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Aula 01 – A antropologia clássica

1. Introdução:

Sejam bem vindos, esse é o nosso módulo sobre as abordagens


terapêuticas… Um curso à parte, dentro da especialização mas que será dado a
todas as turmas de forma integral.

Hoje, nós iniciamos este módulo sobre as abordagens, onde vamos


trabalhar as principais abordagens psicoterapêuticas durante essas duas semanas.
Eu quero dar a vocês uma compreensão um pouco mais vasta do que são as
abordagens e também sintética, de forma que todos que estão assistindo esse
módulo consigam compreender o plano de fundo filosófico das abordagens e o
método de cada abordagem. Nas últimas aulas, faremos uma integração a respeito
dessas mesmas abordagens.

A primeira coisa que eu gostaria de tratar com vocês é o seguinte: aqui na


especialização, nós trabalhamos por módulos, mas algo que pode se complicar é
ficar meio perdido quanto ao conteúdo, de não estar “tudo separadinho” então, lá na
plataforma, vamos dar um jeito de separar por módulos, por exemplo: conteúdo de
bases da psicoterapia; conteúdo sobre as abordagens terapêuticas; metafísica;
filosofia da linguagem; simbólica e etc… Para que vocês consigam se achar melhor.

2. A dificuldade em adotar uma única abordagem terapêutica.

Sobre a didática das aulas: a forma com a qual nós fazemos as exposições
aqui nas aulas pode agravar um pouco a compreensão do ponto de vista que não há
desenhos, não é algo metódico, é uma exposição livre, mas eu faço questão de que
seja assim e não seja aquela aula com “decoreba”. Aqui na aula eu gostaria que
vocês exercitassem suas inteligências, esse é o ponto, já é um preparo para o
atendimento psicoterapêutico. Nesse tipo de atendimento, por mais que se tenha
um método e uma abordagem, você vai ver que nunca será possível encaixar o
atendimento e o paciente, dentro daquela tipologia, dentro daquele método. E o que
vale no ambiente terapêutico é essa espontaneidade, é saber lidar com
espontaneidade, porque é vida real, o ambiente terapêutico onde tudo é recortado…
por exemplo o método da psicanálise, aquela mais ortodoxa mesmo, temos alí o
Divã, zero envolvimento pessoal e afetivo entre o paciente e o terapeuta

O paciente chega, temos alí todo um ritual, por exemplo, uma pessoa que já
passou por um psicanalista ortodóxico, você vai ver que não é na primeira sessão
que se vai pro Divã, tem toda alí uma entrevista inicial, e depois ele te convida a ir
pro divã e então começa o processo de análise, está claro?

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É possível ver que o modo pelo qual buscamos trabalhar com psicoterapia
não é esse modo engessado, do método de atendimento, apesar de existir um certo
script para o atendimento, mas o que vale mesmo, o que vai fazer com que vocês
dêem conta do atendimento terapêutico e de garantir para o paciente uma melhora,
é saber lidar espontaneamente com as demandas que aparecerão. E isso quer dizer,
ser capaz de executar raciocínios condizentes com a espontaneidade do paciente, e
eu sei que isso dá medo, por que dá medo? Porque todos nós viemos da escola, nós
passamos pela escola, e as escolas em sua maioria, têm um método para aprender
cada disciplina, cada matéria e isso deixa os alunos mais seguros, como se nós
pudéssemos encaixar e abordar todas as variáveis do mundo real num método,
numa teoria.

E é isso que deixa a maioria dos psicólogos, psiquiatras e terapeutas


inseguros, não saber qual abordagem escolher, parece que ao escolher uma
abordagem, o processo se torna melhor e mais simples, mas também mais
engessado. Vocês vão entender ao longo das aulas o motivo de não trabalharmos
com um único método e abordagem de psicoterapia, porque não funciona. A
eficiência de uma pessoa que escolhe um único método terapêutico para encaixar
todos os pacientes que a procuram no consultório é comprometida.

Se o exercício da psicanálise, o exercício da logoterapia, por si só devolvesse


a uma pessoa a sanidade mental, não faria a mínima diferença ler a obra de Viktor
Frankl e procurar um logoterapeuta, as respostas iriam estar no livro do Frankl. Se a
abordagem Tomista resolvesse os problemas, seria necessário somente ler a obra
de Santo Tomás, não seria necessária a figura de um terapeuta. Da mesma forma,
que não se precisaria da figura de um professor/mediador para aprender algum
conteúdo, bastaria abrir e ler um livro de gramática.

Eis a dificuldade em escolher uma única abordagem psicoterapêutica, e se


julgar capaz de atender alguém tão somente porque se sabe ou decorou os
rudimentos de uma abordagem, e se sentir seguro por isso. Mas no momento em
que o paciente aparecer com suas demandas, a tendência é você se ver numa
“sinuca de bico” e se sentir inseguro. Você vai dizer: “Mas onde está isso na teoria”?,
mas no momento da terapia não há tempo para consultar nenhuma fonte externa
como um manual de logoterapia ou um manual de psicodrama e ver a melhor forma
de tratar alguém, não é possível.

Quando falamos de psicologia, fala-se de uma cosmovisão, de uma visão de


homem e uma visão de mundo, esta que precisa, sobretudo, estar alinhada com a
verdade. Essa foi sempre a grande preocupação de todos os grandes pensadores da

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história da filosofia “O que é o homem? O que é a verdade? E qual a ordem do
mundo?" Este é, na verdade, o pilar fundamental da filosofia.

3. Adentrando o conteúdo essencial.

Na semana passada, eu disse que faria primeiro um grande resumo e


comentário a respeito da história da filosofia. Mas eu queria entrar primeiro no
conteúdo essencial, para compreendermos as coisas de um modo mais amplo e
não somente citar cronologicamente os pensadores, filósofos, nem os teóricos da
psicologia moderna.

A grande preocupação dos grandes filósofos era compreender a verdade, e


qual o modo mais excelente de vida humana que existe. Então, a filosofia começa
com um grande interesse naquilo que é o mundo, o cosmos, qual a ordem das
coisas? Porque parece haver uma ordem, as coisas existem numa relação causal
umas com as outras e parece haver uma ordem entre si que sustenta todas essas
coisas. Foi o que os primeiros pensadores observaram, a exemplo de Tales de
Mileto.

Tales era um pensador da filosofia grega antiga, que buscava entender como
funcionava o cosmos, para isso, o mesmo dedicou toda a sua vida, o que era
contrário ao espírito da época. Todas as pessoas, assim como em nosso tempo,
estavam interessadas em trabalhar, ganhar dinheiro, curtir a vida, viajar… Mas Tales
estava interessado em saber como funciona o mundo, e entender a ordem por trás
do mesmo.

Nesse momento, ele deixa de ser um cidadão comum e passa a observar o


céu, os astros e a passagem do tempo, para entender como as coisas funcionam, o
que causou uma grande revolta para as pessoas da época que passaram a
importuná-lo. Num belo dia, como era um estudioso que buscava entender o
funcionamento das coisas, e já tinha descoberto algumas outras, ele descobriu que
haveria uma grande colheita de azeitona num tempo próximo. Com isso, ele alugou
todas as moedeiras e prensas de azeitona, armazenando tudo em sua casa, a fim de
dar uma lição para as pessoas que criticavam seu modo de viver e sua autoridade
para falar.

Quando a grande safra chegou, Tales passou a alugar seus equipamentos


pelo preço que queria, enriqueceu com isso e distribuiu todo esse dinheiro. Ao fim
disso, ele conseguiu mostrar que se estivesse preocupado com as mesmas coisas
que as pessoas “normais”, estaria muito mais a frente que eles e conseguiu parar de
ser importunado. Dessa forma, todos viram que ele era alguém muito inteligente,
teve sua autoridade provada e conseguiu uma grande fama.

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Após isso, o mesmo monta uma escola de pensadores, onde havia um aluno
chamado Pitágoras (que já havia ido ao Egito estudar com alguns mestres e
pensadores da época). Tales observou que este possuía uma capacidade intelectual
muito acima da média e contatou essas pessoas, mandando-o para estudar lá. Diz a
história, que Pitágoras ficou por lá e soube que havia um rapaz chamado Elias, que
também ensinava às pessoas, seus alunos viviam com ele no monte Carmel.
Pitágoras foi encontrá-lo e lá passou uma temporada.

Ao retornar, Pitágoras também abre uma escola, semelhante a um mosteiro.


Nos primeiros 5 anos, seus alunos precisavam fazer um voto de silêncio, onde
passaria esses anos calado, somente ouvindo, sem perguntar nada. Após esse
período, se o aluno fosse aprovado, poderia passar a perguntar algo durante as
aulas. Esse sistema era muito rígido e exigia uma disciplina moral incomum às
pessoas da época, demandando muito estudo dos alunos. Todos queriam fazer
parte de sua escola, mas nem todos conseguiam suportar essa disciplina moral.

Depois foram surgindo os outros filósofos que se interessavam por descobrir


a verdade sobre as coisas, e não por dominá-las; ter fama; riqueza; conseguir bens
(muito pelo contrário, eles se desfaziam de seus bens para alcançar a sabedoria e
fazer uso de sua inteligência). Foi assim até uma certa altura da idade grega e da
filosofia grega, até a vinda de Sócrates, Platão e Aristóteles (um discípulo do outro,
respectivamente). Sócrates foi morto por dizer a verdade, o que de certa forma já
prefigurava algo da história humana: “As pessoas que se dedicam, ensinam e
querem viver a verdade, sofrerão algum tipo de represália, porque esse não é o
interesse da maioria das pessoas”. A partir do momento em que se fala a verdade,
se começa a incomodar, a verdade tem justamente essa vocação, incomodar o
coração humano.

Todos dentro desse intuito estavam centrados na busca da verdade e da


sabedoria, eles não buscavam saber de mais nada. Em Aristóteles, essa disposição
realmente toma um corpo, não é à toa que ele é considerado o pai da ciência.
Enquanto estudava na escola de Platão, ele passa a discordar de algumas coisas e
funda sua própria escola.

Por ser discípulo de Platão, para Platão, o homem sábio não é aquele que
gosta das coisas boas, belas e verdadeiras, o homem sábio não é aquele que se
deleita sobre as coisas deste mundo. O homem sábio é aquele que contempla o
bem em si, não é aquele que gosta de coisas boas, mas aquele que tem o interesse
em contemplar o bem em si não é aquele que gosta de coisas verdadeiras, mas que
busca contemplar a verdade em si mesma, nem também aquele que gosta de coisas

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belas e belos espetáculos, mas aquele que quer contemplar a verdade em si
mesma.

Se você lê a República de Platão, corre o risco de achar que ele fala a respeito
da organização de uma sociedade e do estado, mas neste livro, ele fala a respeito de
como a mente humana deveria funcionar. A república, mais ou menos, se materializa
na pessoa de Aristóteles, um sábio, o pai da ciência.

4. Essencialidade X Acidentalidade

Eles descobriram que as coisas têm uma razão de ser, que têm uma ordem,
se relacionam entre si e que para tudo que existe no mundo, existe uma causa. o
homem sábio é aquele que consegue contemplar todo o encadeamento causal e
conhece todas as coisas, não que seja possível conhecer tudo em todos os
detalhes, mas que consegue contemplar as coisas em sua essência e o
encadeamento causal essencial a todas as coisas. Ou seja, conhecer os acidentes
(aqui precisamos entender o seguinte: existe a essência das coisas e existem os
acidentes, próprios de cada essência, por exemplo: na essência de um cachorro, já
vêm juntos os seus acidentes próprios. Por isso é estranho contar para uma pessoa
ou ouvir de alguém “eu vi um cachorro voando”, porque não faz parte da
acidentalidade do cachorro voar. Alguém pode até dizer que um cachorro subiu no
telhado, mas um cachorro que voa é um absurdo, não pode acontecer, porque não
faz parte da acidentalidade daquele ser.)

Então, quando Platão fala que o homem sábio é aquele que conhece todas as
coisas, ele não se refere à sua acidentalidade, como a ciência moderna tenta fazer,
ao se ramificar em disciplinas e estudar a medição dos fenômenos, ela tenta medir
por experimentação os fenômenos e a manifestação das coisas, no entanto para
fazer isso é necessário um recorte, e por isso existem os laboratórios. Nós tiramos
“a coisa” de seu estado normal de funcionamento, levamos a um laboratório e
testamos, é isso o que a ciência moderna faz.

Mas esse teste se dá num ambiente recortado e dentro de algumas


condições, não é uma observação do mundo real. Por exemplo: os nazistas,
contribuíram muito para a medicina atual, através de experimentação com os judeus
(o que obviamente é imoral) principalmente, ao se conseguir recuperar a vida em
alguém que está morrendo ou já morreu de hipotermia. Eles congelavam alguns
judeus e faziam testes para depois ressuscitar essas pessoas.

Possível pergunta do chat: “Acidentalidade é aquilo que é próprio do


cachorro?” R: Isso, um cachorro pode fazer isso/aquilo… São os acidentes.

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Então, a ciência moderna é um recorte, porém, quando a ciência busca
devolver o fenômeno que foi medido para o ambiente normal/real, esse ambiente se
encontra repleto de outras variáveis, que são estudadas por outros ramos da
ciência. A ciência moderna é toda fragmentária: Química, física, biologia,
astronomia, física molecular, química molecular, todas essas…

Mas por exemplo: quando se fala em neurônios, você já viu, com seus olhos,
um neurônio? O microscópio não conta, é uma máquina, não é a coisa do jeito que
ela é. Você já viu, com seus próprios olhos, uma célula? Você pode ter visto uma
num microscópio, através de algo, você viu a coisa fora de seu padrão normal de
funcionamento. Você acreditou no que uma máquina te mostrou, mas nunca viu
uma célula em funcionamento, porque ela é pequena demais.

Então, ver uma célula num microscópio, já é um recorte, não é possível


afirmar que aquela célula sendo observada é exatamente do jeito que se vê. Não é
que não seja vista com os olhos, mas que se enxergue através da modulação de
uma máquina, que não é o que o nosso olho alcança, a visão real. Por isso, não é
possível deduzir que a célula é exatamente do jeito que está sendo vista, porque ela
já está fora de seu ambiente normal de funcionamento e num ambiente recortado.

Você nunca viu uma célula, mas uma pessoa já. Algo curioso, você nunca viu
o coração humano… Esse é um exercício filosófico. Como você pode ter certeza
absoluta que tem um coração, um pâncreas, um rim, um estômago? Não é possível.
Você pode dizer: “é provável que eu tenha um coração, um rim e um pâncreas”, você
não consegue se abrir e ver a coisa em você, é uma dedução.

Então você vê um cadáver, ao estudar anatomia, que se parece um pouco


com você e então você deduz que em você existe a mesma coisa que há naquele
cadáver, mas não é possível afirmar isto com uma certeza absoluta. Talvez você
diga: “Quando eu morrer, caso abram meu corpo, vai estar lá” Só que nesse caso,
você já não será mais capaz de ver, então não é possível afirmar com 100% de
certeza que você realmente possui essas coisas.

Aqui já tem-se uma gradação dos discursos humanos, a ciência moderna lida
com o que é provável/probabilidade, não com a certeza absoluta. Então, quando eu
digo que o sábio é aquele que contempla a verdade e conhece todas as coisa em
essência, não nos acidentes (porque conhecer o mundo do jeito que é, em todos os
mínimos detalhes, somente Deus consegue. Nós conhecemos todas as coisas na
essência, não é possível ter dimensão da acidentalidade do mundo, não é possível
medir, fragmentar tudo e depois montar esse quebra-cabeça, mas nós conseguimos
fazer isso na essência, pois esta é o ser de cada coisa, o que faz cada coisa ser o
que é.)

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Por isso que a teologia é chamada de sabedoria, porque versa sobre o
conhecimento de Deus e do ser, o que quer dizer que se você conhece o ser (com S
maiúsculo), você conhece necessariamente todas as outras coisas. Porque todas as
coisas que existem, elas têm um ser, e existem por coparticipação.

Talvez você se lembre daquela explicação que o próprio Aristóteles dá de ato


e potência para explicar o movimento. "Tudo aquilo que se move, é movido por algo
e o movimento é a sucessão entre ato e potência” Dessa forma, deve existir uma
causa primeira, porque do nada, nada vem. O nada não existe enquanto tal, porque
seria uma impossibilidade, então existe uma causa primeira, o que quer dizer que se
você conhece a causa primeira, você conhece necessariamente todo o
encadeamento causal do movimento.

E você consegue compreender a lógica de todas as coisas, isso significa que


existe uma gramática no mundo, que é possível da mente e inteligência humanas, ler
o mundo e o que está acontecendo, esse é o significado da palavra inteligir “ver por
dentro”, o que já remete à essência das coisas. A ciência moderna tenta ver por fora,
para nos acidentes, ela estuda uma coisa sem saber o que realmente é essa coisa.
Porque a ciência que estuda o ser das coisas, o que as coisas são, é a filosofia.
Então, a ciência moderna estuda os fenômenos sem estudar o ser das coisas.

Aristóteles viu que era possível ler essa gramática na realidade, que era
possível conhecer todas as coisas, e ele fez isso, o que está registrado em sua obra.
Não só é possível conhecer uma coisa ou outra, mas é possível conhecer todas as
coisas, inclusive Deus. É só em nosso tempo, e também porque somos filhos desse
tempo, nem existe mais essa pretensão, porque se acha impossível. Dedicar a vida
para conhecer as coisas como são, e a lógica que existe no mundo, atualmente é
visto como coisa de maluco ou algo impossível que traz desânimo. Como assim
conhecer todas as coisas, o que elas são e entender como o mundo funciona?

Isso foi algo que Aristóteles fez durante toda sua vida e acabou por deixar
uma obra, enquanto estava preocupado em entender o que cada coisa é: O que é o
homem? A cidade, a política, o que é Deus, o que é a alma? O amor, a virtude, a
amizade? o que são os animais e os seres viventes?... Mas como ele fazia isso?

Ao se deparar com uma obra de aristóteles, a exemplo de Ética a Nicômaco,


onde ele vai tratar qual o modo de vida mais excelente que alguém pode adotar.
Nesse livro, ele recolhe todas as opiniões de todas as pessoas que trataram acerca
desse assunto. E o método para se descobrir a verdade sobre as coisas é muito
simples (na semana passada, ao trazer a suma teológica, eu mostrei qual o método
usado por São Tomás para escrever a Suma Teológica, que é o mesmo usado por

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Aristóteles para investigar a origem das coisas e o que as coisa são) e também o
modo pelo qual a inteligência humana funciona: Tese; Antítese e Síntese, é assim
que se descobre o que as coisas são

Por exemplo, eu tenho uma posição favorável a algo (tese), uma posição
contrária (antítese), e consigo, de certa forma, descobrir o que é a verdade (síntese),
já que algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Esse é o método pelo qual se
descobre a verdade a respeito das coisas, mas porquê é isso e não o contrário?
Nesse ponto existem os argumentos favoráveis e os argumentos contrários e
consegue-se ter uma noção do que a coisa é. Até o ponto em que se vai por esse
método, chega-se num resultado e limite onde a coisa se resume do seguinte modo:
“ou é isso, ou é nada. Ou isso daqui é verdade ou nada disso é verdade (a
característica da verdade é ser absoluta)” Ser ou não ser.

Ele fez isso a respeito de muitas e muitas coisas, pois é assim que a mente
humana trabalha. E pegando esse gancho na ética, ao se perguntar para um
psicólogo, psiquiatra, terapeuta ou qualquer estudante da área de humanas: O que é
homem, vai haver um grande silêncio, pois as pessoas já não querem mais saber o
que as coisas são. Se você perguntar a um professor universitário, um PHD em
Harvard ou a um médico, “o que é a vida humana?” ele provavelmente responderá:
“eu sei lá, sei fazer cirurgias, curar meus pacientes, fazer várias coisas, mas dane-se.
Para que eu vou querer saber sobre a vida humana? se você perguntar a um
psicólogo: “o que é um homem?”, se você perguntar a um advogado: “o que é
realmente a justiça?”, se você perguntar a alguém o que é a amizade?

Se você perguntar a algum religioso, a exemplo de um padre: “o que é Deus?”.


Essa foi a pergunta que Santo Tomás fez para os monges aos 12 anos. “Deus é o
criador de todas as coisas” essa resposta foi insuficiente para São Tomás, ele queria
saber de verdade. E isso faz parte de uma inteligência realmente saudável, saber o
que as coisas são, e é isso no que os filósofos estavam interessados e foi isso que
Aristóteles fez, principalmente, no que nos interessa, no De Anima e na Ética. Do
que é feito, e o que é o homem? Qual sua essência?

Se eu quero saber qual o melhor modo de vida desse ente, eu preciso saber
necessariamente o que é esse ente, essencialmente falando, o que é próprio do
homem. Essa pergunta raramente terá uma resposta satisfatória vinda da boca de
um psicólogo ou psiquiatra. Então Aristóteles reunia os conceitos da época, o que
os mais sábios diziam, e investigava o que estava sendo dito. Ao se ler diretamente
o De Anima e a ética de Aristóteles, provavelmente não se entende muita coisa,
nesse caso é melhor usar os comentários, sendo o melhor deles, o comentário de
São Tomás de Aquino, onde ele discorre a respeito dos livros por completo.

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E então, ele pergunta: “o que é o homem?” e acaba descobrindo que o homem
tem uma inteligência e também, que o que cada coisa é essencialmente, é o modo
de operação própria daquele ente. É aí onde ele faz aquela gradação, no De Anima
por exemplo, ele diz que as plantas têm alma, bem como os peixes e o homem.
Existe um modo próprio de operação de cada ser vigente, por exemplo, o modo
próprio de operação de uma planta é o modo vegetativo, ela tem uma alma que é a
forma de seu corpo vigente.

Um cachorro, tem uma alma animal, irracional, o que significa que ele tem a
função da locomoção, do sono, da procriação, de comer, beber, dormir e etc… Mas o
homem se comporta como a síntese de todas essas coisas, ele tem sua vida
nutritiva, tem os apetites que um animal tem, mas também possui algo que o
diferencia de todos esses entes, que é o modo de operação próprio da natureza,
sendo este, o modo de operação do que é essencial no homem, a inteligência, o seu
espírito. Isso quer dizer que o homem foi feito para conhecer e contemplar a
verdade, pois o objeto da inteligência é a verdade. Uma planta não vive para
conhecer o sentido da vida e a verdade, ela apenas nasce, cresce e morre, bem
como um cachorro não vive para entender o que ele é, o que é a vida canina, qual a
relação e qual a ordem do mundo, ele simplesmente vive e sobrevive, é isso que os
animais fazem.

No ser humano isso é muito diferente. Para nós não basta apenas comer,
beber, dormir e fazer tudo o que fazemos, nós estamos impelidos a encontrar um
sentido e uma razão para o que fazemos e para o que chamamos de vida humana.
Isso mostra que o homem tem uma natureza espiritual e intelectual, capaz de
conhecer as coisas como elas são em sua essência. Então, se esse é o modo
próprio de operação humana, a vida perfeita está tanto mais próxima quanto maior o
uso de sua inteligência. Quanto mais o homem conhece as coisas como são, mais
humano e mais homem ele se torna, pois existe uma certa semelhança entre nós e
todos os outros entes.

Isso quer dizer que modo próprio de operação de cada ente, é seu modo de
realização, ou seja, se temos uma inteligência e temos uma alma espiritual, nosso
modo próprio de operação será esse, e isso quer dizer que a realização e a felicidade
estarão dentro do que é próprio, por natureza de cada ente. Desse modo, qual o
objeto da felicidade humana? O ponto de realização máximo da vida humana, está
na contemplação da verdade, a felicidade humana depende do uso da inteligência
até os seus limites, o homem estará tanto mais feliz quanto maior for o uso de sua
inteligência, quanto mais verdades ele for capaz de aprender e quanto mais altas
forem essas verdades.

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Pois, aquilo que é mais alto, é composto do que é mais baixo, nesse sentido,
se você conhece o que é alto, necessariamente, você deve conhecer aquilo que é
mais baixo. Então São Tomás explica como é o modo de operação da inteligência e
como podemos fazer uso de nossa inteligência, o que é interessantíssimo.

FIM DA PRIMEIRA PARTE DA AULA.

É nesse sentido que tanto Aristóteles, quanto São Tomás dividem a alma e a
natureza humana em três esferas (alma tripartida) corpo, alma e espírito. Isso
significa que essas coisas são indissociáveis e só serão separadas com finalidade
pedagógica.

Em nosso corpo temos os 5 sentidos (tato, olfato, visão, paladar e audição),


que são o modo através do qual nos relacionamos com o mundo exterior, o mundo
material. Eles nos permitem sentir, tocar e experienciar o mundo material. Esses
sentidos são a apreensão das coisas materiais, então existe o agente (quem age) e
existe o paciente (quem sofre passivamente a ação do mundo real e material) os
sentidos estão nessa categoria de paciente, e o agente são as coisas que deixam
suas impressões em nós através dos 5 sentidos.

Imaginemos que esses sentidos se afunilam em um canal, até chegarem num


ponto chamado de senso comum, onde é formada a memória que temos das
coisas. a memória/fantasia é a presença das coisas materiais, sem
necessariamente sua presença física, por exemplo: lembrar da mãe, do filho ou da
esposa… eles estão presentes em você de algum modo, mas estão ausentes
fisicamente. Então a fantasia é a presença daquilo que eu já tive experiência mas
que agora está ausente, por isso se tem a memória e se lembra das coisas.

Em nós também existem os apetites, que se assemelham em partes aos


apetites dos animais brutos: comer, beber, dormir, procriar, sobreviver e tudo mais. O
mais forte de nossos apetites é o impulso sexual (forte no sentido de deleite, o mais
prazeroso de todos) esse é conhecido como o apetite/faculdade compulsivo e
também existe o apetite irascível, que nos leva a buscar e amar os bens árduos,
difíceis, até mesmo em perigo de morte.

Então, vê-se que temos um impulso para as atividades compulssíveis, o


deleite corporal e vê-se que temos também o que chamamos de instinto de
sobrevivência que é buscar o bem da vida mesmo diante de um perigo de morte
como: doenças, acidentes e outros… Esses apetites estão inteiramente relacionados
à vida do corpo e à condição material humana, por isso: comer, beber, sexo e evitar
támbém os perigos de morte.

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5. A explicação dos conceitos.

Então de que forma a inteligência humana trabalha? Nós temos contato com
o mundo através dos 5 sentidos e do senso comum, de certa forma, essas coisas,
imagens que tivemos contato, coisas que lemos, ouvimos e etc… É da nossa
fantasia que a inteligência abstrai o conhecimento. Quando a inteligência abstrai o
conceito, por exemplo, você tem mãe, eu também tenho mãe. Ao dizer somente
“mãe”, quer dizer que mãe é a sua mãe? Existe um conceito de mãe, essa é uma
palavra que não traz consigo um conceito, mas se eu digo, “sua mãe” você se lembra
do aspecto físico de sua mãe, mas o conceito da palavra mãe em si, não tem uma
forma, não se refere a nada em particular, se refere à abstração daquilo que é mãe.
Em essência, necessariamente, a palavra mãe não tem um formato material.

Por exemplo, se eu falar a sua casa… ela tem um formato característico


particular e próprio dela, você a conhece por dentro e por fora. Mas no momento em
que se fala do conceito de casa, não se refere a nenhuma em específico, ao tentar
dissecá-lo, chego ao resultado: casa é um ambiente de abrigo para uma família. No
entanto, esse lugar onde as pessoas habitam pode ser qualquer casa. Nesse
conceito, quando se fala em casa, não vem nenhuma imagem material à cabeça, é
possível lembrar de paredes, do teto, mas a palavra casa em si não traz nenhuma
imagem.

Quando eu digo: “o homem é um animal racional”, você tem alguma memória


física de um animal racional? Você tem a memória de uma pessoa específica, a
exemplo de sua mãe, pai, filho… Mas do conceito do homem não. Quando eu digo:
“todo homem é bom”, você certamente entende o que estou dizendo… mas vamos a
outra “O homem nasce bom” que homem? Eu sei que o conceito diz respeito a um
ser humano, pois eu também sou um, no entanto, nesse momento nenhuma imagem
vem à minha cabeça. Mas se eu digo: “o seu pai é um homem bom”, nesse caso por
ter uma forma física, a imagem do seu pai vem a sua cabeça, o seu semblante, o seu
jeito e sua imagem esquemática se fazem presentes.

Mas quando eu me refiro ao homem nascer bom, eu estou falando de um


conceito, algo que não tem forma e não é materializado. Mas é possível perceber
que entendemos e é como se víssemos (não com nossos olhos, pois não vem nada
material à mente, não é um ver de imagem), conseguimos acompanhar entender o
nexo da frase, mas nenhum desenho vem à mente. “O homem nasce bom e a
sociedade o corrompe” Que homem? Eu estou falando do conceito de homem.

Mais um exemplo: quando eu digo “uma coisa não pode ser e não ser ao
mesmo tempo” tipo “eu não posso ser um homem e uma mulher ao mesmo tempo,
eu não posso ser um homem ou um macaco ao mesmo tempo, ou sou um ou o

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outro.” Você certamente entende, mas neste momento nenhuma imagem vem à sua
mente, no entanto, mesmo sem uma imagem bem definida, você sabe do que se
está falando, mesmo sem uma memória física.

O conceito é algo imaterial, porque pela própria experiência é possível ver que
isso não remete ou evoca alguma imagem, no entanto, é plenamente possível
entender o que se diz sem essa imagem “eu não posso ser o Thiago e não sê-lo ao
mesmo tempo”, mas quando eu enuncio num conceito mais amplo:“ uma coisa não
pode ser e não ser ao mesmo tempo” esse conceito não está remetido a nada, mas
entende-se o que quer dizer.

No momento em que entende-se isso, podemos perceber a nossa inteligência


funcionando, e porque o conceito é imaterial, é a inteligência que também é
imaterial, que consegue abstrair e ver essa coisa que não possui um formato nem
uma consistência material, embora esse conceito seja uma lei própria da estrutura
da realidade. “uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo” isso é verdade
para todas as coisas, por exemplo ao dizer “não existe verdade absoluta”, eu acabo
por dizer uma verdade absoluta.

Esse é o princípio da não contradição, que se resume em: “uma coisa não
pode ser e não ser ao mesmo tempo”, essa é uma verdade da estrutura da realidade,
que está presente em nossa percepção, quando percebemos algo, percebe-se o ser
dessa coisa. “Ah, mas eu vi um gato, só que não sei se é um gato ou um cachorro.
Impossível, ou é um gato ou não é!” Nessa lei, nós não conseguimos dar um tiro,
pegar com a mão, sentir ou comê-la, justamente por conta de não ser material.
Porque fala-se em abstrato? Por não ter um formato material, é importante
não confundir com arte abstrata, que é algo sem sentido, que só traz algo na cabeça
de quem a criou. é abstrato no sentido de não ter um formato material, mas ser
inteligível e compreensível, não que seja uma bagunça… É a essência das coisas.

Possível pergunta do chat: “Por isso Deus é imaterial” R: Justamente, por isso você
verá que a lei própria do princípio da não contradição é mais real e essencial, do que
uma garrafa plástica, por exemplo. Porque uma garrafa obedece a essa lei, que é
própria da estrutura da realidade.

Por exemplo, o ser das coisas. A filosofia nasceu sobre 3 pilares: algo existe,
algo se movimenta e isso é uma verdade (não é produto da cabeça humana). Vamos
fazer o mesmo exercício que os filósofos fizeram lá atrás para facilitar a
compreensão. “algo existe” é verdade, porque se algo não existisse, eu nem
conseguiria afirmar nada, então positivamente algo deve existir, eu não estou
falando que alguma coisa específica exista, mas o conceito geral, o nada não existe.
Porque eu consigo ver que algo existe? Pois as coisas se movimentam, e o

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movimento é a simultaneidade entre ato e potência (uma garrafa pode estar cheia
em ato, mas potencialmente vazia, ao beber-se a água, ela passa a estar
completamente vazia. Vazia em ato e potencialmente cheia).

Todas as coisas do mundo estão o tempo todo numa sucessão entre ato e
potência. Isso que estou falando não é um produto da invenção de alguém, é uma lei
própria da estrutura da realidade. Se eu negar que algo existe, que algo se
movimenta ou que isso é uma verdade, não é possível afirmar nada neste mundo.
Por exemplo, partindo do princípio de que nada exista, o que você seria capaz de
afirmar? Ao dizer que não existe movimento no mundo… se não existe movimento,
como é possível dizer que não existe movimento? se falar já se trata de um
movimento?

Se você negar um desses 3 pilares, você cai em auto-contradição, você fica


intelectualmente esquizofrênico. Não é possível afirmar nem negar nada, se você
discordar de um desses 3 princípios. O mundo real compreende, a princípio, essas 3
verdades. Nós fizemos um exercício que permite ver isso na prática..

Então você vê que essa é a realidade em si, e esses 3 princípios passam a ser
mais reais que o próprio objeto, como uma garrafa que depende dessas 3 leis. Sem
elas, nada existiria, todas as coisas materiais dependem dessa lei para existir. Por
exemplo, a fórmula de Bhaskara, não é possível pegá-la, ou mordê-la, ela se trata de
um conceito, de uma lei do cosmos.

O que eu quero dizer é que as coisas imateriais são mais reais que as coisas
materiais. O teorema de Pitágoras se enquadra da mesma forma: ”em qualquer
triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual a soma dos quadrados dos
catetos”, em qualquer triângulo retângulo, encontra-se esse teorema. Pitágoras foi
aluno de Tales de Mileto, e descobriu uma lei própria da realidade. Você consegue
pegar o teorema de Pitágoras? Onde ele se encontra ou qual a sua imagem? Não
existe.

O exemplo mais convincente de todos: “ o que é o 1 e 2?”, você consegue


uma métrica, somente ao associá-los a um conceito material existente, por exemplo:
“um lápis”. Mas se você tiver que responder “o que é o 1” você não consegue uma
resposta, pois é uma abstração. E quem vê isso, se esses conceitos não possuem
uma unidade material? Só é possível vê-los no mundo intelectual, você consegue
contar até 1000 sem que nenhuma imagem apareça em sua cabeça, logo essas lei
são mais reais que as coisas materiais, pois as coisas materiais estão estruturas
por elas.

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Isso quer dizer que a realidade metafísica que faz parte do mundo inteligível e
intelectual, é mais real e mais essencial do que as coisas materiais. O invisível é
mais essencial do que o visível, e é nesse sentido que os teólogos dizem que Deus,
por exemplo, é mais real do que qualquer coisa que exista, não por crença, mas
porque da mesma forma que o mundo material obedece às leis da metafísica, todas
as coisas que existem estão no ser. Isso quer dizer que embora Deus não seja
materialmente visível (sem entrar em pormenores teológicos do tipo: “jesus cristo se
encarnou” ou a presença da eucaristia), ele é mais real do que qualquer outra coisa
que exista.

Ele é mais real do que uma mesa, uma cadeira, uma garrafa, mais real do que
eu, do que você… Por que sem ele, nada disso existiria e as leis metafísicas, a
exemplo da fórmula de Bhaskara, o teorema de Pitágoras, os números e etc… estão
nele, e são verdades que nos levam a conhecer de modo muito reduzido, a essência
do ser que é Deus. Nossa inteligência é quem vê isso, o que significa que o objeto da
inteligência é a verdade no campo metafísico (metafísico significa aquilo que está
para além do mundo físico).

Essa é uma dificuldade, por exemplo, quando se fala no mundo espiritual,


vem à cabeça algo misterioso, sombrio… Algo que não faz muito sentido, pois o
mundo espiritual não possui nada que sirva de analogia para compreender os seus
pormenores. Qualquer coisa que usemos como analogia traz consigo uma imagem
do mundo material, que é insuficiente, pois falamos de realidades que não têm
formato material, tem-se somente a forma inteligível, que é vista pelos olhos da
inteligência, e nós vimos, nesta aula que isto é real, nós fizemos uma experiência da
própria inteligência. A minha inteligência vê a verdade imaterial.

No entanto, para a inteligência funcionar é necessário que se tenha ordenado


as paixões dentro da alma, pois não se consegue se ater aos estudos e se ater à
vida da inteligência, se você ainda dominou o apetite concupiscível e o apetite
irascível, em outras palavras, nunca vai se encontrar ninguém verdadeiramente sábio
e inteligente, se essa pessoa não for casta e não tiver a virtude da paciência. Porque
a atividade sexual é um impulso mais viciante, pois é a atividade mais deleitosa que
alguém pode experimentar, e junto com ela vem o que chamamos de instinto de
sobrevivência que é o apetite irascível.

Se esses dois apetites não forem ordenados, não se consegue fazer uso da
inteligência. Não é possível, sequer, perceber a inteligência agindo e em
funcionamento, é por isso que se ordenar moralmente, praticar a castidade e a
paciência, não são invenções do cristianismo nem do judaísmo (no sentido que
foram as religiões que inventaram isso) a própria escola de pitágoras e os maiores
filósofos gregos viviam isso. Imagine São Tomás escrevendo a Suma Teológica, a

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Suma contra os Gentios, os comentários sobre os evangelhos indo para a balada,
chegando em casa às 4 da manhã, bebendo desordenadamente, destratando seus
pais…

Você acha que existe algum cientista sério, comprometido com os bens
intelectuais que vive bebendo, pratica o sexo sem compromisso e tem uma vida
desordenada… Teria concentração e paz para ter um trabalho intelectual? De modo
algum, essa pessoa está assaltada por 1000 impulsos e tentações, ela não
consegue parar para fazer o exercício da inteligência. Você pode fazer o exercício
por você mesmo (eu não recomendo) mas se você quiser entrar na balbúrdia… tente
fazer isso e estudar de verdade, como se fosse um filósofo, um sábio, um teólogo.

Eu duvido que você produza alguma coisa relevante ou que você consiga
viver bem, simplesmente não dá! Não que você precise ser bonzinho ou
politicamente correto, isso não é possível pela própria anatomia de sua alma. Uma
pessoa que ainda não ordenou suas paixões vive buscando um desejo, um prazer ou
a felicidade em alguma mentira. Alguém que faz isso tem uma ansiedade em se
satisfazer e se deleitar o tempo inteiro, alguém que só pensa nos prazeres do apetite
concupiscível, mais propriamente falando o sexual, não consegue ir atrás dos bens
árduos, esses são os que custa mais, que demandam mais paciência e um engenho
da inteligência.

Uma pessoa impaciente que não suporta passar por dificuldades com
paciência e mansidão, não consegue também estudar, ela não consegue ter
concentração e o estudo, a busca da verdade e da sabedoria é um bem árduo.
Alguém que não é paciente, não ordenou a faculdade concupiscível e não é mansa
de coração, não consegue buscar os bens árduos, pois o único bem árduo que ela
consegue enxergar é a fuga da morte, a fuga do incômodo. Ela não consegue
enxergar que existem bens mais árduos e mais excelentes que apenas fugir da
morte e do incômodo.

É por isso que para todo estudante sério e para a inteligência humana
funcionar é necessário o mínimo de ordenamento moral. Pois o modo próprio de
operação humana é o modo intelectual e o objeto da inteligência é a verdade, o que
significa que a felicidade humana depende do uso da inteligência na contemplação
da verdade. Quanto mais verdade você descobre, mais feliz você é.

É uma mentira aquela falácia que as pessoas dizem de que: “quanto mais
você estuda e se dedica à vida intelectual, mais triste você fica, porque você fica
isolado e ninguém te entende”. Buscar a erudição é um caminho, no entanto, esse
não é necessariamente vida intelectual. Um sujeito erudito não é em si um sábio,
pois um sábio é aquele que contempla a verdade e sabe o que é cada coisa. Então,

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quanto mais verdade uma pessoa é capaz de contemplar e saber, mais feliz ela será,
no entanto essa atividade da inteligência depende do ordenamento moral,
principalmente da virtude da castidade e da virtude da paciência, sem a qual você
não consegue fazer uso da inteligência.

6. Vida moral X Vida intelectual

Aristóteles não fala de castidade, mas sim de prudência, que é a mesma


coisa num sentido mais amplo. A prudência é chamada também de razão prática,
que é a verdade prática no dia a dia, conseguir agir dentro da verdade no dia a dia.
Porque existe a razão prática, que chamamos de inteligência prática e a razão
especulativa que é a capacidade de pensar e refletir profundamente a respeito das
coisas, sem praticar a castidade e se tornar uma pessoa virtuosa na paciência, não é
possível fazer uso da inteligência, porque não se consegue ter concentração, não é
possível se ater a algo, não é possível fazer o uso da inteligência
especulativa/reflexiva.

A busca pelo estudo da verdade, se tornará um fardo… “O que eu quero?


Beber, comer, dormir, transar, ir à praia, dinheiro, viver bem… e o resto, foda-se. O que
eu precisar para conseguir essas coisas eu vou fazer” Aí você começa a se tornar
uma pessoa tanto quanto mal caráter, com um desvio moral. Tudo pelo deleite
sensível e corporal.

E quando perguntarem a você que é um psicólogo, psiquiatra ou


psicoterapeuta: “O que é o homem?" você vai dizer: Eu sei lá… o homem é muito
legal, é uma coisa maravilhosa, é uma obra de Deus, o homem é isso aí. Igual, por
exemplo, ao Abujamra, quando pergunta aos seus convidados o que é a vida (é claro
que essa é uma pergunta retórica e provocativa) mas se nota a dificuldade que as
pessoas têm em dar uma resposta satisfatória, as pessoas gaguejam, “a vida é
triste, a vida é sofrimento…”.

O que é a vida, o que é o homem, o que é o casamento e a amizade, o que é o


amor? Veja que são todas perguntas que acontecem no consultório, como você
pretende ajudar alguém numa crise matrimonial sem saber o que é um casamento?
Como ajudar um ser humano e fazer psicoterapia sem saber o que é o homem, a
qual fim ele se destina e qual o seu caminho de felicidade? O que é a vida humana?

Eu não pretendo desanimar ninguém, mas simplesmente não dá. Se você não
souber isso, você será um profissional como um outro qualquer, (no nível que todos
já sabem qual é) que dá respostas óbvia que todos já conhecem, que dá conselhos
rasos, e a prática da psicoterapia se limitará a um moralismo, ou seja, você vai
considerar que o paciente está bem e saudável, apenas quando ele para de: “bater

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na mãe, usar drogas, encher a cara e comer a mulher do vizinho”. Você talvez pense:
“nossa, esse cara já está bom, ele não precisa mais de terapia” e você acha que essa
já é uma pessoa boa, que isso já está ótimo, que essa é uma pessoa santa.

“Ahh, meu namorado, não me trai, meu namorado não vê pornografia, meu
namorado arruma sua cama…” Recentemente me perguntaram o que eu acho do
Jorda Peters, eu acho ele uma pessoa importante pro nosso tempo, para a nossa
“geração de merda”, as pessoa que o ouvem terão uma melhora moral, talvez ele dê
umas cutucadas ou uns tapas na cara dos jovens… “não queira arrumar o mundo se
você não arruma sua própria cama” se um jovem babaca, com um coração sincero
ouve isso pensa, “Ah, legal, vou para de encher o saco dos outros, vou começar a
arrumar minha cama e já basta.” “Cuide de você mesmo como se você fosse uma
pessoa sobre a sua própria responsabilidade” Mas as pessoas ficam: “Nossa, isso é
tudo…”

Pelo amor de Deus, esse é o básico do básico, coisa que um menino de 10


anos já deve ter entendido se ele tiver um pai e uma mãe comuns. Esse é o ponto, é
um condicionamento e adestramento moral básico… “pagar imposto, pagar as
contas em dia, votar, não xingar, nem bater, nem estuprar ninguém, não ver
pornografia, não roubar, não comer a mulher do vizinho, não dar o rabo” Aqui no
Brasil, quem ganha dinheiro se torna santo, para ter autoridade na família, fique rico,
milhonário, tenha uma mansão e carros importados que todos vão te respeitar, seus
parentes vão te pedir conselho, te amar, te respeitar e obdecer em tudo.

No Brasil, dinheiro é sinônimo de idoneidade moral, isso é loucura, porque a


vida moral está para a vida do espírito assim como o céu está para a terra. Existe um
abismo entre a vida intelectual verdadeira e a vida moral, nós achamos que ter uma
vida moral já é o suprassumo da santidade, é o pináculo da criação humana, quando
na verdade isso é uma coisa completamente basal! Às vezes me pego olhando as
pessoas “Ah, passou num concurso, passou na faculdade de medicina, a galera
comemora… os estudantes fazem trotes, ficam super felizes, tiram fotos e postam…”
Quando na realidade, se você treinar um macaco, ele faz uma prova daquelas.

De verdade, porque não passa de decoreba, você não precisa saber do que se
trata. Para ser um juiz de direito, você só precisa decorar algumas coisas, passar na
prova, decorar meia dúzia de coisas, passar na prova oral e fim… Você pode decidir
sobre a vida dos outros. “Tudo bem, não pode ter antecedentes criminais, mas se
você come a mulher do próximo, foda-se, isso pouco importa para você ser um juiz,
enquanto as pessoas não souberem. Você pode até dar uns tecos em cocaína de
vez em quando, enquanto for escondido não tem problema” Para ser juiz, você não
precisa ter sinceridade, moral e nem vida interior, basta não deixar ninguém saber.
Para ser um juiz do STF: “profundo saber jurídico e moral elevada”.

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Então você vê que entre a vida moral e a vida intelectual, existe um abismo, a
vida verdadeiramente intelectual, a vida do espírito, é infinitamente mais nobre que a
vida moral, a vida moral é algo completamente de base. Porquê eu estou falando
essas coisas? Porque antes de entrar nas abordagens, precisamos saber o fim
último ao qual o homem se destina, sem saber isso, não conseguimos ter nenhuma
noção de psicologia humana e não conseguimos responder a pergunta “o que é o
homem? e qual o seu fim último?

Como você pretende estudar uma abordagem ou escolher alguma para atuar
e como você vai saber a hora certa de aplicar aquela metodologia? Aí fica um tiro no
escuro, vira a terapia do senso comum e tudo o que foi dito é a base do que
chamamos de psicologia tomista, ou não existe esse nome, é antropologia
Aristotélico-tomista. Não existe uma abordagem tomista, porque todas as
abordagens da psicologia nascem a partir da ciência moderna, amanhã vou explicar
como se deu o começo disso.

Não é possível reduzir a psicologia tomista a um método de tratamento,


como são as abordagens atuais da psicologia, e é por isso que é chamada de
antropologia tomista, pois ela nos dá a visão do que é o homem, e o modo de
operação próprio do ser humano, então aristóteles e São tomás de Aquino sabem
que o homem tem um corpo, sentidos, o apetite concupiscível, o apetite irascível,
sabem que o homem tem razão, inteligência e vontades. Então essa é a única visão
de homem que realmente traz um horizonte mais integral do que é a natureza, e dá
também, com isso os meios para viver humanamente, através dos longos
comentários, a metafísica, a ética…

Antes de entrarmos nas abordagens, precisamos ter uma noção mais


adequada do que é o homem, para que consigamos entender o que o Moreno, freud,
Viktor Frankl, Anna Beck falam… dessa forma, conseguimos pegar tudo isso e ver
onde se aplica. A diferença entre os filósofos clássicos, da filosofia clássica e dos
filósofos tidos como modernos e contemporâneos é que a filosofia clássica pode
errar em alguns pontos desculpáveis, mas acerta no todo. A ciência moderna acerta
numa migalha, em pontos acidentais, mas erra na composição do todo, no que é
essencial.

Por exemplo, a ciência moderna não trata do ser, não quer saber o que as
coisas são, ela busca medir e estudar os fenômenos. Mas como você vai estudar,
medir os fenômenos ou algo nesse sentido, sem saber o que a coisa é e qual a
relação que ela tem com todas as outras coisas no mundo? Dá para acertar
observando os fenômenos, criando um método e medindo, mas não se sabe onde

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colocar aquela coisa. Através da ciência moderna, você não consegue montar o
quebra-cabeça da realidade.

Por exemplo, a teoria Behaviorista “O homem é um produto do meio, que se


move por estímulo e resposta” como Skinner colocou, na teoria do
condicionamento. Isso é verdade? Numa mínima parte, sim, todo o resto é mentira,
porque, primeiramente, Skinner não considerou o que é o homem, e ele dizer que o
homem se comporta apenas por estímulo e resposta, desconsidera o homem como
um todo, com sua vontade livre, por exemplo.

Se o homem age como age, porque foi condicionado para tal e não por
vontade própria, quem condicionou Skinner para ser assim? É claro que o
comportamento do homem compreende estímulo e resposta, mas não existe
causalidade direta entre estímulo e resposta. Esta pode ser encontrada num animal,
mas se o homem age desse modo, esse comportamento não pode ser nomeado um
comportamento humano. Pois entre estímulo e resposta existe escolha e
inteligência que vêem a verdade, mas se alguém age por estímulo e resposta, esse
não pode ser considerado um comportamento propriamente humano.

Então ele quer comparar o ser humano à um rato. No primeiro ano de


psicologia, você ganha um rato numa gaiola e passa a condicionar o seu
comportamento, dá choque, água, acende e apaga a luz. Mas ele passa, a partir
desse experimento, a considerar que o ser humano funciona com semelhança a um
rato. Esse é o problema da psicologia moderna, ela parte do patológico para explicar
o normal, não do normal para explicar o patológico.

Igual ao Dr Freud, “todo mundo é neurótico” só o Dr Freud é normal e são. Ao


se analisar com profundidade, todos os autores modernos são malucos. Aí pelo
menos conta a sinceridade dos autores cristãos, “todo mundo tem e sofre com as
consequências do pecado, inclusive eu”. Mas dizer que todo mundo é neurótico? E
você? quem disse que essa sua teoria não é fruto da sua neurose? Quem comprova
a realidade dessa teoria?

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