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PSICANÁLISE

A Elaboração da Face*

Uma análise dos elementos rituais na interação social

Erving Goffman

Toda pessoa vive em um mundo de encontros sociais,


que a põe em contato, seja este face a face ou mediado, com
outros participantes. Em cada um desses contatos, ela tende
a pôr em ação o que é, às vezes, chamado uma linha — isto
é, um padrão de atos verbais e não-verbais através dos quais
expressa sua visão da situação e, através disso, sua avaliação
dos participantes, especialmente de si mesma. Havendo ou
não tido a intenção de fazê-lo, a pessoa acabará descobrindo
ter seguido uma linha. Os outros participantes suporão que
ela, mais ou menos voluntariamente, tomou uma posição, de
tal forma que, para lidar com a resposta dos outros a si mesma,
tal pessoa deve levar em consideração a impressão que possi-
velmente formaram dela.
O termo face** pode ser definido como o valor social
positivo que uma pessoa efetivamente reclama para si mesma

* Este artigo foi escrito na Universidade de Chicago; agradeço so


subsídio da U.S. Public Health (N.º M702[6JMH[5]) concedido &
um estudo das características da interação social dos individues,
conduzido pelo Dr. William Soskin, do Departamento de Psico-
logia da Universidade de Chicago, que me proporcionou 2poio
financeiro para a feitura do mesmo.
** O termo inglés face possui, além do significado habitual de sem-
blante, aparéncia, aspecto externo, a conotacio de dignidade,
auto-respeito, prestigio. Essa dupla conotagio é explorada pelo
autor, principalmente através do emprego de expressbes nas
quais o termo face aparece: shamefaced, cujo significado, em

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através daquilo que os outros presumem ser a linha por ela
tomada durante um contato especifico, Face é uma imagem
do self delineada em termos de atributos sociais aprovados
— embora se trate de uma imagem que pode ser partilhada
or outros, como quando a pessoa consegue fazer uma hoa
exibição profissional ou religiosa fazendo uma boa exibicio
para si mesma.l
Toda pessoa tende a experimentar uma resposta emo-
cional imediata a face que lhe ¢ proporcionada por um con-
tato com outros; sua face ¢ catexizada; seus “sentimentos’
ficam ligados a ela. Se a imagem sustentada pelo encontro
h4 muito tempo ¢ considerada pela pessoa como algo natu-
ral, provavelmente a questio nio envolverd uma grande carga,
de sentimentos. Se os eventos estabelecem para uma pessoa
uma face melhor do que a que seria de se esperar, esta pessoa
tende a se “sentir bem"; se suas expectativas comuns não sio
preenchidas, espera-se que ela se “sinta mal” ou se “magoe”.
Em geral, a ligagio de uma pessoa a uma face especifica,
somada à facilidade com a qual tanto ela quanto os outros
transmitem informagio desconfirmadora, fornece uma das
razdes pelas quais essa pessoa considera a participagio em
qualquer contato com outros como sendo um compromisso.
A face sustentada para os outros participantes também sus-
citard sentimentos, os quais, embora possam diferir em quan-
tidade e diregio dos que se sente pela prépria face, consti-
tuem um envolvimento com a face dos outros que é tio ime-
diato e espontineo quanto o envolvimento com a própria
face. A face dos outros e a prépria face sio construtos da
mesma ordem; são as regras do grupo e a definiciio da situa-
ção que determinam a quantidade de sentimento ligado à
face e como esse sentimento deve ser distribuido entre as
faces envolvidas.
Pode-se dizer que uma pessoa tem, estd em, ou mantém
uma face quando a linha que efetivamente segue apresenta
o

portugués, é envergonhado; to save face, que significa salvar as


aparéncias, e que foi traduzido literalmente pela expressdo “sal-
var a face” com o intuito de impedir que, para um mesmo termo,
houvesse mais de uma tradugdo, o que dificultaria a compreen-
são do texto; to lose face, que significa perder o prestígi.o, desa-
creditar-se, e que, pela mesma razão exposta acima, foi tradu-
zido por ““perder a face”.
uma imagem de si mesma .internamep'te consistente, apoiada
por julgamentos e evidéncia tra_nsAmlgldols pelos. outros par-
ticipantes e confirmada por ev:_dencna 'tra'nsmmda 'a,travé.s
de agéncias impessoais na situagdo. E}'n,tals casos, fica evi-
dente que a face não é algo que se aloja dentro ou na super-
fície do corpo de uma pessoa, mas sim algo que se localiza .
difusamente no fluxo de eventos que se desenrolam no en.
contro, e se torna manifesto apenas quando estes eventos sio
lidos e interpretados em função das avaliações que neles se
expressam.
A linha mantida por e para uma pessoa durante o con.
tato com outras tende a ser de tipo legitimo e instituciona-
lizado. Durante um contato de tipo especifico, um interagen-
te cujos atributos são conhecidos ou visiveis pode esperar que
o mantenham em uma face especifica, e sentir que isto
é
moralmente apropriado. Dados seus atributos e a natureza
convencionalizada do encontro, terá aberta diante de
si uma
certa margem de escolha tanto de linhas quanto de faces.
Ademais, com base em uns poucos atributos conhecidos,
lhe
é conferida a responsabilidade de possuir um grande número
de outros. Seus co-participantes dificilmente se darão conta
do caráter de muitos destes atributos, a não ser que
ele aja
claramente de modo a desacreditar que os possui. AÀA partir
daí, todos se dão conta de tais atributos e passam a presu-
mir que ele, voluntariamente, deu a falsa impressão de pos-
sui-los.
Deste modo, enquanto a preocupacio com a face focali-
za a atengao da pessoa na atividade presente, para
manter
a face nesta atividadeé necessario levar em co
nsideragio o
lugar ocupado no mundo social mais amplo. Uma pessoa
que consegue manter a face na situagio presente é algué
m
que, no passado, se absteve de certas ações que, mais tarde,
teria dificuldade de enfrentar. Ademais, essa pessoa teme
a
perda da face no presente em parte porque isto pode
ser
tomado pelos outros no futuro como um sinal de que
não
¢ necessirio mostrar consideragio por seus sentimentos. En-
tretanto, esta interdependéncia entre a situagio corrente e
o mundo social mais amplo tem um limite: um encontro
com pessoas com as quais nio se terá que lidar de novo deixa-
nos livres para seguirmos uma linha que o futuro se encar-
regard de desacreditar, ou para sofrer humilhações que tor-
nariam embaragosos futuros encontros com tais pessoas.

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Pode-se dizer que uma Pessoa está na face errada quando,
de algum modo, surge uma informação acerca de seu valor
social que não pode ser integrada, mesmo com esforço, à
linha que está sendo sustentada para ela. Pode-se dizer de
uma pessoa que ela está fora da face quando a mesma parti-
cipa de um contato com outros sem. t.er pronta uma linha do
tipo normalmente .seguld_o por participantes de tais situações.
A intenção de muitas brincadeiras é levar a pessoa a mostrar
uma face errada ou então a perder a face. Mas, é claro, tam-
bém haverá ocasiões sérias em que a pessoa descobrirá estar
evidentemente fora de contato com a situação.
Quando uma pessoa sente que está em face, tipicament
e
responde em sentimentos de confiança e segurança. Firme
na linha que está sendo seguida, sente que pode manter sua
cabeça erguida e apresentar-se abertamente para os outros.
Sente alguma segurança e algum alívio — o que também pode.
ocorrer quando os outros sentem que ela está na face errada,
mas conseguem ocultar-lhe tais sentimentos.
Quando uma pessoa está na face errada ou fora de face,
o encontro está sendo enriquecido por eventos expressivos
que não podem ser prontamente urdidos na trama expressi-
va da ocasião. Quando a pessoa sente que está na face erra-
da ou fora de face, sua teridência é sentir-se envergonhada
e inferior pelo.que aconteceu à atividade por culpa sua e
pelo que pode acontecer à sua reputagio como participan-
te. Pode, também, sentir-se mal por ter contado com o en-
contro para apoiar uma imagem de self 4 qual ela se havia
ligado emocionalmente e que agora está ameacada. A falta
de apoio, em termos de julgamento, por parte do encontro
pode deixá-la confusa e incapacitá-la momentaneamente como
um interagente. Seus modos e porte podem falsear, entrar
em colapso e desintegrar-se e ela pode ficar embaracada e
envergonhada; pode ficar shamefaced.* O sentimento, justi-
ficado ou não, de ser percebido pelos outros em um estado
de confusio e de não estar desenvolvendo uma linha utili-
zdvel pode acrescentar maiores danos aos seus sentimentos,
da mesma forma que passar da face errada ou da falta de face
à vergonha pode aumentar ainda mais a desordem na orga-
nização expressiva da situagdo. Empregarei o termo aplomb,

Ver a segunda nota da pag. 76.

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seguindo o uso que comumente dele se faz, para me re ferir
A capacidade de suprimir e ocultar qualquer tendência a ficar
envergonhado [shamefaced] durante encontros com outros,
Na nossa sociedade anglo-americana, como em algumag
outras, a expressio “perder a face” parece significar estur na
face errada, estar fora de face ou envergonhado
[.\'h(umf/ucud].
A expressio “salvar a face"* parece se refer
ir ao processo
pelo qual a pessoa sustenta, para os outros,
a impressio (e
não ter perdido a face. De acordo com o uso chind
s, pode-se
dizer que “dar cara” [give face] ¢ fazer com
que outra pessoa
siga uma linha melhor do que aquela que, de. outro modo,
poderia seguir,® sendo este um dos modos pelos quais uma
pessoa ganha uma face.
Um aspecto que quase sempre é' encontrado
no cddigo
social de qualquer circulo social é a compreensio
de até onde
deve ir uma pessoa para salvar sua face. Uma vez tendo as-
sumido uma auto-imagem que se expressa através de uma
face, há expectativas que a pessoa deve preencher.
rentes modos, De dife-
em diferentes sociedades, exigir-se-4 que
$03s mostrem auto-respeito, recusem certas agde as pes-
s por estarem
estas acima ou abaixo de si mesmas, a0 mesmo
se forcam a desempenhar outras mesmo que tempo que
isto lhes custe
muito caro. Ao entrar em uma situagiio na qual
lhe
uma face a manter, a pessoa toma a si a responsabili é dada
dade de
pattulhar o fluxo de eventos que passa diante de
si. Ela
deve se assegurar da manutengio de uma ordem expr
essiva
especifica — uma ordem que regula o fluxo dos
eventos,
grandes ou pequenos, de tal forma que qualquer coisa
que
deva ser expressa por eles seja consistente com sua face.
Quando uma pessoa manifesta tais compungdes primaria-
mente como um dever para consigo mesma, fala-se, em nossa
sociedade, de orgulho. Quando a pessoa o faz por um dever
a unidades sociais mais amplas, e recebe apoio de tais uni-
dades ao fazé-lo, fala-se de honra. Quando estas compunções
se ligam a coisas posturais, como eventos expressivos deriva-
dos do modo pelo qual a pessoa maneja o próprio corpo,
Suas emoções e as coisas com as quais tem contato físico, fala-
se de dignidade, sendo este um aspecto do controle expressi-
vo que é sempre louvado e nunca estudado. De qualquer
modo, embora a face social de uma pessoa possa ser o que
Ver a segunda nota da pág. '6.

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ela possui de mais pessoal, o centro de sua segurança e pra-
zer, trata-se apenas de um empréstimo que lhe foi feito pela
sociedade: poderá ser-lhe retirada caso não se comporte de
modo a merecê-la. Atributos aprovados e sua relação com
a face fazem de cada homem seu próprio carcereiro: trata-se
de uma coerção social fundamental mesmo que todo homem
goste de sua cela.
Da mesma forma que se espera que qualquer membro
de um grupo tenha auto-respeito, espera-se que ele sustente
um padrão de consideração; espera-se um certo esforço de
sua parte para salvar os sentimentos e a face de outros pre-
sentes, e que o faça voluntária e espontaneamente devido
à identificação emocional com os outros e com seus sentimen-
tos,? mostrando-se, em conseqiiéncia disso, pouco inclinado a
testemunhar o desfiguramento [defacement] dos outros.* Na
nossa sociedade, a pessoa que consegue testemunhar a hu-
milhação alheia friamente, sem perder o controle de si mes-
ma, é considerada “insensível”, do mesmo modo que aquele
que consegue ter uma participação insensível no próprio
desfiguramento, ou perda de face, é considerado “cínico” ou
“descarado” .
O efeito combinado da regra de auto-respeito e da regra
de consideração é a tendência a se conduzir durante um en-
'contro de forma a manter tanto a própria face quanto a face
dos outros participantes. Isto significa que a linha seguida
por cada participante geralmente consegue prevalecer, e que
cada participante consegue levar a cabo o papel que parece
ter escolhido para si mesmo É estabelecido um estado no
qual cada um aceita temporariamente a linha do outro.5 Este
parece ser uma característica estru-
tipo de aceitação mútua
tural básica de interação, especialmente a interação de con-
versa face a face. Trata-se tipicamente de uma aceitação “que
a se
funciona”, e não de uma aceitação “real”, que tende
basear não num acordo acerca de avaliações sinceras e ex-
pressas de maneira franca mas na aquiescência em, tempora-
riamente, louvar da boca para fora julgamentos com os quais
os participantes não concordam realmente.
A aceitação mútua de linhas tem um efeito conservativo
importante sobre os encontros. Uma vez tendo, inicialmen-
te, apresentado uma linha, a pessoa € os outros que a cercam

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— "“”

tendem a construir suas respostas posteriores em -torno da


mesma, ¢, num certo sentido, ficam presas a ela. Caso a -
soa altere radicalmente sua linha, ou se torne desacreditada
o resultado é confusão, pois os participantes terão se pre aí
rado para, e se comprometido com, ações que deixaram de
ser apropriadas.
Geralmente, a manutenção da face é uma condição da
interação, não seu objetivo. Objetivos usuais, como obter
uma face para si mesmo, dar livre expressão a suas crengas
verdadeiras, introduzir informação depreciativa sobre outros,
ou resolver problemas e desempenhar tarefas, são tipicamen-
te perseguidos de forma a serem consistentes com a manuten-
ção da face. Estudar o modo como as pessoas salvam faces
¢ estudar as regras de transito da interagdo social; aprende-se
acerca do código ao qual a pessoa adere no seu movimento
através dos caminhos e esquemas de outros, mas não para
onde ela se dirige, ou por que quer chegar la. Nem mesmo
se descobre por que esta pronta a seguir este código, pois ela
pode ser igualmente levada a fazé-lo por um grande numero
de motivos diferentes. Pode querer salvar sua prépria face
devido a sua ligacio emocional a imagem de self que ela ex-
pressa, devido ao seu orgulho ou a sua honra, para defen-
der o poder que seu suposto status lhe permite exercer sobre
os outros participantes e assim por diante. Pode querer sal-
var a face dos outros devido à sua ligação emocional a uma
imagem que tem deles, ou porque sente que seus co-partici-
pantes tém um direito moral a tal proteção, ou porque quer
evitar a hostilidade que lhe poderia ser dirigida caso os outros
perdessem a face. Pode, ainda, sentir que se supõe ser ela
o tipo de pessoa que mostra compaixdo e solidariedade para
com os outros, de forma que, para manter sua propria face,
se sinta obrigada a mostrar consideragio pela linha seguida
pelos outros participantes.

Por elaboragio da face pretendo designar as agdes a


vês das quais uma pessoa é capaz de tornar qualquer coisa
que esteja fazendo consistente com a face. Esta elaboragio
serve para contrabalançar “incidentes” — isto é, eventos eujas
implicações simbólicas efetivas ameaçam a face. Destarte, ,‘:
aplomb ¢ um tipo importante de elaboragio de face, po!

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permite à pessoa controlar seu embaraço e, como conseqiién-
cia, o embaraço que o mesmo provoca nela e nas outras
pessoas. Ações de salvamento de face, sejam ou não suas con-
seqiiéncias conhecidas pela pessoa que as emprega, tornam-se
comumente práticas habituais e padronizadas; são como lan-
ces tradicionais de um jogo ou passos tradicionais de uma
dança. Cada pessoa, cada subcultura e cada sociedade pare-
cem possuir seu próprio repertório característico de práticas
de salvação da face. É a este repertório que se referem as
pessoas quando perguntam como é “realmente” uma pessoa
ou uma cultura. Ainda assim, o conjunto específico de prá-
ticas enfatizadas por pessoas ou grupos específicos parece ser
retirado de uma teia única e logicamente coerente de práti-
cas possíveis. É como se a face, por sua própria natureza, só
possa ser salva através de um número determinado de manei-
ras, e como se cada agrupamento social deva fazer sua sele-
ção a partir desta matriz única de possibilidades.
Espera-se que os membros de todo circulo social tenham
algum conhecimento da elaboração da face e alguma expe-
riência no seu uso. Na nossa sociedade, este tipo de capaci-
dade é chamado, por vezes, de tato, savoir-faire, diplomacia
ou habilidade social. A variação da habilidade social refe-
re-se mais à eficácia da elaboração de face do que 2 freqiién-
cia de sua aplicação, pois quase todos os atos que envolvem
outras pessoas são modificados, prescritiva ou proscritiva-
mente, por considerações acerca da face.
Para empregar seu repertório de práticas de salvar a
face, a pessoa deve, antes de mais nada, tornar-se consciente
das interpretações que os outros possam ter superposto a seus
atos e das interpretações que ela porventura superpôs aos
atos alheios. Em outras palavras, deve exercer sua percepti-
vidade.® Porém, mesmo que seja devidamente sensível a jul-
gamentos transmitidos simbolicamente e, ao mesmo tempo,
socialmente hábil, a pessoa deve, ainda, estar pronta para
exercer sua perceptividade e sua habilidade; deve, em suma,
ter orgulho e consideração. Obviamente, é tão comum que
a posse de perceptividade e habilidade social conduza à apli-
cação de ambas que, na nossa sociedade, termos como polidez
ou tato deixam de fazer a distingdo entre a inclinagio a exer-
cer tais capacidades e as capacidades em si.

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/3

Já foi dito que a pessoa tem dois pontos de vista — uma


orientação defensiva no sentido de.salvar sua prépria face
e uma orientagdo protetora no sentido de salvar a face dos
outros. Algumas praticas serdo primariamente defensivas e
outras primariamente protetoras, embora, geralmente, as
duas perspectivas tendam a coexistir. Ao tentar salvar a face
de outros, deve-se escolher uma ação que não leve a perda
da prépria face; ao tentar salvar a propria face, deve-se con-
siderar a perda de face que esta agdo possa acarretar nos
outros.

Em muitas sociedades há uma tendéncia a distinguir


entre trés niveis de responsabilidade que se pode imputar a
uma pessoa cujas ações criaram uma ameaça à face. Em pri-
meiro lugar, ela pode parecer ter agido inocentemente, sua
ofensa parece ser não intencional e impensada, e os que per-
cebem seu ato podem achar que ela teria tentado eviti-lo
caso pudesse ter previsto suas conseqiiéncias ofensivas. Na
nossa sociedade, estas ameagas à face sio chamadas faux pas,
gafes, ou “ratas”. Em segundo lugar, o ofensor pode pare-
cer ter agido maliciosa e malevolamente, com a intenção
clara de cometer um insulto. Em terceiro lugar, há ofensas
eventuais, que surgem como uma conseqiiéncia nio planeja-
da, mas às vezes antecipada, da ação — ação que o ofensor
desempenha apesar de suas conseqiiéncias ofensivas, embora
ndo tenha intuitos malévolos. Do ponto de vista de um dado
participante, esses trés-tipos de ameaga podem ser introdu-
zidos pelo préprio participante contra sua própria face ou
contra a face dos outros, ou pelos outros contra sua prépria
face ou contra a face do participante. Desta forma, há muitos
modos diferentes de se relacionar com uma ameaça a face.
Caso se queira lidar bem consigo mesmo e com os outros em
todas as contingéncias, deve-se ter um repertério de prati-
cas salvadoras de face para cada uma dessas possiveis rela-
ções com a ameaga.

Tipos Básicos de Elaboração de Face

O processo de evitagio O modo mais seguro de se evitar


ameacas à prépria face é evitar contatos nos quais exista a
probabilidade de ocorréncia de tais ameagas. Podese obser-

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var isto em todas as sociedades através da relação de evitacio?
e da tendência a deixar que transações delicadas sejam con-
duzidas por intermediários.º De modo semelhante, em mui-
tas sociedades, seus membros conhecem o valor de uma reti-
rada graciosa e voluntária levada a cabo antes que uma amea-
ça à face já antevista tenha a chance de ocorrer.º
Uma vez que se tenha arriscado um encontro, outros
tipos de evitação entram em jogo. Como medida defensiva,
a pessoa pode manter-se afastada de tópicos e atividades que
poderiam levar à expressão de informações inconsistentes com
a linha seguida. Em momentos oportunos, modificar-se-á o
tópico da conversa ou a direção da atividade. É comum que,
inicialmente, seja apresentada uma fachada de acanhamen-
to e compostura, sendo suprimida qualquer mostra de sen-
timento até que se tenha descoberto que tipo de linha os
outros se prontificam a apoiar para a pessoa em questão.
Reivindicar qualidades para o próprio self requer a exibi-
ção de uma modéstia depreciativa, de fortes qualificações ou
de uma certa falta de seriedade; com tais garantias, a pessoa
prepara para si mesma um self que não será desacreditado,
ao ser exposto, por fracasso pessoal ou por atos imprevisi-
veis de outros. Caso a pessoa não cerque de garantias essas
reivindicações, pelo menos tentará ser realista, sabendo que,
de outro modo, eventos podem desacreditá-la e fazê-la perder
a face.
Certas manobras protetoras são tão comuns quanto as
defensivas acima descritas. A pessoa mostra-se respeitosa e
polida, não deixando de estender a outros o tratamento ce-
rimonial que lhes possa ser devido. Emprega discreção; deixa
de expor fatos que poderiam implícita ou explicitamente
contradizer e embaraçar as reivindicações positivas feitas por
outros.!º Emprega circunlóquios e artificios, construindo suas
respostas com cuidadosa ambigiiidade a fim de preservar a
face dos outros, mesmo que não seja possível preservar seu
bem-estar.!! Emprega cortesias, faz ligeiras modificações nas
exigências feitas aos outros e na apreciação dos outros de tal
forma que estes sejam capazes de definir a situação como
uma situação na qual seu auto-respeito não é ameaçado. Ao
fazer-lhes exigências depreciativas ou imputar-lhes atributos
desagradáveis, pode fazêlo de maneira jocosa, permitindo
que sigam a linha segundo a qual são pessoas que não perdem

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a esportiva, capazes de relaxar seus padrões habituaís.de or-
gulho e honra. E, antes de se encetar _gm ato potencialmep.
te ofensivo, podem-se fornecer explanações de como e por que
os outros não deveriam ver-se’afrontafiqs pe!o mesmo. Por
exemplo, caso se saiba que serd necessário deixar o encontro
antes do mesmo ter terminado, pode-se avisar aos outros com
antecedéncia que é necessdrio ir e.mbora, para que suas faces
se preparem para isso. A neutrahzaçãq do ato potencialmen--
te ofensivo, porém, não precisa ser feita verbalmente: pode-
se esperar um momento oportuno ou uma pausa natural —
por exemplo, durante uma conversa, um silêncio moments-
neo, no qual é impossível afrontar qualquer um dos falan-
tes — e ir embora, usando, deste modo, o contexto em vez
das próprias palavras como uma garantia de inofensividade.
Quando uma pessoa não consegue evitar um incidente,
ainda lhe é possível manter a ficção de que não ocorreu qual-
quer ameaça à face. O exemplo mais gritante disso é quando
a pessoa age como se o evento que contém uma expressão
ameaçadora não tivesse absolutamente acontecido. Pode-se
aplicar esta estudada inobservância aos próprios atos — como
quando não se admite, através de qualquer sinal externo,
que o próprio estômago está roncando — ou aos atos de
outros, como quando deixa-se de “ver” que outra pessoa tro-
peçou.!? AÀ vida social em hospitais psiquiátricos deve muito
a este processo; os pacientes o empregam com referéncia a
suas próprias peculiaridades, e os visitantes o empregam, ge-
ralmente com algum desespero, na relação com os pacientes.
Em geral, esta providencial cegueira manifesta-se diante de
eventos que, caso sejam percebidos, só poderão ser interpre-
tados como ameaças à face.
Um tipo mais importante, apesar de menos espetacular,
de tolerância diplomática é praticado quando uma pessoa
reconhece abertamente um incidente como um evento que
ocorreu, mas não como um evento que contenha uma expres-
830 ameacadora. Se ela não é a pessoa responsave
l pelo in-
cidente, .sua cegueira terá que ser apoiada
ia por sua própr
indulgéncia; caso se trate do autor da faganha ameagadora,
sua cegueira terd que ser apoiada por sua aquiescéncia em
busçar uma maneira de lidar com a questdo, o que o deixa
perigosamente 4 mercé da tolerincia cooperativa dos outros.
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Outro tipo de evitação ocorre quando uma pessoa perde
controle de suas expressões durante um encontro. Neste caso,
ela pode tentar não tanto passar por cima do incidente, mas
esconder ou encobrir, de algum modo, sua atividade, tornan-
do, desta forma, possivel aos outros evitar algumas das difi-
culdades criadas por um participante que nio manteve a
face. De maneira semelhante, quando uma pessoa
é pega
fora de face porque não estava esperando entrar em intera-
¢io ou porque sentimentos muito fortes esfacelaram sua. mis-
cara expressiva, 0s outros podem protetoramente afastar-se
dela ou de sua atividade por algum tempo, para que ela possa
se recompor.
O processo corretivo. Quando os participantes de um em-
preendimento ou de um encontro nio conseguem evitar a
ocorréncia de um evento expressivamente incompativel com
os julgamentos de valor social que estão sendo mantidos, e
quando se trata de um tipo de evento dificil de ser ignora-
do, os participantes tendem a dar-lhe o status acreditado de
incidente — para ratifici-lo como uma ameaga que merece
atenção oficial direta — e tentar corrigir seus efeitos. Neste
ponto, um ou mais participantes encontram-se num estado
estabelecido de desequilibrio ou desgraca ritual, e deve ser
feita uma tentativa de restabelecer um estado ritual satisfa-
tério para eles. Uso o termo ritual porque estou lidando com
atos através de cujo componente simbélico o ator mostra o
quanto é merecedor de respeito e o quanto, para ele, os
outros o são. A imagem de equilibrio se presta bem ao uso
aqui porque a extensio e a intensidade do esforgo corretivo
são habilmente adaptadas à persisténcia e intensidade da
ameaga.’$ A prépria face ¢, entdo, algo sagrado, e a ordem
expressiva exigida para sustentd-la é, portanto, ritual.
A seqiiéncia de atos posta em movimento por uma amea-
ça a face reconhecida, e que termina com o restabelecimento
do equilibrio ritual, chamarei intercdémbio.’* Se uma mensa-
gem ou um movimento sio definidos como tudo que é trans-
mitido por um ator no momento em que ele estd no coman-
do da ação, podese dizer que um intercimbio envolve dois
ou mais movimentos e dois ou mais participantes. Exem-
plos 6bvios da nossa sociedade podem ser encontrados na se-
qiiéncia “com licenga” e “pois não”, e na troca de presentes
ou visitas. O intercâmbio parece ser uma unidade concreta

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básica de atividade social e fornece uma maneira emplírica
natural de estudar interações de todos os tipos. Práticas de
salvamento da face podem ser proveitosamente classificadas
de acordo com sua posição na sequência natural de movi.
mentos que formam esta unidade. Além do evento que in.
troduz a necessidade de um intercâmbio corretivo, quatro
movimentos clássicos parecem ocorrer.
Em primeiro lugar, há o desafio, pelo qual participantes
tomam a responsabilidade de chamar atenção para a condu-
ta desviada; sugerem, por implicação, que as reivindicações
ameaçadas devem permanecer firmes e que o evento ameaça-
dor deve ser trazido de volta à linha.
O segundo movimento consiste na oferenda, pela qual é
dada a um participante, tipicamente o ofensor, uma chance
de corrigir a ofensa e restabelecer a ordem expressiva. Exis-
tem alguns modos clássicos de fazer este movimento. Por
outro lado, pode ser feita a tentativa de mostrar que aquilo
que parecia ser claramente uma expressão ameaçadora não
passa de um evento sem significado, ou um ato não intencio-
nal, ou uma brincadeira que não se deve levar a sério, ou
um produto inevitável, “compreensível” de circunstâncias ex-
tenuantes. Por outro lado, pode-se admitir o significado do
evento, e passar-se a concentrar esforços sobre aquele que por
ele é responsável. Podem ser fornecidas informações que de-
monstrem ter estado o responsável sob a influência de algu-
ma outra coisa que não de si mesmo, ou que ele estava obe-
decendo a ordens de outra pessoa e não agindo por si mesmo.
Quando uma pessoa afirma que um ato não passou de brin-
cadeira, ela pode ir mais além e afirmar que o self que pa-
recia estar por trás do ato também foi projetado como de
brincadeira. Quando, de repente, uma pessoa descobre ter
claramente falhado em capacidades que supostamente deve-
ria e afirmava possuir — tais como a capacidade de soletrar,
de desempenhar pequenas tarefas, de falar sem cometer 1m”
propriedades, e assim por diante — ela pode rapidamente
acrescentar, seriamente ou não, que assume €ssas in.cap.aclda-
des como parte de si mesmo. O significado do incidente
ameacador, deste modo, permanece, mas pode agora S€T fa-
cilmente incorporado ao fluxo dos eventos expressivos.
Outros dois procedimentos ofen-
podem ser seguidos pelo efini-
e
sor para suplementar ou substituir a estratégia de red
88
ção do~ ato ofens%vo.ou de si mesmo: ele pode fornecer com-
pensações aos atmgldçs — _quandq a face ameaçada não
foi
a sua — ou pode providenciar castigo, penitência ou expiação
para si mesmo. _Estes sdo movimentos ou fases importantes
no intercimbio ritual. Mesmo que o ofensor nio consiga
provar sua inocéncia, pode, por tais meios, sugerir que agora
¢ uma pessoa nova, uma pessoa que pagou por seu pecado
contra a r_)r.dem expressiva e que merece de novo confiança
para participar da cena dos julgamentos. Além disso, pode
mostrar que não trata levianamente os sentimentos alheios e
que, se tais sentimentos foram por ele feridos, embora ino-
centemente, está preparado para pagar um preço por sua
ação. Destarte, dá aos outros a certeza de poderem aceitar
suas explicações sem que esta aceitação constitua um sinal
de fraqueza e uma falta de orgulho da parte deles. Através
do modo como trata a si mesmo e da autopunição, também
mostra que está claramente consciente do tipo de crime que
teria cometido caso o incidente fosse o que inicialmente pa-
recia ser, e que conhece o tipo de castigo que deveria rece-
ber alguém que cometesse tal crime. Assim, a pessoa suspeita
mostra ser completamente capaz de assumir o papel dos
outros com relação à sua própria atividade, mostra que ainda
pode ser encarada como um participante responsável no pro-
cesso ritual, e que as regras de conduta que ela parece ter
quebrado ainda são sagradas, reais, e não foram enfraqueci-
das. Um ato ofensivo pode provocar ansiedade com relação
ao código ritual; o ofensor apazigua esta ansiedade mostran-
do que tanto o código quanto ele mesmo, como defensor
do código, ainda são capazes de funcionar.
Após terem sido feitos o desafio e a oferenda, o tercei-
ro movimento pode ocorrer: as pessoas às quais é feita a
oferenda podem aceitá-la como uma forma satisfatéria de
restabelecer a ordem expressiva e as faces apoiadas por esta
ordem Somente depois disto é que o ofensor pode fazer
cessar a maior parte de sua oferenda ritual.
No movimento terminal do intercimbio, a pessoa per-
doada transmite um sinal de gratidio aqueles que lhe deram
a indulgéncia do perdio.
As fases do processo corretivo — desafio, oferenda, acei-
tação e agradecimento — fornecem um modelo para o com-
portamento interpessoal ritual. Um modelo, porém, do qual

89
é possível afastarmo-nos de modo significativo. Por
A Exemplo.
as partes ofendidas podem dar ao ofensor a chance de iniciar
a oferenda por si mesmo, antes que um desafio seja feito, o
antes de ratificar a ofensa como incidente. Esta ¢ uma cor-
tesia comum, oferecida na suposição de que quem a
recebe
introduzira um autodesafio. Além disso, quando as
Ppessoas
ofendidas aceitam a oferenda corretiva, o ofensor
pode sus.
peitar que isto foi feito de má vontade, apenas por tato, po-
dendo, entdo, acrescentar oferendas corretivas adicionais, não
deixando a questio de lado até que tenha recebido uma se-
gunda ou uma terceira aceitagio de suas repetidas desculpas,
Ou as pessoas ofendidas podem, habilmente, assumir o papel
do ofensor e fornecer-lhe desculpas que, forgosamente, serio
aceitdveis por elas mesmas. -
Um importante afastamento do ciclo corretivo padrio
ocorre quando um ofensor desafiado patentemente se recusa
a considerar a admoestagio e dá prosseguimento a seu
com-
portamento ofensivo, em vez de corrigi-lo. Este movimento
faz com que o jogo retorne is mãos dos desafiadores. Caso
apéiem a recusa do ofensor, deixardo claro que seu desafio
não passava de um blefe e que o blefe foi desmascarado.
Trata-se de uma posigdo insustentavel; impossivel derivar dai
uma face para si mesmo, e só lhes resta vociferar contra o
vento. Existem alguns movimentos classicos que podem
ser
feitos com o intuito de evitar esse desenlace. Por exemp
lo,
os desafiantes podem fazer uso de uma retaliagdo violenta
e
rude, ou destruindo a si préprios ou as pessoas que se
recusa-
ram a levar em consideragio sua admoestagdo. Ou podem re-
tirar-se da empresa visivelmente ofendidos — justamente
dignados, ultrajados, mas confiantes na vitéria final. in-
As duas
linhas de ação fornecem uma maneira de ‘negar
ao ofensor
seu status de interagente, negando, desta forma, a realidade
de seu julgamento ofensivo. Ambas as estratégias sio manei-
ras de salvaguardar a face; porém, geralmente . custam caro
para todos os envolvidos. E parcialmente para evitar tais
cenas que, em geral, o ofensor oferece logo
pas; suas descul
seu objetivo é não deixar que as pessoas afron
tadas se vejam
reduzidas à obrigagio de recorrer a medidas desesperadas.
Está claro que as emogdes desempenham um
papel nes-
tes ciclos de resposta, como quando se expressa angustia por
causa do que se fez A face de outrem,.ou raiva por causa do
90
que foi feito com a própria face. Quero acentuar que tais
emoções funcionam como movimentos, e se encaixam com
tanta precisão na lógica do jogo ritual que seria difícil com-
preendê-las sem çle.lª De fato, sentimentos espontaneamente
expressos se encaixam com muis elegância no padrão formal
do intercâmbio ritual do que os conscientemente planejados.

Fazer Pontos — O Uso Agressivo da Elaboração Facial

Toda prática de salvar a face que consegue neutralizar


uma ameaça específica abre a possibilidade de a ameaça ser
introduzida pelos benefícios que pode trazer. Se uma pessoa
sabe que, como resposta à sua modéstia, receberá elogios, po-
derá buscá-los conscientemente. Se sua auto-apreciação é con-
frontada com acontecimentos eventuais, ela pode fazer com
que venham à tona eventualidades favoráveis. Se os outros
mostram-se prontos a deixar passar afrontas a si próprios e
agir de forma indulgente, ou a aceitar desculpas, pode-se
contar com isso como uma base para ofendê-los sem correr
grandes riscos. Pode-se tentar, através de uma súbita retira-
da, forçar os outros a um estado ritualmente insatisfatório,
deixando-os debaterem-se em um intercâmbio que não pode
completar-se prontamente. Finalmente, embora isto possa
lhe custar alguma coisa, a pessoa pode fazer com que os outros
firam seus sentimentos, forçando-os, deste modo, a sentir
culpa, remorso, e a manter um desequilíbrio ritual.16
Quando uma pessoa trata a elaboragio da face não como
algo para cujo desempenho ela deve estar preparada, mas
antes como algo que se pode contar com os outros para de-
sempenhar ou aceitar, então, um encontro ou um empreen-
dimento torna-se não uma cena de consideração mútua, mas
uma arena na qual se desenrola um concurso ou uma com-
petição. O propósito do jogo é que a linha de todos seja
preservada de uma contradição inexcusável, ao mesmo tempo
em que se marca o maior número possível de pontos contra
os adversários e se faz o maior número possível de pontos
para si mesmo. O público para a disputa é quase uma ne-
cessidade. O método geral é introduzir fatos lisonjeiros sobre
si mesmo e fatos desfavoráveis sobre os outros, de tal modo

91
que estes só consignm imfnginnr o tipo de resposta atray
qual o intercâmbio termine com um gr.unhldp, uma descul.
és da
pa esfarrapada, um riso do tipo u-br!ncadexra- nao-me-atin.
giu" que salva a face, ou um revide vazio e estereotipado
do
gênero “Ah ¢ ou “Isso ¢ o que você pensa”. Em tais casos,
o perdedor terd que mudar de Éátxca, admitir tacitamente a
perda de um ponto e tentar sair-se melhor no próximo in.
tercâmbio. Pontos feitos por alusão a status de classe social
são, às vezes, chamados de afronta; os conseguidos através de
alusões à respeitabilidade moral são às vezes chamados alfi-
netadas; em ambos os casos está-se lidando com u ma Capaci.
dade que pode ser descrita como malevolência.
Em intercâmbios agressivos, o vencedor não apenas
con-
segue introduzir informação favorável a si mesmo e desfavo-
rável aos outros, como também demonstra que, como
intera-
gente, consegue lidar consigo mesmo melhor que seus
adver-
sários. A evidência de tal capacidade é geralmente mais im-
portante que todas as outras informações transmitidas
pela
pessoa no intercâmbio, de tal forma que a introdução de
um
chiste na interação verbal tende a indicar que o provocador
tem uma tática de jogo melhor que aqueles a quem se diri-
gem suas observações. Entretanto, se estes conseguirem des-
viar bem o golpe e revidar com sucesso, o instigador do jogo
deve não apenas enfrentar o menosprezo com o qual os outros
lhe responderam, mas também aceitar o fato de que sua
presunção de possuir uma melhor tática provou ser falsa.
Fazem-no parecer ridiculo; ele perde a face. Portanto, “fazer
uma observagio” é sempre um jogo de azar. A mesa pode
virar, e o agressor pode perder mais do que teria ganho caso
seu movimento tivesse conquistado o ponto. Na nossa socie-
dade, revides e réplicas feitas com sucesso tendem a ser con-
siderados como respostas esmagadoras ou insuperaveis. Teo-
ricamente seria possivel esmagar uma resposta esmagadora,
sobrepujar uma resposta insuperivel, e aparar uma réplica
com uma contra-réplica, porém, a nio ser em intercimbios
cncenados, raramente este terceiro nivel de ação é bem-su-
cedido.!7

A Escolha da Elaboragio de Face Apropriada


Quando ocorre um incidente, a pessoa cuja face é amel:
cada pode tentar restabelecer a ordem ritual através de u

92
tipo de estratégia, enquanto os outros participantes podem
estar desejando ou esperando o emprego de uma prática de
tipo diferente. Quando, por exemplo, ocorre um incidente
sem importância, o qual, momentaneamente, revela uma
ssoa na face erAradg ou fora de face, é comum 05 outros
se mostrarem mais dispostos e capazes de fazer vista grossa
do que a própria pessoa ameaçada. Freqientemente os outros
preferem que ela mantenha seu aplomb,18 ao passo que ela
sente ser impossivel deixar passar o que aconteceu i sua face
passando a ped%r desculpas e sentir-se envergonhada caso,
tenha sido a criadora do incidente, ou a uma assertividade
destrutiva, caso os responsáveis tenham sido os outros.!º Por
outro lado, a pessoa pode reagir com aplomb quando, na
opinião dos outros, deveria desfazer-se em escusas envergo-
nhadas — sentindo-se que através de sua desfaçatez ela está
se aproveitando indevidamente da prestimosidade alheia. Às
vezes a própria pessoa pode ficar indecisa quanto à prática
a ser empregada, deixando os demais na posição embaraçosa
de não saber que linha de ação deverão seguir. Portanto,
quando alguém comete uma pequena gafe, todos podem ficar
embaraçados, não por uma inabilidade em lidar com tais di-
ficuldades, mas porque, por um momento, ninguém sabe se
o ofensor vai deixar passar o incidente, dar-lhe um reconhe-
cimento- jocoso, ou empregar alguma outra prática salvado-
ra da face.

Cooperação na' Elaboração da Face

Sempre que há uma ameaça à face, uma elaboração deve


ser feita; no entanto, é de importância secundária se a mesma
¢ iniciada e levada a cabo primariamente pela pessoa cuja
face foi ameaçada, pelo ofensor, ou por uma mera testemu- .
nha.º? O não dispéndio de esforço por parte de uma pessoa
induz ao esforço compensador de outras; a contribuição de
uma pessoa alivia a tarefa dos outros. De fato, há muitos in-
cidentes sem importância nos quais ofensor e ofen_dxfio,_ sm?ul—
taneamente, tentam se escusar.?! A primeira exigéncia € a
resolugio da situagdo para a aparente satisfagiio de t.od_os; a
correta distribuigio da culpa é, tipicamente, uma considera-
ção secunddria. Destarte, termos como tato e savoir-faire nao

93
fazem a distinção entre
: salvar
Y. a própria face ou a dos Outros
através- de diplomacia. [Similar mente, termos como gaffe e
faux pas nio especificam se o autor pds em risco a Própria
face ou a de outros participantes. E é compreensível que se
uma pessoa acha que é impotente para salvar a própria face,
os outros pareçam particularmente inclinados a protegé-la .
Por exemplo, na sociedade polida, a mão que talvez nio de-
vesse ter sido estendida torna-se uma mio que nio pode ser
recusada. É isto que responde pela noblesse oblige através
da qual se espera que as pessoas de status superior restrinjam
seu poder de embaragar seus inferiores,22 e também pelo fato
de pessoas com deficiéncias fisicas aceitarem, com freqiién
cia,
cortesias perfeitamente desnecessarias.
Como cada participante em uma situagio de interagio
estd preocupado em salvar a prépria face e a face dos outros,
embora por razdes diferentes, produzir-se-4 naturalmente uma
cooperagdo tdcita, de tal forma que os participantes, em con-
junto, possam atingir seus objetivos comuns, apesar de dife-
rentemente motivados.
Um tipo comum de cooperagio ticita para salvar faces
¢ o tato exercido com relagio à prépria elaboração da face.
A pessoa nio apenas defende sua prépria face e protege a
dos outros, mas também age de forma a tornar possivel, e
mesmo fácil, para os outros, recorrerem i elaboragio da face
em beneficio tanto da pessoa em questio quanto de si mes-
mos. Ela faz com que os outros ajudem a si mesmos e a ela.
Por exemplo, as regras de etiqueta desaconsélham os homens
a convidar uma garota para o réveillon com muita antece-
déncia, para que, caso ela queira recusar, nio lhe seja dificil
encontrar uma desculpa gentil. Este tato de segunda ordem
pode ser ainda ilustrado pela pritica amplamente difundida
da etiqueta do atributo negativo. É comum que pessoas pos-
suidoras de um atributo nao-aparente cujo valor é negativo
achem conveniente iniciar um encontro com um reconheci-
mento discreto de sua imperfeigio, especialmente com pes
soas desinformadas acerca da mesma. Desta forma, os outros
são antecipadamente desaconselhados a fazer qualquer
ob-
servacio depreciativa sobre este tipo de pessoa, sendo salvos
da contradigio de estarem agindo de forma amigavel para
com uma pessoa com quem, desavisadamente, estdo sendo
hostis. Esta estratégia também impede os outros de fazercm,

94
D)
TBIRCA mmAA
acerca da pessoa em questão, suposições
coloquem em uma falsa automáti cas
posição, livrando-a de
que a
gência uma indul
desagradável ou de protestos embaraços
os. o
O tato referente a elabor
baseia, para sua ope agi o da face freqiientement
ração,. num acordo
através da linguagem da tácito de
insinuação — a linguagem ne oií;e
sio, das ambigiiidades, das pau dg Ir
cuidadosamente formul sas bem col oc ad as , dos ch
iliste
ados etc.23 A regra refe
tipo não ofi_cial de comuni rénte a est:
cação é a seguinte: o tra
não deve agir como se tivesse nsmissor
sagem que insinuou, tra nsm iti do oficialmente a men-
enquanto os receptores têm o direito
a obrigação de agir e
como se não tivessem oficialmente
bido a mensagem contida
na insinuação. A comunicaçã
rece-
insinuação, portanto, é
uma comunicação negáve o por
é necessário enfrentar. Fornec l, que não
e um meio pelo qual uma pes
soa pode ser prevenida de que -
sua linha atual ou a situação
atual estdo levando a uma perda de face, sem que o préprio
aviso se torne um incidente.
Outra for.ma de cooperação tácita, que
parece ser muito
usada em várias sociedades, é a autonegaç
ão recíproca. Fre-
quentemente a pessoa não tem uma idéia clara do que seria
uma distribuição justa ou aceitável dos julgamentos durante
a ocasido, e, voluntariamente, se despoja ou se deprecia, en-
quanto favorece e lisonjeia os outros, fazendo, em ambos os
casos, com que os julgamentos ultrapassem o que provavel-
mente seria considerado justo. Permite que os julgamentos
favordveis sobre si mesma partam dos outros; os julgamentos
desfavordveis sio contribuicio sua. Este tipo de técnica fun-
ciona, é claro, porque, ao se depreciar, a pessoa pode ante-
cipar com segurança as lisonjas que a ela serão feitas pelos
outros. Seja qual for a distribuigio de favores que eventual-
mente se estabeleca, todos os participantes tém, antes de mais
nada, a chance de mostrar que nio sio levados por seus dese-
jos e expectativas, que possuem uma visio adequadamente
modesta de si mesmos, e que se pode contar com eles para
apoiar o código ritual. O regateio negativo, através do qual
cada participante tenta fazer com que os termos do negécio
sejam mais favoriveis ao outro lado, é um outro exemplo;
como uma forma de troca, talvez seja mais difundida do que
a que é estudada pelo economista.
O desempenho de uma pessoa na elaboragio
da face, am-
Pliado por seu acordo ticito em ajudar
outros a desempe-
95
nhar a parte que I!Ies cabe:. representa Sua aquiescência em
acatar as regras básicas da Interagao social. É a prova máxi-
ma de autenticidade de sua _socializagio como interagente,
Se as pessoas não fossem
socializadas
ção na maior parte das sociedades e na destq fprma, a intera.
maioria dag situacges
seria algo muito mais arriscado para os sent
as faces. A orientagio pa imentos e para
ra apreciacdes de valor so
bolicamente transmitid cial sim.
qualquer valor pritico as ou a po ss e de se nt im entos não teriam
— isto ¢, o valor Pritico
objeto ritualmente de ser um
delicado deixaria de existir.
sugerir mais E, como voy
adiante, nio fosse a Pessoa
mente delicado, as ocasid objeto ritual. um
es de conversa não poderi
ganizadas da forma como am ser or-
geralmente sio. Nio é
mirar que uma pessoa de se ad-
com a qual não se possa co
jogar o jogo da manuten¢io ntar para
das aparéncias cause proble
mas.

Os Papéis Rituais do Self

Até ago ra usei implicitamente uma


o
self: o self como u ma col
dupla definição de
agem formada a partir de implica-
ções expressivas do fluxo total de evento
s contidos num em-
preendimento; e o sel
f como uma espécie
jogo ritual que, com ou sem ho de jogador em o
¢ capaz de enfrentar as nr a, co m ou sem diplomacia,
co nt in gé nc ia s de julgamen
envolve um duplo mand to presen-
tes na situagio. O que
objetos sagr ados,
os homens estio sujeitos a ato. Como
fanagdes; por isso, como desfeitas & pro-
que lançar-se em duel
pa rticipantes do jogo ritu
os, e esperar qu al, DAA
tiros passasse bem longe e toda um
do alvo para então abraa rodada de
nentes. Existe aqui um çar seus opo-
eco da distinção entr
cartas compradas e o valor das
e ga capacidade da
distinção não deve ser pessoa que joga.
es
quecida, muito embora Es'—ª;
impressio de quê, qu tenha-se 1
ando a reputagio de
¢ atribuida a alguém, esta jogar bem ou m:a
face que, mais tarde, deveráreputagio possa tornar-se parte
ser mantida através do jOgo
Uma vez tendo separa -
examinar o cédigo ritu do os dois papéis do self, POdg::
Para descobrir como os al implicito na elaboragio da uan-:
dois papéis estão relaci
onados. Q
96
é responsável pela introdução de uma ameaça
do uma pessoa
a face de outrem, ela aparentemente tem o direito, dentro
certo s limit es, de esqui var-s e da dificuldade através da
de
feitas volunta-
autodegradação . Tais indignidades, quando
riamente, não parecem profanar sua imagem. É como se a
ssoa tivesse o direito de insulação e pudesse castigar-se en-
mo.
uanto ator, sem se ferir enquanto objeto de valor máxi
conseqfiéncia da mesma insulagio, se pode autodepre-
Como
ciar e modestamente deixar de dar énfase as suas qualidades
positivas, sabendo que ninguém tomará suas afirmações como
uma representagio justa de seu sagrado self. Por outro lado,
se ¢ forcada a fazer tudo isso contra sua prépria vontade, sua
face, seu orgulho e sua honra estardo seriamente ameagados.
em termos do código ritual, a pessoa parece ter
Portanto,
uma permissão especial para aceitar maus-tratos de si - pré-
pria que não pode aceitar vindos de outrem. Talvez este seja
um arranjo que não implique grandes riscos pois a pessoa
provavelmente não deixard à permissio de que goza exceder
certos limites, ao passo que os outros, caso lhes fosse dado
esse privilégio, teriam provavelmeme\fmaior tendéncia a abu-
sar do mesmo. |
Além disso, dentro de certos limites, a pessoa tem o di-
reito de perdoar a outros participantes afrontas à sua ima-
gem sagrada. Pode, indulgentemente, deixar passar ofensas
sem importância à sua face, e, quando se trata de danos
maiores, é ela a pessoa que está em posição de aceitar descul-
pas em nome de seu self sagrado. Esta é uma prerrogativa
que, embora pertença ao ofendido, dificilmente será empre-
gada de modo abusivo por este, pois só é exercida no inte-
outros ou do empreendimemo, Curiosamente, quan-
resse dos
cabe a
do a pessoa comete uma gafe contra si prépria, ndo
outros
ela a permissio para perdoar o evento; somente os
tém essa prerrogativa, a qual nio implica riscos porque só
ão ou do
pode ser exercida em beneficio da pessoa em quest
contro-
empreendimento. Descobresse, entio, um sistema de
cipante
le e equilibrio através do qual ¢ dado a cada parti dei-
o direito de manejar apenas aquelas questoes que não o
oS direi-
xarão tentado a abusar de seus poderes. Em suma, impedi-
para
tos e deveres de um interagente são planejados
sagrado.
lo de abusar de seu papel como objeto de valor
97
A Interação Falada

A maior parte do que foi dito até agora se - a PIIG a en-


contros tanto do tipo imediato quanto do tipo mediado,
embora no último caso a interação tenda a ser atenuada, com
a linha de cada participante sendo coligida a partir de
coisas
como afirmações escritas e registros de trabalho. Entretanto,
durante contatos pessoais diretos prevalecem condições de in
formação peculiares, e a significação da face
torna-se parti-
cularmente clara. A tendência humana a usar sinais
e sim-
bolos significa que coisas insignificantes transmitirão evidên-
cia de valor social e de avaliações mútuas, e estas coisas
serão
testemunhadas, assim, como será testemunhado o fato
de elas
terem sido testemunhadas. Um olhar descuidado, uma mu-
dança momentânea no tom de voz, uma posição ecológica
que é ou não tomada podem encher uma conversa
de signi-
ficação avaliadora. Portanto, da mesma forma que
não existe
uma conversa na qual não possam surgir, intencionalmente
ou não, impressões impróprias, também não existe uma con-
versa tão trivial que não requeira de cada participante
uma
preocupagio séria com a maneira pela qual ele lida consigo
mesmo e com os outrgs presentes. Aqui, fatores rituais que
estio presentes nos contatos mediados aparecem na sua forma
extrema.
Em qualquer sociedade, sempre que surge a possíbil.idª-
de física de uma interação falada, um sistema de
convenções e regras práticas,
de procedimento que funciona como um
meio de guiar e organizar o fluxo de mMensagens parece entrar
em jogo. Uma compreensão acerca de quando e onde será
permissível iniciar a conversa, entre quem, e atravé.s dfª que
topicos, prevalecers. Um conjunto de gestos significativos é
empregado para iniciar um jorro de comunicagio e para que
as pessoas interessadas déem umas às outras
crédito como
participantes legitimos.2¢ Quando este processo de
ratificagio
reciproca ocorre, as pessoas ratificadas entram no que se P;
deria chamar um estado de conversa —
isto é, .dªClªrªrªI::lu.
oficialmente abertas umas às outras para
propósitos de cãuxº
nicação falada e garantem juntas a manutenção de
de palavras. Um conjunto de gestos signif ummbém
¢ empregado para que um ou mais novos icativos !:mtem
participantes
98
oficialmente na conversa, para que um ou mais participantes
acreditados possam retirar-se oficialmente, e para encerrar o
estado de conversa.

Um único foco de pensamento e atenção visual, e um


único fluxo de conversa, tendem a ser mantidos e legitima-
dos como oficialmente representativos do encontro. A aten-
ção visual dos participantes, oficial e em torno da qual há
consenso, tende a ser suavemente transferida através de deixas
formais ou informais que tomam a forma de espaços vazios,
através das quais a pessoa que fala no momento assinala
que
está na iminência de abandonar o terreno, e a próxima pes-
soa a falar assinala o desejo de ocupá-lo. Prevalecerá uma
compreensão quanto ao período de tempo durante o qual o
terreno pode ser ocupado por cada participante, e também
com que freqiiéncia. Os receptores transmitem ao que fala,
através de gestos apropriados, que lhe estão concedendo sua
atenção. Os participantes restringem seu envolvimento com
assuntos externos ao encontro e observam um limite de en-
volvimento com qualquer das mensagens do encontro, asse-
gurando, desta forma, sua capacidade de seguir para onde
quer que o tópico da conversação os leve. Interrupções e cal-
marias são reguladas de forma a não romper o fluxo de men-
sagens. Mensagens que não fazem parte do fluxo oficialmen-
te autorizado são moduladas de forma a não interferir seria-
mente com as mensagens autorizadas. Pessoas próximas que
não são participantes abstêm-se visivelmente, de alguma forma,
de explorar sua posição de comunicação e também modificam
sua própria comunicação, se esta existe, para não interferir
seriamente com as mensagens autorizadas. É permitida a do-
minância de um ethos específico ou atmosfera emocional.
Mantém-se tipicamente um acordo polido, e os participantes
que possam estar em real desacordo uns com os outros passam
a externar, temporariamente e apenas da boca para fo'ra,
visões que os aproximam em questões de fato e de princípio.
São seguidas regras para suavizar a transição, quando ela
existe, de um tópico de conversa para outro.z
Estas regras de fala pertencem, não à in.Eeração falada
enquanto processo contínuo, mas a uma ocasião de fala ou
episódio de interação como uma unidade naturalmente de-
marcada. Esta unidade consiste na atividade total que ocorre

99
ante o espaço de tempo em que um dado conjunto de
xlllllr;'íci—lxmtcs autorizou-s¢
L
mutuamente
: , Pº
p:l"rzl 4 Cconversa ¢
yar
um único foco móvel de atenção.
lln'mtóm
As convenções relaciona"das à estrutura das ocasiões de
fala representam uma solução efetiva para o problema da
organização de um fluxo de mensagens fal'adas. Ao se tentar
descobrir como tais convenções são ma.ntlda.s com tal vigor
como guias para a ação, encontram-se indfcios que sugerem
uma relação funcional entre a estrutura do self e a estrutura
da interagio falada.
O interagente socializado chega a manejar a interacio
falada como manejaria qualquer outra, como algo que deve
ser levado a cabo com um cuidado ritual. Apelando automa-
ticamente para a face, sabe como se conduzir no que diz res-
peito a fala. Através da pergunta, repetida e automatica-
mente feita a si mesmo — “Se agir ou não desta forma, po-
derei eu perder ou fazer com que alguém perca a face?’ —
ele decide a cada momento, conscientemente ou nio, como
deve se comportar. Por exemplo, entrar numa situacio de
interação falada pode ser tomado como um simbolo de inti-
midade ou propésito legitimo. Destarte, para salvar sua pro-
pria face, a pessoa nio deve tentar entrar em conversa com
um dado conjunto de outros a nio ser que suas circunstin-
cias justifiquem o que sua entrada expressa acerca de sua
pessoa. Uma vez tendo sido abordada para conversa, deve
aceder aos outros de modo a salvar a face deles. Uma vez
tendo iniciado a conversa, deve exigir apenas a quantidade
de atencio que seja a expressdo apropriada de seu valor social
relativo. Pausas indevidas tornam-se sinais potenciais de que
não se tem nada em comum ou de que ndo se tem suficiente
autocontrole para criar alguma coisa para dizer, devendo,
portanto, ser.evitadas. Da mesma forma, desatenção e inter-
rupções podem transmitir uma idéia de desrespeito, e devem
ser evitadas a não ser que o desrespeito implicito seja
uma
parte aceita da relagio. Uma superficie de acordo deve ser
mantida através da discrecio e de mentiras inofensivas para
que a suposição de que ‘existe aprovagio mutua nio seja de-
sacreditada. A retirada de algum participante deve ser .m:;
nejada de forma a nio induzir a uma avaliagio imprÓP"ª-_
A pessoa deve refrear seu envolvimento emocional para nao
apresentar a imagem de alguém que não possui autocontrole

100
ou dignidade, que não consegue sobrepor-se a seus senti-
mentos,
A relação entre o self e a interação falada se'revela mais
claramente quando se examina o intercâmbio ritual. Num
encontro em que há conversa, a interação tende a proceder-se
em jorros, um intercumbio de cada vez, e o fluxo de infor-
mação e negócios é parcelado em termos dessas unidades ri-
tuais relativamente fechadas.ºº A pausa entre intercâmbios
tende a ser maior que a pausa entre as falas dentro de um
intercâmbio, e a relação entre dois intercâmbios seqiienciais
tende a ser menos significativa do que a relagio entre duas
falas seqiienciais em um intercAmbio.
Este aspecto estrutural da fala surge do fato de que, ao
formular uma afirmagio ou uma mensagem, seja qual for
seu grau de trivialidade ou banalidade, a pessoa compromete
a si mesma e àqueles a quem se dirige, e, num certo sentido,
coloca em risco todos os presentes. Ao dizer alguma coisa, a
pessoa que fala abre para si mesma a possibilidade de ser
afrontada pelos receptores, que podem nio lhe dar ouvidos,
ou considerd-la atrevida, tola ou ofensiva pelo que disse. E,
caso se defronte com uma tal recepgio, ver-seá obrigada a
tomar medidas salvadoras da face contra os receptores. Além
disso, ao dizer alguma coisa, o falante abre para seus recep-
tores a possibilidade de a mensagem conter autopromocio, ser
presuncgosa, exigente, insultuosa ¢, de modo geral, uma afronta
a cles ou a concep¢io que tém do falante, fazendo com que
se vejam obrigados a agir contra tal pessoa, em defesa do
código ritual. E, caso o falante elogie os receptores, estes se
verio na obrigagio de formular negativas apropriadas, mos-
trando que não tém uma opinido tio favorivel de si mesmos,
e que não tém um interesse muito grande em atitudes com-
placentes que ponham em perigo sua fidedignidade e flexi-
bilidade como interagentes.
Portanto, quando uma pessoa formula uma mensagem,
contribuindo, deste modo, com o que poderia facilmente ser
uma ameaça ao equilibrio ritual, uma outra pessoa presente
¢ obrigada a mostrar que a mensagem foi recebida e que seu
conteúdo é aceitdvel para todos os interessados, ou que pode
ser enfrentada de uma maneira aceitdvel. Esta resposta pode,
obviamente, conter uma habilidosa Éejexçz':o da comunicação
original, além de um pedido de modificação. Em casos como

101
este, podem ser necessárias várías trocas de mensa 8ENs para
que o intercAmbio chegue ao fim com base em linhas modi.
ficadas. O intercimbio termma.quando é possível permitir
que tal acontega — isto é_, depois de ’.cada presente ter indi-
cado que o grau de apaziguamento ritual a que foi subme.
tido o satisfez.?® Uma pausa momentinea entre Intercimbiog
é possivel, pois surge num MOMENto em que nio
da como
ser4 toma.
um sinal de alguma coisa inconveniente
Em geral, portanto, a pessoa determina a maneira como
deve se comp@rtar durante uma : ocasiio
de fala testando o
significado poiencialmeme simbdlico
de seus atos contra as
auto-imagens que estdo sendo sustenta
das. Entretanto, ao fa-
zê-lo, incidentalmente submete seu
comportamento i ordem
expressi
va predominante e contribui para
o fluxo ordenado
de mensagens. Seu, objetivo é salvar
a face, as aparéncias; o
efeit o disto é a manuten¢io da situação.
, do ponto Portanto
de vista de salvar as aparéncias, o fato
de a interagio - falada
ter uma organiza¢io convencional é
positivo; do ponto de
vista da manutencio de um fluxo orde
nado de mensagens
faladas, o fato de ser dado ao self uma
estrutura ritual ¢ po-
sitivo.
NG entanto, não quero com. isso dizer que
outro tipo de
pessoa ligada a outro tipo de organização
de mensagens não
funcionaria tão bem. Mais do que isso,
não é minha intenção
afirmar que o sistema atual não tem fraquezas
inconve- ou
niências. Tais imperfeições devem ser leva
das
na vida social, todo mecanismo ou relação em conta, pois,
resolve um conjunto de problemas necessar funcional que
iamente cria um
conjunto próprio de dificuldades e abusos
potenciais. Por
exemplo, um problema característico da
organização ritual
dos contatos pessoais é que uma pessoa
pode salvar sua face
brigando ou retirando-se indignadamente do enco
ntro; isto
¢ feito, no entanto, às expensas da interação.
Ademais, a li-
gação da pessoa à face dá aos outros
um alvo, que _Pode“'l
tentar atingir não oficialmente, ou mesmo tentar oficialmen-
te destruir. O medo acerca de uma possivel
perd
também pode, muitas vezes, impedir a pessoa de a de face
tatos nos quais poderiam ser transmitidas iniciar con-
informagoes 1m-
portantes e restabelecidas relagses importantes;
tal pessoa
pode ser levada a buscar a seguranca da soliddo, em vez do
perigo dos encontros sociais. Os outros podem achar que ela

102
está sendo motivada por um “falso orgulho” — um orgulho
que sugere estar o código ritual levando a melhor em rela-
ção àqueles cuja conduta é por ele regulada. Além disso,
o complexo “primeiro você, por favor" pode dificultar o tér-
mino de um intercâmbio. Do mesmo modo, quando cada
participante sente que deve sacrificar um pouquinho mais
do que o que foi sacrificado por ele, pode ocorrer uma es-
pécie de ciclo vicioso de indulgência — muito parecido com
o ciclo de hostilidade que pode conduzir a disputas abertas
— em que cada pessoa recebe coisas que não quer e dá, a tf-
tulo.de retribuição, coisas que gostaria de manter consigo.
Mais uma vez, quando os termos do encontro são formais,
pode-se gastar muita energia com o intuito de se certificar
que não ocorrerão eventos que possam efetivamente transmi-
tir uma expressão imprópria. E, por outro lado, quando o
encontro se dá em termos familiares, e as pessoas sentem que
não precisam fazer cerimônia umas com as outras, inaten-
ções e interrupções tornam-se corriqueiras, e a conversa pode
degenerar-se, transformando-se em um alegre burburinho de
sons desorganizados.
O próprio código ritual exige um equilíbrio delicado,
podendo ser facilmente perturbado por qualquer um que o
defenda com avidez exagerada ou insuficiente, em termos dos
padrões e expectativas de seu grupo. Se a perceptividade, o
savoir-faire, o orgulho e a consideração não forem suficien-
tes, a pessoa deixa de ser alguém com cuja habilidade de com-
preender uma indireta acerca de si própria ou fazer uma alu-
são que tirará os outros de uma situação embaraçosa se pode
contar. Tal pessoa vem a se tornar uma verdadeira ameaça
à sociedade; não há muito a se fazer por ela que, muitas
vezes, consegue o que quer. Perceptividade ou orgulho em
excesso fazem com que a pessoa se torne por demais sensi-
vel, devendo ser tratada com luvas de pelica, exigindo, por
parte das outras pessoas, mais cuidado do que vale a pena
ser dispensado. Savoirfaire e consideração excessivos fazem
da pessoa alguém que é socializado em demasia, que deixa
nos outros a sensação de não saber qual sua posição junto
a ela, nem o que devem fazer para se ajustar a ela de modo
efetivo e duradouro.,
Apesar destas "patologias" inerentes à organização da
fala, a adequação funcional entre a pessoa socializada e a

108
interação falada é viável e prática, À orientação da pessoa
para a face, especialmente para a sua, responde pelo poder
que sobre ela tem a ordem ritual; todavia, no Interior da
própria estrutura da fala, existe uma "
promessa de tomar c ui-
dado ritual com sua face.

Face e Relações Sociais

Quando uma pessoa começa um encontro mediado ou


imediato, já existe algum tipo de relação social entre ela e
os outros interessados, assim como
uma expectativa de sua
parte quanto à relação que manterá
com estes após o térmi-
no do encontro. Esta é uma das
formas pelas quais contatos
sociais se inserem na sociedade mai
s ampla. Grande parte
da atividade que oco rre durante um encontro pode
preendida como um esforço por ser com-
parte de todos para atraves-
sar a ocasião e todos os eventos
inesperados e não intencio-
nais que possam lançar sobre os participantes
sejável, uma luz inde-
sem romper as relações existentes entr
pantes.
e os partici-
E se as relações estão em processo de mudança, o
objetivo será levar o encontro a um
sfatério sem término sati
alterar o curso esperado de
desenvol vimento, Esta perspec-
tiva explica perfeitamente, por
exemplo, as pequenas ceri-
moén ias de cumprimento e despedida
m quando as que ocorre
pessoas iniciam uma conversagio ou dela
retiram-se. Os cum-
primentos são um modo de mostrar que a relagio ainda
0 que era quando é
do término da co-participagio anterior,
0 que ¢ tipico, e,
que esta relagio envolve uma supressio
hostilidade de
suficiente para que os participantes dei
temporariamente, xem cair,
suas defesas, e
despedidas conversem. As
resumem o efeito do encontro sobre a rel
agio e mostram o
que os participantes podem esperar um
do
encontrarem da préxima vez. O entusiasm outro quando se
o dos cumprimen-
tos compensa o enfraquecimento da relação cau
sado pela au-
sência que acaba de findar, ao passo que o
entusiasmo das
despedidds compensa a relação pelo dano que a separação
iminente lhe causar4.80
O fato de cada um dos membros garantir seu apºfº a
uma dada face para os outros membros em uma dada situa-

104
ção parece ser uma obrigação característica de muitas relações
sociais. Porlanço, para impedir o rompimento de tais rela-
ções, é necessário que cada membro evite destruir a face dos
outros. Ao mesmo tempo, muitas vezes é a relação social que
a pessoa mantém com outras que a leva a partic}par de certos
encontros com elas, nos quais, incidentalmente, dependerd
delas para apoiar sua face. Além disso, em muitas relações
os membros chegam a partilhar uma face, de tal forma que,
na presenga de terceiros, um ato impréprio cometido por um
dos membros torna-se fonte de um grande embarago para
todos os outros. Uma relagio social, entdo, pode ser vista
como um modo pelo qual a pessoa é forgada a confiar sua
auto-imagem e sua face ao tato e à boa conduta de outros.

A Natureza da Ordem Ritual

A ordem ritual parece ser basicamente organizada em


torno de linhas acomodativas, de forma que as imagens uti-
lizadas para pensar sobre outros tipos de ordem social não
pa-
se adequam a ela. Para os outros tipos de ordem social es-
de
rece ser empregada uma espécie de modelo de garoto
imagem de
cola: se uma pessoa deseja sustentar uma certa
deve esforcar-se
si mesma e a ela confiar seus séntimentos, auto-
a este
muito para obter os créditos que lhe dardo acesso meios
nto; caso tente chegar aos fins através de
engrandecime
, desquali-
impréprios, trapaceando ou roubando, será punida
de novo.
ficada, ou, pelo menos, terd que comegar tudo
nte. De fato,
Esta é a imagem de um jogo duro e maga
individuo é mais
o jogo do qual tomam parte a sociedade e o lhe são
ambos; contudo, apresenta perigos- que
facil para
proprios.
pessoa se isola
Seja qual for sua posição na sociedade, a
ilusões e racionaliza-
através .de cegueiras, meias-verdades,
convencendo a si mesma, ‘com
¢oes. Faz um "ajustamemo",
de seu circulo intimo, de que é o que
o apoio habilidoso o que 0s
para atingir seus fins, não faria
quer ser e que,
fizeram para atingir os seus. E, no que tange à socie-
outros controle
dade, se a pessoa estd disposta a se sujeitar a um
— se ela se dispõe a descobrir, a partir de
social informal
olhares e deixas diplomiticas, o lugar que lhe
insinuagdes,

105
cabe e mantê-lo — então não haverá objeções a que ela
ocu
este lugar da maneira como bem lhe aprouver, com todo o
conforto, a elegância e a nobreza que sua sagacidade
lhe proporcionar. Para proteger este abrigo, não é necesPuder
sário
se esforçar muito, participar de um grupo ou
competir com
quem quer que seja; é necessário, apenas,
ter cuidado com
os julgamentos expressos que a prz?pna pesso
a se põe em
posição de testemunhar. Algumas situagdes,
ações e pessoas
terdo que ser evitadas; outras, menos
ameacadoras, só devem
ser levadas até um determinado ponto.
A vida social pode
ser considerada como algo ordenado porque a pessoa volun-
tariamente mantém distdncia dos lugares,
tópicos e momen.
tos nos quais não é desejada e nos
quais poderia sofrer des-
crédito por estar presente. Coopera para
salvar sua face, des-
cobrindo que a total ausência de riscos traz muitos
beneficios.
Os fatos pertencem ao mundo do
garoto de escola —
podem ser alterados por um esforço
diligente, mas não podem
ser evitados. Contudo, o que as pessoas
protegem, defendem
e investem de sentimentos é uma idéi
a sobre si mesmas e
idéias não são vulneráveis a fatos e coisas, mas a
ções. As comunicações pertencem a comunica-
um esquema menos pu-
nitivo do que os fatos, porque podem
ser contornadas, aban-
donadas, desacreditadas, convenientemente mal-interpretadas
€ habilmente transmitidas. E, mesmo
nio se que a pessoa
comporte devidamente e quebre a trégua
feita com a socie-
dade, não se seguirá necessariamente um cast
igo. Se a ofensa
é do tipo que os ofendidos podem deixar passar
perder sem
muita face, estes tenderio a agir com toleranc
ia, dizendo a
si mesmos que acertario as contas com o ofe
nsor de outra
forma e em outra ocasido, mesmo que tal ocasião nunca surja
ou que não possa ser devidamente explorada se o fizer. Se
a ofensa é grande, as pessoas ofendidas podem se retirar do
encontro atual ou de outros encontros similares no
futuro,
reforgando sua retirada com o pasmo que o
fato de alg
quebrar o cédigo ritual as faz sentir. Ou podem faze uém
r com
que o ofensor seja retirado, para que não ocorra
mais ne-
nhuma comunicagio. Porém, como tais operagbes permitem
que o ofensor salve uma boa parte de sua face, a retirada,
muitas vezes, nio é tanto um castigo informal para uma
ofensa, mas apenas um meio de acabar com ela. '.ralveç o
principio mais importante da ordem ritual nio seja a Jus
106
tiça, mas a fnce,. e o ofensor não receba o que merece, mas
sim aquilo que ird sustentar, pelo menos por enquanto, a
linha com a qual ele se comprometeu, e através disso, a lir;ha
com a qual ele comprometeu a interagio.
Ao longo deste artigo, ficou subentendida a idéia de que,
sob as diferengas culturais, as pessoas são iguais em todos os
lugares. Se as pessoas têm uma natureza humana universal,
não é a elas que se deve observar para explicá-la. Deve-se,
em vez disso, observar o fato de que qualquer sociedade, se
quiser ser uma sociedade, deve mobilizar seus membros como
participantes auto-reguladores em encontros sociais. O ritual
é uma forma através da qual se pode mobilizar o indivíduo
para este propósito. Ensina-se o indivíduo a ser perceptivo,
a ter seus sentimentos ligados ao self e a expressar o self atra-
vês da face, a ter orgulho, honra e dignidade, consideração,
tato e uma certa dose de aplomb. Estes são alguns dos ele-
mentos de comportamento que devem ser embutidos na pes-
soa, caso se queira fazer qualquer uso prático da mesma como
um interagente, e são a esses elementos que as pessoas, em
parte, se referem quando falam de uma mnatureza humana
universal.
Uma natureza humana universal não é uma coisa muito
Ao adquiri-la, a pessoa torna-se uma espécie de
humana.
icas in-
construto, formado, nio a partir de propensões psiqu
ternas, mas de regra s morais que nela sio impressas
do exte-
rior. Essas regras, quando seguidas, determinam
a avaliagio
no encontro,
que fara de si mesma e de seus co-par ticipantes
de práticas que
a distribuição de seus sentimentos € OS tipos
e obrigatório
empregará para manter um tipo especificado o por
ritual. A capacidade geral de ser levad
de equilíbrio
pode perfeitamente pertencer ao indivíduo,
regras morais em
transforma
porém, o conjunto específico de regras que o or-
deriva de exigências estabelecidas pela
um ser humano
E, se uma determina-
ganização ritual dos encontros sociais.
parecem possuir um
da pessoa, um grupo ou uma sociedade
re porque seu conjunto
caráter singular e próprio, isso ocor combi- e
da natureza humana é fixado
padrão de elementos orgu-
maneira específica. No lugar de muito
nado de uma
lho pode haver pouco. Em vez de submissão às regras pode
segurança. To-
haver um grande esforço para quebrá-las com
sustentar um encontro ou um empreendimento
davia, para
107
.)

enquanto sistema ví?nve% de in}e}'a;fio orgam_zado .de_ acordo


com princípios rituais, é necessário manter tais variações dÉn'
tro de certos limites e contrabalançá-las com modificações
correspondentes em algumas das outras regras e compreen-
sões. Do mesmo modo, a natureza l.lumana de um conjunto
específico de pessoas pode ser especialmente Plane]a(.ªla. para
o tipo especial de empreendimentos dos quais participam.
Mas, ainda assim, cada uma dessas pessoas deve ter em seu
interior algo do equilíbrio de características exigido de um
participante utilizável em qualquer sistema ritualmente or-
ganizado de atividade social.

Notas

Para discussões da concepção chinesa


de face, cf.: Hsien Chin
Hu, “The Chinese Concept of “Face'”
in American Anthropo-
logist, 1944, 46:45-64; Martin C. Yang,
A Chinese Village (Co-
lumbia University Press, Nova Torque, 1945),
pp. 167-72; J.Mac-
gowan, Men and Manners of Modern China
(Unwin, Londres,
1912), pp. 301-12; Arthur H. Smith, Chinese Characteristics
(Felming H. Revell Co., Nova Iorque, 1894), pp.
16-18. Para um
comentério sobre a concepção de face do
indio americano, ver
Marcel Mauss, The Gift, tr. Ian Cunnison (Cohen & West,
Londres, 1954), p. 38 [Traduzido para o portu
gués em Marcel
Mauss, Sociologia e Antropologia, Vol. II, “Ensaio
sobre a dá-
diva. Forma e razio da troca nas sociedades arcaic
as” (E.P.U,
São Paulo, 1974)].
Ver, por exemplo, Smith, nota de pé de página 1; p. 17.
É 6bvio que, quanto mais prestigio e poder tenham os outros,
maior é a probabilidade de se mostrar consideração por seus
sentimentos, como H.E. Dale sugere em The Higher Civil Ser-
vice of Great Britain (Oxford University Press, Oxford, 1941?.
p. 126s.: “A doutrina dos 'sentimentos' me foi exposta há mui-
tos anos atrás por um eminente funcionário público com muito
gosto para o cinismo. Explicou-me que a importância dos sen-
timentos varia em correspondência direta com a importân
cia
da pessoa que os sente. Se o interesse público requer que um
boy seja removido de seu cargo, não é necessário prestar qual-
quer atenção a seus sentimentos; se é o caso de um Secretá-
rio Assistente, seus sentimentos devem ser cuidadosamente con-
siderados, com razão; se é um Secretário Permanente, seuâ
sentimentos são um dos elementos principais da situação, € S
um interesse público imperativo pode sobrepujar a força de
suas exigências”,

108
Vendedores, especialmente os de rua, sabem
uma linha que será desacreditada a não ser ãlll: ' osefr::\r:: r:m
lutante faça a compra, este pode, levado pela consldemçâ%-
comprar para salvar a face do vendedor e impedir o ‘qu :
mumente se tornaria uma cena desagradável. e o”
Um acordo de superfície na avaliação de valor ã -
plica, obviamente, igualdade; a avaliação consensã:ã::ªn?eªgnàª-
tida por um participante pode ser bastante diferente da que
é consensualmente mantida por outro. Um tal acordo também
é compat?vgl com a expressão de diferenças de opinião entre
dois participantes, contanto que os dois contendores mostrem
“respeito” um pelo outro, dirigindo a expressão de desacordo
de forma a transmitir uma avaliação do outro que ele esteja
disposto a transmitir sobre si mesmo. Exemplos de casos ex-
tremos são guerras, duelos e brigas de bar que se mantêm den-
tro dos limites do cavalheirismo, pois podem ser conduzidas
sob auspícios consensuais, com cada protagonista dirigindo sua
de acordo com &S regras do jogo, tornando, desta forma,
ação
possível que sua ação seja interpretada como uma expressão
em combate aberto com
de um jogador honesto que se encontra
e etiquetas de qual-
um oponente honesto. De fato, as regras
pela qual
quer jogo podem ser analisadas como uma maneira
exprimir, assim como
a imagem de um jogador honesto pode se
jogador honesto pode ser analisada como
a imagem de um
pela qual as regras e etiquetas de um jogo são
uma maneira
mantidas.
Presumivelmente, a habilidade social e a perceptividade serão
como re-
altas em grupos cujos membros agem freqiientemente
amplas tais como linha-
presentantes de unidades sociais mais jogo
está pondo em
gens ou nações, pois, no caso, O jogador pes-
de muitas
uma face à qual estão ligados os sentimentos
é de se esperar um alto desenvolvimento
soas. Igualmente,
donos de uma boa posição social
de habilidade social entre os
possui um
e aqueles com quem lidam, pois quanto mais face
que podem ser incon-
interagente, maior O número de eventos
a necessidade de habili-
sistentes com ela, e, portanto, maior
tais inconsistências.
dade social para prevenir ou neutralizar
exemplo de evitação é forne-
Na nossa própria sociedade, um
ou altr. que evita certos con-
cido pelo negro de classe média
para DI steger a auto-avaliacdo
tatos face a face com brancos.
s. Ver, por exemplo, Charles
projetada por suas roupas e modo
egation (Harper, Nova Iorque,
Johnson, Patterns of Negro Segr a manuteng:o do
1943), cap. 13. A fungdo de evitagdo para
enas sociedades primitivas pode
sistema de parentesco em pequ .
particular do mesmo tema geral
ser tomada como um exemplo
por K.S. Latourette, The Chinese:
Uma ilustragdo é fornecida 1964) :
Culture (Collier-Macmillan, Londres,
Their History and ser-
nhos pode oferecer seus bons
“Um vizinho ou grupo de vizi que cada anta go-
vigos ao ajustar uma disputa de modo tal
dar o outro, estaria sacri-
nista, ao tomar a iniciativa de abor o pode efetuar a recon-
ficando sua face. O sábio inte rmed iari
dignidade de ambos".
ciliagio, a0 mesmo tempo qu” preserva a

109
Num artigo inédito, Harold Garfinkel sugeriy Que, quando
pesson descobre que perdeu & face num encontro falado, ml
sentir um desejo de desaparecer ou “afundar no chão” 'e e
isto pode envolver um desejo não apenas de ocultar suz; Dequª
de face; mas também de retornar magicamente & um ponto
tempo em que teria sido possível salvar n face, ºVíhndono
encontro, o
10. Quando a pessoa conhece bem os outros, saberá
não devem ser levantados quais temg
e em que situa ¢0e
devem ser colocados, ficando com s 05 outrog nâ;
suntos à vontade em
n liberdade de introduzir as.
todas as outras áreas,
de pessoas estranhas, Quando se trata
costuma-se inverter a
do-se a se restringir a Areas especificas
férmula, Passan.
seguras. Nessas
que se sabe
ocasiées, como sugere Simmel:
ção não consiste «,
apenas no respeito pelo se
sua vontade específica de ocul
tar-nos
manter & distAncia o conhecime
nto de
nos revela expressivamente”, Ver
mel The Sociology of Georg Sim.
(Kurt H. Wolff, trad. e coord.)
1950), pp. 320-21,
(Free Press, Glencoe, m,
11. O viajante ocidental
costumava queixar-se
ses nunca dizerem o do fato de 0s chine-
que pensavam, mas
que seu ouvinte oci sim o que achavam
dental gostaria de
costumavam queixar-se esc uta r, Os chineses
dos modos rudes, grosseiro
cados do ocidental, Em s e mal-edu-
termos dos padr Ges chi
ta de um ocidental neses, a condy-
é, provavelmente, tão gauche que cria uma

12, Um belo exemplo disto é encontrado na etiqueta


que pode da parada,
obrigar os participantes a tratarem alguém que tenha
um desmaio como se absolutamente não estivesse presente.
13 Este tipo de imagem barece ser considerada pelos antropélo-
805 sociais como naturalmente adequada. Cf., por exemplo,
implicações da seguinte afirmação as
de Margaret Mead no seu
artigo “Kinship in the Admiralty Islands”
pers of the American Museum of Natura , Anthropological Pa-
“Quando um marido bate em sua l History, 34:183-358:
ela o deixe e
mul her , o costume exige que
v4 ficar com seu irmão, real ou em exercicio,
Permanega 14 por um e
periodo de
com o grau de sua dignidade ofetem po que seja comensuravel
ndida” (p. 274).
14, A noção de intercambio é, em parte, retirada de Eliot D. C?;*'ªlg:
ple, “Measuring Human Relations”, Genetic
9raphs (1940) Psychol. MA >
22:3-147, especialmente pp, 26-30, e de A.B.
110
Horsfall e C.A. Arensberg, “Teamwork and Pr
Shoe Factory”, Human Organization (1949) B:ZFJ({‘;;“velstsieg;all
mente p. 19. Para material adicional sobre o intercA'mblo com;
uma unidade, ver E. Goffman, “Communication Conduct in an
Island Community”, dissertacdo de doutorado inédita, Departa-
mento de Sociologia, Universidade de Chicago, 1953, especial-
mente capitulos 12 e 13, pp. 165-95.

Mesmo quando uma crianca exige algo que lhe é recusado, ela
15.
chora e fica amuada nao como uma expressao irracional de
um movimento ritual, comunicando que
frustragdo, mas como
uma face a perder e que sua perda não deve ser tra-
já tem
Pais ‘compreensivos podem permitir tal
tada de modo leviano.
nessa estratégia incipiente o início de um self
exibição, vendo
.
social.
ão em que ele nao
16. A estratégia de colocar o outro numa posiç
relativa fre-
pode consertar o estrago feito é empregada com o ritual de
qiiéncia, nunca, porém, com uma devoção ao model
por vinganga. Ver,
conduta tdo acentuada como no suicfdio e
Jeffreys, “Sams onic Suicid e, or Suicid
por exemplo, M.D.W. 52) 11: 118 -22 .
n Studie s (19
of Revenge Among Africans”, Africa
regularmente leva
17. Em jogos de cartas e de tabuleiro, o jogador &
stas de seus adversérios
em considl eração as possiveis respo pos-
e até mesmo considera a
jogada que ele está para fazer, tals
saberem que estd tomando
sibilidade de seus advers 4rios é surpreendente-
precaugdes. Em comparacio, o jogo falado
pessoas comumente fazem observagdes
mente impulsivo; - as de
presentes sem planeja-las cuidadosamente
acerca de outros ou
um revide bem-sucedido. A dissimulagio
modo a impedir
minado tipo
o ato de pressionar O oponente a fazer um deter
te6ricas durante uma conversa,
de jogada são possibilidades
oradas.
mas parecem Ser pouco expl
dose de aplomb às classes su-
18. O folclore atribui uma grande fato do
caso seja verdadeira, pode advir
periores, Esta crenca, nos
er a participar de encontros
de a pessoa de classe alta tend meio s
outros participantes por
quais supera, em importancia, os co-
cuja posição é superior
adicionais a classe. O participante sendo-lhe
da boa opinião dos outros,
mumente não depende
adotar uma face sem levar em
útil ser arrogante, e costuma
o encontro possa ou nao fornecer & mesma.
conta o apoio que
se encontram sob o poder de um outro
Por outro lado, os que
a levar muito em conta a avaliacdo que
participante tendem
testemunha ser feita por outras pes-
o mesmo faz deles ou que
dificuldade em manter uma face ligeiramen-
soas, encontrando ser
e comportar-se de modo a
te errada sem ficar embaracado
acrescentar que pessoas que nio se dão
desculpado. Pode-se
presente em eventos sem importéncia
conta do simbolismo
a frieza em situações dificeis, mostrando um
podem manter
aplomb que na verdade ndo possuem.

111
19. Portanto, uma pessoa, em nossa sociedade, quand
os outros esperam que ela esteja à altura dos padº so aprova.
dos de limpeza, arrumacfio, honestidade, hºspitanrõe
etc, ou quando se vê como al dade, gene.
rosidade, afluéncia,
tais padrdes, pode sobrecarregar um Eãuém que de.
veria manter
escusas excessivas por seus fracassos, 80 passo quncontro com
não estão se importando com o pa d:ã os
participantes
acreditam que & pessoa esteja realmente aquém do :; OU não
estão convencidas de que ela está aquém e vêem nas ãsmo, ou
um esforco vão de auto-elevagdo. ‘esculpas

20. Por conseguinte, uma das fungdes de segundos em duelos i


assim como em duelos figurativos, é fornecer uma desculpa reais,
para
não lutar que possa ser aceita pelos dois disputantes

2al Ver, por exemplo, Jackson Toby, “Some Variables in Role Con.
flict Analysis"”, Social Forces (1952) 30:323-37: “Com 3dult0::
a probabilidade de questões essencialmente triviais produzirem
conflito é menor. O pedido automático de desculpas de dois
estranhos que colidem acidentalmente em uma rua movimen-
tada ilustra a função integrativa da etiqueta. De fato, cada
uma das partes da colisão diz: “Não sei se sou responsável por
esta situação, mas se sou, você tem o direito de se zangar co-
migo, um direito que eu lhe rogo nao exercer’., Ao definir a
situacdo como uma situagdo na qual ambas as partes devem
se rebaixar, a sociedade permite que ambas mantenham seu
auto-respeito. Cada um pode sentir no mais intimo de seu ser:
'Por que esse asno não olha por onde anda?’ Abertamente,
porém, cada um desempenha O papel da parte culpada mesmo
que acredite não merecer tal papel” (p. 325).

Não importa qual seja a posição social relativa da pessoa, num


ela tem poder sobre os outros participantes, que
certo sentido
devem contar com sua consideragio. Quando agem de alguma
maneira com relação a ela, contam com a relação social que
ela mantém, pois uma das coisas que & interação expressa
com se
existente entre os interagentes. Deste modo,
é a relação
dão à pessoa & possibilidade de desacredi-
comprometem, pois
tar aquilo que expressam quanto à sua atitude para com eles.
sociais que se supõe exlstlljer_ny
Portanto, em resposta a relações
seja qual for sua condlt;fi:?
esperar-se-a4 que qualquer pessoa,
social, exerca noblesse oblige e se abstenha de explorar & pos!
ção comprometida dos outros. :
relações sociais são parcialmente definidas ªá:
Como as
termos de ajuda voluntária mútua, a recusa 1co
assisténcia torna-se uma questd o delicad a, com © D
r Holcombe,
cial de destruir a face de quem pede. Cheste
Real Chingman (Dodd, Mead, Nova.Iorque, 1895) fºrnªºªd
exemplo chinês: “Grande parte da falsidade que é ºnSii ên-
da um vício dos chineses enquanto nação resulta de exig
cias de etiqueta. Um “não' franco e direto é 0 8UBE — nua-
cortesia. Qualquer tipo de recusa ou negação deve S€T B ge
do e substituido por uma expressio de lastimada inabi

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A falta de vontade de fazer um favor nunca é demonstrada
Em seu lugar aparece um moderado sentimento de pesar peló
fato de circunstâncias inevitáveis, mas um tanto.imaginárias,
o tornarem completamente impossível. Séculos de prática nesta
forma de evasão tornaram a fertilidade dos chineses na inven- .
ção e desenvolvimento de desculpas inigualavel. É verdadeira-
mente raro que alguém se veja em apuros por falta de uma
ficção engenhosamente enfeitada com o intuito de ocultar uma
verdade desagradavel”. (pp. 274-75).
23. Comentérios interessantes sobre alguns dos papéis estruturais
desempenhados pela comunica¢do ndo-oficial podem ser encon-
trados em uma discussdo acerca da ironia e da troça em Tom
Burns, “Friends, Enemies, and the Polite fiction”, Amer. So-
ciol. Rev. (1953), 18:654-62.
24. O significado deste status pode ser avaliado se observarmos os
não legitimada ou não ratificada que
tipos de participagdo
podem ocorrer na interagao falada, Uma pessoa pode ouvir a
conversa alheia sem ser notada; pode fazé-lo sendo notada, e
as pessoas cuja conversa está sendo ouvida podem escolher
entre agir como se isso não estivesse ocorrend o ou sinalizar
Em
informalmente seu conhecimento do fato para quem ouve.
estes casos, quem está de fora é oficialmente mantido &
todos
alguém que nao está participando formalmente da
parte, como
parti-
ocasião. Os codigos rituais, obviamente, exigem que um
diferen-
cipante ratificado seja tratado de maneira totalmente
não ratificado. Deste modo, por exemplo, apenas
te de um
insulto vindo de um particip ante ra-
uma certa quantidade de
sem que esta pratica de evitagdo
tificado pode ser ignorada
cause a perda de face as pessoas insultadas; quando um certo
os ofendidos devem desafiar o ofensor e
ponto é atingido,
aparen-
exigir uma retratagdo. Todavia, em muitas sociedades,
verbais vindas de partici-
temente diversos tipos de ofensas
que a ausén-
pantes não ratificados podem ser ignoradas, sem
cia de desafio constitua uma perda de face.
25. Para um tratamento mais aprofundado da estrutura da inte-
ração falada ver Goffman, op. cil.
regras de procedi-
26. Incluo aqui conversas formais nas quais as
reforcadas,
mento são explicitamente prescritas e oficialmente
podem ocupar o0
e apenas certas categorias - de participantes
como bate-papos € conversas sociaveis nas quais
terreno, bem
explicitas e o papel do falante circula engre
as regras não são
os participantes.
de interação
27. Entre pessoas que já tiveram alguma experiéncia
vezes encer-
com outros, encontros de conversagdo são muitas
antes che-
rados de modo a dar a impressdao de que 0s particip
tempo, e de forma independente, ao momen-
garam ao mesmo
A debandada é geral, e pode ser que ninguém
to de retirada.
se dé conta da troca de deixas exigida para tornar possivel
simultaneidade. Desta forma, cada participante se
uma tal
da posição comprometedora de mostrar-se pronto a passar
livra
tempo com alguém que não demonstra a mesma preste-
mais
za com relagio a ele,

‘118
28, A descontinuidade empirica
mas
da unidade de mtercamblo
vezes obscurecida quando g mesma p
última vez em um intercâmbio fala a algy.
também lq“º falou
no seguinte. Contudo, a utili dade a
analítica gy PriMelra Pela
como uma unidade não se perde, v,
intercâmbio
29. A ocorrência da unidade de
int
Podem ser sugeridas outras exp ercâmbio é u m fatg empfrie,
licações, além d
0 mesmo. Por exemplo, quando uma DPes
e recebe imediatamente uma soa faz um
resposta, ist, © lhe a afirma,
a Iitual, par
descobrir que sua afirmação dá um
foi recebida, e de maneira mess ioçâg
ta. Uma tal “metac
omunicação”,
ria por razões rituais, mesmo
o seria Por razoes se não fosse necessâ.
funcionais. "
30. Os cumprimentos, obviamente,
0s papéis que os participa
ntes

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