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Capa Deulateu - Cópiaaaaaa
Capa Deulateu - Cópiaaaaaa
Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação
Deulateu Eugénio
Maputo
2023
DECLARAÇÃO DE HONRA
Eu, Deulateu Eugénio, titular do Bilhete de Identidade n.º 100102680311M, emitido pela
Direcção de Identificação Civil da Matola, aos 05/07/2023, declaro que este trabalho é da minha
autoria, sob orientação do tutor e todas as fontes estão devidamente citadas ao longo do trabalho
e constam da bibliografia. Declaro ainda que o mesmo não foi apresentado em nenhuma outra
instituição para obtenção de qualquer grau académico.
________________________________
(Deulateu Eugénio)
ii
Aos meus pais, Eugénio Ernesto Movira e Mafalda Fabião Milima.
iii
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo dom da vida e da vocação por me ter inspirado na realização deste trabalho.
Ao meu tutor, Mestre Pedro Cebola Mazi, pela sua total e incondicional disponibilidade em
orientar-me na elaboração deste trabalho.
À minha família, especialmente aos meus pais e irmãos que nos momentos difíceis me
encorajaram a prosseguir com os estudos e custearam todas as despesas universitárias ao longo
da formação.
Aos meus amigos Francisco Jaime e Wilton Mário Matsinhe pelo apoio incondicional.
iv
“Interpretar é obter a compreensão do outro graças à rê-vivência da
experiência alheia” (DILTHEY, 2000:11).
v
RESUMO
Esta monografia tem como título A compreensão da vida enquanto problema hermenêutico em
WilhelmDilthey. O mesmo ganha enquadramentofilosófico na medida em que se percebe que o
debatesobre a vida sob o ponto de vista hermenêutico, constitui uma reflexão que proporciona uma
resposta multidisciplinar. Para este efeito, começa-se por abordar os pressupostos que influenciaram
Dilthey, a saber: positivismo científico, que constitui o elemento apriori na ordem das influências,
seguida da crítica da razão pura, e iluminismo, que parte-se da abordagem empírica e histórica. A
experiência é importante na interpretação e compreensão, o indivíduo nas suas mais variadas
manifestações faz o uso dela por este possuir a capacidade reflexiva e interpretativa mediante as
observações naturalmente feitas. A própria experiência de vida que cada homem tem, assim como a
estrutura da totalidade psíquica, devem respeitar os limites dentro do tempo e da situação histórica. A
problemática do historicismo serve de base para evidenciar que a compreensão só é feita mediante o
conhecimento histórico do indivíduo. Mas também pode-se sublinhar a questão de que cada época deve
compreender um texto transmitido de forma particular, pois o mesmo é uma parte do todo da sua tradição.
Nas ciências humanas, Dilthey parte do entendimento de que a vida devia ser compreendida a partir da
experiência da própria vida. E, por fim, pode-se verificar que a vida se interpreta a partir da
mundividência, que parte das visões do mundo que cada indivíduo possui enquanto um ser que vive em
sociedade.
vi
ÍNDICE
INTRODUÇÃO..............................................................................................................................8
BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................................37
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INTRODUÇÃO
Este trabalho monográfico tem como título: A compreensão da vida enquanto problema
hermenêutico em WilhelmDilthey .A discussão em torno da interpretação é tão remota quanto à
existência da humanidade, isto porque, naturalmente, o homem mesmo sem reflectir em torno da
interpretação sempre se propôs, pela sua natureza, a interpretar o seu meio circundante.
Este trabalho pode ser relevante na medida em que, o pensamento de Dilthey assenta na ideia da
inclusão das experiências humanas para a compreensão da vida como um todo. O seu
pensamento parte do entendimento de que a vida humana é complexa e única, e não devia ser
reduzida a leis científicas gerais. Em vez disso Dilthey opta por uma abordagem interpretativa
para a entender a vida humana.
A abordagem acerca da compreensão da vida pode construir-se a partir das ciências humanas e
conhecimento histórico do indivíduo. Conforme afirma Dilthey(10:271), utilizo a expressão vida
nas ciências humanas restringindo-a ao mundo humano. Avida é uma conexão de ações
recíprocas entre as pessoas sob as condições do mundo exterior, ações apreendidas a partir da
independência dessa conexão em relação aos períodos e aos alternantes.Acompreensão pode
envolver o pensamento, a vontade e o sentimento, sendo assim, a vivência do mundo que
vivemos.
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Schleimacher (1999:16), olha para a compreensão como uma reconstrução histórica e divinatória
dos factores objectivos e subjectivos de um discurso falado ou escrito. A compreensão pressupõe
a mereologia ou círculo hermenêutico, na medida em que tomamos em consideração na arte da
compressão o contexto histórico, a dimensão psicológica, dimensão gramatical e mais outros
elementos que estão invicto na influência de um dado autor ao escrever a sua obra.Para Palmer,
(1969: 55-),…a compreensão é um acto histórico e que como tal está sempre relacionada com o
presente”. A compreensão ganha esse prisma de interioridade à vida do próprio homem, levando
em consideração a história a qual o mesmo viveu e não simplesmente os textos, pois o homem é
um ser histórico, e é nesse contexto que se vê a universalidade do mesmo.
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CAPÍTULO I: PRESSUPOSTOS DE AFIRMAÇÃO DA HERMENÊUTICA EM DILTHEY.
1. Positivismo científico
O conceito de positivismo científico pode ser encarado na sua oposição em relação a época
medieval, ao metafísico, onde se considerava escassa a centralidade das produções científicas,
pelo que até a própria designação “positivismo” é encarada em aversão ao que supostamente era
“negativo”, ou seja, a idade média.
O positivismo científico orienta-se essencialmente pela sua ligação com os métodos científicos, é
esta a razão da designação “positivismo científico”. Assim, embora o positivismo tenha,
1
Wilhelm Christian Ludwig Dilthey foi filósofo hermenêutico, historiador, psicólogo, sociólogo e pedagogo alemão
que nasceu no dia 19 de Novembro de 1833 em Wiesbaden, confederação alemã. Estudou teologia na Universidade
de Heidelberg e Filosofia na Universidade de Berlim.Lecionou filosofia na universidade de Berlim e em 1868
conquistou a cátedra de Filosofia, antes ocupada por Hegel. O filósofo procurou fundar as ciências do espírito
(ciências humanas) como forma de conhecimento em oposição às ciências da natureza, tendo sido considerado o
precursor do historicismo.Sobre influência de Schleiermacher, Dilthey dá primazia nas publicações póstumas das
obras de Schleiermacher, pelo que, em 1867 Dilthey havia publicado vida de Schleiermacher e, em 1883, apareceu o
primeiro volume de sua Introdução ao Estudo das ciências humanas. Publicou “Ideias sobre uma psicologia
descritiva e analítica” (1894) e “Os Tipos das Filosofias” (1911). Faleceu em Schlem, Itália, no dia 1 de outubro de
1911 aos 77anos de idade. A publicação póstuma de suas obras contribuiu para a implantação do estudo das ciências
humanas nas universidades da Suíça e da Alemanha.
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naturalmente, tendências científicas, o mesmo só ganha efectividade e consistência na sua
relação com os aspectos metodológicos, isto é, mensuração, experimentação e verificação “…
somente são reais os conhecimentos que repousam sobre factos observados” (COMTE, 1983: 5).
No esforço de interpretar o mundo, o positivismo estabeleceu uma base de orientação que
abordasse todos os problemas que se resumem no pensamento de Auguste Comte essencialmente
na explicação da lei dos três estados que são: teológico; metafisico e positivo. Este último estado
assume-se como nova posição diferente dos dois estados anteriores.
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apenas as ciências naturais encontram fundamento, que é essencialmente na lei da causalidade
ficando, a deriva as ciências humanas, que por falta de opção acabam por se designar o mesmo
método.
O positivismo tem, o seu método vinculado às ciências naturais, não encontrando bases para
sustentar a fiabilidade para as ciências humanas. Assim, o que se coloca em causa neste sentido é
o facto da garantia do positivismo sustentar as ciências naturais. Dilthey reitera que o
positivismo pode ser substituído ao perceber-se que na base da questão causal podem operar
factores como a contingência, liberdade da razão bem como a imprevisibilidade, daí que estes
aspectos não podem garantir a objectividade, facto que faz com que Dilthey destaque, em parte, a
psicologia como caminho para a resposta:
A psicologia "explicativa", que hoje tantos trabalhos e tanto interesse suscita, estabelece
um vínculo causal que pretende tornar concebíveistodos osfenómenos da vida psíquica.
Quer explicar a constituição do mundo anímico segundo as suas componentes, forças e
leis, tal como a física e a química explicam a constituição do mundo dos corpos.
(DILTHEY, 2008: 10).
2
A raiz última da mundividência é a vida. Espalhada pela Terra em incontáveis decursos vitais singulares, vivida de
novo em cada indivíduo e, visto que se subtrai à observação como simples instante do presente, retida no eco da
recordação, por outro lado, por seterobjectivadonassuasmanifestações,émaisplenamenteapreensível, segundo toda a
sua profundidade, na compreensão e na interpretaçãodoqueemtodaapercepçãoecaptaçãodaprópriavivência–
avidaencontra-sepresentenonossosaberemformasinumeráveis e, no entanto, mostra por toda a parte os mesmos
rasgos comuns.
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em modo de resposta a máxima empirista, o racionalismo declara “excepto a própria razão”.
Assim, o debate entre as duas correntes apresenta-se como um campo em que tencionava a
tomada de posição para qualquer interveniente.
Diante do debate sobre a origem do conhecimento, Kant assume uma posição não disjuntiva nem
conjuntiva, mas sim, busca unir as duas correntes empirista e racionalista. Isto ocorre no sentido
em que o mesmo não descarta o posicionamento empirista nem racionalista, contudo reconhece
igualmente os méritos das mesmas, facto que faz com que estabeleça aspectos que valorizem as
duas correntes numa relação simbiótica, considerando ainda que “…pensamentos sem conteúdos
são vazios, intuições sem conceitos são cegas” (KANT, 2001: 92). Assim, demonstra-se a
limitação das correntes na resposta ao problema da origem do conhecimento.
No pensamento de Kant, embora todo o nosso conhecimento tenha sua origem na experiência,
não significa que todo ele deriva dela. Há, portanto, um conhecimento muito independente da
experiência e das impressões dos sentidos que é diferente do empírico denominado a priori ou
(metafisico), e este tipo de conhecimento é totalmente puro. Segundo Kant (apud GILLES
DELEUZE, 2000:12), a definição do a priori é independente da experiência. Pode acontecer que
o mesmo se aplique à experiência e, em certos casos, não se aplique senão a ela; mas não deriva
dela. Este termo usa-se para demonstrar que alguns conhecimentos não derivam imediatamente
da experiência, mas de uma regra geral, que nos fornece tais conhecimentos através da mesma.
A crítica da razão pura apoia-se na capacidade intelectual da razão humana e se exprime nos
sistemas metafísicos, onde procura mostrar a relação abstracta entre o sujeito e o objecto. Assim,
Kant realizou uma revolução na teoria do conhecimento, que interessou Dilthey, por este ter
sustentado que a realidade se conforma às operações empíricas do espírito e que o universo está
sob comando de uma subjectividade transcendental. Kant influencia a hermenêutica de Dilthey
ao enfatizar a importância da subjectividade na interpretação e compreensão do mundo. Dilthey
usou essa ideia para desenvolver sua abordagem hermenêutica, que busca compreender as
experiências subjectivas dos indivíduos e sua relação com o mundo, em contraposição ao
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objectivismo das ciências naturais. A partir dessa perspectiva, Dilthey argumentou que a
compreensão do mundo humano exige uma interpretação baseada nas experiências individuais e
subjectivas.
Dilthey vai partir da “razão histórica” para tomar a fundamentação da vida como o ponto fulcral
de onde brota o conhecimento empírico, refutando assim a ideia kantiana do “a priori”. Dilthey
defende que, “…o sujeito ideal ou o homem em geral só está presente para nós sob condição de
possibilidades reais” (DILTHEY, 2010: 286). As possibilidades reais referidas por Dilthey são
os conhecimentos históricos do sujeito. Aqueles conhecimentos que não nos levam à abstracção.
O pensamento de Dilthey ganha destaque com a crítica da razão histórica em relação às
tendências positivistas e empiristas, de um lado, da filosofia transcendental, de outro, ao buscar
um fundamento universalmente válido e seguro da vida humana, reduzindo o homem a uma
mera capacidade cognitiva.
De modo geral, a tendência de compreender a vida humana partindo da história, não começa com
Dilthey, nota-se um resgate do conceito “historicismo” no pensamento hermenêutico de
Schleirmacher.
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3. Iluminismo
Os ensinamentos da Igreja Romana revelam-nos que na época medieval, a palavra de Deus era
concebida como sendo a única verdade epistemológica. É na época medieval onde encontramos a
distinção entre a lei natural que parte da razão e a lei divina que provém de Deus e fornece o
conhecimento “verdadeiro”. "A filosofia do iluminismo considera que desde começo dos
problemas da natureza e os da história formam uma unidade que é impossível desfazer
arbitrariamente a fim de tratar à parte cada uma das frações" (CASSIRER, 1992: 270). Desde a
época medieval, a razão sempre esteve ao serviço da lei divina, uma vez que Deus é concebido
como sendo a expressão da natureza. Por seu torno, para demonstrar a grandeza de Deus só foi
possível através da razão e, isto, ocorreu muito antes do surgimento do iluminismo. Neste
sentido, o iluminismo pode-se ser entendido nos seguintes termos:
Nessa compreensão, a razão é a presentada como uma disposição reflexiva em torno da natureza,
e ela “triunfou” sobre a fé e a experiência sobre a intuição. Com isto, distancia-se da explicação
metafísica para dar lugar a razão, e a produção do conhecimento passou a obedecer os métodos
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científicos acompanhado pela razão. “O iluminismo é ordinariamente considerado como um
acontecimento francês. Com os ingleses tendo aperfeiçoado muito desta revolução intelectual
através de sua revolução política, no século dezassete”,…(idem, p. 23). A visão iluminista tem a
pretensão de dar luz a mente as ideias dos indivíduos, mostrando que este é o ápice da
maturidade intelectual e racional do homem.
No século XVII, René Descartes concebeu um modelo de verdade incontestável, segundo a qual,
“…se se quer atingir uma certeza inteira é preciso nada admitir em nós que não seja
absolutamente certo […] é preciso levantar a dúvida em tudo o que não é certo de uma certeza
absoluta” (DESCARTES, 2002: 60). A dúvida consiste na suspensão do julgamento, dada
ausência de razões para afirmação ou negação. A dúvida é um momento provisório na busca da
certeza. A verdade poderia ser alcançada através de duas habilidades inerentes ao homem:
duvidar e reflectir. O iluminismo desde o seu surgimento foi conhecido como um movimento
que enaltecia a razão. O iluminismo influencia a hermenêutica de Dilthey ao enfatizar a
importância da razão, da investigação crítica e da interpretação objectiva dos textos históricos e
culturais. Porém, o pensamento de Diltheynão está de acordo com o pensamento dos iluministas
por estes demostrarem uma compreensão excessivamente intelectual da história, e se esquecerem
da experiência vivida pelo autor. Entretanto, a compreensão da vida realiza-se tendo em conta a
relação entre as vivências da própria pessoa.
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CAPÍTULO II: A INTERPRETAÇÃO DA VIDA NAS CIÊNCIAS DO ESPÍRITO
Neste capítulo interpreta-se a influência das ciências do espírito na compreensão da vida. Neste
sentido, a vida pode ser compreendida após uma distinção entre as ciências da natureza e
humanas, dando a entender que aquelas são próprias da explicação e estas compreendem a vida.
Na medida em que avança o pensamento de Dilthey, há um distanciamento da tarefa tradicional
da hermenêutica que centraliza a mesma na interpretação do texto, e passa a tomar uma nova
direcção para atender as questões humanas, passando a ser uma filosofia da vida. O pensamento
de Dilthey recebe uma grande influência do pensamento de Hegel, para rebater a crítica kantiana
da razão pura, com vista a propor uma razão histórica.
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mundo contém factos humanos e significados espirituais através da transferência de nossa vida
interior. As ciências naturais são uma área de saber que tem por característica o estudo de
fenómenos externos.
Sobre as ciências da natureza, Dilthey entende serem avaliadas por via de hipótese, não obstante
“… nas ciências da natureza, elaborou-se o conceito de hipótese num sentido mais determinado,
na base das condições que se dão no conhecimento natural […]. A hipótese é assim o recurso
necessário do conhecimento progressivo da ciência” (DILTHEY, 2002: 18). Do ponto de vista
epistemológico, as ciências da natureza, em Dilthey, afiguram-se como aquelas que adoptam um
objecto, método e objectivo totalmente diferente das ciências do espírito. Assim, as ciências da
natureza não devem ser unicamente um campo que permite a articulação no contexto da
epistemologia. É por está razão que se recorre as ciências da natureza para perceber o seu
possível enquadramento no campo da hermenêutica, isso em complementaridade com as ciências
do espírito.
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aspectos em relação aos dois tipos de ciência, faz-se necessário avançar neste empreendimento a
fim de perceber os seus desdobramentos, sobretudo desta última que é o cerne do debate em todo
o processo. A questão da explicação, por um lado, é da compreensão; e, por outro, é um modo de
conhecimento de ordem intuitiva e sintética, é por isso que
… a explicação era para as ciências. A abordagem dos fenómenos que unifica o interno e
o externo é a compressão. As ciências explicam a natureza os estudos humanísticos
compreendem as manifestações da vida. A compreensão consegue captar as entidades
indivíduas, mas a ciência tem sempre que encarrar o individual como um meio de chegar
ao geral, ao tipo (PALMER, 1969:112).
O significado da hermenêutica, pois ele é, entre outras coisas, um registo da busca feita
pelo seu autor no que respeita à compreensão de um termo imediatamente desconhecido
para a maior parte das pessoas cultas e ao mesmo tempo potencialmente significativo para
uma série de disciplinas relacionadas com a interpretação, especialmente com a
interpretação de textos (PALMEIRA, 1969:9).
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interpretação, desde a compreensão de textos até a interpretação das expressões humanas, deu
maior consistência a hermenêutica. Conforme afirma Ricoeur:
As ciências humanas seriam assim dependentes da habilidade dos pesquisadores para entender o
padrão estrutural da experiência e como consequência ver o comportamento humano do interior.
Portanto, pode-se notar uma nova perspectiva sobre a hermenêutica bem diferente daquela
tradicional, e passou a ser vista como uma filosofia da vida. Por isso que, “Dilthey tinha como
objectivo apresentar métodos para alcançar uma interpretação objectivamente válida das
expressões da vida interior” (PALMER, 1969: 105). Pode-se compreender que o principal
interesse de Dilthey seria o de apresentar métodos à própria hermenêutica, os quais pudessem
facilitar que se interprete um dado facto. Subentende-se que não se trata, apenas, de interpretar
textos ou ditas obras de um dado autor, mas de procurar chegar ao conjunto da vida psíquica, que
possa se transformar no modelo metodológico apropriado para as ciências humanas. Assim diz
Dilthey:
O fundo de que parte todo o pensar e agir humano é avida: inconcebível, inexplicável,
impérvia ao conceito ou pelo conceito, ela é essencialmente pluralidade de aspectos,
transição para opostos reais, luta de forças; é um processo de diversificação e de
diferenciação que se desdobra em experiências inéditas. É próprio da vida manifestar-se e
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objectivar-se em símbolos, suscitar mundos, pois todo o dentro busca expressão num fora
(DILTHEY, 1992: 3).
O nosso pensamento parte da experiência que obtemos da realidade que nos cerca. Por isso para
compreender não partimos de aspectos exteriores a realidade humana, mais sim, o contrário.
Porém, Dilthey quer evitar com que olhemos para a compreensão numa simples redução da
reflexão do mundo, pois, esta exige muito mas do que uma simples reflexão da vivência.
A expressão vida significa […], aquilo que para cada um é mais íntimo. O que é a vida
está dado na experiência. Nós a vivenciamos, e ainda assim ela é para nós um enigma.
Mas nós sabemos como ela se comporta e como se caracteriza. Ela está onde existe uma d
existe uma estrutura que vai do estímulo ao movimento. Esse progresso do estímulo ao
movimento está por toda parte ligado a um fenómeno orgânico. Nessa estrutura, que vai
do estímulo ao movimento, como que se encontra o segredo da vida. A unidade da vida
está sempre na conexão dessa estrutura (DILTHEY, 1982: 344).
Dilthey pode ser considerado um dos percursores da hermenêutica após os seus antecessores, na
medida em que, a sua abordagem constitui uma espécie de rebatimento de certos pontos
relacionados ao próprio homem, também uma espécie de crítica aos demais pensadores que
reduziam a hermenêutica a uma simples interpretação do textos.
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e de chegada das ciências humanas, de forma a estudar a própria vida através de suas expressões.
Para esse fim, Dilthey evita recorrer à metafísica para descrever o que se passa quando
compreendemos um fenómeno humano, uma vez que entendia que tal medida dificilmente
levaria ao alcance de resultados que pudessem ser considerados como universalmente válidos.
Daí a convicção diltheyana, aprendida de Hegel, de que só, pela história chegamos ao
conhecimento de nós mesmos. Aqui reside igualmente a base da sua hermenêutica:
interpretar é obter a compreensão do outro graças à revivência (Nacherlebnis) da
experiência alheia, isto é, através de uma transposição empática ou da captagem do
sentido das expressões corporificadas nas obras (DILTHEY, 2000: 11).
Na compreensão de Dilthey, compreende-se o homem mediante o que este tem sido ao longo do
tempo, participando no sentido por ele alcançado enquanto um todo. Quer dizer, alarga para as
futuras hermenêuticas passarem a basear-se na historicidade proposta por Dilthey. Daí, a razão
de se reconhecer o seu mérito no campo da hermenêutica, pelo facto de dado avanço a
historicidade e empenhou-se bastante para compreender a historicidade e via o homem animal
hermenêutico. O que o homem é, somente a sua história nos pode dizer.
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plausível, pois era estático, não se dinamizava a própria compreensão: não eram encarradas
como temporais e finitas, e o método histórico é capaz de reverter esta situação uma vez que não
se trata de compreender o homem de forma exterior a vida, mas sim de maneira interior a vida.
É o método histórico o núcleo de uma Hermenêutica, porque ela parte do «mundo vivido»
ou do reino da significação. A sua compreensão caracteriza-se, assim, pelo facto de já não
reduzir o fenómeno a leis gerais típicas, tal como acontece no modelo explicativo
(SILVA, 2015: 38).
Há, aqui, a necessidade de consciência histórica, visto que Dithey concebe a hermenêutica
enquanto um campo que está além da escrita, podendo abarcar toda manifestação de vida. O
historicismo enfatiza a importância do contexto histórico e cultural na compreensão da
experiência humana. Esta deve ser feita através da interpretação e compreensão de suas
manifestações históricas e culturais. A história é fundamental para a compreensão da experiência
humana, pois permite com que as pessoas entendam as mudanças sociais e culturais ao longo do
tempo. Não se pode falar de ‘compreender melhor’ em relação à compreensão no sentido
produtivo, pois compreender não é compreender melhor, nem de saber mais no sentido objectivo,
em virtude de conceitos mais claros e nem a superioridade básica consciente do inconsciente da
produção, mais sim, ter conhecimento histórico do indivíduo.
Compreender significa uma compreensão diferente sobre algo. Este conceito de compreensão de
Gadamer, rompe com o círculo hermenêutico traçado pela hermenêutica romântica.A dimensão
do problema hermenêutico foi desacreditada pela consciência histórica e pela versão psicológica
que Schleiermacher deu à hermenêutica, que pode ser recuperada quando se tornarem patentes as
aporias do historicismo e quando estas se conduzirem ao existencialismo de Heidegger. A
distância de tempo só pode ser pensada a partir da mudança do rumo ontológico, que Heidegger
deu a compreensão como existencial e a partir da interpretação temporal que aplicou o modo do
ser da presença. “Cada época tem de entender um texto transmitido de forma particular, pois o
texto forma parte do todo da tradição, na qual cada época tem um interesse pautado na coisa e
onde ela procura compreender-se a si mesma” (ibdem, p. 443). O verdadeiro sentido de um texto
está sempre determinado também pela sua situação histórica e por consequência por todo
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objectivo histórico. O sentido de um texto supera sempre o seu autor, por isso a compreensão não
é apenas um comportamento reprodutivo mas também é sempre produtivo.
Na perspectiva de Heidegger (apud PALMER, 1969: 140-145), a ontologia tem que se tornar
fenomenologia, ou seja, esta tem que se voltar para os processos de compreensão e de
interpretação pelos quais as coisas aparecem, descobrir o modo e a orientação da existência
humana, tornar visível a estrutura invisível do ser no mundo. Heidegger dá o impulso final e
define a essência da hermenêutica como o poder ontológico de compreender e interpretar, o
poder que torna possível a revelação do ser das coisas e, em última instância, das potencialidades
do próprio ser do ‘Dasein’. Assim, a hermenêutica ainda é a teoria da compreensão, mas a
compreensão é definida de um modo diferente (ontologicamente). Toda a compreensão é
temporal, intencional e histórica.
Todas as influências sofridas por Dilthey têm como consequência a adopção do conceito de
mundividência, o mesmo que é central em todo o seu pensamento para uma melhor interpretação
e compreensão da vida. A mundividência busca compreender a subjectividade e a vida interior
do indivíduo.
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CAPÍTULO III: A PROBLEMÁTICA DA HERMENÊUTICA DA MUNDIVIDÊNCIA
A filosofia não deve buscar no mundo, mas no homem, o nexo interno dos seus
conhecimentos. A vontade do homem hodierno pretende compreender a vida
vivida pelos homens. A diversidade dos sistemas empenhados em apreender o
vínculo cósmico encontra-se numa ligação patente com a vida; é uma das suas
mais importantes e instrutivas criações e, por isso, a formação da consciência
histórica que levou a cabo uma obra tão destruidora nos grandes sistemas ajudar-
nos-á a superar a escandalosa contradição entre a pretensão à validade universal
de cada sistema filosófico e a anarquia histórica de tais sistemas (DILTHEY,
1992: 9).
Para Dilthey a filosofia obtem os conhecimentos na própria vida do homem, visto que a vontade
do homem passa por compreender a vida vivida pelos homens.Daí, toda a mundividência tem a
sua raiz na própria vida. Essa vida vivida, em discursos singulares vitais de cada indivíduo,
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encontra-se patente no nosso conhecimento em formas inéditas. Ela mostra-nos por toda parte os
mesmos rasgos comuns. O modo como a experiência vivida se apresenta é completamente
distinto ao modo como as imagens se colocam face a mim.
Silva (2015: 42), afirma que, com Dilthey, compreende-se o homem mediante o que este tem
sido ao longo do tempo, participando do sentido por ele alcançado, podendo, assim, a
hermenêutica responder à necessidade sentida pela história que alarga o campo de compreensão
tradicional. Quer dizer, abre espaço para as futuras hermenêuticas passarem a basear-se na
historicidade. É por essa razão que Dilthey é considerado pensador da existência, pelo facto de
ter tomado a historicidade como parte preponderante como elemento essencial na compreensão
da vida.
Pode-se referir que a vida humana é complexa e possui mais aspectos do que os fenómenos da
natureza, uma vez que todas as experiências humanas e actividades são atravessadas por
escolhas, preferências, valores, julgamentos. Diante disso, as ciências humanas podem, também,
constituir um corpo de disciplinas mais variado e mais dividido, o qual nenhum método ou
princípio pode governar. As ciências humanas seriam, assim, dependentes da habilidade dos
pesquisadores para entender o padrão estrutural da experiência e como consequência ver o
comportamento humano do interior.
Sendo que a vida é o conjunto das experiências de cada indivíduo, Dilthey (apud PALMER,
1969: 115) sustenta que a experiência tem fundamentado todos os esforços seguintes que
afirmam a historicidade da existência humana no mundo. Esta historicidade não é o acúmulo de
passados, mas sim, uma mentalidade tradicional que nos subordina a ideias mortais. A
experiência é intrinsecamente temporal, por isso, é dada em categorias de pensamento temporais.
Isso quer dizer que só compreendemos o presente apenas no horizonte do passado e do futuro.
Com o passar do tempo, como mostra Dilthey (op. cit, p. 13), a estranheza da vida humana
aumenta a medida que o homem experimenta, na sociedade e na natureza, a luta permanente, a
aniquilação constante de criatura por outra, e a crueldade que impera na natureza. Com a
repetição e ligação destas experiências de vida surgem novas disposições acerca da vida. Palmer
(1969: 124) entende as mundividências como sendo aquilo que a compreensão capta na
interacção essencial recíproca de todo e das partes. O todo recebe a sua definição das partes e
reciprocamente as partes só podem ser compreendidas na sua referência ao todo. As
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mundividências são as maneiras ou modalidades de lidar com as contradições da vida. É uma
forma de ver, perceber e conceber o mundo que influencia a vida espiritual do ser humano.
Todas as mundividências apresentam uma estrutura ou regra geral que é a conexão sobre uma
concepção referencial do mundo, pela qual se decidem as questões acerca do significado e do
sentido da vida. As mundividências tornam-se configuradoras, reformadoras e ainda, podem
fomentar a compreensão da vida e induzem a objectos vitais e preciosos, conservando-se e
suplantando se mutuamente. Diante disso, as mundividências desenvolvem-se em condições
diferentes, justifica assim a multiplicidade das concepções do mundo. As mundividências não
são produto do pensamento, mas, brotam da conduta vital, da experiência da vida e da estrutura
da nossa totalidade psíquica.
… dizer algo estamos fazendo algo, ou mesmo os casos em que por dizer algo
fazemos algo. E começamos distinguindo todo um grupo de sentidos de "fazer
algo" que dizer algo é, em sentido normal e completo, fazer algo - o que inclui o
proferir certos ruídos, certas palavras em determinada construção, e com um certo
"significado" no sentido filosófico favorito da palavra, isto é, com um sentido e
uma referência determinados (AUSTIN, 1990:85).
A fala está estreitamente ligada com fazer alguma coisa, por esta ser a primeira dimensão antes
de qualquer acto prático. A linguagem pode ser o meio pelo qual chegaremos ao sentido
filosófico da palavra.Com o desenvolvimento da teoria hermenêutica moderna deu-se um
acontecimento decisivo, com a publicação da obra ‘Verdade e Método: elementos de uma
hermenêutica Filosófica’.
Hans Georg Gadamer, num único volume apresenta não só uma revisão crítica da estética
moderna e da teoria da compreensão histórica. Assim cria uma perspectiva essencialmente
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Heideggeriana, como também uma nova hermenêutica filosófica baseada na ontologia da
linguagem, exprime de um modo totalmente sistemático, a nova concepção radical de Heidegger
relativamente á compreensão. A regra hermenêutica, segundo a qual tem de se compreender o
todo a partir da parte e, vice-versa, procede da retórica antiga, a que a hermenêutica moderna
transferiu da arte de falar para a arte de compreender.
Para Schleiermacher (1999: 46-47), o princípio hermenêutico diz que o todo é seguramente
compreendido a partir do particular; outrora, o particular apenas pode ser compreendido pelo
todo. Distingue nesse círculo hermenêutico, do todo e da parte, um aspecto objectivo (dimensão
gramatical) e subjectivo (dimensão tecno-psicológica). Tal como cada palavra forma parte do
nexo da frase, cada texto forma parte do nexo da obra de um autor, e esta forma parte do
conjunto correspondente do género literário e de toda a literatura. Mas, o mesmo texto pertence
como manifestação de um momento criador, ao todo da vida da alma de seu autor. A
compreensão se realiza, a cada caso a partir desse todo, de natureza tanto objectiva como
subjectiva.
Nestas duas regras pode-se reter duas ideias muito importantes. A primeira, de que para uma
compreensão nítida do autor deve-se ter o domínio da língua na qual o mesmo usou ao escreveu
a sua obra, a segunda, parte do entendimento de que para compreendermos uma palavra devemos
recorrer ao seu contexto na qual foi proferida. Pode-se notar há necessidade de ter atenção ao
contexto histórico no qual o texto foi escrito, isto é, o leitor deve saber o que motivou o autor a
escrever a sua obra, aqui está implícito a noção de vivência do autor. A interpretação gramatical
preocupa-se em compreender a linguagem do autor, isto é, entender como o autor pretendia se
comunicar, como ele empregou a língua, de que modo ele cria algo novo na linguagem utilizada.
É através da linguagem que nos expressamos e relacionamos, revelando nossa essência como
seres humanos.
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Para Dilthey (2000: 35), a dimensão gramatical refere-se à importância da linguagem na
compreensão e interpretação dos fenómenos humanos. A linguagem textual é o objecto a ser
interpretado, e através dela compreendemos o autor, e a partir da linguagem alcançamos uma
compreensão mais aproximada do texto, ou seja, do que o autor intencionou dizer ao escrever a
sua obra. Quando tencionamos compreender o autor por via da dimensão gramatical, exercemos
o uso da própria linguagem, ocorrendo isso na medida em que a linguagem vive no homem. Para
Schleirmacher (apud Grondin, 133), O objectivo último da interpretação era de penetrar, por
detrás do discurso, até o pensamento interior. Faticamente acontece, em geral, que a estrutura
meramente linguística ou gramatical de uma passagem não seja problemática.
A linguagem é fundamental na vida do ser humano. Ela não se limita apenas às palavras que são
faladas, mas também inclui a linguagem corporal, a escrita a até mesmo o silêncio. Através da
linguagem, comunicamo-nos e conectamo-nos com o mundo ao nosso redor.
Considera-se, […], que a fala é uma atividade humana. Nesse sentido, devemos dizer que
o homem fala, e que ele sempre fala uma língua. Então não podemos dizer: a linguagem
fala. Pois isso significaria que é a linguagem que propicia e concede o homem. Assim
pensado, o homem seria uma promessa da linguagem. Considera-se, por fim, que a
expressão do homem é uma representação e apresentação do real e do irreal
(HEIDEGGER, 2003: 10).
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3. Experiência da vida e sua historicidade
Para compreender a vida no pensamento de Dilthey pode-se recorrer ao conhecimento empírico.
Por empirismo entende-se a posição segundo a qual, a experiência é a única fonte que garante a
aquisição do conhecimento e estes podem ser adquiridos através das nossas vivências, uma vez
que a vida pode significar o conjunto das experiências de cada indivíduo. O conhecimento
empírico tem fundamentado todos os esforços que afirmam a historicidade da existência humana
no mundo. Esta historicidade não é o acúmulo de passados mas sim é uma mentalidade
tradicional que nos subordina a ideias mortais.
Com a repetição e ligação destas experiências de vida surgem novas disposições acerca da vida.
Quando reflectimos sobre nossas experiências e afecções passadas, nosso pensamento atua como
um espelho fiel e copia corretamente os objetos, mas as cores que emprega são pálidas e sem
brilho em comparação com as que revestiram nossas percepções originais (HUME, 2004: 34). A
ideia deve ser entendida enquanto tudo aquilo que é objecto do conhecimento, e essas ideias
provem da experiência. O pensamento tem a capacidade de reproduzir as imagens, os objectos e
as cores que a vida lhe oferece, embora, não traga um verdadeiro brilho das imagens originais.
A experiência pode-se dar no mundo interno e no externo. Por este se compreende sua
consciência sobre a natureza material, e por aquele, sua compreensão sobre seus próprios estados
de consciência: o pensar, o sentir, o avaliar e o desejar. Visto se constituírem em dois objetos
distintos, haveria o historiador de se utilizar de dois métodos diferentes quando sua busca se
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voltasse para um ou outro. Assim, ele poderia explicar o mundo externo através das ciências da
natureza ou das ciências físico-matemáticas.
Todo o nosso conhecimento está nele fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio
conhecimento. Empregada tanto nos objectos sensíveis externos como nas opções internas
de nossas mentes, que são por nós mesmos percebidas e refletidas, nossa observação
supre nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes
do conhecimento jorram todas as nossas ideias, ou as que possivelmente teremos (idem,
57).
Na busca pelo conhecimento do reino interno e suas dimensões culturais, o método apropriado
seria a compreensão através das ciências do espírito, como história, linguística, economia, ética,
etc. O problema é que não é possível ao historiador observar o tempo pretérito como ele
realmente ocorreu, uma vez que o passado histórico é composto de um número infinito de
eventos, os quais já não existem mais. No entanto, é tarefa de qualquer método de análise
histórica providenciar material objetivo que propicie seu julgamento, sob pena de condenar-se o
conhecimento histórico a não existência. Para Dilthey, tal material encontra-se no lado interno ou
consciente dos eventos materiais já não mais existentes, visto que a experiência interior está em
contacto imediato com a realidade detendo, potencialmente, por isto, a característica básica da
validade universal.
Embora, Dilthey fala de estruturas e da concentração num ponto central, a partir do qual se
produz a compreensão do todo. Com isso transporta-se o mundo histórico, que desde sempre foi
um fundamento de toda a interpretação textual: afirmando-se que cada texto deve ser
compreendido a partir de si mesmo. Isto faz com que a historicidade humana se revele como uma
propriedade fundamental da consciência do ser humano. Porém, não sedeve descartar-se a
influência das sociedades e culturais na formação da experiência humana, considerar igualmente
os conflitos e contradições presentes das mesmas.
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hermenêutico devido estas multiplicidades de compreender a vida. Entretanto, Braida alertam
que: Há diferentes campos de conhecimento nos quais a questão do sentido e da diversidade de
interpretações tem aplicação: […] interpretação e a compreensão de textos, a compreensão de
ações, eventos, símbolos e monumentos históricos (BRAIDA, 2021:3-4). Do exposto acima,
nota-se que a hermenêutica está presente em diferentes concepções de interpretação. Ela
caracteriza-se por ser uma prática reflexiva e intersubjetiva, pois, diz respeito ao modo como um
sujeito compreende-se a si mesmo e ao mundo ao seu redor por intermédio das expressões que
este recebe ao longo da sua vida.
Na concepção religiosa por exemplo, pode-se notar um elo forte do homem com a igreja, pois,
mediante a posse do conhecimento combina ideias religiosas para formar doutrinas acerca da
origem do mundo e da providência da alma. Esta mundividência religiosa tem na sua essência a
ideia de brotar uma relação entre o invisível a interpretação da realidade, a valorização da vida e
o ideal prático. Segundo Dilthey (1992: 21-24), a concepção religiosa é aquela que tem uma
ligação vital do homem com a religião, pois parte da crença do homem em uma religião não
alcançável e não acessível pelo conhecimento, mas que pode dar ao homem a sorte ou uma
motivação, pelo impulso de forças superiores e dai, decide ter uma relação sadia com elas ou
unindo-se a elas. Dilthey chama atenção ao facto de que as concepções do mundo estarem
contidos num cerne obscuro especificamente religioso, que o trabalho conceptual dos teólogos
nunca pode elucidar e fundamentar e tem significado através da fé. A partir desta e preparação
para a metafísica.
Ricoeur distancia-se de temas religiosos para poder estudar a vontade humana de forma
imparcial, sem preconceitos em relação à falibilidade empírica da vontade, suspendendo
julgamento sobre dogmas como o pecado original e as relações do homem com Deus. Na sua
obra, o conflito da interpretação Ricoeur vai falar da linguagem simbólica, na qual vai afirmar
que “…o símbolo dá que pensar, faz apelo a uma interpretação, precisamente porque ele diz mais
do que não diz e porque nunca acabou de dar a dizer” (ibdem,29). Com isto pode-se notar que, o
símbolo nunca esgota o seu significado, várias interpretações se pode tirar a partir dele. Isto é,
tudo já está dito em enigma e, a interpretação começa no pensamento.
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O significado do símbolo ultrapassa o lado imaginário, a história mitológica, cultural e individual
de um sujeito devido a sua abertura ao significado. Devemos nos propomos sempre em esquecer
a linguagem do símbolo, para que possamos abrir um espaço para restaurar o verdadeiro
significado do símbolo.
Para Dilthey (idem, 25-28), a concepção artística em si não tem nada de mundividência, mas sim
a relação complexão vital do artista com sua obra e ainda a relação da obra com a concepção do
mundo. Esta dimensão não pretende conhecer o mundo, mas sim, deixar ver o significado dos
fenómenos, dos homens, das coisas que residem nas referências vitais. Nesta cosmovisão,
olhamos a vida como sendo um tecido de ilusões, de paixões, de beleza e perdição, criado pela
própria natureza sem qualquer desígnio por impulso obscuro e em vontade confirma-se a sua
vitória. A expressão pela poesia por exemplo, leva uma intuição da vida que consiste em
compreender a vida partir da mesma e deixando suas impressões actuando na plena liberdade. A
arte mostra as possibilidades ilimitadas de ver, de valorizar e criativamente configurar a vida.
Esta cosmovisão prepara o campo para a emergência da filosofia, ou proporciona a sua
influência a toda a sociedade.
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conhecimento humano. Dilthey (1992: 20) afirma que assim como a concepção religiosa, a
filosofia busca a firmeza, forca actuante, dominação, validade universal. Esta mundividência
filosofia foi, de início determinada pela sua conexão com a ciência. Estas ciências emergentes
ingressaram na mais estreita relação com a filosofia. Com isso, a metafísica torna-se sistema
graças a elaboração de representações e conceitos deficientes que se tinham formado na vida e na
ciência. Este sistema filosófico chamado metafísico está condicionado pelo lugar que ocupa na
história da filosofia, dependendo da situação dos problemas e é determinado pelos conceitos que
dele emergem.
Para a perspectiva naturalista, o homem encontra-se na natureza, pois ela governa e determina o
seu sentimento vital. Esta natureza é a base originária de todo o conhecimento. A partir das
experiências quotidianas se ensinam ao homem a estabelecer as uniformidades. Na perspectiva
idealista objectivo, vê Deus como sendo apenas uma vontade, que o exige em virtude da sua
liberdade. Aqui o homem pensa na existência de uma força imanente que opera nas coisas.
Portanto, o idealismo liberal concebe o homem como sendo um ser responsável e livre, com
liberdade de fazer suas escolhas, o que lhe convém melhor. Não há nenhuma intervenção de
forcas superiores a não ser a obediência a voz da consciência que proclamara Sócrates.
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CONCLUSÃO
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sim manifestar a incompletude do indivíduo para a construção de uma verdade que se pretende
universalizar.
Com esta pesquisa pode-se dar por alcançados os objectivos na medida em que, procura
responder o sentido da vida do próprio homem, não enquanto um dado singular, mas sim,
enquanto um conjunto de factos históricos nos quais o homem está inserido. Dilthey fala da vida
no seu sentido real e prático, onde se abarca o homem na sua dimensão espacial e temporal.
Embora a hermenêutica tenha herdado uma dimensão mais humanística, pode-se levantar
algumas críticas no seu pensamento como, a falta de clareza conceitual. Dilthey fala de termos
como compreensão e interpretação sem no entanto os definir; enfatiza a subjectividade e a
interioridade do indivíduo, não toma em consideração o papel das estruturas sociais e culturais
na formação da experiência humana; falta de rigor metodológico que fosse suficiente para
realizar suas análises, o que torna difícil avaliar suas conclusões; idealiza os processos culturais e
históricos, não toma em consideração os conflitos e contradições presentes na experiência
humana.
A hermenêutica constitui-se como uma área que procura sempre recorrer ao aspecto subjectivo e
objectivo no acto da interpretação, na medida em que em tudo o que se propõe interpretar sempre
tem que se submeter a subjectividade, facto que é difícil isolar este aspecto no processo de
interpretação. Embora, o pensamento de Dilthey possa ser satisfatório por este restringir toda
compressão a vivência do mundo, a mesma não pode se dar por acabada, por ser um processo
dinâmico. O entendimento sobre a vida pode envolver várias esferas da vida como: social,
cultural, política, económica, até mesmo religiosa.
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