não ouse me beijar ou eu arranco as suas coisinhas —
ameaço.
Ele ri baixo, achando aquilo puramente engraçado, Christopher
se afasta apenas o suficiente para ficarmos cara a cara.
–- Não se preocupe, no final dessa nossa brincadeira, você vai
implorar para que eu a beije — cochicha apenas para mim e se

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

retém por um momento, antes de prosseguir: —, e não será nos


seus lábios que irá me pedir para eu colocar a minha boca.
Seu rosto está tomado por malícia, enquanto o meu está
completamente cheio de vergonha. Ele dá a volta e para logo atrás
de mim. Meu corpo se arrepia quando ele coloca o meu cabelo para
trás, e treme mais ainda quando sinto seus lábios sugando o meu
pescoço.
Ben enrubesce e vira a cara, ouço Christopher rir baixinho,
satisfeito com o que causou.
— Olhe para cá e aprenda a como deixar uma mulher molhada,
Ben, e só depois, a chame para um beijo.
Oh, não! Ele não disse isso.
Automaticamente enrijeci de raiva e me virei de uma só vez para
ele. Antes mesmo que meu cérebro tivesse a chance de se conectar
com o resto, minha mão já estava quente com o impacto dela em
seu rosto.
O suspiro dos que nos assistiam foi como um tipo de coral
harmonioso. Quando me dei conta do que eu havia feito, já estava
arrependida e com as duas mãos cobrindo a boca.
— Aí não… — arfo.
— Seu babaca! — Loren berrou — Vem, Dy. — De alguma forma
ela já estava ao meu lado segurando o meu braço, pronta para me
tirar dali.
Christopher me encarava intrigado, enquanto a marca da minha
mão em seu rosto ganhava aos poucos uma coloração mais
avermelhada. Ele não parecia irritado com aquilo, apenas sorriu
maligno, em um tipo de recado que dizia que isso não acabaria
assim.

Loren estava sentada na mureta do lado de fora da mansão, com


as duas pernas cruzadas e o seu pé balançando enquanto me

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

encarava firme, com os seus olhos de águias presos aos meus.


Eu ainda estava muito constrangida e plenamente arrependida
do que eu havia feito.
Eu não sou assim, não saio batendo em caras desconhecidos por
aí. Estava tão surpresa quanto qualquer um pela minha brusca
atitude.
Eu sabia que ela estava esperando que eu lhe contasse o motivo
de Christopher ter agido tão intimamente comigo há pouquíssimos
minutos. No entanto, o que eu poderia dizer?
“Ele está louco assim porque já me viu seminua”? ou “Nos
conhecemos enquanto eu fazia xixi”? talvez “Ele me encontrou
sozinha, no meio da escuridão da floresta”?
Qual dessas opções era menos constrangedora? NENHUMA.
— Então… — ela se pronunciou lentamente, com a sua
sobrancelha erguida num ar de investigação. — “Dingo Bells”? —
pontuou com curiosidade.
— Esquisito, não? — tento disfarçar, mas minha voz soa tão
trêmula que mais parece um remix.
— Muito… — Ela semicerrou os olhos. — Conhece esse garoto de
onde?
Tento aparentar serenidade, contudo, meu corpo se mantém
oposto à minha ideia e inconscientemente acabo torcendo mechas
do meu cabelo nos dedos sem parar.
Sei que ela só está preocupada, porém, também sei que às
vezes quer agir como se devesse me proteger de tudo, algo que não
deveria ser a sua responsabilidade.
— Não o conheço. Só nos vimos uma vez.
— Onde? — instiga.
Solto um longo suspiro.
— Na nossa reunião na floresta, há 4 dias atrás. Você tinha ido
beijar o Kaio e eu precisava mijar. Meio que encontrei ele na floresta,
ou bem, ele me encontrou.
Loren arregala os olhos.
— Você se encontrou com um estranho na floresta e não me
disse nada, Dy?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Se eu te contasse, você iria surtar — sussurro, agora tomada


pela culpa de não tê-la sequer avisado disso.
— É, Dytto, porque eu sou sua irmã. Não pode simplesmente me
esconder coisas importantes assim.
Ela solta o ar pelo nariz, se levanta e me puxa para um abraço.
— Não minta para mim e nem me esconda essas coisas, você
não sabe o quanto eu me preocupo com a minha caçulinha.
Rio do seu ato fraternal exagerado.
— Você é apenas um ano mais velha que eu — acuso sorrindo.
Ela estapeia a minha cabeça.
— Eu sei, miolo de cérebro, mas eu me preocupo. Você é muito
inocente, poderia facilmente ser raptada.
— Não sou criança.
— Nem muito esperta — ela acrescenta, em tom de brincadeira.
Me afasto para olhá-la nos olhos.
— Sim, senhora — ironizo, com uma teatral revirada de olhos.
— E fique longe daquela peste alta e tatuada, ele faz coisas
horrendas naquela floresta.
— Que tipo de coisas? — me interesso.
— Rituais satânicos, sacrifícios ou sei lá. Algo assim... — Ela
passa a mão sobre os cabelos e evita me olhar.
Bem típico de quando está me escondendo algo.
— Já viu ele? O cara é cheio de tatuagem estranha — cochicha,
encarando os seus coturnos.
— Loren, não vamos julgá-lo por ter tatuagem.
— Eu não me refiro às tatuagens em si, mas aos desenhos que
elas têm. Ele tem um bode satânico no braço e a porra do 666 no
corpo.
— E onde está o “666”? — Aperto os olhos, desconfiada.
— Na lateral da barriga.
— Lô — disparo. — Você já o viu pelado! — quase grito.
— O QUÊ? — ela solta um berro fino e desesperado que chama
a atenção dos que estão à nossa volta, ao mesmo tempo em que
recua um passo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Aí meu Deus! Você já dormiu com ele — concluo pasma,


deslizando as duas mãos pelo rosto.
— Não! De jeito nenhum! Eu o vi sem camiseta uma vez em
uma festa, Dy. Ficou doida, aquele garoto é um pé no saco —
protesta.
— Não mente.
— Não estou mentindo, eu nunca dormi com ele.
— Não por falta de tentativa. — Ouço Joshua caçoar, se
aproximando de nós com Claire ao seu lado.
Loren fica vermelha e lentamente vira a cabeça para ele, como
uma boneca de filme de terror.
— Hum? — murmuro.
Ela respira bem fundo antes de finalmente voltar a me olhar.
— Eu achava que nós poderíamos ter algo? Sim. Mas aquele
garoto é um escroto, então, não, não rolou nada, e sim... — Ela
novamente se vira para Joshua. — Eu já quis dormir com ele, e ele
não quis. — Logo retorna para mim. — Fim de papo!
— Sei — Claire provoca, risonha.
Loren fecha os olhos e balança a cabeça, furiosa com nossos
amigos.
— Só se mantenha longe dele, Dy. Ele não presta e você é muito
sensível. Christopher provavelmente secaria o seu estoque de
lágrimas com as besteiras que ele fala.
— Tem que parar de se preocupar tanto assim comigo ou vai
envelhecer trinta anos em apenas um.
— Ontem você passou a noite inteira chorando porque assistiu
“Marley e Eu” e ainda pediu para dormir comigo — acusa.
— Eu... Tô... De… TPM?
— Não está, não.
Não, eu não estou. Mas filmes que tem mortes de cachorros
sempre me deixam abalada.
— Eu estou. Ok? — insisto, séria.
Loren revira os olhos, porém desiste da briga.
— Vamos, temos que buscar as nossas coisas e dar o fora daqui
— ela avisa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A sigo com Claire e Joshua ao meu lado, cheios de cochichos


secretos que, imagino serem sobre a minha irmã e Christopher.
Sei que Loren tem um passado amoroso em que nem sempre as
coisas deram certo, mas ela querer me esconder de Christopher a
todo custo é bem suspeito e estranho. O que me leva a pensar que
há algo mais esquisito nessa história. Eu só ainda não sei o quê.
Nos dirigimos à sala de estar onde ainda há uma multidão
eufórica dançando. A brincadeira finalmente parece ter chegado ao
seu fim, mas não a noite.
Loren saiu em busca pelo seu casaco, Claire foi atrás do
banheiro e Joshua foi se despedir dos seus amigos, enquanto isso,
eu acabei sozinha no sofá da sala.
Acabo distraída em pensamentos, quando, de repente, sou
desperta por uma voz me chamando e noto um corpo parado ao
meu lado.
— Ben? Pensei que já tivesse ido — comento, surpresa.
— Na verdade, eu já estou de saída, mas queria fazer algo
antes. — Ele retira sua mão do bolso do seu casaco e a estende. —
Toma, me liga se estiver a fim de sair um dia — Benjamin me
entrega um pedaço de papel com o seu número de telefone
rabiscado. — Sei que hoje não foi um dos melhores dias, mas eu te
garanto que posso ser um cara bem legal.
Sorrio, tímida.
— Eu irei ligar — sussurro.
Ele joga uma piscadela para mim e então vai embora.
Me encontro olhando e sorrindo para o papel algumas vezes
antes de finalmente enfiá-lo em meu casaco.
Eu nunca havia recebido o número de ninguém, e meio que
gostei de conhecer a sensação, ainda mais, vinda de um garoto que
aparenta ser genuinamente interessante. Um combo bem legal.
— Então quer dizer mesmo que tem mal gosto? — zomba, já se
sentando ao meu lado sem nem mesmo ter sido convidado.
— O que está fazendo? — solto, nervosa.
— Só puxando assunto. — Christopher suspira, totalmente
despreocupado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A forma em que ele sempre parece estar muito bem à vontade


comigo me deixa inconformada. O que o faz pensar que temos
intimidade para isso?
— Pra quê?
— Não posso, querida Dingo Bells?
— Não, não pode.
— Então não podemos nem mesmo conversar? — Ele ri.
— Não é porque já viu a minha bunda que você pode
simplesmente agir como quiser.
Ele repuxa os lábios convicto e meu rosto esquenta.
— Falando nisso… — insinua malicioso. — Tem sorte de ter sido
eu a te achar primeiro naquele lugar, você não estava exatamente
segura, Dingo Dingo.
— Eu sou uma mulher, nenhum lugar é seguro.
Ele ergue uma sobrancelha.
— É, tem razão. Mas não era bem disso que eu estava falando.
— À proposito, o que você estava fazendo naquele lugar?
Christopher prende o seu olhar no meu e isso faz com que eu
sinta frios na barriga.
A intensidade em seu olhar é tão profunda e densa que me faz
quase delirar. Não há nada parecido com isso, e eu realmente não
sei o que fazer quando ele me olha. E nem mesmo entendo por que
reajo assim.
— O mesmo que você — finalmente responde, estivesse tão
imersa que nem percebi que estava o encarando tanto quanto ele a
mim.
— Ok, mas estava fazendo o que antes disso?
Ele coloca o seu cotovelo no encosto do sofá e apoia o rosto em
sua mão, deixando seu corpo deliberadamente voltado para mim.
— Estava… com uma companhia.
Franzo a testa, não conseguindo compreender.
— Não acredito que seja tão inocente assim. — Ele parece
decepcionado.
Me espanto, quando, por fim, entendo.
— Estava...

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Transando — completa, curto e áspero.


Engulo em seco.
— E precisava ser na floresta? — rebato abismada.
— Fetiche é fetiche.
— Você tem um fetiche muito estranho.
— Não era de mim que eu estava falando.
Junto as sobrancelhas.
— Nem todo mundo tem o seu fetiche de bater na cara, algumas
preferem florestas.
— E-eu não tenho fetiche em bater em ninguém. Você é quem
passou dos limites hoje — debato, sentindo-me enrubescer.
— Ainda não passei, Dingo Bells. Mas eu prometo que vou —
garante baixinho.
— Achei você. — Joshua desponta à nossa frente, alternando o
seu olhar entre mim e o garoto ao meu lado. — E pelo visto,
também achei você.
— Joshua, Joshua… — Christopher cantarola misterioso.
— Está perdido? — meu amigo retruca, bravo, mas Yori rola os
olhos em volta de onde estamos, com o mais puro deboche.
— Na verdade... não. Estou onde deveria — responde cínico.
— É, e está no lugar errado… com a pessoa errada.
Christopher ri e passa a língua sobre os lábios. Então se inclina
em minha direção para sussurrar em meu ouvido:
— Nos vemos por aí, Dingo Bells.
Sendo pega de surpresa, ele beija a minha bochecha. Em
sequência, se levanta do sofá e caminha tranquilo para o meio da
multidão, mas não antes de roubar a garrafa de tequila de um cara
qualquer.
— O que ele queria? — Joshua investiga.
— Conversar.
Ele parece confuso, assim como eu, mas opta por não dizer
nada, apenas se mantém sério e o encarando de longe.
Por que é que todos agem como se soubessem algo horrível
sobre esse garoto?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

21 de Março | Quinta-feira
— Hoje está tão quente! — Luc comenta todo sedutor.
Ele abana a sua camiseta de forma exagerada enquanto
arrastamos preguiçosamente nossos pés sobre a ponte de arco que
dá acesso do refeitório às salas de aula.
Luc é extremamente bonito; do tipo que te hipnotiza com o
sorriso perfeito dele, o corpo atlético, a pele escura e os lábios
carnudos, mas não é muito esperto quando o assunto é flerte. Se ele
queria que eu visse o abdômen definido dele, era só ter dito, não
precisava de todo esse drama.
Prendo um sorriso quando percebo seus olhos castanhos
mirados nos meus com a mais pura malícia.
Aos doze anos, eu caia de amores por Luc, mas, para a minha
completa falta de sorte, ele era apaixonado por Loren. Então, por
dois anos seguidos, eu tive que enfrentar uma paixão platônica, até

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

que finalmente consegui deixar esse sentimento de lado, no entanto,


como mágica, ele passou a se interessar por mim, desde então,
colou no meu pé como chiclete. Porém, já faz um bom tempo que
não o vejo mais assim.
O fato de sermos amigos nunca o impediu de tentar e, apesar de
eu nunca aceitar as suas investidas, também gosto de provocá-lo.
Meio que se tornou um lance só nosso.
— Você ficaria mais refrescado se tirasse a camiseta de uma só
vez. Aposto que a sua linda pele máscula adoraria absorver vitamina
D, meu caro. Só uma sugestão. — Balanço as sobrancelhas e ele cai
na risada.
— Seria ótimo, minha cara, mas em cinco minutos eu já teria
ganhado duas advertências. — Luc revira os olhos e finjo estar
decepcionada, mas a minha horrível atuação o faz gargalhar ainda
mais.
Disfarçadamente, sinto-o colocar seus braços em volta da minha
cintura, puxando-me para perto dele. Finjo não notar quando, vez ou
outra, as pontas dos seus dedos escorregam rumo ao meu quadril e
voltam, em um vai e vem.
— Quer matar a aula de inglês, Dy? — sussurra, os lábios
roçando a ponta da minha orelha.
Ele seria perfeito demais, se não fosse um baita galinha.
— Não. Eu quero um futuro — desconverso me afastando de seu
abraço.
— O que eu tenho para lhe dar ali no cantinho será mais gostoso
que uma aula chata. — Luc me joga uma piscadela.
— Isso aí será momentâneo, meu caro. Momentâneo. Meu
futuro vai durar bem mais do que meros dois minutos.
Sorrio ao vê-lo fazer careta.
— Olhe! Elas parecem animadas hoje. — Ele aponta com o
queixo para as carpas no pequeno lago artificial debaixo de nós.
Andamos até o guarda-corpo e inclinamos o tronco sobre ele
para observá-las.
Os peixes coloridos nadam com calma de um lugar para o outro,
descendo na pequena cachoeira de pedras e descendo até o fim do

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

lago, para, então, darem a volta por um lado mais raso e subirem
novamente.
— As coitadas devem mesmo é estarem enlouquecendo depois
de serem obrigadas a conviver todo santo dia com tanto adolescente
— comento.
— Pelo menos elas ficam bonitas como decoração.
— Elas não fazem parte da decoração, Luc. Elas são uma
herança cultural — implico
— Tanto faz, você entendeu o que eu quis dizer. — Ele balança
os ombros.
Pequenas partes dos nossos costumes, como: alguns festivais de
danças, arte e ornamentação, vieram de vestígios japoneses, já que,
quem de fato descobriu a nossa ilha, foi uma velha família da
nobreza japonesa; os grandes e famosos Tanakas. A família mais vil
e rica de Nabrya.
Há tantos boatos esquisitos dessas pessoas que é até difícil ter
um pouco sequer de gratidão por essas pequenas heranças que eles
nos deixaram, visto que, há um longo histórico de torturas, rituais,
intimidação e ganância em seu nome.
Hoje em dia sabemos apenas que eles existem, pois, ao passar
dos anos, pouco a pouco ganharam uma identidade mais anônima,
até que se tornaram apenas fantasmas ocultos convivendo em nossa
cidade. O que só torna a história toda mais bizarra.
— Saco! — Luc resmunga.
— Que foi?
— Tenho um jantar importante hoje com os meus pais. Odeio ter
que pensar em faculdade agora.
— Já não está no quarto ano? Deveria começar a pensar nisso.
Ele torce o nariz.
— Nem sei ainda o que eu quero fazer.
— Bom, então procure algo. Nossa escola criou um ano a mais
no ensino médio justamente para isso. Só não invente de tirar um
ano sabático.
— Dytto, ainda bem que você é muito linda, porque às vezes,
você consegue ser irritante pra caralho — reclama, fazendo-me rir.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Puxo o seu rosto e dou-lhe um longo beijo na bochecha.


— Você vai se descobrir, não se preocupa. — Sorrio gentil e ele
faz o mesmo.
Luc lentamente aproxima o seu rosto do meu, mas desvio a
tempo de ele chegar em meus lábios.
— É a quinta vez só hoje — pontuo.
Ele ergue a cabeça ao alto.
— Deus, faça com que ela me aceite como o namorado dela um
dia. Eu não aguento mais levar fora.
Esmurro fraco o seu peito.
— Cai fora. Eu vou pra aula.
Apresso os passos para entrar em sala antes dos outros. Odeio
chegar atrasada, sinto como se todos soubessem de algo que eu não
sei.
Por sorte não me atrasei tanto quanto Luc queria, sou a segunda
a chegar e me sento na sétima cadeira da terceira fileira. Meu lugar
favorito.
Aos poucos, a sala vai se enchendo e um tumultuado de vozes
começa a gradualmente aumentar.
Alguns dos garotos da minha sala entram animados e chutam
coisas causando o maior barulho. Céus, eu não vejo a hora de dar o
fora daqui.
Solto um suspiro baixo ao mesmo tempo em que escorrego o
corpo na cadeira.
À esquerda, vejo um grupo de garotas conversando, todas
parecem serem super amigas, do tipo que você olha e acha muito
brega, mas que por alguma razão adoraria fazer parte. Curvo um
pequeno sorriso quando as vejo rirem.
É uma droga não se encaixar, mesmo sendo convidada a
participar. O único que ainda tenta andar comigo é o Luc, porque tá
sempre tentando me beijar. E a minha irmã, porque é a minha irmã,
mas hoje ela infelizmente faltou. Ontem extrapolou na bebida pós-
festa e está com tanta ressaca que mal consegue ouvir o som da
própria voz.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Loren diz que só aproveitou mais do que deveria, porém, eu


particularmente acho que o lance com o Christopher a afetou mais
do que ela deixa transparecer.
O professor entra após alguns minutos e a sala inteira se
acomoda em seus lugares.
— Olá, queridos alunos e alunas — o homem baixinho anuncia
animado e a sala responde um “Olá” em uníssono.
O senhor de idade sorri, mostrando todos os seus dentes
amarelados e desgastados; parece prestes a contar uma deliciosa
fofoca ou uma grande novidade, ou quem sabe, os dois.
— Hoje teremos uma participação muito agradável. Teremos um
estagiário observando e auxiliando na aula, então sejam educados —
revela, enquanto articula com as mãos.
Ele aponta para a porta, e todos os olhos se vão para lá, de
modo que mais parece que a própria Beyoncé vá entrar na sala,
E antes fosse.
Sou tomada pelo choque no instante em que Christopher surge
na entrada da sala com uma bolsa de professor pendurada no ombro
esquerdo. Senti o sangue fugir do rosto e meu corpo paralisar.
Suas mãos estão enfiadas nos bolsos da calça Caqui. Os ombros
relaxados, mas a expressão fatalmente séria em seu rosto. Seus
olhos vagam devagar pela sala de aula, tal como procurassem por
alguém.
Notei quando os burburinhos deram início, principalmente o das
garotas.
Mas é claro que falariam dele. Por que não falariam? Céus, ele é
tão lindo!
Christopher, por fim, adentrou o lugar e, sem hesitar, depositou
sua bolsa sobre a mesa do professor que, por ser extremamente
humilde, não ligou para o gesto arrogante dessa torre tatuada e
prepotente.
— Meninas e meninos, esse é o Christopher. Em breve ele
também estará se tornando um professor. — O ancião apresentou-o,
já que ele não parecia que o iria fazer.
Pisco algumas vezes, atordoada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Seu olhar passeava pela sala de aula com atenção, ainda não
havia me avistado ou, ao menos, até o exato instante. Um arrepio
percorreu minha coluna assim que seus olhos esmeraldas recaíram
sobre os meus, ainda mais sombrios.
Ele não os moveu, me encarou com tanta rigidez que quase
implorei para que parasse com aquilo. Eu realmente quis enfiar
minha cabeça dentro da minha mochila, mas, ainda assim, ele não
iria magicamente desaparecer.
Nosso professor terminou de apresentá-lo e fomos
bombardeados por burburinhos que prontamente começaram a
aumentar. Logo em seguida, deu-se início aos estudos do dia. No
decorrer da aula, Christopher tomou um tempo para lecionar. Mesmo
que estivesse explicando um assunto para mais de 35 alunos, era
sempre em mim que seu olhar cravava violentamente.
Minha pele parecia queimar e meu estômago embrulhava toda
vez que Christopher olhava para mim. E ele olhava muito para mim.
Me sentia impaciente e agitada. Conferia meu relógio a cada dois
minutos, mas o tempo dava a impressão de nunca passar. Já não
conseguia mais parar de balançar a perna e de suspirar, frustrada.
Estava distraída em meio ao turbilhão de pensamentos ansiosos
da minha mente, quando vi sua mão pousar na superfície da minha
mesa. Meu olhar naturalmente subiu pelo seu braço e encontrou o
seu pesando sobre mim.
— Tem alguma dúvida quanto ao assunto do seu dever,
senhorita Bell? — perguntou, seco.
Por um breve instante eu não reagi, apenas fiquei o encarando
como um completo idiota. Até que, enfim, balancei a cabeça,
negando, sem nem mesmo ter prestado atenção no que ele dizia.
Christopher franziu a testa.
— Ainda não respondeu nada.
Ele aponta com o queixo para a folha em branco em cima da
carteira e arregalo os olhos.
— Droga! Quando foi que isso veio parar aqui? — sussurrei,
espantada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Desde que a sua colega de classe entregou um desses a


todos.
Mordo o lábio inferior, constrangida. Christopher se distancia,
mas não demora muito a voltar com uma cadeira, sentando-se ao
meu lado.
— O que está fazendo? — questiono, surpresa.
Ainda não sei como reagir perto dele, e sempre que estamos
juntos, eu esqueço de como um ser humano normal age.
— Vou ajudá-la com a lição.
Ergo uma sobrancelha. Christopher olha para o professor, que
nos encara com curiosidade.
— Ela está com dificuldades em responder — explica.
— Oh, claro! — o professor sorri.
Olho para o garoto ao meu lado, irritada.
— Não estou com dificuldades, não.
Chris põe a mão discretamente sobre a minha coxa, em um
lugar um tanto quanto íntimo e a aperta.
— Agora está — decreta, gélido.
— Está mesmo entendendo o assunto, senhorita Bell? — Chris
pressiona sua coxa na minha.
Engulo em seco, sentindo a vermelhidão tomar conta da minha
face.
— S-sim.
Eu já estava terminando a lição, mas, ele continuava a me
atormentar, como se sentisse prazer ao me ver desconcertada ao seu
lado. Sempre averiguando cada mínimo detalhe e tendo a certeza de
que iria me deixar ainda mais nervosa na sua intoxicante presença.
Cada palavra que saía de seus lábios era rígida. Sua postura era
sempre imponente e ameaçadora. Não sabia o que havia feito para
ele agir assim, mas me mantive quieta enquanto ele me explicava —
obrigatoriamente — um assunto que eu já sabia.
Respiro fundo, mas o ar parece entrecortado.
Por mais que eu tenha me esforçado para me manter tranquila,
fraquejei diversas vezes. E tudo culpa da incessante pressão que
Christopher fazia em meu corpo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Por que está tão distraída, então? — sua voz soa mais baixo
desta vez.
Seu olhar parecia querer impulsionar uma resposta da minha
parte, no entanto, tudo o que fiz foi balançar a cabeça e dar
continuidade ao que estava escrevendo. Estava tão estressada com a
situação que a minha letra virou um completo garrancho cheio de
tremidas em toda a atividade.
— Não me convenceu — insiste.
Fingi não tê-lo escutado e, por sorte, o som estridente e
contínuo do alarme assomou o lugar no mesmo momento.
Finalmente!
Meus ombros, antes tensos, relaxam e meu corpo se inunda de
alívio ao saber que, enfim, sairia daquela aula após 35 minutos com
Christopher ao meu lado, olhando-me impiedoso.
Durante todo o tempo em que a Torre Tatuada permaneceu
comigo, temi que fosse aprontar algo macabro. Eu não conseguia
dizer nem mesmo uma frase inteira sem gaguejar.
Ele não se levantou para ajudar os outros com o dever. E, na
única vez em que o chamaram — mesmo que as intenções da aluna
parecessem outras. — Chris a incentivou, de maneira nada sutil, que
ela se dirigisse ao professor, pois, pelo visto, ficar ao meu lado era
tão necessário que ele não estava nem aí para o restante da sala.
Desde então, os alunos ficaram receosos de pedirem o seu o auxílio
novamente.
Vicente, nosso professor, nos olhou desconfiado por diversas
vezes, mas não se atreveu a nos confrontar. Acho que até o próprio
tem um pouco de medo de Christopher, mas, quem não teria?
Assim que os alunos começaram a guardar os seus materiais,
Chris se aproximou do meu ouvido e automaticamente congelei no
lugar quando senti sua respiração quente no meu pescoço.
— Nos vemos em breve, Dingo Bells. Eu estou de olho em você
— alerta sério e, só então, ele se põe de pé, afastando-se
rapidamente.
Sentindo meu rosto queimar de vergonha pela ideia de que
alguém possa ter nos escutado, olho em volta para dar uma

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

conferida, todavia, ninguém parece ter prestado atenção.


De longe, vejo-o se juntar ao professor. Antes de ele cair fora,
seu olhar procura o meu uma última vez e um sorriso perverso pinta
os seus lábios.

Luc me alcançou na hora da saída para me acompanhar até o


meu carro como sempre fazia, mas, assim que começamos a andar,
ele parou no lugar e me olhou com cara de quem sabia que havia
algo errado comigo. Meu amigo ergueu o olhar e me analisou de
cima a baixo com os olhos semicerrados.
— Você está… estranha — decreta, franzindo a testa.
Ele agarrou o meu queixo para examinar o meu rosto, mas bati
em sua mão para que me soltasse. Pelo visto, estava literalmente
estampado na minha cara que eu ainda estava balançada com o que
havia acontecido na sala.
Depois daquela aula, eu não conseguia parar de pensar em
Christopher um segundo sequer. Ele havia conseguido arranjar um
jeito de grudar na minha cabeça e me consumir completamente
como se estivesse drenando as minhas energias.
Luc consegue ser muito intrometido quando está preocupado,
mas não quero lhe dar motivos para isso ou ele vai querer dar um de
“macho alfa” para o meu lado, então apenas dou de ombros.
— Não é nada.
Me esforço para fingir pouco caso e enrolo uma mecha do meu
cabelo entre os dedos, porém, sinto seu olhar desconfiado sobre
mim.
— O que houve? — instiga.
Eu sou a pior pessoa do mundo mentindo, mas agora eu
realmente vou precisar da minha melhor performance ou ele vai me
questionar até semana que vem sobre isso. Solto um suspiro
exagerado e repuxo o canto dos lábios para baixo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Sei lá, só devo estar cansada. Não gosto de ter que ficar o dia
inteiro na escola quando Loren não vem.
Luc parece mais aliviado e passa os braços ao redor dos meus
ombros.
— Você tem a mim.
— É, mas você não é a minha irmã. Você é um descarado. — O
afasto e ele ri.
— Você me ama que eu sei.
— Você que pensa — gracejo.
— Quando é que você vai deixar de ser tão fria e vai me
convidar para sair, Dy? — Ele cruza os braços.
— Não sou fria, eu sempre te chamo para sair.
— Você me chama para festas, e eu mereço um encontro —
rebate, frustrado.
— Não.
Ele bufa, mas finjo não ouvi-lo. Ignorando a sua insistência por
um encontro, seguimos para o estacionamento, onde os amigos de
Luc nos olham com sorrisinhos bobos ao passarmos por eles, pois
juram que existe algo rolando entre nós, no entanto, a realidade é
bem diferente.
Ao alcançarmos o meu sedan, paramos frente a frente, o que
acaba me proporcionando a visão do seu rosto de cachorro chutado.
— Você merece um pouco de juízo, Luc.
Ele encosta o seu corpo em meu carro e curva um sorrisinho.
— Oh, Dytto. Só me dê uma chancezinha e eu vou te mostrar
que eu sou o homem da sua vida.
Rio alto disso e balanço a cabeça.
— Não mesmo.
Passo por ele e jogo as minhas coisas dentro do carro, quando
volto para onde estava, o encontrando olhando fixamente para um
ponto específico.
— Tá olhando o que? — pergunto, sorrindo.
— Por que o Christopher está nos encarando?
A expressão bem-humorada evapora de meu rosto e arregalo os
olhos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— O-o quê? — indago nervosa.


— Ali, logo ao lado do carro — sussurra, baixando o olhar para
os seus próprios pés, a fim de disfarçar.
Passo os olhos pelo lugar, e o encontro do outro lado do
estacionamento, o corpo apoiado em uma ranger vermelha, uma de
suas mãos no bolso e a outra segurando um cigarro nos lábios.
Christopher nos encara sem o menor pudor ou constrangimento.
Noto que os seus olhos se demoram em Luc. A forma em que
ele o encara me causa calafrios.
Uno as sobrancelhas e alterno meu olhar entre Chris e o meu
amigo, ainda sem entender o que está havendo.
— Você fez algo para ele? — investigo, séria.
— Eu não. Só o vi algumas vezes em algumas festas. Não
imaginei que ele estivesse aqui hoje.
— Eu acho melhor você ir embora. Ele está te olhando muito
estranho.
Luc revira os olhos, não dando a mínima, mas se despede com
um forte abraço que quase me parte em dois.
— Está me devendo um encontro — pontua.
— Não estou, não.
— Eu vou cobrar — avisa, ao passo em que se afasta andando
de costas. — Já vou antes que eu leve uma surra.
Balanço a cabeça em concordância e me obrigo a rir para
camuflar o nervosismo, o que acaba soando mais como um motor
morrendo.
Assim que Luc ganha distância o bastante, volto a olhar para
Christopher que, agora, me observa atentamente. Ao perceber que
eu o encarava, ele acenou de leve com a cabeça, em um gesto
desafiador. Meu rosto esquentou e fechei os punhos diante da
situação.
— Seu psicopata — sussurro e viro-me para o meu carro.
Não voltei a olhá-lo, mas senti que ele manteve seu olhar sobre
mim durante todo o tempo em que usei para ir embora.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Como foi o seu dia? — Papai perguntou, sentado à beira da


mesa com os olhos postos em mim.
Apesar de vaidoso e consideravelmente jovem, seu cabelo já
possui vários indícios de fios grisalhos. O rosto com resquícios de
juventude, agora é marcado por algumas linhas de expressão que
estão mais associadas ao estresse do que a idade chegando.
De canto, vejo Loren inspirar fundo, como se já não aguentasse
mais nem um segundo sequer sentada aqui.
Hoje é dia de jantarmos juntos; fazemos isso pelo menos uma
vez na semana, pois, em grande parte do tempo, não nos vemos.
Papai é um cardiologista renomado e está sempre transitando entre
uma cirurgia e outra. Mamãe é diretora de marketing em uma
grande empresa e está sempre ocupada elaborando estratégias de
vendas ou viajando a trabalho.
Ambos vivem em função de seus empregos e, nas folgas, vão
para a igreja e nos obrigam a ir juntos. Eles são bem rígidos quando
se trata de religião — em razão de terem vindo de famílias católicas
super devotas —, o que os levam a pensar que devemos agir igual.
E Deus nos livre de sequer pensar em seguir outra crença, seria
um absurdo sem perdão.
Eles não são lá o tipo de pessoas que estão dispostas a serem
mentes abertas com os filhos e terem uma conversa um pouco
menos formal do que as do dia a dia. Então apenas seguimos a
tradição das quintas em família.
— Foi bom, o mesmo de sempre — respondo baixinho, evitando
realmente pensar no meu dia.
Encolho o corpo na cadeira e fixo os olhos no prato de comida —
agora vazio —, apenas para não ter que encarar a tensão no rosto
de todos à minha volta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E o seu, Loren? — papai questiona, numa entonação mais


severa, em seguida beberica o seu suco de laranja.
Por alguma razão, ele sempre a trata como suspeita de um
crime, até mesmo quando ela não fez nada para isso. Loren não é
exatamente o modelo de filha perfeita, mas ainda parece um grande
exagero da sua parte agir tão friamente assim.
Ela solta o ar pesadamente e cruza os braços
— Chato.
— Já está se sentindo melhor, minha Lobinha? — mamãe
aborda, afagando gentilmente o rosto de minha irmã.
— Sim. Devo ter passado mal por algo que eu comi — Loren
cochicha, visivelmente desinteressada no assunto.
Papai a olha desconfiado e ergue uma sobrancelha.
— Ou bebeu — contesta.
Theo — nosso pai — odeia o fato dela beber e nunca escondeu
isso. Em geral, Loren mantém um certo controle com o álcool,
apenas para evitar discussões como esta, mas noite passada deve
ter sido uma barra e tanto para ela e, por isso, não contei nada
sobre Christopher hoje.
Apesar da minha consciência ainda me martelar a cada instante,
sinto que foi o que precisava a se fazer. Será melhor se ela não
souber logo após ter se recuperado de uma ressaca da qual eu
tenho certeza que a razão foi tentar esquecê-lo.
— É. Ou bebi — ela retruca rudemente.
Massageio as têmporas, já sabendo o tornado que está por vir.
— Acha isso bonito? — Theo reclama irritado. — Você precisa
dar um jeito nessa sua vida ou vai acabar sendo inútil pra sempre. —
Ele aponta para ela ao dizer, como se precisasse enfatizar a sua
raiva.
Ah, merda!
O rosto de Loren rapidamente ruboriza e lágrimas brilham no
canto de seus olhos.
Isso é pesado demais para se ouvir. Papai não impõe barreiras
no que diz e isto sempre termina com Loren magoada e ele furioso,
enquanto o resto de nós procura uma forma de amenizar a briga.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Agora vai me dizer que nunca bebeu na sua vida? Não venha
agir como um santo, pai — ela rebate, a voz instável e os lábios
trêmulos.
— Você é a irmã mais velha, e ainda assim é Dytto que se
contém no seu lugar. Você deveria ser um exemplo para sua irmã.
Não o contrário. — As veias saltam em seu pescoço conforme ele
berra a sua irritação sobre ela.
Enquanto isso, minha irmã o encara com amargura e a mais
pura mágoa.
— Papai, isso não é algo que deveria ser tarefa para Loren —
intervenho.
— FIQUE QUIETA! — esbraveja eu arregalo os olhos.
— Amor, por favor, pare! — Ever pede, testemunhando para
onde estamos indo nessa discussão fútil.
Mamãe sempre conseguiu manter um certo equilíbrio em nossos
jantares de família. Ela não gosta das conversas duras que papai
geralmente direciona à Loren, porém, é submissa demais para
conseguir se impor completamente.
Theo contrai a mandíbula, ainda furioso. Ele tenta se controlar,
enquanto minha irmã finge não estar segurando o choro.
— Eu vou subir — Loren avisa, já se levantando.
Ever apertou o braço de Theo, que já estava prestes a se opor
quando minha irmã saiu a passos largos. Eu, no entanto, corri para
acompanhá-la, pois sabia como ela ficava extremamente vulnerável
em momentos como esse.
Assim que já estávamos em seu quarto, ela rapidamente o
trancou para evitar que algum dos dois entrasse.
Deitei-me ao seu lado na cama e a envolvi em meus braços. Não
demorou muito e ela desabou em lágrimas, não apenas de tristeza,
mas também, raiva. Disso ela está cheia.
Ela odeia quase tudo em nossos pais, mas principalmente o fato
deles já terem planejado toda uma vida para ela. Desde o cara certo,
a profissão, faculdade, onde vai morar e até mesmo quando é a hora
certa de ter filhos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eles acham que, assim, ela será bem-sucedida e feliz, como se


seguir isso fosse o segredo de uma vida abundante. Mas isso não é
Loren, ela está longe de querer uma vida estável e pacata com um
monte de filhos. E eu a entendo, também não quero, mas eles nunca
cobraram isso de mim, e talvez, essa seja uma das maiores mágoas
de Loren, mas sei que ela jamais descontaria isso em mim.
— Vai ficar tudo bem — sussurro, depositando beijos em sua
cabeça.
— Por que eles sempre exigem que eu seja perfeita? Eu já faço
de tudo por eles. Tenho 18 anos, estudo, trabalho e tiro boas notas.
Por que o nosso pai sempre exige que eu seja quem eu não sou, Dy?
— desabafa.
Deixo que um suspiro triste escape de meus lábios.
— Eu sinto muito, Lô. Eles só não sabem dar valor ao que tem.
Você é talentosa e esperta, vai se dar bem na vida com ou sem eles.
Loren balança a cabeça, indignada.
— Eu só bebi, mas que droga!
O problema nunca foi exatamente a bebida, o fato é que, ela
não abaixa a cabeça e o obedece como ele bem queria que fosse, e
isso o irrita mais do que ela sair para beber. Afinal, é mais fácil a
controlar quando ela está sobre os seus domínios do que quando ela
se opõe para ser livre. Isso o enfurece.
Mas eu não iria dizer isso a ela, de todo modo, não seria
necessário. Loren já conhece a família de que viemos.
— Logo ele esquece isso. Ele sabe que você bebe e que não é
nenhuma santa puritana. Papai só precisa aceitar isso na cabecinha
de minhoca dele. E ele vai aceitar. Se acalme, está bem?
Loren soluça em meus braços e desliza suas pernas sobre as
minhas.
— Eu amo você, Dy. Você é literalmente a única pessoa no
mundo em quem eu confio — confessou baixinho.
Meu peito se aperta, e a sensação de culpa se mostra ainda mais
cruel e presente dentro de mim.
Eu sei que não fiz nada de errado para me sentir assim, porém,
o fato de não conseguir tirar Christopher dos meus pensamentos

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

também me parece traição. Porque talvez, só talvez, exista um novo


sentimento surgindo dentro de mim, e eu não sei o que fazer com
isso.
— Também amo você, irmãzinha — sussurro. — Pra sempre!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

22 de Março | Sexta-feira
Durante a aula de inglês, Christopher se manteve sentado à
frente da classe. Seu semblante era sempre cheio de seriedade,
porém, hoje ele estava mais receptivo aos pedidos de ajuda dos
alunos.
Desta vez, ele não ousou se aproximar de mim, tampouco me
olhar. Parecia que, mesmo indiretamente e sem discussões,
estávamos nos evitando, ou melhor, ele o estava fazendo.
No decorrer da aula, foi eu quem inevitavelmente o olhou por
diversas vezes. Estava em uma corda bamba, sem saber o que havia
acontecido, ou o porquê de ele estar tão contrário a forma que agiu
na aula passada.
Eu não estava interessada em ser o alvo de sua arrogância
novamente, mas queria ao menos uma explicação do que de fato
estava acontecendo; mesmo que eu nunca fosse questioná-lo sobre,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

e que, muito provavelmente, apenas deixasse toda essa confusão


morrer.
Talvez Loren tivesse passado pelo mesmo com Chris, e por isso o
julga tão mal. Ela estava apaixonada, deve ter sido complicado para
ela aceitar a frieza no comportamento dele. Christopher é sempre
sério, intenso e ímpeto. Pelo pouco que vi dele, não parece ser
alguém gentil. Seu humor parece se dividir entre o ódio e a raiva. E
a sua personalidade se divide entre odiar, e odiar muito. Mas,
pensando pelo lado positivo, ao menos não é necessário muito
esforço para saber que é melhor mantê-lo longe.
O alarme soou, e quase como se desse Graças a Deus, nosso
professor, Vicente, levantou-se em um pulo. Ainda estava explicando
o final do nosso dever de casa, mas, cair fora do emprego mais cedo
pareceu mais tentador. Levando em conta que é sexta, eu acho sua
atitude muito sábia.
— Bom, por hoje é apenas isso. Ao fim do dia, vão para casa em
paz e fiquem bem — ele dizia enquanto enfiava com pressa as suas
apostilas na bolsa.
Quase ri disso.
— Professor Christopher — uma aluna chamou, com a mão
suspensa no ar.
Professor Christopher? Quando foi que ele se tornou tão íntimo
da turma? Hoje é só o seu segundo dia aqui.
Curiosamente, ele apenas ergueu uma sobrancelha ao olhá-la.
— Você vem na próxima aula? Gosto muito das suas explicações.
— Notei as bochechas dela ganharem tons rosados e as suas amigas
soltarem risinhos baixos, como quem sabe que ela não estava se
referindo realmente às explicações de Christopher, apesar de ele ser
muito bom nisso.
— Venho. Por um tempo — a Torre Tatuada foi breve, mas
bastou para causar agitação em, principalmente, garotas.
Acho que os meninos não gostavam tanto da atenção que
Christopher tomava para si sem nem ao menos se esforçar para isso.
Isso atingia o ego deles em cheio.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Então quer dizer que eu estou sendo trocado — nosso


professor brincou, meio melancólico.
Mesmo que ele esteja realmente animado com a ideia de se
aposentar, é possível notar o desânimo em seu rosto. O que é bem
compreensível, afinal, deve ser estranho deixar para trás o que ele
mais gostou de fazer a sua vida inteira.
Por isso, decidi animá-lo um pouquinho.
— Particularmente... — me pronunciei em voz alta. — Eu ainda
prefiro o senhor — declarei, com um sorriso gentil.
Seu rosto automaticamente ganhou vida.
— Oh! Olhe só, Christopher. Eu também tenho fãs — o professor
dizia aos risos, em divertimento.
Eu sempre mantive um respeito enorme pelos mais velhos, mas,
ainda achava estranha a forma com que eles riam com tão pouco.
Por outro lado, Christopher me encarava severo.
E lá estava aquele olhar sombrio queimando em mim
novamente, quase como se quisesse me estrangular.
Meu propósito não era espetá-lo, porém, foi o que aconteceu.
Meu corpo parecia doer de tanta tensão em consequência de sua
repreensão sobre mim. Por isso, evitei encará-lo por muito mais
tempo. Meu estômago se revirava com a certeza de que Christopher
havia decidido me esganar com os olhos.
A sala aos poucos se esvaziava conforme os alunos saiam. Fui
uma das últimas a me levantar, pois ainda estava terminando de
guardar tudo. O fato de me sentar na última cadeira era bom, mas
geralmente atrasava a minha saída em meio ao tumulto que se
formava no caminho.
Quando finalmente alcancei a porta, senti uma mão envolver o
meu braço com firmeza, não o suficiente para me machucar, porém
o bastante para me assustar e acabar me deixando nervosa.
— Vou te procurar mais tarde. E nós iremos conversar —
sussurrou como uma ameaça em meu ouvido, em seguida, se
afastou.
Como assim irmos conversar? O que Christopher e eu teríamos a
falar um com o outro?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Continuei a encarar o seu corpo alto mesmo depois dele já estar


longe. Sentia arrepios de medo em minha pele à medida que a sua
voz se repetia em minha cabeça, em um looping que só se rompeu
quando a da minha irmã entoou ao meu lado.
— Tá tudo bem, Dy? — Loren perguntou e estremeci de susto.
Virei-me para ela com a mão no peito e a respiração ofegante.
— Caramba, Loren. Você quase me matou do coração. —
Arquejei, sentindo as maçãs do meu rosto esquentarem.
— Parou no mundo da lua por quê? — investigou, curiosa.
— Nada! — Baixei o olhar para os meus pés e passei os dentes
em meus lábios. Geralmente eu acabo os machucando quando estou
nervosa.
— Você tá esquisitinha — murmurou, desconfiada, mas não se
demorou nisso.
Loren me puxou pelo braço. Por sorte, mudando o assunto de
nossa conversa.
— O que vamos almoçar hoje? Odeio a comida dessa escola,
parece que ninguém sabe que se temperar demais uma comida, ela
simplesmente para de ter gosto e vira um amontoado de gororoba.
Me arrastando até o refeitório, Loren nem mesmo se deu conta
de que Christopher havia me dado aula, talvez, ela nem mesmo
tenha notado que ele estava na escola. Pelo menos, não ainda. Era
difícil não perceber os boatos do "novo estagiário gato" circulando
pelos corredores, ou seja, seria só uma questão de tempo até ela
perceber ou acabar topando com ele por aí.
Só espero não estar presente quando isso acontecer.

— Te dou 5 minutos, Dy. Eu quero ir logo para casa — Loren


reclamou de braços cruzados enquanto batia o pé, impaciente.
— Eu só preciso ir ao banheiro ou vou mijar dentro do seu carro.
Você quem sabe.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Embora eu tenha o meu próprio carro, gosto de, às vezes, pegar


carona com Loren para a escola, porém, isso implica em ter que ser
pontual na hora da saída ou ela vira um pé no saco.
Suspirando forte, ela finalmente assentiu.
— Vai. Só não demora ou eu te deixo plantada aqui.
Loren apoiou o corpo na sua SUV, e Luc, que estava ao seu lado
o tempo todo observando a situação, gargalhou.
Sabendo que ela podia estar realmente falando sério, e que a
escola já estava quase que completamente vazia e prestes a ser
fechada, fui correndo para o banheiro e me tranquei em uma das
cabines.
Passei o dia inteiro fugindo de lugares desocupados ou distantes
para que Christopher não me achasse, e isso custou prender a minha
bexiga, mas, assim que chegamos ao estacionamento e não
encontrei sua ranger vermelha, percebi que ele já havia ido embora.
Eu estava verdadeiramente assustada com a forma que ele
sempre parecia estar com raiva de mim, por isso decidi que não iria
dar oportunidades a ele para conversarmos.
Após terminar, fui direto para a pia lavar as minhas mãos. À
minha frente, havia um espelho enorme revelando o meu reflexo. O
rosto cansado e alguns fios desgrenhados e avulsos em minha
cabeça. Aproveitei para ajeitar o meu cabelo nas laterais do meu
corpo e ajustar a minha roupa.
Hoje vim com uma camiseta preta de Loren que me faz parecer
ter seios um pouco maiores do que realmente são. Não é como se
eu tivesse muito, de todo modo, mas acabei me acostumando com
as migalhas que tenho.
Curiosa, imaginei como seria se eu tivesse nascido um pouco
mais afortunada e me virei de lado para apertá-los, fazendo com que
eles saltassem e parecessem silicones. Voltei a ficar de perfil e sorri
ao ver a minha falsa imitação de peitos grandes.
— Vocês ficariam uma gracinha — cochicho, empinando-os ainda
mais.
— Prefiro como são — o comentário me fez estremecer e saltar
para trás.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Encostado na entrada do banheiro, Christopher encarava-me


sem o menor pudor.
Senti minha pele ferver de vergonha e precisei puxar o ar com
força.
— O que está fazendo aqui? Esse é o banheiro feminino!
Christopher desliza a língua sobre os seus lábios fartos bem
devagarinho enquanto desce o olhar para o meu busto.
— Ups! — sussurra irônico, curvando um sorriso de lado.
Como um caçador atrás de sua presa, ele caminhava passo atrás
de passo em minha direção, sem a menor pressa.
Sua face parecia se deliciar do medo que via em mim, já os seus
olhos, sempre vagavam ruidosamente pelo meu rosto, enquanto as
batidas do meu coração se tornavam cada vez mais frenéticas e
desenfreadas.
Recuei, sentindo-me assustada. Olhando em volta, percebi que
não havia outra saída, senão a única porta que havia no banheiro,
porém, Christopher estava perto demais.
Quando topei na parede atrás de mim e me vi sem saída, ele
sorriu, satisfeito. Então, por fim, me alcançou. Sua mão direita
envolveu o meu pescoço e a outra agarrou os meus cabelos com
firmeza.
Ele me obrigou a encará-lo. Sua respiração se tornou mais
pesada e seu corpo pressionou o meu com indelicadeza.
— Olá, Dingo! — sussurrou, rouco. O olhar vidrado no meu.
Já não havia uma única partícula de mim que não estivesse
tremendo. Eu estava, por inteiro, aterrorizada.
— O que você quer? — perguntei, com os olhos arregalados de
pavor.
Senti o nó na garganta se formar e aumentar à medida que
meus olhos começaram a lacrimejar.
Eu não o conhecia, sabia que ele poderia fazer o que quisesse
comigo. Estava em total desvantagem. E, mesmo se gritasse,
dificilmente alguém estaria por perto para me ouvir.
Christopher é muito mais alto do que eu, assim como também é
muito mais forte.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele usou o dedão da mão que segurava o meu pescoço para


tocar o meu lábio inferior e fechei os olhos com força. Chris estava
tão próximo que sentia sua respiração quente tocar a minha pele
enquanto me examinava atentamente.
— Não feche esses lindos olhos verdes. Me olhe, querida Dingo
Bells — pediu, cheio de necessidade.
Meus lábios se mantinham entreabertos e ofegantes, enquanto o
resto de mim permanecia paralisada, presa entre a parede e o corpo
alto de Christopher.
Devagarinho, abri os olhos.
— Não vou te machucar — ele murmurou ao notar uma lágrima
solitária escapar dos meus olhos.
— O que você quer então? — choraminguei trêmula.
— Não se preocupe. Já consegui o que eu queria.
Franzi a testa, confusa.
— Por que está me prendendo aqui? — as palavras saíram
arrastadas.
Ele colocou as suas mãos no meu rosto.
— Você vai descobrir... em breve.
— Christopher, eu preciso sair. A minha irmã, ela está me
esperando com o Luc lá fora. Por favor! — pedi com urgência, já
estava ficando desesperada.
— Luc? — pontuou, curioso. — Então esse é o nome do garoto
que anda com você? Nossa! — Ele riu. — Está mesmo andando com
alguém que tem nome de cachorro? Você não aprende, não é?
Balancei a cabeça.
— Do que está falando?
— Não se faça de boba, Dingo. Eu vejo como ele te olha.
— Por quê? Pra que tudo isso? Eu não entendo — supliquei,
atordoada. — Você está em todo canto. O que eu fiz pra você? É por
causa do tapa? É por isso que me odeia tanto? Então me desculpa.
Eu prometo não fazer mais aquilo.
Christopher juntou as sobrancelhas e curvou um leve sorriso
audacioso no canto dos lábios.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É porque não posso permitir que seja tão pura. Não sabe
como isso me enlouquece.
— Por favor... Eu preciso ir — peço num sopro.
Ele lentamente joga a cabeça para o lado.
— Você vai. Mas não vai se livrar de mim — garante.
Como ele podia ser tão mau assim? Não havia compaixão em
sua fala ou em sua face. Apenas a expressão mais sombria e
maléfica que poderia existir. Christopher claramente pretende me
destruir.
— Não magoou a minha irmã o suficiente e agora vai garantir
que eu seja a próxima também? — questionei, magoada.
— A sua irmã? Não fiz nada a ela — se defende.
— Fique longe de nós — disse séria.
— Eu já estou longe dela há um bom tempo, Dingo. Mas, já de
você...
— Vai o quê? Me usar para os seus rituais na floresta? — Sorri
amarga.
Tudo o que eu queria era correr dali.
— Não, meu anjo. Eu vou te usar, mas de um jeito gostoso.
Minhas bochechas se acenderam e meu coração disparou mais
forte.
— E eu prometo que você vai gostar de sentir o gosto do
pecado. Vou te fazer implorar por mais, minha Dingo Bells. Não há
almas que se mantenham puras depois de entrarem no meu
caminho.
Repentinamente, ele se afastou de mim, deixando um espaço
brusco entre nós. Precisei segurar a bancada da pia ao meu lado
para conseguir me equilibrar.
— Nos vemos por aí — avisou, partindo rapidamente para fora
do banheiro.
Não demorou nem mesmo um segundo, assim que a porta
bateu, Loren entrou.
— Será que poderia me explicar o que está havendo? —
questionou furiosa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Oh, não! Ela deve estar pensando que eu estava de propósito


com o Christopher.
Abri e fechei a boca várias vezes sem saber ao certo o que dizer.
Estava suando frio e tentava controlar as náuseas. Eu não poderia
mais esconder isso dela.
— Dytto. Pelo amor de Deus. Como você ainda está aqui? Já faz
mais de 10 minutos, será que não poderia ter sido mais rápida?
Caramba!
Espera?! Como assim ela está brava por isso? Ela não ligou para
o fato de Christopher ter acabado de sair daqui?
— Loren... Eu... O que...?
— Caramba. Éramos para termos ido embora há tempos. Anda!
Já estão fechando a escola, só tem nós duas aqui dentro ainda.
— Só nós duas?
— É, Dy — respondeu, extremamente irritada.
Eu estava tão confusa que nem mesmo protestei quando ela
pegou o meu braço e saiu me puxando porta a fora.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

23 de Março | Sábado
Durante o café da manhã, Dytto estava completamente imersa
em seus pensamentos. Os seus olhos se mantinham fixos à tigela de
frutas diante de si, mas ela não parecia realmente vê-la. Sua mente
estava divagando num mundo só seu.
Ela permanecera completamente imóvel e apática em sua
cadeira durante todo o tempo em que esteve ali. Talvez ainda
estivesse com sono, no entanto, parecia ser algo a mais que lhe
prendia a atenção.
De onde eu estava, a observava em silêncio, não fazia ideia do
que se passava em sua cabeça, mas me preocupava vê-la assim. Vez
ou outra, ela expirava baixo e cansado.
Deveríamos ter saído há quinze minutos, entretanto, Dytto ainda
estava em seu pijama, alheia ao nosso compromisso obrigatório.
Normalmente, era ela quem sempre pegava no meu pé para que eu
me aprontasse, mas hoje, parecia uma completa sonâmbula.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Ei! — murmurei, porém, ela não reagiu, repeti o chamado


outras duas vezes, mas nem assim.
Começando a ficar realmente preocupada, me inclinei em sua
direção e balancei o seu corpo. Foi só então que ela finalmente
despertou.
— Quê? — indagou confusa e suspirei, aliviada.
— Está tudo bem aí?
Observando-a bem, noto que seus olhos estão avermelhados, as
pálpebras inchadas e as olheiras em evidência.
Ou ela não teve uma boa noite de sono, ou então nem mesmo
chegou a ter uma.
— Hum-huh — murmurou relutante, o que só me deixou ainda
mais intrigada.
Ela não possui o costume de mentir ou esconder coisas. Em
geral, sempre me conta todos os seus segredos, porém, ultimamente
sinto como se ela tivesse se fechado. Não quero pressioná-la a falar,
mas é impossível não ficar aflita sem saber o que posso fazer para
ajudá-la.
— Está quase na hora da missa. Vá se arrumar. Eu vou te dar
carona.
Ela balança a cabeça.
— Hoje eu não vou, Loren.
Me chama a atenção o fato dela não querer ir a uma missa sem
nenhum bom motivo aparente. Minha irmã não é uma religiosa
rígida, porém admiro a sua devoção em ir às missas mais vezes do
que eu mesma iria por vontade própria. E mesmo que Dytto não se
considere um exemplo de cristã, comparada a mim, ela é quase uma
santa.
Estreito os meus olhos.
— Mas você sempre vai — comento com estranheza.
Ela escorrega na cadeira.
— Mas hoje, não.
Tem algo errado.
Jogo um guardanapo em sua direção. Porém Dytto o apara e
arremessa de volta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Para, Loren — cochicha irritada.


— Aconteceu alguma coisa, não é?
Seu lábio inferior treme, a denunciando, porém, ela nega com a
cabeça.
Dy está mentindo!
Penso em ficar para sondar mais a fundo o que está
acontecendo, mas ela não parece a fim de me contar nada. Dytto
abraça o próprio corpo e se mantém retida em sua cadeira,
encarando com os olhos sem vida o beiral da mesa.
Uma outra hora, então.
— Na próxima você vai! — declaro, já me pondo de pé. — Vou
dizer aos nossos pais que você estava se sentindo mal hoje.
Ela assente, não parecendo realmente estar prestando atenção
no que digo
— E a louça do jantar é toda sua — acrescentei.

Após a missa, Claire e eu pegamos a estrada e fomos parar na


floresta em que sempre ocorriam nossas festas. Não havia muitas
pessoas no lugar, apenas alguns dos nossos colegas de farra.
Ninguém estava realmente dando uma festa, apenas bebendo,
como costumávamos fazer durante algumas tardes de sábado em
que ficávamos de bobeira.
Claire estava novamente chateada por alguma outra briga com
Joshua e me procurou para encher a cara e esquecer os seus
problemas junto de uns caras mal-encarados que haviam acabado de
se sentar próximo de nós, em um tronco de uma árvore caída.
Fiquei um pouco mais distante. A cabeça cheia de problemas e
receios. Havia coisas sobre mim que eu tentava camuflar, mas, não
existiam maneiras de se esconder. E se afogar em ilusões, só
acabava juntando ainda mais peso na viagem.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Estava exausta, mas eu não podia desabafar com ninguém.


Então me entorpecia até esquecer todo o resto.
Estava fumando, distraída, no momento em que o garoto alto e
tatuado ao qual eu já conhecia bem tomou conta do meu campo de
visão. Seus olhos miraram nos meus com seriedade, e nos seus
lábios ainda existia aquele mesmo sorriso torto e sarcástico de
quando o vi pela primeira vez. Seu cheiro forte e amadeirado me
invadiu, desestabilizando-me, mas fingi indiferença.
E, do mesmo modo, meu coração disparou. Mas, com um belo
passado de sedutoras memórias, as mágoas surgiram e nublaram
todos os meus pensamentos. Por mais louco e insano que fosse esse
sentimento que ainda nutria por ele, precisava me lembrar que
jamais ficaríamos juntos.
Porém, vê-lo, sempre acabava despertando sentimentos que
tentava manter adormecidos. Sempre que eu possuía conhecimento
de Christopher, ele estava em sua parte da floresta, do outro lado.
Junto de sua turma. Nunca aqui. Logo, se veio para cá, havia um
bom motivo para isso. Ou então, só estava procurando um novo alvo
para atormentar.
— O seu lado da floresta não é esse — pontuei, séria.
Ele cruzou os braços em oposição.
— Cadê a sua irmã? — perguntou interessado.
Imediatamente fechei a cara para ele.
Por que inferno ele estaria perguntando sobre a Dytto? Ele nem
mesmo deveria ter chegado perto dela.
— E te interessa? — retruquei, rígida.
— Mais do que você pensa — respondeu cheio de malícia.
Christopher conseguia mesmo me enfurecer em cerca de três
segundos. Apertei os dentes e me esforcei para não avançar em
cima dele com socos.
— Tire os olhos dela. Dytto não é para o seu bico — ameacei,
entre os dentes.
Se havia alguém a quem eu defenderia melhor do que eu
mesma, era a minha irmã. E Christopher é, sem dúvidas, uma
armadilha para o coração de Dytto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele soltou um riso baixo, não me levando a sério. Os olhos


brilhavam em divertimento enquanto me desafiava.
— Que porra você acha que é? Hum? — Ele ergueu uma
sobrancelha, ainda mais autoritário.
— Veio aqui apenas para ser inconveniente ou tinha outros
planos?
— Soube que havia gente aqui, pensei em dar uma olhada para
saber se quem eu queria estava. — Ele força os lábios para baixo,
em uma demonstração exagerada de desapontamento. —
Infelizmente só encontrei a irmã doida dela.
— Sorte a da Dytto, então — provoquei, abrindo um sorriso
desafiador a ele.
Chris passou a língua sobre os lábios e soltou um breve suspiro.
— Não precisa se preocupar. Eu sempre consigo o que eu quero,
Loren. E se eu me esforçar só um tantinho assim — ele mede,
exibindo um pequeno espaço com o seu polegar e o dedão —, vou
fazer o mundo dela virar de cabeça para baixo.
— Seja lá o que você tenha em mente, é melhor parar agora.
Dytto merece bem mais do que um escroto igual a você.
Ele estalou a língua.
— Tarde demais.
Senti meu rosto pegar fogo e avancei um passo em sua direção
enquanto jogava o maço de cigarro de qualquer jeito no chão.
— Não ouse tocar nela! Não vai usá-la para satisfazer as suas
vontades sujas — minha voz se sobressaiu e notei olhares de
algumas pessoas à nossa volta.
Christopher ligeiramente torceu o lábio e aproximou o rosto do
meu ouvido.
— Não tente me impedir. Sabe bem o que vai acontecer se
tentar qualquer coisa — sussurrou, ameaçador.
Então se afastou.
Não consegui reagir. Meu corpo estava tomado pelo choque de
suas palavras. Meu coração parecia quase explodir no peito.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

24 de Março | Domingo

Eu estava morrendo.
O meu corpo havia entrado em total colapso de um dia para o
outro. Como fumaça, todas as minhas energias evaporaram. Sentia-
me desorientada e alucinando acordada. Havia duas noites seguidas
em que eu não conseguia dormir e já estava entrando em uma crise
nervosa. Não fazia ideia de como tinha chegado a este ponto tão
rápido. Apenas havia caído em um completo estado de insônia.
Uma pequena e sombria voz dentro da minha cabeça estava a
me perturbar o tempo todo. Provocando-me a cair em delírios.
Eu sempre me cuidei, mantinha uma dieta saudável e uma rotina
estável, não havia motivos para que eu adoecesse assim. Porém, não
sentia como se isso afetasse somente o meu estado físico, contudo,
o meu psicológico e, de alguma forma, espiritual. Estava agonizando
dentro do meu próprio corpo e temia estar à beira da loucura.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ninguém da minha família pareceu ter notado a condição em


que eu estava, afinal, apenas saí do quarto quando já não havia
mais sinal de pessoas em casa, pois não queria assustá-los.
Minha mãe havia embarcado em uma viagem a trabalho hoje de
manhã e o meu pai estava participando de um congresso, deixando
o lugar livre apenas para mim e Loren, que também havia
encontrado algo para fazer no seu tempo livre.
Cansada de estar no sofá da sala, fiz o esforço que pude para
me por de pé e saí me arrastando como uma zumbi idiota e lenta até
a cozinha. Estava tão fora de mim que acabei tropeçando em meus
próprios pés.
— Merda! — Apoiei o corpo na parede ao sentir uma enorme
pressão me puxar para baixo.
Alonguei os ombros, os girando para trás e estiquei o pescoço
para os lados. Me recusava a cair, porém, me sentia cada vez mais
fraca ao lutar.
Meu estômago estava frágil e minhas pálpebras pesavam. Eu
não conseguia dormir, mas também não sabia como me manter
desperta. Estava atordoada com um amontoado de pensamentos
desconexos na cabeça que não conseguiam se encaixar e esse
sentimento me rasgava por dentro.
As paredes pareciam estar encolhendo, deixando-me
claustrofóbica e as vozes… elas pareciam gritar.
Numa rápida decisão, impulsionada pela minha irracionalidade,
tomei a chave do meu carro em cima do balcão e saí em direção à
garagem.
Em uma outra ocasião, sabia que essa era uma escolha
arriscada, mas eu precisava urgentemente sair daqui.

Minha mente adoecida me trouxe ao estacionamento do


supermercado. Nem mesmo prestei atenção ao caminho que estava

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

seguindo, apenas "acordei" quando desliguei a chave da ignição.


Durante 10 minutos seguidos, me vi parada dentro do carro,
encarando o local, sem conseguir enxergar nada com precisão.
Estava no modo automático quando saí. Não fazia a menor ideia do
que estava fazendo, parecia uma bêbada ambulante, sem o menor
controle de si.
Cambaleei com a chave do meu Sedan em minha mão. Me
segurava em capô por capô de cada carro por onde passava,
seguindo em direção a entrada. A sensação de desmaio me
dominava e minhas pernas fraquejavam. Eu estava tão exausta que
só queria fechar os olhos.
Meus lábios estavam ressecados e minha visão embaçada
parecia se dividir em várias. Ouvia as vozes dos poucos que
passavam por mim e notava brevemente a expressão preocupada no
rosto deles. Entretanto, ninguém realmente parou, mesmo que tudo
em mim implorasse por ajuda.
O estacionamento estava meio vazio, então supus que todos
deveriam estar dentro do supermercado, para onde eu tentava,
dolorosamente, chegar sem nenhum motivo aparente.
Já estava delirando. Meu coração acelerou e comecei a ficar
ofegante. A odiável e incômoda sensação aumentava a todo
segundo. Queria gritar por socorro e chorar.
Minha pele estava formigando e tudo em mim ardia.
Foi então que desabei de joelhos no chão, sem forças e confusa.
Pisquei várias vezes, olhando em volta. Não havia ninguém por
perto e eu não sabia o que fazer.
Eu queria tirar aquilo de mim, embora nem mesmo entendesse
do que se tratava. Desesperada, enfiei os dedos entre os cabelos, os
puxando com força. Meu peito subia e descia descontroladamente.
Gemi de dor enquanto arranhava os braços com força.
— Ajuda... Ajuda... — arfava fraca.
Como uma nuvem, a angustiante aflição me cobria, tirando-me o
ar. A pressão no meu peito se agravava juntamente de tremores que
surgiam inesperadamente.
O horror estava me dominando.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ergui a cabeça, e varri o lugar com os olhos, em busca de


alguém. Por coincidência, ao longe, avistei um rosto conhecido,
carregando o seu carro com sacolas. Ele não parecia ter me notado,
mas eu precisava urgentemente de alguém para me socorrer.
Engatinhando, consegui aos poucos me levantar e ficar de pé. Se
eu pudesse, teria corrido em sua direção, mas tudo o que consegui
fazer foi arrastar os pés até metade do caminho.
Quando seus olhos finalmente me avistaram, quase suspirei de
alívio. O garoto estava apático perante a situação, porém, deixou
suas coisas de lado para se aproximar. Ele caminhou até a mim
apressado, como se já soubesse que eu estava prestes a cair e me
segurou em seu braço.
Lágrimas escorreram depressa do meu rosto e comecei a soluçar.
Estava contente com a sua presença, ao mesmo tempo em que
estava desesperada.
— Chris... Chris, me ajuda — implorei fatigada, encarando os
seus olhos frios.
Sua outra mão tocou o meu rosto com gentileza e escorregou
devagarinho até o meu queixo. Ele então, curvou um meio sorriso
diabólico.
— Uma péssima hora para ter me encontrado, Dingo Bells. Não
acha? — murmurou enigmático, confundindo-me.
Christopher me observava atentamente enquanto seu olhar
vagueava por todo o meu rosto. Minha pele estava cada vez mais
molhada de lágrimas que rolavam sem cessar.
— Apenas relaxe, querida. Eu vou cuidar de você.
— Eu preciso que isso pare — sussurrei, fracassando ao deixar
que meus olhos se entrecerrassem.
Senti seu rosto roçar a minha bochecha e os seus lábios tocaram
levemente a minha orelha.
— Vai acabar logo, logo, eu prometo.
Sua respiração quente tocou o meu pescoço e provocou ondas
elétricas em todo o meu corpo.
— O que está acontecendo comigo? — arquejei em tom baixo e
quase ininteligível.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu a avisei. Não há nada que se mantenha puro ao entrar no


meu caminho. E a sua alma é doce demais para não ser provada.
Não fazia ideia do que Christopher falava, tampouco conseguia
ouvi-lo corretamente, e duvidava de que estava o escutando certo.
Esgotada, deixei-me adormecer e pendi o peso sobre os seus
braços.

De alguma forma eu sabia que estava em meu quarto, deitada


em minha cama, mas não fazia ideia de como havia voltado para cá.
O horrível sentimento de dor, loucura e cansaço haviam — felizmente
— chegado ao seu fim. Me sentia bem novamente.
Minha mente permanecia presa a um estado semiconsciente,
perdida na vasta escuridão. Entretanto, meu corpo se mostrava
indiferente, estava inquieto e ansioso, sentia-se sendo tocado em
todos os cantos.
Poderia estar apenas sonhando, mas conseguia jurar que havia
sentido enormes mãos me tocarem e deslizarem por entre minhas
coxas descobertas, causando-me arrepios. Uma breve sensação de
desejo crescia em meu íntimo à medida em que os toques se
intensificaram. De repente, me vi ansiosa, desejando por mais do
que quer que fosse aquilo. Esperando que continuasse. Excitada pelo
desconhecido.
Aparentava ser real demais para um sonho, mas, fantasioso o
suficiente para ser de verdade. A suposta pele era muito fria; como
se tivesse sido mantida muito tempo descoberta em um ambiente
gelado, e demonstrava se deliciar de cada pedaço do meu corpo.
Um toque sutil, porém molhado, deslizou sobre minha coxa,
subindo até o vão entre minhas pernas, próximo à minha virilha,
mexendo com cada célula do meu corpo. Automaticamente minhas
pernas fizeram menção a se fecharem, mas fui interrompida de o
fazer. Não conseguia abrir os olhos, mas se pudesse apostar, diria

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

que aquilo era o toque de uma língua escorregando em meu ponto


mais íntimo.
Me revirava de um lado para o outro no colchão. A sensação não
passava, parecia estar presa naquele sonho sem fim. Em uma
tortura lenta e deliciosa.
Notei quando suas mãos pousaram sobre minha cintura, e um
corpo pesado se debruçou sobre mim. A respiração quente atingiu a
minha pele de maneira gentil, porém, me afetou como um furacão.
Aquilo parecia se aproximar do meu rosto. Podia quase sentir
sua pele tocar a minha. Um toque suave e macio brincou com os
meus lábios, um beijo, eu diria. Tão rápido que mal pude entender o
que desejava.
Quem sabe, o que quer que isso fosse, estava apenas curioso.
Sua mão desceu até o meu quadril e deslizou para debaixo de
mim, agarrando a minha bunda e puxando-me para fazer pressão
contra seu corpo.
Sentia sua excitação por baixo do tecido áspero, tocando minha
intimidade desnuda e se aprofundando ali, com força.
Gemi baixo, molhada e desejosa.
Respirei fundo, sentindo o ar se encurtar em meus pulmões
quando, beijos molhados tocaram o meu pescoço e sugaram a
minha pele. A sua língua brincava de escorregar em meu pescoço,
subindo e descendo. Chupando e ansiando ter mais.
O desejo daquilo parecia falar alto o suficiente para me cobiçar
com todas as suas forças. "Ele" estava ofegante e excitado. Estava
se segurando, podia pressupor isso. Minha intimidade latejava, pois,
por alguma razão, eu vivenciava daquele mesmo desejo sujo.
Eu conseguia quase adivinhar o que aquilo sentia, parecia tão
forte, e me queria da maneira mais possessiva. Sua extrema
necessidade de mim fazia com que aquilo revelasse seu mais
profundo desejo em me tomar. Mas parecia cauteloso ao se
relacionar comigo daquele jeito.
— Bons sonhos, Dingo — sussurrou, e então, o peso sobre mim
desapareceu, deixando marcas de medo e espanto em minha mente
ao reconhecer o dono da voz.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

25 de Março | Segunda

Meus dedos escorregaram curiosos entre os velhos e escassos


livros da biblioteca da cidade. Havia explorado a sessão espiritual de
cima a baixo, mas não havia encontrado nada similar à minha
experiência.
Procurava por algo que me trouxesse respostas do que havia
acontecido no dia anterior. Obviamente não haveria nada nem perto
de ter o título "Descubra o porquê você teve alucinações com o cara
esquisito que sua irmã gosta" estampado na capa, porém,
continuava vasculhando tudo ali, como se, de repente, eu fosse
encontrar a solução.
Tudo estava muito estranho. Eu nem mesmo tinha certeza de
que havia saído de casa, e as câmeras de segurança de dentro e fora
da minha residência, simplesmente decidiram que não iriam me

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

mostrar nada. Todos os registros das gravações haviam sido


apagados por algum "erro no sistema".
Era quase como se ontem fosse apenas um borrão sem sentido,
ou um amontoado de sonhos aleatórios. Sentia que estava jogando o
jogo de alguém que parecia bem-preparado para manipular todas as
minhas ações.
Estava um pouco paranoica hoje, olhando por entre os ombros a
todo instante. Minha cabeça ainda estava meio desnorteada. Me
beliscava e rolava os olhos em volta do lugar a cada cinco minutos,
para ter a certeza de que eu realmente estava na biblioteca.
Abria livro por livro e folheava todos os capítulos, mas não havia
nada que mencionasse energia espiritual sendo sugada. Procurei
sobre almas, no entanto, havia apenas algumas passagens bíblicas
que não faziam muito sentido para mim.
Tinha quase certeza de que eu havia sido possuída. Talvez a
culpa fosse da minha imaginação fértil sendo regada pelo que
“alucinei” ter ouvido de Christopher.
A real era que tudo havia ficado de cabeça para baixo em minha
vida desde o momento em que ele apareceu.
No fundo, eu sinto que há algo muito, muito errado
acontecendo.
— Não vai levar nada, Dy? — a voz gentil atrás de mim me
assustou e estremeci.
Me virei atônica, com a mão sobre o peito, sentindo meu
coração disparado. E, pela forma que ele me encarava,
provavelmente eu estava pálida.
Não era para menos. Em pouco mais de 24 horas eu havia tido
sonhos lúcidos e eróticos com Christopher e possivelmente fui parar
em um supermercado de pijama. Nada ainda parecia real ou
confiável.
— Oi, Ben — consegui murmurar.
Ele consegue disfarçar a expressão intrigada em seu rosto e
curva um meio sorriso. Seu cabelo encaracolado recai sobre a testa,
enquanto os seus olhos amáveis mudam de direção, olhando em
volta, desconcertados.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Desculpe. Eu não queria te assustar — lamenta.


Adorava o jeito que Benjamin parecia um misto de rebeldia,
mistério e, ao mesmo tempo, timidez. É realmente fofo.
— Tudo bem. Eu só estava... — apontei para os livros as minhas
costas e balancei a cabeça —, sei lá, acho que procurando alguma
coisa.
Ele juntou as sobrancelhas e enfiou as mãos nos bolsos do seu
casaco preto.
— Para algo em particular? — Apontou com o queixo para o livro
de tradições espirituais que eu segurava em minha mão.
— Co-coisas para um trabalho escolar. — Pigarreio, nervosa
Ben me olha com desconfiança, mas resolve não rebater. Mentir
não é um dos meus pontos fortes e qualquer um com o menor nível
de percepção saberia.
— Quer ajuda? — oferece, aproximando-se da prateleira e
conferindo as obras ali.
Tombo a cabeça para o lado.
— Sabe algo sobre o mundo espiritual?
Ele se vira para mim.
— Para a escola? — pontua, curioso.
— Foi o que eu disse.
Ben confere seu relógio de pulso.
— São 10 horas, não deveria estar estudando?
Passo os dedos pelos lábios, sentindo minhas bochechas
queimarem de vergonha.
É. Eu meio que fiz um desvio no caminho para a escola. Estava
morrendo de medo de encontrar com Christopher. Definitivamente
não estava preparada para esse momento.
— Talvez...?
Benjamin solta uma risada discreta, exibindo seu lindo sorriso
para mim.
— Não sabia que curtia matar aula, Dy — brinca, bem-
humorado.
É, pelo visto, nem eu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele se estica e alcança um livro no alto da prateleira, tirando de


lá o objeto velho e empoeirado que eu ainda não havia notado.
— Provável que seja a coisa mais próxima da realidade que vá
encontrar nesse lugar. — Ele o estende e fazemos uma troca para
que Ben devolva o que eu estava em seu lugar.
— Por quê? — investiguei, espanando o livro com a mão, o que
consequentemente fez o meu nariz coçar.
— Os outros são medíocres e contam histórias que não tem o
menor cabimento. Às vezes eu penso em trocá-los de lugar para a
sessão infantil, mas ele ali… — apontou para o bibliotecário distraído
no balcão, que parecia ser apenas uns cinco anos mais velho do que
eu — está sempre atento a essas merdas. Ele acha mesmo que
essas histórias são reais. É um idiota, não, pior que isso, é um
ignorante que nem se dá ao trabalho de levantar a bunda do lugar e
descobrir do que merda esses livros falam.
Sorri com o seu desabafo.
— Não sei porque, mas eu sinto que você estava guardando isso
há muito tempo — comento em tom de brincadeira e denoto suas
bochechas ganham uma adorável cor rosa.
— Foi mal. É que eu vim de uma família cheia de médiuns e
espíritas. E eu odeio ver tanta mentira assim.
Essa é uma informação realmente relevante.
Se por algum acaso Ben decidir me ajudar a investigar seja lá o
que aconteceu comigo, pode ser que eu chegue em algum lugar. Do
contrário, terei mesmo que levar em conta a alternativa de ser
exorcizada.
— Tudo bem. Dá para entender a sua frustração. E a propósito,
valeu! — agradeci, balançando o objeto velho, com folhas que
pareciam estar se decompondo. Com sorte, conseguiria encontrar
algumas páginas inteiras.
— Não encana. Quer tomar um café?
Bingo! Aí está o que eu queria ouvir. Não é como eu estivesse
me aproveitando dele, de todo modo, foi ele quem me convidou.
— Adoraria! — Sorri.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Vem cá, que tipo de coisas você lê? — apoiei os cotovelos


sobre a mesa com curiosidade, sentindo a fumaça do café quente
preencher as minhas narinas.
— Tenho um gosto muito específico para leituras.
— Gosta de leituras sobre espíritos?
— Gosto de leituras sobrenaturais e sangrentas.
Ergo as sobrancelhas.
— Nada de romance, então?
— Há um pouco de romance nisso, não acha? — Ele leva a sua
xícara aos lábios, tomando um pequeno gole do seu café.
— Acha romântico o sangue? — questiono, confusa.
— A morte — corrige.
Batuco os dedos em meu rosto, pensativa.
— Ainda prefiro os meus romances bobos — digo.
— É claro! Tem final feliz e tudo.
— E para que alguém leria livro para ficar triste? A vida real já
não é monótona o bastante?
— Depende do ponto de vista. Tem gente que adora finais tristes
para sentir algo.
— Gente masoquista, é o que quis dizer.
Ele sorri, achando graça. Por um breve momento, o silêncio se
instala, levando-me a tomar coragem para levar esse assunto por um
caminho mais delicado.
— Ben — murmurei, apreensiva. — Tem uma coisa que eu
deveria ter dito a você.
Ele ergueu uma sobrancelha, curioso.
— Eu sinto muito por aquele dia na festa. Não queria que você
fosse envergonhado daquele jeito pelo…
— Christopher — concluiu.
— É — confirmei baixo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não se preocupe com isso. Ele adora essas brincadeiras


sádicas para constranger as pessoas.
— É. E adora ser um escroto também.
Benjamin ri.
— Só se mantenha longe de tudo que diz respeito a ele e vai ser
poupada.
— O que há de tão errado nele que todos sempre me avisam
para manter distância? — questionei, incrédula.
— Bem, você não vai querer realmente saber. Mas, resumindo,
ele é um cara infernal. De um jeito singular.
— Desculpa, Ben. Vou precisar que me conte um pouco mais do
que apenas isso — insisti e ele suspirou, apoiando as costas no
estofado de seu assento.
— Dytto, é… complicado, sabe? Ele não é como as outras
pessoas que você conhece. Christopher não pertence a nós, de certo
modo. Ele é deslocado, e vive no próprio mundo, um mundo cheio
de sombras e maldade. Ele não possui senso comum, é egoísta e
adora destruir tudo e todos que lhe der na teia. Tudo sempre se
trata de uma tortura física e psicológica para ele.
— Se ele é tão ruim, por que vive cercado de pessoas que
parecem o admirar tanto?
— As pessoas que geralmente andam com ele, parecem,
ridiculamente dizendo, “adorar ele”. — Ben faz aspas com os dedos.
— De um jeito bem insano — acrescenta, desconfortável.
Aperto os olhos.
— Tipo um deus? — indago, confusa.
— Tipo o Diabo — conclui. — É por isso que todo mundo sempre
alerta, não só você, mas a qualquer um, para permanecer bem
longe.
— Isso é meio complicado pra mim agora. Ele está estagiando
na minha escola — cochicho.
— Ah... mas que droga! —
— Pois é. Só espero que ele não alongue a estadia. Eu já não o
suporto mais — sopro frustrada, esfregando as mãos nas mechas do

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

meu cabelo. — Ele é tão esquisito, e me diz coisas que não fazem o
menor sentido.
Benjamin olha para baixo e cruza suas mãos uma na outra. O
clima parece denso agora, muito diferente de minutos atrás.
— Tome cuidado, Dy — sua voz soa tensa, enfatizando seu
alerta. — Ele provavelmente vai atrás de você para conseguir o que
quer, e depois que conseguir, vai sumir da sua vida. Se for esperta,
vai ficar bem longe dele.
— E o que ele quer? Sexo? — questiono com ceticismo.
— Talvez não seja só sexo — sussurrou, tão baixo que precisei
me esforçar para ouvi-lo.
— E o que mais poderia ser? — minha voz falhou ao dizer.
Eu não queria ter que pensar nas possibilidades e acabar
descobrindo que poderia ser a pior delas, mas estava nervosa e
desesperada por uma luz.
Benjamin forçou um sorriso nos lábios, fingindo um bom ânimo
que não parecia existir ali.
— Vai ver ele só quer tirar a sua paciência, Dy — desconversou,
levando a sua xícara aos lábios e se demorando mais nela desta vez,
como se quisesse fugir do assunto.
— Na melhor das hipóteses, certo? — sondo, apreensiva.
Benjamin deixa que o ar escape de seus pulmões, incerto.
— Apenas seja desinteressante para ele.
— Pensei que eu já fosse desinteressante o suficiente, mas acho
que foi isso que o fez se interessar — murmuro. — Aparentemente a
minha alma é muito “pura”.
Por um instante, Benjamin parecia concentrado em seus
pensamentos. A testa franzida e os olhos estagnados. Até que suas
sobrancelhas saltaram e seu olhar se iluminou.
— Faça o oposto até ele perceber que você mudou.
— O quê?
— O desafie, Dytto. Faça ele ver que não há mais nada que
precise ser feito. Mostre-se impura e obscena. É no que ele quer te
transformar, não é?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

25 de Março | Segunda

— O que é, o que é… — Loren cantarolou, entrando de fininho


em meu quarto — Que… do nada: faltou uma missa — ela contou no
dedo —, matou aula — contou com um segundo dedo —, e está se
escondendo da irmã na cara dura? — finalizou em um terceiro.
— Essa eu sei! — Ergui o braço com empolgação — Uma garota
que precisa urgentemente de férias.
— Oh, não! Errado. É uma garota que está precisando contar
para a irmã uma porrada de coisas.
Revirei os olhos.
— Ainda prefiro a minha resposta — contesto.
Loren se jogou em minha cama, interrompendo a leitura que
Benjamin indicou. Eu havia acabado de dar início, mas estava
começando a considerar esquecer essa teoria estúpida e fazer logo

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

um teste toxicológico, porém tinha medo de que meu pai


descobrisse e viesse fazer perguntas, eu não saberia o que dizer.
Ele estava sempre dentro do hospital, e era quase impossível
não o contarem sobre. E mesmo que eu decidisse ir a algum outro,
ele saberia por seus amigos.
Médicos são quase uma máfia que atuam em conjunto para
dedurar filhas de outros médicos. Acho que isso deve ter feito parte
do juramento deles: Prometa sempre fuxicar quando a filha de um
médico for fazer algum exame meramente suspeito.
Eles não deviam, mas todos os médicos que eu conhecia, já
haviam dedurado algo sobre mim ou Loren para o meu pai.
— Então, pequena tigresa, o que a faz pensar que não deveria
ter me avisado sobre o “Gostoso e… alto e… tesudo…” Ahn, espera
aí, aquelas garotas também tinham dito algo mais. — Loren fingiu
pensar por um segundo e continuou: — ISSO. Elas também haviam
mencionado, “…e tatuado estagiário Christopher que não parava de
encarar uma senhorita chamada Dytto na sala de aula”.
Meu rosto se acendeu e precisei escondê-lo, deixando que
algumas mexas caíssem propositalmente em minha frente para que
Loren não visse a vergonha e o constrangimento estampados em
minha cara.
Merda!
— São muitos adjetivos para uma pessoa só, não acha? — tento
minimamente disfarçar, mas a minha voz vacila.
— Ah, são sim. Mas o que eu mais ouvi falarem pelos corredores
foi algo como: “Ele parecia comer ela com os olhos durantes as
aulas, e só queria se sentar perto dela o tempo inteiro”.
Arrepios percorreram do meu dedo mindinho até a raiz dos meus
cabelos.
— Que mentes criativas. — Engoli em seco.
— É, talvez elas façam muito sucesso se fizerem uma fanfic no
Wattpad — ironizou, parecendo meio irritada.
Cansada desse joguinho, deixei o livro de lado e soltei um
suspiro.
— O que quer eu diga, Lô? — rendo-me.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu? Nada. — Ela age com indiferença, balançando os ombros.


Odeio quando é ela quem age como a irmã mais nova e birrenta.
— Ok. Eu sinto muitíssimo por não ter te contado, está bem?
Deveria ter te avisado? Sim. Mas não avisei para te proteger. Eu juro
que não foi por mal.
— Não avisou o que exatamente, Dytto? — Ela semicerrou os
olhos.
— Que Christopher estava na escola? — respondi incerta.
— Eu não estou nem aí para isso. Só queria que tivesse me
contado que aquele filho da mãe estava no seu pé. — Ela se senta
bruscamente na cama, virada para mim. — É por isso que tem
estado distante desse jeito? Dytto, ele te machucou? Se ele te fez
algo, eu juro por tudo que eu o mato.
— Só fique calma, está bem? Está tudo certo. Ele só… se sentou
próximo de mim porque eu precisava de ajuda e, sinceramente, eu
acho um grande exagero dizer que ele ficou me olhando o tempo
inteiro. — Sorri nervosamente.
Mentiras e mais mentiras.
Acho que, no fim, Christopher está mesmo me moldando para
ser exatamente o que ele queria que eu me tornasse, sem nem se
esforçar. Mal o conheço e agora eu tenho uma pequena carga de
mentiras e segredos se enchendo lentamente.
— Fala sério, Dy! É claro que não é só isso. Christopher tem
interesse em você. Não seja ingênua.
Reviro os olhos e tento ignorar o pequeno frio na barriga que
senti ao ouvi-la dizer isso. Um rápido lapso de memória das mãos de
Christopher tocando o meu corpo com indecência me vem à mente e
estremeço. Tento não parecer afetada e mantenho meu olhar preso
ao seu.
— Para. Isso é só a “Loren preocupada” tentando agir como se
fosse a minha mãe. Por favor, volta ao normal e aí nós conversamos
como duas IRMÃS civilizadas, está bem? — Levei minha atenção ao
meu celular.
Por soslaio, notei que ela me encarava como se fosse arrancar
todos os meus dentes de uma só vez, mas vendo que eu não iria

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

dizer mais nada, decidiu me escutar. Por alguns segundos Loren


apenas inspirou e expirou, repetindo a tarefa por mais algumas
vezes, até que finalmente pareceu encontrar alguma calma dentro
de si.
— Dytto — sua voz soou falsamente mais leve.
— Sim, querida? — respondi ainda mais suave.
— Ouvi dizer que tem um garoto mal-intencionado te encarando
pela escola. Poderia, por favor, me avisar se ele tentar algo contra
você, apenas para que a sua… — ela aponta para si — irmã, que já
conhece o longo histórico de coisas ruins que esse garoto mal-
intencionado já fez na vida, possa ter a chance de arrebentar a cara
dele. Hum? — ela finaliza jogando-me uma piscadela.
— Loren — repeti o gesto.
— Sim, querida?
— Poderia, por favor, me contar desse longo histórico para que a
sua… — apontei para mim — irmã, saiba lidar com isso sozinha
como um ser humano normal faria? — Rebati com outra piscada.
Loren estreitou os olhos e balançou a cabeça, cética.
— Saco! — resmunga.
Sorri com cinismo.
— Uma barganha de alto nível — zombei, vendo-a ficar vermelha
de raiva.
— Quer saber. Eu não estou nem aí. — Ela se levantou.
— Ei! — reclamei, mas quando um sorriso perverso surgiu nos
seus lábios, percebi que ela estava só me enrolando.
— Você está em total desvantagem, Dy.
— Estou, é?
— Está. Agora vem, nós vamos sair.
— O quê? Para onde?
— Festa. Você está enjaulada aqui dentro já faz um século.
— Não seja exagerada.
Loren me ignora e caminha até o meu closet, arrancando de lá
uma variedade de roupas, em maioria, peças roubadas do guarda-
roupa dela.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— De jeito nenhum! — berrei ao constatar o meu reflexo no


espelho.
— Ficou ótima — Loren discordou deitada em minha cama,
distribuindo o peso do corpo nos cotovelos.
Ela já está pronta, vestida em uma camiseta cinza, curta e uma
minissaia pregada, parecida com a minha.
— Está um frio do caramba hoje. Eu não vou com isso, essa saia
não cobre nem a metade da minha bunda — reclamei, virando para
os lados enquanto puxava o tecido para baixo.
— Não vejo nada de fora.
— Ah, jura? Daqui eu consigo ver a minha vagina inteira sem
nenhum esforço — rebato e ela balança a cabeça.
— Estamos indo para uma festa, não para um convento.
— Que bom que me lembrou que estamos indo para uma festa,
porque com essa roupa que você escolheu, poderia jurar que
estávamos indo nos prostituir.
— Você tem 17 anos, Dy. Essas coisas não vão ficar levantadas
para sempre. Vai me agradecer quando estiver tudo murcho e você
ter tido a experiência de mostrar enquanto ainda estava duro.
— A minha bunda não vai ficar murcha — protestei.
— Eventualmente, a de todo mundo vai.
Faço careta.
Tento me conformar com o fato de que realmente irei com essa
roupa, apesar de ser completamente desconfortável. Por outro lado,
é uma boa hora para ser um pouco mais ousada, assim como
Benjamin me aconselhou.
Acho que se eu fingir bem o bastante que sei ser diferente,
talvez consiga começar a agir um pouco mais “vulgar” perto de
Christopher sem que pareça algo mecânico.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Quem sabe assim, ele note que eu não sou nenhuma “Santa
puritana das virgens” que me julgar ser e finalmente me deixe em
paz.
— Eu vou morrer de hipotermia e a culpa é toda sua — reclamei
uma última vez antes de sairmos.

— Vem cá, por que demoraram tanto? — Claire advertiu assim


que nos recebeu na porta de sua casa.
— Dytto não queria vir. Precisei suborná-la — Loren confessou
com pressa, sem sequer me dar a chance de tentar explicar.
Lancei-lhe um olhar acusatório, mas não surtiu o menor efeito.
— Como sempre, não é, Dy? — a ruiva brincou.
— O que posso fazer se nasci com defeito — disse e ela riu.
— Vamos, tem um montão de gente no jardim.
Caminhamos juntas em direção ao fundo da casa, onde um rock
metal já tomava conta do ambiente, explodindo em nossos ouvidos.
Dentro da enorme piscina, no centro do jardim, estava uma
parte dos convidados. Na lateral esquerda, alguns brincavam com
uma grande bola colorida, enquanto outros flutuavam alheios em
cima de boias, com cigarro de maconha na mão.
O resto se mantinham espalhados. Uma porção na parte da
churrascaria, e a outra deitada na cama balinesa, visivelmente
alterados.
Claire não vinha de uma família rica. Aos 11 anos, sua mãe —
uma simples dona de casa — conheceu um milionário, por quem se
apaixonou e acabou casando-se, desde então, ela acabou sendo
inserida em um nível social bem mais alto, porém nunca deixou que
isso lhe subisse à cabeça, pelo contrário. Ela e o seu padrasto se dão
muito bem e, algumas vezes, ele cede a sua majestosa casa para
que ela faça festas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Marcos, como sempre, foi o primeiro a se aproximar de nós. Ele


cumprimentou Loren com um leve aceno desinteressado, mas
quando me notou um pouco mais escondida e envergonhada atrás
dela, seus olhos foram tomados por um certo tipo de interesse e sua
boca se abriu em surpresa.
— Caramba! — murmurou, antes de beijar a minha bochecha e
me abraçar.
Com certeza o garoto está exagerando para puxar o meu saco.
Finjo não tê-lo escutado, já que a menor brecha significaria —
para ele — que estou perdidamente apaixonada. Marcos é meio
carente.
— Caramba, só tem gente feia aqui — Loren cochichou,
franzindo o nariz em uma careta enquanto vasculhava o quintal com
os olhos.
— Tem eu para salvar — Marcos disse, afastando-se de nosso
abraço.
— Como eu ia dizendo, só tem gente feia aqui — Loren repetiu,
encarando-o. Marcos revirou os olhos, mas não se demorou nisso,
logo saiu para cumprimentar seus amigos, que haviam acabado de
chegar, com a mesma animação de antes.
— Vamos pegar bebidas. — Claire avisou, pegando a mão de
Loren, no entanto, parou por um momento e me olhou, como se
apenas por educação.
— Eu vou ficando por aqui — respondi, antes mesmo de ela
perguntar.
Nada surpresa com a minha resposta, a ruiva assentiu e saiu
arrastando a minha irmã.

26 de Março | Terça-feira

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Já passavam um pouco mais das duas da madrugada. Loren


bebeu a beça e agora estava dançando uma música eletrônica com
Claire em meio à multidão. Eu não me sentia confortável em fazer o
mesmo, mesmo que tivesse planejado me soltar um pouco mais.
Depois da meia-noite, a casa lotou de pessoas que haviam
acabado de chegar. O som fora aumentado e uma grande agitação
se formou.
Estava sentada entre Marcos e Joshua no deck da escada que
dava acesso ao jardim. Não havia muitas pessoas à nossa volta, o
que era realmente legal, já que eu preferia lugares reservados
Me sentia indiferente aos outros, que pareciam genuinamente
estarem curtindo. Pensei em beber, mas se eu o fizesse, não poderia
dirigir, tampouco a minha irmã, que já estava em um estado caótico
de álcool. No fim das contas, eu devo mesmo agir como o tipo de
garota que Christopher me julga ser. O que só me deixa ainda mais
irritada.
— Vocês dois estão com cara de quem vão morrer de tédio a
qualquer momento — Joshua comentou, levando a sua cerveja aos
lábios.
— Não estou com estômago para bebidas, então estou me
comportando — Marcos respondeu, irritado.
— E você, Dytto? Não vai conquistar nenhum cara hoje? Adoraria
ver outro duelo entre os machos alfas que você atrai — Joshua
zombou, segurando o riso.
— Esquece isso — murmurei envergonhada.
Não aguentava mais pensar na discussão de Benjamin e
Christopher, como se eu fosse lá um grande prêmio. Em parte, ainda
sentia raiva por ter deixado a Torre Tatuada tomar grande liberdade
comigo na frente de todas aquelas pessoas.
— Bebe algo ao menos. Ninguém merece ter que ficar de babá
para a irmã mais velha — Marcos resmungou, encarando Loren
dançar até o chão agarrada em um cara.
— Não posso, tenho que nos levar para casa ainda vivas —
murmurei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Se você quiser, eu posso levar vocês — Marcos se ofereceu, a


voz baixa e lenta, carregada de malícia.
De canto de olho, vejo um sorriso maroto surgir nos lábios de
Joshua, como quem sabe o que o moreno ao meu lado está
aprontando algo.
— Não precisa. Eu me viro com Loren — respondi seca.
Ele, no entanto, pareceu não perceber e colocou a sua mão em
cima da minha coxa desnuda.
Odeio minissaias.
— Está bem. Mas se quiser, podemos ir para algum quarto. Aqui
fora está bem frio — sussurrou.
Eu poderia estar morrendo congelada agora mesmo, e ainda
assim não iria a lugar nenhum com ele.
Minhas bochechas estavam ardendo de vergonha e os meus
olhos arregalados.
Joshua, que nos assistia em silêncio, já estava com o rosto
completamente vermelho pelo esforço que fazia para não rir, em
contrapartida, Marcos me olhava como um ator pornô prestes a fazer
algo obsceno.
— Eu acho melhor se continuarmos aqui — declarei, afastando a
sua mão.
— Por mim, tanto faz — cochichou baixinho.
Joshua soltou uma risada nasal e rapidamente emendou uma
tosse como desculpa de ter se engasgado.
— Cara, toma cuidado aí — Marcos o alertou, ainda sem captar o
que estava rolando.
Tinha quase certeza de que ele não estava cem por cento sóbrio
como afirmava. Me assustei quando senti os seus lábios beijarem o
meu ombro e rapidamente me afastei.
— O que está fazendo? — indaguei, retraída.
— Só te fazendo carinho — respondeu, para a minha
incredulidade.
Abri a boca para argumentar, mas vendo a situação em que eu
estava, apenas balancei a cabeça.
— Eu vou ao banheiro — alertei, prontamente me pondo de pé.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Joshua não se aguentou e escondeu o rosto entre as mãos,


abafando a sua gargalhada.
Saio dali com passos rápidos e apressados para dentro da casa.
Sem nenhum destino e apenas procurando uma rápida fuga, vou em
direção à cozinha, mas ao colocar os pés na entrada, me deparo com
a última coisa que eu gostaria de ver.
Christopher
Com
Outra
Garota
Aos beijos.
A minha surpresa fora tão grande que minha visão, por um
segundo, tornou-se turva.
A garota loira estava de costas para mim, apoiada no balcão no
meio da cozinha, com Christopher agarrando violentamente os seus
lábios enquanto prensava o seu corpo com dureza. Ele mantinha
uma de suas mãos atrelada aos cabelos dela e a outra cobria quase
toda a garganta da garota com a sua enorme mão.
Engoli em seco, sem conseguir lembrar-me como se movia.
Meus batimentos cardíacos batiam num ritmo desenfreado e de
maneira desregular. Não sabia ao certo o que fazer diante daquilo,
mas me sentia enojada.
Eu estava odiando presenciar essa situação com todas as minhas
forças. Quando ele notou a minha presença, afastou o rosto
devagarinho e sorriu de canto para mim.
Tentei reagir, mas me mantive paralisada. Eu não fazia ideia se ia
até a geladeira, pegava algo e saia, ou se simplesmente ia embora.
Christopher não me dava muitas escolhas, senão agir como uma
completa idiota que sempre caia na sua intimidação.
Senti arrepios percorrerem toda a minha pele e abracei o meu
próprio torso.
A minha mente insistia em relembrar os seus toques íntimos em
mim. Sabia da possibilidade de ter sido tudo uma grande alucinação,
mas parecera tão real que me tirava o juízo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele sussurrou algo para a garota e ela prontamente se virou em


minha direção.
Agora eu tinha dois pares de olhos me encarando. Que beleza!
— Eu vim buscar cerveja — expliquei, desconcertada.
Christopher me encarava desacreditado, como se eu tivesse dito
que vim buscar um alien na cozinha. A garota, no entanto, apenas se
mantinha curiosa sobre a minha presença.
— Pode pegar a sua bebida, então — ele disse, a voz provocativa
e baixa.
Seus olhos verdes cravaram em mim com indecência e se
fixaram sem desvios. Até a sua “amiga” notou e tentou buscar por
sua atenção, mas fracassou, visto que Christopher pretendia priorizar
o seu jogo sádico comigo.
Fui com passos em falso até a geladeira que, por sinal, estava
bem abastecida de álcool. Eu não queria uma cerveja, nem mesmo
gostava do sabor, porém, mesmo assim peguei a primeira garrafa
que vi.
Eu só precisava sair logo daqui, mas, ao me virar, o encontrei
observando o tamanho da minha saia com reprovação, suas
sobrancelhas estavam franzidas e a expressão séria. Seu olhar subiu
bem devagar, até pousar em meu busto. Agilmente o cobri com os
braços, vendo isto ele achou graça.
— Eu vou para o jardim — a garota informou, frustrada e saiu
pisando duro.
Christopher não se deu ao trabalho de se despedir ou protestar,
ele nem mesmo parecia ter se importado com isso,
— Venha aqui, eu abro para você — disse firme, apontando
sutilmente para a garrafa em minhas mãos.
Balancei a cabeça, negando. Eu não iria mover os pés dali,
estava com medo agora que só havia nós dois no mesmo cômodo.
Sentia meu rosto enrubescer e o meu estômago revirar-se de
ansiedade. Minha respiração falhou e me encolhi no lugar.
— Uma hora, não vai ter mais que se esconder de mim —
provocou, como se isso fosse uma promessa.
Franzi o cenho, olhando-o confusa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você faltou à escola — comentou aborrecido.


Christopher estava irritado comigo. De modo que, faltar, teria
sido um grande desrespeito a ele.
O que é que ele queria desta vez?
— Não me sentia bem — sussurrei.
Seu olhar ganhou intensidade, estava mais sombrio agora. Ele
apoiou seus braços fortes no balcão, tensionando seus músculos e
salientando-os.
Mais uma vez engoli em seco, sentindo uma pequena queimação
surgir entre o meio de minhas pernas. Perdida em um transe, me vi
fascinada pelo seu corpo.
Ligeiramente, meu olhar subiu e desceu pelos seus braços cheios
de veias e tatuagens. Seus cabelos negros estavam bagunçados de
um jeito selvagem, e suas roupas eram de um estilo mais pesado,
combinando com o que sua personalidade transparecia, porém
menos vulgar do que ele era, ou então estaria completamente nu.
Continuei estática no lugar. Se mexer certamente não é mais
uma opção aqui, pelo menos, não quando ele me olha assim. De
forma que mandasse em mim e definisse que é ele no comando, não
eu. Me desafiando com esses olhos afiados e maldosos.
Seu foco estava inteiramente em meu rosto, sempre ardente e
furioso.
— Por que faltou? — interrogou, grave.
De repente, senti-me como se estivesse levando um esporro de
um chefe de trabalho.
Balancei a cabeça.
— Eu já disse que...
— Não. A verdade, Dingo. Eu quero a verdade — exigiu bruto.
Ergui uma sobrancelha. Agora era eu quem estava tomada pela
raiva.
— Eu não te devo satisfação — ousei dizer, o que rapidamente o
fez erguer o seu corpo.
Seu breve movimento fez meu coração pulsar mais forte no
peito.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher começou a andar em meu rumo e, agindo por


impulso, recuei vários passos de uma só vez. Sem calcular para onde
ia, bati a cabeça na geladeira.
— Ouch! — gemi de dor, levando a mão de encontro ao local.
Christopher rodeou seu braço em minha cintura e me puxou
para ele. O nervosismo tomou conta de mim e a minha boca ficou
seca. Minhas pernas agora davam a impressão de que a qualquer
momento cederiam e eu cairia no chão.
Ele segurou a minha nuca e minuciosamente analisou a minha
cabeça, enfiando seus grandes dedos entre o meu cabelo e
afastando os fios ali. Tentei me mover, mas ele me apertou com
força em seu braço.
— Não cortou — concluiu baixo. — Não se afaste de mim
novamente, Dingo Bells.
— Não precisa ficar atrás de mim toda hora, sabia? — Me
mantive determinada, precisava manter a voz de Benjamin presente
em minha cabeça e rezei para que ele estivesse certo.
— Não, é? — sussurrou diabólico.
Ele tocou o seu corpo no meu e, devagarinho, aproximou seu
rosto do meu ouvido. Sua respiração quente reverberou em minha
pele e automaticamente fechei os olhos.
— Não acha que essa saia está curta demais, Dingo? —
sussurrou, sua mão escorregando devagarinho em minha coxa, e
então deliciosamente subiu por entre o meio de minhas pernas, até
topar com a minha calcinha.
— Porra… — suspirou em meu ouvido.
Eu já estava ofegando. Presa à sua sedução, ao seu toque tão
presente em meu corpo, ao seu cheiro delicioso, forte e amadeirado,
aos seus dedos curiosos e possessivos. Sem pensar, coloquei minha
mão sobre o seu membro sob o jeans, senti-o duro e quase o
larguei, mas o encarei séria, como quem diz “Eu também sei fazer”.
Meu corpo estava tremendo, mas apertei com um pouco mais de
força. Mesmo morrendo de vergonha e assustada, encarei-o
diretamente.
— Quer mesmo brincar disso? — ele disse sorrindo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Se você pode, eu também posso — minha voz fraquejou e


caiu um tom ou outro, mas fiquei feliz em ao menos tê-la terminado.
— Acho que ainda não teve tempo para se acostumar comigo,
não é?
Suas pupilas estavam dilatadas e vividas. Seu dedo lentamente
afastou a minha calcinha para o lado e o senti deslizar por entre os
lábios de minha boceta. Ele esfregou seu dedo ali apenas para me
provocar.
Quanto mais eu agia na defensiva, mais isso o motivava. E
quanto mais indefesa eu ficava, mais excitado ele ficava. De toda
forma, tudo se tornava combustível para ele.
— Esse lugar me parece muito convidativo, ainda mais assim…
tão molhado — sibilou.
Um tremor percorreu todo o meu corpo, me fazendo delirar. Um
pequeno e baixo gemido escapou de meus lábios.
Christopher encostou seus lábios no canto de minha boca, e o
senti sorrir.
Ele pressionou o meu clitóris e friccionou o dedo ali. Em seguida,
deslizou o seu dedo até a minha entrada, fazendo menção de se
enfiar, mas não o fez.
— Sabe a melhor parte, querida Dingo Bells? — perguntou
risonho.
— O quê? — ofeguei.
— Você nunca vai conseguir me enganar. — Ele riu. — Te
encontro quando estiver sozinha.
Christopher repentinamente se afastou, causando-me
atordoação.
Ele deslizou seu dedo — que há poucos segundos estava em
mim — nos seus lábios, molhando-os com meu líquido. E então,
saiu.
Apoiei minhas mãos em meus joelhos e precisei puxar o ar com
força. Meu cérebro parecia completamente sem oxigênio e minha
cabeça rodava.
Mas que droga foi essa? Isso não deveria ter acontecido.
Definitivamente não devia!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

26 de Março| Terça-feira

Ele está aqui.


Desde que chegamos da festa, fiquei ociosa com o que poderia
acontecer. Deveria ter sido apenas um sonho indecente com ele,
mas, conseguia sentir o seu peso atrás de mim, deitando-se em
minha cama.
Não conseguia me virar, nem mesmo se quisesse, meu corpo
estava inteiramente paralisado de medo.
O primeiro toque foi gentil e suave, seus dedos deslizaram
suavemente pelo meu maxilar, entretanto, não abri os olhos, ou só
encontraria a vasta escuridão do quarto, mas sabia que ele estava
logo atrás de mim.
Sua pele, já não era mais quente como hoje cedo, agora estava
fria.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sua mão vagarosamente desceu pelo meu braço, em seguida,


rumou à minha cintura, ao meu quadril, e então, à borda do meu
pijama. Ele o subiu devagarinho e meu corpo tremeu em resposta.
Aquilo estava bom e, inconscientemente, desejei por mais.
Estava sedenta por seus toques. Mesmo que me causassem medo.
Ou talvez, fosse por esta razão que me sentia tão afetada em
lugares que não deveria.
Isso é só um sonho — repetia a mim mesma mentalmente,
várias e várias vezes, só assim conseguiria conter a ansiedade
crescente em meu íntimo.
Agora, com meu pijama erguido, sua mão se espalmou em
minha bunda e a apertou, meu coração imediatamente tornou-se
eufórico dentro do peito.
E, como mais cedo, ele encontrou a minha calcinha. Senti meu
rosto corar e minha respiração ficar ofegante.
Seu dedo se esfregou em minha entrada, ainda por cima do
tecido de algodão.
Deixei um murmúrio baixo e retido escapar de minha garganta, e
isso o deixou louco, seu toque em mim se tornou mais intenso, podia
sentir sua respiração alta.
Ele estava sedento por mais.
Pouco a pouco, ele puxava a minha calcinha para baixo,
deslizando-a sobre minhas pernas, e então, se livrou por completo
do tecido. Eu estava em transe, com receio de mostrar que estava
acordada, o que eu desconfiava que ele já soubesse.
Christopher, ou o que quer que estivesse ali, se acomodou atrás
de mim e ergueu a minha perna, deixando-a sobre a sua coxa atrás
de mim. Eu estava completamente acessível para ele.
Apertei os dedos no lençol da cama e comecei a respirar mais
rápido. Não estava mais com medo, entretanto estava nervosa, sem
saber o que poderia acontecer.
Aquilo deslizou seu dedo sobre minha intimidade; que latejava
impiedosamente, esfregando-se ali.
— Seria tão fácil entrar em você, Dingo — ele sussurrou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Arfei, atônita e ele riu baixinho, encostando sua cabeça na


minha. Sua temperatura me atingiu, e meu corpo inteiro se arrepiou.
Ele estava tão gelado agora.
— Chris… — minha voz soou arrastada e sedenta.
Ele arranhava o meu pescoço com os seus dentes, causando-me
deliciosas sensações.
Sua mão pousou em minha barriga descoberta, e então desceu
em direção à minha virilha, remexi-me na cama ao notar que ele
continuava movendo-a para baixo, até que alcançou toda a minha
intimidade.
Christopher cobriu toda a minha parte íntima com a sua mão e,
em seguida, suponho que, com o dedo do meio, o escorregou para
dentro de mim.
Abri a boca em um gemido silencioso e enfiei meu rosto no
travesseiro, sentindo-o invadir a minha intimidade e deliciando-me
com isso. Uma sensação estranha, mas prazerosa, percorreu o meu
corpo. Por instinto, fechei as pernas e me contrai, em consequência,
apertando seu dedo frio dentro de mim. Não que eu não quisesse,
mas tive espasmos ao senti-lo.
Sua língua brincou com a ponta da minha orelha e desceu até o
meu pescoço, ele fez movimentos de vai e vem com seu dedo,
dentro da minha boceta e apertou sua intimidade contra a minha
bunda.
— Eu disse que seria fácil, está toda melada — murmurou.
Acordei num impulso e sentei-me na cama, suada e ofegante. O
coração batendo feito louco. O sol já iluminava as frechas da janela,
pintando o quarto com raios de luz. Segurei-me nos lençóis da cama
para não cair para os lados e puxei uma grande lufada de ar, como
se estivesse afogando no mar e finalmente emergisse.
Meus braços e costas doem muito, de modo que estivessem sido
eletrocutados. A dor se torna tão insuportável que começo a chorar
alto, feito uma criança que acaba de se machucar.
Demora poucos segundos para que a porta do quarto se abra
com mamãe e papai me olhando preocupados. Papai acende a luz e

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

passa os olhos por todos os lugares, mamãe corre em minha direção


para me analisar.
Tento dizer algo, mas tudo o que sinto é dor. Ambos ainda estão
de pijama, creio que os dois tenham chegado não faz muito tempo,
pois aparentam cansaço em suas feições.
— Ei, estou aqui — minha mãe murmurava enquanto beijava a
minha testa, abraçando-me com força.
Papai analisa todo o quarto, embaixo da cama, dentro do closet,
checa as fechaduras, e, apenas quando determina que ninguém
invadiu, é que se senta ao meu lado.
Abraço o meu torso, trêmulo e dolorido, na falha tentativa de
apaziguar essa sensação horrorosa. Minha intimidade não doía,
porém todo o meu corpo parecia pesar e arder.
Loren surgiu na entrada da porta, de olhos arregalados e os
cabelos arrepiados.
— O que que foi? Aconteceu alguma coisa? Dytto, você está
bem? — metralhou de uma só vez.
Quando viu que eu não conseguia responder, intercalou o seu
olhar confuso entre nossos pais. Mas eles também não sabiam o que
dizer.

— Tem certeza de que já está bem? — mamãe perguntou,


sentada à mesa, com todos nós tomando o café da manhã.
— Tenho, foi só um pesadelo — murmuro baixo.
Papai e mamãe relaxam, mas Loren ainda parecia desacreditar.
Ela me investigava minuciosamente com os seus olhos, mas não
perguntou nada.
— Da próxima vez, não esqueça de rezar antes de dormir —
papai avisa.
— Claro — sussurro.
— Tem certeza mesmo de que está bem?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Estou, mãe.
— Você parecia aterrorizada quando entramos no seu quarto.
Com o que estava sonhando? — papai questionou.
Balanço a cabeça.
— Eu sei lá, eu só... não me senti bem, ok?
— Vou checar as câmeras de segurança, quero ter certeza de
que ninguém entrou aqui dentro.
— Pai, eu já estou bem — reafirmo, mas ele não parece
convicto.
Solto um suspiro cansado.
— Vem, eu te levo para a escola — Loren avisou.
Acenei para os nossos pais em despedida e saímos as duas em
direção à garagem, mas antes mesmo que pudéssemos entrar em
seu carro, Loren me interrompeu.
— Você disse que queria saber quem é ele, não é? — pontuou,
séria.
Friso as sobrancelhas.
— Do que está falando?
Seu rosto estava sem expressão quando me olhou diretamente
nos olhos.
— Me pediu para contar sobre Christopher. Quer mesmo ouvir?
Engoli em seco, sem entender como ela havia chegado aquela
contestação.
— Por que agora? — minha voz parecia querer prender-se a
garganta.
— Me diga que não foi com ele que sonhou.
Minhas bochechas esquentaram e minha respiração tornou-se
sôfrega.
— Vamos. Vou te contar uma coisa ou outra sobre ele — decidiu,
vendo que não haveria respostas da minha parte.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Loren toma mais um gole do seu café expresso.


Estamos as duas sentadas no meio fio de uma rua distinta e
quieta. Um fino e ralo chuvisco recai sobre nós sem alarde. Nuvens
escuras vestem o céu e o som de folhas rasgando o asfalto se faz
presente, avisando-nos de uma bela chuva por vir. Se demorarmos
muito aqui, só servirá para nos molharmos.
Ela suspira alto, como se o que fosse me contar exigisse muito
de si. Seus ombros estão curvados e a cabeça baixa.
— Dy, eu preciso que me diga se sente algo por ele — sua voz
se torna um murmúrio triste.
Uno as sobrancelhas.
— Eu não...
— Por favor, seja sincera! — pede, desta vez olhando-me
diretamente nos olhos.
Balanço a cabeça.
— Eu realmente não sinto nada por ele, Lô. — Eu queria ter dito
isso com tanta firmeza que eu mesma acreditasse, mas dizer em voz
alta só serviu para me afundar em dúvidas e culpa.
Havia algum sentimento de minha parte por aquele garoto
imprudente? Eu não tinha certeza. Já não tinha mais certeza de nada
há um tempo.
Ela umedeceu seus lábios, não muito confiante da minha
resposta, mas, a contragosto, assentiu.
Loren corrige a sua postura e vira-se em minha direção. Meus
dedos doem com a pressão que faço entre eles, apertando-os, a fim
de controlar o nervosismo.
— Como já deve ter percebido, Christopher é um garoto muito
complicado. — Ela solta um riso amargo e batuca os dedos em seu
copo de café, prendendo sua atenção ao asfalto à nossa frente.
— A família dele meio que tem... lendas.
Faço careta e ela sorri.
— É, eu sei. Mas não tem um jeito menos ridículo de dizer isso.
A família dele é muito, muito rica, mas não sabemos ao certo o
quanto, só sabemos que os antepassados dele vieram do Japão e
que, de alguma forma, foram importantes no desenvolvimento da

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

nossa ilha Nabrya, apesar de quase ninguém da cidade saber quem


são eles, e quase sempre distorcerem a história toda.
— Oh! — murmuro ao me dar conta de algo — É por isso que
ele tem os olhos meio puxadinhos, ele tem descendência japonesa
— concluo.
— É. — Loren assente.
— Então a família dele deve conhecer os Tanaka, não é? Isso se
algum Tanaka ainda estiver vivo.
— Talvez. Se todos vieram do Japão na mesma época, pode ser
que eles tenham mantido algum vínculo, mas é difícil saber. Todos
eles se esconderam da cidade depois que os boatos do que
acontecia na família Tanaka começaram a surgir. Quem sabe a
família do Chris tenha tido algum envolvimento nisso também.
Basicamente todos tinham o mesmo costume.
— Acha que a família do Chris também fazia a mesma coisa?
— Há chances. A família dos antepassados do Christopher
sempre foi um pouco estranha. Cheia de mistérios, sabe? Aos
poucos, as pessoas que trabalhavam para a família, contaram que
havia muitas coisas bizarras e sem explicações naquela casa.
Ela muda sua atenção para mim.
— Eles eram rígidos, pareciam pessoas normais e importantes
aos olhos de todos, porém, quando estavam em casa, costumavam ir
para o porão e, de repente, havia muito barulho e gritos. Ninguém
sabia ao certo o que eles faziam lá, mas desconfiavam que fossem
adorações ao diabo.
— Adorações ao Diabo? — digo incrédula.
— É. Talvez tenham vendido a alma ao Diabo para continuarem
sendo importantes — comenta despretensiosamente. — Só que
depois de anos, a família foi crescendo, e os descendentes pararam
de descer ao porão. Eles pareciam saber de algo e que não deviam
continuar com aquilo. Assim que o chefe da família morreu, eles a
demoliram e se mudaram. Quando Christopher nasceu, todos da
família notaram coisas estranhas. Ele não era uma criança comum,
era… bizarro.
— Bizarro?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não fisicamente, mas no comportamento. Ele não era como


as outras crianças, parecia estar sempre conversando com pessoas
que não eram para estar ali, pessoas mortas.
— Talvez fossem apenas amigos imaginários — suponho.
— Não. Christopher não é do tipo que tem amigos imaginários.
Entenderia o que digo se você o conhecesse de verdade.
— E você o conhece? Vai ver alguém só queria criar uma história
de terror bizarra.
— Eu não tirei essa história do meu rabo, Dytto. A mãe de um
amigo trabalhou com a família do Christopher. E, também, não é
como se precisasse de muito para acreditar. Qualquer um que já
tenha ouvido falar de Christopher sabe que ele não é “comum”.
— Ok... então, Christopher sempre foi estranho assim?
— Bom, sim. Quando andávamos juntos, ele nunca criava
intimidade com ninguém, sempre tratava a todos do mesmo modo
em que você viu. Eu gostava dele porque eu era a única com quem
ele não era maldoso, não porque gostasse de mim — ela sorri triste
—, mas porque eu era tão insignificante pra ele, que Chris sequer
tinha tempo para notar a minha presença.
Queria dizer algo para confortá-la, mas isso só deixaria tudo
ainda pior.
— Mas aconteceu algo que a chateou, não é?
Ela deixa que o ar escape de seus lábios e abaixa a cabeça.
— Ele gostava de ir para a floresta sozinho às vezes. Um dia eu
o segui, ele me viu e ficou irritado, mas eu insisti até que ele
deixasse. Não demorou muito para eu me arrepender. — Suspira.
A olho com curiosidade.
— O que aconteceu?
— Ele tinha ido fazer um ritual.
— Ritual? O quê? — praticamente berro. — Loren, por que você
ficou lá com ele?
— Eu estava doida por ele, Dy. Teria feito qualquer coisa que me
pedisse.
— Mas você não é assim!
— É, mas na época, eu não era tão esperta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Mordo a ponta do dedão e respiro fundo. Não quero ter que lhe
dar lição de moral, Loren já contrariou todos os seus princípios
antes, imagino que deva ter aprendido algo com isso.
— O que aconteceu depois? — sussurro.
— Ele arrancou a cabeça de um coelho, acendeu algumas velas
e disse algumas palavras que eu não entendi muito bem, talvez
fosse latim ou hebraico.
Loren estalou a língua e deixou que os ombros caíssem.
— Eu me senti vigiada o dia inteiro depois daquilo e fiquei
ouvindo umas coisas estranhas. — Ela tinha os olhos distantes
agora, estava imersa em seus pensamentos enquanto me contava.
— Era uma sensação bizarra e desoladora. Eu não sei, Dy, mas
parecia que tinha alguma coisa ruim me seguindo, entende?
Arregalo os olhos.
Sinto raiva, decepção e angústia, tudo de uma só vez. E o pior,
odeio saber que Loren esteve tão envolvida no que sentia que
sequer conseguiu ver o que estava bem à sua frente.
— Quando ele terminou, eu corri para um canto e comecei a
vomitar. Tudo o que ele fez, foi dizer: "Se não dá conta, era melhor
não ter vindo", e então foi embora.
Solto o ar pela boca, frustrada demais.
— Como você se apaixonou por isso? — esbravejo.
— Eu… — as palavras somem de sua boca e ela simplesmente se
cala.
Enfio os dedos entre os cabelos.
— Termina — peço, nauseada.
— Eu queria parecer descolada, então continuei seguindo-o até a
floresta para vê-lo fazendo rituais. Toda vez que eu sentia vontade
de vomitar, prendia a respiração e começava a pensar em você —
admite decepcionada. — Era a única coisa que não me fazia sentir
enjoada.
Pouso a minha mão sobre a sua, em apoio.
Loren pouco se importar consigo mesma me deixa angustiada e
em um tipo de posição que eu não queria estar. Era para ser ela a
me aconselhar, não o contrário.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não devia deixar uma paixão te levar para o fundo, Loren.


Sofrer pelo que não tem, é melhor do viver perto de alguém na
ausência de um sentimento não recíproco que você insiste em gastar
esforços.
— É fácil falar quando se está de fora da cena, Dy. Eu não sentia
que merecia ser amada, eu só queria que ele me visse — cochicha.
Loren vira a palma da mão para cima e cruza seus dedos nos
meus.
— Um dia, ele deixou que eu mesma fizesse aquilo, e eu fiz.
Nunca me senti tão mal na vida. Tive pesadelos com coisas
estranhas por vários dias seguidos, foi quando pedi a ajuda de uma
amiga bruxa e ela me deu alguns cristais como amuleto. Eu os deixo
ao lado da minha cama agora.
— Fez rituais, Loren? — pontuo, surpresa.
Ela suspira, cansada.
— Não vamos tocar nesse assunto.
— Minha nossa! Ok, mas, e como eram os seus... — Pigarreio. —
Pesadelos?
— Eu estava dentro do inferno. Christopher também estava lá,
mas ele era um demônio que torturava almas, e sempre que ele
notava a minha presença, começava a correr atrás de mim, pronto
para me matar ou torturar, sei lá. Ele manipulava tudo em volta para
me amedrontar. Passei dias e dias sem conseguir dormir.
— Oh! Os seus pesadelos… — engasgo, constrangida —, são
assim? Tipo. Só. Correr?
Ela franze o cenho.
— Os seus, não?
Meu rosto imediatamente se incendeia.
— M-meio que não, e-eles são um pouco... continua.
Seu rosto demonstra confusão, mas, ao notar o meu embaraço,
ela opta por não insistir no assunto.
— Depois dos cristais, não tive mais pesadelos com ele. Ainda
tentei ter algo com Christopher, mas ele não quis nada. Um dia
estávamos brincando de beijo ou consequência, e quando o
colocaram para me beijar, ele disse que não iria ficar comigo, e

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

então, preferiu nadar em um lago gelado a me beijar — revela,


magoada.
— Caramba! — murmuro, triste.
— Não começa. Se ficar deprimida por minha causa, eu te jogo
na frente de um caminhão — impõe, séria. Ela odeia que sintam
pena dela ou até mesmo que tentem a consolar.
Loren ainda não superou o que aconteceu, isso ficou mais claro
do que tudo o que eu ouvi, mas, o que me dói, é saber, que ela
ainda sente algo por ele.
Seus olhos se mantêm grudados no chão, como se fizessem todo
o esforço do mundo para não derramarem lágrimas.
Pressiono os seus dedos no meu, chamando a sua atenção e
sorrio para ela quando seus olhos me encontram.
— Podemos sair daqui? Vai chover e, se vamos matar aula,
vamos fazer direito.
Ela bufa.
— Eu não devia te deixar faltar mais um dia. Vai ficar atrasada
pra caramba na escola.
— É, mas eu não estou pronta para ver o Christopher ainda.
— Vai me contar o que ele fez?
Minhas bochechas esquentam.
— Não vamos falar sobre os rituais que você fez e nem sobre
isso. É melhor assim.
— Mas você tem certeza de que está bem? — Ela se preocupa.
Dou-lhe um sorriso tranquilizador.
— Apenas seja o meu amuleto e durma comigo que vai ficar
tudo bem.
Ela estreita os olhos.
— Tem certeza? Mamãe disse que eu ronco.
Faço careta.
— É melhor ter pesadelos com você do que com ele.
— Tudo bem. Vamos matar essa droga de aula então. Vamos
para um bar.
— Eu tenho 17, Lô — protesto.
— Eu tenho identidade falsa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— São 8 da manhã.
— E daí, você que disse que queria matar aula.
— Oh, céus! — reclamo.

26 de Março | Terça-feira

Infelizmente, Loren e eu estávamos sóbrias demais quando


abrimos a porta de casa.
Nosso pai já nos esperava no hall de entrada com os braços
cruzados. Seus olhos duros e frios vagueavam entre mim e minha
irmã com desaprovação; o que me fez querer estar realmente muito
bêbada para encarar a situação agora.
Até Loren, que sempre o enfrentava, se empertigou ao meu
lado. Sem rastros de bom-humor em sua face, ele conferiu as horas
em seu relógio de pulso.
— 12h:32min — anunciou alto. — A que devo a honra das
minhas duas filhas em casa tão cedo quando deveriam estar na

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

escola estudando.
Meu corpo estremeceu e olhei nervosa para Loren. Só devíamos
chegar às três da tarde.
— Nos liberaram mais cedo — a voz dela soou tão baixa que
nem mesmo parecia acreditar no que dizia.
— Liberaram cedo — papai repetiu desacreditado. — Onde as
duas estavam? — reverberou sério.
— Eu vou vomitar — sussurrei sozinha, sentindo a queimação no
meu estômago aumentar.
— Estudando. O que mais poderíamos estar fazendo? — Loren
se pronunciou, desta vez, mais cheia de atitude.
Papai retirou o celular do seu bolso e o ergueu.
— Recebi uma ligação hoje mais cedo de um professor
reclamando das constantes faltas da Dytto — disse, olhando-me
irritado e ligeiramente se voltou para a Loren. — Ao que parece, ela
faltou acompanhada da irmã desta vez.
Merda!
Loren deixou que os ombros caíssem em sinal de derrota e então
suspirou.
— Dytto não se sentia bem, estava com cólica, por isso eu insisti
que não fôssemos para a escola.
— Mas fui eu que pedi para que Loren ficasse comigo. Implorei,
na verdade — intervi. Ela não pode assumir o erro se ele foi todo
meu.
— A ideia foi toda minha — ela contrariou.
— Mas Loren só fez isso para cuidar de mim — rapidamente
emendei.
Theo nos olhava como se estivesse acompanhando uma partida
de ping-pong conforme tentávamos amenizar o peso das
consequências das costas uma da outra.
— Não deveria estar trabalhando? — Loren desconversou.
— Como pode ver, eu não estou — respondeu num tom ríspido e
balançou a cabeça. — As duas estão de castigo, e isso quer dizer:
nada de festas, nada de saideiras, nada de bebidas e nada de faltas.
E você… — apontou para mim —, nem pense em faltar mais uma

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

única aula ou vai ficar sem o seu carro até que complete a
maioridade.
— Sim, senhor — murmurei, sentindo-me enjoada.
— Quero as duas dentro da escola amanhã bem cedo, e eu vou
me certificar de que estejam indo — mandou, sério. As sobrancelhas
grisalhas se franzindo em irritação e os olhos verdes lançando-nos
um olhar duro.
Loren soltou um baixo suspiro e assentiu. Papai apenas apontou
para o andar de cima e se inclinou para o lado, dando-nos
passagem.
— Tomem banho e tirem esse cheiro nojento de cerveja —
ordenou.
Como duas crianças acanhadas, nós duas marchamos
diretamente para o andar de cima.
— Qualquer dia desses ele vai nos transformar em freiras — ela
reclamou baixo.
— Ah, para. Poderia ter sido pior — contesto. — Ficar sem ir a
festas nem é um castigo de verdade.
— Para você — protestou.
Sorri e, ao mesmo tempo, bocejei. Sinto como se não tivesse
dormido nada durante a noite toda.
— Vá descansar. Mais tarde teremos muito o que pedir perdão a
Deus. E com certeza eu vou ter pelo que pedir desculpas, porque eu
quero muito quebrar o pescoço do professor que nos dedurou.
Eu ri de seu desabafo, mas travei no segundo seguinte, como se
a minha mente tivesse sofrido um derrame.
O PROFESSOR QUE NOS DEDUROU!
— Christopher — sussurrei, encarando-a embasbacada.
— O que disse? — Loren parecia confusa.
— Christopher nos dedurou. — Sentenciei entre os dentes.
Ela fechou os punhos com força ao se dar conta disso.
— Mas que filho da p…
— Puta — terminei a sua frase, tão mais irritada que até Loren
se assustou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A noite nunca me pareceu tão longa.


As luzes de LED se mantiveram ligadas em meu quarto,
juntamente das velas que deixei acesas em cima dos móveis.
Na cabeceira da cama, havia duas lanternas. Debaixo do meu
travesseiro, um crucifixo, e em uma garrafa deixada no chão, água
benta.
Em cima da escrivaninha deixei uma bíblia, e abraçado ao meu
corpo, uma pequena estátua de Jesus.
— Tenta a sorte, cretino! — provoquei-o, imaginando-o em
algum canto do meu quarto à espreita.
Quase conseguia visualizar a imagem do seu corpo derretendo
ao chegar perto de mim e sendo morto pela proteção divina, mas é
claro, isso era apenas minha imaginação trabalhando.
— Fica quieta, Dy — Loren balbuciou, irritada.
— Desculpe!
Já passava da meia-noite. Minha irmã estava deitada ao meu
lado, com os olhos cobertos por uma máscara de dormir, dando-me
seu apoio.
Por mais que eu não aceitasse, estava soando frio, apavorada
com a ideia de acordar com todo o meu corpo se contorcendo em
dor novamente. Não sabia a razão pelo qual Christopher desejava
me punir daquela maneira ou o porquê dele me torturar todas as
noites, como se quisesse que eu implorasse por ele.
Às vezes eu sentia como se ele fosse capaz de ser
verdadeiramente gentil comigo, e em outras, sentia que eu era sua
inimiga número um. Nas raras ocasiões em que me senti meramente
confortável ao seu lado, Christopher conseguiu me apunhalar com o
seu verdadeiro eu, sendo egoísta e maldoso.
A noite passada apenas confirmou o óbvio. Eu não poderia ceder
aos desejos da carne. Ficar vulnerável perto dele só lhe dava a

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

chance de me machucar e se divertir às minhas custas.


— Só respira fundo e feche os olhos. Se algo acontecer eu estou
logo aqui do seu lado — aconselhou, sonolenta.
Meus olhos já estavam ardendo e o meu maxilar doendo de
tanto bocejar, mas a sensação de sua possível aparição me deixava
em alerta.
— Só quero deixar claro e em voz alta que não tenho medo.
— Imagina se tivesse — ironizou, baixo. — Vá dormir, Dy.
— Não dá para dormir quando se tem um garoto endemoniado
me assombrando.
Ela suspira.
— E então o que vai fazer?
— Contar carneirinhos. Não. Vou contar o tanto de chifre que
você já levou — brinquei.
— O que eu fiz pra merecer você como irmã? — choraminga.
— Não sei. Mas não é todo mundo que tem essa sorte.
Ela afunda o rosto no travesseiro e tapa os ouvidos.
— Não dorme, Lô. Eu não vou conseguir ficar acordada se não
tiver com quem conversar.
Ela põe sua mão sobre mim, mas com os olhos cobertos, acaba
acidentalmente batendo em meu seio. Reclamo de dor, porém me
ignorando, ela continua tateando meu corpo até acertar minha boca
e tapá-la.
— Dormir, Dy. Dormir.
Afasto sua mão.
— Se eu morrer a culpa é toda sua.
— Deixarei o meu mérito em seu túmulo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

27 de Março | Quarta-feira

Nenhum pesadelo. Nada.


Não houve nem mesmo indícios de que Christopher esteve em
meu quarto ou tentou estar. Vasculhei todo o cômodo assim que
despertei, no entanto, tudo estava como deveria.
Loren disse não ter ouvido ou visto nada suspeito. Acordei sem
dores, apenas cansada pela noite mal dormida.
Eu não sabia como agir mediante a situação. Me sentia confusa
e estressada. Havia pouquíssimas coisas que eu conhecia sobre
Christopher. Era como estar presa em um labirinto sem saídas.
Precisava encarar a situação de frente, mas ao colocar os pés na
escola esta manhã, temi pelo pior.
Caminhando em direção à sala de Inglês, meu corpo inteiro
tremia em apreensão. Luc insistiu em me acompanhar, mas eu não
conseguia ouvi-lo. Sua voz estava em segundo plano em minha

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

cabeça. Acho que ele falava algo sobre faculdade, contudo, eu


estava tão presa ao que aconteceria assim que entrasse na sala, que
nem mesmo percebi.
Ao pararmos na porta da classe, ele suspirou.
— Eu vou nessa. Se decidir matar aula de novo, ao menos me
chame desta vez — resmungou em tom de brincadeira.
— Claro. — Assenti e forcei um sorriso que exigiu esforços de
cada músculo do meu rosto tenso.
Quando Luc me deu as costas, a pressão em meu íntimo
aumentou. Minha mão estava tremendo quando toquei a maçaneta.
Ao entrar, um arrepio percorreu todo o meu corpo. Rapidamente
meus olhos deslizaram pelo lugar, porém, tudo parecia em perfeita
ordem.
O professor mantinha-se sentado à mesa, fazendo a chamada.
Os alunos continuavam os mesmos, sonolentos e desleixados, como
em todas as outras manhãs. Estava tudo do mesmo modo que antes,
em perfeito eixo.
Procurei pelo corpo alto e tatuado do qual já estava habituada a
encontrar sorrindo de maneira sarcástica em algum ponto do
ambiente, mas a sua ausência me causou uma certa estranheza.
Vicente notou a minha figura parada na porta e sorriu, erguendo
as sobrancelhas esbranquiçadas.
— Ah, entre, Dytto. Ainda não começamos — gentilmente
avisou.
Assenti envergonhada e segui rumo à minha cadeira, sempre
conferindo a todos a minha volta em sua procura. Notei alguns
olhares curiosos, mas que logo perderam o interesse e voltaram ao
que estavam fazendo.
Permaneci em constante alerta, como se a qualquer momento
Christopher fosse entrar. Esse pensamento me fazia sentir frios na
barriga. Mas não foi o caso.
Durante todo o tempo de aula, não tivemos o menor rastro de
sua possível presença. Talvez as aulas com ele finalmente tivessem
acabado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Seria possível eu estar com tanta sorte assim em uma Quarta-


feira?

Sentada no refeitório, ouvia as palavras de Loren ecoando em


minha cabeça como um pensamento distante, apesar de sua
presença falante ao meu lado ser real.
— Hoje eu vou trabalhar até às oito. Que droga! — ela
resmungava enquanto eu mastigava o canto das minhas unhas,
completamente distraída. — O que você vai fazer hoje, Luc?
— Vou sair com uns caras para jogar basquetebol — ele
respondeu empolgado. — Querem vir junto?
— Não dá. Estamos de castigo. — Minha irmã bufou.
— O Sr. Bell não está para brincadeiras, não é? — Ele riu.
— Não mesmo. — Loren revirou os olhos de um jeito dramático.
Ambos continuaram o papo, mas eu não consegui prestar
atenção, tampouco estava a fim de escutar. Minha mente estava
entorpecida em dúvidas e ansiedade, mal conseguia focar em
qualquer coisa ao meu redor.
— Vou para a biblioteca — avisei de repente, já me pondo de pé.
A presença deles não me era desagradável, porém, no momento,
eu só queria ficar a sós com o meu amontoado de pensamentos.
— Quer que eu vá junto? — Luc se prontificou, atencioso.
— Não, valeu. Vou colocar as matérias que eu perdi em dia.
Ele pareceu descontente com a minha falta de interesse em
aceitar o seu convite, mas nenhum dos dois protestaram. Loren fez
pouco caso, sabia do porquê de eu estar tão longe e respeitou esse
momento, logo voltou a puxar assunto com Luc.
Saí dali com passos lentos e descontraídos, não estava com
pressa, por isso desacelerei ao chegar à ponte de arco sob o lago.
Me sentia mais esgotada que o normal. Pensar em toda essa
situação tirava muito de mim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Aproveitei do fundo de amontoado de vozes do intervalo para


espairecer a confusão em minha mente. Ao chegar no fim da ponte,
fui surpreendida por encontrar a cena que achei ser a mais
improvável de hoje.
Sentado no parapeito com quatro garotas à sua volta, estava
Christopher; vestido em uma camiseta cinza de botões, uma calça
jeans escura e apertada que realçava bem as suas coxas grossas. Ele
estava sério, encarando o rosto das meninas. As suas tatuagens no
pescoço e os olhos verde-claríssimos estavam em evidência devido
ao reflexo do sol sobre parte dele. Os braços fortes estavam
cruzados e o seu olhar carregado de superioridade e arrogância.
Aparentemente estavam todos envolvidos em alguma conversa
que parecia ser de interesse apenas das meninas. Meu coração
disparou e o sangue do meu rosto evaporou num segundo. Mas
antes que eu fosse capaz de ser surpreendida por seu olhar pesado
sobre mim, apressei os passos e baixei a cabeça. Estava suando frio
quando passei por eles.
— Senhorita Bell — sua voz firme e rouca me freou.
Me virei bem devagarinho e o encontrei me olhando. Com um
breve gesto, ele me chamou com dois dedos. As garotas ao seu
redor se calaram, e agora estavam me encarando curiosas.
Estava assustada e sentindo o meu corpo inteiro formigar.
Andei devagarinho em sua direção, rezando mentalmente para
que Loren tivesse vindo atrás de mim e me resgatasse. Christopher
se levantou e veio em minha direção. Não conseguia olhá-lo, mas
sentia seus olhos em mim.
— Venha. Vamos conversar — avisou rígido, envolvendo sua mão
em volta do meu cotovelo. Prontamente, Christopher me guiou para
longe dali com autoridade, não voltei a olhar para as garotas pois
temia vê-las chateadas com o gesto mal-educado dele.
— Para onde vai me levar? — perguntei nervosa
Ele não me respondeu, nem mesmo me olhou de volta, apenas
continuou a me levar por entre os corredores. Os que nos viam,
olhavam curiosos, porém, ninguém ousou interromper os planos de
Chris.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher me colocou dentro de uma sala vazia junto dele e


trancou a porta. Minha boca estava seca e a minha respiração
ofegante. Ele, por outro lado, se mantinha passivo e calmo, andou
até a janela de vidro e sentou-se no beiral.
Eu ainda estava confusa e com medo, olhei em volta à procura
de algo, mas tudo o que encontrei foi uma pilha de papéis em cima
da mesa.
— São deveres para mim? — questionei, os lábios trêmulos.
Christopher riu e levou sua mão ao bolso, tirando um cigarro de
lá.
— Não, querida Dingo Bells, não são para você. Eu não te trouxe
aqui para responder nenhum dever — respondeu, os lábios vestidos
de malícia e sensualidade.
Agora ele me olhava de um jeito quente e perverso. Seu olhar se
manteve em mim mesmo quando pôs os cigarros entre os lábios e o
acendeu.
— Não pode fumar aqui. São contra as regras — murmurei.
— Também é contra as regras que eu foda as alunas, mas ainda
assim eu te visito toda noite, não é? Ou quase… — ele semicerrou os
olhos. — Não devia se enfeitar toda para dormir. Nenhuma cruz ou
água benta vai te salvar de mim.
Ele havia acabado de admitir com todas as letras, mas ainda
assim eu me mantinha perplexa. Sem acreditar no que acabara de
ouvir.
— O q-quê?
Ele sorriu.
— Não seja ingênua. Você já havia imaginado isso.
Christopher se desencostou da janela, apagou o cigarro nos
papéis em cima da mesa — antes mesmo da primeira tragada — e
veio até a mim. Eu simplesmente havia paralisado no lugar.
— Sabe do que mais gosto em você, Dingo Bells? — sua voz
gradualmente se tornou um sussurro, enquanto seus olhos quentes
se mantinham grudados nos meus.
Christopher levou sua mão ao meu queixo e aproximou-se do
meu rosto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você sempre fica excitada quando eu te toco. — Sua língua


alcançou os meus lábios e passearam entre eles, imediatamente
fechei os olhos.
As batidas em meu peito estavam tão frenéticas que eu quase
era capaz de ouvi-las. Minha respiração estava descompassada e
minhas mãos se fecharam com tanta força que minhas unhas
rasgavam a carne.
Ele chupou o meu lábio inferior e um leve tremor acompanhado
de um arrepio invadiram o meu corpo.
— Sua boceta fica tão molhada que se torna uma tortura não te
foder.
Por acidente, deixei que um gemido escapasse de minha
garganta e, de imediato, minhas bochechas se acenderam de
vergonha. Seus lábios escorregaram úmidos em minha bochecha.
Cada vez mais o ar parecia rarefeito em meus pulmões. Sentia-me
como se estivesse derretendo diante dele.
— Chris…
— Você quer que eu te foda, não quer? — Ele mordiscou o
lóbulo de minha orelha, em seguida constatei sua respiração quente
descendo em meu pescoço.
Eu precisava sair daquela situação ou acabaria cometendo um
grande erro. Não poderia ceder ao desejo, ainda mais quando sabia
do que ele era capaz de fazer.
Ele parou por um momento para me olhar nos olhos.
— Quer me dizer algo? — exigiu, como se já soubesse o que eu
estava pensando.
— Você me machucou — denoto baixinho, empurrando-o de
leve.
— Machuquei? — Suas sobrancelhas se unem em confusão.
— Doeu muito quando eu acordei — sussurro.
Ele encaixa suas mãos em meu rosto, olhando-me com mais
atenção.
— Onde?
Mordo o lábio, mas Christopher é rápido e passa seu dedo sobre
ele, livrando-o de meus dentes.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Todo o meu corpo — confesso.


Seus olhos escureceram, tornando-se sombrios e irritados.
— Não fui eu, anjo — constatou, fazendo com que o medo em
mim se assomasse.
— Disse que era você me visitando. — Engasguei, assustada.
— E eu a visitei, mas não a feri. Eu tenho todo o cuidado do
mundo com você, Dingo.
— Me conte o que está acontecendo. Por que isso tudo está
acontecendo comigo? Seja sincero, Chris. Eu não aguento mais —
implorei chorosa e meus olhos se inundaram de lágrimas.
— Tire todas as cruzes do seu quarto, Dingo. Isso os irrita.
— “Isso os irrita”? Isso o quê? — Solucei, sentindo minhas
bochechas ficarem úmidas.
Suas mãos se tornaram mais firmes em volta do meu rosto.
— Apenas me obedeça, vou cuidar para que não seja
machucada novamente.
— Christopher, por favor…
— Me ouça! — mandou mais rigoroso. — Faça o que eu mando,
e vai ficar tudo bem.
— O que você é? Me responda qualquer coisa. Você me colocou
nesse seu jogo, me tire dele.
Ele me olhou terno, enxugando minhas lágrimas com as costas
das mãos.
— Eu ainda não terminei com você, querida. Você agora é
minha.
O som estridente do alarme informando o fim do intervalo ecoou
no lugar, interrompendo-nos.
— Volte para a sua sala e fique quieta — ditou, encarando-me
diretamente. — A partir de agora, quero que saiba que se você se
envolver com qualquer um, serei obrigado a intervir do pior jeito,
entendeu?
— Eu…
— Não brinco quando digo que você é minha. Não me leve como
um tolo, Dingo. Se me desobedecer ou me desafiar, te garanto que
vai haver sangue.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Me machucaria apenas para me ter como sua? — debati,


irritada.
Ele curvou um sorriso diabólico.
— Mataria qualquer cara para te ter como minha, mas não te
deixarei correr risco algum.
Christopher agarrou o meu queixo.
— Me espere na sua cama como sempre, querida. Doce e
excitada.
Ele apontou para a porta.
— Agora saia daqui, ou eu vou te prender nesta sala e te soltar
apenas depois de enterrar meu pau em você.
Arregalei os olhos e, muito mais rápido do que imaginei que
poderia mover as pernas, saí dali.

Loren chegou bem mais tarde do que deveria e papai a olhou


irritado, sabia que ela escutaria poucas e boas vindo dele.
Fiquei jantando sozinha na mesa da cozinha enquanto os ouvia
conversarem em um canto. Acho que eles estavam lhe dando um
sermão.
Deveríamos ter ido à missa hoje, em castigo pela nossa matança
de aula, mas não deu. Aposto que pisar na igreja depois de ter
deixado Christopher me tocar, provavelmente faria Jesus descer do
paraíso e balançar o dedo na minha cara dizendo: “Não, não. Você já
não entra mais no céu nem se me parisse.”
Eu riria, mas depois choraria bastante e arrancaria mesmo as
bolas de Christopher por estar me levando por este caminho.
Eu não sou assim. Eu não deixo garotos me tocarem em
benefício de suas próprias diversões. Para falar a verdade, eu nunca
havia deixado nenhum fazer o que ele fez.
Meu rosto esquenta toda vez que lembro de seus toques, seus
beijos e suas carícias.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Negar dizendo que não gostei, seria só uma forma ingênua e


desesperada de mentir para mim. Eu quero muito parar, mas Chris
está dificultando o caminho.
Poxa vida! A Loren é minha irmã e claramente não o superou. O
que diabos Christopher quer de mim? Ele por algum acaso está
tentando me pregar uma peça ou só com acabar a minha vida?
Aquele destruidorzinho de lares vai me pagar!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

28 de Março | Quinta-feira

Eu sentia sua respiração pesar em meus ombros. A rajada de ar


morna atingia minha pele de maneira singular. Atrás de mim, no
escuro do meu quarto, ouvi quando Christopher se acomodou em
meu colchão.
Loren havia ido dormir em seu quarto esta noite, estava
chateada devido a briga com nossos pais. Eu não me opus, mas
sabia o que me esperaria assim que eu deitasse a cabeça no
travesseiro.
Meu corpo estava tomado por arrepios. A ansiedade me
devorava viva como traças famintas. Por dentro, eu vivia um tsunami
agitado de emoções, por fora, eu estava paralisada diante de sua
misteriosa e assombrosa presença roçando as minhas costas.
Meu coração estava bombeando sangue muito mais rápido,
sentia-o se debater desesperado em meu peito, como se soubesse...

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

como se ansiasse... por aqueles toques malignos.


Deus sabe bem que eu nunca chegaria tão longe sozinha. Mas,
ora, quem poderia negar aquilo? Aquela sensação de luxúria e
desejo me consumindo.
Eu sentia que Christopher havia me corrompido aos desejos mais
insanos e sombrios. Ainda sem nem mesmo ter visto sua verdadeira
face, já o imaginava como a pior das criaturas.
Céus, eu estava afogada em minhas misérias. Eu queria parar,
mas não tinha certeza se queria afastá-lo. Estava presa em minhas
próprias contradições.
Como eu conseguia sentir pavor e, ao mesmo tempo, um desejo
tão fugaz e louco por este homem?
— Está com medo, Dingo? — murmurou, o timbre rouco e forte.
Engoli em seco.
— Não tenho medo de você — respondi trêmula.
A quem eu queria enganar? Poderia morrer neste exato
momento.
Ele riu baixo.
— Sentiu saudades? — provocou risonho. Se conseguisse o ver,
enxergaria em seus lábios o sorriso mais maldito capaz de existir.
— Nem um pouco — sussurrei.
— Mentirosa.
Seus dedos ásperos e gelados foram gentis ao tocarem meu
braço, porém não me movi.
— Me diga, o que você faria se eu rasgasse todas as suas roupas
e chupasse cada centímetro do seu corpo agora mesmo? —
perguntou, genuinamente curioso.
Deixei um suspiro surpreso escapar. Provavelmente devia estar
mais vermelha que um tomate. Meu peito subia e descia ligeiro.
Christopher ignorou a minha reação e tocou a braguilha do meu
pijama.
— E se eu colocasse meus dedos dentro de você... — Sua mão
escorregou devagar para dentro do meu short. — E te fizesse gemer
tão alto que o seu papai precisaria vir até a porta só para te
conferir?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Minha pele esquentou. Sua mão passeava cheia de provocação


pela beirada da minha calcinha, ameaçando enfiar-se de uma vez.
— Me diga, Dingo, quanto eu preciso foder você até que pare de
ser tão boazinha? — seu tom de voz aos poucos tornou-se um
murmúrio gélido cheio de perversão, seus lábios frios deslizaram em
meu pescoço. — Me fale o quão desgraçado terei de ser para te
arruinar. — Seus dentes agora arranhavam a minha pele.
Minha intimidade latejava implorosa à medida que meu corpo se
empertigava em sua mão malina.
— Christopher — arfei, no objetivo de lhe repreender, no
entanto, soou como um pedido.
— Diga, meu bem.
Aperto os olhos, minha respiração desequilibra-se e minhas
mãos tornam a suar.
— Chris...
Ele me vira de maneira ágil na cama e transfere seu peso com
cuidado sobre o meu, até que o seu corpo alto e pesado me envolva
como uma coberta. Porém, sua pele está longe de ser quente ou
amável, não, lembra-me mais uma noite congelada e vil.
Sinto seus quadris se remexendo sobre minha intimidade,
esfregando-se com força, remetendo as suas reais intenções.
Ele pressionou o corpo contra o meu com mais força, deixando-
me ainda mais vulnerável. Sem pensar muito, levei minhas mãos ao
seu rosto, mas me assustei com a estranha sensação áspera de sua
face e rapidamente recuei.
— O-o que é isso?
— Eu, em minha forma mais cruel, a que deseja te arrastar para
o inferno comigo — admitiu sério.
Eu não conseguia respondê-lo, não sabia como pedir que não o
fizesse, ou que tivesse piedade. Mas senti um nó se formar em
minha garganta. Meus olhos se umedeceram e deixei que lágrimas
escorregassem livres pela minha bochecha. Estava acuada sob ele.
Sempre à sua mercê.
Quando deixei que o primeiro soluço escapasse, seus lábios
tocaram os meus em meio a escuridão intensa do meu quarto. Não

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

me movi, estava nervosa. Porém, seu beijo foi rápido.


— Você me intriga, Dingo. Tem algo em você que me move para
que eu sempre te encontre. Você está mexendo comigo.
Passo a língua na boca, provando dos resquícios do seu gosto
frio.
— O que eu faço com você, hum? — murmurou rouco.
Sua grande mão envolveu o meu pescoço e o pressionou com
um pouco mais de força, por instinto, coloquei a minha própria sobre
ela.
— Não — pedi, engasgando em choro.
— Acha que tem algum poder sobre mim, querida? — zombou,
áspero.
— Não me machuque — pedi, chorosa.
Ele soltou uma risada que mais parecia um sopro e retirou sua
mão de meu pescoço.
— Não quero te machucar, minha Dingo Bells. Quero te foder.
Mordi o lábio inferior com força num rápido instinto de
nervosismo.
— Não, meu bem. Não machuca esses lábios — ele disse,
deslizando seu dedo sobre minha boca e livrando-a de meus dentes.
Eu não fazia ideia de como ele me enxergava em meio a falta de
qualquer vestígio de luz no ambiente.
Senti seu corpo se inclinar para mais perto de mim. Seus lábios
triscaram nos meus e prendi a respiração. Sua mão desceu por entre
nós até estar de encontro com o meu short.
— O que vai fazer? — arfei, sentindo sua mão deslizando
devagar para dentro de minha calcinha.
— Enfiar alguns dedos em você.
Ele sugou o meu lábio inferior e escorregou sua língua até o meu
pescoço, depositando chupões gentis.
Quando seus dedos tocaram o meu monte pubiano, meu corpo
inteiro estremeceu. Ainda não havia me acostumado com seus
toques.
— Chris... Eu não sei se... — aperto as pálpebras. — Eu não sei
se posso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Está com medo do seu Deus te castigar, meu bem?


Engoli em seco.
— Não se preocupe. O seu paraíso é comigo, Dingo.
Seu hálito quente reverberou em minha pele, fazendo com que
uma onda cheia de eletricidade percorresse cada centímetro de mim.
Seu dedo desceu devagarinho até os lábios da minha boceta e se
deslizou entre eles.
Percebi sua satisfação quando se deu conta de que eu estava
molhada. Fiquei parada, esperando por seus movimentos, quando
seu dedo gentilmente me invadiu, ofeguei baixo.
Eu estava nervosa e sem saber como agir.
O que geralmente as garotas faziam quando estavam fazendo
isso com garotos? Elas gemiam? Os beijavam? Isso era tão diferente
de tudo o que eu já havia lido em livros.
— Se ficar tão tensa vai ser desconfortável para você — avisou,
a voz sombria.
Levei minhas mãos a cada um de seus braços e me agarrei a
eles, como se fôssemos namorados. Precisava tocá-lo intimamente
para sentir que aquilo era normal, ou então, eu cairia na realidade
de que nada daquilo era comum.
Christopher beijou o meu queixou e suspirou.
— Te foder ainda vai ser um espetáculo e tanto, garotinha —
sussurrou, enfiando mais de seu dedo em mim.
Automaticamente contrai o meu corpo, pressionando seu dedo
gelado dentro de mim.
— Você está tremendo — constatou.
— Eu nunca fiz isso — admiti, constrangida.
Esfreguei minhas mãos em seus braços fortes e os apertei. Todo
o seu corpo possuía uma textura diferente. Não se parecia pele, era
mais dura e resistente, longe de ser macia.
Christopher começou a movimentar seu dedo em mim, em um
vai e vem lento. Meu corpo ainda estava tenso e ansioso. Aquilo me
parecia desconfortável.
— Se concentre, Dingo. Somos só eu e você aqui — sussurrou
chupando a minha bochecha.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Deixei que um gemido baixo ecoasse pelo quarto quando ele se


afundou em mim.
Christopher acariciava minha pele com os seus beijos que foram
lentamente descendo do meu pescoço até o meu busto. Quando os
senti sobre a curva de meus seios, uma pontada de prazer surgiu em
meu íntimo.
Por que eu queria tanto os lábios dele ali?
Sua outra mão agarrou o meu seio e a apertou,
involuntariamente arqueei as costas.
Chris notou o que eu queria, pois foi rápido em descobrir o meu
peito. Sua língua rodeou minha auréola, sem pressa.
Seu dedo ainda mantinha um ritmo constante em minha
intimidade; que ficava cada vez mais excitada.
Senti sua boca chupar o bico do meu seio com sagacidade.
Minha respiração estava descompassada, em um ritmo acelerado.
Levei minha mão aos seus cabelos e os enrosquei em meus dedos.
Estava agonizando em prazer. Precisava me aliviar de algum
modo.
No momento em que senti que Chris incitava um segundo dedo
em mim, contraí as pernas e afastei o seu ombro de cima de mim.
— Não.
Ele riu baixo.
— Será só mais um dedo. Preciso que se acostume antes. O que
eu tenho para colocar em você é bem grande.
Minha garganta secou e arregalei os olhos.
— Não vai colocar nada em mim — protestei, assustada.
Christopher escalou o meu corpo até se pôr diante do meu rosto.
Sentia o ar de sua respiração em minha pele. Agora ele estava tão
próximo...
Me encolhi na cama.
— Vou te fazer me desejar tanto, Dingo, que vai querer que eu
enfie cada centímetro de mim em você.
— Não confio em você. Você me assusta.
— Deixe-me ser mais claro. Isso aqui... — seu dedo tocou a
ponta do meu dedo e deslizou em linha reta sobre todo o meu corpo

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

até o meio de minhas pernas. — É tudo meu.


— Não posso ser sua.
— Mas você quer. Eu sinto em todo o seu corpo, querida. — Seu
rosto aproximou-se de meu ouvido e cochichou: — Se tem tanto
medo, por que está sempre me desejando?
Meus lábios se abriram em choque. Mas não fui capaz de proferir
uma única letra. Christopher não esperou por uma resposta. Ele
levantou-se do colchão, e rapidamente senti sua ausência em cima
de mim.
— Eu estou de olho em você — alertou de um algum ponto do
lugar, como uma despedida, e então houve silêncio completo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

28 de Março | Quinta-feira

Aquela manhã havia sido monótona.


Christopher não havia comparecido à escola e, de certa forma,
isso deixou o dia como qualquer outro. Porém, havia me dado conta
do quão ingênua fui sobre a realidade mórbida que eu vivia.
Antes dele, não havia nada de realmente interessante naquele
lugar. Tudo era tão simples e comum.
Os adolescentes possuíam o mesmo humor sem sentido. As
conversas eram vazias, e sempre se mantinham nos mesmos
tópicos: relacionamentos e festas — que, na minha opinião, não
tinham a menor graça.
Os grupos de amizades da escola ainda eram os mesmos. Bom,
alguns, ainda menores. As paredes eram iguais, brancas e sem vida.
Até o lago parecia mais sujo aquele dia.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Por que eu não conseguia me encaixar em nada daquilo que via


à minha volta? E por que a única coisa que parecia ter sentido em
minha vida era a pessoa mais anormal do universo?
Até mesmo sentar-me ao lado de Loren, Luc e alguns de seus
amigos era entediante.
De repente, eu me sentia ainda mais fora de eixo.
Luc percebeu que eu estava indiferente e tentou me animar.
Loren apenas me olhou de canto, parecia animada com a notícia de
que Christopher não havia aparecido.
Ela andava preocupada com a estranha proximidade dele
comigo, porém evitamos esse assunto do mesmo modo que
evitávamos os seus segredos com ele.
Quando cheguei em casa, Loren, papai e eu fomos à missa.
Deveríamos ter tido o nosso jantar em família, mas mamãe estava
cansada demais para fazer qualquer coisa. O seu trabalho a
consumia por completo, não que ela não gostasse, ela era obcecada
por trabalhar.
Durante a missa, notei que o padre me olhou por diversas vezes,
não de um jeito involuntário, e sim de uma maneira que me
arrepiava. Sentia que ele quase podia ver o que eu andava
escondendo.
— Não me diga que está flertando com o padre. — Loren
cochichou brincalhona perto do meu ouvido.
— O quê? Eca! — murmurei, crispando o rosto em uma careta.
Ela riu baixo.
— Então por que ele está te olhando assim? — Suas
sobrancelhas se uniram, e ela lançou um olhar sério para o padre,
que logo se empertigou envergonhado.
— Eu não sei.
— Será que ele está vendo a sua alma pecaminosa, Dy? — Ela
sorriu arteira.
Eu sabia que ela estava apenas brincando, mas, e se por alguma
razão estivesse certa? Esse pensamento fez com que eu sentisse
frios na barriga.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Pare com isso, Lô. Ele é padre e não vidente — respondi,


temendo acabar gaguejando. Isso acontecia sempre que eu ficava
nervosa.
— Não que a gente saiba. Vai saber o que ele faz nas horas
vagas — provocou risonha.
Dei-lhe um tapa fraco no braço.
— Só ouve a missa, garota — resmunguei.
Ela deu de ombros, no entanto, me deixou quieta.
Alguns minutos depois, o padre estava me encarando
novamente.
Ele, assim como eu, partilhávamos da mesma sensação. A
sensação de que algo estava errado.
Após chegarmos em casa, disse a Loren que estava tudo bem, e
que ela não precisava dormir comigo. Sabia que isso não teria
impedido de Chris aparecer, e aposto que a situação seria bem
embaraçosa.
Mas ele não apareceu naquela noite, e nem nos 2 dias
seguintes.

01 de Abril | Segunda-feira

— Você está bem? — Loren perguntou, sentada na outra ponta


da mesa.
Pisquei algumas vezes antes de olhá-la, apenas para me
dispersar da distância que me encontrava em meus pensamentos.
— Huh-rum — concordei, fingindo um meio sorriso.
Ela franziu as sobrancelhas.
— Tem certeza?
Loren sempre sabia quando algo estava errado comigo, e
ultimamente ela andava ainda mais atenta.
Soltei um suspiro baixo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Acho melhor acabar a noite de estudo por aqui. Eu estou com


muito sono — menti, forçando um bocejo.
— Mas, já? Ainda são 9 horas da noite — investigou, confusa.
— Eu não dormi muito bem noite passada.
Eu realmente não dormi bem, não porque Christopher veio, e
sim porque ele não veio. Ele nunca mais veio. E a ansiedade de não
saber o que aconteceu, estava por um fio de me matar.
Quem sabe ele já não tenha se cansado de mim e tenha
encontrado outra garota para invadir o quarto.
Essa ideia me causava infelicidade.
— Foi por causa do... — ela sussurra, como se estivesse
contando um segredo, mesmo que nossos pais ainda não estejam
em casa.
Minhas sobrancelhas saltaram.
— Ãhn, não. Eu não tive mais pesadelos.
— Certeza?
— Garanto. — Sinto um aperto no peito.
Rapidamente recolhi meus cadernos e lapiseiras e subi as
escadas, jogando tudo de qualquer jeito na minha escrivaninha.
Meu corpo parece pesado demais para se manter de pé, então
me lanço em cima da cama, agarrando os lençóis nos dedos.
Desde que ele sumiu, me sinto sem muito ânimo. Ando meio
distraída, e ausente de meu próprio corpo. Já se passaram 4 dias. A
sensação é de que eu fui deixada. Como se tivéssemos rompido um
namoro.
Reviro os olhos.
Pelo amor de Deus, Dytto. Vocês não estavam juntos.
Resmungo sozinha. Irritada comigo mesma por dar tanta
importância a um garoto que mal conheço.
Me enfio debaixo dos lençóis, a fim de dormir um pouco, ou, ao
menos tentar.
Mais uma noite sem notícias dele.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

02 de Abril | terça-feira

Despertei num rápido ato ao sentir todo o meu corpo sendo


chacoalhado. De um segundo para o outro, já estava em alerta.
— Dy, acorda — Loren sussurrou sentada ao meu lado, enquanto
ainda balançava o meu braço.
— O quê? O que está acontecendo? — perguntei atordoada,
sentando-me na cama de supetão.
Seus olhos encontraram os meus, mas foram breves, ela
claramente estava com pressa.
— Vem, vamos sair — avisou, pondo-se de pé.
Pisquei várias vezes, a vista ainda embaçada e as pálpebras
pesadas.
— Que horas são? Cadê os nossos pais?
— Se arrume — Loren ignorou o meu interrogatório e caminhou
até o meu closet. — Papai e mamãe não estão em casa, ligaram

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

dizendo que vão dormir fora — avisou, tateando roupa por roupa.
— Quê? — Esfreguei os olhos, sentindo-me zonza.
Não deveria ter me levantado de uma só vez.
Loren soltou o ar com força.
— Anda logo, Dy. Pare de fazer perguntas.
— Vá dormir, Loren. Virou sonâmbula agora? — resmunguei
baixo, levantando-me do colchão.
— Pare de reclamar e se arrume. Temos compromisso. Anda,
anda... e nada de roupas curtas. — Ela se virou em minha direção
com as mãos na cintura — Nós vamos à floresta. Preciso te mostrar
uma coisa. — Havia urgência em sua voz, mas nada daquilo parecia
fazer sentido.

— Por que estamos aqui? — questionei pela milionésima vez,


encolhendo-me em meu casaco enquanto andávamos como duas
ambulantes.
A brisa gelada debandava cada canto do ambiente. De onde
estávamos, só conseguia enxergar árvores e mais árvores em meio à
escuridão.
Loren estava logo atrás de mim, com uma lanterna que mal
iluminava o caminho por onde passávamos. Era um pouco mais de
uma da madrugada.
Me vesti em uma calça jeans escura, uma camiseta larga, com
estampa de uma banda de rock — obviamente de Loren —, um
enorme casaco preto e um All-Star velho.
Deixei o cabelo solto para que cobrisse o meu pescoço. A
temperatura ainda me fazia sentir arrepios por debaixo das roupas.
— Não está me levando para uma festa, não é? — indaguei,
irritada com a possibilidade de ela ter me acordado apenas para
festejar.
Eu com certeza a estrangularia se fosse o caso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Porém, de repente, os passos de Loren cessaram bruscamente


atrás de mim.
— Desculpe, Dy — a culpa em sua fala me fez virar para trás.
No entanto, Loren agiu rapidamente, segurando os meus dois
braços nas costas. Ouvi um breve barulho de "click", e só notei que
meus braços estavam presos quando tentei reagir.
— Você me algemou? — disse incrédula. — O que que você tem
na cabeça, Loren?
— Desculpa, irmãzinha — ela segurava o riso ao dizer. — Hoje é
o dia do trote, e chegou a sua vez de participar.
Oh, não! O maldito trote.
— Lô — soltei desanimada, a expressão em meu rosto
murchando como uma flor.— Eu não acredito nisso.
— Desculpa, desculpa, desculpa. Eu falei para eles que você não
queria participar, mas eles me forçaram.
— Botaram uma arma na sua cabeça? — rebati seca.
— Sim, com faca e tudo. Você precisava ver — disse irônica e eu
revirei os olhos.
O trote era feito duas vezes ao ano. As datas eram sempre
aleatórias e nunca se repetiam. Os participantes eram sorteados.
Quem quer que fosse escolhido, deveria ser "sequestrado" e levado
à floresta para cumprir com o desafio. Se ele negasse, seria obrigado
e levado a fazer algo ainda pior.
Os perdedores pagavam uma prenda, e nem sempre era uma
prenda agradável. Por outro lado, o vencedor conseguia um bom
prêmio, mas não tão bom que fizesse alguém se voluntariar para
querer brincar disso.
— Que droga, Lô.
— Eu sei. Mas todo mundo tem a sua vez de participar, e hoje é
a sua.
— Que honra — disse sarcástica.
Loren sorriu gentil e beijou a ponta do meu nariz. Mesmo com
raiva de seu ato traíra, uma parte de minha irritação se dissipou.
— Juro que mato qualquer um que tente pregar peças em você
— garantiu, segurando a ponta do meu queixo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Mesmo?
— Mesmo.
Solto um longo suspiro.
— Eu tenho escolha? — cochichei, esfregando as folhas avulsas
no chão com o meu tênis.
— Nenhuma.
— Então acho que é isso, não?
— Não se preocupe. Não será tão ruim assim.
Vai ser horrível.
— Está bem! — cedi, desesperançosa.
— Agora fica quieta que eu tenho que vendar você.
Quase mordi a língua.
— Ah, não! Sério?
— Sério.

— Chegamos — Loren avisou, retirando a venda dos meus olhos.


O amontoado de vozes já era audível há vários metros,
entretanto, parecia ainda maior agora.
Quando abri os meus olhos, fui tomada pelo choque de
encontrar dezenas de pessoas espalhadas pela floresta.
Automaticamente recuei um passo. O trote dos anos anteriores não
era tão lotados assim. Que droga de sorte a minha.
— Ah, não! Não, não, não. Me tira dessa, Lô. Eu juro que faço
qualquer coisa por você — implorei, nervosa.
— Relaxa, Dytto. São só pessoas.
Arregalei meus olhos, fitando-a furiosa.
— Pessoas idiotas que vão rir de mim.
— Não se preocupe. Eu vou estar por perto. Se qualquer idiota
disser qualquer coi...

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não — a interrompi. — E-eu não quero participar. Cansei. Me


tira disso.
— Sabe que se não participar vai ter que pagar uma prenda
ainda pior que o desafio, não é? — pontuou ruidosamente.
Mordi o canto dos lábios com força, não demorou para que eu
sentisse o gosto metálico irromper em minha boca.
Varri o lugar com os olhos, procurando por alguém que
parecesse estar prestes a se borrar, apenas para me sentir um pouco
mais confortável, todavia, não encontrei ninguém tão tenso quanto
eu. Talvez fosse eu, a pessoa que estivesse prestes a se borrar da
qual os outros estariam procurando para se sentirem melhores.
Uma fogueira estava acesa no centro da floresta. Algumas
pessoas se agrupavam à sua volta, a fim de se esquentarem, em
outros pontos, havia alguns grupinhos conversando à vontade. Ainda
não haviam organizado o ponto de partida, ao que parece, ainda
faltavam alguns participantes, os que encontrei, também estavam
algemados.
— Você precisa se acalmar ou vai perder a prova antes mesmo
de começar.
— É, eu sei. Muito obrigada por nada — disparei, ansiosa.
— Sabe que eu te amo, né?
— Estou começando a duvidar.
Ela riu e enroscou o seu braço no meu.
— Vem, vamos procurar os nossos amigos.

— Olhe só, a escolhida. — Luc me recebeu sorridente e passou


os braços sobre meus ombros. — Você está linda de prisioneira,
Dytto. — Ele beijou a minha bochecha, bem-humorado.
— Até você, Luc. Pensei que eu pudesse confiar no meu melhor
amigo. — Estreitei os olhos.
— Sabe que eu daria a minha vida por você, não sabe?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Que tal trocarmos de lugar, então? — ofereci, mas ele ergueu


as duas mãos.
— Não mesmo.
Fiz cara de brava.
— Sinto muito, Dy — Claire murmurou gentil, beijando a minha
testa.
A ruiva sempre foi muito sentimental comigo, pois sabia o
quanto eu era "frágil" a todo o resto. De todos de nosso grupo, ela
parecia ser a mais comovida com a minha situação.
— Talvez um dia eu supere essa traição de vocês. — Me esforcei
para sorrir, mas estava desconfortável demais.
— Só quero deixar claro que eu não tive nada a ver com isso. —
Marcos se pronunciou, sorrindo de canto.
Sorri de volta.
— Tenho quase certeza disso — murmurei em tom de
brincadeira.
Todo o grupo riu, mas Joshua ainda estava meio desnorteado,
pelo visto, não foi só eu que odiei ter sido acordada durante a
madrugada.
— Ei, olha lá — Luc disse, apontando com a cabeça para algo. —
Quem é aquela gata com o Christopher?
Meu corpo inteiro estremeceu, um frio na barriga me atingiu e
senti o meu estômago se revirar.
— Uau, ela é bem gata — Marcos comentou, malicioso. Os olhos
pareciam brilhar com o que enxergavam.
Eu não consegui virar o meu rosto para lá, não mesmo.

Estávamos sentados diante da fogueira fazia cerca de meia hora.


Ainda esperávamos pelo momento em que nos chamariam para o
desafio.
Nós, os prisioneiros.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Evitei olhar para qualquer rosto que não fosse o de meus


amigos, e apenas o deles, já que o grupo de Christopher estava a
apenas alguns metros de nós.
Joshua e Luc não paravam de comentar sobre eles, dizendo o
quão da "pesada" eram.
Claire dizia ter medo só de olhar, pois sabia que todos eles
faziam rituais e outras coisas na floresta. Loren se apoiou em mim e
se manteve calada. Assim como eu, ela não queria vê-lo abraçada à
outra.
Luc soltou de repente:
— Até que eles formam um casal muito bonito.
E isso bastou para sentir minhas entranhas se revirarem.
Naquele instante, eu decidi que Christopher não faria mais parte
da minha vida. Não se ele mexia tanto assim comigo em tão pouco
tempo desde que nos conhecemos.
Eu estava me corroendo de ciúmes, e isso me irritou pra
caramba.
Nunca fui o tipo de garota que se rasteja aos pés de quem
gostava, sempre abafava meus sentimentos até eles simplesmente
sumirem. Mas, desta vez, o que sentia por Christopher era diferente
de tudo.
Ainda não sabia ao certo o que era aquilo que eu estava
vivenciando. Me parecia um sentimento confuso e não definido. Eu
sabia quando estava apaixonada, entretanto, o atual sentimento
dentro de mim me avassalou da cabeça aos pés.
Saber que, neste exato momento, ele está com outra garota,
não me causou só ciúmes, porém, uma grande angústia, um aperto
no peito e um nó na garganta.
O sentimento era o mais ridículo possível: traição.
Por um segundo, fiquei grata dele ter tomado a iniciativa de se
afastar. Depois de ter destruído toda a dignidade que eu tinha, talvez
Christopher tenha finalmente se cansado de mim.
— Eu quero sair daqui — avisei baixinho, para que apenas Loren
me escutasse.
Ela ergueu a cabeça e me olhou preocupada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Está sentindo alguma coisa?


— Sim.
Não menti. Eu estou. E, pela primeira vez, faço um grande
esforço para não chorar.
— Para onde quer ir? — ela perguntou.
— Eu não sei, só quero me afastar daqui.
Loren assentiu e se levantou. Em seguida me ajudou a ficar de
pé.
— Para onde vão? — Marcos questionou, atento.
— Só dar uma volta. Dy quer dar uma esticadinha nas pernas
antes do desafio — Loren sorriu, para amenizar a curiosidade de
todos.
— Só não vão para muito longe, os amigos de Christopher são
estranhos e toda hora olham para nós — Claire avisou, apreensiva.
— Amor, acho que você está paranoica — Joshua se pronunciou.
— Eu não estou, Josh. Eles estavam me olhando.
— Porque você estava encarando eles — Luc acrescentou.
— Vocês não entendem, eles são realmente muito bizarros — a
ruiva tentou defender seu argumento, mas ninguém parecia muito a
fim de prolongar o assunto.
Claire sempre foi muito melindrosa em relação a essas coisas,
imagino que se soubesse que Loren já fez rituais com Christopher,
provavelmente teria receio de andar com ela.
— Pode deixar, ninguém vai mexer conosco, Claire — Loren
afirmou, convicta.
Minha irmã me guiou em outra direção, mas, naquele instante,
maldito instante, meus olhos procuraram desobedientemente o rosto
dele.
Ele não estava olhando para mim, estava conversando com um
garoto; que tenho de concordar, eles são realmente todos bizarros e
assustadores. Uma linda e exorbitante garota estava em seus braços.
Alta, cabelos longos e platinados. O rosto mais lindo que eu já vi
em toda a minha vida. Os olhos azuis e os lábios carnudos. A
expressão séria, mas, incrivelmente sedutora.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele a mantinha em sua frente, com seus braços ao redor de sua


cintura, de vez em quando beijava o seu ombro.
O corpo dela era perfeitamente definido e cheio de curvas. Ela
era a garota mais bela que eu já vi em toda a minha vida, mas
também, a mais intimidadora.
Por que ela tinha que ser tão bonita?
Nunca irei me recuperar dessa cena. Nunca, nunca, nunca.
Foi fatal, e bem no peito.
Suspirei baixinho e, com muito esforço, acompanhei os passos
de Loren, que sequer se deu ao trabalho de olhar para lá.

Loren e eu andamos por uma grande parte da floresta. Ela


conhecia muitas pessoas dali, o que nos fez parar diversas vezes
para cumprimentá-las.
A área em que estávamos era pouco iluminada, criando uma
atmosfera carregada de suspense e terror. Não sabia o que estava
por vir, contudo, estava nervosa. Loren retirou as algemas de meus
pulsos quando anunciaram o começo do desafio. Todos nós nos
juntamos em um canto, no lugar em que havia faixas para evidenciar
de onde começaríamos.
Em volta de nós, os curiosos se animavam, cheios de
expectativas.
De um lado, um garoto falava em um alto-falante, de um
enorme tronco caído. Do outro, uma garota nos organizava em uma
linha de partida, um ao lado do outro.
Eu trocava o peso do meu corpo de uma perna para a outra de
segundo em segundo. Ficar ali parada aguardando estava me
deixando ainda mais nervosa.
O garoto com o alto-falante aumentou o tom de voz, decretando
as regras do jogo:

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Seguinte. Os prisioneiros terão 15 minutos para pegar o


máximo de fitas amarelas que encontrarem na floresta. Se acabar os
15 minutos e não voltarem imediatamente, vão se foder comigo.
Coloquem as fitas dentro da cesta que vão dar a vocês. — Ele
colocou a mão na boca, como se fosse contar um segredo. — E tudo
bem roubar fitas do amiguinho, desde que você não seja pego, mas
se for, é bom que saiba brigar. — Ele riu maldoso.
Eu estava para desmaiar.
— Quem achar mais, ganhará um prêmio, e aos que
encontrarem de menos, pagarão a prenda.
É, tudo bem, Loren estava certa, era um jogo fácil. Eu só
precisava estar atenta a todas as fitas amarelas. Tudo bem, eu ia
conseguir.
— E aos demais... — prosseguiu —, bem... Vocês só poderão
ficar aqui esperando os outros voltarem, de qualquer jeito, a graça
só vem depois que essa merda acabar — anunciou empolgado.
Olhei desesperada para Loren, que retribui com um olhar
cúmplice de minha insatisfação.
Respirei fundo. Minhas mãos estavam geladas e o meu
estômago se impulsionava continuamente para que eu vomitasse.
Passei a língua sobre os lábios e respirei fundo.
Uma garota, muito mais nova que eu, passou distribuindo uma
cesta vazia a cada um de nós. No total, éramos 9 prisioneiros, bem
mais do que no último trote, onde eram apenas 3 pessoas.
Essa "brincadeira" crescia em nossa cidade cada vez mais. Antes
eram só desafios bobos, mas, agora, estava mais para um evento
anual, ou melhor, dois eventos anuais.
— No três vocês iniciam. E é bom serem rápidos ou vão ficar
para trás — o garoto notificou.
— Ai meu Deus — murmurei para mim mesma.
— 1 — entoou seguido da multidão —... 2...3...VALENDO, SEUS
PUTOS.
Meus pés saltaram para frente e comecei a correr, assim que
avistamos a segunda faixa, sabíamos que dali em diante já
deveríamos catar todas as fitas amarelas que encontrássemos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O lugar em diante era muito escuro e cheio de árvores e galhos.


Estávamos na parte mais fechada da floresta. A multidão atrás de
nós não poderia se aproximar, apenas aguardavam de onde estavam.
15 minutos. Eu consigo!
Assim que avistei a primeira faixa amarela, joguei-me de joelhos
no chão e a arranquei do galho em que estava preso.
Os outros se dispersaram sobre a floresta, quase que com o
rosto completamente enfiado no chão, a fim de encontrarem as fitas.
Levantei e corri depressa para o próximo galho, onde tudo o que
encontrei foi o mais completo nada.
Os outros participantes iam, aos poucos, sumindo, cada para um
canto. Todos eram competitivos.
Continuei a buscar pelas malditas fitas, mas, um calafrio
percorreu todo o meu corpo quando um barulho entre os galhos me
chamou a atenção.
Estava agachada, contudo, assim que o barulho ruiu ainda mais
alto, prontamente fiquei de pé, girando o rosto para todos os lados
em volta de mim. Fui cercada pela sensação de estar sendo vigiada
e meu estômago se embrulhou.
Meus pés foram erguidos do chão com tamanha facilidade que
eu parecia uma pena, e minha boca foi tapada no segundo em que
quis gritar. Quem me levantou, deu dois passos para trás comigo,
ainda em seus braços. Tentei fugir, mas fui pressionada com ainda
mais força.
— Fica quieta, Dingo Bells — a voz de Chris ordenou séria em
meu ouvido e paralisei no lugar.
Eu não sabia o que estava acontecendo, contudo, o obedeci,
sentindo seus braços me manterem erguida.
Seu corpo estava tão próximo do meu que eu podia sentir as
batidas agitadas do seu coração em minhas costas, ele estava
ofegante atrás de mim. Sua mão se manteve nos meus lábios e o
seu rosto tocava a minha nuca.
Era como se eu não recebesse o seu toque há anos, e de
repente, todo o meu corpo houvesse se recordado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Essa foi por pouco — disse ele, apontando para onde eu


estava, onde uma cobra venenosa se rastejava, bem onde eu havia
me agachado para pegar as fitas.
Assim que ela sumiu de nosso campo de visão, Chris me colocou
de pé no chão. Virei-me para ele e, sem demora, ele franziu o cenho.
— Te machuquei?
— N-não.
Seus olhos vagavam com cautela sobre o meu rosto, e um misto
de sentimentos se ponderaram sobre mim. Não sabia dizer se estava
com tanta raiva que queria bater nele, ou com tanta saudade que
queria abraçá-lo. Quando foi que eu fiquei doida assim?
— O que está fazendo aqui? — me impus friamente quando
consegui voltar a órbita.
— Te ajudando.
Ergui uma sobrancelha, displicente. Chris não disse mais nada,
então apenas virei-me de costas para ele.
— Ok, já pode ir, não posso perder o jogo — debati, forçando
indiferença.
Voltei para onde eu estava, mas, ainda assim, ele não saiu do
lugar. O olhei sobre o ombro e percebi que ele se manteve parado,
as duas mãos no bolso de seu grande moletom preto e um sorrisinho
sacana nos lábios.
Porque ele tinha que ser sempre tão condescendente.
— O que ainda faz aí?
— Eu quero olhar para você — ele foi direto.
Meu rosto esquentou cheio de vergonha. Olhei para a frente e
recolhi minha cesta do chão.
— É melhor voltar para seus amigos. Sua namorada deve estar
lhe esperando — deixei escapar, enciumada.
Foi mais forte que eu. Mordi a língua no segundo seguinte,
punindo-me por tamanha imbecilidade.
Christopher riu alto.
— Está falando da Amara?
Balancei os olhos, tentando não parecer interessada.
— Se esse é o nome dela, então, sim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Hum...
Certo! Então ele admite. Cretino.
Virei-me para ele, zangada.
— Está me atrapalhando — esbravejei.
Ele não conteve o riso e se aproximou. Christopher retirou do
seu bolso uma dezena de fitas amarelas e a jogou dentro da minha
cesta.
— Roubei algumas para você. Precisava de um tempo a sós.
Uni as sobrancelhas.
— Por quê?
Ele deu de ombros.
— Matar a saudades.
Saudades?! Foram 5 dias sem ir me visitar, seu idiota.
Mordi a língua, para não acabar chamando-o de nomes que,
Deus me livre meus pais descobrirem que eu sei
— Acho que já deu tempo de matar a saudades, vá logo. A
Tamara deve estar lhe procurando.
Sim, eu sei. Não devia ter feito isso, não devia mesmo.
— A Amara deve estar fazendo tudo, menos me procurando,
Dingo Bells — zombou. — A minha querida irmã é egocêntrica
demais para pensar tanto assim em mim — enfatizou.
— Irmã? — repeti baixo.
— A pior de todas.
O aliviou que me inundou no exato momento, e foi tão bom que
quase sorri, mas segurei o impulso assim que percebi seu rosto
convencido me encarando.
— Está bem, volte para sua irmã então.
Christopher deu dois passos em minha direção e bastou para
que tudo em mim colapsasse.
— Não dá — seu tom de voz gradualmente diminuiu.
— E por que não? — Eu estava tremendo.
Ele me alcançou e segurou o meu rosto com as suas duas mãos.
— Porque agora eu quero ficar com você — confessou num
sussurro, com aquelas lindas esmeraldas quentes presas aos meus
olhos, levando-me a mergulhar nelas como um maldito transe.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele trouxe seu rosto para mais perto do meu e eu fechei os


olhos. Me vi estática perante a sua presença e acabei por deixar que
a cesta caísse no chão.
Malditas borboletas drogadas voando como idiotas em meu
estômago.
Se mexa, Dytto. Por favor, se mexa!
Meu lado consciente pedia para que eu me afaste de
Christopher. Em contrapartida, o meu corpo implorava por ele. Pelo
seu toque, pelo seu gosto, pelo seu cheiro.
Suas mãos desceram até a minha cintura e agarraram-na com
força, me puxando abruptamente para si. Seus lábios roçaram nos
meus, devagarinho.
Eu queria mais.
Fiquei na ponta do pé e impulsionei meus lábios nos seus,
beijando-o.
Christopher apalpou a minha bunda com as suas mãos e então
me ergueu em seu colo. Carregando-me até a árvore mais próxima,
ele me encostou nela.
Seus beijos se tornaram mais profundos, intensos e fortes. Sua
língua invadiu a minha boca e me experimentou sem o menor pudor.
Passei meus braços ao redor de seu pescoço e me deixei ser
levada.
Agora eu entendia o porquê de a Loren gostar tanto dele. Ele era
intenso, safado, selvagem e... LOREN.
Rapidamente afastei meu rosto do seu e o encarei de olhos
arregalados.
— Eu não posso — ofeguei.
Christopher me ignorou e beijou o meu pescoço, descendo e
subindo os lábios sobre ele.
— Chris — tentei impedi-lo, porém, quando mais eu me
esforçava, menos eu queria que ele parasse.
Ele sugou a minha pele e eu me derreti em seus braços.
— Chris... — eu já não sabia mais se estava pedindo para ele
parar, ou para continuar, apenas continuei o chamando.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele enfiou seus longos dedos entre os fios do meu cabelo e os


puxou.
— Você já está marcada como minha, Dingo — sussurrou
sombrio.
Apertei minhas pernas em sua cintura e o pressionei ainda mais
contra mim.
— Você sumiu — contestei.
Senti-o rir em minha pele.
— Encontrou outra garota para infernizar? — caçoei, com receio
de estar certa.
— Não, querida Dingo Bells. Só você ganha as minhas visitas
românticas.
— Então por que sumiu?
— Não sou só professor, anjo. Tenho responsabilidades em
particular que precisam muito de mim.
Eu queria tanto saber do que ele falava, mas não podia ir a
fundo. Não podia remexer em sua vida se nem mesmo deveria o
deixar se aproximar da minha.
— Você está mexendo com a minha sanidade, Chris. — Ofeguei.
— E você com a minha.
O alarme soou alto, tirando-nos de nosso transe.
O desafio havia acabado.
Ele me colocou de volta no chão, mas minhas pernas estavam
moles demais para se manterem de pé.
Me apoiei em sua cintura, e Chris esperou pacientemente para
que eu conseguisse me equilibrar por si só.
Notei os passos de todos os participantes indo em direção ao
ponto de saída e me desesperei.
— Eu tenho que ir — disse prontamente correndo.
Christopher se encostou na árvore, com as duas mãos no bolso e
me observou se afastar dele.
— Boa sorte, querida Dingo Bells.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

02 de Abril | Terça-feira

Eu havia ganhado.
Loren e os nossos amigos me espremeram em um abraço de
comemoração tão apertado que precisei berrar para que me
soltassem. Eles estavam tão felizes, que mais parecia que eu havia
acabado de ganhar o prêmio Nobel.
Por outro lado, em volta de nós, os outros participantes me
encaravam irritados, talvez, por terem se esforçado a beça, e nem
assim terem chegado perto de conseguir tantas fitas quanto eu.
Ao longe, deslumbrei o sorriso sarcástico de Christopher. Ele
havia adorado trapacear, mas não saberia dizer se a razão era por
termos dado alguns belos e quentes amassos, ou se ele apenas
gostava de andar errado na linha. Desconfiava que a segunda opção
fosse a mais provável.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher estava claramente acostumado a agarrar garotas em


florestas. Eu provavelmente seria só mais uma da qual uma hora ou
outra ele nem se lembraria mais do nome. Isso me causava uma
estranha sensação de desgosto e desânimo.
Sem que os outros percebessem, ele jogou-me uma piscadela e
meneou com os lábios: "Parabéns, Dingo Bells".
Bom, se é que ele realmente sabe que eu tenho um nome de
verdade.
Minhas bochechas automaticamente se acenderam. Desviei
meus olhos quando meu coração comemorou aquela breve troca de
olhares, e os segui para os meus amigos; que ainda pareciam
deslumbrados com a minha vitória.
Obviamente eu não teria chegado nem perto de conseguir se
não fosse por Christopher.
Tanto faz... Ele não fez isso porque se importa comigo.
— Não vou dizer que não acreditava em você, mas eu bem que
duvidei que fosse conseguir tantas fitas. — Marcou revelou, receoso.
Lancei-lhe um olhar irritado e ele logo ergueu as mãos.
— Já entendi.
— Nunca duvidei de você, irmã. — Loren me olhou admirada. —
Diferente de outros. — E logo aproveitou para alfinetar Marcos.
Oh, irmã! Se você soubesse...
Meu peito se apertou em culpa. Eu não queria esconder algo
assim dela. Não mesmo. Me sentia uma traíra ordinária.
Pigarreei nervosa.
— Parem com todo esse drama meloso. Eww! — Franzi o rosto
em uma careta. — Vocês estão me deixando enjoada.
— Só estamos muito orgulhosos da nossa caçula — Claire disse,
com um lindo sorriso.
— Tá bom, Claire. Já chega... — murmurei tímida, enquanto era
cercada por sua gentileza.
Ela riu. Eu não consegui a encarar diretamente nos olhos. Eu
não estava negando o seu afeto porque não o queria, mas por
vergonha do que eu havia feito há alguns poucos minutos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Aqui está. — Uma garota se aproximou de repente,


estendendo um envelope dourado para mim. — Seu prêmio —
informou, gentil.
— Prêmio?
— Você ganhou 8 jantares grátis no restaurante Per Gason.
Aproveite! — E assim ela saiu, com pés de bailarina que mal
tocavam o chão.
Per Gason era um dos restaurantes mais descolados de Vespeau.
Em maioria, sua clientela eram jovens adultos e adultos. De dia,
aquilo era apenas mais um restaurante, durante as noites, se
tornava uma boate com atrações "exóticas".
Nunca havia ido, mas Loren já, e as histórias que ela me contava
eram sempre indecentes e perturbadoras.
— Beleza! Vamo logo. Já vai rolar o trote — Joshua disse,
impaciente.
Ele estava completamente esgotado e necessitado de dormir.
Parecia ser o único com senso de horário. Estava entardecendo cada
vez mais, em breve amanheceria e ainda teríamos aula.
Se papai e mamãe descobrissem que quebramos o castigo,
provavelmente nos decapitariam antes mesmo de termos a chance
de pedir desculpas.
Eu não queria bancar a "irmã certinha" em todas as vezes que
saíamos, mas me preocupava com a forma que Loren nunca se
preocupava com o resto.
— Eu não sei se eu quero ver isso — resmunguei.
— Essa é a melhor parte, Dy. Não vem com essa agora —
Marcou rebateu e Loren entrelaçou o seu braço no meu.
— Infelizmente tenho que concordar, Dy.
— Fala sério, Loren. Que graça vai ter em ver esses pobres
coitados serem torturados? — Deslizei os olhos em volta, observando
os perdedores sendo amarrados pelos líderes do trote.
O resto dos telespectadores já estavam eufóricos com a cena, no
entanto, eu me sentia com a consciência pesada demais para me
sentir uma verdadeira campeã.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Até parece que ver alguém sofrendo é uma tortura. — Loren


revirou os olhos, desdenhando.
— Na verdade, é um pouco... — sussurrei, acudida.
No fundo, eu sempre me sensibilizava além da conta pelos
demais. E, em algumas vezes, a ponto de chorar. Loren não gostava
do fato de eu ser tão sensível, mas me mantinha por perto, como se
tentasse, ao menos, amenizar a situação.
— Vamos! — um garoto loiro encapuzado ordenou firme aos
prisioneiros, já enfileirados.
Toda a baderna de pessoas se juntou para os seguir, rumo ao
alto da floresta de onde estávamos. Alguns levavam lanternas ou
acendiam o flash do celular. Quem estava longe de nós, poderia
enxergar a iluminação amena, os passos arrastados e murmúrios
amontoados.
Claire e Joshua foram os primeiros de nosso grupo a se
mexerem. Marcos se juntou logo em seguida, e Luc me enviou um
olhar gentil, para que me incentivasse, porém, foi só quando Loren
se moveu, que segui o restante.
Estava frio, mas não como as outras noites, no entanto, de um
jeito amedrontador. Por mais que estivesse acompanhada de
dezenas de pessoas, sentia-me tensa e ansiosa, como se vagasse
sozinha no escuro.
A algumas pessoas à nossa frente, Christopher caminhava com
irmã ao seu lado e os seus amigos estranhos.
Não era só o estilo pesado e escuro que os fazia diferente do
resto, mas havia algo na postura e na forma com que olhavam para
os outros, que os destacava de um jeito diabólico.
Chris parecia ser um tipo de líder para eles, mesmo que, para
mim, fosse o menos assustador. Entretanto, isso com certeza se dava
ao fato de que eu já havia tido momentos mais íntimos e "normais"
com ele, porque, para o resto, ele ainda era o pior.
Em um dos momentos que subíamos a colina, havia o flagrado
agindo de um jeito nada sutil. Era assustador vê-lo sendo cruel, de
modo que mais parecia ser algo normativo a ele ameaçar e infringir
dor.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Em um instante, estavam todos quietos, no outro, Christopher


estava segurando a garganta de um menino qualquer, lhe dizendo
coisas que, mesmo sem conseguir ouvi-las, pareciam absurdas.
Podia ver nos olhos melindrosos do pobre rapaz que Chris não
estava para brincadeiras naquela madrugada.
Loren apertou sutilmente a minha mão para que eu parasse de
olhar. Os demais também evitavam, como se quisessem evitar
problemas para si.
Eu precisava mesmo conhecer melhor Christopher ou sempre o
veria como uma total incógnita que apenas os outros haviam
decifrado. Quando chegamos no topo da colina, formamos um tipo
de meio círculo, observando os prisioneiros serem posicionados na
ponta.
Quando notei o que pretendiam fazer, olhei em total alerta para
Loren.
— Eles não vão jogá-los daqui de cima, não é? — perguntei,
abismada.
— Há um riacho lá embaixo e...
— É! — a cortei rude. — Tem um rio que pode quebrar eles se
pularem de mal jeito — rebati, ainda mais incrédula.
Ela deu de ombros.
— Eles já estão acostumados a pularem ali.
— Loren, se algo acontecer, nós seremos cúmplices — alertei,
meus olhos quase saltando do rosto.
— Qual é, Dytto. Não estraga a brincadeira. Não vai acontecer
nada — Marcos interveio, à vontade.
Balancei a cabeça, irritada e sai pisando duro dali.
Entretanto, foi quando eu já estava enfiada na multidão,
tentando me afastar, que senti braços fortes me cercarem e
arrematarem meu corpo contra o seu, colidindo com minhas costas
no peitoral duro de alguém.
Mesmo sem conseguir ver o seu rosto, sentia seu delicioso
cheiro forte e intoxicante. Meu corpo já conhecia o seu toque
autoritário e arrogante mesmo se estivesse de olhos fechados, ou
talvez, principalmente de olhos fechados.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher não estava mais perto de sua irmã ou os seus


amigos, o que me deixou só um pouco mais à vontade.
Seus braços cercaram o meu corpo, acorrentando-me a ele. Seu
torso estava colado em mim. Sentia cada pedaço dele tocar cada
pedaço meu. Mesmo que nossas alturas fossem bem diferentes,
sentia como se eu encaixasse em seu abraço perfeitamente.
Eu não queria sentir que o pertencia, mas Christopher me fazia
se sentir tão dele.
— A vencedora tem que assistir os seus concorrentes pagando a
prenda — ele sussurrou maldoso em meu ouvido, quase como um
cantarolar.
Seu timbre era grave e forte, ele queria me deixar assustada, ou
então, me fazer sentir o mesmo que ele no momento.
Senti seus lábios macios e carnudos beijarem a minha pele, que
foi atingida por um tremor, acompanhada de uma onda de arrepios
delirantes.
— Eu não vou olhar — devolvi baixo e covarde.
Sua língua rodeou a ponta da minha orelha.
— E quem disse que você tem escolha? — murmurou.
Não respondi. Apenas permaneci inquieta em seus braços,
tentando me afastar antes que Loren, ou qualquer um dos nossos
amigos, nos vissem assim.
Christopher não fez esforços para que eu permanecesse presa,
um pouco de força que ele fazia, bastava por si só. Eu não tinha a
menor chance contra aquela muralha tatuada, mesmo que gastasse
todas as minhas energias tentando escapar.
— Agora! Olhe, querida Dingo Bells — avisou baixinho no
momento em que os prisioneiros já estavam com os pulsos livres e
prontos para saltarem.
Os outros já haviam aceitado — contra a sua vontade — o seu
destino. Apenas um se manteve contrário. Ele não queria pular de
jeito nenhum, mas os líderes o mantinham ali, pressionando-o. Era
visível o seu rosto pálido e as gotículas de suor se formando em sua
testa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Dy! — a voz de Loren soou como um alerta em meus ouvidos


no instante em que ela surgiu no meu campo de visão. — Achei você
— murmurou devagar, enquanto trocava o seu olhar surpreso de
mim para Chris, e em seguida para o meu rosto novamente.
Ela estava em choque. Eu estava nervosa. E Christopher
estava... Indiferente? Feliz? Orgulhoso? Eu não conseguia olhar para
o seu rosto para descobrir.
— O que estão fazendo? — perguntou, ao notar que não
conseguiria explicações apenas observando essa bela tragédia diante
dos seus olhos desacreditados.
Ela nos olhava como se estivesse vendo uma alucinação.
— Fica quieta, Loren. Vai começar — Chris resmungou rude atrás
de mim. — Agora olhem para essa belezinha — disse animado.
Minha irmã, mesmo com a atenção presa a nós dois, conseguiu
virar o seu rosto com bastante esforço para onde os perdedores
estavam.
Eu só sabia me afogar em culpa.
O primeiro pulou após a contagem regressiva ter sido feita, e
todos berraram em comemoração. Demorou alguns instantes até
ouvirmos o baque do seu corpo contra a água. Estremeci por inteiro
e Christopher me pressionou mais forte.
A cada segundo, a madrugada parecia ainda mais gélida.
Aqueles jogadores iriam sofrer com a sensação horripilante de
estarem molhados nesse clima.
O segundo e terceiro foram juntos. Eram duas garotas,
aparentemente próximas. A plateia em volta vibrou ainda mais.
Eu estava odiando cada segundo daquilo. Aquelas risadas,
gozações, gritos e assobios. Tudo estava me deixando enojada.
Depois que pulavam, eu não sabia se emergiam logo em seguida
ou se continuavam debaixo d'água, mas não tive coragem o bastante
para conferir. Sequer sabia se algum dos líderes iria atrás deles após
o trote.
Ninguém realmente se preocupava, apenas queria algo ou
alguém de quem rirem.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Os outros pularam de um a um, porém, ao chegarem no último


participante, o qual se negava a fazer o mesmo, o clima pesou. O
garoto balançou a cabeça e recuou um passo com finco. Estava
decidido que não iria de maneira alguma.
Senti o peito de Christopher vibrar, como se risse baixo de algo
que só ele sabia. Mesmo com toda a situação, minha irmã e todo o
resto manteve a concentração presa ao que acontecia.
— Se você não pular, eu te jogo. — O líder que parecia mais
velho ameaçou com um sorriso de canto que dizia não estar
brincando.
— E-eu não vou — o menino novamente recusou.
Sendo pego de surpresa, dois deles os seguraram pelos braços e
os arrastaram à força até a beirada.
O garoto fechou os olhos com força e apertou os punhos. Ele
tentava frear com os pés enquanto jogava a cabeça para trás.
Meu coração já estava disparado e eu suava frio.
Olhei em volta, mas ninguém estava disposto a ajudá-lo. Ao vê-
lo tão desesperado e prestes a cair, tentei dar um passo à frente por
impulso em ajudar, mas Chris rapidamente me impediu.
E então aconteceu. Jogaram-no.
Meu corpo saltou como se tivesse levado um grande choque
elétrico e virei-me de uma só vez para Christopher, imediatamente
enfiando o rosto em seu peito, a procura de consolo.
Lágrimas e mais lágrimas jorraram de meus olhos. Ver aquilo
havia me desestabilizado completamente. Eu estava tão aflita que
não ligava de saber que havia várias pessoas ao nosso redor
testemunhando os meus soluços no corpo do garoto mais insensível
de Nabrya.
Uma mão sua afagou as minhas costas, enquanto a outra fazia o
mesmo em minha cabeça.
— Não se preocupe, Dingo. Ele vai sobreviver.
— Solta ela, Chris — a voz da minha irmã foi séria dessa vez.
— Não — ele retrucou.
— Eu vou levar ela daqui. Me desculpa, Dy. Eu não sabia que o
trote desse ano seria assim, ou juro que não teria te trazido.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Imaginei que fossem fazer algo mais leve.


— Ah, cale a boca! — Christopher a interrompeu duramente. —
Não existe trotes leves, Loren. Se ela está bem, isso não é graças a
você.
— Quer me ensinar a como cuidar da minha irmã? — Ela parecia
ainda mais brava.
— Se não fosse por mim... — o tom de voz dele baixou até que
se tornasse um sussurro. — Sua irmã estaria nesse mesmo buraco
que todos os outros. Talvez, na mesma situação que o último garoto.
— Chris. — Soprei para que ele parasse.
Não havia motivos para que ele a fizesse sentir culpa disso
agora. Eu não queria que ele a deixasse mal.
— Você é só uma idiota, Loren.
— E você é um grande cretino que só quer se aproveitar da
minha irmã! — Loren aumentou o tom.
Me afastei um pouco de Chris, mas bastou para que ele me
puxasse de volta para onde eu estava.
— Não. Fique aí. Você não vai querer ver nada do que está
acontecendo, Dingo Dingo. — Ele dizia sorrindo, mas eu estava
curiosa.
— Vamos logo, Dy. É melhor que não fique perto desse idiota.
Ele vai se aproveitar de você até onde puder. É o que ele sempre faz.
Christopher riu. Ergui meu rosto para ele e franzi as
sobrancelhas.
— Por favor, pare.
— Qual é, Loren. Sua irmã já está grandinha para saber o que
quer. E se ela me quiser, quem sou eu para me opor — provocou-a.
— Duvido que ela ainda vá querer algo depois de conhecer a
pessoa desprezível que você é.
— Inferno. Sua irmã é uma grande empata foda, Dingo. Como
eu vou te pegar se ela não sai de cima?
— Chris, é sério. Por favor, pare de falar agora — implorei
baixinho.
Seu olhar indecente vagueou pelo meu rosto até que encontrou
o meu e sorriu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Calma, anjo. Só estou conversando com a sua irmã.


— Não faça isso.
Ele se encurvou um pouco mais para mim.
— Como quiser.
Sendo pega desprevenida, ele agarrou os meus lábios com os
seus e os chupou em um beijo caloroso, no entanto, rápido demais.
Eu estava completamente constrangida quando ele terminou.
— Deve fazer apenas meia hora que fizemos isso, e eu já estava
morrendo de saudades — comentou alto.
Não consigo me mover. Não consigo sequer olhar para Loren
agora.
— O gosto da sua boca é tão bom quanto o da sua boceta.
— Seu filho da puta! — Loren esbravejou e avançou para cima
dele, mas assim que me virei para trás, me deparei com a irmã de
Christopher, empurrando-a.
De um segundo para o outro. Todo mundo havia parado para
nos olhar, esquecendo completamente do trote.
— E quem é essa valentona, Yori? — a garota alta e esbelta
indagou provocativa. Seu olhar ácido e sério me lembrava o dele.
— Que porra é essa? — Loren rebateu.
— Opa, ringue de irmãs. Eu aposto na Amara. E você, Dingo
Bells? — Chris brincou.
Olhei para ele boquiaberta e ele balançou a cabeça.
— Tudo bem não torcer para a Loren. Se ela fosse minha irmã,
eu também não torceria. E ela não pode ficar chateada. Ela quem te
trouxe aqui, lembra?
É impossível ter uma conversa séria com ele.
— Chris, pare as duas — pedi, irritada.
— Elas ainda nem arrancaram uma gota de sangue uma da
outra, calma.
Eu mal podia acreditar que Christopher ia mesmo deixar que
Loren e Amara continuassem a discutir ao nosso lado e tratasse
aquilo como uma aposta de cavalos.
— Ei, ei. O que tá acontecendo? — Joshua chegou, ao lado de
Claire e Marcos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Esse filho da puta tá se aproveitando da Dytto. — Loren


apontou para nós dois. — E essa cretina acha que pode vir para cima
de mim. — Quase podia ver fumaça saindo de dentro dela.
— Você não aguenta uma briga de verdade, imbecil — Amara
rebateu.
— Quer apostar pra ver?
Loren foi para cima dela, mas Joshua se meteu no meio e no
mesmo instante eu fiz o mesmo.
— Vamos embora! — ditei, séria.
Agora já mal me lembrava do porquê me senti mal. Tudo estava
acontecendo rápido demais.
— Você não aguenta a porra de um murro — Amara continuou.
Olhei séria para Chris, esperando por alguma ajuda da sua parte.
Todavia, ele apenas se divertia assistindo a situação, esperando que
elas partissem para a ação.
— Chris, por favor, eu faço qualquer coisa. Só não deixe elas
brigarem — implorei, melindrosa.
Ele suspirou frustrado, mas parecia finalmente ter cedido.
— Deixa essa briga para um outro dia, irmã. Essa merda vai ter
que ser adiada — pronunciou, desanimado.
Amara riu baixinho.
— Tô sempre aqui — ela desafiou, olhando diretamente para
Loren.
As bochechas da minha irmã coraram por um momento, mas ela
disfarçou, olhando para mim.
— Vamos! Antes que eu acabe com a vida de alguém hoje. E eu
nem sei de qual irmão eu estou falando primeiro.
Tive que engolir em seco, pois não sabia se eu estava inclusa.
Arrastando todo mundo a força, Joshua e Marcos se
encarregaram de intervir na briga. Claire ainda nos observava
confusa, mas não disse nada.
Christopher continuou a me encarar, mesmo após termos nos
afastado.
Maldito! Agora eu teria problemas ainda maiores assim que
chegasse em casa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

02 de Abril | Terça-feira

Nem uma única palavra. Nada.


Eu via em seu rosto pálido o quão imersa em pensamentos ela
estava. Seus lábios não se moverem nem um único milímetro desde
que entramos em seu carro.
Loren estava indiferente a situação. E isso era ainda pior do que
se ela apenas gritasse comigo e me chamasse de "a pior irmã do
mundo".
Eu aceitaria todas as suas palavras. No entanto, isso nunca
aconteceu.
Aquele silêncio rasgava os meus ouvidos como um zumbido
agudo e estridente. Era muito mais difícil saber que ela estava tão
chateada, que não conseguia nem mesmo dizer algo, do que se
apenas brigasse comigo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Seus olhos castanhos mantinham-se presos à estrada. Distantes


e vazios. Ausentes do atual momento, enquanto eu me corroía em
ansiedade ao seu lado, esperando por uma reação que parecia
nunca vir.
A parte interna das minhas bochechas já estavam sangrando e
os meus dedos doíam com tamanha força que eu impunha uns aos
outros. Minha respiração era silenciosa, porém descompassada.
Não fazia a menor ideia do que se passou em sua cabeça
quando Christopher me beijou. E odeio que ele tenha feito isso na
frente dela.
Se eu pudesse voltar atrás...
Ao chegarmos em casa, ela estacionou o seu carro na garagem,
abriu a porta e se foi.
Simples assim.
Saí vários minutos depois.

O sol raiou tão mais rápido do que eu queria.


Os feixes de luz atravessavam as cortinas brancas e destacavam
meu rosto sonolento. Meus olhos ainda ardiam e pesavam pela noite
mal dormida.
Minha cabeça latejou com mais força quando ergui o tronco para
sentar-me. Sentia como se estivesse sendo inteiramente martelada.
Eu só queria dormir, ou talvez correr para o banheiro e por tudo
para fora, como uma maldita bêbada. Mesmo que não houvesse uma
única gota de álcool no meu organismo, era como se estivesse
passando pela pior ressaca da minha vida.
A madrugada passada foi um porre e tanto. Meu estômago se
contorcia somente de lembrar.
Não recebi visitas de Christopher. Aposto que o que ele fez já
tenha sido o suficiente — momentaneamente — para preencher o
seu ego. Logo ele procuraria por mais, e eu precisava pará-lo de

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

uma vez por todas. Isso estava destruindo a minha amizade com a
minha irmã e me afundando em culpa.
Quando desci para o café da manhã, o casaco do papai e a bolsa
da mamãe, já estavam avulsos pela casa. Provavelmente haviam
chegado há pouco tempo.
Loren não tinha descido, de todo modo, eu não contava com a
sua presença na escola hoje. Ela ainda deveria estar dormindo.
Quando chequei o meu celular, havia algumas mensagens de
Luc:

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sorri com a sua preocupação por mim.


Oh, Luc. Como eu queria gostar de caras como você. Tudo seria
tão mais fácil.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ao chegar na escola, vasculhei o lugar, procurando


compulsivamente por Christopher. Eu precisava falar com ele o mais
rápido possível.
Era o momento certo para acabar com isso. Luc não estava pelos
corredores, Loren não tinha vindo e, bem, não havia mais nenhuma
outra presença por perto que poderia atrapalhar a minha conversa
particular com ele.
Esquece. Havia sim uma presença que poderia nos atrapalhar.
Na porta de uma das salas, avistei Christopher papeando com
uma garota um pouco mais velha do que eu. Ele estava com as duas
mãos no bolso, e a ouvia atentamente. A forma tão atenciosa da
qual ele a olhava me deixou enojada.
Foi automático. O ciúme assomou todo o meu corpo, como um
calafrio, mas não me prendi no lugar por isso.
Fingi desinteresse e caminhei até os dois. Meu coração acelerava
a cada dado passo, minhas mãos já começavam a suar frias e o
estômago se embrulhou. Era como se eu estivesse destinada a me
sentir assim toda vez que o visse.
Apenas fique tranquila, Dy. Apenas fique tranquila.
— C-Chris — as palavras saltaram assim que me aproximei.
Merda! Eu não planejava gaguejar assim que abrisse a minha
maldita boca.
A garota parou de falar no mesmo segundo e ambos trouxeram
sua atenção para mim. De repente, eu não queria mais ter vindo até
aqui.
— Eu preciso falar com você — informei-o, tremendo.
Ele uniu as sobrancelhas, como se fizesse pouco caso.
— Agora, não — disse, indiferente.
Isso não podia estar acontecendo!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O que eu havia feito que o deixou assim tão estranho de


repente?
— É muito importante — frisei.
Ele soltou o ar pela boca. O seu olhar duro me acertava como
uma espada atravessando o meu rosto e gritando "Eu não estou
nem aí para você".
— Em um outro momento, senhorita Bell!
— Não dá para esperar cinco minutos, droga? — a garota
cochichou quase inaudível, mas consegui ouvi-la perfeitamente.
Eu estava tão constrangida que queria morrer ali mesmo, apenas
para não ter que continuar vendo os dois me encarando com o mais
puro desprezo.
— Certo — sussurrei, sem jeito.
Ao me virar, dei apenas dois passos, para, então, ouvir a voz
autoritária e bruta me chamar.
— Espere!
Voltei a olhá-lo, porém, Christopher não parecia mais estar
prestes a enfiar suas garras em mim.
Ele apontou para um canto.
— Fique ali. Eu já converso com você — exigiu.
Balancei a cabeça.
— Esquece, desculpe a intromissão — soprei.
Saí dali com passos apressados. Estava cansada demais para
lidar com Christopher agora em seu constante mau-humor.
Eu nunca sabia se ele estava só irritado, se me odiava por
completo, ou se só fazia isso por diversão.

Aconteceu em mais ou menos cinco minutos depois de eu ter


saído de sua frente. Christopher já estava logo atrás de mim, com a
sua enorme mão envolvida em seu braço, segurando-me ávido.
Sua repreensão sobre mim era nítida. Ele estava tão puto!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Garota teimosa! — resmungou, enquanto me puxava para o


lado contrário do meu trajeto.
— Não parecia nem um pouco interessado em me ouvir. Agora
isso? — reclamei, irritada.
— A escola toda está de olho em nós dois, caramba. Quer ser
expulsa pelo diretor?
Merda! Papai não poderia descobrir isso de jeito nenhum. Mas
não estávamos sendo exatamente discretos há um bom tempo.
Apontei com os olhos para a sua mão em meu braço.
— Quer que me expulsem?
Ele apertou o maxilar.
— Tô começando a considerar essa ideia.
Fiz cara feia, e ele sorriu.
— Vamos procurar uma sala vazia para conversarmos — avisou.

— Não vai mais me importunar e nem irritar a minha irmã —


disse séria, andando de um lado para o outro.
Christopher curvou um sorriso arteiro nos lábios e colocou as
pernas sobre a carteira a frente de onde estava sentado.
— Estou falando sério, Chris — pontuei firme e ele rapidamente
assentiu, no entanto, ainda em tom de brincadeira.
— Claro, claro. Deixa eu só anotar aqui na minha cabeça.
Ele ergueu a mão, como se segurasse uma caneta, fechou os
olhos e fingiu escreveu no ar.
— "Não importunar a Dingo Bells e nem irritar a irmã chata
dela". Está anotado, algo mais? — Ele abriu as pálpebras. As íris
verdes fincadas em meu rosto.
Suspirei fundo.
— Também não irá mais... não irá... — tímida, cruzei os dedos
uns nos outros e os encarei, para que assim conseguisse impulso ao
tentar dizer. — Não vai mais me fazer ter sonhos indecentes com

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

você — minha voz estava surpreendente mais baixa e retida quando


terminei.
Ele passou a língua sobre os lábios.
— Certo. — Sem tirar os olhos de mim, ele prosseguiu: —"Não
ser mais tão atraente, para deixar de ser o objeto sexual dos sonhos
da Dingo." — rabiscou no ar com malícia.
— Não é isso. Você sabe do que eu estou falando — rebati,
brava.
— Eu sei? — Christopher fingiu-se de desentendido, do jeito
mais cínico que conseguia.
Balancei a cabeça, concordando.
— Também não irá mais me beijar — continuei.
Ele pendeu sua cabeça para o lado, olhou-me de cima baixo,
demorando-se apenas em lugares dos quais ele mais parecia
interessado em tocar, em resumo, meu rosto, peitos e coxas, em
seguida se levantou de onde estava.
— Não? — pressionou.
Balancei a cabeça, negando.
Seu corpo alto veio devagar, no entanto, cheio de atitude em
minha direção. Meu corpo havia entrado em pânico. Sentia como se
todas as partículas de mim estivessem em chamas.
— Também não vai mais se aproximar de mim. — Dei um passo
para trás. — Não vai mais agir como se eu fosse sua. — Recuei mais
um. — Não vai mandar em mim. — E mais um. — Não vai...
— É uma lista muito grande. — Interrompeu-me duramente. —
E eu ainda nem comecei a fazer o que eu quero com você. Isso não
é justo para nós dois.
— É, para mim.
Christopher começou a dar passos mais largos quando me viu
fugindo de sua proximidade. Ele queria me alcançar a qualquer
custo.
— Chris, fique longe — alertei-o, mas isso não serviu. — Por
favor, apenas fique longe. — Ofeguei.
No instante em que ele me alcançou, seu primeiro toque fora em
minha bochecha. Um gesto modesto e gentil, que se desfez tão

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

rápido quanto se formou. Logo, sua mão estava entrelaçada aos fios
do meu cabelo, puxando-me a ele, seus lábios quentes e molhados
deslizando em todo o meu pescoço, sua outra mão deslizando para
debaixo da minha saia.
Seus dedos longos e curiosos tatearam a parte interna de
minhas coxas, subindo e deliciando-se de cada centímetro de mim.
— Temos um pacto, amor — Chris sussurrou em meu ouvido, a
voz impiedosamente sexy.
— Não...
— Não devia ter cruzado o meu caminho, anjo. Deveria ter se
mantido longe.
— Foi você quem cruzou o meu.
Ele riu.
— Não, amor. O diabo nunca cruza o caminho de ninguém.
Seus dentes mordiscaram a minha pele. Ele incitou que eu
continuasse a andar até que estivesse com o corpo colado na
parede, e quando o fiz, Christopher colocou suas mãos em minha
cintura e enfiou seu joelho entre as minhas pernas, pondo-me
apoiada sobre ele.
— Se você, em momento algum, aparecesse na minha vida —
sussurrou, tão próximo da minha pele que podia sentir o sopro de ar
quente vindo de seus lábios. — Eu nunca iria saber como é estar
obcecada por uma alma. Por uma garota. Pelo desejo de te fazer
pecar. De querer te fazer cometer as piores danações. Eu quero que
você queime comigo.
— Me deixe em paz — murmurei.
Ele encostou a sua testa na minha e suspirou baixo.
— Sabe qual é a pior parte? — pronunciou rígido.
— Qual?
— Eu sinto tudo o que você sente. E não há uma única mínima
parte de você que quer que eu a deixe ir. Não há nada em você que
queira me afastar, e isso... Inferno! É muito bom, Dingo. Eu quero te
foder aqui e no inferno sem parar.
Engoli em seco. Seus olhos finalmente avançaram até os meus.
Ardentes e furiosos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Por um segundo, esqueci como se respirava, e tudo a minha


volta tornou-se nublo. No momento, só existiam aqueles olhos
sombrios, aqueles lábios sacanas, aquele rosto tão dolorosamente
lindo e o corpo que, pelos céus, era capaz de ser tão incrível.
Só ele. Apenas ele.
— Pare de mexer comigo. Eu preciso voltar a ser quem eu era —
cochichei trêmula.
— Eu não quero parar.
— Eu preciso que pare.
— Me responda uma única coisa. — Ele ergueu um dedo diante
dos meus olhos.
— Sim?
— Você é virgem, querida Dingo Bells?
Minhas bochechas imediatamente esquentaram.
— É isso que quer de mim, não é? — a minha voz saiu
arrastada, eu não conseguia disfarçar o quão decepcionada estava.
— Eu quero comer você. Em todas as posições. Em todos os
lugares — sua voz baixou um pouco mais. — Em todos os cantos
que você quiser que eu entre. Mas há algo mais que eu quero, e isso
vai além de sexo.
Me afastei um pouco.
— Está apaixonado por mim?
Ele frisou a testa, intrigado.
— Obcecado — respondeu.
— E quando isso passar?
Ele gentilmente acariciou o meu rosto com as pontas dos seus
dedos.
— Se eu não fosse o que eu sou, isso naturalmente passaria.
Mas não é da minha natureza se entediar. Vai querer que eu esteja
obcecado por você, e não apaixonado. Se fosse só paixão, eu não
seria tão paciente ou gentil.
— Você não é gentil — protestei. — Você me atormenta. Me faz
sentir dores. Me faz acordar gritando. Você nunca foi gentil.
— Se eu não fosse gentil. Você estaria morta há tempos.
Minha respiração fraquejou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não vou agradecer — debati, nervosa.


— Eu sei que não. Mas de todo modo, não fui eu quem te fiz
gritar.
— Você, de alguma forma, está em todas as partes do meu
corpo. Eu não sei o que você fez, ou o porquê fez. E eu sinto que
nunca vou entender isso ou o motivo de todos esconderem segredos
sobre você. A minha irmã tem segredos sobre você. E eu não paro
de sentir culpa por ter deixado você se aproximar tanto, ou de ter
permitido que me beijasse na frente dela e dos meus amigos.
— Pare de cavar buracos ou entrará muitos ossos — seu timbre
transformou-se em algo mais autoritário, a expressão em seu rosto
tornou-se macabra. Eu sempre tinha medo quando ele fazia isso.
Em um segundo, éramos Christopher e eu, noutro, ele era
apenas mau e misterioso.
— Você quer tudo de mim. Não é justo que eu não tenha nada
de você.
— Você já me tem mais do que qualquer outra pessoa já teve.
Basta! — esbravejou ele.
— Não basta.
Christopher se afasta abruptamente.
— Vá para a sua sala, senhorita Bell — ordenou.
— E se eu não for?
— Eu mesmo a levo.
Assenti, contrariada. Sentia um bolo de emoções presas a minha
garganta. Minha vontade era de gritar com ele. Mas já meus olhos,
denunciavam a chegada de lágrimas. Portanto, apenas concordei.
Não me prestaria a chorar para ele.
— Eu vou fazer o que eu quiser e você não tem nada a ver com
isso. — Dando-lhe as costas, marchei duramente para fora da sala.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

03 de Abril | Quarta-feira

— Por que as duas estão tão quietas? — Mamãe semicerrou os


olhos, inclinando-se levemente sobre os cotovelos na mesa. — O que
foi que vocês aprontaram?
De um lado da mesa estava Loren, o olhar cabisbaixo e os
braços cruzados. Totalmente afundada em silêncio. De outro, eu,
olhando-a como um cachorro chutado, implorando a ela por um
olhar que fosse.
Minha irmã, em geral, não era de conversar, mas certamente, de
perturbar ou negligenciar a paz alheia. Porém, hoje, ela estava mais
quieta do que o normal, e eu sabia bem a razão.
— E então? — mamãe insistiu.
Me sentia sufocada. Como se precisasse urgentemente resolver
as coisas. Eu não queria ficar assim com Loren. Ela era a minha
melhor amiga, minha confidente e a pessoa que eu mais amava.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Poderia passar anos sem me envolver com qualquer cara, mas


era quase impossível suportar passar um dia sem falar com ela.
— Podemos dormir na casa da Claire hoje? — me prontifiquei.
Loren rapidamente ergueu os olhos para mim, confusa.
— Claire? Ainda estão de castigo. — Ever cruzou os braços.
— Eu sei. E eu prometo que nós duas vamos compensar indo às
missas mais vezes e chegando em casa tão pontual quanto nunca —
garanti.
— Por quê? Você odeia sair, Dytto — perguntou, desconfiada.
Balancei os ombros.
— Eu preciso me divertir mais vezes, e a Claire não é ruim.
Estamos preparando uma noite de garotas. — Olhei para Loren,
indiretamente pedindo por sua cumplicidade.
Bom, não era tudo mentira. Mas eu com certeza não estava
saindo para me divertir ou para uma noite de garotas. Apenas queria
encontrar uma forma de fazer as pazes com Loren.
Mamãe soltou o ar com força e assentiu.
— Estejam aqui bem cedo amanhã. — Ela apontou o dedo
indicador em cima da mesa e fincou o seu olhar mais rígido sobre
nós. — Bem cedo — enfatizou. — O pai de vocês anda muito mais
irritado que o normal e eu não quero que as duas percam a
confiança dele.
— Sim, senhora — sussurrei.
— Claro. — Loren concordou seca.

Enfiei mais roupas na minha bolsa do que realmente precisava.


Íamos passar apenas uma noite fora, mas eu não pretendia ir para a
casa de ninguém. Tinha planos de parar em algum lugar tranquilo,
beber algumas cervejas com Loren e ver o nascer do sol juntas.
Parei de arrumar as minhas coisas quando ouvi dois toques sutis
na porta do meu quarto e me virei. Loren estava parada, com uma

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

pequena bolsa em sua mão, quase que completamente vazia.


— Me avise quando você for sair — murmurou baixo.
— O quê? Não vai comigo?
Seu olhar mudou de alheio para intrigado de um segundo para o
outro.
— Não está indo dormir na casa dele? — Ela frisou as
sobrancelhas.
— Dele? — declarei minha confusão.
— Christopher.
O que? Ela pensou que eu estava usando-a para dormir na casa
do Christopher?
— Claro que não — protestei. — O que acha que estamos indo
fazer?
— Pensei que estivesse querendo dar uma fuga para ver ele —
respondeu, simples.
Agora conseguia entender melhor o seu jeito desinteressado.
— Eu não tenho nada com ele. Sabe bem disso.
Seu rosto contraiu levemente, como se não concordasse tanto
assim comigo.
— Eu só queria passar um tempo com a minha irmã. O que deu
em você? — impliquei, olhando-a rápido de cima a baixo.
Ela encostou o corpo no batente e deixou que um longo suspiro
escapasse de seus lábios.
— Você mente mal, Dytto. Muito mal.
Tombei a cabeça para o lado.
— E eu menti sobre o quê?
Ela curvou um sorriso sem vida.
— Está apaixonada por ele.
Meu corpo automaticamente sobressaltou.
— N-não!
Seus olhos examinaram o meu com exatidão.
— Eu te conheço a quanto tempo mesmo? — provocou.
— Eu não sei do que você...
— Ah, para! — disse séria. — Não vamos jogar esse jogo de
"Você finge que não sente e eu finjo que acredito". Isso já está tão

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

óbvio que chega a ser esquisito.


Por um momento, quis encolher todo o meu corpo, até que
coubesse dentro de uma caixinha, para, então, poder me trancar lá
para sempre. Só assim eu não precisaria mais passar por situações
tão constrangedoras como esta.
— Se quer vê-lo, vá em frente. Só espero que ele não seja tão
idiota com você quanto foi comigo ou qualquer outra. Você não sabe
metade da história dele.
— Eu não pretendo vê-lo, Loren.
— Mas devia. Assim poderiam resolver de uma vez por todas
seja lá o que está acontecendo.
— Tá bom. Agora é a sua vez de parar. Eu tô tentando resolver
as coisas entre você e eu. Também tô tentando te dizer que não
tenho nada com o Chris, mas acho que você não me escuta.
— Dytto eu tô escutando as mentiras que tem contato a si
mesma há dias. Eu não sou cega, está bem? Eu vejo claramente
tudo o que está acontecendo.
— Loren, por favor, pare. Eu não quero que você fique com raiva
de mim ou...
— Com raiva de você? — pontuou. — Eu não estou com raiva de
você, Dytto. Eu estou com raiva dele.
Loren deixou que a sua bolsa caísse no chão e relaxou os
ombros.
— Não me importo que esteja apaixonada ou que esteja ficando
com alguém. O problema é a pessoa que você escolheu ficar. — A
expressão em seu rosto tornou-se melancólica. — Christopher é um
cara bonito, atraente e todas as coisas que uma garota procura
quando está a fim de viver uma paixão doida. Ele é tudo isso, Dy.
Ela balançou a cabeça.
— Só não é o cara certo para ninguém — finalizou, infeliz.
Mordi o canto dos lábios.
— Eu não o escolhi — cochichei.
— Mas está se apaixonando.
— Não por escolha.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu sei. E é por isso que eu estou tão furiosa com ele. Eu


tenho medo por você, Dy. Medo do que ele pode fazer depois que
você estiver totalmente apaixonada por ele.
— Não precisa agir como se precisasse me defender de tudo o
tempo inteiro.
— Foda-se, Dy. O problema aqui é ele — debateu, irritada. —
Christopher acha que pode fazer o que quiser com a vida de quem
ele decidir infernizar. Ele pode ter feito isso com outras pessoas, mas
você tem a mim, e eu pretendo te defender até o fim de qualquer
que seja a idiotice que ele tenha preparado para você. Eu não posso
deixá-lo te manipular.
— Christopher sabe disso, e é por isso que você precisa parar.
Ele só quer te provocar, Loren. É você quem ele quer infernizar.
Seus olhos estagnaram em mim, incapazes de acreditar no que
ela estava ouvindo. As peças pareciam ter se encaixado em sua
cabeça. Ela estava incrédula.
— Eu sei que não é fácil lidar com ele, mas não acho que ele
queira me infernizar. Eu sei que o Chris não tem intenções boas
comigo, mas ele é só um cara que quer as mesmas coisas que os
outros. Logo ele se entedia e segue em frente. Você vai ver — eu
disse, tão convicta que, por um instante, até eu acreditei em minhas
palavras
Eu não sabia se estava tentando a confortar, ou apenas
enganando a mim mesma de que não havia algo mais ali.
Christopher não queria só a minha virgindade ou o meu corpo. Ele
desejava a minha alma e os meus pecados. E era por isso que eu o
temia tanto.
— Podemos ir agora?
Ela deslizou a língua sobre os lábios e assentiu.
— Talvez você tenha razão — sussurrou. — Christopher é
incapaz de sentir algo por qualquer pessoa ou até mesmo de se
apaixonar.
Aquele frio na barriga quis me engolir, mas tão logo disfarcei.
— Claro. Ele nunca sentiria nada por mim, Lô. — Forcei um
sorriso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela baixou os olhos.


— Isso tudo é uma merda — refletiu sozinha.
— Posso perguntar algo? — balbuciei. — Ainda está apaixonada
por ele?
Loren se empertigou envergonhada e desviou o olhar para um
canto qualquer.
— Vou ligar para a Claire. Vamos fazer essa tal "Noite das
meninas". — E assim, ela rapidamente pegou sua bolsa do chão e
saiu. Confirmando o que eu temia.

A noite das meninas se transformou em uma pequena reunião


de amigos, e em seguida, numa festinha particular.
Não havia muitas pessoas além do nosso grupo e mais umas
outras seis pessoas. Ainda tínhamos o controle da situação. O
problema era Marcos, que quando ficava bêbado perdia as
estribeiras e logo chamava quem quer que ele visse. Por este motivo,
não pude tirar os olhos dele.
— Marcos, não pode ficar dando em cima de todas as garotas do
mundo. Em algum momento, vai topar em uma que tenha um
namorado muito bravo e vai levar uma surra por isso! — o
aconselhei.
— Não se preocupe, Dytto, eu sei me cuidar. — Ele exibiu seus
músculos murchos e balançou as sobrancelhas.
Revirei os olhos pela quarta vez.
— Beba mais água e fique sóbrio de uma vez por todas —
reclamei, enfiando a garrafa na sua cara.
Ele gargalhou, mas derramou o líquido em sua boca mesmo
assim.
Enquanto eu me encarregava de ser a babá de Marcos, Claire
estava transando com Joshua em seu quarto e Loren estava
dançando sobre a mesa do jardim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela rebolava até embaixo e subia esfregando as mãos em seu


corpo conforme a batida da música. Loren não era de dançar
daquele jeito. Por mais que tivéssemos tocado no assunto do qual
estávamos evitando, isso não tornou a situação mais leve.
— Mais que droga é que ela tem? — resmunguei sozinha.
— Sei lá, ela é sua irmã, você é quem deveria saber — Marcos
se intrometeu, supondo ser com ele que eu estivesse falando.
Apenas suspirei, derrotada. Lidar com bêbados era cansativo.
— Vem cá, por que tá tão quieta hoje? — questionou.
— Não é nada.
Ele coloca sua mão sobre a minha na mesa.
— Se não fosse nada, não estaria tão distante — argumentou.
Seus olhos já estavam miúdos de tão alcoolizado, então para
que se dar ao trabalho de esconder o que eu estava sentindo se ele
nem mesmo se lembraria depois?
— Só não gosto de ver a Loren agir desse jeito. Parece que ela
simplesmente muda quando está mal e acaba se entregando para o
mundo de uma maneira estranha.
— Não se preocupa, Dy. Nós estamos de olho, nada vai
acontecer com ela.
— Não é isso... É só que, eu vejo que ela está mal, mas ela não
se abre comigo.
— Tem coisas que é melhor guardar.
— Não, não tem não. Nós só guardamos as coisas quando
estamos com medo de lidar com elas, mas isso só se acumula, e
depois, sofremos as consequências.
— Vem, deixa isso para lá. — Ele se levantou e me puxou para
junto dele. — Que papo chato! Vamos dançar.
Sorri envergonhada. No entanto, antes que eu pudesse ter a
chance de negar, Marcos já me arrastava para o meio do jardim.
Tecnicamente não estávamos em uma festa pra lá de grande como
sempre fazíamos, mas já era o bastante para que eu quisesse me
esconder.
— Se deixa levar — disse animado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Enquanto ele já aparentava estar totalmente à vontade, eu me


prendia ao chão como uma árvore.
— Desculpa, eu não consigo — murmurei tímida.
Ele riu. Marcos deu a volta em meu corpo e pôs suas mãos em
minha cintura.
— Faz assim — guiou-me a se remexer de um lado para o outro,
porém eu estava travada. — Relaxa, Dy.
Apesar de sua ajuda, continuei dura no lugar. Marcos insistiu em
meu progresso, mas logo percebeu a péssima dançarina que eu era.
— Feche os olhos — pediu.
— O quê? — perguntei, nervosa.
— Apenas feche os olhos. Imagine que está sozinha no seu
quarto. Apenas você, e dance, Dytto.
Com um pouco de relutância, fiz o que me pediu. Tentei me
fantasiar sozinha em meu mundinho, com uma música bacana
tocando. Aos poucos comecei ao que poderia ser chamado de
"dançar", ou pelo menos, tentei que se tornasse isso.
— Bem melhor. — O ouvi sussurrar risonho.
Sorri junto, mas decidi continuar com a fantasia na minha
cabeça. Ainda não queria acabar com a pouca coragem que me
restava.
Marcos escorregou as suas mãos para os meus quadris e me
puxou para mais perto. Assim que senti seu corpo quente colidir ao
meu, fiquei imediatamente desconfortável e parei.
— E-eu acho que já está bom. — Ergui as pálpebras e me virei
para ele.
Sem pensar muito, Marcos agarrou os meus lábios em um beijo
desesperado.
Eu não sabia o que fazer. Era informação demais para se
processar naquele pequeno espaço de tempo. De repente, ele estava
chupando os meus lábios como se fossem uma laranja. Uma de suas
mãos estava na minha cintura e a outra em meu rosto.
Tentei dar a mesma atenção aos seus lábios, mas era difícil,
estranho e incômodo.
Não estava rolando!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Não estava ruim, mas, também não estava bom.


Para falar a verdade, estava meio merda.
Céus! Quando ele ia parar?
Marcos enfiou sua língua em minha boca, praticamente atingindo
a minha goela e quase chorei de nojo. Que porra ele estava tentando
fazer? Uma lavagem estomacal?
Tentei afastar o meu rosto, mas isso só o fez avançar mais.
Eca, eca, eca.
Quando ele finalmente cessou, tentei não demonstrar o pavor
que eu sentia.
Sorri constrangida e Marcos beijou a minha bochecha.
— Você é linda pra caralho, gata — murmurou no meu pescoço.
— Valeu, Marcos — respondi apática, ou melhor, traumatizada.
Ele começou a dar beijos em minha pele, o que, por
consequência, me fez ter arrepios, e não de um jeito bom.
— Acho melhor a gente parar por aqui. — Segurei-o pelos
ombros.
— Tem certeza? — Ele fez beiço.
— Tenho! Acho que isso não é certo. Vai acabar com a nossa
amizade, entende? — Sorri nervosamente.
— Nossa amizade é forte, vai aguentar.
Recuei um passo.
— É melhor não. Loren vai te matar se souber, e você sabe que
eu não sou boa em esconder segredos. Nossa amizade não seria
mais a mesma.
Lancei um olhar rápido para a minha irmã, que sequer havia
percebido qualquer coisa que estivesse acontecendo a sua volta.
— Dytto, qual é? Foi só um beijo, nada demais. Amigos se
beijam de vez quando.
— É, mas isso é um pouco estranho, foi mal.
Recuei dois passos.
— Mas foi... foi... — tentei achar a palavra mais sutil que
surgisse em minha cabeça — legal. — Mostrei-lhe o dedão em sinal
de joinha e sai quase que correndo dali.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ao chegar no quarto de hóspedes em que eu ficaria, tranquei a


porta e joguei-me na cama. Mais que imediatamente meu celular
vibrou no bolso, alertando-me de uma mensagem.
O pesquei na roupa e acendi a tela. Havia uma notificação de
um número não salvo. A toquei ligeiro, com a mais pura curiosidade.
Quem estaria me mandando mensagem à meia-noite?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

04 de Abril | Quinta-feira

Um toque gélido e calmo constatou a minha bochecha com


delicadeza e a percorreu até o meu maxilar. Minha pele
instintivamente se arrepiou.
Ainda com os olhos fechados, sentia-o atrás de mim. Seu olhar,
mesmo que não diretamente assertivo ao meu, tomava-me a ele
com abrupta força, pois sua repreensão pesava toneladas em meus
ombros.
O sangue em minhas veias congelou ao sentir a sua respiração
quente e pesada colidir em meu pescoço. O som de como inspirava e
expirava, demonstrava, sem espaço para dúvidas, que ele estava
furioso.
Mordi o lábio inferior com tanta força que senti o gosto metálico
e enjoativo irromper em minha língua. E enquanto ainda mantinha a

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

farsa de garota adormecida, Christopher desfrutava do meu corpo


seminu na cama.
Alguns momentos antes, após receber a sua mensagem,
mergulhei em um longo banho quente, a fim de retirar qualquer
resquício da festa barulhenta que ainda rolava no jardim de Claire,
vesti apenas uma calcinha e me aconcheguei ao colchão.
A culpa me consumia de tal modo que eu mais parecia estar em
um relacionamento com Christopher. Os sentimentos de
arrependimento e traição me arrebataram. Eu não o devia nada, mas
o meu corpo se mostrava contrário, gritando internamente para cada
fragmento meu: "Sim, sim, você deve lealdade a ele. Seu corpo é
dele."
Havia partes de mim que ignoravam o senso comum da
realidade. Que apenas queria viver aquela fantasia suja e imoral.
Que durante as noites implorava pelo seu toque, que se mergulhava
em êxtase e luxúria toda que vez que ele se aproximava. Eu só
queria ele, ele e ele.
O simples ato de o sentir próximo, mexia com cada célula viva
do meu corpo. Eu estava doida. Tão obcecada por ele, quanto ele
por mim. Maldito vício por Christopher que me tirava os pés do chão
e me levava a delirar. Isso não era certo.
Eu era uma cristã devota a cristo, mas sedenta pelo Diabo
Christopher.
Sua enorme mão se enfiou debaixo do lençol pesado e se
acolchoou por entre as minhas pernas. Um de seus longos dedos
esticou a minha calcinha para o lado. Meu coração bateu mais
intensamente ao denotar sua atitude cheia de convicção.
A ponta do seu dedo escorregou entre os lábios da minha boceta
e brincaram com a umidade de prazer já presente. Eu estremeci por
completo.
— Diga depois de mim — ele sussurrou, o tom de voz agressivo
e dominador. — Diga que me pertence — ordenou.
Meus lábios se entreabriram lentamente, mas sem forças para
emanar aquelas palavras ditadas por ele.
Puxei com o ar com força e encolhi os ombros.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Diga antes que eu me aborreça ainda mais com você —


sibilou.
Um tremor escalou da minha espinha até o meu pescoço. Minhas
mãos soavam frias e tremiam sem parar.
— Eu per-t-tenço ao Christopher.
— Desde o mindinho do seu pé, até o último fio de cabelo, você
é minha — declarou. — Cada pedaço seu, é meu.
Seu dedo pressionou a minha entrada.
— Tudo. — Frisou, deslizando mais dele dentro de mim.
— Chris... — arquejei.
Seu movimento era devagar em minha boceta. Lento como uma
tortura, mas, preciso como uma flecha.
Seu dedo afundou mais rápido. Meu corpo se contraiu e
pressionei minhas pernas uma contra a outra.
— Isso está indo longe demais — soprei em voz baixa e fraca.
— Não, meu amor. Vai me sentir indo longe demais quando você
estiver chorando e eu colocando todo o meu pau nessa sua boceta
virgem — gracejou, maldoso. — Ainda vai me agradecer por eu estar
preparando-a para o que eu vou enfiar aqui dentro.
— Você está me assustando.
— Eu vou te machucar. Mas será só um pouquinho. — Ele foi
perverso ao responder. Estava se divertindo com o meu medo,
bagunçando a minha mente.
Christopher sobrepôs-se a mim. Seu corpo com mais de dois
metros de altura apertou-me contra a cama e fez pressão em meu
íntimo. Sua mão já não estava mais em mim, mas seu nariz tocava
de leve a ponta do meu. Estávamos frente a frente.
— Eu vou te mostrar quem manda em você — murmurou, com
seus lábios quase colados ao meu.
Ele desceu o meu corpo, abocanhando a minha pele em um
rastro que chegaria ao meu seio, e o enfiou todo em sua boca
gulosa, chupando-o com força. Seus dentes mordiscaram o bico do
meu peito e a sua língua o lambeu em círculos.
Da minha boca, emanava-se gemidos obrigatoriamente contidos.
Eu não queria que o resto da casa me ouvisse sendo feita de doce

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

na língua maliciosa de Christopher.


Suas mãos apertaram os meus quadris com brutalidade,
enquanto ele abaixava-se sobre ele, prontamente colocando minhas
duas pernas por cima de seus ombros.
Sua língua molhada e quente encharcou a minha calcinha. Ele a
pressionava com a ponta de sua língua em minha intimidade,
forçando o tecido.
Eu estava desesperada, quente e suada. Tão excitada a ponto de
procurar extinguir meu desespero amassando os meus seios com
rigidez.
Arqueei o corpo, deliciando-me de seus chupões em minhas
coxas. Ele me lambia, mordiscava e sugava de maneira ininterrupta.
— Faça logo, Chris. Eu imploro. — Arfei, desconsolada,
pressionando meus seios com ainda mais força entre os meus dedos.
— Você quer, meu pequeno anjo? — provocou cínico.
— Eu quero. Sim, por favor! Eu quero.
Ele soltou um riso potente e rouco.
— Que calcinha horrorosa. — Ouvi-o sussurrar quase inaudível
antes de rasgar o tecido e arremessá-lo em meio a escuridão do
quarto.
Seus braços enroscaram-se por trás de meus joelhos,
flexionando-os suficientemente para que ele tivesse acesso a cada
ponto meu.
Não conseguia enxergá-lo, mas o imaginava olhando a minha
intimidade com um sorriso sacana.
Seus lábios agarraram a minha boceta, num beijo de língua lento
e sensual.
Naquele momento eu me sentia prestes a desmanchar-me em
sua boca e pedir para que me fizesse gozar de novo e de novo,
porém, antes mesmo que eu deleitasse deste prazer, Chris cessou
seus movimentos abruptamente e tornou a gargalhar.
— Apesar de você ser a coisinha mais deliciosa que eu já
experimentei, vou ter que te deixar molhada e insaciada.
Soltei um suspiro frustrado e juntei as sobrancelhas.
— O q...

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Vamos voltar ao ponto principal desta visita, meu amor —


gracejou. — Você beijou o Marcos, que feio! — pontuou em
repreensão. — Não faz ideia do quão misericordioso eu estou sendo
com o seu amiguinho desgraçado agora.
De repente, me sentia como uma garotinha indefesa levando
sermão. Sentia a dureza de suas palavras amargas ecoarem em todo
o ambiente.
— Eu poderia estar nesse exato momento fazendo ele se afogar
na própria merda, mas eu estou aqui, te fazendo gemer toda
manhosa.
Ele soltou o ar pela boca, irritado
— Você sempre atraiu toda a minha atenção. Até mesmo quando
me enfurece pra caralho. — Ele riu irônico. — Porra, achou mesmo
que eu ia te deixar gozar depois de você foder com o nosso acordo,
Dingo? — Ele novamente riu. — Sua trapaceira de merda.
Tentei me desvencilhar de seu corpo, no entanto, seu aperto se
tornou mais duro.
— Você está fodida, amor. Se antes me achava horrível, eu te
garanto que nada vai chegar perto do que eu vou fazer com a sua
vida. — Chris se ergueu, avançando sobre mim.
Imediatamente, levei minhas mãos ao seu peitoral, mas me
assustei ao presenciar sua pele áspera e grossa. Parecia ainda mais
assustadora do que qualquer outra vez que ele tenha me visitado.
— O que raios você é, Chris? — choraminguei, nervosa.
— Quer mesmo saber? — incitou cruel.
Apertei meu corpo ao colchão, à medida que o sentia se
aproximar.
— Sou o seu demônio sexual — reverberou arrogante. — Vai me
receber em seu corpo toda vez que eu a visitar.
Ele depositou um selinho rápido em meus lábios, mas eu estava
paralisada.
— E querida, por favor, me espere sempre nua.
Chris enfiou seu rosto em meu rosto e inspirou.
Eu não sabia o que dizer ou como reagir a nada daquilo. O
choque tomou conta da minha mente. Tudo parecia tão irreal. Mas

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

como eu poderia negar o que estava diante de meus olhos durante


todo esse tempo?
Eu agora sabia o que ele era, o que queria, e porque queria. Eu
era o seu objeto sexual. E de forma alguma conseguiria me libertar.
— Eu estou de olho em você o tempo inteiro. Se ousar me
insultar novamente, eu vou descontar a minha fúria sobre você —
ameaçou.
Seus lábios roçaram de leve o meu rosto. Meu peito era atacado
agressivamente pelas batidas desenfreadas do meu coração,
enquanto o resto de mim tremia de cima a baixo.
— Vou fazer com que aquele filho da puta nunca mais encoste
um único dedo em você.
— Deixa ele fora disso — protestei de imediato.
Christopher brincava com a vida de todos a sua volta, apenas
para satisfazê-lo, assim como Loren disse. Não havia maneira de
pará-lo, mas torci para que me escutasse.
— Você permitiu que ele se metesse no meu caminho. Isso é
culpa sua.
— Ele estava bêbado, Chris. Eu prometo que não vou mais beijar
ninguém
Por favor, apenas pare. Você está destruindo a minha vida.
Christopher escorregou sua língua em meu pescoço.
— Estou cuidando do que me pertence.
— Não há nada de especial em mim. Não faz sentido essa sua
obsessão.
O escutei conter o riso.
— Acha mesmo que eu não tenho razões para estar obcecado
por você, querida Dingo?
Ele afastou-se e suas duas mãos agarraram a minha cintura,
deslizando-as num sobe e desce, como se me apreciasse por inteira.
— Eu sinto você, meu amor. E eu te desejo. — Ele novamente
debruçou em mim.
— Você me dá medo — consegui pronunciar.
— Me desobedeça, e eu vou te dar mais do que só medo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Fiquei a noite inteira imóvel, fitando o teto do quarto, no mais


completo e absoluto silêncio. Meditei sobre cada palavra de
Christopher, fazendo com que ondas de enjoo me nauseassem com
todas as teorias que formulei sobre o que ele pretendia fazer com
Marcos.
Eu já não suportava mais a ansiedade corroendo os meus
nervos, meus músculos doíam com a tensão agarrada em cada fibra.
Precisava me concentrar, ou logo cederia e acabaria contando tudo
para a minha irmã.
Uma péssima ideia, óbvio.
— Você está melhor? — murmurei emendando em um bocejo,
não havia dormido muito, ou melhor, eu não havia dormido nada.
Loren tirou os seus olhos verdes da estrada por um segundo e
os trouxe até a mim.
— Eu bebi tanto assim? — perguntou bem-humorada.
Ok. Aquilo era estranho.
Ela acordou estranhamente feliz, como se apenas tivesse voltado
a ser a mesma de antes. Talvez a nossa conversa tenha servido de
algo afinal. Mesmo que ainda assim, eu tenha recebido uma nova
visita de Christopher, e simplesmente tenha implorado para que me
chupasse depois de tê-la dito que não queria nada com ele. Minhas
bochechas queimaram de vergonha com este pensamento.
— Eu não sei. Fui para o quarto mais cedo que os outros. —
Pigarreei, trocando o olhar para a janela.
A vista lá fora era bem melhor do que as cenas da festa da noite
passada sendo rebobinadas em minha mente como um filme de
terror.
Meu estômago se embrulhou ao recordar a razão. Ainda tinha a
memória corporal de Marcos tocando a minha goela com a sua
língua bem vívida. Ugh!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E quanto a você? — joguei o foco de nossa conversa para ela.


— Hum... Eu mal dormi, mas me sinto ótima. — Ela balançou os
ombros, animada.
— Tem certeza? Eu posso dirigir se quiser — ofereci, implorando
mentalmente para que ela dissesse que não, pois eu odiava dirigir.
Na minha opinião, o banco do passageiro era sempre melhor e
mais confortável.
Conseguia enxergar todas as lindas paisagens de Vespeau com
mais detalhes. Arriscaria dizer que era, até mesmo, a cidade mais
bonita de Nabrya. Era tudo sempre tão florido, grande, limpo e
rústico. E de todo modo, ela provavelmente dormiu bem mais do que
eu.
— Tenho. Eu não bebi muito.
— Por que eu tenho a impressão de que está mentindo? Ontem
você dançou até o chão. — comentei risonha.
Loren revirou os olhos.
— Porque era uma festa. Festas são feitas para dançar.
— Tudo bem, então. Eu não vou discutir. — Ergui as mãos em
rendição e escorreguei no banco. — O que vamos fazer agora?
— Vamos passar em casa, mostrar aos nossos pais que desta
vez fomos responsáveis com o horário, pegar nossas coisas e nos
mandar para aquele inferno que chamamos de escola.
— Argh! Não podemos fingir que estamos doentes? —
resmunguei, esfregando as mãos em meu rosto.
— Papai nos levaria imediatamente ao hospital e colocaria todos
para fazer um check-up completo em nós duas. E, depois que
percebesse que não tem nada de errado, iria nos estrangular até a
morte.
— Como é bom ter um pai médico — ironizei.
— Se ele fosse um pouco menos arrogante, estaria surfando em
algum lugar por aí, pegando todas as mulheres do planeta. Aposto
que ele não transa muito, porque ele é sempre tão... irritado.
— Que tal se não falássemos da vida sexual do nosso pai? —
intervi, enojada.
— Pais transam, sabia?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu prefiro não saber.

Ao chegar em casa, corri pelas escadas, pulando os degraus de


dois em dois. Loren iria apenas pegar as suas coisas e logo se
mandaria, queria a sua carona, mas se demorasse muito, ela não iria
me esperar.
Maldito mau-humor. Acho que ela também não transava muito.
Eu ainda pretendia trocar de roupas. Em geral, gostava de ir de
saia, mas ao que parece, não era única que apreciava a ideia, e eu
me recusava facilitar tanto assim para Christopher.
Era tão fácil para ele apenas colocar a sua enorme mão entre as
minhas pernas e me tocar como bem quisesse.
Não dessa vez, Torre Tatuada.
Me enfiei no meu closet e vasculhei todas aquelas roupas velhas
que eu guardava no "fundo do baú" e as esquecia para sempre até
um dia precisar de volta. Me admirei ao encontrar uma calça preta
de quando eu tinha 15 anos.
Provavelmente ficaria apertada, mas não é como se eu tivesse
engordado muita coisa desde então. Ao menos seria difícil de
Christopher enfiar a mão em minha calcinha.
Vestir aquela roupa foi mais difícil do que pensei. Talvez eu
tenha engordado um pouco nas coxas. Mas fala sério, como eu cabia
nisso tão bem? Que coisa mais apertada.
A minha bunda havia ficado mais em evidência do que eu
gostaria, e os meus quadris pareciam mais largos também.
— Fala sério! — cochichei irritada.
A intenção não era parecer uma patricinha sexy dos anos 2000,
no entanto, a vida nunca colaborou comigo mesmo.
Pulei o amontoado de roupas que havia deixado espalhado pelo
chão, joguei a mochila nos ombros e corri para o andar de baixo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu estava quase sendo declarada como paranoica em potencial


por qualquer um que me observasse por tempo demais.
Mesmo com a notícia dada pelo próprio professor de que
Christopher não nos daria mais aulas, — o que, de fato, fora uma
grande surpresa para mim, e uma grande decepção para outros —
meus olhos deslizavam lá e cá perambulando por todos os cantos.
Culpa dele de dizer que estava sempre me vigiando. Eu não
sabia de que modo ele o fazia, se havia pessoas naquela escola que
faziam o seu serviço de espionagem, ou se havia espíritos que
trabalhavam misteriosamente para Chris.
Nada mais na minha vida fazia qualquer sentido, então para que
eu procuraria razões lógicas ou científicas para tudo isso?
Me sentia um ratinho andando em círculos, perdida e confusa,
sendo dominada pelo labirinto que ele havia criado para mim.
Ele me dominava, seduzia e machucava. Tudo ao mesmo tempo.
Me via assustada mais vezes do que nunca antes.
— Fala sério! Eu não acredito que depois do Christopher, o
Marcos fez a mesma merda. — Luc reclamou, irritado.
Havia desabado com ele sobre a festa de ontem. Não contei
nada que envolvesse Christopher, pois não era este o ponto, porém,
só de ouvi-lo tocar seu nome em voz alta, recuei um passo, com
medo de que acabasse sendo punido pelo ato.
— É. Tudo isso é uma droga mesmo — concordei, com a voz
vacilante.
— E a Loren? Contou pra ela?
Balancei a cabeça, negando.
— Pretende?
— Do que adianta? Só iremos brigar com o Marcos e fazer com
que todo mundo fique puto. E, de todo modo, estava todo mundo
meio bêbado mesmo. Eu só quero encerrar esse assunto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Foi, tipo, sei lá, o seu primeiro beijo de língua. Deveria pelo
menos exigir um pedido de desculpas por ele ter sido tão ruim nisso.
Imediatamente corei. Marcos não foi o meu primeiro. Chris foi.
E, novamente, ele estava em minha cabeça. Pulsando como uma
alerta vermelho.
Maldito. Maldito. Maldito.
— Eu não quero mais tocar no assunto. — Fiz careta e abracei o
meu próprio corpo. — Já tenho uma cota de experiências de beijos
roubados bem extensa, na minha opinião. Eu só quero distância de
qualquer garoto que tente me beijar.
Ele riu.
— Eu estou nesta lista? — perguntou risonho.
— Se tentar me beijar novamente, com certeza vai estar.
Ele abriu um sorriso encantador.
— Bom, diferente de Marcos, eu sou gentil, e diferente de
Christopher, eu não fico paquerando as minhas alunas. Pode confiar
que eu poderia ser a sua melhor experiência.
— Quê? Chris dava em cima das alunas? — me alertei,
ignorando todo o resto do que ele disse.
— Ahn... Bem, eu vi algumas garotas falando sobre ele.
Estreitei os olhos.
— Mesmo?
— Qual é, Dytto? Acha mesmo que ele não ficou com ninguém?
Basicamente toda garota dessa escola se jogou no pé dele quando
ele chegou aqui. — Bufou, já revirando os olhos. — Mesmo ele
sendo um completo arrogante — indignou-se.
Mas é claro que ele poderia ficar com todas as garotas que
quisesse, mas eu não poderia nem mesmo ter um amigo homem
que ele já estava me enlouquecendo. Babaca!
— É. Eu vou falar com a Loren, podemos nos falar depois? —
desconversei, me afastando lentamente.
— Tá. Nos vemos depois.
— Certo. — Dei meia volta e sai com passos apressados.
Eu não estava procurando Loren.
Saquei o celular do bolso assim que entrei na primeira sala vazia.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Meus dedos voaram nas letras do teclado. Estava furiosa.

Soltei uma risada incrédula. Ciúmes? Que ridículo. Eu não estava


com ciúmes. Estava furiosa.

Mentiroso!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Enquanto ele digitava, eu mordia o canto dos dedos, ansiosa. Me


imaginava repetidamente xingando-o.

Ah, merda!

Bom... Acho que era a minha vez de visitá-lo, então.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

05 de Abril | Sexta-feira

Assim que as luzes de casa se apagaram e eu tive a certeza de


que todos haviam dormido, pulei pela janela do meu quarto e corri
por entre os arbustos do jardim até o portão.
Me sentia como uma espiã sexy de um filme extremamente
fantasioso, mas gostava da sensação de perigo. Qualquer passo em
falso e eu seria pega.
Passaria o resto da minha vida sendo castigada pelo olhar
julgador do meu pai. Teria filhos e ele ainda espalharia a história a
eles sobre como a filha certinha dele o apunhalou fugindo de casa
para se encontrar com um cara.
Eu esperava mesmo que tudo isso valesse a pena.
Eu não tirei o carro da garagem, pedi por um táxi e corri para a
esquina mais longe de casa. Estava tomando todo o cuidado do
mundo para que não me ouvissem saindo. Papai não notaria meu

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

sumiço, a menos que checasse as câmeras no dia seguinte, mas, se


eu fosse mais rápida, conseguiria apagar as gravações.
Sentia um frio agudo se espalhar por todo o corpo, apesar de
estar agasalhada da cabeça aos pés, ele agarrava-se a mim de um
jeito que me fazia fraquejar. Eu estava com medo, isto era óbvio,
nunca antes havia feito isso na minha vida. Tudo o que eu já fiz de
mais louco e fora do comum, fora feito ao lado de Loren, mas nunca
sozinha.
Eu só queria voltar a ser quem eu era e acabar isso de uma vez,
e era exatamente por este motivo — e o único motivo —, de eu estar
indo para a casa de Christopher.
Coloquei a mesma calça de hoje mais cedo. De agora em diante,
ela se chamaria "Anti-Christo".
Se ele não podia me tocar, não poderia me seduzir.
"Me seduzir" Céus! O que estava acontecendo? Eu estava
virando um homem?
Agora era só Christopher aparecer que eu não conseguia me
conter. Me condenava internamente por sempre deixá-lo abrir as
minhas pernas para ele.
Joguei a cabeça para trás e suspirei, formando uma ligeira
rajada de ar congelada. Deveria estar fazendo pelo menos uns -2°C
aqui fora. A avenida, apesar de tarde, ainda mantinha uma pouca
movimentação de carros.
A rua estava iluminada por pequenos postes de ferro, com luzes
amareladas e antigas, refletindo sobre as calçadas de concreto.
Gostava de como era calmo durante as primeiras horas da
madrugada. O silêncio era confortável. O táxi chegou uns cinco
minutos depois.

O lugar não era nada como eu havia imaginado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Não havia pichações, caveiras ou cruzes invertidas na frente do


imóvel. Era somente mais uma casa como qualquer outra de alto
nível.
A estrutura de madeira escura, alta e larga, possuía uma porta
extensa e, em seu entorno, janelas gigantes de vidro temperado e
escurecido. Havia pequenas muretas, calçadas e passarelas de
pedras. Era realmente uma casa desejável e grande, no entanto,
transparecia assustadora, como a sensação de um calafrio carregado
de pavor.
A porta se abriu assim que tomei proximidade. A visão de
Christopher apenas de calça jeans caída e o peitoral tatuado
descoberto fez com que minha boca se enchesse d'água.
E minha nossa...
Loren não estava nada errada quando me contou sobre a
tatuagem "666" na lateral da barriga dele e o bode satânico. Parecia
tão mais evidente aos meus olhos quanto qualquer outra. Talvez, por
serem estas a me lembrar quem de fato ele era.
Era estranho o fato de Christopher gostar de tatuagens tão
óbvias.
— Venha. Não fique aí fora — mandou, dando-me as costas,
também tatuada.
Franzi as sobrancelhas, atordoada com tamanha "gentileza" em
sua recepção.
E pensar que eu ainda esperava um gesto amigável de sua
parte. Sou tão idiota.
Fechei a porta atrás de mim com cuidado e o segui. O lugar era
tão lindo por dentro, quanto por fora. Conseguia ver toda a
vizinhança pelas grandes janelas da sua sala de estar. Agora fazia
sentido ele ter me recebido tão rápido.
Christopher sentou-se em sua mesa de trabalho, ocupando-se
com uma xícara de café, suponho.
Seus olhos rígidos fixaram-se na tela do seu computador.
Imaginei que, a esta hora, ele estivesse me esperando, e não
trabalhando.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Abracei o meu corpo, retida. Queria ter coragem o suficiente


para enfrentá-lo agora, mas vendo-o assim, me senti desconcertada.
Não sabia se me sentava no sofá de couro preto em formato de
C à minha direita e esperava que ele dissesse algo, ou se ficava em
pé até que sua atenção fosse redirecionada a mim.
Aquilo estava começando a se tornar embaraçoso.
— Venha — sua voz rouca cortou o silêncio.
Notei que aquelas íris verdes agora me encaravam.
Um sentimento de obrigação me fez andar até ele. Christopher
de imediato puxou uma cadeira e apontou para que eu me sentasse.
Quando o fiz, ele agarrou a minha perna por trás do meu joelho e a
colocou sobre a sua, assegurando que eu não saísse dali.
— Espere um pouco. Tenho que terminar algumas coisas antes
— disse, em um breve aviso.
Apenas concordei num balançar de cabeça. Meu coração já
estava batendo em um ritmo desbalanceado, estava soando frio e
tremendo, todavia, ele não notou, e se notou, disfarçou muito bem.
Não conseguia me mover, não quando sua mão esquerda — uma
bela mão grande e cheia de veias — subia e descia devagarinho na
minha coxa. Com a outra, ele digitava em seu computador. O gesto,
aparentemente, era inocente, mas não pude evitar que meu corpo
escorregasse na armadilha de se sentir provocado.
Eu havia me tornado uma arma engatilhada, qualquer manobra
errada e uma tragédia poderia acontecer.
Não conseguia me concentrar em nada. Vim aqui por um
motivo: acabar com tudo. Porém, agora, eu estava em um transe
louco que só me fazia querer deixá-lo tocar onde quisesse.
Christopher escorregou sua mão para perto de minha virilha e eu
rapidamente puxei o ar com força.
— C-chris — alertei.
— Dingo. — Ele finalmente me olhou, sereno.
Minhas bochechas queimaram ao me sentir tão exposta.
— Eu ia conversar com você, lembra? — murmurei baixo.
Ele mordeu o lábio inferior, desceu os olhos para o meu busto e
lentamente os subiu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Então converse — sussurrou rouco.


— Você... — pigarrei — poderia virar para frente de novo? —
pedi, nervosa. Não iria conseguir dizer se ele continuasse me
encarando com aquele rosto faminto por sexo.
Ele repuxou os lábios de um jeito sacana.
— Está muito nervosa — declarou, fazendo pressão em minha
perna.
— Por favor — eu estava implorando.
A farsa que eu havia criado para mim mesma havia caído por
terra. Eu não era mais forte que ele, tampouco era capaz de ser.
— Não. Vai dizer olhando para mim — sua entonação
transformou-se em uma ordem.
Baixei o olhar e apertei as mãos umas as outras. Chris interveio,
levando o seu dedo ao meu queixo e o ergueu para si.
— Se não disser me olhando nos olhos, não tenho como levar
você a sério nessa conversa.
Engoli em seco.
— Você tem álcool?
Ele abriu um sorriso enorme.
— Tenho, amor.
Christopher afastou minha perna com cuidado, se levantou e
saiu. Quando voltou, segurava uma garrafa de whisky e um copo
com gelo. E, mesmo que ele não dissesse em voz alta, era nítida a
satisfação estampada em cada linha de expressão.
Eu não poderia fazer aquilo sóbria. Era uma conversa intensa
demais, e eu era uma completa covarde.
Ele me serviu com uma pequena dose e me entregou a bebida.
Não pensei duas vezes antes de virá-la de uma só vez na boca.
Eu me arrependi no segundo seguinte.
O líquido desceu como ácido em minha garganta. Meu estômago
foi tomado por uma queimação horrível e meus olhos lacrimejaram
como duas poças. Comecei a tossir incessantemente.
— Estava mesmo com sede — Chris denotou sarcástico.
Cobri minha boca enquanto ainda tentava me recuperar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não pense que ficar bêbada vai te fazer se livrar de mim mais
rápido. Apenas será mais difícil de correr.
Ergui o rosto para o seu corpo alto parado diante de mim e
suspirei.
— Quero que saia da minha vida.
Ele sorriu de um jeito que seus olhos se iluminaram.
— E eu quero te foder, agora mesmo — revelou, desinibido. —
Mas não podemos ter tudo, não é?
Engasguei novamente.
Christopher deixou a garrafa de lado em cima da sua mesa, mas
fui capaz de ouvi-lo rir baixinho de mim. Ele se agachou no chão,
apoiando seus braços nos joelhos e umedeceu os lábios.
— Eu poderia te contar como funciona essa coisa toda —
começou, a voz densa e séria.
Seu olhar vagueava meu rosto por inteiro.
— Poderia desenhar um mapa gigante e te explicar passo a
passo tudo o que eu sou, de onde eu vim e como eu fui moldado.
Mas prefiro ser simples, meu amor. — Ele mirou seus olhos nos
meus, como se as próximas palavras a saírem da sua boca fossem as
mais absolutas. — Eu nunca vou te deixar ir.
Balancei a cabeça.
— Vá se foder! — exclamei, furiosa.
Ele deixou que sua cabeça tombasse para a direita. As mexas
negras do seu cabelo escorregaram em sua testa, pendendo para o
mesmo lugar.
— Eu não sei como lidar com esse seu jeito sem não te matar —
arquejou pesaroso. — Grande merda, não acha?
— O que você fez com Marcos? Eu liguei para ele o dia inteiro.
Ninguém teve notícias dele — esbravejei.
— Não sei do que está falando. — Christopher curvou um meio
sorriso.
— Você fez algo com ele. Me conta agora.
— Por que acha que eu fiz algo? — fingiu inocência.
— Porque foi você que disse que ele estava no hospital —
acusei, ríspida.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Oh! Isso. — Ele gargalhou, em sua melhor atuação — Mas é


claro, como eu pude me esquecer? Dãã... Talvez eu tenha feito seu
amigo acidentalmente quebrar o pescoço. Mas vai sobreviver... — ele
curvou um sorriso triste — infelizmente.
— Christopher! — berrei.
— Não se preocupe. Marcos vai precisar de uns meses de
reabilitação, não vai poder se mover, e tal, e tal... — Ele revirou os
olhos, entediado. — Não se preocupe.
Dei-lhe um murro no ombro que surtiu o equivalente ao efeito
de espancar uma plataforma de ferro e esperar que ela sinta dor.
— Você nem gosta tanto dele assim. Pare de fingir que se
importa — desdenhou, frisando seu nariz em uma careta.
Apertei os dentes com força.
Oh, que garoto mais insensível!
— E então, o que você vai fazer agora? Eu não tenho chances de
fugir, você não vai me deixar, eu não posso beijar outros rapazes e
você machuca os meus amigos. E agora, vai fazer o que comigo? —
explodi.
— Quer que eu faça algo? — ele juntou as sobrancelhas, de um
jeito cínico.
— Eu odeio esse seu jogo, Christopher.
— Não. Você odeia o fato de gostar tanto dele — corrigiu. —
Você odeia o jeito que fica excitada toda vez que eu te toco. Odeia
que me deseje tanto, mesmo que isso fira os seus princípios de boa
moça. Você odeia me desejar tanto, amor. Seja sincera, pelo menos
uma vez nessa sua droga de vida.
Ele tocou a minha coxa, autoritário.
— Eu não espero que aja como uma santa. Eu quero ter o seu
pior lado, querida.
Balancei a cabeça.
— Eu não sei quem é você. E tudo o que eu sei e vejo, são
coisas horríveis. Por que eu deveria te mostrar o meu pior lado? Por
que eu deveria confiar em você? Está me prendendo nisso.
— Não espere que eu te conte o quão bom eu sou, Dingo Dingo.
Se espera algo de positivo vindo de mim para, só então, poder

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

confiar, então lamento dizer que esse dia nunca vai chegar. Eu não
tenho a menor intenção de ser um cavalheiro com você.
Christopher reergueu a sua cabeça e aproximou-se um pouco
mais do meu rosto.
— Eu sou horrível, querida. Repugnante, asqueroso, egoísta e
trapaceiro. Tudo o que eu quero, eu consigo, e não estou nem aí
para quem se ferir no caminho. — Seus dedos tatuados agora
seguravam o meu queixo. — Não vou te prometer juras de amor, não
vou te prometer o paraíso, flores ou chocolates.
Sua face tornou-se mais sombria e séria.
— Mas eu te prometo que, se você finalmente se deixar ser
minha, ninguém nunca mais vai te desrespeitar ou ir contra você.
Tudo o que quiser estará logo aos seus pés, amor. Eu tenho um
inferno inteiro para nós dois.
Meu peito parecia prestes a explodir com as batidas
desenfreadas do meu coração. Minha boca estava seca e os meus
olhos arregalados.
Era certo dizer que não havia maneiras de ir contra ele.
Christopher era uma força da natureza implacável. O que existia em
mim que seria capaz de rebater e lutar? Nada.
Não existia nada que me fizesse escapar das garras dele.
— Se for para queimarmos juntos, eu espero estar fazendo do
jeito certo, Chris. — Então eu fiz o que ele esperava de mim.
Pulei sobre o seu corpo, agarrando os seus lábios com os meus,
chupando-os desesperada. Meus dedos entrelaçaram-se aos seus
fios de cabelo.
Eu ofegava em sua boca enquanto ele colocava-se de pé comigo
em seu colo. Envolvi sua cintura com as minhas pernas e suas mãos
pousaram sobre a minha bunda.
Christopher carregou-me com pressa até ao seu quarto. Quando
me dei conta, já estava sendo colocada sobre o seu colchão.
Eu não queria parar, mesmo que soubesse o quão errado
éramos.
Seus lábios se deliciaram dos meus na mesma proporção em que
se demonstrava interessado em me tocar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Suas mãos pareciam escorregadias em meu corpo, subiam e


desciam por todas as partes facilmente.
Consegui arrancar o meu casaco do corpo e o joguei no carpete.
Meu corpo se mostrava quente e ansioso.
— Eu quero você — ele sussurrou em meu ouvido.
Christopher enfiou seu rosto em meu pescoço e de imediato
estremeci ao sentir sua respiração eclodir em minha pele.
Ele esfregava sua parte íntima sobre a minha, me fazendo sentir
o extenso volume por debaixo de sua calça.
Minha pele queimava em êxtase. Todas as células do meu corpo
haviam sido afetadas. Minha traiçoeira intimidade se excitou e
contraiu.
Respirei fundo, buscando por alívio, mas de nada adiantou.
Christopher embaçava a minha mente e me tirava a noção, me
levando a desejá-lo como uma louca.
Ainda por cima de mim, ele envolveu o meu pescoço com uma
de suas mãos e a minha cintura com o seu braço. Num rápido
movimento, me ergueu, virou-se no colchão e me pôs sobre seu
colo.
Soltei um gritinho surpreso.
Isso foi tão fácil para ele.
Christopher fez pressão em seu aperto no meu pescoço,
puxando-me para si. Ele sugava os meus lábios com voracidade,
deixando-me sem espaço para respirar. Sua língua invadiu a minha
boca, dançando com a minha em um gesto ardente e sensual.
Gemi e busquei me segurar em seus braços.
— Chris... — arfei.
— Me deixe tocar todo o seu corpo.
Joguei a cabeça para trás, rendendo-me por completo a ele.
Christopher agarrou o colarinho de minha camiseta e o esticou
para baixo, até que parte dos meus seios estivessem à mostra. Sua
doce língua se pôs sobre eles, deixando marcas de suas deliciosas
sucções.
A pele, antes branca, ganhou marcas de tons avermelhados, que
logo se transformariam em vários hematomas arroxeadas por todo o

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

meu busto e parte dos meus seios. Mas naquele momento eu não
ligava para mais nada.
— Eu tenho que foder você, garota — sua voz estava carregada
de desejo.
De maneira repentina, ele recuou.
Christopher se levantou do colchão, mas seus olhos se
mantiveram nos meus, como duas rochas inabaláveis. Reparei por
soslaio quando seus dedos alcançaram o botão de sua calça, mas
continuei a encarar o seu lindo rosto.
Notei quando ele começou a se despir, porém, eu estava tímida
demais para conseguir observar cada detalhe do que ele fazia com a
sua roupa, no entanto, foi impossível ignorar quando ele abaixou a
sua cueca.
Eu queria o olhar em sua estrutura mais completa.
Meus olhos quase saltaram da face ali mesmo quando viram a
dimensão do que Christopher carregava em seu corpo.
Meu coração batia tão forte que já não achava mais idiotice
pensar que ele também poderia o estar ouvindo.
Christopher não possuía apenas um membro como os outros
caras que eu havia visto na internet.
Era imenso. Gigante, para falar a verdade, e... tatuado.
Ele tinha uma tatuagem na droga do pênis dele.
— Respira, Dingo — ele falou, meio preocupado, meio risonho.
Não conseguia desviar os olhos dali. E, para piorar, estava ereto
e apontando em minha direção, como se ameaçasse me rasgar ao
meio.
Minhas bochechas esquentaram e meus globos oculares
lacrimejaram em razão de eu nem mesmo ser capaz de piscar
naquele momento.
— I-isso não! — proferi, incrédula.
O que eu realmente queria ter dito era que não queria me
relacionar com aquele negócio, nunca conseguiria aguentar tudo
dentro de mim. Ou talvez, nem mesmo parte daquela coisa.
Era bizarro ver um membro masculino tão grande. Como aquilo
era capaz de existir? Será que todos os demônios como o

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher também tinham pênis daquele jeito?


Mais perguntas e perguntas surgiram em minha mente. Eu
estava ficando tonta.
Ele se aproximou e eu instintivamente me encolhi.
Oh, céus! Eu estava com medo de um pinto como se ele fosse
capaz de me esfaquear.
— Me deixe ir devagar — pediu, calmo. — Vai ser menos
doloroso se você se acostumar com alguns dedos antes.
Balancei a cabeça, negando.
Olhei de novo para o seu pênis, mas, claramente ele não havia
diminuído ou deixado de ser extremamente assustador.
A tatuagem me parecia ser algumas correntes ao redor de seu
pênis extremamente grande e robusto.
— Isso é do tamanho do meu antebraço, Chris — sussurrei,
apavorada.
Ele não se conteve e acabou gargalhando.
— É, meu amor. É bem grande, mas eu prometo que você vai se
acostumar — falou, com puro divertimento.
— Não dá para se acostumar — protestei alto.
Se Christopher fosse capaz de ver por debaixo da minha pele,
veria os meus órgãos se contorcendo em horror.
Ele se agachou até estarmos cara a cara e suspirou.
— Christopher, eu acho melhor eu ir para casa — disse
arrependida.
— Fica tranquila. Não vou meter em você se não quiser. — Ele
franziu a testa. — Não sou um monstro. Só faço o que eu sei que
você deseja.
— Me prometa — insisti. — Me prometa que não vai colocar essa
coisa em mim quando eu estiver dormindo.
— Essa coisa? — Ele riu e eu arqueei uma sobrancelha em
repreensão, não queria que ele mudasse de assunto agora, o meu
pedido era sério. — Claro, meu bem. Eu prometo que não vou enfiar
"isso" em você a menos que me peça.
— Certo. — Meu rosto ainda estava ruborizado. Não sabia se
ainda era capaz de olhá-lo normalmente outra vez.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Mas eu ainda quero gozar na sua barriga — completou.


Juntei as sobrancelhas.
— Confie em mim, vai ser uma sensação gostosa para você.
— Seu pervertido — cochichei baixinho, sabendo que ele ouviria.
— Apenas pensando no nosso prazer, meu amor — respondeu
malicioso.
— Sem penetração — reafirmei.
— Nada de desvirginar a Dingo Bells. — Ele levantou a mão em
juramento. — Vou manter essa boceta intacta.
— Eu não vou te agradecer.
Ele sorriu.
— Agora segure-se na cama, eu vou tirar a sua calça e não serei
nada gentil.
Christopher se levantou e agarrou meus tornozelos.
Rapidamente enrosquei meus dedos nos lençóis da cama.
— Um passarinho me contou que você anda querendo dificultar
as coisas para mim.
O sangue congelou em minhas veias.
— Você me vigia o tempo inteiro?
— Eu, não. — Ele entortou o canto dos lábios de um jeito
malina. — A minha entidade demoníaca, sim.
Não tive tempo para processar o que Chris disse, pois, no
segundo seguinte, ele já estava arrancando a minha calça.
Precisei fincar meus dedos no colchão ou seria arremessada para
fora da cama com tamanha ferocidade que ele exercia.
Assim que me viu apenas de calcinha, ele enrugou a testa.
— Não vai me dizer que roubou essa calcinha de alguma idosa
— resmungou irritado.
— Seu idi... — O som estridente a seguir me assustou. Olhei
para baixo apenas para contestar o óbvio.
Christopher rasgou a minha calcinha.
— Ainda bem que a sua boceta é bonita demais para compensar
esse negócio.
Ele jogou o tecido no chão com desdém. Tentei cruzar as pernas
ao notar a minha nudez, mas ele as separou, segurando uma perna

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

em cada mão, deixando-me bem aberta para ele.


— Não, não vai fechar.
Cobri minha intimidade com as duas mãos.
— Tenho que pedir por favor ou só me deixa tocar em você no
escuro?
— Eu tenho vergonha, Chris — murmurei.
Ele lambeu os lábios, prendendo um riso safado.
— Me deixe te ver nua que eu faço essa vergonha sumir. Daqui a
pouco eu vou estar entre as suas pernas, chupando essa boceta até
ela gozar, então não me venha com timidez, Dingo.
Ele olhou para baixo, entre o meio de nós dois e sorriu.
— Aposto que você já está melada.
Baixei o olhar, tomada por uma dolorosa vergonha.
— Não seja bruto — pedi.
— Você é uma coisinha frágil demais até mesmo para se pensar
nisso.
Ele se levantou, debruçou sobre a cama, apoiando-se em seus
braços e subiu em meu corpo. Não olhei para baixo, entretanto, senti
seu pênis roçar em minha boceta.
— Você está tocando... — engoli em seco — lá embaixo.
Ele sorriu.
— Eu sei.
Christopher beijou a minha bochecha e desceu até o meu
maxilar, parou e voltou a olhar para o meu rosto.
— Pode até não confiar em mim e me ver como um cara horrível
que machucou o seu amigo. Mas a única coisa que você tem certeza
sobre mim, é que eu vou sempre te fazer gozar. É por isso que você
deseja as minhas visitas. Você adora quando eu te faço estremecer
enquanto dorme. É o seu fetiche, amor.
— Você é o demônio dos fetiches, Chris? — brinquei.
— Sou o demônio da foda. — Ele beijou o meu pescoço — Mas
somente para você.
— Um incubus? — arrisquei.
Ele riu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não. — Ele ergueu seu corpo, sustentando-se em seus braços


musculosos. — Nunca deseje ter um desses na sua vida. Eles são
horríveis.
— Para que eu iria querer um? Aparentemente eu tenho você —
provoquei.
— É. Mas eu não quero te foder na cama. Eu quero te arrastar
para o inferno e comer a sua alma.
Arregalei os olhos.
— Em tese — acrescentou —, ou não.
Christopher não me deu espaços para argumentar, ele se
adiantou, arrancando a minha camiseta. Seu jeito impaciente o fez
quase rasgar o tecido enquanto puxava para fora do meu corpo.
Seus olhos brilharam assim que meus seios despontaram à sua
frente. Ele indecentemente molhou os lábios com a sua língua,
enquanto uma expressão perversa pintava o seu rosto.
Me ter completamente nua sob ele preenchia o seu ego
diabólico.
Christopher, desprezível como era, adorava aquela sensação de
poder e autoridade.
Ele abocanhou meu seio com sagacidade. Sua língua brincava
com o bico, ao mesmo tempo em que ele usava a sua mão para
apertar o outro peito.
Levei meus dedos às suas madeixas negras e o incentivei,
firmando o seu rosto em meu corpo.
Sua mão desceu até a minha cintura e buscou o meu quadril,
indo discretamente até entre as minhas pernas. Seus dedos longos
tocaram a minha boceta, esfregando-se entre os lábios. Eu estava
úmida de prazer, o que o fez tomar a liberdade de facilmente me
penetrar.
Ele largou o meu seio e se assegurou em meus lábios, em um
beijo voraz. Sua mão manteve o ritmo, penetrando-me com um
único dedo seu.
Eu me contorcia debaixo dele, gemendo dentro de sua boca. O
sentimento de ser preenchida por ele era o ápice do meu prazer. Era
tão bom, tão único.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Podia ouvir o som da sua respiração se fundir a minha em um


uníssono ofegante e cheio de luxúria. Nossos corpos se tocavam e
passeavam um ao outro, fundindo nossos cheiros. Christopher estava
em cada parte de mim, seu toque estava em cada centímetro da
minha pele.
Nós nos movimentávamos em perfeita sincronia. Eu arqueava
meus quadris e Christopher se afundava ainda mais dentro de mim.
Estávamos suados e quentes, mas continuamos roubando tudo o
que podíamos um do outro.
Eu já estava sem ar, mas não conseguia largar os seus lábios,
não queria fugir do seu beijo. Ele percebeu e se afastou por um
momento, busquei mais rápido por ele do que por ar, mas fui
interrompida.
— Só um pouco, respire, anjo. E eu volto a te dar o que você
quer.
Mostrei a ele que estava respirando. Preenchi meus pulmões
com ar e expirei devagarinho, fiz isso algumas vezes com aquelas
esmeraldas presas ao meu olhar. Quando ele garantiu que eu estava
bem, sorriu orgulhoso e voltou a me beijar.
Ele retirou o seu dedo, substituindo aquela sensação por outra.
Tentei fechar as pernas quando senti o seu pênis roçar a minha
entrada e me afastei.
— Você disse...
— Eu não vou empurrar — rapidamente assegurou.
Mesmo que ainda estivesse incerta, me permiti ficar parada.
Christopher se afastou e desceu até as minhas pernas. Ele segurou
as minhas coxas e as afastou, deixando que a minha intimidade
estivesse inteiramente exposta a ele.
Ele me olhava no fundo dos olhos, ao passo que esfregava seu
pênis devagarinho em minha entrada úmida. Meus pelos se
eriçaram. Fechei os olhos e mordi meu lábio inferior.
Aproveitei da deliciosa sensação de sentir a fricção do seu pau
se esfregando em meu clitóris. Meu corpo involuntariamente se
arqueou e eu comecei a rebolar nele.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Meus gemidos tornaram-se sôfregos e constantes. A respiração


de Christopher estava pesada e a forma como a sua mão apertava a
minha coxa, demonstrava que ele, sem dúvidas, estava louco para
me ter. A sensação de ter conhecimento sobre o seu desejo sobre
mim, fez eu me sentir ainda mais eufórica.
Pressionei minha intimidade na sua, desejosa.
— Por favor, eu estou quase — implorei num sopro.
Christopher se encurvou entre minhas pernas e me colocou em
sua boca. Fui cercada por uma sensação gostosinha ao sentir sua
língua quente me invadir.
Ele me chupou displicente e sem pressa. Deliciou-se de cada
mínimo detalhe da minha boceta até que eu me desmanchasse em
sua boca.
Quando gozei, ele continuou com o seu trabalho até me ver
mole em sua cama.
Eu estava sem forças quando ele me devolveu completamente
ao colchão. Só então, ele se deu prazer na minha frente.
Sua mão agarrou o seu pênis sem a menor cerimônia e começou
a se masturbar. Ele não foi carinhoso, tampouco devagar. Seu jeito
foi rude e bruto, tinha medo que ele estivesse descontando em si a
forma como queria fazer dentro de mim.
Deixei que ele se tocasse olhando para o meio de minhas
pernas. Seu olhar estava fixo a minha boceta. Isso o inspirava a
acelerar seus movimentos.
Não fechei as minhas pernas, mesmo que já tivesse gozado, me
excitava vê-lo daquele jeito.
Quando Christopher estava prestes a gozar, ele me puxou para
mais perto dele antes de despejar o seu esperma em minha barriga,
bem como disse que o faria.
Eu estava melada, e foi diferente me ver daquela maneira. Me
apoiei nos cotovelos para me ver melhor. Era estranho sentir que
alguém havia me tocado tão intimamente e me pervertido assim.
— Olhe para mim — sua voz invadiu os meus pensamentos.
Ergui os olhos para ele e o encontrei com um sorrisinho.
— Você está linda pra caralho.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Mordi o canto dos lábios e desviei o olhar. Não sabia que eu iria
ficar tão sem jeito depois que terminássemos.
— Espere um pouco, vou limpar você.
Christopher andou até o um canto do seu quarto e buscou por
uma camiseta velha. Quando voltou, ergueu sua mão para mim,
ajudando-me a ficar de pé.
Fiquei parada enquanto ele limpava o que havia feito comigo, e
quando terminou, nos olhamos por um minuto que mais parecia ter
durado uma eternidade.
— Está tão quieta — notou, intrigado. — Me conte o que está
pensando.
— Eu acho que, é só... uma experiência diferente para mim,
apenas isso.
Ele sorriu e me puxou para si, me envolvendo em um abraço.
— Muito em breve você vai se acostumar em fazermos coisas do
tipo, e vai se deixar estar livre dessa timidez, eu prometo.
Ele depositou um longo beijo no topo da minha cabeça.
— Às vezes... — comecei, baixinho — você consegue ser gentil.
Chris uniu as sobrancelhas.
— Vou levá-la para casa, está tarde — desconversou.
— Não pode aparecer na minha casa a esse horário, já deve
passar das 3 da madrugada.
— E é por isso que eu vou levá-la — insistiu.
— Não. Eu vou sozinha.
— Eu juro que faço você se arrepender se fizer isso — disse
sério.
É, seus momentos de gentileza duram pouquíssimos e raros
segundos.
— Eu vim sem você — argumentei.
Ele riu baixo.
— É o que pensa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

04 de Abril | Quinta-feira

O asfalto estralou, indicando a chegada da Ranger vermelha em


frente a nossa casa.
Eu já a esperava de pé na varanda de casa enquanto fumava um
cigarro, mas não imaginei que fosse ele a trazê-la.
Minha irmã não era exatamente discreta quando estava
planejando algo. Durante todo o nosso jantar em família ela estava
tensa e distraída. Só percebi que ela tentava algo quando ouvi a
janela do seu quarto arranhar em plena meia-noite.
Nem para passar a droga de um óleo antes de tentar abrir a
janela, não é, Dytto?
Não foi uma incógnita descobrir que o filha da puta do
Christopher estava envolvido nisso. Minha irmã nunca teria saído
sozinha de madrugada antes de tê-lo conhecido.
Apaguei a bituca no gramado e avancei em direção a eles.
Dei de cara com Dytto passando pelo portão, e assim que ela me
viu, se encolheu, melindrosa.
Minha irmã veio em minha direção, aparentemente preocupada
com o que eu poderia fazer.
Seus grandes olhos verdes e inocentes me encaravam
assustados, com medo. A culpa estava estampada ali.
— Lô, ele só veio me acompanhar — explicou trêmula.
Antes que eu pudesse dizer algo, a grande sombra de
Christopher surgiu logo atrás dela. Seus olhos estavam sérios sobre
os meus e a sua postura era defensiva ao redor de minha irmã.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Loren — chamou, atraindo a atenção de Dytto. — No meu


carro — mandou sério, já retornando para dentro do seu automóvel.
Soltei o ar com força e retornei o meu olhar para Dytto.
— Lô — ela sussurrou baixinho.
— Me espere na sala — eu disse, por fim.
Ela assentiu, nervosa. Dytto olhou para o carro de Christopher
uma última vez antes de caminhar para dentro de casa.
Andei rápido até a ranger e me sentei no banco do passageiro;
onde costumava ser o meu lugar preferido no mundo... até não ser
mais.
Todos os fragmentos do meu coração se lembraram de cada
momento horroroso que passei após me declarar para ele.
Dói lembrar de cada segundo que eu implorei para que me desse
uma chance.
Reviver essas memórias me preenchiam de angústias amargas.
Não havia nada no mundo que eu fizesse para que ele me desejasse,
e me parte saber que eu sacrifiquei a mim mesma por um amor não
recíproco.
Christopher conseguiu ser a pessoa mais fria de todo o planeta
apenas por ser. Entenderia se ele apenas me dissesse que me
odiava, mas ele me fez me odiar ainda mais. E somente de pensar
que Dytto estava indo longe demais nisso, meu estômago se
embrulhava.
Ela era muito sensível, e qualquer passo em falso com ela, se
tornaria uma grande catástrofe emocional.
Dytto sempre corria para mim em todas as vezes que queria
chorar. E eu não poderia suportar vê-la sofrendo pelo mesmo garoto
que destruiu cada pedaço de mim. Seria insuportável. E tenho
certeza que despertaria cada sentimento ruim que já tive por causa
dele.
— Vamos dar uma volta — avisou, gélido.
Chris manobrou o carro e nos pôs na estrada.
O cheiro do carro ainda era o mesmo: menta e limão.
Perfeitamente limpo e brilhante. Os bancos de couro e os vidros
fumê.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Os mesmos chaveiros de caveiras pendurados no painel do carro


e a garrafa preta com álcool no compartimento.
Christopher era o mesmo, mas, agora, ainda mais distante do
que já foi.
Prendi os olhos na paisagem através da janela e respirei fundo.
Às vezes, passávamos um tempo juntos com o seu grupo que,
em geral, não era muito agradável, mas suportável. Tudo isso mudou
de um segundo para o outro, e agora voltamos a ser dois
desconhecidos novamente.
Consegui sentir o perfume forte de Dytto nele e isso fez a raiva
em minhas veias se acenderem.
— O que você fez com ela? — questionei duramente.
Ele suspirou.
— Não é da sua conta o que eu faço com ela.
— Não, não é. Mas eu não confio em você.
Ele apoiou o cotovelo na porta do carro e descansou o queixo na
ponta dos dedos tatuados.
— Dytto sabe como eu sou, e se ela não me quisesse, eu
saberia.
— Ela não sabe como você é, Christopher. Dytto não te conhece,
ela acha que você é esse cara, mas nós dois sabemos a verdade.
Ele umedeceu os lábios.
— Me poupe desse rancor.
— Não se trata de rancor, já tive experiências o suficiente perto
de você para saber que, de um segundo para o outro, você pode
simplesmente mostrar as suas garras nojentas para ela.
— Pobre Loren! — cantarolou. — Não se preocupe com a minha
garota, eu estou cuidando dela.
Apertei os dentes.
— Está envenenando ela. Não pode continuar assustando-a com
pesadelos. Isso é cruel, Christopher.
— Pesadelos? — gracejou, rindo. — É isso o que ela disse? —
perguntou, com um sorrisinho irônico nos lábios.
Franzi as sobrancelhas.
— O quem tem feito a ela?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Seus olhos vibraram em maldade.


— Ensinei a ela como chegar no paraíso. — Ele ergueu o dedo
do meio, como se estivesse orgulhoso. — Esta noite, foi com esse
dedo daqui. — Sorriu perverso.
Meu estômago se revirou.
— Você não...
— É. Eu fiz — respondeu, simples.
Um misto de dor, raiva e mágoa se apoderaram de mim de
maneira devastadora.
Um nó doloroso se formou em minha garganta. Meus olhos
ardiam com as insistentes lágrimas que inconvenientemente
sugiram.
Senti o olhar dele sobre mim, contudo, não me virei para poder
vê-lo. Abaixei o rosto para o meu colo.
Isso foi fundo demais para suportar.
— Não magoe ela — sussurrei, tão baixo que quase se tornou
inaudível. — É tudo o que eu peço.
Me virei para olhá-lo.
— Eu a amo mais que a mim mesma. Não a quebre, Christopher.
Ele não era bom para ela, mas se ainda assim Dytto escolheu
ficar com ele, eu tinha o dever de garantir que ela ficaria bem.
— Dytto é religiosa, e mesmo que não entenda a fé dela ou que
não goste do jeito dela ver as coisas, não a faça se desprezar por
isso. Ela é assim, não tire a essência dela.
— É claro, Loren — Christopher murmurou, sem tirar os olhos da
estrada.
— Se quebrar o coração da minha irmã por egoísmo, eu farei de
tudo para que pague.
Christopher me olhou por um momento. Ele entendia o que eu
queria dizer, afinal, ele também tinha irmãos que defenderia com
unhas e dente.
Um silêncio se formou entre nós dois e me afundei naquele
breve momento de ilusão, onde ainda éramos apenas nós dois, antes
de voltarmos para a nossa nova realidade.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Deixei que a dor engolisse cada parte de mim e que minha alma
sangrasse até a última gota.
Essa era a última vez que eu me permitia sentir aquilo de novo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

05 de Abril | Sexta-feira

Acordei com o estrondo da porta do meu quarto sendo


esmurrada. Estava tão atordoada que levantei-me num pulo.
Meu corpo começou a tremer e a suar frio. Eu estava confusa e
desnorteada. Havia entrado em total alerta. Arregalei os olhos
quando minha vista escureceu. Precisei me segurar ao colchão para
não cair com a força em que fui puxada para baixo.
Minha pressão definitivamente havia despencado.
— Loren? — perguntei, confusa.
Já era manhã.
Agora, a luz do sol atravessava as cortinas e pincelava o chão do
quarto, resplandecendo tons amarelados por todas as paredes.
Deveria ter sido um bom dia, mas o clima parecia pesado.
— Levante agora e desça — era a voz do papai do outro lado.
Aparentemente, furioso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Engoli em seco.
Sentei-me na cama sentindo o meu cérebro latejar forte e
pisquei. Passei os dedos entre meus cabelos emaranhados e
resmunguei de dor quando os fios se entrançaram.
Eu ainda não estava 100% acordada. Ainda sentia como se noite
passada tivesse sido apenas um sonho.
Enquanto Loren estava com Christopher, decidi tomar um banho
e tentar um cochilo ou acabaria entrando em colapso, mas acabei
pegando no sono e sequer vi quando ela chegou.
Christopher não apareceu em meu quarto, acho que o que
tivemos deva ter satisfeito uma parte dele.
Contudo, um frio na espinha me incomodou ao ponderar o que
ele queria com a minha irmã. Christopher não me parecia ser do tipo
que sairia com alguém para se resolver ou pedir desculpas, e tenho
receio do que ele possa ter falado para ela.
— Agora, Dytto! — papai berrou impaciente e rapidamente voltei
a minha realidade.
— Já estou indo.
O que diabos aconteceu?
Levantei-me da cama e corri para fora do quarto. Não medi
meus passos ao descer às escadas. Sai pulando de dois em dois
degraus.
Se papai estava nesse estado, era melhor não lhe dar mais
motivos para incrementar a sua fúria.
Ao chegar no andar de baixo, encontrei Loren, com o rosto
sonolento, apenas de baby-doll, sentada no sofá, tão atordoada
quanto eu.
Mamãe estava sentada em uma poltrona, as pernas cruzadas e o
olhar sério. Papai estava no outro sofá, as mãos cruzadas entre as
suas longas pernas arreganhadas, os cotovelos apoiados nas coxas e
o semblante tenebroso.
Papai e mamãe eram o tipo de casal de revistas. Sempre bem-
vestidos, arrumados e elegantes. Até mesmo quando apresentavam
o aspecto de quem estavam prestes a assassinar as suas duas filhas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Dytto, se sente ao lado de sua irmã — mamãe pediu, bem


mais calma do que realmente parecia estar, o que de certa forma, se
tornou assustador.
Caminhei meio que sem jeito até ela e me sentei ao seu lado,
mas, pelo visto, Loren não fazia tanta questão por mim hoje. Ela
virou o rosto e encarou os lustres da casa, deixando-me
completamente no vazio.
— As duas estão de castigo! — papai cuspiu.
Arregalei os olhos.
— O quê? — Loren e eu falamos em uníssono.
— Que porra estavam fazendo passeando às 3 da madrugada
com um garoto? — papai trovejou.
Olhei para Loren e ela para mim. É, havíamos sido pegas.
Eu me lembro bem de ter esvaziado as câmeras. Como é que
papai conseguiu nos descobrir?
— Temos as gravações das câmeras em nossos celulares, não
nos tratem como se fôssemos idiotas — papai reclamou. — Já
tivemos a idade de vocês.
— Vocês são duas adolescentes, não podem simplesmente
fazerem o que quiserem e no horário que quiserem. Poderiam estar
mortas nesse exato momento! — desta vez, foi nossa mãe a dar o
sermão.
— Mamãe, nós sabemos nos cuidar — Loren retrucou.
— Vocês são duas irresponsáveis — papai novamente atacou.
Ele se levantou do sofá e caminhou até estar diante de nós. As
suas mãos se mantiveram na cintura, num gesto autoritário, e o seu
rosto, impávido.
Minha barriga gelou de pavor.
Odiava quando a briga de nossos pais se estendiam a mim. Me
incomodava a sensação de tê-los magoado. Era o meu dever dar
orgulho aos dois, e agora eu estava debaixo dos seus olhos levando
esporro.
— Aonde vocês foram ontem? — questionou, como se quisesse a
nossa garganta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Saímos com uns amigos — Lô falou completamente


despreocupada, o meu total oposto.
Eu, por outro lado, me tremia do mindinho a cabeça. Um pouco
de pressão e eu acabaria soltando o que não devia. Maldita boca!
— Não fizemos nada de errado papai, Loren sequer bebeu —
afirmei, nervosa.
— Você! — mamãe pontuou séria, os olhos voltados para mim.
— Quem era aquele garoto que estava com você? E para onde você
foi sozinha?
— E-eu... — meus olhos correram de um lado para o outro, sem
saber se paravam na mamãe ou no papai. — É só um amigo.
— Amigo? — papai frisou.
— É, um a-amigo.
Loren suspirou baixo.
— Não podemos mais ter amigos também? — ela murmurou,
irritada.
— Também vimos que você entrou no carro dele — papai
apontou para Lô. — O que estão pensando que são? Agora saem por
aí de madrugada com um garoto?
— Já parou para pensar que estamos crescendo? — Loren
reclamou alto. — Não somos mais crianças, pai.
Ele arregalou os olhos.
— Enquanto viverem sobre o nosso teto, vão ter que nos
obedecer — exigiu, furioso.
Eu quase podia ver Loren revirando os olhos sem nem mesmo
ter acesso ao seu rosto.
Como eu queria ter toda essa coragem e uma vez na vida não
abaixar a cabeça.
— Tudo bem, então. Eu vou embora de casa, o que acham? —
desafiou.
— Filha, pelo amor de Deus, não me faça isso ou eu vou ter um
ataque do coração — mamãe se pronunciou levando a mão ao peito.
— Céus! — Loren sussurrou enojada.
— Damos de tudo para vocês, o mínimo que pedimos é respeito!
— papai falou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Me encolhi no sofá e prendi meus olhos ao chão.


Queria não ter essa necessidade de estar sempre agradando a
eles, me reservando para que eles nunca se decepcionassem
comigo, como uma maldita obrigação que não posso nem mesmo
sonhar em descumprir.
Só de imaginar meus pais decepcionados, todo o meu corpo se
retraia.
— Queremos conhecer o garoto — mamãe exigiu.
— O quê? — um grito fino escapou de minha garganta.
— Traga ele, amanhã!
— Você nunca quis conhecer nenhum dos nossos amigos, qual o
interesse agora? — minha irmã rebateu.
— Dytto disse que são só amigos, então não vejo nenhum
problema em conhecê-lo — mamãe comentou, relaxada.
— Ah, claro! Então o problema não é nós duas termos saído de
madrugada, o problema é a princesa dos olhos de vocês ter chegado
com um menino — Loren disse, claramente chateada.
— Lô — a chamei apreensiva, mas ela sequer deu atenção.
— Nós estamos preocupados com vocês duas.
— É, eu estou vendo! — ela rebate irônica.
Loren se levantou e saiu da sala, ignorando os berros de papai e
mamãe para que ela voltasse.
Soltei um suspiro derrotado.
Odeio que Loren se sinta assim. Odeio que nosso país a façam
se sentir assim. Odeio que eu tenha causado tudo isso. Odeio tudo.
— Dytto — mamãe solicitou. — Traga-o amanhã — deu o
ultimato.
Apenas assenti, triste.
— Posso ir para o meu quarto?
— Vai.
Levantei-me, sentindo o corpo meio bambo e sai, como um
cachorrinho demonstrando remorso.
Ao sair do campo de visão deles, corri para as escadas e fui até
a porta do quarto de Loren que, obviamente já estava trancado.
Dei algumas batidinhas, mas ela não respondeu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você quer conversar sobre isso? — cochichei.


Silêncio. O mais completo silêncio.
Tudo bem, eu merecia essa punição. Não tenho sido a melhor
irmã do mundo no momento e, imagino, que não tenho sido a
melhor filha também.
Me desencostei da porta e me arrastei até o meu quarto,
sentindo os olhos arderem.
Loren deveria estar odiando todos os seres humanos da face da
Terra nesse momento, mas, principalmente nossos pais, eu e o
Christopher.
Christopher.
Como vou trazer Christopher para conhecer os meus pais? Que
merda!
Isso é loucura. Muita loucura.
Esse era o pedido mais insano que minha mãe já me fez.
Como iríamos nos juntar e fingir que noite passada não
aconteceu?
Peguei o celular da cabeceira da cama e desconectei o
carregador. Receosa, procurei pelo contato de Chris e, ao encontrá-
lo, meu dedo estagnou no ar.
Como se chama um demônio para jantar na casa de seus pais
religiosos?
Essa era uma daquelas perguntas esquisitas que não se
encontrava a resposta no Google, e que seria bem estranho de se
encontrar no histórico dele.
Deitei-me na cama, joguei o celular ao meu lado e descansei as
mãos sobre a barriga.
Tentei levar meus pensamentos para longe, mas eles insistiam
em vagarem para a madrugada passada. Para os beijos de
Christopher, para os seus toques íntimos, para a sua língua na
minha...
Droga!
O meu corpo inteiro se incendiou.
Peguei o celular novamente e toquei em seu nome. Encostei o
aparelho no ouvido e esperei chamar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Desta vez, ele chamou várias vezes antes de eu finalmente ser


respondida.
— Estou ouvindo — atendeu, rouco.
— Chris... — sussurrei.
— Diga, meu bem.
Meu coração disparou.
— Preciso de um favor — minha voz soava como um suspiro.
— O que você quiser.
Mordi os lábios e prendi os olhos nas pontas dos meus dedos,
sentindo meu rosto corar e um sorrisinho bobo preencher meus
lábios.
— Jantaria comigo e a minha família amanhã?
Ouvi um riso baixo do outro lado.
— Está claro que tem algo acontecendo. Me conte.
Fechei os olhos.
— Mamãe e papai viram você nas câmeras, eles querem saber
quem é o garoto que estava comigo e com a Loren às 3 da
madrugada.
— Huh! Isso é bem ruim — respondeu, zombeteiro.
— Eu sei... Mas se você não puder vir, eu digo a eles que você
estava ocupado.
— Não se adiante ainda. Eu vou, mas preciso de algo em troca.
Apertei as sobrancelhas.
— O que? — indaguei, melindrosa.
— Use um vestido.
— Por quê?
— Posso aumentar o pedido se estiver achando ruim.
— Não, não. Um vestido. Já entendi.
— Nos vemos amanhã às...
— 20h:00min.
— Às 20h:00min então.
— Chris...
— Sim?
— Não diga a eles que nós já...
O escutei rir sacana.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Manterei a língua dentro da boca ou, pelo menos, até a hora


em que você for dormir.
— Chris — o repreendi, sentindo minhas bochechas arderem de
vergonha.
— Me diga, Dingo. Você quer mais?
Sentei-me na cama.
— Não é hora para isso, Chris.
— Dingo...
— Pare!
— Adoro a sua boceta molhada na minha cara.
— Chris, já chega — disse, exasperada.
Levantei-me e tranquei a porta, garantindo que ninguém entraria
aqui.
— Porra! Eu quero muito...
Encerrei a ligação antes mesmo que ele terminasse. Tudo o que
me vinha a mente era um Christopher sacana gargalhando de sua
casa, sabendo que conseguiu mexer comigo da maneira que ele
queria.
Minha nossa!
Meu corpo inteiro parecia estar em chamas.
Não, não, não.
Isso não podia estar acontecendo. Definitivamente não!

05 de Abril | Sexta-feira

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O cheiro do pecado é um irresistível convite que atrai o ego e a


alma.
Aos olhos de um mero pecador suscetível a ser corrompido, o
pecado tem um gosto viciante e o cheiro ainda mais deliciosamente
atrativo. E por que negar? É da sua natureza ser frágil. E em seu
todo, existem falhas humanas que apenas o espírito seria capaz de
curar, ou desvanecer em sua tentativa.
Tudo o que eu via ou sentia era diferente. Eu sabia, apenas por
olhar uma alma, o quão imerso em pecados aquele alguém estava.
Sabia o quanto já havia provado, quanto queria ou reprimia dele.
Apesar disso, alguns ainda lutavam, sabiam da verdade, mas
fraquejavam ao desejo ensurdecedor da carne.
O que nos separava eram as diferenças entre um ser de carne e
osso, e um ser como eu, forjado nas profundezas do inferno. O
pecado eu já conhecia bem. Ele, no entanto, não tinha um aroma
agradável ou uma face encantadora.
De onde eu vinha, o pecado era banhado em enxofre. As
pessoas emanavam o cheiro de podridão. Suas almas sangrentas
exalavam o fedor da decomposição eterna. Aquilo as havia corroído
durante os anos vividos, e tudo o que se foi doce, havia apodrecido.
Os pecados sempre exigiam o seu preço, e aquelas almas se
arrastariam como miseráveis até que o seu deus tivesse misericórdia.
Eu via sem dificuldade alguma a condenação nos olhos daqueles
malditos pecadores que viviam à minha volta. Todos teriam o rosto
do pecado a qual tanto deliciarem-se em suas vidas medíocres e
explicitamente curtas.
Era fácil ver a condenação em cada um, mas, ainda que todos
fossem iguais, uma entre todos eles tinha o gosto mais espetacular.
Ela era o meu doce pecado favorito.
Dytto continha tudo o que eu queria. Seus traços e gestos me
atraiam sem querer. E era naqueles olhos verdes que eu queria
mergulhar.
Sua alma, como todas as outras, era corrompível, mas
ingenuamente limpa. Ela não era mais inocente do que qualquer

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

outro, entretanto, havia um certo pudor em seus limites. Ela se


guiava, em parte por sua fé, e em parte por sua crença na família.
Ela era jovem, teria tempo para cometer os seus erros e se
perder em pecados, mas eu a desejei com tanta intensidade que a
roubei para mim.
Tomei sua alma para que fosse absolutamente minha. Apenas
para que o que tivéssemos durasse a eternidade. Dytto morreria e
ainda seria a mim que ela iria pertencer. Eu a levaria para o inferno e
a deixaria sempre comigo. Os seus pecados não transpareceriam
como os outros, pois todos seriam meus.
Este era o meu modo de dizer: "Para sempre".
A cada dia, eu a levava um pouco mais a se render ao proibido e
sujo desejo que tínhamos. Ela era apenas uma adorável jovem
católica quando nos conhecemos, mas, agora, ela era a mais
atraente pecadora a sucumbir aos encantos de um demônio.
A porta se abriu assim que toquei a campainha, como se alguém
já me esperasse do outro lado.
Fora ela quem atendeu.
Assim que vi o seu rosto, deslizei os olhos por todo o seu corpo,
e me maravilhei ao ter aquela visão espetacular.
Ela estava simplesmente linda. Usava um vestido branco, justo
até a cintura, e soltinho na saia. Ele alcançava o meio de sua coxa e
a deixava com um ar de inocência e pureza.
Precisei de um segundo para digerir aquela imagem antes de
sorrir.
Suas bochechas atingiram o tom rubi e seus olhos brilharam ao
me ver.
Minha garota adora quando eu a olho.
— Você chegou — sussurrou, ainda tímida.
Uma sensação ruim me atingiu no instante em que ela terminou
de falar.
É claro! Seu pai estava se aproximando. Esse filho da puta!
— Você pediu, aqui estou eu — tentei ser educado, Dytto não
gostava de garotos como eu. Então, fingir ser bom era o que eu me
permitia perto dela, ou pelo menos, me esforçava.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O homem alto, forte e grisalho surgiu logo em seguida. Seu


olhar era sério e expressivo. Havia semelhanças entre ele e suas
duas filhas, como a cor dos olhos e um pouco dos lábios.
Bem que ele queria me intimidar, mas, ao constatar a minha
altura e as tatuagens, notei a sua surpresa. Seu olhar vacilou por um
momento, mas rapidamente endureceu-se novamente, como duas
espadas afiadas sobre mim.
Ele não queria perder a pose de durão. Que perda de tempo! Eu
já o via como um frouxo desde que senti o seu cheiro asqueroso.
— Então você que é o amigo das minhas filhas? — havia
escárnio em suas palavras.
Não. Eu sou a piranha da tua esposa, o que acha?
Embora eu tentasse, era difícil não ver a sua alma suja.
— Christopher — me apresentei em tom frígido.
Não ousei estender a mão e acabar sendo ignorado. Deixaria a
oportunidade dele tentar me humilhar na frente da filha passar.
Quem sabe apenas um pouquinho depois, apenas para não fazer
ele se sentir tão merda?
Sentia o nervosismo de Dytto se estender a quilômetros de
distância. Quando ela me encontrou a olhando, sorriu para mim.
Não faz isso, amor. Me faz ter vontade de roubá-la só para mim.
Passei a língua sobre os lábios, impaciente com a demora que
esse cara tinha em olhar para alguém.
— O meu nome é Theo, pai da Dytto e da Loren. — Ele parou de
falar por um momento e ergueu o rosto — As garotas que você
tomou a liberdade de levá-las por aí — enfatizou rígido.
— Eu sei. — Voltei os olhos para Dytto, ruborizada. — Minha
memória é excelente — frisei.
Ela arregalou os olhos e baixou a cabeça. Era bom que ela
soubesse que eu ainda me lembrava de cada segundo da madrugada
anterior. E que ainda tinha lembranças vividas do seu delicioso gosto.
Theo soltou o ar com força. Aposto que ele queria ter uma arma
em mão naquele exato segundo.
— Vem, vamos entrar — Dytto nos apressou num sussurro e
quase a beijei por isso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Não aguentava mais ficar na porta.


Loren se aproximou de nós, — mal-humorada como sempre —
me olhou de cima a baixo com desdém e fingiu um enorme sorriso.
— Christopher! Como vai? — encenou uma animação que não
seria capaz de verdadeiramente expressar nem se tivesse acabado
de ter um orgasmo.
Falta pouco para ela conseguir ser mais perturbada do que eu.
— Tão bem quanto você! — devolvi o falso entusiasmo. Não
queria deixá-la atuando sozinha.
Ela quase, quase revirou os olhos.
Toquei a cintura de Dytto e escorreguei a mão para o seu
quadril. Loren percebeu e seu rosto se preencheu de ódio. Prendi um
sorrisinho.
Dytto estremeceu no mesmo instante e me olhou apavorada,
como se dissesse: Não está vendo o meu pai na sua frente?
Eu adorava o jeito que ela reagia com cada toque meu. Dytto se
excitava muito fácil, assim como era extremamente sensível em
lugares que só eu tinha acesso.
— Você está incrível! — eu disse, olhando-a no fundo dos olhos
e em alto e bom som para que todos ouvissem.
Theo pigarreou, a fim de destacar a sua desnecessária presença
no mundo.
— Eu já estava morrendo de saudades, Dingo — acrescentei.
O velho pigarreou novamente.
— Está doente? — perguntei, dando-lhe a atenção do qual
parecia me implorar.
Mas ele não gostou nem um pouco. Que pena!
— Eu o quê? — Theo ergueu o tom de voz, mas Loren se
intrometeu.
— Que tal se nós nos sentarmos? — convidou, prontamente
enroscando o seu braço no do seu pai. Loren foi proativa e o puxou
para longe.
Ela era útil, quando não estava me irritando com os seus
sentimentos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Loren não sabia conter os seus desejos sombrios. Estava sempre


procurando alguém para fazer de vítima. Uma pessoa para suprir o
seu ego ou deixá-la menos carente.
Se a pobre Dytto soubesse o que a irmãzinha tem feito com a
própria melhor amiga, não a admiraria tanto assim.
A única coisa pura em Loren, era o seu sentimento de amor e
proteção pela irmã, do contrário, ela era horrível com todos.
Apertei o quadril de Dytto e deslizei a minha mão para a sua
bunda. Ela logo ficou tensa. Minha mão desceu um pouco mais e ela
saltitou para frente, livrando-se do meu toque.
Sorri satisfeito.
Às vezes Dytto era tão ingênua que mal percebia a maldade das
coisas. Estava sempre procurando o melhor de todo mundo e
tentava agradar às pessoas ao seu redor. Ela tinha medo demais de
viver e, por isso, vivia se escondendo nas sombras de qualquer um.
Desde que a encontrei, sabia que ela seria minha. Só precisava
cuidar dela.
Descobri um certo fascínio por ela e por tudo o que fazia. Mas se
ela ao menos pudesse ser um pouquinho cruel, eu ficaria
extremamente grato.
Eu tinha que estar sempre atento a ela, pois os espíritos ruins
adoravam a sua aura. Sempre que eu aparecia em seu quarto,
acabava atraindo a sujeira. E a sujeira adorava se agarrar a ela.
Os espíritos adoravam uma coisa boa para machucar, e eu
odiava que eles tocassem nela. Na última vez que a deixei sem a
minha proteção, Dytto sofreu as consequências e acordou sentindo
dores.
Era o meu trabalho não deixar que isso se repetisse.
Assim que entramos na sala de estar, uma mulher alta, por volta
dos seus 35 anos, com longos cabelos pretos surgiu à nossa frente.
Ela usava um vestido tubinho, exibindo as suas curvas. Seu
corpo ostentava joias caras e o anel de casamento de diamante em
seu dedo anelar.
Essa mulher não tinha nada a ver com as filhas, parecia de um
mundo completamente só dela e de mamães ricas e exibidas. Que

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

gracinha!
— Olá, Christopher. Sou Ever, mãe dessas duas lindas
garotinhas.
Ela estendeu a mão para mim, e assim que a cumprimentei,
senti seu corpo ser afetado da cabeça aos pés.
Dytto, você está em uma péssima família.
— É um prazer, sou o namorado de Dytto.
— Na-namorado? — Ela engasgou, ao mesmo tempo em que
arregalou os olhos
— Me disse que ele era apenas um amigo — Theo retrucou do
outro lado do cômodo.
Olhei para Dytto ao meu lado, tomada pelo desespero. Sua
expressão era a de mais puro pavor.
— Acho que ela preferiu guardar para o momento certo —
interferi, olhando-a preocupado.
Me senti um pouco mal agora, ela aparentava estar prestes a
chorar.
Que ela não faça isso. Dytto era a única que conseguia me fazer
sentir culpado por fazer uma brincadeira.
— Oh! Eu não sabia que eram assim tão sérios — Ever arfou,
ainda surpresa.
— Ela e eu somos muito sérios — afirmei.
A puxei para mais perto e envolvi meu braço em volta de seus
ombros. Acentuando o nosso envolvimento, que até poucos minutos
atrás, não passava de uma suposta "amizade".
Que se foda. Eu quem não deixaria a oportunidade escapar.
Mudei minha atenção para Loren, encostada em um canto, e a
encontrei indiferente. Não era um grande choque para ela. A avisei
desde o início que sua irmã seria minha.
— Dytto, me explica isso! — seu pai exigiu, dando passos largos
até nós.
Ever tocou o braço do marido, na tentativa de conter um
escândalo.
— E-eu... — Dingo gaguejou, sem saber esclarecer algo que
também era novidade para ela.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não precisa se explicar, Dy — sua irmã se intrometeu. — Já


está grandinha, nossos pais não podem proibi-la de namorar.
Elas se olharam por um instante. Eu sabia como Dytto se sentia
culpada pelos sentimentos que havia nutrido por mim, mas naquele
segundo, uma parte dela havia se sentido aliviada ao ter a aprovação
da irmã.
As coisas não eram bem assim. Loren odiava a ideia de eu estar
com a sua irmã. Em parte, porque conhecia a sua irmã. Em parte,
porque também me conhecia. Ela sabia que éramos opostos, mas eu
não tinha intenções de rejeitar Dytto como fazia a Loren. Eram
situações diferentes e distintas.
Loren sabia das chances que existiam de alguém ser machucada
ao se envolver comigo, porque havia tido o pior de minha rejeição.
Entretanto, havia outras divergências entre nós dois maiores do que
somente o bem-estar de Dytto.
— Esse namoro não vai ser tão liberal assim. Dytto não é como
as outras garotas, rapaz! — Theo protestou e a sua esposa tentou
consertar a situação explicando de um outro jeito.
— Nós sabemos que você é um rapaz que é... — Ever apontou
para mim com a mão — muito experiente, e é claro, gosta muito das
coisas do mundo. Tem tatuagens e tudo mais... — ela estava
desconcertada. — Nossa menina não é assim.
Sorri com o seu julgamento cauteloso.
— Não se preocupem. Não vou levar a filha de vocês para
nenhum lugar que ela não queira ir.
Theo colocou as mãos na cintura, enquanto me olhava furioso.
— Não vão namorar de qualquer jeito. E também não vão ficar
saindo de madrugada — esbravejou.
Acredite nisso se quiser, babaca!
— Sim, senhor — concordei, evidentemente irônico.
Todos estavam balançados com a nossa discussão imediata.
Geralmente isso só deveria acontecer durante o jantar, mas acho que
os meus sogros gostavam de montar o barraco bem antes.
— Vamos jantar — Ever determinou rápido e lançou um olhar
sério para o marido, evitando mais protestos e gritos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele apenas concordou, a contragosto. Era mesmo melhor não


brigar com a esposa.
Começamos a finalmente nos organizar na mesa e fiz questão
que Dytto se sentasse ao meu lado.
Loren se sentou na ponta e os pais dela se sentaram à nossa
frente.
Dytto ainda parecia meio abismada e estática. Toquei seu joelho
e ela estremeceu de susto.
Seus olhos assustados me encontraram e eu juntei as
sobrancelhas.
— Você está bem?
Ela apenas assentiu, ainda estava digerindo toda a situação. Eu
não queria que ela se preocupasse com nada disso. Se algo
acontecesse, eu mesmo me encarregaria de cuidar.
Descansei a minha mão em sua coxa e sorri.
— Será um bom jantar.
— Huh-hum — murmurou atônita.
Ela parecia prestes a vomitar na mesa. Estava com medo até de
se mexer. Dingo Bells levava bem a sério a opinião de seus pais.
Subi minha mão um pouco mais, passando-a por debaixo de seu
vestido e ela respirou fundo. Sua pele tornou-se, aos poucos,
avermelhada.
Estiquei os dedos para tocar a sua virilha e ela endureceu no
lugar feito pedra. Meu pau reagiu no mesmo segundo.
Porra!
— Christopher, o que você faz da vida? — Theo investigou.
— Trabalho, estudo. Essas coisas. — Dei de ombros.
Que papo chato!
Ele ergueu a sobrancelha grisalha e cruzou os braços.
— Quantos anos você tem mesmo?
— Faço 20 daqui alguns meses.
Dytto me olhou surpresa, mas não disse nada.
— E igreja? Frequenta alguma?
— Não.
— Alguma religião? — Ever averiguou e eu sorri de canto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Conhecem o Satanismo?
Ambos arregalaram os olhos e furtivamente vi Loren sufocar o
riso.
Dytto pôs a sua mão sobre a minha, quase que implorando para
que eu parasse de falar.
— Estou brincando — emendei, sorrindo.
— Não está apto a namorar a nossa filha — Theo reclamou.
— Não? — pressionei em tom sério.
Theo sentiu-se intimidado, o que acabou o deixando frustrado.
Não era esse recado que ele queria passar.
— Dytto é uma garota séria, não tem que ficar mexendo com
essas coisas e nem andando com esse... com esse, tipo.
É trágico ver que ele pense assim. Como ele sequer poderia
cogitar que Dytto mexeria com algo assim?
— Garanto a você que ela não mexe com essas coisas e nem
mesmo anda com meu tipo de gente.
Ele uniu as sobrancelhas.
— É bom mesmo! — intimidou, diretamente olhando-a.
Imbecil.
Apertei a coxa de Dytto e subi a mão devagarinho até a borda
da sua calcinha. Seus pelos se arrepiaram e ela fez esforço para não
reagir.
Enfiei o mindinho dentro do tecido e ela tentou discretamente
afastar a minha mão, mas não permiti.
Sua respiração acelerou e ela se ocupou com o copo à sua
frente, dando um grande gole na água.
— Você não acha que esse tipo de religião seja perigoso, digo, o
satanismo? — Ever quis saber.
— Só para quem não saber mexer.
Olhei propositalmente para Loren, o que a fez revirar os olhos.
Enfiei um pouco mais do meu dedo na calcinha de Dytto e ela
tentou apertar as pernas.
Enrosquei meu pé em seu tornozelo e puxei sua perna,
obrigando-a a separar as suas coxas.
— Certo! — ela concordou, constrangida.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Acho melhor começarmos a comer — Theo sussurrou


cabisbaixo, triste com a escolha da filha.
— Eu vou buscar os pratos. Me ajude com isso. — Ever pediu ao
marido.
Ambos se levantaram e saíram juntos. Provavelmente irão julgar
até o meu último fio de cabelo.
Aproveitei para colocar minha mão mais a fundo em sua
calcinha, até que senti a boceta dela sobre meus dedos. Molhadinha.
Mordi o lábio inferior. Meu pau já estava doendo dentro da calça.
Eu precisaria de um tempo antes de levantar ou todo mundo
saberia que eu estava de pau duro.
Dytto estava muito próxima de mim, o que facilitou todo o meu
trabalho. Enfiei um dedo dentro de sua boceta e ela engoliu um
soluço.
— Para de dedar a minha irmã, Christopher seu merda — Loren
sussurrou irritada e eu sorri. Ela já havia percebido há um bom
tempo.
Dytto rapidamente afastou a minha mão, completamente
constrangida.
Enfiei o dedo na boca e o chupei.
— Você tem uma delícia de irmã, Loren — provoquei e ela deu-
me o dedo do meio.

O silêncio durante o jantar teria sido quase ensurdecedor, se não


fosse pelo batucar de dedos do Theo. Ele encarava-me como um
mafioso. Não que ele fosse um, mas havia tantos segredos debaixo
daquela fachada de homem honrado, que o faziam ainda pior.
Se descobrissem quem, de fato, ele era, Dytto não o olharia
mais do mesmo jeito, Loren finalmente despejaria todas as merdas
que sempre quis dizer, e Ever... Bem, ela não era uma santa, amava
o marido, ao seu jeito, mas priorizava os status de riqueza.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Fidelidade não era o seu forte, tampouco um obstáculo para


conseguir o que queria. Do contrário, ela não teria espremido as
pernas durante todas as vezes que me olhou.
A família Bell era estranhamente comum, pois como em todas as
outras, era hipócrita com a sua própria crença.
Olhei Dytto ao meu lado, que estava estranhamente quieta. Ela
não encarava o rosto de ninguém, mantinha-se recolhida para si.
Toquei sua mão por cima de sua coxa e cruzei nossos dedos uns aos
outros. Senti seus dedos pressionarem nos meus em um aperto, sua
urgência por mim me deixava aflito.
Todos já havíamos terminado de jantar, no entanto, eles ainda
pareciam não saber como me expulsar da sua enorme casa. E se não
forem os dois a tomarem a atitude de quebrar a zona de desconforto
que se formou, eu muito menos.
Era divertido vê-los sufocar em seu próprio constrangimento.
Tivemos apenas um curto diálogo durante o jantar. Theo me
perguntou quais eram as minhas intenções com a sua filha, achei
que seria demais da conta responder que queria fodê-la com força e
carregar a sua alma para o inferno. Então fui sensato ao respondê-
lo:
— Tudo o que um homem quer com uma garota — todavia, acho
que ele não gostou da minha resposta. Seu rosto inteiro se tingiu de
vermelho e suas sobrancelhas se franziram.
E pensar que eu não poderia desagradá-lo ainda mais.
Em resposta, sorri internamente e terminei meu copo d'água.
Dali em diante, meus sogros perceberam que não havia muito em
mim que os fizessem feliz. Pelo menos, não como genro. Ever
adoraria se eu a comesse. Uma situação completamente impossível,
claro.
Dytto era tudo o que eu queria, e a única razão de eu me
manter comportado naquele momento.
— Deseja algo mais, Chris? — Ever instigou por educação.
— Tem whisky?
Suas sobrancelhas se ergueram e ela riu desconcertada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Ora, nós não guardamos bebidas nesta casa. Raramente


bebemos, na verdade. Sinto muito!
— Tudo bem, acho que já estou satisfeito.
Olhei para Theo com divertimento. Sua expressão era a mais
desgostosa possível. Era inevitável não me preencher de êxtase ao
vê-lo tão inseguro e vulnerável.
— Vou para o meu escritório — ele avisou, rude. Os olhos
fincados nos meus.
— Foi um prazer conhecê-lo, sogro.
Theo apertou os dentes, furioso, e saiu da mesa com passadas
largas. Tão logo sumindo de nossas vistas.
— Ele está cansado. Vai viajar ainda hoje e só volta na segunda-
feira. — Ever informou. Era degradante ver essa mulher se explicar
por cada atitude do marido.
Assenti, pouco me fodendo.
Dytto parecia meio perdida em seus pensamentos, embora ainda
estivesse prestando atenção na conversa.
Ela mordeu o canto dos lábios e ergueu aqueles lindos olhos
para mim.
Puta merda de garota bonita!
— Podemos conversar lá fora um segundo? — sugeri.
Ela olhou para a mãe, como se pedisse permissão. Ever suspirou
e deu um leve aceno de cabeça.
— Não demorem — acrescentou.
Por cortesia, joguei uma piscadela para ela e isso mexeu com
partes suas que não deveriam — eticamente — serem afetadas.
Quanto falta de respeito pelo namorado da sua filha, minha senhora!
Dytto e eu caminhamos de mãos dadas pelo jardim. Longe de
sua família, ela ficava mais à vontade. A tensão em seus ombros se
dissipou, suas mãos pararam de suar, e num segundo, eu tinha a
Dingo Bells de volta.
Paramos diante de uma mureta de pedra. Se os arbustos não
fossem tão altos, as câmeras flagrariam tudo o que desejo fazer com
ela. Estávamos com sorte.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Os seus cabelos castanhos voavam ao vento e dançavam sobre


os seus ombros. Sua pele se arrepiou com a brisa gelada e seu rosto
ganhou um leve tom rosado.
Ela encostou seu corpo na construção e deixou que eu me
aproximasse. Dytto não protestou quando me curvei para beijá-la.
Seus braços envolveram o meu pescoço. Ela tecnicamente não era
uma garota baixa, mas em comparação a mim, eu tinha sempre que
me inclinar um pouco mais.
Beijei-a com calma, degustando de seus lábios. Ergui parte do
seu vestido e procurei pelo elástico de sua calcinha. Eu queria
arrancar as roupas dela o mais rápido que podia.
— Chris... Meu pai. Ele vai nos ver — ela murmurou em minha
boca.
— Eu saberei se ele estiver perto. Não se preocupe, querida.
Ergui uma de suas pernas, apoiando sua coxa em minha cintura.
Imprensei seu corpo e coloquei sua calcinha de lado para penetrá-la
com o meu dedo.
Ela se afastou por um segundo com um sorrisinho bobo nos
lábios.
— Por que disse que era meu namorado?
— Algum problema nisso?
— Um pouco. — Ela franziu a testa, mas parecia contente.
— Não gostou desse título, Dingo? — brinquei, enfiando meu
dedo dentro de sua boceta.
Ela abriu a boca para gemer, mas afundou seu rosto em minha
camiseta, abafando seus barulhos. Não queríamos fazer alarde.
Eu queria vê-la cavalgar em meu pau, mas ela ainda não estava
pronta. E o fato dela ainda ser virgem, dificultava que tivesse uma
primeira experiência menos dolorosa.
Me aproximei do seu rosto e inspirei fundo, sentindo seu cheiro
doce, quente e leve, me invadir.
Eu tinha desejo pelo seu corpo, mas, também, pela sua alma. A
minha parte doente, suja e demoníaca ansiava em levá-la para mim,
trancá-la, foder o seu corpo inteiro e me embebedar dela. Dia e
noite, sem parar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Uma alma tão limpa assim, merecia ser infectada pelos meus
mais sórdidos desejos.
No entanto, uma parte humana minha, queria apenas tê-la.
Passar um tempo a sós e assistir o seu corpo se envolver no meu.
De um jeito melodramático e romântico, queria apenas passar mais
tempo em sua presença. Abraçá-la e aproveitar o momento. Era
estranho sentir que uma parte de mim estava verdadeiramente vivo.
Deslizei a língua em seu pescoço, Dytto ofegou e lentamente
tocou os seus lábios nos meus. Ela os chupou com força e
mordiscou.
Passei a movimentar meu dedo com mais força dentro dela.
Dytto gemia baixinho e os seus olhos se reviraram de prazer. Ela
jogou os quadris para frente, impulsionando-me a levar meu dedo
mais a fundo.
Vê-la daquele jeito estava me matando.
Surpreendendo-me, ela enfiou suas mãos por debaixo da minha
camiseta, deslizando seus dedos curiosos por todo o meu abdômen.
Fez isso repetidamente, tateando a minha pele enquanto eu a
masturbava.
Ela ofegou baixinho, o peito subindo e descendo ligeiro, e
quando gozou, seu corpo se entregou a mim.
Enrolei-a em meus braços, afagando as suas costas. Dytto
fechou seus olhos e permitiu desfrutar do meu carinho.
Pela primeira vez havia algo além do prazer. Eu queria que ela
permanecesse nos meus braços, apenas porque me queria tanto
quanto eu a desejava.
A ergui e a coloquei em meu colo. Sabia que logo, logo sua mãe
apareceria atrás de nós dois, todavia, pouco me importei.
Em meus braços, ela mais se parecia um pequeno anjo
adormecido e satisfeito. Eu gostava de fazê-la se sentir assim.
Rocei a ponta do meu nariz no dela, sua pele estava gelada. A
beijei mesmo assim.
— Você vem me visitar hoje, Chris? — indagou num sussurro,
ainda de olhos fechados.
Curvei um meio sorriso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você quer?
— Gostaria que dormisse comigo. — Notei que ela estava
envergonhada ao me pedir isso.
Dei um último beijo em sua testa.
— Eu venho, minha Dingo Bells.
Ela sorriu.
— Obrigada.

— Aquele garoto é bem alto, não é? — mamãe observou,


recolhendo os talheres e copos da mesa.
Eu estava a auxiliando no serviço, e fazendo todo o esforço
possível para me esquivar das suas perguntas invasivas. Mas, afinal,
ela era a minha mãe, não havia muito o que eu pudesse fazer.
— Huh-rum.
Não achava que entrar nesse assunto seria uma boa ideia no
momento, então apenas torci para que ela se distraísse e esquecesse
disso por ora.
— E... bem tatuado também — dessa vez havia um fundo de
julgamento em seu comentário.
Optei por não discutir. Sei que ela e o papai odiavam tatuagens,
e era o que ele mais tinha. Havia até mesmo no seu... Oh, caramba!
Um arrepio percorreu todo o meu corpo ao lembrar-me de seu
enorme pênis com desenhos de correntes. Minha boca
estranhamente se encheu d'água.
— É. Já terminei aqui. Tô indo — avisei.
— Nós ainda temos que conversar, Dytto — ela me freou.
— Podemos fazer isso em uma outra hora? — pedi, descontente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela tombou a cabeça para o lado e pôs as mãos em sua finíssima


cintura.
Eu esperava mesmo chegar em sua idade com o corpo tão
bonito assim.
— Está tendo relações sexuais com aquele garoto?
Meu rosto inteiro ardeu de vergonha.
— Mãe! — adverti, constrangida.
Ela respirou fundo.
— Eu sou mulher, minha querida! Então nunca esconda essas
coisas da sua mãe. Está ou não?
Balancei a cabeça em negação.
Bem, não estávamos exatamente fazendo sexo. Existiam alguns
amassos e dedos? Sim. Mas não tínhamos feito penetração com o P
e a V. Então eu meio que era "virgem", ou uma "falsa virgem". Não
importa, apenas não tínhamos transado.
— Só... use camisinha. Eu já tive a sua idade, então por favor,
nada de sexo desprotegido, Dytto.
Mordi o canto da bochecha.
— Eu já entendi — falei tímida.
— Não é só bucho que você pega se não se prevenir...
— Mamãe, eu já entendi — a cortei, nervosa, antes mesmo que
ela começasse a dar uma grande e extensa lista de doenças sexuais
que eu poderia pegar.
— Camisinha sempre, Dytto. Oral, vaginal, anal. Sempre.
Arregalei os olhos com tanta rapidez que acreditei mesmo que
meus globos oculares fossem saltar do rosto.
Meu Deus! Eu ainda não acreditava que estávamos tendo essa
conversa.
Ela soltou o ar pela boca.
— Só... não estrague tudo por causa de um garoto. Você é
esperta, não precisa se prender a ele, está bem?
Balancei a cabeça em concordância.
Mamãe me puxou pelos ombros e passou os braços ao redor do
meu corpo, deixando um beijo casto em minha nuca.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu ainda não acredito que você e Loren já estejam tão


grandes. Parece que foi ontem que eu me rasguei toda para ter
vocês.
Recuei rapidamente de seu abraço.
— Tô indo dormir — alertei e ela riu.
Apressei os passos pela casa, subindo as escadas de dois em
dois degraus.
Minha nossa! Quando mamãe tirava tempo para falar sobre
coisas constrangedoras ela não parava mais.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

06 de Abril | Sábado

Era quase 9 da manhã de sábado.


Loren e eu estávamos sentadas na calçada do estacionamento
do hospital. Ela com o seu cigarro na mão, e eu com o meu caderno
de desenhos.
Eu havia deliberadamente a avisado sobre o "acidente" de
Marcos. Claro que sem especificar o meio pelo qual descobri. Minha
fonte não era muito confiável; e também, era a razão pela qual o seu
amigo estava naquelas condições.
Não era dia de visita, mas papai tinha grande influência sobre os
seus colegas de trabalho. Ele só precisou fazer uns telefonemas, o
que, por conseguinte, nos permitiu visitar Marcos.
6 minutos. Foi apenas isso que nos cederam, no entanto, ainda
não havíamos entrado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Entediada, esfreguei o tênis no chão, arranhando pequenas


pedrinhas no asfalto.
Christopher tinha um ponto, talvez eu não me importasse com
Marcos tanto quanto imaginava. Mas, afinal, era difícil ter afeto por
alguém que apenas me sufocava e tentava me embebedar.
— Por que ainda estamos aqui no estacionamento? — bocejei.
— Claire está vindo — Loren avisou e deu mais uma tragada. Em
seguida, deu batidinhas na bituca, deixando que as cinzas se
espalhassem no ar. — O que está desenhando? — investigou, com os
olhos semicerrados em curiosidade.
Ergui o caderno de minhas coxas e lhe mostrei a página velha,
cheia de manchas de café e rabiscos.
Por alguma razão, adorava desenhar em folhas manchadas,
complementavam as minhas ideias, tornando-as mais atraentes.
— Isso é um cachorro? — ela indagou, confusa.
— É um pato, Loren — corrigi, ofendida.
— Oh! Desculpa. Quando você terminar acho que vou entender
melhor o que você estava querendo fazer.
— Lô, eu já terminei.
Ela arregalou os olhos.
— Ah...
Loren virou o rosto, constrangida.
— Está tão ruim assim? — murmurei, encarando o que eu havia
feito.
Eu sabia que não era lá a melhor desenhista, nem mesmo estava
na média, mas confundir o meu pato com um cachorro era demais
da conta.
— Deve ser a caneta, Dy.
Franzi as sobrancelhas, encarando o objeto.
— Ela está normal.
— Não deve ser própria para desenhos — explicou.
— Mas foi o Luc que disse que ela era boa para desenhos.
Ela encheu as bochechas de ar, prendendo um murmúrio
esganiçado em sua garganta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Deve ter vindo com defeito — soltou, atordoada, sem mais


desculpas em mente.
— Loren, eu não sou mais criança. Pode falar que está feio.
— Então tá bom. Está feio.
— Mas não era para você falar.
Ela ergueu as mãos no ar, incrédula.
— Dyttoo — berrou.
Ri alto de sua cara ranzinza.
— Eu ainda vou aprender a desenhar — sussurrei.
— É.
— Tô falando sério.
— Eu acredito em você.
Joguei a cabeça para o lado e sorri para ela. Loren tentou
esconder, mas sabia que ela também quis sorrir, ela só não gostava
de ser melosa demais.
— O que acha da gente acampar? — perguntou.
— Ainda estamos de castigo, lembra?
Pela quinquagésima vez esse ano...
— Claire vai tentar convencer os nossos pais.
— Ah, Lô... Eu não sei, não. Não gosto de acampar. Nem de
mato. Florestas. Bichos. Insetos. Pessoas...
Ela bufou.
— Eu não consigo entender como você consegue gostar tanto de
ficar sozinha — confessou, intrigada.
— Não é ruim como você faz parecer. Você apenas pre... — me
calei abruptamente ao avistar o Mustang prata que havia despontado
no início do estacionamento em alta velocidade, roubando a atenção
de nós duas.
O motor roncou alto. O motorista acelerou até certo ponto, de
repente, os pneus cantaram no asfalto quando o automóvel deslizou
lateralmente em uma manobra perfeita. O carro estacionou do jeito
mais espetacular na vaga livre há poucos metros de nós.
— Claire mudou de carro? — perguntei e ela balançou a cabeça,
tão confusa quanto eu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Claire adorava dirigir em alta velocidade, mas, desta vez, tinha


dúvidas que fosse ela dentro do automóvel. Ela odiava ficar se
exibindo em público.
Não demorou para que a porta se abrisse e o rosto de Joshua
surgisse em nosso campo de visão.
É claro! Tinha que ser obra do namorado da ruiva. Ele ficava um
tanto eufórico quando entrava em um carro.
Claire emergiu seguidamente no lado do passageiro. Ela parecia
furiosa com Joshua, mas a sua irritação logo se dissipou ao nos ver.
— Olá, meninas — ele cumprimentou aprontando os seus
passos, divagando o olhar entre nós duas.
— Oi — dissemos em uníssono.
— Garotas — Claire murmurou. — O que fazem aqui fora? Não
deveriam esperar lá dentro?
— Loren e eu estávamos esperando vocês — expliquei.
— Então é bom nós nos apressarmos. — A ruiva tentou parecer
natural, mas percebi sua ansiedade.
Diferente de nós, ela se preocupava bastante com o bem de
Marcos. Quer dizer, ela se preocupava com o bem de todos. Era a
mãe do grupo, eu diria.
Joshua continuou parado à nossa frente. As duas mãos nos
bolsos e a expressão apática. Foi quando percebi que ele estava
encarando o caderno em meu colo.
— É um cavalo?
— É um sapo, Josh — Claire o criticou.
— É UM PATO — os corrigi.
A ruiva jogou o rosto para o lado, desnorteada. Joshua,
entretanto, ficou boquiaberto.
— Aaah... — foi tudo o que ele disse.
Balancei a cabeça, desacreditada.
— Como vocês não conseguem ver um pato nisso?
— É que está um pouco... diferente — Joshua falou, tomando
todo o cuidado.
— Se está feio, é só falar, não precisa me tratar igual uma
criança.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Bom... está esquisito, Dytto — confessou devagar, enrugando


o nariz.
— Não era para você ter falado — Loren se pronunciou.
Fechei os olhos e inspirei fundo.
— É a droga de um pato. Pato. Pato. Pato — resmunguei
sozinha.
— Sua irmã está bem? — Claire questionou.
— Não muito. Ela está namorando o Christopher — revelou,
despreocupada.
Meu sangue congelou nas veias e eu quis enfiar aquele Pato-
cachorro-cavalo-sapo na goela dela.
— Quê? Tá brincando, não é? — Claire explodiu uma risada, o
seu rosto cheio de sardas se preencheu do tom vermelho.
Ela me olhou cética. Mal podendo acreditar na notícia que havia
recebido.
Decerto que o histórico daquele homem não era um dos
melhores, mas ela estava exagerando. Não, é? Ela estava
exagerando, né?
— Você... Tá... — ela apontou para mim e para o nada e depois
para mim, como se não soubesse o que dizer.
Namorados não era bem o termo que eu usaria se perguntassem
sobre mim e ele. Foi o que ele definiu que éramos para os meus
pais, mas o Christopher era o Christopher, ele poderia ter dito aquilo
apenas para irritá-los.
Aposto que ele nem devia mais se lembrar disso de tão tosco
que pode ter sido para ele.
Meu peito deu uma pontada em desapontamento.
Pare de bobagem, Dytto. Ele só estava brincando.
— Não é bem assim — cochichei.
— Minha cabeça até rodou. — Ouvi Joshua sussurrar.
— Eu e Christopher, nós não estamos namorando — me defendi.
— Ah, estão, sim. — Loren soltou um riso tenso.
— Loren, eu e ele não estamos namorando.
Ela repuxou o canto dos lábios.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não na cabeça dele, Dy. Esse é o preço que se paga por estar
com o Christopher. Ou você o acompanha ou ele te arrasta mesmo
assim.
Discordei com a cabeça.
— Não, ele não é meu namorado. Nós ainda estamos nos
conhecendo.
— E o quanto já se conheceram? — Joshua provocou.
— Ah, eu sei lá, uns... 45%? — que mentira. — 50%, talvez... —
outra grande mentira.
— Qual o nome dele completo? — Claire perguntou.
Ah, deve ser algo como... Christopher... Christopher Yori? Espera,
deve ter algum outro nome...
Antes que eu pudesse terminar o meu raciocínio, Josh foi mais
rápido em me bombardear.
— Quantos anos ele tem?
— Quantos anos ele tem?
— Essa eu sei. — Bati as mãos, confiante. — Ele tem 19, vai
fazer 20 daqui uns meses.
— Ele não tem 19, Dy. — Loren riu. — Ele tem 18, faz 19 no final
do ano. — O quê?
Eu não sabia nada sobre Christopher. Todos os 50% pularam
para 0,1%. Afinal, o que nós havíamos feitos esse tempo todo,
senão corrermos atrás um do outro como cão e gato e nos
aventurarmos no escuro do meu quarto ou no claro da sua casa?
— Eu acho melhor você procurar saber mais sobre quem é o
Christopher, Dy. — Claire aconselhou. — Você não sabe nem metade
do que ele realmente é. Sugiro que comece procurando saber pela
floresta, é lá que aquele monstrinho faz as coisas sujas dele.
Suspirei, derrotada.
Eu não fazia ideia de quem ele era.
— É melhor entrarmos — Loren disse.
Os outros concordaram, mas eu ainda estava com a cabeça
abarrotada de pensamentos.
— Só um segundo, tenho que fazer uma coisa — avisei. —
Podem ir, encontro vocês num minuto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Os três tomaram a frente. Em contrapartida, peguei o meu


celular do bolso e procurei pelo seu contato.

Como alguém conseguia ser capaz de ser tão irritante?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Oh, céus!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu devia mesmo estar preocupada em estar tão à vontade perto


de alguém que não tinha escrúpulos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Marcos havia acabado de acordar quando chegamos à porta do


seu quarto. Através da pequena janela de vidro, vimos uma jovem
enfermeira ao seu lado, conferindo o seu colar cervical. Apesar de
que ele parecia realmente com dor, era óbvio que ele só a tinha
chamado para paquerá-la.
Ele continuava o mesmíssimo Marcos de sempre.
— Lembrem-se, apenas 6 minutos — o médico barbado
relembrou ao nosso lado.
— Eu posso fazer uma pergunta? — me prontifiquei. — É grave?
Quer dizer, é óbvio que é ruim, mas, ele vai ficar bem?
Ele sorriu gentil para mim.
— Felizmente, a fratura não afetou a coluna vertebral ou nervos
importantes do seu amigo. É uma fratura estável e não há
desalinhamento significativo nas vértebras. Mas, mesmo que tenha
sido uma fratura leve, ainda requer atenção medida e tratamento
adequado para garantir a cicatrização correta e evitar complicações.
Marcos ficará bem, mas terá que ficar na observação por mais uns
dias, apenas por garantia. Ok?
— Certo. Obrigada. — Sorri, aliviada.
Loren abriu a porta e os olhares lá dentro se voltaram para nós.
— Olha só. Os filhos da puta apareceram aqui. — Marcos
gargalhou, todavia, parou quando sentiu dor e engelhou o rosto. —
Merda, eu estou tão fodido.
— Eu vou indo nessa. Se precisar... — a enfermeira dizia quando
foi interrompida por Marcos.
— Sei, sei... Aviso, sim, gatinha. — Ele jogou uma piscadela para
a moça, que saiu completamente envergonhada da sala.
— Nem fodido você deixa de ser um merda — Loren declarou,
enojada.
Marcos parecia feliz com o título, então pouco de importou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Josh foi até o seu amigo e sentou-se na beirada da cama.


— Que nojo, você está parecendo um tarado — comentou,
brincalhão.
Marcos riu e os dois começaram a conversar. Tínhamos apenas 6
minutos ali dentro e eu já queria ir embora.
Loren e Claire também se aproximaram eu, por outro lado, me
mantive mais distante.
Certa parte de mim se sentia culpada por ele estar daquele jeito.
No entanto, eu não conseguia ter compaixão o suficiente para me
sentir arrependida. Afinal, culpa e arrependimento não eram
sinônimos.
— Que merda você fez dessa vez? — Joshua questionou,
olhando-o de cima a baixo.
Meus ouvidos se aguçaram e minhas mãos suaram frias. Temia o
que ele poderia dizer.
Quão ruim seria se descobrissem que isso foi causado por
Christopher? E pior, que Christopher fez isso por minha causa?
— Acho que desmaiei e caí da escada, ou algo assim. Não
consigo me lembrar bem o que houve — respondeu, confuso.
Acho que ele nem mesmo teve tempo de processar o que
aconteceu no dia do seu acidente. Ou então fingia muito bem.
Os outros voltaram a falar, e prontamente mudaram de assunto,
logo já estavam bolando planos e festas para quando Marcos
estivesse em casa.
Quando nosso tempo finalmente se esgotou, me aproximei
apenas para dar um leve aperto de mão e lhe desejar melhoras.
Todavia, percebi que ele não parecia exatamente querer aquilo.
Marcos não me olhou diretamente nos olhos, sequer firmou
nossas mãos quando o toquei. Procurou discretamente me evitar.
Isso era estranho. Em geral, ele estava sempre aproveitando
toda oportunidade para estar próximo de mim.
Acho que me equivoquei ao pensar que ele não lembrava o que
aconteceu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ao voltarmos ao estacionamento, Loren estava mais distraída.


Joshua e Claire conversavam entre si, e eu estava mergulhada em
pensamentos.
Foi somente quando Claire falou comigo que eu percebi que
havia me desligado completamente.
— Desculpa, o que disse? — indaguei, desatenta.
— Perguntei se aquele não é o seu namorado — replicou
sorrindo. Ela inclinou levemente a cabeça para a direita e me virei na
direção.
Ao longe, Christopher estava sentado no capô da sua Ranger
Vermelha. Seus braços estavam cruzados enquanto ele me encarava
como uma águia. Não aparentava sinais de contentamento, mas
também não desmontava interesse em vir aqui me buscar pelo
braço.
Seu cabelo estava emaranhado de um jeito selvagem. Suas
roupas eram casuais, mas nele tinham um aspecto atraente. Existia
uma brutalidade no rosto de Christopher que o deixava sempre mais
sensual, principalmente quando tinha a expressão de quem queria
matar alguém. Esperava não ser eu a vítima.
— Mas que porra... — Joshua sibilou. — Ele parece a droga de
um narcotraficante.
— Do que que você tá falando? — Loren disse incrédula.
— Ele anda vendo filmes demais ultimamente — Claire justificou.
— Eu acho melhor eu ir até lá.
— E o que ele quer? — Loren se atentou.
— Quer me levar para sair. Talvez um encontro, eu sei lá. É o
Christopher.
— Você vai?
— Ficou maluca? Papai vai matar me matar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu digo que você foi para o meu emprego comigo. — Deu de


ombros.
— O quê? Pensei que estivesse de férias.
— E estou. Mas se eu dissesse ao papai, ele não me deixaria sair
no meu tempo livre.
Oh, que danadinha. Então quer dizer que esse tempo todo ela
tinha uma carta na manga para ir aonde quisesse sem dar
satisfação. Eu bem que queria ser mais como ela.
— Não chegue em casa tarde, Dy — avisou, séria.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

06 de Abril | Sábado

— Eu pensei que não seria capaz de chegar a pelo menos 100


metros de distância dele, desde que você e eu conversamos outro
dia — ele incitou frio.
Não conversamos exatamente. Em poucos segundos sua língua
estava na minha boca, e em seguida, estávamos nus em sua cama,
então não conta.
Christopher continuava sentado no capô do seu carro, e na
altura em que estava, tornava-se infinitamente mais intimidador.
Seus olhos navegaram bem lentamente por cada fração do meu
rosto. Sua face estava sombria e enigmática.
Continuava sendo estranho vê-lo tão sério.
— Bom dia? — Tentei descontrair com um sorriso, mas não
funcionou.
Christopher saltou do seu carro.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Vamos ter outra conversa — ordenou, dando a volta no


automóvel.
Crispei as sobrancelhas.
— Por que está assim? — perguntei ofendida.
Sua mão tocou a maçaneta, no entanto, ele cessou seus
movimentos, olhou para mim e curvou o canto dos lábios, maldoso.
— Porque eu nunca passei tanta vontade em toda a minha vida,
querida. Isso é o que acontece quando você tira de um demônio
tudo o que ele mais quer — provocou malicioso.
Curvei um pequeno sorriso tímido, que durou apenas um piscar
de olhos.
Eu ainda não podia me permitir criar esperanças. Existia a
possibilidade de ele estar apenas me enganando para conseguir o
que queria.
— Eu não acho que esteja passando necessidade — examinei.
— Não? — interrogou, curioso.
Deixei que meu olhar recaísse para os seus pés.
— Eu não sou a única garota que você fica, não é?
Ele se afastou do carro, aproximando-se devagar de onde eu
estava.
— Está me perguntando por que quer saber ou por que quer ser
a única?
Mordi os lábios.
— Os dois... — soltei sem pensar.
O constrangimento tomou conta de todo o meu rosto. Sentia-o
queimar de vergonha.
— Tudo bem eu não ser a única — procurei corrigir o meu erro,
mas isso apenas pareceu servir de munição para um Christopher
com o olhar endiabrado.
— Jura? — caçoou.
— Não é como se eu fosse ter só você na minha vida, também.
Eu devia estar ficando doida.
— Bom, existe algumas outras garotas além de você — refletiu,
olhando-me nos olhos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Não era isso o que eu desejava ouvir. Meus lábios tremularam


em resposta e meu coração murchou como um balão dentro do
peito.
Eu deveria ter mantido a minha boca bem fechada.
— É, eu sei. Ouvi falar das alunas que você paquerava — fingi
indiferença.
— Elas eram bonitinhas. — Deu de ombros.
— Huh-rum. — precisei de um segundo antes de dizer qualquer
coisa que não fosse um murmúrio choroso. Aquele nó na garganta
estava me sufocando. — Tenho que ir... — virei o rosto para trás,
onde Loren ainda conversava com seus amigos que, de vez em
quando, nos observavam "disfarçadamente". — Minha irmã está me
esperando. Não posso ir com você.
— Ainda não terminamos de conversar — ele pontuou.
— Nós já conversamos. Somos solteiros. E cada um deveria fazer
o que bem entende — esclareci rápido.
Ele passou a língua sobre os lábios, não contendo um sorriso
perverso.
— Então não liga se eu trepar com outras? Sabe que eu não vou
deixar você fazer o mesmo, não sabe?
— Não pode me controlar. Se quiser ficar com outras garotas,
tudo bem. Mas não pode mais exigir isso de mim. Fique com quem
sentir vontade, eu não ligo. — Não mantive contato visual ao dizer.
Estava segurando lágrimas que nem mesmo deveriam existir ali.
— Nem mesmo se eu estiver com outras, sei lá... cinco ou seis
garotas diferentes?
Meu estômago de revirou. Isso doeu.
— Não é da minha conta a sua vida.
Ele riu baixo.
— Eu sabia que você iria entender. — Christopher sutilmente
tocou o meu queixo. — Adoro como você é tão compressível, amor.
Apenas balbuciei algo ininteligível que deveria ter sido uma
afirmação.
— Formamos uma ótima dupla — continuou, empolgado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Claro — concordei, fervendo de irritação. — Eu vou ter a


chance de perder a minha virgindade com alguém que tenha o
tamanho do pau normal e você continuará realizando as fantasias
das garotas que são obcecadas por você — decidi.
Queria que ele ao menos sentisse um pouco das horríveis
sensações que eu estava presenciando.
Não havia nada que provocasse mais os homens, do que
desmerecer o pênis deles. Obrigada pelo sábio conselho, Loren, o
mérito é todo seu.
— Tem ficado com mais alguém além de mim, Dingo Bells? —
formentou, rígido.
— Você saberia. Sempre sabe todos os meus passos, imagino —
retorqui com tristeza.
— Tem outro cara na jogada ou não? — repetiu mais sério.
— Você sabe que não — sussurrei. — Eu tenho que ir.
Girei os calcanhares dali, mas antes que eu pudesse dar o
primeiro passo, ele agarrou o meu pescoço.
Senti seus lábios roçarem a ponta da minha orelha e estremeci.
— Sabe que é a única, não sabe? — constatou rouco.
— Sou? — duvidei.
Ele beijou o canto do meu rosto e senti seus lábios sorrirem em
minha pele.
— Não há mais ninguém além de você, Dingo Dingo.
— Algumas alunas pareciam bem interessadas — pontuei,
enciumada.
— Algumas alunas não são você. Não dei oportunidade a
nenhuma. Gosto do que temos. — Seu braço entornou a minha
cintura com um aperto mais intensificado. — É muito melhor me
enfiar no seu pijama para tocar a sua boceta, do que uma trepada
entediante com qualquer outra.
Me virei para ele.
— Até que eu pare de ser a sua diversão, certo? — salientei,
encarando seus olhos esmeralda.
— Minha Dingo Bells tem tão pouca fé em mim.
Olhei para trás, avistando o enorme Hospital.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Estou aqui porque trouxe alguém que eu beijei para a UTI. —


Virei-me para ele. — Você tem toda a liberdade de fazer o que
quiser. Mas me impede de fazer o mesmo.
Christopher se irritou.
— Quer beijar outros caras?
— Se eu sentir vontade, sim.
— Acho melhor nós sairmos daqui. — Se apressou.
— Por quê?
— Porque agora eu vou matar o Marcos.
Arregalei os olhos e o segurei pelos ombros.
— Achei que já tivesse feito o bastante — ralhei.
Ele me olhou desgostoso.
— Tô vendo que não.
— Então tudo bem se você beijar outras pessoas e eu não? —
disse incrédula.
— Porra, Dingo. Eu não beijei ninguém. Por que está tão
incomodada com isso agora?
Me calei.
Naquele instante, sabia que qualquer coisa que eu dissesse
poderia acabar sendo o meu enterro. Odiaria saber que o meu
atestado de óbito diria: Morreu de vergonha.
Ele sorriu, provocador.
— Está apaixonada por mim — observou.
— Não, não estou — elevei o tom, enrubescida.
— Oh, querida! Está tão apaixonada por mim que já não sabe
mais disfarçar — zombou.
Rolei os olhos e tentei me esquivar de seu corpo.
— Você que pensa.
Christopher segurou a minha mão e rodopiou o meu corpo,
puxando-me de volta a ele. Presa em seus braços, fui forçada a
encarar aquele rosto maléfico, cheio de perversão.
— Você é minha — reforçou, aproximando os lábios dos meus.
— E não vai desejar ser de mais ninguém.
Ele me deu um rápido beijo, se afastou, e olhando sobre a
minha cabeça, sorriu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Seus amigos finalmente foram embora. — comentou. — Agora


somos só eu e você.
— E isso quer dizer que...
— Quer dizer que agora eu posso fazer isso sem que você me
odeie. — Ele me girou e apoiou o meu torso na lataria do seu carro.
Sua mão esquerda prendeu os meus pulsos e a direita acertou a
minha bunda com força.
Soltei um pequeno grito e o encarei aturdida.
— Se disser que quer beijar alguém outra vez, arranco a sua
língua.
Ele me soltou e foi em direção a lateral do passageiro, abriu a
porta e esperou ao lado.
— Não sou um cavalheiro, amor. Sou quem manda em você. —
Com a mão, ele apontou para o banco. — Agora entra no carro.
Fui rápida ao obedecê-lo. Ele não estava para brincadeiras ou
outras provocações de minha parte. E, por mais que já não
parecesse mais, eu ainda me importava com a minha vida.

Christopher estava sentado à minha frente, em uma poltrona,


apenas de calça jeans, me encarando sério.
As suas pernas estavam arreganhadas, enquanto o corpo inteiro
mantinha-se relaxado.
Ele levou o cigarro aos lábios e deu mais uma tragada,
passeando os olhos por todo o meu corpo.
Eu estava estática, sentada sobre as minhas pernas, em um
canto do sofá de sua sala. Ele me trouxe para cá sem mais nem
menos, apenas por trazer.
Pelo visto, ele não sabia o conceito de se conhecer, pois a
mensagem que ele transmitia era que deveríamos ficar nos
encarando até que chegássemos à beira da insanidade ou algo
assim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Quer... assistir a um filme? — perguntei baixo, a voz


ameaçando sumir ao terminar a frase.
Ele negou em um balançar de cabeça.
Encarei as minhas mãos sobre as coxas e inspirei fundo.
— Acho que tem um filme legal para assistirmos. Eu acho que é
sobre um casal que vai para uma ilha e...
— Está com fome? — Chris me interrompeu.
Ergui os olhos para ele.
— Ahn. Não. Eu acho que não.
Christopher apagou o seu cigarro no cinzeiro sobre o móvel ao
seu lado e se levantou de sua poltrona, caminhando em minha
direção.
O garoto alto, tatuado e forte ofereceu a mão para mim.
— Venha.
Mordi o lábio inferior e, sem pressa, levei a minha mão até a
sua.
Ele me puxou para ficar de pé e me equilibrou, até que eu
pudesse estar firmada no chão.
Christopher abaixou o seu rosto, até estar próximo ao meu. Senti
o cheiro forte de nicotina e fumaça entranhada a ele e prendi a
respiração. Esse cheiro me deixava enjoada.
Ele aproximou seus lábios dos meus e os tocou pela primeira vez
desde que chegamos.
Christopher envolveu seus braços ao redor da minha cintura.
Lentamente seu beijo progrediu para algo mais intenso, porém,
durou pouco. Assim que eu tentei alcançar ainda mais dele,
Christopher se afastou.
— Suas coisas estão no balcão. Tem alguma roupa? — ele quis
saber.
— Não. Só levo uma escova de dentes e uma calcinha de
emergência para todos os cantos, mas só tenho essa roupa —
apontei para o meu corpo.
— É melhor não usar calcinha.
— Elas são confortáveis.
— A minha língua é mais — provocou, cínico.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Arregalei os olhos. No entanto, sem dar-me tempo para uma


reação maior, ele saiu em direção a cozinha.
O segui, mantendo alguns passos de distância. Christopher ainda
me dava medo, e eu ainda tinha certo receio de suas próximas
ações, então sempre tentava manter um pouco de distância, apenas
para o caso dele virar um lobo ou algo mais estranho. Afinal, ele
entrou pelo meu quarto sendo um demônio, sabe se lá o que mais
ele poderia virar se quisesse.
Tomei minha bolsa do balcão e a puxei sem gentileza, ela
deslizou no mármore caiu. Tudo dentro dela surfou para fora.
Droga de zíper quebrado.
Christopher pôs suas mãos na cintura e balançou a cabeça.
— Só vou te ajudar porque você é gatinha, mas caso contrário,
eu só me sentaria aqui e ficaria rindo de você.
Tentei não rir, mas fracassei. Agaixei-me no chão e comecei a
pegar todos os meus lápis deixados de fora da lapiseira que, agora,
estavam espalhados por toda a cozinha de Christopher.
— O que é isso? — ele perguntou, erguendo o meu caderno de
desenhos do chão, bem na página onde a minha última pintura fora
deixada.
O pato, barra cachorro, barra cavalo, barra sapo.
— Não é nada.
— Isso é um pato?
— Ééé — berrei como um cabrito, tão contente por alguém
finalmente ter acertado.
Sorri orgulhosa e ergui os braços para o alto.
— Tá vendo, nem todos são tapados — murmurei sozinha.
Christopher fez uma expressão estranha, porém, pelo jeito que
me encarava, aposto que não queria nem mesmo descobrir do que
eu estava falando.
— Dingo Bells, Dingo Bells... — cantarolou, risonho.
— Eu não sou doida — intervi.
Ele sorriu, terminando de recolher tudo.
Christopher se levantou do chão e enfiou tudo dentro da minha
mochila, ergui os meus joelhos do chão e fiz o mesmo

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

seguidamente.
Ele abriu os outros zíperes da bolsa, bisbilhotando cada um
deles, até parar em um em específico e enfiar a mão.
De lá, ele retirou a minha calcinha reserva e a enfiou no seu
bolso.
— Chris, não. É a minha calcinha de emergência. — A peguei,
mas ele fora mais rápido e a roubou de volta, apenas para enfiar
dentro de sua cueca.
O olhei em choque.
— Christopher — repreendi o gesto.
— Pegue — desafiou, brincalhão.
Semicerrei os olhos.
— Eu vou pegar — ameacei.
— Oras, então pegue.
— Chris...
— Dingo...
Apertei os olhos uma última vez antes de tomar partido e enfiar
a mão dentro de sua calça.
Christopher sorriu sacana ao sentir minha mão se esbarrar em
seu membro.
— Isso, amor, vai fundo — gemeu rouco, em tom de
divertimento. — Vai, garota.
Ele segurou o meu braço, não deixando que eu o movesse para
fora de sua roupa, ainda encenando gemidos que se tornavam cada
vez mais altos.
— Isso, Dingo.
— Christopher, pare — pedi, rindo.
Ele revirou os olhos, sorrindo, e soltou o meu braço; o tirei de lá
segurando — agora — a minha calcinha desonrada.
— Vou adorar saber que estará vestida em uma calcinha feia em
que eu esfreguei no meu pau.
Ele jogou uma piscadela para mim e deu-me as costas.
— Para onde vai? — investiguei.
— Banho. — Ele andou até a porta do seu quarto e virou-se. —
Quer vir junto, querida?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Prefiro banhos sozinha.


Ele umedeceu os lábios e deixou que o seu rosto caísse para o
lado.
— É uma pena. Pensei que quisesse me conhecer melhor.
— Não lembro de nenhum ditado que diga que banhar juntos
nos faça termos uma relação melhor.
— "Banho tomado, saúde dobrada".
— Vá logo, Christopher. Ainda temos muito o que conversar. —
Ignorei-o e voltei para a sala.

Pela primeira vez — sem razões obscenas, nos deitamos em sua


cama, lado a lado. Christopher estava apenas de bermuda e sua pele
ainda estava úmida em razão de seu banho recém-tomado.
Levei a mão ao seu abdômen rígido e deslizei a ponta dos dedos
devagarinho, sentindo com atenção cada detalhe e textura do seu
corpo. Contornando todas as suas belas tatuagens escuras
espalhadas em sua pele.
Estagnei ao aproximar-me do seu "666", por alguma razão, tinha
receio em tocá-lo, como se, de algum modo, fosse me ferir.
Me ajeitei de barriga para baixo e o encarei diretamente
enquanto ainda o tocava.
— Nos meus "sonhos", sua pele é gelada. Por quê?
Ele juntou as sobrancelhas, sério.
Christopher não parecia ter muito interesse em tocar neste
assunto em particular. Isso parecia afetá-lo a ponto de sentir seus
músculos ficarem rígidos sob meus dedos.
— Isso é culpa do meu outro eu.
— Isso é ruim? Digo, estar no seu outro eu? Você tem controle
dele ou...
— Eu sou sempre eu, mas com desejos inimagináveis sobre você
em minha outra... Camada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Deslizei os olhos pelo seu corpo, ruminando suas palavras em


minha mente, para enfim, perguntar o que mais perturbou durante
todo esse tempo.
— Chris... Por que você é assim?
Seus dedos deslizaram calmamente sobre as minhas bochechas
até alcançarem meu maxilar, e então, alcançar o meu pescoço.
— Sou metade humano. Metade demônio. Entende?
— Seus pais, eles...
— Não importa — cortou.
— Não vai me dizer?
— Dingo... — ele soltou o ar pela boca, incomodado. — Apenas
esqueça essa parte de mim.
— Você está em cada parte do meu corpo, todos os dias, todo o
tempo. Quando nós estamos pertos, eu me sinto presa a você.
Curvei um sorriso triste.
— Meus pensamentos em relação ao que temos me domina. Eu
me sinto cada vez mais obcecada pela sua presença. Não acha que
mereço uma explicação? Você e eu sabemos que isso não é normal.
Christopher fechou os olhos.
— Eu só preciso entender — insisti.
— E o que precisa entender? — sua voz era densa e pesada, ao
passo que me olhava sem paciência.
— O que te fez ir me visitar? Por que todos me dizem para ter
medo de você?
— Eu já disse todas as minhas razões a você.
— Mas isso não me diz nada sobre você — protestei. — Quero
saber quem é você!
— Por que só dá importância a isso quando se trata dos outros?
Até pouco tempo estava satisfeita em ter meus dedos em você.
— Porque você me tira a razão, Chris. É por isso que eu sempre
me perco perto de você. Eu não devia, e você sabe disso.
— Pare de se deixar levar pela opinião das outras pessoas.
Somos eu e você. E isso é o suficiente.
— Não para mim.
Christopher se ergue sobre os cotovelos e se senta na cama.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É difícil lidar com a sua teimosia em saber algo que não lhe
diz respeito. Não faço parte do seu mundo e não precisa saber mais
que isso.
— Está me mandando calar a boca e me contentar com o que
tenho sobre você? — me irritei.
— Está caçando meios para o seu próprio fim.
Me ajoelhei no colchão.
— Vai me matar se eu investigar você?
— Sabe por que ninguém sabe nada sobre a minha vida, Dingo?
— ele baixou o tom de voz. — Porque se soubessem, estariam
perdidos ao perceberem que não vivem no mundo em que pensam.
Ele segurou a minha mão.
— Não sou apenas um demônio. Eu tenho um propósito maior
que não cabe a você meter o nariz.
Puxei meu braço e abracei o meu corpo.
— Se não cabe a mim, não deveria ter me metido nisso —
rosnei, e pulei para fora da cama.
Saí com passos pesados do seu quarto. Ouvi-o me seguir, mas
não parei para lhe dar satisfação do que fazia.
Se ele não podia me dizer quem era, eu não devia respostas a
ele.
Era um jogo injusto, onde ele jogava com todas as peças e eu
apenas o via brincar com a minha vida e com os que viviam a minha
volta. Para ele, eu não passava de um fantoche.
— O que está fazendo? — Chris exigia uma resposta.
— Não importa.
Ele soltou um riso áspero e curto.
— Quer ver o que tanto escondo, então? — intimidou. — Então
me olhe, querida — ditou ameaçador.
Virei o corpo para trás e imediatamente me arrependi de tê-lo
feito.
Suas pupilas estavam dilatadas e enormes, vestindo todo o
verde de seus olhos. Sua pele era acinzentada e marcada por linhas
negras, como veias demarcando todo o seu rosto. Debaixo dos seus

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

olhos, sua cor pintava-se de tons arroxeados, dando profundidade


aquela máscara demoníaca a qual eu via.
Em seu peitoral, havia marcas vermelhas, que mais se pareciam
como rachaduras sangrentas em um vaso. Seu corpo era traçado por
estranhas texturas. Tudo nele era grosseiro e irregular.
Meu corpo se impulsionou para trás em resposta. Arregalei os
olhos, assustada.
— Eu vou sempre te proteger. Mas não ouse me provocar
demais. Tem coisas que vão além da sua capacidade de entender,
me ouviu? — sua voz era carregada e soturna.
Não me parecia o Christopher de sempre. Agora ele era
assustador e me causava calafrios.
Abracei o meu corpo, eu estava oscilante e zonza. Prestes a
desmaiar com a imagem mais horripilante que já vira em toda a
minha vida.
Ao notar isso, ele ergueu as sobrancelhas e naturalmente seu
rosto voltou ao normal, dispersando as partes estranhas.
Solucei baixo quando ele se aproximou e fechei os olhos.
— Me desculpe — murmurou arrependido.
Tentei me afastar, mas Christopher fora mais rápido e me
segurou em seus braços, me enrolando em um abraço apertado.
— Eu sinto muito.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

08 de Abril | Segunda-feira

Dytto está quieta. Quieta demais.


Hoje minha tarefa era levá-la para a escola.
Surpreendentemente, com a permissão de sua mãe. Precisei apenas
insistir um pouco mais do que um ser humano comum normalmente
pediria, e ela cedeu — por pura vontade minha.
Dytto estava com a cabeça apoiada no vidro do carro, abraçando
o próprio corpo. Os olhos distantes e pensativos mantiveram-se
presos ao asfalto, como se viajassem para outras dimensões. Parecia
existir tantos pensamentos difusos em sua mente que a curiosidade
me corroía em descobri-los.
No entanto, permaneci concentrado em dirigir.
Claramente não me incomodaria em passar o dia inteiro preso a
ela, e me fode a cabeça saber que ela passaria o resto do dia na

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

escola, cercada de garotos que não perderiam a chance de cobiçá-la,


principalmente o Luc.
Tentei não pensar nisso. Despertar meus demônios justo quando
estava com Dytto, não terminaria bem. Esse mal dentro de mim a
consumiria por completo, causando-lhe a sua morte.
E era por este motivo, que ela ainda se mostrava tão tensa.
Ontem lhe mostrei o pior de mim, e vi o horror gritando em seus
olhos. Não poderia cometê-lo novamente.
Pouco tempo depois, notei que ela havia adormecido e toquei de
leve a sua perna. Dytto imediatamente despertou, olhando-me
sobressaltada.
— Te assustei?
Ela lambeu os lábios, parecendo atordoada. As pálpebras
inchadas e os olhos avermelhados denunciavam a noite pouco
dormida.
— Desculpe! Só estou com... — ela suspirou baixo e diminui
gradualmente o seu tom de voz — sono.
— Não dormiu bem?
— Bom, dormi, no pouco tempo em que você deixou.
Sorri em razão das lembranças da noite passada invadindo a
minha mente maligna.
Eu sabia que pedir desculpas não resolveria o problema, então a
fiz esquecer usando uma técnica um tanto quanto corrupta.

Meus olhos brilhavam ao vagarem por todo o seu corpo nu. O


rosto ligeiramente adormecido se expunha entre as madeixas
castanhas espalhadas pelo colchão.
Eu já havia arrancado as suas roupas. Estava desesperado por
ela.
Ela vagava entre um meio termo de estar consciente e
inconsciente, mas a sentia implorar para que eu lhe desse um fim

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

àquele agonizante desejo desesperador em seu ponto mais íntimo.


Minha garota queria que eu a tocasse de todas as formas. Seu
subconsciente implorava por mim.
Toquei a sua barriga e explorei cada parte de sua pele macia,
descendo até às coxas e subindo pelas laterais. Ela estremeceu e
apertou as suas pernas, fazendo pressão em sua intimidade. Fiz
questão de enfiar a mão entre elas para tocar a sua virilha.
Seu corpo vibrou em excitação.
Separei as suas coxas, encaixando-me perfeitamente entre elas.
Meu corpo debruçou sobre o seu e a entreguei beijos apaixonados
por cada centímetro do seu corpo, adorando-a por completo.
Naquele momento, parte dela já havia despertado
completamente.
Suguei os seus lindos seios e ela gemeu baixo, os enfiei
completamente em minha boca e os deixei se envolver em minha
língua. Seus dedos apertaram o meu braço e ela deixou escapar um
suspiro dolorosamente sensual.
Ergui os olhos para ela, sem conter um sorriso malicioso. Ela não
podia me enxergar, mas eu a via claramente, e a expressão de
prazer em seu rosto, ora... Foi a coisa mais perfeita.
O doce som de sua voz gemendo manhosa, deixava-me louco
por ela.
— Seu corpo sabe a quem pertence, por isso, eu só preciso te
tocar para você ser minha. — Ao me ouvir, seus lábios se
entreabriram e sua respiração tornou-se ofegante.
Um arrepio atravessou o seu corpo quando deslizei a minha
língua sobre a sua barriga, descendo até o meio de suas pernas,
alçando o seu clitóris.
Levantei as suas pernas sobre meus ombros e agarrei os seus
quadris, impulsionando sua intimidade em meu rosto. Coloquei o seu
pequeno ponto de prazer na língua e o saboreei como se nada mais
no universo importasse.
A chupei com força, devagar, rápido e lento. Aproveitei de sua
boceta a noite inteira, de todas as formas. Ela já estava encharcada,
mas ainda gemia gostoso pra mim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Deliciei do seu gosto incrível na minha boca. Aquele, afinal, era o


meu paraíso.
Ela agonizava em prazer na sua cama, arqueando as costas e
enfiando as unhas nos lençóis, e às vezes arranhava o meu pescoço,
puxava o meu cabelo e se esfregava mais no meu rosto.
Eu adorava quando ela rebolava na minha cara.
— Chris... Chris... — gemia sem parar.
Oh, querida. Continue. É tão extraordinário ouvi-la gemer o meu
nome.

— Da próxima vez, me lembre que não posso passar a noite


inteira chupando você.
Suas bochechas coraram e ela sorriu tímida.
— Não o lembrarei.
Desta vez, fui eu quem sorriu.
— Então teremos que guardar um momento do dia para que
durma, não quero que adoeça.
Ela mordeu os lábios e encarou as mãos sobre as pernas.
— Meu corpo está cheio de chupões seus — sussurrou.
— Vai ter do que se lembrar quando se olhar nua novamente —
comentei, despreocupado.
Seu rosto inteiro enrubesceu.
— Na verdade, eu não estava tão acordada assim. Em algum
momento eu apaguei — confessou, envergonhada.
— Eu sei — a respondi. — Mas continuou gemendo mesmo
assim.
Ela abriu um sorriso nostálgico.
— Será trágico se alguém tiver escutado.
— Você infelizmente é muito discreta. Bem que eu queria ter
acordado a casa inteira com a sua boceta na minha cara.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Seu rosto tingiu-se de vermelho, mas ela fez um grande esforço


para fingir-se indiferente. Percebi que ela não gostava de parecer tão
tímida com esses assuntos, mesmo que fosse tão inexperiente.
Ela queria mostrar-se diferente e ousada para mim, mas gostava
de vê-la sendo tão vulnerável e ingênua daquele jeito.
De certo modo, sua pureza era algo intrigante. Talvez, por eu ter
vivido tempo demais em meio à sujeira. Estava claro que Dytto havia
começado a sua vida sexual comigo. E, bem, eu pretendia a
desvirtuar de todos os jeitos, em todos os seus orifícios, e em todos
os planos astrais que eu a pudesse levar.
Ela cruzou as pernas e jogou o corpo para trás, aconchegando-
se confortavelmente ao banco.
— "Meu ficante é um demônio sexual". Eu poderia facilmente
encontrar um filme assim na internet — refletiu.
— Não sou seu ficante. — Ela me olhou curiosa — Eu sou seu
namorado — protestei.
Ela riu baixinho.
— Namorado então — concordou retida, escondendo a
exorbitante animação que crescia no eu interior.
Era excitante vê-la feliz quando eu a tratava como minha
namorada.
— E outra... — acrescentei.
Inclinei o tronco um pouco mais em sua direção, de modo que
fosse contar-lhe um segredo.
— Não sou um demônio sexual, Dingo.
— Você me disse...
— Para você eu sou um demônio sexual, e apenas para você,
porque te dou prazeres sexuais. Para outros, eu sou só um meio
humano, meio demônio. Uma aberração. Fruto de relações entre
uma mulher e uma criatura do inferno. É isso o que sou.
Senti seu olhar surpreso sobre mim, mas não o devolvi. Provável
que será ainda pior encará-la após essa drástica revelação.
Um pé em falso e Dingo surta de vez.
O pouco que lhe mostrei sobre a minha aparência demoníaca já
havia a feito chorar, o que, por consequência, precisou levar uma

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

manhã inteira para lhe acalmar em meus braços até que ela se
sentisse bem comigo novamente.
Com ela, eu estava sempre por um fio que, se por acaso
arrebentasse, poderia a sucumbir à loucura. Era por esta razão que
eu a escondia tantos segredos.
Se eu lhe contasse apenas duas coisas de ruins que já fiz, ela
provavelmente choraria até o fim de sua vida.
— Você já viu... o seu pai? — indagou apreensiva.
Ergui o olhar sobre ela.
— É claro.
Era uma pergunta meio óbvia para mim.
Ela juntou as pernas em cima do banco e envolveu os seus
braços ao redor delas.
— Tem raiva da sua mãe por isso? — murmurou, insegura.
Soltei o ar com força e batuquei o volante com as pontas dos
dedos.
Não gostava quando a conversa começava a andar por esse
rumo. Preferia que ela perguntasse qual era a minha banda favorita
ou sei lá, mesmo que eu odiasse todas elas.
— Teria raiva se fosse você? — devolvi a pergunta, desta vez,
olhando-a no fundo dos olhos.
Ela estremeceu com a obscuridade em meu olhar, o que me fez
lembrar que tinha de ser mais gentil com ela.
Desviei minha atenção para frente.
— Eu acho... Acho que eu teria um pouco de raiva, sim —
revelou baixo.
Soltei uma risada ríspida.
— Então obviamente não pensamos igual.
De soslaio, percebi que ela se inclinou um pouco mais para
frente.
— Gosta de ter nascido assim?
— Você pergunta demais, Dingo Bells — resmunguei e a escutei
rir.
Assim que chegamos no estacionamento de sua escola, desci do
carro e dei a volta para abrir a porta para ela.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela saiu meio desajeitada, arrumando a alça da mochila sobre o


ombro.
— Obrigada pela carona.
Seus olhos se prenderam aos meus, de um jeito que me tiraram
o fôlego e o juízo. A magnitude a qual eles me pretendiam era
imensurável e sem limites. Eu estava louco por aquela menina.
Porra...
Sem me conter, envolvi minhas mãos em seus cabelos e agarrei
os seus lábios com desespero. Não sabia o que está fazendo, apenas
agi.
Envolvi sua cintura com o meu braço e a puxei para mim. Ergui
os seus pés do chão e a segurei como se dependesse disso para
respirar.
Dytto gemeu e descansou suas mãos em meu pescoço.
Enfiei minha língua em sua boca, experimentando tudo o que ela
podia me oferecer.
Me envolvi tão profundamente a ela que esqueci o tempo passar
a nossa volta.
Me sentia cada vez mais insaciado por ela. Sempre precisava de
mais e mais...
Quando me afastei, seu rosto estava vermelho e os lábios
inchados.
Ela ofegou suave e sorriu para mim, meu coração disparou forte
no peito.
Levei minha mão ao seu rosto e o contorno gentilmente.
Ela era tudo o que eu mais precisava, mas também, tudo o que
eu mais tinha receio em quebrar. Tão frágil e doce.
Pela primeira vez na vida, eu senti medo de destruir alguém.
Pela primeira vez, eu havia sentido medo. Aquilo era assustador.
— Te vejo depois — avisei, a devolvendo para o chão.
Todos em volta nos olhavam curiosas. Sentia o despeito de
várias garotas quanto a Dingo Bells. Por um segundo, desejei
quebrar o pescoço de todas elas, mas eram corpos demais, e eu não
queria chamar a atenção.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Dytto se pôs na ponta dos pés e depositou um beijo suave em


minha bochecha.
— Você está cheio de arranhões — notou, fazendo-me rir.
A culpa era toda dessa mocinha selvagem.
Dytto baixou acidentalmente o olhar para a braguilha da minha
calça e corou até o último fio de cabelo. Ela tentou disfarçar olhando
para os lados e mexendo no cabelo, todavia, isso só me fez ter
vontade de gargalhar.
— Não fique constrangida, meu pau está duro assim por sua
causa.
Ela me encarou com os olhos arregalados.
— Assim que eu te foder pela primeira vez, você não vai mais
precisar me ver passando vontade em um estacionamento de escola.
Vamos fazer isso o tempo todo, e vai ser uma puta de uma visão
deliciosa te ver gozando em cima do meu pau, senhorita Bell.
Ela respirou fundo e sua respiração soou entrecortada.
— Acho que ainda vou ter mais uns bons dias sentindo você
duro até finalmente deixar você satisfeito, senhor meio demônio.
Joguei a cabeça para o lado.
Que danada!
— Você está mexendo com coisas perigosas, Dingo.
Ela engoliu em seco.
— Perigoso mesmo é você colocar esse seu... — ela franziu o
cenho, procurando por um termo apropriado — poste, dentro de
mim.
Ri alto disso e deitei a cabeça em seu ombro, enfiando-me em
seu pescoço.
— É, querida. Mas você aguenta.
— Talvez uma parte — ela sussurrou.
Afastei o meu rosto para olhá-la nos olhos.
— Acha que vai me satisfazer deixando só uma parte entrar em
você? — Fiz careta. — Eu quero meter nessa sua boceta todinha.
Seu rosto estava tão vermelho que tinha medo de que ela
estivesse realmente passando mal.
Deslizei os dedos sobre seus lábios e suspirei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Na sua primeira vez, eu deixo você escolher até onde quiser ir.
Mas, depois, você vai ter que aguentar, meu amor.
Ela balançou a cabeça e tirou o meu dedo de seus lábios.
— Prefiro morrer virgem.
Dytto me deu as costas, marchando com passos rápidos para
dentro da escola.
Ri de sua reação e me encostei no carro, mantendo os olhos
presos a ela, balançando a sua bundinha arrebitada de um jeito sexy
e descontraído.
Puta merda de garota gostosa.
Me mexi apenas quando ela sumiu de vista. Tendo a certeza de
que ela já estava segura dentro dos muros do colégio.
Loren assumiria a responsabilidade daqui em diante. Pelo menos
nisso eu confiava nela. Para manter Dytto longe de garotos e brigas,
a maluca se meteria em porradaria.
Agora é hora de resolver alguns assuntos pendentes.

Ao adentrar a mansão da real família Tanaka, revestida em


pedras, mortes e segredos, Demétrius, o meu segundo irmão a
nascer, surgiu em minha frente, segurando um livro de Kama Sutra.
Ele era o que podemos chamar de galinha. Não estava nem aí
para ninguém e vivia trocando de parceiros sexuais. Um dia estava
com uma mulher, no outro com um cara, e no dia seguinte estava
com um cara e uma mulher.
— Cadê ele? — interroguei, evitando olhar para a sua roupa
pintada de respingos de sangue e me questionando que porra ele
anda fazendo.
— Bom te ver, irmão — ironizou. — Está com a Samantha.
Marcelia deixou ele aqui mais cedo, disse que vai viajar com
urgência.
— Por que merda ela não me avisa nada antes?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele balançou os ombros.


Demétrius nunca estava nem aí para nada. A vida era somente
uma longa e entediante diversão para ele.
O seu corpo era marcado por tantas tatuagens que mal era
possível ver sua pele, algo que tínhamos em comum.
Seu rosto possuía traços asiáticos ainda mais presentes que os
meus. Ele era o irmão que tinha o mais próximo do sangue de
nossos antepassados. O resto de nós éramos mestiços de linhagens
completamente diferentes. A minha, por exemplo, vinha diretamente
do inferno.
Cinco filhos, cinco pais diferentes. Mamãe era uma mulher
excêntrica que gostava de foder com caras ainda mais excêntricos.
Demétrius e eu tínhamos quase a mesma altura, mas, ainda
assim, eu conseguia ser o mais alto de todos os meus quatro irmãos,
possuindo 2 metros e 8 centímetros.
O meu tamanho fora motivo de vários olhares estranhos durante
toda a minha vida. No entanto, com o tempo, acabei me
acostumando. A parte boa, era que nenhum fodido tinha coragem o
bastante para me enfrentar ou fazer brincadeiras.
— Já tem um tempo que você não tem vindo. Ainda andando
com a sua turminha satânica? — comentou, num tom grave e gélido.
Revirei os olhos e desviei dele.
Ele era sempre assim. Desconfiado e intrometido.
Segui o som baixo de conversas entre os longos corredores
escuros e largos da casa, até alcançar a sala de músicas, onde Leví,
o penúltimo irmão a nascer, estava sentado em frente ao seu piano,
jogando conversa fora com Amara, a mais velha de todos nós.
Em uma ordem mais simples de se entender, a Amara foi a
primeira a nascer, filha de um romance proibido com um empresário
casado.
Demétrius, o segundo filho a nascer, fruto de uma noite de sexo
entre nossa querida e ordinária mãe, com um turista coreano.
Logo depois, vem Samantha, nascida de um namorico qualquer
com um músico.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Mais adiante, vem o Leví, o filho prodígio da família. Filho de um


bilionário indiano metido a besta, contudo, ao menos, o filho nasceu
com a noção que o seu pai não tem.
E, por último, vem a mim, fruto de uma obsessão de mamãe por
um demônio, o qual, a própria o invocou. Sou o mais horripilante de
todos eles, meros humanos mortais, idiotas e irritantes irmãos.
Nossa mãe, Naomi, vem de uma longa linhagem de honrados e
nobres ricos da sociedade, ou, adiantando a árvore genealógica,
viemos da família Tanaka, a tão famosa família que descobriu
Nabrya, a ilha em que vivemos, o que nos deixou um grande legado
a prosseguir.
Imbecis.
— Cadê ele? — fui curto e breve ao chegar diante da entrada,
tinha mais o que fazer, e o dia de visitar toda a família aconteceu no
ano passado.
Os dois pararam de conversar e se voltaram para mim.
— Olá, irmão — Leví cumprimentou, gentil.
Levei minha atenção para Amara, a qual melhor aturo.
— Quarto de Samantha — respondeu entediada.
Custava tanto assim alguém me responder?
Saí dali em passos largos, a caminho do quarto da princesa da
casa.
Samantha desde pequena foi mimada por todos que a visitavam.
Todos se encantavam pela doce voz, os lindos olhos cor de mel, os
cabelos longos e cheios de onda, como se acabassem de sair do mar,
a pele chocolate e os lábios carnudos.
Ao menos, com os olhos de todos postos sobre ela, o resto de
nós conseguia ter uma vida um pouco mais normal, mas, depois de
um tempo, passamos a ser invisíveis, tentando a todo custo se
esconder das mídias e dos boatos espalhados em nome de nossa
família.
Hoje em dia, poucos sabem que somos todos irmãos, alguns
sequer sabem da existência de nós, outros apenas desconfiam.
É melhor assim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Abri a porta do quarto, sem dar-me ao trabalho de bater. Tão


logo avistei Samantha sentada em sua cama com o pequeno rapaz
em seu colo.
Ela cantava uma suave música de ninar que me dava enjoos,
enquanto ele a encarava como se quisesse degolar a sua garganta.
Esse é o meu garoto.
E então, por último, terminando a nossa geração, existe o
pequeno Asafe.
O meu filho.

Da entrada do cômodo, frisei as sobrancelhas e cruzei os braços


no peito.
— Para onde a porra da Marcelia foi? — questionei, rígido.
Samantha suspirou alto e deslizou o seu corpo alto e magro da
cama.
Asafe, que antes estava em seu colo, sentou-se no colchão
assim que ouviu a minha voz. Os enormes olhos verdes rapidamente
passearam pelo quarto em minha busca. Ao me encontrarem, ele se
abriu num enorme sorriso, animado.
As madeixas negras estavam bagunçadas para todos os lados.
Ele odiava que mexessem em seu cabelo. Para falar a verdade, ele
odiava muita coisa e muita gente.
Asafe parecia cada vez maior em todas as vezes em que nos
víamos. Apesar de ter apenas dois anos, já poderia facilmente ser
confundido com uma criança de quatro ou cinco. Era genético
sermos tão altos.
— Papai! — comemorou e ergueu os dois bracinhos para o alto,
exigindo o meu colo.
Parte da minha carranca se desfez no instante em que vi os seus
olhos brilharem para mim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Caminhei até ele onde estava e o tomei em meus braços. O seu


cheiro infantil me inundou. As não era como as outras crianças,
possuía um aroma único. Mesmo que tão inocente, havia a essência
do que era ser o meu filho. Um misto de terror e ingenuidade.
Asafe deitou a cabeça em meu ombro e dei-lhe um beijo
demorado na nuca.
Sentia falta quando não o via, apesar de termos uma grande
frequência de visitas. As únicas vezes em que eu não conseguia o
visitar, era por motivos de viagens ou imprevistos ainda maiores.
Fora isso, a todo momento eu lhe observava e procurava saber dele.
Ele suspirou baixinho, parecia com sono, mas se recusava a
dormir com qualquer pessoa que não fosse comigo ou com a sua tia
Marcelia; mesmo que também não gostasse muito dela.
— Ela não avisou, mas acho que foi algum imprevisto no
emprego dela — Samantha esclareceu.
— E ela não poderia ter me mandado mensagem um pouco
antes? Porra, concordamos em cuidar dele juntos, e não quando ela
tem vontade. Já é a terceira vez que ela não me avisa essa semana.
Ela não pode simplesmente trazer ele para cá sem mais nem menos.
Ele é minha responsabilidade — retruquei, rude.
— Eu não sei, Chris. Talvez não tenha dado tempo. Por que está
sempre tão irritado com todo mundo?
Balancei a cabeça, incrédulo.
Como é que ela poderia fazer uma pergunta dessas a esta hora?
Tudo isso já não era motivo o suficiente?
Asafe colocou a sua mãozinha em meu queixo, acariciando-o. Ele
discretamente pediu pela minha atenção enquanto eu gritava aos
quatro cantos.
Sabia que ele estava com saudades. então afaguei as suas
costas e o apertei em meus braços, para que ele soubesse que eu
ainda estava ali com ele.
— Ele sente falta de morar com você — Samantha comentou,
com os olhos cor-de-mel presos em nós dois.
Beijei a nuca do meu filho e inspirei fundo.
Eu também sentia falta de tê-lo todos os dias comigo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Estou perto de levá-lo para morar comigo, mas agora não,


ainda não. Tenho muita coisa para resolver.
Ela sorriu, triste.
Ainda precisava resolver parte da minha vida, e em maioria,
negócios inacabados. As exigia uma demanda de atenção muito
maior do que eu poderia lhe dar naquele momento.
Asafe tinha sorte em me ter como pai, porque o meu, abusava
da minha inexistente paciência com os meus deveres e cargos.
— Amara contou que você tem andado mais distante que o
normal ultimamente.
Revirei os olhos.
— Que bela merda! — zombei.
Amara era a porta-voz da família. Era por ela que eles sempre
sabiam notícias sobre mim. Garota enxerida.
Sam fez cara feia. Ela reprovava todas as minhas atitudes.
Digamos que ela era a certinha da família, apesar de não ser lá
uma santa. Afinal, ninguém da nossa família era.
Todos nós tínhamos as mãos sujas de sangue e uma significativa
parcela de culpa em muita das coisas que acontecia em nossa ilha
Nabrya.
Nossa fortuna certamente não surgia do nada em nossas contas.
— Já estou indo. E mande a filha da puta da Marcelia me ligar.
Ela não me atende mais.
— Tem certeza? Não quer ficar um pouco? — sugeriu, simpática.
Ela era tão hospitaleira e gentil que me revirava os órgãos.
Não me dei o trabalho de responder. Eu só tinha um pau grande,
mas não saco para as coisas.
Peguei a mochila de Asafe em cima do armário e saí com
passadas largas.
Desci as escadas devagar para não deixá-lo agitado em meu
colo. Devia ser uma merda ser sacudido desse jeito.
Asafe não se contentou em apenas tocar o meu rosto, ele
também tentava me machucar apertando as minhas bochechas com
as unhas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Normalmente, ele era carinhoso, mas só até certo ponto. Existia


uma fomentação que crescia e o atentava até que ele agisse como
sua natureza exigia.
— Você é mesmo uma pestinha, não é? — sussurrei, afastando
suas unhas cravadas na minha pele.
Achando aquilo divertido, ele soltou uma gargalhada engraçada
de criança.
Asafe não possuía senso sobre o que era certo e o que era
errado. Havia partes demoníacas dentro dele que não entendiam os
limites humanos. Por isso, eu tomava todo o cuidado ao lidar com as
suas ações. Ele iria aprender a se comportar, mas ainda não
entendia a razão disso tudo.
Tudo em seu cérebro de demônio era muito confuso.
Meu filho era como qualquer outra criança, pois havia nascido de
uma mulher humana. Ele detinha as mesmas características, formas
e estrutura de um garoto de sua época de vida. No entanto, assim
como eu, As também se transformava. E isso ainda lhe era fora de
controle.
Ele ergueu a cabeça de meu ombro e me olhou curioso,
analisando cada parte da minha face. O rostinho angelical não
passava de uma doce ilusão de criança delicada, quando, na
verdade, ele era o completo oposto.
Ainda tinha que receber ligações de sua tia Marcelia, aos
prantos, com medo do próprio sobrinho e das coisas esquisitas que
ele fazia.
Esse garoto me enche de orgulho.
Asafe abriu um largo sorriso, revelando todos os seus novos
dentinhos. As bochechas coradas e os olhinhos alegres.
Ao menos, de mim, ele gosta.
— Por que você tem cara de quem está doido para me atazanar,
hum?
Ele sorriu ainda mais.
— Sovete — pediu, manhoso.
— Sorvete, As? Sério? — fiz careta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele balançou a cabeça, concordando, e eu repuxei os cantos dos


lábios.
— Tudo bem, sorvete, então.
No pé da escada, Amara já me esperava com as duas mãos na
cintura e o olhar afiado. Eu quase podia ouvir o seu discurso
notoriamente preparado em sua cabecinha de geleca.
— O que é, Elsa? — falei, desinteressado.
Ela odiava o apelido que dei a ela, mas fazia jus a quem ela era.
Fria, cabelos brancos, solitária e lésbica.
No início, apenas eu a chamava assim, mas agora todos os
nossos irmãos encrencavam com ela.
— Já está indo? — brigou.
— Eu só vim buscar a minha criança, não tenho tempo para
duas. Então sai da minha frente.
Ela mostrou-me o dedo do meio e Asafe repetiu o gesto. Num
rápido movimento ela cobrou a mão dele e semicerrou os olhos.
— Nunca mais faça isso, garoto — mandou, toda cheia de
robustez.
Meu bebê ficou zangado e enfiou o seu rostinho no meu
pescoço.
É, Asafe, eu também não gosto tanto assim da sua tia.
Tentei me desviar de Amara, mas ela me barrou.
— Nós vamos conversar! — determinou, séria.
— Nem foden...
Antes mesmo que eu tivesse a chance de recusar, ela arrancou a
chave do meu carro de meu bolso e partiu para fora da casa.
Soltei o ar com força.
— Sua tia deveria ter sido abortada — disse, frustrado.
Asafe jogou a cabeça para trás. Os olhos curiosos presos aos
meus, como quem não entendia o que eu queria dizer.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Em meio ao trânsito, e com as mãos no volante, Amara virou a


sua cabeça para mim como uma boneca endemoniado e investigou:
— Quem é a garota?
Enruguei a testa e olhei para trás, apenas para conferir se Asafe
estava bem preso ao cinto de segurança. Desconfiava que Amara
tivesse batido a cabeça quando criança, pois dirigia como uma
delinquente.
As ergueu os olhos para mim, mas logo em seguida voltou a sua
atenção para a janela. Foi tranquilizador saber que ele não estava
verde e nem prestes a vomitar.
— Garota? — fingi desentendimento.
Ela me olhou brava.
— A do trote, Chris.
Por que porra ela queria saber da Dytto?
— E o que você tem a ver com isso? — rebati.
— Contou para ela sobre o que você é?
Repuxei os lábios para o canto. Quase rindo da sua incômoda
intromissão repentina.
Quando foi que ela tomou essa liberdade toda?
— E te interessa, Amara?
Ela se emburreceu.
— A garota chorou porque viu a consequência do nosso trote.
Ela chorou, Christopher. Não vá me dizer que está se envolvendo
com ela sem pensar nas consequências.
Oh, claro! O trote. Éramos nós que os fazíamos todas as vezes.
Desta última, fora ideia de Amara que todos pulassem do penhasco.
Em geral, era Demétrius que gostava de escolher quem iria
participar. Pedi a ele que escolhesse Dytto, pois queria vê-la
novamente. Eu obviamente nunca deixaria que nada acontecesse a
ela, por isso roubei um saco de fitas antes do jogo começar.
Minha Dingo Bells ficou nervosa atoa.
— Você parece uma velha insuportável — resmunguei, rolando
os olhos.
Asafe riu atrás de nós. Éramos comparsas quando o assunto era
falar mal de alguém.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Já temos boatos demais na nossa família. Não queremos uma


igreja inteira evangelizando na porta da nossa casa porque uma
garota emocionalmente instável contou a todos que você é a droga
de um demônio. Isso não se trata só de você. Todos nós sempre
sofremos as consequências — esbravejou alto.
Mesmo que vivêssemos como nômades, nos lugares mais
afastados da nossa cidade e escondidos na floresta, parte da igreja
católica nos conhecia e sempre nos investigavam. Os padres nos
odiavam severamente, mas era bem engraçado vê-los
constantemente rezando em volta de nossos terrenos.
— Porra, como você é chata!
Ela me olhou ardendo em fúria.
— Para de ser assim, Christopher! Presta atenção!
— Se parar de me dizer merda, quem sabe eu não te ouça um
pouco.
Ela apertou os dedos no volante.
— Prometa que ela vai nos deixar fora disso e eu te deixo em
paz. Não quero policiais na nossa casa e você sabe bem o motivo.
Revirei os olhos.
— Ela não vai contar nada.
— Como tem tanta certeza?
Arregalei os olhos e levantei as mãos para o alto, irritado.
— Vai me questionar sobre tudo agora? O que aconteceu com
aquilo de cuidar da própria vida?
Ela rosnou baixinho e vagamente a ouvi me mandar tomar no
meio do cu. Gostaria de ter dito que o sentimento era recíproco, mas
ela me parou mencionando um assunto ainda mais deliciado.
— Ao menos me responda então. Ela sabe sobre Asafe? Sobre a
mãe dele? Sobre como ela morreu?
A olhei sério. Se pudesse, a esganaria agora mesmo.
Que porra Amara estava perguntando? Por que diabos Dytto
teria que descobrir tudo isso? Este assunto não cabia a ela ou a
ninguém.
— Ela não precisa saber de tudo.
— Nem mesmo sobre Asafe?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— No momento certo eu conto. Fica fora de toda essa porra,


Amara. Não quero te machucar.
— Eu não ligo para a sua vida, Chris. Não me venha com
babaquice. Quero mais que você se foda, contanto que não deixe
isso nos atingir. E, aliás, tenho um assunto pendente com a irmã da
garota.
— Se vai brigar com a cretina da Loren, então vai ter que
aguentar a irmã chorando.
Ela me lançou um olhar julgador.
— Por que está com ela se ela é tão sensível?
Sorri cínico.
— Porque ela é toda minha — respondi, orgulhoso.
— Que merda você fez, Christopher? — Ela semicerrou os olhos,
soando desconfiada.
— A marquei.
— Isso quer dizer que... — instigou, confusa.
— A alma dela é minha. Quando ela morrer, eu ainda a terei só
para mim.
Ela enrugou o nariz em uma careta.
— Isso é doentio.
Dei de ombros e escorreguei um pouco mais no banco.
— Já se sentiu tão obcecado por alguém a ponto de só enxergar
essa pessoa? De a querer o tempo todo só para si, e odiar que
qualquer um a toque ou tente roubá-la de você?
— Não acha que ela tem o direito de escolher? — aconselhou.
Provavelmente.
— Sim, ela tem. E quando chegar a hora dela escolher, vou fazer
com que ela escolha a mim. Sempre a mim. Você não tem ideia,
Amara. Não tem a menor ideia do quanto eu quero aquela garota.
Isso vai além de tudo o que eu conhecia sobre mim.
— Sabe que isso é perigoso a ela, não sabe?
— Eu jamais a machucaria.
— Não de propósito — rebateu, firme.
— Não se preocupe. Prefiro cortar os meus próprios braços antes
de fazer mal a ela.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Amara juntou as sobrancelhas.


— Christopher... — seu tom de voz tornou-se estranho.
— O que?
— Você não está obcecado por ela. Está apaixonado — concluiu.
— Apaixonado não é o termo correto. Não chega nem aos pés
do que sinto.
Ela sorriu.
— O filho da puta do meu irmão tá apaixonado — murmurou
incrédula.
Sorri com ela.
— As? — o chamei.
— Oi.
— Em breve eu vou te apresentar uma pessoa importante pra
mim.
— Quem é, papai? — ele se empolgou.
Eu ri.
— Sua madrasta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

08 de Abril | Segunda-feira

Seus olhos eram rígidos, frios e duros.


Não tinha meia hora que eu e minha irmã havíamos chegado da
escola, e papai prontamente tinha decretado a minha morte. Ele
havia retornado de viagem fazia pouquíssimo tempo, mas já estava
uma fera indomável.
As suas mãos na cintura determinavam a postura repreensiva de
quando queria nos dar sermão.
Os olhos afiados vagueavam pelo meu rosto, com nítido
desgosto.
Eu supus, de início, que aquele assunto não iria para um bom
lado, todavia, não sabia que seria tão ruim até ele começar a falar.
— Não queremos que você namore aquele garoto — disse sério,
de pé à frente da mesa.
Sentada no banco próximo a ele, me sobressaltei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— O quê? Pensei que estivesse tudo bem — indaguei, confusa.


Seu rosto congelou em uma máscara raivosa. Ele cerrou os
dentes e apertou os punhos sobre a pobre mesa.
— Achou que estivesse tudo bem? — cuspiu, incrédulo. —
Depois do nosso jantar, como pôde pensar isso, Dytto? Aquele
moleque não é para você.
Arregalei os olhos e busquei pelo olhar da minha mãe do outro
lado da sala de jantar, em busca de acolhimento. No entanto, ela
parecia de acordo com o papai.
Ever sequer deve ter argumentado nessa decisão. Tudo o que
ela fazia era acreditar que meu pai sabia todas as respostas e que
deveria se manter calada e obediente.
Infelizmente, minha mãe era submissa às ordens do seu marido.
Balancei a cabeça freneticamente.
Eu não queria acreditar que ele estivesse mesmo falando sério.
Nunca havíamos discutido sobre a minha vida pessoal desta maneira
antes. Ou melhor, ele nunca havia imposto sua vontade sobre a
minha.
— E-eu não acho que você possa escolher quem é ou não para
mim — argumentei com confiança.
Ele apoiou os dois braços sobre a móvel de madeira e ergueu o
corpo. Furioso.
— Eu te conheço melhor que todo mundo. Eu sei o que é melhor
para você. E não é aquele garoto imbecil. Você vai me obedecer.
Meu rosto inteiro esquentou e estremeci no lugar.
Senti meus olhos umedecerem e um grande nó se formar em
minha garganta, mas não derramaria uma única lágrima sequer em
sua frente. Se eu quisesse que ele me ouvisse, eu teria de enfrentar
os meus próprios sentimentos e agir com seriedade.
Preenchi os pulmões de ar, determinada, e ergui o queixo para
ele.
— E eu escolho com quem eu vou ficar.
Ele franziu o cenho, tão surpreso quanto eu ou mamãe pela
minha atitude tão inesperada. Afinal, não era de se esperar que a
caçula boba e ingênua fosse, um dia, contrariar as suas ordens.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você não pode decidir com quem eu vou namorar. Não assim.
Não desse jeito. Você não pode simplesmente decretar e pronto.
Você nem ao menos me perguntou se eu me sinto feliz com ele —
comentei, tristonha. — Por que não confia em mim?
— Aquele garoto... — papai gesticulou com as mãos. — Não
gosta de você.
Ele fumegava de ódio ao ditar palavra por palavra, pouco se
importando em como me afetariam.
— Ele só quer o que todos os outros homens querem como uma
garota ingênua como você. Digo isso para o seu bem. E ele
claramente não te faria feliz, porque ele é tudo o que você nunca
quis em alguém.
Papai tinha razão. Algumas semanas atrás, eu nunca teria
aceitado a ideia de me relacionar com alguém como Christopher.
Mas, bem, as coisas mudaram.
Eu já não era mais a mesma de ontem, e nem a de hoje mais
cedo. Estou em constante mudança e, se isso quer dizer sair da
minha zona de conforto, eu aceitava. Mas não permitia que papai se
prendesse à ideia de que eu devia me manter para sempre em uma
caixinha, fantasiando apenas o melhor da vida.
Eu ainda não me conheço. E se eu continuar acreditando que
tenho que me limitar a ideia de outros, então eu nunca vou crescer.
— Eu nunca teria deixado Christopher entrar na minha vida se
não fosse pela constante insistência dele. Acredite, papai, eu não
queria nada disso — comecei, sabendo que não iria parar até que
meu coração se sentisse liberto de tudo o que eu queria jogar para
fora.
Os dois ouviam ainda mais atentos. Eu estava com medo, mas
precisava daquilo.
— No fundo eu sempre soube que ele não era o que eu
esperava, mas, ainda assim, eu me senti atraída por ele desde o
minuto em que eu o vi pela primeira vez. Eu sei que eu não costumo
magoar vocês, e eu lamento em decepcioná-los, mas não lamento
por não desistir dele.
Engoli as lágrimas, e prossegui:

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E, sim, papai, o Christopher me faz feliz, porque apesar de ele


não ser absolutamente nada do que um dia eu sonhei, ele é tudo o
que eu precisava.
Ele balançou a cabeça, horrorizado.
— Meu santo Deus! Está se escutando, Dytto? Você, que sempre
priorizou os seus ideais, está se deixando levar por um garoto. E a
custo de quê?
Papai despenteou os seus cabelos, esfregando-os com rigidez
em sua cabeça.
— Você não está vendo com clareza o que nós vemos, porque
está cega, mas saberia que esse... — ele mordeu a língua, engolindo
palavras cruéis demais para serem ditas — esse rapaz, está
brincando com você. Com os seus sentimentos. Ele é um erro.
— Se ele for mesmo um erro. Então não se preocupe, papai. Eu
lido com os meus erros sozinha a partir daqui.
— Querida... — mamãe interviu, calma e serena —, tem certeza
que esse garoto é bom para você?
Deslizei a língua sobre os lábios e assenti.
— Sei bem o que estou fazendo, mamãe.
Não completamente, é claro. Mas estava óbvio que eu não
deixaria que a minha indecisão fizesse os meus pais interferirem no
que nós tínhamos.
Era a minha vida em jogo, não a deles.
— Não! — papai se intrometeu. — Não vou deixar aquele garoto
fazer isso.
— Theo — mamãe o chamou, apaziguadora.
Ela ainda tentava nos proteger, mesmo que papai sempre desse
a palavra final.
— Não! — berrou ele novamente. — Dytto não verá mais esse
garoto, não falará mais com ele e não vai mais ter o carro até que
termine com ele — determinou, rígido.
Ele ergueu a postura e abotoou o paletó.
— Agora eu tenho que ir para o hospital. Irei realizar uma
cirurgia daqui 30 minutos. E não me venham com esse assunto de
novo! — berrou, furioso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sem mais paciência para esta conversa, papai saiu com passos
pesados e longos. Confiado de que aquilo havia sido um ponto final.
Mordi os lábios com força, sentindo-os tremularem e os olhos
arderem.
Mamãe me olhou complacente, mas apenas sorri triste.
— Talvez seu pai tenha razão, Dy...
Não fiquei para a ouvir. Saí dali apressada, rumo ao meu quarto.

A porta grunhiu ao ser aberta, mas não ousei me mover.


— Você está bem? — ouvi a voz Loren perguntar.
Já passava um pouco mais de uma da madrugada. Não consegui
dormir, tampouco comer. Sentia que parte de mim se rasgaria se eu
tentasse fazer qualquer movimento.
Christopher não veio me visitar, também não me avisou a razão.
Mas eu desejei que ele viesse. Queria-o comigo para que parte dessa
angústia se desfizesse. Queria poder desabar em seus braços e pedir
que me fizesse companhia.
Pensei em mandar mensagem, mas não queria parecer
desesperada por ele.
Eu sabia viver sem as suas visitas noturnas, e precisava me
conter sem isso. Não queria tornar-me dependente daquela Torre
Tatuada tão excepcionalmente atraente. Sem mais alternativas,
apenas afundei debaixo do meu cobertor. Vivenciando um dos meus
sentimentos ensurdecedores.
Suspirei cansada.
— Só estou um pouco... triste — respondi, num sussurro infeliz.
A porta se fechou e senti os lençóis serem chacoalhados,
seguidamente do colchão afundando ao meu lado. Loren envolveu
seu braço ao redor de minha cintura e beijou o meu ombro.
— Daqui alguns meses, eu vou montar a minha própria empresa
e, em média, uns 5 anos depois, vou começar a faturar um bom

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

dinheiro. E eu prometo, gatinha, nós duas nunca mais vamos


precisar saber dos nossos pais, do dinheiro deles, ou dessas loucuras
fantasiosas que eles têm sobre nós duas. Vamos morar em uma casa
em frente ao mar, beber tequila e rir a beça lembrando desses dias.
Sorri.
— Vou ter o meu próprio banheiro? — murmurei.
— Vai, sim.
Meu sorriso cresceu, contudo, seguidamente murchou como uma
flor em seu devaneio.
Virei-me para ela devagar.
— Eu me defendi hoje. Do papai. Foi estranho, mas foi muito
bom — confessei, contente.
Ela sorriu e beijou a minha testa.
— Meu bebê está crescendo — disse orgulhosa.
— Talvez.
Loren apertou a minha bochecha.
— Mentiu para os nossos pais, fugiu de casa, se posicionou hoje.
O que mais devo esperar de você?
Sorri contido.
— Bom, provavelmente, muito em breve, talvez eu consiga ser
um pouco mais rebelde e pinte uma mecha do meu cabelo de rosa.
Papai e mamãe ficarão loucos.
Loren gargalhou.
— Céus! Eles vão te mandar rezar e provavelmente me culpar
por isso.
— Ah, tem mais chances deles culparem o Chris, ele é bem pior
do que você.
O sorriso de Loren morreu ao ouvir o nome dele. Ela tentou
disfarçar, mexendo em algumas mechas de seu cabelo, mas, ainda
assim, era nítido o seu desconforto.
Ela ainda não estava nada bem com isso.
Queria que as coisas fossem diferentes para nós duas.
— Lô, você ainda não me disse o que pensa sobre mim e ele.
Ela balançou a cabeça.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu não tenho que pensar nada, Dytto. Se você está feliz, eu


também estou, é assim que somos.
Balancei a cabeça.
— Você é a minha irmã. É claro que você tem que pensar algo.
A ouvi suspirar, tristonha.
— Não me faça dizer em voz alta o que eu penso, porque nós
duas sabemos bem como eu me sinto. E eu não quero que isso te
magoe, porque sinceramente, se fosse para ele e eu ficarmos juntos,
ele nunca teria feito nada do que ele fez, mas se ele é o total oposto
com você, então quer dizer que ele sente algo, e claramente não é
para mim. Então que se dane o que eu sinto agora, ele não vai
deixar de ser o Christopher malvado que eu conheço de todo o
modo.
Mordi o canto dos lábios.
— Eu sinto que eu te devo desculpas.
— Para falar a verdade, você me deve explicações e não
desculpas. O que é que está rolando entre vocês dois?
Mordisquei o canto do dedo, nervosa.
— Eu sei lá, eu só... Acho que só aceitei que agora nós somos
algo.
— Namorados.
Bom, era isso que Christopher disse que somos. Deve significar
alguma coisa, então.
— É, talvez, eu não sei. Eu não sei mesmo, Lô. Ele é todo cheio
de si, e eu sou completamente medrosa. Apenas me deixo ser levada
para onde ele quer que eu vá, porque eu também sinto algo por ele,
mas, é tão forte e tão profundo que me faz ficar doida por ele. E eu
odeio me perder assim, e ficar completamente fora de si. Mas é esse
choque que o Chistopher causa no meu corpo.
Seu rosto assumiu uma expressão curiosa. Loren se ajeitou na
cama, apoiando o corpo nos cotovelos e o rosto nas suas mãos.
— Dy, vocês dois já...
Arregalei os olhos e senti minha pele ser incendiada de
vergonha.
Era pessoal demais conversar sobre isso com a minha irmã.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Para ela era mais fácil. Loren era mais experiente com essa coisa
de sexo. Eu, por outro lado, havia sido tocada apenas há pouco
tempo. Nenhum garoto havia sequer passado dos limites comigo.
Até o Christopher chegar, e então Marcos.
— Nós fizemos coisas, mas não chegamos até o fim — confessei,
vergonhosa.
Baixei o olhar para os meus dedos, enquanto os enrolava nos
fios soltos do meu pijama. Era difícil manter contato visual falando
sobre minha vida íntima com Christopher.
— E isso é bom ou ruim? — Loren quis saber.
— Ele está esperando que eu me sinta pronta.
— Ok. É muito bom saber que eu não terei que arrancar as bolas
dele.
— Para falar a verdade, ele é um pouco alucinado. E me deixa
com medo saber que ele tem bastante experiência, e eu nenhuma.
Tudo o que eu vivi foi com ele — admiti, sincera.
Era vergonhoso não saber o que fazer quando ele estava
comigo. Como eu poderia dar prazer a ele se mal conhecia a mim
mesma?
— Não precisa ter pressa. Não é como se o mundo fosse acabar
se você decidisse esperar por mais alguns anos para fazer sexo com
ele — aconselhou. — Christopher provavelmente sofreria, mas, se
você é o que ele realmente quer, então não tem o porquê ele te
deixar.
— Eu sei, é só que... Nem é só o fato de esperar, é que, por
mais que eu espere 1 ou 10 anos, aquilo não vai mudar... — Engoli
em seco, evitando levar os meus pensamentos para aquela cena
novamente.
Oh, merda! Por que Christopher tinha que ter sido feito
completamente fora dos padrões de um homem normal?
— Não vai mudar o que? — Loren instigou, curiosa.
Soltei o ar pela boca.
Era terrível o que eu ia dizer, mas eu precisava mesmo contar
isso para alguém ou iria explodir.
— Não ri, tá bom?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela enrugou a testa.


— Eu não prometo que não vou rir, mas agora vai ter que me
contar ou eu vou morrer de curiosidade.
Mordi os lábios e a encarei incerta.
— Me empresta o seu braço — pedi. Ela virou-se de barriga para
cima e fez o que eu pedi. O estiquei para o alto e delimitei com os
dedos a dobra dele.
— Isso aqui. — Apontei para o seu antebraço. — Esse é o
tamanho da coisa que ele guarda nas calças.
Ela arregalou os olhos e pulou da cama, sentando-se num rápido
impulso.
— Você tem certeza? — indagou, abismada.
Seus olhos pareciam tão chocadas que imaginei que ela
estivesse vendo fantasmas. Olhei em volta, mas só havia nós duas
ali.
— É, eu tenho — confirmei.
Ela trocou o olhar diversas vezes entre o seu antebraço e a mim.
Completamente tomada pelo choque.
— Dytto... — se pronunciou, aterrorizada.
— É, eu sei. — Assenti, apática.
Eu já havia passado pela fase da negação. Agora estava em um
algum tipo de trauma-pós-Christopher.
— E... tem tatuagens — acrescentei, sem jeito.
— O QUÊ? — gritou, exasperada.
— Shhh! — Enfiei o dedo em sua boca. — A mamãe vai acordar
assim.
Ela tapou o rosto, olhando-me com os globos oculares quase que
saltando para fora do seu rosto.
— Isso é bizarro, Dytto — cochichou, perplexa.
Balancei os ombros, como quem diz: "É uma merda, mas é a
vida."
— Se ajeita — ordenou, arrancando os lençóis do meu corpo.
— O que vai fazer, Lô?
Ela me puxou com tanta facilidade que me assustei.
— Vou medir.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— O quê? — tentei me levantar, mas ela me empurrou de volta.


— Fica quieta.
Esperei paciente, enquanto ela deitava seu antebraço na vertical,
do início da minha virilha até o meio de minha barriga. Ela estava
realmente levando aquela metragem a sério.
— Isso vai te arrebentar inteiro, garota — determinou.
Sua cabeça parecia estar prestes a explodir com a sua fértil
imaginação trabalhando.
— É, tô sabendo.
Ela se jogou ao meu lado.
— Dytto, não pode deixar ele enfiar isso em você assim.
Acabei rindo.
— E o que dá para fazer?
— Sei lá, tenta com um vibrador antes, ou...
— Ou? — juntei as sobrancelhas.
— Ou pede para ele cortar metade.
— O quê?
— O que é? Ainda vai ter a outra metade.
— Loren — a repreendi.
— Tudo bem, você que sabe, mas no seu lugar, eu pediria.
Balancei a cabeça.
— Isso nem mesmo é uma ideia que deveria ser considerada.
— Tá legal, mas foi você que me mostrou isso, e agora eu vou
ter pesadelos com essa coisa.
— Vamos logo dormir que está tarde.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

09 de Abril | Terça-feira

Estava com o torso encostado no guarda-corpo da ponte de


minha escola — observando as carpas nadarem alheias pelo lago —,
quando senti alguém cutucar de leve as minhas costas.
— Para você — Luc disse atrás de mim e virei-me para ele.
Em suas mãos, encontrei um buquê de flores, com lindas tulipas
rosa e perfumadas. Meus olhos brilharam ao denotarem seu gesto
gentil.
Ele sorriu ao me entregar e minhas bochechas coraram.
Eu nunca havia recebido um buquê antes.
— Minha nossa! Obrigada, Luc. — Sorri animada e ele beijou a
minha testa, aquecendo o meu coração.
— Estava passando na rua quando vi um senhor vendendo.
Achei a sua cara. — comentou, cavalheiro.
Mordi os lábios, prendendo um sorriso tímido.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Valeu... Eu achei, realmente, muito fofo!


As abracei com cuidado enquanto as admirava. Luc sorriu,
contente, e colocou suas mãos nos bolsos da calça.
— Que nada! Você merece muito mais do que flores, Dytto.
Seus olhos castanhos me observavam amáveis. A pele bronzeada
parecia ainda mais corada e o sorriso formava covinhas atraentes em
suas bochechas.
Luc era tão lindo quanto encantador. Mas meu coração já tinha
outro dono.
— Vai me dar uma cantada a uma hora dessas? Ainda não são
nem 8 horas — desconversei e ele riu.
Não queria tomar um caminho romântico após receber flores,
então apelei para as minhas piadas.
Luc e eu éramos apenas amigos, portanto, devíamos agir como
tal.
— Nunca é cedo demais para te enaltecer, mulher.
Ri em diversão e joguei a cabeça para o lado.
— Onde você se meteu esses dias? — perguntou, descontraído.
— Ando um pouco ocupada... estudando — pigarreei.
Eu não queria mentir para ele, entretanto, era bem melhor do
que soltar a bomba. Ainda mais, logo após receber seu presente.
Que tipo de pessoa eu seria se fizesse uma coisa dessas?
Enfiei meu rosto nas flores, respirando seu aroma, antes mesmo
que meu rosto me denunciasse, transparecendo o meu nervosismo.
Girei os tornozelos, e Luc me acompanhou. Estávamos indo em
direção às salas.
— Quer sair comigo hoje à noite, mademoiselle? — convidou,
simpático e sorridente.
Meu rosto automaticamente se crispou.
— Sinto muito! Estou de castigo.
Ele revirou os olhos.
— Droga, eu havia esquecido! — murmurou.
— Não faz mal. Podemos fazer isso um outro dia.
— Jura?
— Sim. Eu, você, Loren e...

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não, não. Espera aí! Não tem como levar todo mundo para
um encontro — observou, magoado.
— Não será um encontro, Luc.
Ele fez beicinho.
— Você não cansa de quebrar todos os pequenos cacos do meu
coração, não é? — brincou.
— Sou um lobo solitário, não tente me acompanhar.
Ele assumiu uma expressão neutra.
— Tudo bem. Não precisa se preocupar, eu dou conta. Mais vinte
sessões de terapia e eu te esqueço.
Ri alto e ele seguiu o ritmo.
— Eu vou para a aula, Luc. Valeu pelas flores — agradeci, ainda
sorrindo.
Ele acena despretensioso com as sobrancelhas e eu me despedi
com a mão.

O tempo estava correndo depressa.


Apenas entrei no modo automático assim que pisei em sala de
aula.
Algo costumeiro, como em qualquer outro dia. Contudo, algo
incomum virou o meu dia do avesso.
Eu não era de ligar para conversas alheias, não mesmo, a menos
que fosse uma grande fofoca, daquelas que fazem estragos e, só
então, meus ouvidos se aguçavam, mas é claro, eu não espalhava,
apenas dividia as informações com Loren que, consequentemente,
surtava e me pedia por mais.
No entanto, não foi uma fofoca que me despertou de meus
devaneios, mas, um nome.
Um nome que estava mexendo com a minha cabeça há dias.
— O Christopher é tão lindo, não é? — comentou a loira, sentada
à minha frente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A garota ao seu lado sorriu maliciosa quando sua amiga lhe


mostrou a tela do celular. De onde eu estava, via com clareza a foto
do homem tatuado, de lindos olhos verdes resplandecendo na tela.
Meu estômago se contorceu no mesmo instante. Não que eu
discordasse, porém, porque eu me comparei no segundo em que vi
as lindas garotas o elogiarem.
E se, por algum acaso, Christopher caísse em si e percebesse
que poderia ter qualquer garota aos seus pés e que estava perdendo
seu tempo comigo?
Eu odiava aquele pensamento, entretanto, ele implorava com
todas as suas forças para se manter ali, me maltratando.
Nunca fui o tipo de garota que estava pronta para competir pelo
garoto do qual gostava.
Eu não. Eu não fazia isso. Sem chances!
Se havia a menor chance de existir uma competição, eu corria
para o lado oposto. Não gostava de saber que seria sufocada pela
toxidade que algumas garotas conseguiam liberar.
Fugir de brigas sempre me pareceu o caminho certo. Afinal, para
que me colocar diante situações que eu sabia que me deixariam para
baixo?
Apesar de tudo, ainda assim, eu me mantive atenta ao que
diziam. Elas o elogiaram por tantas e tantas vezes que comecei a me
sentir nauseada.
Mas o que eu poderia fazer? Gritar: "Ei, não o elogiem. Ele me
garantiu que estávamos namorando, então por favor, fiquem
caladas”?
Não seria certo.
— Eu mandei mensagem para ele ontem à noite — cochichou a
loira.
A sua amiga arregalou os olhos e as duas sorriram.
Meu peito doeu no mesmo segundo. Foi certeiro e fatal.
Seria por isso que ele não fora me visitar? A ansiedade estava
me matando.
— Ficou doida? O que ele respondeu? Anda, me conta.
Meus dentes travaram.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Oh não!
— Ah, bem... — ela fez um leve suspense e, pela primeira vez na
vida, eu quis socar o rosto de alguém. — Nada.
O sorriso sumiu de seu rosto. Poderia até mesmo dizer que eu o
arranquei de lá e o coloquei em minha face, mas não poderia saber,
no minuto em que ela respondeu, um sorriso aliviado surgiu em
meus lábios, já nos seus, eles se desmancharam.
— Bom, espera mais um pouco, talvez ele só não tenha tido
tempo para olhar as conversas — a amiga incentivou.
— Na verdade, ele viu.
Dytto 2 × 0 Garota da minha sala
Mas que droga! Eu estava tão feliz por isso e já estava me
sentindo uma grande vitoriosa.
Quando foi que eu decidi que as outras garotas eram as minhas
rivais?
Maldita toxicidade feminina!
— Que droga, amiga! — lamentou baixo, afagando as costas de
sua colega. — Acho melhor deixar isso para lá. Seria bem
vergonhoso insistir — aconselhou, com um sorriso triste em seus
lábios.
A loira suspirou baixo e assentiu.
Sábio conselho. Deixe o meu Chris quieto.

Loren e eu nos entretemos em uma conversa, enquanto


caminhávamos pelo estacionamento em direção ao seu carro já que,
o meu, foi confiscado.
Eu carregava as flores em meus braços, recebendo vários
olhares curiosos. Loren elogiou o gesto de Luc uma centena de
vezes. Ela não era romântica, e nem melosa, mas apreciava gestos
como este.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Luc não pôde nos acompanhar, estava em um tipo de prova


nacional.
Gostava do jeito de como ele sempre se empenhava em se sair
bem em tudo o que fazia.
— Você vai sair hoje? — perguntei, distraída.
— Provável. Mamãe e papai ainda não descobriram das minhas
férias de mentirinha, ou seja, eu ainda tenho meu escape de fuga.
Sorri.
— Queria poder levá-la, mas, você sabe, papai está com tanta
raiva que te caçaria.
— É, eu sei. Ele está mesmo furioso, mas não vou deixar que ele
se impregne nos meus pensamentos. Não quero que ele tome
decisões por mim.
— Você está mesmo bem? Digo, em relação ao Chris? Está
mesmo feliz? — investigou, preocupada.
Assenti.
— É. Eu estou.
— Não tenho nada para me preocupar, então?
— Não, não tem.
Ela sorriu, despreocupada.
— Tudo bem! Me avise se ele fizer algo estranho.
Juntei as sobrancelhas.
— Estranho como?
— Você sabe, Dy. Christopher já deve ter te mostrado uma coisa
ou outra sobre ele.
Inspirei fundo.
— É, eu sei. Mas estamos lidando com isso.
Seus olhos sem querer vagaram sobre a minha cabeça, mas algo
que ela viu a fez parar em uma direção fixamente. Seus olhos
semicerraram e seus lábios se entortaram para o canto.
— Falando no diabo.
Crispei a testa e me voltei para onde ela olhava. Encontrei o
carro de Christopher estacionando a alguns metros de nós.
Não demorou muito para ele descesse, cercando-se olhares de
todos em volta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele estava todo vestido de preto, com um enorme casaco de lã


bege. Seus olhos maciços, domavam uma selvageria que
enlouqueceria a qualquer um.
Chris deslizou a língua sobre os lábios, de maneira hipnótica.
E que visão...
Ele caminhava cheio de postura e seriedade em nossa direção.
Foi impossível não notar os olhares que ele recebeu durante o
percurso que fez.
— Dingo Bells — cantarolou, assim que se pôs diante de mim.
Meu coração ligeiramente disparou no peito.
Sentia como se não nos víssemos há séculos.
Seus olhos desceram pelo meu rosto até o buquê que eu
segurava em meus braços e tornaram-se sérios. Uma de suas
sobrancelhas se arqueou, e uma onda de fúria tomou conta de sua
face. Ele parecia prestes a colocar fogo nas flores, e em seguida, em
que as me deu.
— Flores? — instigou.
Precisei de um segundo para me recuperar, antes de respondê-
lo.
— O Luc me deu — expliquei, mas não pareceu diminuir a raiva
que encontrei em seus olhos.
Ele soltou o ar com força e olhou para Loren, que... Puta merda!
Não parava de encarar as calças dele.
— Perdeu alguma coisa? — Chris a alfinetou e ela imediatamente
arregalou os olhos ao ser flagrada.
Senti que tanto eu como ela estávamos vermelhas.
Nem para Loren ser um tantinho mais discreta.
— Hum, não! Eu... — Ela me olhou, nervosa. — Ainda vai
precisar da minha carona, Dy? — sua voz soou trêmula e
desconcertante.
— Ah, vou. Não quero que meu castigo aumente por mais 10
anos pelo simples fato do papai me ver chegando com o Chris.
— Pode ir, Loren. Eu cuido dela — ele interveio.
Fiz careta e balancei a cabeça.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Por favor, não! Papai me deixou suspendeu meu carro por


causa do nosso... Ahn, namoro.
Ele deu de ombros.
— Eu me resolvo com ele depois.
— Chris — sussurrei.
— Não se preocupa, Dingo.
Era difícil discutir com Christopher se ele nunca deixava ninguém
ter razão.
— E o que vai fazer? — perguntei, preocupada.
— Conversar.
Ergui uma sobrancelha, desconfiada.
Ele revirou os olhos e voltou sua atenção para a minha irmã.
— Que inferno, Loren. Para de olhar para a minha calça.
Mordi o lábio inferior com força e olhei para baixo.
Eu quero muito morrer.
— Eu não estava... — ela tentou consertar a situação, mas
vendo no que havia se transformado, logo desistiu.
Christopher suspirou forte e levou sua atenção para mim. Ele
ergueu o meu rosto com o dedo indicador, e encarou-me com severa
apreensão.
— O que você aprontou? — investigou, a voz rouca e autoritária.
Olhei para ele constrangida.
— N-nada.
Seu rosto se endureceu.
— Conta.
Engoli em seco.
— Eu conto tudo para Loren, não sei o porquê de estar tão
surpreso.
Ele retornou o olhar para ela, em seguida para mim, e então
para ela novamente.
Achando graça, sorriu.
— Bom, pelo menos agora ela pode fantasiar com mais clareza
— caçoou.
— Seu cretino!
— Christopher — ralhei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele me olhou sorridente.


— Foi só uma brincadeira, meu bem.
— Não faz mais isso.
Ele ergueu as mãos em rendição.
— Eu já vou — Loren avisa. — E me faça o favor de não matar a
minha irmã, Slenderman pirocudo.
Mordi os lábios, fazendo um grande esforço em conter o riso.
Christopher fez uma expressão enojada, e a fitou com tanto desdém
que me fez querer gargalhar.
Loren mostrou-lhe o dedo do meio e entrou em seu carro. Pouco
se importando com a bomba que deixou cair aqui.
Chris pôs seu olhar sobre meu corpo, descendo-o de cima a
baixo.
— Se eu não me preocupasse tanto com você, já teria te feito
pagar por isso.
— Desculpa — murmurei, entre um riso e outro.
Enfiei meu rosto em sua camiseta e ele me abraçou forte.
Christopher arrancou o buquê de minha mão e resmungou
desgostoso.
— Que péssimo gosto, Dingo Bells. Péssimo gosto!
— O Luc é um cara legal — o defendi e ergui a cabeça para a
Torre Tatuada.
Chris abaixou o seu rosto, até que, gentilmente, seu nariz
estivesse tocando a ponta do meu.
— Você ainda não entendeu, não é? Ninguém mexe com o que é
meu.
Fechei os olhos.
— Não pode prender todo cara que fala comigo em uma gaiola.
Ele soltou um riso curto.
— Oh, como posso! Não faz ideia de como eu posso.
Fiz cara feia para ele.
— Não se meta nisso. Ele é meu amigo, e ele me deu flores.
Seu corpo ficou tenso entorno de mim, mas não retrucou. Chris
apenas beijou a minha testa e recuou um passo.
— Acho melhor nós irmos. Quero te levar para sair.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Papai vai me deixar de castigo para todo o sempre —


brinquei, sabendo que ele realmente poderia fazer isso.
— Não tenha medo, amor. Você está comigo.
Sorri, empolgada.
— E para onde vamos?
— Quero te apresentar a alguém.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

09 de Abril | Terça-feira

Não era como se eu quisesse assustá-la, mas ver o choque em


seu rosto, tornou isso uma tarefa interessante.
Assim que Samantha abriu a porta de minha casa com Asafe em
seu colo, Dytto estagnou.
Por longos dois minutos, imaginei que ela estivesse tendo um
derrame, contudo, assim que ela se moveu, soube que estava
apenas confusa.
Asafe se agitou no colo de minha irmã no momento em que seus
olhos se depararam com os meus, ignorando por completo a
presença de Dytto ao meu lado na varanda.
A criatura não sabia ser receptora com ninguém.
Minha irmã sorriu, cheia de ternura. Os olhos alternando entre
mim e Dytto várias vezes. Esperando por uma apresentação mais
adequada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Obviamente ela não esperava que eu fosse levar alguém para a


minha casa, ainda mais com Asafe sob minha responsabilidade.
Éramos discretos demais para apresentar nossa família a outros.
Dytto também parecia esperar para conhecer a garota parada à
sua frente. Era algo engraçado ver as duas aguardando que eu me
pronunciasse. Então eu o fiz.
— Samantha, essa é a minha namorada, Dingo Bells...
— Dytto Bell — ela rapidamente corrigiu, nervosa.
Às vezes eu me esquecia seu verdadeiro nome. Que tipo de mãe
colocava um nome desses em uma filha?
O rosto da minha irmã imediatamente se preencheu de uma
genuína surpresa, ao mesmo tempo em que parecia tão contente a
ponto de quase soltar fogos.
Era a primeira vez que eu apresentava uma namorada, afinal,
nunca havia entrado em um compromisso sério antes.
Dytto, no entanto, parecia animada em estar sendo apresentada
para alguém. Suas bochechas estavam vermelhas e suas mãos
trêmulas. Ela não esperava de maneira alguma que fosse conhecer
uma pessoa.
No máximo, com a sua pequena imaginação, ousou pensar que
eu fosse lhe apresentar um cachorro.
— Dingo, essa é a Samantha, infelizmente, minha irmã.
Sam fez cara feia para mim. Em seguida, se aproximou da
garota que, ao seu lado, se tornava pequena.
Dytto era maior que a média de muitas mulheres, algo que eu
verdadeiramente apreciava, mas, com certeza, não era vista como
grande perto de minhas irmãs.
Samantha tinha 1,76, enquanto Amara tinha 1,82. Nossa mãe
tinha 1,80 e, além do mais, se envolveu com caras ainda mais altos,
resultando em uma família de gigantes.
Ela era uma grande filha da puta com sonhos e metas esquisitas.
Sam, fez um enorme esforço para manter Asafe quieto em seus
braços, mas ele se contorcia por inteiro, como se a desafiasse.
Meu filho estava ansioso saltar para o meu colo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É um prazer te conhecer! — Samantha falou com dificuldade.


O pequeno tornado em seu colo tornava tudo mais engraçado.
Dytto retribuiu com um sorriso gentil. Seus olhos então vagaram
para o pequeno homenzinho no colo de Sam com curiosidade.
Ela apontou para ele.
— Seu filho? — questionou, inocente.
Samantha me olhou atordoada, em busca de uma ajudinha.
Estava claro que eles ainda não haviam se conhecido.
Discretamente balancei a cabeça para ela, em um aviso furtivo
que não dissesse nada.
— Ãhn... bem, não — respondeu, desconcertada.
— Ah, desculpe! — Dytto se apressou, constrangida.
Samantha veio até a mim, colocando Asafe — que a todo
momento tentou se jogar de seus braços — em meu colo
— Eu já vou. Meu ato de bondade aqui já foi feito. Tenho que ir
trabalhar — avisou, alongando o corpo na ponta dos pés para dar-
me um rápido beijo de despedida na bochecha.
Imitei uma careta e ela me lançou um olhar descrente e irritado,
mas que logo se desfez. Sam já conhecia o meu humor, e o odiava.
Ela se virou para Dytto e ergueu sua mão.
— Foi bom te conhecer, Dytto. Fico feliz em saber que agora
somos cunhadas.
Minha garota a cumprimentou e sorriu.
— Idem.
No mesmo instante, Asafe grudou os dentes em meu queixo,
mordendo-o sem a menor delicadeza. Fingi não notar, mas
provavelmente aquilo deixaria marcas.
Samantha foi embora, mas deu seu último aceno antes de partir.
Ela era educada demais para não se despedir pelo menos umas vinte
vezes.
A linda garota diante de mim lambeu os lábios e cruzou as
pernas, ainda tímida e resguardada.
Ela nos olhava sem jeito, com as mãos nas costas e o rostinho
concentrado. Notei uma certa curiosidade em sua face, ela ainda
estava tentando entender o que estava acontecendo aqui.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Samantha é muito bonita — comentou, bem-humorada.


— É, pois é — concordei, a contragosto.
Samantha tinha uma beleza única, mas não era algo que eu
quisesse prestar atenção.
— Você tem mais irmãos do que eu pensava. — Ela apontou com
o queixo para Asafe, que ainda não a havia olhado em momento
algum. — Seu irmãozinho se parece muito com você.
"Irmãozinho". Ela não sabia mesmo onde havia se enfiado.
— Bem que eu desconfiei que ele fosse a segunda pessoa mais
bonita da família — gracejei, o que a fez rir descontraída.
Ela mordeu os lábios.
— Você é tão convencido.
Asafe se afastou, apenas para me olhar cara a cara. Parecia
pasmo quando finalmente a sentiu. Ele ficou intrigou com a presença
de mais alguém aqui. Ainda lhe era estranho sentir as pessoas, mais
ainda quando ele não as conhecia.
Bem, estava na hora do meu anjinho conhecer o meu diabinho.
Penteei o cabelo de Asafe com as pontas dos dedos, deixando-o
um pouco mais apresentável. Não que isso fosse mudar alguma
coisa, de todo modo. Mas Dytto não precisava saber como Asafe era
uma criança peculiar e atentada, pelo menos, não por agora.
Ele se incomodou com aquilo, mas não recuou. Mesmo que
sempre estivesse descontente com as minhas ordens, ele as
obedecia.
Era algo que nós demônios tínhamos em comum, o respeito por
um ser maior e mais poderoso. Não todos, é claro, os deuses eram a
nossa exceção.
Virei o meu diabinho com cuidado, para que ficasse de frente
para ela.
Ela o olhou simpática, no entanto, estava com medo. Não era
habituada com crianças, e claramente estava insegura.
As arregalou os dois grandes olhos verdes quando a viu. Estava
perplexo com a minha garota. Ele parou de respirar, pois estava tão
admirado que mal se mexia em meus braços.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Dytto, esse é o Asafe — o apresentei sem pressa, ela sorriu


sem saber o que viria a seguir. — Meu filho.
Seu olhar retornou ao meu, demorando-se nele. Dytto
empalideceu num milésimo de segundo. Seus olhos se arregalaram
de uma maneira excessiva, enquanto o choque tomava conta de
cada pedacinho do seu corpo.
Ambos estavam com os olhos exageradamente abertos, como se
fossem duas criaturas de outro planeta se conhecendo.
Sendo um pouco mais fantasioso, eu quase poderia imaginar
Dytto erguendo a mão e se apresentando como habitante de Marte,
e As dizendo ser de Júpiter.
— Você tem um filho? — ela soprou, aturdida, as palavras quase
inaudíveis se perdendo ao vento.
— É, eu...
Fui abruptamente interrompido quando Asafe abriu os braços
para ela e impulsionou o seu corpinho para frente.
Juntei as sobrancelhas e o segurei com mais firmeza.
— Fique quieto, As — alertei-o, mas ele não se importou.
Asafe se atirou para frente de maneira frenética. Assustada,
Dytto correu para pegá-lo.
Embora eu tivesse certeza de que nunca o deixaria cair, permiti
que ela o segurasse mesmo assim. Talvez fosse mais fácil para eles
se conhecerem.
Quando Dytto o aparou em seu colo, ela parou por um segundo,
meio confusa com o que fazer a seguir. Ela o encarava como se ele
tivesse duas cabeças, e ele a olhava como se ela fosse seu mais
novo brinquedo predileto.
Asafe sorriu e grudou seus lábios nos de Dytto. Ela me olhou
com espanto, completamente estática.
Agilmente enrosquei o meu braço no corpo de Asafe e o tirei
dela.
— Está tentando me passar a perna, garoto?
Ele resmungou, não querendo permanecer em meu colo.
Dytto estava inteiramente vermelha, e não era por menos. Ela
havia acabado de receber um baita beijão de um demônio de 2 anos

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

de idade.
— Desculpe. Ele geralmente não gosta de ir para o colo de
ninguém que não seja o meu. Achei que ele fosse ter bons modos
com você.
Ela sorriu nervosamente.
— T-tudo bem.
Asafe soltou um berro, que chamou a atenção de nós dois.
Dytto quis rir e balançou a cabeça.
— Tá tudo bem, eu posso ficar com ele — concordou,
aproximando-se de nós.
Enruguei a testa e o afastei.
— Não precisa ceder as manhas dele — intercedi.
Dytto novamente sorriu.
— Tá tudo bem, sério.
Ainda desconfiado, mantive As em meus braços. Não sabia o que
mais ele poderia aprontar. Por outro lado, Dytto tomava coragem,
aproximando-se lentamente de nós
Quando ela já estava próxima o suficiente, Asafe se jogou em
seu colo novamente.
Ele a agarrou com força. Parecia não querer se soltar mais dela e
isso me deixou cheio de agonia. Dingo Bells, entretanto, me
encarava surpresa, com tamanha facilidade em que As havia se
apegado a ela.
Dytto, definitivamente, era um imã para demônios.
Toquei o braço dela de leve e apontei com o queixo para a porta.
— Vamos entrar — avisei, encarando os dois.
Dytto foi na frente, com Asafe agarrado ao seu corpo, como um
bote salva-vidas. As duas perninhas entrelaçadas em sua cintura e os
braços em volta de seu pescoço. Ele deitou a cabeça no seu ombro e
se aconchegou, manhoso.
Que canalha! Mal a conhece e já está roubando-a de mim.
— Acho melhor ele ficar comigo — sugeri.
Dytto se virou para mim, mas Asafe fez pouca questão em se
mover.
— Ele vai me machucar? — ela questionou, vacilante.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Aparentemente, não. Mas também não parece que vai


desgrudar de você tão cedo.
Ela riu, afagando as costas dele.
— Não tem problema.
Fiz careta.
Ah, claro que não tem problema. Já está toda agarrada nele
mesmo.
Dytto sentou-se no sofá, e eu logo me acomodei ao lado dos
dois. Ela estava desajeitada com ele em seu colo. Aparentava estar
com medo de machucá-lo, por isso, se movimentava devagar.
Ela estava acanhada. Seu rosto mantinha-se inteiramente corado
e o corpo melindroso.
— Por que nunca disse nada? — indagou baixo.
Apoiei os braços sobre os joelhos e suspirei. Não eram muitas as
pessoas que sabiam da existência do meu filho. Ele não era alguém
que eu quisesse compartilhar com o mundo. Queria o deixar longe
de olhares maldosos, e garantir que ele se mantivesse protegido.
Durante toda a minha existência, minha família fora perseguida
pelo poder político, religioso e pelos cidadãos da ilha. Éramos alvo de
tudo e todos.
E quando As nasceu, era apenas um bolinho pequeno e recém-
nascido nos meus braços. Eu só tinha 16 anos e havia me tornado
pai, mas não havia nada naquele mundo que não fizesse por ele.
Desde o minuto em que veio a este mundo, ele já corria perigos
por conta de pessoas que deveriam tê-lo amado e cuidado. Eu não
iria permitir que ninguém o tocasse ou ousasse machucá-lo
novamente.
Arrancaria cabeças antes que isso acontecesse.
— Não era algo que eu pretendia sair contando — respondi.
Ela entortou os lábios.
— Nem para mim? — sussurrou, triste.
Acariciei o seu rosto com o polegar.
— Eu estava esperando o momento certo, Dingo.
Ela baixou o olhar, pensativa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Dytto estava envolta em pensamentos, e eu não sabia como


decifrá-los. No momento, ela sentia muitas coisas diferentes ao
mesmo tempo. Suas ideias se entrelaçaram e desconectaram-se em
segundos.
Sua opinião ainda estava sendo formada, por isto, não queria
forçar a barra e a fazer acreditar que deveria simplesmente aceitar a
situação.
— Está chateada? — examinei, ruidoso.
Dytto inspirou fundo e balançou a cabeça.
— Em choque. Ainda não acredito que você tenha mesmo um
filho. Eu quero conversar sobre isso, só que não quero fazer isso na
frente dele.
Assenti.
Asafe se afastou um pouco, apenas para olhá-la. Ele abriu um
enorme sorriso para ela. Dytto não se conteve e sorriu de volta.
Isso me fazia sentir coisas diferentes, e boas.
Dytto virou a cabeça para mim e Asafe colou o seu rosto no
dela.
— Ele gosta de você — declarei, contente.
— Ele me parece ser um carinha gente boa.
Eu quase ri.
— Oh, ele não é! — garanti.
— Não?
— Ele é o meu filho, ou já esqueceu?
— Não é porque o pai dele é um descarado que o filho também
seja um — argumentou.
Asafe gargalhou, mostrando todos pequenos dentinhos.
— Por que está defendendo essa criatura?
Ela o abraçou com mais força.
— Porque eu gosto da criatura.
— Mais do que de mim? — me ofendi.
Ela balançou a cabeça, confirmando e eu revirei os olhos.
— Não devia ter apresentado vocês dois.
— Sim, você devia.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Aproximei o meu rosto do dela e beijei sua testa. Asafe não ficou
nada feliz e tentou me afastar.
Engelhei as sobrancelhas numa carranca.
— Vá atrás de uma namorada e deixe a minha em paz — avisei,
mas ele continuava me olhando sério.
— Está mesmo discutindo com ele por minha causa? — Dytto se
meteu.
— É claro. Não vê que ele é uma armadilha?
— Ele é um bebê, Christopher.
— Já é velho o suficiente para saber roubar a garota de outro
cara.
Ela riu.
— Ele tem o que, 5 anos? Fala sério!
— 2 anos.
Ela enrugou a testa e se afastou para olhá-lo por inteiro.
— Mesmo?
— Mesmo.
— Minha nossa! — surpreendeu-se.
Puxei As de seu colo e o joguei em meu ombro.
— Vem, vamos comer, garotinho.
Levantei-me do sofá com ele de cabeça para baixo e Dytto veio
logo atrás.
— Dingooo — Asafe gritou, pedindo por ela, mas o ignorei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

09 de Abril | Terça-feira

Asafe finalmente adormeceu, após meia hora me encarando.


Deitado entre mim e Christopher na cama, com os seus dedinhos
enrolados em meus cabelos, ele suspirava baixinho pelos lábios
entreabertos.
Eu sorri, sentindo meu coração bobo se desmanchar por aquele
pequeno/grande ser demoníaco.
Seus traços eram idênticos ao de Chris. Poderia vê-lo naquela
criança em cada detalhe. Os olhos verdes-claros, os lábios carnudos,
as sobrancelhas grossas — que se franziam quando estava sério —,
o mau-humor e a possessividade.
Asafe era tão parecido com Christopher que mal poderia
imaginar o que ele teria puxado de sua mãe.
Chris se levantou do colchão devagar e deu a volta no quarto,
afastando as mãozinhas de seu filho de mim com cuidado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Antes mesmo que eu pudesse me sentar, seu braço entornou


minha cintura e ele me ergueu, carregando-me como se eu fosse
apenas uma maleta de trabalho ao lado de seu corpo.
Tapei os lábios, abafando um gritinho de susto que ameaçou
escapar.
Christopher fechou a porta do seu quarto ao sairmos e, comigo
ainda em seu braço, ele me levou para a sala.
— Chris! — gargalhei.
Ele me olhou sorrindo, mas balançou a cabeça, negando ao meu
pedido para me colocar no chão.
Christopher virou o meu corpo, agarrando minhas pernas e se
acomodou no sofá, comigo em seu colo.
— Ei!
Ele riu.
— Te machuquei?
Neguei num balançar de cabeça e olhei para a porta do quarto.
— Seu filho se parece com um anjo.
— É. Lúcifer.
Revirei os olhos.
— Pare de graça. Ele realmente se parece um.
Chris suspirou e jogou a cabeça para trás.
— Sabe que horas são? Preciso ir para casa — avisei.
— Fica mais um pouco. Te levo quando eu terminar.
— Terminar o quê? — questionei, confusa.
Ele sorriu, malicioso.
— De te pegar.
Arregalei os olhos, sentindo minhas bochechas arderem.
— Chris, temos uma criança em casa — cochichei, como se
contasse um segredo.
— Você? — provocou.
Dei-lhe um tapa fraco no peito e ergui o corpo, virando-me de
barriga para baixo.
— O Asafe, Chris, Asafe.
Ele bufou, alheio.
— Asafe é mais adulto do que você.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Ele tem 2 anos — pontuei, semicerrando os olhos.


Ele sorriu, sarcástico.
— E ainda assim é mais adulto.
Balancei a cabeça, descrente.
— Que tipo de pai você é? — reclamei.
— Um pai legal, diferente do seu.
Desta vez, fui eu a rir.
— Meu pai é um pouco bruto, mas ele é mais responsável do
que você.
— Ah, é? — duvidou, olhando-me cheio de malícia.
Christopher gostava de provocar.
— Aposto que você deixaria o Asafe esfaquear uma criança se
ele quisesse.
Ele sorriu, parecendo nostálgico.
— Ele nem o machucou tanto.
— O quê? — quase berrei.
— O garoto era um pé no saco — se defendeu, fazendo-me
arregalar os olhos.
— Christopher, o Asafe já...
— Esfaqueou alguém? — completou.
— É... — minha voz soou esganiçada.
Eu estava assustada demais em até mesmo cogitar essa ideia.
— Com um lápis conta? — refletiu.
— Eu não acredito — murmurei, zonza.
Chris parecia se divertir às minhas custas, enquanto eu o
encarava incrédula.
— Foi só uma vez. Duas. Três... — ele começou a contar nos
dedos. — Umas 6 vezes.
Minha cabeça rodou.
— Ele... — pisquei várias vezes — ele...
Christopher se ajeitou no sofá e subiu meu corpo em seu colo.
— Não vai desmaiar, né — preocupou-se.
— Parece que vou?
— Parece mais é que você está tendo uma convulsão — admitiu,
sincero.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não pode ensinar essas coisas para ele — briguei.


— Por quê?
Soltei um esguicho de minha garganta, agoniada por ele
perguntar o óbvio.
Balancei as mãos freneticamente e me segurei para não
chacoalhar a sua cabeça até que ele começasse a funcionar como
um ser humano normal.
— A mãe dele concorda com isso? — perguntei, brava.
Ele umedeceu os lábios e afundou o corpo no estofado do sofá.
Parecia incomodado com a minha pergunta.
— Ela está morta — disse, seco.
De um segundo para o outro, a conversa tornou-se fúnebre e
pesada. Sentia-o tenso debaixo de mim.
— Ai meu Deus! Desculpe, eu não fazia ideia.
— Não fale esse nome na minha casa — pediu, irritado.
Não rebati, pelo menos, não por ora. Sabia que ele não era
religioso, mas contestar que eu dissesse o nome de quem eu servia,
era demais da conta, e não cabia a ele me censurar daquela
maneira.
— Asafe sente muito a falta dela? — desconversei.
— Nem um pouco.
— Oh! — me espantei, em completa surpresa.
Era estranho saber que uma criança não sentia saudades da
própria mãe. Em geral, havia um sentimento de perda ou falta, mas
Asafe não era um garoto comum, e isso ficava mais óbvio a cada
segundo.
— Não se preocupe. As não sente falta de ninguém.
— É uma pena — lamentei.
Ele deu de ombros.
— Se incomoda se eu perguntar como ela morreu? — eu não
queria parecer indelicada, no entanto, gostaria de saber o que havia
conhecido, e torci para que ele estivesse de acordo.
— Sim, me incomodo — foi tudo o que disse, antes de desviar o
olhar.
Uni as sobrancelhas, desconfiada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele não parecia interessado em dar continuidade ao assunto,


para falar a verdade, ele transparecia sentir-se completamente
apático sobre o caso.
— E você está bem com tudo isso? — insisti.
Ele fungou e revirou os olhos.
— Eu não quero mais falar sobre isso. Podemos apenas focar em
nós dois, anjo? — sua voz possuía resquícios de irritação.
Existia algo muito estranho naquela história e eu estava me
corroendo para descobrir. Coloquei minhas mãos em seu peitoral e
ergui uma sobrancelha.
— Lembra que íamos nos conhecer um pouco mais? — tentei ser
sutil, mas isso só parecia tê-lo aborrecido.
— Tudo bem. Mas há outras maneiras de nos conhecermos. —
Ele me puxou para mais perto.
— Ou poderíamos falar sobre a...
Num gesto ágil, ele enrolou sua mão em meus cabelos e enfiou
sua boca na minha, calando-me de um jeito nada gentil.
Chris beijou-me com tanto desespero e veemência que mal
consegui tomar fôlego.
Sua língua me invadiu e incitou-me a dançar com ela. Tentei
afastar o meu rosto, em busca de ar, mas ele segurava o meu
maxilar, paralisando-me de maneira obrigatória.
Me debati sobre ele, contudo, Chris afundou o seu rosto no meu
e mordiscou a minha boca. Murmurei baixo e tentei me esquivar,
mas ele me impediu.
— Me deixe te beijar, amor — implorou, desesperado e rouco.
— Eu preciso respirar — sussurrei, as palavras entrecortadas.
Ele encostou sua testa na minha e apertou suas pálpebras.
Demonstrava estar fazendo um enorme esforço para se conter.
— Porra, Dingo. A cada dia que passa eu quero você ainda mais
— confessou.
— Não pode fazer o que quiser, eu ainda preciso do meu espaço
— ruminei, ofegante.
Ele balançou a cabeça.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não posso te deixar. Nem por um mísero segundo. Eu quero


você toda hora.
Tentei me sentar, mas Christopher apertou o meu pescoço.
— Não! — rugiu e imediatamente estremeci.
Que droga estava acontecendo com ele?
Ele abriu os olhos, encarando-me diretamente. Notei pequenas
partes de sua parte demoníaca revelando-se lentamente em seu
rosto. Tão logo me assustei e tentei me afastar.
— Me solta, Chris! — gritei, apavorada.
Ele travou o maxilar, entretanto, retirou sua mão de mim.
Rapidamente sai de seu colo e me pus de pé.
— O que foi isso? — esbravejei.
Ele expeliu o ar com força e esfregou o rosto. Christopher exibia
estar decepcionado consigo mesmo.
— Meu outro eu se expandindo.
Engelhei o rosto.
— Guarda ele ou tranca. Eu sei lá. — Gesticulei, estressada. —
Só não faça com que ele estrague tudo entre nós.
Ele me encarou, sério. O rosto havia voltado ao seu estado
humano.
Um nó se formou em minha garganta, fazendo-a arder e rasgar.
Fiz um grande esforço para não fraquejar em sua frente e inspirei
fundo.
— Não vou estragar isso.
— Não me encurrala assim de novo — pedi, assustada.
Ele assentiu.
— Tudo bem — soprou, deixando o olhar recair sobre o carpete.
— Você não está conseguindo controlar, não é?
Chris estreitou o olhar para mim.
— Sei me controlar — rebateu, frio.
— Não é o que parece.
Ele sacudiu a cabeça, bravo.
— Eu sinto muito, Dingo.
Fechei os olhos por um segundo, andando de um lado para o
outro à sua frente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Tenta não deixar ele vir à tona, está bem? Preciso de você
aqui, não ele.
— Você tem despertado todos os lados sombrios dentro de mim.
Não me peça para deixá-los de lado. Todos eles fazem parte de mim.
Engoli em seco.
— E isso me assusta.
Ele riu com escárnio.
— Deveria se assustar com as pessoas que estão a sua volta,
não a mim. Eu sou a última pessoa que deveria ter medo.
— E ainda assim, é a pessoa que mais me apavora.
Christopher se colocou de pé.
— Pode não ver, mas eu te protejo. De todos eles.
Soltei um riso sem rastros de bom-humor.
— Não preciso que me proteja deles, preciso que você não seja
um perigo para mim.
— Eu só preciso que seja minha. — Suspirou.
— Sinto que você quer mais do que isso. Tem algo de estranho
toda vez que me toca — abordei, receosa. — Eu sinto em cada fibra
do meu corpo que você quer mais. Você sempre parece mais
sedento, mas nunca satisfeito.
Christopher se aproximou de mim e curvou-se, até estarmos
com os rostos na mesma altura.
— Você já me satisfaz, mas é difícil me conter quando todos em
volta parecem querer tirá-la de mim.
Toquei o seu queixo com a ponta dos dedos.
— Preciso que entenda que ninguém vai me afastar de você. Por
favor, Chris, não me faça ter medo de você — supliquei, vacilante.
Ele escorregou os dentes pelos lábios e, a contragosto, assentiu.
— Está bem, meu amor. — Ele depositou um beijo casto em
minha testa e me abraçou.
Apertei seu corpo e afundei o meu rosto em sua camiseta.
— Confie em mim — murmurei.
Ergui o meu rosto para ele e Chris beijou a minha testa.
— Existe outro quarto na casa além do seu... longe do Asafe? —
questionei-o.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Minha pergunta parecia ter despertado o seu interesse. Ele


olhou-me curioso, com uma expressão investigativa.
— O que quer fazer?
— Apenas não quero mais ficar aqui — menti.
Ele ergueu uma sobrancelha, desconfiado.
— Tenho dois quartos de hóspedes no fim do corredor.
Mordi o canto dos lábios e sorri, perversa.

Olhando-o com firmeza, apontei para o colchão da cama.


Não precisei de muito para que me obedecesse, ele apenas o
fez, com o sorriso mais traquina em seu rosto.
Estava curiosa para saber até onde eu seria capaz de ir com
tudo isso, mas excitada com as várias possibilidades que existiam a
minha frente. Afinal, Christopher era inteiramente meu.
— Vou te mostrar que sou sua sem que precise se mostrar todo
possessivo.
Seu sorriso aumentou.
— Mas não fique todo convencido... — Chris revirou os olhos. —
E não empurra a minha cabeça — acrescentei.
Chris me olhava desacreditado, como se essas palavras não
tivessem realmente saído da minha boca.
Eu até o entendia. Não era como se eu acreditasse em mim
também, mas, de certa forma, sentia que precisava mostrar para ele
e assegurá-lo de que poderia confiar em mim tanto quanto eu
confiava nele.
Me ajoelhei entre suas pernas e levei a minha atenção para a
braguilha de sua calça. Meu corpo estava gelado e trêmulo. Minhas
mãos mal conseguiam desabotoar sua calça sem vacilarem. Precisei
de um segundo antes de retirar seu pau de dentro da roupa.
— Vá com calma — avisou, preocupado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Meu corpo demorou um pouco a reagir antes de finalmente


tomar coragem e enfiar a mão em sua cueca.
O seu pênis já estava ereto quando o retirei da sua roupa.
Conseguia sentir o nervosismo tomar conta de cada pedaço de mim.
Passei a língua sobre os lábios antes de me aproximar daquilo.
— Eu consigo — cochichei sozinha.
Chris deslizou os dedos em meu maxilar e sorriu.
— Sem empurrar, certo? — relembrou.
— Também não quero sua mão em mim. Quero fazer isso
sozinha.
— Como quiser.
O segurei com firmeza em minha mão e o abaixei em minha
direção.
Isso definitivamente não iria dar certo.
— Chris...
— Já mudou de ideia? — brincou.
— Isso cabe mesmo em mim? — perguntei, incerta.
— Só há um jeito de descobrir, princesa.
Eu não era capaz de parar de encarar para o seu grande
membro em minha mão. Parte de mim já havia desistido daquela
ideia, e a outra estava morrendo de medo.
Era a minha primeira vez fazendo um... Boquete. E, caramba!
Era difícil até mesmo em pensar nisso.
— Chupa meu pau e você ganha um desejo — sussurrou.
Sua condição roubou meu interesse. Rapidamente ergui o olhar
para ele.
— Qual desejo?
— O que você quiser.
Era uma proposta realmente tentadora. E poderia dizer que fora
até mesmo um grande incentivador para que eu então, começasse.
Me ergui sobre os joelhos e aproximei os lábios diante do seu
pau. Todo o seu corpo estremeceu quando o beijei.
Chris puxou o ar com força e apertou o lençol da cama.
— Me deixa foder essa boca, Dingo.
Sorri manhosa para ele.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Sou eu quem vou te foder, Chris.


Seu rosto mergulhou em uma expressão sacana. Apenas para
provocar, deslizei a língua sobre toda a extremidade.
Christopher tornou a respirar ofegante e mordeu os lábios com
força.
— Puta merda!
Olhando-o nos olhos, coloquei a cabeça de seu pau em minha
boca e o chupei cheia de vontade. Seu rosto pintou-se inteiramente
de vermelho.
— Caralho, Dingo. Caralho.
Enfiei um pouco mais dele em mim, mas parei quando comecei a
engasgar.
Aquilo era muito grande e volumoso para mim, contudo, não
joguei a toalha. Continuei a chupar o seu pau até onde consegui.
Minhas bochechas doíam, mas o suguei com vontade e fechei os
olhos. Sentindo todo o seu corpo rijo. Gemi baixinho e gostoso para
deixá-lo ainda mais cheio de tesão.
Senti um gosto estranho em minha boca, porém, tinha certeza
de que ele ainda não estava gozando, apenas excitado demais.
Parei por um momento e abri o zíper de minha calça. Enfiei a
mão dentro da minha calcinha, molhando os dedos em minha
boceta, em seguida, esfregando minha excitação no seu pau.
Christopher engoliu em seco, um gemido baixo escapou de seus
lábios e ele endureceu a feição. Contornei seu pau com a minha mão
e fiz movimentos de sobe e desce.
— Precisa que eu te deixe mais molhado, amor? Eu ainda estou
encharcada — provoquei, e ele se enfureceu.
— Não faz isso, garota — sussurrou, desejoso e sombrio.
— Então não posso te contar que minha boceta está molhada?
Desculpe.
Ele apertou os dentes.
— Puta que pariu, sua filha da puta.
Abri um largo sorriso e coloquei a língua para fora, esfregando
todo o seu pau nela.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não reclame, Chris. Foi você quem apareceu no meu quarto


todas as noites. Não era isso que você queria? Estou te dando o que
você tanto provocou.
Ele balançou a cabeça.
— Não pedi para ser torturado.
Chupei a glande de seu membro, fechei os olhos e suspirei de
prazer.
— Desculpe, o que disse? — fiz-me de desentendida.
Ele pegou o meu pescoço e o segurou com firmeza, Chris foi ágil
ao se levantar, me erguendo junto a ele do chão.
Ele me empurrou contra a parede, erguendo meus dois braços
com a sua mão. Com a outra, ele apertou o meu seio.
Sua boca chupou os meus lábios e desceram para o meu
pescoço.
— Chegas de provocações — determinou.
Chris se agachou e puxou a minha calça para baixo juntamente
de minha calcinha, jogando-a para bem longe de mim.
Ele beijou o monte pubiano de minha intimidade e deslizou a
língua de lá até a minha barriga.
Chris me vira de costas para ele e puxou os meus quadris,
deixando um tapa estralado em minha bunda, fazendo-me gemer.
Ele esfregou seu pau melecado entre minhas nádegas e
aproxima seus lábios de meu ouvido.
— Eu quero te foder, aqui e agora!
Meu coração disparou ainda mais e o encaro sobre os ombros,
de olhos arregalados.
— Eu ainda não estou pronta para isso — declarei assustada.
Ele mordeu os lábios com força.
Chris me virou-se novamente e ajoelhou.
— Segura na cômoda — mandou.
Num rápido impulso, ele levantou a minha perna e a jogou sobre
o seu ombro. A tempo dele fazer o mesmo com a outra, apoiei a
mão no móvel ao meu lado.
Chris enfiou a sua cabeça entre minhas pernas e chupou a
minha boceta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Abri a boca para gemer, mas Christopher me interrompeu.


— Geme baixo, amor. Não quer acordar um pequeno demônio,
não é?
Sem demora tapei a boca.
— Boa garota — sorriu perverso e voltou ao trabalho.
Chris brincou com o meu clitóris e chupou toda a minha
intimidade. Me fazendo delirar de prazer.
Arqueei as costas e enfiei meus dedos entre seus fios de
cabelos, enfiando-o ainda mais em mim.
— Isso, Chris... — arfei.
Joguei a cabeça para trás e mordi os lábios.
Christopher não parava e nem media esforços. Ele me chupava
cada vez mais intensamente.
Minhas pernas tremiam e fraquejavam sobre seus ombros.
Ele mordeu a parte interna de minhas coxas e as chupou.
Senti sua língua quente em minha virilha e estremeci.
Quando fui atingida por um grande espasmo, enrosquei minhas
pernas sobre sua cabeça e o impulsionei para ir mais a fundo em
mim.
Ele não reclamou, tampouco fez menção em se afastar. Pelo
contrário, ele puxou meus quadris para frente.
Chris me beijou, me chupou, mordeu e arranhou a minha pele
com os dentes. Sentia-me instável toda vez em que ele acelerava
seus movimentos, perturbando o meu juízo e me levando a loucura.
Fui levada pelo longo e doloroso prazer que Christopher me
proporcionava. Joguei o meu corpo para ele quando, por fim,
cheguei ao ápice, gozando em sua boca.
Respirei ofegante, a garganta seca e os lábios machucados de
tanto os morder. Christopher me segurou pela cintura e me levou até
a cama, colocando-me nela com cuidado.
Ele sorriu para mim e beijou o meu joelho.
— Quer mais, amor?
Sorri nervosamente.
— Eu preciso de alguns minutos — ofeguei, mole e frágil no
colchão.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Me avise quando quiser de novo.


Ele se jogou ao meu lado.
— Meu pau ainda está duro.
Olho para baixo, encontrando seu membro erguido e suspirei.
— Você não me deixou terminar — destaquei e ele riu.
— É claro que não. Achou mesmo que poderia me maltratar
assim?
— Disse que estaria ao meu dispor.
— Para fins sexuais, não para ser machucado.
Ri e me virei para ele. Chris jogou minha coxa sobre sua barriga
e a acariciou.
— Está bem? — perguntou, o olhar penetrando o meu.
— Acabei de ter um orgasmo, estou mais do que bem.
— Então quer dizer que já aguenta mais uma rodada?
Me sentei na cama.
— Eu ainda não estou pronta.
— O que falta?
Sorri.
— Você não para, não é?
— Só quando você decide que não quer mais.
Me deitei sobre ele e Chris acomodou seu pau no espaço entre
as minhas pernas, roçando a extensão sobre a minha boceta.
— Um ótimo lugar para colocá-lo, não? — caçoei, mas ele
discordou.
— Eu prefiro dentro.
Beijei os seus lábios.
— Eu preciso de um pouco mais de tempo.
O garoto tatuado enroscou seus dedos em meus cabelos e
puxou o meu rosto, beijando a minha testa.
— Minha — declarou.
Deitei a cabeça em seu ombro e fechei os olhos.
— Completamente sua — concordei.
Christopher levantou a minha camiseta, até que estivesse
completando fora do meu corpo, e afagou as minhas costas.
— Preciso colocar você para dormir em um outro lugar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Por quê?
— Preciso bater uma.
Franzi a testa e ergui o rosto para ele.
— Sério?
— Como acha que eu vou me aliviar se não vai deixar eu meter?
Me sentei em cima de sua barriga.
Ele olhou para baixo e eu me cobri com as mãos.
— Não se cobre, Dingo.
— Já não olhou o bastante?
— Nunca é o bastante.
Balancei a cabeça e deslizei pelo seu corpo, até estar em cima
de suas pernas, abaixo do seu quadril.
— Agora pode bater a sua punheta.
— Com você sentada aí? — se opôs. — Vou ter que bater umas
10 punhetas, Dingo. Não há como me masturbar se vai continuar
com a sua boceta se esfregando em mim.
Mordi os lábios.
— Vou fazer isso no banho — informou.
Joguei a cabeça para o lado, me divertindo com aquilo.
— Você me faz se sentir a garota mais sexy do planeta Terra.
Ele se sentou.
— E você é.
Beijei a pontinha do seu nariz e me joguei ao seu lado.
— Tenha um bom banho — fiz movimentos com a mão, imitando
uma punheta e Chris mostrou-me o seu dedo do meio.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

10 de Abril | Quarta-feira

Seu rosto inicialmente se ratificou em uma surpresa singular. As


duas sobrancelhas se engelharam e os lábios escancararam.
O seu corpo inteiro paralisou no lugar e as mãos se mantiveram
erguidas no ar; bem como um filme pausado. Contudo, essa reação
logo se dissipou. Theo endureceu a face e mirou seu olhar sobre
mim, enojado.
O susto já havia se sucedido, agora, só lhe restou a mais pura
indignação ao me ver em sua frente.
Fazia apenas 8 minutos que atravessei a porta de entrada do
hospital à sua procura.
Foi rápido. Eu sabia onde encontrá-lo.
O ardor de vermes era sempre inconfundível.
— Era só o que me faltava — resmungou baixo, visivelmente
irritado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Olá, sogro. — Sorri cínico e presenciei seu rosto encher-se de


uma fúria ampla.
Ele balançou a cabeça, cheio de incredulidade.
— Não! Não! — indignou-se. — Ontem você levou a minha filha
para casa à meia-noite. Mesmo depois de eu ter deixado claro que
vocês dois não deveriam ficar juntos. — Ele apontou para mim
enquanto ditava, a boca espumando ódio.
— Pelo menos a levei de volta. Deveria me agradecer — zombei,
cínico.
Ele enrugou a testa.
O corredor era composto por apenas nós dois, longe de todo o
resto. O hospital permanecia sereno durante a madrugada. O horário
entre às duas e três da manhã eram sempre os melhores para
visitas. Seja ela qual for.
— Já chega! Não vai mais ver a minha filha. Ouviu bem? —
decretou.
— Ouvi muito bem. — Sorri.
— Ótimo! Agora saia daqui. — Abanou a mão em direção a
saída.
Olhei para trás, pelo caminho a qual apontava, e então,
lentamente retornei minha atenção para o coroa.
— Ouvir não é o mesmo que obedecer, Theo — entoei perverso.
O homem alto e com indícios de fios grisalhos apertou os seus
dentes branquíssimos e marchou até mim.
Ele apontou o seu dedo nojento em meu rosto, a fim de mostrar
autoridade. Seu rosto vermelho, assemelhava-se a um rubi, já os
lábios, se enrugavam em uma ira descontrolada.
Theo balançou a cabeça com descrença.
— Fique longe da minha filha — bostejou, irritado. — Sei bem o
que garotos como você querem. Dytto não vai namorar você. Ela
tem mais é que ficar longe da sua família. Bando de hereges
nojentos.
Passei a língua sobre os lábios, segurando um riso vil e
debochado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Então, quer dizer que o velhote puxou a minha ficha e de toda a


minha família? Ora, ora...
— Quer dizer que a sua princesa não pode namorar alguém que
não seja cristão, não é? Patético — cuspi com desprezo.
— Vocês são todos uns satanistas. Merecem todos irem para o
inferno e nunca mais saírem de lá — praguejou alto.
— É, e nós vamos — concordei, relaxado. — E você vem logo
atrás. Se esconder atrás de uma cruz e uma bíblia não vai te livrar
dos seus pecados, seu maldito.
Theo impulsionou seus braços em meu peitoral, visando me
empurrar. Mas, se eu movi um milímetro, foi exagero de minha
parte.
— Theo, Theo. Não brinque comigo — cantarolei, numa
entonação cruel.
— Não brinca você comigo. Você não me conhece seu moleque.
Não sabe o que sou capaz de fazer — protestou, irado.
— Está falando dos seus contatos? Corruptos, ladrões e
contrabandistas? — lembrei-o. — Tenha um pouco de senso, Theo.
Nenhum deles vai te salvar se eu decidir que sua vida acabou.
Nenhum.
Ele me olhou em um misto de pavor e nojo.
— Você é um cara rico, bem-sucedido e um bom pai. — Ri,
sentindo cócegas em pronunciar tantas mentiras em uma só frase. —
Não quer que descubram os seus segredinhos, não é? Afinal,
ninguém quer contratar um cara com o histórico de contrabandear
medicamentos, corrupção, lavagem e desvio de dinheiro de verbas
que deveriam estar indo para as crianças com câncer. — Abri a boca
em uma falsa expressão de choque.
Ele arregalou os olhos, soterrado em um ódio mortal por mim.
— Que feio, seu danadinho — caçoei, segurando seu nariz com
força entre dois dedos meus para chacoalhar a sua cabeça em uma
irônica advertência.
Ele acertou a minha mão com um tapa e recuou um passo,
enfurecido.
Precisei segurar o riso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você é um desgr...
— Seu genro. — O interrompi. — Eu sou o seu genro! —
exclamei firme, sem espaço para argumentações. — E a partir de
agora, se eu pedir para você chupar as minhas bolas, você vai.
Ele respirava rápido e pesado. Os seus punhos se abriram e
fecharam várias e várias vezes.
— Sua filha é a minha namorada, e vai continuar sendo —
anunciei bem lentamente. — Se você se meter. Se ousar questionar.
Se magoá-la ou se pisar em falso. — Balancei a cabeça em
desaprovação. — Eu arranco a sua pele com você vivo.
Theo empinou o queixo, embora internamente não estivesse tão
confiante assim. Subsistia medo e raiva enfeitando a sua face, no
entanto, ele sabia que tinha muito mais a perder se me
questionasse.
— Ninguém vai ficar sabendo disso? — certificou-se.
— Isso depende de você.
Theo cerrou os dentes uns nos outros.
— Meu genro, então? — repetiu, de modo que as palavras
aparentavam amargar em sua língua.
— O genro que você mais ama em todo o universo. A pessoa
certa para sua filha, e... — rindo, enfatizei a última parte — seu
grande amigo.
Ele bufou e revirou os olhos.
— Seu desgraçado de merda — rosnou, baixinho
— Epa, epa. Mais respeito pelo cara que satisfaz a sua filha até
ela virar os olhinhos — afrontei sua confiança.
Se, humanamente, fosse possível, ele teria explodido de raiva,
entretanto, ele apenas socou a parede ao seu lado, afundando a
placa de gesso.
Eu ri baixo e provocativo.
— Espero que não tenha me imaginado no lugar da pobre
parede.
Seus olhos — vermelhos como se queimassem em chamas —
pousaram rudes sobre os meus. A sua pele estava avermelhada de
raiva, e as veias pulsavam à vista.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não conte nada a elas e Dytto ainda terá permissão para ver
você. Mas tenho condições para esse namoro. E eu exijo que
respeite a minha filha.
— Sou eu quem faço as regras, amigo. Mas não se preocupe,
sua filha será tratada como uma rainha.
Ele assentiu.
— Então que assim seja — concordou, de má vontade.
Ergui minha mão para ele. Theo a encarou por longos segundos,
até que finalmente cedeu e a tocou.
O erro foi completamente dele em achar que eu queria
cumprimentá-lo. No mesmo segundo o puxei e o apunhalei entre as
pernas com o joelho.
Ele imediatamente se encolheu, cheio de dor.
Aproximei meu rosto de seu ouvido.
— Isso é por ter brigado com a minha garota — sussurrei.
Girei sua mão para trás, ouvindo-a torcer e Theo se esvair em
lamúrias.
— E isso... é por achar que é melhor que eu.
O pai de Dytto se derramou sobre os joelhos. Os olhos
lacrimosos e os lábios abertos em um grito silencioso.
Finalizei a minha visita, golpeei o seu rosto com um chute,
deixando-o desacordado no chão.
— Tenha bons sonhos, babaca do caralho. — Virei-me e saí dali
apressado.
Quando já estava fora do hospital, meu celular estalou no bolso,
notificando uma nova mensagem. Ele emitia sons apenas quando
eram mensagens de Dytto.
Me preocupei em saber o que ela queria a esta hora.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

"Queria fazer uma coisa" — Sorri sozinho.


O que você está aprontando, meu amor?

10 de Abril | Quarta-feira

O relógio marcava três e trinta e cinco da madrugada.


Ainda que Christopher não tivesse vindo durante a noite, eu o
esperava em minha cama. O pensamento de que a qualquer
momento ele surgiria nas sombras do meu quarto, causava-se
ansiedade e excitação.
Um combo de sentimentos que se expandiram por cada
fragmento do meu corpo, consumindo-me por inteira. Christopher

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

despertava sensações tão intensas dentro de mim que me tiravam o


fôlego e me levavam a fundo em sua escuridão.
Eu queria ser esperta e saber nadar, mas toda vez que o "oceano
Christopher" alcançava os meus pés, eu queria mergulhar nele e me
deixar afogar.
Cada vez querendo-o mais, pensando em tê-lo todo para mim.
Sempre só para mim, o tempo inteiro. Minhas mãos deslizaram por
entre minhas coxas, minha respiração tornou-se ofegante. Desta vez,
meus dedos exploraram o meu corpo, apertando as minhas coxas e
todas aquelas partes em que ele adorava tocar.
Tudo se tornava mais sexy, porque ele o fez assim.
Não consegui me controlar à sua espera. Enfiei minha mão
dentro da minha calcinha e comecei a me tocar. Massageei o meu
clitóris já dolorido em movimentos circulares e deslizei o dedo pela
minha boceta, inteiramente molhada.
Gemi quando adicionei um dedo, fantasiando ser Chris, e o
escorreguei para dentro de mim. Mas não era a mesma sensação, e
isto me deixou frustrada.
Os dedos dele me preenchiam por completo, do contrário, os
meus, se pareciam sem sentido aqui. Não se encaixavam.
Enfiei um segundo dedo. Consegui sentir-me um pouco mais
saciada, entretanto, almejava por mais.
Acelerei-os dentro de mim. Tudo o que eu conseguia ouvir era o
som de meus dedos entrando em minha boceta encharcada.
Mordi os lábios com força quando senti espasmos de prazer. O
imaginava chupando os meus seios e descendo até entre o meio de
minhas pernas para me lamber. Queria suas enormes mãos
apertando a minha cintura e me puxando para ele.
— Chris... — suspirei, contorcendo-me em prazer.
Com a mão livre, apliquei pressão em meu seio.
Enfiei meus dedos mais a fundo em mim e diminui a intensidade
em que os remetia.
Enterrei o rosto no travesseiro, quando percebi que não
conseguiria mais reprimir os meus barulhos.
Precisava de mais. Precisava dele. Precisava de Chris para gozar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O lençol fora bruscamente jogado para longe do meu corpo e


um toque firme e apertado em minha coxa me fez estremecer de
susto e saltar sentada na cama.
Arregalei os olhos, apavorada com ideia de ter sido alguém da
minha família a bisbilhotar.
Apenas cessei a tensão em meu corpo quando ouvi o riso baixo
e conhecido ressoar próximo.
— Você me assustou — cochichei.
— Já começou sem mim, Dingo? — sua voz era carregada de
tesão.
Christopher se ajoelhou entre as minhas pernas e arrancou a
minha calcinha do corpo, empurrando-me com força de volta ao
colchão.
— Quer foder com os dedos, princesa? — provocou, curvando-se
para mordiscar a minha coxa.
Sorri no escuro do quarto e todo o meu corpo se arrepiou.
Meu coração disparou no peito. Estava receosa de que ele
tivesse assistido tudo, ao mesmo tempo em que desejava que ele o
tivesse feito, e que houvesse gostado tanto quanto eu.
Christopher se ergueu sobre o meu corpo e aproximou-se.
— Continua — proferiu baixo — Mas eu quero que você continue
com os meus dedos — pediu.
Ele apoiou sua mão grande e pesada sobre a minha barriga,
como se a entregasse em minha responsabilidade.
— Faça!
Engoli em seco.
Uma nova experiência.
Abri as minhas pernas, deixando-as bem afastadas. Tomei a mão
de Christopher nas minhas e a levei onde o meu desejo pulsava mais
forte.
Posicionei o seu dedo do meio em minha entrada e lentamente o
enfiei dentro de mim. Um gemido tortuoso escapou de meus lábios e
precisei respirar fundo para conseguir absorver aquela sensação.
Comecei a movimentá-lo e ergui os quadris, flexionando meu
corpo para frente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Deixei seu dedo parado em minha frente enquanto remexia a


cintura para frente e para trás, rebolando em seu dedo, sentindo-o
me penetrar com dureza.
Christopher deitou a cabeça em meu ombro e apertou seu rosto
em meu pescoço. Sentia sua respiração quente e descompassada em
minha pele. Ele parecia tão mais excitado que eu.
Apertei firme o seu braço, ofegando em seu ouvido.
Christopher não se limitou e deu-me um beijo abrasador. Ele,
aos poucos, adicionou mais um dedo, este, se tornou doído.
Murmurei desconfortável, mas ele apertou ainda mais os seus
lábios contra os meus, sufocando os meus gemidos.
Apertei minhas pernas ao redor de sua cintura quando ele forçou
a entrada de seus dois dedos em mim. Consegui escapar de seus
lábios e soltei um grito baixo.
— Aguenta — mandou, firme.
Fiz o que me pediu e permiti que me fodesse daquele jeito.
Talvez, fosse o único jeito de aguentá-lo se um dia eu realmente
conseguisse ir até o fim com ele.
Christopher disse que se eu me acostumasse com os seus
dedos, seria mais fácil quando ele fosse me penetrar, mas aquilo
doía.
Era prazeroso saber que era ele ali, me tocando, entretanto, não
deixava de machucar ao me invadir.
Mordi os meus dedos e enfiei o rosto em seu pescoço.
— Chris, isso dói — confessei, chorosa, espremendo as pernas
entre o seu corpo.
Ele automaticamente interrompeu o que fazia e suspirou
agoniado. Preocupava-se em me ver daquela maneira. Christopher
deu curtos beijos em toda a minha bochecha.
— Eu não sei se isso vai dar certo — admiti.
— Quer que eu te deixe mais molhada?
— Não é isso. Só que eu acho que o seu negócio não vai caber.
Ele soltou uma risada baixa.
— Me deixe terminar isso aqui — sussurrou — E não me peça
para parar até não aguentar mais. Entendido?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Balancei a cabeça em concordância.


— Entendido.
Seus dedos voltaram a se mexer em um entra e sai lento. Chris
usava o seu dedão em meu clitóris para me estimular, ao mesmo
tempo que beijava o meu rosto.
Era notável o seu desejo em tornar aquilo menos difícil.
Passei os braços ao redor dele e o puxei para mim, colando o
seu rosto no meu.
— Não se afaste — pedi.
— Tudo o que quiser, princesa.
Segurei o seu lindo rosto entre as minhas mãos e o beijei. Minha
língua adentrou a sua boca, em um desejo envolvente de dançar
com a sua. Christopher me pegou desprevenida, enfiando os seus
dedos por completo de uma só vez.
Um gemido esganiçado escapou de minha garganta, mas nosso
beijo o abafou.
— Ouvir você gemendo gostoso me dá um puta tesão do
caralho, garota.
Ele deslizou a língua por todo o meu pescoço, deliciando-se de
cada pedaço meu. Abracei o seu corpo com força e apertei os
joelhos em sua cintura.
Christopher intensificou suas estocadas de um jeito delicioso.
Pressionei seus dedos dentro de mim, sentindo meu corpo
enrijecer com o desejo crescente em meu íntimo.
Minha nossa! Eu estava delirando em seu toque.
Enfiei minhas unhas em seu pescoço, não ligando se eu estava o
machucando ou não. Eu só queria-o mais forte, mais próximo, mais
dentro.
Eu estava quase...
Christopher me masturbou naquela noite até que eu gozasse.
Apenas quando me viu se desmanchar em seus dedos, agarrando-
me a ele, ao sentir ondas de um orgasmo delicioso me envolver, que
me deixou.
Em seguida, Christopher me enrolou no cobertor e deitou-me
sobre ele até que eu finalmente adormecesse.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Não lembro de quando ele foi embora, contudo, apreciei cada


segundo depois de ter sido satisfeita.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

10 de Abril | Quarta-feira

Loren e eu nos encontramos no topo da escada quando saímos


de nossos quartos pela manhã.
No entanto, estávamos igualmente exaustas e sonolentas para
nos falarmos.
Nós duas ainda permanecíamos em um transe profundo de sono
enquanto descíamos às escadas. Eu não dormi muito, por motivos
indecentes. Ela, por outro lado, deveria ter fugido durante a noite
para aprontar alguma.
Minha irmã não era uma santa, isso era óbvio. Por isso, já não a
questionava mais sobre os seus compromissos repentinos.
De todo modo, eu deveria ser a última pessoa no mundo a julgá-
la por qualquer coisa que fosse. Afinal, minha relação com o
Christopher já era um bom motivo para isentá-la de qualquer má
atitude que ela tivesse.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Foi somente quando vimos o que nos esperava na cozinha, que


despertamos completamente. Papai estava sentado à mesa. Sua
mão direita engessada, e a esquerda segurava uma bolsa de gelo em
seu rosto.
Arregalei os olhos diante daquela situação.
— O que houve? — me alarmei, apressando os passos.
Seus olhos rapidamente se prontificaram a olhar em nossa
direção.
— Garotas — cumprimentou baixo, forçando um sorriso que
parecia lhe causar dor. — Bom dia!
— Que droga foi isso? — Loren questionou-o indelicadamente.
Toquei o rosto do papai com cuidado e o ergui para mim. O
grande hematoma arroxeado na lateral de sua face foi exposto
quando ele retirou o gelo.
— Meu Deus! — sussurrei horrorizada.
Papai era muito vaidoso, e vê-lo daquela maneira me fez ficar
tensa.
O que o teria acontecido para que ficasse assim? Será que ele
teria se metido em uma briga? Não poderia ser possível.
Seu temperamento nunca foi um dos melhores, mas papai nunca
foi agressivo. Ele sequer, em sua vida toda, levantou a mão uma
única vez para qualquer uma de nós ou outra pessoa.
— Bem, eu sofri um assalto assim que saí do hospital ontem. —
Suspirou. — Não queria que soubessem assim, e desculpe assustá-
las. — Ele tocou a minha cintura e curvou um sorriso triste.
— E você está bem? Se machucou muito? — disparei aflita,
procurando olhá-lo por inteiro.
— Eu estou bem, querida! — garantiu.
— O que foi isso no seu rosto? — investiguei, arrastando os
olhos por toda a sua face.
— O idiota me deu um chute para me desacordar e levar o meu
relógio. — Ele ergueu o braço, expondo a ausência do objeto.
— Já registrou a queixa? Não pode deixar impune quem fez isso
— me enraiveci.
— Já tomei todas as medidas cabíveis. Não se preocupe.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Loren se aproximou atentamente, embora não estivesse


procurando esforços para consolar o nosso pai.
— Ainda estamos de castigo? — questionou, alheia.
Lancei-lhe um olhar de advertência, mas que não surtiu o menor
efeito.
Decidi não brigar, isso somente a faria revirar os olhos. Loren
tinha um mau hábito de ser extremamente rude com os nossos pais
em qualquer ocasião. Eu não a culpava totalmente, porém, ainda
assim, eles eram nossos pais.
— Não, Loren. Não estão mais de castigo — papai respondeu,
com resquícios de raiva em sua voz.
— Ótimo! — ela se animou, enfiando uma torrada na boca. —
Vamos a uma festa hoje à noite, Dy — avisou.
Arregalei os olhos.
— O quê? Eu... — Encarei papai com incerteza.
Ela não deveria estar falando sério. Só podia estar brincando.
Papai jamais nos deixaria sair do castigo assim. Ainda mais,
depois de eu tê-lo desafiado ao quebrar suas regras quanto ao meu
namoro.
— Tudo bem, podem ir — confirmou, respondendo à confusão
agarrada ao meu rosto.
Crispei a testa, atordoada.
— O senhor está mesmo bem? — semicerrei os olhos.
O que diabos aconteceu nessa cabeça de vento dele?
— Acho melhor fazer uma tomografia. Esse ladrão parece ter lhe
acertado com muita força — argumentei, irritada.
— Está tudo bem, Dytto. Não se preocupe. Não dá para
trabalhar com a minha mão assim. — Ele a balançou de leve. — Vou
ficar em casa por um tempo e não preciso de vocês duas me
entediando.
Balancei a cabeça, assustada, e olhei para Loren que,
misteriosamente, sorria como se aquele fosse o melhor dia da sua
vida.
O que ela tinha hoje? E o que o meu pai tinha? Afinal, o que
estava acontecendo com todo mundo aqui?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Quase me belisquei, a fim de descobrir se ainda estava


dormindo.
— Eu não vou. Vou ficar aqui rezando 30 ave Maria — testei.
— Não enche, Dytto — Theo reclamou.
— Tá vendo? — falei para Loren, apontando para ele com
incredulidade. — Papai não está normal! Se eu tivesse dito ontem
que ficaria em casa rezando, ele teria me incentivado e jogado isso
na sua cara.
— Vai reclamar pelo papai ter criado um pouco de juízo? —
Loren caçoou e ele a olhou furioso.
— Não está preocupada de ele ter tido um AVC? Ele pode estar
delirando.
— Não é todos os dias que ele está de bom-humor, Dy. — Ela
chacoalhou os meus ombros, empolgada, como se papai não
estivesse bem à nossa frente. — Vamos curtir.
— Eu ainda acho que ele bateu a cabeça com força.
— Já chega — Theo declarou, se levantando. — Vão se arrumar
para a escola. — Nos expulsou com a mão boa, farto daquele bate-
papo.
— Posso pegar o meu carro, então? — questionei-o.
— Vai.
De soslaio, verifiquei a minha irmã, porém ela parecia indiferente
com tudo aquilo.
Ou eu estava ficando maluca, ou o mundo é que estava.

Ao saímos de casa, Loren parou no meio da garagem, respirou


fundo e sorriu para mim.
— Eu já falei o quanto gosto do seu namoro com o Chris? —
comentou, alegre.
Não?! Porque você definitivamente odeia ele. Que droga ela
tem?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— O quê? — fiz careta.


— Deveria chamá-lo para a festa de hoje — sugeriu, de um jeito
simpático e bizarramente suspeito.
Seria mais provável que ela estivesse planejando o assassinato
dele do que tentando ser amigável.
— O que é que você tem hoje? Não voltou a beber acetona, né?
Pensei que tivesse superado essa fase aos 8 anos de idade.
Ela alargou o sorriso e beijou a minha bochecha.
— Aposto que esse é só o início da nossa liberdade —
cantarolou.
E assim, saiu dançando até o seu carro.
— Maluca — cochichei.

Luc tinha sua concentração completamente entregue ao que


estava fazendo quando eu me aproximei. Ele estava tão mergulhado
no livro que lia, que mal se deu conta de quando me sentei ao seu
lado no refeitório.
Era fofo ver os seus olhos correndo sobre a página, devorando
palavra por palavra em questão de segundos, imerso à história.
— Uau! Temos um leitor assíduo aqui? — brinquei, chamando a
sua atenção. — O que está lendo?
— Dytto — ele sorriu. — Ah, estou lendo um livro chamado Love
in the Dark.
— Uuh! Tem um título interessante — comentei, com
entusiasmo.
— É, ele é. Tem umas paradas bem maneiras — se animou. —
Me trouxe novidades, garota?
Sorri para ele.
— Meu castigo finalmente acabou — comemorei.
Ele ergueu sua mão ao alto, segurando uma taça imaginária.
— Um brinde a esse dia! — celebrou e eu ri.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não faça charme. Conhecendo o meu pai, pode ter sido


apenas um momento de surto psicótico. Assim que ele voltar à
lucidez, o castigo irá me receber de braços abertos novamente.
Luc fez uma expressão insatisfeita.
— Então, vamos aproveitar enquanto podemos — propôs. — O
que temos para amanhã?
— Humm... — meditei, repassando todos os vários nadas que
tenho agendado — Bom, nenhum compromisso importante.
— Perfeito! Vamos ter o nosso primeiro encontro.
Oh-oh! Isso não era uma boa ideia. E Marcos era a prova —
quase não viva — disso.
Mordi o canto dos lábios.
— É... Então, sobre isso. — Frisei os lábios em uma linha torta.
— Eu meio que estou... na-mo-ran-do — minha voz se tornou um
esguicho ao finalizar.
Fiz uma careta, esperando por sua reação, mas Luc parecia tão
chocado que mal conseguiu esboçar uma.
— Ah — sibilou, estático.
Baixei o olhar para a ponta das minhas unhas.
— Eu queria te contar, só não sabia como.
Ele batucou os dedos em cima da mesa.
— Tá tudo bem. Uma hora ia acontecer, não é? E você...
Quando.. quem... Quero dizer, com quem está? Quem é o cara? Ele
é daqui? Do colégio?
— Christopher — confessei. — Eu estou namorando o
Christopher.
Suas sobrancelhas saltaram.
— Christopher — repetiu, atordoado.
— É.
— Ein? Ok. Isso é bem louco.
Mordi o lábio, insegura.
— Ele não te machuca, né? — Luc perguntou desconfortável.
Balancei a cabeça, negando.
— E nem te força a nada, né?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não se preocupe, Luc. Estamos bem. Christopher respeita os


meus limites. — Bom, quase todos.
Ele mexeu um ombro.
— Só queria ter certeza — sussurrou, tristonho.
— Loren e eu vamos a uma festa hoje. Quem sabe você não
possa conhec...
— Eu estou ocupado, Dy. — Me interrompeu. — Isso aí são
prazeres momentâneos. O meu futuro não será. — Ele forçou sorriso
brincalhão, mas que não me transparecia a menor verdade.
Tentei sorrir ao ouvi-lo dizer palavras que, em um outro
momento, saíram de mim.
Agora tudo me parecia tão inverso e estranho.
— Está bem. Tem razão.
Ele sorriu.
— Mas tô feliz por você, sabe? — ele se esforçou, mas eu vi que
isso o magoou profundamente. — É bom saber que está feliz.
— Obrigada, Luc — balbuciei, penosa.
Ele assentiu e retornou a sua leitura.
Curvei um meio sorriso triste, levantei-me dali e fui em direção
ao banheiro. Era horrível a sensação de que o sentimento de outra
pessoa estava em minhas mãos. Me parecia como um peso me
sufocando.
Sabia que todas as decisões que eu tomasse, poderiam ter um
grande efeito nele, e isso era assustador.
Apoiei o corpo na pia e soltei o ar pela boca. Estava me sentindo
tensa e incerta. Eu sabia que não poderia dar a ele motivos para
achar que teríamos uma chance, mas me partia o coração vê-lo
assim.
Fechei os olhos por um breve momento e balancei a cabeça.
Não. Não. Não. Não. Chega!
Eu não vou me punir por isso. Não posso deixar que os
pensamentos intrusivos me façam sentir culpa por não ter
sentimentos recíprocos por Luc.
Eu o amo, mas somos apenas amigos. Eu preciso me recompor e
não me torturar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Tudo bem. Hora de pensar em outra coisa. Remoer esse assunto


não vai me levar a lugar nenhum que não seja o horroroso vale da
culpa.
Retirei o celular do bolso e procurei pelo contato de Christopher.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A resposta, como sempre, veio imediatamente. Sorri,


abobalhada.

Bom, então estava marcado!


Hoje iríamos a uma festa. Juntos. Em público. Pela primeira vez.
Como um casal.
Que frio na barriga!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

10 de Abril | Quarta-feira

O reflexo no espelho me deixava instigada a descobrir qual seria


a reação de Christopher assim que me visse.
O vestido branco mal alcançava a metade das minhas coxas.
Havia uma pequena fenda na lateral esquerda da roupa, dando-lhe
um ar mais ousado, e possuía alças tão finas que temia quebrarem
com qualquer movimento brusco.
O tecido marcava todas as minhas curvas, ressaltando ainda
mais a minha cintura e quadris. Até mesmo os meus — quase
inexistentes — seios, conseguiram ganhar um pouco mais de
notoriedade com o enchimento.
Gostava de como a roupa me fazia sentir uma mulher sexy,
porém, ao mesmo tempo, séria. Era sensual, mas não vulgar.
Deixava apenas o suficiente à mostra.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Tentei fugir destes pensamentos, contudo, a única coisa a qual


eu mais queria eram os olhos de Chris postos sobre mim, olhando-
me cheio de desejo.
Não era costumeiro que eu usasse roupas assim, mas não era
um evento impossível de acontecer. Eu só não estava muito a fim de
estar sempre procurando por ficar sensual.
Me incomodava receber olhares de quem não contribuiria no
menor parâmetro da minha vida. No entanto, agora eu tinha um
bom motivo pelo qual usar roupas as quais eu fosse me sentir
desejada.
Não que eu quisesse me tornar um objeto sexual para ele, mas
me afundava em prazer quando Christopher me olhava cheio de
malícia. Adorava sentir que tudo nele era sobre mim. E que éramos
completamente pertencentes um do outro.
— Estou bonita? — perguntei para Loren, dando uma voltinha no
quarto.
Ela estava vestida em uma calça jeans preta e um moletom
bege. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo, com alguns fios
rebeldes soltos.
Loren adorava festas, mas não curtia moda tanto assim. No
entanto, ela era muito bonita e não precisava de esforços para
chamar a atenção.
— Você está incrível, Dy. Mas por que essa roupa? — analisou,
descendo o olhar pelo meu corpo.
Sorri.
— Quis ousar um pouco.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Espero que isso seja sobre você, e não influência de outros —
aconselhou.
Quase ri disso. A rainha influenciável querendo me dar palestra.
— Se influência de "outros" está querendo dizer "Chris", então
não. Ele não escolhe as minhas roupas, eu escolho. E não me
importo de me vestir um pouco mais ousada para impressioná-lo.
Mas eu também gosto de me surpreender às vezes. Então, no fim,
todo mundo ganha. — Dei de ombros.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela me ignorou completamente e jogou-se no colchão. Aposto


que parou de me ouvir na terceira palavra que eu disse.
— Vai demorar muito? — resmungou.
— Eu só quero me conferir antes — avisei.
Ela bufou alto, estava cansada de esperar que eu me
aprontasse, embora fôssemos em carros separados, ela queria
esperar para partirmos juntas de casa.
Preparei a minha bolsa com suprimentos básicos de
sobrevivência: Celular, carregador, absorvente e um pirulito para
ajudar a cortar o efeito do álcool.
Me peguei pensando se colocar uma camisinha seria estranho.
De onde tirou isso, Dytto? Pensamento idiota!
Eu não ia perder a minha virgindade em uma festa qualquer. Me
recusava a isso.
— Eu estou pronta! — informei, nervosa.

Christopher e eu iríamos juntos para a festa. Estava empolgada


com a ideia e satisfeita por isso.
Eu seria a sua "motoristinha" de hoje.
Estacionei o meu carro perante a sua casa, em sua espera.
Precisei apenas do tempo para desfivelar o cinto de segurança, antes
da porta do imóvel se abrir, revelando um Chris muito sexy, vestido
em uma camiseta azul-escuro, um grande casaco preto, uma calça
jeans e um coturno.
Meu queixo caiu.
— Caramba! — arfei. Inconscientemente, espremendo as coxas.
Ok! Talvez eu devesse ter comprado uma camisinha.
Engoli em seco ao vê-lo caminhar posturado, o rosto cheio de
seriedade e os olhos firmes. Seus passos eram duros e largos em
direção ao meu carro. Ele era tão convicto e se esvaia em uma
coragem que causava inveja a qualquer um.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O cabelo negro estava incrível, bem penteado para trás, num


estilo elegante e chique. À medida em que se aproximava, notei que
seus dedos tatuados estavam decorados por anéis de prata.
Ele estava tão lindo que doía.
Christopher deveria ser considerado um crime pela lei
constitucional:
Lei de n°666/69: Tocar nesse meio humano, meio demônio, é
um crime sem direito a perdão; visto que, essa criatura, é de tal
modo, tão perfeita, que deveria permanecer em exibição em um
museu, com aquiescência de ser apenas admirado e cultuado.
Eu seria presa, sem dúvidas.
No momento em que Christopher entrou em meu carro, não
deixei nem mesmo que me olhasse antes de pular em seu colo para
agarrá-lo aos beijos.
Senti-o sorrir com os lábios colados aos meus e enlaçar a minha
cintura com o seu braço, pressionando meu corpo no dele.
O beijei como se não nos víssemos há tempos, pois naquele
momento, eu queria-o somente para mim.
Aquele homem! Meu Deus! Aquele homem era meu. Eu mal
podia acreditar nisso. E saber que ele era completamente obcecado
por mim. Minha nossa! Eu era verdadeiramente uma puta de uma
garota de sorte.
Cada vez que eu pensava nisso, tinha ainda mais vontade de me
agarrar a ele nesse carro durante horas.
O tesão me consumia pouco a pouco, e nosso beijo tornava-se
cada vez mais quente, mais malicioso e sensual. Suas mãos tocavam
partes das minhas coxas não cobertas pelo vestido e subiam até a
minha bunda.
Agarrei o seu rosto com as minhas mãos e o puxei para mim.
Seu cheiro adentrou minha narina, intoxicando os meus sentidos
apenas para me fazer querê-lo.
Segurei-o comigo para que permanecesse completamente colado
a mim.
Nosso beijo durou vários e deliciosos minutos. Estive tão absorta
em meus desejos que mal notei que ambos já estávamos sem

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

fôlego.
Foi só então que afastei-me dos seus lábios. Eu estava ofegante
e quente. Meu corpo fora afetado em cada mínimo detalhe.
Meu momento irracional me fez agir como uma maluca, mas
Christopher adorava quando eu fazia isso.
— Você está bem? — ele perguntou, respirando com dificuldade.
Um sorrisinho cafajeste pintava os seus lábios, ao passo que ele
me olhava de cima a baixo.
— Desculpe. Acho que estou no período fértil — admiti,
penteando com os dedos os fios de cabelos selvagens em minha
cabeça.
Ele riu e deu um breve beijo em meu queixo.
— Acho que tenho que agradecer ao seu corpo por isso —
brincou.
Christopher parecia curioso em descobrir o que eu estava
vestindo e afastou o meu corpo do seu até que eu estivesse com as
costas apoiadas no painel do carro.
Ele sorriu ao observar o que eu usava e passou os dedos sobre
os lábios, como se degustasse do que via.
— Você está gostosa pra caralho, Dingo — murmurou, rouco.
Brinquei com a beirada do seu casaco e sorri.
— Digo o mesmo.
— Estou gostosa também, princesa? — Ele riu.
— Sim, você está uma gostosa do caralho, Christopher.
Ele escorregou as costas das mãos em meu rosto e apertou as
minhas bochechas, obrigando meus lábios a formarem um bico.
— E pensar que eu achei que você fosse inocente. — Ele jogou-
me uma piscadela.
Revirei os olhos e afastei a sua mão.
— Não tenho culpa se você mentiu para si mesmo — provoquei.
Ele abriu um largo sorriso.
— É que eu me enganei feio. — Chris deu um tapinha na minha
coxa. — Ainda bem, ou não teria ganhado um boquete dos infernos.
Meu rosto esquentou.
— Esqueça isso — cochichei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Nem ferrando.
Encarei minhas mãos em seu colo.
— Você gostou? — sussurrei.
— E existe algo em você que eu não goste?
Ergui o meu olhar para o dele.
— A minha crença em Deus e a minha teimosia em saber sobre
o seu passado, talvez?
— Podemos dar um jeito nisso.
Seus lindos olhos brilhavam e todo o seu rosto parecia sorrir.
Meu peito se aqueceu e todas aquelas borboletas drogadas cercaram
o meu estômago.
A sensação me deixava meio bêbada e lerda. Meus lábios
deixavam que sorrisos bobos escapassem.
Oh, merda! Ele estava me fazendo querer dar para ele ali
mesmo.
— Acho melhor nós irmos — avisei, pulando ligeiro para o banco
do motorista.
Christopher gargalhou, mas não disse nada. Parecia ter
entendido bem a situação.

Ao adentrarmos o lugar, notei que Christopher permanecera


calado e sério. Seus olhos desconfiados encaravam a todos com uma
insistente suspeita.
Conforme nós nos enfiávamos em meio ao tumulto no hall de
entrada, sentia-o ainda mais tenso e irritado.
Não gostei da sua reação e me encolhi atrás dele, segurando-o
apenas pelo seu dedo indicador.
Alguns dos convidados, entretanto, se distraíram conosco ao
passarmos. De certa forma, chamávamos a atenção. Christopher não
era alguém comum, tampouco possuía resquícios de gentileza em
sua face.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu não conhecia ninguém ali, mas pela forma que olhavam o


homem extremamente alto e tatuado ao meu lado, aposto que
sabiam quem ele era.
Christopher formava um escudo de proteção à minha frente,
guiando-me com cuidado em meio aquelas pessoas. Eu queria
enxergar o caminho, mas ele continuava a se meter em meu campo
de visão, enfiando-me propositalmente atrás dele.
A casa era grande e espaçosa, mas uma grande parte dos
festeiros se amontoavam no meio da sala ao som de uma música
eletrônica irritante que parecia nunca sair do refrão.
As paredes pálidas eram decoradas por quadros com cores
vividas e brilhantes. Os móveis eram, em parte, quase todos
amarelos ou cinza. No geral, até que era uma boa mistura.
As divisórias entre os cômodos davam-se por paredes com
aberturas largas em formatos de arcos, passando a sensação de um
lugar amplo e aberto.
Próximo da cozinha, havia uma escada mesclada a parede,
dando acesso, ao que eu imagino, serem os quartos.
Loren tinha amigos bem afortunados, logo, sempre estávamos
pulando de mansão em mansão para mais festas.
— Sua irmã — ele avisou, parando no lugar.
Dei um passo para frente, enxergando Loren aproximando-se
rapidamente. Ela já estava com uma garrafa de cerveja em uma mão
e um cigarro na outra.
— Por favor, não briguem — pedi a ele num sussurro.
— Como quiser.
Loren nos alcançou assim que ele terminou de falar.
— Ei, vocês! — cumprimentou.
— Ei, você! — Chris a imitou com voz de garotinha.
Minha irmã revirou os olhos e mostrou-lhe o dedo. Chris repetiu
o gesto, mas quando ergui o pescoço para olhá-lo, ele o trocou pelo
dedão.
— Apenas paz e amor reinam aqui — garantiu, sorrindo forçado
para mim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Se vocês dois brigarem hoje, eu vou trancar vocês em um


quarto, obrigá-los a pedirem desculpas um ao outro, se abraçarem e
darem beijinhos na bochecha — ameacei.
Os dois simultaneamente fizeram careta.
— Ah, para né! Adoro a sua irmã. Eu sou o maior fã dessa
garota. — Chris vibrou animado, passando o braço em volta do
pescoço de Loren, enforcando-a.
— Que Lúcifer tenha piedade de mim — Loren lamentou
sufocando.
Christopher riu.
— Não vai, não.
— Não precisam ser amigos, apenas não querem que se matem
— avisei e Chris a soltou, suspirando aliviado.
— Por que não avisou antes?
— Dytto, eu tentei ser educada, mas não dá. Por que não pega
essa coisa grande e esquisita e leva pra dar uma volta bem longe
daqui? — Loren sugeriu, encarando-o séria.
Christopher sorriu provocador e balançou as sobrancelhas.
— Tá com medo, Loren?
— Chris! — chamei sua atenção. — Que tal se formos beber,
hein?
— Isso. Vão lá e sejam felizes. — Loren deu-nos as costas e
apressou os passos para bem longe.
Christopher comemorou discretamente e beijou a minha
bochecha.
— Vamos.

A mesa de bebidas era composta por tantas opções, que me fez


ficar estática encarando-a por, ao menos, uns 2 minutos.
As variedades eram compostas por garrafas de diferentes cores
e formas, preenchendo a grande mesa redonda por inteira.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Quem morava ali, era, no mínimo, um alcoólatra inato ou dono


de um bar.
— Já escolheu? — Chris perguntou, de pé atrás de mim.
Devidamente, estava cansado de me encarar, olhando todas
aquelas bebidas sem dizer absolutamente nada.
Virei-me para ele.
— Quer saber? Eu não vou beber. — Suspirei.
— Não?
— Loren vai beber e eu vou ter que ficar de olho nela mesmo.
Não daria certo.
— Ela consegue ficar de olho nela mesma.
Balancei a cabeça.
— Não posso.
Christopher aproximou-se, beijou a minha testa e segurou o meu
rosto com firmeza entre as suas mãos.
— Se não beber por causa da sua irmã, eu vou quebrar as duas
pernas dela para não precisar mais se preocupar com ela bêbada.
Arregalei os olhos.
— Você não faria is...
— Faria — garantiu, olhando-me no fundo dos olhos.
— Não, não faria.
Ele sorriu e deu dois passos para trás, afastando-se devagar.
Quando notei a sua intenção, estremeci completamente.
— Christopher! — berrei e corri atrás dele, segurando os seus
dois braços. — Tá bom, caramba, eu bebo! — me irritei.
Ele ergueu meus pés do chão e carregou meu corpo de volta
para a mesa de bebidas.
— Te dou 3 segundos para escolher antes de ir atrás da Loren —
sussurrou com os lábios roçando a ponta da minha orelha.
— Calma, eu preciso pensar.
— 3... — iniciou a sua contagem.
— Chris!
— 2...
— O VINHO — berrei desesperada, apontando para a garrafa
enfiada no balde de gelo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Alguns dos que estavam à nossa volta, nos olhou com uma
expressão engraçada.
— Vinho — Christopher repetiu. — Uma excelente escolha.
Ele arrancou a garrafa de lá, a abriu, deu um grande gole e, por
fim, me entregou.
— Está aprovada. Boas festas, Dingo Dingo.
Olhei insegura para o objeto em minhas mãos.
— E se eu ficar muito bêbada?
— Eu cuido de você.
— E se eu vomitar em você? — supus.
— Eu tomo banho.
— E se eu ficar muito, muito, bêbada e começar a tirar as
roupas? — aquela era uma hipótese difícil de acontecer, mas quis
garantir que ele daria conta.
— Arranco os olhos de quem te olhar.
Existia uma porcentagem significativa daquilo que ele estava
dizendo ser verdade.
— São muitas pessoas — argumentei.
— Eu sou rápido.
— E se eu...
— Eu dou um jeito. Beba!
Ergui as sobrancelhas.
— Sim, senhor. — Revirei os olhos, levando o gargalo da garrafa
aos lábios.
Derramei o primeiro gole de vinho com cuidado, pois queria
beber devagar.
Chris assistiu orgulhoso e me estendeu a sua mão.
— Vem. Vamos procurar um lugar para você beber em paz.

Estávamos os dois, longe de todos os outros, em um canto no


chão, debaixo das escadas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher me observava atento, vendo-me beber cada gota de


álcool daquela garrafa. Ele franziu as sobrancelhas quando meu
corpo ameaçou tombar para os lados, e isso, de alguma forma, me
fez rir alto.
Eu já estava muito alterada, e mesmo sentada, tinha a sensação
de que iria cair. Ria sem motivos e apertava os braços de Christopher
diversas vezes, apenas para me aproveitar daquele corpo musculoso.
— Nós dois... — apontei para mim e para ele — não
combinamos para festas. Olhe só — girei o dedo no ar — viemos
para o canto mais afastado, porque somos antissociais. — Gargalhei,
a voz soando esquisita.
Ele me olhou estranho e balançou a cabeça, como se eu fosse
uma criança dizendo que acreditava em unicórnios. Deixando-me
falar sozinha, ele retirou de seu bolso um cigarro e o acendeu.
Eu não era um grande fã de cigarros, mas fiquei fascinada com a
forma que aquilo soou sexy.
— Eu pos-posso fumar?
Seus olhos se ergueram para os meus. Christopher ruminou por
um momento antes de decidir.
— Abre a boca — mandou, e prontamente a escancarei. —
Desse jeito não, Dingo — interviu. — Assim você abre para eu enfiar
outra coisa.
De imediato a fechei.
— Apenas a desprenda — orientou.
Christopher levou o cigarro aos meus lábios e os posicionou
entre eles.
— Puxa.
Obedeci, tragando aquela fumaça amarga na boca, mas
imediatamente a soltei, tossindo.
Afastei a bituca do meu rosto e fiz careta.
Era horrível!
Christopher riu e afastou os fios de cabelos soltos que estavam
no meu rosto para abaná-lo.
— Ainda quer fumar, Dingo? — provocou, zombeteiro.
— Por que me deixou fazer isso? — choraminguei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Foi você quem quis. — Ele riu.


— Não pode me deixar fazer essas coisas.
Ele beijou os meus lábios e sorriu.
— O que quer fazer agora?
— Eu quero dançar — sussurrei.
— Agora?
— Agora.
Ele passou os olhos em volta, sério demais.
— Não sei, não, Dingo. Tem caras demais ali.
— Está com ciúmes? — aticei.
— Não.
— Ah, é mesmo?
Ele se afastou.
— Não estou com ciúmes, Dingo. Só preocupado.
— Então quer dizer que não sente ciúmes? — brinquei, já me
levantando.
— O que vai fazer? — questionou, rígido.
— Dançar.
— Sozinha?
— Oh, não! Com uns amigos. Sei que ficará bem aí. Sem ciúmes,
é claro. — Joguei uma piscadinha para ele.
Christopher apertou os olhos, furioso, e me aproveitei do seu
descuido para andar rápido até pista de dança, antes mesmo que ele
fizesse menção a se levantar.
Me escondi entre as pessoas quando notei que ele vinha em
direção ao amontoado de gente na sala, à minha procura.
Ri de sua carranca e corri para o centro da sala.
Chamei o primeiro garoto que encontrei para dançar. O rapaz
logo se empolgou, a fim de colar o corpo no meu, mas o afastei,
deixando um espaço de dois palmos entre nós dois.
Fingi saber o que fazia, mas ele riu ao me ver entrar em ação.
Estiquei o corpo para tentar achar Christopher, porém não tive
nem sinal de sua presença. A sensação de que ele estava vindo atrás
de mim, me provocava frios na barriga, causando-me cócegas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O garoto que dançava comigo se deu a liberdade de tocar a


minha cintura e aproximar-se um pouco mais. Ele se remexia no
ritmo da música, entrando na onda, assim como eu.
Joguei os braços para o alto e me soltei. Sentindo-me leve.
Era meio bom estar bêbada, na verdade.
Nada mais parecia importar tanto e eu sentia que era capaz de
fazer qualquer coisa que me desse na teia.
Em momentos como este — sóbria —, eu estaria parada feito
uma idiota, olhando todos se divertirem. Mas, agora, eu não estava
nem aí se dançava bem ou mal. Eu só queria mexer todo o meu
corpo e cantar alto.
Abri os olhos ao perceber que o garoto tocava o meu rosto e
recuei um passo, percebendo que ele já se aproximava para me
beijar.
— Eu tenho namorado — avisei e ele sorriu.
— Bom, mas ele não está aqui, né? — insinuou, sedutor.
Engoli em seco.
Droga! Eu já havia visto isso acontecer antes e não terminou
nada bem.
— Eu não faço esse tipo de coisa — recusei, apavorada.
— Não se preocupe, gata. Ele não vai precisar saber.
Um rápido reflexo eclodiu à sua frente, fazendo-me estremecer.
De repente, a enorme mão de Chris agarrava o pescoço do garoto
com força.
O moreno arregalou os olhos e abriu a boca, buscando por ar
desesperadamente. Christopher não o soltou, apenas aproximou seu
rosto do dele.
— Se tocar nela de novo, eu vou quebrar cada osso do seu
corpo — ameaçou, frígido. A voz tão mórbida e bizarra a ponto de
causar calafrios na espinha.
Agonizando, o garoto desesperadamente deu batidinhas na mão
de Chris, mostrando-o que entendeu.
Eu observava a cena abismada, sem conseguir mexer um único
músculo do corpo. O sangue sumiu da face do moreno. Ele parecia

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

prestes a desmaiar. Christopher, por fim, soltou o rapaz e lhe deu um


tapinha nas costas.
— Agora pode dançar com o seu amigo — informou a mim,
afastando-se de nós.
Assim que o garoto conseguiu inspirar a primeira lufada de ar,
passou rápido por mim e correu para longe.
Eu estava tremendo e assustada. Christopher de repente já não
estava mais ali. Tão logo olhei em volta e o avistei sentado no sofá,
com as pernas cruzadas. Observando-me de longe.
Ele sorriu amável, como se nunca tivesse saído dali. Afinal,
Christopher não precisou mover-se do lugar para ameaçar o rapaz.
Ele sequer precisou mover um único dedo.
A ficha finalmente caiu.
Não foi Christopher quem o ameaçou, mas a sua segunda
camada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

15 de Abril | Segunda-feira

Embora já estivesse quase dormindo, sentia sua presença sobre


o meu corpo.
Seus longos dedos gelados contornavam a minha face
devagarinho. Sentia frio, mas não me incomodei. Gostava quando
ele me tocava.
Não me lembro exatamente quando foi que chegamos em minha
casa, ou como Christopher me carregou até o meu quarto sem que
meu pai quisesse arrancar o seu pescoço.
Mas, sabia, que em algum momento ele havia retirado as minhas
roupas sujas, me dado um banho, me vestido em um pijama e me
colocado para dormir. Contudo, a sua visita sempre me deixava
muito ansiosa, impedindo-me de adormecer, gostava de aproveitar
cada segundo com ele.
— Vai dormir aqui? — sussurrei, rouca.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Meus olhos pesavam e a minha boca estava seca. Mesmo


deitada, sentia minha cabeça girar como um maldito brinquedo
Twister. Eu estava passando pelo efeito da ressaca.
Após minha bebedeira, Christopher havia se mantido ao meu
lado durante todo o tempo, segurando o meu cabelo e hidratando-
me com água, enquanto eu vomitada tudo o que havia no meu
estômago.
Aquele foi o meu primeiro porre da vida.
Ele não me respondeu de imediato. Beijou meus lábios,
bochechas e queixo. Permaneci parada, sentindo sua respiração
colidir em minha pele, sorrindo feito uma boba.
— Foi uma festa e tanto — brinquei, ainda de olhos fechados.
Sua língua passeou em meu pescoço, subindo e descendo,
causando-me excitação.
— Mas poderíamos ter aproveitado mais — continuei, desta vez,
maliciosa.
Lembrei-me do quão majestoso estava e suspirei apaixonada.
— Cuidado — soprou ele, quase inaudível, as palavras sumindo
no ar.
— Como? — questiono-o, confusa.
Christopher calou-se, e de repente, um clarão invadiu os meus
olhos sob as pálpebras.
Franzi a testa.
— Chris, você acendeu a lu... — fui interrompida, quando sua
grande mão envolveu o meu pescoço com rigidez.
Imediatamente abri os olhos e encontrei-o no claro do meu
quarto em sua pior forma.
Os olhos verdes estavam completamente transformados em dois
poços negros. Linhas escuras como raios tomavam todo o seu rosto.
A pele antes branca, tornou-se cinza e macabra.
O que ele estava fazendo?
Tentei me mover, mas ele não deixou. Por um momento, achei
que estivesse me provocando, no entanto, Christopher não estava
para brincadeiras. Ele fez pressão em seu aperto no meu pescoço.
Arregalei os olhos, o ar faltando nos pulmões.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Pa-pare — tentei dizer, mas suas fortes mãos pressionaram o


meu pescoço com ainda mais força.
Meu coração batia feito louco no peito, assustado com aquela
brusca atitude. Enfiei minhas unhas em seus braços, lutando contra
ele, mas isso não o afetou de maneira alguma. Quanto mais eu
resistia, mais força ele impunha sobre mim.
Minhas pernas se debatiam na cama, mas o seu peso sobre mim
impedia que eu pudesse me mover.
Minha visão tornou-se turva, meu rosto formigava e meus olhos
ardiam. Eu estava desesperada. Meu corpo estava desistindo.
A morte. Era tudo o que me vinha a mente naquele instante.
Tudo em mim doía.
Como de repente o amor da minha vida havia se tornado o
monstro que estava tentando me matar? O que mudou? Fora tudo
uma grande mentira?
Enquanto o olhava nos olhos em meus últimos suspiros, lágrimas
desciam em meu rosto. Já no seu, não existia o menor remorso.
Christopher não se importava com aquilo, era proposital e
planejado. Eu via que aquele era o seu desejo, que aquilo que lhe
causava prazer.
— Por favor, Chris — chorei sufocando, mas não adiantou. —
Chris...
Meu amor estava me matando.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sorri ao ler a sua mensagem.


Esta era, somente, uma das quinhentas mensagens que ele
havia me mandado desde que viajou em razão de uma emergência
de trabalho, há cinco dias, logo após a nossa festa.

Gargalhei com isso. Eww! Christopher não sabia ter limites.


Garoto tarado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Merda! Isso era um problema.


Eu ainda não havia lhe contado sobre o pesadelo que havia tido
com ele me sufocando, e nem pretendia.
Mas se ele me olhasse nos olhos, saberia imediatamente que eu
estava lhe escondendo algo.
Depois da nossa festa, Christopher, de fato, me levou para casa,
cuidou de mim e me deixou dormir, contudo, recebeu uma ligação
urgente, e precisou deixar-me sozinha. Mas tudo depois pareceu tão
real que fiquei verdadeiramente grata por não ter que vê-lo no dia
seguinte.
Eu estava tão apavorada que tinha medo apenas da ideia de ele
me visitar novamente.
Sabia que Christopher não seria capaz de me machucar daquela
maneira, ou ao menos, tentava me convencer disso, visto que esse
medo só se concretizou após o meu pesadelo.
Antes disso, eu confiava nele.
— Vai se mexer ou vai morar aí na fila? — o balconista se
pronunciou, com ignorância.
Oh, Merda! A fila.
A biblioteca da cidade resolveu me ligar para devolver um certo
livro, o qual peguei há duas semanas, pouco tempo depois que
conheci Christopher.
Agora já estávamos oficialmente com 1 mês de conhecidos e eu
ainda não tinha certeza do que ele era.
Eu simplesmente havia esquecido o livro debaixo do meu closet,
entretanto, isso tudo parecia tão sem sentido agora.
Ben tinha razão, toda aquela história não passava de contos de
fada. Nada ali me ajudou a descobrir o que Christopher era.
— Vai ter que pagar multa — o rapaz rabugento, avisou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— O quê? Ele está em perfeito estado — protestei.


— Você atrasou 7 dias depois do dia da entrega.
Fiz careta.
— E quem iria querer ler essa coisa além de mim? — argumentei
e ele estreitou os olhos.
— Talvez alguém o quisesse ler, se ele estivesse na devida
prateleira.
— As pessoas desta cidade só vêm na biblioteca para
namorarem escondido. Já viu alguém aqui realmente lendo algo que
não fosse por obrigação da escola? Devem existir, no máximo, dois
leitores em Vespeau.
O garoto soltou o ar pela boca, em rendição.
— Sai logo daqui.
Sorri contente e girei os calcanhares. Meu sorriso aumentou
quando avistei Benjamin acabando de chegar logo atrás de mim.
— Você — cantarolei, animada.
Ele abriu um meio sorriso, tímido.
— Dytto. Quanto tempo!
— É. Uma grande coincidência te encontrar aqui de novo.
— Na verdade, eu venho aqui quase todos os dias.
— Shhh! — pus o dedo na sua boca e o fiz recuar. — Acabei de
dizer para o balconista que ninguém dessa cidade lê. Não destrua
meu único argumento para não pagar a multa de atraso — sussurrei.
Ele riu e passou os dedos nos lábios, zipando-os.
— E então, qual a leitura atual? Romeu e Julieta da dark web? —
brinquei, apontando com o queixo para o livro em suas mãos.
Ele balançou a cabeça, sorrindo, e ergueu em sua mão exibindo
"Carrie, A Estranha".
— Um baita livrão — comentei.
— Um clássico da adolescência atual.
— Só se for da adolescência da minha avó.
— Um clássico nunca envelhece.
Assenti, rindo.
—Tem novidades? — questionei-o.
— Ah, tenho! Tenho uma muito boa. — Ele sorriu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Me conte.
— Um passarinho contou para um outro passarinho, que esse
outro passarinho me contou que... Você e o Christopher, o garoto
que você tinha repulsa, estão namorando.
Meu rosto ardeu de vergonha.
— Ãhn... Que tal falarmos sobre a Carrie? — sugeri,
constrangida. — Tem todo aquele lance de sangue, não é?
Ele deixou sua cabeça tombasse para o lado.
— O que aconteceu?
Mordi o lábio inferior.
— Acho que Christopher e eu temos mais em comum do que
imaginávamos — sussurrei.
Ele crispou a testa e sorriu.
— Eu já disse o quanto você mente mal?
— Eu gosto dele.
— Gosta mesmo? — incitou, curioso.
— Pare com isso, Ben. Eu gosto mesmo dele. E eu não estaria
com ele se eu não quisesse. — Cruzei os braços.
— Não é o que parece. Christopher sabe exatamente como
manipular alguém, Dy. Estou falando sério. Toma cuidado. Ele não é
o seu príncipe encantado — aconselhou.
— Talvez eu não queira um príncipe encantado — cochichei.
Benjamin repuxou o canto dos lábios.
— Ele é capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer.
Dei de ombros.
— Por que isso agora, Ben?
Ele soltou um riso curto.
— Eu não tenho certeza se ele sabe que eu tenho conhecimento
disso, mas, descobri que ele tem me vigiado.
Juntei as sobrancelhas.
— Vigiado?
— Ele é um pouco possessivo quando o assunto é você.
Meu coração disparou.
— Acha que ele tem te vigiado por minha causa? — eu disse,
incrédula.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não acho. Tenho certeza.


Ben afastou-se um pouco e apontou para o balconista atrás de
nós dois.
— Eu tenho que ir. Mas tenha cuidado com a sua alma, Dy. Ele a
quer muito — informou, antes de se afastar.
Saí da biblioteca atordoada. Presa em pensamentos horrorosos.
De repente, minha mente combinou meu pesadelo ao que havíamos
acabado de conversar.
Se Benjamin dizia com tanta naturalidade que Christopher queria
a minha alma, então ele sabia bem mais do que transpareceria.
O quanto Benjamin conhecia Christopher?
Meu celular vibrou no bolso. Tomei-o nas mãos e a tela se
acendeu.
Christopher.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

17 de Abril | Quarta-feira

Um beijo suave e gentil provocou a minha bochecha.


Adormecida, minhas pálpebras instintivamente reagiram num
estímulo trêmulo.
Meu corpo fora cercado por algo grande e espaçoso atrás de
mim no colchão. Encaixando-se perfeitamente em cada pedaço meu,
como duas peças de quebra-cabeça.
A grande massa quente e pesada aconchegou-se sem pressa.
Toques delicados deslizaram em minha pele em um calmo vaivém.
Ouvi o cantar dos passarinhos, como um fundo sonoro. Feixes de
luz atravessaram as minhas pálpebras, esvaindo-se num clarão sobre
meus olhos.
— Feliz aniversário, minha Dingo Bells — sua voz sussurrou
macia em meu ouvido.
Sorri de olhos fechados.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você voltou de viagem — murmurei, feliz.


Sua enorme mão cobriu a minha barriga, puxando-me para ele.
— Sentiu saudades? — provocou, deslizando devagarinho sua
mão em direção ao short do meu pijama.
Minha pele se arrepiou. Aquele era o Christopher que eu bem
conhecia.
— Eu senti muita saudades. — Ofeguei.
Havia se passado uma semana inteira desde que Christopher
viajou repentinamente. Foi o maior tempo que passamos longe um
do outro desde que nos conhecemos.
Embora fôssemos um recém-casal, a ausência de suas visitas
noturnas provocara-me, em parte, alívio, e em parte, abstinência.
Eu ainda tinha medo de que se eu abrisse os olhos, poderia
voltar àquele episódio horrível de tê-lo me enforcando até a morte,
mas, no exato momento, sua presença era real. E eu sentia isso da
cabeça aos pés.
— Senti saudades disso aqui. — Christopher deslizou seus dedos
entre os lábios de minha boceta, esfregando-os bem lentamente em
meu clitóris.
— Somente disso? — cochichei, excitada.
Ele beijou o meu ombro, deslizando os lábios até o meu pescoço.
— Senti falta de você inteirinha, meu amor.
Coloquei minha mão em seu braço e o incentivei a continuar.
Definitivamente acordar com Christopher me masturbando era,
sem dúvidas, o melhor jeito de começar o dia.
Mas, um barulho no andar de baixo me fez lembrar que meus
pais já estavam de pé, e que minha irmã deveria estar andando de
um lado para o outro, organizando a minha festa de aniversário; a
qual ela tanto insistiu em planejar.
A qualquer momento alguém entraria, e de forma alguma
poderiam nos ver assim. Seria um absurdo sem fim.
— Chris... espere, espere — pedi, afastando a sua mão.
Afastei o lençol do meu corpo e sentei-me no colchão, virando-
me para ele.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu provavelmente deveria estar toda descabelada, com o rosto


inchado e enormes olheiras, por outro lado, Christopher se parecia
um deus grego em minha cama.
Ele estava vestido em uma camiseta branca e uma calça jeans
escura. Seus olhos claros evidenciam-se ainda mais com a luz do sol
mirando em seu lindo rosto.
Pela primeira vez, Christopher se parecia mais como um anjo, e
não como um demônio que era. Meu coração disparou mais forte.
— Você é tão lindo — soltei, sem perceber.
Ele crispou a testa.
— E você só diz isso agora?
Minhas bochechas esquentaram.
— Eu estava tentando ser difícil — tentei descontrair e ele
balançou a cabeça, fingindo desapontamento.
— Não me sinto valorizado nessa relação.
— Bom, então deveria estar namorando outra garota.
Ele agarrou o meu braço e brutalmente me puxou para ele,
rolando com o seu corpo para cima do meu.
Debaixo dele, comecei a rir, mas tive que tampar a boca,
contendo o barulho para que os outros não me ouvissem.
E, de todo modo, eu também ainda não havia escovado os
dentes, Christopher não precisava de toda essa intimidade ainda,
mesmo que eu desconfiasse que ele já soubesse demais sobre mim.
— Não vou ter outra namorada além de você.
— Está me pedindo em casamento, então? — incitei.
— Casamento? — ele riu. — Demônios não se casam.
— E o que vocês fazem?
— Trancamos a garota que gostamos dentro de uma jaula, e só
as visitamos quando queremos foder.
Dei-lhe um murro no peito com a mão desocupada. Eu não sabia
se ele estava sendo irônico ou se realmente estava sendo sincero.
— Não sou uma escrava sexual — reclamei e ele gargalhou,
beijando a minha testa.
— Não gosta da minha proposta, Dingo Dingo?
Tentei o empurrar, no entanto, seu corpo não se moveu do lugar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Sai de cima, diabão. Eu preciso usar o banheiro, e quero que


vá embora de fininho antes que meu pai te veja e arranque a sua
cabeça.
— Quando eu subi pelas escadas ele não reclamou.
— O quê? — estremeci.
— Ele não te contou? Nós conversamos e ele decidiu liberar a
filha dele pra mim.
Arregalei os olhos.
— Não está falando sério.
— Quer descer para falar com ele sobre isso? — Ele ergueu o
dedão sobre o seu ombro, apontando para a porta.
— Chris, meu pai nunca iria deixar eu namorar alguém como
você. O que você fez?
— Correção, seu pai me adora.
— O inferno congelou e eu não estou sabendo? — Uni as
sobrancelhas, desconfiada.
— De onde eu venho, ele congelou, sim.
— Quê? — intriguei-me.
— Ãm? — disfarçou ele.
— O quê?
— O que, o quê?
— Que que você disse?
— Eu não disse nada — respondeu, cínico.
Soltei o ar pelo nariz e me remexi.
— Sai logo. Eu preciso me arrumar.
Ele jogou o corpo para o lado e eu rapidamente me levantei, a
caminho do banheiro.
— Quer outro banho, Dingo Bells? — estimulou, malicioso,
fazendo-me girar os calcanhares em sua direção.
— Aquela vez não conta. Eu estava bêbada e vomitando.
— Mas me deixou tocar em tudinho. — Ele sorriu de canto e
meu rosto tornou-se vermelho como brasa.
— Eu realmente preciso me lembrar o que aconteceu —
confessei, vergonhosa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você me pediu para eu te chupar, eu disse que chuparia


quando estivesse sóbria. E depois chorou porque queria me chupar e
eu não deixei.
Fechei os olhos e escondi o rosto entre as mãos, morrendo de
vergonha.
— Ai, não! — sussurrei.
— Você fez tanta coisa... — continuou, nostálgico.
— Eu não sei se preciso saber do resto.
Ele riu.
— Na verdade, não sei se você aguentaria saber.
Apertei os olhos.
— Agora eu acho que devo saber — murmurei, curiosa.
— Tem certeza?
Engoli em seco.
— Talvez só um pouco mais — falei, retida.
— Na banheira, você sentou no meu colo e esfregou os peitos na
minha cara. — Ele parecia contente ao revelar aqueles detalhes
sórdidos. — E ainda disse que...
— Chega! — berrei, correndo para o banheiro.
Eu nunca mais iria beber vinho depois disso.

Christopher estava deitado, com as duas mãos debaixo da


cabeça quando sai do meu banho, enrolada apenas em uma toalha.
Ele fitava o teto, dedicando a sua total atenção aos pensamentos
que passavam-se em sua cabeça.
Fui diretamente para o closet, procurar por algo para vestir.
Enquanto vasculhava, encontrei uma roupa ou outra que meramente
me fazia parecer ter 18 anos.
Meu rosto era ligeiramente infantil e delicado, e não era essa a
imagem que eu queria passar hoje.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Busquei por algo mais formal na última gaveta e, quando o


achei, levantei-me rápido. Ao virar, fui surpreendida com Christopher
atrás de mim, com o susto, a toalha escorregou do meu corpo e caiu
no chão.
Ele desceu o olhar pelo meu corpo e sorriu de um jeito ferino.
Chris se aproximou de mim, e com uma mão, puxou-me pela cintura,
com outra agarrou o meu pescoço. Fui tomada pelo choque das
lembranças, e travei, ofegante.
Chris estava a meio passo de me beijar, mas parou quando
percebeu que havia algo de errado.
— Me solta — pedi, com a voz embargada.
Confuso, ele o fez. Rapidamente fugi para o fundo do closet,
respirando com dificuldade.
Passei as mãos sobre os cabelos e desci para o meu pescoço,
cobrindo-o em uma atitude defensiva.
Christopher semicerrou os olhos, encarando-me com estranheza.
Havia desconfiança naquele olhar.
— Venha aqui, Dingo — pediu, a voz carregada e séria.
Abracei o meu torso com força.
— Por quê? — perguntei, nervosa.
— Venha! — ordenou.
Meu corpo inteiro tremeu.
Melindrosa, caminhei até ele e parei um pouco mais afastada.
— O que foi? — sussurrei e minha voz vacilou.
Estava óbvio que havia algo de errado comigo, mas eu não fazia
ideia do que iria acontecer se contasse. E, pela maneira cheia de
raiva que ele me olhava, tinha medo de como poderia reagir.
Chris me olhou de cima a baixo, como se averiguasse todo o
meu corpo. Ele inspirou fundo e se aproximou de mim novamente.
Como se me testasse, ele envolveu sua mão em meu pescoço. Fiquei
inteiramente tensa e fechei os olhos.
— Conta — exigiu.
— Não há nada para contar — hesitei por um segundo.
— Conta de uma vez.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Devagar, mirei meu olhar no seu, sentindo um grande peso neles


apenas por me olharem.
— Não tem nada, Chris.
Ele aproximou seu rosto e torci para que não me fizesse nada.
Sua respiração quente se chocou em minha pele, pressionando-me a
falar.
— Agora — proferiu lentamente, de um jeito perturbador e
autoritário.
Apertei as pálpebras, tremendo.
— Você — soprei.
Christopher ergueu meu queixo para ele, me obrigando a olhá-
lo.
— Preciso que seja mais clara comigo — insistiu.
— Tive um pesadelo com você — expliquei, choramingando.
Christopher enfureceu-se.
— Quando? — disse entre os dentes.
— Na noite da festa, depois que foi embora da minha casa.
— Isso já faz uma semana, caramba! Por que não me contou?
— brigou.
— Eu fiquei com medo. — Não pude conter as lágrimas que se
derramaram a seguir.
Chris voltou a andar, fazendo-me recuar até que estivesse
encurralada na parede.
— Sempre me conte tudo, Dingo. Sempre!
— Nã-não sabia como te contar isso.
Christopher tombou a cabeça para trás, apertando os dentes.
Seu maxilar tornou-se rígido, e a respiração pesada.
— Puta merda — rosnou baixo.
Ele novamente me encarou. Christopher estava extremamente
irritado, e certamente por razão da minha escolha em esconder dele
algo assim.
Não sabia o que fazer, logo, permaneci estática, sentindo meu
corpo ser ameaçado.
Às vezes eu esquecia como era tão fácil sentir medo dele.
— Eu nunca vou te machucar — garantiu. — Nunca.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Seu corpo relaxou, e seu olhar lentamente voltou a transbordar


cuidado.
Christopher segurou o meu rosto e beijou a minha testa de
maneira terna e carinhosa. Em seguida, se afastou, dando-me
espaço. Talvez estivesse com medo de estar me sufocando.
— Não posso ficar para o seu aniversário, estou completamente
fodido hoje. Vou ter que trabalhar até tarde da noite — avisou,
exausto. — Mas, se precisar de algo, me ligue.
Baixei o olhar.
— Chris — enunciei baixinho. — Obrigada por vir.
Ele assentiu.
— Sempre que precisar, amor. — Ele sorriu de leve. — Seu
presente chegará hoje mais tarde, assim que chegar da escola. —
Ele beijou a minha boca e em seguida tocou o meu queixo. — Não
tenha medo de mim, amor.
— Tenho certeza de que jamais me machucaria... você jamais
faria isso — afirmei, olhando-o nos olhos.
Chris segurou o meu rosto entre as suas duas grandes mãos.
— Jamais, Dingo — arfou.

Apenas quando cheguei da escola, que vi um modesto pacote


pardo na sala, endereçado a mim, com o remente Christopher
escrito no cartão de aniversário.
Quando o rasguei, encontrei uma caixa azul marinho, oval e com
uma textura aveludada.
Nela, o nome "Stekra" estava em evidência, bordado na cor
prata. Aquela era a maior joalheria que existia em Nabrya, tão
famosa aqui, quanto em qualquer outro continente.
Já havia visto vários famosos adquirirem joias daquele lugar, até
mesmo mamãe queria usar algo dali, mas os valores de tudo e

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

qualquer coisa eram tão extraordinariamente altos que papai a


limitava de comprar ali.
Meus olhos cintilaram e meu queixou foi ao chão ao abrir a
caixa. Christopher havia me mandado um colar com milhares de
diamantes cravados na peça.
Em um pequeno envelope, havia um bilhete seu, escrito à mão:

O mínimo que ele poderia me dar? Aquilo devia valer mais do


que tudo o que meus pais possuíam em toda a sua vida.
Imediatamente fechei a caixa e a guardei no fundo do meu closet.
Tinha medo até de olhar para algo tão caro assim.
Durante toda a tarde, tentei manter a mente ocupada, no
entanto, meus dedos coçaram até que eu finalmente pesquisasse o
valor do seu presente.
Dizem que: "Cavalo dado não se olha os dentes", mas foi
impossível não querer descobrir. Afinal, os dentes eram de
diamantes, então, sim, eu ia olhar e fazer o check-up inteiro daquele
cavalo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ao acessar a internet e pesquisar pela joia, encontrei os


números mais absurdos de toda a minha vida.
CHRISTOPHER HAVIA ME MANDADO UM PRESENTE NO VALOR
DE CINQUENTA E SETE MILHÕES DE REAIS.
Como caramba ele tinha tanto dinheiro assim?
A minha cabeça estava rodando com aquela informação.
Eu tentei diversas vezes mandar mensagem para ele, mas meus
dedos sempre apagavam tudo o que eu havia escrito.
Tudo o que eu conseguia digitar eram coisas como: "VOCÊ
PIROU DE VEZ", "VOCÊ É LOUCO?" ou "VOCÊ NÃO ASSALTOU A
DROGA DE UM BANCO, NÃO É?"
Por fim, apenas deixei que isso se tornasse uma conversa para
uma outra hora. Debater sobre isso com ele no momento, seria
completamente em vão, visto que ele deveria estar trabalhando feito
um louco.

Durante o fim da tarde, Loren já havia enfeitado todo o nosso


quintal para a minha festa de aniversário.
Ela colocou vários pisca-piscas envoltos nas plantas, mesa e
paredes. Encheu alguns lugares com pequenos balões fofos e
recheou uma mesa inteira com guloseimas.
Ela havia abarrotado de bebidas alcoólicas uma caixa térmica
com a desculpa de que agora eu poderia ficar bêbada com a sua
benção.
Graças aos céus, papai e mamãe saíram para que fizéssemos
uma festa sem eles. Dando-nos um pouco de privacidade.
Após os parabéns, nos reunimos em um pequeno grupo no
jardim. Loren sabia que eu odiava multidões de pessoas em um
mesmo lugar, então convidou apenas os mais íntimos para nós.
Em um círculo estávamos apenas: eu, Loren, Joshua, Claire, Luc
e outras três amigas de minha irmã.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A mais nova estava contando alguma história de quando era


criança, e Loren parecia partilhar algumas de suas aventuras
também, enquanto isso, eu tentava manter um bate-papo com Luc,
que ainda parecia meio distante de mim.
— E então, me trouxe boas notícias? — perguntei, sorrindo.
— Na verdade, te trouxe um caderno de desenhos de presente,
dei para Loren guardar — comentou, tímido.
— Ah, isso vai ser bom. Preciso praticar mais os meus talentos —
brinquei.
Nós dois sorrimos um para o outro, no entanto, esse bom astral
logo morreu e um silêncio estranho se formou.
Aquela conversa era tão mecânica que sequer parecia ter algum
sentido para mim ou para ele.
Eu não queria que ficássemos daquele jeito, antes havia tanto
assunto entre nós dois, e agora era desconfortável me manter perto
dele nessa névoa esquisita.
— E o livro que estava lendo. Está interessante? — tentei
quebrar o gelo.
— Ah, Love in the Dark? Bom, na verdade, estou em uma parte
bem triste.
— Caramba. — Fiz careta. — Espero que isso não estrague a
experiência.
— Na verdade, eu pulei algumas páginas para espiar, e você nem
imagina a reviravolta que tudo isso vai ter. — Ele sorriu, empolgado.
— Adoro reviravoltas emocionantes.
— Eu te empresto o livro quando eu terminar, se quiser. Também
já olhei todo o final da história — confessou.
Luc era muito ansioso e não sabia se conter, até mesmo quando
víamos filmes juntos, ele procurava o final na internet antes dele
terminar.
— E o livro termina feliz? — tive vontade de saber.
Ele abriu a boca para responder, porém, fomos interrompidos:
— Ei, vocês! — Claire chamou alto, ganhando a atenção de
todos nós. — Que tal verdade ou desafio? — propôs.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela adorava essas brincadeiras, mas imaginei que não fosse


querer brincar disso hoje. Estava tão quieta a noite toda que pensei
estar triste. Talvez eu estivesse errada.
Todos em volta concordaram. Eu que já estava meio bêbada
apenas balancei a cabeça.
— Loren, verdade ou desafio? — a ruiva deu início.
Minha irmã pensou por um momento.
— Vou começar com verdade.
— Aposto que a Claire vai se vingar na próxima vez que você
escolher desafio — comentei, sorrindo.
— Nem invente em fazer isso — minha irmã brincou.
— Eu estou doido para fazer uns desafios loucos, então andem
logo com a vez de vocês — Luc apressou.
— Você com certeza não consegue ser tão criativo assim, cara —
Joshua interveio e nós rimos.
— Está bem — Claire se pronunciou, extremamente calma. —
Loren...
— Ai minha nossa! — Loren cochichou, ansiosa e tomou mais
um gole de sua cerveja.
Todos estavam apreensivos, pois Claire, melhor do que ninguém,
conhecia tudo sobre Loren.
— É verdade que gosta de mandar fotos peladas para o meu
namorado? — Claire perguntou, nos deixando confusos.
— Essa foi boa! — Luc riu, sem entender e me juntei a ele.
Era uma perspectiva estranha de se olhar, e tão complicada que
se tornava — de um jeito bizarro —, engraçado. Mas, meu sorriso se
desmanchou quando encontrei o rosto de minha irmã inteiramente
vermelho e sem graça.
— Claire, eu não... — a voz de Loren gradualmente baixou, até
se tornar um completo nada.
Espera aí! Isso estava estranho.
— O que está rolando aqui? — questionei, atordoada.
Olhei para Joshua, que permanecia quieto e calado, com o olhar
baixo de cachorro arrependido.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Lô — a chamei, nervosa. — O que é isso? Estão brincando,


não é? — me apavorei.
Ela levou sua atenção para mim, seus olhos imersos em
lágrimas.
— Me desculpe por isso, Dytto.
Pisquei repetidamente, em choque. Retornei meu olhar para
Claire, que chorava em silêncio.
— Parem de brincar com isso. É sério! Isso não tem graça. —
gritei.
— Não é brincadeira, Dy — a ruiva sussurrou.
— O quê? — Balancei a cabeça.
— Hoje mais cedo, peguei o celular de Joshua atrás de algumas
fotos nossas para fazer um vídeo para você. Mas a sua irmã — Claire
apontou para ela — decidiu que queria fazer uma surpresa muito
maior, mandando fotos da porra da boceta para Joshua, que... — ela
se virou para o seu namorado — inclusive, adorou — sua voz era
carregada de ódio, mágoa e traição.
— Claire, amor... Pelo amor de Deus, me perdoa — ele
sussurrou, choroso.
Eu respirava ofegante, o coração batendo rápido no peito. Todos
em volta estavam tão abismados quanto eu.
— Eu nunca vou conseguir perdoar nenhum de vocês dois —
Claire soltou, amarga e infeliz.
Levantei-me de onde estava e saí apressada, marchando para
dentro de casa.
— Dy — Loren chamou em tom de desespero, mas a ignorei.
Minha irmã me seguiu até a sala.
— Dytto, por favor, me desculpe, eu não queria, eu... Eu só tava
perdida.
Parei no lugar e virei-me para ela.
— Não é a mim que deveria estar pedindo desculpas agora,
Loren — cuspi, incrédula.
— Eu sei, eu sei. — Ela esfregava o rosto repetidamente,
completamente transtornada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— QUE PORRA ESTAVA PENSANDO? ELA É A NOSSA AMIGA,


LOREN — berrei, sentindo a fúria tomar conta de mim. — A SUA
MELHOR AMIGA.
— Eu, eu... Christopher havia me rejeitado, eu estava mal, e o
Joshua, bem, ele estava passando por maus bocados. Nós só
buscamos apoio um no outro, e... rolou. Eu juro que não queria que
isso tivesse acontecido. Eu juro por tudo, Dytto.
Soltei o ar pela boca com força. Estava queimando de raiva.
— NÃO! Não vai culpar o Christopher por isso. Não está certo,
Loren — protestei.
— O que eu posso fazer, Dy? Você me culpa, mas se apaixonou
justamente pelo cara que eu amava. ME DIZ O QUE EU POSSO
FAZER!
As lágrimas desciam incessantemente de nossos rostos. Senti o
meu coração se despedaçar em milhares de pedacinhos.
— Você me apoiou nisso — murmurei, com a voz trêmula de
choro.
— Eu nunca disse que tinha sido fácil pra mim.
Assenti, engolindo em seco.
— Acho que nós duas somos péssimas pessoas com quem
amamos então — declarei, sentindo um nó na garganta.
Ela franziu o cenho.
— Eu não quis dizer isso, Dy — ela se apavorou ao ouvir as
minhas palavras.
Balancei a cabeça e busquei pelas chaves do meu carro,
correndo para fora de casa.

Sentia que não iria aguentar nem mais um minuto esperando.


Desesperada, esmurrei a porta de sua casa com força. Minha
mão estava vermelha com a força que eu a golpeava.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Estava muito frio, e eu havia vindo sem nenhum agasalho. Uma


leve garoa derramava-se do céu, cobrindo-me de pouco a pouco.
Ventava forte, e o céu estava nublado. Meu corpo inteiro estava
dormente e a ponta do meu nariz e dedos pareciam estar prestes a
congelar.
A porta finalmente se abriu, revelando um Christopher confuso e
cansado. Seus olhos estavam fundos e avermelhados devido a horas
de trabalho.
Ele rapidamente me agarrou pelo braço, me puxando para
dentro. Assim que fechou a porta, dedicou-se totalmente a mim,
esfregando as mãos em meus cabelos. O aquecedor estava ligado, e
a temperatura ali dentro me trouxe alívio.
— O que que aconteceu? Você está bem? Se machucou? —
disparou, preocupado.
— Christopher... eu estou pronta — avisei-o, séria.
Ele uniu as sobrancelhas, em uma confusão explícita.
— Pronta? — repetiu, aturdida.
— Eu quero que faça sexo comigo — esclareci.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

17 de Abril | Quarta-feira

Dytto me encarava ansiosa. Os lindos olhos grandes e verdes


cheios de lágrimas. O rosto inteiramente tingido de rubro.
Sua respiração era descompassada e a sua pele estava gelada.
Seus lábios mantinham-se entreabertos e o seu corpo parecia tenso
entre os meus braços.
Entrei em estado de alerta. Perturbado com hipóteses do que
quer que tivesse acontecido.
— Do que está falando, Dingo? — exprimi, confuso.
Minha garota nunca tomaria uma decisão tão importante para si
de um momento para o outro. Ainda mais assim, tão desesperada e
aflita.
Sexo com penetração ainda lhe era uma ideia muito dolorosa
para que ela aceitasse assim, tão de repente, sem nenhum motivo
aparente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela não parecia excitada, tampouco perto de estar.


— Eu quero fazer sexo com você, Christopher — repetiu, num
sussurro quase inaudível.
Franzi o cenho, preocupado.
Tinha algo a mais nessa história. Podia sentir a sua mágoa e
todo o sofrimento estampado em sua aura.
Ela não veio à procura de sexo. Ela veio atrás de algo para livrá-
la do tormento que sentia. Toquei o seu rosto com delicadeza e
deslizei os dedos por toda a sua bochecha, agora, úmida de
lágrimas.
— O que está acontecendo? Alguém te feriu? — Ela negou. —
Brigaram com você? — Ela sacodiu a cabeça. — Tentaram alguma
coisa?
— Não foi nada com que deva se preocupar — respondeu.
— Se algo te atinge, isso se torna um problema meu.
Ela suspirou baixinho e deitou a sua cabeça em meu peito.
— Deu tudo errado hoje — murmurou chorosa e eu me agarrei a
ela com destreza.
— Amor, me conta o que que está acontecendo.
— Christopher, eu não quero te chatear com isso, por favor, não
me faça contar — pediu, soluçando.
Inspirei fundo. Eu não sabia até que ponto deveria insistir antes
que ela desmoronasse ou saísse correndo.
Peguei-a pela cintura e a ergui em meu colo num gesto rápido.
Ela deitou a cabeça em meu ombro e fechou os olhos. Seus cabelos
castanhos se derramaram em meus braços.
Levei-a para o meu quarto, onde a deitei com cuidado no
colchão. Ela se encolheu e abraçou as pernas. Aconcheguei-me logo
atrás.
— O que aconteceu? — investiguei, novamente, abraçando o seu
corpo magro.
— Eu não vou te contar. Você vai ficar bravo.
Imediatamente senti a raiva me dominar. Se ela estava com
medo de que eu fosse ficar irritado, então alguém havia lhe feito
algo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Me conta o que fizeram com você — irritei-me.


Era difícil manter a paciência quando tudo o que eu queria era
que ela se mantivesse sã e salva. No entanto, Dytto não era do tipo
que adorava me avisar que porra andava acontecendo com ela
quando eu ficava longe.
— Por favor! É melhor não.
— Eu já te disse para não esconder nada. Pare de ser teimosa!
— esbravejei.
Ela virou o seu corpo em minha direção.
— Transe comigo — pediu.
Não tive tempo de a responder. Dytto pulou em meu corpo,
sentando-se sobre mim. Ela agarrou o meu rosto e enfiou seus lábios
nos meus com afobação. Seus quadris se movimentavam, rebolando
em cima do meu pau. Ela estava me provocando e sabia disso.
Porra! Dytto me deixava tão louco, excitado e bravo.
Joguei-a no colchão novamente e montei em cima dela,
aprisionando seus dois braços com uma mão.
— Não vou fazer transar com você se não vai me dizer a
verdade.
Com a mão livre, segurei o seu queixo.
— Então é melhor começar a falar — ditei, sério.
Ela tentou se afastar, mas meu peso a impedia de se
movimentar.
— Não vai sair enquanto não me contar — ameacei.
Dytto encarou os meus olhos, apática. Sem a menor intenção de
revelar nada. Aquilo me enfureceu.
Assenti, rude.
— Tudo bem. Eu vou até a sua casa descobrir sozinho o que
aconteceu. — Fiz menção em me afastar, e prontamente ela reagiu.
— Não! — protestou.
Levantei-me de cima dela e sai da cama. Dytto saltou do colchão
e rapidamente se pôs à minha frente.
Ela colocou as suas duas mãos em meu peitoral e se esforçou
para me empurrar, notando o seu empenho em me fazer retornar,
deixei que ela levasse meu corpo de volta para o colchão.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não vá até a minha casa — pediu, desesperada.


— Se me disser o que aconteceu, posso considerar o seu pedido
— propus.
— Merda — cochichou.
Dytto deixou que a sua cabeça tombasse para o lado e encaixou
o seu corpo entre o meio de minhas pernas. Ela descansou as suas
mãos em meus ombros, e eu pousei minhas mãos em seus quadris.
— Loren estava tendo um caso com Joshua, namorado de Claire
— deu início, visivelmente magoada.
Bom, não era como se isso fosse uma grande novidade para
mim, eu já sabia há um bom tempo.
— E, bem, a Claire achou que minha festa de aniversário seria o
momento perfeito para contar isso. — Ela curvou um sorriso triste.
— Loren basicamente disse que a culpa de ter começado isso, era a
sua rejeição por ela. E depois me disse que eu não poderia culpá-la,
porque eu me apaixonei por você. E, agora, eu sou a pior irmã do
mundo, e ela, a pior amiga.
Eu vou matar aquela filha da puta.
Os olhos de Dytto se encheram de lágrimas.
— Eu me sinto péssima com tudo isso, Chris.
— Não chore, amor.
Ela esfregou os dedos em seu rosto, enxugando as gotículas de
lágrimas que se derramavam sobre as maçãs de sua face.
— Eu só quero esquecer isso — arfou. — Amor, me faça
esquecer esse dia — choramingou.
Ela se sentou de frente para mim em meu colo e passou seus
braços em volta dos meus ombros.
— Eu não quero que a única lembrança do meu aniversário seja
o que aconteceu. Eu quero algo bom para eu me lembrar.
Christopher, por favor, eu preciso de você.
Era difícil ser o que ela precisava agora, visto que ela estava
fazendo isso por emoções descontroladas. Ela não estava em si. E eu
odiaria saber que poderia se arrepender disso mais tarde.
— E eu estou aqui por você — declarei.
— Não, não assim. Eu quero que faça amor comigo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Sua primeira vez merece ser menos horrível do que isso. —


Coloquei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. — Vamos
esperar para fazer isso quando estiver pronta.
Ela balançou a cabeça.
— Eu quero que seja assim — afirmou com seriedade.
— Não está pensando direi...
— Você me disse que estaria à minha disposição. Cumpra com a
sua palavra!
Mordi a bochecha com força.
— Eu não quero te foder só porque está mal. Por que você não
entende isso? — vociferei, grosseiro.
Precisava despertá-la de uma realidade que não existia. Sexo
definitivamente não a deixaria melhor, apenas mais culpada.
— Porque sou eu quem decido quando vai ser a minha primeira
vez — berrou. — E se não vai fazer isso por mim, então não se
importa comigo tanto quanto me prometeu.
Ela não estava jogando limpo.
— Quer que eu te coma? É isso o quer, Dingo? Me diga! Porque
isso não vai ter mais volta depois que acontecer — soltei, entre os
dentes.
Ela ergueu o seu rosto.
— É o que eu quero, Chris.
Balancei a cabeça, incrédulo com o seu desespero.
— Então eu vou te foder até que esqueça de toda essa merda —
rosnei.
Seu rosto se enrubesceu.
— Faça isso — determinou nervosa, ela estava tremendo.
Esfreguei os dentes com rudeza em meu lábio inferior.
— Levante — ordenei, e ela o fez.
Coloquei-me de pé, andando de um lado para o outro no quarto.
Pensando em como faria isso dar certo.
Dytto permaneceu no lugar, sem jeito, acompanhando-me com
os olhos, curiosos e tímidos.
— Tire a sua roupa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Seus olhos se prenderam aos meus por um longo tempo, até


que ela finalmente começou.
Dytto retirou o seu vestido e o deixou cair sobre o carpete. Em
seguida, ela logo abriu o sutiã, deixando seus lindos e delicados
seios à mostra. Por último, ela tocou a borda de sua calcinha
horrorosa e a livrou de seu corpo.
Dytto saiu de cima de sua pequena pilha de roupas e as chutou
para um canto.
Sua nudez era tão linda que me atordoava. Cada detalhe seu me
impressionava. Suas belas curvas e marcas eram de tirar o fôlego.
Dytto era uma garota magra, de cintura fina, seios pequenos e
quadris largos. Possuía uma belíssima e deliciosa bunda arrebitada.
Porra! Eu me odiava por querer comê-la nessa situação, e estava
puto com ela por deixar que isso acontecesse.
— Já — avisou, como se eu não tivesse acompanhado cada
mínimo movimento seu.
— Deita. — Apontei para o colchão.
Dytto caminhou até a beirada da cama e, com cuidado, deitou-
se.
Era cruel ver toda aquela cena; minha garota toda nua na minha
cama, pedindo para que eu a fodesse. Me entregando a sua
virgindade como se não fosse mais nada para ela, apenas para que
eu a fizesse sentir algo.
— Agora abra bem as suas pernas.
Ela virou o seu rosto para mim, os olhos meio arregalados e as
bochechas vermelhas.
— Você não vai...
— Abre.As.Pernas — eu disse, dessa vez, mais sério.
Ela puxou o ar com força. A respiração estava bem acelerada e
entrecortada. Sua barriga subia e descia rapidamente. Seus dedos
apertavam o lençol da cama em busca de calma e ela mordia os
lábios sem gentileza.
Bem devagarinho ela afastou as suas coxas, deixando-as bem
abertas para mim. Dytto ergueu sua cabeça para o alto, encarando o
teto, como se não fosse capaz de nem mesmo conseguir ver aquilo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Isso vai doer — avisei.


— Eu sei — arfou.
— Muito — acrescentei.
Dytto não respondeu, estava apavorada. Parecia estar
imaginando que eu apenas iria tirar o pau para fora e enfiar de
qualquer jeito.
Sorri de canto.
— Eu vou te preparar antes, Dingo. Não sou um monstro —
informei, notando a tensão em cada centímetro do seu corpo. — Não
vou meter até que esteja pronta.
Percebi o alívio que tomou o seu rosto. Dytto me olhou nos olhos
e curvou um pequeno sorriso.
— Certo. — Suspirou.
— Se não suportar, eu paro. Mas se sentir que aguenta, não me
peça para parar. Ouviu?
Ela concordou.
Caminhei até estar diante dela e toquei os seus joelhos. Vagueei
o olhar pelos seus seios, desci para a sua barriga e os levei até o
meio de suas pernas.
Sua boceta estava depilada e incrivelmente atraente. Sentia o
meu pau se contorcer na calça.
Até pouco tempo atrás, eu estava esgotado com tantas
obrigações pendentes, mas apenas de vê-la assim, meu corpo inteiro
se energizava. Meu pau já estava duro feito pedra e doía.
Coloquei minha mão em sua virilha e brinquei com os dedos ali,
provocando ao redor de sua intimidade. Seu corpo estremeceu.
— Tente não gritar muito. Não quero os vizinhos chamando a
polícia — avisei com um sorriso torto e ela me olhou assustada.
Dytto tentou fechar as penas, mas as segurei.
— Feche as pernas e você apanha até sangrar.
Ela assentiu, aterrorizada com a ideia.
Me ajoelhei no chão e agarrei a parte detrás de seus joelhos,
puxando-a para mais perto de mim.
Com a ponta da língua, tracei um caminho da parte interna de
sua coxa até a sua virilha. Chupei todo a sua pele durante o trajeto,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

deixando pequenas marcas avermelhadas, que logo se tornariam


lindos chupões.
Dytto se moveu, excitada, e eu sorri.
Levei minha boca até o seu pequeno clitóris e passei a língua de
leve naquele ponto de prazer. Ouvi-a suspirar e repeti o gesto.
Ela me desejava loucamente ali, estava ansiosa e queria mais.
Suguei o seu clitóris com delicadeza e escorreguei a língua entre
os lábios de sua boceta, deliciando-me de seu gosto.
Dytto soltou um delicioso gemido que quase me fez colocá-la de
quatro para fodê-la.
Circulei novamente o seu clitóris e fiz mais pressão com a língua,
em pequenos círculos. Ela jogou os quadris para frente, como se
implorasse por mais.
Beijei-a naquele ponto íntimo como um beijo de língua lento e
quente. Ela adorava quando eu a chupava devagarinho, estimulando
cada terminação nervosa de sua intimidade.
Dytto gemia baixinho e gostoso. Meu pau era atormentado
dentro das calças, dolorido. Eu queria muito meter nela.
Soprei uma rajada de ar quente em sua boceta e ela se
empertigou e mordeu os lábios.
Dytto tentou erguer o corpo para olhar o que eu fazia. Parecia
curiosa.
— Quer assistir eu te fazendo um oral, princesa? — provoquei,
com um sorriso perverso mascarando os lábios.
Suas bochechas ruborizaram.
Voltei a minha atenção para o que eu fazia e beijei o seu clitóris,
fiz isso mais uma vez, em seguida, deslizei a ponta do nariz em toda
a sua abertura.
Lentamente inseri a língua em sua entrada. Enfiei nela o máximo
que consegui. Dytto agarrou os lençóis e os apertou com força.
— Chris... — Como eu amava Dytto gemendo o meu nome.
Afastei o rosto por um instante, apenas para olhá-la se
contorcendo de prazer.
— Eu ainda nem fiz nada, anjo — aticei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela não respondeu. Seus olhos mantinham-se fechados e os


lábios entreabertos, ofegando.
Aumentei a sucção de minhas chupadas e ela agarrou o meu
cabelo com força, pressionando meu rosto entre as suas pernas.
Puta que pariu, eu adorava quando essa garota implorava por mim.
Sentir o gosto de Dytto em minha língua era uma delícia. Toda
aquela boceta melada deslizando em minha língua, mexendo com o
meu pau de uma maneira insana. Caralho!
Quanto mais eu a chupava, mais a minha garota gemia. Joguei
suas pernas sobre os meus ombros e a puxei, afogando a sua
intimidade na minha língua. Eu a fodi com a minha boca até que
suas pernas começaram a tremer, desejosa. Ela estava tão perto de
gozar.
Enfiei o dedo do meio dentro dela e acelerei os meus
movimentos. Fui preciso e rápido. Queria comer ela com força.
Ouvir os sons molhados que sua boceta fazia quando eu socava
o dedo dentro dela me deixava louco.
Dytto estava tão encharcada que acabou molhando a cama.
Precisei me conter para que o pior de mim não viesse à tona e a
fodesse feito um louco.
Quando ela gozou, soltou um gemido manhoso e calmo.
Definitivamente aquele havia acabado de se tornar o meu som
favorito de todos os tempos. Conseguiria ouvi-lo pelo resto da vida
sem nunca me cansar.
Retirei suas pernas de meus ombros e as coloquei com cuidado
no colchão.
Beijei a testa da sua boceta e ergui os olhos para ela.
— Está pronta, meu amor?
Seu corpo estava quente, suado e cheio de marcas vermelhas.
Ela respirava com dificuldade e a voz falhava ao tentar se comunicar.
Ela assentiu.
— Sim, estou — conseguiu dizer.
Levantei-me de onde estava e fui até a cama sentar-me ao seu
lado. Ela se ajeitou ao meu lado e sorriu.
— Isso foi incrível, Chris. Você é sempre incrível — admirou-se.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Toquei o seu corpo suado e acariciei sua pele nua.


— Tem certeza de que quer perder a sua virgindade hoje? — eu
precisava conferir.
— Eu tenho, Chris. — Ela pôs sua mão sobre a minha. — Não há
nada que eu queria mais além de você.
Levei minha mão ao seu queixo e puxei seu rosto para mim,
depositando um beijo calmo em seus lábios.
— Eu vou sempre me importar com você — soprei, sincero.
Ela sorriu e passou os braços em volta dos meus ombros, me
beijando ainda mais intensamente.
Quando me afastei, Dytto, que estava meio sentada, lentamente
escorregou na cama, deitando-se completamente. Aproveitei do
momento para arrancar a camiseta do corpo, tão logo puxei a minha
calça e a cueca de uma só vez.
Meu pau ganhou vida quando me livrei das peças de roupas, já
ereto.
Apressadamente, retirei uma camisinha da cômoda ao lado e a
passei em volta do meu pau.
Dytto encarava-me como da primeira vez, completamente
chocada.
Essa reação sempre seria cômica para mim. Dytto foi a primeira
garota a qual precisei implorar tanto. Mas valeu a pena cada
segundo.
— Vai doer muito, não vai? — perguntou, insegura.
— Vai sim, Dingo Bells.
Ela engoliu em seco.
— Daremos um jeito — murmurou.
Sorri com a sua autoconfiança.
Deitei-me sobre ela e afastei as suas pernas, posicionando-me
bem entre elas. Dytto, nervosa, enfincou sua unha no meu braço e
fechou os olhos com força.
— Sem pressão, amor — brinquei, rindo de sua reação.
Encostei a ponta do meu nariz no seu e ela ergueu as pálpebras.
Seus olhos miravam-se nos meus, melindrosos e assustados.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não precisa ficar assim. Juro que vai dar tudo certo —
assegurei-a.
— Preciso que me beije — pediu, apavorada.
Me ergui sobre ela e toquei os seus lábios com os meus. Beijei-a
com veemência, até que ela se perdesse o suficiente para se distrair.
Quando Dytto já estava mais calma e com os pensamentos
longe, posicionei meu pau na sua entrada.
Por um instante, ela se assustou e estremeceu, mas continuei a
beijá-la. Esfreguei meu pênis em sua boceta, estimulando-a, até que
se permitisse se acalmar.
Quando Dytto relaxou os músculos, movi meu pênis para dentro
dela, enfiei apenas um pouco antes dela abrir a boca e apertar seus
dedos em meu braço.
Fiz pressão, conseguindo colocar um pouco mais de mim nela.
Dytto soltou um suspiro rasgado e doloroso quando me sentiu
penetrando-a. Meu pau era grosso, isso definitivamente não tinha
como não doer.
Mordisquei seus lábios e beijei o seu pescoço. Levei o meu dedo
ao seu clitóris e o estimulei até que a densidade de seu medo se
diluísse.
Me mexi um pouco mais quando ela se soltou. Soquei um pouco
do meu pau em sua boceta, e ela soltou um gritinho.
— Dói — murmurou chorosa, os olhos tornando-se vermelhos.
Puta merda! Odiava vê-la sentindo dor.
Encostei meu rosto em seu seio e o coloquei em minha boca,
esfregando a língua em sua aréola.
Dytto ainda estava incomodada com a dor, mas pareceu
esquecer um pouco dela, dando-me tempo para enfiar mais, desta
vez, fui mais a fundo, enfiando bem mais de mim de uma só vez.
Quase metade do meu pau estava dentro. Às vezes era uma
maldição ser tão abençoada neste lugar.
Ela sufocou um grito com a mão e fechou os seus olhos com
força. Uma lágrima solitária escorreu de seus olhos.
— Amor — murmurei, afastando mechas de cabelo do seu rosto.
— Você quer parar?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela me encarou, os olhos inundados em lágrimas, e o rosto


inteiramente avermelhado. Dytto estava ofegante.
— E-eu quero tentar mais um pouquinho — sussurrou, trêmula.
Assenti.
Meti mais, chegando na metade do meu pau. Ela tentou
encolher as pernas e esconder o rosto nas mãos, encobrindo as
lágrimas que agora desciam sem freio.
Dytto chorou baixinho, sufocando o barulho com as palmas.
Remexi os quadris, fazendo movimentos lentos de entra e sai.
Ela não se mexeu, mas percebi que fazia um grande esforço para
isso.
Me senti ainda mais duro sentindo a sua boceta me apertando
gostoso. Arfei baixo sentindo uma longa onda de prazer.
Apertei a coxa de Dytto e mordi os lábios. Cada vez mais,
querendo a foder com força, entretanto, contendo cada pensamento
sujo que surgia em minha cabeça.
O tesão aumentava gradualmente a medida em que me movia.
Dytto soluçou alto, mas prendeu o choro no mesmo instante.
Continuei a meter nela. Pouco a pouco aumentando meus
movimentos. Suas pernas tremiam. Rebolei devagar dentro dela.
Dytto estava toda vermelha e inquieta na cama. Tudo o que eu fazia
parecia empertigá-la ainda mais.
Remexi meu pau mais devagar, mantendo o cuidado de não ser
bruto. Ela respirou fundo e afundou o rosto no travesseiro ao seu
lado.
Após um tempo no mesmo ritmo, aumentei as estocadas e forcei
mais de mim dentro dela. Ela recuou o quadril, expulsando-me.
O seu rosto estava franzido em uma expressão dolorosa. Porém,
segurei suas pernas, para que não se afastasse.
— Christopher — choramingou. — Tá doendo muito — arfou, as
lágrimas descendo em seu rosto.
Parei de me mexer e beijei a ponta de seu nariz.
— Quer parar? — sugeri.
Ela balançou a cabeça, concordando.
— Está bem, meu amor. Vamos parar por aqui — afirmei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Segurei meu pau e devagarinho o tirei de dentro dela. Notei o


sangue envolto na camisinha, mas não o mencionei para que ela não
ficasse constrangida.
Dytto fechou as suas pernas no mesmo instante e esticou os
pés.
— Eu não consigo mais continuar. Eu realmente tentei não parar,
me desculpa — lamentou, em meio ao choro.
— Ei, não se desculpe. — Beijei a sua bochecha, molhada pelas
lágrimas salgadas.
A puxei para os meus braços e abracei-a com força.
— Está tudo bem, Dingo Bells. Está tudo bem. Não esperava que
fosse ir até o fim na sua primeira vez. Não se preocupe. — Tentei a
acalmar enquanto a acalentava em meus braços.
Beijei a sua nuca. Seu corpo inteiro tremia quando ela soluçou.
— Anjo, está tudo bem — repeti, baixinho.
— Eu realmente tentei — ela arfou.
— Eu sei, querida. Eu estou orgulhoso de você — garanti.
Ela se enfiou ainda mais em meu abraço, encolhendo o seu
corpo.
Por um longo tempo, ela permaneceu parada e sensível. Afaguei
as suas costas, sempre beijando o seu ombro e testa até que ela se
acalmasse por completo.
Quando Dytto finalmente me olhou nos olhos, ela aparentava
estar mais relaxada, porém, ainda sentida. Toquei o seu rosto para
enxugar as suas lágrimas enquanto ela me encarava.
— Está se sentindo bem? — investiguei.
Ela umedeceu os lábios. Suas pálpebras estavam inchadas e
vermelhas.
— Me sinto dolorida — confessou.
Eu me sentia tão culpado por aquilo. Não devia ter deixado isso
acontecer.
— Quer algo, Dingo?
— Apenas que você me abrace.
Me rendi ao seu pedido. O que acabou se prolongando pela noite
inteira com nós dois abraçados.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

18 de Abril | Quinta-feira

— Não brinque com a comida, As — murmurei, retirando de sua


mão o pequeno bolinho de panqueca que ele havia amassado.
Ele fez beiço e Dytto caiu na risada. Ela estava adorando a
companhia dele. Sentia-se confortável agora que o conhecia um
pouco melhor.
Sua tia, Marcelia, havia o entregado para mim esta manhã.
Estava exausta e estressada, mas aliviada por ser a última vez que
teria ele em sua responsabilidade. Agora, Asafe seria só meu... e da
Dingo "dele". Bufei com esse pensamento.
Assim que abri a porta mais cedo para pegá-lo, os seus grandes
olhos se arregalaram, tingindo-se de um brilho único, não por me
verem, mas por encontrarem a linda garota de cabelos castanhos
logo atrás de mim.
Dytto não estava acordada há muito tempo, e se assustou com a
visita do pequeno/grande rapaz de última hora, mas não hesitou ao

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

pegá-lo no colo.
Meu filho não desgrudou dela nem por um único minuto. Ela, por
outro lado, não se incomodava em receber tanta atenção.
Mas eu me incomodo, As. Eu me incomodo em dividi-la.
— Eu vou buscar água para ele — ela avisou, sorrindo, e deixou
de lado o pano de fralda que usava para limpar a sujeira no rosto do
diabinho.
Olhei para Asafe, que mantinha os olhos centrados na televisão
à sua frente. Ele não era uma criança que gostava de assistir
desenhos infantis, parecia se interessar mais por noticiários de
mortes, roubos e tragédias. Isso o entretia o suficiente para não ter
sequer notado que a minha namorada havia saído do seu lado.
— Asafe, não fuja daí, não mate ninguém e nem coloque
nenhum objeto estranho na boca — avisei-o antes de me levantar,
mas ele tampouco se importou para o que eu dizia.
Fui atrás de Dytto, que estava apoiada no balcão, servindo uma
mamadeira com água. Era engraçado vê-la bancar a madrasta.
Bom, era meio sexy também.
Encostei-me atrás de seu corpo e beijei o seu ombro. Ainda não
havíamos tido tempo para conversarmos sobre noite passada, mas a
sentia diferente hoje.
Fui o primeiro a acordar, e vê-la lindamente nua, abraçada ao
meu lençol, foi de tirar o fôlego. Pouco tempo depois, Dytto acordou,
atordoada. Ela procurou pelo seu celular, para avisar aos seus pais
sobre o seu sumiço, mas eu já havia conversado com o seu pai,
Theo, e a cretina da Loren.
Foi bom ver Dytto aliviada ao perceber que seu pai estava "bem"
em saber que sua filha estava na minha casa, mas ela logo percebeu
a minha presença, sentado na poltrona do quarto, com uma xícara
na mão, e ficou tímida.
Dytto ficou trancada no banheiro por pelo menos meia hora
antes de conseguir alguma coragem para me ver novamente.
Somente quando meu filho chegou, que ela pareceu mais à
vontade com a minha presença. Estava envergonhada por não ter

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

conseguido terminar o que havia começado ontem. Eu não a culpava


por nada, mas Dytto, sim.
— Chris... — ela sussurrou, num aviso furtivo para que eu não
passasse dos limites.
— Como está a sua boceta hoje, amor? — perguntei e ela me
olhou estarrecida.
— Não pode ser um pouco mais... discreto? — disse sarcástica.
A expressão em seu rosto me fez ter vontade de gargalhar.
Algumas semanas juntos e ela ainda não havia se acostumado
comigo.
Sorri para ela.
— Como está a sua florzinha? — zombei, rasgando um sorriso
torto nos lábios.
— Credo. — Ela riu e escondeu seu rosto no meu peitoral. —
Estou... sensível — cochichou.
Apertei-a em meus braços e beijei o topo de sua cabeça.
— Vai demorar um pouco até que se acostume comigo, mas
podemos continuar tentando até se sentir confortável — sugeri,
descendo as mãos para a sua cintura.
— Eu gostei do que nós fizemos, só não acho que somos assim
tão compatíveis, quando se trata do seu... — ela pigarreou e olhou
para o meio de nós.
— Pau?
Dytto arregalou os olhos e olhou sobre os ombros, apenas
quando não encontrou nenhum sinal de Asafe hipoteticamente nos
flagrando, que ela voltou seu olhar para mim.
— Não fale essas coisas com As em casa. Ele é um bebê.
— Amor, ele não está nos ouvindo.
— Como sabe disso? — ergueu uma sobrancelha.
— Eu sinto quando há outros demônios por perto. E As está bem
quietinho... bom, quietinho não, porque agora eu sinto ele agitado,
deve estar vendo alguma coisa animada.
E, com "coisa animada", poderia ser um desastre nuclear,
alguém destroçado ou um canal gospel. A última era a menos

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

provável, eu havia bloqueado todos os canais de pastores que a rede


de televisão fornecia.
— Sente mesmo as pessoas? — ela quis saber, curiosa.
— Sim, eu já havia lhe dito isso.
— É, mas, eu não pensei que fosse de verdade. Imaginei que
estivesse falando de um jeito romântico.
— Acha que eu minto para você, garota? — brinquei.
Ela mordeu os lábios.
— Talvez.
Encostei minha testa na sua.
— Você é a única pessoa que conhece a minha verdade.
— Omitir também é mentira.
— Não, não é.
— É, sim.
— Eu não vou discutir isso. — Suspirei, afastando o rosto.
— Está bem. Mas, se você sente as pessoas, deve sentir tudo o
que eu sinto, não é?
— Absolutamente tudo.
Ela engoliu em seco.
— Até quando eu estou excitada? — sussurrou.
— Por que acha que eu a visito em seu quarto?
— Por que você é um maluco?
Uni as sobrancelhas.
— Te visito porque você me quis desde quando me viu na
floresta — esclareci.
Ela abriu a boca, surpresa. Não imaginava que eu sabia
exatamente o que ela havia sentido quanto a mim.
— Ah! — suas bochechas ruborizaram. — Então por que parecia
que não queria falar comigo aquele dia?
— Eu estava atrás de outra coisa.
— Humm... uma outra possível ficante? — chutou, enciumada.
— Um demônio, Dy. Estava atrás de você.
Ela arregalou os olhos.
— Tinha mais alguém lá? — entrou em alerta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você é um como uma peça rara, Dingo Dingo. Atrai eles


naturalmente.
Ela esfregou os dedos nos lábios, estava tremendo.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que, se não fosse eu a te encontrar naquela
floresta, seria outro.
— Quem?
— Não importa, já foi para o inferno. Mandei de volta bem
rapidinho. — Estalei os dedos.
— Chris, você está me deixando com medo — murmurou, a voz
trêmula.
Coloquei minhas duas mãos em sua face.
— Você me tem para te proteger, querida. Ninguém toca em
você se não passar por mim antes.
Ela fechou os olhos e respirou fundo.
— Eu não gosto de nada disso.
— E não precisa. Pode viver a sua vida normalmente. Eu vou
estar sempre aqui para cuidar de você.
— O que ele teria feito comigo se você não tivesse aparecido
naquela floresta, Chris?
Beijei a ponta do seu nariz.
— As ainda está esperando a água dele — lembrei-a.
Ela suspirou.
— Não vai me contar? — sussurrou.
— Não, amor. Eu não vou.
Ela assentiu.
— Deve ser algo bem ruim então — concluiu.
Beijei os seus lábios, desviando-me de sua curiosidade.
— Tudo bem, então. Eu já vi que não posso mais lutar contra
nada disso — cedeu.
— É. Não pode.
— E também, que você não mais me largar — provocou.
— Nunca.
— E que também não vai me deixar conhecer outros caras.
— Vão morrer antes de terminarem o primeiro cumprimento.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E se eu quiser te deixar? — incitou, maliciosa.


— Arranco a sua cabeça fora.
Ela assentiu.
— Bom saber, diabão.
Virando-se, ela pegou a mamadeira de As e voltou para a sala de
jantar. Me juntei a ela logo em seguida.
Asafe estava mastigando o controle da televisão quando
voltamos. Dytto prontamente retirou dos pequenos dentes dele e o
entregou a mamadeira.
— Você não pode colocar isso na boca, está bem? — ela
gentilmente pediu a ele, mostrando-lhe o objeto.
— Não pode? — ele insistiu.
— Não, não pode. Você pode se machucar — ela dizia,
acariciando as bochechas dele. — Pode ser?
— Pode, Dingo — As concordou rápido.
Então era só ter um rostinho bonitinho para ele finalmente
obedecer?
Ela olhou para mim, culpando-me pelo apelido dado. Apenas dei
de ombros e sentei-me à mesa.
— As, conte para a Dingo o que você fez de presente para ela.
Ele abriu os lábios, em um sorriso gigantesco.
— Bolinho — gritou, animado.
— Me fez um bolinho? — ela disse, alegre.
Pobre inocente.
— Um bolinho de cérebro — expliquei.
Ela enrugou a testa.
— Como se faz um bolinho de cérebro? — ela sorriu.
— Com cérebro. De rato — contextualizei.
Suas sobrancelhas saltaram.
— Rato? — ela olhou para mim, depois para o As, depois para
mim novamente, chocada. — Rato — repetiu, quase inaudível.
Quis rir, mas me contive.
— É por isso que ele não para de amassar a panqueca. Está
viciado em fazer "bolinho" — comentei.
Dytto soltou uma risada nervosa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É... bolinhos de cérebro. Bolinhos. — Ela frisou os lábios em


uma linha.
Asafe a encarava intrigado. Não sabia a razão dela não ter
aprovado a sua atitude.
— Bem-vinda a família. — Joguei-lhe uma piscadela.
— E pensar que eu achei que um colar de cinquenta e sete
milhões fosse a coisa mais intrigante que eu fosse ganhar — ela
soltou, atordoada.
— Fazer o que se As e eu gostamos de surpreender a nossa
garota.

Dytto já estava na porta, prestes a ir embora. As estava em meu


quarto, trancado e chorando. Não queria que ela fosse embora, por
isso precisei aprisioná-lo.
Os olhos de Dingo Bells se embargaram em lágrimas ao ver
Asafe chorando. Eu não estou conseguindo lidar com tanta emoção
ao meu redor. Quase a tranquei junto dele para que terminassem
aquilo logo.
Ela soluçou e respirou fundo, engolindo o choro.
— Diga pra ele que eu vou voltar — pediu.
— Hum-huh.
— Diz também que eu não queria que você tivesse trancado ele.
— Seus lábios tremulavam ao dizer.
— Hum-huh.
— Avise a ele que eu gosto muito dele, por favor.
— Hum-huh.
— E que também...
— Minha nossa! Vocês vão se ver já, já — resmunguei.
Ela assentiu, mordendo o canto dos lábios. Fazia um grande
esforço para conter mais lágrimas que insistiam em surgir.
— Acho que já vou, então — avisou, chorosa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Suspirei. Era uma tarefa árdua lidar com alguém tão sentimental.
Dytto se preocupava ao extremo com as pessoas. E As chorar em
sua frente pedindo para que ficasse, não ajudou muito.
Precisei buscar pelo meu lado mais sentimental e amoroso, por
ela.
— Tudo bem. — A puxei pela cintura. — Não se preocupe com
ele.
Ela novamente assentiu.
Puxei seu rosto para mim e curvei-me para beijar os seus lábios.
Me demorei neles o máximo que pude, também não queria que ela
fosse embora.
Chupei os seus lábios e adentrei a sua boca com a minha língua,
queria mergulhar em seu beijo e permanecer. Agarrei o seu quadril
com uma mão, com a outra, enfiei entre seus cabelos e os assegurei
com força.
Ela já estava sem fôlego, eu ofegante. Ambos desejosos, mas
contendo-se ao máximo que podíamos.
Quando me afastei, ela já havia parado de chorar.
— Você é incrível, Dingo Dingo — cochichei, os meus lábios
roçando os seus. — Queria arrancar todas as suas roupas agora
mesmo.
Ela sorriu.
— Só tem um problema — ela ofegou. — Eu não achei a minha
calcinha.
Ri baixinho.
— Oh. Será que foi a que eu queimei antes de você acordar.
Ela fez careta.
— Chris, não pode queimar todas as minhas calcinhas.
— Elas são horrorosas.
— São confortáveis.
— Feias.
Dytto desistiu de discutir, deu de ombros e saiu.
Esperei até que já estivesse dentro do seu carro, e somente
quando ela deu a partida, que fechei a porta e fui atrás de As.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Quando destranquei o quarto, ele estava sentado no canto da


cama, seu rosto ainda estava vermelho e molhado de lágrimas.
Estava sentado com as pernas esticadas e as mãos sobre elas.
Um beiço choroso se destacava em seu rostinho. Suas bochechas e a
ponta do seu nariz estavam avermelhadas. As suas pálpebras
visivelmente inchadas.
— Prometo que ela vai voltar — avisei-o.
Ele fungou, e todo o seu corpo estremeceu. Dei passos em sua
direção e sentei-me na cama. O puxei para o meu colo, envolvendo-
o em meus braços.
As me olhava tristemente, de modo que me fazia sentir dó. Eu
não queria vê-lo tão triste assim.
Penteei seus cabelos negros para trás, enquanto o observava
atentamente. Não havia nada que eu amasse mais do que ele,
porém, eu não podia protegê-lo de seus sentimentos.
Beijei sua testa e ele fechou os olhos.
— Não fique chateado. É normal sentir saudades, mas ela
também tem outras coisas para fazer. Você vai ver ela um outro dia.
— Mas eu queria ela, papai — choramingou, a voz manhosa e
sem ânimo.
— Você terá ela por toda a eternidade, As. Mas não agora.
Ergui-o nos braços e levantei-me com ele.
Asafe ainda chorava em silêncio no meu ombro, embora já não
estivesse mais tão triste, apenas não sabia como administrar a sua
vontade por ela.
Para ele, saudades, ciúmes e possessividade eram sentimentos
correlativos. Todos eles o fazia agir de maneira irracional, e mesmo
que ainda fosse apenas uma criança, sua entidade demoníaca falava
sempre mais alto em decorrência do descontrole emocional devido a
sua pouca idade.
— Sam quer te ver — informei-o.
— Não — respondeu seco.
Minha irmã Samantha não desistia, mesmo com o desprezo de
As por toda a sua gentileza.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela o via como uma criança fofa, e ele a via como uma tia chata.
Era uma relação complicada, mas ambos se amavam.
Eu estava limpando a mesa, com a mão desocupada, quando um
frio na espinha me atingiu. As sentiu o mesmo, pois ficou inquieto
em meu colo, esticando o pescoço em um ato instintivo.
Minha pele doía, num misto de fúria e gelo. Sua presença me era
tão sufocante que exalava em cada cômodo da casa.
Seu terrível cheiro emanava a sujeira em sua podre e perversa
aura.
Num rápido ato, virei-me para trás.
Porra!
O homem da mesma altura que eu estava parado, com as duas
mãos entrelaçadas perante ao corpo. Os olhos castanhos miravam
sobre mim, impiedosos. Seus longos cabelos negros estavam soltos
sobre os ombros. As características asiáticas eram expressivas em
sua face.
Sua pele bronzeada era marcada por enormes tatuagens,
enquanto, em seus braços, havia várias cicatrizes de guerras.
— Não deveria estar em Nefarious? — rosnei, rude.
Ele umedeceu os lábios e devagarinho virou o seu rosto para o
lado.
— Este é o seu filho? — analisou, encarando As com curiosidade.
Sua postura era elegante, mas afiada. Um passo em falso com
ele e suas garras eram atiradas para fora.
Meu filho se empertigava em meu colo, com medo. Da mesma
maneira que eu, denotava com nítida clareza a intenção daquele
monstro em matar.
— Meu pai o mandou? — investiguei.
O Samurai sorriu.
— Seu pai? — havia incredulidade e rispidez em sua voz. — Não
recebo ordens, Christopher. Eu sou um rei, não um soldado... como
você — rebateu, perverso.
Cerrei os dentes.
— Não é bem-vindo aqui.
— E nem você — rapidamente devolveu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Volte para o inferno — declarei, furioso.


— Voltarei. Um dia. — Ele curvou um sorriso maligno. — Mas
gostaria de passar um tempo, é claro.
— Não deveria estar aqui, Nabrya.
Ele sorriu, abrindo os braços com graça e leveza.
— A ilha é minha, Christopher. Eu faço o que eu quiser — Nabrya
disse sereno, virou-se de costas para nós e deu dois passos antes de
parar. — E eu preciso de você como aliado. — Ele olhou sobre os
ombros, com uma expressão maldosa. — Eu quero destruir o seu
pai, e você quer a sua liberdade. Me ajude a queimar o inferno.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

18 de Abril | Quinta-feira

Bastou que eu estacionasse o carro na garagem de casa, para


que uma Loren extremamente preocupada me abordasse.
— Meu Deus, Dytto! Quer me matar do coração? — trovejou ela,
gesticulando com as duas mãos.
Eu estava sem o menor ânimo para começarmos um assunto
que nos levaria a uma briga. Era suficientemente exaustivo ter que
vê-la após tudo o que aconteceu. Ainda sentia ânsia ao pensar em
toda a situação.
— Por que não me telefonou? Achei que estivesse morta —
continuou. — Eu passei a noite inteira te procurando. Sabe o quão
insuportável foi pensar que você poderia estar machucada? Você
nem me disse para onde ia. Você não pode simplesmente sumir
assim.
Passei por ela, com a sua voz explodindo em meus ouvidos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

As suas palavras me enchiam de pouco a pouco, fazendo com


que todo o meu corpo se preenchesse de uma grande dose de raiva.
Inspirei fundo, mas o ar me invadia entrecortado e quente.
Mordi a parte interna de minha bochecha com força. Não
demorou para que o gosto metálico e enjoativo de sangue
irrompesse em minha língua.
— Porra, Dytto! Não é porque fez dezoito que pode
simplesmente sumir no mundo — esbravejou alto, seguindo cada
passo que eu dava.
Meu rosto ferveu de uma fúria inexplicável.
— Eu precisei saber de você pela droga do Christopher, porque
você não se deu ao trabalho de dizer que estava viva. Isso é o
mínimo que se faz quando se quer sumir, Dytto.
— JÁ CHEGA! — gritei, girando os calcanhares em sua direção.
— Eu não ligo, Loren. Não ligo se passou a noite me procurando, se
estava preocupada, ou não. VÁ SE FERRAR! Eu não liguei porque
não quis. Não disse onde estava porque não queria que soubesse.
Porra, não nascemos grudadas. Me deixe em paz!
A esta hora, seus olhos estavam arregalados e cheios de
arrependimento. A expressão abismada mascarava toda a sua face,
enquanto seus olhos mantinham-se bem abertos.
— Não vê que tudo isso é culpa sua? O que mais quer de mim,
hein? Quer que eu te peça desculpas e beije a droga dos seus pés?
Foi você quem fodeu com o namorado da nossa amiga, não eu.
Então se puder me poupar disso, eu agradeço pra caralho. — Virei-
me e saí pisando fundo.
Há vários limites em que você pode se colocar, mas não há
limites no mundo que nos impeça de explodir quando atingimos o
ápice da fúria.
Talvez, mas, só talvez, eu me arrependa das minhas duras
palavras mais tarde.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Papai e mamãe haviam chegado animados do trabalho hoje.


Aparentemente, a ideia de que as férias de ambos estavam cada vez
mais próximas os deixava felizes.
Mamãe queria dar uma grande festa. Papai queria viajar para
Seoul. Loren não se deu ao trabalho de opinar.
E quanto a mim, eu apenas queria me trancar em meu quarto.
No entanto, fugir das quintas em família não era uma opção.
Minha irmã estava de cara fechada, seus dois braços cruzados
diante do peito, e os olhos perdidos sobre o prato à mesa.
Eu odiava a ideia de brigarmos, éramos sempre tão próximas
que me era estranho quando não estávamos nos falando. Mas havia
uma pontada no fim do meu estômago, lembrando-me em um
looping eterno sobre a sua covarde traição. Minha mente mastigava
as lembranças de maneira ríspida, e em todas as vezes que eu me
sentia minimamente prestes a desculpá-la, a raiva me atingia como a
ponta de uma lâmina.
Minha atenção só fora resgatada no momento em que a voz de
papai se voltou para mim.
— Eu conversei com o garoto — ele falou, olhando em meus
olhos. — E eu concordei que namorassem — admitiu.
Christopher ter dito isso foi uma grande surpresa, mas ouvir da
boca do meu pai foi ainda mais chocante. Era quase o mesmo de ele
ter dito que eu poderia explodir a casa com dinamite.
— Só espero que entenda que não é porque deixei, que quero
que passe a ser como ele — pediu.
— Como ele? — interroguei, curiosa.
— Você sabe, Dytto. Tatuagens, piercings, drogas e satanismo —
explicou, desgostoso.
— Ah... — murmurei, constrangida.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Tatuagens, piercings, drogas e satanismo não eram a minha


praia, somente Christopher era.
— Tenho uma condição para isso, Dytto — mamãe comentou,
erguendo o rosto. — Quero que o leve para a igreja todos os
sábados. Inclusive neste próximo.
Arregalei os olhos e Loren se engasgou com o seu copo de água.
— Igreja? — as palavras saíram cuidadosamente de minha boca,
como se ditas por um médico que acabara de dar um terrível
diagnóstico ao seu paciente.
— Não é necessário, amor — papai intercedeu.
— É claro que é. Eu sou a mãe da Dytto, e preciso ter algum
motivo pelo qual apoiar esse namoro. Não pode simplesmente
aceitar isso assim, do nada. — Ela ergueu as mãos, incrédula.
Eu também estava chocada com a tamanha facilidade do papai
em ter aceitado isto. Mas também não imaginava que logo a minha
mãe se intrometeria.
— Mãe, Christopher não é religioso, e eu não quero ter que
forçá-lo a ir em um lugar em que ele não se sente à vontade.
Confortável, ela batucou as suas unhas curtas e delicadas na
mesa.
— Com o tempo ele se acostuma, querida. Espero que entenda
que eu só quero o seu bem.
Percorri meu olhar em busca do auxílio de Theo, que parecia
sem argumento contra isso.
Uh oh!
— Então tenho que chamá-lo para ir à igreja, certo? —
evidenciei, nervosa.
— Apenas — concordou ela.
Sentia minha pele em brasa.
Como era que se convencia um demônio a ir para a igreja?
Eu definitivamente iria para o inferno sem direito a julgamento.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Preciso que faça uma coisa por mim — sussurrei, no segundo


em que senti Chris deitar-se em minha cama.
Ele se empertigou.
— Deveria estar dormindo. — Ouvi sua voz em meio a escuridão,
parecia irritada.
Tudo bem que já era um pouco mais das três da madrugada,
mas eu precisava falar com ele. E isso só daria certo se fosse
pessoalmente.
— Por favor, me ouça.
Christopher tocou a minha cintura e aproximou seu corpo do
meu.
— Ouvindo.
— Preciso que você vá para a igreja comigo no sábado — soltei,
receosa.
Ele riu baixo, mas com tanta graça que senti como se eu tivesse
acabado de lhe contar a melhor piada de todo o universo. Era meio
irônico, na verdade.
— É sério, Chris. Essa é a condição dos meus pais para que a
gente namore — implorei, virando-me para ele.
Ele ainda estava rindo quando enfiou seu rosto na dobra do meu
pescoço.
— Igreja? Fala sério, Dingo! — gargalhou.
Se eu pudesse vê-lo com clareza, teria a total comprovação de
que ele estava revirando os seus olhos.
— Chris, por favor! — insisti, manhosa. — Eu não quero ficar
longe de você. E meus pais não irão me deixar te ver se não
concordar.
— Eu sinto muito, amor. Mas isso é um plano fora de cogitação
— murmurou entre um riso e outro.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Christopher. — Passei o braço em volta do seu corpo e joguei


a perna em cima dele, esfregando a ponta dos pés em sua perna. —
Christopher, por favor.
Tentar um jogo de sedução era um tanto quanto apelativo, no
entanto, era isto, ou não poderia mais visitá-lo ou sair com ele.
— Gatinha, não dá. — Ele alisou o meu rosto.
Suspirei fundo.
— Lembra daquele desejo que me prometeu se eu chupasse
você? — pontuei.
Senti sua respiração ficar pesada.
— Disse que poderia escolher qualquer coisa que eu quisesse —
lembrei-o.
— Merda... — ele cochichou, mais para si do que para mim.
— Eu quero que você vá para a igreja comigo, todos os sábados.
— Todos? — alarmou-se. — Calma aí, não era só um? — Ele
ergueu o corpo, apoiando o torso em seu cotovelo.
— Esse é o meu pedido, diabão. Você quem disse que eu
poderia escolher qualquer coisa que eu quisesse.
— Isso não estava nos planos — protestou, aborrecido.
— Não me lembro de você ter dito nenhuma regra para mim. A
única coisa que me disse foi que eu poderia escolher qualquer coisa,
oh "Gênio do boquete".
Christopher enfiou seu rosto entre os meus seios e soltou um
grito abafado. Ri disso e abracei-o.
— Eu espero que você se comporte, Christopher.
— Você me odeia.
Sorri e beijei a sua testa.
Não o odiava. Eu, na verdade, o amava. Mas essas palavras
ainda não deveriam ser ditas, era cedo demais para isso.
— Preciso da sua ajuda, amor.
Ele suspirou alto.
— Espero que, com isso, você entenda que está desafiando a
fúria de quem você serve — comentou.
Um calafrio percorreu o meu corpo inteiro.
— Eu já o desafio todos os dias somente por querer você.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher subiu seu corpo sobre o meu e beijou o meu queixo.


— Sem dúvida alguma.
Revirei os olhos.
— Há pouco tempo, eu ia às missas e rezava para que Deus me
livrasse de todos os males. Agora eu me deito em minha cama e
espero que um demônio venha enfiar a mão dentro do meu pijama.
— Bufei. — Eu achei mesmo que poderia fugir de você.
— Você não foge. Você apenas se rende.
— É. Eu percebi — respondi, seca.
— Não fique brava. — Ele acariciou o meu rosto. — Comigo,
você será eternamente livre.
— A que preço? — discordei.
— Não será mais nada além de minha. Irei me alimentar da sua
alma pelo resto dos tempos.
— Isso satisfaz o seu ego?
— Satisfaz os meus desejos.
Enfiei meus dedos entre as mechas do seu cabelo.
— Isso vai doer, Chris?
— Não, amor. Apenas não tente escapar de mim e nunca
conhecerá a minha fúria.
— Irá comer a minha alma?
— Oh, eu com certeza eu vou. — respondeu malicioso.
— Chris, não era disso que eu estava falando — repreendi-o.
— Mas pode apostar que eu vou.
Fechei os olhos.
— Sua florzinha está melhor? — ele perguntou baixinho.
— Não a chame assim — resmunguei.
— Você só reclama.
— É que esse nome é ruim.
Ele riu.
— Poderia, por gentileza, responder se sua parte íntima está em
bom estado, madame? — caçoou.
— Ah, é claro que está. Você nem é tudo isso — o provoquei,
segurando o riso.
— Devo lembrar que era você chorando enquanto eu metia?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu só estava encenando para você não ficar constrangido,


bobinho.
— Que ótima atriz eu tenho, não? — Ele mordeu o meu queixo.
— Tente ser melhor na próxima — incitei, sorrindo.
— Pode deixar que eu vou me esforçar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

20 de Abril | Sábado

— Fique quieto e nada de fazer bagunça — alertei-o, séria, e ele


revirou os olhos pela décima quinta vez.
Segurando a sua mão, caminhávamos em direção à minha
família; que aparentava exaustão de tanto nos aguardar em frente à
igreja, mas, ao nos ver, forçaram um sorriso mesmo assim, menos
Loren, é claro.
Hoje, busquei Christopher em sua casa, para ter certeza de que
ele realmente viria. Porém, o demônio atentado demorou cerca de
uma hora e miseráveis dez minutos no banho, propositalmente.
Por sorte, havia ido uma hora e meia mais cedo do que o usual.
Eu gostava de ser uma pessoa pontual, então adiantei os passos,
temendo um imprevisto ou um pé atrás, no entanto, eu não estava
preparada para todas as peripécias que Christopher armaria no
caminho para que nos atrasássemos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Em um dos semáforos, ele gritou para um motorista, chamando-


o de "Corno cego", e desceu do carro, com a esfarrapada desculpa
que o outro é quem havia começado. Precisei buscá-lo de volta pela
gola da camiseta, garantindo que o moço do outro carro sequer
havia lhe dito algo, pois era mudo.
E, em um outro momento, ele inventou que Asafe havia lhe
pedido um carrinho, e nos fez parar em uma loja de brinquedos. Ele
parecia muito seletivo para escolher o presente do seu filho, até que
magicamente lembrou que Asafe, na verdade, não gostava de
carrinhos.
Somente quando ameacei jogar o carro de uma ponte, que ele
finalmente me deu um minuto de paz.
— Christopher — mamãe o recebeu, com um largo sorriso no
rosto e estendeu a sua mão.
Ele, por outro lado, manteve-se retido ao cumprimentá-la, como
se fizesse apenas por obrigação, mas Ever fingiu não notar.
— Chris — Theo acenou, seco.
Christopher fez questão de dar-lhe um forte aperto e sorrir para
ele.
Por meros segundos imaginei ter visto papai arregalar os olhos,
mas fora tão rápido que poderia ter sido apenas coisa da minha
cabeça.
— Vamos entrar — Loren nos apressou, sem nem ao menos nos
olhar.
Minha irmã abriu caminho e a seguimos. A igreja estava cheia de
cristãos e visitantes. Um belo e agradável coral preenchia as
enormes paredes revestidas de pinturas simbólicas, ecoando por
todos os lados.
Olhares curiosos se voltaram para Christopher no minuto em que
adentrarmos o local. Certamente, não era comum ver homens como
ele frequentar aquele lugar, ou pelo menos, não havia mais ninguém
com um bode satânico tatuado no braço.
Embora ele não ligasse para atenção que recebia, me senti
tímida ao seu lado. Era estranho ver todos aqueles que já me

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

conheciam, me encontrarem de mãos dadas com o pior, e


provavelmente o maior, habitante de Vespeau.
Em apoio, ele segurou minha mão com mais força.
Christopher decidiu vir completamente de preto, de tal modo que
parecesse estar de luto. E talvez estivesse, pela sua dignidade.
Sorri ao pensar nisso.
— Não zombe de mim ainda, Dingo. Isso vai ter volta —
ameaçou num sussurro.
— Você fica lindinho na igreja. Parece até um bom moço. —
Sacudi o seu braço, provocando-o. — Poderia até mesmo te
confundir com um padre.
Seu olhar recaiu sobre o meu, tomado de fúria. Seus lábios
estavam franzidos em raiva e o seu maxilar tornou-se rígido. Bravo,
ele soltou a minha mão e adiantou os seus passos.
— Cai fora, Dingo Bells. Eu vou ficar sozinho — reclamou,
rabugento.
— Nem pensar! — rapidamente enrosquei o meu braço no seu.
Deus me livre deixar Christopher à solta em uma igreja. Sabe se
lá o que ele poderia aprontar.
Ele suspirou forte.
— Relaxa, Christopher. Não precisa ficar tão nervoso. Deixe o
espírito santo trabalhar em você, meu caro — caçoei.
Vê-lo mal-humorado tornava o meu dia bem mais agradável.
— Puta merda.
— Olha a boca. Papai do céu não gosta. — Fiz cara feia em
repreensão e, pela décima sexta vez, ele revirou os olhos.
Tentei arrastá-lo para o banco da frente, para sentarmos junto
da minha família, mas ele me agarrou à força pela cintura, e me
carregou para a penúltima fileira.
Ele se acomodou preguiçosamente no banco, como se estivesse
apenas no sofá de casa em um domingo à tarde, sozinho e
despreocupado. Os que estavam ao nosso lado, se afastaram para o
fim do banco, notando a ignorância da Torre Tatuada.
Christopher arreganhou as suas grandes pernas, apoiou os
cotovelos nos joelhos e baixou a cabeça entre elas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele ficou em silêncio por tantos minutos que me senti


incomodada. Não sabia se era possível estar passando mal ou se só
queria ignorar tudo à sua volta.
— Está rezando? — investiguei baixinho, mas ele se manteve
parado, o que me preocupou. — Está sentindo algo? Dor de barriga?
Dor de cabeça? Azia? Enjoo?
— Fique. Quieta.
— Já está sentindo a sua alma mais limpa? — zombei e ele
ergueu o seu rosto, encarando-me cheio de raiva.
Juntei o polegar e o indicador, e os escorreguei em meus lábios,
zipando-os.
Ele balançou a cabeça, incrédulo.
Christopher estava pouco à vontade dentro da igreja. Em grande
parte do tempo apenas suspirava alto, incomodando aos que se
sentaram ao nosso lado e a nossa frente.
— Pare de fungar, Chris. Está atrapalhando a todos — reclamei.
— Eles nem ligam, Dingo. Aposto que vão sair daqui sem nem
mesmo lembrarem de uma única palavra — rebateu, seco.
— Se os deixarem ouvir o padre, talvez eles possam ouvir algo
que possam se lembrar.
Ele virou os olhos e se espreguiçou.
— Saco, saco, saco... A minha bunda já está doendo.
Apertei o seu braço e arregalei os olhos.
— Shhh... Está atrapalhando.
Ele fez cara feia e se reencostou no banco, entediado.
Voltei a minha atenção para o padre, que proferia lindas palavras
sobre o amor de Cristo.
Mas o Christo ao meu lado decidiu me interromper, alisando o
meu cabelo e brincando de os enrolar em seu dedo.
— Preste atenção, Chris — pedi.
Ele sorriu e aproximou o seu rosto do meu.
— Quer pegar o dinheiro que eles guardam naquela salinha ali?
— Ele apontou com o queixo e arregalei os olhos.
— Christopher, nós estamos em uma igreja. Não podemos sair
roubando.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Depois que saímos nós podemos, então? — sugeriu.


— Não. Cale a boca!
Ele resmungou e deitou a sua cabeça em meu ombro.
— Eu estou exausto, Dingo Bells. Vamos embora — implorou.
— Não.
— Que inferno!
Christopher se remexeu de um lado para o outro no banco. Até
que, por um milagre, decidiu parar. Ou era o que eu pensava, até vê-
lo dando língua para uma criança à nossa frente.
O garoto parecia assustado, enquanto Christopher fazia as piores
caretas que conseguia. O menino começou a franzir o rosto, até que
desatou a chorar. A mãe da criança lançou um olhar aborrecido para
o homem tatuado ao meu lado e tentou acalentar o filho, sacudindo-
o no colo.
— Você é pai, Christopher. Como pode ficar fazendo isso com
uma criança? — briguei.
— Asafe teria rido — se defendeu.
Juntei as sobrancelhas.
— Ou teria me dado o dedo do meio — ruminou, pensativo.
— Por Deus, fique quieto!
— Eu não faço nada por ele, amor.
— Por mim então. Por Asafe. Por Amara, Samantha ou qualquer
ser no mundo que você minimamente goste.
Ele fez careta.
Suspirei e escorreguei o corpo no banco, cansada de bancar a
mãe. Ele sorriu e escorregou junto, até estarmos na mesma altura.
— Quer brincar de jogar papel nas pessoas? — sugeriu,
malicioso.
Olhei para ele, extremamente séria, mas ele não pareceu captar
a notícia.
— Quer ou não? — insistiu.
— Não, Chris. Não. Não. Não. Você consegue ser ainda mais
inquieto que uma criança — surtei.
Ele mordeu o meu ombro em diversão e se ajeitou no banco.
— Eu preciso ir ao banheiro — reclamou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Se você se levantar desse banco, eu arranco o seu pinto com


um motosserra! — ameacei.
Ele esbugalhou os olhos.
— O que isso, garota? Estamos na igreja. Mais respeito! — falou,
alto o bastante para que, quem quer que estivesse ao nosso redor,
escutasse.
Olhos curiosos rapidamente me procuraram, de tal maneira que
pareciam estar todos me repreendendo.
Meu rosto rapidamente ferveu de vergonha e me senti tentada a
correr dali para enfiar a cabeça em um bueiro.
Enquanto quase o matava com o olhar, Christopher permanecia
atuando no seu papel de falso cristão ofendido.
— Eu vou matar você — proferi, silenciosamente.
Ele levou a mão ao peito e balançou a cabeça.
— Como pode?! Na casa do senhor falar tantos absurdos.
— Deus, por favor, me tira daqui — clamei, escondendo o rosto
entre as mãos, sentia minha pele esquentar com mais e mais
pessoas encarando-me.

Finalmente havia terminado a missa —, que ao lado do


Christopher, pareceu durar centenas de horas.
Mamãe nos obrigou a conversarmos com o padre, pois, para ela,
deveríamos apresentar o nosso namoro para alguém que poderia
nos abençoar.
Mas as coisas inevitavelmente saíram do meu controle.
Assim que chegamos à frente da igreja, me entreti em uma
conversa, com uma simpática moça que me parabenizava pelo
namoro.
Foram apenas alguns poucos minutos sem Christopher sob meu
campo de visão para que ele aprontasse uma.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Assim que voltei minha atenção a ele, o encontrei em uma


guerra fria com o padre, onde os dois lutavam pela posição a qual o
crucifixo ficaria em cima do púlpito.
O padre a arrumava para que ficasse da maneira correta, já
Chris, insistia em virá-la de cabeça para baixo.
O padre novamente a ajeitou, irritado. Mas Chris, pirracento
como era, a virou de cabeça para baixo, encarando-o sério.
O homem careca ajeitou a cruz e semicerrou os olhos, todavia, o
garoto tatuado a virou de novo.
O padre, por fim, pegou o crucifixo e o enfiou debaixo do braço.
Pigarreei alto, chamando a atenção dos dois.
— Podemos ir? — pontuei, rígida.
— Não vejo a hora de sair daqui. — Chris suspirou, aliviado.
Mordi a língua e me virei para o homem ao nosso lado, que
olhava para o meu namorado com o mais puro desgosto.
— Foi uma ótima missa! — eu disse, por educação.
Não tinha ouvido metade dela por culpa do meu namorado
hiperativo.
— Eu odiei — Chris protestou sincero, fazendo-me soltar uma
risada nervosa.
— Ele está brincando! — Ri mais alto, mas isso não fez com que
o padre ficasse menos irritado.
Rapidamente peguei Christopher dali, arrastando-o para fora,
antes que ele mudasse de ideia e tacasse fogo nas pessoas.
Definitivamente ele nunca mais viria à igreja.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

01 de Junho | Sábado

As coisas estavam indo bem.


Os dias passavam-se como páginas de livros, os quais mal
notávamos que se despediam de nós.
Partiram-se mais de um mês num piscar de olhos, mas, com as
férias cada vez mais próximas, acabávamos tão mergulhados em
provas, trabalhos e projetos que não notamos o tempo passar
Havíamos acabado de entrar no mês de junho. Era uma época
gelada em minha cidade.
Os bancos da praça central estavam sempre molhados, as ruas
de pedras tornavam-se escorregadias à medida que o lodo se
agarrava a elas.
As árvores não mais floriam e o céu era sempre cinzento e
coberto por nuvens pesadas e escuras. As ruas estavam sempre
mais calmas durante o entardecer, e mais gélidas ao anoitecer.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Quando chegávamos próximos ao início do inverno, grande parte


dos jovens procuravam por um par, para se manterem aquecidos e
aproveitarem as noites de conchinhas. No verão, esqueciam a razão
pelo qual gostavam tanto do seu "companheiro de coberta".
Eu, ao invés disso, adorava usar meias e fazer chocolate quente.
Mas, agora, existia um alguém que me mantinha bem mais
aconchegada.
Christopher ainda me visitava durante às noites. Sentia minha
pele formigar todas as vezes que seus dedos deslizavam em minha
derme.
Não havíamos tentado o sexo outra vez, sequer falamos sobre.
Ele parecia interessado em respeitar os meus limites, mesmo que eu
não o tivesse pedido. Continuamos apenas em carícias íntimas,
algumas mãos bobas e beijos, muitos beijos.
Adorávamos nos beijar, pois parecia a linha mais tênue que
existia para que nós dois nos sentíssemos unidos um ao outro.
Do primeiro toque até o atual, sempre desejei por cada carícia
sua. Desde a mais inocente, até a mais maliciosa.
Ansiava para que ele me quisesse tanto quanto eu o desejava. E
todas as vezes, mesmo que inconscientemente, eu esperava por ele.
Christopher, porém, parecia ter criado termos em nossa relação.
Termos estes, que ditava que só ficaríamos de novo quando eu me
sentisse verdadeiramente pronta, sem mais desequilíbrios
emocionais.
Contudo, o que ele não possuía conhecimento, era que havia
criado uma serpente. E eu adorava o provocar de todas as maneiras
que conseguia.
Eu não estava preparada para tentar de novo, afinal, acho que
nunca estaria, mas adorava atentar a ele até que enlouquecesse.
— Olá, moça. Posso ajudar? — a atendente gentil perguntou,
alargando os lábios em um sorriso que deixava todos os seus lindos
dentes à mostra.
A loira parecia muito contente com a minha presença ali. De
modo que, poderia jurar, que se eu pedisse uma capa do Batman

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

com o meu rosto estampado nela, ela o costuraria à mão, apenas


para não perder a clientela.
A comissão aqui deveria ser tudo o que eles ganhavam.
Meu coração batia descompassado no peito. Sentia-me como
uma criança encurralada, mas forçava-me a agir como uma adulta.
A situação era comum na vida de qualquer pessoa, mas não na
minha. Eu era tímida demais para essas raras ocasiões em que saia
para fazer comprar íntimas.
— Pode me mostrar calcinhas? — pedi, a voz ligeiramente
falhando.
Não que eu ligasse para as pessoas saberem que eu usava
calcinha, mas ainda achava vergonhoso elas saberem qual eu
provavelmente estaria usando uns dias após ter feito a compra.
Para mim, era quase o mesmo de ter o poder de ver as pessoas
nuas. Tentei explicar isso a Loren uma vez, mas ela simplesmente
me chamou de "Débi".
Senti uma pontada no peito ao pensar nela.
Ainda estávamos "brigadas", de um jeito estranho. Depois do
meu aniversário, ela naturalmente se afastou e se fechou para todos.
Parecia presa a um sofrimento somente dela, e se punia, mantendo-
se afastada de tudo que mais gostava de fazer.
Ela entrava por uma porta e eu saía por outra. Ela se sentava em
uma ponta da mesa, e eu noutra.
Não queria ter que viver dessa maneira com a minha própria
irmã, mas nem ela própria fazia questão de uma possível rendição.
Loren vivia em seus próprios pensamentos, e a culpa era a sua
nova maquiagem. Tudo o que ela fazia, era manter-se trancada em
seu quarto, ou sair para fumar no jardim durante as madrugadas.
Em determinados momentos, tentei me aproximar, porém, ela se
mostrou alheia às minhas investidas. E durante algumas noites, eu a
ouvia chorar. Meu coração se partia todas as vezes que via a tristeza
a tomar.
Sabia que o que ela havia feito tinha sido uma grande covardia,
mas acima de tudo, eu a amava e me preocupava com o seu bem-
estar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Por aqui — a vendedora orientou, arrancando-me de meus


devaneios.
A segui pela loja até o mostruário de calcinhas, que exibia peças
fio-dental e rendadas que mal cobriam qualquer parte das minhas
nádegas.
Realmente muito bonitas. Mas pareciam incômodas quando eu
pensava em vesti-las.
Pensativa, passei a língua sobre os lábios.
Eu não queria estar aqui comprando calcinhas, mas,
"misteriosamente", elas estavam sumindo de três em três, e não
porque as usava de maneira descontrolada, porém, porque
Christopher andava com seus grandes dedos envolvidos em seus
desaparecimentos.
Olhando em volta, encontrei apenas as mais sexys lingeries. De
fato, eram sensuais e poderosas, mas eu não queria me sentir assim.
Eu só queria a droga de uma calcinha que cobrisse a minha bunda
inteira.
Por que Christopher não poderia apenas aceitar me ver "bem
coberta" em lugares que não deveriam ter tanta exposição se as
peças que eu o usava fazia questão de rasgar?
Frustrada, soltei o ar pela boca.
Que se dane todos esses minúsculos pedaços de panos! Eu não
me rendi ainda.
— Pode me mostrar a sessão de calcinhas para vovós grandes?
— pedi, atrevida, bordando um sorriso perverso nos lábios.
A mulher fingiu normalidade, mas o tique em seu rosto a
denunciou. Evidentemente, não era só eu quem estava frustrada
com as expectativas alheias.
— Ah, claro! — meio desanimada, ela forçou os lábios a
sorrirem.
Demos a volta na loja até encontrarmos as benditas calcinhas
mais horrorosas que eu já vi em toda a minha existência.
Acho que por serem tão assustadoras, as deixaram longe de
todo o resto, excluídas da sociedade de calcinhas. Se Christopher

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

achava mesmo que poderia me ganhar, ele estava tão, mais tão
errado.
— Aqui estão — informou, sem graça, como se eu já não tivesse
visto aquelas coisas horrendas bem diante dos meus olhos.
— Obrigada!
A moça se pôs ao meu lado, mostrando-se à disposição,
enquanto discretamente me observava escolher a dedo as mais
esquisitas.
De soslaio, via seus lábios se franzirem em uma meia careta
toda vez que eu escolhia uma outra peça.
Notei seu incômodo em me ver ali, parecia que havia um bicho
mordendo as suas pernas, a implicando a me investigar. Em
determinados momentos, quase pude imaginá-la arrancando as
peças da minha mão e expulsando-me da loja.
— É presente? — ela não conseguiu mais conter a curiosidade.
— É, sim — menti.
Ela pareceu aliviada, como se um elefante desmontasse de suas
costas e sorriu.
— Bem, acho que sua vó gostará dessas então. São bem
confortáveis. — Ela ergueu o pano em suas mãos, exibindo a calçola
mais terrível da minha cesta.
Balancei a cabeça em concordância.
— Perfeito! Era disto que ela precisava. Vou levar ao menos
umas 20.

— Dingo, Dingo. O que aconteceu? — Christopher me recebeu


em sua porta com um sorriso confuso ao me ver ali; sem aviso
prévio ou razões óbvias.
Ele estava vestido em apenas uma bermuda moletom, cinza. O
incrível peitoral de fora, exibindo as suas várias tatuagens.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Embora ali fora estivesse congelando, a sua casa estava sempre


bem aquecida, porém, ele também não parecia ligar muito para o
clima ambiente, sua face demoníaca era sempre gelada, de todo
modo. Talvez ele fosse parente de Jack Frost, eu já não duvidava de
mais nada.
Seus cabelos negros estavam despenteados e, em suas mãos,
havia uma flanela, que ele parecia usar para limpar-se do que quer
que estivesse fazendo.
Era tão sexy vê-lo todo autoritário e casual em minha frente.
Acho que "Papai dono de casa" estava começando a se tornar meu
tipo de homem preferido, não que ele me desse escolha para eu ter
outro tipo além dele próprio, mas né...
— Não posso mais visitar o meu namorado? — brinquei e ele
sorriu sacana.
— Entra, gata — convidou, dando-me espaço.
Não consegui disfarçar a empolgação que me preenchia quando
adentrei. Eu estava doida para que ele visse as compras que eu
havia feito mais cedo.
Já havia lavado e secado a minha mais nova coleção de
calcinhas de vovós, portanto, usava a mais horrorosa.
Eu mordia os lábios e apertava os dedos atrás das costas como
uma criança impaciente. Sempre fui péssima em atuar. Não era atoa
que fui expulsa do clube de teatro da escola duas vezes.
Digamos apenas que eu apenas não nasci para a arte da
enganação.
Retirei meu casaco e luvas, pondo-os sobre as costas do sofá.
Christopher ainda estava de pé, olhando para mim. Sorri para ele.
— E então... — comecei, notando-o se aproximar, com os olhos
curiosos vagueando sobre mim. — O que anda fazendo? — indaguei,
animada.
Ele curvou os lábios de canto, de um jeito que parecia esconder
algo mais.
— Quer dar uma olhada? — convidou, misterioso.
Juntei as sobrancelhas com desconfiança, mas assenti.
— Quero, sim. Agora você me deixou curiosa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher apontou com os dois dedos para o corredor,


impelindo-me a seguir ele. Fomos em direção a entrada do seu
quarto, onde ele parou diante do cômodo e escorou o corpo no
batente da porta.
— Isso aqui — explicou.
Me aproximei para enxergar com mais clareza do que se tratava,
mas estanquei os passos ao avistar a terrível cena diante dos meus
olhos.
Apavorada, recuei um passo.
— O que aconteceu aqui? — minha voz se transformou em um
fio agudo e estridente.
Prendi a respiração, evitando sentir aquele aroma nojento, que
fazia meus órgãos se revirarem dentro de mim.
— Debaixo da cama — informou ele, tranquilo.
Meus olhos deslizaram pela parede — antes, cinza —, lambuzada
do líquido vermelho e espeço, até encontrarem a pequena coisinha
deitada de bruços debaixo da cama de Christopher, como se apenas
cochilasse sereno.
— Este é o Asafe? — me apavorei.
— Em carne, osso e maldade — respondeu, risonho.
Ergui as duas sobrancelhas.
— Ele me parece...
— Diferente? — concluiu. — Ele está na forma demoníaca dele.
É bem mais difícil cuidar de uma criança meio demônio, do que de
um adulto.
Engoli em seco, sentindo meu estômago contrair.
— O que é isso na parede, Chris? — eu já sabia perfeitamente a
resposta, mas torcia para estar errada.
— Sangue. Ele decidiu que o mais novo hobbie é matar animais.
Arregalei os olhos.
— E o q-que ele matou? — eu tremia sem parar.
Christopher suspirou ao meu lado.
— Não deu para descobrir, As esmagou tudo.
Olhei para Christopher e o encontrei com um sorriso todo
orgulhoso no rosto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Está feliz? — sobressaltei.


— O garoto é um prodígio — protestou.
— Ele matou um animal e esfregou o sangue nas paredes —
lentamente incitei, horrorizada.
— Ele é um demônio. O que esperava? Rabiscos de giz na
parede?
— Ele é uma criança!
— Ele é um demônio — irritou-se.
Senti meu sangue sumir do corpo e minha pressão despencar
num salto.
— Eu vou esperar na sala — murmurei.
— Você tá bem? — Christopher se preocupou, erguendo os
braços em volta de mim, para me aparar.
— O cheiro do sangue está me deixando enjoada — expliquei.
— Me espere na sala, será melhor mesmo — concordou, mais
calmo.
— Está bem!
Antes que eu desse o primeiro passo para longe, a voz infantil,
mas assustadoramente sombria se manifestou, ecoando em nossa
direção.
— Dingo — Asafe sussurrou debaixo da cama, emendando em
um bocejo.
Seus olhos estavam inteiramente pretos, as veias negras
saltavam em sua pele, os lábios estavam roxos, sangue salpicava
todo o seu pequeno rosto. Sua pele não parecia mais a mesma,
marcada por linhas, como raios em todo o seu corpo.
Era exatamente como Christopher em sua outra entidade.
— Dingo — ele novamente chamou, despertando aos poucos.
Assustada, toquei o braço de Christopher, mas notei seu
incômodo ao me ver reagir daquela maneira.
— Deixa ele comigo. Vá para casa — orientou, afastando-me
devagar.
— É melhor eu ir — cochichei, assustada.
— Nãoo! — o rapazinho gritou, arrastando-se debaixo da cama,
até sair e conseguir ficar de pé.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele correu em minha direção, e por instinto, me afastei.


Confuso, As parou no meio do quarto, olhando-me sem entender
o que havia feito de errado. Seu olhar alternou de mim para o seu
pai, como se perguntasse a ele o que estava acontecendo.
Meu coração murchou dentro do peito, eu não queria chateá-lo,
mas não sabia lidar com o medo enraizado dentro de mim.
— Titia... — chamou, imploroso, a voz mais doce que uma
criança poderia ter — colo, titia — pediu manhoso, abrindo os
braços, ainda sem sair do lugar.
Era como se ele pedisse que eu fosse até ele, pois tinha medo
de se aproximar novamente. Christopher observava a situação
enraivecido, mas não voltou a sua atenção para mim. Ele caminhou
até Asafe e o tomou nos braços.
Eu não podia fazer nada a respeito, não estava habituada a
situação, mas não queria rejeitá-lo, nunca foi a minha intenção.
As não tinha culpa de nada, ele mal entendia o que estava
acontecendo, para ele, aquilo tudo era normal, mas para mim, era
um mundo totalmente averso ao meu.
— Ela precisa ir, filho. Outro dia — informou-o, afagando as
costas do seu bebê.
De repente, me senti aturdida e estranha. Eu estava
completamente deslocada àquela situação.
— Vá logo — Christopher mandou, sério. Ele era ainda mais
protetor quando se tratava do pequeno As.
Balancei a cabeça, nervosa. Estava segurando as lágrimas presas
nos olhos.
— Não sei lidar com isso, Chris — cochichei, chorosa,
encolhendo-me num canto.
Eu esperava por, pelo menos, um pouco de sua compreensão,
mas ele me repreendia veemente com aquele olhar fugaz e sombrio.
— Então vá embora daqui — rugiu.
Neguei num balançar de cabeça.
— Me dê um tempo, por favor!
Asafe abriu os bracinhos para mim de novo e tentou se jogar em
minha direção, mas Christopher novamente se mostrou na defensiva

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

e segurou-o mais forte.


Virei-me de costas, e de olhos fechados, inspirei o máximo de ar
que conseguia, preenchendo os meus pulmões.
Por que aquilo tinha que ser tão doloroso?
— Saia logo daqui. Você vai passar mal — Christopher ergueu a
voz.
Seu desespero em me manter longe, ia além de sua
preocupação comigo. Existia algo mais. Ele parecia querer proteger
Asafe de presenciar aquele momento. Ele não queria que o seu filho
se sentisse rejeitado por ser quem era.
E tudo bem, eu o entendia. Foi por isso que exigi ao meu
máximo para lidar com os meus próprios temores.
Virei-me de volta e fui em direção aos dois.
— Venha! — chamei-o firme e ergui as mãos em direção a Asafe,
que logo se jogou para o meu colo.
Por consequência, melando a mim com sangue fresco e
fedorento.
— Cuide disso! — avisei Chris, apontando para as paredes. — Eu
vou banhar ele.
Ele franziu as sobrancelhas, intrigado.
— O que está fazendo? — investigou, meticuloso.
— Eu sou madrasta de um demônio agora. Não posso fugir da
minha responsabilidade — falei séria, antes de sair dali.
Asafe inocentemente me abraçou, sem nem mesmo perceber a
gravidade da situação ou de suas ações.
Ele beijou o meu rosto e se abriu em um lindo sorriso.
Quando eu sorri de volta, as marcas em seu rosto lentamente
afinaram-se. A expressão assustadora se dissipou, voltando ao seu
habitual rosto de bebê.
A caminho do banheiro, Asafe agarrou o meu rosto com as duas
mãozinhas sujas e apertou as minhas bochechas. Ele as apertou
tanto que passou a feri-las.
— Au! — reclamei e ele arregalou os olhos, rapidamente
afastando-se.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Era gentil a forma que ele me olhava tão preocupado, como se


de fato, se importasse ao me ver machucada.
— Dói? — sussurrou, arrependido.
Sorri para ele e acariciei as suas bochechas com as ponta dos
dedos, apenas deslizando os dedos de leve em sua pele.
— Faça assim, está bem? — ensinei-o.
Ele balançou a cabeça, concordando, e repetiu o gesto. Seus
dedinhos mal tocavam a minha pele, mas ele não deixava de
acariciá-la.
Ao adentrarmos no banheiro, o coloquei no chão e fui preparar a
banheira.
Quando voltei minha atenção para Asafe, ele estava parado, as
duas mãozinhas cruzadas e os pezinhos balançando, empolgados.
Ele observava cada movimento que eu fazia, simplesmente
admirado.
Os cabelos negros rebeldes em sua cabeça continham sangue
seco formando uma grossa camada envolta dos fios. Os olhos verdes
como os de Christopher me olhavam sem nunca desviarem.
Me ajoelhei diante dele e toquei os seus braços.
— Posso tirar suas roupas e banhar você, mocinho? — pedi.
Ele concordou, sacudindo a cabeça.
— Está bem! Levante os braços. — Ele prontamente obedeceu.
Com cuidado, tirei a sua camiseta e em seguida seu short,
ambos inteiramente melados de sangue.
Optei por não retirar a sua cueca, pois, se eu fosse uma criança,
com certeza não iria querer ficar pelada para um estranho.
Christopher saberia resolver essa situação depois.
Evitei olhar as manchas de sangue em todo o seu corpo e fingi
ser apenas tinta guache.
Era mais fácil assim.
Esperamos juntos até que a banheira estivesse cheia o bastante
para colocá-lo ali.
Aproveitei para colocar espuma e óleos essenciais — da
preferência de As —, para que o cheiro de sangue não
permanecesse.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Asafe sentou-se no meio dela, meio desajeitado e ergueu os


olhos para mim, esperando que eu o dissesse o próximo passo.
Me sentei no chão ao seu lado e peguei a esponja. Devagarinho,
comecei a esfregar em sua pele, ele não reclamou, permaneceu
sereno. Os seus olhos brilhavam e os lábios ofereciam sorrisos.
Coloquei shampoo em seus cabelos e o massageei. Ele jogou a
cabeça para trás e permitiu que eu massageasse o seu coro
cabeludo.
A espuma avermelhada escorria pelas suas costas, tingindo toda
a água da banheira. O cheiro misturou-se às essências e ao shampoo
de bebê, dando uma certa apaziguada nas reviravoltas que meu
estômago dava.
— Você gosta de visitar o seu papai? — murmurei, ao notá-lo
quieto demais.
— Gosto — ele foi rápido.
— Você brinca muito aqui? — sorri.
Ele concordou.
— Já fez muitos amiguinhos, As? Posso chamar você assim?
— Aham. E eu não tenho nenhum amigo, não.
— E por que não? Não gosta das crianças da sua idade? —
investiguei com curiosidade.
— Não. — Ele curvou os lábios para baixo.
Juntei as sobrancelhas.
— Eles são ruins para você?
— Elas não são legais de sentir
— Sentir? Vocês também os sente?
— Sim.
— Asafe e eu somos iguais. — Ouvi a voz de Christopher na
porta e o olhei surpresa.
— A quanto tempo está aí?
— Há um bom tempo. — Suspirou.
— Papai, a Dingo me deixou escolher os negócios de banhar —
informou-o, como se aquilo fosse um grande feito para si.
— Ah, que ótima notícia! — Chris sorriu para o filho,
aproximando-se de nós.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele se sentou na beirada da banheira, agora, olhando para mim.


— Eu posso banhar ele — avisou.
Parei de esfregar as costas de As por um momento.
— Prefere que eu não o banhe? — perguntei, incerta.
— Pelo As está tudo bem. E quanto a você?
— Eu gosto do As! — admiti, olhando para o pequeno, que sorria
confiantemente para mim.
Christopher ainda me parecia meio desconfortável. A situação
ainda era tão nova para ele, quanto para mim.
Toquei o seu joelho de Chris, chamando a sua atenção.
— Você quer que eu pare?
Ele franziu a testa e baixou o olhar.
— Tenho medo de que vá fugir.
— Chris, eu não vou. Por que pensa assim?
Ele apoiou os braços sobre os joelhos.
— Seria mais fácil para você — confessou, tristemente.
— Não sou tão covarde assim — debati.
Sua atenção se voltou para mim. Ele tocou a minha bochecha e
curvou um meio sorriso desanimado.
— Não desista de nós, amor — pediu.
A forma como ele me olhava, mostrava-me que havia algo mais
acontecendo por trás daqueles olhos. Algo perigoso e sério que me
causava calafrios.
O que Christopher não estava me contando?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

01 de Junho | Sábado

Asafe finalmente adormeceu após Christopher terminar o seu


banho e colocá-lo para dormir.
Já eu, tentava limpar as manchas de sangue seco da minha
camiseta, na área de serviço. Porém, quanto mais eu esfregava,
menos progresso tinha.
Eu já estava cansada de lavar toda aquela sujeira dos meus
braços e roupa. Christopher havia terminado de limpar o quarto, mas
os rastros de sangue ainda se mantinham nas paredes, perdurando-
se desde as cortinas até o carpete.
— Amanhã terei que pintar e trocar tudo — suspirou, cansado,
jogando os panos sujos em um balde qualquer. Ele encostou o corpo
na bancada e voltou sua atenção para mim. — Esqueça a camiseta,
eu compro uma nova para você.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Deixei que meus ombros caíssem em derrota, havia sido uma


longa tarde.
— Talvez se eu deixar de molho, fique mais fácil de limpar.
Ele balançou a cabeça.
— Não se dê ao trabalho.
Curvei um sorrisinho de canto nos lábios.
— Ah, desculpe, senhor! Eu me esqueci o quão rico é — incitei.
Ele revirou os olhos.
— Você esquece bem rápido.
— Vai me dar outro colar milionário para que eu possa me
lembrar com mais frequência? — sugeri, jogando-lhe uma piscadela.
— Prefiro te dar algo mais duradouro.
— E o que seria?
— Tire tudo. Vamos tomar um banho.
— O que te faz pensar que pode simplesmente mandar em mim
assim? — provoquei-o, sabendo que isso serviria somente para atiçar
o seu lado perverso.
Christopher não perdeu por esperar. Ele agarrou a minha cintura
desnuda com as duas fortes mãos e puxou-me, levando o meu corpo
a colidir com o seu.
— E o que te faz pensar que eu não poderia? — devolveu.
Passei a língua sobre os lábios, enquanto encarava os seus
lindos olhos verdes postos sobre mim com uma indomável
arrogância.
— Você é muito mandão quando quer — murmurei.
Ele soltou um riso seco e curvou o corpo, pegando-me pelas
pernas e jogando-me sobre o seu ombro.
Soltei um gritinho, surpresa, mas logo tapei a boca. Asafe
poderia acordar a qualquer momento.
Meu cabelo saltou para frente e cobriu o meu rosto como uma
cascata. Joguei-os para trás e tentei me equilibrar ao passo que ele
me carregava em direção ao seu banheiro.
Senti sua mão acertar a minha bunda com força e enfiei minhas
unhas em suas costas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Oh, Dingo Dingo... — arfou. — Me arranhe de novo e eu vou


espancar a sua boceta.
Mordi o canto dos lábios, tentada a repetir o gesto, mas com
medo de sua brutalidade.
De cabeça para baixo, aproveitei para apreciar aquele belo
traseiro sendo exibido bem diante dos meus olhos.
Estiquei minhas mãos e os apertei, Christopher se empertigou e
me sacudiu em seu ombro. Ri alto de sua reação.
— Glúteos fortes. Que sexy, Chris! — caçoei, gargalhando.
— Sua pervertida.
Já dentro do banheiro, ouvi-o passar a tranca na porta. Ele
devolveu o meu corpo ao chão e apontou para as minhas roupas.
— Tire tudo.
— Tire você primeiro — rebati.
Ele me encarou sério, mas respondi sua teimosia à altura,
cruzando os braços, com a mais convicta decisão de que não iria
ceder.
Christopher olhou-me de cima a baixo, com um rápido
escorregar de olhos, no entanto, desistiu de relutar.
Ele removeu a camiseta, exibindo detalhes de seu corpo que
somente eu poderia aproveitar.
Chris tocou o botão de sua calça, o que rapidamente chamou a
minha atenção. Acompanhei-o desabotoando a sua calça, abaixá-la
até os tornozelos e terminar de tirá-la com os pés.
Ao tocar a borda da sua cueca, seus olhos prenderam-se aos
meus. Sentia-me ansiosa e excitada, mas sempre demonstrava
calma e postura.
Christopher deslizou o tecido pelo seu quadril e deixou que
escorregasse por conta própria em suas pernas, até que estivesse no
chão.
Meus olhos desceram do seu rosto para o seu corpo, apreciando
todas as suas tatuagens, os seus músculos e belas curvas. Seu
excepcional membro atraiu o meu olhar como um ímã. Ele era tão
largo, grande, cheio de veias, tatuado e curiosamente único.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu nunca havia visto nada como aquilo em lugar nenhum. Era


óbvio que eu havia encontrado uma coisa ou outra na internet
quando mais nova e curiosa, mas não como aquilo, era tão
descomunal e imenso.
Não conseguia imaginar como ele escondia aquilo tão bem
dentro das calças.
Talvez ter um pênis daquele tamanho fizesse parte do pacote de
ser um demônio.
— Sua vez — lembrou-me.
Com os olhos presos aos seus, para mostrar a ele que não me
sentia mais intimidada, levei minhas mãos ao fecho do meu sutiã e o
abri, deixando que ele raspasse em meus braços até que se soltasse
por completo do meu corpo.
Não poderia me dar ao mérito de dizer que tinha grandes seios,
ou, até mesmo médios, já que eles eram apenas meros limãozinhos.
Entretanto, Christopher os olhava como se fossem do tamanho
perfeito.
Talvez, para ele, tudo em mim fosse do tamanho certo, ou era o
que poderia concluir pela maneira a qual me admirava.
Abri a minha calça, e a deslizei para fora do meu corpo. Seu
nariz instintivamente se franziu em uma careta ao se deparar com a
minha bela calcinha de vovó, na cor bege.
Ri de sua expressão.
Bom, quase tudo em mim o agradava exceto, as minhas
calcinhas.
Ele a encarava com o mais puro desgosto. Sequer fazia o menor
esforço para disfarçar a sua aversão.
— Gostou da minha calcinha nova, diabão? — sorri e ele fechou
os olhos.
— Tire isso logo, Dingo.
— Comprei pensando em você.
Christopher ergueu a cabeça para o teto e pôs as mãos na
cintura.
— Eu percebi — resmungou.
— Não quer olhar mais um pouco? — sugeri, maliciosa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Era tão divertido vê-lo afetado pelas minhas terríveis escolhas de


calcinhas.
— Tire!
Prendi os lábios entre os dentes, segurando um sorriso.
— Tenta olhar de novo, talvez você goste — insisti, entre um riso
e outro.
Ele mirou os seus olhos nos meus e ergueu uma sobrancelha.
— Tire ou eu vou rasgá-la — ameaçou, frio.
— Credo, que mau-humor — reclamei, prontamente, tirando-a.
Ainda era muito cedo para ele se desfazer dela, pretendia
mantê-la a salva por mais um tempinho.
Ele esfregou o rosto e suspirou.
— O que eu preciso fazer para você abdicar dessas coisas
horrendas? — resmungou.
Rindo, me aproximei, dando-lhe um beijo no queixo.
— O que eu preciso fazer para você entender que não vai
conseguir?
Ele se curvou, deitando sua testa na minha
— Que merda! — murmurou.
Coloquei minhas mãos em seu rosto e beijei a sua bochecha.
— No fundo eu sei que gosta delas.
Christopher não respondeu, mas seu corpo inteiro se mostrou
contrário ao meu comentário.
— Obrigada por ficar — sussurrou, desconversando.
Havia muito mais do que apenas sinceridade, podia enxergar a
sua gratidão bem nítida ali.
— Não vai mais escapar de mim, Chris.
— Eu espero mesmo que não.
Ele se afastou e estendeu a sua mão, peguei-a de bom grado e o
segui até o chuveiro, onde ficamos os dois abraçados debaixo da
água. Apenas balançando o corpo para lá e para cá numa dança
lenta.
Meus braços estavam envoltos em sua cintura. Suas mãos
afagavam as minhas costas e seus lábios vez ou outra beijavam o
topo da minha cabeça.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Aquela era a melhor sensação existente. Tê-lo ali comigo tornava


tudo único. Nada mais importava quando eu estava nos braços do
meu homem. O mundo ao redor simplesmente nublou-se, e tudo o
que eu conseguia ver éramos nós dois.
Por um tempo, tudo o que eu mais queria, era tê-lo o mais
distante possível. Porém, se me dissessem agora sobre um futuro no
qual nós dois não estivéssemos juntos, eu optaria por não mais
existir.
Naturalmente, havia me tornado dependente de Christopher;
emocionalmente, psicologicamente e fisicamente. Tudo em mim era
sobre ele. Eu o respirava e o vivia.
Sentia minha alma desvanecer-se somente em pensar na
possibilidade de não o ter comigo.
Christopher me pressionou em seus braços e suspirou.
— Dingo Dingo...
— Sim? — Ergui o rosto para ele.
— Eu te amo.
O ar sumiu de meus pulmões. Por um milésimo de segundo, eu
vi aquela cena se pausar como num filme. Meu coração disparou e
os meus olhos se arregalaram.
Eu mal podia conter as emoções dentro de mim. Era tão perfeito
ouvi-lo dizer.
— Diga de novo — pedi, os olhos inundando-se em lágrimas.
Christopher acariciava o meu rosto com ternura, não poupando-
me de olhares apaixonados e doces.
Como podia ser tão perfeito? Como podia ser tão meu?
— Eu te amo, minha Dingo Bells.
Um soluço escapou de meus lábios, misturando-se a um sorriso
emocionado.
— Chris... — arfei.
Eu não imaginei que ficaria tão emotiva por tê-lo escutado dizer
essas três palavras. Embora houvesse fantasiado com isso, jamais
imaginei que este momento se concretizaria.
Afinal, demônios não amavam, mas o meu Christopher me
amava.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu também te amo. Amo tanto — admiti, chorosa.


Ele sorriu, aproximando seu rosto até que nossos lábios se
encaixassem em um beijo.
Eu o amava. E esperava que apenas o amar bastasse.

Minha blusa foi para o lixo. E, sem outra alternativa, peguei uma
de Chris, que chegava até a metade das minhas pernas. Precisei
fazer um nó, para que ficasse, minimamente, boa em meu corpo.
Todavia, eu ainda aparentava ter vestido um saco.
Eu já estava de saída quando decidi parar na porta de Asafe. O
pequeno despertou há pelo menos meia hora. Christopher havia o
conferido, em seguida, foi preparar uma mamadeira para ele.
As ainda estava muito cansado, pois, pelo que eu soube, o outro
lado dele, de certa forma, tomava muito de sua energia.
A porta estava entreaberta, coloquei apenas uma parte do rosto
na frecha.
Existiam coisas na vida que meu cérebro conseguia entender
bem rápido, menos o fato de que Asafe não era como as outras
crianças. Eu ainda me sentia surpresa por não o ter flagrado
brincando com os seus brinquedos, mas, sim, falando sozinho.
O pequeno/grande rapaz, estava sentado diante da parede,
olhando-a como se mais alguém estivesse ali com ele.
— Não — Asafe dizia baixinho, como se contasse um segredo.
Engelhei as sobrancelhas, intrigada.
— Ele não contou para ela — sussurrou, olhando para as suas
mãozinhas. — Papai não quer que a Dingo saiba. — Estreitei os
olhos, sentindo o coração palpitar mais forte.
Do que é que Asafe estava falando?
— Ela não sabe o que ele fez com você — murmurou.
A porta de repente se fechou, não pelo vento ou um fator
sobrenatural. Apenas me dei conta do que havia acontecido quando

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

notei a mão de Christopher sobre ela.


Sentia-o atrás de mim, com o corpo roçando o meu. Sua
respiração pesada atingia o meu pescoço, causando-me calafrios.
Assustada, imediatamente virei-me para ele.
— O que está fazendo? — questionou ele.
Sua face estava petrificada em uma expressão rígida e
enraivecida.
— Eu vim me despedir do Asafe. — Tremi ao dizer.
— Ele vai chorar se ver que você vai embora. — respondeu com
rudeza.
— Ah — foi tudo o que eu consegui sibilar.
Tentei aparentar normalidade, no entanto, sentia meu rosto
vermelho como um tomate.
Por que Christopher ficou tão estranho de repente? E o que ele
fez? Por que fez?
— Aconteceu algo? — investigou, olhando-me minuciosamente.
Balancei a cabeça, negando.
Christopher não parecia convencido e deu um passo em minha
direção, mas foi o bastante para me deixar em pânico.
— Eu já vou — avisei.
Ele segurou o meu queixo e o ergueu para si.
— Tome cuidado — alertou.
Sua voz trazia consigo um fundo de duplo sentido, e eu não
sabia o que fazer com aquilo.
— Claro — concordei baixo, deixando a entender que minha
interpretação fora rasa, mas era difícil enganar a ele.
Dei-lhe um rápido beijo nos lábios e fiz menção em me afastar,
mas Christopher segurou o meu braço.
— Você faz parte da minha vida agora. Tente ser compreensível
com tudo o que vê.
— Hum-huh. — Assenti, nervosa, mas algo lhe chamou a
atenção.
Christopher olhou sobre a minha cabeça, atento. Seus olhos
vagavam ao redor da casa, como se algo estivesse errado. Seus

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

olhos escureceram e aquele olhar demoníaco se fez presente em seu


rosto.
— Fica aqui. — Ele me puxou para trás de si e pôs-se à frente,
caminhando com passos largos para a sala.
Estranhei o seu comportamento, mas me mantive parada.
A porta do quarto ao lado se abriu e Asafe correu para fora. Ao
me ver, parou ao meu lado e segurou a minha mão.
— Dingo, tô com medo — admitiu.
Todo o seu pequeno corpinho estava trêmulo. Sua mão suava
frio e os seus olhos estavam arregalados.
— Não se preocupe, ok? Papai vai cuidar de nós dois. — Abaixei-
me ao seu lado e o puxei para os meus braços, envolvendo-o em um
abraço apertado.
Sentia seu coraçãozinho disparado no peito. Ele estava tão
amedrontado que me partia vê-lo naquele estado.
— Venha. — Peguei-o no colo quando ele começou a fungar, o
choro ameaçando a desatar de seus olhos. — Está tudo bem, bebê.
— Beijei a sua testa e deitei a sua cabeça em meu colo.
As estava desesperado e eu não sabia a razão.
Havia perdido Christopher de vista, e não tinha a menor suspeita
do que estava rolando.
Até que, de repente, um ruído alto reverberou pelo corredor,
como se algo se partisse ao meio. Nervosa, recuei um passo. Asafe
estava chorando em meu ombro e agarrava os meus cabelos como
se dependesse de mim naquele momento.
— As, você sabe quem está aqui? — perguntei num sussurro.
O pequeno afastou o corpo para conseguir olhar-me nos olhos.
— É o bicho papão — respondeu, choroso.
Eu não sabia quem era o bicho papão para ele, mas certamente
não era coisa boa.
— Christopher vai expulsá-lo — garanti.
— Papai não pode expulsar ele. — As balançou a cabeça.
— Não pode? — Enruguei a testa.
Ouvi vozes da sala de estar, entretanto, não conseguia distinguir
o que diziam, era como murmúrios estranhos e indecifráveis.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Devagarinho, dei passos, um atrás do outro, e à medida que eu


me movia, As pressionava o rosto com força em meu ombro.
Eu estava com medo, porém, não queria deixar As sozinho,
temia que algo pudesse lhe ocorrer se não houvesse ninguém por
perto.
As vozes pararam no momento em que cheguei ao fim do
corredor. Quando dei meu último movimento antes de me por diante
da situação, tudo se silenciou por completo.
No centro do cômodo, Chris estava de pé, olhando para o
homem tão alto quanto ele. Ambos se encararam friamente perante
a mesa de centro, destruída. Os estilhaços de madeira haviam se
partido e espalharam-se por todo o chão.
O homem diante dele, possuía diversas tatuagens e cicatrizes
medonhas espalhadas em seus braços. Mesmo possuindo uma
beleza louvável e uma postura significativamente elegante, eu tinha
uma sensação de desconfiança quanto a ele.
Ao mesmo tempo em que me parecia um homem fino, também
transpassava a ideia de que, a qualquer momento, se viraria contra
nós.
Seu cabelo negro caia sobre os seus ombros com magnitude Os
seus olhos escuros miraram sobre os meus no instante em que
notaram a minha presença.
Eu estagnei no lugar.
— Um belo motivo, suponho — comentou, enigmático. Ele
parecia dar continuidade ao que conversavam há alguns poucos
minutos.
O timbre da sua voz se parecia como um cantar dos anjos. Era
hipnótico e sedutor.
Christopher virou o seu rosto para mim, furioso.
— Me entregue o As e vá para a sua casa — aquilo era uma
ordem, sem espaço para protestos.
— Está tudo bem? — arfei, a voz quase sumindo.
Christopher não se conteve e avançou em minha direção,
arrancando seu filho de meus braços.
— SAIA!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Abri os olhos ao máximo e me empertiguei.


Estremecida, me afastei dele. Meu olhar, por um segundo,
alternou para o outro homem, que se aproximava devagarinho de
nós, como uma cobra prestes a dar o bote, mas se mantinha em
silêncio. Parecia que se chegasse próximo demais, poderia nos
matar.
Existia algo de ameaçador naquele homem. Tudo nele parecia
um convite a morte.
Corri dali para fora da casa, sem olhar para trás. Não tinha ideia
do que havia acontecido, mas tremia tanto que mal conseguia enfiar
a chave na ignição do carro.
Quando cheguei em casa, tranquei-me no quarto e tornei a
chorar até que meus olhos estivessem inchados demais.
Eu não liguei para Christopher aquela noite, tampouco ele o fez.
Meus ossos doíam com tanta tensão. E minha pele gritava,
alertando-me que algo de muito ruim havia acontecido.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

03 de Junho | Segunda

Christopher sumiu durante todo o fim de semana. Minhas


chamadas caiam diretamente na caixa postal, minhas mensagens
não eram visualizadas e o seu perfil nas redes sociais estava sempre
inativo.
Eu estava à beira de um colapso.
Já havia dado voltas no quarteirão de sua casa uma centena de
vezes, mas nem mesmo o seu carro estava na garagem.
Eu estava ficando louca. Queria ter o contato de suas irmãs ou
saber onde elas moravam, mas eu não sabia nada sobre Christopher.
E isto estava começando a me incomodar além da conta.
Eu confiava cegamente em suas escolhas, porque adorava tê-lo
no comando de todo o meu corpo. Mas não podia deixar que ele
continuasse a interferir em minha vida daquele jeito.
Meus olhos estavam presos à carteira quando notei a presença
de alguém agachando ao meu lado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Luc me olhava com um sorriso triste nos lábios, estava


atordoado por me ver daquela maneira, mas queria me dar apoio
moral, mesmo que não soubesse a razão da minha infelicidade.
— Você geralmente é quieta, mas hoje parece que pisou em
merda — comentou.
Forcei um sorriso.
— Acho que eu não só pisei, como me banhei nela. — Suspirei
triste, deitando a cabeça em cima da pequena mesa.
Era intervalo, mas eu não estava a fim de ir para o refeitório.
Optei por manter-me sentada na sala de aula.
Não queria ver ninguém, falar com ninguém, ou dar explicações
a ninguém. Eu só queria me encolher até sumir.
— Está com fome? Eu trouxe barras de cereais. — Ele as ergueu
diante dos meus olhos, num gesto gentil.
Resmunguei algo que deveria ter sido um "não", mas soou como
um grunhido esquisito.
— Certo! — Ele assentiu, puxando uma cadeira.
Ele sentou-se ao meu lado e colocou a bolsa no chão.
— Eu não gosto de bancar o psicólogo, mas também não gosto
de ver a minha melhor amiga parecendo uma ameba em
decomposição. Caramba, Dy, tem moscas voando em cima de você.
— Ele balançou a mão sobre a minha cabeça, fingindo afastar os
insetos imaginários.
— Eu tô bem — murmurei.
— Se isso é estar bem, tenho medo do que você pode fazer
quando estiver mal. — Ele juntou as sobrancelhas. — Por favor, não
se mate. Mas se fizer, me chame antes.
— Vai me impedir? — impliquei.
— Nah! É só para fazermos isso juntos.
Sorri.
— Suicídio duplo? — pensei.
— Bom, eu conheço mais gente que adoraria participar.
— Todos eles têm depressão?
— Não, eles estão terminando o ensino médio.
— Faz sentido.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É, faz sim.
Conversar com o Luc era bom, embora não apaziguasse aquele
misto de inconformidade e medo dentro de mim.
Não saber de nada me matava por dentro. Era como se eu
estivesse em uma caixa, sendo lentamente espremida pelas minhas
próprias angústias e aflições. Eu estava sendo engolida pelo
desespero e ansiedade.
O meu corpo inteiro estava preso em um estado caótico de
pavor. Tudo dentro de mim estava a mil, no entanto, me mantive
estática por fora, sem forças para conseguir mexer um único dedo.
— Me conte algo de bom ou eu vou morrer aqui mesmo —
implorei, chorosa.
— Eu terminei o meu livro. — Ele sorriu.
— Isso é bom. E como foi?
— Eu não vou contar, seria um grande spoiler.
Revirei os olhos.
— Você não está ajudando.
— Que tal se eu te obrigar a ir para o refeitório para comer algo?
Você está com cara de quem nem mesmo jantou.
Entortei o canto dos lábios.
Ele não estava errado. Não consegui comer nada. Minha
garganta doía até mesmo quando bebia água e parecia queimar
ainda mais quando prendia o choro.
Deixar Christopher fazer o que quisesse comigo me trouxe
consequências, e agora eu mais parecia um zumbi do que um
humano. Tudo isso apenas porque não tive notícias suas.
— Eu não quero sair daqui. Eu só preciso... ficar parada —
sussurrei.
Estava mentalmente esgotada. Não conseguia lidar com mais
nada no momento.
— Quer me contar o que está havendo? — investigou,
preocupado.
— Apenas nunca se entregue cem por cento para ninguém, Luc.
Nunca ame ninguém mais do que a si mesmo. Nunca.
— Christopher fez algo?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não, ele não fez. Esse é o problema. — Fechei os olhos,


sentindo-os embaçarem em razão das lágrimas. — Eu não faço ideia
de nada. Eu estou completamente fora da vida dele.

Era hora da saída.


As salas já estavam vazias e os alunos marchavam para fora da
escola. O céu estava escuro, ameaçando cair uma grande
tempestade. Os trovões estrondavam no céu entre um intervalo e
outro, após brilharem.
Eu estava encolhida em meu casaco, a caminho do
estacionamento. Cobria as minhas mãos com luvas macias e usava
botas.
Eu só queria entrar no meu carro o mais rápido possível, ligar o
aquecedor, colocar uma música alta e partir para casa.
Mas os planos da vida, me reservavam outras coisas.
Christopher estava sentado no capô do meu carro, os olhos
presos ao meu rosto, alheios.
Ele parecia absurdamente despreocupado e calmo, como se
nada nunca tivesse acontecido.
Meu coração batia forte no peito e minha pele agora fervilhava
sob as roupas grossas.
Naquele instante, a preocupação transformou-se em raiva. No
fundo, talvez eu quisesse encontrá-lo todo machucado, apenas para
ter uma razão para compreender o motivo do seu sumiço. Mas vê-lo
tão bem e inteiro me causava a ligeira vontade de gritar com ele por
toda a angústia que me causou.
Engoli o nó em minha garganta. Meu peito doía e os olhos
ardiam. Mas caminhei firmemente até o meu carro. Não lhe dirigi a
palavra, tampouco o olhei novamente, desviei o caminho e passei
direto em sua frente, marchando para a porta do motorista.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ouvi os seus pés pisarem fundo no chão até onde eu estava. Ao


abrir a porta do carro, Chris segurou o meu braço.
— Amor — chamou.
Fechei os olhos e enchi os pulmões.
Senti uma lágrima teimosa escorrer em minha bochecha.
Não era justo. Não era justo ele ter feito aquilo.
— Ei. — Senti-o se aproximar, envolvendo meu corpo em seus
braços. — Me desculpe.
— Eu não... — Mordi o canto dos lábios, trêmula, e suspirei. —
Por que, Chris? Por quê?
Ele segurou o meu rosto entre as suas enormes mãos e beijou
os meus lábios.
— Terá que confiar em mim, amor.
— Você me tira todas as razões possíveis para confiar em você
— debati, irritada.
Seus olhos encaravam minuciosamente o meu rosto.
— Isso vai além de nós dois.
— Não, Chris. Não vai. — Dei um passo para trás. — Eu não
quero viver no escuro. Não dá para amar alguém assim.
— Se eu te contar, nunca mais me verá do mesmo jeito.
— Se precisa me esconder, eu não deveria mesmo estar com
você.
Ele automaticamente crispou a testa, transformando seu rosto
em uma expressão dura e rígida. Notei a sua irritação com as minhas
palavras, mas já era tarde, e eu não iria voltar atrás.
— É a minha vida em risco — continuei.
— Faço qualquer coisa antes de você ser machucada — rebateu
ligeiro.
— Não, não faz. Porque nesse exato momento eu estou
machucada, mas você não vê isso — solucei.
Atordoada, esfreguei os dedos em meu cabelo, enfiando-os com
força na raiz.
— Eu passei o fim de semana inteiro me mordendo de medo.
Assustada e perdida, porque não fazia ideia do que tinha acontecido
— minha voz gradualmente se sobressaiu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Tanto faz, eu já não estava nem aí se alguém estivesse nos


ouvindo.
— Você não tem ideia, Chris. Não tem ideia de quantos cenários
horrorosos eu criei na minha cabeça. Tudo porque você... — apontei
para ele — não se deu o trabalho de falar comigo.
Abracei o meu próprio corpo, alterada. Precisava de alívio.
— Você simplesmente me abandonou no momento mais
assustador da minha vida. — Naquele momento, eu já chorava tanto
que minha voz enrolava.
Christopher apertou os dentes com força. Seu maxilar estava rijo
e o rosto, pouco a pouco, ganhava tons de vermelho.
Ele inspirou com força e virou-se de costas para mim por um
momento. A fúria tomava conta de seus pensamentos enquanto ele
se obrigava a detê-la. Quando finalmente voltou sua atenção para
mim, ele parecia se esforçar ao máximo para não gritar.
— Precisei ficar longe, não por mim, mas por você, Dytto! Eu
não posso ficar sempre do seu lado, porque isso pode não ser
seguro para você ou para a sua família — esbravejou.
— E como é que eu vou saber se não me conta nada! — devolvi,
tão irritada quanto ele.
Ele segurou firmemente o meu rosto com as duas mãos.
— Eu estou sempre, sempre te protegendo. E eu me esforço pra
caralho para que você não precise saber do quê.
— Me fala, Chris. Me fala o que está acontecendo com você.
Quem era aquele homem? Por que As estava com medo? Por que me
expulsou? Eu só consigo ter dúvidas e mais dúvidas. E isso está
aqui... — apontei para a minha garganta — entalado aqui, me
sufocando.
— Que porra a mais você quer saber de mim? Eu já não faço
tudo por você?
Balancei a cabeça, incrédula com a sua indiferença. Para ele,
apenas me proteger deveria bastar. Mas esconder segredos não me
protegia de absolutamente nada.
— Me solta — pedi, numa entonação mais baixa agora.
— Dingo...

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu quero ir para a minha casa. — soprei, infeliz.


— Não. — Ele balançou a cabeça. — Não... — Chris me puxou
para mais perto dele, abraçando o meu corpo e beijando o topo da
minha cabeça. — Tá tudo bem, querida. Vai ficar tudo bem. Me
desculpa, está bem? Eu vou te contar tudo o que precisa, eu
prometo.
Seu cheiro me inundou, trazendo calma para a minha aflição.
Embora ainda estivesse com raiva, eu estive com tanta saudades que
apenas queria tê-lo comigo.
— Eu tô exausta, Chris. Não consegui dormir, comer ou me
mover. Eu não quero nunca mais sentir isso. Eu não posso. Amar
você está me matando aos pouquinhos.
Christopher curvou o corpo até estar quase na minha altura, e
então, beijou os meus lábios.
— Eu vou dar um jeito em tudo isso — garantiu, em meio ao
nosso beijo.
— Preciso dos seus segredos.
Ele suspirou forte.
— Por hoje, eu quero que saiba apenas o suficiente. Eu
realmente não quero te afastar de mim, amor. Por favor, eu imploro,
me deixa te contar apenas o suficiente. Você nunca me perdoaria se
soubesse o monstro que eu sou.
— Por quê? Nunca se importou de me fazer ter medo de você
antes.
— A situação é diferente agora.
Encolhi-me e afastei o corpo do seu.
— Eu decido até onde quero saber.
— Ir contra mim é um caso perdido. Sabe que eu não vou
desistir, mesmo que peça.
— Pode não desistir, mas não vai suportar ter a minha aversão a
você.
— Vou lutar cada segundo para que não tenha.
— Se fizer isto, só estará garantindo um meio para que eu te
odeie, Chris.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele sorriu e colocou seus dedos em minha bochecha,


acariciando-a de leve.
— Impossível, amor. — Seus dedos escorregaram até estarem
acima do meu coração. — Isso aqui é meu.
— Não disse que deixaria de ser, apenas que o amor pode se
transformar em ódio em um único segundo, se preciso.
— Não vou deixar que me odeie, mas se fizer, por mim tudo
bem. Eu não fujo de você, e nem você de mim. E isso é um acordo
selado.
— Não há acordo se não é uma decisão unânime.
— Às vezes você esquece com quem namora. Não preciso da
sua autorização para nada, Dingo. Peço às vezes em respeito a você.
Fiz cara feia, mas não adiantou.
— Entre no carro, mas do lado do passageiro. Vou te levar para
outro lugar, precisamos de privacidade.
— Eu não vou! — Bati o pé. — Eu passei pelo inferno, e agora
você simplesmente vem e age como quer.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Que coincidência, querida. Voltei de lá não tem muito tempo.
Ele apontou para o outro lado do automóvel.
— Entre, Dytto — ordenou, autoritário. — Ou eu te faço entrar
mesmo assim.
— Você começou com o pé certo para quem quer se redimir, não
é? — fui irônica.
— Comece a andar com o pé certo e eu não terei que acorrentar
nenhum dos dois — ameaçou.
Deixei que meus ombros desmoronassem em desânimo.
— Vá se foder, Christopher Yori. Sem brincadeira.
Ele umedeceu os lábios, prendendo um sorrisinho.
— Eu vou foder, sim — garantiu, me olhando de um jeito sacana.
— Entra logo, vida. Eu preciso me resolver com a minha mulher, e
ela não está cooperando.
Mostrei-lhe o dedo do meio e ele devolveu o gesto.
— O meu é bem maior — se gabou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Ótimo! Enfie no seu rabo. — Marchei em direção ao banco do


passageiro e me enfiei de qualquer jeito no carro.
Quando Christopher entrou, tentou uma certa aproximação,
tocando a minha coxa, mas afastei a sua mão e encostei o corpo na
porta.
— Vamos ficar sem nos falar, então? — incitou.
— Ao que parece, é assim que a nossa relação funciona agora —
disse entredentes.
Ele soltou o ar com força e deixou que parte do seu corpo
deslizasse sobre o banco.
— Não fui justo com você.
— É, não foi — murmurei, irritada.
— Mas eu quero que saiba, que se eu não tivesse feito o que fiz,
teria encarado a fúria de alguém que está muito interessado em me
atingir.
Instigada, olhei para ele.
— O homem na sala?
— Sim. Digamos que ele é um antigo... colega de trabalho.
— Trabalho? — Juntei as sobrancelhas. — Que tipo de trabalho,
Christopher?
— Ele veio diretamente do inferno para me visitar, amor. E agora
que ele sabe de você, me tem na palma das mãos — confessou,
incrédulo. — Quanto mais perto você estiver dele, mais próxima de
morrer estará.
Engoli em seco.
— O que ele quer? — sussurrei.
— Poder. Vingança. Soberania.
Balancei a cabeça.
— Por que me meteu nisso tudo, se sabia que a minha vida seria
sempre assim?
— Porque demônios não sabem conter o vício. E você é o meu
vício, Dytto. É impossível a minha parte demoníaca te deixar ir.
— Se você fosse apenas um humano, ainda estaria comigo?
— Se eu fosse um humano, eu seria apenas um idiota
apaixonado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Olhei para frente, enquanto brincava com os dedos uns nos


outros.
— Pode ser apenas um idiota apaixonado hoje? — cochichei.
— Está com medo de mim?
Concordei, balançando a cabeça.
— Certo. Apenas um idiota apaixonado hoje — concordou.
— Preciso que esse idiota apaixonado esteja disposto a ser
sincero. — Baixei os olhos para as minhas mãos sobre o meu colo.
— Não.
Olhei-o nos olhos.
— Você nunca será verdadeiro comigo, não é? — lamentei,
decepcionada.
— Não se esqueça de que é apenas uma humana. Não saberá
lidar com nada do que eu te disser. E eu te conheço o bastante para
saber que imploraria para eu parar com tudo o que estou fazendo.
— Eu namoro você, e te conheço menos do que qualquer
pessoa. — Sorri, magoada. — Me sinto olhando para uma porta
trancada toda vez que te olho.
— Ainda vai me agradecer por eu não deixar você entrar.
Revirei os olhos, mirando-os para a paisagem lá fora. O
estacionamento agora estava quase vazio. Algumas finas gotículas
de água caiam no chão, misturando-se à forte ventania. Logo, logo a
chuva daria início.
— Por favor, não odeie essa relação — pediu, roçando de leve o
meu braço. — Eu amo você, Dytto. Eu nunca me apaixonei, e a
minha parte idiota está tentando não te decepcionar. Eu te deixaria ir
se eu conseguisse, mas não há formas de isso acontecer, então me
deixe te compensar.
Olhei em sua direção.
— Eu sinto que estamos sempre caminhando para um fim.
Ele baixou o olhar. A seriedade emergindo em seu rosto.
— Isso não vai terminar. Nunca — pontuou, rígido.
Christopher se ajeitou no banco e pôs as mãos sobre o volante.
— Eu sou tolerante, querida. — Ele virou a chave na ignição e o
carro ganhou vida. — Mas continuo sendo um demônio.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

03 de Junho | Segunda

Meus olhos se abriram em um rápido ato.


A breve imagem de um ambiente com uma iluminação rarefeita
bordou minha vista. Eu não fazia ideia de onde eu estava e nem
como havia chegado ali.
Ergui o corpo nos cotovelos, aos poucos sentando-me no que
parecia ser uma enorme cama coberta por um lençol de seda
vermelho, em meio ao cômodo escuro.
Atordoada, pisquei várias vezes, obrigando-me a identificar a
situação. Estava sozinha em um local completamente desconhecido.
Eu não me lembrava de muita coisa, além da sucinta lembrança de
um Christopher dirigindo o meu carro em uma estrada longe da
cidade.
O quarto mais parecia ser de uma época distinta e macabra. As
paredes eram revestidas em uma cor escura e pareciam brincar com

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

a medíocre iluminação amarelada que as lâmpadas do canto das


paredes resplandeciam.
O lugar era muito mais espaçoso do que um quarto comum.
Havia espaço para uma família inteira abrigar-se ali. As enormes
cortinas na cor preta pendiam até o chão de madeira escura. Tudo
naquele ambiente era mórbido, desde a arquitetura até os móveis.
Existia um imenso lustre no centro, ornamentado por cristais, que
mais parecia derramar-se como uma cachoeira. Não queria nem
mesmo pensar no valor de tudo aquilo. Era grã-fino demais.
A porta abriu-se de repente, anunciando um Christopher todo
paternal, com Asafe adormecido em seus braços. A cena me
intrigou, mas deixou o meu coração inteiramente aquecido.
A Torre Tatuada sorriu ao me ver desperta. Ambos estavam tão
lindos naquele instante, o que me derreteu todos os neurônios
existentes.
Por um momento, o imaginei em dias habituais cuidando de
Asafe. Era interessante vê-lo como pai solo em minha imaginação,
tornava-o, de certo modo, mais humano.
Christopher caminhava com cuidado, certificando-se de que o
filho ainda dormia. Ao se aproximar, apoiou o joelho do colchão e
passou o rapazinho para o meu colo.
— Estávamos esperando você acordar. As estava ansioso para
ter ver, mas ele também estava exausto — comentou, enquanto
sentava.
Sorri, encantada, e depositei um rápido beijo na bochecha do
bebê.
Ele estava tão bem aconchegado em meus braços.
— Asafe é a coisinha mais preciosa do mundo — sussurrei, a voz
rouca, subsequente a minha dormida.
Christopher curvou um sorriso.
— As tem lá os seus momentos fofos — brincou, acariciando de
leve o rosto do filho.
Ele me olhou nos olhos, de um jeito terno e macio. Nossos
momentos tornavam-se mais aconchegante quando não estávamos
brigando.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu não faço ideia de quando eu caí no sono — murmurei.


— Um pouco depois de dez minutos de viagem — explicou.
— Onde é que eu tô? — Puxei o lençol para cobrir o pequeno em
meus braços.
Não estava exatamente frio, mas achei que seria mais
confortável deixá-lo embrulhado.
— Na casa da minha família. No meu antigo quarto, mais
especificamente.
Dei uma rápida varrida com os olhos no lugar.
— Eles estão aqui? — perguntei, assombrada.
Ele não se conteve e acabou rindo.
— Eles não são como eu, Dingo. São seres humanos.
— Ah! — soprei, envergonhada.
Asafe se movimentou em meus braços, fiquei apreensiva, mas
ele continuou dormindo.
— Amor — Christopher chamou num sussurro e levei meus olhos
em sua direção. — Venha, temos que preparar algo para você comer.
— E o As?
— Ficará no quarto dele, o traremos de volta quando acordar.
Mas, como o meu diabinho dormiu tem pouco tempo, vai ficar
desacordado por horas. — Christopher deu de ombros. — Ele adora
dormir.
— Certo! Eu só vou... — Tentei afastar a coberta com cuidado,
para erguê-lo no colo, mas Christopher foi mais rápido.
— Deixa comigo — informou, pegando-o de volta.
Ele tomou a frente e o segui ao seu lado. Eu ainda estava meio
zonza quando saí do quarto. Meus olhos estavam pesados e minha
boca seca. Havia dormido bastante.
Estávamos no corredor do segundo andar da casa. Eu devia ter
apagado bem feio para não ter o sentido me subir pelos degraus
quando chegamos.
O lugar era enorme, ainda maior do que eu poderia sequer
imaginar. Parecia mais um castelo assombrado. Por um curto período
fútil de pensamentos, imaginei seus irmãos como uma família de
vampiros.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Era óbvio que eles não eram vampiros, mas era o que o
ambiente transmitia. As paredes pareciam gritar em horror, e o eco
que se emanava entre os cômodos se assemelhavam a sussurros. Ou
talvez eu apenas estivesse delirando.
Voltei minha atenção para os dois homens ao meu lado. Sorri em
alguns momentos, vendo Christopher beijar a testa do seu filho e
cheirá-lo. Meu peito se enchia de carinho assistindo aquela cena.
Mesmo com toda a sua insistente indiferença, existia uma parte
dentro de si que era sentimental e amava genuinamente. E era por
este Chris que eu era louca de amor. Não o Chris egoísta, arrogante,
que mentia, escondia segredos e sumia por dias.
Meu coração murchou com este pensamento. Ele imediatamente
percebeu, pois me olhou com uma expressão curiosa.
— O que foi? — questionou baixo.
— Um idiota apaixonado não saberia o que eu sinto — recordei o
nosso acordo.
— Não posso ser observador?
— Não. E eu estava sorrindo. Então você não tinha como ter
ideia do que se passa dentro de mim — determinei.
Seus olhos subiram e desceram pelo meu corpo. Ele negava-se a
aceitar aquilo. Era notável o seu descontentamento e a visível
preocupação, mas manteve-se calado.
Imaginei que aquilo não iria durar por muito tempo.
Quando Christopher devolveu As ao seu quarto — que, por sinal,
era completamente diferente do resto de toda a casa, pois apenas
nele existia uma bela prévia do que deveria ser um quarto infantil, se
não fosse as pequenas caveiras penduradas sobre o berço e algumas
figuras satânicas nas paredes, quebrando as boas expectativas.
Ao descermos às enormes e largas escadas juntos, Christopher
disfarçadamente cruzou seus dedos no meu, embora eu tivesse
notado as suas intenções de se desculpar, não o interrompi. Estava
faminta, e pouco interessada em dar continuidade a nossa discussão.
Teríamos tempo para isso.
Me sentia dentro de um castelo em meio a todo aquele espaço
da sua casa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Como eu nunca ouvi falar deste lugar antes? Seria impossível


alguém nunca tê-lo visto.
— Não tem ninguém na casa? — interroguei-o ao chegarmos no
cômodo.
— Amara está em uma viagem, Sam está na casa do namorado,
Leví está no trabalho e Demétrius... Bem, deve estar fodendo. — Ele
sorriu, dando de ombros.
— Leví? Demétrius? — Uni as sobrancelhas. — Quem são?
— Oh, droga! — ele mordeu os lábios. — Esqueci de avisar —
apontou para mim, despretensioso — Tenho mais outros dois irmãos
humanos.
— Humanos?
— Meu pai era um promíscuo. Devo ter outras centenas de
irmãos no inferno e em outros paralelos.
— Não são todos filhos do mesmo pai?
Ele soltou uma gargalhada exagerada.
— Cada um tem um pai diferente. — Ele lambeu os lábios. —
Nossa mãe gostava de... — Ele deu de ombros. — Enfim.
Ele arrastou o banco encostado diante do balcão para que eu me
sentasse e deu a volta, procurando por alguma coisa nas gavetas.
— Gosta de sanduíche?
— Vai me fazer um sanduíche? — Ergui a sobrancelha.
— Eu vou ficar te devendo um almoço. Mas, por enquanto,
precisamos de uma comida feita rápida. Você tá pálida. — Observou.
Assenti.
— Tudo bem. — Minha barriga roncou alto no mesmo instante.
Christopher desceu seu olhar sobre mim e a cobri com os
braços.
— Não me olha assim, é constrangedor.
Ele sorriu e voltou sua atenção ao que fazia.
— Sim, senhora.
Enquanto Chris preparava o seu "Mister Monster sanduíche",
parei para observá-lo. Era satisfatório vê-lo na cozinha, abrindo e
fechando gavetas, mexendo em tudo e misturando molhos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu estava curiosa e não aguentava mais segurar as perguntas.


Ele obviamente notou, mas decidiu fingir que não.
Pigarreei, quando finalmente tomei coragem.
— Sua mãe... — comecei, esperando uma reação de sua parte,
quando vi que ele fez pouco caso, prossegui: — Como ela é?
— Atualmente?
— E tem diferença?
— Sim. Viva ela era uma coisa, morta ela é outra.
Minhas sobrancelhas saltaram. Eu ainda me esquecia que ele via
os mortos.
— Não sabia que ela tinha morrido, sinto muito!
— Guarde seus sentimentos a quem não consegue visitar os
seus parentes mortos, Dingo.
Cocei a nuca, constrangida.
— Então... Me conta, ela era uma mãe legal?
Ele terminava de cortar uma fatia de tomate quando parou a
faca para me olhar.
— Ela era excêntrica. O tipo de mulher que prioriza os seus
próprios interesses antes dos filhos. Isso responde a sua pergunta?
Meus pensamentos só conseguiam a nomeá-la como
irresponsável, no entanto, se nem mesmo Christopher era capaz de
ofendê-la, decidi manter os meus pensamentos para mim.
— Com certeza.
Ele não deu continuidade ou fez menção a nenhuma história
sobre a sua mãe, portanto, preferi não comentar mais nada a
respeito. Não fazia ideia do seu sentimento quanto a ela, e não
gostaria de machucá-lo com isso.
Em média, vinte minutos depois, eu tinha perante os meus olhos
um sanduíche tão grande que duvidei ser capaz de aguentar comer
por inteiro.
— Devore tudo, amor. Sem desperdícios — disse, lavando as
louças.
— Gula é um pecado — notei, encarando a montanha à minha
frente.
— Nesta casa, todos os pecados são bem-vindos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Revirei os olhos, mas avancei como uma desesperada no meu


lanche.
Christopher era exagerado em qualquer coisa que fizesse. Não
havia nada pequeno quando o assunto se remetia a ele. Bom,
naquele momento, era uma vantagem, em outros momentos, não.
Quando terminei, Christopher me encarava admirado. Me ver
entupida até o talo de comida o deixava impressionado. Ele sorria
encarando-me confiante.
— Pare com isso — pedi, envergonhada.
Ninguém gostaria de ser observada lamber os dedos.
Christopher veio em minha direção, pousando suas mãos em
minha barriga.
— Bem melhor vê-la cheinha — brincou, beijando a minha testa.
Coloquei as minhas mãos sobre as suas.
— Gostou da minha barriga de gravidinha — brinquei, mas do
contrário que havia imaginado, Chris fechou a cara e se afastou.
— Prefiro que não fique grávida... nunca.
— De comida, bobinho — tentei descontrair, entretanto, isso
tinha mexido com ele.
— Que seja. — Ele me agarrou pela cintura, arrancando-me da
cadeira. — Vamos para o quarto.
— Ei! espera! — berrei.

— Não vai me manter trancada aqui — briguei, sentada num


canto da cama.
Christopher havia tentado suas técnicas de sedução, mas o
recusei e me transferi para o outro lado de onde ele estava.
— Eu sou uma moça de família, preciso estar em casa antes das
16h.
Ele revirou os olhos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Seu pai disse que está tudo bem. Por que está tão ansiosa
para ir embora? — reclamou.
— Não finja que a nossa brigou não existiu.
— Não estou.
— Ah, é? Por que parece que estamos evitando o assunto
enquanto você está aí, agindo como se eu simplesmente tivesse
esquecido?
Christopher suspirou, ajeitando-se na cama.
— Me diga o que eu posso fazer para que me perdoe.
Olhei para o teto, pensativa.
— Me conte tudo.
Ele tombou o corpo no colchão e fechou os olhos.
— O que quer saber?
— Onde estava? — disparei.
Ele umedeceu os lábios.
— Nefarious.
— Isso é o quê? Uma boate?
Ele franziu a testa.
— Que tipo de homem sem honra você acha que eu sou? —
ofendeu-se.
— Não sei, Chris. Não o conheço o suficiente. Talvez estivesse
com outras garotas, como posso saber?
Ele logo se virou em minha direção, arrastando o corpo até que
estivesse totalmente sobre mim.
— É um tapa na cara saber que pensa isso de mim.
— O que é Nefarious, Chris? — incitei.
Ele despencou o corpo sobre o meu e gritei com o seu peso.
— Chris, sai, você é pesado — reclamei, esforçando-me para
empurrá-lo, no entanto, foram tentativas em vão.
Apenas quando ele decidiu erguer-se nos cotovelos que pude
respirar novamente.
Inspirei fundo, agarrando-me a cada milímetro de oxigênio
possível.
Christopher mais parecia uma parede gigante de aço.
— Nefarious é o inferno em que fui forjado, Dy.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Pensei que o inferno se chamasse inferno — denotei.


— Se engana ao pensar que só existe um inferno.
— Pensei que...
— Não foi só um anjo que se rebelou, amor.
— Bom, eu sei, mas imaginei que todos estivessem no mesmo
inferno.
Ele sorriu de canto.
— Há uma grande lacuna entre uma história e outra.
Ele posicionou-se de lado e suspirou.
— Milhares de séculos depois que Lúcifer caiu, Christopher, um
anjo ganancioso e perverso, deitou-se com um outro anjo. Deus não
gostou.
— Você se deitou com um anjo? — quase gritei.
— Oh, amor. — Ele fez carinho no meu rosto — Não eu.
Christopher I, meu pai.
— Seu pai é gay? — Arregalei os olhos.
— Foi só isso que te chamou na história toda? — notou, curioso.
— Não, espera, não! Quer dizer, ele é?
Christopher deu de ombros.
— Ele dorme com quem ele quiser. Não é sobre o sexo. É sobre
a perversão em corromper tudo que há de puro.
— Igualzinho a você — comentei, distraída.
— Eu nunca dormi com um homem — pontuou, intrigado.
— Não era dessa parte que eu estava falando.
Ele sorriu.
— Então... Deus o expulsou do paraíso?
— Sim. Mas não por isso. — Ele naturalmente desceu o olhar
para o meu busto. — Christopher continuava a desafiar a bondade
de Deus. Deleitava-se de tudo que era bom e puro, inventava
mentiras, mas somente quando disse ser a salvação do mundo, que
então foi... Banido.
— Como Lúcifer?
— Não. Lúcifer está preso no seu próprio inferno. Christopher
caiu em Nefarious, um lugar onde milhares de demônios residiam.
— Mas...

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Christopher era esperto, conseguiu fazer com que todos


aqueles demônios tornassem seu exército. Mas ele não imaginou que
havia seres tão horrendos quanto ele.
— Quem?
Ele balançou a cabeça.
— Apenas entenda que nada se criou do nada. E nada vai se
destruir do nada. — Ele beijou o meu queixo. — Está tudo
conectado.
Ele escorregou a mão para o colarinho da minha blusa.
— E tudo o que acontece agora, é para definir o que seremos no
futuro. — Seus dedos brincaram com o meu busto. — E se quiser ir
contra isso, esteja pronta para lidar com as consequências do
universo.
Seus lábios beijaram a parte descoberta dos meus seios.
— Somos o que somos, amor — murmurou.
Christopher suspirou em meu ouvido.
— E você foi feita para ser minha desde o dia em que nasceu.
Suas mãos deslizaram até o meu quadril.
— Agora me permita foder o que você tem entre as pernas. Seja
obediente e as abra.
O empurrei.
— Eu quero ouvir a história, Chris.
Ele revirou os olhos e agarrou a parte detrás dos meus joelhos,
puxando-me num rápido movimento para si.
— Podemos fazer os dois ao mesmo tempo — sugeriu.
Ele não me deu tempo de reagir, já estava com as mãos na
braguilha da minha calça, deslizando o zíper.
— Não quer matar a saudade, amor? — perguntou, malicioso.
Fechei os olhos.
— Só se me contar mais uma coisa.
— Diga.
— Com quem As estava conversando no quarto?
Seus movimentos cessaram.
— Por favor, Chris... — arfei.
Ouvi-o soprar com o ar com força.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Zoe. Asafe estava conversando com a mãe dele.


Arregalei os olhos, mas contive um suspiro surpreso. Me ajeitei
no colchão, apoiando o corpo nos cotovelos.
— Eu não queria que isso te incomodasse, por isso não contei.
— Eles se veem muito? — questionei-o, atônita.
— Não. As não devia nem mesmo tê-la visto. Eu a tranquei no
inferno, mas o meu pai a soltou para que se metesse no meu
caminho.
— Por quê?
— Trabalho para ele. Sou o responsável pelo caos. Mas eu não
tenho feito um bom trabalho. — Ele curvou um sorriso triste. — Se
rebelar é algo que temos em comum.
— Isso não me parece bom — comentei, tentando ignorar o
incômodo que se formava dentro de mim.
— Não, não é. Mas eu sou melhor do que ele jamais será. Eu
sou o único que pode destruí-lo, e é por isso que eu preciso manter
você segura, porque eu não sei o que eu faria se ele a tocasse. Isso
vai além de nós dois, Dytto. Se algo ou alguém te tocar, eu posso
destruir o mundo inteiro em segundos, entende?
Suas palavras me atingiam como grandes ondas das quais eu
não era capaz de me recuperar. O fôlego havia sido extinto de meus
pulmões e minha cabeça rodava.
Era demais. Mas eu precisava ouvir a verdade, agora mais do
que nunca.
— E o que acontece depois? — minha voz ressoava trêmula.
— Eu te levaria para o meu paraíso de gelo. Te transformaria em
minha rainha. E comandaríamos uma nova geração.
Christopher aproximou os lábios dos meus.
— No início eu achei que o que tínhamos era apenas obsessão, e
depois pensei ser apenas amor. No fim, eu entendi que você seria
minha independentemente de qualquer coisa. A nossa história é
inevitável. Somos um meio para o fim.
— C-chris...
Ele se afastou, ruidoso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E é por você estar tão pálida agora, que eu não te conto


muitas coisas — continuou, acariciando o meu rosto. — Agora você
entende?
— Isso é assustador — sussurrei.
— É mais simples do que pensa.
— Mas e todo o resto? O que seriam das pessoas? O que seria
de tudo? A... A minha família?
— Todos terão o seu destino final. Isso não cabe a nós dois.
Christopher se aconchegou sobre mim e beijou os meus lábios.
— Me deixe tirar essa sua preocupação. Eu quero foder você.
Seus dedos acariciavam a minha cintura, bem lentamente.
— Por que você tinha que ser um demônio? — murmurei e senti
seus lábios sorrirem em meu pescoço.
— Quero te fazer gemer. — Ele deslizou a mão para a borda do
meu jeans. — Quero me enfiar em você hoje, amor. Eu quero te
sentir.
Seus lábios passeavam em minha pele, causando-me uma longa
sensação de arrepios.
— Quero você em volta do meu pau — sussurrou. — Sabendo
que é só minha.
Eu não o respondi, estava sem fôlego. Minha intimidade já
estava úmida, eu não consegui me conter, Christopher sabia o que
fazia quando tocava o meu corpo.
Era natural que eu o obedecesse, mesmo que sem perceber.
Ele se posicionou para retirar as minhas vestes. Suas enormes
mãos puxaram a minha calça e a minha calcinha de uma só vez.
Talvez estivesse evitando se decepcionar com a minha coleção de
calcinhas, ou talvez, apenas estivesse com pressa.
Quando ele retornou para onde estava antes, retirou meu
moletom e abriu o meu sutiã. Em poucos minutos eu estava
completamente despida para ele.
Christopher subia e descia os olhos por todo o meu corpo nu.
Meu corpo parecia o encantar, pois seu rosto preencheu-se de
satisfação.
Ele arrancou a camiseta do seu corpo e desabotoou as calças.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Vai doer como da primeira vez, Chris? — o interrompi, incerta.


Ele me lançou um olhar terno e gentil.
— Farei o meu melhor para que não doa tanto — garantiu,
voltando ao que fazia.
Quando Christopher já estava sem roupas, retirou de uma das
gavetas uma camisinha. Ele a colocou sem pressa em seu membro
ereto. Sua tatuagem no pênis agora me era algo extremamente
erótico, toda vez que o imaginava nu, gostava de focar nela, havia se
tornado a minha melhor fantasia.
Eu estava ansiosa, mas temia que a experiência passada se
repetisse. Queria que aquilo fosse menos doloroso.
Christopher deitou-se ao meu lado, ele não pediu que eu fizesse
nada, apenas abriu as minhas pernas para me tocar enquanto
beijava os meus lábios.
Seus dedos maliciosos estimularam o meu clitóris em um gesto
contínuo. Eu arfava em seus lábios, gemendo com o prazer que ele
me entregava.
Com ele ao meu lado e com minha perna sobre o seu corpo, eu
estava completamente exposta, sem nada para me cobrir. Já não
tinha mais vergonha. Christopher sempre me fazia sentir confortável
com a minha nudez.
Sua boca chupou os meus seios, um por um, dando a devida
atenção. Seu dedo me preencheu e eu estremeci. Já tinha
desacostumado com a sensação após tanto tempo sem tê-lo me
tocando.
Ele me encarava, sem nunca tirar os olhos dos meus, ao mesmo
tempo em que me penetrava com os dedos em um vai e vem
delicioso.
Toquei o seu rosto, deslizando os dedos entre seus lábios macios
e carnudos. Eu adorava a sua boca.
Christopher pôs sobre mim. Senti seu membro roçar a minha
intimidade e suspirei, ansiosa.
Ele curvou um breve sorriso nos lábios e aproximou-se. Chris me
beijou devagar, suave e contido. Sua língua se misturou à minha em

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

um beijo que, gradualmente, se tornou mais impetuoso,


desesperado e quente.
Sua mão passeava pela lateral do meu corpo e desceu até estar
pousada em meu quadril.
Prendi minhas pernas em sua cintura e me impulsionei em sua
direção, esfregando a parte de mim que doía de tanto desespero por
ele. Com a sua mão livre, ele deslizou o indicador em meu queixo e
mordiscou o meu lábio inferior.
Um gemido baixo escapou de meus lábios quando senti seu
dedo tocar o meu clitóris e me provocar ali, fazendo movimentos
precisos, os quais me faziam delirar.
Mordi os lábios com força e fechei os olhos, apreciando o seu
toque. Chris passou a língua entre os meus seios, colocou um deles
na boca e o chupou sem pausas, conforme me masturbava.
Enfiei meus dedos entre seus cabelos e os puxei quando a
pressão entre o meio de minhas pernas se tornou deliciosamente
agonizante.
Christopher lambia o meu peito sem pressa, dando a ele quase
toda a sua atenção, se não fosse, é claro, por seu dedo me
invadindo repetidamente.
Um gemido alto fugiu de minha garganta, rapidamente
Christopher o conteve com a sua boca na minha.
— Desculpe — arfei, baixinho.
— Não quero que goze ainda — avisou.
Chris recostou sua testa na minha e inspirou fundo. Sua mão
pressionou a minha cintura com mais autoridade.
— Preciso que me diga que quer isso — pediu, num sussurro
rouco.
Levei meus dedos ao seu peitoral tatuado e os deslizei naquele
local, apreciando a sensação de sua pele quente e macia sob meu
toque. Sorri boba. Ele se tornava ainda mais atraente toda vez que
se revelava preocupado.
— Eu sempre quero você, Christopher. Sempre.
Seus olhos se fixaram nos meus e ele sorriu.
— Também sempre quero você, garota.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Passei os braços em volta dos seus ombros.


Christopher posicionou seu membro em minha entrada e me
olhou nos olhos ao empurrá-lo. A intensidade de seu olhar me fez
perder todo o raciocínio e fixou-me a atenção naquelas íris verdes.
O puxei para um beijo quando presenciei a dor me invadir de
uma vez. Apertei meus lábios nos seus com força, esperando que a
sensação se dissipasse.
Christopher fez movimentos de entra e sai devagarinho, porém,
sempre mantendo o ritmo.
Sentia meu corpo inteiro entrar em chamas, de modo que
estivesse febril. Meu coração estava disparado.
Apertei-o ainda mais forte em meu abraço ao sentir o incômodo
sentimento de tê-lo em mim, manter-se.
Enfiei minha língua em sua boca, almejando pelo mais louco
beijo que ele pudesse me dar. Eu só precisava de algo para me
distrair enquanto ele me penetrava, ou pensar na dor me faria
desistir.
Christopher agarrou os meus lábios com veemência e
autoridade. Senti-o impulsionar o seu pênis ainda mais.
— Merda — murmurei, a voz dolorosa.
— Me diga o que quer, Dingo.
— Coloca mais — pedi, contrariando toda a situação.
Ele franziu o cenho, sério, aparentemente, se negando a fazê-lo.
— Por favor, Chris!
— Não vou te forçar a isso.
— Eu tô pedindo. Eu juro que eu quero.
— Te fazer sentir de uma vez, não vai diminuir a dor, amor.
Impaciente, enrosquei minhas pernas em seus quadris,
forçando-o para mim, Christopher resistiu, mas continuei a puxá-lo.
— Porra, Dingo... — arfou, furioso.
— Mais — insisti.
Ele apertou os dentes, seu maxilar ficou rijo. Seus olhos estavam
cheios de fúria. Christopher, a contragosto, colocou mais de si em
mim e continuou a enfiar-se.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Tapei a boca quando senti uma forte pontada em meu útero me


tomar.
— Não dá de colocar você inteiro em mim — murmurei, suada e
ofegante.
— Isso já estava claro desde o início, amor — respondeu, com
um sorriso arteiro nos lábios.
Constatei a sensação de tê-lo penetrando o máximo que
conseguíamos.
E doeu, como doeu.
Respirei devagar e mordi os lábios, na árdua tentativa de me
acostumar com aquilo.
Christopher beijava o meu pescoço e tomava todo o cuidado ao
movimentar-se. Senti receio em sua pele. Ele estava com medo de
me ferir, mas havia decisões que Chris não poderia tomar por mim.
Pressionei o seu braço, a fim de buscar por alívio. Agoniada,
enfiei meu rosto no travesseiro ao nosso lado. Meu rosto estava
quente, meu corpo estava molhado e minha intimidade estava
dolorida.
Tentei olhar para o meio de nós, mas não consegui visualizar
nada com clareza.
— Você está muito vermelha — informou, afastando as mechas
de cabelo do meu pescoço. — Me avise se...
— Eu sei — interrompi-o. — Eu aviso.
Christopher me olhou curioso, mas não se opôs. Seus olhos
sempre postos sobre os meus, atentos e sérios.
Ele prosseguiu em seu ritmo calmo e preciso. Estávamos indo
bem, muito bem. De repente, a dor já não era mais um grande
incomodo, certamente não havia cessado, mas agora existia uma
pequena pontinha prazerosa em seus atos.
Gemi, mas isso o fez parar.
— Está bem? — alarmou-se
— Continue, está ficando bom — pedi, sôfrega.
Ele se afastou um pouco, apenas para enfiar sua mão entre nós.
Christopher colocou um dedo em meu clitóris e me estimulou, ao
passo que continuou a meter.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

De pouco em pouco, tornei a desfrutar de um prazer que tornou


a se intensificar. Ainda me sentia incomodada, mas podia superar
isso.
Christopher remexia os quadris numa sequência gostosa. Aquilo
provocava ondas vigorosas de prazer, consequentemente me fazendo
gemer.
A cada minuto, a dor deixava de ser um problema, e tudo o que
Christopher fazia me deixava mais instigada a continuar.
Quando a sensação boa se tornou mais forte, não me contive e
comecei a gemer alto, Chris riu baixo e tapou a minha boca com a
sua enorme mão tatuada.
— Eu bem que queria te ouvir gemendo alto, amor. Mas... — ele
não finalizou a frase, porém, não era como se fosse preciso.
Sorri em meio aos meus gemidos sufocados.
Repentinamente, ele se retirou de dentro de mim e ajoelhou-se
na cama.
Estava confusa, mas esperei.
Apenas entendi sua intenção quando ele agarrou o meu corpo,
virando-o de lado, em seguida, deitando-se logo atrás de mim. Chris
suspendeu uma de minhas pernas sobre a sua coxa e me penetrou
novamente, desta vez, em uma nova posição
Sua mão agarrou o meu seio com tanta força que supus que
logo ficaria cheio de marcas, no entanto, ele a desceu para a minha
barriga e em seguida envolveu minha cintura sem braço,
pressionando-me para baixo em seu pau.
Christopher acelerou suas estocadas. Apertei os lábios no
travesseiro quando ele me acertou violentamente com um tapa em
minha bunda.
Ele mordeu o meu ombro e agarrou o meu seio com violência,
mantendo a dominância ao se enfiar em mim com mais destreza.
Senti minhas pernas tremerem quando já estava prestes a gozar.
Ele enrolou sua mão em meu cabelo, puxando-o cheio de
hostilidade.
Chris me inundou em seu pau quando, assim como eu, ele se
sentia mais próximo do fim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Não consegui aguentar e desatei a gozar, gemendo manhosa


entre os lençóis da cama. Christopher ainda se manteve ritmado por
mais um tempo, até que por fim, se juntou ao êxtase comigo. Ambos
suados, ofegantes e satisfeitos.
Sentia meu coração descompassado no peito e o corpo inteiro
em puro frenesi. A adrenalina ainda corria em minhas veias, mesmo
após terminar.
Christopher tocou o meu rosto e me virou para ele, tocando os
meus lábios com puro desejo. Senti um sorriso largo em sua boca
quando nos beijamos.
— Você é incrível! — sussurrou.
Virei-me completamente para ele. Chris entornou o meu corpo e
me manteve ali, presa em seus braços.
Ele gentilmente tocou a ponta do seu nariz no meu e nos
permitimos ficar assim por um longo tempo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

2 anos atrás
— Qual é o problema? — perguntei, desinteressado.
Zoe deu de ombros e virou-se de costas. Ela levou os dedos aos
seus longos fios loiros e desgrenhados em sua cabeça, e os prendeu
em um coque alto.
Hoje ela parecia ainda mais cansada do que normalmente
estava.
Eu sentia em todas as fibras do meu corpo que ela me escondia
algo. Estava com medo de me contar. Talvez, com receio de que eu
fosse brigar ou dizer algo ruim.
— Anda, Zoe — insisti, irritado. Odiava quando ela fazia isso,
quase parecia proposital para que eu perdesse a droga da paciência.
O pequeno Asafe se remexeu em meu colo. Seus grandes olhos
lentamente emergiram ao abrirem as pálpebras sonolentas. Ao me
encontrarem, ele curvou um breve sorriso que se emendou em um
bocejo longo e preguiçoso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Embora ele estivesse no mundo dos vivos há apenas 6 semanas,


parecia conhecer-me há uma vida inteira. Toda vez que me olhava,
parecia saber mais de mim do que um bebê deveria.
Era quase como se já nos conhecêssemos desde sempre.
Provavelmente, fosse por esta ligação entre mim e ele, que nosso elo
era tão forte.
Sabia que não eu estava nem um pouco capacitado para ser pai
aos 16 anos de idade, no entanto, jamais teria permitido que Zoe o
tirasse de mim.
Nunca permitiria tal coisa.
— Ele só não dormiu muito bem à noite — as palavras saíram
lentas e arrastadas de sua boca.
Ela dobrava algumas fraldas de pano sobre a mesa, no centro da
sala.
Seu corpo magro e pequeno estava lerdo e os ombros baixos.
Seus olhos mal pareciam se aguentarem abertos e os globos
estavam avermelhados.
Entornando os seus olhos, marcas de cansaço arroxeadas
marcavam sua face, evidências de várias noites mal dormidas. Seu
cabelo estava cheio de frizz, oleoso e bagunçado. Tinha tantos nós
que agora ela mal o penteava. Para uma garota, antes vaidosa, isso
era terrível de se assistir.
Seu declínio diário era cada vez mais evidente, ela tinha
desistido de si mesma, ainda que eu sempre me oferecesse para
auxiliar e ficar com As, Zoe não se arrumava mais, às vezes nem
mesmo banhava. Estava afundada em infelicidade.
— Vá descansar, eu cuido dele — indiquei.
Seus grandes olhos castanhos me olharam cheios de gratidão.
— Sabe como dar a mamadeira? — investigou.
— Sei.
Ela sorriu.
— Obrigada, Chris!
— Ele é o meu filho.
Ela assentiu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Não conseguia ser minimamente gentil. Odiava o fato dela


sempre alimentar a menor das expectativas em sua fantasia, onde
éramos uma família perfeita e normal. Estávamos bem longe de
qualquer relacionamento ou intimidade.
Zoe era loucamente apaixonada e fez questão de se declarar
para mim por meses, mesmo que eu nunca correspondesse aos seus
sentimentos.
Porra! Nem de longe eu iria me casar com essa garota. Não com
ela ou nenhuma outra.
Eu sempre gostei do seu estilo, as músicas que ouvia e as
roupas que usava. Mas não foi por isso que me aproximei, gostava
do jeito que ela dançava e me provocava, entretanto, deixei claro,
desde o início, que as minhas intenções eram apenas fodas. Eu não
precisava de uma namorada ou uma amizade colorida. Sempre me
dei bem sozinho.
Também não saia muito com garotas, estava focado em viver em
um mundo só meu. Tinha planos e objetivos, vivia à mercê de meu
pai e precisava cumprir com a minha função no mundo. Eu queria
mais do que nunca a minha liberdade, e sabia que não a conseguiria
trabalhando o resto da vida para ele.
Beijei a testa de Asafe e inspirei fundo. Ao menos, esse
rapazinho me trazia sossego. Deslizei o dedo sobre sua bochecha e
ele o agarrou com sua mãozinha, mesmo com a pouca idade, tinha
bastante força.
Já tinha um tempo que eu não me sentia tão vivo e bem assim.
Era estranho passar tanto tempo me sentindo sozinho e único no
mundo, e então, de repente, havia outro ser igualzinho a mim.
— Por favor, não esquece de trocar a fralda dele daqui uma hora.
E passe a pomada, não quero que ele se asse. Se esquecer de algo,
há um bloco de notas preso à geladeira — avisou, sonolenta.
Olhei para ela e a encontrei parada no meio da cozinha. O corpo
corcunda, o pijama em uma mistura de suor, leite e seja lá o que
quer que fosse aquela coisa amarela ali.
— Pode deixar, Zoe. Eu assumo daqui. — Entortei os lábios em
uma careta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela assentiu e saiu esfregando os pés no chão, como uma morta-


viva pela casa. Eu me ofereceria para cuidar dela — pelo As —, se
isto, é claro, não a enchesse de esperanças.
— Caramba. O que você está fazendo com a sua mãe, garoto?
— brinquei.
Seus olhos me encaravam curiosos. Mesmo que ele tivesse
entendido o que eu disse, apenas teria ignorado. Digamos que ele
era um carinha desapegado.
Crianças geralmente gostavam de ficar no colo. Asafe, não. Ele
gostava de ficar no meu, apenas.
Por mais que ainda fosse tão jovem, toda vez que notava algum
estranho tentando cuidar dele, fazia um show de rock e tanto,
soltando berros tão agudos, que fazia a cabeça de qualquer um doer.
Zoe ainda não havia se acostumado com nada disso. Ela ainda
odiava o fato de ter virado mãe aos 15 anos. Talvez, se ela tivesse
sido mais esperta, teria concluído que engravidar, propositalmente,
de mim, não me tornaria o seu namorado dos sonhos, ou me faria se
apaixonar magicamente por ela.
Tudo o que ela conseguiu foi tirar o resto de paciência que me
restava. Quando ela me contou sobre a gravidez, quis explodir a sua
cabeça, todavia, sabia que isso levaria a morte do feto que ela já
carregava no ventre.
Eu não era alguém superprotetor, mas uma parte de mim mudou
naquele instante, declinando-me a ser solícito à situação.
Deitei-me no sofá de Zoe, ou melhor, no sofá de sua irmã. Já
havia um tempo em que ela estava morando naquele lugar. Sua mãe
tinha a expulsado de casa após descobrir sua gravidez, desde então,
sua irmã a abrigou, embora a relação das duas não fosse das
melhores.
Coloquei As sobre o meu peito. Ele fechou os olhos enquanto
tentava fazê-lo dormir. Uma das tarefas mais difíceis do mundo
inteiro, visto que o garoto adorava estar sempre acordado.
Passei um bom tempo batendo em suas costas até que
finalmente me vi entediado e parei de o fazer. Não se passou 2
segundos para que Asafe começasse a resmungar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Nunca na vida eu tinha sido tão submisso a alguém como eu era


para aquele ser minúsculo nos meus braços.
Suspirei fundo.
— Garoto, eu até posso parecer legal, mas eu não sou. Vá logo
dormir.
Ele ameaçou berrar e me vi forçado a obedecê-lo.
— Puta merda...
Se eu pudesse vê-lo de onde estou agora, poderia imaginá-lo
com um sorriso vitorioso no rosto.

— Eu volto amanhã bem cedo. Mas só vou poder ficar até o


almoço, tenho algumas aulas na faculdade que não quero perder.
Tudo bem para você? — informei-a.
Zoe assentiu e curvou um curto sorriso nos lábios.
— Pode ser. Vou usar a manhã para procurar algum emprego,
preciso de uma renda para me manter.
— Não precisa trabalhar enquanto As for pequeno. Já disse que
posso sustentar vocês dois numa boa. Deixa isso para quando ele
estiver com 5 ou 6 anos. Vá terminar seus estudos ou sei lá, eu
cuido dele por meio período.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não quero voltar para aquela escola estúpida. E também
não quero ficar parada o dia inteiro em casa sendo mãe — ela quase
cuspiu a última palavra, como se fosse uma ofensa.
— Faz o que quiser, Zoe. Só não esquece do As.
— Pensei em contratar uma babá. Eu poderia trabalhar pela
manhã, uma parte da tarde e voltaria para casa de noite para ficar
com ele.
Fiz careta.
— Prefere passar o dia inteira socada até o cu de trabalho do
que ficar com o seu filho? — soltei, ríspido e incrédulo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela abraçou o próprio corpo e repuxou um canto dos lábios.


— Você diz como se eu não gostasse do nosso filho —
murmurou, baixo.
— E você não gosta. Para falar a verdade, eu nem mesmo sei
como consegue suportar ele. — Apertei o punho, enraivecido. — Eu
já a avisei antes, e torno a repetir. Qualquer coisa que acontecer
com As, vai cair na sua conta.
Seu rosto perdeu a cor.
— Não fale besteiras — Zoe tentou amenizar a situação, para
que se reduzisse a uma ameaça vazia, apenas para aliviar o
desespero em sua alma.
— É melhor você ficar na linha, eu sempre sei um jeito de te
pegar.
Ela se encolheu e deixou que o olhar recaísse sobre o carpete.
— Cuide do As, eu tenho um compromisso em família hoje à
noite. Nos falamos amanhã.
Estava prestes a me virar, quando ela agarrou o meu braço.
— Chris, espere!
Olhei-a furioso. Não estava a fim de ouvir mais de suas
desculpas esfarrapadas apenas para ficar longe de Asafe.
Sabia como ele podia dar trabalho, mas não era este o caso. Eu
estava sempre a disposição e pronto para pegá-lo, entretanto, Zoe
queria sempre correr de qualquer responsabilidade que envolvesse o
nosso bebê.
— Tem algo de errado com o As — sussurrou, como se aquilo
fosse um segredo. Seus olhos desconfiados ruidosamente deslizaram
em volta antes de ela prosseguir. — Eu posso sentir, toda vez que o
toco. É como se fosse maligno e quisesse me destruir — confessou,
desesperada.
Lágrimas preencheram o seu rosto. Os lábios tremiam em uma
agonizante ansiedade.
— Ele é um bebê, Zoe — declarei, rude.
— Eu sei. Eu sei...
Ela esfregou os dedos no rosto, enxugando-o.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E entendo que o que eu estou falando pode ser estranho e


idiota. Mas eu juro, Chris. Tem algo de errado com ele. Eu prometo
que não estou mentindo. Eu tenho tido pesadelo a dias desde que o
tive. E são sempre pesadelos demoníacos e estranhos — as palavras
escorriam apressadas de sua boca. Parecia tanta informação que
nem ela mesma conseguia assimilar.
Zoe se aproximou ainda mais, os olhos fincados no meu, em um
gesto imploroso.
— Lembra quando eu estava grávida e sentia calafrios em todo o
meu corpo? E sempre que As se mexia eu me sentia desconfortável?
— recordou, pousando as mãos sobre a barriga. — É assim que eu
ainda me sinto, mesmo depois de ter tido ele.
Com certeza Asafe não era como nenhuma outra criança que já
nasceu. Mas ele era o que era, e não se podia mudar a natureza de
alguém só porque estava assustado.
Toquei o seu rosto, gentil. Eu não me importava. Tudo aquilo era
responsabilidade dela. Ela causou destruição a si própria no
momento em que se permitiu gerar um fruto meu.
Eu a avisei, no entanto, seus sentimentos cegaram a razão.
— Tome um banho e faça um chá — aconselhei brevemente.
Ela balançou a cabeça, mais lágrimas surgindo em seus olhos.
— Por favor, Chris. Acredite em mim.
— Eu acredito, Zoe — respondi, sereno. — Mas o que posso
dizer? Você teve um filho meu. Essas são as consequências.
Atormentada, a loira agarrou em meus braços.
— Mas eu não sinto o mesmo com você. Isso é diferente, Chris.
Por favor...
— É diferente apenas porque eu sei ter controle de mim. —
Apontei para a porta do quarto que ela dívida com As. — Volte lá
para dentro, e faça o que tem que fazer.
Eu não deveria ter dito essas palavras, não mesmo!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Já era noite. Eu estava de pé, no canto mais escuro do quarto,


diante do berço de As, quando Zoe entrou com um travesseiro
abraçado ao seu corpo.
Pressenti imediatamente que existia algo de errado ali. Ela
estava suando, nervosa e decidida. Mas para o quê? Que porra ela
pretendia fazer?
Marcelia, sua irmã, ainda estava em uma viagem à trabalho. Só
estávamos em três. Porém, ela não sabia que eu vinha visitar os dois
todas as noites. Zoe nunca soube de muita coisa. Para ela, eu era
apenas um garoto rebelde e descolado em que ela queria estar
montada.
Sempre soube que havia algo de diferente em mim, mas não foi
esperta o bastante para perceber que eu não pertencia àquele
mundo.
— As, ainda acordado? — murmurou, trêmula.
Asafe se remexeu no berço, ingenuamente pensando que seria
alimentado.
Ela fez um barulho com a boca e isso o fez rir. Enquanto o meu
bebê estava se divertindo, sentimentos de ódio atravessavam o
corpo de Zoe.
A garota magra e pequena posicionou o travesseiro sobre o
corpo de Asafe. Ela lentamente o baixou até que estivesse o
cobrindo, e de supetão, o pressionou-o com força em seu rosto,
sufocando.
Foi num rápido impulso que cheguei a ela. Segurava a sua
garganta com tanta força que temi quebrar. Seus olhos se
arregalaram ao me encontrarem ao seu lado em minha forma
demoníaca. Eu sabia que era horrendo, mas adorava saber o medo
que causava a ela.
— Eu te avisei para não tocar no meu filho, Zoe.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela não pôde responder, já estava roxa devido a falta de ar.


Aquela foi a última vez em que ela esteve viva. Assim que seus
olhos perderam a vida e o seu corpo amoleceu, eu sabia o que
deveria fazer.
Atravessei todas as camadas para chegar ao inferno, e a
tranquei no fundo dele. O lugar perfeitamente reservado para os
piores condenados.
Eu a vi queimar. Gritar por socorro. Implorar por perdão. Mas
nada daquilo me fez recuar.
Eu queria que ela ardesse por toda a eternidade. Afinal, ela
merecia.
Na manhã seguinte, apareci em sua casa como se nada demais
houvesse acontecido. Peguei As, suas coisas, e o levei para a
mansão da minha família.
Marcelia apareceu dias depois em minha porta, à procura de sua
irmã, mas tudo o que eu pude dizer era que ela havia desistido da
responsabilidade de ser mãe.
Ela juntou as peças, e de maneira errônea, concluiu que eu
havia dito que Zoe tinha se mandado e deixado Asafe para mim. Ela
conhecia sua irmã, sabia o quão problemática ela podia ser.
Ninguém nunca a procurou. Não houve telefonemas,
mensagens, cartas ou cartazes de desaparecida. No fim das contas,
ela não importava para ninguém.
Uma completa estranha.
Queimando para todo o sempre.
Ou era o que eu pensava...

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

04 de Junho | Terça-feira

O dia amanheceu chuvoso. As nuvens escuras e pesadas vestiam


todo o céu de Vespeau. As pancadas de água colidiam ao chão com
rispidez e volumosidade.
A brisa gelada corria pelo meu corpo, causando arrepios, mesmo
estando bem agasalhada por debaixo de uma coberta grossa e
quentinha.
Com o rosto no travesseiro, ouvia aos montes os berros
estraçalhados de minha família no andar de baixo.
No início, pensei que o fato de eu ter acordado às 6 em ponto da
manhã, mesmo sem aula, devia ter sido apenas um evento rotineiro
na vida de uma estudante, até notar que a razão pelo qual havia
despertado tão rápido, fosse um belo e rasgado palavrão jogado ao
vento pelo meu pai.
Ele gritava algo como: NÃO VAI, NÃO, PORRA!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

E às vezes, ouvia frases recortadas entoadas pela voz da minha


irmã, dizendo: A escolha é minha!
Independentemente do que estivessem conversando, a única
coisa que "Não iria, não", era o meu sono, que não seria nada
aproveitado no único feriado do mês.
Suspirei mais uma vez. Eu só queria passar o dia inteiro na
cama.
Era feriado dos Santos em minha cidade. Eu odiava este dia,
simplesmente por ser barulhento e chato.
Estava frio, poxa! Não fazia sentido as pessoas fazerem desfiles
no meio da rua, com roupas bregas, músicas bregas, e discursos
bregas.
Mas era o que faziam.
O dia não tinha nada a ver com santos, tampouco com religião,
mas gostavam de comemorar mesmo assim. O dia dos Santos
simbolizava o que devia ser a chegada do chefe da família Tanaka
em Nabrya, já que até o dia exato era uma incógnita.
De alguma forma, se sentiam gratos por toda aquela bizarrice. A
história da ilha Nabrya nunca foi realmente explicada, existiam
lacunas que os habitantes apenas ignoraram. Os mais curiosos, por
outro lado, inventaram, para que parte de si, se saciassem.
Mentiam tão bem, que acreditavam... eu acho.
De todo modo, a família Tanaka ainda era um enigma. Quem
eram? Onde estavam? De fato existiram? Ninguém sabia de nada,
ninguém viu nada, e ninguém tinha rastros de nada. Era quase como
se tivessem o poder de invisibilidade.
Estavam diante dos nossos olhos o tempo inteiro, mas era
impossível os ver.
O brasão da família se estendia pelo museu da cidade e em
alguns restaurantes e praças, no entanto, ninguém tinha muita
certeza de quando exatamente foram parar ali. Apenas tornou-se um
símbolo para nos lembrarmos de nossa história.
Uma história incompleta e assustadora.
Mais tarde, quando desci as escadas, mamãe sondava as
compras na cozinha. Cheguei de mansinho, e quando me notou de

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

pé diante dela, seu corpo estremeceu de susto.


— Droga! — cuspiu, rígida, algo que com certeza não era do seu
habitual. — Dy, preciso que vá ao supermercado com a sua irmã.
Precisamos de vinho, cheddar e carne para hambúrguer.
Esfreguei os olhos, meio sonolenta.
— Por que não pede comida pelo aplicativo?
— Porque eu preciso cozinhar com as minhas mãos. — Ela
rangeu os dentes, juntando o polegar e o indicador, gesticulando-os.
Uni as sobrancelhas, notando a sua ansiedade.
— Está tudo bem? — questionei, preocupada.
Ela inspirou fundo e repousou as suas mãos na cintura,
incrédula. Se ela fosse um rojão, teria explodido agora mesmo.
— Acabei de perder o emprego dos meus sonhos. Então não,
não está nada bem — desabafou, num grito impulsivo que ela
parecia ter tentado conter.
Senti meus olhos se arregalarem.
— Droga… — murmurei mais retida.
— É! Droga! — sua voz estourou pelo ambiente.
Mordi o canto dos lábios, escondendo as mãos atrás das costas.
Eu é quem não daria minha opinião e correr o risco de perder o
pescoço.
— Não quer vir junto ao supermercado? — sugeri, coçando o
pescoço, sem jeito. Nunca a tinha visto tão irritada assim.
Ela balançou a cabeça.
— Eu preciso ficar bêbada e de um bom banho — confessou,
infeliz.
Assenti.
— Está bem!
Ela olhou em volta, e então suspirou, deixando os ombros
caírem em desânimo. Seus olhos estavam avermelhados, parecia ter
chorado hoje mais cedo. Seus lábios se franziam toda vez que ela
balançava a cabeça, de maneira que ainda não parecia acreditar que
aquilo estava mesmo acontecendo com ela.
— Leve Loren com você — pediu, de repente.
— Eu acho que ela está ocupada, mãe — debati, pensativa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ever não fazia ideia do que havia acontecido entre mim e Loren,
de todo modo, nossos pais nunca percebiam nada do que acontecia
dentro de casa. Eram presentes-ausentes em nossas vidas.
Tínhamos estabilidade financeira, uma vida cheia de luxos, mas vazia
de sentimentos.
— Ela sabe quais são os vinhos bons. Então, por favor, leve ela.
A contragosto, concordei.
Não estávamos em um bom momento como irmãs, e embora
não nos odiássemos, era estranho sairmos juntas. Eu mal me
lembrava quando tinha sido a última vez que nos falamos como duas
pessoas normais. Era sempre algo como: "E aí" ou "Beleza?". Nada
mais.
Ela me descartou completamente.
— Loren — gritei, da ponta da escada.
Não demorou muito para que ela surgisse, olhando-me séria,
com um cigarro entre os lábios
— Supermercado ou mamãe vai deserdar você.
— Supermercado — decidiu, revirando os olhos.
— Eu não falei que tinha escolha.
Ela franziu o cenho.
— Mamãe perdeu o emprego — expliquei.
— Puta merda!
É. Puta merda!
Esse emprego estava em número 1 na lista das melhores coisas
que já aconteceram na vida de nossa mãe, ultrapassando até mesmo
a minha existência ou a da Loren.
Isso significa que, perdê-lo, devia estar sendo o pior dia da sua
vida inteirinha.

— Por que será que ela perdeu o emprego? — perguntei a


Loren, que empurrava o carrinho de compras irritada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não sei. Talvez o chefe dela a tenha trocado por uma bunda
mais nova — respondeu desinteressada.
— Não, ele não faria isso — intervi. — Talvez contratasse uma
bunda mais nova para se tornar a faxineira, mas não para substituir
a mamãe.
Loren balançou os ombros.
— Talvez ela só não chupe pau tão bem assim.
Fiz cara feia.
— Dá um desconto. Ela lutou muito por aquele emprego. Nem
tudo se trata sobre sexo — argumentei.
— Até parece. — Ela revirou os olhos.
— Vem cá, foi porque nasceu de sete meses que se tornou
ranzinza assim ou você só bateu a cabeça quando criança? —
provoquei, enraivecida.
Ela não me respondeu, tão menos demorou-se nisso. Logo
voltou ao estado habitual do qual eu já havia me acostumado, o seu
completo e tortuoso silêncio.
Eu não sabia se ela fazia aquilo para me punir ou a si mesma.
Era fato que ainda existiam problemas não resolvidos entre nós
duas, entretanto, a situação por inteiro me angustiava.
— Prefiro quando está brigando comigo do que calada assim —
sussurrei, propositalmente baixo, porém torcendo para que me
ouvisse.
Não parei de andar, apenas apressei os passos para que não a
acompanhasse lado a lado, no entanto, a sua voz me surpreendeu,
obrigando-me a parar no lugar.
— Senti falta de falar com você — murmurou, tristonha.
Olhei para trás.
Seus lábios sorriam desanimados, e seus olhos possuíam um
vazio imenso que nos distanciava a milhas de quilômetros. Esvaziei
os pulmões e cruzei os braços.
Era uma situação complicada para nós duas.
— Não parece. — Balancei levemente a cabeça. — Tem andado
tão distante — admiti, sincera.
Seu sorriso triste morreu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu sei.
Voltamos a andar.
— Já conversou com a Claire? — indaguei, receosa.
— Não.
— Loren — a repreendi. — Caramba ela é sua melhor amiga.
— Podemos voltar a ficar caladas?
— Loren — parei de andar. — O que aconteceu? Por que ficou
logo com o Joshua? — Tombei a cabeça para o lado. — Sabe, você é
cheia de caras ao seu redor. Por que justamente o namorado da sua
melhor amiga?
Ela balançou os ombros.
— E por que não ele? Ele estava lá nos meus piores momentos
desde sempre. Ele foi gentil e doce. Ele estava sofrendo, eu também.
As peças só encaixaram — respondeu, apática.
— Está mentindo. — Apontei. — Está mentindo e sabe disso.
Ela baixou o olhar.
— Eu não sou você, Dytto. Não sou boazinha como quer que eu
seja. Eu sou assim. Um monstro nojento e egoísta.
— Não, não é. Mas mesmo que eu insista, você nunca me dirá a
verdade. — Deixei escapar o ar dos pulmões. — Então para quê
insistir, não é?
— Existem coisas que você não deveria saber.
— E por quê? — Soltei um riso amarga. — A essa altura eu já
lidei com coisas demais.
— Porque te quebraria por inteira. E eu estou te poupando de
muito a bastante tempo.
Em uma súbita urgência, me aproximei ainda mais dela.
— Uma hora vai ter que me contar.
Loren repuxou o canto dos lábios para baixo.
— Deixa que eu cuido da minha dor sozinha. Não preciso ter
você chorando nos meus braços a noite inteira, ok?
— Eu choro porque eu te amo, Loren. Não porque preciso que
me acolha.
— Aguentei a dor todos esses anos, posso aguentar mais alguns
dias nesse inferno.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Cruzei os braços e me apertei entre eles.


Queria poder dizer a ela todos os bons momentos em que
passamos juntas. Todos os dias em que apenas o apoio dela foi o
suficiente para que eu permanecesse firme, mas, ao invés disso, os
guardei em segredo, porque precisava que apenas a amar bastasse,
mesmo que ela parecesse tão fria agora. Estávamos sempre juntas,
todavia, distantes. E eu sabia que, em partes, a culpa era toda
minha, porque eu sempre permitia que os outros se afastassem por
medo de os perder.
— Espero que um dia confie tanto em mim que não hesite em
me contar a verdade.
— Não se trata de confiança, Dy.
Loren retomou o trabalho de empurrar aquele maldito carrinho
barulhento.
Três corredores depois, seu celular repentinamente tocou,
tomando toda a sua atenção. E pela cara que ela fazia, parecia ser
de extrema importância. Quando finalizou a sua chamada, seu rosto
despencou em preocupação.
— Tenho que ir — sussurrou. — Pode terminar as compras sem
mim?
— Claro. Aconteceu alguma coisa?
— Papai — explicou. — Ele está em todos os cantos, tentando
furar os meus planos.
Bom, isso deveria ser uma pista da gritaria toda pela manhã.
Papai era um homem sério, carrancudo e autoritário. Para ele, as
filhas deveriam seguir o caminho que ele decidisse, pois só assim
estariam certas. No entanto, Loren era uma rebelde. E se curvar
certamente não estava em seus planos.
— No que ele está se metendo desta vez? — investiguei,
crispando as sobrancelhas.
— Estou escolhendo uma faculdade, nos Estados Unidos, para
ser mais exata. E papai odiou a ideia.
Me engasguei ao mesmo tempo em que meus olhos saltaram em
surpresa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Tudo bem que eu disse a ela que sempre a apoiaria em todos os


seus planos, mas eu quase podia sentir uma faca sendo cravada em
minhas costas com essa recém-notícia.
Ela não havia me contado sobre isso. Sequer fez comentários
sobre, e agora, soltou como se não fosse nada. Eu até poderia fingir
que não fiquei magoada, mas no fundo, ela era a minha melhor
amiga e a minha irmã. Doía saber que ela tinha planos para tão
longe de mim.
Forcei um sorriso.
— Oba! Que bom está tomando as rédeas da sua vida — fingi
comemorar. As lágrimas embargaram a minha voz, entretanto, ela
não pareceu notar, estava irritada demais.
— É, pois é. Mas talvez isso nem mesmo chegue a acontecer.
Nosso querido pai é um filho da...
— Loren — supliquei. — Eu sei que vocês dois brigam muito,
mas por favor, não... — Balancei a cabeça.
— Nada de xingar o coroa na sua frente, entendido. — Ela levou
os dois dedos à testa, como um soldado. — Pode deixar, gata. Eu
vou fazer o meu melhor para não dizer as palavras mais chulas,
baixas e horrendas do meu vocabulário.
Sorri.
— Obrigada — cochichei, agradecida.
Apesar de tudo, eu não conseguia apelidar nossos pais de nomes
ruins. Me sentia péssima.
Ela deu um pulinho para trás e girou os calcanhares.
— Vou indo, porque, pelo visto, papai está conversando agora
mesmo com o reitor da faculdade dos meus sonhos, prestes a me
tirar da lista de espera.
— Lista de espera? — eu disse, exasperada. — Peraí, já se
candidatou? Ainda estamos em junho!
— Nos encontramos depois, e aí falamos sobre isso — sua voz já
me era distante. Ela estava há uns dez passos na frente, quase
correndo.
Esfreguei o rosto em minhas mãos, em um misto de irritação e
angústia.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Claro. Vai lá correr atrás da sua faculdadezinha dos sonhos —


sussurrei sozinha. — Aposto que vai ser bem mais feliz sem mim e
logo, logo vai encontrar uma irmã melhor que eu — resmunguei,
enquanto jogava doces no carrinho, distraída. Iria me entupir deles
assim que chegasse em casa. Mamãe não seria a única a se afogar
em lamentações.
Eu não queria Loren longe de mim. Queria perto. Bem perto.
Ela não era gentil, e nem a pessoa mais correta do mundo, mas
era uma das pessoas mais importantes na minha vida. Eu precisava
dela, porque sem ela, eu era só a Dytto. E eu precisava da Loren.
— Expectativas não correspondidas são mesmo uma droga — a
longínqua voz já permeada em meu cérebro outrora, comentou atrás
de mim.
Seu timbre impecavelmente atrativo fez com que meu corpo
estremecesse em um frio insuportável. Meus pelos eriçaram-se em
ondas de choques causadas pelo medo.
Engoli em seco, sentindo os lábios ressecados.
Bem devagarinho, quase parando no lugar, virei-me em sua
direção.
Seu corpo alto estava tão perto que poderia ser muito fácil tocá-
lo apenas por uma sutil aproximação.
Meus olhos se ergueram para os seus, escalando seu sublime
porte com a mais fina cautela. Encontrei suas íris negras como a
escuridão da noite, e sombrias como contos de terror, encarando-me
árduo.
Não ouvi quando os seus passos se aproximaram, ou quando a
sua presença se tornou tão vívida, mas era capaz de presenciar de
maneira abrupta o calor de sua companhia, ainda que indesejada.
— P-posso ajudar?
Se eu podia, eu não sei. Mas eu só queria chorar ou sair
correndo. Ou sair correndo enquanto chorava.
Havia uma energia estranha, emanada por cada poro seu.
Aquele homem era demoníaco, diabólico, satânico, e tudo de infernal
que me viesse à mente naquele instante.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Dytto, não? — chutou, por educação, imagino. Ele já parecia


me conhecer mais do que apenas uma breve aparição revelaria.
— É — consegui entoar, mas fui preenchida pela sensação de ter
rasgado a garganta em virtude do esforço que fazia para que algo
fugisse à minha boca.
Seus dedos longos e maltratados, com variadas cicatrizes
evidentes, tocaram o meu queixo com delicadeza, porém, fui levada
a sentimentos absurdos de tristeza. Todo e qualquer ato daquele
homem causava-me angústia, como se projetado para causar o mal.
Eu não estava gostando daquilo.
— Não me disse o seu nome ainda — funguei, involuntariamente
chorosa.
Eu nem sabia a razão de querer chorar, porém, ele me fazia
sentir aquilo. Ele controlava aquilo, não eu.
— Nabrya — respondeu, sucinto.
— Foi batizado como a ilha — notei, entre um soluço e outro.
Uma lágrima se desfez em meu rosto, e ele prontamente a
aparou, arrastando em minha bochecha até que sumisse.
— Não, Dytto — ele era perverso em suas palavras, havia uma
obscuridade no tom de sua voz que o fazia sempre parecer um vilão
de desenho animado. — A ilha é quem foi batizada em meu nome.
— Ele sorriu.
Tentei me afastar, no entanto, minhas pernas não se moviam. E
então, me vi presa em um daqueles pesadelos estranhos de terror
em que eu não conseguia me mexer.
Tudo em mim gritava para fugir, mas eu não me lembrava como
se fazia isto, embora meu cérebro soubesse bem como me alertar do
perigo.
— Você é linda — observou, atento. Seus olhos desceram e
subiram sobre o meu rosto. — Me lembra uma moça que conheci há
centenas de anos atrás. Valente e ousada. — Ele sorriu. — As
semelhanças vão além da aparência.
— Eu não te conheço bem, mas acho que não é uma boa ideia
ficar aqui — sussurrei.
Meu coração batia feito louco no peito.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Nabrya aproximou-se devagar do meu rosto. Ele era encantador


mesmo quando parecia prestes a me golpear. Seus olhos eram ágeis,
de um jeito que demonstravam perigo. Sua elegância trazia-me
desconforto, tamanho era a sofisticação de seus toques e gestos.
Ele era como uma espada: bela, afiada, e perigosa. Trazia poder,
mas também causava mortes. Eram tantas conclusões que eu
poderia tirar de Nabrya, que não conseguia pensar direito.
Quando seu rosto já estava próximo a ponto de eu sentir sua
respiração quente em minha pele, seus movimentos cessaram.
— O lugar de garotas como você, não é debaixo de um demônio,
Dytto — murmurou, em um tom enigmático. — Ele vai ruir, não fique
para assistir. Você não deveria desvanecer em vão por um homem
que roubou a sua alma de você. — Seu olhar vagueou pelo meu, de
um jeito hipnótico.
Seu corpo ergueu-se novamente, tomando espaço entre nós
dois. Soltei o ar que nem mesmo notei que prendia.
— Te achei, Dytto! — uma outra voz masculina nos interrompeu,
firme e segura.
Levei meus olhos em busca do dono e o encontrei me
encarando, com um doce sorriso bordando os lábios amigáveis e
gentis.
— Benjamin — notei, surpresa.
Ele passeou os olhos de mim para Nabrya, em seguida, refez o
caminho de volta.
— Desculpa interromper, mas estamos com pressa, lembra? —
pressionou sutilmente.
Ben não estava comigo, mas parecia que estava no
supermercado há... bom, talvez tenha chegado antes de mim e
Loren. De todo modo, segurava apenas um saco de açúcar na mão,
e um olhar terno no rosto, buscando me ajudar, mesmo que eu não
aparentasse ser uma donzela em perigo, ao menos, aos olhos de
quem não conhecia Nabrya.
Exceto, se Ben já o conhecesse...
— Ah, claro. Claro! Desculpa te fazer esperar — pigarreei,
nervosa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Virei-me para Nabrya e sorri desconcertada. Ele encarava


Benjamin com um sorrisinho irônico de como quem sabia que aquilo
não passava de uma farsa mal contada, porém, me mantive firme
naquela atuação exagerada.
— Eu tenho que ir, mas foi ótimo te ver — foram as palavras
mais ridículas ditas a alguém que claramente não era pró-vida-da-
Dytto.
Firmei as mãos no carrinho e apertei os pés no chão.
— Vamos, Ben! — chamei-o com um falso entusiasmo.
A situação era tão desconcertante quanto vergonhosa. Mas eu
gostaria de não pensar naquilo no momento.
Se eu pudesse, apenas teria abandonado o carrinho e corrido
para a minha casa. Ligaria para Christopher aos prantos e pediria
socorro, porém, eu ainda tinha que sobreviver antes de fazer
qualquer coisa. Logo, apenas segui Benjamin para longe dali.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

04 de Junho | Terça-feira

Benjamin sentou-se ao meu lado, no banco do passageiro do


meu carro. Em um gesto descontraído, arrumou a gola do seu
enorme casaco preto, como se estivéssemos apenas saindo à
passeio.
Concordei em lhe dar uma carona, mas não trocamos muitas
palavras desde que passamos as compras no caixa. Com medo, eu
olhava para todos os lados e checava o retrovisor de um em um
minuto. A sensação de estar sendo seguida engolia os meus
sentidos, tornando rarefeito o ato de respirar.
Por outro lado, Ben sustentava uma expressão plácida e
imperturbável. Gostaria de acreditar que ele estava fingindo, porém,
ninguém agia assim em momentos desesperadores como o
presenciado há uns 15 minutos atrás.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Minha agonia era depositada na estrada à nossa frente. Me


esforçava para que o foco no trânsito desfizesse o meu medo, mas a
curiosidade me venceu.
— Quem era aquele homem? — soltei, para a sua surpresa.
Suas sobrancelhas grossas se engelharam, como se estivesse
prestes a mentir, mas de um segundo para o outro, ele pareceu ter
desistido da ideia, como se entendesse que o mais prudente agora
seria ser sincero.
Ben era o mais próximo que eu conseguiria chegar da verdade.
E, por mais que eu amasse Christopher, havia uma nebulosa
curiosidade dentro de mim que me tirava do ar.
Mesmo que no fundo sentisse como se traísse a sua confiança,
uma outra parte de mim implorava para saber. Ela, por muito tempo,
manteve-se reprimida em razão dos meus sentimentos, mas agora,
precisava ser libertada.
Christopher me avisou que se eu cavasse buracos, encontraria
ossos. No entanto, sentia-me como se, em breve, eu é quem faria
parte daquela pilha.
Eu sabia que era necessário compreendê-lo para entender que
ele não era como alguém qualquer e que, por isso, mantinha
segredos de mim, mas não existia mínimas razões meramente
relevantes que me fizessem sentir assim. Ainda mais quando outras
criaturas iguais a ele começavam a entrar na minha vida desta
maneira.
Passei a manhã toda o ignorando, porque no fundo sentia receio
em responder as suas notificações. Estávamos, de alguma forma, em
meio a um tornado, embora fingíssemos que não enquanto nos
distraíamos com sexo.
Evitei pelo menos seis mensagens de textos, porque eu não
sabia como me sentir. Gostava de sua companhia quando estava
tudo bem, mas quando o tempo se fechava, Christopher sumia e
tornava-se o seu próprio inferno. E, bem, na atual situação, pode ser
que exista um ou outro motivo para ele surtar.
Ele era um demônio, mas eu ainda era uma humana, e sentia
coisas confusas, tinha medo e existia a raiva. Como se não pudesse

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

piorar, sentia tudo ao mesmo tempo, e isso acabava comigo.


Por muito tempo, permiti que ele me escondesse coisas. Nosso
relacionamento começou errado, permaneceu errado, mas não
deveria ser assim. Eu devia saber para quem estava olhando quando
encontrava aquelas esmeraldas sobre mim.
Não, eu não me contentaria com partes da história. Eu estava
ambiciosa, e queria mais.
— Não sei se é algo que está ao meu alcance, Dytto. Não tenho
permissão nem mesmo para estar aqui com você. — Ele balançou a
cabeça, incrédulo. — Chris odeia quando estou próximo da garota
dele.
Balancei os ombros.
— Então por que está aqui?
Ele sorriu de um jeito cínico.
— Porque ninguém manda em mim — implicou, atrevido. Eu
quase sorri, se não fosse pelo fato de os músculos do meu rosto
estarem tão tensos.
Quase podia sentir a respiração quente de Nabrya bem perto do
meu pescoço, fungando no meu ouvido. De modo que mais parecia
uma ordem.
Os resquícios dos sentimentos ruins causados por ele deixaram-
me, de certo modo, emotiva. Um peso estranho no peito, causando-
me angústias.
— Eu preciso que seja mais específico, Ben. Preciso que me
conte tudo o que sabe, porque eu sei que você conhece bem mais
do que parece — gradualmente baixei o tom de voz, aquilo era
perigoso e definitivamente um segredo. — Você não é uma pessoa
comum, você está enfiado nisso, de um jeito ou de outro. Eu só não
sei como.
Ele entortou o canto dos lábios, meio sorrindo.
— Vai ficar me devendo uma.
— E o que quer em troca?
Ele riu e se ajeitou no banco.
— Não é assim que uma negociação funciona, Dytto. Eu estou te
fazendo um favor e, no futuro, quando eu precisar, você me devolve.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Simples assim.
— Simples assim? — desconfiei.
Ele revirou os olhos.
— Acordo feito, ou não?
— Se prometer que vai contar tudo — propus.
— Eu prometo. — Ergueu a palma da mão.
Aquilo não me fez ficar aliviada ou dar gritinhos de alegria,
porque sabia que o que viria a seguir não poderia ser nem um pouco
bom. Afinal, era de Christopher que estávamos falando.
— Acordo feito — concordei.
De soslaio, notei que ele assentiu.
— Para você meramente entender quem era aquele homem, vai
ter que escutar uma historinha primeiro. Ah, e não, não é nada
inventado por mim, eu juro — declarou, sincero.
— Tudo bem.
— Existe um livro chamado Pergaminho de Christto. Deve ter
pelo menos uns 500 anos, mais ou menos. O livro contém histórias
antigas de demônios que vieram para este mundo extenso que
vivemos antes mesmo do primeiro anoitecer na Terra.
Meus dedos apertaram o volante com mais força. Meu coração
acelerou fortemente. Ainda não havia nada de especial, porém,
meus sentimentos estavam à flor da pele.
— Esse livro conta a história de um inferno, não o que
conhecemos, mas um inferno nunca visto antes. Comandado por um
demônio chamado Christopher.
Por instinto, franzi o cenho e ele sorriu.
Lembrei-me do que Chris havia me contado sobre o outro
inferno, Nefarious. Mas ainda não entendia muito bem como isso
chegaria ao homem na sala do meu namorado, ou agora, nas
minhas costas no supermercado. Parecia um caçador cada vez mais
próximo da caça.
— Não se preocupe, não é o seu Christopher — informou.
Não me dei ao trabalho de responder. Obviamente não poderia
ser o meu Christopher a comandar o inferno Nefarious. Não tinha
como. Impossível.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Bom, neste inferno, existem pelo menos 5 pilares da criação.


O rei de todos eles era Christopher, ele comandava o maior exército
de demônios já existente. Dizem que, neste inferno, existem mais
demônios do que no inferno bíblico. É uma nação inteira deles. O
inferno bíblico é fichinha perto daquilo.
— E como exatamente funciona? As pessoas também serão
mandadas para lá depois do julgamento e de suas mortes?
Ele negou num balançar de cabeça.
— Havia apenas demônios naquele inferno, mas, há pessoas que
foram mandadas para lá, porque fizeram um pacto com os demônios
de lá, ou… de alguma forma foram parar no caminho deles aqui na
Terra. Desde então, as almas pertencem aos donos dos pilares.
Benjamin apanhou um bloco de notas esquecido no painel do
carro. Com uma caneta, começou a pincelar a folha amarela,
desenhando algo como um grande pilar dividido em cinco partes.
Bem como uma montanha.
Não conseguia enxergar bem, estava concentrada na estrada. E
ainda que estivesse longe do centro da cidade, as ruas estavam
cheias e movimentadas. Por sorte, o céu se abriu um pouco mais, e
um escasso raio de luz atravessara as nuvens carregadas e escuras.
— Christopher comanda todo o altar de demônios — deu início a
sua explicação. — Otos, comanda o segundo pilar, Nabrya comanda
o terceiro, Anya e Dlaver, os gêmeos, comandam os outros dois
últimos. Esses dois últimos são nojentos.
— Nabrya? — pontuei, instigada.
— É. Como o nome de nossa ilha.
Meu sangue congelou nas veias.
— Então quer dizer que nossa ilha é uma homenagem a um
demônio que estava atrás de mim alguns minutos atrás? — berrei,
incrédula.
Ben ergueu uma sobrancelha, alheio. Provável que aquilo já não
o afetasse nem um pouco, e isso me deixava bem mais assustada.
— Basicamente.
— Ah, meu Deus! — clamei, sôfrega.
— Chris não te contou?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Bufei, furiosa.
— Christopher acha que pode me enfiar nisso e me contar
apenas o superficial. Ele acha que eu vou quebrar ou alguma merda
assim — esbravejei, ao passo que dava pequenos socos contínuos no
volante.
— Para com isso, Dy. — Ele pôs sua mão sobre a minha,
acariciando-a de leve. — É isso que Nabrya quer, ele adora provocar,
sacanear e manipular a mente das pessoas. Vai te fazer sentir ódio,
mágoa e tristeza. Vai entrar na sua mente e te perturbar. Foco,
Dytto.
Preenchi os pulmões ao máximo.
— Me diz como evitar, Ben — pedi, exasperada.
Voltei meu olhar para ele por um segundo, o nó preso à
garganta me fazia sufocar.
— Precisa ser forte, Dy. Não tem como parar Nabrya. Ele só para
quando o estrago já está feito e consegue levar tudo o que pode.
Pus meu olhar sobre a estrada. Queria gritar com Benjamin por
ele estar tão calmo, dizendo coisas tão idiotas.
— Só... continua! — resmunguei. — Continua a merda dessa
história.
Benjamin se ajeitou no banco e esfregou suas mãos sobre os
jeans.
— Quando Ken, o primeiro homem da família Tanaka, pisou em
Nabrya, antes mesmo dela ser colonizada, já havia rumores sobre
esse segundo inferno se espalhando por todo o continente asiático.
Isso motivou a elite do Japão, eles eram ambiciosos e gananciosos,
queriam tudo. Assim, quando o casal Ken e Ayumi Tanaka chegaram
aqui, decidiram que fariam um pacto com Nabrya para que tivessem
poder suficiente para comandarem tudo e serem ricos a ponto de
nadarem em ouro. E, em troca, lhes dariam uma cidade inteira de
almas para aquele inferno.
Engoli em seco. Minhas bochechas estavam ardendo.
— Então, como pode ver, nossa história começou, nasceram
mais pessoas, vieram estrangeiros de outros continentes, a maioria
sul-americanos. Morreram centenas de pessoas misteriosamente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Aconteceram eventos inexplicáveis, surgiram boatos, lendas, teorias.


Mas ninguém nunca entendeu exatamente o que acontecia em
Nabrya, na verdade, ainda não percebem.
Ele balançou a cabeça, desapontado.
— Bom, desde então, algumas pessoas passaram a ser devotas
ao demônio Nabrya. Já a família Tanaka comandou por séculos a
nossa ilha, até que nasceu o tataravô do seu Christopher. Ele viu o
que estava na família dele há anos, e decidiu acabar com aquilo.
Ele mordeu o canto dos lábios, como se a continuação disto o
decepcionasse, não notando que acabara de revelar o maior dos
maiores segredos de todos para mim.
Eu estava em choque enquanto o ouvia prosseguir:
— Mas, é claro que a obsessão por poder continuou, só precisou
pular duas ou três gerações, e então, nasceu a mãe de Christopher,
e ela retomou os negócios, fazendo um acordo com o demônio
Christopher. Ela queria um filho dele, e em troca, daria o que ele
quisesse.
— Eu acho que eu vou desmaiar — sussurrei, sentindo-me
pálida. Meus lábios formigavam e o meu rosto e mãos estavam frios.
Benjamin me encarou, alerta.
— Qual parte te deixou branca assim? — preocupou-se.
— Chris faz parte da família Tanaka? — repeti, desorientada.
— Oh! — ele ergueu as sobrancelhas, exclamativo. — É... bem,
sim.
— Tanaka. Então a família dele toda é da família Tanaka — eu
soava como uma asmática em crise. — Todo esse tempo, e eu nunca
parei para pensar. Como eu sou burra!
— Também não é para tanto, Dytto. Não é como se você
investigasse a família dele.
— Benjamin, olhe em volta. — Apontei para os carros de famílias
estacionados no meio fio, enquanto cidadãos caminhavam alheios,
com o brasão da família Tanaka; duas coroas entrelaçadas sobre um
escudo dourado, estampadas em pequenas bandeiras. — Estão
fazendo uma comemoração para a família do meu namorado. Eu
devia ter percebido.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Tudo bem. Processe isso com calma.


— Por que a cada minuto que se passa eu sinto cada vez mais
que Christopher quer me manter dentro de uma caixinha?
— Porque em uma caixinha, ele te mantém longe do que te faria
o odiar.
Semicerrei os olhos.
— E o que seria?
— A verdade, Dytto. A verdade sobre o passado da família dele,
de onde ele veio e o que ele é.
Mordi o canto dos lábios.
— Me conta, Ben.
— Eu bem que gostaria de ter uma resposta para tudo o que ele
é, Dytto, mas isso é muito mais do que apenas uma simples
resposta. Christopher não foi só gerado para satisfazer a sede de
poder da mãe dele. Chris tem algum tipo de propósito neste mundo,
muito maior do que apenas ser o seu namorado ou um garoto
arrogante.
— Por que a mãe do Christopher ia querer que o filho fosse um
demônio? Se ela queria poder, poderia ter pedido outra coisa, não é?
— ruminei.
— Tudo para os Tanaka se resume em título, mas o pai de
Christopher jamais concederia um bebê como ele por razões egoístas
e humanas. Entende agora como tudo isso parece um plano sádico
do seu sogro? É um jogo.
A palavra sogro me fez sentir espasmos, no entanto, apenas
suspirei. Esta conversa me deixava cada vez mais agoniada.
— Me conta mais sobre a mãe do Christopher.
— Eu só sei que ela se chamava Naomi e que era
excepcionalmente linda.
— E o que aconteceu a ela? Digo, depois de ter transad... depois
de ter o filho dela, o... Christopher. — Pigarreei, desconcertada.
— Bom, até os nove anos do Christopher, ela ainda era presente
na sociedade, mas um dia, simplesmente desapareceu do mapa.
Assim... — Ele estalou os dedos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E o que o Christopher-pai pediu da Naomi? Quer dizer, ele


deve ter pedido algo em troca para que ela tivesse um filho dele,
não?
— Talvez tenha pedido para que ela se mudasse para o inferno
com ele, eu sei lá.
— Acha que o Christopher-pai amava a Naomi?
— Christopher-filho e Christopher-pai não são as mesmas
pessoas, Dy. — Ele sorriu. — Não se preocupe com isso, o seu Chris
tem sentimentos genuínos por você, mas não pense que isso é boa
notícia, ele continua sendo filho de um maluco.
Balancei a cabeça, negando.
— Mas eu nunca invoquei o Christopher-filho, ele veio até mim, e
me obrigou a ficar.
Benjamin sorriu.
— O Christopher-filho é um pouco mais radical do que o pai —
brincou, mas não consegui sorrir.
— E o que mais? — insisti. — O que mais sabe sobre ele?
— Bom, Christopher sempre foi muito reservado, mas gostava de
aparecer na floresta algumas vezes. Ele teve um caso com uma
amiga minha, ela era muito apaixonada por ele.
— Que amiga? — eu quis saber.
— Zoe. Eu não sei bem o que aconteceu, mas nunca mais a vi.
Esse nome me fazia sentir frios na barriga.
Zoe, a mãe de Asafe. Christopher havia me contado que tinha a
trancado no inferno, porém não me deu detalhes de quase nada.
— P-por quê? Ela foi embora?
— Ela estava grávida do Christopher. Suponho que tenha fugido,
ou ele tenha encontrado um jeito de mandar ela embora. Eu não sei,
Dytto. Mas eu tenho uma sensação ruim quanto a tudo isso. Acho
que ela não teve o bebê e isso aborreceu o Chris, ou então teve o
bebê e fugiu.
Apertei a ponta da língua entre os dentes.
— Também tenho coisas que gostaria de descobrir. Zoe contava
apenas comigo, e um dia, simplesmente passou a andar estranha,
distante e assustada. Isso durou um tempo, até que eu não a vi mais

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— lembrou, nostálgico. — Isso acontece muito com quem anda com


os Tanakas, eles tendem a sumir — lamentou.
Benjamin, apesar de possuir um belo e gentil rosto, sabia que a
vida não eram flores. Ele sabia que as pessoas não sumiam
simplesmente, podia ver isso em seu olhar pesaroso.
— E Nabrya? — desviei o foco.
— Nabrya deve ter vindo com algum tipo de missão. Talvez
tenha vindo em ocorrência de algum chamado. Às vezes um grupo
de pessoas invocam demônios poderosos. — Ele virou-se para mim
— Como o conheceu?
— Na casa do Christopher. Eu o encontrei, na sala dele. —
Umedeci os lábios.
— Tudo bem, pode encostar aqui — pediu, apontando para uma
pequena lanchonete. — Eu tenho que trabalhar, nos falamos depois?
Assenti, curvando um sorriso triste.
— Obrigada por ter me contado.
Ele sorriu de volta.
— Não me agradeça, Christopher vai querer a minha cabeça.
— Não se ele não descobrir — protestei.
Ele soltou uma risada baixa.
— Ainda não conhece tão bem o seu namorado, não é? — ele
abriu a porta e saltou para fora, voltou-se para mim uma última vez
e acenou. — Tenha cuidado, Dy. Está entrando em um lugar
perigoso.
— Não se preocupe, vou dar um jeito.
Benjamin não parecia convicto, no entanto, assentiu
amigavelmente antes de se afastar. Não fazia mal ter esperanças.
Mais que imediatamente, a tela do meu celular ganhou vida no
porta-copos, era uma notificação de mensagem.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele não facilitava, tampouco me dava alternativas entre


responder ou me dar espaço.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Que mentira! Mentira! Mentira!


Isso estava me enchendo.

Quase o respondi: "Obrigada, amor. Me sinto tão segura sendo


ameaçada assim."
Atirei o celular no banco de trás e dei partida.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

04 de Junho | Terça-feira

O percurso de volta para casa foi demasiadamente longo. Fiz


questão de ir devagar para ganhar tempo e conseguir digerir tudo
aquilo que Benjamin havia me contado.
As suas palavras pareciam ter repulsa de se juntarem para,
enfim, ganharem sentido em minha cabeça.
Eu estava vivendo um pesadelo de olhos bem abertos.
Na hipótese de Ben estar certo, o que garante que Christopher
não fará comigo o mesmo que fez com as outras pessoas que
sumiram durante o decorrer de sua vida? Não dá para confiar que
serei sua exceção se nem ao menos o conheço direito. E se não for
ele a razão de alguma coisa ruim acontecer, talvez será Nabrya,
senão outro ou outro.
Meu corpo inteiro tremia. Um calafrio percorria minha coluna e
seguia para todo o resto. Que sensação desgraçada!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Estacionei o carro na garagem de casa. No caminho para a porta


andei meio lerda, esfregando meus pés no chão, sentindo todo o
meu corpo pesado e tenso. Já dentro dela, com as sacolas de
compras em volta dos meus braços, encontrei o que já temia.
Mamãe estava chorando em razão do luto pelo seu emprego,
deitada no colo de papai, que demonstrava o cansaço em cada nova
ruga que ameaçava surgir em sua pele esteticamente mudada. O
seu pulso havia finalmente se curado após a torção e agora ele já
estava bem melhor.
Loren estava na mesa de jantar, sozinha e relaxada. Batucando
os dedos sem rumo pela tela de seu celular. Assim que notou a
minha presença, seu olhar se ergueu para o meu, surpresa.
— Está tudo bem? Você demorou — notou, atenta.
— Eu estou bem, só quis dar uma olhada na passeata da cidade
— informei-a, colocando as compras sobre a mesa.
Ela repuxou o canto dos lábios, mas logo o devolveu ao lugar, de
modo que mais parecia um piscar de olhos. Uma expressão penosa
abrangeu sua face, como se estivesse prestes a contar-me uma
péssima notícia. De modo que não aguentasse mais suportar dentro
de si, suspirou.
— Eu recebi notícias do Marcos — ela avisou, triste.
Tinha um bom tempo que não o visitávamos. Na última vez, ele
parecia irritado em termos ido, então não fomos mais, no entanto,
parecia melhor da fratura em seu pescoço.
Sabia que Christopher nunca iria pedir perdão por tê-lo
empurrado das escadas em sua crise de ciúmes, porém, aquilo não
mais parecia ter sentido, até agora.
— Marcos foi internado hoje de manhã. Aparentemente, está
tendo alucinações, indícios de desidratação e uma micose estranha
nos pés.
Enruguei a testa.
— Falou com ele? — investiguei, aflita.
— Nãmm — ela deu de ombros. — Ele está louco da cabeça.
— Sabe a razão de tudo isso?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não. Mas disseram que apareceu do nada e que foi piorando


cada vez mais.
Fechei os olhos por um momento, atingida por uma forte
vertigem. Eu ainda me esforçava para mentir para mim mesma. Me
dava ao trabalho de criar razões para os comportamentos de
Christopher, porém, existiam limites para as suas crueldades.
Marcos cometeu o erro de me beijar há várias semanas, e ainda
pagava o preço por isso.
— Dy, está tudo bem?
— Sim — afirmei, exausta. — Eu vou tomar um banho.
Saí dali com pressa em direção ao meu quarto. Assim que
tranquei a porta, arranquei sem cuidado algum cada peça de roupa
do meu corpo, e as joguei de qualquer jeito no chão.
Corri para debaixo do chuveiro e permiti que a água me
embalasse da cabeça aos pés. Fechei os olhos e abracei o meu corpo
com força, sentindo minha respiração desordenada e meu coração
impaciente.
Sentia-me completamente destruída, e mesmo que saber sobre
a família do Christopher tivesse tido grande impacto sobre mim,
desconfiava ainda estar sob influência dos poderes de Nabrya.
Mergulhei no contato fino e constante das gotículas de água em
minha pele, absorvendo a sensação. Tentei relaxar ao som da água
desabando no chão. Joguei a cabeça para trás, inspirando fundo e
suspirando devagar.
Mas, um toque suave, porém, sombrio, atingiu as minhas costas
e estremeci de susto, entretanto, não ousei me virar.
Abaixei o rosto, assustada. Lentamente o toque se expandiu e
escorregou para a minha barriga. Devagar, desci o meu olhar,
avistando a mão cinzenta e tatuada de Christopher sobre mim.
Engoli em seco, sem conseguir mover-me. Ele enroscou seu
braço em minha cintura e me puxou para trás, colando meu corpo
nu ao seu.
O sentimento de medo me cercou, trazendo consigo o receio de
que algo ruim me aconteceria. Travei os olhos no azulejo do

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

banheiro diante de mim, sentindo sua respiração, gradativamente, se


aproximar de meu ombro.
— Você desapareceu o dia inteiro — sua voz sussurrou, mórbida
e rouca.
O pânico me tomou, contudo, esforcei-me para não deixar
transparecer.
— Estive ocupada — arfei, apertando os olhos.
— O que andou fazendo, Dingo? — instigou.
— Nada de tão interessante.
Sua respiração pesada transformou-se em uma tonelada de
repreensão em minhas costas.
— Você não me respondeu — cantarolou devagar.
— Eu preciso tomar banho, Chris — sussurrei.
Seu aperto em volta de mim ganhou intensidade.
— O que você fez hoje? — insistiu.
Sua mão tocou o meu braço e Christopher me virou para ele,
mas não permiti que meus olhos se mantivessem abertos. Não
queria vê-lo em sua segunda camada.
— Olhe. Para. Mim — ordenou, devagar e frio.
Neguei.
Seus dedos gelados tocaram o meu queixo e se moveram até a
minha têmpora, a qual ele massageou sugestivo, para que eu abrisse
os olhos.
— Me olhe, amor. Veja o que você tanto tem medo — provocou,
cruel.
Novamente neguei.
Senti seu corpo se inclinar em direção ao meu e endureci no
lugar. Seus lábios, no entanto, passearam sobre os meus, e então,
seus dentes os mordiscaram de leve.
Sua língua tocou a minha pele e caminhou até o lóbulo de minha
orelha.
— Me olhe! — ordenou, desta vez, mais sério e intenso, dando
ênfase ao seu comando.
— Por favor, Chris... Eu não quero — solucei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Mas vai ter que me olhar. Como vai acreditar nas historinhas
do Ben se nem ao menos me olha nos olhos para contestar o quão
monstruoso eu sou? — Sentia ódio e amargura em suas palavras. —
Você queria saber sobre mim, insistiu até onde deu, e continuou
forçando a barra mesmo depois de eu dizer para você parar. Quer
saber sobre mim? Então me olhe, amor.
Prendi a respiração.
— Eu não queria...
— Sim, você queria, Dingo. Você queria saber da história do
começo ao fim.
— Por que está fazendo isso? — me engasguei em meio ao
choro e enfiei meu rosto em seu peitoral, sem coragem para vê-lo,
sem forças para correr.
Christopher beijou o meu ombro e abraçou o meu corpo.
— Não seja covarde agora, minha Dingo Bells. Não era isso o
que queria? — falou, com um fundo de irritação em sua voz. — Se
queria saber a verdade, deve ser porque aguenta, não?
— Eu não quero isso. Por favor, pare! — eu disse, aos prantos.
— É claro que quer ou não teria me desobedecido. Eu avisei,
mas você não me deu ouvidos. Quer a verdade? Você é minha. Sua
alma já é minha. A porra dessa cidade é minha. — Ele respirava mais
rápido agora. — Eu pedi que parasse, amor. Eu pedi com zelo. Mas
você continuou me desobedecendo.
Devagar, tomei distância de Chris, finalmente encarando-o.
A sua segunda camada.
Ele era medonho e horripilante. Meu corpo inteiro reagiu em
pavor.
Seus olhos tornaram-se dois poços negros e vazios, envoltos de
linhas em formato de escuras raízes em todo ele. Os lábios roxos e a
pele eram de um tom cinzento, com uma textura áspera e dura. As
olheiras eram fundas e tingidas de tons roxos.
Seu peitoral era cheio de cicatrizes vermelhas, de tal modo que
pareciam rachaduras. O cenário por completo era horripilante e
assustador. Por alguma razão, esperei que o meu medo fosse menor,
mas eu me enganei fajutamente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Não havia conforto algum em já tê-lo visto assim.


— Gosta do que vê, amor? — perguntou, sarcástico.
Levei minhas mãos ao meu rosto e tentei sufocar o pavor e as
lágrimas sob elas sem alarde. A última coisa que eu desejava era
que papai colocasse a porta do meu quarto abaixo por ouvir sua filha
gritar histericamente dentro do banheiro. Não sabia mais pelo que
chorava, apenas odiava tudo aquilo.
— Não é incrível que há pouco tempo disse que me amava e
agora eu sou o monstro debaixo da sua cama? — zombou, ácido.
Continuei fungando baixinho.
— Não tem o direito de me culpar. — Apontei para ele. — Você
roubou a minha alma — pontuei, infeliz.
— Não, eu não roubei. Eu a marquei.
— Dá no mesmo, não é? No fim, você vai me arrastar para o
inferno, e aposto que vai fazer questão de me torturar por toda a
eternidade — ralhei, irritada.
— Torturar você? Que porra você pensa de mim? — brigou entre
dentes. — Te marquei para ser minha, não para te condenar ao
sofrimento, mas para ficar comigo.
— Serei obrigada a ficar trancada no inferno. Isso te parece
amor? — rebati.
Ele soltou um riso amargo.
— Assim que você morresse, já estava fadada ao inferno.
— Eu poderia ter a chance de conseguir a graça eterna. Você me
roubou isso — esbravejei.
Ele uniu as sobrancelhas.
— Prefere uma eternidade de ilusões a viver comigo?
— Christopher, você nem ao menos me perguntou o que eu
queria. Você tomou a decisão por mim. Você tirou a escolha que eu
tinha sobre mim. Não venha dar um de santo ou de romântico. Você
é só um mentiroso!
Ele curvou o canto dos lábios.
— Acha mesmo que ainda iria para o céu depois de se deitar
com um demônio, Dingo? — gracejou em diversão. — Sua alma está
manchada desde o dia em que se sentiu atraída por mim pela

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

primeira vez. Você não iria para o céu nem se virasse a porra de uma
freira. Você se despiu para um demônio e abriu as suas pernas para
ele. Que tipo de salvação você estava esperando quando me pediu
para te foder? A santa graça divina dos infernos ou a benção da
minha porra?
Me encolhi num canto.
Christopher se aproximou, colocando meu rosto entre as suas
mãos gigantes.
— Te marcar era a única forma de você não passar pelo
sofrimento eterno. Você será feliz. E eu vou te amar pelo resto de
toda a eternidade.
Abaixei o olhar.
— E quanto ao resto? Marcos, Zoe, Nabrya... Não pode me livrar
do sofrimento, porque é você a causa ele.
Esperei pelo momento em que ele iria surtar, mas este não
chegou. Ele se manteve complacente e calmo.
— Marcos está passando pelo seu castigo, Zoe teve o que
mereceu, quanto ao Nabrya, isso é problema meu.
— Não é problema seu se ele está atrás de mim — retruquei. —
Hoje ele esteve a centímetros de mim, Christopher. Que droga é
essa?
— Deveria ter me procurado, a mim, Dytto! A mim. E não ao
Ben.
— Por quê? Por que é que tem tanto medo que eu descubra
sobre você?
— Eu estou mandando, Dytto. Não me desobedeça de novo —
decretou, intimidador.
— Por quê? Vai me castigar como faz com o Marcos? Ou como
fez com a Zoe? Não pode condená-los assim, e nem a mim — me
impus, aproximando-me ainda mais dele. — Você mente e manipula.
Ele semicerrou os olhos, fúria ardia em todo o seu rosto.
— Zoe tentou matar o meu filho e Marcos te estupraria no
primeiro momento em que tivesse a chance. — Ele apertou o meu
pescoço com sua mão, porém não o machucava. — Estrangulei Zoe

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

até o último suspiro, e depois, me livrei do corpo. E agora cuido para


que Marcos apodreça de dentro para fora.
Puxei o ar com força e me abracei em busca de conforto.
— Eu jamais te machucarei, amor. Você não é como eles. Você
me ama, e eu vejo como ama o meu filho. Apenas não quebre a
minha confiança, e eu te prometo que nunca terá o meu desprezo.
Mordi os meus lábios trêmulos.
— Se os visse como os vejo. Se os sentisse como eu os sinto.
Saberia quem são. E se me ouvisse, saberia que tudo o que eu
quero é te manter a salvo do mal que eu causo a todos.
Christopher se afastou.
— Eu te amo, não se esqueça disso. Mas quando eu mando,
você obedece. Eu tenho muita paciência quando o assunto é você,
Dytto. Mas se você não consegue compreender isso, então vai ter o
pior de mim. E eu prometo ser pior com você do que eu jamais serei
com qualquer outro.
Antes que eu pudesse me mexer, seu corpo evaporou num
milésimo de segundo, sumindo como o ar fugia.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

09 de Junho | Domingo

— Shhh! — Loren soprava, com o indicador grudado no biquinho


que fazia com a boca. — Quieta — sussurrou, seguido de uma
gargalhada exagerada e cambaleou para a esquerda.
Eu não queria rir, mas, de repente, tudo era tão engraçado. As
minhas pernas estavam leves como penas e os meus lábios se
abriam em risadas sem esforço.
— Cala a boca você! — devolvi, entre um riso e outro.
Ela agauchou-se no chão enquanto fazia o que podia para não
rir. Sua mão estava apoiada na barriga enquanto os olhos
mergulhavam-se em lágrimas devido ao riso contido.
— Fica observando. Se alguém vir, você me avisa — dizia,
olhando-me de um jeito maligno.
— Eu quero fazer xixi — reclamei, manhosa, apertando uma
perna na outra.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Para com essa bexiga frouxa.


— Uhhh!! — resmunguei, virando-me, dando início ao que
deveria ser uma vigilância centrada.
Estava escuro e os outros festeiros estavam espalhados pela
floresta. Estávamos entre os carros estacionados mais longe da
bagunça.
Conseguíamos ouvir apenas um breve ecoar da música que
tocava. O chão tremia devido aos graves sonoros que emitia-se das
caixas de música.
Minha visão estava distorcida e as árvores pareciam ter se
duplicado, não... triplicaram. Ou será que sempre existiu tantas
árvores juntinhas assim?
Apertei os olhos, mas um barulho estridente me fez virar de
costas.
— Loren? Por que está rasgando esse carro? — perguntei,
curiosa.
Eu nem mesmo sabia o porquê de ela ter me arrastado para cá.
Em um minuto, estávamos em uma festa porque queríamos
fazer as pazes, e no segundo seguinte, eu estava bêbada e a
ajudando a vandalizar um carro de Deus-sabe-quem.
Ela parou com o estilete na mão e lançou-me um olhar
incrédulo.
— Parou de vigiar por quê? — Seus olhos se arregalaram, como
sempre faziam quando estava falando sério.
Dei com a mão, como quem não se importa e voltei a ficar de
guarda. Eu não sabia exatamente o que eu deveria olhar.
Quem mesmo eu deveria estar vigiando? Quer saber? Eu não
estou nem aí, eu só quero mijar.
— Loren... — juntei as pernas, saltitando sobre elas como uma
mola. — Eu quero fazer xixiiiiii.
— Espere... — o ruído prosseguiu-se, agudo e metálico na
lataria, mudando um tom ou outro conforme ela manuseava o
estilete. Durou um tempo, até que finalmente cessou.
Meus ouvidos agradeceram o fim daquele zumbido estridente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Terminei — informou. — O que achou? — apontou com as


duas mãos, como se exibisse uma baita obra-prima.
Onde antes era um carro limpo e polido, agora existia rasgos de
um enorme pênis e "VADIA LOIRA" cravado de um jeito bem torto.
As palavras não seguiam em uma linha reta, e o "i" de vadia
estava quase que completamente escondido pela letra "D".
— Faltou a cabeça dessa piroca aí — lembrei-a.
Ela olhou para o seu desenho e crispou a testa de um jeito que
parecia concordar.
— Hum, é mesmo. — Finalizou o desenho com uma cabeça e
algumas gotas de porra saltando.
Fiz um OK com a mão.
Pelo menos agora ela parecia contente e havia desistido de usar
MD, tentei convencê-la de todas as maneiras a não usar drogas, mas
somente quando surgiu a brilhante ideia em sua cabeça de vento de
que deveríamos correr para o estacionamento, que ela se desligou
da ideia.
— Tá perfeito! Mas de quem é o carro? — instiguei, curiosa.
— Da vadia loira aqui — a voz feminina e autoritária chamou-nos
a atenção.
Olhei para a garota alta atrás de mim, com o seu lindo rosto
preso a uma carranca furiosa. As sobrancelhas loiras franzidas e as
mãos agarradas à cintura. Seus cabelos branquíssimos estavam
presos a um coque alto no topo de sua cabeça, enquanto os lábios
estavam pintados em um batom vermelho-sangue.
Oh, merda! Nós destruímos o carro da Amara. A irmã do
Christopher.
— Merda! — murmurei.
— Corre, Dytto! — Loren saltou do chão, mas Amara me golpeou
com um chute no meu pé assim que dei o primeiro passo, fazendo-
me tropeçar e cair de cara em um amontoado de folhagem.
Mesmo bêbada, soube que isso imediatamente fez com que o
sangue subisse aos olhos de minha irmã. Ela odiava quando alguém
me machucava e prontamente avançou na loira.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Sua filha da puta! — berrou Loren, impulsionando os braços


em sua direção.
Amara não levou nem três segundos e já estava sobre minha
irmã no chão, imobilizando-a.
Loren tentou se remexer, contudo, a sua oponente era ainda
mais forte. E mesmo que eu odiasse que ela estivesse em
desvantagem, não poderia não dizer que aquilo me impressionou.
Amara parecia uma lutadora profissional.
Eu quero ser igual a ela quando crescer.
— Ei! — gritei, a voz embolada.
Fiz um grande esforço para me pôr de pé. Meu corpo estava
cheio de galhos e o meu cabelo parecia um amontoado de palha. E
apesar de não ter sido lá uma grande queda, sentia-me dolorida.
Destemida, dei dois passos na direção das duas, pronta para
salvar a minha irmã, no entanto, a minha natureza humana falou
mais alto e rapidamente voltei atrás.
— Merda, merda, merda — reclamava, pulando na ponta dos pés
para trás do carro.
— DYTTO — Loren gritou, acuada sob o corpo da magérrima
Amara.
Ela era tão linda que mais parecia uma boneca de plástico, tipo a
Barbie. Embora sua aparência fosse divina, lutava como uma pirata
valente. Era meio sexy, para falar a verdade.
Não pude conter e me agachei atrás do carro da loira. Arrastei o
short jeans e a calcinha para baixo, me livrando do líquido que meu
corpo implorava para expulsar. Oh... como era bom!
Fechei os olhos, meio lerda e busquei me equilibrar. O álcool
ainda queimava em minhas veias. Loren poderia esperar um
pouquinho, ou então, teria que lidar comigo mijando na sua
adversária enquanto tentava ajudar.
Quando retornei ao que havia se tornado um ringue, Amara
brincava de dar pequenos tapinhas no rosto de minha irmã,
provocando-a
Loren estava vermelha dos pés à cabeça, furiosa. Ela relutava —
em vão — debaixo da Barbie gótica.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— DYTTO CARAMBA! — minha irmã berrou, lembrando-me de


que eu ainda estava parada.
— Ow!
Avancei em direção às duas, mas dois braços fortes agarraram
meu corpo com força. Tirando-me do chão num piscar de olhos.
— SOLTA. SOLTA. SOLTA — ameacei, debatendo-me.
Amara nos olhou com os lábios pintando sorrisinhos.
— Segura essa daí, Dem — pediu, divertindo-se com a situação.
— Já está no papo — a voz forte e maliciosa concordou.
Virei o pescoço para o lado e forcei-me a enxergar quem era o
enxerido que me impedia de ajudar a minha irmã.
O rapaz — ao que parecia, coreano — mantinha a pose robusta
e firme diante da situação. As várias tatuagens no pescoço se
estendiam até onde a sua blusa me deixava enxergar. Na orelha,
existiam alguns pequenos brincos, e os seus lábios se curvaram de
um jeito zombeteiro.
Um homem muito bonito, admito, mas que não parecia muito a
fim de me soltar.
— Quem é você? — perguntei, meio embasbacada.
Ele me deixava um pouquinho tímida, na real. Bem como
Christopher.
— Por que quer saber? — rebateu, desconfiado.
— Porque sim.
— Me solta, porra! — Loren esbravejou. A situação ainda era
tensa do nosso lado.
— Isso não é resposta — discordou.
— Tecnicamente, é sim.
Ele semicerrou os pequenos olhos, o que só os fez quase
sumirem.
— Quem é essa daqui, Amara? — investigou, enquanto ainda me
encarava.
— A namorada do Christopher.
Ele rapidamente abriu um largo sorriso.
— Oh, olhe só. Conheci a escolhida — celebrou, sorridente.
Franzi o nariz em uma careta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Quem é esse daqui, Amara? — foi a minha vez de dizer.


— Irmão do Christopher.
O homem tatuado fechou a cara.
— Eu sou mais do que só o "irmão do Christopher", irmã do
Christopher. — Ele jogou uma piscadela para a loira. — Sou gostoso,
e sou charmoso.
— E egocêntrico — complementei num sussurro que o fez erguer
uma sobrancelha.
Rapidamente voltei a atenção para as duas garotas estiradas no
chão. Minha irmã já havia cansado de se debater, então só aceitava
a derrota em silêncio. Amara, por outro lado, ainda chacoalhava os
quadris sobre a minha irmã, atiçando a sua raiva.
— Tudo bem, irmão do Christopher. Agora ligue para ele. Temos
que dar um jeito nessas duas — a Barbie gótica informava, com o
olhar vidrado em minha irmã.
Arregalei os olhos.
Ligar para o Chris? Ah, não! Isso não era coisa boa. E eu
certamente estava encrencada.
Havia dito a ele que estaria dormindo às 10 em ponto, pois
amanhã planejava acordar bem cedo para estudar para uma prova,
por isso, pedi que não fosse me visitar.
De fato, era verdade, até Loren entrar chorosa no meu quarto,
dizendo estar com saudades e mandando um longo discurso que
mexeu comigo. Nossos pais estavam dando um tempo longe de casa
para nossa mãe não surtar de vez, isso facilitou tudo, minha irmã
havia dado um jeito de hackear as câmeras, então tínhamos o passe
livre.
Eu deveria ter pelo menos o avisado que os meus planos
mudaram, mas, agora, saber que ele iria descobrir pelos próprios
irmãos que eu não só não disse a verdade, mas também estava em
uma floresta às duas da manhã, como também ajudei a vandalizar o
carro da sua irmã, era um pesadelo. Eu ia morrer. Cem por cento.
— Não, não liga, por favorzinho — pedi, fazendo beiço.
O "irmão do Christopher" encarou-me cético.
— E por quê? — indagou, curioso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É que... — pigarreei. — Ele me disse hoje que não gostaria de


ser incomodado... — Sorri nervosamente. — Acho que pegaria mal
se vocês irritassem ele, não é?
— Está chamando — a voz de Amara me alertou e me deparei
com a loira segundo o celular no ouvido.
— Não! — protestei.
— Temos um problema — ela respondeu ao celular, quando,
aparentemente, a ligação fora atendida.
Tentei me soltar, mas o homem atrás de mim era muito mais
forte.
— Bom, tem a ver com a sua namorada e a filha da puta da irmã
— conversava, enquanto eu me esvaia em pedidos de ajuda.
Bom, devo admitir que nenhum dos meus esforços funcionaram,
porque de onde eu estava, ouvia os berros de Christopher ao
telefone enquanto eu assistia horrorizada sua linda e fofoqueira irmã
me dedurando.
Ainda preferia que fosse meus pais na ligação.

Seus olhos eram duros e repreensivos quando me alcançaram.


Ele pisava fundo com as suas botas pretas na grama úmida. As mãos
balançavam com rispidez no ar.
Quando estava perto o bastante, levou sua atenção para a sua
irmã, em uma posição que estava começando a parecer erótica
demais. E então, retornou-a para mim.
Os olhos verdes transformavam-se em uma cor mais escura
quando estava furioso.
— Vai amenizar a situação se eu disser que você está lindo
assim... todo de preto? — sorri.
"Dem", "Demétrius", "irmão do Christopher", ou seja lá qual
outro apelido ele tivesse, mantinha-se paciente, ainda me
segurando. As duas mãos agarradas aos meus braços como

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

algemas. Porém, mesmo que me perturbasse a ideia de estar assim,


foi ele quem cortou o clima tenso.
— Fala sério, o cara está parecendo um adolescente emo.
Christopher inclinou-se a olhar para o irmão, lançando-lhe um
olhar repreensivo.
— Não tem nada melhor para fazer? — a Torre Tatuada
provocou, irado.
— Bom, já que essa já está comprometida... — Senti-o se
endireitar para a direita, atrás de mim, como se quisesse ver além
do meu corpo, mesmo que fosse muito mais alto que eu. — Imagino
que aquela ali deva estar disponível, não?
— Está dando em cima da minha irmã? — entrei em alerta.
Em raras ocasiões eu agia como a irmã ciumenta, isso era papel
para Loren, não para mim. Entretanto, eu sabia que se ela se
envolvesse com Dem, isso poderia acabar muito mal.
— Ela é uma gatinha — estimulou, malicioso.
De onde estava, vi Loren rir sugestiva e Amara emburrecer-se. A
loira acertou a minha irmã com um outro tapa na cara, mas desta
vez, parecia sério.
— Desgraçada — Loren rosnou baixo.
Tenho plena certeza de que Lô se segurava para não fazer coisa
pior, como enfiar a cabeça de Amara em um buraco cheio de
formigas quando se soltasse.
— CHRIS — reclamei. — A sua irmã está batendo na minha
irmã, e o seu irmão está me segurando. Faz alguma coisa!
— A minha irmã não estaria batendo na sua irmã se ela não
merecesse. E o meu irmão não estaria segurando você, se estivesse
em casa. E os meus irmãos não teriam me ligado, se vocês não
tivessem arranhado a porra do carro da minha irmã. — Me encolhi,
conforme o ouvia me dar sermões.
— Mas eu sou a sua namorada, não conta? — Abri um sorriso
forçado.
Christopher suspirou e fez um gesto com a mão para Demétrius.
— Pode soltar — pediu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Dem me soltou e imediatamente me inclinei a ir para o rumo da


minha irmã, porém, foi a vez do Christopher me impedir, agarrando-
me pela cintura.
— Está cheirando a cerveja. — comentou.
— A sua irmã ainda está batendo na minha, olhe. — Apontei
para Amara batucando com as mãos nos seios da minha irmã.
— Eu tenho certeza de que Loren não se importa. — Christopher
respondeu.
— EU ME IMPORTO SIM, SEU IDIOTA.
— Ah, é? — ele brincou com a sobrancelha e sorriu. — Não
parece. — Balançou a cabeça.
Ouvi Demétrius rir atrás de nós dois.
— Amor — segurei o seu rosto. — Pode, por favor, pedir para a
sua irmã deixar a minha? — choraminguei.
Tentei ser convincente, mas fazer cara de manhosa enquanto se
está bêbada só te faz parecer uma demente. Sei disso porque
Christopher estava me encarando como se eu fosse uma.
— Mal resolvemos um problema e você já arranjou outro —
murmurou.
— Nós nunca resolvemos nossos problemas, Chris. Nós brigamos
e seguimos para o próximo.
Ele revirou os olhos.
— Amara — chamou. — Qual o veredito?
Juntei as sobrancelhas, confusa.
— Eu pesquei esse peixe, e vou levar para casa. Ela vai ficar
comigo até que eu a faça me pagar tudo o que destruiu no meu
carro e toda a raiva que me fez passar.
— Vai sequestrar a minha irmã? — quase gritei.
— Não. Não. Não. Eu não vou. — Loren tentou se mexer, mas os
seus braços estavam presos pelos joelhos de Amara.
— Acho que você não entendeu, Loren. — A loira sorriu. — Você
é minha até eu disser que não é mais.
— Tenho quase certeza de que Loren também me fez passar
raiva. — Dem se pronunciou, safado.
— Vá atrás do seu, Dem. Eu não divido.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu não sou a porra de um brinquedo — Loren esbravejou.


— Agora é — Christopher discordou.
— Temos que ir para casa, Chris — reclamei.
— Não, senhora. E você... — Apontou para o meu rosto. — Vai
vir comigo. Vamos todos para a mansão.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

09 de Junho | Domingo

Meus braços e tornozelos ardiam e coçavam presos às cordas


envolvendo-os com um forte nó. Debatia-me sobre o colchão duro
em meio ao enorme cômodo pouco iluminado, mesmo que já
soubesse não ter saída daquela situação em que eu mesma me
coloquei.
As paredes negras contrastavam perfeitamente com a macabra
decoração do ambiente. Sentia-me na sala do diabo. As caveiras
penduradas nas paredes pareciam sorrir, embora não pudessem.
Eu só queria nunca ter feito o que fiz com o carro dessa
psicopata, assim, poderia estar bem bêbada e dançante no meio da
festa, e não sequestrada, dopada, e então amarrada em sua cama.
Não tinha a menor ideia de como eu havia chegado ali, e de
onde estava exatamente.
— Que porra você quer, Amara? — soltei rígida, encarando-a
irritada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Mesmo que fosse eu — inicialmente — a errada da situação,


negava-me a lhe dar a razão dos fatos.
Eu era teimosa, gostava de um bom jogo, sabia lidar com
pessoas difíceis e nunca baixava a cabeça para ninguém. No
entanto, havia entrado em um ninho de ratos perversos e esquisitos.
Imaginei que Amara fosse só mais uma idiota, mas olhando a
situação agora, sabia que estava enganada para caralho.
Não poderia dizer que estava cento por cento certa do que ela
poderia fazer esta noite, mas a vaga ideia de que poderíamos transar
me deixava um tanto quanto excitada, lado este, escondido e
sufocado por anos de minha parte.
Eu não poderia sentir nada por alguém que claramente era tão
ferrada da cabeça quanto eu.
Perversamente, a garota curvou os lábios em um sorriso
maligno.
A loira maluca estava à minha frente, o corpo magro e alto
apoiado no móvel de carvalho escuro.
Sob a luz das lâmpadas amareladas, um lado vil se revelara em
sua face mais obscura. Seus olhos claríssimos sondaram o meu
corpo amarrado em sua cama.
Os meus dois braços presos na cabeceira, e os tornozelos presos
às pontas da cama.
— Estamos adiando uma coisinha há um bom tempo, não acha,
Loren? — Amara provocou, esfregando a unha esmaltada de preto
sobre os acentuados lábios vermelhos.
Revirei os olhos em rebeldia.
Estávamos adiando uma briga desde o desafio no penhasco, mas
não era como se tivéssemos uma obrigação pendente. Obviamente
não nos dávamos bem, no entanto, era bem rude da sua parte me
por em desvantagem para obter sucesso e então se vangloriar disso.
Não era uma vitória se havia trapaça.
— Podemos sair no soco depois que me soltar. O que acha? —
debati, exonerando a fúria que ardia em meu íntimo.
Ela riu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não estou falando de socos, querida. Um pouco de agressão?


Com certeza. Mas odiaria acabar com o seu lindo rosto. — Ela
mordeu o canto da unha, deixando que os olhos lentamente
escorregassem para entre as minhas pernas arreganhadas. — E
também, não acho que seria convidativo você sentar na minha cara
me vendo de olho roxo, não acha?
Minhas bochechas imediatamente foram atingidas por uma forte
colisão de ardor, o sangue preso à cabeça pincelando minhas
bochechas em um rubro intenso. Me retrai, empurrando os pés no
colchão, a fim de ganhar espaço.
Nunca havia conhecido alguém tão direto, ainda mais, tão
intimidador e... porra, tão gostosa.
Forcei-me a sentir indiferença, embora meu tolo e frágil corpo
estivesse sedento, minha boceta molhada e os meus seios
endurecidos.
— Até parece que eu iria querer sentar na sua cara, Amara —
minha voz tremulou e engasgou ao fim da frase.
Merda!
Ela sorriu, expondo o seu maldito ego nas alturas e o cinismo
reverberando-se como um grito urgente em toda a sua face.
Filha de uma puta!
— Ah, é claro. Você nunca iria querer que eu chupasse a sua
boceta inteira por horas, não é? — ironizou, sorrateira.
Era difícil admitir até mesmo para mim, mas ninguém nunca teve
tanto poder sobre mim antes como essa garota. Tentei desviar-me
dos seus jogos sacanas, mas era impossível quando ela sabia que eu
sempre caia em suas armadilhas.
Amara sabia como me imobilizar, e não só em brigas físicas.
Seus olhos me encaravam como uma águia, esperando apenas
um vacilo para poder me atacar.
— Eu não vou com a sua cara, Amara. Então faça o favor de me
deixar em paz — rebati entredentes.
Condescendente, a vadia loira soltou um riso baixo. Deixou que
os braços caíssem ao lado do seu corpo e caminhou, um passo atrás
do outro com a mais pura elegância.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sem demora, ela aproximou-se do colchão, flexionou os joelhos


sobre a cama, um de cada lado do meu corpo. Levou uma de suas
mãos bem aberta à frente do seu rosto, deitou os dedos permitindo
que apenas o indicador e o dedo do meio permanecessem em pé, e
com a mais pura cara de sacana, esfregou-os na língua,
umedecendo-os em sua própria saliva. Sem mais nem menos,
esfregou-os entre o meio de minha calça, sobre o jeans, bem onde a
minha intimidade mais latejava.
A sensação de ser acariciada bem onde meu desesperado desejo
implorava ser satisfeito, me fez gemer.
— Você pode ficar aí reclamando, ou então, podemos fazer algo
a respeito. — Ela me encarava ao dizer. — Não se preocupe, não vou
fazer nada sem sua permissão. Mas eu vou fazer com que você
permita cada ação minha, Loren. Oh, se vou! Vai implorar para que
eu te chupe, sua vadia.
— Você é louca! — acusei, remexendo-se em um miserável e
falho ato de fingir não querer.
— E você vai adorar isso — acrescentou. — Não sabe o quanto
eu estou excitada em te ver assim, querida — sussurrou, maliciosa.
Minha respiração já estava acelerada, meu peito batia feito um
louco e minha pele se arrepiava sem intervalos.
Eu odiava perder o controle, e Amara conseguia me desarmar
por completo.
Ela agachou, bem devagarinho, mantendo permanentemente o
contato visual, abriu a braguilha da minha calça e deslizou parte da
minha calça em minhas pernas.
Quando minha calcinha fio-dental já lhe era parcialmente visível,
aproximou seu rosto de minha intimidade, onde ela faz questão de
soprar uma rajada de vento quente.
Todo o meu corpo se empertigou e precisei me esforçar como
nunca para mostrar-me firme.
Meu corpo covarde já havia cedido, entretanto, a minha mente
insistia em continuar atuando até o último minuto.
Ela levou a ponta do seu dedo até a minha calcinha, e de modo
quase que imperceptível, esfregou seu dedo ali, de modo delicado e

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

lento. Uma tortura deliciosa, que quase me fez pedir para que ela
introduzisse mais pressão em seu toque.
Prendi a respiração, supondo que, talvez assim, se tornasse mais
fácil.
Ela continuou a esfregar seu dedo ali, enquanto baixava de
pouco em pouco a minha roupa, quando me teve mais exposta para
si, depositou um beijo molhado na parte interna da minha coxa, tão
próximo à virilha, esfregando sua língua para cima e para baixo nela.
Um gemido baixo escapou de minha garganta. Me remexi no
mesmo instante, a fim de disfarçar.
— Isso é perda de tempo — tentei contestar, porém, ela pouco
se importou.
Fui surpreendida por sua língua quente passeando sobre a
minha calcinha, neste instante, não fui mais capaz de fingir.
Automaticamente minhas pernas se abriram ainda mais, meus
quadris se ergueram e meu corpo tentou se pressionar nela.
Amara se afastou, sorrindo vitoriosa.
— Me peça para tirar a sua calcinha, Loren — sussurrou, rouca e
impassível.
— Não! — teimei.
— Peça!
Ergui os olhos para o teto escuro, evitando-a. Instantaneamente,
senti sua língua novamente ser pressionada em minha calcinha, mas,
agora, com mais destreza, chupando-a e causando-me ondas de
prazer
— Porra — arfei, estremecida.
— Peça, Loren! — ordenou.
Mordi a língua, furiosa.
— Tire a merda da minha calcinha, Amara! — esbravejei,
impaciente.
Amara parecia satisfeita. Desfez os nós em meus tornozelos e
arrancou minhas roupas, deixando-me nua da cintura para baixo.
Revirei os olhos quando a vi exibir a minha calcinha em sua mão,
se gabando de seu mérito.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Vamos ver até onde você consegue fingir que não me quer —
provocou.
Ela abriu as minhas pernas, mas, ainda irritada, relutei, tentando
fechá-las, entretanto, Amara distribuiu um forte tapa em minha
boceta que me fez se empertigar.
— Se fechar, eu vou te machucar — ameaçou, séria.
Cerrei os dentes.
Amara deliberadamente curvou seu corpo entre as minhas
pernas. Ela jogou as madeixas brancas do seu cabelo para trás e
lambeu os lábios, como se estivesse cheia de fome e eu fosse o seu
lanchinho.
Ela prosseguiu, tocando a minha intimidade com a pontinha de
sua língua, circulando-o tão devagar que mal parecia se mexer.
Amara mal me tocava, era apenas para me tirar do sério. Ela queria
que eu implorasse, que eu me rebaixasse e me humilhasse
completamente.
Apertei os lábios um contra o outro, sufocando meus gemidos
desesperados. Tentei forçar meu corpo a tocar o seu, mas ela se
afastou.
— Só chupo se pedir — insinuou.
— Vá se foder! — eu disse incrédula.
— Peça, Loren! Peça para eu te chupar. — Ela sorria, como uma
maldita diaba.
— Sua filha da puta!
— Eu não tenho tanta paciência assim. Me peça com jeitinho, e
eu vou te dar a melhor chupada de toda a sua vida. — Ela fingiu
saborear dedo por dedo.
Respirei fundo, ardendo em fúria e excitação.
Eu sabia que o caminho mais fácil seria me render, porém, uma
parte insistente e orgulhosa, me fez permanecer calada.
Ela riu ao notar minha resistência. E, como se previsse isso,
caminhou até um móvel em seu quarto, e da gaveta, retirou um
pênis de borracha preto, de tamanho médio, e um produto, que eu
não conseguia ver o que era.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Amara caminhou cheia de si até onde eu estava e parou. Ela


abriu a tampa do produto e derramou o líquido espesso e
transparente sobre todo o pênis de borracha. Em seguida, o fechou
e o jogou de qualquer jeito ao meu lado.
Ela tomou proximidade, apertou o botão de ligar, e logo o objeto
ganhou vida em sua mão. O som do zumbido suave ganhou
intensidade à medida que ela aumentava a frequência de sua
vibração.
Ela o aproximou de mim, sem desviar os seus olhos dos meus.
Senti quando o brinquedo sexual pulsou vibrante em minha entrada
e se firmou em meu clitóris, provocando-me sensações terrivelmente
maravilhosas. Um mar de prazer me engoliu e arqueei minhas
costas.
— Ah, caramba — arfei, mordendo os lábios. Involuntariamente
remexendo os quadris.
Ela continuou esfregando o objeto melecado em toda a minha
boceta. Uma sensação refrescante tornou a surgir e senti deliciosos
arrepios.
Isso era tão gostoso!
— Me chupa, porra — soltei rudemente.
— Com jeitinho, Loren. Não seja mal-educada — brincou.
— Amara, por tudo que é mais sagrado, me chupa logo, porra —
implorei, odiando ter que pedir tanto.
Ela me enfiou o objeto de borracha de modo lento, quase que
parando, até que aquilo me preenchesse por inteira. Seguidamente,
se ajoelhou no chão, afastando os lábios da minha boceta para si.
Enquanto o objeto me torturava, penetrado em minha vagina, ela
tornou a me chupar.
Não consegui manter-me parada na cama, quando tudo o que
eu queria era gritar de prazer. Havia tantas sensações correndo em
minhas veias que sentia que mal poderia aguentar.
Ela foi precisa, brincava de escorregar a sua língua em mim, os
olhos safados permaneceram grudados aos meus, as suas mãos
acariciavam a minha bunda, apertando-a com força.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela beijou toda a minha barriga, subindo a minha camiseta até


que meu sutiã se revelasse diante a si. Ela quebrou o fecho e deixou
que meus seios saltassem em sua frente. Amara não recuou, se
propôs a chupar um por um. Primeiro, ela deslizou a língua em
círculos em meus bicos, e quando terminou, enfiou um deles na
boca, sugando-o com força, com o outro, manteve a sua mão
pressionando-o.
Eu mordia os lábios, encarando-a cheia de tesão. Eu queria
agarrar os seus cabelos e enfiar aquele lindo rosto entre minhas
pernas, fazê-la se afogar em mim e sufocá-la ali, mas eu ainda me
mantinha amarrada, e quanto mais eu puxava os braços, mais a
corda arranhava os meus pulsos.
Depois que se deu como satisfeita, ela subiu, beijando o meu
pescoço, mordendo o lóbulo da minha orelha e arranhando os seus
dentes em minha pele.
Amara segurou o meu queixo e me olhou uma última vez antes
de agarrar os meus lábios nos seus. Meu peito fora comprimido, e
então, disparou tão forte que quase pude imaginá-lo rasgando o
meu peito.
Sua língua adentrou a minha boca, envolvendo-me em um beijo
lento e sensual. Ela dançando com a minha língua, esfregando seus
dedos em meu clitóris. O brinquedo ainda mantinha-se funcionando
dentro de mim, mas agora ela o movimentava em um entra e sai.
De supetão, um barulho nos roubou o momento, direcionando
nossa atenção para a porta agora aberta. E parado diante dela
estava Demétrius, seu irmão, encarando-nos interessado.
— Por que eu não fui convidado? — fingiu estar magoado.
— CAI. FORA — Amara entoou alto. Estava furiosa com a sua
interrupção.
Sorri, vendo-a incomodada daquela maneira.
— Ah, deixe ele. Não faria mal um a mais — aticei, maldosa.
Ela voltou sua atenção para mim, os olhos semicerrados e
tomados de ódio. Suas sobrancelhas se franziram em uma expressão
mortal. Naquele instante, ela enfiou o brinquedo mais a fundo em
mim, abri a boca em um gemido silencioso e virei os olhos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Porra, isso está deixando meu pau duro pra caralho — Dem
comentou, a sua voz demonstrava o quão desejoso estava e como
isto havia o afetado.
— Se não sair daqui agora, eu juro, Dem, eu vou matar você —
a loira ameaçou no que mais parecia um rosnado.
Demétrius ergueu as duas mãos em rendição e saiu, fechando a
porta, mas não permaneci o olhando por muito tempo, estava quase
gozando. Meu corpo inteiro tremia e suava. Eu estava tão próxima
que qualquer ação poderia me levar a desvanecer em um orgasmo.
Amara agarrou o meu pescoço com a sua mão, fazendo-me a
encarar.
— Você está adorando fazer isso comigo, não é? — existia raiva
em sua entonação.
Não lhe respondi.
Ela se levantou de cima de mim, pôs se pé e retirou o brinquedo
da minha boceta. Quis xingá-la por isso, até perceber que ela estava
retirando sua roupa.
Primeiro, Amara ergueu sua camiseta, revelando os lindos seios
sem qualquer sutiã os cobrindo. As auréolas rosadas estavam rijas.
Ela parecia bem confortável consigo mesma. E conforme foi
retirando a sua calça e a calcinha, minha fora boca enchendo d'água.
Ela era simplesmente linda nua. Todas as suas curvas e formas
pareciam simuladas para serem atrativas para qualquer um. Sua
cintura finíssima evidenciava os quadris e a bunda arrebitada.
Quando me dei conta, eu estava ofegante, meus olhos fixos no
corpo dela. Eu não sabia como não a olhar.
Amara amassou os seus seios em um gesto sexy, ela me olhava
ao passo em que mordia os lábios e deixava baixos sons de gemidos
escaparem de sua boca.
Ela lentamente desceu uma de suas mãos em sua barriga. Eu
estava ansiosa por aquele momento, e assim que a garota enfiou a
própria mão entre o meio de suas pernas, sabia que eu estava
arruinada.
Amara acariciou a sua boceta molhada bem na minha frente,
diferentemente do que fazia comigo, ela era mais bruta consigo

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

mesma, fazia movimentos rápidos. Com a outra mão, aperta o seio


com rigidez. Seu corpo começou a tornar-se frenético à medida em
que ela se masturbava, cada vez mais excitada.
Eu estava molhada, sentia o líquido escorrer entre minhas
pernas. Nunca antes presenciei nada assim, e doía. O prazer
pendente doía.
Para aliviar a pressão, pressionei minhas coxas uma na outra, eu
precisava dela me tocando, estava louca para chupar a boceta dela.
Queria comer ela e fazê-la gozar. Porra!
Amara introduziu seus dedos dentro de si enquanto chupava
outros dois de sua mão livre. Ela gemia tão deliciosamente que me
sentia à beira da loucura.
Gemidos entoavam-se por todas as partes, éramos nós duas. Ela
gemia porque se tocava, e eu gemia porque eu queria fodê-la. Já
não mais me importava com os meus pulsos machucados, os puxava
sem pena, não porque soubesse que aquilo resolveria, mas porque
eu estava sedenta.
Amara gozou deliberadamente diante de mim, e por um
segundo, fechei os olhos, ofegando, como se fosse comigo.
— Foi uma delícia me tocar para você, querida. — Suspirou,
satisfeita.
Amara caminhou em minha direção, enfiou as mãos entre as
pernas, exibiu os dedos molhados e os usou para me masturbar. Não
que ela precisasse, eu estava molhada pra caralho. Mas não poderia
mentir, eu adorei aquilo.
A loira enfiou seu dedo em minha boceta e sorriu quando me
ouviu soltar sons de prazer.
Ela colocou mais outro e tornou-os a se movimentarem num
ritmo lento, e então, mais rápido e rápido.
Abri as minhas pernas o máximo que pude enquanto jogava o
meu corpo para frente. Ela beijava as minhas coxas internas e as
lambia enquanto me penetrava com os seus dedos.
— Isso, Loren. Geme pra mim — ela dizia ofegante.
Amara mantinha um ritmo veloz e certeiro. Os olhos congelados
em minha face. Meu corpo inteiro estava quente como se estivesse

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

febril. Minha pele estava suada e em êxtase.


Revirei os olhos e travei os dentes nos lábios com força o
bastante para os fazerem sangrar quando gozei em seus dedos.
Naquela noite. Eu fui dela e deixei que Amara repetisse o seu
trabalho horas mais tarde. Em nenhum momento fui solta, ela não
permitiu. Ela disse que me faria pagar, e eu paguei. Gozei todas as
vezes que ela disse que eu deveria gozar.
Quando acordei no dia seguinte, ela já estava de pé, ou, bem,
não exatamente. Ela, na verdade, estava entre as minhas pernas.
Abri os olhos, meio atordoada, mas já presenciava uma sensação
gostosinha. E foi quando olhei para baixo, que a encontrei nua,
chupando o meu clitóris como se me beijasse sensualmente.
Ela sorriu manhosa e disse:
— Volte a dormir, querida. Eu estou cuidando de você.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

09 de Junho | Domingo

— Eu não estou tão bêbada assim — protestei, com o meu corpo


apoiado em seu peitoral nu e molhado.
Christopher não quis saber, estava ocupado demais ensaboando
partes do meu corpo que já haviam sido lavadas por mim antes, no
entanto, que ele quis dar uma "atenção extra".
Provocativo, seus longos dedos escorregavam pelos lábios da
minha boceta, mesclando-se à espuma, que se avolumava à medida
que ele continuava a friccionar ali, e somente ali.
Christopher estava tão centrado em seus movimentos, que mal
notava as minhas insistentes argumentações em provar para ele que
eu não estava bêbada, quando, obviamente, eu estava um caco.
— Eu já estou até sóbria. Quer que eu fique de quatro para
você? — Ri assim que deixei as palavras saírem. — Fazer o quatro.
— Corrigi entre risos. — Eu quis dizer, fazer o quatro.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Em partes, era o álcool falando e, em partes, era o fato do meu


namorado estar pelado atrás de mim, exibindo o corpo mais gostoso
que eu já vi na vida.
— Estou vendo — ironizou, beijando o meu pescoço, subindo e
descendo os lábios num vai e vem excitante.
— Humm — gemi de olhos fechados. A sensação era deliciosa
demais para que eu pudesse me mover.
Minha cabeça ainda rodava, por isto, me mantive bem perto
dele, evitando cair.
— Não durma — pediu, mordiscando o lóbulo da minha orelha.
— Não vou.
— Bom mesmo!
— Isso é uma ameaça? — brinquei.
— Mentiu para mim esta semana. Foi para uma festa sem me
avisar. Ajudou a sua irmã a vandalizar o carro da minha. Está
merecendo uma grande punição, Dingo Bells.
Lambi os lábios, maliciosa, e levei minha mão para o que estava
grudado em minhas costas desde que ele tirou nossas roupas. Ao
esbarrar os dedos em seu membro ereto, acariciei a ponta, estava
melado, podia sentir a sua inegável excitação naquele momento.
— Uma punição bem grande. — Sorri, manhosa e levei dois
dedos aos lábios, molhando-os com o seu gosto.
— Uma não. Duas — corrigiu, misterioso, sua grande mão
envolveu todo o meu pescoço, agarrando-o com firmeza.
Franzi a testa, intrigada.
— Está me chamando para um ménage? — havia uma certa
incredulidade em minha voz, embora eu ainda estivesse incerta se
aquilo era uma brincadeira ou não.
Christopher, jamais, em sã consciência, permitiria que outro
homem me tocasse.
Ou ele havia enlouquecido e cedido a um relacionamento aberto,
ou então, possuía um vibrador escondido em seu antigo quarto,
nesta enorme mansão assustadora em que eu e minha irmã fomos
arrastadas, em castigo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Sim — sua voz fora séria e determinada, ele definitivamente


não estava blefando.
Imediatamente virei-me em sua direção.
— Um ménage? — soltei, ríspida. — Vai deixar alguém me tocar?
— Aquilo me chateou.
Por mais que não aprovasse o seu ciúme doentio, gostava menos
ainda da ideia de ele permitir que um outro homem fizesse sexo
comigo.
Christopher me prometeu que eu era dele, que droga mudou?
Balancei a cabeça, mas Christopher me puxou, impedindo que
eu abrisse o boxe de banho, apertando-me em seus braços.
— Você não vai escapar dessa vez, amor.
— Eu posso estar bêbada, mas ainda estou consciente o
suficiente para negar essa atrocidade. — Em uma falha tentativa,
esforcei-me para escapar dali. — Agora me solta! — berrei, irritada.
Ele sorriu, de um jeito provocador.
— Me solta! — Eu rangia os dentes de raiva.
Eu queria tanto socar a cara dele agora.
Por que ele estava fazendo aquilo comigo? Por que estava me
cedendo a outro alguém? Será que já não gostava mais tanto assim
de mim?
Ele riu perversamente e então me puxou para mais perto.
À medida que eu me mexia, ele pressionava seus braços com
ainda mais força em volta do meu torso.
Sentia cada celular do meu corpo se torcer sabendo que ele se
deliciava em me ver relutar.
— Se não me soltar, eu vou gritar. E você sabe que o As está
dormindo há alguns quartos de distância daqui. Eu vou acordar ele
em instantes.
— Ótimo — disse ele, ironicamente, ao mesmo tempo em que
desligava o registro d'água.
Por um único segundo, tive esperança de que me soltaria e diria
que tudo aquilo não passava de uma brincadeira. No entanto, ele
abafou o meu rosto com a sua enorme mão e, com o braço livre,
envolveu-o em minha cintura, erguendo-me do chão.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Agora nós vamos foder — avisou, ao passo que me levava


para fora do banheiro.
Me debati em seus braços para que me soltasse. Eu estava tão
furiosa, irritada, chateada e... Caramba! A minha cabeça rodava sem
parar.
Quando me pôs de volta sobre o carpete, estávamos diante da
sua enorme cama king size.
Eu não iria dormir ali. Estava pouquíssimo a fim de ficar perto
dele agora, e se Chris me obrigasse a qualquer coisa, eu faria
questão de socar aquele rostinho bonitinho que, no momento, me
tirava o sério.
Seus olhos possuíam um brilho malicioso que combinava
perfeitamente com o sorriso estampado em seus lábios rosados. Ele
deslizava a língua pela boca, sacana, mas não se movia, apenas me
encarava, como se aprontasse algo.
— Já teve vontade de fazer um ménage, amor? — provocou.
— O quê? — quase rosnei, recuando um passo
simultaneamente.
Meu corpo mais que imediatamente fora atingido por alguma
coisa parada logo atrás de mim. Foi quando percebi que não
estávamos mais sozinhos no quarto.
Meus olhos se arregalaram. Eu não era capaz de me mover
naquele instante, pois estava nua e vulnerável.
Meu coração disparou. De repente, me vi acuada pela pessoa
que eu acreditava ser capaz de confiar em um momento tão íntimo
como aquele. Não podia acreditar no que Christopher havia feito. Ele
tinha armado para que outra pessoa viesse para cá quando me
trouxe.
Isso fez meu rosto esquentar de mágoa e vergonha.
Por outro lado, a Torre Tatuada encarava-me cada vez mais
quente e intenso. Seu olhar vagueava pelo meu corpo nu com um
descaramento insaciável.
A pessoa atrás de mim tocou a minha cintura e isso me fez
estremecer, saltando para frente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Me solta! — berrei, girando os calcanhares em um gesto


instintivo.
O que vi me deixou... embasbacada.
Não.
Não.
Não era real.
— Querida... — Christopher sussurrou às minhas costas,
beijando o meu pescoço, afagando os meus ombros. — Conheça o
nosso terceiro participante de sexo hoje — apresentou, apontando
para a coisa parada a nossa frente, ou melhor, apontando para sua
entidade demoníaca diante de nós.
Meu coração batia em um descompasso exasperado. Minhas
mãos soavam frias e minhas pernas tremiam.
— C-como? — consegui enunciar.
— Como o quê, Dingo Dingo? — Chris murmurou, descendo os
seus lábios bem devagarinho em minha pele.
— Como existe dois de você nesse quarto? — arfei, a voz quase
sumindo.
Seu outro lado, em sua camada demoníaca, deu um passo à
frente e automaticamente eu quis me afastar.
— Não tenha medo, amor. Somos a mesma pessoa —
Christopher, em sua matéria humana, informou.
Minha cabeça agora parecia dentro de um carrossel, girando em
sua velocidade máxima. Era muita informação para ser analisada.
— Meu corpo consegue se desvincular da minha forma imortal,
meu bem. É por isso que consegue ver dois de mim. — Ele me
abraçou, notando o visível tormento que se passava em meu rosto.
Permaneci estagnada, em choque. Foi somente quando a sua
forma demoníaca se mexeu que eu descongelei do lugar, ainda
sentia o ato involuntário de querer fugir, mas Chris me manteve
presa até que o seu outro eu estivesse tão próximo que sentia o frio
de sua pele emanando na minha.
— Consigo estar em dois lugares ao mesmo tempo — informou
em meu ouvido.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E agora posso te comer de duas maneiras diferentes — a voz


sombria e macabra acrescentou.
Embora fossem a mesma pessoa, eu os via como diferentes.
Meu Christopher humano não possuía aqueles traços sinistros
em sua pele, não possuía um vazio nos olhos, nem era
completamente assustador.
Christopher agachou-se atrás de mim, tomando a parte de trás
de meu joelho para erguer a minha perna no ar à minha frente,
abrindo-me para sua entidade assustadora.
Aquilo era tão confuso, louco e... excitante. Mas que merda.
Christopher havia ferrado com a minha cabeça e agora eu me sentia
excitada pelo seu lado demoníaco.
— Vou comer você até que não aguente mais — o monstro
comentou.
— Mais uma coisa... — Chris entoou. — Minha outra face não
possui humanidade, então espero que entenda que essa vai ser uma
foda violenta. — Ele riu.
Prendi o ar nos pulmões e virei meu rosto para ele, assustada.
Foi o tempo exato que levou para o monstro se abaixar, levando seus
lábios à minha intimidade. Seu ato certeiro pegou-me desprevenida
e suspirei. Embora eu tentasse me mover, Christopher ainda prendia
minha perna em volta do seu braço, deixando-me arreganhada para
ele próprio.
— Quietinha, Dingo — informou, roçando seu nariz em minha
bochecha. — Tudo o que meu eu demoníaco sentir, eu também
sinto. Terei o prazer de gozar mais forte hoje.
A língua do monstro entornou a minha boceta, descendo e
subindo em minha entrada, provocando o meu clitóris, para então,
enfiar-se dentro de mim. A sensação de sua língua gelada me fez
virar os olhos e arrepiar-me. Um longo gemido escapou de meus
lábios e joguei a cabeça para trás.
Christopher apertou o meu seio com a mão livre e agarrou os
meus lábios com os seus, beijando-me com urgência.
Enquanto o monstro fodia a minha boceta com a sua língua,
Christopher fodia a minha boca.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ambas as mãos passeavam em meu corpo, agarrando-se a todas


as partes. Uma explosão de sentimentos arrebatara a minha mente.
A experiência era nova e desafiadora, mas incrível. Eu estava
delirando com os dois.
Quando o monstro se ergueu, foi a vez de Christopher me virar
para si. O braço aterrorizante do demônio agarrou a minha cintura,
já a sua mão entornou o meu pescoço com garra e pressão.
Christopher posicionou seu dedo em mim, mas não o enfiou,
parecia apenas querer conferir algo antes de remover a mão dali.
Franzi as sobrancelhas, a ansiedade tomava conta. Minha respiração
descompassada acelerava cada vez mais.
— Está bem lubrificada — Chris explicou ao denotar minha
confusão.
Ele me olhou nos olhos, agarrando firmemente o seu pênis em
sua mão, masturbando-o, ainda que já estivesse duro.
— Eu vou foder você, e eu quero que aguente — comandou,
encarando-me sério.
Não pude assentir, o monstro mantinha minha cabeça presa em
sua mão.
— Se você se esquivar, eu vou te enforcar — o demônio
ameaçou, frígido.
Busquei Christopher, de olhos bem abertos, mas de nada
adiantou, afinal, eu estava buscando apoio dele próprio. Assistindo a
minha reação, ele sorriu. Divertia-se em me ver daquela maneira.
— Ganhará castigos toda vez que ousar me desobedecer de
agora em diante.
— Eu não vou dar conta de você dois, Chris... — arfei, nervosa.
— Eu sei que não, amor. — Ele suspirou. — Mas consegue fazer
isso com um de cada vez. — Jogou uma piscadela cínica e tomou
aproximação.
— Mas... — tentei me mover, porém, fui esmagada pela pressão
em meu pescoço.
O monstro tinha razão quando disse que apertaria, porém,
imaginei que não seria tão perverso como estava sendo. A criatura
parecia ansiosa para me enforcar ainda mais. Era sádico.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O demônio envolveu os braços cinzentos por trás de meus


joelhos, para então deixar-me completamente acessível para
Christopher.
Sua parte humana logo se aproximou, beijando os meus lábios
violentamente. Notei que queria tirar o foco dos meus pensamentos
quando, inesperadamente, senti seu pênis pouco a pouco
introduzindo-se em mim.
Abri a boca, em um gemido abafado.
— Ah, minha nossa! — exclamei, sensível.
Ele sorriu, sacana, enfiando mais de si até onde conseguia.
Inicialmente, foi doloroso, até eu me acostumar com ele penetrando-
me, mas logo, uma breve sensação prazerosa assumiu.
Suas mãos agarraram com força as minhas coxas, ele não media
esforços ao espremê-las, o que provavelmente resultaria em
hematomas roxos mais tarde.
Com cuidado, ele se movimentou em um vai e vem que logo
progrediu para atos mais rápidos e persistentes enquanto o monstro
deixava-me de pernas bem abertas para ele. Mordi os lábios assim
que suas estocadas tornaram-se mais rápidas e extremas.
Ele me fodia com força, ao mesmo tempo em que sua segunda
camada mordiscava a minha orelha. Em certo momento, seu aperto
em meu pescoço tornou-se tão acirrado que me faltou o ar, porém,
quanto mais eu me mexia, mais ele forçava, então parei.
O oxigênio em meus pulmões consequentemente diminuiu,
porém, com a falta de ar, os toques em meu corpo se aguçaram,
sentia ainda mais intensamente Christopher estocando com força.
Eu estava tão excitada que sentia-o escorregar facilmente dentro
de mim. Um prazer louco e fodido me arrematava ao ser tão
preenchida.
Meus lábios começaram a formigar, minha cabeça queimava e
minha testa latejava. Eu estava sufocando, mas, de algum jeito, isso
me deixara ainda mais excitada.
O sentimento imoral possuía uma certa sensualidade.
Christopher mordia os lábios, sua respiração estava ofegante. Seus
olhos possuíam um resplendor maléfico, preenchido de prazer. Ele

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

deliciava-me com o seu olhar quente, satisfeito em ver-me daquela


maneira.
Naquele momento eu sentia que ele era tão meu. Todo meu.
Meu olhar vagueava pelo seu corpo suado me fodendo. O
peitoral coberto pelas suas enormes tatuagens. As veias em seu
pescoço saltavam e a pele tornou-se avermelhada. Sua respiração
era rápida e descompassada e o seu olhar era rígido e possessivo
sobre o meu.
Vê-lo daquela maneira era exorbitantemente provocador.
A pressão em meus ouvidos tornou-se um zunido, minha visão
turvou, sentia como se estivesse prestes a desmaiar quando tudo
começou a escurecer, porém, o monstro libertou o meu pescoço, e
mais que imediatamente busquei por ar.
— Porra... — Christopher gemeu, investindo em suas estocadas.
Sorri, atingida.
Sem aviso prévio, fui novamente posta no chão, contudo, me
segurava nos braços do demônio, minhas pernas não se aguentavam
em pé por si só, meu corpo estava mole e vacilante.
Sentia-me como se fosse ceder ao chão a qualquer instante.
Preocupado, Christopher me buscou em seus braços e sentou-me na
cama, garantindo que eu não caísse.
Agora, parados diante de mim, estavam os dois homens quase
que idênticos, se não fossem as características sobrenaturais que os
distinguiam.
O monstro sorriu e se aproximou. Engoli em seco, estava
nervosa e um tanto quanto desnorteada.
— Ajoelhe, meu amor — a entidade demoníaca ordenou.
Intercalei o meu olhar entre um e o outro, como se isso fizesse
alguma diferença, até que o meu Christopher humano sorriu.
— Não nos olhe como se eu não fosse ele. Sinto tudo o que
minha camada demoníaca sente, Dingo Bells. — Christopher se
agachou perante a mim. — A diferença entre eu e... bem, eu
demônio, — ele sorriu achando graça — é que em mim — apontou
para si —, há um lado humano e sensibilizado, mas já a minha outra
metade apenas quer te foder e te machucar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Precisa adestrar o seu outro lado — brinquei, mas o seu outro


eu não possuía um senso de humor tão bom assim. Seus longos
dedos macabros seguraram o meu queixo com força e me obrigaram
a encarar a negritude do vazio em seus olhos.
— Ajoelha! — desta vez, não havia espaços para paciência em
sua voz maligna.
Fiz o que me pedia, mas, diferentemente do que imaginei, não
era ao monstro que eu iria chupar, o meu Christopher humano se
pôs a minha frente, seu lado obscuro sentou-se na cama às minhas
costas. Suas mãos brutas puxaram os meus cabelos para trás,
enrolando-o em um rabo de cavalo entre seus dedos.
— Abra a boca, amor — Christopher pediu, sua mão já segurava
o seu pênis sob a vista dos meus olhos.
Deixei que meus lábios se separassem, abrindo a boca com certo
receio. Eu estava ansiosa e excitada, mas ainda tinha resquícios de
preocupação.
— Não se preocupe, anjo. Eu sou todo seu — Chris comentou,
em um misto de gentileza e perversão.
— Mesmo?
Ele assentiu, com um sorriso de canto. Devolvi na mesma
intensidade e agarrei o seu membro tatuado em minha mão.
Chupei Christopher bem lentamente, deslizando toda a minha
língua em volta da cabeça do seu pau. Gemendo baixinho apenas
para o provocar
Ele mordeu os lábios. Seu rosto suado atingiu o tom rubro mais
que imediatamente, imaginava ser uma fantasia sua me ver tão
submissa a ele.
As veias em seu pescoço e braço se acentuaram, tornando-se
bem visíveis.
O monstro guiou os meus movimentos, estava disposto a me
fazer engolir muito daquilo pela maneira em que era autoritário ao
enfiar a minha boca mais a fundo.
Obedeci ao seu desejo, levando o meu corpo a suportar ao
máximo. Precisei conter um grande soluço quando o coloquei no
fundo de minha garganta e senti refluxos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O tirei por um segundo. Meus olhos lacrimejavam e minhas


bochechas ardiam. Eu não possuía muita experiência com aquilo,
precisava de um pouco mais de tempo.
Ergui o olhar e encontrei-o com os seus olhos cheios de um fogo
que poderiam me queimar apenas por me olharem tempo demais.
Christopher me encarava como se quisesse me foder loucamente.
Com um sorrisinho inocente, porém, malicioso, esfreguei a
cabeça do seu pau em minha língua bem lentamente.
Ele umedeceu os lábios, enquanto seus dedos acariciam de leve
a minha bochecha.
Meu corpo inteiro tremeu ao sentir um toque gelado e pesado
envolver o meu pescoço. Ouvi o chacoalhar metálico e busquei
entender o que estava acontecendo, levando minhas mãos ao que
parecia enrolar-se em minha garganta.
Quando notei a textura inigualável do ferro da corrente fria,
arregalei os olhos.
— Chris...
— Vai me chupar com uma corrente no pescoço — o monstro
anunciou num sussurro rouco. — Não estou nem aí se engasgar, só
vou parar se vomitar.
Tentei agarrar com as duas mãos o ferro que me prendia, no
entanto, a entidade impediu.
— Entendeu, Dingo? — a voz mórbida pressionou.
Assenti num balançar rápido de cabeça.
— Quer isso, querida? — Christopher instigou, olhando-me
atentamente.
Mordi o canto dos lábios, estava nervosa, mas disposta a tentar.
— Eu quero... — murmurei em um sonoro e baixo ruído.
— Mais alto, meu amor. Quero te ouvir dizer que quer que eu
foda a sua boca assim.
Mordi o canto dos lábios.
— Eu quero, Chris — me esforcei para que a minha voz se
sobressaísse ao medo.
Era óbvio que eu nunca havia feito nada de tão radical, mas eu
estava empolgada com a ideia. Queria testar os meus limites e fazer

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

com que Christopher se sentisse satisfeito, porque isso, oras, me


deixava tão excitada quanto ele.
Ele sorriu. Em seguida, colocou o seu pênis em meus lábios,
esfregando-o sugestivo. Abri a minha boca e deixei que ele me
penetrasse a fundo. Fechei os meus olhos quando os senti arder,
mas Christopher queria me ver daquela maneira e fez com que eu
novamente os abrisse. Ele segurava o meu queixo com rispidez,
erguendo-o para si.
Sua entidade pressionou as correntes em volta do meu pescoço.
Não me fazia sufocar, mas era suficientemente precisa para me
fazerem sentir a pressão e a temperatura fria. Meu corpo se
arrepiava sem parar.
Aos poucos, fui tomando um ritmo impassível e rápido,
Christopher me acertou com um tapa no rosto e, no momento
seguinte, o demônio pressionou as correntes com mais força.
Senti minha intimidade latejar, queria Christopher me fodendo
ali, com força. Eu estava afogada em prazer e luxúria. Adorava a
forma como meu namorado me encarava, me fazia sentir livre para
fazer o que quisesse.
Retirei seu pênis de minha boca e lambi, desde a base até a
ponta. Christopher esfregou-o em meu rosto de um jeito safado.
— Você está uma puta de uma gostosa, amor — murmurou, a
voz carregada de rouquidão.
Abri um sorriso contente e lambi os lábios, encarando-o
diretamente nos olhos. Aqueles olhos tão quentes e perversos. A
imoralidade pairava sobre cada linha de expressão em sua face.
Naquele momento, senti-me como se nunca antes houvesse sido
pura. Me sentia como uma puta para aquele homem e, de algum
modo, eu amava a sensação.
A submissão trazia consigo alguns prazeres que nenhum outro
esquema poderia fornecer. A devoção era um prazer perigoso, eu
confiava a ele tudo de mim.
— Você adora o pecado, Dingo Dingo — declarou, sério. — E é
por isso que você me quer tanto na sua boceta agora.
Ele tocou o meu queixo de leve.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Agora eu vou te foder.


A sua entidade me agarrou pela cintura no segundo seguinte
para erguer-me do chão.
As correntes em meu pescoço tilintaram ao se debaterem uma à
outra. Imediatamente, elas alongaram-se como mágica. Ele não
perdeu tempo, aproveitou das voltas que havia dado em meu
pescoço e puxou as correntes para as minhas costas, descendo para
o restante do meu corpo, aprisionando os meus braços e pernas.
Assim que o monstro terminou de me acorrentar, jogou-me de
barriga para baixo no colchão macio, em meio aos lençóis
vermelhos, puxando meus quadris para que eu ficasse de quatro. O
movimento fora tão rápido que tive a sensação de ter levitado.
Eu não conseguia apoiar os braços no colchão para me equilibrar
devido as correntes, mas sentia a minha bunda arrebitada para o
alto.
O demônio não buscou por me dar tempo para respirar. Ele logo
me penetrou, me fodendo cheio de raiva e ignorância. Eu gemia alto
e me contorcia inteira ao sentir uma forte onda de prazer, cobrindo-
me dos pés a cabeça.
Minhas pernas tremiam. Precisei morder os lençóis para
conseguir me segurar e não sair do lugar com a força em que o
monstro investia em mim.
Meus gemidos saiam em um coro contínuo, assomando todo as
quatro paredes do quarto.
Aquela posição doía tanto quanto era prazerosa. Mas eu estava
gostando de senti-lo, mesmo sabendo que as consequências viriam
logo que ele terminasse.
Senti um tapa ardido queimar em minha bunda e soltei um grito.
O olhei sobre os ombros e o encontrei sorrindo como um garoto
travesso. Ele estava adorando aquilo. Ou melhor, a sua forma
demoníaca completamente assumida estava gostando daquilo.
Os olhos negros e as raízes escuras espalhadas por todo o seu
corpo nu e cheio de músculos evidenciava o que já era óbvio desde
que ele começou isso, ele estava sedento.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Continuei a observá-lo, presa como uma hipnose a cada detalhe


de seu lado sombrio. E não foi nada mal. Sendo sincera, vê-lo assim
só me fez gozar ainda mais rápido.
Me desmanchei em seu pau gemendo e arfando. Ele meteu mais
algumas vezes antes de gozar em cima da minha bunda.
Quando parou, me olhou firme nos olhos. Eu estava suada,
cansada e ofegante. Sentia-me como se tivesse corrido uma
maratona.
Busquei procurar pelo "outro Chris" e o avistei tragando um
cigarro em uma poltrona do quarto enquanto masturbava-se diante
daquela cena.
Sorri para ele.
— Eu te amo — sussurrei com dificuldades.
Ele jogou-me uma piscadela e apontou com o olhar para o seu
pênis melado por sua porra. Christopher também havia gozado.
Naturalmente joguei-me para o lado na cama. As correntes
entorno do meu corpo dissiparam-se. Sua entidade demoníaca havia
sumido. Agora éramos somente nos dois novamente.
Meus olhos pesavam tanto que eu mal conseguia mantê-los
abertos.
— Durma, meu anjo. Eu cuido de você. — Ouvi sua voz
longínqua em minha cabeça, mas a escuridão já tomava conta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

10 de Junho | Segunda

— Você parece desconfortável — notei, num rápido lance de


olhar.
Seu corpo se esquivava de sentar-se completamente no banco
do passageiro, estava ligeiramente virada, debandando todo o seu
peso para o seu quadril.
Suas pernas estavam cruzadas de maneira proposital para que
suas partes intimas não tocassem o assento.
Suas bochechas rapidamente ganharam o tom rubro, que logo
se espalhou pelo resto de sua face. Seu nervosismo evidente
deixava-me aflito, e sua ansiedade era desconfortável para qualquer
um de nós dois.
Ela pigarreou, desconcertada, e mordeu o canto do dedo.
— Quero ficar assim — explicou, baixinho.
Prendi um sorrisinho nos lábios. Minha garota ainda não havia
tido tempo para se acostumar com o meu pau, tampouco, com dois

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

dele.
Quando os pneus passaram sobre parte da superfície íngreme
em meio à estrada, todo o carro se mexeu, percebi que isso a fez
apertar os olhos com força, ela estava sentindo dor.
Toquei a sua coxa, afagando-a devagar.
— Precisa de alguma coisa?
Ela balançou a cabeça, antes de pousar sua mão sobre a minha.
— Estou bem — garantiu, embora, tudo nela demonstrasse
sinais de incomodo.
— Posso ver que não está bem. Sabe disso — pontuei mais
sério.
— Então deve saber que eu só quero chegar em casa logo. —
debateu, meio irritada.
Intrigado, juntei as sobrancelhas, vagando o olhar sobre o seu
rosto.
— Desculpe. Eu só estou me sentindo estranha. E isso dói e
arde. — Ela balançou a cabeça. — Não podia ter um pênis um pouco
mais fino e menor? — cochichou.
Quase ri disso, no entanto, as circunstâncias mais me deixaram
agoniado do que lisonjeado.
— Não se preocupe, nas próximas vezes serei mais cauteloso.
— Acho que não vai ter próxima vez — resmungou, com uma
expressão dolorosa.
Semicerrei os olhos, desta vez, mais sério.
— Com certeza terá.
— Minha vagina, minha escolha — ela ainda cochichava, de
modo que, se dissesse alto demais, traria aborrecimento para si
mesma.
Eu não iria discutir sobre a quem seu corpo pertencia agora,
apenas para não deixá-la ainda mais brava. No entanto, Dytto
parecia ter dificuldades em aceitar a realidade em que vivia comigo.
Nada do seu corpo era somente seu.
Acho que eu chamá-la de "minha" já deveria ter surtido algum
efeito, porém, ela pensava ser apenas um gesto romântico ou sexy,
quando, na verdade, se tratava de posse.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Subi e desci a mão em sua coxa, mas ela se afastou, como se


isso a machucasse.
— As minhas pernas estão doendo, roxas e marcadas. —
explicou.
Afastei a mão.
— Te tocar hoje será ainda mais difícil — comentei em tom baixo
e calmo.
— Está reclamando? — ela ergueu o tom de voz.
Dytto estava em um estado extremo de sensibilidade. A dor em
geral tende a ativar um lado defensivo e rude das pessoas, logo,
evitei colocar tudo o que eu desejava em palavras. Teria o mínimo de
consciência hoje para amenizar o seu sofrimento, embora ela
estivesse assim por merecer. Garota desobediente!
— Me deixa irritado ficar tão longe de você.
— Estamos só há alguns centímetros de distância — protestou.
— Preciso estar há zero centímetros de distância, e isso significa
estar enterrado em você.
— Acho que já fez isso a noite toda, de duas maneiras diferentes
— pontuou.
Assenti, com um meio sorriso de canto.
— Está me pedindo para ficar longe de você, sininho de Natal?
— provoquei-a.
— Sim, estou, torre pirocuda — ela foi firme em sua decisão.
— Vou te dar espaço, então. Não reclame.
Ela franziu a testa. Estava curiosa para descobrir o que eu
planejava, mas uma parte orgulhosa dentro de si relutava para que
não fizesse isso. Eu não planejava nada demais além de atormentá-
la em sua própria curiosidade.
— Então fique bem longe. Preciso de um tempo de você — à
contragosto, concordou.
Não era o que ela queria, e sentia como se começasse a se
arrepender disto, porém, Dytto não voltaria atrás, estava furiosa
comigo.
— Certo — fui curto, evitando dar-lhe pistas do eu
hipoteticamente iria fazer.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu sabia exatamente como atingi-la e usaria isto ao meu favor.


Dytto me fazia parecer uma garota carente, e eu não era assim, a
maldita me transformou nisso.
— Pode ir mais rápido, por favor? Preciso ter certeza de que a
Barbie gótica deixou a minha irmã em casa em segurança.
Voltei meu olhar para ela, cerrando o maxilar. Pelo visto, Dingo
Dingo estava mesmo a fim de entrar nesse jogo.
— Claro, sininho — fui sarcástico e ela revirou os olhos.
Troquei de marcha e afundei o pé no acelerador. Ela fingiu pouco
caso, mas apertou os dedos no cinto de segurança.
Tirei uma mão do volante para procurar um cigarro no porta-
luvas, isso a fez imediatamente entrar em alerta.
— Chega, Chris — ela avisou entre dentes.
— Hum? — Olhei para os lados do carro, fingindo não a ver. —
Será que tem mais alguém aqui comigo? — Provoquei.
Ela deu um soco fraco em meu ombro, enquanto me encarava
com uma expressão mortal. Os olhos carregados de fúria se fincaram
nos meus em uma advertência.
Sorri para ela.
— Olha, você aqui — fingi perceber a sua presença.
— Caramba, Chris! — berrou, esfregando suas mãos no rosto.
Era engraçado ver aquela coisinha magra tão brava ao meu lado.
Recuei o pé no acelerador, o ronco do motor aos poucos perdeu
vida, a velocidade fora reduzida e ela suspirou.
Dytto prendeu o olhar para a paisagem lá fora, pouco
interessada em mim.
Puxei a cartela para o meu colo e retirei um maço de cigarro,
colocando-o entre os lábios, porém, ela foi rápida em arrancá-lo de
mim.
— Não vai fumar aqui — determinou.
Ergui uma sobrancelha.
— Tenho uma cartela inteira para nós dois brigarmos.
Dingo olhou em volta, como se procurasse algo, então estancou
o olhar sobre o painel.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela pulou sobre o isqueiro como se sua vida dependesse disto e


o jogou para dentro do sutiã.
— RÁ! Mas não tem um isqueiro para acender — gritou.
Passei com a língua sobre os lábios e assenti.
— Pense bem se é isso o que quer fazer — ameacei devagar.
Eu também não planejava fazer nada contra aquilo, mas ela era
adorável quando estava com raiva.
Seu sorriso vitorioso diminuiu e Dytto cruzou os braços.
— Espero que enfie todos os cigarros no seu rabo e fume de lá.
Ri disso.
— Ter dois paus dentro de você te deixou um porre.
Seu rosto enrubesceu e ela virou o rosto.
— Não fale comigo — decretou.
Ô inferno. A minha mulher estava me matando.
Percorremos nosso caminho em silêncio, ambos sem trocar uma
única palavra. Ela não iria se render, e eu sabia que era exatamente
o que queria que eu fizesse, no entanto, a conhecia o bastante para
saber que mesmo que eu pedisse desculpa, ela ainda ficaria
chateada.
Era uma lógica feminina intrigante. Ela não iria me perdoar, mas
precisava me ouvir pedir desculpas, porque isso, em sua cabeça, era
o que deveria ser feito.
Dytto só voltou a me olhar quando estacionei diante da
farmácia. Seus olhos saltaram para os meus num instante, como se
não soubessem o porquê de não termos ido diretamente para a sua
casa.
— Não vamos correr o risco — avisei enquanto abria a porta do
carro.
Ela não se importou de sair ainda mais rápido do outro lado.
Continuávamos não nos falando.
Eu não ia pedir que descesse do carro, resolveria isso sozinho,
entretanto, também não ia pedir que agora ela voltasse. Minha
mulher estava uma leoa.
Dytto caminhava na frente, irritada, porém, de um jeito
esquisito. Parecia um frango assado tentando andar. Sua boceta

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

deveria estar em seus piores dias.


Prendi um sorrisinho entre os dentes, mas fui flagrado por ela
olhando a sua bunda.
Dytto fez a maior cara horrorizada que conseguiu, logo, me deu
as costas e andou o mais rápido que podia no momento, o que não
era muito.
Ela foi a primeira a chegar ao balcão. O atendente era um rapaz,
estatura baixa, algumas tatuagens e um piercing na sobrancelha. Ele
a olhou de um jeito que eu quis arrancar os seus olhos, mas eu
sabia que não devia quando seus olhos vieram sobre os meus e
ganharam um brilho ainda maior.
É, ao que parece, eu fazia bem mais o seu tipo.
Dytto percebeu e não gostou nada. De repente, estávamos em
uma competição silenciosa.
Ela pigarreou, chamando a atenção do farmacêutico. Ele obrigou
a voltar o seu foco para ela. Aproximei-me do balcão e me apoiei
sobre ele, deixando que meu corpo recaísse bem próximo do
moreno, isso o deixou eletrizado.
— Quero comprar a pílula do dia seguinte e... — Dytto torceu o
nariz, sem saber como prosseguir. — Pomadas vaginais para
machucados — soltou rapidamente, como se fosse o próprio
Eminem.
Seu rosto estava inteiramente marcado pela sua timidez.
Tentei conter o riso, mas acabei soltando-o um pouco mais alto
do que pretendia.
Dytto me encarou irada.
— Também quero remédios contra DST's — continuou, sem
deixar de me olhar. — Acho que o meu parceiro não era muito
saudável — comentou, condescendente.
Meu riso imediatamente cessou. Lhe olhei carrancudo e ergui
uma sobrancelha.
Filha da puta.
O vendedor prontamente registrava todos os seus pedidos no
computador.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Bom, já eu... — comecei. — Quero uma pomada. A minha


parceira tinha todos os tipos de fungos mais estranhos na boceta. Eu
tô bem, na verdade, mas já ela... — Fiz careta enquanto balançava a
cabeça.
— Imbecil. — Dingo Bells sussurrou.
O farmacêutico arregalou os olhos, suas sobrancelhas saltaram
enquanto ele me encarava desacreditado. Quando se deu conta de
sua reação, disfarçou, virando-se de costas.
— Disse que queria uma pomada vaginal para machucado e
remédio do dia seguinte, certo? — conferiu, erguendo os braços nas
prateleiras, a fim de esconder sua atitude anterior. — Já tomou a
pílula antes? Tem alergia a algum medicamento que eu deveria
saber?
— Não e não — ela respondeu, ignorando-me completamente.
Dytto foi atendida primeiro, acho que o atendente pensou que
eu deveria receber um pouco mais de privacidade em minha compra
depois. Ele deve ter imaginado as coisas mais nojentas que já viu em
sua vida.
Perambulei por toda a farmácia, olhando produtos que eu não
estava nem aí.
Voltei para o meu atendimento apenas quando o de Dytto fora
encerrado. Passei o cartão para ela e peguei as sacolas no balcão.
— Ainda quer a sua pomada? — o farmacêutico indagou, de um
jeito provocativo. Ao mesmo tempo em que parecia querer flertar, se
continha em razão da garota ao meu lado.
Havia certa dúvida em sua mente. Ele ainda parecia ter
esperança de que ela fosse apenas uma amiga.
Dytto revirou os olhos.
— Não, ele não quer — ela respondeu secamente por mim.
— Não? — instiguei, semicerrando os olhos. — Claro que quero.
Não posso confiar na minha parceira.
Voltei minha atenção ao rapaz interessado e me encostei na
bancada. Deixei que meus olhos recaíssem propositalmente para os
seus lábios e curvei os meus para o canto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Bom, acho que se você desse uma olhada no meu pau,


poderia saber se ela não passou nada para mim. Só para ter certeza,
sabe? — deixei que minha voz gradualmente baixasse, de um jeito
mais paquerador.
— Não precisa. Já estamos de saída. — Dingo Bells se envolveu,
bruta, e segurou o meu braço.
— Pode ser que descubra qual é o melhor tratamento que você
pode me oferecer — provoquei, ignorando a interrupção de Dytto.
O rapaz ficou vermelho, completamente desconcertado. Seu
olhar vagueava entre mim e Dytto. Ele não sabia o que fazer. Seus
lábios se entreabriram, mas ele nada dizia.
— Meu pau é bem grande, pode ser que demore você olhar tudo
— insinuei, lambendo os lábios.
Ele abriu os olhos de um jeito que quase os fez saltarem da face.
— E-eu posso olhar se quiser. Eu... — o garoto engoliu em seco,
perplexo.
— 32 centímetros — informei, como um sussurro íntimo.
Naturalmente, ele deixou que a curiosidade o vencesse e desceu
seu olhar em mim, embora eu estivesse encostado sobre a bancada
de vidro e não pudesse ver nada com clareza, ele se esforçou.
— C-cara, eu acho que...
— CHEGA! — Dytto berrou, agarrando o meu queixo, obrigando-
me a olhá-la. — Vamos! A-GORA — ordenou, bem devagar.
Sorri, apenas para deixá-la mais irritada.
— Sim, sininho de Natal. Vamos embora.
Ela se afastou, mas não saiu até que eu me movesse.
— Um prazer te conhecer, cara — eu disse, antes de dar um
passo para trás.
Ele acenou, retido, e não fez mais nada. Estava estático e
apavorado.
Saí de mansinho, fingindo pouco caso. Dytto veio logo atrás,
empurrando-me pelas costas, ou tentando empurrar, eu não sentia a
menor pressão com a força que ela exercia sobre mim, mas deixei
que ela acreditasse estar no comando.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Cretino. Desgraçado. Filho de uma mãe — ela rosnava a


medida em que nos aproximamos da Ranger vermelha.
Quando já estávamos suficientemente pertos, girei meu corpo,
deixando que ela ficasse à frente, para imprensá-la na lataria.
Ela tentou fugir, mas a segurei pela cintura enquanto gargalhava
alto com o rosto enfincado em seu pescoço.
— EU ODEIO TANTO VOCÊ — ela esbravejava, dando-me socos
no braço.
— Own, meu amorzinho está brava? — caçoei dela, fazendo
bico.
Eu bem que queria não a irritar, mas era tão bom.
— Espero que você tenha mesmo uma infecção e que seu pau
caia — proclamou.
Segurei seu rosto entre as minhas mãos, eu ainda tentava parar
de rir, já estava sentindo a barriga doer.
Enfiei meus lábios nos seus e prendi seu rosto para que não se
afastasse. Se eu não a iria deixar menos irritada por bem, seria por
"mal". Somente a larguei quando ela já se debatia pedindo por ar.
Ela estava ofegante e com os grandes olhos verdes bem abertos.
— Desgraç-
Enfiei minha boca na sua novamente e continuaria fazendo até
que ela desistisse de me odiar. Quando me afastei pelo mesmo
motivo de antes, ela apenas abriu a boca para respirar, deixou que
todos os seus xingamentos fossem engolidos.
Ou era isso, ou eu a mataria asfixiada em beijos.
— Melhorou, amor? — perguntei.
— Não tenho escolha.
Sorri, e depositei um rápido beijo em sua bochecha, que ela fez
questão de limpar.
— Agora, minha querida. — Abri a porta do carro para ela. —
Entre.
Dytto deixou que os ombros caíssem e se rendeu ao meu
pedido.
Mais tarde, quando a deixei em casa, sabia que ela não teria
tempo e nem condições físicas para ir à escola, então liguei para o

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

seu diretor e pedi, ao meu modo, que ele não a prejudicasse ou


deixasse que aquilo marcasse a sua linda e contínua presença
escolar.
Ele, obviamente, concordou após as minhas belíssimas ameaças
amigáveis.
Eu tentava ser bom por ela. Mas eu, felizmente, não era um
homem bom.
Liguei para Loren naquela manhã, e de um jeito ainda bem
menos amigável, lhe fiz prometer que levaria Dytto a um
ginecologista o mais rápido que desse. Eu já sabia que Dingo Bells
não iria comigo de forma alguma, então pensei que seria mais
confortável se sua irmã a levasse.
Eu jamais a deixaria ir em um médico qualquer, fiz questão de
eu mesmo marcar a consulta com uma médica de confiança,
indicada pelas minhas irmãs. Eu não a deixaria nas mãos de um
homem desconhecido.
Somente depois de ter resolvido tudo, fui atrás da pulga em
minha orelha. A tarefa pendente que eu mais evitava cumprir.
Parado dentro do carro no estacionamento vazio, esperava pela
sua presença. Não devia demorar, ele nunca perdia qualquer
encontro.
O céu estava escuro, ameaçava chover como na maioria dos dias
em Vespeau, mas eu não ligava, já estava habituado ao frio desde
sempre.
Cinco minutos depois, a porta fora aberta. Nabrya entrou em um
lance rápido e ágil.
Sentia a sua aura pesada há quilômetros, não era difícil não
percebê-lo, no entanto, era horrível suportá-lo.
— Há uma certa singularidade no que diz respeito a você —
comentou ele, num tom mais baixo e calmo. — Imagino que goste
de deveres cumpridos, deveres estes que satisfazem o seu infeliz
ego insaciável — criticou.
Eu não absorvia as suas provocações. Nabrya adorava jogos
suicidas e possuía manias de controle mental.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu me alimentava de almas, Nabrya se alimentava de mentes.


Ele adorava manipular e desmembrar as suas vítimas em partes.
Dificilmente ficava sem um alvo fixo. Brincava com os desejos,
segredos e medos das pessoas. Influenciava sentimentos com as
suas habilidades psíquicas, e então, prendia o indivíduo em aflições
que poderiam durar semanas, meses, anos ou uma vida inteira. A
quantidade dependia da habilidade do seu jogador em saber se livrar
de seus comandos.
Em maioria, ele se deleitava em virtude quando ouvia as pobres
almas pecadoras se perguntarem: "Por que me sinto tão mal em
momentos tão bons da minha vida?", ou algo assim.
Poderia até mesmo culpá-lo por tantas pessoas se converterem
ao cristianismo, eu odiava Nabrya. Ele jogava sujo e às vezes era
hipócrita. Quando pessoas infelizes se dão conta de que estão na
pior, procuram por seu milagroso Deus. Algumas até realmente
creem, outras, no entanto, se perdem no que fingem ser.
Eu realmente odeio esse cara.
— Sabe, eu adoro a juventude, mas odeio a arrogância que ela
traz consigo — comentou.
— Ah, é? — falei desinteressado e prendi um bocejo.
Sempre fui desrespeitoso e mal caráter. Mas perto de Nabrya, eu
sabia que deveria conter esses instintos.
— Eu sempre abri mão de muito em toda a minha existência,
não porque não fizessem sentido ou porque eu não as quisesse, mas
porque eu tinha ambições que iam além do que a mediocridade do
desejo tinha a me oferecer.
— A resposta é não — fui rude ao entender onde chegaríamos.
— Só acho que você seria bem mais eficaz sem ela na sua vida.
Eu a vejo, sei que ela possui beleza, juventude e uma aura deliciosa.
Mas também é mortal e fútil. Irá envelhecer e morrer como qualquer
um. Sempre vai existir um outro amor, e outro, e outro...
— Não se sinta responsável por quem eu amo, ou irei amar. Se
seus sentimentos são vazios e limitados, isso não é problema meu.
Então não se ofenda quando eu digo que nada do que faço é

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

pensando em você. Não o idolatro, não sou seu servo e nem seu
aluno.
— Não se limite ao pensamento do ‘eu te amo’, Christopher. Isso
é falho e passageiro. — Nabrya virou-se bem devagar para mim. — E
isso vai acabar, de um jeito ou de outro. Senão por mim, talvez pelo
seu pai. Sabe bem que ele não está nada contente por você ter a
garota.
— Meu trabalho aqui ainda está sendo feito. Não olhem com
quem eu estou e não vão ter motivos para se preocuparem. Sou
muito bom no que faço.
— Eu não diria que não deveríamos nos preocupar. Quando você
se concentra nela, esquece tudo o que devia estar fazendo. Quer
fazer mais devagar para ter mais tempo ao lado dela. Quer dar
tempo de vida a ela nessa Terra. Mas sabe que isso não é possível,
Christopher.
Apertei os punhos e ergui uma sobrancelha a ele.
— A porra do mundo não vai acabar amanhã. Terei tempo
suficiente com ela viva ou morta.
— Mas prefere se agarrar a vida inútil e mundana com ela. — Ele
sorriu. — Sua vida mortal é descartável. Se eu te matasse neste
exato momento, teria apenas o casco odioso de sua forma
demoníaca trabalhando mais rápido.
Ele tocou a maçaneta.
— Pense nisso, Christopher. Estou te dando a oportunidade de
estar com o coração batendo e trabalhando para mim.
Respirei fundo, o ar parecia cortar as minhas entranhas e arder
em meio a fúria crescente em mim.
Eu queria rasgá-lo em pedaços naquele momento.
— Seu pai espera que você trabalhe para ele pelo resto da vida.
E eu espero que você me ajude a destruí-lo para que fique livre e eu
no comando. Mas você está estragando tudo com essa sua piedade
pela humana.
— Nunca mais chegue perto dela — murmurei entredentes.
— Nunca mais desobedeça aos meus comandos. — Ele abriu um
sorriso maléfico. — Vá para o Brasil, você sabe o que te espera lá.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— A doença vai se espalhar de qualquer jeito, não preciso levá-la


a lugar nenhum.
Ele deixou que a sua cabeça tombasse para o lado.
— Não se trata mais de uma única doença, Demônio.
Nabrya fechou a porta e deu as costas para mim.
O caos.
Eu era responsável pelo caos.
Então teríamos o caos.
E eu não serviria mais a ninguém.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

11 de Junho | Terça

— Fissuras — informei, olhando-o nos olhos.


Sua testa se franziu em uma nítida confusão, ele havia acabado
de chegar em meu quarto. Desta vez, em sua forma humana. Chris
tinha até mesmo passado pela porta como alguém normal fazia, e
isso me rendeu uma ligação de papai, que ainda estava em viagem e
tinha o visto pelas câmeras.
Meus pais chegariam apenas depois de amanhã, por isso,
precisei tranquilizá-lo dizendo ser só uma rápida visita, porém ele só
pareceu convencido quando Christopher pegou meu telefone e
trocou algumas palavras com ele do lado de fora do meu quarto.
Eu tinha uma vaga sensação de que o meu namorado não era
tão amigo assim do meu pai quanto demonstrava ser, mas acho que
meu pai me contaria se tivesse algo errado. Bom, isto era o que eu
me esforçava para acreditar, e às vezes funcionava.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— No meu útero — esclareci.


Suas sobrancelhas saltaram ao captar a notícia com mais
clareza. Ele se mostrou preocupado, entretanto, notei que segurava
um sorriso malicioso nos lábios.
Estávamos os dois esparramados em meio aos lençóis brancos e
amarrotados da minha cama.
Sua cabeça estava deitada no alto da minha barriga, e seus
braços envoltos às minhas coxas descobertas pelo pequeno pijama
que eu já usava, embora o sol ainda estivesse se pondo.
Queria apenas estar vestida com uma roupa confortável, e como
não contava com a presença do meu namorado aqui hoje — mesmo
que ele não se afastasse de mim por muito tempo nem com reza
braba —, optei pelo básico e adorável pijama curto.
Meu corpo estava repleto de hematoma esverdeados, minhas
pernas estavam marcadas nas laterais, bem onde Christopher me
segurou forte ao me penetrar.
Meu pescoço ainda tinha algumas pequenas manchas arroxeadas
das mãos de seu lado demoníaco me enforcando, me custaria um
bom tempo até que desaparecessem. Eu estava colocando gelo de
hora em hora e o massageando. Teria que usar roupas de gola alta e
cachecol até sumirem completamente.
Ainda bem que estávamos num clima frio, apenas seria difícil
explicar para os meus pais o porquê de eu estar sempre coberta por
roupas longas dentro de casa, mesmo com os aquecedores ligados e
deixando o ambiente quentinho.
— Fissuras — pontuou ele. Uma expressão orgulhosa assomava
o seu rosto maligno, estava tão satisfeito com o próprio trabalho
sexual que os olhos verdes brilhavam.
Eu sabia que o que tínhamos feito ultrapassava o meu limite
assim que terminamos e me vi um pouco ensanguentada. Não era
costumeiro que eu sangrasse depois de termos uma relação, pelo
menos, não desde que perdi a virgindade.
— A ginecologista me passou uma pomada e algumas broncas.
Vamos ter que ficar algumas semanas sem nada, Diabão — avisei-o,
suspirando.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sua expressão imediatamente caiu. Christopher logo ficou mal-


humorado. Ergueu-se nos cotovelos e me olhou fixamente com
aquelas duas esmeraldas sérias.
Seus lábios se franziram e seu rosto transformou-se em uma
carranca engraçada. Era fofo o jeito que ele ficava irritado por saber
que não poderia me tocar por um bom tempo até que eu estivesse
bem para isso novamente.
— Sério? — reclamou, insatisfeito. — Mas que porra...
Quase ri de seu mau-humor, mas me segurei. Certamente isso
só o faria resmungar ainda mais como um velho rabugento, e eu
sabia bem que teria que lidar com as suas reclamações
constantemente daqui em diante.
— Pois é. É isso o que acontece quando você decide usar a sua
outra camada para fazer sexo comigo — eu disse, reprimindo um
sorriso.
— Culpa sua. Eu avisei para não me desobedecer — murmurou
malicioso.
Mordi os lábios. Lembrar de como nós fizemos sexo ainda mexia
muito comigo. Eu jamais esqueceria a visão de tê-lo me penetrando
em sua segunda camada. O lindo rosto transformado em uma
máscara demoníaca, mergulhado em puro êxtase de prazer
enquanto puxava os meus quadris para ele, me afundando em seu
pau até onde pôde.
Aquela visão foi a coisa mais sexy e perigosa que eu já vi. Seria
difícil superar isso da próxima vez que pudéssemos fazer sexo de
novo, e ainda que eu estivesse com muita dor, estava meio ansiosa
para isso.
— Tô vendo que seu autocontrole é a única coisa pequena em
você — incitei.
Ele curvou um sorriso safado nos lábios, o ego completamente
inflado, mas logo a sua face foi tomada por preocupação.
— Como foi a sua consulta? Se sentiu bem?
— Sim. Loren ficou do meu lado o tempo todo.
Minha irmã percebeu a selvageria da situação no momento em
que me viu chegando em casa cheia de marcas e mancando. Loren

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

apenas me olhou de cima a baixo de um jeito acusatório, mas


guardou sua opinião para si.
Ela, por outro lado, parecia muito bem. Nenhum olho roxo, osso
fraturado ou cabelo raspado. Acho que no fim das contas ela e
Amara resolveram as suas indiferenças. Minha irmã não foi muito
esclarecedora quando disse que tinha dado tudo certo, o que me
deixou espaço aberto para a imaginação.
— Está com dor?
— Muita cólica, mas nada que o álcool não resolva. Eu só quero
curtir alguns bons momentos com você antes de você viajar. — Sorri,
mas Christopher não estava na mesma sintonia que eu, seu rosto se
enrijeceu e ele trocou o seu olhar do meu rosto para o colchão.
— Eu vou voltar o mais rápido possível. Você vai ver.
Encolhi os ombros.
— Eu sei, você disse isso no segundo seguinte que me contou
que iria viajar para um lugar secreto, e depois repetiu outras três
vezes.
— Eu não disse que era um lugar secreto — ponderou, ríspido.
— Mas também não me disse para onde ia.
Christopher suspirou, mas assentiu.
Ele mantinha uma postura tensa e o olhar vazio, tinha algo mais
que não me contava.
Eu queria fazer perguntas, mas isso nos levaria ao mesmo beco
sem saída de sempre, então contive o impulso na ponta da língua.
Eu ainda estava me acostumando com o fato do nosso
relacionamento não ser claro e sem segredos, e por mais que me
doesse, teria que ceder um pouco mais de mim...
Chris aproximou os lábios dos meus até quase estarem colados,
tirando-me de meus devaneios e sorriu.
— Desculpa ter machucado a sua boceta. Vou tomar mais
cuidado da próxima vez que a gente foder — garantiu rouco, a voz
cheia de malícia.
Sorri com ele, achando graça da forma que me pedia desculpas,
de modo que mais parecia se gabar do que lamentar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É bom mesmo, ou eu nunca mais deixo você fazer sexo


comigo.
Christopher aconchegou o seu rosto na curva do meu pescoço e
riu.
— Eu duvido. Você agora está tão excitada que mal consegue
disfarçar.
Era uma droga namorar alguém que poderia saber exatamente o
que eu estava sentindo a cada minuto do dia. Ficava difícil disfarçar
o quanto Christopher me deixava doida por ele.
Bufei e tentei empurrá-lo de cima de mim, entretanto, ele
parecia mais uma rocha do que um corpo, o que não resultou em
nada. Ele não se mexeu um único centímetro.
— Chris, sai — reclamei, já sem forças.
Ele ergueu o seu lindo rosto para me olhar nos olhos, zangado.
— Por que já está me expulsando?
— Você está me esmagando, cara. Sai logo.
Ele levantou o seu corpo, mas não saiu até me virar para o lado
e estapear a minha bunda com força. Gemi de dor, ainda sentia
cólica, mas havia tomado alguns remédios que logo surtiriam efeito e
amenizariam aquela sensação.
Virei-me na cama e fechei os olhos. Estava sonolenta, Chris não
me deixou dormir muito noite passada.
Notei que ele não se afastou. A Torre Tatuada continuava
negando o meu espaço pessoal, mas não me importei, sentiria sua
falta enquanto estivesse viajando.
Naturalmente ele se aconchegou atrás de mim, envolvendo-me
em uma conchinha e descansou o corpo.
Internamente, eu sorri com o quanto éramos bons nisso.

Mais tarde, quando acordamos, Christopher me levou até a sua


casa para supostamente passarmos um tempo juntos como

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

namorados normais faziam. No entanto, não demorou muito mais


que 10 minutos para Samantha chegar com o pequeno. As estava
com a sua mochilinha nas costas, parecendo uma tartaruga ninja.
Ele estava irritado, odiava passar um tempo com a tia enquanto
Christopher me visitava, mas isso só durou até o momento em que
nos avistou parados na entrada da porta. Um sorriso pintou os seus
lábios e ele disparou em uma corrida.
Christopher o pegou no colo, enquanto As trançava as suas
pernas na cintura dele. O rapazinho agora estava todo cheio de
sorrisos.
Samantha apenas balançou a cabeça, sorriu e foi embora. Ela
era reservada e mantinha-se mais isolada dos outros irmãos.
A vi pouquíssimas vezes, e tudo que sabia sobre ela era que
gostava a beça do sobrinho, um amor que não era tão recíproco
assim, As era um tanto quanto crítico sobre quem ele gostava.
Eu tinha uma certa curiosidade sobre Samanta, parecia ser
modesta e inteligente, e embora possuísse um rosto angelical e
meigo, sabia que ela cultivava os seus próprios segredos mórbidos.
Nenhum Tanaka tinha um histórico limpo.
Entramos os três na casa e nos sentamos na sala. Asafe
tagarelava sem parar sobre o seu dia e o quanto Demétrius brincou
com ele. Não sei bem do que brincaram, mas para o pequeno
demônio ter gostado, com certeza não foi nada saudável ou
apropriado para uma criança de dois anos — quase três, de acordo
com o próprio.
A insanidade estava no sangue de todos da família.
— Está bem, vamos banhar, filho — Chris avisou, encerrando as
longas histórias de dinossauro de Asafe, tomando-o no colo
enquanto se colocava de pé.
Eu não as entendia bem. Ele gostava de falar rápido e às vezes
criava palavras, afinal, o que era "dracudo" e "pislama"? E como de
repente surgiram formigas na história de dinossauro que ele
contava?
Asafe percebia a minha confusão, porém, quanto mais ele
tentava esclarecer, mais difícil e complexo ficava. Eu me sentia um

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

pouco burra por isso, mas acho que Christopher também não
entendia tudo, o que me deixava um pouco mais relaxada.
— Papai — Asafe chamou.
Christopher o respondeu, olhando-o nos olhos, mas pelo visto, o
garotinho só queria olhar para o rosto dele. Eu achava muito fofo
quando ele fazia isso. De certa maneira, era como matava a sua
saudade. Chris beijou a testa do filho e virou-se para mim.
— Amor, pode ligar a banheira para o As enquanto eu guardo as
coisas dele? — pediu.
— Claro — levantei-me do sofá.
— ESPERA — afoito, o demoninho gritou para mim, ainda que eu
nem mesmo tivesse chegado a me mover.
Asafe desceu do colo do pai, lhe entregou a sua mochila, correu
até onde eu estava e enroscou a sua mão na minha, olhando-me
como se esperasse que eu o levasse junto. Em geral, eu não gostava
de crianças, mas Asafe conseguia derreter o meu coração todinho.
Sorri para ele.
Seguimos em direção ao banheiro. As parou em um canto, de
pé.
— Você prefere a água quente ou fria, As? — questionei,
observando-o balançar o corpinho ansioso para um lado e para o
outro, com as duas mãos nas costas.
— Fia. Não. Quente. — Ele franziu a testa, congelando no lugar.
— Não, não. Fia.
Asafe parecia prestes a entrar em um colapso de nervos com a
indecisão e me segurei para não rir.
— Temos todo o tempo do mundo — brinquei.
Ele estava realmente avaliando a sua escolha, como um jogador
de xadrez escolhendo a sua próxima jogada. Era tão divertido ver o
seu rostinho sério daquele jeito.
— Eu não sei, titia Dingo — respondeu tristonho quando se deu
conta de que não sabia o que preferir.
— Seu papai costuma te banhar com aquela água fria que te dá
arrepios no corpo quando você sai ou aquela água mais quentinha,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

que parece que você está todo embrulhado? — sugeri opções, talvez
o ajudasse.
Porém, Asafe não conseguia se identificar com nenhuma das
duas opções. Talvez o seu pai optasse por banhá-lo em água morna,
fazia mais sentido.
No mesmo instante Christopher entrou no banheiro.
— O mais gelada possível, por favor. Asafe não consegue
distinguir bem a diferença de temperatura ainda. Para ele ainda é
muito confuso — explicou.
— Por causa do outro lado dele? — investiguei e ele assentiu.
— Está bem. — Antes de ligar a água, me virei para Christopher.
— A água gelada não o incomoda? — estranhei.
— Não se preocupe, Dingo Bells. Ele adora o frio, e antes que
pergunte, não o machuca.
— Certo. — Uni as sobrancelhas, intrigada.
Havia muitas coisas as quais eu nunca entenderia em Chris e em
seu filho, mas ficar o enchendo de perguntas não era algo que eu
quisesse, afinal, explicar como é ser um demônio não deve ser lá
uma conversa muito agradável para ele.
Sem mais delongas, fiz o que me pediu.
Asafe remexia o corpinho, os olhos vidrados na água enchendo a
banheira. Adicionei um pouco de espuma e alguns brinquedos dos
quais ele parecia gostar.
Sentei-me na borda da banheira e Christopher sentou-se logo
atrás de mim.
— Ele ama tomar banho quando estamos com ele — sussurrou
no meu ouvido e eu sorri.
— Ele ama mesmo é molhar a gente — rebati, achando graça.
— Fazer danação faz parte da natureza demoníaca dele. As não
pode evitar.
Rindo, virei-me para ele.
— Acho que isso não é coisa de demônios. Isso é a genética de
suas características humanas. Você é um péssimo exemplo de um
bom cidadão, meu querido Chris.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Meu lado humano é bem quieto, juro. — Christopher sorria, já


que nem ele mesmo acreditava no que dizia.
— Ah, é? E por que nunca me apresentou esse lado desde que
nos conhecemos — provoquei-o.
— Estou mostrando agora.
Christopher colou seus lábios nos meus em um selinho
prolongado. Não demorou muito para ouvirmos um ruído de vômito.
— Ewww! — Asafe fazia careta e fingia vomitar enquanto
apertava a barriga e curvava o corpinho.
— Cara, faz o favor e dá licença — Chris reclamou em tom de
brincadeira
As fez careta e correu até nós, puxando o cós da minha calça em
um gesto possessivo.
— Garoto ciumento — Chris sussurrou e o pegou nos braços.
Arregalei os olhos quando o vi colocá-lo de cabeça para baixo.
As estava morrendo de gargalhar. O rosto inteiramente vermelho
enquanto seu pai o sacudia.
— Você vai machucar o garoto assim, Chris — eu disse,
preocupada.
— Se ele morrer, só vou precisar buscá-lo no inferno de volta. —
Deu de ombros.
Tentei argumentar contra, mas, com o quê? Tecnicamente era
isso que iria acontecer, não?
Apenas quando As já estava tonto foi que Christopher decidiu
desvirá-lo. A criança estava bêbada e deitou a cabeça no ombro de
Chris enquanto ainda ria alto, seu pai fazia o mesmo e eu só
observava com o coração na mão.
Céus! Esses momentos em família ainda iam me matar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

14 de Junho | Sexta

— Eu odeio isso — reclamou ela com as duas mãos no volante e


os olhos azuis fixados na estrada. Seu semblante transparecia toda a
sua aflição em meio a raiva. Existia uma dualidade batalhando
dentro de si, entre fazer ou não o que gostaria.
— Se quer ver ela de novo por que porra fica dando voltas
nisso? — resmunguei, alheio.
— Eu não vou ceder. Se ela quiser, é ela que tem que me
procurar.
— Ela não vai te procurar, mesmo querendo — a interrompi, alto
o suficiente para que isso se esclarecesse em sua mente.
Amara revirou os olhos.
— Eu não vou atrás das minhas fodas, são elas que me ligam no
dia seguinte, e já faz cinco dias e nada. Eu sou ótima na cama,
Chris. Não. Eu sou excelente. Se ela não vir atrás, o problema é todo
dela. — A loira deu de ombros, no entanto, isso não amenizou nada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sentia-se com o ego ferido, e estava tomada de incredulidade por


não conseguir deixar esse assunto de lado.
— Ah, com certeza você é — provoquei-a, com uma pitada de
ironia.
— Eu sou, sim. Pergunte a qualquer uma que já teve o prazer de
ficar comigo.
Soltei um riso curto e seco. Eu não estava nem um pouco a fim
de entrevistar as trepadas de Amara, mas sabia que Loren havia
gostado do que tiveram no segundo que a vi saindo do quarto de
minha irmã na mansão na manhã seguinte. Dytto não juntou as
peças, acreditava fielmente na heterossexualidade que sua irmã
esbanjava pra lá e pra cá.
— Amara, vá chupar uma boceta e me poupe. — Suspirei. — E
acelere a droga do carro, Asafe vai sair da creche daqui cinco
minutos, e você sabe como ele odeia esperar.
— Não é como se fossem jogar ele pra fora, ele vai continuar
brincando.
— As odeia as crianças e as professoras. Daqui cinco minutos
acaba a tolerância dele em socializar com os pivetes da idade dele, e
aí ele sai da creche sozinho porque não aguenta ficar por muito mais
tempo.
Ela franziu a testa.
— Caramba, se ele não fosse seu filho eu pediria um teste de
DNA — brincou, ao passo que afundava o pé no acelerador.
Ninguém gostava de quando Asafe se irritava, então era bom
deixá-lo sempre feliz e sossegado, logo, estávamos sempre à mercê
dele.
O toque singular e marcado especificamente para mensagens de
uma pessoa em específico, ressoou do meu celular. Ligeiro, retirei-o
do bolso. Amara me olhou de soslaio de maneira julgosa, mas se
reteve. Ela odiava o jeito que eu era quando o assunto era Dytto,
porém, fingia respeitar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O que Dytto estava aprontando logo tão cedo? Ela não deveria estar
focada nas aulas?

Mas o quê?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ergui as sobrancelhas, coçando a nuca.


— Está tudo bem aí? — Amara investigou, enquanto buscava por
uma vaga em frente à creche.
— Dytto está usando drogas.
Ela sorriu.
— Tô começando a gostar mais dela.

A cada mensagem eu sentia todo o meu corpo se contorcer em


agonia pura. Como eu deixei isso acontecer?
— Me lembra o porquê de eu ter entrado em um relacionamento
com uma humana adolescente — supliquei, afagando o rosto com
ambas as mãos.
— Eu diria tesão, mas você faz umas coisas absurdas demais
para quem deveria ser só um rabo de saia, então deve ser amor.
— Amor — repeti a mim mesmo. — Que doença mais estranha.
— Fiz careta.
O celular notificou mais outra mensagem em meu colo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Estávamos chegando a uma negociação interessante.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Foi um bom preço, mas eu provavelmente me arrependeria mais


tarde.
O carro parou na vaga, e não tão longe, vi Asafe correr ligeiro
para fora da creche, uma professora que estava logo atrás, tentava
contê-lo, visto que era o seu trabalho tomar conta das crianças, mas
ele pouco se importou e disparou em direção ao carro. Sua mochila
saltitava em suas costas à medida em que ele corria. Um largo
sorriso enfeitava o seu rosto, mal podia conter a alegria de se ver
livre de uma vida mundana e normal com as outras crianças.
Eu tentava ensiná-lo a não deixar o seu lado demoníaco vir à
tona em momentos rotineiros com outros seres humanos, e ele
respeitava isso, apesar de odiar cruelmente. Eu sentia quando ele
parecia prestes a explodir, contendo-se perto de outras criancinhas
chatas e choronas, eu também fazia o mesmo.
Abri a porta do carro e me coloquei para fora, As ergueu os dois
braços em minha direção, peguei-o no colo a tempo da sua
professora nos alcançar. Ela estava vermelha, suada e ofegante. A
veia em sua testa pulsava mais forte. Qualquer dia desses teria uma
taquicardia.
— Desculpe, senhor Christopher — arfava em meio ao turbulento
ato de tentar respirar.
Ela se apoiou nos joelhos. Não deveria ter mais de trinta e cinco
anos, mas estava sedentária demais para quem cuidava de tantas
crianças enérgicas.
— Pelo o quê? Deixar o meu filho solto? — impliquei, rude. —
Posso te listar inúmeras coisas que poderiam ter acontecido se eu
não tivesse chegado a tempo.
— Sinto muito. Sempre deixamos os portões trancados, mas eu
não sei como ele sempre consegue abrir. Não temos mais chaves
reservas e ninguém deixa ele sem as travas fixas. Eu juro que
sempre conferimos ao fechar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Internamente sorri. Garoto esperto.


Não era culpa dela, mas que mal faria desmerecer o seu
trabalho? Eu não estava nem aí mesmo.
— Estou vendo — ironizei. — Se algum dia uma dessas crianças
fugir for atropelada, isso será culpa sua. — Dei-lhe as costas,
sabendo que isso a deixaria mal por um tempo, talvez a tirasse o
sono e a deixasse meio paranoica.
Pelo menos a deixaria mais esperta.
Coloquei As no banco de trás, e enquanto o afivelava na cadeira
infantil, joguei uma piscadela ao meu comparsa.
— Dia difícil? — perguntei-o e ele assentiu como se tivesse tido
um dia cheio e trabalhoso, e não que tivesse apenas brincado
sozinho e evitado abraços de todas as tias da creche cheias de
ocitocina. — É, posso imaginar.
Ele não estava para conversas, então deixei que adormecesse.
Partimos em direção a mansão, onde Asafe ficaria com as tias
até que eu voltasse de viagem. Minha rota deveria me levar ao
Brasil, mas, por conta própria, a modifiquei.
Eu precisava ir para casa resolver assuntos pendentes bem antes
de qualquer outra prioridade.
E isso não seria nada bom.

O inferno ardia impiedosamente, não pelo fogo, não pela lava ou


pelo calor. Porém, pelo maldito frio incessante que fazia os ossos dos
condenados doerem e a carne tremer. A mim pouco importava. O
gelo não penetrava em minha pele dura e áspera. Nada trespassava
sobre mim. A menos que eu permitisse.
Em meu outro eu, em meu verdadeiro paradeiro, eu não era
apenas alto, mas gigante, potente e sólido. Não tinha apenas dois
metros, contudo, seis.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Dytto teve apenas o deslumbre do que ela tanto horrorizava. Ela


com certeza não saberia lidar comigo agora, afinal, nem eu próprio
tinha tanto controle assim quando estava fora do meu corpo mortal.
No inferno, eu me modificava completamente, deixando para
trás todas as partes ainda humanas em mim.
Se antes eu aparentava ser um monstro, agora era o pior
pesadelo já visto.
A pele completamente cinza. As rachaduras em meu corpo — no
momento — não só eram vermelhas, como transbordavam o sangue
de cada condenado. Poderia estancar se quisesse, mas adorava me
deleitar sobre ele. Banhar no sangue dos pecadores me parecia uma
linda tragédia.
O rosto, antes com traços negros, agora possuíam cortes mais
escuros e profundos. O vazio era presente onde deveria ter globos
oculares em minha medonha face.
A cada passo dado sobre o chão alvo, a neve se afundava,
deixando apenas os meus rastros para trás enquanto caminhava
para dentro do inferno Nefarious.
Uma enorme nevasca de flocos de gelo atormentava o lugar, tal
como uma praga. A friagem insensível nunca chegava ao fim. O céu
sempre nublado, coberto por uma ventania violenta que ensurdecia
a quem quer que passasse ali pelo chiado grave e pesado que se
arrastava.
As árvores secas e mortas estralavam à medida em que eram
atingidas pelas rajadas de vento. Ameaçavam ceder a qualquer
instante, mas nunca o faziam. Em um eterno suspense sem fim.
O caminho era tortuoso e confuso. Qualquer um que não o
conhecesse, facilmente se perderia, indo parar na toca de um
demônio faminto pelo medo e desejo de castigar.
O cheiro dos cadáveres podres e em decomposição eram
sentidos de longe, porém, mesmo que mortos, ainda se mexiam,
choravam e sentiam dor.
Os miseráveis se arrastavam na neve pedindo para que o frio
impiedoso cessasse; estes não haviam cometido muitos atos

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

profanos, logo eram os que menos sofriam, e por isso eram deixados
avulsos pelo caminho até a fortaleza de demônios.
As montanhas circundavam o buraco no centro deste inferno.
Ainda que longe, era possível ouvir os urros dos errantes que ali, nos
montes, eram punidos.
Eles me conheciam, cada um deles. Eu fazia questão de olhá-los
enquanto sentiam dor. Era a melhor sensação que se poderia existir.
Por outro lado, havia uma semente do bem que existia em meu
peito, cultivada pela linda garota que possuía o meu coração. Ela era
a única que conseguia me tirar a atenção do dever que nasci para
cumprir, e talvez fosse por esta razão que o meu desgraçado pai a
odiava tanto.
À medida em que a muralha de aço e pedras se tornava mais
inteiramente visível, constatava que estava mais perto da entrada de
ossos. E, ao finalmente chegar, os portões se abriram
completamente.
Dei passos rápidos, não queria perder meu tempo naquele
labirinto.
O lugar era escuro, mórbido e construído em seu interior por
enormes blocos de pedra. A cada passo dado, via um diferente
trajeto constituído por ossos, dando acesso à cela de cada
condenado. Segui o meu curso, não me permitindo parar, meus
passos foram firmes, não estanquei, mesmo que estivesse bem
interessado em conhecer o motivo de cada grito alucinado e
plangente daquele lugar.
As almas eram ensurdecedoras, barulhentas e implorosas.
Choravam por misericórdia para um Deus a qual abandonaram em
vida para que pudessem viver uma vida baseada em prazer carnal.
A neve, por algum motivo, caia aqui dentro, apesar do lugar ser
como uma caixa tampada.
Um exército de demônios agarrava-se às paredes de sangue,
esperando pelo momento em que buscariam a alma pelo qual
exigiria a sua atenção pela eternidade. Assim que me viram entrar,
reverenciaram-me em demonstração de respeito.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Passei pelo corredor que dava acesso a outras rotas de


sofrimento e caminhei o mais rápido possível para o altar de meu
pai. O primeiro pilar de todos eles.
O pilar onde Christopher I habitava.
Ao pisar em seu santuário de mortes, fui contemplado pelos
olhos completamente negros de minha mãe. Ela não costumava ser
assim quando ainda era viva.
Naomi era linda, charmosa e má. Seus enormes cabelos escuros
e lisos escorriam pelo seu corpo, alcançando a sua cintura. Seus
traços asiáticos lhe tornavam a mais bela dentre todas as mulheres
da mais alta sociedade de Nabrya. Porém, desde a sua
transformação de vida para um cadáver, sua aparência se tornou
sórdida, não tão obscura quanto a minha, mas já não era ela
própria.
Ignorei a sua existência como sempre o fazia. Ela já não existia
há muito tempo, de todo modo. Tudo o que meu pai fazia era
alimentar-se do que sobrou de sua alma penada. Ela ainda se mexia,
porém, não proferia mais uma única palavra. Meu pai não permitia. E
quando ela não o obedecia, ele a punia.
Naomi, minha mãe, acreditava que, ao convocar um demônio,
poderia negociar. Mas meu pai nunca foi um demônio qualquer. Ele
queria um servo e uma alma para sugar. E conseguiu os dois, ou
quase.
Bem que ele queria que eu fosse tão maleável quanto a minha
mãe foi. Contudo, eu sempre o desafiava.
— Ora, ora. Eis aqui a criatura mais desesperada que já conheci
— sua voz reverberou em seu covil conforme ele se aproximava.
Seu corpo se destacou no momento em que ele despontou das
sombras. Sua face não era como a de nenhum outro demônio.
Seu rosto era jovem, quase que ainda mais que o meu. Sua
beleza não possuía data de validade e era invejável aos homens que
almejavam a perfeição.
Seus olhos eram verdes como esmeraldas. O corpo ímpio,
torneado e forte. Ele era alto, não tanto quanto eu em minha forma
demoníaca, mas quanto a mim em minha forma humana. Tínhamos

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

uma certa semelhança, porém, ele conseguia ser ainda mais


gracioso e naturalmente sedutor. Era assim que conseguia atrair a
atenção dos que o procuravam.
Meu pai era esperto. Eu sabia que ao negociar com ele, teria que
lhe dar algo em troca. Porém, estava disposto a tentar.
Seus olhos rudes e perversos buscaram os meu e travaram uma
guerra silenciosa. Ele estava sempre em busca de uma boa briga.
— Qual é o motivo de sua presença neste local, criança? Optou
por cessar suas discordâncias com o seu pai?
Dei um passo em sua direção.
— Esqueça a garota que está comigo e a deixe em paz — exigi,
num tom de voz mais sério.
Seus lábios curvarem-se num tom rude de maldade.
— E por que eu faria isso? — retrucou, curioso.
— Me diga, fodido pai. Que planos tem reservado para mim?
Tenho cumprido com as suas ordens e realizado cada tarefa que me
mandou executar.
— Retorne às suas responsabilidades profissionais, que são
inerentes ao seu papel. Evite distrações com a jovem, ela tem o
potencial de comprometer sua concentração.
— Nunca parei com o meu trabalho — rebati.
— Você diminuiu sua produtividade. Deixou de trazer um número
significativo de almas. Não celebrou mais acordos. Você não tem
mais cumprido seu papel filial de forma adequada — seu tom de voz
gradativamente se intensificou. — Eu desejo que você cause
desordem e se mantenha nela. Não tenha a intenção de entrar em
um lugar de culto novamente, a menos que sua intenção seja
perturbar o espírito daqueles que o frequentam.
— Você pode controlar todo um reino, mas não a mim. Eu faço o
meu próprio caminho, e eu escolho onde pisar. — Dei outro passo
em sua direção, mais pesado desta vez, o atrito ao chão fez com que
o barulho ecoasse, se estendesse por todo o ambiente.
— Não crie a sua própria desgraça, Christopher. Te fiz para que
fosse o meu melhor soldado, mas agora age como um tolo. — Ele
balançou a cabeça, incrédulo. — Tudo por uma garota. Ela é impura

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

e suja. Fez coisas horríveis. Você sabe porque está atraído por ela, e
não é porque está apaixonado. Você sabe bem porque a seguiu na
floresta. Essa sua fixação por ela, não passa de um desejo obscuro
de tomar o que ela ganhou. Não terá perdão das coisas que fez
como ela ganhou.
Franzi o cenho.
— Acha que estou atrás do perdão angelical? — Uni as
sobrancelhas. — Estou pouco me fodendo para a redenção que ela
teve. Ela fez o que fez porque era uma criança e agora sequer
lembra. Eu faço tudo o que eu faço porque eu quero.
Ele riu amargo.
— Seu plano sempre foi desafiar os anjos, e agora você
conseguiu. Provou a eles que Dytto não tem salvação. Livre-se dela
ou eu mesmo faço isso.
Ergui o rosto.
— Se o fizer, acabo com qualquer passagem ou rito que ainda o
ligue a eles. Eu sou o caminho entre você e aqueles pecadores
fodidos. Sempre que ousar ir contra mim, eu me volto contra você. E
sempre que me prejudicar, eu acabo com a sua diversão — ameacei,
mantendo a postura.
Ele, por sua vez, semicerrou os olhos, ardendo em fúria.
Meu pai sabia que eu poderia destruir o que ele construiu. Eu
era o fruto de seu corpo, e o único que conseguiria o derrotar.
Ele me queria para ser a sua máquina, mas eu era o seu único
inimigo realmente a altura. Estávamos sempre em um impasse.
Como a porra de um jogo. Ele mexia as suas peças, e eu, as minhas.
— Traga-me o maior número de almas. Espalhe mais aflição pelo
mundo. E mesmo que você tente resistir a mim, Dytto já estará sob
meu amparo. Eu duvido que qualquer tentativa de vingança possa
compensar a angústia de saber que a responsabilidade pelo
sofrimento dela repousará unicamente sobre seus ombros.
— A alma dela pertence a mim.
— No entanto, ela a ofereceria a mim em troca da segurança de
sua família. E estou certo de que você faria qualquer coisa por
aquela jovem — afirmou com convicção. — Cause sofrimento,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher. Inflija dor ao mundo, e então permitirei que ela seja sua
— exigiu.
— Está fazendo isso da maneira errada.
Ele deslizou os olhos bem lentamente sobre o meu rosto, de um
jeito ameaçador.
— Apesar de tudo, Christopher, sou eu quem te mantenho vivo e
são. Poderia te matar no minuto que em descobri a sua traição. —
Ele ergueu uma sobrancelha. — Se livre do Nabrya, mate-o,
enfraqueça-o, e traga ele para mim. Você e eu trabalhamos juntos.
Se houver qualquer outra proximidade entre vocês dois, isso custará
um preço alto a você, filho. E eu não te pouparei do pior.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

18 de Junho | Terça

Já havia alguns dias que eu podia sentir a inquietude dentro do


seu corpo. Ela não estava exatamente cansada, como sempre dizia
para todos; ela estava angustiada. Absorta em dores que ninguém
além dela mesma poderia ser capaz de entender.
Eu sabia que algo ruim tinha acontecido a ela desde o momento
em que a vi pela primeira vez.
Era feio, obscuro e monstruoso.
Loren passou anos de sua vida liberando parte de sua amarga
raiva nas pessoas que conviviam ao seu redor. Entretanto, aquilo
continuava ali, dia após dia, e não importava o intervalo de tempo
que tínhamos entre todas as vezes que nos encontrávamos, eu
sempre sentia a mesma dor reverberando dentro dela.
A dor da perda, do roubo, da humilhação e do medo.
Ela tinha o inferno inteiro dentro de si.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Aquela habitual sensação ruim me atingiu no minuto em que


cheguei em frente à casa da família Bell, todavia, aquilo me
arrebatou de uma maneira ainda mais fatal.
Loren situava-se ainda pior que nos outros dias. Ela estava
sentada na calçada, em frente aos portões de sua casa. As pernas
inclinadas para a esquerda, as mãos sobre os joelhos e os olhos
vermelhos.
Sua respiração era ofegante e descompassada. As bochechas
pintavam-se de um tom rubro, enquanto a pele estava úmida de
suor, embora o sol tivesse decidido nos aquecer hoje, o clima ainda
era frio.
Em uma de suas mãos trêmulas, um cigarro enfeitava os seus
dedos, ao passo que a mão livre beliscava o próprio pulso.
Eu sabia que era outra crise acontecendo, mas ela sempre saía
de casa para não assustar ninguém. Ela queria esconder suas dores
de todos eles, até mesmo de Dytto... principalmente de Dytto.
Loren havia criado uma maneira própria de camuflar suas
aflições aos olhos de sua família, e a executava com perfeição. Fez
isso como forma de mecanismo de defesa, e pode-se dizer que deu
certo.
Seus pais eram ocupados demais para darem o devido afeto e a
atenção que a filha precisava. Sua irmã, no entanto, parecia certa de
que Loren lhe contaria se algo a ocorresse, então acreditava
fielmente que o seu jeito desnaturado era apenas uma rebeldia da
idade.
Estacionei o carro ao seu lado, mas nem mesmo o som do motor
ou os faróis acesos sobre ela a fizeram acordar daquele pesadelo.
Inerte, ela sequer notava qualquer coisa em seu entorno. Presa em
seu sofrimento, os olhos assustados estagnaram-se na paisagem
alheia.
Minha natural reação teria sido recuar e voltar em um outro
momento, quando não estivesse mais aqui. Eu provavelmente
chegaria atrasado ao compromisso marcado com Dytto, porém, não
teria que passar por Loren e fingir que ela não estava se torturando.
Suspirei, girando a chave na ignição.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu tinha que fazer aquilo.


No instante que desci do automóvel, fui agraciado pelos berros
estraçalhados providos de sua casa. Ao que parece, papai e mamãe
Bell haviam chegado, no entanto, a farsa do casamento perfeito
tinha se encerrado.
Ambos gritavam um com o outro como dois animais atrás
daquelas paredes chiques nas quais escondiam seus fracassos.
Evitei deslocar a minha atenção para eles e caminhei em sua
direção. Somente quando eu já estava perante os seus olhos que ela
despertou.
Franzi as sobrancelhas e apontei com o queixo para o cigarro
que ela segurava, desviando os olhos do seu pulso rasgado por suas
unhas.
— Preciso de uma tragada se vou ser obrigado a esperar a sua
linda irmãzinha ao seu lado, com esse teatro de " O Corno e a Vadia"
como fundo sonoro.
Seu rosto travou, como se precisasse de um segundo antes de
conseguir retomar às suas funções. Ela arregalou os olhos, e então
piscou repetidas vezes, de modo que parecia acordar de um sonho,
observou em volta e então retornou o olhar para mim.
— O quê? — indagou, confusa.
Em resposta, bufei impaciente.
Sentei-me ao seu lado na calçada. Não dei-lhe tempo para
conversas. Arranquei o cigarro pouco tragado de sua mão e o levei a
boca.
— Quanto tempo até a Dytto sair? — perguntei.
Ela pigarreou, esfregando suas mãos no rosto.
— Talvez dez ou quinze minutos... Eu sei lá — sua voz estava
rouca. Ela balançou cabeça, frustrada. — Devolve o meu cigarro —
implicou, irritada, pegando-o de volta.
— Porra... — murmurei, inquieto.
— Se a minha presença é tão desconfortável a você, espera na
droga do carro, Christopher. Dytto não vai te amar mais se você
fingir que me tolera — retrucou, indignada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu sei que não. Mas ela gosta dos mocinhos, então tô me


comportando. — Balancei os ombros.
— Não vai receber um troféu de honra por estar aqui.
Sorri de canto.
— Vem cá, não devia estar fazendo nada de mais interessante
não?
— Tipo o quê? Ficar lá dentro ouvindo aqueles dois idiotas
gritarem um com o outro? Não, valeu — debateu, com um expressão
desgostosa.
— O que é, não tem mais amigos? — provoquei.
— Eu tenho amigos, Chris. Eu só não tô a fim de sair.
— Sei.
— Eu tenho amigos, sim. O que te faz pensar que não? —
irritou-se.
— O fato de você ter transado com o namorado da sua melhor
amiga meio que contribui um pouco pra ninguém querer ficar perto
— roubei o seu cigarro de volta.
Seu semblante caiu por terra. Notei quando um nó sufocou sua
garganta e as lágrimas contidas preencheram os seus olhos. Loren
tomou o cigarro de mim e o levou aos lábios, dando uma longa
tragada para sufocar o choro. Ela virou o seu rosto, deixando que o
cabelo o cobrisse.
Ok. Talvez eu tenha pegado um pouco pesado.
Suspirei irritado, querendo socar a mim mesmo. Não por tê-la
magoado, mas por saber que teria que a consolar. Eu normalmente
nunca faria isso, porém, sua irmã era a minha namorada, e eu
precisava que Dytto tivesse algo pelo qual acreditar em mim.
— Merda, Loren — cochichei, pesaroso — Me conta o que está
acontecendo.
— Não há nada acontecendo — ela se esforçava ao dizer para
que não caísse no choro enquanto o fazia.
— Você não costuma ser tão sensível assim.
— Não finja que se importa, Christopher. Eu te conheço. Não faz
isso. Não precisamos disso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É por causa do que eles fizeram com você? — questionei,


direto.
Sua cabeça se moveu bem lentamente em minha direção. Suas
sobrancelhas estavam franzidas e os olhos carregados em surpresa.
Os lábios entreabertos denunciavam o seu choque.
— Você sabe? — arfou, atônita. Parecia querer morrer naquele
instante.
— Sim, eu sei. Desde um pouco depois do ocorrido — admiti.
— Q-quem contou? — sua voz tremeu chorosa enquanto uma
lágrima solitária desabava em sua bochecha.
— Os ouvi conversando na floresta. Estavam se gabando pelo
vídeo que fizeram.
Sua respiração trepidou. Rapidamente Loren sufocou os lábios,
mudando a direção de seu olhar sem um rumo definido. Estava
perdida.
— Você sabia o tempo todo — murmurou para si, em assombro.
Toquei o seu ombro, em uma genuína tentativa de consolo. Eu
não era muito bom com isso, mas me esforcei.
— Todo esse tempo, achei que ninguém soubesse — lamentou,
sôfrega.
— Acredito que só eu, além deles quatro, saiba.
— Foi por isso que nunca me quis — afirmou com convicção. —
Tinha nojo de mim? — sussurrou receosa, à espera de minha
resposta, pois ela sabia que seria sincera.
Frisei a testa. Eu não achei que esta seria a conclusão ao saber
que eu tinha conhecimento de seu segredo ao qual ela lutava tanto
para esconder.
— Nunca te quis, porque nunca senti atração por você —
esclareci — Isso não tem nada a ver com o que te fizeram.
Ela me olhou, o rosto banhado em lágrimas.
— Como não? — discordou. — Você assistiu o que eles fizeram
comigo. Viu a forma que eles se aproveitaram do fato de eu estar
bêbada. — Ela soluçava ao dizer. — Deve ter me achado suja e
deplorável.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu nunca vi o vídeo. — Ergui a sobrancelha. — E eu nunca te


vi dessa maneira. — Respirei fundo. — Não sou piedoso, Loren. Não
sou empático e nem sentimentalista, mas não etiqueto ninguém.
— Sente pena de mim?
Balancei a cabeça.
— Não. Não sinto nada em relação a você — fui franco. Seus
ombros relaxaram.
Ela assentiu.
— Ótimo! — declarou, mais fria desta vez.
Ela soltou o cigarro no chão e o esmagou com a bota.
— Mas não acho justo o que aconteceu — acrescentei. — Não
sou bom, e nem espero coisas boas de ninguém. Só que... eu fui
atrás.
Ela uniu as sobrancelhas, intrigada.
— Queimei a câmera com o vídeo e os fiz machucarem um ao
outro por diversão. — Intensifiquei o meu aperto em seu ombro. —
Eles se mutilaram para sobreviver. — Levei meus dedos para o seu
queixo e ergui o seu rosto, para que ela se sentisse acima da
situação e melhor do que qualquer um deles. — Aprecio que você
tenha se tornado tão má com tudo isso, Loren. Gosto de como se
tornou. Agora pare. Pare de se torturar por causa deles.
— Se livrou do vídeo? — Seus olhos se arregalaram quando se
deram conta e inundaram-se em gratidão.
— Sim.
Ela mordeu o lábio trêmulo.
— Obrigada — murmurou, aliviada. Parte da pressão em seu
peito se desfez, como se um elefante desmontasse de cima dela.
Loren parecia finalmente respirar novamente após anos.
Por educação, sorri bem brevemente e a livrei de meu toque.
Ela tentava limpar as lágrimas correntes em seu rosto, mas
pareciam minar a cada segundo mais. A emoção de estar livre a
abraçava com maravilha.
— Eu achei... Por todo esse tempo, eu achei que poderia acabar
encontrando esse vídeo em algum site a qualquer momento. — Ela

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

sorria ao desabafar. — Mas ele não existe mais. — Loren ergueu sua
cabeça ao céu. — Ele não existe mais. — Chorava feliz.
Eu, do contrário, me sentia estranho em estar exposto a uma
situação adversa as que eu geralmente causava. Eu não era o
mocinho, não fazia ninguém feliz. Não sentia picos de felicidade ao
vê-la assim, tampouco sentia-me melhor ou grato. Era só...
desconfortável. Não havia nascido para tornar o mundo das pessoas
melhor.
— Certo. Espero que isso te faça ser menos rabugenta — tentei
descontrair.
Preferia quando estávamos brigando.
— Disse que fez com que eles se mutilassem para sobreviver. —
Ela me olhou, confusa. — O que aconteceu depois?
Agora eu senti picos de alegria. Felicidade real. Euforia corria em
minhas veias.
— Nunca mais ninguém os viu, não é? — comentei de forma
alusiva.
Loren manteve-se concentrada no que eu dizia. Sabíamos o que
eu havia cometido, mas não dissemos mais nada.
Ela voltou a olhar para a rua, pensativa.
— Eu faria qualquer coisa para ter visto isso — soltou, baixinho.
Meu celular vibrou no bolso da calça e rapidamente o peguei, já
sabendo de quem se tratava.
— Dytto está vindo — alertei-a.
— Merda. — Ela saltou do chão. — Eu vou indo antes que ela me
veja assim — disse, enxugando o rosto inchado de choro.
— Beleza. Cai fora.
Ela sorriu. Os olhos brilhavam.
— Até mais, Slenderaman pirocudo.
Revirei os olhos. Porra de apelido.
— Só mais uma coisa — pontuei, chamando a sua atenção. —
Sei que você e a Amara curtem colar velcro, mas me faça o favor de
visitar ela logo. Eu não aguento mais aquela folgada me falando do
quanto foi bom foder você.
Seu rosto inteiro enrubesceu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Diga a ela que aquilo foi um erro.


— Diz você, eu não sou papagaio — retruquei, rude.
— Seus momentos de tolerância duram bem pouco, não é, cara?
Umedeci os lábios e balancei os ombros. Loren me deu as costas
e saiu com passos apressados.
Um segundo depois e Dytto passou pelo portão de sua casa.
— O que estavam fazendo? — estranhou, mudando seu olhar
entre mim e Loren na calçada do outro lado da rua, indo embora
bem rapidamente.
— Brigando. Sua irmã é insuportável.
Ela balançou a cabeça.
— Vocês dois são como cão e gato.
Eu sorri.
— Por você, eu deixo que ela saía ilesa de todas as nossas
brigas.
— Não está sendo honesto, você deixa a sua irmã bater na
minha — argumentou, bem-humorada.
Levantei-me da calçada, caminhando em direção a linda garota a
minha frente. Vestida em um vestido azul-claro com um casaco
marrom felpudo sobre ele.
— Não é a mesma coisa — rebati, descendo os olhos por toda
ela com satisfação.
Tão linda. Tão minha.
— Você indiretamente a fere.
Suspirei.
— Vem logo aqui. Eu preciso que você me recompense antes de
eu fazer o que estamos prestes a fazer.
Ela riu.
— Eu vou. Assim que a minha ginecologista deixar. Mas por
enquanto, somente beijos e abraços.
Fiz careta.
— Ew.
— Eu sinto tanta falta quanto você, Diabão. Mas você esqueceu
que eu sou uma humana, e agora eu preciso de remendo em um
lugar bem particular e a culpa é sua.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Puxei-a pela cintura e a beijei. Deixei que todos os meus receios


e preocupações diante ao nosso destino junto se destilassem por um
momento e me afoguei nela.
Eu a queria e me esforçaria para tê-la em segurança. Isso
deveria bastar, ou então, eu enlouqueceria.
— Eu amo você — sussurrei, os lábios colados nos seus.
— Eu também te amo. — Senti-a sorrir.
Fechei os olhos e a apertei em meus braços.
Isso estava me matando. Ver para onde caminhávamos, estava
me matando.
— Queria poder te guardar somente para mim — cochichei em
seu ouvido.
— Imagino que este seja o seu plano desde sempre — brincou,
rindo.
Tentei sorrir, mas soou forçado.
— É. É o meu plano, Dingo Bells.
Ela ergueu o seu rosto para mim.
— Está pronto para ser maquiado por mim? — ela reluzia
felicidade.
— Nem um pouco.
Dytto se colocou na ponta dos pés e beijou o meu queixo.
— Pois devia. Vou te deixar uma gatinha.
— Vamos logo.
Enquanto eu a levava para o carro, Dytto pulava na ponta dos
pés como uma criança arteira.
O que eu não fazia por ela?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

18 de Junho | Terça

Seus olhos lacrimejavam toda vez que eu — acidentalmente —


os furava com o pincel de maquiagem.
Christopher não reclamava, mas era nítido o seu desconforto
toda vez que acontecia, porque apertava as pálpebras e respirava
fundo. Ele mantinha-se parado, mesmo que soubesse que eu
acabaria fazendo novamente.
Repetindo: POR ACIDENTE.
A missão mais difícil naquele momento foi conter a gargalhada
presa em minha garganta.
Eu sentia vontade de berrar aos risos, mas Christopher estava
tão concentrado em apenas ser o meu modelo, que me esforcei para
terminar o que eu fazia.
Estávamos na sala de teatro da escola. Cada participante do
concurso havia ganhado uma mesa de maquiagem. Alguns

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

professores se dispersaram no ambiente para supervisionarem.


Poucas pessoas permaneciam na sala, já que havia outros
campeonatos bem mais interessantes no ginásio.
A mínima plateia, no entanto, mantinha os olhos vidrados
naquele grande homem sendo pintado por uma garota como se
fosse uma boneca.
Todos os outros participantes eram mulheres, apenas
Christopher, o único homem, se dispôs a fazer parte do time, não por
escolha própria, óbvio, mas acho que ele queria muito me ver em
uma calcinha bonita. Apesar de que seria apenas isso ao que teria
direito, por um tempo, até que pudéssemos fazer sexo novamente.
Seus olhos já estavam finalizados. Pintei-os de um tom azul, e
esfumei o côncavo com tons mais escuros da paleta. No início dos
olhos, adicionei um brilho discreto, que se mesclou ao azul do meio
para o final de sua pálpebra. Passei lápis preto nas bordas do seu
olho, misturando-o em tons médios de azul, abaixo de sua linha
d'água. Fiz delineados quase parecidos em cada lado.
Em todo o processo, devo ter enfiado o pincel umas cinco ou
seis vezes dentro do seu globo ocular, e mais outras três vezes com
o pincel do rímel.
Christopher já havia desistido de não ser alfinetado, então
apenas me permitia massacrá-lo naquela cadeira. Por um momento,
senti pena, até me lembrar de que meu útero estava bem mais
destruído do que seu olho.
Preparei a pele com tons mais frios e finalizei passando um gloss
em seus lábios.
Eu era mesmo muito boa nisso. Só não tinha a menor
coordenação motora.
— Estou bonito, Dingo Bells? — perguntou, de olhos fechados.
Por precaução, imagino.
Acho que ele ainda esperava o momento em que eu o cegaria.
— Está linda, Christina. — Sorri, satisfeita.
Ele tocou a minha coxa, mas imediatamente o afastei.
— Não pode apalpar a maquiadora — adverti, varrendo o lugar
para ter certeza de que nenhum professor nos viu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ainda éramos falados por aqui. A maioria dos alunos possuíam


consciência de que formávamos um casal. Existia um boato ou outro
que nosso relacionamento começou quando ele ainda era o
estagiário. Bom, não era exatamente um boato, mas ninguém
poderia provar que se iniciou ali.
Eu nem sei exatamente quando viramos um casal, já que para
Christopher, aparentemente, eu sempre pertenci a ele.
A Torre Tatuada fez careta.
— Você é a minha namorada — protestou.
— No momento eu sou só a sua maquiadora. Agora fique quieto,
irei passar o iluminador.
Ele suspirou, cansado.
— Tenho que ir rápido, o tempo está acabando — avisei,
encarando o cronômetro. — Droga, não vou ter tempo para os cílios
postiços.
— Ah, que ótimo! Assim não vai poder grudar os meus olhos
também.
— Se continuar reclamando, irei grudar a sua boca — cochichei,
séria.
— Grossa! — cochichou de volta.
— Shiii. Eu vou fazer você comer pó, hein.
Christopher abriu um dos olhos.
— Me lembre de nunca deixar você se tornar maquiadora.
— Não me irrita. Eu não sei trabalhar sob pressão.
Ele sorriu, mas se manteve quieto.
Quando o alerta foi dado e o júri decretou o fim do concurso,
não pude mais tocar no meu modelo gostoso e tatuado. Larguei as
maquiagens na mesa e recuei um passo.
Dois avaliadores passavam em cada dupla de um por um,
verificando cada maquiagem feita, ao todo, éramos cinco
concorrentes.
Eu me sentia em um daqueles programas de TV. Minha barriga
doía de ansiedade, mas acho que não os impressionei tanto quanto
desejava, pois mantiveram a expressão imparcial todo o tempo em
que passaram encarando o meu namorado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher tentou roubar, jogando uma piscadela para a


avaliadora, eu teria o criticado, se eu não estivesse tão doida pelo
prêmio.
Sobre o prêmio, eu menti para ele quando disse que valeria
nota. O prêmio era, na verdade, uma camiseta autografada pelo
Zayn Malik e trezentas pratas.
Eu tinha uma queda por ele desde muito tempo, mas acho que
meu namorado não ficaria tão satisfeito assim se soubesse que eu o
maquiei apenas para ganhar algo de outro homem.
— Acho que não temos chance. — Fiz beiço, observando os
avaliadores unirem-se.
— Se você quiser, eu posso...
— Não! — o interrompi. — Quero vencer de maneira limpa.
— Bobagem. — Ele revirou os olhos.
Por mais decorado que Christopher estivesse, ainda mantinha
aquele olhar potente em seu rosto másculo. Eu poderia dizer que
estava ainda mais apaixonada ao vê-lo assim.
— Você todo maquiado assim, é uma gracinha — comentei,
abobalhada.
— Eu preciso me ver — pediu.
Busquei pelo espelho de mão sobre a mesa e lhe entreguei.
Christopher avaliou a si próprio minuciosamente. Fiquei meio tensa
quando notei que ele realmente analisava detalhe por detalhe.
— Não gostou? — perguntei, desanimada. Ele estava se
encarando a tempo demais.
Christopher sorriu para mim.
— Desculpe, amor. Eu estava tentando enxergar, meus olhos
ainda estão cheios de maquiagem. — Ele balançou as sobrancelhas.
— Você é fera! — disse, admirado.
Minhas bochechas esquentaram. Juntei as mãos e encolhi os
ombros.
— É, eu sei. — Sorri, convencida.
Bom, foi um momento legal. Mas em resumo, nós não vencemos
o concurso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher fez menção em roubar o prêmio, mas o adverti,


dizendo estar tudo bem. Ele ainda insistiu, mas quando lhe contei o
que era, pareceu convencido com a minha derrota.
Depois de todo o meu trabalho, fotografei-o ao máximo que
pude. Gostaria de ter lembranças da minha maquiagem antes dele
lavar tudo aquilo.
Passamos pelo menos meia hora para Christopher se livrar da
maquiagem. Seus olhos ainda possuíam resquícios de lápis de olho
quando terminamos, mas ele já não tinha mais paciência para
remover.
Eu ainda não queria voltar para casa. A manhã inteira havia sido
regada de brigas pelos meus pais. Estavam infelizes, por isso haviam
viajado anteriormente, mas desde que retornaram, pareciam ainda
pior.
Queria me distrair antes de voltar para aquele tornado sem fim.
Qualquer mínima coisa era motivo para eles dois iniciarem outra
discussão que só terminaria horas depois.
Christopher e eu andamos por toda a escola, acompanhando
campeonato por campeonato. Foi estranho ter tantos olhares
curiosos sobre nós dois, mas era inegável que estávamos juntos,
então não vi motivo para nos escondermos.
Meu coração murchou um pouco quando um único olhar nos
encontrou.
Luc.
Ele acenou de longe e gentilmente sorriu, embora seu rosto
demonstrasse aflição ao nos ver juntos. Christopher pouco se
importou, não curtia drama adolescente, então apenas seguiu
caminho. Sempre indiferente a tudo.
Eu o respondi com um outro aceno, porém durou pouco antes
de sua atenção ser roubada por uma garota que o cumprimentava.
Esperava verdadeiramente que estivesse feliz e que se apaixonasse
por alguém o mais rápido possível.
Odiava isso tudo. Éramos grandes amigos, porém, agora,
parecíamos apenas estranhos que se cumprimentavam de longe.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Busquei olhar para Christopher. Não ia deixar que meus


sentimentos estragassem o dia.
Foi somente quando a escola já estava fechando que Christopher
e eu saímos em busca de um outro caminho. Ele sabia como eu me
sentia em relação aos meus pais, então não tocou no assunto.
Não pegamos o carro, decidimos dar uma caminhada pela
cidade.
Sua mão quente aquecia a minha. Ele a segurava firmemente,
mantendo-me sempre perto do seu majestoso corpo. Ambos
mergulhados num completo silêncio conforme andávamos com
passadas alheias nas ruas de pedra de Vespeau, no entanto, sentia-
me absolutamente confortável.
Desfrutávamos da companhia um do outro como se
estivéssemos em um primeiro encontro. Nossos corpos às vezes
colidiam sem querer, e às vezes, eu fazia de propósito, apenas para
o sentir mais perto. Sentia-me como uma boba apaixonada ao seu
lado, estava alegre com o nosso dia juntos.
A noite estava gélida, carregando consigo uma brisa que me
fazia encolher no casaco. O céu fora tingido por um vermelho vivo. O
barulho dos trovões estrondava entre as nuvens carregadas.
A ponta dos meus dedos e nariz haviam adormecido com o frio.
Supus que voltaríamos para casa antes do anoitecer e desconsiderei
meia calça ao sair. Agora, meus pelos se eriçavam e meus dentes
rangiam um no outro.
Meus lábios estavam letárgicos. Eu usava o meu cabelo como
um tipo de cachecol ao redor do pescoço, era o máximo que havia
conseguido para me esquentar.
Passávamos por um beco — que dava acesso a outra rua —,
quando Christopher sorriu e me apanhou pela cintura, segurando-a
com a sua enorme mão. Seus olhos traquinas e brincalhões
prenderam-me de um jeito que me fez sorrir.
Ele deu passos em minha direção, guiando-me a andar para trás
até que estivesse encurralada entre ele e a parede de roxas.
— Está tão linda — murmurou, aproximando o seu rosto do
meu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Estou, é? — Alarguei o sorriso.


— Quis te dizer isso o dia inteiro — confessou, tocando os lábios
nos meus.
Christopher depositou um beijo apaixonado, lento e modesto.
Sua língua adentrou a minha boca para envolver-se com a minha. A
intensidade do seu beijo fez com que meu coração disparasse e meu
corpo aquecesse.
Envolvi os braços em seu pescoço e ele cuidadosamente
envolveu os seus envolta do meu corpo, erguendo-me do chão.
Sua urgente necessidade por mim fez com que nossos lábios
passassem longos minutos saboreando um ao outro, como uma
exigência.
Meus dedos enroscaram-se em seu cabelo negro. Fiz questão de
pressionar seu rosto contra o meu. Estava sedenta pelo seu amor.
Buscava fôlego em seu beijo e abrigo no seu abraço.
Embora eu ainda o quisesse por muito mais tempo, suas ações
finalizaram-se cedo demais. Ele se afastou de repente, possuía um
olhar completamente diferente do meu, que era, portanto,
apaixonado e desejoso, enquanto no seu, residia desconfiança e
incredulidade.
Suas sobrancelhas grossas estavam frisadas e os olhos verdes
possuíam descrença. Via o ódio consumindo cada traço seu,
roubando todo o bom humor que existia em sua face há segundos.
Num rápido gesto, Christopher devolveu-me ao chão e girou os
calcanhares. Notei que sua próxima ação seria partir para cima de
quem quer que tivesse o tirado do sério, por isso, segurei o seu
braço com o máximo de força, até que eu tivesse o panorama
completo da situação.
No segundo em que tive o vislumbre da razão de seu
descontrole, intervi como pude, e agarrei-me à sua cintura.
— CHRISTOPHER, NÃO! — o grito rasgou desesperado de minha
garganta.
Ele estagnou os passos, tentava me arrancar dele, mas isso só
me fazia o apertá-lo ainda mais.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A risada do seu adversário estourou no beco em que nós nos


situávamos. Sabia que ele estava ali apenas para provocar um
conflito, e isso não acabaria bem.
— Chris, por favor, não. Eu tô pedindo — supliquei, abraçada a
ele.
— Dytto, me solta — sussurrou entredentes.
— Por favor, Chris. — Tentei tocar o seu rosto, mas ele se
esquivou. — É isso o que ele quer. Você sabe que é isso o que ele
quer.
— Eu quero? — Nabrya questionou, irônico.
— Se não é o que quer, então por que droga está aqui? —
esbravejei.
Ele curvou o canto dos lábios. Seu corpo estava deliberadamente
repousado no canto da parede de pedras.
Suas mãos mantinham-se nos bolsos de seu jeans. A blusa
branca e larga balançava ao vento, no entanto, parecia indiferente
ao frio, bem como Christopher.
— Seu namorado e eu temos assuntos pendentes. Negócios —
esclareceu, com certo atrevimento.
— Em um outro lug... — Christopher dizia.
— Que tipo de negócios? — me envolvi.
Nabrya intrigou-se e Christopher me lançou um olhar furioso.
— Seu namorado não te conta muitas coisas, não é?
Soltei a cintura de Christopher.
— Mas você sabe de muita coisa, não sabe? — afrontei-o.
— Dytto! — a voz de Christopher soava como um alerta
agressivo.
Se isso o incomodava, quer dizer que eu estava a um passo da
verdade.
Nabrya nos entreolhava, curioso.
— Seu namorado é um grande trapaceiro, querida. Ele acha que
pode jogar o jogo de dois reis sem ser eliminado do tabuleiro. Mas
esquece que é descartável para ambos.
— Adoraria se não fosse tão enigmático. — A pressão no meu
braço me fez sobressaltar em um susto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher pressionava sua mão em mim. Os olhos fincados nos


meus ardendo em raiva.
— O que te assusta mais, Christopher? — Nabrya murmurou,
maldoso. — Ela saber a verdade sobre você... Ou sobre ela?
Franzi o cenho.
— Christopher, me solta — pedi, tentando escapar, mas já era
tarde.
Ele não iria me deixar ouvir, tampouco me soltaria. Sentia que
este, talvez, fosse o momento sobre o qual ele tanto me ameaçava.
Christopher não queria que eu descobrisse nada sobre ele, e fazia
questão de me prometer o pior sempre que eu estava perto.
— Vamos para casa — pedi. — Podemos resolver isso de outro
jeito.
— Você é muito bom é coagi-la — Nabrya comentou, risonho. —
Mantê-la na coleira é o único jeito dela te amar. — Ele riu. — Tão
sujo.
— Desgraçado — Chris rosnou.
— Devia ter me obedecido — o samurai sussurrou, ameaçador.
— Pelo que eu soube, sua viagem não foi muito bem-sucedida.
Recuei um passo, mas Christopher novamente me puxou para
mais perto.
— Vamos, Chris. Por favor. Eu estou com frio — implorei.
— Não tenha medo, Dytto. Christopher não vai te matar —
Nabrya disse encarando-o. — Ele jamais seria capaz disso, mesmo
que a odiasse com todas as forças. Mesmo que precisasse muito
fazer isso.
— Não — Christopher concordou — Eu jamais a mataria. Mas
você... — Ele sorriu, apontando para o demônio à sua frente. —
Terei o prazer de arrancar a sua cabeça.
— Por um segundo... — Nabrya gesticulou um pequeno espaço
entre o dedão e o indicador. — Eu pensei mesmo que seria capaz de
ir contra o seu pai. — Ele balançou a cabeça, decepcionado. — Mas
ainda está aqui, querendo me matar a mando dele.
Christopher soltou uma risada incrédula.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Acha que eu vou te matar por causa dele? — Riu outra vez. —
Você acha mesmo que eu preciso de você ou do meu pai? — Ele
curvou o canto dos lábios. — Sou melhor do que vocês dois. Sou pior
do que vocês dois. A única coisa que me impede de destruir tudo...
— Ele parou por um segundo, suspirando firme. E então, seus olhos
vieram para os meus. — Vocês dois sabem que é ela, e é por isso
que estão tão desesperados.
Meus olhos naturalmente se arregalaram diante de sua
confissão.
Eu era o que impedia Christopher? Eu?
— Se a ama tanto assim, por que nunca contou o que o seu pai
está tramando contra ela? — Nabrya soltou em revolta. — Ou, até
mesmo, contra a família inteira dela?
Juntei as sobrancelhas.
— Christopher — chamei-o em desespero. — O que seu pai está
fazendo?
Ele fechou os olhos com força.
— E não me diga que isso não é da minha conta — apressei-me
em dizer. — Eu juro, Christopher... — Apertei os dentes um contra o
outro, sem conseguir terminar.
— O seu adorável sogro quer te destruir, Dytto. É isso que o seu
covarde namorado não quer contar — Nabrya novamente se
intrometeu. — Ele está brincando com a sua família. Um por um. E
se vocês não terminarem o que tem, não vai demorar muito a ter um
túmulo da família Bell por aqui.
Meu coração batia como um louco no peito. Minha garganta
secou e minhas pernas tremularam.
— N-não.
Christopher não se movia, mantinha-se completamente imóvel,
sem nunca soltar-me dele, como se eu fosse fugir a qualquer
instante.
Eu não sabia o que sentir. Doía. Tudo doía.
Todo esse tempo existia uma chance real de algo ruim acontecer
a minha família, mas, por egoísmo, Christopher nunca me contou.
Nunca me deixou ir embora.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Por puro egoísmo.


— Você nunca ia me contar, não é? — a mágoa era evidente em
minha voz.
Nabrya aproximou-se um pouco mais, prestes a jogar mais
segredos sobre nós dois.
— Além do mais... — continuou, entretanto, ele não finalizou o
que dizia, pois foi abruptamente interrompido pelo ruído sonoro de
um suave e agudo violino tocando em meio a escuridão. Isso fez
com que o Samurai risse alto. — Bem na hora! — alegrou-se.
— O violinista. — Christopher se deu conta de alguém que
parecia conhecer. — Que porra é essa, Nabrya? — rugiu.
Ambos pareciam saber exatamente do que aquilo se tratava,
enquanto eu, permanecia no vazio, atolada em dúvidas e confusões.
— O que está acontecendo? — Meus olhos buscavam o local de
onde aquele melancólico som provinha, mas parecia vir de todos os
lados e lugar nenhum.
— Ah, este? — Nabrya pontuou. — É só um dos filhos de
Christopher.
Franzi a testa
— Quantos irmãos a mais você tem? — rechacei.
— Não, não. — O homem alto e perverso novamente se meteu.
— Não Christopher o pai dele. Mas o seu Christopher.
Me espantei.
— Dytto, não é assim que você está pensando — meu namorado
se pôs a tentar explicar, mas Nabrya continuava a me bombardear.
— Bom, esse não é o único filho. E veio diretamente do inferno
para fazer uma visitinha a vocês dois.
— Do inferno? — apavorei-me.
— Dytto. — Christopher segurou o meu rosto com ambas as
mãos. — Se acalma, está bem?
— Quantos filhos mais você tem? — berrei.
— Uns 17 — Nabrya respondeu sorrindo.
— 17? — explodi.
— Dytto, eu... — Chris ainda tentava dizer algo, mas o seu arqui-
inimigo não lhe dava tempo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Milhões — o Samurai acrescentou.


— Cala a porra da boca, Nabrya — Christopher se enfureceu,
partindo para cima do demônio ao seu lado.
No mesmo instante, um barulho agudo e desafinado estilhaçou
em meus ouvidos, fazendo-me gritar.
O ruído parecia urrar dentro da minha cabeça. Cobri os meus
ouvidos e joguei-me de joelhos no chão, desorientada. O estrondo
feria os meus ouvidos. Tive a sensação de que meu cérebro
explodiria. Porém, durou pouco e, de repente, o zumbido cessou.
Christopher já estava de joelhos à minha frente. Os olhos
agitados em preocupação.
— Ei. Está tudo bem? — Ele tocava o meu rosto. Afastou a
minha mão e checou os meus ouvidos.
Minha cabeça rodopiava, enquanto um eco preenchia os meus
tímpanos. Sua voz me era distante e minha visão estava embaçada.
— Porra! — Ele encarava a sua mão ensanguentada.
— O-o quê? — Eu o olhava confusa.
— Nabrya — explicou. — Ele olhou sobre os ombros, mas já
estávamos sozinhos.
A melodia do violino sumira também. Não havia mais ninguém
ali.
— Chris... — Respirei fundo, estava assustada e perdida.
Ele encaixou o seu dedo em meu queixo.
— Vamos resolver isso. Agora se levante, temos que ir.
— Quem era... Quem era?
— O quê? — Ele balançou a cabeça, apressado. — Vamos, Dytto
— chamou, impaciente.
— O som. O que era aquela coisa? O som na minha cabeça.
Você também ouviu?
Ele suspirou.
— Dytto, Nabrya está colocando meus filhos contra você.
— Filhos? — a palavra ainda era irreal em minha cabeça.
— Eu tenho proles em todo o Nefarious, amor. Nós demônios
não nos reproduzimos como os humanos. A minha presença no
inferno basta para que um novo demônio seja criado. — Ele afagava

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

o meu rosto ao me explicar. — Agora eles são vários, e me querem


no comando. Precisam de mim, por isso querem te afastar.
— Ele tentou me matar?
— Não, amor. Ele mandou um aviso. Nenhum deles tem
permissão para tocar em você.
Christopher beijou o meu rosto.
— Vamos. Nabrya está nos rondando sem parar. — Ele ergueu-
me do chão.
Eu não sei o que aconteceu depois. Minha mente fora tomada
pela escuridão. Desmaiei no segundo em que fui colocada de pé.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

18 de Junho | Terça

Pouco a pouco, eu recobrava a consciência. Minha cabeça


latejava impiedosamente e um zunido baixo incomodava os meus
ouvidos.
Christopher me tinha em seu colo, no banco do motorista do seu
carro. O aquecedor estava ligado, mantendo o ambiente agradável.
Sua mão gentilmente afagava a minha face, seus olhos me
observavam, carregados de preocupação. Assim que notou que eu
despertara, respirou fundo, aparentemente aliviado.
— Você está bem? — questionou, num volume mais suave.
Pisquei algumas vezes, sentia a garganta seca.
— Eu não sei — cochichei, ainda com dificuldade em manter os
olhos abertos.
Tentei esticar o corpo, mas eu estava enrolada por cobertores.
Não sabia como Christopher tinha os arranjado, mas busquei não

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

pensar nisso.
Fiz um grande esforço para me sentar, ele me ajudou, atento.
— Você quer algo? — Ele afastava mechas do meu cabelo para
trás.
Balancei a cabeça.
— Que horas são? — indaguei, aturdida. Estava escuro lá fora.
Já não estávamos mais estacionados no estacionamento da
escola. Porém, diante dos portões da minha casa.
— São um pouco mais de 9 horas. Ficou desacordada por um
tempinho — explicou. — Te trouxe para cá, mas não queria te levar
para dentro nessas condições. Sua irmã acha que estamos apenas
namorando aqui na frente.
Enquanto ele falava, minha mente insistia em resgatar as minhas
memórias mais recentes. Tudo ainda parecia meio irreal e estranho.
Os rápidos lapsos avançavam em flashs. As vozes se misturavam em
meio às recordações.
Franzi as sobrancelhas.
— Seus pais ainda não se deram conta de que estamos aqu...
— Você tem dezessete milhões de filhos ou eu estou delirando?
— disparei, de repente.
Christopher calou-se, seu rosto inteiro ficou sério.
— Não são filhos, exatamente. — Ele suspirou. — São frutos do
mal. São... aberrações. — Balançou a cabeça. — Eles se formaram
com a minha presença em Nefarious, não foram gerados por
mulheres, está bem? Isso não é culpa minha.
— Está me dizendo que o inferno é o quê? Um útero? — me
intriguei
Ele balançou os ombros.
Me senti desconfiada, pois nunca antes ele havia tocado no
assunto. Mas, para falar a verdade, ele nunca antes tocou em muitos
assuntos.
— É um modo de se ver. Talvez. — Ergueu a sobrancelha. —
Para de me olhar assim. Eu não transei com nenhuma mulher.
Semicerrei os olhos.
— Eles simplesmente brotam? Assim... do chão? — suspeitei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Dingo, eu sou um demônio. A minha alma cultiva sementes


em Nefarious. Demônios surgem. Não são flores, não brotam do
chão. A minha aura os cria.
— Se os cria, então são seus filhos — argumentei. — Você tem
dezessete milhões de crianças para cuidar? É isso? — disse,
incrédula.
— Pelo amor de Christto. Não são crianças — protestou,
indignado. — São demônios. Estão espalhados por todas as partes,
eu não cuido de ninguém. Asafe sim é o meu filho. Minha
responsabilidade. Minha criança. Aqueles demônios, não. Eles são
meus servos. São devotos a mim, porque eu os criei e reconhecem
isso.
— Então o que era aquela coisa no beco? — irritei-me.
Ele passeou o olhar pelo carro, suspirando firmemente.
— O violinista. Você foi um dano colateral. Não devia ter
acontecido aquilo.
— Ah, claro. Amanhã vou dar de cara com quem? O flautista, o
pianista, ou o bailarino? — esbravejei. — Com sorte, talvez eu só
encontre o Nabrya.
— Não. Claro que não! — ele aumentou o tom de voz. — Eles
não estão aqui para te matar, estão aqui por minha causa. Isso não
tem nada a ver com você.
Me mexi entre os lençóis e arrastei-me até o banco do
passageiro.
Estava furiosa.
Christopher havia escondido coisas demais. Importantes. Que
deviam ser ditas. Mas ainda assim, ele não planejava me contar
nada.
— Nabrya quer nos atingir. Eu não cumpri com o nosso acordo e
agora ele está tentando atacar — explicava apressado. — O
violinista, Melodius, não tinha planos para atacar você. Nabrya
entrou na mente dele, e assim que ele se deu conta do que havia
feito com você, foi embora.
Balancei a cabeça, incrédula.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Vem cá, quantos demônios mais vão vir atrás de mim e da


minha família? — vociferei. — Quantas mais vezes eu vou ter que
lidar com isso até você perceber que essa situação é culpa da sua
arrogância. — Ergui o queixo. — Tudo isso é culpa sua.
Ele me encarava cético. Os olhos não se moviam, haviam
paralisado sobre mim numa fúria descomunal. Embora seu corpo
inteiro parecesse estar sob ataque, ele não reagiu.
— Está me prendendo a este relacionamento porque está
obcecado por mim, e não porque me ama. Porque se me amasse,
me deixaria livre de tudo isso. As pessoas que eu amo correm
perigo, e você não me disse nada a respeito. — Meus olhos
encheram-se de lágrimas, não sabia dizer se de ódio ou de mágoa.
Christopher poderia me enfiar em um quarto branco sem
soluções se essa situação afetasse somente a mim, isso nós dois já
sabíamos que iria acontecer. Porém, era cruel de sua parte deixar
que isso acontecesse com outros da minha família bem diante dos
meus olhos sem me dar a chance de intervir.
— Quer um fim? — sua voz era densa, mesmo baixa. — Quer
terminar comigo?
Me encolhi no canto. Recolhi as minhas pernas e as abracei.
Completamente em silêncio.
Mesmo que eu me esforçasse, as palavras se agarravam para
retornarem à garganta. Não queriam ser expelidas. Não queriam vir
à tona.
— Diga, querida — pediu, aflito. — Me fale, olhando nos meus
olhos, que quer que isso termine.
— Eu só quero viver a minha vida, Chris. — Suspirei. — Só quero
uma vida com você sem estar sob ameaça de morte a cada minuto.
Sem que isso não se torne uma guerra. — Olhei em seus olhos,
tristonha. — Eu te amo, mas estou farta de viver no escuro.
Ele repeliu as minhas palavras, irritado. Sua expressão contraiu
em desgosto.
— "Viver no escuro"? — observou desgostoso. — Deixe-me ver,
quando foi a última vez que eu te disse algo que não te fizesse
querer correr para longe, Dytto? — Ele soltou o ar pela boca, com

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

força. — Sempre que eu te mostro a verdade, você se esconde,


porque é covarde demais para me amar.
Bufei, atônita.
— Isso é injusto pra caramba — me opus. — Mas se é assim que
quer jogar, tudo bem — me enraiveci.
Congelei a face em uma expressão séria. Não deixaria que ele
determinasse isso por mim. Isso tudo já havia me enchido.
— Me deixe pensar em uma única vez que você me deixou viver
sem toda essa sua escuridão ou loucura por controle. O que acha,
Chris? — rebati, ríspida. — Nem se eu passasse horas do meu dia,
conseguiria pensar em um único momento que me deixou aceitar
essa minha nova realidade sem que me fizesse sentir culpa por
temer a única coisa que eu fui ensinada a repudiar a minha vida
inteira — minha voz gradualmente aumentava, alimentada pela
raiva.
Sorri amarga. Sentia minhas veias em chamas. Meu corpo inteiro
reagiu, tomado pela vontade de defender-se de tudo aquilo que não
fui capaz de dizer antes.
— Mas você não entende, não é? É fácil para você, porque
nasceu no inferno. Mas eu cresci ouvindo que deveria fugir dele. —
Tombei a cabeça para o lado. — E você chegou, roubou a minha
alma e o meu destino. Tudo o que era meu, se tornou seu, sem mas.
Mordi o canto dos lábios.
— Eu tentei aceitar tudo isso. Me esforcei para entender como
de repente eu estava namorando um demônio. E eu tive que aceitar,
já que não havia espaço para as minhas escolhas, porque você já
tinha decidido tudo. Eu não precisei pensar em nada porque você já
tinha feito isso por mim também.
Encarei a rua à frente, por um momento, retomando o fôlego
— E ainda assim, eu sou uma péssima namorada porque sou
"covarde demais para te amar". — Soltei uma risada ressentida. — E
eu nem posso sentir medo disso porque todas as minhas emoções
humanas estão sendo manipuladas para me encaixar na sua vida.
Olhei-o cheia de mágoa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Está me pedindo para eu fechar os olhos e acreditar que está


tudo bem eu deixar você continuar mentindo para mim, porque está
cuidando de tudo. — Apontei para mim. — Eu quero não me sentir
sua marionete para variar.
Christopher observava-me ruidosamente, mas não parecia
prestes a ceder ou mudar de opinião. Sua ideia mantinha-se fixa,
podia enxergar isso através dos seus olhos frios.
— Então não podemos nos amar — decretou.
Christopher ajeitou-se no banco, inclinando o corpo para frente,
deixando que seus cotovelos fossem apoiados em suas coxas.
— Você quer o amor humano. O amor que te deixa à mercê do
perigo da vida real. — Ele me encarou, magoado. — Mentiria a você
se eu dissesse que tenho como mudar o nosso relacionamento. Esse
sou eu. Um amor demoníaco e doentio é tudo o que eu tenho a
oferecer.
Chris virou o seu corpo em minha direção.
— Não vou mais te obrigar a ficar se não é o que quer. Então vai
ter que escolher agora, Dytto.
Minha respiração trepidou por um segundo.
Estava mesmo acontecendo.
— Está me pedindo para escolher entre a minha liberdade ou o
seu amor? — brandei.
— Estou te dando a chance de escolher como quer viver —
contestou. — Disse que eu não amo você, mas eu amo. Sou louco
por você.
Ele aproximou sua mão do meu rosto, mas não o tocou. Logo a
devolveu ao seu lugar.
— Decida se vai permanecer comigo nisso ou não — reiterou.
Balancei a cabeça. O nó em minha garganta me sufocava e as
lágrimas quentes desciam do meu rosto sem controle algum, solucei
entre elas.
— Eu amo você — declarei, chorosa.
Christopher assentiu.
— Eu sei, amor. — Ele sorriu, complacente, mesmo que
soubesse perfeitamente o que estava por vir.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Mas não posso te amar assim — chorei, destruída. — Não


quando há pessoas na minha vida que correm perigo.
Sentia meu coração ser destroçado em milhões de pedacinho
naquele momento.
Dizer aquelas palavras em voz alta estava me matando.
— Tudo bem — concordou. — Mas não espere que eu te deseje
tudo bom. Quero que seja infeliz até o seu último dia — anunciou,
amargo.
Forcei um sorriso que me custou todas as minhas forças.
— Não esperaria menos de você.
Ele passou a língua sobre os lábios e posturou o corpo para a
frente.
— Vá para casa, Dingo Bells — era uma ordem áspera e dura.
Sem sentimento.
Eu queria ter a chance de tocá-lo novamente, de beijar ele uma
última vez, mas meu corpo me deteve. Ele não era mais o meu
Christopher naquele momento, e deixava de ser confiável.
Ele tinha razão quando dizia que era um demônio e não havia
nada de bom nele. E eu sabia que, se me aproximasse demais,
poderia ser fatal.
Via em seus olhos o quanto se continha para não deixar que o
seu pior viesse à tona, então fui embora.
Quando eu saí do seu carro e corri para dentro do meu quarto,
já não chorava mais. As lágrimas haviam cessado ali.
Não chorei, pois estava entorpecida demais para sentir.
Algo havia se partido dentro de mim. Meu coração. Ele havia se
quebrado. E aposto que o de Christopher também.
Mas eu nunca descobriria.

Quando deitei a cabeça no travesseiro aquela noite, meu corpo


inteiro fora abraçado pelo frio do medo imaginário.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sentia como se estivesse em constante ameaça, no entanto, não


sabia a razão. Talvez estar tão ligada a vida de Christopher tenha me
deixado traumatizada com tudo o que tive que passar.
Meus olhos fixaram-se na parede pálida do meu quarto, sem
reflexos de iluminação artificial, apenas a luz do luar que trespassava
as cortinas brancas a destacava em meio a escuridão.
Desejei que Christopher viesse ao meu quarto. Quis que ainda
existisse uma parte tão doente e sádica de si, que abdicasse do que
me disse em seu carro.
Poucas horas após nosso término, meu corpo já estava com
abstinência do seu. Meu peito parecia vazio, com saudades de ser
preenchido por sua presença.
Eu era dependente de seu amor. De sua obsessão.
Eu era tão doente quanto ele.
Entretanto, existiam pessoas que não tinham culpa disso. Eu não
poderia deixar que a fúria do seu pai, ou a revolta do seu rival
destruíssem a minha família.
Amor poderia virar ódio em segundos. Christopher sabia disso. E
por isso me deixou ir. Sabia que eu jamais poderia conviver com a
culpa.
Mas, se eu estava fazendo o que era certo, por que a dor era tão
insuportável?
Fechei os olhos.
Abri os olhos.
Fechei os olhos.
Abri os olhos.
Eu não conseguia dormir. Queria gritar.
Fechei os olhos e abracei a escuridão. Permaneceria assim
durante a noite toda, mesmo que o sono nunca viesse.
Em algum momento desse pensamento, minha mente
adormeceu, mas não sonhei com Christopher e nem tive pesadelos.
No entanto, uma visão.
A garota estava longe, no escuro do abismo, chorando em um
canto, abraçada ao seu próprio corpo. As roupas surradas vestiam

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

seu corpo magro e ossudo. E os fios loiros derramavam-se sobre os


seus ombros, cobrindo todo o seu rosto.
Estava tão aninhada que parecia mal existir naquele lugar. Seu
choro era repleto de dor. Uma angústia que me provocava profunda
tristeza.
Não havia nada ao redor, somente ela vivendo em sua própria
angústia.
— Está tudo bem? — quis ajudar. Minha voz ecoou em meio ao
vácuo.
Seus gemidos dolorosos cessaram por um segundo. Ela havia me
escutado.
Sua cabeça moveu-se bem devagarinho em minha direção,
pouco a pouco revelando a pele clara deteriorada e cheias de feridas
abertas. Não havia sangue, mas sua carne podre estava exposta.
Seu rosto emergiu em meio a cortina loira de seus cabelos
maltratados, mas já não havia uma face ali. Metade de sua pele
havia sumido, ossos se revelaram diante do que antes era uma
jovem face. No fundo, ainda existia alguém debaixo de todo aquele
horror.
Meus olhos arregalaram-se em pavor. Meu coração batia tão alto
que eu era capaz de escutá-lo ecoando em toda a dimensão.
— Ele vai destruir você como fez comigo — a sua doce voz
entoou com um canto de terror.
Levou um segundo para que eu entendesse.
— Zoe — afirmei.
A garota morta se jogou para a frente, obrigando o seu cadáver
a se arrastar em minha direção, mas algo a detinha. Quanto mais ela
forçava, menos tinha progresso. Um tilintar estranho surgia todas as
vezes que ela retomava a ação. Até que percebi a corrente em seu
pé. O ferro estendia-se pela escuridão até que em certo ponto,
sumia completamente.
Tudo começava fazer sentido de pouco em pouco.
Eu estava no inferno de Zoe.
Estava em sua jaula.
Estava onde Christopher a prendeu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Olhei em volta, mas não havia mais nada senão o vazio.


Mas o que eu fazia aqui?
Franzi as sobrancelhas.
Foi então que eu me dei conta. Nabrya estava jogando com a
minha mente. Colocando-me contra Christopher. Perturbando o meu
espírito e apavorando-me.
Ele era perverso.
— Aparece filho da puta — berrei. — Nabrya — repeti, mais
escandalosa.
Num piscar de olhos, a visão se foi.
Acordei no meu quarto. Já era manhã.
Ele esteve aqui.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Istambul, Turquia
21 de Junho | Sexta

A luz vermelha refletia sobre as ousadas garotas seminuas


dançando na barra de pole dance.
Vestiam apenas lingeries sensuais — que mal cobriam qualquer
parte de seus corpos — e saltos altos enormes. Por um segundo, tive
o sentimento nostálgico de calcinhas grandes e horrorosas que
pareciam mais interessantes do que isso.
Elas esfregavam seu corpo umas às outras e sorriam maliciosas
para qualquer homem que as olhassem, seduzindo-os ao som erótico
que eclodia por toda a boate. Apenas fazendo o seu trabalho,
mesmo que desgostassem dos clientes. Afinal, o propósito era outro.
Observá-las não me causava nada além de indiferença. Não
havia uma única parte de mim que as desejasse sexualmente. Mas,
saber que suas almas pertenciam a mim, me preenchia de uma

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

enorme satisfação obscura. Eu também só estava fazendo o meu


trabalho.
Almas pecadoras. Era tudo o que via. Sedentas pela riqueza e
vaidade.
Naquela noite em Istambul, ninguém sabia quem, de fato,
estava por trás da pintura de caveira. Não era uma festa a fantasia,
nem mesmo Halloween, mas eu queria estar assim. Coberto pelas
tintas enigmáticas em meu rosto, escondendo-me em meio aos
outros. Vivendo num certo anonimato. Fugindo do que eu havia
deixado para trás. Seguindo com as escolhas que eu adiava
impiedosamente por causa dela. Cumprindo com o meu destino.
Sentado na área vip, afastado de todos os outros, tinha a ampla
visão do ambiente carregado de pessoas. Estava barulhento e
agitado. Os corpos suados se entregavam às batidas da música.
Homens endinheirados lançavam notas altas sobre o palco de dança.
Era uma noite que parecia não ter fim, por isso agiam como se não
mais fossem existir.
A diversão os deixava cegos, excitados e irracionais. Era um
barco cheio de devedores do diabo.
— Foi muito difícil encontrar você. — O homem loiro e barbudo
sentado ao meu lado, comentou: — Precisei mover céus e Terra para
conseguir esse encontro. — Ele riu, limpando a ponta do nariz
repleto da cocaína que acabara de aspirar.
Era nítido o seu nervosismo. Suas mãos tremiam a beça,
enquanto mantinha-se agitado ao meu lado. Estava ansioso e não
conseguia manter o olhar fixo no meu. Embora parte de sua euforia
fosse consequências das drogas, seus nervos já se contorciam antes
do primeiro uso.
Ele queria algo de mim, mas temia tudo o que eu era, e tudo o
que eu poderia lhe ofertar. Porém, adorava tudo o que eu poderia lhe
oferecer. Para os homens, eu era só o seu "gênio da lâmpada". Para
mim, eles eram apenas um meio para o caos.
— E-eu sou o Max. Tenho trabalhado há anos para o Leonel,
mas nunca foi o bastante — confessou, repentinamente.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Leonel era, para muitos, um poderoso homem da máfia. Para


outros, apenas uma ameaça da qual ninguém ainda teve coragem de
se livrar. Nunca havíamos nos topado, mas sabia sobre o seu desejo
de me conhecer.
Ele era alvo das máfias rivais. Era dono dos melhores portos de
drogas e o rei de todas as cabeças que trabalhavam para ele.
Leonel era um homem astuto e frio, matava homens, mulheres e
crianças com o mesmo ímpeto. Odiava cada um que entrasse em seu
caminho. Destruía cidades e vilas, desafiando a lei e a moral. Ditava
as regras de um todo, e exercia sua força por entre os governantes
do país, decretando suas próprias vontades conforme lhe dessem
vantagem.
Imbatível aos olhos que o temiam. Invencível aos que iam contra
ele.
Imoral ao julgo dos moralistas
Incrível aos meus planos.
Seu desejo por reinar o tornava o homem mais perigoso da
máfia. Seu único medo não era dos que perdiam a luta, mas sim
daqueles que não desistiam, pois ele sabia que estes eram os únicos
inimigos à altura. Mas ninguém antes ia tão longe. Ou era morto. Ou
torturado, e então, morto também.
— Eu quero mais, Christopher. Eu quero poder. Quero ser melhor
que os outros homens — admitia sedento, cheio de uma arrogância
maior que o seu próprio corpo, desejando por algo que ia além do
que suas próprias pernas seriam capazes de alcançar.
Era um caminho de fracassos.
Ele queria o sucesso sem conquistar. Queria o poder, não para
liderar, mas para preencher o seu ego frágil e a sua alma vazia. Um
tolo fútil.
A Terra estava farta deles. E era por isso que eu sabia que não
precisava de muito esforço para levá-los aos montes para o inferno.
Eram almas que estavam condenadas antes mesmo que eu as
marcasse.
— Preciso desse acordo — admitiu, numa necessidade insana.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Cruzei as pernas, inclinando minimamente o meu corpo em sua


direção. Tomei mais um gole do meu conhaque. Olhava-o fixamente
nos olhos, isso o deixava intimidado.
Ele engoliu em seco. A testa suando. O coração disparado. O
medo o corroía de dentro para fora, entretanto, confiava em mim,
depositando todas as suas esperanças em minha pessoa.
— Quer um tratado então? — me pronunciei.
Ele balançou a cabeça de um jeito frenético.
— Quero.
— Um tratado. Certo! — concordei. — Quer poder, Max? É tudo
o que quer? — instiguei, deixando-o desconcertado.
Suas bochechas atingiram um tom vermelho com a forma em
que lhe desafiei. Seu corpo acovardado tremia incessantemente.
Porém, embora medroso, sua insana vontade de ser melhor, tirava-
lhe a razão.
— Sim — respondeu, nervoso.
— Tudo bem. Me diga, Max. Quer mulheres também? Filhos?
Dinheiro? — Apontei com o copo para as strippers. — Deseja aquilo?
Seus olhos azuis se foram para a pista e deslizaram sobre tudo
ali com um certo encanto. A mera possibilidade de obter toda aquela
luxúria para si o deixava hipnotizado a ponto de sequer piscar.
Sua ganância nublava todo o seu bom senso, deixando-o ser
levado pelo brilho do momento. Fazendo dele apenas um humano
como qualquer outro.
— Sim. — Ele engoliu em seco.
Seus olhos ainda postos nas dançarinas, presos ao que seria a
sua recompensa.
Eu era capaz de sentir toda a sua excitação e desejo. A sua
vontade suja e depravada. Não havia mais o menor pudor em seu
corpo. Todo ele estava preenchido de devassidão.
— Está bem. É tudo seu — declarei simplesmente.
Ele rapidamente me olhou, curioso, franzindo as sobrancelhas.
Os lábios entreabertos.
— Fácil assim? — sua voz soou esganiçada quando saiu de sua
boca, mas, ao finalizar, parecia mais uma comemoração.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É o que quer, não é? — Ergui sutilmente o copo em minha


mão, em um falso brinde de comemoração.
Ele agitou a cabeça, concordando.
— Vou precisar apenas de um pequeno favor em troca. — Sorri,
forçando uma falsa gentileza.
Max estreitou os olhos, atento à nossa conversa.
— Quero que durma com o máximo de mulheres que conseguir
em toda a sua vida. Nunca repita a mulher. Deite-se com homens
também, sei que você gosta. Foda com todos. E sempre despeje sua
porra neles.
O homem se encolheu mediante aos meus pedidos.
Era óbvio que ele não acharia ruim. Ele nem mesmo entendia o
que eu estava lhe pedindo.
— De preferência, durma com prostitutas. Faça isso com
mulheres de várias nações diferentes. Não use proteção, Max. Suje
todos.
— Por que é que está me pedindo isso? — desconfiou, frustrado.
Pensou que eu o escolheria para uma missão sangrenta.
— Para colher os seus frutos, terá que plantá-los. Não se
preocupe. — Balancei a cabeça. — Darei tudo o que quiser. Mas
primeiro, mostre que você está à altura do trabalho.
— Eu não entend...
— Não precisa — interrompi-o, sorrindo amigavelmente. —
Apenas siga as minhas instruções.
Max se calou, ponderando acerca do assunto.
Dentro dele existia uma deliciosa confusão de se sentir. Sabia
que não seria um grande sacrifício fazer isso, mas tinha medo de
que isso, de certa forma, o atingisse.
O candidato perfeito para o trabalho. Egoísta o bastante para
fazer tudo pelo que quer. E idiota o suficiente para fazer sem
questionar.
Para ele, seria como um mar de diversão. Dinheiro, poder,
drogas e filhos. Apenas fazendo sexo por isso.
Trabalhando pelo Diabo sem nem mesmo perceber. Agindo como
se estivesse apenas curtindo sua vida da melhor maneira que podia,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

com a desculpa de estar apenas vivendo como se fosse seu último


dia.
Sempre foi tão fácil manipular a eles que nem mesmo se deram
conta disso. Eles ainda pareciam não ver.
Dizem que o Diabo irá na sua casa, irá te oferecer tudo o que
você quer e pedirá um grande sacrifício em troca. Bobagem! Todos
condenam a sua alma por si só se preenchendo de prazeres carnais,
eles só não querem se culpar por isso, e foi assim que criaram
alguém para culpar por seus próprios pecados. Alguém em quem
depositariam suas irresponsabilidades.
"O satanás fez isso", "o Satanás fez aquilo". Não! Eles mesmos
fizeram isso. Só são covardes demais para assumirem que são mais
fracos que a carne.
Ele não seria único. Todos já estavam fazendo o mesmo. Mas o
diferencial era o poder que Max tinha em suas mãos para começar
uma coisa ainda maior. Espalhar uma doença que acarretaria graves
danos, espalhando-se para outras milhares de pessoas. Inicialmente,
transmitidas através do ato sexual, no entanto, que se modificaria
tão depressa, que logo seria passada por transmissão aérea, fluídos
corporais e, então, o toque humano.
Um vírus quase que invisível. Novo. Um enigma.
O indivíduo infectado sentiria dores insuportáveis, teria os
membros do corpo atrofiados, apodrecidos, procurariam por todo
tipo de antibiótico, respostas médicas e esperançosas curas, mas,
antes de tudo isso, o pior já teria acontecido.
O terror se instalaria. O caos. O medo.
— Tudo bem. Eu aceito! — respondeu finalmente.
Era fácil demais. Acordos não podiam ser desfeitos. Cuidado ao
apertar a mão do Diabo.
Estendi-lhe a mão e o cumprimentei sorrindo.
— Foi muito bom fazer um acordo com você, Max — entoei sério
e ele estremeceu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Quando passei o cartão na porta do hotel em que estava


hospedado, Asafe estava sentado no chão, diante à porta. Parecia
que ele me esperava ali há um tempinho.
Seus grandes olhos verdes brilharam emotivos e seus lábios se
avantajaram em um sorriso enorme ao me verem.
— Papai — animou-se, levantando.
— As. O que faz aí? — Peguei-o nos braços, com cuidado.
Ele agarrou-se com as suas mãozinhas nos botões da camiseta
preta que eu usava. Sua ansiedade em me ter por perto era tanta
que deixava-o afoito.
Asafe não sabia bem como suportar a saudade. Sua alegria era
tanta que parecia não se conter. No espaço de tempo em que
ficávamos longe, seus pensamentos disparavam bem rapidamente,
lembrando-o de que devia estar perto de mim.
Era algo que nós demônios possuíamos em comum. A incessante
necessidade de estar próximo a quem possuíamos grande vínculo.
— Tinha uma balata ali, oh. — Apontou para o chão.
Se o As fosse uma criança normal, teria deixado uma babá de
olho, no entanto, possivelmente a encontraria sem vida assim que
passasse pela porta, e eu não estava muito a fim de me livrar de
nenhum cadáver hoje. Portanto, deixei-o como ele se sentia melhor.
— E o que você fez? — Encostei a porta, carregando-o nos
braços até o banheiro.
— Amassei. — Ele mostrou a palma da mão suja.
Engelhei as sobrancelhas.
— Não passa isso em mim.
Ele sorriu, perverso e aproximou a sua mão do meu rosto.
— Eu vou passar — brincou, sorridente.
— As, não! — disse mais sério e ele recuou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Brincadeeeeira — mentiu, como se seu propósito esse tempo


todo fosse só me assustar.
Certamente não era. Asafe seria capaz de enfiar uma barata
inteira na minha boca pela própria diversão.
O sentei na bancada da pia e liguei a torneira. Aproximei suas
mãos da água corrente e espirrei sabão em ambas. Fiz com que ele
se lavasse até todos os resquícios da barata morta terem sumido.
Retirei a camiseta, livrando-me da última prova que tínhamos do
falecido inseto: as digitais de Asafe contaminadas nos botões.
As começou a me contar sobre tudo o que viu durante o seu dia,
embora eu já soubesse, posto que estávamos junto em todas as
ocasiões citadas por ele próprio.
No entanto, ele não ligava para o fato de eu estar ciente disso.
Apenas queria ter assunto para conversar. Então deixei que ele me
contasse detalhe por detalhe enquanto lavava a pintura do meu
rosto.
O pequeno historiador dizia suas vivências tão rápido que fora
necessário parar por um segundo, apenas para respirar, e então,
retornou ao assunto.
Porém, foi somente quando um nome familiar saltou de sua boca
que os meus ouvidos prontamente se aguçaram:
— E hoje, eu vi uma garota muito bonita. Parecida com a
mamãe Dytto... — contava alegremente. — Ela tinha o...
— As — o interrompi. — Não está com sono? — perguntei,
olhando-o diretamente.
Ele juntou as sobrancelhas enquanto negava num balançar de
cabeça.
— Está um pouco tarde. Melhor ir dormir — sugeri, acariciando
as suas bochechas.
— Papai, eu...
— Ei. — Segurei o seu pequeno rostinho entre as minhas mãos.
— Me conta mais amanhã, está bem? Prometo ouvir tudinho, mas
agora é hora de dormir.
Sua expressão animada murchou. Seus lábios curvaram-se para
baixo, refletindo a sua infelicidade.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu sabia que ele não estava com tanto sono devido ao fuso
horário. A diferença entre a Turquia e Nabrya eram de pelo menos
12 horas, mas ouvi-lo falar dela doía.
— Vai. Eu vou depois — pedi, colocando-o de volta no chão.
Asafe saiu arrastando os pés de má vontade. Em sua última
tentativa, estacionou no batente da porta, olhou-me com o rostinho
de cachorro pidão e suspirou.
— Eu só quelia conversar — murmurou, arrasado. Os lábios
contraídos em um beiço.
— Isso não funciona comigo, aberração.
Ele sorriu, arteiro, e disparou sorridente em uma corrida até o
quarto.
Nossa suíte possuía muitos cômodos. Era espaçoso o suficiente
para nós dois, no entanto, As gostava de dormir comigo, bem
próximo. Muito próximo. As vezes tão próximo que eu acordava com
metade do seu corpo posto sobre a minha cabeça.
Ele também não era muito a favor do espaço pessoal.
Terminei de lavar o rosto, esfreguei-o na toalha e tranquei a
porta; caso Asafe decidisse voltar engatinhando, chorando
falsamente, ainda em sua atuação desesperada.
Arranquei as minhas roupas e andei até o chuveiro. Ali, permiti
que a dor se mostrasse. A cruel e impiedosa dor.
Constantemente, eu me esforçava para deixá-la livre de meus
pensamentos, no entanto, ela não morava somente nele. Dytto
estava em cada parte do meu corpo, residindo em cada mísero
espaço. Atormentando o meu casco mortal, e fodendo com a minha
entidade imortal.
Fechei os olhos, tomado pela angústia avassaladora presa à
garganta e tudo o que me veio à mente foram os malditos flashes de
seu rosto, seus olhos, seus lábios, seus cabelos e todo o seu corpo.
Entrei no modo automático e toquei o meu pau, já duro. Quando
me dei conta, já esfregava a mão por toda a extensão, imaginando a
sua boca em mim, me chupando. Seus olhos doces me olhando
cheios de segundas intenções.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Fantasiei com ela sentando em cima de mim, esfregando toda a


sua boceta molhada no meu pau, facilmente escorregando
encharcada em todo o seu comprimento. Quase podia ouvir os seus
gemidos deliciosos. Seus toques ainda eram tão vívidos em minha
mente quanto os sons que fazia quando eu a fodia.
Seus suspiros pareciam próximos, assim como todas as vezes
que eu a tocava em seu quarto. Poderia ser capaz de presenciar seus
toques em mim como sendo reais demais.
Aumentei a velocidade da minha punheta, imaginando ser ela.
Imaginando estar dentro dela. Comendo ela com força. Ouvindo ela
gritar o meu nome. Pedindo por mim. Exigindo por mim.
— Caralho! — gemi, ardendo em excitação.
Mais forte. Mais rápido.
Eu queria desesperadamente aquela desgraçada. Queria a foder
como nunca fiz antes. A queria inteiramente em mim.
Soltei um gemido alto e joguei a cabeça para trás quando meu
pau libertou o gozo, espirrando porra na parede de azulejo à minha
frente.
— Dytto — gemi baixo. — Dytto. Dytto. Dytto. Sua filha da puta!
A raiva novamente me preencheu.
Filha da puta!
Eu precisava dela de volta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

26 de Junho | Quarta

Definitivamente Christopher havia secado o meu estoque de


lágrimas.
Meus olhos queimavam devido ao choro incessante. Meu peito
doía tanto que me fazia suspirar a cada 5 minutos, na falha tentativa
de amenizar o peso que estava sentindo.
Nesses últimos oito dias desde o término, forcei-me a sorrir
apenas uma vez; quando Loren comemorou sua aceitação na
faculdade de UA (Universidade do Arizona)
Nossos pais se enfureceram pela distância que isso tomaria. Eu,
pela primeira vez, me impus a ficar do lado dela. Queria, acima de
tudo, que Loren fosse feliz, mesmo que isso significasse que
teríamos que suportar a saudade uma da outra.
Porém, enquanto eu lutava pela sua felicidade, outro lado meu,
sangrava de pouco em pouco.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A dor estava me matando.


Sentia falta do Asafe. Saber que provavelmente não o veria
mais, partia-me em milhões de fragmentos.
De toda esta situação, ao menos, eu tinha a certeza de que não
havia errado. Não podia perdoar o fato de que Christopher tinha me
escondido que seu pai não nos queria juntos, e que isso colocava a
minha família em perigo. Também não poderia fingir que estava tudo
bem depois da nossa briga.
Sabia desde o início que não seria fácil tê-lo, porém, esperava
uma compreensão de sua parte, afinal, somos dois: Chris e seu lado
sombrio, e Dytto com seu lado humano. Deveria ser um acordo, e
não um contrato de tortura onde eu deveria ser obrigada a aceitar
tudo o que viesse dele.
Christopher era obsessivo e louco, porém, havia uma parte dele
que lutava por nós, que queria que isso desse certo. O suficiente
para termos tido meses maravilhosos juntos, até não termos mais.
Eu estava cansada de tanto chorar, e chorei por isso também.
Não fazia ideia de que amar seria assim, e se soubesse, não
teria ido a nenhuma festa na fogueira, dormiria com uma calcinha de
aço e beberia água benta todos os dias para mantê-lo sempre
distante.
Eu queria muito ter feito isso. E nesse momento, desejei tê-lo
cometido com ainda mais forças.
Desci às escadas de casa correndo, não queria ter a pausa
obrigatória que Loren me forçava a ter todos os dias para conferir se
eu estava bem. Mas ela já havia notado que eu estava a evitando,
então, agiu mais rápido dessa vez.
— PARADA AÍ! — abordou, saltando em meu campo de visão,
apontando uma pistola de dedos na minha cara. — Mãos para o alto
e me segue devagarinho — exigiu, encarando-me séria, bem como
uma policial de verdade.
— Loren, eu...
— Calada, malandrinha! — alterou o seu tom de voz,
encurralando-me. — Anda, anda, anda.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Levei minhas mãos ao alto e fui bem lentamente para a cozinha.


Ela fazia questão de sair empurrando minhas costas para mostrar
uma falsa autoridade.
— Ok, não precisa entrar tanto assim no personagem —
resmunguei.
— Shiii... — silenciou-me num rápido chiado. — Sente-se aí e
tome o seu café da manhã!
A contragosto, me arrastei até a cadeira diante do balcão e me
acomodei.
Loren arrastou o prato, já ocupado por torradas amanteigadas e
frutas vermelhas, até mim e apontou para ele.
— Não se levante até ter terminado — ordenou, num tom de voz
mais sério.
Balancei a cabeça, cedendo aos seus cuidados maternais.
— Loren, não precisa ficar de olho em mim. Está tudo bem,
sério.
— Você precisa se alimentar, ou eu serei obrigada a recolher seu
cadáver seco dentro do seu quarto qualquer dia desses — provocou.
— E você sabe que nenhuma maquiagem no mundo vai te deixar
bonita dentro do caixão se não tiver nada além de ossos para
maquiar.
— Não seja dramática — critiquei, ao passo que mastigava a
minha torrada.
— Não sou. Você não tem comido, bebido e nem dormido. Se
não vai me contar o que está rolando, então ao menos me deixe
cuidar de você.
— Eu já falei o que aconteceu.
— Nenhum "término pacífico" é capaz de tanto estrago assim,
Dytto. Vocês dois estavam felizes juntos e então "BOOM"...
terminam? — desconfiou.
Dei de ombros e abaixei a cabeça.
Não entrei em detalhes quando lhe avisei sobre o término, afinal,
o que eu poderia lhe dizer? Loren não fazia ideia do que Christopher
era. Seria como jogar uma bomba em cima dela e esperar que ela a
aparasse sem lhe causar dano algum. Ela ia pirar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Minha irmã veio até as minhas costas e abraçou os meus


ombros.
— Eu amo você, minha garotinha. Vai ficar tudo bem —
murmurou, beijando a minha bochecha.
Engoli em seco e constatei o, agora habitual, nó se formar em
minha garganta. Já estava me acostumando a essa insuportável
situação desde que terminamos. Enchi a boca de suco para dissolver
esse sentimento, senti o líquido descer queimando.
— Me conta. Está animada para a faculdade. Para ficar longe de
mim? — desconversei.
— Céus! Ainda não sei como vou sobreviver sem você —
choramingou, sua cabeça apoiada em meu ombro.
Sorri.
— Vamos sempre fazer ligações. Eu prometo!
— Não se esqueça, sempre faça ligações longe do papai e da
mamãe para não ser deserdada. Agora eu sou a ovelha-mega-hiper-
negra da família por querer fazer uma faculdade em outro país.
Apertei os seus braços em volta do meu corpo.
— Eu estou com você, não se preocupe. Vou te dar todo o meu
apoio para que você possa estudar onde quiser.
Ela jogou a sua cabeça para o lado e sorriu.
— Obrigada.
Soltei-a e me afastei.
— Chega de melosidade! — eu disse.
Ela riu, assentindo.
— Vou terminar as minhas malas. Tenha um bom dia na escola,
Dy. — Se afastou, deixando-me sozinha na cozinha.
Loren não teria mais que se preocupar com a escola. Sua
aceitação fez com que ela apenas precisasse buscar os papéis de sua
conclusão de ensino médio. Agora, eu não a veria mais todos os dias
pelos corredores. Não teria mais com quem dividir os meus
intervalos e, em breve, nem mesmo teria com quem contar ao
chegar em casa.
Me sentia angustiada dos pés à cabeça. Em partes, estava feliz
por ela ter conseguido entrar na faculdade que queria, mas,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

também, extremamente triste por saber que não a teria mais por
perto.
Saco!

Estávamos há alguns dias das férias. Os corredores da escola se


encontravam quase que totalmente vazios. Os alunos que ainda
vinham, pareciam zumbis, loucos pelo último dia de aula.
Ainda teríamos um semestre inteiro pela frente, mas ninguém
realmente se lembrava disso. Estavam tão ansiosos por folga que
mal eram capazes de abrirem o caderno durante as aulas.
Em determinado momento, os professores ainda chamavam a
atenção daqueles que deixavam explícito o desinteresse pelas
explicações longas e chatas que ninguém mais dava a mínima,
porém, de nada adiantava.
Ninguém queria mais a escola. Ninguém queria mais ter que ver
os professores. Ninguém queria lições chatas. No entanto, eu, sim.
Não que eu quisesse estudar, mas sabia que ficar em casa
pensando em Christopher seria muito pior.
Precisava de questões dificílimas de matemática rondando a
minha cabeça. Fórmulas de química atormentando os meus sonhos.
E aulas de educação física arrancando as minhas energias.
Precisava ser sugada pela escola, ou então, o vazio da solidão
me chamaria de volta. E absolutamente todos os meus pensamentos
se voltavam para ele.
Sozinha, caminhava alheia por entre as salas na hora do
intervalo.
Eu não tinha mais nenhum amigo. Não tinha mais a minha irmã
por perto. Não tinha mais um namorado. Não tinha mais um
enteado. Alma. Integridade. Felicidade.
Gostaria de saber como eu me meti no fundo do poço na
velocidade da luz, entretanto, já tinha conhecimento da resposta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu havia me desacostumado a não ter um namorado. Era


estranho saber que estava solteira. Me sentia meio perdida.
O que os solteirões fazem quando terminam um relacionamento?
Ah, claro, vão às festas.
Talvez não fosse má ideia ir em uma. Eu já não tinha mais nada
a perder mesmo. Até a minha sanidade tinha ido para o ralo.
Loren não parecia empenhada a sair de casa nesses últimos
dias, mas se eu insistisse um pouco, poderia ceder à ideia.
Luc era a única pessoa que eu conhecia que sempre sabia onde
e quando cada festa acontecia. Ultimamente andávamos distantes
um do outro, porém, não custaria muito ir até ele pedir por uma
única informação.
Foi pensando nisso que busquei encontrá-lo. Sabia que quando
não estava no refeitório, Luc se escondia na sala de reuniões do
conselho de turma. Era o lugar perfeito para quem buscava silêncio e
privacidade. Ninguém quase nunca ia lá se não fosse por obrigação.
Apressei os passos, precisava saber onde eu me meteria desta
vez. Iria bem arrumada, é claro. Ficar bêbada e dançar até o chão
era o único plano que me vinha à mente.
Um péssimo plano, admito. Horrível. Horroroso. Chato. Mas foi a
única coisa que eu pensei.
Se eu precisasse definir a palavra choque, mostraria uma
fotografia do que vi no exato momento em que girei a maçaneta da
sala de reuniões de classe, às 11h:36min da manhã, do dia 26 de
junho.
Meus olhos se arregalaram de um jeito que quase precisei os
repor no lugar.
O que deveria ter sido apenas um sútil encontro, tornou-se um
flagra quente e bizarro.
A professora de geografia do quarto ano estava sobre uma das
mesas, no centro da sala, com a saia erguida até a cintura. Suas
longas pernas estavam arreganhadas e suas mãos enfiadas nos
cabelos negros do meu amigo Luc que, despretensiosamente,
chupava a sua boceta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu queria tacar fogo nos meus olhos, se possível, mas não era o
lugar para isso. Então, discretamente — com aqueles dois pares de
olhos sobre mim, tão chocados quanto eu por terem sido vistos —,
me afastei com passos para trás e fechei a porta.
Talvez pudesse ter sido pior. Poderia ser ela chupando-o. Na
verdade, eu não sei como isso seria pior. Acabei de ver uma cena e
tanto.
Acho que nada mais me chocaria depois daquilo.
Girei os calcanhares, com a mente presa naquele momento.
Teria corrido, se sua voz rouca e desesperada não tivesse surgido às
minhas costas.
— Dytto — Luc chamou.
— Oh, Deus. Me ajude — sussurrei, quase inaudível, apenas
para mim... e para Deus.
Virei meu corpo em sua direção. Meu rosto tenso sorria
nervosamente enquanto tentava encará-lo com alguma seriedade.
Se é que existia alguma dentro de mim naquele instante.
— Luc — seu nome era tudo o que fui capaz de dizer.
— Olha, eu... — Ele apontou com a mão para a sala, como se
precisasse se explicar, mas balancei ambas as mãos, intervindo.
— Não. Não. Eu só estava de passagem. Eu nem sei o que eu vi
aí — me apressei em dizer.
Estava claro que isso era desconfortável para nós dois.
— Me desculpa, Dy. Eu não devia. Sei que não devia.
— Luc. — O interrompi. — Eu não tenho nada a ver com isso.
Não tem que explicar nada pra mim.
Ele suspirou, constrangido e balançou a cabeça.
— Sério. Eu não sei o que deu em mim. Tínhamos conversado.
Íamos parar com esses encontros. É só que... — Ele repuxou o canto
do lábio para baixo. — Não era o que eu planejava.
— Tá. Eu vou para o refeitório.
— Podemos conversar? — pediu. — Por favor.
— Tudo bem. Mas ainda assim eu tô indo para o refeitório. Não
seria ideal a gente conversar aqui. — Fiz careta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele assentiu, voltando para a sala em que estava poucos


segundos antes.
Sai dali o mais rápido que consegui.
Eu sabia que Luc era um galinha, só não imaginei que pegaria
uma professora.
Logo a de geografia.
Ninguém gosta de geografia. Mas, pelo visto, alguém gostava da
professora. Talvez ele tenha gostado tanto das aulas sobre os
montes geográficos que decidiu conhecer o monte pubiano dela.
Sorri sozinha com a minha própria piada.
Eu estava ficando louca.

— Não pense mal de mim, tá bom — Luc murmurou,


envergonhado.
Sentados de frente para o outro, notei seu rosto enrubescer.
Apesar da pele escura, era nítida a vermelhidão pulsando de maneira
alarmante em suas bochechas.
Era tão engraçado quanto desconcertante.
— Pelo menos me deixou menos entediada — tentei descontrair.
Ele sorriu, nervoso.
— Sei.
— Não precisa ficar assim. Somos amigos há um bom tempo.
Acho que em algum momento teríamos que passar por uma situação
esquisita.
— Não imaginei que a situação esquisita seria assim —
argumentou, os olhos castanhos postos sobre os meus. — Me
desculpa ter feito você ver... Bem, aquilo. — Suspirou, decepcionado
consigo.
— Tá tudo bem — confortei-o. — Não precisamos ficar tocando
nessa tecla.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele desviou os olhos para o jardim, onde alguns alunos


conversavam tranquilamente.
— Preferia que fosse o diretor da escola a ter visto nós dois
daquele jeito do que você — confessou, baixo.
Franzi as sobrancelhas.
— Não fale besteira. Ele teria demitido ela e expulsado você.
— E eu teria me importado menos.
Balancei a cabeça.
— Luc, qual é? Eu não estou te julgando por isso.
Ele voltou sua atenção inteiramente para mim.
— Você sabe as minhas pretensões por você. Conhece o que eu
sinto — admitiu. — Não queria que tivesse aquela cena sobre mim
na sua cabeça. Isso não é o que eu quero que saiba. Quero ser
melhor para você.
Meu coração se comprimiu no peito.
Isso era pior do que se só estivéssemos estranhos perto um do
outro.
— Eu pensei que gostasse dela — comentei.
— É só sexo, Dytto. — Ele deslizou suas mãos sobre a mesa, até
tocarem as minhas. — Não tenho sentimentos por ninguém além de
você.
— Pensei que tivesse deixado isso para trás — cochichei.
Ele curvou um sorriso triste.
— Eu sei que está com ele. E sei que isso não vai mudar, mas,
eu ainda sinto tudo aqui dentro. E me dói pensar que nunca vai
existir nós dois. — Ele deixou que o olhar recaísse sobre nossas
mãos próximas. — Nunca vou ser capaz de competir contra isso.
Eu quis chorar naquele momento.
Eu não estava mais com ele.
Não existia mais nós dois.
Me forcei a prender o choro e afastei minhas mãos, escondendo-
as sobre o meu colo debaixo da mesa.
— Loren vai embora para os Estados Unidos nas férias. Entrou
em uma ótima faculdade no Arizona — mencionei, para que o foco
fosse desviado. — Acho que seria legal uma festa de despedida hoje.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele pigarreou, abraçando os seus sentimentos de volta. Sendo


levado a mudar de assunto tão drasticamente para me acompanhar.
— Sei de uma hoje.
Sorri, mais animada.
— Perfeito. Me passa o endereço e vamos nos encontrar lá. Vai
ser ótimo.
Ele assentiu.
— Fico feliz que ela esteja se dando bem. Muito em breve serei
eu. — Ele procurou sorrir, mas os lábios pareciam não querer.
— É. Vai, sim — incentivei, embora isso não mudasse o clima
pesado.
Era muito mais fácil quando apenas guardávamos nossos
pensamentos.
Revelar um profundo sentimento resultava em problemas
demais. No fundo, eu culpava Luc por admitir em voz alta algo que
eu não era capaz de retribuir.
No fundo, era melhor não sentir nada por ninguém.
Nunca.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

26 de Junho | Quarta

O som alto fazia convite aos loucos e bêbados jovens da cidade


naquela noite.
A humilde casa no fim da esquina iluminava a rua Marti com sua
decoração néon. E, embora fosse um lugar pequeno, já abrigava
pelo menos uma dúzia de adolescentes dispersos em seu jardim.
O som estourava dentro do carro de Loren, fazendo com que os
vidros se agitassem em uma vibração sonora. Os olhos da minha
irmã ganharam vida ao notar a rua cheia. Estávamos há um tempo
procurando vagas, até que, por sorte, uma foi desocupada a tempo
de passarmos por ela.
Meu coração batia freneticamente em meio a animação provinda
do lugar. Gritos eufóricos soaram do fundo da casa ao mesmo tempo
em que um estouro de água surgiu. Definitivamente havia uma
piscina no quintal.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Minha irmã estava ansiosa para se enfiar naquela bagunça.


Saltou do automóvel assim que estacionamos.
Do momento em que descemos do carro até o que atravessamos
a porta de entrada, não soltei a mão de Loren nem por um segundo.
Loren era bizarramente conhecida pela cidade e, conforme nos
enfiávamos em meio à multidão amontoada no pequeno espaço da
sala, éramos barradas de um em um instante por algum conhecido
seu. Ela cumprimentou meio mundo em um curto espaço de tempo.
Ao chegarmos finalmente no jardim, inspirei o máximo de ar que
pude.
Eu estava confusa. Meu corpo inteiro estava eletrizado em meio
ao ambiente caótico, no entanto, minha mente buscava por algum
alívio. Eu não estava habituada a lugares tão cheios ou barulhentos
assim.
O grave da música na caixa de som fazia o chão debaixo dos
meus pés tremerem.
A gritaria cacofônica repercutia em todo o ambiente. Em breves
intervalos entre a letra da música pop e os berros, consegui me
aproximar do ouvido de minha irmã.
— Acho melhor procurarmos um lugar mais afastado. Tô me
sentindo claustrofóbica — berrei, obrigando minha voz a se
sobressair ao barulho.
Ela assentiu, sabendo que seria desnecessário tentar dizer algo.
Segui Loren até o outro lado do jardim, que possuía o triplo do
tamanho da casa. Tive medo ao passarmos pela piscina carregada
de pessoas e acabar sendo empurrada ou escorregar. Eu estava
usando um vestido preto, bem curto. Odiaria me molhar naquela
vestimenta que se desajustava em meu corpo a cada passo dado.
Por cada um que passei, notei que seguravam uma lata de
cerveja ou um copo na mão. Certamente não sairia ninguém sóbrio
daqui esta noite.
E, bem, parece que eu não seria a exceção. Loren me passou
um copo, que tomou de outro alguém. Ninguém sabia mais o que
bebia, o álcool era apenas repassado de mão em mão.
— Bebe — ela disse, olhando-me nos olhos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Em meus dias mais sãos, eu o teria negado. Afinal, quem bebe


no copo de um desconhecido?
Mas eu não estava sã por aqueles dias.
Enquanto tentava o fazer, sentia meu corpo sendo esbarrado
pelas pessoas que andavam às minhas costas. Ouvia os breves
pedidos de desculpas em meio a correria, mas que não pareciam
realmente sinceros. O quintal estava lotado. E a bagunça de pessoas
servia apenas para que meus olhos pulassem de rosto em rosto, sem
conseguir reconhecer ninguém.
Eu definitivamente não gostava de lugares cheios.
Virei o copo de plástico de uma só vez na boca, sentindo o
líquido queimar a minha garganta. Desceu quente. Aquela
fervilhação em meu estômago parecia atraente para muitas outras
doses, mas me controlaria um pouco antes de ficar completamente
bêbada.
Eu não ligava de me embebedar aquela noite. Só queria que a
minha mente se desligasse. Precisava me dopar com algo.
— Vem, vamos dançar — Loren falou, tomando uma grande
dose de uma garrafa de tequila

Uma hora depois, minhas panturrilhas e pés estavam me


matando.
Depois do quarto copo ninguém mais se lembrava de contar. Eu,
pelo menos, não.
Loren pulava animadamente. Seus passos destoavam das
batidas da música, porém, ela não se importava. Eu já estava
alterada, apenas seguia seu ritmo louco e bagunçado. De vez em
quando a perdia de vista em meio a muvuca. Em determinado
momento, encontrava fragmentos do seu corpo saltando. Ficamos
nesse impasse entre nos encontramos e desencontramos à medida
que as músicas eram trocadas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu jogava os meus braços para o alto e gritava junto da galera.


A playlist era meio clichê e sem graça, com músicas insalubres da
atualidade. Entretanto, quando se tem álcool no organismo, até as
piores melodias tornam-se dançantes.
Em algum momento da minha dança, duas mãos sutilmente
tocaram a minha cintura, virei-me imediatamente, encontrando o
amigável rosto de Luc saudando-me.
Ele estava cheirando muito bem, um perfume forte e amadeirado
exalava de todo o seu corpo. Havia um corte mais elegante em seu
cabelo e ele vestia uma roupa que o deixava ainda mais bonito do
que era.
Empolgada, sorri com a sua presença ilustre. Não imaginava que
ele realmente fosse vir, visto que andava focado nos estudos. E na
professora de geografia.
Céus! Nunca imaginei ela se envolvendo com um aluno, porém,
poderia estar vivenciando a crise dos trinta ou coisa assim.
O que me confortava era o fato de ele não ter escolhido uma
professora com os seus setenta e poucos anos, apesar de achar que
Luc fosse mais criterioso com idades.
— Você — cumprimentei-o, alto o suficiente até mesmo para a
curta distância entre nós dois.
Ele riu, achando graça.
— Acho que alguém já está muito bêbada, não é? — pontuou,
abrindo aquele seu lindo sorriso charmoso para mim.
Balancei os ombros, em diversão. Estava com o corpo suado,
meu coração estava disparado e minha pele meio gelada, não por
culpa da temperatura. Embora estivéssemos no inverno, o clima
estava ameno, dando uma folga de seus tortuosos dias gelados.
Gostava do fato de não ter vindo com um casaco pra lá de grande
esta noite. Estava totalmente a fim de me exibir.
Aproximei meu corpo do seu, rodeando o seu pescoço com os
braços.
— Você não me disse que vinha — percebi, gritando sem muita
necessidade. O som não estava mais tão elevado e eu com toda
certeza estaria sem voz no dia seguinte.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você não me perguntou se eu vinha, só me perguntou da


festa — rebateu.
Joguei a cabeça de um lado para o outro como quem
concordava.
— Tô surpreso em te ver aqui. — Me aproximei ainda mais,
sentindo seu corpo quente colar ao meu. Não me importava com
aquela proximidade. Luc era o único garoto que não me deixava
desconfortável em me manter tão perto.
Suas mãos pousaram delicadamente em minha cintura, num
gesto respeitoso.
— Por quê? Não acha que eu sou capaz de andar em festas? —
brinquei, escandalosa.
— Não é isso. Tenho certeza que existe uma Dytto festeira
dentro de você. O que me preocupa é a quantidade de meses de
castigo que isso vai te custar. — Luc encostou seu rosto em meu
ombro e embalou comigo junto à dança.
Estava tocando uma música eletrônica sem letra alguma. Isso
me dava nos nervos. Preferia gritar letras sentidos a ouvir batidas
desconexas que diminuíam sua intensidade em seu clímax. Era
frustrante!
— Meus pais estão há um passo do divórcio — eu disse e ele se
afastou, apenas o suficiente para me olhar cara a cara. — A única
coisa que eles sabem no momento é só gritar um com o outro e
evitar as filhas — desabafei, tristonha. — Sem castigos desta vez.
Eles sequer se lembram de nós duas agora. — Dei de ombros.
Este era um outro motivo pelo qual eu gostaria de me
entorpecer.
A relação de Ever e Théo já havia chegado ao seu fim há muito
tempo. Somente ainda não tinham aceitado a situação.
Consequentemente, todos nós presenciávamos o rancor de duas
pessoas que não se amavam mais, porém, que viviam uma ilusão
por puro capricho.
Eu não sabia se ainda esperavam por um milagre em seu
relacionamento ou se apenas eram egoístas demais para dividirem
os bens.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

No fim das contas, apenas seria melhor se isso acabasse de uma


vez. Essa relação desgastava a todos nós mentalmente. Era horrível
ter que se trancar em meu quarto para chorar pelo meu amor não
vivido, enquanto no andar de baixo, ouvia berros de um amor que
morreu.
Nunca fomos uma família amorosa ou unida. Mas também não
éramos tão destruídos assim. Eu nunca saberia o que é ter pais
amorosos e acolhedores, porém, seria feliz se soubessem que ambos
conseguiram se libertar dessa relação tortuosa.
— Sinto muito, Dy. Eu não fazia ideia — disse, enxugando
lágrimas do meu rosto que nem eu mesma havia notado.
Balancei a cabeça e sorri para tranquilizá-lo.
— Tá tudo bem. Eu quero beber e me divertir esta noite. —
Forcei-me a não ligar. — Pode dançar comigo e evitar que caras
nojentos se esfreguem na minha bunda, por favor?
Ele assentiu.
— Pode deixar, garota. Essa noite é uma criança.
— Então chega de papo triste — comemorei.
Ele concordou, mas de repente, suas sobrancelhas se franziram.
— Seu namorado não vai vir aqui dar um de macho alfa não, né?
— quis saber, preocupado.
Eu devia estar ciente de que em algum momento perguntas
assim iriam surgir, mas isso não atenuava o impacto.
Engoli em seco, obrigando-me a esconder todas as lágrimas que
insistiam em se derramar no meu rosto.
— N-não — murmurei, não olhando diretamente para o seu
rosto.
Virei-me de costas a tempo de um soluço repercutir e agarrei
suas mãos, repousando-as sobre a minha barriga.
— Dançar, Luc. Vamos dançar — repeti, cortando o fluxo de
nossa conversa.
Ouvi-o rir atrás de mim, mas prosseguimos com o nosso ritmo
arranhado e torto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Loren veio até nós depois de duas músicas. Ficamos nós três,
juntos por um tempo, até que meu corpo não suportou mais tanto
tempo dançando.
Eu precisava de um lugar para me apoiar ou cederia aqui
mesmo. Minha garganta estava seca. Luc gentilmente se ofereceu
para buscar uma garrafa de água para mim. Quando me entregou,
senti vontade de abraçá-lo em gratidão.
Ao fim da música lenta que tocava, perdi Loren completamente
de vista. Ela já deveria estar com a língua dentro da boca de algum
cara. De todo modo, era sempre assim.
Luc não tinha bebido nada, e parecia pouquíssimo a fim. Decidi
que permanecíamos perto um do outro. Entrelacei os meus dedos
nos seus e seguimos em direção a sala.
Como grande parte dos festeiros estavam no quintal, a casa
acabou ficando mais livre e espaçosa. Embora os mais introvertidos
ainda se escondessem por ali. Não os culpava. Também gostava de
me isolar.
Desabei no sofá duro e Luc fez o mesmo no espaço ao meu
lado. Deixei que minha cabeça tombasse em seu ombro e suspirei
cansada.
— Eu estou morta — grunhi.
Ele riu.
— Está mesmo fora de forma — gracejou.
Luc dizia que eu deveria entrar para o time de futebol feminino
da escola, mas isso definitivamente não estava nos meus planos.
Dytto Bell e esportes eram quase antônimos em algum dicionário da
vida.
— Só um pouco.
— Deveria correr de vez em quando. Só para... sabe como é,
seu sangue não coagular no corpo. — Ele riu de sua própria piada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu corro, sim — me defendi.


— Ah, claro. — Ele gargalhou.
— Tá. Tá. Tá. Você perdeu o direito de me julgar hoje mais
cedo.
— Pensei que tivesse dito que não me julgaria por aquilo.
Ergui o corpo, ajustando-me para ficar de frente a ele. Sentei
sobre minhas pernas e olhei-o nos olhos.
— Mas não estou. Só que ela é... — Cobri a boca, abafando um
sorriso — A professora de geografia — entoei devagar, ainda
desacreditada.
Ele cobriu o seu rosto, envergonhado.
— Esqueça isso, pelo amor de Deus — pediu, sorrindo.
— Bom, isso vai ser meio difícil. — Eu ri. Luc sabia bem a razão.
Isso estaria marcado em nossa amizade pelo resto de nossas vidas.
Ele desviou o olhar. Tinha uma tendência em tornar-se tímido
para certas circunstâncias. Em geral, ele era muito extrovertido,
porém, para alguns assuntos, voltava a agir como uma criança
desconcertada.
— Me diga pelo menos que ela bancava você — caçoei.
Suas bochechas coraram.
— Não foi assim.
— Então me conta. Adoro uma história quente de professora e
aluno — provoquei, irônica.
Ele umedeceu os lábios e deixou que o olhar recaísse para o
carpete, nostálgico.
— Ela me viu por acidente no vestuário da escola, nu. Disse que
tinha entrado lá para buscar umas coisas e... — Ele suspirou. — Eu
me cobri com uma toalha, mas ela continuou encarando o meu
corpo, estava muito... — seu tom de voz abaixou abruptamente —
excitada. — Ele se contorceu, como se falar aquilo em voz alta fosse
demais.
Meu rosto ardia de vergonha, mas eu estava interessada em
descobrir tudo.
— Ela veio para perto de mim e começamos a conversar. Eu me
ofereci para ajudar a procurar a droga de uma caixa com boias. Eu

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

nem sei pra que ela queria aquilo. Ela não é nem supervisora do
grupo de natação, sabe? — Ele coçou a nuca. — E aconteceu a coisa
mais idiota do mundo. A minha toalha caiu justamente quando eu
ergui a caixa. — Ele riu, como se fosse muito estranho.
— Então decidiram recriar um filme pornô? — Ri.
Ele balançou a cabeça, timidamente.
— Eu sei lá. Ela só, desceu lá embaixo e... — Seus olhos ainda
eram fixos no carpete, sem coragem para me encararem. — Fez.
Mordi os lábios, prendendo a risada que queria explodir de
minha boca.
— E caramba... Ela era muito boa. — Luc sorriu. — No dia
seguinte, ela ficou me encarando na sala a aula inteira, e quando o
sinal tocou, ela me pediu para que eu ficasse. Foi quando ela disse
que aquilo não se repetiria, e que foi um erro. — Ele franziu as
sobrancelhas. — Mas aí no dia seguinte, ela estava lá no vestiário,
no mesmo horário. Me esperando.
— Há quanto tempo isso vem rolando?
— Sei lá, já tem um tempo. Três semanas, acho.
Não dei minha opinião. Não poderia julgá-lo. Também me envolvi
com quem não deveria.
— Hoje mais cedo, não deveria ter acontecido. Eu estava me
escondendo porque sabia que essa relação é um total fracasso. Mas
ela me procurou para conversamos. Disse que entendia. Mas sabe
como é né, Dytto? Eu estava envolvido demais. Vulnerável demais.
Começamos a nos beijar e aconteceu. E, de repente, a porta se abriu
e lá estava você.
Ele retornou o seu olhar para o meu.
— Eu achei que estava verdadeiramente encrencado. — Ele
suspirou. — Depois daquilo, acabou, de vez. Eu não vou mais voltar
a ficar com ela. Eu não quero ser assim. Sinto que tudo isso está
errado. É como se ela estivesse brincando comigo, me manipulando
a querer. Eu sei lá. Não é como eu a culpasse. Ninguém botou uma
arma na minha cabeça, mas eu me sinto um pouco... levado a fazer
o que ela quer. Entende?
— Luc, se você está desconfortável. É melhor parar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Esse é o problema, Dytto. Eu não me sinto desconfortável. —


Ele jogou a cabeça para trás, apoiando-a na cabeceira do sofá. — Na
primeira vez eu me senti horrível. Mas depois, a culpa foi embora. Só
que, eu me sentia estranho. Uma sensação de que eu devia querer
parar. Mas ela me faz querer continuar. E eu não sei como sair dessa
relação doentia.
Afaguei o seu ombro.
Esse sentimento eu conhecia bem. De estar no erro e não saber
como fugir sem ceder. De sentir o desejo ardente crescendo cada
vez mais e mais, sabendo que é errado.
— Pode começar a evitando. Vamos entrar de férias muito em
breve. Terá tempo para deixar isso longe da sua mente. Será só mais
um semestre antes de você ir embora da escola de vez —
aconselhei.
Ele me olhou com um meio sorriso nos lábios.
— É, pode ser — concordou sem muito animo. Seu olhar se foi
para o centro da sala. — Ah, fala sério! — resmungou, triste.
— Que que foi?
— Nossa festa acabou de furar. — Ele entortou o canto dos
lábios, entreolhando algo. — Seu namorado chegou — avisou.
Meu coração parou. Senti minhas bochechas esquentarem e
minha respiração tornar-se sôfrega.
Segui bem lentamente o seu olhar, com medo demais de
descobrir o que encontraria.
Não muito longe de nós, Christopher cumprimentava alguns
caras em uma rodinha, de pé ao lado da porta. Não era muito longe
de onde estávamos.
Ele parecia exausto. Com olheiras fundas que circundavam seus
olhos. As visíveis expressões de cansaço evidenciavam-se em seu
rosto. Suas pálpebras se mostravam sonolentas e baixas. Residia em
seus olhos uma nítida tristeza.
Não saberia dizer se eu estava pior ou igualmente destruída,
visto que comecei a evitar me olhar no espelho desde que constatei
meu rosto inchado mais vezes do que conseguia contar nos dedos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Estava claro que nós dois passamos pelo mais amargo


sofrimento que duas pessoas que se amam eram capazes de
atravessar.
Eu quis me enfiar debaixo daquele sofá. Me acovardei no minuto
em que o vi.
Todas aquelas emoções de desespero e angústia entalaram-se
dentro de mim. Eram sentimentos demais. Eu estava mergulhada em
aflição.
— Vou voltar para a pista de dança — Luc se pronunciou. — Te
vejo depois, Dy. — Se levantou, afastando-se rápido demais.
Eu queria ter segurado o seu braço com todas as minhas forças
e implorado para que ele ficasse ao meu lado. Mas eu não fui capaz.
Estava paralisada dos pés à cabeça. Presa ao rosto de Christopher.
Senti meus olhos embargarem em lágrimas. Tudo o que tentei
esconder nos últimos dias, veio à tona como uma chuva
tempestuosa.
Notei que ele parou por um momento, rolou os olhos pela sala,
mas os estagnou antes que chegassem em mim. Ele sabia que eu
estava aqui, mas se deteve para não me ver.
Será que ele sentia o mesmo que eu?
Era injusto que ele soubesse exatamente como eu estava, mas
que eu nunca poderia ser capaz de dizer se meus sentimentos eram
mútuos.
Esperei, e torci para que viesse até mim. Implorei mentalmente
para que me buscasse nesse sofá. Que estivesse me desejando feito
um louco. Meu coração estava sangrando naquele momento. A dor
assolava o meu peito.
Eu solucei, e a primeira lágrima veio. Elas não parariam. Eu sabia
que não iam parar.
Eu não tinha forças contra aquilo.
Christopher despediu-se de seu grupo de amigos. Girou os
calcanhares e marchou para o quintal da casa, não olhando para
mim nem por um milésimo de segundo sequer.
Ele simplesmente seguiu o seu caminho, como se eu nunca
tivesse existido em sua vida. Como se nós dois simplesmente nunca

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

tivéssemos nos amado.


Eu queria morrer ali.

Eu já estava naquele sofá há tempo demais. 20, 30 minutos,


talvez. Não chorava. Apenas permanecia em estado de choque.
Voltando em memórias do passado. Revivendo os beijos e as
carícias.
Estava desmoronando em meus próprios pensamentos. Minha
mente ia e vinha do passado ao presente. Pendendo entre o amor e
a dor.
Eu era tão dependente dele que não sabia ser capaz de me
aproximar daquele jardim novamente. Não conseguiria olhar para ele
e permanecer no mesmo local, fingindo que nada aconteceu.
O término foi a decisão mais difícil que eu precisei tomar. E
agora lidava com as consequências. Sentindo todo o peso da culpa e
da saudade me corroendo noite e dia.
Se eu pudesse. Se eu conseguisse. Teria corrido para bem longe.
Meus olhos trancaram-se à saída, encarando-a por entre as
pessoas que permaneciam em meu campo de visão.
Eu estava entorpecida em meus devaneios. O álcool fora capaz
apenas de roubar o meu equilíbrio, mas Christopher tomou o meu
fôlego e a razão.
Encarei as minhas próprias mãos sobre as minhas coxas. Queria
usá-las para algo, não lembro. Acho que eu queria me levantar.
Estava atordoada. Sentia-me pesada e desconexa da minha
realidade.
Forcei-me a erguer o meu corpo sentado sobre as minhas pernas
no sofá e me desvirei. Apoiei-me nos móveis e nas pessoas à minha
frente. Alguém me auxiliou a levantar, não vi quem.
Arrastei os pés e apressei os passos em direção a saída da casa.
Estava cambaleando, mas comemorava mentalmente cada passo

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

bem-sucedido sem cair no chão.


Precisava de ar. Sentia minhas vias respiratórias fechando.
Estava taquicardia e trêmula. O choro embolou-se em minha
garganta e fugi para onde o carro de Loren estava estacionado.
Encostei o corpo na lataria e desatei a chorar, sem fôlego.
O amor não deveria deixar alguém tão frágil assim. Então culpei
o álcool por se sentir uma estúpida.
Estava claro. Christopher não ligava. Era eu quem estava me
escondendo. Agachei-me e tentei criar um ritmo de respiração
constante. Era difícil, todavia, necessário.
Ninguém me veria chorando de onde eu estava e fiquei aliviada
por isso. Toda a movimentação concentrava-se apenas em frente à
casa.
Levantei-me novamente e apoiei os braços no carro, encostando
a testa neles. Persistindo em ficar bem. Lutando contra aquela
enxurrada de sentimentos ruins.
Apertei as unhas na palma da mão e as pressionei em minha
carne. Um pouco de dor física talvez abafasse a agoniante sensação
que me matava por dentro.
Porém, meu corpo inteiro estremeceu no segundo em que algo
pontiagudo tocou com firmeza a minha costela.
— O celular, agora! — a voz era exigente e rude.
Tremi, virando-me em sua direção. O seu rosto estava
completamente escancarado, sem máscara ou venda para o cobrir,
isso significava que ele não tinha medo de que eu soubesse quem
era, ou então, que acabaria comigo assim que finalizasse o seu
roubo.
O homem parecia jovem, porém, a pele era marcada por
manchas escuras, os olhos débeis e vermelhos encaravam-se de
modo assustador, denunciando o seu vício por drogas.
Parecia nervoso, irritadiço e tremia muito. A boca estava seca e
maltratada. A barba por fazer estava suja e o seu corpo fedia.
Aparentava estar passando pela abstinência.
— Passa, porra! — repetiu, mais cruel.
— E-eu não. Não tá aqui — disse, nervosa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O medo de morrer tomou conta. Eu estava sozinha, poderia


acontecer qualquer coisa.
Meu celular estava no carro e não havia nada de valor que eu
pudesse lhe entregar. Me empertiguei, afastando-me um pouco mais
para trás, apenas para aliviar a pressão que ele fazia com a faca
sobre o meu vestido.
— Não mente pra mim, caralho. Passa o celular ou eu... — Seu
rosto atingiu a lataria do carro de uma maneira tão brusca que me
fez saltar para trás.
As mãos, autoras do ato, permaneceram lançando a cabeça do
ladrão repetidamente contra a lataria do carro, esmagando os ossos
do nariz do indivíduo. Seu rosto agora ensanguentado arquejava de
dor.
A faca rolou no chão e rapidamente a peguei, apontando para os
dois. Meu olhar lançou-se em direção de quem o segurava.
Christopher estava ali, em sua forma mais possessa. Não era um
demônio, mas agia como um em sua forma humana.
Engoli em seco, vendo a sua face revestida em fúria.
Ele largou o homem no chão. Chutando a sua costela uma.
Duas. Três vezes.
Eu estava tremendo, ainda apontando a faca na direção dos
dois, assustada.
O ladrão gemia de dor, engasgando-se em seu próprio sangue.
Christopher agauchou-se sem dizer nem uma única palavra e
agarrou o seu cabelo. Assim, saiu arrastando-o no asfalto cru,
rasgando as pernas expostas pela maltrapilha que mal cobria
qualquer parte do seu corpo. Os tecidos de roupa completamente
desgastados fizeram com que ele ficasse exposto, deixando rastros
de sangue de suas coxas no chão.
Enquanto relutava para que fosse solto, gritando aos quatro
ventos, pedindo socorro, Christopher o feria sem piedade. Cruel e
frio.
Um pequeno amontoado de curiosos se formou próximo de mim.
Queriam entender o que estava acontecendo. O burburinho do
pequeno grupo começou, todos apavorados com a cena.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Demorou até que Christopher retornasse, somente quando o


jogou em um bueiro na esquina da rua, que se conteve. Ele voltou a
passos largos. As pessoas que o assistiam abismados logo saíram de
perto. Todos estavam com medo do que ele poderia fazer.
Christopher marchou em minha direção e arrancou a faca de lá,
arremessando-a para bem longe.
Ele puxou a manga de seu casaco para baixo. Com uma mão,
segurou o meu queixo, e com a outra, limpou o meu rosto de algo.
Chris me conferiu de cima baixo. Os olhos sérios e franzidos
continuavam procurando por algo mesmo após já tê-lo feito.
— Ele te machucou? — perguntou, sério.
Balancei a cabeça.
Não sabia como me sentir.
Ele alisou o meu cabelo com as suas grandes mãos e me puxou
para mais perto. Seu cheiro automaticamente me atingiu. Eu queria
mergulhar nele ali mesmo.
Christopher me abraçou, apertando-me nele. Eu não resisti, fiz o
mesmo.
No seu abraço, me sentia em casa.
Sua evidente preocupação aqueceu-me por dentro. Passei a mão
pelo meu rosto, enxugando os vestígios de lágrimas, embora já
tivessem sido vistas.
— Tem mesmo certeza de que ele não te machucou? — insistiu,
afastando-se apenas um pouco.
Sacudi a cabeça, confirmando.
Ele segurou o meu rosto entre as suas mãos e, com o dedão,
acariciou a minha bochecha. Christopher me olhava cheio de ternura.
Antes tão frio, agora tão caloroso. Eu não sabia lidar com isso.
— Aquele merda vai ficar preso naquele bueiro por um tempo
até conseguir se levantar de novo — avisou.
Assenti. Era o melhor a se fazer.
— Inferno. Você está tão magra — notou, preocupado. Havia
aflição em sua voz.
— Eu estou bem — cochichei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Preciso que se cuide, amor — pediu, novamente abraçando-


me — Você precisa se cuidar. — Beijou o meu pescoço.
— Chris...
— Não se preocupe. Vai dar tudo certo. Mas, por favor, fique viva
e saudável. — Ele me olhou no rosto. — Merda, Dingo — reclamou,
irritado.
— Eu estou tentando. Juro que estou.
Christopher balançou a cabeça e aproximou-se. Seus lábios me
roubaram um beijo ardente. Eu não me opus. Não podia. Precisava
tanto dele.
— Me prometa, Dytto. Que não vá desistir — arfou em meio ao
nosso beijo. — Me prometa! — exigiu.
— Eu prometo.
Ele apertou os dentes.
— Você é muito descuidada. É desobediente — reclamou. — Não
faça isso consigo. Que merda!
Ele beijou a minha testa.
— Eu odeio quando age assim, Dingo Dingo. Isso me mata,
caramba. Te ver triste me mata. Te ver chorando me destrói. Isso já
é difícil o suficiente — brigou. Estava com tanta raiva que não sabia
se conter.
Ele inclinou meu rosto para cima. Seu dedo acariciando uma de
minhas sobrancelhas.
— Eu nunca mais quero ver você assim, novamente. Nunca
mais.
Fechei os olhos.
— Disse que queria me ver infeliz pelo resto da vida — memorei.
— Eu prefiro sofrer no inferno a isso — disse.
— Sinto sua falta — sussurrei triste, e abri os olhos.
Ele curvou um meio sorriso.
— Eu sei... Também sentimos a sua.
Asafe. Eu também morria de saudades dele.
Lambi os lábios.
— Me leva com você hoje — pedi. — Só mais uma vez, Chris.
Ele fechou os olhos, em uma luta interna consigo mesmo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Me aproximei, beijando o seu peitoral.


— Só mais essa vez — implorei.
— Só mais essa vez — concordou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

27 de Junho | Quarta

Um zunido baixo perturbava os meus deliciosos sonhos.


Minha mente tentava, a todo custo, desligar-se para, então,
mergulhar na maravilhosa sensação de estar inconsciente. Por outro
lado, meu celular continuava tentando, de maneira persistente,
destruir isso.
Eu odiava a determinação do responsável em continuar me
ligando, mesmo após ter sido obviamente ignorado. Eu devia ter
atendido no que parecia ter sido a primeira ligação, mas acho que
voltei a dormir sem querer. Só que aquela maldita vibração não
parava.
Irritada, bufei alto, tateando a mão sobre o móvel ao lado da
minha cama. Não me dei o trabalho de abrir os olhos. Arrastei o
dedo sobre a tela e torci para ter recusado a chamada por acidente.
No entanto, ao colocar o aparelho contra o ouvido, alguém já falava
no outro lado da linha.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Loren, caramba! — trovejou rude.


Pisquei várias vezes, frisando as sobrancelhas com estranheza.
Aquela voz me parecia familiar.
— Quem é? — perguntei, arrastada e sonolenta.
— Acorda agora!
— Amara? — reconheci. — Porra. — Virei-me de barriga para
cima no colchão.
Já havia um bom tempo desde que nos falamos pela última vez.
Dali em diante, passei a ignorá-la, pois sabia que isso me lembraria
de um lado meu que eu não poderia assumir. Ele deveria se manter
sufocado.
— Que droga você quer? Tá com saudades? — eu provoquei-a.
Um breve silêncio se fez presente. Foram apenas cinco
segundos, mas que pareceram uma eternidade.
— É a sua irmã — avisou, tensa. — Precisa vir imediatamente —
parecia abalada.
Em um rápido movimento sentei-me no colchão.
— O que aconteceu? Cadê ela? Ela se machucou? — disparei,
afoita.
Pulei da cama, alarmada e corri para o closet, procurando pela
primeira peça de roupa que surgisse.
— Ela está muito mal, Loren. Precisava vir para a casa do
Christopher — explicou, baixo.
— Casa do Christopher? — berrei. — Que porra esse imbecil fez
com a minha irmã? Eu vou arrebentar ele — esbravejei, desejando
tê-la impedido de ir com ele na noite passada.
Sabia que foi um erro ter permitido que fossem embora juntos
quando Dytto me procurou, mas ela parecia tão triste que, por um
segundo, imaginei que pudessem resolver suas indiferenças e
voltarem a namorar.
Agora percebo que foi um grande erro.
— Loren, apenas vem. Ela precisa de você. Ela... — Amara
suspirou. — Traga roupas limpas. Ela está toda suja.
— Suja? O que aconteceu, Amara? Que merda! Fala alguma
coisa — surtei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Tudo o que me vinha a mente eram cenas horrorosas de


Christopher batendo em Dytto ou coisa pior. Todas as minhas
paranoias se tornaram grandes monstros em minha mente, sendo
alimentados por todas as teorias loucas do que poderia ter
acontecido.
Eu estava tremendo.
— Não fale para ninguém que você está vindo. Vou passar o
endereço — disse ela, mais calma. — Venha sem ninguém saber —
reforçou.
De repente, a chamada ficou muda.
Ela havia desligado.
Achei que naquele dia, eu encontraria o pior de minhas
hipóteses quando saí de casa. Mas o que encontrei, superou tudo o
que eu tinha imaginado.
A cena permaneceria perpetuada pelo resto da minha vida em
minha memória.

27 de Junho | Quarta

Horas antes...
Sentia frios na barriga como da primeira vez que o vi.
De soslaio, o observava dirigir. As grandes mãos seguravam o
volante com força. O rosto estava sério e ímpio. Os braços largos e
fortes evidenciavam as suas várias tatuagens.
Tinha sentido tanta falta de olhá-lo que mal conseguia conter a
vontade que tinha em beijá-lo. Existia uma conexão entre nós dois

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

que tempo nenhum poderia apagar.


Eu o amava tanto que doía. Doía ainda mais, porque eu sabia
que, depois de hoje, não poderia tê-lo.
— Sinto tudo o que está sentindo — comentou, atento à estrada.
— Então deve saber o que pretendo passar a noite inteira
fazendo — devolvi, sorrindo.
Ele lambeu os lábios, contendo um sorriso malicioso.
— É, eu sei.
Baixei os olhos para as minhas coxas.
— Sinto falta disso — murmurei. — De nós dois. Das
brincadeiras. Do sexo. De tudo. — Suspirei. — Sinto falta de você. Eu
não devia, não é? — ruminei. — Quer dizer, isso tudo não é certo.
Seu rosto transformou-se em uma máscara séria. Era complicado
para nós dois. Queríamos algo que não poderíamos ter.
Era como desejar a mágoa inevitável.
— Ainda dá tempo de voltar atrás. Se não se sente mais
confortável — sugeriu, parecendo não querer ter dito nada disso. —
A festa não acabará cedo, então...
— Eu sei. Mas não vou voltar atrás. — Balancei a cabeça. —
Preciso de você, Chris.
O carro diminuiu a velocidade, estacionando em frente ao jardim
de sua casa.
— Quero você — continuei.
Ele girou a chave na ignição e recostou-se no banco. Com os
dedos ansiosos, tamborilava o volante. Sentia como se quisesse me
dizer algo.
— Isso é perigoso, Dingo. Para nós dois. — Ele levou seu olhar
para o meu. — Ficarmos juntos hoje... Sabe que isso só vai acender
a vontade que temos todos os dias. Vai doer muito quando não
estivermos mais juntos. Quando eu disser que acabou. Quando você
for embora e...
Retirei o cinto de segurança e pulei em seu rosto, agarrando-o
aos beijos. Não queria ouvir mais nenhuma palavra de sua boca.
Eu já sabia.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sabia tudo o que aconteceria quando isso acabasse. Mas não era
no fim que eu estava pensando. Era no agora. E somente ele
importava. O agora. Nós dois. Nada mais.
Sutilmente passei uma perna para o seu banco, em seguida,
passei a outra, até que estivesse completamente em seu colo.
Enfiei meus dedos em seu cabelo, beijando-o com todo o meu
alvoroço. Agradecendo aos céus e infernos por tê-lo feito tão
perfeito.
Queria ficar ali, estendendo o tempo para que nunca passasse.
Para que eu pudesse lhe ofertar todo o meu amor e sentimentos que
guardei.
Ele era o meu ar. Precisava dele, nem que fosse apenas mais um
pouco. Minha alma exigia dele. Talvez estivéssemos conectados por
uma razão sobrenatural, ou então, éramos apenas dois viciados.
Suas mãos agarraram a minha cintura e exploraram o meu
corpo, descendo avidamente para as minhas coxas, subindo a borda
do meu vestido, e então acariciando minha bunda. Seus dedos
atrevidos desceram pela borda da minha calcinha, seguiram caminho
para entre o meio de minhas pernas. Sorri enquanto ainda o beijava.
Ele massageou minha intimidade por cima do tecido,
provocando-me discretamente. Seu longo dedo se infiltrou em minha
calcinha, esfregando-se em minha boceta. Arquejei, excitada. Estava
melada, ansiosa e pronta.
Embora partes de mim ainda estivessem em recuperação,
poderíamos apenas pegar mais leve. Tudo bem. Ia dar certo.
Ele friccionava o meu clitóris, masturbando-o bem devagarinho.
Ele parou de me beijar, descendo sua língua do meu maxilar até o
meu pescoço, chupando a minha pele. Deixando mordiscadas
gostosas. Gemi baixo, estava uma delícia.
De olhos fechados, mergulhada em puro êxtase, procurei pelo
seu cinto e o desfivelei. Em seguida desabotoei sua calça e a abri.
Ergui o meu quadril para que pudesse afastar a sua calça. Seu
dedo continuou me provocando, aproveitei-me da posição em que
estávamos para rebolar nele.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Christopher beijou o meu busto, deixando rastros até o colar do


meu vestido, o qual ele baixou com a mão livre, colocando meu seio
em sua boca. Eu ainda tentava livrar o seu pênis de sua roupa, mas
estava difícil manter a concentração. Sabia que ele estava duro,
então por cima de todo aquele tecido, apalpei-o, me aproveitando de
todo ele.
Christopher enfiou o dedo em mim.
— Cavalga — ordenou, olhando-me diretamente nos olhos.
Prendi o canto dos lábios com os dentes e fiz com o que me
pediu.
Devagar, subi e desci em seu dedo, até que conseguisse manter
um ritmo constante. Christopher deliciava-se com os olhos. Me
observava de cima a baixo, a sua face brilhava de satisfação.
Rebolei em seu dedo. Chris começou a movimentá-lo em um
entra e sai. Peguei o seu rosto entre minhas mãos e o enfiei em
meus seios, levando-a me chupar. Sua língua entornou os bicos, seus
olhos malignos olhavam-me de baixo, enquanto eu gemia.
Seu rosto estava grudado ao meu corpo, sua boca insaciável
sugava o meu peito.
Beijei a sua testa, ao passo que forçava seu rosto em meus
seios. Seu dedo nunca cessou os movimentos, continuava a me
penetrar forte. Meus quadris se remexiam mais rápidos agora.
Chris adicionou um outro dedo. Eu gemi alto.
— Espera. Espera — pedi, ofegante.
Ajeitei-me em seu colo, retirando seu pênis apressadamente de
sua cueca. Não ia esperar até que entrássemos dentro da sua casa.
Foda-se os vizinhos de Christopher. Não me importava em dar
um show no meio da rua escura hoje. Eu queria foder.
Seu pênis ereto saltou de sua roupa, a deliciosa visão das veias
saltando no seu membro grosso me fez lamber os lábios.
— Posso chupar? Quer dizer, você quer? Ou nós... — eu dizia
apressada.
Christopher puxou-me para mais perto dele pelo tecido da
calcinha. Ele a arrastou para o lado e me posicionou em cima dele,
mas parou bruscamente com os movimentos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Amor, eu estou sem camisinhas aqui — lembrou.


— Merda. — Suspirei.
— É — concordou.
— E se nós passássemos em uma farmácia? — perguntei,
ansiosa.
— Não vendem camisinhas para o meu pênis em farmácias,
Dingo Bells. — Ele riu ao responder. — Eu as peço na internet e só
tenho delas dentro de casa.
— Não sai com camisinhas por aí, é? — tentei descontrair, para
camuflar a minha aflição em não poder terminar o que começamos.
Eu estava com muita vontade, mas tentava ser racional. Um
bebê era a última coisa que eu queria no momento. Eu nem sabia
como ser uma mãe, e estava pouco a fim de descobrir gerando uma
criança.
— Sem necessidade. A única pessoa com quem eu transo andou
com feridas no útero, não precisei andar com nada.
Internamente, eu me gabei por isso. Não pelas feridas, é claro.
Mas por ser a única.
— Então, nada de sexo no carro? — desanimei.
— Poderíamos ir para o banco de trás para eu te chupar, mas
seria bem desconfortável pra mim. Sou muito alto pra transar em
carros.
— Me surpreende o fato de que você caiba em um. — Ri.
Ele tocou o teto.
— Por que acha que eu comprei um carro tão alto?
— Espero que não para transar com garotas. Eu também quero
ser a única a ter feito isso aqui.
Ele brincou com uma sobrancelha.
— Não era essa ideia no início, mas agora... — Ele acariciou as
minhas coxas. — Agora, seria muito bom transar com você aqui.
Toquei o seu peitoral, apalpando seus músculos sob a camiseta.
— E se... — Joguei a cabeça para o lado. — Você for bem
rapidinho lá dentro e pegar uma camisinha?
— Transar no carro é o seu mais novo fetiche, Dingo Dingo? —
Ele mordeu os lábios. Havia uma obscenidade sexy em seu rosto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Talvez. — Deslizei em seu corpo, descendo por entre as suas


pernas, até estar agachada no chão. Era apertado aqui. — Vamos
começar neste lugar primeiro. — Sorri, segurando o seu pau próximo
a minha boca. — E então... — depositei um selinho na glande, isso o
fez se empertigar — podemos continuar com outras coisas.
Prendi o meu olhar no seu, ele acariciou a minha face com os
dedos.
— Parece um plano incrível — animou-se.
Chupei apenas a ponta do pênis. Deslizei a língua sobre ele,
provocativa. Christopher puxou o ar com força, agarrou o meu
cabelo com brutalidade e apertou o maxilar.
— Não seja tão má — implorou.
— Não sou. Mas preciso ter cuidado. São trinta e dois
centímetros aqui — caçoei.
Christopher sorriu.
— Eu exagerei um pouco.
— Exagerou quanto? — quis saber.
— 2 centímetros — respondeu, orgulhoso.
Revirei os olhos. Quanta diferença! De 32 para 30 é quase nada.
— Certo. Então me deixe cuidar dos seus trinta centímetros,
amor. — Joguei-lhe uma piscadela.
— Me chupa, anjo. — Ele acariciou a minha bochecha. — Eu
quero que faça isso me olhando com essa cara de danada.
— Eu vou. — Mordi os lábios. — Mas quero que, enquanto isso,
me conte o porquê das tatuagens no pau.
Lambi a extensão de seu pênis bem devagarinho e o senti pulsar
em minha mão, excitado.
— Eu estava chapado — começou, a voz sôfrega. — E eu achei
que seria leg... — Coloquei-o na boca, fazendo sucção, Chris grunhiu
— ... L-legal — conseguiu terminar.
Seu aperto em meu cabelo ganhou intensidade.
— Porra, e... — Se deteve quando coloquei mais dele em minha
boca, seu corpo estava implorando por mim. — Eu não me lembro
muito bem de muita coisa. Tinha usado drogas pra caralho. — Ele
gemeu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Tirei seu pau de minha boca e coloquei um de seus testículos


nela.
Ele sorriu, ofegante. E desceu sua mão para o meu pescoço.
— Eu tô com uma puta vontade de te encher de tapa —
confessou, provocativo.
Em resposta, afastei o meu rosto de seu pênis, dando-lhe
liberdade para que o fizesse.
Fui atingida no rosto. A ardência queimava em minha bochecha
e na lateral dos meus lábios.
Com os olhos fixos nos seus, coloquei seu pênis em minha boca,
afundando-me nele até onde pude.
Fiz pressão com a língua, mantendo contato visual. A grossura
do seu membro fazia minhas bochechas doerem, mas valia a pena.
Deslizei-o em minha boca, mantendo um ritmo lento. Tirei-o
algumas vezes para lamber e chupar a ponta. Gemia baixinho e
manhosa enquanto o fazia. Gostava de ver o rosto vermelho de
Christopher. As veias em seu pescoço acentuaram-se conforme eu o
chupava tão dedicada. Fazia movimentos com a língua. Com uma
mão, massageei o testículo, isso o atiçou.
Christopher pressionou apenas um pouco da minha cabeça em
seu pau, guiando-me a ser um pouca mais rápida.
— Isso! — gemeu. — Porra!
Ele mordeu os lábios rudemente. Seu peito subia e descia, a
respiração era ofegante e rápida. Eu estava adorando aquilo.
Enfiei-me mais a fundo, mas parei quando me engasguei. Me
aventurar em um pênis tão grande não me traria benefícios, e eu já
sabia bem.
Continuei o chupando, provocando e lambendo-o. Fiz o que
pude, como pude, deliciando-me com a sua majestosa visão sensual.
Seus olhos possuíam uma expressão selvagem, encarando-me
em chamas. A sua face transmitia o prazer que estava sentindo. Meu
homem estava excitado, duro feito pedra em minha boca. Ele
semiabriu a boca, respirando acelerado.
Em determinado momento, contraiu-se. Ele estava prestes a
gozar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Fui mais ágil, ele estava alucinando em prazer. Seus músculos


tensionaram-se de repente, antes de relaxarem.
Foi no exato momento que senti a sua porra deliberadamente
preencher a minha língua com aquele estranho gosto amargo e
sutilmente salgado. Ele arfou, segurando o meu rosto com as suas
mãos.
Engoli tudo aquilo. Meu rosto franziu-se em uma careta. Odiava
o sabor. Christopher sorriu de lado, achando graça.
— Você é incrível — sussurrou, satisfeito.
Ele fechou os olhos, sorrindo. Isso fez meu coração errar uma
batida. Ele estava tão lindo.
Afastei-me limpando a boca.
— Quero que vá buscar a camisinha — pedi, prontamente
voltando ao seu colo. Posicionei-me com uma perna em cada lado do
seu corpo, observando-o guardar o seu pênis na calça.
— Sim, minha senhora. Eu volto num instante. — Ele beijou o
meu queixo.
Passei para o banco do carona e confortavelmente joguei as
pernas para cima do painel.
— Estarei esperando — brinquei.
Christopher tocou a maçaneta do carro, fez menção em abrir,
mas algo o deteve. Ele franziu as sobrancelhas, olhando para o nada,
ergueu o rosto e encarou a entrada da sua casa.
Não havia nada e nem ninguém ali, entretanto, alguma coisa
estava o incomodando.
— Tá tudo bem? — investiguei, baixinho.
Ele continuou olhando fixamente para o mesmo ponto na
entrada de sua casa, como se estivesse esperando alguma coisa
acontecer. Fiz o mesmo que ele, mas tudo continuava igual.
— Qual o problema? Asafe está em casa?
— Dytto — sua voz era séria e pesada ao meu lado. Quando o
olhei novamente, seu rosto parecia completamente transformado.
Estava em alerta. As veias negras de sua face demoníaca
ameaçavam surgir. — Me escuta! — exigiu, pressionado sua mão em
meu queixo. — Fique nesse carro e não saia por nada nesse mundo.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Dirija para bem longe daqui e não entre dentro da casa. Me ouviu?
— ordenou.
— Sim. Claro — concordei, confusa.
Sua exigência me era tão desesperada que não tive tempo para
perguntas.
Christopher abriu a porta e colocou um pé no solo antes de
inclinar-se para trás, em minha direção.
— Eu confio em você.
Balancei a cabeça.
— Por que está tão estranho? — indaguei, nervosa.
Meu estômago agora se revirava em ansiedade. Meu coração
disparou em preocupação.
Para que aquilo tudo? Que droga estava havendo?
— Vai ficar tudo bem — garantiu, pousando sua mão sobre a
minha. — Minha linda garota, vá para longe dessa casa. Por favor.
Ele segurou o meu braço, obrigando-me a ocupar o banco do
motorista enquanto se colocava para fora do carro.
Christopher ligou a chave na ignição e olhou-me outra vez.
— Pise fundo — mandou, fechando a porta.
Minhas mãos tremiam quando dei partida. Eu não queria sair
dali. Eu queria chorar e não sabia a razão. Ou talvez, no fundo,
soubesse. Algo muito ruim iria acontecer naquela casa e por isso
Christopher me obrigava a ir embora.
Olhei através do retrovisor. Ele já não estava mais na rua. Em
rápidos passos, havia chegado à porta de sua casa.
Todo o meu corpo queria voltar ali. Descobrir a razão do que
estava acontecendo.
O enjoo crescente em meu íntimo dificultava a minha atenção no
que acontecia na estrada. Tentava manter o meu foco em duas
coisas, mas acabei descontrolando-me.
Eu estava muito enjoada naquele instante.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Tinha dado tantas voltas naquele quarteirão que já conhecia de


cor cada casa, cada lixeira, cada portão.
Eu me recusava a ir embora. Estava ali dando voltas e voltas,
pois sabia que não iria conseguir voltar para a minha casa, não sem
uma resposta.
Meus dedos apertavam o volante com força. Eu estava suando
frio. Meu coração estava eletrizado como um louco no peito. A
ansiedade de não saber o que estava havendo me destruía.
Milhares de pensamentos estranhos atormentaram a minha
cabeça. Ao mesmo tempo que eu me forçava a engolir o nó na
minha garganta.
Eu estava aterrorizada, mas não sabia fugir. Precisava encarar.
Tínhamos que dar um jeito no que quer que estivesse
acontecendo.
Por Deus, eu não podia deixar Christopher. Não podia deixá-lo.
Não podia.
— Por favor, que você esteja bem. Que você esteja bem. Por
favor, Deus, por favor o proteja. Por mim. Por favor — orava
baixinho. Sentindo lágrimas quentes escorrerem de meus olhos.
Poderia estar apenas dizendo palavras em vão, afinal,
Christopher era um demônio, que tipo de deus me ajudaria a salvá-
lo? Mas, em momentos de desespero, não há limites que nos impeça
de fazer o impensável. E Christopher era o amor da minha vida. Eu
precisava que ele estivesse seguro.
A angústia avassaladora teimava em me fazer sofrer.
Meu pé freou o carro — parando diante do jardim em que ele
me pedira para ir embora momentos antes — e encarei a casa,
aparentemente, serena e tranquila.
Sentia meus órgãos se rebolarem dentro de mim. Eu estava uma
bagunça, mental e psicologicamente.
Inspirei fundo e olhei em volta nos bancos do carro à procura de
algo, no entanto, não existia nada ali que me fosse útil. Desci do
automóvel às pressas e corri para o porta-malas. Peguei o pé de
cabra que, por sorte, encontrei e fechei o compartimento.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Segurando o ferro gelado em minha mão, caminhei com passos


vacilantes e apressados em direção a casa. Não bati na porta, era
um desperdício de tempo.
Avancei no local, adentrando de supetão.
Arregalei os olhos diante da zona de guerra que estava em seu
interior. Ainda na entrada, existia pedaços de móveis espalhados por
todos os cantos. Fragmentos de madeiras dispersos no carpete e
cacos de vidros salpicando o chão. Uma parte da mobília estava
destruída, e a outra estava revirada no chão.
Meus olhos vaguearam pelo lugar, em busca de Christopher.
Continuei andando, em passos silenciosos, porém ágeis. Não queria
permanecer ali por muito mais tempo. Sentia-me numa cena de
crime, com o suspeito a solto, aterrorizando o ambiente.
O suspense e a tensão ainda pairavam no ar, como se as
paredes tivessem absorvido o horror presenciado aqui. O silêncio
parecia ensurdecedor, causando-me tensão. Meus nervos estavam à
flor da pele.
Quando me pus na sala de estar, meu mundo ruiu num piscar de
olhos. O pé de cabra escorregou de meus dedos, senti-me fraca.
Minha visão turvou e meus lábios tremularam.
— Não — arfei, chorosa. — Não. Não. Não.
Aproximei-me devagar do corpo no chão, deitado na poça de seu
próprio sangue. A camiseta rasgada dava-me o desprazer de ter a
visão de suas costelas arrancadas, exibindo os órgãos falecidos.
As pálpebras abertas demonstravam o horror no vazio do que
deveriam ter olhos — pois tinham sido arrancados.
Sua pele, antes branca, pintava-se agora do líquido vermelho,
repleta de ferimentos abertos que deixavam claro que aquilo tinha
sido brutal.
Seu pescoço degolado, exibia o enorme e profundo corte. Os
lábios agora eram cinzentos. O rosto antes perfeito, tornou-se
macabro em decorrência dos rasgos, deixando-o quase
irreconhecível.
Minhas pernas cederam. Desmoronei ao seu lado em um grito
silencioso de dor.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Sentia como se minhas costelas tivessem sido arrancadas


também. Não conseguia respirar. Isso não poderia estar
acontecendo.
Um oceano de lágrimas apoderou-se do meu rosto.
— CHRIS, NÃO! — Toquei o seu rosto pálido e sem vida. — NÃO!
— meu grito saiu num rasgo desesperado.
Tinha que ter um jeito para aquilo. Por que ele não voltou? Por
que o meu amor havia morrido? Não podia.
Ele não poderia morrer. Ele era um demônio. Como aquilo era
capaz?
Quem fez aquilo? E por quê?
Eu não sabia. Não sabia de nada. Eu estava dilacerada. Minha
alma gritava aos prantos de dor.
Eu o queria de volta.
Por que ele não se mexia?
Deitei-me no chão ao seu lado e o abracei.
Tudo era dor.
— Eu vou te esperar aqui — sussurrei entre soluços.
Iria ficar ali até o momento em que Christopher voltasse.
Ele tinha que voltar.
Ele deveria voltar.
Ele ia voltar..., não é?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

27 de Junho | Quarta

— Não me chame de covarde — reclamei, semicerrando os olhos


sobre Samantha que, confortavelmente, lambuzava os lábios fartos
com gloss.
Ela balançou os ombros e aconchegou-se ainda mais ao banco
do carona, jogando o cosmético dentro de sua bolsa rosa e
aveludada. Odiava a forma como ela mudava completamente sua
personalidade a cada semana.
Até quatro dias atrás, ela só vestia roupas pretas e cardigans.
Agora ela estava com essa mania de agir como uma garota metida
que só usa rosa. Não tinha como definir Samantha em uma só coisa.
Ou talvez tivesse: esquizofrênica.
O sol refletia sobre os seus longos cabelos cacheados, era uma
bela tarde. O clima ensolarado fez com que o tortuoso clima úmido

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

se dissipasse, ou pelo menos, em partes. Mas era bom não ter que
espirrar a cada cinco minutos.
— Só estou dizendo a verdade. Você não tem coragem de
assumir o que está acontecendo e agora fica nessa. — Sorriu de um
jeito provocador. Ela sabia como isso ia atiçar a minha raiva, no
entanto, não se deu ao trabalho de se importar.
— Porra. Claro que não, Sam — discuti, irritada.
Estava sem paciência com a sua constante insistência em me
julgar. Ela adorava pontuar cada atitude minha como se fossem
pautas importantes para serem abrangidas em cada conversa que
tínhamos.
Ela me perseguia e me massacrava sem o menor pudor. Eu não
tinha uma irmã, tinha uma hater obcecada.
— Não xinga — ela esbravejou, apontando com os seus olhos
cor de mel para o banco de trás.
Através do retrovisor interno, observei As distraído com o seu
pequeno dinossauro. Ele encarava o objeto, intrigado, analisando-o
por inteiro. Tínhamos acabado de buscá-lo na creche, estava ansioso
para voltar para casa do seu pai. Duvido que sequer tenha prestado
atenção em qualquer coisa que tenhamos dito. Ele só sabia falar
quando o assunto o convinha.
— Ele sabe coisas bem piores do que nós duas juntas —
argumentei, despreocupada.
Ela suspirou.
— Não é porque você e o Christopher são dois imprudentes que
eu deva ser. Asafe ainda é um bebê — reclamou, cruzando os
braços.
Samantha não tinha anseio maternal de gerar uma criança,
porém, adorava o papel de tia boazinha, embora por trás da máscara
ingênua, existisse uma víbora, sedenta pelo mal. Ela bancava o ser
humano de luz para encobrir a sua má índole. Mas acho que só eu
via isso. Para o nosso irmão, Leví, ela era doce e ingênua.
Asafe não estava nem aí para ela, porém ela se esforçava. Tinha
esperanças de que um dia isso fosse mudar e morria de inveja de
Dytto, que conseguiu a paixão de Asafe apenas por existir. Ela não a

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

odiava, na verdade, gostava bastante da escolha de nosso irmão,


mas não gostava do esforço que precisava fazer, enquanto sua
cunhada simplesmente tinha o coração trevoso do seu sobrinho.
— Ah, cala a boca, Sam. Tô cansada da sua voz. Mais um pio e
eu te jogo do carro — ameacei, revirando os olhos.
— É por causa do jeito que você resolve as coisas, que Loren já
deve estar em outra enquanto você chora atrás do rabo de saia dela
igual uma i-d-i-o-t-a.
Grunhi, irritada. Minhas bochechas ardiam de raiva.
Lancei-lhe um olhar repreensivo que não surtiu o efeito que eu
gostaria.
— Idiota — a voz infantil chamou-nos a atenção. — Idiota. —
Asafe sorria.
As sobrancelhas de Sam saltaram do lugar. Eu, no entanto, não
pude conter a risada.
Eu amo esse garoto.
— Não. Não foi isso o que eu disse — Sam interferiu, buscando
amenizar o que havia feito.
— Idiota. — Asafe repetiu, mais orgulhoso de si desta vez.
Ela soltou o ar com força e tapou o rosto com ambas as mãos.
— Eu não acredito que o Christopher o ensinou a soletrar só pra
me fazer passar essa raiva — disse entredentes. — Eu vou matar ele.
— Bom, se matem depois. — Desacelerei o carro, estacionando
em frente a casa do nosso não tão amado irmão rabugento. — Agora
temos que fazer a nossa entrega e esfregar na cara dele que eu não
deixei o Asafe fugir da mansão dessa vez. Adoro ganhar apostas do
Christopher — me animei.
— Christopher sabe que eu sou uma melhor tutora do que você,
é por isso que ele sempre deixa o filho comigo.
— E eu sou uma tia melhor, por isso que o Asafe corre pra mim
quando quer ficar longe de você. — Sorri convencida.
Samantha suspirou, outra vez.
— Ele só não gosta quando eu toco no cabelo dele, está bem?
Esse garoto me ama. — Ela inclinou seu corpo para trás. — Não é,
As?

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Já posso descer? — desconversou ele.


Lambi os lábios, sentindo-me uma grande vitoriosa.
Provavelmente Samantha daria um jeito de colocar um explosivo
no meu carro assim que eu dormisse. Ela também tinha um lado
vingativo muito cruel.
— Deixe só eu soltar você da cadeirinha, docinho — provoquei
Sam, saindo do carro.
Ela me ignorou. Fazia isso quando estava chateada. Era a irmã
mais mimada da família. E mesmo que não fosse culpa minha ser a
tia preferida, teria que dar um jeito de me desculpar com ela depois.
Fui em direção ao As, que esperava impaciente para ser solto.
Christopher o havia deixado em nossa responsabilidade na
manhã do dia anterior, estava distante e estranho. Ele não
costumava deixar Asafe conosco assim tão de repente, ainda mais
sem nenhum motivo aparente.
Mas era o Christopher. Ele era esquisito até em seus melhores
dias.
Marchamos em direção a casa, eu não tinha pressa, mas precisei
acelerar os passos, ou Asafe iria enfiar as presas em meu ombro.
Samantha foi quem tocou a campainha primeiro. O som
repercutiu no ambiente lá dentro, mas não houve reações. A falta de
respostas a fez tocar novamente. E então, de novo, e de novo, e de
novo, e de novo.
— Será que ele saiu? — Sam questionou.
— O carro dele está estacionado aqui na frente. — Virei-me para
trás, avistando a ranger vermelha parada diante o jardim.
— Será que ele e a Dytto estão... — ela pigarreou, exibindo em
sua expressão o que não podia dizer em palavras.
— Ah, eu sei lá. Mas é bom que ele abra logo — resmunguei.
— Por que está triste, As? — Sam notou, encarando-o.
Olhei para o pequeno em meu colo. Os seus olhos estavam
mergulhados em lágrimas. Seus lábios tremiam e uma expressão
chorosa gradualmente aumentava em sua face.
— Dingo está triste — explicou, baixinho.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Dingo? A Dingo está aqui? — Sam indagou, tocando a


campainha mais uma vez.
Percebendo que algo estava errado, ela tornou a esmurrar a
porta.
— Tenta ver se está aberta, Sam! — me pronunciei, com raiva.
Ela girou a maçaneta e a porta se abriu.
— Sua burra — critiquei-a.
— Cala a boca, Amara — disse, prontamente entrando.

27 de Junho | Quarta

— Dytto. — Senti meu corpo sendo balançado, mas minha


mente estava exausta. — Dytto, acorda.
Meus olhos recusavam-se a se abrirem como se pesassem
toneladas. Meu peito doía tanto que aparentava estar rasgado em
milhões de pequenos fragmentos.
— Dytto, acorde — a voz insistiu.
Alguém tocou o meu rosto, checou o meu pescoço e suspirou.
— Ela está viva — concluiu. — Não sei por que não está
acordando.
— Veja se ela machucou a cabeça — outro alguém pediu.
As vozes ecoavam em minha mente, como se distantes. Imersas
no vazio. Mãos tocaram o meu cabelo, viraram o meu rosto de um
lado para o outro, checaram a minha cabeça, até que pareceram
chegar a um veredito.
— Não, ela não está machucada.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Vamos tentar levantá-la — aconselhou.


— Dingo — a voz infantil e chorosa suplicou.
Meu coração imediatamente acelerou. Lutei para alcançá-lo.
Lutei para achar Asafe. Forcei meus olhos a se abrirem. Eu precisava
acordar.
Minhas pálpebras tremeram em uma constante insistência de
minha parte em erguê-las.
— Espere. Ela está acordando — a voz autoritária disse, cheia de
esperanças.
A luminosidade preencheu meu campo de visão. Já era dia, mas
eu ainda não conseguia enxergar nada além da pequena brecha
aberta pelos meus olhos.
Me sentia acordando de um coma. Estática e confusa. O resto de
mim despertava aos poucos, devolvendo-me o poder de suas
funções. Abri e fechei a mão, parecia quase uma novidade para mim.
Sentei-me devagar, com ajuda de mãos que me puxaram pelo braço.
Quando enfim voltei a minha realidade, desejei nunca ter aberto
os olhos.
O cheiro asqueroso de sangue irrompeu em meu nariz. A visão
de Amara agachada à minha frente me fez perceber que eu não
estava acordando de um coma, mas, sim, de um pesadelo, um
pesadelo real.
Virei a cabeça para o lado. Ele ainda estava lá. Sem vida. Sem
mexer-se. Sem nada.
— Ele voltou? — tentei dizer, mas minha voz havia sumido. Após
passar uma noite inteira chorando e implorando para que ele
retornasse, em algum momento não saía mais nada de mim. — Me
diz que ele voltou. — Pressionei minhas cordas vocais a dizerem,
mas as palavras soaram como ruídos baixos e incompletos.
— Eu sinto muito, Dytto. Christopher não está mais entre nós —
Samantha lamentou. — Quem fez isso destruiu seu corpo humano e
mortal para garantir que não existisse mais vida nele.
— Mas ele tem que voltar, não é? Ele tem que voltar — as
palavras ressoavam arranhadas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Ei, ele vai. Ele vai voltar. — Amara segurou o meu rosto. —
Precisamos dar um tempo a ele. Christopher está em sua forma
demoníaca, vagando em algum lugar do inferno, ele vai dar um jeito
de voltar.
Balancei a cabeça, freneticamente e me soltei dela.
— EU NÃO VOU. EU NÃO VOU SAIR ATÉ QUE ELE VOLTE —
gritei, poucas palavras saíram completas. Minha voz era falha.
— Precisamos enterrar o corpo, Dytto. Não podemos deixar
ninguém vê-lo. Entendeu? Em algumas horas esse odor... — Amara
balançou a cabeça, enojada. — O corpo está entrando em
decomposição, com feridas abertas. O cheiro vai se exalar muito
rápido se não tirarmos ele daqui.
Ela suspirou.
— Eu sei que está doendo, Dytto. Ele é o meu irmão, e eu
também sinto isso. — Ela tocou o meu rosto. — Mas temos que fazer
isso por ele enquanto Chris não volta.
Neguei, num balançar de cabeça.
— Ninguém vai tirar ele de mim — decretei, rouca.
Deitei-me novamente na poça vermelha e abracei o seu corpo
morto. Não iria sair dali. Não iria me mover. Ficaria ali até que o meu
Christopher voltasse.
De um jeito ou de outro.
— Dingo — a voz suave e macia me chamou, tão triste e
desolada que o meu peito se apertou.
Ele aproximou-se devagarinho do corpo de seu pai. Ele tremia, o
rosto estava banhado em lágrimas. Seus dedinhos se seguravam um
ao outro. Os ombros estavam encolhidos e os seus olhos
avermelhados me encaravam tristes.
Merda. Eu não podia deixá-lo aqui. Não poderia deixá-lo encarar
o seu pai assim.
— Eu tô com medo, mamãe — chorou.
Minha respiração trepidou. Meus lábios se entreabriram, mas
nada saía.
— Mamãe — chamou, assustado. — Eu quelo o papai de volta.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Meus olhos se arregalaram. Eu não sabia como reagir.


Partilhávamos todos de uma dor única. A perda. E agora, ele me via
como sua figura materna.
Sentei-me novamente e abri os braços para ele. Asafe veio o
mais rápido que pôde, desviando-se de Chris. Ele agarrou o meu
pescoço com os bracinhos e me apertou como se precisasse de mim.
Ele precisava de mim.
As desatou a chorar forte. Seu corpo inteiro tremia,
amedrontado. Envolvi-o em meus braços e o deitei em meu colo,
chorando junto a ele.
Eu também precisava do seu apoio.
Amara limpou algumas lágrimas que deixou escapar e se
levantou.
— Me empreste o seu celular, Dytto. Vou precisar de ajuda —
pediu.
— Deve estar no carro do Chris — sussurrei.
Ela assentiu, saindo o mais rápido que conseguia de dentro da
casa. Samantha encarava o corpo do seu irmão. Sua mente estava
distante e imersa em uma notória confusão. Porém, ela parecia
saber de algo mais. Sequer se surpreendera com a morte de
Christopher.
Havia algo da qual eu não possuía conhecimento.
— Quem fez isso com ele? — murmurei. — Samantha. Me diz a
verdade — implorei.
Seu olhar lentamente veio para mim, pesaroso.
Sua face expressava o sentimento de aflição que a cercava.
— Christopher está morto porque desafiou o próprio pai para
estar com você, Dytto.
Prendi a respiração. Minha cabeça rodopiou e o sangue pareceu
estagnar em minhas veias.
— Isso é minha culpa — declarei.
— Ninguém tem culpa além do pai do Christopher — discordou.
— Isso aconteceria de qualquer jeito. O pai dele só estava à espera
de uma desculpa para transformar o filho no soldado que nasceu
para ser.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela soltou o ar pela boca, chateada.


— O Christopher que conhecemos se foi, Dytto. Se foi para
sempre.
— Ele vai voltar — retruquei.
— Sim, ele vai. — Ele arranhou os lábios com os dentes. — Mas
não em sua forma humana — completou. — Ele vai voltar em sua
forma cruel e destrutiva. — Ela balançou a cabeça. — Eu sinto muito.
Vocês tiveram uma história de amor muito bonita. Não merecia
acabar assim — entristeceu-se.
Foi como perder o fôlego.
Ouvir as suas palavras tirou-me algo. Senti as esperanças sendo
arrancadas a força de mim. Como se, de repente, minha mente se
clareasse.
Christopher sempre me disse que sua parte demoníaca não
possuía sentimentos humanos, mas que se continha por me amar.
Porém, agora, o que seria de um Christopher demoníaco que
não sentia nada por mim?
Desprezo. Eu teria apenas o seu mais puro desprezo.
Apertei Asafe em meus braços. Seus olhos estavam fechados,
mas as lágrimas deliberadamente derramavam-se em seu rostinho.
— Tem que ter outro jeito — eu quis gritar, no entanto, não
conseguia.
Ela andou um pouco mais para perto, sentou-se em uma
poltrona e apoiou os cotovelos nas coxas, aturdida.
— Não há muito que poderemos fazer, Dytto. Não sabemos o
que ele está passando agora. — Ela engelhou as sobrancelhas. —
Meu irmão pode não ser mais ele quando voltar. Estará ocupado
demais fazendo o que nasceu para ser.
— E o que ele nasceu para ser? — eu disse entredentes.
Ela parecia pensativa.
— Ele nunca te contou — percebeu.
Samantha se ajeitou na poltrona e abriu um sorriso sem vida
para mim.
— Todo demônio tem uma função, Dytto. Meu irmão nasceu
para destruir o mundo em que vivemos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela ergueu os olhos para o teto.


— Christopher veio para trazer o caos e destruição. Por causa
dele, muitas pessoas irão morrer. Haverá fome. Haverá guerras. Meu
irmão está infiltrado em muitas situações diferentes.
— E de que forma ele seria responsável por isso? — questionei.
— Indiretamente ele controla homens poderosos. Pessoas do
mundo todo o procuram para fazer negócios. Christopher pode não
ser um presidente ou um rei, mas tem controle do caos. Ele sabe
onde atingir para que uma onda de eventos se inicie.
— A teoria do caos — sussurrei.
— Ele só dá as dicas. Os peões é quem fazem o resto.
Joguei a cabeça para trás, rindo.
— Todo esse tempo... — gargalhei. — Todo esse tempo ele me
escondeu que estava destruindo um mundo fadado ao fim dos
tempos. — Minha risada aumentou.
Olhei para ela, que me observava intrigada.
— No fim das contas, eu teria ficado com ele mesmo assim. —
Sorri para ela. — Sabe de uma coisa, Samantha? Eu não estou nem
aí para o mundo. Agora eu só quero que tudo queime.
Baixei os olhos para a criança em meu colo, afaguei o seu cabelo
com carinho.
— Eu tô cansada. E eu só sei que o quero de volta — declarei,
simplesmente.

Loren estava parada no sofá há pelo menos meia hora. Não se


moveu desde que nos encontrou. Amara tinha lhe ligado, e agora
envolvia o corpo do irmão em um carpete, enquanto procurava uma
forma de despachá-lo sem que a vizinhança nos visse.
Seus olhos presos ao chão, acentuavam a sua reação
horrorizada. Sequer movia um único músculo. O choque a arrebatou,
levando-a a um estado de inércia.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu havia tomado um banho e trocado minhas roupas pelas que


minha irmã trouxe. Foi difícil entrar no quarto de Christopher e
encarar tudo como se as memórias não tivessem vindo à tona como
uma enxurrada na minha cabeça no segundo em que senti seu
cheiro impregnado em cada canto.
Chorei mais uma vez enquanto banhava, mas recuperei o fôlego
quando terminei de me vestir.
Precisava ser forte pelo Asafe.
Ele estava deitado em meu colo, brincando com o fio do meu
moletom. Os olhos estavam inchados e o nariz avermelhado. Sua
expressão triste e vazia me deixava angustiada.
Eu teria que saber lidar com aquilo, querendo ou não. Asafe
esperava que eu soubesse cuidar dele, porque precisava de uma
mãe.
Christopher disse que confiava em mim poucos minutos antes de
entrar em sua casa, acho que, no fundo, ele sabia que não era sobre
aquele momento que estávamos falando, mas o depois, portanto, o
agora.
— Um demônio — Loren arfou, atônita.
Eu tinha lhe resumido partes do que sabia sobre a vida do
Christopher. A parte que ele não contava a ninguém. E a parte que
lhe escondi durante todo esse tempo.
— É.
Ela franziu as sobrancelhas.
— Que porra é essa, Dytto? — sussurrou, assustada. — Por que
merda isso tá acontecendo?
Balancei a cabeça e soltei o ar pela boca.
Eu não poderia me permitir sentir nada. Então precisei ser
paciente para tentar lidar com o baque que estava sendo para Loren
descobrir toda a verdade.
— Eu sempre soube que tinha algo há mais com ele. Mas não
desse jeito. Não nessa magnitude. — Ela ergueu os braços para
quantificar o exagero que era a situação. — Que porra! — repetiu.
Ela me olhou, desceu os olhos para Asafe, e os retornou para
mim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Vai cuidar dele? — perguntou, curiosa. — Quer dizer, você vai


ficar com ele na nossa casa enquanto o... — Ela não terminou.
— Tenho que cuidar, Lô. — Toquei o rosto de As com cuidado. —
Ele é minha responsabilidade agora.
Loren assentiu.
— Não precisa ser, Dytto — Amara se pronunciou, aproximando-
se. — Podemos ficar com ele na mansão da família, não teremos
problema algum em cuidar dele. Você ainda tem escola e uma vida.
Não precisa fazer isso.
— Eu não posso ficar longe do As — discordei.
— Não precisa. Pode visitar ele todos os dias se quiser. Será
sempre bem-vinda na nossa casa — disse, gentil. — Sua família não
aceitará bem a situação. É melhor deixarmos isso o mais escondido
possível. Não era o desejo de Chris que o filho fosse exposto ao
mundo.
Asafe me olhou, como se implorasse para ficar comigo. Ele não
deveria ter que suportar mais nenhuma perda, mas Amara tinha
razão. Ele precisava ser protegido.
— Eu amo você — cochichei, olhando-o. — Vou te ver todos os
dias. E passar as tardes com você, está bem? — Beijei a sua testa.
— Podemos fazer isso, Asafe. Podemos esperar por ele juntos. —
Apertei sua mão. — Nós dois seremos fortes juntos.
— Também te amo, Dingo — murmurou.
Sorri para ele.
— Vamos sobreviver a isso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

3 dias após a morte de Christopher


30 de junho | domingo

Era eu quem estava de luto, mas era mamãe quem estava mal.
Sentada na mesa do seu escritório, seus olhos perscrutavam o
nada. Sua mente lhe era distante do mundo real. Ela ainda estava
péssima pela perda do emprego há meses, não havia jogado fora as
papeladas do antigo trabalho ou sequer se desfez de seus antigos
hábitos de sentar-se à frente do computador para escrever
documentos que, agora, já não tinham mais serventia alguma.
Ela emagreceu a beça e estava visivelmente deprimida. Tons
arroxeados rodeavam os seus olhos fundos. O rosto magro e ossudo
tinha o semblante de uma mulher muito mais velha do que ela era.
Os seus cabelos longos, conhecidos pelo brilho e saúde,
encontravam-se ressecados e ralos. Sua vaidade esvaiu-se

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

completamente. Passava grande parte dos dias vestida em trapos


velhos e sujos.
Ever aparentava ter desenvolvido uma depressão que, somado
ao péssimo casamento que ela estava vivendo, deteriorava o seu
estado mental com muito mais rapidez.
Eu me preocupava com a forma que tudo isso vinha se
desenrolando, Loren, por outro lado, tinha outras aflições como
prioridade, por exemplo: a sua faculdade e a mim. Papai passava a
maior parte do tempo fora, pegava todos os plantões que podia e, às
vezes, não voltava durante as noites para casa, dormia em quarto de
hotéis ou no hospital.
Diferentemente de sua esposa, ele não parecia abatido,
tampouco parecia importar-se mais, havia abdicado de sua
responsabilidade conjugal e raramente exercia a paternal. Até
mesmo os sermões desapareceram.
Cogitei por diversas vezes a ideia de que ele já estava amando
outra mulher, e que mamãe sabia, somente não aceitava. Eu gostaria
de provar que, de alguma forma, eu estava errada, mas ao que tudo
indicava, era questão de tempo até isso vir à tona sobre todos nós.
Minha mente atravessava um inferno inteiro, porém, naquele
momento, sabia que precisaria guardar minhas dores para depois.
Existiam pessoas que necessitavam de mim, enquanto eu ainda
aguardava dia e noite por Christopher. Só que, às vezes, tinha
sonhos tão lúcidos com ele me tocando durante às noites, que
parecia ser real. Todo o meu corpo preenchia-se de uma esperança
poderosa que, por sua vez, era extinta assim que eu abria os olhos e
todas as memórias do seu falecido corpo rebobinavam-se em minha
mente.
Portanto, ainda sem ter como ajudar Christopher, me envolvi em
cuidar de quem se mantinha aqui. Perto.
Dei dois toques suaves na porta, despertando-lhe a atenção, ela,
contudo, parecia insatisfeita com a minha presença ali, tinha
adquirido um certo hábito de se isolar.
— Precisa de algo? — perguntei, mesmo sabendo que seria em
vão.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ela nunca respondeu que "sim".


— Não — disse secamente, voltando sua concentração a tela
vazia do computador. — E feche a porta quando sair — avisou,
formalmente.
Acho que no fim, eu só queria ter um motivo para abraçá-la, um
motivo egoísta, apenas para chorar no colo de alguém tudo aquilo
que eu estava sentindo. Mas eu não poderia fazer isso. Todos
estavam cuidando de suas próprias vidas.
— Está bem, mãe — murmurei. — Se precisar, eu est...
— Já entendi — cortou-me, secamente.
— Certo. — Assenti, fechando a porta.

7 dias após a morte de Christopher


04 de julho | Quinta

— Mas que porra, Théo! — Ever esbravejou furiosa da cozinha,


seguido de um estilhaço.
Um breve momento de silêncio fez-se presente, antes de
recomeçar:
— Como pôde? Seu desgraçado! Como... Como pôde?
Meu pai rapidamente levantou-se do sofá à minha frente, lia um
jornal em seu iPad antes da gritaria repentina ganhar início.
Eu não estava realmente prestando atenção neles dois, ambos
tinham começado a brigar novamente nos dois dias em que papai
ficou de folga em casa. Eu fingia encarar o caderno em minhas
coxas, tentando enganar a mim mesma que estava estudando para
os exames finais. Eu não estava nem aí para os exames finais. Na
verdade, mantinha todo o meu foco no celular que eu segurava com
todas as minhas forças, aguardando — pelo sétimo dia consecutivo

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— por uma ligação que nunca veio. Esperando que alguém de sua
família dissesse que ele voltou, mas este momento nunca chegou.
Embora eu não quisesse ouvir os ruídos sonoros da minha casa,
era quase impossível não me assustar com os berros. Pareciam mais
ferozes desta vez.
— Ever, pare de gritar — Théo devolveu no mesmo tom irritado.
— Que merda é essa aqui? — ela rosnou.
— E-eu... — papai tentou se explicar, mas parecia ser grave
demais.
Suspirei, obrigando-me a não prestar atenção.
— Vai me deixar? Por ela? — Mamãe questionou, em um misto
de fúria e mágoa.
Ok... talvez eu devesse prestar atenção nessa conversa em
particular.
— Será que eles não se cansam? — Loren sussurrou ao meu
lado. Também aguardava comigo pela ligação.
Ultimamente dormíamos e acordávamos juntas. Ela havia se
tornado o meu alicerce. Íamos para todos os cantos grudadas,
inclusive, visitar Asafe.
Pobre Asafe, mal comia ou dormia. Chorava pelos cantos da
mansão Tanaka, tão ansioso pela volta do seu pai quanto eu.
Estávamos todos enlouquecendo com a demora.
— Eu não sabia como contar — papai comentou, mais baixo.
Precisei me esforçar para conseguir ouvi-los.
— Aposta quanto que mamãe acabou de descobrir a amante do
papai? — Loren provocou, sorrindo de canto.
Ela estava insatisfeita com a relação deles dois, então apenas
torcia logo para o fim. Ninguém suportava mais a situação.
— Eu não sei, mas tem algo errado — disse, pondo-me de pé.
Fui em passos rápidos para a cozinha. Mamãe estava de pé
diante da cadeira em que papai estava. Ela chorava enquanto
checava o celular de Théo.
— Você vai me deixar por ela — concluiu. — SEU MALDITO!
Ela atirou o celular contra a parede. O aparelho caiu no chão já
estraçalhado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— MADILTO! — gritou.
Seu rosto inteiro estava vermelho como um tomate. Os olhos
pulsavam horrorizados. As veias saltavam em sua testa e pescoço,
completamente furiosa.
Nunca tinha lhe visto desta maneira antes.
Papai tentou segurá-la, mas os gritos dela o fizeram recuar.
— Eu não acredito. Não acredito — repetia atordoada, puxando
os fios de cabelo de maneira descontrolada.
Loren apareceu na entrada da cozinha, confusa e assustada. Os
olhos varreram o lugar em busca de uma resposta, mas nada ali
parecia certo. Papai mantinha-se calado e retido. A culpa maquiava o
seu rosto maduro.
— Mãe, se acalme — pedi, aproximando-me devagar. — Tá tudo
bem. Vamos sair daqui e conversar. Tá tudo bem — tentei lhe
acalmar.
Ever estava histérica, não parava no lugar, andando de um lado
para o outro, repetindo palavras inteligíveis para si.
Sua respiração era ofegante e audível. Seus olhos estavam
imersos em um abismo interior. O choque do que quer que ela tenha
visto a esfaqueava repetidas vezes.
— Mãe — repeti, mais baixo. — Vem comigo — pedi, estendendo
a mão.
Ela parou de andar, olhou-me nos olhos e balançou a cabeça.
— Eu perdi os dois — sussurrou.
E então saiu, quase correndo.
Ouvi o barulho de suas passadas na escada, estava indo para o
segundo andar. Loren se prontificou a ir atrás, mas a segurei.
— Deixa comigo. — Tomei a frente, indo atrás dela.
Subi o segundo andar bem rapidamente. Pulei de três em três
degraus para conseguir alcançá-la, no entanto, ela já estava em seu
quarto quando a encontrei. Estava de costas para mim, encarando o
jardim através da janela de vidro. O corpo mal parecia conseguir
equilibrar-se em suas próprias pernas.
— Eu perdi os dois. — Ela chorava.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Mãe, conversa comigo. — Andei em sua direção, mas parei no


lugar quando ouvi um clique metálico muito incomum, porém, que
parecia importante. Sabia da existência de uma arma na casa,
porém, nunca tive conhecimento de onde eles a guardavam. Tinha
medo do que o estado mental de mamãe poderia levá-la a fazer.
— Primeiro ele. Ele me trocou pela secretária mais jovem —
lamentou num desabafo. — Ele me descartou da empresa que eu o
ajudei a construir. — Chorava ao dizer.
— Mãe, isso não faz sentido — minha voz tremia.
Ela estava muito fragilizada.
— Mãe, por favor, me escuta...
— E agora... — me interrompeu. — O seu pai está me trocando
por outra. — Ela estava sofrendo. A dor em suas palavras eram de
cortar o coração. — Os dois homens que eu amei me deixaram,
Dytto.
Ela virou-se bem devagar em minha direção, segurava uma
arma, apontando-a para debaixo do seu queixo. Arregalei os olhos,
andando rapidamente em sua direção.
— Não, mãe. Não, mãe. Não, mãe.
— Esse é o preço que se paga por fazer tudo por eles. — E
então ela atirou.
— NÃO, MÃE! — tentei interromper, mas já era tarde.
Seu sangue salpicava o meu rosto e roupas. Seu corpo
despencou no chão. A arma tocou o piso de madeira e escorregou
para longe.
— Ah, não! — a voz angustiada de Loren atrás de mim me fez
virar em sua direção. — Meu Deus! — Seus olhos estavam tão
arregalados quanto os meus.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

8 dias após a morte de Christopher


1 dias após a morte de Ever
05 de julho | Sexta

Eu não havia ficado para ver Amara e os seus irmãos enterrarem


o corpo de Christopher. Sabia o local exato em que a terra o engoliu
para sempre, mas não tive coragem de me despedir. Não poderia vê-
lo uma última vez sabendo que seria assim por um bom tempo.
Não tinha ideia de como ele voltaria. Em que situação a sua
aparência estaria, ou como a sua personalidade agiria, então me
comprometi a guardar apenas as lembranças do seu lindo sorriso em
minha mente, faria o mesmo pela minha mãe. Ter a ideia de ver a
sua cabeça aberta em minha mente não me traria conforto.
A família estava junto ao redor de sua cova, o caixão já deitava
no fundo do solo. A caixa fechada e sem vidro indicava o quão
tamanha fora a fatalidade.
Loren não ficou para ver, estava sentada em um dos túmulos
mais distante, fumando um cigarro sozinha.
Papai enxugava lágrimas invisíveis de seu rosto, embora culpado
por grande parte do sofrimento de Ever, agia como se fosse uma
grande surpresa para ele o ocorrido. Como se ele não tivesse
prestado atenção em como sua mulher se desvanecia na mais pura
infelicidade debaixo dos seus próprios olhos. Como se ele nunca
tivesse se negado a estender a mão para lhe ajudar ou dizer uma
única palavra de conforto.
Fingia tão bem que todos os familiares pareciam acreditar no
pobre viúvo.
Eu sentia raiva. A raiva fervilhava o meu íntimo e grudava-se a
parede do meu estômago, subindo para a cabeça e esmagando as
minhas têmporas. Era avassaladora e corrompia todo o meu corpo.
Estava em todas as partes. Prendi a dor em uma caixinha para que
não desmoronasse. Não chorei em nenhum momento. Não precisei
engolir lágrimas, não existia mais dor, apenas raiva, eu estava
consumida por ela.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Oh, minha querida! — Vovó Irina, mãe do meu pai,


aproximou-se, afagando o meu braço. — Sinto tanto pela sua perda.
— Os lábios enrugados davam as suas condolências sem muita
veracidade. — Isso tudo deve ter sido horrível. Bem na sua frente.
Como ela foi capaz de fazer isso com você? — julgou.
Respirei fundo, obrigando-me a não discutir. Não agora.
— Ever era muito brilhante, quando foi que esse desequilíbrio a
tomou? — opinava, consciente ou inconscientemente rude.
— É, horrível — concordei, desinteressada.
— Mãe... — Theo se aproximou, tocando os ombros da velha
chata. Ela sorriu lamentosa para ele.
— Meu querido, eu estava conversando com a minha neta sobre
como isso aconteceu — pontuou, ainda curiosa. — Deve ter sido
péssimo. Não tenho ideia de que tudo isso estava acontecendo.
— Ah, claro! — Ele suspirou. — Foi horrível. Ever estava mal por
conta da demissão, e então, Loren de repente quis ir embora para
outro país, a senhora sabe... Ela ficou péssima depois disso.
Tentamos ajudar como podíamos, mas ela andava muito
resguardada — contava, magoado.
Como é que é? ele realmente quer se fazer de bom moço e jogar
culpa na Loren? — estreitei os olhos, virando-me furiosa para os
dois.
Apertei os dentes uns contra os outros, sem paciência.
— Não tão difícil quanto descobrir que você estava trepando com
outra mulher, não é, pai? — rebati, encarando-o séria.
Seus olhos miraram-se sobre os meus com tanta fúria que jurei
que ele me acertaria com um tapa ali mesmo
— E se vamos ser honestos aqui. — Sorri amarga. — Mamãe
estava muito feliz com a entrada da Loren na faculdade, só andava
meio deprimida por conta do marido de merda. — E do amante de
merda, mas não adicionei essa parte. Virei-me para a minha vó, que
observava a situação chocada. — E não, minha mãe não era uma
desequilibrada, na verdade, ela era muito equilibrada, a prova disso
é ter suportado essa merda de família por anos. — Dei-lhes as
costas, marchando duramente em direção a Loren.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Longe de todas aquelas pessoas que realmente não se


importavam com a minha mãe, sentei-me ao lado da minha irmã.
— Eu quero um cigarro — pedi.
— Você não fuma — pontuou.
— Agora eu fumo. Me dá logo. — Estendi a palma da mão.
Ela deu de ombros, tateou os bolsos e tirou um cigarro da
cartela. Coloquei-o na boca e ela o acendeu para mim.
Dei a primeira tragada. Foi horrível. O gosto era amargo demais
e deixava a boca com gosto de fuligem, mas não desisti, continuei
fumando-o como se estivesse habituada. Eu não queria estar
fumando, porém, também não queria ficar parada.
Eu estava elétrica, furiosa e infeliz.
— Sabe a nova? Espalhei para a vovó sobre a amante do papai
— confessei.
Loren segurava o cigarro entre os dedos, próximo à boca,
quando me olhou intrigada, franzindo as duas sobrancelhas.
— Como é que é? — Ela riu.
— É, pois é.
Ela tornou a gargalhar descontroladamente.
— Isso é demais, Dy. Demais — se divertia.
Mordi os lábios.
— É, e foi sensacional fazer isso. — Balancei a cabeça. — Mas
não contei a ela sobre o amante da mamãe. Acha que eu fiz certo?
— Ah, sei lá. Papai sempre foi um marido horrível, ele mereceu
os chifres que levava.
Suspirei.
— Eu não entendo. — Repuxei o canto dos lábios. — Por que
duas pessoas se acorrentam a um relacionamento horrível pra
acabar assim?
— Eu não sei, Dy — respondeu, distraída.
— Ela amava os dois — sussurrei. — Antes de se matar. Ela me
disse que amava os dois.
— Bom pra ela que sentava em duas picas.
Virei-me para Loren.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Me disse também que os dois a deixaram. Ela estava sofrendo


muito.
— Ui! — Fez careta.
— Ela amava todo mundo, menos as próprias filhas — cochichei.
— Ela não passava nenhum tempo com nós duas. Nunca foi nossa
amiga, nunca procurou saber se precisamos dos conselhos dela. —
Juntei as sobrancelhas. — Acho que já tinha homens demais no
coração dela, então não sobrou espaço para nós. Ela nem notou que
eu estava de luto pelo Christopher.
Soltei a fumaça no ar.
— Ela não percebeu nada, Loren. Papai também não —
comentei, absorta em pensamentos. — Acho que nós duas viramos
órfãs muito antes dela morrer.
Minha irmã passou o braço em volta dos meus braços.
— Contanto que fiquemos juntas, nada mais importa, Dy. — Ela
deitou a cabeça em meu ombro e me encostei na dela. — Nós nunca
pertencemos a essa família.

13 dias após a morte de Christopher


5 dias após a morte de Ever
9 de julho | Terça

— Não, você não vai sair — papai cuspia ordens atrás de mim.
Seus passos apressados tentavam alcançar os meus. Estávamos
em uma dança de caça ao rato, onde ele tentava me apanhar a
caminho do meu carro.
— Ah, e por que não? — o desafiei, agressiva.
— Você tem matado aulas. Não tem ficado em casa e sequer
tem atendido as ligações — esbravejou alto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Olha só, acho que eu estou me tornando você antes da


mamãe se matar — brinquei, ácida.
— O que disse? — se ofendeu.
Estagnei os meus passos e virei-me para ele.
— Por que nunca parou para falar com ela? — perguntei,
irritada. — Por que nunca se preocupou com a porra da sua própria
esposa? — Apontei para a casa atrás de nós. — Porque você só liga
para isso, pai. STATUS.
Ele balançou a cabeça, vermelho de fúria.
— VOCÊ NÃO VAI SAIR DESSA CASA, E ESTÁ DE CASTIGO —
berrou, como sempre fazia quando fugia de uma conversa séria.
— Ah, estou? — Ri.
— Tem agido como uma adolescente delinquente e
irresponsável. Eu não te criei assim. Essa sua má educação veio das
suas amizades e das amizades de Loren — criticou, enojado.
— Minha má educação se chama LUTO.
— Não, Dytto. Está agindo como uma imbecil. Tem passado o
dia fora, com sabe-se lá quem, fazendo sabe-se lá o quê. Deveria
estar aqui para apoiar a família. Você costumava ser doce e
boazinha, agora eu nem te reconheço mais. Pensei que fosse a irmã
madura, mas está agindo como criança.
Sorri decepcionada e balancei a cabeça. Por mais que estivesse
acostumada a ouvir isso dele sobre Loren, achei que essa frase
nunca mais me surpreenderia.
— Ah, pai, sabe como é a adolescência. Tenho passado o dia
fora fodendo com caras que eu nem conheço e cheirando cocaína
pra bancar a rebelde. — Balancei os ombros. — Sabe como é, né?
Ele apontou para mim.
— Vai voltar agora lá pra dentro! Vai pedir desculpas aos seus
familiares e vai se redimir comigo — ele ergueu o tom de voz. — Não
vou tolerar esse comportamento na minha casa. Não criei minha
filha pra ser uma puta.
— Puta? — disse, incrédula. — Ah, bem, eu não sou uma puta
pai, mas odeio que falem mentiras de mim. — Agachei-me no chão,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

apanhei uma pedra enorme e a atirei contra a janela do seu carro


estacionado na garagem.
O vidro explodiu, estilhaçando-se em milhares de cacos pelo
chão.
— Que porra está fazendo? — brigou, alto o suficiente para
chamar a atenção de Loren, que já caminhava apressada em nossa
direção.
— Te dando verdadeiras razões para me chamar de delinquente,
antes disso era só raiva, mas agora, vou te dar motivos reais para
deixar de ser um mentiroso.
Dei-lhe as costas e sai apressada rumo ao meu carro. Loren veio
correndo para o banco do carona, ela ria em diversão quando se
jogou para dentro do automóvel em movimento.
Eu já estava acelerando quando o portão se abriu, por pouco
não arranhamos a lataria.
Pelo espelho, vi papai correndo atrás de nós, mas freou os
passos quando chegou ao portão.
— ISSO FOI DO CARALHO — ela gritou, empolgada.
— E lá vamos nós mais uma vez. — Sorri.
— Eu até que gosto da mansão Tanaka. Lá eles têm sala de
cinema, sabia?
— Minha nossa, Loren. — Ri, revirando os olhos.

17 dias após a morte de Christopher


9 dias após a morte de Ever
13 de julho | Sábado

— Você está muito quieto. — Beijei a sua testa, ele me olhou


nos olhos e sorriu. Adorava quando eu o fazia carinho.
— Você também, mamãe — comentou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Estávamos sentados no jardim da mansão Tanaka, em frente ao


túmulo de Christopher. Asafe e eu costumávamos nos sentar ali para
contar nossas novidades para ele. Embora soubéssemos que ele não
estaria nos ouvindo, se tornou algo simbólico para nós dois, para
sempre mantermos as esperanças de que ainda estávamos o
esperando.
— Só estou preocupada com você. — Afaguei suas costas.
— Ainda está triste pela sua mamãe, né?
Curvei um breve sorriso para ele.
— É, ainda estou, sim.
Ele ergueu a cabeça, segurou o meu rosto com as suas
mãozinhas e me puxou para ele, dando-me um longo beijinho na
testa.
— Pra salar — murmurou. Era o que eu dizia a ele quando o
notava triste demais.
Puxei-o para o meu colo e o abracei. Ele ainda era tão jovem,
mas já parecia ter que segurar um mundo inteiro nas costas. Eu não
queria que ele passasse por aquilo.
— O papai vai demorar a voltar? — questionou, pensativo.
Inspirei fundo. A dor cortante rasgava o meu coração ao ouvi-lo
tão cheio de esperanças.
Eu não fazia ideia de quanto tempo mais levaria para Christopher
voltar. Estava me obrigando a ter paciência, mas a cada segundo que
se passava, menos controle eu tinha.
— Talvez, As. Vai ver ele está matando a saudades de casa —
tentei descontrair, mas isso não o fez rir.
— Papai não gosta da casa dele — murmurou. — Ele não quer
ficar lá.
— Consegue senti-lo?
— Não. — Asafe virou-se para mim. — Quelia ele aqui. — E
então encostou sua testa em mim.
Eu não precisava de dons sobrenaturais para perceber que aos
poucos Asafe também estava perdendo a paciência.
— Um passarinho me contou que você gosta de sorvete.
— Titia Amara não é um passalinho — pontuou, intrigado.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— É uma expressão, As. — Ri dele.


Ele me olhou interrogativo, mas não disse nada.
— Eu trouxe sorvete — comentei, sorrindo.
Os lábios se curvaram em um grande sorriso, salientando as
suas bochechas fofas.
— Me dá um poquinho? — pediu, animado.
— Venha. Vamos comer um montão de sorvete.

21 dias após a morte de Christopher


13 dias após a morte de Ever
17 de julho| Quarta

— O que vamos fazer nessas férias? — Loren perguntou, alheia.


Estávamos deitadas em um mesmo sofá na mansão Tanaka.
Para falar a verdade, mal saíamos daqui. Os irmãos Tanaka não
residiam fixamente neste lugar, então ficávamos a maior parte do
tempo a sós. Apenas Samantha era presente e passava dia e noite
na casa, se responsabilizando por Asafe quando eu não podia.
Demétrius e Amara sumiram do mapa após a morte de
Christopher. E, ao que parece, havia mais um irmão, Leví, mas nunca
vi nem mesmo o seu rastro.
Todos eles pareciam ter os seus próprios compromissos secretos,
Sam garantiu que em breve todos estariam de volta, e que apenas
finalizavam alguns "negócios" de família. Suspeitava que eram
ilegalidades, no entanto, eu é que não iria querer saber.
Ela dizia não se importar de ficarmos aqui, e até gostava de
nossa presença, apesar dela própria parecer um fantasma no
ambiente. Era estranho como eles eram estritamente reservados e
misteriosos, andavam como se mal existissem nesse mundo. Sempre
tão discretos que me assustavam.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu odiava cada segundo que passava dentro da minha própria


casa, por isso a evitava tanto. E se tornava ainda pior quando papai
estava presente. Ele queria que nós jantássemos juntos todas as
noites, coisa que não rolava. Loren e eu sempre conseguíamos fugir
dessa situação.
Agora ele queria falar de família.
Era quase irônico se ele realmente não estivesse falando sério.
Théo não parecia de luto. Ele parecia um verdadeiro homem
solteiro e desimpedido. Se algum dia foi casado, agora ele mal
parecia lembrar-se disso.
Havia desenvolvido um certo hábito por álcool, deixou de ir às
missas e agora frequentava bares chiques e boates — de acordo com
o seu extrato do cartão de crédito.
Ou ele estava muito feliz ou muito infeliz. Eu não saberia dizer.
Loren não se importava, eu, no entanto, supria raiva de tudo
aquilo, mas me mantinha longe, para o bem de todos.
— O mesmo que fazemos agora — respondi.
— Pensei que quisesse fazer algo mais nas suas férias além de...
— De o quê? Visitar o túmulo do meu namorado morto e cuidar
do meu filho? É, poderíamos variar de vez em quando e visitar o
túmulo da mamãe também.
Ela riu.
— Chamou a peste de filho — evidenciou, risonha.
— Não chamei, não — intriguei-me.
— Sim, você chamou. — Ela se sentou. — Minha irmãzinha virou
mãe. Ownnt! — Loren fez cara de orgulhosa, repousando as duas
mãos sobre o coração.
— Não faz essa cara. E não o chame de peste novamente. —
Escondi o rosto com as mãos.
Me sentia um pouco envergonhada. A sensação era estranha,
mas boa. Eu realmente tinha uma responsabilidade real e materna
aos dezoito anos de idade.
E pensar que eu abolia fielmente a ideia de ser mãe na
adolescência.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Foi somente em falar o seu nome, que o pequeno/grande rapaz


surgiu na entrada da sala.
— Lúcifer fugiu — avisou, desconcertado.
Suas bochechas vermelhas e o comportamento retido
demonstrava que, de alguma forma, isso era culpa sua.
— Lúcifer? — Loren se assustou. — Isso não parece nada bom.
— Me encarou de olhos arregalados.
Apoiei-me nos cotovelos, incrivelmente calma com a situação.
— Quem é lúcifer? — quis saber.
— O cabito — respondeu, timidamente.
— Temos um cabrito chamado Lúcifer aqui?
— Ah, é um cabrito. — Loren suspirou aliviada.
Asafe concordou num balançar de cabeça.
Isso não era muito convencional, mas para uma família como
aquela, estranho seria se tivessem um cachorro.
— Ok... — Assenti, olhando em volta. —Vamos atrás do lúcifer
então. — Coloquei-me de pé.

— Tem certeza de que ele está por aqui? — perguntei para


Asafe.
Ele segurava os meus dedos com força ao passo que
caminhávamos pela floresta ao redor da mansão.
— Sim. Ele vem pa cá quando foge.
— Por que é que vocês têm um cabrito? — indaga.
— Papai me deu.
Eu quase ri. Era óbvio que Christopher daria um cabrito para o
filho, isso era tão a cara dele.
— Faz sentido — murmurei.
— É.
— Olhe... — Apontei para o chão. — Cocô de cabrito, devemos
estar perto.
— Não, isso foi eu — admitiu.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Olhei para ele, instigada.


— Por que faz cocô aqui fora? E o que mesmo estava fazendo
aqui, As?
Ele deu de ombros.
— Tava bincando com o Lúcifer.
Deslizei a língua sobre os lábios.
— Oh. Certo. Conversamos sobre isso depois. E a propósito,
você faz cocô como um cabritinho.
Ele soltou uma risadinha engraçada.
Ficamos pelo menos mais de dez minutos dando voltas e voltas
na floresta antes de um pequeno cabrito preto surgir por entre os
arbustos altos.
— Lúuucifer — as cantarolou, animado.
— Achamos o cabrito — comemorei baixo.
Asafe correu em direção ao animal, e como se fossem melhores
amigos, Lúcifer se animou entre o abraço do seu pequeno
amiguinho.
É, a função de ser mãe de um pequeno demônio tinha lá as suas
emoções.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

29 dias após a morte de Christopher


21 dias após a morte de Ever
25 de julho | Quinta

Sob a luz amarelada do ilustre de vidro, seu rosto indiferente era


apresentado por frações da rara iluminação que o banhava, pondo
em evidência os seus olhos, que possuíam um brilho singular, mas
que pareciam gritar o total oposto de felicidade.
Ao fundo da imagem triste diante de mim, ouvia distante o baixo
monólogo de papai ao nosso lado, reclamando da refeição que ele
próprio havia pedido ao chefe do restaurante. No fim das contas,
todas as suas frustrações eram resultadas de suas próprias escolhas
ruins. Não dei-lhe atenção, observava minuciosamente a falta de
ânimo de minha irmã.
Na maior parte do tempo, eu podia lidar com o seu constante e
usual humor entediado, porém, quando suas expressões

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

transformavam-se em infelicidade, sabia que ela estava agonizando


por dentro sem ter a menor pretensão de me contar o porquê.
Uma pequena gotícula de lágrima escorregou teimosa, mas
contida e devagar em sua face, ela a desfez, disfarçadamente
coçando a bochecha. Loren era sútil ao fingir.
Quis perguntar o que estava acontecendo, mas não a
denunciaria desta forma para o nosso pai, isso apenas serviria para
alimentar a tensão existente em nossa família. Ele não teria a
delicadeza de entendê-la, mas teria a indecência de importuná-la e
puni-la como se tivesse a razão e o poder de o fazer.
— Sabe, eu nem sei por que essa droga está tão salgada, isso
deveria ser quase um prato doce. Ninguém aqui sabe fazer a
porcaria de uma comida boa? — felizmente, ele finalizou a sua
reclamação.
— Pensei que quando disse que iríamos sair para jantar, iríamos
apenas ser obrigadas a comer e fingir que nos suportamos. Deveria
ter avisado que teríamos que aguentar você falando sem parar —
pontuei, frígida.
Não me esforçava mais para recobrir meus sentimentos com o
comportamento de boa moça. Meu desejo de agradar havia chegado
ao seu declínio, e o meu interesse em permanecer nessa família
também.
Minha pele parecia entrar em chamas quando atravessava a
porta de casa. Me contorcia de dentro para fora todas as vezes.
Théo suspirou. Uma parte dele cansou de debater ou ir contra
mim. No fim, seria tudo em vão, de todo modo.
— Ok. Eu estou tentando. Tô aqui. Tô tentando — defendeu-se,
a voz baixa e controlada. — Eu não sei mais o que fazer, Dytto. Você
passa mais tempo me odiando do que tentando entender que eu
estou sofrendo. Nós estamos machucados, mas precisamos nos
apoiar.
Cruzei os braços, recostando-me na cadeira.
— Faz menos de um mês que a mamãe morreu e você já
conheceu todas as boates dessa cidade. — Franzi a testa. — Se é
desse tipo de apoio que precisa, então deveria ter ido para um

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

cabaré, e não nos trazer para jantar como se fingisse que se


importa. Só está tentando tirar a culpa dos ombros, pai, nada além.
Não está ajudando ninguém aqui.
Ele balançou a cabeça, suspirando.
— Eu só... só preciso fazer algo para não enlouquecer. A sua
mãe, ela também tinha outros relacionamentos, sabia? Ela nunca foi
uma mulher fiel, nunca — disse, desconcertado.
— É, mas também nunca o tratou como lixo — argumentei. —
Quanto aos termos de exclusividade no relacionamento de vocês,
isso era problema de vocês, não meu, mas a mamãe sempre te
endeusou, pai. Você é que nunca a tratou bem — soltei,
despretensiosamente. — E agora está nos forçando a te aceitar. Não
somos obrigadas a isso. Você nunca fez por merecer.
Ele esfregou ambas as mãos em seu rosto.
— Tudo bem. Eu desisto. — Ele jogou o guardanapo sobre a
mesa e levantou-se. — Não sou um pai de honra, fui um marido de
merda. O que mais eu sou, hein, Dytto? Tem sido ótima em me
rotular como bem quis esses dias. Sinceramente, preferia que fosse
você no lugar de Ever naquele dia. Pelo menos teria me poupado de
tanto desgosto em te ver assim. — E saiu.
Engoli em seco, digerindo as suas palavras bem devagarinho,
deixando que elas trespassassem sobre minha pele, carne e ossos.
Exalando em minha mente como um veneno.
Fechei os olhos por longos segundos, deslizando a língua sobre
os lábios — quase pude sentir o amargor da minha fúria —, apenas
para dar-me um tempo ante a situação. Precisava de um momento
para lembrar-me de controlar todos os sentimentos que eu enjaulei,
pois eram feios, monstros horrendos que se alimentavam do meu
ódio, e cresciam, todos os dias, a medida que eu tentava lidar com o
mundo.
Estava começando a me sentir fora do controle, de pouco em
pouco, os monstros me afastavam do comando, e quando, por fim,
assumissem o meu lugar, nada de bom poderia acontecer.
Eu nem mesma conhecia essa parte de mim até ela ser
desencadeada por uma sequência de eventos traumáticos, mas

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

estava ali, e sentia como se em outrora, tivesse sido repreendida,


encolhida e guardada. Mas agora, se preparava para retornar como
nunca antes.
Me sentia intrigada dentro de mim, presa ao meu próprio
enigma. O quão horrível eu poderia ser?
— Era menos pior quando ele só falava merdas pra mim — Loren
comentou, divagando.
— Ei. — Repousei minha mão sobre a sua. — Está tão triste. O
que aconteceu? — indaguei, preocupada, afastando os pensamentos
ruins.
Ela deixou que o olhar recaísse triste sobre nossas mãos, mas se
forçou a sorrir mesmo assim.
— Tenho uma boa notícia. Ainda nos veremos na escola no
próximo semestre — fingiu comemorar.
— Espera. Pensei que já tivesse tudo pronto para você embarcar
no mês que vem. O que houve?
— Nada. É só que eles mudaram de ideia. Não me querem mais
no Arizona, devem ter descoberto que sou má caráter e uma
péssima filha — tentou descontrair, rindo.
— O quê?! — arregalei os olhos. — Não acredito que perdeu a
sua vaga? O que eles disseram?
— Bom, na verdade, apenas disseram que lamentavam muito,
mas que eu não poderia mais usufruir da minha vaga, uma merda
assim. — Ela tomou um gole de água, parecia segurar as lágrimas.
— Não quer ligar ou enviar um e-mail? Pode ter sido um engano,
Loren. Você não fez nada de errado — insisti.
— Não foi, Dy — murmurou. — Estamos vivendo o inferno, ainda
não percebeu? — Ela entortou o canto dos lábios, insatisfeita. — Não
vai adiantar de nada.
— Mas... — O barulho que irrompeu ao longe, chamou-nos a
atenção antes que eu pudesse ser capaz de terminar.
— Que droga é essa?! — papai berrou. — ME SOLTE!
Levantei-me junto de Loren, buscando entender o motivo da
euforia que havia tomado conta do restaurante.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Percebemos a razão assim que vimos papai com o torso deitado


sobre a mesa vazia. Um policial alto e forte o segurava enquanto o
outro, mais baixo e sisudo, o algemava.
— Théo, você está sendo preso, acusado de: fraude, corrupção,
desvio de verbas do hospital em que trabalha e contrabando de
medicamentos. Você tem o direito a um advogado. Se você não
puder pagar um advogado, um será fornecido para você —
sentenciou. — Você entendeu o que eu disse? — perguntou, mais
firme.
Abismada, olhei para Loren, que encarava a situação sem sequer
piscar.
Minha irmã buscou pela minha mão, e cruzou os seus dedos nos
meus, sem nunca desviar o foco do que encarava.
— O quê? O quê? — rosnava incrédulo. — Isso é mentira! — Ele
passeou os olhos pelo restaurante, até nos achar. — Dytto. Loren.
Liguem para um advogado. Avisem o que está acontecendo. Há um
número na gaveta do meu escritório — informava, ao passo que era
remanejado contra a sua vontade para fora do restaurante.
O observamos se afastar, tão logo sumindo de nossas vistas. A
multidão ainda permanecia balançada com o ocorrido, porém, aos
poucos, retornavam sua atenção aos seus pratos.
Respirei fundo e virei-me para a minha irmã.
— Por favor, não se mate e nem cometa nenhum crime — pedi.
— Nossa família acabou de ser reduzida novamente.
— Digo o mesmo — concordou, lamentosa.

30 dias após a morte de Christopher


22 dias após a morte de Ever
26 de julho | Sexta

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Você me disse que ele ia voltar, Amara — eu dizia, bem


devagarinho, para não gritar. Asafe estava na cozinha, e eu não
queria causar alarde da sala. — Hoje completa um mês e ele ainda
não voltou! — Apertei os dentes.
Ela me observava, fria e indiferente. Havia chegado hoje cedo,
seus outros irmãos Leví e Demetrius, chegariam mais cedo. Mas não
era pela presença deles que eu estava ansiosa.
Loren ficou em casa para conversar com o advogado sobre a
questão burocrática para tirarmos o papai da cadeia. Todo o nosso
dinheiro tinha sido bloqueado. Todas as contas. Todos os cartões.
Era uma situação complicado e que, agora, cabia a nós resolver.
— Eu disse que ele ia voltar — afirmou. — Mas também disse
que poderia demorar horas, dias, semanas, meses, anos —
acrescentou, suspirando. — O tempo passa diferente em Nefarious,
Dytto. Não há como saber de nada. Ele morreu. Tudo é diferente
para Christopher agora.
Mordi a língua, andando de um lado para o outro com ambas as
mãos na cintura.
— Ah, ótimo! — esbravejei. — Então vamos ficar todos sentados
aqui na droga dessa casa, olhando para as paredes, sem fazer
absolutamente nada. Que ótimo plano, Amara. Ótimo, plano —
escarneci.
Girei os calcanhares, apontando para as paredes.
— Eu já conheço de cor todos os detalhes da merda daquela
parede. — Virei-me. — Da merda daquele tapete. — Virei
novamente. — Daquele abajur, daquele móvel, daquele e daquele.
Olhei para Amara, que pacientemente me observava pirar.
— Eu não vou ficar aqui esperando Christopher voltar. Não vou.
Isso aqui é o meu limite. 30 dias já se passaram.
— Eu sei que é difícil ter paciência, Dytto...
— Não! — interrompi-a. — Eu não terminei.
Cruzei os braços, e endireitei a postura.
— Eu vou fazer um ritual para invocar ele — declarei, firme.
— Acho que cheguei na hora certa — a voz masculina preencheu
o ambiente. Era gentil, mas potente e segura.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Um homem alto, de cor moreno claro, e olhos castanhos surgiu.


Ele sorria de um jeito faceiro, mas amigável. Possuía traços indianos
e um olhar acolhedor. A beleza era um outro traço seu que deixava
exposto que fazia parte daquela família.
Ele deixou sua mala no canto da porta de entrada do jardim e
aproximou-se de mim.
Ele era realmente muito alto, não tanto quanto Christopher, mas
significativamente. Porém, todos eles eram enormes ali, eu nem
sabia mais o motivo da surpresa.
— Sou Leví. — Estendeu a mão. — Sou irmão da Amara,
Christopher, Samantha e Demétrius. Acho que já deve ter ouvido
falar de mim.
Apertei sua mão.
— Dytto — apresentei-me.
— Se não me engano, escutei que está pensando em fazer um
ritual. — Ele sorriu, lançando um olhar confuso para a irmã.
— Ela quer invocar o Christopher — a Barbie gótica explicou.
— Entendo — disse calmamente. Ele tocou o meu ombro,
guiando-me para o sofá de um jeito pacífico e relaxado, parecia ser
tão paciente que conseguia transmitir isso sem nem mesmo se
esforçar. — É uma ideia. Mas é complicado, Dytto. Isso envolve
trazer seres de um outro mundo desconexo e distinto do nosso.
Christopher era o que nos ligava ao outro inferno, sem ele, podemos
acabar invocando um ser de outra dimensão, de um outro inferno.
— Christopher me disse que a mãe de vocês que invocou o pai
dele. E se usarmos o mesmo ritual? — indaguei, ansiosa.
Ele franziu as sobrancelhas de um jeito intrigante e se acomodou
no sofá.
— Podemos. É claro que podemos. Mas, isso só funcionou
porque Christopher era um rei. O filho dele, nosso irmão, é um
soldado, não há como fazer essa ligação. Nosso irmão era a ponte
para Nefarious, sem ele, não resta muitas opções.
— Leví, você aqui. — Samantha adentrou a sala.
— Sam. Quanto tempo! — Leví sorriu.
— O que está acontecendo? — perguntou, olhando-nos curiosa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Dytto quer invocar o Christopher usando o ritual que Naomi


usou — a Loira novamente se dispôs a explicar, parecia meio irritada.
Talvez eu estivesse a pressionando demais, mas eu me negava a
ficar mais um único segundo parada.
— Ah, caramba! Isso vai ser emocionante — Sam comemorou.
— Vai ser? — Juntei as sobrancelhas e encarei Leví de um jeito
acusatório. — Acabou de dizer que não dava.
— E não dá — reiterou.
— Como não? — Sam discordou. — Podemos fazer. Temos o As
para criarmos a ligação.
— O quê? — sobressaltei o tom de voz. — Não vamos usar o As,
ele é uma criança — me opus.
— Ele não será machucado no processo, Dytto. Ele ficará bem —
Sam interferiu.
— Não, não podemos. — Levantei-me de supetão. — Eu não
concordo com isso.
— É, eu também não. — Leví se juntou. — Christopher não
queria que o filho tivesse ligações com Nefarious, ele sabia que o pai
dele poderia usar a criança contra ele. Sabe que se fizermos isso
será com a fúria do nosso irmão que teremos que lidar quando ele
voltar. E nesse momento, ele seria capaz de nos dar o pior sem
nenhum remorso.
— Por que ficam repetindo isso? — me irritei. — Christopher
talvez ainda mantenha um lado sentimental na camada demoníaca.
Ele ainda lembra de nós. De todos nós — argumentei, sentindo a
fúria fervilhar em minha pele.
Um silêncio desconfortável se fez presente. Ninguém estava
realmente a fim de discutir aquele assunto comigo, por mais que
seus rostos os denunciasse, revelando que discordavam veemente
de mim.
— Podemos pensar em algo — desconversei. — Para o ritual.
— É perigoso, Dytto — Leví comentou.
— Eu sei. Mas tudo é perigoso. Há um tempo eu fui perseguida
pelo Nabrya, ameaçada pelo pai de Christopher, tive pesadelos com
a Zoe — confessei. — Eu sei que estamos nos metendo em uma

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

ruína, mas não vou permitir que Christopher se mantenha em


Nefarious.
— Disse que foi perseguida pelo Nabrya? — Sam acentuou.
— E que foi ameaçada pelo pai de Christopher? — Leví fez o
mesmo.
— E que teve pesadelos com a Zoe. É, ela disse — Amara
confirmou, sem paciência.
— Nabrya está na cidade? — Sam mencionou baixinho,
atordoada.
Amara revirou os olhos e bateu no ombro da irmã.
— Ai, supera, gata! — aconselhou. — Você já sabe o quão
imbecil ele consegue ser. Não deixa ele te ferir de novo.
— Eu já superei. Ele é passado — fez-se de indiferente. — Não
sinto mais nada.
— Teve um relacionamento com o Nabrya? — questionei,
surpresa.
— Faz um tempo. Esquece isso. Me conta mais o porquê dele ter
te perseguido — mudou de assunto.
— Na verdade, a razão era o irmão de vocês. Da última vez que
vimos Nabrya, ele estava com raiva dele. Parece que o Chris tinha
quebrado algum acordo, sei lá. E então, Melodius apareceu, e de
repente, Nabrya sumiu.
— Melodius? — Amara quis saber.
— Aparentemente, é um dos dezessete milhões de filhos
demônios que Christopher criou — revelei.
— Oh!
— Falaram sobre esse acordo? — Leví perguntou, interessado. —
Que tipo de acordo?
— Eu não sei. Tudo o que eu fui capaz de entender era que
Christopher estava jogando dois jogos. O de Nabrya e o do seu pai.
— Suspirei. — Ele pretendia matar Nabrya. Estavam furiosos um com
o outro.
— Por que Christopher iria jogar com Nabrya? Ele não o suporta
— Sam comentou, pensativa.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Tudo o que sabemos é que Nabrya sempre quis ter todo o


poder de Nefarious — Leví adicionou à conversa.
— E que Christopher sempre quis sair do controle do pai. Talvez
fosse isso — Amara elucidou, como se acabasse de entender o que
estava acontecendo. — Talvez, no início, Chris pensou em trabalhar
com Nabrya para acabar o pai, e então mudou de ideia quando
percebeu que o pai dele poderia matar a Dytto e roubar a alma dela
para si. — Ela deu um passo à frente. — Christopher foi para
Nefarious conversar com o pai sobre a Dytto, disse que ia lutar pela
sua segurança.
Ela deixou que os ombros caíssem em desanimação.
— E foi aí que tudo desandou.
— Espere aí. Ele pode fazer isso? — eu intervi. — Christopher
me disse que minha alma pertencia a ele, não ao seu pai.
— Christopher é subordinado ao pai, poderia ser obrigado a
entregar a sua alma — Amara esclareceu.
— Isso faz todo sentido. Christopher disse que Nabrya e o seu
pai não gostavam de mim porque eu o detinha de destruir o mundo
— memorei.
— Meus parabéns, conseguiu irritar o seu sogro antes de
conhecê-lo — Amara brincou.
— E espero não o conhecer nunca — me esquivei, agoniada.
Abracei o meu próprio corpo. Apenas o breve pensamento de ter
que conhecer Christopher I fazia com que meus órgãos se
revirassem.
— Seria possível que Christopher estivesse todo esse tempo
negociando com o próprio pai? — Leví pensou.
— Não teria muito o que Christopher pudesse fazer. No mínimo,
ele deve estar em guerra. — Amara relutou.
— Como? O pai dele não é muito mais forte? — questionei.
— Não exatamente — Sam disse. — Christopher só era mais
frágil em seu corpo humano. Agora que está em sua completa
versão demoníaca, se torna o demônio mais forte de Nefarious,
talvez até mais que o próprio pai. Ele foi criado para isso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— E se Christopher tiver morrido de propósito? — o moreno


disse, sua cabeça parecia a mil. — Ele poderia, não é? Assim poderia
ter uma chance de matar o seu pai e deter Nabrya.
— Sozinho? — a loira duvidou.
— Não, sozinho. Ele tem um exército de filhos — pensei em voz
alta. — Christopher estava muito estranho no dia que morreu. Senti
como se estivesse se despedindo de mim o tempo todo.
— É, sabemos. Ele deixou Asafe com a gente, estava todo
estranho também — Samantha comunicou.
— Ah, minha nossa! — Esfreguei os dedos entre os fios de
cabelo. — Christopher já sabia que ia morrer. Ele queria morrer.
Recuei vários passos para sentar-me no sofá.
— Que merda! — murmurei.
— Se ele queria morrer, então sabia que sua volta iria demorar.
Por que ele não falou nada? — Sam estava revoltada.
— Porque Nabrya estava o vigiando, poderia descobrir o seu
plano. E estava me vigiando, entrando na minha mente. E o pai de
Chris estava na cola da minha família e... — parei de falar.
— E...? — a Barbie gótica incitou.
— O pai do Christopher ameaçou a minha família se eu
permanecesse com Chris, mas eu terminei com ele para evitar isso. E
agora, agora está tudo destruído. — Ergui os olhos para todos eles,
que me encaravam sem entender — O pai do Christopher sabe que o
filho o desafiou e por isso está descontando em mim, para que doa
em seu filho. Ele é o responsável por todas as coisas ruins que está
acontecendo na minha família porque está punindo Christopher.
— Ou Nabrya é o responsável — Leví discordou. — Não
podemos afirmar quem está se vingando de Chris em você. Todos os
dois tinham motivos para querer ferir aqueles que o Christopher
ama, e esse alguém é você.
Suspirei, derrotada.
— Eu não acho que tenha sido Nabrya. Foi ele quem me contou
a verdade sobre o pai do Chris. Tudo o que ele queria era me por
contra o Christopher. E funcionou.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não sabemos como está a situação em Nefarious. Pode ser


que o cenário todo tenha mudado. Christopher pode ter passado
para o lado do pai e isso deve ter irritado Nabrya — Amara disse.
Meu celular tocou no bolso, quebrando a linha de conversa em
que nos situávamos. Em outro caso, apenas teria encerrado a
chamada, mas era Loren.
— Alô — atendi.
— Temos um pequeno problema — disparou, sem paciência.
Escorreguei no sofá, tensa e exausta.
— Problema não tem sido novidade para nós.
— É, bem, esse meio que é. — Ouvi-a solta o ar pela boca. —
Querem nos tomar a casa.
— O quê?
— Podemos ficar sem casa, Dy. Alegaram que foi comprada com
o dinheiro que papai desviou.
— Ser duas sem-teto era só o que nos faltava mesmo. O que
mais eles vão nos tirar, as roupas também?
— Talvez.
— Fala sério! — Revirei os olhos.
— Bom, tenho que ir. Estou indo buscar o papai na delegacia.
Ficará em casa até a situação mudar — avisou.
— Certo. Conversamos depois.
A ligação fora encerrada.
— Problema? — Leví se interessou.
— Nosso pai está sendo preso e a nossa casa está prestes a ser
tomada. Mais uma vez a minha família me surpreendeu — lamentei.
— Achei que minha mãe se matar porque os amores da vida dela a
deixaram seria o pior a nos acontecer, mas ver que o meu pai é um
demônio em pessoa, torna a situação extremamente nojenta.
— Christopher-pai não está para brincadeira — Sam observou.
— E por que não se mudam para cá? — convidou Amara.
— Para cá?
— É. Você disse que queria ficar mais perto do As, e sei que não
vai se afastar até ter Christopher de volta. Facilitaria a vida de todos
vocês.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Dei uma rápida vasculhada em volta, procurando pelo menor


sinal de insatisfação dos presentes, no entanto, tudo o que encontrei
foram pessoas bem à vontade com o convite oferecido.
Embora não parecesse uma boa ideia, era menos pior do que
ficar na casa dos nossos familiares.
— Ficar aqui? — pensei.
— O quarto de Christopher está livre se quiser passar mais
tempo lá. E há quartos de hóspedes, de todo modo — Sam reforçou.
Balancei o pé no chão, avaliando.
Asafe emergiu na entrada da sala, estava enrolado em um
enorme lençol. Os olhos cansados demonstravam dificuldade em
dormir.
— E um bônus, ele prefere quando você o põe para dormir do
que a mim — Samantha revelou, entristecida.
Se esforçava bastante para ser aceita por As, mas ainda não
obteve bons resultados.
— Certo. Vamos nos mudar — declarei.
Asafe fora, sem dúvidas, o estopim para a minha decisão final.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

36 dias após a morte de Christopher


28 dias após a morte de Ever
01 de agosto | Quinta

— Leví, por favor! — insisti, copiando cada passo que lhe era
dado em torno da grande cozinha. — Eu sei que não foi feito para a
mesma pessoa, mas talvez nós...
— Não. — Embora calmo, virou-se imediatamente para mim,
segurava uma xícara preta na mão. — Nós não vamos fazer o ritual.
Cruzei os braços.
— Sim, nós vamos — discordei.
Ele ergueu uma sobrancelha.
Apesar de muito mais forte e alto que eu, não me parecia
perigoso, na verdade, ele era um doce. O ser humano mais amoroso
e gentil que tive o prazer de conhecer. Por um momento até
desconfiei que ele fosse de fato da família, até tê-lo visto

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

acidentalmente nu no banheiro e confirmar pelo expressivo membro


que era, sim, um Tanaka.
Eu definitivamente morreria com aquela imagem, e ela se
perpetuaria em minha mente para todo o sempre apenas por pura
desobediência em tentar esquecê-la. Foi tão inocente, eu apenas
abri a porta e "tcharam" Leví com seu pênis grandão diante o
enorme espelho. Mas quem diria que ele usava o banheiro social ao
invés do seu pessoal? Eu não poderia adivinhar, o que, de certa
forma, amenizava a culpa por não ter batido antes.
Ele, na verdade, não pareceu se importar. Eu, por outro lado,
quis morrer de vergonha.
— Por favor, Leví. Eu tô sentindo abstinência de Christopher na
veia. Sabe o que sentir abstinência de uma pessoa, Leví? Sabe? —
pressionei. — Eu sinto que a qualquer momento eu vou sair
apontando uma faca para as pessoas. Isso é insano — dramatizei,
arregalando os olhos.
Ele pôs sua xícara sobre o balcão de mármore, pegou a garrafa
de café e a despejou cuidadosamente.
Nós dois assistimos o líquido preto, com o seu delicioso e forte
aroma, ser despejado até a borda da xícara, e então, ele novamente
pôs a garrafa sobre o balcão, pegou a xícara, me olhou diretamente
nos olhos e bem suavemente declarou:
— Não. — E assim, girou os calcanhares, levando o seu corpo
elegante e gracioso para bem longe de mim.
Entretanto, eu não lhe dava espaço. Ele era o único que possuía
conhecimento acerca do ritual completo utilizado por Naomi. Eu
queria aquela receita mais do que tudo. Estava a um passo de pular
em sua cabeça gritando "Me dá, me dá, me dá." Mas acho que nem
assim ele o faria.
— Fala sério, Leví! — reclamei.
Bem tranquilamente, ele sentou-se no banco diante do piano.
Deixando sua xícara sobre a tampa, ele esticou os braços e dedos,
girou os ombros para trás e para frente, esticou os pescoços para os
lados e sorriu antes de dedilhar as teclas freneticamente,
transformando as batidas de sons em puro suco de música clássica.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Ah, não! — berrei mais alto. — EU PRECISO DA DROGA DO


RITUAL.
Ele ignorou todos os meus pedidos incessantes e perturbados.
Furiosa, saí pisando duro para fora da sala de música. Estava
exausta de tanto implorar.
Fazia seis dias desde a nossa mudança, para falar a falar
verdade, nos mudamos no mesmo dia em que recebemos o convite.
Quando cheguei em casa naquele dia, papai tinha voltado da
delegacia e brigado com Loren, que, por sua vez, já arrumava as
suas malas, pronta para ir embora para qualquer buraco.
Foi apenas o tempo de eu lhe avisar que havia arranjado um
lugar para nós duas e correr para o meu quarto, pescando algumas
roupas, sapatos, escova de dentes, utensílios pessoais e o presente
milionário de Christopher.
Aquele presente mais do que nunca fora bem-vindo em minha
vida, ele era a minha garantia para não morrermos pobres. Quer
dizer, ao menos eu e Loren. Em contrapartida, papai teria que se
virar, sozinho, sem dinheiro, sem esposa e com um problema enorme
na justiça que lhe custaria vários bons advogados. Talvez a amante
viesse a calhar agora com alguma ajudinha.
Eu sei lá. Apenas sei que o estamos ignorando desde então. Não
atendemos as suas ligações, mensagens. Até brincamos com a
possibilidade de ele divulgar um cartaz com nossas fotos exibindo
uma legenda bem grande com as seguintes palavras:
"DESAPARECIDAS. NÃO HÁ RECOMPENSA, POIS ROUBEI DINHEIRO
DE CRIANCINHAS DOENTES E AGORA ESTOU POBRE."
Loren parecia bem na mansão Tanaka. No início, ela detestou a
ideia, porém acabou cedendo, ainda estava desconfortável e retida,
mas bem. Ao menos tínhamos um teto, mesmo que temporário. Em
grande parte do seu tempo, ela se mantinha dentro do quarto, quer
dizer, o quarto que nós duas dividíamos, eu ainda não estava pronta
para morar no antigo quarto de Christopher. Ter suas lembranças
impregnadas em minha mente, dificultava manter-me próxima de
suas coisas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A situação estava difícil. Eu corria para todos os lados da casa,


buscando por uma solução. Loren mal saía do quarto, e quando saía,
não falava muito com ninguém. Eu tinha a breve sensação de que
ela se escondia dos irmãos Tanaka, Amara era quem ainda tentava
se aproximar, mas sempre era dispensada e jogada para escanteio.
Não gostava da forma rude que minha irmã a tratava, mas não me
intrometi, ainda não sabia o que fazer para melhorar o humor de
Loren.
Joguei-me no sofá da sala ao lado de Asafe. Ele estava entretido
com uma aranha que se arrastava bem lentamente pelo carpete
quando me notou.
— Mamãe, posso matar a alanha?
Asafe agora possuía o hábito de me pedir permissão quanto aos
animais que podia ou não matar, apesar da minha resposta ser
sempre não para qualquer sugestão que me era oferecida. Também
falamos sobre o fato de que fazer necessidades na floresta não era
uma coisa boa; experiência própria.
Lúcifer mantinha-se livre no jardim para caminhar à vontade,
mas às vezes o encontrava passeando alheio pela casa. As gostava
de deixá-lo entrar. Eu evitava sua presença aqui, mas o pequeno
cabrito era teimoso.
— Não, As. Não pode matar a aranha. Esmagar animais com a
mão é uma coisa não muito legal de se fazer, está bem?
— Ãrram. — Balançou a cabeça. Ele parou por um momento,
pensativo, e continuou: — E com o pé?
— Não.
Ele coçou a nuca, intrigado.
— Podemos soltar na natureza, o que acha? — sugeri.
Eu não soltava aranhas em jardins. Tacava tudo o que me viesse
a frente sobre elas, porém, eu precisava educar Asafe de um jeito
diferente, senão, ele poderia começar a achar muito normal o ato de
esmagar coisas por aí, e eu não era Christopher, não poderia contê-
lo. As por mais fofo que fosse, ainda era um demônio, com instintos
de um.
— Por quê? — questionou, confuso.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

A ação de deixar seres vivos livres e vivos era algo muito difícil
para ele aceitar.
— Para ela voltar para os filhos aranha dela, para voltar para o
marido, para a mamãe e o papai dela — respondi.
Ele franziu a sobrancelha.
— E se a gente matasse todos? — propôs, entusiasmado.
Oh, céus!
— Não é assim que funciona, As. Tem que deixar os bichinhos
vivos.
Ele coçou o cabelo, entristecido.
— Mas eu, mas eu...
— Peste. — Minha irmã entrou em cena, segurando um único
sapato incendiado. — Da próxima vez que tacar fogo em uma das
minhas coisas, vou tacar fogo em você — ameaçou, encarando-o.
— Loren! — adverti.
— Que é? Ele não é um filhote de demônio? — argumentou,
instigada.
— É uma criança! — Olhei-o a tempo de pegá-lo no pulo dando
a língua para ela.
— As, você não pode fazer isso com a... — Flagrei Loren fazendo
o mesmo que ele. — Minha nossa! Será possível que eu vou ter que
dar educação a duas crianças?
— Eu posso, sou mais velha, portanto, tenho direitos que a peste
não tem.
— Sua cocô — Asafe a criticou.
— Pelo menos eu tenho todos os dentes, olhe só. — Ela abriu
um larguíssimo sorriso, bem próxima a ele para exibir-se.
Ele fez careta.
— Feia — disse, chateado.
— Restinho de aborto.
— Sua... Sua... — As olhou em volta, os olhos ansiosos
pesquisando uma rápida ofensa. — Sua cabeça de cabito.
— Esse é o melhor que sabe fazer? — Loren o provocou,
divertindo-se.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Asafe começou a gritar como um alarme de sirene com defeito.


Loren revirou os olhos. Eu suspirei.
— Desisto. — Levantei-me.
— Não. Palei. Palei. — Asafe se adiantou, saltando do sofá para
correr até mim. — Palei, mamãezinha.
— Você é um espertinho, não? — brinquei.
— Nada de queimar as minhas coisas de novo, Asafe. Eu sei
onde você guarda os seus brinquedos — Loren ameaçou, tomando
distância de nós.

38 dias após a morte de Christopher


30 dias após a morte de Ever
03 de agosto | Sábado

— Eu acho que a gente ainda só não se conhece bem. Sinto falta


de confiança da sua parte, Leví — dizia, encarando-o jantar.
— Dá logo o ritual para a garota, Leví. — Demétrius riu.
— Essa foi a coisa mais sensata que você disse — comentei.
Ele franziu a testa. Estava sentado ao lado de Leví e diante da
enorme mesa carregada de comida. Ele gostava de banquetes bem
recheados, pois todos eles se reuniam durante o jantar.
A enorme mesa ocupava o grande salão de jantar. Estava cheia
de comida de ponta a ponta, como se morássemos em um castelo,
na verdade, era bem assim que eu me sentia.
O lustre absurdamente exagerado banhava as nossas cabeças
com as suas luzes amareladas. Ao fundo, uma ópera tocava
baixinho, preenchendo o vazio daquela casa assustadora.
Eu ainda não havia me acostumado com a atmosfera bizarra que
aquele lugar emanava. Trazia consigo a esmagadora sensação de
estar sempre sendo observada. Às vezes, durante a madrugada,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

ouvia sons distantes que pareciam delírios de minha cabeça,


ressoavam como gritos desesperados e ecoavam por todos os lados.
Loren dizia ouvir também, mas evitava falar qualquer coisa em
voz alta sobre isso. Tinha medo de que pudesse irritar algo ou
alguém que ia além de nós.
A mansão era enorme e muito, muito espaçosa, no entanto,
parecia tão oca de móveis, mais cheia de pavor e histórias.
Ainda sentia calafrios quando passava por determinados
corredores.
— Eu sou o rei da sensatez.
— Não, não é. Ou então saberia que é uma péssima ideia dar a
ela o ritual — Leví interferiu.
— Se ela quer fazer um ritual, então deixa ela. Há sempre uma
primeira vez pra tudo — Dem defendeu, um sorriso sarcástico
brilhava nos lábios.
— Eu acho um ato muito nobre ela querer correr o risco —
Samantha se pronunciou, levando a taça de vinho aos lábios.
Ela estava em um vestido ousado. Era de um dourado claro e
brilhante. O longo decote entre os seus seios dava-lhe um ar de
sensualidade puramente calculado. O tecido colava-se perfeitamente
a sua cintura, revelando as belas curvas. Seus acessórios de ouro
mesclavam-se bem ao conjunto todo. Possuía um bracelete na parte
superior do braço, brincos que se derramavam em fitas sobre os
seus ombros e uma gargantilha semelhante aos que deuses gregos
usavam em suas cabeças.
Ela estava sempre deslumbrante em qualquer e todo jantar que
tínhamos.
— Ah, muito obrigada, Sam — agradeci.
— Não há de quê. Precisando de uma confusão, é só me chamar.
— O que você acha, Amara? — Leví interrogou. — É a mais
velha, decide você, então.
A loira parecia ocupada demais atazanando a minha irmã ao seu
lado para se preocupar com o que qualquer um de nós dizia.
Loren evitava seus toques e continuava a se desviar das
provocações da Barbie gótica, mas ela era um poço sem fim de

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

insistência.
— Fala sério. Não põe essa responsabilidade em mim. Se Dytto
quer invocar demônios, então que os invoque. — Deu de ombros,
voltando a cutucar o cabelo da minha irmã que, prontamente a
ignorava.
— Eu não quero fazer um baile de demônios, eu só quero
invocar o Christopher. O meu Christopher.
— Dá logo a droga desse ritual pra ela, Levizinho — Demétrius
se divertia.
Ele era o único que parecia muito bem à vontade com tudo ali,
não importa qual ideia eu tivesse, Dem sempre apoiava.
— Está bem. — Suspirou. — Mas não diga que eu não avisei.
Arregalei os olhos.
— Vai mesmo me dar o ritual? — falei, desacreditada.
— Claro. — Ele sorriu, mas tudo ainda parecia não ser de
confiança.
— Estou ouvindo. — Me atentei, curiosa.
Ele olhou em volta da mesa, surpreso por eu já querer saber, no
entanto, eu não queria mais perder um único segundo sequer.
— Ok. Três homens. Três mulheres — listou. — Vai precisar
disso.
— Três homens e três mulheres? — me intriguei. — Bom, já
temos as três mulheres. — Apontei para mim, Sam e Amara. Loren
não parecia querer fazer parte disso, então a deixei de fora. — E já
temos dois homens, falta somente um.
Ele sorriu, cruzando os braços.
— Três homens mortos e três mulheres mortas para o ritual,
Dytto — explicou, fazendo com que meu coração parasse de
bombear sangue por um milésimo de segundo. — E eu nem preciso
dizer que terá que ser você a matar.
— Merda! — Suspirei, nervosa.
Isso era algo impossível.
De repente, o sonho de chamar Christopher tornou-se ainda
mais distante e irreal.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu ficaria honrado se me chamasse para ajudar. — Demétrius


se voluntariou.
— Dy — Loren me chamou. — Não precisa fazer isso. Podemos
fazer de outro jeito, está bem? Você não conseguiria conviver com a
culpa.
— Todos nós podemos conviver com a culpa de alguma coisa,
Loren — a loira ao seu lado interveio. — Basta ela se lembrar do
porquê fez e verá que valeu a pena.
Abracei o meu próprio corpo. Sentia ondas de náuseas me
atropelando.
— E o que mais, Leví? — Baixei o olhar, esperando que me
dissesse o resto.
— Te conto depois que me trouxer os corpos. Enquanto isso,
pense mais sobre isso. — Ele se levantou, bebeu o último gole do
seu whisky e repousou o copo sobre a mesa. — Preciso descansar.
Devia fazer o mesmo, Dy. Não dorme há dias.
— Não tem como dormir, a casa faz barulho demais — reclamei,
baixo.
Ele sorriu.
— Fique com o quarto de Chris, o barulho nunca chega perto de
nada dele.
O olhei interrogativa, mas Leví já estava se afastando.
— Bom, eu também já vou. — Dem se levantou. — Me avise
quando decidir, Dytto. — Me olhou, antes de mudar sua atenção
para a minha irmã. — E você, me avise se precisar fugir dos
barulhos... ou se quiser causar um pouco de barulho. — Sorriu
malicioso.
— Cai fora, Dem. — Amara brigou.
— Vocês por acaso estão namorando? — ele provocou.
— O-o quê? N-não. Não! — O rosto extremamente vermelho de
minha irmã a denunciou.
Juntei as sobrancelhas.
Oh, caramba!
Oh, caramba!
Oh, caramba!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Meus olhos se arregalaram a cada exclamação que minha mente


ruminava.
— E-eu não tenho nada com Amara, tá?
A loira sorriu disfarçadamente. Eu mudei de olhar, fingindo olhar
para qualquer coisa que não fosse o constrangimento de minha irmã
ou da sua namorada secreta.
— Eu sou hétero, caramba. — Loren se pôs de pé e saiu
marchando duramente.
— Uau! Você consegue tirar a paz de todo mundo, Dem. — Sam
sorriu, erguendo a mão para um high-five.

— Você está inquieta — Loren pontuou, deitada ao meu lado.


Umedeci os lábios. Estava de barriga para cima, encarando o
teto.
— Preciso dormir, mas não consigo — sussurrei.
Ela pôs sua mão sobre a minha.
— Não quer tentar dormir no quarto dele? — sugeriu.
— Não. — Balancei a cabeça. — Ainda não sei se estou pronta.
— Ou talvez só esteja com medo de que não vá encontrar ele.
Fechei os olhos, sentindo uma lágrima solitária escapar.
— Eu preciso dele, Loren.
Ela suspirou, aconchegando-se mais a mim em um abraço.
— Eu sei, Dy.
Ficamos em silêncio por um longo instante. Eu precisava digerir
o nó em minha garganta. Não queria deixar os meus sentimentos me
afogarem, não poderia. Eu tinha de ser forte e não ceder a emoções.
Inspirei fundo e soltei.
Virei o rosto para a minha irmã, ela ainda estava acordada,
pensativa.
— Então... Amara, hum? — Sorri.
Ela imediatamente ficou envergonhada e escondeu o rosto.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Nunca me disse que gostava dela — comentei, afagando o


seu braço. — Ela é do estilo bruta e tudo mais, mas parece se
importar com você.
— Não é isso. Não, não é assim. Não temos nada — Loren se
apressou, virando-se de costas para mim.
Juntei as sobrancelhas.
— Ei. Por que está assim? — Toquei suas costas.
— Pare de dizer coisas que não faz sentido, era só uma
brincadeira idiota do Dem, Dytto. Que saco!
Ela ficou imóvel. Não disse mais nada depois disso.
Dei-lhe um pouco de tempo para se acalmar antes de eu
prosseguir.
— Eu não sou os nossos pais, Lô. Se está apaixonada por uma
garota, não precisa esconder isso de mim. Eu nunca te julgaria por
isso. Nunca. — Me aproximei dela. — Se você gosta dela, pode me
contar. Se gosta de outra garota, pode me contar também. Eu vou
sempre te amar, não importa de quem você goste. Eu não sou o
papai. E nem sou a mamãe. Eu sou a sua Dy.
Ela ergueu o rosto cheio de lágrimas para mim.
— Eu estou assustada, Dy.
Beijei a sua têmpora.
— Faz sentido, mas vai passar. — A abracei. — Você vai ficar
bem.
— É que com o Chris foi diferente. Eu sentia algo, algo de
verdade. Mas isso. — Ela balançou a cabeça. — Eu nunca senti isso
por ninguém, Dy. E eu tenho medo.
— Vocês duas já conversaram?
— Não, não. Claro que não. Ela não entenderia. A Amara não é
muito monogâmica, ela vive com uma garota e outra o tempo todo.
Ela nunca entenderia o que é se apaixonar por alguém.
Loren se virou de barriga para cima.
— Eu só preciso de um tempo. Isso vai passar.
Prendi um sorriso entre os lábios.
— Se quer saber, eu acho que ela sabe sim o que é estar
apaixonada. Ela não sai do seu pé desde que chegamos.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Loren revirou os olhos.


— Ela só quer sexo — debateu.
— Pensei que você gostasse de sexo — brinquei.
— Sim, mas com pessoas que eu não vou me importar se não
me mandarem mensagem no dia seguinte ou se eu vir com outra
pessoa logo em seguida — desabafou, sôfrega.
Virei-me na cama, apoiando os cotovelos no colchão.
— Tudo bem, mas você não precisa tirar conclusões de tudo
agora.
— Todos eles são assim, Dytto. Todos os Tanaka. Nenhum gosta
de relacionamento ou de ser puramente fiel a uma única pessoa.
— Ei! — reclamei.
— Oh, quer dizer, menos o Christopher — corrigiu.
— Bom, no seu lugar eu estaria pelo menos me divertindo. Eu
não posso nem pensar em sexo porque eu não tenho mais um
namorado para fazer o que eu queria — lamentei. — Ao menos a
Amara está o tempo todo disponível.
— Quando foi que você se tornou isso? — Ela riu.
— Desde que eu não tenho mais um cara de mais de dois
metros de altura entrando todas as noites no meu quarto pra me
comer.
— Ahhh, então era isso. Pensei que aqueles gemidos de
madrugada era você siriricando.
— O quê!? Dava pra ouvir?
— É claro que dava. Você não é tão discreta assim, sabia?
— Ah, não! Será que os nossos pais ouviam? — murmurei,
desconcertada.
— Eu duvido, eles dois tinham sono de aço.
Cobri o rosto.
— Que merda!
Loren virou-se.
— Vá dormir — decretou, bocejando.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu tentei, fielmente, seguir o seu conselho, mas ao notar o


celular exibindo 3h:37min da madrugada, percebi que já havia
falhado.
Na ponta do pé, caminhei cuidadosamente até o quarto de
Christopher.
Ao adentrar o ambiente pouco iluminado e de aparência
assombrosa, fui recebida pelo seu cheiro. Ele estava impregnado em
cada parede. Como se ele ainda estivesse vivo e presente ali.
Por um segundo, me permiti idealizar Christopher naquele
ambiente. Sentado em sua poltrona, observando-me. Deixei que
minha mente fluísse, trazendo as nossas poucas memórias intensas
nesse lugar.
Deitei-me em sua cama, me enrolando nas cobertas macias,
aspirando a sua essência. Aquilo me trouxe saudades, mas também,
conforto.
Senti-me tão à vontade que nem percebi quando adormeci.
Acordei apenas quando um pequeno estrondo irrompeu na
porta.
Percebi algo do outro lado no chão, ocupando a iluminação que
raspava a brecha da porta.
Talvez fosse Lúcifer dormindo, mas tive curiosidade em descobrir.
Levantei-me cuidadosamente, caminhando com cuidado para
não assustar o que quer que estivesse parado naquele canto.
Ao abrir a porta, me deparei com um pequeno corpinho deitado
no carpete, enrolado em seu cobertor de dinossauro. Ele dormia
calmo e sereno.
Mas o que ele fazia ali? Pensei que estivesse em seu quarto.
Me peguei imaginando quantas vezes ele não deve ter dormido
no chão diante a porta do quarto do seu pai apenas para matar a
saudades. Isso fez meu coração encolher-se no peito.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Apanhei As em meu colo, tomando todo o cuidado para não


despertá-lo, no entanto, assim que o deitei no colchão, seus olhos se
abriram, confusos.
— Mamãe — cochichou, sonolento.
— Oi, bebê — sussurrei. — Você estava no chão.
Suas pálpebras estavam inchadas e os olhos avermelhados
indicavam que ele havia chorado.
— Eu estou aqui, está bem? Tudo bem se dormimos juntos? —
perguntei e ele assentiu. — Está bem.
Aconcheguei meu corpo ao seu, embrulhando nós dois entre as
cobertas. As se virou para mim e sorriu, em seguida envolveu meu
pescoço em seu mini abraço.
No início, quase fui asfixiada uma três vezes, porém, finalmente
consegui adormecer e realmente dormir. As também.
Pela primeira vez em muito tempo, nós dois dormimos de
verdade. Juntos e no quarto do Christopher.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

39 dias após a morte de Christopher


31 dias após a morte de Ever
04 de agosto | Domingo

A casa estava vazia.


Meu coração estava disparado e minhas mãos suavam frias.
Meus olhos estavam bem abertos diante do cômodo desocupado.
Meu peito apertou, como se um alfinete trespassasse a minha
carne. Sentia como se estivesse perdendo as boas memórias vividas
ali, escapando como água entre os meus dedos.
Embora eu tenha esperado tempo demais para dar atenção às
dezenas de ligações perdidas de meu pai, imaginei que, ao menos,
ele poderia ter sido capaz de enviar uma mensagem de texto
avisando que iria se mudar, ou melhor, sumir.
Os móveis desapareceram. Os retratos. Os vasos. Não existia
mais nada além do piso de madeira polido e as paredes pálidas sem

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

decoração.
Corri para o meu antigo quarto, entretanto, somente o eco do
vazio ocupava espaço. Um nó imediatamente se formou em minha
garganta.
Fui novamente preenchia pelo sentimento de luto.
Olhei pela janela do meu antigo quarto. O jardim estava vazio. A
garagem estava sem carros. Apenas a ranger vermelha de
Christopher — que peguei emprestada — estacionada na frente da
casa indicava a presença de alguém aqui.
Não havia placa de "Vende-se" fincada no gramado, isso quer
dizer que papai não teve escolhe a não ser ceder a casa para a
justiça, porém, se recusou a deixar os móveis, o que provavelmente
o tornava um novo tipo de ladrão.
Fechei os olhos, deixando o ar escapar pela minha boca. Não
existia conforto em ver toda a minha antiga vida se dispersar.
Outra vez eu me despedia de algo importante.
— Ele acha que você está morando com o Christopher — o
timbre rouco, mas suave, reverberou atrás de mim como um soco
em minhas costelas.
Meu corpo instantaneamente foi tomado por ondas de arrepios.
Virei-me de solavanco.
— Nabrya — decretei entre dentes.
Ele abriu um sorriso maroto, olhando-me fixamente nos olhos.
— Agora tem nos vigiado, por acaso? — retruquei, rude.
Nabrya ergueu o rosto, numa postura inabalável.
— Tenho cumprido com a minha promessa.
— Que promessa? — Franzi as sobrancelhas.
Ele sorriu de lado. Deu dois passos em minha direção antes de
parar, olhar em volta e balançar a cabeça.
— Foram momentos intensos nesse quarto. Aposto que sente
muito a falta do seu namorado — memorou, como se pudesse
enxergar todas as memórias existentes daquele cômodo.
Seus olhos reflexivos deslizavam bem lentamente. Onde deveria
se localizar a minha antiga cômoda, ele sorriu, continuou com a sua
investigação, indo em direção ao closet, agora vazio, ficou intrigado,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

mas logo tomou rumo para onde ficara o vazio de onde costumava
estar a minha cama.
— Está vendo o quê? — indaguei.
— Memórias — admitiu. — De vocês dois. — Ele virou-se de
costas para mim. — Christopher adorava entrar aqui quando você
não estava para roubar as suas calcinhas. Algumas que você nem
mesmo notou a ausência. — Ele riu. — Christopher te vigiava todas
as madrugadas antes de lidar com a própria vida. Queria garantir
que estava viva e que nenhum monstro seria capaz de tocar em
você, mas quando ele sumiu, sua casa foi tomada por demônios.
Nabrya virou-se novamente para mim.
— Isso explica a minha promessa.
— Ainda não me disse que promessa — argumentei.
— Christopher me pediu para ficar de olho em você. Ele queria
garantir que você continuasse bem.
— Então ele te contou que iria morrer. — Sorri amarga.
— Não. Eu o matei — confessou simplesmente.
Senti meu rosto transformar-se em uma lava de fogo. Minha pele
queimava de fúria. Embora soubesse agora que isso era o que
Christopher queria, repugnava com todas as minhas forças o fato de
que alguém tinha o machucado.
— Você... — avancei um passo, querendo gritar, mas Nabrya me
interrompeu.
— Ele me pediu por isso. Ele me colocou de prontidão para
matá-lo — entoou firme.
Meu corpo estagnou em uma postura defensiva, tensa e sólida.
— Christopher e eu demoramos até finalmente chegarmos a um
acordo. Tive que garantir que ele não me trairia no último minuto,
mas ele não o fez. Então, agora estou aqui, vigiando a moça dos
olhos dele. — Nabrya sorriu. — Tem sido um trabalho inquietante.
Ver você o tempo todo triste é... incrivelmente satisfatório.
— Aposto que sim — eu disse, friamente. — Não me
surpreenderia se você admitisse ser o culpado do que vem
acontecendo a minha família também. A morte, a destruição e
mandado de prisão.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Ele caminhou até estar ao meu lado perante a janela, sentou-se


no beiral e suspirou.
— Infelizmente o mérito não é meu.
— Então admite estar fazendo um péssimo trabalho cuidando da
sua promessa? Não protegeu a minha mãe.
— Não. Minha promessa foi que eu cuidaria de você, não da sua
família. — Ele brincou com uma sobrancelha.
Senti vontade de machucá-lo. De pular em seu rosto enfiando as
minhas unhas em sua pele. Mas, muito provavelmente, o maior dano
colateral seria causado em mim, então, abri mão da ideia a
contragosto.
Cruzei os braços.
— Depois de todo esse tempo você finalmente decidiu dar as
caras. O que está acontecendo? — intriguei-me. — Sabe por que ele
ainda não voltou?
Nabrya umedeceu os lábios.
— Como tem sido a sua hospedagem na mansão da família
Tanaka? Se divertindo? — desconversou.
— Não sei, me diz você.
— Não, não posso. Não tenho permissão para te vigiar de lá,
mas sei que está segura.
— O quê, tem medo da família Tanaka? — zombei.
— Não, não tenho. Mas os filhos de Christopher fazem o trabalho
dentro da casa. Eles protegem a mansão, então não há motivos para
existir perigos lá dentro.
Agora fazia sentido todas aquelas vozes ressoando pela
madrugada. No fim, a casa era mesmo assombrada, porém pelos
filhos do meu namorado. Acho que isso se intitularia como "Mansão
bem-assombrada".
— Eu não gosto de você — admiti, irritada.
— Eu sei que não. Dá para ver desde que eu lhe disse que matei
o seu namorado. — Ele sorriu. — Se quer saber, foi emocionante.
Engelhei o nariz em uma careta.
— Você é nojento. — Dei-lhe as costas. — Se não vai ser útil
aqui, então deveria ter continuado nas sombras.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Caminhei em direção à porta, mas parei quando fui chamada.


— Eu vim aqui por uma razão — disse. — Quero te mostrar uma
coisa.
O olhei de soslaio.
— O que seria tão interessante a ponto de me procurar, Nabrya?
Espero que não seja para contar como matou o meu namorado.
Ele se levantou de onde estava.
Sua expressão era mais sombria agora. Os olhos carregavam
segredos que pareciam muito próximos de vir à tona.
— Por muito tempo você culpou Christopher por ter roubado a
sua alma, e estava certa. Ele roubou. — O Demônio pressionou os
olhos nos meus. — Mas sua alma nunca pertenceu aos céus, Dytto.
Sua alma não foi roubada de Deus, mas, sim, do pai de Christopher.
Meu estômago se contorceu com esta informação.
— O seu bichinho de estimação se apaixonou por você por causa
do que o pai dele fez. E não por quem você foi persuadida a se
tornar.
— Que raios você está falando? — questionei, confusa.
A cada palavra que saía de sua boca, mais perturbada eu me
sentia.
— Quero te mostrar as memórias que você perdeu, Dytto. Está
pronta?
— Eu deveria saber do que você está falando?
— Não. Você não faz ideia do que houve, mas agora precisa,
porque você é uma peça essencial para tudo o que está havendo. —
Ele caminhou até estar quase colado a mim. — Deixe-me mostrar
quem é você nesse jogo. — Suas mãos tocaram a minha têmpora
antes mesmo que eu pudesse recuar.

10 anos atrás...

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

O vento gelado soprava o meu cabelo, emaranhando os fios


soltos sobre as minhas costas.
Sentada na grama úmida daquela colina, eu agarrava com força
a boneca de pano contra o meu peito — como se a minha vida
dependesse disso —, encarando os olhos azuis que ameaçavam
chorar diante de mim.
Havia ganhado a boneca em meu recém-aniversário de oito
anos, foi Loren quem me deu. Ela economizou a sua mesada por
meses para que pudesse me presentear desde que a vimos outro dia
em uma lojinha. Papai disse um curto e simples "não" quando
perguntei a ele se poderia a comprar para mim, pois afirmou com
todas as letras que o lugar era comum demais e que os brinquedos
cheiravam a mofo.
Eu não achava isso. O vendedor era um homem simpático que
parecia muito com o meu avô. As sobrancelhas grossas e grisalhas
eram gentis, a careca brilhava e a pele estava muito envelhecida.
Embora ele também tivesse escutado o que meu pai disse, não
pareceu ofendido.
A partir daí, comecei a considerar a boneca como minha
pequena filhinha. A trocava com fraldas todas as noites, e sempre
precisava grampear as laterais, pois em todas as vezes ficavam
frouxas. Eu a perfumava e a colocava para dormir ao meu lado todas
as noites e, em todas as refeições, eu a colocava ao meu lado.
Mamãe dizia que eu não poderia colocar comida para ela, pois seria
desperdício, então apenas curtia a sua companhia.
— Me dá ela — a garota loira exigia, dando um passo em minha
direção.
— Ela é minha — defendi enciumada e olhei para trás,
procurando por Loren, mas ela estava ocupada demais jogando
futebol com os garotos para perceber o conflito ali. Nela eu confiava
para dar umas porradas nas crianças chatas que me irritavam. É
claro, eu até poderia fazer isso sozinha, mas nossos pais iriam me
ver como a filha má, e eu precisava de bons créditos se quisesse
ganhar tudo o que desejava.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Nossos pais estavam distraídos montando uma fogueira em meio


ao campo livre daquela colina. Estávamos alojados na casa há uns
metros dali, em meio a floresta.
Eu sabia que Lily era uma garota mimada, por isso, sempre que
meus pais diziam que iríamos passar os seus dias de folga na casa
de férias dos pais dela, eu me trancava no meu quarto e gritava por
uns 30 segundos com a cabeça enterrada no travesseiro.
Ela era simplesmente a pessoa mais irritante que eu conhecia e
exigia de mim uma paciência e graça que eu não possuía.
— Me dá! — gritou, lágrimas já brilhavam em suas bochechas.
— SAI. — Levantei-me bem rapidamente.
Mamãe não demorou a surgir às minhas costas.
— Ei, ei, ei. — Interrompeu. — O que está havendo aqui?
Ela tocou o meu ombro, alterando seu olhar em mim e a garota
chorona.
— Ela quer pegar a Rose de mim, mãe — reclamei.
— Certo! — Mamãe assentiu. — Faremos assim. Dytto brinca
com a Rose um pouquinho, e depois você troca com a Lily. Está
bem?
— NÃO! — protestei, alto o suficiente para chamar a atenção dos
nossos pais.
— Dytto, meu amor, você tem que aprender a compartilhar os
seus brinquedos. — Ever dizia, afagando as minhas costas. — Só um
pouco não fará mal.
Balancei a cabeça freneticamente.
Eu não ia emprestar a minha filhinha para Lily brincar. Se ela
quisesse, arrumava uma boneca para brincar. A minha não!
— Que escândalo é esse aqui, Dytto? — papai brigou,
aproximando-se rapidamente.
— A Lily quer pegar a Rose. Ela fica igual uma mula atrás de
mim — me irritei.
— Dê logo a boneca para ela e pare de gritaria. — Papai
arrancou a boneca dos meus braços e a ofertou para Lily, que
prontamente a pegou. — Compramos outra depois, Dytto. Agora
fique quieta e se comporte.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Meus olhos se arregalaram e meu coração disparou. Senti como


se todo o meu corpo queimasse de irritação. Um sentimento ruim
tomou posse e eu quis machucar papai com o cachecol vermelho
que ele possuía no pescoço.
— NÃO! NÃO! NÃO! — gritei escandalosa, batendo os pés no
chão.
— JÁ CHEGA! — Théo me arrastou pelo braço à força para longe
dali enquanto eu me jogava no chão e esperneava.
— EU ODEIO A LILY. ODEIO ELA. ODEIO ELA — eu berrava alto.
Papai desistiu de me fazer andar e me colocou em seu colo.
Tentei me desvencilhar e me jogar, mas ele era mais forte.

Durante o jantar, eu não comi nada. Sequer tirei os olhos de Lily


abraçando a MINHA Rose.
Loren não pareceu ligar muito quando soube o que aconteceu,
estava distraída demais com os irmãos mais velhos de Lily. Ela
adorava brincadeiras de meninos, roupas de meninos e até mesmo
se comportar como um menino. Mamãe tentava a deixar mais
feminina, mas Loren apenas balançava os ombros e fazia cara feia
quando era corrigida. Minha irmã quase parecia querer ser um
garoto.
Todos eram uns imbecis.
Eu estava tão chateada que sequer abri a boca. Tentei parar de
respirar em protesto, mas não aguentei muito mais do que 1 minuto
e 46 segundos — cronometrados —, porque meus ouvidos
começaram a zumbir e meu corpo inteiro a se debater, então apelei
para o silêncio mortal.
Prometi a mim mesma que nunca mais falaria com os meus pais
ou com mais ninguém em toda a minha vida, e meu pai ficaria tão
arrependido que me pediria perdão para sempre ou eu daria um jeito
dele querer ter me pedido desculpas.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Mais tarde, quando já estavam todos deitados. Me levantei na


ponta do pé e caminhei até o quarto de Lily. Ela não estava
exatamente dormindo, porque no momento em que tentei arrancar
Rose de seus braços, ela acordou. Pensei em sufocá-la com o
travesseiro, mas ela faria muito barulho.
— Não — sussurrou, odiosa.
Mordi a língua para evitar morder a sua cara estúpida.
— Eu vim te acordar bobona. Eu vi uma coisa — murmurei.
Ela franziu a testa. Os olhos azuis miúdos me encararam
confusos.
— O que? O que você viu? — questionou, interessada.
Ela era tão irritante quanto burra. Seria fácil enganá-la.
— Na... Colina. Lá embaixo no riacho. Eu vi um mago, Lily. —
Arregalei os olhos, atuando entusiasmo. — Ele disse que ia me
conceder um desejo. Você quer um também?
— Um desejo? — se animou. — Espere. Eu quero. — Ela pulou
da cama, calçando as pantufas rosas e felpudas. — Me espere, Dytto
— pediu, agoniada. — Espera, espera.
Suspirei, irritada.
— Eu tô parada bem na sua frente, ô bocó.
— Tá, vamos. — Ela agarrou a MINHA Rose no braço dela e
esperou que eu tomasse a frente.
Eu não sabia bem o que ia fazer ainda, mas poderia acabar
inventando uma história como: "O mago me pediu para você
devolver a minha filhinha ou ele vai estrangular você."
Ela não era muito racional, então com certeza iria me devolver.

— Cadê? Cadê ele? — Ela esticava o pescoço, vasculhando o


riacho abaixo de nós. — Você disse que o mago estava ali, mas eu
não estou vendo nada, Dytto. E eu estou com medo.
Suspirei, incrédula. Que garota estúpida!

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Olhe melhor — mandei, entediada, ao passo que encarava


minha boneca. Estava avaliando mentalmente a melhor forma para
arrancar Rose de seus braços magrelos.
Estava escuro e frio. A colina estava tomada pela nebulosidade.
Era apenas eu e ela na beira de um precipício alto o bastante a qual
já fui avisada por minha mãe para nunca chegar perto demais da
ponta. Lily, por outro lado, sequer tinha permissão para andar
livremente, que dirá estar onde estávamos.
Era divertido levá-la a fazer coisas estúpidas, porque era fato
que ela sempre acabava acreditando em qualquer bobagem.
— Ainda não vejo nada — resmungou, completamente distraída.
Nesse instante, quase fui capaz de ver um sinal verde brilhando
sobre a sua cabeça, expondo um sinal positivo para avançar com a
minha missão. Aquele era o momento.
Dei um passo em sua direção e agarrei Rose com todas as
minhas forças, mas a loira imediatamente tentou puxá-la de volta.
— Não! Agora ela é minha. — Lily lutou, segurando um dos
braços da boneca, ao passo que eu firmava minhas mãos no outro.
— ME DÁ ELA AGORA — protestei agressiva.
Estávamos em um embate onde eu sabia que nenhuma de nós
cederia, portanto, não me importei em continuar forçando, afinal, a
boneca era minha e eu não desistiria dela somente porque uma
garotinha mimada a queria roubar de mim. Entretanto, Lily puxou
com mais força, e o som do tecido do corpo de Rose estalando fora
audível o suficiente para tomar a atenção de nós duas, deixando-nos
abismadas demais para, enfim, cessarmos.
Rose havia sido desmembrada. Um de seus braços rasgou e
parte de seu enchimento vazou para fora, sendo carregado pela forte
rajada de vento que nos atingiu naquele exato momento.
Ambas estávamos em choque e de olhos bem arregalados,
encarando o objeto de pano danificado diante de nós.
Em um primeiro momento, senti-me triste, eu adorava Rose, e
vê-la daquela maneira fez com que meu coração murchasse no
peito. Em geral, eu não era sentimental, mas possuía um carinho
incomum por aquele brinquedo, porém, essa sensação se deteve no

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

minuto seguinte quando fui abraçada por uma fúria destruidora que
me cegou num estalar de dedos. A discrepância de meu humor fora
tão rápida que fez Lily engolir em seco com a expressão furiosa que
despontou em minha face.
— Oh, não! — lamentou ela, arrependida.
— Olhe só o que você fez — culpei-a, enraivecida.
Larguei o corpo rasgado de Rose no chão e avancei em seu
pescoço com as duas mãos. Os olhos de Lily se arregalaram de
medo e ela tentou se afastar, mas estava próxima demais da beirada
e escorregou.
Tudo o que eu ouvi antes de seu corpo desvanecer no escuro,
fora um breve e singelo suspiro surpreso. Ouvi-a gritar por cerca de
cinco segundos após cair, até que se calou permanentemente. O
ambiente fora preenchido pelo som das ondas do riacho colidindo
contra as rochas e o farfalhar das árvores próximas dali dançando
em meio a forte ventania.
Meu coração estava disparado no peito e todo o meu corpo
tomado por adrenalina.
Paralisei com os braços dispersos no ar, encarando a ausência da
garota loira diante de mim. Minha respiração estava ofegante e meu
peito subia e descia descontroladamente. Meu cérebro levou um
minuto inteiro para assimilar a situação.
— Não — murmurei me afastando da cena.
Não olhei para o riacho. Não queria ver Lily, pois não sabia em
que condição a encontraria.
Olhei para os lados, não havia ninguém. Com medo, tomei Rose
e os seus pedaços nos braços e corri para dentro da casa.

— Não, não pode ser — disse, abismada.


— Sim, você fez — Nabrya cantalorou, com um sorrisinho
perverso nos lábios.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Eu não... não... Foi um acidente. — Eu respirava com


dificuldade, buscando me segurar nas paredes do quarto.
— É o que você acha? — instigou, sorrateiro.
— Não foi a minha intenção. Eu não queria machucar ela, eu só
queria a minha boneca de volta. Como eu me esqueci disso? — Levei
minhas mãos ao rosto.
Meu cérebro latejava com as recentes informações de um
passado cujo eu nem mesma lembrava da existência. A memória do
corpo pálido e sem vida de Lily sendo encontrada chocou-se em
minha mente como um flash. Lapsos do ocorrido surgiam em
velocidade máxima dentro da minha mente, como luzes estourando,
sons agudos e estridentes ressoavam incessantemente.
— Eu não queria ter feito aquilo eu... — sussurrava atordoada,
caminhando perdida pelo quarto. Dando voltas e voltas.
Nabrya continuava no mesmo lugar, observando-me
atentamente, avaliando o meu estado psicológico e julgando-me
como bem queria. No entanto, eu estava atordoada demais para
brigar com ele.
— Mas que droga! — minha voz falhou. — Eu não queria...
— Não? — duvidou.
Parei no lugar, mirando os olhos nele, incrédula.
— NÃO! EU NÃO QUERIA TER MATADO AQUELA GAROTA.
Ele sorriu, como se esperasse que eu dissesse exatamente
aquilo.
E foi esse sorriso que me apavorou.
— Ela não morreu naquele dia, Dytto. Ela, por alguma razão,
sobreviveu. — Suas mãos estavam postas despojadamente em seus
bolsos, a postura estreita carregando um ar de dureza. — Lily não
morreu naquele momento, mas o impacto machucou uma de suas
pernas e quebrou alguns ossos, por isso ela não conseguiu nadar,
então foi levada pela correnteza até a margem de uma pedreira, Lily
ainda acordou, mas sentia tanta dor que o corpo se desligou.
Nabrya se aproximava lentamente de mim.
— Ela passou horas desacordada no frio, enquanto você fingia
que nada havia acontecido. Disse a todos da casa que não sabia

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

onde ela estava quando acordou na manhã seguinte. Sem culpa,


sem remorso, sem arrependimento.
Eu estava tremendo, ouvindo as suas palavras serem despejadas
rudemente sobre mim. A vergonha e o horror tomaram conta. Estava
aterrorizada com as minhas atitudes.
Ele tinha razão, não houve arrependimento algum quando fiz
aquilo. E agora, eu me lembrava com tanta nitidez que era como se
eu nunca tivesse esquecido.
— Você simplesmente seguiu com o seu dia... — continuou,
amargo — deixou que os pais procurassem por ela na floresta ao
invés de onde, de fato, ela tinha caído, porque sabia que Lily não
tinha permissão para ir para perto do precipício. Você foi esperta,
Dytto. Apontou para eles a direção entre as árvores e sugeriu que
ela tivesse se perdido. Você... — ele mirou o dedo para mim — tinha
oito anos, mas seu coração era impuro e maldoso. Não ligou se ela
iria sobreviver ou não, apenas rezou para que nunca a
encontrassem. Você estava ocupada demais tentando costurar a sua
boneca que sequer percebeu a aflição daquela família.
— Para... — sussurrei, sôfrega — por favor, para. — Cobri o
rosto. Não conseguia respirar direito, faltava-me fôlego.
— Ela morreu por sua causa. Porque você a matou — acusou.
— FOI UM ACIDENTE — insisti.
— Inicialmente, talvez tenha sido um acidente. Mas e depois,
Dytto? — Ele juntou as sobrancelhas.
— Depois? — questionei, confusa.
— A casa era longe demais da cidade e os pais de Lily saíram
atrás de ajuda enquanto os seus pais e os outros buscavam por ela
na floresta.
Ele frisou a testa, mas não parecia descontente com a minha
atitude, pelo contrário, eu conseguia enxergar um brilho maléfico em
seus olhos, evidenciando que se orgulhava do meu feito.
— Você disse que queria ficar na casa com um dos irmãos mais
velhos de Lily para caso ela voltasse. — Ele jogou a cabeça para o
lado. — Você disse isso com um sorriso todo bonzinho no rosto. Fez
todos acreditarem que você ligava, mas tudo o que você queria era

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

brincar sozinha pelo lugar com a sua boneca. Você saiu para fora da
casa e caminhou por aquela colina, e isso te levou exatamente para
onde Lily estava. Em uma das margens. O corpo dela foi levado pelo
riacho até uma pedreira.
Nabrya segurou o meu rosto entre as suas enormes mãos.
— Você a viu. Machucada, chorando e com medo. Ela estava tão
frágil, tão vulnerável. Ela se arrastou por aquelas pedras até as
árvores porque estava determinada a viver, mas nada disso te
impediu. — Ele acariciou a minha bochecha. — Você sabe o que você
fez, doce Dytto. Lembre-se.

Deitada no chão, com as costas parcialmente repousadas no


tronco de uma árvore qualquer, estava ela. Gemendo de dor e
tremendo enquanto o corpo molhado era arrebatado pelo frio.
Eu não conseguia acreditar no que estava vendo.
Como ela havia conseguido sobreviver?
— Lily? — eu disse, intrigada. Estava parada há pouquíssimos
passos de distância. Não tinha certeza se era ela quando avistei um
pequeno ponto recostado. Foi somente quando percebi o cabelo
dourado que notei que Lily estava mesmo ali.
Quando ela virou o pescoço e notou a minha presença, arregalou
os olhos, amedrontada. Percebi que tentou se arrastar para longe,
estava com tanto medo de mim que não conseguia sequer falar.
— Você está viva — murmurei, decepcionada. — O que você...
como? — intriguei-me.
— N-não — seus lábios arroxeados de frio tremularam.
— Tá tudo bem. Eu vou te ajudar — comentei, calma. — Estão
procurando por você.
Lily desatou a chorar silenciosamente, enquanto os seus braços
se esforçavam no árduo trabalho de levar o seu corpo para longe de
mim.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Pare com isso. Eu já disse que vou te ajudar — me irritei.


— Eu quero a minha mamãe — soluçou, a voz quase sumindo.
— É, eu sei. Eu posso chamar ela. Quer que eu te leve até ela?
— sugeri, camuflando minhas reais intenções.
Lily assentiu num rápido balançar de cabeça.
— Tudo bem, mas me prometa que não vai contar o que
aconteceu. Jura pra mim que nunca vai dizer que eu tenho algo a
ver com isso — exigi.
Lily hesitou. Ela SIMPLESMENTE HESITOU.
— Você não vai contar, não é? — pressionei, dando passadas
curtas e lentas em sua direção. — Você. Não. Vai. Contar. Não é? —
disse pausadamente.
Seus olhos se arregalaram. Apavorada, ela rapidamente deslizou
os olhos pelo lugar, como se buscasse desesperadamente por ajuda.
— Você fez todo um esforço para sair da água e agora não quer
ser ajudada? — pontuei, enojada.
— M-me desculpa.
— Não, eu não desculpo. Isso tudo é culpa sua.
Lily virou o corpo de barriga para baixo e tentou engatinhar, mas
seus joelhos deslizavam na grama úmida. Ela gemeu de dor e seu
corpo cedeu completamente no chão.
— Como você saiu do riacho? — investiguei, ao passo que ainda
caminhava em sua direção. Ela não iria muito longe, e muito
provavelmente não sobreviveria.
Papai dizia que pessoas em situações como ela, morriam de
hipotermia. Os órgãos começariam a falhar e aos poucos paravam.
Era um milagre ela ainda estar viva... Quer dizer, não tão viva.
Lily estava frágil demais.
— Não vai me falar? — Agachei-me ao seu lado.
Um ruído baixo e ininteligível soou de seus lábios.
— E se eu te jogasse de volta no riacho, será que você
sobreviveria de novo, Lily? — brinquei, genuinamente tentada. — A
minha Rose está machucada por sua causa, você deveria sofrer o
mesmo — sussurrei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Meus olhos vagaram pelo seu corpo pálido e doente. Seus olhos
estavam murchos e a pele acinzentada.
Ela começava a respirar com muita dificuldade, a respiração
parecia um ronco.
— Vamos lá, então. — Me levantei e peguei um de seus pés.
Eu ainda estava tão irritada com a situação. Eu não queria saber
se ela iria ficar bem ou não. Ela era chata, e eu estava cansada de
tê-la em minha vida. Todos pareciam querer defender ela o tempo
todo.
Mamãe dizia que era porque Lily havia descoberto que estava
doente, por isso todos faziam de tudo para agradar essa garota
mimada. Estava com alguma coisa chamada Lumia... Locemia...
LEUCEMIA. Isso! Mamãe dizia que Lily tinha Leucemia, e isso fazia
com que todos ficassem sempre de olhos nela.
— Você é pesada — resmunguei, arrastando o corpo dela pelo
chão.
Lily murmurou de dor, acho que sua perna estava ferida, estava
meio ensanguentada e estranha.
Arrastei o seu corpo até as pedreiras e parei para respirar um
pouco.
— Olha, isso vai doer, mas falta só um pouquinho para
chegarmos na água. Acho que ninguém gosta de ser arrastada em
pedras. — Sorri, ofegante.
Virei-me para trás. A corrente de água estava muito forte, a
única forma de Lily ter conseguido parar aqui, foi se ela engatou em
algum galho ou ficou presa em alguma pedra. Era impossível nadar
contra a correnteza.
— Tá bom. Você está chegando, Lilizinha. — Agarrei seus
tornozelos e voltei a puxá-la. Ela, no entanto, já não respondia mais.
Conforme eu a puxava por entre as pedras, notava os rastros de
sangue que sua pele deixava no chão.
Quando finalmente a coloquei na água, observei seu corpo se
despedir de maneira rápida, flutuando para longe sobre a água. No
fundo, de alguma forma eu me sentia contente por aquilo. Estava
animada. Era quase como se um peso saísse de meus ombros.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Lavei as mãos no riacho, estava muito frio e me fez bater os


dentes. Eu tinha que voltar e fingir que nunca saí da casa.
Provavelmente, se os irmãos de Lily soubessem o que eu fiz, até
me agradeceriam por ter se livrado dela.
Estava pronta para voltar, entretanto, quando me virei de costas,
notei um homem entre as árvores me encarando.
Ele era alto, olhos verdes e a pele branca como a neve. Seu
cabelo era negro e seu olhar era intenso, como se pudesse ser capaz
de dominar o que quisesse.
Senti-me intimidade, mas não desviei os olhos. Talvez fosse um
bom momento para dizer que eu não sabia de nada, mas esperei
que ele falasse algo primeiro. Ele poderia não ter visto o que eu fiz,
e acabaria que eu me entregaria de bandeja. Não seria esperto da
minha parte. Eu ficaria muito encrencada. Mamãe dizia que as
pessoas que faziam coisas ruins, iam parar em lugares horríveis no
inferno.
Mas, tecnicamente, eu fiz algo bom. Provavelmente nem Lily
deveria gostar dela mesma.
— Quem é você? — perguntei, curiosa, quando notei que ele
não iria falar nada.
— Christopher. E você? — devolveu, caminhando para fora das
árvores.
Seu longo corpo emergiu, ele não estava exatamente vestido,
tudo o que usava era um pedaço de pano em volta de sua cintura,
exibindo o restante de sua pele. Seu rosto era tão lindo que se
tornava hipnotizante olhar para ele.
Meu coração acelerou, isso costumava acontecer quando via
garotos bonitos também.
— Eu sou a Dytto. Minha irmã me chama de Dy.
Ele sorriu.
— Olá, Dy. — Acenou gentil.
Eu não me sentia à vontade perto de estranhos, porém,
particularmente com ele, era como se eu fosse preenchida por uma
sensação esquisita de conforto e confiança, quase familiar.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

— Não gostava daquela garota? — indagou, olhando para o


riacho atrás de mim.
— Eu não sei de nada. — Dei de ombros.
— Sabe, sim — discordou. — Eu vi o que você fez.
Droga...
— Não conta pra ninguém, por fav...
— Eu não vou. — Me interrompeu.
Encarei-o cética.
— Não?
— Só estou de passagem. Não vim para dedurar garotas
espertas como você. — O homem agachou no chão, analisando o
rastro de sangue que se seguia até as pedreiras. — Para sua sorte,
parece que vai chover. Não ficará um único rastro de sangue. — E
então me jogou uma piscadela cúmplice.
Eu gostei dele.
— Onde você mora, Christopher?
— No céu — respondeu, mas logo em seguida balançou a
cabeça. — Morava, aliás. Eu não moro mais lá agora.
— Você é um anjo? — Arregalei os olhos.
— Bom, eu costumava ser um. Mas ousei contra Deus. — Ele
sorriu de um jeito que os olhos se iluminaram.
— Fez algo errado, né? Igual Lúcifer — ponderei, lembrando os
versículos bíblicos que papai nos obrigava a ler.
— Defina errado, Dytto — pediu.
— Mamãe diz que é quando fazemos algo que não agrada a
Deus.
— E só porque não o agrada que é errado? — fomentou.
— Eu sei lá. — Balancei os ombros.
Ele assentiu, parecia achar aquilo engraçado.
— Dytto, eu posso pedir a sua ajuda? — gentilmente solicitou.
— Eu acho que sim.
Ele olhou em volta e suspirou.
— Deus está muito zangado comigo, Dytto. Muito zangado.
Tenho andado entre a Terra e Nefarious há séculos, mas soube que
ele quer me banir da Terra, e eu não sei como continuar minha

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

missão preso em um lugar horrível como aquele. — Ele deixou que o


olhar recaísse para o gramado. — Preciso da ajuda de alguém para
que eu possa transformar esse mundo em um lugar melhor. —
Christopher me olhou nos olhos. — Será que pode me ajudar?
— Por que Deus quer banir você da Terra? — a curiosidade me
venceu.
— Ele diz que eu não sou justo com os humanos. — Christopher
apontou para mim. — Mas todos vocês têm livre arbítrio. São vocês
que escolhem como querem viver. Isso faz parte da escolha de cada
um de vocês. Eu não enganei ninguém, apenas lhes ofereci opções.
Dei alguns passos em sua direção, meio retida, e então parei.
— O que isso quer dizer?
Ele curvou o canto dos lábios, era um homem incrivelmente
bonito, ainda mais do que os que eu via em filmes e novelas, quase
como se fosse irreal.
— Eu tenho um fruto na Terra, um ano mais velho que você.
Preciso que o atraia para você e inconscientemente o faça cometer
algo que ele acredite que será o certo a se fazer naquele momento.
— Christopher franziu as sobrancelhas. — Você é o meu diamante da
sorte, Dytto. Vai levar o meu filho exatamente para onde ele tem
que ir.
— E o que eu tenho que fazer para isso? — Juntei as
sobrancelhas.
Christopher curvou os lábios para cima.
— Nada, pois eu o farei. — O homem se pôs de pé. — Dytto, eu
te abençoo com muita bondade em seu coração. Será uma garota
amável e terá compaixão pelos outros. Sentirá medo pelo mal, e
amor pelo bem. Será obediente e compreensiva. Fará o que puder
pelo bem daqueles que você ama. Eu te dou o perdão angelical. Está
absorvida de seus pecados. — Ele veio em minha direção. — Você
será o oposto da garota que você é hoje. Não irá mais sentir prazer
em tirar vidas ou machucá-las. Não será uma filha malcriada e nem
uma irmã ausente. Isso fará o meu fruto querer te corromper até o
último fragmento do seu corpo. E não há nada mais perigoso do que
uma mulher, minha querida.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu não o respondi. Meus lábios pareciam dormentes e minha


mente era como um barco balançando em meio ao oceano. Meus
olhos começaram a pesar.
— Tenho que ir, Dytto. Estou sendo banido a partir de agora
deste mundo. Irei para o meu mundo para governar... — Ele fez uma
pequena pausa. — Mas eu voltarei.
Depois daquilo, tudo tornou-se escuridão.
Acordei no dia seguinte deitada em um dos sofás da sala da casa
de Lily. Mamãe estava comigo no colo, disse que eu havia pegado no
sono. Eu ainda me sentia como se estivesse dentro de um sonho,
não me lembrava de muito. Apenas de saber que Lily sumiu em uma
noite, e no dia seguinte, que estavam a sua procura.
Dois dias mais tarde, quando mamãe contou que Lily tinha sido
achada morta, eu chorei. Me senti tão triste por aquela garotinha.
Ela era só uma criança, não deveria ter morrido.
A polícia decretou que havia sido um acidente.
Trágico.
Eu gostava dela, éramos grandes amigas. Sentiria a sua falta.

— Não éramos amigas — sussurrei.


— Não, não eram. Mas Christopher fez com que você pensasse
que sim. Ele não queria que você se lembrasse da conversa que
tiveram naquele dia. Ele te usou direitinho para que você fosse o
peão dele. — Nabrya riu. — Ele ainda ousou dizer que não fez nada
de errado. Disse que apenas te abençoou com coisas boas. —
Suspirou. — Ele sabia exatamente o que fazer sem parecer errado.
— Foi tudo um jogo para Christopher — murmurei, em choque.
Estava sentada no chão, encarando o carpete.
Minha mente não estava cem por cento sã. Me sentia como se
fosse um cômodo revirado. Todas as memórias apagadas daquele
dia voltaram.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

Eu não sabia mais quem eu era, mas conseguia compreender o


que estava sentindo há dias. As peças pareciam se encaixar de
pouco em pouco.
— Ele é o responsável por você ter encontrado o filho dele. De
ter feito vocês chegarem até o momento em que o Christopher filho
decidiu morrer. Ele estava à frente de todos nós o tempo todo,
porque já sabia cada passo que seria necessário para isso acontecer.
— E o que vem em seguida?
— O seu namorado plantou doenças em cada continente nesses
últimos meses, Dytto. Ele arquitetou guerras, destruições e
bombardeios em cada cantinho do mundo. Todos os anos de vida
dele se resumiram em criar formas para a extinção humana de modo
que os próprios humanos fizessem o trabalho sozinho. Apenas com
um toque de ajuda dele.
— Para que ele quer destruir esse mundo? — Arquejei.
— Para construir um novo. Christopher-pai quer fazer disso tudo
o novo Nefarious. Ele quer ser mais poderoso. Quer se autointitular
Deus para criar novas vidas. Novos mundos.
— E onde está o meu Chris? — Olhei-os nos olhos, séria.
— Está preso, Dytto. Ele está sendo forjado para se tornar um
demônio servo. O pai dele quer torná-lo o general de seu exército.
Quer destruir tudo com a ajuda do filho, mas ele não contava com o
amor que Christopher sente por você.
Franzi o cenho.
— Christopher está há quase um milênio em Nefarious desde
que morreu, o tempo lá passa diferente. Há cada 16 horas na Terra,
se passam 17 anos em Nefarious. Chris já está há uns 980 anos lá, e
mesmo assim, ele nunca cedeu a sua honra para o pai, porque ele te
ama e quer governar este mundo com você.
Eu paralisei. Não sabia reagir aquela informação. Senti meu
mundo desabar debaixo de mim.
980 anos... Christopher estava há 980 anos preso em Nefarious.
— Christopher e eu fizemos um acordo de que destruiríamos o
pai dele juntos, mas Christopher-pai já sabia que o filho iria morrer,

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

só não sabíamos o motivo ainda. Até eu descobrir que tudo isso foi
por sua causa.
— Por que ele me escolheu para esse serviço imundo? Me fez de
peão esse tempo todo — sussurrei, atordoada.
— Você estava no lugar errado, na hora certa. Christopher
estava fugindo dos anjos que o buscavam para levá-lo a Nefarious
quando te viu. Você se tornou o plano dele a partir daquele
momento.
Olhei-o nos olhos, atônita.
— E o que te fez me contar tudo agora?
— Só a verdade liberta. E essa é a verdade, Dytto. Agora você
sabe quem você é de verdade. Não precisará mais ser quem
Christopher te abençoou para ser, ou melhor... — ele fez careta —
amaldiçoou.
Assenti.
— Eu preciso buscar Christopher — determinei.

LIVROS GRATUITOS JÁ
www.livrogratuitosja.com

LIVROS GRATUITOS JÁ

Você também pode gostar