A Literatura Infantil Como Recurso para o Ensino Da Matematica

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A Literatura Infantil como recurso para o ensino da matemática:

estado da questão das produções brasileiras1


Camila Caldini Coutinho2
Ana Leticia Losano3

Resumo: Este trabalho visa apresentar o estado da questão das produções brasileiras que trazem
possibilidades de articulação entre a literatura infantil e o ensino da matemática na educação infantil a
partir da utilização das obras do Programa Nacional do Livro Didático- (PNLD) – Literário. Através do
estado da questão, se busca delimitar o objeto de pesquisa de mestrado da primeira autora e identificar sua
relevância. Os dados apresentados foram coletados na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações (BDTD) e na Scielo e foram identificados sete trabalhos para compor o estado da questão.

Palavras-chave: Literatura Infantil. Ensino da Matemática. Estado da Questão. Programa Nacional do


Livro Didático.

1. Literatura infantil como recurso para o ensino da matemática

Utilizar histórias infantis no e para o ensino da matemática em sala de aula,


possibilita ao aluno desenvolver habilidades, construir novos conceitos, estimular a
imaginação, estabelecer relação com outros aprendizados e aperfeiçoa-los.
Considerando que as crianças são seres sociais ativos que, através da interação
com outros grupos sociais e com o seu cotidiano, produzem cultura contribuindo com a
sociedade na qual vivem, mostra-se importante oportunizar práticas educativas que
contextualizem o seu fazer. Para Abramovich (1997, p.17),

através de uma história pode-se “descobrir outros lugares, outros


tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra
ótica”. É ficar sabendo história, geografia, filosofia, política,
sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar
que tem cara de aula. Porque, se tiver, deixa de ser literatura, deixa de
ser prazer e passa a ser didática, que é outro departamento (não tão
preocupado em abrir as portas da compreensão do mundo).

Nesse sentido, o novo documento que orienta a Educação Infantil no âmbito


nacional, a Base Nacional Comum Curricular - Educação Infantil, ressalta, que as

1
Artigo apresentado ao Grupo de Trabalho Práticas Educativas do I Encontro de Pesquisadores em
Educação Escolar da Universidade de Sorocaba (EPES 2022-Uniso).
2
Mestranda em Educação (Uniso), camilacaldini@gmail.com, https://orcid.org/0000-0003-0152-9064
3
Professora do Programa de Pós-graduação em Educação (Uniso), ana.losano@prof.uniso.br,
https://orcid.org/0000-0002-6120-4926.
práticas pedagógicas dessa etapa de ensino, devem se basear nas interações e nas
brincadeiras, experiências nas quais as crianças podem construir aprendizagens e
apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e
com os adultos que estão ao seu redor. Dessa maneira, a criança deve desempenhar um
papel ativo, protagonizando suas experiências, construindo significados sobre si, os
outros, o mundo social e natural. Ainda segundo o documento orientador,

[...] nessas experiências e em muitas outras, as crianças também se


deparam, frequentemente, com conhecimentos matemáticos
(contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões,
medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de
distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e
reconhecimento de numerais cardinais e ordinais etc.) que igualmente
aguçam a curiosidade. (BRASIL, 2018, p. 43)

Dessa maneira, ao pensar no ensino da Matemática na educação infantil é


importante considerar o cotidiano da criança e as relações por ela vivenciadas, pois estas
estão atreladas ao seu processo de construção do conhecimento. A matemática deve ser
ensinada às crianças como um meio de interpretação das coisas que nos rodeiam
diariamente, assim formando pessoas conscientes para a cidadania e a criatividade e não
somente como memorização. Existem diversas formas de trabalhar a matemática na
Educação infantil e nas series iniciais, pois ela está presente na arte, na música, em
histórias, na forma de como organizamos o pensamento, nas brincadeiras e nos jogos.
Segundo Virgulino (2014, p. 78):

[....] o trabalho com noções matemáticas deve atender, por um lado, às


necessidades da própria criança de construir conhecimentos que
incidam nos mais variados domínios do pensamento e, por outro,
precisa corresponder a uma necessidade social de melhor
instrumentalizá-la para viver, participar e compreender um mundo que
exige diferentes conhecimentos e habilidades.

Nessa perspectiva, a literatura tem grande importância e potencial, visto que


permite despertar no aluno o lado lúdico, encantador, misterioso, proposto por
diferentes histórias, cenários e personagens. Seja por meio da experiência de mediações
literárias ou no contato individual com os livros, a literatura tem o poder de
proporcionar que a criança adentre e explore diversas possibilidades.
Utilizar a literatura como recurso para realizar atividades matemáticas é uma
possibilidade que professores podem usar para contextualizar a conceitos matemáticos.
Segundo Faria (2010), ao trabalhar com as crianças características e elementos do texto,
o professor estará “desenvolvendo a capacidade de observação, análise, comparação,
classificação, levantamento de hipóteses, síntese e raciocínio.”
Para Smole (1993), trabalhar literatura nas aulas de matemática possibilita
mudanças na forma tradicional na qual frequentemente se ensina matemática, pois
possibilita o desenvolvimento de atividades integradas, nas quais os alunos não
aprendem primeiro a matemática para depois aplicar na história, mas exploram a
matemática e a história ao mesmo tempo. Segundo a autora,

através da conexão entre a literatura e a matemática, o professor pode


criar situações na sala de aula que encorajem os alunos a
compreenderem e se familiarizarem mais com a linguagem
matemática, estabelecendo ligações cognitivas entre a língua materna,
conceitos da vida real e a linguagem matemática formal, dando
oportunidades para eles escreverem e falarem sobre o vocabulário
matemático, além de desenvolverem habilidades de formulação e
resolução de problemas, enquanto desenvolvem noções e conceitos
matemáticos. (SMOLE, 1993, p. 3)

Os livros são variados na forma como articulam a narrativa e o conteúdo e


apresentam possibilidades de trabalhar as diversas áreas do conhecimento. Deste modo,
permitem tratar de aspectos diferenciados, como articulação das imagens com as
narrativas, sendo fonte para leitura dos alunos ou para surpresas e problematizações.
Ademais, a possibilidade de viver experiências matemáticas e o desenvolvimento
articulado da linguagem torna o processo de aprendizagem significativo e
contextualizado para essa faixa etária. Desse modo, a exploração da literatura infantil
como recurso para o ensino da matemática possibilita a articulação de conceitos e
práticas matemáticos com os provenientes da alfabetização. Assim, Smole (1993, p. 3-
4) ressalta que

Todos os dias nos jornais, nas revistas, na TV e em outras situações


comuns à vida das pessoas, usa-se uma linguagem mista. Parece
mesmo que é a escola que se encarrega de estabelecer um
distanciamento entre estas duas formas de linguagem, de tal modo que
cria uma barreira quase intransponível entre elas. Nos parece que a
literatura infantil pode ser um dos recursos a ser utilizado pelo
professor para diminuir este distanciamento.
A partir dessa problematização inicial relativa ao uso da literatura infantil no
ensino da matemática, o presente artigo apresenta resultados parciais de uma dissertação
de mestrado elaborada pela primeira autora, sob a orientação da segunda autora.
Ressaltamos, ademais, que a literatura infantil sempre esteve presente na prática docente
da primeira autora. Assim, ao longo dos anos ela pôde vivenciar a potencialidade que a
literatura infantil tem como recurso para trabalhar a matemática na sala de aula.
Múltiplas vezes elaborou atividades a partir dos livros, estabelecendo relação com os
objetivos de aprendizagem e conteúdos trabalhados. Tal prática permitia contextualizar
e significar o fazer da criança, através da participação ativa e propiciando construções
próprias, experimentado, refletindo e atribuindo sentido ao mundo quando constrói sua
própria cultura pelas interações com o meio físico e social. Foram essas experiências
profissionais as que deram origem à sua dissertação de mestrado. A pesquisa, hoje em
andamento, se focaliza, então, na identificação das possibilidades de usar livros
literários como recurso nas aulas de matemáticas e como essa prática vem sendo
utilizada pelos professores.
Selecionamos o acervo do Programa Nacional do Livro Didático - PNLD
Literário 2018 e o 2022, por ter abrangência nacional, sendo as obras disponibilizadas a
todas as escolas inscritas para a adesão do programa e por corresponder aos ciclos que
iremos abordar. O Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD),
envolve diversas ações que tem como objetivo, distribuir obras didáticas, pedagógicas e
literária, e materiais diversificados com o intuito de dar suporte a prática educativa. A
distribuição dessas obras e materiais ocorre de forma sistemática, regular e gratuita, às
escolas públicas de educação básica das redes federal, estaduais, municipais e distrital,
como também às instituições de educação infantil comunitárias, confessionais ou
filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o Poder Público.
A partir desta perspectiva, este trabalho tem como objetivo apresentar o estado
da questão das produções brasileiras que trazem possibilidades de articulação entre a
literatura infantil e matemática, especificamente em obras literárias infantis destinadas
aos alunos da educação infantil, da rede pública de ensino, por meio do PNLD –
Literário.
A elaboração do estado da questão possui dois grandes objetivos. Em primeiro
lugar, nos familiarizar com a produção na problemática, os autores e os referenciais
teóricos frequentemente utilizados. Em segundo lugar, delimitar melhor o objeto de
pesquisa da primeira autora identificando, ademais, a sua relevância.

2. Caminhos Percorridos para a construção do estado da questão

Com o intuito de conhecer o estado da questão relacionado à temática


apresentada, foram realizadas buscas nas bases de dados da livraria Scielo4 e na
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações5 (BDTD). Desse modo, o estado da questão
contemplou artigos, dissertações e teses.
Na primeira busca se utilizaram os descritores: “literatura infantil” e
“matemática” em combinação. A Livraria Scielo deu como resultado 5 artigos6. A partir
da leitura dos resumos, foram selecionados 3 desses artigos por estarem vinculados à
temática da pesquisa da primeira autora deste artigo. O mesmo processo foi realizado na
plataforma da BDTD. Nesta base de dados foram listados 20 títulos como resultado da
busca. Depois da leitura dos resumos dos trabalhos, foram selecionadas somente quatro
produções relacionadas temática pesquisada.
Na busca por compreender a ausência de produções voltadas para a temática e
com a intenção de identificar um maior número de trabalhos, foram realizadas novas
buscas com outras palavras-chave. Assim, se realizaram buscas com os descritores:
“Acervos Complementares”, “Livros Infantis”, “PNLD” e “Matemática” e suas
combinações. A partir destas tentativas foi possível identificar mais uma produção que
passou a constituir o estado da questão deste artigo. A título de confirmação, lemos
alguns trechos da dissertação para identificar se era conveniente fazer a leitura na
íntegra, e acrescentá-la nesse referencial. Os trabalhos selecionados se apresentam no
Quadro 1.

Quadro 1: Obras consideradas no Estado da Questão


Título Autor Ano Palavras Chaves Tipo

4
https://www.scielo.br/
5
https://www.bdtd.ibict.br
6
A busca foi realizada no dia 04 de abril de 2022, às 19 horas.
Literatura infantil
Matemática pré-
escolar
A matemática das crianças
Eloísa Zacarias Iniciação
pequenas e a literatura
1 Maria Lucia Faria 2005 matemática e Artigo
infantil
Moro histórias infantis
Conceitos
aritméticos
iniciais
Formação de
professores
Ana Paula Aprendizagem da docência Formação inicial
Gestoso de Souza em grupo colaborativo: Grupo
2 Rosa Maria histórias infantis e 2013 colaborativo Artigo
Moraes Anunciato matemática Material
de Oliveira educativo
Curso de
Pedagogia.
Educação
Literatura infantil como
Flávia Martines Matemática;
recurso metodológico para
de Oliveira Literatura Infantil;
3 o ensino da matemática 2019 Artigo
Edvonete Souza Ensino
inclusiva
de Alencar Fundamental;
Inclusão Escolar
Matemática e Literatura
Currículo
Infantil: sobre os limites e
Literatura infantil
Adriano Edo possibilidades de um
4 2006 Matemática Dissertação
Neuenfeldt desenho curricular
Interdisciplinarida
interdisciplinar.
de
A literatura infantil e a Educação infantil
matemática: um estudo Literatura infantil
Regiane Perea
5 com alunos de 5 e 6 anos 2010 Prática Dissertação
Carvalho
de idade da educação pedagógica
infantil Matemática
Acervos Complementares Acervos
do PNLD de 2010: um Complementares
Andréa Paula de
6 estudo sobre a relação 2012 Livros Infantis Dissertação
Monteiro de Lima
entre matemática e gêneros Matemática
textuais Gêneros Textuais
Livros de
literatura
Matemáticas presentes em
Matemática e
Denise Soares livros de leitura:
7 2016 educação infantil. Dissertação
Arnald possibilidades para a
Paradidático
educação infantil
A matemática na
literatura
Fonte: Elaborada pelas autoras, (2022)

Cabe ressaltar que uma vez realizada a seleção, as produções foram lidas na
integra e fichadas seguindo tabulação criada para identificar o título, autor, ano,
palavras chaves e tipo de publicação. Tal processo permitiu dividi-las em três categorias
a fim de discutir cada leitura com um olhar mais apurado. A primeira categoria abrange
as produções que tinham como foco a análise documental de livros infantis para revelar
suas potencialidades com as temáticas envolvendo a matemática (ALENCAR; SILVA,
2018; LIMA, 2012; ARNOLD, 2016). Na segunda categoria foram agrupadas as obras
voltadas às práticas docentes de ensino-aprendizagem da matemática utilizando a
literatura infantil (NEUENFELDT, 2006; CARVALHO, 2010; ZACARIAS; MORO,
2005; ARNOLD, 2016). Na terceira categoria o foco das obras foram as ações de
formação docente, onde os professores eram convidados a explorar a literatura infantil e
planejar atividades que possibilitassem o trabalho conjunto com a matemática.
(SOUZA; OLIVEIRA, 2013). É importante ressaltar que tais categorias não são
disjuntas. Assim, o trabalho de ARNOLD (2016) foi incluído em duas categorias por
contemplar os requisitos de cada uma. A seguir se apresentam os trabalhos designados a
cada categoria.

3. Categoria: Produções voltadas a análise documental de livros infantis

A pesquisa realizada por Arnold (2016) intitulada Matemáticas presentes em


livros de leitura: possibilidades para a educação infantil destaca a possibilidade de
trabalhar com os livros infantis e sua articulação com o ensino de matemática. Ela foi
desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A pesquisa divide-se em dois momentos o que faz com que se enquadre em duas
das categorias construídas na revisão de literatura. No primeiro momento caracteriza-se
como uma pesquisa exploratória de cunho bibliográfica documental. Tal caraterização
ficou evidente nos dois primeiros objetivos da pesquisa, sendo estes: (a) identificar, nos
livros infantis de leitura (paradidáticos, literatura infantil, e outros), que circulavam no
Brasil destinados à faixa etária dos 4 aos 6 anos da Educação Infantil, quais conceitos
matemáticos se faziam presentes, de modo a mapear estas produções e (b) classificar
tais livros a partir de categorias emergentes ao longo do processo de análise.
O processo de análise documental realizado pela autora pode ser considerado de
ordem qualitativa, visto que buscou analisar os livros considerando seu conteúdo. Como
produto final para a conclusão do mestrado profissional, Arnold (2016), elaborou um
catálogo dos livros analisados, com as sequências elaboradas para aplicar as atividades e
contemplando as temáticas envolvendo matemática.
O artigo Literatura infantil como recurso metodológico para o ensino da
matemática inclusiva, de Alencar e Silva (2019) relata a análise de livros infantis do
acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola de 2012 (PNBE) que tratam sobre
conteúdos matemáticos e temas relativos à educação inclusiva. O critério utilizado por
Alencar e Silva (2018) para escolha do acervo do PNBE é decorrente do fato deste
promover o acesso à cultura e leitura aos professores e estudantes, além de ter fácil
acesso aos livros impressos. Após a leitura dos livros, e com base na análise de
conteúdo, as pesquisadoras classificaram os livros em duas categorias: livros que
tratam de algum conteúdo matemático e livros que explanam sobre algum elemento do
processo de inclusão educativa. Como resultado, identificaram vinte e quatro livros que
tratam sobre algum conteúdo matemático e doze obras que incentivam a inclusão em
suas narrativas. As pesquisadoras concluem que a Literatura Infantil pode ser um
recurso metodológico que encoraja a reflexão sobre a prática docente e oportuniza o
planejamento de estratégias de ensino diversificadas que, por sua vez, possibilitam
desenvolver novas situações e propostas didáticas para o ensino da matemática desde
uma abordagem inclusiva nas escolas de Educação Infantil.
A pesquisa de mestrado de Lima (2012), defendida na Universidade Federal de
Pernambuco, fez parte do programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e
Tecnológica (EDUMATEC) e teve como objetivos investigar nos livros que compõem o
Acervo Complementar 2010 do PNLD, quais conteúdos matemáticos são abordados,
quais gêneros textuais foram contemplados nas abordagens e quais as possíveis
articulações entre a Matemática e os gêneros textuais. Deste acervo, realizou-se a leitura
de 150 resenhas e se completou a análise das 20 obras que abordam conteúdos
matemáticos. Lima (2012) elaborou categorias de análise a partir de pesquisas sobre
livros infantis de matemática, estudo do Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil e dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Em seguida, apresentou a
articulação que percebeu entre os gêneros textuais e os campos matemáticos. A
pesquisadora identificou que todos os conceitos matemáticos indicados pelos
documentos oficiais foram contemplados no acervo. O mais abordado é Pensamento
Geométrico e o menos abordado é Tratamento da Informação. Conclui que através das
obras que compõem o Acervo Complementar 2010 do PNLD, é possível realizar ações
que desenvolvam, tanto os processos de alfabetização e formação do leitor, como o
processo de ensino da Matemática.

4. Categoria: Produções com foco na formação de professores

Somente um artigo foi incluído nesta categoria. Souza e Oliveira (2013), no


artigo intitulado Aprendizagem da docência em grupo colaborativo: histórias infantis e
matemática, discutem resultados de uma investigação cujo objetivo foi analisar como o
processo de elaboração, análise e utilização de um material educativo desenvolvido em
um grupo com características colaborativas pode se configurar como fonte de
aprendizagem da docência na formação inicial no curso de Pedagogia. As pesquisadoras
desenvolveram um estudo de caso centrado na Atividade Curricular de Integração
Ensino, Pesquisa e Extensão, intitulada Histórias Infantis e Matemática nas Séries
Iniciais do Ensino Fundamental. Adotaram como dados os depoimentos de cinco
egressas do curso de Pedagogia sobre o processo vivido ao estudarem referenciais que
abordavam a língua materna, a linguagem matemática, o ensino de matemática, a
conexão entre literatura infantil e matemática, e construção e posterior aplicação de
atividades para sala de aula utilizando livros infantis com conteúdo matemáticos. O
processo de criação era socializado com o grupo o que permitiu que os envolvidos
compartilhassem experiências e saberes, traçassem objetivos para mudanças e tecessem
sugestões. Os resultados possibilitaram discutir as potencialidades de materialização de
um espaço formativo para elaboração, análise e utilização de materiais educativos.

5. Categoria: Produções voltadas as práticas docentes utilizando a literatura para o


ensino da matemática

A pesquisa realizada por Neuenfeldt (2006) no Mestrado em Educação da


Universidade Federal de Santa Maria tem como título Matemática e Literatura Infantil:
sobre os limites e possibilidades de um desenho curricular interdisciplinar. A pesquisa
fez parte de um projeto que buscava desenvolver práticas interdisciplinares que
vinculassem a literatura com as diversas áreas de atuação dos membros da equipe.
Nessa direção, o autor voltou seu olhar à matemática, pois esta corresponde a sua
formação e atuação.
O pesquisador procurou responder aos seguintes questionamentos: Quais os
obstáculos a uma efetiva prática curricular interdisciplinar? Como romper com a
concepção dos professores cristalizada numa prática pedagógica tradicional? Foram
elaboradas e implementadas Unidades Didáticas Interdisciplinares (UDI) em dois
estabelecimentos de ensino, com turmas de pré-escola da 1ª à 4ª séries. O trabalho
envolveu seis histórias infantis num total de 20 implementações. As atividades
propostas foram implementadas pelo pesquisador com o acompanhamento das
professoras responsáveis, que foram convidadas a permanecer em sala de aula enquanto
as atividades eram desenvolvidas. Desse modo, o pesquisador propôs um novo currículo
fundamentado em possibilidades metodológicas diferenciadas, no trabalho
interdisciplinar a partir da articulação da literatura infantil e da matemática e
considerando o aluno como parte do processo, observando os seus conhecimentos
prévios e a sua bagagem cultural. Neuenfeldt (2006) ressalta a importância de
entendermos que toda a estrutura curricular deve estar continuamente engajada em
configurar um currículo como processo, com uma especial atenção no que diz respeito a
aprendizagem.
A modalidade de investigação utilizada foi a pesquisa participante na qual o
pesquisador empregou elementos metodológicos decorrentes da orientação etnográfica,
ao permanecer na organização investigada de modo que ele pudesse, pessoalmente,
recolher as suas informações por meio de observação participante.
Segundo Neuenfeldt (2006), foi possível perceber a complexidade da sala de
aula, pois os resultados variaram em função da equipe responsável pela organização e
implementação das UDI, das particularidades do corpo docente e discente e da estrutura
escolar. No entanto, o pesquisador descreve que a contextualização da matemática e das
demais áreas do conhecimento, através da literatura infantil é possível. Contudo,
salienta que algumas concepções precisam ser repensadas, para que as atividades
pedagógicas diferenciadas sejam consideradas como parte integrante do currículo e não
apenas como suporte. Para que isso ocorra é necessário compreender quais são os
personagens que compõem o currículo e como atuam.
Outra pesquisa incluída nesta categoria é a realizada por Carvalho (2010),
intitulada A literatura infantil e a matemática: um estudo com alunos de 5 e 6 nos de
idade da Educação Infantil. Ela foi realizada no programa de Mestrado Profissional em
Ensino de Matemática da PUC de São Paulo. A pesquisadora teve como objetivo
demonstrar que ideias matemáticas como lateralidade e contagem podem ser trabalhadas
e relacionadas a literatura e ao movimento corporal na educação infantil. A pesquisa foi
realizada em uma Escola Municipal de Educação Infantil, inserida num bairro da região
Sul da cidade de São Paulo. A unidade atende cerca de 800 crianças provenientes de
famílias de baixa renda. As atividades foram desenvolvidas com uma turma de 34
crianças da faixa etária selecionada.
Através da história intitulada Meus Porquinhos foram desenvolvidos seis
momentos compostos por atividades que envolviam expressão corporal, brincadeiras,
jogos, músicas, histórias, registros escritos e desenhos, a fim de contemplar os conceitos
matemáticos contagem e lateralidade.
Em suas considerações finais, a pesquisadora constata que a motivação e o
envolvimento dos alunos com as histórias favorecem a introdução de conceitos
matemáticos e ressalta que algumas crianças já tinham tais conceitos adquiridos em
outros contextos, sendo a ação do professor o disparador que possibilita acrescentar
novos conceitos matemáticos ao repertório das crianças o que a faz avançar e conquistar
novos saberes. Percebeu-se também, na análise dos dados, que para crianças de 5 e 6
anos de idade, não se deve aplicar dois comandos em uma mesma atividade proposta na
área da matemática, pois ela, mesmo entendendo o solicitado, só aplica um comando de
cada vez. Carvalho (2010) tece, ainda, comentários acerca do movimento corporal e
sobre as atividades envolvendo músicas, bem como sobre a interação do professor com
os alunos.
No artigo intitulado A matemática das crianças pequenas e a literatura infantil,
Zacarias e Moro (2005) apresentam uma pesquisa centrada nas elaborações iniciais de
matemática produzidas por crianças pré-escolares em um contexto de trabalho com
literatura infantil. Para tal fim, foi composto um grupo aleatório de sete crianças, na
faixa etária de cinco anos de uma instituição particular de Educação Infantil de Curitiba.
O grupo passou por três sessões de aprendizagem sobre noções da aritmética elementar
apresentadas na forma de problemas sobre acontecimentos da história Branca de Neve e
os Sete Anões.
Uma das pesquisadoras envolvida atuou como professora e apresentou os
problemas oralmente ao grupo. Os problemas da primeira e da segunda sessão
abordaram adição-subtração, proporção dois para um e comparação de medidas
intensivas. Na terceira sessão, as crianças foram convidadas a propor problemas sobre
temas da história, além de solucionar problemas propostos pelo adulto. As soluções
orais e as notações interpretadas das crianças envolvidas foram registradas em vídeo e
analisadas qualitativamente. Isto permitiu identificar diferentes tipos de soluções aos
problemas. Percebeu-se, também, que as notações produzidas foram um apoio para a
expressão dos cálculos e relações elaboradas pelas crianças. Zacarias e Moro (2005)
concluem que as histórias infantis são um contexto favorável às elaborações
matemáticas na educação infantil. Os resultados abalizam formas de cálculos orais,
aditivos e subtrativos, com notações correspondentes, comparações qualitativas de
medidas intensivas e cálculo aditivo em relações proporcionais. As pesquisadoras
destacam, ademais, que as histórias infantis são um contexto favorável às elaborações
matemáticas na educação infantil, e podem se constituir numa forma de integrar o
trabalho em matemática ao de exploração do vocabulário e da imaginação infantis.
Também discorrem sobre as formas de intervenção do professor ao analisar as histórias
previamente para identificar conceitos matemáticos, elaborar estratégias de organização
do espaço e do tempo para trabalhar com as crianças, considerando o seu saber e
desenvolvimento.
A partir da categorização criada, o trabalho de Arnold (2016) também se
enquadra nesta categoria visto que, no segundo momento da pesquisa, foram criadas
propostas de intervenção em uma turma de Educação Infantil. Desse modo, este
segundo momento do trabalho se configurou como uma pesquisa-ação. Assim, o
objetivo era planejar e aplicar atividades com uma turma de crianças de educação
infantil que envolvam as práticas de escrita, leitura e contação de histórias, com intuito
de investigar as possibilidades de articulação entre literatura e matemática. Foram
realizados 7 encontros com uma turma de Educação Infantil, composta de 25 crianças
de 5 e 6 anos, que frequentavam uma escola municipal de ensino fundamental, no
período de outubro a novembro de 2015. A escola pertence à rede municipal de ensino
de Ivoti, e acolhe alunos Educação Infantil ao Ensino Fundamental II. A pesquisadora é
professora titular desta turma e conta com uma professora auxiliar, que acompanha um
aluno com necessidades especiais. Assim, neste momento, foi investigada a própria
ação pedagógica como forma de compreender e melhorar a prática docente da autora.
Arnold (2016) relata que não é possível chegar ao final da pesquisa e dizer que
os alunos da turma aprenderam números, formas, perímetro e medidas, pois tais
aprendizados levam tempo para serem construídos e assimilados. Contudo, destaca que,
através das vivências com as crianças, a conexão entre matemática e literatura é possível
e se constitui de diferentes maneiras no trabalho com a Educação Infantil. Ademais, a
literatura infantil abre espaço para que as crianças vivenciem num contexto de
significado, com maior envolvimento, o fazer matemática, explorando contagens,
medidas, palavras e seus sentidos. A pesquisa também permitiu perceber possibilidades
para o desenvolvimento da linguagem das crianças, linguagem esta, articulada com os
saberes e símbolos matemáticos.

6. Considerações Finais

Ao elaborar o estado da questão das pesquisas que exploram as possíveis


articulações entre a literatura infantil – principalmente os livros que fazem parte do
PNLD – e o ensino da matemática, percebemos a escassez de pesquisas na área.
Observamos, também, a falta de estudos envolvendo principalmente alunos da
educação Infantil (4 e 5 anos). Nesse quesito, encontramos apenas produções que
abordavam e analisavam os acervos dos planos anteriores e que selecionavam livros
específicos para identificar e relacionar determinados conceitos matemáticos à outras
áreas. Considerando que o PNLD 2018-2021 está na sua fase final e que estamos
iniciando um novo PNLD que abarcará o período 2022-2025, se faz necessária a
realização de pesquisas que abordem esses acervos. O processo de reforma curricular
que estamos atravessando – com a implementação da BNCC nas escolas – outorga uma
maior relevância a este tipo de pesquisas, sendo necessário explorar se, e como, os
acervos dessas edições do PNLD podem se constituir em ferramentas para colocar em
ação o novo currículo.
A categorização elaborada mostra que a grande concentração das pesquisas se
encontra voltada as práticas docentes de ensino-aprendizagem utilizando a literatura
infantil para trabalhar matemática na sala de aula. Considerando que somente foi
encontrada uma produção, o campo da formação de professores voltada para a reflexão,
planejamento e implementação de propostas para o ensino da matemática que utilizem a
literatura infantil é outra área fértil para a realização de pesquisas.
O estado da questão desenvolvido, em conjunto com a trajetória profissional da
primeira autora deste artigo, nos permitiu delinear melhor os objetivos da pesquisa que
estamos realizando e sua relevância. Assim, enunciamos o objetivo geral como sendo
compreender as possibilidades de articulação entre a Matemática e a literatura infantil
nas obras literárias que fazem parte do programa do PNLD 2018-2021 e 2022-2025 na
categoria pré-escola. Para atingir tal objetivo geral se definiram os seguintes objetivos
específico:
● Mapear as produções nas quais estejam presentes temáticas vinculadas
com a matemática no acervo literário infantil do PNLD 2018–2021 e
2022–2025.
● Classificar os livros mapeados a partir de categorias emergentes que
permitam delimitar as problemáticas e competências matemáticas que
poderiam ser trabalhadas em sala de aula a partir dessas obras literárias.
● Estabelecer comparações entre os acervos literários do PNLD 2018–2021
e 2022–2025, relativas as possibilidades de articular matemática e
literatura infantil.
No cenário atual, as obras que compõem o acervo literário do PNLD 2018-2021
estão disponíveis para escolas e são acessíveis através do site do governo. Em relação
ao PNLD 2022-2025, aguardamos a entrega do objeto 2, que corresponde as obras
literárias, com previsão de entrega no primeiro semestre de 2023. Dessa forma, a
pesquisa é relevante visto que se propõe identificar, nas duas edições do PNLD, as
possibilidades de ensinar matemática utilizando a literatura infantil.
Ademais, a pesquisa possui um outro diferencial, buscará estabelecer um
comparativo entre as obras oferecidas nas duas edições do plano, e relacioná-las aos
documentos que embasam a educação infantil nesses períodos, identificando
semelhanças, diferenças, mudanças e possíveis avanços do programa oferecido pelo
Ministério da Educação.

Referências

ABRAMOVICH, F. Literatura infantil. Gostosuras e bobices. Scipione. São Paulo:


1997.
ARNOLD, D.S. Matemáticas presentes em livros de leitura: possibilidades para a
Educação Infantil. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, Brasil. 2016

BRASIL. Lei n 9.394, de 20 de dez.1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação


Nacional, Ministério da Educação. 1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes


Curriculares Nacionais para Educação Infantil. Ministério da Educação. Brasília:
MEC/SEB, 2009.

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