Você está na página 1de 3

Os estudos sobre diversidade cultural são frequentemente inseridos no contexto dos

estudos culturais e pós-coloniais. No entanto, autores como Costa (2006, pp. 1-3)
argumentam que, embora os estudos pós-coloniais e culturais abordem temas como
diversidade cultural, multiculturalismo, interculturalidade e transculturalidade, eles não
formam uma matriz teórica unificada. Em vez disso, representam uma gama de
contribuições que servem como uma "referência epistemológica crítica às concepções
dominantes da modernidade" (COSTA, 2006, p. 1).

Os estudos culturais e pós-coloniais surgiram inicialmente no campo da crítica literária


na década de 1980, tendo como principais representantes Homi Bhabha, Edward Said,
Gayatri Chakravorty Spivak, Stuart Hall e Paul Gilroy. Esses estudos mantêm uma
relação com o pós-estruturalismo de Derrida e Foucault, especialmente no que se refere
ao caráter discursivo do social. Além disso, eles se alinham com a corrente pós-moderna
ao tratar do descentramento das narrativas e dos sujeitos contemporâneos. Também
dialogam com os estudos culturais desenvolvidos na Universidade de Birmingham,
focando em questões como racismo, gênero e identidades culturais. É nesse último
aspecto que os estudos pós-coloniais e culturais encontram convergência (COSTA,
2006, p. 3).

Diversidade linguística
Em Moçambique, a diversidade cultural e linguística é vasta, com múltiplas formas de
organização social, cultural, política e religiosa, além de várias línguas, crenças e
tradições. Apesar de o português ser a língua oficial, ele é minoritário e foi escolhido
por razões políticas para promover a unidade nacional após a Independência, já que
nenhuma língua local estava suficientemente modernizada para ser usada como língua
franca. A cultura moçambicana é marcada pela miscigenação decorrente das migrações
bantu e do contato com civilizações árabe e asiática, além das influências europeias
trazidas pela colonização portuguesa e das comunidades imigrantes da Índia e China.
( Dias , 2006)

Após a Independência, a política socialista e o contato com cooperantes de países como


a Rússia e Cuba introduziram novos valores culturais e morais, promovidos através do
Sistema Nacional de Educação, que buscava formar um “Homem Novo” livre do
obscurantismo e com valores socialistas. Estes valores incluíam a pontualidade,
disciplina, asseio, espírito coletivo e respeito pelo trabalho manual e símbolos nacionais.

Com a queda do socialismo, Moçambique adotou reformas do FMI e do Banco


Mundial, promovendo valores contrários ao socialismo, como a privatização e a
desregulamentação financeira. A globalização e as novas tecnologias de informação
influenciaram especialmente os jovens urbanos, alterando hábitos culturais e
promovendo o consumismo e a perda de identidades fortes. No entanto, ao mesmo
tempo, houve uma reafirmação e valorização das culturas locais.

Atualmente, há uma coexistência de valores transnacionais e locais, com uma


valorização da diversidade cultural como elemento essencial para o desenvolvimento
nacional, enfatizando a “unidade na diversidade”. (Costa,2006)

Educação
Na visão de Michel (1977), o Sistema Nacional de Educação (SNE) em Moçambique
foi criado com o objetivo de formar o “Homem Novo”. Esse conceito referia-se a um
indivíduo liberto das superstições e obscurantismos da sociedade tradicional e feudal,
bem como da mentalidade burguesa associada à colonização, marcada pela
subserviência ao estrangeiro e pela imitação dos comportamentos decadentes da
burguesia imperialista
Este sistema educacional tinha um caráter fortemente ideológico. Para o governo da
época, a construção de uma sociedade socialista, o objetivo desejado, dependia da
criação de uma nova subjetividade entre os moçambicanos, que precisavam desenvolver
a “consciência social” necessária para as transformações revolucionárias.
De acordo com Gomes (1995, p. 372), com a nova constituição, a educação tornou-se
um direito e um dever de todos os cidadãos moçambicanos, sendo obrigatória e gratuita.
O sistema educacional foi unificado, eliminando a discriminação baseada em grupos
sociais. O Estado assumiu um papel central, responsável pela concepção e
implementação da educação escolar, e fez grandes investimentos na expansão da rede
escolar e na provisão de material didático.
Entretanto, a escola pós-independência não conseguiu superar totalmente o
autoritarismo da escola colonial, impondo valores sem promover a discussão e o diálogo
sobre diferentes concepções políticas, econômicas e culturais. Assim como no período
colonial, houve um alinhamento entre o quadro político-ideológico e a educação escolar.
A FRELIMO, como força política com um forte propósito de transformação social
revolucionária, investiu fortemente na educação para desconstruir os valores coloniais e
criar um novo cidadão, livre dos valores implantados pelo colonialismo e da visão
idealista do mundo e da natureza presentes na educação tradicional africana.

Em outras palavras, o sistema educacional em Moçambique, devido à sua diversidade


linguística e cultural, enfrenta desafios significativos, incluindo a necessidade de lidar
com tensões entre a homogeneização e a diversidade cultural, bem como entre saberes
locais e universais.
Os educadores moçambicanos estão buscando formas de promover uma educação que
valorize e respeite a diversidade cultural, ao mesmo tempo em que permite o acesso aos
conhecimentos universais. Isso implica reconhecer que a diversidade cultural é um
patrimônio importante e que a interculturalidade e o respeito pelas diferenças são
essenciais para garantir a paz e o desenvolvimento.

Para isso, propõe-se uma educação multicultural que promova o diálogo, a democracia e
o respeito mútuo entre diferentes culturas. Isso pode envolver tanto o reconhecimento e
respeito às diferenças étnico-culturais quanto a promoção da interação e mistura de
culturas, conhecida como interculturalidade.

Além disso, os educadores também estão considerando a transculturalidade, que


reconhece os elementos universais presentes em diferentes culturas. Isso é
especialmente relevante em Moçambique, onde a cultura urbana é caracterizada pela
hibridez cultural, resultante da interação entre influências bantu e portuguesas ao longo
do tempo.

Em resumo, os educadores moçambicanos estão enfrentando o desafio de desenvolver


modelos educacionais que reconheçam e valorizem a diversidade cultural, promovendo
o diálogo e o respeito entre diferentes culturas, ao mesmo tempo em que reconhecem os
elementos universais que transcendem essas diferenças.Dussel (2002)

Você também pode gostar