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SCHAUB - Portugal Na Monarquia Hispânica
SCHAUB - Portugal Na Monarquia Hispânica
Jean-Frédéric Schaub
Portugal na Monarquia Hispénica (1580-1640)
Jean-Frédéric Schaub
O Fim do Império Português
António Costa Pinto
PROXIMOS VOLUMES:
Histéria do Pensomento Econémico Portugués i
José Lufs Cardoso |
As Misericérdias Portuguesas de D.
Manuel I a Pombal
. \
Isabel dos Guimardes Sá i
* Os Judeus em Portugal Í
Isabel Monteiro Portugal na Monarquia Hispânica
(1580-1640)
INTRODUÇÃO....
AS FORMAS DA COMPOSIÇÃO
NS
Introdução ....
Tomar: as Cortes inaugurais ...
A d ddd
Os termos de um contrato
A referência às Cortes
UEUNSUSS
A polissinodia portuguesa . .
Tnulo: A conservação do organograma..
Portugal na Monarquis Hispánica (1580-1640)
Avtor: As condições da reforma
Jean-Frédéric Schaub _
Capo:
João Segurado A questao militar
Troduçõo:
Lsabel Cardeal Uma convergéncia estratégica
Revisto de traduçõo e Indices: Os efeitos sociais da presenga militar castelhana
Cardim g o
A
© Livros Horizonte, 2001
A monarquia catélica...
SBN 9722412462
Paginaçia/Fotolita: Perante o Islão ...
Gráfica 99, 1da.
A Igreja portuguesa e a Inquisigdo ...
Linpeussic:
Fola & Fihos
sio 2031
Dep. Legal nº 16101 A unido dos homens ...
v As elites portuguesas sob o siguo espanhol ..
B vtk ts iseion G pubiicação
i u parcial pase e lingue purtuguene s AEspanha sob
o signo português - ..o
LIVROS HORZGHTE, LA
B das g, 17°1,# DL~ 1200-106 LISBOA
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Conclusdo..
AS FONTES DA DISCORDIA
Introdução v i RN TS 55
77
A separação impossível: violagdes dos princípios constitucionais ...n '
83
As formas da rejeição ...
83
Uma longa cronologia das revoltas .
As formas subtis da rejeição 87
COnClusão ...c s st T R EA EA P e 97
99
Governo de Portugal 1580-1640 ..,
ey ATAN RS 103
Bibliografia posterior à 1980 v
co mmissusssmsssmisssnssresis ssn
Cco uvwumrsms
toponímiti
fndice onome ás 1109
.~ o história sociosconómica deste perfodo nlnãu são muito escassos para que
NN
KN
possamos arriscar uma tentativa de sfntese. A dimensão imperial ou ultrama-
rina, som estar ausente, não dirigirá a ordem da exposição, ainda que se pu-
desso porfeitamente consjderar a questão do Portugal dos Habsburgo a partir
da gestão das colónín%dnvia, o conhecimento mais profundo que foi re-
centemente adquirido sobre a história política do Portugal europeu no perfo-
do filipino merece ser objecto de uma síntese. Assim sendo, o acento será
>
: ideal da Monarquia Universal. Ora, a oportunidade de unir numa mesma
” mouarqma todas as coroas oriundas da recomposicao da Peninsula Ibérica,
" durante os longos séculos da Reconquista, tendo escapado ao rei D. Manuel,
; o infcio do século, apresentou-se ao filho de Carlos V. Ainda mais do que o
Ãeu pai, Filipe II podia considerar ter mostrado a via da reunificação da Cris-
“*"fandade no grande projecto metafísico e político de união universal na igreja
de Cristo. Tudo o que fracassava na Flandres encontrava na unidade ibérica
m uma extraordinária compensação, tanto mais que o casamento se fazia entre
P dois imensos impérios.
(% . , Destemodo,não6é possivel compreender a captação de Portugal segundo
|conquista territorial do mais fraco pelo mais forte. Como
Relação com foi possível mostrar, a propaganda orquestrada por Filipe II e os seus embai-
BOUZA í xadores em Portugal no período 1578-1580 mobiliza, tal como 6 sebastianismo,
o texto de
N
- JURÍDICOS
- MILITAR
- CONTRATUAL
X N
“X“. í&àentes, particularmente aos de Catarina, duquesa de Braganga; o dominio
;g\ militar, no qual o duque de Alba foi mobilizado para submeter pela forga as
, W — câmaras municipais que haviam cometido o erro de apoiar os direitos de
* D. Anténio, prior do Crato, e de o reconhecerem como seu rei; e finalmente o
domínio contratual, no qual, no recinto improvisado do convento de Tomar e
perante a reunião dos três estados em Cortes, Filipe II se comprometeu-a
respeitar escrupulosamente a imunidade jurisdicional do reino e a separação
simbólica da coroa portuguesa, em troca de uma proclamação que geralmente
não se fazia. Eu herdei, eu comprei, eu conquistei
Introdução
.
S
ipia a
\:}V\ O processo histérico que culmina na união dindstica de 1580 princ
DA
N
rei
i” N 4 de Agosto de 1578 na batalha de Alcdcer-Quibir, no decorrer da qual o
ra-
D. Sebastião, bem como um grande número de nobres portugueses, encont
ram a morte. O jovem monarca desaparecia sem deixar descendéncia, tendo
., bermanecido celibatério. O seu parente mais proximo na ordem de sucessao
)) era o seu tio, o cardeal D. Henrique, Inquisidor Geral, que havia exercido a
YP‘ 3 regéncia durante o periodo de menoridade do rei. O prelado, de idade avan-
XQJ/-Ó çada, também não tinha descendência e não havia qualquer esperança de
que a viesse a ter. Desde os primeiros tempos do seu reinado, recebeu o em-
baixador de Filipe II, o fidalgo português D. Cristóvão de Moura, incumbido
de assegurar ao novo rei o apoio do monarca de Castela e Aragão nas opera-
ções de resgate dos numerosos cativos que haviam caído nas mãos dos reis
_ marroquinos. Mas D. Cristévéo de Moura tinha por missão essencial prepa-
! ar o terreno diplomético e institucional para uma futura devolugao da coroa
iv y) de Portugal a Filipe II. Os seus titulos, na ordem de sucessdo, não eram certa-
XW mente insignificantes, uma vez que pelo lado da sua mae, Isabel de Portugal,
' a,v /Q/ esposa de Carlos V, era neto de D. Manuel, «o Venturoso». Além disso, a pers-
i pectiva de uma união de todas as coroas da península por meio de alianças
/@fi matrimoniais e pela via da sucessão era um sonho que o préprio D. Manuel
' havia acalentado.
Perfilavam-se, porém, outros candidatos. Os dois mais préximos do tea-
tro dos conflitos, portugueses e descendentes de D. Manuel, eram Catarina,
duquesa de Braganga e D. Anténio,(prior do Crato JA primeira apresentava o
inconveniente de ser mulher, o segundo de ser bastardo de D. Luis, filho de
D. Manuel. Os diferentes aspirantes mobilizaram o engenho polemista dos
jurisconsultos, disposlos a pdr as suas téenicas de direito civil ao servigo
desta espinhosa questdo sucessoria, A corte de D. Henrique depressa se trans-
formou em caixa de ressondncia de todas as aspiragdes e de todas as intrigas.
Os dois candidatos que desfrutavam dos favores do velho rei eram Filipe e
vel nas-
. Catarina, estando D. António afastado em virtude do seu inconfessá
ram durante este
0 , cimento. Por várias vezes os rds estados do reino se reuni
bh}fl breve perfodo, e/\mwww@
do cardeal-ref.
5/ a questão.sucessória e assumir a fegência em caso de morte
al. Os gover-
Em Janeira.de 1580, este falece sem designar o novo rei de Portug
,im, e
em Almeir
? iradores convocaram uma sessio das Cortes no més de Maio
a questao.
» depois em Setúbal, com o propésito de resolver definitivamente
poderosas
o Desde o Verdo de 1578, 0 embaixador de Filipe II havia tecido
* M Tedes de apoio no interior da nobreza portuguesa, na hierarquia eclesiástica e
º _nas oligarquias urbanas. O poder do Tilhode CárlosV parecia então invencivel
T e proporcionav{@;ranga de retirar o reino da prostração na qual o desas-
Y . tremilitar de Alcácer-Quibir o havia mergulhado. Cristóvão de Moura não se
abstinha de evocar a possibilidade de uma intervenção militar castelhana, no
caso de uma rejeição da candidatura do seu senhor.
? Enquanto os procuradores às Cortes pareciam maioritariamente con-
-
<& | dasCortes.
Os argumentos e as intrigas cederam então a vez às armas. Os -
“ ercios do Duque de Alba e a frota conduzida pelo marquês de Santa Cruz
reduziram em poucas semanas o reino de D. Antónió'ã4insignificância.
. Escorraçado da região de Lisboa, o pretendente dirigiu-se para o Norte, e
-embarcou em Viana do Castelo rumo a Inglaterra. Durante esse tempo, as
“ * cidades, uma a uma, sob a pressão das armas ou por mera convicgao, rendi-
confessável nas- condidos pelo acto verdadeiramente fundador daquilo a que Fernando Bouza
im durante este chamou o «Portugal Católico»: ns Cortos de Tomar,
da para msol_x_'çr d Ao reunir os trds estados, segundo as modalidades tradicionais, no con-
do cardeal-rel. N Y vento de Tomar, o rel Prudente apagava
0s v a laboriosa tomada
tugal. Os gover- ‘\0 ! de poder fundando-a sobre im pacto entre o rei e 0 seu reino. É certo que a
m Almeirim, e X dimenséo contratual do lago que se estabeleceu desde então entre um e outro
nte a questio. , nãoapaga, por completo, a legitimidade inscrita na sucessão hereditária, nem ,
ido poderosas . 4+ tdo pouco termina com uma retirada das tropas castelhanas do territ6rio.
a eclesidstica e “\\“.\p‘\' Os trés motores da unido, a heranga, a forga e a negociagdo constituem os
tao invencivel ! “T elementos essenciais sobre os quais toda a vida política portuguesa se organi-
1 qual o desas- — * zana época da união dinástica,z,
‘Moura não se i |
Mas o processo da união das coroas a curto prazo não deve ocultar a
;astelhana, no / existéncia de fenémenos de mais longa duragio e de maior amplitude que
— / favorecem a interpenetragdo das diferentes sociedades da Peninsula Ibérica.
iamente con- ‘: ( Foi possivel mostra-lo com clareza, a proposito dos modos de constituigio
o
m Santarém, * dos espagos corlesios nos finais da Idade Média, a propésito da concepgio
ções de sim- " teolégica dos grandes empreendimentos politicos, da circulagio cultural, e
al e em Lis- também da complementaridade dos circuitos econémicos dos dois impérios.
taneamente ; Para compreender como se desenvolveu o «Portugal dos Filipes» não se deve
res às Cortes renunciar a nenhuma destas dimensões.
que se havia As Contivaástocce, oSS o .PM—LW% .
los membros
às armas. Os * CoMUNHAO CULT
: Santa Cruz o s
ignificância. R : "Na época contemporânea, o campo linguístico torna-se um elemento fun-
a o Norte, e * damental da definição das identidades nacionais. Contudo, a tardia interpre-
se tempo, as \ tação nacionalista da histéria das relagdes politicas entre a coroa de Portugal .
icção, rendi- — _‘.,',f‘ e as outras componentes da penfnsula tem de explicar uma complexidade
;1 real dos usos da língug&be uma forma menos nítida do que no caso de Barce- -
: cultural do « *” lona, verifica-se apesar de tudo em Lisboa uma inça cada vez mais di-
: nesta longa "xº fundida do castelhano como língua literária e de comunicação escrita 2 medida
taclismo de “ rqueos A ormas de
Filipe 1l cir-/ W troca ral:
oo partido,
firmação da J o
" Nesta 6poca 0 uso da lingua ¢ um factor de discriminaçõo-inoperante”
s\m{multos os naturais do reino de Portugal cuja lingua materna era o portu-
Zde}&agela. Y o guês e que redigem WMWW
é:!:ia :]l::$: 7 mos, basta
avallar o lugar ocupado pelos textosem custelhano Hí: Cã_':ªf'ãi
castelhanos / Geral de Garcla de Resende, Não é rar clo, que nas pegas de Gil Vic
ns
se expri
cerlas personage mam em castelhano, O extraordinario éxito de
resentes no
a circul agio
Ã
das s lingua
f
s S ¢Q
Camdes em Castela, no século Xvil, comprova que
1
P,
R ) il e
gra intensa de um e do oytro lado da [ronteira lusu-caslelhan;/)_/
orma, trans-
das culturas
S redigiu um relato das Cortes de 1619. No reinado de Filipe III, o poeta corte-
são Manuel de Galhegos celebrava o casamento de D. João de Bragança com
- D: Lufsa de Gusmão em português, e a edificação do palácio do Buen Retiro
W
em castelhano. O próprio D. João IV, como bom músico que era, enviou ao
W
de Portugal, Filipe III, cuja lingua materna sabe nao ser o portugués, e nunca
se presta mais atengdo que aos livros redigidos na prépria lingua. Por outro
S
era uma
bragmático
no qual não mm_dmmm
questão de
ão entre patriotismo
língua de expressão,
João Salgado de Araújo, adversário do colaborador mais próximo do con-
de-duque de Olivares, Diogo Soares, e partidário de D. João IV sob a Restau-
W
- ta
e25
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Portugal na Monarquia Hispânica (1580-1640) / 19
[ lar Vázquez Cuesta, e ainda Fernando Bouza nos seus estudos sobre os fenó-
menos de propaganda nos séculos xv1 e xvi, a escolha da lingua é um indica-
dor pouco fiével, porventura até enganador, quando se procura organizar o
conjunto dos campos discursivos, impressos ou manuscritos, lancad%
mercado das ideias politicas na época da uniao dinastica.
— T Estaconclusao assenta também no facto de o latim desempenhar um pa-
/.y~ pel sem sombra de dúvida tao importante quanto o das duas linguas
J&\_’» " vernáculas. Na viragem dos séculos xv! e XvII, os textos mais citados na pe-
nínsula sobre a questão política do tiranicídio são escritos em latim (Juan de
. Mariana, Emanuel de Sá, Serafim de Freitas). Os temas politico-institucio-
? | nais mais espinhosos, por exemplo no domínio fiscal, são objecto de alega-
ções juridicas e de comentarios doutrinais nos tratados teolégico-juridicos
redigidos nos circulos das cátedras das Universidades ou nos grandes tribu-
nais, na lingua da segunda escoléstica.
Sem querer retomar o debate, realmente rico, que permitiu nos últimos
, anos colocar com nova clareza a questao da identidade portuguesa numa
perspecliva histérica, algumas palavras sobre a hispanidade portuguesa afi-
guram-se, porém, necessarias. A tradigéo textual medieval profbe pensar a/
_Wra da Hispânia antiga e geográfica. Contudo, para além desta ne-
. . Cessária inscrição formal, as relações entre as principais compo
nentes da
2.” peninsula desde a Idade Média, em particular no decorrer das diferentes
eta- ;/-
W ~ pas da reconquista, são extraordinariamente intensas. Não
v
\)l" __(N\D‘
foi só o Cid, arma-/"s
S £do cavaleiro em Coimbra, que foi assumido pela cultura portu
guesa, Uma
W ;\, P das traduções sociais mais conhecidas deste fenómeno é a multi
plicação das
º * alianças de linªqgens__nobres_Eo_[t'quesfas, castelhanas e arago
nesas. Como
"\5}) \‘);,r-‘mnsuou Rita Costa Gomes, as sociedades de corte ibéric
as desenvolvem-se
8 ‘:'\E\Qumas perante as outras durante todo o final da Idade
Média. Nesta medida %/
W \}F‘\@;importa sublinhar que o sentimento de pertena ga
uma koing, fundada sobre'.;
| Q}fn {93 uma experiéncia histérica comum, torna possivel pensa
r a pertenga do réino‘\
h\:M Qmflmii@end{darnum sentido teolégico-polftico e cul- ,
! (N/tural‘A tftulo de sintoma, poder-se-4 citar um texto do céleb
re poligraférwf{x;,J |
! ’fid\() nuel Severim de Faria, extraido do tratado dedicado
as Universidades de/|
Í \élflh Espanha, que ofereceu a D. Joao IV em 1653. Evoca
a importancia dosg
| \fi“ 0 ‘y\i\\gnsinamentos de professores ibéricos não portugueses,
tais como o castelhano
' \ i ino Martin de Azpilcuefa, nas universidades
% 6 chantré dê Évora conclui que «nã Tossa Hespano ha»
alraso
, na constitúição da rede universitária ficou a dever-se
ao esforço dos «Espa- .
nhóis» na luta contra o Islão. No pensamento de Sever
im de Faria, era claro )
| .' á
»4ue «a nossa Hespanha» se opunha ao resto da
Europa, mesmo quando a .
guerra luso-castelhana atingia o auge. Desde o periodo de negoc
iações com o /
cardeal D, Henrique, os embaixadores e os representantes dos intere
sses de ,
a história ea x
Filipe II puderam mobilizar um arsenal de argumentos sobre
os tão facil- x
" memória comum dos portugueses e dos outros vassalos ibéric
a antipatia reci- |
“ mentequantoo podiam ser os argumentos contrérios, sobre
também, a '
%- proca luso-castelhana. Esta constante ambivaléncia determina,
um
organização deste livro, porqueo perfodo da unido dinéstica constitui
des
. perfodo propicio para quem procura analisar a complexidade das relag
ar
% histéricas entre Portugal e as outras componentes da penfnsula. Para retom
o esquema eficaz indicado por José Mattoso, a inscrição de Portugal na
fn;;" hispanidade temde ser analisada tanto na composição como na oposição.
REAA
WY
/ wzl
w Depoxs da campanha diplomética, ideolégi ilitar copduzida pelos
fif} conselheiros e pelos partidarios de Filipe Il o_processo de aquisição da
coroa portuguesa pelo rei Habsburgo é sancionado por uma assembleia de
B 0 P estados, as Cortes, que se reuniram em Tomar no més de Abril de 1581. No
q final desta longa negociação, a Patente dos capítulos concegíg ao reino Én-
(}9,‘(& & rantias numa série de dom(nltlsj:‘lo que diz respeito ao(governo politico . /)
» (L\‘ criado um Conselho de Portugal que tem de funcionar sempre junto do rei,
q}“}‘
X) v onde quer que ele se encontre. No caso de o rei ser levado a afastar-se do
«) X reino, o governo só poderia ser incarnado por um vice-rei de sangue real ou
Q) “Q'“ por uma junta de governudorcs portugueses, à semellmnçu do conselho de
W
\\iy\ ' regéncia que presidira aos destinos do pais entre a_morte do cardeal-rei
KP Henrique e o advento de Filipe ll/A organizagao da V)
\!7’ igualmente submetida a um certo número de regras. [Mwflmom
\0’ justiça e da fazenda, excluem»se-todos
os estrangeiros, isto ¢, todas as pes-
soas não naturais de Portugal/ São também impedidos-de-exercer todas as
\ x (fungdes e cargos da casa e da capela reais. @ comando militar das
/\» 4 , das frotas portuguesas tem 1necessanameme de caber a um natural de Por-
fi tugal A exclusão dos forasteiros aplica-se de igual modo no domínio do
}\ \)‘5}o ypadroado eclesiéstico (prelatura, abadias, beneficios e capelanias). A medi-
à—rj\ ,y da também abrange a designagao dos novos membros das ordens militares,
« incorporadas no dominio da coroa/Q titular desta última compromete-se
. a nao conceder nenhuma mercé
também os rendimentos e bens da ,
.coroa. Os estados do reino, reunidos nas/Cortes, devem ser convocados pelo
" rei como única forma de representagao fegit do reino. Em suma, 0 novo A
é’" rei promeha T30 suprimir nenhuma função ou ofício do aparelho monár-
x/"
\J) quico portugués no qual sucedia e garantia aos seus súbditos a exclusividade
> D total das futuras nomeações. T / (/"L
A
(\x\,(,v ,._J PA e ——mwaf“« 1(h v
de legitimidade..
da sociedade portuguesa e do um acréscimo
pt tal
‘“odéom os corpos
çõos Lradicionais da monarquia de
V\‘" A encenagiio do seu respeito pelas institui
para o manifestar, 6 porém acom-
Y Avis, organizada no órgão mais adequado
quando a reprodugdo exacta dos
panhada por um desvio cerimonial. Mesmo ento
i o garante do funcionam
. procedimentos e dos gestos herdados constitu
pe II pede aos procura- _
" das instituições, o novo rei inova. Efectivamente, Fili
Prrrsmrocel)
o
da
“promisso do rei sobre a questão estratégica da aplicagdo
sta
V
N
A REFERENCIA ÀS CORTES ee
S ee ND D
PR )
3 .& Durante todo o perfodo da unido das coroas, a referência explícita ou im-
É. plícíta ao pacto iinaugural constitui um dos elementos fundamentais da forma-
oS
A ção do juízo sobre a acção da nova família reinante. As vantagens retiradas da
M
& grande barganha de 1581 por numerosos aclores soclals e a convicgio de que a
¢ ceriménia que celebrava o acordo devla ser repetida tornaram o desejo de Cor-
tes em lugar comum do discurso politico. Especificamente, pode-se afirmar
1 . / sem exagero, que todo o reinado pórluguês de Filipe II é atravessado pelo pro-
% * — jecto, vérias vezes adiado, de celebragio das Cortes em Lisboa. Desde que o rei
manifestou pela primeira vez a vontade de se deslocar a Portugal, em 1602, até
\\\‘ \3” à concretizagéo dessa intenção, em 1619, as instituições portuguesas dedica-
ram uma grande parte da sua atengdo a esta perspectiva desejada. As necessi-
N
N 13 ) dades de financiamento da viagem real levaram os sucessivos vice-reis á negociar
ecom as principais cidades do reino, a começar por Lisboa, mas também com o
0 K : :
, PPOrto, Évora, Coimbra e Santarém, o pagamento de donativos destinados à sua
R " Y N quncretização. E celente ocasião para testar a capacidade das câmaras x £ v\\“k
A municipais
para arem a favor do seu rei. A sua boa vontade foiA postayY)A
zassete anos a concretxzar—se.(‘ )
y Q('Contudo,
as cidad dquiriram assim uma espécie de autonomia acrescida(
W \relativam nte à ú gitima de representagdo corporativa que lhesera ;
W 0’ permitida, isto é, nos bancos das Cortes do reino. A cidade de Lisboa havia sem
P« dúvida perdido o seu estatuto de corte, mas exercia uma fungao eminente de *
do reino» como interlocutora privilegiada da coroa. Us presidentes da\)
" .«cabeça o
"> Câmara de Lisboa, sob os Hahsburgo, pertenciam muito frequenfemente ina-- *
_cbreza mais elevada. i A v P ) s D d
$
rei e 0 reino,
i
| era respeitada. " Lol
Q)/
4 enquanto lugar de actualizag@o do pacto entreo À
guesas durante W
Em conlr:ifiéffida, Filipe IV não convocou as Cortes portu
ito reatavam deste modo a \
o seu reinado interrompido. O rei e o seu favor
&
o tratamento deste a.ssunt.o (\L\.’
/ 3y politica de protelamento que havia caracterizado
As vantagens que um rei podia
¢ \)‘?‘ Q‘belo duque de Lerma, até cair em desgraga.
de estados compensariam 0s '\\\\ V (v
yU x-Yl(") então retirar da desactivagéo das assembleias Es_ta \“\p\
R
inconvenientes de não utilizar a força simbólica da memória de Tomar?
[j
por consequéncia a inlens_ificaçfo
.» opção, supondo que disso se tratava, teve
corte de Madrid e a cothrmaçao
das deslocações de fidalgos portugueses à
hierarquia das cidades do reino.
do papel extraordinário de Lisboa na
X promessa de que nenhum súbdito não natural do reino seria designado para
xídf exercer'um cargo jurisdiscional. Era um dispositivo que garantiauma verda-
. deira autonomia da coroa portuguesana arquitectura da Monarquia. O siste-
POLISSINODAL
N Sistema de governo
\_}F q,)” magistrados, já que, no essencial, os pareceres dos Conselhos eram emitidos
conselho
a
Digitalizado com CamScanner
20/ Joan-Wódóric Sohaub
”
& umaambiguldnde que há-de envenenar a vida do Conselho até à Restaura- — ”
“ — ção. Enquanto o rei residisse na sua corte lisboeta não restavam dúvidas de ,Y
N : que o Conselho usufruiria do estatuto de Conselho de Estado. Mas, logo que ),
««“' ‘adisténcia fisica do rei exigiu a instalação de uma jurisdigdo mtermedxána»“ " ; *
" entre os (nbunaxs da coroa portuguesa e a pessoa do rei, o estatuto doConse]a v
de Portugal tornou-se dúplice/ Permanecendo um Conselho de Estado, con-’)‘
rertia-se 1gualmenle em tribunal comum, incumbido de examinar em última
instância as causas julgadas pelos tribunais portugueses e, em particular, peloy:
Desembargo do Pago. Esta mutação funcional e simbélica é sancionada pela ;
criação, muito discutida, de uma presidéncia do Consejo de Portugal, em 1616,
Com efeito, só a pessoa do rei podia presidir a um Conselho de Estado, en-’
quanto um tribunal comum superior podia ser presidido por um magistrado.
Esta primeira alteragdo institucional parece, porém, menos fundamental::
do que a evolução por intermédio da qual uma parle crescente do sistema de
decisdes acabou por assentar no trabalho do secretariado do Conselho. Con-
vém finalmente recordar que a instituicéo foi dissolvida por trés vezes. Uma
primeira, em 1614-1615, em consequéncia dos conflitos internos que a divi-
diam; foi então substitufda por uma Junta Grande. Depois, em 1619, quando
o rei se desloca a Lisboa para inaugurar os trabalhos das Cortes, a instituigdo
¢ dissolvida porque a presenga do rei no seu reino torna-a desnecesséria.
E finalmente, em 1638, quando foi substitufda por duas Juntas de Portugal,
uma estabelecida em Madrid, outra em Lisboa, marcando desta forma um
novo desenvolvimento da politica voluntarista de Olivares. t
N
uma reapreciagao sobre o fundo (apelagéo) ou sobre
o processo (agravo) jun-
to do Desembargo do Pago, As Relações portuguesas pode
m ser chamadas a
emitir pareceres relativos as ordenagdes réglas e às nova
s leis. No cursus
honorum de um jurisconsulto, cuja ambição é de aced
er a um cargo no
Desembargo do Pago, a passagem por uma magistratura
na Relação é a via
mais comum.
políticos tanto depois de 1580 como após 1640. Não se pode por conseguinte
“Interpretar
todas as modificações ocorridas como outros tantos golpes dirigi-
ho em 1604. dos contra a integridade jurisdicional do reino de Portugal, a menos que se
ltramar, com tome 2 letra o ideal rigido de um mundo institucional imével que mesmo os
S numerosos jurisconsultos mais tradicionais do século xvi já nao defendiam.
zenda, impe- º” BOUZAA auséncia prolongada do rei, neste dominio, não deixa de ter consequén-
ão sobrevive " cias. Da viuvez imposta ao reino, segundo a metéfora do casamento do rei com
o seu reino, decorre um certo número de consequéncias. O que se perde em
il 164 controlo institucional, em razao da deslocagéo do rei, da corte e do supremo
ivado do rei, tribunal do reino para Castela, é de certa forma compensado por um acréscimo
a, particular- -de podersocial. No fundo, o reino está em melhores condigoes para dominar
elite natural os instrumentos do poder quando o rei se afasta. De tal modo que os principais
s eminente . x beneficiérios dos negécios de 1580-1581, nomeadamente os clas aristocréticos /
lem nas suas porlugueses, passam a dlspor de maior autoridade na perpétua negociação com
stado (secre- o rei e a sua casa do que se a coroa tivesse permanecido com o seu titular em
as decisoes e Lisboa, sob um sucessor dueclo de D. Sebastião ou de D. Henrique. Querendo »
consideravel, analisar a uniao dinástica apenas sob o angulo da conquista das vontades por- y/
idade de con- tuguesas por um vizinho muito mais poderoso, os historiadores acabaram por |
1Gdo que está
º deixar de descrever o acréscimo de autonomia adquirida, nessa operagao, _pe-
andes casas senhoriais e pelas instituigoes urbanas.
0
0N r»‘\q“i)\‘“hu”- & o
.
U’fl,é}oés-—v
W ,X“ Anocanismos logítimos do exercício da autoridade: a decisão régla,é_or'xentada yY
y ¥ polos paracoros juridicamento fundamentados emitidos pelos magistrados /
NW dos conselhos. "Todavia, outros vefculos e fontes de poder surgem & escal? da
& W monarquia om geral e da coroa portuguesa em particular. A criação das jun-
: '\(\nlfls 6 contempordnea da definigdo do sistema dos conselho.s tal com?.funcio-
4{‘
]‘\K\\\“ nou de meados do século xv: até finais do século xvii. As juntas agilizam os x
‘(-n
ç] %
/Q.—\A,a.
g\\\ lugar ideal de discussdo das modalidades de imposigao dz'as contribuigdes *
fiscais extraordinérias. É no seu seio que o rei e os seus favoritos podem fazer —
trabalhar em conjunto magistrados portug uesanos
e castelh es nas questoes
_:qgg :afectam o reino de Portugal. Consoante as conjunturas, a existéncia des-
tas corporações mistas podia ser ou não ser denunciada como uma violagao
do espfrito de Tomar. A coroa portuguesa, desde o reinado de Filipe II, é
dotada de uma Junta da Fazenda. Esta renasce no tempo de Olivares, a partir
de 1631.
¥\ A gestdo partilhada da defesa da coroa portuguesa põe também em causa
򻻒 WW instalagao dos presidios na costa portu-
/. guesa, durante a campanha militar do duque de Alba, devia ser temporéria.
— Ora, arede de cidadelas nunca foi desmantelada. A jurisdigao militar do ca-
'” pitao-geral sobrepõe-se à de determ
inslituições
inadas
portudrias, nomeada- -
* mente os tribunais das alfândegas. Quando se organizam frotas conjuntas
.sob a autoridade da Capitania Geral, para os efectivos castelhanos, e do vice-
rei e do seu Conselho de Estado, para as tripulações portuguesas, sobrevêm
tuações de confronto ou de viciação de autoridade. Pode então afirmar-se, a
despeito da autonomia jurisdicional de que Portugal goza, que certas jurisdi-
ções castelhanas apreciam assuntos portugueses, e isto desde o início da união
dinástica.
; — O Consejo de Estado de Madrid, incumbido de se pronunciar sobre as
'grandes decisões relativas à organização e à defesa do conjunto da Monar-
. quia hispânica, teve de se intrometer em assuntos portugueses, não sem an-
tes convocar esta ou aquela personalidade portuguesa. Do mesmo modo, o
../7 Consejo de Guerra castelhano exerce a sua jurisdigdo sobre as tropas estacio-
' — nadas nos presidios castelhanos instalados no litoral portugués. O capitio-
. ,7Beral que por vezes também era o vice-rei (0 arquiduque Alberto, o marqués
.0' de Alenquer, Margarida de Méntua), autoridade militar superior para a juris-
* dição dos contigentes não portugueses, dependia do Consejo de Guerra
W castelhano e das suas Juntas (Armadas, Mar Oceano). A capacidade de inter-
.) venção castelhana em matéria de defesa constituía também a garantia da
P "
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32/ Jean-Frédéric Schaub
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Portugal na Monarquia Hispânica (1580-1640) / 35
l& \ “X 9}/ ºy)-/ N)
P” .
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36/ Jean-Frédéric Schaub
}\Lso;lm
ML convergéncia e concorrência não se exclufam mutuamente na
U/ imensa agregação colonial nascida da unido dinástica. Em multiplas ocasiões,
ºg o Conselho de Estado de Portugal, sempre preocupado em incarnar a autono-
mia da coroa no quadro da unido, ouvia os relatérios e as informagdes que lhe
eram submetidos pelos administradores castelhanos encarregados do abaste-
cimento das frotas comuns e do pagamento dos soldos. Durante os reinados
portugueses de Filipe III e Filipe IV, dois magistrados castelhanos, Fernando
Albia de Castro, autor de uma Verdadera razén de Estado publicada em Lis-
boa por Craeesbeck em 1616, e Tomás de Ibio Calderén comandam a jurisdi-
ção militar castelhana relativa as empresas maritimas. A sua permanéncia na
capital portuguesa durante vérias décadas explica que estas personagens se
tenham tornado actores essenciais da vida lisboeta e mostra que se integra-
ram profundamente no pafs. Nada há de mais distante do seu modelo que o
do agente que parte para uma missdo pontual ou extraordinaria. Instalados
no quotidiano da sua vida portuguesa, estes dois homens são também repre-
sentativos de um certo perfil dos castelhanos estabelecidos em Portugal. Esta
medalha tem o seu reverso, como se veré mais adiante. Ocupando um lugar
de eleigdo no desenvolvimento da vida maritima do porto de Lisboa, estes
ficiais castelhanos podiam igualmente entrar em conflito com as magistra-
uras da cidade e os mais diversos grupos de interesse.
79‘,.,ív,pçºlÁ profunda interacção que se estabelece entre as coroas, a partir das acti-
i\\)[ º J4v1dades maritimas, afecta não só os homens das tropas mas também os mer-
(,J .vcadores. A confraria dos mercadores castelhanos de Lisboa e de Setúbal,
N m)’ fundada em 1589, opera como milicia burguesa, sob o nome de companfa de
&; \San Diego, participando na defesa da cidade perante qualquer agressao exter-
§’ . na. Gozando do foro militar, mesmo quando são meros comerciantes, os
Q confrades são todos chamados a assegurar o alojamento dos soldados
castelhanos quando as cidadelas já não se encontram em condições de os
L receber. Mas, ao mesmo tempo, escapam à pressdo fiscal que as
Rª . municipalidades portuguesas entendem exercer sobre os mercadores. Esta
1{’\ situagdo complexa provoca vivas tensées e torna manifesta a questio funda-
W mental do estatuto jurisdicional dos filhos dos castelhanos nascidos em Por-
tugal. Na primavera de 1629, quando os negociantes de Lisboa são intimados
a financiar os galedes do Oceano Indico, os confrades recusam-se a pagar.
A Camara declara apenas reconhecer como castelhanos os soldados mem-
bros da Companhia e os seus filhos, na condigao de terem nascido em Castela.
A distingao operada entre os filhos de castelhanos nascidos em Castela e os
nascidos em Portugal não assenta unicamente ou mesmo principalmente numa
espécie de direito da naturalidade vinculada a terra. O que est4 fundamental-
N T
NTNAA LA NEN
.\‘V\\‘\\‘)v NPJ [)‘\MU !
LPERANTE TN
O ISLÃO
à
o Nplo, escala proposigao.
matizar essa
Y S meiros anos do século xvii. Contudo, hoje convém
raneo inscre-
—A polftica catélica de Filipe Il dirigida contra o Islão mediterEm 15l.52, com
o
V
de D. Sebastiao.
’(&9} ve-se num movimento comum com a ambição
Londres tomava o Ipartldo dos
efeito, o embaixador de Filipe II na corte de e estraté-
de um eixo comercial
interesses portugueses perante a conslituigio
que uma tal alianga colocas:'se e’;n pde&;
gico anglo-marroquino. Portugal temia Des "
- Ceuta, Tânger e Mazagão.
rigo as suas praças fortes da «Berberia»
foram encetadas nego_claçú.es C(');I']'os
os começos do reinado de D, Sebastião,
dos esforços catolic
conselheiros de Filipe 1l tendo em vista a coordenação
Yv
??x
Moura, marquês de
Índias e da Junta da Fazenda, concebida por Manuel de
Filipe 11, Cristóvão de
Castelo Rodrigo. Este último, filho do amigo fntimo de
na mais castelhana
Moura, pode perfilar-se como o protétipo da nobreza filipi
carreiras e nas
do que verdadeiramente portuguesa no desenrolar das suas
caminho.
suas afinidades. Ora não hé nada que permita enveredar por esse
Castela, Fernan-
No seu estudo fundamental sobre a nobreza portuguesa em
. Casado com
do Bouza reconstituiu a rede de relagoes pessoais de Moura
am
uma filha do conde de Tenttigal e marqués de Ferreira, as suas irmas casar
filhas com
com o marqués de Gouveia e o conde de Vimioso, e uma das suas
conde de
o duque de Caminha. Por relagdes de parentesco está ligado ao
Basto e ao conde de Vidigueira, vice-rei das Indias.
Portugal pela
Assim, desde os primeiros tempos da politica de atracção de
garam-
monarquia hispanica, trés familias da alta aristocracia portuguesa esfor
os são Cris-
-se por tecer lagos com a corte castelhana. Os mais notorios e activ
e segundo
tóvão de Moura e depois o seu filho Manuel, respectivamente primeiro
Il e o
marqueses de Castelo Rodrigo. O pai foi o favorito portugués de Filipe
a oposi-
filho por pouco não o foi de Filipe IV. O seu insucesso empurra-0 para
da uniao
ção a Olivares, mas mantém-se no campo da fidelidade ao principio
Juan de Borja,
dinastica. O embaixador de Filipe 1! junto de D. Sebastiao, D.
ncen-
uniu a sua casa à dos Aragão e recebeu o titulo de conde de Ficalho. Perte
s o
do, como o duque de Lerma, a grande linhagem dos Sandoval, Juan, e depoi
seu filho Carlos, titulado duque de Villahermosa e presidente do Conselho de
-
Portugal, consolidam os lagos entre a alta nobreza portuguesa e 0 cla do favori
mente
to de Filipe III. Dois ramos da familia Silva viriam a desempenhar igual
de
papéis muito importantes. Trata-se, por um lado, de Diego da Silva, conde
princi-
Salinas e marqués de Alenquer, presidente do Conselho de Portugal e
palmente vice-rei de 1617 a 1621. Esta personagem era filho de uma das figu-
ras mais marcantes da corte de Filipe III, Rui Gomes da Silva, principe de Eboli.
Por outro lado, Juan de Silva, amigo de infancia de Filipe II, seu enviado junto
junta
de D. Sebastido e presente na batalha de Alcacer-Quibir, foi membro da
de governadores criada após a partida do arquiduque Alberto em 1593. Tor-
rei de
nando-se, por casamento, quarto conde de Portalegre ¢ Mordomo do
seus
Portugal, é um dos politicos mais activos na viragem do século. Um dos
a
filhos, Diogo da Silva, conde de Portalegre, exerceu a vice-realeza de 1623
1627.,Estas trés familias, Moura, Aragão e Silva, tém em comum os lagos ge-
-
neal6gicos com a nobreza portuguesa, actualizados por novos titulos portu
gueses e casamentos cruzados com a nobreza lusitana, e uma pertenga antiga
ao dispositivo clientelar da corte do rei de Castela e de Aragão. Assim, uma boa
parte da aristocracia que havia servido os reis da dinastia de Avis tinha-se
, até a
associado voluntariamente ao servigo pessoal dos reis Habsburgo. Todos
casa de Braganga, estabeleceram lagos de alianca com estas familias.
l 48 / Jean-Frédéric Schaub
dade aos Habsburgo está longe de ser excepcional entre os súbditos portu-
gueses presentes em Castela a 1 de Dezembro de 1640. Alguns alcançam clan-
destinamente a sua pátria para se colocarem ao servigo de D. João IV, mas não
são poucos os que permanecem em Castela. O Conselho de Portugal, reactivado
pela guerra anti-portuguesa, é então incumbido de gerir a sustentação destas
personalidades que em breve se veriam privadas dos seus patrimónios portu-
gueses pela nova dinastia. Os laços que haviam tecido com a sociedade
castelhana e a corte do rei antes da Restauração determinam a sua escolha.
São testemunhas da densidade das relações estabelecidas pelas duas socie-
dades. Dessas relações, a união das coroas também beneficiara durante ses-
senta anos.
Szquan-l\sfi icêchaub
“í \/‘
" revolugdo napohtana de 1647, «alteragoes» andalusas de 1652. Como é evi-
4/dente, não se pode isolar a Restauragdo de um ciclo histérico marcado pelas *
\S‘\l‘ tensdes que afectaram : a úmao espanhola'E impossível analisar o frente-a-
frente luso-castelhano à margem desta conjuntura mais ampla. Não é lícito
à)“ concluir que as campanhas hostis à pessoa do conde-duque de Olivares, de-
senvolvidas na corte por uma parte da aristocracia castelhana, fossem igno-
radas pelos círculos que preparavam as justificações políticas da revolução
do dia 1 de Dezembro. O facto de apenas Portugal ter realizado uma secessão
definitiva não permite tratar o seu caso de forma absolutamente isolada. Mais
uma vez, é o resultado final que convida, de um modo teleológico, a pensar
que Poíftugal tinha uma vocação natural para abandonar a monarquia co-
mum](t:ontudo, a andlise dos acontecimentos de 1640, anunciados pelas re-
voltas do Alentejo e do Algarve de 1637-1638, exige que se tome em conta o
facto de as crises politicas que abalaram o reino de Portugal serem anélogas a
outros fenémenos do mesmo tipo que ocorreram na penfnsula e na Europa,
Importa circunscrever bem os processos que tornaram possfvel o resulta-
do final. Para discernir os elementos da discérdia luso-espanhola devemos
ter o cuidado de ndo interpretar em excesso acontecimentos que não se de-
vem a uma oposição entre culturas ou insliluiçõesÍ Munidos destas precau-
ções, poderemos avaliar melhor as especificidades próprias do Portugal dos
Filipes, tais como o sebastianismo, a fidelidade a D. Anténio, ou o lugar da
casa de Braganga nos equilibrios sociopoliticos do reino. Poderemos também
medir os efeitos dos revezes sofridos pelo império portugués nesta fase de
recuo em todas as frentes no inicio do século xvi, da incapacidade dos trés
reis em respeitar a letra os compromissos assumidos em Tomar e da organiza-
ção de um espago de tomada de decisdes em torno de favoritos que escapa ao
controlo das magistraturas portuguesas. Do mesmo modo que os elementos
de concérdia permanecem, em boa parte, actuais até 1640, os factores de
discérdia, manifestos durante o periodo de anexagao de Portugal por Filipe I
(1580-1583), atravessam todo o periodo.
VA
Wx .cns?:;íjàgz(lg; íí)lslfl:ãâ:]l;e(;)errnlilenl compre-:endcrl a dine'unlicu d(} unido luso-
o contmtunldatooniat es de fermentos da discérdia. O f:araclc‘r formalmente
| Ção da coroa portuguesa & monarquia hispanica expde os
§uce§sivqs reis ao olhar vigilante dos notáveis e dos magistrados portugueses,
desejosos de sublinhar todas as faltas à palavra dada no campo institucional
mas também no campo dos procedimentos. Quando Portugal se une as outras
coroas da penfnsula, o seu sistema jurisdicional polissinodal encontra-se já
muito desenvolvido e a sua administragéo do Império já atingiu o estado sere-
no da rotina. £ um facto que, no essencial, as instituigdes de Portugal e de
: Castela não cresceram juntas. A arquitectura dos poderes que nos habituamos
. a chamar do Estado moderno estava Asinstalada em Portugal no momento em
@."\l cque a dinastia dAe Avis desaparece. adaptagdes institucionais que os reis
X" Habsburgo Tniroduzem só superficialmente modificam este sistema. Os seus
do reino:
N' x dispositivos essenciais estão solidamente enraizados na vida política
polissinodal dos
\)4 > poder da jurisdição ordinéria e dos magistrados, organizagao
tribuna eriores em ligagdo com a coroa, preservação da autonomia urba-
e das
a, fragmentação jurisdicional em torno da nobreza laica e eclesidstica
do reino no mo-
« ordens militares, represenlago corporativa dos trés estados
desta ordem politica
mento em que se celebram as Cortes. A indisponibilidade
as condigdes da sua integra-
“ c as imunidadesde que os estados beneficiam são
que favorecem a formulagéo de
Y ção namonarquia. Mas são também condigdes
v projectos alternativos. .
queriam fazer crer,
Contrariamente ao que os circulos do poder régio
isto é, a
em Madrid, Valhadolid ou no Escorial, o campo das possibilidades,
foi completa-
capacidade de imaginar uma saída da unido dindstica nunca
este perio-
mente abandonada em Portugal, Serla impossivel compreender
As expectativas
do se o resumfssemos ao seu arranque e ao seu desfecho.
politico, e
dos aclores sociais recompuseram-se constantemente no campo
lanto mais facilmente quanto a relagdo do reino com a coroa se tornava
N A
d& ( reconquista de Portugal. Mas o pretendente morre antes que a frota que dese-
T&_Lb java constituir chegasse a tomar forma, no mês de Agosto de'1595. A julgar
Q, ó, pelas personalidades acusadas de favorecer os empreendimentos de
\\‘<)\‘ D."Anténio detidas a conta-gotas, em Portugal, mesmo até aos finais do sécu-
lo, terá de admitir-se que a sua desesperada actividade diplomética conse-
guia perturbar a ordem das coisas imposta por Filipe II.
A semelhanga de Filipe II durante a fase de conquista da coroa portugue-
sa, D. Anténio sabe fazer uso da imprensa como arma politica para defender
as suas pfetensées e justificar junto das cortes europeias a organizagéo
de
expedigdes destinadas a expulsar em seu préprio proveito o rei Habsburgo de
Portugal. O De Portugalliae Ortu, do padre José Teixeira, publicado
em Paris
em 1582, serve de modelo e de argumentério a toda uma literatura
de defesa
de D. Anténio, difundida em toda a Europa. Provoca uma polémica
jurfdica
conduzida pelo magistrado portugués Duarte Nunes de Leão
em defesa de
Filipe II. O caso de Teixeira é interessante porquanto o
eclesiéstico portugués
faz a ligação com os meios sebastianistas mais exaltados
bem como com a
diplomacia secreta de Henrique IV no seu combate contra
a influéncia da
Espanha nos assuntos franceses. A produção literária antoniana,
realizada
principalmente pelas tipografias dos Plantin de Antuérpia,
torna-se um re-
servatério de argumentos comuns contra a tirania
exercida pelo monarca
" Habsburgo.
Nao resta dúvida alguma que, para as poténcias europeias
que apoiaram
o prior e os seus filhos, a defesa das suas pretensoes a
coroa portuguesa cons-
titufa apenas uma entre outras armas do arsenal utilizado
para contrariar o |
poderio dos reis hispânicos. É por isso que ameméria
da aventura politica de
D. Ant6nio continua a alimentar as imaginagoes
de uns e os receios de ou-
tros, praticamente até aos finais da época espanhola.
No arquipélago dos
Agores, por exemplo, por mais de uma ocasião, o
anúncio da ameaga de uma
agressdo naval holandesa associava aos corsérios
os nomes dos herdeiros do
prior do Crato, até aos anos de 1630, O mesmo
sucede em relação à tomada
da Bafa em 1625. Deve sublinhar-se a extraordinária
longevidade politica da
ideia antoniana, ostentada por cfrculos de fiéis e de correspondentes,
activos e durante mais tempo do que seria de mais
esperar.
As tribulações europeias do prior do Crato, a semiclandestinidade
na qual
os célculos dos monarcas francês e inglés o obrigam
a mergulhar de forma
intermitente favorecem a convergéncia da mitologia
do rei desejado/oculto
com a do animoso pretendente. A solidariedade
imagindria dos dois reis so-
nhados traduz-se pela pronunciagdo de missas comuns
em louvor de ambos
na ilha da Terceira. Todavia, as repetidas
derrotas militares do partido
antoniano favorecem, muito progressivamente, o refigio
numa postura cada
vez mais onfrica, em beneffcio dos falsos Sebastiões.
A actualidade tardia da
A
N Y (‘Pf Portugal na Monarqula Hispanica
"
(15601640 /65
\ 'I 7 */!. ”
ndrias om Portugal para impor uma nova fiscalldade, n {
à margem de qualquer A, [
DIFICULDADES ESTRATEGICAS
questão resolvida de certa forma pala presença hostil das potâncias do Norte
no império colonial, Mas Portugal não ora só um fornecedor de produtos ul-
tramarinos. Possufa no seu território uma mercadoria essencial, para não di-
- zer-estratégica, na Europa moderna: o sal. As salinas do Aveiro, Setúbal e
“ Alcácer do Sal escoavam uma parte considerável da sua produção para as
Provincias Unidas. Desde a Idade Médla, os negoclantes holandeses importa-
vam o precioso produto para a sua própria industria de salga e reexportavam
uma parte para os portos do mar Béltico. No plano qualitativo, o sal portu-
gués era considerado o mais fino e o mais adequado para sustentar a indús-
tria da salga, e 0 menos oneroso também, em comparagéo com o sal-gema.
A produção e a comercializagdo de sal era uma actividade extremamente
lucrativa para as regides produtoras e os portos exportadores, Lisboa, Porto e
Setúbal. O estado de guerra implicava uma limitagao das vendas ao inimigo.
Sob o reinado de Filipe II, e depois a partir do fim da Trégua dos Doze Anos,
os produtores e negociantes das salinas foram proibidos de vender sal aos
holandeses. De um dia para o outro, este produto, fonte de riqueza, tornava-
-se mercadoria de contrabando, escrupulosamente vigiada por oficiais portu-
gueses ou por militares castelhanos nas cidades dotadas de presfdios. Numa
conjuntura econémica geral e demografica que as raras fontes disponiveis
apresentam como particularmente tensa, a aplicação dos preceitos da guerra
” econdmica para com os adversdrios da Monarquia Hispanica só podia agra-
var o sentimento de crise e de declinio.
c Um dltimo elemento importante, que decorre da solidariedade luso-
"-castelhana, merece ser destacado: o recrutamento das tropas. Esta questao
só adquire amplitude a partir do valimento de Olivares. No seu célebre texto
de 1624 sobre a Unido das Armas, o valido de Filipe IV, expunha a necessida-
de de estabelecer um mecanismo pelo qual todas as componentes da monar-
quia viessem em auxilio de todas as que estivessem a ser alvo dos ataques de
um inimigo externo. Este dispositivo supunha um automatismo contrario
a
tradigdo contratualista e feudal. Porque, na hipétese de a qualquer momento
,uma das componentes do conjunto se achar ameagada, isso significava para
' as outras o imperativo de uma mobilização permanente, mesmo em perfodo
de paz para cada uma delas. A prépria légica do projecto relacionava a circu-
* lação dos homens fora do seu pafs e a permanéncia do esforgo de guerra. Nao
tendo o fito de circular como um manifesto, este texto não suscitou manifes-
tagdes de protesto. Contudo, permite compreender com preciséo o que se
passou em torno da questdo militar no Portugal dos anos 1630-1640. |
Antes do perfodo de Olivares, capitães-gerais haviam efectuado recruta- |
mentos, nomeadamente Cristovão de Moura em 1602 e Diego de Silva em
1619, mas tanto um como outro eram então a0 mesmo tempo, vice-reis de
Portugal, e além disso, estava estabelecido que o financiamento do recruta-
um capitão-geral
mento caberia à coroa de Castolu, Em contrapartida,
da Hinojosa, teve
castelhano que não era governador do relno, o marquds
fazer funcio-
oportunidade, desde 1625, de pôr à prova as possibilidades de
coincide
nar uma lógica de União das armas em Portugal. A sua actividade
invasão
com os preparativos de defesa de Lisboa perante a ameaça de uma
a re-
inglesa. O, Conselho da Guerra de Madrid e a Capitania-Geral de Lisbo
fidalgos e
correram a todos os expedientes: apelos aos deveres militares de
, ten-
cavaleiros das Ordens, mobilizações urbanas, nomeadamente em Lisboa
bi-
tativa de restauração das milícias no litoral, tal como haviam sido conce
das por D. Sebastião, contratos firmados com nobres titulares, como o conde
de Cantanhede ou Fernando e Pedro de Mascarenhas. Não obstante todos
estes esforços, o marquês teve de contar essencialmente com as tropas então
recrutadas na Estremadura castelhana, tal como o seu homélogo, dez anos
mais tarde, perante a ameaga das esquadras de Richelieu. As dificuldades
surgem igualmente nas tentativas de recrutamento de marinheiros para as
frotas destinadas & defesa costeira, Assim, os habitantes de Cascais estavam
protegidos pelos magistrados da cidade quando os recrutadores tentaram
mobilizé-los, em 1635. Regra geral, as instituigdes 1municipais foram as mais —
_firmes opositoras das operdeag oe
recru sto de soldados e de alojamen-
tamen
to dastropas que se encontravam a caminho das frentes europeias. Foi, no-
meadamente, o caso do Porto, em 1639, perante as exigéncias do assentista
Alvaro de Sousa.
As dificuldades encontradas pelo recrutamento eram de tal ordem que
íOlivares criou em 1637 uma Junta de las levas de Portugal, encorajada pelo
| seu colaborador Diogo Soares. Por seu lado, uma Junta de Coronelias é in-
cumbida de negociar com os nobres portugueses, tais como os Mascarenhas,
as condições da mobilização em troca de avultadas pensões. A Anlonio Teles
| de Meneses foi confiado o recrutamento em Barcelos, a Álvaro de Sousa em
| Guimarães, à Jorge de Melo em Coimbra e a Pedro Mascarenhas em Castelo
! Branco. No Outono de 1638, Luís de Alaide, conde de Atouguia, comprome-
te-se a mobilizar cerca de dois mil soldados de infantaria. O grande escritor
: Francisco Manuel de Melo recebe ele próprio uma patente autorizando-o a
í efectuarrecrutamentos no arquipélago dos Açores. O duque de Bragança aceita
o princípio deste apelo às hostes, na condição de que o recrutamento do con-
tingente de mil soldados de infantaria que lhe é confiado seja efectuado nas
suas terras por um oficial castelhano e não por oficiais da sua casa.
A ideia da oposição entre um Portugal pronto a alistar-se nos empreendi- —
mentos mil
pação no esforgo de guerraem 1638-1640 merece ser destacada. O papel de
chefe militar imposto por Madrid ao duque de Braganga originou uma situa-
ção extremamente ambfgua. Do mesmo modo, a recusa de numerosos aristo-
do contrato. O rei
ncúria e a corrup-
ção da magistratura portuguesa e foram
formulados intimeros projectos de
| visitaçã
o geral dos tribunais da coroa e, aind
a que não tivessem sido postos
em prática, a ameaça continuou a
pairar depois da sua morte. A con
cepção
vocado a indignação
exercer esse controlo.
e e impoténcia, não foi
do seu filho, que teve
ições ou a reforma das
gnifica necessariamente uma violação
" Efectivamente, a passividade não da palavra dada.
é mais do que um dos registos pos
“ excelência do g overno régio. Filipe siveis da
II, vimo-lo ja, havia deslocado
a Casa do
B m
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g o
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desviarem uma parte das iniciativas inovadoras mas também para as aceita-
m parte, desde os primeiros tempos da união.
Não restam quaisquer dúvidas de que as iniciativas políticas e fiscais
atribuídas ao conde-duque de Olivares acentuaram o carácter abusivo da ati-
.1m
6 os seus arbitristas com os magistrados do Conselho de Castela e do Conse-
lho de Finanças desde a reforma castelhana dos Millones, bem como as difi-
culdades encontradas nas Cortes da Catalunha de 1626 e 1632, não deviam
A
certamente incitar Olivares a empreender a experiéncia em Portugal. No en-
tanto, o favorito de Filipe IV sabia bem que um canal geral de negociação era
o
necessArio, caso se pretendesse operar uma reforma global das fiscalidades.
— Os numerosos e fruluosos contactos com as principais cidades do reino, atra-
vés dos representantes dos lagos clientelares tecidos pelos agentes do conde-
Ás a0nA
* ~duqueeos senhores da terra, não eram suficientes. Uma soluçao intermédia
N ES“foi insensivelmente adoptada, aliás, desde o início do século. Consistia em
\““ admitira flcçao de uma sobre- representahvxdade da cidade de Lisboa: A sua
() \-cAmara seria progressivamente chamada a falar em nome das noventae nove :
dT
(
S es com assento nas Cortes, cabendo-lhe transmitir-The as vonte
I\ Mnonarca.Depoxs de ter perdldo o seu estatuto de corte régla, a cidade do Tejo
Xx"/ ? obtinha assim uma embaragosa compensago. Os despachos da Câmara de
Lisboa dirigidos ao Conselho de Portugal manifestam com frequéncia uma
Ãi Ot s
“posigao de defesa das imunidades portuguesas, fazendo de facto causa co-
mum com o conjunto das terras régias e das cidades. Uma tentativa d? con-
vocagdo de Cortes restritas sob a forma de uma comissão composia por
procuradores cuidadosamente seleccionados, abortou em 1632. Se essa
assembleia tivesse chegado a trabalhar, a sua existéncia e a sua obra teriam
sido, sem sombra de dúvida, a mais flagrante violagao do espfrito de Tomar. t
Finalmente, e voltaremos a este ponto, Olivares escolheu a piordas solugges,
[h:d\ -~
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As formas da rejeição
odfrido s,
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ção traduz-se por uma cronologia implicita que grosso modo desenha trés
sequéncias. Os começos do reinado de Filipe II seriam marcados pela luta
antoniana, o fim deste reinado e o de Filipe III conheceriam o apogeu do
vv'Íu
Q. ao capitéo-geral,
8 nomeado p pelo Conselho de Portugal
8 no Outono de 1602, e
)—É ” - que desembocou na detengdo de todos os almotacés que se negavam a entre-
H gar-lhe as chaves da cidade, antes que se negociasse uma saída para a crise.
% Um conhecimento aprofundado da história da presença militar castelhana
8 no arquipélago dos Agores, mostra que levantamentos generalizados, nomea-
W damente em 1623, mas tambémem 1592, prejudicar
a autoridade am
dos.re-..
'à presentantes do rei 3 erofsmon,
s Isto significa que convém abordar com prudência a cronologia dos levanta-
mentos. É evidente que, numa escala que ultrapassa o caso português e afec-
ta a maior parte dos países implicados na Guerra dos Trinta Anos, o surgimento
dos impostos extraordinários multiplicou as manifestações rebeldes.
A historiografia portuguesa contemporânea compôs o inventário e pro-
pôs a análise destes acontecimentos. /A diversidade dos fenómenos de revolta
dos anos i um modelo tinico. Encontram-se
exemplos de comogdes populares espontaneas em certas localidades como
Arcozelo, perto de Visen, em 1645, Mas a maior parte destas revoltas tardias
em nada se assemelham às epopeias sebastianistas dos camponeses do inicio
do sécul?(Nos fenómenos de contágio rebelde, a fome desempenha um papel
fundamental. Quer se trate de movimentos que agitam os grandes portos do
, litoral (Lisboa, Porto, Setúbal) ou certas cidades do interior (Braga, Vila Real),
ou ainda dos ciclos complexos de contágio revolucionário do Alentejo (Outo-
\\\,‘4 7 1o de 1637) e do Algarve (Primavera de 1638), estamos essencialmente pe-
“M T rante movimentos municipaig/Raros
P são os exemplos
P em q que as oligarquias
garq
n | urbanas e os senhores da aristocracia viraram unanimamente as costas aos
( ; | revoltosos. Na maioria dos casos, o detonador dos protestos foi a conversio
Q\‘b'q | do imposto ocasional do real d'agua, que recafa sobre as vendas de carne e de
S — | vinho numa taxa automática. A partir de então os oficiais da fazenda previ-
\\(j am o montante das receitas deste imposto indirecto e exigiam o seu paga-
| mento as autoridades municipais sob a forma de uma cobranga antecipada
directa, cabendo-lhes depois a elas repartir o seu peso entre os habitantes.
O exemplo do papel de mediador simpatico desempenhado por Diogo de
Castro, conde do Basto, em Evora, e da intervengao das camaras municipais
de Setúbal e do Porto mostram que estas comoções são, geralmente,
/ estruturemadas
torno das autoridades naturais, dos nobres e dos clérigos.
No caso bem conhecido das alteragoes de Evora, durante o Verdo de 1637,
estão reunidos todos os elementos de uma revolta em grande escala. A guar-
da avangada do protesto são os representantes dos oficios na almotagaria,
Barradas e Rodrigues, mas benefi
e
——
'
ca. No entanto, parece que os chefes da “parcialidad infecta”, os “pais da
S
pétria” ou ainda “populares” que sdo os Castro, pai e filho, e Diogo da Silva,
conde de Portalegre e depois marqués de Gouveia, e em certa medida Manuel
de Moura, ele proprio marqués de Castelo Rodrigo, nem sempre foram adver-
sérios obstinado: ivares/ Enquanto o jogo politico portugués parecesse |
s
|
aberto às elites tradicionais, o grau de hostilidade relativamente ao validode
el
lida-
Filipe IV era bastante discreto| Efectivamente, sob a aparéncia da instabi
dos
de aéEofixBina@ées governamentais, não obslante o movimento de noria
o sistema permanecia estdvel nos seus alicerces politi-
SRA e
licos portugueses, por meio de expedientes diversos,
onselho de Portugal à acção governamental, da direc- n
financeiros, mediam-—
cios do papel politico
L|
tri-
fazer passar as }novagbes fiscafs junto das cidades sem o iú'téírílé_díº' '_df)s
|
| bunais nem do governo. Mais tarde, quando a Coroa foi tentada a negociar
directamente com as oligarquias urbanas o montante dos cabeções, mudan-
l do assim de interlocutor, o equilíbrio construído pelas grandes famílias por-
l e no seu
poder estar localizada no préprio centro do slstema instituciona
mobilizagao
topo. Mas, nesse caso, a oposição não loma a forma extrema de
fisica ¢ de rejeigio em bloco da autoridade criticada.
A histéria fiscal e financeira do perfodo hispénico mostra, por exemplo a
- . |
prop6sito de donativos graciosos arrancados à nobreza, que uma das respos
em acu- i
tas às crescentes reivindicagdes consiste em prometer sem cumprir e
mular as manobras dilatérlas que desmentem nos factos a realidade das
vantagens adquiridas pola coroa. A selecção de documentos apresentados
por Eduardo Freire de Oliveira nos seus Elemenlos oferece inGmeros exem-
plos de resisténcia dos almotacés lisboelas em registar as disposições relati-
vas às finangas ou à defesa da cidade. De uma forma geral, vimo-lo j4, os
magistrados municipais ddo expressio s forgas de protesto violento no dié-
logo que mantém com as instituições madrilenas. O entusiasmo das câmaras
e a sua capacidade de mobilizar fundos, nomeadamente na perspectiva da
viagem de Filipe IIl, mostram que a sua relação com a coroa é composta por
todos estes elementos, em que a fidelidade e a dissidéncia se misturam.
É possivel observar este fenémeno com particular acuidade a propósito do
controlo que os oficiais do rei pretenderam exercer sobre os fluxos de merca-
dorias que transitavam pelas instalagdes portuérias portuguesas.
Em 1628, os magistrados castelhanos tentam mandar imprimir em Lis-
boa, em portugués, o regulamento sobre a repressdo, porquanto os negocian-
tes, cujos rendimentos eram consignados sobre as caixas que recolhiam o
produto das multas e confiscos, exigem a elaboragéo desse documznto. Sem
a produgao de um regulamento oficial, não era possivel assegurar o crédito
financeiro dessas caixas. O impressor encarregado de fazer e de mandar afi-
xar o cartaz do regulamento, é detido pelas autoridades portuguesas de Lis-
boa e tratado como inimigo da pátria. O capitéo-geral da época, Fernando
Toledo protesta, em vão, junto de D. Afonso Furtado de Mendonga, arcebispo
de Lisboa e governador do Reino. Foi preciso recorrer a um impressor de
Madrid, pois nenhum dos que trabalhavam na praga de Lisboa se arriscava a
afrontar os magistrados lisboetas. Indignado, o Conselho de Portugal exige
a designação de um magistrado portugués que proceda a um inquérito sobre
a detenção do impressor. Nenhuma sangdo foi adoptada contra os almotacés
e o impressor foi libertado ao fim de algum tempo. Estamos perante o tipo de
acções de rejeição de baixa intensidade que mancham constantemente a vida
institucional luso-castelhana. Num segundo tempo, os magistrados do
Desembargo do Pago avisam o Conselho de Portugal que as intromissoes das
autoridades castelhanas no dominio da jurisdigio das alfaindegas portugue-
sas são inaceitdveis, Para fragilizar o capitao-geral e os magistrados do Conse-
lho de Guerra de Madrid, lembram que nenhum capitdo havia sido objecto
de uma visita de inspecção desde a criação deste cargo superior, depois da
) paralisar a maior parte das inicialivas fiscais ou financeiras tidas como abusivas.
Nao se deve procurar numa hipotética benevoléncla castelhana a compreen-
{ são deste fenémeno, mas antes na organizagfio normativa deste reino fundado
| sobreaagregação corporativa de privilégios. Neste sentido, a interprelagdo “cons-
‘, titucional” dos estatutos dos diferentes corpos sociais é plenamente eficaz e
| convincente. Permite iluminar esta zona obscura que escapa ao olhar do histo-
riador e que não releva nem da revolta aberta nem da obedlencm submissa às
inovagoes impostas de fora,
”
elementos '
essenciais, convém prestar atenção ao fenómeno de
politização das elites que |
acelera a partir dos anos de 1630,
fiNov_a,swsgc_iabillidades politicas organizam-se ento, favor
ecendo a união
dos .dããl?_mgg,tg;.ºuanto ao grupo que apoia a obra do cond
e-duque de
Olivares, faz tanto mais figura de facção, quanto mais uma circulagao
inconsiderada de textos olivaristas inflama as imaginagoes. Como vimos, o
sistoma organizado pelos dois secretdrios de Estado funciona como uma rede
de associados e um duplo sistema de clientelas, na corte e em Portugal. E.Zsta
‘organizagdo era perceplivel para todos os que, litigantes e procuradores, tfve-
ram de se dirigir às instituições portuguesas da monarquia, durante a última
década da união. Todavia, até aos anos de 1635, a nebulosa dos descontentes
nunca consegue, ou não deseja, tomar a forma de uma facção organizada.
A casa de Bragança não desempenha verdadeiramente esse papel, e as gran-
des famílias de titulares portugueses que se sucederam no governo e na opo-
sição velada a Olivares parecem mover-se mais pelas suas rivalidades do que
pelo desejo de formar um partido ofensivo.
Um dos mais notéveis paradoxos deste perfodo resulta do facto de a cris-
talização de uma oposigao estruturada a Olivares e aos seus dois secretérios
de Estado coincidir com o restabelecimento da vice-realeza
de sangue real,
que era em princfpio positivo do ponto de vista da dignidade
do reino. De-
pois do impasse dos governos conduzidos pelo conde de
Basto e a recusa
obstinada do favorito do rei em reunir Cortes, nos finais
do ano de 1634,
Filipe IV designa a sua prima italiana, Margarida, duquesa
de Mantua, vice-
-rainha de Portugal. Consciente do seu total desconhecimento
do terreno por-
tugués, Olivares fá-la acompanhar por um dos seus
parentes, o marqués de la
Puebla, membro desconceituado do Conselho
das Finangas de Madrid, e por
um secretdrio especializado em assuntos militares, Gaspar
Ruiz de Escaray.
A função do marqués de la Puebla, uma
superintendéncia dos negécios por-
tugueses, é um caso inédito na breve
histéria da vice-realeza hispanica em
Portugal. Apenas pela sua presenca
junto da vice-rainha, o marqués de
Puebla faz figura de favorito simétrico la
de Olivares. Até entao nunca
castelhano desta condigao e deste Peso politico um
havia sido chamado a cola-
borar no trabalho governamenta
l em Lisboa. Esta presencga
usppei
sus e ta quanto se tratava de era tanto mais
um aristocrata habituad 0 as lides
fiscais da coroa de Castela. financeiras e
tanto ou quanto obscuro, o que querla fazer, Ora a sua acção efectiva perma-
neceu muito aquém dos projectos que submeteu ao comentário dos outros.
Não se pode negligenciar a importância fundamental da circulação dos
textos políticos, manuscritos ou impressos, na fermendetaç
um espírito
ão de
discórdia. Pode dar-se um exemplo a partir do caso das convocações de 1638.
—
O epílogo desta história não é tanto o dia 1.º de Dezembro de 1640, por
mais celebrado que seja, mas o conjunto de acontecimentos e de evoluções
políticas, militares e culturais que tornaram impossível um retrocesso. A di-
mensão miraculosa da Restauração reside inteiramente no seu carácter defi-
nitivo. O golpe de força dos quarenta fidalgos contra o palácio real, o
assassinato de Miguel de Vasconcelos, a detenção de Margarida de Mântua
num convento da cidade, a ausência de reacção dos soldados castelhanos
dos presídios da foz do Tejo: esta breve sequência de acontecimentos não
pode ser interpretada separadamente das dinimicas politicas que desenca-
deou. A chegada do duque de Braganga, a sua proclamagao, as Cortes e os
juramentos que se seguiram, conferem-lhe o sentido de uma mudanga de
dinastia. Mas, depois, a hip6tese da adesão espontanea e massiva dos súbdi-
tos relativamente ao seu novo rei, natural da terra, despreza demasiados fac-
tores para poder ser completamente convincente.
Não se pode afastar, sem um exame prévio, uma hipétese pelo menos tão
séria sobre a indiferenga dos súbditos portugueses relativamente as questões
simbélicas da politica dindstica. Nao é sensato continuar a utilizar os textos
de polémica politica e de oratéria sagrada produzidos a montante e a jusante
do dia 1.° de Dezembro como os reflexos de um estado da opinido portuguesa
desse tempo, quando em toda a parte este tipo de andlise foi abandonado.
Valeria mais determo-nos sobre os meios empregues pela nova dinastia na
sua politica de convicgao. Neste plano, não há dúvida que o uso da tipogra-
fia, do sermão e do texto manuscrito desempenha um papel consideravel.
Para compreender os mecanismos que produzem os efeitos de unanimidade
desejados pelo novo rei, há que tomar igualmente em consideragdo impor-
tantes factores sociopoliticos. O poder senhorial desmesurado dos Braganga
cresce de forma vertiginosa quando os bens da coroa são incorporados no
patriménio da sua casa. É preciso medir o formidavel desequilibrio que se
instala em Portugal com um titular da coroa que goza do dominio directo
I - Conselheiros
1 - D. Cristóvão de Moura, intendente das finangas 1583-1598
2 - D. Jorge de Ataide, bispo, camareiro-mor 1583-1598
3 — Pero Barbosa, desembargador do Pago 1583-1598
4 - Rui de Matos Noronha, desembargador do Paço 1583-1588
5 — Jorge Cabedo, desembargador do Pago 1593-1597
6 — Francisco Nogueira, desembargador do Pago 1598
I — Secretarios
1 - Nuno Alvares Pereira
1583-1586
2 — Pedro Alvares Pereira 1583-1598
I- Conselheiros
1 - D. Cristévao de Moura, intendente das finangas
1598-1600
2- D. Jorge de Ataide, bispo, camareiro-mor
1598-1603
3 — Pero Barbosa, desembargador do Pago
'1598-1602
4 - Francisco Nogueira, desembargador do Pago
1598-1612"
5 — Pedro Alvares Pereira, secretério do rei
1602-1621 (1607-1614)
6 — D. Juan de Borja, intendente das finangas
1599-1606'
7 - D. Henrique de Sousa, secretário do rel
8 — D. Manuel de Castello Branco
+1602-1615
9 - D. Afonso Furtado de Mendonga, eclesiástico
1602-1615 (1606-1614)"
10 — Diogo de Fonseca, desembargador do Pago
'1605-1608
1605-1609
X
1 - Conselheiros
1 - D. Carlos de Borja, duque de Villahermosa, presidente 1621-1639
2 — Pedro Alvares Pereira, secretério do rei
1621-1622
1621-1632
3 — Mendo da Mota, desembargador do Pago
1621-1632
4 - D. Francisco de Braganga, conselheiro eclesidstico
1621-1631
5 - D. Anténio Pereira, desembargador do Pago
iro
6 — D. Manuel de Moura, marqués de Castelo Rodrigo, conselhe
de Estado 1623-1639
1633-1637
7 — Manuel de Vasconcelos, conselheiro de Estado
1633-1639
8 — Doutor Cid de Almeida, desembargador do Pago
1633-1639
9 - D. Francisco de Mascarenhas, conselheiro de Estado
1633-1634
10 - D. Miguel de Castro, bispo de Viseu, conselheiro eclesidstico
1636-
11 - D. Miguel Soares Pereira, conselheiro eclesidstico
1635-1639
12 - D. Francisco de Melo, conselheiro de Estado
Estado -1637
13 - D. Miguel de Noronha, conde de Linhares, conselheiro de
11 - Secretérios
as 1602-1621
1 - Francisco de Almeida de Vasconcelos, secretério das finang
1621-1629
e das mercés
1621-1631
2 — Francisco de Lucena, secretário do rei
1629-1639
3 — Gabriel Almeida de Vasconcelos, secretario das mercés
1631-
4 — Marqal da Costa, secretério do rei
1631-1632
5 — Lufs Falcão, secretario das Índias
1631-1639
6 — Diogo Soares, secretério de Estado, Finangas e Justica