O trabalho clínico consiste em ajudar as pessoas a encontrar a magia das
palavras. (Freud 1914) Assim a principal estratégia terapêutica da psicanálise é levar o paciente rumo as palavras. A intenção de escrever o texto sobre construções em Psicanálise, segundo o próprio Freud, era apresentar uma resposta às críticas feitas à psicanálise por supostamente colocar o psicanalista no lugar de mestre, senhor da verdade. Tal crítica se baseia no seguinte raciocínio: se uma interpretação é aceita, ela está correta, mas se é rejeitada não significa um erro, e sim uma resistência do paciente ao tratamento. Para ele a finalidade do trabalho da análise é fazer com que o paciente abandone as formas de satisfação primitiva e sintomáticas, substituindo-as por reações mais adaptadas a uma condição psiquicamente madura. Para tanto, faz-se necessário acessar os registros recalcados do sintoma. Esse acesso, se dá por diversas vias: sonhos, chistes, atos falhos, repetições, formações do inconscientes favorecidas pela transferência com o analista. É desse modo que se obtém todo material relativo a um possível desfecho de uma psicanálise. Freud compara o trabalho do psicanalista com o trabalho do arqueólogo, pois ambos reconstroem algo a partir de seus restos: o arqueólogo constrói fósseis pré-históricos ou históricos, o que já não existe, e o psicanalista constrói o que ainda está vivo, o que se repete na relação transferencial. Uma análise, para Freud (1937a), consiste em duas tarefas, desenvolvidas quase de maneira independentes. Ao analisando cabe dizer tudo o que lhe vem à alma em busca das recordações perdidas, e a tarefa do analista é “[...] completar [zu erraten, de fato, adivinhar, supor] aquilo que foi esquecido a partir dos traços que deixou atrás de si ou, mais corretamente, construí-lo” (p.276).A comunicação da construção é o ponto de encontro entre estes dois trabalhos. O analista completa um fragmento da construção e comunica ao paciente, que por sua vez constrói outro fragmento a partir do novo material, assim o trabalho e feito lado a lado, com um dos dois (analista ou paciente), alternadamente, sempre um pouco a frente para que o outro possa segui-lo. Esse é o ponto em que Freud (1937a) diferencia a construção da interpretação: a esta última “aplica-se a algo que se faz a algum elemento isolado do material, tal como uma associação ou uma parapraxia [ato falho]” (p.279). Ou seja, a construção é mais ampla no seu conteúdo, na produção de sentido, e de maior alcance na aproximação do núcleo recalcado do que a interpretação. A Interpretação' aplica-se a algo que se faz a algum elemento isolado do material, tal como uma associação ou um ato falho. Trata-se de uma 'construção', porém, quando se impõe perante o sujeito da análise um fragmento de sua história primitiva, que ele havia esquecido" (Ibid., loc. cit.). Desse modo, podemos dizer, a construção é efeito de interpretação. atribuindo à construção um caráter histórico, de passado e, em contrapartida, à interpretação, o presente imediato. Quando o paciente concorda de uma interpretação, não quer dizer que o analista está em um caminho certo. Podemos sugerir que estamos no caminho certo quando o paciente, a partir da interpretação, produz mais associações. Existem formas indiretas de avaliar uma confirmação do paciente, exemplos de expressões como “Nunca tinha pensado nisso antes”, ou quando o paciente responde com uma associação que contenha algo semelhante ao conteúdo da construção do analista podem ser um bom sinal. Uma reação terapêutica negativa, com sentimento de culpa, necessidades masoquistas de sofrimento ou repugnância de receber auxílio, podem ser percebidos no paciente quando uma construção errada não causa alteração e a correta provoca um agravamento dos sintomas. A reação terapêutica negativa surge quando há um excesso de transferência negativa (de sentimentos Hostis). Quando a interpretação é incorreta, não há mudanças no paciente; quando é correta, o paciente pode piorar, ou seja, agravam seus sintomas, para que depois melhore.
Somente o curso da análise nos capacita a decidir se nossas construções são
corretas ou inúteis. As construções e interpretações promovem insight e elaboração psíquica. Freud escreveu que o processo de melhora depende da tolerância recíproca do paciente e analista. Nesse sentido destaca fatores facilitadores para a elaboração psíquica: interesse pela verdade, tolerância, compreensão para com a proposta do trabalho, suportabilidade às perdas, confiança, possibilidade de simbolização, consideração por dados de realidade. E alguns fatores obstrutivos à elaboração: resistência, padrões defensivos rígidos, inclinação por uma realidade consolatória, intolerância a frustração, dificuldade para suportar perdas. Todos os estes são presentes na vida mental de qualquer pessoa, importando verificar com que frequência e grau se manifestam. No texto Freud postula uma concepção de delírio do paciente quanto suas memórias e construções. Para ele o impulso ascendente do reprimido, força a subida de seu conteúdo à consciência, enquanto as resistências despertadas por esse processo e a inclinação à realização do desejo partilham da responsabilidade pela deformação e pelo deslocamento do que é recordado. Ou seja, o paciente deforma determinadas memórias para explicar os seus sofrimentos. Por fim, tonar consciente o inconsciente sempre foi e continua sendo um dos principais objetivos do tratamento psicanalítico. Essa forma oriunda do modelo topográfico da mente, foi reformulada como “onde estava o id, ali estará o ego” articulando a ideia de preencher lacunas mnêmicas seria o objetivo central do tratamento psicanalítico. Freud também descreveu a capacidade adquirida ou aumentada do paciente amar e trabalhar como objetivo terapêutico.