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WBA0998_V1.

PROCESSOS DE TRABALHO DO
SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO
BÁSICA
2

Wéllia Pimentel Santos

PROCESSOS DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL


NA EDUCAÇÃO BÁSICA
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2022
3

© 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo
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Editorial
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________
Santos, Wellia Pimentel
Processos de trabalho do serviço social na educação
S237p
básica / Wellia Pimentel Santos. – São Paulo: Platos Soluções
Educacionais S.A., 2022.
33 p.

ISBN 978-65-5356-104-5

1. Questão social. 2. Espaços educacionais.


3. Demandas escolares. I. Título.
CDD 370.1
_____________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB 010289/O

2022
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
4

PROCESSOS DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL NA


EDUCAÇÃO BÁSICA

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina ___________________________________ 05

Os espaços ocupacionais no segmento educacional__________ 07

O trabalho intersetorial na política de educação e as equipes


multidiprofissionais __________________________________________ 21

A interpretação da questão social no cotidiano escolar_______ 34

As demandas escolares ao Serviço Social_____________________ 47


5

Apresentação da disciplina

Caro (a) aluno (a):

Pensar os processos de trabalho do Serviço Social na educação básica


pressupõe reconhecer que, hoje, no contexto da educação, muito se fala
de uma equipe multidisciplinar na escola, ou seja, da importância de
escolas com essas equipes que podem ser formadas por profissionais
diversos, entre eles, os assistentes sociais.

No primeiro tema, apresentaremos o papel do assistente social na


educação, compreendendo os espaços ocupacionais deste profissional
no segmento educacional, mais especificamente na educação básica.
Para tanto, aproximações e fundamentos teórico-metodológicos da
profissão, bem como identificar as demandas da política educacional
para o atendimento psicossocial na escola.

Em seguida, trataremos das questões mais específicas voltadas à


importância do trabalho interdisciplinar na educação e sua relação com
o Serviço Social. Veremos o engajamento desses profissionais no âmbito
educacional e a importância da equipe interdisciplinar nas escolas
brasileiras.

Em seguida, veremos sobre os processos de trabalho do assistente


social na educação básica a partir da interpretação da questão social no
cotidiano escolar. Para tanto, refletiremos sobre o conceito de questão
social, como surge no cenário brasileiro, como se expressa a questão
social nos ambientes escolares e como se dá a intervenção nestas
instituições de ensino.
6

Por fim, refletiremos sobre as demandas escolares dos assistentes


sociais, o que pressupõe reconhecer que estes profissionais atuam
em instituições de ensino que podem ser públicas e também no
setor privado. A partir daí, compreendemos a educação como uma
necessidade social que ocorre em toda a sociedade humana, e que pode
ser caracterizada como uma atividade cujo papel é o desenvolvimento
dos indivíduos, potencializando suas capacidades e sua interação social.
7

Os espaços ocupacionais no
segmento educacional
Autoria: Wéllia Pimentel Santos
Leitura crítica: Flaviana Mello

Objetivos
• Compreender acerca da importância do papel do
assistente social na educação.

• Refletir os espaços sócio-ocupacionais do assistente


social na educação.

• Reconhecer a importância do assistente social na


educação básica.
8

1. Introdução

Neste material, refletiremos sobre o papel do assistente social na


educação, compreendendo os espaços ocupacionais deste profissional
no segmento educacional, mais especificamente na educação básica.
Para tanto, será traçada uma breve linha do tempo de forma a pensar
estes espaços para que, assim, seja possível compreender a atuação do
(a) assistente social na área educacional na atualidade.

Traremos aproximações e fundamentos teórico-metodológicos, bem


como identificaremos as demandas da política educacional para o
atendimento psicossocial escolar. Por conseguinte, serão traçadas
reflexões sobre a inserção do assistente social na educação básica.

1.1 O papel do assistente social na educação

Para que seja possível pensar um pouco sobre o papel do assistente


social na política de educação, é necessário pensarmos no modelo
tradicional de educação, sendo possível, neste sentido, falar tanto da
educação básica, da educação superior e de uma educação técnica.

Quando falamos em educação, estamos falando de uma dimensão da


vida social. O próprio documento elaborado pelo Conselho Federal
de Serviço Social, Os subsídios para atuação de Assistentes Sociais na
Educação, deixou claro que nossa compreensão de educação se
relaciona com a política, mas não se esgota no âmbito da política
educacional.

A educação surge como um complexo da vida social, tão logo o


ser humano se constitua enquanto ser social. É é ontológica e
historicamente vinculada à atividade do trabalho. Essa atividade é o
que nos diferencia dos demais seres naturais, e a compreensão dessa
categoria trabalho está ancorada, sobretudo, na contribuição do Marx,
9

que define o trabalho como uma atividade que o ser humano produz
para sua subsistência e para o desenvolvimento do homem enquanto
ser social (MOTTA; PEREIRA, 2017).

Então, na medida em que o homem se diferencia dos outros seres, se


relacionando com a natureza e com os outros homens a partir de uma
intencionalidade voltada para promover o intercâmbio com a natureza,
com a satisfação de suas necessidades de sobrevivência, esse processo
já traz em si elementos fundamentais para compreender como que
educação se constituiu enquanto o complexo da vida social.

Nesse sentido, o conhecimento da realidade, o conhecimento dos


materiais, dos instrumentos de trabalho, da dinâmica das leis da
natureza, mas também no próprio conhecimento de si mesmo, já
que o homem não é o mesmo no início e no final de um processo de
trabalho. Esse conhecimento se tornou um componente fundamental da
sociabilidade, na medida em que a forma como se constrói um martelo,
por exemplo, ou mesmo como se pensa o exercício de uma atividade
profissional precisa ser partilhada no sentido de promover uma
continuidade da nossa própria forma de existir, de viver.

Então, é muito difícil pensarmos a educação desvinculada dessa


atividade fundante do ser social que é o trabalho, muito embora o
processo histórico, as diferentes formações societárias tenham trazido
possibilidades de afastamento dessa relação. Se nós pensarmos as
primitivas, o próprio processo educativo, ou seja, a transmissão de
conhecimentos intergeracionalmente se dava no próprio espaço de
trabalho, no plantio, na colheita, dentro do próprio grupo familiar
(MOTTA; PEREIRA, 2017).

Esse processo de separação vai sendo progressivamente construído


a partir da maior complexidade que as sociedades vão assumindo
do ponto de vista da organização da esfera da produção, e também
da esfera da reprodução social. Então, os textos clássicos do Marx, e
10

do professor Saviani, aqui no Brasil, o professor Gaudêncio Frigotto e


tantos outros intelectuais importantes, sempre abordam a constituição
da educação como uma dimensão da vida social na sua relação com
o trabalho. Se trata de uma relação que tem um sentido ontológico e
também histórico. (MOTTA; PEREIRA, 2017).

Mesmo nos dias de hoje, quase todos os documentos oficiais, os


debates sobre educação, fazem referência à questão do trabalho, só que
o outro tipo de trabalho, não necessariamente aquele que nos constituiu
enquanto ser social, mas estamos falamos do trabalho na sociedade
concreta, uma sociedade com a prevalência do que chamamos de
trabalho abstrato, aquele trabalho voltado para a valorização do capital.

Então, ainda que aquela primeira dimensão não seja eliminada, nem
superada, hoje, se encontra de alguma forma subordinada a uma
lógica diferente, própria da sociedade portuguesa da qual a educação e
trabalho se articulam no sentido de que a transmissão de conhecimento,
de valores, a preparação para a vida, o reconhecimento e a experiência
da cidadania se deem como uma condição de reprodução da própria
lógica que movimenta a sociedade, que é a exploração do trabalho para
obtenção de um mais valor, para acumulação de um valor socialmente
produzido, mas que é apropriado de forma privada de forma
concentrada cada vez mais.

Nesse sentido, a relação entre educação e política educacional precisa


ser pensada em função das condições societárias, da dinâmica da luta
de classes que possibilitou uma experiência que é própria da sociedade
burguesa, que é de organização da educação na forma escolar, de
organizar uma educação a partir de pressupostos advindos de uma
função de controle social do Estado na sociedade capitalista (MOTTA;
PEREIRA, 2017).

Então, quando pensamos a escola na sociedade burguesa, estamos


nos referindo a uma experiência de institucionalização na qual cabe ao
11

Estado esta responsabilização, ainda que não necessariamente suas


instituições em sua dimensão pública, já que a política de educação é
operacionalizada tanto por estabelecimentos públicos quanto privados,
não só no Brasil como na maior parte dos países.

Assim, embora o Brasil tenha uma particularidade, essa relação entre


a política de educação e a educação como dimensão da vida social,
merece especial atenção por parte dos assistentes sociais na medida
em que temos uma trajetória também de atuação junto a experiência
de formação humana fora do espaço institucionalizado da educação
escolarizada.

Os subsídios de atuação do assistente social na política de educação


foram elaborados pelo Conselho Federal de Serviço Social, trata de um
tipo de educação emancipadora.

Freire (2001) já dizia que existe um tipo de educação que é a educação


bancária. Este é um modelo de educação que não privilegia o diálogo,
que não privilegia a troca de experiências. Então, ele fazia uma crítica
ao método, ao modelo de educação bancária que o modelo tradicional
de educação atual, que é aquela educação que apenas transmite o
conhecimento e que é inquestionável.

As críticas de Freire (2001) tratam de uma educação que é


emancipadora, que é uma educação em que o indivíduo se desenvolve
com outros seres, e ali há um despertar da consciência, que é
diferente da educação bancária, aquela educação que só transmite
o conhecimento, mas não tem possibilidade de refletir sobre aquele
conhecimento.

Nesse sentido, o Serviço Social tem uma linha que vai ao encontro do
que o Freire (2001) defendia, pois este pensamento se volta à questão
da emancipação do ser, do desenvolvimento da consciência, de uma
educação que seja transformadora, libertadora, e não de uma educação
12

que vem trazer padrões rígidos e que venha a dizer por um lado que
preza por um tipo de inteligência ou não.

O projeto ético-político do Serviço Social tem uma inclinação forte para


a educação de Freire (2001). Não é à toa que muitos dos assistentes
sociais utilizam a educação popular com uma de suas metodologias de
trabalho, para a utilização desses instrumentos técnico-operativos, seja
pelos próprios grupos de conversa, pelas rodas, até a própria forma
de como fazer uma entrevista. Logo, é possível se embasar muito nas
fontes de Freire (2001) para que o profissional possa convergir rumo à
prática de uma educação libertadora.

1.2 Espaços sócio-ocupacionais do assistente social na


educação

Pensar os espaços ocupacionais no segmento educacional, perpassa


por compreender que alguns destes espaços já estão consolidados,
tais como os institutos federais, as universidades públicas brasileiras,
ainda, escolas privadas, espaços estes onde o papel de assistente social
é voltado a garantir o suporte para permanência deste aluno nestas
instituções por meio da assistência estudantil, portanto, cabe a este
profissional atuar com fins de analise socioeconômica para concessão
de bolsas de estudos, dar suporte necessário aos demais atores da
escola, entre outros.

Nesse sentido, refletir esses espaços sócio-ocupacionais, no que tange


à educação, pressupõe reconhecer que este é um debate que está em
construção.

Para isso, existe uma linha do tempo que nos leva a pensar como se
chegou, hoje, nessa discussão para falar da atuação do assistente social
na educação.
13

Em 1906, temos os primeiros relatos históricos de atuação do assistente


social na educação nos Estados Unidos da América. No Brasil, veremos
isso no ano de 1946, especificamente nos estados do Rio Grande do
Sul e em Pernambuco, quando assistentes sociais foram chamados
para trabalhar com as famílias e os estudantes que estão inseridos na
educação. Um ponto a ser destacado é que, neste momento, essa ainda
era uma perspectiva de ajustamento do indivíduo. Os assistentes sociais
eram chamados para ajustar os chamados alunos-problema (AMARO,
2017).

Uma perspectiva sem qualquer criticidade, de cunho conservador, e o


Serviço Social: é neste espaço que surge essa atuação do Serviço Social
na educação. Isso perpassa pelas décadas de 1950 a 1970, quando
vemos uma reformulação da própria categoria da profissão, que, com
o movimento da reconceituação da profissão, teve essa perspectiva de
ajustamento e de conservadorismo abandonada e, agora, a categoria
busca uma perspectiva diferente, onde não se paute mais por uma
atuação voltada para o ajustamento, mas na promoção do sujeito e de
suas famílias.

Já no ano de 1996, foi criada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação,


que traz uma diferenciação em relação às demais porque está numa
perspectiva pós-Constituição de 1988, onde a educação se torna um
direito de todos, onde deve ser considerado todos os aspectos que
levem a uma educação cada vez mais inclusiva (AMARO, 2017).

Então, este é um momento importante, inclusive para o Serviço


Social, já inserido em algumas escolas, nas universidades, nas escolas
agrotécnicas, e também nas escolas técnicas onde já se tem uma
perspectiva diferente daquela que já foi abordada no ano de 1946.

A partir do ano 2000, tem-se o primeiro projeto de lei que busca inserir
assistentes sociais na política de educação e, agora, especificamente na
rede pública de educação. Cabendo ressaltar que a lei que se tem na
14

atualidade, de 2019, tem início, no ano 2000, com o primeiro projeto


de lei que começa a falar sobre essa inserção do assistente social na
educação.

Em 2007, tem-se um importante marco também que corrobora para


o fortalecimento deste espaço, que é a criação do Programa de Apoio
a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
(Reuni), onde há uma expansão universitária em todo o país e, com isso,
também o número de estudantes que precisariam ser atendidos por
estas universidades por meio das políticas estudantis e outras ações
necessárias para permanência, que também fortalece esse lugar do
Serviço Social na educação.

Em 2008, é a vez dos institutos federais, onde há uma ampliação grande


dessas escolas em todo o Brasil e também uma absorção grande do
Serviço Social para atuar na educação e, a partir daí, o Serviço Social na
educação ganha um pouco mais de força.

Em 2019, tem-se um grande marco, que é a promulgação da Lei n.


13.935, que trata da inserção do assistente social e do psicólogo nas
redes públicas de educação e, a partir daí, os profissionais da área vêm
fazendo esse debate.

Então, a partir dessa linha do tempo traçada, é possível dizer que o


Serviço Social na educação é algo novo e que esta não é uma discussão
tão recente, já vem acontecendo desde o início do século, obviamente
mudando as perspectivas, mas que, no cenário atual, foi fruto de um
amadurecimento dessas reflexões sobre a atuação deste profissional
que, até 1946, se encontrava em uma perspectiva de ajustamento do
indivíduo, e somente pós-Constituição de 1988 e o próprio movimento
de reconceituação da profissão, vem nessa perspectiva de emancipação
e promoção dos sujeitos.
15

1.3 Serviço Social na educação básica

Sobre a atuação do Serviço social na educação básica, cabe,


primeiramente, assinalar que tudo que o assistente social faz deve ser
no sentido de levar os usuários à transformação social.

Entre as demandas para atuação do assistente social neste campo


de atuação, é possível citar a evasão escolar, a convivência familiar e
comunitária, a promoção dos encontros familiares com a presença do
professor, porque é sabido que a questão social daquela família, o que
vem de conflitos familiares, tem a questão também de demandas de
aprendizagem, a inclusão social.
Nesse sentido, esses profissionais atuam com esses objetivos, além de
também serem realizadas as visitas domiciliares (AMARO, 2017).

Por meio da visita domicilar, o profissional tem um espaço onde é


possível colher muitas informações acerca da realidade do usuário, da
realidade daquela família, e, nesse sentido, não é possível ver apenas
o aluno sem envolver, além da escola, a família dele. Dessa forma, é
essencial envolver a família do aluno nesta intervenção social e, muitas
vezes, o profissional pode se deparar com conflitos sócio-familiares
e, nesse sentido, cabe a ele perceber qual a questão social que está
impactando no desempenho escolar daquela criança.
16

Figura 1 – Aluna escrevendo em sala de aula

Fonte: stockdevil/ iStock.com.

É por meio também da visita domiciliar que os assistentes sociais


conseguem entender como essa realidade é possível de ser vivida,
bem como entender mais sobre os espaços coletivos. Nesse sentido,
o ambiente familiar deve ser compreendido como um contexto onde
os relacionamentos familiares vão se desdobrar. É por meio das visitas
domiciliares que os assistentes sociais identificarão os riscos que
possam trazer algum tipo de violação de direitos para aquela criança.
Conforme estabelece Amaro (2017):

A atuação do assistente social é marcante. Parte-se á construção


esclarecimento (a partir da realização de contatos com a família e
suas redes de relações para compor o estudo social da situação) e a
identificação de forma de agir diante de cada caso, orientando os agentes
da escola (professores, gestores) e, quando necessário a família. (AMARO,
2017, p. 47)
17

É também neste momento que será possível vislumbrar a questão social


daquela criança, daquela família, bem como perceber se o ambiente
daquela criança está propiciando uma inclusão ou uma exclusão. Tudo
isso, os assistentes sociais conseguem perceber por meio da visita
domiciliar.

Por meio da visita domiciliary, os assistentes sociais orientarão as


famílias sobre toda a questão voltada ao aspecto econômico. Se ali
há algum membro familiar desempregado, por exemplo, pois isso
também causa o impacto no processo de aprendizagem daquela criança.
A partir dessas circunstâncias, se tem a lei de benefícios eventuais.
Assim, cabe ao assistente social observar se há algum membro familiar
desempregado naquela residência ou identificar, por meio dessa visita
domicilar, os indícios de violência doméstica.

Nesse sentido, não cabe ao assistente social ter um olhar direcionado


apenas para o aluno. Além desse olhar, também deverá ter um olhar
muito especial para a família daquele aluno. Por meio desse olhar
especial, o profissional perceberá, em algumas dessas residências,
indícios, seja de violência doméstica ou outros agravantes, para o
risco social que aquela criança poderá estar vivenciando. O assistente
social poderá identificar tudo isso por meio de técnicas, como a visita
domiciliar, atendimentos individuais, em grupos, por meio da escuta
qualificada, observação, entre outros, de modo a conseguir identificar
possíveis sinais de violação de direitos (AMARO, 2017).

Por sua vez, por meio dessa avaliação social, realizada pelas visitas
domiciliares, o profissional poderá realizar o encaminhamento para a
rede de atendimento, seja para o Centro de Referência de Assistência
Social (CRAS), para o Centro de Referência Especializada de Assistência
Social, Conselho Tutelar, Secretaria de Assistência Social, que se volta
para a garantia dos benefícios eventuais, para a inclusão daquele
membro familiar nos serviços de convivência e fortalecimento de
18

vínculos, para que, então, o CRAS possa inserir essas famílias nos
programas e benefícios da assistência social (SÁ, 2019).

Com isso, aquela família será beneficiada, por exemplo, por meio
de cestas básicas, por um aluguel social, se assim constar na lei de
benefícios eventuais, entre outros. Então, tudo isso contribuirá no
processo de aprendizagem daquela criança e fomentará a inclusão
escolar, pois essas expressões da questão social influenciam
diretamente no processo de ensino e aprendizagem, e cabe ao
assistente social, junto aos educandos e também com o corpo
pedagógico, contribuir para a formação da cidadania e a emancipação
desses sujeitos.

Todavia, o assistente social não pode apenas encaminhar, enviar o ofício,


mas, para além de realizar o encaminhamento daquela família para a
política compentente, é também responsabilidade do assistente social
acompanhar aquela família, indo até aquele profissional, a instituição
pela qual o aluno ou a família foi encaminhada, por meio daquele aluno,
para, assim, observar como está aquela situação, se já foi feita alguma
visita domiciliar por aqueles técnicos, se já foi realizada uma intervenção
diante daquele encaminhamento. Logo, o encaminhamento também é
de suma importância na educação básica.

Nesse sentido, cabe assinalar a importância do trabalho em rede. Não é


possível que o assistente social faça um trabalho sozinho, até porque a
assistência social não é singular, é plural, e não tem como este trabalho
ser individualizado. Portanto, o trabalho em rede é de suma importância
(SÁ, 2019).

Por sua vez, além das visitas domiciliares desenvolvidas pelo assistente
social na educação básica, cabe também assinalar a importância do
acolhimento, sendo que este pressupõe ver a realidade que aquele
usuário está vivenciando, e este acolhimento não pode fugir da prática
profissional. Nesse acolhimento, o profissional compreenderá o universo
19

daquela criança e, a partir daí, entra a questão da empatia, de se colocar


no lugar daquela criança.

O acolhimento também se associa à escuta, muito importante para os


assistentes sociais, mas essa escuta não se limita apenas no ouvir, vai
muito além do que o ouvir. É por meio da escuta, que o profissional
mergulha no viver do aluno, do usuário. É por meio do acolhimento
verdadeiro, que o profissional conseguirá o fornecimento de
informações que busca, e é por meio dele que o profissional conseguirá
abarcar as demandas daquele usuário.

Portanto, visita domiciliar, acolhimento e escuta profissional, que vai


muito mais além de ouvir, são essenciais para o trabalho do assistente
social também na educação básica. Apesar das inúmeras dificuldades
para execução de seu trabalho, especialmente no campo da educação,
o profissional também lida com muitos êxitos, especialmente quando se
percebe que o usuário passou por uma transformação social.

Por fim, é com a entrada dos assistentes sociais na educação básica que
será possível contribuir para que o aluno entenda que tem condições de
ir para a universidade, de permanecer e de ter uma saída exitosa desse
projeto de vida que tem, que é estudar.

Lembrando que o Serviço Social na atuação, no âmbito da educação, não


será messiânico em lugar nenhum, contribuirá, fomentará junto com
outros atores na luta pela conquista de direitos (CFESS, 2019).

Não se trata de uma questão meramente corporativista. Nós não


lutamos para o Serviço Social e a Psicologia estarem na educação básica,
a fim de garantir meramente mercado de trabalho. Obviamente isso
é importante, mas o que a categoria luta é por estar nestes espaços
por compreender que a educação é um direito, faz parte do campo
da proteção social, de uma perspectiva de uma proteção social mais
ampliada.
20

Esses profissionais têm o que contribuir com as famílias, com as crianças


ali atendidas, que vivenciam a escola. Além disso, esses profissionais
tem o que contribuir com os demais profissionais, como pedagogos,
professores e outros profissionais que atuam na educação.

É sabido que estar na educação em uma conjuntura dessa não é fácil.


Então, cabe a estes profissionais, neste espaço sócio-ocupacional, estar
ali em defesa do Estatuto do Adolescente, com fins de garantir um
conjunto de direitos e proteção que esse campo infanto juvenil tem.

Referências
AMARO, S, T. A. Serviço Social na escola: o encontro da realidade com a educação.
Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2017.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. SUBSÍDIOS PARA A ATUAÇÃO DE
ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO. 2019. Disponível em: http://
www.cfess.org.br/arquivos/BROCHURACFESS_SUBSIDIOS-AS-EDUCACAO.pdf.
Acesso: 15 mar.2022.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
MOTTA, V. C.; PEREIRA, L.D. Educação e Serviço Social: subsídios para uma análise
crítica. Rio de Janeiro: Lumen & Juris, 2017.
SÁ, J. L. M. de. (org.). Serviço Social e Interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2019.
21

O trabalho intersetorial na
política de educação e as equipes
multidiprofissionais
Autoria: Wéllia Pimentel Santos
Leitura crítica: Flaviana Mello

Objetivos
• Refletir sobre a importância do trabalho
interdisciplinar na educação e sua relação com o
Serviço Social.

• Estudar as contribuições do Serviço Social no que


tange à garantia do direito à educação.

• Compreender os desafios e possibilidades do


trabalho interdisciplinar na educação.
22

1. Introdução

Neste material, veremos reflexões concernentes à importância do


trabalho interdisciplinar na educação e sua relação com o Serviço
Social. De tal modo, pensar os processos de trabalho do Serviço Social
na educação básica pressupõe reconhecer que hoje no contexto da
educação muito se fala de uma equipe multidisciplinar na escola, ou
seja, da importância de escolas com essas equipes que podem ser
formadas por profissionais diversos, entre eles, a diretoria, coordenador,
psicólogos, assistentes sociais, professores, enfermeiro, psicopedagogo,
nutricionista, fonoaudióloga, entre outros, com fins de desenvolver
um processo de trabalho em que profissionais de saberes diferentes e
complementares elejam uma plataforma de trabalho conjunto.

Assim, o engajamento desses profissionais no âmbito educacional se dá


com intenção de que cada um, em seu âmbito de atuação, trabalhe, mas
dentro de um equipe, de forma organizativa, com fins a um atendimento
de excelência e qualidade na educação das criança, nos cuidados
básicos, sejam na educação infantil, no ensino fundamental, médio, no
atendimento aos pais e nos cuidados na equipe que trabalha na escola.
Logo, a partir da reflexão sobre o Serviço Social e a interdisciplinaridade,
veremos, então, como o trabalho interdisciplinar pode ser exercido nas
escolas brasileiras.

1.1 Serviço Social e interdisciplinaridade na educação

Pensar o Serviço Social inserido nas políticas de educação, perpassa por


entender que tipo de educação o Serviço Social defende e nesse sentido,
é importante que, atuando na educação, o assistente social tenha o
entendimento da educação como o terreno de formação, onde o sujeito
pode, por meio da educação, se posicionar frente à garantia de seus
direitos, também à garantia da socialização das informações, a garantia
da vida ou a garantia de existir.
23

É importante entender que a educação não deve ser ajustada ao que


esteja posto, mas, contrário a isso, precisa ser uma educação que
possibilite ao sujeito se transformar, se posiciona e exercer a sua
cidadania. Nesse sentido, não é possível pensar o Serviço Social na
educação sem pensar a interdisciplinaridade, que conforme Rodrigues
(1998):

[A interdisciplinaridade favorece o alargamento e a flexibilização no âmbito


do conhecimento, pode significar uma instigante disposição para os
horizontes do saber. (...) Penso a interdisciplinaridade, inicialmente, como
postura profissional que permite se pôr a transitar o “espaço da diferença”
com sentido de busca, de desenvolvimento da pluralidade de ângulos que
um determinado objet o investigado é capaz de proporcionar, que uma
determinada realidade é capaz de gerar, que diferentes formas de abordar
o real podem trazer. (RODRIGUES, 1998, p. 156)

O fato da educação apresentar inúmeros desafios, no Brasil, se deve


ao fato de que o ser social é complexo, multifacetado, possui infinitas
dimensões que não podem ser tratadas unicamente pelas teorias de
aprendizagem e pela pedagogia, pois não são suficientes para atender
as demandas inerentes ao sujeito em processo de formação (AMARO,
2017).

Assim, esse sujeito em processo de formação precisa de muitos


outros tipos de intervenções profissionais para que possa, em sua
integralidade, em sua completude receber uma formação de qualidade.
Nesse sentido, considera-se que a equipe interdisciplinar é muito
importante para qualquer instituição educacional, em qualquer
modalidade de ensino para que o trabalho seja realizado.

Para isso, cabe a esses profissionais, constantemente, afinar seus


instrumentos de trabalho, pois nada é feito, nada é construído ou
pensado sem uma harmonização, sem momentos de conversa, onde
estes profissionais possam compartilhar informações, avaliar as
24

necessidades daquela escola, daqueles alunos, e tudo que é preciso para


que uma escola continue crescendo e atendendo a sociedade escolar,
atendendo aos pais destes alunos.

Nesse sentido, a educação deve ser vista como um direito social, mas,
sozinha, não tem o poder de transformar o mundo. A integralidade
dos direitos sociais trabalhados na interdisciplinaridade devem ser
trabalhados na dimensão da rede socioassistencial, em sua completude,
com um projeto educacional que envolva vários profissionais voltados
ao mesmo interesse, inclusive contando com o suporte da família (SÁ,
2019).

Importante salientar que quando se focaliza apenas num direito social,


se condenou o processo, o procedimento, o método. Isso porque se
avaliou um sujeito multifacetado, com múltiplas expressões, que está
envolvido em um cotidiano igualmente multifacetado, e o afunilou para
dentro de um direito social e, daí, se espera que aquele direito social
traduza todas as problemáticas que aquele sujeito esteja envolvido.

Quando o (a) assistente social atua na educação superior, por exemplo,


na política de assistência estudantil, cabe a eles pensar seu exercício
profissional na educação no sentido horizontalizado. O trabalho do
assistente social deve ser multiprofissional, interdisciplinar. Conforme o
Conselho Federal de Serviço Social (2011):

A atuação interdisciplinar requer construir uma prática político-profissional


que possa dialogar sobre pontos de vista diferentes, aceitar confrontos de
diferentes abordagens, tomar decisões que decorram de posturas éticas
e políticas pautadas nos princípios e valores estabelecidos nos Códigos de
Ética Profissionais. A interdisciplinaridade, que surge no processo coletivo
de trabalho, demanda uma atitude ante a formação e conhecimento,
que se evidencia no reconhecimento das competências, atribuições,
habilidades, possibilidades e limites das disciplinas, dos sujeitos, do
reconhecimento da necessidade de diálogo profissional e cooperação.
(CFESS, 2011, p. 27)
25

Essa perspectiva de um trabalho nestes moldes faz parte cada vez


mais desse momento da sociedade que vivemos. Isso transforma sua
praxis profissional, se desdobra na forma como esses profissionais
devem participar da construção desde o projeto político pedagógico,
do desenvolvimento, do dia a dia, bimestre a bimestre, e assim
sucessivamente, com referência e contra-referência contínua durante
todo o processo, até o fim dele.

Contraditório a isso, é muito recorrente ver nos espaços escolares


um trabalho individualista e, apenas no fim do ano, se reúne a equipe
escolar para fazer um apanhado geral, seja dos conteúdos ministrados,
das avaliações etc. Isso é vergonhoso e implica em tratar sujeitos sociais
de forma retroativa, postergada. Sob esse viés, se o aluno não conseguiu
passar de ano, não evoluiu em seu processo de aprendizagem, nao
há mais o que fazer. Todos entrarão de férias e começará o mesmo
processo no ano seguinte.

Esse formato de educação não é contemplado na epistemologia


das teorias de aprendizagem em nenhum ponto. Inúmeros teóricos
da aprendizagem salientam sobre a importância do trabalho
multriprofissional, da interdisciplinaridade no ambiente escolar,
salientam a importância de uma avaliação continuada, onde todos os
profissionais envolvidos no processo de avaliação devem também se
envolver continuamente com a vida escolar daquele aluno e também
continuamente tomem posturas que vá corrigindo esse processo
durante seu desenvolvimento. Isso é pensamento complexo, e cabe à
equipe multiprofissional trabalhar a totalidade do sujeito. É a partir daí,
que teremos, então, uma educação de qualidade (SÁ, 2019).

Refletir de forma crítica a importância do profissional de Serviço Social


nos espaços escolares, parte de um entendimento maior, que perpassa
por aspectos de que a criança/ adolescente não aprende com fome, não
aprende sem afeto, não aprende se vive e convive em uma situação de
violência extremada. Além disso, não aprende se possuir necessidades
26

especiais e se o Estado não atende a essas necessidades; não aprende


se na mesma medida também lidar com questões emocionais extremas,
e se o Estado não atende a essas necessidades ou pelo menos não
media para que essas necessidades sejam atendidas.

Ainda, este aluno nao aprenderá se não for bem cuidado por sua família,
se não aprende em um processo que considere as diferenças, tendo em
vista que esse contexto de igualdade não existe mais, não estamos mais
dentro de uma perspectiva de discussões teóricas que se volte à busca
do reconhecimento da igualdade porque não atende a especificidade
das diferenças (MOTTA; PEREIRA, 2017).

Assim, é imprescindível que toda a equipe escolar, por meio da


interdisciplinariadade, compreenda que todos somos diferentes,
que devemos ser respeitados como diferentes, e ser incluídos como
diferentes, e dentro das diferenças, ser estabelecido um parâmetro de
equidade, pois a igualdade já não responde mais à complexidade em
que se envolvem os processos das relações sociais, o tecido das relações
sociais. A igualdade já é um termo obsoleto.

Nesse sentido, é preciso entender as diferenças que fazem parte das


relações humanas, sociais e como essas se expressam nos espacos
escolares e, assim, estabelecer a equidade nas diferenças porque
a igualdade pretende nivelar os diferentes para serem iguais, já a
equidade não nivela ninguém, concede situações, cria circunstâncias,
intervenções para que os diferentes desfrutem dos mesmos direitos
daqueles diferentes que estão em condição superior.

O assistente social trabalhará na educação nesta perspectiva, de modo


a compreender essa dimensão socioeducativa, a ressignificação social,
a emancipação e a autonomia dentro das expressões da questão social
que surgirão no espaço educacional. Todavia, o assistente social não fará
isso sozinho, pois, se for fazer isso sozinho, repetirá o mesmo erro da
27

Pedagogia tradicional que tenta educar sozinha, que não desenvolve um


trabalho com a parceria da família na educação (AMARO, 2017).

Então, se temos uma escola que assume a maior parte do que deveria
ser compartilhado com outras profissões, acabará fracassando em
sua função e se, ao mesmo tempo, temos uma família que deveria
assumir sua responsabilidade em relação à educação dos filhos, e
que algumas destas fracassam também, porque não contam com um
acompanhamento das outras profissões e dos direitos sociais que
deveriam ser alcançados, então não haverá um aproveitamento dessa
educação. Nas palavras de Amaro (2017):

A atuação do assistente social é marcante. Parte-se á construção


esclarecimento (a partir da realização de contatos com a família e
suas redes de relações para compor o estudo social da situação) e a
identificação de forma de agir diante de cada caso, orientando os agentes
da escola (professores, gestores) e, quando necessário a família. (AMARO,
2017, p. 47)

Portanto, não cabe à pedagogia tradicional assumir toda a


responsabilidade da educação, mas cabe compreender a educação
como uma responsabilidade interdisciplinar.
28

Figura 1 – Interdisciplinaridade

Fonte: PeopleImages/ iStock.com.

Nessa perspectiva, sobre os papéis dos demais integrantes de uma


equipe interdisciplinar, é possível citar o psicólogo escolar, cuja visão
ampla dentro da escola trabalhará na relação do aluno com professor,
do aluno com aluno, do aluno com a família, do professor com toda
a equipe, dos professor com o coordenador, com gestão. Portanto,
o trabalho do psicólogo deverá ser um trabalho amplo, que deve
perpassar desde o período da adaptação do aluno, quando o aluno
ingressa na escola, deve abarcar qualquer dificuldade que o professor
perceba nesse processo, seja essa dificuldade comportamental,
emocional, no caso da aprendizagem desse aluno.

Então, muito diferente da disciplinaridade, em uma equipe


multiprofissional, cada profissional exercerá sua profissão, mas este
trabalho dependerá de informações de cada um daquela equipe, no
29

intuito de melhor atender esse aluno. Nesse sentido, cabe à gestão


escolar não se preocupar unicamente com o aprendizado de seus
alunos, mas com o bem-estar (SÁ, 2019).

Logo, quando o professor observa uma dificuldade, esta deve ser


repassada para a coordenação escolar, aos professores e, assim, toda a
equipe escolar conjuntamente deverá avalia as demandas trazidas por
este aluno, se perpassa por uma questão relacionada à aprendizagem,
uma questão comportamental, emocional, social etc.

Cabe, ainda, à equipe multiprofissional, elaborar um plano de ação


e, assim, direcionar qual será o profissional que fará o atendimento
daquela criança ou adolescente. Para isso, é importante que a escola
conte com uma sala de atendimento para os técnicos que ali atuem,
trabalhem em observância ao siglilo profissional, no intuito de dar um
suporte nas demandas trazidas por aquele educando, seja uma questão
social, tanto na saúde física, mas também emocional desses alunos e de
suas famílias.

É possível citar também, ainda que menos frequente, o papel do


enfermeiro na escola, cabendo a este a promoção em saúde, atuação
na urgência, emergência e no desenvolvimento do aluno, e, para isso, só
consegue exercer esse papel juntamente com psicólogo, psicopedagogo,
fonoudiólogo, nutricionista etc.

Por sua vez, tem-se a figura do psicopedagogo, que atuará de maneira


preventiva, realizando a avaliação de aprendizagem desse aluno. Já
o coordenador pedagógico, realizará as orientações dos professores,
um trabalho de observação no intuito de averiguar a linha de
desenvolvimento desse aluno, portanto, como esse aluno aprende, quais
suas dificuldades etc.

O trabalho realizado por essa equipe multidisciplinar não deve se dar no


sentido de procurar por um problema, mas no sentido de averiguar as
30

habilidades desse aluno, observar seu nível de aprendizagem, seu estilo


de aprendizagem, as modalidades de aprendizagem etc. Igualmente
importante é que sejam feitas avaliações preventivas de forma a
observar se o comportamento desse aluno é adequado para sua faixa
etária, e dentro do que acontece na vida real, as situações que saem da
rotina etc.

Outro ponto a ser observado em uma atuação interdisciplinary, é


começar os atendimentos com a equipe com uma anamnese ou uma
entrevista inicial, investigando de onde veio esse aluno, de qual cidade,
qual escola, caso tenha sido encaminhado, qual seu contexto familiar,
entre outros. Essa entrevista deve ocorrer no sentido de conhecer esse
aluno, de estabelecer também um primeiro contato com os pais etc.

Sempre que uma equipe multiprofissional inicia uma avaliação com o


aluno, é importante conversar com estes pais ou responsáveis, pois, às
vezes, uma dificuldade ou um problema apresentado por este aluno
pode estar na escola ou já vem de casa. Então, a criança pode estar
passando por uma mudança, por uma situação de violência doméstica,
de bullying, entre outros, e isso refletirá em seu comportamento em sala
de aula, em seu aproveitamento escolar etc.

Logo, cabe ao assistente social garantir os direitos sociais desse público-


alvo, observando se estes direitos estão sendo viabilizados. Devem
atentar se a criança está se alimentando, como é a dinâmica desse aluno
no ambiente familiar, se vive em um contexto de tranquilidade dentro
do lar, se pode estar sendo explorado em qualquer tipo de trabalho
análogo à escravidão, ainda, se apanha ou sofre castigos físicos dentro
de casa.

Importante salientar que o profissional de Serviço Social deve se pautar


em uma compreensão ética, humanitária, de que a dor não educa, o
castigo não educa, o castigo não constrói o pensamento complexo,
a dor e o castigo só subalternizam, silenciam, calam, amordaçam e
31

servem para descontar as frustrações do cotidiano na vida do adulto,


mas não educa ninguém, não transforma, não ressignifica, não traz a
emancipação humana, isto é, não garante formas de sociabilidade entre
os indivíduos.

Ainda assim, há pais que defendam o castigo físico, ainda há assistentes


sociais, pedagogos e outros profissionais no contexto educacional que
defendem a palmatória, não de modo aberto, mas de outros formatos e
outras maneiras, com outras abordagens, outras linguagens.

De acordo com o entendimento do Estatuto da Criança e do Adolescente


e as melhores interpretações teóricas dos Direitos Humanos Universais
da Criança e do Adolescente, tem-se com absoluta prioridade, o
interesse da criança, considerando esta como um sujeito em processo
de formação, que ainda não tem as informações que os adultos
possuem, nem suas construções mentais.

Essas construções mentais, que dão significado a suas vivências, que


se reproduzem se materializam em sua vida social, são resultados
não apenas de diálogos e de ensinamento passados no quadro negro,
em uma folha de papel, mas são resultado, principalmente, de suas
vivências no território familiar e no cotidiano da prático das relações
sociais. Essas vivências se materializam ali.

Nesse sentido, é muito recorrente se culpabilizar, criminalizar a criança


ou adolescente pela reprodução de seus atos e aí bater, castigar.
Entretanto, se a criança pratica o bullying na escola, deve ter uma
compreensão ampla e mais crítica de que não foi ela que inventou o
bullying, está reproduzindo o que viu em algum lugar (MOTTA; PEREIRA,
2017).

Se a criança desrespeita o professor dentro da sala de aula, não foi ela


que inventou o desrespeito ao professor, ou seja, aprendeu aquilo em
algum lugar. Ela é apenas um sujeito em processo de formação, e a
32

formação que ela tem é resultado das vivências, dos compartilhamentos


sociais que vive no cotidiano, no território.

Portanto, não há como pensar educação simplesmente na perspectiva


reducionista de uma lição de casa, simplesmente no pensamento de que
um único profissional, no caso o professor, dará conta de abarcar todas
as demandas educativas desse sujeito. Para além disso, a família assume
um papel de suma importância e precisa participar integralmente deste
processo, do contrário, não teremos uma educação de qualidade no
Brasil. (MOTTA; PEREIRA, 2017).

Assim, enquanto a educação for responsabilidade exclusiva da escola,


da pedagogia ou do magistério, dos professors, será um fracasso.
Precisamos ter um olhar para atender a totalidade do sujeito, atender
todas as suas necessidades, uma educação integral que perpasse pela
dimensão socioeducativa do sujeito, que perpasse pela ressignificação
social, mas também pela autonomia, pela emancipação social, pela
garantia do reconhecimento da cidadania e do sujeito social existente.

Para além das demandas urgentes de uma reforma educative, onde


os professores na realidade brasileira devam ser mais valorizados,
devemos, cada vez mais, voltar à uma educação interdisciplinar, onde
os profissionais da educação não trabalhem sozinhos. Deve haver toda
uma equipe para trabalhar junto com eles.

Nesses preceitos, é possível conjecturar que só teremos uma


educação de qualidade quando for entendida dentro do contexto
de sua existência, como parte de um processo maior, onde todos os
profissionais, tais como o Serviço Social, a Psicologia, a Pedagogia, e
outros que se fizerem necessários, forem incluídos no processo. A partir
daí, teremos uma educação de qualidade porque teremos o Estado
partícipe desse processo como um todo.
33

Referências
AMARO, S. T. A. Serviço Social na escola: o encontro da realidade com a educação.
Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2017.
CFESS. Parâmetros para atuação e assistentes sociais na Política de Assistência
Social. Brasília: CFESS/CFP: 2011.
MOTTA, V. C.; PEREIRA, L. D. Educação e Serviço Social: subsídios para uma análise
crítica. Rio de Janeiro: Lumen & Juris, 2017.
RODRIGUES, M. L. O Serviço Social e a perspectiva interdisciplinar. In: MARTINELLI,
M. L. et al. (org). O Uno e o múltiplo nas relações entre as áreas do saber. São
Paulo: Cortez/ Educ, 1998.
SÁ, J. L. M. de. (org.). Serviço Social e Interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez,
2019.
34

A interpretação da questão social


no cotidiano escolar
Autoria: Wéllia Pimentel Santos
Leitura crítica: Flaviana Mello

Objetivos
• Apreender sobre os processos de trabalho do(a)
assistente social na educação básica a partir da
interpretação da questão social no cotidiano escolar.

• Refletir sobre o conceito de questão social, como


surge no cenário brasileiro e como se expressa a
questão social nos ambientes escolares.

• Estudar como se dá a intervenção do assistente


social sobre as expresses da questão social.
35

1. Introdução

É sabido que o trabalho do assistente social na educação deve


contemplar a comunidade escolar. Esse conceito de comunidade escolar
envolve várias situações, tais como a escola, a família e a sociedade,
uma vez que toda a comunidade escolar é vítima da forma clássica da
educação tradicional burguesa.

Nesse sentido, salienta-se que a educação tradicional é entendida como


uma modalidade educativa que teve seu apogeu entre os séculos XIX e
século XX, e ainda persiste na atualidade. Trata-se de uma metodologia
que se embasa no aprendizado do aluno a partir do mérito, na qual o
professor é o detentor do conhecimento e o repassa ao aluno, que é,
então, mero sujeito passivo do processo de ensino-aprendizado.

Este é um modelo educativo que desconsidera as contradições inerentes


ao modelo de produção capitalista. Assim, cabe ao assistente social,
inserido neste espaço educativo, garantir a proteção social a partir da
inclusão e permanência deste aluno em seu processo de aprendizagem.

A partir desses pressupostos, veremos, neste material, os processos


de trabalho do assistente social na educação básica, a partir da
interpretação da questão social no cotidiano escolar. Para tanto,
refletiremos, primeiramente, sobre o que é questão social, como surge
no cenário brasileiro, como se expressa a questão social nos ambientes
escolares e como se dá a intervenção do assistente social sobre as
expresses da questão social.

1.1 O que é questão social?

Ao refletirmos sobre o que é a questão social, veremos que o objeto de


trabalho do assistente social é a questão social. Esta é a matéria-prima
de atuação dos assistentes sociais. A autora Iamamoto (2006) conceitua
36

a categoria como a relação contraditória estabelecida entre o capital e


trabalho. O que isso significa na prática?

Este é um conceito teórico que considera, os desdobramentos advindos


do processo industrial ao qual se tem, de um lado, a exploração que
deriva do modo de produção capitalista, do outro, a resistência travada
pelos trabalhadores ao longo do desenvolvimento deste modo de
produção capitalista.

É possível entender, então, que essa relação contraditória se expressa


de diferentes maneiras: de um lado, na conquista, na luta pelos direitos
sociais que aparecem também por meio das políticas sociais e, por
outro, pelas diferentes expressões dessa questão social que se traduzem
em violência, no desemprego, na fome, no racismo, enfim, inúmeras
outras expressões.

Importante destacar que a questão social tem uma vinculação


seminal com o processo sócio-histórico de formação de nosso país.
Os fundamentos da questão social serão gestados ao mesmo tempo
em que o próprio capitalismo em nosso país foi gestado, portanto, no
trânsito do século XIX para o século XX, carregando consigo a herança
colonial, como muitos autores nomearão, que buscaram estudar os
elementos do colonialismo, que estarão enraizados na forma como o
Brasil se reproduzirá, aparecendo, então, em uma dinâmica nova de um
capitalismo dependente desde o século XX.

Então, trata-se de um conceito em movimento que sofre alterações ao


longo da história, acompanhando o próprio movimento da história,
mas encontrando seus fundamentos desde o processo de invasão
dos portugueses, com intuito de transformar o Brasil em colônia de
exploração.

Nesse sentido, será, ainda, possível refletir os seguintes


questionamentos: qual a relação entre a questão social e o Serviço
37

Social? Como a questão social se torna objeto de atuação do Serviço


Social? Será que isso ocorreu desde a origem e será que foi somente no
Brasil que a questão social foi objeto?

Para responder esses questionamentos, cabe salientar que existem


alguns recortes importantes para esse debate.

Nesse sentido, não podemos dizer que durante o período colonial


existia a questão social, uma vez que se apresenta por meio da relação
contraditória entre capital e trabalho. Se o capital está assentado no
modo de produção capitalista e se originando nesse trânsito do século
XIX para o século XX, é aí que conceitualmente surge a questão social.

O Serviço Social se originará como profissão no início do século XX e


estará diretamente vinculado às expressões da questão social, que
podem ser definidas em desigualdades sociais, tais como: pobreza,
fome, violência, discriminação, entre outros, isso porque desde o
processo de industrialização e urbanização, que tem uma aceleração
da economia, principalmente no início do século XX e ainda mais
precisamente a partir do governo do Getúlio Vargas, que toma como
estado, políticas desenvolvimentistas de fomento à industrialização,
passarão a surgir novas expressões ou novos problemas que, até então,
não existiam.

Então, desde a própria finalização da escravidão em nosso país, que


significou o reconhecimento legal de que não havia mais relações de
escravatura, até porque no capitalismo era necessário mão de obra
livre, um trabalhador assalariado, mas o estado não construindo,
não garantindo nenhum tipo de subsídio, nenhum tipo de direito ou
qualquer medida que viabilizasse condições mínimas de sobrevivência
para a população escravizada, gerou um problema sócio-econômico no
nosso país.
38

Todavia, não é o fim da escravidão que gera o problema social, mas a


forma como o Estado não assume politicamente tal situação.

Daí, todo esse significativo contingente populacional é posto à revelia


e, devido a isso, a necessidade de substituição do trabalho escravo,
com as políticas de incentivo à migração. Nesse sentido, um expressivo
contingente populacional, em sua maioria, originárias do continente
europeu, emigraram para o Brasil, mas também uma população
muito empobrecida de países onde já havia um desenvolvimento mais
avançado do capitalismo, com um sobrante de mão de obra.

Então, toda essa efervescência político-cultural que ocorria neste


cenário, toda a não assistência das necessidades da população brasileira
acabaram eclodindo quer seja pela violência, quer seja pela ocupação
irregular dos novos territórios, principalmente das cidades.

Tem-se aí, inúmeras situações de doenças, de agravos de saúde que


vão simplificando e que acabam atingindo essa burguesia nascente
brasileira, acabam atingindo essa classe média que já vivia nos
territórios, e isso acaba se tornando um problema.

Netto (2007) diz que é neste trânsito que a questão social deixa de
ser um caso só de polícia e passa a ser um caso de política. Em outras
palavras, toma, então, esse lugar político, passando a estar na pauta, na
cena política, e isso faz com que se demande do Estado uma ação para
além da violência, tendo em vista que o Estado sempre agiu à base da
coerção punitiva, violenta, mas, nesse momento, para além da violência,
se demandava, se exigia desse Estado outras respostas.

Através da política social, o Estado burguês no capitalismo monopolista


procura administrar as expressões da “questão social” de forma a atender
as demandas da ordem monopólica conformando, pela adesão que recebe
de categorias e setores cujas demandas incorpora, sistema de consenso
variáveis, mas operantes. (NETTO, 2007, p. 30)
39

É importante, ainda, se pensar na relação do Estado com a Igreja


Católica nesse início do século XX. A Igreja Católica era uma instituição
muito ponderosa no cenário brasileiro desde o período do Império,
então, além da importância, havia ali um protagonismo concreto na vida
política do nosso país.

Aconteceram algumas medidas políticas importantes neste período,


que acabaram levando a Igreja a fazer concessões se equalizando
minimamente um pouco desse conflito entre Estado e Igreja. A partir
daí, a Igreja assume, por ser um de seus fundamentos, a caridade, mas
isso se deve também por se tartar de estratégias políticas derivadas
desse conflito. Assume, então, principalmente, esses problemas sociais
com essa função de dar respostas necessárias a esse contingente
populacional que estava morrendo de fome, morrendo por doenças e
propagando muitos problemas sociais, então, as expressões da questão
social.

Neste contexto, aparecem aí as moças boazinhas, vinculadas à


Igreja Católica que tomarão para si a tarefa do atendimento a essa
população mais empobrecida, com foco nas crianças, idosos, pessoas
com deficiência, famílias dos operários das indústrias e os próprios
trabalhadores.

Com isso, é possível afirmar o importante papel que a Igreja


desempenhou e desempenha no que tange ao atendimento das
necessidades, obviamente não partindo de uma lógica de direito, mas de
uma lógica que dialoga com seus próprios fundamentos.

Neste sentido, cabe, ainda, entender que essas ações qualitativas eram
importantes porque inegavelmente significaram a contenção da luta
dos trabalhadores, pois, junto com os imigrantes que já tinham essa
vivência do capitalismo, se geram muitas ideias políticas de contestação,
de reivindicação. Então, tivemos a fundação de partidos comunistas
40

de inspiração anarco-sindicalistas, que migrou dessa experiência


sindicalista (NETTO, 2007).

Logo, para nos apropriarmos de uma melhor compreensão desta


categoria questão social, torna-se fundamental compreender o processo
sócio-historico de cada região. O capitalismo existe, hoje, em todos os
países, é um capital mundializado, globalizado, mas essa questão social
se constituirá dependendo dessa formação sócio-histórica, ou seja, de
como o sistema capital se constituiu em dada região.

Assim, é necessário reconhecer as determinações sócio-históricas


constitutivas do capitalism, nas diferentes regiões, pois isso significa que
o capitalismo existe em todos os países, mas não é igual em todos eles.

1.2 Questão social e educação

Grande parte do que acontece na sociedade se infiltra no sistema


escolar, afetando os alunos e sua experiência de aprendizagem.
O grande problema social é que o sistema educacional apresenta
desigualdades e oferece oportunidades desproporcionais com base
na filiação cultural e nível de renda, quando o ideal seria para todas as
crianças serem expostas a uma educação igualitária.

Uma situação muito particular que se vive na escola, se refere


justamente ao ambiente onde se situa o contexto familiar. Esse tem
grande influência no que se refere ao comportamento de crianças e
adolescentes dentro das instituições de ensino. Nas palavras de Amaro
(2017):

A questão que se coloca e que desafia cada um que habita a escola, seja
ele professor, funcionário ou aluno, é que a diversidade adicionada ao
inesperado é fator desencadeador de grande parte das situações que são
referidas como difíceis ou problemática. (AMARO, 2017, p. 23)
41

Neste sentido, é importante compreender a escola como um espaço de


formação de identidades e é por meio da socialização que ocorre essa
formação de identidade, bem como a construção e desconstrução das
representações sociais de gênero, orientação sexual, etnia. Ao fazer
um recorte para as representações sociais de etnia, tem-se que essas
representações são resultados das diferenças que existem entre os
povos na sociedade brasileira, desde seu processo de formação. Logo,
podemos evidenciar o racismo como uma das expressões da questão
social que existe em todas as facetas da sociedade, desde o universo
corporativo aos espaços escolares, e essa questão obviamente chega às
salas de aula por meio de comentários totalmente discriminatórios de
colegas preconceituosos sobre as minorias sociais.

A discriminação se refere a um reflexo desta questão social, traduzindo-


se em oportunidades educacionais desiguais para pessoas que vêm
de minorias de baixa renda. Os alunos que pertencem a esses grupos,
correm o risco de não terem o mesmo nível de qualidade educacional
em relação aos alunos de classe média e alta ou não minoritária.

Importa, ainda, salientar que a economia desempenha um papel


importante no que tange à questão social, afetando os alunos e as
escolas na medida em que as crianças crescem e começam a sentir
as pressões financeiras que seus pais e familiares sofrem em uma
economia difícil.

Isso pode, ainda, ser mais dificultoso para as famílias compostas


especialmente por famílias monoparentais e homoparentais, idosos,
entre outras minorias sociais, pois não estão dentro do espectro de
família definido como a ideal pela lógica do sistema capitalista Isso,
consequentemente, leva alguns alunos, em especial os matriculados no
ensino médio, a abandonarem a escola para ajudar financeiramente
suas famílias.
42

Logo, torna-se perceptível o quanto a renda é uma questão importante,


que afeta a decisão de um aluno de abandonar a escola, visto que os
estudos evidenciam que crianças de famílias de baixa renda são mais
propensas a desistirem da escola do que crianças de famílias de alta
renda.

É, ainda, possível citar problemas sociais muito marcantes em diversas


realidades brasileiras, onde as meninas não same, muitas vezes, para
estudar por medo de serem violentadas pelo crime organizado em suas
escolas, além da recorrência de situações de meninas que estão sendo
abusadas sexualmente. Isso se reflete em uma marca para o resto da
vida dessas crianças.

Nesse sentido, os problemas econômicos se configuram em algo muito


latente, que afeta, consequentemente, o desempenho escolar dos
alunos. A falta de oportunidades cria uma situação muito grave, tanto
para o abandono escolar quanto para todos os acontecimentos que têm
a ver com a vida, bem como agravantes como depressão, que é gerada
em seu ambiente social que afeta também nesse rendimento.
43

Figura 1 – Educação e questão social

Fonte: greenaperture/iStock.com.

Por sua vez, o abuso de substâncias entorpecentes é muito recorrente


nos espaços escolares, onde crianças ainda em tenra idade têm acesso
a substâncias viciantes, drogas ilegais e álcool. O uso dessas substâncias
leva a problemas diversos, que se expressam em forma de violência, no
comportamento criminoso, gravidez na adolescência e uma diminuição
do interesse pela educação (MOTTA, PEREIRA, 2017).

Logo, é fundamental que os países e as famílias estejam em contato


com as instituições de ensino para garantir que esse aluno seja
resgatado, direcionado, apoiado, sempre em busca de uma alternativa
para não expulsá-lo, de um sistema educativo, por expulsar, mas de
melhor direcioná-lo, pois se o aluno tiver alguma dificuldade na escola
e deixamos sair da instituição, este será um problema muito maior em
nível social.
44

Alunos dependentes de alguma substância ilicita, química, entre outros,


podem abandonar a escola completamente ou ter dificuldade em
manter um alto nível de desempenho. Este problema social pode ser
controlado por meio de ambientes de apoio para os alunos, tanto em
casa, como nas escolas.

Assim, os sistemas escolares precisam reconhecer que tipos de


problemas sociais são de preocupação primária e educar alunos e pais
sobre formas de combatê-los. Professores e pais podem colaborar em
estratégias para minimizar problemas sociais nas escolas.

Afinal, não basta que crianças, adolescents e jovens saibam ler e


escrever, que tenham domínio da matemática e outras disciplinas
escolares, mas também que tenham valores éticos e morais que permita
que desenvolvam plenamente em sociedade.

1.3 Intervenção do assistente social sobre as expressões


da questão social na escola

O papel que o assistente social desempenha na educação é o de lidar


com as expressões da questão social em suas diversas facetas, tais
quais: absenteísmo, fracasso escolar, gravidez na adolescência, drogas,
bullying, violência etc. Nas palavras de Amaro (2007):

A atuação do assistente social é marcante. Parte-se á construção


esclarecimento (a partir da realização de contatos com a família e
suas redes de relações para compor o estudo social da situação) e a
identificação de forma de agir diante de cada caso, orientando os agentes
da escola (professores, gestores) e, quando necessário a família. (AMARO,
2007, p. 47)

Entre as ferramentas metodológicas que estes profissionais têm


acesso, é possível salientar que o Serviço Social se sustenta por
meio da observação de campo, de entrevistas sociais, do estudo de
45

caso, instrumentos que permitem formar uma metodologia para


compreender a situação e dar uma possível solução ao problema que se
apresenta.

Uma vez que o Serviço Social é uma profissão interdisciplinar, cabe a


estes profissionais apreenderem diferentes teorias de diferentes autores
que ajudam a estruturar uma compreensão muito maior do que outras
profissões, pois isso permitirá, no campo social, saber que existem
muitos problemas e que muitas variáveis devem
​​ ser consideradas para
encontrar uma solução para este problema que se debruçarão (SÁ,
2019).

Entre os valores profissionais expressos no Código de Ética profissional,


estão: igualdade, dignidade, respeito, entre outros valores que fazem
a profissão ter esse motivo para poder lidar com as expressões da
questão social. Nesse sentido, Iamamoto (2006) explicita sobre as
possibilidades da atuação profissional:

[...] as possibilidades estão dadas na realidade, mas não são


automaticamente transformadas em alternativas profissionais. Cabe
aos profissionais apropriarem-se dessas possibilidades e, como sujeitos,
desenvolvê-las transformando-as em projetos e frentes de trabalho.
(IAMAMOTO, 2006, p.21)

Dessa forma, é possível concluir que o assistente social desenvolve,


então, um trabalho enquanto mediador nas escolas, de modo a
contribuir para o exercício da cidadania, garantindo aos alunos a
inserção e permanência nos espaços educativos, por meio da articulação
com as demais políticas sociais e junto com a equipe interdiscidisciplinar.
46

Referências
AMARO, S. T. A. Serviço Social na escola: o encontro da realidade com a educação.
Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2017.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação
profissional. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
MOTTA, V. C.; PEREIRA, L. D. Educação e Serviço Social: subsídios para uma análise
crítica. Rio de Janeiro: Lumen & Juris, 2017.
NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2007.
SÁ, J. L. M. de. (org.). Serviço Social e Interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez,
2019.
47

As demandas escolares ao Serviço


Social
Autoria: Wéllia Pimentel Santos
Leitura crítica: Flaviana Mello

Objetivos
• Compreender as demandas escolares cotidianas dos
estudantes na educação básica.

• Refletir sobre as demandas de atuação do assistente


social na educação básica.

• Estudar a importância do assistente social na política


de educação.
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1. Introdução

Refletiremos, neste material, sobre as demandas escolares dos


assistentes sociais, o que, inicialmente, pressupõe reconhecer que estes
profissionais atuam em instituições de ensino que podem ser públicas,
tais como as instituições governamentais, onde todos temos direito à
educação laica e gratuita, e também ao setor privado, onde temos que
pagar um valor para acessar a educação. A partir de então, poderemos
compreender a educação como uma necessidade total que ocorre em
toda a sociedade humana, e também pode ser caracterizada como
uma atividade e um processo que consiste em uma designação de
sequências, de atividades educativas.

Quando falamos de processo educacional, estamos falando de um


processo de ensino-aprendizagem em que os educadores estão se
utilizando de diferentes ferramentas para levar conhecimento aos
alunos, socializando esses conhecimentos, por meio da transmissão de
valores, crenças e comportamentos. Então, a proposta é que se possa
ampliar o espectro de compreensão de como funcionam as demandas
de atuação deste profissional nesta política, a importância de que este
compreenda as legislações dessa política, até porque é necessário haver
subsídios para conversar com gestores das unidades de ensino, dos
estabelecimentos educacionais da Educação Básica.

1.1 Demandas de atuação do assistente social

O Serviço Social é uma profissão baseada na prática que promove a


mudança e o desenvolvimento social. Nesse sentido, estes profissionais
devem sempre trabalhar em rede, com foco no fortalecimento
das famílias, garantindo a proteção social das mesmas, sendo esta
compreendida como um conjunto de intervenções, cujo objetivo é
reduzir o risco de vulnerabilidade social, econômica, como minimizar a
pobreza. Para Iamamoto (2004), o Serviço Social:
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Apresenta uma feição acadêmico profissional e social renovada, voltada


à defesa do trabalho e dos trabalhadores, do amplo acesso a terra para
a produção de meios de vida, ao compromisso com a afirmação da
democracia, da liberdade, da igualdade e da justiça social no terreno da
história. (IAMAMOTO, 2004, p. 3)

Assim, por meio da intervenção profissional, os assistentes sociais


identificam, estudam os riscos e vulnerabilidades sociais e, para
isso, analisam as pessoas, famílias e sua situação de vulnerabilidade,
portanto, como um indivíduo ou grupo que tem um ambiente familiar
pessoal, relacional, socioeconômico fragilizado, que pode desencadear a
exclusão social. Conforme Schneider e Hernandorena (2012):

A posição que esse profissional ocupa na sociedade é tão dinâmica


quanto as relações sociais. Ou melhor, acompanha a dinamicidade do
real. Assim, refletir sobre a prática do Serviço Social, e suas possibilidades
de contribuição junto às demais áreas de saber torna-se um exercício
permanente. Diante de novos cenários o fazer profissional necessita
de uma nova posição, e por consequência essa nova posição precisa
ser abstraída e concretizada. Os pontos-chave para a ação passam pelo
âmbito da interdisciplinaridade, da intersetorialidade e da produção de
conhecimento. Essas discussões possibilitam superar conflitos, e diminuir
a distância entre os diferentes profissionais. (SCHEIDER; HERNANDORENA,
2012, p. 8)

A atuação do assistente social se dará tanto no nível macro quanto


micro social. O nível macro social é onde é formulada a política social,
que chega a todos os cidadãos. O nível micro se dá por meio de
projetos de intervenção, de ações, atividades que visem transformar
os espaços sociais, por meio do diálogo com as pessoas, suas
estruturas, conhecendo sua situação de exclusão, conhecendo suas
vulnerabilidades, seus fatores de proteção.

Então, estes profissionais terão ferramentas adequadas, conhecimento


adequado para lidar com as expressões da questão social, de forma
inclusiva, por meio da mobilização social, do aprendizado social,
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incentivando os cidadãos, empoderando-os, levando o usuário a se


informar, conhecer seus direitos, conhecer seus deveres, para que possa
participar dos espaços de decisão, tendo em vista que existe muito que
as pessoas, às vezes, não conhecem.

Dessa forma, gerará propostas de intervenção social, visando a


formulação de políticas sociais inclusivas, poia essa é a sua expertise.
Então, a contribuição do Serviço Social como gestor social, técnico de
atendimento, planejador, entre outros, no desenho dessa política social,
é justamente propor a elaboração e compilação de um diagnóstico
social para a formulação adequada de políticas sociais (MOTTA; PEREIRA,
2017).

O Serviço Social não só investiga para saber, mas investiga para a prática
profissional, reflete para a ação, para a transformação, ou seja, por meio
do conhecimento apostam na transformação por meio de seus projetos,
de suas práticas profissionais.

Este profissional detém um conhecimento importante da realidade


social e, por isso, estuda os grupos, as pessoas, as estruturas, as
vulnerabilidades, os riscos.

1.2 Demandas do assistente social na educação básica

O assistente social na área educacional tem como característica ser


o profissional que articula os objetivos da comunidade educativa,
entendendo a comunidade educativa como alunos do ensino
fundamental e médio, independente do nível, alunos, professores,
gestores, funcionários da instituição, administradores e pais.

O Serviço Social é o elo entre os membros dessa comunidade educativa,


buscando sempre o desenvolvimento integral dos alunos e que,
conforme Amaro (2017, p. 28) esteja “sintonizado com a realidade social
e as vivências práticas dos alunos”.
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Entre as funções desempenhadas pelo assistente social, no âmbito


educativo, cabe a este profissional dar resposta às necessidades
dos alunos com problemas sociais, alunos em situação de risco e
vulnerabilidade social, assim, os assistentes sociais realizarão tarefas de
prevenção, avaliação, intervenção e acompanhamento e em articulação
com os recursos educativos e comunitários. Conforme Amaro (2017), os
assistentes sociais são imbuídos da função de:

[...] examinar a realidade social e econômica dos alunos e das famílias;


identificar situações de desajuste social; orientar professores, pais e alunos
sobre esses desajustes; fazer triagem de alunos que necessitassem de
material escolar, transporte, entre outros; elaborar relatórios de suas
ações; articular escola e comunidade; orientar comunidades e famílias na
responsabilidade quanto ao processo educativo dos filhos. (AMARO, 2011,
p. 19)

Nesse sentido, é importante compreender que esses fatores de risco


e de proteção devem ser identificados para compreender plenamente
essa realidade.

Os fatores de risco são características biológicas, psicológicas, sociais,


nos indivíduos ou famílias. Tais fatores aumentarão a probabilidade
deste indivíduo apresentar algum dano, como relacionado à saúde,
por exemplo, a expressões da questão social, como a gravidez na
adolescência, alcoolismo, comportamento criminoso, violência familiar,
ausência de família, redes sociais e institucionais etc. (SÁ, 2019).

Por exemplo, para que possa haver a promoção social das famílias,
este profissional irá motivá-la a melhorar suas atividades, fomentará
estratégias de enfrentamento dessas problemáticas sociais, de modo a
garantir a coesão familiar e que fortaleça e estimule um enfrentamento
construtivo do indivíduo.

Os assistentes sociais na área educativa oferecem apoio a quem se


encontra em situação de vulnerabilidade, precariedade ou pobreza,
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trabalham para eliminar as barreiras que limitam a aprendizagem e


a aquisição de competências, asseguram o cumprimento do princípio
da não discriminação justiça social e a plena participação de todos os
alunos.

As demandas para os assistentes sociais recaem em diversas situações


sobre a necessidade de trabalho com famílias e com as crianças e
adolescentes, não é raro, contudo, as solicitações de trabalho com os
próprios professores. Abre-se, assim, um campo de atuação bastante
promissor e estratégico. Sem deixar de lado a ação junto ao campo
educacional – mediada pelos programas e ações assistenciais que têm
marcado o trabalho dos assistentes sociais –, podem estes profissionais
agora atuar por dentro da política educacional, com questões que lhes são
centrais, como a formação permanente dos educadores e com a ampliação
das práticas educacionais, não mais numa perspectiva complementar ou
paralela e sim curricular. (ALMEIDA, 2000, p. 23)

Logo, o assistente social orientará a comunidade educativa, não só os


alunos, mas também poderá orientar os professores, poderá orientar os
pais, educando por meio de diferentes ações, trabalhando com grupos
de pais, de jovens, pode ser em diferentes áreas ou a partir de diferentes
problemáticas, se o contexto em que trabalhe exigir.

Importante salientar que o objeto de intervenção, nesta atuação, está


sendo construído, assim, não podemos falar de um problema específico,
até que este profissional esteja dentro daquela comunidade, então,
uma vez identificada a questão social e/ou suas expressões, o assistente
social pode intervir, mas basicamente suas funções são orientar,
coordenar e organizar ações de promoção social na educação.

Acerca das limitações impostas ao assistente social na educação,


estas são de diversas naturezas, sejam limitações, onde a instituição
não reconhece, não identifica quais são as funções que o assistente
social deve ter naquele espaço, porque pode estar atuando no campo
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educacional e ocorrer de confundirem com o professor, estando ali para


preencher um horário quando o professor não chega.

Por outro lado, o assistente social deve gerar propostas de intervenção


que promovam o desenvolvimento integral dos alunos e não
necessariamente precisa ser na sala de aula, pode acontecer no
intervalo, na saída, com os pais, com seu ambiente de trabalho, gerando
estratégias de intervenção que possibilitem o desenvolvimento integral
do aluno no campo educacional, assim, as funções dependerão do
nível, da série escolar, se este aluno se encontra na pré-escola, se é um
problema no ensino fundamental etc.

É sabido que existem muitos problemas sociais que podem ser sobre
nutrição, que podem ser voltados à autoestima daquele estudante, que
podem ser sobre valores que podem estar relacionados às relações
familiares e autoestima, tudo isso repercute no desenvolvimento integral
da criança.

Então, o assistente social está ali para apoiar esse aluno e, para
isso, desenvolverá um trabalho com os pais destes alunos também,
desenvolverá um trabalho socioeducativo de modo a orientá-los.

Nas palavras de Amaro (2017):

É inegável que a educação tem um papel preponderante na formação


do cidadão e que só se constrói consciente e criticamente. Para tanto,
é fundamental que a escola conheça a realidade social de seu aluno e
encurte a distância que a separa, inclusive do universo familiar. (AMARO,
2017, p. 18)

Apesar dessas intervenções, há muitas outras cabíveis a este


profissional, tais como a promoção do esporte, considerando que este
tem grandes benefícios. Um deles refere-se à parte emocional, à redução
do estresse, os educandos ficam calmos, relaxados e fisicamente isso os
ajuda muito, e é também por precisar estarem ocupados que o esporte
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é uma importante de inclusão social, pois permite construir uma nova


história de vida, entre outros.

Então, o assistente social poderá buscar estratégias para que os jovens


se envolvam no esporte, bem como na cultura, na arte, no envolvimento
junto aos educandos na escola, para que desenvolvam seus próprios
murais, no sentido de que isso dê maior senso de identidade, além de
programas de incentivo aos alunos, apoio a famílias e indivíduos em
situação de risco e/ou vulnerabilidade social etc.

Isso significa que criar um espaço onde seja possível envolver este
jovem, e não ajudar por ajuda, mas com um sentido que envolva
princípios de valores, de promoção da saúde etc.

O Serviço Social pode e deve ser solidário, mas como valor universal,
cabe a este profissional também transmitir esses valores com os alunos.
Nesse sentido, cabe ressaltar que o Código de Ética do Serviço Social
possui uma dimensão macro, uma natureza para a construção de um
novo projeto de sociedade. Para isso, traz princípios fundamentais.
Trará a defesa da Liberdade e, nesse sentido, se está preocupado com
a construção de uma nova sociedade, obviamente esta liberdade a qual
está se propondo, pelo Código, não é a liberdade capitalista, é uma
liberdade para além do capitalismo.

Nesse sentido, há o entendimento de que a construção de um novo


projeto de sociedade é coletivo e que não depende de uma só categoria.
Entretanto, os profissionais também não se omitem da responsabilidade
de sua contribuição para a construção de um novo projeto de sociedade.
A grande contribuição será dada com a materialização do Código
de Ética no cotidiano profissional, junto ao usuário, estabelecendo e
reconhecendo a liberdade como um dos princípios fundamentais do ser
humano.
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Logo, a atuação do assistente social não implica em uma atuação


meramente voltada à concessão de benefícios eventuais, como nas
políticas de assistência social ou da saúde, mas de transmissão de
valores, de modo a abarcar o princípio da solidariedade, a empatia, da
promoção da equidade, onde o objetivo principal é a formação integral
do aluno, conforme os princípios do Código de Éitca Profissional.

Figura 1 – Grupo de alunos

Fonte: PeopleImages/iStock.com.

O Serviço Social educativo é uma área de intervenção e, nesta área,


como em qualquer outra, deve ser utilizada uma metodologia, devem
ser utilizados diferentes modelos de intervenção e o assistente
social deve saber qual o modelo que pode utilizar e em que nível de
intervenção produzir.

Quando os profissionais da educação favorecem o desenvolvimento


de qualidades morais, está se falando justamente de valores,
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respeito, da moral, confiança, responsabilidade etc. Quando se fala do


desenvolvimento de qualidades intelectuais, está se falando sobre seus
estilos de aprendizagem, de modo a se buscar estratégias para que o
aluno aprenda, se desenvolva.

Há também o trabalho de inclusão da pessoa com deficiência física na


escola, por exemplo, e caberá ao assistente social procurar formas de
apoiá-los (SÁ, 2019).

Existem estilos de aprendizagem muito diferentes, uns aprendem


vendo, outros aprendem fazendo e outros aprendem ouvindo, então,
cabe ao educador buscar estratégias necessárias para que seus alunos
desenvolvam suas habilidades.

De modo geral, a educação é composta por algumas dimensões


importantes: há a dimensão da escola, no sentido de entender o
conceito de escola, a estrutura, a organização, as relações sociais
de trabalho, as condições de trabalho, a dimensão do currículo, do
projeto político pedagógico, de como se dá a organização do trabalho
pedagógico.

Além dessas, é possível citar também a proposta curricular,


as atribuições específicas do trabalho profissional, da ação da
equipe multiprofissional, das relações com a equipe pedagógica,
com os professores que têm formações e percurso de formação
multidisciplinares: historiador, geógrafo, químico, matemático, sociólogo,
filósofo etc.

Portanto, um conjunto de áreas que se encontram também na escola,


mas também há a relação com os educandos, com os pais, com a
comunidade, com o trabalho em rede intersetorial, no território, o
trabalho interdisciplinar:

As práticas interdisciplinares e intersetoriais devem convergir para a


construção de redes de apoio, tanto em sua dimensão afetiva (solidárias,
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familiar etc.), como em sua dimensão social no que tange aos serviços
socioassistenciais, como também os serviços das demais políticas públicas,
auxiliando-os e colocando-os em condição de igualdade decisória,
profissionais e usuários. (SCHNEIDER, HERNANDORENA, 2012, p. 9)

Nesse sentido, é fundamental compreender a educação enquanto um


direito subjetivo, universal. Trata-se de uma política que é extensiva
a todas as pessoas: crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos,
podendo ser considerada uma das políticas mais amplas que temos.

Temos a extensão da educação a partir de todos os rincões, de florestas,


nas cidades, centro-periferia, todas as crianças são obrigadas a ir
para escola, e cabe ao estado o dever de garantir esse direito. Então,
esta é a política mais abrangente de sua escola e mais significativa, se
comparada ao conjunto das outras políticas educacionais.

Entretanto, é também um campo de disputa porque ao mesmo tempo


em que é uma política para formar trabalhadores, formar mão de obra,
para instrumentalizar, é também uma política para formar mentes,
formar cidadãos. Assim, é fundamental nos apropriarmos dessa política
de forma articulada às demais categorias profissionais. Portanto,
é preciso que a categoria continue lutando para que essa área de
intervenção seja cada vez mais reconhecida.

Referências
ALMEIDA, N. L. T. de A. O Serviço social na Educação. Revista Inscrita, n. 6. Brasília:
Cortez, 2000.
AMARO, S. T. A. Serviço Social na escola: o encontro da realidade com a educação.
Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2017.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação
profissional. 7 ed. São Paulo, Cortez, 2004.
MOTTA. V. C.; PEREIRA, L. D. Educação e Serviço Social: subsídios para uma análise
crítica. Rio de Janeiro: Lumen & Juris, 2017.
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SÁ, J. L. M. de. (org.). Serviço Social e Interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez,


2019.
SCHNEIDER, G. M.; HERNANDORENA, M. do C A. Serviço Social na Educação:
perspectivas e possibilidades. Porto Alegre: CMC, 2012. Disponível em: https://
www.poteresocial.com.br/wp-content/uploads/2019/05/Servi%C3%A7o-Social-na-
Educa%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso: 16 mar. 2022.
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