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Copyright © 2023 Brisa Magalhães

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Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou mortas, é coincidência e não é pretendida pelo autor.

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N° DE REGISTRO DE OBRA: 312248158

Design da capa por: Lysa Moura


Revisão: Brisa Magalhães
Diagramação: Brisa Magalhães
Goiânia - Goiás - Brasil
Para meus amores,

Jeferson, Oscar, José Rycardo, Allyce e Maria Eloá.


Contents

Copyright
Dedication
O dia do meu casamento
Noite sem núpcias
Provocante
Se comporte
Humilhada
Não seja vítima
Desobediência
Constrangedor
Inconveniente
Confusão
Culpado
Desejo
Desnorteada
Mal entendido
Meu acompanhante
Atitudes estranhas
Falsa
Perdida
Procedimento surpresa
Desvendando o contrato
Sem esperança
Uma nova Charlotte
Investigando o passado
Esquecendo a passividade
Mudança radical
Mais confusa ainda
Memórias
Perseguindo sonhos
Ela é poderosa
Quero paz!
Mantendo o foco
O gênio misterioso
Descobrindo mais sobre o contrato
Correndo contra o tempo
Quem é o mais forte?
Positivo ou negativo?
Embriaguez
Peanut?
Perspicácia
Meu plano perfeito
Ele também é esperto!
Os mesmos desencontros
Uma noite de amor
Traída pela própria família
Mais do mesmo
Quase abatida
Falta de comunicação
Mistério desvendado
Mente desorientada
Preciso dela
Sem orgulho
Insistência
Interpretando tudo errado
Decisão definitiva
Será um adeus?
Abandonado
O retorno
Uma nova mulher
Ardilosa
Irredutível
Planos falhos
O pestinha
Não fuja de mim
Cedendo aos poucos
Ilusão
Desilusão
Sem diálogo
Afronta
Oportunista
Maquiavélicos
Quem é esse garoto?
Não serei humilhada!
Talvez seja melhor desistir
De novo não...
Finalmente teremos diálogo
Eu tenho razão
Charlotte VS Stuart
Pai e filho
Surpresa
Instinto protetor
Finalmente felizes
Agradecimentos
O dia do meu casamento
Narração - Charlotte Hills

Faltavam apenas dois meses para que eu pudesse me formar, e


finalmente tirar do papel o projeto que eu tinha de montar minha própria
empresa de tecnologia. Se meus pais estivessem aqui, tenho certeza de que
eles iriam se orgulhar de mim. Eu tinha acabado de acordar, e estava um
pouco zonza. Não sei o motivo, além disso me sentia um pouco fraca,
poderia ser tensão, ansiedade, não sei. Porém, optei por seguir minha rotina
normalmente. Tomei um bom banho e me vesti para começar mais um dia.
Olhei no espelho e segurei o relicário com a foto dos meus pais enquanto
deixava escapar um sorriso triste. Era para eu estar naquele avião também,
entretanto, por conta dos meus estudos optei por não ir, porque meu
orientador havia me dado uma chance de concluir a graduação antes do
tempo, para que eu pudesse ir diretamente para minha pós-graduação devido
a minha inteligência e a ideia de um projeto que eu tinha. Eu sabia que meus
pais estavam muito orgulhosos de mim por ter ficado para estudar, e por esse
motivo não se ressentiram quando me neguei a ir com eles. O orgulho deles
por mim, era minha motivação diária para não desistir dos meus sonhos.
Ouvi algumas batidas na porta do meu quarto enquanto eu estava perdida
em meus pensamentos, então eu disse:

— Pode entrar! — Quando a porta se abriu, vi que era meu primo


Sam. — Sammy, vem cá! — Dei um sorriso para ele após convidá-lo para
entrar.

Sammy era médico psiquiatra, tinha acabado de se especializar. Ele era


filho do meu tio Jacob, e diferente do pai, que claramente parecia não gostar
de mim, ele era um amor comigo. Desde que se mudou para cá, após a morte
dos meus pais, junto com meu avô e seu pai, para poderem ficar comigo, ele
me ajudava muito me dando consolo e conforto para que eu superasse a
morte dos meus pais. Mesmo eu tendo convidado ele para entrar, Sam se
manteve na porta.

— Eu acho melhor você descer. — Ele falou em um tom sério.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei preocupada.

— Não... — Sam disse hesitante. — Na verdade, mais ou menos. É


melhor você vir. — Ele novamente falou, e saiu na minha frente.

Fiquei preocupada com o tom dele, então, decidi descer assim como ele
fez, ao descer as escadas vi meu avô e meu tio. Ambos estavam com um
semblante sério. Olhei para eles e esperava que alguém me dissesse algo.
Sendo assim, meu tio limpou a garganta e disse:

— Charlotte, não sei se você sabe, mas a fortuna da família Hills está
ameaçada, estamos prestes a falir por completo e simplesmente sumir do
setor hoteleiro.

— Eu imaginei que passávamos por dificuldades, mas não sabia que a


situação estava tão grave assim. — Eu olhava para meu tio um pouco
assustada.

— É... É bem grave. Mas, felizmente, nós achamos uma solução. Meu
pai conversou com o senhor Robert Staton. O neto dele, Jeff Staton, precisa
se casar urgentemente porque é o último herdeiro homem dos Staton, então
ele precisa o quanto antes de um filho para continuar sua linhagem. —
Enquanto eu o escutava, achei aquela conversa bem estranha e não sabia o
que aquilo tudo tinha a ver comigo. Então, meu tio continuou. — Sendo
assim, seu avô ofereceu sua mão ao neto dele em casamento, e em troca ele
ajudará nossa família a se reerguer, quitando todas nossas dívidas.

Eu comecei a rir quando ele terminou de falar. Tanto meu tio quanto meu
avô, me olharam sem entender o motivo da minha risada.

— Ah, tio Jacob! Que senso de humor você tem. — Eu falei enquanto
ria, mas vi que ele permanecia sério. Eu não podia acreditar que ele estava
falando sério. — Você não está brincando? — Perguntei um pouco
atordoada.

— Não, o casamento está marcado para daqui uma semana. — Ele falou
mantendo seu tom.

— Eu não quero me casar! Eu nem ao menos namorei, como vou me


casar com alguém que é um completo desconhecido para mim? — Eu falava
com lágrimas em meus olhos.

— Você não tem que querer, tem que fazer o melhor pelo bem da
família! — Meu avô falou rispidamente ao se aproximar de mim.

— Bem da família? E o meu bem? Vocês pensaram em mim quando


começaram a gastar toda minha herança com a desculpa de que vocês tinham
mais experiência para administrar do que eu? — Eu falava nervosa.

Ao ouvir tudo o que eu disse, meu avô se aproximou mais de mim, e me


deu um forte tapa no rosto. Eu chorava mais ainda com o que ele havia
acabado de fazer, e meu primo veio me abraçar para me consolar.

— Solte-a, Samuel. — Meu avô falou para ele em um tom grosseiro, e


meu primo prontamente o obedeceu. — Você é uma insolente que não
consegue dar valor nos sacrifícios que sua família faz por você, ingrata!
Agora pare de chorar e venha assinar o contrato de casamento.

— Contrato? Ainda tem isso? — Eu perguntei incrédula em meio ao meu


choro. Meu avô apenas revirou seus olhos e não me respondeu nada.
Ele pegou o papel e colocou na mesa, fui até a mesa pisando forte, e
praticamente puxei a caneta da mão do meu avô por conta da indignação que
eu sentia. Eu nem me dei o trabalho de ler o tal contrato, pois, não adiantaria
nada porque de qualquer jeito eu seria forçada a me casar com um homem
que eu não conhecia, independentemente do que eu sentia ou pensava. Eu
assinei o papel, e estava muito abalada com tudo que havia acontecido. Olhei
para meu avô e meu tio lançando um olhar furioso para os dois, pois, eles
estavam me tratando como um mero objeto. Virei as costas para eles e subi
as escadas correndo em direção ao meu quarto. Chegando lá, entrei e bati a
porta, me joguei em minha cama, e continuei a chorar, mas agora, eu
chorava de forma compulsiva. Por conta do cansaço que eu estava sentindo,
o qual eu não sabia explicar o motivo, eu chorei até pegar no sono.

Acordei somente no outro dia. Me levantei para me arrumar para ir para


a faculdade. Eu estava com dor de cabeça pelo fato de ter chorado muito
ontem e não ter me alimentado, então, tomei um analgésico antes de me
arrumar, me troquei, fui até o banheiro fazer minha rotina de cuidados
pessoais e desci para tomar meu café da manhã antes de sair. Todos já
estavam na mesa, e depois de tudo que havia acontecido ontem, o clima era
tenso. Eu me sentei sem dar bom dia a ninguém, servi meu café e então meu
avô me falou rompendo o silêncio que pairava no ambiente:

— Você não poderá participar da sua formatura, se possível, terá que


trancar o seu curso. — Ele falou com a maior naturalidade possível.

— O quê? Por quê? Você sabe que me formar é meu grande sonho, e
faltam apenas dois meses para que isso aconteça! — Eu falei em protesto.

— Uma mulher casada deve se preocupar apenas com seu casamento,


cuidar dos filhos e se manter como uma esposa boa diante da sociedade. —
Ele continuava a falar de maneira calma. Eu simplesmente não acreditava no
inferno que minha vida estava se tornando ao ouvir aquele discurso dele.

Eu me levantei com raiva saindo da mesa, peguei minhas coisas e fui em


direção a porta. Meu primo, Sam, veio correndo atrás de mim.

— Charlotte, espera! Quer carona? — Ele era a única pessoa com quem
eu poderia desabafar. Eu acenei minha cabeça positivamente, e nós dois
entramos no carro dele.

Ele começou a dirigir em direção a minha faculdade. Durante o caminho


eu permaneci com minha cabeça baixa. Percebi que ele me olhava vez ou
outra, até que resolveu acabar com o silêncio e disse:

— Char, eu sinto muito pelo que você está passando. — Sam tinha um
tom de voz triste ao falar comigo.

— Tudo bem, para essa família parece que minha vontade não é
relevante. Nem mesmo o fato de ter me esforçando tantos anos e estar
prestes a me formar com mérito os sensibiliza. — Eu dei de ombros ao falar.

— Você é uma aluna nota dez, tente fazer com que eles permitam que
você conclua esses dois meses em casa. Eu tenho certeza que você já passou
em várias matérias, estou certo?

— Sim, na maioria. Na verdade, resta somente um projeto para concluir,


mas presumo que eu precisarei estar lá. — Comentei.

— Então está fácil de resolver, você vai se formar, mesmo que seja um
pouco mais difícil. — Ele falou com uma animação na voz com o intuito de
me animar também.

Eu dei um sorriso fraco. Por mais que as circunstâncias fossem ruins,


meu primo tinha o dom de me animar. Chegando na faculdade me despedi
dele e fui direto na reitoria tratar desse assunto. No final das contas, meu
primo tinha razão, pelo meu excelente desempenho o corpo docente permitiu
que eu cumprisse o resto de minhas aulas a distância, entretanto, meu
orientador pediu que pelo menos eu fosse algumas vezes para concluir meu
projeto da pós-graduação que estava em andamento. Eu não sabia como meu
marido seria, talvez, se eu desse sorte, ele poderia ser uma boa pessoa que
apoiaria os meus estudos e me incentivaria, sendo assim, eu poderia concluir
presencialmente.Mas, de qualquer forma foi melhor eu ter deixado essa
pendência resolvida para não correr riscos de ficar sem me formar.
1 semana depois...

O dia do meu casamento arranjado havia chegado. Eu nunca pensei que


iria passar por algo assim, para mim esse tipo de coisa só existia na ficção,
ou então, em culturas extremamente arcaicas e patriarcais. Nunca namorei,
nem se quer dei um beijo, sempre fiquei tão focada nos estudos que as outras
coisas acabaram ficando para trás. Eu tive uma grande paixão secreta por um
garoto da minha escola. Já havia se passado dez anos, mas eu ainda não
havia o esquecido, não sabia seu nome, só lembro da nossa troca de olhares,
e uma única situação inusitada que nos forçou a conversar, mas não foi nada
que pudesse fazer com que surgisse uma paixão por parte dele, eu acho.

Ele era um garoto muito popular, enquanto eu era uma nerd. Sempre fui
mais isolada, não tinha muitos amigos pelo fato de sempre estar focada em
meus estudos, além do mais eu usava óculos, aparelho nos dentes, não era
nada atraente. Era a típica menina invisível do ensino médio. Por muitas
vezes eu sonhei em reencontrar aquele garoto, eu sabia que o primeiro nome
dele começava com “J”, pois todos o chamavam de Jay-Jay, mas, nunca
soube seu nome verdadeiro e sobrenome, não éramos da mesma turma então
não dava para saber. Sei que havia meios para eu descobrir isso, porém,
sempre tive muita vergonha de perguntar para alguém, por medo de
deduzirem que eu gostava dele e por conta disso pudessem tirar sarro de
mim, afinal, ele era o tipo de garoto que não se envolvia com o tipo de
garota que eu era.

Eu não fiquei nessa escola por muito tempo, não cheguei a cursar um ano
completo lá porque, meus pais decidiram se mudar de cidade para que
pudessem abrir uma filial de um dos hotéis da família no estado da
Califórnia, então, isso acabou dificultando mais ainda que a gente pudesse
ter oportunidade para nos conhecermos.

Talvez hoje, que eu estava mais madura, e modéstia parte, mais atraente,
se eu o encontrasse teria coragem para conversar com ele e quem sabe
poderíamos ter algo. Contudo, por conta desse contrato maluco, eu estava
fadada a ficar com alguém que nem ao menos tive a oportunidade de ver
antes de me casar.
Eu respirei fundo enquanto me olhava no espelho vestida de noiva, fiquei
pensando no fato de não conhecer meu marido. E se ele fosse feio?
Malcheiroso? Eu só saberia no altar, e isso me causava desespero. Eu não
conseguia nem ao menos fingir felicidade por conta dessa situação horrível.
Meu avô chegou para me levar até o altar, eu o olhei através do espelho com
os olhos marejados e cheios de amargura. Mas, lá no fundo eu ainda tinha
esperança de que ele pudesse voltar atrás da decisão dele, então eu falei:

— Por favor, eu não quero fazer isso. Sei que você ainda pode desistir
dessa loucura. — Assim que falei para ele, me virei de frente para olhá-lo.

Meus olhos permaneciam inundados, e meu coração batia acelerado e


descompassado, porém, o olhar que meu avô direcionava a mim, era frio e
sem nenhuma compaixão.

— Mova-se logo, não há possibilidade alguma de desistir do negócio.


Então, faça-me o favor de engolir esse choro e honrar seu compromisso.

Aquelas palavras dele me fizeram perceber que eu estava completamente


sozinha, e não tinha o que fazer a não ser aceitar meu destino. Eu saí do
estúdio que eu estava me arrumando, e caminhei com ele até o carro que
esperava por nós. Fomos em direção a propriedade da família Staton onde
meu casamento aconteceria. No caminho inteiro eu estava tentando conter
minhas lágrimas e aceitar que eu caminhava em direção a minha nova vida.

Ao chegar no local da cerimônia, senti um frio na barriga. Havia chegado


a hora e eu vi que não estava preparada, antes de descer do carro coloquei
meu véu cobrindo meu rosto, como se fosse uma proteção. Saí do carro e
meu vô já estava com seu braço posicionado para que eu me apoiasse nele, o
carro havia nos deixado de frente a capela que havia na propriedade. O lugar
onde eu iria morar era simplesmente enorme, tão grande que parecia uma
minicidade com vários hectares de terra, com espaços de lazer para todos os
gostos.

Fomos até a porta da igreja, as portas se abriram e comecei a ouvir a


tradicional marcha nupcial. Caminhei em direção ao altar segurando no
braço do meu avô. Eu nem se quer tive coragem de encarar meu noivo
enquanto caminhava até o altar. Naquele momento, eu só pensava em meus
pais, na saudade que eu sentia, e sabia que se eles estivessem aqui eu não iria
passar por algo assim jamais. Meu avô me entregou ao meu noivo, enquanto
o cumprimentava com um grande sorriso, e eu permaneci sem olhar para o
homem que seria meu futuro marido. A cerimônia aconteceu, e eu permaneci
olhando para frente. Me faltava coragem para olhar para o homem que eu
iria compartilhar uma vida com ele. Pensei em olhar várias vezes, mas eu
sentia um frio na minha barriga e simplesmente não conseguia.

Chegou a hora de fazermos nosso juramento então foi necessário nos


virarmos de frente para o outro, mas ao falar as palavras que o padre pedia
para eu repetir eu não encarava o rosto dele, como ele era alto fiquei olhando
em direção ao seu pescoço, e por conta do véu minha visão não estava plena.
Só pude notar a cor branca de sua pele, e uma parte de sua barba cerrada.
Nós terminamos o juramento, e o padre deu permissão para que nós nos
beijássemos. Eu não acreditava que meu primeiro beijo seria em um homem
completamente estranho, esperei e me guardei tanto para no final não ter
nem ao menos o poder de escolha? Era muito injusto!

Meu agora marido levantou o véu que tampava meu rosto. E nesse
momento não adiantava mais tentar evitar, eu tinha que olhar para ele. Eu dei
um suspiro e ergui minha cabeça para olhá-lo. Quando o encarei,
imediatamente me lembrei daqueles olhos azuis que entorpeciam minha
mente há 10 anos atrás, quando eu era apenas uma menina desengonçada no
ensino médio. Meu amor de infância estava ali e eu estava me casando com
ele, era muita coincidência! Jeff Staton, era o Jay-Jay! Ele não havia mudado
muito fisicamente. Continuava lindo... Jeff era alto, tinha os cabelos louros
escuros, os seus olhos não eram grandes, mas eram bem desenhados, o nariz
era afilado, os lábios eram carnudos, porém bem desenhados e tinham um
rosa natural muito bonito que contrastavam com sua pele clara. O formato
do seu rosto era quadrado e largo, o que trazia masculinidade para seu rosto
completamente harmônico.

Eu estava ainda sem acreditar que era ele. Quem sabe no final das contas
algo de bom estava acontecendo por conta desse contrato? Ele aproximou
seu rosto do meu e pude sentir sua respiração quente chegar até minha pele.
Os olhos dele, eram melancólicos e sombrios, parecia que ele não estava
nem um pouco satisfeito de estar ali. Jeff tocou meus lábios dando um beijo
breve, pude sentir o calor e a maciez de sua boca, mas o beijo foi tão breve,
acredito que tenha durado menos de cinco segundos. Senti que ele tinha
pressa para se afastar de mim.

Eu estava encantada com ele, e pela primeira vez desde que entrei na
igreja deixei um sorriso escapar. Era incrível saber que esperei pelo meu
primeiro beijo por tanto tempo, e eu estava realizando o sonho de tê-lo com
a pessoa que eu sempre idealizei em minha mente. Meu marido se
aproximou de mim, e eu me animei mais, pensei que ele queria falar algo
bom para mim após nosso beijo. Porém, não foi nada disso que aconteceu...

— Não se esqueça que nós dois só estamos fazendo isso por conta do
contrato. Eu não a amo, nem nunca a amarei. Para mim é apenas um
negócio, que isso fique bem claro para você! — Ao ouvir as palavras que
saiam de sua boca no tom raivoso e frio que ele usou, o sorriso do meu rosto
sumiu imediatamente, senti como se uma estaca tivesse sido cravada em meu
peito. Como ele poderia ser tão frio assim? Será que eu beijava tão mal para
ele falar essas coisas?

Eu não tive forças para respondê-lo, estava em choque com o que ele
havia acabado de me dizer. Jeff pegou em minha mão como se não tivesse
falado nada incomum, e então nós saímos da capela de mãos dadas. Nós
fomos em direção ao salão de festas onde seria a festa do nosso casamento,
era bem próximo da capela. Fomos andando, porém, em total silêncio. Eu
me sentei no lugar que estava reservado aos noivos e não quis encarar mais
meu marido. Eu mantive meu olhar para o lado oposto do qual ele estava.
Fiquei pensando no fato que eu havia virado um mero objeto para negócio.
Primeiro, nas mãos da minha família, e agora nas mãos do meu marido.

O responsável pela organização do evento anunciou que agora era a hora


da dança dos noivos, respirei fundo e fechei meus olhos por um momento
como se unisse forças para enfrentar uma dança com aquele homem por
quem eu nutri um sentimento por 10 anos, enquanto ele parecia me odiar. Ao
olhar para o lado vi que ele não estava sentado onde deveria estar, como
imaginei que estivesse. Olhei para todo o salão a procura dele, talvez ele
havia ido pegar uma bebida ou algo assim. Continuei a procurá-lo por toda
parte com o olhar, mas não o vi. Me senti humilhada pois todos os
convidados olhavam para mim e cochichavam alguma coisa. Eu forcei um
sorriso para tentar amenizar a situação humilhante em que eu me encontrava.
Acho que ao ver a maneira como eu estava constrangida por conta da
situação, um homem se aproximou de mim, e esticou sua mão me
convidando para que eu dançasse com ele. Antes de olha-lo, cheguei a
pensar que poderia ser o Sam, mas meu primo disse que não poderia ir no
meu casamento porque iria dar plantão, e também não fazia questão pois
sabia que aquilo era um grande sofrimento para mim e ele não queria ser
conivente com essa situação. Para me livrar da vergonha que eu sentia, não
hesitei e logo aceitei dançar com ele, mesmo sendo algo completamente
inusitado, afinal o correto era que eu dançasse com meu marido, não com
um convidado. E claramente, aquele não era o Sam.
Noite sem núpcias
Narração - Charlotte Staton

Já era bem tarde da noite. Eu dancei várias vezes com aquele homem
que havia me resgatado da minha humilhação, já que meu marido não
apareceu mais na própria festa de casamento. Porém, eu nem ao menos sabia
o nome do homem e ele não pareceu preocupado em me falar. Ele se
despediu e nós não trocamos nenhuma palavra além do boa noite que
havíamos acabado de dar um para o outro. A governanta da casa ao ver que
todos estavam saindo da festa, e eu estava ali praticamente sobrando, sem
saber o que fazer e muito menos para onde iria, pois, meu marido havia me
deixado sozinha, deu um sorriso e falou gentilmente:

— Senhora Staton? — Eu não respondi, ainda não havia me dado conta


que havia deixado de ser Charlotte Hills para virar Charlotte Staton. Ela me
chamou novamente e nesse momento eu percebi que era comigo que ela
estava falando.

— Me desculpe, não estou acostumada a ser uma Staton ainda. — Dei


um sorriso um pouco sem graça ao me justificar para ela.
— Tudo bem, não se preocupe. Logo você irá se acostumar com seu
novo sobrenome. A senhora quer descansar? — Ela perguntou para mim.

— Quero sim, não só quero como preciso. Eu estou exausta. — Falei ao


me levantar da cadeira que estava sentada.

— Me acompanhe por favor. — Como a propriedade era muito grande,


na porta do salão havia um pequeno carro para transporte interno dentro da
casa, parecia um carro de golfe. Já havia um motorista pronto para dirigir. A
governanta entrou junto comigo, e então o carrinho se direcionou até a casa
principal, ela desceu primeiro e eu depois. Eu estava segurando meu pesado
vestido para não o arrastar no chão por isso demorava um pouco mais para
conseguir andar.

Nós entramos na casa e passamos por vários cômodos até chegar na


escada que dava direto para meu quarto. Meu quarto e o do meu marido
aparentemente era o único que tinha no andar para onde aquela escada ia.
Havia uma escada ao fundo que provavelmente dava em outros quartos.

— Aqui é o caminho para seu quarto, senhora Staton. — Ela falou dando
um sorriso.

— Obrigada, qual seu nome? — Perguntei para ela.

— Janet, senhora.

— Muito obrigada, Janet, e pode me chamar de Charlotte. — Dei um


sorriso amigável para ela, e ela o correspondeu. Ao que nos despedimos,
comecei a subir o lance de escadas com cuidado.

O quarto era lindo e eu fiquei maravilhada com ele. Eu não via a hora de
tirar aquele vestido apertado. Tirei meus sapatos com certa pressa e depois
comecei a tirar meu vestido o puxando para baixo. Tirei ele, ficando somente
de calcinha, fui em direção a porta que parecia ser do banheiro e para minha
surpresa meu marido estava saindo do banheiro enrolado na toalha.

Eu me assustei ao vê-lo e fiquei sem saber o que fazer, a reação que eu


tive foi puxar a toalha dele para me tampar, mas quando fui puxar ele se
desequilibrou por estar molhado e acabamos caindo no chão. Eu caí por
cima dele e nós ficamos nos encarando por um momento. Meu coração
estava acelerado por conta da proximidade que nós dois estávamos, minha
respiração ficou ofegante enquanto o corpo nu dele, encostava no meu.

Ele me tirou de cima dele e se levantou demonstrando estar furioso com


a situação. Jeff puxou a toalha de mim, eu tampei meus seios pois estava
bastante envergonhada, e me levantei do chão também. Ele voltou para o
banheiro, pegou um roupão e jogou em mim para que eu pudesse me cobrir.

— Obrigada. — Falei para ele em um fio de voz por conta da vergonha


que estava sentindo.

— Você tem que prestar mais atenção! — Jeff falou nervoso.

— Por que você fala comigo como se me odiasse? Você me maltrata o


tempo inteiro! Eu sei que não é agradável estarmos passando por um
casamento arranjado, mas podemos fazer isso dar certo. Para começar,
podemos minimamente tratar um ao outro com educação. — Falei para ele.

Não sei como tive coragem para falar aquilo já que estava extremamente
envergonhada pela situação e ele era tão grosso comigo que me enchia de
medo. Ele sorriu, mas, seu sorriso era irônico.

— Então, você acha que eu te trato mal? — Jeff disse se aproximando de


mim lentamente. — Espere só para ver daqui para frente quando
convivermos mais, você não perde por esperar. Aí sim você verá como eu a
tratarei mal. — Ele me encarava com tanto ódio que eu não sabia nem como
reagir.

Aquele olhar dele me desmontava da mesma maneira de anos atrás. Mas,


dessa vez não era de um jeito bom. Eu não poderia simplesmente só abaixar
a cabeça para ele e deixar ele falar o que bem entendesse, como se eu fosse
qualquer coisa que não tinha o mínimo de sentimento.

— Eu não queria estar nesse casamento tanto quanto você, mas desde o
começo eu cumpri com minhas obrigações. Na hora da dança do casal você
nem se quer estava lá, eu me senti humilhada com todos me olhando como
se eu fosse uma coitada. Se logo no primeiro dia do meu casamento, eu fui
tratada daquela maneira, imagina no decorrer do tempo como será. — Eu o
encarava com meu queixo levantado. Jeff ouviu atentamente o que eu falei e
mantinha a mesma postura.

— Eu saí para tomar um ar, estava me sentindo sufocado ali, não queria
continuar naquele ambiente. E realmente, eu ouvi quando disseram que era a
dança dos noivos. Eu não quis ir a princípio, mas, sei muito bem que tenho
um papel a cumprir bem como você sabe que tem o seu papel a cumprir.
Contudo, quando cheguei lá você estava dançando com outro homem como
se ele fosse seu marido! — Ele dizia com raiva. — Isso não é postura de
uma mulher casada. Então você não tem o direito de me cobrar nada.

— Não foi bem assim que aconteceu. — Eu tentei explicar para ele.

— Nem gaste suas energias tentando se explicar. Não estou te cobrando


por conta de ciúmes, se está pensando isso, esqueça! Porque jamais sentirei
ciúmes de você. Lembre-se: Nós somos um casal apenas no nome, não quero
ter uma vida ao seu lado, compartilhar sonhos, nem nada dessas baboseiras
todas! Não conte com isso! — A cada palavra que ele dizia, parecia ficar
mais nervoso. — E nem pense em quebrar o contrato. — Jeff falava ao
caminhar em direção ao closet pegando algumas roupas. — Se você quebrar
saiba que toda fortuna que foi dada a sua família, nós a pegaremos de volta
junto com o resto do negócio que sua família ainda tem.

— Aonde você vai? — Perguntei ao ver ele pegando suas roupas.

— Vou dormir o mais longe possível daqui. — Ele era implacável em


suas palavras e em nenhum momento se importava se estava me magoando
ou não.

— Tudo bem, bom que sobra mais espaço para mim na cama, e será um
prazer não ter que dividi-la com você. — Eu falei para ele com a mesma
frieza que ele usava para falar comigo, mas a verdade é que eu estava
acabada por dentro com a forma que ele estava me tratando.

Quando ele chegou na porta, antes de sair do quarto, ele disse:

— Antes que eu me esqueça, amanhã à noite nós temos um jantar de


comemoração do nosso casamento para os familiares mais íntimos. Nem
tente dar um de vítima, pois nós dois sabemos que você não conseguirá
sustentar sua máscara por muito tempo. Eu mandarei enviarem a roupa que
eu escolher para você aqui para o quarto. — Ele saiu e bateu a porta com
força.

Até ele sair eu mantive minha postura arrogante, depois que ele saiu, me
senti péssima. Sentei na cama e comecei a chorar.

Eu não acreditava que tudo aquilo estava acontecendo comigo. Minha


vida não era das melhores antes desse contrato, afinal, eu tinha perdido meus
pais há pouco tempo, mas pelo menos eu tinha controle da minha própria
vida e sabia o que esperar dela todos os dias. Era muito doloroso passar por
aquilo, o Jeff nem ao menos dava abertura para me conhecer de verdade e
parecia ter um péssimo julgamento ao meu respeito. Disse até que eu usava
máscara, como se eu fosse falsa, o que ele queria dizer com isso? Respirei
fundo e decidi tomar um banho para ver se eu ficava mais tranquila, me
levantei da ponta da cama onde estava sentada e fui para o banheiro.

Ao chegar lá ainda dava para sentir o cheiro da loção pós barba que Jeff
havia usado. Tirei o roupão e minha calcinha, em seguida entrei no chuveiro
para tomar meu banho. Fiquei lá um pouco aproveitando a água do chuveiro,
e por um tempo fiquei recapitulando o pequeno incidente que havia
acontecido entre mim e Jeff. Sentir a respiração e o cheiro dele tão de perto,
me provocou sensações que eu nunca havia experimentado. Será que ele
conseguiu perceber como meu coração disparava quando eu estava perto
dele? Balancei minha cabeça negativamente para desvencilhar esses
pensamentos da minha cabeça e terminei meu banho.

Ao terminar meu banho, me enxuguei e vesti o roupão novamente. Fui


até o closet e lá já tinha uma parte reservada para mim com algumas roupas.
Escolhi uma roupa para dormir, coloquei ela e fui me deitar na cama. Ao
chegar perto da cama eu vi um porta-retratos com a foto de Jeff e uma
mulher. A mulher parecia ser bem elegante, e Jeff parecia estar feliz e
radiante ao seu lado; O sorriso que ele dava ao lado dela era lindo. Aquilo
me deixou pior do que eu já estava. Eu havia me casado com um homem que
não teve se quer a decência de retirar uma foto dele ao lado de uma mulher,
do quarto onde eu iria ficar. Coloquei o porta-retratos virado para baixo, me
deitei e fui dormir.
Provocante
Narração - Charlotte Staton

Pela manhã, acordei e fui até o banheiro fazer minha rotina de higiene
matinal. Quando voltei para o quarto meu vestido já estava na cama, como
se alguém tivesse esperado eu me ausentar para deixa-lo lá e sair em
seguida. Eu olhei para ele e o admirei por alguns minutos, pois era um belo
vestido. O vestido tinha a cor vermelha e um decote em "V" bem profundo,
o tecido que o compunha era bem leve, e parecia ter um toque acetinado,
pois, o tecido brilhava de acordo com a forma que eu mexia com ele. Meu
corpo ficava muito bonito com esse tipo de vestido, e ele também parecia ter
uma fenda na perna.

Como eu não estava fazendo nada decidi experimentá-lo.


Satisfatoriamente o vestido caiu como uma luva, parecia ter sido feito sob
medida para mim. Fiquei me olhando diante do espelho e estava gostando do
que estava vendo, eu já podia me imaginar usando-o mais tarde. Eu já tinha a
ideia da maquiagem que eu iria fazer, e do penteado que eu iria usar. Tirei o
vestido e o guardei no plástico de proteção que ele estava antes que eu
experimentasse. Eu estava tão cansada da noite anterior que a verdade era
que eu queria apenas descansar mais um pouco.
Eu decidi que me deitaria. Deitei e dormi por mais tempo na cama,
quando acordei já havia passado a hora do almoço, realmente eu estava bem
cansada para perder a noção do tempo assim. Havia uma bandeja tampada
com a comida esperando por mim em uma mesa próxima a cama em que eu
dormi. Eu comi, e passei o resto da tarde no quarto mesmo. Ele era enorme e
tinha uma infinidade de coisas para fazer nele. Mas como eu estava com
preguiça optei por ficar assistindo televisão até dar o horário de começar a
me arrumar para o jantar.

Assim que deu o horário próximo do jantar, eu decidi me arrumar para


descer o quanto antes. Eu me levantei, tomei um banho e fui vestir minha
roupa primeiro. Eu estava determinada a ficar deslumbrante para o Jeff ver o
que estava perdendo me rejeitando da maneira que ele estava fazendo.

Eu caprichei na maquiagem, mas não fiz nada muito exagerado, apenas


realcei a beleza natural que eu já tinha. No meu cabelo eu decidi fazer um
coque mais frouxo deixando algumas pontas dos meus cabelos soltas,
trazendo um ar de sensualidade para compor o look. Me perfumei na medida
certa, queria que meu cheiro fosse bem marcante para quem o sentisse,
principalmente para que meu marido o sentisse. Depois disso, estava pronta.

Dei uma última olhada no espelho e sorri para mim mesma, estava com
uma postura mais confiante hoje. E por mais que Jeff usasse palavras para
me magoar, eu não iria deixar que ele me abalasse como tinha feito ontem,
estava determinada a não demonstrar fragilidade como demonstrei
anteriormente para ele. Quando abri a porta do quarto, para minha surpresa,
ele já estava lá. Me assustei e levei a mão até meu peito indicando que eu
havia me assustado com a presença dele.

— Que susto você me deu! Por que não bateu na porta para avisar que
estava aqui? — Eu o questionei.

Jeff não me respondeu pois me olhava parecendo que estava atônito com
o que via. Ao perceber a maneira que ele olhava entendi que ele estava me
admirando, eu dei um sorriso imponente, mas, logo Jeff chacoalhou a cabeça
voltando a si. Então ele disse:
— Lembre-se de desempenhar seu papel de boa e dedicada esposa, é
muito importante para as pessoas que estão aqui hoje verem isso, depois do
show que você deu ontem ao dançar com outro homem. Isso será importante
para nossa imagem de casal feliz. — Ele falou posicionando seu braço em
suas costas o dobrando para que eu me apoiasse nele.

Eu me apoiei no braço dele, mas não iria deixar de falar o que eu


pensava, não mais. Eu não iria ficar igual a um bichinho indefeso, e acuado,
enquanto ele fazia e falava o que bem entendesse para mim.

— Esteja certo que farei isso! Mas, veja se você também faz sua parte de
ficar perto da sua esposa, demonstrando ser um marido amoroso e
dedicado. — Eu falei com a intenção de provoca-lo.

Ele não me respondeu nada apenas apertou sua mandíbula demonstrando


a raiva que ele sentiu por conta das minhas palavras. Dei um sorriso com o
canto dos lábios como se eu estivesse saindo vitoriosa da situação. Enquanto
caminhávamos pela casa juntos, os convidados olhavam dando um sorriso
para nós, e nos cumprimentando. Ao chegarmos na mesa principal muitos
cumprimentaram nós dois pelo nosso casamento e elogiavam minha beleza.

Realmente, modéstia parte, eu estava linda. Jeff não dava o braço a


torcer, mas prestava atenção atentamente nos elogios que as pessoas faziam
para mim e agradecia de forma cordial. Nós nos sentamos próximos um ao
outro durante todo o jantar. Algumas pessoas vinham falar comigo e eu os
respondia de maneira gentil. Eu estava disposta a deixar claro para Jeff que
eu sabia ser uma verdadeira dama, e que apesar dele me tratar tão mal eu
sabia fingir muito bem que estava tudo bem, e não daria uma de vítima na
frente das pessoas como ele falou que eu faria.

Nós finalizamos o jantar e eu fiquei bebendo o champanhe pós refeição.

— Eu já volto. — Jeff falou para mim se levantando da cadeira onde ele


estava sentado ao meu lado.

— Tudo bem, não sairei daqui. — Acabei deixando um sorriso escapar


para ele, e ele apenas arqueou uma de suas sobrancelhas ao sair de perto de
mim para ir aonde ele tinha que ir.
Eu estava bebendo meu champanhe bem tranquila. Uma música tocava,
era umritmo alegre e clássico. Alguns convidados começaram a se levantar
para dançar. Diante disso, balancei meu corpo de um lado para o outro no
ritmo da música bem distraída. No momento em que eu levava a taça de
champanhe até minha boca, eu ouvi uma voz que me disse:

— Olha só quem temos aqui, a mulher que não é digna de Jeff Staton. —
Eu olhei para trás ao ouvir aquela voz irônica que debochava de mim. Dei
um sorriso um pouco sem graça e logo reconheci que aquele era o homem
que eu havia dançado no dia do meu casamento. Então ele disse: — Me
concede essa dança?

Me lembrei do que Jeff tinha falado sobre ser uma boa esposa e ter que
me comportar bem aos olhos de todos, sendo assim resolvi recusar.

— Eu acho melhor não. — Falei hesitante.

— Venha, não será a primeira vez. — Eu pensei melhor sobre o que ele
falou e realmente ele tinha razão, não era a primeira vez que nós
dançaríamos.

Meu marido havia sumido há um tempo, e não retornava. Eu não fazia


ideia do que ele poderia estar fazendo. Finalizei o champanhe que estava em
minha taça e peguei na mão do desconhecido que já não era tão
desconhecido para dançarmos. Quando fomos para a parte do salão, ao lado
da sala de jantar para dançarmos, alguns dos convidados pararam para nos
olhar. Uma música um pouco mais sensual começou a tocar e nós dois
iniciamos nossa dança.

Parecia que nós já havíamos feito isso várias vezes, pois, a sintonia que
ele e eu tínhamos era muito boa. Enquanto nós dançávamos ele repetiu a
frase que tinha dito anteriormente, mas dessa vez de um jeito mais pesado
que me fez tirar o sorriso do rosto no mesmo instante.

— Você não é uma mulher digna de se casar com Jeff Staton.

— Certo, você falou isso antes, mas acho que já chega dessa brincadeira
ofensiva, não?
— Eu não estou brincando. — O homem falou ao me girar.

Nós não paramos de dançar, e depois do que ele havia falado ficamos
nomeio de um silêncio constrangedor, mas eu preferi assim pois ele parou
com as ofensas gratuitas, as quais eu não compreendia o motivo. Enquanto
nós dançávamos percebi que meu marido havia aparecido, e ao me procurar
ele viu que eu estava dançando com aquele homem no salão específico para
dança. Jeff se aproximou mais para acompanhar de perto nossa dança. Ele
não parecia nada contente de me ver dançando novamente com aquele
homem.

Eu percebi que a cada passo de dança que eu e meu parceiro de dança


dávamos, Jeff ficava mais atento e parecia estar bastante incomodado. Eu
achei que ele estava incomodado até demais para alguém que dizia que
jamais iria sentir ciúme de mim. Apesar de não gostar do homem que eu
estava dançando, pelo fato dele ter me ofendido, eu aproveitei para usá-lo
com o intuito de fazer ciúmes em meu marido, pois, eu tinha certeza que ao
menos uma pontinha de ciúme ele sentiria ao me ver dançando nos braços de
outro homem de forma tão sensual.

Eu passava a mão em meu corpo durante a dança e o vestido parecia


desenhar minha silhueta. A cada passo que eu dava, eu sorria para Jeff
mesmo de longe, e o provocava com meu olhar. Ele já havia pegado pelo
menos duas taças de champanhe e as virado de maneira ansiosa pelo grande
incômodo que claramente estava sentindo ao meu observar nos braços de
outro homem. Ele era um tolo, pois o que eu mais queria era estar nos braços
dele dançando junto com ele, mas, Jeff preferia ser meu inimigo do que meu
marido. Sendo assim, eu o faria provar minha pior versão também, não teria
compaixão dele da mesma forma que ele não tinha de mim.
Se comporte
Narração - Charlotte Staton

Eu ainda estava dançando com aquele o desconhecido, e então,


novamente ele começou a me provocar dizendo:

— Nem mesmo se você nascesse de novo você seria digna de ser esposa
do Jeff, você sabe disso, não é? — Ele tinha um sorriso perverso em seus
lábios ao falar.

Ele era um ótimo ator pois enquanto ele estava dançando, e mostrava
toda sua elegância ao me conduzir, dizia essas coisas horríveis que ninguém
poderia imaginar. Somente eu que estava ali com ele desfrutava daqueles
ataques gratuitos, como se já não bastasse os ataques que eu sofria
constantemente por parte do meu marido. Eu não ia me calar diante de
provocações tão baixas, por esse motivo resolvi questiona-lo.

— Quem é você, e por que você diz essas coisas tão cruéis para mim? Eu
não fiz nada para você! Nem se quer o conheço, você quem me chamou para
dançar nas duas vezes que nos vimos, e agora fica me ofendendo! Qual seu
problema? — Eu perguntei bastante nervosa no momento em que
finalizamos a dança.

Eu já não me importava mais se Jeff olhava ou não, porque aquele


homem tinha passado dos limites e eu não queria nem ao menos usá-lo mais
para que pudéssemos dançar. Só queria me livrar dele, mas era necessário
manter a boa postura diante de todos os convidados que estavam presentes.

— Eu não tenho problema nenhum. — Ele ria de um jeito


zombeteiro. — Quem tem problemas é você. Afinal, seu querido marido
quem tem a foto de uma outra mulher junto com ele, ao lado da cama de
vocês mesmo estando casado com você. — A música acabou quando ele
disse isso e nós nos afastamos.

Ele se despediu educadamente dando um beijo no dorso da minha mão e


manteve aquele sorriso maldoso para mim. Eu engoli seco e puxei a mão que
ele beijou colocando-a em meu pescoço. Como aquele homem sabia da
fotografia que havia ao lado da minha cama? E por que ele dizia que eu não
era digna do Jeff? Eu estava completamente confusa enquanto os convidados
aplaudiam nossa dança. Jeff se aproximou de mim e com aquela voz fria, e
seu jeito amargo de lidar comigo me perguntou:

— De onde você conhece o Brandon?

— Brandon? Esse é o nome dele? Foi ele quem me salvou na noite


anterior me tirando para dançar. — Falei para ele. — O que ele é seu?

Imaginei que ele poderia ser alguma coisa mais íntima já que ele sabia
até mesmo do porta-retratos que Jeff cultivava em nosso quarto. Só de
lembrar disso meu estômago embrulhava. Era doloroso passar por aquilo e
ainda ter que suportar tudo calada.

— Você sabe muito bem que durante nosso contrato de casamento você
não pode ficar com nenhum homem. — Ele falava baixo e entre os dentes
por estarmos perto das pessoas, e sabia que uma conversa desse teor poderia
chamar muita atenção para nós, coisa que ele claramente não queria de
maneira nenhuma.
— Eu só estava dançando com ele, será que todas as vezes vou ter que
afirmar para você que eu não vou fazer nada que te desrespeite, e que eu
respeito nosso casamento? — Eu falei de um jeito irritado com ele porque
não aguentava mais ele me pressionar daquele jeito.

Além do mais, Jeff não tinha o direito de me cobrar daquela maneira,


quem tinha uma foto com outra mulher dentro do nosso próprio quarto era
ele e não eu. A vontade que eu tinha era de questiona-lo, para saber quem
era aquela mulher que eu esperava que estivesse no passado, mas, pelo visto
ela estava bem presente na vida dele. Porém, eu resolvi guardar a vontade de
perguntar dentro de mim, talvez eu não estivesse pronta para a resposta.
Todavia era inevitável não me deprimir diante do que ele fazia.

Pelo visto, minha tristeza, eu não consegui disfarçar muito bem. Jeff se
aproximou mais de mim e eu não entendi o motivo pelo qual ele estava
fazendo aquilo, mas, ele acabou dando um beijo em minha testa e disse em
seguida:

— Você finge estar triste com o que eu falo, todas as vezes parece se
sentir ofendida e se dói com o modo que eu te trato. O que você esperava
depois daquele contrato absurdo? E você fazendo esse teatro todo, quer
mesmo que eu acredite que se apaixonou por mim? Um marido que só viu
três vezes? — Quando ele usou a palavra marido ele falou ela de uma
maneira carregada de ironia.

Eu fechei meus olhos ao sentir o toque dos lábios dele na minha testa,
nós quase não nos encostávamos e quando isso acontecia meu coração
disparava de imediato. Eu não sabia explicar. Ao mesmo tempo, meus
pensamentos me transportavam para nossa adolescência. Ele nunca veio
diretamente até mim, mas por algumas vezes nós nos esbarrávamos ou
aconteciam algumas circunstâncias que nos colocava a frente um do outro.

Eu queria falar para ele quem eu era. Que era aquela menina da escola
que ficava o encarando sempre que podia, mas não sabia agir muito bem
diante dele. Porém quando olhava para o semblante frio dele eu desistia. E
mesmo que eu o amasse secretamente há mais de dez anos, eu falei com
frieza para tentar esconder todo o sentimento que eu tinha:
— Fique tranquilo que eu jamais me atreveria a me apaixonar por você.
Sei bem o meu lugar, não precisa ser um chato e ficar mencionando isso a
todo instante, ok? Isso é extremamente irritante. — Eu tinha um tom de voz
um pouco nervoso ao falar essas coisas para ele.

E mais uma vez ele havia mencionado o maldito contrato. Eu deveria ter
lido aquilo, deveria saber onde eu estava me metendo porque agora por
muitas vezes eu estava sendo humilhada pelo meu marido sem saber o que o
motivava a fazer aquilo.

Eu havia ficado muito nervosa e não queria fazer uma cena em frente aos
convidados porque na verdade eu achava que esse era o objetivo do meu
marido. Ele queria me desestabilizar emocionalmente para que validasse
suas palavras quando disse que eu acabaria dando uma de vítima na frente de
todos.

Optei por ir tomar um ar lá fora. Eu só o comuniquei e não esperei que


ele se manifestasse.

— Eu vou tomar um ar, o ambiente se tornou muito sufocante, você


entende bem sobre isso não é verdade? — Lancei um olhar furioso para ele
após falar com ironia, o provocando por ele ter justificado que saiu da festa
do nosso casamento pelo mesmo motivo, e em seguida saí dali.

Com aquele olhar eu queria deixar bem claro que estava nervosa com ele
e estava saindo de lá unicamente por conta das provocações dele. Quando eu
finalmente estava na área externa, respirei fundo e então ouvi algumas
risadas de um casal que estava um pouco distante de mim. Eu sorri, pois,
achei bonito ver a cumplicidade dos dois, como eu queria ter isso com Jeff...
Mas sabia que seria algo impossível.

Apertei um pouco o olhar para conseguir vê-los melhor então percebi


que se tratava de Brandon, e a mulher que o acompanhava eu não consegui
identificar quem era, mas ela não parecia ser estranha. Fiquei acompanhando
os dois com o olhar até que entraram dentro do carro e foram embora. Fiquei
ali um pouco olhando para o nada até que Janet apareceu.

— Senhora Staton?
— Oi, Janet. Já disse que pode me chamar de Charlotte. — Eu dei um
sorriso para ela ao falar.

— Desculpe senhora, mas eu não consigo. — Ela sorriu gentilmente para


mim e continuou a dizer. — O senhor Staton solicita que você entre para que
possam se despedir juntos dos convidados que já estão indo embora.

— Tudo bem, obrigada Janet. Já irei. — Ela balançou sua cabeça de


maneira cordial para mim e se retirou.

Eu esperei mais um pouco ali, olhei para o céu como se estivesse


pedindo forças para continuar a seguir em frente. O casamento deveria ser
algo bom e agradável, mas estava se tornando uma missão agonizante e
terrível a cada dia que passava. Respirei fundo e andei em direção ao
interior da casa. Ao entrar logo avistei meu marido, fiquei ao seu lado e
comecei a me despedir dos convidados.

Eles novamente nos parabenizavam por conta do nosso casamento, e


refaziam os elogios que me fizeram anteriormente. Eu percebia como isso
causava desconforto em meu marido, mas eu até que gostava daquela
sensação. Ele fazia tanta coisa ruim comigo, nada mais justo que ele sofresse
um pouco também.

Depois que nos despedimos de todos. Nós dois subimos juntos para o
quarto. Ao entrarmos, ele começou a se despir na minha frente e eu virei de
costas rapidamente, senti minhas bochechas arderem. Fiquei sem saber o que
fazer, então disse:

— Não dá para você fazer isso no banheiro, por favor? — Eu coloquei a


mão no canto do meu rosto para não ver ele nu.

— Eu estou no meu quarto, nós somos casados e isso tem que ser
comum para você. — Jeff falou com desdém.

— Você mesmo disse que nós dois somos um casal apenas no nome,
trocar de roupa na frente do outro é algo íntimo e somente os casais de
verdade fazem. — Eu reclamei.
— Como você é chata! — Ele pegou ou roupão se enrolou e foi para o
banheiro para terminar de se trocar.

Ele quem queria as coisas dessa forma, então eu o provocaria sempre que
pudesse. Ele iniciou essa briga, não foi eu quem comecei, mas não iria sair
dela. Depois que ele saiu do banheiro, eu fui até o closet pegar minha roupa
para dormir e me troquei no banheiro. Escovei meus dentes, fiz meu
skincare, passei meus cremes corporais enquanto cantarolava uma música
bem baixinho.

Ao sair do banheiro vi que ele estava deitado na cama de olhos fechados.


Eu não tinha certeza se ele estava dormindo então perguntei em tom de voz
mais baixo:

— Jeff?

— Hum. — Ele respondeu num resmungo.

— Você vai dormir aqui? Na cama? Comigo? — Eu perguntei


pausadamente porque eu estava incrédula que aquilo pudesse acontecer
depois da nossa noite de núpcias.

— Sim, onde mais eu dormiria? Aqui é o meu quarto. Se você está


incomodada, há um grande sofá na sala de estar. — Ele falava com
sarcasmo.

Como ele me irritava! Jeff era grosso comigo por puro prazer.

— Estúpido! — Eu falei com minha voz alterada e pude ver um sorriso


triunfante se formar no rosto dele.

Eu não iria sair do conforto da minha cama, pois já que éramos casados
era minha também, puramente por um capricho dele. Sentei do meu lado da
cama, apaguei o abajur que mantinha a iluminação do quarto e me deitei
para dormir ao lado dele. A cama era bem espaçosa então não tinha o risco
de que nós encostássemos um no outro no decorrer da noite.
Humilhada
Narração - Charlotte Staton

Passaram-se alguns dias depois que tivemos o jantar em nossa casa, e a


minha convivência com Jeff se tornava cada vez pior. Quando acordei pela
manhã, me espreguicei um pouco na cama e bocejei. Olhei para o lado e Jeff
não estava ali. Talvez já tivesse ido trabalhar, ou não. Eu simplesmente não
sabia da rotina do meu marido. Na verdade, eu não sabia praticamente nada
sobre ele. Qual sua comida preferida, roupa, cor, se gostava de ver filmes...
Nada, era uma grande incógnita. Fui até o banheiro escovar meus dentes,
arrumar meu cabelo e fazer uma maquiagem bem básica. Pois por mais que
eu ficasse em casa, queria estar bem arrumada. Eu voltei para o quarto e
vesti uma roupa mais confortável já que eu pretendia apenas ficar em casa
naquela manhã de Domingo.

Eu encarei de novo aquele porta-retratos do Jeff ao lado daquela mulher


e revirei meus olhos, aquilo parecia um grande elefante branco que estava no
quarto. Me atrapalhava, sufocava, e parecia ocupar um espaço que era meu
constantemente. Eu sei muito bem que Jeff não me devia nada, eu tinha
plena consciência disso porque nosso casamento foi com base em um
contrato, e não com base no amor que poderíamos sentir um pelo outro.
Eu o amava, há dez anos, mas ele nem se quer tinha o conhecimento
disso, e ainda por cima eu tinha fortes suspeitas que ele me odiava. Agora o
motivo, eu não sabia, mas eu estava determinada a descobrir não somente o
motivo dele me odiar, mas, também, quem era aquela mulher da foto que
fazia com que Jeff sorrisse tão satisfeito. Hoje eu não queria ficar no quarto,
iria dar uma volta pela casa, porém, eu não achava meus chinelos em lugar
algum então decidi que iria ficar descalça mesmo.

Desci diretamente para a sala de estar, ao lado da sala de estar havia uma
sala de descanso. Ela era bem aconchegante e tinha sofás confortáveis, uma
estante bem grande que ia do teto ao chão. Além de livros, nessa estante
havia alguns troféus, porta-retratos e não pude deixar de notar uma antiga
bola de beisebol dentro de uma caixa de vidro um pouco maior que a própria
bola.

Ao ver aquela bola eu dei um sorriso, e peguei a caixa. Pude ler que nela
estava escrito o nome da escola onde estudávamos "Voight School" e do
outro lado da bola havia o brasão da nossa escola. Me lembrei que eu vi Jeff
pela primeira vez por conta de uma bola como aquela.

Início do Flashback

Era meu primeiro dia de aula na Voight School, eu estava nervosa pois
não conhecia ninguém e a maioria ali parecia não ser muito amistosa.
Quando deu o horário do descanso, resolvi me refugiar na arquibancada do
campo de beisebol da escola. Lá era um espaço aberto e eu continuaria sendo
invisível ali sentada na arquibancada, já que algumas pessoas estavam por ali
lendo seus livros, ou comendo. Eu iria fazer os dois. Peguei um livro que eu
adorava ler sobre um anjo que caiu e se apaixonou por uma mortal.
Enquanto eu colocava na página que havia parado, eu desenrolava do papel
filme meu sanduíche de pasta de amendoim. Ao desembala-lo por completo
dei uma primeira mordida. E em seguida, ouvi alguém gritando:

— CUIDADO! — Quando ergui minha cabeça para olhar o que era, vi


que uma bola estava vindo em minha direção. Eu não consegui desviar a
tempo.
Apenas coloquei meus braços na frente com meu sanduíche na mão. A
bola acertou precisamente meu sanduíche espalhando a pasta de amendoim
para todo lado. Quem gritou cuidado, era um garoto, eu estava coberta de
pasta de amendoim e meu livro também.

— Ai meu Deus! — Eu falei tentando limpar a pasta de amendoim da


página do meu livro.

— Você está bem? Se machucou? — O garoto que usava um uniforme


para jogar beisebol perguntou.

— Estou sim. Não me machuquei, só espalhou pasta de amendoim para


todo lado. — Eu falei sem graça, e então olhei para o rapaz que estava na
minha frente e senti mais vergonha ainda.

O garoto era muito lindo e eu ficava constrangida só de olha-lo, quem


dirá coberta de pasta de amendoim.

— Eu lamento, mas pelo menos não caiu na parte que está escrito a
história. — Ele falou ao apontar para meu livro, e levantou a capa dele que
estava no meu colo e disse: — Fallen, ótimo livro. Você tem bom gosto. —
Ele sorriu para mim, nesse momento não consegui fazer mais nada a não ser
ficar paralisada.

Nós nos olhamos por um momento, eu percebi que o garoto ia falar algo
porém alguém o interrompeu aos gritos antes que ele pudesse falar mais
alguma coisa.

— Jay, Jay, vamos! É sua vez de rebater de novo.

— A gente se vê. — Ele falou sorrindo e saiu de perto de mim voltando


para o campo.

Eu fiquei igual uma boba olhando para ele, eu acho que havia me
apaixonado por ele, por mais que eu havia o visto uma única vez.

Fim do Flashback
Eu estava perdida em meus devaneios quando de repente Jeff chegou na
sala de um jeito brusco e perguntou com fúria ao me ver com a bola na mão:

— O que você pensa que está fazendo!? — Ele falou como se eu tivesse
fazendo algo muito grave.

Eu me assustei por ele ter chegado tão de repente e falar daquela forma,
que acabei deixando a caixa cair no chão e ela quebrou espalhando vidro por
toda parte. Eu levei as duas mãos até minha boca assustada por ter quebrado
aquela caixa e olhei para Jeff que veio caminhando até mim de um jeito
furioso com passos largos, ele se abaixou e pegou a bola.

— Desculpa, eu... — Ele não me deixou se quer completar minha frase e


já foi me interrompendo.

— Não pense que você pode ficar à vontade demais aqui, não se sinta à
vontade ao ponto de achar que está em sua casa e pode mexer no que bem
entender, a hora que quiser. As coisas não funcionam desse jeito para você
aqui nesta casa! — Ele falava nervoso apontando o dedo para meu rosto. Jeff
mostrou a bola para mim e continuou a falar.

— Isso é algo de grande valor para mim, foi um presente de uma pessoa
especial e não quero que você toque nisso nem em nada. Não pense que as
coisas que estão aqui são suas. Nem mesmo objetos que você julga serem
femininos, não são para você! Limite-se ao que você tem na sua parte do
closet. — Ao ouvir ele falar tudo aquilo eu senti um nó na garganta.

Eu compreendi que tudo ali era realmente preparado para uma mulher,
mas essa mulher não era eu. Muito provavelmente era a mulher da foto.
Nosso contrato de casamento devia ter um tempo para acabar. Eu não
entendia o motivo por ele ter se casado comigo, meu avô mencionou um
filho, mas isso seria impossível de acontecer porque nós dois nem ao menos
tínhamos intimidade. Foi difícil segurar o choro ao ouvir as duras palavras
dele.

E como se não bastasse ele continuou a dizer:

— Você não é a anfitriã desta casa, você é apenas uma convidada


temporária e seus dias aqui estão contados. — Jeff continuava nervoso, dava
para ver a veia saltada em seu pescoço.

Se antes eu suspeitava que ele me odiava, agora eu tinha certeza do ódio


que ele cultivava por mim. Eu precisava saber o que tinha naquele contrato
que o fazia se sentir no direito de me tratar tão mal, e o que levava a esse
ódio todo que ele sentia de mim.

— Eu posso arcar com o valor da caixa. Não se preocupe. — Eu falei


tentando amenizar a situação.

Jeff deu uma gargalhada quando me escutou falar sobre pagar a caixa
para tentar não deixa-lo no prejuízo.

— Você pagar? Sua família falida e você são sustentadas por mim. Um
verdadeiro bando de sanguessugas! Você ia tirar dinheiro de onde para pagar
isso, sua idiota? Acha que você usar meu próprio dinheiro para pagar um
prejuízo iria me compensar? Você é estúpida!? — Ele falava em um tom
bastante alterado.

Eu não estava sabendo como agir diante de tamanho ódio pelo qual ele
estava sendo consumido. O choro estava entalado em minha garganta e eu
sabia que a qualquer momento eu iria explodir em lágrimas se aquela
situação delongasse. Eu pensei nos meus pais e em como eles me criaram
dando do bom e do melhor, me ensinando como eu era valiosa. Sempre tive
tudo ao meu alcance, para agora, simplesmente, esse homem me humilhar
dessa forma por causa de dinheiro, eu sentia que havia chegado ao fundo do
poço.

Como se não bastasse tudo que ele já havia falado para me magoar, no
auge da sua raiva, Jeff se aproximou de mim e me empurrou ao passar por
mim para pegar a base de madeira que apoiava a caixa de vidro na estante.
Como ele estava transtornado, ao me empurrar eu acabei caindo no chão
bem em cima do vidro quebrado. Ele não percebeu que eu havia caído em
cima dos cacos, pois se virou de imediato segurando a base de madeira e a
bola de beisebol em suas mãos. Quando eu caí comecei a chorar por tudo o
que havia acabado de acontecer. Pela a humilhação, e com certeza também
pela agressão que havia acabado de sofrer.
Eu chorava de maneira compulsiva, enquanto olhava aqueles cacos de
vidro a minha volta e pensei que eu era como aquela caixa quebrada, e
aquela mulher da foto era como a bola de beisebol que Jeff saiu segurando.
Eu mesmo quebrada e em pedaços jamais chamaria a atenção dele, enquanto
a bola mesmo não sendo frágil e não precisando de cuidados, era vista e
super valorizada. Aquilo havia acabado comigo. Fiquei remoendo as
palavras dele enquanto chorava ali sentada no chão.

Eu pensava que minha situação com ele não poderia piorar. Mas hoje
atingimos um novo patamar, pois até me agredir ele agrediu, pode ser que o
empurrão não tenha sido proposital mas acho que se ele não tivesse feito por
querer iria ao menos me ajudar a me levantar. E mesmo que eu quisesse
tomar uma postura de mulher mais durona com ele, hoje foi impossível fazer
isso, porque eu estava exatamente igual a caixa de vidro...
Não seja vítima
Narração - Charlotte Staton

Eu estava lá ainda sentada e chorando por conta de tudo o que havia


acontecido. No momento em que comecei a limpar minhas lágrimas, quando
toda a adrenalina do momento havia passado, eu senti uma dor muito intensa
na minha perna, mais precisamente próximo ao meu tornozelo. Ao olhar vi
que havia um corte profundo, e meus pés estavam cheios de arranhões por
conta dos cacos de vidros que eu havia caído em cima. Percebi que os
ferimentos eram um pouco sérios, por conta disso decidi que iria ligar para
alguém para que pudessem me ajudar. Peguei meu celular e pensei em ligar
para Jeff, mas, como eu iria ligar para ele sendo que nem ao menos eu tinha
o telefone do meu próprio marido?

Isso era ridículo, a cada momento que se passava eu via como nós dois
éramos completos estranhos um para o outro, mesmo vivendo sob o mesmo
teto. Disquei o número do meu primo Sam, como ele era psiquiatra eu sabia
que antes ele havia cursado medicina, e além da sua especialização em
psiquiatria ele era clínico geral, então, ele poderia me ajudar.
Ligação ON

Sam: — Oi, Char! Que coisa boa receber sua ligação em um domingo de
manhã. — Ele foi irônico e em seguida deu uma gargalhada. Sam odiava ser
acordado cedo quando tinha um tempo a mais para dormir.

Charlotte: — Sammy, desculpa te ligar cedo assim. Eu só estou ligando


porque eu realmente não tenho para quem pedir ajuda.

Sam: — Ajuda? Como assim? O que aconteceu? — Nesse momento o


tom de sua voz mudou completamente pois ele percebei que algo sério havia
acontecido.

Charlotte: — Eu me acidentei... Em casa. Minha perna está sangrando,


eu preciso de ajuda para fazer um curativo.

Sam: — E onde está o seu marido?

Charlotte: — Para te falar a verdade eu não sei, e também não tenho o


número dele para saber. — Eu falei num misto de decepção e raiva.

Sam: — Tudo bem, não se preocupe eu só vou me arrumar e já irei até


sua casa para te ajudar.

Charlotte: — Tudo bem, te espero aqui, Sammy. Obrigada.

Ligação OFF

Fiquei sentada no mesmo lugar onde eu estava porque eu sentia muita


dor. Cerca de 20 minutos depois ouvi o interfone tocar. Janet, a governanta,
veio até mim me perguntar se eu autorizava a entrada do meu primo. Ao me
ver, ela arregalou seus olhos e colocou a mão em seu rosto:

— Senhora Staton! A senhora está bem? Por que não me chamou? —


Ela falou se abaixando e colocou meu braço em volta do seu pescoço para
me ajudar a sentar no sofá.
— Eu estou bem, não se preocupe. Eu não a chamei porque não quis te
incomodar. Meu primo quem chegou? — Perguntei para ela.

Ela estava um pouco atordoada ao me ver ferida daquele jeito, mas


respondeu.

— Sim, Samuel Hills. Posso autorizar a entrada? — Ela perguntou um


pouco agitada.

— Sim, por favor. Ele é médico e veio fazer o curativo em mim. — Eu


sorri, mas minha dor estava aumentando.

Janet se afastou para autorizar a entrada do meu primo, e assim que


autorizou voltou. Poucos minutos se passaram e então ele apareceu na porta.
Ao ver minha perna ensanguentada ele se desesperou e disse:

— Char, meu Deus! Você precisa ir ao hospital. — Ele fazia uma


expressão um pouco desesperada ao chegar mais perto e analisar meus
ferimentos.

— Não, nada de hospitais. Me casei há poucos dias, a família Staton é


super influente. Se eu chegar no hospital assim vai atrair olhares da mídia e
podem surgir muitas especulações. — Eu expliquei para ele.

Apesar de ser maltratada e humilhada por quase todos da minha família,


e pelo meu marido, eu sempre pensava neles antes de fazer minhas ações.
Não queria prejudicar ninguém, mesmo que eles não dessem a mínima
quando me prejudicavam.

— Isso provavelmente vai precisar de uma sutura, eu posso fazer um


curativo e depois disso você tem que dar um jeito de ir ao hospital ou pedir
que um médico devidamente preparado venha aqui. De preferência um
cirurgião, para cuidar melhor e não deixar uma cicatriz muito aparente. —
Ele falava preocupado.

— Tudo bem, eu prometo. Só me ajuda agora, por favorzinho... — Eu


pedi para ele fazendo um biquinho, mas, logo fiz uma expressão de dor
porque meu ferimento estava doendo demais.
Sam tirou de sua maleta médica três tipos de medicamentos, ele olhou
para Janet e falou:

— Você poderia trazer uma água para ela, por favor?

— É claro, senhor. — Janet falou se afastando, e pouco tempo depois


apareceu com um copo d'água.

Ela me entregou e o Sam começou a abrir as cartelas de comprimido


tirando um de cada e me explicou:

— Eu vou te dar um anti-inflamatório, um antibiótico e um analgésico.


Eles são para prevenir infecções e também para aliviar a dor. Você vai toma-
los de seis em seis horas, tudo bem? É preciso tomar os três para tratar isso
aqui até você ir ao médico. — Ele falava bem devagar para que eu pudesse
entender.

— Tudo bem, orgulho da família. — Eu falei brincando para ele,


enquanto ele apenas revirou seus olhos por estar preocupado comigo.

Eu sempre o chamei assim desde que ele entrou na faculdade pois todos
se orgulhavam dele enquanto médico, diferente de mim. Ninguém, além dos
meus pais e Sammy, comemorou minha entrada na faculdade de tecnologia.
Não sei se eles entendiam a dimensão do curso, talvez por não entenderem
muito eles não se importavam. Ou era pelo fato de ser eu...

Sammy começou a fazer o curativo.

— Senhora, qualquer coisa que você precisar é só me chamar tudo


bem? — Janet falou.

— Claro, pode se retirar. — Sorri para ela, e então Janet saiu da sala.

Percebi que enquanto fazia meu curativo, Sammy voltou seu olhar para o
vidro quebrado ao lado do sofá que eu estava. Ele olhou para mim, e olhou
para o vidro quebrado novamente como se perguntasse algo com os olhos.
Sendo assim, já me adiantei perguntando:

— O que foi, Sam?


— Quero te fazer uma pergunta. — Ele falou em um tom sério.

— Pode fazer. — Eu engoli seco pois sabia que viria alguma bomba.

— Seu marido está te agredindo? — Quando ele perguntou isso, eu dei


um sorriso amarelo e meus olhos se encheram de lágrimas.

Eu apertei meus lábios um contra o outro para tentar evitar que as


lágrimas descessem e aspirei meu nariz.

— Não, claro que não. — Eu tentei desconversar.

— Você sabe que pode falar qualquer coisa para mim Charlotte, e se esse
homem estiver fazendo algo com você eu juro que... — Antes que ele
completasse a frase eu disse:

— Jura o quê, Sammy? Desculpa, não quero ser grossa, mas se eu estiver
sendo agredida o que você pode fazer quanto a isso? Eu estou casada com
esse homem por conta de um contrato. Nossa família depende do dinheiro
dele. O vovô deixou mais que claro que não importa o que eu pense ou sinta,
eu devo permanecer casada com ele em qualquer circunstância. — Eu falava
para ele com um tom de voz bem triste e desesperançoso.

— Mas você não pode viver assim, não é justo. — Ele falava com
revolta ao finalizar meu curativo.

— Justo não é, mas o que você pode fazer a respeito? Nada. Nem quando
morávamos sob o mesmo teto você conseguia me defender do meu vô, nem
mesmo das provocações do seu pai você conseguia me livrar. — Eu dei um
sorriso fraco para ele pois eu sabia que não era culpa dele.

Meu avô era um narcisista. Ele simplesmente elegeu o Sam como seu
preferido, enquanto eu, ele odiava. Para nós dois era ruim porque Sam
achava que tinha que ser perfeito para continuar agradando meu avô e isso
incluía fazer tudo que ele queria. E eu, não importava o que eu fizesse pois
sempre seria insuficiente para ele, pois meu avô me odiava simplesmente por
eu existir. Sam nunca concordou com a forma que nosso avô me tratava, e
por muitas vezes tentou me defender, mas, o medo que ele tinha da
desaprovação do nosso avô e a falta de autonomia dele o faziam hesitar.
Contudo eu não o culpava, não era fácil para ele também. E o maior
culpado disso tudo era meu péssimo avô. Ao ouvir minhas palavras, Sam
abaixou sua cabeça se lamentando. Ele estava ajoelhado na minha frente,
então, eu coloquei minhas duas mãos no rosto dele fazendo-o olhar para
mim e disse:

— Ei, não precisa ficar assim. Tudo que está ao seu alcance você sempre
faz por mim. Eu vou ficar bem, pelo que meu marido fala eu acho que esse
contrato tem data para acabar. — Eu falei com pesar.

Ao mesmo tempo que eu não queria viver com Jeff me odiando, eu


também não queria ficar longe dele. Eu era burra por me sentir assim, mas
era inevitável porque eu o amava.

— Tá certo. — Ele se levantou suspirando. — Bom, eu já vou indo, mas


por favor me mantenha informado a respeito do seu estado de saúde, tá bom?
E vá ao hospital, você precisa de uma sutura nesse ferimento o mais rápido
possível. — Ele novamente falou.

O analgésico que ele me deu já tinha começado a fazer efeito, e eu estava


sentindo menos dor. Me levantei e o abracei agradecendo-o.

— Eu vou me trocar, você me espera? — Falei para ele.

— Não Char, eu já vou indo. — Ele falou.

— Tá bom, eu vou lá, preciso tirar essa roupa suja de sangue. — Deixei-
o arrumando as coisas dele e caminhei para meu quarto.

Acho que ele não entendeu muito bem minha pressa para me trocar, já
que nem ao menos esperei ele ir embora. Mas, a verdade, era que eu queria
esconder esse ferimento do meu marido. Eu sempre me lembrava dele
dizendo que não queria que eu me vitimizasse na frente das outras pessoas.
Então, eu não queria que ele pensasse que eu iria usar esse ferimento para
isso. Nem mesmo queria que ele tivesse conhecimento que eu havia me
machucado.

Cheguei no meu quarto e fui até o closet procurar um vestido longo.


Achei um lindo vestido verde e o coloquei, ele tinha pequenas flores no
decorrer do seu comprimento. Enquanto me olhava no espelho, após ter me
vestido, ouvi um barulho de discussão vindo lá de baixo. Pensei que pudesse
ser Jeff, ele deve ter se encontrado com Sam!

Desci as escadas o mais rápido que pude por conta da minha limitação, e
encontrei os dois lá embaixo na porta de saída.

— Quem é esse homem, Charlotte? Que fala comigo como se me


conhecesse e ainda tem a audácia de dizer que eu não tenho direito de fazer
"isso" com você. E o que eu fiz com você mesmo? — Jeff falou em um tom
agitado.

Para evitar que Sam falasse do ferimento eu disse a ele:

— Nada, você não fez nada. E esse é meu primo Sam.

— Char! — Sam falou me censurando por eu não ter falado que eu me


feri.

Eu só balancei a cabeça negativamente para ele sem que meu marido


percebesse, e então Jeff falou.

— Vá embora daqui!

Quando ele falou isso para o meu primo eu o olhei indignada por ele
estar fazendo tamanha grosseria. Eu não podia acreditar que um homem tão
elegante e nascido em berço de ouro como o Jeff pudesse ser tão baixo. Para
não dar problemas para mim meu primo só o olhou com raiva e balançou sua
cabeça de um lado para o outro demonstrando seu desapontamento, e antes
de sair ele disse:

— Se cuida, Char.

Eu o olhei sair e fiquei super chateada pelo que havia acabado de


acontecer. Encarei meu marido com amargura, e ele estava com aquele olhar
frio e o semblante fechado. Antes que ele falasse qualquer coisa eu disse:

— Fique tranquilo que eu sei que aqui é sua casa e você faz o que bem
entende nela. Não precisa me aborrecer me lembrando disso, mas não
precisava expulsar meu primo dessa maneira. Foi muita grosseria da sua
parte! — Eu o fitava com muita raiva enquanto falava.

Ele deu um sorriso frio como se tivesse gostado de saber que eu estava
me submetendo a ele e aos seus caprichos humilhantes ao mencionar que
sabia que a casa não era minha.

— O que ele veio fazer aqui? — Quando ele fez essa pergunta eu hesitei
e não o respondi de imediato porque ainda não queria que ele soubesse que
eu havia me ferido.

Como eu hesitei para falar, ele sem paciência nenhuma não esperou
minha resposta e disse:

— Tá, que seja, não responda. Mas, não quero que isso se repita, a casa é
minha e você é somente uma convidada. Não tem direito de convidar
ninguém. Se coloque no seu lugar de convidada temporária e haja como
tal! — Ele falava de forma grosseira como havia se habituado fazer.

Depois disso ele saiu de perto de mim e entrou dentro da casa já que
ainda estava na entrada onde havia discutido com Sam. Eu me encostei no
batente da porta, fechei meus olhos por alguns segundos e respirei
fundo.Capítulo 07 – Desobediência
Desobediência
Narração - Charlotte Staton

Depois que fiquei um tempo parada na porta, decidi voltar para dentro
de casa. Meu marido havia ido para o quarto e eu fiquei ali sentada na sala.
Eu mexia no meu celular de forma despretensiosa para tentar afastar todos os
pensamentos ruins da minha mente, mas, as palavras que Jeff tinha usado
mais cedo ficavam ecoando na minha cabeça.

Eu precisava parar de agir feito uma medrosa. Eu iria me impor de


alguma forma, e mesmo ele não tendo sentimentos por mim, eu sei que eu o
incomodava quando tomava alguma atitude. Então, desta forma, eu decidi
que agiria como ele. Não demonstraria que o amava, nem que o temia. Não
seria fácil, mas eu iria fazer isso dia após dia. Quem sabe com isso eu não
acabaria deixando de ama-lo de verdade.

Mas, para isso, eu precisava me afastar o máximo possível dele. Afinal,


como diz o ditado “o que os olhos não veem o coração não sente”, eu só
precisava pensar em algo para que isso acontecesse. Fiquei mais um tempo
no sofá mexendo em meu celular, porém fiquei entediada com aquilo.
Resolvi que ia andar um pouco pela propriedade. Não iria pegar nenhum
carrinho para me locomover, iria caminhar mesmo. E assim o fiz.

Comecei a andar pelo jardim e admirava a variedade de lindas flores que


haviam ali, passei a mão nelas e me deu uma forte saudade imediata da
minha mãe. Eu lembrava como ela gostava de flores e me ensinava com
entusiasmo sobre elas.

— Que falta você me faz, mamãe. Se você pelo menos estivesse aqui
para me ajudar, para que a gente pudesse conversar... Na verdade se você
estivesse aqui acho que nada disso estaria acontecendo. — Falei enquanto
olhava para aquelas flores.

Mais abaixo vi uma casa, não era muito grande, mas parecia ser bem
aconchegante. Fui até ela e vi que tinha uma piscina pequena na frente junto
a um jardim, por estar andando bastante, eu comecei a sentir um incômodo
na minha perna no local onde eu havia me machucado, então, depois que
olhasse aquela casa eu voltaria para a casa principal da propriedade. Cheguei
na porta da casa e ela era de vidro, dava para ver, mesmo que embaçado, lá
dentro.

Quando segurei a maçaneta e forcei para baixo com a intenção de abri-la,


para minha sorte estava aberta, então, entrei e comecei a olha-la. Era uma
casa bem pequena, mas tinha tudo no seu lugar, e eu a achei muito
convidativa. Então, tive uma ideia. Eu iria propor ao meu marido para que eu
me mudasse para aquela casa durante nosso contrato de casamento. Sendo
assim, eu seria poupada de tantas humilhações e protegeria meu coração de
sentir tanto amor como eu sentia por ele. Dei um sorriso ao ter essa ideia.

— Senhora Staton! — Ouvi uma voz falar atrás de mim o que me causou
um grande susto. Era Janet.

— Oi Janet, que susto! — Dei um sorriso para ela ao me virar de frente.

— A senhora veio da casa principal até aqui andando? — Ela perguntou


surpresa.

— Sim, eu vim. — Respondi a ela.


— A senhora deveria evitar de andar assim por conta do seu ferimento, é
muito perigoso. Eu vou pedir para o senhor Staton vir para ajudá-la a voltar.

— NÃO! — Eu gritei. Minha atitude causou grande espanto nela. —


Não... — Falei mais baixo e contida. — Desculpe ter gritado, Janet. Meu
ferimento já está sob controle eu não quero que meu marido saiba, tudo
bem?

— Mas, senhora... Seu primo disse que você precisava ir ao hospital, tem
certeza disso? — Janet me perguntava com um ar de preocupação.

— Tenho sim, Janet. Não se preocupe. Mas agora se você quiser me


ajudar pedindo para que um dos seguranças da casa venha com um daqueles
carrinhos para me levar de volta, eu agradeço. — Dei um sorriso para ela.

— Tudo bem, senhora. — Ela pegou o rádio comunicador que sempre


ficava em sua cintura e solicitou um carrinho.

Não demorou muito e um segurança veio até a casa de hóspedes com um


carrinho. Eu entrei com um pouco de dificuldade por conta da dor. Assim
que entrei o segurança começou a dirigir e me deixou na porta da casa
principal. Eu entrei na sala de estar e dei de cara com Jeff.

— Onde você estava? — Ele perguntou em um tom ríspido.

— Eu estava andando pela propriedade, eu não posso fazer isso também?


Tenho que pedir permissão por ser apenas uma convidada? — Perguntei a
ele com ironia.

Ele pressionou um lábio no outro e se aproximou de mim, nossos rostos


ficaram bem próximos e ele tentava me intimidar com o olhar dele. Mas eu
segui firme e o olhei com meu queixo levantado. Novamente meu coração
disparou só pelo fato dele estar tão próximo a mim. Entretanto, eu estava
determinada a não esboçar nenhuma reação indicando que eu o amava.

Por alguns instantes o olhar dele se encontrou com o meu e ele pareceu
se desarmar nesse momento. Eu senti um calor percorrer todo meu corpo, e
minha vontade era agarra-lo e beija-lo, a única vez que senti o calor dos
lábios dele foi no altar, quando nos casamos e parecia que ele tinha pressa de
finalizar o beijo. Jeff se aproximou mais e ficamos mais próximos ainda,
acho que por um momento ele quis se entregar, eu não me afastei dele em
nenhum momento na esperança que ele tomasse alguma atitude. Porém,
infelizmente parece que ele recobrou seu juízo e retomou o seu habitual
semblante frio. Eu dei um sorriso para ele ironizando o que tinha acabado de
acontecer pois vi que ele me desejava.

Ele se afastou de mim e arfou com raiva não respondendo a minha


provocação. Quando ele virou as costas só falou com seu tom amargo que
estava acostumado a usar comigo.

— O almoço já está servido.

Eu fechei meus olhos por um momento e dei um suspiro, falei para mim
mesma:

— Vamos lá, Charlotte. Você consegue passar por cima disso. — Senti
minhas pernas estremecerem, não sei se era por conta da dor que estava
começando a me incomodar novamente ou por conta do momento que havia
acabado de acontecer conosco.

Nós dois nos sentamos à mesa, ele se sentou em uma ponta e eu para
demonstrar que não me importava com ele sentei na outra ponta para
ficarmos o mais distante possível. Nós não trocávamos uma palavra se quer,
e a todo momento que eu olhava para meu marido ele parecia desviar o seu
olhar para não cruzar com o meu. Acho que ele estava irritado pelo que
havia acontecido entre nós. Então decidi propor a ideia que eu tive mais
cedo. Eu tomei um gole do meu suco de laranja, limpei minha garganta e
disse:

— Eu estava pensando... Acho que quero me mudar para a casa de


hóspedes. Presumo que seria mais agradável para nós dois convivermos
assim até o fim do contrato. — Eu disse a ele adotando a postura firme que
ele mesmo usava contra mim.

Jeff começou a rir de um jeito debochado e balançou sua cabeça de um


lado para o outro negativamente.
— Você não tem que achar nada para começo de conversa, e além do
mais... Você não acha que está um pouco tarde demais para você fingir que
não sabe sobre os termos do contrato, sua estúpida? — Ele falou em tom de
deboche a princípio, mas depois adotou seu tom nervoso de sempre.

A cada vez que ele mencionava esse contrato eu me arrependia mais por
não ter lido ele.

— Mas... — Eu ainda tentei falar algo.

— Mas nada! Chega! A propósito, mais tarde nós temos que ir até a casa
do meu avô. — Ele falou agitado enquanto comia o restante da comida que
estava em seu prato.

Eu toquei meu ferimento na perna por cima do vestido e notei que estava
úmido, acho que devido ao meu esforço de ter andado até a casa de hóspedes
ele deve ter aberto e sangrado. Os cacos de vidro também haviam causado
pequenos cortes nas solas dos meus pés, o que provocava uma ardência
constante e agora que o efeito do medicamento estava passando a dor havia
aumentado. Acho que não seria uma boa ideia eu ir a esse jantar.

— Eu não acho que estou muito disposta hoje para sair. Eu estou muito
cansada, você pode ir, eu ficarei aqui na sua casa descansando. — Eu falei
para ele e torci para que ele não fizesse questão da minha presença lá e me
dispensasse dessa saída que com certeza não me faria bem.

— E desde quando você acha que tem autonomia para decidir alguma
coisa? Você queria se casar comigo, por isso assinou aquele contrato, não é
verdade? Então, agora aguente as consequências e saiba agir como uma
esposa adequada. Você vai até a casa do meu avô porque é seu dever me
acompanhar em todos os eventos e compromissos que formos chamados
pois, nós somos um casal para as pessoas verem e temos que agir assim. —
Ele falou com o tom de voz mais frio possível.

Jeff jogou o guardanapo de pano no prato dele, se levantou da mesa e


veio em minha direção. Por conta da agressão que ele tinha feito mais cedo,
quando ele chegou perto de mim, eu me retraí, como se fosse um reflexo.
Ele arqueou uma de suas sobrancelhas e perguntou:
— Está com medo de mim? — Ele tinha um sorriso vitorioso em seus
lábios. E isso, me irritou profundamente pois significava que ele estava me
vendo como se eu fosse vulnerável, ou seja, meu plano de tentar me impor
estava falhando miseravelmente.

Tentei me recompor e disse:

— Não seja vaidoso, eu não tenho medo de você! — O encarei ao falar.


A verdade é que eu estava com muito medo que ele pudesse fazer algo
contra mim novamente porque eu já estava machucada, mas, estava decidida
a não demonstrar isso para ele em momento algum.

Ele deu um sorriso breve ainda mantendo sua pose arrogante. Parecia
não ter acreditado em uma palavra se quer que eu havia acabado de falar
pois ele tentou me intimidar por mais um momento. Antes de sair da sala de
jantar ele me disse:

— Mais tarde eu entregarei o vestido que você deve usar esta noite. —
Ele me deu mais uma boa encarada e saiu dali me deixando sozinha na sala
de jantar.

A dor que eu estava sentindo se tornou mais intensa, eu nem ao menos


quis terminar minha refeição. Eu estava sensibilizada por tudo que havia
acontecido hoje e para completar essa dor estava me atormentando. Janet
apareceu na sala de jantar e parou ao meu lado com uma bandeja em suas
mãos e tinha os comprimidos que eu deveria tomar e um copo com água.

Eu a olhei e dei um sorriso. Janet, me tratava melhor e se atentava mais


para meu bem estar do que meu próprio marido. Isso era frustrante em tantas
proporções que eu nem ao menos sabia descrever. Peguei os comprimidos e
tomei, em seguida tomei o copo d'água.

— Obrigada, Janet. Você não precisava fazer isso. Como sabia dos
horários?

— Eu prestei atenção nas orientações do seu primo, e como você deixou


os remédios na sala eu tomei a liberdade de guarda-los. Fiz mal? — Ela
perguntava apreensiva.
— Não, Janet. De maneira alguma. Você foi excelente, não tenho
palavras para agradecer seu cuidado comigo.

— Imagina, senhora. É o mínimo que eu posso fazer. — Ela deu um


sorriso e se retirou.

Eu suspirei cansada e esperei que o remédio fizesse pelo menos um


pouco de efeito para que eu pudesse sair dali. Quando a dor começou a
aliviar um pouco, eu me levantei da cadeira e fui até meu quarto. Ao chegar
lá meu marido estava jogando sinuca na grande mesa de bilhar que havia no
ambiente que compunha o quarto. Ele estava sem camisa e parecia estar bem
concentrado. Eu fiquei olhando um pouco aquela cena.

Ele estava debruçado sob a mesa, uma mecha do cabelo dele caia sobre
sua testa e ele movimentava sua cabeça para tira-la do seu campo de visão,
para que pudesse se concentrar no que estava fazendo. Fiquei perdida por
um momento naquela cena, mas logo saí dali antes que ele percebesse minha
presença. Como estava um pouco fraca por causa da dor decidi descansar
durante a tarde para ter forças para ir na casa de Robert Staton à noite.

Eu dormi assim que deitei na cama. Acordei com uma voz me


chamando:

— Charlotte, Charlotte! — Eu abri meus olhos assustada e procurei


quem estava me chamando.

Quando olhei na minha frente era Jeff, ele segurava um vestido curto e
ao ver que eu o acordei colocou o vestido na cama.

— Esse é o vestido que você deve usar para ir. — Ele falou ordenando.
Jeff já estava arrumado, então disse: — Vou descer e a espero lá embaixo
para que você possa se arrumar tranquilamente.

Ele virou as costas sem me dar chance de responde-lo. Olhei aquele


vestido curto e vi meu ferimento na perna. Com certeza ele iria aparecer
então seria inviável eu usar aquele vestido. Fui até o closet e escolhi um
vestido longo para poder cobrir o machucado. Depois, dirigi-me ao banheiro
para tomar um banho. Retirei a faixa que meu primo tinha colocado e em
seguida as gazes.
Estava bem feio. Tomei meu banho e até arrepiei de dor à medida que a
água caia em na região da pele que estava lesionada. Saí do box após ter
finalizado meu banho e quando fui fazer o curativo ouvi Jeff dizer
impaciente através da porta do banheiro:

— Dá para andar logo? Nós vamos nos atrasar! Irei espera-la no carro.

Respirei fundo e soltei o ar pela boca. Coloquei umas gazes no ferimento


e alguns esparadrapos para fixa-los, mas, coloquei de qualquer jeito. Fui até
o quarto coloquei o vestido que escolhi, me maquiei e arrumei meu cabelo
rápido. Desci com a maior agilidade que pude, e ao sair havia um carro me
esperando.

Jeff estava dentro do carro no banco do passageiro de trás. Eu entrei e


me sentei ao lado dele. Ele estava com os olhos no celular por isso, nem
notou a roupa que eu vestia. A casa do avô dele era próxima da casa dele,
logo nós chegamos. Ambos descemos do carro juntos, e quando chegamos
até a porta da casa do avô dele ele reparou a roupa que eu estava usando. Ele
franziu o cenho e perguntou:

— Por que você não está usando a roupa que eu mandei você usar?

— Achei inconveniente usar um vestido curto para vir a casa do seu avô
pela primeira vez. — Tentei justificar dessa maneira para ele não falar nada,
porém foi inútil.

— Não faz sentido isso. Você está fazendo isso puramente para medir
forças comigo, para mostrar que está insatisfeita com a maneira que eu a
trato. Por isso está agindo dessa forma. Se continuar agindo assim terá que
aprender a lidar com as consequências. — Ele falava com ira.

Acho que eu tinha que falar para ele que eu havia me machucado, até
porque eu não estava me sentindo bem. Senti que meu corpo estava
começando a ficar quente, eu poderia estar com febre. Quando eu fui me
explicar, a porta da casa do avô dele foi aberta e fui impedida de falar.
Capítulo 08 – Constrangedor
Constrangedor
Narração - Charlotte Staton

Ele somente olhou me censurando ao entramos na casa quando a porta


foi aberta pela empregada. Ao chegarmos lá dentro, nós cumprimentamos
todos que estavam presentes e quando fui guiada por ele pelo interior da casa
percebi que se tratava de um jantar na verdade. Nós no sentamos na mesa e
ficamos perto um do outro, eu então perguntei para ele:

— Por que você não me falou que era um jantar?

— Não achei necessário. — Ele falou no momento em que o mordomo


nos servia.

— Ah, agora você não acha necessário nem ao menos me falar quando é
um jantar ou não? — Perguntei com raiva, mas a expressão do meu rosto
não era condizente com a raiva que eu sentia para não chamar a atenção dos
demais convidados para nós dois.

— Não comece a querer fazer uma cena aqui no meio da minha


família. — Ele falava entre os dentes tentando disfarçar.
— Fique tranquilo que a cada dia que eu passo ao seu lado, aprendo a
atuar melhor, então não se preocupe pois ninguém vai perceber nosso
impasse, babaca! — Eu estava tão nervosa pela forma que ele me tratava que
falei aquilo. Acho que por conta da dor que começava a realmente ficar
intensa eu estava com minha mente um pouco afetada e estava ficando
nervosa. Havia passado do horário de tomar meus remédios, por esse motivo
ela estava se intensificando.

— Você me chamou do quê? — Ele quase perdeu a compostura ao falar.


Eu decidi que não ia voltar atrás, aqui ele não iria se atrever a fazer nada
contra mim.

— Disso mesmo que você ouviu, gostou tanto que quer que eu repita? —
Eu falei ao dar um sorriso e aproximei meu rosto bem perto do rosto dele
para fingir que éramos um casal feliz e estávamos apaixonados.

— Você acha que por estarmos aqui, na frente da minha família, você
pode falar da maneira que bem entende com esse sorriso sarcástico em seu
rosto, que nada irá acontecer a você? — Ele me fitava com fúria, dava para
ver pelo olhar dele, mas o seu rosto estava sereno como se nada de mais
estivesse acontecendo.

Era minha chance de poder provoca-lo de todas as formas possíveis,


estávamos em um território neutro e nenhum ataque de fúria dele seria
justificado ali. E ao julgar como ele fazia questão de manter as aparências eu
estava certa que ele não faria nada comigo.

— Acho não, eu tenho certeza! — Retruquei de modo desafiador.

Jeff ainda estava comendo, ele mastigou a carne que estava em sua boca
com mais voracidade e segurou seu talher com tanta força que pude ver ele
entorta-lo. Meu marido me olhou furioso e apenas balançou a cabeça de um
lado para o outro, demonstrando sua indignação.

O restante da refeição nós seguimos em completo silêncio. Após


terminarmos nossa refeição, nós dois, e todos os que estavam presentes na
mesa de jantar fomos até uma sala de convivência onde todos ficaríamos em
pé enquanto conversávamos. O mordomo passou oferecendo bebidas, e eu
escolhi pegar uma taça com vinho, e comecei a degusta-lo, nem se quer me
importei de estar tomando remédios incompatíveis com bebidas alcoólicas,
porque eu sabia que o álcool aliviaria minha dor e me ajudaria a passar por
aquele tortuoso jantar.

Jeff e eu estávamos um ao lado do outro, mas depois do que havia


acontecido na mesa de jantar ele estava evitando de falar comigo e eu
confesso que não estava achando ruim porque eu estava muito irritada por
conta da dor que eu estava sentindo, ainda mais que deveria me manter ali
naquele lugar em pé para piorar minha situação. Uma mulher muito bonita,
loura e com um sorriso bem amigável se aproximou de nós dois. Ela me deu
um abraço como se me conhecesse há algum tempo e disse:

— Olá, Charlotte. Meu nome é Adélia, prazer!

— Oi, Adélia. O prazer é todo meu. — Ela sabia até mesmo o meu nome
e eu não fazia ideia de quem ela era.

Eu estava me perguntando porque eu tinha ido naquele jantar totalmente


aleatório da família dele sendo que havíamos dado um jantar há alguns dias.
Eu parecia já ter visto a mulher que me cumprimentou, ela estava ao lado de
Brandon quando veio me cumprimentar. Então, ela perguntou:

— Você está grávida?

Adélia me perguntou aquilo tão naturalmente que eu não entendi porque


motivo ela tinha perguntando. Será que eu havia entendido errado? Eu fiz
uma expressão confusa e resolvi que iria questionar aquela pergunta. Na
hora que eu decidi que a questionaria, olhei bem para o rosto dela e me
lembrei de onde a conhecia.

Ela foi a mulher que saiu aos risos na noite do jantar, junto com
Brandon. Achei ela familiar aquela noite porque eu me recordei também da
sua fisionomia por vê-la estampada em jornais, quando eu vi uma notícia
sobre as empresas Staton. Eu lia pouco jornal, mas eu me recordei dela
porque ela tinha uma fisionomia marcante. Depois de ter me lembrado dela,
voltei meu raciocínio para aquela pergunta pra lá de esquisita que ela havia
feito, e finalmente a questionei:
— O que foi que você disse?

Olhei para Jeff como se pedisse socorro diante da pergunta dela, por
mais que achasse que ele se manteria neutro diante daquilo. Acho que se eu
soubesse do contrato talvez eu saberia porque ela estava me questionando
daquele jeito. Para minha surpresa Jeff falou com ela usando o mesmo tom
que costumava usar para se dirigir a mim e disse:

— Se você está com tanta curiosidade sobre uma gestação por que você
mesma não providencia uma?

Ele tinha um sorriso debochado e ela o olhou furiosa, como se não


bastasse a provocação inicial ele continuou:

— Seu noivo parece estar mais que pronto para colocar um herdeiro dele
dentro da sua barriga.

Eu arregalei meus olhos pois achei essa última fala dele extremamente
invasiva e de mau gosto, dei um gole em minha bebida por conta do
momento constrangedor. Ele sempre foi um homem tão elegante diante das
pessoas, era estranho que ele tratasse aquela mulher daquela maneira. Eu
pensei que somente eu receberia um tratamento ruim por parte dele. Adélia
então disse:

— Obrigada pela dica, querido Jeff. Esteja certo que eu e Brandon


pensamos em providenciar o mais rápido possível. Mas eu gostaria de saber
da sua esposa se está grávida, foi uma pergunta natural. Não entendo o
motivo do seu incômodo, talvez seja porque você não consiga fazer um bebê
nela. — Ela falava para ele com a voz carregada de ironia, e fiquei bem
chocada com as palavras que ela usou.

Porém, foi nesse momento que percebi que ela era noiva do Brandon. Ele
estava de longe observando tudo, parecia que ele se divertia ao imaginar o
teor da conversa que acontecia entre Jeff e a noiva dele. Acho que eles eram
inimigos há muito tempo, agora o motivo seria um mistério para mim. Era
perturbador eu viver em uma família que eu não sabia o que acontecia de
fato, além de nem ao menos saber os motivos que me levaram a estar ali
aquela noite... Era muito ruim não ter uma boa relação com meu marido para
se quer perguntar as coisas que aconteciam a minha volta. Jeff continuou a
responder Adélia:

— Eu gostaria que você tomasse conta da sua vida e dos seus problemas
ao invés de ficar tão preocupada e deslumbrada com a vida de outras
pessoas. Está com tempo sobrando para tomar conta da vida alheia,
Adélia? — Ele tinha um sorriso ao falar.

Eu já estava ficando extremamente constrangida com aquela conversa


que parecia não ter fim e ficava cada vez mais difícil de presenciar. Brandon
veio até perto de nós se colocando ao lado de sua noiva. Cordialmente ele
nos cumprimentou e por um momento eu pensei que aquela conversa que
estava causando um clima ruim havia cessado, mas, Adélia parecia ser
implacável tanto quanto Jeff, e então continuou:

— Por que uma pergunta tão simples o perturbou tanto? Isso me leva a
pensar que há algum problema conjugal mais íntimo entre o casal. — Ela
bebeu um pouco do vinho que estava segurando na taça em sua mão e
fuzilou Jeff com seu olhar.

Infelizmente, ela foi certeira no que havia dito. Havia mais que um
problema íntimo entre nós dois. Pois, se quer tínhamos intimidade, e isso se
tornava mais que apenas um simples problema conjugal. Pelo fato disso ser
verdade pareceu ter sido o bastante para ela tirar Jeff do seu estado de
tranquilidade.

— Vem, Charlotte. Acho que Adélia já se esbaldou demais com esse


vinho e está falando besteiras. — Jeff apoiou uma de suas mãos em minhas
costas para me guiar para longe de Adélia e Brandon.

Quando ele fez isso e eu fui levantar minha perna ferida que estava há
muito tempo em uma posição só, ao fazer isso eu senti uma dor tão intensa
que cambaleei. Jeff firmou mais sua mão em minhas costas ao perceber o
movimento que eu fiz. Adélia e Brandon se inclinaram para nossa direção e
Adélia perguntou:

— Charlotte? Está se sentindo mal? — Ela parecia ter um tom de voz


preocupado.
Jeff me encarava para ver qual seria minha resposta e eu apenas disse:

— Eu estou bem, acho que eu exagerei um pouco na bebida e acabei


ficando tonta por alguns segundos. Já passou, não é nada demais. — Dei um
sorriso amarelo ao falar para ela tentando ser convincente.

Pelo o olhar dela e de Brandon seguidos de um sorriso forçado eu vi que


não haviam acreditado muito no que eu havia dito para eles. Jeff então
pressionou mais uma vez sua mão nas minhas costas me levando para o
outro lado do ambiente da sala de convivência, para que pudéssemos ficar
distantes do casal que ele parecia não gostar nem um pouco. Quando
estávamos ele e eu a sós, no canto onde poucas pessoas estavam por perto,
ele me repreendeu.

— Que papel ridículo! Se você não consegue se controlar, não beba. —


Ele me olhava enfurecido ao falar.

Eu não podia acreditar que ele estava falando daquele jeito comigo. Eu
estava sentindo uma dor insuportável e ainda tentava me segurar na frente
dele, e de todos que estavam ali, mas como se não bastasse tinha que ouvir
as humilhações dele. Respirei fundo e me encostei um pouco na parede que
estávamos perto, já que ele achava que eu estava bêbada de qualquer
maneira, eu não iria tentar me justificar. Decidi que iria tentar ficar o mais
quieta possível na tentativa do mal estar passar.

Porém, ao passar a mão em meu próprio braço eu senti que eu estava


ardendo em febre. Talvez se meu marido negligente ao menos se desse o
trabalho de prestar atenção em mim ao tocar na minha pele, ele perceberia
que eu não estou bem. Contudo, eu não poderia esperar isso dele. Como eu
não o respondi ele indagou:

— Você não vai falar nada?

Eu não queria iniciar mais uma discussão igual fizemos no decorrer do


jantar porque eu não tinha condições nenhuma para isso, minhas energias
haviam se esgotado, então eu disse:

— Eu não tenho nada para falar.


Ele apenas me olhou com raiva e ficamos em silêncio após isso.
Inconveniente
Narração - Charlotte Staton

Nós estávamos ali parados, sem trocar nenhuma palavra, pois,


geralmente quando conversávamos era puramente para discutirmos um com
o outro e isso e eu não estava em condições de fazer naquele momento. Eu
percebi por algumas vezes que ele queria conversar comigo, acho que
mesmo que fosse para discutir, Jeff estava sentindo necessidade de ter que
falar comigo. Aquilo me deixou intrigada, já que ele não gostava de mim,
por que fazia questão de estar perto e queria conversar a todo momento?
Arqueei uma de minhas sobrancelhas e o encarei. Ele esboçou uma reação
como se quisesse me falar algo mas fomos interrompidos.

A mãe de Jeff, Cora, se aproximou de nós dois com um sorriso em seu


rosto. Desde que eu havia visto ela no casamento alguma coisa nela parecia
não estar certa, ela não me inspirava confiança e tudo que ela fazia me soava
falso.

— Meu filho, minha querida nora, como vocês estão? — Ela mantinha
aquele sorriso falso ao falar.
— Olá, Cora. Estou bem obrigada, e a senhora? Como está? — Perguntei
a ela com cordialidade e me desencostei da parede em que eu me encostava
para manter minha postura ao conversar com ela.

— Estou ótima também, obrigada por perguntar. Você se importa se eu


roubar seu marido um minutinho? — Ela falava entre algumas risadinhas.

— De maneira nenhuma, fique à vontade. — Por mais que eu estivesse


curiosa para saber o que ele queria falar com Jeff, eu fiquei aliviada de ficar
livre da tensão que era ficar próxima a ele, pois eu sempre esperava o
pior. — Vou aproveitar e me sentar na sala de estar se não for
inconveniente. — Falei me dirigindo a ela torcendo para que não fosse
inoportuno porque eu precisava me sentar o quanto antes, pois eu não sabia
por quanto tempo mais eu aguentaria me manter em pé.

— Oh querida, fique à vontade, sinta-se em casa. — Ela sorriu e saiu


junto com Jeff.

Ele me lançou um olhar desdenhoso antes de sair e eu retribuí da mesma


forma. Caminhei até a sala de estar, me sentei no sofá e dei um longo suspiro
de alívio quando fiz isso. Eu estava sentindo tanta dor que parecia que meu
corpo clamava por socorro, não só pela dor, mas, também, devido a febre
alta que eu estava. Fiquei pensando nas palavras da mãe do Jeff dizendo para
eu me sentir em casa.

Se eu fosse me sentir em casa aqui era só me manter como eu estava,


sem poder fazer absolutamente nada sem pedir autorização antes, porque
tanto lá como aqui eu era uma convidada e nada além disso. Eu dei um
sorriso ao avaliar minha situação, pois ela chegava a ser cômica e
desesperadora. Continuei sentada, em paz, quando Brandon chegou na sala
de estar.

— O que está fazendo aqui sozinha? Onde está seu marido? — Ele
perguntou com um sorriso, mas seu tom era maldoso.

— Eu estava aqui desfrutando da minha paz antes de você chegar. Meu


marido está com minha sogra. — O respondi mal pois eu não tinha superado
as ofensas que ele havia feito a mim no decorrer da dança que concedi a ele
no último jantar. Ele fez uma expressão de repulsa quando mencionei minha
sogra. Deduzi que ela realmente não deveria ser fácil bem como eu imaginei.

— Alguém está de mau humor... Será que foi pelo fato de presenciar a
discussão calorosa entre os primos? — Ele se sentou do meu lado mesmo
sem ser convidado.

— Primos? — Perguntei confusa e olhei para ele.

— É, Adélia e Jeff são primos. Não sabia? — Brandon indagou.

Como eu iria saber dessa informação sendo que meu marido mal dirigia
a palavra a mim, a não ser quando era para me humilhar.

— Não, eu não sabia. — Dei um sorriso sem graça e ao mesmo tempo já


perguntei. — Ué, mas se são primos, porque eu não a vi no casamento? Ela
não foi? — O indaguei com uma expressão de dúvida.

— Digamos que a relação deles não é muito boa como você mesma pôde
observar há alguns minutos. — Brandon me explicou e ele tinha um sorriso
sarcástico ao lembrar da discussão entre sua noiva e meu marido.

— Como assim? Qual o problema entre os dois? — Eu perguntei curiosa


e parece que Brandon seria o primeiro nessa família que estava disposto a
me falar a respeito de certas coisas que aconteciam dentro da família, e meu
marido não falava.

— Eles brigaram por conta da partilha dos últimos 25% das ações da
empresa. Não chegaram a um acordo, e então, por conta dessa desavença foi
estipulado algumas exigências para ver qual dos dois conseguiria cumprir
primeiro. Como algumas dessas exigências tem a ver com você, Adélia ficou
curiosa a seu respeito e por isso quis saber se você estava grávida. —
Brandon me explicou, mas na verdade ele me deixou mais em dúvida do que
eu estava anteriormente.

O que eu tinha a ver com essas exigências que determinariam qual dos
dois primos ficaria com as últimas ações da empresa? Que conversa mais
estranha. Essa noite estava ficando cada vez mais incomum e confusa para
mim. Eu pensei em perguntar mais para ele sobre o que ele queria dizer com
aquilo, mas, me dei conta que eu e Brandon estávamos sozinhos naquela sala
de estar e ele estava sentado muito próximo a mim.

Eu não queria dar motivos para Jeff suspeitar da minha fidelidade a ele,
muito menos queria que ele me humilhasse novamente por conta disso.
Além do mais não queria confusão com a prima dele que já parecia o odiar,
não queria que ela me odiasse também. Não estávamos fazendo nada de
mais, mas eu não queria ser mal interpretada. Então eu disse:

— Brandon, não me leve a mal, mas não seria melhor você ir ficar perto
da sua noiva? Ela pode estar sentindo sua falta, e as pessoas podem comentar
o fato de nós dois estarmos aqui sozinhos. — Diante do que eu falei ele
começou a rir e disse:

— Eu não me importo se minha noiva sente minha falta, e muito menos


com o que as pessoas falam. Vou ficar aqui mesmo. — Ele sorriu
ironicamente e fez questão de se aproximar mais de mim.

Eu me afastei dele demonstrando que eu estava visivelmente


incomodada com a atitude que ele estava tendo, mas, ele parecia não se
importar. Nesse momento parei de tentar ser educada com ele.

— Você pode até não se importar, mas eu me importo com o que meu
marido pensa e exijo que você me respeite! — Eu fui bem ríspida no modo
de falar com ele. Ele ainda ria da situação como se eu estivesse brincando. O
idiota simplesmente não me levava a sério!

— Você atua muito bem, eu quase acredito nas suas palavras. Você não
precisa fingir comigo. Eu estou noivo da Adélia pelo mesmo motivo que
você está casada com o Jeff. Por essa razão eu não me importo com minha
noiva, eu não ligo para o que ela sente e pensa porque isso não passa
meramente de um negócio para mim, e suspeito que ela veja somente dessa
forma também. — Ele deu de ombros ao falar.

Eu fiquei olhando para ele em choque, era muito absurdo o que ele havia
acabado de falar. Então, eu presumi que meu marido muito provavelmente
pensava assim também. Pelo fato do nosso casamento ser contratual ele não
devia se importar comigo, da mesma maneira que Brandon não se importava
com Adélia, além disso, eu tinha várias provas da pouca importância que
meu marido dava para mim. Foi inevitável que meu semblante não se
tornasse triste.

— Vai continuar fingindo que se importa e ficou magoada com o que eu


falei? Fala sério, Charlotte! — Ele falou revirando seus olhos e balançando a
sua cabeça negativamente.

— Você e o Jeff podem ser assim, mas eu não sou. Não venha medir meu
caráter da mesma forma que você faz com o seu. — Eu ainda falava para ele
de uma maneira mais grosseira.

Brandon era sem noção e invasivo. Mas algo me fazia acreditar que ele
também tinha mais conhecimento do contrato que eu assinei do que eu
mesma.

— Tá bom, Charlotte. Se você insiste em permanecer dentro do seu


personagem, quem sou eu para julgar, não é verdade? — Ele continuava a
usar seu tom de deboche.

Respirei fundo depois do que ele falou e olhei para o lado oposto que ele
estava, não queria me estressar com ele. Eu estava passando muito mal, com
dor e febre que pareciam aumentar a cada minuto. Eu não iria me desgastar
com as picuinhas e provocações de Brandon, já bastava o que eu tinha que
aguentar do meu próprio marido... Aguentar de um desconhecido seria o fim.

Massageei uma de minhas têmporas com o dedo indicador e o dedo


médio tentando buscar paciência através desse ato, e resolvi que iria ignorar
Brandon completamente. Comecei a mexer em meu celular para ver se
conseguia me distrair. Quem sabe Brandon se tocaria que estava me
incomodando e sairia de perto de mim logo de uma vez ao invés de ficar me
perturbando. Porém, ele não conhecia a palavra chamada, “limite”.

— Bem que você podia me dar seu número de telefone para a gente
conversar, não é mesmo? — Ele falou sorrindo ao se inclinar para ver o que
eu fazia no telefone.

— Não mesmo. Você não tem um pingo de noção pelo visto não é
mesmo, Brandon? — Eu olhava para ele indignada com a ousadia que ele
tinha. Eu nunca havia dado liberdade para ele agir dessa forma. Afastei o
telefone do olhar dele para manter minha privacidade.

— Ah para com isso, conversar não tira pedaço de ninguém! — Ele


insistiu.

Eu olhava para ele tão atônita com a cara de pau que ele tinha, que
cheguei a pensar se ele era uma pessoa normal por agir daquela maneira.

— Não, e repito, não! Qual é seu problema? — Eu já estava ficando


nervosa.

— Pelo amor, Charlotte! Quanto drama! — Ele falou com impaciência e


tomou o celular da minha mão de forma brusca, depois, começou a digitar o
número dele em meu celular para salvar.

Eu fiquei tão chocada com o que ele tinha acabado de fazer, me senti tão
invadida, que a princípio não tive reação, mas depois comecei a tentar pegar
o celular da mão dele.

— Me dá isso aqui! — Eu falava ao tentar pegar o celular dele e ele me


impedia de fazer isso enquanto dava gargalhadas ao perceber que conseguia
me impedir apenas com um de seus braços.

De repente, na porta da sala de estar, ouvi alguém limpar sua garganta


como se quisesse chamar a atenção de nós dois. Para minha infelicidade era
Jeff. Ele observava a cena toda com seu semblante fechado e visivelmente
irritado por eu estar em contato com Brandon. Senti que minhas bochechas
coraram, e fiquei bastante envergonhada. Por mais que eu não estivesse
fazendo nada de errado com Brandon ali, eu sabia que meu marido havia
interpretado mal a cena.
Confusão
Narração - Charlotte Staton

Quando Brandon viu que Jeff havia chegado na sala, ele tirou o sorriso
que estava em seu rosto e me devolveu o celular de um jeito como se
estivesse envergonhado. O que me irritou foi o fato que ele não estava
envergonhado pelo o que fez, pois enquanto eu insistia para devolver meu
celular ele não tinha feito isso. Ele ficou envergonhado pelo fato de que Jeff
havia pegado ele no flagra, no momento em que ele fazia aquela palhaçada.
Ele parecia ter medo do meu marido.

Brandon se levantou do sofá arrumando seu terno, olhou para mim uma
última vez, e em seguida olhou para Jeff. Ele deu um sorriso sem graça para
meu marido, e disse em um fio de voz:

— Com licença. — Ele passou por Jeff, que não falou nada para ele e
apenas o fitava com um olhar de reprovação enquanto ele andava até a saída
da sala.

Após isso, Jeff voltou seu olhar colérico para mim me fazendo engolir
seco. Eu mantinha meus olhos fixos nos dele, por mais que eu estivesse
assustada. Eu não queria demonstrar, por isso não desviei o olhar, mesmo eu
estando amedrontada com a maneira que ele me encarava e com o que ele
falaria.

— O que estava acontecendo aqui? — Ele perguntou se aproximando de


mim e parecia estar extremamente nervoso.

Eu senti um frio percorrer minha espinha, pois, tinha medo do que ele
poderia fazer comigo, afinal, nós estávamos ali sozinhos sem ninguém por
perto então ele poderia fazer o que bem entendesse já que não haveria
ninguém para ver e julgar o que ele estava fazendo.

— Nada. Eu vim sentar para descansar e Brandon veio me importunar.


Por mais que eu pedisse para que ele parasse de fazer o que estava fazendo,
parecia que eu estava falando com a parede pois meus pedidos eram em vão,
ele não parava. — Eu tentei me explicar para ele.

— Não parecia que você estava achando ruim, porque estava


praticamente se atracando com o noivo da minha prima no sofá. — Ele falou
me encarando e tinha um tom sugestivo como se eu fosse uma vadia
qualquer.

Eu não poderia tolerar que ele falasse daquele jeito comigo. Prontamente
me coloquei de pé, por mais que fosse difícil por conta da dor e febre que me
devastavam.

— Olha o jeito que você fala comigo! Eu não estava me atracando com
ninguém no sofá. O Brandon é inconveniente e ele simplesmente tomou o
celular da minha mão para adicionar o número dele, mesmo eu falando que
não queria que ele o fizesse. Eu ainda tentei fazer com que ele parasse, e
quando você chegou eu estava tentando pegar o meu celular da mão dele.
Mas ele é homem, tem mais força do que eu, por esse motivo foi impossível
conseguir pegar o celular da mão dele. — Eu falei para ele bastante nervosa,
eu odiei o tom que ele usou comigo.

— É o que você diz... — Ele ironizou e me olhava como seu eu fosse


uma puta.
— Não é o que eu digo, Jeff! É o que aconteceu, eu não vou aceitar esse
tipo de insinuações. — Além da febre que eu estava sentindo, meu corpo
começou a arder pela raiva que eu estava por conta das insinuações dele.

— Não vai aceitar minhas insinuações? Vai fazer o que quanto a isso? —
Jeff tinha um sorriso sarcástico e se aproximava de mim cada vez mais. Ele
me olhava dos pés à cabeça, e fez questão de aproximar nossos rostos. Eu
estremecia por inteiro quando ele fazia aquilo.

Os olhos azuis dele pareciam que decifravam minha alma. Eu senti que
meu tórax subia e descia por conta da minha respiração que estava bastante
ofegante, pela adrenalina da nossa discussão e por estar tão perto dele. Jeff
demonstrava que gostava de me testar se aproximando de mim desse jeito.
Eu me sentia vulnerável e era perceptível, por isso ele fazia isso sempre que
podia.

A dor estava aumentando então resolvi me sentar de novo. Cruzei meus


braços e resolvi ignora-lo, eu não ia entrar nesses joguinhos de poder com
ele. Virei meu rosto na direção oposta que ele estava e fingi que ele não
estava ali. Ouvi uma música clássica vinda do salão de convivência. Meu
marido agarrou no meu braço e disse:

— Você não pode me ignorar, Charlotte, não pense você que pode fazer
isso. Venha, vamos dançar. — Ele me puxou me forçando a levantar.

Se eu não estivesse com minha perna machucada eu não iria me importar


com isso, na verdade ia gostar de poder dançar junto com meu marido. Mas
eu não estava em condições nem mesmo de me manter em pé, imagine só
dançar.

— Não, eu não quero ir dançar. Não estou me sentindo muito bem. —


Tentei soltar meu braço da mão dele que me segurava, e acabei conseguindo
pois ele não estava usando muita força para segurar. Cruzei meus braços
novamente após me soltar, mas, me mantive em pé.

Diante da minha recusa, eu vi que o rosto de Jeff ficou todo vermelho e


ele apertava um lábio contra o outro demonstrando sua insatisfação por eu
ter rejeitado uma dança. Apesar da raiva ele parecia chocado, pois,
aparentemente não estava acostumado a receber um não como resposta.

— Então com um completo estranho você dança? Dançou com ele no dia
do nosso casamento, no jantar, e agora para dançar comigo que sou seu
marido, você se recusa? — Ele falava com indignação se referindo as vezes
que eu dancei com Brandon.

Ele tinha razão, não fazia sentido nenhum eu recusar uma dança com ele
caso eu estivesse me sentindo bem, mas esse não era o caso. Então resolvi
aproveitar a oportunidade para confronta-lo.

— Você também é um completo estranho para mim, ou já se esqueceu


que estamos casados apenas por conta daquele contrato ridículo? — Eu disse
ao encarar ele com meu queixo erguido.

Jeff fechou seus olhos por um momento e soltou o ar pela boca. Eu acho
que tinha o levado ao ápice da raiva pelo que eu havia falado. Ele ficou tão
furioso por conta do que eu falei que agarrou meu braço com força e disse:

— Ninguém recusa uma decisão minha, muito menos você, Charlotte!


Você vai dançar comigo agora. — Ele falava com fúria e alterando sua voz.

Tentei me soltar, mas ele começou a me puxar com brutalidade para o


salão de convivência onde estava acontecendo a música.

— Jeff! Me solta! Por favor, para! Você está me machucando! — Eu


tentava me soltar dele, mas não conseguia, ele era muito forte. Eu sentia uma
dor cada vez mais intensa na minha perna que estava difícil me manter em
pé.

Eu praticamente estava arrastando minha perna machucada ao ser


puxada por ele. Jeff não dava a mínima para mim, pois mesmo encostando
em mim não havia se dado conta de como eu estava quente. Ele ignorava
totalmente o que eu falava e continuava a me puxar sem parar. Eu ainda
pedia repetidamente para ele me soltar, mas era totalmente ineficaz.

Já estávamos no salão onde havia algumas pessoas e eu tentava disfarçar


para não causar um escândalo. Entretanto, Adélia estava ali perto e ouviu
tudo que acontecia entre nós dois, percebeu que eu não queria ir dançar, mas
ele insistia. Imediatamente ela veio até nós dois e colocou a mão, no meu
braço em que Jeff estava puxando tentando me auxiliar para que eu me
soltasse dele.

— Solta ela, você não está vendo que ela não quer ir!? — Adélia falou
alterando sua voz para Jeff.

Ela mantinha sua mão em meu braço e me olhou intrigada. Ela arqueou
uma de suas sobrancelhas e me encarou, acho que nesse momento ela
percebeu que eu ardia em febre e havia mentido sobre meu mal estar ser por
conta da bebida. Jeff olhou para sua prima a fuzilando com o olhar.

— Não se meta nisso, Adélia! Deixa que eu me resolvo com minha


esposa e saia daqui. — Ele falava também alterando sua voz.

— Não me meter!? Você está sendo um tosco com ela, está ignorando
completamente o fato de sua esposa dizer que não quer dançar, e é incapaz
de respeita-la. Mas não é de se surpreender, não é mesmo, Jeff? Você não
sabe respeitar mulheres!

Adélia o encarava ao provoca-lo com essas palavras. Ele ficou tão


furioso com o que ela havia falado que me soltou e se aproximou dela. Os
dois ficaram um de frente para o outro, Adélia ainda segurava seu copo de
vinho na mão e ele disse:

— Quem você pensa que é para dizer que eu não respeito mulheres? Eu
não respeito qualquer pessoa que não se dá o respeito como você! — Jeff
começou a falar cada vez mais alto.

— Eu não me dou o respeito? — Ela deu uma gargalhada ao falar. —


Você é patético!

Eu vi que os dois estavam muito alterados e poderia acontecer uma


tragédia a qualquer momento, então, resolvi intervir e Brandon ficou
próximo também para tentar apaziguar a briga.

— Gente, por favor, parem! — Eu me coloquei no meio dos dois


enquanto eles apontavam o dedo um para o outro.
Jeff tentava me empurrar para que eu saísse da frente dele, e começou
um verdadeiro empurra, empurra, entre ele e Adélia comigo entre os dois.
Brandon se aproximou mais para tentar ajudar.

A minha dor estava cada vez mais insuportável ainda mais porque
estavam esbarrando na minha perna enquanto eu tentava fazer com que a
briga entre os dois cessasse. Adélia deixou sua taça com vinho cair no chão e
isso chamou a atenção de todos. Eu não suportava mais a dor então acabei
me desequilibrando e ia cair.

Quando eu ia cair no chão, Brandon me segurou em seus braços


impedindo que eu caísse. Diante dessa situação Jeff e Adélia pararam a
discussão e voltaram seus olhares para mim. Por incrível que pareça o olhar
de Adélia era mais preocupado do que o do meu próprio marido. Minha dor
tinha atingido um grau tão alto que eu não consegui sair dos braços de
Brandon. Minha perna não me respondia mais.

— Charlotte, o que você tem? — Adélia perguntou já que havia


percebido que eu estava com febre.
Culpado
Narração - Charlotte Staton

Por conta da confusão que se instaurou, a atenção de todos foi voltada


para o lugar onde nós estávamos. Minha sogra chegou e parecia estar furiosa
com a situação então disse bastante irritada:

— O que está acontecendo aqui? Adélia, Jeff, vocês não conseguem se


comportar devidamente como dois adultos nem em um simples jantar!?
Tenham respeito pelo menos ao avô de vocês, que é um senhor de idade, já
que vocês não conseguem respeitar ninguém.

Cora repreendia os dois furiosa e ainda não havia se dado conta que eu
estava praticamente caída nos braços de Brandon. Ao perceber, ela arregalou
seus olhos e se calou, esperando que alguém dissesse o que estava
acontecendo ali.

— Jeff, você não percebeu que sua esposa estava doente? — Brandon
indagou Jeff com indignação. Até ele que era um perfeito babaca havia
percebido que eu não estava bem, enquanto meu marido não havia se dado
conta até que tivesse chegado a esse extremo.
Jeff engoliu seco diante da pergunta de Brandon e pareceu ter ficado
constrangido por não ter percebido o estado crítico em que eu me
encontrava. Ele não se atentou que eu realmente estava me sentindo mal
como eu havia falado para ele. Talvez se ele me escutasse e me levasse a
sério, nada disso teria acontecido, nem mesmo aqui nós dois estaríamos.

— Eu... Eu... — Jeff gaguejou ao tentar se explicar. Foi a primeira vez


que o vi desconcertado daquela forma diante de uma situação, e sem saber o
que fazer. Fiquei observando aquela cena e confesso que estava gostando de
ver ele daquela maneira; vulnerável e sem saber o que fazer, porque muitas
vezes ele me deixava assim, então essa inversão de papéis mesmo que fosse
apenas por uma vez me deixava satisfeita. A família de Jeff começou a se
reunir a nossa volta depois que Brandon tinha perguntando ao Jeff se ele não
sabia que eu estava doente. A música havia sido interrompida e o show da
noite parecia ter se concentrado na confusão entre nós.

Antes que ele falasse mais alguma coisa a mãe dele falou com um sorriso
largo se direcionando a mim:

— Você está grávida? — Ela tinha os olhos cheios de expectativa e


esperava ansiosa por minha resposta.

Eu olhava para ela sem entender o motivo daquela pergunta. Por que as
pessoas estavam me fazendo essa pergunta como se fosse algo de suma
importância e totalmente natural para se perguntar para alguém? Parecia ser
um caso de vida ou morte, eu não entendia aquilo, e desta vez Jeff não ousou
falar nada. Creio que por ele estar processando ainda tudo que estava
acontecendo. Seria eu mesma quem deveria responder essa pergunta
absurda.

Como eu estaria grávida sendo que Jeff nunca havia se quer me tocado?
Imagina ter feito amor. Eu preferi não responde-la com palavras, então,
ainda apoiada a Brandon, enquanto ele me segurava, eu mantive minha
expressão confusa e balancei a cabeça de um lado para o outro
negativamente para responder minha sogra. Eu tinha a esperança que ela
pudesse me esclarecer porque ela perguntava isso repetidas vezes. Então
Cora falou:
— Você tem certeza que não está grávida? — Acho que eu teria que
responder verbalizando, pois ela queria ouvir com todas as palavras.

Confesso que havia ficado um pouco frustrada pois ninguém parecia se


importar com meu bem estar. Apenas queriam saber se eu carregava um
filho do meu marido em meu ventre.

— Sim, Cora. Eu tenho certeza que eu não estou grávida. — Falei para
ela com firmeza e olhei para Jeff esperando que ele fizesse algo.

— Mas esse mal estar, pode ser de uma gravidez querida... — Ela ainda
insistia.

— Mãe, já chega! — Jeff falou para ela em um tom ríspido na tentativa


de encerrar aquela série de perguntas e comentários insistentes da mãe de
uma vez por todas.

Eu fiquei aliviada, mas, senti minha perna ficar úmida. Acho que meu
ferimento estava sangrando. Ao olhar para baixo tive a certeza da minha
suspeita, vi que o sangue havia ultrapassado o tecido do vestido. Eu devia ter
feito um curativo melhor para evitar que isso acontecesse, e precisava dos
meus medicamentos também. Se Jeff não tivesse me apressado eu teria
tomado conta de tudo isso com cuidado antes de vir para evitar que esse
problema todo acontecesse.

— Tudo bem, desculpe meu filho, é que você sabe que... — Parece que
ela iria falar o motivo de me perguntar sobre uma possível gestação
insistentemente, então me voltei a ela com os olhos atentos na esperança de
ter algum tipo de esclarecimento para minha dúvida.

— Cora, já basta. Pare de insistir de forma incessante. — O avô de Jeff a


repreendeu na frente de todos.

Infelizmente para mim, pois, se eu, ao menos soubesse o motivo de


estarem me perguntando isso, era mais fácil lidar com toda essa situação. Ela
cruzou seus braços e fez uma cara de quem não gostou de ter sido
repreendida.
Minha perna continuava a sangrar e eu olhava discretamente para tentar
ver a situação, eu estava torcendo para ninguém reparar, mas, Adélia olhou
aquela mancha em meu vestido, e em seguida olhou para meu rosto com
uma expressão intrigada.

— Mas o que é isso, Charlotte? — Quando ela me questionou,


novamente, os olhares de todos se voltaram para mim.

Ela se agachou e levantou meu vestido. Ao ver o estado em que minha


perna estava ela arregalou os olhos. Alguns curiosos se inclinaram para
olharem para minha perna, para ver o que havia ali, Jeff era um deles e ao
ver ficou chocado. Ele olhava para minha perna e em seguida para meu
rosto. Eu já não conseguia mais disfarçar minha dor e como a maioria ali
presente já sabia o que eu estava tentando esconder, eu não poupei minha
expressão de dor pois estava insuportável.

— É, eu não sei se Charlotte está grávida ou não, mas, é certeza que ela
está ferida. — De imediato ao falar isso Adélia olhou para Jeff o censurando
com o olhar.

Pela maneira que ela o olhava, acho que ela suspeitou que poderia ter
sido Jeff quem causou aquele ferimento em mim. Jeff ao perceber o olhar de
sua prima, resolveu se pronunciar. Ela tirou a gaze embebida de sangue e
jogou para o lado expondo meu ferimento. Alguns familiares deles fizeram
um som de espanto ao verem aquele corte profundo. Adélia se levantou e
continuou a encarar Jeff por algum tempo de braços cruzados.

— Charlotte, como isso aconteceu? Por que você não me falou que
estava machucada? — Jeff perguntou para mim, e pela primeira vez senti um
pouco de preocupação no tom de voz que meu marido usou para se
direcionar a mim.

Eu senti que estava me enfraquecendo mais e tentei me explicar com


uma voz meio falhada pelo cansaço que estava sentindo em decorrência da
febre que estava bem alta.

— Eu me acidentei hoje pela manhã. Deixei cair uma... — Hesitei ao


falar, pois eu não queria comentar a respeito da caixa. — ...Um copo, e
depois caí por cima dele. — Olhei para Jeff ao falar e vi que ele arregalou
seus olhos pois entendeu que ele havia sido o culpado pelo meu ferimento.

Ele passou a mão em seu queixo, e pareceu ter se perturbado diante do


que eu havia dito. Pela sua expressão ele aparentava ter se assolado pela
culpa de ter me machucado. Então, continuei a falar:

— Eu não queria que você ficasse preocupado comigo, por esse motivo,
eu resolvi esconder de você. — Eu olhava para ele ao falar.

— Meu Deus, Charlotte. Você não pode esconder esse tipo de coisa, isso
é grave. Mesmo que alguém a reprima dessa forma, ao ponto de você sentir
necessidade de não falar... — Adélia falou enquanto lançava um olhar
incriminatório para Jeff. — Você não pode esconder algo assim. — Ela
finalizou.

Jeff revirou seus olhos pois viu que a intenção de Adélia era provoca-lo e
isso poderia acabar desencadeando outra discussão entre os dois. Robert
Staton, o avô de Jeff e Adélia observava tudo atentamente, então, com o
intuito de dar um fim de uma vez por todas naquela história ele disse:

— O show acabou, vamos dar espaço para que Jeff cuide de sua
esposa. — Ele olhou para Jeff que assentiu com a cabeça para seu avô, o
agradecendo pela sua intervenção.

Jeff se aproximou de mim que estava ainda sendo amparada pelos braços
de Brandon no momento em que todos se dispersavam.

— Obrigado por ampara-la, Brandon, pode deixar que daqui para frente
eu cuido dela. Vou estar mais atento a ela para impedir que situações como
essas aconteçam. — Ele falou o encarando e me pegou em seu colo.

— Tomara mesmo que você faça isso, pois o mínimo que um marido
deve dar a esposa é atenção... — Adélia ainda usou seu tom provocativo ao
pegar na mão de Brandon e sair com ele para outro ambiente.

Enquanto me segurava em seus braços Jeff pressionou sua mandíbula


com raiva do que Adélia havia falado. Eu estava com meus braços em volta
do pescoço dele no momento em que ele me segurava, o cheiro que vinha
dele me fazia ficar entorpecida. Eu o amava tanto que mesmo ele fazendo
todas aquelas coisas ruins, bastava eu ficar um pouco perto dele, e ele fazer
menos que o mínimo que uma pessoa deve fazer para outra, que eu
praticamente me derretia.

Jeff olhou para mim, e ficou me encarando por um momento enquanto


me mantinha em seus braços, eu quase esbocei um sorriso, mas me lembrei
que eu precisava ser firme e não ficar rendida aos encantos dele. Desviei o
olhar dele afim de evitar que isso acontecesse. Quando fiz isso, Jeff levantou
seu rosto e começou a caminhar comigo em seus braços em direção a porta
de saída da casa de seu avô.
Desejo
Narração - Charlotte Staton

Por alguns momentos meu marido tinha mudado completamente


comigo. Enquanto eu estava em seus braços ele parecia estar realmente
preocupado, pois estava super cauteloso comigo. Chegando no carro ele me
colocou no banco da frente, achei aquela atitude estranha porque nós
havíamos vindo com o motorista, mas, eu o vi conversando com o motorista
para dispensa-lo.

Ele entrou dentro do carro e deu partida para começar a dirigir. Eu o


olhei e notei que o semblante dele havia se tornado sério e sombrio
novamente como antes. Mas, mesmo assim resolvi perguntar.

— Por que você dispensou o motorista?

— Eu não sei quanto tempo nós vamos demorar lá, acho desnecessário
que ele fique lá unicamente para nos esperar. É mais fácil ele pegar algum
carro do meu avô e voltar para casa. — Ele me explicou.
O tom de voz de Jeff era neutro. Ele não estava sendo um babaca igual
antes, entretanto, também não estava sendo uma pessoa tão amistosa. Eu
ainda não confiava naquele jeito dele então preferi ficar mais reservada e não
abusar da sorte que estava tendo. Eu queria manter esse clima o mais
próximo do normal possível, então era preciso continuar sendo cuidadosa.
Mas, Jeff, era uma verdadeira incógnita. Eu não conseguia nem se quer ao
menos imaginar o que passava na cabeça dele.

Eu entendia seu estado de humor pela sua expressão já que praticamente


não nos comunicávamos, então sempre ficava atenta as expressões faciais
dele. Minha perna estava latejando por conta da dor que eu sentia, a dor era
muito intensa e estava me incomodando profundamente. Por alguns
momentos eu gemia e resmungava. Percebi que com isso eu estava irritando
Jeff, mas eu não ia parar de expressar a dor que eu estava sentindo só porque
ele estava achando ruim. Eu já tinha segurado por tempo demais, não ficaria
fazendo papel de submissa ao extremo, acho que já tolerava coisas demais.

Olhei para meu ferimento e vi que ele havia se aberto. Me assustei com
aquilo e disse:

— Nossa, meu ferimento está pior do que eu pensava, bem pior! — Eu


falei com certo desespero em minha voz.

Jeff, em uma atitude grosseira que era o seu habitual, parou o carro de
maneira brusca tanto que eu tive que segurar no painel para não bater meu
rosto, em seguida, me pressionou contra o banco colocando suas duas mãos
em meus ombros apertando-os forte e gritou:

— DÁ PARA PARAR DE ENCHER O SACO? EU JÁ ESTOU


FAZENDO MINHA PARTE QUE É LEVAR VOCÊ PARA O HOSPITAL,
O QUE MAIS VOCÊ QUER DE MIM? — Ele falava com muita ira.

Eu achava que aquele homem não podia ser normal, não era possível ele
agir assim comigo dessa maneira ainda mais sendo que foi ele quem foi o
culpado por eu estar desse jeito. Fiquei ofendida e assustada pela maneira
que ele agiu, fiquei o encarando e diante dessa atitude dele foi impossível
evitar que lágrimas invadissem meus olhos, mas, eu aguentei firmemente
para não deixar elas escorrerem.
Jeff ficou me olhando por mais um tempo, ao perceber que eu não falaria
nada ele voltou a se sentar no banco do motorista e seguimos viagem. Eu
aspirei meu nariz para impedir que as lágrimas que estavam paradas em meu
olho escorressem, só que pensei comigo que não iria ficar ali calada diante
daquela grosseria. Respirei fundo e então disse:

— Eu estou machucada por sua culpa, fui até aquele jantar na casa do
seu avô no estado em que estou por exigência sua. Fui forçada por você a
dançar, além de sofrer incontáveis humilhações vindas de você. Como se não
bastasse isso tudo, ainda tenho que aguentar essa dor, que está me fazendo
ficar doente, em silêncio, para não irritar o príncipe? — Eu falava no tom de
voz normal porque estava sem forças até mesmo para falar alguma coisa em
um tom nervoso.

Ao me escutar Jeff segurou mais forte o volante do carro e disse:

— Charlotte, por favor! Não me tira do sério, eu nem sabia que você
estava ferida, me poupe e pare de dar uma de vítima.

— Te tirar do sério? Dar uma de vítima? É claro que você não saberia,
você não me permite falar sobre nada! Olha o que você tem feito comigo! Eu
sou um ser humano e mereço ser tratada como um. — Eu falei em protesto e
dessa vez alterei minha voz.

— Um ser humano que é capaz de assinar aquele contrato não é digno da


minha empatia. — Ele falou com a expressão tenebrosa, seu olhar parecia
ser de revolta e sua voz era carregada de raiva.

Quando ele falou do contrato eu me calei, eu não podia contesta-lo,


afinal, eu não sabia o que tinha assinado, e a cada dia que passava eu
acreditava mais que haviam outros tipos de conteúdo naquele contrato além
de apenas benefício financeiro para minha família. Eu me mantive calada
depois do que ele falou, e senti meu corpo se enfraquecer ainda mais por
conta da briga, eu não podia ficar gastando energias, mas deveria poupa-las.
Eu fiquei um pouco tonta e minhas vistas começaram a embaralhar.

— Eu... Não estou me sentindo bem... Eu acho que vou...— Eu disse


com minha voz fraca.
Por conta do meu tom de voz ter mudado abruptamente ao falar isso, Jeff
olhou para mim e indagou:

— Você vai o quê? — Novamente senti aquele tom de preocupação na


voz dele.

Não consegui me manter sentada em meu banco, acabei tombando para o


lado em que ele estava. Apoiei minha cabeça no ombro dele e fechei meus
olhos devido a fraqueza que eu sentia. Senti que Jeff desacelerou o carro e
parecia bem preocupado.

Ele cuidadosamente segurou minha cabeça com uma de suas mãos e


deitou minha cabeça no colo dele. O carro dele era automático e bem
moderno, não havia câmbio entre nós dois, a superfície era lisa e não me
incomodava ao deitar. Fechei meus olhos e me mantive ali no colo dele. Pela
primeira vez me senti acolhida de verdade pelo meu marido. Nem parecia
que há poucos minutos ele havia me maltratado e falado aquelas coisas
absurdas para mim.

Talvez Jeff não fosse um homem ruim, mas acho que por conta do
contrato ele me tratava assim. Eu precisava saber o que tinha naquele
contrato o quanto antes para saber o que eu realmente havia assinado.

∞∞∞
Narração - Jeff Staton

Ao saber que meu ataque de fúria hoje de manhã, ao ver aquela mulher,
pegando a bola que tinha tanto valor sentimental para mim, resultou em um
ferimento tão grave como parecia, eu me senti péssimo. Então, achei
minimamente que o que eu poderia fazer era parar de maltrata-la, como eu
fazia questão de fazer sempre, pelo menos por um tempo.

Eu não era um homem ranzinza, sempre fui mais seco, mas saber que eu
tinha que conviver com uma mulher como a Charlotte que era capaz de
assinar um contrato daquele e ainda tentar me impressionar fingindo ser uma
boa moça todos os dias, era intragável. Por vezes ela atuava tão bem que eu
quase acreditava que ela era uma pessoa boa, mas, logo eu voltava para
realidade.

Ela era perigosa, uma pessoa capaz de coisas absurdas por dinheiro. Por
esse motivo eu não iria me deixar levar, por mais que ela fosse
deslumbrantemente linda. Charlotte tinha os olhos azuis, a pele clara, porém
com pontos rosados que não a deixavam ter nenhum toque de palidez. Seus
longos cabelos dourados e ondulados que caiam sob seu rosto, traziam uma
luminosidade completamente única para o contorno da sua face. O corpo
dela, parecia ter sido pintado a mão por algum pintor renascentista que
cuidadosamente pincelou suas curvas deixando-as perfeitas e desejáveis aos
olhos de qualquer um. Sendo assim, meu cuidado deveria ser redobrado,
para não ser enfeitiçado por aquela golpista, além do fato que ela me era
muito familiar, mas eu não conseguia associar a alguém que eu conhecia,
apenas sentia que ela mexia comigo de um jeito perturbador.

Achei prudente dispensar o motorista porque não sei como seria nossa
noite no hospital. Assim que entrei no carro ela questionou a respeito, e eu,
com toda a educação que eu não queria gastar com ela, respondi.

No decorrer do caminho para o hospital vira e mexe ela resmungava e


gemia, acho que ela estava fazendo questão de fazer aquilo tudo para que eu
me sentisse mais culpado do que eu já estava por ela estar naquele estado.
Quando ela reclamou que a ferida na perna dela havia se aberto, eu perdi
minha paciência. Eu precisava colocar ela em seu devido lugar. Eu não iria
deixar que ela usasse aquele ferimento para fazer com que eu me sentisse
mal ou se quer me comovesse.

Fui bruto com ela e pareceu ter dado certo. Eu olhava para minha esposa
enquanto eu dizia para ela parar de agir dessa maneira. Ela tinha olhos tão
penetrantes e assustados, que mais uma vez, eu quase acreditei que ela era
inocente como ela queria demonstrar. Me afastei dela e voltei a dirigir,
pensei que tinha conseguido fazer com que se calasse. Porém, mais uma vez
como ela estava fazendo de modo habitual, Charlotte reclamou que eu a
maltratava e fez questão de dizer que se estava ferida a culpa era minha. Eu
nem ao menos sabia que ela estava machucada por isso exigi que ela fosse
ao jantar, era injusto ela querer cobrar algo que eu não tinha conhecimento.
Ela ainda justificou que não tinha como falar comigo, porque eu não
permitia, e por esse motivo eu jamais saberia o que se passava com ela.

Aquilo me deu nos nervos, então, resolvi falar para ela sobre o contrato,
eu não sei o motivo, talvez ela tivesse um pingo de decência e sabia que o
que tinha assinado ultrapassava todos os limites da moralidade, pois, toda
vez que eu mencionava algo a respeito do contrato ela se calava, e dessa vez,
não foi diferente.

Me senti vitorioso, finalmente ela havia se calado. Eu comecei a dirigir


mais rápido para que chegássemos ao hospital o quanto antes e
resolvêssemos logo o problema do ferimento, pois, assim, eu estaria livre
dessa culpa que eu sentia por ela estar sentindo dor. Porém, ela falou com
uma voz fraca que não estava se sentindo bem.

Eu me preocupei de imediato porque agora eu tinha certeza que ela não


estava fazendo nenhuma cena. Perguntei para ela, mas, antes que ela pudesse
me responder, Charlotte praticamente caiu em cima de mim. Sua
temperatura estava alta, então vi que por conta disso ela não conseguiria se
manter sozinha.

Levantei minha mão que estava no volante e coloquei a mão na cabeça


dela, a deitando devagar em meu colo e ela se acomodou ficando de olhos
fechados. Diminuí a velocidade e volta e meia eu a observava deitada em
meu colo. Resolvi acariciar seu rosto e cabelos, automaticamente quando
tive essa atitude fui tomado por um desejo inigualável.

Eu não entendi aquilo, nem mesmo com minha ex-namorada, pessoa que
eu gostei muito, eu senti aquele fogo que parecia querer me consumir por
dentro. Ela deitada em minhas pernas com seu rosto angelical e com o
semblante tranquilo, conseguiu me prender de uma maneira como ninguém
nunca havia conseguido.

Eu queria ter ela para mim ali naquele momento, beijar sua boca e fazer
ela se tornar minha. O que eu estava falando? Aquela mulher deitada no meu
colo era praticamente minha inimiga, e além do mais ela estava ardendo em
febre que mal conseguia se manter de pé. Como eu estava pensando nesse
tipo de coisa? Mesmo dirigindo devagar, e tentando prestar atenção na
estrada eu não conseguia porque eu queria ficar admirando e tocando-a.

Me senti ridículo, e por mais um tempo fiquei perdido ao olhar para ela e
sentir sua pele, que estava tão quente por conta da febre que fazia eu sentir
mais vontade de tê-la para mim. Eu estava ali, ardendo em desejo ao olhar
para a esposa que eu tanto desprezava como nunca havia sentido por
ninguém, até que ouvi uma buzina bem alta de um caminhão.

Devido a minha distração, eu invadi a pista contrária e ia bater, porém,


em um movimento rápido desviei do caminhão e voltei novamente para a
pista que eu deveria me manter. Por conta disso Charlotte se levantou
assustada e perguntou:
— O que aconteceu?

— Eu me distraí um pouco da pista e quase bati, me desculpe. — Eu


tentava não manter contato visual com ela com receio que ela percebesse que
eu a desejava.

— Se distraiu enquanto me acariciava? — Ela perguntou.

Que raiva! Eu pensei que ela estava desacordada e só por isso eu havia
feito aquilo. Eu limpei minha garganta para disfarçar e fiquei visivelmente
incomodado. Então Charlotte falou:

— Não se preocupe, eu gostei. — Ela falou ao dar um sorriso e acariciou


meu rosto com o dorso de sua mão.

Eu a olhei por um instante e minha vontade era puxa-la para perto de


mim e beija-la, mas eu precisava me conter e lembrar que ela não era nada
daquilo que aparentava ser.
Desnorteada
Narração - Charlotte Staton

Assim que Jeff apoiou minha cabeça no colo dele ele começou a
acariciar meus cabelos e rosto, eu confesso que não entendi o motivo pelo
qual ele estava fazendo aquilo. Fiquei completamente atordoada, mas, além
de não ter forças para me levantar naquele momento eu não ia deixar de
aproveitar a primeira demonstração de afeto que meu marido estava tendo
comigo. Eu o amava, e havia idealizado passarmos por um momento assim
tantas vezes na minha vida que já havia perdido as contas. Era uma baita de
uma coincidência que o Jeff fosse o Jay-Jay, o meu Jay-Jay que eu tanto
sonhei e quis reencontrar por tantas vezes.

Eu tinha muita vontade de contar para ele que eu era a "menina do


sanduíche de pasta de amendoim" da Voight School, mas, nem sei se ele
lembraria deste episódio e também não sei qual seria a reação dele. Vai que
ele não tinha nenhum interesse em mim, o que eu acho bem provável, e
talvez ficasse mais nervoso de saber que eu o conhecia desde aquela época e
não falei nada desde o começo. Eu ficaria parecendo uma perseguidora ou
sei lá o que.
O toque das mãos dele estavam me fazendo arrepiar, eu não sei definir o
que eu sentia ao certo, só sabia que queria que ele continuasse a me acariciar
daquele jeito. Minha vontade era que ele fosse assim comigo sempre, para
que nós pudéssemos desfrutar disso a todo momento em nosso
relacionamento. Mas isso não passava de apenas um sonho, porque a
realidade ao lado de Jeff era dura, cruel e inesperada. Eu não sabia o que
esperar do meu marido nunca, só sabia que coisas ruins sempre estavam por
vir. Tanto que quando ele fazia alguma coisa boa comigo eu me surpreendia.

Ouvi um barulho de buzina um pouco abafado por estar com meu ouvido
encostado na perna de Jeff e em seguida, ele interrompeu o carinho ao tirar
sua mão de mim e virou de um jeito violento o carro. Eu já estava me
sentindo melhor da tontura que me fez desfalecer, então, me levantei
assustada, sem entender o motivo dele ter feito aquilo. Perguntei a ele o que
havia acontecido e ele me explicou que tinha se distraído e invadindo a pista
contrária a que estávamos. Ele estava agindo como se não tivesse feito nada,
acho que ele pensou que eu estava desmaiada ou havia pegado no sono por
conta da fraqueza. Mas, eu não ia permitir que ele fingisse que não havia me
acariciado enquanto eu estava deitada no colo dele.

Sendo assim, decidi que iria arriscar e falar que eu sabia que ele estava
me acariciando. Quando falei para ele, ele ficou visivelmente constrangido e
não sabia como reagir. Jeff ficou feito uma criança quando está fazendo
alguma travessura e é descoberta pelos pais. Eu vi que talvez ele pudesse ter
se sentindo desafiado quando falei daquela maneira, então, imediatamente
dei um jeito de falar para ele que havia gostado do que ele tinha feito.

Ele me olhou por um instante e vi seus olhos brilharem, ao que tudo


indicava ele tinha baixado a guarda totalmente para mim, mas não durou
muito. Ele retomou o seu semblante e olhar que tinha costuma de usar
comigo. Eu não entendi o motivo para ele agir daquela forma, mas sabia
também que não deixaria que a única vez que tivemos uma conexão ficasse
esquecida, sendo assim tentei puxar conversa.

— Jeff, por que você age assim comigo? Não precisa ser assim.

— Eu já falei que não somos um casal de verdade. — Ele se manteve


olhando para frente enquanto dirigia ao me falar aquilo de um jeito sério.
— Para de repetir isso a todo momento, por favor! — Nós havíamos
chegado no hospital e ele continuava a olhar para frente.

Toquei no rosto de Jeff fazendo ele se virar para mim. Fiquei com receio
porque eu não sabia qual poderia ser a reação dele, mesmo assim fiz. Jeff
recobrou aquele mesmo olhar que parecia brilhar ao me ver. Acho que ele
sentia algo por mim, mesmo que fosse desejo, dava para sentir a atração que
estava acontecendo entre nós dois no ar.

Para minha surpresa Jeff se manteve calado, e começou a se aproximar


de mim, e eu fiz a mesma coisa. Se meu coração disparava antes só de
pensar na possibilidade que nós dois iríamos nos aproximar, agora ele estava
praticamente saltando do meu peito ao ver que Jeff estava aproximando seus
lábios dos meus. Ele acariciou meu rosto e me olhava fixamente.

Eu podia sentir a respiração de Jeff bem próxima do meu rosto, eu


avancei mais e nossos lábios iam se tocar, até que fomos interrompidos pelo
o barulho do celular dele tocando. Só podia ser ironia do destino. Ele se
afastou rapidamente de mim e tirou sua mão do meu rosto. Jeff atendeu seu
telefone disse:

— Eu não posso ir agora, é impossível.

Não dava para ouvir o que a outra pessoa do outro lado falava, mas Jeff
deu um suspiro e passou a mão na cabeça em um ato cansado e falou:

— Tudo bem, eu chego aí em aproximadamente 10 minutos.

Senti que ele aceitou ir onde solicitaram para que ele fosse, com
relutância, pois, sem querer ser convencida eu acho que ele queria ficar ali
comigo. Eu observei que Jeff estava fazendo questão de mim, mesmo que eu
não entendesse o porquê naquele momento.

— Vamos, eu vou te deixar na emergência. — Jeff falou com uma voz


decepcionada.

— Tudo bem. — O respondi. Ele me olhou por mais um momento como


se quisesse dizer mais alguma coisa, mas reprimiu sua vontade, e em seguida
saiu do carro.
Ele deu a volta no carro e abriu a porta para mim. Jeff me pegou em seus
braços e caminhou comigo em direção a emergência do hospital. Eu o
olhava e volta e meia ele olhava para mim também até chegarmos na
recepção. Chegando lá, ele me desceu de seus braços cuidadosamente e eu
me apoiei no balcão da recepção. Jeff preencheu minha ficha, ao terminar,
ele me olhou e se aproximou. Novamente, tive a impressão que ele queria
falar algo para mim, mas, hesitou bem como antes.

— Eu já vou indo. — Ele falou de maneira agitada e nem ao menos me


deu oportunidade de falar alguma coisa para ele pois saiu com pressa.

Novamente fiquei lá sem entender o que tinha acontecido. Eu fui até a


sala de espera para me sentar e aguardar que me chamassem para ser
atendida. Estava me sentindo mal de novo e decidi que iria ao banheiro, pelo
menos para passar uma água em meu rosto. Caminhei vagarosamente até o
banheiro, ao entrar fechei e tranquei a porta para ter mais privacidade. Fui
até a pia e liguei a água molhando meu rosto e pescoço. Por um momento
senti um alívio, mas o mal estar tomou conta de mim de novo e eu previ que
iria desmaiar.

Não daria tempo nem mesmo de chegar próximo a porta para abri-la e
pedir socorro. Então, peguei meu celular e apertei para ligar para o primeiro
número das minhas chamadas recentes, já que eu havia ligado pela última
vez para Sam. Eu não estava enxergando claramente. Assim que ele atendeu
o telefone eu mal ouvi a voz dele na ligação e disse:

Ligação ON

Charlotte: — Sam, por favor, me ajuda. Eu estou no hospital Saint Louis,


eu vim ao banheiro e me tranquei nele para jogar um pouco de água no meu
rosto, e me aliviar do mal estar que eu estava sentindo, mas eu acho que
vou...

Ligação OFF
Antes que eu pudesse completar minha frase deixei o celular cair no chão
devido a fraqueza que sentia, tudo se tornou escuro e a última coisa que me
lembro é da minha queda.

Quando acordei eu fui abrindo meus olhos devagar e a primeira coisa


que eu vi foi uma grande luz branca vindo em direção ao meu rosto. Olhei
para meu lado esquerdo e vi que eu tinha dois acessos de soro em minhas
veias. Um deles estava conectado com um soro transparente, e o outro em
um mais escuro que parecia ser sangue. Pisquei meus olhos mais forte por
repetidas vezes para tentar ver tudo mais claramente, mas ainda estava um
pouco confusa.

Me lembrei aos poucos que anteriormente eu estava no banheiro, e me


recordei de ter ligado para Sam e depois disso ter desmaiado. Eu estava
sentindo uma leve dor na minha cabeça, acho que por conta da queda que eu
levei. Olhei para mim mesma e vi que já estava vestida com a roupa do
hospital.

Fui movimentando minha cabeça para olhar para meu lado direito, e
primeiramente, eu vi um par de pernas que pareciam ser de homem. Devia
ser o Sammy, já que eu o chamei, dei um sorriso apesar de ainda estar bem
fraca e confusa. Quando ergui meus olhos para ver quem estava ali, eu me
assustei. O homem que estava ao meu lado não era Sam, mas sim, Brandon!

O que ele estava fazendo ali? Como ele sabia que eu estava ali? Ao ver
que eu o olhava com uma expressão completamente confusa ele sorriu de um
jeito perverso e disse para mim:

— Boa noite, Charlotte. É bom de te ver de novo.


Mal entendido
Narração - Charlotte Staton

Devido ao choque de ver Brandon bem ali, parado na minha frente, a


confusão mental que eu estava sumiu por completo. Eu olhava para ele ainda
sem entender como ele veio parar ali. Então, eu resolvi perguntar para tirar
essa dúvida de uma vez por todas.

— Por que você está aqui, Brandon? Como sabia que eu estava aqui? —
Perguntei para ele com uma de minhas sobrancelhas levantadas.

— Você não lembra que ligou para mim? Foi você quem me ligou e
pediu que eu viesse. — Ele me explicou.

Pressionei meus lábios um no outro e forcei minha memória para me


lembrar se realmente eu havia ligado para ele, mas eu tinha certeza que havia
ligado para Sammy.

— Não, eu não liguei para você tanto que eu apertei diretamente para as
chamadas recentes... E... — Antes de continuar a falar me lembrei que mais
cedo, no jantar, Brandon havia pegado meu celular da minha mão para
anotar o telefone dele contra minha vontade. Ele tinha um sorriso em seu
rosto, ao ver que compreendi o que aconteceu. — Isso é tudo culpa sua
Brandon, eu ia ligar para meu primo. Eu chamei você pelo seu nome?

— Não, você me chamou de Sam. — Ele falou dando uma risada. — Até
pensei que fosse porque você estava confusa.

— Está vendo como não era para você que eu queria ligar!? Se não fosse
sua gracinha lá no jantar nada disso teria acontecido! — Eu falei com raiva.

— Ué, como eu ia saber que ia resultar nisso tudo. — Brandon disse com
deboche.

Eu revirei meus olhos e cruzei meus braços. Vi que meu celular estava na
mesa ao lado da poltrona do acompanhante onde ele estava sentado.

— Me dá meu celular, por favor. — Falei para ele de um jeito impaciente


e estiquei minha mão.

— Sim, senhora. — Ele respondeu ironizando o tom que usei com ele
enquanto pegava o celular para me entregar.

Agora que eu estava consciente eu ligaria para meu primo e me


certificaria que seria ele para quem eu iria ligar.

Ligação ON

Sam: — Char? Está tudo bem? — Ele tinha seu tom de voz preocupado
por conta do que havia ocorrido hoje mais cedo.

Charlotte: — Está sim, Sammy. Na verdade, mais ou menos. Eu estou no


hospital. Fui desobediente e acabei não te escutando, e isso resultou na
minha internação.

Sam: — Eu ainda te avisei, Charlotte! Seu ferimento é sério, você devia


ter me escutado antes. — Sam falava preocupado ao me dar um sermão.
Charlotte: — Eu sei, primo... Me desculpa.

Sam: — Tá, tudo bem. Eu não vou ficar brigando com você, só porque
você está mal, mas quando você se recuperar você vai se ver comigo,
mocinha. — Ele deu uma risada e isso me fez rir junto com ele. — Onde
você está internada?

Charlotte: — Estou no Hospital Saint Louis.

Sam: — Tudo bem, só vou me arrumar e já estou indo para aí. Um beijo.

Charlotte: — Beijos, te espero.

Ligação OFF

— Você é bem íntima desse primo seu, hein? — Brandon falou com
maldade em sua voz.

— Não seja um idiota, Brandon. Samuel e eu somos como irmãos. — Eu


já estava de saco cheio por ele estar lá e respondi ele de maneira
grosseira. — Escuta, Brandon. Eu agradeço muito pela sua ajuda, por você
ter vindo, mas eu acho que agora você já pode ir embora. — Forcei um
sorriso ao falar para ele.

Brandon pareceu não ter gostado do que falei e franziu o cenho.

— Eu não vou embora daqui, Charlotte. Não seja ingrata eu até me


machuquei por você! — Ele falava com indignação.

— Como assim você se machucou por mim? — O questionei olhando


para ele sem entender o motivo dele ter falado aquilo.

— Ah, olha aqui. — Ele me mostrou o seu braço que estava com um
hematoma.

— O que foi isso?

— Quando você me ligou, não sei se você se lembra, você estava


trancada dentro do banheiro feminino. Precisei bater na porta com meu braço
para você sair de lá. — Ele falou ainda me mostrando o braço.

Não estava tão grave assim, mas vi que ele queria que eu o admirasse
pelo que ele fez por mim.

— Eu não sabia, Brandon. Agradeço o que fez. — O agradeci de novo já


que eu pensei que era isso que ele esperava de mim.

— Disponha, depois que você se recuperar você pode pagar um almoço


ou um jantar para mim. — Ele falou ao dar um sorriso juntamente com uma
expressão arrogante.

Eu imediatamente pensei em negar e chama-lo de folgado. Mas eu


precisava muito saber o conteúdo que havia no contrato que eu havia
assinado sendo obrigada pelo meu avô. Eu acho que meu avô, não iria deixar
eu ver esse contrato tão facilmente por conta das coisas que podem estar
nele, e talvez, Brandon poderia me esclarecer coisas a respeito dele, já que
no jantar ele demonstrou saber muitas coisas a respeito do conteúdo do
contrato, por causa da forma que ele me tratou e pelas coisas que falou.

Então, resolvi que eu pagaria um jantar para ele, mas procuraria escolher
um restaurante mais informal para não ficar parecendo que Brandon e eu
estávamos tendo um encontro. Eu achava Brandon muito malicioso comigo,
e parecia que ele tinha segundas intenções. Sendo assim, eu teria que deixar
mais que claro para ele que não compartilhava das mesmas intenções que
ele, e nem mesmo tinha a mesma índole duvidosa que ele tinha. Porque
diferente de mim, ele assinou um contrato para ser noivo de Adélia sem ser
pressionado pela família, pelo que ele demonstrava, mas sim por livre e
espontânea vontade.

— Certo, assim que eu sair daqui eu te prometo que pago um jantar em


uma lanchonete ou em um lugar mais informal.

Já falei desse jeito para demonstrar para ele que eu não tinha nenhum
tipo de segundas intenções com ele. Assim que falei do jantar, Jeff chegou
na porta do quarto e ouviu o que eu tinha falado sobre pagar um jantar para
Brandon. Pela expressão que ele fez pareceu não gostar nada nada daquilo.
Jeff estava com o cabelo molhado e parecia estar com muita pressa ao
chegar. Acho que ele tinha ido em casa tomar um banho para poder ficar
comigo no hospital. Assim que o viu, Brandon se levantou e disse:

— Boa noite, Jeff. Estava fazendo companhia para Charlotte enquanto


esperava por você.

Jeff o encarou com uma cara de poucos amigos, Brandon parecia querer
estar puxando saco dele, mas meu marido não cedia tão facilmente.

— Obrigado, Brandon. — Ele falou secamente.

Jeff por um momento me olhou com aquele mesmo olhar que havia
lançado para mim no carro, e eu o olhei da mesma forma. Não era difícil eu
olhar para ele com a expressão apaixonada, afinal, eu o amava há 10 anos.
Brandon ao perceber tudo disse de um jeito debochado:

— Aconteceu algo entre... — Ele apontou o dedo para mim e Jeff.

Ao ver que estava entregando demais ao me olhar daquele jeito, como se


estivesse apaixonado, Jeff logo decidiu cortar Brandon.

— Brandon, eu vou fazer algo para compensa-lo por ter encontrado a


Charlotte, pedido ao segurança para quebrar a porta e ter me avisado, foi de
grande ajuda. — Ele falou se direcionando a Brandon para não dar espaço
nem liberdade para ele pensar alguma coisa a respeito de mim e do Jeff.
Afinal, ele era noivo de Adélia e pelo visto acontecia algum tipo de conflito
de interesses. E foi só nesse momento que descobri que Brandon quem havia
avisado Jeff sobre meu desmaio e se machucou em vão, pois quem
realmente abriu a porta foi o segurança e não ele.

Confesso que me deu vontade de rir ao saber que Brandon contou


vantagem por ter se machucado na tentativa frustrada de me salvar.

— Ah não se preocupe com isso, Jeff. Estamos praticamente em família,


então, não é necessário esse tipo de coisa. — Ele falava como se fosse um
grande amigo de Jeff.
— Não force a barra Brandon, você é noivo da Adélia eu não confio em
você. — Jeff foi impetuoso em suas palavras.

— Também não é para tanto, eu não tenho nada a ver com a briga entre
vocês dois. Eu sou neutro. — Brandon tentava se justificar dando um
sorrisinho amarelo para Jeff.

— Eu tenho certeza que tudo que interessa sua noiva, o interessa


também, pois te afeta diretamente. — Jeff olhou para Brandon dando um
sorriso irônico.

Brandon engoliu seco e colocou suas mãos nos bolsos de sua calça, já
que Jeff havia acabado com toda e qualquer argumentação que ele pudesse
arranjar. Sendo assim, para sair daquela saia justa Brandon disse:

— É... Bom, já que está tudo resolvido eu vou indo. Qualquer coisa, é só
me ligar de novo se precisarem. — Brandon deu uma piscadinha para mim e
deu duas batidinhas no ombro de Jeff ao sair do meu quarto no hospital.

Eu só dei um sorriso forçado para ele que assim que ele se virou eu já o
tirei do meu rosto, Brandon era claramente o retrato da pessoa que não tinha
noção nenhuma. Jeff voltou seu olhar para mim, mas, dessa vez estava me
censurando, creio que por ter ouvido que eu pagaria um jantar para Brandon
e também pelo fato de que eu liguei para ele, então Jeff disse:

— Por que você ligou para o Brandon? E que história é essa de jantar
com ele? Devo lembra-la novamente da cláusula do contrato onde você deve
fidelidade a mim? — Ele falou um pouco agitado e caminhou em minha
direção. Mas dessa vez eu senti que ele poderia estar enciumado.

Eu acho que o remédio que eu estava tomando através do soro estava


perdendo o efeito pois minha perna voltou a doer bastante, e eu já estava me
sentindo enfraquecida novamente, mesmo assim resolvi que tentaria me
justificar para ele entender que não era nada daquilo que ele pensava.

— Eu posso explicar... — Assim que comecei a falar uma enfermeira


entrou no quarto com um sorriso gentil e disse:
— Boa noite, eu vim para aplicar as medicações em você. — Assim que
ela falou já colocou a bandeja com os remédios preparados ao meu lado e
começou a aplicar no soro.

Eu olhava para Jeff ainda na esperança de poder me explicar para que a


gente mantivesse a boa relação como estávamos tendo. Porém, a medida que
o remédio ia entrando em meu organismo eu apaguei aos poucos até fechar
os olhos e dormir por completo.
Meu acompanhante
Narração - Charlotte Staton

Na manhã seguinte, assim que acordei imediatamente olhei para ver


quem estava me acompanhando. Para meu alívio não era nem Brandon, nem
mesmo meu marido, eu não queria ter que lidar com nenhum dos dois agora,
e pelo que eu estava vendo, quem havia passado a noite inteira comigo foi o
Sam. Ele não tinha se dado conta que eu havia acordado, então, com uma
voz fraca falei para ele:

— Bom dia, Sammy. — Dei um sorriso ao fim da minha fala.

Sam olhou para mim na mesma hora, e se levantou da cadeira de


acompanhante em que estava sentado e veio até mim. Ele acariciou meu
braço e disse:

— Char, que bom que você acordou. Estava ali lendo seu prontuário. —
Eu senti um pouco de preocupação em sua voz.

— E é muito ruim? — Perguntei um pouco preocupada enquanto me


ajeitava na cama e Sam apertava os controles para que a cama ficasse
inclinada possibilitando que eu ficasse sentada.
— Você está com sepse, e isso não é uma das melhores coisas para
alguém ter. — Ele falava sério para mim.

— Sepse? O que é isso? — Eu poderia ser um gênio da tecnologia, mas


eu não entendia um termo se quer da medicina.

— Infecção generalizada. Felizmente você está sendo tratada a tempo


porque senão poderia resultar em morte, além do mais você perdeu uma
quantidade significativa de sangue o que agrava mais a situação. Isso vai te
render uma longa estadia aqui no hospital. — Ele me olhou com compaixão
depois de me dar a notícia que eu ficaria um tempinho no hospital pois eu
fiquei visivelmente chateada, sendo assim, ele continuou a falar:

— Agora que você está acordada e eu estou aqui na sua frente, eu posso
te dar uma bronca, pois sei que você está fora de perigo. Você foi muito
irresponsável, Char! — Ele falava um pouco bravo.

— Eu sei, me desculpe, prometo que não acontecerá mais, eu não tratarei


minha saúde de forma negligente mais. Eu fiz isso porque não queria que o
Jeff soubesse do que aconteceu. — Falei ao abaixar minha cabeça.

— Você tem que parar de querer poupar esse cara, e se sacrificar por
causa dele. Ele não é nenhum rei ou algo do tipo, muito pelo contrário ele é
um completo babaca e já te deu inúmeras provas disso, mas você parece
fechar os olhos para as coisas que ele faz. — Sam falava irritado ao se referir
ao meu marido.

— Não é para tanto. — Tentei defender Jeff e olhei para Sam. Diante do
que eu falei ele me encarou indignado.

— Eu não sei porque você protege tanto esse homem, ele não merece
toda essa consideração que você tem com ele. — Ele balançava a cabeça
negativamente ao falar expressando seu descontentamento.

— As coisas não são tão simples como você imagina. E eu acho que a
maneira que ele me trata tem a ver com o contrato. — Justifiquei para ele
com a intenção que ele tentasse ao menos entender porque Jeff me tratava
daquela maneira.
Eu sei que nada justificava o que ele fazia comigo, afinal, eu nunca fiz
nada de ruim para ele e Jeff era cruel comigo. Mas, o problema é que ontem
à noite eu vi uma face do Jeff que eu nunca havia visto. Eu o vi preocupado
comigo, percebi que ele tinha desejo por mim da mesma forma que eu tinha
por ele, contudo, o que travava ele a se entregar a um possível sentimento
que surgia por mim, era o contrato.

— O que o contrato tem a ver? — Sam perguntou intrigado.

— Bom, isso eu não sei claramente... Esse é o problema. Eu não sei o


que aquele contrato fala de tão horrível que o faz me tratar dessa maneira,
mas eu sei que é por conta dele pois ele já mencionou várias vezes,
inclusive, sempre coloca meu caráter a prova por conta do contrato.

— É você não leu o contrato antes de assinar... Não lembra de nada


mesmo? — Sam engoliu seco e ficou um pouco agitado, eu dei de ombros e
balancei minha cabeça negativamente.

— Você estava lá no dia, sabe que eu não tive oportunidade de ler aquele
contrato... — Eu disse decepcionada.

— Eu não prestei atenção nisso, me desculpa, mas com certeza o vovô


Stuart deixará você ler e ver o que tem nele. — Sam falava otimista, mas ao
mesmo tempo parecia tentar desconversar.

Eu olhei para ele e balancei a cabeça negativamente, em seguida dei um


sorriso irônico.

— Sammy, tem horas que eu acho que você vive em uma realidade
alternativa. O nosso avô me obrigou a assinar um contrato, eu fui forçada a
casar com um estranho sem ao menos ter meus sentimentos e opinião
levados em conta. Você acha mesmo que ele iria me deixar ver novamente,
ainda mais por conta do conteúdo duvidoso que há nele? Óbvio que não! —
Eu mantinha meus olhos fixos nele enquanto falava.

— Você tem razão... — Ele soltou o ar pela boca em um ato cansado.

Nós ficamos em silêncio por um breve momento, mas logo eu quebrei o


silêncio pois eu tive uma ideia.
— Sam, já que você mora lá... É mais fácil para você investigar sobre o
que há no contrato para mim. — Eu falei animada.

— Char, você tá me pedindo para que eu invada o escritório do vovô e


veja se eu acho o contrato que você assinou? É sério isso? — Ele cruzou os
braços e me olhava com um sorriso incrédulo em seu rosto.

— Sim, eu sei que é complicado e se o vô Stuart visse iria te dar um


problemão, mas... Eu preciso muito. Nesse contrato podem estar todas as
respostas que eu preciso, e finalmente eu posso ter uma conversa franca com
meu marido onde eu vou dizer a ele que não sabia do conteúdo do contrato e
fui obrigada a assinar. Acho que isso facilitaria e melhoraria muito a minha
vida. Por favor, ajuda sua priminha! — Eu falava unindo minhas mãos,
fazendo um biquinho e erguendo minhas sobrancelhas.

Toda vez que eu fazia essa expressão Sam não conseguia dizer não para
mim.

— Isso é golpe baixo, você sabe que não consigo falar não para você
quando você faz essa cara, não vale, Char! Mas tá bom... — Ele passou a
mão em seu rosto como se estivesse se dando por vencido. — Eu vou
investigar sobre esse contrato para você já que é tão importante, e que Deus
me ajude para que o vô não descubra o que eu estarei fazendo no escritório
dele.

— Você jura!? — Eu falei bem empolgada.

— Juro. — Sam disse em meio ao riso ao ver minha empolgação.

— Ah, vem aqui! Me dá um abraço. — Estiquei meus braços na direção


dele o convidando para um abraço.

Sam ainda ria e me deu um abraço forte e fraterno. Mas logo ele se
afastou, e antes o semblante dele que era alegre, se tornou um semblante
sério. Então ele disse:

— Mas o que tem me preocupado é sua atual situação, na verdade a


situação do seu estado de saúde. É tudo muito delicado e você precisa de
acompanhamento constante. — Ele disse olhando com preocupação para
mim.

Assim que ele terminou de falar ouvimos uma voz dizer logo atrás dele:

— Não precisa se preocupar com nada, Sam. Eu estou cuidando da


minha esposa como eu fiz a noite inteira quando você não estava presente.

Jeff havia entrado no quarto e escutado a última frase que meu primo
havia falado para mim e o respondeu. Eu arqueei minhas sobrancelhas
quando ele disse que foi ele quem passou a noite inteira comigo, então
resolvi perguntar.

— Como assim? Você passou a noite inteira comigo? Antes de você


chegar quando estava somente eu e o Brandon aqui, assim que acordei do
desmaio, eu liguei para Sam para pedir ele para que viesse ficar comigo e ele
disse que só iria se arrumar e viria, não é verdade Sam? — Perguntei
olhando para ele para que ele confirmasse a história que acabei de falar.

— Sim, Char, é verdade, mas... Quando eu estava me arrumando para vir


vê-la, e me ligaram do hospital em que eu trabalho dizendo que havia
chegado um paciente em surto psicótico, e eu precisava intervir porque
ninguém estava conseguindo. Eu imediatamente fui lá, pensei que seria
rápido... Eu só não contava que a situação duraria a noite inteira entre
conversas, gritos, tentativas de fuga... Por fim, conseguimos medicar a
paciente depois de que eu descobri que ela havia perdido seu filho, por isso
estava daquele jeito. Mas quando vi a hora já passavam das 6 da manhã.
Então depois que saí de lá, vim correndo para ficar com você. Quando eu
cheguei Jeff estava aqui, ele passou a noite em claro ao seu lado, velando seu
sono. Por ele não ter pregado os olhos me ofereci para ficar no lugar dele
com você, para que ele se trocasse e tomasse um café. — Sam me explicou.

Jeff observava toda a explicação de Sam segurando um copo com café


em sua mão, e depois direcionou seus olhos para mim, e disse:

— Exatamente, para onde mais eu iria? É minha obrigação ficar com


minha esposa ainda mais estando em um estado de saúde tão fragilizado
assim. — Jeff deu um gole em seu café depois de ter falado.
Sam olhou para Jeff enquanto ele falava, e arqueou uma de suas
sobrancelhas em um gesto desconfiado. Ele realmente não acreditava que
meu marido poderia fazer coisas boas para mim. Inevitavelmente quando
ouvi o que Jeff disse, eu sorri. Fiquei feliz de saber que ele cuidou de mim
durante a noite e quis ficar presente ali apesar de tudo, apesar daquele
contrato... Sam percebeu meu sorriso e franziu sua testa.

Creio que meu primo ficava consternado pela forma como eu me derretia
fácil por Jeff, mas, acontece que ele não sabia a história completa sobre Jeff
ser meu grande amor da adolescência, por isso ele julgava com estranheza os
sentimentos que claramente eu nutria pelo meu marido mesmo ele sendo
uma pessoa terrível comigo.

— Bom, já que Jeff está aqui para ficar com você eu vou indo porque
preciso descansar antes do meu próximo plantão, que é daqui a algumas
horas. — Sam falou e deu um beijo em minha testa se despedindo.

— Tudo bem, Sammy. Obrigada por estar aqui. — Eu ainda sorria por
conta do que Jeff tinha falado.

Sam acenou a cabeça positivamente e deu uma olhada pouco amigável


para Jeff antes de sair para ir embora.
Atitudes estranhas
Narração - Charlotte Staton

Eu sei que era uma coisa pequena, mas eu estava muito feliz por saber
que Jeff havia passado a noite ao meu lado. E mesmo depois que Sam saiu,
eu continuava com o sorriso em meu rosto por saber disso e olhava para ele.
Eu estava tão animada e com tantas expectativas, quem sabe agora
finalmente nós dois poderíamos começar a nos acertar? O que aconteceu
ontem entre nós dois foi algo único, e não é possível que só eu quem senti
aquele clima... Sem chance! Se ele não tivesse sentido ele também não iria
investir daquela forma com a intenção de me beijar como ele demonstrava
querer a todo momento.

Porém, Jeff me olhou com aquele mesmo olhar sombrio, que fazia com
que eu sentisse um calafrio percorrer meu corpo e disse:

— Eu queria me desculpar pelo meu comportamento fora do habitual


ontem à noite. Foi um mal entendido. Não quero que você leve para o outro
lado, eu agi como se fosse um esposo amoroso porque eu precisava
demonstrar isso para minha família, não pense que eu estou sentindo algo
bom por você. — Ele foi rude ao falar e me encarava de maneira impetuosa.
Eu não podia acreditar que nós voltaríamos para a estaca zero. Não é
possível que ele faria isso novamente, nós tínhamos feito um avanço
significativo, eu me recusava a crer que nós iríamos regredir no nosso
relacionamento. Sem querer acreditar, eu perguntei:

— O que você está querendo dizer com isso? — Eu olhava para ele
apertando meus lábios um no outro. E em meu interior eu torcia para que ele
não voltasse atrás e me tratasse como antes mesmo ele já tendo falado que
não sentia nada diferente.

— Você viu como Adélia ficou me olhando? Como se eu agredisse você?


Eu precisava tirar essa visão dela e de todos que estavam ali, então, por esse
motivo decidi te tratar com mais carinho e afeto para dispersar as suspeitas
deles. E você deveria aprender a atuar melhor, não agir com surpresa por
estar recebendo afeto do seu próprio marido. — Ele falou ao caminhar em
direção a poltrona de acompanhante que havia próximo a minha cama, e se
sentar.

Eu estava estática, sem saber como reagir, só sabia que o calor que eu
sentia em meu coração anteriormente, por achar que estávamos progredindo
como casal, se foi. E eu não sei porque ele tinha essa necessidade de
enfatizar que foi um mal entendido, isso me fazia questionar se ele tinha
medo que eu o interpretasse mal ou medo de realmente se apaixonar por
mim por agir daquele jeito.

Respirei fundo e engoli seco, eu não queria jamais ter que atuar para a
família dele, muito menos queria retroceder o avanço que nós havíamos
feito. Eu acho que ele falava essas coisas, simplesmente porque gostava de
me ferir e me magoar. Eu percebia que parecia que ele se alimentava da
minha tristeza, como se isso o deixasse mais forte e isso me enlouquecia.
Porém, eu não poderia deixar por isso mesmo, eu iria magoa-lo da mesma
forma.

Se havia um mínimo de interesse dele por mim, com certeza as palavras


que eu usaria o magoariam profundamente.

— Fique tranquilo, Jeff. Jamais interpretaria de outro modo, sei que


quando nós estamos nos portando como casal na frente das outras pessoas
não passa puramente de um teatro. E talvez, você tenha estendido isso para o
carro e também para o hospital, para que você pudesse acreditar em seu
próprio personagem. — Eu aproveitei para alfineta-lo ao falar em tom
provocativo.

Eu vi que ele ficou com raiva pois não esperava que eu pudesse falar isso
para ele. Jeff pressionou sua mandíbula por conta da raiva que eu causei a
ele, mas logo deu um sorriso sarcástico ao me encarar.

— Sim, você está certa. Porque eu jamais demonstraria afeto e amor a


alguém como você, se não fosse puramente para encenar. E eu preciso
realmente acreditar nesse personagem para ter estômago para conseguir
fingir qualquer tipo de sentimento positivo ao seu lado. — Ele manteve seu
sorriso e me lançou um olhar fulminante.

Era difícil manter minha compostura com ele falando palavras tão duras
para mim. Aquilo me dilacerava, eu não entendia porque ele me achava uma
pessoa tão desprezível assim. Isso era doloroso, minha vontade era gritar
com ele e perguntar qual era o problema dele e o que tinha aquele maldito
contrato que fazia com que ele tivesse uma visão tão deturpada assim ao
meu respeito.

Senti um nó na minha garganta se formar e o choro parecia que iria me


rasgar para sair, mas eu precisava ser firme pois ele não parava de me olhar
um momento se quer, como se ansiasse por um deslize meu a qualquer
momento. Então, eu juntei todas as minhas forças e dei um sorriso bem
cínico para ele e a única coisa que consegui falar para ele, sem que minha
voz embargada pelo choro contido pudesse ser descoberta, foi:

— Compreendo. — Rapidamente desviei o meu olhar do dele ao falar,


virando meu rosto para o lado oposto em que ele estava.

Eu senti que Jeff ainda me olhava esperando mais alguma reação minha,
mas eu mantive minha cabeça virada para o lado e respirava fundo como se
buscando ficar calma, eu me movimentava na cama como se estivesse em
agonia. Os travesseiros pareciam incomodar, mas, na verdade, eu estava
incomodada comigo mesma e com minha estupidez sem tamanho por ainda
tentar justificar as ações do meu marido.
— Quer ajuda? — Ele falou.

Virei meu rosto para onde ele estava fazendo uma expressão confusa,
então questionei:

— Ajuda para quê?

— Você está parecendo uma minhoca na cama, não para de mexer com
certeza há algo te incomodando. — Ele falou ao se levantar e vir em minha
direção para me ajudar.

Aproveitei para alfineta-lo novamente.

— Ah, você se importa com meu bem estar? Ou está apenas encenando
também?

— Não me importo de maneira nenhuma. O fato é que você se mexendo


desse jeito na cama está fazendo um barulho chato que me perturba muito, e
eu nem se quer posso ficar concentrado em meus próprios pensamentos. —
Ele respondeu para mim de forma certeira.

Não consegui disfarçar meu descontentamento e ele sorriu diante disso.


Então perguntou:

— Vai querer ajuda, ou não?

— Que seja. — Respondi com má vontade para ele.

Cruzei meus braços e olhei para direção oposta em que ele estava
novamente. Jeff se aproximou de mim e começou a ajeitar os travesseiros
em que estava recostada. Inevitavelmente nós ficamos bem próximos um do
outro. Eu virei meu rosto para direção em que ele estava e o encarei. No
momento em que arrumava meus travesseiros ele me encarou também.

O mesmo clima que ele estava tentando tanto evitar que surgisse, e que
dava justificativas incoerentes para dizer que não estava acontecendo nada
de diferente entre nós, aconteceu novamente. Minha respiração acelerou seu
ritmo, pude notar que Jeff entreabriu sua boca como se ofegasse também.
Nossos lábios se aproximaram bastante um do outro, mas, diferente de
ontem rapidamente Jeff se afastou. Ele parecia lutar contra aquilo e não
queria permitir que acontecesse nada entre nós. Ele estava visivelmente
incomodado pelo que estava havendo entre nós dois. Jeff colocou as mãos
em seu bolso, limpou sua garganta e disse:

— Já que você está no hospital, por que não... — Ele hesitou e não
completou sua frase.

Eu fiquei em dúvida olhando para ele sem entender o motivo qual ele
não continuava aquela frase de uma vez por todas. Ao perceber que ele não
iria dar continuidade a sua frase o pressionei.

— Por que não o quê? Continue...

— Deixa para lá. Descanse bastante, você precisa. — Ao terminar de


falar, Jeff deu um breve aceno com a cabeça e caminhou até a porta do
quarto.

— Onde você... — Ele nem ao menos deixou eu completar minha frase


para saber onde ele iria e desapareceu no corredor do hospital.

Eu bati minhas mãos na lateral do meu corpo, em cima do colchão, para


descontar minha raiva e frustração. O que ele iria falar? E o que tinha a ver
eu estar em um hospital para o que ele iria sugerir? Eu não suportava mais
essa situação, estava torcendo para que Sam conseguisse o quanto antes
descobrir sobre o conteúdo do contrato para que eu pudesse pelo menos dar
um melhor sentido para atual conjuntura da minha vida.

Fiquei remoendo isso por um bom tempo, até que uma enfermeira
apareceu novamente no quarto e colocou mais medicamentos. Aqueles
medicamentos me deixavam exausta, mas, por conta da aflição que eu estava
em minha mente tentando descobrir as inúmeras possibilidades do que Jeff
iria me falar, eu achei bom e acabei me entregando ao sono que aqueles
medicamentos provocavam em mim.

Quando eu acordei novamente já estava escurecendo, consegui notar pela


pequena janela que havia em meu quarto. Aquela era a única coisa me que
conectava ao mundo externo além do meu celular. Eu estava no hospital há
apenas um dia e já não suportava ficar mais ali. Jeff ainda não tinha voltado
para o meu quarto. Para minha felicidade Sam apareceu com um sorriso em
seu rosto.

— Ei Char, como você está? — Ele se aproximou de mim me dando um


beijo na testa.

— Eu estou bem dentro do possível, e você? Conseguiu algo do


contrato? — Eu perguntei ansiosa.

— Estou bem, e quanto ao contrato... Não consegui nada ainda. Tenha


paciência, hoje foi muito corrido para mim, mas prometi que vou te ajudar
com isso, então cumprirei minha promessa. — Ele falava sorrindo para mim
daquele mesmo jeito otimista de sempre.

— Tudo bem, Sammy. Obrigada. — Eu sorri de um jeito triste porque


hoje parecia que eu estava tendo uma frustração atrás da outra.

— Ah, mas tem algo que me incomodou quando você estava dormindo
pela manhã que eu esqueci de te contar. — Ele falou se sentando na poltrona
de acompanhante.

Olhei para ele de maneira curiosa e falei:

— Então me conte primo, por favor, eu estou com tempo sobrando até
demais. — Dei uma risada por conta da minha situação. Ele sorriu
brevemente pelo que falei, mas logo adotou um semblante mais sério ao
começar a falar:

— Os familiares do seu marido vieram aqui no hospital. E eu pensei que


eles queriam saber como você estava por conta do seu ferimento, mas, na
verdade, eles ficaram curiosos com seu prontuário médico. Eles pareciam
procurar alguma coisa nele, e ficaram frustrados por não encontrarem o que
eles procuravam. — Sam falou e me olhava com uma expressão de
dúvida. — Isso me causou estranheza pois em nenhum minuto eles
perguntaram sobre você e seu bem estar. Estranho, não é?

A mesma expressão de dúvida que ele estava tendo tomou conta da


minha face. Que pessoal mais estranho! Por que eles se dariam o trabalho de
virem até aqui para ver meu relatório e nem se quer perguntaram se eu
estava bem? Creio que da mesma forma que meu avô e meu marido, eles me
viam apenas como um objeto também...

— Isso é muito esquisito, e a cada dia que passa eu não sei o que pensar.
Mas, algo me diz que tudo tem a ver com esse maldito contrato. Eu preciso
descobrir o quanto antes o que tem nele. Acho que vai me ajudar até mesmo
a tomar conta do controle da minha vida novamente. — Eu falei com muita
ansiedade e estava inconformada pela atitude da família do meu marido.

— É, você tem razão... Char, eu preciso te perguntar uma coisa. —


Sammy falava apreensivo.

— Pode perguntar, Sammy. Não precisa ficar tenso. — Eu falei tentando


conforta-lo pois percebi que algo o incomodava.

— Você está apaixonada pelo seu marido? — Ele me olhou fixo ao


perguntar.
Falsa
Narração - Charlotte Staton

Quando meu primo me fez aquela pergunta, eu travei. Não consegui


responde-lo de imediato e pelo jeito que ele me olhava acho que meu
silêncio só fez com que ele tivesse mais certeza da resposta para a pergunta
que ele havia me feito. Mas, mesmo assim ele parecia querer uma resposta
vinda da minha boca para que tivesse certeza do que suspeitava.

— Eu, eu... É... — Eu não conseguia simplesmente admitir para ele que
eu amava o Jeff, pois estava com medo de ser julgada por Sam.

Mas meu modo de agir bastou para ele ter certeza, sem que fosse preciso
ele ouvir de mim. Sam se levantou batendo as duas mãos em suas pernas em
um ato de revolta e disse:

— Eu não acredito que você está apaixonada por esse homem com
apenas algumas semanas de casada... Inacreditável, Charlotte! E para piorar
o cara nem é uma pessoa legal que dá motivos para que você se apaixone
verdadeiramente por ele, não dá para entender você! — Sam falou enquanto
colocava uma de suas mãos na cintura andando de um lado para o outro.
Eu precisava me justificar para ele e explicar o porquê eu era apaixonada
por Jeff. Eu precisava contar que não foi por conta do casamento, muito
menos por conta da maneira que ele me tratava, afinal, eu odiava esse jeito
que ele me tratava e se eu aceitava tudo que ele fazia, era por conta do amor
que ele havia despertado em mim quando nós éramos dois adolescentes.

Ao mesmo tempo as palavras que Brandon disse para mim naquele


jantar, sobre não levar seu noivado a sério por ser apenas um contrato, me
assolaram porque eu sabia que isso poderia ser um sentimento qual meu
marido também compartilhava, e isso me angustiava e entristecia
profundamente. Então, visto que eu estava prestes a explodir resolvi contar
tudo para Sam.

— Eu estou apaixonada por ele, mas não me apaixonei por ele depois do
casamento, isso aconteceu antes. — Comecei a explicar para Sam.

— Como assim? O que você quer dizer com isso? Vocês se conheceram
antes? — Ele perguntou franzindo sua testa em sinal de dúvida.

— Sim. Você lembra minha paixonite da adolescência? Que você sempre


me incentivava a falar com ele, mas eu tinha vergonha? — Dei um sorriso de
lado para ele.

— O Jay-Jay? Claro que me lembro, mas o que tem... — Ao falar isso


Sam ficou boquiaberto e se sentou na poltrona de acompanhante apoiando
seu cotovelo em uma de suas pernas e levou uma de suas mãos até sua boca.

— É... Também fiquei chocada ao descobrir que Jeff era o Jay-Jay.


Descobri no altar, e por um momento fiquei super feliz por saber que eu
estava casando com meu grande amor, para quem eu havia me guardado sem
nem ao menos saber se um dia ficaríamos juntos. — Eu tinha um olhar
nostálgico ao lembrar.

— E por que você não fala para ele, Char? — Sam tinha um olhar
compadecido para mim.

— Porque eu não sei qual será a reação dele. Acho melhor eu esperar
para me formar que aí pelo menos eu terei recursos para conseguir me virar
caso ele me expulse ao saber disso. Enquanto isso não acontece, eu vou
manter esse disfarce, fingindo que sou só uma mulher que assinou aquele
contrato para me casar com ele. Mas não sei se contarei a verdade para ele a
respeito de quem eu sou de verdade... Acho que não vale a pena.

— Por que ele te expulsaria? — Sam indagou tentando entender minha


lógica.

— E por que ele não faria? Eu não sei o que esperar de Jeff, ele me
odeia. Vai que ele pensa que eu sempre planejei esse contrato para força-lo a
ficar comigo ou sei lá o quê.

— Te entendo. Meu Deus, que situação horrível! Que mundo pequeno!


Não dá para entender como essas coisas acontecem. E agora eu entendo
porque você é tão tolerante com as coisas absurdas que ele faz com você. —
Samuel ainda estava atônito por tudo que eu havia contado para ele.

— Sim, com certeza se o tivesse conhecido naquele dia eu jamais iria


tentar justificar as coisas horríveis que ele faz comigo. Eu ainda sou errada
de fazer isso por ele, porque é não há desculpa para tudo que ele faz comigo,
mas as vezes, o amor é tolo. — Eu fiquei triste ao falar isso porque um
verdadeiro filme, de tudo de ruim que ele já havia feito contra mim, se
passou na minha cabeça.

— Mas Char, quando você parar de fingir, e acabar com esse disfarce
quando se formar, você tem certeza que não irá contar para ele? — Sam me
perguntou curioso.

Eu apenas abaixei minha cabeça e não o respondi. Não acho que eu


deveria contar isso para ele por conta da forma que ele me tratava. Não sei se
ele realmente merecia. Sammy e eu olhamos para a porta pois ouvimos um
barulho como se alguém tivesse jogado algo, ficamos por um momento
observando para ver se aparecia alguém, mas, não apareceu. Eu apenas dei
um sorriso triste para meu primo, e dei de ombros em relação a pergunta que
ele me fez anteriormente.

Sammy passou a mão em meu braço na tentativa de me confortar por


tudo que eu estava passando e havia contado para ele. Finalmente agora ele
entendia meus motivos para aguentar tudo que eu aguentava. Não era só por
conta da minha família, muito menos por conta do meu avô, porque eu acho
que se fosse só por isso eu já teria desistido desse contrato de uma vez por
todas e ido embora. Porém, meu amor pelo Jeff não me permitia fazer isso, e
a cada dia que passava eu me sentia mais boba por conta disso.

∞∞∞

Narração - Jeff Staton

Eu precisava sair daquele quarto o quanto antes. Ontem foi por pouco
que a gente não se beijou e eu não queria arriscar que isso pudesse acontecer
novamente. Sei que fui muito duro nas palavras com ela, e mesmo ela
tentando demonstrar que não ligava para o que eu dizia quando eu a ofendia,
eu sabia que o que eu falava mexia profundamente com ela. Pelos olhos dela
dava para perceber, por mais que ela tentasse esconder. Às vezes eu ficava
decepcionado comigo mesmo pela pessoa que eu havia me tornado para lidar
com Charlotte.

Eu também ficava com muita raiva por saber que eu estava começando a
sentir algumas coisas que eu não sabia explicar por ela. Então, a melhor
saída que eu tinha naquele momento era sair do quarto, era um ato de
autopreservação. Ela com certeza deve ter ficado curiosa para saber o que eu
iria sugerir para ela fazer no hospital, mas acho que não estava no momento.
Fui até o refeitório do hospital e decidi fazer um lanche. Enquanto eu comia
fiquei pensando no que havia acontecido.

Eu não conseguia entender a Charlotte, quando eu olhava para os olhos


dela. O olhar dela era tão inocente, não parecia combinar com o que ela
havia assinado naquele contrato. Não, não! Eu me recusava a pensar nela
dessa forma. Eu não podia ter empatia ou se quer compaixão por uma
mulher como aquela. Eu continuei a comer minha comida com raiva, e no
momento que eu findava minha refeição, uma enfermeira se aproximou de
mim e falou:

— Senhor Staton? — Eu olhei para ela ainda com minha boca cheia e fiz
um gesto com a mão para que ela esperasse eu terminar de mastigar e ela
sorriu gentilmente. Assim que terminei a respondi:

— Sim, sou eu mesmo.

— Eu sou a enfermeira Hopkins, responsável pelos cuidados de sua


esposa. Como ela chegou com um vestido de festa nós tivermos que tira-lo e
colocar a roupa do hospital. Mas aqui, nós permitimos que nossos pacientes
VIPS usem suas próprias vestimentas. Se o senhor quiser providenciar para
trazer, ou até mesmo comprar, há uma loja ao lado do hospital. Já que a
estadia da Senhora Staton será de aproximadamente uma semana, ela pode
se sentir mais à vontade com as próprias roupas.

— Está certo, enfermeira Hopkins. Eu irei providenciar. Obrigado.

— Disponha, senhor Staton.

A enfermeira se retirou assim que terminou de falar. Como eu havia


finalizado minha refeição decidi que iria na loja ao lado como ela havia
indicado, para comprar pelo menos uma roupa para Charlotte até que
trouxessem as roupas dela lá da minha casa como havia solicitado. Saí do
refeitório e fui em direção a loja que ela havia citado.

Ao chegar lá, logo de cara, vi um manequim vestido com uma camisola


longa de seda, na cor branca, e por cima havia um robe de cetim da mesma
cor. Uma vendedora prontamente veio me atender
— Boa tarde, em que posso ajudar?

— Boa tarde. Vou querer esta camisola e o robe do manequim.

— É para já senhor. Me acompanhe, por favor. — A vendedora sorria


cordialmente.

Ela pegou a mesma camisola e o robe que haviam no manequim em seu


estoque, embalou e colocou em uma sacola. Eu paguei o produto, agradeci e
saí da loja voltando em direção ao hospital. Acho que Charlotte ficaria feliz,
eu havia escolhido algo de bom gosto para ela e realmente acho que ela se
sentiria mais à vontade usando a camisola que eu havia comprado, do que
aquela camisola de tecido grosso e esteticamente inferior à camisola que eu
iria dar para ela de presente.

Eu fiquei com receio de que ao dar esse presente para Charlotte, ela
sentisse que estivesse acontecendo algo entre nós dois, mas, a verdade é que
eu queria muito agrada-la e depois caso ela achasse isso, novamente eu
inventaria alguma desculpa. Ao chegar na porta do quarto dela ouvi vozes,
creio que o primo dela estava lá pois ele disse que voltaria. Chegando perto
da porta ouvi claramente Sam dizer:

"Quando você parar de fingir, e acabar com esse disfarce quando se


formar, você tem certeza que não irá contar para ele?”

Comecei a rir ironicamente do que eu havia acabado de ouvir e falei para


mim mesmo:

— Você é um otário, Jeff!

Eu fiquei tão furioso com aquilo, que amassei a sacola de papel da loja,
em que a camisola e o robe estavam dentro, e joguei fora com força na
lixeira que tinha ao lado da porta do quarto de Charlotte. Eu estava me
preocupando e querendo agradar uma pessoa que claramente estava
tramando algo pelas minhas costas! Eu sabia que ela não prestava, e mesmo
assim me deixei levar por alguns momentos, como eu fui idiota! Aquelas
palavras do primo dela comprovaram que ela estava me enganando, ao tentar
fingir ser uma boa moça, pois ela na verdade não passava de uma vigarista.
Virei as costas e saí dali. Já que ela estava amparada pelo primo que
sabia de todas suas tramas, pois deveria ser da mesma laia, eu iria para
minha casa descansar, essa víbora não precisava de mim por perto a não ser
que fosse para tentar me enganar.
Perdida
Narração - Charlotte Staton

Os dias que eu passava dentro daquele hospital praticamente se


arrastavam, eu estava para enlouquecer. Jeff tinha diminuído drasticamente
suas visitas e somente vez ou outra que passava a noite ao meu lado, mas,
isso parecia não significar absolutamente nada para ele. Ele entrava no
quarto e conversava apenas o essencial, tudo que ele podia fazer para poupar
um diálogo entre nós, ele fazia. Nem mesmo se oferecer para me ajudar com
os travesseiros ele se oferecia, estava mais seco, mais frio e distante.

Há alguns dias, algumas roupas minhas chegaram para que eu me


vestisse e ficasse mais à vontade, acho que foi ele quem pediu e quando fui
agradece-lo ele me ignorou. Não sei o que aconteceu, mas, o tratamento dele
comigo havia ficado pior depois do dia que ele saiu do quarto do hospital
daquele jeito. Eu não entendi o que aconteceu, entretanto eu já devia ter me
acostumado com a bipolaridade do meu marido.

Por sorte, para não tornar os dias ruins piores ainda meu primo, Sam,
vinha me visitar todos os dias. A cada vez que ele chegava eu ficava ansiosa
por conta do contrato, para ver se ele havia descoberto alguma coisa, mas
sempre minhas expectativas eram frustradas. Nem mesmo conseguir entrar
no escritório do nosso avô ele havia conseguido ainda. Nosso plano de
conseguir algo desse contrato era um verdadeiro fracasso.

Hoje ele viria me visitar mais uma vez, por mais que eu tentasse não
criar expectativas, eu as criava e pensava que alguma coisa poderia ter sido
descoberta e finalmente minha vida ao lado do Jeff se tornaria mais
simplificada porque eu saberia em que território eu estava. Eu estava sentada
em minha cama, mexendo minha perna sem parar por conta da ansiedade
que eu sentia e olhava para a porta do quarto na expectativa do meu primo
estar chegando. A enfermeira veio trocar meu curativo como de costume, e
ao perceber minha inquietação disse:

— Senhora Staton, o que você tem que te aflige dessa maneira? — Ela
me lançou um olhar preocupado ao falar.

— Charlotte, já falei que você pode me chamar de Charlotte, enfermeira


Hopkins. — Dei um sorriso para ela ao falar e forcei para manter minha
perna quieta.

— Certo, Charlotte. O que você tem? — Ela deu um sorriso gentil.

— Estou esperando meu primo vir me visitar, ele pode ter notícias boas
para mim. Que podem mudar o rumo da minha vida... — Comentei com ela
enquanto mantinha meus olhos atentos para a porta do meu quarto.

— Entendi. Mas não fique ansiosa assim... Não é bom, muito menos
saudável. Eu não imagino o que pode ser que está a atormentando assim,
mas, procure ficar calma. Mais cedo ou mais tarde os problemas sempre se
solucionam. A gente se atormentar por eles a ponto de ficarmos ansiosas e
prejudicarmos nós mesmas com isso, não compensa. Pensa nisso, de um
jeito ou de outro tudo irá se resolver então é melhor relaxar do que se
atormentar durante o processo. — Ela sorriu ao falar e já havia terminado de
trocar meu curativo.

As palavras da enfermeira Hopkins fizeram bastante sentido para mim.


Eu respirei fundo fechando meus olhos por alguns segundos, e a olhei com
um sorriso após abrir meus olhos.
— Obrigada, enfermeira Hopkins. Eu não sabia o quanto precisava
escutar essas palavras até escuta-las. Você não trata só ferimentos físicos
pelo visto, os que se formam na alma também parecem ser sua
especialidade. — Eu sorri ao dizer e ela correspondeu ao sorriso, ela deu
duas batidinhas em meu pé e saiu do quarto.

Assim que ela saiu do quarto, eu estava me sentindo mais leve, porém,
mesmo assim eu ainda esperava que Sam me trouxesse notícias boas, eu
precisava daquilo o quanto antes. Peguei meu celular e comecei a jogar para
distrair minha cabeça e funcionou, pois, me distraí bastante. Quando eu
estava bem entretida, meu primo apareceu e entrou no quarto. Imediatamente
meus olhos esperançosos se voltaram a ele, mas, ele tinha uma expressão
nada animadora.

— Antes que você me pergunte, a resposta é: Não... Eu não consegui


informação nenhuma do contrato, e para complicar mais ainda nosso avô me
pegou xeretando os documentos dentro escritório dele. — Sam disse
bastante apreensivo.

Eu coloquei minhas duas mãos em frente à minha boca, e arregalei meus


olhos. Eu sabia como era ruim se o nosso avô descobrisse o que estávamos
fazendo, e eu também sabia que Sammy não sabia agir bem diante da
pressão que meu vô aplicava sobre ele.

— E aí? Você contou o que estava fazendo? Falou sobre o contrato? —


Eu perguntei em desespero.

— Não, não. Por mais que eu não reaja bem as pressões que ele faz,
dessa vez eu sabia a gravidade do assunto, então, eu disse para ele que estava
procurando um artigo científico meu que achei que poderia estar perdido por
ali. Ele achou estranho, mas engoliu a história, e disse que não queria me ver
mais ali porque haviam documentos que poderiam trazer muitas coisas à
tona e ele não estava disposto a lidar com elas. — Sam me contou.

Eu arqueei uma de minhas sobrancelhas e julguei que ele poderia estar se


referindo ao contrato. Isso apenas despertou mais ainda minha curiosidade.
Mas pelo que eu havia percebido não ia conseguir nada do Sam, então eu
tinha que perguntar para alguém que realmente poderia me ajudar a
desvendar mais sobre o contrato. Infelizmente, esse alguém era Brandon.

— Entendi, obrigada primo, não vou te colocar mais em situações assim.


Não precisa procurar mais. — Eu dei um sorriso para ele.

— Você me acha um incompetente, não é? — Ele falou desanimado.

— Jamais, nem pense nisso, não tem nada a ver. Eu só não quero te
enfiar nesse problemão todo que é inteiramente meu. — Eu na tentativa de
conforta-lo.

Mas, apesar de minhas palavras ele parecia não ter se reconfortado em


nada. Ele só deu de ombros e deu um sorriso fraco.

— Bom, deixa eu ir porque tenho um longo plantão pela frente.

— Mas já? — Perguntei triste pois ele era a única visita que eu tinha que
interagia comigo e me tirava do tédio de estar naquele hospital.

— Sim, Char. Eu passei só para te ver um pouco mesmo. Meu dia hoje
está cheio, depois eu venho com um pouco mais de tempo, está bem? — Ele
me abraçou e deu um beijo na minha testa.

— Tudo bem, te espero. — Dei um sorriso para ele, e ele saiu.

Assim que ele saiu eu decidi ligar para Brandon. Respirei fundo, não
queria ter que passar por isso e recorrer logo a ele, mas eu estava sem saída e
precisava de ajuda o quanto antes. Disquei o número dele e esperei a
chamada completar.

Ligação ON

Brandon: — Ora, ora, que surpresa agradável.

Charlotte: — Ai Brandon, não comece com suas brincadeiras, por favor.


Só estou te ligando porque é um caso de extrema necessidade.
Brandon: — O que houve? Você está bem? Aconteceu algo grave? — Eu
senti o tom de sua voz preocupado.

Charlotte: — Não é nada grave, só é urgente. Eu preciso saber do


contrato.

Brandon: — Contrato? Como assim? Que contrato? — Ele perguntou


sem entender.

Charlotte: — O contrato que eu assinei. Eu preciso saber mais sobre ele,


e pelo que você me falou você sabe.

Brandon: — É alguma pegadinha?

Charlotte: — Não Brandon, é sério. Eu não li o contrato que eu assinei,


preciso de ajuda.

Brandon: — Meu Deus, Charlotte... Ok, quando podemos nos


encontrar?

Charlotte: — Tudo indica que hoje à tarde eu receberei alta, então


podemos nos encontrar e eu te pago o jantar que estou te devendo.

Brandon: — Certo. Onde?

Charlotte: — Pode ser no Dinner's Judy.

Brandon: — Aquela lanchonete mequetrefe? — Ele falou com desdém.

Charlotte: — Essa mesmo, Brandon. Então hoje à tarde nós nos


encontramos. Até mais.

Ligação OFF

Eu não esperei ele falar mais nada porque sabia que ele iria reclamar do
lugar simples e informal que eu havia escolhido, mas a comida era uma
delícia, eu estava olhando para baixo mas quando ergui meus olhos vi que
Jeff estava sentado em uma das cadeiras que tinha próxima a porta do meu
quarto, em frente minha cama, me olhando furioso. Acho que ele tinha
escutado eu combinando de sair com Brandon.

— Je..Jeff. Há quanto tempo você está aqui? — Eu perguntei nervosa.

— Tempo o suficiente para ouvir o bastante, Charlotte. — Ele falou com


raiva.

Eu tinha torcido para ele ter ouvido que eu não sabia do contrato.

— Eu posso explicar. — Tentei falar para Jeff.

— Você não precisa me explicar nada. Mas, eu devo lembra-la que


Brandon é um homem comprometido e você não vai conseguir o que quer
com ele. — Jeff disse com o intuito de me ofender.

Realmente ele não ouviu a conversa toda, apenas o final e estava tirando
conclusões precipitadas.

— Jeff, não é iss... — Eu tentei falar, mas ele me interrompeu.

— Já chega. Eu não estou interessado em você, mas você não irá


conseguir o que quer com Brandon dessa vez porque você ficará mais tempo
aqui no hospital. — Ele falou com um sorriso perverso.

— Como assim vou ficar mais tempo? Aconteceu algum problema com
minha perna? Ontem a enfermeira disse que estava tudo bem. — Eu
perguntei confusa.

— Não venha dar uma inocente. Você sabe o que fará já que estamos
aqui no hospital.

Eu tive um mau pressentimento, e me senti insegura. Eu não fazia ideia


do que ele estava falando, muito menos o que isso tinha a ver com ficar mais
tempo no hospital. Eu o olhei com uma expressão confusa, eu esperava que
ele me desse alguma informação, mas Jeff não fazia isso, pelo contrário, ele
me questionou como se eu soubesse o que ele estava querendo dizer.
— Você já sabia disso, não é? Caso contrário, não teria reivindicado isso
quando o contrato foi feito. — Ele falou para mim e eu fiquei mais perdida
ainda na conversa.
Procedimento surpresa
Narração - Charlotte Staton

De novo aquele contrato estava em pauta! O maldito contrato que eu


não sabia se quer o que estava escrito nele. Apenas sabia que meu nome
estava lá, assinado, bem como meu avô havia me obrigado a fazer pelo bem
da família que ele e meu tio Jacob arrastaram para o fundo do poço.

Eu olhava para Jeff completamente atordoada por conta do que ele havia
me falado. Por repetidas vezes balancei minha cabeça negativamente
tentando fazer com que ele entendesse que eu não sabia de nada que ele
estava mencionando. Não sabia que tipo de coisa que eu poderia ter
reivindicado, afinal, como eu reivindiquei algo sendo que nem ao menos
fazia ideia do que eu estava assinando?

Ele olhou para a forma como eu estava desesperada e balançou sua


cabeça de um lado para o outro demonstrando seu descontentamento e disse:

— É impressionante sua capacidade para atuar, você levou bastante a


sério quando eu falei da última vez que você precisava atuar melhor, não é
verdade? — Ele me olhava com desprezo.
— Jeff, escute o que eu estou dizendo para você, por favor! Eu não faço
a mínima ideia do que você está falando, muito menos do que eu pude ter
reivindicado. — Eu tinha lágrimas nos meus olhos ao falar.

Eu estava muito cansada de ter que tentar me justificar o tempo inteiro


para ele e para piorar a situação toda, ele não fazia a mínima questão de me
dar ouvidos, e quando me deixava falar um pouco me colocava como uma
mentirosa. Era como se ele me ouvisse puramente para ter mais tempo para
planejar uma nova ofensa.

— Me poupe, eu já ouvi o suficiente vindo de você. Sei de todas as suas


artimanhas, eu não serei um idiota que você ficará brincando como bem
entender. Sei muito bem que você usa um disfarce ao estar comigo, não
pense que sou um otário. Eu não vou cair na sua. — Jeff falava com bastante
raiva.

A cada palavra proferida por ele, mais em dúvida e perdida eu ficava, eu


não entendia absolutamente nada do que ele me falava. A falta de
comunicação era tanta, que eu sentia que nós dois não falávamos a mesma
língua. Não entendia de onde ele tirava essas suposições e todas essas
histórias que tinha tanta convicção ao falar a meu respeito.

— Você devia ao menos tentar me ouvir, deixar que eu me explique. —


Eu dizia com a voz embargada.

— Você não vai parar de fazer isso? — Ele estava muito irritado ao
falar. — Não tem ninguém por perto, só tem nós dois e eu não estou nem um
pouco disposto a aguentar todo esse teatro que você está fazendo.

— Jeff, não tem teatro nenhum! Você poderia se dar ao trabalho de me


escutar, você não deixa eu me explicar e tira suas próprias conclusões
errôneas e me reduz a uma pessoa ruim e pronto. Eu estou cansada desse
tratamento, de ser julgada como uma pessoa que eu não sou. Eu não sou
assim! — As lágrimas escorriam dos meus olhos e eu comecei a chorar de
forma compulsiva.

Acho que nesse momento Jeff ficou um pouco atordoado por me ver
desse jeito, mas ele ainda não se desfazia da postura que tinha comigo, ele
continuava a me olhar com seu queixo levantado, com aquele ar de
superioridade que ele preservava sempre, por mais que seu olhar estivesse
preocupado ao me ver daquele jeito. Por conta do meu choro ele disse:

— Ok, Charlotte, eu vou permitir que você fale algo em sua defesa. Me
explique o seu ponto, estou curioso para saber. E quero ver se não passa de
pura encenação da sua parte. — Assim que ele falou eu limpei minhas
lágrimas e tentava conter meu choro.

Finalmente eu poderia me explicar, e não poderia perder minha chance.


Respirei fundo e tentei me controlar ao máximo porque eu sabia que essa
seria uma das poucas oportunidades que eu teria para falar para ele sobre
minha falta de conhecimento sobre o contrato.

— Eu não sei nada sobre o contrato. — Eu disse.

Jeff me olhou com indignação. Por um breve momento ele pareceu


acreditar em mim, mas logo começou a rir.

— Como não? Como que você não saberia sendo que seu nome está lá,
assinado com sua caligrafia. E eu sei disso porque fiz questão de olhar no dia
que nós nos casamos e é exatamente igual. Eu te dei a oportunidade para
você ao menos tentar se explicar, e você faz isso... Parece piada. Às vezes eu
acho que você subestima minha inteligência achando que eu vou ser uma
marionete em suas mãos, que você pode manipular e eu vou fazer tudo que
você deseja. — Ele se aproximou de mim ficando na lateral da cama, e falou
entre os dentes. Dava para sentir a ira dele. — Mas comigo isso não
funcionará, Charlotte. Comigo não!

Eu fiquei sem palavras diante do que ele havia falado, eu não sabia como
iria refutar tudo o que ele tinha dito. Afinal realmente tinha minha assinatura
naquele contrato, mas, eu fui forçada a assinar ele. Meu avô me obrigou, e
presumo, que ele tinha como objetivo que eu realmente não lesse o contrato.
Mas se eu, ao menos soubesse o problema que isso ia me gerar, e as
consequências que eu iria enfrentar, eu tinha o lido mesmo que fosse
contrariar meu vô, e dependendo do que estava escrito ali eu jamais iria
assinar.
Jeff permanecia ao meu lado, bem próximo como se esperasse alguma
reação minha, mas eu não tinha como me defender, nem como conseguir ir
contra ele. Eu apenas abaixei minha cabeça e chorei baixinho. Diante dessa
atitude que tomei, ou melhor, diante da minha falta de atitude Jeff apenas riu
ironicamente e disse:

— Tão culpada como imaginei que fosse. — Ele se afastou de mim e


saiu feito um raio de dentro do meu quarto.

Assim que ele saiu eu apoiei minhas duas mãos em meu peito e chorei.
Eu chorava intensamente e sentia a dor invadindo minha alma. Chorei de
raiva por ele não ter acreditado no que eu disse, e também por frustração por
não conseguir falar tudo para ele e explicar minha situação quando tive a
chance. Jeff me tratava feito um lixo e eu deixava ficar por isso mesmo, eu
era tão passiva que não reagia. Eu precisava mudar isso o quantos antes,
pois, por conta da minha passividade eu estava dentro desse casamento onde
era humilhada constantemente.

Eu precisava reagir. Jeff já havia me dado inúmeros motivos para


adormecer o que eu sentia por ele, pelo modo como ele me tratava, mesmo
assim ainda me faltavam forças. O que mais eu iria esperar acontecer para
que eu finalmente conseguisse reagir e deixar esse sentimento para
escanteio? Enquanto eu estava chorando uma enfermeira entrou no quarto,
não era a enfermeira Hopkins. Eu fiquei um pouco constrangida por estar
chorando daquele jeito e limpei minhas lágrimas. A enfermeira não falou
nada comigo.

— Onde está a enfermeira Hopkins? — Perguntei enquanto ainda


passava minhas mãos em meu rosto com o intuito de tirar todo o excesso de
lágrimas.

— A enfermeira Hopkins não é responsável pelo departamento que fará


seu procedimento, eu sou, sou a enfermeira Benson. — Ela tinha um olhar
frio e parecia ser uma mulher amargurada.

Mas eu resolvi relevar a personalidade dela quando ela falou sobre


procedimento. Eu fiquei em dúvida pois não sabia que procedimento eu iria
fazer, será que era isso que Jeff estava se referindo? Então resolvi perguntar:
— Eu não sei que procedimento eu farei, você pode me falar?

— Como assim não sabe? — Ela me respondeu com grosseria.

— Bom... Eu não sei... — Diante da grosseria dela eu balbuciei ao falar,


pois não esperava esse tratamento por parte dela.

Ela olhou no tablet dela e olhou para mim, em seguida perguntou:

— Seu nome é Charlotte Staton, certo?

Staton... Ainda não tinha me acostumado com o peso desse nome ao lado
do meu singelo nome. Charlotte significa mulher livre, minha mãe quem
escolheu esse nome para mim. Se ela soubesse que a filha dela que ela tanto
sonhou que seria independente estava presa a um casamento passando pelas
piores humilhações, com certeza teria sido a maior decepção da vida dela.
Fiquei perdida em meus pensamentos e acabei esquecendo de responder a
enfermeira.

— SENHORA STATON!? — Ela gritou, ação esta que me fez levar um


susto.

— Sim, eu sou Charlotte Staton. — A respondi completamente


envergonhada.

Acho que eu era uma pessoa que as pessoas se sentiam à vontade para
maltratarem, era a única explicação. Eu nunca havia visto aquela enfermeira
para ela me tratar daquela forma.

— Então estou no lugar certo para levar você para fazer o procedimento.
Já que a senhora diz não saber do que se trata quando chegarmos na sala,
você descobrirá. Me acompanhe por favor. — Ela tinha um sorriso irônico
em seus lábios pois bem como Jeff parecia não acreditar no que eu falava.

Eu a olhei franzindo minha testa, eu tinha achado o cúmulo do


atrevimento ela falar daquela maneira comigo sendo que em momento algum
eu a maltratei. Eu estava decidida a não deixa-la falar mais desse jeito
comigo, eu não seria boba na mão de uma completa desconhecida. Já
bastava ser humilhada pelo meu marido, por outras pessoas já era o cúmulo
da passividade. Eu desci da cama e estava emburrada, então resmunguei para
que ela ouvisse.

— Não arrancaria pedaço falar qual procedimento eu farei. — Eu me


posicionei ao lado dela e ela me olhou com desdém, depois, nós saímos do
quarto.

Eu caminhava mancando um pouco por conta da perna machucada, mas


estava andando em um ritmo relativamente rápido. Fiquei pensando que tipo
de procedimento eu iria fazer. Será que era algo para ver se eu e Jeff
tínhamos compatibilidade para ter filhos? Nem seria necessário porque tenho
certeza que o contrato iria acabar e a gente não teria filhos, já que nem um
beijo nós dávamos, e seria melhor assim. Não queria jamais ter um filho com
ele nessas circunstâncias ruins.

Nós andamos por um longo corredor. Ao chegar na sala que iria fazer o
procedimento, vi toda a equipe paramentada, fiquei um pouco apreensiva
pois parecia que iria ser uma pequena operação. Será que havia algum
problema com minha perna e não queriam falar? Então acabando de uma vez
por todas com minhas dúvidas sobre o que eu iria fazer lá, o médico me
disse:

— Senhora Staton, pode me acompanhar até a maca para que a gente


faça sua inseminação.

— O QUÊ? — Eu gritei ao perguntar e todos me olharam espantados.


Desvendando o contrato
Narração - Charlotte Staton

Todos da equipe ainda permaneciam me olhando com grande espanto


por eu ter gritado. A enfermeira Benson, que antes não havia acreditado que
eu não sabia sobre o que se tratava, agora, por conta da minha reação
percebeu que eu falava a verdade, e então disse:

— Senhora Staton, você não sabia que iria ser submetida a uma
inseminação artificial? — Benson me olhava com os olhos arregalados e
segurava seu tablet contra seu corpo.

— Mas é claro que não! — Eu respondi alterada. — Eu não estou de


acordo com isso, não assinei nada que autorizasse esse procedimento! — Eu
ainda falava com grande agitação.

A enfermeira parecia estar chocada com minha ingenuidade, e então


segurou em meu braço, na tentativa de me confortar e disse:

— Você não percebeu que seria submetida a algo assim? Durante dias foi
monitorado seu período fértil através da sua temperatura, e também através
de perguntas sobre seu ciclo menstrual, você não se atentou a isso? — Ela
olhava fixamente para mim e parecia bem incrédula.

— Não! Eu pensava que era procedimento padrão perguntar sobre meu


ciclo e aferir minha temperatura, eu estava com febre ao chegar, pensei que
era natural esse tipo de coisa. — Minha respiração estava ofegante e eu
estava em pânico.

— A sua febre por conta da infecção foi controlada no primeiro dia. No


decorrer dos dias nós estávamos aferindo sua temperatura porque há uma
elevação nela quando se está fértil. De acordo com o tempo do seu ciclo
pelas informações que você nos forneceu e sua temperatura, você está
ovulando hoje. Você não sabe dessas coisas? Por acaso você é... Virgem? —
Ela ficou mais espantada ainda ao me fazer essa pergunta.

Para mim ela estava falando grego. Não fazia sentido nenhum isso que
ela falava para mim sobre período fértil, ovulação, eu nunca me preocupei
com isso. Não tinha motivos pois eu não tinha relação com ninguém, e
depois que casei isso continuou, pois, eu e Jeff não tínhamos intimidade.
Jeff... Ele sabia de tudo! E aquele dia que mencionou sobre aproveitar por eu
já estar no hospital com certeza era isso que ele iria mencionar! Era isso que
aquele bando de abutres da família dele esperava encontrar no meu
prontuário. Mas por quê? Por que essa necessidade tão imediata que eu
engravide? Isso estava no contrato? É esse o motivo que o faz me tratar de
maneira tão absurda!?

Eu estava me sentindo violada, pois estava sendo entregue para fazerem


algo no meu corpo que eu desaprovava completamente. E isso eu não
poderia aceitar. Por mais que eu fosse muito passiva, eu iria lutar para não
fazerem algo tão sério contra minha vontade. Eu olhava para todos, estava
muito agitada e assustada, ver aquelas luzes e aquela equipe esperando por
mim para fazer algo tão chocante me fez ficar enojada. Eu olhei para
enfermeira que ainda segurava meu braço, e diante da pergunta que ela me
fez eu disse:

— Isso é uma pergunta muito pessoal. Tudo que vocês pretendem fazer
aqui é extremamente íntimo, e eu reitero que não aprovo isso! — Eu falei
irritada ao puxar meu braço para que ela me soltasse.
— Mas, senhora Staton, o seu marido autorizou e assinou, além do mais
é ele quem será o doador. O que faremos aqui é legítimo, não precisa
disso. — O médico falou como se minha opinião sobre meu próprio corpo
não contasse e apenas a do meu marido importasse.

Eu só queria sair daquela sala cheia daquele bando de loucos que


achavam que poderiam fazer o que bem entendessem mesmo sem minha
autorização. Eu dei uma boa olhada para todos que estavam ali, e em uma
atitude impulsiva eu comecei a correr. Empurrei a porta da sala e corri em
direção ao corredor.

— SENHORA STATON, VOLTE AQUI! — A enfermeira Benson


gritou, eu olhei para trás e continuava a correr com certa dificuldade por
conta da minha perna.

Ao olhar para trás, vi que ela pegou seu rádio comunicador e disse que
eu estava em fuga. Eu precisava correr mais rápido se quisesse sair dali para
não me pegarem. Eu corria e olhava para trás, enquanto eu olhava para trás
bati de frente com um homem que segurou firme meus dois braços, eu me
assustei, e ao erguer meus olhos eu vi que se tratava de Jeff.

— Jeff! — Eu falei ao olhar para ele com a expressão assustada e ao


mesmo tempo estava perdida por tudo que estava acontecendo.

— O que você pensa que está fazendo? Por que você está arrependida
agora? Não lhe dei o bastante? O que mais você quer? — Ele continuava a
segurar em meus braços e me falava aquilo com naturalidade e frieza.

Ao escutá-lo eu balançava minha cabeça de um lado para o outro em


desespero, e comecei a chorar bastante. Eu não tinha pedido nada daquilo, eu
não sabia de nada a respeito do que aconteceria e ele precisava acreditar em
mim.

— Jeff, por favor! Me escuta dessa vez, escuta de verdade o que eu tenho
para te dizer! Eu imploro! — Eu dizia em grande desespero ao chorar. — Eu
não sei nada que está escrito naquele contrato, eu não sabia de nada disso,
muito menos que teria que me submeter a algo assim! — Eu encostei minhas
mãos no peitoral dele e apertava a camisa dele em uma tentativa desesperada
de que ele acreditasse em mim.

Ele precisava acreditar em mim, eu não queria isso. Isso seria demais,
carregar um filho dele dessa forma seria uma experiência extremamente
traumática. Eu não queria ser mãe nesse momento, faltava menos de dois
meses para eu me formar, para eu ter minha independência financeira e
nunca mais depender do Jeff ou da minha família, eu iria depender apenas de
mim e do meu esforço independente do que acontecesse em minha vida.
Com um filho, isso seria impossível e eu ficaria mais presa ainda a esse
casamento.

Jeff me olhava com a expressão desdenhosa e tinha um sorriso sarcástico


em seus lábios, ele ainda não acreditava no que eu estava falando apesar de
todo o desespero que eu demonstrava ter. Ele segurou em meus braços mais
forte e me chacoalhou fazendo eu me calar. As lágrimas invadiam mais
ainda meus olhos. Ele soltou um de meus braços, e apenas segurou um deles
ao me levar de volta até a sala onde eu seria submetida ao procedimento.

— Por favor! Não! Por favor, não faça isso comigo, você está cometendo
um grande erro, Jeff! — Em prantos eu implorava para que ele não fizesse
aquilo, mas parecia ser inútil.

Eu tentava forçar meus pés no chão para dificultar que ele me levasse de
volta para a sala. Ele estava ficando nervoso então me pegou pelas pernas
me levantando, e apoiou minha barriga em seu ombro, e me caminhou em
direção a sala. Eu tentava me soltar, mas ele era forte demais e seria inútil
continuar tentando. Ao chegarmos na porta da sala onde a inseminação seria
realizada eu tentei fugir mais uma vez e ele me segurou novamente pelos
braços, olhou para mim e disse enquanto mantinha seus olhos fixos nos
meus:

— Já chega desse teatro! Pare de encenar e dar esse show! Você já está
aqui no hospital, nada mais certo do que você fazer essa inseminação o
quanto antes. Quanto mais cedo você engravidar, mais cedo sua família
receberá a última porcentagem em ações da empresa que eles têm para
receber! Não dificulte as coisas, vai ser melhor para você e sua família. —
Ele falava nervoso enquanto me segurava.
Por um momento eu parei e o olhei incrédula. Eu não acreditava que
havia assinado algo tão insensato assim. Como eu fiquei estática com aquela
notícia eu parei de me debater, ele ainda me olhava com o mesmo jeito
arrogante que estava acostumado a me olhar, e depois, se virou saindo da
sala. A enfermeira Benson novamente agarrou meus braços. A imagem boa
que eu ainda tinha do Jeff começou a se desfazer naquele momento, como
ele aceitou esses termos absurdos do contrato também? Como ele teve
coragem? E o pior, como meu próprio avô me obrigou a assinar isso sabendo
dessas atrocidades que estavam descritas lá?

Eu comecei a balançar minha cabeça negativamente pensando nisso


tudo, enquanto a enfermeira me guiava para a maca. Uma fúria tomou conta
de mim, olhei para trás e vi Jeff andando calmamente pelo corredor. Vez ou
outra ele olhava para trás, e seu semblante era muito tranquilo. Ele não
sentia culpa nenhuma pelo que estava fazendo comigo, por mais que eu
tivesse implorado para que ele não fizesse. Eu cheguei a subir na escada que
me levava em direção a maca onde o procedimento seria realizado, mas,
novamente em um movimento brusco e ágil, me soltei das enfermeiras que
me seguravam e saí correndo da sala indo em direção ao Jeff e gritei:

— DESGRAÇADO! ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM! — Assim que


gritei ele olhou para trás franzindo sua testa. Ao ver o jeito que eu estava
completamente descontrolada ele arregalou seus olhos. Ele nunca havia me
visto assim.

Na verdade, acho que eu nunca havia ficado desse jeito em toda minha
vida, mas, também, nunca havia sido sujeitada a algo assim, então era
impossível tentar me conter diante dessa situação. Eu cheguei até ele e dei
um tapa forte no rosto dele e comecei a dar vários socos em seu peitoral com
toda força que eu tinha.

Ele ficou tão atordoado e surpreso com minha atitude, tanto que demorou
a processar o que estava acontecendo e só depois de um tempo em que eu
desferia vários golpes contra ele, Jeff foi capaz de segurar os meus punhos
tentando me conter.

— VOCÊ ESTÁ LOUCA? — Ele gritou.


— LOUCO ESTÁ VOCÊ POR PENSAR QUE SOU UMA MÁQUINA
DE FAZER FILHOS PARA VOCÊ! EU NÃO SOU UMA INCUBADORA
HUMANA! MEU ÚTERO NÃO É UM COMÉRCIO! — Eu gritava com
ele e Jeff continuava a tentar me segurar para me impedir de bater nele.

— É um pouco tarde s para dizer isso, você não acha, Charlotte? Devia
ter pensado nisso antes de se sujeitar a esse contrato. — Ele falava
zombando de mim.

Eu chorava e ainda batia nele com o pouco das forças que me restavam,
pois, eu estava cansada.

— Você é um cínico, que não me escuta. Você é cruel, Jeff! Eu estava


tentando te falar, e você simplesmente me ignorava, não me escutava, nem
valorizava o que eu tinha a dizer. — Eu chorava e já estava em exaustão de
tanto me esforçar.

Jeff nem ao menos me respondeu dessa vez, eu chorava sem cessar e não
acreditava no terror que eu estava vivenciando.
Sem esperança
Narração - Charlotte Staton

Em meio ao meu choro, novamente, Jeff me levou até a sala. Eu estava


sem forças por conta do desgaste físico e emocional, minha perna que antes
estava boa e quase recuperada começou a doer por conta do esforço além do
normal que fiz. Então, eu apenas aceitei que aquele seria meu destino.
Porém, aceitei por um momento, porque eu jamais iria estar de acordo com o
que estavam planejando fazer em mim. Assim que olhei a sala e tudo pronto
para o procedimento eu quis resistir novamente.

Quando as enfermeiras pegaram cada uma em um braço meu, eu me dei


conta que aquilo ia acontecer mesmo contra minha vontade, e para completar
Jeff disse ao médico enquanto me encarava:

— Caso ela resista doutor, você pode amarra-la na maca. Ou melhor,


pode anestesia-la para fazer o que precisa ser feito. — Seu olhar para mim
era cheio de fúria e um sorriso perverso tomou conta da sua face como se ele
gostasse da maneira que eu estava sendo tratada.
— Não, por favor, isso não! Respeitem minha escolha, eu imploro a
vocês! — Eu olhava para as enfermeiras enquanto elas literalmente me
arrastavam até a maca.

— Senhora Staton, já chega! Você fará o procedimento e ponto final! —


A enfermeira Benson falou para mim com firmeza.

Ela e a outra enfermeira me forçaram a deitar na maca, mesmo assim eu


me debatia e chorava. Aquela luz branca praticamente me cegava e eu estava
tremendo de medo. Estava me sentindo um monte de nada diante daquela
situação. Meu marido havia virado as costas e me deixado lá à mercê
daquela equipe médica, que não respeitava o que eu falava, muito menos
minhas escolhas.

O médico responsável pelo procedimento veio até mim e me amarrou


com o auxílio da enfermeira Benson. Eu gritei:

— NÃO FAÇAM ISSO, POR FAVOR! NÃO! TENHAM PIEDADE,


PENSEM SE FOSSE ALGUÉM QUE VOCÊS AMASSEM SENDO
SUJEITADOS A ISSO. POR FAVOR! — Eu chorava e me debatia sem
parar.

Uma outra enfermeira me olhou e vi que seu olhar parecia ser de


compaixão, ela se aproximou de mim e acariciou minha cabeça tentando me
acalmar.

— Por favor, senhora Staton, se você se acalmar será melhor e não


precisará de nenhuma intervenção invasiva. — Ela falou um pouco
apreensiva.

Eu estava descontrolada, eu não acreditava que iam tomar conta do meu


corpo daquela forma e mesmo com as mãos amarradas eu as debatia e acabei
acertando a bandeja com equipamentos que havia ali, e acabei cortando o
meu dedo com o bisturi.

— AI! — Eu gritei.

Assim que gritei, o médico me olhou de um jeito furioso e disse:


— Só amarra-la não será o bastante, já chega, isso para mim foi a gota
d'água. Vamos anestesia-la. — O médico foi rude ao falar.

— NÃO! — Eu gritei novamente em protesto. — Isso não é certo! Além


de fazerem algo contra a minha vontade vocês não vão permitir que eu veja
o que será feito? — Eu continuei a falar com grande revolta em meio as
minhas lágrimas.

— Calada, senhora Staton! — A enfermeira Benson falou.

Eu estava de saco cheio daquela enfermeira atrevida falando de qualquer


jeito comigo. Além do mais, estava indignada, com raiva e frustrada com
tudo que estava acontecendo. Então, eu disse:

— VAI SE FODER, MULHER AMARGA! EU NÃO TENHO CULPA


SE SUA VIDA É UMA DROGA E VOCÊ PRECISA DESCONTAR ESSA
AMARGURA EM TODO MUNDO PARA SE SENTIR MELHOR! VADIA
MALDITA! — Eu gritei em um surto de ódio que eu tive, ela me olhou
arregalando seus olhos.

Pude ver pelo semblante dela, que pelo menos por um momento eu a
magoei, confesso que não me arrependi pois ela estava fazendo isso comigo
de forma deliberada, e eu estava deixando por isso mesmo. Fiquei
encarando-a enquanto eu chorava, ela desviou o olhar de mim depois do que
eu falei e não falou mais nada. O médico, junto com outra enfermeira,
colocou um acesso com soro e a anestesia em mim. Quando a anestesia
começou a fazer efeito, eu perdi o controle total do meu corpo e não
consegui fazer mais nada, a não ser assistir aquilo sem poder me defender.
Nessa hora toda e qualquer esperança que eu tinha de não fazer o
procedimento, acabou.

— Não... Não... O que vocês fizeram? — Eu falava com minha voz


enfraquecida por conta da anestesia, e o torpor que ela provocava também
tomou conta de mim.

Eu vi de relance o médico colocando uma espécie de sonda em mim,


dentro da minha vagina. Assim que ele fez isso eu comecei a chorar mais
com o pouco de lucidez que me restava. Eu era virgem, e ter aquele objeto
sendo penetrado em mim era humilhante e degradante demais. Isso tudo
estava acontecendo comigo por culpa do Jeff, como ele era tão frio ao ponto
de me deixar ali naquela sala sabendo que eu estava contra minha vontade.

E além de tudo, ele havia incentivado o médico a aplicar anestesia em


mim para que eu não pudesse mais resistir. Essa história toda não tinha
cabimento nenhum, era cruel o que ele havia permitido que fizessem
comigo. Acho que eu esperava tanto por algo que pudesse adormecer e até
mesmo reprimir meus sentimentos por Jeff, que acabou acontecendo. Eu só
não contava que seria preciso uma coisa tão absurda assim acontecer para
que eu endurecesse meu coração para ele.

Eu havia criado uma mágoa tão grande dele, que só de lembrar que ele
permitiu que isso acontecesse comigo eu sentia uma repulsa imediata. Fiquei
pensando nas coisas que Sam havia falado para mim, sobre eu manter esse
disfarce, e também a preocupação dele em relação a minha passividade. Eu
acho que de agora em diante era uma questão de sobrevivência mudar com
Jeff, ele conheceria uma nova Charlotte. Eu não iria permitir que ele fizesse
isso comigo e eu continuaria feito uma boba apaixonada por ele, deste
momento em diante, a emoção daria lugar para a razão.

Meus olhos estavam se fechando por causa da anestesia, e por fim, eu


dormi por completo enquanto faziam a inseminação artificial em mim.

∞∞∞

Narração - Jeff Staton

Eu estava atordoado pelo que havia acontecido. Estava levando-a de


volta para a sala do médico para que ela fizesse o procedimento. O jeito que
Charlotte estava agindo em completo desespero quase me fez acreditar que
ela realmente estava com medo. Mas como poderia ser medo sendo que ela
mesma tinha exigido isso no contrato?

Lá estava claro que se nós não tivéssemos intimidade, ela exigia fazer
uma inseminação artificial para que tivesse um herdeiro meu para que ela e a
família dela pudessem receber as últimos porcentagens de ações da empresa.
Eles eram espertos, queriam tomar parte na empresa, e de um jeito bem
baixo. Eu precisava desse acordo, por outros motivos, por isso aceitei todo
esse absurdo.

Fiquei pensando em como Charlotte agiu, me batendo, e gritando aos


quatro cantos que não sabia o que estava acontecendo. Aquilo me deixou um
pouco perturbado. Era encenação demais, até mesmo para ela. Será que ela
realmente não sabia disso? Não... Impossível. A assinatura dela estava lá
naquele contrato ninguém deixaria de ler algo antes de assinar. Ela sabia
muito bem onde estava entrando e eu não teria compaixão por ela. Ela não
merecia, nem era digna disso.

Resolvi que não tinha nada mais para fazer naquele hospital, eu iria
embora para casa. Sam, o primo dela, vinha visita-la todos os dias então ele
poderia muito bem cuidar da parte burocrática da alta dela.

Eu havia vindo de carro e sozinho, então saí do hospital e fui em direção


ao meu carro, estava próximo a hora do almoço e presumi que até um pouco
depois da hora do almoço Charlotte já poderia ter recebido alta e iria preferir
a comida de casa do que do hospital. Então, antes e dar partida no carro eu
liguei para Janet.

Ligação ON

Janet: — Residência dos Staton.

Jeff: — Janet, sou eu, Jeff.

Janet: — Senhor Staton, em que posso servi-lo?

Jeff: — Eu estou indo para a casa e provavelmente a senhora Staton


também irá em breve. Estou ligando para que você solicite que façam o
almoço, por mais que saia um pouco mais tarde, não tem problema, porque
acho que ela sairá por volta das 14h.
Janet: — Que notícia boa, Senhor Staton, você deve estar ansioso para o
retorno da sua esposa para casa depois desse tempo que ela ficou no
hospital. Fique tranquilo que irei providenciar o almoço para vocês.

Jeff: — Obrigado, Janet.

Ligação OFF

Eu fiquei pensando no que Janet disse, eu tinha me acostumado com a


presença de Charlotte, mas isso não significava que eu sentia alguma coisa
por ela ou alimentava algum tipo de sentimento. Coloquei as mãos no
volante e antes de dar partida, eu hesitei. Será que eu tinha tomado a decisão
correta em relação ao procedimento? Eu me lembrava dos olhos azuis dela
implorando para mim para que não fizesse o procedimento.

Aquele olhar inocente que ela tinha, as vezes me lembravam tanto


alguém... Só não conseguia me lembrar quem.

— Seja firme Jeff, você não pode cair aos encantos de uma golpista. —
Falei para mim mesmo.

Dei a partida em meu carro e saí em direção a minha casa. Entretanto, no


decorrer de todo o caminho para casa um sentimento de culpa e
arrependimento estavam me assolando como se eu tivesse feito algo muito
errado com ela. Mas eu não tinha feito, era exigência dela desde o começo e
agora não era hora para que ela se arrependesse.

Acelerei o carro com raiva e queria que a adrenalina da velocidade


fizesse com que eu afastasse essas sensações de mim. Respirei fundo e
coloquei uma música no rádio do carro para me distrair. Porém, mesmo com
a música e a adrenalina em decorrer da alta velocidade, a última frase que
Charlotte disse, ficava ecoando na minha cabeça. Dizendo que eu era cruel.
Eu nunca fui um homem cruel, me incomodou profundamente ela me ver
dessa forma. Mas por que eu estava me importando tanto com a opinião de
uma pessoa que eu não tinha sentimentos algum, muito menos respeito?
Uma nova Charlotte
Narração - Charlotte Staton

Ao abrir meus olhos após o efeito da anestesia ter passado, percebi que
estava novamente no quarto do hospital, e meu primo Sam estava lá ao meu
lado. Eu resmunguei ao acordar, e queria que tudo aquilo que eu vivenciei
não tivesse passado de um pesadelo terrível. Eu estava deitada na cama, e ela
estava levemente inclinada para cima na parte dos pés, as memórias do que
havia acontecido comigo começaram a ficar bem vívidas na minha mente e
eu fui tomada pelo pânico que aquela situação havia me provocado.

Comecei a chorar, e isso deixou meu primo Sam visivelmente


preocupado comigo. Ele se levantou da cadeira e veio até mim.

— Char, o que foi prima? O que está acontecendo? — Assim que ele
perguntou, tocou no meu braço e eu gritei:

— NÃO ME TOCA! — Eu puxei meu braço tirando da mão dele de


maneira brusca.
Sam arregalou seus olhos e deu um passo para trás, ele parecia não
entender minha reação. Nem eu entendi a princípio porque eu agi daquele
jeito com ele, mas, depois, presumi que devido a todo estresse do trauma que
eu havia passado há poucas horas, eu estava agindo dessa forma.

— Char... O que houve? Por que você está agindo dessa maneira? — Ele
perguntava atônito ainda. Sam não sabia reagir diante da atitude que eu
estava tendo. Eu continuava a chorar e tremia meu corpo inteiro, antes que
ele pudesse falar mais alguma coisa, ou eu pudesse me explicar, a enfermeira
Benson entrou.

— Boa tarde. — Ela disse e olhou para mim e para o Sam. Eu a olhei
com ódio porque ela tinha participado daquilo, não respeitando minha
escolha e agido como se eu fosse uma mentirosa.

Ao ver meu olhar, ela desviou e ficou olhando somente para Sam
enquanto dizia:

— O senhor pode me acompanhar para assinar os papéis da alta da


Senhora Staton? O marido dela já saiu do hospital, então o senhor como
parente mais próximo deve assinar os papéis da alta dela. — Ela falava com
inquietação como se quisesse sair do meu quarto o quanto antes.

— Mas eu assinei assim que cheguei, com a enfermeira Hopkins. — Sam


falou ainda olhando para mim com seu olhar aflito.

— Sim, mas faltou alguns... Preciso que o senhor assine para que
possamos libera-la. — Ela mantinha seu tom inquieto e fazia menção de sair
do quarto a todo momento.

Acho que o que eu havia falado para ela, havia a impactado e ela
aprendeu que comigo ela não iria mais falar como bem entendesse.

— Eu... Eu... — Sam estava muito atordoado pela forma que eu o tratei,
era visível. Ele parecia não saber o que fazer.

Eu estava tentando conter meu choro e aspirava meu nariz ao me sentar


na cama.
— Vai Sam, assina logo os papéis que faltam porque eu quero sair logo
daqui. E se tudo der certo eu nunca mais irei colocar os pés nesse
hospital. — Assim que terminei de falar fuzilei a enfermeira Benson com o
olhar.

Ela ficou bastante constrangida enquanto Sam olhava sem entender o


motivo pelo qual eu havia falado daquele jeito. Ele só deu um sorriso
forçado com a expressão um pouco perdida e saiu do quarto juntamente com
a enfermeira Benson para assinar os papéis da minha alta. Assim que os dois
saíram eu coloquei a mão na minha barriga e chorei mais. Era desesperador
pensar que eu poderia estar passando pelo o processo de conceber um bebê
em minha barriga nesse momento. Um bebê que estaria sendo gerado contra
minha vontade.

Eu chorei tudo que eu tinha para chorar, e depois, limpei minhas


lágrimas. Por mais que eu tivesse em frangalhos eu precisava ser forte, e iria
sair do lugar de passividade e assumir um lugar de controle. Eu seria dona da
minha vida mesmo estando à mercê desse contrato, e eu iria decidir o que
fazer com minha vida daqui pra frente.

Me levantei da cama, fui até o banheiro e tomei um banho. Deixei a água


cair na minha cabeça por um tempo como se quisesse limpar tudo de ruim
que havia passado nas últimas horas. Lavei minhas partes íntimas diversas
vezes, eu me sentia suja por conta de ter sido inseminada contra minha
vontade e desejava com todo meu coração que aquilo não tivesse dado certo.

Terminei meu banho e escolhi uma roupa casual no armário. Era uma
calça jeans e uma blusa azul clara simples. Calcei uma sapatilha, e organizei
o restante das minhas coisas e roupas na mala. Passei um perfume ao pegar
ele para guardar, e arrumei o cabelo. Quando Sam voltou, eu já estava pronta
para ir.

— Nossa, já está pronta. Eu demorei porque estava dando um problema


na minha assinatura. — Ele se justificou.

— Sem problemas, Sam. Eu só quero sair logo daqui. — Eu falava de


um jeito frio, e eu sabia que Sam estava confuso pela forma que eu estava
agindo. Segurei na alça da minha mala e fui até a porta.
Novamente dei de cara com a enfermeira Benson quando estava saindo.
Eu a encarei e ela disse em um balbucio de palavras.

— Eu preciso tirar sua pulseira de paciente. — Ela falava com uma


tesoura na mão.

Eu estiquei meu braço a olhando com raiva enquanto ela cortava a


pulseira. Assim que ela cortou disse:

— O hospital Saint Louis agradece a preferência. — Ela deu um sorriso


forçado.

— Pena que não posso agradecer a estadia. — A encarei por mais um


tempo e saí pelo corredor arrastando minha mala ao andar com pressa.

Os momentos horrorosos que passei ali jamais sairiam da minha mente,


mas quanto mais rápido eu saísse dali de dentro mais rápido eu iria me sentir
aliviada e poderia abandonar esse trauma de alguma forma. Sam pegou
minha mala quando chegamos no lado de fora e levou até seu carro a
carregando. Entrei no carro e me sentei no banco da frente esperando meu
primo entrar. Olhei para a fachada do hospital e dei um suspiro aliviada. Eu
estava decidida a não contar para Sam o que havia acontecido, não queria
ficar revivendo aquele momento traumático, iria guardar aquilo para mim e
seguir em frente.

Ele entrou no carro, e eu fiquei calada. Sam começou a dirigir, mas


ficava me olhando a todo momento esperando que eu falasse alguma coisa.
Como eu não falei nada ele não resistiu e perguntou:

— Char, você quer me falar sobre o que aconteceu? Eu nunca vi você


agir desse jeito.

— Não. Eu não quero conversar sobre isso, não me leve a mal, não é
nada com você, mas eu prefiro não tocar nesse assunto. — Fui firme ao falar.

— Mas... — Sam tentou insistir no assunto, então eu o olhei e disse:

— Samuel, por favor! — Eu raramente o chamava pelo nome dele.


Sempre o tratei por apelido, as poucas vezes que o chamei pelo nome era
porque algo bem sério havia acontecido.

Ele não falou mais nada depois da maneira que eu o tratei, e continuou a
dirigir. Ele sabia que algo ruim tinha acontecido por isso estava preocupado,
mas creio que por conta da maneira que falei com ele, Sam não iria mais
insistir. Ele não conseguia ficar calado muito tempo, então começou a puxar
assunto comigo.

— Hoje vai ter um jantar lá em casa. — Ele falou como quem não queria
nada.

— Jantar? — Olhei para ele ao perguntar.

— É, o vô Stuart decidiu que seria bom oferecer um jantar para a família


e amigos. — Ele me contou enquanto mantinha seus olhos na estrada.

Imaginei que meu avô tinha conhecimento da inseminação e talvez esse


jantar era para comemorar, já que eu conceber significava mais dinheiro para
ele.

— Mal ganhou dinheiro e já está gastando tudo novamente, depois quero


ver com quem ele vai me casar para conseguir mais. — Falei em um tom
bem irônico e meu primo me olhou com pesar.

Quando ele falou de jantar me lembrei que havia marcado de me


encontrar na lanchonete com Brandon.

— Merda! — Eu falei.

Olhei no meu celular e havia várias mensagens de Brandon questionando


onde eu estava. Sam me olhou sem entender, era muito raro eu xingar e hoje
eu estava tendo atitudes completamente atípicas e presumi que Sam estava
super perdido com essa minha nova versão.

— O que foi? — Ele me perguntou.

— Preciso que você pare no Dinner's Judy.


— Sério? Não quer esperar para comer em casa? Você dizia que estava
morrendo de saudade da comida da Janet quando estava no hospital. — Ele
questionou.

— Não, eu preciso estar lá. Tenho um compromisso, não é pela


comida. — Falei para ele.

Sam não quis me perguntar sobre o que era, acho que ele estava
assustado comigo hoje. Ele deu de ombros, e me levou para lá. Como era
caminho logo havíamos chegado.

— Eu vou te esperar aqui no carro. — Sam falou.

— Pode ser que eu demore um pouco. — O alertei.

— Sem problemas, Char. Hoje é minha folga e estou aqui para o que
você precisar. — Ele sorriu e eu correspondi o sorriso.

Depois de nós combinarmos que ele me esperaria, eu desci com pressa


do carro na esperança que Brandon ainda estivesse lá. Afinal, eu não tinha
avisado ele nem nada.

Ao entrar vi que Brandon estava ao fundo do restaurante, sentado,


balançando sua perna demonstrando ansiedade. Ele olhou seu celular e
pareceu irritado após olha-lo. Andei com pressa até ele e disse:

— Oi, desculpa a demora. — Me sentei na cadeira que estava de frente


para a dele na mesa.

— Demora? Isso foi mais que demora! Eu já estava quase me levantando


para sair daqui e ir embora. Pensei que você havia me dado um bolo! — Ele
falou nervoso.

— Desculpe, mas não foi minha culpa eu tive uns problemas no hospital.

— Problemas? Que problemas? — Ele me perguntou curioso.

— Nada grave. — Era muito grave, isso sim, mas eu não ia comentar
sobre isso nem com Sam que eu confiava, imagine só com o Brandon.
— Poderia pelo menos ter me avisado, estamos na era do celular caso
você não saiba. — Ele disse com sarcasmo.

— Eu vou te compensar de alguma forma, me desculpe. — Me desculpei


novamente em um ato cansado. Brandon adorava que bajulassem ele, e
como eu precisava dele decidi que agir assim era mais fácil do que discutir.

— Tá certo, vamos lá, o que você quer saber sobre o contrato? — Ele foi
direto.

Assim que ele perguntou sobre o contrato eu me entristeci. Em uma


simples conversa pelo telefone, Brandon tinha percebido que eu realmente
não sabia nada sobre o contrato, enquanto Jeff, mesmo eu implorando e
dizendo com todas as letras que eu não sabia sobre o conteúdo do contrato
não se importou e continuou a acreditar que eu era uma mulher traiçoeira e
golpista.

Eu tinha começado a entender o contrato. A gravidez era o grande golpe


dele pelo que eu entendi. Eu senti um nó na garganta e uma vontade de
chorar enorme, mas eu precisava conter minhas emoções. Para minha
felicidade, e para me distrair um pouco disso a garçonete chegou e disse:

— Vão querer alguma coisa? — Ela estava sorridente e Brandon a olhou


dos pés à cabeça com um sorriso em seus lábios.

Eu balancei minha cabeça negativamente diante da atitude de Brandon.


Ele parecia ser um cafajeste de primeira.

— Eu vou querer uma soda limonada, o sanduíche da casa, e saber a hora


que você sai. — Ele deu uma piscadinha para garçonete que deu um sorriso
demonstrando estar incomodada com a situação.

— Brandon, por favor! Tenha modos. — Eu chamei a atenção dele e o


olhei com cara de nojo.

— Ah, que foi? Tá com ciúmes? Só estou brincando com a moça... —


Ele deu uma risada debochada.
— Não seja ridículo! Eu vou querer um suco de laranja e fritas com
queijo. — Eu estava cansada de comer a comida do hospital e queria algo
diferente.

A garçonete que estava bem constrangida, graças a Brandon, anotou o


pedido e saiu com pressa. Brandon tinha um sorriso sacana em seu rosto, e
me olhou novamente. Ele apoiou seu cotovelo na mesa e a mão no queixo, e
depois ele disse:

— E então, o contrato....

— Está tão óbvia assim minhas intenções de saber o quanto antes sobre
esse contrato? — Perguntei para ele.

— Ah com certeza, o modo como você entrou e pelos seus olhos dá pra
ver que você aparentemente não sabe no que se meteu. — Ele ria de mim.

Brandon me irritava profundamente, e eu já tinha começado a desvendar


o contrato, porém, a ajuda dele seria boa para que eu conseguisse
compreende-lo mais, então eu teria que atura-lo mais um pouco.
Investigando o passado
Narração - Charlotte Staton

Eu fiquei olhando para Brandon esperando que ele me falasse logo o


que ele sabia sobre o contrato, mas, quando ele ia começar a falar nossa
refeição chegou. Agora quem nos serviu era um homem que olhava para
Brandon censurando-o com os olhos, eu dei um sorriso ao ver a cena.
Brandon não sabia onde se enfiar de tão sem graça que ficou pela forma que
o homem o olhava.

A julgar pela idade dele, ele deveria ser o pai da moça e com certeza ela
deve ter reclamado das investidas que Brandon havia dado. Eu peguei um
pouco da minha batata e enrolei no queijo que tinha por cima, dei uma
mordida e fiquei observando a cena com um sorriso no rosto, aquilo era um
bom entretenimento. Afinal, parecia que Brandon só se intimidava e
respeitava alguém quando um homem estava por perto. Um verdadeiro
covarde.

— Bom apetite! Não quer saber a hora que eu saio, rapaz? — O homem
falou para nós ainda encarando Brandon.
Eu tive que segurar para não cair na gargalhada depois do que o homem
falou.

— Obrigada, senhor. — Eu dei um sorriso largo para ele ao agradece-lo.

Brandon nem se quer conseguiu responder, diante disso o homem saiu


dali fazendo com que Brandon relaxasse um pouco mais. Ele deu um gole
em sua bebida, limpou sua garganta e disse:

— Eu tenho um palpite. — Eu olhei para ele tirando o sorriso do meu


rosto ao perceber que ele estava se referindo ao contrato.

— Que palpite? — Perguntei com curiosidade e até me inclinei para


frente.

— Eu acho que seu contrato tem algo a ver com você engravidar para
que consiga o restante do valor combinado, ou então ações na empresa. —
Brandon falou como se tivesse me revelando algo inédito.

Respirei fundo pois isso eu já tinha descoberto, e da pior forma possível.


Aparentemente ele não sabia do teor completo do meu contrato como eu
pensei que ele pudesse saber. Tanto que ele estava dando um palpite, por
mais que fosse certeiro, não me ajudava tanto.

— O meu contrato não é o mesmo que o seu? — Perguntei a ele.

— Podem ter coisas parecidas, mas eu confesso que não li as cláusulas


todas com cuidado. Eu cresci com Adélia, sei que ela não iria aprontar
comigo. Te julguei secretamente por você não ter lido o contrato, se é que
não leu mesmo... Porque você não conhece os Staton, já eu os conheço desde
que eu era um garoto. — Ele falou e deu uma mordida no seu sanduíche.

Eu não liguei para a desconfiança dele porque eu não ligava para o que
Brandon pensava ao meu respeito. Enquanto ele mastigava eu pensei que
talvez ele não fosse completamente inútil para mim naquele momento, se ele
cresceu com os Staton ele saberia muita coisa. Pelo que ele falou na segunda
vez que dançamos juntos sobre eu não ser digna do Jeff, e ainda ter
mencionado a moça da foto, ele provavelmente saberia me dizer mais a
respeito dela.
— Brandon, quando a gente se conheceu, na verdade no nosso segundo
encontro, enquanto dançávamos e você me ofendia, lembra? — Aproveitei
para alfineta-lo.

— Eu estava só te provocando, não leve para o lado pessoal. — Ele


tentou se justificar, mas falava com naturalidade.

— Que seja. — Demonstrei que não me importava as justificativas


dele. — Você falou sobre um porta-retratos que há ao lado da minha cama,
no meu quarto, que tem uma mulher nele ao lado de Jeff... Você conhece
essa mulher? — Perguntei para ele.

— Mas é claro que eu conheço, além de ser a ex-namorada de Jeff, nós


crescemos juntos também. — Ele falou como se fosse óbvio. Mas logo deu
um sorriso debochado e disse: — Qual seu objetivo ao querer saber da
Elizabeth?

Elizabeth... Esse era o nome da mulher que tinha o coração de Jeff.


Como eu vi que Brandon debochava de mim eu respondi no mesmo tom
zombando dele:

— Eu quero conhecer a ex-namorada do meu marido, para ter um date


com ela! — Eu falei ironizando. — Qual você acha que é meu objetivo!? —
Eu perguntei com um pouco de raiva, pois, se eu estava perguntando sobre
ela, era mais que óbvio que eu queria saber mais a respeito da história entre
meu marido e ela.

— Ah entendi, você quer conquistar o Jeff. Ousada você, hein!? Mas eu


vou te ajudar a conquistar aquele coração duro dele, e roubar ele da
Elizabeth de uma vez por todas. Puramente porque gosto de ver o caos. —
Ele deu uma risada ao falar.

— Não, eu dispenso essa ajuda. Você está equivocado, não quero


conquistar o Jeff. Eu quero saber os pontos fracos dele e sei que um deles
pode estar relacionado a Elizabeth. — Eu falei com desdém ao mencionar o
nome dela.

— Você é bem intrigante, Charlotte, não dá para saber o que esperar de


você.
— Eu sabendo os pontos fracos de Jeff, eu posso me proteger e ter
alguma moeda de troca, esse é meu objetivo, não tem nada de intrigante.
Estou apenas sendo prática para conseguir sobreviver a esse casamento por
contrato. — Eu expliquei para ele.

Brandon acenou com a cabeça e parecia querer falar algo mas estava
com sua boca ainda cheia. Eu aproveitei, peguei um pouco da minha batata
com queijo e comi. Então, após engolir sua comida Brandon falou:

— Se você se sente tão presa a esse contrato, por que você o aceitou? Era
melhor não ter assinado se era para ficar desse jeito depois. — Ele falou para
mim e senti um tom de reprovação em sua voz.

— As coisas não são tão simples assim, Brandon. Eu não tive escolha, eu
fui obrigada a assinar aquele contrato. Meu avô me obrigou e disse que era
minha obrigação para salvar a família da falência. Eu tentei recusar, mas foi
inútil... — Expliquei para ele de maneira resumida.

— Nossa... Eu nem se quer fazia ideia disso, eu sinto muito Charlotte. E


me perdoe pelas minhas inconveniências e brincadeiras provocativas, não foi
minha intenção... Na verdade foi, eu queria alfineta-la pois pensei que você
era uma interesseira, ou uma golpista qualquer. Mas agora, vejo que eu me
enganei. — Ele disse sem graça.

— Sim, estava totalmente enganado. Talvez com isso você aprenda a ser
uma pessoa mais agradável, não é difícil. E garanto a você que o esforço é
menor do que quando você é desagradável... — Eu o provoquei.

— Ok, ok, eu mereço. — Ele deu um sorriso e eu correspondi.

— Voltando ao assunto... Como Jeff e Elizabeth se conheceram? —


Perguntei ainda tentando investigar sobre o passado do meu marido.

— Isso eu não sei bem responder a você, e também não sei como foi o
desenrolar da história para os dois se envolverem. Só sei que todos nós
crescemos juntos. Depois de adultos, na verdade na adolescência, o Jay-jay
se afastou de mim. A realidade é que acho que ele viu a pessoa que eu estava
me tornando e achou prudente se afastar, não o julgo, meu caráter é meio
duvidoso e eu assumo isso sem problemas. Não sou hipócrita. Tanto que me
ofereceram para assinar o contrato justamente por isso... Um homem íntegro
não o faria. Os Staton sim que são hipócritas de fingirem serem boas pessoas
e mesmo assim criarem esse contrato. — Brandon se explicou.

Quando ele mencionou Jeff como Jay-Jay, isso me chamou atenção. Ele
conviveu nessa época com Jeff. Será que Jeff tinha me mencionado para ele
alguma vez? Foco! Eu precisava ter foco e não deixar a emoção tomar conta
de mim, precisava me conter.

— Hum entendi... — Eu falei me referindo sobre o que ele tinha falado


em relação a Jeff e Elizabeth. — Então você não tem tantas informações
sobre o relacionamento deles? — Eu ainda queria saber mais. Afinal, quanto
mais informações eu tivesse a respeito do meu marido, melhor seria para
mim.

— Não, eu não convivi tanto quando eles se relacionavam, era mais em


jantares, e ocasiões mais formais. Mas uma coisa eu posso te dizer: Elizabeth
parece ser a esposa perfeita para conquistar o coração de Jeff, ele parecia ser
muito apaixonado por ela. Tanto que me surpreendeu o casamento de vocês.
Deve ser porque ela não aceitaria o contrato, porque é muito baixo alguém
praticamente alugar sua barriga a troco de dinheiro— Ele falou rindo, mas
viu que eu estava olhando para ele com um semblante sério.

Por mais que fosse contra minha vontade, eu tinha assinado aquele
contrato. Brandon então tirou o sorrisinho torpe que tinha em seus lábios e
continuou a falar. Ele até tentou consertar o que havia falado.

— Não sei, talvez ela até aceitaria né? Vai saber, talvez não foi oferecido
essa opção para ela, enfim, o que eu posso te dizer é que ela é a mulher
perfeita e ideal para ele... Isso é inegável. — Ele finalizou e voltou a comer
seu sanduíche.

Quando Brandon disse essas palavras sobre o quão Elizabeth parecia ser
perfeita para Jeff, experimentei um sentimento estranho, me senti mal com
aquilo, mas não sei especificar o motivo. Talvez tenha sido um pouco de
ciúmes, mas eu não iria dar espaço para esse tipo de sentimento crescer em
mim, eu estava determinada a explorar minha versão ruim com o Jeff. Ele já
teve bondade demais vinda de mim, e se quer me deu um pouco de
compaixão e empatia de volta.

— Entendi, Brandon. — Falei com um pouco de desdém porque por


mais que meu marido amasse Elizabeth eu achava desnecessário ele ficar
esfregando isso na minha cara.

Quando olhei a hora vi que já estava ficando tarde e pensei em Sam


naquele carro, levantei a mão e novamente a garçonete que havia nos
atendido a princípio retornou, mas dessa vez Brandon não fez contato visual
com ela.

— Em que posso ajudar? — Ela perguntou.

— Eu quero a conta, e por favor traga mais um sanduíche da casa, mas


dessa vez para viagem, e um refrigerante também, por favor. — Eu sorri ao
pedir e ela deu um sorriso gentil para mim de volta.

— Mas, você já vai? — Brandon perguntou.

— Sim, está tarde e não quero problemas com meu marido. — Falei para
ele, e ele apenas assentiu com a cabeça.

A garçonete trouxe a conta e eu paguei dando uma gorjeta generosa a ela


pela inconveniência do Brandon. Peguei o sanduíche, me levantei e estava
pronta para ir embora.

— Obrigada pela ajuda, Brandon.

— Disponha.

Me virei de costas e saí deixando Brandon lá.

∞∞∞
Narração - Brandon Urie

Enquanto eu falava de Elizabeth e Jeff, eu olhava satisfeito para


Charlotte pois vi que ela estava extremamente incomodada pela forma como
eu queria fazer parecer que os dois eram almas gêmeas. Charlotte por mais
que tivesse demonstrando ter adotado uma postura mais imponente
continuava a ser uma ingênua. Quando a vi pedir a conta, e ao pergunta-la se
ela já iria mesmo sendo tão cedo e ela disse que não queria problemas com
Jeff, fez com que um interesse da minha parte despertasse por ela.

Como uma mulher que estava presa a um casamento por contrato contra
sua vontade se mantinha tão leal a um homem que não fazia questão
nenhuma de trata-la com o mínimo de decência na frente das pessoas? Eu
queria me aproximar e saber mais dela, por mais que ela tivesse essa recusa
se tratando de mim. Fiquei observando-a enquanto ela saia da lanchonete
segurando aquela sacola com o lanche.

— Pobre Charlotte, mal sabe que provavelmente ela é a única que


acredita no amor de Jeff por Elizabeth, ele jamais poderia ama-la porque Jeff
é incapaz de sentir amor. Ele verdadeiramente não conhece o amor. — Falei
para mim mesmo e dei uma risada.
Esquecendo a passividade
Narração - Charlotte Staton

Saí com pressa da lanchonete por conta da hora. Já estava bem tarde e o
coitadinho do Sam estava me esperando ali. Eu sei que tinha sido péssima
com ele e resolvi me redimir, ele não tinha culpa de nada que aconteceu. Na
verdade, ele só estava no lugar errado e na hora errada. Eu havia acabado de
acordar de uma anestesia que foi aplicada para uma inseminação contra
minha vontade, era impossível que meu humor estivesse bom quando eu
retornasse para a realidade. Minha vontade era de acabar com tudo e todos
que estavam a minha volta, e isso, infelizmente acabou respingando em
Sammy.

Eu estava com um pouco de receio dele não estar mais lá me esperando


por conta da minha demora na lanchonete com Brandon. Mas vi que ele
permanecia dentro do carro do outro lado da rua lendo um livro, ele parecia
bem tranquilo. Eu tinha a sorte grande de ter Sam na minha vida, ele era
como se fosse um irmão para mim. Todo amor que meu avô e meu tio não
tinham por mim, ele tinha e isso era reconfortante. Esperei alguns carros
passarem e depois atravessei correndo, dei a volta no carro e dei duas
batidinhas no vidro.
Ao perceber que era eu quem estava batendo no vidro ele destravou a
porta e eu pude entrar. Ele me recebeu com o mesmo sorriso gentil que tinha
para mim.

— Hey... — Eu falei para ele.

— Oi, Char. — Ele manteve seu sorriso ao falar.

— Desculpa a demora, como eu sei que você não comeu há um tempo eu


trouxe o sanduíche que você tanto gosta. — Entreguei a sacola para ele com
o sanduíche e ele deu um sorriso mais largo ao pegar ela e cheirar.

— Hum... Tem cheiro de infância. É incrível como já se passaram tantos


anos e esses sanduíches permanecem com o mesmo cheiro e sabor de quase
20 anos atrás, não é? — Ele falava empolgado.

— Com certeza, é incrível... — Eu olhava ele com pesar, me sentindo


culpada pela forma que tinha o tratado. — Sammy... — Eu falei quase em
um sussurro.

— Sim, Char?

— Me perdoe pela forma que eu o tratei mais cedo, eu estava com raiva
e canalizei ela para você sendo que devia descontar ela em outra pessoa. Eu
ainda não quero falar sobre o motivo que me deixou assim, mas, eu espero
que você me perdoe. — Falei bastante envergonhada para ele.

— Não se preocupe, está tudo bem, sei que deve ter acontecido algo bem
ruim para você ter ficado assim, eu não vou julgá-la por isso e vou respeitar
seu momento. Quando você se sentir bem, você compartilha comigo, ok? —
Ele falou com toda compreensão do mundo.

— Obrigada, Sammy. Por isso eu amo você e o vejo como meu porto
seguro desde que meus pais se foram. — Eu abaixei minha cabeça e me
entristeci ao falar deles.

— Estou aqui para você. — Ele passou a mão no meu ombro tentando
me animar.
Levantei minha cabeça e dei um sorriso fraco para ele.

— Você se importa se eu comer o sanduíche primeiro para depois


irmos? — Ele amava o sanduíche do Dinner's Judy, e sei que para ele era
muito difícil esperar até chegar em casa para comer.

— Imagina, pode comer tranquilo. — Sorri para ele e ele começou a


comer seu sanduíche.

— O que você veio fazer aqui, afinal? Se é que eu posso saber. — Ele
deu um sorrisinho sem graça ao falar com sua boca cheia.

Acho que ele estava traumatizado pelo jeito que eu havia falado com ele
antes. Eu ri na intenção de conforta-lo e disse:

— Eu vim encontrar Brandon.

— Brandon? Aquele mala sem alça que você vive reclamando? Com que
intuito? — Ele perguntou um pouco chocado porque eu falei muito mal do
Brandon para Sam nesses dias que fiquei no hospital quando ele ia me
visitar.

— Ele mesmo. Você lembra que eu te falei que achava que ele poderia
saber mais sobre o contrato porque aceitou assinar um também?

— Sei... — Ele falou tomando um gole do seu refrigerante.

— Então! Na verdade, ele está sabendo praticamente o mesmo que eu,


então não ajudou muito. Mas eu soube detalhes da mulher misteriosa do
porta-retratos que está ao lado da minha cama. — Eu falei revirando meus
olhos.

— Sério? O que você descobriu? — Sam perguntou curioso.

— Como eu suspeitava ela é a ex-namorada do Jeff,e pelo visto, como se


não bastasse ser somente ex, ela é o grande amor da vida dele, a verdadeira
dona do coração dele. — Eu falei enquanto fazia careta e fazia uma voz de
deboche.
O deboche foi tanto que arrancou boas risadas de Sam e inevitavelmente
comecei a rir também. Ele havia finalizado seu sanduíche e limpou suas
mãos e boca nos guardanapos. Ao terminar ele deu partida no carro e nós
seguimos para minha casa.

— Sabe o que eu estava pensando? — Eu falei.

— Ah, se eu soubesse invadiria vários lugares desse lindo cérebro. —


Ele riu pelo que falou e eu também.

— Então, acho que vou na casa do nosso avô para o jantar.

— Sério!? — Ele deu um sorriso largo e ficou animado com o que eu


havia falado.

— Sim, acho que só vou passar lá em casa para trocar de roupa. — Falei
para ele dando um sorriso.

— Quer que eu te espere e nós vamos juntos? — Ele falou.

— Não, Sammy, eu já abusei demais de você hoje. Você me já me


esperou por um bom tempo enquanto eu estava na lanchonete, então, pode
deixar que eu vou sozinha. — Falei para ele.

— Você não vai... Chamar o Jeff? — Ele perguntou.

Eu fiquei calada por alguns segundos e dei um suspiro.

— Sinceramente não estou com a mínima vontade de chama-lo, não me


interessa ter a presença dele. — Expliquei para Sam.

— Você mudou... Eu te entendo e apoio o que você pensa, mas, acho que
isso não pegaria bem. Vai ter uma boa parte da família Hills lá e você sabe
como eles amam viver de aparência. Além do mais, vão ter vários membros
da alta sociedade. — Ele falava tentando fazer eu mudar de opinião para o
meu próprio bem.

— Hum, então é aquele tipo de jantar que eu odeio. — Me lamentei ao


falar para ele.
— Exatamente. — Ele deu uma risada. — Prometo que ficarei lá para te
salvar das socialites.

Eu gargalhei.

— Meu herói. — Ficamos rindo por alguns momentos e eu considerei se


chamaria ou não Jeff.

Mas, por hora, estava decidida a não chamar. Chegamos em frente a casa
do Jeff, a qual ele deixava bem claro não me pertencer. Sam desceu do carro
e foi pegar minha mala, eu fiquei encarando aquela entrada e respirei fundo,
fechei meus olhos por alguns segundos como se buscasse forças para poder
entrar ali. Sammy abriu a porta para eu descer e me entregou a mala. Ao ver
meu semblante aflito, ele deu um beijo na minha testa e disse:

— Fique tranquila, vai dar tudo certo. — Eu sorri para ele quando ele
falou isso e peguei minha mala.

— Vai sim, acho que meu marido pode ser que nem esteja aqui. — Falei
para ele.

— Tomara. — Ele deu um sorriso cheio de cumplicidade para mim. —


Estou te esperando no jantar. — Sam falou ao dar a volta no carro e ir em
direção ao lado do motorista para entrar.

Eu levantei minha mão e acenei para ele dando um sorriso. Respirei


fundo por mais uma vez e entrei em casa pela porta da frente. Janet estava
logo na entrada e ao me ver ela deu um grande sorriso e ficou eufórica.

— Senhora Staton! Que bom que você retornou! — Ela falou animada.

— Obrigada, Janet! — Vi que ela queria me abraçar, mas era muito


receosa para o fazer. Então, eu fui até ela e a abracei. Enquanto eu a
abraçava me surpreendi com quem eu vi logo atrás dela.

Era Jeff, ele estava me olhando com aquele olhar imponente e as mãos
nos bolsos da calça. Eu olhei para ele e me veio na cabeça que ele havia
deixado fazerem o procedimento em mim contra minha vontade. Senti ódio
dele no mesmo instante. Janet se afastou do abraço e pediu licença de
maneira cordial, levando minha mala para a lavanderia. Jeff e eu ficamos nos
encarando por um momento, nós dois estávamos com o semblante bem
sério.

— Onde você estava que demorou tanto? Eu pedi para fazerem almoço e
você nem se quer apareceu. — Ele falou como se mandasse em mim.

— Eu estava com o Brandon, na lanchonete onde havia marcado com ele


e você havia escutado, lembra? — Falei em um tom provocativo e vi que ele
ficou furioso porque ele apertava sua mandíbula ao me ouvir.

Dei um sorriso cínico e antes que ele pudesse falar algo, caminhei em
direção ao quarto me trocar para ir ao jantar do meu avô. Fui até o closet
escolher uma roupa, e o vestido que Jeff havia pedido para eu usar no dia do
jantar na casa da família dele, estava lá. Optei por usar ele para provocar
Jeff. Coloquei o vestido e eu havia ficado deslumbrante, ousei um pouco na
maquiagem ao colocar um batom vermelho. Fiz babyliss no meu cabelo,
para deixá-los bem chamativos.

Desci de volta para onde meu marido estava na sala, e ele ergueu a
cabeça para me olhar já que estava sentado de cabeça baixa mexendo em seu
celular. Ele ficou por um tempo me olhando e quando percebi que ele iria
questionar, logo me adiantei. Me aproximei dele e aproveitando que ele
estava com o celular na mão, eu peguei o celular da mão dele em um ato
bruto e digitei meu número.

— Quando você quiser saber onde sua esposa está, é só ligar. E antes que
você pergunte eu vou a um jantar na casa do meu avô. Boa noite. — Virei as
costas e fui em direção a porta para sair, deixando Jeff me olhando sem
entender.

Mas antes de abrir a porta eu hesitei, me virei para ele e disse:

— Quer me acompanhar no jantar? — O olhei com um ar de arrogância


enquanto perguntava com desdém.

— Por que você mudou de ideia? Parecia que você tinha a intenção de ir
sozinha... — Ele falou se direcionando a mim e estava me olhando de um
jeito curioso para mim, como nunca havia olhado. Parecia que estava
interessado na minha nova versão.
Mudança radical
Narração - Charlotte Staton

Ao me perguntar se eu havia mudado de ideia, eu senti um ar de


superioridade em meu marido. Por esse motivo, eu precisava manter meu
novo jeito de trata-lo e pensar rápido em uma desculpa já que ele estava
achando que eu fazia questão dele lá, e isso não era verdade.

— Preciso de um parceiro de dança. Mas tudo bem se você não quiser ir,
arranjo outra pessoa, vai ser fácil. — Dito isso, olhei para ele com desprezo,
e saí sem hesitar.

Não fiquei para esperar se ele viria ou não, na verdade eu estava


completamente nem aí para ele, ou pelo menos, era assim que eu iria agir
daqui para frente, para ele perceber que eu não estava dando a mínima para
ele. Acho que por conta do jeito que eu agi, assim que saí, Jeff veio correndo
atrás de mim. Ele estava com as chaves do carro na mão, eu fui até ele e
tomei a chave da mão dele sem me explicar. Ele me olhou confuso, mas não
ousou falar nada, na verdade, eu acho que ele estava assustado com minha
maneira de agir já que ele havia se acostumado com uma Charlotte passiva,
boazinha demais e que ele achava que podia fazer qualquer coisa.
Porém, quando dei a volta no carro e fui abrir a porta do motorista, ele
deu um breve sorriso como se estivesse gostando dessa nova maneira de agir
que eu havia adotado. Contudo, os sorrisos de Jeff não iriam mais me
encantar muito menos fazer com que meu coração derretesse como antes
fazendo com que eu só enxergasse coisas boas nele. Antes que eu entrasse
no carro, ele me disse:

— Não estou vestido adequadamente para ir ao jantar, preciso me trocar,


você me espera?

— Seja rápido. — Eu falei friamente.

Jeff assentiu com a cabeça e entrou com pressa dentro da casa, poucos
minutos depois ele já estava na porta novamente bem vestido e perfumado,
pronto para me acompanhar. Porém, eu segui firme em minha nova postura e
demonstrava que pouco me importava com ele. Entramos no carro, e então
segui o trajeto para a casa do meu avô em silêncio, mas, percebi que Jeff não
tirava seus olhos de mim.

Seu olhar era curioso e parecia que pela primeira vez meu marido tinha
bastante interesse em mim. Eu estava sentindo um imenso prazer por conta
dessa situação e a satisfação estava estampada no meu rosto. Era bom estar
no lugar de controle ao invés de ser a controlada da história, foi dolorosa a
forma que tudo acontece para que eu finalmente pudesse acordar e começar
a agir assim, porém, algum proveito da situação eu consegui tirar.

Ao chegarmos no estacionamento da casa do meu avô, percebi que


haviam muitos carros. Senti um frio na barriga pois eu sabia que esses
eventos sempre me causavam um mal estar social imenso. Eu não gostava de
ser tão superficial como aquelas pessoas, principalmente as mulheres que
davam valor apenas em casamento, roupas e joias. Tudo bem fútil. Isso era
tudo que eu não me encaixava de maneira nenhuma, creio que por isso era
tão difícil eu enfrentar esses jantares.

Assim que vi que Jeff iria descer, eu travei as portas. Ele franziu sua testa
e indagou:
— O que você pensa que está fazendo? — Ele falou em um tom grosso
comigo e eu respondi da mesma forma.

— Eu quero falar com você sobre Elizabeth, sua ex. — Eu falei dando
um sorriso sarcástico.

Jeff me olhou com surpresa pois deve ter ficando intrigado sobre como
eu sabia a respeito dela.

— Falar o que sobre ela? — Ele perguntou de maneira sombria.

— Eu sei que ela é seu ponto fraco. — Eu disse com arrogância.

Entretanto, antes que eu pudesse continuar ele me interrompeu dizendo:

— Não faz sentindo algum para mim você falar a respeito dela como está
falando para mim. É uma alegação ridícula dizer que ela é meu ponto
fraco! — Ele falou em protesto.

Enquanto ele estava falando virado de frente para mim, eu vi através do


vidro da janela dele que minha tia-avó, Josephine, uma fofoqueira supérflua
de primeira estava se aproximando. Jeff tentava me explicar que aquilo que
eu falei não fazia sentido, e estava gesticulando muito e ainda por cima
alterando um pouco a voz. Eu precisava reverter aquela situação o quanto
antes, porque senão, a festa inteira iria saber que com poucas semanas de
casada, eu e meu marido não nos suportávamos e estávamos brigando dentro
do carro.

Eu agarrei Jeff pela camisa, e este ato o fez se calar no mesmo momento
porque ele não entendeu por qual motivo eu havia feito aquilo. O puxei para
perto de mim fazendo com que nossos narizes se encostassem, eu senti a
respiração quente dele no meu rosto e isso foi o bastante para fazer com que
meu coração de apaixonada disparasse. Fechei meus olhos, encostei nossos
lábios, e iniciei um beijo. Jeff correspondeu ao meu beijo e colocou a mão na
minha cintura, ele até mesmo me acariciou enquanto nós nos beijávamos.

Pela primeira vez eu pude sentir o gosto e textura da boca dele, além de
suas carícias. Eu ainda estava profundamente magoada com Jeff e manteria
minha postura com ele, mas eu seria hipócrita de dizer que não estava
gostando daquele beijo que era tão intenso e cheio de sentimento, pelo
menos da minha parte. Eu abri meus olhos e vi que minha tia-avó Josephine,
havia se afastado, então, interrompi o beijo. Isso fez com que Jeff ficasse
confuso novamente.

Eu beijei o pescoço dele o que causou um arrepio de imediato nele, e


sujei o colarinho da camisa dele propositalmente com meu batom vermelho.
Me afastei e o encarei, ele fazia a mesma coisa, permanecemos assim e em
silêncio por alguns segundos. Jeff estava com uma expressão estranha ao
olhar para mim, e eu não sabia definir muito bem o que poderia estar se
passando na mente dele, se era algo bom ou ruim. Antes que ele começasse a
reclamar comigo eu me precipitei e disse:

— Eu fiz isso porque minha tia-avó estava se aproximando do carro, e se


ela visse você gesticulando daquele jeito e o ouvisse já que você estava
alterando a voz, ela perceberia que nós estávamos brigando e espalharia isso
para a festa inteira. Como recém casados isso não é algo bom, já que nós
queremos manter as aparências diante de todos por conta do contrato. — Eu
fiz questão de lembra-lo do contrato como ele sempre fazia comigo.

Jeff não conseguiu falar nada e apenas continuou a me olhar. Eu dei um


suspiro cansado e disse:

— É melhor acharem que nós dois somos dois apaixonados, e estávamos


fazendo sexo, do que suspeitarem da verdade, que nós dois nos odiamos.
Depois eu lavo sua camisa já que a borrei de batom. — Falei ao apontar a
mão para o colarinho da camisa dele que eu havia sujado.

— Ok, sem problemas. — Jeff ainda me olhava, mas parecia querer


recuperar sua pose de arrogância e frieza que adotava para interagir comigo.

— Certo. Vamos? — Falei ao destravar as portas e ele apenas assentiu


com a cabeça para me responder.

Retoquei meu batom, e então nós dois descemos do carro. Eu dei a volta
para caminhar junto com ele, e antes que eu pedisse, ele dobrou seu braço
para que eu pudesse encaixar minha mão no vão que se formava. Eu segurei
no braço dele e nós caminhamos até a entrada da casa do meu avô. Ao
chegar lá senti aquele frio na espinha de estar naquela casa novamente, e no
meio de tantas pessoas da minha família que eu sabia que não gostavam de
mim, muito menos faziam questão da minha presença ali. Eu tinha
lembranças maravilhosas naquela casa quando morava lá com meus pais,
depois da morte deles só me lembro do quão a casa parecia não ter espaço
para mim e me provocava tristeza.

Todas as pessoas que estavam presentes na festa nos olharam e ficaram


nos encarando, pareciam nos olhar com admiração, e até mesmo inveja. Por
conta disso ouvi muitos burburinhos. Imediatamente fiquei tímida, vi que os
olhos do meu marido se voltaram para mim e ele parecia intrigado com
minha reação. Minha inconveniente tia-avó foi a primeira a se aproximar de
nós dois, ela tinha um sorriso largo e disse:

— Olhem só! Vejam só esses pombinhos que demoraram tanto a chegar


aqui porque estavam se amando no carro! — Ela falou ao dar uma risadinha
perversa, e logo se afastou após jogar seu veneno que fez alguns darem uma
risadinha.

Jeff deu um sorriso como se estivesse gostando do que ela havia falado,
enquanto eu sentia um rubor tomar conta da minha face pela vergonha que
eu senti quando ela me expôs ao falar daquele jeito. Eu dei um sorriso sem
graça e então meu avô veio até nós. Assim que o vi, fechei meu semblante.
Uma amargura tomou conta de mim ao lembrar que ele me forçou a assinar
um contrato cheio de cláusulas absurdas.

— Charlotte, não esperava ver você por aqui. — Meu avô falou
demonstrando surpresa por eu estar lá.

— Eu decidi vir de última hora, depois que o Sam me falou sobre esse
jantar qual eu não tinha conhecimento. — Aproveitei para alfineta-lo.

Ele apertou seus lábios um contra o outro, e deu um sorriso forçado, ele
não havia gostado nem um pouco da minha provocação, mas gostava de
manter as aparências, afinal era assim que meu o velho Stuart agia sempre.
Ele ignorou o que eu falei, estendeu sua mão, e cumprimentou meu marido.
— Jeff Staton, é um prazer recebe-lo aqui. Seja bem-vindo. — Ele falou
com empolgação ao se direcionar para meu marido porque era muito
interesseiro.

— Obrigado, Senhor Hills. — Jeff respondeu de uma forma bem seca.


Ouso dizer que ele respondeu apenas por obrigação.

Aproveitei a ocasião e disse para meu avô:

— Podemos conversar em particular? — Eu o olhei fixamente.

Meu avô pareceu não ter gostado do meu pedido, mas ele não iria se
opor porque meu marido estava perto e ele precisava manter as aparências.

— Está certo. — Ele falou a contra gosto e foi em direção ao seu


escritório.

— Eu já volto. — Falei olhando para Jeff e dei uma breve apertada em


seu braço. Ele esboçou um sorriso e disse:

— Tudo bem, andarei um pouco pelo ambiente.

Dei um sorriso breve, me afastei dele e fui em direção ao escritório do


meu avô o seguindo. Ao chegar lá ele já estava me esperando atrás de sua
mesa e tinha sua expressão ranzinza como sempre.

— O que você quer? — Ele foi direto ao perguntar.

— Eu quero ver o contrato que o senhor me obrigou a assinar. — Falei


de maneira firme.

∞∞∞

Narração - Jeff Staton


Desde que Charlotte chegou do hospital percebi que ela estava agindo de
um jeito estranho, ela jamais havia agido daquele jeito. Antes seus olhos
sempre estavam tristes e ela parecia buscar a minha aprovação a todo
momento. Agora ela agia como se não ligasse para o que eu penso, muito
menos parecia fazer questão da minha presença. Ela comunicou a mim que
iria ao jantar do avô dela e nem se quer me convidou, mas eu também não
daria meu braço a torcer. Jamais iria me humilhar e pedir para acompanha-la
por mais que eu torcesse para que ela me convidasse para ir com ela.

Para minha satisfação ela hesitou antes de sair e me convidou, eu achei


ótimo isso, sabia que ela não conseguiria sustentar esse ar de superioridade
por muito tempo. Ela era fraca. Mas para minha surpresa, ela novamente
agiu como se não fizesse questão de mim e saiu. Eu não iria deixar que outro
homem a tocasse para dançar, ela era minha mulher. Peguei as chaves do
carro que estavam na pequena mesa próxima a entrada da nossa casa e fui
atrás dela com pressa. Ao nos encontrarmos lá fora, ela veio até mim e
tomou a chave da minha mão. Eu pensei em falar algo, mas me calei, estava
muito curioso pelo jeito que ela estava agindo, mas eu acho que gostava
mais dela desse jeito.

Pedi um tempo para que eu pudesse me trocar já que não estava vestido
adequadamente, e ela aceitou mesmo não parecendo gostar muito da ideia de
ter que me esperar. Eu já havia tomado banho, então, somente troquei minha
roupa o mais rápido possível, arrumei meu cabelo e me perfumei.

Ao chegarmos na casa do avô dela, dentro do estacionamento ela veio


com um papo estranho sobre Elizabeth e aquilo me irritou. Imaginei que
Brandon deve ter falado de Elizabeth para ela. Eu comecei a discutir com ela
e inesperadamente, Charlotte me deu um beijo. Eu não vou negar que eu
gostei. O beijo de Charlotte era intenso e inesquecível, eu só não entendia o
porquê ela estava me beijando. Quando ela parou de me beijar eu fiquei
olhando para ela ainda sem entender o motivo dela ter feito o que fez, muito
menos compreendi porque ela parou tão rápido. Para completar ela me deu
um beijo no pescoço que me fez arrepiar por inteiro.
Ela não permitiu que eu falasse nada e logo foi justificando o motivo por
ela ter feito isso. Depois disso saímos do carro, eu ofereci meu braço a ela e
nós entramos na casa. Ela ficou tímida novamente quando todos voltaram
seu olhar para nós, e eu fiquei intrigado com aquela reação dela. Pensei
comigo mesmo que tipo de pessoa minha esposa era. Percebi que ninguém
esperava que ela fosse ao jantar, então fiquei curioso de saber qual era o
objetivo dela ao ir já que ela falou para o avô que tomou a decisão por conta
própria. Ela saiu de perto de mim e foi conversar com seu avô em particular.
Fiquei observando ela ir, e estava sentindo coisas estranhas em relação a ela.

Comecei a andar pela casa explorando os cômodos onde haviam


convidados. Em cima da lareira me deparei com uma fotografia que tinha
boa parte da família dela. No canto da foto, havia uma menina com o rosto
pela metade. Eu tinha certeza que conhecia aquela garota, mas não
conseguia identificar quem era. O tio de Charlotte, Jacob, se aproximou de
mim e disse me bajulando com um tom empolgado:

— Jeff Staton! Que alegria ter você por aqui! — Presumi que ele iria
falar mais coisas para me bajular e logo eu o interrompi.

— Quem é essa menina na foto? — Apontei ao perguntar. Ele olhou,


apertou seus olhos para ver se reconhecia e depois fez uma expressão
confusa.

— Eu não faço a mínima ideia de quem seja... — Ele respondeu dando


uma risada.

Eu imaginei que aquela menina da foto poderia ser a Charlotte, mas era
extremamente chocante que seu próprio tio não a reconhecesse em uma foto
onde estavam apenas membros da família.

— Não é a Charlotte? — Eu perguntei.

Antes que ele me respondesse, Josephine, a tia-avó de Charlotte se


aproximou de nós e Jacob aproveitou para perguntar:

— Tia Josephine, essa menina que está na foto de família é a Charlotte?


A senhora se aproximou mais, pegou seu pincenê¹ dentro da sua pequena
bolsa, colocou em seu rosto e olhou com estranheza.

— Acho que não querido. Esse foi o dia que passamos na casa de
veraneio da família do meu falecido marido. — Ela falou ao dar um sorriso.

— Impossível ela ter ido, ninguém seria louco de levar aquela pirralha
insuportável, nem mesmo o desatinado do meu irmão. — Ambos deram uma
gargalhada perversa.

Eu olhei para eles os censurando e franzindo minha testa. Jacob de


imediato tirou o sorriso do seu rosto e limpou sua garganta. Ele havia ficado
visivelmente sem graça e como minha expressão estava cada vez pior ao
olha-lo ele disse:

— Com licença, vou recepcionar os convidados que acabam de chegar.


Me acompanha tia Josephine?

— Claro, querido. — Ela respondeu satisfeita, e depois disso ambos


saíram cochichando.

Que criaturas bizarras! Que família mais estranha... Ninguém ali parecia
gostar de Charlotte, exceto seu primo Sam, isso era muito estranho. Fiquei
olhando a foto por alguns instantes tentando identificar aquela garota da foto
que me parecia ser muito familiar.

1. Pincenê, óculos sem haste que se prende ao nariz por meio de uma mola.
Mais confusa ainda
Narração - Charlotte Staton

Assim que falei para meu avô que queria ver o contrato que eu assinei,
ele começou a rir.

— Por que você acha que eu irei te mostrar? Você já viu o suficiente no
dia em que o assinou. — Ele disse com desprezo.

— Pelo contrário, eu não vi nada, o senhor me obrigou a assinar ele e


agora, eu acho que foi uma atitude proposital da sua parte para que eu não
questionasse os absurdos que estavam nele. Como o senhor teve coragem de
fazer eu assinar aquilo? Eu sou sua neta! Sangue do seu sangue! — Eu o
questionei com raiva e estava alterando meu tom ao falar com ele.

— Você baixe seu tom para falar comigo, garota ingrata! Me respeite,
que eu sou seu avô e me respeitar é o mínimo que você deve fazer! — Ele
alterou mais seu tom de voz, me causando medo. — Eu já te falei que eu a
obriguei a fazer isso pelo bem da família!
Eu tinha muitos traumas mal resolvidos com meu avô, ele sempre me
maltratou muito e a voz dele parecia ser como um trovão. Por mais que eu
estivesse determinada a mudar minha postura de passiva e submissa com
todos, eu ficava com medo dele ainda. Porém, eu não queria demonstrar,
entretanto, eu necessitava que ele me mostrasse o contrato a qualquer custo.
Então, para conseguir isso eu acho que deveria chantageá-lo. Pelo jeito que
ele estava agindo, presumi que ele não imaginava que eu havia feito a
inseminação. Sendo assim eu poderia usar isso ao meu favor.

Eu coloquei a mão na minha barriga e fingi estar triste pelo que ele havia
falado.

— E se eu te disser que eu acho que estou grávida? Você me mostraria o


contrato para que eu pudesse ver o conteúdo dele?

Os olhos de meu avô se tornaram mais atentos ao me ouvir falar da


possibilidade de já estar grávida, mas, mesmo assim ele parecia irredutível.

— Se você já está grávida, não há motivo algum para querer ver o


contrato. — Ele permanecia firme ao manter sua decisão.

Acho que eu precisava chantageá-lo mais para conseguir o que eu queria.


Eu comecei a forçar para chorar, ultimamente não era tão difícil fazer com
que lágrimas viessem até meu rosto pois eu vivia uma vida tão miserável, e
era tratada feito um nada que era fácil eu chorar pela atual conjuntura que eu
me encontrava. Sentei no sofá que havia no escritório dele praticamente
desmoronando enquanto eu chorava. Meu avô revirou os olhos e me olhava
com desprezo.

— Qual o motivo desse chororô? — Ele falava como se estivesse


exausto por eu estar chorando daquele jeito.

— Não é nada... — Eu falei com a voz embargada pelo choro, eu


precisava ser o mais convincente possível.

— Fale logo Charlotte, não me deixe perder a paciência com você. —


Meu avô falou nervoso e se sentou em sua poltrona em frente sua mesa.
— Eu estou infeliz dentro do meu casamento. Eu não tenho liberdade
dentro da casa do meu marido onde era para ser um lugar que me trouxesse
felicidade, e também era para ser minha casa! Eu não posso fazer nada lá
sem autorização do Jeff, eu não posso nem ao menos sentir que a casa de
fato é minha... Além do mais foi ele quem provocou meu ferimento que me
deixou tantos dias no hospital — Eu chorava ao falar e olhava para ele que
mantinha um olhar severo para mim. Eu pensei que ao falar do ferimento
talvez ele pudesse se compadecer com isso, porém ele não se importava.

— O que eu posso fazer? Vocês dois são casados, então vocês dois que
resolvam seus problemas matrimoniais, eu não posso me envolver nisso. E
não seja uma menininha chorona e mimada, pare de dar trabalho Charlotte,
você já fez isso a vida inteira. Acho que já basta! Aprenda a viver a dois, e
deixe de lamúrias. Casamento tem suas dificuldades, você tem que saber
enfrenta-las como uma mulher adulta, porque é isso que você é! — Ele
falava com bastante agressividade.

Realmente meu avô não dava a mínima para mim e para meu sofrimento.
Eu ainda arriscaria dizer que ele estava gostando de tudo que eu estava
passando nas mãos de Jeff, e o culpado disso era ele. Portanto, eu precisava
pensar em algo que o fizesse mudar de ideia já que tentar chantageá-lo
emocionalmente não surtia efeito pois claramente ele não tinha nenhum tipo
de sentimento por mim.

— Você não se importa se eu estou sofrendo? Eu estou acabada, vovô.


Não é questão só de viver a dois, eu sou muito maltratada pelo meu marido.
Você não se preocupa com isso? — Eu ainda insistia em uma tentativa
frustrada de fazer com que meu avô se importasse comigo.

— Deixe de fazer drama, Charlotte! Haja paciência, por favor! — Ele


levantou de sua cadeira que havia sentado anteriormente, bateu suas duas
mãos na mesa e soltou o ar pela boca. — Se você não tem mais nada a me
falar eu tenho vários convidados esperando minha presença no jantar!

Ele falava agitado enquanto caminhava em direção a porta. Eu precisava


pensar em outra coisa, e tinha que pensar rápido para que eu conseguisse o
que eu queria.
— ESPERA! — Eu gritei para ele ao me levantar do sofá no momento
em que ele tocou a maçaneta da porta com a intenção de sair do escritório e
voltar para seu estimado jantar.

Ele me olhou com desprezo a princípio, ergueu suas duas sobrancelhas e


me encarou de maneira arrogante.

— Se eu estiver grávida, o senhor pode usar minha gravidez como


moeda de troca para conseguir mais dinheiro dos Staton, já que eles
precisam tanto de um herdeiro. — Assim que eu disse essas palavras meu
avô tirou a mão da maçaneta da porta e me olhou com um sorriso malicioso.

Ele era movido a dinheiro, não interessava o que eu estava passando ou


sofrendo. Apenas o dinheiro importava a ele pelo visto. Então era
exatamente assim que eu iria chantagear meu avô.

— Você tem razão, querida. — Ele falou para mim, mas eu sentia um
sarcasmo em sua voz ao ouvi-lo falar.

Me dava nojo meu avô mudar o tratamento dele por mim por conta do
dinheiro, ele realmente me via como uma mera mercadoria. E pelo visto, o
filho que eu poderia estar gerando também. Eu não via a hora de me ver
completamente livre dele, eu precisava pensar em algo para conseguir isso.
Forcei um sorriso para ele e o olhei com um ar de superioridade.

— Então, deixa eu ver o contrato agora? — Perguntei ao fita-lo.

— Tudo bem. Você me convenceu, vou deixar que você veja o


contrato. — Meu avô falou e caminhou em direção ao cofre dele.

Ele digitou a senha, e tirou de lá os papéis do contrato. Eu caminhei até


próximo a mesa dele e me sentei na cadeira para ver o acordo. Eu estava
ansiosa para finalmente ver aquele acordo, então, meu avô disse:

— Todas essas cláusulas estipuladas no contrato foram os Staton que


quiseram, eu apenas aceitei pelo bem da família. — Ele tentava justificar.

Até parece que era ele quem estava passando pelo inferno. Ele só estava
com as partes boas, enquanto quem estava vivendo a tormenta toda era eu.
Quando ele me entregou a folha eu a peguei com ansiedade e comecei a ler.
Logo de cara vi o absurdo sobre a gravidez e lá estava escrito de forma clara:

"Caso não haja intimidade entre o contratante e a contratada, é exigido


que outros métodos para a concepção do herdeiro sejam aplicados."

Eu comecei a tremer só de ler aquele tamanho absurdo, eu era muito


leiga em assuntos contratuais e tinham algumas cláusulas ali que eu não
estava entendendo absolutamente nada pois pareciam estar incompletas. Mas
uma delas me chamou a atenção, havia algo escrito ali sobre um
investimento conjunto do meu avô e do Jeff em uma empresa que se
chamava "Tec Solutions", parecia ser uma empresa de biotecnologia, que era
minha área.

Eu precisaria de ajuda para investigar mais sobre essa empresa. No


contrato estava descrito que meu avô era um acionista, mas estava tudo
muito confuso. Acho que isso era parte do acordo que deixava Jeff com tanta
raiva. Acho que o aborrecia as ações da empresa que eram exigidas, e
também, sobre a inseminação. O que era realmente muito revoltante.

Meu avô começou a explicar por cima as cláusulas do contrato, depois


que eu falei do dinheiro que ele poderia arrancar dos Staton, ele ficou mais
animado ainda e me explicava as coisas com empolgação. Eu estava
fingindo que estava entendendo tudo que ele estava falando, mas também
não parecia que ele falava coisas que eram congruentes com aquele contrato,
tive a impressão que ele estava querendo me enrolar. Contudo, eu resolvi que
não iria me aprofundar no contrato ali com ele, porque meu avô não era
confiável, e já tinha me dado inúmeras provas sobre isso. Ele era falso
comigo.

Dei um sorriso forçado, e me levantei entregando aqueles papéis para


ele. Meu avô, novamente, os colocou no cofre cuidadosamente. Estava certo
que aquela era a mina de ouro do meu avô, era a forma que ele tinha
encontrado para se reerguer e continuar bancando os luxos dele e de toda a
família, mesmo que para isso precisasse me sacrificar.

— Está satisfeita agora? Podemos voltar para a festa? Tem muitos


convidados me esperando, não é bom que o anfitrião se afaste assim. — Ele
falou de maneira impaciente.

— Estou sim. — Na verdade eu não estava muito satisfeita por não ter
entendido muito bem. — Vamos voltar. — Falei para ele e fui em direção a
porta.

Meu avô adorava manter as aparências, e como sabia que meu marido
estava na festa, ele segurou minha mão quando toquei a maçaneta da porta e
me ofereceu seu braço para que eu segurasse. Santa hipocrisia! Segurei seu
braço a contragosto e adotei um sorriso forçado para fingir que estava tudo
bem, mas a verdade, era que eu não suportava ter contato com meu avô,
depois do que aconteceu comigo, era doloroso saber que ele tinha
conhecimento de tudo aquilo que estava escrito e me sujeitou a algo tão
absurdo. Era revoltante e imperdoável.

Nós saímos juntos do escritório dele, e logo Sammy me avistou. Ele deu
um sorriso largo, mas seu olhar era preocupado. Ele veio até mim, e meu avô
se sentiu até aliviado por saber que não iria mais precisar me acompanhar.
Confesso que foi um grande alívio para mim também me ver livre daquele
sanguessuga. Quando Sam parou na minha frente, eu tirei a minha expressão
social forçada que eu estava anteriormente e soltei o ar pela boca como se eu
tivesse livre de amarras.

Um garçom estava passando com taças de champanhe. Eu peguei uma e


virei de uma vez.

— Vai com calma, prima! Como foi? Você falou com ele sobre o
contrato? Quando você disse que iria vir ao jantar eu logo imaginei que você
daria um jeito de conversar com o vovô a respeito do contrato. Entretanto,
admito que quando vi vocês dois entrando para o escritório dele fiquei com
medo que você caísse em uma armadilha.

— Deu tudo certo, eu vi o contrato, mas não entendi muito bem o que
estava descrito ali. Mas, alguns absurdos que eu esperava que estivessem ali,
realmente estavam. — Eu falei de forma pesarosa, peguei mais uma bebida,
porém não a virei de uma só vez, apenas dei um pequeno gole.

— O que você quer dizer com isso? — Sam me perguntou desconfiado.


Eu acho que já era hora de contar para ele o que havia acontecido.

— Sam, o motivo para eu ter ficado tão nervosa como eu fiquei quando
você me buscou no hospital, foi porque eu fui submetida a uma inseminação
artificial contra minha vontade. — Expliquei para ele.

— COMO É QUE É? — Ele gritou e isso chamou a atenção de todos.

Eu sorri um pouco constrangida para as pessoas que voltaram seus


olhares para nós diante da reação exagerada do Sam, eu o cutuquei e disse:

— Não faça alarde, por favor. Eu não quero que isso vire um espetáculo
para essas víboras que estão aqui e você sabe bem que não gostam de
mim. — Eu peguei no braço de Sam e levei ele para um canto da sala que
estava mais reservado.

Ele estava furioso e sua face estava ruborizada por conta disso.

— Como que isso foi acontecer!? Podemos processar o hospital, você


sabe disso, não sabe? — Ele perguntava em choque, mas estava falando bem
baixo agora, me preservando.

— Descobri agora que isso era cláusula do contrato absurdo que o vov...
Stuart, ele não merece ser chamado de vovô por mim. Eu estou revoltada
com o teor do contrato, e mais revoltada ainda de saber que ele tinha
conhecimento dessa inseminação e mesmo assim me obrigou para assinar
aquele contrato horroroso. Meu marido me obrigou a fazer essa inseminação
e dizia que eu sabia o que iria acontecer, e não era para eu resistir. Foi uma
das coisas mais traumáticas que aconteceram na minha vida, eu não podia
acreditar que aquilo estava acontecendo comigo... Eu gritava por repetidas
vezes que não sabia o que ele estava falando, mas, mesmo assim Jeff
cruelmente me levou para aquela sala, me arrastando, e disse que poderiam
me amarrar, até mesmo anestesiar para que fizessem o procedimento e foi
exatamente isso que fizeram. Me doparam para fazer um procedimento
contra minha vontade. — Eu senti um nó em minha garganta se formar ao
me lembrar daqueles momentos de terror que eu havia passado. — Alguns
funcionários daquele hospital foram cúmplices do que estava sendo feito, e
além de tudo me trataram mal. Por isso tratei a enfermeira que foi me dar
alta daquela forma... — Eu expliquei mais ou menos o ocorrido para Sam
que ouvia tudo de forma atenta e com indignação.

— Minha prima, Char... Eu sinto muito por você ter passado por isso. Eu
nem imagino a dor que você deve estar sentindo de ter sido violada dessa
maneira. — Ele se lamentava e pude ver lágrimas em seus olhos.

Peguei a mão de Sam e dei um sorriso fraco.

— Fique tranquilo, passou, e foi algo que me fortaleceu... Eu espero que


não tenha dado certo, mas, se der eu estou preparada para enfrentar o que
acontecer. — Eu falei com determinação.

— É por isso que você mudou com o Jeff. — Ele fez uma expressão ao
me olhar como se tivesse resolvido um mistério.

— Sim, exatamente por esse motivo que mudei com ele, e pretendo
seguir assim. Ele me magoou profundamente. — Eu falei com rancor.

— Claro, não é para menos. — Sam falou nervoso ao balançar sua


cabeça de um lado para o outro com raiva pelo que passei.

Ele me abraçou, e eu o abracei de volta. Encostei meu queixo no ombro


dele, e fechei meus olhos enquanto me sentia acolhida naquele abraço
fraterno e cheio de amor. Ouvi alguém pigarrear, quando abri os olhos vi que
se tratava de Jeff.

Ele estava nos olhando e parecia me advertir com os olhos. Mas, agora,
eu já não me importava mais com o que ele pensava ou achava, eu estava
magoada demais para isso. Me afastei vagarosamente do abraço que dava em
meu primo e disse:

— Jeff.

Sam se virou e ficou de frente para Jeff. Eu pude ver ele cerrando seus
punhos, mas, eu segurei sua mão para impedi-lo de fazer alguma loucura.
Memórias
Narração - Charlotte Staton

Um clima estranho se instaurou naquele momento. Jeff e Sam ficaram


se encarando durante um tempo. Mesmo sem entender o motivo, Jeff
fuzilava Sam com o olhar e parecia que a qualquer momento os dois iriam se
atacar. Com o intuito de acabar com aquele impasse entre os dois, eu disse:

— Jeff, precisa de alguma coisa? Parecia que você queria falar algo. —
Eu me direcionei ao Jeff enquanto falava.

Meu marido ainda mantinha seus olhos em Sam, e começou a falar


voltando seu olhar para mim vagarosamente.

— Sim... Eu vim te dizer que preciso ir embora, surgiu um imprevisto na


empresa que é urgente e é indispensável minha presença lá. — Ele terminou
de falar e agora já não encarava mais meu primo.

— Tudo bem, pode ir, eu vou ficar mais aqui na festa. Mas, não se
preocupe porque o Sammy me levará para casa mais tarde. — Eu disse ao
dar um sorriso.
Sam olhou para Jeff com um olhar vitorioso, como se tivesse conseguido
o irritar pelo o que eu havia acabado de falar. Jeff me olhou franzindo a testa
e indagou:

— Você não irá acompanhar seu marido? Devo lembra-la... — Eu o


interrompi antes que ele continuasse.

— Não deve me lembrar de nada, Jeff. Eu sei muito bem das minhas
obrigações enquanto sua esposa, não sou uma criança para que você precise
ficar me lembrando, por repetidas e incontáveis vezes, minhas
obrigações! — Eu disse com certa agressividade o que deixou ele
consternado com minha atitude.

Sam ao ver a cena quase cuspiu a bebida que estava em sua boca por
conta do riso que ele precisou conter, ele tinha tanta vontade que eu me
impusesse, e agora vendo que eu fazia isso, estava extremamente satisfeito.

— Desculpe, acho que engasguei. — Sam falou ao ver que estávamos


olhando para ele por causa de sua atitude.

— Tudo bem, Sam, acontece. — Falei em um tom de cumplicidade para


ele porque eu sabia exatamente o porquê ele estava rindo de modo
contido. — Posso te ajudar em algo mais, Jeff? — Perguntei com ironia.

— Não, você já falou o bastante. Não me espere hoje em casa. — Ele


falou com raiva e arrumou seu terno, ele ainda me olhou esperando que eu
falasse mais alguma coisa.

Eu simplesmente o olhei de forma imponente, abri minha pequena bolsa


e dei a chave do carro para ele pega-la. Após isso, estiquei meus dois braços
para o lado ainda segurando a taça, fazendo um gesto para que ele passasse.
Eu estava com um sorriso sarcástico em meus lábios e agora meu olhar havia
se tornado prepotente. Jeff arfou por conta da raiva que o fiz sentir, e saiu
com pisando forte. Enquanto ele ia andando em direção a porta pude ver que
por inúmeras vezes ele olhou para trás observando Sam e eu.

Quando ele desapareceu em meio aos convidados, voltei meu olhar para
Sam e ele estava me olhando com um sorriso grande em seu rosto.
— O que foi? — Dei um sorriso travesso para ele pois eu sabia o que
estava causando aquela atitude nele.

— Você sabe muito bem, bonitinha! O que foi isso? — Ele deu uma
gargalhada demonstrando estar super satisfeito com o que eu havia feito.

— Esse é o novo tratamento que eu estou dando ao Senhor Staton. O


tratamento que ele merece e eu devia ter dado a ele desde o começo... — Eu
falei com certa amargura e dei mais um gole no meu champanhe.

— Você está certa prima, eu não te critico por isso, pelo contrário, você
tem todo meu apoio para continuar fazendo isso com ele. O que ele permitiu
que fizessem com você, foi um ato covarde e desumano, é como se fosse
um... — Ele se aproximou de mim para falar e sussurrou. — Estupro. — Ele
ficou com um semblante triste ao me falar e eu automaticamente me
entristeci também.

— Eu concordo com você, e me senti exatamente assim enquanto eu


gritava para não fazerem nada e mesmo assim fizeram como se minha
palavra não valesse absolutamente nada... — Comecei a ficar bem triste ao
me lembrar disso e algumas lágrimas tomaram conta dos meus olhos.

Sammy me olhou com pesar por ter me lembrado desse momento ruim e
disse querendo consertar as coisas.

— Vamos mudar de assunto, não quero te entristecer mais ainda com um


assunto tão delicado que claramente te deixa magoada, me desculpa por ter
continuado a falar dessa história, é que fiquei tão indignado com isso, mas,
não quero ser o responsável por você reviver esses momentos de terror. —
Ele acariciou meu braço.

Enquanto eu ouvia as palavras dele, acenei minha cabeça positivamente


e coloquei um sorriso em meu rosto. Dei pequenas batidas com a mão no
meu rosto para conter as lágrimas que queriam descer e virei minha cabeça
de um lado para o outro vigorosamente, no intuito de desvencilhar aqueles
pensamentos que tanto me entristeciam.

— Pronto, passou. — Dei um breve sorriso e findei a minha bebida


entregando apenas a taça vazia para a bandeja do garçom que passou ao meu
lado.

— Ótimo! — Sam falou animado. — Estava pensando sobre o contrato,


o vovô Stuart é terrível. Ele é movido apenas a dinheiro, acho que ele seria
capaz de qualquer coisa por lucro. Na verdade, não acho, tenho certeza e
você é a prova disso. Vendida pelos caprichos dele, e além de tudo ele ainda
tem a coragem de dizer que é por conta da família. — Sam falou com raiva.

— Essa conversa de ser pela família pode até ter me enganado no início,
eu ainda com meu coração mole acreditei. Mas, ao ver como ele recuperou
rápido a vida luxuosa e cheia de extravagâncias, eu percebi que nunca teve a
ver com a família, mas sim com o interesse dele em lucrar sempre acima de
qualquer coisa. — Eu falei me lamentando e balançando a cabeça de um
lado para o outro enquanto acompanhava meu avô com o olhar, observando-
o sendo gentil com todos da festa enquanto se vangloriava pela sua recepção.

— Não liga para ele, não compensa você gastar energias com isso. —
Sammy falou tentando me confortar.

— Você tem razão. Ah, eu preciso de sua ajuda para uma coisa. — Falei
para ele me recordando do contrato.

— Qualquer coisa que você precisar, você sabe que pode contar comigo,
Char, ainda mais depois de tudo que você passou. Quero que você conquiste
sua independência o mais rápido possível para que nem Jeff, muito menos
nosso avô, te mantenham em situações que você não merece passar.

— Obrigada primo, sei que sempre posso contar com você. — Sorri para
ele. — Então, no contrato eu vi que havia uma empresa, ela se chama "Tec
Solutions", eu preciso da sua ajuda para investigar ela.

— Esse nome não me é estranho... — Sammy falou com um olhar um


pouco distante como se lembrasse de algo.

— Você já deve ter ouvido Stuart falar dela, segundo o acordo sem ter a
parte da inseminação artificial, lá haviam inúmeras cláusulas falando dessa
tal empresa e aparentemente Jeff e Stuart investiram nessa empresa de
maneira conjunta... Estava escrito lá em uma das cláusulas que li, mas
novamente não entendi muito bem o intuito real. Acho que esse contrato foi
feito justamente com a intenção de causar confusão. — Expliquei para Sam
o que eu pensava.

— Entendi, pode contar comigo que vou te ajudar sim. — Ele falou
empolgado.

— Eu não sei, posso estar enganada, mas algo me diz que tem alguma
coisa errada nesse acordo deles em relação a essa empresa... — Falei com
desconfiança.

— Sério? O que você acha que pode ser? — Sam me perguntou curioso.

— Não sei, não faço a mínima ideia, mas vindo do Stuart eu espero tudo,
e quando penso nisso sinto um aperto em meu coração. — Falei passando a
mão no meu busto como se estivesse angustiada.

— Seja o que for, nós iremos descobrir do que se trata, eu te garanto


isso! — Sam estava convicto ao falar.

Dei um sorriso para ele e em seguida bocejei. Eu estava bem cansada já


que não tinha descansado nem um pouco desde que saí do hospital. Vi
também que a festa estava cheia ainda, e isso seria uma ótima oportunidade
para sair à francesa, e também, ninguém ali fazia muita questão da minha
presença mesmo, então estava tudo conspirando ao meu favor para que eu
fosse embora.

— Sammy, eu quero ir embora, você me leva? — Falei para ele dando


um sorriso.

— Claro, Char. — Ele correspondeu o meu sorriso, deu um último gole


em sua bebida, colocou a taça no aparador que estava ao nosso lado e nós
fomos em direção a saída.

No caminho para casa ficamos conversando sobre banalidades até


chegarmos na casa do meu marido, antes que eu descesse, Sam falou:

— Prima, espera.

— Sim, o que foi? — Olhei para ele com curiosidade.


— Saiba que estou muito orgulhoso pela maneira como você está agindo,
na verdade, reagindo a tudo de ruim que as pessoas fizeram com você
durante tanto tempo. — Ele tinha um grande sorriso ao falar.

— Obrigada primo, eu devo isso a você também. — Dei um abraço nele


e nós nos despedimos.

Esperei ele sair e entrei em casa. Subi direto para o quarto e encontrei o
cômodo vazio. Meu marido não iria dormir comigo hoje, dei um suspiro e
fiquei um pouco deprimida por isso. Era difícil manter minha postura de
mulher forte o tempo inteiro sendo que o que eu realmente desejava era ter
carinho e atenção, do homem que eu amava. Fechei meus olhos por um
momento tentando tirar isso da minha mente, eu precisava manter meu foco
e não recair, cedendo aos encantos do Jeff. Após abrir os olhos e respirar
fundo, fui me trocar para dormir.

∞∞∞

Narração - Jeff Staton

Eu estava perambulando pela sala, agoniado enquanto esperava Charlotte


sair do escritório com seu avô. Eu já estava com aversão daquelas pessoas
que estavam ali, era muito estranho saber que Charlotte veio de uma família
que não gostava dela e instintivamente eu tomei as dores dela. Queria ter
conhecido seus pais, creio que eles deveriam ser amorosos com ela... Ou
não, pelo menos, seu primo Samuel era, mas eu tinha minhas suspeitas a
respeito da relação deles. Meu celular começou a tocar e fui para um
cômodo menos movimentado para atender.

Ligação ON

Jeff Staton: — Staton falando.

Secretária: — Senhor Staton, perdão incomoda-lo, mas a sua presença é


requisitada na empresa.

Jeff Staton: — É indispensável?

Secretária: — Completamente indispensável, senhor. Sinto muito, mas


somente o senhor pode resolver.

Jeff Staton: — Tudo bem, estou a caminho. Obrigado.

Ligação OFF

Saí do cômodo e fui andando em direção ao escritório, na esperança de


encontrar Charlotte, já que ela tinha sumido há um bom tempo para
conversar com seu avô. Ao avista-la de longe vi que ela estava iniciando um
abraço com seu primo. Aquilo me deu nos nervos e rapidamente me dirigi
até eles. Ao chegar eu fiz um pigarreei para ver se eles se tocavam e
paravam de se abraçar. Charlotte falou meu nome com naturalidade, e seu
primo se virou para mim já que ele estava de costas.

Ao me ver, percebi que Sam foi tomado por uma ira instantânea, eu não
entendi o motivo pelo qual ele agiu daquela maneira, mas eu comecei a
encara-lo da mesma forma que ele estava fazendo comigo. Ficamos ali nos
encarando e eu estava prestes a questiona-lo se ele estava com algum
problema, então, Charlotte perguntou se eu precisava de algo. Fui desviando
meu olhar aos poucos do olhar de Samuel, enquanto comunicava à minha
esposa que me chamaram na empresa, e por conta disso, eu precisava ir
embora.

Eu pensei que ela me acompanharia, mas ela disse que o primo a levaria
embora. Isso me deixou com raiva, quem ela pensava que era para decidir se
ia ou não embora!? Ela voltou do hospital mais atrevida e cheia de si, isso
estava me irritando, mas ao mesmo tempo eu gostava. A verdade é que eu
estava tomado por um misto de sentimentos que me faziam ter um interesse
maior nela, e eu não sabia o motivo.

Eu acho que deveria ser mais incisivo, e quando fui lembra-la do


contrato, que era o que eu sempre fazia para lembra-la de ser fiel, ela me
interrompeu, falando de um modo até mesmo agressivo comigo. Aquilo me
deixou irado, fiquei mais nervoso ainda pela forma como o primo dela
estava fazendo chacota de mim, engasgando com a bebida na tentativa de
segurar o riso.

Para não ficar por baixo, eu disse que iria dormir fora. Charlotte me deu
a chave do carro e ainda estendeu os braços me indicando a saída, uma
verdadeira afronta. Eu saí de perto deles para ir embora daquela casa o
quanto antes, mas, eu estava indignado. Eu fiquei olhando para eles até a
porta da casa. Fiquei parado na porta de entrada observando Charlotte, e
nesse momento, ela já não me olhava mais. Eu tive vontade de ficar mais ao
ver ela ao lado do primo, acho que eu estava com... Ciúmes! Não, eu me
negava ter esse sentimento por ela.

Observando-a mais um pouco eu a achei parecida com a peanut¹. Esse


era o apelido carinhoso que eu havia dado para menina que joguei a bola de
beisebol na direção dela, e acabei acertando em seu sanduíche de pasta de
amendoim fazendo com que ela ficasse completamente coberta com aquela
pasta. Mas mesmo assim ela permanecia adorável, aqueles olhos azuis que
ela tinha eram tão penetrantes...

Tão penetrantes quanto os de Charlotte! Sorri ao me lembrar do ocorrido,


e meu sorriso se tornou mais largo ao lembrar de um presente que ela me
deu um tempo depois, porém, eu nunca descobri o nome daquela
garota. Não... Era impossível que ela fosse a peanut, por mais que aquela
menina da foto lembrasse ela também... Não, não, devia ser ela, creio que eu
estava com meu pensamento afetado pela bebida que eu havia tomado, para
cogitar essa possibilidade. Me virei e saí da casa indo em direção ao meu
carro.

1. Peanut, significa amendoim na língua inglesa.


Perseguindo sonhos
Narração - Charlotte Staton

Quando acordei pela manhã, ainda de olhos fechados passei a mão na


cama e percebi que meu marido ainda não havia chegado. Logo depois, eu
tentava me recordar das coisas que eu tinha lido no contrato para
compreende-lo mais. Lá realmente falava sobre uma cláusula de fidelidade,
mas não tinha nada específico sobre dormirmos em quartos separados. Creio
que a intenção de dormirmos no mesmo quarto era puramente para que nós
dois tentássemos ter o bebê que precisávamos conceber como estava descrito
no contrato.

Me levantei da cama e fui em direção a sala de jogos que tinha ao lado


do meu quarto. Eu sabia que ela existia, mas nunca tinha andado por lá. Ao
olhar para meu lado esquerdo percebi que havia uma porta mais estreita e
decidi abri-la, concluí que ali era um dos quartos de hóspedes que haviam na
casa. Ao olhar o quarto bem organizado, e aconchegante, eu decidi que iria
levar minhas coisas para lá. Eu não tinha muitos itens pessoais no quarto de
Jeff, e o pouco que eu tinha comecei a levar para lá. Cheguei no meu quarto
e encarei aquela foto do Jeff junto com Elizabeth, que tanto me assombrava
e fazia com que eu me sentisse uma impostora.
— Agora não vou precisar ficar mais olhando isso. — Falei para mim
mesma aliviada.

Não demorei mais que 10 minutos para fazer minha mudança, mas na
última leva de coisas que eu carregava, Jeff chegou e me olhou com um
olhar confuso, sem entender o motivo pelo qual eu estava segurando minhas
coisas na mão, mas logo seu olhar mudou para um olhar frio e ele começou a
me censurar.

— O que você está fazendo?

— Estou me mudando para o quarto de hóspedes. — Respondi


friamente.

— E por que você está fazendo isso? Esqueceu do contrato? — Ele


perguntou nervoso.

— Não, até porque você não me deixa esquecê-lo. Mas não há nada que
diga que sou obrigada a dormir com você, nós tínhamos que conceber um
bebê e pelo visto esse processo já pode estar acontecendo na minha barriga
devido a inseminação que você me obrigou a fazer, se lembra? — Falei com
raiva e ironia ao me lembrar da inseminação.

— Você sabia muito bem que isso era algo que estava estipulado no
contrato! — Ele falou agressivo.

— Eu já te falei inúmeras vezes que eu não sabia, mas não adianta eu


ficar repetindo sendo que você não quer acreditar, e além do mais, eu não
vou ficar perdendo meu tempo tentando me explicar para você, tô de saco
cheio já. Agora, se me dá licença. — Falei segurando meus últimos objetos e
fui para o meu novo quarto.

Passei por meu marido praticamente esbarrando nele de forma proposital


e entrei no meu quarto batendo a porta. Ao chegar lá dentro dei um sorriso
satisfeito, era muito bom fazer o Jeff sofrer da maneira que eu sofri. Na
verdade, eu nem havia começado a fazer ele sofrer de verdade. O que eu
estava fazendo com ele não chegava nem perto do que ele me fez sofrer.
Agora, faltava apenas um mês e meio para que eu me formasse e eu não
poderia perder isso. Seria minha grande oportunidade de alcançar a
independência de uma vez por todas. Eu estava fazendo aulas remotamente,
mas eu gostaria de voltar à ativa, frequentar presencialmente. E também,
estava pensando a respeito do meu projeto de conclusão de curso, parecia
não se encaixar mais no que eu queria. Eu precisava me encontrar com meu
orientador. Fui até o banheiro do meu mais novo quarto, tomei um banho e
me arrumei para ir para a faculdade.

Eu nunca tinha ido para a faculdade depois de ter me casado com Jeff,
nem ao menos sei se ele tinha conhecimento que eu fazia faculdade já que
ele não prestava muita atenção em mim. Estava vestida e pronta para ir para
a faculdade, peguei meus livros, minha bolsa com meu notebook, e minha
outra bolsa que continha meus itens pessoais. Saí do meu quarto e
inevitavelmente eu tinha que passar pela entrada do quarto onde eu e Jeff
dormíamos antes. Dei uma breve espiada e não o vi lá, fato que achei um
pouco estranho, mas relevei porque talvez ele pudesse estar tomando banho
por mais que eu não estivesse ouvindo barulho do chuveiro ligado.

Desci as escadas e na sala de descanso eu vi Jeff deitado, todo torto no


sofá, parecia estar extremamente desconfortável. A velha Charlotte com
certeza se preocuparia e faria de tudo para ajuda-lo, mas minha nova versão
não iria se importar mais com isso, ele que se virasse, já era bem crescido.
Resolvi ignora-lo completamente, e fui até sala de jantar. Me deparei com a
mesa de café da manhã com uma enorme variedade de alimentos, Janet tinha
mandado os empregados prepararem um verdadeiro banquete e aquilo abriu
meu apetite, porém, eu estava sem tempo.

Fiquei olhando para a mesa com um pouco de pesar e logo Janet saiu da
cozinha e viu a maneira como eu estava olhando para a mesa.

— Senhora Staton? Não vai se sentar para comer? — Ela perguntou ao


dar um sorriso.

— Bem que eu queria Janet, mas, eu estou atrasada para ir a faculdade e


eu preciso encontrar meu orientador. — Falei para ela fazendo uma
expressão triste.
— Não seja por isso, vou colocar seu capuccino em um copo térmico
para manter ele morno como a senhora gosta e colocar sua torrada com
muçarela de búfala que você adora, em um recipiente que seja pequeno e
você possa levar. — Eu abri um sorriso largo quando ela falou.

— Ah, Janet! Você é um anjo em minha vida e realmente conhece tudo


que eu gosto. É uma honra ter você cuidando de mim todos os dias.

— Imagina, Senhora Staton, é um grande prazer para mim. — Ela sorriu


satisfeita e foi fazer o que disse que iria fazer.

Fiquei aguardando na sala de jantar e logo ela apareceu com meu café da
manhã para a viagem. Eu peguei e dei um abraço nela, atitude essa que a
deixava totalmente sem graça, isso sempre acontecia com Janet toda vez que
eu demonstrava afeto por ela. Pelo fato de Jeff ser bem seco, isso não era
habitual lá.

— Tchau Janet, obrigada.

— Tchau senhora, tenha uma boa aula.

Agradeci através de um gesto com minha cabeça e fui em direção a sala


para sair, ao passar novamente por Jeff o olhei, mas, resolvi que iria
continuar a ignora-lo. Por fim, saí de casa, peguei o carro na garagem, dei
partida e dirigi em direção a minha faculdade. Confesso que senti um frio na
barriga pois fazia tempo que eu não ia lá, e era um lugar onde eu amava estar
e me sentia muito livre para ser eu mesma.

Ao chegar na faculdade estacionei meu carro e saí dele. Olhei para o


prédio da faculdade e sorri de maneira satisfatória ao olha-lo. Respirei fundo
e caminhei em direção as escadarias dele para entrar no prédio, e poder ir até
a sala do meu orientador para me encontrar com ele. Bati na porta sala do Sr.
Hollins, que era meu orientador, e ele disse:

— Está aberta, pode entrar.

Assim que ele autorizou minha entrada eu abri a porta e ele mantinha a
cabeça baixa fazendo algumas anotações, ele não tinha visto que era eu.
Então ele disse:
— Em que posso ajud... — Ele ergueu sua cabeça e ao ver que se tratava
de mim, parou de falar. Ele deu um grande sorriso e eu correspondi. —
Charlotte! Nem acredito que você está aqui! Eu achava um grande
desperdício uma das mentes mais brilhantes e dedicadas que já passaram por
essa universidade estar atrás de uma tela de computador assistindo aulas e
tendo seu talento contido! — Ele falava de maneira irreverente ao se levantar
de sua cadeira atrás de sua mesa e vir me cumprimentar.

— Como vai, senhor Hollins? — Eu sorri ao cumprimenta-lo.

— Eu vou muito bem, obrigado. E a senhorita? Fiquei sabendo que se


machucou...

— Senhora agora... Na verdade. — Falei com um pouco de desgosto. —


Sim, me machuquei, mas já está tudo resolvido, e estou pronta para mudar
meu projeto de conclusão de curso. — Falei empolgada.

— O quê!? De jeito nenhum! — Ele falou de forma ríspida e toda a


alegria que estava estampada em sua face havia desaparecido.

— Mas por que não, senhor Hollins? — Eu perguntei um pouco brava já


que o projeto era meu.

— Porque é inconcebível que você consiga mudar seu projeto faltando


apenas 1 mês e meio para que você se forme! — Ele alterou sua voz ao falar
agitado.

— O senhor sabe que existem outros meios para que eu possa fazer o que
eu quero, não é mesmo? — Eu falei em tom ameaçador.

Ele me olhou arfando depois do que eu falei para ele. Meu orientador
sabia muito bem que eu tinha inteligência o suficiente para hackear todo o
sistema da faculdade, e dessa forma burlar todo o processo burocrático para
conseguir colocar o projeto que eu bem entendesse no programa de
conclusão de projetos. Eu não era apenas uma estudante no departamento de
inteligência artificial e biotecnologia, eu era uma excelente hacker, e pode-se
dizer que era difícil haver algum tipo de sistema que me impedisse de
hackear.
— CHARLOTTE HILLS! VOCÊ NÃO OUSE A ME AMEAÇAR
GAROTA! — Ele gritou com raiva e ainda me chamava pelo meu nome de
solteira, acho que ele não tinha se acostumado que eu era uma jovem casada.
Os gritos dele não me assustavam pois isso era bem característico da
personalidade dele.

— Eu só estou expondo os fatos já que você está dificultando minha


nova ideia de projeto. Ideia esta que eu te garanto que virá para inovar, e
facilitar, a vida de milhares de pessoas, e ainda ter um ótimo custo para
comercialização. Estou com essa ideia há algum tempo e acho que agora é a
hora de fazer acontecer! Você sabe que eu tenho competência para isso, e
também sabe que minhas ideias são além de inovadoras, totalmente
singulares. Não desperdice meu talento... — Eu ainda insistia para que ele
deixasse eu mudar meu projeto.

Eu tinha certeza que ele iria gostar da ideia que eu iria propor.

— Um mês e meio, é um tempo apertado demais... — Ele ia continuar a


falar mas foi interrompido por alguém que disse:

— Hollins, não seja ranzinza, deixe a moça apresentar o projeto. Pelo


que ela fala promete abalar a indústria de tecnologia. — O homem que
estava ali na sala e o interrompeu, estava sentado no sofá desde quando eu
cheguei e eu nem havia me dado conta disso.
Ela é poderosa
Narração - Charlotte Staton

Eu fiquei super constrangida ao perceber que tinha uma terceira pessoa


ali dentro da sala conosco. Eu poderia ter exposto partes do meu projeto para
essa pessoa sem querer, se tivesse falado demais, e não era o que eu queria.
Também fiquei com vergonha porque pareceu que eu era uma pessoa
grosseira, por simplesmente ter chegado ali de qualquer jeito e não
cumprimentando aquele homem, sendo que era o mínimo que eu deveria
fazer.

— Desculpe, quando o Senhor Hollins falou que eu poderia entrar, eu


não imaginei que haveria outra pessoa aqui... — Dei um sorriso sem
graça. — Eu volto depois para poder falar com ele. Desculpe novamente por
não o cumprimentar, é porque eu realmente não o vi. Não quero interromper
o assunto entre vocês dois. — Dei um sorriso ainda constrangida e caminhei
até a porta para sair.

— Ei, espera, eu tenho interesse em ouvir sobre seu projeto. — O


estranho falou com empolgação ao caminhar com um sorriso no rosto até
mim.
Eu era muito desconfiada e não sabia porque esse homem que eu nem se
quer sabia o nome estava tão interessado assim no meu projeto. Eu só
pensava que ele poderia ter intenções erradas e querer pegar ele de mim, e
isso eu jamais permitiria pois eu sabia o quão era difícil desenvolver algo
para vir alguém e tomar desse jeito.

Eu o olhava com desconfiança e com uma cara de poucos amigos, o


senhor Hollins ao perceber que eu estava encarando seu amigo dessa
maneira veio até perto de mim, e disse:

— Charlotte, como eu sei que você é bem desconfiada vou te apresentar


meu amigo. Este é o senhor Levi Brown, ele é gerente de uma nova empresa
que tem um grande potencial para alcançar o mercado nacional e
internacional, uma empresa que trabalha na área de tecnologia militar.

Olhei para Levi e estiquei a mão para ele, para cumprimenta-lo com um
aperto de mão. Achei interessante o ramo da empresa dele, pois, tinha a ver
com meu projeto. Era muita coincidência.

— É um prazer conhece-lo, senhor Levi Brown. — Eu sorri para ele com


um sorriso um pouco mais forçado porque ainda não estava convencida das
nobres intenções daquele homem.

— O prazer é meu, senhora...? — Ele perguntou meu nome, mas, já tinha


ouvido meu nome de solteira ser falado pelo Senhor Hollins, eu acho que iria
manter ele, não queria que ele me atribuísse ao Jeff nem a família Staton.

Se ele era realmente um homem do mundo dos negócios provavelmente


ele conheceria os Staton, pois a fama deles os precedia, então, mantive meu
nome de solteira ao me dirigir a ele.

— Hills. Charlotte Hills. — Sorri ao falar.

— É o nome do seu marido ou você quis manter seu nome de


solteira? — Ele perguntou. O homem parecia muito curioso para meu gosto.

— Mantive meu nome de solteira, não quero meu marido levando


crédito pelo meu sucesso. — Eu disse em tom de brincadeira.
Hollins e Levi começaram a rir depois do que eu falei e eu os
acompanhei na gargalhada.

— Linda, inteligente, moderna e divertida. Ótima combinação. — Levi


falou tentando me bajular.

Por mais que eu estivesse ficado envergonhada por conta dos elogios, eu
não demonstrei. Eu não ia ceder por conta de bajulação. Estava determinada
a não falar do meu projeto na frente desse homem desconhecido.

— Eu agradeço os elogios, e sem falsa modéstia eu concordo com você,


mas isso não é o suficiente para me fazer falar do meu projeto que criei com
tanta cautela. — Eu sorria e segurava meu notebook com força como se isso
fosse evitar que meu projeto pulasse dali e caísse em mãos oportunistas.

— Você é bem arrogante, eu gosto disso, isso é característica de


gênios. — Levi falou ainda com um sorriso no rosto mesmo depois de toda
minha hostilidade.

O senhor Hollins vendo a situação fez uma proposta:

— Charlotte, se você falar do seu projeto e Levi se interessar por ele,


esteja certa que eu permitirei que você troque de projeto mesmo estando tão
próximo da formatura. — Ele sorriu de uma maneira maliciosa.

Era minha única chance, porque, se eu hackeasse o sistema da faculdade


eu iria conseguir uma bela expulsão, essa era a verdade, então eu precisava
evitar isso. Mas também eu precisava me prevenir caso a intenção desse tal
Levi, fosse roubar meu projeto, principalmente agora que eu tinha
conhecimento que a empresa que ele era gerente era uma empresa que tinha
a ver com meu projeto.

— Eu topo, porque eu quero muito que esse projeto saia do papel pois eu
sei que há boas chances de fazer coisas incríveis com ele. Porém, eu exijo
que o senhor Brown assine um acordo de confidencialidade para que eu
possa explicar sobre o meu projeto. Ele terá conhecimento, mas não irá
compartilhar sobre ele com ninguém mais que não esteja aqui presente nessa
sala. Em mãos erradas meu projeto pode se tornar uma ameaça, além do
mais, eu quero ter a certeza que esse projeto seguirá sendo meu. — Eu falava
com bastante determinação e isso pareceu animar o senhor Brown.

— Eu topo! — Levi falou empolgado.

— Mas como vamos achar um advogado a essa hora da manhã, para que
faça a assinatura devida do acordo de confidencialidade para que ele tenha
valor jurídico? — O Senhor Hollins perguntou confuso.

Ele era um homem extremamente inteligente, mas as vezes parecia se


perder em sua genialidade e deixava coisas banais e simples de resolver mais
complicadas do que de fato eram. Creio que por ele estar envolvido sempre
em problemas de alta complexidade, Hollins achava que esse também
poderia ser um problema difícil de resolver.

— Professor Hollins, nós estamos em uma universidade onde há


inúmeros doutores em Direito... — Eu expliquei para ele dando um sorriso.

— Oh, é verdade. Vou ligar para a senhorita Margot do departamento de


Direito para pedir que ela venha e faça esses trâmites para nós.

Assim que ele falou, ele já pegou o telefone e ligou. Não demorou muito,
e a senhorita Margot estava lá no escritório, pronta para redigir nosso
contrato de confidencialidade e assina-lo para que ele tivesse valor jurídico
caso uma das partes deixasse de cumprir o combinado. Ela redigiu o contrato
com rapidez, acrescentou as cláusulas necessárias, e a meu pedido colocou a
quebra de sigilo no valor de 500 milhões de dólares, e então disse:

— Está pronto, já assinei como advogada, agora basta que os senhores


assinem e o contrato estará pronto. — Ela sorriu gentilmente.

Acenei com a cabeça e a agradeci, em seguida coloquei minha


assinatura. O senhor Hollins e Levi Brown fizeram o mesmo, ela apenas
conferiu para ver se estava tudo certo e deu um sorriso seguido de um aceno
com a cabeça.

— Qual o valor pelo seu serviço, senhorita Margot? Faço o cheque de


imediato para você. — Eu falei já mexendo em minha bolsa.
— Não custará nada, pode ficar tranquila, é uma cortesia para meu velho
amigo Hollins. — Ela deu duas batidinhas no ombro dele ao falar, ambos
sorriram com cumplicidade um para o outro e ela se retirou da sala.

Assim que ela saiu, Levi esfregou suas mãos uma na outra e disse com
um sorriso largo em seus lábios:

— Pronto, senhora Hills. Estou pronto para ouvir sobre seu incrível
projeto e tenho certeza que não irei me arrepender! É um pressentimento que
tenho, e geralmente meus pressentimentos são bem assertivos. — Ele falou
com empolgação.

Eu ainda estava com receio de falar para ele sobre um projeto tão
delicado. Mas, eu estava segura por conta do contrato de confidencialidade,
sendo assim, eu não tinha o que temer. Caminhei até o sofá que havia na sala
do professor Hollins e me sentei pegando o notebook, o coloquei na pequena
mesa de centro que havia a frente para mostrar meu projeto para os dois.
Ambos vieram e se sentaram à minha frente. Eu fiquei ansiosa pois essa
seria a primeira vez que eu iria revelar sobre meu projeto, por um momento
me senti insegura sobre sua magnitude.

Eu sabia que era, era algo de grande valor, porém eu estava me


autossabotando. Respirei fundo e tentei tirar esses pensamentos da minha
cabeça, eu precisava fingir como se eu estivesse apresentando isso de forma
informal, para Sam por exemplo. Ele, geralmente, não entendia nada do que
eu falava, mas sempre me apoiava independentemente da circunstância.
Balancei minhas mãos ao lado do meu corpo, inspirei e expirei o ar por
algumas vezes, o que fez com que tanto o senhor Hollins como Levi se
entreolhassem sem entender o motivo daquele meu ritual. Por fim, dei um
sorriso e comecei a dizer com confiança:

— Na atual conjuntura do nosso país, com tantos ataques de inimigos e


armas nucleares eu criei um protótipo de um software que é capaz de
decodificar mensagens a respeito de ataques de forças militares inimigas.

Olhei para os dois para ver a expressão deles enquanto eu falava, e só na


minha introdução eles já me olharam com bastante interesse e pareciam
surpresos. Então, por conta disso senti uma grande confiança para continuar
a falar.

— Esse software de decodificação não precisa de nenhuma instalação na


base inimiga, eu consigo fazer tudo isso por ondas de wi-fi que são
transmitidas há mais de 300 mil km de distância. A nossa maior base inimiga
em potencial pela quantidade de armas nucleares, a Rússia, tem apenas 9 mil
km de distância de nós, ou seja, temos uma vantagem ímpar. — Eu falei com
propriedade e demonstrei que sabia exatamente o que estava dizendo. Eles
ficaram chocados com o que eu estava falando.

— Além disso você ainda pode fragmentar esse software e criar uma
rede única de wi-fi praticamente para o mundo inteiro, Charlotte! — Meu
professor falou com grande admiração por conta das múltiplas funções que
meu software tinha.

— Exatamente! E não somente isso, além dessa decodificação conseguir


desvendar as mensagens dos inimigos ela também consegue desarmar armas
nucleares em pré-lançamento, e até mesmo em lançamento, além de mísseis,
foguetes etc. — Eu falava olhando para eles com um sorriso no rosto.

— E você testou esse protótipo? Tudo que você está falando para nós,
realmente é possível? — Levi perguntava perplexo.

— Sim, claro! Foi testado em baixa escala. Contudo os cálculos são


surpreendentemente precisos, tanto em baixa em escala, como em média, e
alta também. A testagem foi feita em baixa escala, mas, se os cálculos são
assertivos e os números possuem congruência mesmo que em escalas
diferentes, a chance do projeto dar certo nas escalas não testadas é de
exatamente... — Eu falei enquanto digitava no meu computador o cálculo da
probabilidade de sucesso.

Assim que atingi o número virei novamente o notebook para eles e


mostrei:

— 98,83% de chance de sucesso. — Uni minhas mãos e aproximei da


minha boca olhando para os dois.
Eles se olhavam atônitos sem conseguir esboçar reações, o que me
causou certa ansiedade. Levi se levantou passou a mão na boca, e a outra
mão levou até sua cintura e começou a andar de um lado para o outro.
Aquilo estava me deixando mais agoniada ainda, até que ele falou:

— Você criou uma verdadeira joia no mundo paramilitar. Compreendo


completamente o contrato de sigilo porque você exigiu, pois você tem algo
inovador e multimilionário, se não multibilionário em suas mãos, Charlotte.
Não me lembro de encontrar ninguém com uma genialidade ímpar tal como
a sua... Conheço alguém com a inteligência bem semelhante, mas creio que
nem mesmo ele seria capaz de criar algo assim. — Ele falava me encarando
e seu tom era sério. — Hollins!

O professor demorou um pouco a voltar a si depois das minhas


informações sobre o projeto. Ele parecia estar incrédulo, e então disse:

— Si-im... — Ele falou gaguejando.

— Se você não aceitar a mudança de projeto dessa moça, você é um


tolo! — Ele riu ao falar e o senhor Hollins também, então ele disse:

— Já está mais que aceito. — Meu orientador olhou para mim com um
sorriso em seu rosto.

Respirei aliviada ao ouvir aquilo e senti uma imensa satisfação de saber


que meu projeto havia sido aprovado e finalmente eu poderia desenvolve-lo.
Levi então disse:

— Charlotte, eu quero comprar o seu projeto através da empresa que


gerencio, meu superior não irá poupar o investimento para ter esse
projeto. — Ele falou convicto.

Assim que ele falou isso eu senti um aperto, eu não queria vender, meu
projeto seria tudo para mim e eu sei que alcançaria grandes coisas com ele.
Fechei meu notebook com rapidez e disse com uma voz firme:

— Meu projeto não está à venda! — Isso causou surpresa tanto em meu
orientador quando em Levi.
— Por que não, Charlotte? — Levi perguntou sem entender arqueando
uma de suas sobrancelhas.

— O motivo de não querer vender é uma particularidade minha e isso já


basta para o senhor saber. — Me levantei juntando minhas coisas. — Eu já
vou indo, consegui o que eu queria, que era a aprovação para meu projeto,
então, não há porque delongarmos essa conversa. Com licença. — Me
despedi cordialmente dos dois apenas acenando minha cabeça e caminhei em
direção a saída da sala do senhor Hollins.

— Charlotte, por favor! — Levi falou agitado ao me ver sair da sala,


porém, eu o ignorei.

Meu projeto ninguém iria comprar.


Quero paz!
Narração - Jeff Staton

Eu tinha passado a noite inteira na empresa resolvendo as pendências


que somente eu poderia resolver. A minha família tinha inúmeras empresas
em vários ramos diferentes, mas, eu gostava mais das empresas da área de
tecnologia porque elas me davam maior rentabilidade, afinal, o mundo hoje,
estava cada vez mais moderno a cada dia que passava. Mas eu gostava não
somente por isso, mas sim porque, tecnologia era a área em que eu havia me
formado então eu gostava bastante de trabalhar nela.

Depois de ter visto que minha esposa havia se mudado para o quarto de
hóspedes, ato esse que me deixou mais irritado do que eu já estava por conta
da privação de sono que eu estava enfrentando, saí do meu quarto com a
mesma roupa que eu havia passado a noite no trabalho e fui até o sofá de
descanso para relaxar um pouco. Me sentei nele e encostei minha cabeça no
encosto dele, mas senti que meu corpo estava caindo para o lado e resolvi
deitar. Eu não iria ficar muito tempo ali, acho que um cochilo breve não iria
me fazer mal. Depois de cochilar brevemente eu tomaria um banho para
relaxar por completo.
— Senhor Staton? — Uma voz calma falava ao tocar em meu ombro,
mas o toque parecia ser com receio.

— Hum... — Resmunguei ao virar o rosto um pouco para o lado e sentir


dor ao fazer isso, acho que eu havia dormido de mal jeito.

— Já passam das 16h00 da tarde... Você não quer ir pra cama para
dormir melhor? — Janet perguntou.

Ao ouvir que horas eram eu me levantei em um pulo, me sentei no sofá


esfregando meus olhos e perguntei:

— Que horas que você disse que são?

— 16h00 da tarde, senhor. — Ela repetiu.

— Caramba... — Me lembrei que Charlotte havia ido se arrumar para


sair, suspeito que seja para faculdade, e eu desci para tirar um breve cochilo
mas acabei dormindo profundamente.

Eu havia percebido há algum tempo que minha esposa fazia aulas


remotas, mas, nunca tinha reparado qual curso ela fazia, e confesso que antes
isso não me interessava. Até porque um curso que permite aulas assim deve
ser um curso fraco. Porém agora algo estava diferente, eu me interessava
mais pelos afazeres dela porque era uma forma de conhece-la melhor.

— Minha esposa já chegou? — Perguntei para Janet ao me levantar


cheio de dores por ter dormido de mal jeito no sofá.

— Ainda não, senhor. — Assim que Janet me respondeu, confesso que


fiquei irritado. Eu queria que ela já estivesse em casa.

Fiquei frustrado por conta disso e me questionei em pensamento: Que


raio de curso era esse que demandava tanta atenção dela, que até esse
momento da tarde ela ainda não tinha chegado? Tentei ignorar esse
pensamento, dei um suspiro e disse:

— Eu irei tomar um banho, por favor, prepare algo para eu comer e


também consiga algum analgésico para aliviar a dor que eu estou sentindo.
— Falei para Janet ao caminhar em direção as escadas para ir até meu
quarto.

— É pra já senhor. — Ela respondeu mesmo eu já estando um pouco


distante dela.

Cheguei em meu quarto e fui direto para o banheiro, liguei a água na


banheira e coloquei alguns sais de banho no intuito de relaxar um pouco e
aliviar a tensão do trabalho noturno associado a horas de sono mal dormidas
no sofá. A banheira encheu, e eu entrei nela. Fiquei na banheira por um
longo tempo, acho que fiquei mais de uma hora ali descansando, era tempo o
suficiente para me fazer lembrar bastante da noite anterior. Do beijo que
Charlotte me deu, da maneira como ela estava me tratando, e é claro...
Daquela garotinha que vi na foto que tanto me lembrou a peanut.

Ontem no trabalho, um funcionário de extrema confiança que era gerente


da minha empresa, chamado Levi estava lá para dar o suporte para resolver
as questões que precisavam ser resolvidas. Eu aproveitei, e pedi para ele em
meio ao trabalho que desse um jeito de investigar sobre a peanut. Afim de
que ele descobrisse quem ela era... Ele disse que iria providenciar isso o
mais rápido possível para mim, mais uma vez. Levi sabia que fazia muitos
anos que eu a procurava, mas não a encontrava. Investigamos há uns anos,
porém, sem sucesso. Saí da banheira, me enxuguei e me vesti com uma
roupa confortável para ficar em casa.

Desci até a sala de jantar e lá estava meu prato com salada e frutos do
mar, bem como eu gostava, posto sob a mesa juntamente com uma taça de
vinho tinto e o analgésico que eu havia pedido para Janet. Primeiro, tomei o
analgésico e a água que estava em um copo, na bandeja, junto com o
remédio. Depois, comi minha refeição e degustei o vinho. Eu ficava
encarando o relógio da sala de jantar enquanto eu comia, e vez ou outra eu
tocava a tela do celular para ver se Charlotte me enviou alguma mensagem,
ou ligou para justificar sua demora. Me lembrei que ela não tinha meu
número, mas... Talvez ela tenha dado um jeito de consegui-lo.

Terminei de comer, e novamente fui para a sala de descanso. Já eram


quase 19h, e eu estava muito irritado pelo fato de Charlotte permanecer na
faculdade, se é que era lá que ela estava mesmo. Enquanto eu caminhava até
a sala, meu celular tocou, olhei para a tela na esperança que pudesse ser
Charlotte, porém, era o Levi. Me sentei no sofá para atende-lo com mais
tranquilidade.

Ligação ON

Jeff: — Levi, como vai?

Levi: — Hey, Jeff. Eu vou bem, e você? Está bem?

Jeff: — Poderia estar melhor. — Falei por conta do fato de Charlotte não
ter chegado até o momento.

Levi: — Eu sinto muito... Talvez você se anime com o que eu vou te falar.
Eu encontrei um verdadeiro gênio na área de tecnologia. Nunca vi projeto
mais incrível igual o que ela criou. — Ele dizia empolgado.

A verdade era que eu não estava com cabeça para assuntos do trabalho
naquele momento. Então nem importei muito.

Jeff: — Eu me animaria caso você tivesse alguma notícia sobre a peanut.


Você conseguiu alguma coisa? — Perguntei com ansiedade.

Levi: — Infelizmente não, amigo. Eu não tenho nenhuma informação


sobre a sua garota amendoim.

Jeff: — Você podia ser um pouco mais eficiente! Você sabe muito bem
que eu a procuro há mais de 10 anos e não tenho nenhuma informação
dela... — Eu falei de maneira mal humorada e ao mesmo tempo me
lamentando.

Levi: — Alto lá! O maior culpado disso é você que passou praticamente
1 ano inteiro ao lado dela e não conseguiu ao menos saber o nome da
garota.

Revirei meus olhos ao ouvir ele falar daquele jeito porque eu sabia que
ele tinha razão. E no momento em que fiz isso Charlotte entrou pela porta,
assim que ela entrou eu decidi que não iria delongar mais a conversa com
Levi, então, eu disse:
Jeff: — Levi, amanhã conversamos mais sobre esse assunto, quando
estivermos na empresa. Tudo bem?

Levi: — Claro, sem problemas. Até amanhã.

Jeff: — Até, boa noite.

Ligação OFF

Minha esposa entrou e caminhou em direção as escadas, parecia que não


iria se justificar sobre sua demora para mim. Eu achei bastante audaciosa
essa atitude dela.

— Onde você estava? E onde você pensa que vai sem justificar sua
ausência até esse horário? — Eu perguntei nervoso e me levantei do sofá.

Ela me olhou com desprezo.

— Você sabia que eu iria para a faculdade. Você não é bobo, ou é? —


Charlotte disse com deboche.

Aquilo me irritou mais do que eu já estava. Caminhei até ela com raiva e
cerrei meus punhos com a intenção de intimida-la. Mas, ela estava mudada,
ela sorriu de um jeito sarcástico e me olhava com o queixo erguido. Eu
fiquei sem ação, confesso que não sabia lidar com essa nova versão da
Charlotte. Ela simplesmente se virou e subiu as escadas me deixando lá
embaixo sozinho e sem justificativa.

∞∞∞
Narração - Charlotte Staton

Depois da proposta ousada de Levi eu saí da sala sem olhar para trás. Fui
até o laboratório de tecnologia e passei o resto do meu dia lá desenvolvendo
cálculos e os pormenores do meu projeto. Eu tinha apenas um mês e meio
para desenvolve-lo e deixa-lo excelente, na verdade, mais que excelente
afinal esse seria o projeto da minha vida.

Eu havia parado somente para poder comer. Eu optava somente por


lanches rápidos para não sair do foco e poder trabalhar com uma mão
somente. Quando dei por mim, estava sozinha no laboratório e já era pouco
mais de 18h00. Eu tinha que voltar para casa, isso poderia gerar
desconfianças por parte de Jeff, não que eu me importasse muito, afinal eu
não estava fazendo nada de errado, mas eu queria pelo menos ter paz.

E talvez, eu já iria enfrentar uma guerra com ele caso ele tivesse tido o
atrevimento de mandar retirarem minhas coisas do quarto de hóspedes para
que eu voltasse a dormir com ele, naquele quarto que parecia ter a cara dele
e da Elizabeth. Saí do laboratório deixando tudo organizado e apaguei as
luzes. Saí do prédio da faculdade e fui em direção ao carro, entrei nele e fui
direto para casa. Cheguei em casa, eu estava super exausta e faminta.

Porém eu estava tão cansada que na verdade só queria tomar um banho e


descansar para acordar bem cedo e retomar o meu projeto. Assim que entrei,
percebi que Jeff estava em uma ligação que ele fez questão de desligar
rapidamente. No momento que ele desligou, veio até mim, e com um tom
autoritário me perguntou onde eu estava até essa hora. Eu achei tão ridícula
aquela cena onde ele achava que ainda podia mandar em mim, que eu o
ironizei sem pestanejar.
Minha ironia foi tamanha que o deixei sem ação. Yes! Vitória para mim,
mais uma vez! Subi as escadas bem devagar devido ao meu cansaço e ao
chegar em meu novo quarto fiquei surpresa por saber que Jeff não havia
mandado tirarem nada de lá, ou seja, ali realmente seria meu refúgio e eu
poderia ter a paz que eu tanto almejava. Mas, eu acho que ele só não havia
mandado ninguém me tirar dali, simplesmente pelo fato de que ele achava
que eu já estava grávida e não fazia sentido nenhum nós dormirmos juntos.

Dei de ombros e olhei minha barriga. Pela primeira vez, após a


inseminação passei a mão em minha barriga e pensei na possibilidade de ter
um bebê crescendo ali dentro de mim. A forma como ele foi colocado dentro
do meu ventre era aterrorizante, mas, ele não teria culpa de nada e no final
das contas ele seria meu filho. Balancei minha cabeça de um lado para o
outro tentando tirar esses pensamentos, pois agora com meu projeto eu sei
que o melhor era não ter um bebê a caminho.

Tirei minha roupa e fui até o banheiro. Olhei para a banheira e decidi que
iria me permitir tomar um banho relaxante, afinal depois de um dia tão
cansativo como o que eu havia tido era minimamente o que eu merecia.
Coloquei bastante espuma e abri o registro para encher a banheira, assim que
estava pronta eu entrei e me deliciei naquele banho. Fiquei ali por alguns
momentos cantarolando com os olhos fechados. Enquanto eu estava de olhos
fechados, eu me lembrei do beijo que eu e Jeff demos na noite anterior.

Mordi meus lábios e passei a mão pelo meu corpo ao lembrar do gosto
da boca dele e da sensação única que aquele beijo me trouxe, mas quase que
de imediato, como se algo me alertasse que aquilo estava errado eu tirei a
mão do meu corpo, abri os olhos e finalizei meu banho o mais rápido
possível:

— Mantenha o foco Charlotte, ele nem se quer merece que você tenha
desejo por ele. — Falei para mim mesma.

Parece que quando eu verbalizava meus pensamentos, eles faziam mais


sentido para mim. Terminei meu banho, me enxuguei e voltei para meu
quarto. Agora que eu estava ali sozinha eu poderia dormir mais à vontade.
Coloquei uma calcinha de renda, e também um top, hoje à noite estava um
pouco mais quente e eu queria ficar bem à vontade.
Assim que me deitei, dei um suspiro pelo cansaço e satisfação de ter
aquela cama enorme só para mim. Mas, fui surpreendida por Jeff entrando
no quarto. Assim que ele entrou me sentei na cama tentando tampar meus
seios, e minha calcinha.

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? EU NÃO ESTOU COM


ROUPAS APROPRIADAS! — Eu gritei ao falar enquanto tentava me
tampar.

Eu estava com raiva e ao mesmo tempo senti uma ansiedade que fazia
meu coração disparar por conta do que ele havia feito.

— Não seja ridícula, somos casados. — Jeff falou.

Ele veio até mim e jogou uma coberta que ele havia trazido em cima de
mim. Ao me cobrir ele parecia estar indiferente a mim. Jeff ligou o ar
condicionado, atitude que achei estranha demais. Ele só dormia com ar
condicionado, mas eu não, então não fazia sentido ele ligar. Quando ele
saísse com certeza eu desligaria. Porém, novamente me surpreendendo
negativamente, Jeff apagou a luz e se deitou do meu lado.

— Mas o quê!? — Eu perguntei indignada.

Eu tinha vindo para aquele quarto justamente para não ter que dormir
junto com ele, por que ele estava ali? E como ele sabia que eu não tinha
coberta para me cobrir? Jeff parecia estar esperando a hora certa para entrar
dentro do meu quarto. Aquilo era estranho, era como se ele soubesse cada
passo que eu havia dado. Ele continuou a me ignorar e apenas disse de
maneira irônica:

— Boa noite, Charlotte.

Eu arfei por conta daquilo, e bati minhas mãos na cama devido a


frustração que eu estava sentindo. Me virei para o lado oposto que ele estava
e fiquei pensando no fato de não conseguir ter liberdade nem ao menos para
poder dormir sozinha, em paz, sem que esse homem estivesse perto de mim
mesmo eu já podendo estar grávida dele. Fiquei perdida nesses pensamentos
até que adormeci.
No meio da noite eu tive um pesadelo, me sentei na cama e tinha minha
respiração ofegante além de sentir minha pele umedecida pelo suor que a
adrenalina do pesadelo me provocou. Eu havia sonhado com meus pais, mais
precisamente com o acidente que os matou. Geralmente eu tinha esses
sonhos terríveis com eles. Por conta da minha reação Jeff acordou, ele
elevou sua cabeça e me questionou com uma voz de sono:

— Está tudo bem? — Ele parecia estar um pouco preocupado.

— Eu... Tive um pesadelo com meus pais. — Respondi com uma voz de
choro.

Para minha surpresa Jeff se sentou ao meu lado na cama e me envolveu


em seus braços me abraçando, eu aceitei o abraço dele e comecei a chorar
baixinho. Ele se deitou e me deitou junto com ele, fazendo com que eu
apoiasse minha cabeça em seu peitoral, e então ficamos abraçados. Jeff deu
um beijo carinhoso em minha cabeça e sussurrou:

— Não fique assim, eu estou aqui com você.

Eu estava com muita raiva dele por tudo que havia acontecido nos
últimos dias, porém, naquele momento eu precisava de aconchego e me
permiti ficar nos braços dele. Ele me acariciou até que eu pegasse no sono
novamente. Logo de manhã, ao ser acordada pelo barulho do meu
despertador, olhei para o lado da cama e para meu alívio Jeff já não estava
mais lá. Dei um sorriso satisfeita e me levantei da cama e caminhei em
direção ao closet.

Quando fui escolher uma roupa para ir a faculdade, percebi que Jeff tinha
trazido algumas de suas roupas para meu quarto. Bati a mão nas roupas dele
que estavam no closet por conta da raiva que eu senti, e disse:

— Que idiota! Esse homem não vai me deixar em paz!? — Soltei o ar


pela boca ao falar devido a raiva que estava sentindo dele.

Porém, me lembrei do que havia acontecido na noite anterior. Será que


foi um sonho? Ou realmente Jeff me acalmou depois do pesadelo que eu
tive. Engoli seco pois se foi real acho que ele poderia pensar que eu estava
me rendendo a ele novamente. Mas, por outro lado, ele quem decidiu me
acariciar e cuidar de mim naquele momento. Um turbilhão de pensamentos
começou a se passar pela minha cabeça, mas logo eles foram interrompidos
pelo meu celular que começou a tocar.

Voltei até minha cama para ver quem era, já que meu celular estava lá. Vi
que era um número desconhecido que estava me ligando, achei estranho
aquilo, quase ninguém me ligava, e geralmente quem me ligava eu tinha o
contato salvo, mas, mesmo assim, resolvi atender para descobrir quem
estava me ligando.

Ligação ON

Charlotte: — Alô?

Desconhecido: — Oi, Charlotte! Que bom falar com você!

Charlotte: — Quem é? — Perguntei intrigada.

Quem poderia ser aquele estranho de voz pouco familiar?

(Continua...)
Mantendo o foco
Narração - Charlotte Staton

Ligação ON

Levi: — Sou eu, Charlotte. O Levi.

Eu não acredito que aquele homem estava me ligando àquela hora da


manhã. Além de ter a audácia de me ligar, parece que ele fazia questão de
ser a primeira pessoa a falar comigo no dia. Percebi que ele estava fazendo
isso para ser lembrado por mim para tentar me convencer a vender o projeto
para ele.

Charlotte: — Como você conseguiu meu número? — Perguntei com uma


voz um pouco nervosa.

Levi: — Eu peguei seu número com o Senhor Hollins. Desculpe pelo o


horário e se pareço ser inconveniente. Mas a questão é que eu não consegui
pregar meus olhos essa noite por conta do seu projeto, é o projeto mais
inspirador que me apresentaram em anos, e olha que para o grupo que eu
trabalho há vários gênios que tentam, pelo menos, fazer com que o projeto
deles seja visto pelo o CEO da empresa... Eu só queria que você me desse
uma oportunidade para te explicar os benefícios que você teria se optasse
por vender o projeto para nós da...

Ligação OFF

Eu não iria ficar ouvindo aquele homem que claramente não sabia o
significado da palavra “não”. Não me interessava a empresa que ele
trabalhava, muito menos o grupo qual ele representava. Era ridículo ele
achar que eu iria vender o projeto para ele, por mais que eu já estivesse
deixado claro que ele não estava à venda! E o Senhor Hollins... Aquele velho
desmiolado iria ouvir umas poucas e boas hoje por ter passado meu telefone
para Levi.

Meu número não era um número comercial, Hollins não podia


simplesmente distribuir de maneira deliberada, as coisas não funcionavam
dessa forma. Respirei fundo e fechei minhas mãos como se buscasse força
interna. Aparentemente, desde a noite anterior, tudo estava conspirando para
que eu ficasse com raiva. Ainda não havia tirado da minha cabeça a situação
com Jeff, muito menos a forma inusitada que ele foi parar lá dentro do meu
quarto.

Parte de mim gostou que ele fizesse questão de dormir comigo, e


cuidasse de mim quando eu tive meu pesadelo. Claramente a parte
apaixonada que tem sempre o coração disparado por causa daquele homem
que tanto me despreza... Mas, a minha parte racional, que está determinada a
fazer meu marido sofrer e mostrar para ele que eu sou dona de mim, por
mais que ele ainda pense que ele quem manda em mim, odiou o que ele fez.
Ele invadiu minha privacidade e não respeitou a minha individualidade,
mesmo que nós fôssemos casados ele não tinha direito de fazer isso.

Levei minhas duas mãos até a lateral da minha cabeça, e deslizei elas sob
meu cabelo em um ato que demonstrava meu cansaço pela situação. Inspirei
o ar e expirei pela boca, repeti essa ação por algumas vezes como se
buscasse um meio de conseguir me tranquilizar. Eu precisava estar com
minha mente tranquila para executar meu projeto com excelência. Eu não
poderia permitir que esses pensamentos tirassem meu foco e atenção do que
realmente importava.

Coloquei uma roupa casual para ir a faculdade, fiz minha rotina de


higiene matinal, me perfumei, e como maquiagem optei por só passar um
batom claro. Olhei no espelho e estava pronta, mesmo com um estilo mais
básico eu não parecia mais ser aquela Charlotte passiva e covarde que há
algum tempo entrou naquela casa.

Peguei minhas coisas para levar para a faculdade e desci, quando fui até
a mesa de café da manhã, Janet gentilmente já havia preparado meu café da
manhã para a viagem. Ela era um doce de pessoa e extremamente atenciosa,
eu a agradeci e saí um pouco apressada. Ao passar pela sala, não vi meu
marido. Deduzi que ele já havia saído para trabalhar. Era melhor assim pois
ainda não sabia muito bem como iria encara-lo depois da demonstração de
afeto que trocamos, porém, eu suspeitava que ele iria fingir que nada havia
acontecido.

Saí de casa, entrei no carro e comecei a dirigir em direção a minha


faculdade. Chegando lá entrei no prédio e já fui direto até a sala do meu
orientador para conversar com ele. Bati na porta e ele permitiu minha
entrada. Quando entrei, eu nem ao menos dei bom dia a ele e já fui falando
com bastante agitação:

— Senhor Hollins por que o senhor passou meu telefone para aquele
homem que estava aqui ontem? — Eu tinha um tom de voz rude ao falar
com ele.

Meu orientador, pacientemente, tirou os óculos do rosto e coçou seus


olhos. Ele colocou seus óculos de volta em seu rosto e voltou a me olhar, ele
entrelaçou seus dedos apoiando suas mãos em cima de sua mesa onde estava
sentado em frente a ela, e disse:

— Eu passei, porque é uma grande oportunidade para você. O Levi nem


mesmo se dá ao trabalho de ouvir alunos que não fazem parte pelo menos do
mestrado, mas você intrigou o homem e ele ficou enlouquecido para saber
do seu projeto, e depois que soube está determinado a comprar ele para a
empresa em que ele trabalha. — Ele insistia em querer me convencer a
negociar com Levi.

— Com todo respeito, senhor, eu já dei minha resposta e eu não mudei


de opinião da noite para o dia, minha resposta permanece sendo não. — Eu o
olhava com raiva pela insistência dele.

Antes que ele falasse mais alguma coisa eu resolvi sair dali, não queria
ter uma discussão intensa logo pela manhã para estragar meu dia, e
consequentemente, me atrapalhar ao desenvolver meu projeto.

— Eu espero que o senhor tenha um bom dia e que tenha ficado claro
para o senhor minha intenção de não vender meu projeto para o Levi e seja
lá quem quer que ele represente. — Virei minhas costas e caminhei em
direção a saída.

Pude ouvir o senhor Hollins resmungar algo, entretanto, como eu estava


distante dele não ouvi muito bem o que ele havia dito. Fui para o refeitório e
comi meu lanche preparado por Janet com rapidez para que eu começasse a
dar seguimento no meu projeto o quanto antes. Ao terminar, fui direto para o
laboratório e comecei a trabalhar no projeto. À medida que eu avançava para
concluí-lo, eu ficava mais calma e quase já nem me lembrava dos
aborrecimentos que eu havia passado desde a noite anterior.

Já era quase a hora do almoço, então, meu orientador entrou no


laboratório como ele costumava fazer para ver o andamento do projeto de
todos seus alunos. Porém, ao chegar na minha bancada, ele demorou mais ao
meu lado e se demonstrou mais interessado no que eu estava fazendo do que
quando passou pela bancada de seus outros alunos. Dei um suspiro e olhei
para ele com um sorriso, e ele correspondeu.

— Desculpa por mais cedo Senhor Hollins, eu fiquei nervosa por outras
coisas que aconteceram comigo e acabei descontando no senhor. — Eu disse
envergonhada.

— Tudo bem, querida. Eu te peço desculpas por ter passado seu telefone
sem ter previamente sua permissão. Não foi certo da minha parte fazer isso.
Eu balancei a cabeça para cima e para baixo demonstrando concordar
com ele ainda com um sorriso em meu rosto.

— Vejo que o senhor está muito interessado no meu projeto. — Eu disse


orgulhosa.

— Ah com certeza, não tem como não se interessar em um projeto dessa


magnitude. — Ele disse com empolgação.

— Que bom! Espero que o senhor me entenda. E quero pedir para o


senhor uma coisa, na verdade fazer um acordo. Não quero que revele meu
nome indicando que sou eu quem fui a responsável por esse projeto até que
eu o termine, isso é possível?

— Sim, claro. Não há problema algum nisso. — O senhor Hollins disse


com tranquilidade, e esticou sua mão para mim a fim de selar o acordo.

Eu apertei a mão dele e nosso acordo foi selado. Ele era uma pessoa
muito correta e confiável, por esse motivo, a palavra dele bastava para mim.
O meu projeto seria minha arma secreta contra o meu avô Stuart e meu
marido, eu iria poder ficar livre de ambos se eu tivesse algo meu que
permitisse ter minha independência financeira. Eu estava determinada a abrir
minha empresa, por esse motivo eu não iria vender meu projeto para lugar
algum. Como percebi que meu orientador queria estar envolvido em meu
projeto, e nós estávamos em um clima de paz, eu resolvi sugerir algo para
ele.

— Olha, eu não me importo que o senhor se envolva no meu projeto,


desde que... — Falei em um tom travesso.

— Lá vem você pedir coisas impossíveis... — Ele se sentou no banco ao


lado do meu e balançou sua cabeça negativamente demonstrando seu
descontentamento.

— Não é impossível, basta o senhor querer! — Eu dizia em um tom


otimista.

— Certo, fale, sou todo ouvidos. — Ele apoiou o cotovelo na mesa e em


seguida colocou sua mão em seu rosto ao me olhar prestando bastante
atenção no que eu tinha a dizer.

— Eu quero o contato da empresa M&W Technology, e também quero


uma carta de recomendação do senhor indicando que sou uma pessoa mais
que competente para atuar de maneira colaborativa para a empresa deles. —
Eu estava esperançosa ao falar.

O senhor Hollins me olhou intrigado e cruzou seus braços.

— Por que isso te interessa?

— A M&W Technology é uma das maiores empresas do país em


tecnologia militar, eu não me importaria de colaborar com ela de alguma
maneira e acho que isso seria muito bom para mim. Com uma carta de
recomendação do senhor, um orientador tão respeitado na área da tecnologia,
com certeza eles iriam querer ao menos saber quem sou eu.

— Já que você quer colaborar com uma empresa de tecnologia, por que
não a empresa do Levi?

Novamente ele insistia naquilo.

— Eu não me interesso por outra empresa a não ser a M&W Technology.


Por isso estou pedindo isso para o senhor, em troca, dou livre acesso para
seu envolvimento no meu projeto... Inclusive com um bônus de me dar
opiniões mesmo quando eu não as quiser. — Falei em tom de brincadeira e
dei uma gargalhada.

Por mais que ele estivesse ranzinza por eu não ter aceitado colaborar
com a empresa do amigo dele, ele não resistiu e começou a rir também. Por
fim, ele deu de ombros e disse:

— Tudo bem, se essas são as condições para que eu consiga livre acesso
ao seu projeto eu o farei. Te darei a carta de recomendação, e o telefone do
presidente da M&W Technology, ele se chama Wilson, e para sua sorte é um
velho conhecido meu. — Ele falou em um tom de soberba e em seguida riu.

Eu dei um sorriso largo ao saber que tinha conseguido o que eu queria e


bati minha mão uma na outra para demonstrar minha animação. Eu tinha um
plano e precisava muito do contato do presidente dessa empresa influente
para conseguir o que eu pretendia.
O gênio misterioso
Narração - Jeff Staton

Pela manhã eu acordei bem cedo, sem despertador. Eu estava dormindo


com Charlotte em meus braços, ela dormiu como um anjo em meio a minhas
carícias, após seu pesadelo. Ela estava tão tranquila que sua boca parecia
formar um sorriso bem delicado. Não resisti e toquei o rosto dela com a
ponta dos dedos, e passei a mão na bochecha dela a acariciando, em seguida
dei um demorado beijo em sua bochecha. Eu estava tendo sentimentos tão
confusos por ela que eu não conseguia entender o que estava acontecendo
comigo. Eu só queria me manter ali e contemplar aquele momento que
estávamos tendo.

Ela se movimentou e eu tirei minha mão de imediato, em seguida me


afastei com cuidado para não acorda-la. Levantei e sentei na cama, passei a
mão pelo meu rosto e dei um suspiro. O que eu estava pensando? Aliás, o
que eu fiz na madrugada? Ao vê-la daquele jeito, desesperada após seu
pesadelo fiquei com muita pena e resolvi cuidar dela, mas acho que não
deveria ter feito isso. Depois daquele beijo parece que eu havia sido
enfeitiçado por ela, eu não poderia ficar cedendo a esse desejo descontrolado
que eu estava sentindo. Me levantei e a olhei mais uma vez antes de sair do
quarto dela. Fui até o meu quarto, e depois andei em direção ao closet para
escolher a roupa que eu usaria, ontem eu não havia ido para a empresa
porque passei a madrugada lá mas hoje eu devia ir, quero acompanhar tudo
na Tec Solutions.

Minha empresa era na área de tecnologia militar e biociência, mas


geralmente, os nomes que usávamos nas empresas Staton não tinham muito
a ver com o verdadeiro propósito da empresa, porque tínhamos que ser
muito discretos. Afinal, nós fornecíamos projetos, equipamentos e outras
coisas para o governo dos EUA, por esse motivo, deveria ser algo bem
sigiloso então nada mais coerente do que ter um nome discreto. Terminei de
me arrumar e desci para a sala de jantar para tomar meu café da manhã.
Estava tudo organizado, vi que Janet estava preparando uma refeição para
viagem, então a questionei:

— Você está preparando essa refeição para quem?

— Para a senhora Staton, ela sai bem cedo e só retorna tarde da


faculdade, e eu tenho minhas suspeitas que ela não se alimenta direito por lá.
Por esse motivo eu faço uma refeição bem reforçada para ela. — Janet me
explicou.

— Entendo. Obrigado, Janet, e continue fazendo isso por favor. Ela


precisa se alimentar bem para não adoecer. — Janet sorriu para mim e
continuou a preparar a refeição da minha esposa. — Ah, antes que eu me
esqueça. Peça para alguém levar algumas roupas do meu closet para o quarto
de hóspedes, a senhora Staton e eu estamos dormindo lá.

— É claro senhor, mandarei alguém fazer isso imediatamente. — Janet


terminou de arrumar o café da manhã da Charlotte e se direcionou a uma
empregada solicitando o que eu havia pedido a ela.

Eu continuei a tomar meu café da manhã, mas quando olhei a hora, me


apressei, eu queria chegar bem cedo na empresa. Ao findar minha refeição
peguei meus pertences para levar para o trabalho e saí de dentro de casa.
Meu carro, como de costume já estava parado na porta para facilitar para
mim. Eu entrei e dirigi em direção à empresa. Chegando dentro do prédio,
no hall, logo de cara encontrei Levi. Ele estava ao telefone, mas parece que
havia finalizado a ligação antes do previsto pois ficou olhando para a tela do
celular com descontentamento.

Ao me ver ele abriu um sorriso e caminhou com pressa até mim.

— Jeff! Nós precisamos conversar, ontem parece que você não estava
tendo um dia bom e não deu importância a respeito do que eu disse sobre o
gênio que descobri. — Ele falou empolgado.

— Ah sim, ontem eu estava de mau humor. — Expliquei para ele.

— Sério? Se você não estivesse me falando agora, eu nem teria


percebido. — Levi disse em tom sarcástico.

Eu revirei meus olhos para ele, e ele deu uma gargalhada. Levi apoiou a
mão no meu ombro, e nós nos direcionamos para o elevador para irmos até
meu escritório. Nós chegamos lá e eu me sentei na minha cadeira, ele se
sentou na cadeira que estava na minha frente, do outro lado da mesa, e se
inclinou um pouco para começar a falar comigo.

— Jeff, você não tem ideia de como esse projeto é incrível! O gênio que
te falei é uma moça que está na equipe de pós-graduação do Hollins. Ela é
tão avançada que concluiu sua formatura há um ano, antes de todos os seus
colegas de classe porque Hollins viu como ela era incrível e já tinha
concluído sua primeira tese praticamente em meados do curso de graduação.
Além disso, ela está perto de concluir sua pós, ela é extremamente dedicada
e tem uma inteligência que eu não via há muito tempo. — Ele dizia
empolgado.

Eu não acreditei muito na genialidade de uma garota que ainda estava na


pós-graduação, tudo bem que ela se graduou antes, mas ainda era um nível
baixo para um gênio. Geralmente os gênios apareciam no mestrado, e
doutorado, por isso eu nem me interessava em projetos de pessoas que
estava na graduação ou pós.

— Hum, acho que você está muito empolgado... Não é possível que uma
aluna de pós-graduação seja tão boa assim como você está falando. — Eu
disse desconfiado.
— Realmente, ela não é só tão boa, a verdade é que ela é melhor do que
eu estou dizendo, e você não está entendendo a dimensão disso tudo. Vou ser
mais claro, sabe a inteligência de desenvolvimento de projetos que sua ex-
namorada Elizabeth tem? — Levi perguntou.

— Sei... Claro que sei, Elizabeth é muito boa nos projetos que faz na
área dela. — Falei para ele como se fosse óbvio.

— Pois então, Elizabeth não chega nem aos pés dessa moça. — Ele
afirmou dando uma batida na mesa por sua empolgação.

Isso seria um feito muito difícil, Elizabeth era uma mulher


inteligentíssima e tinha uma perspicácia incrível para os projetos.

— Impossível... — Eu falei incrédulo. — Qual a idade dessa moça?

— Se eu não me engano ela tem 23 anos.

— Ela devia estar na graduação. — Eu falei espantado pela pouca idade


da moça.

— Exatamente! Foi o que eu te falei, o senhor Hollins achou que seria


desperdício mantê-la na graduação sendo que ela tem um potencial ímpar, e
a pós graduação daria mais liberdade para que ela executasse seus projetos.
Ela é a melhor aluna dele, e você conhece o senhor Hollins, para ele falar
isso é porque realmente a garota é incrível. — Levi explicava para mim.

Eu passei a mão no meu queixo pensando a respeito do que ele falou. 23


anos era a mesma idade da Charlotte, será que ela seria o gênio misterioso?
Não, impossível, é apenas uma coincidência. Até porque Charlotte fazia a
faculdade de maneira remota, um gênio não seria desperdiçado assim. Acho
que eu estava pensando demais nela para achar que ela poderia ser essa
garota, eu precisava manter meu foco no trabalho e tentar esquecer ela para
prestar atenção no que Levi estava tentando me dizer.

— Bom, realmente é interessante isso, algo bem raro. Se bem que você
me conhece o bastante. Sabe que eu preciso ver para acreditar em tudo que
você está me falando.
— Eu sei. Pena que ela não quer vender o projeto para nós. — Levi disse
se lamentando.

Eu me senti ofendido ao ouvir isso, por que alguém não iria querer uma
parceria com a empresa de um Staton!?

— Por que ela não quer? — Perguntei já mudando um pouco meu tom de
voz.

— Não sei, ela não deu um motivo plausível para tal. Mas conversei com
Hollins e ele disse que iria dar um jeito de fazê-la mudar de ideia, vamos ver
se ele realmente consegue... — Levi dizia um pouco apreensivo.

— Ela vale tão a pena assim? — Falei com desdém ao saber que ela não
queria vender o projeto de imediato.

— Com certeza. Você vai ver e vai se surpreender, você sabe que eu não
sou de elogiar pessoas de maneira gratuita, mas essa moça é diferente. —
Levi falou com convicção.

— Acho que você está interessado nela de outra maneira, isso sim. — Eu
dei uma gargalhada ao falar.

Levi balançou a cabeça de um lado para o outro em negativa.

— Ela é uma mulher linda, não posso negar que chama bastante atenção,
mas, ela é muito jovem e é casada. Eu nem me atreveria me interessar por
alguém que é comprometida.

— Tão jovem e já é casada? — Eu perguntei surpreso.

— Sim... Que bom que ela não deixou sua genialidade de lado por conta
do casamento pois seria um verdadeiro desperdício... — Levi falou
aliviado. — Ah, ela tem a idade da sua esposa, não é?

— Sim, minha esposa é bem jovem.

— E vocês estão se acertando? — Ele perguntou, pois, sabia da minha


situação difícil com Charlotte.
— Não, parece piorar a cada dia. — Eu falei com rancor.

— Mas é complicado esse modelo de casamento de vocês dois, uma


loucura eu diria... Eu queria conhece-la, ver se ela é realmente essa bruxa
que você diz que ela é. Pena que não pude ir no casamento de vocês porque
estava em Tokyo naquela conferência, porque senão eu já teria conhecido a
temida Senhora Staton. — Levi usou um pouco de deboche para falar o final
da frase.

— Você sabe bem que eu precisava me casar e ter um herdeiro o quanto


antes. Não tive escolha. Você terá oportunidades para conhece-la ainda, e ela
não é temida por ninguém. — Falei de forma seca.

Antes que Levi pudesse falar mais alguma coisa, o telefone dele
começou a tocar, e ele atendeu. Pela forma que ele atendeu e logo se
direcionou a pessoa, presumi que era o senhor Hollins, ele estava animado
ao atender. Mas como eu estava do outro lado eu só pude ouvir alguns
fragmentos da conversa, e pela expressão de Levi não tinha sido tão
agradável como ele esperava que fosse. Assim que ele desligou passou sua
mão na testa.

— O que houve? — Perguntei curioso.

— Era o senhor Hollins, quando ele me ligou pensei que ele me daria
uma boa notícia. Talvez a aluna dele havia mudado de ideia e decidido
vender o projeto para nós. Mas, ele disse que ela tem interesse na M&W
Technology, ele acha que ela quer negociar com eles. — Ele balançou sua
cabeça negativamente.

A M&W era nossa concorrente direta e também era uma empresa muito
grande, nós ainda não havíamos conseguido alcançar o patamar dela. Eu
achei isso uma verdadeira afronta. Essa garota devia ser muito boa, ou no
mínimo arrogante o suficiente para achar que era boa o bastante para poder
desprezar uma empresa como a minha logo de cara.

— Ela é bem audaciosa essa garota. — Falei para Levi.

— Não, ela é muito boa e tem consciência disso. Nós não podemos
perder esse projeto. Vamos, eu vou te levar até a faculdade para você
conhecer ela, e quem sabe talvez ela conhecendo pessoalmente Jeff Staton
ela mude de ideia. Vamos usar seu sobrenome a seu favor.

— Tudo bem. Estou curioso para conhecê-la depois do tanto que você
falou. — Eu falei ao me levantar da cadeira.

Nós dois saímos do escritório e fomos em direção ao elevador para


sairmos do prédio e fazermos uma visita para essa tal garota.
Descobrindo mais sobre o contrato
Narração - Jeff Staton

Nós chegamos na faculdade e fomos de imediato na sala do Senhor


Hollins a fim de conseguirmos encontrar a moça que Levi fez tanta
propaganda. Eu achava que aquilo tudo era um exagero, mas, Levi insistia
que a genialidade dela valia a pena, então eu precisava conhecer a garota de
inteligência invejável. Ao batermos na porta do Senhor Hollins uma senhora
abriu a porta para nós. Levi arqueou uma de suas sobrancelhas e disse:

— Bom dia, nós queríamos conversar com o Senhor Hollins, ele está? —
Levi perguntou.

— Bom dia, ele deu uma saída. Creio que foi fazer um trabalho de
campo. Quando é assim ele não costuma voltar tão cedo. — A senhora nos
informou.

— Você sabe onde eu posso encontrar a senhora... — Levi hesitou e não


falou o nome de quem ele queria falar e eu não entendi o motivo.
A senhora ficou nos olhando esperando que Levi pudesse falar o nome
para ela, mas ele disse:

— Deixa, obrigado... — Ele deu um sorriso desapontado e nós dois


começamos a caminhar para sair dali.

— Por que você não falou o nome da moça? Aliás, você não falou o
nome dessa moça nem para mim, muito menos sobre o projeto. Por que o
mistério?

Levi respirou fundo, fechou seus olhos por alguns momentos e disse de
um jeito contrariado.

— Ela me fez assinar um contrato de confidencialidade onde eu não


posso revelar o nome dela nem o teor do projeto.

— Por que você fez uma tolice dessas? — Perguntei sem entender.

— Porque era o único jeito de saber sobre o projeto dela, e eu não me


arrependo porque foi a melhor decisão que eu pude tomar. Se eu conseguir
convencer ela a vender o projeto para nós, nós temos uma verdadeira mina
de ouro em nossas mãos! — Ele falava em um tom sério.

Agora eu estava mais curioso para saber sobre essa garota, isso estava
me intrigando demais e eu estava me sentindo desafiado. Portanto, eu
precisava saber o quanto antes o motivo pelo qual ela não queria assinar com
minha empresa.

— E agora o que faremos? — Perguntei a ele.

— Bom, temos uma saída, nós podemos ir até a M&W Technology. —


Ele falou animado como se aquela ideia não fosse péssima.

— Você está ficando louco? Quer que a gente vá na sede da empresa que
é a nossa maior concorrente sem mais nem menos? — Eu perguntei
querendo acreditar que ele iria se dar conta da tamanha besteira que estava
sugerindo.
— Isso! Se a gente a encontrar lá temos uma grande chance de traze-la
para o nosso lado. — Levi falou com animação.

Eu estava chocado com ele ainda cogitar isso. Nunca havia visto Levi
com tanta obstinação assim para alguma coisa, esse projeto deveria valer a
pena demais para ele querer se arriscar assim. A contragosto e sem me
conformar com essa insanidade eu disse a ele:

— Tudo bem, vamos então, mas saiba que eu continuo achando isso uma
loucura. — Assim que terminei de falar, Levi deu um sorriso satisfeito e nós
saímos da faculdade.

Entramos no carro e fomos em direção a sede da M&W Technology. No


momento em que estávamos no caminho, eu perguntei para Levi:

— Você já tem algo em mente de como vamos chegar lá e perguntar se a


garota está lá? — Eu olhava ele vez ou outra enquanto dirigia.

— Não sei, eu espero que não nos reconheçam, e assim eu darei um jeito
de perguntar sobre a moça na recepção. Se não nos reconhecerem, no
máximo, nos acharão loucos. — Ele deu uma risada.

A situação era tão insana que acabei dando uma gargalhada sobre tudo o
que estava acontecendo.

Chegamos na sede da empresa e como meu rosto era mais conhecido, eu


decidi ficar na portaria e deixar Levi fazer o trabalho "sujo". Coloquei as
mãos no bolso e fiquei observando de longe o diálogo de Levi com a
recepcionista, no hall do prédio. Ela parecia olhar para ele com uma
expressão confusa, mas começou a rir enquanto eles conversavam. Levi era
um galanteador de primeira, então, aos poucos ele estava conquistando a
confiança dela.

Levi ficou conversando com ela por mais um tempo e parece ter
conseguido a informação que queria, pois, logo voltou até mim.

— Ela não está aqui, o que acha de voltarmos para faculdade? Talvez lá
possamos encontrar ela. — Ele falava animado e ofegante.
— Não, sem chance. Totalmente fora de cogitação. Eu já estou exausto e
são apenas 14h00 da tarde, não quero mais ficar correndo atrás dessa garota
que você diz ser tão especial, e talvez ela nem seja isso tudo. — Eu falei com
desdém e um pouco irritado por estar andando de um lado para o outro sem
sucesso.

— Não é assim. Não seja pessimista... Você precisa acreditar no que eu


estou te dizendo. — Levi insistiu.

— Tá, que seja verdade, mas eu não vou ficar correndo atrás dela. Pode
ser que essa moça esteja até mesmo em sua casa, bem tranquila, enquanto
nós estamos atravessando a cidade atrás dela. — Eu expliquei para Levi.

Levi colocou a mão em sua cintura e balançou a cabeça de um lado para


o outro. Um pouco contrariado, ele se deu por vencido.

— Tudo bem, você tem razão... Não adianta ficarmos procurando-a sem
sucesso. Mas saiba que eu ainda não desisti, vou te apresentar para essa
garota, e você vai entender o que eu estou falando. — Ele falou com bastante
otimismo.

— Ok. Agora vamos almoçar porque eu estou faminto e nós temos que
voltar para a empresa ainda. Preciso revisar alguns relatórios dos projetos
aprovados e ver alguns e-mails contendo novos projetos de alguns
doutorandos para ver se eu aprovo. Enquanto não temos o projeto da sua
"galinha dos ovos de ouro" precisamos trabalhar com o que temos.

— Certo. Vamos lá. — Levi falou.

Ele tinha ficado bem desapontado e frustrado por não termos conseguido
encontrar a garota gênio. Nós almoçamos em um restaurante perto da
empresa que era nossa concorrente, e logo voltamos para a Tec Solutions.
Assim que chegamos lá, eu fui direto para meu escritório e Levi foi para o
dele. Eu estava atolado de tanto trabalho que eu tinha para fazer, afrouxei um
pouco minha gravata, estralei meus dedos e comecei a trabalhar.

Quando eu trabalhava ficava tão concentrado que não pensava em mais


nada, mas vez ou outra eu estava com Charlotte invadindo meus
pensamentos. Quando não estava pensando nela, estava pensando na peanut.
Eu sempre pensei nela, mas não entendo o porquê que ultimamente a
lembrança dela estava tão vívida na minha memória. Eu achava ela e
Charlotte muito semelhantes, e isso estava me perturbando um pouco.

Eu fechava meus olhos e os apertava para conseguir me concentrar no


meu trabalho, fiquei assim por horas. Por fim, quando eu estava no último
relatório eu vi no relógio que eram pouco mais de 23h00 da noite. Me
assustei, pois, eu tinha perdido completamente a noção do tempo. Não
terminei o relatório, era melhor deixar para amanhã e ir para casa descansar
o quanto antes.

Saí do meu escritório e todos os funcionários do turno diurno já haviam


ido embora e os poucos funcionários que haviam no turno da noite já
estavam em seus devidos lugares. Eu me despedi cordialmente dos
funcionários que eu passava perto antes de sair, entrei no elevador e fui em
direção a saída do prédio. Fui até a garagem, e entrei no meu carro e dirigi
em direção a minha casa.

Assim que cheguei em casa fui direto para o meu quarto tomar um
banho. Provavelmente Charlotte já tinha chegado e estava no quarto de
hóspedes dormindo. Eu decidi ir até lá para ver se ela estava bem, mas, para
minha surpresa ela ainda não havia chegado e já era pouco mais de meia
noite. Achei aquilo muito estranho, e fiquei um pouco preocupado. Mas, eu
iria tomar um banho primeiro antes de me preocupar com isso.

Eu entrei no banheiro e decidi tomar um banho no chuveiro para ser mais


rápido. Durante meu banho eu comecei a pensar se havia alguma ligação
entre a peanut e minha esposa... Será que elas eram a mesma pessoa? Por
que eu estava com essa impressão tão forte ultimamente? Eu acho que talvez
eu devesse perguntar para ela, ou procurar um psiquiatra já que
provavelmente poderia estar enlouquecendo.

Decidi que iria ligar para ela, de qualquer forma teria que saber onde
minha esposa estava. Saí do banheiro, me enxuguei e apenas me enrolei na
toalha. Fui até a mesa que eu havia deixado meu celular e liguei no número
da minha esposa. O celular dela chamou umas três vezes, então uma voz
masculina atendeu.
Ligação ON

Sam: — Alô?

Jeff: — Quem está falando no celular da minha esposa? — Eu perguntei


com raiva, porém achei a voz que atendeu a ligação bem familiar. Vi que
realmente eu tinha que ter feito aquela ligação.

Sam: — É o Sam, primo da Charlotte. Eu estou aqui no dormitório da


faculdade dela. Ela está dormindo por isso atendi o celular dela.

Jeff: — Por que ela não veio pra casa?

Sam: — Ela disse que tinha muito trabalho a fazer, não entendi muito
bem do que se tratava nem porque ela optou por dormir aqui. Mas pode ter
certeza que a aviso que você ligou.

Jeff: — Acho bom. Tchau.

Ligação OFF

Desliguei o telefone com raiva. Charlotte estava agindo como se não


fosse uma mulher casada e isso estava me irritando, mas eu estava tão
cansado que decidi que lidaria com isso depois. Porém me questionei se ela
se negou a vir para casa depois do que havia acontecido entre nós dois na
noite anterior. Cocei minha cabeça enquanto soltava o ar pela boca ao pensar
nisso. Coloquei minha roupa de dormir, e decidi que dormiria na minha
cama mesmo. Já que Charlotte não estava no quarto de hóspedes, não fazia
sentido nenhum eu dormir lá.

∞∞∞
Narração - Charlotte Staton

Acordei com o barulho de alguém conversando, me sentei na cama e


olhei a minha volta demorando a entender o lugar onde eu estava. Me
lembrei que dormi no meu antigo quarto no dormitório da faculdade, por
conta da exaustão que eu estava devido as horas que eu estava me dedicando
ao meu projeto. Cocei um pouco meus olhos e vi que era Sam quem estava
ali.

— Sam? O que você está fazendo aqui? — Perguntei para ele um pouco
confusa.

— Estava esperando você acordar, dorminhoca. — Ele deu um sorriso e


se sentou ao meu lado.

— Como você sabia que eu estava aqui?

— Eu te conheço, quando te mandei mensagem mais cedo e já eram


quase 20h00 eu presumi que você não iria voltar para casa tão cedo, então
vim aqui na sua faculdade e me disseram que você veio para seu antigo
quarto. Quando cheguei, você estava em um sono tão profundo que fiquei
com dó de te acordar. — Sam acariciou minha cabeça ao falar.
— É, eu estou bem cansada mesmo... Você estava falando com quem no
telefone? — Perguntei curiosa.

— Com o seu marido, ele queria saber onde você estava e estava
nervoso... Ele ligou no seu celular então atendi para o barulho não te acordar,
mas a conversa te acordou mesmo assim, desculpe.

— Não precisa se desculpar, primo. E o que te trás aqui? Veio só me ver


mesmo? — Eu sorri.

— Não, na verdade eu vim te contar o que eu descobri sobre a empresa


que você me pediu para investigar. — Sam tinha um tom de voz mais sério.

— Sério? O que você descobriu? — Falei em um tom de animação e


curiosidade.

— Não são notícias muito boas... — Sam falou um pouco inseguro e me


entregou um papel.

Peguei o papel e comecei a ler ele. No papel que Sam me entregou,


estava escrito que eu era investidora secreta da empresa Tec Solutions, eu
senti uma raiva dominar todo meu corpo ao ler aquilo, e comecei a tremer.
Caso o investimento falhasse eu iria ter que arcar com todos os prejuízos.
Me levantei da cama bem nervosa e comecei a andar de um lado para o
outro.

— Onde você conseguiu isso? — Perguntei nervosa.

— Eu procurei pela empresa e muitas coisas eram sigilosas, então eu


investiguei mais, arrisquei e entrei no escritório do nosso avô, tirei xerox
dessa parte do contrato para poder estuda-lo. Eu tirei as palavras jurídicas
difíceis que dificultavam nosso entendimento com ajuda de uma amiga
advogada, e chegamos a essa conclusão. Eu sinto muito, Char... — Ele falou
pesaroso.

Minha respiração estava ofegante e lágrimas invadiram meus olhos por


conta da raiva que eu sentia ao saber que era investidora de uma empresa,
que eu nem sabia da existência e ainda teria que arcar com possíveis
prejuízos dela caso ela não desse certo.
Correndo contra o tempo
Narração - Charlotte Staton

Eu estava muito agitada ainda por ter descoberto mais detalhes do


contrato que o Sam tinha me mostrado. Eu andava de um lado para o outro
por conta do nervosismo e não parava, Sam estava me olhando com muita
preocupação.

— Char, respira, faz aquele exercício de respiração que te ensinei a fazer


quando você tinha crises de ansiedade, depois que seus pais morreram. Você
precisa se acalmar. — Meu primo falava preocupado ao me olhar naquele
estado.

Eu comecei a inspirar e expirar. Meus pensamentos pareciam estar


desordenados, mas, por conta dos exercícios que eu estava fazendo eles
começaram a se organizar aos poucos. E parece que finalmente eu tinha
entendido o objetivo verdadeiro daquele contrato que tanto me prejudicava.

— Sammy, eu entendi o contrato. Finalmente eu entendi esse maldito


contrato que está arruinando minha vida dia após dia! — Falei me virando
de frente para ele e parei de andar de um lado para o outro.
— Mesmo, Char? Isso é um ponto bom porque você ficava em grande
agonia por causa dele, por mais que tenha descoberto coisas ruins a respeito
dele você agora saberá o que fazer de uma vez por todas. — Sam falou
tentando me animar.

— Sim, isso é verdade. — Cocei minha cabeça pensando em como eu


resolveria todos meus problemas.

— Quer compartilhar o que você finalmente entendeu? — Sammy


perguntou curioso.

— Claro, primo, é o mínimo que eu poderia fazer, afinal, você me ajudou


e muito nessa jornada. — Eu dei um sorriso para ele ao falar e me sentei na
cama novamente.

Sam sorriu e se sentou ao meu lado para ouvir o que eu tinha


compreendido a respeito do contrato.

— Bom, o dinheiro do Jeff poderia ajudar em alguma crise, bem como


ajudou com a falência do hotel. O dinheiro dele reergueu o hotel, mas o
verdadeiro objetivo do meu avô ao fazer o contrato, era ter os lucros do
investimento conjunto na empresa, no caso, a Tec Solutions, mas ele não
quer ter prejuízos. Uma vez que o investimento fosse bem sucedido ele iria
lucrar tudo. Mas caso as coisas não dessem certo, ele conseguiria se livrar
dos problemas colocando a responsabilidade em mim para arcar com os
prejuízos, dessa forma nem meu vô, nem a família Hills seria afetada. A
única prejudicada seria eu. — Expliquei para Sam.

— Caramba, a cada dia que passa eu estou mais decepcionado com meu
vô. Ele não é confiável e é uma pessoa cruel, como ele teve coragem de
fazer isso com a própria neta? E você nem ao menos sabia da existência
dessa empresa... — Ele falava se lamentando. — Mas e quanto ao fato de
você ter que engravidar? Você conseguiu entender?

— Sim, eu acho que isso é um interesse da parte dos Staton e isso não
importa para meu vô, mas ele usou isso como uma moeda de troca com eles,
para conseguir todos os privilégios. Por isso ele não estava importando com
os métodos que seriam utilizados para fazer isso, pode ser que ele quem
sugeriu a inseminação artificial. Por mais que ele falou que todos os termos
do contrato foram os Staton que estipularam, eu não acredito mais, porque
com certeza sobre os lucros serem dele não era algo que partiria dos
Staton... — Eu falei indignada com a perversidade do meu avô.

— Nossa... Que coisa horrorosa, Char. Eu não sei nem o que te dizer.
Como você está em relação a isso? — Ele perguntou preocupado.

— Primo, eu acho que já chorei tanto que não tenho mais lágrimas para
derramar por conta desse assunto. Eu tenho agora somente muita força para
agir diante disso! E eu vou agir, meu avô vai se arrepender pelo que fez
comigo. Eu vou me certificar disso. — Falei para Sammy enquanto tinha o
olhar distante como se planejasse algo.

— Você já pensou em algo? Está pensando em vingança? — Sam


perguntou aflito.

— Sei que você ama o Stuart, não vou fazer nada grave, mas não vou
deixá-lo enriquecer as custas do meu sofrimento, isso não é justo. — Eu falei
para ele em protesto para justificar minha vingança.

— Eu amo nosso avô, mas amo muito mais você, você é como a irmã
que eu nunca tive e esteja certa que eu estou do seu lado. Eu jamais teria ido
atrás desse contrato, dentro do escritório dele, se não fosse por você. Acho
que nem pelo meu pai eu iria me arriscar tanto. — Ele se explicou.

— Eu sei primo, não me leve a mal, eu não falei isso para te ofender. Sei
que você está do meu lado e jamais cobraria para você odiar nosso avô como
prova do seu amor por mim. — Dei um sorriso para ele, e ele acenou a
cabeça positivamente. Sam demonstrou estar aliviado ao ver que eu não
estava pensando mal dele.

— Mas então, o que você está pensando? Qual seu plano para conseguir
matar os dois coelhos em uma cajadada só? No caso o vovô e o seu marido...

— Essa é a parte boa, porque tudo vai depender de mim e da minha


genialidade. Eu preciso conseguir terminar meu projeto dentro de um mês e
meio, porque assim eu vou conseguir negociar com os dois já que eu sou a
investidora secreta. Meu projeto será minha grande moeda de troca. — Falei
em um tom otimista.

— Não é duvidando da sua capacidade, mas um mês e meio é um prazo


muito curto. Você tem certeza que conseguirá terminar em um prazo tão
apertado assim? — Ele perguntou com um pouco de receio e vi que ele
estava aflito por mim.

— Primo, se minha vida não dependesse disso, eu iria terminar nesse


prazo curto só para satisfazer meu ego, imagina só, minha vida dependendo
disso o que eu não irei fazer? Nem que eu fique sem dormir durante dias,
noites, que seja, eu entregarei esse projeto e será o melhor projeto que já
viram. Fará inveja em várias empresas no ramo de tecnologia e todas irão
disputar para ter o meu projeto, assim será mais fácil negociar com meu vô e
principalmente com Jeff, porque o Jeff tem visão de negócio... Meu avô só
quer saber dos lucros, então, não pensa com clareza. Já Jeff, pelo que
pesquisei, é um visionário e essa será minha salvação. — Eu falei ao dar um
sorriso.

— Você tá certa e o que você precisar pode contar comigo, qualquer


coisa mesmo. Você sabe que pode me falar, não sabe? — Ele dizia com um
sorriso e me olhava com admiração.

O Sam era meu maior incentivador, e mesmo quando eu sentia qualquer


tipo de insegurança ele me confortava, fazendo eu me sentir segura comigo
mesma, e isso era muito importante. Se não fosse ele, eu nunca iria
conseguir dar continuidade no meu curso quando perdi meus pais. Mas ele
se manteve ao meu lado a todo momento, e agora não era diferente.

— Eu sei Sam, você tem sido meu porto seguro todos esses anos, e eu sei
que nesse momento não será diferente. — Dei um abraço forte nele ao falar
e ele afagou meus cabelos.

— Char. — Ele disse ao se afastar do abraço e me olhar. — Você não


pretende voltar para casa hoje?

— Não sei ainda, por quê? — Olhei para ele um pouco desconfiada.
— Achei seu marido bravo ao saber que você não havia chegado. Não
sei se ele ficou mais bravo por eu ter atendido ou por você não ter
chegado. — Ele deu uma risadinha.

— Você gosta né? — Eu ri também.

— Eu acho engraçado, ele parece sentir ciúme de mim, isso é porque ele
claramente não conhece nossa relação, se ele não fosse um babaca e te
escutasse ele saberia que somos como irmãos. — Sam falou.

— Não importo com o que ela pensa. Deixe-o pensar o que quiser. — Eu
falei ao dar de ombros.

— Eu só tenho medo que ele faça alguma coisa com você. — Sam
demonstrou preocupação.

— Fique tranquilo, primo. Eu não permito que Jeff faça mais nada contra
mim. Eu grito, choro, faço o escândalo que for. Mas em mim ele não tocará
mais com o intuito de me ferir. E eu não estou sendo desleal nem infiel a ele.
Eu estou cheia de trabalho, por isso estou optando por ficar aqui. Na
verdade, depois de ter descoberto tudo desse contrato meu desgosto está
cada vez maior, não tenho vontade de vê-lo, então acho que talvez eu até me
mude de vez para esse quarto do dormitório da faculdade.

— Uma decisão um pouco radical, não acha? — Sam disse ao cruzar os


braços.

— Pode ser que sim, mas seria bom, porque eu me dedicaria totalmente
ao meu projeto sem interrupções ou chateações... — Falei para ele.

Peguei uma barrinha de cereal que estava na minha bolsa e comecei a


come-la.

— Entendo... — Sam falou e observou o que eu fazia. — Pelo que te


conheço você não está se alimentando direito, não é mesmo? — Ele falou
me repreendendo.

— Eu não tenho muito tempo então estou fazendo lanches rápidos, mas,
barrinha de cereal é super saudável e nutritiva. — Eu ri ao falar.
— Aham, leu isso no rótulo ou na propaganda? — Ele riu, mas logo se
tornou um pouco mais sério. — Você sabe que daqui quinze dias irá
descobrir se a inseminação deu certo e você engravidou, não é?

Eu senti um nó na minha garganta quando ele falou isso.

— Sei... Mas é algo que eu faço questão de não ficar lembrando. — Dei
um suspiro.

— Eu te entendo, mas então, você não terá um mês e meio para concluir
seu projeto. — Ele me alertou.

— Por que não? — Perguntei intrigada.

— Porque você terá que ir até o hospital para fazer o exame... E isso
pode tomar boa parte do seu tempo, e também, se surgir algum compromisso
você vai ter que sacrificar mais dias do seu projeto. — Sam falou, e aquilo
me deixou desanimada.

Eu não tinha pensado nessas questões. Eu teria que correr contra o tempo
pra conseguir entregar meu projeto no prazo. Eu precisava disso pois isso era
o que iria definir minha vida.
Quem é o mais forte?
Narração - Charlotte Staton

Sam se despediu depois de me dar a notícia, e foi embora. Eu me sentei


na cama e fiquei pensando a respeito do que ele havia me falado sobre eu
não ter todo o tempo que eu pensava que teria para executar meu projeto.
Sendo assim, eu tomei uma decisão depois daquela noite: Eu iria me mudar
de vez para meu antigo dormitório da faculdade para poupar tempo. Afinal,
o tempo que eu gastava para vir para a faculdade e depois ir embora, era o
tempo que eu poderia estar gastando trabalhando no meu projeto.

Eu decidi que iria fazer isso a partir de hoje mesmo. Também decidi que
não iria retornar a ligação do Jeff, ele não merecia minha satisfação para
nada. Amanhã eu iria buscar algumas coisas minhas na parte da manhã e o
comunicaria sobre a minha decisão. Eu iria bem cedo para não perder muito
tempo de trabalho. Fui tomar um banho para dormir mais tranquila, mas ao
terminar meu banho eu havia perdido todo o sono que eu tinha, sendo assim,
liguei meu notebook e trabalhei para aproveitar meu tempo.

Porém, quando eu estava mexendo no meu projeto eu ficava horas


envolvida com ele e perdia a noção total do meu tempo, e quando fui ver já
eram altas horas da madrugada. Coloquei meu celular para despertar as 6h
da manhã, porque assim eu já iria buscar minhas coisas, e o trânsito esse
horário não era ruim. Me deitei, e dormi rápido por conta do cansaço que eu
estava sentindo.

Contudo, como eu havia dormido bem tarde da noite, ao ouvir meu


celular despertar tive um pouco de dificuldade para acordar, mas, me
levantei mesmo assim. Me troquei e fiz minha rotina de higiene matinal, não
fiz maquiagem e apenas arrumei meu cabelo fazendo um coque frouxo nele.
Peguei as chaves do carro e saí com pressa do meu quarto e em seguida do
prédio da faculdade.

Fui até meu carro e dirigi apressadamente para a casa de Jeff. Ao chegar
lá, Janet estava na sala de jantar. Como eu estava com pressa, acenei de
longe para ela e fui direto para o quarto de hóspedes onde todos meus
pertences estavam. Ao chegar lá mantive a porta do quarto aberta. Não
demorou muito e Jeff apareceu lá. Eu continuei a fazer o que estava fazendo,
e ele indagou:

— Onde você estava ontem à noite? E onde você pensa que vai
arrumando suas coisas assim? — Eu senti que ele estava falando de um jeito
apreensivo.

Será que agora ele estava com medo de que eu fosse embora e o deixasse
de vez? Interessante. Mas eu não iria me iludir, ele devia estar preocupado
por conta do bebê, que possivelmente, eu estava carregando e também em
tudo que uma ação impensada minha pudesse acarretar para nós dois. Então
eu disse de maneira ríspida:

— Eu tenho muito trabalho a ser feito na faculdade.

— Muito trabalho? — Ele falou com desdém.

— Exatamente. Eu preciso concluir um projeto, para poder me formar, e


eu não pretendo ficar perdendo tempo indo daqui pra lá, e de lá para cá. Fico
horas dentro do carro e estou perdendo essas horas enquanto poderia estar
fazendo algo realmente produtivo. — Continuei a responde-lo com a mesma
rispidez.
Fechei minha mala e comecei a andar em direção a saída do quarto,
depois, fui até a saída da casa. Eu estava arrastando minha mala e andava o
mais rápido que eu podia, pois, queria evitar possíveis desavenças com Jeff.
Eu já havia passado por muita chateação e não queria delongar mais.

— Você está se portando como se fosse uma mulher solteira e você não
é, Charlotte! — Jeff falou ao vir apressado atrás de mim alterando sua voz.

Eu segurei a maçaneta para sair de dentro da casa e me virei para encara-


lo, então eu disse:

— Eu não estou me portando como uma mulher solteira! Não estou


sendo infiel, nem desleal, apenas estou me dedicando ao meu futuro. Minha
vida e meu futuro não pertencem a você. Nós podemos estar casados, mas eu
tenho uma vida apesar de você, e não tenho obrigação de viver a sua
sombra. — Falei com raiva, abri a porta e saí de uma vez a batendo assim
que saí para não dar chance que ele falasse mais nada.

Entrei no carro, coloquei minha mala no banco do passageiro ao lado já


que não havia muitas coisas e fui em direção a faculdade.

∞∞∞
Narração - Jeff Staton

Eu estava furioso com a atitude de Charlotte, ela estava achando que


podia fazer o que bem entendesse e as coisas ficariam por isso mesmo, mas
ela estava completamente enganada comigo. Não iria funcionar da maneira
dela. Ela teria que entender o seu lugar nem que para isso eu tivesse que
força-la a entender. Decidi que eu iria atrás dela na faculdade. Como eu já
estava pronto para o trabalho, e bem adiantado, isso não iria me atrapalhar, e
depois de lá eu iria para a empresa.

Entrei no carro furioso e estava determinado a ir na faculdade dela o


quanto antes, mas, então, meu celular começou a tocar e vi que era da
empresa. Não, não! Eu não queria ter que atender pois eu sei que
provavelmente era alguma coisa que me obrigaria a ir para lá, entretanto,
minha vontade era ir atrás de Charlotte.

Cliquei no botão do volante a contragosto para atender, afinal, eu era o


CEO e umas das desvantagens de ser CEO era porque eu sempre tinha a
responsabilidade de fazer tudo, salvar tudo, e não havia ninguém que
pudesse fazer isso em meu lugar.

Ligação ON

Jeff: — Staton na linha.

Secretária: — Senhor Staton, bom dia, desculpe o incômodo. O senhor


lembra daquele cliente japonês que estava marcado para amanhã?

Jeff: — Sim, claro, algum problema?

Secretária: — Bom, ele está afirmando que a reunião de vocês é hoje e


exige que o senhor venha aqui imediatamente senão não haverá negócio.
Jeff: — Acomode ele na sala de reuniões que eu já estou indo, ele é um
grande cliente, não podemos contraria-lo.

Secretário: — Certo, senhor Staton. Fique tranquilo que o manterei


tranquilo até que o senhor chegue aqui.

Ligação OFF

É, parece que eu teria que adiar minha ida até a faculdade de Charlotte,
porém, eu iria vê-la mais tarde com toda certeza. Cheguei na empresa e fui
direto para sala fazer a reunião com o embaixador japonês senhor Kobayash.
Nós ficamos lá por horas, ele era um homem muito difícil de lidar, mas eu
adorava esses desafios e fazia questão que a empresa ficasse reconhecida
internacionalmente como todas as empresas da companhia Staton.

Depois de muito sacrifício e negociações que pareciam intermináveis,


conseguimos chegar a um acordo. Fechamos o negócio e ele saiu da sala de
reunião, eu estava extremamente cansado tanto físico como mentalmente.
Aquele homem me deixava tenso e isso se refletia em todo meu corpo, por
isso eu estava com essa sensação de cansaço absurda. E não era pra menos,
ao olhar no relógio eu vi que já passavam do meio dia.

— Merda! — Falei com raiva rangendo meus dentes.

Parecia que hoje, tudo estava conspirando para que eu não fosse atrás de
Charlotte na faculdade dela, mas, nem que eu fosse de tarde eu iria atrás
daquela arrogante e prepotente. Pedi para minha assistente levar o almoço
para o escritório, pois aproveitaria para findar os relatórios que haviam
ficado pendentes na noite anterior. Eu estava determinado a sair um pouco
mais cedo para ir até a faculdade da minha esposa mostrar para ela que era
eu, seu marido, quem mandava em tudo, inclusive nela, e ela ia entender isso
por bem ou por mal.

Almocei enquanto organizava os relatórios e não parei nem por um


momento com minhas tarefas, eu queria terminar o quanto antes e não deixar
nada para trás quando saísse mais cedo para ir até a faculdade de Charlotte.
Por volta de pouco mais de 14h00 da tarde eu havia terminado e estava
pronto para ir até a faculdade da minha esposa. Coincidentemente ela fazia a
faculdade na Columbia University, o mesmo lugar onde eu havia me
formado e era também o mesmo lugar onde fomos atrás da garota gênio
misteriosa.

Eu iria aproveitar para falar com meu antigo orientador, o senhor


Hollins, talvez, diferente de Levi ele poderia me dar informações e eu
finalmente teria a constatação que Levi poderia estar exagerando ao falar
dessa garota. Avisei a minha assistente que não voltaria mais hoje, e
felizmente, eu não tinha mais compromissos. Sendo assim, eu poderia cuidar
dos meus problemas pessoais sem peso na consciência.

Saí do prédio e o manobrista já havia estacionado meu carro em frente


para facilitar minha saída, eu entrei no carro e dirigi até a faculdade
calmamente. Chegando lá, entrei no prédio e comecei a andar olhando para
os lados para ver se eu encontrava Charlotte em algum lugar, mas, fui
surpreendido por uma voz familiar atrás de mim falando a seguinte frase:

— O filho pródigo à casa torna. — Me virei dando um sorriso e


cumprimentei o senhor Hollins.

— Senhor Hollins, quanto tempo! — Falei para ele.

— É claro, se tornou um homem ocupado demais para ver velhos


amigos. — Ele deu uma risada.

— Imagina, eu e Levi estivemos aqui ontem para sabermos sobre a sua


garota de ouro. — Eu ri ironicamente.

— Oh sim! Uma grande garota. A melhor aluna que eu já tive em toda


minha vida acadêmica... Sinceramente, nesses 45 anos eu nunca vi ninguém
com uma inteligência tão singular quanto a dela. Nem mesmo a sua quando
você estudou aqui há 3 anos, Jeff Staton. — Ele deu uma risadinha
simpática.

— Impossível, você e Levi só podem estar exagerando falando desse


jeito dessa garota. Ela é jovem, é muito improvável que ela seja desse jeito
que vocês têm dito... Eu me recuso a acreditar. — Eu falava com o
semblante totalmente desconfiado e em um tom bastante desafiador.
— Não é exagero, eu te garanto. O Levi pode até ser que se encante com
as pessoas facilmente, mas, eu não sou assim e você sabe. — O senhor
Hollins falou convicto para mim.

— É, vocês estão me convencendo aos poucos falando desse jeito. Mas


então, me fale mais, Levi disse que não pode me falar mas creio que você
pode. Me fale o nome dela, e sobre esse tal projeto que os cativou tanto. —
Eu falei em tom desdenhoso.

— Sinto muito, Jeff. Mas eu não posso. — Ele disse com um certo
desapontamento. — Se eu pudesse falaria com certeza.

— E por que você não pode me falar? Vai dizer que também assinou um
contrato de confidencialidade? — Eu dei uma gargalhada.

— É exatamente por esse motivo... — Senhor Hollins falou.

Eu não pude acreditar quando ele falou aquilo. O senhor Hollins era uma
pessoa excelente, mas quando se tratava de sua inteligência ele sabia que era
bom e não se sujeitava a nada. Para ele assinar um contrato de sigilo é
porque ele realmente devia achar que valia a pena o tal projeto. Tirei o
sorriso do meu rosto e o olhei chocado.

— Eu preciso conhecê-la. — Falei com determinação.

— Realmente precisa, mas isso acontecerá somente se ela permitir. —


Ele sorriu para mim.

— É, pelo visto essa garota é osso duro de roer. — Falei pensativo.

O senhor Hollins só riu ao me ouvir. Aproveitei que não conseguiria


nada dele e decidi perguntar:

— Não sei se o senhor conhece, mas vou perguntar, o senhor viu uma
moça aqui, aluna da faculdade, chamada Charlotte? Ela tem cabelos louros,
olhos azuis... E é muito bonita. — Eu falei quase com um sorriso bobo, mas
logo me recompus.

Ele me olhou como se estivesse em choque.


— A senhorita Hills?

— Na verdade, senhora Staton agora. Ela é minha esposa. — Eu falei


para ele com um sorriso.

Ele me olhou como quem tivesse visto um fantasma.

— O senhor está bem? — Perguntei preocupado.

— Eu... Eu... Preciso ir. — Ele falou em um balbucio de palavras e saiu


agitado de perto de mim. Eu não entendi aquela reação, mas dei de ombros e
me virei novamente para procurar Charlotte. Hollins era uma pessoa
peculiar, então, geralmente ele tinha atitudes inesperadas.

∞∞∞

Narração - Charlotte Staton

Graças a Deus tudo tinha dado certo quando fui buscar minhas coisas em
casa, afinal, eu tinha me posicionado então Jeff não iria se atrever a fazer
muita coisa. Eu havia chegado na faculdade e consegui ser produtiva com
meu projeto quase o dia todo, mas, para variar eu não havia me alimentado e
estava me sentindo um pouco zonza. Peguei meu notebook, meu bloco de
anotações e alguns livros e saí apressada do laboratório.

Estava andando com pressa pelo corredor, meu celular tocou e vi que era
um número desconhecido. Provavelmente era Levi, então decidi desligar,
mas como fiquei olhando para o celular, e não para o caminho, acabei
esbarrando em alguém e quase que vou ao chão se a pessoa não tivesse me
segurado pelos braços.

— Ai, mil perdões eu sou uma desastra... — Eu falava olhando para


baixo até que olhei para os olhos da pessoa e reconheci aquele rosto. —
Brandon!? — Eu perguntei confusa.

— Charlotte! O que você faz aqui? — Ele perguntou animado.

— Eu estudo aqui e você?

— Que legal! Eu também! Muito bom te ver aqui. — Ele falou com
grande empolgação.

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, para minha infelicidade,
Jeff apareceu. Brandon ao ver meu semblante sério, olhou para trás e viu o
motivo que me fez ficar séria. Ele deu um sorriso sem graça, e
cumprimentou Jeff, que o cumprimentou secamente. Depois, ele se despediu
de mim e saiu. Soltei o ar pela boca e revirei meus olhos.

— O que é que você quer? — Eu disse com desprezo.

— Vim te buscar. Dentro de alguns dias haverá uma festa e preciso de


você em casa. — Jeff falou quase ordenando.

Eu já havia passado pela inseminação, não havia motivo para fingirmos


mais, e eu tinha muito trabalho a fazer. Decidi que iria recusar porque não
fazia sentido nenhum eu continuar toda essa farsa sendo que o objetivo dele
e da família estranha dele foi alcançado.

— Não, eu tenho muito o que fazer. Não irei. — Falei encarando-o e


comecei a caminhar me afastando de perto dele.
Jeff segurou meu braço com certa força e me encarou, então ele disse:

— Eu não dou a mínima para o que você quer! Você vai comigo, e
pronto! — Ele falou com raiva e começou a praticamente me arrastar com
ele.

— Me solta, seu bruto! Você está me machucando! — Eu falava e


tentava me soltar demonstrando muita raiva.

O corredor estava vazio então ele não se importou e continuou. Eu quase


consegui me soltar dele, assim, em um ato de raiva ele me empurrou para a
parede e me segurou. Nossos rostos ficaram bem próximos e deu para sentir
a respiração dele. Eu fiquei imóvel observando-o, e ele também fez o
mesmo. Jeff se aproximou mais e nossos corpos se uniram, no mesmo
instante senti um arrepio percorrer todo meu corpo.

— Jeff... — Eu falei em um fio de voz enquanto sentia meu coração


disparar.

Ele se aproximou mais de mim, encostou os lábios nos meus e iniciou


um beijo.
Positivo ou negativo?
Narração - Charlotte Staton

Eu não resisti ao beijo do Jeff, eu o amava muito e acabei me


entregando a aquele beijo por um momento. O nosso beijo era ardente e
cheio de desejo, eu simplesmente deixei as coisas que eu segurava em
minhas mãos caírem no chão e nossos corpos se uniram mais. Jeff me
beijava como se fosse me devorar, ele colocou suas mãos por baixo da
minha blusa e as levou até meus seios. Aquilo me fez dar um gemido
abafado pelo beijo, minhas pernas estremeciam por conta daquele contato.
Ele afastou sua boca da minha, e deixou seus lábios escorregarem até meu
pescoço, eu inclinei minha cabeça para trás enquanto sentia os lábios dele
tocando minha pele. Eu estava com muito desejo, mas um fio de
racionalidade surgiu e então, eu o empurrei e dei um tapa no rosto dele com
força.

— O que você pensa que está fazendo!? — Falei com raiva.

Jeff respirou fundo e seu rosto ficou completamente vermelho por conta
do que eu fiz, e também pela raiva que ele sentiu diante do meu ato. Ele
estava visivelmente nervoso e confesso que senti um pouco de medo do que
ele poderia fazer comigo naquele momento.

— O que eu estava fazendo? — Jeff falou ar dar um sorriso irônico, e


colocou sua língua na parte interna da sua bochecha enquanto passava a mão
no lado do rosto dele em que eu havia batido.

Eu o encarei por alguns segundos e me abaixei para pegar minhas coisas


que haviam caído no chão. Quando me levantei, Jeff permanecia me
encarando com um olhar cheio de fúria e desprezo ao mesmo tempo, então,
ele segurou meu braço novamente e me levou para o carro com raiva.
Mesmo em meio as minhas ações resistentes tentando me soltar dele, ele
continuou a me puxar até me colocar dentro do carro. Eu me sentei e cruzei
meus braços, fiquei tentando processar o que havia acabado de acontecer
entre nós dois. Não sei se eu tinha tomado a atitude certa, mas eu tinha
evoluído tanto em relação a ser mais forte, que não queria regredir e deixar
que tudo fosse por água abaixo.

Nós fomos em silêncio boa parte do caminho da faculdade até a casa,


mas ao chegar próximo a casa dele, ele disse com aquele mesmo tom amargo
que usava sempre comigo:

— Você não vai voltar para o dormitório, eu vou leva-la e busca-la todos
os dias para facilitar para você. Mas, longe de casa você não ficará mais. —
Ao ouvir ele, franzi minha testa.

— Não é questão de facilitar. Você me levando ou eu dirigindo vai ser o


mesmo tempo gasto. Eu preciso otimizar meu tempo para conseguir concluir
meu projeto dentro do prazo! — Eu falei com raiva.

— Eu não lembro de ter dado espaço para escutar opiniões, isso é uma
decisão unilateral e pronto! — Ele falou.

— Ah, mas... — Ele não me deixou continuar a falar.

Jeff bateu a mão no volante e gritou:

— JÁ CHEGA, CHARLOTTE! — Ele baixou seu tom de voz ao ver que


me assustei e arregalei meus olhos. — A decisão já foi tomada, e não quero
mais falar sobre esse assunto.

Eu fiz uma expressão brava e olhei para o lado oposto qual ele estava
dirigindo. Nós chegamos na casa dele e eu subi igual um furacão para o
quarto e bati a porta com raiva. Tomei meu banho e fui me deitar, assim que
deitei na cama ele apareceu lá e se deitou comigo. Aquilo me irritava
profundamente. Eu me revirei na cama por diversas vezes, pela raiva que
estava sentindo, eu não conseguia pegar no sono.

— Dá para você parar de mexer assim!? Estou tentando dormir. — Jeff


falou ao se virar para mim.

— Se você está tão incomodado pode ir pra sua cama. — Retruquei.

Jeff apertou seus lábios um contra o outro e respirou fundo como se


buscasse paciência. Eu olhava para ele o encarando de maneira desafiadora,
e isso pareceu irritar ele. Mesmo com a penumbra do quarto dava para ver
ele apertando sua mandíbula como ele sempre fazia quando estava com
raiva.

— Não brinca comigo, garota...

— Vai fazer o quê? Eu não tenho medo de você, idiota! — Eu falei com
raiva.

Ao ouvir minhas palavras Jeff segurou meus dois braços e deitou em


cima de mim. Eu arregalei meus olhos porque me assustei com a atitude
rápida e inesperada dele.

— Me solta! — Eu falei tentando me soltar dele, mas, era inútil porque


ele tinha muita força.

A medida que eu me mexia Jeff me segurava com mais firmeza, mas eu


continuava a me mexer de um lado para o outro tentando me soltar. Por
conta desse movimento percebi que Jeff começou a ficar excitado, então
parei de me mexer. Eu não sei se era pelo o que havia acontecido mais cedo,
mas eu estava sentindo muito mais vontade dele do que antes. Fiquei
olhando fixamente para ele, e ele fazia o mesmo, eu estava ficando excitada
por tê-lo em cima de mim, e então senti que meus seios se enrijeceram. Jeff
percebeu e mordeu seu lábio inferior. Ao fazer isso ele soltou meus braços,
mas permaneceu em cima de mim.

Eu estava com minha respiração um pouco acelerada por conta do tesão


e não quis me movimentar, eu estava esperando que ele fizesse alguma coisa
então continuei ali. Eu usava um baby-doll que tinha a alça bem fina, ele
levou seu dedo indicador até meu ombro, passando ele por debaixo da alça e
então desceu ela até que um de meus seios ficasse a mostra. Ele tocou na
aréola dele fazendo movimentos circulares, em seguida, contornou o bico
fazendo com que ele ficasse mais duro ainda. Jeff abaixou um pouco e tocou
seus lábios no meu seio e passou sua boca de um lado para o outro, aquilo
fez com que eu deixasse um breve gemido escapar, assim que escutou meu
gemido, Jeff deu um sorriso malicioso, me encarou e se afastou saindo de
cima de mim. Depois, simplesmente se deitou e virou as costas.

— Agora vê se fica quieta. — Jeff falou com naturalidade.

Eu fiquei indignada por ele simplesmente ter me deixado daquele jeito.


Me senti usada e envergonhada por ter me entregado daquela forma. A única
coisa que me confortava era saber que ele também tinha ficado com vontade
e a reprimido por pura vingança pelo o que eu havia feito quando ele me
beijou mais cedo. Porém, diante do que havia acontecido agora, eu estava
decidida a não deixar chegarmos a esses extremos mais. Eu não iria permitir
que ele brincasse comigo dessa forma.
1 semana depois...

Desde aquele dia Jeff me levava na faculdade e me buscava todos os


dias. Ele fazia isso para me obrigar a ir para casa com ele, porque, ele sabia
que se ele não fizesse isso eu iria ficar lá na faculdade, e dormiria no
dormitório de lá. Eu estava adiantando o máximo que eu podia meu projeto,
e felizmente estava dando tudo certo. Tudo entre Jef e eu, havia ficado bem
estranho depois do que aconteceu naquela noite. Todos os dias ele fazia
questão de dormir comigo no quarto, mas nós se quer dirigíamos a palavra
um para o outro, muito menos nos tocávamos.

Ele havia me buscado hoje, e como sempre cheguei em casa e fui tomar
meu banho, saí do banho e me troquei. Eu estava usando camisolas já que
ele estava dormindo todo dia comigo. Eu me deitei, e como de costume, ele
veio em seguida. Ele deitou virado de frente para mim e isso fez com que
nossos olhares se encontrassem por alguns momentos. Eu tomei coragem e
perguntei de novo, já que havia perguntando anteriormente.

— Por que você tem dormido comigo toda noite? Nós não conversamos,
na verdade mal nos falamos, mas você faz questão de todos os dias dormir
comigo, como se fôssemos marido e mulher que realmente se amam. — Eu
o questionei.

Jeff me olhou em silêncio por alguns segundos antes de me responder,


ele suspirou e então disse:

— Eu só te peço para colaborar. Só isso. Não precisamos gostar um do


outro, mas pelo menos sua colaboração eu preciso. — Ele me olhou por mais
alguns instantes. Depois disso, virou as costas e dormiu.

Não era a primeira vez que ele me dava essa resposta sobre essa
pergunta, eu acho que tinha algum motivo para ele fazer questão de vir
dormir comigo todas as noites. Ele era sempre tão pontual, era estranho isso,
eu comecei a pensar que pudessem ter câmeras no meu quarto, porque não
era possível. Suspeitei disso também porque na primeira noite que ele veio
dormir comigo, Jeff fez questão de me cobrir para não me deixar exposta,
como se alguém olhasse. E quando tivemos aquele momento de intimidade
ele fez questão de ficar em cima de mim como se quisesse tampar meu seio.

Mas qual objetivo dele colocar câmeras? A não ser que isso não tivesse
partido dele, mas sim, da família louca dele... Será que eles haviam colocado
câmeras para ver se nós tínhamos feito sexo? Não... Isso não era possível,
seria o cúmulo da invasão de privacidade. Acho que eu estava muito cansada
por estar dormindo pouco e por conta disso estava criando paranoias na
minha cabeça. Fiquei com a pulga atrás da orelha, mas acabei dormindo.
Quando foi pela manhã eu acordei e nós estávamos bem próximos um do
outro, o despertador tocou e ele abriu seus olhos.

Ao me ver tão perto ele me encarou, mas logo se afastou e se sentou na


cama para desligar o despertador. Eu me sentei também e fiquei um pouco
sem graça, afinal, eu havia acordado primeiro, mas continuei a encara-lo. Eu
fui trocar de roupa no banheiro e ele foi para o quarto dele. Peguei minhas
coisas para ir para a faculdade, e desci para espera-lo já que eu havia
terminado primeiro. Ao me ver com meus pertences ele levantou uma de
suas sobrancelhas e questionou:

— Você por acaso não se esqueceu que dia é hoje, esqueceu?

— Como assim? Tem algo especial hoje? — Eu estava um pouco perdida


no tempo. Realmente não estava me lembrando de nenhum possível
compromisso hoje.

— Hoje é o dia de sabermos se a inseminação artificial deu certo. Além


disso, hoje também é o dia em que temos a festa da minha família para
irmos! — Ele falou um pouco chocado por eu não ter lembrado.

Eu engoli seco, era hoje o dia que iríamos saber algo muito importante, e
eu nem ao menos tinha me dado conta. Empalideci e senti um frio na
espinha. Fiquei imóvel e não sabia o que fazer, arregalei meus olhos e fiquei
um pouco distante.

— Charlotte? Está tudo bem? — Ele perguntou e se aproximou de mim


como se estivesse ficado preocupado por conta da minha reação.

— Estou... Onde faremos o exame?

— No mesmo hospital onde você foi inseminada, não é óbvio? — Ele


perguntou arqueando uma de suas sobrancelhas.

Eu não queria passar naquele lugar onde eu vivi um inferno...

— Não! — Falei de maneira abrupta.

— Não, o quê? — Ele perguntou confuso.

— Eu não quero voltar naquele lugar. — Falei com firmeza.

Ele me olhou e pareceu entender o motivo por eu não querer.

— Certo, vamos ao Presbyterian Medical Service. — Ele falou. — Mas


temos que ir logo.
— Tudo bem, vamos. — Eu deixei meus pertences que levaria para a
faculdade no sofá mesmo, e fui com ele até a saída.

Entramos no carro e seguimos para o hospital. Ao chegar lá parecia que


eu não estava em mim pois eu iria saber de algo que afetaria minha vida para
sempre. Deixei que Jeff tomasse frente de tudo. Uma enfermeira muito
gentil me chamou e eu fui até a sala de exame. Nós fomos em direção a sala
de ultrassom, e ao chegar lá eu me lembrei daquele dia em que foi feita a
inseminação.

Eu travei na porta e Jeff estava logo atrás de mim.

— Algum problema? — Ele me perguntou.

Eu me virei para ele e o olhei com raiva por ele ainda ter a coragem de
agir como se eu não tivesse sido traumatizada por conta daquele dia. Então,
apenas andei até a maca e não conversei com ele. A enfermeira me deu uma
camisola e fui no banheiro me trocar, ao voltar Jeff estava ao lado da maca.
O médico e a enfermeira eram muito simpáticos, e isso me deu segurança.

— Senhora Staton, eu irei introduzir o aparelho de ultrassom para


vermos se há algum sinal de gestação, provavelmente por ter pouco tempo
não veremos batimentos, nem mesmo o feto, talvez apenas o saco
gestacional. Mas isso já é indicativo de uma gestação e confirmaremos com
o exame de sangue ok? — O médico me explicou.

— Tudo bem. — Eu falei e Jeff se posicionou do meu lado.

— Com licença, irei introduzir a cânula. — Ele falou e eu senti um gel


gelado do aparelho e me assustei.

Na hora que eu assustei, fechei meus olhos e contraí meu corpo. Por
impulso, peguei na mão de Jeff. Assim que segurei a mão dele, ele segurou
minha mão de volta e acariciou o dorso dela com o polegar. Eu abri meus
olhos e o olhei por um momento, ele me olhou e deu um breve sorriso, eu
correspondi, mas logo depois olhei para o monitor do ultrassom. Ao olhar
para lá eu não entendia nada, então o médico disse:
— Olha, sinto muito, mas não consigo ver nenhum indício de gestação.
Ao que parece a inseminação não deu certo. — Ele explicou em um tom
pesaroso.

Assim que eu soube dessa informação, eu senti um alívio, mas também


por algum motivo eu fiquei chateada. Não fazia sentido nenhum eu ficar
chateada sendo que eu não queria aquela gestação. Soltei a mão de Jeff e ele
parecia um pouco chateado e aliviado ao mesmo tempo, acho que ele
compartilhava do mesmo misto de sentimento estranho que eu.

— Há mais algum teste que confirme isso? Que seja rápido? — Jeff
perguntou ao doutor.

— Sim, há sim. Podemos fazer o teste de urina que na mesma hora


saberemos. Pode ser que ainda há uma chance. — Ele terminou o exame e
me deu um recipiente de plástico. — Faça xixi neste recipiente senhora
Staton, assim que fizer podemos colocar a fita detectora do hormônio para
sabermos.

— Tudo bem, obrigada. — Peguei o recipiente e fui até o banheiro para


me trocar.

Aproveitei e fiz xixi no potinho, coloquei minha roupa e levei o pote


para o médico. Ele logo colocou a fita que detectava o hormônio HCG.
Esperamos alguns minutos e ele disse:

— É confirmado, negativo. A senhora não está grávida. Sinto muito. Vou


deixar vocês a sós. — Ele saiu da sala de exame nos deixando sozinhos.

— Quero que você guarde segredo a respeito do resultado do exame. —


Jeff falou para mim ao me olhar nos olhos.

— Por quê? — Perguntei sem entender.

— Apenas faça isso, é um pedido. — Ele falou com gentileza, algo que
era bem raro vindo dele.

— Tudo bem. — Falei para ele e nós saímos da sala de exame.


Para minha surpresa a família dele em peso estava lá. Eu o olhei sem
entender o motivo daquelas pessoas ali, e então entendi porque ele me falou
aquilo na sala de exame.

— E então vocês já sabem o resultado? Precisamos saber. A festa de hoje


é justamente para nos reunirmos para sabermos o resultado, e claro também
planejarmos a comemoração de aniversário do seu avô daqui 15 dias. —
Cora falou animada.

— Meu avô? — Eu perguntei sem entender.

Porque a família do meu marido daria uma festa de aniversário para o


meu avô? Já estavam tão íntimos assim? Jeff começou a me puxar para ir
embora logo do hospital, mas Adélia veio nos acompanhando e perguntou:

— E então? Já sabem o resultado ou não? — Eu permaneci calada


porque achei melhor e apenas dei um sorriso enigmático para ela.

— Querida, por que você já está indo para casa com meu filho? Não quer
ficar para nos contar o resultado e irmos juntas para a festa? — Cora falou se
aproximando de mim também.

Elas pareciam verdadeiros abutres. Eu estava extremamente incomodada


com aquele comportamento estranho delas. Mas permaneci calada apenas
dando um sorriso sociável.

— Temos pressa mamãe, depois nos falamos. — Jeff falou ao andar e


começou a me puxar com mais pressa deixando a mãe dele, Adélia e mais
algumas pessoas da família dele para trás.

Nós entramos no carro e fomos embora para a casa de Jeff. Ao chegar lá,
antes que eu descesse ele disse:

— Obrigado por não falar nada. — Ele olhou pra mim ao dizer.

Eu apenas acenei a cabeça positivamente e dei um sorriso breve. Nós


subimos para o quarto e nos arrumamos pra irmos à festa que seria na casa
do avô dele. Só de pensar que eu estaria ali novamente, eu ficava agoniada.
Depois que estávamos prontos, Jeff mal me olhou e fomos em direção ao
carro. Ele abriu a porta da casa para eu sair e só assim ele viu como eu
estava vestida. Jeff ficou parado por alguns instantes me observando e disse:

— Você está linda. — Acho que aquilo saiu de forma espontânea da boca
dele porque ele se constrangeu assim que falou.

— Obrigada. — Respondi sem graça.

Não tínhamos muitas conversas desse teor, então, geralmente eu não


sabia como agir. Nós entramos no carro e fomos em direção a casa do avô
dele onde seria realizada a festa. Nós chegamos e todos estavam lá, assim
que chegamos Jeff pegou uma taça de champanhe e eu ia pegar também, mas
me lembrei que eles esperavam pelo resultado da inseminação, então, eu
queria manter o ar de dúvida entre os familiares dele. Por esse motivo,
peguei uma taça com soda limonada.

Não havia nem mesmo 20 minutos que estávamos na festa e Jeff


precisou atender uma ligação, fiquei atenta olhando-o falar ao telefone já que
ele havia se afastado um pouco, para tentar entender quem falava com ele.
Depois disso, vi que se tratava de uma ligação de trabalho. Ele veio até mim
e disse:

— Preciso ir até a empresa e daqui a pouco volto, ok?

— Tá... — Ele me olhou por um tempo, deu um beijo em minha


bochecha e saiu.

Aquele ato carinhoso dele conseguiu tirar um sorriso de mim. Passei a


mão em meu rosto e então ouvi uma voz dizer:

— Olha só, você está parecendo a Elizabeth. — Assim que ouvi essas
palavras me virei de uma vez e olhei para ver quem estava falando aquilo.

Era Brandon. Tirei o sorriso do meu rosto e perguntei:

— O que você quer dizer com isso?

— Você está parecendo a Elizabeth. No jeito de se vestir, maquiagem e


no jeito apaixonado de agir. Jeff está mais carinhoso hoje com você, não é
verdade? Pode ser que ele esteja te achando mais parecida com Elizabeth por
isso esteja te tratando assim. — Ele deu uma risada perversa.

Eu fiquei chocada com o que ele estava dizendo, e logo uma infelicidade
tomou conta de mim. Eu não podia me sentir um pouco feliz por meu marido
me tratar bem que algo de ruim simplesmente surgia.

— Você é muito desagradável, Brandon! Eu e a ex-namorada do meu


marido não temos nada a ver fisicamente. — Eu disse irritada.

— Ah, "Elizacharlotte" — Ele falou com deboche unindo meu nome e o


de Elizabeth. — Não seja ranzinza, e pare de fingir só porque hoje é
aniversário dela. Mas você sabia né? Porque Jeff só está carinhoso com você
porque está projetando-a em você. — Ele riu novamente segurou meu
queixo balançando meu rosto de um lado para o outro, e eu bati minha mão
na mão dele para ele parar.

Ele saiu de perto de mim rindo maliciosamente enquanto eu fiquei ali no


meio da família do meu marido, totalmente devastada pelas palavras daquele
babaca.
Embriaguez
Narração - Charlotte Staton

Eu permaneci ali no meio de toda a família do Jeff, e me atentei que não


conhecia praticamente ninguém de verdade naquele lugar. A pessoa que eu
mais conhecia e fazia questão de me manter afastada pelo bem da minha
sanidade mental, era o Brandon. O mesmo mal estar que eu sentia nos
jantares e festas na casa do meu avô, eu estava sentindo ali. Por incrível que
pareça, por mais que minha relação com Jeff fosse extremamente estranha e
perturbadora, eu queria que ele estivesse ali naquele momento ao meu lado.
Então, eu me lembrei do que aquele imbecil do Brandon havia falado para
mim, por esse motivo fiquei com raiva do meu marido.

Eu não merecia ser tratada como uma mera substituta de Elizabeth, era
ridículo ele me objetificar dessa forma, se é que o que Brandon tinha me
falado realmente era verdade. Eu era uma pessoa muito calma, mas nunca
gostei de ser comparada a outras pessoas, eu sabia do meu valor apesar de
toda minha insegurança, eu tinha certeza que eu tinha valor mesmo não
recebendo ele de forma devida pelas outras pessoas.
Segurei minha taça com mais força ao me lembrar que Brandon falou
que eu queria agir igual a Elizabeth, ele estava completamente enganado,
quanto mais diferente dela eu pudesse ser dela, eu seria! Não tinha que ficar
tentando me parecer com ninguém para cativar Jeff, ainda mais que eu nem
tinha esse intuito mais. Seria muito humilhante, e eu estava cansada de ser
humilhada por quem quer que fosse.

Fiquei pensando que agora que a inseminação não tinha dado certo,
talvez, poderia ser questão de tempo para que nós encerrássemos nosso
contrato, quem sabe. Fiquei um pouco triste de pensar na possibilidade de
me separar do Jeff, mas por um lado, eu me senti aliviada... Dei um suspiro e
o garçom passou com uma bandeja contendo outras bebidas não alcóolicas e
eu me servi, entretanto, minha vontade era me afundar no álcool para
conseguir me manter sociável naquela festa.

Vez ou outra, Brandon continuava a me olhar com aquele ar de deboche,


e isso estava me deixando cada vez mais irritada. Como eu parecia ser bem
invisível ali, pelo menos para a maioria das pessoas, comecei a cogitar a
possibilidade de ir embora dali, da mesma maneira que eu fazia nas festas
dadas por meu avô. Acho que não seria uma má ideia... Observei se alguém
estava me olhando, e ao perceber que não, me virei e caminhei para a saída
bem devagar, segurando o copo e olhando para trás vez ou outra para
confirmar que não iriam notar que eu estava indo embora de fininho.

Quando eu estava entrando no hall, para finalmente sair daquela festa


intragável, senti duas mãos fortes segurando meu braço me forçando a parar.
Olhei assustada para frente e quase deixei minha bebida cair.

— Jeff! — Falei um pouco espantada por ter sido pega no pulo.

— O que você está fazendo? Ia a algum lugar? — Ele perguntou e estava


mantendo seu tom de voz gentil. Eu quase me derreti por conta disso.

Mas, imediatamente, as palavras de Brandon dizendo que ele só estava


me tratando dessa forma por conta que hoje era aniversário da Elizabeth, e
eu estava parecendo com ela, ecoaram em minha mente. Sendo assim, fiquei
bem séria e disse em um tom seco ao olha-lo:
— Eu estava indo embora. Você estava demorando, eu não converso com
ninguém aqui e eu detesto esse tipo de jantar, achei que não haveria
problema se eu fosse.

— Me desculpe, Levi me ligou, ele é o gerente da minha empresa, por


esse motivo, foi impossível eu não responder ao chamado dele, pois ele só
me chama quando realmente é um caso de extrema necessidade. — Fiquei
surpresa por ele ter se desculpado comigo, e mais ainda por ele ter
mencionado sobre um Levi ser o gerente da empresa dele.

Será que seria coincidência um homem chamado Levi, nome que não era
tão comum, ser gerente da empresa de Jeff, e um Levi que também era
gerente de uma importante empresa me procurar? Eu iria aproveitar que ele
estava sendo gentil comigo e perguntar para ele:

— Levi? — Perguntei com uma voz branda.

— Sim, Levi Brown, você não o conhece porque no dia do nosso


casamento ele havia viajado para Tokyo a negócios, mas, você ainda terá
oportunidade de conhecê-lo.

Não é possível! O mesmo Levi que me procurou era gerente na empresa


de Jeff, justamente a empresa onde eu era a investidora secreta, e além de
tudo era a empresa que queria comprar meu projeto a todo custo. Era muita
coincidência, eu não estava acreditando naquilo. Deixei um sorriso escapar
pois de imediato elaborei um novo plano em minha mente para ter tanto meu
avô quando Jeff nas minhas mãos... Mas, para isso eu iria precisar de uma
leve ajuda da empresa M&W Technology.

Ao ver meu sorriso Jeff se aproximou mais e perguntou:

— Qual o motivo do seu sorriso? — Ele parecia interessado, porém era


claro que eu não poderia revelar a ele o motivo do meu sorriso, então
desconversei.

— Nada, achei legal você dizer que vou conhecê-lo. — Mantive meu
sorriso e Jeff me olhou confuso.
O que era completamente justificável, afinal, eu tinha dado uma desculpa
mais que esfarrapada para ele. Torci para ele não perguntar mais nada, e logo
fomos salvos pelo mordomo que anunciou que o jantar estava servido. Jeff
gentilmente, me deu seu braço para eu segurar e caminharmos até a mesa.
Por um momento esqueci que ele estava apenas me usando como um objeto
e o olhei de maneira apaixonada, mas logo meu olhar cruzou com o de
Brandon que deu um sorriso malicioso como se quisesse me lembrar
constantemente sobre o que falou a respeito de Elizabeth, sendo assim, meu
sorriso se desfez.

Nos sentamos na mesa de jantar e começamos a ser servidos. Cora,


inconveniente como sempre, perguntou:

— Então, meus queridos, já estão prontos para nos dar a grande notícia
que tem deixado todos ansiosos? — Ela sorria de maneira tendenciosa.

Os olhos dos demais familiares de Jeff se voltaram para nós, e a sala de


jantar inteira se manteve em silêncio apenas esperando nossa resposta,
somente o tilintar dos pratos e copos estavam sendo ouvidos. Eu olhei para
Jeff como se pedisse socorro, não saberia o que dizer para a família dele.
Como ficamos em silêncio, Cora continuou:

— Charlotte, querida, está surda? — Ela deu uma risadinha sarcástica.


Era incrível como ela atribuía a responsabilidade de engravidar somente a
mim e não ao filho dela. — Estou esperan... — Jeff segurou minha mão e
interrompeu sua mãe antes que ela continuasse a falar.

— Não se preocupe, mamãe. Mesmo que a inseminação tenha falhado


fique tranquila que, com certeza, eu darei um jeito de engravidar minha
esposa de outra forma. — Ele me olhou de maneira maliciosa e aquilo me
deixou um pouco confusa.

Eu não sabia se ele estava encenando para a família dele ou se ele


realmente tinha intenção de fazer o que estava falando. Mas, o lado bom é
que aquilo foi o suficiente para fazer com que a mãe dele ficasse calada, e
melhor ainda, constrangida pelo que Jeff havia falado. A expressão dela foi
impagável, eu adorei ver aquilo e dei uma breve risadinha. Jeff me olhou e
entendeu do que eu estava rindo, e acabou rindo também, nós nos olhamos
com cumplicidade por alguns instantes e começamos a comer.

No decorrer do jantar vi que Jeff estava bem empolgado e bebendo um


pouco mais do que o habitual enquanto comia. Não sei o motivo daquilo,
mas achei um pouco estranho. Nós finalizamos nosso jantar e fomos até a
sala de convivência, por nenhum momento Jeff me deixou sozinha, fato esse
que me deixou curiosa. Então resolvi perguntar:

— Você não quer socializar com sua família? — Eu o olhava ao


perguntar.

— Hum... Sinceramente, não. Eu os acho muito diferentes de mim. —


Jeff entregou sua taça vazia para o garçom que passava e pegou uma outra,
que estava cheia.

Aproveitei que ele estava mais "solto" e conversando bastante, então,


resolvi perguntar mais sobre a relação dele com a família dele.

— Mas, por que você acha isso? — Perguntei com curiosidade.

— Bom, eu sou muito ambicioso, e é óbvio que eu adoro dinheiro. Mas


eles são demais, são capazes de tudo por dinheiro. Pressionam a todos para
perpetuarem a "linhagem da família" — Ele falou em tom de deboche e fez
aspas com a mão o que me provocou risos, e ele riu também. — Até parece
que isso é algo de extrema importância hoje em dia, muitas pessoas optam
por não terem filhos e isso é natural, mas para minha família parece ser algo
blasfêmico pensar na possibilidade de não procriar... Por esse motivo, meu
avô deu seu jeitinho de forçar as coisas. — Ele falou e bebeu um pouco da
sua bebida, ao balançar a cabeça de um lado para o outro em negação.

— Entendi. — Na verdade não tinha sido muito claro, mas eu suspeitava


que ele foi convencido a assinar o contrato por conta dessa questão do
herdeiro. — E por esse motivo você não queria que eles soubessem que a
inseminação foi mal sucedida?

— Não somente por isso, tem o contrato e você bem sabe... — Ele falou
e virou o restante de sua bebida, e surpreendentemente pegou mais uma. Ele
estava sem limites.
Aproveitei que estávamos em um momento de descontração e decidi
falar:

— Acho que você já bebeu um pouco além da conta, não acha?

— Talvez um pouco. — Ele falou e gargalhou.

Isso chamou um pouco da atenção para nós, eu ri junto e fiz sinal para
ele falar mais baixo.

— Jeff!

— Shhhhh. — Ele colocou o dedo na boca dando uma risada. — Não


podemos chamar atenção dos Staton...

Eu estava me divertindo com aquela versão dele, mas achei que já era
hora de irmos.

— Acho melhor nós irmos embora, amanhã temos um dia cheio. — Ele
mal conseguia se manter de pé e estava me olhando de um jeito estranho.

Percebi naquele momento que deveria tomar a decisão por ele. Nós nos
despedimos dos familiares dele, ele tentou se manter o mais controlado ao
fazer isso, para que a família dele não percebesse seu estado de embriaguez e
então, depois de nos despedirmos, nós fomos embora. Eu o ajudei a entrar no
carro e depois entrei no lado do motorista para podermos ir para a casa.

No caminho para a casa ele deu uns cochilos, mas, do nada acordava e
balbuciava algumas palavras que eu não conseguia entender nada. Eu ria vez
ou outra daquilo, mas quando me lembrei do que Brandon disse, associei
essa bebedeira dele ao fato de ser o aniversário do verdadeiro amor da vida
dele, e pela frustração dele não estar com ela, ele tinha se acabado na bebida.
Fiquei séria ao pensar nisso e dirigi o restante do caminho assim.

Chegando em casa eu o ajudei a descer do carro, e o levei até o quarto


dele. Hoje como ele não poderia tomar decisões por si mesmo eu o forçaria a
dormir em seu próprio quarto, e em sua cama.
— Jeff, me ajuda, você é pesado eu não consigo segura-lo sozinha. — Eu
reclamei para ele enquanto levava ele próximo a cama dele.

— Claro que você consegue, você é forte. — Ele falava com uma voz
mais mole por conta da bebida.

Ele estava colocando o peso todo em mim. Por conta disso nós dois
caímos juntos em cima da cama. Ele caiu em cima de mim e confesso que
aquilo me causou um desespero, empurrei ele e me levantei com pressa. Para
minha surpresa Jeff se levantou e disse:

— Não, você não pode sair daqui, vem aqui, dorme comigo. Sou seu
marido. — Ele falou e começou me abraçar.

— Jeff! Por favor, para! Você está bêbado! — Eu falei em pânico


tentando me soltar dos braços dele, mas, ele forçava um pouco.

E apesar do seu estado de embriaguez ele ainda tinha mais forças do que
eu para me manter ali. Quando ele se levantou, ele arrastou o cobertor que
estava posto sob a cama junto com ele, por conta disso, ele acabou
escorregando e nós caímos novamente juntos, mas dessa vez no chão.
Peanut?
Narração - Charlotte Staton

Pelo jeito que eu e Jeff caímos inevitavelmente minha mão tocou o pau
dele. Na hora eu fiquei super constrangida e senti que ele ficou excitado.
Aquilo me provocou um misto de sensações que eu não sabia explicar de
forma clara o que estava sentindo. Eu estava muito envergonhada e
assustada, por conta disso eu fiquei imóvel e não me atrevi a me mexer. Nem
mesmo puxar meu braço para puxar minha mão dali, e essa atitude parecia
estar fazendo com que ele ficasse mais excitado ainda.

Jeff me encarava de maneira profunda, eu o olhava nos olhos da mesma


maneira, ele colocou uma de suas mãos em meu rosto e acariciou minha
bochecha. Ele me olhou de uma forma tão intensa nesse momento, que
parecia que ele havia descoberto algo, ele nunca havia me olhado assim, e eu
não entendia o motivo. Seu olhar tinha admiração, ele deu um sorriso tão
lindo, que era praticamente irresistível. Ele tocou meus lábios com o polegar
dele, e eu coloquei uma de minhas mãos no punho dele em um ato de
carinho. Eu sentia a respiração dele na minha pele, mesclada com o hálito de
álcool que ele tinha e estranhamente aquele cheiro me provocava bastante
desejo.
Eu precisava ser forte, não queria que essa noite fizesse com que toda a
evolução que eu fiz tentando ser forte e resistindo a Jeff fosse por água a
baixo como há uma semana atrás. Eu não poderia permitir isso. Ainda
segurando o punho dele eu tentei empurra-lo para que eu pudesse sair dali.
Mas, Jeff me segurou em um abraço e aproximou seus lábios para me beijar,
o cheiro na boca dele misturado com o cheiro do vinho, que ele bebeu a
noite inteira, continuava a produzir um delicioso aroma, e por um momento
eu quase cedi ao seu beijo.

Contudo, como um grilo falante em meu ombro, a voz de Brandon


novamente veio em minha mente falando que ele estava diferente comigo
hoje por ser aniversário de Elizabeth, e eu estava muito parecida com ela.
Era puramente por esse motivo que ele queria me beijar e ficar comigo
naquela noite, só de me lembrar disso de novo automaticamente me chateei e
queria fugir dali. Então, resisti a ele virando meu rosto e disse:

— Me solta Jeff! Você está completamente bêbado. — Eu tentei


empurrar ele mais uma vez.

A cada segundo que eu fraquejava e quase não resistia a ele, eu fazia


questão de me lembrar, de forma tortuosa, que ele me via somente como
uma máquina de parir e como uma mera substituta para seu grande amor,
que era Elizabeth. Eu continuava resistindo tentando o empurrar de cima de
mim com meu corpo e os meus braços, mas, ele era muito forte e todo meu
esforço era inútil.

Puxei meu braço que estava tocando-o fazendo com que ele ficasse
excitado, conseguindo deixar meu braço livre. Mas, mesmo assim, eu não
conseguia sair debaixo dele, aquilo me deu desespero e então comecei a
chorar, e me debater na tentativa frustrada de tirar Jeff de cima de mim.

— Me solta! — Eu falei novamente.

— Pare de resistir, eu sei que você quer. — Ele ainda insistia. Jeff não
estava errado, eu realmente queria, mas eu não poderia me sujeitar a ele
dessa maneira sendo que não era eu quem ele desejava verdadeiramente.
Meus movimentos para me desvencilhar dele se tornaram mais intensos,
tanto que eu bati a mão em um copo d'água que estava em cima do criado
mudo ao lado da cama dele, fazendo com que a água caísse no chão e
respingasse em nós dois. Eu continuava a chorar. Como nada adiantava, pois
ele se recusava a sair de cima de mim, comecei a gritar:

— ME SOLTA AGORA, EU NÃO SOU A ELIZABETH! — Assim que


eu disse isso ele se levantou.

Jeff me encarou ao fazer isso e eu permanecia chorando e o encarando,


ele fez uma expressão sombria, se virou e foi até o banheiro. Isso só fez com
que eu constatasse que ele estava me usando para substituir o lugar de
Elizabeth, que era quem ele queria que realmente estivesse lá. Eu me sentei
encostando na cama e abracei minhas pernas. Eu não conseguia controlar
meu choro, por esse motivo, comecei a fazer os exercícios de respiração que
Sammy havia me ensinado para conseguir me controlar. E assim que
comecei a faze-los consegui me conter e fazer com que meu choro
incessante findasse de uma vez por todas.

Assim que eu me acalmei, me levantei do chão onde estava sentada e fui


em direção ao meu quarto com pressa.

∞∞∞
Narração - Jeff Staton

Fazia muito tempo que eu não bebia como eu bebi aquela noite, eu
estava bem alegre por conta disso, e me manter na presença de Charlotte
estava me deixando mais feliz ainda. Provavelmente o teor alcoólico daquele
vinho era bem significativo para fazer eu achar tão boa a companhia da
Charlotte e querer desfrutar mais dela, mas confesso que estava achando a
conversa dela interessante. Quando ela me chamou para ir embora, eu tentei
ficar o mais sóbrio possível para me despedir da minha família, não queria
que eles começassem a pegar no meu pé porque eu havia passado dos
limites.

Charlotte, pacientemente, me levou até o carro para irmos embora e


obviamente ela quem dirigiu porque eu não tinha condições nenhuma de
fazê-lo. Quando entramos no carro eu olhava para ela dirigindo, mas logo
recostava minha cabeça no banco pois estava muito tonto, e ao fazer isso eu
fechava meus olhos. Comecei a ter alguns flashs em minha mente entre
Charlotte e a peanut, era estranho e bem vívido esses flashs.

Quando eu voltava a mim, tentava chama-la. Entretanto eu acho que as


palavras não estavam saindo de forma clara pois Charlotte estava dando
risadas quando eu tentava pronunciar as palavras que saiam de forma
desordenada. Mas, depois, ela ficou séria repentinamente, e eu não
compreendi o porquê e nem tinha condição de perguntar a ela o motivo. Não
demoramos muito para chegarmos em casa, mas eu estava tão tonto que não
tinha possibilidade alguma de caminhar sozinho até meu quarto.

Novamente, minha esposa me ajudou de bom grado. Eu estava tão à


vontade com ela que apoiei meu corpo, fazendo com que todo meu peso
recaísse sobre ela. Charlotte reclamou disso ao tentar fazer eu me deitar na
cama. Por conta da minha falta de ajuda a ela, nós acabamos caindo juntos
em cima da cama, mas, em um ato de desespero Charlotte saiu rapidamente
de cima de mim, como se estivesse em pânico. Eu estava gostando tanto da
companhia dela, ainda mais por achar ela tão parecida com a peanut que eu
não queria deixa-la ir.

Me coloquei de pé nem sei como e comecei a força-la a ficar comigo,


como eu estava com meu equilíbrio prejudicado, novamente nós caímos, e
fomos ao chão. Mas, dessa vez o jeito que caímos fez com que a mão dela
tocasse em meu pau, aquilo me deu uma excitação instantânea e eu queria ter
ela inteira para mim, ali mesmo. Ela já tinha me torturado bastante nessa
semana que passou. Acho que ela ficou tão assustada com a situação que não
se moveu e somente me olhava com aqueles grandes olhos azuis que ela
tinha.

Aqueles grandes olhos azuis... Não pode ser. Sim, pode ser sim! Eu não
sei se era porque eu estava embriagado ou por loucura da minha mente, mas,
olhando para Charlotte daquele jeito, naquele ângulo, eu tinha certeza que
ela era a peanut. Com certeza, era ela! Eu dei um sorriso enquanto a olhava e
ela parecia não entender muito bem porque eu a encarava daquele jeito.

Mas a verdade é que eu estava muito feliz por finalmente ter encontrado
minha garota perdida há 10 anos... Não sei se era o álcool falando, talvez
fosse exatamente isso que estava acontecendo, mas eu não queria perder
aquele momento, nem aquele sentimento nostálgico que ele me trazia, por
nada nesse mundo. Eu acariciava o rosto dela e, posteriormente, sua boca
que era tão rosa e carnuda. Eu queria beija-la naquele instante. Ela tentou
sair da posição em que estávamos, e ao perceber que ela fugiria de mim eu
pressionei meu corpo no dela impedindo que ela fizesse isso. Tentei beijar
ela e a abraçava. Eu presumi que ela não iria resistir pois por um breve
momento foi isso que ela demonstrou, que me queria tanto quanto eu a
queria.

Mas, para minha tristeza, ela começou a tentar a sair de todas as formas e
para meu desespero começou a chorar. Ela se debatia e por mais que eu a
abraçasse tentando demonstrar que eu não queria que ela chorasse e saísse
dali ela chorava mais intensamente. Charlotte começou a gritar e disse que
não era a Elizabeth. Quando ela falou isso seu choro se intensificou mais
ainda, por conta do choro dela eu me levantei de imediato. Não entendia o
motivo dela mencionar Elizabeth tão aleatoriamente, mas não dava para
ignorar aquele choro e por esse motivo resolvi liberta-la.

Era perturbador ouvir o choro tão sofrido dela, eu fiquei ansioso e sem
saber o que fazer diante daquilo. Eu fiz uma expressão séria ao olha-la, e ela
continuava a chorar. Eu só precisava sair dali o quanto antes para parar de
ouvir aquele choro, que parecia que iria me partir em mil pedaços porque me
pesava em agonia por ver Charlotte sofrer daquela maneira. Fui em direção
ao banheiro para me refugiar ali.

Abaixei a tampa do vaso sanitário e me sentei nela, eu não estava


entendendo porque o choro de Charlotte estava mexendo tanto comigo, mas
acho que isso era porque ela tinha muita semelhança com a peanut. Claro
que Charlotte não era ela, seria impossível isso! Mas, por conta do estado de
embriaguez que eu estava, pela semelhança física entre elas, e por grande
parte de mim querer acreditar nisso, acabei me convencendo que era ela. Fui
um completo imbecil!

Mesmo com a porta fechada, ainda dava para ouvir o choro dela, mas,
ele foi acabando aos poucos, e isso me trouxe tranquilidade. Quando ela
parou de chorar totalmente, eu passei uma água em meu rosto para me ajudar
a ficar sóbrio. Eu decidi que iria me desculpar com ela, pois, por mais que
ela demonstrasse mesmo que por momentos rápidos que tinha interesse, não
foi certo eu agir daquela maneira tentando força-la a ficar comigo.

Mas, assim que saí do banheiro, e caminhei até minha cama, vi que ela já
não estava mais lá. Fiquei frustrado e pensei em ir até o quarto de hóspedes,
mas acho que já havíamos passado por coisas demais por hoje, e o mínimo
que eu deveria fazer era poupa-la de mais chateações. Me deitei na cama e as
cenas que foram vividas por mim e Charlotte há alguns momentos ficavam
passando pela minha cabeça como se fossem um filme. Aquilo,
verdadeiramente, estava me perturbando e me deixando angustiado
principalmente porque o choro dela ficou gravado em minha mente.

Fiquei rolando de um lado para o outro a noite inteira e não conseguia


pregar meus olhos. Eu vi praticamente o sol nascer, então, decidi me levantar
mais cedo que o habitual já que não iria conseguir dormir mesmo. Ao me
levantar, fui até o quarto de hóspedes para ver se Charlotte, que pensei que
diferente de mim, havia conseguido dormir, mas chegando lá vi que ela não
estava. Ela não devia ter dormido em casa. Provavelmente quando eu ainda
estava no banheiro ela deve ter saído... Para onde eu não sei, mas eu não iria
pressiona-la nesse momento querendo saber onde ela estava, pois eu fui
errado com ela. E também ela já tinha me provado várias vezes que era uma
mulher fiel. Certamente ela havia ido para a faculdade dormir lá em seu
antigo dormitório...

Fui ao banheiro, fiz minha rotina de higiene matinal e tomei meu banho.
Coloquei uma roupa para trabalhar, e desci com pressa. Nem ao menos quis
tomar café da manhã e fui para a empresa. Minha cabeça parecia que iria
explodir, não só pela bebida, mas pelo ocorrido entre mim, e minha esposa.
Ao chegar na empresa subi imediatamente para o escritório, e para tentar
evitar que os pensamentos da noite passada invadissem minha mente, e
ficassem me perturbando, eu me afundei no trabalho.
Perspicácia
Narração - Charlotte Staton

Eu cheguei em meu quarto e até pensei em ficar lá, mas decidi que iria
para o dormitório da faculdade. Não iria ficar ali naquela casa onde eu havia
acabado de ser humilhada daquela maneira. Peguei algumas roupas e minhas
coisas, fui direto para a saída da casa. Eu estava chorando ainda, porque
mesmo sem querer eu revivia a cena que havia acontecido há alguns
momentos. Mas, agora, eu estava um pouco mais controlada. Abri a porta da
casa com pressa para não correr o risco do Jeff vir atrás de mim e tudo virar
algo maior.

Entrei no carro depois de ter colocado minhas coisas no banco do


passageiro, e dirigi em direção a minha faculdade. Chegando lá, estacionei
meu carro e fui para meu dormitório, eu estava exausta fisicamente pela luta
corporal que tive com o Jeff, mas também por conta do estresse psicológico
que eu havia passado com ele. Era algo extremamente tortuoso eu saber que
ele me via como uma mera substituta da sua ex.

Era na verdade uma grande confusão de sentimentos dentro de mim,


pensar que ele desejava tanto ela a ponto de insistir daquela forma para ficar
comigo, e saber que parte de mim desejava tanto ele que quase cedi a essa
humilhação. Era degradante demais passar por isso. Deitei na cama e tive
muitas dificuldades para dormir pensando em tudo que havia acontecido.
Então, ao invés de dormir, eu resolvi trabalhar no plano que eu tinha
elaborado assim que soube que Jeff era o dono da empresa que Levi era
gerente.

Eu precisava da ajuda do senhor Wilson, da empresa M&W Technology,


então por conta disso eu iria ter que ter uma carta na manga para convence-
lo a me ajudar. Pela manhã eu iria procura-lo, para que eu pudesse colocar
meu plano em prática. Fiquei trabalhando até mais ou menos 3 horas da
manhã em meu notebook, o sono acabou vindo, mas eu também já tinha
findado o que precisava fazer.

Me deitei na cama e adormeci. Ao amanhecer meu despertador tocou e


eu acordei, estava muito cansada, mas logo o plano que eu tinha feito na
noite anterior veio na minha cabeça e eu sabia que tinha a necessidade de
executa-lo o quanto antes. Fui até o banheiro e tomei um bom banho para
despertar, depois ao sair vi que meus olhos estavam fundos e eu tinha
olheiras bem escuras por conta do choro e da noite mal dormida.

Fiz uma maquiagem mais forte o suficiente para cobrir todas essas
imperfeições, e me vesti de uma maneira mais formal. Me dei conta, que eu
estava pronta, mas nem ao menos tinha ligado para o senhor Wilson. E se ele
me rejeitasse? Não quisesse nem ao menos me ver? Olha só quem estava
falando novamente... Minha insegurança praticamente gritava tentando me
sabotar. Respirei fundo, pois eu sabia que o não eu já tinha, o que eu poderia
fazer minimamente era tentar correr atrás do meu sim. Disquei o número do
Wilson, que meu orientador havia me passado e torci para que desse tudo
certo.

Ligação ON

Wilson: — Alô?

Charlotte: — Bom dia, eu falo com o Wilson?


Wilson: — Sim, ele mesmo. Quem é?

Charlotte: — Senhor Wilson, me chamo Charlotte St... Hills. Charlotte


Hills. O senhor Hollins é meu orientador e me passou seu contato. Eu
gostaria muito de marcar uma reunião com o senhor. Sei que está bem em
cima da hora, mas, eu queria que fosse hoje de preferência pois tenho
urgência em falar com você. — Eu estava unindo toda minha coragem para
falar aquilo porque eu sabia que estava sendo ousada demais, já que ele era
um homem muito ocupado.

Wilson: — Certo, Charlotte. Eu terei essa reunião com você. Qual


horário você pode ir até a empresa?

Charlotte: — Agora mesmo, senhor! — Eu falei empolgada. Ouvi ele


dando uma risada após o que eu falei.

Wilson: — Eu ainda não estou na empresa, estou tomando café da


manhã com minha esposa. Mas assim que eu chegar na empresa nos
encontramos. Ás 7h30 você pode estar lá.

Charlotte: — Muito obrigada, senhor Wilson, o senhor não irá se


arrepender de me dar essa chance.

Wilson: — Assim espero, bom dia.

Ligação OFF

Eu sei que havia cometido inúmeros equívocos na ligação porque havia


ficado nervosa. Graças a Deus não deixei meu sobrenome de casada ser
revelado, porque senão, eu com certeza não seria bem vinda para colocar
nem se quer os pés na empresa de Wilson já que ele era concorrente direto
da empresa do meu marido. Depois que eu pesquisei sobre a Tec Solutions
eu descobri isso. Eu achei que Wilson aceitou muito fácil minha proposta,
provavelmente o senhor Hollins devia ter falado de mim para ele. Isso era
bom, ele foi mais eficiente que de costume já que ele era uma pessoa muito
esquecida porque pensava em várias coisas ao mesmo tempo.
Eu estava muito ansiosa para ir. Olhei no relógio e vi que não eram nem
7 da manhã, ao ver o horário me envergonhei mais ainda por ter ligado tão
cedo para o senhor Wilson. Acho que não adiantaria nada eu ficar ali na
faculdade esperando o horário, então, decidi que iria para a M&W
Technology o quanto antes para evitar o trânsito e chegar pontualmente lá,
por mais que fosse perto da minha faculdade.

Peguei minhas coisas, imprimi alguns papéis importantes guardando-os


em uma pasta de arquivos e em seguida em minha bolsa. Depois, saí do
dormitório rumo ao estacionamento, peguei o carro e fui em direção a
empresa do senhor Wilson. Cheguei cedo lá, antes das 7:30 da manhã e ele
ainda não havia chegado. Fiquei esperando ansiosa na sala de espera. Assim
que ele chegou a secretária o avisou que eu estava a sua espera. Ao me ver lá
sentada, ele gentilmente sorriu para mim e me convidou para ir até a sala
dele.

Ao chegar na sala me sentei na cadeira de frente para a mesa dele, e ele


se sentou na cadeira atrás de sua mesa ficando de frente para mim.

— Charlotte Hills, certo?

— Isso mesmo, senhor. — Dei um sorriso ao falar.

— Você se perguntou porque um homem tão importante e cheio de


afazeres aceitou tão rapidamente seu pedido de reunião? — Ele recostou na
cadeira ao falar.

— Imagino que deva ser por conta da recomendação do senhor Hollins.

— Não, Hollins nem ao menos falou comigo. — Ele disse ao me olhar.

— Então, por qual motivo aceitou essa reunião comigo, senhor? —


Indaguei confusa.

— Há alguns dias, meu concorrente, não sei se você o conhece, mas


creio que conheça, Jeff Staton esteve aqui com o gerente da empresa dele
sondando se uma tal Charlotte Hills estava por aqui. Na verdade, ele mandou
o gerente dele investigar para não se expor, mas nós conhecemos o senhor
Brown também. Fiquei curioso para saber quem era essa moça, que recebeu
inúmeros adjetivos qualificando sua inteligência... E desde então eu estou à
sua espera. — Ele deu um sorriso ao me olhar curioso. — Mas, confesso que
esperava uma mulher mais velha para ter recebido tais atributos, você é
praticamente uma menina.

Eu fiquei chocada de saber que Jeff tinha ido lá atrás de mim, Levi
realmente estava determinado a comprar meu projeto, mas por conta do
contrato de confidencialidade provavelmente Levi não falou para Jeff meu
nome.

— Te garanto, com todo respeito, senhor Wilson, que minha idade não é
empecilho para o meu alto nível de inteligência, modéstia parte. — Eu dei
um sorriso confiante ao falar e parece que isso instigou ainda a mais a
curiosidade dele.

— Interessante. — Ele disse. — Então, senhorita Charlotte, o que você


quer de mim? Ou melhor, o que você tem para mim?

— Eu gostaria de te apresentar o projeto que desenvolvi. — Falei para


ele.

— Sou todos ouvidos. — Ele demonstrava maior interesse.

Retirei meu notebook da bolsa e expliquei sobre meu projeto para ele, eu
não exigi sigilo nem confidencialidade pois eu sabia que Wilson tinha uma
reputação impecável e jamais tentaria roubar meu projeto. A cada palavra
que eu dizia ao explicar meu projeto parecia que eu arrancava maior
admiração por parte do senhor Wilson, e isso me dava ainda mais confiança
para falar sobre meu trabalho para ele. Ao fim da minha explicação ele
parecia estar sem palavras, então eu perguntei.

— O que o senhor achou?

— É realmente algo incrível e de uma genialidade ímpar. Você supera


toda e qualquer expectativa que as pessoas depositam em você a respeito da
sua inteligência. Eu estou admirado. Parabéns, senhorita Charlotte! — Ele
falava com animação para mim.

— Obrigada, senhor Wilson. — Respondi orgulhosa para ele.


— E o que você quer para me vender seu projeto? — Ele questionou.

— Eu quero 6% das ações da M&W Technology. — Eu precisava ser


ousada na minha proposta porque eu precisava muito desse poder.

— Hum... Não me interessa compartilhar 6% das ações da minha


empresa por um projeto. Por mais que eu entenda o altíssimo valor que ele
tem, minha empresa está estabelecida no mercado e eu não preciso arriscar
6% das minhas ações já que sou o sócio majoritário. Além do mais eu não
sinto que você está procurando uma colaboração sincera. Uma empresa nova
para aderir seu projeto com certeza seria mais interessante do que a minha,
que já é estabelecida... Qual é o real motivo que está fazendo apresentar seu
projeto para mim? — Ele perguntou me olhando com uma expressão séria.

Wilson era um homem de negócios há muito tempo, imaginei que ele


realmente fosse pensar que eu tinha segundas intenções ao apresentar meu
projeto para ele e pedir algo tão ousado como as ações da empresa dele para
mim. Diante disso, resolvi ser sincera com ele e contar minha verdadeira
intenção.

— Meu verdadeiro objetivo é a empresa Tec Solutions.

— Então por que não vende seu projeto logo de uma vez para eles? —
Ele perguntou ainda sem entender meu ponto de vista.

— A M&W Technology é uma grande empresa já estabelecida no


mercado como o senhor mesmo falou, já a Tec Solutions é uma empresa que
praticamente acabou de ser fundada e não tem muita segurança por
enquanto. Por conta disso sei que meu projeto pode ser algo que irá ajuda-los
de vez a se estabelecer no campo da biociência e tecnologia militar, e isso é
mais importante do que 6% de ações de qualquer empresa. Contudo, a sua
empresa, será um trampolim para minhas negociações com a Tec Solutions.
Se eles souberem que eu estou negociando de fato com você, e se o senhor
puder confirmar isso, vai me dar muita vantagem ao negociar com eles. A
verdade é que quero usar sua empresa para eles aceitarem minhas exigências
quando eu for negociar com eles. — Eu fui sincera até demais e tive receio
da resposta dele.
Ele me olhou um tempo e passava a mão em sua barba ponderando o que
eu havia falado para ele.

— Além de jovem e inteligente em sua área, é inteligente para fazer


negociações também. — Ele deu um sorriso olhando para mim.

Fomos interrompidos pelo seu telefone tocando. Ele pediu licença e


atendeu. Assim que ele atendeu, ele disse: "Tudo bem, mande-os aguardar
um pouco que já os receberei." Fiquei um pouco curiosa e então ele disse
para mim:

— Eu não sei se é sorte sua ou obra do destino, mas, Jeff Staton e Levi
Brown estão aqui para conversar comigo e algo me diz que é a respeito do
seu projeto, provavelmente querem saber se eu irei fechar negócio com você.

Eu já esperava que isso pudesse acontecer, então juntei toda a coragem


que eu tinha novamente e falei para ele:

— Me ajude. Finja que você tem grande interesse em meu projeto


quando virem falar com você, isso vai ser crucial nas minhas futuras
negociações com eles. — Eu falei para ele esperançosa.

— Eu quero te ajudar, mas, como todo homem de negócios, eu quero


ganhar algo em troca porque senão não há sentido em ajuda-la. O que você
me dará em troca? — Ele perguntou em um tom desafiador. Acho que ele
julgou mal e achou que eu não tinha nada a oferecer para ele.

Todavia, eu era precavida, como havia presumido que provavelmente ele


iria querer algo em troca eu me antecipei na noite anterior e preparei um
arquivo que iria interessa-lo.

— Isto aqui. — Falei ao entregar o arquivo para ele.

Wilson pegou o arquivo das minhas mãos, e me olhou com desconfiança,


depois disso, começou a folheá-lo.
Meu plano perfeito
Narração - Charlotte Staton

O maior projeto atual da empresa de Wilson tinha entrado em um


verdadeiro impasse. E o arquivo que eu havia entregado para ele, continha
informações que poderiam ajuda-lo a acabar de uma vez por todas com esse
problema. Eles tinham ficado sem saída para desenvolver um novo
armamento, simplesmente por conta de um erro tão mínimo em um
algoritmo. Sendo assim não conseguiam finalizar o projeto de grande
importância financeira para a empresa.

A medida que Wilson lia a informação ele parecia chocado e encantado


ao mesmo tempo, acho que ele temeu pela segurança das informações da sua
empresa, mas, ficou feliz por saber que finalmente aquele armamento que os
técnicos dele haviam planejado há tanto tempo, e que renderia bilhões para a
empresa dele, finalmente ficaria pronto. Então para conforta-lo, eu disse:

— Fique tranquilo que as informações sobre sua empresa estão seguras.


Nenhum dado foi divulgado. — Eu dei um sorriso vitorioso pois eu sabia
que dificilmente depois de apresentar minha carta na manga para ele, Wilson
não hesitaria diante do meu pedido de ajuda.
— Como você descobriu isso? — Ele me olhou intrigado segurando o
arquivo em suas mãos.

— Bom... Eu sou hacker, e sempre fui uma grande admiradora da sua


empresa, por esse motivo, eu invadi seu sistema para usá-lo como objeto de
estudo. Me desculpe por isso, mas volto a afirmar que eu não tinha interesse
nenhum em dados, lucros, ou o que quer que fosse. Eu só queria acompanhar
o desenvolvimento dos projetos porque sempre admirei a ampla tecnologia
usada por sua empresa. Há 6 meses, eu estava estudando o novo projeto da
sua empresa e vi esse erro no algoritmo, não era algo muito difícil de
resolver, entretanto, era algo que poderia passar despercebido e claramente
foi isso que aconteceu. E ele passando despercebido poderia gerar problemas
para o desenvolvimento final da arma, e foi exatamente isso que ocorreu...
Seus técnicos são incríveis, mas não se atentaram a isso, acontece. — Eu dei
um sorriso ao falar.

— E você conseguiu prever e resolver isso há 6 meses atrás? — Ele me


perguntou chocado.

— Sim. Assim que descobri, imediatamente mostrei para o senhor


Hollins, dizendo que eu conseguiria resolver o problema que poderia fazer
com que o projeto de vocês pudesse ser prejudicado. Mas, como eu hackeei
o sistema da sua empresa, o senhor Hollins ficou louco e disse que era para
eu destruir isso e não contar para ninguém, pois, poderia trazer sérios
problemas tanto para mim quanto para ele. E caso você não acredite em mim
a respeito do que estou te falando sobre o algoritmo pode confirmar com o
senhor Hollins, pois, ele viu que esse problema aconteceria assim que
mostrei para ele. — Eu dei um sorriso sem graça.

— Hollins deveria ter me falado, temos intimidade para isso! Depois eu


irei me acertar com ele. — Ele deu uma risada e ainda parecia admirado. —
Não se preocupe, que eu acredito em você, faz sentido tudo que você falou.
Porque realmente os técnicos diziam ser um erro praticamente imperceptível,
por isso não conseguiam acha-lo, e infelizmente prejudicou o projeto inteiro.
Você é realmente um gênio, senhorita Hills. Quanto a hackear minha
empresa para objeto de estudo e não para frauda-la, levarei como um elogio,
mas peço que não faça mais. — Eu dei um sorriso sem graça ao ouvir o que
ele disse.
— Obrigada! E fique tranquilo que não farei mais. — Falei com bastante
gratidão.

Eu estava orgulhosa por ter ajudado, e aliviada por ele não ter levado a
mal o fato de ter hackeado o sistema dele.

— Você tirou um peso imenso de cima das minhas costas, você não faz
ideia! Eu estava a ponto de desistir desse projeto e jogaria não somente
milhões, mas, bilhões de dólares no lixo. Quanto você quer por esse
arquivo?

— Imagina, eu não quero nada em dinheiro. Apenas quero que o senhor


finja que tem muito interesse em meu projeto para o pessoal da Tec
Solutions, como retribuição pela minha ajuda. É um presente que estou lhe
dando, e peço apenas esse favor em troca. — Eu sorri para ele.

Eu não tinha intenção nenhuma de ganhar dinheiro pelo arquivo.

— Não, Charlotte, como boa negociante você tem que saber que isso é
primordial. O que você descobriu e me entregou como presente, foi algo que
já gastei milhares de dólares com pessoas que disseram que poderiam tentar
descobrir e não me davam garantias... E mesmo assim, eu as pagava só pelo
fato de haver a possibilidade de me ajudarem. — Wilson falou enquanto
pegou um bloco com talões de cheque e preenchia.

— Eu insisto que isso não é necessário. — Eu fiquei constrangida ao ver


ele preenchendo o talão.

— E eu insisto que é. Tenha isso como um pontapé inicial em sua


carreira para te ajudar sempre a se lembrar que tudo é comércio, e tudo você
pode vender. — Ele me deu um sorriso ao entregar o cheque no valor de 1
milhão de dólares.

Eu arregalei meus olhos, pois verdadeiramente não esperava receber pelo


arquivo, ainda mais uma quantia tão exorbitante. Mas, visto que eu dei a
salvação para o projeto bilionário dele, aquilo era uma bagatela... Então, eu
peguei o cheque e o aceitei.
— Além do mais, esteja certa que eu interpretarei o papel da pessoa mais
interessada possível em comprar seu projeto. Vou avisar minha secretária
para chama-los para subir. — Ele tirou o telefone do gancho e quando ele foi
avisar sua secretária eu gritei.

— NÃO! — Aquilo causou espanto nele, Wilson me olhou sem entender


o motivo que me levou a tomar aquela estranha atitude. — Desculpe ter
gritado. Eu não quero me encontrar com eles ainda, preciso avançar um
pouco mais na finalização do meu projeto.

— Ah sim, compreendo. — Ele falou sorrindo e colocando seu telefone


de volta no lugar.

— Existe alguma saída alternativa da sua sala para que eles não me
vejam aqui? — Eu perguntei com apreensão.

— Tem sim! Foi uma das primeiras coisas que exigi em meu escritório,
as vezes é preciso escapar sem ser visto. — Ele deu um sorriso travesso e se
levantou da cadeira.

Wilson me levou até uma parede que na verdade era a porta de um


elevador. Eu olhei admirada, porque jamais imaginaria que ali seria uma
porta de um elevador.

— Genial! — Falei para ele, e ele deu uma risada.

— Esse elevador te levará até a saída de entrada principal do prédio,


provavelmente Levi e Staton já estão na recepção ao lado me aguardando
então não irão ver você. Muito obrigado, mais uma vez, Charlotte! — Ele
estendeu sua mão para mim.

Eu apertei a mão dele, sorri e entrei no elevador. Eu estava tão feliz por
saber que tudo que planejei tinha dado certo que respirei aliviada enquanto o
elevador descia. Saí da porta do elevador e caminhei em direção a porta dos
fundos da empresa para sair dali, então ouvi:

— CHARLOTTE! — Alguém me gritou e aquela voz ecoou por todo o


saguão do prédio.
Ao olhar para trás, eu vi que era Jeff. Fiquei surpresa por ele estar ali
pois pensei que ele estava junto com Levi para conversar com Wilson. Ele
veio em minha direção franzindo sua testa, por um momento me lembrei da
noite anterior e me estremeci. Mas como ele estava se aproximando eu me
recompus.

— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou para mim ao parar na
minha frente.

Eu precisava pensar em algo que justificasse o motivo por eu estar ali o


quanto antes.

— Eu vim para uma entrevista de estágio. — Falei ao olhar para ele.

— A M&W Technology é minha maior concorrente, se eles souberem


que você é minha esposa, eles vão tratar você como se fosse uma espiã que
quer trabalhar aqui para trazer informações para mim. Isso não seria bom
para mim, nem para você. — Ele falou um pouco irritado.

— Ah, sinto muito, eu não sabia. Mas deve ter sido por esse motivo que
não fui contratada. Fique tranquilo que você não será prejudicado.

Ele acenou a cabeça quando eu disse para ele, mas, ao mesmo tempo
pareceu ter pena de mim por não ter conseguido a suposta vaga de estágio,
então ele falou:

— Não se preocupe, eles não devem ter te contratado justamente por


conta do meu sobrenome, e não porque você não tem competência para o
cargo. Surgirão outras oportunidades e você será contratada por uma boa
empresa. — Ele deu um sorriso para mim.

Eu correspondi ao sorriso dele e achei fofo ele ter se preocupado dessa


maneira. Mal sabia ele que se as empresas do ramo soubessem quem eu era
de verdade, iriam disputar para poder ter eu fazendo parte da equipe.

— Obrigada. — Agradeci ele ainda com um sorriso em meu rosto.

— Você está indo para onde? Onde você dormiu? — Ele me perguntou e
eu vi que não havia intenção de me controlar naquelas perguntas, mas, ele
parecia ter preocupação.

Apenas por achar que ele estava genuinamente preocupado comigo o


respondi.

— Eu vou para faculdade, e eu dormi lá no meu antigo quarto do


dormitório.

— Ah sim, entendi. Vem, eu te dou carona até lá. — Ele não me deu
opção para negar então o acompanhei.

O carro de Jeff estava parado na porta da empresa. Ele desativou o


alarme e nós dois entramos no carro. Assim que nós entramos, o celular de
Jeff começou a tocar, ele olhou arqueando uma de suas sobrancelhas e dei
uma espiada na tela. Vi que quem ligava para ele, era Levi.

Eu não consegui ouvir o que Levi estava falando, mas pude escutar Jeff
falando:

— O quê? Ele está interessado em comprar e disse que nunca viu algo
assim!? — Jeff perguntou nervoso.

Creio que estavam falando do meu projeto, e pelo visto Wilson estava
cumprindo muito bem com sua parte do acordo.

— Me espere aí que já irei me encontrar com você. — Jeff falou para


Levi e desliou o telefone. — Sinto muito, Charlotte, mas preciso resolver
esse problema com urgência. — Ele me entregou a chave do carro enquanto
falava e parecia ter ficado de mau humor.

— Tudo bem, sem problemas, imprevistos acontecem. — Falei tentando


conforta-lo e também com a intenção de amenizar o mau humor dele.

Ele me deu um beijo na testa tão naturalmente que me surpreendi, depois


disso ele simplesmente saiu do carro e desapareceu ao entrar novamente na
empresa. Meu celular fez um barulho alertando que havia chegado
mensagem, ao abrir a mensagem eu vi que era de Wilson.
Mensagem ON

Wilson: — Charlotte, o plano saiu como o esperado. Levi acabou de sair


daqui e parecia estar desesperado em saber que iria perder seu projeto para
mim. Acho que agora você tem a Tec Solutions nas suas mãos, para
negociar como bem entender. Eu disse que só não fecharia com você se você
desistisse caso encontrasse uma proposta melhor, e talvez eu ainda a
cobriria.

Charlotte: — Muito obrigada, Wilson! Não me esquecerei disso.

Wilson: — Fique tranquila, estamos quites!

Mensagem OFF

E assim, meu plano foi concluído com sucesso!


Ele também é esperto!
Narração - Jeff Staton

Algumas semanas depois

No dia em que Levi me ligou para ir até o escritório de Wilson com


urgência pois ele fazia questão de fechar o contrato com a garota misteriosa,
aquilo me deixou intrigado. Ele era um homem de negócios que não cedia
facilmente para ninguém, achei curioso o fato dele estar se esforçando tanto
para dizer que gostou do projeto de uma moça tão jovem que não tinha
nenhuma influência no ramo de tecnologia militar. Isso estava me soando
muito estranho e era algo que estava me deixando com a pulga atrás da
orelha. Eu pedi para Levi que aumentasse a proposta para a moça com o
intuito de que a moça fechasse conosco e não com ele. No mesmo dia que
tivemos nossa reunião com o Wilson, nós demos um jeito de descobrir o
valor que ele ofereceria a ela.

Ele não deu números exatos, mas disse algo que foi uma palavra chave
para nosso negócio, ele disse que ela tinha interesse nas ações da empresa
dele. Eu estava pensando muito sobre isso nos últimos dias e deixei por
conta de Levi fazer todos os trâmites para convencer a moça misteriosa a
fechar o contrato conosco, eu não queria dar nenhuma parte das ações da
minha empresa, então, por esse motivo estava oferecendo um valor bem alto
para ela. Mas, estava demorando mais do que minha paciência poderia
aguentar, pois ela queria fazer com que cedêssemos em relação as ações,
mas isso era demais para mim.

E para completar, eu ainda não sabia nada desse projeto. Eu não fazia
ideia se o desgaste todo que eu estava passando realmente valia a pena. Eu
estava pensativo sentado na minha mesa do escritório, não tinha muito
trabalho a ser feito, então eu estava bem tranquilo. Portanto, para minha
surpresa, Levi entrou na minha sala como um raio. Ele veio com passos
largos em minha direção e tinha um grande sorriso em seu rosto.

— Finalmente! Conseguimos! Ela aceitou vender o projeto para nós! —


Levi falou satisfeito e eufórico.

— Está falando sério? Já era hora! — Eu falei com um certo alívio.

— Sim, demorou, mas, finalmente ela cedeu. — Levi falou em


comemoração.

— Bom, agora finalmente eu vou poder saber sobre o projeto e conhecer


esse gênio misterioso em pessoa. Isso será maravilhoso. — Eu falei com
empolgação.

— Sim, agora você saberá de tudo. Vou entrar em contato com ela e
dizer que você quer conhecê-la e já marco para fecharmos o negócio. —
Levi falou e começou a discar o número para ligar para a garota misteriosa.

Eu não sei para que tanto mistério, isso era extremamente desnecessário.
Levi me olhou com um sorriso e disse que ela viria nesta tarde para eu
conhecê-la, e para assinarmos o contrato. Depois disso, já que nós iríamos
fecha negócio, ele me explicou mais ou menos como era o projeto, e
realmente era algo fascinante. Eu não via a hora da própria criadora explicar
com as palavras dela, pois pensando bem, quando o próprio criador explica
sua ideia sempre gera um impacto maior.
Como me interessei pela ideia. Imediatamente liguei para o
departamento jurídico e pedi para que fizessem o contrato que nós íamos
assinar com a tal garota que eu nem mesmo sabia o nome. Mas eu não iria
mais perturbar Levi querendo saber das coisas a respeito dessa moça, pois,
eu descobriria tudo hoje.

Estava ansioso e não via a hora de conhecê-la, por esse motivo, às horas
pareciam se arrastar. Levi e eu almoçamos no restaurante em frente a
empresa, e após almoçarmos voltamos de imediato. O encontro e assinatura
do contrato seriam às duas e meia da tarde, então, para evitar possíveis
atrasos resolvemos voltar o quanto antes. Subimos para o meu escritório e
pouco tempo depois fomos avisados que ela havia chegado.

Não sei explicar o motivo, mas senti um frio em minha barriga, aquilo
era estranho e novo para mim. Por que eu estava me sentindo daquela
forma? Assim que ela entrou a observei. Vi que era uma moça alta, magra,
de cabelos cacheados e pele morena, não era tão bonita, tampouco batia
com a descrição de Levi e nem parecia ser tão inteligente, muito menos tão
jovem quanto me falaram. Vi que Levi olhou de um jeito diferente, parecia
que ele estava frustrado ao vê-la.

— Boa tarde, eu vim assinar o contrato para podermos fechar o


negócio. — Ela falou e deu um sorriso.

Levi aparentava estar visivelmente constrangido, e eu não estava


entendendo o que estava acontecendo. Mas, eu tinha certeza que algo não
estava certo.

— Boa tarde, eu estava ansioso para conhecê-la... Afinal, qual seu


nome? — Perguntei para ela.

— Vivian. Vivian Hills. — A moça falou. Coincidentemente era o


sobrenome de solteira da minha esposa.

Levi se calou e não parecia empolgado como antes, mas, não falava nada
para se opor também.

— É um prazer, conhecê-la Vivian. Você pode me falar um pouco mais


sobre o projeto? Levi me falou por cima, mas eu quero entender mais com
suas palavras porque acho que será mais detalhado. — Coloquei meu dedo
indicador na minha bochecha e os outros dedos por cima da minha boca,
apoiei o cotovelo na mesa e fiquei encarando a moça esperando sua resposta.

Eu percebi que ela hesitou, mas, começou a me explicar. O jeito que ela
me explicava era completamente sem profundidade e paixão. Eu conhecia
pessoas que inventavam projetos quase que diariamente. Por mais tolo que o
projeto fosse, seus criadores os tratavam como bebês valiosos. Por esse
motivo, descobri naquele momento que não era ela a verdadeira criadora do
projeto! Aquilo me enfureceu, mas não esbocei reação.

Assim que ela finalizou a explicação, Levi se aproximou e disse:

— Ótimo, agora que está explicado a senhora Hills pode finalmente


assinar. — Levi falava de modo impaciente, como se tivesse pressa que ela
assinasse o contrato o quanto antes. Ele colocou o contrato na frente da moça
para que ela pudesse assinar.

Assim que ela pegou a caneta e iria assinar eu a interrompi.

— Pare agora. — Eu tinha um tom de voz rude.

Ela me olhou com os olhos arregalados e Levi apertou seus lábios um


contra o outro, nesse momento creio que ele percebeu que eu já sabia que
aquela não era a verdadeira dona do projeto.

— Você não é a verdadeira senhora Hills, estou certo? — Eu falei em


tom desafiador e olhei para Vivian e Levi.

— E-eu... Eu... — A moça simplesmente empalideceu e gaguejava,


claramente demonstrando que era uma farsante. Ela não sabia como explicar.

Encarei Levi franzindo a testa meu semblante fechado demonstrando


meu descontentamento. Ele me conhecia bem, então logo foi falando após
um suspiro como se tivesse sido derrotado.

— Não, ela não é a verdadeira inventora do projeto...

— Quem é você, então? — Perguntei rispidamente para Vivian.


— Eu sou assistente da senhora Hills, eu tenho a procuração para assinar
no lugar dela e será legítimo, da mesma maneira se fosse ela pessoalmente
assinando. Não se preocupe. — Ela falou tentando me confortar, mas ainda
parecia nervosa.

— Não é esse o problema, eu só não entendo para que tanto mistério. Por
que ela insiste em não aparecer!? — Eu perguntei irritado e me levantei da
minha cadeira. Fui até o vidro panorâmico do meu escritório e olhei para o
movimento de carros na avenida abaixo do prédio, estranhamente aquilo me
acalmava, e naquele momento era o que eu mais precisava para lidar com
aquela situação.

Eu estava esperando a resposta dela, mas ela ainda não havia me dado.
Encarei ela, e Vivian deu apenas um sorriso sem graça, mas não respondeu
minha pergunta, fazendo com que sua chefe continuasse a ser uma incógnita
para mim. Provavelmente ela foi orientada pela senhora Hills a não dar
informações.

Como vi que ela não iria me falar nada, resolvi fazer uma
contraproposta.

— Certo, façamos o seguinte. Eu quero negociar pessoalmente com sua


chefe, aceitarei todos os termos dela, mesmo o departamento jurídico me
alertando que não é o ideal. E como prova de boa-fé da minha parte, eu vou
transferir de imediato para ela 6% das ações que ela tanto quer e eu não quis
aceitar anteriormente. Além disso, eu farei ainda melhor, irei aumentar
minha oferta. Vou pagar mais do que ela está pedindo. — Eu a olhei com
imponência e Levi me olhava surpreso.

— Tudo bem, senhor Staton. Eu a comunicarei. Posso levar o contrato


para ela assinar caso ela concorde?

— Não. Somente pessoalmente, se ela não vier pessoalmente o acordo


será cancelado. E deixe bem claro para ela que não quero mais nenhum tipo
de truque. — Falei convicto.

— Está certo, eu comunicarei a ela suas exigências. — Vivian falou se


levantando da cadeira.
— Eu ligarei para a senhora Hills para explicar as exigências mais
detalhadamente. — Levi falou e sorriu sem graça para a moça.

Vivian deu um sorriso gentil, acenou com a cabeça positivamente se


despedindo de mim e Levi. Após isso, ela saiu do escritório. Assim que ela
fechou a porta Levi se aproximou de mim.

— Por que você fez isso? — Levi perguntou sem entender.

— Por que você não me falou de imediato que não era ela? — Eu
perguntei com raiva.

— Porque era algo irrelevante, porque o importante é termos o projeto


para a empresa. — Levi se justificou.

— Eu preciso conhecê-la porque agora tenho certeza que ela e Wilson


prepararam um teatro. Wilson não estava interessado no projeto dela, mas,
ela deve ser uma pessoa muito importante para ele se sujeitar a atuar daquela
maneira, simplesmente para ela obter vantagem na negociação conosco, foi
uma jogada e eu detesto ser feito de bobo. — Falei com um tom de voz
irritado, e então continuei a explicar meu ponto de vista a Levi.

— Eu aumentei a oferta porque eu faço questão de conhecer essa garota


que arranca elogios de você, do senhor Hollins e além de tudo isso, faz com
que o presidente de uma das empresas mais importantes do país esteja
disposto a fazer toda uma cena por ela. — Falei de um jeito impaciente.

Agora mais que nunca eu queria conhecer essa garota.

∞∞∞

Narração - Charlotte Staton


Algumas semanas antes

Após a reunião com Wilson, cheguei na faculdade e fui para meu quarto
no dormitório. Fiquei encarando aquele cheque milionário que ele havia me
dado, e decidi que eu tinha que me portar de agora em diante como uma
pessoa de negócios. Decidi que iria contratar uma assistente para mim. Além
de ser minha assistente ela poderia me substituir quando chegasse a hora
certa para fechar o negócio com a Tec Solutions. Porque pelo que conheço
do Jeff ele iria querer fazer essa assinatura de contrato cara a cara com o
inventor do projeto.

Criei um panfleto dizendo que eu estava contratando uma assistente


pessoal e espalhei pela faculdade naquele mesmo dia. Meu celular
imediatamente recebeu inúmeras mensagens. Selecionei apenas 3 candidatas
que tinham os currículos que mais me atraíam. Marquei a entrevista com
elas no refeitório, e a que mais me chamou atenção foi Vivian. Ela era uma
mulher discreta e parecia ser muito inteligente, eram dois requisitos que eu
precisava e apreciava bastante.

Vivian estava em sua pós-graduação de administração, e ela seria uma


excelente gerente quando eu finalmente pudesse abrir minha empresa.
Depois de quase duas horas de conversa, onde eu expliquei a ela sobre
minhas pretensões de abrir uma empresa, e que por conta disso eu iria
precisar de um braço direito, ela se mostrou bastante interessada pela vaga.
Então, assim, ela foi contratada para ser minha assistente pessoal.

Atualmente

Levi insistia diariamente para que eu vendesse meu projeto para a Tec
Solutions, e pelo fato dele e Jeff acharem que eu iria fechar o contrato com a
M&W Technology eu o esnobava um pouco. A cada dia que passava ele
ficava mais desesperado, por esse motivo, Jeff estava fazendo inúmeras
concessões, me dando praticamente tudo que eu queria. Só não consegui que
ele me desse os 6% de ações da empresa, e isso era o mais importante para
mim. Jeff, parecia estar irredutível quanto a isso, mas a quantia que ele
oferecia pelo projeto era bem generosa.

Ponderei bem e resolvi aceitar, mandei mensagem para Levi informando


que iria fechar negócio com ele e disse que poderíamos assinar o contrato o
quanto antes. Nunca vi um homem tão feliz quanto ele, me mandou vários
emojis em comemoração e disse que iria conversar com seu chefe para ver
se poderíamos marcar hoje mesmo. Não demorou muito e ele me ligou
dizendo que o Jeff queria me conhecer e assinar o contrato às duas e meia da
tarde, então eu topei, pois tinha um plano para não ir lá pessoalmente.

Eu estava na faculdade, e mandei uma mensagem para que Vivian me


encontrasse no refeitório. Imediatamente ela foi, pois já estava contratada
como minha assistente, então sempre estava disponível para mim. Além de
ser minha assistente, acabamos nos tornando amigas, sendo assim, ela sabia
de toda minha história com Jeff.

— Oi Char, o que você precisa? — Ela falou ao se sentar na minha


frente.

— Bom, finalmente decidi assinar com a Tec Solutions. Mas como você
sabe, o dono da empresa é meu marido e eu ainda não quero que ele saiba
que eu sou a pessoa por trás do projeto...

— Certo, compreendo, e o que você está pensando? — Ela perguntou


curiosa.

— Preciso que você vá no meu lugar. Eu imaginei que ele fosse querer
assinar o contrato pessoalmente, então já estava pensando na possibilidade
de você me substituir desde que a contratei. Levi me conhece, entretanto, ele
não falará nada porque ele tem muito interesse em fechar o projeto, e eu
imagino que Jeff não vá perceber também. — Dei um sorriso ao falar.

— Ai, será que isso dará certo? Eu não sou da área de tecnologia... E se
ele perguntar sobre o projeto?

— Você já sabe bastante sobre o projeto, isso não será um problema! —


Eu falei tentando persuadi-la.
— Hum... Tá bom, mas eu acho que isso pode dar errado de muitas
formas. — Vivian falou preocupada.

— Fique tranquila. Vai dar certo. — Dei um sorriso para ela.

Ela sorriu, mas ainda parecia aflita com a minha proposta. Quando
chegou a hora dela ir, eu estava ansiosa, emprestei meu carro para ela, e
fiquei na faculdade. Eu decidi que iria trabalhar no meu projeto para me
distrair um pouco porque senão eu ficaria mais ansiosa do que eu já estava.
Passado um bom tempo, por mais que eu estivesse concentrada em meu
projeto eu não aguentava mais de tanta agonia. E então, finalmente meu
telefone tocou e imediatamente atendi.

Ligação ON

Charlotte: — Oi, Vivian?

Vivian: — Oi, Char. Acabei de sair do escritório do seu marido. — Ela


falou com uma voz desanimada.

Charlotte: — O que foi? Por que está com essa voz desanimada, não deu
certo? — Perguntei apreensiva.

Vivian: — Não, seu marido é muito esperto. Ele percebeu que eu não era
a verdadeira inventora do projeto e exigiu te ver pessoalmente para fechar
negócio. Eu sinto muito, mas falei que isso não daria certo...

Charlotte: — Como assim? Não faz sentido ele querer que eu vá!

Vivian: — É... O Levi vai te ligar e explicar direito.

Charlotte: — Tudo bem. Muito obrigada, Vivian.

Vivian: — Por nada.

Ligação OFF
Assim que desliguei a ligação de Vivian, fiquei um pouco pensativa, por
que Jeff fazia tanta questão assim de ver a pessoa que inventou o projeto?
Meu marido me dava nos nervos!
Os mesmos desencontros
Narração - Charlotte Staton

Eu estava um pouco irritada porque eu precisava o quanto antes desse


contrato, e tudo estava conspirando contra. Enquanto eu estava pensando a
respeito, meu celular tocou novamente. Era Levi, respirei fundo e atendi a
ligação.

Ligação ON

Charlotte: — Oi. — Falei de um tom seco.

Levi: — Senhora Hills, por que você não compareceu?

Charlotte: — Eu tinha coisas a fazer, não achei que fosse necessário eu


pessoalmente ter que ir sendo que se trata apenas de uma assinatura de um
contrato e minha assistente pode fazer isso sem problemas.
Levi: — Entendo, mas, para o senhor Staton é de suma importância a
sua presença.

Charlotte: — Mas por que ele continua a fazer essa exigência sem
sentido!? — Perguntei irritada.

Levi: — Francamente, não sei explicar o motivo ao certo, mas eu sei que
ele tem tanto interesse que decidiu, como um ato de boa fé e para deixar
claro o interesse dele, te dar 6% das ações. Inclusive ele já fez isso, porém,
será invalidado caso você não apareça pessoalmente para fazer a
assinatura do contrato.

Quando eu conseguisse as ações, eu finalmente teria minha moeda de


troca para negociar com meu avô. Mas, o meu relacionamento complicado
com Jeff poderia atrapalhar tudo e as coisas poderiam não terminar bem por
conta disso. Entretanto, confesso que essa contraproposta dele me instigou
muito. Contudo, eu continuava hesitante. Precisava pensar mais, pois afinal
eu iria me revelar para meu marido e não sei qual seria a reação dele. Como
fiquei em silêncio por um momento, Levi falou:

Levi: — Senhora Hills? Ainda está aí?

Charlotte: — Estou sim.

Levi: — E então, qual sua resposta?

Charlotte: — Eu preciso pensar mais um pouco, Levi. Obrigada.

Levi: — Mas...

Ligação OFF

Eu desliguei antes de deixá-lo completar a frase. Eu arfei e joguei meu


celular para o canto da mesa, apoiei meus cotovelos na mesa e massageei
minhas têmporas com meu dedo indicador e o dedo do meio. Fechei os olhos
por alguns momentos tentando conseguir ter mais paciência, e novamente
meu celular tocou. Eu abri meus olhos e os revirei porque pensei que poderia
ser o Levi novamente insistindo e me pressionando para que eu aceitasse de
uma vez por todas o contrato, porém, eu não iria fazer isso sem pensar bem a
respeito.

Eu atendi o telefone nervosa, nem me dei o trabalho de confirmar se


realmente era Levi quem estava me ligando e logo fui falando.

Ligação ON

Charlotte: — Eu já falei que eu vou pensar, pare de me pressionar!

Cora: — Querida? Está acontecendo alguma coisa?

Droga! Era minha sogra! Já não tínhamos um relacionamento dos mais


amistosos e além de tudo eu a atendo desse jeito? Tem vezes que eu não
acerto uma! O que essa mulher queria me ligando?

Charlotte: — Cora, me desculpe, eu pensei que fosse outra pessoa! Mil


perdões.

Cora: — Tudo bem, querida!

Ela estava falando de um jeito muito empolgado e eu não confiava nem


um pouco nela.

Charlotte: — Então... Em que posso ajudar a senhora?

Cora: — Bom, sei que você tem ido muito a faculdade, e até respeito isso
por mais que ache desnecessário já que você é casada com um homem tão
rico e influente como meu filho. Mas, eu não aprovo de nenhuma forma você
não dormir na sua casa, como vem acontecendo algumas vezes no decorrer
das últimas semanas... Então, estou ligando para te pedir que volte para sua
casa hoje, pois você precisa se preparar para a festa que acontecerá
amanhã. — Ela usou um tom praticamente de ordem.

Dava pra ver quem Jeff puxou. Quem ela pensava que era para querer
controlar minha vida dessa forma? E mais, como ela sabia que eu não
voltava para casa as vezes? Isso estava soando muito estranho, Jeff não era
muito de falar com a mãe, ele não iria falar algo assim para ela. Ainda mais
sabendo como ela nos pressiona para termos um filho... Porém, eu posso
esperar de tudo vindo dele.

Eu não queria discutir com a Cora, e acho que seria bom eu ir para casa
hoje. Eu ficaria no quarto de hóspedes, não teria problema, eu poderia lidar
com isso e realmente seria mais fácil para que eu me organizasse para ir para
a festa de amanhã. Sendo assim, eu iria deixa-la acreditar que ela quem
havia me convencido através da ordem dela, e eu evitaria desgastes para
mim.

Charlotte: — Tudo bem, Cora. Ao fim da tarde eu irei para casa. Pode
ficar tranquila.

Cora: — Perfeito! — Ela falou com uma animação fora do comum. —


Até amanhã!

Charlotte: — Até...

Ligação OFF

Essa mãe do Jeff era muito bizarra, eu achei essa conversa muito louca,
nada a ver. Mas, eu não ia ficar preocupada, muito menos esquentando
minha cabeça com esse assunto porque eu já estava com a cabeça cheia de
coisas o suficiente para pensar. Fiquei o restante do dia tentando focar no
projeto, mas eu só pensava que eu iria ter que me revelar para meu marido e
ele poderia ter inúmeras reações, e todas que eu imaginava que ele pudesse
ter, eram ruins.

O dia acabou não fluindo muito bem por eu estar com minha cabeça
longe, então, encerrei meu expediente um pouco mais cedo. Fui até o
dormitório para arrumar minhas coisas para ir embora e decidi que iria tomar
um banho por lá mesmo. A água estava uma delícia e eu tomei um banho
bem demorado, passei óleos pelo corpo, depois de sair me perfumei. Me
arrumei colocando um vestido um pouco acima do joelho, ele era cor-de-
rosa, e destacava muito meus olhos e lábios.
Peguei minhas roupas que estavam lá, arrumei na minha mochila e saí
em direção a casa de Jeff. Ao entrar, subi direto para o quarto, mas antes de
ir para meu quarto, inevitavelmente, eu tinha que passar pelo quarto do meu
marido. E consequentemente, também, pela sala enorme que haviam várias
coisas lá. Eu me surpreendi ao olhar para o lugar pois tinha algo diferente.
Havia uma pequena mesa redonda, com um vaso com rosas em seu centro.
Também haviam velas, pratos, um vinho, aquilo era... Um jantar romântico!
Fiquei surpresa com a atitude de Jeff.

Talvez ele quisesse se redimir, por esse motivo, eu deixei minhas coisas
no quarto de hóspedes. Voltei para a mesa que ele havia preparado e me
sentei lá esperando por ele já que eu percebi pelo barulho da água que ele
estava tomando banho. Ele saiu do banheiro já com sua roupa, e me olhou
surpreso. Ele me observou sentada na mesa de jantar e parecia admirado ao
se aproximar de onde eu estava com passos lentos. Eu me levantei e disse:

— Oi, Jeff. — Quando me levantei ele me olhou dos pés à cabeça, sem
palavras. Apenas deu um de seus sorrisos irresistíveis. Eu estava bem segura
de mim, afinal de contas, ele havia preparado um jantar para mim!

Depois de alguns segundos de silêncio por parte dele, ele disse:

— Oi, Charlotte.

Dei um sorriso para ele, e me sentei, meu marido se se sentou em


seguida.

∞∞∞
Narração - Jeff Staton

Levi ligou para a Senhora Hills na minha frente, e pelo que eu pude
acompanhar a ligação ela desligou antes mesmo que ele pudesse rebater
novamente com argumentos. Levi desligou o telefone nervoso, e me encarou
com um olhar furioso.

— Eu não sei para que isso! Estávamos com o projeto em nossas mãos e
você deixou escapar por um simples capricho de ter que conhecer a
garota. — Levi dizia sem paciência alguma. — Por que você faz tanta
questão de conhecê-la? — Ele perguntou indignado e muito irritado, era raro
vê-lo daquele jeito.

— Porque sim, é algo que eu insisto e não abrirei mão. Simples. — Eu


disse para ele.

Eu não estava disposto a dar o braço a torcer. Para irrita-lo mais ainda
fiquei com um sorriso sarcástico em meu rosto. Se essa tal Senhora Hills
fosse uma mulher realmente de negócios ela não iria perder a oportunidade
de ganhar 6% de ações da empresa, ela iria aceitar minhas exigências. Nem
eu mesmo sabia porque eu estava fazendo tanta questão assim, mas, eu sei
que eu estava disposto a isso e ponto final, quando eu queria algo eu sempre
conseguia.
Levi saiu da minha sala sem dizer nada, apenas pisava forte para
demonstrar estar nervoso. Eu fiquei rindo sozinho em minha sala dessa
atitude dele, e depois permaneci lá trabalhando o restante do dia. Ao fim do
dia fui para casa, estava exausto. Assim que cheguei em casa fui direto para
o banheiro do meu quarto, mas antes, fiz algo que eu não tinha muito
costume de fazer que era pegar minha roupa no closet e levar para o
banheiro para me trocar lá. Decidi tomar um banho demorado na banheira, e
assim o fiz. Fiquei pensando em várias coisas no decorrer do banho,
inclusive na Charlotte e ao mesmo na peanut. Não sei porque toda vez que
eu pensava na peanut eu lembrava da Charlotte, e o contrário também
acontecia.

Saí da banheira, me sequei, vesti minha roupa, e passei perfume. Ao sair


do banheiro me surpreendi com a presença de Charlotte junto à uma mesa de
jantar na sala de lazer entre meu quarto e o quarto de hóspedes. Um jantar
romântico? Ela havia preparado um jantar romântico pra mim? A julgar pela
maneira que ela estava me tratando ultimamente eu me surpreendi e fiquei
admirado com aquela atitude, só não fiquei mais admirado do que com a
beleza dela. Charlotte estava deslumbrante. Ela me cumprimentou, e depois
de admira-la um tempo enquanto me aproximava, eu fiz o mesmo.

Me sentei após ela ter se sentado e servi o vinho que estava na mesa para
ela, e em seguida para mim. Nós brindamos, e depois demos um gole
generoso naquele vinho. Eu não sei porque, mas, ao ver o rosto de Charlotte
iluminado pelas velas eu a achei mais parecida com a menina que eu
procurava há mais de 10 anos, a minha garota que eu carinhosamente
apelidei de peanut. Tomei o restante do meu vinho para tomar coragem de
falar o que eu iria dizer em seguida.

— Charlotte, preciso te perguntar uma coisa. — Ela me olhou após


tomar mais um pouco do seu vinho e disse:

— Pode perguntar. — Ela sorriu gentilmente.

— Eu quero saber se você estudou na Voight School, há dez anos atrás.

— Sim, eu estudei lá... — Ela disse de maneira hesitante.


Depois da resposta fiquei mais empolgado. Será? Será que realmente era
ela?

— Você costumava lanchar na arquibancada do campo de beisebol


enquanto lia um livro? — Eu perguntei animado, mas já esperava que a
resposta fosse negativa.

Charlotte ficou visivelmente constrangida, tomou mais um pouco de


vinho e acabou se engasgando com ele o que a fez tossir muito, fiquei um
pouco preocupado, mas ao ver que eu iria me levantar para auxilia-la ela
levantou sua mão fazendo sinal para eu não fazer isso. Depois de se
recuperar, finalmente quando pode me responder disse:

— Desculpe, acho que tomei um gole grande demais... E respondendo


sua pergunta, não eu não fazia isso. — Ela disse ao dar um sorriso fraco, e
desviar o olhar já que nós estávamos olhando um para o outro fixamente.

É, eu já imaginava que não poderia ser ela mesmo. Agora confirmei que
isso não se passavam de devaneios em minha mente. Por mais que eu
esperasse que não fosse ela, ainda assim fiquei chateado. Ficou um clima
estranho depois da minha pergunta, então, jantamos em silêncio. Eu
aproveitei para beber bastante, o vinho estava muito bom e ainda tinha mais
duas garrafas. E pelo que eu pude acompanhar, Charlotte fazia o mesmo.
Uma noite de amor
Narração - Charlotte Staton

Assim que Jeff se sentou na mesa, ele me perguntou algo que fez com
que eu sentisse um frio em minha barriga. Ele lembrava de mim! Eu pensava
que ele nem sabia que eu existia na época da escola, mas, ele lembrava de
mim e aquilo fez meu coração disparar, por um breve momento pensei em
contar a ele quem era eu de fato. Mas, depois, decidi não falar para ele, não
queria que ele soubesse que eu havia gostado dele por dez anos, e além do
mais ele poderia achar que eu tinha tramado tudo desde o início, e isso
poderia prejudicar muito a assinatura do contrato do projeto que eu tanto
precisava para poder conseguir negociar com meu avô, então, eu não poderia
arriscar.

Eu neguei tudo e isso causou um clima estranho porque ele ficou


chateado, será que ele montou esse jantar para mim para querer saber disso?
Devido ao clima esquisito, e o silêncio que se instaurou nós dois estávamos
bebendo como se quiséssemos esquecer do que aconteceu. Haviam três
garrafas de vinho, e nós já havíamos acabado com uma e iniciávamos a
segunda. Eu estava ficando bem tonta, e estava tendo uma coragem além do
normal. Eu não sabia explicar o que aquilo significava.
Eu estava tão corajosa, que comecei a pensar que eu não tinha nada a
perder com aquele casamento. Então decidi falar algumas coisas para ele.

— Eu não quero engravidar. — Falei olhando fixo para ele.

— O quê? — Ele perguntou franzindo a testa.

— Isso mesmo que você ouviu, eu não quero engravidar. Não estou
pronta para isso e acho que será um grande erro nós dois trazermos uma
criança para o mundo, com esse casamento por contrato, totalmente sem
amor e respeito. O que nós iríamos passar de bom para nosso filho? Você
deveria levar isso em consideração também! — Falei alterando um pouco
minha voz.

— Você só pode estar de brincadeira, esse é um dos motivos pelos quais


nosso casamento existe! — Ele também se alterou.

— Você mesmo aquele dia na festa na casa do seu avô me disse que
achava errada a forma como sua família agia, dando extrema importância a
um herdeiro. Não é tão chocante assim eu dizer isso e falar para você pensar
a respeito! — Eu falava com muita raiva.

— Não interessa, não faz sentido algum você levantar essa hipótese. De
um jeito ou de outro nós iremos ter um filho! — Jeff disse ao dar um tapa na
mesa.

Por um momento eu me assustei com a atitude dele, mesmo ele não


tendo feito nada comigo, acho que devido ao nosso histórico eu agi dessa
forma.

— CHEGA! — Eu gritei e me levantei da mesa. — Você não me assusta


mais Jeff Staton, desde o primeiro dia que cheguei nessa casa eu fui
hostilizada e maltratada por você, até mesmo sofri agressões! Você não vê
como isso é absurdo? Não entende o quão grave são as coisas quais você me
sujeitou? A inseminação então nem se fala! Eu implorei, gritei, pedi por
socorro a você e o que você fez!? Você foi frio, deixou que fizessem aquele
procedimento invasivo comigo contra minha vontade, mesmo sabendo que
eu sou virgem! — Eu falei em meio as lágrimas ao pensar em todo terror que
eu havia passado nas mãos de Jeff.
Pela forma que ele me olhava parecia que ele estava entendendo tudo
errado, eu estava desabafando e ele estava levando somente em consideração
a questão do contrato. Então, já que ele pensaria tudo errado mesmo, limpei
minhas lágrimas e continuei a falar:

— Você é uma pessoa horrível! Deveria colocar sua mão na consciência


para ter noção de tudo que você me fez passar. Você não é justo comigo, é
cruel e faz questão de ser assim sem demonstrar qualquer tipo de
arrependimento! — Eu ainda falava alterada.

Jeff pressionou seus lábios um no outro e se levantou bruscamente da


cadeira em que estava sentado fazendo com que ela caísse ao chão. Ele
apontou o dedo para mim e disse:

— Eu só fiz aquilo que você concordou que fosse feito em contrato.


Você não é santa, muito menos inocente, Charlotte! Assinou aquele contrato,
e foi você quem sugeriu aquelas cláusulas sobre a inseminação, por puro
interesse financeiro. O que você quer que eu pense de você? Como você
quer ser bem tratada por mim!? — Ele abaixou o dedo e me encarava. Sua
respiração estava ofegante.

— Já te falei inúmeras vezes que eu não sabia, mas não adianta falar com
você, nem sei porque eu estou aqui perdendo meu tempo falando com você,
Jeff. É inútil! — Eu balancei a cabeça negativamente enquanto falava para
ele sem deixar de olha-lo.

— Ótimo, não fale nada. Nós dois sairemos ganhando. Só se lembre de


cumprir o contrato! — Ele disse.

O olhei com um sorriso irônico, e em seguida virei minhas costas


caminhando em direção ao meu quarto. Ao tentar abrir a porta vi que estava
trancada. Fiquei mexendo na maçaneta por inúmeras vezes e não consegui
abri-la. Com raiva, e por conta do meu estado de embriaguez, eu dei um
chute na porta.

— Merda! — Eu estava tão cansada e irritada, que quando me virei e vi


que Jeff estava lá parado no mesmo lugar me encarando.
Eu fui até onde ele estava, e passei por ele esbarrando nele de propósito e
fui me deitar na cama dele.

— Você vai dormir aí? — Ele perguntou parecendo chocado ao se


aproximar.

— Claro! Afinal nós somos casados, não é verdade? — Falei com


sarcasmo.

Virei para o lado oposto em que ele estava me olhando para não ter que
encara-lo. Ele arfou por conta da resposta que dei a ele, e se deitou ao meu
lado. Eu comecei a sentir um calor no meu corpo, seguido por vários
arrepios, eu não sei o que estava acontecendo, mas parecia que eu estava
excitada mesmo que nada tivesse acontecido para aquilo. Fiquei com mais
raiva de estar naquele estado diante de uma situação nada favorável.

Para piorar tudo, Jeff começou a encostar em mim. Eu me afastei um


pouco, e ele fez mais uma vez. Me virei de frente para ele com meu
semblante fechado e o questionei:

— Dá pra parar de ficar encostando em mim toda hora!? — Nossos


rostos estavam bem próximos.

— Eu estou na minha cama e faço o que bem entender! — Ele falou


nervoso me fitar.

Nossas respirações estavam bem aceleradas, e nós dois nos encarávamos.


Estava impossível tentar conter o tesão que eu estava sentindo, e pelo visto
não era somente eu que estava daquele jeito, pois, em um movimento
inesperado Jeff puxou meu corpo para próximo do corpo dele e começou a
me beijar, eu correspondi ao beijo pois cada parte de mim desejava ele.

Durante o beijo Jeff me puxou para deitar em cima dele e assim eu fiz,
senti o pau dele encostar em mim, e diferente da outra vez eu gostei, não me
assustei. Ele começou a subir meu vestido e acariciar minha bunda enquanto
me beijava, eu estava sentindo muito tesão por ele me beijar daquele jeito,
eu sabia o que iria acontecer e desejava que acontecesse, mesmo que
soubesse que era uma loucura. Ele afastou um pouco os lábios da minha
boca e me olhou por um momento acariciando meu rosto. Jeff deu um
sorriso e eu correspondi, então ele disse:

— Minha peanut. — Ao ouvir o que ele disse parei de sorrir na mesma


hora.

Ele me chamou de peanut, provavelmente era o apelido que havia dado


para Elizabeth e por conta da bebida, me confundiu com ela. No mesmo
instante quase fiquei sóbria pela raiva e saí de cima dele, fiquei olhando para
ele ainda em pé perto da cama.

— O que foi? — Ele perguntou confuso. Acho que não tinha se dado
conta que estava me confundindo com Elizabeth em voz alta.

Ele se levantou da cama e se aproximou de mim. Envolveu sua mão em


volta do meu corpo. Após isso, pressionou sua mão em minha bunda e
começou a puxar um pouco minha calcinha para baixo no intuito de tira-la.

— Jeff não, isso é loucura... — Eu falei com uma voz manhosa por conta
do tesão ao tentar resistir, colocando a mão no peitoral dele tentando
empurra-lo. Parte de mim queria se afastar dele e outra parte queria
permanecer ali.

— Por que não? Vai dizer que não quer ser minha? — Ele falou próximo
ao meu ouvido fazendo com que eu sentisse mais desejo ainda.

— Por favor, não faz isso comigo... — Ainda tentei resistir.

— Seja minha, Charlotte. — Ele falou em um sussurro.

Eu não iria resistir mais, eu queria Jeff, mesmo que fosse apenas por
aquela noite. Ele ficou me olhando e acariciou meu rosto com sua mão e foi
descendo-a pelo meu pescoço bem devagar. Eu acenei a cabeça
positivamente para ele, e ele me abraçou beijando meu pescoço.

Depois disso, Jeff se afastou, e começou a subir meu vestido. Eu ergui os


braços permitindo que ele subisse meu vestido para tira-lo. Assim que ele
tirou, me olhou um pouco e parecia admirado com o que estava vendo, pois,
meus seios estavam a mostra. Senti um pouco de vergonha pois eu sabia o
que estava por vir. Jeff puxou minha mão e me deitou na cama bem devagar.

Ele tirou minhas sandálias que ainda estavam no meu pé e começou a


distribuir beijos ao longo da minha perna, até chegar nas minhas coxas. Ao
chegar lá ele parou por um instante e se despiu. O corpo dele era lindo, forte
e másculo. Ele se posicionou em cima de mim e começou a beijar minha
boca novamente, bem devagar. Eu deslizei minhas mãos pelas costas dele até
embaixo. Jeff parou o beijo e desceu sua boca para meu queixo, depois, para
meu pescoço.

Jeff deu breves chupões no meu pescoço, e enquanto fazia isso passou a
ponta do dedo indicador no bico do meu seio. Eu dei um gemido, não
conseguia explicar o quão gostosa era aquela sensação. Ele abaixou mais e
segurou um dos meus seios, aproximou seus lábios dele e deu um breve
beijo em cima do bico. Em seguida ele passou a língua e começou a lambe-
lo. Meus gemidos se tornaram mais altos e contínuos, a cada momento que
eu pensava que aquela sensação não podia ser mais gostosa ele me
surpreendia.

Jeff repetiu a mesma coisa no meu outro seio e depois foi escorregando
os lábios pela minha barriga, até chegar próximo a minha parte íntima. Ele
desceu, distribuiu alguns beijos na parte externa, e depois colocou sua
língua, circulando ela inteira em mim. Aquilo me deu muito mais tesão e
senti minhas pernas estremecerem. Ele abriu um pouco mais minhas pernas e
colocou a língua em cima do meu clitóris, quando ele fez isso me agarrei aos
lençóis da cama e inclinei o tronco do meu corpo para frente e o olhei.

Jeff estava com um sorriso safado em seu rosto ao me chupar, e


continuou a fazer isso enquanto acariciava meus seios sem deixar de me
olhar. Eu estava ficando muito molhada, tanto pela saliva quanto pela minha
lubrificação. Eu dei um gritinho, e senti muito do meu líquido sair e Jeff
parecia se deliciar com ele. Eu tinha gozado, e esse ato me deu muito mais
tesão. Eu queria mais, e Jeff sabia exatamente o que fazer.

Ele afastou um pouco seu rosto e chupou dois de seus dedos enquanto
me olhava, depois, ele os levou até minha boca e passou eles em meus
lábios. Eu observava tudo que ele fazia, mas sempre estávamos olhando um
para o outro, nos conectando como nunca havíamos feito antes. Jeff forçou
um pouco seus dedos nos meus lábios e eu entendi que ele queria que eu os
abrisse, assim que abri, ele os colocou dentro da minha boca e eu chupei. Os
deixei bem molhados, e quando estavam molhados o suficiente, ele tirou os
dedos da minha boca e colocou em cima do meu clitóris fazendo
movimentos circulares, depois os desceu até minha entrada.

Jeff colocou apenas a ponta do dedo indicador e iniciou um movimento


de vai e vem bem gostoso, e a medida que eu ia gemendo ele introduzia
mais. Quando eu já estava bem acostumada com o dedo indicador dele, ele
colocou o dedo do meio, eu contraí um pouco e fiquei tensa por sentir um
breve incômodo. Ao perceber, Jeff parou seus movimentos e deu um beijo
em cima do bico de um dos meus seios me causando um arrepio.

— Não precisa ter medo... Só vou fazer o que você gostar. — Ele falou
com a voz rouca.

Assenti com a cabeça, ouvir as palavras dele me deram mais segurança.


Eu relaxei mais e ele iniciou novamente os movimentos de vai e vem, bem
devagar dentro de mim, mas agora com dois dedos. O incômodo que senti
anteriormente não existia mais, eu estava sentindo somente tesão e ficava
cada vez mais lubrificada. Os gemidos escapavam da minha boca sem que
eu pudesse controlar.

Ao ver como eu estava, Jeff se afastou e se deitou em cima de mim com


cuidado. Ele pegou em seu pau e o encaixou na minha entrada, após isso
começou a me penetrar bem devagar. Segurei nos braços dele e o olhei um
pouco aflita, por conta da dor leve que eu senti. E então, novamente ao ver
como fiquei, ele encostou os seus lábios nos meus e passou de um lado para
o outro, enquanto acariciava meu cabelo com a ponta dos seus dedos.

—Vou bem devagar, se te machucar eu paro, tá bom? — Ele beijou o


canto dos meus lábios ao dizer.

— Tá bom, eu confio em você. — Falei para ele em um sussurro.

Respirei fundo e me tranquilizei mais, e ao fazer isso senti que ele entrou
dentro de mim com mais facilidade. Senti um tesão inexplicável nesse
momento e dei um sorriso. Ele ao ver que eu tinha me tranquilizado, entrou
até o fundo e iniciou movimentos de vai e vem. Eu gemia, e Jeff também
dava gemidos espaçados e fortes, ao ouvi-los eu me excitava mais pois sabia
que ele estava me desejando tanto quanto eu o desejava naquele momento. A
mesma sensação que eu tive antes quando ele me chupou, eu estava tendo
novamente, apertei mais os braços dele e me inclinei para trás dando um
gemido alto e prolongado. A cada vez que eu gozava, eu queria ter mais.

— Mais forte. — Eu falei para ele.

Ele me olhou com um pouco de surpresa pelo o que falei, e então,


intensificou os movimentos. A cada momento que ele entrava em mim com
mais pressão, eu tinha a sensação que iria gozar novamente. Meus gemidos
eram contínuos e mais altos, e isso parecia deixar Jeff com mais tesão pois
eu sentia o pau dele pulsar dentro de mim. Novamente eu cheguei em meu
ápice, meu corpo se esmoreceu. Jeff gozou praticamente junto comigo pois
ele gemeu e senti um forte jato quente dentro de mim, pude ver ele fechando
seus olhos, e sua pele se arrepiando enquanto ele sorria satisfatoriamente.
Naquele momento tudo o que eu sentia por ele veio à tona e eu vi que meu
sentimento por ele estava mais forte do que nunca. Ele abriu seus olhos e
nossos olhares se encontraram, Jeff acariciou meu rosto e me deu um beijo
na boca, bem molhado e cheio de paixão. Eu pressionava mais o corpo dele
em mim, durante o beijo e ele fazia carinho pelo meu corpo, fomos
diminuindo o ritmo do beijo aos poucos e então Jeff saiu de cima de mim e
se deitou ao meu lado.

Eu estava exausta, e por conta da embriaguez com sono também.


Ficamos nos olhando em silêncio, Jeff mantinha sua mão me acariciando,
me deitei no peitoral dele e adormeci ouvindo as batidas do coração dele.
Pela manhã acordei com Jeff se levantando da cama, abri meus olhos e me
espreguicei, ao lembrar que nós dois fizemos amor, eu dei um sorriso para
ele e disse em tom animado:

— Bom dia!

— Bom dia. — Jeff respondeu com indiferença, e me olhou com a


mesma frieza de antes. Imediatamente tirei meu sorriso do rosto.
Ele se virou e foi ao banheiro. Aquilo fez eu praticamente desabar, toda a
felicidade que eu senti ontem foi anulada por esse momento. Fiquei
completamente desapontada e chateada com ele, depois da noite de amor que
tivemos ele me tratar daquele jeito era o fim, mas eu já devia esperar algo
assim. Provavelmente, nós só fizemos amor porque ele achava que eu era
Elizabeth. Eu era um tola, deveria ter mantido meu tratamento frio com ele e
era exatamente isso que eu faria.
Traída pela própria família
Narração - Charlotte Staton

Jeff saiu do banheiro e sem pensar muito, e sem falar com ele também,
eu entrei no banheiro para tomar um banho. Ajustei o chuveiro colocando a
água bem fria. Entrei de uma vez, e eu tremi a princípio, mas logo foi
melhorando, pois, meu corpo se acostumou com a temperatura da água. Eu
fiz aquilo como se fosse para eu levar um choque, pois tinha a intenção de
curar aquele sentimento ridículo que eu tinha por Jeff. Ele não estava nem aí
para mim. Isso estava mais que claro, por esse motivo, eu tinha que acabar
com tudo que eu sentia por ele. Fiquei ali um tempo, e tomei um banho
demorado.

Hoje finalmente era sábado, meu projeto não havia sido concluído ainda,
mas eu já estava bem adiantada com ele, pois, eu sabia desse aniversário no
dia de hoje e me adiantei ao máximo. Terminei meu banho e coloquei um
roupão. Saí do banheiro e vi que Jeff tinha ido embora sem se despedir, não
sei porque eu ainda esperava alguma coisa boa dele, ele só demonstrava a
cada dia que passava como era um homem horrível. Ele melhorou um pouco
quando eu estava tratando-o mal, só assim para ele me tratar melhor. Mas eu,
estava desistindo dele. Me arrependi da noite passada, se eu pudesse voltar
atrás não tinha me entregado daquele jeito.

Porém foi mais forte que eu, como se eu não tivesse domínio sobre meu
próprio corpo. Eu parecia estar drogada, foi estranho. Olhei para a mesinha
que estava ao lado da cabeceira da cama e vi a foto de Jeff ao lado da
Elizabeth, e aquilo fez com que eu me sentisse mais estúpida ainda. Fui até
meu quarto e vi que ele ainda permanecia trancado. Eu não iria descer com
esses trajes até a sala, então resolvi ligar para Janet vir me ajudar. Pedi ela
que abrisse a porta do quarto de hóspedes pois todos meus pertences estavam
lá e não haveria como eu me trocar.

Prontamente Janet apareceu com a chave reserva e abriu o quarto para


mim. Talvez se eu tivesse pensado nisso ontem, eu não teria ficado com Jeff.
Mas estava muito tarde, além disso eu não seria hipócrita porque eu estava
querendo também, porém, eu me culpava por isso. Me troquei e desci para
tomar o café da manhã. Eu ficava encarando o relógio enquanto tomava o
café da manhã, estava ansiosa para essa festa acontecer logo pois, o quanto
antes ela começasse mais cedo ela iria acabar.

Após tomar meu café fui para meu quarto, mas antes deixei avisado para
Janet que quando o almoço fosse servido, ela poderia levar para o meu
quarto porque eu comeria lá mesmo. Eu iria aproveitar meu tempo livre para
trabalhar pelo menos um pouco em meu projeto, não daria para fazer muita
coisa já que meus recursos em casa eram limitados e eu não tinha o
laboratório ao meu dispor como na faculdade.

As horas passaram, meu almoço foi servido, e após come-lo eu continuei


a trabalhar. Quando dei por mim já eram cinco da tarde e faltava pouco para
o jantar de aniversário do meu avô acontecer. Me apressei e fui me arrumar,
eu fiz questão de ficar deslumbrante para Jeff se arrepender pela forma como
ele me tratou. Assim que estava pronta avisei para Janet pedir para que
preparassem o carro para que eu pudesse ir, entretanto, ela disse que os
carros haviam ido para a revisão mensal e o único que sobrou Jeff havia
saído nele.

Ótimo, eu estava sem carro disponível para que eu pudesse ir. Mas, por
sorte eu tinha o Sam que com certeza se eu pedisse ele viria me ajudar.
Ligação ON

Sam: — Oi Char, como você está? Animada pra festa?

Charlotte: — Oi primo, estou bem e você? Com certeza não estou


animada para festa. — Dei uma risada ao falar e ele riu também.

Sam: — Como sempre, não é? Eu estou bem também.

Charlotte: — É... Que bom que você está bem! Teria como você vir me
buscar? Não estou com carro aqui, e por isso não tenho como poder ir.

Sam: — Claro, só vou terminar de me arrumar e já te busco.

Ligação OFF

Enquanto esperava Sam fiquei pensando na noite que se passou e no


desprezo de Jeff comigo logo depois que fizemos amor, e aquilo me fez ficar
totalmente amargurada. Quando Sam chegou, por conta dos meus
pensamentos, eu estava bem séria. Entrei no carro e o cumprimentei sem
graça ficando calada em seguida. Depois disso, ele perguntou:

— O que foi? Aconteceu alguma coisa? Por que você não veio com o
Jeff? — Ele estava um pouco preocupado ao perguntar.

— Não aconteceu nada, não se preocupe. Eu só tomei uma decisão.

Por eu ter respondido dessa forma Sam não quis entrar em mais detalhes.
Eu notei que ele estava um pouco preocupado e não parecia ser só por conta
da maneira que eu estava agindo, mas resolvi não perguntar o motivo,
presumi que se ele não falou nada é porque não queria falar sobre. Quando
cheguei na festa atraí todos os olhares para mim, parecia que todos ficaram
surpresos ao me ver. Eu rolei meus olhos pelo lugar, mas eu não vi Jeff,
então concluí que ele não havia chegado ainda.

Logo após a minha chegada, e a de Sam, meu avô apareceu. Eu não sei
porque, mas a chegada dele me provocou um aperto no coração, e eu tive um
mau pressentimento. Sam pareceu mais preocupado ainda e disse:

— Char, você não quer ir embora? — Sam disse em um tom aflito.

— O quê? Como assim ir embora? — Perguntei sem entender o porquê


ele estava propondo aquilo.

— Eu tenho medo do que o meu vô possa fazer com você. — Ele foi
direto ao falar.

— Eu não estou entendendo, Sam, por que você está falando isso? —
Olhei para ele com uma expressão confusa.

Sam passou a mão em sua testa, pegou em meu braço e me puxou para
um canto da sala.

— Sei que não devia te contar isso, ou devia, mas... — Ele estava
hesitante.

— Agora que você começou vá até o fim, Samuel! — Eu disse nervosa


porque quando Sam ficava desse jeito geralmente era algo muito ruim que
ele tinha para me falar.

— Certo. Quando foi para você assinar o contrato, nosso avô a trancou
no quarto durante três dias, te deixou sem comida e sem água. Eu como
médico precisei intervir, você não queria aceitar assinar o contrato e disse
que preferia morrer do que o assinar por conta do que havia lido nele.

— O que você está dizendo, Sam? Que brincadeira de mal gosto é essa?
Se eu tivesse passado por algo assim com certeza eu me lembraria! — Eu
dizia nervosa para ele pois não estava entendendo o motivo para ele falar
aqueles absurdos.

— Eu vou te explicar o porquê você não se lembra. Vendo que você não
iria ceder, mesmo ficando sem beber e sem comer, enquanto eu puncionava
sua veia para te dar soro e vitaminas para te fortalecer, pois você estava
desnutrida e desidratada, nosso avô veio e disse que se você não o assinasse
iria depredar o túmulo dos seus pais. E isso a fez ficar desesperada, e então,
você topou assinar o contrato diante dessa ameaça. Ele saiu e eu vi que você
ficou muito mal, você teve uma crise de ansiedade muito grave e então eu
ofereci a você para fazer uma sessão de hipnose para que você esquecesse
aquilo, e de certa forma eu colocaria na sua cabeça, no seu subconsciente
que era para você assinar o contrato. Por esse motivo, por mais que você
tenha sofrido ao assinar, você não resistiu muito e acabou assinando até
mesmo sem ler... Pois no seu subconsciente já estava claro o que você teria
que fazer. — Ele me explicava aflito por medo da minha reação.

Eu fiquei tão chocada com tudo que eu estava ouvindo, que eu me senti
zonza por um momento, caminhei até um sofá que havia próximo dali
amparada por Sam, e me sentei sem acreditar na crueldade sem limites do
meu avô. Como ele teria coragem de depredar o túmulo do próprio filho? E
ainda deixar a própria neta sem comer e sem beber por conta de um contrato
que o beneficiaria financeiramente? Eu não podia acreditar naquilo, ele era
capaz de fazer tudo comigo por dinheiro. Senti uma dor imensa em meu
coração, e comecei a lembrar em flashes desses momentos de terror. E
assim, eu acreditei que realmente havia passado por isso.

Pensei que uma das piores coisas que eu havia enfrentado foi a
inseminação artificial, mas, eu estava enganada, eu tinha enfrentado algo
muito pior com o monstro do meu avô, sangue do meu sangue. Eu o observei
de longe e senti o ódio me consumir.

— Eu sinto muito, Char. E só fiz a hipnose porque você consentiu e sabia


que era o melhor para poder proteger a si mesma desses traumas. E depois
eu disse para meu avô o que eu fiz, ele nem ligou, disse que se você
assinasse o contrato eu poderia até fazer uma lobotomia em você. E então,
depois que você estava dormindo eu tirei o acesso do soro, uma empregada a
trocou e nós fingimos que nada havia acontecido. Por isso fui eu quem fui te
chamar, para ver se havia dado certo a hipnose... — Sam me explicou ainda
preocupado.

— Sei disso, você fez bem, afinal é o único que sempre se importa
comigo de verdade. Você não sabia do que estava escrito no contrato?

— Não, de jeito nenhum, você não quis me falar tampouco o vovô me


deixou ver mesmo eu insistindo naquele dia, por isso eu não pude ajudar
você antes.
— Entendi, sendo assim você não tem culpa, realmente só fez o melhor
para mim visto que eu não tinha outra saída a não ser assinar o contrato.

Sam pareceu ter ficado aliviado após escutar o que eu disse, acho que ele
tinha medo que eu pudesse ficar ressentida com ele pelo o que ele fez.

— Eu acho que nosso avô está aqui simplesmente para saber se você
engravidou ou não, e se ele descobrir que você não está grávida eu tenho
medo do que ele possa fazer com você. Por isso te falo para ir embora.
Ainda está em tempo. — Sam ainda insistia.

Eu não iria me esconder como uma donzela indefesa, e nem seria


covarde como meu avô era. Estava disposta a ficar ali e enfrentar o Stuart,
aquele homem desprezível! Eu sabia que ele era uma pessoa horrível, mas
jamais poderia imaginar que era a esse ponto. Eu balançava minha cabeça de
um lado para o outro indignada, e respondi a Sam no momento em que
fuzilava meu avô com o olhar.

— Eu não vou embora, vou ficar aqui. — Sam me olhou com aflição ao
ouvir minha resposta.

Logo então, nós saímos de onde estávamos e fomos em direção ao lugar


onde todos estavam reunidos. Ao me ver e perceber que Jeff não estava ali,
meu avô aproveitou para alfinetar.

— Então é hoje que nós iremos saber se essa inseminação deu certo ou
não, afinal, o contrato de casamento foi feito justamente para isso. Forcei
minha neta a assinar pois não via a hora de ter um bisnetinho. — Ele deu
uma risada irônica e boa parte da família de Jeff riu da declaração dele.
Óbvio que ele não tinha interesse nenhum em ter um bisneto, mas sim, na
fortuna que esse bisneto daria a ele.

Todos que riram demonstraram claramente que não tinham respeito


nenhum por mim. Eu olhava todos que estavam rindo para marcar bem
aqueles rostos, até que cheguei em Brandon e vi que ele estava sério. Na
verdade, ele me olhava com compaixão. Quando nossos olhares se
encontraram ele veio até mim e disse:
— Eu sinto muito, aquele dia na lanchonete você me disse que havia sido
forçada a assinar o contrato para se casar, a princípio eu acreditei, mas
depois fiquei pensando que poderia ser conversa sua. Porém, agora que seu
avô falou isso de forma deliberada na frente de todo mundo, eu vejo que
você realmente foi forçada. Por um lado, fico feliz de saber que você não
quis se casar com Jeff por livre e espontânea vontade, mas por outro eu
tenho pena por você ter sido forçada a se casar... — Ele disse com pesar.

Pela primeira vez vi que Brandon estava sendo sincero, se não estava
pelo menos se esforçou para parecer que estava sendo.

— Agradeço sua compaixão, mas não preciso que você tenha pena de
mim, acho que é um sentimento ruim para termos por qualquer pessoa, e eu
estou conseguindo me virar bem. — Dei um sorriso para ele, e ele
correspondeu.

Sam olhava para nós dois atento, e ele ficou um pouco intrigado.
Provavelmente ele falaria algo para mim depois quando estivéssemos
sozinhos sobre o que achou a respeito do que Brandon havia falado.
Mais do mesmo
Narração - Charlotte Staton

Brandon ficou um tempo ao meu lado e ao lado de Sam, porém Adélia


o chamou para ficar perto dela e parecia não ter gostado dele se aproximar
de mim daquela forma, ele revirou seus olhos e foi ficar perto de sua noiva.
Então, assim que ele saiu, Sam olhou para mim um pouco desconfiado. Eu
conhecia bem meu primo e sabia que ele queria falar alguma coisa.

— Fala, eu sei que você quer falar... — Dei um sorriso com


cumplicidade para ele.

— É, você me conhece bem. — Sammy deu um sorriso ao falar. — Esse


tal de Brandon... Eu acho que ele tem uma queda por você. — Sam foi direto
quando disse e eu me surpreendi com o que ele falou.

— O Brandon!? Mas ele é noivo da prima do Jeff! Acho que você


interpretou tudo errado, pela primeira vez na sua vida. — Eu dizia um pouco
agitada para ele.
Sam era ótimo em ler as pessoas, sempre foi uma qualidade dele desde
quando éramos crianças.

— Só se eu estiver bastante enganado, mas nada faz com que eu pense o


contrário... — Sam disse com convicção.

Eu preferia que aquilo não fosse verdade pois iria me trazer muitos
problemas com meu marido, e eu com certeza queria evitar isso. E além do
mais, Brandon era um mulherengo, provavelmente tinha uma queda por
qualquer mulher que respirasse. O mordomo veio até onde estávamos e disse
que o jantar estava servido, Jeff ainda não havia chegado e aquilo estava me
deixando um pouco nervosa. Ele era um babaca comigo, todavia, geralmente
quando a família dele me encurralava com alguma pergunta ele sempre dava
um jeito de intervir e isso me dava tranquilidade e segurança.

Sam e eu nos sentamos à mesa e eu dei um sorriso fraco para Cora, pois
ela estava me encarando sem parar. Aquilo me incomodava profundamente e
eu não sabia qual o motivo da obsessão daquela mulher para que eu tivesse
um bebê a qualquer custo, certamente, deveria ter a ver com dinheiro,
porque ela não parecia ser do tipo que seria a avó mais amorosa do mundo.

Nós começamos a comer, e por um momento todos estavam em silêncio,


porém minha sogra pigarreou e eu já percebi nesse momento que ela iria
falar alguma coisa. Eu desejei profundamente que ela não fosse falar algo
para mim, ou relacionado a mim. Eu não sabia lidar com ela, e ela tinha um
jeito muito intimidador. E então, Cora disse:

— Ai, não vejo a hora de ter um neto correndo por aqui. Acho que
criança enche a casa de alegria não é verdade, Stuart?

— Com certeza, Cora. — Meu avô falou ao olhar para mim.

Eu engoli seco, eu sabia que aquela conversa era uma indireta para mim.
Levei o garfo até meu prato e comi mais um pouco da minha comida, depois
disso dei um sorriso amarelo pois praticamente todos estavam me olhando.
A comida parecia estar pesada em minha boca, e eu a engoli com certa
dificuldade. Mas, eu reconhecia esse sentimento, estava começando a ter
uma crise de ansiedade. Ficar ali no meio da família de Jeff, e para piorar
com meu avô junto era uma pressão absurda e eu não sabia como lidaria com
aquilo.

— Só nos resta saber se esse neto tão desejado já está a caminho. —


Cora ainda insistiu no assunto.

Eu dei um gole no vinho que estava servido para mim, e vi que ela olhou
arqueando uma sobrancelha como se repreendesse com o olhar o que eu
havia feito. Realmente foi um deslize meu, porque com esse ato dei a
entender que eu não estava grávida já que estava ingerindo bebida alcoólica.
Antes que ela pudesse falar alguma coisa, impacientemente meu avô largou
seus talheres e disse:

— Vamos, Charlote, fale logo de uma vez por todas você está grávida ou
não!? — Stuart perguntou com rispidez.

Aquilo me fez paralisar, eu olhei para Sam e ele estava tão assustado
quanto eu com aquela pergunta repentina, grosseira, e além do mais
totalmente invasiva. Meu avô realmente era um homem boçal quando se
tratava de mim.

— Eu acho que isso não é algo para ser discutido aqui durante o
jantar. — Eu falei com firmeza por mais que eu estremecesse diante daquela
situação em que eu me encontrava.

— Esse é o melhor lugar para você responder à pergunta, afinal, toda a


família está aqui reunida. — A mãe de Jeff insistiu.

Eu dei um sorriso forçado e bebi mais um gole do meu vinho e isso


causou mais incômodo nela.

— A julgar pela forma como você está se esbaldando com o vinho eu


receio que não está grávida, não é verdade? — Cora continuou a falar e
agora seu tom já estava um pouco diferente.

Eu só queria que Jeff estivesse aqui para poder falar com ela da maneira
que ela merecia, para que minha sogra me deixasse em paz. Fiquei em
silêncio por alguns instantes e meu avô interviu novamente.
— Desembucha logo de uma vez, garota idiota! Você está, ou não está
grávida!? É algo simples de responder até mesmo para uma burra que nem
você! — Ele falou alterando sua voz ao me ofender de forma deliberada, na
frente de todos que permaneciam em silêncio esperando minha resposta.

— Não! Eu não estou grávida, o procedimento de inseminação não deu


certo. — Falei com raiva enquanto o encarava.

Cora ficou enfurecida ao ouvir minha resposta. Ela se levantou da mesa e


bateu suas duas mãos nela, enquanto me fuzilava com seu olhar, eu fiquei
assustada com a atitude dela. Eu sabia que minha sogra era falsa e nada
confiável, porém, ela sempre mantinha a compostura na minha frente,
contudo, agora, ela não estava fazendo questão de esconder quem ela era
verdadeiramente.

— Garota imprestável! Já está há meses casada e não consegue


engravidar, nem mesmo um procedimento de inseminação artificial
conseguiu fazer com que você gerasse um bebê, não é algo difícil sabia? Eu
mesma engravidei em minha noite de núpcias! Você fica preocupada com
seus estudos e se esquece de fazer seu papel de mulher que é o mínimo que
você deveria fazer! — Cora dizia de maneira descontrolada e alterada.

Eu fiquei espantada com a quantidade de ofensas que ela estava


proferindo, e não consegui reagir, Sam me olhou preocupado, mas, ele
também não poderia fazer nada diante daquela situação. O único que poderia
fazer alguma coisa, era o Jeff, e para meu azar ele não estava lá.

Meu avô ao ver a situação em que Cora estava disse:

— Deve ter alguma coisa de errado com ela. Ela não deve conseguir
engravidar, isso é o mínimo que uma mulher deve fazer e essa garota inútil
não consegue. Isso não é de se admirar, mas, eu quero garantias de que ela
não pode engravidar. Vou entrar em contato com um amigo meu que é
médico e pedir para ele mesmo fazer um check-up completo e caso
comprove que ela pode engravidar ela será submetida a uma nova
inseminação. — Ele disse ao pegar o celular e ligar para o tal amigo médico
dele.
Inacreditavelmente meu avô estava marcando uma consulta para mim na
frente de todos e dizia com todas as letras, que tinha interesse que esse
amigo dele fizesse uma inseminação em mim novamente para que eu
pudesse engravidar o quanto antes. Lágrimas invadiram meus olhos só de
pensar que o terror que eu passei no procedimento anterior pudesse
acontecer novamente, e eu estava tão chocada com aquela situação, da
maneira que eu estava sendo exposta a todos, que permanecia sem reação.

Era surreal eu estar no meio de um jantar com várias pessoas, ser


humilhada dessa maneira e ter minha fertilidade sendo colocada a prova,
sendo que todos ali pareciam saber que eu me casei por um contrato forçado,
e é óbvio que eu não teria intimidade com meu marido já que era um
casamento de fachada. Eu estava me sentindo mais que humilhada, e tentava
fazer de tudo para que as lágrimas que estavam em meus olhos não
escorressem para fazer com que meu ciclo de humilhação não fosse
completo.

— Boa noite. — Alguém disse e imediatamente reconheci aquela voz,


era Jeff.

Eu o olhei, e por alguns segundos ele me encarou. Presumi que ele


estava ali o tempo inteiro pela forma que entrou, assistindo a toda cena que
meu avô e a mãe dele estavam fazendo e ele não fez nada, não me defendeu
e nem se quer se importou. Apenas agiu com indiferença. Aquela atitude
dele me deixou mais arrasada ainda, era absurda a maneira como ele estava
me tratando depois de tudo que tivemos na noite anterior.

Olhei para Jeff com raiva, e esperava que ele dissesse alguma coisa, mas
ele se sentou ao meu lado sem falar nada. Eu ia começar a falar para ele o
que eu estava sentindo e o que achei do tratamento dele, pois o mínimo que
ele tinha que fazer era me defender, mas uma voz feminina invadiu o local e
provocou surpresa em todos.

— Boa noite a todos. — Ela disse.

Jeff foi distraído na mesma hora pela presença da mulher, e deu um


sorriso largo ao vê-la. Quando olhei para ver quem era, me deparei com uma
mulher linda e elegante entrando na sala de jantar. Não, não poderia ser... Era
Elizabeth! Eu a reconheci por conta da foto que me atormentava há meses
naquela mesinha ao lado da cabeceira da cama do meu marido. O que aquela
mulher estava fazendo ali? Era o jantar de aniversário do meu avô, quem a
convidou?

— Elizabeth! — Os olhos de Jeff brilharam ao falar o nome dela.

Se eu já estava me sentindo humilhada antes, aquilo só piorou mais ainda


minha situação.
Quase abatida
Narração - Charlotte Staton

Jeff se levantou da cadeira praticamente correndo e foi até Elizabeth, me


deixando lá como se eu fosse uma idiota. Eu senti meu rosto ficar vermelho
e as lágrimas invadiram meus olhos novamente como se fossem duas
cachoeiras, porém eu as contive. Eu estava arrasada com tudo aquilo que
estava acontecendo, não poderia aceitar ele me tratando daquele jeito. Eu
estava me sentindo mais que humilhada com aquela situação.

Cora se levantou e seu rosto parecia ter se iluminado com a presença de


Elizabeth, na verdade todos começara a bajular aquela mulher. Ela parecia
estar em cima de um pedestal e todos estavam a mercê dela, encantados com
sua beleza e simpatia. Como se não bastasse eu estar me sentindo humilhada
daquele jeito, ainda tinha que presenciar tudo isso. Me levantei pois não
fazia mais sentido eu ficar sentada naquela mesa pois até a fome eu havia
perdido, antes de me levantar Sam segurou no meu braço e perguntou.

— Char, você está bem? — Ele tinha seu olhar preocupado.


— Bom, se alguém tivesse me enterrado viva acho que a sensação seria
menos agonizante do que a que estou sentindo nesse momento por conta
desse jantar. — Dei um sorriso fraco ao falar e mantive meu olhar triste. Me
levantei da cadeira e fui até o canto da sala para me refugiar ali.

Estava tentando escapar da humilhação qual eu estava sendo submetida


desde que cheguei naquele lugar. Eu senti como se Elizabeth tivesse ganhado
o jogo enquanto eu estava sendo derrotada, como se não bastasse a vi
andando em minha direção. Eu desviei meu olhar porque talvez assim ela
não sentiria necessidade de falar comigo. Fiquei pensando em maneiras de ir
embora dali porque eu não suportava mais tudo que estava acontecendo
naquele lugar.

Fiquei perdida em meus pensamentos, ao imaginar as várias maneiras


para poder sair dali sem que ninguém notasse. Eu presumi que ninguém
sentiria minha falta já que todas as atenções estavam voltadas para Elizabeth
e eles só prestavam atenção em mim quando tinham a intenção de me
humilhar de alguma maneira. Eu estava tão concentrada em meus
pensamentos que não estava prestando atenção no que acontecia a minha
volta. Até que ouvi alguém limpando a garganta e ao olhar ao meu lado
Elizabeth e Jeff estavam parados ali.

Jeff me olhava, me censurando e inclinou sua cabeça para o lado em que


Elizabeth estava, eu não entendi o porquê ele estava agindo daquele jeito e
arqueei uma de minhas sobrancelhas, balancei a cabeça de um lado para o
outro como se esperasse que ele me esclarecesse o porquê estava agindo
daquele jeito. Elizabeth tinha um sorriso em seu rosto, eu correspondi dando
um sorriso fraco para ela.

— Charlotte, a Elizabeth disse "olá" e você nem se quer ouviu. — Jeff


falou e aparentava estar um pouco nervoso.

— Me desculpe, eu estava distraída. — Falei para eles e dei mais um


sorriso forçado.

— É, nós percebemos. — Jeff falou me olhando desapontado.


— É um prazer conhecer você, Charlotte. — Elizabeth disse com um
sorriso.

— O prazer é meu, Elizabeth. — Não, não era nenhum prazer conhecê-


la. Eu estava engolindo seco ao falar com ela, era muita mágoa que eu tinha
acumulada dentro do meu coração e ficar falando com ela não estava me
ajudando em nada. Eu temia que a qualquer momento eu pudesse
desmoronar ali pois estava frágil emocionalmente.

— Então você é a esposa do Jeff? — Ela falou ao me olhar da cabeça aos


pés.

— Sim. — Respondi em um fio de voz, a presença dela era opressiva e


ela parecia saber disso, pois demonstrava estar gostando da situação ao ver
que eu estava bastante agoniada.

Jeff foi chamado por alguém que eu não vi quem era e eu fiquei ali
sozinha com Elizabeth. Olhei pelo lugar procurando por Sam para que ele
pudesse me salvar daquela situação horrorosa, mas, eu não o via, porém eu
vi de longe que Brandon não parava de me olhar e parecia incomodado com
a situação.

— Eu era namorada dele, você sabia disso? — Elizabeth falou com se


fosse um trunfo.

— É, me contaram. — Falei de um jeito seco e dei um sorriso forçado


com o intuito que ela percebesse o quão desagradável estava sendo, e a olhei
com raiva. Ela estava falando daquele jeito claramente para me provocar.

— Ah, te contaram que nós éramos muito apaixonados? E infelizmente o


destino nos separou? — Fiquei calada diante daquela afronta, mas ela então
falou:

— Mas agora eu estou de volta. — Ela continuou a me provocar de um


jeito intimidador.

Eu iria perder meu controle por conta daquelas provocações a qualquer


momento, mas para minha sorte Brandon chegou perto de nós duas.
— Charlotte, você pode me acompanhar?

— Claro. — Falei sem pensar e sem me importar por ser o Brandon,


afinal, eu só queria fugir dali antes que eu enlouquecesse.

— Elizabeth, não vai se importar se eu a roubar um pouquinho, não


é? — Ele disse com um sorriso para ela.

— Oh não, imagina, estávamos nos divertindo, mas eu tenho muitas


pessoas para conversar por aqui. — Ela dizia de maneira arrogante.

— Que bom para você! — Eu falei com sarcasmo. — Tchau, querida. —


Dei o sorriso mais falso que poderia dar e saí dali com Brandon.

Eu respirei aliviada quando nos afastamos de onde eu estava, e então


Brandon disse:

— Eu vou te levar embora daqui desse covil de cobras. Você não merece
ser humilhada desse jeito, eu sinto muito. — Eu nem acreditei que era
Brandon que estava falando daquele jeito.

Ele era tão hostil e maldoso, mas eu me dei conta o quanto minha
situação era preocupante já que até mesmo uma pessoa como ele viu como
eu estava sendo maltratada por todos que estavam ali.

— Obrigada, de verdade, eu fiquei tão chocada com a maneira que fui


tratada hoje que nem mesmo consegui reagir. Me tornei a mesma boba de
antes de sair do hospital, mas eu vou tomar o controle da minha vida
novamente. Você vai ver. — Eu falava com convicção.

— Assim espero, é doloroso ver uma pessoa boa como você passar por
isso. Até mesmo eu percebo quanta crueldade eles fazem com você, chega a
ser desumano o tratamento que você recebe. — Brandon falou inconformado
enquanto caminhávamos até a porta de saída.

Eu dei um sorriso para ele com gratidão apesar de ter os olhos tristes
pelas coisas que ele estava falando. Me entristeci não pelo jeito que ele
estava falando, mas sim, por tudo aquilo que ele me dizia ser verdade. Nós
estávamos prestes a sair e fomos surpreendidos por Cora segurando um
papel.

— Charlotte! Preciso falar com você. A sós. — Ela olhou Brandon dos
pés à cabeça ao terminar de falar comigo rispidamente.

Ao vê-la, percebi que Brandon paralisou por um momento, e eu não o


julgo porque aquela mulher causava arrepios. Ainda mais depois que ela
resolveu revelar verdadeiramente quem ela era.

Cora o repreendeu com o olhar e então ele disse:

— Charlotte, se você ainda quiser ir embora eu te espero lá no carro para


te dar carona.

— Por favor, Brandon, me espere, pois, eu não quero ficar mais aqui por
mais nem um minuto. — Eu falei em um tom firme olhando para Cora da
mesma maneira arrogante que ela olhava para mim.

Brandon parecia visivelmente preocupado em me deixar com a víbora,


porém, ele saiu para que nós duas pudéssemos conversar sozinhas como ela
havia pedido. Ela permaneceu em silêncio por alguns momentos e então eu
perguntei rispidamente:

— Então, o que você quer falar comigo? — Eu não fazia questão de


trata-la bem depois do que ela tinha falado para mim.

Ela sorriu ironicamente e disse ao balançar o papel:

— Já que você está pegando carona com outro homem feito uma
vagabunda qualquer, acho que achará bom quando eu entregar isso a você.

— Me respeita! Eu só estou indo embora porque eu cansei de ser


humilhada por essa família mesquinha. Principalmente por você e pelo meu
avô, então me entregue logo esse papel para que eu veja sobre o que se trata
e possa ficar longe de você e dessa sua cara de megera amargurada! — Eu
disse com raiva e ela pareceu ficar enfurecida com as coisas que eu disse a
ela.
Ela me entregou o papel praticamente o jogando em mim, quando eu
olhei para ver sobre o que se tratava eu não pude acreditar no que estava
lendo, estava bem grande escrito "acordo de divórcio". Minha expressão se
tornou triste de imediato e isso pareceu alegrar Cora.

— Já que você não serve nem mesmo para engravidar, saiba que há
muitas mulheres que estão dispostas a ficarem grávidas de um bebê do meu
filho. E caso você não possa fazer isso, fique ciente que até mesmo Elizabeth
pode fazer isso já que ela está de volta. — Cora falava com um sorriso
perverso em seu rosto.

Eu não consegui falar nada enquanto ouvia as palavras maldosas da


minha sogra. Aquele acordo de divórcio certamente foi preparado por Jeff,
ele me usou na noite passada, deveria saber que Elizabeth estava voltando e
por isso quis se aproveitar de mim. Jeff era um homem cruel por estar
fazendo aquilo comigo, eu jamais o perdoaria por isso. E agora,
definitivamente eu havia desistido do Jeff. Cora me olhava com um sorriso
vitorioso, eu dei uma última olhada para ela e consegui perguntar tentando
firmar minha voz, que com certeza sairia trêmula por conta do estado em que
eu estava.

— Foi você quem convidou Elizabeth, não foi? — Olhei para ela com
amargura.

Cora deu de ombros e levantou suas duas mãos como se quisesse deixar
um mistério no ar. Eu balancei minha cabeça negativamente, e saí apressada
com aquele acordo de divórcio em minha mão. Caminhei até o carro onde
Brandon me esperava, em passos largos e apressados.

Meu desejo era apenas me afastar daquele lugar o mais rápido possível.
Entrei no carro com o papel na mão, minha respiração estava bastante
ofegante por conta da adrenalina que aquele momento me causou. Brandon
me olhou de maneira preocupada e perguntou:

— Charlotte... Está tudo bem? — Eu olhei para ele assim que ele
perguntou e eu tentei ser o mais forte possível, mas não aguentei.
O choro que estava engasgado em minha garganta no decorrer do jantar
saiu naquele mesmo momento. E em meio ao choro eu falei:

— Por favor, dirige, só dirige pra longe daqui. — Eu chorava sem parar
olhando para aquele papel.

Brandon acenou a cabeça positivamente, ligou o carro e acelerou


enquanto eu continuava a chorar de maneira compulsiva. Eu fui me
controlando aos poucos e limpava minhas lágrimas, mas não deixava de
chorar por conta da dor que eu estava sentindo por tudo que eu havia
passado. Eu estava com raiva de mim mesma por ter deixado que eles me
humilhassem da maneira que humilharam, e não ter falado nada.

Que espécie de idiota eu era? E para completar, a cereja do bolo, foi esse
acordo de divórcio que caiu no meu colo. Jeff era tão covarde que ele mesmo
não tinha coragem de me entregar e teve que mandar aquele ser desprezível
que era a víbora da mãe dele me entregar. Eu estava revoltada, magoada e
disposta a sumir. Brandon olhava para mim volta e meia enquanto dirigia e
demonstrava estar bastante preocupado.

— Charlotte? Você não quer conversar? Eu estou preocupado com você!


O que a Cora te falou que a abalou tanto assim?

Eu limpei minhas lágrimas novamente, e fiz os exercícios de respiração


que meu primo havia me ensinado para conseguir manter a calma.

— Não foi somente pelo que ela falou que eu fiquei assim. Eu estava
segurando o choro durante o tempo todo que eu estava no jantar, e o que
Cora fez foi somente o "gran finale" para completar o ciclo de humilhação
que eu estava passando.

— O que ela fez?

— Ela me entregou um papel com um acordo de divórcio... Ela fez


apenas isso. — Eu ri de um jeito sarcástico e cansado.

— Acordo de divórcio? Ela está louca? — Brandon perguntou


indignado.
— Sinceramente eu não sei se isso partiu dela, tenho uma forte suspeita
que foi Jeff quem arquitetou tudo isso. — Desabafei.

— Não sei não, Charlotte. Jeff não é flor que se cheire, mas, Cora é uma
cobra peçonhenta e muito perigosa. Então, você pode esperar tudo vindo
daquela mulher. — Ele falou de maneira categórica.

— Que seja, mas não duvido que ele tenha essa vontade também,
enfim... — Eu dei um suspiro por conta do choro.

— Eu sei que é difícil para você, e é fácil para eu falar, porém, não fique
assim por conta dessas pessoas horríveis. Não vale a pena. — Ele tentou me
animar.

Eu dei um sorriso em forma de agradecimento e nós já estávamos


chegando na casa de Jeff.

— Obrigada pela carona, Brandon.

— Não a de que, fique bem. — Ele deu um sorriso e me olhou com


compaixão.

Desci do carro, e entrei na casa, fui direto para meu quarto preparar
minhas coisas pois eu iria voltar para meu dormitório na faculdade.
Enquanto arrumava as coisas decidi ligar para Levi.

Ligação ON

Levi: — Senhora Hills, que prazer receber sua ligação!

Charlotte: — Boa noite, Levi. Eu serei direta. Depois de amanhã eu


posso assinar o contrato para fecharmos o negócio.

Levi: — Isso é sério!? Que maravilha!

Charlotte: — Mas eu tenho uma condição: Depois que eu assinar o


contrato não quero mais encontrar o senhor Staton, e caso ele discorde
dessa condição dessa vez quem anulará o acordo sou eu.

Levi: — Tu-tudo bem... Eu falarei para ele.

Charlotte: — E mais uma coisa, só quero que ele apareça depois que eu
já tiver assinado o contrato. Ok?

Levi: — Como quiser senhora Hills.

Charlotte: — Obrigada, e boa noite.

Ligação OFF

Agora quem ditaria as regras seria eu, eu não permitiria que Jeff nem a
família dele fizessem o que bem entendessem comigo.
Falta de comunicação
Narração - Jeff Staton

Depois que eu e Charlotte passamos aquela noite juntos, eu acordei


sentindo uma sensação muito estranha e não era somente por conta do vinho,
parecia que havia algo de errado comigo. Eu até respondi Charlotte mal por
conta da maneira que eu estava me sentindo e fui direto para o banheiro. Ao
chegar no banheiro eu acabei vomitando, não entendi o porquê. Dificilmente
eu passava mal. Tomei banho e saí. Charlotte passou por mim feito um
furacão, eu iria esperar para falar com ela, mas recebi uma mensagem da
minha secretária dizendo que minha presença era solicitada na empresa.
Então eu fui diretamente para lá sem me despedir de Charlotte.

Ao chegar em meu escritório, Levi estava me esperando, mas eu me senti


mal novamente, fui até o banheiro e vomitei outra vez. Levi não entendeu
aquilo porque durante todos os anos que ele me acompanhava ele sabia que
dificilmente eu passava mal ou adoecia.

— O que aconteceu? — Ele perguntou preocupado.


— Não sei, ontem à noite eu jantei com minha esposa e agora eu
comecei a passar mal. Na verdade desde ontem estou com comportamentos
estranhos. — Eu disse ao sentar na minha cadeira.

— Como assim, o que você está querendo dizer? — Levi perguntou com
a expressão confusa.

— Bom, eu e minha esposa fizemos sexo pela primeira vez. Eu já a


desejei outras vezes, mas sempre consegui me conter por conta da nossa
situação delicada. Ontem depois que jantamos, meu desejo por ela estava
incontrolável e eu não consegui me segurar, como se tivesse usado alguma
coisa que fizesse com que eu perdesse meu autocontrole, bem estranho. —
Falei ao passar a mão no meu rosto.

Levi pareceu ter compreendido algo, mas, não quis falar nada sobre e
resolveu mudar de assunto. Não entendi bem o motivo, porém não
questionei. Estava sem cabeça para isso. À medida que o dia foi passando eu
fui me sentindo melhor, por mais que hoje fosse sábado e eu não estava
acostumado a ir para o trabalho, hoje estava muito intenso por conta das
pendências que tinham que ser resolvidas, então acabei perdendo a hora do
jantar de aniversário do avô da Charlotte. Cheguei lá as pressas, e assim que
entrei na sala de jantar o clima estava um pouco estranho, mas não entendi o
motivo. Charlotte me olhou com raiva e presumi que foi por conta do meu
atraso.

Mas antes que ela pudesse reclamar e me explicar o motivo que havia
deixado ela com raiva, Elizabeth apareceu. Fazia muito tempo que eu não a
via e nosso término foi estranho, ela simplesmente disse que precisava se
libertar. Eu nunca fui de morrer de amores por ela, nosso namoro era
conveniente, porém, eu ainda a considerava uma boa amiga. Imediatamente
fui cumprimenta-la e fiz questão de dizer que eu estava casado com
Charlotte e quis apresentar minha esposa para ela.

Mas quando eu a procurei ela estava no canto da sala. Fui até ela com
Elizabeth e ela parecia distraída, chegou a ser grosseira não a
cumprimentando, então eu a repreendi porque ela precisava ser educada,
porque era o mínimo a ser feito.
Meu avô me chamou para me apresentar um amigo e eu deixei as duas
conversando, porém, quando voltei para falar com Elizabeth percebi que
Charlotte já havia saído dali. Eu fiquei confuso pois não esperava que ela
fosse embora sem nem ao menos se despedir de mim. Elizabeth ainda me
afirmou que ela foi embora com Brandon. Ela enlouqueceu? Por que ela
faria aquilo? O comportamento de Charlotte me deixou profundamente
irritado, mas eu não falei nada para Elizabeth. Não demorou muito eu decidi
que iria para casa, Elizabeth insistiu para que eu ficasse mais já que fazia
muito tempo que nós não nos víamos, mas, eu queria ir para casa conversar
com minha esposa.

Saí apressado da casa do meu avô, queria vê-la o quanto antes. Senti que
havia ficado um clima estranho entre nós. Infelizmente, ao chegar em casa
percebi que ela não estava. Provavelmente ela estava no dormitório da
faculdade. Fiquei frustrado, mas, não tinha o que fazer então decidi dormir.
Pela manhã eu acordei cedo, tomei um banho e coloquei uma roupa. Era
domingo e eu não pretendia ir para empresa hoje. Janet ligou para meu
quarto e disse que minha mãe estava aqui. Revirei meus olhos pois não
queria ter que lidar com minha mãe essa hora da manhã, porém, fui obrigado
a recebê-la.

— Bom dia, mãe.

— Meu querido filho amado, como você está?

— Bem, e você? — Eu falei ao abraça-la.

— Estou bem também!

— O que traz a senhora aqui em pleno domingo de manhã tão cedo? —


Eu perguntei sem entender o motivo que a levou estar lá.

— Nossa, que grosseria, Jeff. Por acaso não posso mais visitar meu
filho? E cadê sua esposa? — Ela perguntou curiosa olhando em direção a
escada.

Minha mãe não tinha costume de vir na minha casa, ela pretendia alguma
coisa, isso era certo. Diante da pergunta dela não adiantava eu mentir porque
tinha como ela saber que Charlotte não estava lá.
— Ela dormiu no dormitório da faculdade novamente.

— Hum, isso não é bom...

Eu apenas revirei meus olhos e fui me sentar, não gostava de entrar em


detalhes da minha vida conjugal com minha mãe, mas ela sempre estava se
intrometendo. Para minha surpresa Levi também chegou.

— Uau, é uma conferência aqui hoje? — Falei em tom debochado.

— Não seja ranzinza, eu vim te dar ótimas notícias! — Levi falou


empolgado.

— Diga, então. — Falei ao me sentar no sofá.

— Finalmente a senhora Hills decidiu assinar o contrato! — Ele falou


com grande animação.

Mas eu estava com um pouco de mal humor por Charlotte não estar lá,
sendo assim, não consegui me importar muito com a novidade naquele
momento.

— Que bom. — Falei como se fosse qualquer coisa.

Ao perceber meu desdém minha mãe riu, e quis alfinetar Levi.

— Você vem domingo de manhã falar sobre trabalho e espera animação


do meu filho, francamente Levi. — Minha mãe ria olhando para ele de um
jeito prepotente.

— Verdade, Cora. Eu devia aproveitar a ocasião e perguntar para você na


frente dele, porque você drogou seu filho na noite de sexta em que ele jantou
com a esposa, não é?

Minha mãe empalideceu ao ouvir o que o Levi disse e logo depois fez
uma cara feia para ele demonstrando a raiva que havia ficado por ele
mencionar aquilo.

— Como é que é? — Eu perguntei já furioso ao me levantar do sofá.


— É.. É... — Minha mãe gaguejou.

— Como você soube disso, Levi? — Perguntei rispidamente.

— Sua mãe ligou para o escritório na sexta perguntando o horário que


você iria sair, pois iria preparar um jantar surpresa para você e sua esposa. E
logo em seguida me perguntou se eu conhecia alguma droga estimulante, se
é que me entende... Achei aquele papo muito estranho, até porque eu e sua
mãe não gostamos um do outro e não é segredo para ninguém. No outro dia
quando você chegou passando mal eu deduzi que ela havia drogado você e
sua esposa, para que fizessem sexo. — Ele foi bem direto ao falar.

Minha mãe era uma pessoa difícil de lidar, por conta disso ela e Levi
nunca se deram bem. Então toda oportunidade que ele tinha para prejudica-la
ele aproveitava e vice-versa.

— Isso é verdade, mãe? — Eu perguntei mais que nervoso.

— Ai filho, eu fiz isso para que vocês fizessem amor e ela pudesse
engravidar o mais rápido possível! Já está demorando demais. — Ela falou
de maneira impaciente tentando se justificar.

— NUNCA MAIS SE META NA MINHA VIDA DESSA


MANEIRA! — Eu gritei com ela, demonstrando todo o ódio que eu estava
pelo o que ela havia feito.

O que ela fez gerou consequências, não era assim que deveria acontecer
algo entre Charlotte e eu. Ontem no jantar, eu comi e bebi tranquilamente
porque imaginei que minha esposa pudesse ter feito aquela comida para
mim, mas na verdade quem armou tudo foi minha mãe! Charlotte deve ter
pensado que eu quem preparei o jantar para ela também. Quanta confusão!

— Mas, filho... — Minha mãe ainda tentou se justificar.

— Eu já fui muito tolerante com você e suas intromissões, eu não removi


as câmeras que você exigiu que instalassem na casa inteira para vigiar se eu
e Charlotte estávamos de fato juntos. Agora você armar para que eu e minha
esposa fizéssemos sexo é demais. Ultrapassou todos os limites possíveis!
Você me tirou do sério de verdade. Vamos Levi, eu não iria trabalhar, mas se
eu não sair dessa casa agora e ocupar minha mente eu sou capaz de cometer
uma loucura. — Falei com muita raiva e caminhei em direção a saída da
casa.

Levi veio logo atrás e deixamos minha mãe na sala sozinha. Eu esperava
que ela não estivesse ali quando eu voltasse. Afinal, eu acho que ela havia
vindo somente para se certificar que Charlotte não estava aqui já que ela
acompanhava minha vida como se fosse um reality show através daquelas
câmeras. Eu iria mandar que as removessem hoje mesmo, eu só aceitei que
ela colocasse porque quando eu e Charlotte deitávamos elas eram desligadas,
por isso eu fazia tanta questão que dormíssemos juntos para minha mãe não
ficar me pressionando com esse papo de filho. Entrei no carro com Levi e
nós fomos para empresa.

∞∞∞

Narração - Elizabeth McBride


Tentei de todas as formas investir em Jeff no jantar que Cora fez questão
que eu fosse, mas pareceu inútil, fiquei frustrada com aquilo. Pelo menos me
diverti um pouco provocando a esposa dele que parece ter ficado bem
enciumada. Então, assim que ele foi embora Cora se aproximou de mim.

— E então? Como foi? — Ela perguntou.

— Não acho que ele esteja interessado em mim como antes.

— Besteira, ele nem toca naquela esposa dele, ontem mesmo eles
estavam embriagados e apenas deitaram do lado do outro pelo o que vi, não
pude ver mais pois esse foi nosso acordo e ele tem como saber a hora que as
câmeras são desligadas, então para manter as câmeras lá preciso cumprir o
combinado. Se ele te ama como você vive contando aos quatro ventos, ele
vai ceder. Nós vamos dar um jeito. Amanhã irei na casa dele cedo e você irá
comigo, mas a princípio quero que você se esconda para eu ter certeza que a
esposa dele não estará lá. Mas, pelo que eu fiz hoje eu tenho quase certeza
que ela pegará as coisas dela e irá para aquele dormitório terrível da
faculdade dela. — Cora disse vitoriosa.

Realmente ela era uma controladora, onde já se viu colocar câmeras para
vigiar a vida conjugal do filho? Mas quando Jeff e eu nos casássemos eu não
permitiria algo assim.

— Tudo bem, eu já vou indo. Você me busca em minha casa então para
irmos, ok? — Eu disse a ela.

— Combinado. — Cora falou eufórica.

No dia seguinte, bem como combinamos, Cora passou cedo em minha


casa. Ao chegarmos na casa de Jeff ela entrou primeiro, e assim que a
empregada saiu para avisar que a mãe dele havia chegado, eu entrei e me
escondi atrás do sofá como Cora me orientou. Quando Jeff desceu confirmou
que a esposa dele não estava em casa, e isso me animou, mas logo em
seguida começou uma discussão entre eles por um jantar que Cora havia
feito, e tinha algo a ver com drogas. Eu não entendi muito bem do que se
tratava, só vi Jeff saindo feito um furacão de dentro da casa dele deixando a
mãe dele sozinha.
Eu apareci do lugar que eu estava escondida e Cora aparentava estar
bastante nervosa. Eu tentei amenizar a situação dela falando de um jeito
amistoso.

— Que pena que não deu certo seu plano de fazer Jeff e eu nos
encontrarmos novamente, mas obrigada pela consideração que tem por mim
para ter me convidado. — Eu dei um sorriso para ela.

— Consideração? Até parece que teria consideração por você, Elizabeth.


Pra mim não interessa se é você ou a Charlotte, quem quer que engravide
primeiro será a esposa do meu filho. — Ela falava com obstinação.

— Mas... Ele já é casado. — Eu disse com um tom preocupado.

— Ai Elizabeth, por favor! Pare de ser falsa, não precisa atuar comigo,
se você realmente se importasse com isso, não teria voltado para cá sem
contar para ele, eu sei muito bem o que você pretende e eu estou de acordo
desde que você engravide o quanto antes dele! — Ela ainda falava alterada.

Decidi parar de fingir e jogar em pratos limpos com ela.

— Se você não tivesse me dado tanto dinheiro para desaparecer da vida


dele aquela época para que eu me aventurasse na Europa, seu problema já
estaria resolvido há muito tempo, Cora! Mas não, você preferiu me afastar,
agora está colhendo as consequências das suas decisões. — Eu falei a
desafiando.

— Até parece que você não tinha segundas intenções, não é mesmo?
Você achou que poderia ficar com o dinheiro e se aventurar na Europa do
jeito que quisesse pois o Jeff jamais aceitaria um contrato de casamento
quando chegasse a hora dele se casar, e desse jeito você poderia ter os dois.
O Jeff e o dinheiro, mas você se enganou e muito, não é verdade,
queridinha? Afinal o Jeff aceitou sem hesitar assinar o contrato, vai ver você
não é isso tudo que você julga ser na vida do meu filho. — Cora falou com
completo desdém ao me olhar com desprezo.

Eu a olhei com raiva, eu detestava aquela velha, tive um gostinho da


vingança quando me diverti na Europa com o dinheiro dela, mas ela me
irritava profundamente.
— Esteja certa que eu tenho um lugar especial na vida do seu filho e em
breve carregarei um filho dele na minha barriga, sogrinha. — Falei
ironizando-a e caminhei em direção a porta para sair da casa de Jeff e ela fez
o mesmo.
Mistério desvendado
Narração - Charlotte Staton

Eu cheguei no meu dormitório na noite após o jantar, e estava decidida


a não voltar mais para a casa de Jeff. Agora com esse papel do divórcio em
minhas mãos, e a volta de Elizabeth estava bem claro que nosso casamento
estava caminhando para o fim. Eu dormi um pouco triste por tudo que
aconteceu, porém não chorei mais, acho que já havia chorado o suficiente na
frente do Brandon.

Não sei se foi uma decisão muito inteligente, mas, eu precisava


desabafar então não ficaria remoendo isso. Domingo pela manhã já acordei e
fui focar no meu projeto. E isso era bom porque eu iria distrai minha cabeça,
e não ficaria me torturando com os pensamentos invasivos a respeito do que
aconteceu. Contudo, volta e meia eu me lembrava do olhar de Jeff ao ver
Elizabeth e aquilo acabava comigo. Eu não tinha vindo com o carro dele
afim evitar possíveis humilhações, portanto, como eu iria assinar o contrato
amanhã cedo eu precisava de alguém para me levar até a Tec Solutions, e
como sempre, eu poderia contar com meu primo Sam.
Decidi ligar para ele, pois por conta do caos que foi ontem, nem mesmo
nos despedimos na festa e eu não o avisei o que aconteceu depois que nós
nos afastamos.

Ligação ON

Sam: — Oi Char, eu ia ligar para você. Mas esse final de semana foi
uma loucura, desculpe ter ido embora da festa sem falar nada, eu fui
chamado para um plantão por isso saí sem falar nada. E saí agora mesmo
do hospital, acabei de chegar em casa.

Charlotte: — Nossa, sério? Mas está tudo bem?

Sam: — Está sim, a psiquiatria é assim mesmo, cheia de surpresas.

Charlotte: — Entendo, você é muito paciente primo... E não se preocupe,


eu não vi a hora que você saiu e acabei saindo um pouco as pressas
também.

Sam: — Sério? Foi tão ruim assim?

Charlotte: — Foi cada vez pior, mas eu precisei ser firme. Vim para o
dormitório da faculdade, acredita que a Cora me deu um acordo de
divórcio?

Sam: — Divórcio? Eu ouvi bem?

Charlotte: — Sim, ouviu... Um acordo de divórcio... Mas está tudo bem,


se é para acontecer assim eu estou em paz. — Eu falei com uma voz
desanimada.

Sam: — Não se abata, essas pessoas não merecem sua tristeza.

Charlotte: — Obrigada, primo. Eu te liguei também para ver se você


pode vir me buscar na faculdade amanhã cedo, para me levar até a empresa
do Jeff para que eu assine o contrato com ele.

Sam: — Você decidiu se revelar?


Charlotte: — Sim, mas só depois de assinar o contrato. Eu fui bem clara
quanto a isso com o Levi.

Sam: — Entendi, eu vou estar ao seu lado.

Charlotte: — Isso é muito importante, poder contar com o apoio de


vocês nesse momento.

Sam: — Vocês?

Charlotte: — Sim, vou levar minha assistente Vivian também.

Sam: — Aquela moça bonita que você posta fotos com ela vez ou
outra? — Ele falou e um tom de animação.

Charlotte: — Essa mesma!

Sam: — Que bom que você me avisou, porque vou me arrumar melhor
amanhã para te buscar.

Charlotte: — Danadinho... — Eu dei uma risada ao falar e ele riu


também.

Sam: — Então nos vemos amanhã cedo, eu vou dormir para descansar
bem pois estou exausto.

Charlotte: — Tá bom, primo. Mais uma vez muito obrigada, eu não sei o
que faria sem você na minha vida.

Sam: — Não tem que agradecer, faço porque amo você. Um beijo, fica
bem.

Charlotte: — Fica bem também. Beijos.

Ligação OFF

Depois que nós nos falamos eu me troquei para poder dormir, e não
demorei muito para fazer isso. Era prazeroso para mim trabalhar no meu
projeto, mas ao final do dia eu tinha um cansaço mental muito grande. Ao
amanhecer, assim que me levantei já senti um frio em minha barriga. Mandei
mensagem para Vivian se arrumar pois nós iríamos assinar o contrato hoje, e
fui tomar um banho.

Durante o banho eu tentava relaxar, eu precisava ser bastante fria e


calculista hoje, afinal, eu iria encontrar Jeff e revelar minha verdadeira
identidade isso era um grande feito. Por esse motivo, eu teria que estar
preparada para toda e qualquer ação dele. Seja positiva ou negativa. Eu
estava me preparando para o pior, acho que assim era o melhor jeito para me
preparar.

Terminei de tomar banho, fiz questão de me arrumar para ficar bem


elegante e bonita, eu não iria permitir que Jeff se sentisse melhor do que eu
nem ousasse me humilhar novamente. Eu queria que ele olhasse para mim e
se arrependesse muito por tudo que fez comigo e pela forma que ele me
subestimou também. Terminei de me arrumar e saí do dormitório, assim que
saí já atraí olhares para mim, concluí que minha intenção tinha sido
alcançada com sucesso.

Assim que Vivian me viu ela arregalou seus olhos e abriu um pouco a
boca expressando admiração.

— Uau! Você está maravilhosa, se eu soubesse que você estaria linda


assim eu tinha me arrumado um pouco mais! — Ela falou dando uma risada.

— Não seja boba! — Eu ri. — Você está linda também, e não é só eu


quem digo isso...

Vivian me olhou confusa.

— Eu não entendi o que você quis dizer. — Ela falou.

— Meu primo, o Sam, ele te acha muito bonita. — Assim que eu falei
ela corou. — E é ele quem vai vir nos buscar.

— Nossa, que vergonha! — Ela falou timidamente.


— Não precisa se envergonhar, ele é muito tranquilo, não é babaca e
nada indiscreto.

— Menos mal, estou cansada de babacas na minha vida.

— Eu que o diga... — Falei ao pensar em meu marido.

Nós duas caminhamos para fora da faculdade esperando que Sam


chegasse. A cada instante que se aproximava do momento em que eu iria me
revelar ao Jeff, meu coração disparava e eu ficava mais tensa. Inspirei e
expirei. Quando percebeu o que eu estava fazendo Vivian questionou:

— Está tudo bem?

— Mais ou menos, eu tô um pouco nervosa por hoje.

— Fica calma, tudo vai dar certo e vai ficar bem. Você vai ver. — Ela me
deu um abraço e eu sorri ao abraça-la também.

Enquanto nós nos abraçávamos, Sam chegou. Ele deu uma breve
buzinada e sorriu para a gente, nós caminhamos até o carro e eu fiz questão
de entrar no banco traseiro para que Vivian pudesse ir na frente com ele.
Quem sabe o destino dos dois seria ficarem juntos. Sam começou a dirigir
em direção a empresa do Jeff, e como eu estava mais calada, ele e Vivian
conversavam de modo descontraído. Os dois conversavam como se
conhecessem há muito tempo. Eu não pensei que eles pudessem se dar tão
bem assim, fiquei feliz por isso.

Assim que chegamos na empresa, eu me anunciei e a recepcionista


prontamente nos guiou para o elevador que dava direto no andar do
escritório do Jeff. Fiquei um pouco receosa enquanto subia, porque eu tinha
medo que Levi não cumprisse o combinado e logo de cara eu encontrasse
com o Jeff. Felizmente, Levi manteve sua palavra e apenas ele estava nos
esperando na frente da porta do elevador para nos recepcionar.

— Bom dia, Senhora Hills, é um prazer tê-la aqui finalmente para que
possamos fechar nosso acordo. — Ele estendeu a mão para me
cumprimentar.
— O prazer é meu. — Eu falei ao apertar a mão dele.

Levi cumprimentou Sam e Vivian, e então disse:

— Me acompanhem até a sala de reuniões, e eu reitero que o senhor


Staton não aparecerá antes que você assine o contrato, pode ficar tranquila
que todas as exigências que você fez serão cumpridas. — Ele disse com um
sorriso enquanto caminhávamos em direção a sala de reunião.

Aquilo me deu um alívio pois seria melhor lidar com o Jeff depois do
contrato ser assinado. Assim que chegamos na sala de reunião o contrato já
estava lá em cima da mesa pronto para ser assinado. Me sentei na cadeira e
fiquei encarando o contrato, dessa vez, com certeza eu iria ler cláusula por
cláusula, depois de tudo que passei por assinar um contrato sem ler, prometi
para mim que eu nunca mais assinaria nada sem saber do que se tratava.

Demorei um tempo para ler tudo, e diferente do meu contrato de


casamento esse contrato era bem explícito e de fácil entendimento. Todas as
cláusulas que eu estipulei e exigi foram respeitadas. Terminei de ler, e ao
perceber que eu havia findado minha leitura, Levi disse:

— Está tudo conforme a senhora exigiu?

— Sim, Levi. Está tudo certo. — Dei um sorriso, peguei a caneta e


assinei o contrato no campo que era para eu assinar.

Levi estava tão feliz que não conseguia conter sua emoção, eu me
preparei para levantar da cadeira e disse:

— Bom, acho que agora eu posso ir embora.

— Você não irá esperar o senhor Staton? — Ele perguntou confuso.

— Ah, tem isso... — Eu falei me lamentando. Eu queria sair dali antes


que eu pudesse me encontrar com Jeff. Entretanto, eu havia feito um
combinado então eu tinha que cumprir minha parte.

Levi deu um sorriso amarelo e um silêncio constrangedor se fez na sala.


Porém, logo fomos interrompidos por Jeff abrindo a porta e entrando.
— Bom di... — Ao me ver, ele não conseguiu completar sua frase.

Jeff franziu o cenho, olhou para Sam e Vivian, e ao vê-los ali aparentou
ter ficado mais confuso ainda. Levi sorria orgulhoso e disse.

— Jeff, eu lhe apresento a senhora Charlotte Hills, o gênio misterioso


por trás do projeto.

Eu me levantei da cadeira com imponência e encarei Jeff com o queixo


levantado.

— Olá, senhor Staton.

Jeff parecia atordoado e impressionado por descobrir que eu era a


responsável pelo projeto, enquanto Vivian e Sam nos olhavam de maneira
curiosa ao ver nossas reações por saberem que nós éramos marido e mulher.

Narração - Jeff Staton

Cheguei no escritório bem cedo, hoje finalmente ao que tudo indicava o


mistério seria revelado. Eu finalmente conheceria a garota gênio por trás
daquele projeto tão perspicaz. Eu estava lá há um tempo, já havia tomado
café, andando pela sala, e agora eu estava sentado em minha cadeira
repousando meus pés na mesa, e apertando uma bolinha antiestresse. Eu
estava distraído, então, Levi entrou na sala e disse:

— Ela chegou.

Assim que ele falou isso eu no mesmo instante tirei meus pés da mesa,
me levantei largando a bolinha e arrumei meu terno.

— Certo, vamos lá. — Eu disse com empolgação.

— Não mesmo Jeff, esqueceu do que eu te falei?

Eu o olhei sem conseguir assimilar o porquê ele estava falando aquilo,


Levi suspirou e disse:
— Ela não quer que você vá até ela antes que ela tenha assinado o
contrato. — Ele explicou como se estivesse cansado de falar aquilo.

— Mas que frescura dessa garota, por acaso ela é a rainha da Inglaterra
para fazer tanto mistério assim? — Eu disse nervoso.

— Não importa os motivos dela, apenas temos que respeitar. E por favor
não estrague tudo pelo bem do projeto! É muito importante para empresa.

— Tá, que seja. — Falei ao levantar minha mão e balançar ela para
frente fazendo sinal que não estava me importando.

Levi deu um sorriso e saiu para receber a mulher cheia de exigências.


Fiquei esperando na minha sala, mais ansioso ainda. Era só uma assinatura
então não demoraria tanto, aproveitei para tentar ligar para Charlotte. Desde
o jantar nós não nos falamos mais e eu queria explicar para ela que aquela
noite não foi um acidente, e a verdade era que eu queria que aquilo
acontecesse, mas, nós estávamos drogados e não foi o melhor jeito de
fazermos amor, eu queria me desculpar com ela. Porém, ela não me atendia,
mandei mensagens e nada também. Ao que parece ela não queria me atender
e isso me deixou mais irritado ainda.

— Já deve ter dado tempo pra assinar esse bendito contrato! — Falei
para mim mesmo e saí de dentro do meu escritório indo até a sala de
reuniões.

Assim que cheguei lá cumprimentei todos, mas não consegui terminar


minha frase, porque era Charlotte quem estava lá. Olhei em volta da sala vi
Sam, e a assistente da garota misteriosa. Fiquei sem entender aquilo até que
Levi me apresentou eles e disse que Charlotte era o gênio misterioso! Não
podia ser, eu fiquei chocado com aquilo, sem acreditar no que estava vendo.

Charlotte me cumprimentou de maneira arrogante, e eu permaneci sem


reação. Levi não entendeu minha reação, e como eu continuei calado
Charlotte disse:

— Bom, agora que o senhor Staton me viu, já posso ir embora. — Ela


pegou sua bolsa e caminhou em direção a porta para ir embora.
Porém, eu a segurei pelo o braço e a impedi de sair.

— Por que você não me falou? — Eu perguntei a olhando fixamente


enquanto Levi observava tudo assustado com minha reação, pois ele era o
único ali que não sabia da verdade.

— Eu não vi necessidade de te contar. — Ela respondeu com um sorriso


prepotente nos lábios, mas pude perceber que sua respiração estava
acelerada.

Charlotte puxou seu braço se soltando da minha mão, e eu a olhava ainda


atônito. Aquele momento parecia não ser real.

— Podemos conversas a sós? — Perguntei para ela.

— Não. Agora nós somos somente parceiros de negócios, não há


necessidade para conversarmos a sós. Eu deixei claro que depois da
assinatura não queria que isso acontecesse. — Ela foi bem arrogante em sua
resposta.

Não entendi porque ela falou daquele jeito, como se nós não fôssemos
marido e mulher.

— Não somos apenas parceiros de negócios, você ainda é casada


comigo! — Eu falei um pouco alterado.

Nesse momento Levi pareceu ficar em choque tanto quanto eu fiquei ao


vê-la ali.

— Bom, por enquanto, nós ainda somos casados. — Ela deu um sorriso
sarcástico e se posicionou perto da porta da sala, pronta para ir embora.

Eu estava completamente confuso, e fiquei sem entender o motivo dela


usar um tom ameaçador como se nós não fôssemos continuar casados. O que
ela pretendia com isso? Eu tentava assimilar tudo que estava acontecendo,
então, Levi perguntou:

— Como assim esposa!? — Ele olhou para mim com os olhos


arregalados e as sobrancelhas levantadas demonstrando espanto.
Antes que eu falasse algo a assistente dela respondeu:

— Jeff Staton é o homem com quem Charlotte foi forçada a se casar! —


Ela exclamou.

Levi sentou na cadeira próxima a grande mesa de reuniões e precisou de


um tempo para se recompor ao ter a confirmação daquela informação.
Mente desorientada
Narração - Jeff Staton

A atmosfera do lugar estava tensa e confusa após o que Vivian falou.


Charlotte deu um sorriso para sua assistente, que aparentemente também era
sua amiga pois ambas se olhavam com cumplicidade. Após esse ato,
Charlotte saiu da sala de reuniões acompanhada de Sam e Vivian. No
momento em que ela saiu eu fiquei observando-a de costas, se afastando de
mim. Eu ainda estava bastante atordoado com tudo que estava acontecendo,
mas, naquele momento parece que minha ficha começou a cair. Entendi que
Charlotte estava fingindo ser quem não era, se passando por uma pessoa
ingênua e de pouca inteligência na minha frente e na frente do avô dela,
porque ela queria encontrar uma forma de ter ações na empresa.

Assumo que aquilo aumentou minha admiração por ela, não deve ter sido
fácil. Me sentei em outra cadeira que havia na sala de reuniões e passei
minha mão em minha boca de um lado para o outro, e mantive meu olhar
distante e pensativo. Levi ainda estava em choque com tudo que havia
acontecido e parece que estava digerindo, com dificuldade, tudo o que estava
acontecendo. Ele não havia falado nada ainda, presumo que ele quisesse
entender melhor tudo que havia se passado para que nós começássemos a
conversar sobre o que havia acontecido. Diante do silêncio que estava na
sala, eu me lembrei do que Vivian havia falado, que eu fui o homem com
quem Charlotte foi forçada a se casar.

Eu pensei que o contrato foi algo que partiu dela, por mais que ela tentou
incansavelmente me avisar por várias vezes que não sabia sobre ele, eu não
acreditava nela. Entretanto, ao ouvir o que Vivian falou eu fiquei muito
intrigado com aquilo. E se de fato Charlotte foi forçada a assinar aquele
contrato para se casar comigo? A essa altura ela devia me ver como um
verdadeiro monstro por tudo que a fiz passar. Eu precisava tirar essa história
a limpo o quanto antes.

— Levi. — Eu o chamei e ele não respondeu. — LEVI! — Eu gritei para


ver se ele me ouvia.

— Hã? Oi! — Ele falou saindo de sua distração. — Me desculpe, é muita


coisa para processar. Eu não estou conseguindo acreditar até agora...

— É, eu sei. Nem eu estou acreditando nisso, parece ser surreal, mas


enfim, precisamos voltar para a realidade, não há tempo para devaneios. Eu
preciso que você investigue o avô da Charlotte.

— Investigar o avô da sua esposa? Por qual motivo? — Levi franziu a


testa, e demonstrou interesse ao se inclinar em minha direção com seus olhos
atentos para ouvir o que eu tinha a falar.

— Eu preciso saber se Charlotte realmente foi forçada a assinar o


contrato de casamento comigo. As palavras da assistente dela estão ecoando
na minha mente... E se realmente ela foi forçada a assinar esse contrato, eu
tenho muita vergonha do que fiz com ela durante esse tempo que estamos
casados. Entretanto, eu espero que seja apenas uma suspeita errônea da
minha parte, e isso também não passe de um truque dela para fazer com que
eu tenha compaixão por ela... — Eu falei olhando para o lado bastante
pensativo.

— Tudo bem, vou investigar e vamos descobrir a respeito.

— Obrigado, e aproveitando, eu quero que você investigue também se


ela é a peanut. Através da investigação sobre o avô dela, certamente você vai
conseguir chegar nessa conclusão.

Algo me dizia fortemente que ela poderia ser a menina que me apaixonei
na adolescência, por mais que ela tenha dito o contrário. Porém, eu fiquei um
pouco cético se descobriríamos a respeito disso, afinal, minha esposa provou
hoje que sabia muito bem esconder sua identidade na minha frente. Isso era
frustrante, mas, me deixava instigado. Enquanto eu estava pensativo Levi me
olhou sem entender meu pedido.

— Você acha que há possibilidade da Charlotte ser a garota que você


procura há dez anos?

— Sim, mesmo que seja uma possibilidade irrisória, eu acredito que seja
possível sim. — Afirmei para ele convicto no que eu falava.

Levi me olhava com estranheza, eu arqueei uma de minhas sobrancelhas


e o questionei:

— O que foi? Por que está me olhando dessa maneira? Se quer comentar
algo a respeito comente de uma vez por todas.

— Sinceramente? Eu não acho que exista essa possibilidade da sua


esposa ser a sua "garota amendoim". — Ele falava quase em um tom de
deboche.

— E o que te faz pensar isso? — Eu o olhei com uma expressão


insatisfeita.

— Acho que isso já ultrapassaria o limite da coincidência, você não


acha?

— Não me interessa se seria o limite ou não de uma coincidência, mas se


há uma possibilidade mesmo que mínima eu preciso saber. Esse é seu
motivo? Genial. — Eu disse com veemência e ironia ao final da frase.

Levi ignorou minha alfinetada e perguntou:

— Mas, por que você acha que ela pode ser aquela menina?
— O olhar dela. Todas as vezes que eu a olho nos olhos, me recordo
daquela menina, e aparentemente os olhos dela são tão familiares, que sinto
que já os olhei antes de conhecê-la em cima daquele altar, quando nós nos
casamos.

— Muitas mulheres tem os olhos azuis, isso não justifica. — Levi falou
ainda não acreditando na possibilidade que eu levantei dela ser a peanut.

— Não seja tolo, Levi. Eu não digo pela cor dos olhos, mas o olhar em
si, a profundidade e inocência do olhar dela, e como ela me olha... Enfim,
não espero que você entenda. Só faça o que eu te pedi e investigue através
do avô dela, para descobrir se ela realmente é a garota que eu busco há
tantos anos. — Eu insisti.

— Tudo bem, você quem manda, mas sabe o que eu acho?

Dei um suspiro e falei a contragosto de uma maneira cansada.

— Não Levi, não consigo imaginar o que você acha. Fale logo de uma
vez, não espere que eu adivinhe porque eu não tenho uma bola de cristal.

Levi me olhou de forma desdenhosa após a forma grosseira que eu falei


com ele, e revirou seus olhos por conta da minha atitude, porém, disse de
forma direta:

— Eu acho que no fundo você está querendo que Charlotte seja ela.

Eu ri com sarcasmo, e indaguei:

— E qual seria meu objetivo ao desejar isso?

— Não sei, talvez você esteja apaixonado por ela e essa é uma maneira
que encontrou de legitimar sua paixão por sua esposa. Criando na sua
imaginação que ela é a garota que você conheceu há muitos anos, e por esse
motivo se apaixonou por ela, mesmo por conta daquele contrato
perturbador. — Ele disse me encarando como se tivesse matado a charada.

— Levi, as vezes acho que você está sendo desperdiçado trabalhando


para mim com a imaginação fértil que você tem. — Eu disse com bastante
ironia enquanto ria dele.

— Você pode continuar mentindo para você mesmo se quiser, mas, acho
que você está dando muita atenção a Charlotte, parece estar muito
interessado.

— É importante eu saber mais sobre minha esposa para me prevenir,


talvez se eu soubesse mais sobre ela antes, eu teria descoberto que ela era o
gênio por trás do projeto. — Falei para me defender das alegações de Levi.

— Não sei, acho que isso parece ser um mau sinal, como se você
estivesse obcecado com ela por conta da ira. Ou simplesmente porque você
está apaixonado por ela, que acho que é mais plausível. — Ele retrucou.

Aquilo me tirou do sério.

— Certo Levi, fique com suas alegações infundadas que eu tenho mais o
que fazer. — Me levantei da cadeira de forma rude, arrumei meu terno e o
encarei com uma expressão fria enquanto ele mantinha um sorriso.

Saí da sala de reuniões e caminhei enfurecido pelo que ele havia me


falado em direção ao meu escritório

Cheguei em meu escritório, me sentei em minha cadeira praticamente me


jogando nela. Apanhei a bolinha antiestresse que eu estava apertando
anteriormente e comecei a joga-la na parede por repetidas vezes enquanto
pensava no que Levi tinha me dito. Era ridículo, eu não gostava de
Charlotte... Eu acho que estava ficando louco querendo ver bondade nela,
mas não sei porque, e além disso ficava procurando maneiras de inocenta-la
da culpa de ter assinado o contrato.

Através dessa investigação eu iria ter a certeza que ela assinou por livre e
espontânea vontade, e teria a certeza que ela não era a peanut. Mas se o
contrário acontecesse, se isso se confirmasse? Será que minha perspectiva a
respeito de estar gostando dela mudaria? Depois da noite que passamos
juntos algo mudou mais ainda dentro de mim, eu estava confuso, com um
misto de sentimentos e não sabia o que sentir verdadeiramente diante
daquilo. Hoje o dia foi mais que caótico, mesmo se existisse alguém com
poderes de prever o futuro, e este alguém me dissesse o que iria acontecer
hoje, eu não acreditaria.

Eu subestimei Charlotte e sua inteligência por tantas vezes... E meu


orientador disse que ela foi a melhor aluna que ele já teve, superando até eu
mesmo, isso era sensacional e inegavelmente me fazia ter admiração por ela.
E também era um belo tapa na cara da minha soberba. Eu estava tão confuso
que acho que estava perdendo minha cabeça, nem eu mesmo estava me
compreendendo. Eu sempre fui um homem lúcido, frio, calculista, nunca fui
de agir pela emoção, mas, ultimamente, Charlotte estava me desestruturando
de uma maneira que eu não sabia explicar.

Talvez o que Levi falou realmente fazia sentido... Não, não. Eu me


recuso a estar apaixonado por Charlotte. Devo estar pensando dessa maneira
porque estou admirado com a inteligência e esperteza dela, e isso são duas
coisas que sempre me atraíram. Contudo, eu não iria me deixar levar, talvez
se eu convivesse mais com ela e visse como ela realmente era, eu não iria
ficar pensando dessa forma.

Fiquei relutando com meus pensamentos no decorrer do dia e não


consegui ser produtivo, foi frustrante, mas eu não iria me cobrar pelo menos
no dia de hoje, pois, coisas muito incomuns aconteceram. Já era noite, um
pouco tarde para falar a verdade, não fazia mais sentido eu continuar na
empresa, ainda mais improdutivo como eu estava. Organizei os papéis em
minha mesa, fechei meu notebook e me levantei da minha cadeira, porém,
assim que levantei meu celular tocou.

Por um momento me empolguei pensamento que pudesse ser a Charlotte,


e não consegui entender o motivo da minha empolgação. Entretanto, ao
olhar na tela do celular vi que se tratava de uma ligação de Elizabeth. Olhei
por um tempo antes de atender porque não entendi o motivo que ela poderia
ter para me ligar.

Ligação ON
Jeff: — Alô?

Elizabeth: — Oi, Jeff, tudo bem?

Jeff: — Estou sim, e você?

Elizabeth: — Estou ótima, melhor agora falando com você... — Após


ouvir aquela frase inusitada apenas dei um breve sorriso para que ela
pudesse ouvir.

Jeff: — Está precisando de alguma coisa?

Elizabeth: — Na verdade sim.

Jeff: — Se estiver ao meu alcance posso fazer para você. — Respondi


por educação pois eu não queria ter que ajuda-la em nada, minha cabeça
estava a mil hoje.

Elizabeth: — Ah, com certeza é algo que está ao seu alcance! Eu estava
pensando que no dia do jantar não tivemos muito tempo para conversar, e
eu estou com saudade das nossas conversas. Por isso decidi te chamar para
jantar, o que você acha?

Eu não entendi o interesse de Elizabeth me convidar para jantar de modo


tão repentino. Além de não estar com cabeça para isso, eu era casado com a
Charlotte, por mais que fosse um casamento muito estranho o mínimo que
eu poderia era ser é fiel a ela, e respeita-la nesse quesito enquanto
estivéssemos juntos.

Jeff: — Me desculpe, Elizabeth, mas acho que não convém nós


jantarmos juntos.

Elizabeth: — Por que não?

Jeff: — Eu sou um homem casado e devo honrar meu compromisso.

Elizabeth: — Ué, mas é um jantar inocente, só vamos comer... Não


acontecerá nada além...
Jeff: — Agradeço seu convite, contudo, minha resposta permanece a
mesma. — Eu disse de um jeito mais ríspido.

Elizabeth: — Tudo bem, já entendi, certos comportamentos não mudam


mesmo. — Ela disse com uma voz triste se referindo a minha grosseira.

Jeff: — Sinto muito... Boa noite.

Ligação OFF

Eu desliguei antes que ela delongasse mais aquele assunto. Saí do meu
escritório, entrei no elevador e fui até a garagem onde estava meu carro. Ao
entrar nele e dar partida, eu decidi que iria na faculdade de Charlotte. Não
sei o porquê dessa vontade repentina, mas, eu iria até lá. No caminho parei
em um fast-food e comprei um sanduíche com fritas para ela.

Balancei minha cabeça negativamente enquanto dirigia, eu não entendia


o que eu estava fazendo indo até lá. Chegando na faculdade, estacionei meu
carro e comecei a caminhar pelos corredores. Para minha surpresa quando
olhei para a janela de vidro do laboratório, lá estava Charlotte trabalhando
em seu projeto. Pensei que ela já estivesse em seu dormitório, porque já era
bem tarde e ela ainda estava lá se empenhando em seu trabalho.

Fiquei a admirando por um tempo, ao olhar para ela, e para o rosto dela
concentrado e dedicado no que estava fazendo, me lembrei das palavras de
Levi que insinuaram que eu estava apaixonado por ela. Apertei meus lábios
um no outro e fechei meus olhos tentando fazer com que esses pensamentos
se desvencilhassem da minha mente. Após isso, bati na porta, não esperei
que me dessem autorização para entrar e fui logo entrando. Esse ato chamou
a atenção dela que interrompeu seu trabalho e me olhou confusa, mas ao
mesmo tempo parecia estar com raiva de me ver ali.

— Boa noite, Charlotte. Trouxe um lanche para você. — Levantei a


sacola de lanche enquanto me aproximava dela com um sorriso leve.
Preciso dela
Narração - Jeff Staton

Charlotte me olhava com desdém. Eu estava ficando um pouco ansioso


por ela apenas me encarar daquela maneira e não falar nada, eu esperava
uma boa reação da parte dela, por eu ter vindo aqui trazer um lanche para
ela. Ela cruzou seus braços e continuou a me olhar como se não entendesse
meu objetivo de ir até a faculdade, e infelizmente essa resposta nem eu
mesmo conseguiria dar a ela pois eu também não sabia o motivo que me
levou até ela.

— O que você está fazendo aqui? — Charlotte me perguntou com frieza.

— Nossa, pelo menos um obrigado pelo lanche pensei que iria


receber. — Falei para ela ao deixar o lanche no balcão do laboratório.

— Agradecer você por interromper meu trabalho? — Ela disse com mau
humor e permaneceu de braços cruzados como se minha presença fosse
extremamente indesejada e inconveniente.
Fiquei um pouco decepcionado, entretanto, eu estava decidido a não sair
de lá apesar dos pesares. Fiquei alguns segundos em silêncio, e ela me
questionou:

— O que você veio fazer aqui, Jeff? — Charlotte ergueu suas duas
sobrancelhas demonstrando impaciência.

Eu procurava palavras para que pudessem compor minha desculpa,


porém, nada me vinha a mente. Charlotte arfou pela minha falta de resposta
e disse:

— Que seja. Fique à vontade. — Ela falou com ironia dando um sorriso
forçado que claramente dava a entender que ela não queria minha presença
ali.

Depois do que falou, ela se dirigiu até a sacola com comida que estava
em cima do balcão, e ao ver o que eu havia trazido para ela seu rosto se
iluminou. Eu sabia pouco a respeito da minha esposa, mas de uma coisa eu
tinha certeza, ela amava comidas gordurosas e de baixo valor nutricional. Eu
já havia visto ela consumi-las em outras ocasiões, e também as vezes
encontrava embalagens dessas mesmas besteiras, espalhadas pelo meu carro
no dia após ela usar, isso me deixava super estressado, mas de certa maneira
me fazia conhecê-la mais e saber de suas preferências.

Charlotte pegou o sanduíche e começou a comê-lo, ela voltou para sua


bancada onde o senhor Hollins e Vivian estavam. E então, ela continuou a
falar sobre seu projeto com eles, ignorando totalmente minha presença ali.
Eu a observava em silêncio enquanto ela falava com eles, Charlotte parecia
tão dedicada e inteligente. Dava gosto de vê-la empenhada em um trabalho
tão magnífico como aquele. Eu sorri com o canto dos meus lábios, e a achei
mais atraente do que nunca.

Acredito que eu estava perdendo minha cabeça, todavia, eu precisava me


controlar. Depois que ela comeu, parecia ter se acalmado mais. Presumi que
fazia sentido o que dizem sobre alimentarmos as pessoas que estão com
raiva antes de conversar com elas. Charlotte me olhou, e viu que eu estava
sentado em uma cadeira em frente a uma pequena mesa redonda. Ela se
aproximou de mim, e se sentou na cadeira ao lado da minha.
— Obrigada pelo lanche, estava uma delícia. Acertou em cheio o sabor e
até mesmo a lanchonete que estou habituada a comprar. — Ela disse de
maneira tranquila, mas ainda aparentava estar incomodada com minha
presença ali, principalmente por não saber claramente o motivo que me
levou até lá.

— Por nada, não foi difícil saber o que você gostava por conta das
embalagens que eu encontrava em meu carro. — Dei uma risada
descontraída e Charlotte apenas deu um sorriso seco.

— Quero agradecer também pelos 6% das ações que você me deu da Tec
Solutions.

— Não há de que, mas foi você mesma quem conquistou através da sua
inteligência excepcional. — Eu falei querendo a bajular para ver se ela
baixava um pouco a guarda enquanto falava comigo.

— Certo... Mas, sinceramente, eu esperava que depois que eu assinasse o


contrato você não viesse me perturbar. E ainda especifiquei isso, que nosso
acordo seria anulado caso nós nos víssemos depois de tê-lo assinado. — Ela
falou seriamente enquanto ainda me encarava.

Que balde de água fria, ela estava implacável! Estranhamente eu me


sentia mais atraído por ela quando ela estava assim, sei que parece sádico,
mas eu não conseguia evitar. Contudo, eu não queria demonstrar, pois acho
que isso era sinal de fraqueza, e ela poderia se aproveitar disso.

— Bom, parafraseando o que você mesma falou, ainda somos marido e


mulher. Por esse motivo nossos encontros serão inevitáveis. — Aproveitei
para alfineta-la a respeito do que ela tinha falado sobre sermos um casal em
tom ameaçador, enfatizando o "ainda".

Ela apenas deu um sorriso forçado, apertou seus lábios um contra o outro
e disse:

— Certo... Então, agora que você já sabe quem eu sou, deve saber o
porquê insisti em assinar o contrato para obter as ações da Tec Solutions, não
é? — Ela arqueou uma de suas sobrancelhas ao falar.
— Eu tenho uma ideia sim, mas gostaria de saber de você o verdadeiro
motivo. — Eu a encarava enquanto falava.

Charlotte me olhou fixamente nos olhos e falou com determinação.

— Quero ser a maior acionista da empresa. — Ela disse de maneira tão


obstinada que naquele momento, eu desvendei o real motivo por trás dessa
vontade dela.

Creio que ela queria ser a sócia majoritária para poder enfrentar seu avô.
Se ele realmente a forçou a assinar aquele contrato as cláusulas não são tão
favoráveis para ela, ainda mais porque ela foi usada como uma avalista por
ele. Sendo assim, certamente, ela desejava vingança. Eu poderia ajuda-la,
mas temi oferecer ajuda para ela já que ela estava me tratando com tamanha
hostilidade. Tenho certeza que se eu oferecesse minha ajuda ela iria rejeitar,
pois Charlotte estava diferente, agindo como se nada a abalasse.

— Entendi. — Respondi balançando a cabeça em concordância com o


que ela havia falado. Por mais que minha vontade fosse oferecer ajuda para
ela, eu me contive.

— Bom se você já fez o que você tinha que fazer aqui, acho que você já
pode se retirar. — Ela falou ao se levantar da cadeira e apontar a mão para
porta, praticamente me forçando a sair dali.

Novamente me chateei por conta disso, além de me sentir ofendido,


jamais minha presença foi indesejada dessa forma em qualquer lugar em que
eu estivesse. O projeto, era do meu interesse também, nada mais justo eu
acompanha-lo de perto. Eu permaneci sentado porque eu não iria sair dali.
Impacientemente, Charlotte disse:

— Você está surdo ou apenas está fingindo que não está me ouvindo para
me irritar? Eu fui benevolente com você até aqui permitindo sua presença
inconveniente, mas, tudo tem um limite. Você pode por favor ir embora de
uma vez por todas!? — Ela disse franzindo a testa e alterando um pouco sua
voz, essa atitude atraiu os olhares de sua assistente e seu orientador.

Eu não estava entendendo o motivo, nem essa necessidade de ficar perto


dela, esses sentimentos estranhos que eu estava tendo por ela me deixavam
assustado mas mesmo assim eu queria entende-los. Acho que eu queria
descobrir quem ela era de verdade, por isso eu estava insistindo, por mais
que ela estivesse sendo tão rude comigo, eu precisava pensar rápido, então,
eu disse através de um pensamento impulsivo:

— Quero me juntar a equipe do projeto! — Eu me levantei para me


igualar a ela ao falar com empolgação.

— O quê!? — Ela disse incrédula. — Você só pode estar brincando! —


Ela riu de maneira debochada e balançou sua cabeça negativamente.

— Estou falando sério. Assim que cheguei e você foi comer, não pude
deixar de ouvir que vocês estão enfrentando um impasse no projeto, e acho
que mais uma cabeça para pensar ajudaria bastante. — Eu disse com
otimismo.

— Eu consigo resolver vários enigmas, inclusive eu resolvi um grande


impasse em um dos projetos da empresa do senhor Wilson, e além de pagar
minha consultoria, ele ficou tão grato que aceitou encenar que estava
interessado em meu projeto para que vocês pudessem aumentar a proposta
para o meu projeto.

Sabia! Wilson estava tecendo muito elogios para o projeto. Ele não iria
ficar falando daquele jeito para mim e Levi se ele realmente quisesse
compra-lo. Charlotte deve ter desvendado algo muito valioso para que ele
fizesse isso.

— Não estou subestimando você, pelo contrário, eu sei da sua


inteligência e capacidade. E são admiráveis! Porém, seria um enorme prazer
para mim poder ajudar você. — Continuei a pedir humildemente, algo que
não era do meu feitio.

Minha esposa estava pisando em mim, eu nunca tinha implorado assim


para ninguém, mas eu permanecia ali insistindo para que ela me desse ao
menos uma chance para ajudá-la no projeto, porém, meu real objetivo era
descobrir o motivo daqueles sentimentos estranhos que estavam me
assolando, e eu ficaria ali com ela até descobri-los mesmo que custasse meu
orgulho, e meu ego.
— Obrigada pelos elogios, mas, não vão funcionar. Eu dispenso, não
quero sua ajuda. Está é minha decisão final. — Ela falava convicta.

— Charlotte, espere! — O senhor Hollins ao ouvir nossa conversa


agitada decidiu intervir.

Ela olhou para ele surpresa por ele ter interferido em nossa conversa. O
senhor Hollins era uma pessoa extremamente discreta, creio que por isso ela
se surpreendeu. Ao ver que conseguiu nossa atenção ele continuou a falar
tentando convencê-la.

— Não descarte a proposta do Jeff. Depois de você, ele foi o aluno que
mais teve minha admiração nessa instituição em todos esses anos. Achei
uma grande ironia do destino que vocês dois fossem casados. Os dois gênios
que tive o prazer em orientar. Seria grandioso eu poder vê-los trabalharem
juntos, e acho que além de você, ele é a única pessoa que tem competência
para nos ajudar com o problema que você está enfrentando no seu projeto. É
injusto com o resto dos mortais que dois gênios como vocês estejam
casados. — Ele deu um sorriso singelo.

— Mas você pode me ajudar nisso, senhor Hollins. — Charlotte disse


relutante em aceitar o conselho dele.

— Oh menina, eu já estou velho, as coisas não estão tão frescas em


minha memória mais. Aproveite a ajuda do Staton, ouça o que estou te
falando. — Ele insistiu.

Charlotte pareceu ficar balançada com as palavras dele. O projeto era


algo muito importante para ela, e não conseguir resolver o problema que o
projeto estava enfrentando deveria ser bem frustrante. Além de querer ficar
perto dela eu realmente gostaria de ajudá-la a resolver isso, quem sabe dessa
forma poderíamos ficar mais próximos e eu poderia conhecê-la melhor?

Eu fiquei olhando para minha esposa após as palavras do senhor Hollins


na expectativa que ela cedesse. Charlotte respirou fundo, olhou para seu
orientador com um sorriso, depois, olhou novamente para mim e tirou o
sorriso do rosto. Ao fazer isso ela disse:
— Tudo bem, eu aceito você na equipe, mas que fique claro que seremos
parceiros de trabalho, não quero que nossa vida conjugal se misture com
nosso trabalho. Fui clara? — Ela disse em tom prepotente.

Como ela era a responsável pelo projeto e eu queria estar ali, a única
coisa que me restava era aceitar. Não consegui disfarçar meu sorriso largo ao
saber que eu participaria do projeto, pois eu adorava um desafio, e pra mim
era bom saber também que eu ficaria ao lado dela, pois esse era o objetivo
principal.

— Fique tranquila, Charlotte. Eu sei ser profissional. — Falei com


bastante convicção para ela.

Ela cruzou os braços e continuou a me olhar com desprezo. Entretanto,


ela sabia que tinha tomado uma decisão certa, pois, comprovadamente eu era
o único que iria conseguir ajuda-la, por ser o segundo melhor aluno do
senhor Hollins. Essa posição não me agradava, porém eu aceitava de bom
grado já que eu ficaria atrás apenas da minha esposa, que estava
conquistando grande admiração da minha parte.
Sem orgulho
Narração - Jeff Staton

Com a desculpa do projeto eu pude ficar lá no laboratório, e decidi que


iria lá durante o tempo necessário para encontrar o problema do projeto da
minha esposa, porém, a realidade era que eu iria aproveitar para ficar ao
máximo perto dela. Nós estávamos trabalhando no projeto naquela mesma
noite, o grande problema era a falha de um algoritmo, Charlotte estava
agitada pois foi exatamente isso que atrasou por tanto tempo o projeto do
Wilson e quase o fez desistir, eu sabia disso pois ouvi ela conversando com o
Hollins a respeito. Geralmente quem está no "olho do furacão" não nota
onde está o erro, e isso era exatamente o que Charlotte estava fazendo.

Quando tive acesso ao projeto eu logo de cara vi a falha, e eu poderia já


revelar, porém eu queria passar a maior quantidade de tempo que eu pudesse
ao lado dela. Ela estava bastante estressada por não conseguir o resultado
esperado, mas ainda sim guardei a informação.

— Charlotte?
— O que foi? — Ela respondeu de forma grosseira enquanto massageava
suas têmporas.

Respirei fundo ao ouvi-la. Nunca fui tratado com tanta arrogância e


hostilidade por alguém, e permaneci conversando com essa pessoa, mas,
mesmo ela fazendo isso comigo eu queria continuar ali e além de tudo cuidar
dela.

— Já está bem tarde, não acha melhor descansar e depois amanhã nós
retornamos? — Eu sugeri, pois, ela parecia extremamente exausta.

— Eu quero resolver isso o quanto antes. — Ela disse de forma relutante.

— Entendo, sei que não é fácil para você chegar nesses impasses, mas
entenda que é algo necessário para que você consiga continuar a trabalhar no
projeto. — Insisti com ela.

— Devo concordar com o seu marido, Charlotte. — Vivian falou. —


Não adianta você continuar se desgastando e cansando sua mente dessa
forma sendo que não chegará a lugar nenhum e só ficará sobrecarregada.

Ela suspirou e acenou a cabeça positivamente se dando por vencida.

— Vocês têm razão, vamos todos descansar e amanhã nós retornamos


para conseguirmos resolver isso o quanto antes. E espero que você tenha
alguma ideia para me ajudar, porque eu não vi diferença nenhuma no meu
projeto com sua presença aqui. — Charlotte disse de forma desdenhosa ao
olhar para mim.

Acredito que ela estava querendo me desencorajar de todas as formas a


vir aqui, estava mais que claro que minha presença era extremamente
incômoda para ela, logo, eu precisava pensar em algum modo de reverter
essa situação para que ela me visse com bons olhos e me quisesse ali.

— Fique tranquila que nós vamos dar um jeito, e quando você menos
esperar vamos ter a solução para esse problema e conseguiremos fazer com
que seu projeto seja executado perfeitamente. — Eu disse a ela em um tom
bastante otimista.
— Assim espero. — Ela nem ao menos me olhou ao me responder, e foi
arrumar suas coisas para que deixássemos o laboratório.

O senhor Hollins passou por mim, e estendeu sua mão para se despedir.
Eu apertei a mão dele e sorri ao me despedir dele, antes de sair, ele disse:

— Fique tranquilo, casamento com mulheres muito inteligentes tem


dessas coisas. Haverá sempre uma competição entre vocês dois e resistência
para aceitar ajuda também. — Ele deu uma breve risada, duas batidas em
meu ombro e saiu do laboratório.

Se ele soubesse que o problema do meu casamento com a Charlotte é


muito maior do que uma mera competição, tenho certeza que o teor dos
conselhos dele seriam outros. Apenas mantive meu sorriso como gratidão
pelo o que ele havia falado. A assistente de Charlotte passou por mim e se
despediu meramente acenando a cabeça com um olhar de reprovação.

Creio que ela não gostava de mim, provavelmente Charlotte havia falado
algo para que ela tivesse esse tipo de comportamento hostil comigo.
Entretanto, eu não me importava. Fiquei observando minha esposa enquanto
ela organizava tudo. Coloquei as mãos em meus bolsos, ela nem ao menos
tinha se dado conta que eu permanecia ali esperando por ela. Ao levantar sua
cabeça depois de organizar a bancada, dois riscos se formaram entre suas
sobrancelhas, e ela me olhou intrigada.

— O que você ainda está fazendo aqui? — Ela questionou.

— Estou esperando você para que possamos ir embora, tenho certeza que
o descanso será melhor caso você vá para ao invés de ficar no dormitório da
faculdade. — Eu disse a ela convicto que ela iria embora comigo.

— Não, muito obrigada, eu prefiro dormir em um dormitório onde eu


posso chamar de meu. Lá, na sua casa, eu sou somente uma convidada e não
me sinto à vontade. — Ela disse em um tom regado de ironia.

Charlotte estava se vingando pelo fato do que eu disse a ela há algum


tempo. Engoli seco e dei um sorriso constrangido, passei minha mão na testa
e disse:
— Quanto a isso... Não faz mais sentido, lá é sua casa também e quero
que você se sinta à vontade para fazer o que bem entende. — Expliquei para
ela.

— Acho que é um pouco tarde demais para isso, Jeff Staton. — Ela
parou na minha frente e me encarou.

O magnetismo que havia entre nós dois, e a tensão romântica era nítida.
Seu olhar penetrante, me encarando daquela maneira me transportava para a
noite que nós estivemos juntos, e uma vontade avassaladora que ela fosse
minha me consumiu. Me aproximei para tentar investir em um beijo e
Charlotte não se afastou, quando eu estava próximo o suficiente para que nós
nos beijássemos, ela virou o rosto para o lado e deu um passo para trás.

— Eu preciso fechar o laboratório. — Ela disse de maneira agitada como


se aquele momento que havia acontecido a incomodasse.

Ela foi até a porta, segurou a maçaneta e me fitou com seu queixo
erguido. Os cantos dos meus lábios se elevaram, formando um singelo
sorriso, mas a verdade é que eu sorri por conta da frustração que senti
naquele momento. Fui até a porta e antes de sair eu parei, olhei dentro dos
grandes olhos azuis da minha esposa. Pensei em insistir mais uma vez para
que ela viesse comigo para casa, mas sabendo como ela estava irredutível
com qualquer coisa que eu dissesse optei por apenas sorrir e dizer:

— Boa noite, Charlotte. Até amanhã. — Ela esboçou um sorriso ao


terminar de trancar a porta do laboratório e então eu tive coragem para ser
mais ousado.

Me aproximei e dei um beijo demorado na bochecha dela, ela não se


esquivou, mas demonstrou estar surpresa pelo o que eu havia feito.
Aproveitei que ela não se afastou e a empurrei contra a parede, ao lado da
porta, devagar. Passei minha mão na cintura dela e comecei a levantar sua
blusa e pude sentir que a pele dela se arrepiou.

— O que você está fazendo? — Charlotte balbuciou.

— Não está gostando? — A questionei em um sussurro aproximando


meus lábios dos dela.
Charlotte não foi capaz de falar mais nada, apenas me encarou. Coloquei
a mão no cós da calça dela e comecei a desabotoa-la, depois, desci o zíper.
Ao fazer isso, com a mão que ela tinha livre ela segurou no meu punho, pois
sua outra mão estava ocupada segurando algumas de suas coisas e a chave
do laboratório. Olhei para ela um pouco confuso, pensei que ela iria pedir
para eu parar, mas então ela disse:

— Aqui não. — Ao falar isso ela foi até a porta do laboratório e a


destrancou novamente, a abriu, entrou e ficou me olhando.

Prontamente entendi qual era o objetivo dela, não contive meu sorriso e
entrei. Assim que entrei, ela fechou a porta e deixou suas coisas no chão.
Nós ficamos nos encarando por alguns instantes, ambos com a respiração
ofegante pela tensão sexual que estava presente no ambiente. Charlotte veio
até mim, e me empurrou na porta com certa violência, assim que ela fez isso
nós começamos a nos beijar com muito desejo. Aproveitei que a calça dela
estava desabotoada e a abaixei junto com a calcinha enquanto estávamos nos
beijando, ela se afastou um pouco para terminar de tirar a calça e eu
aproveitei para desabotoar e tirar a minha. Charlotte tirou sua blusa, e seu
sutiã, ela estava completamente nua na minha frente e tinha um olhar
flamejante. Tirei minha camisa e meu terno com pressa. Nós dois estávamos
nus e analisávamos o corpo um do outro minuciosamente.

Puxei ela contra meu corpo, e ao fazer isso ela soltou um breve gemido,
eu sorri perversamente e a peguei no colo a levando em direção a uma
bancada que havia no laboratório, coloquei ela sentada e abri as pernas dela.
Coloquei dois dedos na minha boca passando saliva neles e depois, passei
em cima do clitóris dela. Charlotte se contraiu e estremeceu de tesão, eu
estava louco de vontade para ficar com ela. Posicionei meu pau na entrada
dela, e diferente da outra vez, ela não teve medo. Até se inclinou para frente
para que eu pudesse penetrar ela o quanto antes. Eu coloquei meu pau dentro
dela com pressa, e logo em seguida comecei a dar bombadas fortes nela.
Charlotte gemia e dava gritos que ecoavam pelo laboratório. Eu estava
enfiando tão forte nela que a bancada estava balançando bastante e algumas
coisas que estavam sob ela começaram a cair.

Charlotte parecia não se importar, pois ela continuava gemendo enquanto


entrelaçava seus dedos nos meus cabelos e os puxava para trás por conta do
tesão que sentia. Me afastei um pouco e a peguei em meus braços. Ela
pareceu não entender muito, mas não questionou, coloquei ela apoiada na
bancada com a bunda virada para mim, distribuí mordidas mescladas com
beijos e chupões nas costas dela enquanto encaixava meu pau novamente.
Senti que as pernas dela bambearam quando eu fiz isso, então a segurei pela
cintura enquanto continuava a dar umas bombadas gostosas nela.

Ela gemia e pedia mais, hoje ela estava completamente diferente da


primeira vez que estivemos juntos, e bastante insaciável. Obedientemente
continuei a meter nela, até que ela esticou seu braço para trás, colocou a mão
na minha barriga me empurrando. Eu parei de penetra-la e então, ela se virou
de frente para mim. Charlotte segurou meu rosto com suas duas mãos e me
deu um beijo ardente, parecia que ela queria me devorar. Eu sorri ao fim do
beijo, e ela também, então minha esposa disse:

— Deita.

— No chão mesmo? — Perguntei.

— Isso. — Ela falou com certa autoridade.

Me deitei no chão e ela passou uma de suas pernas por cima do meu
corpo, ficando com os pés encostados na lateral do meu corpo, ela se
agachou, segurou meu pau e se sentou bem devagar. À medida que ela se
sentava, ela gemia e inclinava a cabeça para trás. Quando ela se sentou por
completo, ela parecia não saber muito bem o que fazer por conta da sua
pouca experiência, segurei na cintura dela e a auxiliei a fazer movimentos
para frente e para trás. Eu senti um tesão incontrolável nessa posição, e ver
os seios dela balançando juntamente com a expressão safada que ela fazia,
estava me deixando enlouquecido.

— Eu não vou aguentar. — Falei para ela.

— Então goza comigo. — Ela falou com sua voz falhada por conta dos
movimentos e os intensificou mais.

Segurei a cintura dela com mais força e dei um gemido mais grosso no
momento em que ela rebolava com mais intensidade. Charlotte deu um
gemido alto e prolongado, em seguida senti que seu corpo amoleceu e deu
alguns espasmos, percebi que ela havia gozado, então, nesse momento eu
inclinei meu corpo pra cima dando uma última bombada dentro dela, e
gozei. Eu estava com a respiração acelerada e o corpo suado, Charlotte
ofegava bastante e parecia exausta, coloquei a mão nas costas dela e a puxei
para deitar em cima de mim, ela se deitou e movimentou seu quadril fazendo
com que meu pau saísse de dentro dela. Ela deixou seu corpo escorregar até
que ficasse ao meu lado apoiando a cabeça em meu peitoral, dei um beijo
demorado na testa dela enquanto afagava seus cabelos, e ela acariciou meu
peitoral.

Ficamos em silêncio por alguns momentos, até que repentinamente


Charlotte se levantou e começou a pegar suas peças de roupas que estavam
espalhadas pelo chão, para se vestir. Enquanto se vestia ela me lançava um
olhar sério, e então disse secamente:

— Acho melhor você se vestir antes que sejamos descobertos. — Apenas


assenti com a cabeça, me levantei, peguei minhas roupas e comecei a me
vestir. Há alguns momentos atrás ela não estava preocupada se alguém nos
descobrisse.

Assim que terminei de me vestir e ela também, perguntei a ela:

— Você vai para casa comigo?

— Eu já disse que não. — Ela continuou a usar o mesmo tom.

Respirei fundo e tive que me conter para não iniciar uma discussão com
ela porque estava inconformado com ela me tratando daquela maneira depois
do que havíamos feito. Minha esposa pegou suas coisas no chão, abriu a
porta do laboratório e fazia o mínimo de contato visual comigo. Me
aproximei dela e fiquei a encarando esperando que ela fizesse o mesmo,
porém ela me ignorou totalmente.

Me afastei dela pressionando meus lábios um no outro, e saí do laboratório


andando pelo corredor da faculdade. Ela trancou o laboratório com pressa e
seguiu para o lado oposto, e enquanto eu andava vagarosamente pelo
corredor, algumas vezes olhei para trás para observar ela ir embora.
Caminhei até o estacionamento, e entrei dentro do meu carro, apoiei minhas
duas mãos no volante, fechei meus olhos e respirei profundamente.

— O que você está fazendo, Jeff? Por que está se sujeitando a essa
garota desse jeito? — Balancei a cabeça negativamente demonstrando
grande descontentamento comigo mesmo.

Abri meus olhos, dei partida no carro e segui em direção a minha casa.
Fiquei pensativo o caminho todo, se eu seguisse meu orgulho e ego eu
jamais iria pisar novamente naquele laboratório, mas eu queria permanecer
ao lado da Charlotte, talvez, por mais que eu não quisesse admitir, Levi
poderia ter razão.

Cheguei em casa, e fui direto para meu quarto, tomei um banho, e fui me
deitar. Ao deitar na cama o sono demorou um pouco a vir, pois em meus
pensamentos havia espaço somente para Charlotte. Eu fiquei pensando no
estranho efeito e sentimento que ela estava causando em mim, e acabei
adormecendo.

Pela manhã eu acordei animado pois eu sabia que iria encontrá-la. Me


arrumei com bastante motivação e empolgação, por mais que ela tivesse me
tratado mal na noite anterior depois que nós ficamos juntos, queria estar bem
para quando ela me visse. Eu precisava avisar Levi que não iria para a
empresa no decorrer dos próximos dias porque eu iria estar ocupado com o
projeto.

Ligação ON

Levi: — Bom dia, tem aconteceu algo para me ligar logo cedo assim? —
Levi perguntou preocupado.

Jeff — Bom dia, não. Está tudo bem, mas estou te ligando para falar que
eu não irei a empresa pelos próximos dias porque estarei ocupado ajudando
Charlotte no projeto.

Levi: — O quê? Você perdeu o juízo? Por acaso não lembra a cláusula
que sua esposa estipulou onde dizia que não queria que você se encontrasse
com ela após a assinatura do contrato?
Jeff: — Sim, me lembro bem, porém, ela sabe muito bem que isso é
impossível devido a nossa situação, afinal, somos marido e mulher não tem
como deixarmos de nos encontrar. Além disso, ela está com um problema em
seu projeto onde a única pessoa que pode ajudá-la a resolver, sou eu.

Levi: — Certo... Só tenha cuidado, Jeff. Precisamos desse projeto.

Jeff: — Fique tranquilo pois eu sei o que estou fazendo.

Ligação OFF

Desliguei o telefone e desci para ir até a faculdade de Charlotte, meu


celular vibrou e imaginei que pudesse ser Levi querendo me alertar
novamente. Depois que ele descobriu que nós estávamos lidando com minha
esposa, ele estava bastante preocupado pois, eu não tinha falado muito bem
dela para ele, por achar que ela era uma interesseira e golpista.

Peguei meu celular e vi que era uma mensagem da Elizabeth, ela me


mandou uma foto segurando uma xícara de café e disse:

"Lembra dessa confeitaria onde nós vinhamos todas as manhãs para


tomarmos café? Seu lugar está vago... Venha tomar café comigo."

Balancei a cabeça negativamente e apenas ignorei a mensagem que ela


me mandou, não entendo o que era essa obsessão da Elizabeth para nos
encontrarmos, se ela procurava uma reconciliação estava completamente
equivocada, eu era casado e nosso tempo de relacionamento já havia passado
há muito tempo. Não tínhamos nada a ver e a cada dia que passava eu tinha
mais certeza disso.

Segui para a faculdade de Charlotte, e ao chegar no laboratório ela já


estava lá focada em seu trabalho. Aquilo me fazia admira-la mais ainda,
notei que somente ela estava no laboratório. Entrei colocando o café da
manhã, que eu havia comprado para ela no caminho, em cima do balcão, o
mesmo onde havíamos feito amor na noite anterior.

— Bom dia, onde está sua assistente e o senhor Hollins?


— Eles estão ocupados, hoje seremos só nós dois. — Ela respondeu sem
me olhar e sem responder o meu bom dia, ela estava agindo como se nada
tivesse acontecido entre nós dois.

— Ah sim, eu trouxe café da manhã para você. — Falei em um tom


animado.

— Eu já comi, se quiser pode tomar seu café enquanto eu trabalho no


meu projeto. — Ela deu ênfase ao falar que o projeto era dela.

Eu dei um suspiro cansado e fui até o lado dela para ver como estava o
andamento. Charlotte era extremamente inteligente e estava prestes a
descobrir o erro, isso poderia fazer com que nossos dias juntos fossem
diminuídos... Resolvi perguntar sobre o que ela estava fazendo para ver se
havia alguma possibilidade de atrasa-la um pouco. Comecei a fazer uma
série de perguntas e a maioria delas parecia ser boba, sendo assim, Charlotte
que já não estava com muita paciência questionou:

— Você está querendo me atrasar de alguma forma? Porque essas não


são perguntas que uma pessoa que possui seu suposto intelecto deveria
perguntar! — Ela disse alterada.

— Desculpe, não foi minha intenção.

Charlotte arfou e se levantou do banco. Já estava próximo a hora do


almoço.

— Onde você vai? — Perguntei ao ver que ela estava indo em direção a
saída.

— Almoçar, e não, não quero sua companhia. — Ela disse ao bater a


porta.

Charlotte estava implacável comigo, seria difícil fazê-la me ver com


bons olhos. Meu celular novamente vibrou, era uma mensagem de Elizabeth
me chamando para almoçar. Ela não ia desistir? Aquilo estava me tirando do
sério então decidi mandar uma mensagem para ela.
Mensagem ON

Jeff: — Elizabeth, eu não tenho interesse em encontrá-la. Desculpe a


grosseria, mas acho que não consigo ser mais claro que isso.

Elizabeth: — Eu não consigo entender qual o problema de nós nos


encontrarmos como velhos amigos.

Jeff: — Já expliquei a você que sou um homem casado, nós tivemos um


relacionamento, mas já passou, não temos mais nada em comum. Fiquei
feliz com seu retorno pois sempre a admirei, mas agora retomar algum tipo
de relacionamento é ilógico.

Elizabeth: — Por acaso a insegura da sua esposa proibiu você de me


ver?

Jeff: — Charlotte não manda em mim, e ela não é uma mulher insegura,
muito pelo contrário, é uma mulher espetacular! Achei muito ofensiva e
grotesca sua insinuação, você nem ao menos a conhece para falar esse tipo
de coisa. Espero que a respeite daqui para frente, bem como respeitará
minha decisão de nós não nos encontrarmos. Fui claro?

Elizabeth: — Talvez se você tivesse me defendido assim quando eu


precisei nós não teríamos terminado.

Jeff: — Elizabeth, foi você quem terminou tudo pois precisava de


liberdade. Não venha tentar jogar a culpa para mim. Outra coisa, esse
assunto está chato e não tem nada a ver ficarmos falando sobre isso por
mensagem.

Elizabeth: — Concordo, precisamos falar pessoalmente.

Jeff: — TCHAU.

Mensagem OFF
Não entendi o motivo de toda essa insistência, só sei que ela estava me
irritando profundamente. Arfei com raiva e me levantei do banco em que eu
estava sentando. Estava com fome e ia procurar alguma coisa para comer.
Charlotte foi bem eloquente ao dizer que não queria minha presença no
almoço com ela, sendo assim eu não iria até o refeitório para ela não achar
que eu estava indo atrás dela para pressiona-la, eu estava passando por isso e
sei como era algo horrível.

O café da manhã que eu tinha comprado para ela ainda estava lá em cima
pois ela havia ignorado ele totalmente, então, decidi comer ele na pequena
mesa que havia lá dentro do laboratório. Assim que terminei de comer,
Charlotte retornou para o laboratório e parecia estar estressada. Acho que eu
ficar guardando a informação que eu tinha, para fazer com que nós
tivéssemos mais tempo juntos era ridículo e egoísta da minha parte, pois ela
já estava muito desgastada por não encontrar o erro e isso não seria justo
com ela.

Me levantei, caminhei até ela e disse:

— Charlotte, acho que sei qual pode ser o problema.

Ela olhou para mim interessada e deu para ver a expectativa em seus
olhos.

— Jura? — Ela falou animada.

— Sim. — Dei um sorriso sincero ao ver a animação dela.

Fui até ela e comecei a explicar o que eu achava que poderia ser o
problema, antes que eu terminasse de explicar o que era, ela já havia
entendido. Charlotte, refez os cálculos e conseguiu resolver. Ela pulou de
felicidade e empolgação por conseguir resolver o enigma. Eu fiquei feliz por
ela ao ver sua reação. Ela estava tão empolgada que me abraçou forte
enquanto me agradecia eufórica e me deu um beijo na boca.

Eu não esperava aquilo, mas é claro que correspondi. Porém, o beijo não
durou muito tempo pois ela se afastou e ficou visivelmente sem graça.
Charlotte apoiou as duas mãos no bolso da sua calça e disse ainda um pouco
constrangida pelo que fez:
— Já que você conseguiu encontrar o problema quero que fique até a
finalização do projeto.

Aquilo foi como música para meus ouvidos e me deixou muito feliz.

— Para mim será um prazer ficar aqui com você e te ajudar no projeto. E
não fique envergonhada por conta do beijo, eu gostei e espero que faça mais
vezes. — Ela não me respondeu nada, apenas deu um sorriso e desviou seu
olhar.

Nós convivemos durante vários dias juntos depois dessa proposta que ela
me fez, porém, eu não consegui fazer com que ela fosse dormir comigo,
tampouco tivemos mais momentos juntos após nossa noite de amor no
laboratório e do beijo que ela me deu quando resolvemos o problema do
projeto. Por mais que eu desse investidas, ela sempre recuava, e para não
perder a oportunidade de ficar perto dela, eu a respeitava.
Insistência
Narração - Jeff Staton

Quinze dias depois

Eu precisava ir na minha empresa já que fazia muito tempo que eu não


ia. Por esse motivo, eu precisava dar uma passada lá para ver como tudo
estava. Eu não poderia deixar tudo na mão do Levi também. Eu decidi avisar
Charlotte que hoje não teria como eu ir pois precisava ir até a empresa.

Mensagem ON

Jeff: — Oi Charlotte, bom dia.

Charlotte: — Bom dia.

Jeff: — Você está bem?

Charlotte: — Estou um pouco indisposta, mas, estou feliz pois o projeto


está quase finalizado.
Jeff: — Que bom, você precisa descansar. Tenta ficar mais tranquila
agora que o projeto está quase acabando.

Charlotte: — É vou dar um jeito de fazer isso.

Jeff: — Eu não poderei ir hoje.

Charlotte: — Por quê? Não que eu me importe...

Sim, ela se importava, por mais que não quisesse dar o braço a torcer.
Nesses quinze dias que se passaram nós havíamos ficado muito próximos e
conseguimos nos conectar como nunca havíamos feito antes.

Jeff: — Eu preciso ir na empresa ver como estão as coisas pois faz muito
tempo que eu não vou, não posso faltar mais.

Charlotte: — Entendi. A gente se vê então.

Jeff: — Se você quiser pode vir pra casa hoje... Dormir, descansar...

Mensagem OFF

Esperei um tempo e ela não me respondeu mais, dei um sorriso com o


canto dos lábios eu estava me acostumando com esse jeito grosseiro que ela
havia adotado recentemente. Me arrumei e estava pronto para ir para a
empresa, antes de sair do quarto olhei o porta-retratos que tinha minha foto e
da Elizabeth. Dei uma risada pois eu tinha colocado aquela foto puramente
para implicar Charlotte, então não fazia sentido nenhum ela continuar ali.
Fui até a gaveta da escrivaninha que havia no quarto, peguei o álbum de
fotos do meu casamento com Charlotte, e peguei uma foto nossa, retirei
minha foto ao lado de Elizabeth, e coloquei minha foto ao lado de Charlotte
nele. Dei um sorriso e rasguei a foto que eu tinha ao lado da Elizabeth, já
que não fazia mais sentido nenhum ter aquela foto. Desci as escadas com um
pouco de pressa e abri a porta. Para minha surpresa Elizabeth estava lá e
logo foi entrando dentro da minha casa.

— Oi, Jeff. — Ela falou ao entrar.


— Elizabeth? O que está fazendo aqui? — Perguntei surpreso e confuso
ao mesmo tempo por ela estar ali.

— Eu vim te ver, você tem me ignorado esses dias. — Ela falou como se
fosse algo natural aparecer de surpresa na minha casa.

— Você foi até a empresa, tem me procurado em vários lugares e eu já


deixei mais que claro que não quero que tenhamos contato. Não quero ser
grosseiro com você, mas não tem nada a ver essa insistência sua, e eu não sei
como fazer você entender isso. — Eu falei sem paciência.

— Eu voltei por você, Jeff. Sei que seu casamento é fachada, o que te
impede de ficar comigo? — Elizabeth se aproximou e acariciou meu peitoral
dando um sorriso malicioso.

Ela era uma mulher linda e só de olha-la qualquer um poderia deseja-la,


mas isso não era motivo o suficiente para deixar que ela fizesse o que bem
entendesse, e ela não me atraia mais, e ao vê-la fazendo isso apenas a
enxerguei como uma mulher vulgar. Agora eu estava começando a me dar
bem com Charlotte, além de estar nutrindo sentimentos por ela, e eu não
queria perder isso. Segurei os dois punhos dela e a afastei.

— Sinto muito que você tenha voltado com essa expectativa, mas saiba
que nada vai acontecer entre nós dois. Eu sou fiel a minha esposa.

— Mas que papo furado, Jeff! — Ela falou nervosa. — Vai dizer que
você não me deseja e não tem vontade de repetir pelo menos um pouco
daquelas loucuras que nós dois fazíamos juntos antes?

— NÃO! — Eu gritei nervoso. — E por favor, Elizabeth saia da minha


casa. — Me posicionei ao lado da porta e estiquei a mão para que ela saísse.

Elizabeth fez uma cara feia reprovando o que eu tinha feito e disse:

— Eu ainda voltarei, Jeff, você irá mudar de ideia, e irá ficar comigo. Eu
tenho certeza. — Ela disse com bastante determinação.

Fechei meus olhos e respirei fundo, aquela situação estava extremamente


desagradável e eu não sabia mais o que fazer. Cogitei até mesmo sair com
ela para deixar mais que explicado que eu não tinha interesse. Talvez em um
jantar somente como amigos eu conseguiria deixar isso claro. Elizabeth era
uma mulher inteligente e sempre foi muito compreensível, então, talvez isso
pudesse funcionar, porém eu iria me preocupar com isso depois pois agora
eu estava atrasado e tinha muitas coisas para fazer na empresa já que eu não
ia nela há dias.

Peguei meu carro e dirigi em direção a empresa, ao chegar nela peguei o


elevador e subi com pressa até meu escritório. Levi já estava no escritório
me esperando, ao me ver ele disse em um tom brincalhão.

— Quem é vivo sempre aparece!

Eu dei um sorriso para ele e o cumprimentei, me sentei na minha cadeira


e minha expressão continuava alegre.

— Eu acho que faz muito tempo que não vejo Jeff Staton com um sorriso
desses e uma cara tão animada.

— Realmente estou. Esses dias com a Charlotte me fizeram muito bem,


eu pude conhecer ela de forma mais profunda e acho que eu realmente
estava enganado sobre quem minha esposa era. Eu preciso reparar todo o
mal que fiz, a todo custo. Como andam as investigações sobre o avô dela?
Conseguiu ver se ela tinha alguma relação com a peanut? — Perguntei
eufórico.

— Infelizmente por conta da correria desses dias eu não consegui dar


muita atenção para as investigações, mas agora com você aqui hoje será
mais fácil. — Ele me explicou.

— De fato não posso exigir de você isso, você estava muito


sobrecarregado com minha ausência. Se quiser tirar o dia hoje para cuidar
somente da investigação é melhor, pode deixar que da parte burocrática da
empresa eu cuido.

— Tudo bem, acho que será até bom para aliviar um pouco minha
cabeça, pois, mexer somente com dados da empresa, aprovação de projeto,
lucros, e coisas do tipo, tem tirado meu sossego, até entendo o motivo de
você ser tão estressado. — Ele deu um sorriso.
— Bem-vindo ao meu mundo. — Eu falei para ele.

Nós dois rimos e Levi saiu da sala. Peguei meu celular e fiquei pensando
na maneira que tratei Elizabeth hoje pela manhã. Acho que não foi certo, fui
muito grosseiro e não quero que ela pense mal de mim. Resolvi que marcaria
um jantar para esclarecer tudo com ela para que esse impasse fosse resolvido
de uma vez por todas.

Mandei uma mensagem marcando com ela um jantar hoje, assim que eu
saísse da empresa, como pedido de desculpas pela maneira que eu havia
agido com ela, para poder explicar com calma que eu tinha sentimentos pela
minha esposa e não tinha pretensão de deixa-la. Talvez conversando
calmamente ela poderia entender. Elizabeth demonstrou ficar bem satisfeita
com meu convite, e disse que nos veríamos no restaurante mais tarde.

No decorrer do dia fiquei bastante focado no trabalho, mas, vez ou outra


meus pensamentos me transportavam para Charlotte. Eu dei um sorriso ao
me lembrar dela por mais uma vez naquele dia. Levi entrou na sala quando
eu estava sorrindo e distraído ao pensar nela.

— Que sorriso é esse? — Ele perguntou desconfiado.

— Estava lembrando da Charlotte, ela é muito talentosa, nesses quinze


dias eu pude ver isso de forma clara e presenciar sua genialidade. — Eu
mantive o sorriso ao falar dela.

— Olha, eu não tenho certeza se você está apaixonado por ela, porém,
uma coisa é certa, você admira muito as habilidades da sua esposa.

— É, não tem como não admirar. — Falei convicto.

— Antes, nem isso você admitiria... — Levi falou me olhando com


desconfiança.

— Eu não tinha convivido com ela. — Falei para ele.

— Entendi. — Levi falou pensativo.

— Bom, já são quase 19h eu preciso ir. Tenho um jantar com Elizabeth.
— Elizabeth? — Ele perguntou confuso.

— Sim, preciso deixar claro algumas coisas com ela. — Expliquei para
ele e me retirei do meu escritório apressado para não perder a hora.

Peguei meu carro e fui para o restaurante onde havíamos marcado de nos
encontrar. Ao chegar lá, Elizabeth estava sentada e bem arrumada. Ao me
ver, ela levantou da cadeira e me deu um abraço, além do abraço ela tentou
me beijar, mas eu a afastei. Ela deu um sorriso sem graça e se sentou.

— Eu sabia que você ia mudar de ideia, tudo que tivemos foi muito forte
para ser jogado fora dessa forma. — Ela falou confiante.

— Não Elizabeth, não confunda as coisas. Eu somente vim para


deixarmos as coisas bem claras e não foi certa a maneira que te tratei hoje,
mas não gostei de você invadindo o espaço da minha casa para tentar forçar
algo entre nós. — Eu falei de maneira tranquila, mas firme.

Elizabeth deu um gole no vinho que estava tomando e deu um sorriso


forçado.

— Entendi, mas eu ainda acho que você vai mudar de ideia. — Ela
insistiu.

Eu tomei um gole do vinho e vi que seria mais difícil do que eu pensava.

— Não Elizabeth, eu não vou. Sei que você sabe que me casei com
Charlotte por conta de um contrato e há algumas semanas eu concordaria
com você ao dizer que meu casamento era só fachada, mas algo mudou, e eu
não queria admitir, porém, eu estou tendo sentimentos por minha esposa e
quero fazer dar certo. — Eu falei com um sorriso e o olhar distante por me
lembrar dela.

— Eu não consigo acreditar. — Ela falou em choque.

— Sinto muito, mas essa é a realidade. — Ela pareceu enfurecida quando


eu falei, mas não falou nada mais.

Passamos o restante do jantar em silêncio, e ao fim do jantar eu disse.


— Bom, preciso ir para a casa.

— Não quer ir para minha para nós ouvirmos algo enquanto


bebemos? — Ela continuava na mesma insistência.

Acho que esse jantar foi uma ideia estúpida.

— Você sabe que não aceitarei. E espero que depois de hoje você me
entenda. Boa noite, Elizabeth.

Saí do restaurante e fui para casa, com o sentimento que eu não havia
conseguido ser claro com ela. Pela manhã eu ia dar uma passada na empresa
novamente, mas depois iria para a faculdade da minha esposa. Eu estava tão
acostumado a ficar com ela que nesse dia que nós ficamos longe um do outro
a falta que ela me fez foi muito grande. Ao chegar na minha empresa,
novamente Levi estava no meu escritório, mas ouvi barulho de uma risada
feminina, provavelmente alguma mulher estava com ele.

A mulher estava de costas quando eu cheguei, analisei a pessoa e não


pude acreditar, era Elizabeth.

— Elizabeth?

— Oi meu amor, depois de ontem eu quis passar aqui para ver você. —
Ela disse com empolgação.

— Como assim? — Eu perguntei nervoso.

Levi olhando a cena decidiu se retirar do escritório. Assim que ele saiu,
Elizabeth disse:

— Eu sei que aquele jantar não foi porque você queria me evitar, porque
você não admite logo para que nós fiquemos juntos?

— Porque não tem o que admitir! Eu não consigo ser mais específico do
que já fui com você. Eu não quero absolutamente nada com você, essa
insistência e perseguição estão me deixando furioso. Eu não usarei palavras
agradáveis para lidar com você mais, porque não está adiantando nada. Fora
daqui! — Eu disse bastante nervoso.
— Como é? — Ela perguntou incrédula.

— Isso mesmo que você ouviu, saia daqui imediatamente, Elizabeth.


Não temos nada para falar. — Fui até a porta do meu escritório e abri para
ela sair.

Elizabeth saiu pisando forte e disse em tom ameaçador.

— Isso não vai ficar assim, Jeff! Não vai mesmo. — Ela saiu e eu fechei
meus olhos passando a mão na testa.

Assim que ela saiu, Levi entrou e parecia preocupado.

— Olha, se você tem outra mulher em seu coração você deve lidar com
isso o quanto antes. — Ele se referiu a Elizabeth.

— Eu sei, já tentei deixar claro de todas as maneiras, mas parece que ela
não quer entender. Agora o porquê eu já não sei....

— É, eu posso ter uma suspeita. — Levi disse.

— O que você quer dizer?

— Bom, eu estava investigando e vi que Charlotte sempre foi ignorada


na casa do próprio avô, então não consegui muitas informações a respeito
dela. Mas encontrei um arquivo estranho. Não em relação a ela, mas eu
estava investigando tudo e tinha que ver coisas relacionadas a você também
então acabei dando de cara com isso. — Ele me entregou um arquivo.

Quando eu o abri vi que se tratava de Elizabeth, assim que ela me


deixou, uma enorme quantia caiu em sua conta. E o pior é que aquele
dinheiro foi depositado pela minha mãe, eu franzi minha testa ao ler aquilo e
estava chocado. Não entendi o objetivo do motivo que levou minha mãe a
fazer isso.

— Você é maldoso quando se trata da minha mãe, por que você acha que
ela depositou essa quantia na conta da Elizabeth logo após ela ter me
deixado? — Perguntei a Levi.
— Suspeito que sua mãe a incentivou para te largar, e ofereceu essa
quantia como recompensa. Por isso ela foi embora.

Eu não queria acreditar no que Levi falou, mas era a teoria mais
convincente. Eu não iria lidar com isso agora, porque eu tinha que ir até a
faculdade da Charlotte. Me despedi do Levi deixando o arquivo em minha
mesa e fui até a faculdade. Ao chegar lá, fui direto para o laboratório,
Charlotte parecia feliz, mas eu me preocupei ao vê-la pois ela estava pálida.

— Oi! — Falei para ela.

Ela deu um sorriso que iluminou seu semblante assim que me viu.

— Oi! Tudo bem? Estamos quase finalizando! — Ela disse animada.

— Estou bem e você? Por que está tão pálida? — Perguntei preocupado.

— Eu acho que estou cansada demais por isso estou assim. — Ela
justificou.

Há dias eu notava que Charlotte parecia estar doente e isso me


preocupava bastante. Coloquei a mão nas costas dela e a levei em direção ao
balcão onde trabalhávamos no projeto. Passei o resto do dia de olho nela, e
por vezes vi que ela tentava se manter de pé como se estivesse extremamente
cansada, mais que o normal. Quando finalizamos o trabalho daquele dia,
saímos juntos do laboratório e caminhamos até o corredor.

— Charlotte, quero que você vá para casa comigo. Você não está nada
bem, me deixa cuidar de você lá. — Eu falei olhando fixamente para ela.

— Eu acho melhor não... — Ela falou hesitante, mas percebi que ela
estava mais flexível do que das outras vezes em que eu fiz o mesmo pedido.

— Eu insisto, por favor. — Me aproximei dela e acariciei seu rosto


enquanto insistia para que ela me acompanhasse e ela deu um sorriso.

Mesmo assim ela parecia relutante, mas ainda sim demonstrava que iria
aceitar.
∞∞∞

Narração - Elizabeth McBride

Decidi que seria implacável com Jeff em relação as investidas mesmo ele
me rejeitando tanto. Conversando com a assistente dele, ela acabou me
revelando que ultimamente ele estava indo muito na faculdade da Charlotte.
Então acho que se eu o encontrasse lá, ela o rejeitaria por achar que
estávamos juntos. Pois ela acharia que ele quem me falou que ir até lá.

E foi exatamente isso que eu fiz, fui atrás dele na faculdade. Chegando lá
eu comecei a procurar ele, e para minha surpresa ele estava na frente do
laboratório, eu caminhei até ele, mas em seguida Charlotte saiu e eles
estavam conversando. Jeff a acariciou com tanta ternura, eu não me lembro
dele ter feito isso comigo quando namorávamos. Os dois pareciam tão
íntimos, não adiantava eu chegar naquele momento.

Eu não tinha mais sentimentos pelo Jeff, mas eu iria fazer ele ser meu de
um jeito ou de outro. Então, eu precisava ser esperta, e já tinha um plano do
que eu iria fazer. Essa sonsa da Charlotte iria ver o que eu faria com ela.
Interpretando tudo errado
Narração - Charlotte Staton

Por conta da insistência de Jeff acabei aceitando ir embora para a casa


com ele. Acho que me faria bem. Ultimamente eu estava tão exausta que
sentia que meu corpo ia falhar e pedir socorro a qualquer momento. Nós
chegamos, e assim que subi para meu quarto eu vi que Jeff havia tirado todas
as coisas que ele havia levado antes para lá, na intenção de ficar comigo.
Aquilo me entristeceu, apesar de termos nos dado muito bem nesses quinze
dias que se passaram, ao olhar aquele cômodo vazio, mais uma vez eu tive a
certeza que eu era apenas uma mera ferramenta para o Jeff.

Eu estava arrependida de ter novamente me entregado para ele naquela


noite no laboratório, e do beijo que havia dado nele. Ele continuou a tentar
por diversas vezes para que aquilo se repetisse, mas eu me segurei bastante
para não deixar que isso acontecesse novamente, por mais que tenha sido
muito difícil. Mas a verdade, é que eu não passava de uma mera substituta de
Elizabeth, aos olhos dele, então isso me motivou a me segurar.

Afinal de contas, Elizabeth havia voltado e eu não tinha mais razão ou


desculpas para permanecer ali. O acordo de divórcio estava dentro da minha
bolsa, e por conta desses dias maravilhosos que passamos juntos, eu me
deixei levar e quis acreditar que talvez isso não fosse um desejo dele mais,
mas ao que tudo indica eu estava enganada. Fui até o quarto dele e vi que o
porta-retratos continuava lá, não vi que foto estava nele, mas eu sabia que
era dele e da Elizabeth. Isso me fez ter mais certeza ainda que eu não era
nada para ele.

— Vamos lá, Charlotte, você precisa ser forte. Era algo que você já
esperava não se deixe abater por isso. — Eu falei para mim mesma com a
intenção de criar forças para enfrentar meus sentimentos.

Jeff estava lá embaixo, então, aproveitei para entrar no meu quarto, e


fechei a porta. Fui tomar um banho quente na tentativa de relaxar e afastar
aquela tristeza que estava me assolando. Enquanto a água caia em meu corpo
eu chorava baixinho. Era muito triste saber que eu teria que novamente
colocar em escanteio aquele sentimento avassalador que eu sentia por ele.
Por mais que eu tentasse esquece-lo algo sempre acontecia para fazer com
que meu coração disparasse e me lembrasse o quanto eu amava aquele
homem. Eu havia aprendido a disfarçar melhor, porém o sentimento era o
mesmo e as vezes eu achava que ele havia aumentado.

Saí do banho e me enxuguei, coloquei um roupão e limpei minhas


lágrimas, penteei meus cabelos, hidratei minha pele e fui para o meu quarto.
Assim que cheguei no meu quarto, me assustei, Jeff estava lá com uma
bandeja cheia de comida para mim. Ao me ver, ele deu um sorriso e disse:

— Pedi pra Janet preparar as coisas que você mais gosta. Você precisa se
alimentar bem para conseguir se sentir melhor. — Ele falou otimista.

Eu não entendia o que Jeff pretendia, estávamos prestes a nos divorciar e


ele estava fazendo de tudo para me agradar. Aquilo me deixava confusa, será
que ele estava agindo dessa maneira por culpa? Não fazia sentido. Olhei
desconfiada para ele, e me sentei na cama. Ele trouxe a bandeja até a cama e
se sentou ao meu lado. Jeff pegou um morango e levou até minha boca, a
princípio eu me esquivei.

— Calma, só estou te oferecendo um morango. — Ele falou.


Mesmo hesitante eu mordi o morango que estava na mão dele. Estava
bem saboroso e parecia estar fresco. Havia uma grande variedade de frutas
na bandeja. Jeff foi me dando pedaço por pedaço, pacientemente. Eu aceitei,
confesso que estava gostando de ser mimada por ele. Depois, comecei a
tomar a sopa de legumes que Janet havia feito, ela havia ficado mais que
saborosa. Comi tudo e estava bem satisfeita. Jeff sorria ao ver que eu tinha
comido tudo. Ele pegou a bandeja e colocou na mesa que havia no quarto.

— Obrigada. — O agradeci.

— Não precisa agradecer, eu disse que iria cuidar de você, e é o que


estou fazendo. — Ele veio até mim e deu um beijo demorado em minha
testa.

Eu estava achando aquelas demonstrações de afeto dele muito estranhas,


bem como tudo que ele estava fazendo na última metade desse mês.

— Eu vou tomar um banho, quer que eu ligue a televisão para você? —


Ele perguntou.

— Pode ser. — Respondi ele, ainda de uma forma seca.

Ele deu um sorriso fraco, ligou a TV pra mim e saiu. Comecei a assistir
TV e trocava de canal de forma despretensiosa, eu ainda estava apenas de
roupão, estava procrastinando para colocar minha roupa. Depois de um
tempo, decidi vestir um pijama para dormir, tirei meu roupão e fui até o
closet para escolher a roupa. Peguei uma calcinha e a camisola, depois,
voltei para próximo da minha cama para me trocar.

Jeff abriu a porta quando eu estava nua, eu me assustei e aquilo fez com
que eu paralisasse, ele ficou me olhando com os lábios entre abertos e
percebi o desejo em seu olhar.

— Eu... Eu... — Ele falou gaguejando porque as palavras pareciam terem


escapado dele.

Nesse momento eu cobri meus seios e minhas partes íntimas.

— Vire de costas Jeff! — Eu falei com raiva.


— Mas, Charlotte... Nós já estivemos juntos por mais de uma vez, não
há nada no seu corpo que eu não conheça, e é uma pena você não deixar que
eu continue a me deliciar com ele. — Ele deu um sorriso malicioso e aquilo
me deixou super envergonhada.

— Anda logo! — Eu insisti.

Jeff revirou seus olhos e se virou de gostar dando um longo suspiro


contrariado. Eu coloquei minha calcinha e a camisola rapidamente.

— Pronto. O que você quer? — Perguntei para ele em um tom de


impaciência.

Ele se virou e veio caminhando até mim em passos lentos.

— Eu vim ver se você estava bem, ou se precisava de alguma coisa. —


Ao terminar de falar, ele estava bem próximo de mim.

— Eu estou bem, não... — Pausei minha fala por um momento pois


nossos rostos estavam bem próximos e aquilo me causou uma sensação
estranha, eu estava o desejando mais uma vez. — Não preciso de nada! —
Falei rapidamente e desviei o olhar.

— Tem certeza? — Jeff falou em um sussurro e levou sua mão até meu
pescoço e a outra colocou em minha cintura.

Era difícil resistir a ele, só de sentir seu toque meu corpo esmorecia. Ao
perceber minha entrega ao toque dele, Jeff aproximou sua boca da minha e
me beijou. Prontamente correspondi ao beijo o abraçando. Eu estava
beijando-o com intensidade, como se fosse a última vez que nossos lábios
fossem se encontrar.

Porém, enquanto eu o beijava me lembrei que eu era apenas uma reserva


para ele, e a verdadeira dona do seu coração, era Elizabeth, e estava à
espreita, esperando somente para que eu assinasse o divórcio. Eu não iria me
prestar a esse papel. Empurrei Jeff para que parássemos de nos beijar.

— O que foi? — Ele perguntou sem entender.


— Nada. Preciso descansar. — Dei uma desculpa.

— Mas nós... — Ele ainda tentou falar, mas o interrompi.

Eu não queria dar oportunidade para que ele tentasse me seduzir, porque
provavelmente eu não resistiria como nas outras vezes.

— Mas nada Jeff, por favor, sai do meu quarto. — Eu disse de maneira
ríspida.

Ele franziu sua testa e demonstrou não gostar do jeito que falei com ele,
e saiu bastante contrariado. Quando ele saiu eu dei um suspiro e fechei meus
olhos me apoiando na penteadeira atrás de mim. Foi por pouco, mas eu não
seria mais feita de boba por ele. Pela manhã acordei e me arrumei para
faculdade, assim que desci para sair, Jeff já estava me esperando.

Eu não estava me sentindo bem, por esse motivo eu não queria comer,
pois eu tinha certeza que iria vomitar caso comesse. Depois que meu projeto
ficasse pronto eu iria consultar um médico com urgência, eu acho que estava
exigindo muito do meu corpo e ele estava pedindo socorro por isso.

— Você não vai comer? — Ele questionou.

— Não, estou sem fome. — Falei para ele.

— Mas mesmo assim você deveria forçar para comer. — Jeff insistiu e
parecia estar preocupado.

— Já disse que estou sem fome. Vamos. — Eu falei estupidamente.

Sei que eu o estava magoando, e estava sendo grosseira demais, mas essa
era a forma que eu havia encontrado para me proteger dele. Jeff não falou
mais nada e apenas saiu atrás de mim, nós entramos no carro e no caminho
para a faculdade nós ficamos em silêncio. Eu estava com a expressão séria,
não queria dar espaço para que ele falasse nada comigo. Chegando na
faculdade nós descemos do carro, entramos no prédio e fomos direto para o
corredor que dava acesso ao laboratório.
Jeff estava me olhando com um sorriso, ele estava sendo muito paciente
mesmo eu o tratando mal. Esbocei um sorriso para ele, e então, ele pegou
minha mão enquanto andávamos e deu um beijo nela como demonstração de
carinho e aquilo me constrangeu. Porém, eu gostei, talvez eu estivesse sendo
dura demais com ele, era hora de dar uma trégua. Me mantive de mãos dadas
com ele e então, inesperadamente, Brandon apareceu.

— Oi Charlotte! — Ele disse animado. — Olá, Jeff. — Ele usou um tom


desdenhoso.

— Oi. — O cumprimentei um pouco arredia porque ele tinha um sorriso


largo e um olhar perverso.

Jeff apenas acenou com a cabeça para ele e sua expressão antes alegre, se
tornou séria.

— Hoje o dia está maravilhoso, não é verdade? — Ele dizia ainda com
muita empolgação e em um tom de voz mais elevado, o que me fez
desconfiar mais ainda daquela atitude dele.

— Pra mim está normal, que bicho te mordeu? — Antes que ele pudesse
me falar ouvi uma voz dizendo.

— Meu amor! — Quando eu e Jeff nós nos viramos para trás, Elizabeth
veio até Jeff e o abraçou.

O impacto do abraço dela foi tão forte que minha mão e a dele se
soltaram, eu dei um passo para trás e Jeff pareceu não entender muito bem o
que aconteceu.

— Elizabeth... — Ele falou surpreso, e antes que pudesse falar mais


alguma coisa ela o beijou na boca.

Eu olhei aquela cena e um nó em minha garganta se formou, minha


vontade era sair correndo dali e chorar. Me doeu muito ver aquela cena que
me desrespeitava, logo entendi que eles deviam estar se relacionando há
muito tempo pelas minhas costas. Jeff pareceu atordoado com aquela
demonstração de Elizabeth, presumi que ele ficou daquela maneira por ela
ter feito aquilo na minha frente, e eu ter descoberto o caso deles.
— O que você está fazendo aqui? — Ele falou agitado e se afastou dela.

— Eu decidi que farei meu mestrado aqui, meu bem! Você lembra como
me incentivava para fazer? — Elizabeth me olhou com um sorriso vitorioso
e ergueu uma de suas sobrancelhas.

— Que notícia boa, Elizabeth! Meus parabéns! — Brandon falou na


mesma euforia que ela.

Ele se aproximou de mim e sussurrou:

— Acho que agora você precisa tomar cuidado... — Assim que ele falou,
eu engoli seco e disse.

— Eu já vou. — Virei minhas costas e saí de perto do traidor do Jeff.

— Charlotte, espera! Não é isso que você está pensando! — Olhei para
trás ao ouvir o que Jeff disse com meus olhos cheios de lágrimas.

Ele até tentou vir atrás de mim, mas foi impedido por Elizabeth. Apressei
meus passos e tomei uma boa distância deles, porém, fui impedida de
continuar andando por Brandon.

— Ei, espera aí, linda! — Ele falou com um sorriso.

Eu parei e respirei fundo, estava segurando para não chorar.

— O que foi, Brandon?

— Você deveria estar feliz! — Ele falou.

— Feliz? Por quê? — Eu não entendi o motivo que eu teria para me


sentir feliz.

— Ué, agora de qualquer maneira você não receberá os 25% das ações,
então não precisará engravidar tampouco precisará continuar casada com
Jeff! — Brandon disse animado.
Eu não entendi porque ele falou aquilo, então, olhei para Jeff e Elizabeth,
e ela estava se apoiando no ombro dele enquanto ele falava gesticulando, até
que ela pareceu ficar tonta e foi amparada por Jeff. Era isso! Elizabeth estava
grávida de Jeff, por isso Brandon disse que eu não receberia mais os 25%
das ações, porque quem conseguiu engravidar foi Elizabeth, e não eu, sendo
assim não fazia sentido nós ficarmos casados.

Ao vê-los tão íntimos, me senti muito amargurada e parecia que tudo o


que eu sentia por Jeff se esvaiu de mim. Eu me senti pior do que eu já
estava, senti uma vertigem muito forte, tudo a minha volta começou a rodar
e escurecer. Devido aos intensos dias de trabalho pesados que eu havia
enfrentado, somado ao estresse do que eu estava presenciando de ver o que
acontecia entre Jeff e Elizabeth, e também por ter descoberto que eles
estavam esperando um bebê, meu mal estar que eu sentia pela manhã havia
aumentado.

— Charlotte? — Brandon perguntou preocupado e se aproximou de mim


passando a mão em minhas costas.

— Eu vou... — Não consegui completar a frase e desmaiei nos braços de


Brandon.

∞∞∞

Narração - Elizabeth McBride


Eu estava determinada que iria fazer de tudo para Jeff e Charlotte se
separarem. Como parte do meu plano, eu iria me matricular para fazer meu
mestrado na mesma faculdade da Charlotte, porque assim eu iria vê-los todo
dia e poderia atrapalha-los à vontade. Assim que fiz minha matrícula,
comecei a perambular pelos corredores da faculdade na esperança de
encontra-los.

Surpreendentemente vi Brandon.

— Brandon?

— Oi Elizabeth, o que você está fazendo aqui?

— Vim me matricular para meu mestrado.

Ele me olhou com um olhar suspeito, Brandon sabia que eu tinha


segundas intenções.

— Você decidiu se matricular aqui para ficar entre Jeff e Charlotte, não
é? — Ele sorriu maliciosamente.

— É, você me conhece bem. — Falei para ele com um sorriso.

— Geralmente eles ficam próximos ao laboratório, vem que eu te levo


lá. — Ele falou entusiasmado.

— O que você ganha me ajudando, Brandon? Você não faz nada sem
interesse próprio.

— Isso é assunto meu, Elizabeth. Quer ajuda ou não? — Ele falou de


maneira rude.

— Ok. — O respondi erguendo minhas mãos.

Nós chegamos próximo ao laboratório, e então ele disse:

— Se esconda atrás dessa pilastra, quando eles chegarem vou


cumprimenta-los bem animado e em um tom de voz elevado, esse é o sinal
para você aparecer.
— Está certo. — Me escondi, e assim que eles chegaram Brandon os
cumprimentou como disse.

Jeff e Charlotte estavam de costas, e resolvi surpreende-los. Assim que


Jeff me virou o abracei, em seguida beijei ele na boca. Ele ficou tão
atordoado que não soube o que fazer de imediato. Brandon e eu encenamos
como se não tivéssemos nos visto antes enquanto eu contava orgulhosa que
estava fazendo meu mestrado lá. Charlotte não aguentou a cena, e se afastou,
Jeff tentou ir atrás dela, mas eu o puxei pelo o braço impedindo que ele
fosse, e para minha felicidade Charlotte percebeu. Brandon correu atrás dela.
Então era isso... Provavelmente ele tinha algum interesse naquela sem sal.

— Você está louca! Por que me beijou? Você quer estragar meu
relacionamento com minha esposa? — Jeff dizia irado.

— Eu te falei que não desistiria. — Falei ao pegar nos ombros dele.

Ele tentou me empurrar, e gesticulava com raiva ao me repreender.


Percebi que mesmo conversando com Brandon Charlotte olhou para nós, eu
fingi estar passando mal para que Jeff me amparasse.

— Ai, não estou me sentindo bem. — Eu desfaleci e Jeff me amparou,


como planejei.

Dei um sorriso por ter conseguido, e logo "melhorei". Jeff procurou


Charlotte com o olhar, e de repente saiu correndo atrás dela gritando:

— CHARLOTTE!

A sonsa havia desmaiado. Que raiva, como essa garota era mole! Não
aguentou a pressão de me ver com Jeff e fez isso para chamar a atenção dele,
fazendo com que ele me deixasse completamente de lado para socorre-la.
Mas isso não iria ficar assim, eu estava só começando. Jeff seria meu de
qualquer maneira!
Decisão definitiva
Narração - Charlotte Staton

Ao abrir meus olhos, olhei de um lado para o outro e não conseguia


identificar onde eu estava. Eu ainda estava me sentindo tonta e enjoada, fui
abrindo meus olhos aos poucos e vez ou outra eu pestanejava porque a
claridade do ambiente onde eu estava me incomodava bastante.

— Graças a Deus você está bem! Você me deu um susto grande. — Virei
meu rosto ao ouvir o som da voz de Jeff para olha-lo.

Ele parecia estar com uma expressão aliviada e tinha o sorriso largo. Eu
achei bom ele ter aquela preocupação por mim, por um momento me senti
acolhida. Mas, logo me lembrei o que ele havia feito hoje mais cedo junto a
Elizabeth. Eles se beijaram na minha frente como se eu fosse um monte de
nada, como se eu não tivesse valor, e isso eu não iria admitir. Não sei porque
ele permanecia fazendo esse teatro, fingindo que estava preocupado comigo.
Certamente poderia ser por conta da empresa que ele tinha medo que eu
tomasse dele.
Me dei conta que eu estava na cama de um hospital quando olhei melhor
o ambiente, e vi os acessos de soro em meu braço. Eu olhei pra Jeff com a
expressão fechada, eu estava amargurada e com muita raiva dele, por esse
motivo, eu não tinha vontade nenhuma de trocar uma mínima palavra se
quer com ele. Ele viu como eu estava o olhando e parece ter ficado
constrangido, então, ele continuou a dizer tentando tirar aquela atmosfera
tensa que se formou entre nós.

— Você precisa se cuidar, se alimentar bem, dormir em um lugar mais


aconchegante para que não aconteça de você desmaiar novamente. Não pode
ficar somente focada no trabalho e esquecer de você mesma. — Jeff falava
ainda demonstrando preocupação.

— Fique tranquilo que eu sei me cuidar, foi apenas um episódio de


desmaio devido a uma situação indesejável. — Eu disse de forma ríspida,
aproveitando para alfineta-lo enquanto tentava me sentar na cama.

— Calma, eu posso te ajudar. — Ele se aproximou mais de mim e tocou


meu braço para poder me ajudar, ele tinha um semblante triste e
envergonhado.

Eu estava enojada por conta da traição dele, então, puxei meu braço
bruscamente e uni minhas sobrancelhas fazendo com que um risco se
formasse entra elas. Jeff pareceu surpreso com minha atitude, sendo assim,
para ficar claro que eu não queria a ajuda dele eu disse:

— Pode deixar que eu me viro sozinha.

— Não precisa ser assim, Charlotte. — Jeff falou com uma voz triste e
sua expressão também continuava não sendo das melhores.

— Não precisa, mas eu quero que seja assim, afinal você mesmo disse
que eu precisava cuidar de mim mesma então eu tenho que fazer isso
sozinha, sem depender de alguém. Principalmente esse alguém sendo você.
— Eu estava sendo o mais grosseira possível com ele.

Jeff parecia ficar cada vez mais decepcionado com a forma que eu estava
o tratando, mas ainda assim permanecia ao meu lado.
— Eu vou ficar aqui para cuidar de você, até que você se sinta
melhor. — Ele disse praticamente se humilhando para mim.

— Não há necessidade que você fique aqui. Nesse hospital há médicos,


enfermeiros e pessoas que estão aqui prontas para cuidarem de mim, não
preciso de você. — Eu estava com tanto ódio dele que fazia questão de usar
palavras que pudessem feri-lo, da mesma forma que ele me feriu.

— Charlotte... — Ele ia começar a falar e eu logo o interrompi.

— Vá se ocupar com o projeto, será melhor do que você ficar aqui,


ocioso, sem fazer absolutamente nada e jogando fora seu tempo de
produtividade, onde poderia estar fazendo algo de relevância a respeito do
projeto. — Jeff parecia não acreditar na forma como eu estava falando com
ele.

Confesso que eu realmente estava implacável, mas eu não iria sentir pena
nenhuma dele, Jeff não tinha o mínimo de compaixão comigo então ele não
merecia isso da minha parte também. Ele engoliu seco, e se humilhando
mais ainda para mim ele disse:

— Eu ficarei aqui com você, mesmo que você não queira. — Ele não
tinha arrogância ao falar, nem mesmo a soberba qual estava habituado a usar.

Estava sendo muito difícil manter meu tratamento com ele dessa forma,
porque eu estava ficando com pena dele pela forma que eu o estava tratando,
eu não era assim e não me sentia bem ao tratar ninguém assim. Entretanto,
bastava eu me lembrar da cena que ele protagonizou com Elizabeth que eu
ficava cheia de rancor e mantinha minha atitude hostil em relação a ele.

O telefone dele começou a tocar e ele atendeu. Pelo pouco que entendi
da conversa ele precisaria ir a algum lugar com urgência, creio que era para a
empresa. Por mais que ele estivesse relutante em ter que ir ao local, Jeff
acabou se vendo obrigado a atender ao chamado. Ao desligar o telefone ele
disse com pesar:

— Infelizmente não vou poder continuar aqui ao seu lado, vou precisar
sair.
— Eu não me importo, por mim já vai tarde. — Eu disse em tom
provocativo e dei um sorriso irônico.

Acho que nessa hora eu consegui provoca-lo de verdade. Jeff ficou


visivelmente nervoso e pressionou sua mandíbula, ele respirou fundo e
caminhou até a porta, mas, antes de sair ele se virou de frente para mim e
disse apontando o dedo em minha direção.

— Só vou te dar um aviso, Charlotte. Se você não der um jeito de


descansar bem para se recuperar eu vou abolir o contrato que temos, ou até
mesmo serei capaz de arruinar o projeto! — Jeff disse em tom ameaçador e
me encarou com o queixo levantado.

Nesse momento o velho Jeff arrogante, havia aparecido novamente, eu


pressionei meus lábios um contra o outro quando ele falou essas coisas.
Quem ele pensava que era para me ameaçar e ainda mais dizer que faria algo
para arruinar meu projeto que eu tanto me dediquei?

— Você não seria capaz! — Retruquei com raiva.

Ele deu uma risada cínica e disse:

— Se eu fosse você, não pagaria para ver. Pelo seu bem, descanse. —
Nós nos encaramos por mais alguns segundos, e então ele finalmente saiu e
foi embora.

Eu poderia achar fofo que ele estava preocupado com minha saúde, e
ameaçou o projeto como forma de me obrigar a descansar, porém, isso tudo
ficava invalidado diante da última ação dele e eu não poderia amolecer por
conta disso. Cruzei meus braços e fiquei emburrada no quarto do hospital,
então, para espantar um pouco meu aborrecimento, Sam apareceu.

— Sammy! Que bom ver você aqui, você nem vai acreditar em tudo que
aconteceu hoje... — Falei em meio a um suspiro.

Sam não falou nada e demonstrava estar bastante aflito. Achei estranho,
pois, quando eu falava que tinha algo para contar para ele, ele sempre
parecia entusiasmado para ouvir. Notei que ele tinha um papel em suas
mãos.
— Sam? Está tudo bem? Você parece preocupado, o que aconteceu? —
Perguntei ao me mexer na cama, me inclinando um pouco para frente
esperando que ele me dissesse algo.

— Eu estou com o resultado dos seus exames... — Ele disse em um tom


bem sério.

— E? O que eu tenho é grave? Por isso você está desse jeito? —


Comecei a me desesperar pois presumi que o que eu tinha era algo pior do
que apenas cansaço e exaustão.

Eu o olhava com aflição e ele permaneceu calado por alguns segundos


aumentando o suspense e a tensão.

— Por favor, fale logo de uma vez! De um jeito ou de outro eu vou ter
que saber o que está me causando mal, e se for algo muito ruim é melhor que
eu enfrente logo de uma vez. — Eu falei com bastante agitação.

— O motivo de você ter desmaiado não foi por conta da exaustão como
os médicos suspeitaram. Você desmaiou porque está grávida, Char. — Ele
falou com certo temor e me entregou o papel.

— Você não pode estar falando sério. — Fiquei em choque ao ouvir a


notícia que ele havia me dado.

— Leia você mesma e veja. — Ele falou balançando o papel que eu


ainda não tinha pegado, por conta do estado atônito em que eu fiquei.

Peguei o papel e percorri meus olhos por aquelas palavras que estavam
escritas em letras grandes e destacadas: "POSITIVO", bem abaixo do nome
do exame que se chamava Beta HCG. Mesmo eu lendo e relendo aquele
exame eu não estava acreditando no meu diagnóstico. Porém, contra fatos
não havia argumentos. Eu estava grávida do Jeff, por mais que nós dois
tivéssemos passado apenas duas noites juntos. Parecia que o destino estava
me pregando uma peça.

— Isso não pode estar acontecendo... — Eu disse a Sam com lágrimas


em meus olhos.
— Fique calma, Char, nós vamos dar um jeito e tudo vai dar certo.

— Você contou isso pra alguém? O Jeff sabe? — Perguntei aflita.

— Não, não, eu vim compartilhar primeiro com você para você decidir o
que iria fazer. — Ele falou com um sorriso e passou a mão no meu braço o
acariciando.

— Fez bem, eu não quero que ninguém saiba.

— Você sabe que tem opções, não sabe? — Sam disse olhando em meus
olhos.

— Como assim opções? — Perguntei sem entender o que ele queria


dizer.

— Bom, o feto ainda é muito pequeno... — Assim que ele começou a


falar eu entendi que ele estava sugerindo um aborto.

— Não mesmo! Isso está fora de cogitação, sei que você é médico e você
enxerga meu bebê como um feto, mas para mim, ele é meu filho. E se isso
aconteceu sendo que eu fiquei apenas duas vezes com Jeff, algum motivo há,
e eu jamais seria capaz de fazer isso. Fui eu quem não me cuidei e assumi as
consequências ao fazer sexo com o Jeff sem me proteger. — Falei um pouco
nervosa pois isso era algo que nem se quer havia se passado pela minha
cabeça.

— Tudo bem, desculpe ter sugerido isso, é que entendo sua situação, e a
gravidade dela. — Sam falou com pesar.

Eu entendi porque Sam sugeriu isso e guardou segredo a respeito do meu


diagnóstico antes de me comunicar. Jeff havia pedido para a mãe dele me
dar o acordo de divórcio porque eles não precisavam mais de mim para ter
um bebê, pois na verdade eu era apenas a substituta da Elizabeth, e agora
que ela estava de volta eu era desnecessária, pois ela mesma poderia
engravidar de Jeff e lhe dar o herdeiro que sua mãe tanto fazia questão.

Por conta disso, se eu quisesse manter meu bebê eu teria que esconder
isso do Jeff e da família dele, pois eu temia pelo o que eles pudessem fazer
comigo, e principalmente com meu filho.

— Eu vou esconder a gravidez do Jeff e da família. — Falei com


convicção para o Sam.

Meu primo se aproximou de mim e tinha um olhar preocupado diante do


que eu falei.

— Char, infelizmente, ele é o pai do seu bebê. Você tem certeza que vai
esconder essa informação dele?

— Tenho. Você sabe como a família dele é louca. Jeff me forçou a fazer
uma inseminação sem se importar comigo implorando para que ele não
permitisse que fizessem aquilo. Todos sabiam e agiram como se fosse algo
normal. Imagina só o que podem fazer comigo ao saber que engravidei de
Jeff mesmo não sendo mais necessária?

— Mas por que você diz que não é mais necessária? — Ele perguntou
sem entender muito bem o que eu queria dizer.

— Brandon me disse hoje que eu deveria ficar feliz porque não


precisaria mais engravidar por causa dos últimos 25% de ações. E eu vi
Elizabeth beijando Jeff na faculdade, bem ao meu lado, ela não fez questão
de esconder. E antes que eu passasse mal, eu a vi sentir mal estar. Ou seja,
tudo indica que ela está grávida foi por isso que Cora me deu o acordo de
divórcio, porque ela sabia que eles iriam se envolver e era só questão de
tempo para que ela engravidasse e eu fosse descartada. — Expliquei para
ele.

— Meu Deus! É bem pior do que eu pensava. Mas você tem certeza
disso? Já falou com Jeff?

— É bem óbvio, e é claro que não falei com ele nem irei falar. Nunca
adiantou, não será agora que vai adiantar. — Eu falei convicta.

Sam ficou pensativo. Ele sabia que fazia sentido o que eu estava falando
por mais que ele não concordasse com minha postura.
— Mas como você vai fazer para esconder sua gravidez do seu
marido? — Ele perguntou um pouco confuso pois seria algo difícil de se
fazer.

Eu respirei fundo pois o que eu havia pensado em fazer seria algo


definitivo em minha vida.

— Eu... — Fiz uma pausa e engoli seco. — Vou assinar o acordo de


divórcio e ir embora antes que eles possam perceber minha gravidez.

— Ir embora, Char!? — Sam perguntou em choque.

— Sim, não tem outra saída. — Falei ao me dar por vencida.

— Eu acho uma decisão muito radical, acredito que você deveria pensar
mais. — Sam tentava me fazer mudar de ideia ou pelo menos pensar em
outra saída, mas eu estava decidida.

— Sei o que você pensa, e sei o quanto desaprova minha decisão. Porém,
eu estou de mãos atadas. Não acho que estou tendo uma atitude certa de
esconder meu filho do próprio pai, mas se você for parar pensar Sam, eu vivi
meses de humilhação nas mãos do Jeff e da família dele, não é justo que eu
continue a passar por isso. Hoje depois do que ele fez comigo, resolvi que já
passou da hora de dar um basta. — Falei com amargura.

— Nossa, Char... Eu nem sei o que te dizer, mas saiba que mesmo não
sendo a favor de todas as suas decisões, eu apoiarei você e estarei ao seu
lado sempre, para o que der e vier.

— Obrigada, primo. Sei que parece uma decisão precipitada, afinal


acabei de toma-la, mas preciso pensar não somente em mim agora, e
sinceramente eu estou cansada de tentar ver coisas boas no Jeff e sempre me
frustrar. — Eu disse com a voz embargada e não contive minhas lágrimas.

Sam me abraçou para me confortar. Eu estava super machucada e


desgostosa com minha vida, mas agora, eu precisava pensar no meu filho, e
o mínimo que eu poderia fazer era dar uma vida digna para ele longe de
humilhações e intrigas.
Será um adeus?
Narração - Charlotte Staton

Depois de ter conversado com meu primo e conseguido o apoio dele, eu


decidi que iria sair do hospital.

— Sam, eu quero ir para a casa do Jeff assinar esse acordo de divórcio o


quanto antes. — Falei com bastante determinação.

— Você tem certeza que já quer sair do hospital? Está se sentindo bem o
suficiente para isso? — Sam perguntou com preocupação.

— Sim, estou me sentindo bem melhor. Fique tranquilo que eu não


colocaria meu bebê em risco. — Passei a mão em minha barriga e dei um
sorriso fraco.

Eu não queria engravidar, mas assim que eu soube que aquele bebê
estava dentro de mim um instinto praticamente natural de proteção e amor
surgiram em meu coração. E inegavelmente, pelo menos por minha parte, ele
foi concebido com amor.
— Está certo, vou pedir para tirarem seu acesso e vou solicitar a alta.
Vou mexer com a papelada enquanto você se prepara para irmos. — Sam foi
até a porta, porém, antes que ele saísse eu disse:

— Sam.

— Sim? — Ele se virou para mim com seus olhos atentos.

— Obrigada por tudo que você tem feito por mim. — Eu sorri para ele
ao falar com bastante gratidão. Nesses meses que minha vida havia virado
um verdadeiro inferno eu não sei o que seria de mim sem ele.

Sam foi lidar com a papelada enquanto a enfermeira veio e tirou meu
acesso, me troquei, pois, estava com a roupa do hospital e fiquei aguardando
meu primo retornar. Assim que ele retornou, nós fomos embora. No caminho
eu estava muito ansiosa porque essa seria a última vez que eu veria Jeff, e
daria adeus a minha vida que eu estava habituada.

Assim que cheguei na casa dele, respirei fundo no carro como se


buscasse força para conseguir lidar com o que eu iria fazer. Meu coração
estava disparado e comecei a ofegar, Sam ao ver minha situação disse:

— Char, faça o exercício de respiração. — Acenei a cabeça


positivamente para ele e fiz o exercício como ele havia me ensinado.

Em alguns segundos o fazendo eu me acalmei. Dei um sorriso para ele e


disse:

— Obrigada mais uma vez. Quando for a hora de eu ir embora, você me


leva ao aeroporto? — Eu disse com um olhar triste e um sorriso com o canto
dos lábios.

— Claro que levo Char, você sabe que sempre pode contar comigo para
o que der e vier! — Ele pegou minha mão e deu um beijo como
demonstração de carinho. — Hoje eu iria sair com a Vivian, mas vou
explicar para ela e remarcar o jantar.

— Sério? Vocês estão juntos? — Eu senti muita felicidade por eles,


porque eram minhas pessoas favoritas, as quais eu sempre podia contar.
— Sim, eu estou pensando seriamente em pedi-la em namoro, nunca
encontrei uma mulher tão espetacular como a Vivian. Por isso, não quero
perder a oportunidade. — Ele disse com um sorriso largo e seus olhos
cintilaram.

Nunca havia visto meu primo falar de alguém dessa forma, ele realmente
estava gostando de Vivian e eles mereciam ser felizes.

— Não perca mesmo essa oportunidade, primo. Eu espero de todo meu


coração que você seja feliz. Você sendo feliz, eu serei também. — Ao
terminar de falar nós nos abraçamos.

— Obrigado, Char. — Sammy falou entusiasmado.

— Bom, preciso ir, não adianta adiar o inevitável... Me deseje sorte e


força, preciso me manter firme. Ainda tenho sentimentos muito fortes por
Jeff e não quero fraquejar.

— Você não vai, e tudo dará certo. Você vai ver. — Ele falou me dando
força.

Acenei a cabeça positivamente e respirei fundo uma última vez. Abri a


porta do carro e andei em direção a casa, encarei a porta por alguns segundos
antes de entrar e por fim eu abri para entrar dentro da casa. Assim que entrei,
Jeff que estava na sala veio ver quem estava abrindo a porta e ao ver que era
eu, pareceu surpreso.

— Charlotte? O que você está fazendo aqui? Você deveria estar no


hospital, não deveria sair. — Ele disse em tom preocupado vindo até mim.

— Já me sinto melhor, não fazia sentido eu continuar lá. — Respondi de


forma ríspida.

— Você é muito teimosa! — Ele disse irritado.

Eu o encarava e sabia que essa poderia ser a última vez que nós nos
víamos, mas antes de partir eu queria algumas respostas.

— Jeff, eu queria te fazer algumas perguntas.


— Pode me perguntar o que quiser. — Ele respondeu animado dando um
sorriso. — Mas antes vamos nos sentar, por mais que você diga que está bem
tenho certeza que ainda está fraca.

Nós dois fomos juntos em direção a sala de estar e nos sentamos perto
um do outro.

— Por que é tão importante um bebê para você e sua família, e qual seu
plano em relação a isso? — Perguntei em um tom sério.

— Bom... — Ele suspirou. — Apenas uma pessoa receberá os 25%


restantes da herança do meu avô, afinal só precisa haver um bebê, e não mais
que isso, então não precisamos nos preocupar com isso já que há um bebê a
caminho, não faz muito tempo que eu soube. — Ao terminar de falar ele deu
de ombros.

Como Jeff era perverso! Ele estava falando claramente que ele iria
receber os 25% que faltavam da herança dele, que seu avô estava partilhando
em vida, porque ele havia engravidado Elizabeth, e ele foi bem enfático ao
falar que precisava haver apenas um único bebê. E isso me fez ter mais
certeza a respeito da minha decisão, pois se eu continuasse aqui, meu filho
iria correr risco por não ser necessário e eu poderia esperar tudo dessa
família.

Eu fiquei visivelmente tensa diante da resposta dele, e engoli seco


porque era difícil saber que ele e Elizabeth teriam um filho e seriam uma
família feliz enquanto eu e meu filho só teríamos um ao outro, e
provavelmente ele nunca conheceria o amor de um pai. Ao ver como eu
fiquei, Jeff colocou a mão no meu ombro e disse:

— Relaxa, não há o que fazer mais. Se já está feito... Paciência, não é


mesmo? — Ele deu um sorriso fraco ao falar. — Mas, como você soube?

Ele me confirmou de todas as maneiras que Elizabeth estava grávida


dele, não dava para ele ser mais claro do que isso. Eu forcei um sorriso pois
não iria demonstrar como eu estava devastada com ele tentando me humilhar
mesmo que de forma sutil. Me levantei do sofá e disse:

— Brandon me contou, obrigada por esclarecer.


— Disponha. Já que estamos conversando assim, tranquilamente, eu
queria falar algo com você... — Ele continuou a sorrir e me olhava com
entusiasmo.

Com toda certeza ele iria falar sobre o acordo de divórcio, eu estava
fragilizada demais para lidar com isso. Ouvir da boca dele que ele tinha o
desejo de se separar de mim, seria demasiado doloroso para que eu
suportasse naquele momento. Eu iria assinar de qualquer maneira aquele
acordo, e não estava disposta a curtir mais momentos de humilhação, acho
que ele já tinha me proporcionado humilhações o suficiente no decorrer
desses meses que vivemos juntos.

— Eu estou muito cansada, preciso descansar, depois podemos falar a


respeito do que você tem para falar comigo, tudo bem? — Eu dei um breve
sorriso forçado, porque eu só queria fugir dali o quanto antes.

Ele pareceu não gostar muito pois demonstrava estar ansioso para falar
comigo, mas devido ao meu estado de fragilidade, ele foi empático, atitude
que era rara vinda dele quando se tratava de mim, e apenas sorriu após
concordar com sua cabeça. Forcei mais um sorriso e subi direto para o meu
quarto. Inevitavelmente lágrimas invadiram meus olhos pois eu estava
abandonando o homem que eu amava, e isso era uma dor dilacerante ainda
mais sabendo que eu carregava um filho dele. Mas ao mesmo tempo eu senti
um alívio por saber que eu teria uma vida com paz e tranquilidade.

Comecei a juntar minhas coisas em uma mala, eu não tinha muitas coisas
ali, então, fui rápida. Eu não achava em nenhum lugar meus documentos,
jurava que havia deixado eles na minha bolsa, então saí e fui até o quarto de
Jeff para procurar, talvez ele pudesse ter caído lá em algum lugar. Ao chegar
perto da cama dele, me deparei com o porta-retratos e me assustei ao ver a
foto que estava lá. Não era mais a foto dele com Elizabeth, mas sim, uma
foto de nós dois no dia do nosso casamento. Fiquei encarando aquela foto.
Na foto o sorriso no meu rosto era largo, afinal, eu estava casando com o
amor da minha vida.

Mas, o sorriso dele não era tão alegre assim. Naquela época eu pensava
inocentemente que poderia fazê-lo se apaixonar por mim...Olhei para a foto
com amargura, eu estava me sentindo ridícula, e presumi que Jeff deveria ter
colocado aquela foto lá como uma brincadeira de mal gosto. Peguei o porta-
retratos e retirei a foto, eu a levaria comigo, não permitiria que ela ficasse
naquela casa.

Voltei para meu quarto para guardá-la na minha bolsa e acabei achando
meus documentos, eles estavam entre o acordo de divórcio. Peguei o acordo
e o olhei por um momento. Depois, peguei uma caneta e assinei um pouco
hesitante. Mandei uma mensagem para Sam dizendo que ele já poderia vir
me buscar. Enquanto eu esperava no quarto ouvi passos perto da porta e
fiquei esperando que alguém batesse, porém, a pessoa desistiu de bater e foi
embora.

Sam me mandou uma mensagem dizendo que já estava na porta, eu me


levantei da cama onde estava sentada, deixei o papel do divórcio em cima
dela, peguei minhas coisas e saí do quarto. Percebi que Jeff estava tomando
banho, o que era ótimo, pois ele não me veria sair. Assim que desci, Janet
me olhou com os olhos arregalados.

— A senhora vai embora? — Ela perguntou ao se aproximar.

— Sim, Janet, você acompanhou na íntegra como foi difícil para mim
esses meses.

O semblante dela se entristeceu.

— Vai fazer muita falta.

— Se quiser pode vir comigo, eu vou precisar muito de ajuda daqui para
frente... — Passei a mão na barriga e a olhei.

Ela me olhou confusa, mas logo entendeu o que eu quis dizer, e veio me
abraçar.

— A senhora tem certeza que irá embora nesse estado?

— Sim, Janet, preciso proteger meu filho dos Staton. — Assim que falei
ela concordou com a cabeça e disse.

— Eu irei com a senhora, só preciso me organizar.


— Você tem certeza? — Perguntei surpresa.

— Sim, senhora. Você é uma pessoa maravilhosa. Irá precisar de ajuda e


eu quero fazer questão que a senhora fique bem. — Ela sorriu gentilmente.

Eu a abracei novamente e a agradeci.

— Assim que você estiver pronta me mande mensagem que peço para
meu primo vir te buscar, e ele a levará até o aeroporto para o destino onde eu
irei morar. — Eu não quis falar a princípio onde era pois tive medo que ela
pudesse revelar para Jeff mesmo que sem querer.

— Tudo bem. Vá com Deus, e tenha uma boa viagem.

— Amém, obrigada, Janet. — Falei para ela e nós nos despedimos.

Sam estava me esperando com o carro ligado, Vivian estava junto dele.
Eu entrei no carro e os dois me olharam com tristeza, meus olhos estavam
marejados, mas eu não queria permitir que as lágrimas escorressem e então
eu disse a eles:

— Vamos lá vocês dois, não fiquem assim, eu vou estar melhor. Irei me
livrar de todo o sofrimento que passei nesse tempo que fiquei casada com
Jeff Staton.

Ambos concordaram, e até esboçaram um sorriso, mas permaneciam


tristes. O caminho para o aeroporto foi triste e silencioso, ao chegarmos lá,
descemos e fui direito fazer meu check-in, infelizmente fui informada que
haveriam voos para meu destino somente para o dia seguinte, às 7h da
manhã.

— Acho que teremos que passar mais uma noite juntos. — Eu dei um
sorriso ao falar para Sam e Vivian.

Os dois comemoraram pois não queriam que eu fosse embora.

— Então vamos aproveitar! — Sam falou com empolgação.


Nós fomos jantar, e passamos uma noite muito agradável, rimos e nos
divertimos muito. Depois, fomos para o hotel que ficava ao lado do
aeroporto para que pudéssemos descansar até dar minha hora de embarcar.
Ao chegarmos no quarto, Vivian perguntou:

— Char, e o projeto?

— Ele está finalizado, só falta ajustar mínimos detalhes. Vou encaminhar


todas as instruções para o e-mail do senhor Hollins para que ele finalize e
explicar que não poderei permanecer aqui. Por conta da minha inteligência e
por sempre ter sido uma boa aluna ele não irá se opor. Vocês serão meus
olhos e ouvidos aqui, eu darei um jeito de colocar você na Tec Solutions. —
Falei para ela.

— Entendi. — Ela falou um pouco pensativa.

— E quanto a sua gravidez, você vai passar uma gestação que tem vários
obstáculos completamente sozinha? — Sam perguntou preocupado.

Acho que tanto ele quanto Vivian estavam querendo me persuadir para
que eu ficasse.

— Não... Janet, a governanta do Jeff decidiu vir comigo, eu te mandarei


as instruções para pega-la amanhã e trazer ela para que ela pegue o voo e vá
ficar comigo. Ela fez questão, e sempre cuidou muito bem de mim. Além do
mais poderei contratar mais pessoas, o valor que Wilson me pagou da
consultoria que eu dei a ele, ajudará até que o projeto comece a dar lucros
para a empresa pois eu investi boa parte dele e está me gerando lucro há um
tempo. — Expliquei a eles e vi que eles ficaram tristes novamente.

— Você pensou em tudo... — Sam disse com um pouco de decepção.

— É... Eu sei que vocês estão tentando me persuadir para ficar, mas
acreditem que eu serei mais feliz longe daqui, e isso é para proteger meu
filho. — Diante do que eu falei não havia mais tentativas para refutarem
minha decisão, pois, eles sabiam que era o melhor a se fazer.

Depois disso, nós fomos descansar até dar o horário. Pela manhã
acordamos e fomos em direção ao aeroporto, diretamente para meu portão de
embarque. Olhei para os dois e novamente lágrimas invadiram meus olhos,
entretanto, Vivian e Sam também tinham os olhos marejados.

— Então é isso, eu irei para minha nova vida. — Dei de ombros e não
consegui conter minhas lágrimas.

Nós três nos abraçamos, e choramos. Depois de um momento nos


abraçando, me afastei limpando minhas lágrimas, e sorri.

— Você vai fazer muita falta, não sei como será sem você. — Sam falou
com muita tristeza em sua voz.

— A Vivian irá cuidar muito bem de você para mim, não é verdade? —
Como ela estava chorando apenas concordou com a cabeça. — E não fiquem
assim, nós vamos nos falar todos os dias, enviarei fotos, poderemos fazer
chamada de vídeo e vocês poderão me visitar sempre.

— Não é a mesma coisa. — Sam resmungou.

Sorri para ele e fiz carinho em seu rosto para conforta-lo. Seria muito
difícil ficar sem meu primo-irmão também. Nós nos despedimos mais uma
vez e eu entrei no portão de embarque. Olhei para trás e acenei para eles e
falei alto:

— Eu amo vocês, obrigada por tudo!

— Nós também te amamos. — Eles falaram em coro com a voz


embargada.

Caminhei em direção ao avião, entrei e me sentei na poltrona. Fechei


meus olhos por alguns segundos e depois os abri. Balancei a cabeça para
cima e para baixo e disse para mim mesma:

— Tudo vai dar certo, Charlotte. Seja forte e corajosa, tudo ficará
bem. — Levei minhas mãos até minha barriga, sorri e então falei: — Nós
dois ficaremos bem, meu pequeno.
Abandonado
Narração - Jeff Staton

Tive que sair do hospital depois da ligação que recebi de Levi. Ele
queria me falar algo importante e disse que eu iria gostar de saber o quanto
antes. Acho que foi até melhor porque eu queria dar um tempo para
Charlotte também, já que ela estava com raiva de mim graças ao que a
Elizabeth aprontou. Dirigi rapidamente até a empresa e ao chegar lá
encontrei com Levi na porta do meu escritório, nós fomos para dentro dele e
lá Levi me revelou que ao que tudo indicava Charlotte realmente não sabia
do contrato.

— Como você descobriu? — Perguntei a ele.

— O tio da Charlotte, Jacob, é um beberrão, além de ser viciado em


jogos e strippers. Basta oferecer esse combo completo para ele que qualquer
um consegue o que quer. E então ele me contou que estavam falidos e o pai
dele teve essa ideia de casar a Charlotte. Stuart nunca gostou dela e sempre
quis se livrar da garota, então para ele foi um ótimo negócio. Ele só não me
contou como conseguiram fazer com que Charlotte assinasse sem ler, na
verdade nessa parte ele ficou um pouco agitado e desviou do assunto...
Quando Levi me falou isso eu fiquei super feliz por saber que minha
esposa não era uma interesseira, mas foi um duro golpe porque me lembrei
de todas as coisas horríveis que fiz com ela e me senti um monstro por conta
disso.

— Obrigado, Levi. Isso vai mudar tudo! Eu vou para casa e depois
voltarei para o hospital.

— Hospital? — Ele perguntou confuso.

— Charlotte passou mal, eu estava com ela. — Expliquei a ele.

— Nossa, o que ela tem? — Ele perguntou com preocupação.

— Creio que é exaustão, mas é bom acompanharmos de perto.

— Isso é verdade. Ah, antes que eu me esqueça, sua prima está grávida.
— Levi falou, pois, ele sabia que quem tivesse um bebê primeiro herdaria o
restante das ações das empresas do meu avô.

— Ah, eu nem fazia tanta questão assim, a Tec Solutions é uma das
empresas mais rentáveis do grupo Staton, então não me interessava mais, era
por pura competitividade com minha prima, sendo assim, que Adélia faça
bom proveito. Enfim, agora preciso ir. Obrigado mais uma vez, amigo. —
Agradeci ele novamente enquanto saía de meu escritório bastante apressado.

— Não a de quê. — Ele falou.

Ao sair, peguei meu carro e fui direto para casa, assim que cheguei
decidi tomar um pouco de whisky, precisava me distrair um pouco.
Descobrir tudo isso mexeu bastante comigo, terminei de tomar meu whisky e
coloquei o copo na pequena mesa que havia próximo ao sofá, caminhei para
ir ao meu quarto e surpreendentemente vi Charlotte chegando. Questionei o
motivo dela estar ali, e ela me respondeu secamente. Minha esposa me
perguntou sobre o motivo de um herdeiro ser importante para minha família,
então, expliquei a ela e questionei como ela já sabia que um herdeiro estava
a caminho e ela me contou que Brandon contou a ela. Ela ficou muito
abalada, mas não entendi o motivo.
Eu iria me declarar para ela naquele momento, e pediria perdão por todo
mal entendido que tivemos a respeito do contrato, além de explicar a
obsessão de Elizabeth, porém, ela não estava disposta a ouvir mais nada
naquele momento, eu até tentei insistir, mas achei melhor respeita-la.
Charlotte justificou que estava cansada então não quis atrapalhar o seu
descanso.

Poucas horas depois, fui até o quarto dela e pensei em bater na porta,
mas hesitei. Por mais que eu não visse a hora de falar para Charlotte, que eu
sabia que ela não havia assinado o contrato por livre e espontânea vontade, e
que eu a amava, decidi que seria melhor fazer isso pela manhã pois ela
precisava se recuperar. Pela manhã eu acordei, e estava mais que ansioso
para falar com Charlotte, eu queria explicar tudo para ela o mais rápido
possível. Fui até o banheiro, fiz minha rotina de higiene matinal, me troquei,
passei perfume e me olhei no espelho. Eu estava pronto para vê-la.

Fui até o quarto dela e bati na porta.

— Charlotte? — A chamei depois de bater na porta e não obter resposta.

Bati novamente, e ela não respondeu, isso me deixou preocupado então


decidi abrir a porta do quarto dela. Ao ver que lá estava vazio me frustrei.
Deduzi que ela havia ido para a faculdade, porém, vi um papel deixado na
cama. Fui até lá e vi que se tratava de um acordo de divórcio, ela havia
assinado e deixado para que eu assinasse também. Eu fiquei com tanta raiva
que senti uma dor aguda em minha cabeça.

Presumi que Charlotte havia ido embora. Imediatamente peguei meu


celular e liguei para Levi.

Ligação ON

Levi: — Bom dia, Jeff.

Jeff: — Levi, quero que você dê um jeito de bloquear o aeroporto e a


estação de trem imediatamente. — Eu não sabia como ela havia ido embora
então achei mais certo mandar bloquear os dois.
Levi: — Certo, quer que eu vá para Marte depois ou de imediato
também? — Ele ironizou meu pedido.

Jeff: — EU ESTOU FALANDO SÉRIO, PORRA. — Gritei nervoso.

Levi: — O que aconteceu?

Jeff: — Charlotte assinou um acordo de divórcio e sumiu, creio que ela


deve ter pegado um voo ou trem para ir embora.

Levi: — Tudo bem, vou falar com meus contatos na polícia para
conseguirmos fazer isso.

Jeff: — Obrigado. Assim que conseguir venha aqui para minha casa.

Ligação OFF

Assim que terminei de falar com Levi passei as mãos na minha cabeça,
eu estava completamente atordoado. Eu estava tão perto de falar tudo que eu
sentia por ela, explicar o meu lado sobre as questões mal resolvidas com a
Elizabeth; Toda a consideração que eu ainda tinha com Elizabeth era por
conta da história que tivemos, e eu sei que não fui um excelente namorado,
por isso fui tão pacífico até agora. O que aconteceu ontem na faculdade pode
ter sido a motivação para Charlotte ter ido embora, por conta disso, eu não
teria mais tolerância com ela.

Desci as escadas com pressa, talvez Janet soubesse de alguma coisa a


respeito da fuga da Charlotte, elas eram bem próximas e ela poderia ter dito
algo para ela antes de partir.

— Janet! — A chamei enquanto andava pela sala.

Ela não apareceu, e toda vez que eu a chamava quase que de imediato ela
aparecia.

— JANET! — Eu gritei para ver se ela aparecia logo e também por conta
do meu estado de nervosismo.
Uma outra empregada apareceu com os olhos arregalados, muitos dos
empregados da casa me temiam e creio que por isso aquela funcionária
estava com seus olhos tão arregalados assim que a chamei. Ela ficou parada
na minha frente e não falou nada, mas tinha um papel em suas mãos.

— Onde está a Janet? — Perguntei de modo agitado.

— Ela foi embora, senhor... Ela me entregou a carta de demissão dela


hoje bem cedo e pediu que eu entregasse a você. — A empregada disse
timidamente ao me entregar a carta de demissão da Janet.

— Embora? — Eu perguntei sem entender, mas logo entendi que talvez


ela tivesse ido embora junto com Charlotte.

Abri a carta de demissão e li, ela apenas agradeceu pelos anos em que a
família Staton confiou no trabalho dela, mas disse que optou por ir junto
com a Charlotte pois ela precisaria mais dela do que eu. Ela não deixou
nenhuma informação para onde estava indo, nem mesmo pediu pelo seu
pagamento referente ao tempo que esteve trabalhando conosco. Eu respirei
fundo pois estava muito nervoso com toda a situação, eu não acreditava que
Charlotte havia ido embora dessa maneira covarde. Eu não me conformava.

A empregada estava me observando ainda e então disse:

— Posso me retirar, senhor Staton?

— Sim, obrigado. — Ela saiu em direção a cozinha e eu fiquei na sala.

Me sentei no sofá ainda tentando digerir tudo que estava acontecendo, e


fiquei pensando que talvez se tivesse me atentado melhor aos sinais eu não
teria perdido Charlotte de maneira tão repentina. Entretanto, eu não iria
desistir eu iria atrás dela onde quer que ela fosse. Eu estava com minha
cabeça praticamente explodindo devido a todo o estresse que eu estava
passando, e então, Levi chegou. Ele entrou em casa após a empregada abrir a
porta para ele e veio caminhando apressado até onde eu estava.

Eu me levantei do sofá e o olhei esperando que ele tivesse alguma


notícia.
— E então, conseguiu intercepta-la? — Eu perguntei apreensivo.

— Infelizmente não, depois que descobri o destino dela, descobri


também que o avião dela havia decolado há 1 hora. Eu sinto muito Jeff. Não
medi esforços, coloquei uns conhecidos meus da polícia que me deviam
favores para bloquearem e exigirem informações, mas foi em vão. — Levi
falou em tom de pesar por não ter conseguido alcançar Charlotte a tempo.

Eu precisava pensar em alguma alternativa para que ela não escapasse de


mim assim.

— Nem tudo está perdido.

— Não? — Levi perguntou surpreso.

— Não! Qual o destino dela? — Perguntei ansioso.

— Ao que tudo indica ela foi para San Diego, na Califórnia. — Levi me
respondeu olhando para mim tentando entender o que eu estava imaginando.

— Certo, ligue para o piloto do meu avião e se prepare que nós vamos
para San Diego, mais precisamente no aeroporto de San Diego para eu
conseguir acha-la. — Falei com bastante determinação.

— Jeff... Há mais de um milhão de pessoas na cidade de San Diego, vai


ser muito difícil encontrá-la.

— Por isso mesmo precisamos nos apressar porque eu quero acha-la no


aeroporto. Então, anda logo! — Falei um pouco alterado pois cada minuto
era precioso para conseguirmos encontrar Charlotte.

Bem como eu ordenei Levi ligou para o piloto preparar o jato particular.
Enquanto ele organizava essa parte eu decidi ligar para Sam, o primo
confidente de Charlotte devia saber de alguma coisa.

Ligação ON
Sam: — Alô?

Jeff: — Sam, sou eu, Jeff. A Charlotte está com você?

Sam: — Não, não está.

Jeff: — Seja sincero, você a ajudou fugir?

Sam: — Fugir? Do que você está falando?

Pelo tom da voz de Sam eu presumi que ele estava escondendo algo, mas
eu não poderia provar.

Jeff: — Charlotte foi embora, e eu estou indo atrás dela, sei que ela foi
para San Diego, onde ela poderia estar lá?

Sam: — Eu não sabia disso, e não faço ideia do que ela faria em San
Diego. Você descobriu isso como?

Jeff: — Não interessa como descobri, sei que você está me escondendo
algo. Mas não adianta porque eu irei acha-la! — Eu disse em tom
ameaçador.

Sam: — Sinto muito, mas não poderei ajuda-lo.

Ligação OFF

Desliguei o telefone com raiva, sem me despedir. Charlotte não iria


embora sem falar para Sam, e tenho certeza que ele a ajudou. Quando
terminei a ligação, Levi me informou que o jato já estava pronto. Nós dois
saímos de dentro da minha casa, pegamos os carros disponíveis para andar
dentro da propriedade e fomos em direção a pista de pouso que havia nela.
Assim que chegamos próximo ao avião eu entrei com pressa, e sem demora,
o piloto começou a decolagem.

A viagem era muito longa, e a cada hora que se passava dentro daquele
avião mais agoniado eu ficava. Eu já tinha tentado ligar incansavelmente
para Charlotte, mas sempre dava fora de área, ou que o número não existia
mais. Claro que ela iria mudar de número para que eu não a encontrasse.
Depois de horas de viagem nós chegamos ao destino, eu tinha esperança que
o voo dela tivesse feito escalas ou conexões afim de que ele se atrasasse e eu
conseguisse encontrá-la.

Assim que o avião pousou no aeroporto de San Diego, eu desci e corri


em direção ao salão do aeroporto, procurei Charlotte e não a encontrei, Levi
estava me acompanhando a todo momento.

— Descubra se o avião já pousou, tente pegar as imagens de segurança


do aeroporto, diga que é em nome de Jeff Staton e pague o quanto puder
para conseguir essas informações, como nós somos fornecedores do exército
americano ligue para alguém com influência no pentágono, mas consiga as
informações, rápido! Vou continuar tentando encontrá-la aqui.

— Ok! — Levi concordou e foi correndo buscar as informações que


solicitei.

Eu andava de um lado para o outro naquele aeroporto gigantesco, e não


conseguia encontrá-la de maneira nenhuma. Meu coração estava disparado e
a cada momento eu sentia uma grande ansiedade tomar conta de mim. Passei
vários minutos andando por lá mas sem sucesso. Levi me ligou e pediu que
eu fosse até a sala de segurança do aeroporto, prontamente fui até lá.

Ao chegar no local, vi a imagem da Charlotte chegando com sua mala e


em seguida deixando o aeroporto em um carro particular, e infelizmente não
foi possível identificar a placa.

— Jeff, é o fim da linha. — Levi me alertou.

— Tem que ter algum jeito de encontrá-la! — Eu falei nervoso.

— Não tem... — Ele disse e me olhava como se tivesse pena de mim.

— Nós vamos ficar em um hotel não quero deixar de procura-la. —


Assim que falei saí da sala de segurança.
Nós fomos para um hotel e chegando lá minha mãe me ligou em
chamada de vídeo. Atendi a contragosto, eu não queria falar com ela naquele
momento.

Chamada de Vídeo ON

Jeff: — Oi mãe. — Falei de um jeito mal humorado.

Cora: — Oi filho, que mal humor é esse? Onde você está? Fui na sua
casa e uma empregada disse que você não estava.

Jeff: — Charlotte foi embora, eu estou em San Diego tentando acha-la.

Cora: — San Diego, na Califórnia? Você enlouqueceu? Se ela quis ir


embora deixe-a ir... Ela não era boa o bastante para você, e agora tem
Elizabeth que está de volta e pode te dar um bebê, já que essa garota não
conseguiu.

Jeff: — CHEGA! — Eu gritei com ela e ela se assustou. — Pare de tentar


me empurrar Elizabeth a qualquer custo, eu quero a Charlotte e não
descansarei até conseguir encontrar ela.

Chamada de Vídeo OFF

Eu desliguei para não perder o restante da paciência que eu tinha. Passei


a noite praticamente em claro tentando pensar em alguma forma de achar
Charlotte, a única informação que eu tinha é que ela entrou em um carro
sedan prata. Pela manhã alguém bateu na porta do meu quarto e para minha
surpresa era meu avô.

— Vovô Robert? O que está fazendo aqui? — Perguntei surpreso.

— Vim colocar juízo na sua cabeça. O que você pensa que está
fazendo? — Ele perguntou intrigado e foi entrando no quarto.

— Estou procurando minha esposa e eu irei encontrá-la. — Falei com


bastante segurança.
— Já basta! Você voltará agora para casa comigo, não adianta tentar
dizer que não. Levi me falou sobre o que vocês tinham de informação a
respeito da sua esposa, e em meio a mais de um milhão de pessoas você ter
esperança que vai encontrar um carro sedan é ridículo. Vamos embora
agora. — Ele falou praticamente em tom de ordem.

— Sinto muito, mas eu ficarei, preciso achar a Charlotte! — Falei


relutante.

— Você não conseguirá acha-la apenas com essa informação. Eu não


permitirei que você arrisque o nome dos Staton por um capricho, eu já estou
velho Jeff, não teste os limites da minha saúde. — Meu avô falou de maneira
ameaçadora.

Infelizmente eu tive que acatar a decisão dele, se algo acontecesse com


meu avô eu jamais me perdoaria, pois, ele era como um pai para mim. Mas
isso com certeza era obra da minha mãe, usando meu avô para me forçar a
voltar para casa. Voltei para casa, mas não desisti de procurar Charlotte.
Depois de ter passado quinze dias com ela por conta do projeto eu tinha
certeza que ela era a mulher da minha vida.

Ao chegar em casa, continuei a procurar por ela, ligando para vários


possíveis parentes que ela poderia ter em San Diego. Contudo, "Hills" era
um sobrenome muito comum, então, era como procurar uma agulha no
palheiro. Contratei até mesmo um detetive particular para buscar
informações e iria aguardar ele ter resultados. Enquanto isso eu estava
buscando várias informações via internet, hackeando sistemas e fazendo
todo o possível para conseguir encontrar minha esposa.

Eu estava com raiva e irritado pelo fato de Charlotte querer o divórcio e


ter me abandonado. Eu estava totalmente fora de controle e dormi bem
pouco novamente. Na manhã seguinte Levi foi me visitar para ver como eu
estava, e se assustou com meu estado.

— Jeff, como amigo eu quero te dar um conselho, se controle. Eu nunca


o vi dessa forma e você está me preocupando... Nem quando Elizabeth foi
embora você ficou assim.
— O que eu sinto por Charlotte não se compara ao que eu senti um dia
por Elizabeth. — Eu falei com amargura. — Eu preciso que você investigue
também, pois quero achar minha esposa!

— Tudo bem, eu vou ajuda-lo como sempre o ajudei, não se preocupe.


Mas tente manter o equilíbrio, senão você enlouquecerá. — Levi falou me
dando apoio.

Passou-se 1 mês e eu quase enlouqueci a procurando. Sam, Vivian e o


senhor Hollins diziam não saber do paradeiro de Charlotte e por algumas
vezes cheguei a ameaça-los por isso, eu estava perdendo meu juízo a cada
dia que passava procurando por ela. O detetive que eu contratei disse que ela
devia ser um fantasma, pois parecia que ela nunca havia existido. Charlotte
aparentava ter desaparecido completamente do mundo, mas eu não iria
desistir, por mais difícil que fosse.

— Eu juro para mim mesmo, que vou te encontrar onde quer que você
esteja, meu amor. Pode demorar o tempo que for, mas nós nos
reencontraremos. — Eu falei enquanto segurava uma foto de Charlotte e
olhava para ela com meus olhos cheios de lágrimas.
O retorno
Narração - Charlotte Staton

Assim que cheguei em San Diego, Sam me ligou dizendo que Jeff
estava me procurando desesperado. Eu disse a ele para que não revelasse
onde eu estava. Diante dessa informação, optei por pegar um carro particular
para ir ao meu destino e descartar meu telefone no aeroporto mesmo, eu
deveria apagar todos meus rastros e eu era muito boa em fazer isso. Eu iria
ficar na antiga casa de praia dos meus pais, iria passar toda minha gestação
lá, na verdade eu passaria quanto tempo fosse necessário.

Eu já estava instalada na antiga casa dos meus pais em San Diego, e


Janet chegou ao fim do dia, assim que ela chegou a orientei sobre como
deveríamos nos portar para conseguirmos não deixar rastros para Jeff me
encontrar, eu sabia que ele era um excelente hacker, porém, ele não era tão
bom quanto eu. Estava bastante quente, então, fui até a varanda que dava de
frente para o mar, passei a mão na minha barriga e dei um suspiro.

— Prometo que vou te proteger com minha própria vida se necessário,


para sempre, meu amor. — Mantive a mão em minha barriga e a acariciei.
Nove meses depois

Eu estava sentada no meu escritório que eu havia montado na casa para


eu trabalhar. Meu projeto havia sido concluído logo quando cheguei, porém,
como eu não queria ficar parada, já comecei a desenvolver outros porque eu
ainda tinha o anseio de ter uma empresa só minha. Eu conversava com Sam
e Vivian constantemente, e Janet era crucial na minha vida, ela cuidava
muito bem de mim e do meu bebê mesmo ele estando dentro da minha
barriga.

Deixei para descobrir o sexo do bebê somente na hora do nascimento, e


ele poderia nascer a qualquer momento. Eu estava bem focada no meu
projeto e senti uma água escorrer pelas minhas pernas.

— Nossa, será que derrubei minha água? — Olhei para baixo, e depois
olhei para a mesa e vi que meu copo d'água estava intacto.

Arregalei meus olhos e compreendi que eu estava entrando em trabalho


de parto. Eu dei um sorriso de felicidade pois eu iria conhecer meu filho, e
estava ansiosa por esse momento. Porém, vários medos e inseguranças
também surgiram nesse momento. Parte de mim queria que o Jeff estivesse
comigo nesse momento, mas eu sempre soube que desde o começo seria eu
sozinha.

— JANET! — Eu gritei.

Janet veio correndo até o escritório enquanto eu me levantava com um


pouco de dificuldade.

— Me chamou, Charlotte? — Janet e eu havíamos ficado bem íntimas


desde que ela se mudou pra cá, e finalmente ela havia aceitado me chamar
somente de Charlotte.

Olhei para ela com um sorriso e olhei para minhas pernas que estavam
molhadas, ao perceber ela ficou surpresa.

— Chegou a hora! Meu Deus! Vou pegar as malas e chamar o


motorista. — Ela falou com empolgação e desespero ao mesmo tempo.
Eu comecei a rir da atitude dela, mas logo em seguida as contrações
iniciaram e a dor era tão intensa que acabou com meu sorriso rapidamente. O
motorista entrou para me auxiliar porque como eu estava com muita dor, e
isso fez com que eu tivesse dificuldade para andar. Nós entramos no carro e
fomos para o hospital. Chegando lá fui super bem recebida e logo fui
direcionada para a sala de parto.

Meu bebê estava encaixado, e eu já estava com o máximo de dilatação,


tive um parto super rápido e não tão doloroso. Assim que meu bebê nasceu o
médico o colocou nos meus braços e eu comecei a chorar bastante de
emoção, encostei meu nariz na testa dele e senti o melhor cheiro que já havia
sentido na vida, levantei o tecido que estava tampando-o para ver se era
menino ou menina.

Dei um sorriso largo ao descobrir. Era um menino! Um meninão forte,


gordinho, saudável e muito parecido com o pai... Se eu pensava que já o
amava quando ele estava dentro de mim, eu não sabia explicar o amor que
eu estava sentindo com ele agora em meus braços, eu seria capaz de
qualquer coisa por ele. Janet entrou e olhou admirada para ele unindo suas
sobrancelhas.

— Oh meu Deus, Charlotte! Como é lindo! É menino ou menina? — Ela


perguntou curiosa enquanto se aproximou para vê-lo melhor.

— É um menino! — Falei para ela orgulhosa.

— Que maravilha! E qual será o nome dele?

— Ele se chamará Oscar.

— Que lindo o nome, fez uma ótima escolha. — Ela deu um beijo na
minha testa.

O momento em que eu estava vivendo era tão sublime, que me senti mais
forte do que tudo, e jamais senti um amor tão forte como o que eu sentia
pelo Oscar. Nem dormi a noite olhando para ele porque eu não parava de
admira-lo, a todo momento eu me derretia enquanto velava o sono dele.
Se antes eu estava determinada a mudar meu jeito de ser, agora eu tinha
mais motivos ainda. Não ia deixar nada nem ninguém passar por cima de
mim, e eu estava mais que determinada a não deixar os Staton se
aproximarem do meu filho em hipótese alguma, nem mesmo Jeff.

Cinco anos depois

Recebi uma ligação enquanto trabalhava. Não me dei ao trabalho de ver


quem era e apenas atendi.

Ligação ON

Charlotte: — Alô.

Stuart: — Olá, Charlotte. Sou eu, seu avô.

Ao ouvir a voz daquele homem senti uma mal estar imediato.

Charlotte: — O que você quer? Como conseguiu meu telefone?

Stuart: — Eu sei que Sam tem contato com você e o forcei a me dar, já se
passaram cinco anos você já teve tempo o suficiente para fazer sei lá o que
você está fazendo. Eu estou doente, e comecei a distribuição dos meus
bens. Eu preciso que você venha.

Achei aquele papo super estranho, nesses cinco anos ele nunca havia me
procurado e agora de repente me procura para a partilha de bens? Muito
estranho. Meu avô não era o homem que sentia culpa pelos seus atos. Tenho
certeza que ele devia ter algum interesse oculto.

Charlotte: — Nenhum de seus bens me interessam.


Stuart: — Eu faço questão que você esteja aqui.

Eu fiquei um pouco hesitante, mas algo me dizia que eu deveria ir.

Charlotte: — Tudo bem, estarei aí assim que puder. — Falei com


desdém.

Stuart: — Mandarei Sam busca-la. Até logo.

Charlotte: — Até.

Ligação OFF

Fiquei super intrigada com aquele telefonema. Senti um frio percorrer


meu corpo por saber que eu teria que voltar depois de tanto tempo. Fiquei
um pouco pensativa, mas logo meus pensamentos foram interrompidos pelos
gritos alegres do Oscar invadindo minha sala.

— Te achei, mamãe! — Ele falou com um sorriso e pulou no meu colo.

— Oi, meu amor! — Eu falei enquanto aninhava ele nos meus braços e
dava vários beijos na bochecha dele.

Janet chegou ofegante na porta do meu escritório e disse:

— Desculpa Charlotte, esse danadinho me enganou para vir para cá.

— Tudo bem, não se preocupe. Eu queria falar com vocês mesmo...


Precisamos arrumar nossas malas, nós vamos voltar para New York.

Janet me olhou surpresa.

— Nossa, assim, repentinamente?

— Meu avô me ligou, disse que eu preciso estar presente na partilha de


bens... — Falei ao dar um suspiro.

— Está bem, vou organizar as coisas.


— Obrigada. — Dei um sorriso.

— Eu não quero ir! — Oscar falou cruzando os braços.

— Nós iremos rápido, meu amor, não ficaremos muito lá, a mamãe
promete tá bom? Nós vamos visitar a cidade do tio Sam e da tia Vivian, olha
que legal!

— Oba! — Meu filho falou comemorando.

No começo da noite Vivian e Sam chegaram para nos buscar, mas


iríamos pela manhã. Eles engataram um namoro assim que saí de Nova
York, e agora já estavam noivos. Creio que meu avô pediu para Sam vir para
garantir que eu iria pois ele percebeu que eu estava relutante. Vivian havia se
tornado assistente de direção na Tec Solutions para representar meus
interesses dentro da empresa. O nosso maior combinado era que ela não
deveria me falar nada a respeito do Jeff, por algumas vezes, ela tentava me
dizer que eu precisava conversar com ele, principalmente a respeito do filho
dele com Elizabeth, porque ela achava muito estranho o fato de que ela
nunca havia ouvido falar nada sobre esse filho mesmo trabalhando dentro da
empresa em que ele era o CEO, porém, eu sempre cortava o assunto pois era
doloroso demais para mim reviver essa história.

Janet e eu mudamos nossas identidades, porque eu sabia que Jeff poderia


procurar por ela para chegar até mim. Além disso, eu nunca comprava nada
com cartão, apenas dinheiro, sempre para evitar que pudéssemos ser
encontradas. Eu usava o pseudônimo, Charlie Hills. Aproveitando que Hills
era um sobrenome bem comum.

Na manhã seguinte, todos nós acordamos cedo para irmos para o


aeroporto. Assim que nós chegamos, logo entramos no avião para irmos,
confesso que eu estava muito ansiosa, eu definitivamente não tinha
planejado meu retorno e não imaginava como poderia ser quando eu
retornasse, e isso me deixava muito ansiosa. E a cada momento que eu sabia
que se aproximava minha volta para aquela cidade onde tive tantas tristezas,
essa ansiedade aumentava. Mas nada tirava da minha cabeça que meu avô
planejava algo. E talvez Sam poderia saber algo a respeito então decidi
perguntar a ele sobre.
— Sam, quero te perguntar uma coisa. — Falei ao olhar para ele.

— Pode perguntar, Char.

— Você imagina qual seja o real motivo para Stuart solicitar minha
presença? — Perguntei com uma expressão desconfiada.

— Não sei ao certo, mas, nós sabemos que a Tec Solutions nesses cinco
anos de desenvolvimento superou os lucros da empresa do vô Stuart. E ele
sabe muito bem disso, talvez, por você ser uma acionista ele quer algo, não
sei... — Sam palpitou.

— Pode ser que meu avô queira a Tec Solutions. — Falei com
convicção.

— Será, Char? — Ele perguntou não acreditando muito.

— Você ainda duvida da ambição e ganância do nosso avô depois de


tudo que ele me fez passar? Você tem a memória muito curta Sam. — Dei
uma risada.

— Isso é verdade... Não é memória curta, eu sou bobo, Vivian sempre


diz isso pra mim. Eu quero melhorar esse jeito meu, mas é um processo de
dia após dia.

— Eu sei, você tem um coração muito bom. Eu sei que meu coração
também é bom, mas o sofrimento fez com que ele se endurecesse. — Dei um
sorriso com o canto dos lábios enquanto olhei para o lado com um olhar
triste.

Naquele momento um breve filme de tudo que eu vivi e sofri se passou


na minha mente, não era fácil, e eu sabia que eu não merecia nada daquilo.
Agora eu tinha mais maturidade, e nesses cinco anos eu tive muito tempo
para pensar também. De um jeito ou de outro, isso me mudou e me fez ser
mais forte, sem contar o nascimento do meu filho. O Oscar foi um
verdadeiro divisor de águas na minha vida me tornando mais forte, confiante
e segura. Porque eu sei que ele dependia unicamente de mim e por esse
motivo eu precisava ser um verdadeiro porto-seguro para meu pequeno.
Nós chegamos no aeroporto, e fomos até a esteira para pegarmos nossas
bagagens. Eu estava um pouco distraída olhando a esteira, estava com meu
pensamento longe, até que finalmente nossas malas chegaram. Sam, Vivian e
eu pegamos nossas malas, conferimos e as colocamos no chão. Assim que
terminei de coloca-las no chão eu perguntei:

— Ué? Onde está o Oscar? — Uni minhas sobrancelhas ao olhar a minha


volta e não o encontrar.

— Ele estava bem aqui, nesse exato segundo! — Sam falou com
preocupação.

— Sim, ele estava bem do meu lado! — Vivian falou com certo
desespero apontando para o lugar que Oscar estava.

— Ai, ai, ai! Esse menino tem uma energia que eu não consigo entender,
as vezes penso em amarra-lo a mim. Ele nunca foi em um aeroporto, é claro
que ele iria querer explorar! Eu devia ter ficado mais atenta. — Falei me
culpando e colocando a mão na minha cabeça por conta do desespero por ter
perdido meu filho.

— Calma, Char, isso é coisa de criança. Ele não deve ter ido muito
longe. Nós vamos nos separar e vamos encontrar ele, fique tranquila! —
Sam falou ao tentar me confortar.

Assenti com a cabeça positivamente, nos separamos e fomos procura-lo.


Se algo acontecesse com meu filho eu não iria me perdoar nunca por ter sido
negligente dessa forma. Comecei a andar em direção a cafeteria do aeroporto
e não pude acreditar no que vi.

Oscar estava sentado junto com Jeff, eu senti um frio na minha barriga e
me assustei. Pelo que vi Oscar derrubou algo nele pois ele estava limpando
sua camisa. Por sorte, Jeff não se demorou muito ali naquele lugar, levantou
e foi embora. Meu coração estava disparado ao ver Jeff, pensei que tudo
estava adormecido por ele, mas me enganei. Era uma coincidência
extremamente infeliz ter encontrado nele assim que pisei em New York.

Fui correndo em direção ao Oscar e me agachei ao lado dele.


— Filho, está tudo bem? O que aconteceu?

— Eu estava conversando com aquele moço, e derrubei café nele sem


querer. — Ele apontou o dedo para Jeff. Vivian e Sam chegaram bem na
hora, viram ele apontando para Jeff, e ficaram surpresos.

— E o que vocês conversaram? — Perguntei preocupada.

— Não conversamos muito, mas eu não gosto do Jeff. — Assim que ele
falou arregalei meus olhos, Vivian e Sam também.

— Por que você não gosta dele? Você sabe quem ele é? — Perguntei
bastante apreensiva.

— Não. Eu o conheci agora e não gostei dele.

Fiquei aliviada ao ouvir a resposta do meu filho e o repreendi por ele ter
fugido de mim. Ele me abraçou e se desculpou dizendo que não faria mais
aquilo. Olhei Jeff indo em direção ao portão de embarque e respirei mais
tranquila, pois eu não queria que ele soubesse de forma alguma que Oscar
era filho dele.

∞∞∞

Narração - Jeff Staton

Cinco anos... Esse era o tempo que eu estava perdido. Eu não vivia,
apenas tinha uma sobrevida regada de esperanças em encontrar a mulher que
eu amava. Por esse motivo eu só trabalhava, a Tec Solutions era mais que
próspera, tanto que ela atraía investidores de todos os lugares do mundo
graças ao grande projeto desenvolvido por Charlotte. O trabalho era a única
coisa que conseguia fazer com que eu tivesse algum motivo para me
levantar, já que todas as vezes em que eu pensava que iria encontrar minha
esposa, eu me frustrava porque ela continuava desaparecida como se nunca
tivesse existido. Eu tinha uma importante reunião em Seattle, meu jato
estava em manutenção então precisei pegar um voo comercial.

Eu estava esperando dar a hora do meu voo, sentado na cafeteria do


aeroporto e um menininho veio correndo em minha direção. Ele ficou parado
na minha frente e me encarou.

— Oi, tudo bem? — Falei com ele olhando para os lados procurando os
pais dele.

— Oi. Estou bem, meu nome é Oscar.

— Prazer, Oscar. Me chamo Jeff. Onde estão seus pais? — Perguntei


com um sorriso.

Ele não me respondeu e jogou café na minha roupa.

— O que você fez, garoto!? — Perguntei com raiva. Eu não poderia ir


assim para a reunião.

— Me desculpa, não foi por querer. — Ele deu um sorriso malicioso.

Claro que foi. Que garoto mal criado, nunca me viu e faz isso.
Claramente não gostou de mim gratuitamente. Balancei a cabeça
negativamente para ele enquanto me limpava, franzi minha testa pela raiva,
me levantei da cadeira e fui em direção ao meu portão de embarque
deixando aquele pestinha lá. A sorte é que eu tinha levado uma roupa e
poderia trocar antes da reunião.

∞∞∞
Narração - Oscar Hills

Minha mamãe se distraiu com as malas, e eu corri pelo aeroporto, nunca


tinha ido em um. Eu queria saber como era, quando a gente veio, eu estava
dormindo e não tive tempo de ver o aeroporto da cidade onde a gente
morava. Quando eu estava perto de uma loja cheia de comidas gostosas, vi
um homem que parecia muito ser o homem que eu vi em uma foto que a
mamãe olhava sempre e chorava escondida. Eu sabia que esse homem da
foto, era o meu papai, porque em uma conversa da tia Janet e da mamãe eu
ouvi que meu pai se chamava Jeff. Eu não sabia ler muito bem, mas Jeff era
um nome fácil e eu vi esse nome escrito do lado do nome da mamãe atrás da
foto.

Meu papai já tinha feito a mamãe sofrer, eu não sabia muito bem porque,
mas eu a ouvi falando sobre isso também, enquanto espionava ela
conversando com a tia Janet. Fui até ele, e ele falou comigo, eu disse meu
nome e derrubei café nele de propósito. Ele ficou bravo, mas não me
importei. Isso era por ele ter feito minha mamãe sofrer! Ele saiu de perto
com raiva e eu fiquei rindo, logo em seguida minha mamãe chegou e eu pedi
desculpa a ela por ter fugido.
Uma nova mulher
Narração - Charlotte Staton

Depois do que passamos no aeroporto, fomos para o apartamento que


eu havia alugado. Escolhi um apartamento luxuoso, mas não o comprei
porque eu não pretendia ficar muito tempo naquele lugar, afinal, eu queria
voltar o quanto antes para minha casa, e me ver livre desses fantasmas do
passado que tanto me assombravam.

Nesses cinco anos que passaram, eu ainda olhava muito a nossa foto
juntos em nosso casamento e chorava às escondidas. Não chorava
exatamente por ele, pelo menos era o que eu pensava, eu lamentava por
termos no casado a força um com outro e não termos tido a oportunidade de
viver um casamento por amor, como sempre sonhei. Me arrependi por
algumas vezes por não ter falado com todas as letras para ele quem eu era na
verdade, aquela menina desengonçada que ele conheceu na escola. Mas,
depois, eu racionalizava e entendia o porquê eu não poderia falar quem eu
realmente era.

Jeff era um fantoche na mão da família dele, e o que a família dele falava
para ele fazer, ele fazia sem ter se quer a coragem de questionar, por mais
que não concordasse. Ele sabia da maldade deles, das coisas absurdas que
eles faziam e era omisso quanto a isso, e por vezes eu sofri por conta da
omissão dele, então isso me confortava e eu sabia que tinha tomado a
decisão certa.

Esse motivo me fazia crer que era inútil eu revelar quem eu era
verdadeiramente, porque se a família ordenasse algo, ele o faria por mais que
soubesse que eu não era uma completa estranha, pois ele deu a entender que
tinha algum tipo de afeição pela menina que conheceu na escola, que no caso
era eu. Não duvido que talvez ele estivesse casado com Elizabeth e os dois
estivessem felizes com o filho deles, por mais que Vivian tentou mencionar
algumas vezes que achava que eles não estavam juntos. Só de pensar em Jeff
com Elizabeth eu sentia muito ciúme, e ao mesmo tempo experimentava a
dor de saber que meu filho estava sendo privado do amor de pai.

Eu não achava justo o Oscar não ter tido acesso ao pai dele no decorrer
desses 5 anos, ele perguntava e eu dizia que o pai dele precisou viajar assim
que ele nasceu. Sei que era uma justificativa fraca, mas ele parecia ter
aceitado, até mesmo por ser muito pequeno ainda. Pois ele raramente me
perguntava a respeito do pai. Pensei por muitas vezes em contar ao Jeff que
ele tinha um filho, mas pensando friamente eu sempre desistia por conta da
família e do filho que ele tinha com Elizabeth. Por muitas vezes eu também
senti culpa, mas, eu fiz o que julguei ser melhor para meu filho. Eu estava no
meu quarto desfazendo minhas malas, e então recebi uma mensagem do meu
avô.

Mensagem ON

Stuart: — Estou te esperando para que possamos conversar.

Charlotte: — Ok.

Mensagem OFF
Respirei fundo, eu não estava pronta para ir vê-lo, mas não havia o que
fazer. Eu só iria terminar de desfazer minhas malas e iria conversar com ele.

— Char? Posso entrar? — Sam perguntou ao bater na porta.

— Claro, primo, entre. — Falei para ele me virando de frente para porta.

— O Oscar dormiu. Meu Deus, aquele menino tem uma energia que são
poucos os que conseguem acompanhar. A pobre da Janet parece estar até
mais magra desde a última vez que eu a vi. — Ele deu uma risada.

— Sim, ele é uma criança muito inteligente e tem energia o suficiente


para derrubar todos nós. Já falei várias vezes que iria contratar uma babá
para ele, mas toda vez que eu digo isso a Janet torce o nariz e diz que dá
conta. Como eu poderei ir contra ela, não é mesmo? — Eu ri ao terminar de
falar.

— É... Assim fica difícil, mas bom que ela tem amor de sobra e se ela
quer continuar a cuidar dele, melhor ainda, porque você confia plenamente
nela.

— Isso é verdade. — Concordei com meu primo.

— Mudando de assunto, que loucura aquela do aeroporto! Sabe o que


achei estranho?

— O quê? — Perguntei curiosa.

— Oscar se referiu ao Jeff com uma raiva tão grande que aparentava até
que ele o conhecia antes daquele episódio, e até mesmo sabia o que ele já
havia feito algo de ruim para você. — Sam falava ainda chocado pela
situação que havia ocorrido no aeroporto.

— Nem me fale, achei esquisito, mas o Oscar é muito intenso em seus


sentimentos. E foi um verdadeiro azar Jeff estar ali bem na hora que
chegamos. A propósito, você sabe o que Jeff estava fazendo no aeroporto?
Vivian falou algo? Sei que combinamos nesses cinco anos que eu não queria
saber nada a respeito dele, nem mesmo o que ele fazia, ou se continuou a me
procurar. Mas já que estou aqui... Queria saber o que ele fazia lá. — Falei
passando minhas mãos uma na outra demonstrando a ansiedade que eu
estava sentindo.

— Bom, pelo que Vivian comentou, ele tinha uma reunião com
investidores em Seattle, coisa rápida. Por isso ele optou por viajar de avião
comercial, porque parece que o jato ia demorar, pois, estava em
manutenção. — Sam me explicou.

— Ah sim, entendi... — Falei balançando a cabeça positivamente e


dando um sorriso fraco.

— Eu vou ter que ir, vovô marcou uma de suas festas. — Sam deu um
suspiro e passou a mão no rosto.

— Festa?

— É, não sei com qual objetivo, mas todos vão estar lá, inclusive a
família do seu marido. — Sam falou para mim.

— Ex. Família do meu ex-marido. — Reforcei ao falar com meu primo.

Eu não sei porque Sammy sempre insistia em falar que Jeff ainda era
meu marido, isso me irritava profundamente. Ele apenas olhou para o lado
desviando o seu olhar do meu e deu um sorriso amarelo. Eu me sentei na
cama, coloquei um braço na minha barriga, apoiei o cotovelo em cima dele e
fiz uma expressão de quem acabou de ter uma ideia.

— Hum... Eu conheço essa cara. O que você está planejando? — Sam


perguntou com desconfiança.

Eu dei um sorriso malicioso e o olhei com um olhar imponente.

— Meu avô disse que estava me esperando para conversar comigo, deve
ser por isso que ele tinha pressa. Por ter esse compromisso a noite. Mas, vou
surpreender a todos, aparecerei na festa. — Mantive meu sorriso.

Sam olhou para mim com surpresa erguendo suas duas sobrancelhas.

— Você tem certeza disso? Acha que é algo que fará bem para você?
— Estou mais certa que nunca, e me fará bem sim, eu quero encarar
todos aqueles que me fizeram tanto mal e mostrar a eles que eu não sou
aquela jovem moça inocente que aceitava tudo que todos faziam comigo. —
Falei para ele com rancor.

— Se você se sente preparada para isso, e acha que não vai te causar
danos, nada mais justo que você faça isso. Mas você sabe bem as cobras
peçonhentas que estarão lá, e eu temo que isso possa tirar sua paz. — Sam
me alertou.

Ele tinha muito medo que eu me ferisse novamente, durante esse tempo
que se passou, ele viu como foi difícil para que eu superasse todos os abusos
e humilhações que sofri, mas ele ficou muito feliz por ver que eu havia
renascido como uma fênix. Acho que esse foi o prazo justo que eu precisava,
nem mais, nem menos, e já que eu estava de volta e acreditava que havia
algum propósito nisso, nada melhor do que encarar meus inimigos de cabeça
erguida.

— Eu estou mais preparada que nunca, e estou pronta para enfrentar


qualquer coisa que possa aparecer. — Falei com bastante determinação.

Sam acenou a cabeça positivamente e deu um sorriso orgulhoso.

— Está certo, nós nos veremos lá. — Ele falou, veio até mim e me deu
um beijo na testa.

Fechei os olhos por um breve segundo ao receber o beijo fraterno do


meu primo-irmão.

— Tá bom, nós nos veremos lá. Não vejo a hora! — Dei um sorriso
largo.

Ele manteve o sorriso singelo que carregava em seus lábios e saiu do


meu quarto. Eu não vim preparada para participar de uma festa, mas, nada
me impedia de ir até a boutique mais próxima para comprar um vestido
adequado para essa ocasião. Seria meu vestido da vingança.

Terminei de desfazer minhas malas e aproveitei que Oscar estava


dormindo para ir até a boutique que havia na avenida onde eu morava. Era
tão próxima ao apartamento onde eu estava morando, que dava para ir
andando. Assim que cheguei lá, fui super bem atendida por uma vendedora e
ela me perguntou o que eu estava procurando, fui bem específica:

— Preciso de um vestido que faça com que eu tenha uma entrada


triunfal. — Dei um sorriso ao falar.

— Acho que eu tenho algo que ficará ótimo em você, além de valorizar
seu corpo ele permitirá que a beleza do seu rosto seja destacada também,
sendo assim não irá roubar toda a cena. — A vendedora me explicou
enquanto andávamos para um lugar mais exclusivo da loja.

Chegamos em frente ao manequim que usava um vestido espetacular. Ele


era preto, com mangas longas que começavam abaixo do ombro. O decote
era profundo, porém, havia um tule que unia uma parte a outra. Uma
generosa fenda se formava na perna, e ele era completamente coberto por
brilhos. Ao mesmo tempo que o vestido era sensual ele era elegante.
Definitivamente esse seria meu vestido!

Depois de escolhe-lo, paguei e a moça o colocou em um cabide com um


plástico por cima por ser uma peça bem delicada. Eu estava bem satisfeita
com minha compra, peguei ele e voltei para meu apartamento. Assim que
cheguei, meu filho estava acordado e brincava com Janet, assim que me viu
ele veio até mim, correndo com toda sua energia. Ergui o vestido pra cima e
o abracei.

— O que é isso mamãe? — Oscar me perguntou apontando para o


vestido.

— É um vestido de festa, meu filho.

— Nós vamos para uma festa? — Ele perguntou animado.

— A mamãe vai sozinha, é uma festa chata de gente adulta. — Falei para
ele fazendo uma expressão de tédio.

— Que bom que eu não vou, vou ficar com a tia Janet assistindo o
relâmpago McQueen.
— Nossa, a mamãe queria muito assistir! — Falei para ele não sentir
como se ele fosse ficar fazendo algo ruim.

— Depois você assiste mamãe, você tem que ir pra festa chata. — Ele
deu uma risada gostosa ao falar.

— Rum! Engraçadinho! — Eu ri ao falar para ele. — Bom, preciso me


arrumar.

— Tá bom, pode ir tranquila, Charlotte. Eu e esse rapazinho vamos ficar


aqui. — Janet sorriu gentilmente.

Fui para meu quarto e tomei um bom banho relaxante na banheira,


depois, eu peguei meu celular e pedi para um cabeleireiro que Vivian havia
me indicado vir arrumar meu cabelo e fazer minha maquiagem. Não
demorou muito, ele chegou aqui, ofereci uma quantia generosa de dinheiro
para ele por estar em cima da hora.

Ele fez um coque em mim, eu optei por um coque mais cheio envolto por
uma trança, com um leve topete na parte da franja. Deu um ar de elegância a
mais. Na maquiagem ele ousou no batom, escolhendo a cor vermelha e
deixou meus olhos bem marcados com sombra preta e marrom. Eu me olhei
no espelho e amei o que vi. Assim que o cabeleireiro saiu, coloquei meu
vestido e calcei meu louboutin na cor preta para combinar com o vestido.

Escolhi dois pequenos brincos delicados apenas como ponto de luz, e


uma bolsa prata pequena. Eu estava pronta. Nesses cinco anos eu não havia
mudado muito, mas a autoconfiança que eu ganhei tinha me feito ser uma
mulher diferente, e isso era notável. Saí do meu quarto, me despedi de Janet
e Oscar, ambos me elogiaram tanto que eu me senti mais confiante ainda.

Chamei um táxi e fui até a casa do meu avô onde ele estava dando a festa
dele. Ao chegar, toquei a campainha e a empregada abriu a porta para mim,
andei lentamente até a sala de convivência onde todos estavam reunidos. E
assim que parei na entrada, todos os olhares se voltaram para mim.
Imediatamente ouvi uns burburinhos.

— Essa é a Charlotte? Aquela garota sem sal? Como ela se tornou esse
mulherão? — Eles cochichavam.
Eu dei um sorriso imponente e falei alto.

— É um prazer rever todos vocês. — Eu disse em tom irônico.

Cora, Elizabeth, e até mesmo o Brandon estavam presentes na festa e me


olharam boquiabertos. Era óbvio que eles não me esperavam lá. Meu avô ao
me ver, apertou seus lábios um contra o outro e demonstrou insatisfação por
eu ter aparecido sem ser convidada na festa dele. Ele se aproximou e disse:

— Eu esperava você aqui mais cedo para conversarmos. — Stuart disse


em um tom ranzinza.

Peguei uma taça de champanhe e disse com bastante cinismo.

— Queria fazer uma surpresa, querido avô. — Forcei um sorriso para ele
e o olhei com arrogância. Em seguida saí de perto dele e fui até Sam.

Eu cumprimentava as pessoas no decorrer do caminho, mas, pude


perceber que os olhos do meu avô me seguiam onde eu estivesse, não
somente ele, mas Cora e Elizabeth também não deixavam de me olhar
demonstrando grande insatisfação por eu estar ali. Fiquei perto de Sam e
Vivian, conversando um pouco. Então, no meio de todo mundo meu avô se
aproximou impacientemente e tinha um papel em suas mãos, ele disse sem
se importar com quem estava perto:

— Preciso que você assine esse papel de transferência de ações para


mim. — Ele dizia bastante agitado.

Elizabeth e Brandon acompanhavam atentamente a cena, e Brandon


parecia estar ansioso ao ver aquilo. Acho que ele temia ter que me tirar
daquela situação como fez há alguns anos. Eu ergui uma de minhas
sobrancelhas e peguei o papel. Será que ele queria meus 6% da empresa? Ao
ver o papel eu vi que havia mais 45% de ações em meu nome e não entendi
aquilo. Então, eu disse no mesmo tom que ele para mostrar que eu não o
temia mais.

— Enquanto você não me der uma explicação razoável a respeito do que


se trata, eu não vou assinar absolutamente nada! — Assim que terminei de
falar amassei o papel e joguei nele.
Isso chocou todos que estavam em volta e meu avô ficou vermelho de
raiva.

— Se você não assinar eu juro que eu... — Ele começou me ameaçar,


mas logo eu o interrompi.

Eu não era a menina fraca que ele estava acostumado a lidar. Eu havia
me tornado uma mulher forte e determinada. Iria mostrar para ele nesse
instante a mulher que eu me tornei.

— Você o quê, Stuart? Vai dizer que irá depredar o túmulo dos meus
pais, caso eu não assine esse contrato, como fez há cinco anos para me forçar
a casar com Jeff Staton? Ou vai me deixar passar fome e sede como também
fez? — Eu falei alto para que todos ouvissem o que ele havia feito comigo.

Assim que falei isso vi que Jeff entrou no ambiente e parecia chocado ao
escutar o que eu disse, e mais chocado ainda por me ver ali parada na frente
dele. Ele não conseguia tirar os olhos de mim, nós dois ficamos nos
encarando por um tempo, mas eu mantive minha postura. Ele estava lindo,
havia deixado a barba crescer, o que trouxe maior maturidade para seu
semblante além de deixa-lo extremamente charmoso. Os anos fizeram muito
bem para ele, pois ele estava irresistível.
Ardilosa
Narração - Charlotte Staton

Jeff pareceu ficar sem reação enquanto me via. Apesar do que eu falei
para meu avô ser um assunto bem sério, ele deixou um sorriso escapar em
seus lábios. Ele me olhava dos pés à cabeça por repetidas vezes, depois, ele
se aproximou de mim e disse:

— Charlotte, eu não acredito que você está aqui. Você não mudou nada,
está exatamente como há cinco anos! Na verdade, você está mais linda, e
parece bem mais confiante.

Por um momento eu quase esbocei um sorriso diante do que ele havia


dito para mim, porém, eu estava no meio de algo importante com meu avô e
não poderia me deixar levar pelas palavras de Jeff. Ainda mais depois de
tudo que ele me fez.

— Eu estou no meio de algo aqui se você não percebeu, e acho melhor


você se unir com os seus. Não sei se você percebeu, mas, Elizabeth está logo
ali. — Apontei para ela com meu dedo e em seguida voltei a olhar para meu
avô.
Meu avô continuou a me encarar com muita raiva por eu ter exposto ele
na frente de todos, mas eu mantive minha postura. Jeff permaneceu ao meu
lado mesmo eu dizendo para que ele fosse para perto da sua verdadeira
família, já que nós não éramos mais casados.

— Quem você pensa que é para falar desse jeito comigo sua garota
atrevida? — Meu avô falou com raiva.

— Para começar, eu não sou mais uma garota. Eu sou uma mulher, que
graças a Deus nunca precisou de você, na verdade sempre foi o contrário,
mas você me fez achar que eu precisava de você através das suas
manipulações.

— Quanta petulância! É claro que você precisava de mim, garota! — Ele


estava visivelmente agitado e nervoso por conta do que eu estava falando.

— Certo. Então não vai ser um problema eu expor todo o seu plano
nojento diante de todos que estão aqui nesse momento para que eles julguem
quem precisava mais do outro, ou vai? — Eu o encarava com muita fúria por
ele ainda estar tentando me manipular.

— Que plano? — Jeff perguntou arqueando suas sobrancelhas.

— Ah, vai me dizer que você não sabe? — Falei de maneira cínica ao
olhar para Jeff por um breve momento e ele parecia não entender o que eu
falava.

— Você não ousaria! — Meu avô estremeceu ao falar.

— Ah não? Já que você está pagando para ver, vamos lá. Há 5 anos meu
avô me trancafiou em um quarto durante dias sem comer, e sem beber, para
me forçar a casar com você, Jeff. — O olhei novamente já que havia
desviado meu olhar. Ele parecia espantado ao me ouvir, então continuei a
falar:

— Eu estava desnutrida e desidratada, sendo assim, Sam interviu na


situação e me deu medicamento juntamente com soro em minha veia para
que eu não morresse. Porém, mesmo quase morrendo eu ainda me recusava a
casar com um homem que eu não conhecia a troco de dinheiro para salvar a
família Hills. Então, meu querido avô teve a brilhante ideia de dizer que iria
depredar o túmulo dos meus pais. Ele sabia muito bem como esse assunto
me deixava fragilizada, e isso eu jamais poderia permitir. Então, aceitei me
casar através de um contrato, porém, meu primo Sam para me ajudar e
proteger como sempre, fez uma sessão de hipnose para que eu esquecesse
aquele evento traumático, e também para que eu aceitasse o contrato sem se
quer ler ele novamente para não ter ideia das cláusulas absurdas que
continham nele, cláusulas essas que foram impostas pelo meu próprio
avô. — Eu disse com raiva.

Jeff parecia chocado com tudo que eu havia acabado de falar, porém,
Cora mantinha seu semblante inexpressivo, como se o que eu estava falando
não fosse novidade nenhuma para ela.

— Isso é verdade, Stuart? — Jeff o questionou com a voz alterada.

Meu avô apenas olhou para Jeff e suspirou, não respondeu à pergunta
dele, mas deu a entender que era verdade deixando Jeff completamente em
choque diante daquela informação. Talvez agora meu ex-marido finalmente
acreditaria em tudo que eu tanto falava para ele enquanto estávamos casados.
Acreditaria em todo meu sofrimento, e coisas que fui submetida mesmo não
querendo. Como eu já havia exposto meu avô para todos, ele perdeu
qualquer pudor que pudesse ter e disse:

— Hoje eu não posso mais tranca-la em um quarto e deixa-la sem comer,


e sem beber, para que você assine o contrato de transferência de ações,
porém, eu ainda posso depredar o túmulo dos seus pais, e foi exatamente
isso que fez você ceder anteriormente, ou seja sua menina tola, novamente
eu te tenho em minhas mãos. — Ele falou com um sorriso vitorioso.

Eu dei uma breve risada e isso deixou não somente meu vô, mas todos os
que estavam presentes confusos com minha atitude.

— É aí que você se engana, Stuart. Eu consegui um documento onde eu


assinei um contrato de transferência de terras, declarando que eu sou a única
detentora do cemitério da família Hills. Então, caso o senhor queira ser
enterrado lá, já que está bem doente e seu fim está próximo, precisará da
minha assinatura para conseguir isso. Do contrário irá para o cemitério
municipal. — Eu dei um sorriso mais largo ainda ao terminar de falar porque
meu vô estava abismado com o que eu havia acabado de revelar.

— O quê? Isso é mentira! Você só pode estar blefando. — Ele falou


praticamente em um balbucio de palavras por conta do nervosismo que
estava sentindo.

— Não, para seu azar não estou. E carrego sempre uma prova desse
documento em meu telefone, afinal, eu sabia que um dia você poderia tentar
me ameaçar com isso novamente. — Tirei meu celular da bolsa, procurei
pelo arquivo e mostrei para ele.

Ele apertou seus olhos para ler o que o arquivo dizia e concluiu que eu
não estava mentindo sobre o que havia acabado de dizer para ele.

— Eu não acredito que você fez isso! Como teve coragem!? — Ele
estava cada vez mais nervoso, então, Cora veio para perto dele para ampara-
lo.

Por conta de tudo que meu avô fez comigo, e por tudo que ele me fez
passar mesmo que de forma indireta, eu não conseguia sentir o mínimo de
empatia por ele.

— Eu tive a mesma coragem que você teve de sujeitar sua própria neta a
passar por várias atrocidades. Depois que eu descobri o que você fez antes
de passar pela hipnose, que me ameaçou com o túmulo dos meus pais, eu
procurei incansavelmente um jeito de conseguir me tornar proprietária do
cemitério da família. Claro que eu tentei todos os meios legais para isso, mas
não consegui, até que há alguns meses tentei fazer do meu jeito e usei minha
inteligência, a qual você nunca deu credibilidade, a meu favor.

— Como você conseguiu isso!? Fale de uma vez por todas! — Ele
insistia.

— Um gênio nunca conta seus segredos. Você já sabe o bastante, sabe


que não poderá usar o túmulo dos meus pais para me atingir, muito menos
poderá ter o direito de ser enterrado no cemitério da família Hills. — Eu
falei de maneira arrogante e olhei para meu tio Jacob que estava encostado
na parede. Ele estava vermelho, e totalmente envergonhado.
Dei um sorriso imponente para ele, e então ele desviou o olhar e saiu do
ambiente.

A verdade era que meu tio Jacob tinha sérios problemas com vícios. Ele
gastava todo o dinheiro da família com mulheres, festas, bebidas, e mais. Era
um verdadeiro moleque que nunca adquiriu responsabilidades verdadeiras,
sempre dando trabalho para meu avô. Sendo assim, ele ficou completamente
arruinado, e eu como hacker, nunca deixei de vigiar os passos dos meus
parentes nesses 5 anos, procurando uma brecha para conseguir o terreno do
cemitério da família para que meu avô nunca mais pudesse usar ele contra
mim.

Sendo assim, eu entrei em contato com ele através da minha nova


empresa e ofereci ajuda para quitar todas as dívidas dele, e assim eu o fiz,
mas, em troca eu solicitei o documento da posse das terras do cemitério. Ele
achou algo praticamente sem valor a ser exigido, e não viu problemas em dar
aquilo em troca da quitação de suas dívidas, afinal ele achou que o suposto
dono da empresa nunca iria reivindicar as terras, porém, ele não contava que
“o dono” seria eu.

A Times Technologies, minha nova empresa, era uma empresa também


especialista em biotecnologia principalmente na área militar, era meu sonho
ter uma empresa somente minha e nesses 5 anos consegui criar uma e
desenvolver diversos projetos para ela, e todos eles estavam me dando um
lucro imenso. Porém, eu mantinha minha identidade oculta, não queria que
ninguém soubesse que eu era dona, além de Sam, Vivian e Janet que eram
meus confidentes.

O único, além deles, que soube da verdade depois do que revelei nesse
momento era o tio Jacob, mas ele jamais iria revelar para ninguém e expor
que ele perdeu as terras do cemitério da família para mim porque era um
descontrolado com apostas. Por esse motivo ele preferiu sair do ambiente.

Diante da derrota, meu avô colocou a mão no peito e começou a ofegar.


Eu olhei a cena um pouco assustada, pensei que antes ele pudesse estar
fingindo, mas depois percebi que ele estava passando mal de verdade. E por
mais que eu soubesse como ele era ruim comigo, eu não era nenhum
monstro, fiquei olhando a cena com os olhos arregalados.
— Está vendo!? Olha só o que você está fazendo com o seu avô, foi para
isso que você voltou? — Cora falou enquanto abanava meu avô.

Meu avô me olhou com fúria, e mesmo passando mal, ele uniu o pouco
de forças que ele ainda tinha para apontar o dedo da mão, que não estava em
seu peito, para mim e disse:

— Isso... Não vai... Ficar assim... — Ele falou com a voz falhada e ainda
ofegante, e por fim, desmaiou.

Aquilo me assustou bastante. Eu me inclinei para olhar se ele realmente


não estava fingindo pois eu poderia esperar de tudo vindo dele. Nessa hora
meu tio Jacob, que havia saído, voltou desesperado e ao ver o pai dele
naquela situação me olhou com raiva, e veio em minha direção para me
agredir fisicamente.

— Sua vagabunda, olha só o que você fez com meu pai! Você devia ter
assinado o que ele mandou, a saúde dele está frágil e ele não suporta
emoções assim! — Ele falava entre os dentes devido a raiva que estava
sentindo de mim. Ele cerrou seus punhos e chegou a pegar impulso para me
bater.

Meu reflexo foi colocar as mãos na frente do meu rosto, virar para o
lado, e me abaixar um pouco. Porém, ouvi uma voz forte dizer:

— Não se atreva a encostar um dedo na minha esposa! Eu não permitirei


que ninguém faça mal a ela, principalmente enquanto eu estiver presente! E
esteja certo que farei qualquer coisa para impedir isso.

Ao afastar minhas mãos e voltar a ficar de pé corretamente pude ver Jeff


na minha frente segurando a mão do meu tio, a forçando para baixo. Ele era
forte, e fez meu tio gemer de dor, até que soltou sua mão e ele se afastou
cabisbaixo e constrangido por ter sido derrotado por Jeff. Eu fiquei surpresa
com a atitude de Jeff, e mais ainda por ele ter dito que eu era sua esposa.

Ele se virou para mim com o olhar preocupado e colocou as mãos em


meus dois braços.

— Você está bem?


Por alguns segundos me calei e fiquei olhando nos olhos dele, a boca
dele estava entreaberta, definitivamente ele estava mais bonito e maduro.
Não só fisicamente, mas também, pelas atitudes dele pois ele demonstrou
que aquele moleque influenciável havia se tornado um homem de opinião.
Porém, eu já havia feito tantos pré-julgamentos positivos a respeito do Jeff, e
me frustrado posteriormente que não iria me antecipar para não me iludir e
depois sofrer novamente.
Irredutível
Narração - Charlotte Staton

Por não esperar ver Jeff na festa, e ainda mais vendo ele tomar aquela
atitude para me defender, meu coração estava muito disparado. Fiquei
olhando para ele por mais algum tempo enquanto ele segurava meus braços,
e então me afastei fazendo com que ele tirasse as mãos de mim, eu precisava
voltar a mim mesma, e com o toque do Jeff no meu corpo isso era
praticamente impossível. Depois de voltar ao meu estado normal, o respondi:

— Estou bem, obrigada. Não precisava que você me defendesse eu não


sou uma donzela em apuros, e sei me virar muito bem. Nesses cinco anos
que se passaram eu não precisei nem um dia se quer da sua ajuda. — Falei
para ele em um tom arrogante.

Eu não queria que Jeff soubesse que eu ainda sentia algo por ele de
forma alguma. Era horrível ter que lidar com esses sentimentos que
teimavam em existir dentro do meu coração, mais difícil ainda seria ter que
lidar com Jeff tendo a certeza do meu amor por ele, e por conta disso querer
me humilhar.
— O seu tio ia bater em você, eu não poderia permitir que ele fizesse
isso. E mesmo que você não queira, eu vou te defender de tudo e todos que
queiram te fazer mal — Ele falou com bastante firmeza.

Eu acho que Jeff realmente estava falando sério, eu só não entendia


porque ele estava agindo dessa maneira.

— Acho que você está alguns anos atrasado para fazer isso, não acha? —
Dei uma risada com bastante deboche.

Ao ouvir o que eu disse e o desdém que eu estava tendo ao falar com ele,
ele pareceu desapontado. Era estranho ver ele com a guarda tão baixa diante
de mim, sem aquela postura arrogante e soberba que ele tinha antigamente,
que fazia com que eu me sentisse a pior pessoa do mundo. E no aeroporto,
quando eu o vi eu pensei que ele não havia mudado, porque até mesmo a
forma dele se movimentar com aquela pequena mala pelo saguão
transparecia que ele se achava melhor que qualquer um que pudesse se estar
ali.

Ele mantinha sua cabeça levemente inclinada para baixo, então, eu disse
cheia de cinismo:

— Cadê aquele velho Jeff todo arrogante e pomposo de antigamente?


Não acho que você tenha mudado realmente, acredito que está apenas
fazendo um teatro porque quando o vi no aeroporto você mantinha o mesmo
ar de superioridade de anos atrás. — Assim que terminei de falar ele olhou
para mim surpreso.

E só então eu percebi a besteira que eu tinha falado, entregando que eu o


vi no aeroporto, mas por sorte não falei nada em relação ao Oscar. Eu
precisava melhorar minhas ironias, usa-las apenas para maltratar o Jeff e não
me entregar.

— Você me viu no aeroporto? — Ele perguntou com um sorriso nos


lábios.

Cruzei os braços e olhei para o lado deixando o ar sair pela boca ao me


dar por vencida depois do que falei.
— Vi sim... — Respondi a contragosto.

— E por que você não veio falar comigo? Estava tentando me evitar?
Acho que temos muitas coisas para esclarecer, tais como: O porquê você me
abandonou, o porquê você me pediu o divórcio... Nós somos marido e
mulher, você não pode simplesmente decidir as coisas e ir embora da
maneira que foi! — Ele falou, mas não parecia bravo.

Pelo contrário, Jeff parecia tão animado por me ver que não estava
importando nem ao menos com a maneira rude que eu estava o tratando.
Mas eu não me conformava dele ficar sustentando essas mentiras querendo
dizer que eu quem pedi o divórcio sendo que foi a mãe dele quem me
entregou, e com certeza a mando dele. Além disso ele ainda sustentava a
ideia que nós éramos casados, então, eu disse:

— Deixe de ser cínico e pare de mentir a respeito do nosso


relacionamento. Nós dois sabemos que somos divorciados. — Assim que
terminei de falar eu tentei sair de perto dele, e então ele me segurou pelo
braço e disse:

— Você está sendo injusta! Nesses anos que se passaram eu não medi
esforços para procura-la. Mas todos foram em vão. E eu não estou mentindo,
nós somos sim casados! — Quando ele falou isso, ele conseguiu chamar
minha atenção.

∞∞∞
Narração - Jeff Staton

Eu estava tentando insistir com Charlotte, mas ela agia como se me


odiasse. Durante esses cinco anos eu não deixei de procura-la um dia se
quer. Mas a cada momento que parecia que eu estava próximo dela, os
rastros dela simplesmente sumiam, e eu não poderia imaginar o contrário já
que ela era uma hacker incrível, e com certeza não tinha interesse que eu a
encontrasse.

Eu senti falta dela dia após dia, e ficava cada vez mais irritado com as
investidas que Elizabeth dava para que nós pudéssemos reatar nosso
relacionamento, e o pior é que minha mãe dava apoio a ela para que ela
continuasse a fazer isso, e esse apoio afetou bastante meu relacionamento
com minha própria mãe. Durante os anos que se passaram, Levi abriu um
pouco meus olhos em relação as coisas que minha mãe costumava fazer para
me manipular, e por muitas vezes passaram despercebidas por mim.

Deduzi que ela poderia ser uma das responsáveis que motivou Charlotte
a ir embora, e isso me afastou mais ainda dela. Eu tinha percebido que
Charlotte era meu grande amor, e eu não iria medir esforços para conquista-
la, mesmo que isso custasse meu orgulho e meu ego. Enquanto eu e
Charlotte conversávamos, a ambulância que pediram para socorrer Stuart
havia chegado, e o avô dela saiu na maca, para ser hospitalizado. Diante
disso eu vi uma grande oportunidade, mas para executa-la eu precisava fazer
longe da Charlotte, porque eu precisaria fazer uma ligação para o advogado
do avô dela, e infelizmente somente agora eu tinha conseguido chamar a
atenção dela. Sendo assim, eu não poderia perder a chance de continuar a
falar com ela. Eu iria explicar para ela um pouco sobre o que eu fiz sobre as
ações afim de chamar a atenção dela para que ela voltasse, e depois, iria ligar
para o advogado do Stuart.

— Aquele documento que o seu avô te entregou, querendo que você


assinasse, era um acordo onde deixava claro que você ainda era acionista da
empresa, mesmo você tendo partido. Eu transferi mais 45% das ações para
você pois eu quis que você voltasse para a empresa de forma ativa, e não
somente por ser minha esposa. Além disso, eu queria te atrair, pois eu sabia
que seu avô daria um jeito de encontrá-la para fazer você assinar a
transferência para ele, e Sam sabia onde você estava, porém, ele jamais
falaria para mim, mas com certeza cederia a pressão do seu avô. — Dei um
sorriso fraco e continuei a explicar:

— Eu não queria que você tivesse somente a coparticipação nos lucros


como você tinha por causa dos 6% de ações que o projeto lhe rendeu, aliás,
sobre o projeto... Stuart nem sabe que foi você quem o criou, sendo assim,
ele acha que o gênio que criou o projeto é somente um acionista minoritário
que participa dos lucros. Eu subornei o advogado dele para que o
convencesse a assinar a transferência dos 45% para você, sustentando a ideia
de ser uma decisão prudente a ser tomada porque ele poderia força-la a
assinar para transferir essas ações para ele, ou seja, seu avô achou que eu
estava sendo ingênuo. Eu precisava da assinatura do Stuart porque quando
ele preparou o contrato do nosso casamento, lá era exigido que tudo em
relação a você e a empresa deveria passar pela autorização dele antes. —
Expliquei a ela.

Eu tinha feito isso para, além de tentar atraí-la para voltar, jurei para mim
mesmo que a ajudaria a se vingar por todo mal que o avô lhe causou, e eu
nem sabia da história toda até hoje. Charlotte me olhou surpresa após ouvir
tudo que eu falei para ela.

— Eu não consigo acreditar que você fez tudo isso para me atrair de
volta. — Minha esposa falou de maneira desconfiada, mas, aparentou estar
prestes a ceder e me ouvir mais.

Pelo visto todos meus esforços para tentar convencê-la que tudo que eu
estava fazendo era para o próprio bem dela, eram inúteis. Ela não via que eu
desejava que ela percebesse que meus sentimentos eram verdadeiros. Eu
tinha mais coisas para falar para ela, mas, infelizmente nossa conversa foi
interrompida por Elizabeth, ela se aproximou de mim querendo pegar no
meu braço e disse:

— Jeff, querido, venha comigo. — Eu puxei meu braço quase que


imediatamente quando ela me tocou, e disse de forma ríspida.
— Eu já falei para você parar de dar essas investidas na esperança de ter
algo comigo dessa maneira insistente, já faz anos e você não para. Eu estou
de saco cheio dessas suas atitudes, Elizabeth! Agora tenho a chance de
conquistar Charlotte novamente, e não deixarei você nem ninguém tirar isso
de mim. — Assim que falei me virei para voltar a falar com Charlotte.

Porém, ela já tinha se afastado e me olhava com o semblante sério, até


que minha mãe se aproximou e começou a conversar com ela. Arfei com
raiva por Elizabeth ter me tirado a oportunidade conversar com Charlotte,
principalmente por parecer que agora ela iria me dar chances para me
explicar. Fuzilei ela com meu olhar antes de sair de perto dela. Ao me
afastar, aproveitei para sair para o ambiente externo e ligar para o advogado
de Stuart, para combinar com ele a ideia que eu tive, afinal essa ideia
precisava ser executada agora que ele estava fragilizado e por esse motivo
mais vulnerável.

Depois que eu fizesse a ligação eu retornaria para tentar continuar


falando com Charlotte.

∞∞∞

Narração - Charlotte Staton

Pelo que Jeff falou, ele havia feito muitas coisas por mim, e também para
conseguir chamar minha atenção na intenção que eu voltasse, e por mais que
eu estava desconfiada que ele fez tudo isso somente para ter eu de volta, sem
ter nenhum interesse próprio, eu estava disposta a ouvi-lo mais, porém,
Elizabeth chegou e o puxou pelo braço, e como se isso não bastasse o
chamou de querido. Isso claramente demonstrava a intimidade que existia
entre os dois. Eu não esperei para ver o desenrolar da história e optei por sair
de perto.

Para minha decepção, Cora, a mãe de Jeff, me parou para conversar


comigo. Revirei meus olhos e respirei fundo, ela fingiu ter um sorriso
amigável em seu rosto porque ao que parecia Jeff estava olhando para nós
duas.

— Não se iluda, querida Charlotte. Jeff a defendeu apenas para ajudá-la,


sem segundas intenções envolvidas. Pois como você mesma pode perceber,
ele e Elizabeth estão muito bem. — Ela falou em um tom arrogante.

— Ah, querida, Cora. Eu, em momento algum, pensei o contrário do seu


filhinho fantoche, fique tranquila. — Falei com bastante sarcasmo.

— Que ótimo então, e só mais um aviso... Fique longe do Jeff! — Ela


disse praticamente ordenando.

Eu não tinha intenção nenhuma de ficar próxima ao Jeff, porém, me


irritou profundamente Cora falar daquela maneira achando que poderia
mandar em mim, achando que eu iria aceitar todo desaforo que viesse dela
como antes.

— Ah é? E se eu não ficar? O que vai acontecer? — Falei com um


sorriso provocativo em meu rosto.

Cora ficou com raiva e apertou seus lábios um contra o outro. Porém
quando ela ia falar algo, Jeff novamente apareceu, e ela teve que fingir que
estava tendo uma conversa tranquila comigo. Logo atrás de Jeff, parecendo
um cachorrinho perdido, estava Elizabeth. Acho que ela estava morrendo de
medo que eu tomasse o Jeff dela, e eu iria me divertir com isso. Por mais que
essa não fosse minha intenção eu iria agir como se fosse, puramente para
irritar ela e Cora, duas pessoas que tanto me fizeram mal.
Planos falhos
Narração - Elizabeth McBride

Eu estava irada com o fato de que Jeff estava me ignorando


completamente. Não sei porque essa droga dessa mulher tinha que voltar
justo agora. Eu não estava fazendo avanços com Jeff, isso era fato, porque
nesses cinco anos que a Charlotte estava longe ele parecia ter se tornado
obcecado por ela e queria encontra-la a todo e qualquer custo. Cora estava
me ajudando bastante a investir em Jeff, mas era totalmente sem sucesso
todas nossas tentativas para que ele me desse uma chance.

Percebi até mesmo que Jeff estava afastado da mãe dele por conta da
insistência dela para que ele ficasse comigo. Então, nós sempre estávamos
juntas e bolando alguns planos para que nós conseguíssemos fazer com que
ele tivesse a atenção voltada para mim. Em todas as festas de família eu
estava, arrumava pretextos para ir até a empresa dele para vê-lo, mas como
sempre, era ignorada. Porém, eu não perdia a vontade de ter ele de volta, e
nem que eu o vencesse pelo cansaço ele seria meu.

Ao ver que a Charlotte veio para a festa do avô dela eu fiquei irada,
fiquei mais nervosa ainda quando Jeff chegou e pareceu ter virado um
verdadeiro cachorro atrás dela. Na mesma hora que a viu, Cora falou para
mim:

— Você precisa atrapalhar esses dois, eles não podem ficar juntos, o Jeff
chegará em breve, ele precisa estar distraído e não ficar concentrado nessa
mulher. — Brandon estava perto e ouviu a orientação que Cora havia me
dado.

Ele começou a rir e eu olhei para ele o censurando.

— Algum problema, Brandon?

— Não, nenhum, quem tá com problema é você. Quero até assistir como
você vai fazer Jeff não ficar focado nesse espetáculo de mulher que a
Charlotte se tornou. — Ele deu mais uma risada maldosa e saiu de perto.

Fiquei com raiva por ele se referir a aquela sem sal daquela forma. Após
a confusão toda com o avô da Charlotte, Cora e eu ficamos para auxiliar até
que Stuart fosse removido pelos paramédicos para ir para o hospital, e um
pouco antes disso, Jeff já havia chegado e até defendeu a Charlotte ao achar
que ela seria agredida pelo tio. Stuart e Cora se tornaram amigos bem
íntimos porque eles tinham o interesse em comum de que Charlotte jamais
levasse vantagem. Assim que ele saiu para o hospital, Jeff estava
conversando com Charlotte. Cora olhou aquilo e ficou até vermelha de raiva,
então me orientou:

— Vá lá, interrompa a conversa dos dois que parece estar muito


amistosa. Depois disso com certeza a orgulhosa da Charlotte sairá de perto
dele, e eu irei falar com ela para que ela fique longe do Jeff. — Assenti com
a cabeça e agi da maneira que Cora me orientou.

Assim que cheguei, Charlotte se afastou, porém, eu levei uma bronca do


Jeff. Depois, ele saiu de perto para fazer uma ligação, mas assim que voltou
já foi para perto da Charlotte novamente. Eu prontamente fui atrás dele,
assim que cheguei eu quis ficar bem próxima a ele, e então ele se distanciou
de mim se aproximando da Charlotte. Aquilo fez com que eu sentisse ciúme
e ficasse ressentida por ele preferir ela e não eu.
Mas eu não poderia me dar por vencida então comecei a forçar uma
conversa com a Charlotte fingindo ser amigável.

— Nossa que lamentável o que aconteceu com Stuart! — Assim que


falei vi que Charlotte ficou incomodada.

Cora ao perceber que ela havia ficado incomodada com a situação


aproveitou para falar:

— Realmente, o coitadinho não consegue suportar fortes emoções,


tomara que não aconteça nada de grave com ele...

— Com certeza, até mesmo porque acho que Charlotte ficaria com
remorso, não é mesmo? Afinal foi você quem disse para ele que ele não
poderia ser enterrado no cemitério da família. — Olhei para ela e depois para
Jeff ao terminar de falar. Eu queria lembrar ele, que ele deveria ficar longe
da Charlotte, pois, se ela era capaz de conspirar contra o próprio avô era
capaz de fazer qualquer coisa.

— Eu não concordo, Stuart está com a saúde frágil, então qualquer coisa
pode ser motivo para deixa-lo assim. Charlotte não deveria se sentir culpada
se algo acontecesse. — Ele sorriu para Charlotte que também deu um sorriso
para ele.

Aquilo me deixou irada, e pelo visto Cora também ficou muito nervosa
também pois virou o restante de sua bebida em um gole só. Antes que eu
pudesse falar alguma coisa, Wilson, o dono da M&W Technology apareceu,
até deixei meu corpo mais ereto para aparecer para ele porque ele era um dos
homens mais importantes do país. Ele cumprimentou todos de maneira
cordial, entretanto, ele parecia ter bastante intimidade com Charlotte e aquilo
pareceu ter perturbado Jeff.

— Bom, acho que eu já vou indo, amanhã tenho um dia cheio com várias
coisas para serem resolvidas. Muito obrigada pela recepção incrível, como
sempre. — Charlotte falou com bastante cinismo para mim e para Cora.

E assim que a ouvimos, nós forçamos um sorriso para ela.


— Eu vou acompanha-la, só dei uma passada rápida aqui pois Stuart
havia me convidado. Que triste o que houve com ele. — Wilson falou e deu
seu braço para Charlotte se apoiar nele e os dois saíram.

Jeff pareceu ter ficado furioso com aquela situação, mas, felizmente
aquela mulher havia ido embora e eu estava pronta para consola-lo.

— Bom, acho que nós poderíamos ir juntos também... — Eu sorri para


Jeff e Cora sorriu demonstrando aprovar o que eu falei.

— Por favor, Elizabeth, se enxerga. — Ele falou rispidamente. — Vou


atrás da Charlotte, com licença.

— Filho... — Cora falou, mas ele a ignorou totalmente bem como havia
feito comigo.

Que raiva! Mesmo essa mulher saindo com outro ele ainda a queria.
Depois de um tempo ele ainda não havia voltado e então eu decidi que iria
atrás dele.

— Vou atrás de Jeff, se ele tiver alcançado Charlotte vou interromper os


dois novamente.

— Faça isso, já devia ter feito! — Cora falou nervosa.

Eu apenas revirei os olhos, e balancei a cabeça negativamente. Eu


achava Cora insuportável, só tolerava ela porque tínhamos um interesse em
comum, mas assim que eu conseguisse ficar com Jeff eu a colocaria no lugar
dela. Caminhei em passos largos refazendo o caminho que Jeff fez na
intenção de encontra-lo.

∞∞∞
Narração - Charlotte Staton

Elizabeth começou a conversar comigo fingindo ser amigável, mas a


verdade é que ela e Cora queriam fazer com que eu me sentisse mal pelo o
que aconteceu com meu avô. E eu estava começando a me sentir assim, até
que Jeff interviu. Eu sorri para ele agradecendo a defesa, e pensei de maneira
mais racional. Claro que eu não queria que nada acontecesse com Stuart, e
pelo que vi ele saiu acordado daqui, por isso acho que ele não havia sofrido
algo mais grave, mas caso acontecesse, a culpa não seria minha.

Repentinamente Wilson apareceu e demonstrou ter ficado muito feliz por


ter me reencontrado. Eu inventei uma desculpa para ir embora, e ele se
ofereceu para me acompanhar, e enquanto nós andávamos em direção a
saída, Wilson reclamou:
— Se eu soubesse que seu projeto seria tão lucrativo da maneira que está
sendo, eu teria aceitado ceder 6% da empresa para você. Está de parabéns,
fez um trabalho incrível. — Ele me elogiou.

— Obrigada, você como sempre muito gentil comigo. — Eu sorri assim


que ele falou. — Mas fique tranquilo que meu próximo projeto será bem
lucrativo e você poderá investir nele se quiser, prometo dar prioridade a você
em nome da nossa amizade. — Falei para conforta-lo.

— Obrigado, pela consideração! — Ele agradeceu satisfeito. — Agora


que eu sei sua verdadeira identidade, e que é esposa de Jeff Staton eu
entendo o seu sumiço durante esses 5 anos.

— É, foi uma decisão radical, mas foi necessária para melhorar minha
vida. — Eu falei e dei um suspiro.

— Entendo, mas hoje, qual é o seu relacionamento com o Staton? Ainda


estão casados? — Ele perguntou curioso.

Wilson era casado, e muito bem casado há vários anos, então ele
realmente tinha apenas curiosidade em saber sobre meu status de
relacionamento com Jeff. Para ele foi uma grande surpresa descobrir que eu
havia ido ele me enviou um e-mail perguntando o motivo da minha ida, e
então, revelei para ele que eu era esposa do Jeff.

— Felizmente nós estamos divorciados. — Falei para ele ao chegarmos


na porta.

— Eu sinto muito. — Ele falou ao me olhar com compaixão.

— Não sinta, amigo. Foi melhor assim. — Eu falei de um jeito satisfeito


por mais que eu sentisse pesar em ter me separado de Jeff.

— Agora você tem que tomar cuidado. Como você é dona da empresa
Times Technologies, e ela está prosperando muito, você atrairá muitos
pretendentes que na verdade não passam de vigaristas que terão interesse na
sua empresa. — Ele deu um sorriso vitorioso.

— Como você sabe que eu sou dona da Times? — Perguntei surpresa.


— Bom, apenas devolvi a hackeada no meu sistema que você deu há
alguns anos. — Ele falou de um jeito travesso e eu me desesperei.

— Nossa, preciso reforçar o quanto antes a segurança do meu


sistema. — Falei apavorada.

Ele deu uma gargalhada e disse:

— Fique tranquila, eu estou brincando. Em uma conferência Vivian


deixou escapar e me fez jurar que eu não contaria para você, mas eu estava
de dedos cruzados. — Ele riu novamente.

E eu acabei rindo também.

— Ela sabe que você é confiável, por isso deve ter deixado escapar, eu
sempre comento a respeito da sua honestidade e de como você me ajudou.
Mas por enquanto não quero que saibam que a Times é minha, quero que
achem que ela é do Sr. Charlie.

— Seu pseudônimo, não é?

— Exatamente. — Falei com um sorriso.

— Você é muito inteligente, Charlie. — Ele sorriu com cumplicidade. —


Bom, eu já vou.

— Eu também, tem um táxi bem ali e preciso retornar para casa logo,
pois estou cansada. — Expliquei.

— Tudo bem, fique bem, espero te ver mais vezes, inclusive há uma
reunião com investidores, caso você queira se revelar como dona da Times
creio que terá muito sucesso. — Ele sorriu satisfeito ao falar.

— Interessante. — Eu falei reflexiva. — Vamos conversar sobre isso.

— Tudo bem, eu entro em contato com você. —Wilson falou e depois


me deu um beijo na testa para se despedir.
Ele caminhou até seu carro, enquanto eu fui até o táxi. Entrei e passei
meu endereço para o motorista, quando estava indo embora pude ver Jeff na
porta procurando por alguém. Arqueei minhas sobrancelhas e pensei que
talvez ele estivesse procurando por mim, mas o porquê dele estar fazendo
isso, eu não fazia ideia.

∞∞∞

Narração - Jeff Staton

Eu não gostei nada da forma como Wilson cumprimentou Charlotte e


além de tudo a acompanhou para ir embora. Eu sabia que ele era casado,
mesmo assim não confiava nele de maneira alguma. Eu decidi que iria atrás
dos dois, e deixei minha mãe e Elizabeth falando sozinhas. Ao chegar na
porta não consegui encontra-los mais, e aquilo me deixou frustrado. Passei a
mão na minha cabeça de um jeito cansado e encostei na parede da porta de
entrada, ficando pensativo enquanto tomava um ar.

No momento em que eu estava lá, para minha infelicidade, Elizabeth


chegou. Já respirei fundo e franzi minha testa.

— O que você quer, Elizabeth?

— Eu vim te procurar, querido, ver o que você estava fazendo. — Ela


disse e se aproximou para me tocar.

Eu me afastei e falei bem nervoso:


— Dá para você parar de me importunar, porra? — Gesticulei com as
mãos devido a raiva que senti.

Ela ficou visivelmente triste depois do que eu falei e começou a chorar.


Revirei meus olhos diante daquele choro dela pois eu não acreditava que era
genuíno.

— Você costumava me amar tanto... Foi só Charlotte aparecer que tudo


mudou! — Ela falou com a voz embargada pelo choro.

— Não seja falsa! Você quem quis me deixar, você deveria pensar
melhor agora que está lamentando ter me perdido definitivamente, nas
decisões que tomou ao ir embora, para que não as repita com outra pessoa.
Ou você acha que eu não sei que você foi embora com sua conta bancária
bem gorda graças a minha mãe? — Olhei para ela com desprezo e ela
pareceu ficar em pânico após ouvir as minhas palavras.

— Eu não sei o que você está falando. — Ela tentou se fazer de vítima.

— Você é patética, Elizabeth. — Eu ri cinicamente dela e saí a deixando


sozinha.
O pestinha
Narração - Charlotte Staton

Assim que cheguei em casa e abri a porta, vi Janet e Oscar dormindo


juntos no sofá com a televisão ligada. Dei um sorriso, desliguei a tv, e peguei
o Oscar no colo com cuidado e o levei para o quarto dele, deitando meu filho
em sua cama. Assim que o deitei, cobri ele. Voltei para a sala para acordar
Janet, mas, ela estava em um sono tão gostoso que preferi somente cobri-la.
O sofá era bem confortável, então ela não iria sentir dores no dia seguinte
por ter dormido lá.

Fui para meu quarto, tirei meu vestido e coloquei minha roupa de dormir.
Lavei meu rosto para tirar minha maquiagem, deixei o cabelo do jeito que
estava por conta do cansaço, peguei alguns cremes para hidratar minha pele
antes de dormir, e enquanto fazia isso fiquei pensando em como o Jeff agiu
essa noite. Ele parecia um novo homem, e demonstrava o tempo inteiro fazer
questão de me agradar e cuidar de mim. Mas eu não me convencia com essa
história, porque eu acho que com certeza havia segundas intenções por parte
dele.
Um verdadeiro filme se passou pela minha cabeça do que havia
acontecido na festa. Cora e Elizabeth, pareciam mais obstinadas do que há
cinco anos, elas demonstravam estar desesperadas. O que eu julguei ser bem
estranho, afinal, elas tiveram o Jeff para elas nesses cinco anos, e quando fui
embora Elizabeth estava grávida, a não ser que tivesse acontecido algo com
ela nesse meio tempo, e ela perdeu o bebê. Era melhor não me preocupar
com isso, minha história com Jeff já havia acabado, não valia a pena eu
continuar insistindo nisso.

Terminei de passar meus cremes, os guardei, e depois fui me deitar.


Demorei um pouco a pegar no sono porque ainda estava um pouco agitada
por conta de tudo que havia acontecido na festa, mas, depois de um tempo eu
peguei no sono. Quando foi de manhã, eu me levantei e fui tomar um banho
para lavar meu cabelo, ele estava cheio de laquê por conta do penteado que
usei na noite anterior e eu teria um pouco de trabalho para tirar.

Depois de um bom tempo no banho, eu saí e coloquei uma roupa mais


casual. Assim que saí do quarto fui direto para a sala de jantar, e o Oscar já
estava tomando seu café da manhã.

— Bom dia, mamãe! — Ele falou animado como sempre falava para
mim quando me via.

Ele estava com a boquinha suja de iogurte, e mastigava algumas frutas


enquanto falava comigo.

— Bom dia, meu amor. Não fala de boquinha cheia, tá bom? — Me


aproximei dele, peguei o guardanapo de tecido e limpei a boca dele.

Em seguida dei um beijo na testa dele e acariciei seus cabelos com meus
dedos.

— Bom dia, Janet, ontem eu não te acordei porque você estava em um


sono tão gostoso e eu sei que você tem um pouco de dificuldade para dormir
por isso optei por não te acordar. Você dormiu bem? — Perguntei um pouco
preocupada já que não acordei ela.

— Bom dia! Não se preocupe, você fez bem, eu não conseguiria dormir
de novo se tivesse me acordado, e o sofá é bem confortável, eu dormi super
bem não se preocupe. — Ela deu um sorriso para mim.

Fiquei aliviada com o que ela falou e correspondi o sorriso dela. Me


sentei na mesa para tomar o café da manhã até que a campainha tocou. A
outra empregada que eu tinha contratado foi abrir a porta, era Sam e Vivian.

— Tio Sam! Tia Vivian! — Oscar falou animado e pulou da cadeira para
ir abraçar Sam e Vivian.

— E aí, campeão! Como você está? — Sam o pegou no colo e o abraçou.

Eu sorri ao ver a cena. Oscar era muito apegado em Sam, desde bebê, e
Sam nunca deixou de ser presente na vida dele.

— Que coisa boa vocês aqui, sentem para comer. — Eu falei para os
dois.

— Obrigado, prima. Mas já comemos. Insisti com a Vivian para passar


aqui depois do que aconteceu ontem à noite, queria ver se você estava
bem. — Sam falou preocupado entregando Oscar no colo de Vivian.

— Ah, eu estou bem, fiquei um pouco preocupada, mas depois entendi


que a culpa não era minha, então, fiquei tranquila. Como ele está? —
Confortei Sam e perguntei sobre meu avô.

— Que bom, fico mais aliviado. Ele está bem, apenas segue internado
para ser observado. Tem planos pra hoje?

— Na verdade tenho, precisava me encontrar com alguns investidores da


Times. — Falei para ele e dei um gole no meu café.

— Mas você vai se revelar? — Ele perguntou um pouco preocupado.

— Não, eu direi que sou a representante do Senhor Charlie. Ainda não


está na hora de me revelar.

— Isso é bom. — Vivian falou. — Agora eu tenho que ir porque preciso


chegar mais cedo hoje na Tec Solutions, tenho algumas pendências para
resolver.
— Tia Vivian, eu posso ir com você? — Oscar perguntou.

Eu fiquei surpresa ao escutar o que meu filho falou.

— Por que você quer ir com a tia Vivian?

— Eu já vi umas fotos da empresa que ela trabalha e tenho vontade de


conhecer. — Ele falou empolgado, Vivian deu um sorriso e disse:

— Para mim seria uma honra levar ele, Char, se você não se importar. —
Ela tinha um sorriso orgulhoso ao terminar de falar.

Fiquei pensando um pouco, pois lá era o lugar onde Jeff com certeza
estaria, e eu temia que ele e Oscar pudessem se encontrar novamente. Ao ver
que eu estava pensativa, Vivian me conhecia bem, e então disse:

— Pode ficar tranquila que eu cuidarei dele para que possíveis incidentes
não aconteçam.

— Você tem certeza? Você sabe como o Oscar é... Abençoado, né? —
Olhei para ele como se o censurasse com o olhar, e ele ao perceber que não
era de verdade deu uma risada gostosa e todos nós rimos também.

— Sei, e como sei! Mas fique tranquila, vez ou outra as pessoas levam os
filhos, e até mesmo os sobrinhos para a empresa. Lá temos essa flexibilidade
e temos espaços específicos para crianças. — Ela reforçou.

— Sendo assim, tudo bem. — Assim que eu permiti que Oscar fosse ele
comemorou.

Nós nos despedimos, e então ele foi com Vivian e Sam. Sam sempre
deixava Vivian no trabalho e depois ia para o seu, eles eram muito unidos e
tinham um relacionamento bem leve. Era admirável. Não estava na hora da
minha reunião com os investidores da Times, por esse motivo eu aproveitei
para adiantar algumas coisas do novo projeto que eu estava desenvolvendo
antes de ir.

∞∞∞
Narração - Oscar Hills

Eu insisti para ir na empresa onde a tia Vivian trabalhava não só porque


eu achava lá um lugar legal, mas porque eu sabia que o Jeff malvado
também trabalhava lá. Eu sabia, pois, uma vez eu o vi em uma foto junto
com a tia Vivian e mais um monte de pessoas que trabalhavam na empresa
dela. Assim que chegamos na empresa, eu olhei para a entrada e achei ela
muito legal, era gigante, cheia de elevadores, escadas, vários lugares para
que eu pudesse me divertir. Eu estava sorrindo e meus olhos brilhavam. Ao
perceber o jeito que eu estava, tia Vivian logo disse:

— Nem pense em dar uma de explorador aqui, viu mocinho? O espaço


kids é enorme e tem várias coisas para você poder fazer lá, então não precisa
inventar de sair para se aventurar em outros lugares porque é muito
perigoso. — Ela me alertou.

Que chatice! Eu não queria ficar em um espaço onde só tinha criança. As


coisas mais legais sempre ficavam para os adultos e por isso eu gostava de
estar sempre com eles. Minha professora falava para minha mamãe que eu
precisava brincar com outras crianças porque eu sempre queria ficar perto de
adultos, minha mamãe conversava comigo sempre, mas eu ficava bravo. As
crianças da minha idade não faziam coisas legais.

— Estamos entendidos, Oscar? — Tia Vivian fez aquela cara que ela
fazia sempre quando queria chamar minha atenção, mas ela não conseguia
resistir muito tempo.

Porque bastava eu olhar para ela e fazer um biquinho que ela apertava
minhas bochechas e dizia que eu a desmontava daquele jeito. Mas dessa vez
eu não fiz porque senão ela ia ficar me vigiando muito, e eu não ia conseguir
sair para explorar a empresa. Coloquei meu braço para trás, cruzei meus
dedos, dei um sorriso e disse:

— Tá bom, tia Vivian. Eu prometo que vou me comportar e não vou sair
do espaço kids. — Ela deu um sorriso satisfeito porque achou que havia
adiantado o que ela combinou comigo.

A gente subiu pelo elevador e ela me deixou no espaço kids, que era bem
perto da sala que ela ficava. Lá tinha uma monitora que era feliz demais para
o meu gosto, além de se vestir parecendo uma palhaça. Eu fiquei no canto
emburrado, de braços cruzados pensando em uma maneira que eu poderia
achar para sair dali. Comecei a andar pelo espaço, que era bem grande, para
ver se tinha alguma saída. Ao lado da estante de livros havia uma saída de ar,
abaixei e olhei por dentro. Quando tentei puxar, vi que a portinha estava
solta, então dava para eu entrar dentro do tubo.

Eu entrei no tubo, e percebi que ele não era muito longo, e tinha uma
curva para a direita, assim que virei, a saída já estava lá. Por sorte o trinco
dele era por dentro, senão eu teria que voltar para trás, abri ele e saí no
corredor. Passei a mão na minha roupa tirando a poeira e comecei a andar
pelo corredor. Enquanto eu andava, observava tudo a minha volta. Até que vi
uma porta de vidro fosco grande, não dava para ver lá dentro. Olhei para
cima e vi o nome "Jeff". Lá devia ser o escritório do Jeff malvado. Encostei
minha mão na porta e abri devagar, quando vi que não tinha ninguém lá
dentro. Terminei de abrir e entrei.

Olhei em volta do escritório e disse:


— O Jeff malvado gosta de coisas boas. — Eu disse ao ver algumas
bolas de beisebol e enfeites de carro. Assim que olhei para a mesa dele, vi
uma foto dele e da mamãe. A mesma foto que a mamãe tinha, fui até lá,
peguei a foto e depois peguei uma caneta que estava em cima da mesa.

Comecei a riscar o rosto do Jeff e ria enquanto fazia isso.

— Seu malvado, fez minha mamãe chorar. — Eu falei enquanto riscava a


foto.

Terminei de riscar a foto e coloquei no mesmo lugar, era melhor eu


voltar para o espaço kids senão a tia Vivian ficaria furiosa. Eu abri a porta do
escritório e fechei, quando fui andar novamente, sem querer, eu esbarrei em
uma mulher que tinha a cara feia, ela parecia uma bruxa. Antes que eu
pudesse me desculpar ela disse:

— Ai, seu moleque! Presta atenção por onde você anda! — Ela falou
brava e eu fiquei assustado.

Ao terminar de falar, ela me empurrou e eu caí no chão. Ela era muito


forte e eu bati meu cotovelo quando eu caí. Eu tentei não chorar, mas estava
doendo muito e ela me assustava, então, eu comecei a chorar bem alto e isso
acabou chamando a atenção de muita gente. Por causa do meu choro a tia
Vivian veio correndo até minha direção e me pegou no colo.

— Meu amor, o que aconteceu? — Ela perguntou preocupada.

— Essa bruxa me empurrou. — Apontei o dedo para a mulher enquanto


estava no colo da tia Vivian.

— Olha só que moleque mal criado! Quem é esse menino? — A bruxa


perguntou com raiva.

— Esse menino é meu sobrinho, Elizabeth! Você o empurrou? Está


louca? — Tia Vivian perguntou para ela.

— É claro, esse pestinha esbarrou em mim. — Ela falou como se tivesse


certa.
— Peça desculpas! — Tia Vivian falou.

A bruxa deu uma risada e saiu de perto da gente.

— Essa mulher é malvada, eu não gosto dela. — Falei ainda soluçando


por conta do choro.

— Ela é, mas não liga para ela, tá bom? Por que você não ficou na área
kids? O que a gente combinou? — Ela me perguntou bem triste.

— Desculpa, titia. Eu queria ver como era aqui fora, sei que não deveria
ter feito isso, mas eu não queria ficar lá na área kids. — Eu fiz a cara que
sempre fazia para ela não brigar comigo e funcionou.

— Ai, ai, ai Oscar, bem que sua mãe me avisou que você é abençoado,
né? —Ela deu um sorriso e beijou minha bochecha. — Vou ficar com você
na minha sala, tá bom?

— Tá bom. — Dei um abraço nela. — Quem é aquela mulher titia?

— É a Elizabeth, ela já foi namorada do presidente da empresa, mas hoje


em dia não é mais. Mas ainda fica andando por aqui. — Minha tia Vivian
falou e percebi que ela não gostava daquela mulher.

Depois de um tempo que eu estava sentado na sala da tia Vivian, eu já


estava cansado de ver desenho no celular. Ela saiu pra ir no banheiro e eu
aproveitei pra andar de novo. Encontrei a Elizabeth falando com um homem.

— Levi, você está sabendo algo sobre a transferência de ações para


Stuart?

— Acho que isso não é assunto seu. — O homem que se chamava Levi
falou.

Eu dei um sorriso travesso e decidi interromper a conversa


propositalmente.

— Oi, tio. — Falei para o homem.


— Oi, garotão! Tudo bem com você? — Ele me respondeu com um
sorriso.

A bruxa má da Elizabeth ficou com raiva por eu ter interrompido a


conversa e fez uma cara feia para mim, então, eu dei língua para ela.

— Peste! — Ela falou ao abaixar um pouco e olhar para mim.

— Bruxa! — Eu falei e cruzei meus braços olhando para ela também.

Ela ficou com tanta raiva que saiu. O homem começou a rir da situação e
me perguntou:

— Você não gosta dela?

— Não, nem um pouco, ela é uma bruxa malvada por isso eu não gosto
dela. — Falei para ele.

— É... Dizem, que crianças sentem as coisas. — Ele deu um sorriso e


ficou pensativo. — Você veio com sua mamãe para a empresa?

— Não, eu vim com minha tia Vivian. — Eu falei sorrindo para ele. —
Qual seu nome mesmo? — Perguntei para ele porque já tinha esquecido.

— Levi! E o seu? — Ele me perguntou.

— Oscar! — Eu falei sorrindo.

— Que bonito o seu nome, Oscar. A sua tia Vivian sabe que você está
aqui?

— Na verdade não, ela foi até o banheiro e eu aproveitei para andar por
aqui. — Dei uma risadinha.

— Hum... Acho que ela vai ficar brava por você estar aqui, não vai?

Eu juntei meu dedo indicador e o polegar e pisquei um dos meus olhos.

— Acho que só um pouquinho de nada assim.


Ele deu uma gargalhada quando eu falei.

— Você é uma figura garoto! Vamos, eu vou te levar até a sala da sua
tia. — Levi falou e pegou na minha mão.

— Na verdade eu estava procurando uma pessoa. — Falei para ele ao


tentar firmar meus pés no chão para não ter que sair dali.

— Uma pessoa? Quem? — Ele perguntou curioso.

— O Jeff, você sabe onde ele está?

Ele levantou uma de suas sobrancelhas parecendo ter achado estranho eu


procurar pelo Jeff malvado.

— Sei, mas ele está muito ocupado trabalhando.

— Entendi. Vamos para a tia Vivian, então. — Dei de ombros e comecei


a andar com ele.
Não fuja de mim
Narração - Charlotte Staton

Depois que dediquei um tempo ao meu novo projeto, acabei perdendo


noção do tempo. O lugar onde eu encontraria os investidores, seria na M&W
Technology, a empresa do Wilson. Ele havia me mandado uma mensagem de
madrugada dizendo que haviam muitos investidores interessados, como eu
estava com o sono leve o respondi, e resolvi ir até a empresa pela manhã.

Porém, falei para ele que eu não iria me revelar porque iria como a
representante do senhor Charlie, ele concordou, mas disse que havia falado
com os investidores que o próprio senhor Charlie iria pessoalmente para que
eles ficassem mais empolgados e realmente comparecessem. Fiquei um
pouco incomodada com isso, mas não me opus, eu sabia como esse mundo
corporativo era machista e não poderia arriscar perder negócios só por conta
disso, pois, ter investidores agora na minha empresa seria muito interessante
financeiramente para mim.

Eu sabia bem convencer esses tipos de homens, que ficariam


contrariados quando me vissem. Porque com certeza eles esperavam por um
homem velho, aparentando ter mais experiência, e quando me vissem iriam
ficar irados com isso e me subestimariam, achando que poderiam me
manipular, e é nesse exato momento que eu daria meu show, mostrando todo
meu conhecimento empresarial e científico. Eu já estava pronta, mas decidi
melhorar meu look colocando um blazer por cima da roupa que eu estava
para ficar um pouco mais formal. E assim me preparei para ir, pegando meus
pertences, e antes de sair eu perguntei a Janet:

— Como estou? — Dei um sorriso para ela esperando sua aprovação.

— Está parecendo uma empresária importante. — Ela falou com


orgulho.

— Ótimo, é assim que eu quero me parecer mesmo. — Eu sorri de


maneira confiante.

Me despedi dela e caminhei até a porta, eu pedi um táxi para poder ir até
lá. Minha empresa era tão próspera, que demorou apenas cinco anos para
decolar no mercado e se tornar tão rentável que tinha um capital
multimilionário. Por esse motivo ela estava sendo muito visada. Eu estava
satisfeita, porque eu estava conquistando tudo aquilo que eu sempre sonhei.
Se me falassem há alguns anos que eu conseguiria tudo isso que eu tenho
hoje, eu não acreditaria. Pois, sendo humilhada como eu era, e refém daquele
maldito contrato, eu não tinha expectativas.

Eu acho que essa gravidez veio na verdade para me salvar. Porque talvez
se eu não engravidasse, eu não conseguiria unir forças o suficiente para me
mover e sair daquela vida horrível que eu levava. Eu estava com um sorriso
satisfeito observando a paisagem durante o caminho, eu me preparava para o
discurso para os investidores, e eu mudaria meu nome se não conseguisse
convencer ao menos cinco pessoas a investir na minha empresa.

Chegando em frente a empresa do Wilson, eu paguei o táxi e desci.


Arrumei minha roupa, e atravessei a rua com pressa.

— Charlotte! — Uma voz me gritou.

A voz parecia estar um pouco distante, e por conta disso eu parei por um
momento e procurei quem pudesse estar me chamando. Ao ver quem era, eu
não podia acreditar, era o Jeff! Não era possível que ele estava me
perseguindo para tentar conversar comigo a todo custo. Eu não queria falar
com ele. Ele tinha um sorriso no rosto e parecia muito satisfeito por estar me
vendo, mas eu estava determinada a não falar com ele, portanto, comecei a
andar em direção ao interior da empresa em passos apressados.

Eu fiquei olhando para trás e vi que assim que ele percebeu que eu o
ignorei, e entrei na empresa, ele começou a correr atrás de mim. Eu dei uma
breve corridinha para pegar o elevador. E assim que entrei apertei o botão
repetidas vezes para sair daquele lugar logo afim de me ver livre do Jeff. Ele
ainda se aproximou, e teve uma tentativa frustrada de entrar pelo elevador.
Nós nos encaramos por um curto momento enquanto a porta do elevador se
fechava, e ele falou:

— Por favor! Eu só quero falar com você. — A voz dele se tornou


abafada depois que a porta fechou.

Eu fechei meus olhos por um momento e suspirei, eu tinha vontade de


falar com ele também, mas, só de lembrar de todo sofrimento que esse
homem me causou de maneira consciente eu tinha forças para continuar a
ignora-lo, mesmo tendo uma vozinha irritante no fundo do meu coração, me
dizendo para eu não fazer aquilo e dar oportunidade para que o Jeff pudesse
conversar comigo.

Assim que a porta do elevador se abriu, Wilson já estava a minha espera.


Ele me cumprimentou e colocou a mão nas minhas costas para me guiar até
a sala de conferências, local onde eu iria encontrar os investidores e
representantes que tinham interesse na Times Technologies.

∞∞∞

Narração - Jeff Staton


Pela manhã, bem cedo, assim que cheguei na empresa, Levi veio
eufórico até minha sala e disse:

— Sabe aquela empresa que tem prosperado absurdamente no decorrer


desses 5 anos e você é louco para investir? — Ele falava com a respiração
ofegante pois eu creio que ele deve ter vindo correndo para falar comigo.

Arqueei uma de minhas sobrancelhas e mantive meu semblante sério ao


encarar Levi.

— Bom dia para você também. — Me sentei na minha cadeira em frente


à minha mesa ao falar. — Se você estiver falando da Times Technologies eu
sei bem de que empresa você está falando. — Eu falei com um pouco de
desdém porque eu tinha dúvidas que ele pudesse ter alguma informação
dessa empresa, pois, o dono dela, o Senhor Charlie, era muito misterioso e
praticamente inacessível.

— Exatamente essa! E não seja ranzinza, a novidade que eu trago para


você é tão importante que por esse motivo nem mesmo me dei o trabalho de
falar bom dia para você. — Assim que ouvi as palavras de Levi me
interessei no que ele tinha a dizer.

— Bom, então se a novidade é tão importante assim deixe de delongas e


fale logo de uma vez. — Falei um pouco ansioso enquanto me inclinava para
frente.

— Hoje o misterioso senhor Charlie vai se encontrar com representantes


e investidores na M&W Technology, às 9 horas da manhã. — Levantei
minhas duas sobrancelhas demonstrando surpresa e não acreditei no que ele
estava falando.

— Você tem certeza do que está me falando?

— Absoluta! Descobri agora, e vim correndo te contar. Os investidores


estão eufóricos, acho que essa pode ser sua chance de conseguir encontra-
lo. — Levi falava com entusiasmo.

— Você está certo, não posso deixar de tentar ir intercepta-lo, por mais
que eu não o conheça ficará mais fácil de conseguir encontra-lo eu estando
lá na porta. Que seja na entrada ou na saída. Na saída dele provavelmente
pode ser mais fácil, pois pode ser que ele esteja acompanhado por seus
novos investidores. — Eu falei para Levi enquanto me levantava pegando a
chave do carro, para conseguir chegar a tempo em frente a empresa de
Wilson.

— Não importa como você conseguirá o importante é que você esteja lá


o quanto antes. — Levi sorriu satisfeito.

Eu acenei a cabeça positivamente para ele e saí com pressa do escritório.


Peguei meu carro e dirigi com rapidez em direção a empresa do Wilson,
cheguei lá por volta de oito e meia da manhã, e aproveitei para conseguir
estacionar em um lugar privilegiado para que quando eu visse uma
movimentação diferente eu pudesse ir lá rapidamente para conseguir falar
com o tal do senhor Charlie.

Já eram quase nove horas da manhã e eu estava tomando um café e


observando a entrada da empresa mais atentamente, pois, o horário da
reunião se aproximava, quando foram mais ou menos nove e cinco da manhã
eu me surpreendi com quem desceu de um táxi.

Era Charlotte. Com certeza isso só poderia ser o destino nos dando uma
oportunidade para conversarmos. Eu queria ter um momento a sós com
Charlotte mais do que qualquer coisa para que nós pudéssemos conversar
sobre a nossa situação, e então, eu desci do meu carro com pressa largando
meu copo de café para trás, e a chamei. Ao ouvir minha voz chamando-a, ela
parou e aquilo me felicitou pois por um momento, achei que ela esperaria
por mim para que nós pudéssemos conversar.

Assim que ela percebeu que era eu, praticamente de imediato ela virou as
costas e apressou seus passos para dentro da empresa e aquilo me fez ficar
furioso. Eu corri atrás dela, e entrei na empresa correndo, tanto que eu atraí
olhares repreensivos, porém, não me importei. Eu não a alcancei a tempo e a
porta se fechou, eu disse que queria falar com ela, mas era inútil pois o
elevador já havia começado a subir. Olhei para as escadas ao lado e
aproveitei o momento de distração do segurança do local, e caminhei em
direção as escadas para subir.
Subi as escadas correndo e deduzi que Charlotte deveria ter vindo para se
encontrar com o Wilson, já que na noite anterior eu percebi que eles eram
bem próximos. Assim que cheguei no topo das escadas pude ver os dois se
abraçando e em seguida Wilson colocando a mão nas costas de Charlotte e a
guiando para dentro de uma sala. Pressionei minha mandíbula, porque ver
ela com Wilson daquele jeito me provocou ciúmes.

Eu decidi que ficaria ali até ela sair, pois assim que ela saísse ela não
teria como escapar de mim novamente. Entretanto, enquanto eu a esperava
eu comecei a pensar se Charlotte não era na verdade o senhor Charlie, dono
da empresa Times Technologies, pois afinal de contas, Charlotte era muito
boa em esconder sua identidade quando lhe era conveniente, e era muita
coincidência ela ter chegado ao prédio da empresa do Wilson bem no horário
em que o dono da Times chegaria. Era completamente compreensível o
motivo que a levava a preservar sua identidade, pois a empresa era muito
próspera e isso poderia trazer pessoas oportunistas até ela, e por ela ser
mulher eles poderiam julgar que ela não saberia se defender.

Fiquei refletindo nisso ao longo do tempo em que ela ficou dentro


daquela sala. Eu estava sentado nas cadeiras em frente a sala onde eles
estavam reunidos, acho que ninguém quis chamar minha atenção para me
retirar dali pois eu estava bem vestido, então poderiam pensar que eu era um
investidor, ou simplesmente porque sabiam que eu era Jeff Staton. A
recepcionista veio até mim e disse que meu carro estava estacionado em
local proibido e perguntou se poderia solicitar ao manobrista que o
estacionasse dentro da garagem, no subsolo da empresa, e eu prontamente
aceitei. Assim que percebi uma movimentação vinda da sala para que as
pessoas saíssem me levantei de onde estava sentado.

Charlotte estava com um sorriso satisfeito em seu rosto enquanto falava


algo com Wilson, que eu não pude entender do que se tratava, mas,
novamente, aquilo me fez sentir bastante ciúme. Ao me ver, ela tirou o
sorriso do seu rosto, e Wilson pareceu confuso por me ver ali.

— Jeff Staton, que surpresa ver você aqui! — Ele falou sem entender o
motivo da minha presença e estendeu a mão para me cumprimentar.
— Eu entrei aqui ao ver que Charlotte entrou na empresa, e eu precisava
falar com ela. — Eu não iria dar o gosto para Wilson de saber que eu estava
lá pois queria interceptar o Senhor Charlie.

Isso seria um trunfo para ele ao qual eu não estava disposto a dar.
Charlotte me olhou como se me censurasse com o olhar depois que falei com
Wilson.

— Ah sim! Vou deixá-los à vontade, então. — Wilson deu um sorriso e


se afastou.

Charlotte pareceu ficar mais incomodada ainda por estarmos sozinhos e


apertou o botão do elevador de maneira agitada.

— O que você estava fazendo aqui? — Perguntei curioso e com um


pouco de rispidez.

Charlotte me lançou um olhar dos pés à cabeça com bastante desprezo e


disse:

— Eu não lhe devo mais satisfações do que eu faço, ou deixo de fazer,


mas, vou te falar. Eu vim colocar o assunto em dia com meu velho amigo,
Wilson. — Ela terminou de falar e o elevador chegou.

Assim que ela entrou, eu entrei junto com ela. Ficamos sozinhos dentro
do elevador.

— Não precisa ser grossa. Eu só quero conversar com você, você poderia
ao menos me dar uma chance. — Insisti com ela.

— Eu acho que nós dois não temos nenhum assunto para conversar. —
Ela respondeu secamente olhando para frente desviando o olhar do meu.

— Você sabe que temos, ficaram muitas coisas mal resolvidas, eu não sei
porque você insiste tanto em me tratar dessa forma. Eu nunca me humilhei
tanto para alguém da maneira que estou fazendo agora. — Assim que falei
dessa maneira vi que Charlotte esmoreceu mesmo que por um momento.
Nós estávamos nos encarando, mas então, ela desviou o olhar
novamente.

— Eu acho que há certas coisas que é melhor deixa-las como estão, para
o bem de todos os envolvidos. — Ela falou ainda desviando o olhar do meu.

— Não acredito que você pense assim de verdade. — Eu ainda a olhava


ao falar em tom desafiador.

— Quem você pensa que é para achar que sabe o que eu penso, ou deixo
de pensar? — Ela me perguntou franzindo a testa e nesse momento seus
olhos se encontraram com os meus.

Eu me aproximei mais dela, e coloquei meu dedo polegar e o indicador


no queixo dela levantando seu rosto um pouco para cima. Percebi que
imediatamente a respiração dela se tornou ofegante. Nossos rostos nunca
estiveram tão próximos assim desde que ela retornou, eu dei um sorriso e
aproximei meus lábios dos dela, porém, a porta do elevador se abriu fazendo
um barulho agudo para indicar que havíamos chegado.

Nesse momento Charlotte pareceu ter voltado a si e piscou por repetidas


vezes e abaixou a cabeça, ela deu um passo paro o lado, para se afastar de
mim e saiu do elevador com pressa.

— Olha só o que você me fez fazer! Acabei descendo no lugar errado!


— Ela falou ao andar furiosa em direção a garagem.

Eu apertei meus lábios um no outro com raiva por não ter conseguido
beija-la. E decidi ir atrás dela, eu estava disposto a conversar com ela e faria
de tudo para conseguir.

— Charlotte, espera! A gente precisa conversar! — Eu falei ao andar


com pressa atrás dela.

Ela continuava a andar com rapidez e me ignorava.

— Porra! Dá pra você esperar? Eu estou cansado de ser ignorado dessa


maneira! — Eu falei já nervoso com ela, e a agarrei pelo braço forçando que
ela parasse de andar.
Charlotte se virou para mim e me encarou com raiva.

— Eu não quero conversar com você, não tenho nada para falar com
você e não consigo ser mais clara que isso! — Ela esbravejou.

— Você me deve explicações, Charlotte. Temos muito o que


conversar! — Eu falei irritado e sem deixar de segurar o braço dela. — Por
que você não atendeu minha ligação quando eu te liguei? E por que você me
abandonou há cinco anos!?

A respiração dela estava ofegante e ela me encarava com raiva. Mas,


agora, ela não tinha escolha. Ela teria que responder minhas perguntas.
Cedendo aos poucos
Narração - Charlotte Staton

Jeff estava determinado a fazer com que eu conversasse com ele, eu


sabia que ele não desistiria enquanto eu não falasse com ele. Nunca o vi
insistir tanto assim em algo comigo, parecia até mesmo que a vida dele
dependia disso, e eu sinceramente, já não sabia mais o que fazer diante disso.
Ele segurou meu braço e não permitia que eu saísse de perto dele. Nossos
olhos se encontravam, e nós encarávamos um ao outro enquanto eu
permanecia em silêncio diante da pergunta que ele havia me feito. Mas,
então, eu resolvi de uma vez por todas parar de fugir. Já que eu tinha que
encarar, então eu falaria com ele, mas do meu jeito. Eu não era obrigada a
ficar me justificando para ele.

— Olha, sinceramente, eu acho que é completamente inútil você ficar


insistindo nessa história que eu o abandonei, e eu quem pedi o divórcio. Nós
sabemos que não foi bem isso que aconteceu! — Eu falei para ele em um
tom agitado.

Jeff parecia estar confuso diante do que eu falei para ele, como se não
fosse assim que a história havia acontecido.
— Às vezes você fala umas coisas que não dá para entender, nós estamos
casados ainda e você age como se nós fôssemos divorciados! Isso não tem
sentindo algum, por que ainda insiste nisso? — Ele falou um pouco nervoso
e não deixava de me segurar por nenhum momento.

Eu ri de um jeito irônico para ele, porque eu acreditava que ele estava


inventando que nós não éramos divorciados, por algum motivo particular.

— Porque é a verdade! Para com essa conversa mole! — Eu já estava tão


nervosa a essa altura que puxei meu braço, fazendo com que eu me soltasse
dele.

— Eu não estou de conversa mole, nós somos casados! Você deixou


aquele papel do divórcio assinado, porém, eu não o assinei! Na verdade,
depois de te procurar quando você desapareceu, eu o rasguei
completamente! Que droga! Parece que isso não entra na sua cabeça. — Jeff
falou com muita raiva.

Eu fiquei paralisada diante do que ele falou para mim.

— O que você está dizendo? — Eu perguntei para ele em um fio de voz.

— Isso mesmo que você ouviu, Charlotte. Eu não assinei o divórcio e


comecei a procurar por você assim que percebi que você havia sumido. Eu
peguei o avião e fui parar na Califórnia, subornei pessoas para conseguir ver
onde você estava, mas graças a aquele maldito carro particular eu não
consegui encontrar você. E foi assim no decorrer de cinco anos, eu estava
perto, mas ao mesmo tempo longe. Quando eu tinha pistas simplesmente
elas desapareciam novamente. — Eu estava ouvindo as palavras de Jeff sem
acreditar no que ele estava me falando.

Eu engoli seco, e fiquei sem palavras, ele me olhava com um olhar


cansado e passou a mão em seus cabelos. Diante daquelas novas
informações que ele havia me dado eu não sabia como reagir. Mas por conta
de tudo que ele me fez passar, eu não conseguia confiar nele. Não conseguia
sentir verdade no que ele falava e sempre pensava que haveria segundas
intenções por parte dele.
— Você não pode estar falando a verdade. — Eu falei ainda um pouco
incrédula, por mais hesitante que eu estivesse.

— Eu estou te falando a verdade, eu não tenho necessidade de mentir.


Caso você não acredite; Veja você mesma, você é uma hacker incrível e
pode tirar a prova do que eu estou falando para você, e ver que não estou
inventando história. Verifique seu estado civil e você verá que eu estou
falando a verdade. — Ele falou com tanta convicção que ficaria difícil eu
continuar contestando-o.

Novamente eu fiquei sem palavras, mas resolvi verificar, porque, talvez,


ele estivesse blefando. Eu precisava checar a veracidade da informação,
porém agora era impossível. Sendo assim, apenas permaneci impactada com
aquilo e Jeff percebeu minha reação.

— Agora você acredita em mim?

— Contra fatos não há argumentos, mas eu ainda vou averiguar se você


não está mentindo. — Eu falei ainda sem muita reação e ele riu do que eu
falei.

— Pelo menos agora eu tenho certeza que você não irá me evitar mais,
pois ainda temos um compromisso que nos une.

Mal sabia ele que não era somente o casamento que nos unia. Porém, eu
não pretendia contar nada para ele a respeito do Oscar, pois, eu não sabia
quais eram suas verdadeiras intenções.

— Fica um pouco difícil te evitar diante de uma informação dessas. —


Eu respirei fundo e revirei meus olhos.

Ele deu um sorriso satisfeito e então disse:

— Você me acompanha? — Jeff perguntou em um tom mais animado do


que antes.

— Eu tenho escolha? — Falei ao soltar o ar pela boca de uma maneira


cansada.
Jeff deu apenas uma gargalhada e começou a caminhar em direção ao
seu carro, enquanto eu o acompanhava. Eu sei que poderia me arrepender
amargamente daquilo, mas, eu precisava saber o tanto que Jeff sabia a meu
respeito. Se ele soubesse que eu era o Senhor Charlie, e era dona da Times
Technologies eu temia que ele pudesse reivindicar a parte dele da empresa já
que o nosso contrato de casamento era sob o regime de união parcial de
bens.

Cogitei que talvez pudesse ser esse o motivo que o manteve comigo até
agora. Então, fiquei em silêncio.

— Você ainda me deve respostas das perguntas que eu fiz para você. —
Ele falou ao abrir a porta do seu carro para eu entrar.

Apenas suspirei e revirei meus olhos, eu não queria ter que ficar me
justificando para ele e ainda estava muito chocada com o que ele havia me
contado. Eu entrei no carro, coloquei meu cinto e fiquei aguardando ele
entrar. Ao dar partida em seu carro, ele tinha um sorriso no rosto e disse:

— Eu desejei ter você ao meu lado assim por tanto tempo. Cada pequena
situação que eu tenho ao seu lado, me traz muita felicidade. — Ele falou
com muita convicção.

Eu estava achando mais que estranha aquela nova versão do Jeff, não
combinava com o homem arrogante que conheci há um tempo atrás e eu não
estava disposta a ceder aos encantos dele. Ainda havia muita coisa em jogo,
e eu não sei qual era o verdadeiro relacionamento dele com Elizabeth, e
também tinha o filho que eu tinha certeza que ela estava esperando quando
eu parti. Então, observando tudo que essa família do Jeff, e até mesmo ele,
fizeram comigo quando nós estávamos juntos eu precisava me manter firme.

Para desviar daquele assunto e tirar aquela atmosfera romântica que


surgiu entre nós dois eu perguntei:

— Para onde você está me levando? — Nesse momento olhei para ele
com a expressão séria.

— Ah, minhas perguntas você não responde, mas você quer que eu te
responda as que você me faz? — Ele falou de um jeito sarcástico, mas ao
mesmo tempo descontraído pois ele sorria.

Ele estava de um jeito tão leve e parecia tão grato por eu estar junto com
ele, que definitivamente não queria me desagradar para não estragar o
momento. Devo admitir que estava gostando dele assim, e estava sendo
difícil não me deixar levar. Já era pouco mais de duas da tarde, e eu estava
faminta porque a reunião demorou mais do que o esperado.

— Você não vai me responder? — Eu retruquei.

— Estamos quase chegando e você verá, senhorita ansiosa. — Ele deu


uma gargalhada ao falar.

Eu fiquei com raiva. Nesses anos que se passaram eu adotei uma nova
postura não muito correta. Eu tinha me tornado controladora. Eu não
controlava as pessoas, mas controlava a mim mesma de um jeito que nunca
pude fazer, e não permitiam que eu fizesse. Eu era completamente livre e
sabia muito bem para onde eu ia, ou para onde eu deixava de ir a todo
momento. Então, não saber para onde Jeff iria me levar me causava
ansiedade. Tirei meu blazer e joguei ele no banco de trás, isso fez com que
Jeff desse uma boa olhada em meu decote, mesmo ele tentando disfarçar eu
percebi. Cruzei meus braços e encostei minha cabeça no vidro da janela do
carro, do lado onde eu estava sentada.

Passado um tempo, nós paramos em frente ao restaurante mais chique e


requintado da cidade. Ele era todo de vidro por fora, como se o dono do
restaurante tivesse feito questão disso para mostrar a grandeza do lugar, e
também, como o público de lá era muito bem selecionado. Quando o carro
parou, eu me surpreendi por ser aquele o lugar escolhido por Jeff. Eu sempre
tive vontade de vir, mas, conseguir uma reserva aqui era um verdadeiro
privilégio. Esbocei um breve sorriso e Jeff percebeu.

Ele estava atento a tudo que eu estava fazendo, até as mínimas


expressões faciais que eu fazia ele notava. Ao ver que ele percebeu o sorriso
leve que dei, eu o tirei do rosto como se fosse uma criança sendo pega por
alguma travessura que havia acabado cometer.
— Nem adianta esconder o seu sorriso. Eu sei que você gostou de onde
nós estamos, acho que você nunca veio aqui, não é verdade? — Ele falou ao
me olhar.

— É verdade. Eu sempre quis vir aqui, mas nunca tive a oportunidade de


fazer isso. — Falei para ele.

— Você devia ter me falado, eu teria trazido você para jantar quando nós
estávamos juntos. — Jeff se lamentou.

— Até parece que você ouviria alguma coisa que eu dissesse naquela
época, não é mesmo, Senhor Staton? — Eu o ironizei.

Vi que ele ficou constrangido com o que eu havia acabado de falar.


Aproveitei e desci do carro, quando um homem veio abrir para mim. Ele era
funcionário do restaurante. Fiquei um pouco envergonhada pois eu estava
vestida de maneira casual demais para um ambiente desses. Jeff veio até
meu lado, após ter saído do carro, e me ofereceu seu braço para que eu
pudesse me apoiar nele.

— Obrigada. — Eu agradeci por conta da gentileza dele.

— Por nada. — Ele disse com um sorriso largo.

Como Jeff poderia estar assim tão diferente? Antes eu sentia que ele
tinha medo até mesmo de expor qualquer resquício de sentimento que ele
tivesse, se é que ele sentia alguma coisa.

— Eu estou com vergonha, eu não vim vestida para um lugar desses, eu


sei que estou formal por conta da re... — Eu ia falar além da conta reunião
então me corrigi rapidamente. — Encontro que eu tive com Wilson, mas não
o bastante para um lugar assim. — Eu falei para ele enquanto caminhávamos
para entrada do restaurante.

Nesse momento eu pude perceber que não havia ninguém dentro dele, e
eu achei estranho.

— Fique tranquila, ninguém irá reparar sua roupa. — Ele falou com um
sorriso.
— Realmente, pelo que eu estou vendo ninguém vai reparar minha roupa
porque não há ninguém no interior do restaurante. Você tem certeza que ele
está funcionando? — Eu perguntei a Jeff olhando para o restaurante, e
inclinando minha cabeça em direção a parte de dentro dele.

Talvez não seria dessa vez que eu iria conhecer esse restaurante, então
fiquei um pouco desanimada. Mas Jeff continuava a andar de maneira
confiante até a porta do lugar, e assim que a moça que estava na recepção o
viu, disse:

— Senhor Staton, que prazer finalmente vê-lo aqui após seu pedido de
reserva integral. — Ela deu um sorriso simpático.

O que é que ela quis dizer com reserva integral? Franzi minha testa, e um
risco se formou entre minhas sobrancelhas por conta da dúvida que eu fiquei
diante do que ela falou.

— Sim. Finalmente minha espera acabou. — Ele lançou um olhar para


mim com um sorriso levemente malicioso.

E isso foi o bastante para me deixar mais confusa ainda. A moça riu, e
depois pegou um tablet em cima da mesa em que ela estava em pé logo atrás,
e disse:

— Me acompanhem, por favor, vou direciona-los para nossa melhor


mesa.

Nós a seguimos e andamos no restaurante completamente vazio, ela nos


apontou para uma mesa que tinha vista para o parque da cidade. Era só
atravessar a rua que já estaríamos no parque. A vista era muito bonita, tanto
que trazia calma e tranquilidade. Eu me sentei e Jeff sentou em frente a mim.

— Em poucos minutos um garçom virá para atender os senhores, fiquem


à vontade. — Ela deu um sorriso gentil, inclinou sua cabeça para baixo e em
seguida se retirou.

Aproveitei para perguntar ao Jeff:


— O que significa essa reserva integral? — Eu perguntei para ele cheia
de curiosidade.

— Significa que eu reservei o restaurante inteiro. — Ele sorria ao me


responder.

Nesse momento continuei a ficar em dúvida. Por que alguém iria


reservar todo o restaurante? Ainda mais um restaurante tão caro como
aquele. Devia ter custado uma fortuna!

— Por quê? — Perguntei com a expressão de dúvida.

— Porque desde que soube que você estava de volta, eu tinha esperanças
que mais cedo ou mais tarde você pudesse aceitar um convite meu para
jantar, ou almoçar que fosse. E eu fazia questão que fosse em um lugar
especial e privativo. — Ele mantinha o mesmo sorriso e eu fiquei sem
palavras.

Eu não esperava que ele fosse louco a esse ponto para fazer isso, devia
ter custado uma fortuna esse capricho dele. Contudo, ele poderia ter
reservado porque queria conversar algo delicado comigo. Por esse motivo
fazia questão que fosse em um lugar agradável para amenizar o teor do
assunto. Depois de ter ficado alguns momentos em silêncio eu falei:

— Por que você rasgou o papel do divórcio?

— Charlotte, agora que consegui finalmente trazer você aqui eu não


quero falar sobre isso com você. Quero que a gente desfrute da companhia
um do outro como nós nunca fizemos antes.

Eu acho que seria melhor, por mais que eu não acreditava genuinamente
no que ele estava me dizendo. Mas então, fizemos assim. O garçom chegou e
nós fizemos nossos pedidos, começamos a conversar de assuntos banais, e
foi uma conversa leve e até mesmo divertida. Ficamos por horas assim,
quando dei por mim já eram quase 19h da noite. Eu comecei a sentir um
pouco de frio, e gentilmente Jeff ofereceu seu paletó para que eu me
aquecesse já que eu havia esquecido meu blazer no carro dele.
∞∞∞

Narração - Elizabeth McBride

Após ter saído da casa da Cora, já que ela havia me chamado para saber
se consegui informações sobre a transferência de ações, eu resolvi correr no
parque como fazia todo começo de noite. Eu precisava acalmar minha
mente, o sobrinho desagradável da Vivian tinha me tirado do sério hoje!
Enquanto eu estava correndo, olhei para o restaurante mais sofisticado e caro
da cidade, ele estava praticamente e eu não entendia o porquê, pois ele era
um restaurante muito movimentado. De repente, não pude acreditar no que
meus olhos estavam vendo. Charlotte e Jeff estavam jantando juntos! Ele
parecia estar muito carinhoso com ela, pois até seu paletó deu para ela se
aquecer. Jeff nunca havia sido tão atencioso e carinhoso assim comigo.
Imediatamente liguei para Cora.

Ligação ON

Cora: — Alô.

Elizabeth: — Temos um problema e precisamos agir o quanto antes.

Cora: — O que foi dessa vez?

Elizabeth: — Jeff está em um restaurante, jantando com a Charlotte.

Cora: — O QUÊ? Volte para cá imediatamente, vamos pensar em uma


solução que possa nos ajudar.
Elizabeth: — Ótimo, na verdade eu tenho algo em mente. Chego aí em
20 minutos!

Ligação OFF
Ilusão
Narração - Charlotte Staton

Assim que Jeff me deu seu paletó eu dei um sorriso para ele. Por conta
do álcool que havia no vinho que estávamos tomando, eu já estava mais
tranquila, me sentindo mais à vontade, então havia baixado um pouco a
guarda. Ele se sentou novamente, após colocar o paletó em mim, mas, dessa
vez se sentou ao meu lado, ao sorrir ele disse:

— Tem problema eu me sentar aqui perto de você?

— Agora que você já está sentado não há muito o que fazer. — Eu dei
uma risada, porque mesmo mais tranquila eu não deixava de ser grosseira
com ele.

Jeff, estranhamente, parecia gostar dessa versão minha e queria mais


disso, pois a cada vez que eu era rude com ele, ele demonstrava se interessar
mais.

— Não seja durona, pense que estou aqui ao seu lado para você se sentir
mais aquecida. — Ele riu ao falar.
— Que desculpa mais esfarrapada! Isso não faz sentido nenhum. — Eu
olhei para ele com uma expressão confusa enquanto ria com minha taça de
vinho na mão.

— Claro que faz, quanto mais próximos estamos, mais calor a gente
consegue, e é a melhor e mais rápida forma de se aquecer. Você como uma
cientista sabe disso... — Ele falou ao me dar uma alfinetada porque eu estava
querendo negar o óbvio.

— Sim, mas nem sempre é o suficiente. — Eu retruquei.

— Ah não? Vamos fazer um teste então para ver se não é o suficiente. —


Jeff se aproximou mais de mim.

Ele colocou uma de suas mãos em minha cintura e foi subindo-a


vagarosamente, por toda minhas costas, só de sentir as mãos dele encostando
em mim, meu corpo se estremeceu. Eu abri um pouco meus lábios porque
minha respiração se tornou ofegante, ao ver minha reação, ele me puxou um
pouco mais para perto dele e eu me deixei levar. Ele passou o polegar no
meu rosto e nós nos encarávamos.

Eu percebi que a pupila dele estava dilatada. Quando a pupila dilata ao


olharmos para alguém, significa que nossas emoções estão mudando. Pode
ser porque essa pessoa está apaixonada, com medo, raiva, excitada e afins.
Isso acontece porque o nosso sistema nervoso desencadeia várias respostas
involuntárias durante as emoções que estamos sentindo no momento. Os
hormônios oxitocina e dopamina, que são conhecidos como "hormônios do
amor" fazem com que isso seja possível, e ao julgar o que nós dois
estávamos experimentando naquele momento eu ousaria dizer que Jeff
estava apaixonado por mim.

Um calor começou a invadir meu corpo com a proximidade que Jeff


estava de mim, então ele disse em um sussurro:

— Está vendo como eu tinha razão, quando eu disse que o calor humano
é o mais eficaz para aquecer mais rápido? — Ao dizer isso os lábios dele
estavam tão próximos dos meus que eu não consegui resistir.
Ele me beijou, e no momento que seus lábios se encostaram nos meus eu
senti que meu coração ia praticamente saltar do meu peito. Eu coloquei
minhas mãos no pescoço dele e o puxei mais para mim, colando nossos
corpos. O desejo que havia entre nós dois era tão grande que senti que iria
enlouquecer ali mesmo, eu senti tanta falta dele, mas não havia me dado
conta da proporção disso até aquele momento. Jeff se afastou de forma
brusca e segurou meus dois braços, eu olhava para ele sem entender o
motivo pelo qual ele havia feito aquilo e então ele se antecipou antes que eu
dissesse alguma coisa.

— Acho que precisamos sair daqui. — Assim que ele falou isso eu
entendi o que ele queria.

O álcool havia me encorajado, então eu não iria negar o que ele estava
pretendendo comigo. Eu somente acenei com a cabeça positivamente, sei
que eu poderia me arrepender disso, mas o desejo que eu estava sentindo era
tão grande que eu não conseguia lutar contra ele. Jeff se levantou e pegou em
minha mão, nós começamos a andar apressados até a saída do restaurante.
Eu não o vi pagando a conta, mas creio que na reserva integral tudo estava
incluso, porém, eu não iria me importar com isso agora. Nós começamos a
correr pela calçada, e eu não fazia ideia de onde nós iríamos, mas continuei o
acompanhando. E para completar a adrenalina da situação toda, havia
começado a chover.

Eu comecei a rir por conta da situação e meu estado de embriaguez


colaborou com isso. Jeff gargalhava também, eu nunca o vi tão alegre
daquela maneira.

— Espera aí! — Eu falei fazendo Jeff parar e me olhar um pouco


preocupado, acredito que nesse momento ele ficou com medo que eu
desistisse de ir com ele.

Eu tirei meus sapatos e os segurei na mão.

— Não dá para correr com esses saltos. — Eu dei uma risada e Jeff riu
também. — Onde nós vamos? — Eu perguntei enquanto nós voltamos a
correr por conta da chuva.
— No hotel aqui ao fim da rua, por isso eu não peguei o carro. — Ele me
falou com a voz falhada por estar correndo.

Nós entramos no hotel ensopados e atraímos olhares curiosos para nós,


mas eu nem me importei, eu estava tão feliz que resolvi ignorar tudo a minha
volta e apenas quis viver aquele momento com o Jeff. Chegamos na
recepção e ele pediu a suíte presidencial, nós fomos para o elevador e como
estávamos sozinhos nele, voltamos a nos beijar novamente. O beijo era
intenso, eu o empurrei contra o espelho do elevador e nós dois sorrimos
entre o beijo. Eu peguei impulso e enrosquei minhas pernas na cintura dele
fazendo com que Jeff me pegasse em seu colo, ele apoiou suas duas mãos na
minha bunda, e assim que chegamos no andar da nossa suíte ele passou o
cartão na porta e nós entramos.

Assim que entramos e a porta foi fechada, Jeff me colocou no chão e a


gente se encarou por um momento. Ele deu um sorriso malicioso e começou
a desabotoar sua camisa que estava encharcada por conta da chuva que
havíamos tomado. Eu joguei meu par de sapatos que estava segurando em
minhas mãos para o lado, tirei o paletó dele e comecei a tirar minha roupa
também. Quando nós estávamos completamente nus, Jeff me olhou e ele
ficou com seu pau mais duro do que já estava. Só de olhar o corpo dele, com
aquelas gotas de água da chuva espalhadas por ele, seu cabelo bagunçado e
molhado, senti um tesão indescritível.

— Vem. — Ele envolveu seus braços na minha cintura ao falar, e foi me


puxando em direção ao banheiro.

Nós fomos andando juntos até o banheiro, e ao chegar no box ele abriu o
registro do chuveiro. Nós iniciamos um beijo debaixo d'água, e depois de o
findarmos ensaboamos um ao outro vagarosamente como se quiséssemos
explorar o corpo um do outro. Nos enxaguamos e eu fechei o registro do
chuveiro, assim que o fechei, Jeff me puxou bruscamente e me beijou como
se quisesse me devorar.

Eu o abracei e nossos corpos estavam colados, ele me levou até a cama e


me deitou nela. Depois disso ele ficou me admirando por um tempo, eu dei
um sorriso tímido e perguntei:
— Por que você está me olhando desse jeito? — Uma curva suave se
formou no canto dos meus lábios quando terminei de falar.

— Porque você é perfeita, parece uma verdadeira obra de arte que foi
esculpida minuciosamente e dada de presente para mim. — Ele sorriu e seus
olhos cintilaram por conta do brilho que estava neles.

Após isso, ele se debruçou por cima de mim na cama, e começou a dar
beijos leves em meu pescoço. Enquanto ele me beijava, as pontas dos seus
dedos acariciavam a parte interna das minhas coxas, e deslizaram até minha
parte íntima, e lá ele começou a dedilhar meu clitóris, arrancando gemidos
meus, que eu não conseguia controlar.

Ele desceu seus lábios até o bicos de um dos meus seios, e os esfregava
suavemente neles e depois, com sua língua, contornou a aréola dos meus
seios. Eu estava com tanto tesão que senti que estava muito lubrificada, e ao
perceber como eu estava molhada, Jeff fez questão de descer mais seus
lábios, os passando pela minha barriga, até chegar próximo a minha parte
íntima. Ao chegar lá, ele deslizou seus lábios até meu clitóris e deu alguns
beijos bem demorados nele, somente para me provocar. Ele desceu dois de
seus dedos e começou a me penetrar. Ele fazia movimentos de cima para
baixo dentro de mim, e aquilo me deu muito mais tesão.

Eu estava me contorcendo na cama, e meus gemidos se tornaram mais


intensos. Jeff começou a lamber meu clitóris e em seguida sugava ele para
dentro da sua boca, ele foi alternando entre lambidas e a sucção e isso me
deixou completamente descontrolada pelo desejo que senti. Não resisti e
acabei gozando na boca dele. Jeff pareceu se deliciar com meu líquido, me
dando mais vontade ainda de ter ele dentro de mim.

— Jeff... — Eu falei em um balbucio de palavras.

Assim que falei o nome dele, ele parece ter compreendido exatamente o
que eu queria. Ele se levantou, posicionou seu pau na minha entrada e foi me
penetrando vagarosamente. O que eu senti nesse momento não dava para
descrever. Eu o sentia entrando em mim e me preenchendo inteira, inclinei
minha cabeça para trás por conta do prazer que esse ato me proporcionava.
Jeff colocou uma de suas mãos nas minhas costas, e me puxou mais para
perto dele fazendo com que minhas costas ficassem apoiadas em seu
antebraço, e começou movimentos de vai e vem bem devagar, depois, ele
intensificou mais. Eu gemia mais de acordo com a intensidade que ele fazia
em seus movimentos. Encostei meu queixo no ombro dele e assim minha
boca ficou bem próxima a orelha dele, eu gemi baixinho para provoca-lo e a
cada gemido que eu dava eu via a pele de Jeff se arrepiar.

Ao ver que ele estava mais excitado com meus gemidos, eu disse com
uma voz mais sedutora para provocar ele.

— Não para, faz eu gozar pra você de novo... Eu sou totalmente sua. —
Assim que falei isso ele me penetrou mais fundo, e depois se afastou.

Eu não entendi porque ele fez isso, e fiquei o observando atentamente.


Jeff se levantou da cama e foi até uma mesa redonda que havia no quarto.

— Vem aqui... — Ele falou para mim me olhando com um sorriso


perverso.

Prontamente eu fui até ele, ao chegar lá ele me colocou apoiada na mesa


e fez com que eu me debruçasse sobre ela. Jeff abriu minhas pernas, e me
penetrou novamente. Nessa posição, dava para sentir pau dele até no fundo e
isso fez com que meus gemidos fossem mais fortes e intensos, e se
mesclaram a pequenos gritos que eu dava de prazer.

— Você é deliciosa... — Jeff falou e deu uma leve tapinha na minha


bunda e isso fez com que eu desse um gemido mais manhoso.

Ele intensificou os movimentos de vai e vem. Novamente, eu não resisti


e gozei atingindo o orgasmo. Minhas pernas ficaram bambas e eu esmoreci
naquela mesa. Jeff me segurou pelo quadril e me penetrou com mais força,
eu gemia já sem energia, e por fim ele gozou soltando um gemido rouco e
forte ao mesmo tempo.

Nós estávamos ofegantes, e permanecemos naquela posição por mais um


tempo. Ele se afastou saindo de dentro de mim, e me ajudou a me levantar.
Novamente tomamos um banho. Durante o banho, eu lavei o pau dele e ele
novamente ficou excitado, eu me ajoelhei e como a água estava indo
diretamente em meu rosto, Jeff desligou o registro do chuveiro pois ele
entendeu o que eu iria fazer. Segurei o pau dele e passei a cabecinha dele em
meus lábios, como se estivesse contornando. Eu olhava para Jeff ao fazer
isso, e ele estava mordendo seus lábios pelo tesão que ele sentia pelo meu
ato.

Abri minha boca bem devagar, e ele foi pressionando para colocar seu
pau dentro dela. Então, eu fechei minha boca mantendo o pau dele dentro
dela, e iniciei movimentos com minha cabeça para frente e para trás, e a cada
movimento que eu fazia o pau dele entrava mais dentro da minha boca. Eu
fiz alguns movimentos de sucção, e Jeff entrelaçou seus dedos em meu
cabelo e forçou um pouco mais a entrada. Eu mantive minha boca no pau
dele e o deixei movimentar minha cabeça da maneira que fosse deixa-lo
mais excitado, não demorou muito, Jeff tirou seu pau de dentro da minha
boca e gozou em meus seios. Eu sorri por ter conseguido levar ele ao ápice,
e me levantei.

Ele me ajudou a tomar banho, enquanto trocávamos carícias, sorrisos e


olhares apaixonados. Mas, permanecemos em silêncio. Nós sabíamos como
nosso relacionamento era frágil, e qualquer palavra dita errada poderia
resultar em uma briga. Então, optamos por ficar assim para não estragar o
momento.

Saímos do banho, e olhei meu celular. Vi que Janet havia me mandado


uma mensagem preocupada, dizendo que o Oscar estava com saudade de
mim. Falei que eu já estava a caminho, afinal, já passavam das 21h da noite.

— Eu preciso ir. — Falei para Jeff.

— Tem certeza que não pode ficar mais? — Ele me perguntou


desapontado.

— Tenho, realmente não posso ficar. — Ele pareceu triste, mas me


entendeu. — Vou chamar um táxi.

— Não, de maneira nenhuma, eu levarei você para casa.

Nós tivemos que pegar roupas que o hotel fornecia, pois as nossas
estavam bem molhadas. Jeff ligou para o restaurante e pediu que enviassem
o carro dele até a porta do hotel. Nós saímos do quarto, pegamos o elevador
e enquanto Jeff estava pagando a conta na recepção, eu ouvi um áudio do
Oscar falando que queria que eu chegasse logo. Eu sorri e disse através de
uma mensagem de voz que já, já estaria em casa.

Jeff veio e nós fomos até seu carro. No caminho nós nos acariciávamos,
mas não conversávamos muito. Assim que chegamos na frente do meu
apartamento eu temi que ele quisesse entrar.

— Eu não vou pedir para entrar, porque sei que você deve estar
cansada. — Ele falou de maneira compreensiva.

Fiquei aliviada por ele não querer entrar.

— É, realmente. Olha, eu adorei o nosso dia juntos. — Dei um sorriso


para ele.

Jeff se inclinou em minha direção e nós nos beijamos. Ao finalizar o


beijo eu sorri para ele, saí do carro e entrei em direção ao meu prédio,
enquanto eu não entrei ele não saiu com o carro. Peguei o elevador e estava
com um sorriso bobo, ao entrar em casa, vi Oscar com Janet. Ele parecia
estar de mau humor.

— Oi meu filho, está tudo bem? Desculpa a demora. — Falei porque


pensei que o mau humor dele seria por conta da minha demora.

— Oi, mamãe. Não está nada bem. — Ele disse de um jeito ranzinza
enquanto me abraçava.

Ele me lembrava muito o Jeff no jeito de ser.

— O que aconteceu? — Perguntei a ele enquanto o pegava no colo e ia


até o sofá para me sentar com ele.

— Hoje no trabalho da tia Vivian, eu conheci uma mulher irritante! —


Ele falou um pouco nervoso.

Eu não quis me aprofundar no assunto, e o abracei forte.


— Ah meu amor, não liga pra isso tá bom? Tem coisas, e pessoas que
não valem a pena a gente ficar se preocupando. — Dei um sorriso e um beijo
na testa dele ao falar.

Janet estava me olhando um pouco desconfiada por eu não estar com a


mesma roupa com a qual eu havia saído, mas, não falou nada.

— Tá bom, mamãe. Eu posso dormir com você hoje? — Meu filho


perguntou com uma voz dengosa.

— Pode sim, meu amor. — Eu falei para ele.

Ele já estava de pijamas, e então me levantei com ele em meu colo e fui
até o meu quarto. Coloquei ele na cama, fui ao closet pegar meu pijama, me
troquei no banheiro, e ao voltar para o quarto ele já havia adormecido. Dei
um sorriso e me deitei na cama ao lado dele, eu suspirei ao me deitar junto
com meu filho, e fiquei o acariciando. Olhando para ele eu via como ele era
uma mistura minha e do Jeff, mas, a personalidade era muito parecida com a
do pai dele. Fiquei pensando na noite que eu tive ao lado do Jeff, e acabei
adormecendo com um sorriso no rosto. Eu dormi tranquilamente a noite
inteira pois estava muito cansada.
Desilusão
Narração - Charlote Staton

Pela manhã eu acordei me espreguiçando na cama e já estava com um


sorriso no rosto pois eu estava me lembrando da noite passada, quando eu
estive com o Jeff. Eu não acreditava muito nas coisas que ele me falava, mas
eu havia gostado de ficar com ele. Ao olhar para o lado da cama, vi que
Oscar não estava mais lá.

Ele costumava acordar bem cedo, então, me levantei e tomei um banho


bem demorado. Eu estava com um bom humor como não tinha há tempos,
mas ao mesmo tempo que estava tão feliz, eu tinha medos e inseguranças.
Afinal era o Jeff, o mesmo que me magoou tanto e permitiu que a família
dele fizesse o que bem entendesse comigo, por esse motivo eu não queria me
iludir. Terminei meu banho, e fui colocar minha roupa. Me arrumei, passei
uma maquiagem leve e estava pronta para mais um dia.

Para me certificar de que Jeff não estava mentindo, eu resolvi fazer uma
pesquisa através do meu notebook para ver se meu estado civil permanecia
como casada. Seria uma forma de me certificar que ele poderia realmente ter
mudado e não estava tentando me enganar junto com a família dele a troco
de alguma coisa. Assim que pesquisei, vi que eu ainda era casada, ele havia
falado a verdade! Eu comecei a ter sentimentos e expectativas quanto a isso,
mas o medo ainda me assombrava.

Ao mesmo tempo que meu coração acelerou por imaginar que ele estava
comigo porque me amava, eu tive medo porque eu sabia que poderia haver
outros tipos de interesses por parte dele e da família dele, fazendo com que
ele se mantivesse casado comigo. Eu encarava aquela tela do meu notebook,
olhando meu estado civil, com um misto de sentimentos, então, resolvi
fecha-lo o quanto antes e me concentrar em outras coisas.

Me levantei e saí em direção a sala de jantar para tomar meu café da


manhã.

— Bom dia! — Eu falei bastante animada e entusiasmada.

— Bom dia, Charlotte! Você parece muito feliz e animada hoje. — Janet
me olhou de maneira desconfiada e deu um sorriso cheio de cumplicidade
para mim.

Eu dei um sorriso travesso e ela parece que compreendeu o motivo pelo


qual eu estava feliz. Oscar me olhava desconfiado, mas era muito novo para
entender o que se passava naquele momento. Ele deu um sorriso inocente e
disse:

— A mamãe tá feliz assim porque dormiu comigo. — Oscar dizia


orgulhoso.

Assim que ouvi o que ele disse eu dei um sorriso por conta do que ele
havia falado.

— Sim, meu amor. É por isso mesmo. — Eu ri de um jeito satisfeito. A


inocência dele era encantadora.

Me sentei na mesa para tomar café da manhã e a campainha tocou.

— Eu atendo! — Oscar gritou eufórico e deu um pulo da cadeira em que


estava sentado.
— Querido não abre, você não sabe quem é! — Eu o alertei, mas, ele já
tinha corrido até a porta.

Como eu falei e ele correu até a porta mesmo assim, eu fui atrás dele
com pressa. Assim que cheguei lá ele estava abaixando na frente da porta
para pegar algo no chão.

— Oscar? O que é isso? — Perguntei arqueando uma de minhas


sobrancelhas até chegar perto dele.

— É uma revista mamãe. — Ele falou de um jeito emburrado.

Achei estranho uma revista ser entregue assim na minha porta, ainda
mais porque ninguém foi anunciado pelo porteiro. Ao chegar na porta olhei
para os dois lados do corredor, mas não vi ninguém.

— Vem, vamos entrar. E nunca mais faça isso de abrir a porta sem nem
ao menos perguntar quem é. É perigoso. Crianças não podem abrir a
porta. — Eu falei de um jeito sério para meu filho, pois, ele havia me
desobedecido.

— Tá bom, mamãe, desculpa. — Ele falou fazendo um biquinho.

— Está desculpado. — Eu sorri para ele. — Agora dá a revista para a


mamãe ver o que é.

Ele me entregou a revista e voltou correndo para a mesa de café da


manhã. Assim que ele se afastou eu olhei a capa da revista e estava escrito
uma manchete bem grande seguida de um subtítulo que dizia:

"Enfim noivos! Jeff Staton, o CEO multimilionário de


várias empresas espalhadas pelo país e mundo, está
noivo da cobiçada solteira Elizabeth McBride."

Ao ler aquilo pela primeira vez, pensei estar lendo errado. Apertei meus
olhos e olhei novamente a manchete, e bem grande junto a essa manchete
estava a foto que me atormentou por tanto tempo. Era Elizabeth e Jeff
juntos, igual no porta-retratos que ficava ao lado da cama de Jeff quando nós
nos casamos. Meus olhos se encheram de lágrimas, e toda a animação que eu
estava sentindo quando acordei, acabou completamente depois que li essa
notícia.

Eu engoli meu choro, pois, eu estava decidida a não chorar mais pelo
Jeff, aliás já era algo que eu deveria esperar, e decidi que iria voltar para meu
quarto. Ao passar pela sala de jantar, Janet viu como eu estava e perguntou:

— Charlotte? Está tudo bem? — Ela tinha um tom de voz preocupado.

— Está sim, eu só preciso resolver uma coisa. — Eu dei um sorriso


amarelo ao falar.

— Não vai tomar café da manhã, mamãe? — Oscar me perguntou.

— Daqui a pouco a mamãe vem, meu amor. — Falei dando um sorriso


um pouco forçado por estar chateada.

Fui até o meu quarto e fechei a porta. Abri a revista na página da notícia
e vi que eles ficaram noivos na noite anterior. Talvez foi por isso que Jeff
não insistiu para subir, porque ele devia ter ido se tornar noivo de Elizabeth
após se divertir comigo. Na matéria, Elizabeth dizia que um amor como o
deles nem mesmo anos separados eram capazes de acabar com o que eles
tinham, e para minha surpresa Jeff também comentou que muitas coisas
haviam acontecido na vida dele, mas nenhuma era tão valiosa como
Elizabeth.

Eu joguei a revista no chão por conta da raiva que eu senti, e fiquei


atordoada com aquela notícia. Resolvi pesquisar online, porque acreditei que
pudesse ser uma armação de tão indignada que fiquei ao saber daquilo, mas,
a manchete estava lá também. Por pura coincidência, naquele momento onde
eu estava bastante irada, recebi uma mensagem de Jeff:

Mensagem ON

Jeff: — Oi, Charlotte! Como você está? Eu quero te encontrar. É muito


importante.
Eu fiquei com vontade de xingar ele por ele ter me usado na noite
anterior, e hoje simplesmente eu ter a notícia que ele iria se casar. Ele
brincou com meus sentimentos. Provavelmente agora precisava me ver para
que a gente assinasse os papéis de divórcio já que ele iria se casar.

Charlotte: — Oi. Onde?

Jeff: — No mesmo restaurante de ontem, ao meio dia. Fica bom para


você?

Charlotte: — Sim.

Jeff: — Está certo, um beijo, te vejo lá.

Mensagem OFF

Eu larguei meu celular de qualquer jeito na cama e comecei a andar pelo


quarto por conta da agitação que eu sentia. Não era justo o que o Jeff estava
fazendo comigo, eu não merecia isso mais uma vez. Mas, eu iria enfrenta-lo
de cabeça erguida. Não iria permitir que isso me abalasse, não mesmo. Mais
uma vez tive vontade de chorar, mas então falei para mim mesma:

— Você não merece minhas lágrimas, Jeff Staton. — Eu disse com raiva
enquanto me olhava no espelho.

∞∞∞
Narração - Elizabeth McBride

Assim que cheguei na casa da Cora, a empregada abriu a porta para mim
e eu vi Cora na sala de estar andando de um lado para o outro. Ao me ver ela
veio andando em minha direção com os olhos arregalados e visivelmente
nervosa:

— Você tem certeza que eram eles?

— Sim, absoluta. Eles estavam sozinhos no restaurante "Tower de La


France". — Eu falei furiosa.

— Ele reservou logo o mais caro para aquela mulherzinha... Maldição!


Essa garota voltou somente para atrapalhar os nossos planos! — Cora bateu
as mãos em suas pernas e arfou com raiva. — Você disse que pensou em
algo para poder acabar com esse relacionamento ridículo dos dois, fale logo
de uma vez. — Ela disse bastante estressada.

— Sim, mas é bem arriscado... — Eu falei hesitante.

— Não importa! É uma situação emergencial e precisamos tentar


tudo. — Cora ainda falava agitada.

— Eu pensei em contratarmos alguém de alguma revista famosa, para


dar a manchete que eu e o Jeff iremos nos casar. Eu sei que será uma
informação falsa, então, teremos que desembolsar um valor considerável
para que a pessoa queira publicar essa fake news. — Assim que contei meu
plano Cora abriu um sorriso.

— Isso é maravilhoso! Que ideia genial, Elizabeth! — Ela falou ao


comemorar. — Eu tenho a pessoa certa para isso. Um fofoqueiro que
sempre publica notícias falsas e é ambicioso demais, ele trabalha na revista
"Celebrity Time" vou ligar para ele agora e falar para ele vir aqui. — Cora
falou e já pegou seu celular para ligar para ele.

Eu só pude ouvir ela dizer ao telefone:

" — Isso mesmo querido, sou eu. Quero que você publique uma
manchete na capa da revista para mim amanhã pela manhã, sem falta.
Claro que a quantia será enorme, venha aqui na minha casa de imediato."

Não demorou muito e o trambiqueiro estava lá. Nós falamos para ele
como queríamos que ele publicasse a manchete, e eu entreguei uma foto
minha e do Jeff, que eu soube que ele manteve por muito tempo ao lado da
cama dele, quando ele e Charlotte viviam juntos, puramente para provoca-la.
Isso seria a cereja do bolo. Depois de tudo acertado, eu e o jornalista fomos
embora. Pela manhã eu acordei ansiosa. Cora havia me mandado uma
mensagem dizendo que a revista já estava nas bancas e era para eu dar um
jeito de fazer com que um exemplar chegasse até Charlotte.

Eu precisava descobrir o endereço de onde ela estava, mas como eu iria


fazer isso? Foi então que eu tive a brilhante ideia de falar com o Brandon.

Mensagem ON

Elizabeth: — Brandon, preciso da sua ajuda.

Brandon: — E por que eu te ajudaria?

Elizabeth: — Porque é do seu interesse.

Brandon: — Fala.

Elizabeth: — Preciso do endereço da Charlotte, você tem?

Brandon: — Não, mas posso conseguir. Para que você quer?

Elizabeth: — Você só precisa saber que o que eu farei, vai afastar ela do
Jeff de uma vez por todas.

Brandon: — Ok... Vou pedir para o primo dela sob o pretexto que irei
visita-la. Já te envio.

Elizabeth: — Obrigada.

Mensagem OFF
Alguns minutos depois Brandon me mandou a mensagem com o
endereço dela. O lugar não era muito longe, coloquei um lenço em volta dos
meus cabelos, vesti um sobretudo e coloquei um óculos. Saí da minha casa,
entrei no meu carro e comecei a dirigir em direção a casa de Charlotte.
Passei em uma banca de revistas, e comprei a revista onde tinha a manchete
do meu noivado com Jeff, e depois, continuei a seguir o trajeto.

Ao chegar lá, fiquei esperando alguém entrar no prédio, e entrei junto.


Eu fingi que conhecia as pessoas, entrando no assunto delas até o elevador,
para o porteiro não suspeitar de nada. As pessoas que eu fingi conhecer me
olharam como se eu fosse louca, mas depois não ligaram pois no elevador eu
não conversei mais com elas.

Assim que cheguei no andar da Charlotte, coloquei a revista na porta do


apartamento dela, toquei a campainha e saí correndo. Fiquei escondida para
ver se ela iria pegar, para minha surpresa, aquele pirralho desagradável que
era o sobrinho da Vivian, foi quem pegou a revista e entregou para ela. Eles
conversaram algo, mas não ouvi o que foi, e nem me interessava. Afinal, o
que me interessava era que a revista chegasse até ela e assim foi feito. Eu dei
um sorriso orgulhoso, e liguei para Cora enquanto esperava o elevador
depois deles terem entrado. Assim que ela atendeu eu disse:

Ligação ON

Elizabeth: — Está feito! Charlotte recebeu a revista. — Eu disse em um


sussurro por conta do eco do corredor.

Cora: — Que ótima notícia! Quero ver ela se ela ainda vai querer ficar
com o Jeff após receber essa notícia. — Cora gargalhou de um jeito
malicioso.

Ligação OFF
Eu sorri e entrei no elevador para ir embora com o sentimento de dever
cumprido.
Sem diálogo
Narração - Charlote Staton

Fiquei no quarto mais um tempo para tentar me recompor diante do que


eu havia descoberto, até mesmo a fome que eu estava sentindo
anteriormente, eu havia perdido. Era muito ruim saber que novamente Jeff
me usou. Eu estava com raiva porque novamente eu havia me entregado para
ele, se eu tivesse me segurado mais um pouco nada disso teria acontecido.
Por vezes senti uma vontade grande de chorar, mas não valia a pena.

Fui até meu closet, e peguei a foto que eu guardava do dia do nosso
casamento que eu mantive durante todos esses anos. Fiquei olhando para ela
por um tempo. Eu sentia tantas coisas ao mesmo tempo que eu não sabia
explicar, ao observar o olhar do Jeff e notar a frieza que ele carregava
naquela foto, e comparar com ele recentemente, não dava para dizer que ele
era a mesma pessoa, algo no Jeff parecia estar diferente, ele parecia
realmente ter se apaixonado por mim. Mas então por que ele decidiu noivar
com Elizabeth depois da noite que tivemos?

Eram tantas coisas que não se encaixavam em nossa história, que não
valia a pena eu ficar quebrando cabeça com isso. Eu guardei a foto e me
olhei no espelho.

— Você é forte, sobreviveu cinco anos sem ele e vai continuar


perfeitamente bem sem ele. — Eu falei para mim mesma com o intuito de
acreditar no que eu estava falando.

Decidi me arrumar mais, passei um pouco mais de maquiagem para


disfarçar minha expressão triste, e me vesti com um vestido preto colado,
porém, na altura do joelho. Ele era um vestido provocante, mas não deixava
de ser elegante. Saí do meu quarto e fui até a sala, assim que cheguei, Vivian
e Sam estavam lá, como fui para o quarto chateada provavelmente Janet
disse que eu não queria ser incomodada.

— Uau! Qual é a ocasião? — Sam perguntou ao me olhar com um


sorriso de admiração.

— Ao que tudo indica, um divórcio definitivo. — Eu falei para ele com


amargura.

Sam, Vivian e Janet me olharam confusos. Oscar estava distraído com a


tv e não prestou atenção no que eu disse, e creio que ele também não
entendia muito bem o que eu havia falado.

— Como assim? — Vivian perguntou confusa e os três olharam para


mim curiosos para a resposta que eu daria.

— Depois eu explico, prometo a vocês, mas agora estou muito agitada


para isso. Você pode ficar com o Oscar de novo para mim? Quero dar um
descanso para Janet. — Eu falei para Vivian.

— Tudo bem, sem problemas. — Vivian me respondeu com um sorriso,


mas parecia preocupada pela maneira que eu estava agindo.

— Oscar, venha se despedir da mamãe. Você vai passar mais um dia com
a tia Vivian. — Falei para ele e ele veio correndo até mim comemorando
porque iria ficar com a Vivian.

Eu me agachei e nós nos abraçamos. Enquanto eu abraçava meu filho,


Sam falou:
— Ah, Char! Quase me esqueci de te avisar. O Brandon me pediu seu
endereço. Ele disse que viria depois para fazer uma visita para você, e então
eu passei, tudo bem?

— Sem problemas, acho que o Brandon é inofensivo.

— Quem é Brandon? — Oscar perguntou com curiosidade.

— Brandon é um velho amigo da mamãe. — Eu falei para ele com um


sorriso.

— Hum... — Oscar disse pensativo e sorriu.

— Certo, eu preciso ir. Depois nós nos falamos. —Eu disse para Sam e
Vivian. — E você mocinho, prometa se comportar enquanto estiver com a tia
Vivian, ok? — Eu disse ao olhar para o Oscar falando em um tom sério.

— Tá bom, mamãe, prometo que vou me comportar muito bem. — Ele


sorriu e fez um biquinho pedindo beijo.

Eu aproximei minha bochecha da boquinha dele, e ele me deu um beijo


carinhoso. Em seguida, eu esfreguei meu nariz no dele dando um beijinho de
esquimó. Depois de me despedir do meu filho e de todos que estavam em
minha casa, caminhei em direção a porta de saída. Entrei dentro do elevador
e desci enquanto estava pensativa e sentindo uma grande dor em meu
coração por ficar me torturando a respeito do que Jeff havia feito comigo.

Ao sair do elevador, fui até a rua e pedi um táxi. Assim que entrei, eu
indiquei qual seria meu destino, e durante todo o caminho eu estava muito
tensa. Ao chegar no restaurante eu entrei, e vi que Jeff já estava me
esperando. Ao me ver ele deu um sorriso, mas eu permaneci séria, e vi que
isso o deixou um pouco desentendido. Apenas me sentei na cadeira em
frente a ele e disse de forma ríspida:

— O que você tem para falar comigo que é tão importante? — Eu estava
séria ao olhar para ele.

Jeff parecia ter ficado constrangido e confuso pela forma que eu estava o
tratando. Mas então ele se sentou e me entregou um envelope contendo
alguns papéis. Assim que ele me entregou, eu engoli seco e senti meu
estômago revirar porque eu sabia que aqueles eram o os papéis do divórcio,
eu tentei disfarçar o que eu estava sentindo mantendo meu semblante sério e
fingindo que não me importava com o conteúdo do envelope. Abri ele
despretensiosamente, mas a verdade é que eu estava em agonia.

Porém, assim que comecei a ler o conteúdo dos papéis eu vi que se


tratava de uma transferência de capital. Eu franzi minha testa, e minhas
sobrancelhas se uniram por conta da minha expressão de dúvida. Olhei para
Jeff e ele parecia animado, enquanto eu estava cada vez mais desconfiada.

— O que é isso, Jeff? — Perguntei a ele.

— Isso é uma transferência de ações. — Ele falou entusiasmado.

— Eu sei disso, mas quero saber qual o motivo para você ter me dado.
Não compreendi o real motivo. — Eu o contestei.

— Bom, naquele dia na festa do seu avô ele queria que você assinasse
aqueles papéis e eu te expliquei tudo que eu havia feito, lembra? Então, esse
é o restante das ações. Naquele dia na festa, depois que ele passou mal eu
tive uma grande ideia de enviar esses papéis ao advogado dele para fazer
com que ele assinasse lá no hospital.

Eu fiquei surpresa ao ouvir que ele havia começado a falar e fiquei mais
interessada, então ele continuou a história.

— Como te falei, eu já havia subornado o advogado dele anteriormente


para fazer com que ele assinasse permitindo que eu lhe desse os 45%, e ele
só assinou porque achou que você iria fraquejar como antes e iria passar as
ações para ele. A assinatura dele era necessária por conta do que te falei, que
ele exigiu isso no contrato de casamento. E no hospital, novamente, ele
assinou porque o advogado disse a ele que a transferência de ações seria para
o maior acionista da Tec Solutions, pois eu queria reparar o dano que você
havia feito a ele naquela noite e obriguei você assinar os papéis transferindo
as ações para ele, claro que é mentira e o advogado só falou para ele fazer
isso porque novamente eu estava o subornando. Ele ficou tão animado que
nem se quer leu que o destinatário de todas as ações, que é você. Pois, a
maior acionista da empresa é você, sendo detentora de 96% da empresa caso
assine esse papel, pois será 45% daquele dia, 6% por você ter desenvolvido
o projeto, e agora, mais 45% que estou lhe dando os outros 4% são
distribuídos entre os acionistas menores da empresa.

Ao ouvir o final de tudo que Jeff me falou, eu fiquei mais surpresa ainda,
não estava acreditando que ele havia comprado o advogado do meu avô para
me passar as ações da empresa.

— Espera aí, então pelo que eu entendi, se eu assinar isso aqui eu me


tornarei a dona da empresa Tec Solutions? — Eu perguntei em choque
porque eu não esperava isso.

— Exatamente! — Ele falou com muita animação.

Eu não estava entendendo porque Jeff estava fazendo isso, não fazia
sentido. Eu estava esperando que ele me pedisse o divórcio já que iria se
casar com Elizabeth, e ele simplesmente chega com esses papéis me dando a
empresa dele de mão beijada, facilitando muito a minha vingança contra
meu avô. Era muito suspeito, com certeza ele tinha algum tipo de interesse
nisso!

Eu coloquei os papéis em cima da mesa e me recostei na cadeira. Cruzei


meus braços e lancei um olhar bem desconfiado para Jeff. Ele me olhou
parecendo não compreender minha reação porque com certeza eu acho que
ele esperava uma reação boa da minha parte.

— O que foi? Você não gostou? — Ele perguntou bem confuso.

— Claro que gostei. Uma empresa tão lucrativa se tornar minha, assim
tão facilmente, com certeza é motivo para muita felicidade. — Eu falei, mas
ainda mantinha meu tom sério e desconfiado.

— Mas você não parece feliz. — Jeff retrucou.

— Não pareço feliz porque eu não entendo o motivo pelo qual você está
fazendo isso. — Me inclinei para frente, apoiei meus cotovelos na mesa e o
encarei esperando uma resposta dele que pudesse me explicar o porquê ele
fez isso.
— Olha... Eu sei que você foi forçada a se casar comigo. — Jeff falou se
lamentando.

— Ah, agora você sabe disso? — Eu falei com bastante sarcasmo pois eu
tentei explicar isso para ele inúmeras vezes, mas ele parecia não me escutar,
e muito menos dar a mínima para isso.

Ele respirou fundo e abaixou um pouco seus ombros como se estivesse


envergonhado.

— Eu sinto muito por não ter ouvido você antes, e não ter te dado
credibilidade em tudo que você tentou dizer para mim. Eu sei que fiz coisas
contra você que foram imperdoáveis, e eu entendo se você não quiser aceitar
minhas desculpas, mas saiba que eu estou nesse momento te pedindo perdão
de maneira sincera por todo mal que eu fiz a você. Pela maneira que te tratei,
e por tudo de ruim que eu te causei. — Jeff me olhava nos olhos ao falar.

Eu senti que ele estava se desculpando de forma sincera, mas não


adiantava ele pedir desculpas sendo que ele estava me magoando novamente
ao se tornar noivo de Elizabeth. Eu apenas o encarava enquanto ouvia suas
palavras, ele suspirou e disse de um jeito triste.

— Sei que talvez eu nunca tenha seu perdão, é justo. Mas uma coisa eu
te garanto, Charlotte, eu farei justiça por você, porque é o mínimo que você
merece. Eu fiz todas essas coisas em relação as ações da empresa por
você! Eu estou ficando sem nada porque por você vale a pena. — Jeff falava
com convicção.

Diante de tudo que já vivi com Jeff e que ainda estava vivendo, era
muito difícil acreditar no que ele estava falando.

— É um pouco difícil acreditar em tudo que você está me dizendo. —


Fui sincera ao falar de forma cética com ele.

— Eu sei disso, mas o que eu puder fazer para me redimir com você eu o
farei. Também sei que depois de tudo que você passou, você vai querer se
vingar do seu avô, por isso eu fiz tudo isso, e farei o que eu puder para poder
te dar a oportunidade de conseguir se vingar. Além do mais, eu a protegerei e
apoiarei, pois eu sei como seu avô é ganancioso, e por esse motivo, ele é
capaz de fazer inúmeras atrocidades como já provou por inúmeras vezes. —
Ele falava como se quisesse me alertar sobre meu avô.

Como se eu não soubesse que Stuart era capaz de fazer as ações mais
cruéis e absurdas. Ninguém, mais do que eu mesma, sabia o que meu avô era
capaz de fazer quando queria muito conseguir alguma coisa. Eu queria
acreditar em Jeff, e em tudo que ele estava me dizendo, porém, era difícil por
saber que ele estava noivo da Elizabeth. Eu não queria me permitir continuar
sendo enganada por ele, nem ser um mero pião em algum jogo perverso
dele.

Se nós nos divorciássemos agora, ele poderia ficar com metade da


empresa, se nós continuássemos casados, ele ficaria com ela integralmente.
Talvez esse fosse o real objetivo dele ao fazer meu avô assinar os papéis. Ele
se manteria casado comigo e conseguiria o controle total da empresa. Ele
poderia se casar com Elizabeth em uma cerimônia informal, e manteria
nosso casamento apenas no papel para que ele pudesse ter a empresa... Isso
era baixo e mesquinho, eu não daria este gosto para ele.

— Tudo bem, eu vou assinar os papéis desse contrato. — Falei para ele
ao forçar um sorriso.

Peguei os papéis, e assinei meu nome no local indicado. E assim, me


tornei a dona da Tec Solutions. Jeff tinha um sorriso orgulhoso ao ver que eu
havia assinado os papéis. Eu o encarei erguendo meu queixo, e dei um
sorriso irônico.

— Agora eu quero que você me dê o divórcio. — Eu falei com uma voz


bem firme para ele.

— O quê? Por quê? — Ele perguntou sem entender, parecia muito


confuso e em choque diante do que eu pedi.

— Eu sei bem o que você pretende, eu não sou mais aquela menina boba
que você conheceu. Não sou mais um brinquedo nas suas mãos, e nas mãos
da sua família perversa! — Eu falei me inclinando mais para frente e o
olhando com toda a raiva que eu estava sentindo.
— Você entendeu tudo errado, minha intenção é genuína. Eu não tenho
nenhum interesse de prejudicar você! — Ele tentava se justificar.

— Claro, apenas tem a intenção de se beneficiar com isso diante da sua


nova situação com Elizabeth. — Eu joguei na cara dele nas entrelinhas sobre
o noivado para ele saber que eu já tinha conhecimento.

— Minha nova situação com Elizabeth? — Jeff falava ainda


desentendido.

— Ah, por favor! Não subestime minha inteligência, não se faça de


idiota! — Eu falei bastante nervosa.

— Você precisa se acalmar e falar coisas com coerência porque eu não


estou entendendo o que você está dizendo. — Ele falava bastante alterado e
parecia realmente não entender o que eu estava falando. Ele era um ótimo
ator.

∞∞∞
Narração - Jeff Staton

Eu senti que Charlotte chegou no restaurante completamente diferente da


maneira que ela estava ontem. Assim que a deixei na casa dela, ela parecia
estar leve, descontraída, arrisco dizer que estava apaixonada e demonstrava
que confiava em mim novamente. Não sei o que aconteceu, mas eu iria
reverter essa situação ao mostrar a transferência de capital para ela.

Depois que entreguei, me desculpei, porque isso era o mínimo que eu


poderia fazer. Mas mesmo assim ela parecia não satisfeita e começou a falar
sobre várias coisas que não faziam sentido. Meu maior objetivo ao dar esses
papéis para ela, não era que ela tivesse somente sua vingança, mas também
reconquista-la e fazer com que ela confiasse em mim.

Ela me deixou confuso ao pedir o divórcio pois minha intenção fazendo


isso tudo nunca foi me divorciar dela. Charlotte começou a falar até mesmo
da minha situação com Elizabeth, eu não entendi o que ela queria dizer, mas
provavelmente ela devia estar falando da maneira como Elizabeth estava me
cercando insistentemente e isso poderia incomoda-la, porém, estava quase
impossível me explicar para ela porque ela estava muito nervosa, e
demonstrava estar me odiando no momento.
Afronta
Narração - Jeff Staton

Eu tentava acertar com Charlotte, mas parece que tudo que eu fazia
apenas piorava nosso complexo relacionamento.

— Charlotte, por favor, me escute. Eu sei que não é fácil ver como eu e
Elizabeth estamos, mas saiba que ela quem ficou insistindo. Não foi minha
culpa. — Eu tentava explicar para ela.

Charlotte olhou para mim, e parecia estar indignada com o que eu havia
acabado de falar.

— Claro, você é um menino de 30 anos que é totalmente inocente e faz o


que os outros querem. Vire homem e se responsabilize por suas escolhas,
Jeff! Eu não preciso aguentar isso, pra mim já deu! Aguardo os papéis do
divórcio para que você se case com Elizabeth tranquilamente. — Ela se
levantou da mesa bruscamente e caminhou em direção a saída do
restaurante.
— Casar com Elizabeth? — Eu perguntei para mim mesmo totalmente
confuso. — Charlotte! — Eu a chamei enquanto ela saia do restaurante, mas
ela me ignorou completamente.

Alguns olhares repreensivos se direcionaram a mim quando a chamei em


voz alta. Eu não me importei porque minha vontade de me resolver com ela,
era maior do que o que as pessoas poderiam pensar ao meu respeito. Sendo
assim, me levantei correndo atrás dela. Ela já estava andando pela calçada,
com passos fortes, parecia estar mais furiosa ainda. Eu a peguei pela mão
forçando que ela parasse.

— Ei, por favor! Me escuta. — Eu falei praticamente implorando para


ela.

— Quando você vai entender que eu não quero te escutar mais? Eu sofri
por muito tempo tentando fazer com que você me escutasse, e você nunca
me escutou. Por que eu tenho que escutar você agora? Você não é vítima,
muito menos um coitado, eu sim fui vítima das atrocidades que você fez
comigo, e ainda fui benevolente demais ontem, só que não serei nunca mais!
— Ela falava, e à medida que ela falava se aproximava de mim.

Eu sei que ela estava com muita raiva, mas eu senti um desejo
incontrolável de beija-la, e pensei que talvez esse ato pudesse fazer com que
ela desistisse de continuar brigando. Eu a puxei para perto de mim, e
comecei a beija-la, a princípio ela correspondeu, mas logo deu uma mordida
no meu lábio e me empurrou.

— Ai! — Eu falei ao tocar meu lábio com meus dedos, surpreso com a
atitude que ela havia tomado.

Ela me encarou por alguns segundos com raiva, antes de se virar e


começar a correr pela calçada para fugir de mim. Eu não iria atrás dela, eu
daria esse tempo para que ela ficasse mais calma. Fiquei observando ela
partir enquanto passava a ponta dos dedos no meu lábio, onde ela havia
mordido.

— Pode demorar, mas eu não vou desistir de te reconquistar Charlotte,


eu terei seu amor de volta nem que seja a última coisa que eu faça na minha
vida. — Eu respirei fundo ao vê-la dobrar a esquina.

Eu estava decepcionado e chateado, acho que a única maneira de reverter


essa situação era mergulhando de cabeça no trabalho para conseguir me
distrair, do contrário, eu iria ficar remoendo tudo que aconteceu e não era
isso que eu queria. Eu tinha obrigação de ser paciente com a Charlotte
porque eu a fiz sofrer, e era completamente compreensível que ela agisse
dessa maneira porque não tinha motivo algum para confiar na minha palavra
dado ao histórico de tudo que ela passou ao meu lado.

Fui até meu carro e dirigi em direção a empresa, eu estava de mau humor
porque mais uma vez as coisas não estavam saindo do jeito que eu queria
que saíssem, e isso era muito frustrante para mim. Cheguei na empresa, e
deixei o carro na porta para que o manobrista o estacionasse para mim.
Peguei o elevador e cheguei no andar do meu escritório.

Quando eu estava caminhando até o meu escritório, Elizabeth veio em


minha direção com um sorriso. Tudo que eu menos precisava nesse
momento era vê-la.

— O que você está fazendo aqui, Elizabeth? — Eu perguntei já


enfurecido.

— Boa tarde para você também, eu vim te ver. — Ela falou com um
sorriso largo.

Apertei meus lábios um contra o outro a olhando com muita raiva.

— A única coisa que eu quero, é que você suma da minha frente, e da


minha vida também. Eu já deixei mais que claro que não tenho interesse
nenhum em você, e essa insistência sua está fazendo com que eu crie uma
grande repulsa de você. — Eu falei de maneira grosseira e com a voz
bastante alterada.

Elizabeth arregalou seus olhos e eu não dei oportunidade para que ela
pudesse falar mais nada, eu só queria sair dali o quanto antes, eu sabia que
havia sido por causa dela e de suas investidas que provavelmente ocorreu o
estopim para que Charlotte desistisse de continuar com uma relação
harmoniosa comigo.
Entrei dentro do meu escritório, e assim que olhei para minha mesa vi
que a foto que eu mantinha ali, minha e de Charlotte do dia do nosso
casamento estava rabiscada. E o fato estranho era que somente eu quem
estava com o rosto rabiscado.

— Mas, que merda é essa? — Eu perguntei para mim mesmo.

Assim que fiz essa pergunta para mim, Levi apareceu na sala e eu me
virei para vê-lo.

— Bom dia!

Eu estava franzindo a testa e segurava o porta-retratos. Ao ver que eu


segurava o porta-retratos ele deu um sorrisinho travesso e pareceu se lembrar
de alguma coisa.

— O sobrinho de Vivian estava aqui ontem e ele encontrou com


Elizabeth, pelo que me contaram os dois parecem ter tido uma briga na porta
do seu escritório, acho que ele estava desenhando na sua foto. É um garoto
super inteligente. — Levi falava com o olhar nostálgico como se lembrasse
do menino enquanto falava dele para mim.

— Inteligente demais, e claramente não gostou de mim. — Eu falei de


um jeito ranzinza. — Peça para trocarem a foto depois, eu não quero deixar
de mantê-la aqui. — Eu falei e coloquei o porta-retratos na mesa.

— Tudo bem, pode ficar tranquilo que eu mandarei fazerem isso. —


Levi deu um sorriso tranquilo. — O que aconteceu que você parece estar tão
nervoso? — Ele perguntou arqueando uma de suas sobrancelhas.

— Eu tive um péssimo encontro com a Charlotte, depois de ter tido um


ótimo encontro. — Eu sentei na cadeira e passei a mão na testa.

— Como assim? — Levi perguntou confuso.

— Longa história, depois eu conto sobre ela para você. — Expliquei para
Levi. Eu não queria entrar naquele assunto chato porque só de pensar no
fiasco que foi meu encontro com Charlotte, e em como ela me rejeitou, eu
ficava nervoso.
— Está certo. Bem, esses são alguns relatórios que se acumularam desde
ontem para você avaliar. Vou deixá-los aqui na sua mesa. — Levi deixou os
papéis em cima da minha mesa no momento que eu estava sentado na
cadeira com minha mão apoiada na testa bem pensativo.

— Obrigado. — Assim que agradeci, Levi saiu da sala.

Fiquei mais alguns minutos procrastinando e pensando em como tudo


havia dado errado com Charlotte, e algo me dizia que havia mais coisa
envolvida para ela ter aquele comportamento, porém, eu não fazia ideia do
que poderia ser. Resolvi começar a ler os relatórios e resolver as pendências
que eu tinha a serem feitas, e trabalhei durante algumas horas ali.

Quando já era pouco mais de quatro da tarde eu resolvi que ia dar uma
pausa para tomar um café na sala de descanso, minha cabeça estava doendo,
e um café sempre me ajudava. Me levantei, saí do meu escritório e caminhei
até a sala de descanso. Ao chegar lá não havia ninguém e isso me deixou
satisfeito porque eu não estava com humor para conversar com ninguém,
muito menos com bajuladores que sempre apareciam. Coloquei o café para
mim em uma xícara, e assim que me virei, esbarrei em um menino.

Para não derramar café nele, porque estava quente e poderia queima-lo,
eu derramei o café em mim.

— Que inferno! Hoje o dia simplesmente não vai cooperar comigo. —


Eu disse com raiva.

— Minha mamãe fala que xingar é feio. — Aquela criança inconveniente


disse para mim.

Eu peguei um guardanapo de papel e comecei a me limpar, eu estava


furioso e para completar aquele menino ainda falou aquele desaforo. Eu
estava preparando uma bela de uma resposta para dar para ele, então
comecei a falar:

— E sua mamãe não te ensinou que é feio ficar atrás das pessoas de
maneira silenciosa? — Eu falei com raiva e então olhei para o rosto do
menino.
Fiquei surpreso pois eu já havia visto, era o mesmo menino mal educado
do aeroporto que derramou café propositalmente em mim.

— Ei, espera aí, eu te conheço! — Falei ao apontar o dedo para ele.

— Sim, eu também te conheço. — Ele cruzou seus braços e me olhou


com uma expressão feia.

— Você é aquele garoto mal criado que derramou café em mim lá no


aeroporto, e agora, novamente, a história se repete. — Eu falei enquanto
balançava minha cabeça de um lado para o outro indignado com o aquele
garotinho petulante.

— Aquele dia foi muito engraçado! Mas hoje quem derramou café foi
você mesmo, eu não fiz nada. — Ele falou dando uma gargalhada enquanto
andava em direção ao armário que havia alguns biscoitos.

— Só se for para você, eu tinha uma reunião importante e quase perdi


meu voo, porque tive que me trocar, sua atitude foi grosseira. Não sei se sua
mãe te dá educação o suficiente, mas, você não pode se comportar assim
com as pessoas, principalmente as pessoas que você não conhece. — Eu
falei o repreendendo.

Oscar pegou um biscoito no pote de vidro que havia no armário, foi até o
sofá se sentando nele, e começou a comer o biscoito como se eu não tivesse
falado nada para ele. Ele me encarava com o queixo levantado e parecia me
odiar bastante. Que menino mais grosseiro, era um verdadeiro pestinha. Eu
fiquei inconformado com a forma que ele estava agindo e então o questionei.

— Você não vai falar nada, garoto?

— Não tenho nada pra falar, tô muito bem assim. — Ele disse em tom
provocativo.

No mesmo instante Levi entrou na sala, assim que Oscar o viu, ele disse
com um sorriso:

— Oi, tio Levi! — Ele falou como uma criança normal e amorosa.
Realmente, estava mais que claro que o problema dele era comigo.

— Oi, garotão! Como você está? — Ele foi até o Oscar e passou a mão
no cabelo dele.

— Eu tô bem! — Ele disse de maneira amigável.

— Ah, que bom! Finalmente você conseguiu encontrar o Jeff. — Levi


falou com um sorriso.

— Eu não sei o porquê esse garoto mal criado queria me encontrar, ele
parece me odiar. — Eu falei com raiva.

— Eu não gosto mesmo de você. — Levi não conseguiu conter sua


risada diante do que Oscar falou.

Eu franzi minha testa o censurando, e então ele parou de rir e logo falou:

— Mas por que você não gosta dele, Oscar? Você não pode falar assim
com as pessoas. Elas podem se magoar. — Levi explicou calmamente para o
menino.

— Eu só não gosto, e pronto. — Oscar falou.

— Eu também não gosto de você. — Falei encarando aquele pestinha.

Levi olhou para mim e depois olhou para ele, ele deu um breve sorriso e
disse:

— Vocês dois são muito parecidos, fisicamente e no jeito de ser. É


interessante... — Levi deu um gole no café que havia pegado assim que
falou.

— Não somos não! — Eu e Oscar falamos juntos, e ficamos surpresos


um com o outro por termos falado ao mesmo tempo.

Eu queria perguntar mais sobre Oscar, eu fingia que não me importava,


mas me incomodava que uma criança que eu mal conhecia não gostasse de
mim de forma deliberada e ainda falasse isso tranquilamente para quem
quisesse ouvir. Porém, assim que eu ia perguntar mais sobre aquele
garotinho, Brandon entrou na sala de descanso.

— Boa tarde. — Ele falou com um sorriso.

— Brandon? O que você está fazendo aqui? — Eu falei com uma voz
firme.

Eu fui amigo de Brandon durante muitos anos, mas quando nos tornamos
adultos eu percebi o caráter duvidoso que ele estava começando a ter e
resolvi me afastar, eu não confiava nele de maneira nenhuma, e me
surpreendi por ele estar ali.

— Eu consegui um emprego no departamento jurídico da sua


empresa. — Ele deu um sorriso orgulhoso.

Não gostei nada dessa história, mas, eu confiava no chefe do


departamento jurídico e tenho certeza que ele não iria contratar uma pessoa
que julgasse não ser confiável, mas mesmo assim saber que Brandon estava
trabalhando na empresa me incomodou bastante.

— Entendi. — Falei com tom de desdém.

Oscar prestava atenção atentamente na conversa entre mim e o Brandon,


então ele saiu do sofá, foi até o Brandon e disse:

— Oi, meu nome é Oscar.

Brandon pareceu um pouco confuso.

— O-oi, tudo bem com você? Me chamo Brandon. — Ele falou dando a
mão para o menino.

— Eu vou muito bem. Você me leva até a minha tia Vivian? — Ele falou
com um sorriso.

— Claro, levo sim. — Brandon pareceu confuso pela forma que Oscar
falou com ele, mas, então pegou na pequena mão dele e saiu da sala de
descanso.
Eu fiquei mais furioso ainda. O garoto gostou do Brandon, mas não
gostou de mim, achei aquilo muita afronta.

∞∞∞

Narração - Oscar Hills

Assim que o Tio Sam, falou sobre um tal de Brandon para minha mamãe
eu lembrei que ela e a tia Janet, já tinham falado dele também. A mamãe
falou que achava que ele tinha sentimentos por ela. Eu aprendi que quando
os adultos usavam essa palavra eles queriam dizer que um gostava do outro.
Ela nunca chorou falando desse Brandon, então, achei que ele poderia ser
uma boa pessoa para ela. Assim que ela saiu, eu, a tia Vivian e o tio Sam
saímos também.

De novo fui para empresa onde a tia Vivian trabalhava.

— Hoje eu não vou deixar você na brinquedoteca Oscar, mas eu preciso


que você se comporte. Porque se você não se comportar, a titia não vai trazer
você mais. — Ela tentou ser firme ao falar comigo.

Eu dei um sorriso e concordei balançando minha cabeça. Ela sorriu


orgulhosa, e então a gente foi para o escritório dela. Eu passei o dia bem
comportado porque eu queria voltar lá mais vezes. Quando foi de tarde, eu
perguntei se poderia ir na sala de descanso pra comer umas bolachas
gostosas que tinham lá e ela permitiu. Assim que eu cheguei lá vi o Jeff
malvado, ele estava colocando café para ele.

Eu fiquei atrás dele, e ele se assustou quando me viu porque acabou


esbarrando em mim, por isso derramou o café nele mesmo. A gente começou
a se provocar, mas logo depois o tio Levi entrou na sala e achou engraçado o
jeito que tratei o Jeff. E então, o Brandon, que minha mamãe e o tio Sam
falava entrou. Só podia ser ele. Eu pedi para que ele me levasse de volta para
a sala da tia Vivian, e o Jeff malvado pareceu não gostar, afinal de contas eu
gostava de todo mundo menos dele e fazia questão que ele soubesse disso.
Por não me conhecer, Brandon achou um pouco estranho, mas aceitou
me levar, então nós dois fomos juntos para a sala da minha tia Vivian e eu
iria aproveitar para falar com ele pelo o caminho.
Oportunista
Narração - Brandon Urie

Eu achei estranho aquele garotinho agir como se ele me conhecesse,


sendo que eu nunca tinha o visto. Por mais que eu nunca tivesse o visto,
aqueles grandes olhos azuis que ele tinha me lembravam os de alguém, mas
eu não conseguia dizer exatamente de quem. Enquanto caminhávamos até a
sala da Vivian ele começou a me fazer umas perguntas inusitadas.

— Brandon, né?

— Isso mesmo, Oscar. — Dei um sorriso a ele.

— Você tem namorada? — Ele perguntou curioso.

— Hum... Você é bem curioso, não é mesmo? — Eu ri ao ver como ele


falava.

— Eu estou querendo colher informações. — Oscar me explicou.


— Ah, sim. E para que você está colhendo informações? — Perguntei
ainda rindo. Esse parecia ser o típico menino à frente da sua idade.

— Você também é muito curioso para um adulto, Brandon. — Ele falou


de um jeito meio ranzinza.

Ele gostava de fazer perguntas indiscretas, mas não aceitava quando as


perguntas eram com ele.

— Você conhece a Charlotte? — Oscar me perguntou e eu fiquei


surpreso com aquela pergunta que ele me fez.

— Conheço sim. — Respondi a ele.

— O que você acha dela? — Ele perguntou curioso.

— Ah, eu... Eu... — Fiquei muito surpreso com a pergunta e acabei me


atrapalhando nas palavras.

— Você gosta dela! Deu para perceber isso. Então já que você gosta dela
por que você não tenta conquistar o coração dela? — Ele deu um sorriso e
olhou para mim como se tivesse tido uma grande ideia.

Eu não sabia como reagir diante do que aquele garoto estava falando, eu
fiquei espantado na verdade. Parecia que eu estava conversando com um
adulto. Mas eu estava gostando desse empenho do garoto. Me recuperei do
susto e então perguntei a ele:

— Mas a Charlotte é casada com o Jeff, aquele que estava na sala de


descanso. — Eu falei para ele.

— Mas ele é muito malvado, eu não gosto dele e não quero que ele fique
com ela. — Oscar falou em um tom raivoso que me surpreendeu.

Confesso que estava gostando mais desse menino. Afinal ele não gostava
de Jeff e não sei por qual razão, mesmo não me conhecendo, ele queria me
unir com a Charlotte. E eu, há muitos anos nutria uma paixão secreta por ela.
Por ser sobrinho da Vivian, ele deveria conhecer a Charlotte, mesmo assim
era estranho o empenho dele para querer que eu ficasse junto com a
Charlotte. Antes que eu pudesse responde-lo, Vivian apareceu.

— Oscar! Ai, ai, ai! Eu não acredito que você novamente fez questão de
sumir de mim! Eu não vou te trazer mais. — Ela falou esbravejando com o
garoto. — Se eu não tivesse uma reunião agora eu te levaria para a casa da
sua... — Ela olhou para mim um pouco hesitante e falou. — Da Charlotte!

Achei estranho o jeito que Vivian hesitou para continuar a falar, parecia
que ela queria esconder algo, era muito suspeito. Esse menino com certeza
tinha alguma relação com a Charlotte e eu iria descobrir qual era.

— Se você quiser eu o levo, meu turno já acabou por aqui. — Eu disse


com um sorriso.

— Você? — Vivian me olhou dos pés à cabeça com um olhar carregado


de julgamento.

— Sim, te garanto que ele ficará bem! — Eu sorri ao falar.

— Hum... Espera só um segundo. — Vivian falou e se virou.

Ela foi até sua sala que estava em frente ao lugar onde nós estávamos.
Olhei para o Oscar e ele deu de ombros levantando as mãos dando a
entender que não sabia o que havia acontecido. Observei que Vivian pegou o
celular e ligou para alguém, depois de ter ligado, ela saiu da sua sala
novamente e chegou próximo a nós.

— Bom, pode levá-lo, logo a Charlotte chegará e ficará com ele. E eu


não vou te trazer mais, mocinho. —

Oscar olhou para Vivian fixamente e fez um biquinho, assim que ele fez
esse biquinho ela uniu suas sobrancelhas e tentou resistir aos encantos do
menino.

— Nem adianta, rapazinho, isso não vai funcionar comigo! — Ela falou
esbravejando e logo saiu.
Tenho certeza que ela saiu dessa forma porque não queria acabar
voltando atrás do que ela havia prometido para o garoto. Eu dei um sorriso
com o canto dos lábios ao olhar para aquele garoto, ele era extremamente
inteligente e ao mesmo tempo extremamente ranzinza. Eu poderia até
mesmo arriscar dizer que ele parecia muito com Jeff, e era surpreendente que
ele não gostasse dele sendo que os dois tinham personalidades tão parecidas.

— É, meu charme não adiantou dessa vez. Mas que bom que você vai
poder me levar para casa da Charlotte, assim a gente pode conversar pelo
caminho. — Ele me falou com empolgação.

— E isso é uma coisa que pelo visto você gosta de fazer bastante, não é
mesmo? — Ele apenas deu um sorriso travesso e nós saímos da empresa,
caminhando em direção a garagem onde estava meu carro.

Fomos até a casa da Charlotte que seria o lugar onde o garoto ia ficar e
ele foi falando durante o caminho todo, ele contou da escola, de como não
gostava das outras crianças da sua idade, que não sabia mais o que fazer na
escola chata e pedia para sua mãe o mudá-lo de escola. Mas todas as vezes
que eu tentava me aprofundar no assunto sobre os pais dele, ele não
mencionava quem eles eram e desconversava, quase como se eu não pudesse
saber quem eles eram e isso me deixou cada vez mais instigado.

Assim que chegamos na casa da Charlotte, nós subimos e quem nos


recebeu na porta foi a Janet, a antiga governanta da casa do Jeff.

— Tia Janet! — Oscar falou empolgado e deu um pulo para que ela o
pegasse no colo.

— Oi meu menino, como você está? — Ela perguntou ao abraçá-lo


ternamente.

— Eu estou bem, só um pouco cansado. — Ele falou e bocejou.

— Então vamos já tomar um banho. — Janet falou para Oscar e ele


andou em direção ao interior do apartamento.

Mas antes, ele veio até mim e me deu um abraço.


— Foi um prazer finalmente te conhecer. — Ele sorriu ao falar quando se
afastou do abraço.

"Finalmente"? Eu pensei. Essa história estava ficando cada vez mais


suspeita. Janet estava na porta e parecia estar com um sorriso sem graça e
então perguntou:

— Você gostaria de entrar, senhor Brandon?

— Eu... — Antes que eu completasse a frase, Charlotte chegou.

Ela estava linda como sempre, e usava um vestido preto bem elegante
que a deixava com o corpo bastante evidenciado. Ela estava a cada dia mais
linda, na festa ela estava deslumbrante e fez Elizabeth morrer de inveja, mas
agora ela continuava perfeita.

— Brandon! Oi! — Ela me cumprimentou e parecia um pouco ofegante.

Ela me abraçou e o cheiro que vinha dela era incrível.

— Oi, Charlotte, eu já trouxe o sobrinho da Vivian para ficar com


você. — Eu falei para ela com um sorriso, mas eu estava desconfiado de ter
que deixar aquele menino ali. Por que não poderia deixa-lo direto com a mãe
dele?

— Ah, sim, obrigada. — Ela pareceu um pouco sem graça e desviou seu
olhar por alguns instantes.

Depois voltou a me olhar novamente e eu tive uma grande suspeita. Os


olhos azuis que o Oscar tinha e eu achei tão familiares, eram parecidos com
os de Charlotte. Será que aquele garoto era filho dela?

— Não quer ficar para o jantar? — Ela perguntou.

Creio que talvez ela estivesse me chamando para ficar e jantar com eles
apenas por educação, mas eu precisava descobrir mais a respeito desse
garoto e eu também não iria perder a oportunidade de ficar junto com a
Charlotte. Como continuei em silêncio por alguns segundos após ouvi-la. Ela
completou:
— A não ser que você tenha algum compromisso. — Charlotte sorriu
gentilmente.

— Não tenho nenhum compromisso, se eu não for incomodar aceito o


seu convite.

— Não será incomodo nenhum. — Ela acrescentou.

Finalmente entramos no apartamento dela, era um apartamento luxuoso,


aparentemente Charlotte havia conseguido tudo o que precisava. Notei que
ela estava bem.

— Fique à vontade, eu só vou tomar um banho e me trocar. Logo eu


volto. — Charlotte falou para mim.

— Pode ficar tranquila, faça o que você tem que fazer que eu ficarei
aqui. — Dei um sorriso para ela e me sentei no sofá.

Fiquei mexendo no celular descontraidamente, até que fui surpreendido


por Oscar. Ele disse quase sussurrando e olhando para os lados com medo de
ser pego.

— Brandon, você me leva para a empresa amanhã?

— Por que você quer ir para a empresa? — Eu perguntei com


desconfiança.

— Quero ficar de olho no Jeff, e ter certeza que ele não vai se aproximar
da minha m... Charlotte. — Quando ele falou isso foi praticamente a
confirmação que eu precisava para ter certeza que ele era filho da Charlotte,
mas será que o pai era o Jeff?

— Tudo bem, se a Charlotte permitir amanhã cedo eu venho e te busco


para levá-lo para a empresa. — Ele seria um bom aliado.

Já que eu queria conquistar a Charlotte, eu teria que cair nas graças do


moleque também, então, eu precisava ser gentil com ele. E só de saber que
ele aprontaria com o Jeff era algo que me agradava.
— Oscar, volte já aqui! Você precisa jantar, do contrário vai demorar
muito a dormir. — Janet falou em um tom bravo com ele.

Ele deu um sorriso com cumplicidade para mim, e foi fazer o que ele
tinha que fazer. Logo Charlotte, apareceu na sala, agora ela estava sem
maquiagem e com um vestido leve, claro, mas que não deixava de contornar
seu corpo e com isso me enlouquecer. Ela chegou próxima a mim com um
sorriso e foi até a adega de vinhos que havia na sala. Assim que chegou lá,
ela me perguntou:

— Aceita um vinho?

— Por favor. — Eu respondi animado.

Acho que estávamos fazendo progressos, afinal, nós nunca havíamos


bebido juntos. Ela serviu duas taças e veio em minha direção, se sentou ao
meu lado e me entregou minha taça de vinho. Ela ia levar a taça até a boca
dela e então eu a interrompi dizendo:

— Não, faça isso, e o nosso brinde? — Eu sorri e estiquei minha taça em


direção a ela.

— Um brinde? A que brindaríamos? Hoje eu estou sem muitos motivos


para comemorar. — Ela deu um breve sorriso, mas seu olhar era triste.

— Não imagino o que você tenha passado hoje que te trouxe tanto
desânimo, mas, vamos brindar a novos ciclos. — Eu falei em um tom
entusiasmado na tentativa de deixar Charlotte animada.

— Ótimo, gostei. À novos ciclos. — Ela bateu sua taça na minha e após
ouvirmos o tilintar delas bebemos um gole do vinho.

Terminei de beber um pouco do vinho e resolvi puxar assunto com ela:

— Então, como você passou esses cinco anos? Você se tornou um


verdadeiro fantasma, ninguém te encontrava. — Dei um sorriso ao falar.

— Somente quem eu queria que me encontrasse, me encontrava. — Ela


me respondeu.
— Autch! — Eu falei e dei uma risada descontraída.

— Não leve para o lado pessoal, eu precisava desse tempo. Foi muito
bom para mim, amadureci, cresci bastante como empresária, e consegui
enxergar realmente o potencial que eu tinha como mulher e profissional que
eu nunca havia enxergado antes. — Eu sorri de um jeito satisfatório ao
escutá-la falando essas coisas.

— Que bom, você merece tudo isso, foi agonizante tudo o que você
passou nas mãos dos Staton, agora você realmente merece dar a volta por
cima. — Eu falei para Charlotte com o olhar fixo no dela.

Minha ideia era gerar um clima mais romântico possível para que nós
dois pudéssemos ter a chance que nunca tivemos. Então, comecei me
aproximar dela e não tirava os olhos dela, mas ao perceber que eu me
aproximei mais, e provavelmente entender minhas intenções com ela,
Charlotte se levantou e perguntou:

— Quer mais vinho?

— Por favor... — Eu falei com um sorriso e permaneci olhando para ela.

Eu não iria desistir tão fácil. Foi então que ela perguntou:

— E Adélia, sua noiva, como ela está? — Ela me olhou com certa
arrogância.

Talvez era por isso que ela não iria querer ceder a mim. Então eu disse
para ela:

— Eu não sei. — Charlotte me olhou confusa enquanto servia mais um


pouco de vinho para nós.

— Como assim não sabe? Ela não é sua noiva? Provavelmente depois
desses anos já deve ser sua esposa. — Ela afirmou ainda confusa.

Eu dei uma breve risada e balancei minha cabeça de um lado para o


outro negando.
— Não, não. Nós rompemos um pouco depois de você sumir. — Falei
para ela e ela se surpreendeu com o que eu disse.

— Uau, eu não sabia. — Ela falou se sentando ao meu lado e me


entregou o vinho.

— Era um pouco difícil mesmo de você saber devido ao seu sumiço. —


Eu ri descontraidamente.

— Verdade... — Ela falou pensativa. — Você viu a notícia sobre o


noivado de Jeff e Elizabeth?

O quê? Com certeza era fora de cogitação eles estarem noivos, mas com
certeza esse deve ter sido o truque que Elizabeth usou para afastar Charlotte
de uma vez por todas de Jeff, eu deveria ser esperto e saber aproveitar isso
ao meu favor.

— Não cheguei a ver, mas então finalmente oficializaram? — Eu disse


dando a entender que eu já sabia do envolvimento deles sendo que na
verdade não havia nenhum.

Pelo contrário, Jeff isolou completamente Elizabeth durante todos esses


anos. Ao ouvir minha confirmação Charlotte fez uma expressão
extremamente triste, creio que se ela tinha alguma esperança que não fosse
verdade eu acabei com ela nesse momento. Depois de ficar pensativa por
alguns segundos ela sorriu tristemente como se quisesse disfarçar o que
estava sentindo. Antes que eu pudesse falar alguma coisa, fomos
interrompidos por Oscar e Janet.

— Charlotte, ele só quer dormir se for com você. — Janet deu um


sorriso, mas notei que ela estava apreensiva.

— Fique à vontade Charlotte, só vou terminar meu vinho e já vou.

— Não precisa ir, já, já eu volto. — Charlotte falou ao se levantar.

Oscar estava ao lado de Janet esfregando seus olhos. Ele não demoraria
muito para dormir. Assim que todos saíram da sala resolvi explorar um
pouco mais a casa para ter mais provas que Oscar era o filho de Charlotte e
Jeff. Caminhei pela sala com a taça de vinho na mão, e vi algumas
fotografias. Charlotte estava com um bebê, e depois haviam várias fotos dela
com Oscar um pouco mais novo. Comecei a caminhar em direção ao quarto
que ela foi fazer Oscar dormir.

E ouvi ela cantando para ele, ao final da música ela disse:

— Boa noite, meu filho, a mamãe te ama. — Pronto, depois disso se


ainda restava alguma pontinha de dúvida, não existia mais.

Eu só não contava que ela iria sair de imediato e me pegar no flagra


ouvindo o que ela havia falado.

— Brandon! — Ela falou assustada, colocando a mão em seu peito e


olhando para mim com os olhos arregalados.

— Filho? O Oscar é seu filho com o Jeff? — Fui direto ao perguntar.


Maquiavélicos
Narração - Brandon Urie

Assim que terminei de fazer minha pergunta Charlotte pareceu mais


assustada ainda.

— Nunca te disseram que é grosseria espiar? — Charlotte falou nervosa.

— Não desvia do assunto. — Eu fui incisivo ao falar com ela.

Charlotte me olhou de maneira aflita e me puxou pelo braço em direção


a sala, ao chegarmos lá ela se sentou no sofá praticamente se jogando e
indicou o assento do lado para que eu me sentasse. Eu me sentei, coloquei a
taça com o vinho que eu estava bebendo na mesa de centro e então mantive
meus olhos atentos em Charlotte. Ela respirou fundo e então disse:

— É, você ouviu bem, o Oscar é meu filho. — Ela falou olhando para
mim.

— E o Jeff é o pai? — Perguntei, mas eu já sabia a resposta.


— Sim, ele é o pai do Oscar. Mas eu quero que você me prometa, por
favor, pelo amor de Deus e por todas as coisas que você ama... Não conte
para ninguém! — Ela implorava para mim e mantinha seu olhar aflito.

— Fique tranquila, eu não vou falar para ninguém, seu segredo está
seguro comigo. — Eu falei para ela e segurei sua mão.

Claro que o segredo dela estaria seguro comigo, afinal, eu não tinha
interesse nenhum na reconciliação da Charlotte com Jeff, pelo contrário, eu
faria de tudo para atrapalhar isso.

— Obrigada, eu não sei o que faria caso eles descobrissem a existência


do Oscar. Os Staton me infernizaram tanto que eu não sei o que faria se eles
descobrissem que tenho um filho com o Jeff. Mas, eles deviam estar
satisfeitos com o filho que Elizabeth deu a eles... — Ela falou se
lamentando.

— Filho que a Elizabeth deu? — Perguntei confuso.

— É, eu fui embora por conta disso. Você e Jeff me disseram que os 25%
das ações já haviam sido conquistados, pois bastava apenas um filho. Sendo
assim deduzi que com a volta da Elizabeth, com certeza era ela quem estava
grávida.

Meu Deus! Essa garota estava completamente equivocada. Quem estava


grávida na época, era Adélia, e ela acabou perdendo o bebê e então os 25%
das ações do avô de Jeff ainda estavam disponíveis. Porém, o trauma de
Adélia foi tão grande com a perda do bebê que ela não quis tentar mais e por
esse motivo nosso noivado já não fazia mais sentido. Mas eu iria tirar
proveito dessa história.

— Realmente, você tem razão, ela engravidou, mas acabou perdendo o


bebê. Eu acho que por conta disso ela e o Jeff terão um elo para o resto da
vida. — Eu disse com o intuito de manter ela magoada com o Jeff.

— Nossa... Eu não sabia. Coitada! — Charlotte falou se lamentando por


Elizabeth.

— Coitada? Se ela pudesse ela mataria você, e você sente pena dela?
— As pessoas só nos dão aquilo que elas têm no seu coração.
Obviamente eu não quero me manter perto de uma pessoa como a Elizabeth,
porém, eu não desejo mal a ela. Eu imagino que perder um filho, é uma dor
muito grande. — Ela falava com convicção.

— Realmente... Bom, eu acho que já vou indo. — Não contei a ela que o
filho dela me pediu para eu vir amanhã pois eu queria chegar de surpresa
para impressioná-la.

— Tudo bem, obrigada, você me irritou um pouco ao espiar, mas soube


que você ajudou muito o Oscar hoje. Antes de dormir, ele falou para mim o
quanto gostou de você. — Ela deu um sorriso ao me contar o que o filho
dela falou.

— Ah, ele é um garoto muito especial. — Eu falei sorrindo também.

Inegavelmente ele era um garoto muito esperto, e caso eu e Charlotte


engatássemos um relacionamento com certeza ele seria um grande problema.
Mas, nada que um colégio interno não resolvesse. Ao ver que eu elogiei o
filho dela, Charlotte demonstrou ter ficado orgulhosa. Eu me levantei do
sofá, eu tinha que mostrar que era uma pessoa diferente do que ela conheceu.

Além de conquistá-la, eu queria com certeza participar dos lucros que ela
tivesse na Tec Solutions. Ao julgar pelo lugar onde ela estava morando,
Charlotte estava muito bem de vida, e isso me interessava. Eu iria unir o útil
ao agradável.

— Depois podemos marcar algo. — Ela falou para mim enquanto me


levava até a porta.

— Claro, para mim será um imenso prazer. — Eu falei satisfeito para ela.

Eu a abracei e dei um beijo no rosto dela, eu quis demorar, mas ela


rapidamente se esquivou. E então, eu fui embora para casa. Aos poucos eu
iria conquistar a Charlotte, e com certeza ela iria baixar a guarda dela. Acho
que na verdade ela já estava me dando indícios que tinha interesse também.
Fui embora, pois amanhã cedo eu já estaria de volta.

Assim que cheguei em minha casa, resolvi ligar para Elizabeth.


Ligação ON

Elizabeth: — O que você quer, Brandon?

Brandon: — Você é uma mulherzinha muito maquiavélica, não é


mesmo?

Elizabeth: — Se você ligou para me ofender pode ter certeza que vou
desligar o telefone.

Brandon: — Não, não, enquanto estiver me beneficiando eu apoio.


Acabei de sair da casa da Charlotte e ela acredita que você e o Jeff irão se
casar.

Elizabeth: — Deu certo! — Ela gargalhou ao terminar de falar.

Brandon: — Sim, mas se eu fosse você não comemoraria tão cedo.

Elizabeth: — Por quê?

Brandon: — Há um agravante que acabei de descobrir. A Charlotte tem


um filho com Jeff.

Elizabeth: — Você só pode estar brincando.

Brandon: — Não, quem dera eu estivesse. E acho que você conhece, ele
é o pestinha sobrinho da Vivian que está indo para a empresa nesses últimos
dias.

Elizabeth: — Realmente o fruto não cai longe do pé, ele é insuportável


igual a mãe dele.

Brandon: — O garoto claramente tem a personalidade ruim do Jeff.


Mas, enfim, nós precisamos nos unir, Jeff não pode saber da existência desse
filho.
Elizabeth: — Não mesmo, Charlotte precisa ir embora daqui o quanto
antes.

Brandon: — Sim, precisamos dar um jeito nisso o quanto antes.

Elizabeth: — Vamos pensar em algo. Obrigada pelas informações.

Brandon: — Por nada, me mantenha informado dos próximos passos.

Ligação OFF

Fui dormir e na manhã seguinte eu fui buscar Oscar na casa da Charlotte.


Assim que cheguei lá, Janet me recebeu e de imediato chamou Charlotte. Ela
me recebeu com surpresa.

— Brandon? O que você faz aqui? — Ela me perguntou um pouco


confusa.

— Ontem, Oscar me pediu que o levasse para a empresa, e eu prometi a


ele que faria isso. Então, estou aqui. — Eu sorri de um jeito satisfeito.

— Eu não sabia disso. — Ela falou, e em seguida Oscar apareceu.

— Por favor, mamãe, deixa o tio Brandon me levar! — Oscar implorou


para Charlotte.

— Mas você aprontou com sua tia Vivian, não está merecendo. — Ela o
censurou.

Resolvi intervir para conseguir cativar mais ainda o pirralho.

— Pode deixar que comigo ele vai se comportar, não é verdade, Oscar?
Prometa isso para sua mãe que ela deixará você ir comigo! — Eu falei em
um tom entusiasmado.

Charlotte deu um sorriso e parecia apreciar o que eu estava falando.


— É mamãe, eu prometo, juro de dedinho! — Ele apontou seu dedo
mindinho para Charlotte.

Ela olhou meio desconfiada para seu filho, mas acabou cedendo, então
ela ofereceu o dedo para ele, e os dois firmaram o juramento. Eu sorri ao
olhar aquela cena, por mais que estivesse achando aquilo tudo bem ridículo.
Então, eu peguei na mão do garoto para nós irmos.

— Fique tranquila, Charlotte. Eu vou cuidar dele como se ele fosse meu
filho. — Eu falei em uma tentativa de plantar essa ideia nela.

— Obrigada, Brandon, você está sendo incrível. Realmente parece ter


mudado de verdade. — Ela me olhava com uma expressão muito satisfeita.

— Por nada. — Dei uma piscadinha para ela.

Saí com o Oscar em direção ao meu carro para irmos para a empresa.
Assim que chegamos na empresa, por coincidência, nós encontramos Jeff.

— Ora, ora, quem está aqui de novo. — Ele falou em um tom provocante
para o Oscar e me ignorou completamente.

— Oi, Jeff. — O Oscar respondeu com um sorriso e não pareceu ceder a


provocação de Jeff, o que lhe causou estranheza. Então Oscar continuou. —
Você já conhece o Brandon? Ele será meu novo papai.

Jeff pareceu surpreso com o que ele falou, e eu fiquei mais ainda, eu quis
que Charlotte pensasse nessa ideia, mas quem pensou foi o pirralho. Por
mais que Jeff não soubesse que Oscar era seu filho, ele parece ter ficado
incomodado.

— Hum... Péssima escolha da sua mãe. — Jeff falou com desprezo


olhando em minha direção ao dar um sorriso com ar de superioridade.

Nós nos encaramos por alguns segundos, pensei em diversas respostas


ofensivas para dar a ele, mas infelizmente ele era chefe do meu chefe, e
enquanto eu não conseguisse algo concreto com Charlotte precisava manter
esse emprego. Então, apenas dei um sorriso sarcástico para ele, afinal eu
tinha um trunfo sobre ele, mesmo ele não tendo conhecimento. Se ele
soubesse que o Oscar era filho dele e tinha preferência por mim ao invés
dele, com certeza ele perderia toda essa arrogância.

Oscar e Jeff se encararam por um breve momento. Jeff parecia estar


intrigado com o garoto, ainda não era o momento dele descobrir que o
pirralho era seu filho. Por esse motivo eu precisava intervir.

— Vamos, Oscar, não queremos mais aborrecer o Jeff, não é verdade? —


Olhei para ele ao perguntar e dei um sorriso breve.

— É verdade. Por enquanto não quero mais aborrecer o Jeff. — Oscar


falou em um tom de arrogância olhando para o Jeff.

Um dos cantos dos lábios de Jeff se elevou esboçando um breve sorriso,


parecia que ao mesmo tempo que ele desaprovava a petulância do garoto,
isso parecia instigá-lo. Eles ainda permaneciam com seus olhos fixos um no
outro, por esse motivo comecei a praticamente arrastar Oscar na direção
oposta, com o intuito de não delongar mais aquele momento.

— Por que você disse que eu era seu novo papai? — Indaguei.

— Porque eu quero que você seja meu novo papai, acho que você já sabe
que a Charlotte é minha mamãe, por esse motivo eu quero muito que você
seja meu papai. — Ele falou de maneira inocente.

Mal sabia ele que se eu engatasse um relacionamento com a Charlotte,


uma das primeiras coisas que eu faria era mandar esse garoto insuportável
para bem longe.

— Entendi. Que bom que você me vê dessa forma, garotão! Tomara que
sua mãe queira isso também. — Eu sorri para ele ao falar.

— Pode deixar que eu vou ajudar você! — Oscar disse com empolgação.

Eu dei um sorriso satisfeito ao escutar o que ele havia falado. Levei ele
até a sala onde eu trabalhava, coloquei ele sentado em uma cadeira, de frente
para a mesa ao lado da minha e dei alguns papéis para ele desenhar.
Enquanto o garoto estava envolvido com seus desenhos, eu aproveitei para
mandar uma foto dele para Charlotte, na legenda da foto eu disse: “Estou
cuidando bem do Oscar, ele está se divertindo bastante!”

Assim que ela leu a mensagem mandou uma série de emojis de coração.
Eu tenho certeza de que aos poucos eu iria conquistar o coração dela. O
Oscar nunca havia tido um pai presente, apenas aquele primo sem sal da
Charlotte, o Sam, acho que se ela visse que o filho estava feliz, e empolgado
comigo isso poderia aumentar significativamente minhas chances com ela.
Quem é esse garoto?
Narração – Jeff Staton

A cada vez que eu me encontrava com aquele garoto mal-educado, mais


eu me impressionava. Eu precisava saber quem ele realmente era, e para isso
eu iria precisar da ajuda do Levi. Caminhei em passos largos até o escritório
dele, e entrei lá de uma vez e já fui falando sem nem ao menos o
cumprimentá-lo.

— Eu preciso saber mais sobre o Oscar. — Me sentei na cadeira em


frente à mesa de Levi, apoiei uma das minhas mãos no meu queixo ao
encara-lo.

Levi tirou seus óculos, e coçou seus olhos com os dedos. Após um longo
suspiro, ele disse de modo cansado.

— Quando você se impressiona com alguma coisa, sempre sobra pra


mim, a propósito, bom dia!

— Não seja melindroso, mas, em todo caso, bom dia. — Eu dei um


sorriso para meu amigo. — Mas, então, você vai me ajudar?
— Qual seu interesse nesse menino? Só porquê ele derramou café em
você? — Levi perguntou sem entender o meu interesse no garoto.

— Não somente isso, algo me diz que tem alguma coisa que eu preciso
descobrir. — Eu passei meus dedos de um lado para o outro no meu queixo e
meu olhar se tornou distante.

— Tenho certeza que não há nada para descobrir. E já sabemos que ele é
sobrinho da Vivian. — Ele falou como se não fizesse sentido tentar descobrir
mais.

— Você está certo de que Vivian tem irmãos? — Eu questionei.

— Bom... Eu... Na verdade, eu não me lembro de Vivian comentar sobre


algum irmão. Ou se quer um sobrinho. — Ele falou um pouco a contragosto
pois não queria se dar por vencido por mim.

— Então... — Falei em um tom vitorioso e estiquei a mão com a palma


aberta em direção a ele.

— Tá bom, Jeff! Vou pesquisar a respeito do garoto e ao fim do dia eu te


dou uma posição.

— Prefiro que seja na hora do almoço. — Eu sorri e me levantei da


cadeira, dei duas batinhas da mesa e saí sem demora do escritório de Levi.

Eu sabia que ele iria reclamar pelo prazo curto que eu havia estipulado
para ele, então, por esse motivo preferi me retirar o quanto antes. Fui até
meu escritório, e ao chegar lá a primeira coisa que reparei foi que Levi havia
pedido para trocarem a foto que antes havia sido rabiscada. Peguei o porta-
retratos e olhei para a foto. O olhar de Charlotte era tão inocente, tinha um
brilho intenso, e mesmo apesar de tudo que ela sofreu, ainda hoje ela
mantinha esse olhar. Nos cinco anos que se passaram eu pesquisei a fundo
sobre o contrato, sobre o avô dela, e ao descobrir na festa assim que ela
chegou que ela sofreu abusos para assinar aquele contrato, eu me senti um
verdadeiro monstro, foi muito injusto tudo que ela viveu, e eu fui uma peça
principal no sofrimento dela. Não era justo, e enquanto eu respirasse faria de
tudo para me redimir com ela.
Sentei-me em minha cadeira, me acomodei e comecei a trabalhar,
tentando focar o máximo pois volta e meia meus pensamentos me levavam à
Charlotte. Passadas algumas horas, eu estava bem compenetrado em minhas
tarefas e então, Levi entrou na minha sala. Seu olhar estava aflito, e ele
carregava algo em suas mãos, ao que tudo indicava parecia uma revista.
Franzi minha testa e o encarei ao me recostar em minha cadeira.

— Então, pelo seu olhar creio que descobriu alguma coisa e ao que tudo
indica não vai me agradar muito.

— Na verdade, eu descobri duas coisas. — Levi falou.

— Fale logo de uma vez! Odeio quando você fica fazendo rodeios.

— Certo, serei direto. Como você previu, Vivian não tem irmãos. É filha
única, logo Oscar não é sobrinho dela. Mas, o mais intrigante é que o garoto
parece um fantasma, não consegui buscar a certidão através de vias normais,
e quando consegui, a filiação estava censurada... Porém, o local de
nascimento indica que ele é de San Diego, na Califórnia, e
supreendentemente ele nasceu no mesmo ano em que...

— Charlotte foi embora. — Eu falei em choque. Não era possível que


Oscar era filho da Charlotte.

Eu me levantei da minha cadeira, coloquei uma das minhas mãos no


bolso e a outra eu cobri minha boca. Será que Charlotte havia me esquecido
tão facilmente, que assim que chegou em San Diego já conseguiu um novo
relacionamento? Só de pensar em outro homem a tocando, eu me irava.

— É... Eu imaginei exatamente isso, porém, não foi somente isso que
descobri. Como toda as vezes que você pede para que eu investigue algo, eu
sempre procuro saber coisas ao seu respeito também, bastou uma busca
simples para que eu descobrisse isso aqui, — Levi colocou a revista na mesa
— acho que isso é mais preocupante do que o assunto do Oscar nesse
momento. Pelo que eu te conheço, creio que não é verdade, mas muito me
admira que você não tenha tido conhecimento de uma notícia como essa.
Me inclinei para frente após o que Levi havia me comunicado, e eu tinha
uma expressão confusa. Ao pegar a revista eu não podia acreditar no que
estava vendo. Uma manchete bem grande dizendo que Elizabeth e eu
estávamos... Noivos!

— AQUELA DESGRAÇADA! — Eu gritei de maneira furiosa ao pegar


na revista, e dei um soco em minha mesa.

Automaticamente minha respiração se tornou acelerada e


descompassada.

— Se acalme, mas eu acho que isso não partiu somente da Elizabeth. —


Levi falou de maneira branda para tentar amenizar meu nervosismo por
conta da situação.

— O que você quer dizer com isso? — Perguntei ainda ofegante,


arqueando uma de minhas sobrancelhas.

— O responsável pela manchete é um jornalista especialista em publicar


notícias falsas, e adivinha só quem o conhece e sempre lança algumas
notícias para que a família se mantenha na mídia? — Levi indagou já
sabendo que eu sabia qual era a resposta.

Fechei os olhos e respirei fundo. E então eu falei:

— Minha mãe...

— Exatamente. Acho prudente você conversar com as duas. — Levi me


orientou.

Abaixei minha cabeça olhando para a revista e vi a data que ela foi
lançada, um dia após meu jantar com Charlotte. E pela conversa estranha
dela no restaurante com certeza ela estava sabendo disso, então, nada mais
coerente do que eu conversar com ela. E era exatamente isso que eu iria
fazer.

— Primeiro, preciso ir atrás da Charlotte e resolver isso de uma vez por


todas. Nós estávamos nos entendendo bem, quero me explicar para ela, não
quero perdê-la novamente. — Falei para Levi no momento em que
organizava minhas coisas para sair.

— Você está certo, faça isso, como seu amigo foi muito duro ver você
sofrendo durante esses cinco anos. Não perca sua chance de ser feliz. —
Levi falou me dando apoio.

— Não vou perder. — Dei um sorriso e caminhei em direção a saída do


meu escritório.

Surpreendentemente, Charlotte estava lá parada, parecia que estava


pronta para entrar no escritório. Seu rosto estava vermelho e ela parecia estar
com muita raiva.

— Charlotte! — Eu exclamei e dei um sorriso para ela.

Ela ainda parecia estar muito brava, então, se aproximou de mim e deu
um tapa no meu rosto com muita força. Eu dei um passo para trás e não
entendi o motivo pelo qual havia levado aquele tapa. Eu a olhei com
indignação, e então ela apontou o dedo para mim e falou entre os dentes:

— Não pense que você vai me humilhar assim novamente, nem você,
muito menos as duas cobras peçonhentas que o acompanham. Eu não pedi
para você me dar a maioria das ações da empresa, porém, eu não vou abrir
mão delas. Então se você quer sua parte não venha mandar aquelas duas me
coagirem e tentarem me humilhar, seja homem e venha você mesmo falar
comigo, pare de mandar mensageiras. Assine o divórcio e você terá a parte
que lhe compete! — Ela falava enfurecida e eu não conseguia entender o
motivo de toda aquela cena.

Então, antes que eu perguntasse, minha mãe e Elizabeth apareceram, e


assim eu pude ter uma ideia do que poderia ter acontecido.
Não serei humilhada!
Narração – Charlotte Staton

Assim que Brandon saiu da minha casa, fui resolver algumas


pendências que eu tinha em relação a minha nova empresa. Porém, fiz tudo
de forma remota, então, fui surpreendida por uma ligação de um número
desconhecido. Observei aquele número por alguns segundos tentando
associá-lo a algum conhecido, porém, não me recordei e então atendi.

Ligação ON

Charlotte: — Alô?

Cora: — Olá, Charlotte.

Charlotte: — Cora... O que você quer? — Perguntei impaciente. Só de


ouvir a voz daquela mulher eu ficava furiosa.
Cora: — Preciso que você vá até a Tec Solutions para tratarmos de
negócios.

Charlotte: — Eu não tenho nada para tratar com você.

Cora: — Ah, querida, você já esqueceu que eu sou a mãe do Jeff?

Charlotte: — Impossível esquecer, mas seu filho não é homem o


suficiente para tratar de negócios diretamente comigo? — Eu a alfinetei.
Pude ouvir uma risadinha sarcástica dela ao ouvir minha fala.

Cora: — Claro que ele é homem o suficiente, tanto que ele não se sente
à vontade para conversar a sós com você por conta da atual condição dele
de homem comprometido. Não sabemos o que podemos esperar de você no
fim das contas... — Ao ouvir o que ela falou meu corpo estremeceu de raiva.

Eu ainda amava o Jeff, era muito doloroso para mim saber que nem ao
menos ele queria falar comigo a sós por conta do seu noivado com Elizabeth.
Na verdade, era algo muito humilhante. Porém, eu não poderia demonstrar
como isso me afetava.

Charlotte: — Está bem, Cora, eu irei ao seu encontro.

Cora: — Ótimo, às 13h te espero na empresa. — Olhei no relógio e eram


pouco mais de 11:30h da manhã.

Charlotte: — Estarei lá.

Ligação OFF

Ao desligar o telefone, massageei minhas têmporas, era extremamente


desgastante conversar com essa mulher. Porém, confesso que eu estava
curiosa para saber o que ela tinha para falar comigo. Me levantei da minha
cama e resolvi me arrumar para ir ao encontro dela na empresa. Assim que
terminei, fui até a cozinha e comi uma salada de frutas antes de sair. Saber
que eu veria Cora me fazia muito mal. Me despedi de Janet e fui em direção
a porta de saída da minha casa.

Pedi um táxi e fui em direção a Tec Solutions. No decorrer do caminho,


fiquei pensando no que ela poderia querer falar comigo. Aliás, no que o Jeff
tinha planejado para ela falar comigo. Ao chegar em frente à empresa,
mandei mensagem para Cora, para saber o local exato onde ela estava e ela
me informou que estava na sala de reuniões. Segui caminho até lá, para
minha surpresa, assim que cheguei no local vi que Cora estava acompanhada
de Elizabeth.

A vontade que eu tinha, era fugir daquele lugar e correr para longe
daquelas duas. Porém, eu deveria me manter firme não poderia ceder as
provocações delas, pois obviamente o intuito das duas com certeza era me
desestabilizar. Segurei na grande maçaneta que havia na porta de vidro e a
puxei, entrei na sala de reuniões e encarei as duas com meu queixo
levantado, passando um ar bem arrogante.

— Bom, estou aqui. Se puder ser breve eu tenho muito o que fazer. —
Falei em um tom ríspido.

— Ah querida, basta você passar todas suas ações para Elizabeth que
você vai embora o mais rápido possível. — Cora disse colocando um papel
na mesa e batendo seus dedos nele.

— O quê? Você ficou enlouqueceu de vez? — Comecei a gargalhar.

— Não, ela não está louca. Você ouviu corretamente. — Elizabeth


interferiu na conversa.

— O que leva vocês a pensarem que eu passaria minhas ações, que são
meu direito, logo para a Elizabeth? — Questionei ainda em choque pela
audácia daquelas duas.

— É muito simples, como você bem sabe Elizabeth e Jeff irão se casar
em breve, ela como futura esposa, e como uma Staton, não vejo nada mais
justo que ela ter parte das ações da empresa. Já que você não quer cedê-las
para seu avô, que também tem direito, tenha decência e as dê para Elizabeth,
que ela irá dar a parte que compete ao seu avô, algo que você foi incapaz de
fazer. Além do mais, ela é muito mais competente para gerir uma empresa
do que você. Ela é bem estudada, e tem muitas ideias que podem beneficiar a
empresa. — Cora falou com uma voz firme, e ao mesmo tempo desdenhando
de mim como se eu não tivesse capacidade para comandar uma empresa.
Mal sabia ela que o sucesso que a Tec Solutions conquistou ao longo desses
anos se deu por conta do meu projeto.

Eu estava extremamente cansada de todos os absurdos que as pessoas


tanto da família do Jeff, quanto da minha me falavam, como eu já não tinha
nada a perder, decidi retrucar como elas mereciam para lavar minha alma.
Pressionei meus lábios um no outro, e dei um sorriso com o canto dos lábios.
Fui até a mesa e peguei o papel juntamente com a caneta. Me inclinei na
mesa em direção ao papel, fingindo que iria assinar a transferência de ações,
e nesse momento, Cora e Elizabeth se olharam com um olhar vitorioso.

Porém, me levantei com a caneta na mão, deixei ela cair no chão e dei
um sorriso sarcástico.

— Ops! Acho que caiu. — Falei de maneira bem cínica. Peguei o papel
de cima da mesa e o rasguei em vários pedaços.

— O que você pensa que está fazendo!? — Cora perguntou entre os


dentes por conta da raiva que sentiu.

— O que eu estou fazendo? Estou cuidando do que é meu e não irei abrir
mão! A pessoa mais injustiçada nessa história inteira fui eu! Meu avô
enriqueceu novamente as minhas custas. Ele não se importou em me casar
com um completo desconhecido, muito menos se importou se eu sofria as
piores humilhações e abusos dentro desse matrimônio. A única pessoa
merecedora das ações que eu detenho na Tec Solutions sou eu! Sem contar
que o projeto que alavancou os lucros e colocou a empresa no ranking de
empresas mais rentáveis do mundo, foi o projeto da minha autoria! — Eu
falei furiosa me direcionando as duas.

Quando elas ouviram tudo que eu disse pareciam estar em choque.


— Aquele projeto multimilionário foi você quem criou? — Elizabeth
perguntou atônita.

Cora estava pálida e parecia não acreditar também.

— Sim, fui eu! — Respondi de forma ríspida.

— Impossível... — Cora falou ao se sentar enquanto estava boquiaberta.

— Pergunte ao seu fantoche, digo, ao seu querido filho. — Falei para ela
finalizando com um sorriso sarcástico.

Deixei as duas naquela sala, enquanto ainda processavam a informação


que eu havia acabado de dar e fui diretamente ao encontro do Jeff. Eu não
iria permitir que ninguém mais me humilhasse. Andei pelo corredor que
dava em direção ao escritório do Jeff, eu estava com raiva, e tremendo por
ter sido coagida pela Cora e Elizabeth, vários pensamentos se passavam na
minha mente enquanto eu caminhava enfurecida. Assim que cheguei mais
perto da porta, vi o Jeff saindo do escritório, e ele parecia feliz em me ver,
mas eu estava tão irada que não pensei duas vezes antes de bater nele. Ele
ficou desentendido com o tapa que dei nele, e mais ainda com o que falei em
seguida.

Cora e Elizabeth chegaram logo após o tapa que eu dei nele, eu olhei
para elas e depois para Jeff. Balancei minha cabeça negativamente, e estava
pronta para sair, então, Jeff me puxou pelo braço e disse com um tom de voz
alterado.

— Espera! Eu não sei o porquê você me bateu, muito menos entendi o


motivo pelo qual me disse essas coisas. Mas agora olhando para essas duas
eu tenho uma ideia do que pode ter ocorrido. Então já quero te adiantar, isso
aqui foi uma armação, uma grande mentira! Eu não estou noivo de
Elizabeth, e nunca irei estar, que isso fique claro! — Jeff falava olhando
fixamente nos meus olhos enquanto me mostrava a revista com a manchete
que ele iria se casar com Elizabeth.

— O quê? — Perguntei em um fio de voz.


Eu estava com raiva ainda, mas por saber que aquela notícia era falsa,
isso mexeu comigo.

— É isso que você ouviu. Sei que você deve ter ficado com raiva por
conta dessa notícia, mas, ela não é verdadeira. E com certeza irei processar o
autor dessa barbaridade. E você, mãe, pare de se meter na minha vida! Eu
amo a Charlotte e vou falar isso para quem quiser ouvir. E o que posso fazer
é defendê-la sempre que eu puder. Você já exigiu câmeras na minha casa
quando éramos casados, e até mesmo nos drogou para que ficássemos
juntos. — Assim que Jeff falou isso Elizabeth olhou para Cora com raiva.

E eu sabia! Sabia que estava sendo vigiada naquela casa. Cora era uma
mulher doente.

— Eu só quero o seu bem, querido. — Cora falou, mas estava


visivelmente envergonhada.

— Eu sei o que é melhor para mim, e você enquanto minha mãe deve
respeitar minha vontade. Agora por favor, retire-se daqui, depois nós
conversaremos. Quanto a você Elizabeth, você está proibida de entrar nessa
empresa.

— Como é!? O que você pensa que eu sou!? — Elizabeth questionou


com indignação.

— Uma interesseira, que em qualquer esquina há alguma igual a você.


— Jeff falou a olhando friamente.

— Você vai se arrepender dessas suas palavras, Jeff! Eu me certificarei


que você se arrependerá de tudo que está fazendo comigo. — Elizabeth falou
furiosa.

— Veremos. — Jeff falou em tom desafiador. — Seguranças, tirem essa


mulher daqui. — Jeff ordenou e aquilo me deixou em choque.

Sei que ela não valia nada, mas era a mãe do filho dele, por mais que ela
tivesse perdido o bebê não deixava de ser mãe. Ela saiu escoltada pelos
seguranças, chorando e nos amaldiçoando. Cora estava empalidecida com
tudo que havia acontecido, e se retirou logo em seguida.
Jeff soltou meu braço e nós nos olhamos por alguns segundos.

— Eu vou fazer de tudo para provar que eu realmente te amo. — Ele


falou com bastante confiança.

— Você não precisava ser tão enérgico assim, afinal, Elizabeth é a mãe
do seu filho, por mais que ele tenha morrido. — Eu falei para ele com certa
amargura.

— O quê? — Ele me perguntou muito confuso e parecia chocado com o


que eu falei.

Talvez ele quisesse manter isso em segredo. Antes que nós dois
pudéssemos falar qualquer coisa. Ouvi a voz do meu filho.

— Mamãe! — Ele falou correndo em minha direção.

Abri meus braços e o peguei no meu colo. Jeff parecia um pouco


admirado de ver que o Oscar era meu filho, mas eu ainda tinha sorte que ele
não tinha conhecimento que o Oscar era filho dele também.

— Oi, meu amor. — Falei para ele com um sorriso enquanto o beijei no
meu colo.

Oscar olhou para Jeff com uma expressão brava, e disse:

— Quero ir para casa, mamãe. Estou muito cansado, o Brandon brincou


muito comigo hoje, e eu o adoro. Quero que ele seja meu papai!

Aquelas palavras de Oscar me pegaram de surpresa. Olhei para Jeff na


mesma hora e ele parecia furioso com o que tinha acabado de ouvir, Brandon
estava próximo e tinha um sorriso em seus lábios. Acho que eu tinha
algumas coisas para serem resolvidas com meu filho, e também, com
Brandon. Sei que Brandon havia mudado, mas eu jamais me relacionaria
com ele, além do mais, infelizmente, meu coração ainda pertencia ao Jeff.

— Nós precisamos conversar, Charlotte. Pelo visto tem muito mais


mentira que você acha que é verdade. — Jeff falou praticamente em tom de
ordem.

— Eu sei que você foi vítima de uma notícia falsa vinda da Elizabeth,
mas isso, não muda a nossa situação, não temos nada para conversar. O que
aconteceu naquela noite foi um erro, talvez, tudo isso tenha acontecido para
que a gente não mude o rumo da nossa situação. — Eu fui firme ao falar
com ele.

Assim que terminei de falar, não dei oportunidade para ele falar mais
nada e comecei a andar até Brandon. Ele colocou a mão em minhas costas, e
nós três fomos em direção ao elevador para irmos para a garagem onde o
carro dele estava. Enquanto andávamos no longo corredor que dava em
direção ao elevador, olhei algumas vezes para trás e notei que Jeff ainda nos
observava. Um turbilhão de coisas estavam se passando na minha cabeça
naquele momento, saber aquela informação mudava completamente o rumo
das coisas.

Entramos no elevador e respirei aliviada.

— Dia difícil pelo visto... — Brandon falou com bastante gentileza.

— Nem me fale. E desculpe pelo que o Oscar falou, Brandon. — Eu


disse a ele um pouco envergonhada.

— Não se preocupe, eu achei legal, não é mesmo, garotão? — Ele deu


um sorriso e fez cafuné na cabeça do Oscar, que deu uma risada bem
gostosa.

Eu dei um sorriso amarelo. Se Brandon realmente tinha segundas


intenções comigo, eu precisava deixar claro as coisas com ele. Mas agora
não era hora, nem lugar para que fizéssemos isso, principalmente porque
estávamos na frente do meu filho e com ele eu deveria ter uma abordagem
diferente para explicar que eu ter um relacionamento com Brandon era algo
impossível. Eu iria esperar para conversar, e faria isso outro dia, porque hoje
eu estava completamente exausta por conta de tudo que havia acontecido.
Talvez seja melhor desistir
Narração – Jeff Staton

Ao ver Charlotte ser chamada de “mamãe” pelo Oscar eu tive a


confirmação das minhas suspeitas de que ele era filho dela, mas aquilo me
deu uma pontada no peito. Ela pareceu ficar um pouco incomodada por ter
sido revelada como mãe dele, mas logo deu um jeito de ir embora junto com
o desprezível do Brandon. Fiquei observando aquela cena, e a Charlotte
volta e meia me olhava enquanto caminhava em direção ao elevador. Eu não
queria acreditar que Charlotte estava junto com o Brandon agora, mas era o
que tudo indicava. Será que agora seria a hora em que eu deveria desistir?

— Você não vai atrás dela? — Levi questionou.

— Não sei se devo. — Eu me lamentei falando com pena de mim


mesmo.

— Eu não acredito que você vai perder essa oportunidade! Por Deus, a
falta de diálogo entre vocês dois é estressante! — Levi esbravejou.
— O que você quer que eu faça? Ao que tudo indica ela está com
Brandon. — Eu falei ainda no mesmo tom.

— Ao que tudo indica? Somente porque o filho dela, que claramente te


odeia, falou que gostaria que o Brandon fosse o pai dele? Preste atenção Jeff,
o Oscar é apenas uma criança. Você tem que saber isso da própria Charlotte,
de tanto vocês ficarem levantando suposições e acreditando no que outras
pessoas falam sem ao menos perguntarem para o outro, vocês dois estão
nessa situação lamentável. — Assim que ouvi tudo que Levi disse, era
impossível não concordar com ele.

— Você tem razão. Preciso ouvir dela mesma. Eu vou atrás dela.

— Isso! — Levi falou em comemoração.

Eu dei um sorriso para meu amigo e decidi ir atrás de Charlotte, a essa


altura creio que ela já estaria em casa. Dirigi apressadamente para encontrá-
la. Ao chegar em frente o apartamento dela para minha surpresa a vi saindo
com Sam e Vivian, fiquei feliz porque não iria precisar passar pela portaria,
pois, provavelmente teria que subornar o porteiro já que a Charlotte deixou
bem claro que não queria conversar comigo. Saí do carro e caminhei em
direção a Charlotte, Vivian e Sam, eles não me viram pois conversavam de
maneira distraída.

Eu me aproximei mais enquanto eles estavam de costas, eles pararam na


esquina e pude ouvir um trecho da conversa deles em que Charlotte disse:

“Eu nunca pensei que encontraria o grande amor da minha vida após dez
anos e engravidaria dele.”

Ao ouvir o que ela disse, senti como se meu coração tivesse parado de
bater. Foi uma sensação horrível, que eu nunca havia experimentado.
Naquele momento perdi todas minhas esperanças, ela devia querer voltar o
quanto antes para San Diego para ficar junto com a pessoa que ela amava, e
com certeza ela não tinha nada com o Brandon também, isso de certa forma
me aliviava. Porém, não consigo compreender o motivo pelo qual o filho
dela insistiu em dizer que Brandon era seu novo pai sendo que o pai dele
deveria estar em San Diego. Nada com a Charlotte era simples de entender, e
depois desse balde de água fria confesso que eu não tinha interesse em
entender mais nada hoje. Aproveitei que ainda estavam os três distraídos,
virei minhas costas e voltei para meu carro, entrei nele e saí em direção a
minha casa.

Eu estava frustrado, e experimentando uma sensação horrorosa de amor


não correspondido. Nunca passei por nada parecido, sempre fui um homem
que conseguia absolutamente tudo que eu queria, ser rejeitado por Charlotte
mexia com meu ego, mas me dava mais vontade de ir atrás dela, porém,
saber que ela nunca me amou me abalou. O pior de tudo era ainda ter aquela
sensação de que ela tinha algum tipo de sentimento por mim. Mas, contra
fatos não haviam argumentos. Cheguei em casa completamente abalado,
apenas subi para meu quarto, tomei um banho e me deitei na cama. Fiquei
imaginando quando Charlotte ainda estava aqui e em quantas oportunidades
eu havia perdido com ela. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, fazendo eu
me sentir patético. Por um tempo a mais fiquei me torturando até que peguei
no sono.

Pela manhã acordei e segui com minha rotina normalmente, fui para o
trabalho e eu estava mais sério que o habitual. Me sentei na cadeira do meu
escritório, em frente à minha mesa e comecei a trabalhar. Após algum tempo
que eu estava lá, Levi entrou com bastante animação no meu escritório.

— Bom dia! — Ele falou com entusiasmo.

— Bom dia. — Respondi em um tom de voz baixo e bastante


desanimado.

— O que aconteceu? Pensei que depois de conversar com a Charlotte seu


humor melhoraria. — Ele falou ao se sentar na cadeira que estava em frente
à minha mesa.

Dei um suspiro e olhei para Levi, fechei meu notebook e passei a mão
em minha testa de maneira cansada.

— Eu não conversei com ela. — Falei para Levi.

— Como assim? Você não foi até a casa dela? — Levi perguntou
intrigado.
— Sim, eu fui, mas... Ao chegar em frente ao prédio dela, vi que ela
estava saindo na companhia de Sam e Vivian, comecei a segui-los e ouvi a
conversa deles. Charlotte falou claramente que havia engravidado do amor
de sua vida após ter encontrado ele. Isso para mim foi um sinal mais que
claro para não a procurar mais. — Falei com certa amargura.

Levi ficou um pouco surpreso após ouvir o que eu tinha falado.

— Eu sinto muito, Jeff. — Ele disse de maneira compadecida.

— Tudo bem, talvez eu mereça, por minha causa Charlotte sofreu muito.
E não somente por mim, mas por conta da minha família também e eu fui
conivente com tudo que aconteceu com ela. — Eu falei em um tom de
derrota.

— Olha, eu sei que não é fácil. Mas o Jeff Staton que eu conheço não
desistiria tão facilmente, muito menos agiria com autocomplacência.

— Acho que posso me dar ao luxo de ter autopiedade comigo mesmo.


Pelo menos hoje, — dei um sorriso fraco ao falar — e não me leve a mal,
mas não quero criar falsas esperanças em relação a ela. Acho melhor tentar
me curar desse sentimento que tenho por Charlotte.

— O amor não é uma doença para precisar ser curado. — Levi ainda
insistiu.

— Agradeço suas boas intenções, mas prefiro ficar como estou no


momento. — Expliquei para ele ainda com paciência.

— Mas... — Levi insistiu e nesse momento eu fiquei nervoso.

— Levi, por favor! — Falei rispidamente.

Levi assentiu com a cabeça positivamente e o canto de seus lábios se


elevaram fazendo-o esboçar um leve sorriso de descontentamento. Ele se
levantou da cadeira e saiu do escritório. Respirei fundo e fechei meus olhos
por alguns poucos segundos, após isso, abri meu notebook novamente e
voltei a trabalhar.
De novo não...
Narração – Charlotte Staton

Diante do dia atípico, vendo como eu estava cansada, Brandon não quis
ficar e apenas deixou Oscar e eu na porta do meu prédio. Aproveitando que
Sam e Vivian estavam na minha casa me esperando quando eu cheguei,
convidei eles para jantar e contei sobre o que havia ocorrido na empresa.
Eles ficaram chocados com a cara de pau da Cora e Elizabeth, mas ficaram
felizes de saber que eu não aceitei ser humilhada por aquelas duas. Sam
ficou eufórico ao saber da bofetada que dei em Jeff. Depois de termos
jantado, como eu ainda estava um pouco triste eles me chamaram para ir a
um barzinho que havia próximo a minha casa para que eu pudesse me
distrair mais daquele dia desastroso.

Nós descemos e seguimos a pé mesmo pois era pertinho, fomos


conversando enquanto andávamos lentamente.

— Eu acho essa história sua e do Jeff a coisa mais louca que existe. —
Vivian comentou.
— Nem me fale, até eu fico surpresa com o fato de que me casei através
de um contrato absurdo, com meu amor de infância. Como se não bastasse,
eu nunca pensei que encontraria o grande amor da minha vida após dez anos
e engravidaria dele... — Dei um longo suspiro ao falar. — Também nunca
pensei que ele seria o responsável por me machucar tanto. — Tive que
segurar o choro ao terminar de falar.

— Não fica assim, Char. Você vai superar isso. — Sam me falou ao
passar as mãos em minhas costas.

— Tomara. Só quero voltar logo a San Diego. — Falei com convicção.

— Pensei que você voltaria a morar aqui. — Sam falou em um tom de


voz triste.

— Não dá, eu refiz minha vida lá. Toda a vida que o Oscar conhece
também está lá.

— E o Brandon? — Vivian falou em um tom de brincadeira.

— Por Deus! — Dei uma risada. — Não há chance nenhuma. O Brandon


pode até ter mudado, mas ele não deixa de ser o Brandon. E não adianta,
meu coração infelizmente pertence ao Jeff, enquanto eu o amar não
conseguirei me relacionar com outra pessoa.

— Você precisa pelo menos tentar para saber se iria conseguir ou não. —
Vivian falou enquanto sentávamos nas cadeiras do bar.

— Pode ser, mas eu não me sinto preparada para isso, e não quero fazer
ninguém sofrer. — Afirmei para ela.

— É. Então eu acho que você tem que ser o mais clara possível com o
Brandon, porque creio eu que ele está alimentando muitas esperanças em
relação a você. — Sam falou enquanto mexia em seu celular.

— O que você quer dizer com isso? — O questionei confusa.

— Veja por si mesma. — Ele virou o celular para mim e me mostrou


uma foto do Brandon junto com o Oscar.
Na legenda da foto Brandon colocou a seguinte frase: “Filho que a vida
me deu!”

Arregalei um pouco meus olhos e olhei para Sam.

— Será que ele não faz isso por ter gostado muito do Oscar? —
Inocentemente perguntei.

— Não seja ingênua, Char. — Sam me censurou.

— É, você tem razão. Vou conversar com ele. — Eu falei passando a


mão em meu rosto em um ato cansado.

O garçom veio e nos serviu alguns drinks, decidi tomar só dois e voltar
para casa. Sei que a intenção de Vivian e Sam era boa, mas eu realmente não
estava no clima.

Alguns dias depois

Nos dias que se passaram, Brandon estava vindo bastante até minha casa
com a desculpa que queria ver o Oscar, fomos juntos há alguns lugares e eu
conversava com ele sempre reforçando que ele era um bom amigo. Eu tentei
por algumas vezes ter uma conversa mais séria com ele para deixar claro que
eu não tinha interesse em qualquer tipo de relação com ele que não fosse de
amizade, mas, ele mudava de assunto e sempre me impedia de falar. Eu
estava ficando impaciente com essa situação e decidi que na próxima vez
que nós nos encontrássemos eu iria dar um basta nessa situação.

Acordei pela manhã, e não estava me sentindo muito bem, na verdade


fazia alguns dias que eu estava assim e associei a minha rotina intensa de
reuniões com vários investidores interessados na Times Technologies. Me
espreguicei na cama, então, ouvi meu celular tocar. Estiquei meu braço em
direção ao criado mudo para pegar o celular e atender a ligação.

Ligação ON
Charlotte: — Alô. — Falei com uma voz de sono.

Sam: — Bom dia, dorminhoca.

Charlotte: — Bom dia, primo, ultimamente estou tão cansada que


realmente tenho dormido mais.

Sam: — Imagino, sua rotina anda bem intensa. Por esse motivo Vivian e
eu decidimos que vamos te dar um descanso a mais e vamos levar o Oscar
para a Disney.

Charlotte: — Disney? Você tem certeza?

Sam: — Claro! Por que não teria certeza?

Charlotte: — Porque o Oscar, é o Oscar. — Eu dei uma risada ao falar.

Sam: — Ah, Vivian e eu sabemos bem o que nos espera.

Charlotte: — Vou falar para a Janet acompanhar vocês, afinal, toda


ajuda é bem-vinda.

Sam: — Será um prazer levá-la conosco. Então por volta das 13h00 da
tarde passamos aí, tudo bem?

Charlotte: — Uau, já será hoje?

Sam: — Sim, algum problema?

Charlotte: — Nunca fiquei nenhum dia longe do meu filho.

Sam: — Se permita. Você merece um descanso, e ele estará ao lado das


pessoas que você mais confia.

Charlotte: — Você tem razão, vou me levantar e avisar a Janet, e


arrumar as coisas do Oscar.

Sam: — Ótimo, até mais tarde.


Charlotte: — Até.

Ligação OFF

Me levantei da cama e assim que levantei senti uma vertigem, tive que
me apoiar na parede pois minhas vistas se escureceram. Comecei a fazer
exercícios de respiração para me recuperar daquele mal súbito, e aos poucos
fui melhorando. Então, falei comigo mesma:

— Isso não está certo, a última vez que me senti tão mal assim eu... —
Hesitei um pouco antes de falar e senti um nó se formar em minha garganta
— Eu estava... Grávida. Não, não! Não é possível, de novo não, é muito
azar. Eu devia ser a única pessoa no mundo que fez sexo apenas três vezes
na vida, e em duas delas engravidei. Seria uma piada de muito mau gosto por
parte do universo permitir que eu engravidasse do Jeff novamente! — Eu dei
uma risada de desespero e balancei minha cabeça negativamente. — Preciso
tirar essa ideia da cabeça.

Fechei os olhos e apertei meus lábios um no outro enquanto respirava


fundo, na tentativa de me recompor. Fui até o banheiro e fiz minha rotina de
higiene matinal, voltei para o quarto, troquei meu pijama por uma roupa para
usar no dia-a-dia. Saí do meu quarto e fui até a sala. Oscar e Janet estavam
sentados no sofá assistindo televisão.

— Bom dia! — Falei em um tom mais animado para eles.

— Bom dia. — Os dois falaram em coro.

— Eu tenho uma novidade pra vocês! — Assim que falei, Oscar já saltou
do sofá e começou a pular de maneira eufórica.

— O que é, mamãe? Conta, conta, conta! — Meu filho falava com


empolgação.

— Eu fiquei sabendo que o tio Sam, e a tia Vivian irão visitar um lugar
que tem um castelo gigantesco, que tem alguns personagens, sabe? Acho que
um tal de Mickey, e até mesmo um carro falante chamado Relâmpago
McQueen estará lá também. — Falei como se não soubesse de quem eu
estava falando.

Oscar abriu sua boca, e arregalou seus olhos como se não estivesse
acreditando no que eu estava falando. E então começou a gritar e correr de
um lado para o outro, mas, parou de repente e fez uma carinha de choro.

— Mamãe, será que eles me levariam?

— Oh meu amor, é claro que irão te levar! Acabei de falar com o tio
Sam, e ele me ligou justamente para pedir para você ir. E a tia Janet foi
convidada também. — Dei um sorriso ao dizer e Oscar me abraçou
demonstrando estar aliviado.

— Que maravilha! Faz muitos anos que não vou lá. — Janet falou
empolgada.

— A mamãe vai organizar suas coisas, tá bom? E você vai já tomar um


banho, e depois almoçar porque já está quase na hora.

— Tá bom, mamãe! — Ele esticou as mãozinhas para eu abaixar e ele


me dar um beijo na bochecha.

Eu abaixei, ele me beijou, em seguida foi correndo tomar seu banho e


Janet foi auxiliá-lo. Caminhei até a cozinha, e o cheiro da comida do almoço
embrulhou meu estômago, peguei apenas uma banana para não ficar sem
comer nada, mas minha vontade para comer era zero. Isso novamente me
perturbou, eu não queria acreditar que pudesse estar grávida, mas tudo
indicava que eu estava. Comi a banana bem devagar por conta do enjoo, e
depois de terminar fui até o quarto arrumar as coisas do Oscar.

Depois de um tempo, terminei de arrumar e fui até a sala de jantar. O


almoço já estava servido, me sentei na cadeira em frente à mesa, e o enjoo
aumentou. Fiquei encarando o prato e não coloquei a comida.

— Você não vai comer, mamãe? — Oscar perguntou.

— Eu... — Eu não iria aguentar. — Com licença. — Me levantei com


pressa e Janet me olhou desconfiada.
Corri em direção ao banheiro mais próximo, me agachei em frente ao
vaso sanitário e vomitei. Fiquei lá por alguns minutos até que eu me sentisse
melhor. Lavei meu rosto, o enxuguei, me encarei um pouco no espelho e abri
a porta para sair. Assim que abri a porta dei de cara com Janet. Ela estava de
braços cruzados, e tinha uma sacola nas mãos.

— Janet! Que susto. — Falei para ela um pouco sem graça.

Ela esticou sua mão me entregando a sacola, e dentro havia um teste de


gravidez. Eu olhei espantada para ela.

— O que significa isso? — Perguntei com meus olhos arregalados.

— Eu te conheço bem o suficiente, e percebi que há dias você não está


bem. E sei que aquela noite que você chegou toda alegre, esteve com o Jeff.
Juntando as peças, eu acredito que você esteja grávida.

Engoli seco ao ouvir as palavras dela, realmente não adiantava eu tentar


fugir dessa realidade. Mas mesmo assim eu não queria aceitar.

— Não é possível... — Falei em um fio de voz.

— Você está querendo mentir para si mesma, porém, isso não vai mudar
sua realidade. Eu estou ao seu lado, mas acho que você engravidar duas
vezes, do mesmo homem mesmo com toda dificuldade que vocês enfrentam
no relacionamento de vocês, pode ser um sinal.

— Sim, um sinal de que sou a pessoa mais azarada do mundo. — Cruzei


meus braços e arfei com raiva.

Janet deu um sorriso gentil, e acariciou meu ombro.

— Eu não diria isso. — Assim que ela terminou de falar, a campainha


tocou.

Provavelmente deveria ser Sam e Vivian.


— Acho melhor atendermos. Depois eu resolvo isso... — Falei ao entrar
novamente no banheiro e deixar o teste em cima da pia.

Quando saí, Janet que ainda estava parada na porta, disse:

— Faça no seu tempo, mas não espere muito porque não adianta ignorar
algo que já está feito. — Ela tocou o dedo indicador na ponta do meu nariz e
deu um sorriso.

Correspondi ao sorriso dela e nós fomos atender a porta, porém, ela já


havia sido atendida por Oscar que não estava aguentando de tanta ansiedade
para ir viajar com eles o quanto antes. Abracei ele dando um longo beijo em
seu rosto, e tive que segurar para não chorar pois seria a primeira vez que
nós nos separaríamos, porém, saber que ele estava tão feliz como estava me
acalmava. Passei algumas orientações para Sam, Vivian e Janet e eles foram.

Assim que fechei a porta, uma lágrima teimosa saiu de um dos meus
olhos. Dei um sorriso fraco, e fui até a cozinha, dispensei os empregados
pois como eu iria ficar lá sozinha durante o final de semana era
desnecessário que eles ficassem, por esse motivo dei folga a eles. Depois que
eles foram embora, eu fui até o banheiro e peguei a sacola com o teste de
gravidez, saí de lá e caminhei em direção ao meu quarto.

Já no meu quarto fui até o banheiro que havia nele. Abri o teste de
gravidez e respirei fundo, li as instruções, me sentei no vaso, posicionei a
caneta e fiz xixi no local indicado. Assim que terminei fechei com a tampa
de plástico o local que estava umedecido. Vesti minha roupa coloquei o teste
na pia, e aguardei o tempo necessário para saber o resultado. Coloquei o
teste virado para baixo e comecei a andar de um lado para o outro
esfregando minhas mãos, eu estava muito ansiosa e muitos pensamentos se
passavam pela minha cabeça. Os três minutos necessários para obter o
resultado do teste haviam se passado. Eu estava trêmula quando peguei o
teste, virei ele para cima e estava lá.

— Positivo. Novamente estou grávida de um filho do Jeff! — Falei para


mim mesma sem acreditar.
Me sentei no chão do banheiro e comecei a chorar descontroladamente.
Eu já suspeitava daquilo, mas ter aquele resultado agora nas minhas mãos
era uma prova, e não mais uma suspeita. O que eu iria fazer? Fiquei
completamente atordoada enquanto chorava, e naquele momento eu não
poderia falar com ninguém pois todos que eu confiava estavam em viagem
nesse momento. Fui me controlando aos poucos, parando de chorar e
encarando o teste como se aquele resultado positivo pudesse mudar. Me
levantei deixando o teste na pia, e enchi a banheira. Um banho seria ideal
agora para que eu relaxasse. Depois que a banheira estava cheia, adicionei
espuma, sais de banho e liguei a hidro. Fiquei lá por um tempo tentando
processar o que eu havia descoberto. Depois de um tempo, saí da banheira e
fui até meu quarto.

Coloquei uma camisola longa, e o robe por cima, pois eu iria pedir algo
para eu comer já que não havia me alimentado direito. Fui até a sala e pedi
comida pelo aplicativo do celular. Fui até a cozinha e me servi com um
pouco de suco de laranja, tomei e voltei para a sala. Liguei a televisão para
me distrair um pouco, até a comida chegar. Não demorou muito, a
campainha do meu apartamento tocou.

— Nossa, que rápido. — Comentei comigo mesma.

Me levantei para atender e para minha surpresa não era minha comida
que havia chegado.

— Brandon? O que você está fazendo aqui? — Perguntei surpresa.

— Eu vim levar você e o Oscar para darem uma volta, o que acha? —
Ele perguntou com um sorriso.

— O Oscar viajou para Disney com Sam, Vivian e Janet. — Expliquei


para ele.

— Ah, entendi. Então você está sozinha? Será um prazer te fazer


companhia.

Antes que eu falasse alguma coisa, Brandon passou por mim e foi
entrando dentro do meu apartamento. Aquilo me incomodou profundamente,
então, tive a certeza que agora seria o momento ideal para termos a conversa
que eu estava tentando ter com ele há dias.

— Brandon, não me leve a mal, mas... Eu estou há dias querendo te falar


isso e você me impede. — Falei de maneira direta.

Brandon deu um sorriso e disse:

— Pode falar, sou todo ouvidos.

— Eu acho que você confundiu as coisas. Sou muito grata pelo


sentimento que você tem pelo meu filho, além da atenção que você dá a ele.
Mas, eu não tenho interesse nenhum em você além de amizade. Eu sinto
muito se te dei uma impressão diferente, porém, eu não tenho interesse em
um relacionamento amoroso com você. — Fui firme ao falar com ele.

À medida que eu falava Brandon foi ficando com o semblante sério, e até
mesmo enfurecido. Percebi que ele apertou sua mandíbula devido a raiva
que estava sentindo por conta do que eu havia acabado de falar para ele. De
repente ele começou a rir de um jeito que me assustou.

— Você só pode estar de brincadeira... — Ele falou enfurecido.

— Não, eu estou falando muito sério! — Eu disse ao encara-lo.

— Você acha mesmo que eu iria ficar aguentando aquele moleque


insuportável só porque eu gosto dele? Você é estúpida!? — Brandon falou
alterando sua voz.

Eu cerrei meus punhos ao ouvir a maneira que ele falou do meu filho.

— Sai daqui agora! Você é asqueroso, eu tenho nojo de você! Lógico que
uma pessoa como você não muda, eu realmente fui uma tola por acreditar na
sua mudança. — Eu disse com muita raiva e abri a porta novamente para ele
sair.

Ele continuou com o sorriso perverso que tinha em seu rosto e caminhou
em direção a porta. Porém, ao invés de sair ele bateu a porta com força e a
trancou.
— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO!? — Eu gritei com
ele e tentei alcançar a maçaneta.

Entretanto, Brandon segurou meu punho com força me impedindo de


pegar na maçaneta, e em seguida, com sua mão que estava livre, entrelaçou
os dedos nos meus cabelos e me puxou em direção a sala de estar.

— Você está completamente enganada ao achar que eu sairei daqui de


mãos abanando, eu não fiquei semanas fazendo papel de otário para não
ganhar nada. — Ele falava entre os dentes.

Assim que ouvi o que ele disse eu senti um frio percorrer minha espinha,
pois, eu sabia o que ele pretendia, principalmente depois que ele me jogou
no sofá. Eu comecei a chorar de medo imediatamente.

— Brandon, por favor não, não faça nada comigo! — Eu implorava para
ele em meio ao choro.

Ele tinha um olhar frio para mim enquanto desabotoava sua calça. Eu
tentei me levantar, mas ele segurou meus dois braços e se debruçou por cima
de mim, e começou a beijar o meu pescoço e descia em direção ao meu
decote. Por conta do desespero eu comecei a gritar.

— ME SOLTA, SOCORRO! — Eu falava em meio ao choro e aos


gritos, enquanto sentia repulsa dele.

— CALA A BOCA, VADIA! — Brandon gritou, e me olhou de forma


transtornada como eu nunca havia visto.

Em seguida, me deu um tapa no rosto que me fez ficar tonta. Ele


continuou a me beijar, e agora segurava meus braços com apenas uma de
suas mãos enquanto colocava o peso do seu corpo em cima do meu
impedindo que eu saísse. Brandon colocou sua mão dentro da minha
camisola, pela parte de baixo e tentou tirar minha calcinha. Mesmo sem
muitas forças eu me debatia para tentar escapar. Enquanto estávamos nessa
luta corporal, a campainha tocou, devia ser o entregador com o meu lanche.
Isso fez ele se assustar, e antes que ele pudesse fazer algo eu gritei bem alto:
— SOCORRO! ME AJUDA! — Assim que gritei ele tampou minha
boca e eu dava gritos abafados.

Porém, a tentativa dele de me calar foi feita tarde demais. A porta foi
arrombada e vi que um homem entrou, Brandon ao ver a cena se levantou de
cima de mim e paralisou ao ver quem havia arrombado a porta.

— Jeff? — Eu perguntei surpresa em meio ao choro enquanto ainda


estava deitada no sofá.

Jeff tinha um buquê de flores em uma de suas mãos, e ao perceber o que


Brandon tentou fazer comigo, ele largou o buquê no chão.

— DESGRAÇADO! — Ele gritou e praticamente pulou em direção ao


Brandon.

Jeff deu um soco tão forte no rosto dele que o fez cair em cima da mesa
de centro e a quebrou inteira. Brandon não conseguiu nem ao menos se
defender pois desmaiou por conta do golpe. Porém, mesmo com Brandon
desacordado, Jeff continuou a dar vários socos nele. Eu me levantei do sofá
rapidamente.

— Jeff, por favor, para! Você vai matar ele!

— ELE MERECE! — Jeff gritou ofegante enquanto continuava a bater.

— Eu sei, mas eu não quero que você vá para cadeia por causa dele! —
Eu falei e segurei em seu ombro.

Assim que eu o toquei ele parou sua mão no ar com o punho cerrado, e
nós nos olhamos. Ele estava bem ofegante e eu tinha lágrimas percorrendo
meu rosto. Ele se levantou e nós ficamos de frente um para o outro, e então,
eu me joguei nos braços dele. Jeff me abraçou bem forte. Eu chorei mais
ainda porque estava assustada, se ele não tivesse chegado naquela hora eu
não sei o que seria de mim. Nós ainda estávamos abraçados quando o
entregador chegou com meu pedido.

— Meu Deus... — Ele falou assustado.


Jeff e eu nos afastamos devagar e então Jeff disse:

— Eu vou ligar para meu colega que é chefe de departamento da polícia


de New York. — Eu assenti com a cabeça e me sentei no sofá.

Jeff tirou seu terno e colocou sob meus ombros, em seguida ele foi até a
porta, explicou o ocorrido para o entregador e pediu que ele avisasse o
porteiro o que havia acontecido.

Não demorou muito, e o porteiro subiu com alguns policiais que


chegaram rapidamente. Eles vieram em minha direção, e nesse momento
Brandon começou a resmungar. Ele estava acordando. Os policias o
levantaram e algemaram ele:

— Eu sou inocente, esse louco quem me atacou por ciúmes da vadia


dele! — Brandon tentou se defender mentindo para não ir preso.

— Não adianta tentar mentir, Brandon! Minha casa tem câmeras. — Eu


falei com muita raiva olhando para ele.

— Pode ter certeza que eu farei de tudo para você apodrecer na cadeia!
— Jeff falou para ele em seguida enquanto caminhava em minha direção.

Brandon nos olhou com ódio enquanto era conduzido pelos policiais. O
chefe do departamento de polícia chegou no mesmo instante, e encarou
Brandon. Em seguida caminhou até Jeff e o cumprimentou.

— Fique tranquilo, Staton. Esse verme nunca mais fará mal algum a
vocês. — Ele falou com convicção.

— Obrigado. — Jeff agradeceu e apertou a mão do chefe de polícia.

Brandon foi retirado do apartamento, enquanto Jeff conversava com o


porteiro para arrumar a porta que havia sido arrombada, ouvi ele dizendo
que queria que o conserto fosse realizado hoje mesmo. Enquanto eles
conversavam, caminhei até a sacada e através dela pude ver Brandon sendo
conduzido para o interior da viatura da polícia, enquanto uma multidão
curiosa estava na porta e até mesmo alguns paparazzi.
Ao ver que ele estava dentro do carro e iria finalmente ser preso, respirei
aliviada, cruzei meus braços na frente do meu corpo e permaneci ali. Jeff se
aproximou devagar, colocou a mão nas minhas costas e perguntou:

— Você está bem? — Ele tinha um olhar preocupado ao falar.

Dei um sorriso e assenti com a cabeça.

— Agora estou. Mas, afinal, sem querer ser grossa... O que você veio
fazer aqui?

Jeff me olhou e deu um sorriso.

— Sei que você disse que não queria, e eu respeitei até onde eu pude.
Mas hoje eu não aguentei, e resolvi vir para conversarmos e esclarecermos
tudo entre nós dois de uma vez por todas. Acho que merecemos isso,
concorda?

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos. Sorri com o canto dos meus
lábios e disse:

— Sim. E depois de você ter me salvado seria injusto nem ao menos


conversar com você.

Jeff sorriu satisfeito e seus olhos cintilaram ao ouvir minha resposta.


Acho que por mais que fosse uma conversa difícil nós devíamos isso a nós
mesmos.
Finalmente teremos diálogo
Narração – Jeff Staton

Os dias foram se passando e ao invés do sentimento que eu tinha por


Charlotte sumir, ele se tornava mais intenso. Levi mesmo tendo várias
respostas grosseiras por minha parte, ainda insistia que eu deveria falar com
Charlotte. Eu comecei a ponderar isso, sei que ela não queria falar comigo,
mas eu precisava entender essa história toda que envolvia nós dois. Além
disso, toda vez que Brandon me via ele dava um sorriso vitorioso, essa
atitude dele fazia eu entender que ele estava tendo algo com minha esposa, e
isso verdadeiramente me tirava do sério, e me dava mais vontade para
resolver a situação.

Decidi que iria sair mais cedo da empresa, iria até minha casa me
arrumar e iria até a casa da Charlotte para conversar com ela. Deixei tudo
organizado em meu escritório e assim que estava saindo encontrei Levi.

— Você já vai embora? — Ele perguntou um pouco surpreso porque eu


estava ficando até tarde esses dias.
O trabalho sempre foi um escapismo para mim, e toda vez que eu tinha
algum tipo de problema eu me envolvia bastante nele para tentar fugir do
problema.

— Sim. Eu resolvi seguir seu conselho. — Eu disse de maneira hesitante


pois eu sabia que Levi iria me perturbar bastante com isso.

— Oba! Até que enfim, quem sabe seu mau humor melhora. — Levi
falou me alfinetando.

— Ou piora de vez. — Eu disse de maneira pessimista.

— Não vá com esse tipo de pensamento, você precisa pensar que tudo
dará certo. — Levi falou tentando me animar.

Sorri para ele e saí. Eu queria chegar o quanto antes em casa. Enquanto
estava a caminho, parei em frente uma floricultura para comprar um buquê
de flores para ela, escolhi um todo cor-de-rosa. Acho que essa cor
combinava bem com a Charlotte. Entrei novamente no carro colocando as
flores no banco do passageiro. Minha casa já estava próxima então não
demorei muito para chegar até ela. Eu estava ansioso e animado, entrei em
casa cantarolando então ouvi uma voz dizer:

— Qual o motivo de tanta felicidade, meu filho?

Era minha mãe, depois do que ocorreu com ela e Elizabeth na empresa
eu nunca mais havia falado com ela.

— Mãe, — falei tirando o sorriso do meu rosto e adotei um semblante


sério — o que está fazendo aqui?

— Uma mãe não pode visitar seu próprio filho? — Ela falou com um
pouco de indignação.

— Até parece que você vem me visitar sem ter segundas intenções. —
Falei de um jeito ríspido com ela.

— Nossa Jeff, assim você me ofende, filho. — Minha mãe falou se


vitimizando.
— Mãe, por favor, fale logo o que você quer, eu preciso sair.

— Para onde você vai? — Ela perguntou curiosa.

— Vou ver Charlotte. — Eu disse de maneira direta.

— Você não percebe que essa mulherzinha ainda vai arruinar você? —
Ela falou impaciente.

— Quem está tentando me arruinar a todo e qualquer custo é você


querendo me empurrar para a interesseira da Elizabeth. Você mesma pagou
para ela sumir da minha vida, agora quer que eu me case com ela, você é
inacreditável! — Eu falei com raiva.

— Como sua mãe, eu sei o que é melhor para você! — Minha mãe
retrucou alterando a voz.

— Não, você não sabe! Se soubesse me incentivaria a ser feliz ao lado da


mulher que eu amo! — Altere minha voz ao falar com ela.

— Ela não ama você, nem mesmo um filho conseguiu te dar. Os 25% das
ações do seu avô ainda estão disponíveis, Adélia não quer mais filhos, então
você ainda pode ter e precisa de um filho. Elizabeth está disposta a dar esse
filho a você! — Minha mãe mantinha o tom ao falar.

— Eu não sei que loucura é essa que você tem para que eu tenha um
filho, tudo isso por causa de 25% de ações!? — Perguntei com um misto de
indignação e raiva.

— Não seja tolo, isso é o de menos. A Tec Solutions te rende muito mais
do que qualquer empresa do seu avô. — Ela falou com raiva.

— Então qual é o motivo, mãe? — Eu a questionei sem paciência


alguma.

— Não quero que você fique só! Satisfeito, agora? É isso! Seu pai e seu
irmão morreram, foi você quem me deu forças para continuar, não quero que
você fique sozinho quando eu for embora. — Minha mãe dizia com lágrimas
em seus olhos ao se sentar no sofá, e colocar uma de suas mãos em seu rosto.

Todas as vezes que ela mencionava o Josh, meu irmão, ela conseguia me
calar. Meu irmão era um pouco mais velho que eu, e morreu em um acidente
aos 7 anos. Minha mãe nunca mais foi a mesma depois desse acidente dele, e
sempre disse que um filho apenas era a mesma coisa de não ter nenhum. Ela
dizia também que se eu não estivesse aqui ela não teria motivos para
continuar, eu me sentia responsável por fazê-la feliz e sempre permiti que ela
me manipulasse por esse motivo, porém, eu não poderia abrir mão da minha
felicidade para fazer minha mãe feliz por conta da perda que ela havia
sofrido.

— Mãe... — Falei ao me sentar ao lado dela. — Eu sinto muito por tudo


que você sofreu quando Josh morreu, não consigo mensurar o tamanho da
sua dor. Porém, eu também sofri tanto pela partida dele, quanto pelo seu
sofrimento de ter que ser responsável por fazer você sempre feliz. E logo
depois o papai se foi também e ficamos só nós dois, e meu avô. Porém, eu
não posso viver apenas para te fazer feliz. Não quero que você interfira na
minha vida desta maneira. Eu não quero ficar com Elizabeth, eu amo a
Charlotte e vou tentar recuperá-la. Além do mais, se você pagou para
Elizabeth ir embora uma vez, o que nos garante que se ela tivesse um filho
meu, ela iria ficar?

— Esse é o ponto, ela seria perfeita pois iria embora se déssemos


dinheiro e o bebê ficaria conosco. — Minha mãe falou com um sorriso.

— Mãe, meu Deus. Você está se ouvindo? Já pensou nas consequências


que seriam trazidas a essa criança ao saber que foi abandonada pela mãe?

— A criança seria muito amada, e eu desempenharia um papel de mãe na


vida dela. — Ela ainda falava como se aquilo fizesse sentido.

— Você seria avó da criança, não mãe. Por favor, eu te peço como seu
filho... Deixe que eu viva minha vida. Já tenho 30 anos, sei bem como
conduzi-la.
Minha mãe pareceu não gostar do que eu falei, ela torceu o nariz e não
falou nada. Mas, deu de ombros e assentiu. Nós nos abraçamos, e eu dei um
beijo no rosto dela. Sinceramente eu não estava convencido de que ela
deixaria essa história de lado, mas por hora, era o melhor a se fazer. Pelo
menos eu estava deixando claro que estava tomando o controle da minha
vida e não faria mais as vontades dela.

Nós nos despedimos, e minha mãe foi embora. Corri para meu quarto
para tomar um banho, e me arrumar. Assim que terminei voltei para o carro e
fui em direção ao prédio da Charlotte. Chegando lá, busquei pelo porteiro,
mas ele não estava. Sendo assim, entrei no elevador, foi mais fácil, mas me
preocupava essa falta de segurança do prédio. Eu estava ansioso enquanto
esperava o elevador, e mais ainda quando entrei nele. E só nesse momento
que me dei conta que não fazia ideia do número do apartamento da
Charlotte.

— Droga! — Eu falei para mim mesmo.

Pensei em voltar para perguntar ao porteiro onde era, mas fiquei com
receio que ele me expulsasse. Por sorte o prédio era bem exclusivo, e não
tinha tantos apartamentos. Como já havia chegado ao terceiro andar, testei
ele mesmo. Para minha surpresa ouvi alguns barulhos, e então decidi tocar a
campainha. Assim que toquei ouvi a voz da Charlotte gritando por socorro,
não pensei duas vezes e arrombei a porta. A cena que eu vi fez eu ficar louco
de raiva, Brandon havia tentado estuprá-la. Larguei o buquê no chão e o
ataquei sem pensar duas vezes, ele desmaiou, porém, continuei. A única
coisa que me impediu de bater mais ainda nele, foi o toque da Charlotte.
Depois da situação completamente resolvida, Brandon foi preso, e a porta
que eu arrombei foi consertada na mesma hora, pois foi uma exigência que
fiz ao porteiro após dar uma bronca nele em relação a ausência dele na
portaria. Fui até a sacada onde Charlotte estava. Vi que ela estava mais
tranquila, então propus para que nós conversássemos e nos resolvêssemos de
uma vez por todas.

Me sentei no sofá junto com ela, e respirei fundo.

— Bom, então... Eu sei que o Oscar é seu filho com o amor da sua vida
que você encontrou depois de dez anos, creio que você o reencontrou em
San Diego. — Era difícil tentar segurar o ciúme ao falar.

— Como você sabe disso? — Charlotte me perguntou intrigada.

— No dia em que houve o problema na empresa, entre você, minha mãe


e Elizabeth, eu vim atrás de você e encontrei você com Sam e Vivian, decidi
ir atrás de vocês e pude ouvir isso no trecho da conversa de vocês.

— Pelo visto você não ouviu a conversa inteira. — Ela deu um sorriso.

— O que você quer dizer? — Arqueei uma de minhas sobrancelhas ao


perguntar.

Charlotte suspirou e se levantou do sofá.

— Eu acho que não será muito fácil falar isso. — Ela começou a esfregar
suas mãos uma na outra demonstrando ansiedade.

— Tá, mas então fale logo de uma vez. — Falei com certa impaciência.

— Certo — Charlotte pressionou seus lábios um no outro, respirou fundo


como se estivesse tomando coragem e disse: — Lembra quando jantamos e
você me perguntou se eu estudei na Voight School?

— Sim, lembro.

— E lembra que você me perguntou se eu ficava na arquibancada do


campo de beisebol? — Ela falou um pouco nervosa.

— Sim, e você disse que não. Onde você quer chegar, Charlotte?

— Eu menti.

— Como assim mentiu? — Me levantei no sofá e a encarei.

— Eu ficava sempre na arquibancada, e fui atingida por sua bola de


beisebol, que acertou meu...
— Sanduíche de pasta de amendoim. — Completei a frase dela em
choque.

— É...

— Por que você mentiu?

— Porque tive medo de você pensar que eu planejei me casar com você a
força por isso. Por eu amar você há tanto tempo. — Ela falou em um fio de
voz.

— Eu sabia que você era a peanut! — Eu falei eufórico.

— Peanut? Esse não é o apelido da Elizabeth?

— Claro que não, de onde você tirou isso?

— Você me chamou assim na primeira noite que ficamos juntos, e


presumi que me confundiu com ela. — Ela falou.

— Não, jamais! Eu a chamei assim, porque ao olhar seus olhos tive


certeza de que você era minha garota amendoim, eu te procurei por tanto
tempo, você foi minha paixão durante todos esses anos. — Eu falei com um
sorriso, mas Charlotte parecia apreensiva.

Então, nesse momento eu entendi o motivo dela estar daquele jeito.

— Espera aí. — Eu falei tirando o sorriso do rosto. — Então, o Oscar...


— Eu não consegui completar a frase.

— Sim, o Oscar é seu filho. — Charlotte falou o que não tive coragem
de pronunciar.

Eu a olhei com raiva, não pude acreditar que ela teve a coragem de
esconder algo tão importante de mim.

— Como você pôde esconder isso de mim!? — Falei entre os dentes por
conta da raiva.
Charlotte franziu sua testa e pareceu ficar com raiva pela forma como eu
falei. Mas não fazia sentido, afinal era ela quem estava errada na história.
Eu tenho razão
Narração – Charlotte Staton

Fiquei furiosa pela maneira que Jeff falou. Eu não fui certa, mas só fiz o
que fiz porque ele havia me dado motivos.

— Como eu tive coragem? Você está de brincadeira, não é? — Eu falei


com raiva para Jeff.

Era um absurdo ele querer ficar com raiva nesse momento.

— Eu pareço estar brincando? — Jeff falou grosseiramente comigo.

— Preste atenção no tom que você está usando comigo! Eu não sou
obrigada a aguentar suas grosserias, ainda mais depois de tudo que me fez
passar. É claro que eu iria esconder a gravidez, afinal, Elizabeth estava
grávida e você já tinha conseguido suas ações, tive medo pelo risco que meu
filho e eu poderíamos correr! — Falei alterada e me levantei do sofá.

— O quê? Elizabeth grávida? — Jeff parecia completamente confuso.


— Não se faça de bobo, eu a vi passando mal aquele dia, na faculdade,
no dia em que vocês se beijaram e eu desmaiei. — Falei com rancor. — Um
pouco antes, Brandon me falou que eu deveria estar feliz por não ter mais
que engravidar, então suspeitei que ela pudesse estar grávida. Quando
chegamos na sua casa e você afirmou isso novamente, eu tive a certeza, por
esse motivo assinei o divórcio e fui embora. Logo que voltei, e Brandon
descobriu que Oscar era meu filho e seu filho também, ele me confirmou
tudo. — Eu falei para ele enquanto ofegava por conta da raiva que eu estava
sentindo.

— Aquele desgraçado... Foi por isso que aquele dia na empresa você
mencionou que eu e Elizabeth tínhamos um filho. — Jeff falou enquanto
balançava a cabeça negativamente.

— Não adianta ficar com raiva dele por ele ter me contado a verdade,
você quem deveria fazer isso e você nem se quer mencionou a existência
desse filho para mim! Por mais que ela perdeu não deixou de ter existido. —
Eu dizia com muita raiva.

— Eu não mencionei porque esse filho nunca existiu! — Jeff falou


enfurecido.

— O quê? — Eu balbuciei.

— É isso que você ouviu, quem engravidou naquela época foi a Adélia, e
ela perdeu o bebê. Por esse motivo ela rompeu com Brandon. Eu nunca
fiquei com mulher nenhuma depois que me casei com você, muito menos a
Elizabeth! — Jeff falava ainda alterado, mas estava um pouco menos
nervoso.

Minha respiração ainda estava ofegante pela agitação que eu estava


sentindo, nesse momento uma enorme culpa assolou meu coração. Eu havia
fugido por suposições que havia feito, e por conta disso privei o Jeff e o
Oscar de cinco anos de convivência. Minha boca ficou seca, e eu comecei a
me sentir mal. Cambaleei um pouco para o lado e Jeff me olhou preocupado.

— Charlotte? — Ele veio até mim e passou sua mão em volta da minha
cintura. — Você está bem?
— Eu preciso comer, não comi praticamente nada hoje. — Falei com
uma voz fraca.

— Meu Deus, é por isso que você está se sentindo mal e está pálida! —
Jeff disse em tom apreensivo.

— Não é só por isso que estou assim. — Apoiei minhas mãos nos
ombros dele ao falar e o olhei nos olhos.

— Você está doente? — Ele manteve seu tom angustiado.

— Não... Eu estou grávida. — Assim que falei isso para ele, vi que ele
ficou confuso, e antes que ele pudesse achar que eu estava grávida de outro
homem eu disse: — E eu jamais fiquei com ninguém em toda minha vida
além de você.

Eu sorri ao terminar de falar, e o rosto do Jeff se iluminou.

— Isso é sério? — Ele perguntou com os olhos marejados.

— Sim, eu descobri hoje.

— Charlotte... — Ele não conseguiu falar nada além do meu nome.

Jeff puxou meu corpo, fazendo com que nossos corpos se unissem mais
ainda e me deu um abraço forte. Eu correspondi ao abraço e acariciei sua
nuca com a ponta dos meus dedos. Nós ficamos assim por um tempo, até que
ele se afastou e se ajoelhou diante de mim.

— O que você está fazendo? — Eu o questionei.

— Eu quero te pedir perdão por tudo que a fiz passar acreditando em


várias mentiras e suposições durante o tempo que ficamos juntos. No dia que
você partiu, eu havia descoberto que quem articulou todo o contrato foi seu
avô, mas não sabia o que ele havia feito você passar para assiná-lo até o dia
da festa. Eu ia te pedir perdão naquele dia, e iria dizer que Elizabeth me deu
aquele beijo para tentar me afastar de você. Me perdoa Charlotte, minha
peanut, eu prometo que serei o melhor marido do mundo, o melhor pai, e
enquanto eu viver passarei o resto dos meus dias me redimindo com você!
Me perdoa principalmente por ter a submetido a aquele procedimento
absurdo... Sei que é algo imperdoável, e entendo se você não me conceder
perdão. Mas, saiba que eu te amo muito e irei fazer de tudo para que você
tenha uma vida incrível caso aceite continuar comigo. — Jeff falava com
convicção apesar de ter sua voz trêmula por conta das lágrimas que invadiam
seus olhos.

Ao ver ele assim, era impossível conter as lágrimas. Eu acenei minha


cabeça positivamente, levei minhas duas mãos até o rosto dele e disse:

— Eu o perdoo, meu amor. Me perdoa por ter impedido você de


conhecer o seu filho durante todo esse tempo. — Eu falei em meio ao choro.

— Não precisa pedir perdão, eu entendo, você estava com medo e já


tinha sofrido muito, imagino que não tenha sido uma decisão fácil para você.
— Ele falou ainda de joelhos.

— É, realmente não foi. — Sorri para ele enquanto acariciava seu rosto.

Jeff aproximou seu rosto da minha barriga, e a beijou enquanto


acariciava minhas costas. Afaguei os cabelos dele e chorei mais de emoção
diante daquela cena. Ele ficou na mesma posição por alguns segundos, e
depois, se levantou depositando um suave beijo em minha testa.

— Você precisa comer. — Ele falou.

— Sim, eu pedi o sanduíche por isso. — Expliquei a ele.

— Você não mudou seu gosto por porcarias, não é? Vou cozinhar para
você, você precisa de comida de verdade. — Jeff falou.

Fiquei surpresa ao ouvir aquilo.

— Jeff Staton cozinhando? — Falei em tom de deboche.

— Há muitas coisas que você precisa descobrir sobre mim. — Ele sorriu
ao falar.
Correspondi ao sorriso e nós fomos para a cozinha. Enquanto Jeff pegava
os ingredientes para preparar a comida, eu me sentei no banco que havia em
frente a ilha da cozinha e ele me serviu suco de maçã. Enquanto ele colocava
o avental ele questionou:

— Onde está o Oscar? Ele sabe que sou o pai dele?

— Ele viajou com Sam, Vivian e Janet para a Disney. E não, ele não sabe
que você é o pai dele. — Afirmei para ele.

— Tem certeza? Ele parece me odiar, e agora arrisco dizer que não é
gratuitamente. Ele entrou na minha sala e riscou meu rosto na foto do nosso
casamento.

Ao ouvir o que Jeff falou fiquei em dúvida se Oscar realmente não sabia
que Jeff era seu pai.

— Eu guardo uma foto do nosso casamento, talvez ele possa ter visto.
Oscar tem uma personalidade muito forte e é muito inteligente, já o peguei
ouvindo atrás das portas. Será que ele descobriu assim? — Perguntei
apreensiva.

— Você ainda tem dúvidas? — Jeff falou dando uma breve risada.

— Assim que ele chegar precisamos falar com ele. — Eu falei.

— Com certeza. — Jeff concordou.

— Não será fácil, já vou avisando. — Eu o alertei.

— Ele é meu filho, uma pequena versão minha arrisco dizer. Por mais
que seja difícil, vai dar certo. — Jeff disse otimista. — Nós estamos juntos,
isso é o que eu mais queria, as outras coisas naturalmente irão se ajustar.

Sorri por conta do que Jeff falou, e nesse momento eu senti que nada
poderia nos abalar. Finalmente Jeff e eu havíamos resolvido algo que deveria
ter sido resolvido há cinco anos. Enquanto eu o observava, recebi uma
mensagem no meu celular. Era Stuart.
Mensagem ON

Stuart: — Amanhã quero que você compareça à empresa Tec Solutions


para tratarmos alguns assuntos.

Charlotte: — Não tenho nada para tratar com você.

Stuart: — Acho melhor que você esteja lá as 8h00 da manhã.

Mensagem OFF

Não respondi a última mensagem, apenas peguei meu celular joguei para
o lado ao arfar com raiva.

— Algum problema? — Jeff perguntou ao ver minha atitude.

— Stuart.

— Seu avô? Ele saiu do hospital? O que ele quer?

— Ao que parece sim. Ele pediu, na verdade praticamente ordenou, que


eu vá amanhã na Tec Solutions.

— Em pleno Sábado? — Jeff questionou intrigado.

— Sim. — Respondi de forma cansada.

— Você imagina o que pode ser?

— Não faço ideia...

— Fique tranquila. Iremos juntos, ele não poderá coagir você, pode ter
certeza. Você é dona da Tec Solutions, ele só não sabe disso ainda. — Jeff
falou com firmeza e aquilo me ajudou a me sentir mais segura.

Por mais que eu estivesse diferente, mais segura de mim, era importante
ter a presença de Jeff para me dar uma segurança a mais.

— Obrigada. — Falei ao dar um sorriso tranquilo e ele correspondeu.


A comida estava com um cheiro delicioso. Assim que ficou pronta Jeff
colocou no prato para mim e me serviu, eu estava tão faminta que nem ao
menos esperei ele se servir.

— Uau! Que delícia! Está incrível. — Eu falei bastante surpresa.

Jeff deu um sorriso orgulhoso para mim.

— Que bom que gostou. — Ele se sentou e começou a comer junto


comigo.

— Jeff... Quero te fazer uma pergunta. — Eu disse em um tom um pouco


hesitante.

— Pode perguntar o que você quiser. — Ele falou e em seguida deu um


gole no vinho que havia servido para si.

— Por que você mantinha uma foto da Elizabeth mesmo estando casado
comigo?

Jeff pigarreou e deu um sorriso sem graça.

— Eu era um babaca. Fiz aquilo puramente para provocá-la, e eu fazia


questão que você não se sentisse em casa. Inclusive, quando você tocou a
bola e eu disse que foi presente de uma pessoa especial, eu estava me
referindo a você na escola. Você se lembra de me dar aquela bola?

Fiquei um pouco confusa pois eu não lembrava disso.

— Não, tem certeza de que fui eu quem deu?

— Claro. Eu estava triste sentado encostado em uma árvore, era


Halloween então eu usava uma máscara que tampava a metade do meu rosto.
Eu estava triste porque aquela data foi a data em que eu perdi meu irmão...
Eu era muito pequeno quando ele morreu, mas eu me lembro perfeitamente
dele e de como ele cuidava de mim. Eu estava triste, então você se
aproximou, você estava com uma fantasia engraçada.
Ao escutar a história de Jeff me lembrei desse dia.

— Era a fantasia da “Paty Maionese” do desenho do “Doug.” — Dei


uma gargalhada ao lembrar. — Uma fantasia bem incomum, e muitos
apontaram para mim por isso decidi me afastar e encontrei aquele menino
triste. Eu não estava usando óculos, então minha visão não estava das
melhores, mas me lembro de entregar uma bola de beisebol para um menino
triste sentado em uma árvore. Não sabia que era você. — Dei um sorriso.

— Pois é... Aquele foi o presente mais bonito e sincero que recebi, por
isso guardei naquela caixa e fiquei irado quando você quebrou. E por fim
acabei te machucando. — O semblante de Jeff se tornou triste quando ele
falou. — Eu não mereço seu perdão, fiz coisas horríveis com você.

— Não fique se torturando dessa maneira, foram uma série de coisas que
o levaram a agir dessa forma. Agora estamos bem. — Estiquei meu braço até
ele, e segurei uma de suas mãos acariciando o dorso dela com meu polegar.

Jeff pegou minha mão, levou até sua boca e deu um beijo nela. Nós
terminamos de comer e eu estava exausta. Bocejei e então Jeff falou:

— Vamos dormir, você precisa descansar.

— Você vai dormir comigo?

— Mas é claro! Ah não ser que você não queira.

— É claro que eu quero. — Respondi apressada.

Jeff deu um sorriso aliviado ao ouvir o que eu tinha falado. Nós nos
levantamos e fomos em direção ao meu quarto. Ao chegar lá nós nos
deitamos na cama e ficamos de frente um para o outro, apenas nos olhando
em completo silêncio. Jeff acariciou meu rosto com a ponta de seus dedos,
em seguida foi deslizando sua mão pelo meu corpo até chegar em minha
barriga. Ele a acariciava com a palma de sua mão, e tinha um sorriso em
seus lábios enquanto me acariciava.

— Por que você está sorrindo? — Perguntei a ele com curiosidade.


— Há algumas horas, eu não era pai, bom... Pelo menos não tinha
conhecimento. E de repente me tornei pai de dois, isso é uma loucura. Acho
que minha mãe ficaria eufórica.

Quando Jeff começou a justificar o motivo do seu sorriso, eu sorri


também, mas logo quando ele falou da mãe dele meu sorriso se desfez.

— Eu não quero que ela saiba. — Falei com uma expressão bem séria.

— Por que não? — Jeff perguntou desapontado.

— Sua mãe foi uma das responsáveis pelo nosso sofrimento, inclusive
foi ela quem me entregou o acordo de divórcio.

Ao me ouvir, Jeff demonstrou ficar surpreso.

— Isso só pode ser brincadeira!

— Quem dera fosse. Ela foi bem enfática quanto a isso, o estopim para
eu assinar você já sabe qual foi, porém quem semeou tudo isso foi sua mãe.
Sendo assim, eu acho que é totalmente compreensível que eu não quero que
ela saiba que Oscar é nosso filho, muito menos que estou grávida. — Falei
com firmeza.

— Você está totalmente certa. E eu apoio sua decisão. — Jeff falou e me


deu um breve beijo nos lábios.

Era tão inédito ter Jeff ao meu lado daquela maneira que senti como se
eu estivesse nas nuvens. Por conta das carícias dele acabei pegando no sono.
Pela manhã o despertador tocou, e nós dois nos levantamos. Enquanto eu
tomava meu banho, Jeff preparava o café da manhã. Terminei de tomar meu
banho, tomei café junto com Jeff e saímos apressados de casa pois teríamos
que passar na casa dele para que ele pudesse se arrumar. Nós estávamos no
carro seguindo caminho para casa

— O que você acha de voltar para sua casa? — Jeff me perguntou.

— Minha casa? Você disse que eu era apenas uma convidada lá. — Eu o
alfinetei por conta do passado.
— Agora estou te convidando para ser dona. — Ele aproveitou para me
provocar e nós dois rimos.

— Touché! — Eu falei para ele no momento em que eu ainda ria da


provocação dele. — Acho que isso seria o certo já que somos casados, mas,
precisamos conversar com o Oscar antes.

— Você está certa, eu estou ansioso e não vejo a hora para que isso
aconteça. — Jeff falou em tom de empolgação.

— Se eu fosse você não criaria boas expectativas...

— Eu sei o que me espera, fique tranquila, mas saiba que eu jamais


desistiria de um filho meu.

Sorri orgulhosamente após ouvir o que meu marido disse. Chegamos na


casa dele, e ele se arrumou apressadamente. Jeff terminou de se arrumar e
seguimos caminho para a Tec Solutions. Assim que chegamos na empresa
fomos direto para sala de reunião, pelo vidro fosco da sala pude notar a
presença de acionistas da empresa, Cora e meu avô.

— Eles estão tramando algo. — Jeff falou com agitação e demonstrou


raiva perante aquela situação.

— Sem dúvidas. Eu preciso te contar algo, que provavelmente poderei


ter que usar quando entrarmos. — Eu falei olhando para ele.

Jeff engoliu seco, percebi nesse momento que ele tinha meo de ser algo
que pudesse afetar nosso relacionamento.

— Fique tranquilo, não é algo ruim. Eu sou o senhor Charlie. —


Expliquei.

— O misterioso dono da Times Technologies!? — Ele falou com o tom


de sua voz um pouco elevado.

— Shhh! Fale baixo, pode ser que escutem antes da hora. — O repreendi
sussurrando.
— Eu imaginei que você pudesse ser a dona da Times quando a vi sair da
empresa de Wilson. — Jeff falou em um tom mais baixo.

— É... Vamos lá, quero ver o que Stuart quer de mim e estou pronta para
enfrentá-lo. — Falei ao respirar profundamente.

— Certo, eu estarei ao seu lado o tempo inteiro e lembre-se que você


está grávida, precisa tentar permanecer o mais calma possível. — Jeff disse
em tom cauteloso.

— Eu sei, meu amor. Fique tranquilo. — Acariciei o rosto dele ao falar.

— Gosto que me chame assim... — Jeff falou se aproximando de mim


vagarosamente.

— Então acostume-se porque pretendo chamar assim sempre. Mas,


agora, se contenha, temos que focar nesse problema aqui. — Olhei em
direção a sala de reuniões.

Jeff concordou e seguimos em direção a sala de reuniões.


Charlotte VS Stuart
narração - Charlotte Staton

Assim que entramos na sala de reuniões Cora olhou para Jeff e eu dos
pés à cabeça. Percebi a raiva que ela estava sentindo por conta da contração
em sua mandíbula. Creio que ela percebeu que nós nos reconciliamos por
isso agiu daquela forma.

— Bom dia a todos. — Eu falei.

Todos me responderam e então, eu me sentei ao lado do Jeff na cadeira


que estava reservada para mim.

— Agora podemos começar. — Meu avô disse.

Eu estava ansiosa, ele me causava muito mal e a ansiedade de estar perto


dele era instantânea pois eu sabia que sempre poderia esperar o pior vindo
do meu avô. Mantive meu ar imponente ao encará-lo, então ele continuou a
dizer:
— Convoquei essa reunião com todos vocês para novamente dar mais
uma chance, a você Charlotte, para transferir as ações para mim de uma vez
por todas. — Meu avô me encarava de maneira intimidadora.

— Isso é algum tipo de brincadeira? — Eu falei irritada.

— Não mesmo. Todos aqui sabem que sou um empresário experiente, eu


quem levei meus hotéis ao patamar que estão hoje. Então, como sei que você
ainda tem participação por ser esposa de Jeff, por mais que você tenha
menos ações ainda tem alguma influência, mesmo que seja pouca. E mesmo
que ele tenha me dado os 45% que obrigou você assinar, quando eu estava
no hospital, você ainda precisa assinar. Pois, mesmo ele sendo seu marido,
ele sabe como você é uma ingrata e eu quem merecia ser o dono dessa
empresa. — Ele falou em tom arrogante achando que estava vitorioso.

Mal sabia ele que a maior acionista da empresa era eu, e que ele havia
sido enganado por Jeff e na verdade não tinha mais participação nenhuma na
empresa. Meu avô continuou a falar de maneira arrogante enquanto Cora
dava um sorriso.

— Mas, como você é uma garota petulante e ingrata, sei que não vai
querer assinar aceitando a transferência de ações total, convoquei essa
reunião para que os acionistas decidam quem será o verdadeiro dono, e
expulse você como acionista. Não sei se você sabe, mas essa é uma cláusula
legítima. Então, senhores, quem está ao lado da Charlotte?

Ninguém levantou a mão, e foi verdadeiramente um clima


constrangedor. Porém, eu me mantive firme e Jeff estava esboçando um
sorriso, pois, eu como sócia majoritária tendo mais 96% da empresa poderia
fazer o que quiser, inclusive tirar aqueles acionistas traidores pagando uma
multa mínima em cima das ações que eles detinham. Isso era uma uma
cláusula no contrato de acionistas. Meu avô, como achava que tinha apenas
45% precisava dessa brecha na cláusula e não poderia fazer o mesmo, por
isso ele convocou a reunião. Ele deu um sorriso triunfante e indagou:

— E quem está ao meu lado?


Todos os sócios levantaram a mão. Cora não conseguiu conter sua
alegria e comemorou. Porém eu estava com um sorriso em meu rosto, e isso
a fez interromper a comemoração dela, e ela ficou confusa.

— Sendo assim... — Meu avô começou a falar e eu o interrompi.

— Sendo assim, quero todos vocês fora da minha empresa. — Falei ao


levantar da minha cadeira e encarar todos os presentes deixando-os sem
entender o que estava acontecendo.

— O que está dizendo, garota estúpida? Perdeu o juízo? — Stuart se


levantou de sua cadeira franzindo sua testa.

— Não mesmo, eu poderia nem mesmo me dar o trabalho de explicar a


vocês, mas como sou uma pessoa educada acho que minimamente vocês
precisam entender o que eu estou falando. Bom, o que você assinou no
hospital não foi um documento que transferia ações para você, mas sim, um
documento que permitia que Jeff me transferisse os outros 45% da empresa
que ele tinha, e nele você também declarava que não era sócio da empresa. E
os outros sócios não tinham esse poder de escolha pois o contrato deles era
mais básico que o seu. Afinal, o seu só era mais complexo porque você me
vendeu para conseguir se tornar acionista da empresa. E fazendo uma
correção no que você falou, você praticamente destruiu o seu próprio
patrimônio. Nunca soube administrar bem, quem fazia isso por você eram
meus pais. E antes deles, seu irmão que faleceu. Você é exatamente igual ao
seu filho Jacob, só sabe desfrutar do dinheiro e não sabe ganhar.

— Você está blefando! — Meu avô falou batendo as mãos na mesa.

— Não, ela não está. Eu subornei seu advogado para que ele o fizesse
assinar. E não fiz isso somente uma vez, quando você assinou os papéis
aceitando que eu transferisse os primeiros 45% da empresa para Charlotte,
fui eu quem falou para ele te convencer a assinar fazendo você acreditar que
poderia manipular novamente sua neta para que ela transferisse as ações para
você. Mas, depois que Charlotte foi embora, algo me dizia que ela não iria
ceder a você, nem a mais ninguém. — Jeff falou encarando meu avô com o
queixo levantado enquanto falava.
Eu dei um sorriso para ele ao ver como ele me defendia, e então falei:

— Ah, e sei que você pode ter ficado na dúvida de como eu consegui as
terras do cemitério da família, então vou contar para você. Seu filho, Jacob,
facilitou tudo para mim. Ele se endividou e um generoso empresário, da
empresa Times Technologies se dispôs para pagar as dívidas dele a troco da
assinatura dele transferindo as terras para o nome dele. E adivinha só? O
generoso empresário dono da Times, o senhor Charlie, sou eu! Parece que
herdei a habilidade de fazer empresas rentáveis dos meus pais, além do mais
o projeto que fez a Tec Solutions ficar entre as maiores empresas do mundo
em tão pouco tempo, fui eu! — Falei de maneira arrogante.

A esse ponto todos estavam boquiabertos com o que eu falei. Era visível
o arrependimento dos acionistas por terem tomado a decisão de apoiarem
meu avô.

— Eu sinto muito pelo meu mal julgamento, Senhora Charlotte, há


alguma possibilidade de nos mantermos como acionistas da empresa? — Um
dos acionistas falou.

— Não costumo ter perto de mim quem eu não confio, mas, posso pensar
a respeito e reajustarei o contrato de ações caso aceite a permanência de
vocês na minha empresa. Eu entrarei em contato, mas, por hora, podem sair.
— Mantive meu tom ao falar com eles.

Os acionistas se levantaram, e saíram da sala cabisbaixos e visivelmente


envergonhados. Levi estava na porta acompanhando tudo, ao ver a cena ele
colocou a mão na boca para rir. Meu avô e Cora estavam incrédulos com
tudo que eu havia falado. Meu avô estava tremendo, e sua face estava
completamente ruborizada pela raiva que estava sentindo naquele momento.
Cora se aproximou de Jeff, que havia se levantado e questionou:

— Como você teve coragem de enganar um homem que está com seus
dias contados, meu filho?

— Da mesma maneira que ele teve coragem de vender a própria neta por
dinheiro, a fazendo passar um verdadeiro inferno ao meu lado. Sem contar as
coisas absurdas que você também a fez passar. Charlotte me falou que foi
você quem deu o acordo de divórcio para ela assinar, e deu a entender que eu
quem havia pedido para que você fizesse isso de maneira covarde. Eu não a
perdoarei por ter agido pelas minhas costas dessa maneira, por sua causa
Charlotte foi embora e nós perdemos cinco anos juntos, e não somente isso.
— Antes que Jeff pudesse falar mais alguma coisa eu segurei em seu braço
apertando levemente.

Não queria que ele contasse que Oscar era nosso filho, não era o
momento, principalmente na frente do meu avô. Jeff entendeu minha atitude,
e não falou mais nada para sua mãe.

— Mas, meu filho... — Cora tentou argumentar e pareceu um pouco


desconfiada.

— Mas nada, mãe! Já basta de seus jogos e justificativas. — Jeff falou


alterado para ela.

— Vocês vão se arrepender do que estão fazendo. Eu estou prestes a


morrer, não tenho mais nada a perder, já vocês têm muito a perder. Inclusive
a vida! — Quando ele falou isso, Jeff e eu nos olhamos confusos.

Cora também parecia não ter entendido bem o que Stuart quis dizer e o
olhou intrigada. Então, meu avô sacou uma arma e veio em minha direção.

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? — Eu gritei em desespero.

— STUART, POR DEUS! — Cora gritou também assustada com a


situação.

Jeff ao ver o que meu avô estava fazendo me puxou para perto dele.

— FIQUEM PARADOS, SENÃO EU ATIRO! Estou fazendo o que eu


deveria ter feito há muito tempo! Se eu tivesse te matado depois de você ter
se casado com o Staton todos os meus problemas já estariam resolvidos. —
Ele falou com raiva.

— EU SOU SUA NETA! — Gritei novamente. — Eu tenho seu sangue


correndo em minhas veias, como você tem coragem de fazer isso? —
Algumas lágrimas escorreram.
— Você não tem meu sangue correndo em suas veias, a vagabunda da
sua avó me traiu e resultou no bastardo do seu pai. Aquele patético fez de
tudo para me agradar e eu sempre o odiei, tanto que quando ele conseguiu
fazer minhas empresas alcançarei grandes lucros mandei que sabotassem o
avião em que ele estava junto com aquela mulherzinha petulante dele! Era
para você estar lá também, mas quando vi que você ficou eu sabia que um
dia poderia tirar vantagem, e consegui, só não contava que você me daria
tanta dor de cabeça. — Ele falava com bastante rancor enquanto mantinha a
arma apontada para mim.

Ao ouvir tudo que ele estava me dizendo eu caí em prantos, minhas


pernas amoleceram e Jeff precisou me amparar. Era esse o motivo que fazia
Stuart me odiar assim, eu era filha do homem que não era filho legítimo
dele. Meus pais foram assassinados por conta disso. Cora estava muito
chocada com o que estava escutando também, até mesmo para as maldades
dela isso parecia ser demais.

— ASSASSINO! EU TE ODEIO! — Eu gritei em meio choro.

— Meu amor, calma! Você não pode ficar nervosa assim, lembre-se do
nosso bebê! — Jeff falou em tom desesperado.

— Bebê? Você está grávida? — Cora perguntou com surpresa e quase


esboçou um sorriso apesar da situação caótica.

Eu não a respondi porque não tinha condição alguma de falar naquele


momento. Stuart sorriu de maneira perversa.

— Ótimo, então te matando agora eu irei colocar fim a linhagem do


bastardo! — Assim que ele falou acionou o gatilho e atirou.

Ao ver que eu iria ser atingida, Jeff se jogou na minha frente levando o
tiro em meu lugar. Porém, antes que Stuart disparasse a arma ele foi atingido
também. Levi ao ver que ele estava armado havia saído da sala e chamado os
seguranças do prédio. Ao ver Jeff caído no chão, eu gritei e Cora também.
Me ajoelhei ao lado do meu marido, e pude ver que a bala atingiu o ombro
dele.
— Calma, eu vou ficar bem. — Jeff falou colocando a mão no ombro. —
Acho que foi de raspão.

— Você levou um tiro por minha causa, meu amor! Me perdoa! — Eu


falava em meio ao choro enquanto o acariciava desesperada.

— Eu não tenho problema algum em dar minha vida por você, aliás, por
vocês. — Jeff disse com um sorriso e com sua voz um pouco falhada por
conta da dor.

Cora estava ao lado chorando e desesperada também.

— Já chamei o socorro, eles estão vindo. Stuart está morto... — Levi


falou.

— Bem-feito! Velho asqueroso. — Cora falou com a voz embargada.

— Bem-feito? Você ficou muito tempo ao lado dele que eu saiba. —


Falei com raiva.

Cora ficou visivelmente constrangida pelo que falei e ficou em silêncio.


O socorro não demorou muito a chegar, então eu fui junto com Jeff na
ambulância até o hospital.

Ao chegar no hospital, Jeff foi atendido e como ele havia suspeitado, o


tiro o atingiu apenas de raspão, sendo necessário apenas uma sutura, para
meu alívio. Fiquei aguardando um pouco na sala de espera, enquanto eu
aguardava o procedimento de Jeff ser finalizado, mandei uma mensagem
para Sam explicando tudo o que havia acontecido e Sam disse que viria
embora imediatamente.

Assim que Jeff saiu da sala, caminhei até ele e o abracei forte.

— Fiquei com tanto medo de algo acontecer com você. — Eu falava


ainda o abraçando, tomando cuidado para não pressionar o ferimento dele.

— Eu estou bem, fique tranquila. — Jeff deu um beijo em minha testa.


— Ah, avisei para Sam tudo que aconteceu e ele está vindo embora.
Então, hoje, poderemos finalmente conversar com Oscar.

— Isso é maravilhoso! — Jeff falou empolgado.

Como nós havíamos vindo de ambulância, chamei um táxi até meu


apartamento. Ao chegar lá, ficamos conversando sobre tudo o que havia
acontecido enquanto esperávamos a chegada de Oscar. Ele entrou em casa
somente com Janet, Sam e Vivian provavelmente foram até meu tio Jacob, e
imaginei que Sam estava abalado também. Ele não aprovava o que Stuart
fazia, mas por ter convivido toda sua vida com ele, Sam o amava muito.

Assim que Oscar entrou, Jeff e eu nos levantamos do sofá. Ao ver Jeff lá,
Oscar fez uma expressão feia e disse:

— O que esse malvado tá fazendo aqui? — Ele cruzou os braços ao falar.

— Filho, não fale assim. — Eu o repreendi.

— Eu não gosto dele e você sabe, mamãe! — Oscar falou em protesto.

— Por que você não gosta de mim? — Jeff o questionou.

— Porque você é malvado! — Oscar retrucou.

Jeff caminhou até ficar bem próximo de Oscar, e agachou na sua frente.

— Por que você diz isso, Oscar? — Ele falou com uma voz branda.

— Não te interessa! — Oscar falou de um jeito bem mal-educado.

— Meu filho! Não responda o Jeff assim.

— Tudo bem, Charlotte. — Jeff falou ao levantar a mão para mim em


sinal de que ele resolveria. — Eu vou tentar adivinhar o motivo pelo qual
você não gosta de mim...

Oscar se mostrou mais interessado após a dinâmica que foi proposta por
Jeff.
— Pode ser. — Oscar falou em tom desdenhoso.
Pai e filho
Narração – Jeff Staton

Oscar era irredutível, ele era claramente uma mistura minha e da


Charlotte na personalidade. Porque fisicamente, acho que me recordo de ver
muitas fotos minhas nessa idade e a semelhança era gigante. Não sei como
eu não havia me dado conta disso antes. Então comecei a falar:

— Você me acha malvado porque eu magoei alguém que você gosta?

— Sim. — Oscar respondeu.

— Eu fiz essa pessoa chorar? — Falei imaginando levar mais uma


resposta positiva.

— Sim, muito. — Ele falou em um tom bravo.

— Como você sabe disso?

Ele olhou um pouco desconfiado para Charlotte com medo de levar uma
possível bronca por conta da resposta que daria, então hesitou antes de falar.
— Fique tranquilo, te prometo que a mamãe não vai brigar com você. —
Eu falei com convicção para ele tentando fazer com que ele tivesse
confiança em mim.

— Eu ouvia atrás das portas quando ela conversava com outros adultos.
— Oscar falou.

Nesse momento Charlotte levou suas duas mãos até sua boca, e seus
olhos ficaram marejados. Creio que nesse momento ela se deu conta que
Oscar sabia que eu era o pai dele há muito tempo.

— Entendi. E quem é a pessoa que eu fiz chorar?

— A mamãe... — Ele falou e abaixou a cabeça.

— Então você sabe o que eu sou seu, não sabe, Oscar? — Eu ainda
estava agachado na frente dele.

Oscar permaneceu de cabeça baixa e apenas a acenou indicando que sim.

— Oscar, você tem vontade de ter um pai como seus amiguinhos, não
tem?

— Tenho. — Oscar levantou sua cabeça e me encarou após responder. —


Mas eu não quero um pai malvado que faz a mamãe chorar, por isso eu
quero que o Brandon seja meu pai.

— Meu amor, essas coisas nós não escolhemos. E o Brandon, não é uma
pessoa boa também. Ele fez uma coisa muito feia, e por esse motivo foi
preso. — Charlotte falou para Oscar.

Janet que estava acompanhando toda a conversa arregalou seus olhos


ficando surpresa com aquela notícia. Charlotte fez um gesto com as mãos
indicando que depois contaria a ela.

— O que ele fez? — Oscar perguntou curioso.

— Você é muito pequeno para entender. — Charlotte falou.


— Eu quero saber! — Oscar falou irritado.

— Ele tentou machucar a mamãe. — Eu falei e Charlotte me censurou


com o olhar.

— Sério? — Ele perguntou chocado.

— Sim. — Respondi um pouco apreensivo pelo olhar que Charlotte


lançava para mim.

— E como você sabe? — Oscar questionou com desconfiança.

— Porque foi ele quem me salvou de ser machucada. — Charlotte falou


para Oscar.

Brevemente o olhar de Oscar mudou para mim, mas logo ele adotou
novamente sua postura irritada.

— Que bom, mas isso ainda não faz com que eu goste de você. — Ele
foi afiado em sua resposta.

Inevitavelmente eu ri, e então eu disse:

— Se eu disser para você que pedi perdão a sua mãe por todas as vezes
que magoei ela, que a fiz chorar, e por todo mal que eu causei, você me daria
uma chance para ser seu pai? — Ao falar isso foi difícil conter minha
emoção.

— Só se minha mamãe tiver te perdoado. — Ele falou porém agora


demonstrava estar bem mais tranquilo e receptivo.

— Eu perdoei, meu amor. As vezes os adultos se magoam e se


machucam por falta de uma conversa que poderia resolver tudo. — Charlotte
se agachou ao meu lado e acariciou o rosto de Oscar.

— Eu ganho um abraço? — Perguntei um pouco ansioso.


Oscar deu um sorriso que iluminou todo o seu rosto, e praticamente se
jogou em meus braços fazendo com que eu desequilibrasse porque eu não
esperava aquela reação dele. Caí para trás deitado no chão, porém, pela
primeira vez, com meu filho em meus braços. O abraço dele era tão forte,
havia tanta entrega dele, instantaneamente senti uma felicidade e amor
indescritíveis invadirem meu peito. O abraço dele acabou pressionando meu
ferimento o que causou um pouco de dor, porém, aquele gesto era tão único
que eu não sabia explicar, pois havia um sentimento transcendental em meu
coração. Charlotte acompanhava a cena bastante emocionada, e Janet parecia
estar comovida com a situação.

— Agora finalmente você pode me dar um irmãozinho, né mamãe? —


Charlotte e eu nos olhamos com um sorriso de cumplicidade, e ao mesmo
tempo fiquei aliviado de saber que a aceitação dele com a gravidez de
Charlotte seria positiva.

— Bom... Acho que seu irmãozinho é apressado e ele já está aqui. —


Charlotte, que estava agachada, se ajoelhou ao nosso lado e acariciou sua
barriga.

Oscar abriu sua boca e arregalou seus olhos fazendo uma expressão
surpresa diante da notícia que sua mãe acabou de lhe dar, em seguida deu um
sorriso tão largo que enrugou seu nariz. Ele se levantou de cima de mim, e
começou a correr pela casa em comemoração. Charlotte, Janet e eu
gargalhamos diante da reação dele. Me sentei no chão ao lado de Charlotte e
a abracei dando um beijo em seu rosto.

— Agora podemos voltar para casa. — Falei para ela.

— Já? Tão rápido assim? — Charlotte falou surpresa.

— Verdade, antes precisamos mandar organizar o quarto do Oscar, quero


algo caprichado para ele. — Eu sorri ao falar para Charlotte.

Ela parecia estar mais que feliz por aquele momento.


3 meses depois

O velório de Stuart havia passado, e Charlotte decidiu passar a mansão


em que eles viviam para Sam já que ela descobriu que isso Stuart não havia
se lembrado em passar para seu nome. Os hotéis ficaram para Jacob, porém,
após a morte do pai ele se afundou em bebidas e drogas, sendo assim
precisou ser internado em uma clínica de reabilitação. Sam se tornou seu
procurador, então Vivian estava administrando a rede de hotéis da família e
os lucros estavam sendo grandiosos, tanto que ela precisou sair da Tec
Solutions para se dedicar somente as empresas de seu futuro marido.

Charlotte e eu decidimos não ter contato com minha mãe pelo menos por
um tempo, por mais que ela insistisse, e também não contamos a ela que
Oscar era meu filho. Minha mãe precisava sentir as consequências de seus
atos. Nunca mais ouvimos falar em Elizabeth após o dia em que eu a
expulsei da empresa, talvez tivesse se cansado e voltado para o exterior, para
nosso alívio. Em relação a Brandon, descobriram uma série de crimes que
ele havia praticado, e somado ao que ele tentou fazer com Charlotte ele foi
condenado à prisão perpétua.

Charlotte fez um exame para saber o gênero do nosso filho, então,


organizamos uma festa para anunciarmos para amigos e parentes mais
próximos. Oscar estava eufórico, ele estava convicto que teria um irmão e
estávamos até preocupados com a reação dele caso fosse uma menina.
Surpresa
Narração – Charlotte Staton

Havia muitos convidados e eu estava ansiosa para saber o sexo do meu


bebê. No fundo do meu coração eu sentia que era uma menina. Mas o Oscar
insistia tanto ser um menino, que eu estava começando a acreditar também.
Jeff e eu fomos para o jardim, pois lá que seria feita a revelação, e Oscar foi
junto conosco também. Estava à noite, a revelação seria feita através de uma
queima de fogos, e também haveria lançadores de fumaça com a cor
indicando o sexo do bebê.

Seria lilás para menina, e verde para menino. Colocamos o Oscar entre
nós dois, e seguramos a mão dele. Os convidados e nós fizemos a contagem
regressiva, e os fogos começaram. A princípio foram lançados na cor prata
para gerar mais expectativa e ansiedade, depois, os fogos começaram a
tomar cor e juntamente com eles as fumaças começaram a ser lançadas na
cor lilás, vários balões na cor lilás começaram a cair em cima de nós através
de uma estrutura. A parte dos balões foi uma surpresa que eu não esperava.

Jeff e eu gritamos, pulamos e nos abraçamos em comemoração.


— Uma menina, meu amor, nossa Allyce! — Jeff falou eufórico.

— Sim, meu amor! E esses balões? — Eu perguntei em meio ao riso e


choro de alegria.

— Foi ideia da Vivian para dar mais emoção. — Jeff respondeu.

Quando nos demos conta Oscar estava de braços cruzados e com a


expressão emburrada.

— Meu filho, não gostou? — Perguntei ao olhar para ele.

— Não! Eu queria um irmão, não uma irmã! Meninas não sabem brincar
direito. — Ele falou nervoso.

— Sabem sim, campeão. Você vai ver como é legal! — Jeff disse
tentando animar Oscar.

Mas ele estava tão irritado que nem se quer deu ouvidos e decidiu sair
correndo dali.

— Oscar, volte aqui! — Jeff o chamou enquanto ele corria entre os


convidados.

Em seguida vários convidados começaram a nos abraçar para nos


parabenizar e acabamos perdendo o Oscar de vista. Ficamos um pouco
preocupados, mas logo em seguida, assim que cumprimentássemos todos
iríamos atrás dele. Ainda tínhamos 5 meses pela frente para fazê-lo aceitar a
ideia de ter uma irmã. Terminamos de cumprimentar as pessoas, e então Jeff
disse:

— Vamos atrás do Oscar, a propriedade é muito grande. Ele pode se


perder. — Ele tinha um tom preocupado.

— Sim, não sei porquê, mas estou com um aperto em meu coração. —
Falei para ele.

— Fique tranquila, ele é criança logo vai se acostumar com a ideia de ter
uma irmãzinha. — Jeff colocou suas duas mãos em meus braços na tentativa
de fazer eu me acalmar.

— Não é em relação a isso... Mas deixa, vamos procura-lo. Vou pedir


ajuda para Sam, Vivian e Janet. — Falei para meu marido, que ficou um
pouco intrigado depois do que eu havia dito.

— Certo, vou pedir ajuda para os empregados e seguranças também. —


Jeff falou, e nós demos um selinho, e nos separamos para procurar Oscar.

Procuramos ele durante 45 minutos. Eu já estava entrando em completo


desespero. Pedimos para a moça que organizou toda a festa anunciar que
estávamos procurando o Oscar para ver se ele aparecia e muitos convidados
se mobilizaram para nos ajudar, mas foi inútil. Eu já estava chorando muito
pois sentia que algo terrível havia acontecido com meu filho.

— Peanut, fique tranquila. Vamos verificar nas câmeras agora! — Jeff


falou para me confortar.

— Não vamos amor, alguma coisa ruim aconteceu com ele. Eu tenho
certeza! — Eu falei para ele enquanto chorava.

— Calma, Char. — Sam falou tentando me acalmar também.

Nós fomos até a sala de segurança e parecia que os seguranças haviam


encontrado alguma coisa. Quando fomos ver na imagem de segurança, uma
garçonete contratada o pegou a força tampando sua boca, levou ele até o seu
carro e o colocou lá. Ao ver isso me desesperei mais e o choro se tornou
mais intenso.

— Por que fizeram isso com meu menino? Querem dinheiro, é isso? —
Eu falava chorando.

— Não... Vingança... — Jeff falou em um fio de voz.

— Como assim? O que está querendo dizer? — Perguntei aflita.

— Aproxime o máximo que puder a imagem. — Jeff ordenou.


Assim que o segurança aproximou mais a imagem da câmera, eu me
inclinei para tentar ver o que Jeff provavelmente já havia visto. E então eu vi
quem era.

— Não pode ser. — Eu falei ficando em pé novamente.

— O que foi? — Sam perguntou apreensivo.

Eu nem ao menos consegui responder por conta da surpresa em que eu


estava.

— Era Elizabeth, ela se disfarçou de membro da equipe e levou Oscar


embora. — Jeff respondeu com grande consternação e deu um murro na
mesa onde estava o monitor.

— Mas mesmo com essa quantidade enorme de seguranças, ela


conseguiu fazer isso? — Vivian questionou irritada.

— Desculpe senhores, ao que parece ela saiu em um carro de luxo, e


estava vestida como uma das convidadas e não tinha nada estranho.
Aparentemente o menino estava dormindo, e ela disse ser uma convidada.
Como o vidro estava escuro, os seguranças não cogitaram que fosse o
pequeno Oscar. — O chefe da segurança se justificou com bastante receio.

— Fique tranquilo, sei da competência de vocês. Acontece que ela


pensou em tudo. Vou contatar meu amigo que é chefe de polícia. — Jeff
falou enquanto digitava o número de seu amigo.

Eu estava tão abalada que parecia não estar presente. Só queria saber
como meu filho estava, e a cada minuto que se passava, que eu sabia que ele
estava nas mãos de Elizabeth, era uma verdadeira tortura pra mim. Eu me
senti tonta, e cambaleei, Sam e Jeff vieram rapidamente em minha direção e
me sentaram na cadeira. Jeff estava em ligação com seu amigo da polícia
enquanto me auxiliava. Assim que ele desligou, olhou fixamente nos meus
olhos e disse:

— Amor nós vamos encontrar o Oscar, eu te garanto! Nessa mesma noite


ele estará em nossos braços e seguro. — Jeff falou com bastante firmeza, eu
queria acreditar nele, mas o medo estava me assombrando.
Eu só fiquei calada, na minha cabeça estava se passando inúmeros
pensamentos, mas eu não conseguia verbalizar nada. Jeff ia falar mais
alguma coisa, porém foi interrompido por seu telefone tocando. Assim que
ele tocou eu arregalei meus olhos, e meu coração disparou, eu tinha
esperanças de que fosse alguma notícia sobre o Oscar, então nesse momento
enquanto ele encarava o celular antes de atender eu consegui falar:

— Quem é? Atende! Por que você não atende? Podem ser notícias sobre
o Oscar. — Eu falei de maneira desesperada.

— Calma, é só minha mãe. Não estou com cabeça para lidar com ela
agora. — Ao ouvir que era a mãe dele me frustrei.

Depois de Jeff ter ignorado a ligação de sua mãe, meu celular também
começou a tocar. Peguei ele apressadamente e vi que era Cora. Eu achei
aquilo estranho porque ela simplesmente não me ligava... E se ela estivesse
envolvida no sequestro do Oscar juntamente com Elizabeth? Ao cogitar isso,
eu simplesmente atendi e coloquei no viva-voz para que todos pudessem
ouvir o que ela tinha a dizer.

Ligação ON

Charlotte: — Al... — Cora não me deixou completar a frase e logo foi


dizendo

Cora: — Charlotte! Graças a Deus você me atendeu. Elizabeth está


louca, ela sequestrou o Oscar! Eu não posso falar muito porque ela voltara
em breve, mas eu vou enviar a localização do local em que nós estamos.

Nesse momento Jeff pegou o celular da minha mão e disse furioso.

Jeff: — Eu juro que se a senhora tiver algo a ver com o sequestro do


meu filho eu nunca mais irei perdoá-la e farei de tudo para que você passe o
resto dos seus dias na prisão!
Cora: — Se eu tivesse algo a ver eu jamais iria ligar para vocês, ainda
mais ele sendo meu neto! Eu nunca faria nada para machuca-lo!

Jeff iria começar a falar, mas logo Cora falou:

Cora: — Ela está voltando, vou mandar a localização e prometo que


protegerei o menino com minha própria vida!

Ligação OFF

Eu sabia bem que Cora não era uma pessoa nada confiável, porém,
naquela ligação eu senti verdade nela e não acreditei que ela pudesse estar
envolvida com Elizabeth.

— Se minha mãe estiver evolvida nisso... — Jeff falava praticamente


transtornado.

— Ela não está, eu sei que não. — Eu falei com convicção.

Recebi uma mensagem no meu celular, era a localização que a Cora


falou que iria enviar. Nesse momento o chefe do departamento de polícia
chegou. Me levantei de onde eu estava sentada e mostrei a localização para
ele.

— Aqui, meu filho está sendo mantido aqui. — Eu tinha lágrimas em


meus olhos enquanto eu falava.

— Fique tranquila senhora Staton, vamos resgatar seu filho com


segurança. — O chefe de polícia falou para mim.

— Eu vou junto, e você fique aqui, meu amor. — Jeff falou.

— De maneira nenhuma. Eu vou junto e se você tentar me proibir eu irei


mesmo assim! — Falei com raiva.

Jeff apenas suspirou porque ele sabia que não teria como evitar que eu
fosse pois quando eu colocava algo na minha cabeça ele sabia muito bem
que não adiantava ir contra mim.
— Char, você tem certeza, pense na Allyce, você não pode se arriscar. —
Sam me alertou.

— Eu penso na Allyce, mas não posso deixar de pensar no Oscar


também. E será muito pior se eu ficar aqui esperando por notícias, só vai me
gerar mais ansiedade.

— Fique tranquilo, Sam, vou ficar de olho nela. — Jeff falou para Sam.

Sendo assim nós fomos em direção ao carro para ir até a localização que
Cora havia enviado.
Instinto protetor
Narração – Cora Staton

Desde o episódio que havia acontecido com Stuart, eu comecei a rever


meus conceitos. Acho que essa tentativa de fazer Jeff ter um filho a todo e
qualquer custo sem nem ao menos me importar com quem, era realmente
uma loucura. Eu estava apenas projetando minha frustração em relação as
coisas que aconteceram na minha vida, no Jeff. Ele não tinha culpa de nada,
e sei que sempre o manipulei para que no fim ele fizesse o que eu bem
entendesse.

Charlotte também foi uma vítima, tanto minha quanto da família dela,
como essa menina sofreu! E agora, que ela estava grávida do meu filho eu
queria tanto poder estar participando deste momento. Mas, infelizmente, ela
e o Jeff não estavam dispostos a me deixar participar da vida deles. E eu os
entendo, estão na razão deles. Fui fazer um tour pela Europa para ver se eu
conseguia ficar mais tranquila por indicação da minha terapeuta, para
esquecer um pouco eles, mas era difícil. Eu sempre dava um jeito de
procurar saber deles de alguma forma e estava acompanhando a gestação da
Charlotte mesmo que de longe. Eu sabia que ela também tinha um filho, mas
eu nunca consegui ver fotos dele.
Eu já havia voltado para New York, e fiquei sabendo que aconteceria
uma festa para revelar o gênero do meu neto, fiquei sabendo pois tudo que
acontece com os Staton vira uma grande notícia. Além disso, Jeff mandou
um convite para seu avô que obviamente não se estendia a mim. Pensei em
mandar um presente, mas fiquei com medo deles não aceitarem sabendo que
eu quem havia mandado. Então, decidi ir a uma loja de bebê e comprar
várias roupas de cores neutras, brinquedos, e até mesmo o melhor e mais
luxuoso carrinho de bebê, porém, coloquei em nome do Robert, como se ele
quem tivesse dado. Só de saber que pude dar algo para meu neto já me sentia
bem.

Eu estava em casa, sozinha, lendo um livro e tomando um vinho que


havia trazido da Itália, então meu celular tocou, para minha surpresa quem
estava me ligando era Elizabeth. Ela simplesmente havia desaparecido do
mapa depois que Jeff a expulsou da empresa, tanto que liguei para ela
algumas vezes para ela na época e ela não me atendeu. Resolvi atende-la
para ver o que ela queria.

Ligação ON

Cora: — Elizabeth?

Elizabeth: — Oi, Cora! Finalmente consegui uma solução para fazer a


Charlotte sumir de vez, e eu finalmente ter o Jeff comigo! — Elizabeth
estava ofegante e parecia transtornada.

Cora: — Como assim? O que você está querendo dizer?

Elizabeth: — Vou te mandar a localização do lugar onde eu estou. Venha


rápido!

Cora: — Eliza...

Ligação OFF
Ela desligou antes que eu pudesse falar que havia desistido de atrapalhar
a vida do meu filho. Porém, achei ela bastante descontrolada e julguei que
seria melhor ir ao lugar onde ela estava falando para que eu fosse pois ela
não estava bem. Saí de casa, entrei no meu carro e fui em direção ao local
que ela havia me enviado a localização, ao chegar lá fiquei um pouco
assustada com o lugar. Era em um bairro bem afastado, e parecia ser um
lugar completamente abandonado. Olhei em volta com muita desconfiança e
desci do carro, liguei para ela avisando que estava na localização que ela
havia me enviado, mas acreditava que aconteceu algum equívoco pois eu
duvidava que fosse lá, porém ela disse que não e logo apareceu na porta.

— Elizabeth? O que é isso? — Perguntei confusa.

— Vem, preciso te mostrar. — Ela falava eufórica e me puxou pela mão


para o interior da casa.

A casa tinha um cheiro de mofo insuportável, tudo parecia bem velho e


simples. A iluminação da casa era mínima, e assim que entrei ouvi uma voz
infantil gritando:

— Socorro, eu estou com medo!

Aquilo me deixou bastante perturbada.

— Quem está gritando, Elizabeth? — Perguntei enquanto subíamos pela


velha escada de madeira.

— Eu sequestrei o filho da Charlotte! — Ela deu uma gargalhada ao


falar.

Assim que a ouvi, eu paralisei no meio das escadas. Pensei ter ouvido
errado o que ela havia dito.

— O que você fez? — Perguntei com a voz um pouco trêmula.


Elizabeth parou no topo das escadas e se virou de frente para mim.

— Eu sequestrei o filho da Charlotte, ué. — Ela falou como se fosse algo


comum.

— Por qual motivo? — A questionei.

— Para forçar Jeff a ficar comigo. Eu só devolverei a criança se


Charlotte prometer que vai sumir da vida de Jeff. — Elizabeth falava com
convicção, e crente que através daquele plano totalmente descabido ela iria
conseguir fazer com que meu filho ficasse com ela.

— Elizabeth... Ela está grávida, acho pouco provável que eles se


separem. — Tentei tirar a ideia da cabeça dela. — Como você conseguiu
sequestrar o garoto?

— Sendo assim ela nunca mais verá o filho. Eu consegui um convite


falso para a festa, entrei no meu carro com roupa de festa, mas tinha uma
roupa de garçonete para conseguir me aproximar do garoto. E foi mais fácil
do que pensei, ele se chateou ao descobrir o gênero do bebê e saiu correndo.
Eu o segui, ele estava emburrado sentado na cozinha, me aproximei dele por
trás e coloquei um lenço embebido com clorofórmio, por ele ser criança,
apagou rapidinho. Sendo assim, me troquei, levei ele até meu carro e saí com
ele sem problemas. Pois pensaram que ele era meu filho e estava dormindo...
Fácil, fácil — Elizabeth deu um sorriso triunfante e foi em direção a um
cômodo da casa.

Eu entendi que não adiantava eu tentar persuadi-la, e fiquei em choque


por saber do plano dela. Ela poderia ter matado o menino, ele devia estar
com muito medo, eu precisava intervir. Então, apenas a segui sem dizer mais
nada. Assim que cheguei no quarto vi Elizabeth pegando uma arma, e ao ver
o menino sentado na cama como um de seus pés algemado na cama me
desesperei. A cena era muito perturbadora, mas outra coisa me intrigou
bastante, aquele menino era praticamente igual ao Jeff quando era criança.
Fiquei parada na porta olhando para ele por um tempo. Seus olhos eram
assustados e ele parecia estar com muito medo da Elizabeth.
— Olha só o pirralho. — Elizabeth dizia rindo. — Ela colocou sua arma
em sua cintura, e pegou alguns remédios e os tomou.

— O que você está tomando? — Perguntei intrigada.

— São alguns calmantes. — Ela disse como se quisesse desconversar.

Naquele momento vi que ela estava mentindo. Talvez por consequência


do abuso desses remédios ela estava tão perturbada da maneira que estava.
Me aproximei mais do menino, e queria conversar com ele. Mas para isso,
eu precisava que Elizabeth saísse dali.

— Elizabeth, o menino já comeu?

— Não. — Ela respondeu.

— Ele precisa se alimentar, do contrário de nada vai valer na troca. —


Eu falei como se estivesse ao lado dela com esse plano absurdo.

Ela coçou a lateral da sua cabeça enquanto tinha o olhar inquieto.

— Droga! Vou ter que sair e comprar algo para ele. Você o vigia?

— Mas é claro, conte comigo, você sabe que estou do seu lado. — Falei
para aumentar a confiança dela em mim.

Ela sorriu e saiu, assim que ela saiu o menino tinha o olhar mais
assustado por achar que eu era cúmplice de Elizabeth, então me aproximei
dele e disse:

— Calma, eu não sou inimiga. Eu vou te ajudar, mas preciso que confie
em mim.

— Quem é você? — Ele perguntou desconfiado.

— Eu me chamo Cora, sou mãe do Jeff o marido da sua mãe. Qual seu
nome?
— Meu nome é Oscar. O Jeff é meu pai, então você é minha vovó? —
Oscar me perguntou.

Quando eu ouvi as palavras que saíram da boca dele, meu coração


disparou. Era meu neto! Meu tão sonhado neto estava bem ali na minha
frente, em uma situação totalmente lamentável, lágrimas invadiram meus
olhos pela emoção de ter descoberto meu neto e também por temer que algo
pudesse acontecer com ele.

— Sim, eu sou sua vovó. — Falei com a voz embargada pelo choro.

— Por que eu nunca te conheci? — Ele perguntou ainda desconfiado.

— Porque... Os adultos são complicados meu amor, eu fiz algumas


coisas ruins, e então preciso de tempo para conseguir conquistar a confiança
dos seus pais novamente. — Expliquei para ele gaguejando um pouco.

— Você já tentou pedir desculpas? Sempre funciona quando faço algo


errado e eu peço para mamãe e o papai, e eu faço essa cara aqui ó: — Oscar
fez um biquinho e arregalou seus olhos. — Sempre funciona.

Algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas ao ouvir e ver a


expressão do meu neto eu comecei a rir.

— É, acho que vou tentar pra ver se funciona. — Falei para ele ao limpar
minhas lágrimas. — Agora, escute bem, eu vou ligar para seus pais, e avisar
onde nós estamos. Depois, vou tentar tirar você daqui enquanto a Elizabeth
não volta, tudo bem?

— Tá bom, vovó. — Eu nem acreditava que estava sendo chamada de


vovó. Era uma alegria imensurável para mim.

Liguei para Jeff e ele não me atendeu, liguei para Charlotte e ela atendeu
a ligação. Falei o mais rápido possível com eles, e logo, ouvi um barulho e
desliguei, pois, achei que Elizabeth havia chegado. Mandei a localização
para eles apressadamente, e então, fui verificar se era ela que havia chegado.
Porém, era só o barulho do vento batendo na casa velha fazendo-a ranger.
Isso era bom, pois, me daria mais tempo para fugir com meu neto. Ele
estava algemado pelo tornozelo ao pé da cama.

— Você viu onde ela colocou a chave? — Eu perguntei para Oscar.

— Acho que está naquela gaveta. — Ele apontou para a gaveta da


cômoda que estava ao lado da cama.

Fui até ela com pressa e para minha sorte a chave estava lá. Peguei ela e
consegui soltar Oscar, peguei na mão dele e nós saímos do quarto com
pressa em direção as escadas, nós descemos as escadas e fomos em direção a
porta de saída. Mas, para nosso azar, Elizabeth chegou na mesma hora.

— O que você pensa que está fazendo? — Ela perguntou colocando a


mão na arma em sua cintura para pega-la.

— Eu... Eu... Ia levar o menino ao banheiro. — Falei gaguejando e


estava bastante nervosa.

Oscar se escondeu atrás de mim e abraçou minha perna.

— Mentira! O banheiro é lá no quarto mesmo, você estava tentando fugir


com o pirralho! Aposto que você já sabe que ele é seu neto! — Elizabeth
falou alterada e gesticulando com a arma.

— Você sabia? — Eu perguntei em choque.

— É claro que eu sabia, o Brandon me contou. Jamais iria te contar pois


eu sei que perderia uma aliada. Agora você se tornou um grande problema
para mim, Cora! — Enquanto ela falava, ouvimos algumas sirenes de carros
de polícia.

— VOCÊ CHAMOU A POLÍCIA, VELHA MALDITA? — Elizabeth


gritou.

Eu arregalei meus olhos e protegi o Oscar me colocando na frente dele.

— Elizabeth, se entregue, você sabe o que irá acontecer. Você tem uma
vida inteira pela frente. — Eu tentei alerta-la.
— Nunca! Agora você não me deixou escolha, eu vou ter que matar
vocês dois! — Ela falou se aproximando com a arma apontada para nós dois.

— Por favor, não! Faça o que quiser comigo, mas deixe meu neto em
paz! — Eu implorei para ela.

Elizabeth gargalhou descontrolada.

— Você acha mesmo que eu vou permitir que aquela sem sal da
Charlotte e seu filhinho arrogante sejam felizes enquanto eu passo o resto da
minha vida na cadeia? — Ela perguntava com deboche.

— Ele é só uma criança, Elizabeth! Tenha compaixão! — Eu continuava


a tentar persuadi-la.

— Jeff não teve compaixão por mim ao me expulsar da vida dele como
se eu fosse uma qualquer. Agora ele vai conviver com a dor de perder a mãe
e o filho por suas más escolhas.

Elizabeth, engatilhou a arma e nessa hora Oscar gritou em desespero:

— VOVÓ! — Quando meu neto me gritou a única reação que tive foi
me agachar e abraça-lo para protege-lo com meu corpo.

Ele se encolheu e ficou entre meus braços. Se a bala pegasse somente em


mim, ele ficaria protegido. Então, ouvi o barulho do tiro e fechei meus olhos.
Naquele momento meu coração pareceu ter parado por um momento, eu não
senti dor, nem nada, talvez era assim que a gente se sentia quando estava
morrendo. Porém, ouvi a voz de Charlotte gritando:

— MEU FILHO! — Assim que ouvi, eu me afastei um pouco do Oscar e


olhei para trás.

Elizabeth estava caída no chão junto a uma poça de sangue. Um grupo de


policias havia invadido a casa juntamente com Jeff e Charlotte. O tiro não
me acertou porque a arma de Elizabeth não disparou a tempo, pois ela foi
atingida antes pelo tiro do policial. Se não fosse isso, a essa altura eu não
estaria viva. Respirei aliviada ao ver que meu neto e eu estávamos bem.
Oscar foi correndo em direção a Charlotte, que se ajoelhou no chão junto
com Jeff e abraçou o pequeno. Eu sorri em meio a lágrimas ao ver aquela
cena.

— Você está bem? Ela te machucou? — Charlotte perguntou ao se


afastar um pouco de Oscar.

— Não, a vovó Cora me salvou. — Oscar falou e olhou para mim com
um sorriso.

Eu correspondi ao sorriso dele, e então ele veio até mim. Oscar pegou
em minha mão e começou a em guiar em direção a Charlotte e Jeff.

— O que você está fazendo? — Perguntei com receio.

Oscar não me respondeu, mas, quando cheguei a ficar em frente ao Jeff e


a Charlotte, que já estavam em pé nesse momento, Oscar disse:

— Vai vovó, fala e faz o que eu te ensinei. — Eu comecei a rir, enquanto


Jeff e Charlotte pareciam estar confusos.

— Bom... Oscar me disse que quando ele faz alguma coisa errada, ele
pede desculpas e faz uma carinha irresistível para que vocês aceitem as
desculpas dele, e sempre dá certo. Tenho certeza que tudo que eu fiz contra
vocês, é bem maior do que as travessuras que ele faz, porém, eu quero pedir
perdão a vocês por todo mal que eu causei. Principalmente a você, Charlotte,
eu fui uma das principais responsáveis por sua vida ter se tornado um
verdadeiro inferno, e caso você não me perdoe saiba que eu vou entender. Eu
estou feliz só de conhecer meu neto, ver você com essa barriga sabendo que
trará mais um bebê para alegrar mais ainda a vida da sua família, e além
disso, saber que meu filho está feliz já vale a pena para mim.

Eu tinha lágrimas em meus olhos ao falar. Jeff e Charlotte permaneceram


em silêncio por alguns segundos.

— Faz o biquinho vovó, o biquinho! — Oscar falou.

Ao ouvir o que ele disse, todos nós gargalhamos e então Charlotte falou:
— Cora, qualquer pessoa que se coloca em frente a uma bala no intuito
de salvar a vida do meu filho já tem meu perdão. Ainda mais se essa pessoa
for a mãe do homem que eu amo. — Charlotte falou.

Aquela moça tinha um caráter e um coração nobre demais, eu se quer


merecia essa compaixão por parte dela. Charlotte veio até mim, e me deu um
abraço, em seguida meu filho me abraçou e beijou meu rosto. Eu estava em
lágrimas e não conseguia as conter.

— Obrigado, mãe. Você salvou meu filho, não tenho como te agradecer,
e eu tive muito medo de perder você, quero você de volta em minha vida,
com limites... É claro. — Jeff e eu demos uma risada.

Graças a Deus, tudo havia se resolvido, Charlotte me convidou para


passar a noite na casa deles para que Oscar e eu nos conhecêssemos melhor.
Ela me contou que ele estava chateado por ter uma irmã, pois queria muito
um irmão, então em senti na missão de mostrar para ele as vantagens de uma
irmã para que ele aceitasse melhor a ideia.
Finalmente felizes
Narração – Charlotte Staton

Cinco meses depois

Eu estava no quarto do hospital, em trabalho de parto, Jeff não saía do


meu lado hora alguma por mais que estivesse apavorado com tudo aquilo
que estava acontecendo. Estava demorando um pouco mais do que quando
eu tive o Oscar, e eu comecei a ficar insegura. Jeff por me conhecer bem,
percebeu e me disse:

— Amor... — Jeff falou com uma voz tranquila enquanto acariciava meu
cabelo que estava molhado por conta do suor.

Eu apenas o olhei enquanto ofegava por causa da dor da contração


daquele momento.

— Você está incrível, eu tenho muito orgulho de você, não fique com
medo, você vai conseguir! — Jeff falou me encorajando.
Assim que ouvi as palavras dele, me senti mais confiante. Apertei a mão
dele e coloquei toda minha força, dei um grito que ecoou pelo quarto e ao
final, minha doce Allyce apareceu. O choro dela era forte, e ela era bem
gordinha. Jeff estava em lágrimas enquanto beijava minha mão e dizia que
me amava em meio ao seu choro emocionado. A médica trouxe nossa filha
para meus braços, eu a peguei e dei um beijo em sua testa. Ao encostar meus
lábios em sua pele, ela parou de chorar dando um breve suspiro. Jeff a tocou
e cheirou sua cabeça.

— Você me faz o homem mais feliz do mundo, meu amor, obrigado! —


Os olhos dele brilhavam e ele parecia em êxtase com aquela cena.

— Eu sou a mulher mais feliz do mundo ao seu lado, com a família linda
que a gente tem. — Eu falei emocionada.

— Você quer casar comigo? — Jeff me perguntou.

— Mas nós já somos casados, meu amor. — Falei para ele dando uma
risada.

— Nós nos casamos através de um contrato que você não teve poder de
escolha. Eu estou aqui, pedindo para você se tornar minha esposa se isso for
de sua livre e espontânea vontade. — Jeff me olhava fixamente ao perguntar.

Eu fiquei muito emocionada com o que ele estava me propondo. Era de


extrema empatia e sensibilidade ele querer fazer tudo da maneira certa
comigo.

— Sim, meu amor, eu aceito ser sua esposa por livre e espontânea
vontade, de todo meu coração.

Assim que o respondi o sorriso dele se tornou maior e nós nos beijamos.
Ao findarmos nosso beijo, Oscar, Cora, Sam, Vivian e Janet entraram no
quarto do hospital com alguns balões cor-de-rosa e com o nome da Allyce
dentro. Oscar estava ansioso para conhecer a irmã, nos meses que se
passaram Cora o convenceu de como seria incrível ele ser o irmão herói de
uma menina, isso fez com que ele ficasse super empolgado e ansioso com a
chegada da irmã.
Todos ficaram emocionados ao ver Allyce. Ela havia vindo para
completar a família e fazer com que Jeff e eu vivêssemos uma experiência
única, que foi tirada de nós há anos atrás quando o Oscar nasceu.

Dois meses depois

Allyce estava com quase dois meses, Jeff tinha muita pressa para que nós
casássemos, então marcamos a data para hoje. Eu estava tão ansiosa, parecia
até que já não era casada com ele. Mas, diferente da primeira vez, a
ansiedade que eu sentia era gostosa, me trazia felicidade e esperança de que
estaríamos dando um sim para desfrutarmos das alegrias que antes não
tivemos, pelo resto de nossas vidas. Dessa vez, quem me levaria até o altar
seria o Sam, o único da minha família que realmente me amava.

— Está pronta? — Sam falou ao entrar no meu quarto junto com Vivian.

— Sim! — Me virei de frente para ele e sorri.

— Você está linda Char, eu nem ao menos sei descrever a emoção que
sinto de vê-la assim. Você sofreu muito e merece ser feliz! E para aumentar
mais ainda a alegria desse momento, temos uma notícia para dar. — Sam
acariciou a barriga de Vivian que tinha um grande sorriso e os olhos
marejados.

— Não acredito! É sério? — Eu falei eufórica.

— Sim! Nós vamos ter um bebê! — Vivian falou emocionada.

E diante da notícia nós três nos abraçamos.

— Meus parabéns, vocês merecem ser muito felizes! — Eu falei para


eles.

— Obrigado, Char. Agora vamos que você já está muito atrasada. —


Sam falou me apressando.
Nós saímos do meu quarto, e fomos em direção a saída da casa. Já havia
um dos pequenos carros de golfe que haviam na minha casa, para me levar
até a capela dentro da propriedade, que era o mesmo lugar que me casei há
alguns anos. Ao chegar na porta da igreja, Sam e eu nos posicionamos,
quando a marcha nupcial tocou começamos a caminhar em direção ao altar.
Dessa vez, Jeff e eu não tirávamos os olhos um do outro, e a alegria estava
estampada em nossos rostos.

Cheguei ao altar, e Jeff beijou minha testa após cumprimentar Sam. O


padre iniciou a cerimônia. Meu marido e eu nos olhávamos algumas vezes
com cumplicidade, e então foi chegado o momento da troca de alianças.
Oscar entrou segurando as alianças e Cora o acompanhou com Allyce em
seu colo. Não conseguimos conter a emoção de ver nossos filhos entrando,
para nos entregar o símbolo que iria representar o nosso compromisso pelo
resto de nossas vidas. Antes de colocar a aliança em mim, Jeff disse:

— Eu tenho algumas palavras para dizer a você. — Aquilo me pegou de


surpresa pois eu não esperava e muito menos preparei algo para ele também.
O olhei admirada, então ele continuou:

— Charlotte, ou poderia dizer peanut? — Ele arrancou risadas de todos,


principalmente de Levi que era quem mais sabia da história, e era o padrinho
de Jeff na cerimônia. — A vida usou várias formas de dificultar nosso amor,
porém, o sentimento que temos um pelo o outro fez com que rompêssemos
barreiras, enfrentássemos desafios, superássemos obstáculos difíceis, e
principalmente, fez com que você perdoasse erros imperdoáveis. Isso só foi
possível não por mim, mas por você! Uma mulher espetacular, com um
coração incrível, e qualidades ímpares. Se eu fosse tentar expressar em
palavras o ser humano excepcional que você é, eu ficaria por dias tentando
falar e mesmo assim eu não conseguiria. Sendo assim, o que eu posso fazer é
prometer que farei até mesmo o inalcançável para conseguir fazer com que
você seja feliz ao meu lado todos os dias, e tentarei ser o melhor homem
possível para ser digno de você, prometo também nunca deixar de ter
diálogo e sempre validar seus sentimentos. Eu te amo, Charlotte.

Eu estava totalmente sem palavras e completamente emocionada com


tudo que Jeff havia falado para mim. Minha única reação foi abraça-lo e dar
um demorado beijo nele. Nós trocamos nossas alianças, e o padre declarou
que éramos marido e mulher. Todos os convidados se colocaram de pé e nos
aplaudiram. Jeff e eu saímos de mãos dadas da capela aos risos pela alegria
que sentíamos, pois nós dois sabíamos que agora sim seríamos plenamente
felizes, bem como deveríamos ter sido há alguns anos.

Ao chegarmos no salão onde seria feita a festa, a organizadora do evento


anunciou que era o momento da dança do casal. Senti uma leve apreensão
pelo que passei na primeira vez que nos casamos, mas, meu marido estava
ali ao meu lado diferente da outra vez, e se levantou. Jeff estendeu sua mão e
disse:

— Me concede esta dança? Não estou disposto a deixar ninguém usurpar


esse momento. — Ele sorriu ao fazer alusão ao que havíamos passado.

Eu dei uma risada ao ouvi-lo e então segurei sua mão ao dizer:

— Mas é claro! — Me levantei e nós fomos para o meio do salão para


dançarmos.

Nós dançávamos e mantínhamos o olhar fixo um no outro, dançamos


cerca de três músicas e ao final todos nos aplaudiram bastante. Jeff então
disse:

— Vem comigo! — Ele segurou minha mão e começou a me puxar em


direção ao jardim.

Assim que pisamos na grama do jardim começamos a correr em meio a


gargalhadas parecendo dois adolescentes.

— Pra onde você está me levando? — Perguntei com a voz falhada por
estar correndo.

— Para seu presente de casamento. — Jeff falou com um sorriso no


rosto.

Nós continuamos a correr por um tempo, até que ele parou, e eu parei
também. Jeff veio para trás de mim e colocou suas duas mãos nos meus
olhos e disse:
— Continua andando.

Eu o obedeci e continuei andando, mas estava louca de curiosidade, e


então novamente ele parou. Jeff tirou a mão dos meus olhos, mas ao abri-los
não consegui enxergar nada pois estava muito escuro, então, ele pegou seu
celular e acionou um comando e fez com que tudo se iluminasse. Eu abri
minha boca e coloquei as mãos nela. Jeff havia construído um campo de
beisebol idêntico ao que nós nos conhecemos, e no centro do campo estava
escrito “PEANUT” em letras grandes. Eu olhei para ele com lágrimas em
meus olhos.

— Meu amor! — Eu falei bastante emocionada.

— Espera que tem mais. — Jeff falou e pegou na minha mão me levando
até a arquibancada.

Ele levantou meu vestido e me ajudou a subir na arquibancada, até mais


ou menos no o meio dela, bem como onde eu estava sentada quando nós nos
conhecemos. Olhei para o banco e havia dois sanduíches de pasta de
amendoim e o mesmo livro que eu estava lendo naquele dia. Eu dei uma
gargalhada e ainda continuava emocionada.

— Gostou? — Ele me perguntou com os olhos brilhando.

— Eu amei, meu amor! É o presente mais lindo que já ganhei. —


Abracei ele bem forte e depois nós nos beijamos.

Depois de nos beijarmos, sentamos um ao lado do outro e começamos a


comer o nosso sanduíche.

— Eu sempre sonhei que um dia casaria com você. — Confessei a ele.

Jeff terminou de mastigar seu sanduíche e me disse:

— E eu sempre soube que iria reencontrar minha peanut, e ela seria o


grande amor da minha vida.
Nós dois sorrimos olhando um para o outro, e mais uma vez nos
abraçamos demoradamente. Quem diria que eu estaria na réplica da
arquibancada onde conheci o grande amor da minha vida, vestida de noiva, e
comendo um sanduíche de pasta de amendoim com ele. As coisas do
destino, e do amor, ninguém consegue explicar.

Fim!
Agradecimentos

Agradeço a todos meus leitores que pacientemente me acompanharam até


aqui. Espero que possam desfrutar de várias de minhas obras que serão
lançadas em breve. É extremamente gratificante saber que posso contar com
vocês, para apreciarem minhas ideias e estórias. Me acompanhem no
instagram @escritorabrisa para ficarem por dentro de todos meus
lançamentos.

Do fundo do meu coração, espero que tenham gostado da estória de


Charlotte e Jeff.

Gostaria de deixar meu agradecimento especial, aos meus filhos, por ordem
de nascimento, Oscar, José Rycardo, Allyce e Maria Eloá por serem
pacientes enquanto eu estava em meu processo de criação, a mamãe ama
muito vocês! E em especial, ao meu parceiro de vida, Jeferson, pois sem ele
não seria possível realizar esse sonho de publicar esta obra, eu te amo, meu
Jeff.

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