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O Casamento Arranjado de Charlo - Brisa Magalhaes
O Casamento Arranjado de Charlo - Brisa Magalhaes
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou mortas, é coincidência e não é pretendida pelo autor.
Copyright
Dedication
O dia do meu casamento
Noite sem núpcias
Provocante
Se comporte
Humilhada
Não seja vítima
Desobediência
Constrangedor
Inconveniente
Confusão
Culpado
Desejo
Desnorteada
Mal entendido
Meu acompanhante
Atitudes estranhas
Falsa
Perdida
Procedimento surpresa
Desvendando o contrato
Sem esperança
Uma nova Charlotte
Investigando o passado
Esquecendo a passividade
Mudança radical
Mais confusa ainda
Memórias
Perseguindo sonhos
Ela é poderosa
Quero paz!
Mantendo o foco
O gênio misterioso
Descobrindo mais sobre o contrato
Correndo contra o tempo
Quem é o mais forte?
Positivo ou negativo?
Embriaguez
Peanut?
Perspicácia
Meu plano perfeito
Ele também é esperto!
Os mesmos desencontros
Uma noite de amor
Traída pela própria família
Mais do mesmo
Quase abatida
Falta de comunicação
Mistério desvendado
Mente desorientada
Preciso dela
Sem orgulho
Insistência
Interpretando tudo errado
Decisão definitiva
Será um adeus?
Abandonado
O retorno
Uma nova mulher
Ardilosa
Irredutível
Planos falhos
O pestinha
Não fuja de mim
Cedendo aos poucos
Ilusão
Desilusão
Sem diálogo
Afronta
Oportunista
Maquiavélicos
Quem é esse garoto?
Não serei humilhada!
Talvez seja melhor desistir
De novo não...
Finalmente teremos diálogo
Eu tenho razão
Charlotte VS Stuart
Pai e filho
Surpresa
Instinto protetor
Finalmente felizes
Agradecimentos
O dia do meu casamento
Narração - Charlotte Hills
Fiquei preocupada com o tom dele, então, decidi descer assim como ele
fez, ao descer as escadas vi meu avô e meu tio. Ambos estavam com um
semblante sério. Olhei para eles e esperava que alguém me dissesse algo.
Sendo assim, meu tio limpou a garganta e disse:
— Charlotte, não sei se você sabe, mas a fortuna da família Hills está
ameaçada, estamos prestes a falir por completo e simplesmente sumir do
setor hoteleiro.
— É... É bem grave. Mas, felizmente, nós achamos uma solução. Meu
pai conversou com o senhor Robert Staton. O neto dele, Jeff Staton, precisa
se casar urgentemente porque é o último herdeiro homem dos Staton, então
ele precisa o quanto antes de um filho para continuar sua linhagem. —
Enquanto eu o escutava, achei aquela conversa bem estranha e não sabia o
que aquilo tudo tinha a ver comigo. Então, meu tio continuou. — Sendo
assim, seu avô ofereceu sua mão ao neto dele em casamento, e em troca ele
ajudará nossa família a se reerguer, quitando todas nossas dívidas.
Eu comecei a rir quando ele terminou de falar. Tanto meu tio quanto meu
avô, me olharam sem entender o motivo da minha risada.
— Ah, tio Jacob! Que senso de humor você tem. — Eu falei enquanto
ria, mas vi que ele permanecia sério. Eu não podia acreditar que ele estava
falando sério. — Você não está brincando? — Perguntei um pouco
atordoada.
— Não, o casamento está marcado para daqui uma semana. — Ele falou
mantendo seu tom.
— Você não tem que querer, tem que fazer o melhor pelo bem da
família! — Meu avô falou rispidamente ao se aproximar de mim.
— O quê? Por quê? Você sabe que me formar é meu grande sonho, e
faltam apenas dois meses para que isso aconteça! — Eu falei em protesto.
— Charlotte, espera! Quer carona? — Ele era a única pessoa com quem
eu poderia desabafar. Eu acenei minha cabeça positivamente, e nós dois
entramos no carro dele.
— Char, eu sinto muito pelo que você está passando. — Sam tinha um
tom de voz triste ao falar comigo.
— Tudo bem, para essa família parece que minha vontade não é
relevante. Nem mesmo o fato de ter me esforçando tantos anos e estar
prestes a me formar com mérito os sensibiliza. — Eu dei de ombros ao falar.
— Você é uma aluna nota dez, tente fazer com que eles permitam que
você conclua esses dois meses em casa. Eu tenho certeza que você já passou
em várias matérias, estou certo?
— Então está fácil de resolver, você vai se formar, mesmo que seja um
pouco mais difícil. — Ele falou com uma animação na voz com o intuito de
me animar também.
Ele era um garoto muito popular, enquanto eu era uma nerd. Sempre fui
mais isolada, não tinha muitos amigos pelo fato de sempre estar focada em
meus estudos, além do mais eu usava óculos, aparelho nos dentes, não era
nada atraente. Era a típica menina invisível do ensino médio. Por muitas
vezes eu sonhei em reencontrar aquele garoto, eu sabia que o primeiro nome
dele começava com “J”, pois todos o chamavam de Jay-Jay, mas, nunca
soube seu nome verdadeiro e sobrenome, não éramos da mesma turma então
não dava para saber. Sei que havia meios para eu descobrir isso, porém,
sempre tive muita vergonha de perguntar para alguém, por medo de
deduzirem que eu gostava dele e por conta disso pudessem tirar sarro de
mim, afinal, ele era o tipo de garoto que não se envolvia com o tipo de
garota que eu era.
Eu não fiquei nessa escola por muito tempo, não cheguei a cursar um ano
completo lá porque, meus pais decidiram se mudar de cidade para que
pudessem abrir uma filial de um dos hotéis da família no estado da
Califórnia, então, isso acabou dificultando mais ainda que a gente pudesse
ter oportunidade para nos conhecermos.
Talvez hoje, que eu estava mais madura, e modéstia parte, mais atraente,
se eu o encontrasse teria coragem para conversar com ele e quem sabe
poderíamos ter algo. Contudo, por conta desse contrato maluco, eu estava
fadada a ficar com alguém que nem ao menos tive a oportunidade de ver
antes de me casar.
Eu respirei fundo enquanto me olhava no espelho vestida de noiva, fiquei
pensando no fato de não conhecer meu marido. E se ele fosse feio?
Malcheiroso? Eu só saberia no altar, e isso me causava desespero. Eu não
conseguia nem ao menos fingir felicidade por conta dessa situação horrível.
Meu avô chegou para me levar até o altar, eu o olhei através do espelho com
os olhos marejados e cheios de amargura. Mas, lá no fundo eu ainda tinha
esperança de que ele pudesse voltar atrás da decisão dele, então eu falei:
— Por favor, eu não quero fazer isso. Sei que você ainda pode desistir
dessa loucura. — Assim que falei para ele, me virei de frente para olhá-lo.
Meu agora marido levantou o véu que tampava meu rosto. E nesse
momento não adiantava mais tentar evitar, eu tinha que olhar para ele. Eu dei
um suspiro e ergui minha cabeça para olhá-lo. Quando o encarei,
imediatamente me lembrei daqueles olhos azuis que entorpeciam minha
mente há 10 anos atrás, quando eu era apenas uma menina desengonçada no
ensino médio. Meu amor de infância estava ali e eu estava me casando com
ele, era muita coincidência! Jeff Staton, era o Jay-Jay! Ele não havia mudado
muito fisicamente. Continuava lindo... Jeff era alto, tinha os cabelos louros
escuros, os seus olhos não eram grandes, mas eram bem desenhados, o nariz
era afilado, os lábios eram carnudos, porém bem desenhados e tinham um
rosa natural muito bonito que contrastavam com sua pele clara. O formato
do seu rosto era quadrado e largo, o que trazia masculinidade para seu rosto
completamente harmônico.
Eu estava ainda sem acreditar que era ele. Quem sabe no final das contas
algo de bom estava acontecendo por conta desse contrato? Ele aproximou
seu rosto do meu e pude sentir sua respiração quente chegar até minha pele.
Os olhos dele, eram melancólicos e sombrios, parecia que ele não estava
nem um pouco satisfeito de estar ali. Jeff tocou meus lábios dando um beijo
breve, pude sentir o calor e a maciez de sua boca, mas o beijo foi tão breve,
acredito que tenha durado menos de cinco segundos. Senti que ele tinha
pressa para se afastar de mim.
Eu estava encantada com ele, e pela primeira vez desde que entrei na
igreja deixei um sorriso escapar. Era incrível saber que esperei pelo meu
primeiro beijo por tanto tempo, e eu estava realizando o sonho de tê-lo com
a pessoa que eu sempre idealizei em minha mente. Meu marido se
aproximou de mim, e eu me animei mais, pensei que ele queria falar algo
bom para mim após nosso beijo. Porém, não foi nada disso que aconteceu...
— Não se esqueça que nós dois só estamos fazendo isso por conta do
contrato. Eu não a amo, nem nunca a amarei. Para mim é apenas um
negócio, que isso fique bem claro para você! — Ao ouvir as palavras que
saiam de sua boca no tom raivoso e frio que ele usou, o sorriso do meu rosto
sumiu imediatamente, senti como se uma estaca tivesse sido cravada em meu
peito. Como ele poderia ser tão frio assim? Será que eu beijava tão mal para
ele falar essas coisas?
Eu não tive forças para respondê-lo, estava em choque com o que ele
havia acabado de me dizer. Jeff pegou em minha mão como se não tivesse
falado nada incomum, e então nós saímos da capela de mãos dadas. Nós
fomos em direção ao salão de festas onde seria a festa do nosso casamento,
era bem próximo da capela. Fomos andando, porém, em total silêncio. Eu
me sentei no lugar que estava reservado aos noivos e não quis encarar mais
meu marido. Eu mantive meu olhar para o lado oposto do qual ele estava.
Fiquei pensando no fato que eu havia virado um mero objeto para negócio.
Primeiro, nas mãos da minha família, e agora nas mãos do meu marido.
Já era bem tarde da noite. Eu dancei várias vezes com aquele homem
que havia me resgatado da minha humilhação, já que meu marido não
apareceu mais na própria festa de casamento. Porém, eu nem ao menos sabia
o nome do homem e ele não pareceu preocupado em me falar. Ele se
despediu e nós não trocamos nenhuma palavra além do boa noite que
havíamos acabado de dar um para o outro. A governanta da casa ao ver que
todos estavam saindo da festa, e eu estava ali praticamente sobrando, sem
saber o que fazer e muito menos para onde iria, pois, meu marido havia me
deixado sozinha, deu um sorriso e falou gentilmente:
— Aqui é o caminho para seu quarto, senhora Staton. — Ela falou dando
um sorriso.
— Janet, senhora.
O quarto era lindo e eu fiquei maravilhada com ele. Eu não via a hora de
tirar aquele vestido apertado. Tirei meus sapatos com certa pressa e depois
comecei a tirar meu vestido o puxando para baixo. Tirei ele, ficando somente
de calcinha, fui em direção a porta que parecia ser do banheiro e para minha
surpresa meu marido estava saindo do banheiro enrolado na toalha.
Não sei como tive coragem para falar aquilo já que estava extremamente
envergonhada pela situação e ele era tão grosso comigo que me enchia de
medo. Ele sorriu, mas, seu sorriso era irônico.
— Eu não queria estar nesse casamento tanto quanto você, mas desde o
começo eu cumpri com minhas obrigações. Na hora da dança do casal você
nem se quer estava lá, eu me senti humilhada com todos me olhando como
se eu fosse uma coitada. Se logo no primeiro dia do meu casamento, eu fui
tratada daquela maneira, imagina no decorrer do tempo como será. — Eu o
encarava com meu queixo levantado. Jeff ouviu atentamente o que eu falei e
mantinha a mesma postura.
— Eu saí para tomar um ar, estava me sentindo sufocado ali, não queria
continuar naquele ambiente. E realmente, eu ouvi quando disseram que era a
dança dos noivos. Eu não quis ir a princípio, mas, sei muito bem que tenho
um papel a cumprir bem como você sabe que tem o seu papel a cumprir.
Contudo, quando cheguei lá você estava dançando com outro homem como
se ele fosse seu marido! — Ele dizia com raiva. — Isso não é postura de
uma mulher casada. Então você não tem o direito de me cobrar nada.
— Não foi bem assim que aconteceu. — Eu tentei explicar para ele.
— Tudo bem, bom que sobra mais espaço para mim na cama, e será um
prazer não ter que dividi-la com você. — Eu falei para ele com a mesma
frieza que ele usava para falar comigo, mas a verdade é que eu estava
acabada por dentro com a forma que ele estava me tratando.
Até ele sair eu mantive minha postura arrogante, depois que ele saiu, me
senti péssima. Sentei na cama e comecei a chorar.
Ao chegar lá ainda dava para sentir o cheiro da loção pós barba que Jeff
havia usado. Tirei o roupão e minha calcinha, em seguida entrei no chuveiro
para tomar meu banho. Fiquei lá um pouco aproveitando a água do chuveiro,
e por um tempo fiquei recapitulando o pequeno incidente que havia
acontecido entre mim e Jeff. Sentir a respiração e o cheiro dele tão de perto,
me provocou sensações que eu nunca havia experimentado. Será que ele
conseguiu perceber como meu coração disparava quando eu estava perto
dele? Balancei minha cabeça negativamente para desvencilhar esses
pensamentos da minha cabeça e terminei meu banho.
Pela manhã, acordei e fui até o banheiro fazer minha rotina de higiene
matinal. Quando voltei para o quarto meu vestido já estava na cama, como
se alguém tivesse esperado eu me ausentar para deixa-lo lá e sair em
seguida. Eu olhei para ele e o admirei por alguns minutos, pois era um belo
vestido. O vestido tinha a cor vermelha e um decote em "V" bem profundo,
o tecido que o compunha era bem leve, e parecia ter um toque acetinado,
pois, o tecido brilhava de acordo com a forma que eu mexia com ele. Meu
corpo ficava muito bonito com esse tipo de vestido, e ele também parecia ter
uma fenda na perna.
Dei uma última olhada no espelho e sorri para mim mesma, estava com
uma postura mais confiante hoje. E por mais que Jeff usasse palavras para
me magoar, eu não iria deixar que ele me abalasse como tinha feito ontem,
estava determinada a não demonstrar fragilidade como demonstrei
anteriormente para ele. Quando abri a porta do quarto, para minha surpresa,
ele já estava lá. Me assustei e levei a mão até meu peito indicando que eu
havia me assustado com a presença dele.
— Que susto você me deu! Por que não bateu na porta para avisar que
estava aqui? — Eu o questionei.
Jeff não me respondeu pois me olhava parecendo que estava atônito com
o que via. Ao perceber a maneira que ele olhava entendi que ele estava me
admirando, eu dei um sorriso imponente, mas, logo Jeff chacoalhou a cabeça
voltando a si. Então ele disse:
— Lembre-se de desempenhar seu papel de boa e dedicada esposa, é
muito importante para as pessoas que estão aqui hoje verem isso, depois do
show que você deu ontem ao dançar com outro homem. Isso será importante
para nossa imagem de casal feliz. — Ele falou posicionando seu braço em
suas costas o dobrando para que eu me apoiasse nele.
— Esteja certo que farei isso! Mas, veja se você também faz sua parte de
ficar perto da sua esposa, demonstrando ser um marido amoroso e
dedicado. — Eu falei com a intenção de provoca-lo.
— Olha só quem temos aqui, a mulher que não é digna de Jeff Staton. —
Eu olhei para trás ao ouvir aquela voz irônica que debochava de mim. Dei
um sorriso um pouco sem graça e logo reconheci que aquele era o homem
que eu havia dançado no dia do meu casamento. Então ele disse: — Me
concede essa dança?
Me lembrei do que Jeff tinha falado sobre ser uma boa esposa e ter que
me comportar bem aos olhos de todos, sendo assim resolvi recusar.
— Venha, não será a primeira vez. — Eu pensei melhor sobre o que ele
falou e realmente ele tinha razão, não era a primeira vez que nós
dançaríamos.
Parecia que nós já havíamos feito isso várias vezes, pois, a sintonia que
ele e eu tínhamos era muito boa. Enquanto nós dançávamos ele repetiu a
frase que tinha dito anteriormente, mas dessa vez de um jeito mais pesado
que me fez tirar o sorriso do rosto no mesmo instante.
— Certo, você falou isso antes, mas acho que já chega dessa brincadeira
ofensiva, não?
— Eu não estou brincando. — O homem falou ao me girar.
Nós não paramos de dançar, e depois do que ele havia falado ficamos
nomeio de um silêncio constrangedor, mas eu preferi assim pois ele parou
com as ofensas gratuitas, as quais eu não compreendia o motivo. Enquanto
nós dançávamos percebi que meu marido havia aparecido, e ao me procurar
ele viu que eu estava dançando com aquele homem no salão específico para
dança. Jeff se aproximou mais para acompanhar de perto nossa dança. Ele
não parecia nada contente de me ver dançando novamente com aquele
homem.
— Nem mesmo se você nascesse de novo você seria digna de ser esposa
do Jeff, você sabe disso, não é? — Ele tinha um sorriso perverso em seus
lábios ao falar.
Ele era um ótimo ator pois enquanto ele estava dançando, e mostrava
toda sua elegância ao me conduzir, dizia essas coisas horríveis que ninguém
poderia imaginar. Somente eu que estava ali com ele desfrutava daqueles
ataques gratuitos, como se já não bastasse os ataques que eu sofria
constantemente por parte do meu marido. Eu não ia me calar diante de
provocações tão baixas, por esse motivo resolvi questiona-lo.
— Quem é você, e por que você diz essas coisas tão cruéis para mim? Eu
não fiz nada para você! Nem se quer o conheço, você quem me chamou para
dançar nas duas vezes que nos vimos, e agora fica me ofendendo! Qual seu
problema? — Eu perguntei bastante nervosa no momento em que
finalizamos a dança.
Imaginei que ele poderia ser alguma coisa mais íntima já que ele sabia
até mesmo do porta-retratos que Jeff cultivava em nosso quarto. Só de
lembrar disso meu estômago embrulhava. Era doloroso passar por aquilo e
ainda ter que suportar tudo calada.
— Você sabe muito bem que durante nosso contrato de casamento você
não pode ficar com nenhum homem. — Ele falava baixo e entre os dentes
por estarmos perto das pessoas, e sabia que uma conversa desse teor poderia
chamar muita atenção para nós, coisa que ele claramente não queria de
maneira nenhuma.
— Eu só estava dançando com ele, será que todas as vezes vou ter que
afirmar para você que eu não vou fazer nada que te desrespeite, e que eu
respeito nosso casamento? — Eu falei de um jeito irritado com ele porque
não aguentava mais ele me pressionar daquele jeito.
Pelo visto, minha tristeza, eu não consegui disfarçar muito bem. Jeff se
aproximou mais de mim e eu não entendi o motivo pelo qual ele estava
fazendo aquilo, mas, ele acabou dando um beijo em minha testa e disse em
seguida:
— Você finge estar triste com o que eu falo, todas as vezes parece se
sentir ofendida e se dói com o modo que eu te trato. O que você esperava
depois daquele contrato absurdo? E você fazendo esse teatro todo, quer
mesmo que eu acredite que se apaixonou por mim? Um marido que só viu
três vezes? — Quando ele usou a palavra marido ele falou ela de uma
maneira carregada de ironia.
Eu fechei meus olhos ao sentir o toque dos lábios dele na minha testa,
nós quase não nos encostávamos e quando isso acontecia meu coração
disparava de imediato. Eu não sabia explicar. Ao mesmo tempo, meus
pensamentos me transportavam para nossa adolescência. Ele nunca veio
diretamente até mim, mas por algumas vezes nós nos esbarrávamos ou
aconteciam algumas circunstâncias que nos colocava a frente um do outro.
Eu queria falar para ele quem eu era. Que era aquela menina da escola
que ficava o encarando sempre que podia, mas não sabia agir muito bem
diante dele. Porém quando olhava para o semblante frio dele eu desistia. E
mesmo que eu o amasse secretamente há mais de dez anos, eu falei com
frieza para tentar esconder todo o sentimento que eu tinha:
— Fique tranquilo que eu jamais me atreveria a me apaixonar por você.
Sei bem o meu lugar, não precisa ser um chato e ficar mencionando isso a
todo instante, ok? Isso é extremamente irritante. — Eu tinha um tom de voz
um pouco nervoso ao falar essas coisas para ele.
E mais uma vez ele havia mencionado o maldito contrato. Eu deveria ter
lido aquilo, deveria saber onde eu estava me metendo porque agora por
muitas vezes eu estava sendo humilhada pelo meu marido sem saber o que o
motivava a fazer aquilo.
Eu havia ficado muito nervosa e não queria fazer uma cena em frente aos
convidados porque na verdade eu achava que esse era o objetivo do meu
marido. Ele queria me desestabilizar emocionalmente para que validasse
suas palavras quando disse que eu acabaria dando uma de vítima na frente de
todos.
Com aquele olhar eu queria deixar bem claro que estava nervosa com ele
e estava saindo de lá unicamente por conta das provocações dele. Quando eu
finalmente estava na área externa, respirei fundo e então ouvi algumas
risadas de um casal que estava um pouco distante de mim. Eu sorri, pois,
achei bonito ver a cumplicidade dos dois, como eu queria ter isso com Jeff...
Mas sabia que seria algo impossível.
— Senhora Staton?
— Oi, Janet. Já disse que pode me chamar de Charlotte. — Eu dei um
sorriso para ela ao falar.
Depois que nos despedimos de todos. Nós dois subimos juntos para o
quarto. Ao entrarmos, ele começou a se despir na minha frente e eu virei de
costas rapidamente, senti minhas bochechas arderem. Fiquei sem saber o que
fazer, então disse:
— Eu estou no meu quarto, nós somos casados e isso tem que ser
comum para você. — Jeff falou com desdém.
— Você mesmo disse que nós dois somos um casal apenas no nome,
trocar de roupa na frente do outro é algo íntimo e somente os casais de
verdade fazem. — Eu reclamei.
— Como você é chata! — Ele pegou ou roupão se enrolou e foi para o
banheiro para terminar de se trocar.
Ele quem queria as coisas dessa forma, então eu o provocaria sempre que
pudesse. Ele iniciou essa briga, não foi eu quem comecei, mas não iria sair
dela. Depois que ele saiu do banheiro, eu fui até o closet pegar minha roupa
para dormir e me troquei no banheiro. Escovei meus dentes, fiz meu
skincare, passei meus cremes corporais enquanto cantarolava uma música
bem baixinho.
— Jeff?
Como ele me irritava! Jeff era grosso comigo por puro prazer.
Eu não iria sair do conforto da minha cama, pois já que éramos casados
era minha também, puramente por um capricho dele. Sentei do meu lado da
cama, apaguei o abajur que mantinha a iluminação do quarto e me deitei
para dormir ao lado dele. A cama era bem espaçosa então não tinha o risco
de que nós encostássemos um no outro no decorrer da noite.
Humilhada
Narração - Charlotte Staton
Desci diretamente para a sala de estar, ao lado da sala de estar havia uma
sala de descanso. Ela era bem aconchegante e tinha sofás confortáveis, uma
estante bem grande que ia do teto ao chão. Além de livros, nessa estante
havia alguns troféus, porta-retratos e não pude deixar de notar uma antiga
bola de beisebol dentro de uma caixa de vidro um pouco maior que a própria
bola.
Ao ver aquela bola eu dei um sorriso, e peguei a caixa. Pude ler que nela
estava escrito o nome da escola onde estudávamos "Voight School" e do
outro lado da bola havia o brasão da nossa escola. Me lembrei que eu vi Jeff
pela primeira vez por conta de uma bola como aquela.
Início do Flashback
Era meu primeiro dia de aula na Voight School, eu estava nervosa pois
não conhecia ninguém e a maioria ali parecia não ser muito amistosa.
Quando deu o horário do descanso, resolvi me refugiar na arquibancada do
campo de beisebol da escola. Lá era um espaço aberto e eu continuaria sendo
invisível ali sentada na arquibancada, já que algumas pessoas estavam por ali
lendo seus livros, ou comendo. Eu iria fazer os dois. Peguei um livro que eu
adorava ler sobre um anjo que caiu e se apaixonou por uma mortal.
Enquanto eu colocava na página que havia parado, eu desenrolava do papel
filme meu sanduíche de pasta de amendoim. Ao desembala-lo por completo
dei uma primeira mordida. E em seguida, ouvi alguém gritando:
— Eu lamento, mas pelo menos não caiu na parte que está escrito a
história. — Ele falou ao apontar para meu livro, e levantou a capa dele que
estava no meu colo e disse: — Fallen, ótimo livro. Você tem bom gosto. —
Ele sorriu para mim, nesse momento não consegui fazer mais nada a não ser
ficar paralisada.
Nós nos olhamos por um momento, eu percebi que o garoto ia falar algo
porém alguém o interrompeu aos gritos antes que ele pudesse falar mais
alguma coisa.
Eu fiquei igual uma boba olhando para ele, eu acho que havia me
apaixonado por ele, por mais que eu havia o visto uma única vez.
Fim do Flashback
Eu estava perdida em meus devaneios quando de repente Jeff chegou na
sala de um jeito brusco e perguntou com fúria ao me ver com a bola na mão:
— O que você pensa que está fazendo!? — Ele falou como se eu tivesse
fazendo algo muito grave.
Eu me assustei por ele ter chegado tão de repente e falar daquela forma,
que acabei deixando a caixa cair no chão e ela quebrou espalhando vidro por
toda parte. Eu levei as duas mãos até minha boca assustada por ter quebrado
aquela caixa e olhei para Jeff que veio caminhando até mim de um jeito
furioso com passos largos, ele se abaixou e pegou a bola.
— Não pense que você pode ficar à vontade demais aqui, não se sinta à
vontade ao ponto de achar que está em sua casa e pode mexer no que bem
entender, a hora que quiser. As coisas não funcionam desse jeito para você
aqui nesta casa! — Ele falava nervoso apontando o dedo para meu rosto. Jeff
mostrou a bola para mim e continuou a falar.
— Isso é algo de grande valor para mim, foi um presente de uma pessoa
especial e não quero que você toque nisso nem em nada. Não pense que as
coisas que estão aqui são suas. Nem mesmo objetos que você julga serem
femininos, não são para você! Limite-se ao que você tem na sua parte do
closet. — Ao ouvir ele falar tudo aquilo eu senti um nó na garganta.
Eu compreendi que tudo ali era realmente preparado para uma mulher,
mas essa mulher não era eu. Muito provavelmente era a mulher da foto.
Nosso contrato de casamento devia ter um tempo para acabar. Eu não
entendia o motivo por ele ter se casado comigo, meu avô mencionou um
filho, mas isso seria impossível de acontecer porque nós dois nem ao menos
tínhamos intimidade. Foi difícil segurar o choro ao ouvir as duras palavras
dele.
Jeff deu uma gargalhada quando me escutou falar sobre pagar a caixa
para tentar não deixa-lo no prejuízo.
— Você pagar? Sua família falida e você são sustentadas por mim. Um
verdadeiro bando de sanguessugas! Você ia tirar dinheiro de onde para pagar
isso, sua idiota? Acha que você usar meu próprio dinheiro para pagar um
prejuízo iria me compensar? Você é estúpida!? — Ele falava em um tom
bastante alterado.
Eu não estava sabendo como agir diante de tamanho ódio pelo qual ele
estava sendo consumido. O choro estava entalado em minha garganta e eu
sabia que a qualquer momento eu iria explodir em lágrimas se aquela
situação delongasse. Eu pensei nos meus pais e em como eles me criaram
dando do bom e do melhor, me ensinando como eu era valiosa. Sempre tive
tudo ao meu alcance, para agora, simplesmente, esse homem me humilhar
dessa forma por causa de dinheiro, eu sentia que havia chegado ao fundo do
poço.
Como se não bastasse tudo que ele já havia falado para me magoar, no
auge da sua raiva, Jeff se aproximou de mim e me empurrou ao passar por
mim para pegar a base de madeira que apoiava a caixa de vidro na estante.
Como ele estava transtornado, ao me empurrar eu acabei caindo no chão
bem em cima do vidro quebrado. Ele não percebeu que eu havia caído em
cima dos cacos, pois se virou de imediato segurando a base de madeira e a
bola de beisebol em suas mãos. Quando eu caí comecei a chorar por tudo o
que havia acabado de acontecer. Pela a humilhação, e com certeza também
pela agressão que havia acabado de sofrer.
Eu chorava de maneira compulsiva, enquanto olhava aqueles cacos de
vidro a minha volta e pensei que eu era como aquela caixa quebrada, e
aquela mulher da foto era como a bola de beisebol que Jeff saiu segurando.
Eu mesmo quebrada e em pedaços jamais chamaria a atenção dele, enquanto
a bola mesmo não sendo frágil e não precisando de cuidados, era vista e
super valorizada. Aquilo havia acabado comigo. Fiquei remoendo as
palavras dele enquanto chorava ali sentada no chão.
Eu pensava que minha situação com ele não poderia piorar. Mas hoje
atingimos um novo patamar, pois até me agredir ele agrediu, pode ser que o
empurrão não tenha sido proposital mas acho que se ele não tivesse feito por
querer iria ao menos me ajudar a me levantar. E mesmo que eu quisesse
tomar uma postura de mulher mais durona com ele, hoje foi impossível fazer
isso, porque eu estava exatamente igual a caixa de vidro...
Não seja vítima
Narração - Charlotte Staton
Isso era ridículo, a cada momento que se passava eu via como nós dois
éramos completos estranhos um para o outro, mesmo vivendo sob o mesmo
teto. Disquei o número do meu primo Sam, como ele era psiquiatra eu sabia
que antes ele havia cursado medicina, e além da sua especialização em
psiquiatria ele era clínico geral, então, ele poderia me ajudar.
Ligação ON
Sam: — Oi, Char! Que coisa boa receber sua ligação em um domingo de
manhã. — Ele foi irônico e em seguida deu uma gargalhada. Sam odiava ser
acordado cedo quando tinha um tempo a mais para dormir.
Ligação OFF
Eu sempre o chamei assim desde que ele entrou na faculdade pois todos
se orgulhavam dele enquanto médico, diferente de mim. Ninguém, além dos
meus pais e Sammy, comemorou minha entrada na faculdade de tecnologia.
Não sei se eles entendiam a dimensão do curso, talvez por não entenderem
muito eles não se importavam. Ou era pelo fato de ser eu...
— Claro, pode se retirar. — Sorri para ela, e então Janet saiu da sala.
Percebi que enquanto fazia meu curativo, Sammy voltou seu olhar para o
vidro quebrado ao lado do sofá que eu estava. Ele olhou para mim, e olhou
para o vidro quebrado novamente como se perguntasse algo com os olhos.
Sendo assim, já me adiantei perguntando:
— Pode fazer. — Eu engoli seco pois sabia que viria alguma bomba.
— Você sabe que pode falar qualquer coisa para mim Charlotte, e se esse
homem estiver fazendo algo com você eu juro que... — Antes que ele
completasse a frase eu disse:
— Jura o quê, Sammy? Desculpa, não quero ser grossa, mas se eu estiver
sendo agredida o que você pode fazer quanto a isso? Eu estou casada com
esse homem por conta de um contrato. Nossa família depende do dinheiro
dele. O vovô deixou mais que claro que não importa o que eu pense ou sinta,
eu devo permanecer casada com ele em qualquer circunstância. — Eu falava
para ele com um tom de voz bem triste e desesperançoso.
— Mas você não pode viver assim, não é justo. — Ele falava com
revolta ao finalizar meu curativo.
— Justo não é, mas o que você pode fazer a respeito? Nada. Nem quando
morávamos sob o mesmo teto você conseguia me defender do meu vô, nem
mesmo das provocações do seu pai você conseguia me livrar. — Eu dei um
sorriso fraco para ele pois eu sabia que não era culpa dele.
Meu avô era um narcisista. Ele simplesmente elegeu o Sam como seu
preferido, enquanto eu, ele odiava. Para nós dois era ruim porque Sam
achava que tinha que ser perfeito para continuar agradando meu avô e isso
incluía fazer tudo que ele queria. E eu, não importava o que eu fizesse pois
sempre seria insuficiente para ele, pois meu avô me odiava simplesmente por
eu existir. Sam nunca concordou com a forma que nosso avô me tratava, e
por muitas vezes tentou me defender, mas, o medo que ele tinha da
desaprovação do nosso avô e a falta de autonomia dele o faziam hesitar.
Contudo eu não o culpava, não era fácil para ele também. E o maior
culpado disso tudo era meu péssimo avô. Ao ouvir minhas palavras, Sam
abaixou sua cabeça se lamentando. Ele estava ajoelhado na minha frente,
então, eu coloquei minhas duas mãos no rosto dele fazendo-o olhar para
mim e disse:
— Ei, não precisa ficar assim. Tudo que está ao seu alcance você sempre
faz por mim. Eu vou ficar bem, pelo que meu marido fala eu acho que esse
contrato tem data para acabar. — Eu falei com pesar.
— Tá bom, eu vou lá, preciso tirar essa roupa suja de sangue. — Deixei-
o arrumando as coisas dele e caminhei para meu quarto.
Acho que ele não entendeu muito bem minha pressa para me trocar, já
que nem ao menos esperei ele ir embora. Mas, a verdade, era que eu queria
esconder esse ferimento do meu marido. Eu sempre me lembrava dele
dizendo que não queria que eu me vitimizasse na frente das outras pessoas.
Então, eu não queria que ele pensasse que eu iria usar esse ferimento para
isso. Nem mesmo queria que ele tivesse conhecimento que eu havia me
machucado.
Desci as escadas o mais rápido que pude por conta da minha limitação, e
encontrei os dois lá embaixo na porta de saída.
— Vá embora daqui!
Quando ele falou isso para o meu primo eu o olhei indignada por ele
estar fazendo tamanha grosseria. Eu não podia acreditar que um homem tão
elegante e nascido em berço de ouro como o Jeff pudesse ser tão baixo. Para
não dar problemas para mim meu primo só o olhou com raiva e balançou sua
cabeça de um lado para o outro demonstrando seu desapontamento, e antes
de sair ele disse:
— Se cuida, Char.
— Fique tranquilo que eu sei que aqui é sua casa e você faz o que bem
entende nela. Não precisa me aborrecer me lembrando disso, mas não
precisava expulsar meu primo dessa maneira. Foi muita grosseria da sua
parte! — Eu o fitava com muita raiva enquanto falava.
Ele deu um sorriso frio como se tivesse gostado de saber que eu estava
me submetendo a ele e aos seus caprichos humilhantes ao mencionar que
sabia que a casa não era minha.
— O que ele veio fazer aqui? — Quando ele fez essa pergunta eu hesitei
e não o respondi de imediato porque ainda não queria que ele soubesse que
eu havia me ferido.
Como eu hesitei para falar, ele sem paciência nenhuma não esperou
minha resposta e disse:
— Tá, que seja, não responda. Mas, não quero que isso se repita, a casa é
minha e você é somente uma convidada. Não tem direito de convidar
ninguém. Se coloque no seu lugar de convidada temporária e haja como
tal! — Ele falava de forma grosseira como havia se habituado fazer.
Depois disso ele saiu de perto de mim e entrou dentro da casa já que
ainda estava na entrada onde havia discutido com Sam. Eu me encostei no
batente da porta, fechei meus olhos por alguns segundos e respirei
fundo.Capítulo 07 – Desobediência
Desobediência
Narração - Charlotte Staton
Depois que fiquei um tempo parada na porta, decidi voltar para dentro
de casa. Meu marido havia ido para o quarto e eu fiquei ali sentada na sala.
Eu mexia no meu celular de forma despretensiosa para tentar afastar todos os
pensamentos ruins da minha mente, mas, as palavras que Jeff tinha usado
mais cedo ficavam ecoando na minha cabeça.
— Que falta você me faz, mamãe. Se você pelo menos estivesse aqui
para me ajudar, para que a gente pudesse conversar... Na verdade se você
estivesse aqui acho que nada disso estaria acontecendo. — Falei enquanto
olhava para aquelas flores.
Mais abaixo vi uma casa, não era muito grande, mas parecia ser bem
aconchegante. Fui até ela e vi que tinha uma piscina pequena na frente junto
a um jardim, por estar andando bastante, eu comecei a sentir um incômodo
na minha perna no local onde eu havia me machucado, então, depois que
olhasse aquela casa eu voltaria para a casa principal da propriedade. Cheguei
na porta da casa e ela era de vidro, dava para ver, mesmo que embaçado, lá
dentro.
— Senhora Staton! — Ouvi uma voz falar atrás de mim o que me causou
um grande susto. Era Janet.
— Mas, senhora... Seu primo disse que você precisava ir ao hospital, tem
certeza disso? — Janet me perguntava com um ar de preocupação.
Por alguns instantes o olhar dele se encontrou com o meu e ele pareceu
se desarmar nesse momento. Eu senti um calor percorrer todo meu corpo, e
minha vontade era agarra-lo e beija-lo, a única vez que senti o calor dos
lábios dele foi no altar, quando nos casamos e parecia que ele tinha pressa de
finalizar o beijo. Jeff se aproximou mais e ficamos mais próximos ainda,
acho que por um momento ele quis se entregar, eu não me afastei dele em
nenhum momento na esperança que ele tomasse alguma atitude. Porém,
infelizmente parece que ele recobrou seu juízo e retomou o seu habitual
semblante frio. Eu dei um sorriso para ele ironizando o que tinha acabado de
acontecer pois vi que ele me desejava.
Eu fechei meus olhos por um momento e dei um suspiro, falei para mim
mesma:
— Vamos lá, Charlotte. Você consegue passar por cima disso. — Senti
minhas pernas estremecerem, não sei se era por conta da dor que estava
começando a me incomodar novamente ou por conta do momento que havia
acabado de acontecer conosco.
Nós dois nos sentamos à mesa, ele se sentou em uma ponta e eu para
demonstrar que não me importava com ele sentei na outra ponta para
ficarmos o mais distante possível. Nós não trocávamos uma palavra se quer,
e a todo momento que eu olhava para meu marido ele parecia desviar o seu
olhar para não cruzar com o meu. Acho que ele estava irritado pelo que
havia acontecido entre nós. Então decidi propor a ideia que eu tive mais
cedo. Eu tomei um gole do meu suco de laranja, limpei minha garganta e
disse:
A cada vez que ele mencionava esse contrato eu me arrependia mais por
não ter lido ele.
— Mas nada! Chega! A propósito, mais tarde nós temos que ir até a casa
do meu avô. — Ele falou agitado enquanto comia o restante da comida que
estava em seu prato.
Eu toquei meu ferimento na perna por cima do vestido e notei que estava
úmido, acho que devido ao meu esforço de ter andado até a casa de hóspedes
ele deve ter aberto e sangrado. Os cacos de vidro também haviam causado
pequenos cortes nas solas dos meus pés, o que provocava uma ardência
constante e agora que o efeito do medicamento estava passando a dor havia
aumentado. Acho que não seria uma boa ideia eu ir a esse jantar.
— Eu não acho que estou muito disposta hoje para sair. Eu estou muito
cansada, você pode ir, eu ficarei aqui na sua casa descansando. — Eu falei
para ele e torci para que ele não fizesse questão da minha presença lá e me
dispensasse dessa saída que com certeza não me faria bem.
— E desde quando você acha que tem autonomia para decidir alguma
coisa? Você queria se casar comigo, por isso assinou aquele contrato, não é
verdade? Então, agora aguente as consequências e saiba agir como uma
esposa adequada. Você vai até a casa do meu avô porque é seu dever me
acompanhar em todos os eventos e compromissos que formos chamados
pois, nós somos um casal para as pessoas verem e temos que agir assim. —
Ele falou com o tom de voz mais frio possível.
Ele deu um sorriso breve ainda mantendo sua pose arrogante. Parecia
não ter acreditado em uma palavra se quer que eu havia acabado de falar
pois ele tentou me intimidar por mais um momento. Antes de sair da sala de
jantar ele me disse:
— Mais tarde eu entregarei o vestido que você deve usar esta noite. —
Ele me deu mais uma boa encarada e saiu dali me deixando sozinha na sala
de jantar.
— Obrigada, Janet. Você não precisava fazer isso. Como sabia dos
horários?
Ele estava debruçado sob a mesa, uma mecha do cabelo dele caia sobre
sua testa e ele movimentava sua cabeça para tira-la do seu campo de visão,
para que pudesse se concentrar no que estava fazendo. Fiquei perdida por
um momento naquela cena, mas logo saí dali antes que ele percebesse minha
presença. Como estava um pouco fraca por causa da dor decidi descansar
durante a tarde para ter forças para ir na casa de Robert Staton à noite.
Quando olhei na minha frente era Jeff, ele segurava um vestido curto e
ao ver que eu o acordei colocou o vestido na cama.
— Esse é o vestido que você deve usar para ir. — Ele falou ordenando.
Jeff já estava arrumado, então disse: — Vou descer e a espero lá embaixo
para que você possa se arrumar tranquilamente.
— Dá para andar logo? Nós vamos nos atrasar! Irei espera-la no carro.
— Por que você não está usando a roupa que eu mandei você usar?
— Achei inconveniente usar um vestido curto para vir a casa do seu avô
pela primeira vez. — Tentei justificar dessa maneira para ele não falar nada,
porém foi inútil.
— Não faz sentido isso. Você está fazendo isso puramente para medir
forças comigo, para mostrar que está insatisfeita com a maneira que eu a
trato. Por isso está agindo dessa forma. Se continuar agindo assim terá que
aprender a lidar com as consequências. — Ele falava com ira.
Acho que eu tinha que falar para ele que eu havia me machucado, até
porque eu não estava me sentindo bem. Senti que meu corpo estava
começando a ficar quente, eu poderia estar com febre. Quando eu fui me
explicar, a porta da casa do avô dele foi aberta e fui impedida de falar.
Capítulo 08 – Constrangedor
Constrangedor
Narração - Charlotte Staton
— Ah, agora você não acha necessário nem ao menos me falar quando é
um jantar ou não? — Perguntei com raiva, mas a expressão do meu rosto
não era condizente com a raiva que eu sentia para não chamar a atenção dos
demais convidados para nós dois.
— Disso mesmo que você ouviu, gostou tanto que quer que eu repita? —
Eu falei ao dar um sorriso e aproximei meu rosto bem perto do rosto dele
para fingir que éramos um casal feliz e estávamos apaixonados.
— Você acha que por estarmos aqui, na frente da minha família, você
pode falar da maneira que bem entende com esse sorriso sarcástico em seu
rosto, que nada irá acontecer a você? — Ele me fitava com fúria, dava para
ver pelo olhar dele, mas o seu rosto estava sereno como se nada de mais
estivesse acontecendo.
Jeff ainda estava comendo, ele mastigou a carne que estava em sua boca
com mais voracidade e segurou seu talher com tanta força que pude ver ele
entorta-lo. Meu marido me olhou furioso e apenas balançou a cabeça de um
lado para o outro, demonstrando sua indignação.
— Oi, Adélia. O prazer é todo meu. — Ela sabia até mesmo o meu nome
e eu não fazia ideia de quem ela era.
Ela foi a mulher que saiu aos risos na noite do jantar, junto com
Brandon. Achei ela familiar aquela noite porque eu me recordei também da
sua fisionomia por vê-la estampada em jornais, quando eu vi uma notícia
sobre as empresas Staton. Eu lia pouco jornal, mas eu me recordei dela
porque ela tinha uma fisionomia marcante. Depois de ter me lembrado dela,
voltei meu raciocínio para aquela pergunta pra lá de esquisita que ela havia
feito, e finalmente a questionei:
— O que foi que você disse?
Olhei para Jeff como se pedisse socorro diante da pergunta dela, por
mais que achasse que ele se manteria neutro diante daquilo. Acho que se eu
soubesse do contrato talvez eu saberia porque ela estava me questionando
daquele jeito. Para minha surpresa Jeff falou com ela usando o mesmo tom
que costumava usar para se dirigir a mim e disse:
— Se você está com tanta curiosidade sobre uma gestação por que você
mesma não providencia uma?
— Seu noivo parece estar mais que pronto para colocar um herdeiro dele
dentro da sua barriga.
Eu arregalei meus olhos pois achei essa última fala dele extremamente
invasiva e de mau gosto, dei um gole em minha bebida por conta do
momento constrangedor. Ele sempre foi um homem tão elegante diante das
pessoas, era estranho que ele tratasse aquela mulher daquela maneira. Eu
pensei que somente eu receberia um tratamento ruim por parte dele. Adélia
então disse:
Porém, foi nesse momento que percebi que ela era noiva do Brandon. Ele
estava de longe observando tudo, parecia que ele se divertia ao imaginar o
teor da conversa que acontecia entre Jeff e a noiva dele. Acho que eles eram
inimigos há muito tempo, agora o motivo seria um mistério para mim. Era
perturbador eu viver em uma família que eu não sabia o que acontecia de
fato, além de nem ao menos saber os motivos que me levaram a estar ali
aquela noite... Era muito ruim não ter uma boa relação com meu marido para
se quer perguntar as coisas que aconteciam a minha volta. Jeff continuou a
responder Adélia:
— Eu gostaria que você tomasse conta da sua vida e dos seus problemas
ao invés de ficar tão preocupada e deslumbrada com a vida de outras
pessoas. Está com tempo sobrando para tomar conta da vida alheia,
Adélia? — Ele tinha um sorriso ao falar.
— Por que uma pergunta tão simples o perturbou tanto? Isso me leva a
pensar que há algum problema conjugal mais íntimo entre o casal. — Ela
bebeu um pouco do vinho que estava segurando na taça em sua mão e
fuzilou Jeff com seu olhar.
Infelizmente, ela foi certeira no que havia dito. Havia mais que um
problema íntimo entre nós dois. Pois, se quer tínhamos intimidade, e isso se
tornava mais que apenas um simples problema conjugal. Pelo fato disso ser
verdade pareceu ter sido o bastante para ela tirar Jeff do seu estado de
tranquilidade.
Quando ele fez isso e eu fui levantar minha perna ferida que estava há
muito tempo em uma posição só, ao fazer isso eu senti uma dor tão intensa
que cambaleei. Jeff firmou mais sua mão em minhas costas ao perceber o
movimento que eu fiz. Adélia e Brandon se inclinaram para nossa direção e
Adélia perguntou:
Eu não podia acreditar que ele estava falando daquele jeito comigo. Eu
estava sentindo uma dor insuportável e ainda tentava me segurar na frente
dele, e de todos que estavam ali, mas como se não bastasse tinha que ouvir
as humilhações dele. Respirei fundo e me encostei um pouco na parede que
estávamos perto, já que ele achava que eu estava bêbada de qualquer
maneira, eu não iria tentar me justificar. Decidi que iria tentar ficar o mais
quieta possível na tentativa do mal estar passar.
— Meu filho, minha querida nora, como vocês estão? — Ela mantinha
aquele sorriso falso ao falar.
— Olá, Cora. Estou bem obrigada, e a senhora? Como está? — Perguntei
a ela com cordialidade e me desencostei da parede em que eu me encostava
para manter minha postura ao conversar com ela.
— O que está fazendo aqui sozinha? Onde está seu marido? — Ele
perguntou com um sorriso, mas seu tom era maldoso.
— Alguém está de mau humor... Será que foi pelo fato de presenciar a
discussão calorosa entre os primos? — Ele se sentou do meu lado mesmo
sem ser convidado.
Como eu iria saber dessa informação sendo que meu marido mal dirigia
a palavra a mim, a não ser quando era para me humilhar.
— Digamos que a relação deles não é muito boa como você mesma pôde
observar há alguns minutos. — Brandon me explicou e ele tinha um sorriso
sarcástico ao lembrar da discussão entre sua noiva e meu marido.
— Eles brigaram por conta da partilha dos últimos 25% das ações da
empresa. Não chegaram a um acordo, e então, por conta dessa desavença foi
estipulado algumas exigências para ver qual dos dois conseguiria cumprir
primeiro. Como algumas dessas exigências tem a ver com você, Adélia ficou
curiosa a seu respeito e por isso quis saber se você estava grávida. —
Brandon me explicou, mas na verdade ele me deixou mais em dúvida do que
eu estava anteriormente.
O que eu tinha a ver com essas exigências que determinariam qual dos
dois primos ficaria com as últimas ações da empresa? Que conversa mais
estranha. Essa noite estava ficando cada vez mais incomum e confusa para
mim. Eu pensei em perguntar mais para ele sobre o que ele queria dizer com
aquilo, mas, me dei conta que eu e Brandon estávamos sozinhos naquela sala
de estar e ele estava sentado muito próximo a mim.
Eu não queria dar motivos para Jeff suspeitar da minha fidelidade a ele,
muito menos queria que ele me humilhasse novamente por conta disso.
Além do mais não queria confusão com a prima dele que já parecia o odiar,
não queria que ela me odiasse também. Não estávamos fazendo nada de
mais, mas eu não queria ser mal interpretada. Então eu disse:
— Brandon, não me leve a mal, mas não seria melhor você ir ficar perto
da sua noiva? Ela pode estar sentindo sua falta, e as pessoas podem comentar
o fato de nós dois estarmos aqui sozinhos. — Diante do que eu falei ele
começou a rir e disse:
— Você pode até não se importar, mas eu me importo com o que meu
marido pensa e exijo que você me respeite! — Eu fui bem ríspida no modo
de falar com ele. Ele ainda ria da situação como se eu estivesse brincando. O
idiota simplesmente não me levava a sério!
— Você atua muito bem, eu quase acredito nas suas palavras. Você não
precisa fingir comigo. Eu estou noivo da Adélia pelo mesmo motivo que
você está casada com o Jeff. Por essa razão eu não me importo com minha
noiva, eu não ligo para o que ela sente e pensa porque isso não passa
meramente de um negócio para mim, e suspeito que ela veja somente dessa
forma também. — Ele deu de ombros ao falar.
Eu fiquei olhando para ele em choque, era muito absurdo o que ele havia
acabado de falar. Então, eu presumi que meu marido muito provavelmente
pensava assim também. Pelo fato do nosso casamento ser contratual ele não
devia se importar comigo, da mesma maneira que Brandon não se importava
com Adélia, além disso, eu tinha várias provas da pouca importância que
meu marido dava para mim. Foi inevitável que meu semblante não se
tornasse triste.
— Você e o Jeff podem ser assim, mas eu não sou. Não venha medir meu
caráter da mesma forma que você faz com o seu. — Eu ainda falava para ele
de uma maneira mais grosseira.
Brandon era sem noção e invasivo. Mas algo me fazia acreditar que ele
também tinha mais conhecimento do contrato que eu assinei do que eu
mesma.
Respirei fundo depois do que ele falou e olhei para o lado oposto que ele
estava, não queria me estressar com ele. Eu estava passando muito mal, com
dor e febre que pareciam aumentar a cada minuto. Eu não iria me desgastar
com as picuinhas e provocações de Brandon, já bastava o que eu tinha que
aguentar do meu próprio marido... Aguentar de um desconhecido seria o fim.
— Bem que você podia me dar seu número de telefone para a gente
conversar, não é mesmo? — Ele falou sorrindo ao se inclinar para ver o que
eu fazia no telefone.
— Não mesmo. Você não tem um pingo de noção pelo visto não é
mesmo, Brandon? — Eu olhava para ele indignada com a ousadia que ele
tinha. Eu nunca havia dado liberdade para ele agir dessa forma. Afastei o
telefone do olhar dele para manter minha privacidade.
Eu olhava para ele tão atônita com a cara de pau que ele tinha, que
cheguei a pensar se ele era uma pessoa normal por agir daquela maneira.
Eu fiquei tão chocada com o que ele tinha acabado de fazer, me senti tão
invadida, que a princípio não tive reação, mas depois comecei a tentar pegar
o celular da mão dele.
Quando Brandon viu que Jeff havia chegado na sala, ele tirou o sorriso
que estava em seu rosto e me devolveu o celular de um jeito como se
estivesse envergonhado. O que me irritou foi o fato que ele não estava
envergonhado pelo o que fez, pois enquanto eu insistia para devolver meu
celular ele não tinha feito isso. Ele ficou envergonhado pelo fato de que Jeff
havia pegado ele no flagra, no momento em que ele fazia aquela palhaçada.
Ele parecia ter medo do meu marido.
Brandon se levantou do sofá arrumando seu terno, olhou para mim uma
última vez, e em seguida olhou para Jeff. Ele deu um sorriso sem graça para
meu marido, e disse em um fio de voz:
— Com licença. — Ele passou por Jeff, que não falou nada para ele e
apenas o fitava com um olhar de reprovação enquanto ele andava até a saída
da sala.
Após isso, Jeff voltou seu olhar colérico para mim me fazendo engolir
seco. Eu mantinha meus olhos fixos nos dele, por mais que eu estivesse
assustada. Eu não queria demonstrar, por isso não desviei o olhar, mesmo eu
estando amedrontada com a maneira que ele me encarava e com o que ele
falaria.
Eu senti um frio percorrer minha espinha, pois, tinha medo do que ele
poderia fazer comigo, afinal, nós estávamos ali sozinhos sem ninguém por
perto então ele poderia fazer o que bem entendesse já que não haveria
ninguém para ver e julgar o que ele estava fazendo.
Eu não poderia tolerar que ele falasse daquele jeito comigo. Prontamente
me coloquei de pé, por mais que fosse difícil por conta da dor e febre que me
devastavam.
— Olha o jeito que você fala comigo! Eu não estava me atracando com
ninguém no sofá. O Brandon é inconveniente e ele simplesmente tomou o
celular da minha mão para adicionar o número dele, mesmo eu falando que
não queria que ele o fizesse. Eu ainda tentei fazer com que ele parasse, e
quando você chegou eu estava tentando pegar o meu celular da mão dele.
Mas ele é homem, tem mais força do que eu, por esse motivo foi impossível
conseguir pegar o celular da mão dele. — Eu falei para ele bastante nervosa,
eu odiei o tom que ele usou comigo.
— Não vai aceitar minhas insinuações? Vai fazer o que quanto a isso? —
Jeff tinha um sorriso sarcástico e se aproximava de mim cada vez mais. Ele
me olhava dos pés à cabeça, e fez questão de aproximar nossos rostos. Eu
estremecia por inteiro quando ele fazia aquilo.
Os olhos azuis dele pareciam que decifravam minha alma. Eu senti que
meu tórax subia e descia por conta da minha respiração que estava bastante
ofegante, pela adrenalina da nossa discussão e por estar tão perto dele. Jeff
demonstrava que gostava de me testar se aproximando de mim desse jeito.
Eu me sentia vulnerável e era perceptível, por isso ele fazia isso sempre que
podia.
— Você não pode me ignorar, Charlotte, não pense você que pode fazer
isso. Venha, vamos dançar. — Ele me puxou me forçando a levantar.
— Então com um completo estranho você dança? Dançou com ele no dia
do nosso casamento, no jantar, e agora para dançar comigo que sou seu
marido, você se recusa? — Ele falava com indignação se referindo as vezes
que eu dancei com Brandon.
Ele tinha razão, não fazia sentido nenhum eu recusar uma dança com ele
caso eu estivesse me sentindo bem, mas esse não era o caso. Então resolvi
aproveitar a oportunidade para confronta-lo.
Jeff fechou seus olhos por um momento e soltou o ar pela boca. Eu acho
que tinha o levado ao ápice da raiva pelo que eu havia falado. Ele ficou tão
furioso por conta do que eu falei que agarrou meu braço com força e disse:
— Solta ela, você não está vendo que ela não quer ir!? — Adélia falou
alterando sua voz para Jeff.
Ela mantinha sua mão em meu braço e me olhou intrigada. Ela arqueou
uma de suas sobrancelhas e me encarou, acho que nesse momento ela
percebeu que eu ardia em febre e havia mentido sobre meu mal estar ser por
conta da bebida. Jeff olhou para sua prima a fuzilando com o olhar.
— Não me meter!? Você está sendo um tosco com ela, está ignorando
completamente o fato de sua esposa dizer que não quer dançar, e é incapaz
de respeita-la. Mas não é de se surpreender, não é mesmo, Jeff? Você não
sabe respeitar mulheres!
— Quem você pensa que é para dizer que eu não respeito mulheres? Eu
não respeito qualquer pessoa que não se dá o respeito como você! — Jeff
começou a falar cada vez mais alto.
A minha dor estava cada vez mais insuportável ainda mais porque
estavam esbarrando na minha perna enquanto eu tentava fazer com que a
briga entre os dois cessasse. Adélia deixou sua taça com vinho cair no chão e
isso chamou a atenção de todos. Eu não suportava mais a dor então acabei
me desequilibrando e ia cair.
Cora repreendia os dois furiosa e ainda não havia se dado conta que eu
estava praticamente caída nos braços de Brandon. Ao perceber, ela arregalou
seus olhos e se calou, esperando que alguém dissesse o que estava
acontecendo ali.
— Jeff, você não percebeu que sua esposa estava doente? — Brandon
indagou Jeff com indignação. Até ele que era um perfeito babaca havia
percebido que eu não estava bem, enquanto meu marido não havia se dado
conta até que tivesse chegado a esse extremo.
Jeff engoliu seco diante da pergunta de Brandon e pareceu ter ficado
constrangido por não ter percebido o estado crítico em que eu me
encontrava. Ele não se atentou que eu realmente estava me sentindo mal
como eu havia falado para ele. Talvez se ele me escutasse e me levasse a
sério, nada disso teria acontecido, nem mesmo aqui nós dois estaríamos.
Antes que ele falasse mais alguma coisa a mãe dele falou com um sorriso
largo se direcionando a mim:
Eu olhava para ela sem entender o motivo daquela pergunta. Por que as
pessoas estavam me fazendo essa pergunta como se fosse algo de suma
importância e totalmente natural para se perguntar para alguém? Parecia ser
um caso de vida ou morte, eu não entendia aquilo, e desta vez Jeff não ousou
falar nada. Creio que por ele estar processando ainda tudo que estava
acontecendo. Seria eu mesma quem deveria responder essa pergunta
absurda.
Como eu estaria grávida sendo que Jeff nunca havia se quer me tocado?
Imagina ter feito amor. Eu preferi não responde-la com palavras, então,
ainda apoiada a Brandon, enquanto ele me segurava, eu mantive minha
expressão confusa e balancei a cabeça de um lado para o outro
negativamente para responder minha sogra. Eu tinha a esperança que ela
pudesse me esclarecer porque ela perguntava isso repetidas vezes. Então
Cora falou:
— Você tem certeza que não está grávida? — Acho que eu teria que
responder verbalizando, pois ela queria ouvir com todas as palavras.
— Sim, Cora. Eu tenho certeza que eu não estou grávida. — Falei para
ela com firmeza e olhei para Jeff esperando que ele fizesse algo.
— Mas esse mal estar, pode ser de uma gravidez querida... — Ela ainda
insistia.
Eu fiquei aliviada, mas, senti minha perna ficar úmida. Acho que meu
ferimento estava sangrando. Ao olhar para baixo tive a certeza da minha
suspeita, vi que o sangue havia ultrapassado o tecido do vestido. Eu devia ter
feito um curativo melhor para evitar que isso acontecesse, e precisava dos
meus medicamentos também. Se Jeff não tivesse me apressado eu teria
tomado conta de tudo isso com cuidado antes de vir para evitar que esse
problema todo acontecesse.
— Tudo bem, desculpe meu filho, é que você sabe que... — Parece que
ela iria falar o motivo de me perguntar sobre uma possível gestação
insistentemente, então me voltei a ela com os olhos atentos na esperança de
ter algum tipo de esclarecimento para minha dúvida.
— É, eu não sei se Charlotte está grávida ou não, mas, é certeza que ela
está ferida. — De imediato ao falar isso Adélia olhou para Jeff o censurando
com o olhar.
Pela maneira que ela o olhava, acho que ela suspeitou que poderia ter
sido Jeff quem causou aquele ferimento em mim. Jeff ao perceber o olhar de
sua prima, resolveu se pronunciar. Ela tirou a gaze embebida de sangue e
jogou para o lado expondo meu ferimento. Alguns familiares deles fizeram
um som de espanto ao verem aquele corte profundo. Adélia se levantou e
continuou a encarar Jeff por algum tempo de braços cruzados.
— Charlotte, como isso aconteceu? Por que você não me falou que
estava machucada? — Jeff perguntou para mim, e pela primeira vez senti um
pouco de preocupação no tom de voz que meu marido usou para se
direcionar a mim.
— Eu não queria que você ficasse preocupado comigo, por esse motivo,
eu resolvi esconder de você. — Eu olhava para ele ao falar.
— Meu Deus, Charlotte. Você não pode esconder esse tipo de coisa, isso
é grave. Mesmo que alguém a reprima dessa forma, ao ponto de você sentir
necessidade de não falar... — Adélia falou enquanto lançava um olhar
incriminatório para Jeff. — Você não pode esconder algo assim. — Ela
finalizou.
Jeff revirou seus olhos pois viu que a intenção de Adélia era provoca-lo e
isso poderia acabar desencadeando outra discussão entre os dois. Robert
Staton, o avô de Jeff e Adélia observava tudo atentamente, então, com o
intuito de dar um fim de uma vez por todas naquela história ele disse:
— O show acabou, vamos dar espaço para que Jeff cuide de sua
esposa. — Ele olhou para Jeff que assentiu com a cabeça para seu avô, o
agradecendo pela sua intervenção.
Jeff se aproximou de mim que estava ainda sendo amparada pelos braços
de Brandon no momento em que todos se dispersavam.
— Obrigado por ampara-la, Brandon, pode deixar que daqui para frente
eu cuido dela. Vou estar mais atento a ela para impedir que situações como
essas aconteçam. — Ele falou o encarando e me pegou em seu colo.
— Tomara mesmo que você faça isso, pois o mínimo que um marido
deve dar a esposa é atenção... — Adélia ainda usou seu tom provocativo ao
pegar na mão de Brandon e sair com ele para outro ambiente.
— Eu não sei quanto tempo nós vamos demorar lá, acho desnecessário
que ele fique lá unicamente para nos esperar. É mais fácil ele pegar algum
carro do meu avô e voltar para casa. — Ele me explicou.
O tom de voz de Jeff era neutro. Ele não estava sendo um babaca igual
antes, entretanto, também não estava sendo uma pessoa tão amistosa. Eu
ainda não confiava naquele jeito dele então preferi ficar mais reservada e não
abusar da sorte que estava tendo. Eu queria manter esse clima o mais
próximo do normal possível, então era preciso continuar sendo cuidadosa.
Mas, Jeff, era uma verdadeira incógnita. Eu não conseguia nem se quer ao
menos imaginar o que passava na cabeça dele.
Olhei para meu ferimento e vi que ele havia se aberto. Me assustei com
aquilo e disse:
Jeff, em uma atitude grosseira que era o seu habitual, parou o carro de
maneira brusca tanto que eu tive que segurar no painel para não bater meu
rosto, em seguida, me pressionou contra o banco colocando suas duas mãos
em meus ombros apertando-os forte e gritou:
Eu achava que aquele homem não podia ser normal, não era possível ele
agir assim comigo dessa maneira ainda mais sendo que foi ele quem foi o
culpado por eu estar desse jeito. Fiquei ofendida e assustada pela maneira
que ele agiu, fiquei o encarando e diante dessa atitude dele foi impossível
evitar que lágrimas invadissem meus olhos, mas, eu aguentei firmemente
para não deixar elas escorrerem.
Jeff ficou me olhando por mais um tempo, ao perceber que eu não falaria
nada ele voltou a se sentar no banco do motorista e seguimos viagem. Eu
aspirei meu nariz para impedir que as lágrimas que estavam paradas em meu
olho escorressem, só que pensei comigo que não iria ficar ali calada diante
daquela grosseria. Respirei fundo e então disse:
— Eu estou machucada por sua culpa, fui até aquele jantar na casa do
seu avô no estado em que estou por exigência sua. Fui forçada por você a
dançar, além de sofrer incontáveis humilhações vindas de você. Como se não
bastasse isso tudo, ainda tenho que aguentar essa dor, que está me fazendo
ficar doente, em silêncio, para não irritar o príncipe? — Eu falava no tom de
voz normal porque estava sem forças até mesmo para falar alguma coisa em
um tom nervoso.
— Charlotte, por favor! Não me tira do sério, eu nem sabia que você
estava ferida, me poupe e pare de dar uma de vítima.
— Te tirar do sério? Dar uma de vítima? É claro que você não saberia,
você não me permite falar sobre nada! Olha o que você tem feito comigo! Eu
sou um ser humano e mereço ser tratada como um. — Eu falei em protesto e
dessa vez alterei minha voz.
Talvez Jeff não fosse um homem ruim, mas acho que por conta do
contrato ele me tratava assim. Eu precisava saber o que tinha naquele
contrato o quanto antes para saber o que eu realmente havia assinado.
∞∞∞
Narração - Jeff Staton
Ao saber que meu ataque de fúria hoje de manhã, ao ver aquela mulher,
pegando a bola que tinha tanto valor sentimental para mim, resultou em um
ferimento tão grave como parecia, eu me senti péssimo. Então, achei
minimamente que o que eu poderia fazer era parar de maltrata-la, como eu
fazia questão de fazer sempre, pelo menos por um tempo.
Eu não era um homem ranzinza, sempre fui mais seco, mas saber que eu
tinha que conviver com uma mulher como a Charlotte que era capaz de
assinar um contrato daquele e ainda tentar me impressionar fingindo ser uma
boa moça todos os dias, era intragável. Por vezes ela atuava tão bem que eu
quase acreditava que ela era uma pessoa boa, mas, logo eu voltava para
realidade.
Ela era perigosa, uma pessoa capaz de coisas absurdas por dinheiro. Por
esse motivo eu não iria me deixar levar, por mais que ela fosse
deslumbrantemente linda. Charlotte tinha os olhos azuis, a pele clara, porém
com pontos rosados que não a deixavam ter nenhum toque de palidez. Seus
longos cabelos dourados e ondulados que caiam sob seu rosto, traziam uma
luminosidade completamente única para o contorno da sua face. O corpo
dela, parecia ter sido pintado a mão por algum pintor renascentista que
cuidadosamente pincelou suas curvas deixando-as perfeitas e desejáveis aos
olhos de qualquer um. Sendo assim, meu cuidado deveria ser redobrado,
para não ser enfeitiçado por aquela golpista, além do fato que ela me era
muito familiar, mas eu não conseguia associar a alguém que eu conhecia,
apenas sentia que ela mexia comigo de um jeito perturbador.
Achei prudente dispensar o motorista porque não sei como seria nossa
noite no hospital. Assim que entrei no carro ela questionou a respeito, e eu,
com toda a educação que eu não queria gastar com ela, respondi.
Fui bruto com ela e pareceu ter dado certo. Eu olhava para minha esposa
enquanto eu dizia para ela parar de agir dessa maneira. Ela tinha olhos tão
penetrantes e assustados, que mais uma vez, eu quase acreditei que ela era
inocente como ela queria demonstrar. Me afastei dela e voltei a dirigir,
pensei que tinha conseguido fazer com que se calasse. Porém, mais uma vez
como ela estava fazendo de modo habitual, Charlotte reclamou que eu a
maltratava e fez questão de dizer que se estava ferida a culpa era minha. Eu
nem ao menos sabia que ela estava machucada por isso exigi que ela fosse
ao jantar, era injusto ela querer cobrar algo que eu não tinha conhecimento.
Ela ainda justificou que não tinha como falar comigo, porque eu não
permitia, e por esse motivo eu jamais saberia o que se passava com ela.
Aquilo me deu nos nervos, então, resolvi falar para ela sobre o contrato,
eu não sei o motivo, talvez ela tivesse um pingo de decência e sabia que o
que tinha assinado ultrapassava todos os limites da moralidade, pois, toda
vez que eu mencionava algo a respeito do contrato ela se calava, e dessa vez,
não foi diferente.
Eu não entendi aquilo, nem mesmo com minha ex-namorada, pessoa que
eu gostei muito, eu senti aquele fogo que parecia querer me consumir por
dentro. Ela deitada em minhas pernas com seu rosto angelical e com o
semblante tranquilo, conseguiu me prender de uma maneira como ninguém
nunca havia conseguido.
Eu queria ter ela para mim ali naquele momento, beijar sua boca e fazer
ela se tornar minha. O que eu estava falando? Aquela mulher deitada no meu
colo era praticamente minha inimiga, e além do mais ela estava ardendo em
febre que mal conseguia se manter de pé. Como eu estava pensando nesse
tipo de coisa? Mesmo dirigindo devagar, e tentando prestar atenção na
estrada eu não conseguia porque eu queria ficar admirando e tocando-a.
Me senti ridículo, e por mais um tempo fiquei perdido ao olhar para ela e
sentir sua pele, que estava tão quente por conta da febre que fazia eu sentir
mais vontade de tê-la para mim. Eu estava ali, ardendo em desejo ao olhar
para a esposa que eu tanto desprezava como nunca havia sentido por
ninguém, até que ouvi uma buzina bem alta de um caminhão.
Que raiva! Eu pensei que ela estava desacordada e só por isso eu havia
feito aquilo. Eu limpei minha garganta para disfarçar e fiquei visivelmente
incomodado. Então Charlotte falou:
Assim que Jeff apoiou minha cabeça no colo dele ele começou a
acariciar meus cabelos e rosto, eu confesso que não entendi o motivo pelo
qual ele estava fazendo aquilo. Fiquei completamente atordoada, mas, além
de não ter forças para me levantar naquele momento eu não ia deixar de
aproveitar a primeira demonstração de afeto que meu marido estava tendo
comigo. Eu o amava, e havia idealizado passarmos por um momento assim
tantas vezes na minha vida que já havia perdido as contas. Era uma baita de
uma coincidência que o Jeff fosse o Jay-Jay, o meu Jay-Jay que eu tanto
sonhei e quis reencontrar por tantas vezes.
Ouvi um barulho de buzina um pouco abafado por estar com meu ouvido
encostado na perna de Jeff e em seguida, ele interrompeu o carinho ao tirar
sua mão de mim e virou de um jeito violento o carro. Eu já estava me
sentindo melhor da tontura que me fez desfalecer, então, me levantei
assustada, sem entender o motivo dele ter feito aquilo. Perguntei a ele o que
havia acontecido e ele me explicou que tinha se distraído e invadindo a pista
contrária a que estávamos. Ele estava agindo como se não tivesse feito nada,
acho que ele pensou que eu estava desmaiada ou havia pegado no sono por
conta da fraqueza. Mas, eu não ia permitir que ele fingisse que não havia me
acariciado enquanto eu estava deitada no colo dele.
Sendo assim, decidi que iria arriscar e falar que eu sabia que ele estava
me acariciando. Quando falei para ele, ele ficou visivelmente constrangido e
não sabia como reagir. Jeff ficou feito uma criança quando está fazendo
alguma travessura e é descoberta pelos pais. Eu vi que talvez ele pudesse ter
se sentindo desafiado quando falei daquela maneira, então, imediatamente
dei um jeito de falar para ele que havia gostado do que ele tinha feito.
— Jeff, por que você age assim comigo? Não precisa ser assim.
Toquei no rosto de Jeff fazendo ele se virar para mim. Fiquei com receio
porque eu não sabia qual poderia ser a reação dele, mesmo assim fiz. Jeff
recobrou aquele mesmo olhar que parecia brilhar ao me ver. Acho que ele
sentia algo por mim, mesmo que fosse desejo, dava para sentir a atração que
estava acontecendo entre nós dois no ar.
Não dava para ouvir o que a outra pessoa do outro lado falava, mas Jeff
deu um suspiro e passou a mão na cabeça em um ato cansado e falou:
Senti que ele aceitou ir onde solicitaram para que ele fosse, com
relutância, pois, sem querer ser convencida eu acho que ele queria ficar ali
comigo. Eu observei que Jeff estava fazendo questão de mim, mesmo que eu
não entendesse o porquê naquele momento.
Não daria tempo nem mesmo de chegar próximo a porta para abri-la e
pedir socorro. Então, peguei meu celular e apertei para ligar para o primeiro
número das minhas chamadas recentes, já que eu havia ligado pela última
vez para Sam. Eu não estava enxergando claramente. Assim que ele atendeu
o telefone eu mal ouvi a voz dele na ligação e disse:
Ligação ON
Ligação OFF
Antes que eu pudesse completar minha frase deixei o celular cair no chão
devido a fraqueza que sentia, tudo se tornou escuro e a última coisa que me
lembro é da minha queda.
Fui movimentando minha cabeça para olhar para meu lado direito, e
primeiramente, eu vi um par de pernas que pareciam ser de homem. Devia
ser o Sammy, já que eu o chamei, dei um sorriso apesar de ainda estar bem
fraca e confusa. Quando ergui meus olhos para ver quem estava ali, eu me
assustei. O homem que estava ao meu lado não era Sam, mas sim, Brandon!
O que ele estava fazendo ali? Como ele sabia que eu estava ali? Ao ver
que eu o olhava com uma expressão completamente confusa ele sorriu de um
jeito perverso e disse para mim:
— Por que você está aqui, Brandon? Como sabia que eu estava aqui? —
Perguntei para ele com uma de minhas sobrancelhas levantadas.
— Você não lembra que ligou para mim? Foi você quem me ligou e
pediu que eu viesse. — Ele me explicou.
— Não, eu não liguei para você tanto que eu apertei diretamente para as
chamadas recentes... E... — Antes de continuar a falar me lembrei que mais
cedo, no jantar, Brandon havia pegado meu celular da minha mão para
anotar o telefone dele contra minha vontade. Ele tinha um sorriso em seu
rosto, ao ver que compreendi o que aconteceu. — Isso é tudo culpa sua
Brandon, eu ia ligar para meu primo. Eu chamei você pelo seu nome?
— Não, você me chamou de Sam. — Ele falou dando uma risada. — Até
pensei que fosse porque você estava confusa.
— Está vendo como não era para você que eu queria ligar!? Se não fosse
sua gracinha lá no jantar nada disso teria acontecido! — Eu falei com raiva.
— Ué, como eu ia saber que ia resultar nisso tudo. — Brandon disse com
deboche.
Eu revirei meus olhos e cruzei meus braços. Vi que meu celular estava na
mesa ao lado da poltrona do acompanhante onde ele estava sentado.
— Sim, senhora. — Ele respondeu ironizando o tom que usei com ele
enquanto pegava o celular para me entregar.
Ligação ON
Sam: — Char? Está tudo bem? — Ele tinha seu tom de voz preocupado
por conta do que havia ocorrido hoje mais cedo.
Sam: — Tá, tudo bem. Eu não vou ficar brigando com você, só porque
você está mal, mas quando você se recuperar você vai se ver comigo,
mocinha. — Ele deu uma risada e isso me fez rir junto com ele. — Onde
você está internada?
Sam: — Tudo bem, só vou me arrumar e já estou indo para aí. Um beijo.
Ligação OFF
— Você é bem íntima desse primo seu, hein? — Brandon falou com
maldade em sua voz.
— Ah, olha aqui. — Ele me mostrou o seu braço que estava com um
hematoma.
Não estava tão grave assim, mas vi que ele queria que eu o admirasse
pelo que ele fez por mim.
Então, resolvi que eu pagaria um jantar para ele, mas procuraria escolher
um restaurante mais informal para não ficar parecendo que Brandon e eu
estávamos tendo um encontro. Eu achava Brandon muito malicioso comigo,
e parecia que ele tinha segundas intenções. Sendo assim, eu teria que deixar
mais que claro para ele que não compartilhava das mesmas intenções que
ele, e nem mesmo tinha a mesma índole duvidosa que ele tinha. Porque
diferente de mim, ele assinou um contrato para ser noivo de Adélia sem ser
pressionado pela família, pelo que ele demonstrava, mas sim por livre e
espontânea vontade.
Já falei desse jeito para demonstrar para ele que eu não tinha nenhum
tipo de segundas intenções com ele. Assim que falei do jantar, Jeff chegou
na porta do quarto e ouviu o que eu tinha falado sobre pagar um jantar para
Brandon. Pela expressão que ele fez pareceu não gostar nada nada daquilo.
Jeff estava com o cabelo molhado e parecia estar com muita pressa ao
chegar. Acho que ele tinha ido em casa tomar um banho para poder ficar
comigo no hospital. Assim que o viu, Brandon se levantou e disse:
Jeff o encarou com uma cara de poucos amigos, Brandon parecia querer
estar puxando saco dele, mas meu marido não cedia tão facilmente.
Jeff por um momento me olhou com aquele mesmo olhar que havia
lançado para mim no carro, e eu o olhei da mesma forma. Não era difícil eu
olhar para ele com a expressão apaixonada, afinal, eu o amava há 10 anos.
Brandon ao perceber tudo disse de um jeito debochado:
— Também não é para tanto, eu não tenho nada a ver com a briga entre
vocês dois. Eu sou neutro. — Brandon tentava se justificar dando um
sorrisinho amarelo para Jeff.
Brandon engoliu seco e colocou suas mãos nos bolsos de sua calça, já
que Jeff havia acabado com toda e qualquer argumentação que ele pudesse
arranjar. Sendo assim, para sair daquela saia justa Brandon disse:
— É... Bom, já que está tudo resolvido eu vou indo. Qualquer coisa, é só
me ligar de novo se precisarem. — Brandon deu uma piscadinha para mim e
deu duas batidinhas no ombro de Jeff ao sair do meu quarto no hospital.
Eu só dei um sorriso forçado para ele que assim que ele se virou eu já o
tirei do meu rosto, Brandon era claramente o retrato da pessoa que não tinha
noção nenhuma. Jeff voltou seu olhar para mim, mas, dessa vez estava me
censurando, creio que por ter ouvido que eu pagaria um jantar para Brandon
e também pelo fato de que eu liguei para ele, então Jeff disse:
— Por que você ligou para o Brandon? E que história é essa de jantar
com ele? Devo lembra-la novamente da cláusula do contrato onde você deve
fidelidade a mim? — Ele falou um pouco agitado e caminhou em minha
direção. Mas dessa vez eu senti que ele poderia estar enciumado.
— Char, que bom que você acordou. Estava ali lendo seu prontuário. —
Eu senti um pouco de preocupação em sua voz.
— Agora que você está acordada e eu estou aqui na sua frente, eu posso
te dar uma bronca, pois sei que você está fora de perigo. Você foi muito
irresponsável, Char! — Ele falava um pouco bravo.
— Você tem que parar de querer poupar esse cara, e se sacrificar por
causa dele. Ele não é nenhum rei ou algo do tipo, muito pelo contrário ele é
um completo babaca e já te deu inúmeras provas disso, mas você parece
fechar os olhos para as coisas que ele faz. — Sam falava irritado ao se referir
ao meu marido.
— Não é para tanto. — Tentei defender Jeff e olhei para Sam. Diante do
que eu falei ele me encarou indignado.
— Eu não sei porque você protege tanto esse homem, ele não merece
toda essa consideração que você tem com ele. — Ele balançava a cabeça
negativamente ao falar expressando seu descontentamento.
— As coisas não são tão simples como você imagina. E eu acho que a
maneira que ele me trata tem a ver com o contrato. — Justifiquei para ele
com a intenção que ele tentasse ao menos entender porque Jeff me tratava
daquela maneira.
Eu sei que nada justificava o que ele fazia comigo, afinal, eu nunca fiz
nada de ruim para ele e Jeff era cruel comigo. Mas, o problema é que ontem
à noite eu vi uma face do Jeff que eu nunca havia visto. Eu o vi preocupado
comigo, percebi que ele tinha desejo por mim da mesma forma que eu tinha
por ele, contudo, o que travava ele a se entregar a um possível sentimento
que surgia por mim, era o contrato.
— Você estava lá no dia, sabe que eu não tive oportunidade de ler aquele
contrato... — Eu disse decepcionada.
— Sammy, tem horas que eu acho que você vive em uma realidade
alternativa. O nosso avô me obrigou a assinar um contrato, eu fui forçada a
casar com um estranho sem ao menos ter meus sentimentos e opinião
levados em conta. Você acha mesmo que ele iria me deixar ver novamente,
ainda mais por conta do conteúdo duvidoso que há nele? Óbvio que não! —
Eu mantinha meus olhos fixos nele enquanto falava.
Toda vez que eu fazia essa expressão Sam não conseguia dizer não para
mim.
— Isso é golpe baixo, você sabe que não consigo falar não para você
quando você faz essa cara, não vale, Char! Mas tá bom... — Ele passou a
mão em seu rosto como se estivesse se dando por vencido. — Eu vou
investigar sobre esse contrato para você já que é tão importante, e que Deus
me ajude para que o vô não descubra o que eu estarei fazendo no escritório
dele.
Sam ainda ria e me deu um abraço forte e fraterno. Mas logo ele se
afastou, e antes o semblante dele que era alegre, se tornou um semblante
sério. Então ele disse:
Assim que ele terminou de falar ouvimos uma voz dizer logo atrás dele:
Jeff havia entrado no quarto e escutado a última frase que meu primo
havia falado para mim e o respondeu. Eu arqueei minhas sobrancelhas
quando ele disse que foi ele quem passou a noite inteira comigo, então
resolvi perguntar.
Creio que meu primo ficava consternado pela forma como eu me derretia
fácil por Jeff, mas, acontece que ele não sabia a história completa sobre Jeff
ser meu grande amor da adolescência, por isso ele julgava com estranheza os
sentimentos que claramente eu nutria pelo meu marido mesmo ele sendo
uma pessoa terrível comigo.
— Bom, já que Jeff está aqui para ficar com você eu vou indo porque
preciso descansar antes do meu próximo plantão, que é daqui a algumas
horas. — Sam falou e deu um beijo em minha testa se despedindo.
— Tudo bem, Sammy. Obrigada por estar aqui. — Eu ainda sorria por
conta do que Jeff tinha falado.
Eu sei que era uma coisa pequena, mas eu estava muito feliz por saber
que Jeff havia passado a noite ao meu lado. E mesmo depois que Sam saiu,
eu continuava com o sorriso em meu rosto por saber disso e olhava para ele.
Eu estava tão animada e com tantas expectativas, quem sabe agora
finalmente nós dois poderíamos começar a nos acertar? O que aconteceu
ontem entre nós dois foi algo único, e não é possível que só eu quem senti
aquele clima... Sem chance! Se ele não tivesse sentido ele também não iria
investir daquela forma com a intenção de me beijar como ele demonstrava
querer a todo momento.
Porém, Jeff me olhou com aquele mesmo olhar sombrio, que fazia com
que eu sentisse um calafrio percorrer meu corpo e disse:
— O que você está querendo dizer com isso? — Eu olhava para ele
apertando meus lábios um no outro. E em meu interior eu torcia para que ele
não voltasse atrás e me tratasse como antes mesmo ele já tendo falado que
não sentia nada diferente.
Eu estava estática, sem saber como reagir, só sabia que o calor que eu
sentia em meu coração anteriormente, por achar que estávamos progredindo
como casal, se foi. E eu não sei porque ele tinha essa necessidade de
enfatizar que foi um mal entendido, isso me fazia questionar se ele tinha
medo que eu o interpretasse mal ou medo de realmente se apaixonar por
mim por agir daquele jeito.
Respirei fundo e engoli seco, eu não queria jamais ter que atuar para a
família dele, muito menos queria retroceder o avanço que nós havíamos
feito. Eu acho que ele falava essas coisas, simplesmente porque gostava de
me ferir e me magoar. Eu percebia que parecia que ele se alimentava da
minha tristeza, como se isso o deixasse mais forte e isso me enlouquecia.
Porém, eu não poderia deixar por isso mesmo, eu iria magoa-lo da mesma
forma.
Eu vi que ele ficou com raiva pois não esperava que eu pudesse falar isso
para ele. Jeff pressionou sua mandíbula por conta da raiva que eu causei a
ele, mas logo deu um sorriso sarcástico ao me encarar.
Era difícil manter minha compostura com ele falando palavras tão duras
para mim. Aquilo me dilacerava, eu não entendia porque ele me achava uma
pessoa tão desprezível assim. Isso era doloroso, minha vontade era gritar
com ele e perguntar qual era o problema dele e o que tinha aquele maldito
contrato que fazia com que ele tivesse uma visão tão deturpada assim ao
meu respeito.
Eu senti que Jeff ainda me olhava esperando mais alguma reação minha,
mas eu mantive minha cabeça virada para o lado e respirava fundo como se
buscando ficar calma, eu me movimentava na cama como se estivesse em
agonia. Os travesseiros pareciam incomodar, mas, na verdade, eu estava
incomodada comigo mesma e com minha estupidez sem tamanho por ainda
tentar justificar as ações do meu marido.
— Quer ajuda? — Ele falou.
Virei meu rosto para onde ele estava fazendo uma expressão confusa,
então questionei:
— Você está parecendo uma minhoca na cama, não para de mexer com
certeza há algo te incomodando. — Ele falou ao se levantar e vir em minha
direção para me ajudar.
— Ah, você se importa com meu bem estar? Ou está apenas encenando
também?
Cruzei meus braços e olhei para direção oposta em que ele estava
novamente. Jeff se aproximou de mim e começou a ajeitar os travesseiros
em que estava recostada. Inevitavelmente nós ficamos bem próximos um do
outro. Eu virei meu rosto para direção em que ele estava e o encarei. No
momento em que arrumava meus travesseiros ele me encarou também.
O mesmo clima que ele estava tentando tanto evitar que surgisse, e que
dava justificativas incoerentes para dizer que não estava acontecendo nada
de diferente entre nós, aconteceu novamente. Minha respiração acelerou seu
ritmo, pude notar que Jeff entreabriu sua boca como se ofegasse também.
Nossos lábios se aproximaram bastante um do outro, mas, diferente de
ontem rapidamente Jeff se afastou. Ele parecia lutar contra aquilo e não
queria permitir que acontecesse nada entre nós. Ele estava visivelmente
incomodado pelo que estava havendo entre nós dois. Jeff colocou as mãos
em seu bolso, limpou sua garganta e disse:
— Já que você está no hospital, por que não... — Ele hesitou e não
completou sua frase.
Eu fiquei em dúvida olhando para ele sem entender o motivo qual ele
não continuava aquela frase de uma vez por todas. Ao perceber que ele não
iria dar continuidade a sua frase o pressionei.
Fiquei remoendo isso por um bom tempo, até que uma enfermeira
apareceu novamente no quarto e colocou mais medicamentos. Aqueles
medicamentos me deixavam exausta, mas, por conta da aflição que eu estava
em minha mente tentando descobrir as inúmeras possibilidades do que Jeff
iria me falar, eu achei bom e acabei me entregando ao sono que aqueles
medicamentos provocavam em mim.
— Ah, mas tem algo que me incomodou quando você estava dormindo
pela manhã que eu esqueci de te contar. — Ele falou se sentando na poltrona
de acompanhante.
— Então me conte primo, por favor, eu estou com tempo sobrando até
demais. — Dei uma risada por conta da minha situação. Ele sorriu
brevemente pelo que falei, mas logo adotou um semblante mais sério ao
começar a falar:
— Isso é muito esquisito, e a cada dia que passa eu não sei o que pensar.
Mas, algo me diz que tudo tem a ver com esse maldito contrato. Eu preciso
descobrir o quanto antes o que tem nele. Acho que vai me ajudar até mesmo
a tomar conta do controle da minha vida novamente. — Eu falei com muita
ansiedade e estava inconformada pela atitude da família do meu marido.
— Eu, eu... É... — Eu não conseguia simplesmente admitir para ele que
eu amava o Jeff, pois estava com medo de ser julgada por Sam.
Mas meu modo de agir bastou para ele ter certeza, sem que fosse preciso
ele ouvir de mim. Sam se levantou batendo as duas mãos em suas pernas em
um ato de revolta e disse:
— Eu não acredito que você está apaixonada por esse homem com
apenas algumas semanas de casada... Inacreditável, Charlotte! E para piorar
o cara nem é uma pessoa legal que dá motivos para que você se apaixone
verdadeiramente por ele, não dá para entender você! — Sam falou enquanto
colocava uma de suas mãos na cintura andando de um lado para o outro.
Eu precisava me justificar para ele e explicar o porquê eu era apaixonada
por Jeff. Eu precisava contar que não foi por conta do casamento, muito
menos por conta da maneira que ele me tratava, afinal, eu odiava esse jeito
que ele me tratava e se eu aceitava tudo que ele fazia, era por conta do amor
que ele havia despertado em mim quando nós éramos dois adolescentes.
— Eu estou apaixonada por ele, mas não me apaixonei por ele depois do
casamento, isso aconteceu antes. — Comecei a explicar para Sam.
— Como assim? O que você quer dizer com isso? Vocês se conheceram
antes? — Ele perguntou franzindo sua testa em sinal de dúvida.
— E por que você não fala para ele, Char? — Sam tinha um olhar
compadecido para mim.
— Porque eu não sei qual será a reação dele. Acho melhor eu esperar
para me formar que aí pelo menos eu terei recursos para conseguir me virar
caso ele me expulse ao saber disso. Enquanto isso não acontece, eu vou
manter esse disfarce, fingindo que sou só uma mulher que assinou aquele
contrato para me casar com ele. Mas não sei se contarei a verdade para ele a
respeito de quem eu sou de verdade... Acho que não vale a pena.
— E por que ele não faria? Eu não sei o que esperar de Jeff, ele me
odeia. Vai que ele pensa que eu sempre planejei esse contrato para força-lo a
ficar comigo ou sei lá o quê.
— Mas Char, quando você parar de fingir, e acabar com esse disfarce
quando se formar, você tem certeza que não irá contar para ele? — Sam me
perguntou curioso.
∞∞∞
Eu precisava sair daquele quarto o quanto antes. Ontem foi por pouco
que a gente não se beijou e eu não queria arriscar que isso pudesse acontecer
novamente. Sei que fui muito duro nas palavras com ela, e mesmo ela
tentando demonstrar que não ligava para o que eu dizia quando eu a ofendia,
eu sabia que o que eu falava mexia profundamente com ela. Pelos olhos dela
dava para perceber, por mais que ela tentasse esconder. Às vezes eu ficava
decepcionado comigo mesmo pela pessoa que eu havia me tornado para lidar
com Charlotte.
Eu também ficava com muita raiva por saber que eu estava começando a
sentir algumas coisas que eu não sabia explicar por ela. Então, a melhor
saída que eu tinha naquele momento era sair do quarto, era um ato de
autopreservação. Ela com certeza deve ter ficado curiosa para saber o que eu
iria sugerir para ela fazer no hospital, mas acho que não estava no momento.
Fui até o refeitório do hospital e decidi fazer um lanche. Enquanto eu comia
fiquei pensando no que havia acontecido.
— Senhor Staton? — Eu olhei para ela ainda com minha boca cheia e fiz
um gesto com a mão para que ela esperasse eu terminar de mastigar e ela
sorriu gentilmente. Assim que terminei a respondi:
Eu fiquei com receio de que ao dar esse presente para Charlotte, ela
sentisse que estivesse acontecendo algo entre nós dois, mas, a verdade é que
eu queria muito agrada-la e depois caso ela achasse isso, novamente eu
inventaria alguma desculpa. Ao chegar na porta do quarto dela ouvi vozes,
creio que o primo dela estava lá pois ele disse que voltaria. Chegando perto
da porta ouvi claramente Sam dizer:
Eu fiquei tão furioso com aquilo, que amassei a sacola de papel da loja,
em que a camisola e o robe estavam dentro, e joguei fora com força na
lixeira que tinha ao lado da porta do quarto de Charlotte. Eu estava me
preocupando e querendo agradar uma pessoa que claramente estava
tramando algo pelas minhas costas! Eu sabia que ela não prestava, e mesmo
assim me deixei levar por alguns momentos, como eu fui idiota! Aquelas
palavras do primo dela comprovaram que ela estava me enganando, ao tentar
fingir ser uma boa moça, pois ela na verdade não passava de uma vigarista.
Virei as costas e saí dali. Já que ela estava amparada pelo primo que
sabia de todas suas tramas, pois deveria ser da mesma laia, eu iria para
minha casa descansar, essa víbora não precisava de mim por perto a não ser
que fosse para tentar me enganar.
Perdida
Narração - Charlotte Staton
Por sorte, para não tornar os dias ruins piores ainda meu primo, Sam,
vinha me visitar todos os dias. A cada vez que ele chegava eu ficava ansiosa
por conta do contrato, para ver se ele havia descoberto alguma coisa, mas
sempre minhas expectativas eram frustradas. Nem mesmo conseguir entrar
no escritório do nosso avô ele havia conseguido ainda. Nosso plano de
conseguir algo desse contrato era um verdadeiro fracasso.
Hoje ele viria me visitar mais uma vez, por mais que eu tentasse não
criar expectativas, eu as criava e pensava que alguma coisa poderia ter sido
descoberta e finalmente minha vida ao lado do Jeff se tornaria mais
simplificada porque eu saberia em que território eu estava. Eu estava sentada
em minha cama, mexendo minha perna sem parar por conta da ansiedade
que eu sentia e olhava para a porta do quarto na expectativa do meu primo
estar chegando. A enfermeira veio trocar meu curativo como de costume, e
ao perceber minha inquietação disse:
— Senhora Staton, o que você tem que te aflige dessa maneira? — Ela
me lançou um olhar preocupado ao falar.
— Estou esperando meu primo vir me visitar, ele pode ter notícias boas
para mim. Que podem mudar o rumo da minha vida... — Comentei com ela
enquanto mantinha meus olhos atentos para a porta do meu quarto.
— Entendi. Mas não fique ansiosa assim... Não é bom, muito menos
saudável. Eu não imagino o que pode ser que está a atormentando assim,
mas, procure ficar calma. Mais cedo ou mais tarde os problemas sempre se
solucionam. A gente se atormentar por eles a ponto de ficarmos ansiosas e
prejudicarmos nós mesmas com isso, não compensa. Pensa nisso, de um
jeito ou de outro tudo irá se resolver então é melhor relaxar do que se
atormentar durante o processo. — Ela sorriu ao falar e já havia terminado de
trocar meu curativo.
Assim que ela saiu do quarto, eu estava me sentindo mais leve, porém,
mesmo assim eu ainda esperava que Sam me trouxesse notícias boas, eu
precisava daquilo o quanto antes. Peguei meu celular e comecei a jogar para
distrair minha cabeça e funcionou, pois, me distraí bastante. Quando eu
estava bem entretida, meu primo apareceu e entrou no quarto. Imediatamente
meus olhos esperançosos se voltaram a ele, mas, ele tinha uma expressão
nada animadora.
— Não, não. Por mais que eu não reaja bem as pressões que ele faz,
dessa vez eu sabia a gravidade do assunto, então, eu disse para ele que estava
procurando um artigo científico meu que achei que poderia estar perdido por
ali. Ele achou estranho, mas engoliu a história, e disse que não queria me ver
mais ali porque haviam documentos que poderiam trazer muitas coisas à
tona e ele não estava disposto a lidar com elas. — Sam me contou.
— Jamais, nem pense nisso, não tem nada a ver. Eu só não quero te
enfiar nesse problemão todo que é inteiramente meu. — Eu na tentativa de
conforta-lo.
— Mas já? — Perguntei triste pois ele era a única visita que eu tinha que
interagia comigo e me tirava do tédio de estar naquele hospital.
— Sim, Char. Eu passei só para te ver um pouco mesmo. Meu dia hoje
está cheio, depois eu venho com um pouco mais de tempo, está bem? — Ele
me abraçou e deu um beijo na minha testa.
Assim que ele saiu eu decidi ligar para Brandon. Respirei fundo, não
queria ter que passar por isso e recorrer logo a ele, mas eu estava sem saída e
precisava de ajuda o quanto antes. Disquei o número dele e esperei a
chamada completar.
Ligação ON
Ligação OFF
Eu não esperei ele falar mais nada porque sabia que ele iria reclamar do
lugar simples e informal que eu havia escolhido, mas a comida era uma
delícia, eu estava olhando para baixo mas quando ergui meus olhos vi que
Jeff estava sentado em uma das cadeiras que tinha próxima a porta do meu
quarto, em frente minha cama, me olhando furioso. Acho que ele tinha
escutado eu combinando de sair com Brandon.
Eu tinha torcido para ele ter ouvido que eu não sabia do contrato.
Realmente ele não ouviu a conversa toda, apenas o final e estava tirando
conclusões precipitadas.
— Como assim vou ficar mais tempo? Aconteceu algum problema com
minha perna? Ontem a enfermeira disse que estava tudo bem. — Eu
perguntei confusa.
— Não venha dar uma inocente. Você sabe o que fará já que estamos
aqui no hospital.
Eu olhava para Jeff completamente atordoada por conta do que ele havia
me falado. Por repetidas vezes balancei minha cabeça negativamente
tentando fazer com que ele entendesse que eu não sabia de nada que ele
estava mencionando. Não sabia que tipo de coisa que eu poderia ter
reivindicado, afinal, como eu reivindiquei algo sendo que nem ao menos
fazia ideia do que eu estava assinando?
— Você não vai parar de fazer isso? — Ele estava muito irritado ao
falar. — Não tem ninguém por perto, só tem nós dois e eu não estou nem um
pouco disposto a aguentar todo esse teatro que você está fazendo.
Acho que nesse momento Jeff ficou um pouco atordoado por me ver
desse jeito, mas ele ainda não se desfazia da postura que tinha comigo, ele
continuava a me olhar com seu queixo levantado, com aquele ar de
superioridade que ele preservava sempre, por mais que seu olhar estivesse
preocupado ao me ver daquele jeito. Por conta do meu choro ele disse:
— Ok, Charlotte, eu vou permitir que você fale algo em sua defesa. Me
explique o seu ponto, estou curioso para saber. E quero ver se não passa de
pura encenação da sua parte. — Assim que ele falou eu limpei minhas
lágrimas e tentava conter meu choro.
— Como não? Como que você não saberia sendo que seu nome está lá,
assinado com sua caligrafia. E eu sei disso porque fiz questão de olhar no dia
que nós nos casamos e é exatamente igual. Eu te dei a oportunidade para
você ao menos tentar se explicar, e você faz isso... Parece piada. Às vezes eu
acho que você subestima minha inteligência achando que eu vou ser uma
marionete em suas mãos, que você pode manipular e eu vou fazer tudo que
você deseja. — Ele se aproximou de mim ficando na lateral da cama, e falou
entre os dentes. Dava para sentir a ira dele. — Mas comigo isso não
funcionará, Charlotte. Comigo não!
Eu fiquei sem palavras diante do que ele havia falado, eu não sabia como
iria refutar tudo o que ele tinha dito. Afinal realmente tinha minha assinatura
naquele contrato, mas, eu fui forçada a assinar ele. Meu avô me obrigou, e
presumo, que ele tinha como objetivo que eu realmente não lesse o contrato.
Mas se eu, ao menos soubesse o problema que isso ia me gerar, e as
consequências que eu iria enfrentar, eu tinha o lido mesmo que fosse
contrariar meu vô, e dependendo do que estava escrito ali eu jamais iria
assinar.
Jeff permanecia ao meu lado, bem próximo como se esperasse alguma
reação minha, mas eu não tinha como me defender, nem como conseguir ir
contra ele. Eu apenas abaixei minha cabeça e chorei baixinho. Diante dessa
atitude que tomei, ou melhor, diante da minha falta de atitude Jeff apenas riu
ironicamente e disse:
Assim que ele saiu eu apoiei minhas duas mãos em meu peito e chorei.
Eu chorava intensamente e sentia a dor invadindo minha alma. Chorei de
raiva por ele não ter acreditado no que eu disse, e também por frustração por
não conseguir falar tudo para ele e explicar minha situação quando tive a
chance. Jeff me tratava feito um lixo e eu deixava ficar por isso mesmo, eu
era tão passiva que não reagia. Eu precisava mudar isso o quantos antes,
pois, por conta da minha passividade eu estava dentro desse casamento onde
era humilhada constantemente.
Staton... Ainda não tinha me acostumado com o peso desse nome ao lado
do meu singelo nome. Charlotte significa mulher livre, minha mãe quem
escolheu esse nome para mim. Se ela soubesse que a filha dela que ela tanto
sonhou que seria independente estava presa a um casamento passando pelas
piores humilhações, com certeza teria sido a maior decepção da vida dela.
Fiquei perdida em meus pensamentos e acabei esquecendo de responder a
enfermeira.
Acho que eu era uma pessoa que as pessoas se sentiam à vontade para
maltratarem, era a única explicação. Eu nunca havia visto aquela enfermeira
para ela me tratar daquela forma.
— Então estou no lugar certo para levar você para fazer o procedimento.
Já que a senhora diz não saber do que se trata quando chegarmos na sala,
você descobrirá. Me acompanhe por favor. — Ela tinha um sorriso irônico
em seus lábios pois bem como Jeff parecia não acreditar no que eu falava.
Nós andamos por um longo corredor. Ao chegar na sala que iria fazer o
procedimento, vi toda a equipe paramentada, fiquei um pouco apreensiva
pois parecia que iria ser uma pequena operação. Será que havia algum
problema com minha perna e não queriam falar? Então acabando de uma vez
por todas com minhas dúvidas sobre o que eu iria fazer lá, o médico me
disse:
— Senhora Staton, você não sabia que iria ser submetida a uma
inseminação artificial? — Benson me olhava com os olhos arregalados e
segurava seu tablet contra seu corpo.
— Você não percebeu que seria submetida a algo assim? Durante dias foi
monitorado seu período fértil através da sua temperatura, e também através
de perguntas sobre seu ciclo menstrual, você não se atentou a isso? — Ela
olhava fixamente para mim e parecia bem incrédula.
Para mim ela estava falando grego. Não fazia sentido nenhum isso que
ela falava para mim sobre período fértil, ovulação, eu nunca me preocupei
com isso. Não tinha motivos pois eu não tinha relação com ninguém, e
depois que casei isso continuou, pois, eu e Jeff não tínhamos intimidade.
Jeff... Ele sabia de tudo! E aquele dia que mencionou sobre aproveitar por eu
já estar no hospital com certeza era isso que ele iria mencionar! Era isso que
aquele bando de abutres da família dele esperava encontrar no meu
prontuário. Mas por quê? Por que essa necessidade tão imediata que eu
engravide? Isso estava no contrato? É esse o motivo que o faz me tratar de
maneira tão absurda!?
— Isso é uma pergunta muito pessoal. Tudo que vocês pretendem fazer
aqui é extremamente íntimo, e eu reitero que não aprovo isso! — Eu falei
irritada ao puxar meu braço para que ela me soltasse.
— Mas, senhora Staton, o seu marido autorizou e assinou, além do mais
é ele quem será o doador. O que faremos aqui é legítimo, não precisa
disso. — O médico falou como se minha opinião sobre meu próprio corpo
não contasse e apenas a do meu marido importasse.
Ao olhar para trás, vi que ela pegou seu rádio comunicador e disse que
eu estava em fuga. Eu precisava correr mais rápido se quisesse sair dali para
não me pegarem. Eu corria e olhava para trás, enquanto eu olhava para trás
bati de frente com um homem que segurou firme meus dois braços, eu me
assustei, e ao erguer meus olhos eu vi que se tratava de Jeff.
— O que você pensa que está fazendo? Por que você está arrependida
agora? Não lhe dei o bastante? O que mais você quer? — Ele continuava a
segurar em meus braços e me falava aquilo com naturalidade e frieza.
— Jeff, por favor! Me escuta dessa vez, escuta de verdade o que eu tenho
para te dizer! Eu imploro! — Eu dizia em grande desespero ao chorar. — Eu
não sei nada que está escrito naquele contrato, eu não sabia de nada disso,
muito menos que teria que me submeter a algo assim! — Eu encostei minhas
mãos no peitoral dele e apertava a camisa dele em uma tentativa desesperada
de que ele acreditasse em mim.
Ele precisava acreditar em mim, eu não queria isso. Isso seria demais,
carregar um filho dele dessa forma seria uma experiência extremamente
traumática. Eu não queria ser mãe nesse momento, faltava menos de dois
meses para eu me formar, para eu ter minha independência financeira e
nunca mais depender do Jeff ou da minha família, eu iria depender apenas de
mim e do meu esforço independente do que acontecesse em minha vida.
Com um filho, isso seria impossível e eu ficaria mais presa ainda a esse
casamento.
— Por favor! Não! Por favor, não faça isso comigo, você está cometendo
um grande erro, Jeff! — Em prantos eu implorava para que ele não fizesse
aquilo, mas parecia ser inútil.
Eu tentava forçar meus pés no chão para dificultar que ele me levasse de
volta para a sala. Ele estava ficando nervoso então me pegou pelas pernas
me levantando, e apoiou minha barriga em seu ombro, e me caminhou em
direção a sala. Eu tentava me soltar, mas ele era forte demais e seria inútil
continuar tentando. Ao chegarmos na porta da sala onde a inseminação seria
realizada eu tentei fugir mais uma vez e ele me segurou novamente pelos
braços, olhou para mim e disse enquanto mantinha seus olhos fixos nos
meus:
— Já chega desse teatro! Pare de encenar e dar esse show! Você já está
aqui no hospital, nada mais certo do que você fazer essa inseminação o
quanto antes. Quanto mais cedo você engravidar, mais cedo sua família
receberá a última porcentagem em ações da empresa que eles têm para
receber! Não dificulte as coisas, vai ser melhor para você e sua família. —
Ele falava nervoso enquanto me segurava.
Por um momento eu parei e o olhei incrédula. Eu não acreditava que
havia assinado algo tão insensato assim. Como eu fiquei estática com aquela
notícia eu parei de me debater, ele ainda me olhava com o mesmo jeito
arrogante que estava acostumado a me olhar, e depois, se virou saindo da
sala. A enfermeira Benson novamente agarrou meus braços. A imagem boa
que eu ainda tinha do Jeff começou a se desfazer naquele momento, como
ele aceitou esses termos absurdos do contrato também? Como ele teve
coragem? E o pior, como meu próprio avô me obrigou a assinar isso sabendo
dessas atrocidades que estavam descritas lá?
Na verdade, acho que eu nunca havia ficado desse jeito em toda minha
vida, mas, também, nunca havia sido sujeitada a algo assim, então era
impossível tentar me conter diante dessa situação. Eu cheguei até ele e dei
um tapa forte no rosto dele e comecei a dar vários socos em seu peitoral com
toda força que eu tinha.
Ele ficou tão atordoado e surpreso com minha atitude, tanto que demorou
a processar o que estava acontecendo e só depois de um tempo em que eu
desferia vários golpes contra ele, Jeff foi capaz de segurar os meus punhos
tentando me conter.
— É um pouco tarde s para dizer isso, você não acha, Charlotte? Devia
ter pensado nisso antes de se sujeitar a esse contrato. — Ele falava
zombando de mim.
Eu chorava e ainda batia nele com o pouco das forças que me restavam,
pois, eu estava cansada.
Jeff nem ao menos me respondeu dessa vez, eu chorava sem cessar e não
acreditava no terror que eu estava vivenciando.
Sem esperança
Narração - Charlotte Staton
— AI! — Eu gritei.
Pude ver pelo semblante dela, que pelo menos por um momento eu a
magoei, confesso que não me arrependi pois ela estava fazendo isso comigo
de forma deliberada, e eu estava deixando por isso mesmo. Fiquei
encarando-a enquanto eu chorava, ela desviou o olhar de mim depois do que
eu falei e não falou mais nada. O médico, junto com outra enfermeira,
colocou um acesso com soro e a anestesia em mim. Quando a anestesia
começou a fazer efeito, eu perdi o controle total do meu corpo e não
consegui fazer mais nada, a não ser assistir aquilo sem poder me defender.
Nessa hora toda e qualquer esperança que eu tinha de não fazer o
procedimento, acabou.
Eu havia criado uma mágoa tão grande dele, que só de lembrar que ele
permitiu que isso acontecesse comigo eu sentia uma repulsa imediata. Fiquei
pensando nas coisas que Sam havia falado para mim, sobre eu manter esse
disfarce, e também a preocupação dele em relação a minha passividade. Eu
acho que de agora em diante era uma questão de sobrevivência mudar com
Jeff, ele conheceria uma nova Charlotte. Eu não iria permitir que ele fizesse
isso comigo e eu continuaria feito uma boba apaixonada por ele, deste
momento em diante, a emoção daria lugar para a razão.
∞∞∞
Lá estava claro que se nós não tivéssemos intimidade, ela exigia fazer
uma inseminação artificial para que tivesse um herdeiro meu para que ela e a
família dela pudessem receber as últimos porcentagens de ações da empresa.
Eles eram espertos, queriam tomar parte na empresa, e de um jeito bem
baixo. Eu precisava desse acordo, por outros motivos, por isso aceitei todo
esse absurdo.
Resolvi que não tinha nada mais para fazer naquele hospital, eu iria
embora para casa. Sam, o primo dela, vinha visita-la todos os dias então ele
poderia muito bem cuidar da parte burocrática da alta dela.
Ligação ON
Ligação OFF
— Seja firme Jeff, você não pode cair aos encantos de uma golpista. —
Falei para mim mesmo.
Ao abrir meus olhos após o efeito da anestesia ter passado, percebi que
estava novamente no quarto do hospital, e meu primo Sam estava lá ao meu
lado. Eu resmunguei ao acordar, e queria que tudo aquilo que eu vivenciei
não tivesse passado de um pesadelo terrível. Eu estava deitada na cama, e ela
estava levemente inclinada para cima na parte dos pés, as memórias do que
havia acontecido comigo começaram a ficar bem vívidas na minha mente e
eu fui tomada pelo pânico que aquela situação havia me provocado.
— Char, o que foi prima? O que está acontecendo? — Assim que ele
perguntou, tocou no meu braço e eu gritei:
— Char... O que houve? Por que você está agindo dessa maneira? — Ele
perguntava atônito ainda. Sam não sabia reagir diante da atitude que eu
estava tendo. Eu continuava a chorar e tremia meu corpo inteiro, antes que
ele pudesse falar mais alguma coisa, ou eu pudesse me explicar, a enfermeira
Benson entrou.
— Boa tarde. — Ela disse e olhou para mim e para o Sam. Eu a olhei
com ódio porque ela tinha participado daquilo, não respeitando minha
escolha e agido como se eu fosse uma mentirosa.
Ao ver meu olhar, ela desviou e ficou olhando somente para Sam
enquanto dizia:
— Sim, mas faltou alguns... Preciso que o senhor assine para que
possamos libera-la. — Ela mantinha seu tom inquieto e fazia menção de sair
do quarto a todo momento.
Acho que o que eu havia falado para ela, havia a impactado e ela
aprendeu que comigo ela não iria mais falar como bem entendesse.
— Eu... Eu... — Sam estava muito atordoado pela forma que eu o tratei,
era visível. Ele parecia não saber o que fazer.
Terminei meu banho e escolhi uma roupa casual no armário. Era uma
calça jeans e uma blusa azul clara simples. Calcei uma sapatilha, e organizei
o restante das minhas coisas e roupas na mala. Passei um perfume ao pegar
ele para guardar, e arrumei o cabelo. Quando Sam voltou, eu já estava pronta
para ir.
— Não. Eu não quero conversar sobre isso, não me leve a mal, não é
nada com você, mas eu prefiro não tocar nesse assunto. — Fui firme ao falar.
Ele não falou mais nada depois da maneira que eu o tratei, e continuou a
dirigir. Ele sabia que algo ruim tinha acontecido por isso estava preocupado,
mas creio que por conta da maneira que falei com ele, Sam não iria mais
insistir. Ele não conseguia ficar calado muito tempo, então começou a puxar
assunto comigo.
— Hoje vai ter um jantar lá em casa. — Ele falou como quem não queria
nada.
— Merda! — Eu falei.
Sam não quis me perguntar sobre o que era, acho que ele estava
assustado comigo hoje. Ele deu de ombros, e me levou para lá. Como era
caminho logo havíamos chegado.
— Sem problemas, Char. Hoje é minha folga e estou aqui para o que
você precisar. — Ele sorriu e eu correspondi o sorriso.
— Desculpe, mas não foi minha culpa eu tive uns problemas no hospital.
— Nada grave. — Era muito grave, isso sim, mas eu não ia comentar
sobre isso nem com Sam que eu confiava, imagine só com o Brandon.
— Poderia pelo menos ter me avisado, estamos na era do celular caso
você não saiba. — Ele disse com sarcasmo.
— Tá certo, vamos lá, o que você quer saber sobre o contrato? — Ele foi
direto.
— E então, o contrato....
— Está tão óbvia assim minhas intenções de saber o quanto antes sobre
esse contrato? — Perguntei para ele.
— Ah com certeza, o modo como você entrou e pelos seus olhos dá pra
ver que você aparentemente não sabe no que se meteu. — Ele ria de mim.
A julgar pela idade dele, ele deveria ser o pai da moça e com certeza ela
deve ter reclamado das investidas que Brandon havia dado. Eu peguei um
pouco da minha batata e enrolei no queijo que tinha por cima, dei uma
mordida e fiquei observando a cena com um sorriso no rosto, aquilo era um
bom entretenimento. Afinal, parecia que Brandon só se intimidava e
respeitava alguém quando um homem estava por perto. Um verdadeiro
covarde.
— Bom apetite! Não quer saber a hora que eu saio, rapaz? — O homem
falou para nós ainda encarando Brandon.
Eu tive que segurar para não cair na gargalhada depois do que o homem
falou.
— Eu acho que seu contrato tem algo a ver com você engravidar para
que consiga o restante do valor combinado, ou então ações na empresa. —
Brandon falou como se tivesse me revelando algo inédito.
Eu não liguei para a desconfiança dele porque eu não ligava para o que
Brandon pensava ao meu respeito. Enquanto ele mastigava eu pensei que
talvez ele não fosse completamente inútil para mim naquele momento, se ele
cresceu com os Staton ele saberia muita coisa. Pelo que ele falou na segunda
vez que dançamos juntos sobre eu não ser digna do Jeff, e ainda ter
mencionado a moça da foto, ele provavelmente saberia me dizer mais a
respeito dela.
— Brandon, quando a gente se conheceu, na verdade no nosso segundo
encontro, enquanto dançávamos e você me ofendia, lembra? — Aproveitei
para alfineta-lo.
Brandon acenou com a cabeça e parecia querer falar algo mas estava
com sua boca ainda cheia. Eu aproveitei, peguei um pouco da minha batata
com queijo e comi. Então, após engolir sua comida Brandon falou:
— Se você se sente tão presa a esse contrato, por que você o aceitou? Era
melhor não ter assinado se era para ficar desse jeito depois. — Ele falou para
mim e senti um tom de reprovação em sua voz.
— As coisas não são tão simples assim, Brandon. Eu não tive escolha, eu
fui obrigada a assinar aquele contrato. Meu avô me obrigou e disse que era
minha obrigação para salvar a família da falência. Eu tentei recusar, mas foi
inútil... — Expliquei para ele de maneira resumida.
— Sim, estava totalmente enganado. Talvez com isso você aprenda a ser
uma pessoa mais agradável, não é difícil. E garanto a você que o esforço é
menor do que quando você é desagradável... — Eu o provoquei.
— Isso eu não sei bem responder a você, e também não sei como foi o
desenrolar da história para os dois se envolverem. Só sei que todos nós
crescemos juntos. Depois de adultos, na verdade na adolescência, o Jay-jay
se afastou de mim. A realidade é que acho que ele viu a pessoa que eu estava
me tornando e achou prudente se afastar, não o julgo, meu caráter é meio
duvidoso e eu assumo isso sem problemas. Não sou hipócrita. Tanto que me
ofereceram para assinar o contrato justamente por isso... Um homem íntegro
não o faria. Os Staton sim que são hipócritas de fingirem serem boas pessoas
e mesmo assim criarem esse contrato. — Brandon se explicou.
Quando ele mencionou Jeff como Jay-Jay, isso me chamou atenção. Ele
conviveu nessa época com Jeff. Será que Jeff tinha me mencionado para ele
alguma vez? Foco! Eu precisava ter foco e não deixar a emoção tomar conta
de mim, precisava me conter.
Por mais que fosse contra minha vontade, eu tinha assinado aquele
contrato. Brandon então tirou o sorrisinho torpe que tinha em seus lábios e
continuou a falar. Ele até tentou consertar o que havia falado.
— Não sei, talvez ela até aceitaria né? Vai saber, talvez não foi oferecido
essa opção para ela, enfim, o que eu posso te dizer é que ela é a mulher
perfeita e ideal para ele... Isso é inegável. — Ele finalizou e voltou a comer
seu sanduíche.
Quando Brandon disse essas palavras sobre o quão Elizabeth parecia ser
perfeita para Jeff, experimentei um sentimento estranho, me senti mal com
aquilo, mas não sei especificar o motivo. Talvez tenha sido um pouco de
ciúmes, mas eu não iria dar espaço para esse tipo de sentimento crescer em
mim, eu estava determinada a explorar minha versão ruim com o Jeff. Ele já
teve bondade demais vinda de mim, e se quer me deu um pouco de
compaixão e empatia de volta.
— Sim, está tarde e não quero problemas com meu marido. — Falei para
ele, e ele apenas assentiu com a cabeça.
— Disponha.
∞∞∞
Narração - Brandon Urie
Como uma mulher que estava presa a um casamento por contrato contra
sua vontade se mantinha tão leal a um homem que não fazia questão
nenhuma de trata-la com o mínimo de decência na frente das pessoas? Eu
queria me aproximar e saber mais dela, por mais que ela tivesse essa recusa
se tratando de mim. Fiquei observando-a enquanto ela saia da lanchonete
segurando aquela sacola com o lanche.
Saí com pressa da lanchonete por conta da hora. Já estava bem tarde e o
coitadinho do Sam estava me esperando ali. Eu sei que tinha sido péssima
com ele e resolvi me redimir, ele não tinha culpa de nada que aconteceu. Na
verdade, ele só estava no lugar errado e na hora errada. Eu havia acabado de
acordar de uma anestesia que foi aplicada para uma inseminação contra
minha vontade, era impossível que meu humor estivesse bom quando eu
retornasse para a realidade. Minha vontade era de acabar com tudo e todos
que estavam a minha volta, e isso, infelizmente acabou respingando em
Sammy.
— Sim, Char?
— Me perdoe pela forma que eu o tratei mais cedo, eu estava com raiva
e canalizei ela para você sendo que devia descontar ela em outra pessoa. Eu
ainda não quero falar sobre o motivo que me deixou assim, mas, eu espero
que você me perdoe. — Falei bastante envergonhada para ele.
— Não se preocupe, está tudo bem, sei que deve ter acontecido algo bem
ruim para você ter ficado assim, eu não vou julgá-la por isso e vou respeitar
seu momento. Quando você se sentir bem, você compartilha comigo, ok? —
Ele falou com toda compreensão do mundo.
— Obrigada, Sammy. Por isso eu amo você e o vejo como meu porto
seguro desde que meus pais se foram. — Eu abaixei minha cabeça e me
entristeci ao falar deles.
— Estou aqui para você. — Ele passou a mão no meu ombro tentando
me animar.
Levantei minha cabeça e dei um sorriso fraco para ele.
— O que você veio fazer aqui, afinal? Se é que eu posso saber. — Ele
deu um sorrisinho sem graça ao falar com sua boca cheia.
Acho que ele estava traumatizado pelo jeito que eu havia falado com ele
antes. Eu ri na intenção de conforta-lo e disse:
— Brandon? Aquele mala sem alça que você vive reclamando? Com que
intuito? — Ele perguntou um pouco chocado porque eu falei muito mal do
Brandon para Sam nesses dias que fiquei no hospital quando ele ia me
visitar.
— Ele mesmo. Você lembra que eu te falei que achava que ele poderia
saber mais sobre o contrato porque aceitou assinar um também?
— Sim, acho que só vou passar lá em casa para trocar de roupa. — Falei
para ele dando um sorriso.
— Você mudou... Eu te entendo e apoio o que você pensa, mas, acho que
isso não pegaria bem. Vai ter uma boa parte da família Hills lá e você sabe
como eles amam viver de aparência. Além do mais, vão ter vários membros
da alta sociedade. — Ele falava tentando fazer eu mudar de opinião para o
meu próprio bem.
Eu gargalhei.
Mas, por hora, estava decidida a não chamar. Chegamos em frente a casa
do Jeff, a qual ele deixava bem claro não me pertencer. Sam desceu do carro
e foi pegar minha mala, eu fiquei encarando aquela entrada e respirei fundo,
fechei meus olhos por alguns segundos como se buscasse forças para poder
entrar ali. Sammy abriu a porta para eu descer e me entregou a mala. Ao ver
meu semblante aflito, ele deu um beijo na minha testa e disse:
— Fique tranquila, vai dar tudo certo. — Eu sorri para ele quando ele
falou isso e peguei minha mala.
— Vai sim, acho que meu marido pode ser que nem esteja aqui. — Falei
para ele.
— Senhora Staton! Que bom que você retornou! — Ela falou animada.
Era Jeff, ele estava me olhando com aquele olhar imponente e as mãos
nos bolsos da calça. Eu olhei para ele e me veio na cabeça que ele havia
deixado fazerem o procedimento em mim contra minha vontade. Senti ódio
dele no mesmo instante. Janet se afastou do abraço e pediu licença de
maneira cordial, levando minha mala para a lavanderia. Jeff e eu ficamos nos
encarando por um momento, nós dois estávamos com o semblante bem
sério.
— Onde você estava que demorou tanto? Eu pedi para fazerem almoço e
você nem se quer apareceu. — Ele falou como se mandasse em mim.
Dei um sorriso cínico e antes que ele pudesse falar algo, caminhei em
direção ao quarto me trocar para ir ao jantar do meu avô. Fui até o closet
escolher uma roupa, e o vestido que Jeff havia pedido para eu usar no dia do
jantar na casa da família dele, estava lá. Optei por usar ele para provocar
Jeff. Coloquei o vestido e eu havia ficado deslumbrante, ousei um pouco na
maquiagem ao colocar um batom vermelho. Fiz babyliss no meu cabelo,
para deixá-los bem chamativos.
Desci de volta para onde meu marido estava na sala, e ele ergueu a
cabeça para me olhar já que estava sentado de cabeça baixa mexendo em seu
celular. Ele ficou por um tempo me olhando e quando percebi que ele iria
questionar, logo me adiantei. Me aproximei dele e aproveitando que ele
estava com o celular na mão, eu peguei o celular da mão dele em um ato
bruto e digitei meu número.
— Quando você quiser saber onde sua esposa está, é só ligar. E antes que
você pergunte eu vou a um jantar na casa do meu avô. Boa noite. — Virei as
costas e fui em direção a porta para sair, deixando Jeff me olhando sem
entender.
— Por que você mudou de ideia? Parecia que você tinha a intenção de ir
sozinha... — Ele falou se direcionando a mim e estava me olhando de um
jeito curioso para mim, como nunca havia olhado. Parecia que estava
interessado na minha nova versão.
Mudança radical
Narração - Charlotte Staton
— Preciso de um parceiro de dança. Mas tudo bem se você não quiser ir,
arranjo outra pessoa, vai ser fácil. — Dito isso, olhei para ele com desprezo,
e saí sem hesitar.
Jeff assentiu com a cabeça e entrou com pressa dentro da casa, poucos
minutos depois ele já estava na porta novamente bem vestido e perfumado,
pronto para me acompanhar. Porém, eu segui firme em minha nova postura e
demonstrava que pouco me importava com ele. Entramos no carro, e então
segui o trajeto para a casa do meu avô em silêncio, mas, percebi que Jeff não
tirava seus olhos de mim.
Seu olhar era curioso e parecia que pela primeira vez meu marido tinha
bastante interesse em mim. Eu estava sentindo um imenso prazer por conta
dessa situação e a satisfação estava estampada no meu rosto. Era bom estar
no lugar de controle ao invés de ser a controlada da história, foi dolorosa a
forma que tudo acontece para que eu finalmente pudesse acordar e começar
a agir assim, porém, algum proveito da situação eu consegui tirar.
Assim que vi que Jeff iria descer, eu travei as portas. Ele franziu sua testa
e indagou:
— O que você pensa que está fazendo? — Ele falou em um tom grosso
comigo e eu respondi da mesma forma.
— Eu quero falar com você sobre Elizabeth, sua ex. — Eu falei dando
um sorriso sarcástico.
Jeff me olhou com surpresa pois deve ter ficando intrigado sobre como
eu sabia a respeito dela.
— Não faz sentindo algum para mim você falar a respeito dela como está
falando para mim. É uma alegação ridícula dizer que ela é meu ponto
fraco! — Ele falou em protesto.
Eu agarrei Jeff pela camisa, e este ato o fez se calar no mesmo momento
porque ele não entendeu por qual motivo eu havia feito aquilo. O puxei para
perto de mim fazendo com que nossos narizes se encostassem, eu senti a
respiração quente dele no meu rosto e isso foi o bastante para fazer com que
meu coração de apaixonada disparasse. Fechei meus olhos, encostei nossos
lábios, e iniciei um beijo. Jeff correspondeu ao meu beijo e colocou a mão na
minha cintura, ele até mesmo me acariciou enquanto nós nos beijávamos.
Pela primeira vez eu pude sentir o gosto e textura da boca dele, além de
suas carícias. Eu ainda estava profundamente magoada com Jeff e manteria
minha postura com ele, mas eu seria hipócrita de dizer que não estava
gostando daquele beijo que era tão intenso e cheio de sentimento, pelo
menos da minha parte. Eu abri meus olhos e vi que minha tia-avó Josephine,
havia se afastado, então, interrompi o beijo. Isso fez com que Jeff ficasse
confuso novamente.
Retoquei meu batom, e então nós dois descemos do carro. Eu dei a volta
para caminhar junto com ele, e antes que eu pedisse, ele dobrou seu braço
para que eu pudesse encaixar minha mão no vão que se formava. Eu segurei
no braço dele e nós caminhamos até a entrada da casa do meu avô. Ao
chegar lá senti aquele frio na espinha de estar naquela casa novamente, e no
meio de tantas pessoas da minha família que eu sabia que não gostavam de
mim, muito menos faziam questão da minha presença ali. Eu tinha
lembranças maravilhosas naquela casa quando morava lá com meus pais,
depois da morte deles só me lembro do quão a casa parecia não ter espaço
para mim e me provocava tristeza.
Jeff deu um sorriso como se estivesse gostando do que ela havia falado,
enquanto eu sentia um rubor tomar conta da minha face pela vergonha que
eu senti quando ela me expôs ao falar daquele jeito. Eu dei um sorriso sem
graça e então meu avô veio até nós. Assim que o vi, fechei meu semblante.
Uma amargura tomou conta de mim ao lembrar que ele me forçou a assinar
um contrato cheio de cláusulas absurdas.
— Charlotte, não esperava ver você por aqui. — Meu avô falou
demonstrando surpresa por eu estar lá.
— Eu decidi vir de última hora, depois que o Sam me falou sobre esse
jantar qual eu não tinha conhecimento. — Aproveitei para alfineta-lo.
Ele apertou seus lábios um contra o outro, e deu um sorriso forçado, ele
não havia gostado nem um pouco da minha provocação, mas gostava de
manter as aparências, afinal era assim que meu o velho Stuart agia sempre.
Ele ignorou o que eu falei, estendeu sua mão, e cumprimentou meu marido.
— Jeff Staton, é um prazer recebe-lo aqui. Seja bem-vindo. — Ele falou
com empolgação ao se direcionar para meu marido porque era muito
interesseiro.
Meu avô pareceu não ter gostado do meu pedido, mas ele não iria se
opor porque meu marido estava perto e ele precisava manter as aparências.
∞∞∞
Pedi um tempo para que eu pudesse me trocar já que não estava vestido
adequadamente, e ela aceitou mesmo não parecendo gostar muito da ideia de
ter que me esperar. Eu já havia tomado banho, então, somente troquei minha
roupa o mais rápido possível, arrumei meu cabelo e me perfumei.
— Jeff Staton! Que alegria ter você por aqui! — Presumi que ele iria
falar mais coisas para me bajular e logo eu o interrompi.
Eu imaginei que aquela menina da foto poderia ser a Charlotte, mas era
extremamente chocante que seu próprio tio não a reconhecesse em uma foto
onde estavam apenas membros da família.
— Acho que não querido. Esse foi o dia que passamos na casa de
veraneio da família do meu falecido marido. — Ela falou ao dar um sorriso.
— Impossível ela ter ido, ninguém seria louco de levar aquela pirralha
insuportável, nem mesmo o desatinado do meu irmão. — Ambos deram uma
gargalhada perversa.
Que criaturas bizarras! Que família mais estranha... Ninguém ali parecia
gostar de Charlotte, exceto seu primo Sam, isso era muito estranho. Fiquei
olhando a foto por alguns instantes tentando identificar aquela garota da foto
que me parecia ser muito familiar.
1. Pincenê, óculos sem haste que se prende ao nariz por meio de uma mola.
Mais confusa ainda
Narração - Charlotte Staton
Assim que falei para meu avô que queria ver o contrato que eu assinei,
ele começou a rir.
— Por que você acha que eu irei te mostrar? Você já viu o suficiente no
dia em que o assinou. — Ele disse com desprezo.
— Você baixe seu tom para falar comigo, garota ingrata! Me respeite,
que eu sou seu avô e me respeitar é o mínimo que você deve fazer! — Ele
alterou mais seu tom de voz, me causando medo. — Eu já te falei que eu a
obriguei a fazer isso pelo bem da família!
Eu tinha muitos traumas mal resolvidos com meu avô, ele sempre me
maltratou muito e a voz dele parecia ser como um trovão. Por mais que eu
estivesse determinada a mudar minha postura de passiva e submissa com
todos, eu ficava com medo dele ainda. Porém, eu não queria demonstrar,
entretanto, eu necessitava que ele me mostrasse o contrato a qualquer custo.
Então, para conseguir isso eu acho que deveria chantageá-lo. Pelo jeito que
ele estava agindo, presumi que ele não imaginava que eu havia feito a
inseminação. Sendo assim eu poderia usar isso ao meu favor.
Eu coloquei a mão na minha barriga e fingi estar triste pelo que ele havia
falado.
— O que eu posso fazer? Vocês dois são casados, então vocês dois que
resolvam seus problemas matrimoniais, eu não posso me envolver nisso. E
não seja uma menininha chorona e mimada, pare de dar trabalho Charlotte,
você já fez isso a vida inteira. Acho que já basta! Aprenda a viver a dois, e
deixe de lamúrias. Casamento tem suas dificuldades, você tem que saber
enfrenta-las como uma mulher adulta, porque é isso que você é! — Ele
falava com bastante agressividade.
Realmente meu avô não dava a mínima para mim e para meu sofrimento.
Eu ainda arriscaria dizer que ele estava gostando de tudo que eu estava
passando nas mãos de Jeff, e o culpado disso era ele. Portanto, eu precisava
pensar em algo que o fizesse mudar de ideia já que tentar chantageá-lo
emocionalmente não surtia efeito pois claramente ele não tinha nenhum tipo
de sentimento por mim.
— Você tem razão, querida. — Ele falou para mim, mas eu sentia um
sarcasmo em sua voz ao ouvi-lo falar.
Me dava nojo meu avô mudar o tratamento dele por mim por conta do
dinheiro, ele realmente me via como uma mera mercadoria. E pelo visto, o
filho que eu poderia estar gerando também. Eu não via a hora de me ver
completamente livre dele, eu precisava pensar em algo para conseguir isso.
Forcei um sorriso para ele e o olhei com um ar de superioridade.
Até parece que era ele quem estava passando pelo inferno. Ele só estava
com as partes boas, enquanto quem estava vivendo a tormenta toda era eu.
Quando ele me entregou a folha eu a peguei com ansiedade e comecei a ler.
Logo de cara vi o absurdo sobre a gravidez e lá estava escrito de forma clara:
— Estou sim. — Na verdade eu não estava muito satisfeita por não ter
entendido muito bem. — Vamos voltar. — Falei para ele e fui em direção a
porta.
Meu avô adorava manter as aparências, e como sabia que meu marido
estava na festa, ele segurou minha mão quando toquei a maçaneta da porta e
me ofereceu seu braço para que eu segurasse. Santa hipocrisia! Segurei seu
braço a contragosto e adotei um sorriso forçado para fingir que estava tudo
bem, mas a verdade, era que eu não suportava ter contato com meu avô,
depois do que aconteceu comigo, era doloroso saber que ele tinha
conhecimento de tudo aquilo que estava escrito e me sujeitou a algo tão
absurdo. Era revoltante e imperdoável.
Nós saímos juntos do escritório dele, e logo Sammy me avistou. Ele deu
um sorriso largo, mas seu olhar era preocupado. Ele veio até mim, e meu avô
se sentiu até aliviado por saber que não iria mais precisar me acompanhar.
Confesso que foi um grande alívio para mim também me ver livre daquele
sanguessuga. Quando Sam parou na minha frente, eu tirei a minha expressão
social forçada que eu estava anteriormente e soltei o ar pela boca como se eu
tivesse livre de amarras.
— Vai com calma, prima! Como foi? Você falou com ele sobre o
contrato? Quando você disse que iria vir ao jantar eu logo imaginei que você
daria um jeito de conversar com o vovô a respeito do contrato. Entretanto,
admito que quando vi vocês dois entrando para o escritório dele fiquei com
medo que você caísse em uma armadilha.
— Deu tudo certo, eu vi o contrato, mas não entendi muito bem o que
estava descrito ali. Mas, alguns absurdos que eu esperava que estivessem ali,
realmente estavam. — Eu falei de forma pesarosa, peguei mais uma bebida,
porém não a virei de uma só vez, apenas dei um pequeno gole.
— Sam, o motivo para eu ter ficado tão nervosa como eu fiquei quando
você me buscou no hospital, foi porque eu fui submetida a uma inseminação
artificial contra minha vontade. — Expliquei para ele.
— Não faça alarde, por favor. Eu não quero que isso vire um espetáculo
para essas víboras que estão aqui e você sabe bem que não gostam de
mim. — Eu peguei no braço de Sam e levei ele para um canto da sala que
estava mais reservado.
Ele estava furioso e sua face estava ruborizada por conta disso.
— Descobri agora que isso era cláusula do contrato absurdo que o vov...
Stuart, ele não merece ser chamado de vovô por mim. Eu estou revoltada
com o teor do contrato, e mais revoltada ainda de saber que ele tinha
conhecimento dessa inseminação e mesmo assim me obrigou para assinar
aquele contrato horroroso. Meu marido me obrigou a fazer essa inseminação
e dizia que eu sabia o que iria acontecer, e não era para eu resistir. Foi uma
das coisas mais traumáticas que aconteceram na minha vida, eu não podia
acreditar que aquilo estava acontecendo comigo... Eu gritava por repetidas
vezes que não sabia o que ele estava falando, mas, mesmo assim Jeff
cruelmente me levou para aquela sala, me arrastando, e disse que poderiam
me amarrar, até mesmo anestesiar para que fizessem o procedimento e foi
exatamente isso que fizeram. Me doparam para fazer um procedimento
contra minha vontade. — Eu senti um nó em minha garganta se formar ao
me lembrar daqueles momentos de terror que eu havia passado. — Alguns
funcionários daquele hospital foram cúmplices do que estava sendo feito, e
além de tudo me trataram mal. Por isso tratei a enfermeira que foi me dar
alta daquela forma... — Eu expliquei mais ou menos o ocorrido para Sam
que ouvia tudo de forma atenta e com indignação.
— Minha prima, Char... Eu sinto muito por você ter passado por isso. Eu
nem imagino a dor que você deve estar sentindo de ter sido violada dessa
maneira. — Ele se lamentava e pude ver lágrimas em seus olhos.
— É por isso que você mudou com o Jeff. — Ele fez uma expressão ao
me olhar como se tivesse resolvido um mistério.
— Sim, exatamente por esse motivo que mudei com ele, e pretendo
seguir assim. Ele me magoou profundamente. — Eu falei com rancor.
Ele estava nos olhando e parecia me advertir com os olhos. Mas, agora,
eu já não me importava mais com o que ele pensava ou achava, eu estava
magoada demais para isso. Me afastei vagarosamente do abraço que dava em
meu primo e disse:
— Jeff.
Sam se virou e ficou de frente para Jeff. Eu pude ver ele cerrando seus
punhos, mas, eu segurei sua mão para impedi-lo de fazer alguma loucura.
Memórias
Narração - Charlotte Staton
— Jeff, precisa de alguma coisa? Parecia que você queria falar algo. —
Eu me direcionei ao Jeff enquanto falava.
— Tudo bem, pode ir, eu vou ficar mais aqui na festa. Mas, não se
preocupe porque o Sammy me levará para casa mais tarde. — Eu disse ao
dar um sorriso.
Sam olhou para Jeff com um olhar vitorioso, como se tivesse conseguido
o irritar pelo o que eu havia acabado de falar. Jeff me olhou franzindo a testa
e indagou:
— Não deve me lembrar de nada, Jeff. Eu sei muito bem das minhas
obrigações enquanto sua esposa, não sou uma criança para que você precise
ficar me lembrando, por repetidas e incontáveis vezes, minhas
obrigações! — Eu disse com certa agressividade o que deixou ele
consternado com minha atitude.
Sam ao ver a cena quase cuspiu a bebida que estava em sua boca por
conta do riso que ele precisou conter, ele tinha tanta vontade que eu me
impusesse, e agora vendo que eu fazia isso, estava extremamente satisfeito.
Quando ele desapareceu em meio aos convidados, voltei meu olhar para
Sam e ele estava me olhando com um sorriso grande em seu rosto.
— O que foi? — Dei um sorriso travesso para ele pois eu sabia o que
estava causando aquela atitude nele.
— Você sabe muito bem, bonitinha! O que foi isso? — Ele deu uma
gargalhada demonstrando estar super satisfeito com o que eu havia feito.
— Você está certa prima, eu não te critico por isso, pelo contrário, você
tem todo meu apoio para continuar fazendo isso com ele. O que ele permitiu
que fizessem com você, foi um ato covarde e desumano, é como se fosse
um... — Ele se aproximou de mim para falar e sussurrou. — Estupro. — Ele
ficou com um semblante triste ao me falar e eu automaticamente me
entristeci também.
Sammy me olhou com pesar por ter me lembrado desse momento ruim e
disse querendo consertar as coisas.
— Essa conversa de ser pela família pode até ter me enganado no início,
eu ainda com meu coração mole acreditei. Mas, ao ver como ele recuperou
rápido a vida luxuosa e cheia de extravagâncias, eu percebi que nunca teve a
ver com a família, mas sim com o interesse dele em lucrar sempre acima de
qualquer coisa. — Eu falei me lamentando e balançando a cabeça de um
lado para o outro enquanto acompanhava meu avô com o olhar, observando-
o sendo gentil com todos da festa enquanto se vangloriava pela sua recepção.
— Não liga para ele, não compensa você gastar energias com isso. —
Sammy falou tentando me confortar.
— Você tem razão. Ah, eu preciso de sua ajuda para uma coisa. — Falei
para ele me recordando do contrato.
— Qualquer coisa que você precisar, você sabe que pode contar comigo,
Char, ainda mais depois de tudo que você passou. Quero que você conquiste
sua independência o mais rápido possível para que nem Jeff, muito menos
nosso avô, te mantenham em situações que você não merece passar.
— Obrigada primo, sei que sempre posso contar com você. — Sorri para
ele. — Então, no contrato eu vi que havia uma empresa, ela se chama "Tec
Solutions", eu preciso da sua ajuda para investigar ela.
— Você já deve ter ouvido Stuart falar dela, segundo o acordo sem ter a
parte da inseminação artificial, lá haviam inúmeras cláusulas falando dessa
tal empresa e aparentemente Jeff e Stuart investiram nessa empresa de
maneira conjunta... Estava escrito lá em uma das cláusulas que li, mas
novamente não entendi muito bem o intuito real. Acho que esse contrato foi
feito justamente com a intenção de causar confusão. — Expliquei para Sam
o que eu pensava.
— Entendi, pode contar comigo que vou te ajudar sim. — Ele falou
empolgado.
— Eu não sei, posso estar enganada, mas algo me diz que tem alguma
coisa errada nesse acordo deles em relação a essa empresa... — Falei com
desconfiança.
— Sério? O que você acha que pode ser? — Sam me perguntou curioso.
— Não sei, não faço a mínima ideia, mas vindo do Stuart eu espero tudo,
e quando penso nisso sinto um aperto em meu coração. — Falei passando a
mão no meu busto como se estivesse angustiada.
— Prima, espera.
Esperei ele sair e entrei em casa. Subi direto para o quarto e encontrei o
cômodo vazio. Meu marido não iria dormir comigo hoje, dei um suspiro e
fiquei um pouco deprimida por isso. Era difícil manter minha postura de
mulher forte o tempo inteiro sendo que o que eu realmente desejava era ter
carinho e atenção, do homem que eu amava. Fechei meus olhos por um
momento tentando tirar isso da minha mente, eu precisava manter meu foco
e não recair, cedendo aos encantos do Jeff. Após abrir os olhos e respirar
fundo, fui me trocar para dormir.
∞∞∞
Ligação ON
Ligação OFF
Ao me ver, percebi que Sam foi tomado por uma ira instantânea, eu não
entendi o motivo pelo qual ele agiu daquela maneira, mas eu comecei a
encara-lo da mesma forma que ele estava fazendo comigo. Ficamos ali nos
encarando e eu estava prestes a questiona-lo se ele estava com algum
problema, então, Charlotte perguntou se eu precisava de algo. Fui desviando
meu olhar aos poucos do olhar de Samuel, enquanto comunicava à minha
esposa que me chamaram na empresa, e por conta disso, eu precisava ir
embora.
Eu pensei que ela me acompanharia, mas ela disse que o primo a levaria
embora. Isso me deixou com raiva, quem ela pensava que era para decidir se
ia ou não embora!? Ela voltou do hospital mais atrevida e cheia de si, isso
estava me irritando, mas ao mesmo tempo eu gostava. A verdade é que eu
estava tomado por um misto de sentimentos que me faziam ter um interesse
maior nela, e eu não sabia o motivo.
Para não ficar por baixo, eu disse que iria dormir fora. Charlotte me deu
a chave do carro e ainda estendeu os braços me indicando a saída, uma
verdadeira afronta. Eu saí de perto deles para ir embora daquela casa o
quanto antes, mas, eu estava indignado. Eu fiquei olhando para eles até a
porta da casa. Fiquei parado na porta de entrada observando Charlotte, e
nesse momento, ela já não me olhava mais. Eu tive vontade de ficar mais ao
ver ela ao lado do primo, acho que eu estava com... Ciúmes! Não, eu me
negava ter esse sentimento por ela.
Não demorei mais que 10 minutos para fazer minha mudança, mas na
última leva de coisas que eu carregava, Jeff chegou e me olhou com um
olhar confuso, sem entender o motivo pelo qual eu estava segurando minhas
coisas na mão, mas logo seu olhar mudou para um olhar frio e ele começou a
me censurar.
— Não, até porque você não me deixa esquecê-lo. Mas não há nada que
diga que sou obrigada a dormir com você, nós tínhamos que conceber um
bebê e pelo visto esse processo já pode estar acontecendo na minha barriga
devido a inseminação que você me obrigou a fazer, se lembra? — Falei com
raiva e ironia ao me lembrar da inseminação.
— Você sabia muito bem que isso era algo que estava estipulado no
contrato! — Ele falou agressivo.
Eu nunca tinha ido para a faculdade depois de ter me casado com Jeff,
nem ao menos sei se ele tinha conhecimento que eu fazia faculdade já que
ele não prestava muita atenção em mim. Estava vestida e pronta para ir para
a faculdade, peguei meus livros, minha bolsa com meu notebook, e minha
outra bolsa que continha meus itens pessoais. Saí do meu quarto e
inevitavelmente eu tinha que passar pela entrada do quarto onde eu e Jeff
dormíamos antes. Dei uma breve espiada e não o vi lá, fato que achei um
pouco estranho, mas relevei porque talvez ele pudesse estar tomando banho
por mais que eu não estivesse ouvindo barulho do chuveiro ligado.
Fiquei olhando para a mesa com um pouco de pesar e logo Janet saiu da
cozinha e viu a maneira como eu estava olhando para a mesa.
Fiquei aguardando na sala de jantar e logo ela apareceu com meu café da
manhã para a viagem. Eu peguei e dei um abraço nela, atitude essa que a
deixava totalmente sem graça, isso sempre acontecia com Janet toda vez que
eu demonstrava afeto por ela. Pelo fato de Jeff ser bem seco, isso não era
habitual lá.
Assim que ele autorizou minha entrada eu abri a porta e ele mantinha a
cabeça baixa fazendo algumas anotações, ele não tinha visto que era eu.
Então ele disse:
— Em que posso ajud... — Ele ergueu sua cabeça e ao ver que se tratava
de mim, parou de falar. Ele deu um grande sorriso e eu correspondi. —
Charlotte! Nem acredito que você está aqui! Eu achava um grande
desperdício uma das mentes mais brilhantes e dedicadas que já passaram por
essa universidade estar atrás de uma tela de computador assistindo aulas e
tendo seu talento contido! — Ele falava de maneira irreverente ao se levantar
de sua cadeira atrás de sua mesa e vir me cumprimentar.
— O senhor sabe que existem outros meios para que eu possa fazer o que
eu quero, não é mesmo? — Eu falei em tom ameaçador.
Ele me olhou arfando depois do que eu falei para ele. Meu orientador
sabia muito bem que eu tinha inteligência o suficiente para hackear todo o
sistema da faculdade, e dessa forma burlar todo o processo burocrático para
conseguir colocar o projeto que eu bem entendesse no programa de
conclusão de projetos. Eu não era apenas uma estudante no departamento de
inteligência artificial e biotecnologia, eu era uma excelente hacker, e pode-se
dizer que era difícil haver algum tipo de sistema que me impedisse de
hackear.
— CHARLOTTE HILLS! VOCÊ NÃO OUSE A ME AMEAÇAR
GAROTA! — Ele gritou com raiva e ainda me chamava pelo meu nome de
solteira, acho que ele não tinha se acostumado que eu era uma jovem casada.
Os gritos dele não me assustavam pois isso era bem característico da
personalidade dele.
Eu tinha certeza que ele iria gostar da ideia que eu iria propor.
Olhei para Levi e estiquei a mão para ele, para cumprimenta-lo com um
aperto de mão. Achei interessante o ramo da empresa dele, pois, tinha a ver
com meu projeto. Era muita coincidência.
Por mais que eu estivesse ficado envergonhada por conta dos elogios, eu
não demonstrei. Eu não ia ceder por conta de bajulação. Estava determinada
a não falar do meu projeto na frente desse homem desconhecido.
— Eu topo, porque eu quero muito que esse projeto saia do papel pois eu
sei que há boas chances de fazer coisas incríveis com ele. Porém, eu exijo
que o senhor Brown assine um acordo de confidencialidade para que eu
possa explicar sobre o meu projeto. Ele terá conhecimento, mas não irá
compartilhar sobre ele com ninguém mais que não esteja aqui presente nessa
sala. Em mãos erradas meu projeto pode se tornar uma ameaça, além do
mais, eu quero ter a certeza que esse projeto seguirá sendo meu. — Eu falava
com bastante determinação e isso pareceu animar o senhor Brown.
— Mas como vamos achar um advogado a essa hora da manhã, para que
faça a assinatura devida do acordo de confidencialidade para que ele tenha
valor jurídico? — O Senhor Hollins perguntou confuso.
Assim que ele falou, ele já pegou o telefone e ligou. Não demorou muito,
e a senhorita Margot estava lá no escritório, pronta para redigir nosso
contrato de confidencialidade e assina-lo para que ele tivesse valor jurídico
caso uma das partes deixasse de cumprir o combinado. Ela redigiu o contrato
com rapidez, acrescentou as cláusulas necessárias, e a meu pedido colocou a
quebra de sigilo no valor de 500 milhões de dólares, e então disse:
Assim que ela saiu, Levi esfregou suas mãos uma na outra e disse com
um sorriso largo em seus lábios:
— Pronto, senhora Hills. Estou pronto para ouvir sobre seu incrível
projeto e tenho certeza que não irei me arrepender! É um pressentimento que
tenho, e geralmente meus pressentimentos são bem assertivos. — Ele falou
com empolgação.
Eu ainda estava com receio de falar para ele sobre um projeto tão
delicado. Mas, eu estava segura por conta do contrato de confidencialidade,
sendo assim, eu não tinha o que temer. Caminhei até o sofá que havia na sala
do professor Hollins e me sentei pegando o notebook, o coloquei na pequena
mesa de centro que havia a frente para mostrar meu projeto para os dois.
Ambos vieram e se sentaram à minha frente. Eu fiquei ansiosa pois essa
seria a primeira vez que eu iria revelar sobre meu projeto, por um momento
me senti insegura sobre sua magnitude.
— Além disso você ainda pode fragmentar esse software e criar uma
rede única de wi-fi praticamente para o mundo inteiro, Charlotte! — Meu
professor falou com grande admiração por conta das múltiplas funções que
meu software tinha.
— E você testou esse protótipo? Tudo que você está falando para nós,
realmente é possível? — Levi perguntava perplexo.
— Já está mais que aceito. — Meu orientador olhou para mim com um
sorriso em seu rosto.
Assim que ele falou isso eu senti um aperto, eu não queria vender, meu
projeto seria tudo para mim e eu sei que alcançaria grandes coisas com ele.
Fechei meu notebook com rapidez e disse com uma voz firme:
— Meu projeto não está à venda! — Isso causou surpresa tanto em meu
orientador quando em Levi.
— Por que não, Charlotte? — Levi perguntou sem entender arqueando
uma de suas sobrancelhas.
Depois de ter visto que minha esposa havia se mudado para o quarto de
hóspedes, ato esse que me deixou mais irritado do que eu já estava por conta
da privação de sono que eu estava enfrentando, saí do meu quarto com a
mesma roupa que eu havia passado a noite no trabalho e fui até o sofá de
descanso para relaxar um pouco. Me sentei nele e encostei minha cabeça no
encosto dele, mas senti que meu corpo estava caindo para o lado e resolvi
deitar. Eu não iria ficar muito tempo ali, acho que um cochilo breve não iria
me fazer mal. Depois de cochilar brevemente eu tomaria um banho para
relaxar por completo.
— Senhor Staton? — Uma voz calma falava ao tocar em meu ombro,
mas o toque parecia ser com receio.
— Já passam das 16h00 da tarde... Você não quer ir pra cama para
dormir melhor? — Janet perguntou.
Desci até a sala de jantar e lá estava meu prato com salada e frutos do
mar, bem como eu gostava, posto sob a mesa juntamente com uma taça de
vinho tinto e o analgésico que eu havia pedido para Janet. Primeiro, tomei o
analgésico e a água que estava em um copo, na bandeja, junto com o
remédio. Depois, comi minha refeição e degustei o vinho. Eu ficava
encarando o relógio da sala de jantar enquanto eu comia, e vez ou outra eu
tocava a tela do celular para ver se Charlotte me enviou alguma mensagem,
ou ligou para justificar sua demora. Me lembrei que ela não tinha meu
número, mas... Talvez ela tenha dado um jeito de consegui-lo.
Ligação ON
Jeff: — Poderia estar melhor. — Falei por conta do fato de Charlotte não
ter chegado até o momento.
Levi: — Eu sinto muito... Talvez você se anime com o que eu vou te falar.
Eu encontrei um verdadeiro gênio na área de tecnologia. Nunca vi projeto
mais incrível igual o que ela criou. — Ele dizia empolgado.
A verdade era que eu não estava com cabeça para assuntos do trabalho
naquele momento. Então nem importei muito.
Jeff: — Você podia ser um pouco mais eficiente! Você sabe muito bem
que eu a procuro há mais de 10 anos e não tenho nenhuma informação
dela... — Eu falei de maneira mal humorada e ao mesmo tempo me
lamentando.
Levi: — Alto lá! O maior culpado disso é você que passou praticamente
1 ano inteiro ao lado dela e não conseguiu ao menos saber o nome da
garota.
Revirei meus olhos ao ouvir ele falar daquele jeito porque eu sabia que
ele tinha razão. E no momento em que fiz isso Charlotte entrou pela porta,
assim que ela entrou eu decidi que não iria delongar mais a conversa com
Levi, então, eu disse:
Jeff: — Levi, amanhã conversamos mais sobre esse assunto, quando
estivermos na empresa. Tudo bem?
Ligação OFF
— Onde você estava? E onde você pensa que vai sem justificar sua
ausência até esse horário? — Eu perguntei nervoso e me levantei do sofá.
Aquilo me irritou mais do que eu já estava. Caminhei até ela com raiva e
cerrei meus punhos com a intenção de intimida-la. Mas, ela estava mudada,
ela sorriu de um jeito sarcástico e me olhava com o queixo erguido. Eu
fiquei sem ação, confesso que não sabia lidar com essa nova versão da
Charlotte. Ela simplesmente se virou e subiu as escadas me deixando lá
embaixo sozinho e sem justificativa.
∞∞∞
Narração - Charlotte Staton
Depois da proposta ousada de Levi eu saí da sala sem olhar para trás. Fui
até o laboratório de tecnologia e passei o resto do meu dia lá desenvolvendo
cálculos e os pormenores do meu projeto. Eu tinha apenas um mês e meio
para desenvolve-lo e deixa-lo excelente, na verdade, mais que excelente
afinal esse seria o projeto da minha vida.
E talvez, eu já iria enfrentar uma guerra com ele caso ele tivesse tido o
atrevimento de mandar retirarem minhas coisas do quarto de hóspedes para
que eu voltasse a dormir com ele, naquele quarto que parecia ter a cara dele
e da Elizabeth. Saí do laboratório deixando tudo organizado e apaguei as
luzes. Saí do prédio da faculdade e fui em direção ao carro, entrei nele e fui
direto para casa. Cheguei em casa, eu estava super exausta e faminta.
Tirei minha roupa e fui até o banheiro. Olhei para a banheira e decidi que
iria me permitir tomar um banho relaxante, afinal depois de um dia tão
cansativo como o que eu havia tido era minimamente o que eu merecia.
Coloquei bastante espuma e abri o registro para encher a banheira, assim que
estava pronta eu entrei e me deliciei naquele banho. Fiquei ali por alguns
momentos cantarolando com os olhos fechados. Enquanto eu estava de olhos
fechados, eu me lembrei do beijo que eu e Jeff demos na noite anterior.
Mordi meus lábios e passei a mão pelo meu corpo ao lembrar do gosto
da boca dele e da sensação única que aquele beijo me trouxe, mas quase que
de imediato, como se algo me alertasse que aquilo estava errado eu tirei a
mão do meu corpo, abri os olhos e finalizei meu banho o mais rápido
possível:
— Mantenha o foco Charlotte, ele nem se quer merece que você tenha
desejo por ele. — Falei para mim mesma.
Eu estava com raiva e ao mesmo tempo senti uma ansiedade que fazia
meu coração disparar por conta do que ele havia feito.
Ele veio até mim e jogou uma coberta que ele havia trazido em cima de
mim. Ao me cobrir ele parecia estar indiferente a mim. Jeff ligou o ar
condicionado, atitude que achei estranha demais. Ele só dormia com ar
condicionado, mas eu não, então não fazia sentido ele ligar. Quando ele
saísse com certeza eu desligaria. Porém, novamente me surpreendendo
negativamente, Jeff apagou a luz e se deitou do meu lado.
Eu tinha vindo para aquele quarto justamente para não ter que dormir
junto com ele, por que ele estava ali? E como ele sabia que eu não tinha
coberta para me cobrir? Jeff parecia estar esperando a hora certa para entrar
dentro do meu quarto. Aquilo era estranho, era como se ele soubesse cada
passo que eu havia dado. Ele continuou a me ignorar e apenas disse de
maneira irônica:
— Eu... Tive um pesadelo com meus pais. — Respondi com uma voz de
choro.
Eu estava com muita raiva dele por tudo que havia acontecido nos
últimos dias, porém, naquele momento eu precisava de aconchego e me
permiti ficar nos braços dele. Ele me acariciou até que eu pegasse no sono
novamente. Logo de manhã, ao ser acordada pelo barulho do meu
despertador, olhei para o lado da cama e para meu alívio Jeff já não estava
mais lá. Dei um sorriso satisfeita e me levantei da cama e caminhei em
direção ao closet.
Quando fui escolher uma roupa para ir a faculdade, percebi que Jeff tinha
trazido algumas de suas roupas para meu quarto. Bati a mão nas roupas dele
que estavam no closet por conta da raiva que eu senti, e disse:
Voltei até minha cama para ver quem era, já que meu celular estava lá. Vi
que era um número desconhecido que estava me ligando, achei estranho
aquilo, quase ninguém me ligava, e geralmente quem me ligava eu tinha o
contato salvo, mas, mesmo assim, resolvi atender para descobrir quem
estava me ligando.
Ligação ON
Charlotte: — Alô?
(Continua...)
Mantendo o foco
Narração - Charlotte Staton
Ligação ON
Ligação OFF
Eu não iria ficar ouvindo aquele homem que claramente não sabia o
significado da palavra “não”. Não me interessava a empresa que ele
trabalhava, muito menos o grupo qual ele representava. Era ridículo ele
achar que eu iria vender o projeto para ele, por mais que eu já estivesse
deixado claro que ele não estava à venda! E o Senhor Hollins... Aquele velho
desmiolado iria ouvir umas poucas e boas hoje por ter passado meu telefone
para Levi.
Levei minhas duas mãos até a lateral da minha cabeça, e deslizei elas sob
meu cabelo em um ato que demonstrava meu cansaço pela situação. Inspirei
o ar e expirei pela boca, repeti essa ação por algumas vezes como se
buscasse um meio de conseguir me tranquilizar. Eu precisava estar com
minha mente tranquila para executar meu projeto com excelência. Eu não
poderia permitir que esses pensamentos tirassem meu foco e atenção do que
realmente importava.
Peguei minhas coisas para levar para a faculdade e desci, quando fui até
a mesa de café da manhã, Janet gentilmente já havia preparado meu café da
manhã para a viagem. Ela era um doce de pessoa e extremamente atenciosa,
eu a agradeci e saí um pouco apressada. Ao passar pela sala, não vi meu
marido. Deduzi que ele já havia saído para trabalhar. Era melhor assim pois
ainda não sabia muito bem como iria encara-lo depois da demonstração de
afeto que trocamos, porém, eu suspeitava que ele iria fingir que nada havia
acontecido.
— Senhor Hollins por que o senhor passou meu telefone para aquele
homem que estava aqui ontem? — Eu tinha um tom de voz rude ao falar
com ele.
Antes que ele falasse mais alguma coisa eu resolvi sair dali, não queria
ter uma discussão intensa logo pela manhã para estragar meu dia, e
consequentemente, me atrapalhar ao desenvolver meu projeto.
— Eu espero que o senhor tenha um bom dia e que tenha ficado claro
para o senhor minha intenção de não vender meu projeto para o Levi e seja
lá quem quer que ele represente. — Virei minhas costas e caminhei em
direção a saída.
— Desculpa por mais cedo Senhor Hollins, eu fiquei nervosa por outras
coisas que aconteceram comigo e acabei descontando no senhor. — Eu disse
envergonhada.
— Tudo bem, querida. Eu te peço desculpas por ter passado seu telefone
sem ter previamente sua permissão. Não foi certo da minha parte fazer isso.
Eu balancei a cabeça para cima e para baixo demonstrando concordar
com ele ainda com um sorriso em meu rosto.
Eu apertei a mão dele e nosso acordo foi selado. Ele era uma pessoa
muito correta e confiável, por esse motivo, a palavra dele bastava para mim.
O meu projeto seria minha arma secreta contra o meu avô Stuart e meu
marido, eu iria poder ficar livre de ambos se eu tivesse algo meu que
permitisse ter minha independência financeira. Eu estava determinada a abrir
minha empresa, por esse motivo eu não iria vender meu projeto para lugar
algum. Como percebi que meu orientador queria estar envolvido em meu
projeto, e nós estávamos em um clima de paz, eu resolvi sugerir algo para
ele.
— Já que você quer colaborar com uma empresa de tecnologia, por que
não a empresa do Levi?
Por mais que ele estivesse ranzinza por eu não ter aceitado colaborar
com a empresa do amigo dele, ele não resistiu e começou a rir também. Por
fim, ele deu de ombros e disse:
— Tudo bem, se essas são as condições para que eu consiga livre acesso
ao seu projeto eu o farei. Te darei a carta de recomendação, e o telefone do
presidente da M&W Technology, ele se chama Wilson, e para sua sorte é um
velho conhecido meu. — Ele falou em um tom de soberba e em seguida riu.
— Jeff! Nós precisamos conversar, ontem parece que você não estava
tendo um dia bom e não deu importância a respeito do que eu disse sobre o
gênio que descobri. — Ele falou empolgado.
Eu revirei meus olhos para ele, e ele deu uma gargalhada. Levi apoiou a
mão no meu ombro, e nós nos direcionamos para o elevador para irmos até
meu escritório. Nós chegamos lá e eu me sentei na minha cadeira, ele se
sentou na cadeira que estava na minha frente, do outro lado da mesa, e se
inclinou um pouco para começar a falar comigo.
— Jeff, você não tem ideia de como esse projeto é incrível! O gênio que
te falei é uma moça que está na equipe de pós-graduação do Hollins. Ela é
tão avançada que concluiu sua formatura há um ano, antes de todos os seus
colegas de classe porque Hollins viu como ela era incrível e já tinha
concluído sua primeira tese praticamente em meados do curso de graduação.
Além disso, ela está perto de concluir sua pós, ela é extremamente dedicada
e tem uma inteligência que eu não via há muito tempo. — Ele dizia
empolgado.
— Hum, acho que você está muito empolgado... Não é possível que uma
aluna de pós-graduação seja tão boa assim como você está falando. — Eu
disse desconfiado.
— Realmente, ela não é só tão boa, a verdade é que ela é melhor do que
eu estou dizendo, e você não está entendendo a dimensão disso tudo. Vou ser
mais claro, sabe a inteligência de desenvolvimento de projetos que sua ex-
namorada Elizabeth tem? — Levi perguntou.
— Sei... Claro que sei, Elizabeth é muito boa nos projetos que faz na
área dela. — Falei para ele como se fosse óbvio.
— Pois então, Elizabeth não chega nem aos pés dessa moça. — Ele
afirmou dando uma batida na mesa por sua empolgação.
— Bom, realmente é interessante isso, algo bem raro. Se bem que você
me conhece o bastante. Sabe que eu preciso ver para acreditar em tudo que
você está me falando.
— Eu sei. Pena que ela não quer vender o projeto para nós. — Levi disse
se lamentando.
Eu me senti ofendido ao ouvir isso, por que alguém não iria querer uma
parceria com a empresa de um Staton!?
— Por que ela não quer? — Perguntei já mudando um pouco meu tom de
voz.
— Não sei, ela não deu um motivo plausível para tal. Mas conversei com
Hollins e ele disse que iria dar um jeito de fazê-la mudar de ideia, vamos ver
se ele realmente consegue... — Levi dizia um pouco apreensivo.
— Ela vale tão a pena assim? — Falei com desdém ao saber que ela não
queria vender o projeto de imediato.
— Com certeza. Você vai ver e vai se surpreender, você sabe que eu não
sou de elogiar pessoas de maneira gratuita, mas essa moça é diferente. —
Levi falou com convicção.
— Acho que você está interessado nela de outra maneira, isso sim. — Eu
dei uma gargalhada ao falar.
— Ela é uma mulher linda, não posso negar que chama bastante atenção,
mas, ela é muito jovem e é casada. Eu nem me atreveria me interessar por
alguém que é comprometida.
— Sim... Que bom que ela não deixou sua genialidade de lado por conta
do casamento pois seria um verdadeiro desperdício... — Levi falou
aliviado. — Ah, ela tem a idade da sua esposa, não é?
Antes que Levi pudesse falar mais alguma coisa, o telefone dele
começou a tocar, e ele atendeu. Pela forma que ele atendeu e logo se
direcionou a pessoa, presumi que era o senhor Hollins, ele estava animado
ao atender. Mas como eu estava do outro lado eu só pude ouvir alguns
fragmentos da conversa, e pela expressão de Levi não tinha sido tão
agradável como ele esperava que fosse. Assim que ele desligou passou sua
mão na testa.
— Era o senhor Hollins, quando ele me ligou pensei que ele me daria
uma boa notícia. Talvez a aluna dele havia mudado de ideia e decidido
vender o projeto para nós. Mas, ele disse que ela tem interesse na M&W
Technology, ele acha que ela quer negociar com eles. — Ele balançou sua
cabeça negativamente.
A M&W era nossa concorrente direta e também era uma empresa muito
grande, nós ainda não havíamos conseguido alcançar o patamar dela. Eu
achei isso uma verdadeira afronta. Essa garota devia ser muito boa, ou no
mínimo arrogante o suficiente para achar que era boa o bastante para poder
desprezar uma empresa como a minha logo de cara.
— Não, ela é muito boa e tem consciência disso. Nós não podemos
perder esse projeto. Vamos, eu vou te levar até a faculdade para você
conhecer ela, e quem sabe talvez ela conhecendo pessoalmente Jeff Staton
ela mude de ideia. Vamos usar seu sobrenome a seu favor.
— Tudo bem. Estou curioso para conhecê-la depois do tanto que você
falou. — Eu falei ao me levantar da cadeira.
— Bom dia, nós queríamos conversar com o Senhor Hollins, ele está? —
Levi perguntou.
— Bom dia, ele deu uma saída. Creio que foi fazer um trabalho de
campo. Quando é assim ele não costuma voltar tão cedo. — A senhora nos
informou.
— Por que você não falou o nome da moça? Aliás, você não falou o
nome dessa moça nem para mim, muito menos sobre o projeto. Por que o
mistério?
Levi respirou fundo, fechou seus olhos por alguns momentos e disse de
um jeito contrariado.
— Por que você fez uma tolice dessas? — Perguntei sem entender.
Agora eu estava mais curioso para saber sobre essa garota, isso estava
me intrigando demais e eu estava me sentindo desafiado. Portanto, eu
precisava saber o quanto antes o motivo pelo qual ela não queria assinar com
minha empresa.
— Você está ficando louco? Quer que a gente vá na sede da empresa que
é a nossa maior concorrente sem mais nem menos? — Eu perguntei
querendo acreditar que ele iria se dar conta da tamanha besteira que estava
sugerindo.
— Isso! Se a gente a encontrar lá temos uma grande chance de traze-la
para o nosso lado. — Levi falou com animação.
Eu estava chocado com ele ainda cogitar isso. Nunca havia visto Levi
com tanta obstinação assim para alguma coisa, esse projeto deveria valer a
pena demais para ele querer se arriscar assim. A contragosto e sem me
conformar com essa insanidade eu disse a ele:
— Tudo bem, vamos então, mas saiba que eu continuo achando isso uma
loucura. — Assim que terminei de falar, Levi deu um sorriso satisfeito e nós
saímos da faculdade.
— Não sei, eu espero que não nos reconheçam, e assim eu darei um jeito
de perguntar sobre a moça na recepção. Se não nos reconhecerem, no
máximo, nos acharão loucos. — Ele deu uma risada.
A situação era tão insana que acabei dando uma gargalhada sobre tudo o
que estava acontecendo.
Levi ficou conversando com ela por mais um tempo e parece ter
conseguido a informação que queria, pois, logo voltou até mim.
— Ela não está aqui, o que acha de voltarmos para faculdade? Talvez lá
possamos encontrar ela. — Ele falava animado e ofegante.
— Não, sem chance. Totalmente fora de cogitação. Eu já estou exausto e
são apenas 14h00 da tarde, não quero mais ficar correndo atrás dessa garota
que você diz ser tão especial, e talvez ela nem seja isso tudo. — Eu falei com
desdém e um pouco irritado por estar andando de um lado para o outro sem
sucesso.
— Tá, que seja verdade, mas eu não vou ficar correndo atrás dela. Pode
ser que essa moça esteja até mesmo em sua casa, bem tranquila, enquanto
nós estamos atravessando a cidade atrás dela. — Eu expliquei para Levi.
— Tudo bem, você tem razão... Não adianta ficarmos procurando-a sem
sucesso. Mas saiba que eu ainda não desisti, vou te apresentar para essa
garota, e você vai entender o que eu estou falando. — Ele falou com bastante
otimismo.
— Ok. Agora vamos almoçar porque eu estou faminto e nós temos que
voltar para a empresa ainda. Preciso revisar alguns relatórios dos projetos
aprovados e ver alguns e-mails contendo novos projetos de alguns
doutorandos para ver se eu aprovo. Enquanto não temos o projeto da sua
"galinha dos ovos de ouro" precisamos trabalhar com o que temos.
Ele tinha ficado bem desapontado e frustrado por não termos conseguido
encontrar a garota gênio. Nós almoçamos em um restaurante perto da
empresa que era nossa concorrente, e logo voltamos para a Tec Solutions.
Assim que chegamos lá, eu fui direto para meu escritório e Levi foi para o
dele. Eu estava atolado de tanto trabalho que eu tinha para fazer, afrouxei um
pouco minha gravata, estralei meus dedos e comecei a trabalhar.
Assim que cheguei em casa fui direto para o meu quarto tomar um
banho. Provavelmente Charlotte já tinha chegado e estava no quarto de
hóspedes dormindo. Eu decidi ir até lá para ver se ela estava bem, mas, para
minha surpresa ela ainda não havia chegado e já era pouco mais de meia
noite. Achei aquilo muito estranho, e fiquei um pouco preocupado. Mas, eu
iria tomar um banho primeiro antes de me preocupar com isso.
Decidi que iria ligar para ela, de qualquer forma teria que saber onde
minha esposa estava. Saí do banheiro, me enxuguei e apenas me enrolei na
toalha. Fui até a mesa que eu havia deixado meu celular e liguei no número
da minha esposa. O celular dela chamou umas três vezes, então uma voz
masculina atendeu.
Ligação ON
Sam: — Alô?
Sam: — Ela disse que tinha muito trabalho a fazer, não entendi muito
bem do que se tratava nem porque ela optou por dormir aqui. Mas pode ter
certeza que a aviso que você ligou.
Ligação OFF
∞∞∞
Narração - Charlotte Staton
— Sam? O que você está fazendo aqui? — Perguntei para ele um pouco
confusa.
— Com o seu marido, ele queria saber onde você estava e estava
nervoso... Ele ligou no seu celular então atendi para o barulho não te acordar,
mas a conversa te acordou mesmo assim, desculpe.
— Caramba, a cada dia que passa eu estou mais decepcionado com meu
vô. Ele não é confiável e é uma pessoa cruel, como ele teve coragem de
fazer isso com a própria neta? E você nem ao menos sabia da existência
dessa empresa... — Ele falava se lamentando. — Mas e quanto ao fato de
você ter que engravidar? Você conseguiu entender?
— Sim, eu acho que isso é um interesse da parte dos Staton e isso não
importa para meu vô, mas ele usou isso como uma moeda de troca com eles,
para conseguir todos os privilégios. Por isso ele não estava importando com
os métodos que seriam utilizados para fazer isso, pode ser que ele quem
sugeriu a inseminação artificial. Por mais que ele falou que todos os termos
do contrato foram os Staton que estipularam, eu não acredito mais, porque
com certeza sobre os lucros serem dele não era algo que partiria dos
Staton... — Eu falei indignada com a perversidade do meu avô.
— Nossa... Que coisa horrorosa, Char. Eu não sei nem o que te dizer.
Como você está em relação a isso? — Ele perguntou preocupado.
— Primo, eu acho que já chorei tanto que não tenho mais lágrimas para
derramar por conta desse assunto. Eu tenho agora somente muita força para
agir diante disso! E eu vou agir, meu avô vai se arrepender pelo que fez
comigo. Eu vou me certificar disso. — Falei para Sammy enquanto tinha o
olhar distante como se planejasse algo.
— Sei que você ama o Stuart, não vou fazer nada grave, mas não vou
deixá-lo enriquecer as custas do meu sofrimento, isso não é justo. — Eu falei
para ele em protesto para justificar minha vingança.
— Eu amo nosso avô, mas amo muito mais você, você é como a irmã
que eu nunca tive e esteja certa que eu estou do seu lado. Eu jamais teria ido
atrás desse contrato, dentro do escritório dele, se não fosse por você. Acho
que nem pelo meu pai eu iria me arriscar tanto. — Ele se explicou.
— Eu sei primo, não me leve a mal, eu não falei isso para te ofender. Sei
que você está do meu lado e jamais cobraria para você odiar nosso avô como
prova do seu amor por mim. — Dei um sorriso para ele, e ele acenou a
cabeça positivamente. Sam demonstrou estar aliviado ao ver que eu não
estava pensando mal dele.
— Mas então, o que você está pensando? Qual seu plano para conseguir
matar os dois coelhos em uma cajadada só? No caso o vovô e o seu marido...
— Eu sei Sam, você tem sido meu porto seguro todos esses anos, e eu sei
que nesse momento não será diferente. — Dei um abraço forte nele ao falar
e ele afagou meus cabelos.
— Não sei ainda, por quê? — Olhei para ele um pouco desconfiada.
— Achei seu marido bravo ao saber que você não havia chegado. Não
sei se ele ficou mais bravo por eu ter atendido ou por você não ter
chegado. — Ele deu uma risadinha.
— Eu acho engraçado, ele parece sentir ciúme de mim, isso é porque ele
claramente não conhece nossa relação, se ele não fosse um babaca e te
escutasse ele saberia que somos como irmãos. — Sam falou.
— Não importo com o que ela pensa. Deixe-o pensar o que quiser. — Eu
falei ao dar de ombros.
— Eu só tenho medo que ele faça alguma coisa com você. — Sam
demonstrou preocupação.
— Fique tranquilo, primo. Eu não permito que Jeff faça mais nada contra
mim. Eu grito, choro, faço o escândalo que for. Mas em mim ele não tocará
mais com o intuito de me ferir. E eu não estou sendo desleal nem infiel a ele.
Eu estou cheia de trabalho, por isso estou optando por ficar aqui. Na
verdade, depois de ter descoberto tudo desse contrato meu desgosto está
cada vez maior, não tenho vontade de vê-lo, então acho que talvez eu até me
mude de vez para esse quarto do dormitório da faculdade.
— Pode ser que sim, mas seria bom, porque eu me dedicaria totalmente
ao meu projeto sem interrupções ou chateações... — Falei para ele.
— Eu não tenho muito tempo então estou fazendo lanches rápidos, mas,
barrinha de cereal é super saudável e nutritiva. — Eu ri ao falar.
— Aham, leu isso no rótulo ou na propaganda? — Ele riu, mas logo se
tornou um pouco mais sério. — Você sabe que daqui quinze dias irá
descobrir se a inseminação deu certo e você engravidou, não é?
— Sei... Mas é algo que eu faço questão de não ficar lembrando. — Dei
um suspiro.
— Eu te entendo, mas então, você não terá um mês e meio para concluir
seu projeto. — Ele me alertou.
— Porque você terá que ir até o hospital para fazer o exame... E isso
pode tomar boa parte do seu tempo, e também, se surgir algum compromisso
você vai ter que sacrificar mais dias do seu projeto. — Sam falou, e aquilo
me deixou desanimada.
Eu não tinha pensado nessas questões. Eu teria que correr contra o tempo
pra conseguir entregar meu projeto no prazo. Eu precisava disso pois isso era
o que iria definir minha vida.
Quem é o mais forte?
Narração - Charlotte Staton
Eu decidi que iria fazer isso a partir de hoje mesmo. Também decidi que
não iria retornar a ligação do Jeff, ele não merecia minha satisfação para
nada. Amanhã eu iria buscar algumas coisas minhas na parte da manhã e o
comunicaria sobre a minha decisão. Eu iria bem cedo para não perder muito
tempo de trabalho. Fui tomar um banho para dormir mais tranquila, mas ao
terminar meu banho eu havia perdido todo o sono que eu tinha, sendo assim,
liguei meu notebook e trabalhei para aproveitar meu tempo.
Fui até meu carro e dirigi apressadamente para a casa de Jeff. Ao chegar
lá, Janet estava na sala de jantar. Como eu estava com pressa, acenei de
longe para ela e fui direto para o quarto de hóspedes onde todos meus
pertences estavam. Ao chegar lá mantive a porta do quarto aberta. Não
demorou muito e Jeff apareceu lá. Eu continuei a fazer o que estava fazendo,
e ele indagou:
— Onde você estava ontem à noite? E onde você pensa que vai
arrumando suas coisas assim? — Eu senti que ele estava falando de um jeito
apreensivo.
Será que agora ele estava com medo de que eu fosse embora e o deixasse
de vez? Interessante. Mas eu não iria me iludir, ele devia estar preocupado
por conta do bebê, que possivelmente, eu estava carregando e também em
tudo que uma ação impensada minha pudesse acarretar para nós dois. Então
eu disse de maneira ríspida:
— Você está se portando como se fosse uma mulher solteira e você não
é, Charlotte! — Jeff falou ao vir apressado atrás de mim alterando sua voz.
∞∞∞
Narração - Jeff Staton
Ligação ON
Ligação OFF
É, parece que eu teria que adiar minha ida até a faculdade de Charlotte,
porém, eu iria vê-la mais tarde com toda certeza. Cheguei na empresa e fui
direto para sala fazer a reunião com o embaixador japonês senhor Kobayash.
Nós ficamos lá por horas, ele era um homem muito difícil de lidar, mas eu
adorava esses desafios e fazia questão que a empresa ficasse reconhecida
internacionalmente como todas as empresas da companhia Staton.
Parecia que hoje, tudo estava conspirando para que eu não fosse atrás de
Charlotte na faculdade dela, mas, nem que eu fosse de tarde eu iria atrás
daquela arrogante e prepotente. Pedi para minha assistente levar o almoço
para o escritório, pois aproveitaria para findar os relatórios que haviam
ficado pendentes na noite anterior. Eu estava determinado a sair um pouco
mais cedo para ir até a faculdade da minha esposa mostrar para ela que era
eu, seu marido, quem mandava em tudo, inclusive nela, e ela ia entender isso
por bem ou por mal.
— Sinto muito, Jeff. Mas eu não posso. — Ele disse com um certo
desapontamento. — Se eu pudesse falaria com certeza.
— E por que você não pode me falar? Vai dizer que também assinou um
contrato de confidencialidade? — Eu dei uma gargalhada.
Eu não pude acreditar quando ele falou aquilo. O senhor Hollins era uma
pessoa excelente, mas quando se tratava de sua inteligência ele sabia que era
bom e não se sujeitava a nada. Para ele assinar um contrato de sigilo é
porque ele realmente devia achar que valia a pena o tal projeto. Tirei o
sorriso do meu rosto e o olhei chocado.
— Não sei se o senhor conhece, mas vou perguntar, o senhor viu uma
moça aqui, aluna da faculdade, chamada Charlotte? Ela tem cabelos louros,
olhos azuis... E é muito bonita. — Eu falei quase com um sorriso bobo, mas
logo me recompus.
∞∞∞
Graças a Deus tudo tinha dado certo quando fui buscar minhas coisas em
casa, afinal, eu tinha me posicionado então Jeff não iria se atrever a fazer
muita coisa. Eu havia chegado na faculdade e consegui ser produtiva com
meu projeto quase o dia todo, mas, para variar eu não havia me alimentado e
estava me sentindo um pouco zonza. Peguei meu notebook, meu bloco de
anotações e alguns livros e saí apressada do laboratório.
Estava andando com pressa pelo corredor, meu celular tocou e vi que era
um número desconhecido. Provavelmente era Levi, então decidi desligar,
mas como fiquei olhando para o celular, e não para o caminho, acabei
esbarrando em alguém e quase que vou ao chão se a pessoa não tivesse me
segurado pelos braços.
— Que legal! Eu também! Muito bom te ver aqui. — Ele falou com
grande empolgação.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, para minha infelicidade,
Jeff apareceu. Brandon ao ver meu semblante sério, olhou para trás e viu o
motivo que me fez ficar séria. Ele deu um sorriso sem graça, e
cumprimentou Jeff, que o cumprimentou secamente. Depois, ele se despediu
de mim e saiu. Soltei o ar pela boca e revirei meus olhos.
— Eu não dou a mínima para o que você quer! Você vai comigo, e
pronto! — Ele falou com raiva e começou a praticamente me arrastar com
ele.
Jeff respirou fundo e seu rosto ficou completamente vermelho por conta
do que eu fiz, e também pela raiva que ele sentiu diante do meu ato. Ele
estava visivelmente nervoso e confesso que senti um pouco de medo do que
ele poderia fazer comigo naquele momento.
— Você não vai voltar para o dormitório, eu vou leva-la e busca-la todos
os dias para facilitar para você. Mas, longe de casa você não ficará mais. —
Ao ouvir ele, franzi minha testa.
— Eu não lembro de ter dado espaço para escutar opiniões, isso é uma
decisão unilateral e pronto! — Ele falou.
Eu fiz uma expressão brava e olhei para o lado oposto qual ele estava
dirigindo. Nós chegamos na casa dele e eu subi igual um furacão para o
quarto e bati a porta com raiva. Tomei meu banho e fui me deitar, assim que
deitei na cama ele apareceu lá e se deitou comigo. Aquilo me irritava
profundamente. Eu me revirei na cama por diversas vezes, pela raiva que
estava sentindo, eu não conseguia pegar no sono.
— Vai fazer o quê? Eu não tenho medo de você, idiota! — Eu falei com
raiva.
Ele havia me buscado hoje, e como sempre cheguei em casa e fui tomar
meu banho, saí do banho e me troquei. Eu estava usando camisolas já que
ele estava dormindo todo dia comigo. Eu me deitei, e como de costume, ele
veio em seguida. Ele deitou virado de frente para mim e isso fez com que
nossos olhares se encontrassem por alguns momentos. Eu tomei coragem e
perguntei de novo, já que havia perguntando anteriormente.
— Por que você tem dormido comigo toda noite? Nós não conversamos,
na verdade mal nos falamos, mas você faz questão de todos os dias dormir
comigo, como se fôssemos marido e mulher que realmente se amam. — Eu
o questionei.
Não era a primeira vez que ele me dava essa resposta sobre essa
pergunta, eu acho que tinha algum motivo para ele fazer questão de vir
dormir comigo todas as noites. Ele era sempre tão pontual, era estranho isso,
eu comecei a pensar que pudessem ter câmeras no meu quarto, porque não
era possível. Suspeitei disso também porque na primeira noite que ele veio
dormir comigo, Jeff fez questão de me cobrir para não me deixar exposta,
como se alguém olhasse. E quando tivemos aquele momento de intimidade
ele fez questão de ficar em cima de mim como se quisesse tampar meu seio.
Mas qual objetivo dele colocar câmeras? A não ser que isso não tivesse
partido dele, mas sim, da família louca dele... Será que eles haviam colocado
câmeras para ver se nós tínhamos feito sexo? Não... Isso não era possível,
seria o cúmulo da invasão de privacidade. Acho que eu estava muito cansada
por estar dormindo pouco e por conta disso estava criando paranoias na
minha cabeça. Fiquei com a pulga atrás da orelha, mas acabei dormindo.
Quando foi pela manhã eu acordei e nós estávamos bem próximos um do
outro, o despertador tocou e ele abriu seus olhos.
Eu engoli seco, era hoje o dia que iríamos saber algo muito importante, e
eu nem ao menos tinha me dado conta. Empalideci e senti um frio na
espinha. Fiquei imóvel e não sabia o que fazer, arregalei meus olhos e fiquei
um pouco distante.
Eu me virei para ele e o olhei com raiva por ele ainda ter a coragem de
agir como se eu não tivesse sido traumatizada por conta daquele dia. Então,
apenas andei até a maca e não conversei com ele. A enfermeira me deu uma
camisola e fui no banheiro me trocar, ao voltar Jeff estava ao lado da maca.
O médico e a enfermeira eram muito simpáticos, e isso me deu segurança.
Na hora que eu assustei, fechei meus olhos e contraí meu corpo. Por
impulso, peguei na mão de Jeff. Assim que segurei a mão dele, ele segurou
minha mão de volta e acariciou o dorso dela com o polegar. Eu abri meus
olhos e o olhei por um momento, ele me olhou e deu um breve sorriso, eu
correspondi, mas logo depois olhei para o monitor do ultrassom. Ao olhar
para lá eu não entendia nada, então o médico disse:
— Olha, sinto muito, mas não consigo ver nenhum indício de gestação.
Ao que parece a inseminação não deu certo. — Ele explicou em um tom
pesaroso.
— Há mais algum teste que confirme isso? Que seja rápido? — Jeff
perguntou ao doutor.
— Apenas faça isso, é um pedido. — Ele falou com gentileza, algo que
era bem raro vindo dele.
— Querida, por que você já está indo para casa com meu filho? Não quer
ficar para nos contar o resultado e irmos juntas para a festa? — Cora falou se
aproximando de mim também.
Nós entramos no carro e fomos embora para a casa de Jeff. Ao chegar lá,
antes que eu descesse ele disse:
— Obrigado por não falar nada. — Ele olhou pra mim ao dizer.
— Você está linda. — Acho que aquilo saiu de forma espontânea da boca
dele porque ele se constrangeu assim que falou.
— Olha só, você está parecendo a Elizabeth. — Assim que ouvi essas
palavras me virei de uma vez e olhei para ver quem estava falando aquilo.
Eu fiquei chocada com o que ele estava dizendo, e logo uma infelicidade
tomou conta de mim. Eu não podia me sentir um pouco feliz por meu marido
me tratar bem que algo de ruim simplesmente surgia.
Eu não merecia ser tratada como uma mera substituta de Elizabeth, era
ridículo ele me objetificar dessa forma, se é que o que Brandon tinha me
falado realmente era verdade. Eu era uma pessoa muito calma, mas nunca
gostei de ser comparada a outras pessoas, eu sabia do meu valor apesar de
toda minha insegurança, eu tinha certeza que eu tinha valor mesmo não
recebendo ele de forma devida pelas outras pessoas.
Segurei minha taça com mais força ao me lembrar que Brandon falou
que eu queria agir igual a Elizabeth, ele estava completamente enganado,
quanto mais diferente dela eu pudesse ser dela, eu seria! Não tinha que ficar
tentando me parecer com ninguém para cativar Jeff, ainda mais que eu nem
tinha esse intuito mais. Seria muito humilhante, e eu estava cansada de ser
humilhada por quem quer que fosse.
Fiquei pensando que agora que a inseminação não tinha dado certo,
talvez, poderia ser questão de tempo para que nós encerrássemos nosso
contrato, quem sabe. Fiquei um pouco triste de pensar na possibilidade de
me separar do Jeff, mas por um lado, eu me senti aliviada... Dei um suspiro e
o garçom passou com uma bandeja contendo outras bebidas não alcóolicas e
eu me servi, entretanto, minha vontade era me afundar no álcool para
conseguir me manter sociável naquela festa.
Será que seria coincidência um homem chamado Levi, nome que não era
tão comum, ser gerente da empresa de Jeff, e um Levi que também era
gerente de uma importante empresa me procurar? Eu iria aproveitar que ele
estava sendo gentil comigo e perguntar para ele:
— Nada, achei legal você dizer que vou conhecê-lo. — Mantive meu
sorriso e Jeff me olhou confuso.
O que era completamente justificável, afinal, eu tinha dado uma desculpa
mais que esfarrapada para ele. Torci para ele não perguntar mais nada, e logo
fomos salvos pelo mordomo que anunciou que o jantar estava servido. Jeff
gentilmente, me deu seu braço para eu segurar e caminharmos até a mesa.
Por um momento esqueci que ele estava apenas me usando como um objeto
e o olhei de maneira apaixonada, mas logo meu olhar cruzou com o de
Brandon que deu um sorriso malicioso como se quisesse me lembrar
constantemente sobre o que falou a respeito de Elizabeth, sendo assim, meu
sorriso se desfez.
— Então, meus queridos, já estão prontos para nos dar a grande notícia
que tem deixado todos ansiosos? — Ela sorria de maneira tendenciosa.
— Não somente por isso, tem o contrato e você bem sabe... — Ele falou
e virou o restante de sua bebida, e surpreendentemente pegou mais uma. Ele
estava sem limites.
Aproveitei que estávamos em um momento de descontração e decidi
falar:
Isso chamou um pouco da atenção para nós, eu ri junto e fiz sinal para
ele falar mais baixo.
— Jeff!
Eu estava me divertindo com aquela versão dele, mas achei que já era
hora de irmos.
— Acho melhor nós irmos embora, amanhã temos um dia cheio. — Ele
mal conseguia se manter de pé e estava me olhando de um jeito estranho.
Percebi naquele momento que deveria tomar a decisão por ele. Nós nos
despedimos dos familiares dele, ele tentou se manter o mais controlado ao
fazer isso, para que a família dele não percebesse seu estado de embriaguez e
então, depois de nos despedirmos, nós fomos embora. Eu o ajudei a entrar no
carro e depois entrei no lado do motorista para podermos ir para a casa.
No caminho para a casa ele deu uns cochilos, mas, do nada acordava e
balbuciava algumas palavras que eu não conseguia entender nada. Eu ria vez
ou outra daquilo, mas quando me lembrei do que Brandon disse, associei
essa bebedeira dele ao fato de ser o aniversário do verdadeiro amor da vida
dele, e pela frustração dele não estar com ela, ele tinha se acabado na bebida.
Fiquei séria ao pensar nisso e dirigi o restante do caminho assim.
— Claro que você consegue, você é forte. — Ele falava com uma voz
mais mole por conta da bebida.
Ele estava colocando o peso todo em mim. Por conta disso nós dois
caímos juntos em cima da cama. Ele caiu em cima de mim e confesso que
aquilo me causou um desespero, empurrei ele e me levantei com pressa. Para
minha surpresa Jeff se levantou e disse:
— Não, você não pode sair daqui, vem aqui, dorme comigo. Sou seu
marido. — Ele falou e começou me abraçar.
E apesar do seu estado de embriaguez ele ainda tinha mais forças do que
eu para me manter ali. Quando ele se levantou, ele arrastou o cobertor que
estava posto sob a cama junto com ele, por conta disso, ele acabou
escorregando e nós caímos novamente juntos, mas dessa vez no chão.
Peanut?
Narração - Charlotte Staton
Pelo jeito que eu e Jeff caímos inevitavelmente minha mão tocou o pau
dele. Na hora eu fiquei super constrangida e senti que ele ficou excitado.
Aquilo me provocou um misto de sensações que eu não sabia explicar de
forma clara o que estava sentindo. Eu estava muito envergonhada e
assustada, por conta disso eu fiquei imóvel e não me atrevi a me mexer. Nem
mesmo puxar meu braço para puxar minha mão dali, e essa atitude parecia
estar fazendo com que ele ficasse mais excitado ainda.
Puxei meu braço que estava tocando-o fazendo com que ele ficasse
excitado, conseguindo deixar meu braço livre. Mas, mesmo assim, eu não
conseguia sair debaixo dele, aquilo me deu desespero e então comecei a
chorar, e me debater na tentativa frustrada de tirar Jeff de cima de mim.
— Pare de resistir, eu sei que você quer. — Ele ainda insistia. Jeff não
estava errado, eu realmente queria, mas eu não poderia me sujeitar a ele
dessa maneira sendo que não era eu quem ele desejava verdadeiramente.
Meus movimentos para me desvencilhar dele se tornaram mais intensos,
tanto que eu bati a mão em um copo d'água que estava em cima do criado
mudo ao lado da cama dele, fazendo com que a água caísse no chão e
respingasse em nós dois. Eu continuava a chorar. Como nada adiantava, pois
ele se recusava a sair de cima de mim, comecei a gritar:
∞∞∞
Narração - Jeff Staton
Fazia muito tempo que eu não bebia como eu bebi aquela noite, eu
estava bem alegre por conta disso, e me manter na presença de Charlotte
estava me deixando mais feliz ainda. Provavelmente o teor alcoólico daquele
vinho era bem significativo para fazer eu achar tão boa a companhia da
Charlotte e querer desfrutar mais dela, mas confesso que estava achando a
conversa dela interessante. Quando ela me chamou para ir embora, eu tentei
ficar o mais sóbrio possível para me despedir da minha família, não queria
que eles começassem a pegar no meu pé porque eu havia passado dos
limites.
Aqueles grandes olhos azuis... Não pode ser. Sim, pode ser sim! Eu não
sei se era porque eu estava embriagado ou por loucura da minha mente, mas,
olhando para Charlotte daquele jeito, naquele ângulo, eu tinha certeza que
ela era a peanut. Com certeza, era ela! Eu dei um sorriso enquanto a olhava e
ela parecia não entender muito bem porque eu a encarava daquele jeito.
Mas a verdade é que eu estava muito feliz por finalmente ter encontrado
minha garota perdida há 10 anos... Não sei se era o álcool falando, talvez
fosse exatamente isso que estava acontecendo, mas eu não queria perder
aquele momento, nem aquele sentimento nostálgico que ele me trazia, por
nada nesse mundo. Eu acariciava o rosto dela e, posteriormente, sua boca
que era tão rosa e carnuda. Eu queria beija-la naquele instante. Ela tentou
sair da posição em que estávamos, e ao perceber que ela fugiria de mim eu
pressionei meu corpo no dela impedindo que ela fizesse isso. Tentei beijar
ela e a abraçava. Eu presumi que ela não iria resistir pois por um breve
momento foi isso que ela demonstrou, que me queria tanto quanto eu a
queria.
Mas, para minha tristeza, ela começou a tentar a sair de todas as formas e
para meu desespero começou a chorar. Ela se debatia e por mais que eu a
abraçasse tentando demonstrar que eu não queria que ela chorasse e saísse
dali ela chorava mais intensamente. Charlotte começou a gritar e disse que
não era a Elizabeth. Quando ela falou isso seu choro se intensificou mais
ainda, por conta do choro dela eu me levantei de imediato. Não entendia o
motivo dela mencionar Elizabeth tão aleatoriamente, mas não dava para
ignorar aquele choro e por esse motivo resolvi liberta-la.
Era perturbador ouvir o choro tão sofrido dela, eu fiquei ansioso e sem
saber o que fazer diante daquilo. Eu fiz uma expressão séria ao olha-la, e ela
continuava a chorar. Eu só precisava sair dali o quanto antes para parar de
ouvir aquele choro, que parecia que iria me partir em mil pedaços porque me
pesava em agonia por ver Charlotte sofrer daquela maneira. Fui em direção
ao banheiro para me refugiar ali.
Mesmo com a porta fechada, ainda dava para ouvir o choro dela, mas,
ele foi acabando aos poucos, e isso me trouxe tranquilidade. Quando ela
parou de chorar totalmente, eu passei uma água em meu rosto para me ajudar
a ficar sóbrio. Eu decidi que iria me desculpar com ela, pois, por mais que
ela demonstrasse mesmo que por momentos rápidos que tinha interesse, não
foi certo eu agir daquela maneira tentando força-la a ficar comigo.
Mas, assim que saí do banheiro, e caminhei até minha cama, vi que ela já
não estava mais lá. Fiquei frustrado e pensei em ir até o quarto de hóspedes,
mas acho que já havíamos passado por coisas demais por hoje, e o mínimo
que eu deveria fazer era poupa-la de mais chateações. Me deitei na cama e as
cenas que foram vividas por mim e Charlotte há alguns momentos ficavam
passando pela minha cabeça como se fossem um filme. Aquilo,
verdadeiramente, estava me perturbando e me deixando angustiado
principalmente porque o choro dela ficou gravado em minha mente.
Fui ao banheiro, fiz minha rotina de higiene matinal e tomei meu banho.
Coloquei uma roupa para trabalhar, e desci com pressa. Nem ao menos quis
tomar café da manhã e fui para a empresa. Minha cabeça parecia que iria
explodir, não só pela bebida, mas pelo ocorrido entre mim, e minha esposa.
Ao chegar na empresa subi imediatamente para o escritório, e para tentar
evitar que os pensamentos da noite passada invadissem minha mente, e
ficassem me perturbando, eu me afundei no trabalho.
Perspicácia
Narração - Charlotte Staton
Eu cheguei em meu quarto e até pensei em ficar lá, mas decidi que iria
para o dormitório da faculdade. Não iria ficar ali naquela casa onde eu havia
acabado de ser humilhada daquela maneira. Peguei algumas roupas e minhas
coisas, fui direto para a saída da casa. Eu estava chorando ainda, porque
mesmo sem querer eu revivia a cena que havia acontecido há alguns
momentos. Mas, agora, eu estava um pouco mais controlada. Abri a porta da
casa com pressa para não correr o risco do Jeff vir atrás de mim e tudo virar
algo maior.
Fiz uma maquiagem mais forte o suficiente para cobrir todas essas
imperfeições, e me vesti de uma maneira mais formal. Me dei conta, que eu
estava pronta, mas nem ao menos tinha ligado para o senhor Wilson. E se ele
me rejeitasse? Não quisesse nem ao menos me ver? Olha só quem estava
falando novamente... Minha insegurança praticamente gritava tentando me
sabotar. Respirei fundo, pois eu sabia que o não eu já tinha, o que eu poderia
fazer minimamente era tentar correr atrás do meu sim. Disquei o número do
Wilson, que meu orientador havia me passado e torci para que desse tudo
certo.
Ligação ON
Wilson: — Alô?
Ligação OFF
Eu fiquei chocada de saber que Jeff tinha ido lá atrás de mim, Levi
realmente estava determinado a comprar meu projeto, mas por conta do
contrato de confidencialidade provavelmente Levi não falou para Jeff meu
nome.
— Te garanto, com todo respeito, senhor Wilson, que minha idade não é
empecilho para o meu alto nível de inteligência, modéstia parte. — Eu dei
um sorriso confiante ao falar e parece que isso instigou ainda a mais a
curiosidade dele.
Retirei meu notebook da bolsa e expliquei sobre meu projeto para ele, eu
não exigi sigilo nem confidencialidade pois eu sabia que Wilson tinha uma
reputação impecável e jamais tentaria roubar meu projeto. A cada palavra
que eu dizia ao explicar meu projeto parecia que eu arrancava maior
admiração por parte do senhor Wilson, e isso me dava ainda mais confiança
para falar sobre meu trabalho para ele. Ao fim da minha explicação ele
parecia estar sem palavras, então eu perguntei.
— Então por que não vende seu projeto logo de uma vez para eles? —
Ele perguntou ainda sem entender meu ponto de vista.
— Eu não sei se é sorte sua ou obra do destino, mas, Jeff Staton e Levi
Brown estão aqui para conversar comigo e algo me diz que é a respeito do
seu projeto, provavelmente querem saber se eu irei fechar negócio com você.
Eu estava orgulhosa por ter ajudado, e aliviada por ele não ter levado a
mal o fato de ter hackeado o sistema dele.
— Você tirou um peso imenso de cima das minhas costas, você não faz
ideia! Eu estava a ponto de desistir desse projeto e jogaria não somente
milhões, mas, bilhões de dólares no lixo. Quanto você quer por esse
arquivo?
— Não, Charlotte, como boa negociante você tem que saber que isso é
primordial. O que você descobriu e me entregou como presente, foi algo que
já gastei milhares de dólares com pessoas que disseram que poderiam tentar
descobrir e não me davam garantias... E mesmo assim, eu as pagava só pelo
fato de haver a possibilidade de me ajudarem. — Wilson falou enquanto
pegou um bloco com talões de cheque e preenchia.
— Existe alguma saída alternativa da sua sala para que eles não me
vejam aqui? — Eu perguntei com apreensão.
— Tem sim! Foi uma das primeiras coisas que exigi em meu escritório,
as vezes é preciso escapar sem ser visto. — Ele deu um sorriso travesso e se
levantou da cadeira.
Eu apertei a mão dele, sorri e entrei no elevador. Eu estava tão feliz por
saber que tudo que planejei tinha dado certo que respirei aliviada enquanto o
elevador descia. Saí da porta do elevador e caminhei em direção a porta dos
fundos da empresa para sair dali, então ouvi:
— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou para mim ao parar na
minha frente.
— Ah, sinto muito, eu não sabia. Mas deve ter sido por esse motivo que
não fui contratada. Fique tranquilo que você não será prejudicado.
Ele acenou a cabeça quando eu disse para ele, mas, ao mesmo tempo
pareceu ter pena de mim por não ter conseguido a suposta vaga de estágio,
então ele falou:
— Você está indo para onde? Onde você dormiu? — Ele me perguntou e
eu vi que não havia intenção de me controlar naquelas perguntas, mas, ele
parecia ter preocupação.
— Ah sim, entendi. Vem, eu te dou carona até lá. — Ele não me deu
opção para negar então o acompanhei.
Eu não consegui ouvir o que Levi estava falando, mas pude escutar Jeff
falando:
— O quê? Ele está interessado em comprar e disse que nunca viu algo
assim!? — Jeff perguntou nervoso.
Creio que estavam falando do meu projeto, e pelo visto Wilson estava
cumprindo muito bem com sua parte do acordo.
Mensagem OFF
Ele não deu números exatos, mas disse algo que foi uma palavra chave
para nosso negócio, ele disse que ela tinha interesse nas ações da empresa
dele. Eu estava pensando muito sobre isso nos últimos dias e deixei por
conta de Levi fazer todos os trâmites para convencer a moça misteriosa a
fechar o contrato conosco, eu não queria dar nenhuma parte das ações da
minha empresa, então, por esse motivo estava oferecendo um valor bem alto
para ela. Mas, estava demorando mais do que minha paciência poderia
aguentar, pois ela queria fazer com que cedêssemos em relação as ações,
mas isso era demais para mim.
E para completar, eu ainda não sabia nada desse projeto. Eu não fazia
ideia se o desgaste todo que eu estava passando realmente valia a pena. Eu
estava pensativo sentado na minha mesa do escritório, não tinha muito
trabalho a ser feito, então eu estava bem tranquilo. Portanto, para minha
surpresa, Levi entrou na minha sala como um raio. Ele veio com passos
largos em minha direção e tinha um grande sorriso em seu rosto.
— Sim, agora você saberá de tudo. Vou entrar em contato com ela e
dizer que você quer conhecê-la e já marco para fecharmos o negócio. —
Levi falou e começou a discar o número para ligar para a garota misteriosa.
Eu não sei para que tanto mistério, isso era extremamente desnecessário.
Levi me olhou com um sorriso e disse que ela viria nesta tarde para eu
conhecê-la, e para assinarmos o contrato. Depois disso, já que nós iríamos
fecha negócio, ele me explicou mais ou menos como era o projeto, e
realmente era algo fascinante. Eu não via a hora da própria criadora explicar
com as palavras dela, pois pensando bem, quando o próprio criador explica
sua ideia sempre gera um impacto maior.
Como me interessei pela ideia. Imediatamente liguei para o
departamento jurídico e pedi para que fizessem o contrato que nós íamos
assinar com a tal garota que eu nem mesmo sabia o nome. Mas eu não iria
mais perturbar Levi querendo saber das coisas a respeito dessa moça, pois,
eu descobriria tudo hoje.
Estava ansioso e não via a hora de conhecê-la, por esse motivo, às horas
pareciam se arrastar. Levi e eu almoçamos no restaurante em frente a
empresa, e após almoçarmos voltamos de imediato. O encontro e assinatura
do contrato seriam às duas e meia da tarde, então, para evitar possíveis
atrasos resolvemos voltar o quanto antes. Subimos para o meu escritório e
pouco tempo depois fomos avisados que ela havia chegado.
Não sei explicar o motivo, mas senti um frio em minha barriga, aquilo
era estranho e novo para mim. Por que eu estava me sentindo daquela
forma? Assim que ela entrou a observei. Vi que era uma moça alta, magra,
de cabelos cacheados e pele morena, não era tão bonita, tampouco batia
com a descrição de Levi e nem parecia ser tão inteligente, muito menos tão
jovem quanto me falaram. Vi que Levi olhou de um jeito diferente, parecia
que ele estava frustrado ao vê-la.
Levi se calou e não parecia empolgado como antes, mas, não falava nada
para se opor também.
Eu percebi que ela hesitou, mas, começou a me explicar. O jeito que ela
me explicava era completamente sem profundidade e paixão. Eu conhecia
pessoas que inventavam projetos quase que diariamente. Por mais tolo que o
projeto fosse, seus criadores os tratavam como bebês valiosos. Por esse
motivo, descobri naquele momento que não era ela a verdadeira criadora do
projeto! Aquilo me enfureceu, mas não esbocei reação.
— Não é esse o problema, eu só não entendo para que tanto mistério. Por
que ela insiste em não aparecer!? — Eu perguntei irritado e me levantei da
minha cadeira. Fui até o vidro panorâmico do meu escritório e olhei para o
movimento de carros na avenida abaixo do prédio, estranhamente aquilo me
acalmava, e naquele momento era o que eu mais precisava para lidar com
aquela situação.
Eu estava esperando a resposta dela, mas ela ainda não havia me dado.
Encarei ela, e Vivian deu apenas um sorriso sem graça, mas não respondeu
minha pergunta, fazendo com que sua chefe continuasse a ser uma incógnita
para mim. Provavelmente ela foi orientada pela senhora Hills a não dar
informações.
Como vi que ela não iria me falar nada, resolvi fazer uma
contraproposta.
— Por que você não me falou de imediato que não era ela? — Eu
perguntei com raiva.
∞∞∞
Após a reunião com Wilson, cheguei na faculdade e fui para meu quarto
no dormitório. Fiquei encarando aquele cheque milionário que ele havia me
dado, e decidi que eu tinha que me portar de agora em diante como uma
pessoa de negócios. Decidi que iria contratar uma assistente para mim. Além
de ser minha assistente ela poderia me substituir quando chegasse a hora
certa para fechar o negócio com a Tec Solutions. Porque pelo que conheço
do Jeff ele iria querer fazer essa assinatura de contrato cara a cara com o
inventor do projeto.
Atualmente
Levi insistia diariamente para que eu vendesse meu projeto para a Tec
Solutions, e pelo fato dele e Jeff acharem que eu iria fechar o contrato com a
M&W Technology eu o esnobava um pouco. A cada dia que passava ele
ficava mais desesperado, por esse motivo, Jeff estava fazendo inúmeras
concessões, me dando praticamente tudo que eu queria. Só não consegui que
ele me desse os 6% de ações da empresa, e isso era o mais importante para
mim. Jeff, parecia estar irredutível quanto a isso, mas a quantia que ele
oferecia pelo projeto era bem generosa.
— Bom, finalmente decidi assinar com a Tec Solutions. Mas como você
sabe, o dono da empresa é meu marido e eu ainda não quero que ele saiba
que eu sou a pessoa por trás do projeto...
— Preciso que você vá no meu lugar. Eu imaginei que ele fosse querer
assinar o contrato pessoalmente, então já estava pensando na possibilidade
de você me substituir desde que a contratei. Levi me conhece, entretanto, ele
não falará nada porque ele tem muito interesse em fechar o projeto, e eu
imagino que Jeff não vá perceber também. — Dei um sorriso ao falar.
— Ai, será que isso dará certo? Eu não sou da área de tecnologia... E se
ele perguntar sobre o projeto?
Ela sorriu, mas ainda parecia aflita com a minha proposta. Quando
chegou a hora dela ir, eu estava ansiosa, emprestei meu carro para ela, e
fiquei na faculdade. Eu decidi que iria trabalhar no meu projeto para me
distrair um pouco porque senão eu ficaria mais ansiosa do que eu já estava.
Passado um bom tempo, por mais que eu estivesse concentrada em meu
projeto eu não aguentava mais de tanta agonia. E então, finalmente meu
telefone tocou e imediatamente atendi.
Ligação ON
Charlotte: — O que foi? Por que está com essa voz desanimada, não deu
certo? — Perguntei apreensiva.
Vivian: — Não, seu marido é muito esperto. Ele percebeu que eu não era
a verdadeira inventora do projeto e exigiu te ver pessoalmente para fechar
negócio. Eu sinto muito, mas falei que isso não daria certo...
Charlotte: — Como assim? Não faz sentido ele querer que eu vá!
Ligação OFF
Assim que desliguei a ligação de Vivian, fiquei um pouco pensativa, por
que Jeff fazia tanta questão assim de ver a pessoa que inventou o projeto?
Meu marido me dava nos nervos!
Os mesmos desencontros
Narração - Charlotte Staton
Ligação ON
Charlotte: — Mas por que ele continua a fazer essa exigência sem
sentido!? — Perguntei irritada.
Levi: — Francamente, não sei explicar o motivo ao certo, mas eu sei que
ele tem tanto interesse que decidiu, como um ato de boa fé e para deixar
claro o interesse dele, te dar 6% das ações. Inclusive ele já fez isso, porém,
será invalidado caso você não apareça pessoalmente para fazer a
assinatura do contrato.
Levi: — Mas...
Ligação OFF
Ligação ON
Cora: — Bom, sei que você tem ido muito a faculdade, e até respeito isso
por mais que ache desnecessário já que você é casada com um homem tão
rico e influente como meu filho. Mas, eu não aprovo de nenhuma forma você
não dormir na sua casa, como vem acontecendo algumas vezes no decorrer
das últimas semanas... Então, estou ligando para te pedir que volte para sua
casa hoje, pois você precisa se preparar para a festa que acontecerá
amanhã. — Ela usou um tom praticamente de ordem.
Dava pra ver quem Jeff puxou. Quem ela pensava que era para querer
controlar minha vida dessa forma? E mais, como ela sabia que eu não
voltava para casa as vezes? Isso estava soando muito estranho, Jeff não era
muito de falar com a mãe, ele não iria falar algo assim para ela. Ainda mais
sabendo como ela nos pressiona para termos um filho... Porém, eu posso
esperar de tudo vindo dele.
Eu não queria discutir com a Cora, e acho que seria bom eu ir para casa
hoje. Eu ficaria no quarto de hóspedes, não teria problema, eu poderia lidar
com isso e realmente seria mais fácil para que eu me organizasse para ir para
a festa de amanhã. Sendo assim, eu iria deixa-la acreditar que ela quem
havia me convencido através da ordem dela, e eu evitaria desgastes para
mim.
Charlotte: — Tudo bem, Cora. Ao fim da tarde eu irei para casa. Pode
ficar tranquila.
Charlotte: — Até...
Ligação OFF
Essa mãe do Jeff era muito bizarra, eu achei essa conversa muito louca,
nada a ver. Mas, eu não ia ficar preocupada, muito menos esquentando
minha cabeça com esse assunto porque eu já estava com a cabeça cheia de
coisas o suficiente para pensar. Fiquei o restante do dia tentando focar no
projeto, mas eu só pensava que eu iria ter que me revelar para meu marido e
ele poderia ter inúmeras reações, e todas que eu imaginava que ele pudesse
ter, eram ruins.
O dia acabou não fluindo muito bem por eu estar com minha cabeça
longe, então, encerrei meu expediente um pouco mais cedo. Fui até o
dormitório para arrumar minhas coisas para ir embora e decidi que iria tomar
um banho por lá mesmo. A água estava uma delícia e eu tomei um banho
bem demorado, passei óleos pelo corpo, depois de sair me perfumei. Me
arrumei colocando um vestido um pouco acima do joelho, ele era cor-de-
rosa, e destacava muito meus olhos e lábios.
Peguei minhas roupas que estavam lá, arrumei na minha mochila e saí
em direção a casa de Jeff. Ao entrar, subi direto para o quarto, mas antes de
ir para meu quarto, inevitavelmente, eu tinha que passar pelo quarto do meu
marido. E consequentemente, também, pela sala enorme que haviam várias
coisas lá. Eu me surpreendi ao olhar para o lugar pois tinha algo diferente.
Havia uma pequena mesa redonda, com um vaso com rosas em seu centro.
Também haviam velas, pratos, um vinho, aquilo era... Um jantar romântico!
Fiquei surpresa com a atitude de Jeff.
Talvez ele quisesse se redimir, por esse motivo, eu deixei minhas coisas
no quarto de hóspedes. Voltei para a mesa que ele havia preparado e me
sentei lá esperando por ele já que eu percebi pelo barulho da água que ele
estava tomando banho. Ele saiu do banheiro já com sua roupa, e me olhou
surpreso. Ele me observou sentada na mesa de jantar e parecia admirado ao
se aproximar de onde eu estava com passos lentos. Eu me levantei e disse:
— Oi, Jeff. — Quando me levantei ele me olhou dos pés à cabeça, sem
palavras. Apenas deu um de seus sorrisos irresistíveis. Eu estava bem segura
de mim, afinal de contas, ele havia preparado um jantar para mim!
— Oi, Charlotte.
∞∞∞
Narração - Jeff Staton
Levi ligou para a Senhora Hills na minha frente, e pelo que eu pude
acompanhar a ligação ela desligou antes mesmo que ele pudesse rebater
novamente com argumentos. Levi desligou o telefone nervoso, e me encarou
com um olhar furioso.
— Eu não sei para que isso! Estávamos com o projeto em nossas mãos e
você deixou escapar por um simples capricho de ter que conhecer a
garota. — Levi dizia sem paciência alguma. — Por que você faz tanta
questão de conhecê-la? — Ele perguntou indignado e muito irritado, era raro
vê-lo daquele jeito.
Eu não estava disposto a dar o braço a torcer. Para irrita-lo mais ainda
fiquei com um sorriso sarcástico em meu rosto. Se essa tal Senhora Hills
fosse uma mulher realmente de negócios ela não iria perder a oportunidade
de ganhar 6% de ações da empresa, ela iria aceitar minhas exigências. Nem
eu mesmo sabia porque eu estava fazendo tanta questão assim, mas, eu sei
que eu estava disposto a isso e ponto final, quando eu queria algo eu sempre
conseguia.
Levi saiu da minha sala sem dizer nada, apenas pisava forte para
demonstrar estar nervoso. Eu fiquei rindo sozinho em minha sala dessa
atitude dele, e depois permaneci lá trabalhando o restante do dia. Ao fim do
dia fui para casa, estava exausto. Assim que cheguei em casa fui direto para
o banheiro do meu quarto, mas antes, fiz algo que eu não tinha muito
costume de fazer que era pegar minha roupa no closet e levar para o
banheiro para me trocar lá. Decidi tomar um banho demorado na banheira, e
assim o fiz. Fiquei pensando em várias coisas no decorrer do banho,
inclusive na Charlotte e ao mesmo na peanut. Não sei porque toda vez que
eu pensava na peanut eu lembrava da Charlotte, e o contrário também
acontecia.
Me sentei após ela ter se sentado e servi o vinho que estava na mesa para
ela, e em seguida para mim. Nós brindamos, e depois demos um gole
generoso naquele vinho. Eu não sei porque, mas, ao ver o rosto de Charlotte
iluminado pelas velas eu a achei mais parecida com a menina que eu
procurava há mais de 10 anos, a minha garota que eu carinhosamente
apelidei de peanut. Tomei o restante do meu vinho para tomar coragem de
falar o que eu iria dizer em seguida.
É, eu já imaginava que não poderia ser ela mesmo. Agora confirmei que
isso não se passavam de devaneios em minha mente. Por mais que eu
esperasse que não fosse ela, ainda assim fiquei chateado. Ficou um clima
estranho depois da minha pergunta, então, jantamos em silêncio. Eu
aproveitei para beber bastante, o vinho estava muito bom e ainda tinha mais
duas garrafas. E pelo que eu pude acompanhar, Charlotte fazia o mesmo.
Uma noite de amor
Narração - Charlotte Staton
Assim que Jeff se sentou na mesa, ele me perguntou algo que fez com
que eu sentisse um frio em minha barriga. Ele lembrava de mim! Eu pensava
que ele nem sabia que eu existia na época da escola, mas, ele lembrava de
mim e aquilo fez meu coração disparar, por um breve momento pensei em
contar a ele quem era eu de fato. Mas, depois, decidi não falar para ele, não
queria que ele soubesse que eu havia gostado dele por dez anos, e além do
mais ele poderia achar que eu tinha tramado tudo desde o início, e isso
poderia prejudicar muito a assinatura do contrato do projeto que eu tanto
precisava para poder conseguir negociar com meu avô, então, eu não poderia
arriscar.
— Isso mesmo que você ouviu, eu não quero engravidar. Não estou
pronta para isso e acho que será um grande erro nós dois trazermos uma
criança para o mundo, com esse casamento por contrato, totalmente sem
amor e respeito. O que nós iríamos passar de bom para nosso filho? Você
deveria levar isso em consideração também! — Falei alterando um pouco
minha voz.
— Você mesmo aquele dia na festa na casa do seu avô me disse que
achava errada a forma como sua família agia, dando extrema importância a
um herdeiro. Não é tão chocante assim eu dizer isso e falar para você pensar
a respeito! — Eu falava com muita raiva.
— Não interessa, não faz sentido algum você levantar essa hipótese. De
um jeito ou de outro nós iremos ter um filho! — Jeff disse ao dar um tapa na
mesa.
— Já te falei inúmeras vezes que eu não sabia, mas não adianta falar com
você, nem sei porque eu estou aqui perdendo meu tempo falando com você,
Jeff. É inútil! — Eu balancei a cabeça negativamente enquanto falava para
ele sem deixar de olha-lo.
Virei para o lado oposto em que ele estava me olhando para não ter que
encara-lo. Ele arfou por conta da resposta que dei a ele, e se deitou ao meu
lado. Eu comecei a sentir um calor no meu corpo, seguido por vários
arrepios, eu não sei o que estava acontecendo, mas parecia que eu estava
excitada mesmo que nada tivesse acontecido para aquilo. Fiquei com mais
raiva de estar naquele estado diante de uma situação nada favorável.
Durante o beijo Jeff me puxou para deitar em cima dele e assim eu fiz,
senti o pau dele encostar em mim, e diferente da outra vez eu gostei, não me
assustei. Ele começou a subir meu vestido e acariciar minha bunda enquanto
me beijava, eu estava sentindo muito tesão por ele me beijar daquele jeito,
eu sabia o que iria acontecer e desejava que acontecesse, mesmo que
soubesse que era uma loucura. Ele afastou um pouco os lábios da minha
boca e me olhou por um momento acariciando meu rosto. Jeff deu um
sorriso e eu correspondi, então ele disse:
— O que foi? — Ele perguntou confuso. Acho que não tinha se dado
conta que estava me confundindo com Elizabeth em voz alta.
— Jeff não, isso é loucura... — Eu falei com uma voz manhosa por conta
do tesão ao tentar resistir, colocando a mão no peitoral dele tentando
empurra-lo. Parte de mim queria se afastar dele e outra parte queria
permanecer ali.
— Por que não? Vai dizer que não quer ser minha? — Ele falou próximo
ao meu ouvido fazendo com que eu sentisse mais desejo ainda.
Eu não iria resistir mais, eu queria Jeff, mesmo que fosse apenas por
aquela noite. Ele ficou me olhando e acariciou meu rosto com sua mão e foi
descendo-a pelo meu pescoço bem devagar. Eu acenei a cabeça
positivamente para ele, e ele me abraçou beijando meu pescoço.
Jeff deu breves chupões no meu pescoço, e enquanto fazia isso passou a
ponta do dedo indicador no bico do meu seio. Eu dei um gemido, não
conseguia explicar o quão gostosa era aquela sensação. Ele abaixou mais e
segurou um dos meus seios, aproximou seus lábios dele e deu um breve
beijo em cima do bico. Em seguida ele passou a língua e começou a lambe-
lo. Meus gemidos se tornaram mais altos e contínuos, a cada momento que
eu pensava que aquela sensação não podia ser mais gostosa ele me
surpreendia.
Jeff repetiu a mesma coisa no meu outro seio e depois foi escorregando
os lábios pela minha barriga, até chegar próximo a minha parte íntima. Ele
desceu, distribuiu alguns beijos na parte externa, e depois colocou sua
língua, circulando ela inteira em mim. Aquilo me deu muito mais tesão e
senti minhas pernas estremecerem. Ele abriu um pouco mais minhas pernas e
colocou a língua em cima do meu clitóris, quando ele fez isso me agarrei aos
lençóis da cama e inclinei o tronco do meu corpo para frente e o olhei.
Ele afastou um pouco seu rosto e chupou dois de seus dedos enquanto
me olhava, depois, ele os levou até minha boca e passou eles em meus
lábios. Eu observava tudo que ele fazia, mas sempre estávamos olhando um
para o outro, nos conectando como nunca havíamos feito antes. Jeff forçou
um pouco seus dedos nos meus lábios e eu entendi que ele queria que eu os
abrisse, assim que abri, ele os colocou dentro da minha boca e eu chupei. Os
deixei bem molhados, e quando estavam molhados o suficiente, ele tirou os
dedos da minha boca e colocou em cima do meu clitóris fazendo
movimentos circulares, depois os desceu até minha entrada.
— Não precisa ter medo... Só vou fazer o que você gostar. — Ele falou
com a voz rouca.
Respirei fundo e me tranquilizei mais, e ao fazer isso senti que ele entrou
dentro de mim com mais facilidade. Senti um tesão inexplicável nesse
momento e dei um sorriso. Ele ao ver que eu tinha me tranquilizado, entrou
até o fundo e iniciou movimentos de vai e vem. Eu gemia, e Jeff também
dava gemidos espaçados e fortes, ao ouvi-los eu me excitava mais pois sabia
que ele estava me desejando tanto quanto eu o desejava naquele momento. A
mesma sensação que eu tive antes quando ele me chupou, eu estava tendo
novamente, apertei mais os braços dele e me inclinei para trás dando um
gemido alto e prolongado. A cada vez que eu gozava, eu queria ter mais.
— Bom dia!
Jeff saiu do banheiro e sem pensar muito, e sem falar com ele também,
eu entrei no banheiro para tomar um banho. Ajustei o chuveiro colocando a
água bem fria. Entrei de uma vez, e eu tremi a princípio, mas logo foi
melhorando, pois, meu corpo se acostumou com a temperatura da água. Eu
fiz aquilo como se fosse para eu levar um choque, pois tinha a intenção de
curar aquele sentimento ridículo que eu tinha por Jeff. Ele não estava nem aí
para mim. Isso estava mais que claro, por esse motivo, eu tinha que acabar
com tudo que eu sentia por ele. Fiquei ali um tempo, e tomei um banho
demorado.
Hoje finalmente era sábado, meu projeto não havia sido concluído ainda,
mas eu já estava bem adiantada com ele, pois, eu sabia desse aniversário no
dia de hoje e me adiantei ao máximo. Terminei meu banho e coloquei um
roupão. Saí do banheiro e vi que Jeff tinha ido embora sem se despedir, não
sei porque eu ainda esperava alguma coisa boa dele, ele só demonstrava a
cada dia que passava como era um homem horrível. Ele melhorou um pouco
quando eu estava tratando-o mal, só assim para ele me tratar melhor. Mas eu,
estava desistindo dele. Me arrependi da noite passada, se eu pudesse voltar
atrás não tinha me entregado daquele jeito.
Porém foi mais forte que eu, como se eu não tivesse domínio sobre meu
próprio corpo. Eu parecia estar drogada, foi estranho. Olhei para a mesinha
que estava ao lado da cabeceira da cama e vi a foto de Jeff ao lado da
Elizabeth, e aquilo fez com que eu me sentisse mais estúpida ainda. Fui até
meu quarto e vi que ele ainda permanecia trancado. Eu não iria descer com
esses trajes até a sala, então resolvi ligar para Janet vir me ajudar. Pedi ela
que abrisse a porta do quarto de hóspedes pois todos meus pertences estavam
lá e não haveria como eu me trocar.
Após tomar meu café fui para meu quarto, mas antes deixei avisado para
Janet que quando o almoço fosse servido, ela poderia levar para o meu
quarto porque eu comeria lá mesmo. Eu iria aproveitar meu tempo livre para
trabalhar pelo menos um pouco em meu projeto, não daria para fazer muita
coisa já que meus recursos em casa eram limitados e eu não tinha o
laboratório ao meu dispor como na faculdade.
Ótimo, eu estava sem carro disponível para que eu pudesse ir. Mas, por
sorte eu tinha o Sam que com certeza se eu pedisse ele viria me ajudar.
Ligação ON
Charlotte: — É... Que bom que você está bem! Teria como você vir me
buscar? Não estou com carro aqui, e por isso não tenho como poder ir.
Ligação OFF
— O que foi? Aconteceu alguma coisa? Por que você não veio com o
Jeff? — Ele estava um pouco preocupado ao perguntar.
Por eu ter respondido dessa forma Sam não quis entrar em mais detalhes.
Eu notei que ele estava um pouco preocupado e não parecia ser só por conta
da maneira que eu estava agindo, mas resolvi não perguntar o motivo,
presumi que se ele não falou nada é porque não queria falar sobre. Quando
cheguei na festa atraí todos os olhares para mim, parecia que todos ficaram
surpresos ao me ver. Eu rolei meus olhos pelo lugar, mas eu não vi Jeff,
então concluí que ele não havia chegado ainda.
Logo após a minha chegada, e a de Sam, meu avô apareceu. Eu não sei
porque, mas a chegada dele me provocou um aperto no coração, e eu tive um
mau pressentimento. Sam pareceu mais preocupado ainda e disse:
— Eu tenho medo do que o meu vô possa fazer com você. — Ele foi
direto ao falar.
— Eu não estou entendendo, Sam, por que você está falando isso? —
Olhei para ele com uma expressão confusa.
Sam passou a mão em sua testa, pegou em meu braço e me puxou para
um canto da sala.
— Sei que não devia te contar isso, ou devia, mas... — Ele estava
hesitante.
— Certo. Quando foi para você assinar o contrato, nosso avô a trancou
no quarto durante três dias, te deixou sem comida e sem água. Eu como
médico precisei intervir, você não queria aceitar assinar o contrato e disse
que preferia morrer do que o assinar por conta do que havia lido nele.
— O que você está dizendo, Sam? Que brincadeira de mal gosto é essa?
Se eu tivesse passado por algo assim com certeza eu me lembraria! — Eu
dizia nervosa para ele pois não estava entendendo o motivo para ele falar
aqueles absurdos.
— Eu vou te explicar o porquê você não se lembra. Vendo que você não
iria ceder, mesmo ficando sem beber e sem comer, enquanto eu puncionava
sua veia para te dar soro e vitaminas para te fortalecer, pois você estava
desnutrida e desidratada, nosso avô veio e disse que se você não o assinasse
iria depredar o túmulo dos seus pais. E isso a fez ficar desesperada, e então,
você topou assinar o contrato diante dessa ameaça. Ele saiu e eu vi que você
ficou muito mal, você teve uma crise de ansiedade muito grave e então eu
ofereci a você para fazer uma sessão de hipnose para que você esquecesse
aquilo, e de certa forma eu colocaria na sua cabeça, no seu subconsciente
que era para você assinar o contrato. Por esse motivo, por mais que você
tenha sofrido ao assinar, você não resistiu muito e acabou assinando até
mesmo sem ler... Pois no seu subconsciente já estava claro o que você teria
que fazer. — Ele me explicava aflito por medo da minha reação.
Eu fiquei tão chocada com tudo que eu estava ouvindo, que eu me senti
zonza por um momento, caminhei até um sofá que havia próximo dali
amparada por Sam, e me sentei sem acreditar na crueldade sem limites do
meu avô. Como ele teria coragem de depredar o túmulo do próprio filho? E
ainda deixar a própria neta sem comer e sem beber por conta de um contrato
que o beneficiaria financeiramente? Eu não podia acreditar naquilo, ele era
capaz de fazer tudo comigo por dinheiro. Senti uma dor imensa em meu
coração, e comecei a lembrar em flashes desses momentos de terror. E
assim, eu acreditei que realmente havia passado por isso.
Pensei que uma das piores coisas que eu havia enfrentado foi a
inseminação artificial, mas, eu estava enganada, eu tinha enfrentado algo
muito pior com o monstro do meu avô, sangue do meu sangue. Eu o observei
de longe e senti o ódio me consumir.
— Sei disso, você fez bem, afinal é o único que sempre se importa
comigo de verdade. Você não sabia do que estava escrito no contrato?
Sam pareceu ter ficado aliviado após escutar o que eu disse, acho que ele
tinha medo que eu pudesse ficar ressentida com ele pelo o que ele fez.
— Eu acho que nosso avô está aqui simplesmente para saber se você
engravidou ou não, e se ele descobrir que você não está grávida eu tenho
medo do que ele possa fazer com você. Por isso te falo para ir embora.
Ainda está em tempo. — Sam ainda insistia.
— Eu não vou embora, vou ficar aqui. — Sam me olhou com aflição ao
ouvir minha resposta.
— Então é hoje que nós iremos saber se essa inseminação deu certo ou
não, afinal, o contrato de casamento foi feito justamente para isso. Forcei
minha neta a assinar pois não via a hora de ter um bisnetinho. — Ele deu
uma risada irônica e boa parte da família de Jeff riu da declaração dele.
Óbvio que ele não tinha interesse nenhum em ter um bisneto, mas sim, na
fortuna que esse bisneto daria a ele.
Pela primeira vez vi que Brandon estava sendo sincero, se não estava
pelo menos se esforçou para parecer que estava sendo.
— Agradeço sua compaixão, mas não preciso que você tenha pena de
mim, acho que é um sentimento ruim para termos por qualquer pessoa, e eu
estou conseguindo me virar bem. — Dei um sorriso para ele, e ele
correspondeu.
Sam olhava para nós dois atento, e ele ficou um pouco intrigado.
Provavelmente ele falaria algo para mim depois quando estivéssemos
sozinhos sobre o que achou a respeito do que Brandon havia falado.
Mais do mesmo
Narração - Charlotte Staton
Eu preferia que aquilo não fosse verdade pois iria me trazer muitos
problemas com meu marido, e eu com certeza queria evitar isso. E além do
mais, Brandon era um mulherengo, provavelmente tinha uma queda por
qualquer mulher que respirasse. O mordomo veio até onde estávamos e disse
que o jantar estava servido, Jeff ainda não havia chegado e aquilo estava me
deixando um pouco nervosa. Ele era um babaca comigo, todavia, geralmente
quando a família dele me encurralava com alguma pergunta ele sempre dava
um jeito de intervir e isso me dava tranquilidade e segurança.
Sam e eu nos sentamos à mesa e eu dei um sorriso fraco para Cora, pois
ela estava me encarando sem parar. Aquilo me incomodava profundamente e
eu não sabia qual o motivo da obsessão daquela mulher para que eu tivesse
um bebê a qualquer custo, certamente, deveria ter a ver com dinheiro,
porque ela não parecia ser do tipo que seria a avó mais amorosa do mundo.
— Ai, não vejo a hora de ter um neto correndo por aqui. Acho que
criança enche a casa de alegria não é verdade, Stuart?
Eu engoli seco, eu sabia que aquela conversa era uma indireta para mim.
Levei o garfo até meu prato e comi mais um pouco da minha comida, depois
disso dei um sorriso amarelo pois praticamente todos estavam me olhando.
A comida parecia estar pesada em minha boca, e eu a engoli com certa
dificuldade. Mas, eu reconhecia esse sentimento, estava começando a ter
uma crise de ansiedade. Ficar ali no meio da família de Jeff, e para piorar
com meu avô junto era uma pressão absurda e eu não sabia como lidaria com
aquilo.
Eu dei um gole no vinho que estava servido para mim, e vi que ela olhou
arqueando uma sobrancelha como se repreendesse com o olhar o que eu
havia feito. Realmente foi um deslize meu, porque com esse ato dei a
entender que eu não estava grávida já que estava ingerindo bebida alcoólica.
Antes que ela pudesse falar alguma coisa, impacientemente meu avô largou
seus talheres e disse:
— Vamos, Charlote, fale logo de uma vez por todas você está grávida ou
não!? — Stuart perguntou com rispidez.
Aquilo me fez paralisar, eu olhei para Sam e ele estava tão assustado
quanto eu com aquela pergunta repentina, grosseira, e além do mais
totalmente invasiva. Meu avô realmente era um homem boçal quando se
tratava de mim.
— Eu acho que isso não é algo para ser discutido aqui durante o
jantar. — Eu falei com firmeza por mais que eu estremecesse diante daquela
situação em que eu me encontrava.
Eu só queria que Jeff estivesse aqui para poder falar com ela da maneira
que ela merecia, para que minha sogra me deixasse em paz. Fiquei em
silêncio por alguns instantes e meu avô interviu novamente.
— Desembucha logo de uma vez, garota idiota! Você está, ou não está
grávida!? É algo simples de responder até mesmo para uma burra que nem
você! — Ele falou alterando sua voz ao me ofender de forma deliberada, na
frente de todos que permaneciam em silêncio esperando minha resposta.
— Deve ter alguma coisa de errado com ela. Ela não deve conseguir
engravidar, isso é o mínimo que uma mulher deve fazer e essa garota inútil
não consegue. Isso não é de se admirar, mas, eu quero garantias de que ela
não pode engravidar. Vou entrar em contato com um amigo meu que é
médico e pedir para ele mesmo fazer um check-up completo e caso
comprove que ela pode engravidar ela será submetida a uma nova
inseminação. — Ele disse ao pegar o celular e ligar para o tal amigo médico
dele.
Inacreditavelmente meu avô estava marcando uma consulta para mim na
frente de todos e dizia com todas as letras, que tinha interesse que esse
amigo dele fizesse uma inseminação em mim novamente para que eu
pudesse engravidar o quanto antes. Lágrimas invadiram meus olhos só de
pensar que o terror que eu passei no procedimento anterior pudesse
acontecer novamente, e eu estava tão chocada com aquela situação, da
maneira que eu estava sendo exposta a todos, que permanecia sem reação.
Olhei para Jeff com raiva, e esperava que ele dissesse alguma coisa, mas
ele se sentou ao meu lado sem falar nada. Eu ia começar a falar para ele o
que eu estava sentindo e o que achei do tratamento dele, pois o mínimo que
ele tinha que fazer era me defender, mas uma voz feminina invadiu o local e
provocou surpresa em todos.
Jeff foi chamado por alguém que eu não vi quem era e eu fiquei ali
sozinha com Elizabeth. Olhei pelo lugar procurando por Sam para que ele
pudesse me salvar daquela situação horrorosa, mas, eu não o via, porém eu
vi de longe que Brandon não parava de me olhar e parecia incomodado com
a situação.
— Eu vou te levar embora daqui desse covil de cobras. Você não merece
ser humilhada desse jeito, eu sinto muito. — Eu nem acreditei que era
Brandon que estava falando daquele jeito.
Ele era tão hostil e maldoso, mas eu me dei conta o quanto minha
situação era preocupante já que até mesmo uma pessoa como ele viu como
eu estava sendo maltratada por todos que estavam ali.
— Assim espero, é doloroso ver uma pessoa boa como você passar por
isso. Até mesmo eu percebo quanta crueldade eles fazem com você, chega a
ser desumano o tratamento que você recebe. — Brandon falou inconformado
enquanto caminhávamos até a porta de saída.
Eu dei um sorriso para ele com gratidão apesar de ter os olhos tristes
pelas coisas que ele estava falando. Me entristeci não pelo jeito que ele
estava falando, mas sim, por tudo aquilo que ele me dizia ser verdade. Nós
estávamos prestes a sair e fomos surpreendidos por Cora segurando um
papel.
— Charlotte! Preciso falar com você. A sós. — Ela olhou Brandon dos
pés à cabeça ao terminar de falar comigo rispidamente.
— Por favor, Brandon, me espere, pois, eu não quero ficar mais aqui por
mais nem um minuto. — Eu falei em um tom firme olhando para Cora da
mesma maneira arrogante que ela olhava para mim.
— Já que você está pegando carona com outro homem feito uma
vagabunda qualquer, acho que achará bom quando eu entregar isso a você.
— Já que você não serve nem mesmo para engravidar, saiba que há
muitas mulheres que estão dispostas a ficarem grávidas de um bebê do meu
filho. E caso você não possa fazer isso, fique ciente que até mesmo Elizabeth
pode fazer isso já que ela está de volta. — Cora falava com um sorriso
perverso em seu rosto.
— Foi você quem convidou Elizabeth, não foi? — Olhei para ela com
amargura.
Cora deu de ombros e levantou suas duas mãos como se quisesse deixar
um mistério no ar. Eu balancei minha cabeça negativamente, e saí apressada
com aquele acordo de divórcio em minha mão. Caminhei até o carro onde
Brandon me esperava, em passos largos e apressados.
Meu desejo era apenas me afastar daquele lugar o mais rápido possível.
Entrei no carro com o papel na mão, minha respiração estava bastante
ofegante por conta da adrenalina que aquele momento me causou. Brandon
me olhou de maneira preocupada e perguntou:
— Charlotte... Está tudo bem? — Eu olhei para ele assim que ele
perguntou e eu tentei ser o mais forte possível, mas não aguentei.
O choro que estava engasgado em minha garganta no decorrer do jantar
saiu naquele mesmo momento. E em meio ao choro eu falei:
— Por favor, dirige, só dirige pra longe daqui. — Eu chorava sem parar
olhando para aquele papel.
Que espécie de idiota eu era? E para completar, a cereja do bolo, foi esse
acordo de divórcio que caiu no meu colo. Jeff era tão covarde que ele mesmo
não tinha coragem de me entregar e teve que mandar aquele ser desprezível
que era a víbora da mãe dele me entregar. Eu estava revoltada, magoada e
disposta a sumir. Brandon olhava para mim volta e meia enquanto dirigia e
demonstrava estar bastante preocupado.
— Não foi somente pelo que ela falou que eu fiquei assim. Eu estava
segurando o choro durante o tempo todo que eu estava no jantar, e o que
Cora fez foi somente o "gran finale" para completar o ciclo de humilhação
que eu estava passando.
— Não sei não, Charlotte. Jeff não é flor que se cheire, mas, Cora é uma
cobra peçonhenta e muito perigosa. Então, você pode esperar tudo vindo
daquela mulher. — Ele falou de maneira categórica.
— Que seja, mas não duvido que ele tenha essa vontade também,
enfim... — Eu dei um suspiro por conta do choro.
— Eu sei que é difícil para você, e é fácil para eu falar, porém, não fique
assim por conta dessas pessoas horríveis. Não vale a pena. — Ele tentou me
animar.
Desci do carro, e entrei na casa, fui direto para meu quarto preparar
minhas coisas pois eu iria voltar para meu dormitório na faculdade.
Enquanto arrumava as coisas decidi ligar para Levi.
Ligação ON
Charlotte: — E mais uma coisa, só quero que ele apareça depois que eu
já tiver assinado o contrato. Ok?
Ligação OFF
Agora quem ditaria as regras seria eu, eu não permitiria que Jeff nem a
família dele fizessem o que bem entendessem comigo.
Falta de comunicação
Narração - Jeff Staton
— Como assim, o que você está querendo dizer? — Levi perguntou com
a expressão confusa.
Levi pareceu ter compreendido algo, mas, não quis falar nada sobre e
resolveu mudar de assunto. Não entendi bem o motivo, porém não
questionei. Estava sem cabeça para isso. À medida que o dia foi passando eu
fui me sentindo melhor, por mais que hoje fosse sábado e eu não estava
acostumado a ir para o trabalho, hoje estava muito intenso por conta das
pendências que tinham que ser resolvidas, então acabei perdendo a hora do
jantar de aniversário do avô da Charlotte. Cheguei lá as pressas, e assim que
entrei na sala de jantar o clima estava um pouco estranho, mas não entendi o
motivo. Charlotte me olhou com raiva e presumi que foi por conta do meu
atraso.
Mas antes que ela pudesse reclamar e me explicar o motivo que havia
deixado ela com raiva, Elizabeth apareceu. Fazia muito tempo que eu não a
via e nosso término foi estranho, ela simplesmente disse que precisava se
libertar. Eu nunca fui de morrer de amores por ela, nosso namoro era
conveniente, porém, eu ainda a considerava uma boa amiga. Imediatamente
fui cumprimenta-la e fiz questão de dizer que eu estava casado com
Charlotte e quis apresentar minha esposa para ela.
Mas quando eu a procurei ela estava no canto da sala. Fui até ela com
Elizabeth e ela parecia distraída, chegou a ser grosseira não a
cumprimentando, então eu a repreendi porque ela precisava ser educada,
porque era o mínimo a ser feito.
Meu avô me chamou para me apresentar um amigo e eu deixei as duas
conversando, porém, quando voltei para falar com Elizabeth percebi que
Charlotte já havia saído dali. Eu fiquei confuso pois não esperava que ela
fosse embora sem nem ao menos se despedir de mim. Elizabeth ainda me
afirmou que ela foi embora com Brandon. Ela enlouqueceu? Por que ela
faria aquilo? O comportamento de Charlotte me deixou profundamente
irritado, mas eu não falei nada para Elizabeth. Não demorou muito eu decidi
que iria para casa, Elizabeth insistiu para que eu ficasse mais já que fazia
muito tempo que nós não nos víamos, mas, eu queria ir para casa conversar
com minha esposa.
Saí apressado da casa do meu avô, queria vê-la o quanto antes. Senti que
havia ficado um clima estranho entre nós. Infelizmente, ao chegar em casa
percebi que ela não estava. Provavelmente ela estava no dormitório da
faculdade. Fiquei frustrado, mas, não tinha o que fazer então decidi dormir.
Pela manhã eu acordei cedo, tomei um banho e coloquei uma roupa. Era
domingo e eu não pretendia ir para empresa hoje. Janet ligou para meu
quarto e disse que minha mãe estava aqui. Revirei meus olhos pois não
queria ter que lidar com minha mãe essa hora da manhã, porém, fui obrigado
a recebê-la.
— Nossa, que grosseria, Jeff. Por acaso não posso mais visitar meu
filho? E cadê sua esposa? — Ela perguntou curiosa olhando em direção a
escada.
Minha mãe não tinha costume de vir na minha casa, ela pretendia alguma
coisa, isso era certo. Diante da pergunta dela não adiantava eu mentir porque
tinha como ela saber que Charlotte não estava lá.
— Ela dormiu no dormitório da faculdade novamente.
Mas eu estava com um pouco de mal humor por Charlotte não estar lá,
sendo assim, não consegui me importar muito com a novidade naquele
momento.
Minha mãe empalideceu ao ouvir o que o Levi disse e logo depois fez
uma cara feia para ele demonstrando a raiva que havia ficado por ele
mencionar aquilo.
Minha mãe era uma pessoa difícil de lidar, por conta disso ela e Levi
nunca se deram bem. Então toda oportunidade que ele tinha para prejudica-la
ele aproveitava e vice-versa.
— Ai filho, eu fiz isso para que vocês fizessem amor e ela pudesse
engravidar o mais rápido possível! Já está demorando demais. — Ela falou
de maneira impaciente tentando se justificar.
O que ela fez gerou consequências, não era assim que deveria acontecer
algo entre Charlotte e eu. Ontem no jantar, eu comi e bebi tranquilamente
porque imaginei que minha esposa pudesse ter feito aquela comida para
mim, mas na verdade quem armou tudo foi minha mãe! Charlotte deve ter
pensado que eu quem preparei o jantar para ela também. Quanta confusão!
Levi veio logo atrás e deixamos minha mãe na sala sozinha. Eu esperava
que ela não estivesse ali quando eu voltasse. Afinal, eu acho que ela havia
vindo somente para se certificar que Charlotte não estava aqui já que ela
acompanhava minha vida como se fosse um reality show através daquelas
câmeras. Eu iria mandar que as removessem hoje mesmo, eu só aceitei que
ela colocasse porque quando eu e Charlotte deitávamos elas eram desligadas,
por isso eu fazia tanta questão que dormíssemos juntos para minha mãe não
ficar me pressionando com esse papo de filho. Entrei no carro com Levi e
nós fomos para empresa.
∞∞∞
— Besteira, ele nem toca naquela esposa dele, ontem mesmo eles
estavam embriagados e apenas deitaram do lado do outro pelo o que vi, não
pude ver mais pois esse foi nosso acordo e ele tem como saber a hora que as
câmeras são desligadas, então para manter as câmeras lá preciso cumprir o
combinado. Se ele te ama como você vive contando aos quatro ventos, ele
vai ceder. Nós vamos dar um jeito. Amanhã irei na casa dele cedo e você irá
comigo, mas a princípio quero que você se esconda para eu ter certeza que a
esposa dele não estará lá. Mas, pelo que eu fiz hoje eu tenho quase certeza
que ela pegará as coisas dela e irá para aquele dormitório terrível da
faculdade dela. — Cora disse vitoriosa.
Realmente ela era uma controladora, onde já se viu colocar câmeras para
vigiar a vida conjugal do filho? Mas quando Jeff e eu nos casássemos eu não
permitiria algo assim.
— Tudo bem, eu já vou indo. Você me busca em minha casa então para
irmos, ok? — Eu disse a ela.
— Que pena que não deu certo seu plano de fazer Jeff e eu nos
encontrarmos novamente, mas obrigada pela consideração que tem por mim
para ter me convidado. — Eu dei um sorriso para ela.
— Ai Elizabeth, por favor! Pare de ser falsa, não precisa atuar comigo,
se você realmente se importasse com isso, não teria voltado para cá sem
contar para ele, eu sei muito bem o que você pretende e eu estou de acordo
desde que você engravide o quanto antes dele! — Ela ainda falava alterada.
— Até parece que você não tinha segundas intenções, não é mesmo?
Você achou que poderia ficar com o dinheiro e se aventurar na Europa do
jeito que quisesse pois o Jeff jamais aceitaria um contrato de casamento
quando chegasse a hora dele se casar, e desse jeito você poderia ter os dois.
O Jeff e o dinheiro, mas você se enganou e muito, não é verdade,
queridinha? Afinal o Jeff aceitou sem hesitar assinar o contrato, vai ver você
não é isso tudo que você julga ser na vida do meu filho. — Cora falou com
completo desdém ao me olhar com desprezo.
Ligação ON
Sam: — Oi Char, eu ia ligar para você. Mas esse final de semana foi
uma loucura, desculpe ter ido embora da festa sem falar nada, eu fui
chamado para um plantão por isso saí sem falar nada. E saí agora mesmo
do hospital, acabei de chegar em casa.
Charlotte: — Foi cada vez pior, mas eu precisei ser firme. Vim para o
dormitório da faculdade, acredita que a Cora me deu um acordo de
divórcio?
Sam: — Vocês?
Sam: — Aquela moça bonita que você posta fotos com ela vez ou
outra? — Ele falou e um tom de animação.
Sam: — Que bom que você me avisou, porque vou me arrumar melhor
amanhã para te buscar.
Sam: — Então nos vemos amanhã cedo, eu vou dormir para descansar
bem pois estou exausto.
Charlotte: — Tá bom, primo. Mais uma vez muito obrigada, eu não sei o
que faria sem você na minha vida.
Sam: — Não tem que agradecer, faço porque amo você. Um beijo, fica
bem.
Ligação OFF
Depois que nós nos falamos eu me troquei para poder dormir, e não
demorei muito para fazer isso. Era prazeroso para mim trabalhar no meu
projeto, mas ao final do dia eu tinha um cansaço mental muito grande. Ao
amanhecer, assim que me levantei já senti um frio em minha barriga. Mandei
mensagem para Vivian se arrumar pois nós iríamos assinar o contrato hoje, e
fui tomar um banho.
Assim que Vivian me viu ela arregalou seus olhos e abriu um pouco a
boca expressando admiração.
— Meu primo, o Sam, ele te acha muito bonita. — Assim que eu falei
ela corou. — E é ele quem vai vir nos buscar.
— Fica calma, tudo vai dar certo e vai ficar bem. Você vai ver. — Ela me
deu um abraço e eu sorri ao abraça-la também.
Enquanto nós nos abraçávamos, Sam chegou. Ele deu uma breve
buzinada e sorriu para a gente, nós caminhamos até o carro e eu fiz questão
de entrar no banco traseiro para que Vivian pudesse ir na frente com ele.
Quem sabe o destino dos dois seria ficarem juntos. Sam começou a dirigir
em direção a empresa do Jeff, e como eu estava mais calada, ele e Vivian
conversavam de modo descontraído. Os dois conversavam como se
conhecessem há muito tempo. Eu não pensei que eles pudessem se dar tão
bem assim, fiquei feliz por isso.
— Bom dia, Senhora Hills, é um prazer tê-la aqui finalmente para que
possamos fechar nosso acordo. — Ele estendeu a mão para me
cumprimentar.
— O prazer é meu. — Eu falei ao apertar a mão dele.
Aquilo me deu um alívio pois seria melhor lidar com o Jeff depois do
contrato ser assinado. Assim que chegamos na sala de reunião o contrato já
estava lá em cima da mesa pronto para ser assinado. Me sentei na cadeira e
fiquei encarando o contrato, dessa vez, com certeza eu iria ler cláusula por
cláusula, depois de tudo que passei por assinar um contrato sem ler, prometi
para mim que eu nunca mais assinaria nada sem saber do que se tratava.
Levi estava tão feliz que não conseguia conter sua emoção, eu me
preparei para levantar da cadeira e disse:
Jeff franziu o cenho, olhou para Sam e Vivian, e ao vê-los ali aparentou
ter ficado mais confuso ainda. Levi sorria orgulhoso e disse.
— Ela chegou.
Assim que ele falou isso eu no mesmo instante tirei meus pés da mesa,
me levantei largando a bolinha e arrumei meu terno.
— Mas que frescura dessa garota, por acaso ela é a rainha da Inglaterra
para fazer tanto mistério assim? — Eu disse nervoso.
— Não importa os motivos dela, apenas temos que respeitar. E por favor
não estrague tudo pelo bem do projeto! É muito importante para empresa.
— Tá, que seja. — Falei ao levantar minha mão e balançar ela para
frente fazendo sinal que não estava me importando.
— Já deve ter dado tempo pra assinar esse bendito contrato! — Falei
para mim mesmo e saí de dentro do meu escritório indo até a sala de
reuniões.
Não entendi porque ela falou daquele jeito, como se nós não fôssemos
marido e mulher.
— Bom, por enquanto, nós ainda somos casados. — Ela deu um sorriso
sarcástico e se posicionou perto da porta da sala, pronta para ir embora.
Assumo que aquilo aumentou minha admiração por ela, não deve ter sido
fácil. Me sentei em outra cadeira que havia na sala de reuniões e passei
minha mão em minha boca de um lado para o outro, e mantive meu olhar
distante e pensativo. Levi ainda estava em choque com tudo que havia
acontecido e parece que estava digerindo, com dificuldade, tudo o que estava
acontecendo. Ele não havia falado nada ainda, presumo que ele quisesse
entender melhor tudo que havia se passado para que nós começássemos a
conversar sobre o que havia acontecido. Diante do silêncio que estava na
sala, eu me lembrei do que Vivian havia falado, que eu fui o homem com
quem Charlotte foi forçada a se casar.
Eu pensei que o contrato foi algo que partiu dela, por mais que ela tentou
incansavelmente me avisar por várias vezes que não sabia sobre ele, eu não
acreditava nela. Entretanto, ao ouvir o que Vivian falou eu fiquei muito
intrigado com aquilo. E se de fato Charlotte foi forçada a assinar aquele
contrato para se casar comigo? A essa altura ela devia me ver como um
verdadeiro monstro por tudo que a fiz passar. Eu precisava tirar essa história
a limpo o quanto antes.
Algo me dizia fortemente que ela poderia ser a menina que me apaixonei
na adolescência, por mais que ela tenha dito o contrário. Porém, eu fiquei um
pouco cético se descobriríamos a respeito disso, afinal, minha esposa provou
hoje que sabia muito bem esconder sua identidade na minha frente. Isso era
frustrante, mas, me deixava instigado. Enquanto eu estava pensativo Levi me
olhou sem entender meu pedido.
— Sim, mesmo que seja uma possibilidade irrisória, eu acredito que seja
possível sim. — Afirmei para ele convicto no que eu falava.
— O que foi? Por que está me olhando dessa maneira? Se quer comentar
algo a respeito comente de uma vez por todas.
— Mas, por que você acha que ela pode ser aquela menina?
— O olhar dela. Todas as vezes que eu a olho nos olhos, me recordo
daquela menina, e aparentemente os olhos dela são tão familiares, que sinto
que já os olhei antes de conhecê-la em cima daquele altar, quando nós nos
casamos.
— Muitas mulheres tem os olhos azuis, isso não justifica. — Levi falou
ainda não acreditando na possibilidade que eu levantei dela ser a peanut.
— Não seja tolo, Levi. Eu não digo pela cor dos olhos, mas o olhar em
si, a profundidade e inocência do olhar dela, e como ela me olha... Enfim,
não espero que você entenda. Só faça o que eu te pedi e investigue através
do avô dela, para descobrir se ela realmente é a garota que eu busco há
tantos anos. — Eu insisti.
— Não Levi, não consigo imaginar o que você acha. Fale logo de uma
vez, não espere que eu adivinhe porque eu não tenho uma bola de cristal.
— Eu acho que no fundo você está querendo que Charlotte seja ela.
— Não sei, talvez você esteja apaixonado por ela e essa é uma maneira
que encontrou de legitimar sua paixão por sua esposa. Criando na sua
imaginação que ela é a garota que você conheceu há muitos anos, e por esse
motivo se apaixonou por ela, mesmo por conta daquele contrato
perturbador. — Ele disse me encarando como se tivesse matado a charada.
— Você pode continuar mentindo para você mesmo se quiser, mas, acho
que você está dando muita atenção a Charlotte, parece estar muito
interessado.
— Não sei, acho que isso parece ser um mau sinal, como se você
estivesse obcecado com ela por conta da ira. Ou simplesmente porque você
está apaixonado por ela, que acho que é mais plausível. — Ele retrucou.
— Certo Levi, fique com suas alegações infundadas que eu tenho mais o
que fazer. — Me levantei da cadeira de forma rude, arrumei meu terno e o
encarei com uma expressão fria enquanto ele mantinha um sorriso.
Através dessa investigação eu iria ter a certeza que ela assinou por livre e
espontânea vontade, e teria a certeza que ela não era a peanut. Mas se o
contrário acontecesse, se isso se confirmasse? Será que minha perspectiva a
respeito de estar gostando dela mudaria? Depois da noite que passamos
juntos algo mudou mais ainda dentro de mim, eu estava confuso, com um
misto de sentimentos e não sabia o que sentir verdadeiramente diante
daquilo. Hoje o dia foi mais que caótico, mesmo se existisse alguém com
poderes de prever o futuro, e este alguém me dissesse o que iria acontecer
hoje, eu não acreditaria.
Ligação ON
Jeff: — Alô?
Elizabeth: — Ah, com certeza é algo que está ao seu alcance! Eu estava
pensando que no dia do jantar não tivemos muito tempo para conversar, e
eu estou com saudade das nossas conversas. Por isso decidi te chamar para
jantar, o que você acha?
Ligação OFF
Eu desliguei antes que ela delongasse mais aquele assunto. Saí do meu
escritório, entrei no elevador e fui até a garagem onde estava meu carro. Ao
entrar nele e dar partida, eu decidi que iria na faculdade de Charlotte. Não
sei o porquê dessa vontade repentina, mas, eu iria até lá. No caminho parei
em um fast-food e comprei um sanduíche com fritas para ela.
Fiquei a admirando por um tempo, ao olhar para ela, e para o rosto dela
concentrado e dedicado no que estava fazendo, me lembrei das palavras de
Levi que insinuaram que eu estava apaixonado por ela. Apertei meus lábios
um no outro e fechei meus olhos tentando fazer com que esses pensamentos
se desvencilhassem da minha mente. Após isso, bati na porta, não esperei
que me dessem autorização para entrar e fui logo entrando. Esse ato chamou
a atenção dela que interrompeu seu trabalho e me olhou confusa, mas ao
mesmo tempo parecia estar com raiva de me ver ali.
— Agradecer você por interromper meu trabalho? — Ela disse com mau
humor e permaneceu de braços cruzados como se minha presença fosse
extremamente indesejada e inconveniente.
Fiquei um pouco decepcionado, entretanto, eu estava decidido a não sair
de lá apesar dos pesares. Fiquei alguns segundos em silêncio, e ela me
questionou:
— O que você veio fazer aqui, Jeff? — Charlotte ergueu suas duas
sobrancelhas demonstrando impaciência.
— Que seja. Fique à vontade. — Ela falou com ironia dando um sorriso
forçado que claramente dava a entender que ela não queria minha presença
ali.
Depois do que falou, ela se dirigiu até a sacola com comida que estava
em cima do balcão, e ao ver o que eu havia trazido para ela seu rosto se
iluminou. Eu sabia pouco a respeito da minha esposa, mas de uma coisa eu
tinha certeza, ela amava comidas gordurosas e de baixo valor nutricional. Eu
já havia visto ela consumi-las em outras ocasiões, e também as vezes
encontrava embalagens dessas mesmas besteiras, espalhadas pelo meu carro
no dia após ela usar, isso me deixava super estressado, mas de certa maneira
me fazia conhecê-la mais e saber de suas preferências.
— Por nada, não foi difícil saber o que você gostava por conta das
embalagens que eu encontrava em meu carro. — Dei uma risada
descontraída e Charlotte apenas deu um sorriso seco.
— Quero agradecer também pelos 6% das ações que você me deu da Tec
Solutions.
— Não há de que, mas foi você mesma quem conquistou através da sua
inteligência excepcional. — Eu falei querendo a bajular para ver se ela
baixava um pouco a guarda enquanto falava comigo.
Ela apenas deu um sorriso forçado, apertou seus lábios um contra o outro
e disse:
— Certo... Então, agora que você já sabe quem eu sou, deve saber o
porquê insisti em assinar o contrato para obter as ações da Tec Solutions, não
é? — Ela arqueou uma de suas sobrancelhas ao falar.
— Eu tenho uma ideia sim, mas gostaria de saber de você o verdadeiro
motivo. — Eu a encarava enquanto falava.
Creio que ela queria ser a sócia majoritária para poder enfrentar seu avô.
Se ele realmente a forçou a assinar aquele contrato as cláusulas não são tão
favoráveis para ela, ainda mais porque ela foi usada como uma avalista por
ele. Sendo assim, certamente, ela desejava vingança. Eu poderia ajuda-la,
mas temi oferecer ajuda para ela já que ela estava me tratando com tamanha
hostilidade. Tenho certeza que se eu oferecesse minha ajuda ela iria rejeitar,
pois Charlotte estava diferente, agindo como se nada a abalasse.
— Bom se você já fez o que você tinha que fazer aqui, acho que você já
pode se retirar. — Ela falou ao se levantar da cadeira e apontar a mão para
porta, praticamente me forçando a sair dali.
— Você está surdo ou apenas está fingindo que não está me ouvindo para
me irritar? Eu fui benevolente com você até aqui permitindo sua presença
inconveniente, mas, tudo tem um limite. Você pode por favor ir embora de
uma vez por todas!? — Ela disse franzindo a testa e alterando um pouco sua
voz, essa atitude atraiu os olhares de sua assistente e seu orientador.
— Estou falando sério. Assim que cheguei e você foi comer, não pude
deixar de ouvir que vocês estão enfrentando um impasse no projeto, e acho
que mais uma cabeça para pensar ajudaria bastante. — Eu disse com
otimismo.
Sabia! Wilson estava tecendo muito elogios para o projeto. Ele não iria
ficar falando daquele jeito para mim e Levi se ele realmente quisesse
compra-lo. Charlotte deve ter desvendado algo muito valioso para que ele
fizesse isso.
Ela olhou para ele surpresa por ele ter interferido em nossa conversa. O
senhor Hollins era uma pessoa extremamente discreta, creio que por isso ela
se surpreendeu. Ao ver que conseguiu nossa atenção ele continuou a falar
tentando convencê-la.
— Não descarte a proposta do Jeff. Depois de você, ele foi o aluno que
mais teve minha admiração nessa instituição em todos esses anos. Achei
uma grande ironia do destino que vocês dois fossem casados. Os dois gênios
que tive o prazer em orientar. Seria grandioso eu poder vê-los trabalharem
juntos, e acho que além de você, ele é a única pessoa que tem competência
para nos ajudar com o problema que você está enfrentando no seu projeto. É
injusto com o resto dos mortais que dois gênios como vocês estejam
casados. — Ele deu um sorriso singelo.
Como ela era a responsável pelo projeto e eu queria estar ali, a única
coisa que me restava era aceitar. Não consegui disfarçar meu sorriso largo ao
saber que eu participaria do projeto, pois eu adorava um desafio, e pra mim
era bom saber também que eu ficaria ao lado dela, pois esse era o objetivo
principal.
— Charlotte?
— O que foi? — Ela respondeu de forma grosseira enquanto massageava
suas têmporas.
— Já está bem tarde, não acha melhor descansar e depois amanhã nós
retornamos? — Eu sugeri, pois, ela parecia extremamente exausta.
— Entendo, sei que não é fácil para você chegar nesses impasses, mas
entenda que é algo necessário para que você consiga continuar a trabalhar no
projeto. — Insisti com ela.
— Fique tranquila que nós vamos dar um jeito, e quando você menos
esperar vamos ter a solução para esse problema e conseguiremos fazer com
que seu projeto seja executado perfeitamente. — Eu disse a ela em um tom
bastante otimista.
— Assim espero. — Ela nem ao menos me olhou ao me responder, e foi
arrumar suas coisas para que deixássemos o laboratório.
O senhor Hollins passou por mim, e estendeu sua mão para se despedir.
Eu apertei a mão dele e sorri ao me despedir dele, antes de sair, ele disse:
Creio que ela não gostava de mim, provavelmente Charlotte havia falado
algo para que ela tivesse esse tipo de comportamento hostil comigo.
Entretanto, eu não me importava. Fiquei observando minha esposa enquanto
ela organizava tudo. Coloquei as mãos em meus bolsos, ela nem ao menos
tinha se dado conta que eu permanecia ali esperando por ela. Ao levantar sua
cabeça depois de organizar a bancada, dois riscos se formaram entre suas
sobrancelhas, e ela me olhou intrigada.
— Estou esperando você para que possamos ir embora, tenho certeza que
o descanso será melhor caso você vá para ao invés de ficar no dormitório da
faculdade. — Eu disse a ela convicto que ela iria embora comigo.
— Acho que é um pouco tarde demais para isso, Jeff Staton. — Ela
parou na minha frente e me encarou.
O magnetismo que havia entre nós dois, e a tensão romântica era nítida.
Seu olhar penetrante, me encarando daquela maneira me transportava para a
noite que nós estivemos juntos, e uma vontade avassaladora que ela fosse
minha me consumiu. Me aproximei para tentar investir em um beijo e
Charlotte não se afastou, quando eu estava próximo o suficiente para que nós
nos beijássemos, ela virou o rosto para o lado e deu um passo para trás.
Ela foi até a porta, segurou a maçaneta e me fitou com seu queixo
erguido. Os cantos dos meus lábios se elevaram, formando um singelo
sorriso, mas a verdade é que eu sorri por conta da frustração que senti
naquele momento. Fui até a porta e antes de sair eu parei, olhei dentro dos
grandes olhos azuis da minha esposa. Pensei em insistir mais uma vez para
que ela viesse comigo para casa, mas sabendo como ela estava irredutível
com qualquer coisa que eu dissesse optei por apenas sorrir e dizer:
Prontamente entendi qual era o objetivo dela, não contive meu sorriso e
entrei. Assim que entrei, ela fechou a porta e deixou suas coisas no chão.
Nós ficamos nos encarando por alguns instantes, ambos com a respiração
ofegante pela tensão sexual que estava presente no ambiente. Charlotte veio
até mim, e me empurrou na porta com certa violência, assim que ela fez isso
nós começamos a nos beijar com muito desejo. Aproveitei que a calça dela
estava desabotoada e a abaixei junto com a calcinha enquanto estávamos nos
beijando, ela se afastou um pouco para terminar de tirar a calça e eu
aproveitei para desabotoar e tirar a minha. Charlotte tirou sua blusa, e seu
sutiã, ela estava completamente nua na minha frente e tinha um olhar
flamejante. Tirei minha camisa e meu terno com pressa. Nós dois estávamos
nus e analisávamos o corpo um do outro minuciosamente.
Puxei ela contra meu corpo, e ao fazer isso ela soltou um breve gemido,
eu sorri perversamente e a peguei no colo a levando em direção a uma
bancada que havia no laboratório, coloquei ela sentada e abri as pernas dela.
Coloquei dois dedos na minha boca passando saliva neles e depois, passei
em cima do clitóris dela. Charlotte se contraiu e estremeceu de tesão, eu
estava louco de vontade para ficar com ela. Posicionei meu pau na entrada
dela, e diferente da outra vez, ela não teve medo. Até se inclinou para frente
para que eu pudesse penetrar ela o quanto antes. Eu coloquei meu pau dentro
dela com pressa, e logo em seguida comecei a dar bombadas fortes nela.
Charlotte gemia e dava gritos que ecoavam pelo laboratório. Eu estava
enfiando tão forte nela que a bancada estava balançando bastante e algumas
coisas que estavam sob ela começaram a cair.
— Deita.
Me deitei no chão e ela passou uma de suas pernas por cima do meu
corpo, ficando com os pés encostados na lateral do meu corpo, ela se
agachou, segurou meu pau e se sentou bem devagar. À medida que ela se
sentava, ela gemia e inclinava a cabeça para trás. Quando ela se sentou por
completo, ela parecia não saber muito bem o que fazer por conta da sua
pouca experiência, segurei na cintura dela e a auxiliei a fazer movimentos
para frente e para trás. Eu senti um tesão incontrolável nessa posição, e ver
os seios dela balançando juntamente com a expressão safada que ela fazia,
estava me deixando enlouquecido.
— Então goza comigo. — Ela falou com sua voz falhada por conta dos
movimentos e os intensificou mais.
Segurei a cintura dela com mais força e dei um gemido mais grosso no
momento em que ela rebolava com mais intensidade. Charlotte deu um
gemido alto e prolongado, em seguida senti que seu corpo amoleceu e deu
alguns espasmos, percebi que ela havia gozado, então, nesse momento eu
inclinei meu corpo pra cima dando uma última bombada dentro dela, e
gozei. Eu estava com a respiração acelerada e o corpo suado, Charlotte
ofegava bastante e parecia exausta, coloquei a mão nas costas dela e a puxei
para deitar em cima de mim, ela se deitou e movimentou seu quadril fazendo
com que meu pau saísse de dentro dela. Ela deixou seu corpo escorregar até
que ficasse ao meu lado apoiando a cabeça em meu peitoral, dei um beijo
demorado na testa dela enquanto afagava seus cabelos, e ela acariciou meu
peitoral.
Respirei fundo e tive que me conter para não iniciar uma discussão com
ela porque estava inconformado com ela me tratando daquela maneira depois
do que havíamos feito. Minha esposa pegou suas coisas no chão, abriu a
porta do laboratório e fazia o mínimo de contato visual comigo. Me
aproximei dela e fiquei a encarando esperando que ela fizesse o mesmo,
porém ela me ignorou totalmente.
— O que você está fazendo, Jeff? Por que está se sujeitando a essa
garota desse jeito? — Balancei a cabeça negativamente demonstrando
grande descontentamento comigo mesmo.
Abri meus olhos, dei partida no carro e segui em direção a minha casa.
Fiquei pensativo o caminho todo, se eu seguisse meu orgulho e ego eu
jamais iria pisar novamente naquele laboratório, mas eu queria permanecer
ao lado da Charlotte, talvez, por mais que eu não quisesse admitir, Levi
poderia ter razão.
Cheguei em casa, e fui direto para meu quarto, tomei um banho, e fui me
deitar. Ao deitar na cama o sono demorou um pouco a vir, pois em meus
pensamentos havia espaço somente para Charlotte. Eu fiquei pensando no
estranho efeito e sentimento que ela estava causando em mim, e acabei
adormecendo.
Ligação ON
Levi: — Bom dia, tem aconteceu algo para me ligar logo cedo assim? —
Levi perguntou preocupado.
Jeff — Bom dia, não. Está tudo bem, mas estou te ligando para falar que
eu não irei a empresa pelos próximos dias porque estarei ocupado ajudando
Charlotte no projeto.
Levi: — O quê? Você perdeu o juízo? Por acaso não lembra a cláusula
que sua esposa estipulou onde dizia que não queria que você se encontrasse
com ela após a assinatura do contrato?
Jeff: — Sim, me lembro bem, porém, ela sabe muito bem que isso é
impossível devido a nossa situação, afinal, somos marido e mulher não tem
como deixarmos de nos encontrar. Além disso, ela está com um problema em
seu projeto onde a única pessoa que pode ajudá-la a resolver, sou eu.
Ligação OFF
Eu dei um suspiro cansado e fui até o lado dela para ver como estava o
andamento. Charlotte era extremamente inteligente e estava prestes a
descobrir o erro, isso poderia fazer com que nossos dias juntos fossem
diminuídos... Resolvi perguntar sobre o que ela estava fazendo para ver se
havia alguma possibilidade de atrasa-la um pouco. Comecei a fazer uma
série de perguntas e a maioria delas parecia ser boba, sendo assim, Charlotte
que já não estava com muita paciência questionou:
— Onde você vai? — Perguntei ao ver que ela estava indo em direção a
saída.
Jeff: — Charlotte não manda em mim, e ela não é uma mulher insegura,
muito pelo contrário, é uma mulher espetacular! Achei muito ofensiva e
grotesca sua insinuação, você nem ao menos a conhece para falar esse tipo
de coisa. Espero que a respeite daqui para frente, bem como respeitará
minha decisão de nós não nos encontrarmos. Fui claro?
Jeff: — TCHAU.
Mensagem OFF
Não entendi o motivo de toda essa insistência, só sei que ela estava me
irritando profundamente. Arfei com raiva e me levantei do banco em que eu
estava sentando. Estava com fome e ia procurar alguma coisa para comer.
Charlotte foi bem eloquente ao dizer que não queria minha presença no
almoço com ela, sendo assim eu não iria até o refeitório para ela não achar
que eu estava indo atrás dela para pressiona-la, eu estava passando por isso e
sei como era algo horrível.
O café da manhã que eu tinha comprado para ela ainda estava lá em cima
pois ela havia ignorado ele totalmente, então, decidi comer ele na pequena
mesa que havia lá dentro do laboratório. Assim que terminei de comer,
Charlotte retornou para o laboratório e parecia estar estressada. Acho que eu
ficar guardando a informação que eu tinha, para fazer com que nós
tivéssemos mais tempo juntos era ridículo e egoísta da minha parte, pois ela
já estava muito desgastada por não encontrar o erro e isso não seria justo
com ela.
Ela olhou para mim interessada e deu para ver a expectativa em seus
olhos.
Fui até ela e comecei a explicar o que eu achava que poderia ser o
problema, antes que eu terminasse de explicar o que era, ela já havia
entendido. Charlotte, refez os cálculos e conseguiu resolver. Ela pulou de
felicidade e empolgação por conseguir resolver o enigma. Eu fiquei feliz por
ela ao ver sua reação. Ela estava tão empolgada que me abraçou forte
enquanto me agradecia eufórica e me deu um beijo na boca.
Eu não esperava aquilo, mas é claro que correspondi. Porém, o beijo não
durou muito tempo pois ela se afastou e ficou visivelmente sem graça.
Charlotte apoiou as duas mãos no bolso da sua calça e disse ainda um pouco
constrangida pelo que fez:
— Já que você conseguiu encontrar o problema quero que fique até a
finalização do projeto.
Aquilo foi como música para meus ouvidos e me deixou muito feliz.
— Para mim será um prazer ficar aqui com você e te ajudar no projeto. E
não fique envergonhada por conta do beijo, eu gostei e espero que faça mais
vezes. — Ela não me respondeu nada, apenas deu um sorriso e desviou seu
olhar.
Nós convivemos durante vários dias juntos depois dessa proposta que ela
me fez, porém, eu não consegui fazer com que ela fosse dormir comigo,
tampouco tivemos mais momentos juntos após nossa noite de amor no
laboratório e do beijo que ela me deu quando resolvemos o problema do
projeto. Por mais que eu desse investidas, ela sempre recuava, e para não
perder a oportunidade de ficar perto dela, eu a respeitava.
Insistência
Narração - Jeff Staton
Mensagem ON
Sim, ela se importava, por mais que não quisesse dar o braço a torcer.
Nesses quinze dias que se passaram nós havíamos ficado muito próximos e
conseguimos nos conectar como nunca havíamos feito antes.
Jeff: — Eu preciso ir na empresa ver como estão as coisas pois faz muito
tempo que eu não vou, não posso faltar mais.
Jeff: — Se você quiser pode vir pra casa hoje... Dormir, descansar...
Mensagem OFF
— Eu vim te ver, você tem me ignorado esses dias. — Ela falou como se
fosse algo natural aparecer de surpresa na minha casa.
— Eu voltei por você, Jeff. Sei que seu casamento é fachada, o que te
impede de ficar comigo? — Elizabeth se aproximou e acariciou meu peitoral
dando um sorriso malicioso.
— Sinto muito que você tenha voltado com essa expectativa, mas saiba
que nada vai acontecer entre nós dois. Eu sou fiel a minha esposa.
— Mas que papo furado, Jeff! — Ela falou nervosa. — Vai dizer que
você não me deseja e não tem vontade de repetir pelo menos um pouco
daquelas loucuras que nós dois fazíamos juntos antes?
Elizabeth fez uma cara feia reprovando o que eu tinha feito e disse:
— Eu ainda voltarei, Jeff, você irá mudar de ideia, e irá ficar comigo. Eu
tenho certeza. — Ela disse com bastante determinação.
— Eu acho que faz muito tempo que não vejo Jeff Staton com um sorriso
desses e uma cara tão animada.
— Tudo bem, acho que será até bom para aliviar um pouco minha
cabeça, pois, mexer somente com dados da empresa, aprovação de projeto,
lucros, e coisas do tipo, tem tirado meu sossego, até entendo o motivo de
você ser tão estressado. — Ele deu um sorriso.
— Bem-vindo ao meu mundo. — Eu falei para ele.
Nós dois rimos e Levi saiu da sala. Peguei meu celular e fiquei pensando
na maneira que tratei Elizabeth hoje pela manhã. Acho que não foi certo, fui
muito grosseiro e não quero que ela pense mal de mim. Resolvi que marcaria
um jantar para esclarecer tudo com ela para que esse impasse fosse resolvido
de uma vez por todas.
Mandei uma mensagem marcando com ela um jantar hoje, assim que eu
saísse da empresa, como pedido de desculpas pela maneira que eu havia
agido com ela, para poder explicar com calma que eu tinha sentimentos pela
minha esposa e não tinha pretensão de deixa-la. Talvez conversando
calmamente ela poderia entender. Elizabeth demonstrou ficar bem satisfeita
com meu convite, e disse que nos veríamos no restaurante mais tarde.
— Olha, eu não tenho certeza se você está apaixonado por ela, porém,
uma coisa é certa, você admira muito as habilidades da sua esposa.
— Bom, já são quase 19h eu preciso ir. Tenho um jantar com Elizabeth.
— Elizabeth? — Ele perguntou confuso.
— Sim, preciso deixar claro algumas coisas com ela. — Expliquei para
ele e me retirei do meu escritório apressado para não perder a hora.
Peguei meu carro e fui para o restaurante onde havíamos marcado de nos
encontrar. Ao chegar lá, Elizabeth estava sentada e bem arrumada. Ao me
ver, ela levantou da cadeira e me deu um abraço, além do abraço ela tentou
me beijar, mas eu a afastei. Ela deu um sorriso sem graça e se sentou.
— Eu sabia que você ia mudar de ideia, tudo que tivemos foi muito forte
para ser jogado fora dessa forma. — Ela falou confiante.
— Entendi, mas eu ainda acho que você vai mudar de ideia. — Ela
insistiu.
— Não Elizabeth, eu não vou. Sei que você sabe que me casei com
Charlotte por conta de um contrato e há algumas semanas eu concordaria
com você ao dizer que meu casamento era só fachada, mas algo mudou, e eu
não queria admitir, porém, eu estou tendo sentimentos por minha esposa e
quero fazer dar certo. — Eu falei com um sorriso e o olhar distante por me
lembrar dela.
— Você sabe que não aceitarei. E espero que depois de hoje você me
entenda. Boa noite, Elizabeth.
Saí do restaurante e fui para casa, com o sentimento que eu não havia
conseguido ser claro com ela. Pela manhã eu ia dar uma passada na empresa
novamente, mas depois iria para a faculdade da minha esposa. Eu estava tão
acostumado a ficar com ela que nesse dia que nós ficamos longe um do outro
a falta que ela me fez foi muito grande. Ao chegar na minha empresa,
novamente Levi estava no meu escritório, mas ouvi barulho de uma risada
feminina, provavelmente alguma mulher estava com ele.
— Elizabeth?
— Oi meu amor, depois de ontem eu quis passar aqui para ver você. —
Ela disse com empolgação.
Levi olhando a cena decidiu se retirar do escritório. Assim que ele saiu,
Elizabeth disse:
— Eu sei que aquele jantar não foi porque você queria me evitar, porque
você não admite logo para que nós fiquemos juntos?
— Porque não tem o que admitir! Eu não consigo ser mais específico do
que já fui com você. Eu não quero absolutamente nada com você, essa
insistência e perseguição estão me deixando furioso. Eu não usarei palavras
agradáveis para lidar com você mais, porque não está adiantando nada. Fora
daqui! — Eu disse bastante nervoso.
— Como é? — Ela perguntou incrédula.
— Isso não vai ficar assim, Jeff! Não vai mesmo. — Ela saiu e eu fechei
meus olhos passando a mão na testa.
— Olha, se você tem outra mulher em seu coração você deve lidar com
isso o quanto antes. — Ele se referiu a Elizabeth.
— Eu sei, já tentei deixar claro de todas as maneiras, mas parece que ela
não quer entender. Agora o porquê eu já não sei....
— Você é maldoso quando se trata da minha mãe, por que você acha que
ela depositou essa quantia na conta da Elizabeth logo após ela ter me
deixado? — Perguntei a Levi.
— Suspeito que sua mãe a incentivou para te largar, e ofereceu essa
quantia como recompensa. Por isso ela foi embora.
Eu não queria acreditar no que Levi falou, mas era a teoria mais
convincente. Eu não iria lidar com isso agora, porque eu tinha que ir até a
faculdade da Charlotte. Me despedi do Levi deixando o arquivo em minha
mesa e fui até a faculdade. Ao chegar lá, fui direto para o laboratório,
Charlotte parecia feliz, mas eu me preocupei ao vê-la pois ela estava pálida.
Ela deu um sorriso que iluminou seu semblante assim que me viu.
— Estou bem e você? Por que está tão pálida? — Perguntei preocupado.
— Eu acho que estou cansada demais por isso estou assim. — Ela
justificou.
— Charlotte, quero que você vá para casa comigo. Você não está nada
bem, me deixa cuidar de você lá. — Eu falei olhando fixamente para ela.
— Eu acho melhor não... — Ela falou hesitante, mas percebi que ela
estava mais flexível do que das outras vezes em que eu fiz o mesmo pedido.
Mesmo assim ela parecia relutante, mas ainda sim demonstrava que iria
aceitar.
∞∞∞
Decidi que seria implacável com Jeff em relação as investidas mesmo ele
me rejeitando tanto. Conversando com a assistente dele, ela acabou me
revelando que ultimamente ele estava indo muito na faculdade da Charlotte.
Então acho que se eu o encontrasse lá, ela o rejeitaria por achar que
estávamos juntos. Pois ela acharia que ele quem me falou que ir até lá.
E foi exatamente isso que eu fiz, fui atrás dele na faculdade. Chegando lá
eu comecei a procurar ele, e para minha surpresa ele estava na frente do
laboratório, eu caminhei até ele, mas em seguida Charlotte saiu e eles
estavam conversando. Jeff a acariciou com tanta ternura, eu não me lembro
dele ter feito isso comigo quando namorávamos. Os dois pareciam tão
íntimos, não adiantava eu chegar naquele momento.
Eu não tinha mais sentimentos pelo Jeff, mas eu iria fazer ele ser meu de
um jeito ou de outro. Então, eu precisava ser esperta, e já tinha um plano do
que eu iria fazer. Essa sonsa da Charlotte iria ver o que eu faria com ela.
Interpretando tudo errado
Narração - Charlotte Staton
— Vamos lá, Charlotte, você precisa ser forte. Era algo que você já
esperava não se deixe abater por isso. — Eu falei para mim mesma com a
intenção de criar forças para enfrentar meus sentimentos.
— Pedi pra Janet preparar as coisas que você mais gosta. Você precisa se
alimentar bem para conseguir se sentir melhor. — Ele falou otimista.
— Obrigada. — O agradeci.
Ele deu um sorriso fraco, ligou a TV pra mim e saiu. Comecei a assistir
TV e trocava de canal de forma despretensiosa, eu ainda estava apenas de
roupão, estava procrastinando para colocar minha roupa. Depois de um
tempo, decidi vestir um pijama para dormir, tirei meu roupão e fui até o
closet para escolher a roupa. Peguei uma calcinha e a camisola, depois,
voltei para próximo da minha cama para me trocar.
Jeff abriu a porta quando eu estava nua, eu me assustei e aquilo fez com
que eu paralisasse, ele ficou me olhando com os lábios entre abertos e
percebi o desejo em seu olhar.
— Tem certeza? — Jeff falou em um sussurro e levou sua mão até meu
pescoço e a outra colocou em minha cintura.
Era difícil resistir a ele, só de sentir seu toque meu corpo esmorecia. Ao
perceber minha entrega ao toque dele, Jeff aproximou sua boca da minha e
me beijou. Prontamente correspondi ao beijo o abraçando. Eu estava
beijando-o com intensidade, como se fosse a última vez que nossos lábios
fossem se encontrar.
Eu não queria dar oportunidade para que ele tentasse me seduzir, porque
provavelmente eu não resistiria como nas outras vezes.
— Mas nada Jeff, por favor, sai do meu quarto. — Eu disse de maneira
ríspida.
Ele franziu sua testa e demonstrou não gostar do jeito que falei com ele,
e saiu bastante contrariado. Quando ele saiu eu dei um suspiro e fechei meus
olhos me apoiando na penteadeira atrás de mim. Foi por pouco, mas eu não
seria mais feita de boba por ele. Pela manhã acordei e me arrumei para
faculdade, assim que desci para sair, Jeff já estava me esperando.
Eu não estava me sentindo bem, por esse motivo eu não queria comer,
pois eu tinha certeza que iria vomitar caso comesse. Depois que meu projeto
ficasse pronto eu iria consultar um médico com urgência, eu acho que estava
exigindo muito do meu corpo e ele estava pedindo socorro por isso.
— Mas mesmo assim você deveria forçar para comer. — Jeff insistiu e
parecia estar preocupado.
Sei que eu o estava magoando, e estava sendo grosseira demais, mas essa
era a forma que eu havia encontrado para me proteger dele. Jeff não falou
mais nada e apenas saiu atrás de mim, nós entramos no carro e no caminho
para a faculdade nós ficamos em silêncio. Eu estava com a expressão séria,
não queria dar espaço para que ele falasse nada comigo. Chegando na
faculdade nós descemos do carro, entramos no prédio e fomos direto para o
corredor que dava acesso ao laboratório.
Jeff estava me olhando com um sorriso, ele estava sendo muito paciente
mesmo eu o tratando mal. Esbocei um sorriso para ele, e então, ele pegou
minha mão enquanto andávamos e deu um beijo nela como demonstração de
carinho e aquilo me constrangeu. Porém, eu gostei, talvez eu estivesse sendo
dura demais com ele, era hora de dar uma trégua. Me mantive de mãos dadas
com ele e então, inesperadamente, Brandon apareceu.
Jeff apenas acenou com a cabeça para ele e sua expressão antes alegre, se
tornou séria.
— Hoje o dia está maravilhoso, não é verdade? — Ele dizia ainda com
muita empolgação e em um tom de voz mais elevado, o que me fez
desconfiar mais ainda daquela atitude dele.
— Pra mim está normal, que bicho te mordeu? — Antes que ele pudesse
me falar ouvi uma voz dizendo.
— Meu amor! — Quando eu e Jeff nós nos viramos para trás, Elizabeth
veio até Jeff e o abraçou.
O impacto do abraço dela foi tão forte que minha mão e a dele se
soltaram, eu dei um passo para trás e Jeff pareceu não entender muito bem o
que aconteceu.
— Eu decidi que farei meu mestrado aqui, meu bem! Você lembra como
me incentivava para fazer? — Elizabeth me olhou com um sorriso vitorioso
e ergueu uma de suas sobrancelhas.
— Acho que agora você precisa tomar cuidado... — Assim que ele falou,
eu engoli seco e disse.
— Charlotte, espera! Não é isso que você está pensando! — Olhei para
trás ao ouvir o que Jeff disse com meus olhos cheios de lágrimas.
Ele até tentou vir atrás de mim, mas foi impedido por Elizabeth. Apressei
meus passos e tomei uma boa distância deles, porém, fui impedida de
continuar andando por Brandon.
— Ué, agora de qualquer maneira você não receberá os 25% das ações,
então não precisará engravidar tampouco precisará continuar casada com
Jeff! — Brandon disse animado.
Eu não entendi porque ele falou aquilo, então, olhei para Jeff e Elizabeth,
e ela estava se apoiando no ombro dele enquanto ele falava gesticulando, até
que ela pareceu ficar tonta e foi amparada por Jeff. Era isso! Elizabeth estava
grávida de Jeff, por isso Brandon disse que eu não receberia mais os 25%
das ações, porque quem conseguiu engravidar foi Elizabeth, e não eu, sendo
assim não fazia sentido nós ficarmos casados.
∞∞∞
Surpreendentemente vi Brandon.
— Brandon?
— Você decidiu se matricular aqui para ficar entre Jeff e Charlotte, não
é? — Ele sorriu maliciosamente.
— O que você ganha me ajudando, Brandon? Você não faz nada sem
interesse próprio.
— Você está louca! Por que me beijou? Você quer estragar meu
relacionamento com minha esposa? — Jeff dizia irado.
— CHARLOTTE!
A sonsa havia desmaiado. Que raiva, como essa garota era mole! Não
aguentou a pressão de me ver com Jeff e fez isso para chamar a atenção dele,
fazendo com que ele me deixasse completamente de lado para socorre-la.
Mas isso não iria ficar assim, eu estava só começando. Jeff seria meu de
qualquer maneira!
Decisão definitiva
Narração - Charlotte Staton
— Graças a Deus você está bem! Você me deu um susto grande. — Virei
meu rosto ao ouvir o som da voz de Jeff para olha-lo.
Ele parecia estar com uma expressão aliviada e tinha o sorriso largo. Eu
achei bom ele ter aquela preocupação por mim, por um momento me senti
acolhida. Mas, logo me lembrei o que ele havia feito hoje mais cedo junto a
Elizabeth. Eles se beijaram na minha frente como se eu fosse um monte de
nada, como se eu não tivesse valor, e isso eu não iria admitir. Não sei porque
ele permanecia fazendo esse teatro, fingindo que estava preocupado comigo.
Certamente poderia ser por conta da empresa que ele tinha medo que eu
tomasse dele.
Me dei conta que eu estava na cama de um hospital quando olhei melhor
o ambiente, e vi os acessos de soro em meu braço. Eu olhei pra Jeff com a
expressão fechada, eu estava amargurada e com muita raiva dele, por esse
motivo, eu não tinha vontade nenhuma de trocar uma mínima palavra se
quer com ele. Ele viu como eu estava o olhando e parece ter ficado
constrangido, então, ele continuou a dizer tentando tirar aquela atmosfera
tensa que se formou entre nós.
Eu estava enojada por conta da traição dele, então, puxei meu braço
bruscamente e uni minhas sobrancelhas fazendo com que um risco se
formasse entra elas. Jeff pareceu surpreso com minha atitude, sendo assim,
para ficar claro que eu não queria a ajuda dele eu disse:
— Não precisa ser assim, Charlotte. — Jeff falou com uma voz triste e
sua expressão também continuava não sendo das melhores.
— Não precisa, mas eu quero que seja assim, afinal você mesmo disse
que eu precisava cuidar de mim mesma então eu tenho que fazer isso
sozinha, sem depender de alguém. Principalmente esse alguém sendo você.
— Eu estava sendo o mais grosseira possível com ele.
Jeff parecia ficar cada vez mais decepcionado com a forma que eu estava
o tratando, mas ainda assim permanecia ao meu lado.
— Eu vou ficar aqui para cuidar de você, até que você se sinta
melhor. — Ele disse praticamente se humilhando para mim.
Confesso que eu realmente estava implacável, mas eu não iria sentir pena
nenhuma dele, Jeff não tinha o mínimo de compaixão comigo então ele não
merecia isso da minha parte também. Ele engoliu seco, e se humilhando
mais ainda para mim ele disse:
— Eu ficarei aqui com você, mesmo que você não queira. — Ele não
tinha arrogância ao falar, nem mesmo a soberba qual estava habituado a usar.
Estava sendo muito difícil manter meu tratamento com ele dessa forma,
porque eu estava ficando com pena dele pela forma que eu o estava tratando,
eu não era assim e não me sentia bem ao tratar ninguém assim. Entretanto,
bastava eu me lembrar da cena que ele protagonizou com Elizabeth que eu
ficava cheia de rancor e mantinha minha atitude hostil em relação a ele.
O telefone dele começou a tocar e ele atendeu. Pelo pouco que entendi
da conversa ele precisaria ir a algum lugar com urgência, creio que era para a
empresa. Por mais que ele estivesse relutante em ter que ir ao local, Jeff
acabou se vendo obrigado a atender ao chamado. Ao desligar o telefone ele
disse com pesar:
— Infelizmente não vou poder continuar aqui ao seu lado, vou precisar
sair.
— Eu não me importo, por mim já vai tarde. — Eu disse em tom
provocativo e dei um sorriso irônico.
— Se eu fosse você, não pagaria para ver. Pelo seu bem, descanse. —
Nós nos encaramos por mais alguns segundos, e então ele finalmente saiu e
foi embora.
Eu poderia achar fofo que ele estava preocupado com minha saúde, e
ameaçou o projeto como forma de me obrigar a descansar, porém, isso tudo
ficava invalidado diante da última ação dele e eu não poderia amolecer por
conta disso. Cruzei meus braços e fiquei emburrada no quarto do hospital,
então, para espantar um pouco meu aborrecimento, Sam apareceu.
— Sammy! Que bom ver você aqui, você nem vai acreditar em tudo que
aconteceu hoje... — Falei em meio a um suspiro.
Sam não falou nada e demonstrava estar bastante aflito. Achei estranho,
pois, quando eu falava que tinha algo para contar para ele, ele sempre
parecia entusiasmado para ouvir. Notei que ele tinha um papel em suas
mãos.
— Sam? Está tudo bem? Você parece preocupado, o que aconteceu? —
Perguntei ao me mexer na cama, me inclinando um pouco para frente
esperando que ele me dissesse algo.
— Por favor, fale logo de uma vez! De um jeito ou de outro eu vou ter
que saber o que está me causando mal, e se for algo muito ruim é melhor que
eu enfrente logo de uma vez. — Eu falei com bastante agitação.
— O motivo de você ter desmaiado não foi por conta da exaustão como
os médicos suspeitaram. Você desmaiou porque está grávida, Char. — Ele
falou com certo temor e me entregou o papel.
Peguei o papel e percorri meus olhos por aquelas palavras que estavam
escritas em letras grandes e destacadas: "POSITIVO", bem abaixo do nome
do exame que se chamava Beta HCG. Mesmo eu lendo e relendo aquele
exame eu não estava acreditando no meu diagnóstico. Porém, contra fatos
não havia argumentos. Eu estava grávida do Jeff, por mais que nós dois
tivéssemos passado apenas duas noites juntos. Parecia que o destino estava
me pregando uma peça.
— Não, não, eu vim compartilhar primeiro com você para você decidir o
que iria fazer. — Ele falou com um sorriso e passou a mão no meu braço o
acariciando.
— Você sabe que tem opções, não sabe? — Sam disse olhando em meus
olhos.
— Não mesmo! Isso está fora de cogitação, sei que você é médico e você
enxerga meu bebê como um feto, mas para mim, ele é meu filho. E se isso
aconteceu sendo que eu fiquei apenas duas vezes com Jeff, algum motivo há,
e eu jamais seria capaz de fazer isso. Fui eu quem não me cuidei e assumi as
consequências ao fazer sexo com o Jeff sem me proteger. — Falei um pouco
nervosa pois isso era algo que nem se quer havia se passado pela minha
cabeça.
— Tudo bem, desculpe ter sugerido isso, é que entendo sua situação, e a
gravidade dela. — Sam falou com pesar.
Por conta disso, se eu quisesse manter meu bebê eu teria que esconder
isso do Jeff e da família dele, pois eu temia pelo o que eles pudessem fazer
comigo, e principalmente com meu filho.
— Char, infelizmente, ele é o pai do seu bebê. Você tem certeza que vai
esconder essa informação dele?
— Tenho. Você sabe como a família dele é louca. Jeff me forçou a fazer
uma inseminação sem se importar comigo implorando para que ele não
permitisse que fizessem aquilo. Todos sabiam e agiram como se fosse algo
normal. Imagina só o que podem fazer comigo ao saber que engravidei de
Jeff mesmo não sendo mais necessária?
— Mas por que você diz que não é mais necessária? — Ele perguntou
sem entender muito bem o que eu queria dizer.
— Meu Deus! É bem pior do que eu pensava. Mas você tem certeza
disso? Já falou com Jeff?
— É bem óbvio, e é claro que não falei com ele nem irei falar. Nunca
adiantou, não será agora que vai adiantar. — Eu falei convicta.
Sam ficou pensativo. Ele sabia que fazia sentido o que eu estava falando
por mais que ele não concordasse com minha postura.
— Mas como você vai fazer para esconder sua gravidez do seu
marido? — Ele perguntou um pouco confuso pois seria algo difícil de se
fazer.
— Eu acho uma decisão muito radical, acredito que você deveria pensar
mais. — Sam tentava me fazer mudar de ideia ou pelo menos pensar em
outra saída, mas eu estava decidida.
— Sei o que você pensa, e sei o quanto desaprova minha decisão. Porém,
eu estou de mãos atadas. Não acho que estou tendo uma atitude certa de
esconder meu filho do próprio pai, mas se você for parar pensar Sam, eu vivi
meses de humilhação nas mãos do Jeff e da família dele, não é justo que eu
continue a passar por isso. Hoje depois do que ele fez comigo, resolvi que já
passou da hora de dar um basta. — Falei com amargura.
— Nossa, Char... Eu nem sei o que te dizer, mas saiba que mesmo não
sendo a favor de todas as suas decisões, eu apoiarei você e estarei ao seu
lado sempre, para o que der e vier.
— Você tem certeza que já quer sair do hospital? Está se sentindo bem o
suficiente para isso? — Sam perguntou com preocupação.
Eu não queria engravidar, mas assim que eu soube que aquele bebê
estava dentro de mim um instinto praticamente natural de proteção e amor
surgiram em meu coração. E inegavelmente, pelo menos por minha parte, ele
foi concebido com amor.
— Está certo, vou pedir para tirarem seu acesso e vou solicitar a alta.
Vou mexer com a papelada enquanto você se prepara para irmos. — Sam foi
até a porta, porém, antes que ele saísse eu disse:
— Sam.
— Obrigada por tudo que você tem feito por mim. — Eu sorri para ele
ao falar com bastante gratidão. Nesses meses que minha vida havia virado
um verdadeiro inferno eu não sei o que seria de mim sem ele.
Sam foi lidar com a papelada enquanto a enfermeira veio e tirou meu
acesso, me troquei, pois, estava com a roupa do hospital e fiquei aguardando
meu primo retornar. Assim que ele retornou, nós fomos embora. No caminho
eu estava muito ansiosa porque essa seria a última vez que eu veria Jeff, e
daria adeus a minha vida que eu estava habituada.
— Claro que levo Char, você sabe que sempre pode contar comigo para
o que der e vier! — Ele pegou minha mão e deu um beijo como
demonstração de carinho. — Hoje eu iria sair com a Vivian, mas vou
explicar para ela e remarcar o jantar.
Nunca havia visto meu primo falar de alguém dessa forma, ele realmente
estava gostando de Vivian e eles mereciam ser felizes.
— Você não vai, e tudo dará certo. Você vai ver. — Ele falou me dando
força.
Eu o encarava e sabia que essa poderia ser a última vez que nós nos
víamos, mas antes de partir eu queria algumas respostas.
Nós dois fomos juntos em direção a sala de estar e nos sentamos perto
um do outro.
— Por que é tão importante um bebê para você e sua família, e qual seu
plano em relação a isso? — Perguntei em um tom sério.
Como Jeff era perverso! Ele estava falando claramente que ele iria
receber os 25% que faltavam da herança dele, que seu avô estava partilhando
em vida, porque ele havia engravidado Elizabeth, e ele foi bem enfático ao
falar que precisava haver apenas um único bebê. E isso me fez ter mais
certeza a respeito da minha decisão, pois se eu continuasse aqui, meu filho
iria correr risco por não ser necessário e eu poderia esperar tudo dessa
família.
Com toda certeza ele iria falar sobre o acordo de divórcio, eu estava
fragilizada demais para lidar com isso. Ouvir da boca dele que ele tinha o
desejo de se separar de mim, seria demasiado doloroso para que eu
suportasse naquele momento. Eu iria assinar de qualquer maneira aquele
acordo, e não estava disposta a curtir mais momentos de humilhação, acho
que ele já tinha me proporcionado humilhações o suficiente no decorrer
desses meses que vivemos juntos.
Ele pareceu não gostar muito pois demonstrava estar ansioso para falar
comigo, mas devido ao meu estado de fragilidade, ele foi empático, atitude
que era rara vinda dele quando se tratava de mim, e apenas sorriu após
concordar com sua cabeça. Forcei mais um sorriso e subi direto para o meu
quarto. Inevitavelmente lágrimas invadiram meus olhos pois eu estava
abandonando o homem que eu amava, e isso era uma dor dilacerante ainda
mais sabendo que eu carregava um filho dele. Mas ao mesmo tempo eu senti
um alívio por saber que eu teria uma vida com paz e tranquilidade.
Comecei a juntar minhas coisas em uma mala, eu não tinha muitas coisas
ali, então, fui rápida. Eu não achava em nenhum lugar meus documentos,
jurava que havia deixado eles na minha bolsa, então saí e fui até o quarto de
Jeff para procurar, talvez ele pudesse ter caído lá em algum lugar. Ao chegar
perto da cama dele, me deparei com o porta-retratos e me assustei ao ver a
foto que estava lá. Não era mais a foto dele com Elizabeth, mas sim, uma
foto de nós dois no dia do nosso casamento. Fiquei encarando aquela foto.
Na foto o sorriso no meu rosto era largo, afinal, eu estava casando com o
amor da minha vida.
Mas, o sorriso dele não era tão alegre assim. Naquela época eu pensava
inocentemente que poderia fazê-lo se apaixonar por mim...Olhei para a foto
com amargura, eu estava me sentindo ridícula, e presumi que Jeff deveria ter
colocado aquela foto lá como uma brincadeira de mal gosto. Peguei o porta-
retratos e retirei a foto, eu a levaria comigo, não permitiria que ela ficasse
naquela casa.
Voltei para meu quarto para guardá-la na minha bolsa e acabei achando
meus documentos, eles estavam entre o acordo de divórcio. Peguei o acordo
e o olhei por um momento. Depois, peguei uma caneta e assinei um pouco
hesitante. Mandei uma mensagem para Sam dizendo que ele já poderia vir
me buscar. Enquanto eu esperava no quarto ouvi passos perto da porta e
fiquei esperando que alguém batesse, porém, a pessoa desistiu de bater e foi
embora.
— Sim, Janet, você acompanhou na íntegra como foi difícil para mim
esses meses.
— Se quiser pode vir comigo, eu vou precisar muito de ajuda daqui para
frente... — Passei a mão na barriga e a olhei.
Ela me olhou confusa, mas logo entendeu o que eu quis dizer, e veio me
abraçar.
— Sim, Janet, preciso proteger meu filho dos Staton. — Assim que falei
ela concordou com a cabeça e disse.
— Assim que você estiver pronta me mande mensagem que peço para
meu primo vir te buscar, e ele a levará até o aeroporto para o destino onde eu
irei morar. — Eu não quis falar a princípio onde era pois tive medo que ela
pudesse revelar para Jeff mesmo que sem querer.
Sam estava me esperando com o carro ligado, Vivian estava junto dele.
Eu entrei no carro e os dois me olharam com tristeza, meus olhos estavam
marejados, mas eu não queria permitir que as lágrimas escorressem e então
eu disse a eles:
— Vamos lá vocês dois, não fiquem assim, eu vou estar melhor. Irei me
livrar de todo o sofrimento que passei nesse tempo que fiquei casada com
Jeff Staton.
— Acho que teremos que passar mais uma noite juntos. — Eu dei um
sorriso ao falar para Sam e Vivian.
— Char, e o projeto?
— E quanto a sua gravidez, você vai passar uma gestação que tem vários
obstáculos completamente sozinha? — Sam perguntou preocupado.
Acho que tanto ele quanto Vivian estavam querendo me persuadir para
que eu ficasse.
— É... Eu sei que vocês estão tentando me persuadir para ficar, mas
acreditem que eu serei mais feliz longe daqui, e isso é para proteger meu
filho. — Diante do que eu falei não havia mais tentativas para refutarem
minha decisão, pois, eles sabiam que era o melhor a se fazer.
Depois disso, nós fomos descansar até dar o horário. Pela manhã
acordamos e fomos em direção ao aeroporto, diretamente para meu portão de
embarque. Olhei para os dois e novamente lágrimas invadiram meus olhos,
entretanto, Vivian e Sam também tinham os olhos marejados.
— Então é isso, eu irei para minha nova vida. — Dei de ombros e não
consegui conter minhas lágrimas.
— Você vai fazer muita falta, não sei como será sem você. — Sam falou
com muita tristeza em sua voz.
— A Vivian irá cuidar muito bem de você para mim, não é verdade? —
Como ela estava chorando apenas concordou com a cabeça. — E não fiquem
assim, nós vamos nos falar todos os dias, enviarei fotos, poderemos fazer
chamada de vídeo e vocês poderão me visitar sempre.
Sorri para ele e fiz carinho em seu rosto para conforta-lo. Seria muito
difícil ficar sem meu primo-irmão também. Nós nos despedimos mais uma
vez e eu entrei no portão de embarque. Olhei para trás e acenei para eles e
falei alto:
— Tudo vai dar certo, Charlotte. Seja forte e corajosa, tudo ficará
bem. — Levei minhas mãos até minha barriga, sorri e então falei: — Nós
dois ficaremos bem, meu pequeno.
Abandonado
Narração - Jeff Staton
Tive que sair do hospital depois da ligação que recebi de Levi. Ele
queria me falar algo importante e disse que eu iria gostar de saber o quanto
antes. Acho que foi até melhor porque eu queria dar um tempo para
Charlotte também, já que ela estava com raiva de mim graças ao que a
Elizabeth aprontou. Dirigi rapidamente até a empresa e ao chegar lá
encontrei com Levi na porta do meu escritório, nós fomos para dentro dele e
lá Levi me revelou que ao que tudo indicava Charlotte realmente não sabia
do contrato.
— Obrigado, Levi. Isso vai mudar tudo! Eu vou para casa e depois
voltarei para o hospital.
— Isso é verdade. Ah, antes que eu me esqueça, sua prima está grávida.
— Levi falou, pois, ele sabia que quem tivesse um bebê primeiro herdaria o
restante das ações das empresas do meu avô.
— Ah, eu nem fazia tanta questão assim, a Tec Solutions é uma das
empresas mais rentáveis do grupo Staton, então não me interessava mais, era
por pura competitividade com minha prima, sendo assim, que Adélia faça
bom proveito. Enfim, agora preciso ir. Obrigado mais uma vez, amigo. —
Agradeci ele novamente enquanto saía de meu escritório bastante apressado.
Ao sair, peguei meu carro e fui direto para casa, assim que cheguei
decidi tomar um pouco de whisky, precisava me distrair um pouco.
Descobrir tudo isso mexeu bastante comigo, terminei de tomar meu whisky e
coloquei o copo na pequena mesa que havia próximo ao sofá, caminhei para
ir ao meu quarto e surpreendentemente vi Charlotte chegando. Questionei o
motivo dela estar ali, e ela me respondeu secamente. Minha esposa me
perguntou sobre o motivo de um herdeiro ser importante para minha família,
então, expliquei a ela e questionei como ela já sabia que um herdeiro estava
a caminho e ela me contou que Brandon contou a ela. Ela ficou muito
abalada, mas não entendi o motivo.
Eu iria me declarar para ela naquele momento, e pediria perdão por todo
mal entendido que tivemos a respeito do contrato, além de explicar a
obsessão de Elizabeth, porém, ela não estava disposta a ouvir mais nada
naquele momento, eu até tentei insistir, mas achei melhor respeita-la.
Charlotte justificou que estava cansada então não quis atrapalhar o seu
descanso.
Poucas horas depois, fui até o quarto dela e pensei em bater na porta,
mas hesitei. Por mais que eu não visse a hora de falar para Charlotte, que eu
sabia que ela não havia assinado o contrato por livre e espontânea vontade, e
que eu a amava, decidi que seria melhor fazer isso pela manhã pois ela
precisava se recuperar. Pela manhã eu acordei, e estava mais que ansioso
para falar com Charlotte, eu queria explicar tudo para ela o mais rápido
possível. Fui até o banheiro, fiz minha rotina de higiene matinal, me troquei,
passei perfume e me olhei no espelho. Eu estava pronto para vê-la.
Ligação ON
Levi: — Tudo bem, vou falar com meus contatos na polícia para
conseguirmos fazer isso.
Jeff: — Obrigado. Assim que conseguir venha aqui para minha casa.
Ligação OFF
Assim que terminei de falar com Levi passei as mãos na minha cabeça,
eu estava completamente atordoado. Eu estava tão perto de falar tudo que eu
sentia por ela, explicar o meu lado sobre as questões mal resolvidas com a
Elizabeth; Toda a consideração que eu ainda tinha com Elizabeth era por
conta da história que tivemos, e eu sei que não fui um excelente namorado,
por isso fui tão pacífico até agora. O que aconteceu ontem na faculdade pode
ter sido a motivação para Charlotte ter ido embora, por conta disso, eu não
teria mais tolerância com ela.
Ela não apareceu, e toda vez que eu a chamava quase que de imediato ela
aparecia.
— JANET! — Eu gritei para ver se ela aparecia logo e também por conta
do meu estado de nervosismo.
Uma outra empregada apareceu com os olhos arregalados, muitos dos
empregados da casa me temiam e creio que por isso aquela funcionária
estava com seus olhos tão arregalados assim que a chamei. Ela ficou parada
na minha frente e não falou nada, mas tinha um papel em suas mãos.
Abri a carta de demissão e li, ela apenas agradeceu pelos anos em que a
família Staton confiou no trabalho dela, mas disse que optou por ir junto
com a Charlotte pois ela precisaria mais dela do que eu. Ela não deixou
nenhuma informação para onde estava indo, nem mesmo pediu pelo seu
pagamento referente ao tempo que esteve trabalhando conosco. Eu respirei
fundo pois estava muito nervoso com toda a situação, eu não acreditava que
Charlotte havia ido embora dessa maneira covarde. Eu não me conformava.
— Ao que tudo indica ela foi para San Diego, na Califórnia. — Levi me
respondeu olhando para mim tentando entender o que eu estava imaginando.
— Certo, ligue para o piloto do meu avião e se prepare que nós vamos
para San Diego, mais precisamente no aeroporto de San Diego para eu
conseguir acha-la. — Falei com bastante determinação.
Bem como eu ordenei Levi ligou para o piloto preparar o jato particular.
Enquanto ele organizava essa parte eu decidi ligar para Sam, o primo
confidente de Charlotte devia saber de alguma coisa.
Ligação ON
Sam: — Alô?
Pelo tom da voz de Sam eu presumi que ele estava escondendo algo, mas
eu não poderia provar.
Jeff: — Charlotte foi embora, e eu estou indo atrás dela, sei que ela foi
para San Diego, onde ela poderia estar lá?
Sam: — Eu não sabia disso, e não faço ideia do que ela faria em San
Diego. Você descobriu isso como?
Jeff: — Não interessa como descobri, sei que você está me escondendo
algo. Mas não adianta porque eu irei acha-la! — Eu disse em tom
ameaçador.
Ligação OFF
A viagem era muito longa, e a cada hora que se passava dentro daquele
avião mais agoniado eu ficava. Eu já tinha tentado ligar incansavelmente
para Charlotte, mas sempre dava fora de área, ou que o número não existia
mais. Claro que ela iria mudar de número para que eu não a encontrasse.
Depois de horas de viagem nós chegamos ao destino, eu tinha esperança que
o voo dela tivesse feito escalas ou conexões afim de que ele se atrasasse e eu
conseguisse encontrá-la.
Chamada de Vídeo ON
Cora: — Oi filho, que mal humor é esse? Onde você está? Fui na sua
casa e uma empregada disse que você não estava.
— Vim colocar juízo na sua cabeça. O que você pensa que está
fazendo? — Ele perguntou intrigado e foi entrando no quarto.
— Eu juro para mim mesmo, que vou te encontrar onde quer que você
esteja, meu amor. Pode demorar o tempo que for, mas nós nos
reencontraremos. — Eu falei enquanto segurava uma foto de Charlotte e
olhava para ela com meus olhos cheios de lágrimas.
O retorno
Narração - Charlotte Staton
Assim que cheguei em San Diego, Sam me ligou dizendo que Jeff
estava me procurando desesperado. Eu disse a ele para que não revelasse
onde eu estava. Diante dessa informação, optei por pegar um carro particular
para ir ao meu destino e descartar meu telefone no aeroporto mesmo, eu
deveria apagar todos meus rastros e eu era muito boa em fazer isso. Eu iria
ficar na antiga casa de praia dos meus pais, iria passar toda minha gestação
lá, na verdade eu passaria quanto tempo fosse necessário.
— Nossa, será que derrubei minha água? — Olhei para baixo, e depois
olhei para a mesa e vi que meu copo d'água estava intacto.
— JANET! — Eu gritei.
Olhei para ela com um sorriso e olhei para minhas pernas que estavam
molhadas, ao perceber ela ficou surpresa.
— Que lindo o nome, fez uma ótima escolha. — Ela deu um beijo na
minha testa.
O momento em que eu estava vivendo era tão sublime, que me senti mais
forte do que tudo, e jamais senti um amor tão forte como o que eu sentia
pelo Oscar. Nem dormi a noite olhando para ele porque eu não parava de
admira-lo, a todo momento eu me derretia enquanto velava o sono dele.
Se antes eu estava determinada a mudar meu jeito de ser, agora eu tinha
mais motivos ainda. Não ia deixar nada nem ninguém passar por cima de
mim, e eu estava mais que determinada a não deixar os Staton se
aproximarem do meu filho em hipótese alguma, nem mesmo Jeff.
Ligação ON
Charlotte: — Alô.
Stuart: — Eu sei que Sam tem contato com você e o forcei a me dar, já se
passaram cinco anos você já teve tempo o suficiente para fazer sei lá o que
você está fazendo. Eu estou doente, e comecei a distribuição dos meus
bens. Eu preciso que você venha.
Achei aquele papo super estranho, nesses cinco anos ele nunca havia me
procurado e agora de repente me procura para a partilha de bens? Muito
estranho. Meu avô não era o homem que sentia culpa pelos seus atos. Tenho
certeza que ele devia ter algum interesse oculto.
Charlotte: — Até.
Ligação OFF
— Oi, meu amor! — Eu falei enquanto aninhava ele nos meus braços e
dava vários beijos na bochecha dele.
— Nós iremos rápido, meu amor, não ficaremos muito lá, a mamãe
promete tá bom? Nós vamos visitar a cidade do tio Sam e da tia Vivian, olha
que legal!
— Você imagina qual seja o real motivo para Stuart solicitar minha
presença? — Perguntei com uma expressão desconfiada.
— Não sei ao certo, mas, nós sabemos que a Tec Solutions nesses cinco
anos de desenvolvimento superou os lucros da empresa do vô Stuart. E ele
sabe muito bem disso, talvez, por você ser uma acionista ele quer algo, não
sei... — Sam palpitou.
— Pode ser que meu avô queira a Tec Solutions. — Falei com
convicção.
— Eu sei, você tem um coração muito bom. Eu sei que meu coração
também é bom, mas o sofrimento fez com que ele se endurecesse. — Dei um
sorriso com o canto dos lábios enquanto olhei para o lado com um olhar
triste.
— Ele estava bem aqui, nesse exato segundo! — Sam falou com
preocupação.
— Sim, ele estava bem do meu lado! — Vivian falou com certo
desespero apontando para o lugar que Oscar estava.
— Ai, ai, ai! Esse menino tem uma energia que eu não consigo entender,
as vezes penso em amarra-lo a mim. Ele nunca foi em um aeroporto, é claro
que ele iria querer explorar! Eu devia ter ficado mais atenta. — Falei me
culpando e colocando a mão na minha cabeça por conta do desespero por ter
perdido meu filho.
— Calma, Char, isso é coisa de criança. Ele não deve ter ido muito
longe. Nós vamos nos separar e vamos encontrar ele, fique tranquila! —
Sam falou ao tentar me confortar.
Oscar estava sentado junto com Jeff, eu senti um frio na minha barriga e
me assustei. Pelo que vi Oscar derrubou algo nele pois ele estava limpando
sua camisa. Por sorte, Jeff não se demorou muito ali naquele lugar, levantou
e foi embora. Meu coração estava disparado ao ver Jeff, pensei que tudo
estava adormecido por ele, mas me enganei. Era uma coincidência
extremamente infeliz ter encontrado nele assim que pisei em New York.
— Não conversamos muito, mas eu não gosto do Jeff. — Assim que ele
falou arregalei meus olhos, Vivian e Sam também.
— Por que você não gosta dele? Você sabe quem ele é? — Perguntei
bastante apreensiva.
Fiquei aliviada ao ouvir a resposta do meu filho e o repreendi por ele ter
fugido de mim. Ele me abraçou e se desculpou dizendo que não faria mais
aquilo. Olhei Jeff indo em direção ao portão de embarque e respirei mais
tranquila, pois eu não queria que ele soubesse de forma alguma que Oscar
era filho dele.
∞∞∞
Cinco anos... Esse era o tempo que eu estava perdido. Eu não vivia,
apenas tinha uma sobrevida regada de esperanças em encontrar a mulher que
eu amava. Por esse motivo eu só trabalhava, a Tec Solutions era mais que
próspera, tanto que ela atraía investidores de todos os lugares do mundo
graças ao grande projeto desenvolvido por Charlotte. O trabalho era a única
coisa que conseguia fazer com que eu tivesse algum motivo para me
levantar, já que todas as vezes em que eu pensava que iria encontrar minha
esposa, eu me frustrava porque ela continuava desaparecida como se nunca
tivesse existido. Eu tinha uma importante reunião em Seattle, meu jato
estava em manutenção então precisei pegar um voo comercial.
— Oi, tudo bem? — Falei com ele olhando para os lados procurando os
pais dele.
Claro que foi. Que garoto mal criado, nunca me viu e faz isso.
Claramente não gostou de mim gratuitamente. Balancei a cabeça
negativamente para ele enquanto me limpava, franzi minha testa pela raiva,
me levantei da cadeira e fui em direção ao meu portão de embarque
deixando aquele pestinha lá. A sorte é que eu tinha levado uma roupa e
poderia trocar antes da reunião.
∞∞∞
Narração - Oscar Hills
Meu papai já tinha feito a mamãe sofrer, eu não sabia muito bem porque,
mas eu a ouvi falando sobre isso também, enquanto espionava ela
conversando com a tia Janet. Fui até ele, e ele falou comigo, eu disse meu
nome e derrubei café nele de propósito. Ele ficou bravo, mas não me
importei. Isso era por ele ter feito minha mamãe sofrer! Ele saiu de perto
com raiva e eu fiquei rindo, logo em seguida minha mamãe chegou e eu pedi
desculpa a ela por ter fugido.
Uma nova mulher
Narração - Charlotte Staton
Nesses cinco anos que passaram, eu ainda olhava muito a nossa foto
juntos em nosso casamento e chorava às escondidas. Não chorava
exatamente por ele, pelo menos era o que eu pensava, eu lamentava por
termos no casado a força um com outro e não termos tido a oportunidade de
viver um casamento por amor, como sempre sonhei. Me arrependi por
algumas vezes por não ter falado com todas as letras para ele quem eu era na
verdade, aquela menina desengonçada que ele conheceu na escola. Mas,
depois, eu racionalizava e entendia o porquê eu não poderia falar quem eu
realmente era.
Jeff era um fantoche na mão da família dele, e o que a família dele falava
para ele fazer, ele fazia sem ter se quer a coragem de questionar, por mais
que não concordasse. Ele sabia da maldade deles, das coisas absurdas que
eles faziam e era omisso quanto a isso, e por vezes eu sofri por conta da
omissão dele, então isso me confortava e eu sabia que tinha tomado a
decisão certa.
Esse motivo me fazia crer que era inútil eu revelar quem eu era
verdadeiramente, porque se a família ordenasse algo, ele o faria por mais que
soubesse que eu não era uma completa estranha, pois ele deu a entender que
tinha algum tipo de afeição pela menina que conheceu na escola, que no caso
era eu. Não duvido que talvez ele estivesse casado com Elizabeth e os dois
estivessem felizes com o filho deles, por mais que Vivian tentou mencionar
algumas vezes que achava que eles não estavam juntos. Só de pensar em Jeff
com Elizabeth eu sentia muito ciúme, e ao mesmo tempo experimentava a
dor de saber que meu filho estava sendo privado do amor de pai.
Eu não achava justo o Oscar não ter tido acesso ao pai dele no decorrer
desses 5 anos, ele perguntava e eu dizia que o pai dele precisou viajar assim
que ele nasceu. Sei que era uma justificativa fraca, mas ele parecia ter
aceitado, até mesmo por ser muito pequeno ainda. Pois ele raramente me
perguntava a respeito do pai. Pensei por muitas vezes em contar ao Jeff que
ele tinha um filho, mas pensando friamente eu sempre desistia por conta da
família e do filho que ele tinha com Elizabeth. Por muitas vezes eu também
senti culpa, mas, eu fiz o que julguei ser melhor para meu filho. Eu estava no
meu quarto desfazendo minhas malas, e então recebi uma mensagem do meu
avô.
Mensagem ON
Charlotte: — Ok.
Mensagem OFF
Respirei fundo, eu não estava pronta para ir vê-lo, mas não havia o que
fazer. Eu só iria terminar de desfazer minhas malas e iria conversar com ele.
— Claro, primo, entre. — Falei para ele me virando de frente para porta.
— O Oscar dormiu. Meu Deus, aquele menino tem uma energia que são
poucos os que conseguem acompanhar. A pobre da Janet parece estar até
mais magra desde a última vez que eu a vi. — Ele deu uma risada.
— É... Assim fica difícil, mas bom que ela tem amor de sobra e se ela
quer continuar a cuidar dele, melhor ainda, porque você confia plenamente
nela.
— Oscar se referiu ao Jeff com uma raiva tão grande que aparentava até
que ele o conhecia antes daquele episódio, e até mesmo sabia o que ele já
havia feito algo de ruim para você. — Sam falava ainda chocado pela
situação que havia ocorrido no aeroporto.
— Bom, pelo que Vivian comentou, ele tinha uma reunião com
investidores em Seattle, coisa rápida. Por isso ele optou por viajar de avião
comercial, porque parece que o jato ia demorar, pois, estava em
manutenção. — Sam me explicou.
— Eu vou ter que ir, vovô marcou uma de suas festas. — Sam deu um
suspiro e passou a mão no rosto.
— Festa?
— É, não sei com qual objetivo, mas todos vão estar lá, inclusive a
família do seu marido. — Sam falou para mim.
Eu não sei porque Sammy sempre insistia em falar que Jeff ainda era
meu marido, isso me irritava profundamente. Ele apenas olhou para o lado
desviando o seu olhar do meu e deu um sorriso amarelo. Eu me sentei na
cama, coloquei um braço na minha barriga, apoiei o cotovelo em cima dele e
fiz uma expressão de quem acabou de ter uma ideia.
— Meu avô disse que estava me esperando para conversar comigo, deve
ser por isso que ele tinha pressa. Por ter esse compromisso a noite. Mas, vou
surpreender a todos, aparecerei na festa. — Mantive meu sorriso.
Sam olhou para mim com surpresa erguendo suas duas sobrancelhas.
— Você tem certeza disso? Acha que é algo que fará bem para você?
— Estou mais certa que nunca, e me fará bem sim, eu quero encarar
todos aqueles que me fizeram tanto mal e mostrar a eles que eu não sou
aquela jovem moça inocente que aceitava tudo que todos faziam comigo. —
Falei para ele com rancor.
— Se você se sente preparada para isso, e acha que não vai te causar
danos, nada mais justo que você faça isso. Mas você sabe bem as cobras
peçonhentas que estarão lá, e eu temo que isso possa tirar sua paz. — Sam
me alertou.
Ele tinha muito medo que eu me ferisse novamente, durante esse tempo
que se passou, ele viu como foi difícil para que eu superasse todos os abusos
e humilhações que sofri, mas ele ficou muito feliz por ver que eu havia
renascido como uma fênix. Acho que esse foi o prazo justo que eu precisava,
nem mais, nem menos, e já que eu estava de volta e acreditava que havia
algum propósito nisso, nada melhor do que encarar meus inimigos de cabeça
erguida.
— Está certo, nós nos veremos lá. — Ele falou, veio até mim e me deu
um beijo na testa.
— Tá bom, nós nos veremos lá. Não vejo a hora! — Dei um sorriso
largo.
— Acho que eu tenho algo que ficará ótimo em você, além de valorizar
seu corpo ele permitirá que a beleza do seu rosto seja destacada também,
sendo assim não irá roubar toda a cena. — A vendedora me explicou
enquanto andávamos para um lugar mais exclusivo da loja.
— A mamãe vai sozinha, é uma festa chata de gente adulta. — Falei para
ele fazendo uma expressão de tédio.
— Que bom que eu não vou, vou ficar com a tia Janet assistindo o
relâmpago McQueen.
— Nossa, a mamãe queria muito assistir! — Falei para ele não sentir
como se ele fosse ficar fazendo algo ruim.
— Depois você assiste mamãe, você tem que ir pra festa chata. — Ele
deu uma risada gostosa ao falar.
Ele fez um coque em mim, eu optei por um coque mais cheio envolto por
uma trança, com um leve topete na parte da franja. Deu um ar de elegância a
mais. Na maquiagem ele ousou no batom, escolhendo a cor vermelha e
deixou meus olhos bem marcados com sombra preta e marrom. Eu me olhei
no espelho e amei o que vi. Assim que o cabeleireiro saiu, coloquei meu
vestido e calcei meu louboutin na cor preta para combinar com o vestido.
Chamei um táxi e fui até a casa do meu avô onde ele estava dando a festa
dele. Ao chegar, toquei a campainha e a empregada abriu a porta para mim,
andei lentamente até a sala de convivência onde todos estavam reunidos. E
assim que parei na entrada, todos os olhares se voltaram para mim.
Imediatamente ouvi uns burburinhos.
— Essa é a Charlotte? Aquela garota sem sal? Como ela se tornou esse
mulherão? — Eles cochichavam.
Eu dei um sorriso imponente e falei alto.
— Queria fazer uma surpresa, querido avô. — Forcei um sorriso para ele
e o olhei com arrogância. Em seguida saí de perto dele e fui até Sam.
Eu não era a menina fraca que ele estava acostumado a lidar. Eu havia
me tornado uma mulher forte e determinada. Iria mostrar para ele nesse
instante a mulher que eu me tornei.
— Você o quê, Stuart? Vai dizer que irá depredar o túmulo dos meus
pais, caso eu não assine esse contrato, como fez há cinco anos para me forçar
a casar com Jeff Staton? Ou vai me deixar passar fome e sede como também
fez? — Eu falei alto para que todos ouvissem o que ele havia feito comigo.
Assim que falei isso vi que Jeff entrou no ambiente e parecia chocado ao
escutar o que eu disse, e mais chocado ainda por me ver ali parada na frente
dele. Ele não conseguia tirar os olhos de mim, nós dois ficamos nos
encarando por um tempo, mas eu mantive minha postura. Ele estava lindo,
havia deixado a barba crescer, o que trouxe maior maturidade para seu
semblante além de deixa-lo extremamente charmoso. Os anos fizeram muito
bem para ele, pois ele estava irresistível.
Ardilosa
Narração - Charlotte Staton
Jeff pareceu ficar sem reação enquanto me via. Apesar do que eu falei
para meu avô ser um assunto bem sério, ele deixou um sorriso escapar em
seus lábios. Ele me olhava dos pés à cabeça por repetidas vezes, depois, ele
se aproximou de mim e disse:
— Charlotte, eu não acredito que você está aqui. Você não mudou nada,
está exatamente como há cinco anos! Na verdade, você está mais linda, e
parece bem mais confiante.
— Quem você pensa que é para falar desse jeito comigo sua garota
atrevida? — Meu avô falou com raiva.
— Para começar, eu não sou mais uma garota. Eu sou uma mulher, que
graças a Deus nunca precisou de você, na verdade sempre foi o contrário,
mas você me fez achar que eu precisava de você através das suas
manipulações.
— Certo. Então não vai ser um problema eu expor todo o seu plano
nojento diante de todos que estão aqui nesse momento para que eles julguem
quem precisava mais do outro, ou vai? — Eu o encarava com muita fúria por
ele ainda estar tentando me manipular.
— Ah, vai me dizer que você não sabe? — Falei de maneira cínica ao
olhar para Jeff por um breve momento e ele parecia não entender o que eu
falava.
— Ah não? Já que você está pagando para ver, vamos lá. Há 5 anos meu
avô me trancafiou em um quarto durante dias sem comer, e sem beber, para
me forçar a casar com você, Jeff. — O olhei novamente já que havia
desviado meu olhar. Ele parecia espantado ao me ouvir, então continuei a
falar:
Jeff parecia chocado com tudo que eu havia acabado de falar, porém,
Cora mantinha seu semblante inexpressivo, como se o que eu estava falando
não fosse novidade nenhuma para ela.
Meu avô apenas olhou para Jeff e suspirou, não respondeu à pergunta
dele, mas deu a entender que era verdade deixando Jeff completamente em
choque diante daquela informação. Talvez agora meu ex-marido finalmente
acreditaria em tudo que eu tanto falava para ele enquanto estávamos casados.
Acreditaria em todo meu sofrimento, e coisas que fui submetida mesmo não
querendo. Como eu já havia exposto meu avô para todos, ele perdeu
qualquer pudor que pudesse ter e disse:
Eu dei uma breve risada e isso deixou não somente meu vô, mas todos os
que estavam presentes confusos com minha atitude.
— Não, para seu azar não estou. E carrego sempre uma prova desse
documento em meu telefone, afinal, eu sabia que um dia você poderia tentar
me ameaçar com isso novamente. — Tirei meu celular da bolsa, procurei
pelo arquivo e mostrei para ele.
Ele apertou seus olhos para ler o que o arquivo dizia e concluiu que eu
não estava mentindo sobre o que havia acabado de dizer para ele.
— Eu não acredito que você fez isso! Como teve coragem!? — Ele
estava cada vez mais nervoso, então, Cora veio para perto dele para ampara-
lo.
Por conta de tudo que meu avô fez comigo, e por tudo que ele me fez
passar mesmo que de forma indireta, eu não conseguia sentir o mínimo de
empatia por ele.
— Eu tive a mesma coragem que você teve de sujeitar sua própria neta a
passar por várias atrocidades. Depois que eu descobri o que você fez antes
de passar pela hipnose, que me ameaçou com o túmulo dos meus pais, eu
procurei incansavelmente um jeito de conseguir me tornar proprietária do
cemitério da família. Claro que eu tentei todos os meios legais para isso, mas
não consegui, até que há alguns meses tentei fazer do meu jeito e usei minha
inteligência, a qual você nunca deu credibilidade, a meu favor.
— Como você conseguiu isso!? Fale de uma vez por todas! — Ele
insistia.
A verdade era que meu tio Jacob tinha sérios problemas com vícios. Ele
gastava todo o dinheiro da família com mulheres, festas, bebidas, e mais. Era
um verdadeiro moleque que nunca adquiriu responsabilidades verdadeiras,
sempre dando trabalho para meu avô. Sendo assim, ele ficou completamente
arruinado, e eu como hacker, nunca deixei de vigiar os passos dos meus
parentes nesses 5 anos, procurando uma brecha para conseguir o terreno do
cemitério da família para que meu avô nunca mais pudesse usar ele contra
mim.
O único, além deles, que soube da verdade depois do que revelei nesse
momento era o tio Jacob, mas ele jamais iria revelar para ninguém e expor
que ele perdeu as terras do cemitério da família para mim porque era um
descontrolado com apostas. Por esse motivo ele preferiu sair do ambiente.
Meu avô me olhou com fúria, e mesmo passando mal, ele uniu o pouco
de forças que ele ainda tinha para apontar o dedo da mão, que não estava em
seu peito, para mim e disse:
— Isso... Não vai... Ficar assim... — Ele falou com a voz falhada e ainda
ofegante, e por fim, desmaiou.
— Sua vagabunda, olha só o que você fez com meu pai! Você devia ter
assinado o que ele mandou, a saúde dele está frágil e ele não suporta
emoções assim! — Ele falava entre os dentes devido a raiva que estava
sentindo de mim. Ele cerrou seus punhos e chegou a pegar impulso para me
bater.
Meu reflexo foi colocar as mãos na frente do meu rosto, virar para o
lado, e me abaixar um pouco. Porém, ouvi uma voz forte dizer:
Por não esperar ver Jeff na festa, e ainda mais vendo ele tomar aquela
atitude para me defender, meu coração estava muito disparado. Fiquei
olhando para ele por mais algum tempo enquanto ele segurava meus braços,
e então me afastei fazendo com que ele tirasse as mãos de mim, eu precisava
voltar a mim mesma, e com o toque do Jeff no meu corpo isso era
praticamente impossível. Depois de voltar ao meu estado normal, o respondi:
Eu não queria que Jeff soubesse que eu ainda sentia algo por ele de
forma alguma. Era horrível ter que lidar com esses sentimentos que
teimavam em existir dentro do meu coração, mais difícil ainda seria ter que
lidar com Jeff tendo a certeza do meu amor por ele, e por conta disso querer
me humilhar.
— O seu tio ia bater em você, eu não poderia permitir que ele fizesse
isso. E mesmo que você não queira, eu vou te defender de tudo e todos que
queiram te fazer mal — Ele falou com bastante firmeza.
— Acho que você está alguns anos atrasado para fazer isso, não acha? —
Dei uma risada com bastante deboche.
Ao ouvir o que eu disse e o desdém que eu estava tendo ao falar com ele,
ele pareceu desapontado. Era estranho ver ele com a guarda tão baixa diante
de mim, sem aquela postura arrogante e soberba que ele tinha antigamente,
que fazia com que eu me sentisse a pior pessoa do mundo. E no aeroporto,
quando eu o vi eu pensei que ele não havia mudado, porque até mesmo a
forma dele se movimentar com aquela pequena mala pelo saguão
transparecia que ele se achava melhor que qualquer um que pudesse se estar
ali.
Ele mantinha sua cabeça levemente inclinada para baixo, então, eu disse
cheia de cinismo:
— E por que você não veio falar comigo? Estava tentando me evitar?
Acho que temos muitas coisas para esclarecer, tais como: O porquê você me
abandonou, o porquê você me pediu o divórcio... Nós somos marido e
mulher, você não pode simplesmente decidir as coisas e ir embora da
maneira que foi! — Ele falou, mas não parecia bravo.
Pelo contrário, Jeff parecia tão animado por me ver que não estava
importando nem ao menos com a maneira rude que eu estava o tratando.
Mas eu não me conformava dele ficar sustentando essas mentiras querendo
dizer que eu quem pedi o divórcio sendo que foi a mãe dele quem me
entregou, e com certeza a mando dele. Além disso ele ainda sustentava a
ideia que nós éramos casados, então, eu disse:
— Você está sendo injusta! Nesses anos que se passaram eu não medi
esforços para procura-la. Mas todos foram em vão. E eu não estou mentindo,
nós somos sim casados! — Quando ele falou isso, ele conseguiu chamar
minha atenção.
∞∞∞
Narração - Jeff Staton
Eu senti falta dela dia após dia, e ficava cada vez mais irritado com as
investidas que Elizabeth dava para que nós pudéssemos reatar nosso
relacionamento, e o pior é que minha mãe dava apoio a ela para que ela
continuasse a fazer isso, e esse apoio afetou bastante meu relacionamento
com minha própria mãe. Durante os anos que se passaram, Levi abriu um
pouco meus olhos em relação as coisas que minha mãe costumava fazer para
me manipular, e por muitas vezes passaram despercebidas por mim.
Deduzi que ela poderia ser uma das responsáveis que motivou Charlotte
a ir embora, e isso me afastou mais ainda dela. Eu tinha percebido que
Charlotte era meu grande amor, e eu não iria medir esforços para conquista-
la, mesmo que isso custasse meu orgulho e meu ego. Enquanto eu e
Charlotte conversávamos, a ambulância que pediram para socorrer Stuart
havia chegado, e o avô dela saiu na maca, para ser hospitalizado. Diante
disso eu vi uma grande oportunidade, mas para executa-la eu precisava fazer
longe da Charlotte, porque eu precisaria fazer uma ligação para o advogado
do avô dela, e infelizmente somente agora eu tinha conseguido chamar a
atenção dela. Sendo assim, eu não poderia perder a chance de continuar a
falar com ela. Eu iria explicar para ela um pouco sobre o que eu fiz sobre as
ações afim de chamar a atenção dela para que ela voltasse, e depois, iria ligar
para o advogado do Stuart.
Eu tinha feito isso para, além de tentar atraí-la para voltar, jurei para mim
mesmo que a ajudaria a se vingar por todo mal que o avô lhe causou, e eu
nem sabia da história toda até hoje. Charlotte me olhou surpresa após ouvir
tudo que eu falei para ela.
— Eu não consigo acreditar que você fez tudo isso para me atrair de
volta. — Minha esposa falou de maneira desconfiada, mas, aparentou estar
prestes a ceder e me ouvir mais.
Pelo visto todos meus esforços para tentar convencê-la que tudo que eu
estava fazendo era para o próprio bem dela, eram inúteis. Ela não via que eu
desejava que ela percebesse que meus sentimentos eram verdadeiros. Eu
tinha mais coisas para falar para ela, mas, infelizmente nossa conversa foi
interrompida por Elizabeth, ela se aproximou de mim querendo pegar no
meu braço e disse:
∞∞∞
Pelo que Jeff falou, ele havia feito muitas coisas por mim, e também para
conseguir chamar minha atenção na intenção que eu voltasse, e por mais que
eu estava desconfiada que ele fez tudo isso somente para ter eu de volta, sem
ter nenhum interesse próprio, eu estava disposta a ouvi-lo mais, porém,
Elizabeth chegou e o puxou pelo braço, e como se isso não bastasse o
chamou de querido. Isso claramente demonstrava a intimidade que existia
entre os dois. Eu não esperei para ver o desenrolar da história e optei por sair
de perto.
Cora ficou com raiva e apertou seus lábios um contra o outro. Porém
quando ela ia falar algo, Jeff novamente apareceu, e ela teve que fingir que
estava tendo uma conversa tranquila comigo. Logo atrás de Jeff, parecendo
um cachorrinho perdido, estava Elizabeth. Acho que ela estava morrendo de
medo que eu tomasse o Jeff dela, e eu iria me divertir com isso. Por mais que
essa não fosse minha intenção eu iria agir como se fosse, puramente para
irritar ela e Cora, duas pessoas que tanto me fizeram mal.
Planos falhos
Narração - Elizabeth McBride
Percebi até mesmo que Jeff estava afastado da mãe dele por conta da
insistência dela para que ele ficasse comigo. Então, nós sempre estávamos
juntas e bolando alguns planos para que nós conseguíssemos fazer com que
ele tivesse a atenção voltada para mim. Em todas as festas de família eu
estava, arrumava pretextos para ir até a empresa dele para vê-lo, mas como
sempre, era ignorada. Porém, eu não perdia a vontade de ter ele de volta, e
nem que eu o vencesse pelo cansaço ele seria meu.
Ao ver que a Charlotte veio para a festa do avô dela eu fiquei irada,
fiquei mais nervosa ainda quando Jeff chegou e pareceu ter virado um
verdadeiro cachorro atrás dela. Na mesma hora que a viu, Cora falou para
mim:
— Você precisa atrapalhar esses dois, eles não podem ficar juntos, o Jeff
chegará em breve, ele precisa estar distraído e não ficar concentrado nessa
mulher. — Brandon estava perto e ouviu a orientação que Cora havia me
dado.
— Não, nenhum, quem tá com problema é você. Quero até assistir como
você vai fazer Jeff não ficar focado nesse espetáculo de mulher que a
Charlotte se tornou. — Ele deu mais uma risada maldosa e saiu de perto.
Fiquei com raiva por ele se referir a aquela sem sal daquela forma. Após
a confusão toda com o avô da Charlotte, Cora e eu ficamos para auxiliar até
que Stuart fosse removido pelos paramédicos para ir para o hospital, e um
pouco antes disso, Jeff já havia chegado e até defendeu a Charlotte ao achar
que ela seria agredida pelo tio. Stuart e Cora se tornaram amigos bem
íntimos porque eles tinham o interesse em comum de que Charlotte jamais
levasse vantagem. Assim que ele saiu para o hospital, Jeff estava
conversando com Charlotte. Cora olhou aquilo e ficou até vermelha de raiva,
então me orientou:
— Com certeza, até mesmo porque acho que Charlotte ficaria com
remorso, não é mesmo? Afinal foi você quem disse para ele que ele não
poderia ser enterrado no cemitério da família. — Olhei para ela e depois para
Jeff ao terminar de falar. Eu queria lembrar ele, que ele deveria ficar longe
da Charlotte, pois, se ela era capaz de conspirar contra o próprio avô era
capaz de fazer qualquer coisa.
— Eu não concordo, Stuart está com a saúde frágil, então qualquer coisa
pode ser motivo para deixa-lo assim. Charlotte não deveria se sentir culpada
se algo acontecesse. — Ele sorriu para Charlotte que também deu um sorriso
para ele.
Aquilo me deixou irada, e pelo visto Cora também ficou muito nervosa
também pois virou o restante de sua bebida em um gole só. Antes que eu
pudesse falar alguma coisa, Wilson, o dono da M&W Technology apareceu,
até deixei meu corpo mais ereto para aparecer para ele porque ele era um dos
homens mais importantes do país. Ele cumprimentou todos de maneira
cordial, entretanto, ele parecia ter bastante intimidade com Charlotte e aquilo
pareceu ter perturbado Jeff.
— Bom, acho que eu já vou indo, amanhã tenho um dia cheio com várias
coisas para serem resolvidas. Muito obrigada pela recepção incrível, como
sempre. — Charlotte falou com bastante cinismo para mim e para Cora.
Jeff pareceu ter ficado furioso com aquela situação, mas, felizmente
aquela mulher havia ido embora e eu estava pronta para consola-lo.
— Filho... — Cora falou, mas ele a ignorou totalmente bem como havia
feito comigo.
Que raiva! Mesmo essa mulher saindo com outro ele ainda a queria.
Depois de um tempo ele ainda não havia voltado e então eu decidi que iria
atrás dele.
∞∞∞
Narração - Charlotte Staton
— É, foi uma decisão radical, mas foi necessária para melhorar minha
vida. — Eu falei e dei um suspiro.
Wilson era casado, e muito bem casado há vários anos, então ele
realmente tinha apenas curiosidade em saber sobre meu status de
relacionamento com Jeff. Para ele foi uma grande surpresa descobrir que eu
havia ido ele me enviou um e-mail perguntando o motivo da minha ida, e
então, revelei para ele que eu era esposa do Jeff.
— Agora você tem que tomar cuidado. Como você é dona da empresa
Times Technologies, e ela está prosperando muito, você atrairá muitos
pretendentes que na verdade não passam de vigaristas que terão interesse na
sua empresa. — Ele deu um sorriso vitorioso.
— Ela sabe que você é confiável, por isso deve ter deixado escapar, eu
sempre comento a respeito da sua honestidade e de como você me ajudou.
Mas por enquanto não quero que saibam que a Times é minha, quero que
achem que ela é do Sr. Charlie.
— Eu também, tem um táxi bem ali e preciso retornar para casa logo,
pois estou cansada. — Expliquei.
— Tudo bem, fique bem, espero te ver mais vezes, inclusive há uma
reunião com investidores, caso você queira se revelar como dona da Times
creio que terá muito sucesso. — Ele sorriu satisfeito ao falar.
∞∞∞
— Não seja falsa! Você quem quis me deixar, você deveria pensar
melhor agora que está lamentando ter me perdido definitivamente, nas
decisões que tomou ao ir embora, para que não as repita com outra pessoa.
Ou você acha que eu não sei que você foi embora com sua conta bancária
bem gorda graças a minha mãe? — Olhei para ela com desprezo e ela
pareceu ficar em pânico após ouvir as minhas palavras.
— Eu não sei o que você está falando. — Ela tentou se fazer de vítima.
Fui para meu quarto, tirei meu vestido e coloquei minha roupa de dormir.
Lavei meu rosto para tirar minha maquiagem, deixei o cabelo do jeito que
estava por conta do cansaço, peguei alguns cremes para hidratar minha pele
antes de dormir, e enquanto fazia isso fiquei pensando em como o Jeff agiu
essa noite. Ele parecia um novo homem, e demonstrava o tempo inteiro fazer
questão de me agradar e cuidar de mim. Mas eu não me convencia com essa
história, porque eu acho que com certeza havia segundas intenções por parte
dele.
Um verdadeiro filme se passou pela minha cabeça do que havia
acontecido na festa. Cora e Elizabeth, pareciam mais obstinadas do que há
cinco anos, elas demonstravam estar desesperadas. O que eu julguei ser bem
estranho, afinal, elas tiveram o Jeff para elas nesses cinco anos, e quando fui
embora Elizabeth estava grávida, a não ser que tivesse acontecido algo com
ela nesse meio tempo, e ela perdeu o bebê. Era melhor não me preocupar
com isso, minha história com Jeff já havia acabado, não valia a pena eu
continuar insistindo nisso.
— Bom dia, mamãe! — Ele falou animado como sempre falava para
mim quando me via.
Em seguida dei um beijo na testa dele e acariciei seus cabelos com meus
dedos.
— Bom dia! Não se preocupe, você fez bem, eu não conseguiria dormir
de novo se tivesse me acordado, e o sofá é bem confortável, eu dormi super
bem não se preocupe. — Ela deu um sorriso para mim.
— Tio Sam! Tia Vivian! — Oscar falou animado e pulou da cadeira para
ir abraçar Sam e Vivian.
Eu sorri ao ver a cena. Oscar era muito apegado em Sam, desde bebê, e
Sam nunca deixou de ser presente na vida dele.
— Que coisa boa vocês aqui, sentem para comer. — Eu falei para os
dois.
— Que bom, fico mais aliviado. Ele está bem, apenas segue internado
para ser observado. Tem planos pra hoje?
— Para mim seria uma honra levar ele, Char, se você não se importar. —
Ela tinha um sorriso orgulhoso ao terminar de falar.
Fiquei pensando um pouco, pois lá era o lugar onde Jeff com certeza
estaria, e eu temia que ele e Oscar pudessem se encontrar novamente. Ao ver
que eu estava pensativa, Vivian me conhecia bem, e então disse:
— Pode ficar tranquila que eu cuidarei dele para que possíveis incidentes
não aconteçam.
— Você tem certeza? Você sabe como o Oscar é... Abençoado, né? —
Olhei para ele como se o censurasse com o olhar, e ele ao perceber que não
era de verdade deu uma risada gostosa e todos nós rimos também.
— Sei, e como sei! Mas fique tranquila, vez ou outra as pessoas levam os
filhos, e até mesmo os sobrinhos para a empresa. Lá temos essa flexibilidade
e temos espaços específicos para crianças. — Ela reforçou.
— Sendo assim, tudo bem. — Assim que eu permiti que Oscar fosse ele
comemorou.
Nós nos despedimos, e então ele foi com Vivian e Sam. Sam sempre
deixava Vivian no trabalho e depois ia para o seu, eles eram muito unidos e
tinham um relacionamento bem leve. Era admirável. Não estava na hora da
minha reunião com os investidores da Times, por esse motivo eu aproveitei
para adiantar algumas coisas do novo projeto que eu estava desenvolvendo
antes de ir.
∞∞∞
Narração - Oscar Hills
— Estamos entendidos, Oscar? — Tia Vivian fez aquela cara que ela
fazia sempre quando queria chamar minha atenção, mas ela não conseguia
resistir muito tempo.
Porque bastava eu olhar para ela e fazer um biquinho que ela apertava
minhas bochechas e dizia que eu a desmontava daquele jeito. Mas dessa vez
eu não fiz porque senão ela ia ficar me vigiando muito, e eu não ia conseguir
sair para explorar a empresa. Coloquei meu braço para trás, cruzei meus
dedos, dei um sorriso e disse:
— Tá bom, tia Vivian. Eu prometo que vou me comportar e não vou sair
do espaço kids. — Ela deu um sorriso satisfeito porque achou que havia
adiantado o que ela combinou comigo.
A gente subiu pelo elevador e ela me deixou no espaço kids, que era bem
perto da sala que ela ficava. Lá tinha uma monitora que era feliz demais para
o meu gosto, além de se vestir parecendo uma palhaça. Eu fiquei no canto
emburrado, de braços cruzados pensando em uma maneira que eu poderia
achar para sair dali. Comecei a andar pelo espaço, que era bem grande, para
ver se tinha alguma saída. Ao lado da estante de livros havia uma saída de ar,
abaixei e olhei por dentro. Quando tentei puxar, vi que a portinha estava
solta, então dava para eu entrar dentro do tubo.
Eu entrei no tubo, e percebi que ele não era muito longo, e tinha uma
curva para a direita, assim que virei, a saída já estava lá. Por sorte o trinco
dele era por dentro, senão eu teria que voltar para trás, abri ele e saí no
corredor. Passei a mão na minha roupa tirando a poeira e comecei a andar
pelo corredor. Enquanto eu andava, observava tudo a minha volta. Até que vi
uma porta de vidro fosco grande, não dava para ver lá dentro. Olhei para
cima e vi o nome "Jeff". Lá devia ser o escritório do Jeff malvado. Encostei
minha mão na porta e abri devagar, quando vi que não tinha ninguém lá
dentro. Terminei de abrir e entrei.
— Ai, seu moleque! Presta atenção por onde você anda! — Ela falou
brava e eu fiquei assustado.
— Ela é, mas não liga para ela, tá bom? Por que você não ficou na área
kids? O que a gente combinou? — Ela me perguntou bem triste.
— Desculpa, titia. Eu queria ver como era aqui fora, sei que não deveria
ter feito isso, mas eu não queria ficar lá na área kids. — Eu fiz a cara que
sempre fazia para ela não brigar comigo e funcionou.
— Ai, ai, ai Oscar, bem que sua mãe me avisou que você é abençoado,
né? —Ela deu um sorriso e beijou minha bochecha. — Vou ficar com você
na minha sala, tá bom?
— Acho que isso não é assunto seu. — O homem que se chamava Levi
falou.
Ela ficou com tanta raiva que saiu. O homem começou a rir da situação e
me perguntou:
— Não, nem um pouco, ela é uma bruxa malvada por isso eu não gosto
dela. — Falei para ele.
— Não, eu vim com minha tia Vivian. — Eu falei sorrindo para ele. —
Qual seu nome mesmo? — Perguntei para ele porque já tinha esquecido.
— Que bonito o seu nome, Oscar. A sua tia Vivian sabe que você está
aqui?
— Na verdade não, ela foi até o banheiro e eu aproveitei para andar por
aqui. — Dei uma risadinha.
— Hum... Acho que ela vai ficar brava por você estar aqui, não vai?
— Você é uma figura garoto! Vamos, eu vou te levar até a sala da sua
tia. — Levi falou e pegou na minha mão.
Porém, falei para ele que eu não iria me revelar porque iria como a
representante do senhor Charlie, ele concordou, mas disse que havia falado
com os investidores que o próprio senhor Charlie iria pessoalmente para que
eles ficassem mais empolgados e realmente comparecessem. Fiquei um
pouco incomodada com isso, mas não me opus, eu sabia como esse mundo
corporativo era machista e não poderia arriscar perder negócios só por conta
disso, pois, ter investidores agora na minha empresa seria muito interessante
financeiramente para mim.
Me despedi dela e caminhei até a porta, eu pedi um táxi para poder ir até
lá. Minha empresa era tão próspera, que demorou apenas cinco anos para
decolar no mercado e se tornar tão rentável que tinha um capital
multimilionário. Por esse motivo ela estava sendo muito visada. Eu estava
satisfeita, porque eu estava conquistando tudo aquilo que eu sempre sonhei.
Se me falassem há alguns anos que eu conseguiria tudo isso que eu tenho
hoje, eu não acreditaria. Pois, sendo humilhada como eu era, e refém daquele
maldito contrato, eu não tinha expectativas.
Eu acho que essa gravidez veio na verdade para me salvar. Porque talvez
se eu não engravidasse, eu não conseguiria unir forças o suficiente para me
mover e sair daquela vida horrível que eu levava. Eu estava com um sorriso
satisfeito observando a paisagem durante o caminho, eu me preparava para o
discurso para os investidores, e eu mudaria meu nome se não conseguisse
convencer ao menos cinco pessoas a investir na minha empresa.
A voz parecia estar um pouco distante, e por conta disso eu parei por um
momento e procurei quem pudesse estar me chamando. Ao ver quem era, eu
não podia acreditar, era o Jeff! Não era possível que ele estava me
perseguindo para tentar conversar comigo a todo custo. Eu não queria falar
com ele. Ele tinha um sorriso no rosto e parecia muito satisfeito por estar me
vendo, mas eu estava determinada a não falar com ele, portanto, comecei a
andar em direção ao interior da empresa em passos apressados.
Eu fiquei olhando para trás e vi que assim que ele percebeu que eu o
ignorei, e entrei na empresa, ele começou a correr atrás de mim. Eu dei uma
breve corridinha para pegar o elevador. E assim que entrei apertei o botão
repetidas vezes para sair daquele lugar logo afim de me ver livre do Jeff. Ele
ainda se aproximou, e teve uma tentativa frustrada de entrar pelo elevador.
Nós nos encaramos por um curto momento enquanto a porta do elevador se
fechava, e ele falou:
∞∞∞
— Você está certo, não posso deixar de tentar ir intercepta-lo, por mais
que eu não o conheça ficará mais fácil de conseguir encontra-lo eu estando
lá na porta. Que seja na entrada ou na saída. Na saída dele provavelmente
pode ser mais fácil, pois pode ser que ele esteja acompanhado por seus
novos investidores. — Eu falei para Levi enquanto me levantava pegando a
chave do carro, para conseguir chegar a tempo em frente a empresa de
Wilson.
Era Charlotte. Com certeza isso só poderia ser o destino nos dando uma
oportunidade para conversarmos. Eu queria ter um momento a sós com
Charlotte mais do que qualquer coisa para que nós pudéssemos conversar
sobre a nossa situação, e então, eu desci do meu carro com pressa largando
meu copo de café para trás, e a chamei. Ao ouvir minha voz chamando-a, ela
parou e aquilo me felicitou pois por um momento, achei que ela esperaria
por mim para que nós pudéssemos conversar.
Assim que ela percebeu que era eu, praticamente de imediato ela virou as
costas e apressou seus passos para dentro da empresa e aquilo me fez ficar
furioso. Eu corri atrás dela, e entrei na empresa correndo, tanto que eu atraí
olhares repreensivos, porém, não me importei. Eu não a alcancei a tempo e a
porta se fechou, eu disse que queria falar com ela, mas era inútil pois o
elevador já havia começado a subir. Olhei para as escadas ao lado e
aproveitei o momento de distração do segurança do local, e caminhei em
direção as escadas para subir.
Subi as escadas correndo e deduzi que Charlotte deveria ter vindo para se
encontrar com o Wilson, já que na noite anterior eu percebi que eles eram
bem próximos. Assim que cheguei no topo das escadas pude ver os dois se
abraçando e em seguida Wilson colocando a mão nas costas de Charlotte e a
guiando para dentro de uma sala. Pressionei minha mandíbula, porque ver
ela com Wilson daquele jeito me provocou ciúmes.
Eu decidi que ficaria ali até ela sair, pois assim que ela saísse ela não
teria como escapar de mim novamente. Entretanto, enquanto eu a esperava
eu comecei a pensar se Charlotte não era na verdade o senhor Charlie, dono
da empresa Times Technologies, pois afinal de contas, Charlotte era muito
boa em esconder sua identidade quando lhe era conveniente, e era muita
coincidência ela ter chegado ao prédio da empresa do Wilson bem no horário
em que o dono da Times chegaria. Era completamente compreensível o
motivo que a levava a preservar sua identidade, pois a empresa era muito
próspera e isso poderia trazer pessoas oportunistas até ela, e por ela ser
mulher eles poderiam julgar que ela não saberia se defender.
— Jeff Staton, que surpresa ver você aqui! — Ele falou sem entender o
motivo da minha presença e estendeu a mão para me cumprimentar.
— Eu entrei aqui ao ver que Charlotte entrou na empresa, e eu precisava
falar com ela. — Eu não iria dar o gosto para Wilson de saber que eu estava
lá pois queria interceptar o Senhor Charlie.
Isso seria um trunfo para ele ao qual eu não estava disposto a dar.
Charlotte me olhou como se me censurasse com o olhar depois que falei com
Wilson.
Assim que ela entrou, eu entrei junto com ela. Ficamos sozinhos dentro
do elevador.
— Não precisa ser grossa. Eu só quero conversar com você, você poderia
ao menos me dar uma chance. — Insisti com ela.
— Eu acho que nós dois não temos nenhum assunto para conversar. —
Ela respondeu secamente olhando para frente desviando o olhar do meu.
— Você sabe que temos, ficaram muitas coisas mal resolvidas, eu não sei
porque você insiste tanto em me tratar dessa forma. Eu nunca me humilhei
tanto para alguém da maneira que estou fazendo agora. — Assim que falei
dessa maneira vi que Charlotte esmoreceu mesmo que por um momento.
Nós estávamos nos encarando, mas então, ela desviou o olhar
novamente.
— Eu acho que há certas coisas que é melhor deixa-las como estão, para
o bem de todos os envolvidos. — Ela falou ainda desviando o olhar do meu.
— Quem você pensa que é para achar que sabe o que eu penso, ou deixo
de pensar? — Ela me perguntou franzindo a testa e nesse momento seus
olhos se encontraram com os meus.
Eu apertei meus lábios um no outro com raiva por não ter conseguido
beija-la. E decidi ir atrás dela, eu estava disposto a conversar com ela e faria
de tudo para conseguir.
— Eu não quero conversar com você, não tenho nada para falar com
você e não consigo ser mais clara que isso! — Ela esbravejou.
Jeff parecia estar confuso diante do que eu falei para ele, como se não
fosse assim que a história havia acontecido.
— Às vezes você fala umas coisas que não dá para entender, nós estamos
casados ainda e você age como se nós fôssemos divorciados! Isso não tem
sentindo algum, por que ainda insiste nisso? — Ele falou um pouco nervoso
e não deixava de me segurar por nenhum momento.
— Pelo menos agora eu tenho certeza que você não irá me evitar mais,
pois ainda temos um compromisso que nos une.
Mal sabia ele que não era somente o casamento que nos unia. Porém, eu
não pretendia contar nada para ele a respeito do Oscar, pois, eu não sabia
quais eram suas verdadeiras intenções.
Cogitei que talvez pudesse ser esse o motivo que o manteve comigo até
agora. Então, fiquei em silêncio.
— Você ainda me deve respostas das perguntas que eu fiz para você. —
Ele falou ao abrir a porta do seu carro para eu entrar.
Apenas suspirei e revirei meus olhos, eu não queria ter que ficar me
justificando para ele e ainda estava muito chocada com o que ele havia me
contado. Eu entrei no carro, coloquei meu cinto e fiquei aguardando ele
entrar. Ao dar partida em seu carro, ele tinha um sorriso no rosto e disse:
— Eu desejei ter você ao meu lado assim por tanto tempo. Cada pequena
situação que eu tenho ao seu lado, me traz muita felicidade. — Ele falou
com muita convicção.
Eu estava achando mais que estranha aquela nova versão do Jeff, não
combinava com o homem arrogante que conheci há um tempo atrás e eu não
estava disposta a ceder aos encantos dele. Ainda havia muita coisa em jogo,
e eu não sei qual era o verdadeiro relacionamento dele com Elizabeth, e
também tinha o filho que eu tinha certeza que ela estava esperando quando
eu parti. Então, observando tudo que essa família do Jeff, e até mesmo ele,
fizeram comigo quando nós estávamos juntos eu precisava me manter firme.
— Para onde você está me levando? — Nesse momento olhei para ele
com a expressão séria.
— Ah, minhas perguntas você não responde, mas você quer que eu te
responda as que você me faz? — Ele falou de um jeito sarcástico, mas ao
mesmo tempo descontraído pois ele sorria.
Ele estava de um jeito tão leve e parecia tão grato por eu estar junto com
ele, que definitivamente não queria me desagradar para não estragar o
momento. Devo admitir que estava gostando dele assim, e estava sendo
difícil não me deixar levar. Já era pouco mais de duas da tarde, e eu estava
faminta porque a reunião demorou mais do que o esperado.
Eu fiquei com raiva. Nesses anos que se passaram eu adotei uma nova
postura não muito correta. Eu tinha me tornado controladora. Eu não
controlava as pessoas, mas controlava a mim mesma de um jeito que nunca
pude fazer, e não permitiam que eu fizesse. Eu era completamente livre e
sabia muito bem para onde eu ia, ou para onde eu deixava de ir a todo
momento. Então, não saber para onde Jeff iria me levar me causava
ansiedade. Tirei meu blazer e joguei ele no banco de trás, isso fez com que
Jeff desse uma boa olhada em meu decote, mesmo ele tentando disfarçar eu
percebi. Cruzei meus braços e encostei minha cabeça no vidro da janela do
carro, do lado onde eu estava sentada.
— Você devia ter me falado, eu teria trazido você para jantar quando nós
estávamos juntos. — Jeff se lamentou.
— Até parece que você ouviria alguma coisa que eu dissesse naquela
época, não é mesmo, Senhor Staton? — Eu o ironizei.
Como Jeff poderia estar assim tão diferente? Antes eu sentia que ele
tinha medo até mesmo de expor qualquer resquício de sentimento que ele
tivesse, se é que ele sentia alguma coisa.
Nesse momento eu pude perceber que não havia ninguém dentro dele, e
eu achei estranho.
— Fique tranquila, ninguém irá reparar sua roupa. — Ele falou com um
sorriso.
— Realmente, pelo que eu estou vendo ninguém vai reparar minha roupa
porque não há ninguém no interior do restaurante. Você tem certeza que ele
está funcionando? — Eu perguntei a Jeff olhando para o restaurante, e
inclinando minha cabeça em direção a parte de dentro dele.
Talvez não seria dessa vez que eu iria conhecer esse restaurante, então
fiquei um pouco desanimada. Mas Jeff continuava a andar de maneira
confiante até a porta do lugar, e assim que a moça que estava na recepção o
viu, disse:
— Senhor Staton, que prazer finalmente vê-lo aqui após seu pedido de
reserva integral. — Ela deu um sorriso simpático.
O que é que ela quis dizer com reserva integral? Franzi minha testa, e um
risco se formou entre minhas sobrancelhas por conta da dúvida que eu fiquei
diante do que ela falou.
E isso foi o bastante para me deixar mais confusa ainda. A moça riu, e
depois pegou um tablet em cima da mesa em que ela estava em pé logo atrás,
e disse:
— Porque desde que soube que você estava de volta, eu tinha esperanças
que mais cedo ou mais tarde você pudesse aceitar um convite meu para
jantar, ou almoçar que fosse. E eu fazia questão que fosse em um lugar
especial e privativo. — Ele mantinha o mesmo sorriso e eu fiquei sem
palavras.
Eu não esperava que ele fosse louco a esse ponto para fazer isso, devia
ter custado uma fortuna esse capricho dele. Contudo, ele poderia ter
reservado porque queria conversar algo delicado comigo. Por esse motivo
fazia questão que fosse em um lugar agradável para amenizar o teor do
assunto. Depois de ter ficado alguns momentos em silêncio eu falei:
Eu acho que seria melhor, por mais que eu não acreditava genuinamente
no que ele estava me dizendo. Mas então, fizemos assim. O garçom chegou e
nós fizemos nossos pedidos, começamos a conversar de assuntos banais, e
foi uma conversa leve e até mesmo divertida. Ficamos por horas assim,
quando dei por mim já eram quase 19h da noite. Eu comecei a sentir um
pouco de frio, e gentilmente Jeff ofereceu seu paletó para que eu me
aquecesse já que eu havia esquecido meu blazer no carro dele.
∞∞∞
Após ter saído da casa da Cora, já que ela havia me chamado para saber
se consegui informações sobre a transferência de ações, eu resolvi correr no
parque como fazia todo começo de noite. Eu precisava acalmar minha
mente, o sobrinho desagradável da Vivian tinha me tirado do sério hoje!
Enquanto eu estava correndo, olhei para o restaurante mais sofisticado e caro
da cidade, ele estava praticamente e eu não entendia o porquê, pois ele era
um restaurante muito movimentado. De repente, não pude acreditar no que
meus olhos estavam vendo. Charlotte e Jeff estavam jantando juntos! Ele
parecia estar muito carinhoso com ela, pois até seu paletó deu para ela se
aquecer. Jeff nunca havia sido tão atencioso e carinhoso assim comigo.
Imediatamente liguei para Cora.
Ligação ON
Cora: — Alô.
Ligação OFF
Ilusão
Narração - Charlotte Staton
Assim que Jeff me deu seu paletó eu dei um sorriso para ele. Por conta
do álcool que havia no vinho que estávamos tomando, eu já estava mais
tranquila, me sentindo mais à vontade, então havia baixado um pouco a
guarda. Ele se sentou novamente, após colocar o paletó em mim, mas, dessa
vez se sentou ao meu lado, ao sorrir ele disse:
— Agora que você já está sentado não há muito o que fazer. — Eu dei
uma risada, porque mesmo mais tranquila eu não deixava de ser grosseira
com ele.
— Não seja durona, pense que estou aqui ao seu lado para você se sentir
mais aquecida. — Ele riu ao falar.
— Que desculpa mais esfarrapada! Isso não faz sentido nenhum. — Eu
olhei para ele com uma expressão confusa enquanto ria com minha taça de
vinho na mão.
— Claro que faz, quanto mais próximos estamos, mais calor a gente
consegue, e é a melhor e mais rápida forma de se aquecer. Você como uma
cientista sabe disso... — Ele falou ao me dar uma alfinetada porque eu estava
querendo negar o óbvio.
— Está vendo como eu tinha razão, quando eu disse que o calor humano
é o mais eficaz para aquecer mais rápido? — Ao dizer isso os lábios dele
estavam tão próximos dos meus que eu não consegui resistir.
Ele me beijou, e no momento que seus lábios se encostaram nos meus eu
senti que meu coração ia praticamente saltar do meu peito. Eu coloquei
minhas mãos no pescoço dele e o puxei mais para mim, colando nossos
corpos. O desejo que havia entre nós dois era tão grande que senti que iria
enlouquecer ali mesmo, eu senti tanta falta dele, mas não havia me dado
conta da proporção disso até aquele momento. Jeff se afastou de forma
brusca e segurou meus dois braços, eu olhava para ele sem entender o
motivo pelo qual ele havia feito aquilo e então ele se antecipou antes que eu
dissesse alguma coisa.
— Acho que precisamos sair daqui. — Assim que ele falou isso eu
entendi o que ele queria.
O álcool havia me encorajado, então eu não iria negar o que ele estava
pretendendo comigo. Eu somente acenei com a cabeça positivamente, sei
que eu poderia me arrepender disso, mas o desejo que eu estava sentindo era
tão grande que eu não conseguia lutar contra ele. Jeff se levantou e pegou em
minha mão, nós começamos a andar apressados até a saída do restaurante.
Eu não o vi pagando a conta, mas creio que na reserva integral tudo estava
incluso, porém, eu não iria me importar com isso agora. Nós começamos a
correr pela calçada, e eu não fazia ideia de onde nós iríamos, mas continuei o
acompanhando. E para completar a adrenalina da situação toda, havia
começado a chover.
— Não dá para correr com esses saltos. — Eu dei uma risada e Jeff riu
também. — Onde nós vamos? — Eu perguntei enquanto nós voltamos a
correr por conta da chuva.
— No hotel aqui ao fim da rua, por isso eu não peguei o carro. — Ele me
falou com a voz falhada por estar correndo.
Nós fomos andando juntos até o banheiro, e ao chegar no box ele abriu o
registro do chuveiro. Nós iniciamos um beijo debaixo d'água, e depois de o
findarmos ensaboamos um ao outro vagarosamente como se quiséssemos
explorar o corpo um do outro. Nos enxaguamos e eu fechei o registro do
chuveiro, assim que o fechei, Jeff me puxou bruscamente e me beijou como
se quisesse me devorar.
— Porque você é perfeita, parece uma verdadeira obra de arte que foi
esculpida minuciosamente e dada de presente para mim. — Ele sorriu e seus
olhos cintilaram por conta do brilho que estava neles.
Após isso, ele se debruçou por cima de mim na cama, e começou a dar
beijos leves em meu pescoço. Enquanto ele me beijava, as pontas dos seus
dedos acariciavam a parte interna das minhas coxas, e deslizaram até minha
parte íntima, e lá ele começou a dedilhar meu clitóris, arrancando gemidos
meus, que eu não conseguia controlar.
Ele desceu seus lábios até o bicos de um dos meus seios, e os esfregava
suavemente neles e depois, com sua língua, contornou a aréola dos meus
seios. Eu estava com tanto tesão que senti que estava muito lubrificada, e ao
perceber como eu estava molhada, Jeff fez questão de descer mais seus
lábios, os passando pela minha barriga, até chegar próximo a minha parte
íntima. Ao chegar lá, ele deslizou seus lábios até meu clitóris e deu alguns
beijos bem demorados nele, somente para me provocar. Ele desceu dois de
seus dedos e começou a me penetrar. Ele fazia movimentos de cima para
baixo dentro de mim, e aquilo me deu muito mais tesão.
Assim que falei o nome dele, ele parece ter compreendido exatamente o
que eu queria. Ele se levantou, posicionou seu pau na minha entrada e foi me
penetrando vagarosamente. O que eu senti nesse momento não dava para
descrever. Eu o sentia entrando em mim e me preenchendo inteira, inclinei
minha cabeça para trás por conta do prazer que esse ato me proporcionava.
Jeff colocou uma de suas mãos nas minhas costas, e me puxou mais para
perto dele fazendo com que minhas costas ficassem apoiadas em seu
antebraço, e começou movimentos de vai e vem bem devagar, depois, ele
intensificou mais. Eu gemia mais de acordo com a intensidade que ele fazia
em seus movimentos. Encostei meu queixo no ombro dele e assim minha
boca ficou bem próxima a orelha dele, eu gemi baixinho para provoca-lo e a
cada gemido que eu dava eu via a pele de Jeff se arrepiar.
Ao ver que ele estava mais excitado com meus gemidos, eu disse com
uma voz mais sedutora para provocar ele.
— Não para, faz eu gozar pra você de novo... Eu sou totalmente sua. —
Assim que falei isso ele me penetrou mais fundo, e depois se afastou.
Abri minha boca bem devagar, e ele foi pressionando para colocar seu
pau dentro dela. Então, eu fechei minha boca mantendo o pau dele dentro
dela, e iniciei movimentos com minha cabeça para frente e para trás, e a cada
movimento que eu fazia o pau dele entrava mais dentro da minha boca. Eu
fiz alguns movimentos de sucção, e Jeff entrelaçou seus dedos em meu
cabelo e forçou um pouco mais a entrada. Eu mantive minha boca no pau
dele e o deixei movimentar minha cabeça da maneira que fosse deixa-lo
mais excitado, não demorou muito, Jeff tirou seu pau de dentro da minha
boca e gozou em meus seios. Eu sorri por ter conseguido levar ele ao ápice,
e me levantei.
Nós tivemos que pegar roupas que o hotel fornecia, pois as nossas
estavam bem molhadas. Jeff ligou para o restaurante e pediu que enviassem
o carro dele até a porta do hotel. Nós saímos do quarto, pegamos o elevador
e enquanto Jeff estava pagando a conta na recepção, eu ouvi um áudio do
Oscar falando que queria que eu chegasse logo. Eu sorri e disse através de
uma mensagem de voz que já, já estaria em casa.
Jeff veio e nós fomos até seu carro. No caminho nós nos acariciávamos,
mas não conversávamos muito. Assim que chegamos na frente do meu
apartamento eu temi que ele quisesse entrar.
— Eu não vou pedir para entrar, porque sei que você deve estar
cansada. — Ele falou de maneira compreensiva.
— Oi, mamãe. Não está nada bem. — Ele disse de um jeito ranzinza
enquanto me abraçava.
Ele já estava de pijamas, e então me levantei com ele em meu colo e fui
até o meu quarto. Coloquei ele na cama, fui ao closet pegar meu pijama, me
troquei no banheiro, e ao voltar para o quarto ele já havia adormecido. Dei
um sorriso e me deitei na cama ao lado dele, eu suspirei ao me deitar junto
com meu filho, e fiquei o acariciando. Olhando para ele eu via como ele era
uma mistura minha e do Jeff, mas, a personalidade era muito parecida com a
do pai dele. Fiquei pensando na noite que eu tive ao lado do Jeff, e acabei
adormecendo com um sorriso no rosto. Eu dormi tranquilamente a noite
inteira pois estava muito cansada.
Desilusão
Narração - Charlote Staton
Para me certificar de que Jeff não estava mentindo, eu resolvi fazer uma
pesquisa através do meu notebook para ver se meu estado civil permanecia
como casada. Seria uma forma de me certificar que ele poderia realmente ter
mudado e não estava tentando me enganar junto com a família dele a troco
de alguma coisa. Assim que pesquisei, vi que eu ainda era casada, ele havia
falado a verdade! Eu comecei a ter sentimentos e expectativas quanto a isso,
mas o medo ainda me assombrava.
Ao mesmo tempo que meu coração acelerou por imaginar que ele estava
comigo porque me amava, eu tive medo porque eu sabia que poderia haver
outros tipos de interesses por parte dele e da família dele, fazendo com que
ele se mantivesse casado comigo. Eu encarava aquela tela do meu notebook,
olhando meu estado civil, com um misto de sentimentos, então, resolvi
fecha-lo o quanto antes e me concentrar em outras coisas.
— Bom dia, Charlotte! Você parece muito feliz e animada hoje. — Janet
me olhou de maneira desconfiada e deu um sorriso cheio de cumplicidade
para mim.
Assim que ouvi o que ele disse eu dei um sorriso por conta do que ele
havia falado.
Como eu falei e ele correu até a porta mesmo assim, eu fui atrás dele
com pressa. Assim que cheguei lá ele estava abaixando na frente da porta
para pegar algo no chão.
Achei estranho uma revista ser entregue assim na minha porta, ainda
mais porque ninguém foi anunciado pelo porteiro. Ao chegar na porta olhei
para os dois lados do corredor, mas não vi ninguém.
— Vem, vamos entrar. E nunca mais faça isso de abrir a porta sem nem
ao menos perguntar quem é. É perigoso. Crianças não podem abrir a
porta. — Eu falei de um jeito sério para meu filho, pois, ele havia me
desobedecido.
Ao ler aquilo pela primeira vez, pensei estar lendo errado. Apertei meus
olhos e olhei novamente a manchete, e bem grande junto a essa manchete
estava a foto que me atormentou por tanto tempo. Era Elizabeth e Jeff
juntos, igual no porta-retratos que ficava ao lado da cama de Jeff quando nós
nos casamos. Meus olhos se encheram de lágrimas, e toda a animação que eu
estava sentindo quando acordei, acabou completamente depois que li essa
notícia.
Eu engoli meu choro, pois, eu estava decidida a não chorar mais pelo
Jeff, aliás já era algo que eu deveria esperar, e decidi que iria voltar para meu
quarto. Ao passar pela sala de jantar, Janet viu como eu estava e perguntou:
Fui até o meu quarto e fechei a porta. Abri a revista na página da notícia
e vi que eles ficaram noivos na noite anterior. Talvez foi por isso que Jeff
não insistiu para subir, porque ele devia ter ido se tornar noivo de Elizabeth
após se divertir comigo. Na matéria, Elizabeth dizia que um amor como o
deles nem mesmo anos separados eram capazes de acabar com o que eles
tinham, e para minha surpresa Jeff também comentou que muitas coisas
haviam acontecido na vida dele, mas nenhuma era tão valiosa como
Elizabeth.
Mensagem ON
Charlotte: — Sim.
Mensagem OFF
— Você não merece minhas lágrimas, Jeff Staton. — Eu disse com raiva
enquanto me olhava no espelho.
∞∞∞
Narração - Elizabeth McBride
Assim que cheguei na casa da Cora, a empregada abriu a porta para mim
e eu vi Cora na sala de estar andando de um lado para o outro. Ao me ver ela
veio andando em minha direção com os olhos arregalados e visivelmente
nervosa:
" — Isso mesmo querido, sou eu. Quero que você publique uma
manchete na capa da revista para mim amanhã pela manhã, sem falta.
Claro que a quantia será enorme, venha aqui na minha casa de imediato."
Não demorou muito e o trambiqueiro estava lá. Nós falamos para ele
como queríamos que ele publicasse a manchete, e eu entreguei uma foto
minha e do Jeff, que eu soube que ele manteve por muito tempo ao lado da
cama dele, quando ele e Charlotte viviam juntos, puramente para provoca-la.
Isso seria a cereja do bolo. Depois de tudo acertado, eu e o jornalista fomos
embora. Pela manhã eu acordei ansiosa. Cora havia me mandado uma
mensagem dizendo que a revista já estava nas bancas e era para eu dar um
jeito de fazer com que um exemplar chegasse até Charlotte.
Mensagem ON
Brandon: — Fala.
Elizabeth: — Você só precisa saber que o que eu farei, vai afastar ela do
Jeff de uma vez por todas.
Brandon: — Ok... Vou pedir para o primo dela sob o pretexto que irei
visita-la. Já te envio.
Elizabeth: — Obrigada.
Mensagem OFF
Alguns minutos depois Brandon me mandou a mensagem com o
endereço dela. O lugar não era muito longe, coloquei um lenço em volta dos
meus cabelos, vesti um sobretudo e coloquei um óculos. Saí da minha casa,
entrei no meu carro e comecei a dirigir em direção a casa de Charlotte.
Passei em uma banca de revistas, e comprei a revista onde tinha a manchete
do meu noivado com Jeff, e depois, continuei a seguir o trajeto.
Ligação ON
Cora: — Que ótima notícia! Quero ver ela se ela ainda vai querer ficar
com o Jeff após receber essa notícia. — Cora gargalhou de um jeito
malicioso.
Ligação OFF
Eu sorri e entrei no elevador para ir embora com o sentimento de dever
cumprido.
Sem diálogo
Narração - Charlote Staton
Fui até meu closet, e peguei a foto que eu guardava do dia do nosso
casamento que eu mantive durante todos esses anos. Fiquei olhando para ela
por um tempo. Eu sentia tantas coisas ao mesmo tempo que eu não sabia
explicar, ao observar o olhar do Jeff e notar a frieza que ele carregava
naquela foto, e comparar com ele recentemente, não dava para dizer que ele
era a mesma pessoa, algo no Jeff parecia estar diferente, ele parecia
realmente ter se apaixonado por mim. Mas então por que ele decidiu noivar
com Elizabeth depois da noite que tivemos?
Eram tantas coisas que não se encaixavam em nossa história, que não
valia a pena eu ficar quebrando cabeça com isso. Eu guardei a foto e me
olhei no espelho.
— Oscar, venha se despedir da mamãe. Você vai passar mais um dia com
a tia Vivian. — Falei para ele e ele veio correndo até mim comemorando
porque iria ficar com a Vivian.
— Certo, eu preciso ir. Depois nós nos falamos. —Eu disse para Sam e
Vivian. — E você mocinho, prometa se comportar enquanto estiver com a tia
Vivian, ok? — Eu disse ao olhar para o Oscar falando em um tom sério.
Ao sair do elevador, fui até a rua e pedi um táxi. Assim que entrei, eu
indiquei qual seria meu destino, e durante todo o caminho eu estava muito
tensa. Ao chegar no restaurante eu entrei, e vi que Jeff já estava me
esperando. Ao me ver ele deu um sorriso, mas eu permaneci séria, e vi que
isso o deixou um pouco desentendido. Apenas me sentei na cadeira em
frente a ele e disse de forma ríspida:
— O que você tem para falar comigo que é tão importante? — Eu estava
séria ao olhar para ele.
Jeff parecia ter ficado constrangido e confuso pela forma que eu estava o
tratando. Mas então ele se sentou e me entregou um envelope contendo
alguns papéis. Assim que ele me entregou, eu engoli seco e senti meu
estômago revirar porque eu sabia que aqueles eram o os papéis do divórcio,
eu tentei disfarçar o que eu estava sentindo mantendo meu semblante sério e
fingindo que não me importava com o conteúdo do envelope. Abri ele
despretensiosamente, mas a verdade é que eu estava em agonia.
— Eu sei disso, mas quero saber qual o motivo para você ter me dado.
Não compreendi o real motivo. — Eu o contestei.
— Bom, naquele dia na festa do seu avô ele queria que você assinasse
aqueles papéis e eu te expliquei tudo que eu havia feito, lembra? Então, esse
é o restante das ações. Naquele dia na festa, depois que ele passou mal eu
tive uma grande ideia de enviar esses papéis ao advogado dele para fazer
com que ele assinasse lá no hospital.
Eu fiquei surpresa ao ouvir que ele havia começado a falar e fiquei mais
interessada, então ele continuou a história.
Ao ouvir o final de tudo que Jeff me falou, eu fiquei mais surpresa ainda,
não estava acreditando que ele havia comprado o advogado do meu avô para
me passar as ações da empresa.
Eu não estava entendendo porque Jeff estava fazendo isso, não fazia
sentido. Eu estava esperando que ele me pedisse o divórcio já que iria se
casar com Elizabeth, e ele simplesmente chega com esses papéis me dando a
empresa dele de mão beijada, facilitando muito a minha vingança contra
meu avô. Era muito suspeito, com certeza ele tinha algum tipo de interesse
nisso!
— Claro que gostei. Uma empresa tão lucrativa se tornar minha, assim
tão facilmente, com certeza é motivo para muita felicidade. — Eu falei, mas
ainda mantinha meu tom sério e desconfiado.
— Não pareço feliz porque eu não entendo o motivo pelo qual você está
fazendo isso. — Me inclinei para frente, apoiei meus cotovelos na mesa e o
encarei esperando uma resposta dele que pudesse me explicar o porquê ele
fez isso.
— Olha... Eu sei que você foi forçada a se casar comigo. — Jeff falou se
lamentando.
— Ah, agora você sabe disso? — Eu falei com bastante sarcasmo pois eu
tentei explicar isso para ele inúmeras vezes, mas ele parecia não me escutar,
e muito menos dar a mínima para isso.
— Eu sinto muito por não ter ouvido você antes, e não ter te dado
credibilidade em tudo que você tentou dizer para mim. Eu sei que fiz coisas
contra você que foram imperdoáveis, e eu entendo se você não quiser aceitar
minhas desculpas, mas saiba que eu estou nesse momento te pedindo perdão
de maneira sincera por todo mal que eu fiz a você. Pela maneira que te tratei,
e por tudo de ruim que eu te causei. — Jeff me olhava nos olhos ao falar.
— Sei que talvez eu nunca tenha seu perdão, é justo. Mas uma coisa eu
te garanto, Charlotte, eu farei justiça por você, porque é o mínimo que você
merece. Eu fiz todas essas coisas em relação as ações da empresa por
você! Eu estou ficando sem nada porque por você vale a pena. — Jeff falava
com convicção.
Diante de tudo que já vivi com Jeff e que ainda estava vivendo, era
muito difícil acreditar no que ele estava falando.
— Eu sei disso, mas o que eu puder fazer para me redimir com você eu o
farei. Também sei que depois de tudo que você passou, você vai querer se
vingar do seu avô, por isso eu fiz tudo isso, e farei o que eu puder para poder
te dar a oportunidade de conseguir se vingar. Além do mais, eu a protegerei e
apoiarei, pois eu sei como seu avô é ganancioso, e por esse motivo, ele é
capaz de fazer inúmeras atrocidades como já provou por inúmeras vezes. —
Ele falava como se quisesse me alertar sobre meu avô.
Como se eu não soubesse que Stuart era capaz de fazer as ações mais
cruéis e absurdas. Ninguém, mais do que eu mesma, sabia o que meu avô era
capaz de fazer quando queria muito conseguir alguma coisa. Eu queria
acreditar em Jeff, e em tudo que ele estava me dizendo, porém, era difícil por
saber que ele estava noivo da Elizabeth. Eu não queria me permitir continuar
sendo enganada por ele, nem ser um mero pião em algum jogo perverso
dele.
— Tudo bem, eu vou assinar os papéis desse contrato. — Falei para ele
ao forçar um sorriso.
— Eu sei bem o que você pretende, eu não sou mais aquela menina boba
que você conheceu. Não sou mais um brinquedo nas suas mãos, e nas mãos
da sua família perversa! — Eu falei me inclinando mais para frente e o
olhando com toda a raiva que eu estava sentindo.
— Você entendeu tudo errado, minha intenção é genuína. Eu não tenho
nenhum interesse de prejudicar você! — Ele tentava se justificar.
∞∞∞
Narração - Jeff Staton
Eu tentava acertar com Charlotte, mas parece que tudo que eu fazia
apenas piorava nosso complexo relacionamento.
— Charlotte, por favor, me escute. Eu sei que não é fácil ver como eu e
Elizabeth estamos, mas saiba que ela quem ficou insistindo. Não foi minha
culpa. — Eu tentava explicar para ela.
Charlotte olhou para mim, e parecia estar indignada com o que eu havia
acabado de falar.
— Quando você vai entender que eu não quero te escutar mais? Eu sofri
por muito tempo tentando fazer com que você me escutasse, e você nunca
me escutou. Por que eu tenho que escutar você agora? Você não é vítima,
muito menos um coitado, eu sim fui vítima das atrocidades que você fez
comigo, e ainda fui benevolente demais ontem, só que não serei nunca mais!
— Ela falava, e à medida que ela falava se aproximava de mim.
Eu sei que ela estava com muita raiva, mas eu senti um desejo
incontrolável de beija-la, e pensei que talvez esse ato pudesse fazer com que
ela desistisse de continuar brigando. Eu a puxei para perto de mim, e
comecei a beija-la, a princípio ela correspondeu, mas logo deu uma mordida
no meu lábio e me empurrou.
— Ai! — Eu falei ao tocar meu lábio com meus dedos, surpreso com a
atitude que ela havia tomado.
Fui até meu carro e dirigi em direção a empresa, eu estava de mau humor
porque mais uma vez as coisas não estavam saindo do jeito que eu queria
que saíssem, e isso era muito frustrante para mim. Cheguei na empresa, e
deixei o carro na porta para que o manobrista o estacionasse para mim.
Peguei o elevador e cheguei no andar do meu escritório.
— Boa tarde para você também, eu vim te ver. — Ela falou com um
sorriso largo.
Elizabeth arregalou seus olhos e eu não dei oportunidade para que ela
pudesse falar mais nada, eu só queria sair dali o quanto antes, eu sabia que
havia sido por causa dela e de suas investidas que provavelmente ocorreu o
estopim para que Charlotte desistisse de continuar com uma relação
harmoniosa comigo.
Entrei dentro do meu escritório, e assim que olhei para minha mesa vi
que a foto que eu mantinha ali, minha e de Charlotte do dia do nosso
casamento estava rabiscada. E o fato estranho era que somente eu quem
estava com o rosto rabiscado.
Assim que fiz essa pergunta para mim, Levi apareceu na sala e eu me
virei para vê-lo.
— Bom dia!
— Longa história, depois eu conto sobre ela para você. — Expliquei para
Levi. Eu não queria entrar naquele assunto chato porque só de pensar no
fiasco que foi meu encontro com Charlotte, e em como ela me rejeitou, eu
ficava nervoso.
— Está certo. Bem, esses são alguns relatórios que se acumularam desde
ontem para você avaliar. Vou deixá-los aqui na sua mesa. — Levi deixou os
papéis em cima da minha mesa no momento que eu estava sentado na
cadeira com minha mão apoiada na testa bem pensativo.
Quando já era pouco mais de quatro da tarde eu resolvi que ia dar uma
pausa para tomar um café na sala de descanso, minha cabeça estava doendo,
e um café sempre me ajudava. Me levantei, saí do meu escritório e caminhei
até a sala de descanso. Ao chegar lá não havia ninguém e isso me deixou
satisfeito porque eu não estava com humor para conversar com ninguém,
muito menos com bajuladores que sempre apareciam. Coloquei o café para
mim em uma xícara, e assim que me virei, esbarrei em um menino.
Para não derramar café nele, porque estava quente e poderia queima-lo,
eu derramei o café em mim.
— E sua mamãe não te ensinou que é feio ficar atrás das pessoas de
maneira silenciosa? — Eu falei com raiva e então olhei para o rosto do
menino.
Fiquei surpreso pois eu já havia visto, era o mesmo menino mal educado
do aeroporto que derramou café propositalmente em mim.
— Aquele dia foi muito engraçado! Mas hoje quem derramou café foi
você mesmo, eu não fiz nada. — Ele falou dando uma gargalhada enquanto
andava em direção ao armário que havia alguns biscoitos.
Oscar pegou um biscoito no pote de vidro que havia no armário, foi até o
sofá se sentando nele, e começou a comer o biscoito como se eu não tivesse
falado nada para ele. Ele me encarava com o queixo levantado e parecia me
odiar bastante. Que menino mais grosseiro, era um verdadeiro pestinha. Eu
fiquei inconformado com a forma que ele estava agindo e então o questionei.
— Não tenho nada pra falar, tô muito bem assim. — Ele disse em tom
provocativo.
No mesmo instante Levi entrou na sala, assim que Oscar o viu, ele disse
com um sorriso:
— Oi, tio Levi! — Ele falou como uma criança normal e amorosa.
Realmente, estava mais que claro que o problema dele era comigo.
— Oi, garotão! Como você está? — Ele foi até o Oscar e passou a mão
no cabelo dele.
— Eu não sei o porquê esse garoto mal criado queria me encontrar, ele
parece me odiar. — Eu falei com raiva.
Eu franzi minha testa o censurando, e então ele parou de rir e logo falou:
— Mas por que você não gosta dele, Oscar? Você não pode falar assim
com as pessoas. Elas podem se magoar. — Levi explicou calmamente para o
menino.
Levi olhou para mim e depois olhou para ele, ele deu um breve sorriso e
disse:
— Brandon? O que você está fazendo aqui? — Eu falei com uma voz
firme.
Eu fui amigo de Brandon durante muitos anos, mas quando nos tornamos
adultos eu percebi o caráter duvidoso que ele estava começando a ter e
resolvi me afastar, eu não confiava nele de maneira nenhuma, e me
surpreendi por ele estar ali.
— O-oi, tudo bem com você? Me chamo Brandon. — Ele falou dando a
mão para o menino.
— Eu vou muito bem. Você me leva até a minha tia Vivian? — Ele falou
com um sorriso.
— Claro, levo sim. — Brandon pareceu confuso pela forma que Oscar
falou com ele, mas, então pegou na pequena mão dele e saiu da sala de
descanso.
Eu fiquei mais furioso ainda. O garoto gostou do Brandon, mas não
gostou de mim, achei aquilo muita afronta.
∞∞∞
Assim que o Tio Sam, falou sobre um tal de Brandon para minha mamãe
eu lembrei que ela e a tia Janet, já tinham falado dele também. A mamãe
falou que achava que ele tinha sentimentos por ela. Eu aprendi que quando
os adultos usavam essa palavra eles queriam dizer que um gostava do outro.
Ela nunca chorou falando desse Brandon, então, achei que ele poderia ser
uma boa pessoa para ela. Assim que ela saiu, eu, a tia Vivian e o tio Sam
saímos também.
— Brandon, né?
— Você gosta dela! Deu para perceber isso. Então já que você gosta dela
por que você não tenta conquistar o coração dela? — Ele deu um sorriso e
olhou para mim como se tivesse tido uma grande ideia.
Eu não sabia como reagir diante do que aquele garoto estava falando, eu
fiquei espantado na verdade. Parecia que eu estava conversando com um
adulto. Mas eu estava gostando desse empenho do garoto. Me recuperei do
susto e então perguntei a ele:
— Mas ele é muito malvado, eu não gosto dele e não quero que ele fique
com ela. — Oscar falou em um tom raivoso que me surpreendeu.
Confesso que estava gostando mais desse menino. Afinal ele não gostava
de Jeff e não sei por qual razão, mesmo não me conhecendo, ele queria me
unir com a Charlotte. E eu, há muitos anos nutria uma paixão secreta por ela.
Por ser sobrinho da Vivian, ele deveria conhecer a Charlotte, mesmo assim
era estranho o empenho dele para querer que eu ficasse junto com a
Charlotte. Antes que eu pudesse responde-lo, Vivian apareceu.
— Oscar! Ai, ai, ai! Eu não acredito que você novamente fez questão de
sumir de mim! Eu não vou te trazer mais. — Ela falou esbravejando com o
garoto. — Se eu não tivesse uma reunião agora eu te levaria para a casa da
sua... — Ela olhou para mim um pouco hesitante e falou. — Da Charlotte!
Achei estranho o jeito que Vivian hesitou para continuar a falar, parecia
que ela queria esconder algo, era muito suspeito. Esse menino com certeza
tinha alguma relação com a Charlotte e eu iria descobrir qual era.
Ela foi até sua sala que estava em frente ao lugar onde nós estávamos.
Olhei para o Oscar e ele deu de ombros levantando as mãos dando a
entender que não sabia o que havia acontecido. Observei que Vivian pegou o
celular e ligou para alguém, depois de ter ligado, ela saiu da sua sala
novamente e chegou próximo a nós.
Oscar olhou para Vivian fixamente e fez um biquinho, assim que ele fez
esse biquinho ela uniu suas sobrancelhas e tentou resistir aos encantos do
menino.
— Nem adianta, rapazinho, isso não vai funcionar comigo! — Ela falou
esbravejando e logo saiu.
Tenho certeza que ela saiu dessa forma porque não queria acabar
voltando atrás do que ela havia prometido para o garoto. Eu dei um sorriso
com o canto dos lábios ao olhar para aquele garoto, ele era extremamente
inteligente e ao mesmo tempo extremamente ranzinza. Eu poderia até
mesmo arriscar dizer que ele parecia muito com Jeff, e era surpreendente que
ele não gostasse dele sendo que os dois tinham personalidades tão parecidas.
— É, meu charme não adiantou dessa vez. Mas que bom que você vai
poder me levar para casa da Charlotte, assim a gente pode conversar pelo
caminho. — Ele me falou com empolgação.
— E isso é uma coisa que pelo visto você gosta de fazer bastante, não é
mesmo? — Ele apenas deu um sorriso travesso e nós saímos da empresa,
caminhando em direção a garagem onde estava meu carro.
Fomos até a casa da Charlotte que seria o lugar onde o garoto ia ficar e
ele foi falando durante o caminho todo, ele contou da escola, de como não
gostava das outras crianças da sua idade, que não sabia mais o que fazer na
escola chata e pedia para sua mãe o mudá-lo de escola. Mas todas as vezes
que eu tentava me aprofundar no assunto sobre os pais dele, ele não
mencionava quem eles eram e desconversava, quase como se eu não pudesse
saber quem eles eram e isso me deixou cada vez mais instigado.
— Tia Janet! — Oscar falou empolgado e deu um pulo para que ela o
pegasse no colo.
Ela estava linda como sempre, e usava um vestido preto bem elegante
que a deixava com o corpo bastante evidenciado. Ela estava a cada dia mais
linda, na festa ela estava deslumbrante e fez Elizabeth morrer de inveja, mas
agora ela continuava perfeita.
— Ah, sim, obrigada. — Ela pareceu um pouco sem graça e desviou seu
olhar por alguns instantes.
Creio que talvez ela estivesse me chamando para ficar e jantar com eles
apenas por educação, mas eu precisava descobrir mais a respeito desse
garoto e eu também não iria perder a oportunidade de ficar junto com a
Charlotte. Como continuei em silêncio por alguns segundos após ouvi-la. Ela
completou:
— A não ser que você tenha algum compromisso. — Charlotte sorriu
gentilmente.
— Pode ficar tranquila, faça o que você tem que fazer que eu ficarei
aqui. — Dei um sorriso para ela e me sentei no sofá.
— Quero ficar de olho no Jeff, e ter certeza que ele não vai se aproximar
da minha m... Charlotte. — Quando ele falou isso foi praticamente a
confirmação que eu precisava para ter certeza que ele era filho da Charlotte,
mas será que o pai era o Jeff?
Ele deu um sorriso com cumplicidade para mim, e foi fazer o que ele
tinha que fazer. Logo Charlotte, apareceu na sala, agora ela estava sem
maquiagem e com um vestido leve, claro, mas que não deixava de contornar
seu corpo e com isso me enlouquecer. Ela chegou próxima a mim com um
sorriso e foi até a adega de vinhos que havia na sala. Assim que chegou lá,
ela me perguntou:
— Aceita um vinho?
— Não imagino o que você tenha passado hoje que te trouxe tanto
desânimo, mas, vamos brindar a novos ciclos. — Eu falei em um tom
entusiasmado na tentativa de deixar Charlotte animada.
— Ótimo, gostei. À novos ciclos. — Ela bateu sua taça na minha e após
ouvirmos o tilintar delas bebemos um gole do vinho.
— Não leve para o lado pessoal, eu precisava desse tempo. Foi muito
bom para mim, amadureci, cresci bastante como empresária, e consegui
enxergar realmente o potencial que eu tinha como mulher e profissional que
eu nunca havia enxergado antes. — Eu sorri de um jeito satisfatório ao
escutá-la falando essas coisas.
— Que bom, você merece tudo isso, foi agonizante tudo o que você
passou nas mãos dos Staton, agora você realmente merece dar a volta por
cima. — Eu falei para Charlotte com o olhar fixo no dela.
Minha ideia era gerar um clima mais romântico possível para que nós
dois pudéssemos ter a chance que nunca tivemos. Então, comecei me
aproximar dela e não tirava os olhos dela, mas ao perceber que eu me
aproximei mais, e provavelmente entender minhas intenções com ela,
Charlotte se levantou e perguntou:
Eu não iria desistir tão fácil. Foi então que ela perguntou:
— E Adélia, sua noiva, como ela está? — Ela me olhou com certa
arrogância.
Talvez era por isso que ela não iria querer ceder a mim. Então eu disse
para ela:
— Como assim não sabe? Ela não é sua noiva? Provavelmente depois
desses anos já deve ser sua esposa. — Ela afirmou ainda confusa.
O quê? Com certeza era fora de cogitação eles estarem noivos, mas com
certeza esse deve ter sido o truque que Elizabeth usou para afastar Charlotte
de uma vez por todas de Jeff, eu deveria ser esperto e saber aproveitar isso
ao meu favor.
Oscar estava ao lado de Janet esfregando seus olhos. Ele não demoraria
muito para dormir. Assim que todos saíram da sala resolvi explorar um
pouco mais a casa para ter mais provas que Oscar era o filho de Charlotte e
Jeff. Caminhei pela sala com a taça de vinho na mão, e vi algumas
fotografias. Charlotte estava com um bebê, e depois haviam várias fotos dela
com Oscar um pouco mais novo. Comecei a caminhar em direção ao quarto
que ela foi fazer Oscar dormir.
— É, você ouviu bem, o Oscar é meu filho. — Ela falou olhando para
mim.
— Fique tranquila, eu não vou falar para ninguém, seu segredo está
seguro comigo. — Eu falei para ela e segurei sua mão.
Claro que o segredo dela estaria seguro comigo, afinal, eu não tinha
interesse nenhum na reconciliação da Charlotte com Jeff, pelo contrário, eu
faria de tudo para atrapalhar isso.
— É, eu fui embora por conta disso. Você e Jeff me disseram que os 25%
das ações já haviam sido conquistados, pois bastava apenas um filho. Sendo
assim deduzi que com a volta da Elizabeth, com certeza era ela quem estava
grávida.
— Coitada? Se ela pudesse ela mataria você, e você sente pena dela?
— As pessoas só nos dão aquilo que elas têm no seu coração.
Obviamente eu não quero me manter perto de uma pessoa como a Elizabeth,
porém, eu não desejo mal a ela. Eu imagino que perder um filho, é uma dor
muito grande. — Ela falava com convicção.
— Realmente... Bom, eu acho que já vou indo. — Não contei a ela que o
filho dela me pediu para eu vir amanhã pois eu queria chegar de surpresa
para impressioná-la.
Além de conquistá-la, eu queria com certeza participar dos lucros que ela
tivesse na Tec Solutions. Ao julgar pelo lugar onde ela estava morando,
Charlotte estava muito bem de vida, e isso me interessava. Eu iria unir o útil
ao agradável.
— Claro, para mim será um imenso prazer. — Eu falei satisfeito para ela.
Elizabeth: — Se você ligou para me ofender pode ter certeza que vou
desligar o telefone.
Brandon: — Não, quem dera eu estivesse. E acho que você conhece, ele
é o pestinha sobrinho da Vivian que está indo para a empresa nesses últimos
dias.
Ligação OFF
— Mas você aprontou com sua tia Vivian, não está merecendo. — Ela o
censurou.
— Pode deixar que comigo ele vai se comportar, não é verdade, Oscar?
Prometa isso para sua mãe que ela deixará você ir comigo! — Eu falei em
um tom entusiasmado.
Ela olhou meio desconfiada para seu filho, mas acabou cedendo, então
ela ofereceu o dedo para ele, e os dois firmaram o juramento. Eu sorri ao
olhar aquela cena, por mais que estivesse achando aquilo tudo bem ridículo.
Então, eu peguei na mão do garoto para nós irmos.
— Fique tranquila, Charlotte. Eu vou cuidar dele como se ele fosse meu
filho. — Eu falei em uma tentativa de plantar essa ideia nela.
Saí com o Oscar em direção ao meu carro para irmos para a empresa.
Assim que chegamos na empresa, por coincidência, nós encontramos Jeff.
— Ora, ora, quem está aqui de novo. — Ele falou em um tom provocante
para o Oscar e me ignorou completamente.
Jeff pareceu surpreso com o que ele falou, e eu fiquei mais ainda, eu quis
que Charlotte pensasse nessa ideia, mas quem pensou foi o pirralho. Por
mais que Jeff não soubesse que Oscar era seu filho, ele parece ter ficado
incomodado.
— Por que você disse que eu era seu novo papai? — Indaguei.
— Porque eu quero que você seja meu novo papai, acho que você já sabe
que a Charlotte é minha mamãe, por esse motivo eu quero muito que você
seja meu papai. — Ele falou de maneira inocente.
— Entendi. Que bom que você me vê dessa forma, garotão! Tomara que
sua mãe queira isso também. — Eu sorri para ele ao falar.
— Pode deixar que eu vou ajudar você! — Oscar disse com empolgação.
Eu dei um sorriso satisfeito ao escutar o que ele havia falado. Levei ele
até a sala onde eu trabalhava, coloquei ele sentado em uma cadeira, de frente
para a mesa ao lado da minha e dei alguns papéis para ele desenhar.
Enquanto o garoto estava envolvido com seus desenhos, eu aproveitei para
mandar uma foto dele para Charlotte, na legenda da foto eu disse: “Estou
cuidando bem do Oscar, ele está se divertindo bastante!”
Assim que ela leu a mensagem mandou uma série de emojis de coração.
Eu tenho certeza de que aos poucos eu iria conquistar o coração dela. O
Oscar nunca havia tido um pai presente, apenas aquele primo sem sal da
Charlotte, o Sam, acho que se ela visse que o filho estava feliz, e empolgado
comigo isso poderia aumentar significativamente minhas chances com ela.
Quem é esse garoto?
Narração – Jeff Staton
Levi tirou seus óculos, e coçou seus olhos com os dedos. Após um longo
suspiro, ele disse de modo cansado.
— Não somente isso, algo me diz que tem alguma coisa que eu preciso
descobrir. — Eu passei meus dedos de um lado para o outro no meu queixo e
meu olhar se tornou distante.
— Tenho certeza que não há nada para descobrir. E já sabemos que ele é
sobrinho da Vivian. — Ele falou como se não fizesse sentido tentar descobrir
mais.
Eu sabia que ele iria reclamar pelo prazo curto que eu havia estipulado
para ele, então, por esse motivo preferi me retirar o quanto antes. Fui até
meu escritório, e ao chegar lá a primeira coisa que reparei foi que Levi havia
pedido para trocarem a foto que antes havia sido rabiscada. Peguei o porta-
retratos e olhei para a foto. O olhar de Charlotte era tão inocente, tinha um
brilho intenso, e mesmo apesar de tudo que ela sofreu, ainda hoje ela
mantinha esse olhar. Nos cinco anos que se passaram eu pesquisei a fundo
sobre o contrato, sobre o avô dela, e ao descobrir na festa assim que ela
chegou que ela sofreu abusos para assinar aquele contrato, eu me senti um
verdadeiro monstro, foi muito injusto tudo que ela viveu, e eu fui uma peça
principal no sofrimento dela. Não era justo, e enquanto eu respirasse faria de
tudo para me redimir com ela.
Sentei-me em minha cadeira, me acomodei e comecei a trabalhar,
tentando focar o máximo pois volta e meia meus pensamentos me levavam à
Charlotte. Passadas algumas horas, eu estava bem compenetrado em minhas
tarefas e então, Levi entrou na minha sala. Seu olhar estava aflito, e ele
carregava algo em suas mãos, ao que tudo indicava parecia uma revista.
Franzi minha testa e o encarei ao me recostar em minha cadeira.
— Então, pelo seu olhar creio que descobriu alguma coisa e ao que tudo
indica não vai me agradar muito.
— Fale logo de uma vez! Odeio quando você fica fazendo rodeios.
— Certo, serei direto. Como você previu, Vivian não tem irmãos. É filha
única, logo Oscar não é sobrinho dela. Mas, o mais intrigante é que o garoto
parece um fantasma, não consegui buscar a certidão através de vias normais,
e quando consegui, a filiação estava censurada... Porém, o local de
nascimento indica que ele é de San Diego, na Califórnia, e
supreendentemente ele nasceu no mesmo ano em que...
— É... Eu imaginei exatamente isso, porém, não foi somente isso que
descobri. Como toda as vezes que você pede para que eu investigue algo, eu
sempre procuro saber coisas ao seu respeito também, bastou uma busca
simples para que eu descobrisse isso aqui, — Levi colocou a revista na mesa
— acho que isso é mais preocupante do que o assunto do Oscar nesse
momento. Pelo que eu te conheço, creio que não é verdade, mas muito me
admira que você não tenha tido conhecimento de uma notícia como essa.
Me inclinei para frente após o que Levi havia me comunicado, e eu tinha
uma expressão confusa. Ao pegar a revista eu não podia acreditar no que
estava vendo. Uma manchete bem grande dizendo que Elizabeth e eu
estávamos... Noivos!
— Minha mãe...
Abaixei minha cabeça olhando para a revista e vi a data que ela foi
lançada, um dia após meu jantar com Charlotte. E pela conversa estranha
dela no restaurante com certeza ela estava sabendo disso, então, nada mais
coerente do que eu conversar com ela. E era exatamente isso que eu iria
fazer.
— Você está certo, faça isso, como seu amigo foi muito duro ver você
sofrendo durante esses cinco anos. Não perca sua chance de ser feliz. —
Levi falou me dando apoio.
Ela ainda parecia estar muito brava, então, se aproximou de mim e deu
um tapa no meu rosto com muita força. Eu dei um passo para trás e não
entendi o motivo pelo qual havia levado aquele tapa. Eu a olhei com
indignação, e então ela apontou o dedo para mim e falou entre os dentes:
— Não pense que você vai me humilhar assim novamente, nem você,
muito menos as duas cobras peçonhentas que o acompanham. Eu não pedi
para você me dar a maioria das ações da empresa, porém, eu não vou abrir
mão delas. Então se você quer sua parte não venha mandar aquelas duas me
coagirem e tentarem me humilhar, seja homem e venha você mesmo falar
comigo, pare de mandar mensageiras. Assine o divórcio e você terá a parte
que lhe compete! — Ela falava enfurecida e eu não conseguia entender o
motivo de toda aquela cena.
Ligação ON
Charlotte: — Alô?
Cora: — Claro que ele é homem o suficiente, tanto que ele não se sente
à vontade para conversar a sós com você por conta da atual condição dele
de homem comprometido. Não sabemos o que podemos esperar de você no
fim das contas... — Ao ouvir o que ela falou meu corpo estremeceu de raiva.
Eu ainda amava o Jeff, era muito doloroso para mim saber que nem ao
menos ele queria falar comigo a sós por conta do seu noivado com Elizabeth.
Na verdade, era algo muito humilhante. Porém, eu não poderia demonstrar
como isso me afetava.
Ligação OFF
A vontade que eu tinha, era fugir daquele lugar e correr para longe
daquelas duas. Porém, eu deveria me manter firme não poderia ceder as
provocações delas, pois obviamente o intuito das duas com certeza era me
desestabilizar. Segurei na grande maçaneta que havia na porta de vidro e a
puxei, entrei na sala de reuniões e encarei as duas com meu queixo
levantado, passando um ar bem arrogante.
— Bom, estou aqui. Se puder ser breve eu tenho muito o que fazer. —
Falei em um tom ríspido.
— Ah querida, basta você passar todas suas ações para Elizabeth que
você vai embora o mais rápido possível. — Cora disse colocando um papel
na mesa e batendo seus dedos nele.
— O que leva vocês a pensarem que eu passaria minhas ações, que são
meu direito, logo para a Elizabeth? — Questionei ainda em choque pela
audácia daquelas duas.
— É muito simples, como você bem sabe Elizabeth e Jeff irão se casar
em breve, ela como futura esposa, e como uma Staton, não vejo nada mais
justo que ela ter parte das ações da empresa. Já que você não quer cedê-las
para seu avô, que também tem direito, tenha decência e as dê para Elizabeth,
que ela irá dar a parte que compete ao seu avô, algo que você foi incapaz de
fazer. Além do mais, ela é muito mais competente para gerir uma empresa
do que você. Ela é bem estudada, e tem muitas ideias que podem beneficiar a
empresa. — Cora falou com uma voz firme, e ao mesmo tempo desdenhando
de mim como se eu não tivesse capacidade para comandar uma empresa.
Mal sabia ela que o sucesso que a Tec Solutions conquistou ao longo desses
anos se deu por conta do meu projeto.
Porém, me levantei com a caneta na mão, deixei ela cair no chão e dei
um sorriso sarcástico.
— Ops! Acho que caiu. — Falei de maneira bem cínica. Peguei o papel
de cima da mesa e o rasguei em vários pedaços.
— O que eu estou fazendo? Estou cuidando do que é meu e não irei abrir
mão! A pessoa mais injustiçada nessa história inteira fui eu! Meu avô
enriqueceu novamente as minhas custas. Ele não se importou em me casar
com um completo desconhecido, muito menos se importou se eu sofria as
piores humilhações e abusos dentro desse matrimônio. A única pessoa
merecedora das ações que eu detenho na Tec Solutions sou eu! Sem contar
que o projeto que alavancou os lucros e colocou a empresa no ranking de
empresas mais rentáveis do mundo, foi o projeto da minha autoria! — Eu
falei furiosa me direcionando as duas.
— Pergunte ao seu fantoche, digo, ao seu querido filho. — Falei para ela
finalizando com um sorriso sarcástico.
Cora e Elizabeth chegaram logo após o tapa que eu dei nele, eu olhei
para elas e depois para Jeff. Balancei minha cabeça negativamente, e estava
pronta para sair, então, Jeff me puxou pelo braço e disse com um tom de voz
alterado.
— É isso que você ouviu. Sei que você deve ter ficado com raiva por
conta dessa notícia, mas, ela não é verdadeira. E com certeza irei processar o
autor dessa barbaridade. E você, mãe, pare de se meter na minha vida! Eu
amo a Charlotte e vou falar isso para quem quiser ouvir. E o que posso fazer
é defendê-la sempre que eu puder. Você já exigiu câmeras na minha casa
quando éramos casados, e até mesmo nos drogou para que ficássemos
juntos. — Assim que Jeff falou isso Elizabeth olhou para Cora com raiva.
E eu sabia! Sabia que estava sendo vigiada naquela casa. Cora era uma
mulher doente.
— Eu sei o que é melhor para mim, e você enquanto minha mãe deve
respeitar minha vontade. Agora por favor, retire-se daqui, depois nós
conversaremos. Quanto a você Elizabeth, você está proibida de entrar nessa
empresa.
Sei que ela não valia nada, mas era a mãe do filho dele, por mais que ela
tivesse perdido o bebê não deixava de ser mãe. Ela saiu escoltada pelos
seguranças, chorando e nos amaldiçoando. Cora estava empalidecida com
tudo que havia acontecido, e se retirou logo em seguida.
Jeff soltou meu braço e nós nos olhamos por alguns segundos.
— Você não precisava ser tão enérgico assim, afinal, Elizabeth é a mãe
do seu filho, por mais que ele tenha morrido. — Eu falei para ele com certa
amargura.
Talvez ele quisesse manter isso em segredo. Antes que nós dois
pudéssemos falar qualquer coisa. Ouvi a voz do meu filho.
— Oi, meu amor. — Falei para ele com um sorriso enquanto o beijei no
meu colo.
— Eu sei que você foi vítima de uma notícia falsa vinda da Elizabeth,
mas isso, não muda a nossa situação, não temos nada para conversar. O que
aconteceu naquela noite foi um erro, talvez, tudo isso tenha acontecido para
que a gente não mude o rumo da nossa situação. — Eu fui firme ao falar
com ele.
Assim que terminei de falar, não dei oportunidade para ele falar mais
nada e comecei a andar até Brandon. Ele colocou a mão em minhas costas, e
nós três fomos em direção ao elevador para irmos para a garagem onde o
carro dele estava. Enquanto andávamos no longo corredor que dava em
direção ao elevador, olhei algumas vezes para trás e notei que Jeff ainda nos
observava. Um turbilhão de coisas estavam se passando na minha cabeça
naquele momento, saber aquela informação mudava completamente o rumo
das coisas.
— Eu não acredito que você vai perder essa oportunidade! Por Deus, a
falta de diálogo entre vocês dois é estressante! — Levi esbravejou.
— O que você quer que eu faça? Ao que tudo indica ela está com
Brandon. — Eu falei ainda no mesmo tom.
— Você tem razão. Preciso ouvir dela mesma. Eu vou atrás dela.
“Eu nunca pensei que encontraria o grande amor da minha vida após dez
anos e engravidaria dele.”
Ao ouvir o que ela disse, senti como se meu coração tivesse parado de
bater. Foi uma sensação horrível, que eu nunca havia experimentado.
Naquele momento perdi todas minhas esperanças, ela devia querer voltar o
quanto antes para San Diego para ficar junto com a pessoa que ela amava, e
com certeza ela não tinha nada com o Brandon também, isso de certa forma
me aliviava. Porém, não consigo compreender o motivo pelo qual o filho
dela insistiu em dizer que Brandon era seu novo pai sendo que o pai dele
deveria estar em San Diego. Nada com a Charlotte era simples de entender, e
depois desse balde de água fria confesso que eu não tinha interesse em
entender mais nada hoje. Aproveitei que ainda estavam os três distraídos,
virei minhas costas e voltei para meu carro, entrei nele e saí em direção a
minha casa.
Pela manhã acordei e segui com minha rotina normalmente, fui para o
trabalho e eu estava mais sério que o habitual. Me sentei na cadeira do meu
escritório, em frente à minha mesa e comecei a trabalhar. Após algum tempo
que eu estava lá, Levi entrou com bastante animação no meu escritório.
Dei um suspiro e olhei para Levi, fechei meu notebook e passei a mão
em minha testa de maneira cansada.
— Como assim? Você não foi até a casa dela? — Levi perguntou
intrigado.
— Sim, eu fui, mas... Ao chegar em frente ao prédio dela, vi que ela
estava saindo na companhia de Sam e Vivian, comecei a segui-los e ouvi a
conversa deles. Charlotte falou claramente que havia engravidado do amor
de sua vida após ter encontrado ele. Isso para mim foi um sinal mais que
claro para não a procurar mais. — Falei com certa amargura.
— Tudo bem, talvez eu mereça, por minha causa Charlotte sofreu muito.
E não somente por mim, mas por conta da minha família também e eu fui
conivente com tudo que aconteceu com ela. — Eu falei em um tom de
derrota.
— Olha, eu sei que não é fácil. Mas o Jeff Staton que eu conheço não
desistiria tão facilmente, muito menos agiria com autocomplacência.
— O amor não é uma doença para precisar ser curado. — Levi ainda
insistiu.
Diante do dia atípico, vendo como eu estava cansada, Brandon não quis
ficar e apenas deixou Oscar e eu na porta do meu prédio. Aproveitando que
Sam e Vivian estavam na minha casa me esperando quando eu cheguei,
convidei eles para jantar e contei sobre o que havia ocorrido na empresa.
Eles ficaram chocados com a cara de pau da Cora e Elizabeth, mas ficaram
felizes de saber que eu não aceitei ser humilhada por aquelas duas. Sam
ficou eufórico ao saber da bofetada que dei em Jeff. Depois de termos
jantado, como eu ainda estava um pouco triste eles me chamaram para ir a
um barzinho que havia próximo a minha casa para que eu pudesse me
distrair mais daquele dia desastroso.
— Eu acho essa história sua e do Jeff a coisa mais louca que existe. —
Vivian comentou.
— Nem me fale, até eu fico surpresa com o fato de que me casei através
de um contrato absurdo, com meu amor de infância. Como se não bastasse,
eu nunca pensei que encontraria o grande amor da minha vida após dez anos
e engravidaria dele... — Dei um longo suspiro ao falar. — Também nunca
pensei que ele seria o responsável por me machucar tanto. — Tive que
segurar o choro ao terminar de falar.
— Não fica assim, Char. Você vai superar isso. — Sam me falou ao
passar as mãos em minhas costas.
— Não dá, eu refiz minha vida lá. Toda a vida que o Oscar conhece
também está lá.
— Você precisa pelo menos tentar para saber se iria conseguir ou não. —
Vivian falou enquanto sentávamos nas cadeiras do bar.
— Pode ser, mas eu não me sinto preparada para isso, e não quero fazer
ninguém sofrer. — Afirmei para ela.
— É. Então eu acho que você tem que ser o mais clara possível com o
Brandon, porque creio eu que ele está alimentando muitas esperanças em
relação a você. — Sam falou enquanto mexia em seu celular.
— Será que ele não faz isso por ter gostado muito do Oscar? —
Inocentemente perguntei.
O garçom veio e nos serviu alguns drinks, decidi tomar só dois e voltar
para casa. Sei que a intenção de Vivian e Sam era boa, mas eu realmente não
estava no clima.
Nos dias que se passaram, Brandon estava vindo bastante até minha casa
com a desculpa que queria ver o Oscar, fomos juntos há alguns lugares e eu
conversava com ele sempre reforçando que ele era um bom amigo. Eu tentei
por algumas vezes ter uma conversa mais séria com ele para deixar claro que
eu não tinha interesse em qualquer tipo de relação com ele que não fosse de
amizade, mas, ele mudava de assunto e sempre me impedia de falar. Eu
estava ficando impaciente com essa situação e decidi que na próxima vez
que nós nos encontrássemos eu iria dar um basta nessa situação.
Ligação ON
Charlotte: — Alô. — Falei com uma voz de sono.
Sam: — Imagino, sua rotina anda bem intensa. Por esse motivo Vivian e
eu decidimos que vamos te dar um descanso a mais e vamos levar o Oscar
para a Disney.
Sam: — Será um prazer levá-la conosco. Então por volta das 13h00 da
tarde passamos aí, tudo bem?
Ligação OFF
Me levantei da cama e assim que levantei senti uma vertigem, tive que
me apoiar na parede pois minhas vistas se escureceram. Comecei a fazer
exercícios de respiração para me recuperar daquele mal súbito, e aos poucos
fui melhorando. Então, falei comigo mesma:
— Isso não está certo, a última vez que me senti tão mal assim eu... —
Hesitei um pouco antes de falar e senti um nó se formar em minha garganta
— Eu estava... Grávida. Não, não! Não é possível, de novo não, é muito
azar. Eu devia ser a única pessoa no mundo que fez sexo apenas três vezes
na vida, e em duas delas engravidei. Seria uma piada de muito mau gosto por
parte do universo permitir que eu engravidasse do Jeff novamente! — Eu dei
uma risada de desespero e balancei minha cabeça negativamente. — Preciso
tirar essa ideia da cabeça.
— Eu tenho uma novidade pra vocês! — Assim que falei, Oscar já saltou
do sofá e começou a pular de maneira eufórica.
— Eu fiquei sabendo que o tio Sam, e a tia Vivian irão visitar um lugar
que tem um castelo gigantesco, que tem alguns personagens, sabe? Acho que
um tal de Mickey, e até mesmo um carro falante chamado Relâmpago
McQueen estará lá também. — Falei como se não soubesse de quem eu
estava falando.
Oscar abriu sua boca, e arregalou seus olhos como se não estivesse
acreditando no que eu estava falando. E então começou a gritar e correr de
um lado para o outro, mas, parou de repente e fez uma carinha de choro.
— Oh meu amor, é claro que irão te levar! Acabei de falar com o tio
Sam, e ele me ligou justamente para pedir para você ir. E a tia Janet foi
convidada também. — Dei um sorriso ao dizer e Oscar me abraçou
demonstrando estar aliviado.
— Que maravilha! Faz muitos anos que não vou lá. — Janet falou
empolgada.
— Você está querendo mentir para si mesma, porém, isso não vai mudar
sua realidade. Eu estou ao seu lado, mas acho que você engravidar duas
vezes, do mesmo homem mesmo com toda dificuldade que vocês enfrentam
no relacionamento de vocês, pode ser um sinal.
— Faça no seu tempo, mas não espere muito porque não adianta ignorar
algo que já está feito. — Ela tocou o dedo indicador na ponta do meu nariz e
deu um sorriso.
Assim que fechei a porta, uma lágrima teimosa saiu de um dos meus
olhos. Dei um sorriso fraco, e fui até a cozinha, dispensei os empregados
pois como eu iria ficar lá sozinha durante o final de semana era
desnecessário que eles ficassem, por esse motivo dei folga a eles. Depois que
eles foram embora, eu fui até o banheiro e peguei a sacola com o teste de
gravidez, saí de lá e caminhei em direção ao meu quarto.
Já no meu quarto fui até o banheiro que havia nele. Abri o teste de
gravidez e respirei fundo, li as instruções, me sentei no vaso, posicionei a
caneta e fiz xixi no local indicado. Assim que terminei fechei com a tampa
de plástico o local que estava umedecido. Vesti minha roupa coloquei o teste
na pia, e aguardei o tempo necessário para saber o resultado. Coloquei o
teste virado para baixo e comecei a andar de um lado para o outro
esfregando minhas mãos, eu estava muito ansiosa e muitos pensamentos se
passavam pela minha cabeça. Os três minutos necessários para obter o
resultado do teste haviam se passado. Eu estava trêmula quando peguei o
teste, virei ele para cima e estava lá.
Coloquei uma camisola longa, e o robe por cima, pois eu iria pedir algo
para eu comer já que não havia me alimentado direito. Fui até a sala e pedi
comida pelo aplicativo do celular. Fui até a cozinha e me servi com um
pouco de suco de laranja, tomei e voltei para a sala. Liguei a televisão para
me distrair um pouco, até a comida chegar. Não demorou muito, a
campainha do meu apartamento tocou.
Me levantei para atender e para minha surpresa não era minha comida
que havia chegado.
— Eu vim levar você e o Oscar para darem uma volta, o que acha? —
Ele perguntou com um sorriso.
Antes que eu falasse alguma coisa, Brandon passou por mim e foi
entrando dentro do meu apartamento. Aquilo me incomodou profundamente,
então, tive a certeza que agora seria o momento ideal para termos a conversa
que eu estava tentando ter com ele há dias.
À medida que eu falava Brandon foi ficando com o semblante sério, e até
mesmo enfurecido. Percebi que ele apertou sua mandíbula devido a raiva
que estava sentindo por conta do que eu havia acabado de falar para ele. De
repente ele começou a rir de um jeito que me assustou.
Eu cerrei meus punhos ao ouvir a maneira que ele falou do meu filho.
— Sai daqui agora! Você é asqueroso, eu tenho nojo de você! Lógico que
uma pessoa como você não muda, eu realmente fui uma tola por acreditar na
sua mudança. — Eu disse com muita raiva e abri a porta novamente para ele
sair.
Ele continuou com o sorriso perverso que tinha em seu rosto e caminhou
em direção a porta. Porém, ao invés de sair ele bateu a porta com força e a
trancou.
— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO!? — Eu gritei com
ele e tentei alcançar a maçaneta.
Assim que ouvi o que ele disse eu senti um frio percorrer minha espinha,
pois, eu sabia o que ele pretendia, principalmente depois que ele me jogou
no sofá. Eu comecei a chorar de medo imediatamente.
— Brandon, por favor não, não faça nada comigo! — Eu implorava para
ele em meio ao choro.
Ele tinha um olhar frio para mim enquanto desabotoava sua calça. Eu
tentei me levantar, mas ele segurou meus dois braços e se debruçou por cima
de mim, e começou a beijar o meu pescoço e descia em direção ao meu
decote. Por conta do desespero eu comecei a gritar.
Porém, a tentativa dele de me calar foi feita tarde demais. A porta foi
arrombada e vi que um homem entrou, Brandon ao ver a cena se levantou de
cima de mim e paralisou ao ver quem havia arrombado a porta.
Jeff deu um soco tão forte no rosto dele que o fez cair em cima da mesa
de centro e a quebrou inteira. Brandon não conseguiu nem ao menos se
defender pois desmaiou por conta do golpe. Porém, mesmo com Brandon
desacordado, Jeff continuou a dar vários socos nele. Eu me levantei do sofá
rapidamente.
— Eu sei, mas eu não quero que você vá para cadeia por causa dele! —
Eu falei e segurei em seu ombro.
Assim que eu o toquei ele parou sua mão no ar com o punho cerrado, e
nós nos olhamos. Ele estava bem ofegante e eu tinha lágrimas percorrendo
meu rosto. Ele se levantou e nós ficamos de frente um para o outro, e então,
eu me joguei nos braços dele. Jeff me abraçou bem forte. Eu chorei mais
ainda porque estava assustada, se ele não tivesse chegado naquela hora eu
não sei o que seria de mim. Nós ainda estávamos abraçados quando o
entregador chegou com meu pedido.
Jeff tirou seu terno e colocou sob meus ombros, em seguida ele foi até a
porta, explicou o ocorrido para o entregador e pediu que ele avisasse o
porteiro o que havia acontecido.
— Pode ter certeza que eu farei de tudo para você apodrecer na cadeia!
— Jeff falou para ele em seguida enquanto caminhava em minha direção.
Brandon nos olhou com ódio enquanto era conduzido pelos policiais. O
chefe do departamento de polícia chegou no mesmo instante, e encarou
Brandon. Em seguida caminhou até Jeff e o cumprimentou.
— Fique tranquilo, Staton. Esse verme nunca mais fará mal algum a
vocês. — Ele falou com convicção.
— Agora estou. Mas, afinal, sem querer ser grossa... O que você veio
fazer aqui?
— Sei que você disse que não queria, e eu respeitei até onde eu pude.
Mas hoje eu não aguentei, e resolvi vir para conversarmos e esclarecermos
tudo entre nós dois de uma vez por todas. Acho que merecemos isso,
concorda?
Eu fiquei em silêncio por alguns segundos. Sorri com o canto dos meus
lábios e disse:
Decidi que iria sair mais cedo da empresa, iria até minha casa me
arrumar e iria até a casa da Charlotte para conversar com ela. Deixei tudo
organizado em meu escritório e assim que estava saindo encontrei Levi.
— Oba! Até que enfim, quem sabe seu mau humor melhora. — Levi
falou me alfinetando.
— Não vá com esse tipo de pensamento, você precisa pensar que tudo
dará certo. — Levi falou tentando me animar.
Sorri para ele e saí. Eu queria chegar o quanto antes em casa. Enquanto
estava a caminho, parei em frente uma floricultura para comprar um buquê
de flores para ela, escolhi um todo cor-de-rosa. Acho que essa cor
combinava bem com a Charlotte. Entrei novamente no carro colocando as
flores no banco do passageiro. Minha casa já estava próxima então não
demorei muito para chegar até ela. Eu estava ansioso e animado, entrei em
casa cantarolando então ouvi uma voz dizer:
Era minha mãe, depois do que ocorreu com ela e Elizabeth na empresa
eu nunca mais havia falado com ela.
— Uma mãe não pode visitar seu próprio filho? — Ela falou com um
pouco de indignação.
— Até parece que você vem me visitar sem ter segundas intenções. —
Falei de um jeito ríspido com ela.
— Você não percebe que essa mulherzinha ainda vai arruinar você? —
Ela falou impaciente.
— Como sua mãe, eu sei o que é melhor para você! — Minha mãe
retrucou alterando a voz.
— Ela não ama você, nem mesmo um filho conseguiu te dar. Os 25% das
ações do seu avô ainda estão disponíveis, Adélia não quer mais filhos, então
você ainda pode ter e precisa de um filho. Elizabeth está disposta a dar esse
filho a você! — Minha mãe mantinha o tom ao falar.
— Eu não sei que loucura é essa que você tem para que eu tenha um
filho, tudo isso por causa de 25% de ações!? — Perguntei com um misto de
indignação e raiva.
— Não seja tolo, isso é o de menos. A Tec Solutions te rende muito mais
do que qualquer empresa do seu avô. — Ela falou com raiva.
— Não quero que você fique só! Satisfeito, agora? É isso! Seu pai e seu
irmão morreram, foi você quem me deu forças para continuar, não quero que
você fique sozinho quando eu for embora. — Minha mãe dizia com lágrimas
em seus olhos ao se sentar no sofá, e colocar uma de suas mãos em seu rosto.
Todas as vezes que ela mencionava o Josh, meu irmão, ela conseguia me
calar. Meu irmão era um pouco mais velho que eu, e morreu em um acidente
aos 7 anos. Minha mãe nunca mais foi a mesma depois desse acidente dele, e
sempre disse que um filho apenas era a mesma coisa de não ter nenhum. Ela
dizia também que se eu não estivesse aqui ela não teria motivos para
continuar, eu me sentia responsável por fazê-la feliz e sempre permiti que ela
me manipulasse por esse motivo, porém, eu não poderia abrir mão da minha
felicidade para fazer minha mãe feliz por conta da perda que ela havia
sofrido.
— Você seria avó da criança, não mãe. Por favor, eu te peço como seu
filho... Deixe que eu viva minha vida. Já tenho 30 anos, sei bem como
conduzi-la.
Minha mãe pareceu não gostar do que eu falei, ela torceu o nariz e não
falou nada. Mas, deu de ombros e assentiu. Nós nos abraçamos, e eu dei um
beijo no rosto dela. Sinceramente eu não estava convencido de que ela
deixaria essa história de lado, mas por hora, era o melhor a se fazer. Pelo
menos eu estava deixando claro que estava tomando o controle da minha
vida e não faria mais as vontades dela.
Nós nos despedimos, e minha mãe foi embora. Corri para meu quarto
para tomar um banho, e me arrumar. Assim que terminei voltei para o carro e
fui em direção ao prédio da Charlotte. Chegando lá, busquei pelo porteiro,
mas ele não estava. Sendo assim, entrei no elevador, foi mais fácil, mas me
preocupava essa falta de segurança do prédio. Eu estava ansioso enquanto
esperava o elevador, e mais ainda quando entrei nele. E só nesse momento
que me dei conta que não fazia ideia do número do apartamento da
Charlotte.
Pensei em voltar para perguntar ao porteiro onde era, mas fiquei com
receio que ele me expulsasse. Por sorte o prédio era bem exclusivo, e não
tinha tantos apartamentos. Como já havia chegado ao terceiro andar, testei
ele mesmo. Para minha surpresa ouvi alguns barulhos, e então decidi tocar a
campainha. Assim que toquei ouvi a voz da Charlotte gritando por socorro,
não pensei duas vezes e arrombei a porta. A cena que eu vi fez eu ficar louco
de raiva, Brandon havia tentado estuprá-la. Larguei o buquê no chão e o
ataquei sem pensar duas vezes, ele desmaiou, porém, continuei. A única
coisa que me impediu de bater mais ainda nele, foi o toque da Charlotte.
Depois da situação completamente resolvida, Brandon foi preso, e a porta
que eu arrombei foi consertada na mesma hora, pois foi uma exigência que
fiz ao porteiro após dar uma bronca nele em relação a ausência dele na
portaria. Fui até a sacada onde Charlotte estava. Vi que ela estava mais
tranquila, então propus para que nós conversássemos e nos resolvêssemos de
uma vez por todas.
— Bom, então... Eu sei que o Oscar é seu filho com o amor da sua vida
que você encontrou depois de dez anos, creio que você o reencontrou em
San Diego. — Era difícil tentar segurar o ciúme ao falar.
— Pelo visto você não ouviu a conversa inteira. — Ela deu um sorriso.
— Eu acho que não será muito fácil falar isso. — Ela começou a esfregar
suas mãos uma na outra demonstrando ansiedade.
— Tá, mas então fale logo de uma vez. — Falei com certa impaciência.
— Sim, lembro.
— Sim, e você disse que não. Onde você quer chegar, Charlotte?
— Eu menti.
— É...
— Porque tive medo de você pensar que eu planejei me casar com você a
força por isso. Por eu amar você há tanto tempo. — Ela falou em um fio de
voz.
— Sim, o Oscar é seu filho. — Charlotte falou o que não tive coragem
de pronunciar.
Eu a olhei com raiva, não pude acreditar que ela teve a coragem de
esconder algo tão importante de mim.
— Como você pôde esconder isso de mim!? — Falei entre os dentes por
conta da raiva.
Charlotte franziu sua testa e pareceu ficar com raiva pela forma como eu
falei. Mas não fazia sentido, afinal era ela quem estava errada na história.
Eu tenho razão
Narração – Charlotte Staton
Fiquei furiosa pela maneira que Jeff falou. Eu não fui certa, mas só fiz o
que fiz porque ele havia me dado motivos.
— Preste atenção no tom que você está usando comigo! Eu não sou
obrigada a aguentar suas grosserias, ainda mais depois de tudo que me fez
passar. É claro que eu iria esconder a gravidez, afinal, Elizabeth estava
grávida e você já tinha conseguido suas ações, tive medo pelo risco que meu
filho e eu poderíamos correr! — Falei alterada e me levantei do sofá.
— Aquele desgraçado... Foi por isso que aquele dia na empresa você
mencionou que eu e Elizabeth tínhamos um filho. — Jeff falou enquanto
balançava a cabeça negativamente.
— Não adianta ficar com raiva dele por ele ter me contado a verdade,
você quem deveria fazer isso e você nem se quer mencionou a existência
desse filho para mim! Por mais que ela perdeu não deixou de ter existido. —
Eu dizia com muita raiva.
— O quê? — Eu balbuciei.
— É isso que você ouviu, quem engravidou naquela época foi a Adélia, e
ela perdeu o bebê. Por esse motivo ela rompeu com Brandon. Eu nunca
fiquei com mulher nenhuma depois que me casei com você, muito menos a
Elizabeth! — Jeff falava ainda alterado, mas estava um pouco menos
nervoso.
— Charlotte? — Ele veio até mim e passou sua mão em volta da minha
cintura. — Você está bem?
— Eu preciso comer, não comi praticamente nada hoje. — Falei com
uma voz fraca.
— Meu Deus, é por isso que você está se sentindo mal e está pálida! —
Jeff disse em tom apreensivo.
— Não é só por isso que estou assim. — Apoiei minhas mãos nos
ombros dele ao falar e o olhei nos olhos.
— Não... Eu estou grávida. — Assim que falei isso para ele, vi que ele
ficou confuso, e antes que ele pudesse achar que eu estava grávida de outro
homem eu disse: — E eu jamais fiquei com ninguém em toda minha vida
além de você.
Jeff puxou meu corpo, fazendo com que nossos corpos se unissem mais
ainda e me deu um abraço forte. Eu correspondi ao abraço e acariciei sua
nuca com a ponta dos meus dedos. Nós ficamos assim por um tempo, até que
ele se afastou e se ajoelhou diante de mim.
— É, realmente não foi. — Sorri para ele enquanto acariciava seu rosto.
— Você não mudou seu gosto por porcarias, não é? Vou cozinhar para
você, você precisa de comida de verdade. — Jeff falou.
— Há muitas coisas que você precisa descobrir sobre mim. — Ele sorriu
ao falar.
Correspondi ao sorriso e nós fomos para a cozinha. Enquanto Jeff pegava
os ingredientes para preparar a comida, eu me sentei no banco que havia em
frente a ilha da cozinha e ele me serviu suco de maçã. Enquanto ele colocava
o avental ele questionou:
— Ele viajou com Sam, Vivian e Janet para a Disney. E não, ele não sabe
que você é o pai dele. — Afirmei para ele.
— Tem certeza? Ele parece me odiar, e agora arrisco dizer que não é
gratuitamente. Ele entrou na minha sala e riscou meu rosto na foto do nosso
casamento.
Ao ouvir o que Jeff falou fiquei em dúvida se Oscar realmente não sabia
que Jeff era seu pai.
— Eu guardo uma foto do nosso casamento, talvez ele possa ter visto.
Oscar tem uma personalidade muito forte e é muito inteligente, já o peguei
ouvindo atrás das portas. Será que ele descobriu assim? — Perguntei
apreensiva.
— Você ainda tem dúvidas? — Jeff falou dando uma breve risada.
— Ele é meu filho, uma pequena versão minha arrisco dizer. Por mais
que seja difícil, vai dar certo. — Jeff disse otimista. — Nós estamos juntos,
isso é o que eu mais queria, as outras coisas naturalmente irão se ajustar.
Sorri por conta do que Jeff falou, e nesse momento eu senti que nada
poderia nos abalar. Finalmente Jeff e eu havíamos resolvido algo que deveria
ter sido resolvido há cinco anos. Enquanto eu o observava, recebi uma
mensagem no meu celular. Era Stuart.
Mensagem ON
Mensagem OFF
Não respondi a última mensagem, apenas peguei meu celular joguei para
o lado ao arfar com raiva.
— Stuart.
— Fique tranquila. Iremos juntos, ele não poderá coagir você, pode ter
certeza. Você é dona da Tec Solutions, ele só não sabe disso ainda. — Jeff
falou com firmeza e aquilo me ajudou a me sentir mais segura.
Por mais que eu estivesse diferente, mais segura de mim, era importante
ter a presença de Jeff para me dar uma segurança a mais.
— Por que você mantinha uma foto da Elizabeth mesmo estando casado
comigo?
— Pois é... Aquele foi o presente mais bonito e sincero que recebi, por
isso guardei naquela caixa e fiquei irado quando você quebrou. E por fim
acabei te machucando. — O semblante de Jeff se tornou triste quando ele
falou. — Eu não mereço seu perdão, fiz coisas horríveis com você.
— Não fique se torturando dessa maneira, foram uma série de coisas que
o levaram a agir dessa forma. Agora estamos bem. — Estiquei meu braço até
ele, e segurei uma de suas mãos acariciando o dorso dela com meu polegar.
Jeff pegou minha mão, levou até sua boca e deu um beijo nela. Nós
terminamos de comer e eu estava exausta. Bocejei e então Jeff falou:
Jeff deu um sorriso aliviado ao ouvir o que eu tinha falado. Nós nos
levantamos e fomos em direção ao meu quarto. Ao chegar lá nós nos
deitamos na cama e ficamos de frente um para o outro, apenas nos olhando
em completo silêncio. Jeff acariciou meu rosto com a ponta de seus dedos,
em seguida foi deslizando sua mão pelo meu corpo até chegar em minha
barriga. Ele a acariciava com a palma de sua mão, e tinha um sorriso em
seus lábios enquanto me acariciava.
— Eu não quero que ela saiba. — Falei com uma expressão bem séria.
— Sua mãe foi uma das responsáveis pelo nosso sofrimento, inclusive
foi ela quem me entregou o acordo de divórcio.
— Quem dera fosse. Ela foi bem enfática quanto a isso, o estopim para
eu assinar você já sabe qual foi, porém quem semeou tudo isso foi sua mãe.
Sendo assim, eu acho que é totalmente compreensível que eu não quero que
ela saiba que Oscar é nosso filho, muito menos que estou grávida. — Falei
com firmeza.
Era tão inédito ter Jeff ao meu lado daquela maneira que senti como se
eu estivesse nas nuvens. Por conta das carícias dele acabei pegando no sono.
Pela manhã o despertador tocou, e nós dois nos levantamos. Enquanto eu
tomava meu banho, Jeff preparava o café da manhã. Terminei de tomar meu
banho, tomei café junto com Jeff e saímos apressados de casa pois teríamos
que passar na casa dele para que ele pudesse se arrumar. Nós estávamos no
carro seguindo caminho para casa
— Minha casa? Você disse que eu era apenas uma convidada lá. — Eu o
alfinetei por conta do passado.
— Agora estou te convidando para ser dona. — Ele aproveitou para me
provocar e nós dois rimos.
— Você está certa, eu estou ansioso e não vejo a hora para que isso
aconteça. — Jeff falou em tom de empolgação.
Jeff engoliu seco, percebi nesse momento que ele tinha meo de ser algo
que pudesse afetar nosso relacionamento.
— Shhh! Fale baixo, pode ser que escutem antes da hora. — O repreendi
sussurrando.
— Eu imaginei que você pudesse ser a dona da Times quando a vi sair da
empresa de Wilson. — Jeff falou em um tom mais baixo.
— É... Vamos lá, quero ver o que Stuart quer de mim e estou pronta para
enfrentá-lo. — Falei ao respirar profundamente.
Assim que entramos na sala de reuniões Cora olhou para Jeff e eu dos
pés à cabeça. Percebi a raiva que ela estava sentindo por conta da contração
em sua mandíbula. Creio que ela percebeu que nós nos reconciliamos por
isso agiu daquela forma.
Mal sabia ele que a maior acionista da empresa era eu, e que ele havia
sido enganado por Jeff e na verdade não tinha mais participação nenhuma na
empresa. Meu avô continuou a falar de maneira arrogante enquanto Cora
dava um sorriso.
— Mas, como você é uma garota petulante e ingrata, sei que não vai
querer assinar aceitando a transferência de ações total, convoquei essa
reunião para que os acionistas decidam quem será o verdadeiro dono, e
expulse você como acionista. Não sei se você sabe, mas essa é uma cláusula
legítima. Então, senhores, quem está ao lado da Charlotte?
— Não, ela não está. Eu subornei seu advogado para que ele o fizesse
assinar. E não fiz isso somente uma vez, quando você assinou os papéis
aceitando que eu transferisse os primeiros 45% da empresa para Charlotte,
fui eu quem falou para ele te convencer a assinar fazendo você acreditar que
poderia manipular novamente sua neta para que ela transferisse as ações para
você. Mas, depois que Charlotte foi embora, algo me dizia que ela não iria
ceder a você, nem a mais ninguém. — Jeff falou encarando meu avô com o
queixo levantado enquanto falava.
Eu dei um sorriso para ele ao ver como ele me defendia, e então falei:
— Ah, e sei que você pode ter ficado na dúvida de como eu consegui as
terras do cemitério da família, então vou contar para você. Seu filho, Jacob,
facilitou tudo para mim. Ele se endividou e um generoso empresário, da
empresa Times Technologies se dispôs para pagar as dívidas dele a troco da
assinatura dele transferindo as terras para o nome dele. E adivinha só? O
generoso empresário dono da Times, o senhor Charlie, sou eu! Parece que
herdei a habilidade de fazer empresas rentáveis dos meus pais, além do mais
o projeto que fez a Tec Solutions ficar entre as maiores empresas do mundo
em tão pouco tempo, fui eu! — Falei de maneira arrogante.
A esse ponto todos estavam boquiabertos com o que eu falei. Era visível
o arrependimento dos acionistas por terem tomado a decisão de apoiarem
meu avô.
— Não costumo ter perto de mim quem eu não confio, mas, posso pensar
a respeito e reajustarei o contrato de ações caso aceite a permanência de
vocês na minha empresa. Eu entrarei em contato, mas, por hora, podem sair.
— Mantive meu tom ao falar com eles.
— Como você teve coragem de enganar um homem que está com seus
dias contados, meu filho?
— Da mesma maneira que ele teve coragem de vender a própria neta por
dinheiro, a fazendo passar um verdadeiro inferno ao meu lado. Sem contar as
coisas absurdas que você também a fez passar. Charlotte me falou que foi
você quem deu o acordo de divórcio para ela assinar, e deu a entender que eu
quem havia pedido para que você fizesse isso de maneira covarde. Eu não a
perdoarei por ter agido pelas minhas costas dessa maneira, por sua causa
Charlotte foi embora e nós perdemos cinco anos juntos, e não somente isso.
— Antes que Jeff pudesse falar mais alguma coisa eu segurei em seu braço
apertando levemente.
Não queria que ele contasse que Oscar era nosso filho, não era o
momento, principalmente na frente do meu avô. Jeff entendeu minha atitude,
e não falou mais nada para sua mãe.
Cora também parecia não ter entendido bem o que Stuart quis dizer e o
olhou intrigada. Então, meu avô sacou uma arma e veio em minha direção.
Jeff ao ver o que meu avô estava fazendo me puxou para perto dele.
— Meu amor, calma! Você não pode ficar nervosa assim, lembre-se do
nosso bebê! — Jeff falou em tom desesperado.
Ao ver que eu iria ser atingida, Jeff se jogou na minha frente levando o
tiro em meu lugar. Porém, antes que Stuart disparasse a arma ele foi atingido
também. Levi ao ver que ele estava armado havia saído da sala e chamado os
seguranças do prédio. Ao ver Jeff caído no chão, eu gritei e Cora também.
Me ajoelhei ao lado do meu marido, e pude ver que a bala atingiu o ombro
dele.
— Calma, eu vou ficar bem. — Jeff falou colocando a mão no ombro. —
Acho que foi de raspão.
— Eu não tenho problema algum em dar minha vida por você, aliás, por
vocês. — Jeff disse com um sorriso e com sua voz um pouco falhada por
conta da dor.
Assim que Jeff saiu da sala, caminhei até ele e o abracei forte.
Assim que Oscar entrou, Jeff e eu nos levantamos do sofá. Ao ver Jeff lá,
Oscar fez uma expressão feia e disse:
Jeff caminhou até ficar bem próximo de Oscar, e agachou na sua frente.
— Por que você diz isso, Oscar? — Ele falou com uma voz branda.
Oscar se mostrou mais interessado após a dinâmica que foi proposta por
Jeff.
— Pode ser. — Oscar falou em tom desdenhoso.
Pai e filho
Narração – Jeff Staton
Ele olhou um pouco desconfiado para Charlotte com medo de levar uma
possível bronca por conta da resposta que daria, então hesitou antes de falar.
— Fique tranquilo, te prometo que a mamãe não vai brigar com você. —
Eu falei com convicção para ele tentando fazer com que ele tivesse
confiança em mim.
— Eu ouvia atrás das portas quando ela conversava com outros adultos.
— Oscar falou.
Nesse momento Charlotte levou suas duas mãos até sua boca, e seus
olhos ficaram marejados. Creio que nesse momento ela se deu conta que
Oscar sabia que eu era o pai dele há muito tempo.
— Então você sabe o que eu sou seu, não sabe, Oscar? — Eu ainda
estava agachado na frente dele.
— Oscar, você tem vontade de ter um pai como seus amiguinhos, não
tem?
— Meu amor, essas coisas nós não escolhemos. E o Brandon, não é uma
pessoa boa também. Ele fez uma coisa muito feia, e por esse motivo foi
preso. — Charlotte falou para Oscar.
Brevemente o olhar de Oscar mudou para mim, mas logo ele adotou
novamente sua postura irritada.
— Que bom, mas isso ainda não faz com que eu goste de você. — Ele
foi afiado em sua resposta.
— Se eu disser para você que pedi perdão a sua mãe por todas as vezes
que magoei ela, que a fiz chorar, e por todo mal que eu causei, você me daria
uma chance para ser seu pai? — Ao falar isso foi difícil conter minha
emoção.
Oscar abriu sua boca e arregalou seus olhos fazendo uma expressão
surpresa diante da notícia que sua mãe acabou de lhe dar, em seguida deu um
sorriso tão largo que enrugou seu nariz. Ele se levantou de cima de mim, e
começou a correr pela casa em comemoração. Charlotte, Janet e eu
gargalhamos diante da reação dele. Me sentei no chão ao lado de Charlotte e
a abracei dando um beijo em seu rosto.
Charlotte e eu decidimos não ter contato com minha mãe pelo menos por
um tempo, por mais que ela insistisse, e também não contamos a ela que
Oscar era meu filho. Minha mãe precisava sentir as consequências de seus
atos. Nunca mais ouvimos falar em Elizabeth após o dia em que eu a
expulsei da empresa, talvez tivesse se cansado e voltado para o exterior, para
nosso alívio. Em relação a Brandon, descobriram uma série de crimes que
ele havia praticado, e somado ao que ele tentou fazer com Charlotte ele foi
condenado à prisão perpétua.
Seria lilás para menina, e verde para menino. Colocamos o Oscar entre
nós dois, e seguramos a mão dele. Os convidados e nós fizemos a contagem
regressiva, e os fogos começaram. A princípio foram lançados na cor prata
para gerar mais expectativa e ansiedade, depois, os fogos começaram a
tomar cor e juntamente com eles as fumaças começaram a ser lançadas na
cor lilás, vários balões na cor lilás começaram a cair em cima de nós através
de uma estrutura. A parte dos balões foi uma surpresa que eu não esperava.
— Não! Eu queria um irmão, não uma irmã! Meninas não sabem brincar
direito. — Ele falou nervoso.
— Sabem sim, campeão. Você vai ver como é legal! — Jeff disse
tentando animar Oscar.
Mas ele estava tão irritado que nem se quer deu ouvidos e decidiu sair
correndo dali.
— Sim, não sei porquê, mas estou com um aperto em meu coração. —
Falei para ele.
— Fique tranquila, ele é criança logo vai se acostumar com a ideia de ter
uma irmãzinha. — Jeff colocou suas duas mãos em meus braços na tentativa
de fazer eu me acalmar.
— Não vamos amor, alguma coisa ruim aconteceu com ele. Eu tenho
certeza! — Eu falei para ele enquanto chorava.
— Por que fizeram isso com meu menino? Querem dinheiro, é isso? —
Eu falava chorando.
Eu estava tão abalada que parecia não estar presente. Só queria saber
como meu filho estava, e a cada minuto que se passava, que eu sabia que ele
estava nas mãos de Elizabeth, era uma verdadeira tortura pra mim. Eu me
senti tonta, e cambaleei, Sam e Jeff vieram rapidamente em minha direção e
me sentaram na cadeira. Jeff estava em ligação com seu amigo da polícia
enquanto me auxiliava. Assim que ele desligou, olhou fixamente nos meus
olhos e disse:
— Quem é? Atende! Por que você não atende? Podem ser notícias sobre
o Oscar. — Eu falei de maneira desesperada.
— Calma, é só minha mãe. Não estou com cabeça para lidar com ela
agora. — Ao ouvir que era a mãe dele me frustrei.
Depois de Jeff ter ignorado a ligação de sua mãe, meu celular também
começou a tocar. Peguei ele apressadamente e vi que era Cora. Eu achei
aquilo estranho porque ela simplesmente não me ligava... E se ela estivesse
envolvida no sequestro do Oscar juntamente com Elizabeth? Ao cogitar isso,
eu simplesmente atendi e coloquei no viva-voz para que todos pudessem
ouvir o que ela tinha a dizer.
Ligação ON
Ligação OFF
Eu sabia bem que Cora não era uma pessoa nada confiável, porém,
naquela ligação eu senti verdade nela e não acreditei que ela pudesse estar
envolvida com Elizabeth.
Jeff apenas suspirou porque ele sabia que não teria como evitar que eu
fosse pois quando eu colocava algo na minha cabeça ele sabia muito bem
que não adiantava ir contra mim.
— Char, você tem certeza, pense na Allyce, você não pode se arriscar. —
Sam me alertou.
— Fique tranquilo, Sam, vou ficar de olho nela. — Jeff falou para Sam.
Sendo assim nós fomos em direção ao carro para ir até a localização que
Cora havia enviado.
Instinto protetor
Narração – Cora Staton
Charlotte também foi uma vítima, tanto minha quanto da família dela,
como essa menina sofreu! E agora, que ela estava grávida do meu filho eu
queria tanto poder estar participando deste momento. Mas, infelizmente, ela
e o Jeff não estavam dispostos a me deixar participar da vida deles. E eu os
entendo, estão na razão deles. Fui fazer um tour pela Europa para ver se eu
conseguia ficar mais tranquila por indicação da minha terapeuta, para
esquecer um pouco eles, mas era difícil. Eu sempre dava um jeito de
procurar saber deles de alguma forma e estava acompanhando a gestação da
Charlotte mesmo que de longe. Eu sabia que ela também tinha um filho, mas
eu nunca consegui ver fotos dele.
Eu já havia voltado para New York, e fiquei sabendo que aconteceria
uma festa para revelar o gênero do meu neto, fiquei sabendo pois tudo que
acontece com os Staton vira uma grande notícia. Além disso, Jeff mandou
um convite para seu avô que obviamente não se estendia a mim. Pensei em
mandar um presente, mas fiquei com medo deles não aceitarem sabendo que
eu quem havia mandado. Então, decidi ir a uma loja de bebê e comprar
várias roupas de cores neutras, brinquedos, e até mesmo o melhor e mais
luxuoso carrinho de bebê, porém, coloquei em nome do Robert, como se ele
quem tivesse dado. Só de saber que pude dar algo para meu neto já me sentia
bem.
Ligação ON
Cora: — Elizabeth?
Cora: — Eliza...
Ligação OFF
Ela desligou antes que eu pudesse falar que havia desistido de atrapalhar
a vida do meu filho. Porém, achei ela bastante descontrolada e julguei que
seria melhor ir ao lugar onde ela estava falando para que eu fosse pois ela
não estava bem. Saí de casa, entrei no meu carro e fui em direção ao local
que ela havia me enviado a localização, ao chegar lá fiquei um pouco
assustada com o lugar. Era em um bairro bem afastado, e parecia ser um
lugar completamente abandonado. Olhei em volta com muita desconfiança e
desci do carro, liguei para ela avisando que estava na localização que ela
havia me enviado, mas acreditava que aconteceu algum equívoco pois eu
duvidava que fosse lá, porém ela disse que não e logo apareceu na porta.
Assim que a ouvi, eu paralisei no meio das escadas. Pensei ter ouvido
errado o que ela havia dito.
— Droga! Vou ter que sair e comprar algo para ele. Você o vigia?
— Mas é claro, conte comigo, você sabe que estou do seu lado. — Falei
para aumentar a confiança dela em mim.
Ela sorriu e saiu, assim que ela saiu o menino tinha o olhar mais
assustado por achar que eu era cúmplice de Elizabeth, então me aproximei
dele e disse:
— Calma, eu não sou inimiga. Eu vou te ajudar, mas preciso que confie
em mim.
— Eu me chamo Cora, sou mãe do Jeff o marido da sua mãe. Qual seu
nome?
— Meu nome é Oscar. O Jeff é meu pai, então você é minha vovó? —
Oscar me perguntou.
— Sim, eu sou sua vovó. — Falei com a voz embargada pelo choro.
— É, acho que vou tentar pra ver se funciona. — Falei para ele ao limpar
minhas lágrimas. — Agora, escute bem, eu vou ligar para seus pais, e avisar
onde nós estamos. Depois, vou tentar tirar você daqui enquanto a Elizabeth
não volta, tudo bem?
Liguei para Jeff e ele não me atendeu, liguei para Charlotte e ela atendeu
a ligação. Falei o mais rápido possível com eles, e logo, ouvi um barulho e
desliguei, pois, achei que Elizabeth havia chegado. Mandei a localização
para eles apressadamente, e então, fui verificar se era ela que havia chegado.
Porém, era só o barulho do vento batendo na casa velha fazendo-a ranger.
Isso era bom, pois, me daria mais tempo para fugir com meu neto. Ele
estava algemado pelo tornozelo ao pé da cama.
Fui até ela com pressa e para minha sorte a chave estava lá. Peguei ela e
consegui soltar Oscar, peguei na mão dele e nós saímos do quarto com
pressa em direção as escadas, nós descemos as escadas e fomos em direção a
porta de saída. Mas, para nosso azar, Elizabeth chegou na mesma hora.
— Elizabeth, se entregue, você sabe o que irá acontecer. Você tem uma
vida inteira pela frente. — Eu tentei alerta-la.
— Nunca! Agora você não me deixou escolha, eu vou ter que matar
vocês dois! — Ela falou se aproximando com a arma apontada para nós dois.
— Por favor, não! Faça o que quiser comigo, mas deixe meu neto em
paz! — Eu implorei para ela.
— Você acha mesmo que eu vou permitir que aquela sem sal da
Charlotte e seu filhinho arrogante sejam felizes enquanto eu passo o resto da
minha vida na cadeia? — Ela perguntava com deboche.
— Jeff não teve compaixão por mim ao me expulsar da vida dele como
se eu fosse uma qualquer. Agora ele vai conviver com a dor de perder a mãe
e o filho por suas más escolhas.
— VOVÓ! — Quando meu neto me gritou a única reação que tive foi
me agachar e abraça-lo para protege-lo com meu corpo.
— Não, a vovó Cora me salvou. — Oscar falou e olhou para mim com
um sorriso.
Eu correspondi ao sorriso dele, e então ele veio até mim. Oscar pegou
em minha mão e começou a em guiar em direção a Charlotte e Jeff.
— Bom... Oscar me disse que quando ele faz alguma coisa errada, ele
pede desculpas e faz uma carinha irresistível para que vocês aceitem as
desculpas dele, e sempre dá certo. Tenho certeza que tudo que eu fiz contra
vocês, é bem maior do que as travessuras que ele faz, porém, eu quero pedir
perdão a vocês por todo mal que eu causei. Principalmente a você, Charlotte,
eu fui uma das principais responsáveis por sua vida ter se tornado um
verdadeiro inferno, e caso você não me perdoe saiba que eu vou entender. Eu
estou feliz só de conhecer meu neto, ver você com essa barriga sabendo que
trará mais um bebê para alegrar mais ainda a vida da sua família, e além
disso, saber que meu filho está feliz já vale a pena para mim.
Ao ouvir o que ele disse, todos nós gargalhamos e então Charlotte falou:
— Cora, qualquer pessoa que se coloca em frente a uma bala no intuito
de salvar a vida do meu filho já tem meu perdão. Ainda mais se essa pessoa
for a mãe do homem que eu amo. — Charlotte falou.
— Obrigado, mãe. Você salvou meu filho, não tenho como te agradecer,
e eu tive muito medo de perder você, quero você de volta em minha vida,
com limites... É claro. — Jeff e eu demos uma risada.
— Amor... — Jeff falou com uma voz tranquila enquanto acariciava meu
cabelo que estava molhado por conta do suor.
— Você está incrível, eu tenho muito orgulho de você, não fique com
medo, você vai conseguir! — Jeff falou me encorajando.
Assim que ouvi as palavras dele, me senti mais confiante. Apertei a mão
dele e coloquei toda minha força, dei um grito que ecoou pelo quarto e ao
final, minha doce Allyce apareceu. O choro dela era forte, e ela era bem
gordinha. Jeff estava em lágrimas enquanto beijava minha mão e dizia que
me amava em meio ao seu choro emocionado. A médica trouxe nossa filha
para meus braços, eu a peguei e dei um beijo em sua testa. Ao encostar meus
lábios em sua pele, ela parou de chorar dando um breve suspiro. Jeff a tocou
e cheirou sua cabeça.
— Eu sou a mulher mais feliz do mundo ao seu lado, com a família linda
que a gente tem. — Eu falei emocionada.
— Mas nós já somos casados, meu amor. — Falei para ele dando uma
risada.
— Nós nos casamos através de um contrato que você não teve poder de
escolha. Eu estou aqui, pedindo para você se tornar minha esposa se isso for
de sua livre e espontânea vontade. — Jeff me olhava fixamente ao perguntar.
— Sim, meu amor, eu aceito ser sua esposa por livre e espontânea
vontade, de todo meu coração.
Assim que o respondi o sorriso dele se tornou maior e nós nos beijamos.
Ao findarmos nosso beijo, Oscar, Cora, Sam, Vivian e Janet entraram no
quarto do hospital com alguns balões cor-de-rosa e com o nome da Allyce
dentro. Oscar estava ansioso para conhecer a irmã, nos meses que se
passaram Cora o convenceu de como seria incrível ele ser o irmão herói de
uma menina, isso fez com que ele ficasse super empolgado e ansioso com a
chegada da irmã.
Todos ficaram emocionados ao ver Allyce. Ela havia vindo para
completar a família e fazer com que Jeff e eu vivêssemos uma experiência
única, que foi tirada de nós há anos atrás quando o Oscar nasceu.
Allyce estava com quase dois meses, Jeff tinha muita pressa para que nós
casássemos, então marcamos a data para hoje. Eu estava tão ansiosa, parecia
até que já não era casada com ele. Mas, diferente da primeira vez, a
ansiedade que eu sentia era gostosa, me trazia felicidade e esperança de que
estaríamos dando um sim para desfrutarmos das alegrias que antes não
tivemos, pelo resto de nossas vidas. Dessa vez, quem me levaria até o altar
seria o Sam, o único da minha família que realmente me amava.
— Está pronta? — Sam falou ao entrar no meu quarto junto com Vivian.
— Você está linda Char, eu nem ao menos sei descrever a emoção que
sinto de vê-la assim. Você sofreu muito e merece ser feliz! E para aumentar
mais ainda a alegria desse momento, temos uma notícia para dar. — Sam
acariciou a barriga de Vivian que tinha um grande sorriso e os olhos
marejados.
— Pra onde você está me levando? — Perguntei com a voz falhada por
estar correndo.
Nós continuamos a correr por um tempo, até que ele parou, e eu parei
também. Jeff veio para trás de mim e colocou suas duas mãos nos meus
olhos e disse:
— Continua andando.
— Espera que tem mais. — Jeff falou e pegou na minha mão me levando
até a arquibancada.
Fim!
Agradecimentos
Gostaria de deixar meu agradecimento especial, aos meus filhos, por ordem
de nascimento, Oscar, José Rycardo, Allyce e Maria Eloá por serem
pacientes enquanto eu estava em meu processo de criação, a mamãe ama
muito vocês! E em especial, ao meu parceiro de vida, Jeferson, pois sem ele
não seria possível realizar esse sonho de publicar esta obra, eu te amo, meu
Jeff.